139
QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: KRATSA-TSAGAROPOULOU Vice-presidente 1. Reinício da sessão Presidente. – Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, que tinha sido interrompida na quinta-feira, 15 de Novembro de 2007. 2. Aprovação da acta da sessão anterior: ver Acta 3. Composição do Parlamento: Ver Acta 4. Verificação de poderes: ver Acta 5. Composição das comissões e das delegações: ver Acta 6. Transmissão de textos de acordos pelo Conselho: ver Acta 7. Seguimento dado às posições e resoluções do Parlamento: ver Acta 8. Proclamação do consenso europeu sobre a ajuda humanitária (propostas de resolução apresentadas): Ver Acta 9. Situação na Geórgia (propostas de resolução apresentadas): Ver Acta 10. Entrega de documentos: ver Acta 11. Declarações escritas (entrega): Ver Acta 12. Ordem dos trabalhos Presidente. – O projecto definitivo de ordem de dia, elaborado nos termos dos artigos 130.º e 131.º do Regimento, foi já distribuído. Foram propostas as seguintes alterações: Martin Schulz, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhora Presidente, temos hoje na ordem do dia a declaração da Comissão sobre os acordos de parceria com os países ACP, estando prevista uma resolução para este debate. Durante a manhã e nos últimos dias, o nosso grupo debateu intensamente a resolução. Desenvolvemos grandes esforços no sentido de obtermos um compromisso com os outros grupos para a elaboração de uma resolução comum. Infelizmente, isso não foi possível. No entanto, não desistimos e continuamos a procurar chegar a um compromisso que evite uma votação dividida. Assim, em nome do meu grupo, proponho que a resolução sobre a declaração da Comissão e a respectiva votação sejam adiadas para o período de sessões de Dezembro. Ficaria grato se os senhores deputados apoiassem esta proposta, a qual abre a possibilidade de negociações futuras conducentes a um compromisso. 1 Debates do Parlamento Europeu PT 28-11-2007

QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

  • Upload
    others

  • View
    13

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007

PRESIDÊNCIA: KRATSA-TSAGAROPOULOUVice-presidente

1. Reinício da sessão

Presidente. – Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, que tinha sidointerrompida na quinta-feira, 15 de Novembro de 2007.

2. Aprovação da acta da sessão anterior: ver Acta

3. Composição do Parlamento: Ver Acta

4. Verificação de poderes: ver Acta

5. Composição das comissões e das delegações: ver Acta

6. Transmissão de textos de acordos pelo Conselho: ver Acta

7. Seguimento dado às posições e resoluções do Parlamento: ver Acta

8. Proclamação do consenso europeu sobre a ajuda humanitária (propostas deresolução apresentadas): Ver Acta

9. Situação na Geórgia (propostas de resolução apresentadas): Ver Acta

10. Entrega de documentos: ver Acta

11. Declarações escritas (entrega): Ver Acta

12. Ordem dos trabalhos

Presidente. – O projecto definitivo de ordem de dia, elaborado nos termos dos artigos130.º e 131.º do Regimento, foi já distribuído. Foram propostas as seguintes alterações:

Martin Schulz, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhora Presidente, temos hoje na ordemdo dia a declaração da Comissão sobre os acordos de parceria com os países ACP, estandoprevista uma resolução para este debate. Durante a manhã e nos últimos dias, o nossogrupo debateu intensamente a resolução. Desenvolvemos grandes esforços no sentido deobtermos um compromisso com os outros grupos para a elaboração de uma resoluçãocomum. Infelizmente, isso não foi possível. No entanto, não desistimos e continuamos aprocurar chegar a um compromisso que evite uma votação dividida.

Assim, em nome do meu grupo, proponho que a resolução sobre a declaração da Comissãoe a respectiva votação sejam adiadas para o período de sessões de Dezembro. Ficaria gratose os senhores deputados apoiassem esta proposta, a qual abre a possibilidade denegociações futuras conducentes a um compromisso.

1Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 2: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Presidente. – Senhor Deputado Schulz, abordaremos este tema a seu tempo, emconformidade com a ordem do dia.

Quarta-feira:

- A discussão conjunta sobre os caminhos-de-ferro da Comunidade terá lugar antes dadiscussão do relatório da senhora deputada Hieronymi sobre a radiodifusão televisiva.

- O relatório Ortuondo Larrea sobre a interoperabilidade do sistema ferroviário comunitárioserá votado durante o próximo período de sessões em Estrasburgo.

Quinta-feira:

Informo o Senhores Deputados de que, durante o período de votação:

- O relatório do senhor deputado Leinen sobre a alteração do Regulamento que institui oRegulamento Financeiro aplicável ao orçamento geral das Comunidades Europeias foiaprovado nos termos do n.º 1 do artigo 43.º e está inscrito para votação.

- O relatório Blokland sobre exportação e importação de produtos químicos perigosos foiadiado para o período de sessões de Janeiro a fim de permitir a conciliação em primeiraleitura.

Em relação ao tema que mencionou, Senhor Deputado Schultz:

Recebi do Grupo Socialista um pedido de que a votação das propostas de resolução sobreos acordos de parceria económica seja adiada para a sessão de Dezembro, do que resultariamnovos prazos para a entrega dos textos.

João de Deus Pinheiro, em nome do Grupo PPE-DE . – Senhora Presidente, registo oespírito de compromisso da bancada socialista e em nome do Partido Popular Europeugostaria de dizer que estamos, também, abertos a esse espírito de compromisso e, portanto,não nos opomos. Mas pensamos que também uma pretensão nossa, que é ter, depois daseleições na Venezuela, uma resolução sobre a situação na Venezuela, deveria ter lugar,também, no plenário de Dezembro. Dentro deste espírito de compromisso conjunto e deespírito de Natal, penso que poderemos acomodar essas proporções.

Presidente. – Senhor Deputado Pinheiro, este tópico não diz respeito à Venezuela, massim à proposta do Grupo Socialista de adiamento das propostas de resolução sobre osacordos de parceria económica para Dezembro.

Algum dos Senhores Deputados deseja manifestar-se a favor desta proposta?

João de Deus Pinheiro, em nome do Grupo PPE-DE . – Senhora Presidente, provavelmentenão ouviu o que eu disse – comecei por dizer, num espírito de abertura, que nós tambémestaríamos disponíveis para contemplar essa hipótese -, e dentro deste espírito de aberturanatalício gostaríamos que os nossos amigos socialistas também aceitassem que, depois daseleições na Venezuela, viéssemos a ter uma resolução sobre esse tema.

Presidente. – Algum dos Senhores Deputados deseja manifestar-se contra esta proposta?

Helmuth Markov, em nome do Grupo GUE/NGL – (DE) Senhora Presidente, esta propostado Grupo Socialista surpreende-me sobremaneira. A proposta de resolução comumapresentada pelos Socialistas, pelos Verdes e pelo meu grupo incorporava a resoluçãoaprovada em Kigali. Os membros do grupo PPE-DE também se comprometeram, em Kigali,a aceitar o compromisso, e não compreendo por que razão vamos agora adiar tudo e

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT2

Page 3: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

prolongar o debate sobre o assunto, quando os deputados já tinham chegado a um acordo.A verdade é que todos aceitaram este compromisso, em Kigali! Oponho-me, portanto, aeste adiamento, porque o documento em questão recebeu já o apoio de um grande númerode deputados e pode perfeitamente ser votado hoje.

Daniel Cohn-Bendit, em nome do Grupo Verts/ALE – (DE) Senhora Presidente, que fiqueclaro que o problema não é de substância; o problema é que eles pretendem garantir umamaioria. Penso que estão no seu direito. Tem toda a razão, Senhor Deputado Markov; aproposta implica que o debate deva ser retomado, o que se afigura difícil de compreender,mas a ideia dos Socialistas – vejamos – é assegurar uma maioria para apoiar o que, afinal,todos desejamos alcançar. É esta a questão e a razão pela qual eles desejam um adiamento.Mais nada.

(O Parlamento aprova o pedido)

Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica estáadiada para Dezembro, sendo os prazos propostos os seguintes:

para a apresentação de propostas de resolução, quarta-feira, 5 de Dezembro ao meio-dia;

para alterações e propostas de resolução comum, segunda-feira, 10 de Dezembro às 19horas.

A votação terá lugar na quarta-feira, 12 de Dezembro.

Recebi um pedido do Grupo do Partido Popular Europeu e dos Democratas Europeus paraa conclusão do debate sobre a declaração da Comissão relativa ao referendo na Venezuela,com a apresentação de propostas de resolução.

Algum dos Senhores Deputados deseja manifestar-se contra este pedido?

Martin Schulz, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhora Presidente, o senhor deputadoDeus Pinheiro acaba de mencionar o espírito natalício. Eu também sou a favor do espíritonatalício, mas convém não abusarmos. Afinal de contas, foi imbuídos deste espírito que,no regresso de Kigali, nos mostrámos disponíveis para chegar a um acordo.

Quanto à Venezuela, existirão sempre divergências de opinião e mesmo controvérsia arespeito do Presidente Chávez. Julgamos que este debate é útil – e é efectivamente realizadoagora – mas não acreditamos que seja possível chegar a uma resolução equilibrada no curtoespaço de tempo de que dispomos hoje ou amanhã. Caso esta resolução seja adiada parao período de sessões de Dezembro, terá então três semanas. O debate afigura-se-nos útilneste momento, mas não desejamos avançar com a resolução porque ela seria feita à pressaou demasiado tarde. Penso que devemos debater a questão hoje e ficar por aí.

Presidente. – Algum dos Senhores Deputados deseja manifestar-se a favor deste pedido?

João de Deus Pinheiro, em nome do Grupo PPE-DE . – Senhora Presidente, agradeço aoportunidade. Vamos ter uma nova situação com o referendo que vai ter lugar na Venezuela.É um referendo muito importante, julgo que era também importante que nesta Casa sepudesse ter um debate racional, agora, ter em atenção os resultados do referendo e virmosa tentar encontrar uma resolução para o mês de Dezembro. Julgo que isso é possível,fazemos a tentativa, e é nesse espírito natalício, de convívio, que faço esta sugestão.

(O Parlamento rejeita o pedido)

3Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 4: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

(A ordem de trabalhos é adoptada com as alterações)

13. Boas-vindas

Presidente. – Temos hoje o prazer de receber no Parlamento uma delegação do Parlamentoda República Islâmica do Afeganistão. Esta delegação visitou o Parlamento Europeu emEstrasburgo em Dezembro último, e é com o maior prazer que a recebemos também emBruxelas.

(Aplausos)

Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de expressar à vossa Assembleia e ao povo Afegãoos nossos mais sinceros pêsames face ao ataque terrorista de 6 de Novembro de 2007 quevitimou seis membros do vosso parlamento e cerca de 100 cidadãos afegãos. Uma dasvítimas foi Sayed Mustafa Kazemi, membro da delegação afegã que nos visitou emEstrasburgo no ano passado.

O propósito da vossa visita é dar início a um diálogo regular que nos permita compreendermais rapidamente a situação política e social no Afeganistão e que nos dê a oportunidadede debater os apoios de que o vosso país necessita.

Estou certo de que todos encaram esta visita como um sinal dos nossos esforços conjuntosno sentido promover os valores democráticos e o pleno respeito dos direitos humanos nomundo inteiro.

Gostaria de deixar expressa a nossa satisfação com a vossa visita, e o nosso empenho emcimentar a cooperação entre os nossos governos.

Segundo soube, já estabeleceram contactos proveitosos com o Parlamento Europeu;desejo-vos pois uma continuação frutuosa da vossa missão, uma estadia agradável e umaboa viagem de regresso ao vosso país.

Gyula Hegyi (PSE). – Senhora Presidente, o meu ponto de ordem é apresentado ao abrigodo n.º 2 do artigo 9.º, relativo à boa condução dos procedimentos parlamentares.

Fomos informados da presença de amianto nos edifícios Winston Churchill e SDM emEstrasburgo. O último relatório “confirmou uma maior presença de amianto” do que sesupunha inicialmente nos nossos locais de trabalho. O amianto é uma das substânciascancerígenas mais perigosas, podendo pôr em risco a vida humana. Devemos, portanto,solicitar informação concreta sobre as estimativas de risco e informações detalhadas sobrea remoção do amianto dos edifícios parlamentares, nomeadamente respeitante ao calendárioe às medidas de segurança adoptadas. A saúde e segurança dos deputados, funcionários evisitantes do Parlamento deve constituir uma prioridade absoluta.

Presidente. – Senhor Deputado Hegyi, não se trata, de facto, de uma questão processual,mas dado o carácter vital do problema que levantou, informo que o Secretário-Geral fezuma comunicação sobre a possível presença de amianto nos nossos edifícios.

14. Carta dos Direitos Fundamentais (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório Jo Leinen (A6-0445/2007), em nomeda Comissão dos Assuntos Constitucionais, referente à aprovação da Carta dos DireitosFundamentais da União Europeia pelo Parlamento Europeu (2007/2218(ΑCI)).

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT4

Page 5: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Manuel Lobo Antunes, Presidente em exercício do Conselho . − Senhora Presidente, SenhoraVice-Presidente da Comissão, Senhores Deputados, a proclamação solene da Carta dosDireitos Fundamentais, no próximo dia 12 de Dezembro, em Estrasburgo, pelos Presidentesdo Conselho, o Primeiro-Ministro português José Sócrates, do Parlamento Europeu e daComissão Europeia constituirá, sem dúvida, um dos momentos mais significativos dahistória recente da União e da Presidência portuguesa da União Europeia.

Daremos um passo em frente e um passo com importantes implicações concretas naconsolidação dos valores universais da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdadee da solidariedade. Com o novo Tratado de Lisboa a Carta terá o mesmo valor que osTratados, isto é, será juridicamente vinculativa. Este é um facto que, pela sua importância,deve ser devidamente sublinhado e do qual todos nós, Parlamento, Governos e Comissão,nos devemos orgulhar. Trata-se do fim de um longo caminho.

O alcance da decisão de dotar a Carta dos Direitos Fundamentais de valor jurídico ultrapassaos habituais círculos políticos e diplomáticos, projectando-se directamente na esfera jurídicados nossos concidadãos. É o resultado concreto da Europa. É certo que as reformasinstitucionais do Tratado de Lisboa são importantes e é também verdade que as modificaçõesefectuadas nas políticas da União, na Política Externa e de Segurança Comum, na JAI enoutros domínios, são importantes para que a União possa lidar com o futuro ecorresponder aos desafios com que se defronta. Mas a existência de um catálogo de direitos,vinculativo para as Instituições europeias e para os Estados-Membros quando apliquem odireito europeu, tem um significado que vai muito além de tudo isso. A partir destemomento colocámos os cidadãos no centro do projecto europeu.

Já que falamos em direitos fundamentais quero ainda, em nome da Presidência e tambémem nome do meu próprio país, porque se trata da concretização de um objectivo que hámuito preconizávamos, regozijar-me pela disposição do Tratado de Lisboa que prevê aadesão da União à Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

Por tudo isto, não posso senão felicitar este Parlamento, e o Senhor Deputado Jo Leinen,pela aprovação deste projecto de relatório, no passado dia 12, na Comissão dos AssuntosConstitucionais, o que atesta mais uma vez o compromisso desta Assembleia para com osDireitos Fundamentais da União Europeia. Resta-me exprimir o sincero desejo de que aPlenária possa também dar o seu voto favorável, permitindo que no próximo dia 12 deDezembro a Carta dos Direitos Fundamentais seja solenemente proclamada pelas trêsInstituições.

(Aplausos)

Margot Wallström, Vice-Presidente da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, a Carta dosDireitos Fundamentais será um instrumento decisivo na União baseada no princípio doEstado de direito. Ela contém uma verdadeira lista de direitos extensíveis a todos os cidadãosda União, desde os direitos individuais relacionados com a dignidade, a liberdade, a igualdadee a solidariedade até aos direitos relativos ao estatuto da cidadania e à justiça. A Carta nãovai alterar as competências da União, mas consolidará os direitos e a liberdade dos cidadãos.

As instituições, organismos, gabinetes e agências da União ficarão vinculadas aos direitosexpressos na Carta, e todos os Estados-Membros terão as mesmas obrigações em relaçãoà aplicação do direito comunitário. Os cidadãos poderão exigir perante os tribunais aprotecção dos direitos contemplados na Carta, e o escrutínio legal do Tribunal de Justiçaassegurará a aplicação correcta da Carta.

5Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 6: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

A Comissão congratula-se com o facto de o estatuto juridicamente vinculativo da Cartater sido mantido durante as negociações da Conferência Intergovernamental. Tal como oParlamento, preferiríamos que a Carta se aplicasse a todos os 27 Estados-Membros, semexcepções à sua aplicação judicial plena, mas não pretendemos desvalorizar os resultadosobtidos. O valor jurídico constitui um passo muito importante para a construção de umaUnião legítima e responsabilizável, em que os interesses dos cidadãos são prioritários. Talnão se verificava no início deste processo, e foi necessário percorrer um longo caminhoaté à concretização plena deste objectivo.

A Carta proclamada em 2000 não era juridicamente vinculativa. Durante a ConvençãoEuropeia de 2002-2003 e a subsequente CIG de 2003-2004, a Carta foi adaptada parapassar a ser juridicamente vinculativa, mas esse processo foi interrompido por força danão aprovação do Tratado Constitucional.

No Conselho Europeu de Junho de 2007, ficou acordado que o futuro novo Tratado incluiriauma remissão para a Carta adaptada e finalmente aprovada em 2004 e que a Carta teria omesmo valor jurídico dos Tratados, algo que o novo Tratado já contempla.

O relator propõe que o Parlamento aprove a Carta, dando assim um passo necessário antesda sua proclamação solene, e, como é evidente a Comissão apoia totalmente estarecomendação. A Comissão vai aprovar também a Carta na próxima semana e autorizaro Presidente a proclamá-la em 12 de Dezembro, em conjunto com os Presidentes doParlamento e do Conselho.

A proclamação da Carta alterada criará condições para uma menção no Novo Tratado queserá assinado em Lisboa no dia seguinte, reforçando o valor legal e a aplicação jurídica dosdireitos nela consagrados.

Com o novo Tratado e a Carta dos Direitos Fundamentais, a União fortaleceráinequivocamente a protecção dos direitos do homem. A União Europeia não é apenas ummercado económico, é também um espaço comum baseado em valores e direitos comuns.

Jo Leinen, relator. − (DE) Senhora Presidente, Senhor Presidente em exercício do Conselho,Senhora Vice-Presidente, caros Colegas, a Carta dos Direitos Fundamentais da UniãoEuropeia é um elemento nuclear do Tratado de Lisboa; com efeito, poderíamos mesmoconsiderá-la a alma do novo Tratado Reformador. Congratulo-me pelo facto de as trêsinstituições estarem em sintonia e de acordo em que o Tratado de Lisboa não se resume ainstituições ou políticas; estão em jogo as pessoas, nomeadamente os 500 milhões dehabitantes da União Europeia. Esta Carta é um indicador claro de que a União Europeia sepreocupa com a protecção dos nossos cidadãos em toda a legislação que produz.

A Carta dos Direitos Fundamentais constitui, por isso, um marco. Estamos a evoluir deuma Europa dos Estados para uma Europa dos cidadãos, e nós, aqui no Parlamento Europeu,sempre acolhemos com agrado esta mudança. Com esta Carta e os 50 direitos e liberdadesque ela reconhece, a União Europeia passará a ter a lista mais ampla de direitos fundamentaisdo mundo. Não existe nada semelhante em nenhum lugar do globo, pelo que devemosestar orgulhosos desta conquista. Começando no artigo 1.º, que fala da protecção dadignidade do ser humano, passando por toda a Carta até ao artigo final, que se refere aodireito a não ser julgado ou punido penalmente mais do que uma vez pelo mesmo delito,a Carta cria condições para uma maior protecção dos direitos e faz referência ainda adireitos que não estão necessariamente consagrados em todas as constituições dos27 Estados-Membros. Gostaria de destacar a proibição da clonagem reprodutiva dos seres

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT6

Page 7: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

humanos através da tecnologia moderna na área da genética, o direito à protecção dosdados pessoais, o direito à liberdade de informação e o direito ao acesso aos documentos,bem como o direito a uma boa administração, a “boa governação”, que pregamos ao restodo mundo mas que, como é óbvio, temos também de aplicar entre nós.

Pela primeira vez, uma lista de direitos fundamentais coloca os direitos económicos esociais no mesmo patamar dos direitos políticos e das liberdades civis. Numa era deglobalização, estou confiante em que a Carta seja capaz de proporcionar às pessoas umaprotecção adequada. Como o Parlamento referiu em diversas ocasiões, é lamentável queo novo Tratado não adopte por inteiro a redacção da Carta, uma vez que lhe retira parteda sua visibilidade. No entanto, julgo que devemos registar com satisfação o artigo 6.º doTratado de Lisboa, que enuncia o seguinte: “A União reconhece os direitos, as liberdadese os princípios enunciados na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (…)que tem o mesmo valor jurídico que os Tratados.” Ficam assim dissipadas quaisquer dúvidaspara os cidadãos da União Europeia, através da confirmação de que, com este Tratado, oseuropeus têm a oportunidade de afirmar os seus direitos perante os tribunais nacionais e,em última instância, perante o Tribunal de Justiça europeu, no Luxemburgo.

Teremos de aprovar novamente esta Carta em plenário, em virtude das alteraçõesintroduzidas, e pode dizer-se que ela não é, infelizmente, tão boa como a Carta de 2000.Refiro-me em particular à diluição do artigo 52.º, que contém também cláusulas muitovagas e de difícil interpretação. Ainda assim, a Carta foi recuperada e vai agora fazer partedos Tratados. Acredito que a Carta é um símbolo. Como já foi dito neste Parlamento, a UEnão se resume a uma grande mercado económico associado a uma união monetária; a UEé uma comunidade de valores e cabe-lhe defender esses valores nas suas políticas internas,bem como nas políticas externas a nível europeu.

É ainda mais lamentável que dois Estados-Membros se tenham auto-excluído, maisconcretamente o Reino Unido e a Polónia. Achamos este facto deplorável, e gostaria deapelar aos Governos e Parlamentos destes dois países para que não poupem esforços natentativa de revogar com a maior brevidade esta auto-exclusão para que todos os27 Estados-Membros trabalhem sobre uma base comum na defesa dos valores e direitosfundamentais da União Europeia. Assim, apoio a adopção da alteração dos Verdes, queserá votada amanhã como anexo do relatório da Comissão dos Assuntos Constitucionais.Apelo, por isso a que votem a favor deste relatório tão importante.

Íñigo Méndez de Vigo, em nome do Grupo PPE-DE. – (ES) Senhora Presidente, na manhãde hoje, o meu Grupo celebrou e comemorou a aprovação da Carta dos DireitosFundamentais da União Europeia. Hoje, os membros do meu Grupo ostentam um cracháque diz “Sim à Europa dos valores”.

Nesta questão, concordo com os oradores anteriores, particularmente com a senhoraVice-Presidente da Comissão, Margot Wallström, quando dizem que a União Europeia nãoé apenas um mercado económico. A União Europeia é um projecto político, mas umprojecto político baseado em princípios e valores que unem todos os europeus.

Assim sendo, Senhora Presidente, este é um dia positivo para todos, graças a uma resoluçãoque nos permitirá celebrar e proclamar solenemente esta Carta dos Direitos Fundamentaisdurante o próximo período de sessões do Parlamento, em Estrasburgo.

De facto, não estarei a revelar um segredo se disser que aqueles que, como eu, tiveram oprazer de participar na redacção desta Carta na primeira Convenção, sentem agora um

7Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 8: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

amargo de boca. Isto deve-se a duas razões, a primeira das quais relacionada com o factode, apesar de termos redigido a Carta na presunção de que seria juridicamente vinculativa,isso não ter sido possível em Nice, uma vez que foi rejeitada por seis governos.

No entanto, o tempo veio dar-nos razão, e agora a Carta, graças ao Tratado de Lisboa, serájuridicamente vinculativa. O amargo de boca transformou-se em satisfação.

A segunda razão, Senhora Presidente, é que me recordo de que em Nice não houve umaproclamação solene da Carta. Perdemos uma grande oportunidade de explicar ao povoeuropeu que os direitos e liberdades proclamados na Carta são os nossos estandartes, poisa Carta foi assinada em segredo.

No entanto, graças à determinação do Presidente do Parlamento Europeu e dos nossos trêsrepresentantes nesta Conferência Intergovernamental, em 12 de Dezembro, durante operíodo de sessões em Estrasburgo, vamos concretizar o que ficou por fazer em Nice.Vamos proclamar solenemente esta Carta e reafirmar, como já fizeram os membros doGrupo PPE-DE, o nosso compromisso com os direitos e liberdades definidos nesta Carta.

Senhora Presidente, votaremos a favor do relatório do senhor deputado Leinen.

Richard Corbett, em nome de Grupo PSE . – (EN) Senhora Presidente, o Grupo PSE apoiaa aprovação da Carta com a nova redacção, para que seja possível, através do TratadoReformador, torná-la juridicamente vinculativa para as instituições europeias. Istopermitir-nos-á preencher uma enorme lacuna. As instituições europeias, em si, não estãoainda incondicionalmente vinculadas ao respeito daqueles direitos que todos osEstados-Membros respeitam em virtude das suas constituições ou da ratificação daConvenção Europeia dos Direitos do Homem e de outros acordos internacionaisrelacionados com os direitos humanos. Esta Carta será vinculativa para as instituiçõeseuropeias, e todas as disposições de direito comunitário têm de respeitar esses direitos, sobpena de serem anuladas nos tribunais.

É surpreendente que alguns eurocépticos que, presumivelmente, deveriam estar satisfeitoscom o facto de as instituições europeias serem obrigadas – aliás, coagidas – a agir destaforma, se oponham a esta Carta, mas a verdade é que alguns se opõem! Pode lamentar-se,sem dúvida, que, em consequência dessa oposição, alguns Estados-Membros se tenhamsentido obrigados a limitar, através de um protocolo, a aplicação judicial da Carta nos seuspaíses.

Isto, por sua vez, originou equívocos. Um deputado acabou de se referir a esta clarificaçãocomo “auto-exclusão”; como é evidente, não se trata de auto-exclusão. A Carta continuaa ser juridicamente vinculativa para as instituições europeias e em toda o âmbito do direitocomunitário, independentemente da forma como afecta a legislação nacional de algunspaíses.

Andrew Duff, em nome do Grupo ALDE . – (EN) Senhora Presidente, a proclamaçãosolene da Carta constitui o ponto alto do nosso trabalho iniciado em 1999, que visavacriar uma estrutura superior de um regime de direitos fundamentais para a União.

Uma vez que o principal objectivo da Carta é proteger os cidadãos de abusos dos grandespoderes actualmente confiados à União, é estranho e lamentável que um Estado-Membroprocure esquivar-se ao seu cariz vinculativo. Estou convicto de que ainda viremos aconsiderar o protocolo britânico juridicamente discutível e um grave erro político.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT8

Page 9: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Os tribunais terão de fazer jurisprudência para todo o sistema da União, uma jurisprudênciaque não olhe a nacionalidades e que seja fiel ao princípio basilar de todo o direito da União,a saber, que baseamos os direitos fundamentais em tradições comuns a todos osEstados-Membros e não restritas a um só país. Do meu ponto de vista e do ponto de vistado meu Grupo, a auto-exclusão do Reino Unido é vergonhosa e deve cair no esquecimentoo mais rapidamente possível.

Konrad Szymański, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhora Presidente, no ano 2000,foi elaborada a Carta dos Direitos Fundamentais, destinada a funcionar como umadeclaração dos valores que devem orientar a política da União. Pretendia-se que a própriaUnião fosse signatária da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. O Tribunal deJustiça das Comunidades Europeias deixaria então de proferir acórdãos baseados nosprincípios gerais do direito emanados das constituições dos Estados-Membros.

Estamos em 2007, e a União vai aderir à Convenção Europeia, mas não a ponto de atransformar no único sistema europeu de protecção dos direitos do Homem. Estamos acriar um sistema alternativo baseado numa Carta de direitos juridicamente vinculativa. Éuma situação inédita, em muitos aspectos. Os princípios gerais do direito continuarão aocupar o terceiro lugar da hierarquia jurídica para a tomada de decisões em questõesrelacionadas com os direitos fundamentais.

Tudo isto complica o sistema de protecção dos direitos fundamentais na Europa, tornando-oainda menos inteligível para os cidadãos. Existem muitos europeus preocupados com estasituação. Estas são, essencialmente, os motivos que levaram dois Estados-Membros a optarpor protocolos que pretendem acautelar as consequências dos efeitos da Carta.

Johannes Voggenhuber, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhora Presidente, hojetenho orgulho em ser deputado neste Parlamento, que, desde a sua fundação, tem sido umvigoroso defensor dos direitos fundamentais e dos direitos civis em geral e desta Carta dosDireitos Fundamentais em particular. Foi já há nove anos que a Cimeira de Colónia deu oprimeiro passo no sentido da elaboração de uma Carta juridicamente vinculativa, e esteprocesso ainda não está concluído.

Por ter tido o privilégio de acompanhar todo este processo constitucional, gostaria departilhar convosco duas experiências. Uma é bastante irónica: é estranho que, ao longodestes nove anos, nada se tenha revelado tão trabalhoso ou controverso, ou tão difícil deatingir, como estes documentos que incorporam os princípios basilares da União Europeia,que deveriam ser pacíficos: democracia, direitos parlamentares, direitos sociais, a economiade mercado, transparência da legislação e liberdades e direitos fundamentais. É uma situaçãomuito estranha, que estará certamente relacionada com as causas profundas da crise deconfiança que afecta a União Europeia.

A segunda experiência que gostaria de partilhar convosco é a seguinte: é importante quenão nos deixemos abater ou desencantar e é importante não perder o ânimo. Acredito hámuito tempo que Sísifo é o santo protector da Europa, e esta experiência prova isso mesmo.É por isso que acredito que, hoje mais do que nunca, devemos tentar novamente apelar aoReino Unido e à Polónia, em nome da indivisibilidade dos direitos fundamentais, em nomeda indivisibilidade dos direitos do Homem e dos direitos e liberdades fundamentais, paraque participem neste grande consenso europeu!

9Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 10: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Francis Wurtz, em nome do Grupo GUE/NGL. – (FR) Senhora Presidente, Senhor Presidenteem exercício do Conselho, Senhora Comissária, durante a próxima sessão, vamos aprovarnovamente a Carta dos Direitos Fundamentais.

Antes de o fazermos, permitam-me que coloque uma questão que talvez não seja tãosimples como possa parecer. Estamos a falar da Carta inicial proclamada no ano 2000 ou,como sugere o relatório Leinen, de um texto reciclado extraído do antigo projecto deTratado Constitucional? Como é evidente, estes dois textos não são idênticos, e penso queé lamentável que as diferenças entre eles não sejam explicitadas de forma clara, apesar dacontrovérsia, aliás legítima, que isso levantaria.

Por exemplo, a Comissão dos Direitos do Homem francesa manifestou, e estou a citar,uma enorme preocupação em relação às alterações efectuadas aos artigos sobre direitossociais – continuo a citar – que ameaçam esbater o conteúdo social da Carta.

Um dos principais autores da Carta original, o advogado Guy Braibant, explicou à imprensa– e passo a citar – que as condições para a aplicação do texto mudaram. Em primeiro lugar,o verbo “poder” foi ocasionalmente substituído por verbos indicadores de obrigatoriedade.Para além disso – e continuo a citar – existe um documento oficial com “explicações”apresentadas pelo Presidium. Apesar de se esperar que fossem pedagógicas e totalmenteneutras, estas explicações interpretam as leis de forma bastante redutora. Os direitosfundamentais ficaram comprometidos; fim de citação.

Que texto vamos aprovar na próxima sessão? Deixo ainda uma questão complementar:esta aprovação será valida em todos os países da UE? Este tipo de acção não pode continuara dar azo a qualquer ambiguidade. Assim, gostaria de obter uma resposta precisa a estasduas questões.

Jens-Peter Bonde, em nome do Grupo IND/DEM. – (DA) Senhora Presidente, participeina preparação da Carta e, em ambas as convenções, propus uma solução muito simples:permitir que a UE seja membro da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Destemodo, as instituições ficariam juridicamente vinculadas da mesma forma que os países.Seria preenchido um vazio. Ao tornarmos a Carta juridicamente vinculativa, não estamosa preencher um vazio. Pelo contrário, estamos a criar várias lacunas na protecção de quegozamos enquanto cidadãos ao abrigo das nossas constituições nacionais e dos direitoshumanos reconhecidos em toda a União Europeia. A interpretação activista do Tribunaldo Luxemburgo sobrepor-se-á sempre a Estrasburgo e ao nosso Supremo Tribunal. A Cartaé inadequada enquanto fonte de direito independente. É demasiado imprecisa. Será que avida se inicia no momento do nascimento? Se não se inicia nessa altura, inicia-se quantosmeses antes? O direito à acção colectiva também se aplica aos funcionários do sectorpúblico? A liberdade de expressão dos funcionários públicos tem uma interpretação maislata no Tribunal de Estrasburgo do que no Tribunal do Luxemburgo. Para além disso, ontemassistimos a um caso arquetípico que exemplifica os conflitos que poderão emergir. Ojornalista alemão Hans-Martin Tillack conseguiu o apoio do Tribunal de Estrasburgo, quedeclarou que o OLAF agiu ilegalmente quando o prendeu e lhe confiscou 16 caixas dedocumentos, bem como computadores e telefones. O Luxemburgo terá apoiado o roubodas fontes daquele jornalista. O Tribunal de Estrasburgo condenou o roubo e a detenção,por dar prioridade à liberdade de imprensa.

A Carta será apresentada como uma vitória para os direitos humanos. Talvez. A mim,faz-me lembrar mais um bilhete falso da lotaria. De certo modo, estamos a correr umgrande risco no que respeita aos direitos humanos por nós conquistados, como a liberdade

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT10

Page 11: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

de expressão e a liberdade de imprensa. O sorteio dos números da lotaria é decidido porjuízes no Luxemburgo, sem controlo parlamentar, e só depois da decisão haverá umaalteração unânime dos Tratados para corrigir as consequências. Esta situação é inaceitável,e o documento parece mais vir agrilhoar os nossos direitos do que consagrá-los numaCarta.

Jim Allister (NI). – (EN) Senhora Presidente, todos apoiamos os direitos humanos, ecomeço a ficar um pouco cansado de algumas pessoas – principalmente as provenientesde Estados para os quais, em termos históricos, os direitos humanos são quase uma novidade– que atacam o Reino Unido como se fôssemos párias por causa do “gesto” que é o Protocolon.º 7.

Permitam-me que vos recorde que, já em 1688, foi elaborada uma Declaração de Direitosque esteve no cerne da Revolução Gloriosa no Reino Unido. Desde essa altura, o ReinoUnido tem sido uma referência em termos de liberdades. Portanto, não precisamos delições acusatórias sobre direitos do Homem.

As pessoas podem sentir-se irritadas por termos estragado a festa pondo-nos à margem,por agora, de alguns dos adornos do super-Estado da UE, mas gostaria de chamar a atençãopara o facto de termos o direito nacional e político de o fazer. Infelizmente, a auto-exclusãovai perder o seu efeito à medida que o Tribunal de Justiça europeu for materializando oseu plano centralizador. Em última instância, estas pessoas conseguirão o que pretendemse o Reino Unido cometer a irresponsabilidade de ratificar este Tratado contra a vontadedo seu povo.

Elmar Brok (PPE-DE). – (DE) Senhora Presidente, Senhor Presidente em exercício doConselho, Senhora Vice-Presidente da Comissão, um dos direitos fundamentais dos cidadãosé também o de não serem ignorados. Esta Carta dos Direitos Fundamentais proporciona,de facto, uma protecção aos cidadãos semelhante à que é consagrada pelo Estadoconstitucional clássico. No entanto, a União Europeia não é um Estado. Não é um Estado,mas tem competência legislativa, e é apenas esta competência legislativa das instituiçõesda União Europeia que é protegida e controlada pela Carta dos Direitos Fundamentaisnuma base vinculativa. Em paralelo, a legislação europeia e as acções das instituiçõeseuropeias estão vinculadas a valores e a decisões baseadas em valores, algo que fica bemexplícito logo na primeira frase desta Carta, que é também a mais nobre: a dignidade doser humano é inviolável.

Este princípio decorre, para mim, de uma imagem cristã da humanidade. No entanto, épossível baseá-lo também noutras fontes. O nosso compromisso vinculativo com esteprincípio e o compromisso vinculativo das nossas três instituições com a fidelidade a esteprincípio representam um enorme passo em frente. Isto aplica-se à União Europeia no seuconjunto. A Polónia e o Reino Unido são Estados de direito, ninguém tem dúvidas acercadisso. Todavia, a verdade é que ao não assinarem e ao auto-excluírem-se da Carta, não seestão a proteger, estão a criar uma barreira contra algo que já está protegido. A verdade éque esta Carta não pode ser de todo aplicada à legislação nacional e às instituições nacionais.Por outras palavras, estes países estão a tentar proteger-se de algo que já pode ser encaradocomo um dado adquirido. Espero que, sobretudo na Polónia – onde a maioria do Parlamentoe a maioria dos cidadãos têm uma opinião diferente, mas onde o Presidente insiste emexercer as suas prerrogativas – a mudança chegue em tempo útil.

A natureza juridicamente vinculativa da Carta pode ser reforçada se adoptarmos umaestratégia harmonizada. Senhor Presidente em exercício do Conselho, agradeço-lhe pelo

11Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 12: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

facto de estarmos a aproveitar a oportunidade criada pela personalidade jurídica únicapara aderir à Convenção de Estrasburgo. Se este processo for bem-sucedido, o espaçoeuropeu de justiça será coerente, articulando a protecção dos direitos fundamentais a nívelnacional e europeu. Espero que resulte deste processo uma Europa dos cidadãos orientadapara os valores e da qual nos possamos orgulhar!

Józef Pinior (PSE). – (PL) Senhora Presidente, a Carta dos Direitos Fundamentais é aversão do princípio do século XXI das grandes tomadas de posição sobre direitos do Homeme direitos dos cidadãos assumidas nos séculos XVIII, XIX e XX. Falo de declarações célebressobre a liberdade e o primado do direito que forjaram a democracia contemporânea. Anossa Carta alicerça-se em acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento dademocracia e do sistema de democracia liberal contemporânea ao longo dos últimos 200anos.

Não encontro qualquer razão para que alguns Estados-Membros não adoptem esta Carta.Pergunto ao senhor deputado Szymański como é possível argumentar com seriedadecontra a Carta no país que viu nascer a Solidarność, cujos líderes inspiraram toda a Europae definiram as bases da nossa interpretação actual do direito à liberdade, do primado dalei e da democracia?

Apelo ao Governo polaco em Varsóvia e, em especial, ao Senhor Primeiro-Ministro Tusk.Senhor Primeiro-Ministro, o seu grupo parlamentar venceu as eleições há um mês graçasaos votos dos polacos que pretendem que a Carta seja incluída no Tratado ReformadorEuropeu. Acredito que não vai desiludir os eleitores que o apoiaram há pouco mais de ummês. Apelo ao Governo polaco para que inclua a Carta dos Direitos Fundamentais noTratado Reformador, para que ela possa ser vinculativa também na Polónia. A Polónia daSolidarność, a Polónia europeia, a Polónia da tolerância e da abertura acredita que a Cartados Direitos Fundamentais constitui um elemento decisivo do Tratado Reformador. Nãodevemos sujeitar-nos à chantagem da direita conservadora, que preferiria que esta Cartanão fosse aplicada no nosso país.

PRESIDÊNCIA: MARIO MAUROVice-Presidente

Bronisław Geremek (ALDE). – (PL) Senhor Presidente, entendo que a Carta dos DireitosFundamentais é essencial para qualquer comunidade que pretenda alicerçar o seufuncionamento no sistema de valores baseado no respeito pela dignidade humana. Daquiemanam os princípios de liberdade, igualdade e solidariedade. Não encontro qualquerrazão para que países como o Reino Unido ou a Polónia, que pretendem fazer parte daComunidade, enjeitem participar num projecto basilar da nossa acção comum.

Esta Carta defende uma orientação no sentido dos valores sociais, do modelo social europeu.Determina também, e de forma inequívoca, que, no que diz respeito aos costumes e àspráticas locais, continuará a prevalecer a legislação nacional. Quer isto dizer que nãoexistem fundamentos para qualquer tipo de auto-exclusão nesta matéria. Acredito quetanto a Polónia como o Reino Unido vão optar por assinar a Carta.

Bernard Wojciechowski (IND/DEM). – (PL) Senhor Presidente, o debate sobre esterelatório incide sobre muitas questões e, indirectamente, sobre a base para a criação de umnovo quadro jurídico. Em Agosto de 2007, o Presidente deste Parlamento fez umadeclaração a esse respeito num encontro com pessoas deslocadas. Afirmou que a origem

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT12

Page 13: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

do direito a uma pátria deve ser procurada no direito à dignidade e que o direito a umapátria é, por conseguinte, um direito humano fundamental.

O direito à dignidade encontra-se consagrado no artigo 1.º da Carta dos DireitosFundamentais. A opinião do Presidente foi alvo de críticas no Parlamento polaco. Aassociação alemã de pessoas deslocadas lamenta o destino das pessoas deslocadas daPolónia. O que aconteceria se o lamento alemão e a interpretação específica da dignidadedo ser humano fossem aplicados à Alsácia-Lorena? Neste caso, também seria criado umcentro para os deslocados ou haveria lugar a uma reconciliação? A tentativa de obter odireito a uma pátria a partir do direito à dignidade constitui uma interpretação errónea daaxiologia dos direitos humanos, tal como é afirmado pelo senhor Karski, deputado aoParlamento polaco. Uma interpretação que clarifique a legislação primária é aceitável, masa sua extensão não o é.

O Presidente do Parlamento Europeu fez referência ao Papa João Paulo II. Gostaria derecordar este Parlamento e o seu Presidente de que, em 1965, o Arcebispo Karol Wojtyłapublicou uma declaração escrita segundo a qual os bispos alemães tinam afirmadoclaramente que os alemães deslocados do Leste desejavam e, na realidade, tinham deentender que estava a crescer aí uma nova geração de polacos e que estes polacosconsideravam a terra que tinha sido atribuída aos seus pais como a sua pátria. Relativamentea esta questão, não há lugar a intervenções de natureza moral ou de porta-vozessentimentalistas.

No entanto, acredito que podemos obter a unanimidade relativamente à Carta nestaAssembleia, apesar da observação recente do Presidente Sarkozy de que a unanimidade écontrária à democracia. Esperanças vãs, Senhor Presidente Sarkozy, uma vez que o senhornão consegue sequer convencer os trabalhadores do metro de Paris.

Koenraad Dillen (NI). – (NL) Senhor Presidente, ninguém pode contestar que os cidadãoseuropeus têm de ser providos de direitos e liberdades fundamentais não só nos seus própriospaíses como também dentro da União Europeia. Uma Europa sem direitos e liberdadesdeixaria de ser Europa. Não obstante, não é esse o problema que se coloca actualmente,uma vez que os cidadãos já se encontram suficientemente protegidos contra os governosdos seus países, através das respectivas constituições nacionais e da Convenção Europeiados Direitos do Homem. No que diz respeito às instituições europeias, os cidadãos europeuspodem também afirmar as suas liberdades e direitos fundamentais de acordo com ajurisdição estabelecida do Tribunal de Justiça. O que está realmente em causa aqui é que,com a proclamação desta Carta, está a dar-se mais um passo em direcção a uma UniãoEuropeia federal. As pessoas pretendem uma "Bill of Rights" (Carta dos Direitos) europeia,tal como nos Estados Unidos federais. A diferença entre elas é que esta Carta vai muitoalém de uma enumeração dos direitos e liberdades tradicionais. Por vezes, assemelha-se auma enumeração de vários tipos de promessas socioeconómicas. A forma não correspondeminimamente ao conteúdo.

Charlotte Cederschiöld (PPE-DE). – (SV) Senhor Presidente, Senhora Vice-Presidente,Senhor Presidente em exercício, Senhoras e Senhores Deputados e, não menos importantes,cidadãos da Europa, hoje é um dia festivo, um grande dia, um dia de alegria, um diaextremamente importante, muito mais importante do que muitos poderão, neste momento,imaginar. É importante para os que acreditam nos direitos fundamentais enquanto princípioe para os que acreditam no desenvolvimento e na integração da Europa.

13Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 14: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Deveria ter-se tornado óbvio, há muito tempo, que as instituições europeias teriam de sevincular pelos valores que todos nós apoiamos, mas isso não aconteceu. Na realidade, osbritânicos também acreditam nos princípios de direito, independentemente da forma comoestes se consubstanciam. Poucos deputados dirão que estão felizes por contribuir para asupressão dos direitos humanos; na verdade, a vasta maioria pensa exactamente o contrário.Foi uma alegria e uma honra participar no desenvolvimento destes valores que tãoimportantes são para nós.

Agora todos sabemos o significado desta União, mesmo que não conseguíssemos ler oTratado na íntegra. Trata-se de bons valores, valores para os quais todos temos de contribuire temos de garantir que a União ajuda a aplicá-los correctamente. Os mais sincerosagradecimentos ao senhor deputado Jo Leinen e todos os que participaram neste trabalhoe também as mais sinceras felicitações ao povo europeu!

Libor Rouček (PSE). – (CS) Senhoras e Senhores Deputados, no dia 12 de Dezembro, oPresidente do Parlamento, juntamente com os Presidentes do Conselho Europeu e daComissão Europeia, irão proclamar solenemente a Carta dos Direitos Fundamentais daUnião Europeia. Estou convicto de que, na votação de amanhã, a esmagadora maioria dosdeputados irá concordar com este documento e com este passo histórico.

A Carta dos Direitos Fundamentais reflecte o património moral e espiritual dos povos daEuropa na União Europeia. Reflecte valores como a dignidade do ser humano, a liberdade,a igualdade, a solidariedade e os princípios da democracia e do Estado de direito. Centratodas as atenções no indivíduo, porque, entre outras coisas, a Carta institui a cidadania daUnião. Congratulo-me com o facto de a proclamação da Carta dos Direitos Fundamentaister lugar após o alargamento da União Europeia para a inclusão dos novosEstados-Membros. Isso significa que a Carta constitui, à sua maneira, um reflexão moral,jurídico e político da unidade da União Europeia: Ocidente e Leste, Norte e Sul. Acreditotambém que os Governos e os Parlamentos da Polónia e do Reino Unido venham a entendereste facto e que, num futuro próximo, permitam aos seus cidadãos participar neste momentohistórico.

Irena Belohorská (NI). – (SK) Quero saudar a aprovação da Carta dos DireitosFundamentais da União Europeia, já que dá uma maior visibilidade aos direitos já existentespara os cidadãos da União Europeia. Não obstante, gostaria de solicitar a clarificação depossíveis conflitos de interesses entre a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,um documento da UE, e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, um documentodo Conselho da Europa, que a União Europeia também declarou que irá observar. Daquipoderá resultar um conflito de interesses entre o Tribunal de Justiça das ComunidadesEuropeias, no Luxemburgo, e o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em Estrasburgo.

Qual será a posição do Tribunal de Estrasburgo relativamente ao Tribunal do Luxemburgo?Irá funcionar como um supremo tribunal, como um tribunal constitucional? Este resultadoserá aceitável para o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias? A União Europeia,que possui uma personalidade jurídica, irá ter um juiz separado no Tribunal Europeu dosDireitos do Homem? Quero salientar a necessidade de resolver esta questão jurídica paraevitarmos um problema, dado que, tendo em conta que a Carta dos Direitos Fundamentaisserá juridicamente vinculativa, é de esperar um aumento dos litígios jurídicos no domíniodos direitos humanos.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT14

Page 15: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Reinhard Rack (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, tal como quase todos os oradoresanteriores – infelizmente, apenas quase todos – estou satisfeito por irmos, hoje ou amanhã,mandatar o Presidente deste Parlamento para a assinatura da Carta.

Os direitos humanos são a nossa marca registada europeia dentro e fora da Europa. Todavia,gostaria de aconselhar alguma cautela, para que não nos deixemos levar pelas emoções epara não querermos fazer mais do que aquilo de que somos capazes. Com a Carta e coma ratificação necessária do Tratado de Lisboa, estamos a estabelecer os direitos básicosimportantes e clássicos e os direitos sociais fundamentais numa base juridicamentevinculativa, o que significa que estes direitos serão vinculativos para as instituições europeiase para a aplicação do direito comunitário. Estamos também a possibilitar o recurso aoTribunal de Justiça no Luxemburgo relativamente a estes direitos básicos, ainda que emcondições definidas de forma bastante restritiva. Contudo, isso não significa que qualquercidadão possa dirigir de imediato uma petição ao Tribunal de Justiça no Luxemburgo, oumesmo dirigir uma petição, tal como algumas pessoas, arrebatadas pela emoção, têm porvezes afirmado. Afirmações dessas não servem os nossos interesses.

Vamos deixar de fazer estas asserções, que vão mais longe do que deveriam econgratulemo-nos com o resultado que alcançámos. Estabelecemos agora, na UniãoEuropeia um rumo importante, não apenas no que diz respeito aos direitos clássicos, mastambém para a nossa política social, da qual podemos, em plena consciência, orgulhar-nos.Inclui o equilíbrio trabalho-vida, a proibição do trabalho infantil, a protecção da saúdepara todos e um elevado nível de protecção do ambiente e de defesa do consumidor. Issodeveria constituir para nós um motivo de grande satisfação; é a realidade, e não hánecessidade de a embelezar.

Carlos Carnero González (PSE). – (ES) Senhor Presidente, parece-me que estamos adiscutir um tema extraordinariamente importante para os cidadãos. É evidente que tentarexplicar a reforma da União Europeia pode ser uma tarefa complicada, mas é, decididamente,fácil realçar a importância da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Irá ser juridicamente vinculativa? Isso não será declarado explicitamente no Tratado, masé nossa obrigação dá-lo a conhecer. Por isso, considero muito positiva a decisão quetomámos de assinar a Carta antes da assinatura do Tratado de Lisboa. A partir de agora,temos de afirmar também que, no futuro, não serão permitidas outras excepções, uma vezque não são boas para os cidadãos dos países em causa, nem para o conjunto dos cidadãosda União Europeia.

Penso, pois, que é fundamental que nos esforcemos, tal como propõe o senhor deputadoLeinen no seu relatório, para apoiar de forma inequívoca a Carta dos Direitos Fundamentaise o seu carácter juridicamente vinculativo.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Magda Kósáné Kovács (PSE), por escrito. – (HU) Os cidadãos dos países europeuslutaram, tanto separadamente como em conjunto, por cada um dos direitos incluídos naCarta dos Direitos Fundamentais. Exactamente por essa razão, é motivo de grande satisfaçãoo facto de, sendo a Carta dos Direitos Fundamentais juridicamente vinculativa, os direitos

15Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 16: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

fundamentais poderem finalmente ser concretizados de forma mais eficaz, não apenas aonível dos Estados-Membros, mas também ao nível da legislação europeia e da sua aplicação.

Os cidadãos europeus irão usufruir dos seus benefícios se puderem recorrer às vias judiciaisem caso de violação dos seus direitos fundamentais ao nível europeu. Essas garantias irãotornar a União Europeia e as suas instituições mais democráticas, mais directamenteacessíveis e mais controláveis para 500 milhões de cidadãos europeus.

Tornar a Carta dos Direitos Fundamentais juridicamente vinculativa irá encerrar um capítulona história da luta pelos direitos fundamentais. Simultaneamente, parece-me que, emtermos de futuro, a Carta dos Direitos Fundamentais tem de se tornar a ars poetica da Europa.Para além do interesse económico comum, a Europa tem de mostrar o caminho a seguirem matéria de direitos fundamentais e fomentar a unidade dos que aí vivem, não apenasatravés dos direitos clássicos da liberdade, mas também garantindo direitos de naturezasocial e cultural, igualdade de tratamento e os direitos das minorias.

Na sua ars poetica, Horácio escreveu: “Analisem bem, escritores, ponderem com cuidado,o que se adequa ao vosso génio, aquilo que as vossas capacidades permitem”. Espero queas instituições da União Europeia sejam suficientemente fortes e corajosas para conseguiremgarantir os mesmos direitos fundamentais a todos os cidadãos europeus em todos os pontosda Europa.

Alexander Stubb (PPE-DE), por escrito. – (FI) No dia 19 de Outubro, foi assinado emLisboa um Tratado cujo objectivo é tornar a União Europeia mais viável e mais democrática.Destina-se também a reforçar os direitos civis. A Carta dos Direitos Fundamentais da UniãoEuropeia deve ser tornada juridicamente vinculativa, e a UE deve aderir à ConvençãoEuropeia dos Direitos do Homem.

A Carta dos Direitos Fundamentais formava a segunda parte da Constituição não ratificada.Numa conferência intergovernamental, os deputados deste Parlamento aprovaram umainiciativa segundo a qual os Presidentes do Parlamento Europeu e da Comissão e o Presidenteem exercício do Conselho assinariam a Carta dos Direitos Fundamentais numa cerimóniana sessão plenária do Parlamento do dia 12 de Dezembro, que seria publicada no JornalOficial da União Europeia.

Este processo está plenamente de acordo com os valores que a Carta dos DireitosFundamentais representa. A realização de uma cerimónia de assinatura oficial irá tambémaumentar a visibilidade do documento. Por conseguinte, é evidente que pretendemosmandatar o nosso Presidente Hans-Gert Pöttering para a assinatura.

15. Princípios comuns de flexigurança (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia, o relatório (A6-0446/2007) do deputadoChristensen, em nome da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais, sobre os princípioscomuns da flexigurança (2007/2209(INI)).

Manuel Lobo Antunes, Presidente em exercício do Conselho . − Senhor Presidente, pensavaque estava a perguntar se eu ainda iria ter uma intervenção final no debate sobre a Carta,intervenção que eu tinha dispensado, daí a minha confusão.

Senhor Presidente, senhor Comissário, Senhores Deputados, o debate sobre a flexissegurançaé hoje um ponto-chave da agenda europeia, essencial para o futuro dos modelos económicose sociais da Europa. Trata-se de um debate complexo, que tem que ver com a capacidade

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT16

Page 17: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

para gerir a mudança e para promover o emprego e a reforma da segurança social numcontexto global em rápida transformação que exige respostas para os desafios da competiçãoglobal, da inovação tecnológica e do envelhecimento da população. Precisamos de mercadosmais adaptáveis, mas isto implica também que sejamos capazes de dar aos cidadãosmelhores condições, melhores instrumentos e mais segurança para lidarem de formapositiva com a mudança. É este o desafio que temos pela frente.

Pela nossa parte, a Presidência portuguesa procurou contribuir activamente para a procurade soluções integradas e equilibradas neste domínio. Na sequência da apresentação dacomunicação da Comissão, em Junho, tivemos a responsabilidade de conduzir um processopara dar seguimento ao mandato do Conselho Europeu e alcançar um consenso em tornodos princípios comuns de flexissegurança. A comunicação da Comissão constituiu,naturalmente, um excelente ponto de partida para este trabalho, ajudando-nos a desenvolvero conceito e a aprofundar a discussão sobre as soluções que podem servir de plataformacomum para os diferentes caminhos que cada Estado-Membro terá que percorrer.

Tendo em conta que as situações de partida e as realidades são distintas, diversas terão queser também as soluções. Para criar condições para avançar nesse sentido, promovemosdiversas iniciativas com os principais actores no plano europeu, entre as quais umaConferência sobre os desafios da flexissegurança, muito participada a nível político, demodo a discutir os desenvolvimentos deste debate e as perspectivas que se abrem para ofuturo. Procurámos também analisar as experiências realizadas em países onde têm sidoaplicados modelos com bons resultados e perceber o que destes modelos pode seraproveitado para outros contextos. Para o debate contámos, ainda, com o parecer doscomités especializados em emprego e protecção social, bem como do Comité das Regiões.Procurámos também incentivar o envolvimento dos parceiros sociais nesta matéria, já queestamos conscientes de que este novo modelo exige um forte compromisso de todos osenvolvidos, mas também exige que os interesses de todos sejam tidos em conta.

Neste contexto, o entendimento a que chegámos com os parceiros sociais na Cimeira SocialTripartida, de 18 de Outubro, realizada em Lisboa, deu um importante impulso a estedebate. O diálogo social aos diversos níveis e o envolvimento dos parceiros sociaisconstituem uma dimensão decisiva do êxito de qualquer estratégia reformadora dosmercados de trabalho. O processo tem que ser participado para se conseguirem soluçõesganhadoras, sendo necessário um clima de confiança entre parceiros sociais e com asInstituições. Todos temos que estar preparados para aceitar e ter responsabilidade namudança. Quero salientar a qualidade do debate e das intervenções em todas as fases, querdo ponto de vista técnico e académico, quer do ponto de vista da discussão sobre o conteúdopolítico e do processo.

Como resultado de todo este trabalho que aqui vos referi, ao longo do qual contámossempre, devo dizê-lo, com a colaboração da Comissão, o Conselho está agora em condiçõesde subscrever um conjunto de princípios comuns sobre a flexissegurança que esperamosadoptar formalmente na reunião de 5 e 6 de Dezembro. Estes princípios comuns, quesubscrevemos consensualmente, incluem, designadamente, a tomada em consideração dadiversidade de realidades nos Estados-Membros que exigirão diferentes percursos e soluções,a necessidade de corrigir a segmentação do mercado de trabalho, as diferentes dimensõesda flexissegurança - legislação laboral, educação, formação, protecção social -, oreconhecimento da relevância do diálogo social neste contexto, o promover a inclusãosocial, a não discriminação, a igualdade e a conciliação entre o trabalho e a vida familiar,assim como, defender a necessidade de assegurar a compatibilidade das políticas com a

17Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 18: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

solidez e a sustentabilidade das finanças públicas. Quero notar que, no essencial, existeuma grande convergência de pontos de vista com esta Assembleia, cabendo-me sublinharo excelente trabalho que temos vindo a desenvolver e que tem vindo a desenvolver estaAssembleia neste domínio.

Uma vez aprovados, os princípios comuns deverão constituir um instrumento essencialpara a implementação do novo ciclo da Estratégia de Lisboa. Os Estados-Membros serãoconvidados a ter em conta estes princípios na definição e implementação das suas políticasnacionais, desenvolvendo os seus próprios mecanismos e percursos de acordo com a suasituação específica que serão objecto de acompanhamento no quadro dos programasnacionais de reformas. Os parceiros sociais a todos os níveis serão também incentivadosa contribuir para a definição e para a implementação das medidas de flexissegurança, bemcomo a considerar os princípios comuns como uma referência. Consideramos necessárioinvestir na mobilização social dos cidadãos para esta estratégia e, neste contexto, gostariade referir a importância primordial da intervenção deste Parlamento. Pelo que politicamenterepresenta e pela proximidade que tem do cidadão, poderá este Parlamento dar um excelentecontributo para uma melhor compreensão do conceito de flexissegurança. Oprincípio-chave é que flexibilidade e segurança devem ser vistos como elementos que seapoiam e reforçam mutuamente, e não opostos, e isso deve ser bem entendido pelos nossoscidadãos.

Vladimír Špidla , Membro da Comissão. − (CS) Senhor Presidente, a comunicação daComissão sobre a flexigurança desencadeou um debate útil e importante em toda a UniãoEuropeia. Gostaria de agradecer ao relator, senhor deputado Christensen, e aos outrosdeputados que participaram activamente na discussão da flexigurança.

Graças aos vossos esforços e cooperação com as outras comissões parlamentares, oParlamento Europeu poderá adoptar uma resolução que irá apoiar de forma significativaa abordagem proposta pela Comissão. Na nossa sociedade, a segurança passa pela mudança.Por isso, é necessário coordenar esforços para tentar encontrar novas formas de segurança:melhores competências, a capacidade para encontrar novos postos de trabalho, medidasde protecção modernas adaptadas ao novo mercado de trabalho.

Nos últimos anos, para cada posto de trabalho perdido na Europa no sector da indústria,foram criados quatro novos postos de trabalho noutros sectores. A questão mais importanteque se coloca é saber como controlar estas mudanças e como gerir esta alteração com êxito.Temos também de colocar a questão dos motivos da segregação no mercado de trabalho,que se verifica em vários Estados-Membros.

Congratulo-me vivamente com o relatório hoje em apreço. Este relatório confirma que aflexigurança pode constituir uma estratégia para a reforma do mercado de trabalho. Otexto apoia igualmente a estrutura da política, dividida em quatro componentes, formuladapela Comissão para a flexigurança. Apoio também plenamente a proposta relacionadacom os princípios comuns mencionados no n.º 15 do relatório. As vossas propostasapontam basicamente na mesma direcção que as propostas apresentadas pela Comissãona sua comunicação. Entendo a vossa pretensão de uma explicação mais exacta de algumasquestões, como as medidas de combate à insegurança. Contudo, penso que os princípiostêm de ser concisos e que devem ser vistos na perspectiva de toda a comunicação.

Gostaria também de saudar o acordo dos parceiros sociais europeus incluindo a sua análisedos problemas do mercado de trabalho; a análise foi apresentada na recente Cimeira SocialTripartida, realizada em Lisboa no dia 18 de Outubro de 2007 e, entre outros aspectos,

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT18

Page 19: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

abordava também a questão da flexigurança. Este acordo indica que o diálogo social podetrazer resultados concretos. Com efeito, foi feita referência a esta análise conjunta na vossaproposta de resolução.

Gostaria agora de responder a algumas das críticas expressas no vosso relatório. Sei queafirmam que o debate acerca da flexigurança deve ser mais equilibrado. Em primeiro lugar,gostaria de vos recordar que a comunicação da Comissão é o resultado de um diálogointenso entre todas as partes interessadas e de uma consulta cuidadosa dos principaisespecialistas neste domínio. Estou convencido de que a abordagem da Comissão éequilibrada, dado que o objectivo é apoiar a flexigurança e a segurança simultaneamentee, tal como já foi dito, enquanto elementos sinergéticos e de modo algum incompatíveis.

É evidente que o debate da flexigurança não pode ser utilizado indevidamente para avançarno sentido da desregulamentação do mercado de trabalho. Pelo contrário, a flexibilidadee a mobilidade têm de ter objectivos mais ambiciosos, ou seja, visar melhores empregos,um melhor equilíbrio entre o trabalho, a família e a vida privada e uma economiaglobalmente mais eficiente. Como os Senhores Deputados sabem, nas próximas semanas,o Conselho irá tomar uma decisão sobre os princípios comuns da flexigurança. Depoisdisso, irão prosseguir as discussões a nível nacional, agendadas por todas as partesinteressadas, que visam possibilitar a procura de estratégias de flexigurança a nível nacional,levando em consideração as características específicas de cada Estado. Estou confiante emque as partes interessadas mostrarão que é possível adoptar uma abordagem equilibradano domínio da flexigurança.

No que diz respeito aos custos, é importante referir que as despesas relacionadas com apolítica de flexigurança são muito inferiores aos benefícios concretos sob a forma de ummercado de trabalho mais dinâmico e de uma redução do desemprego. Além disso, emalguns casos, não irá implicar um aumento dos custos financeiros, mas uma utilizaçãomais eficiente dos recursos existentes.

Gostaria de fazer uma observação sobre o ponto do relatório onde é referido que o contratode duração indeterminada deve constituir a base do sistema de segurança social. A intençãoda Comissão não é, de forma alguma, reduzir a importância do contrato de duraçãoindeterminada. Contudo, penso que devemos adoptar sistemas de segurança social maisgenéricos, que se apliquem tanto aos contratos de duração indeterminada, como ao empregoa tempo parcial; em suma, o intuito é que estas formas de emprego beneficiem tambémde cobertura social adequada, e não que os contratos de duração indeterminada sejamenfraquecidos.

Senhor Presidente, creio que, à excepção destas poucas reservas, o relatório constitui umacontribuição útil e pertinente para a discussão da flexigurança, pelo que gostaria de agradeceruma vez mais ao Parlamento Europeu.

Ole Christensen, relator. − (DA) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,é com grande satisfação que aqui estou hoje como relator. As negociações no Parlamentochegaram ao fim, e estamos em condições de apresentar um relatório equilibrado quereflecte as atitudes de todo o espectro político. O conceito subjacente a estas linhas deorientação sobre a flexigurança consiste em superar os desafios que se colocam aosmercados de trabalho europeus. Reparem que utilizo o plural, "mercados de trabalho", jáque o relatório reconhece que, no que diz respeito à flexigurança, não existe uma abordagemde "formato único". Apesar de não existir um modelo comum para a flexigurança, temosde reconhecer que a Europa enfrenta muitos desafios comuns nos seus mercados de

19Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 20: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

trabalho, que exigem uma resposta conjunta. Os desafios demográficos significam que em2050 existirá 1,5 trabalhadores para cada reformado. Actualmente, o número é de 3trabalhadores por reformado. Cerca de 100 milhões de europeus vivem na pobreza ou nolimiar da pobreza. Os efeitos das desigualdades podem ser facilmente constatados quandocomparamos países entre os quais existem grandes diferenças, como os da Europa Orientale os da Europa Ocidental. No entanto, também é possível encontrar estes efeitosinternamente, nos países onde se está a assistir ao crescimento das desigualdades. Seis porcento dos trabalhadores na Europa podem ser caracterizados como "trabalhadores pobres"e um número cada vez maior está a deparar-se com conjunturas laborais mais difíceis, queincluem situações de emprego precário e condições de trabalho muito más. Os contratosa termo certo e o trabalho temporário estão a registar um aumento, e o modelo clássicodo contrato de trabalho de duração indeterminada está ameaçado. Este emprego precárioatinge 12% na Europa. Além disso, o emprego não declarado e ilegal está a aumentar. Emalguns países, o emprego ilegal constitui quase 15% de todo o emprego. Temos de inverteressa evolução, em parte porque ela é dispendiosa para a Europa, e em parte porque estassituações de emprego precário e instável afectam frequentemente os grupos maisdesfavorecidos da sociedade.

A educação é a matéria-prima mais importante da Europa no competitivo mercado global,mas não está a ser alvo da atenção que merece. Na realidade, 15% dos nossos jovens estãoa abandonar o sistema educativo cedo demais, numa altura em que o mercado de trabalhoexige mais conhecimentos. Os que perdem o comboio da educação irão sentir dificuldadesa longo prazo; temos a obrigação de ajudar essas pessoas.

Desta forma, os desafios que se colocam à Europa são claros. É da nossa responsabilidadepassar uma mensagem e uma imagem da forma como iremos fazer face a estes desafios.Neste contexto, gostaria de agradecer a excelente contribuição prestada pela Comissão.Gozámos de uma boa cooperação relativamente a este relatório, no qual a minha funçãofoi, como é natural, congregar as posições dispersas no Parlamento. Na minha opinião,enquanto relator, existe a necessidade de colocar um maior enfoque na Europa social, paraassegurar em toda a UE o respeito dos direitos dos trabalhadores e para termos mais emelhores postos de trabalho. A maior flexibilidade dentro das organizações não deve serobtida em prejuízo das condições de trabalho dos trabalhadores. De que forma poderemosgarantir isso? O relatório sublinha especificamente a necessidade do contrato de duraçãoindeterminada se tornar o contrato típico na Europa. Em segundo lugar, temos de asseguraruma maior implicação dos parceiros sociais. No cerne de um mercado de trabalho flexívele seguro está o facto de as decisões não poderem ser tomadas à revelia dos trabalhadores.Nunca é demais salientar que a inclusão dos trabalhadores na aplicação das estratégias daflexigurança é absolutamente essencial.

Por fim, o relatório diz respeito ao que poderíamos chamar o enquadramento para aflexigurança. Por outras palavras, os termos e condições nacionais para a aplicação daflexibilidade e da segurança. A flexibilidade e a flexigurança custam dinheiro. Contudo,não é dinheiro desperdiçado; é, pelo contrário, dinheiro que é investido e que produzresultados. Por exemplo, investir na mão-de-obra poderá talvez ser uma despesa a curtoprazo, mas a experiência tem demonstrado que, a longo prazo, irá produzir dividendos.Por conseguinte, a flexigurança, tal como entendemos o conceito no norte da Europa, exigeum Estado-Providência com um certo vulto e dimensão. Neste contexto, devemos, comhonestidade, reconhecer que a evolução a que estamos a assistir em alguns países, ondeexiste competição por impostos cada vez mais baixos, irá dificultar o financiamento davertente de segurança da flexigurança. Tentarei, portanto, calar de vez todas as vozes que

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT20

Page 21: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

alegam que a flexigurança é um conceito neoliberal destinado a pôr em causa os direitosdos trabalhadores. Não é esse o caso, muito pelo contrário.

Para concluir, espero que, através do debate neste Parlamento e em toda a Europa, sejamoscapazes de desfazer alguns dos mitos que abundam relativamente à flexigurança. Enquantorelator, tenho conseguido, com uma ajuda considerável dos meus colegas, elaborar algumasorientações equilibradas para a flexigurança, orientações que indicam a forma como aEuropa deve, no futuro, desenvolver o seu mercado de trabalho para o tornarsimultaneamente competitivo e social. Com essa estratégia, iremos também descobrirformas de fazer face à incerteza que reina na Europa entre os trabalhadores. Actualmente,muitos deles receiam que os seus postos de trabalho sejam deslocalizados e que o seu lugarno mercado de trabalho se torne dispensável.

Por fim, gostaria de agradecer ao relator-sombra, aos relatores das outras comissões e atodos os que, de qualquer forma, contribuíram para este relatório. Quero concluir,esperando que os Chefes de Estado ou de Governo incluam as recomendações do Parlamentonos trabalhos que irão desenvolver para a consecução das orientações comuns para aflexigurança, quando se reunirem em Portugal, no próximo mês de Dezembro.

Olle Schmidt, relator de parecer da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários. − (SV)Senhor Presidente, quero agradecer ao relator pelo seu trabalho bem feito. As mudançasgeradas pela globalização proporcionam novas e melhores oportunidades a todos os paísesdo mundo, mas, como é óbvio, também colocam desafios. A Europa encontra-se numaencruzilhada. Podemos optar por dar as boas-vindas a uma economia nova e flexível e àspossibilidades que oferece ou escolher uma das diversas formas de recuo proteccionista.

A flexigurança constitui uma das ferramentas mais importantes para a criação de ummercado de trabalho que, como o relator afirma, utiliza plenamente o potencial damão-de-obra. As palavras-chave são formação, mobilidade e empregabilidade. É evidenteque não existe um modelo de aplicação universal, mas podemos e devemos aprender unscom os outros. No parecer da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, deixamosclaro que os sistemas de protecção demasiado rígidos poderão, de facto, proteger os quejá se encontram inseridos no mercado de trabalho, mas dificultar a entrada de outros.

O crescimento populacional na Europa também é um problema, facto igualmente salientadopelo relator. Vão ser mais as pessoas a necessitar de emprego. A flexigurança, quandoutilizada correctamente, é um bom modelo para a Europa continuar a desenvolver-se deforma positiva numa economia global. O caso da Dinamarca, que o relator não mencionou,constitui disso um bom exemplo.

Senhor Presidente, existe pelo menos um elemento relativamente ao qual deveríamos estarde acordo neste Parlamento, a saber, que existem hoje muitas pessoas sem emprego. AEuropa tem de continuar a crescer para que possam ser criados mais postos de trabalho.

Giovanni Berlinguer, relator de parecer da Comissão da Cultura e da Educação. − (IT) SenhorPresidente, Senhoras e Senhores Deputados, o relatório do senhor deputado Christensenfoi crucial para permitir o avanço do documento inicial.

Estes princípios são potencialmente muito valiosos, mas apenas se existirem,simultaneamente, salvaguardas para todos os grupos de risco – imigrantes, mulheres,idosos e pessoas com deficiência – assim como para os adultos com um baixo nível deinstrução e que são mais vulneráveis e estão menos protegidos.

21Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 22: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Além disso, as desigualdades na nossa sociedade estão a generalizar-se, nomeadamente asque se prendem com a ausência de um salário mínimo, que deve ser adoptado em todosos países, e a necessidade do reconhecimento dos direitos dos trabalhadores. A base deconhecimentos dos trabalhadores tem, também, de ser aumentada. A atribuição definanciamentos para a aplicação destes princípios e para a identificação dos verdadeirosrecursos assume um carácter de urgência.

Por fim, parece-me que, nos últimos anos, têm existido muitos novos motivos dedesequilíbrio nas relações entre o capital e o trabalho: os lucros e a especulação financeiratêm dominado, enquanto os salários têm descido. A resolução deste desequilíbrio é umadas tarefas que devemos assumir juntos para fazer avançar estas questões.

Tadeusz Zwiefka, relator de parecer da Comissão dos Assuntos Jurídicos. – (PL) SenhorPresidente, o denominado modelo de flexigurança não deverá ser eficaz no mercado detrabalho europeu, excepto se for acompanhado de outras acções e propostas que visem apromoção do empreendedorismo e que facilitem a criação de empresas. Refiro-me, porexemplo, ao trabalho de elaboração de um estatuto da sociedade privada europeia.

No que diz respeito aos princípios comuns para a aplicação da flexigurança, gostaria desalientar que a introdução de soluções legislativas complexas a nível europeu neste domínioé contrária aos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade. A política social e deemprego é da competência dos Estados-Membros, e qualquer acção da UE no domínio daflexigurança tem de respeitar o princípio da subsidiariedade consagrado no artigo 5.º doTratado da União Europeia.

Além disso, a complexidade intrínseca do modelo não é favorável à introdução de normaslegislativas comunitárias e da denominada abordagem de "formato único" desta questão.O resultado da avaliação de impacto indica que o método aberto de coordenação poderáser o mais adequado. Isso é particularmente importante para os novos Estados-Membros,que podem ser confrontados com diferentes problemas estruturais no domínio do emprego,tendo em conta a herança do seu passado. Os elevados custos a curto prazo associados àintrodução de vias para a aplicação do modelo de flexigurança também têm de ser levadosem consideração, juntamente com o encargo significativo para os orçamentos.

José Albino Silva Peneda, em nome do Grupo PPE-DE . – Senhor Presidente, SenhorComissário, Senhor Presidente do Conselho em exercício, Caros Colegas, as reformas quea União Europeia tem que implementar com o objectivo de conseguir um posicionamentocompetitivo na economia mundial não podem ser vistas apenas como limitadas iniciativasdo sector público, mas obrigam, também, a mudanças de comportamento, de atitudes,seja por parte dos trabalhadores ou das empresas.

Essas alterações só poderão ser levadas a cabo com sucesso se existir um clima de confiançaentre os parceiros sociais, que só poderá ser desenvolvido na base da promoção do diálogosocial. No que se refere à gestão do mercado de trabalho, teremos de saber passar de umafase em que dominou a cultura de conflito, para outro paradigma, baseado na cultura decooperação. Pessoalmente, não aprecio o termo “flexigurança”. Prefiro, antes, falar de“mudança com segurança” porque qualquer mudança implica riscos – o importante éminimizar esses riscos. Não se pode pedir a alguém que seja flexível quando essa pessoanão tem confiança em si próprio nem no mundo que o rodeia. Por isso, a nossa contínuainsistência, neste relatório, nas políticas activas de emprego e nos sistemas de aprendizagemao longo da vida.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT22

Page 23: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O PPE-DE apresentou 120 alterações ao relatório inicial e, depois de um processo denegociações, chegámos a uma versão final, que entendo ser equilibrada e completa. É ocaso do bom equilíbrio a que se chegou entre os conceitos de flexibilidade e de segurança,bem como quanto aos interesses entre todas as partes envolvidas no processo,nomeadamente parceiros sociais e autoridades públicas. O relatório refere, de uma formaclara, a necessidade da aplicação dos princípios da subsidiariedade e proporcionalidade naimplementação e gestão da flexigurança. Recomendo, assim, que este relatório seja adoptadopor esta Câmara.

Stephen Hughes , em nome do Grupo PSE. – Senhor Presidente, quero dirigir as minhasfelicitações ao relator.

Gostaria de fazer quatro observações, a primeira das quais é dirigida à Comissão. Primeiro,no seu Livro Verde sobre o direito do trabalho e agora na comunicação sobre a flexigurança,a Comissão coloca a tónica na segurança do emprego em detrimento da segurança doposto de trabalho. Nós colocamos a tónica em ambos, porque reconhecemos as necessidadesde empresas flexíveis. Uma empresa flexível é aquela que necessita de alterar uma linha deprodução a cada seis meses ou a configuração de TI a cada quatro meses e que necessitade uma força de trabalho adaptável, leal e qualificada, e isso não se consegue, de formaalguma, com uma mão-de-obra fragmentada, segmentada e ocasional.

Em segundo lugar, a flexigurança requer a presença de uma série de factores para funcionardevidamente: um clima macroeconómico favorável e estável, investimento em políticasúteis e activas de emprego, um diálogo social bem elaborado e políticas de elevada qualidadeem matéria de protecção social. Todos estes elementos são importantes, e uma coisa éclara: não são baratos. Por conseguinte, a Comissão tem de reconhecer que, em algunsEstados-Membros, a flexigurança irá demorar um período de tempo considerável a serimplementada.

Em terceiro lugar, é necessário conceber uma forma equilibrada de flexigurança em tornodos princípios incluídos no n.º 15 deste relatório, e esses princípios têm de ser integradosnum pacote de orientações alterado. Estes princípios têm de ser tornados visíveis e têm deser aplicados. Caso contrário, todo o óptimo trabalho incluído neste excelente relatórioterá sido em vão.

Por fim, tanto o Conselho como a Comissão falam incessantemente da importância daflexigurança, mas como será possível levar o Conselho a sério enquanto a directiva relativaao trabalho através de agências de trabalho temporário continua bloqueada? Como serápossível levar a sério as outras instituições enquanto continuarem a proliferar formasexploradoras de trabalho atípico em todos os nossos Estados-Membros? Para muitosmilhões dos nossos trabalhadores, a flexigurança tem tudo a ver com flexibilidade e nadaa ver com segurança. Este relatório estabelece formas de alterar essa situação.

Bernard Lehideux, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, pretendemos apoiar a Comissão no seu propósito de incentivar auma reflexão colectiva sobre a flexigurança. A UE deve estar por detrás do diálogo entretodos os intervenientes neste domínio. O nosso grupo congratula-se também com o factode, pela primeira vez na Europa, os parceiros sociais terem chegado a um acordo numdocumento comum destinado a pedir aos Estados-Membros a aplicação das políticas deflexigurança. Isto reveste-se de particular importância, dado que a flexigurança apenas fazsentido se for introduzida num ambiente de confiança entre trabalhadores e empregadores.

23Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 24: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Enquanto representantes eleitos dos cidadãos da UE, temos uma responsabilidade especialde criar as condições para o desenvolvimento desta confiança. A participação neste processoé do interesse de todos e, acima de tudo, não podemos permitir-nos ceder à facilidade denos opormos à flexibilidade, que beneficiaria os empregadores, e à segurança, que iriaconstituir uma contrapartida para os trabalhadores.

A aplicação da flexigurança significa garantir flexibilidade e segurança simultaneamentea trabalhadores e empregadores. Os trabalhadores necessitam de flexibilidade para conciliara sua vida profissional com a vida pessoal ou para dar novos rumos à sua vida profissional.Os empregadores necessitam de segurança, tanto quanto os trabalhadores, particularmentede segurança jurídica nas suas relações contratuais com os seus colaboradores.

O relatório constitui um passo na direcção certa. É equilibrado e propõe um quadro aosEstados-Membros para a adopção de princípios comuns. Quero agradecer e felicitar orelator pelo seu trabalho. Os Estados-Membros não devem ser forçados a impor uma visãoparticular da flexigurança. Os mercados de trabalho em cada um dos Estados-Membrostêm, obviamente, algumas características particulares. O que pretendemos é a coordenaçãodas políticas de emprego, não uma harmonização prematura.

No entanto, os nossos concidadãos desejam uma Europa que apresente soluções para osdesafios da globalização. Ao proteger as opções profissionais, ao favorecer a adaptaçãodos trabalhadores, ao aceitar e ao proporcionar acompanhamento nos imprevistos da vida,a flexigurança pode constituir um modo único de modernização dos nossos modelossociais. Não percamos a oportunidade de nos entendermos para trabalharmos para umobjectivo comum.

Ewa Tomaszewska , em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhor Presidente, o passo paraformas mais flexíveis de emprego foi dado num momento de elevada taxa de desemprego,quando era relativamente fácil forçar um trabalhador a aceitar piores condições de trabalhopara conseguir emprego. Quando os trabalhadores não dispunham de meios para garantiras suas necessidades básicas e as das suas famílias, estavam preparados até para seremhumilhados no local de trabalho. Estavam também dispostos a aceitar não ter seguro contraacidentes e trabalhar ilegalmente a troco de salários de miséria.

Felizmente, a situação no mercado de trabalho está a mudar. A maioria dos empregadorespolacos subestimou a importância do emprego permanente. Em resultado, existeactualmente falta de mão-de-obra, e a Polónia assistiu à emigração de quase dois milhõesde jovens, muitos dos quais altamente qualificados. O emprego flexível que não reconhecea importância da segurança dos postos de trabalho traz benefícios a curto prazo para osempregadores em prejuízo dos trabalhadores. Congratulo-me com o facto de a propostade resolução do Parlamento Europeu atribuir mais importância à necessidade de segurançados postos de trabalho do que a Comissão Europeia. Gostaria de salientar que a investigaçãorealizada pela Organização Internacional do Trabalho confirma que os trabalhadores comcontratos de duração indeterminada são mais eficazes.

Felicito o relator pelo seu trabalho.

Elisabeth Schroedter , em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário, Senhor Presidente em exercício do Conselho, Senhoras e Senhores Deputados,o debate sobre a flexigurança demonstra que não é possível transferir um determinadomodelo social directamente de um Estado-Membro para o conjunto da União Europeia.Nem parece que seja isso que a Comissão pretende. O documento da Comissão não é acerca

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT24

Page 25: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

da melhoria da segurança social dos trabalhadores face a condições do mercado de trabalhoem radical mudança; não, o que a Comissão pretende é impor a flexibilidade das relaçõesde trabalho, não estando em posição de melhorar a segurança social dos trabalhadores:essa matéria é da competência dos Estados-Membros, cujas opiniões sobre a importânciadeste último aspecto divergem.

Além disso, o papel fundamental e a função de controlo desempenhados pelos sindicatos,que na Dinamarca constituem um elemento essencial do modelo de flexigurança, nãopodem ser dados como garantidos noutros Estados-Membros neste momento, nem numfuturo próximo. Alguns governos que interpretam e defendem a flexigurança unicamentecomo flexibilidade estão simultaneamente a reduzir ainda mais os direitos dos sindicatos.Nós, os Verdes, criticamos os esforços para utilizar a flexigurança como veículo paraintroduzir a desregulamentação do direito do trabalho em toda a UE, obtendo um aumentoda competitividade global da União Europeia em prejuízo dos direitos dos trabalhadores.Infelizmente, a coligação neste Parlamento está a seguir o exemplo da Comissão e a perdera oportunidade de introduzir um elemento fundamental no modelo de flexigurança, asegurança social, enquanto componente de igual importância.

Pergunto-me de que forma os socialistas tencionam explicar isto aos trabalhadores. O queme preocupa é que também iremos perder as oportunidades para um futuro debate sobreos benefícios inquestionavelmente inerentes ao modelo de flexigurança. É necessário,portanto, alterar este relatório, caso contrário não poderemos apoiá-lo.

Roberto Musacchio, em nome do Grupo GUE/NGL. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, a flexigurança não traz nada de novo. Trata-se um antigo modelodinamarquês, datado dos finais do século XIX, em que a segurança não consagrada noscontratos de trabalho é garantida, com grandes custos, pelo Governo.

O que é novidade nesta nossa Europa é a terrível insegurança que afecta os jovenstrabalhadores e que tem consequências nefastas em toda a sociedade. Para combater essainsegurança, temos de mudar de orientação e abandonar os métodos e ideologias delaissez-faire que estiveram na sua origem. Não é verdade que a insegurança cria emprego ecrescimento económico; o contrário é que é verdadeiro. Agora, com a flexigurança, estamosa ensaiar uma nova ideologia, mas que preserva intacto o antigo modelo de insegurança.

Por essa razão, o meu grupo tem-se debatido pela aplicação de algumas ideias muitopráticas: contra a ideia de um indicador da rigidez do mercado de trabalho e a favor de umbom indicador de emprego, de forma a salientar que o emprego estável e seguro constituia regra; contra o despedimento sem justa causa, uma vez que este é sinónimo dediscriminação; contra a acumulação recorrente de contratos atípicos, ou de insegurançapara toda a vida, que constitui uma forma moderna de escravatura; a favor do direito a umrendimento para os que não se encontram inseridos no mercado de trabalho; a favor dareunião de diferentes formas de assistência social; e contra a discriminação que afecta asmulheres trabalhadoras.

O facto de não terem sido afectados recursos para garantir a flexigurança – registou-se umcorte de 2% – e, consequentemente, de não ser possível proceder a um investimento fiável,diz muito acerca do risco de esta operação não passar de palavras vãs.

Os trabalhadores e os jovens exigem algo tangível, não ideologias antiquadas. São estes ospontos pelos quais nos temos debatido nesta Assembleia e que gostaríamos de veraprovados.

25Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 26: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Kartika Tamara Liotard, relatora de parecer da Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdadedos Géneros. − (NL) Senhor Presidente, a Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdadedos Géneros foi praticamente ignorada neste debate mas, felizmente, quase no final, acaboupor ter a possibilidade de intervir.

Mais de metade da população da Europa é constituída por mulheres e, neste momento,elas estão sobre-representadas no mercado de trabalho em formas de emprego comocontratos temporários e a tempo parcial. Neste contexto, é já evidente que as mulherestêm de se confrontar com uma maior incerteza, direitos reduzidos em termos de pensõese despesas médicas desproporcionadas. Se os organismos dirigentes, como a Comissão eo Governo neerlandês, avançarem com a ideia de facilitar ainda mais os despedimentos,este grupo social acabará por se afundar mais na opressão e na falta de direitos. Foi, porisso, com grande alegria que tomei conhecimento de que a Comissão dos Direitos da Mulherse uniu para apresentar uma série de propostas destinadas a melhorar as secções da propostada Comissão dedicadas a este tema. Infelizmente, o relator optou por acatar um númeromuito pequeno destas propostas sérias e de amplo alcance. Ao fazê-lo, afrontou a Comissãodos Direitos da Mulher e ignorou as desigualdades bem reais com que nos confrontamos.Assim, apelo a todos os deputados para que apoiem, na votação de amanhã, as alteraçõesdestinadas a combater estas desigualdades.

Thomas Mann (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, são cada vez menos as pessoas quetrabalham uma vida inteira para uma só entidade patronal, pelo que os trabalhadores têmde ser capazes de se adaptar sem problemas a alterações nas suas condições de vida e detrabalho. Ao mesmo tempo, as pessoas devem sentir segurança nos seus empregos. SenhorComissário Špidla, o novo conceito de flexigurança só será geralmente aceite se foralcançado um equilíbrio entre flexibilidade e segurança. Por um lado, é necessária maisflexibilidade para as empresas, para que elas possam identificar nichos de mercado, sermais inovadoras e planear o seu desenvolvimento de modo pró-activo, sem se limitarema reagir aos acontecimentos. Por outro lado, os trabalhadores dos Estados-Membrosnecessitam da segurança que lhes pode ser proporcionada pelos sistemas modernos deprotecção social e por acordos sólidos entre os parceiros sociais relevantes. Deve tambémser criado um enquadramento adequado para empregos mais duradouros, bem como parafacilitar as transições para novos empregos. É igualmente necessário prevenir abusos noque respeita às novas formas de emprego e combater as actividades independentes fictíciase o trabalho não declarado.

Uma outra prioridade é a aprendizagem ao longo da vida, que é essencial para a integraçãodos nossos trabalhadores no mercado de trabalho globalizado. A atribuição de um valorde referência vinculativo de 2% do PIB é, do meu ponto de vista, inaceitável, porque temosde dar alguma margem de manobra financeira aos Estados-Membros. Todavia, os governose as empresas têm, necessariamente, de investir muito mais no nosso recurso maisimportante: trabalhadores qualificados com níveis elevados de formação, motivação ecapacidade de adaptação.

O Grupo PPE-DE voltou a propor várias alterações por minha iniciativa. Numa destasalterações, defendemos que as empresas devem poder definir autonomamente a estratégiaa adoptar perante a questão da responsabilidade social das empresas. A RSE tem de continuara assentar num sistema voluntário e não obrigatório.

Para terminar, permitam-me que diga que a antecipação da data de revogação das medidastransitórias que impedem a livre circulação dos trabalhadores de 2013 para 2009 transmite

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT26

Page 27: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

uma mensagem negativa. Em áreas de actividade com salários muito superiores e um nívelelevado de segurança social, a pressão migratória é intensa e difícil de gerir. Também aquié importante não descurar a segurança, sem prejuízo da flexibilidade, que é,indiscutivelmente, necessária.

Jan Andersson (PSE). – (SV) Senhor Presidente, Senhor Presidente em exercício doConselho, Senhor Comissário, permitam-me que comece por agradecer ao relator peloseu bom trabalho e por este excelente relatório. Tal como o senhor deputado José AlbinoSilva Peneda, prefiro utilizar a expressão “mudança com segurança”, uma mudança queencontramos na globalização e no crescimento demográfico. Penso que é a expressão maisadequada.

Há uma diferença entre a proposta da Comissão e a proposta do Parlamento, que reside,concretamente, no enfoque da mudança. Na proposta do Parlamento, temos umaabordagem diferente. A Comissão centra-se mais na segurança no emprego do que nasegurança do posto de trabalho. Essa separação não é pertinente. O que é necessário écombinar a segurança proporcionada pela menor dificuldade em encontrar uma novacolocação com um nível elevado de segurança do emprego detido. No Parlamento,procuramos concentrar-nos na participação no processo, em sindicatos fortes e numdiálogo social consistente. Concentramo-nos numa política de emprego activa, com maisinvestimento na formação e com sistemas de segurança social fortes.

Muitos oradores firmaram que não existe um modelo único, cabendo a cada um seguir osseus próprios conceitos. Aplica-se aqui o Processo de Lisboa. Face à necessidade de definirprincípios, subscrevo as palavras do senhor deputado Stephen Hughes e sugiro que seprocure no n.º 15 do relatório os princípios que devem reger as directrizes.

Finalmente, gostaria de dizer à senhora deputada Elisabeth Schroedter que não é verdadeque o relator não tenha tido contacto com o movimento sindical europeu. Houve contactosestreitos durante este período, e os sindicatos apoiam a nossa proposta de alteração deprioridades. Se nos coibirmos de emitir opiniões antes de os ministros do emprego ofazerem, estamos a entregar-lhes em exclusivo o poder de decisão. O Parlamento tem deter uma palavra…

( O Presidente retira a palavra ao orador. )

Siiri Oviir (ALDE). – (ET) Senhor Presidente, caros Colegas.

A União Europeia, para além da necessidade de reformar rapidamente as suas instituições,tem também de criar uma política para os seus cidadãos e as suas empresas que mitigueos efeitos adversos da concorrência intensa e da abertura do mercado.

Entendo que é importante fomentar relações de trabalho estáveis em que exista um nívelelevado de confiança. O sucesso das alterações à legislação laboral será maior se ostrabalhadores se sentirem mais seguros. É necessário também ter bem presente que essesentimento de segurança depende frequentemente da facilidade em encontrar um novoemprego.

Sou de opinião que os maiores problemas da União Europeia estão relacionados com aoferta de uma mão-de-obra flexível e qualificada, pelo que esta questão deve merecerdestaque na estratégia europeia de flexigurança.

Deveria ser dada prioridade à criação de um mercado de trabalho flexível, melhorando osníveis de educação através de programas de formação e de reciclagem.

27Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 28: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Roberta Angelilli (UEN). – (IT) Senhor Presidente, caros Colegas, a flexigurança não éuma panaceia nem um assunto tabu. É indispensável, todavia, chegar a um consenso acercadas regras do jogo. Escusado será dizer que a Europa tem de estar à altura dos desafios daglobalização e da concorrência – nem sempre leal – que nos são impostos pela economiamundial.

Tudo isto exige flexibilidade, mas isso não significa que tenhamos de virar as costas aomodelo social europeu, aos seus valores, aos seus níveis de segurança e, sobretudo, à suasolidariedade. A flexibilidade é aceitável se se fizer acompanhar de garantias, mecanismosde compensação e regras firmes.

Mais importante do que isso, a Europa tem de liderar os Estados-Membros numa estratégiabaseada em alguns ingredientes essenciais: um nível razoável de formação contínua, medidasadequadas em matéria de segurança social, serviços de qualidade, incluindo, em primeirolugar, serviços de acolhimento de crianças, e sistemas de segurança social que apoiem ostrabalhadores durante períodos de inactividade. Aliás, este apoio não tem necessariamentede se materializar em subsídios; pode consistir na oferta de oportunidades para adquiriras competências necessárias para os empregos que estiverem disponíveis.

Finalmente, é imperativo tomar medidas que promovam a conciliação do trabalho com avida familiar e que permitam, em particular às mulheres, usufruir de uma verdadeiraigualdade de oportunidades no mundo do trabalho.

Naturalmente, estes objectivos carecem de um financiamento considerável, mas só assima flexigurança poderá representar uma oportunidade e não um atalho para adesregulamentação do mundo do trabalho.

Donata Gottardi (PSE). – (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário, caros Colegas,também eu agradeço ao relator pelo seu trabalho, mais ainda por ter sido elaborado emtão curto espaço de tempo.

Subscrevo a ideia de que uma palavra é apenas uma palavra. A flexigurança, por si só, nãoé uma boa nem má política. Nem sequer é uma só política: é antes um conjunto de acçõescombinadas e devidamente equilibradas. Tudo depende de como essas acções são concebidase postas em prática.

É comum pensar-se que a flexigurança é uma estratégia destinada a flexibilizar o mercadode trabalho e a compensar a mudança de um emprego para outro através de apoioeconómico e formação. Esta perspectiva deriva de uma postura defensiva, baseada nalimitação de danos, quando, na verdade, precisamos de uma nova abordagem, de inovaçãoe de qualidade.

Se procurarmos olhar para a flexigurança do ponto de vista das mulheres, obtemos umaperspectiva muito útil desta questão. Em última análise, verificamos que a maioria dospostos de trabalho mais inseguros e instáveis é ocupada por mulheres. Porém, ao mesmotempo, apercebemo-nos do potencial positivo desta estratégia se não a reduzirmos à ideiade insegurança e se perspectivarmos um conceito de organização flexível do emprego edos horários de trabalho que vá ao encontro das necessidades dos trabalhadores.

Se formos capazes de ver que a segurança é mais do que a concessão de subsídios àformação, que a segurança é também um apoio às diferentes actividades e decisões quefazem parte de toda a nossa vida profissional, estaremos a abrir novos caminhos e aapresentar propostas de futuro em vez de voltarmos aos métodos do passado.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT28

Page 29: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Manuel Lobo Antunes, Presidente em exercício do Conselho . − Senhor Presidente, SenhorComissário, Senhores Deputados, muito brevemente. Os trabalhos desta Assembleia vãoprosseguir depois destes debates, para naturalmente vos dizer que, no entendimento destaPresidência, da nossa Presidência, este era, naturalmente, um debate importante, um debatenecessário, um debate importante que se verifica, de resto, pelo nível da participação e pelomuito numeroso número de Deputados que quiseram participar e colaborar neste mesmodebate.

Flexibilidade significa, naturalmente, mobilidade e num mundo globalizado a palavra“mobilidade” é uma palavra necessária, é uma palavra que significa adaptação à mudança.Mas não é só de mobilidade que falamos, falamos também de segurança, segurança quesignifica aposta nas pessoas, aposta nos trabalhadores, na sua qualificação, na sua formaçãoe também na protecção à família, na protecção da qualidade do trabalho.

Estamos, naturalmente, confiantes que os princípios orientadores que conseguimosconsensualizar com os nossos parceiros sociais, que esses princípios orientadores saberão,na prática, naturalmente, criar as medidas necessárias, proporcionar as medidas necessáriasque promovam a mudança, promovam a segurança e tornem a Europa mais capaz deenfrentar com sucesso os desafios que se nos colocam, que a globalização nos coloca.

O Conselho, naturalmente, na sua reunião de 5 e 6 de Dezembro, esperamos, aprovaráestas orientações. Estou certo que no futuro elas provarão e se comprovarão como as boasorientações, como as boas bases para uma política que torne a Europa mais forte e maiscompetitiva.

Vladimír Špidla, Membro da Comissão. − (CS) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, olho para o ecrã e vejo que o tempo está a passar muito rapidamente, pelo queme limitarei a referir dois aspectos; em primeiro lugar, este debate evidencia algo que eugostaria de sublinhar: o objectivo da flexigurança não é, de modo algum, impor um modelonacional único a toda a União Europeia. Reconhecemos a natureza específica dos diferentesmodelos. No entanto, gostaria de apontar o facto de que os Estados que aplicam osprincípios referidos têm um mercado laboral mais estável – e não estou a pensar apenasnos países da Escandinávia.

O outro assunto que gostaria de mencionar prende-se com a questão dos custos. Mais umavez, verifica-se que, por exemplo, a Dinamarca, muitas vezes citada como um exemplo aseguir, apresenta despesas com protecção social e cuidados de saúde que, em última análise,não ultrapassam a média no contexto europeu. É sempre importante chamar a atençãopara este aspecto.

Senhoras e Senhores Deputados, obrigado por este debate tão enérgico, que, apesar decurto, ajudou a enriquecer o conceito de flexigurança. Permitam-me que agradeça, emparticular, ao relator.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Christian Ehler (PPE-DE), por escrito. – (DE) Numa das propostas de alteração a esterelatório, procura-se assegurar o apoio do Parlamento Europeu aos salários mínimoseuropeus. Essa atitude seria, do meu ponto de vista, totalmente errada. As condições e osparâmetros actuais dos mercados de trabalho variam de tal modo de uma região para outra,

29Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 30: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

que uma estratégia a nível europeu não contribuiria em nada para aumentar a prosperidadedos cidadãos; pelo contrário, estaríamos a agravar a pobreza, o desemprego e o trabalhoclandestino.

Solicita-se também que os salários mínimos a definir não sejam inferiores a 50%-60% dosalário médio nacional. Que país da Europa tem um salário mínimo tão elevado? Antes delevar a debate este tipo de propostas, os seus autores deveriam, pelo menos, procurar fazerum esforço para analisar a realidade da Europa. O que pretendem é defender uma políticasalarial europeia que promova um aumento de 20% nos salários mínimos nacionais actuais.Isto é populismo descarado!

Espero que surja uma maioria clara no Parlamento que suprima estas ideias perigosamenteutópicas, que, a serem aplicadas, só aumentariam o desemprego e a pobreza, colocandoem risco a competitividade económica da Europa.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito . – Lamentamos que o relatório não exprimacom suficiente clareza uma oposição à estratégia da flexigurança defendida pela ComissãoEuropeia. Limita-se a propor alguns cuidados paliativos aos princípios que são enunciadosna comunicação da Comissão Europeia.

Por isso, não só votámos contra o referido relatório na Comissão do Emprego e AssuntosSociais, como insistimos na apresentação de propostas que rejeitam a abordagem daflexigurança adoptada na referida comunicação, porque visa a desregulamentação dosmercados de trabalho e da legislação laboral, apostando, na prática, na destruição dosactuais vínculos contratuais, na liberalização de despedimentos sem justa causa, no aumentoda insegurança da generalidade dos trabalhadores.

Não há cuidados paliativos que resistam à constante fragilização da contratação colectiva,à desvalorização das organizações sindicais, à transformação em precário do vínculopermanente, com o pretexto da globalização capitalista.

Na grandiosa manifestação de 18 de Outubro, em Lisboa, promovida pela CGTP, ostrabalhadores portugueses disseram não a tais propostas. O que pretendem é mais empregocom direitos, o que pressupõe uma aposta na produção, mais investimento em serviçospúblicos de qualidade e o respeito pela dignidade de quem trabalha.

Por isso, insistimos nas propostas que apresentámos. Se as continuarem a rejeitar, votaremoscontra este relatório, dado rejeitarmos a flexigurança

Monica Maria Iacob-Ridzi (PPE-DE), por escrito . – (RO) Este relatório lança o debatesobre uma questão essencial para a Europa: as medidas da União Europeia destinadas aintegrar os trabalhadores no mercado de trabalho não podem ignorar as restrições arbitráriasà livre circulação desses trabalhadores. Oito dos países que aderiram à UE em 2004 –juntamente com a Roménia e a Bulgária – têm períodos de transição nunca inferiores adois anos, que podem atingir sete anos.

A partir do segundo ano da transição, as instituições europeias passam a estar directamenteenvolvidas no processo de autorização dos períodos de transição impostos pelosEstados-Membros. Solicito, portanto, ao Conselho Europeu que estude com o maiorcuidado a questão das restrições à livre circulação na União Europeia em relação aos novosEstados-Membros e que adopte uma posição comum que permita reduzir o mais possívelas barreiras à livre circulação dos trabalhadores.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT30

Page 31: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

A questão das restrições do acesso ao mercado de trabalho está directamente relacionadacom o primeiro princípio sugerido pelo relator, designadamente o da “aplicação de medidas(…) visando combater práticas de trabalho abusivas em determinados contratos atípicos”.Enquanto deputada do Parlamento Europeu, recebi inúmeras queixas de cidadãos romenosque são abusivamente privados de remuneração pelo seu trabalho e da maioria dos direitosbásicos relacionados com seguros sociais e seguros de saúde nos países onde trabalham.É imperativo, antes de tudo o resto, que os regulamentos que vamos adoptar com base noconceito de flexigurança erradiquem situações deste tipo.

(A sessão, suspensa às 17H05, é reiniciada às 17H10)

PRESIDÊNCIA: PÖTTERINGPresidente

16. Debate sobre o futuro da Europa (debate)

Presidente. − Senhoras e Senhores Deputados,

¡Bienvenido al Parlamento Europeo, señor Rodríguez Zapatero! Es un gran placer contar con supresencia.

Gostaria de lhe manifestar os meus sinceros agradecimentos por ter acedido ao convite doParlamento Europeu para estar presente neste debate sobre o futuro da Europa, um debatemuito importante para esta instituição. Já tivemos connosco vários primeiros-ministrosde toda a União Europeia para debater as questões essenciais do futuro da Europa, incluindoGuy Verhofstadt, Romano Prodi e Jan Peter Balkenende. Tivemos a oportunidade de ficara conhecer os seus pontos de vista e de debater com eles vários temas, mesmo em períodosde grande incerteza acerca do futuro da União Europeia. Hoje, estamos aqui para o ouvir.Em cumprimento de uma decisão da Conferência dos Presidentes –, constituída pelospresidentes dos grupos políticos – esta nova forma de debate terminará com um discursodo Primeiro-Ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt.

Senhor Primeiro-Ministro, julgo que é importante realçar que a Espanha foi o primeiropaís, em 2005, a realizar um referendo ao então projecto de Tratado Constitucional, quemereceu a aprovação de 77% dos espanhóis.

(Aplausos)

É, por isso, com especial satisfação que o recebemos aqui hoje, Senhor Primeiro-Ministro,em vésperas da assinatura do Tratado de Lisboa, que é o resultado de um longo períodode reflexão e, em boa verdade, de crise, e um Tratado que mantém a essência do TratadoConstitucional.

A Espanha é um país importante no contexto da União Europeia e tem vindo a dar, desdehá muito tempo, um valioso contributo para a União Europeia, não só a partir da suaadesão, em 1986, mas mesmo muito antes disso. A Espanha revelou sempre –designadamente através dos seus maiores partidos – que é um país com convicçõeseuropeias profundas, um país que toma a iniciativa e está disposto a empenhar-seactivamente no futuro comum do nosso continente.

Segue-se na ordem do dia o debate sobre o futuro da Europa, com a participação doPrimeiro-Ministro espanhol, também membro do Conselho Europeu.

31Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 32: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

José Luis Rodríguez Zapatero, Chefe do Governo espanhol. − (ES) Senhor Presidente,Senhoras e Senhores Deputados,

Para um europeísta convicto e militante, Primeiro-Ministro de um país profundamenteeuropeísta, é um grande orgulho estar hoje neste Parlamento, a instituição europeia maisrepresentativa dos cidadãos.

Este é um local de reunião da extraordinária pluralidade das nossas nações. Aqui,expressamos as nossas identidades, partindo da diversidade para chegarmos ao que nosune. Se existe uma instituição que materializa cabalmente a alma do nosso projecto, essainstituição é o Parlamento Europeu, já que é aqui que se fazem ouvir directamente osanseios dos cidadãos europeus.

Este Parlamento tornou-se progressivamente mais sólido e mais bem equipado e albergahoje com facilidade a grande família europeia. Mais do que isso, tornou-se cada vez maisforte e mais exigente, uma vez que o aumento da sua representatividade o tornou maiscapaz de orientar e, subsequentemente, controlar todas as nossas políticas e acções.

Estamos, pois, Senhoras e Senhores Deputados, no sítio certo para debater a Europa quequeremos e a Europa de que precisamos. Quero agradecer, portanto, esta oportunidadeque me concederam para expor as minhas opiniões e as minhas propostas sobre o presentee o futuro da União.

Os espanhóis associam o conceito de Europa às nossas ambições de paz, liberdade,democracia e prosperidade.

As nossas melhores tradições enquadram-se nos valores que identificamos no espaçocultural e político europeu.

Durante muitos anos, mantivemos viva a esperança de participar neste projecto iniciadohá mais de 50 anos.

O sucesso da Espanha nas últimas duas décadas deriva em grande medida do dinamismosocial gerado pela nossa adesão à União e da utilização eficaz dos meios que nos foramdisponibilizados pela solidariedade dos membros que nos antecederam neste projecto.

Nós, espanhóis, devemos muito à Europa e aderimos a este projecto com um profundosentimento de gratidão, que reitero hoje perante o Parlamento Europeu.

Assim, não deverá constituir surpresa para ninguém que tenhamos aprovado o TratadoConstitucional em referendo. Da mesma forma, todos compreenderão os motivos por queprocuramos assumir uma posição de boa vontade e de flexibilidade para ultrapassar estacrise institucional, mantendo-nos ao mesmo tempo firmes, coerentes e persistentes nadefesa do conteúdo essencial do Tratado, sem o qual o projecto sairia desvalorizado.

Ultrapassámos o risco, mas temos ainda um desafio à nossa frente: o desafio de construira Europa de que precisamos e que faz falta ao mundo no século XXI.

Queremos uma Europa de valores. A identidade europeia tem sido construída ao longo deuma história longa, ensombrada pela tragédia, mas também iluminada pelas mais nobrescriações do Homem, pela luz do pensamento, pelo entusiasmo e criatividade dos nossosartistas, pelas convicções profundas dos nossos governantes e pela coragem dos nossospovos.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT32

Page 33: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Liberdade, Estado de direito, direitos humanos, tolerância, igualdade entre os géneros,solidariedade: todos este valores ajudam a definir o código moral da Europa. É aqui, norespeito por estes valores, que reside a verdadeira essência da nossa União, muito paraalém do espaço geográfico.

(Aplausos)

A nossa Europa tem de ter uma verdadeira essência política. Só assim podemos construiruma União à altura das nossas ambições.

Para lá chegar, a nossa Europa tem necessariamente de ser eficaz. Tem de ser uma Uniãocapaz de encarar de frente os desafios do nosso tempo.

A Europa é legitimada pelos cidadãos, que são os seus principais destinatários. Entre oscidadãos do mundo, são os europeus quem usufrui de mais direitos e de maior protecção.No entanto, não somos uma ilha e não podemos viver em paz connosco próprios sabendoque esses direitos são cerceados ou violados noutras partes do mundo. Temos o devermoral de assegurar que todos podem usufruir desses direitos. É um dever moral que confereà Europa uma missão no mundo.

Esta Europa de valores, com uma essência política real e património dos seus cidadãos, étambém a Europa que queremos. Num mundo em mudança e cada vez mais complexo,temos de avançar com a integração. Se dermos veleidades ao isolacionismo, a uma visãoredutora das nossas fronteiras e à supremacia dos interesses nacionais, acabaremosinevitavelmente por cair num estado de impotência e irrelevância.

É chegado o momento de unir forças e reavivar o nosso entusiasmo. Ouvimos dizer, comfrequência crescente, que a Europa estava em crise, que duvidava de si mesma, que os seuscidadãos se sentiam pouco identificados com o seu projecto ou que o alargamento iriadiluir a determinação da União política.

Nunca tive essa visão pessimista. Já vivemos situações difíceis como esta no passado, dasquais saímos sempre mais fortes. Jean Monnet disse que as pessoas só aceitam a mudançaquando sentem a necessidade, e só vêem a necessidade em situações de crise. Motivadospela necessidade, fizemos mudanças que se revelarão muito produtivas.

Entendo como muito positivo o processo que nos conduziu à aprovação do novo Tratado.Não foi um processo fácil. Estamos a desenvolver um modelo pioneiro na história dacivilização política e a progredir em termos das realidades concretas de que falava Schuman.É natural que, em algumas situações, seja necessário mais tempo para tomar decisões.Ainda assim, já é possível colher hoje alguns frutos do nosso trabalho.

É de elementar justiça reconhecer o extraordinário contributo deste Parlamento. Para aEspanha, que lutou para manter o sentimento europeísta e o equilíbrio do Tratado, o apoiodo Parlamento Europeu foi motivador e decisivo.

Durante as negociações, a Europa continuou a avançar. Em breve, teremos à nossadisposição os novos instrumentos previstos no Tratado e promoveremos o aumento donúmero de matérias em que será possível decidir por maioria qualificada para encontrarsoluções para as preocupações dos cidadãos.

A Europa tem de ser, mais do que nunca, uma referência de progresso e bem-estar. Nãopodemos adiar mais a abertura e a modernização das nossas economias. Temos de fazertudo o que estiver ao nosso alcance para cumprir os objectivos da Estratégia de Lisboa.

33Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 34: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Este tem de ser o nosso ponto de referência principal e imediato para fazer face às exigênciasda globalização na sua dimensão dupla, externa e interna.

Temos de ser ambiciosos. A experiência ensinou-nos que quando somos ambiciosos,obtemos geralmente bons resultados. O extraordinário impacto da introdução do euro,que está agora a ser alargado aos novos Estados-Membros, revela claramente as novaspotencialidades reveladas pelo incremento da integração. Temos de concluir odesenvolvimento do mercado interno de bens, serviços e redes e de consolidar as instituiçõesresponsáveis pela supervisão da concorrência para garantir o seu bom funcionamento.

Na sua dimensão externa, a Europa tem de assumir um papel de relevo no desenvolvimentode regras justas para a globalização. Cabe-nos aumentar a transparência e a abertura dosnossos mercados e apoiar os mercados de parceiros não comunitários num contexto deconcorrência leal. Temos de dar um novo impulso à Ronda de Doha. É nossa função daro exemplo na promoção do comércio internacional.

O mundo globalizado exige esforços adicionais da nossa parte na área da investigação eda inovação técnica, para podermos tirar o máximo partido do extraordinário potencialdos nossos cientistas e das nossas universidades e combinar a excelência com a coesãoterritorial. O nosso modelo de integração efectiva exige que todos os Estados-Membrostenham igual acesso às novas tecnologias.

Queremos fazer progressos no domínio do bem-estar social. A nossa Europa é uma Europasocial, uma Europa de direitos sociais.

(Aplausos)

O nosso modelo económico é inconcebível sem equidade, a qual é impossível de atingirsem protecção. O nosso sucesso tem de ser medido pela nossa capacidade de continuar acrescer sem comprometer a solidariedade e a coesão.

Temos de promover um emprego estável e digno, ajudar os nossos trabalhadores aadaptaram-se às alterações do sistema produtivo e assumir uma posição de vanguarda empolíticas de inclusão social, igualdade de oportunidades e garantia de saúde e segurançano trabalho para os nossos cidadãos.

Esta nova Europa, cada vez maior, só terá sucesso se reforçar a solidariedade entre osEstados-Membros. A coesão é um princípio fundamental, em especial devido aocompromisso que todos assumimos e à necessidade de criar laços decisivos para a integraçãopolítica da União.

A Espanha, que já beneficiou bastante da solidariedade comunitária, defende que os novosEstados-Membros também possam usufruir desses benefícios e está disposta a partilharexperiências com estes países para que eles possam optimizar a sua utilização.

A Europa está hoje profundamente empenhada num processo de grande importânciaestratégica: a criação de um espaço comum de liberdade, segurança e justiça, bem comoo alargamento do Espaço Schengen e do sistema de fronteiras externas. A melhor provada confiança mútua que existe entre nós é a partilha da segurança, na qual osEstados-Membros com fronteiras externas assumiram especial responsabilidade. A Espanhaesteve sempre na linha da frente destas iniciativas e continuará a apoiá-las com toda adeterminação.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT34

Page 35: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Quero sublinhar a importância do reforço da política europeia de imigração. A imigraçãoé uma realidade que tem já um impacto significativo na agenda europeia; este impactoaumentará na medida em que influencia alguns aspectos particularmente sensíveis donosso projecto.

É fundamental começar por reconhecer o potencial positivo da imigração, que se manifesta,por exemplo, no aumento demográfico e no dinamismo da diversidade cultural, bem comono impulso ao crescimento económico, que se tornou bem evidente no caso da Espanha.

Temos de favorecer políticas de integração que respeitem os direitos e exijam ocumprimento de deveres. Uma Europa capaz de promover esta integração será mais digna,mais livre e mais segura.

Ao mesmo tempo, é necessário tomar medidas em relação às causas da migração. Devemosfazê-lo através do diálogo e de uma cooperação eficaz com os países de origem e de trânsito.

Temos de reforçar a solidariedade entre os Estados-Membros e apetrechar-nos com osrecursos adequados para exercer um controlo efectivo das fronteiras externas. A Espanhadesenvolveu medidas que estão a ser aplicadas com sucesso, mas sabemos que há aindamuito por fazer. É necessário reforçar a Agência Europeia de Gestão das Fronteiras,aperfeiçoar a nossa cooperação em terra e neutralizar as máfias que se aproveitam danecessidade vital e urgente destes homens e mulheres que tentam fugir de vidas de misériae frustração.

(Aplausos)

Estamos perante o enorme desafio de evitar e combater o terrorismo e o crime organizado.Temos de ser mais ambiciosos no que respeita à cooperação policial e judicial. A Espanha,à custa de experiências muito dolorosas, tem plena consciência da necessidade de umaacção conjunta, pelo que estará sempre na linha da frente desta política.

Criando novas iniciativas e dando o exemplo, a Europa tem de procurar desenvolverrespostas multilaterais para problemas globais. Já o fazemos no combate às alteraçõesclimáticas, com o nosso compromisso de reduzir, até 2020, as emissões de gases comefeito de estufa em 20%. Podemos e devemos liderar este processo, consolidar a Europacomo uma referência e promover um novo consenso nas negociações que vão ter inícioem Bali, em Dezembro.

No domínio da energia, enfrentamos uma tarefa imensa. A Espanha defende uma políticaenergética adequada, com um mercado único transparente e garantia de aprovisionamentocom o mínimo possível de impacto ambiental. Do nosso ponto de vista, só podemos teruma política europeia no domínio da energia se desenvolvermos um sistema bem articuladode interligações entre todos os Estados-Membros.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,

Somos um actor global, porque o nosso projecto não se destina apenas aos europeus. Nãocumpriremos em pleno os nossos objectivos se defendermos apenas os nossos interesses.Só os concretizaremos se projectarmos os nossos valores na cena internacional e seconsolidarmos a nossa União como uma região de paz, estabilidade e solidariedade.

O sucesso da nossa integração dependerá, em grande medida, daquilo que significamospara os outros, da importância da nossa voz tem em todo o mundo. O futuro precisa, mais

35Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 36: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

do que nunca, da Europa. Não devemos aspirar a que o mundo nos distinga pela nossahistória grandiosa, mas pelo nosso vasto futuro.

Com o novo Tratado, passaremos a ter instrumentos eficazes para a nossa política externacomum. As figuras do Presidente do Conselho e do Alto Representante da União para osNegócios Estrangeiros, em conjunto com a redistribuição de competências e recursos,tornarão esta política mais forte e mais coerente.

Podemos igualmente tirar partido da experiência dos últimos anos, em que incrementámosos meios militares e civis de gestão das crises e organizámos operações militares em locaistão complexos como a República Democrática do Congo ou a Bósnia e Herzegovina.

Somos o principal doador de ajuda ao desenvolvimento e de ajuda humanitária a nívelmundial. Fazemo-lo não apenas pela defesa do nosso conceito de dignidade, das nossasraízes humanistas e do nosso sentido de justiça, mas também para salvaguardar os nossospróprios interesses. Só com equidade e com desenvolvimento partilhado a nível mundialconseguiremos garantir a segurança numa época tão complexa como esta.

No tempo em que vivemos, um tempo de alterações profundas na situação internacional,a Europa tem de se legitimar cada vez mais como área de integração e democracia,desenvolvendo a sua capacidade de catalisação de consensos a nível internacional.

A nova Europa não pode ser vista como estando isolada dos seus vizinhos a Leste e a Sul.A nossa prosperidade deve ser acompanhada pela dos nossos vizinhos. É necessário quenos façamos ouvir, mas também que escutemos a outra parte, para que seja possívelestabelecer um diálogo conjunto e produtivo.

Estamos muito empenhados nas nossas relações com os países do Mediterrâneo Meridional.Estas relações permitem-nos reafirmar a verdadeira dimensão da Europa: a Europa queestá interessada em todos os contributos positivos, que respeita a diferença, que partilhaos seus valores sem os impor e que desenvolve parcerias no quadro da nova política devizinhança.

As maiores disparidades de rendimento do planeta são as que se verificam entre as costasnorte e sul do Mediterrâneo e, nesta região, persistem ainda conflitos profundamenteenraizados. Todavia, é também verdade que as sociedades do norte de África são jovens edinâmicas e que os seus sistemas políticos estão progressivamente a facilitar uma maiorabertura, permitindo um nível de liberdade significativo. As relações com o mundo islâmico,em que a Europa tem de seguir a via do diálogo e da concertação, ficarão marcadas pelaimagem que deixarmos nesta região.

Devemos aproveitar a próxima Cimeira UE-África para trazer à liça as exigências legítimase urgentes deste continente em sofrimento, tão próximo de nós e, ao mesmo tempo,aparentemente tão remoto, que bate ansiosamente à nossa porta. Temos de tomar medidaspara manter o seu povo na terra que lhe pertence, ajudando-o na sua aspiração de viver eprosperar em África.

Podemos também contribuir com a perspectiva europeia para os principais desafios dacena internacional: por exemplo, no processo de paz do Médio Oriente e nas relações como mundo islâmico, no combate ao terrorismo internacional, no apoio à não-proliferaçãonuclear, na relação estratégica com a Rússia e com os maiores países asiáticos, na questãodo respeito dos direitos humanos e da expansão da democracia, no combate à fome e à

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT36

Page 37: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

pobreza, na generalização do acesso à educação e à saúde, bem como no tema da coesãosocial.

Devemos aumentar a nossa presença activa em todas as áreas geográficas do planetafomentando outros processos de integração. Permitam-me, neste ponto, que sublinhe, porexemplo, a importância de alargar as nossas relações com a América Latina e de aceleraras negociações sobre acordos de parceria entre a União e os diferentes grupos regionais daAmérica Latina.

Temos de assumir um compromisso claro com o multilateralismo e de reforçar o papelcentral das Nações Unidas nos esforços de mediação e participação na resolução de conflitos.É também essencial que a União avance na definição de uma política de defesa comum quelhe permita participar de forma activa e independente na manutenção da paz e da segurançaa nível internacional sob a égide das Nações Unidas.

O desenvolvimento das necessárias capacidades militares e civis, os Grupos de Combateda União Europeia, as iniciativas destinadas à criação de forças de reacção rápida e osprogramas da Agência Europeia de Defesa constituem avanços importantes mas, aindaassim, insuficientes.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,

Procurei partilhar convosco alguns aspectos essenciais da minha visão sobre a Europa edos objectivos que, no meu entender, devemos definir agora, na perspectiva do futuro.Procurei falar sobre a Europa do ponto de vista da Espanha. Permitam-me que fale agoraum pouco sobre a Espanha do ponto de vista da Europa.

As políticas aplicadas pelo meu Governo nos últimos anos têm seguido uma linha de rumocoerente com as prioridades europeias.

Estamos a atravessar um período de crescimento económico, com um mercado cada vezmais aberto e a adopção de reformas alinhadas com a Estratégia de Lisboa. Em 2007,realizámos já um dos dois principais objectivos do nosso Programa Nacional de Reformas,atingindo uma taxa de emprego de 66%, e vamos concretizar o segundo objectivo, o daconvergência plena com o rendimento médio per capita da UE, antes de 2010, a datainicialmente prevista.

Estamos firmemente empenhados em formar recursos humanos, criar infra-estruturas eexpandir as tecnologias de comunicação. Desta forma, daremos o nosso contributo paraque a economia da União Europeia se baseie no conhecimento e se torne competitiva nasociedade da informação.

O nosso modelo social está mais desenvolvido e mais forte. As nossas finanças públicasestão saneadas, com um excedente de cerca de 2% do produto interno bruto, com a dívidapública em regressão e com um sistema de segurança social consolidado.

O emprego em Espanha registou um aumento espectacular – três milhões de novosempregos nos últimos quatro anos –, com postos de trabalho mais estáveis. Estamos afazer progressos através de acordos com os trabalhadores e vivemos actualmente o períodode maior harmonia nas relações laborais desde o início da nossa democracia.

Em termos de política social, começámos por instituir o direito à assistência para as pessoasdependentes ou incapacitadas. Pretendemos, assim, erguer mais um pilar doEstado-Providência.

37Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 38: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

A sustentabilidade passou a ser um aspecto decisivo do nosso modelo social. Em 2006,conseguimos reduzir, pela primeira vez, as emissões de gases com efeito de estufa,mantendo, ao mesmo tempo, um forte crescimento económico. Estamos empenhadosnos objectivos de Bali e de Quioto.

Os cidadãos espanhóis usufruem agora de mais direitos, como uma maior influência social,igualdade entre homens e mulheres amplamente desenvolvida e consagrada na lei e umdireito a que atribuo particular significado: o casamento entre pessoas do mesmo sexo,que tem o mesmo valor legal de qualquer outro casamento e que nos engrandece enquantosociedade.

A Espanha tem apoiado o multilateralismo e continuará a fazê-lo. A Espanha tem apoiadoa União Europeia e as instituições europeias e continuará a fazê-lo.

Como temos vindo a fazer nos últimos anos, continuaremos a reforçar a cooperação parao desenvolvimento, a fim de nos podermos situar entre os dez países do mundo que maiscontribuem, em percentagem do produto interno bruto, para a ajuda ao desenvolvimento.Pretendemos aumentar o nosso contributo para que, nos próximos quatro anos, 0,7% donosso produto interno bruto se destine à ajuda ao desenvolvimento, tendo em vista oobjectivo de levar solidariedade e dignidade a milhões de pessoas em todo o mundo.

Senhor Presidente,

Durante muitos anos, só nos era possível dizer que se a Europa avançasse, a Espanhatambém avançaria. Acredito que hoje podemos dizer, com um misto de orgulho ehumildade, que se a Espanha continuar a avançar como tem feito, a Europa tambémavançará.

Estou plenamente convicto de que a Europa superará as nossas expectativas. Podemosconfiar na extraordinária capacidade de todas as suas instituições, em especial desteParlamento. Senhoras e Senhores Deputados, nos períodos mais difíceis, o ParlamentoEuropeu afirmou-se como uma defesa contra o pessimismo e lutou de forma corajosa eincansável pela integração europeia. Hoje, deixo-vos um agradecimento muito especial.As vossas propostas e os vossos debates têm influenciado as principais reformas da Uniãodurante todos estes anos.

Nesta Assembleia, entre vós, sente-se mais a força da Europa do que em qualquer outrolugar. A Europa, aqui, tem mais esperança e mais confiança.

Por essa razão, termino manifestando a gratidão da Espanha e a minha gratidão pessoalpelo prestígio e pelo trabalho deste Parlamento e pelo esforço dos homens e mulheres detodas as ideologias e de todos os países que, ao longo das diferentes legislaturas, nosajudaram, a partir deste hemiciclo, a criar a Europa de hoje e a preparar a Europa do futuro.

Ultrapassámos com êxito o perigo recente. Agora, é tempo de enfrentar os outros desafiosque temos à nossa frente. Temos de olhar para o futuro com determinação e trabalhar emconjunto para realizarmos rapidamente a Europa de que precisamos e, acima de tudo, aEuropa de que o mundo necessita.

Muito obrigado.

( A Assembleia, de pé, aplaude o orador )

Jaime Mayor Oreja, em nome do Grupo PPE-DE. – (ES) Senhor Presidente, estimado SenhorPrimeiro-Ministro, caros Colegas, em nome do Grupo do Partido Popular Europeu

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT38

Page 39: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

(Democratas-Cristãos) e dos Democratas Europeus, agradeço ao Primeiro-Ministro deEspanha pelas opiniões que aqui manifestou sobre o rumo que a União Europeia deveseguir.

Em boa verdade, teria sido bastante mais avisado fazer este discurso e manifestar opiniõessobre a Europa noutra altura, antes e não depois da Cimeira de Lisboa e, mais concretamente,nunca 72 horas após a sua nomeação como Primeiro-Ministro, já que estas precipitaçõespodem ter um efeito nefasto na prossecução do verdadeiro objectivo de uma cimeira destetipo. Ainda assim, caros Colegas, seria injusto da minha parte – e o nosso Grupo nãoquereria que isso acontecesse – não agradecer ao Primeiro-Ministro ou desvalorizar o seucontributo, que é, sem dúvida, muito útil para perspectivar o rumo que a Europa seguiráno futuro.

Não é fácil para mim falar em nome do Grupo PPE-DE sobre liberdade e sobre a UniãoEuropeia, muito simplesmente porque existem deputados no meu Grupo com experiênciaspessoais recentes e extraordinariamente representativas da defesa da liberdade, de tal modoque não encontro palavras suficientes ou apropriadas para verbalizar o verdadeiro eprofundo significado que a União Europeia tem para o nosso Grupo.

O nosso Grupo está muito satisfeito com os avanços promovidos pela Cimeira da Lisboamas, ao mesmo tempo, mentiríamos se não disséssemos que o nosso Grupo entende quenão temos ainda ímpeto nem ambição política suficientes para transformar a União Europeiade hoje na União Europeia de que precisamos para o futuro do povo europeu. Nãoatingiremos a Europa de que precisamos se não acreditarmos em nós mesmos. Nãoconseguiremos realizar a União Europeia com inércia, palavras bonitas ou simplesmentecom a nossa base comum. Palavras como coerência e autenticidade não são suficientespara, por exemplo, resolver o problema da transposição das directivas europeias ou aquestão do cumprimento do protocolo de Quioto.

Senhor Primeiro-Ministro, faltam, claramente, determinação, protecção dos nossos valorese empenhamento. São estes os elementos que nos permitirão solidificar os alicerces donosso projecto, através da consolidação da força moral da União e, em última análise, dasua própria cultura, que é, essencialmente, aquilo que o nosso projecto representa. Todavia,é necessário sensibilizar os cidadãos europeus para estas lacunas. Temos de chamar aatenção dos cidadãos para estas falhas e explicá-las de forma clara. Temos de partilhar comos europeus a necessidade de empenho político e ter a coragem de lhes dizer a verdadesobre o que ainda nos falta. Os cidadãos não se deixarão desmotivar: ao contrário,partilharão connosco as esperanças, os sonhos e a proximidade de que desesperadamenteprecisamos. Temos de lhes dizer claramente quais são os problemas. É necessário definiros temas mais importantes e enfrentar estas questões urgentes para encontrar uma formade distribuir poderes entre a União Europeia e as nações europeias, organizando prioridadese identificando os problemas mais urgentes em vez de cair em generalizações.

Senhor Primeiro-Ministro, o entendimento, o consenso e as abordagens graduais têm sidoos métodos tradicionais da Europa, e digo isto porque o consenso é mais um método doque um valor. Quer isto dizer que temos de definir e organizar este consenso e, ao mesmotempo, atribuir poderes aos grupos políticos europeus, porque não pode haver UniãoEuropeia sem partidos políticos europeus. Isto implica também que não devemos trazerpara este Parlamento quaisquer diferendos ou divergências nacionais (que são reais eprofundos), como lamentavelmente aconteceu com os partidos espanhóis há alguns meses,como bem sabe.

39Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 40: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Senhor Primeiro-Ministro, existem problemas que exigem uma solução europeia. Estefacto fortalece, sem dúvida, a União mas, do ponto de vista do nosso Grupo, reforça tambémas nações europeias. A União não fica mais forte se as nações europeias ficarem mais fracas,bem pelo contrário: a consolidação da União Europeia requer membros fortes, e não épossível consolidar este projecto com nações debilitadas que enfraqueçam a sua integridadeterritorial.

O que nos une é o valor da liberdade. Este é o valor transversal a todos os outros valoresdefinidos na Carta dos Direitos Fundamentais, que será assinada em 12 de Dezembro, emEstrasburgo. É importante frisar que não estamos no domínio das ilusões: trata-se de umcompromisso renovado para com a liberdade, não apenas no território da nossa União,mas principalmente no território dos aliados com quem temos partilhado, ao longo dahistória, a nossa cultura, designadamente na América Latina e em algumas repúblicas daEuropa Oriental. É nestes países que devemos procurar consolidar o nosso conjunto deprincípios e valores.

Termino lançando um mote importante: coerência em vez de palavras. A história revelainúmeros exemplos do efeito benéfico da nossa cultura no mundo. Devemos transmiti-lae, ao mesmo tempo, ter consciência de que não podemos confinar este valor no interiorda nossa União Europeia.

Martin Schulz, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhor Presidente, caros Colegas, é commuito prazer que recebemos o senhor Primeiro-Ministro Rodríguez Zapatero aqui noParlamento Europeu. Registámos também com agrado a sua visita logo após a Cimeira deLisboa, e o facto de ter cá vindo apenas 72 horas após a sua nomeação como Chefe doGoverno. O dia de hoje teria sido ainda mais agradável se o actual chefe da delegação doGrupo PPE-DE tivesse estado presente.

Uma coisa posso dizer: o senhor deputado Daul perdeu hoje um bom discurso doPrimeiro-Ministro espanhol. Perdeu também um discurso pouco convincente do senhordeputado Mayor Oreja, pelo que talvez até tenha feito bem em se ausentar. Tendo em contaa mensagem transmitida pelos lugares vazios no lado direito deste hemiciclo, lanço umrepto ao Grupo Socialista para que, no dia da visita do Primeiro-Ministro Reinfeldt, daSuécia, que não pertence à nossa família política, estejamos todos nos nossos lugares comohoje, porque acredito que a cortesia é uma qualidade que se pode ter ou não ter e pelosvistos a direita não tem!

(Aplausos)

A Espanha e os espanhóis, representados pelo Primeiro-Ministro do seu país, têm o direitode ser respeitados, e por todas as famílias políticas deste hemiciclo. Nós respeitamos essedireito do povo espanhol. Senhor Primeiro-Ministro Zapatero, o senhor agradeceu aoParlamento e agradeceu à União Europeia. Foi um momento memorável do Chefe doGoverno de Espanha, um país que passou 40 anos sob o jugo de uma ditadura implacávele brutal e que conquistou a sua liberdade e a sua diversidade democrática através daintegração na Europa. Senhor Primeiro-Ministro, subir ao púlpito e agradecer à UniãoEuropeia é um acto bem meritório da sua parte. Devo dizer, todavia, que também nósestamos gratos pelo facto de a Espanha ter visto os seus esforços coroados de êxito. Estamosgratos ao povo espanhol e aos democratas espanhóis, homens e mulheres. O seu contributopara a Europa é um contributo para a democracia, diversidade, progresso e estabilidadesocial. Por essa razão, devemos deixar bem claro o nosso agradecimento ao Governoespanhol.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT40

Page 41: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

(Aplausos)

A Espanha é um exemplo para a Europa, tal como a região ibérica no seu conjunto. Omesmo se poderá dizer, alias, da Grécia e de todos os países que tiveram de ultrapassarditaduras fascistas e trilhar um caminho direccionado para a União Europeia no início eem meados da década de 1980. Enquanto europeus ocidentais, tivemos a possibilidade deconhecer estes países antes e depois da transição democrática. A Espanha é um país comuma economia pujante. É uma nação com um grande futuro, cheio de esperança, com umpovo que já contribuiu muito para a paz no mundo, um país economicamente prósperoe legítimo aspirante ao G8, graças ao seu poderio económico. Quem pensaria, há 20 anos,que isto seria possível? Neste contexto, o que me leva a dizer que a Espanha é um exemplo?Como teve ocasião de afirmar, Senhor Primeiro-Ministro, se as políticas estruturais eregionais da União Europeia tiverem, nos países que aderiram à União em 1 de Maio de2004, os mesmos efeitos económicos que tiveram na Espanha, a Europa no seu conjuntoterá um futuro muito risonho, e é por isso que considero a Espanha um exemplo.

(Aplausos)

Senhor Primeiro-Ministro, a Espanha – e o senhor disse-o de forma eloquente – teve sucessograças à sua integração na Europa. Tal como aconteceu com muitos outros países da UniãoEuropeia, a Espanha abdicou de alguma da sua soberania para adoptar o euro. Abdicar damoeda nacional significa abdicar de alguma soberania nacional. No entanto, imaginemoso que poderia ter acontecido se, em Espanha, ainda circulasse a peseta quando o GovernoZapatero, na sua primeira medida depois da tomada de posse, disse “vamos retirar as nossastropas do Iraque”. O dólar americano poderia ter exercido o seu poder sobre a peseta, ecom que efeitos económicos? Abdicar deste elemento da soberania nacional acabou pordotar a Espanha de mais independência e soberania. Também por isso, a Espanha é umbom exemplo, que revela que a integração europeia fortalece as nações, não as enfraquece.

(Aplausos)

O senhor Primeiro-Ministro Zapatero falou de vários temas diferentes. Em nome do meuGrupo e em nome dos homens e, em especial, das mulheres do meu Grupo, permitam-meque deixe algumas palavras sobre a igualdade entre os géneros. Poucos chefes de Governofizeram mais para promover os direitos das mulheres do que o senhor, e o ParlamentoEuropeu tem também a agradecer-lhe os seus esforços nessa área.

(Aplausos)

(ES)Senhor Primeiro-Ministro Zapatero, faço votos para que continue a aplicar as suaspolíticas, que considero importantes, modernas e progressistas. Elas fazem bem à Espanha,e o que é bom para a Espanha também é bom para a Europa. Continue no mesmo caminho,Senhor Primeiro-Ministro.

( O Grupo PSE, de pé, aplaude o orador )

Graham Watson (ALDE). – Senhor Presidente, quando os Estados-Membros ratificaremo Tratado Reformador, como esperamos e acreditamos que aconteça, poderemosperspectivar, finalmente, uma União Europeia revitalizada – uma União capaz de enfrentarnovos desafios, suficientemente humilde para ouvir os seus cidadãos e com vontade políticapara agir. A ratificação do Tratado vem na altura certa, e o meu Grupo agradece-lhe, SenhorPrimeiro-Ministro Zapatero, pelos seus esforços para acelerar o processo.

41Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 42: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O meu Grupo entende que não é necessário nenhum grupo de sábios para reflectir sobreo futuro da Europa. Já fizemos isso no passado e temos bem presente a memória do quese passou. Foi o chamado “período de reflexão”, que já chegou ao fim. Estamos a meiocaminho da Estratégia de Lisboa e só agora estamos a progredir em termos de crescimentoe emprego. Estamos a consolidar o mercado único, a libertar o potencial dos empresárioseuropeus. Estamos a abrir rotas de migração legal para ajudar as economias desenvolvidase as economias em vias de desenvolvimento.

Não devemos agora voltar ao plano francês nem embarcar num novo projecto britânicopara uma zona franca empolada. Estas visões são periféricas, mas apresentadas comoopiniões maioritárias. Não é aqui que encontramos consenso. A maioria dos nossos cidadãosquer uma União que promova uma economia forte e em crescimento. Quer que a UEintervenha mais para lá das suas fronteiras, quer mais empenho no combate ao terrorismo,maior cooperação em matéria de segurança e de defesa e mais medidas de protecção doambiente. Só então a Europa poderá ser um actor global com capacidade de impulsionarreformas que perdurem no tempo.

Como podemos garantir crescimento e empregos se a Europa recua e assume uma posiçãoproteccionista? Como podemos combater as alterações climáticas se não conseguimosagir concertadamente? Como podemos assegurar a paz, a prosperidade e a justiçaalém-fronteiras se a Europa continua com as suas quezílias internas? É por isso que a Europaprecisa de mais políticos que estejam preparados para liderar e para adoptar uma posturapan-europeia.

Senhor Primeiro-Ministro Zapatero, o senhor conseguiu reunir os 18 signatários daConstituição em Madrid, provando que a sua visão de uma Europa aberta, integrada ecompetitiva é partilhada por muitos. É essa visão da Europa que os deputados progressistasde todos os partidos deste Parlamento querem ver desenvolver-se e expandir-se. O GrupoALDE trabalhará em conjunto com todos os que partilham dessa visão e a põem em prática,estejam eles à direita, à esquerda ou ao centro, para assegurar o progresso da Europa. Sónão toleraremos aqueles que professam esta visão mas não a põem em prática.

Senhor Primeiro-Ministro, a Espanha é frequentemente elogiada, e com razão, pelatransformação social e económica que viveu desde que aderiu à União. Precisamos de maispaíses que sigam o vosso exemplo e acompanhem a vossa ambição de uma Europa prósperae aberta.

( Aplausos do centro e da esquerda do hemiciclo )

Brian Crowley, em nome do Grupo UEN . – Senhor Presidente, subscrevo as boas-vindasdirigidas pelos meus colegas ao senhor Primeiro-Ministro, mas num registo diferente. Osenhor Primeiro-Ministro veio preparado para um debate sobre o futuro da Europa mas,infelizmente, acabou por ouvir algumas discussões sobre o passado da Europa em vez deideias sobre o caminho que devemos seguir.

Estou convicto de que, se nos dispusermos a analisar as necessidades da Europa para oséculo XXI, todos conseguiremos identificá-las. De igual modo, todos estamos conscientesde que as ideologias do passado não foram capazes, por si só, de criar soluções para essasnecessidades. A Europa só avançou quando conseguimos combinar ou coordenar diferentesmodelos e ideais. Seja nos domínios da igualdade, da justiça ou do desenvolvimentoeconómico, seja em domínios como a saúde e segurança, foi sempre necessário escolher,caso a caso, um dos modelos de êxito do passado.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT42

Page 43: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Em nome do meu Grupo, gostaria de agradecer ao senhor Primeiro-Ministro pelo respeitoque revelou por este Parlamento, ao agradecer à União e, em especial, ao Parlamento, comoa voz mais representativa dos cidadãos da União Europeia. Vemo-nos – embora nemsempre – como a voz que verdadeiramente representa os cidadãos. Por vezes, podemoserrar, mas ninguém pode pôr em causa a nossa responsabilidade democrática e o nossomandato democrático para representar os cidadãos.

As ideias e opiniões do Parlamento Europeu são, com demasiada frequência, deixadas defora no debate que ocorre a nível intergovernamental. Fiquei muito satisfeito, há algumtempo, durante o período de reflexão sobre o Tratado que ficou para trás e não voltará, aosaber que o senhor Primeiro-Ministro tinha decidido voltar a reunir os “amigos do modelocomunitário”, a quem chamou “amigos do modelo constitucional”, com o objectivo deformar um grupo de vanguarda para reflectir sobre o caminho a seguir pela União. Acaboupor verificar que o sucesso desta acção lhe abriu outras portas e outras oportunidades noGoverno quando precisou de apoio em questões relacionadas com imigração e outrasmatérias.

Se me é permitido deixar hoje um apelo ao senhor Primeiro-Ministro relacionado com ofuturo da Europa, gostaria de lhe pedir que continue a fazer uso da sua influência, nãoapenas na União Europeia, mas principalmente na América Latina, onde os problemasrelacionados com a liberdade, a democracia e o respeito dos direitos humanos se tornamcada vez mais evidentes, suscitados por pretensos movimentos democráticos.

Finalmente, alguns de nós vêem a Europa do futuro com prosperidade, grandesoportunidades e, mais importante do que isso, respeito pelas diferenças e dignidadesfundamentais que existem no seio da União Europeia. Devemos chegar a uma fase em quenão pretendamos transformar tudo num bloco homogéneo com um só formato ou tamanhomas em que, dignificando essas diferenças, possamos criar, de facto, uma União Europeiamelhor, mais diversificada e, seguramente, mais dinâmica para o futuro.

(Aplausos)

Monica Frassoni, em nome do Grupo Verts/ALE. – (ES) Senhor Primeiro-Ministro, o GrupoVerts/ALE valoriza bastante a sua posição firmemente pró-europeia, a coragem que revelouao promover um referendo sobre o Tratado Constitucional e a capacidade demonstradapelo seu Governo para impulsionar, serenamente e sem criar conflitos religiosos, legislaçãoe medidas relativas à igualdade e aos direitos e liberdades individuais, que constituem umexemplo para muitos países europeus, ainda que eu hoje não veja muitas mulheres entreos seus colaboradores.

Valorizamos também os seus comentários sobre imigração, mesmo não aprovando algumasdas medidas que tomou nessa área, e congratulamo-nos pelo facto de ter destacado osaspectos positivos da imigração e não apenas as situações ilegais associadas a esse fenómeno,como porventura teria feito o seu antecessor.

Por estes motivos, gostaria de lhe dizer, Senhor Primeiro-Ministro, que sentimos a sua faltanos últimos dois anos e nos meses mais recentes, nomeadamente durante a criseinstitucional que terminou, sem grande entusiasmo nem glória, no “mini”-Tratado deLisboa. A agenda da Conferência Intergovernamental foi imposta pelos inimigos daConstituição Europeia, enquanto os seus defensores, como o senhor, mantiveram umaposição demasiado discreta, no seguimento da célebre reunião dos 18.

43Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 44: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Agora, na Europa, podemos adoptar várias estratégias: o sistema dualista de Sarkozy, onacionalismo atlântico de Gordon Brown ou o pró-europeísmo bastante formal mas muitosincero de Romano Prodi. Qual é a sua opinião? Quem são os seus aliados?

Senhor Primeiro-Ministro, o senhor aflorou a questão das alterações climáticas, muitoembora a ideia do seu novo contrato entre o Homem – e a Mulher também, espero eu – eo planeta não constitua uma novidade. Falou também demoradamente da gratidão pelaajuda europeia. Tenho de lhe dizer que é hoje evidente, como já vem sendo de há algumtempo a esta parte, que estes fundos europeus estão também a ser utilizados para fazer daEspanha o país com mais quilómetros de estrada por habitante e o território onde a indústriado betão, que também beneficia de fundos europeus, ficou manchada por casos graves deespeculação e corrupção e contribuiu para que a Espanha, em conjunto com o meu país,a Itália, e a Dinamarca – embora em Espanha o caso seja um pouco mais grave – sedistanciasse largamente dos objectivos de Quioto.

Tanto quanto sei, a Espanha não adoptou a Directiva Eurovinheta e continua a ter umapolítica de infra-estruturas de extenso alcance. Fazemos votos para que, na linha daspromessas eleitorais que fez em matéria de alterações climáticas – e não há mal nenhumem fazer um pouco de campanha eleitoral, mesmo neste Parlamento – a Espanha mudeclaramente a sua orientação. Esperamos também que a sua fantástica ministra do Ambienteconquiste um espaço de manobra no seu Governo muito maior do que o que temactualmente.

(Aplausos)

Senhor Primeiro-Ministro, termino dizendo que aqui, no Parlamento Europeu, valorizamosmuito e agradecemos as suas palavras, mas reitero que precisamos de aliados nos Governosdos Estados-Membros. Não podemos vacilar, porque precisamos de pessoas que desejema Europa e que tenham uma visão para a Europa.

(Aplausos)

Francis Wurtz, em nome do Grupo GUE/NGL. – (FR) Senhor Presidente, SenhorPrimeiro-Ministro, o senhor fez aqui um óptimo discurso. Em muitos aspectos, tratou-sede um discurso humanista que estou disposto a aceitar como um ideal para a Europa dofuturo. No entanto, terá de reconhecer que, para que a realidade actual dos europeus sevenha a assemelhar à visão que descreveu, é necessário fazer muitas alterações aosprocedimentos e às estruturas da União Europeia.

Disse no seu discurso que a Europa é uma Europa social. Bravo! A verdade é que não épessimista dizer que, no essencial, esta Europa social ainda está por construir. O quadroactual da política social europeia consiste, de acordo com os Tratados, numa economia demercado aberto e de livre concorrência. Trata-se de um quadro que fomentatendencialmente a concorrência entre modelos sociais e tende naturalmente a reduzir osnossos direitos em nome da competitividade. É um quadro que reduz inevitavelmente opreço da mão-de-obra, aumenta a insegurança no trabalho e compromete os direitossociais.

A questão social é, sem qualquer dúvida, o principal motivo subjacente à desconfiança dosnossos cidadãos nas instituições europeias. O Presidente do Banco Central Europeu, porexemplo, verificou isto mesmo quando interveio recentemente na Conferência daConfederação Europeia dos Sindicatos, onde expôs a sua teoria, a teoria oficial da UE, sobrea moderação de salários para assegurar preços competitivos. Deparou-se com uma oposição

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT44

Page 45: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

unânime. Já tive ocasião de referir que o ministro das Finanças da Alemanha chamou aatenção para o risco de uma crise de legitimidade do modelo social e económico europeu.Abordemos, pois, estes aspectos para conferir maior credibilidade à nossa visão do futuro.

O senhor falou também das relações com África e da necessidade de dar resposta ao seuapelo à justiça. Tem razão. No entanto, nesse caso, por exemplo, teremos de voltar aoprojecto de acordo de parceria económica que foi rejeitado por todos os nossos parceirosafricanos, que estão convictos – e creio que com razão – de que o desenvolvimento dasaptidões humanas e o comércio livre não são totalmente compatíveis.

Para concluir, Senhor Primeiro-Ministro, gostaria de lhe agradecer por nos ter recordadoaqueles que julgo serem os objectivos finais da Europa e, ainda que não tenhamos chegadoa acordo acerca da nossa visão do presente, acertemos pelos menos agulhas em relação àsperspectivas futuras.

Graham Booth, em nome do Grupo IND/DEM . – Senhor Presidente, é um prazer ver osenhor Primeiro-Ministro aqui em Bruxelas. Ele é um exemplo para os outros Chefes deGoverno europeus, um homem que deixou o seu povo decidir sobre a ratificação daConstituição. Essa decisão merece ser aplaudida. Chamado a decidir, o povo espanholvotou esmagadoramente a favor do documento.

Gostaria de saber, por isso, por que razão pretende evitar um novo referendo. Afinal decontas, deveria estar confiante num resultado idêntico. Será porque, como disse o senhorPrimeiro-Ministro, o Tratado Reformador não deixou cair nenhum dos pontos essenciaisdo Tratado Constitucional? Mesmo que assim seja, não há razão para não fazer duas vezesa mesma pergunta ao povo espanhol. Ou será que, como foi dito ao povo britânico, oTratado Reformador não tem qualquer semelhança com a Constituição e é demasiadocomplicado para as pessoas?

Aqui reside, como é evidente, a chave do futuro de todos nós. Ou a elite política não seinteressa pela vontade das pessoas, como acontece com o Presidente Sarkozy e com oPrimeiro-Ministro Brown, ou acham que as pessoas são estúpidas a ponto de seremincapazes de tomar decisões menos triviais. Fico com a ideia de que a União Europeia seestá rapidamente a transformar no primeiro Estado pós-democrático do mundo. Possodizer-lhe o seguinte, Senhor Primeiro-Ministro: se a elite europeia não deixar falar o povo,o povo encontrará certamente outras formas de se fazer ouvir.

Frank Vanhecke (NI). – (NL) Senhor Presidente, caros colegas, do meu ponto de vista,o maior desafio que se coloca actualmente à União Europeia é a total falta de participaçãodemocrática no processo decisório. As instituições europeias merecem cada vez menos aconfiança – e com toda a razão, diga-se – dos nossos cidadãos, que não aceitam que muitasdas decisões que influenciam directamente as suas vidas sejam tomadas em torres de marfimque já não são supervisionadas por nenhum indivíduo ou entidade. Mais ainda, estasdecisões carecem de sustentação democrática. Passo a dar dois exemplos.

Primeiro exemplo: o texto do novo Tratado europeu vai ser ratificado brevemente, emLisboa. Todos sabem que não passa de uma versão ligeiramente retocada da ConstituiçãoEuropeia. O próprio senhor Primeiro-Ministro Zapatero disse que nenhum dos pontosessenciais foi alterado. Ora, o primeiro texto foi rejeitado em referendos democráticos, emFrança e nos Países Baixos, mas parece que tudo isso passou à história entre algumasgargalhadas. Na melhor das hipóteses, talvez seja promovida ocasionalmente uma ou outravotação para agradar aos eurocratas, mas a afirmação democrática implícita nos referendos

45Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 46: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

vai ser atirada ao lixo. Assim, temo que a Europa se esteja a transformar cada vez mais numpequeno clube, daqueles que, ao assumirem as rédeas de um super-Estado, deixam detolerar a participação e perdem o direito a intitular-se democracias. O mesmo se podedizer, em boa verdade, da forma como está a ser gerida a possível adesão da Turquia àUnião Europeia. Os nossos cidadãos não a desejam, bem pelo contrário, já que a Turquianão é um país europeu – não o é em termos culturais, geográficos, religiosos, enfim, nãoo é de todo – mas, ainda, assim, a Comissão e o Conselho estão a fazer tábua rasa da opiniãoda maioria dos nossos cidadãos sobre esta matéria. Em vez de um debate sobre o futuroda União, deveríamos organizar um debate sobre a recuperação da democracia nasinstituições da União Europeia.

José Luis Rodríguez Zapatero, Chefe do Governo espanhol. − (ES) Senhor Presidente,quero, em primeiro lugar, agradecer a todos os intervenientes pelos seus comentários epelo tom em que os fizeram. Posso também dizer que fico muito satisfeito com a vitalidadedeste debate, com a qual, aliás já contava. Fico também muito satisfeito por ter podidocontribuir para um debate tão vivo e intenso, de onde destaco algumas intervenções pelasquais estou profundamente agradecido.

A Espanha agradece à União Europeia, aos fundadores e aos países de maior dimensão,como a França, a Alemanha e a Itália, que nos ajudaram a instaurar a democracia no nossopaís, que nos acolheram na Europa e que, na altura da nossa adesão, contribuíram comrecursos próprios para o nosso desenvolvimento. Agradecemos também a outras figuraspúblicas e homens de Estado que não referi hoje, como Helmut Kohl, Mitterrand e Palme,que muito contribuíram para a democracia e para o futuro da Espanha. Temos orgulhoem contribuir hoje para esta causa comum.

Este sentimento de gratidão está associado à memória do que a Espanha foi capaz de fazernos últimos 25 anos. Talvez nenhuma outra sociedade do mundo tenha vivido umatransformação política e económica tão significativa, com tantos avanços ao nível dos seusdireitos e liberdades e da situação social do seu povo, como viveu a Espanha nos últimos25 anos.

A Espanha esteve sempre empenhada na Europa e foi sempre bastante europeísta. Já tivemosrepresentantes de todos os partidos, culturas e ideologias políticas, representantes comgrande peso político nas instituições europeias, na Comissão e neste Parlamento, que tevetrês Presidentes espanhóis. Todos cumpriram bem a sua missão, e aproveito este momentopara prestar homenagem a todos os que já representaram a Espanha nas instituiçõeseuropeias. Conseguiram moldar uma cultura europeísta corporizada numa organizaçãopolítica que, de acordo com o que foi dito nas intervenções anteriores, não tem precedentes.

A união política a que chamamos União Europeia não tem, de facto, um precedente oumodelo em que se possa apoiar, porque não encaixa em nenhuma das categorias políticasconhecidas. Aqui reside a grandeza da União Europeia, bem como a sua imprevisibilidade,dada a complexidade do processo de formação de uma vontade comum partilhada por27 países, 27 bandeiras, 27 Estados, 27 nações, 20 línguas e uma pluralidade ideológicaque está bem patente neste Parlamento Europeu.

Neste contexto, nenhum dos passos que demos no processo europeu se ficou a dever a umpartido nem proveio de um país ou de uma ideologia. Não foram dados passos baseadosnuma só cor política, numa só matriz ideológica ou numa só bandeira. De facto, todos ospassos que demos resultaram de uma bandeira e de uma ideologia comuns, baseadas nacoexistência e na unidade. Se existe algo que representa a alma europeia é o facto de ela

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT46

Page 47: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

consistir numa união de democratas. A Europa é isto mesmo: uma união de democratasque permite fazer progressos com base em posições tão consensuais quanto possível, querespeitem e envolvam todos os cidadãos, criando oportunidades iguais para todos, mesmopara aqueles que não se revêem no que a União Europeia representa. A grandeza da UniãoEuropeia reside no facto de se tratar de um grupo que proporciona as mesmas oportunidadesaos que são a favor da Europa e aos que não querem que a Europa avance. É essa a grandezado grupo europeu; é essa, em suma, a grandeza de uma união de democratas.

Alguém falou de um “mini-Tratado”. Mediante a perspectiva que adoptarmos, podemosou não ver concretizados os nossos objectivos, mas se este novo Tratado for ratificado portodos e funcionar, será um grande Tratado, não um mini-Tratado. Creio ser essa, pelomenos, a posição que devemos adoptar hoje. Temos de dar tempo a este processo e avaliaro potencial que ele possa vir a ter quando entrar em vigor e for utilizado para fazer faceaos desafios que nos esperam.

Ouvi também uma referência à ratificação do Tratado. Esta ratificação era necessária porquea Espanha foi um dos países que realizaram um referendo consultivo sobre o TratadoConstitucional, o qual entrou posteriormente em processo de renegociação como tratadono sentido mais clássico do conceito europeu.

Perguntaram-me – e não quero fugir a nenhuma questão – por que motivo nãoreferendámos esta decisão. Existem dois motivos óbvios: em primeiro lugar, o povoespanhol manifestou-se a favor de um Tratado Constitucional. O Tratado que agoraadoptámos e que aguarda ratificação, já conhecido como Tratado de Lisboa, inclui muitosdos aspectos do anterior Tratado Constitucional. Em segundo lugar, e este ponto é muitoimportante, existe um consenso alargado no nosso país a favor da ratificação deste Tratadopor via parlamentar, tanto entre os que concordam com o Tratado como entre as minoriasque não o aprovam.

Todavia, devo chamar a vossa atenção para um ponto que julgo ser importante para ofuturo. Não sei se alguma vez conseguiremos resolvê-lo, mas existe um problema na UniãoEuropeia: temos um sistema de ratificação imperfeito, que nunca foi sujeito a um debatede fundo. Na minha opinião, a ratificação deve ser comum e implicar todos os países, sepossível, num acto único e com um instrumento legal único. É claramente difícil fazê-loneste momento, mas penso que se trata de algo que devemos ambicionar e espero que,mais tarde, possamos instituir este tipo de ratificação.

Alguns oradores levantaram a questão – que já vem do início, da fundação da União nasua primeira forma, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, e persistiu durante operíodo da Comunidade Económica Europeia – da relação entre a União Europeia e osEstados nacionais. Esta questão pôs muitas vezes em causa a saúde democrática da UniãoEuropeia no seu conjunto, já que muitas decisões são, naturalmente, tomadas através deprocedimentos intergovernamentais.

Passo a expor, sucintamente, a minha opinião sobre esta matéria.

Em primeiro lugar, o Estado-nação é uma forma de organização política que, em termoshistóricos, procura unificar territórios, racionalizar a acção pública e, consequentemente,abrir caminho aos sistemas democráticos. Cumpriu, assim, uma missão históricaimportante.

A União Europeia é uma forma de organização política baseada na experiência do Estadonacional. É um patamar superior do Estado-nação. Não lhe retira nada, antes acrescenta

47Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 48: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

uma nova dimensão ao Estado e à sua configuração tradicional. Deve-se isto ao facto,comprovado pela história da coexistência política, da civilização política e das comunidadespolíticas, de a união gerar mais-valias. A essência da União Europeia consiste em unir epartilhar. Ela não pretende depauperar ou enfraquecer aquilo que o conceito tradicionalde Estado-nação representa. Com efeito, quanto mais forte for a União Europeia, maisfortes serão os nossos Estados-nações. É essa a minha opinião.

Isto também significa que a União Europeia terá mais capacidade, através das suasinstituições, que precisam de legitimidade e de uma legitimação constante por parte dospolíticos e dos Governos destes países... Rejeito, em absoluto, uma determinada teoria quecircula na União Europeia, que defende que muitos dos problemas da nossa esferaeconómica, privada ou social são da responsabilidade de Bruxelas. Esta postura é prejudicialà integração da União Europeia e é negativa para os nossos cidadãos, para além de que sebaseia numa afirmação geralmente incorrecta.

Acredito que a história nos pode mostrar e o presente nos pode ensinar que a tendênciapara culpar os outros pelo que não fomos capazes de fazer só provoca angústia e nãocontribui em nada para estimular os cidadãos.

Alguns oradores fizeram referência a objectivos concretos e palavras bonitas. Concordo:no contexto da actividade política, não pode haver acção sem palavras nem palavras semacção. Por esse motivo, entendo que tudo o que pode constituir uma opção para o futurotem de ter prioridades, prioridades políticas que sejam credíveis e materializáveis nas nossasacções e decisões. Estamos neste momento a debatê-las. Descreverei resumidamente astrês que me parecem mais importantes para o futuro da União Europeia.

Permitam-me que lhes diga que estas prioridades não têm nada que ver com tratados ouregras operacionais, estruturas ou revisões legislativas, nem mesmo com a redução dalegislação por parte da Comissão que, ainda assim, seria muito bem-vinda. As prioridadesa que me refiro estão relacionadas com objectivos políticos do nosso tempo. Concordocom o orador que disse que a União Europeia é o resultado da interacção entre muitasideologias e valores. No entanto, a União Europeia só poderá ser uma força regional comuma posição de liderança mundial em termos de valores e acções se identificarcorrectamente as prioridades do período histórico que estamos a atravessar neste iníciodo século XXI.

A primeira prioridade é reflectir sobre o que a Europa sabe, porque as melhores experiênciasdeste continente constituem uma lição inestimável. É através da ciência, da criatividade eda inovação que fortalecemos as nossas economias e promovemos a integração social nosnossos países. O desafio que agora se coloca à ciência, e que é, em simultâneo, um desafioe uma oportunidade, é a questão das alterações climáticas e das fontes de energia. Devodestacar um aspecto que foi referido em algumas intervenções, já que não é muito divulgadoe eu não o deixei bem claro no meu discurso. É verdade que a Espanha está longe de cumpriras metas do Protocolo de Quioto. No entanto, também é verdade que, em 2006, ou seja,um ano após a tomada de posse do meu Governo, as emissões de gases com efeito de estufatinham diminuído 4%, mesmo com a economia a crescer 4%. Estamos, portanto,empenhados em continuar a promover acções seguras, que se centrarão, em primeirolugar, na energia de fontes alternativas e renováveis e, em segundo lugar, na eficiênciaenergética e na economia de energia.

Há cerca de 20 anos, o grande debate sobre a forma de a Europa assumir a liderança nainovação – e tenho a certeza que este Parlamento debateu o tema inúmeras vezes –

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT48

Page 49: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

centrava-se no desenvolvimento da nova economia, a economia das tecnologias deinformação. Hoje sabemos que a nova economia que permitirá assegurar o futuro dacapacidade produtiva e, consequentemente, a sua prosperidade, será uma economia queseja capaz de, o mais rapidamente possível, reduzir a nossa dependência do carvão e criaruma fonte de energia alternativa cada vez mais poderosa. Na minha opinião, este é oprimeiro desafio. Devo sublinhar que não se trata apenas de um desafio, mas também deuma oportunidade, já que aqui se concentra boa parte do conhecimento que nos assegurarámuitas coisas, bem como uma parte significativa das potenciais fontes de emprego eactividades com mais valor acrescentado que, por isso, contribuirão para uma maiorprosperidade social.

Em segundo lugar, a Europa tem de avançar no plano social. É justo dizer-se que a Europasó pode avançar neste domínio, tendo em conta o que se passa no continente africano, naAmérica Latina ou em parte do continente asiático, se, em simultâneo, dermos passosdeterminados e categóricos em termos de cooperação e ajuda ao desenvolvimento.

Digo isto, e perdoem-me por dizê-lo publicamente, porque não sei o que é que os povose os governos de muitos países africanos podem pensar quando, por vezes, vêem a UniãoEuropeia com opiniões divididas em relação a determinadas situações de crise profunda.Não sei o que poderão pensar. É apenas a minha perspectiva. Entendo que, felizmente egraças, em especial, ao nosso trabalho nas áreas da democracia, da capacidade de inovaçãoe do Estado-providência, que nasceu neste continente, graças a estes três valores (trabalho,democracia e Estado-providência), seremos provavelmente o continente e a União commelhor protecção social e com os níveis mais elevados de rendimentos e de bem-estar.

A meu ver, a melhoria da previdência social continua a ser um objectivo fundamental.Uma economia aberta não é incompatível com um Estado social que garanta direitos sociaisaos cidadãos. Na verdade, são até complementares. As políticas sociais não consomemriqueza. Podem ajudar a criar riqueza, a criar condições para a participação de todos oscidadãos, partindo de um ensino baseado na igualdade de oportunidades, passando pelaconciliação da vida familiar com o trabalho, que exige uma política social, até à estabilidadedo emprego, que constitui o melhor incentivo à produtividade e que pode ajudar a criarriqueza. As políticas sociais com objectivos de produtividade e cidadania fundamentamum modelo que funciona e que podemos adoptar. Como é evidente, o modelo maisrevolucionário é o modelo da integração e da igualdade plenas das mulheres em todas asesferas laborais e sociais.

A Espanha mudou muito, em parte por ter vivido os últimos 30 anos em democracia. Noentanto, o que mais transformou a Espanha foi a integração das mulheres na vida laboral,na vida social e na vida cívica do país. Foi esse o principal catalisador da mudança daEspanha, uma mudança para melhor, certamente, já que estimulou valores de solidariedadee de progresso. Devo recordar que lidero um governo de composição paritária entre homense mulheres; nenhuma das pessoas que hoje me acompanham faz parte do Governo.

Finalmente, quero destacar o nosso terceiro objectivo, que, a par dos desafios das alteraçõesclimáticas, do bem-estar social e da afirmação dos direitos sociais, tem de ser uma marcadiferenciadora da Europa. Foi este factor que nos permitiu chegar onde chegámos e quefaz da Europa um ponto de referência para outros países. O terceiro objectivo essencial éassegurar e reforçar a nossa coexistência, salvaguardando, ao mesmo tempo, asespecificidades locais, uma vez que vivemos num continente que, nos últimos 20 ou 30anos, assistiu a rápidas alterações demográficas em muitos países.

49Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 50: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Esta coexistência implica integração e uma inflexibilidade total e absoluta em relação aquaisquer sinais de racismo e xenofobia. É isso que significa coexistência. A Europa nãopode trair nenhum dos seus valores, e um dos valores essenciais da Europa democrática éo respeito pela diversidade cultural e religiosa, que implica a rejeição firme de quaisquersinais de xenofobia ou racismo. Falharíamos enquanto europeus se sucumbíssemos atentações desse tipo.

Esta coexistência tem de ser complementada por uma grande tolerância. O alargamentodos direitos individuais e colectivos é não apenas a melhor expressão da liberdade, mastambém um valor com o qual, na minha opinião, a Europa se deve identificar. De facto,que melhor liberdade pode haver do que aquela que respeita as opiniões religiosas, culturaise políticas de todos, bem como a orientação sexual de cada um nas suas relações e nocasamento? Que melhor expressão de liberdade poderá haver?

A Europa é uma união de democratas, como já disse, e, por isso, não se pode quedar pelaliberdade: a Europa tem de se basear na liberdade e na igualdade.

(Aplausos)

Presidente. − Muito obrigado, Senhor Primeiro-Ministro. Não voltará a intervir masficará aqui para ouvir outros oradores.

Vai ter lugar agora a reunião da Mesa e, antes de ir, quero agradecer-lhe pela sua visita epelo seu discurso. Agradeço-lhe a si e à Espanha – todos os governos que trabalharam comquestões europeias na Espanha democrática – pela vossa contribuição para a Europa. Emfunção da nossa experiência nas últimas duas décadas, estamos confiantes de que,independentemente de quem venha a governar a Espanha no futuro, o vosso paísmanter-se-á sempre fiel à sua vocação europeia.

Neste espírito, permita-me que lhe deixe, mais uma vez, um agradecimento muito sinceropela sua visita de hoje.

Jacques Toubon (PPE-DE). – (FR) Senhor Primeiro-Ministro, limitar-me-ei a fazer algunscomentários sobre a questão da imigração, uma preocupação fundamental em termos dofuturo da Europa, em relação à qual o senhor fez algumas propostas consensuais.

É verdade que ninguém tem lições a dar numa área tão difícil, mas também é verdade queninguém se pode sentir desobrigado da solidariedade que um espaço unificado exige. Assondagens revelam que alguns países têm uma abordagem mais económica e outros umaabordagem mais cultural a este problema.

Para os países que dão primazia aos interesses económicos, é importante, naturalmente,fortalecer a legislação de base no domínio do trabalho, o que justifica a adopção ocasionalde medidas de regularização em massa pelos governos nacionais, sem se preocuparemmuito com a inquietação que isto provoca, enquanto os outros Estados-Membros procuramcontrolar fluxos migratórios.

Refiro-me, por exemplo, à operação do seu Governo destinada a regularizar a situação decentenas de milhares de imigrantes ilegais. Na altura, a França lamentou e reprovou essamedida. O nosso Presidente foi bastante claro a este respeito. Não pode haver mais operaçõesdeste tipo no futuro. Mais ainda porque a Espanha recebe, com toda a legitimidade, fundosda UE para tentar resolver as situações dramáticas das suas fronteiras africanas.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT50

Page 51: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O PPE defende políticas baseadas no tratamento individual das candidaturas à regularização,pelo que se recusa a aceitar regularizações em massa, que só servem para agravar aspreocupações. No mesmo contexto, a Presidência francesa vai propor um pacto europeusobre a imigração. Para além disso, Senhor Primeiro-Ministro, nos próximos anos, o Tratadode Lisboa vai criar os meios necessários para que possamos agir em uníssono,desencorajando a aplicação de políticas isoladas. É isso que interessa a longo prazo à UniãoEuropeia, à Espanha e a todos os Estados-Membros.

PRESIDÊNCIA: COCILOVOVice-presidente

Enrique Barón Crespo (PSE). – (ES) Senhor Presidente, Senhor Primeiro-Ministro, SenhorVice-Presidente da Comissão, caros Colegas, quero, em nome dos socialistas espanhóis,agradecer ao senhor Primeiro-Ministro por estar aqui hoje.

Foi dito que o Senhor Primeiro-Ministro fez o discurso ideal. Também foi dito que ele temuma agenda muito ambiciosa. O que gostaria de dizer ao Senhor Primeiro-Ministro, emprimeiro lugar, é que a sua estratégia teve um sucesso real; por outras palavras, ele enumerouuma série de dados económicos, políticos e sociais que justificam o europeísmo, tanto nateoria como na prática. Neste ponto, permitam-me que faça uma curta referência a algoque foi dito aqui hoje. Foi abordada a questão das regularizações em massa. Neste momento,a França e a Alemanha estão a copiar o sistema de regularização

(Aplausos)

adoptado em Espanha, com regularizações individuais e a participação das entidadespatronais e dos sindicatos. Explique-nos, Senhor Deputado Toubon, o que é que está aacontecer no seu país.

Em segundo lugar, Senhor Presidente, quero agradecer, a título pessoal, ao senhorPrimeiro-Ministro por ter feito referência a alguns veteranos e ao trabalho que temos vindoa levar a cabo neste Parlamento de há muitos anos a esta parte. Quero deixar uma coisabem clara a este respeito: para além do que recebemos – e é correcto e justo manifestargratidão por isso – também contribuímos com alguns elementos. A Europa popular esocial, bem como a coesão e a Carta dos Direitos Fundamentais não são marcas registadasda Espanha, mas foram fortemente influenciadas pelo nosso país, o que nos deixalegitimamente orgulhosos.

No que respeita à ratificação, concordo com o que o senhor Primeiro-Ministro disse. Oque me choca é que algumas pessoas, que nada fizeram nos seus países e não deram umúnico passo para a ratificação da Constituição ou para a aprovação do Tratado, procuremagora dar lições àqueles que, como nós, fizeram o seu trabalho.

(Aplausos)

Abordo em seguida um ponto muito específico. Neste processo de ratificação, tem de haverum apelo à solidariedade e à lealdade entre todos; não é correcto que alguns façam o quelhes compete, enquanto outros tentam renegociar o texto. Isto tem de acabar na Europa,de uma vez por todas.

Finalmente, Senhor Presidente, o senhor deputado Mayor Oreja cometeu certamente umlapsus linguae, já que acabou de reeleger aqui o senhor Zapatero como Primeiro-Ministro,quando faltam alguns meses para as eleições. O senhor Zapatero é, neste momento, apenas

51Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 52: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

candidato a Primeiro-Ministro. Seria interessante se, tendo em vista a eleição do próximoPresidente da Comissão, os grupos políticos, a começar pelo Grupo PPE-DE, fornecessemaos respectivos candidatos cópias do discurso do senhor Zapatero.

(Aplausos)

Ignasi Guardans Cambó (ALDE). – (ES) Senhor Primeiro-Ministro, bem-vindo a esteParlamento.

Felizmente, em Espanha, o empenho na construção europeia uniu a maior parte das forçaspolíticas, incluindo as da Catalunha. Esta unidade, que se iniciou em 1986, manteve-se naquestão do euro e repetiu-se no debate sobre a Constituição Europeia. Ela permitiu aanteriores governos e também ao seu Governo liderar a campanha por uma Europa políticae ambiciosa. O seu discurso de hoje confirma o mesmo empenho, pelo qual o felicito.

No entanto, Senhor Primeiro-Ministro, a sua responsabilidade não se esgota em discursosarrebatados, cheios de fervor europeu. A Europa precisa de líderes que concretizem o seuempenhamento neste projecto através da sua acção política corrente e não apenas emocasiões solenes e institucionais. Não vemos esse empenhamento em algumas das acçõesdo seu Governo no dia-a-dia, o que faz com que seja impossível evitar conflitos estéreiscom a Comissão Europeia. Também não vemos esse empenhamento nas pessoas queparecem aguardar uma iniciativa dos outros para definirem a sua própria posição.

Seja como for, é chegada a altura de os líderes políticos construírem uma Europa que dêesperança aos seus cidadãos para este projecto comum. Isto porque, SenhorPrimeiro-Ministro Zapatero, a Europa é mais do que a soma dos êxitos internos dos seusgovernos, incluindo o seu.

A adopção do Tratado de Lisboa marcará o fim de uma etapa, mas será também apenas oinício de muito trabalho. Será um período de consolidação da construção de um espaçode liberdade, segurança e justiça; um período de definição de uma verdadeira políticaeuropeia sobre imigração; um período de aumento da competitividade das nossas empresase das oportunidades dos nossos cidadãos em termos de bem-estar social, bem como umperíodo de reafirmação da voz da Europa no mundo e de melhoria das nossas relaçõescom os nossos vizinhos, incluindo os do Mediterrâneo, para os quais a Espanha podecontribuir, e muito, com a sua ajuda.

Uma vez que não renuncia à sua enorme diversidade nacional e linguística nem se coíbede a reflectir, a Espanha tem, por isso, um papel importante a desempenhar natransformação deste grande ideal numa realidade, e o senhor, se voltar a merecer a confiançanas urnas, sozinho ou em conjunto com outros líderes, terá de se empenhar pessoal evigorosamente na concretização destes objectivos.

Guntars Krasts (UEN). – (LV) Obrigado, Senhor Presidente. Senhor Primeiro-Ministro,o Tratado de Lisboa, que será assinado em Dezembro, não se limitará a configurar osrequisitos constitucionais para o futuro da Europa. Do meu ponto de vista, podemos retirartrês ilações dos resultados de Lisboa com as quais concordarão todos aqueles que sepreocupam com o futuro da Europa – tanto os que receberam com agrado os resultadosde Lisboa como os que os rejeitam. O acordo atingido em Lisboa marcou o início de umafase em que existem condições para algum optimismo em relação ao futuro da UniãoEuropeia, em primeiro lugar no que diz respeito à capacidade de conciliação que osEstados-Membros revelaram; em segundo lugar, verifica-se uma postura cautelosa emrelação à apreciação do acordo alcançado, uma vez que só será possível avaliar o efeito

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT52

Page 53: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

real do Tratado nessa área vários anos após a sua entrada em vigor; em terceiro lugar, égeralmente considerado negativo o facto de, no seguimento dos resultados dos referendosnos Países Baixos e em França, o Tratado Constitucional ter adquirido o estatuto de tratado,em certa medida fazendo tábua rasa da opinião pública. Paradoxalmente, uma das principaismissões do Tratado Constitucional era tornar-se mais compreensível e aceitável para asociedade europeia. Enquanto membro da Convenção Europeia, oponho-me à utilizaçãoe ao espírito da palavra “constituição” no novo tratado. O resultado de Lisboa segue umalinha que apoio, mas penso que as razões que estiveram por trás das alterações nãofavorecem o futuro da Europa. Obrigado.

David Hammerstein (Verts/ALE). – (ES) Senhor Primeiro-Ministro Zapatero, é comespecial prazer que registo a sua presença aqui e o facto de ter atribuído tanta importânciaao desafio das alterações climáticas e à necessidade de agir de imediato. Bem-vindo aogrupo.

Ao mesmo tempo, entendo que as palavras devem ser complementadas por decisõespolíticas determinadas, e é inegável que a Espanha ainda é a ovelha negra em matéria dealterações climáticas, com valores muito distantes dos objectivos de Quioto. Exige-se umaresposta determinada em relação às energias renováveis; precisamos de uma política queinclua instrumentos fiscais. Fico muito satisfeito com a proposta, ainda assim ilusória, deaumento de um cêntimo no preço da gasolina. Na mesma linha, gostaria que a Espanhaapresentasse uma proposta sobre um imposto ambiental a nível europeu que nos permitafazer face à avalanche de produtos estrangeiros e importações de produtos poluentes.

Seria muito positivo se fossem suprimidas as generosas subvenções ao carvão, tanto a níveleuropeu como a nível de Espanha, se fossem levadas a sério as medidas fiscais destinadasa reduzir o consumo desproporcionado de energia em Espanha e se os investimentos eminfra-estruturas pudessem ser redireccionados para os caminhos-de-ferro e para outrosmeios de transporte público em vez de serem canalizados para as estradas.

Num registo mais positivo, gostaria de o felicitar com toda a sinceridade pelo facto de aEspanha ter abandonado a energia nuclear. Este abandono gradual é muito importante e,por essa razão, peço a outros líderes europeus que registem esta medida, já que a energianuclear é muito cara, muito perigosa e de geração muito lenta, pelo que não resolve oproblema das alterações climáticas.

Willy Meyer Pleite (GUE/NGL). – (ES) Bem-vindo, Senhor Primeiro-Ministro. O senhorsabe que eu pertenço àquelas minorias que teriam preferido que o Tratado de Lisboatambém fosse referendado em Espanha e nos outros Estados-Membros.

Ouvi atentamente a sua intervenção e julgo que ainda vai a tempo de assumir a liderançanesta matéria. Ainda há tempo para realizar um referendo, em todos os Estados-Membros,no mesmo dia, para integrarmos neste processo o elemento fundamental da nossa história:as pessoas. A nossa posição não é meramente de fachada; é profundamente democrática,tendo em conta que não é possível construir ou finalizar um projecto europeu sem aparticipação directa das pessoas.

Creio que está a ser demasiado optimista quando diz que já concluímos a construção danossa Europa social. Neste Parlamento, somos muitas vezes obrigados a participar, enquantoco-legisladores, na criação de leis com ataques directos ao Estado social europeu em termosde segurança do trabalho e do emprego. Está em curso um debate sobre a flexigurança.

53Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 54: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Neste contexto, entendo que é necessário um debate sobre a consolidação deste Estadosocial.

Termino com um pedido, Senhor Primeiro-Ministro. Estamos em vésperas da CimeiraUE-África. Peço-lhe que não se esqueça dos territórios ocupados do Sara Ocidental. AEspanha e a União Europeia têm uma responsabilidade fundamental nesta zona. O Conselhode Segurança das Nações Unidas exigiu o direito à autodeterminação; cabe à União Europeiasancionar esta exigência e, se possível, concretizá-la na Cimeira UE-África.

Irena Belohorská (NI). – (SK) Senhor Primeiro-Ministro, o senhor prestou homenagemao Parlamento, e eu gostaria de lhe prestar homenagem a si e, por seu intermédio, à Espanha.O futuro da Europa representa uma tarefa colossal para o Parlamento Europeu. No que serefere à adopção de legislação, o processo de co-decisão está a ser ampliado e vai passar aabranger 68 domínios. Estes incluem a energia, as alterações climáticas, os Fundosestruturais, a cooperação em matéria de direito criminal, a propriedade intelectual, entremuitas outras. O Parlamento Europeu está em vias de ser co-legislador em 95% da legislaçãoeuropeia. Assim, o Parlamento passa a ter poder de decisão sobre um volume de legislaçãocorrespondente ao dobro do actual. Mais ainda, o Parlamento Europeu vai eleger oPresidente da Comissão Europeia, que, por sua vez, terá de informar o Parlamento Europeude todos os seus debates no Conselho Europeu.

Em 2009, o Parlamento Europeu será, portanto, o Parlamento mais forte desde a suaprimeira sessão, em 1968. Será também um parceiro à altura das outras instituiçõeseuropeias. Por essa razão, temos forçosamente de aumentar a taxa de participação naseleições de 2009 para este organismo reforçado. A taxa de participação das últimas eleiçõespara o Parlamento Europeu foi a mais baixa de sempre. Só 47% do eleitorado votou, e naEslováquia, que aqui represento, a taxa de participação quedou-se pelos 11%. Temos muitotrabalho à nossa frente.

Manfred Weber (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Primeiro-Ministro, carosColegas, minhas Senhoras e meus Senhores, quero felicitar o senhor deputado Schulz.Conseguiu assegurar uma palmadinha nas costas por parte dos seus amigos socialistasgraças a uma polémica tonta – para não dizer idiota – criada contra o Grupo PPE-DE. Poucodepois do final da sua intervenção, havia tantos lugares vazios no lado socialista comoaqui. Embora seja tentador dizer que os socialistas só ouvem os seus grandes líderes e nãose interessam pelo debate, vou abster-me de o fazer, porque devemos respeitar-nos unsaos outros. Acho que o senhor deputado Schulz nos deve um pedido de desculpa.

Permitam-me que injecte alguma adrenalina no debate, deixando a seguinte pergunta: quelições aprendemos hoje? Bom, descobrimos que a Espanha é uma nação europeia. Julgonão me enganar se disser que a nação era a mesma quando o Primeiro-Ministro Aznar aquiinterveio. Mas também ouvimos aqui um discurso sobre políticas internas, já a prepararas eleições.

Entendo que não cabe ao Parlamento Europeu alinhar neste jogo. Angela Merkel e oPresidente Sarkozy também estiveram aqui e não trataram da sua agenda nacional; falaramsobre a Europa. Estes debates só têm valor se nos debruçarmos sobre questões de pormenor.Nesse aspecto, o meu colega Dupont tem toda a razão, como é evidente. O facto de aEspanha ter legalizado 700 000 imigrantes foi condenado de forma inequívoca peloPresidente Sarkozy na semana passada, neste mesmo Parlamento. Teria sido interessanteouvir uma explicação para algumas divergências muito claras que existem no ConselhoEuropeu sobre esta questão. Teria sido igualmente interessante ouvir uma descrição do

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT54

Page 55: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

que estamos efectivamente a fazer para resolver o problema da imigração ilegal. Sabemosque existe imigração legal em massa e sabemos que estão em discussão directivas europeiasclaras que definem regras e procedimentos para as operações de regresso dos migrantesilegais. Estas directivas estão a ser bloqueadas no Conselho Europeu e não estão a avançar.

Não encontro nenhuma forma de explicar aos nossos cidadãos por que motivo estamosaqui a falar dos grandiosos e nobres valores da Europa, quando os avanços que fazem parteda esfera de competência do Conselho Europeu – do qual o senhor faz parte, SenhorPrimeiro-Ministro – estão, infelizmente, a ser protelados.

A mensagem que deixo é a seguinte: os discursos europeus são importantes, e falar sobreos valores fundamentais da Europa é importante, mas é preciso dar prioridade à acção.

Bernard Poignant (PSE). – (FR) Senhor Primeiro-Ministro, quando falamos do futuroda Europa, a história nunca está muito distante. Isto foi bem evidente para os nossosconcidadãos enquanto o Muro de Berlim esteve de pé. Sabíamos onde estava a ameaça,porque ela tinha um local e um rosto. Estivemos sempre na vanguarda da liberdade, atécom Franco mesmo ao nosso lado e, de qualquer modo, nem foi necessário falar defronteiras porque elas foram determinadas por uma Cortina de Ferro. Esta dividia a Europade forma nítida, e estava tudo dito.

Actualmente, sinto que o futuro da Europa reside na sua geografia. Basta olharmos para oque nos rodeia. Estamos bem perto do campo de batalha do mundo actual, de Gaza a Cabul.Estes povos precisam do espírito de reconciliação dos europeus. Estamos também muitopróximos da região mundial mais afectada pela fome e pelas pandemias, África, a quetambém fez referência. É necessário promover a partilha naquela região, porque é lá quepodemos começar a controlar os fluxos migratórios.

Por outro lado, estamos bastante próximos de uma região que tem revelado sinais defanatismo religioso nos últimos anos. Sem generalizações, como é evidente. Nesta região,temos de apelar a um diálogo entre culturas e evitar um choque entre culturas. Estamostambém muito perto das reservas de petróleo e de gás. Precisamos delas. Boa parte dasnossas previsões de futuro depende da segurança do aprovisionamento e da nossaindependência energética.

Podemos dar algumas explicações aos nossos concidadãos, que parecem um pouco perdidosneste contexto. A Europa moderna está localizada no centro de nações-continentes. Já nãoexistem impérios. Os senhores tiveram um império, nós também. Ainda resistem, aqui eali, algumas partes desses impérios. Já não há blocos. A Europa tem de seguir um rumonovo. Não é possível fazê-lo simplesmente através da acumulação de directivas. É necessáriodefinir algumas perspectivas mais amplas para reconstruir ou tentar reconstruir uma espéciede sonho europeu. É esta a minha visão parcial do futuro da Europa.

Finalmente, peço-lhe alguma tolerância, Senhor Primeiro-Ministro, já que no próximo anose comemoram os 200 anos da campanha espanhola de Napoleão I. Uma vez que o conheçopessoalmente e que no próximo ano haverá uma Presidência francesa, peço-lhe que sejatolerante connosco.

Andrew Duff (ALDE). – Senhor Presidente, gostaria de agradecer ao senhorPrimeiro-Ministro pelo seu discurso inovador sobre união política. Ficar-lhe-ia muito gratose conseguisse encontrar tempo para ir a Londres repeti-lo a Gordon Brown, seu homólogoe social-democrata, incluindo as passagens relativas à importância da dimensão social no

55Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 56: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

mercado único e à importância da solidariedade e da coesão da União face aos desafiosglobais que se lhe colocam.

Daqui a duas semanas, o senhor Primeiro Ministro estará no Conselho Europeu deDezembro, a debater com o Presidente Sarkozy a proposta de criação de um comité dessages, um comité de sábios. Ficar-lhe-ia muito grato se dissesse ao Presidente Sarkozy quenão devemos comprometer as perspectivas de ratificação do Tratado reavivando querelassobre procedimentos e equilíbrio de poderes. Peço-lhe que lhe diga também que não érazoável tentar decidir as fronteiras geográficas da Europa. O processo de alargamentomantém-se firme. A Europa só conhecerá a sua forma final quando os países europeus quenão pertencem à União já não quiserem aderir.

PRESIDÊNCIA: SIWIECVice-presidente

Mirosław Mariusz Piotrowski (UEN). – (PL) Senhor Presidente, do ponto de vistageográfico, a Europa está claramente definida e tem fronteiras concretas. Todavia, numcontexto político, o termo Europa passou também a ser utilizado para definir a UniãoEuropeia em vias de alargamento. Por um lado, nem todos os países europeus pertencema esta organização, mas, por outro lado, a maioria dos deputados do Parlamento Europeuestá a exercer pressão no sentido da admissão de países de fora da Europa, como a Turquia.

O debate sobre o futuro da Europa tem de ter em conta as suas raízes e os seus valoresfundamentais. Existem milhares de documentos com referências aos valores europeus.Todavia, eles nem sempre são definidos com clareza, nem sequer, por exemplo, na Cartados Direitos Fundamentais que está em discussão. Em última análise, as raízes europeiassão cristãs, e aqueles valores fundamentais foram definidos há muito tempo. Os esforçosconstantes para definir o óbvio criam distorções de proporção. Por outro lado, esse esforçopermanente afecta também a capacidade de dar resposta aos problemas reais do velhocontinente, como o envelhecimento preocupante da população da Europa, a migração, aconcorrência agressiva dos países asiáticos, o terrorismo, as epidemias, as novas doençase a segurança energética.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE). – (ES) Senhor Primeiro-Ministro, é justo reconhecerque, após um período de incerteza preocupante, o senhor conseguiu ser um dos líderesque revigoraram a relação transatlântica da Europa, pelo que o devo felicitar.

No entanto, para aqueles que, como eu, se consideram profundamente europeístas, é tristeverificar que esta relação transatlântica continua sobrecarregada com dois pesos que,noutros tempos, a fizeram afundar: demasiado mercantilismo e demasiadointergovernamentalismo. Registamos também que, embora o navio esteja a navegar emáguas tranquilas, o caminho seguido – ou a rota definida, para utilizar um termo náutico– é o indicado pela bússola da senhora Merkel e do senhor Sarkozy, o que faz tombarclaramente o navio para a direita conservadora.

A questão é a seguinte: que margem de manobra tem o Senhor Primeiro-Ministro Zapateropara endireitar o navio e corrigir a rota? Como acha que vai convencer aqueles que, apesarde serem europeístas, têm medo de embarcar no navio europeu por acharem que ele éinseguro, ou porque não sabem para onde ele vai, ou porque não vêem onde está a Europasocial, a Europa sustentável em termos ambientais ou a Europa responsável na cenainternacional, a Europa transparente, democrática e popular de que tantas vezes falamos?

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT56

Page 57: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Sente-se capaz de liderar a transição da Europa de mercado para a Europa política? E deque forma?

Para além disso, e uma vez que felicitou tantas vezes este Parlamento, não acha que é tempode o Parlamento Europeu passar a ser o principal legislador europeu?

A propósito, já que estamos a falar sobre este assunto, e tendo em conta as mais recentesinformações vindas a público sobre a utilização de bases espanholas para o transporte deprisioneiros para Guantánamo, tenciona o seu Governo, através do Conselho de Segurançada ONU, reavaliar as suas relações com os EUA?

Pergunto isto, Senhor Primeiro-Ministro, porque esta questão está intimamente relacionadacom a Europa, em especial com a sua credibilidade.

Sylvia-Yvonne Kaufmann (GUE/NGL). – (DE) Senhor Presidente, SenhorPrimeiro-Ministro, o Parlamento decidirá amanhã se a Carta dos Direitos Fundamentaisserá juridicamente vinculativa no futuro. Para mim, que fiz parte da Convenção instituídapara elaborar o projecto de Carta dos Direitos Fundamentais, esta será uma votação muitoimportante, não apenas por ter tido a honra de trabalhar naquele que é o mais modernodocumento europeu sobre direitos fundamentais, ou – como muitos outros – por ter lutadodurante sete anos para o tornar juridicamente vinculativo.

A Carta dos Direitos Fundamentais assenta na indivisibilidade dos direitos civis, políticose sociais. Para mim, que me situo à esquerda neste Parlamento, que nasci em Berlim e vivina RDA até à revolução pacífica de 1989, esta questão é fundamental. Para mim, o nosso“sim” inequívoco à Carta é a consequência lógica da análise crítica da nossa própria história:uma análise que se revelou necessária e que se concentrou numa violação colossal dedireitos humanos e de direitos fundamentais sob a capa de um “socialismo real”.

O seu país, Senhor Primeiro-Ministro, desempenha um papel importante na UE. Ao votarem“sim” no referendo ao que era então o Tratado Constitucional, os cidadãos espanhóis deramum enorme contributo para que a Carta se mantivesse na ordem do dia. O senhor pode edeve tirar proveito dessa conquista. Todos esperam muito da Europa. Esperam que a Europaajude a resolver as suas necessidades e preocupações diárias. Querem que a Europa tenhaum papel substantivo – e não se limite a acompanhar a melodia, como disse Jean-ClaudeJuncker – para ser capaz de criar uma Europa dos trabalhadores, uma Europa genuinamentebaseada na solidariedade. É por isso que é necessário lançar uma campanha enérgica naUnião Europeia contra o dumping social e salarial. Do que precisamos é de salários mínimosque garantam a subsistência das pessoas. A questão social é, sem dúvida, crucial para ofuturo da Europa!

Roger Helmer (NI). – Senhor Presidente, Senhor Primeiro-Ministro, o Tratado de Lisboa,ou antes a Constituição rebaptizada, representa a vossa visão do futuro da Europa. É aConstituição que foi decisivamente rejeitada pelos eleitores franceses e neerlandeses em2005 e que os senhores procuram impor, sem o consentimento do povo.

Em todos os 27 Estados-Membros, as sondagens indicam que a maioria dos cidadãos querque o Tratado seja referendado. No Reino Unido, 80% manifestam-se a favor da realizaçãodo referendo, e dois terços votariam “não”; mas o nosso Governo recusa-se a deixar-nosvotar, apesar do compromisso solene que assumiu no seu manifesto eleitoral.

Senhor Primeiro-Ministro, o senhor falou de uma Europa de democracia, mas esta Europareprime a opinião pública. O desprezo que revelamos pela opinião pública ridiculariza a

57Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 58: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

nossa pretensão de uma “União de Valores”. Os meus eleitores dizem-me vezes sem contaque votaram em 1975 a favor de uma zona de comércio livre e não de uma união política.É tempo de desmantelar as estruturas políticas supranacionais da UE e regressar ao simplesgrupo comercial que foi prometido aos britânicos em 1972.

Marianne Thyssen (PPE-DE). – (NL) Senhor Presidente, o facto de recebermos oPrimeiro-Ministro espanhol na nossa sessão de hoje poderia dar a ideia, errada, de queainda estamos no período de reflexão sobre a Constituição, já que a série de debates comprimeiros-ministros foi planeada com essa finalidade. Felizmente, esse período já faz partedo passado, e conseguimos entretanto chegar a acordo sobre um bom Tratado Reformador.É claro que o Senhor Primeiro-Ministro é bem-vindo, já que, neste momento, vale a penafalar sobre o futuro da Europa. Esse debate é mais oportuno do que nunca, pois o Tratadonão é um fim em si mesmo, mas um novo começo.

Não é, repito, um fim em si mesmo; é um instrumento que devemos aplicar de forma eficaze que nos proporciona uma perspectiva de melhor administração, mais democracia,realização de valores como a liberdade, a segurança, a prosperidade e uma ampliação danossa economia de mercado com preocupações sociais num mundo aberto e globalizado.Posso afiançar-vos, Senhor Primeiro-Ministro, caros Colegas, que estes são objectivospartilhados por muitos cidadãos belgas no que diz respeito à reforma do Estado. Aindaque se trate apenas de um instrumento inicial, ele contribui para o objectivo de realizar asmetas que partilhamos com tantas outras pessoas.

Adrian Severin (PSE). – Senhor Presidente, gostaria de cumprimentar o senhorPrimeiro-ministro por ser um dos poucos primeiros-ministros que usam a mesma linguagemtanto aqui em Bruxelas como nos seus países. Gostaria ainda de o cumprimentar por serum dos poucos primeiros-ministros que não escondem o que a Europa é e o que ela deveser para o seu próprio povo. É por isso que o seu povo o apoia e que a Espanha disse umrotundo “sim” à Constituição Europeia.

Gostaria também de aproveitar esta oportunidade para felicitar o senhor Primeiro-Ministropor ter recuperado um nível de representação adequado para a Espanha neste Parlamento,neste hemiciclo, que será posto em prática a partir de 2009.

Julgo que a mensagem da Espanha é clara para todos nós, e devemos partilhá-la: a Europadeixará de o ser se não for social; a Europa deixará de o ser se não for um actor global; aEuropa terá de ser capaz de combinar solidariedade com subsidiariedade, caso contráriofalhará; a Europa terá de ser capaz de criar um modelo de crescimento sustentável ouacabará por desaparecer; a Europa terá de ser capaz de criar soluções que favoreçam ainclusão social, a igualdade entre homens e mulheres e a participação dos cidadãos, oubaqueará; a Europa terá de ser capaz de associar o multiculturalismo à coesão cívica, a livreconcorrência à generosidade, a eficiência à justiça e a flexibilidade à segurança, casocontrário deixará de fazer sentido.

Subscrevo também a ideia do senhor Primeiro-Ministro de que a segurança é indivisível edeve ser individual, social, nacional e internacional para todos. Partilho da sua opiniãosobre a imigração. De facto, a resposta aos desafios colocados pela imigração é a integraçãoe não a expulsão; a integração e não a marginalização. A estratégia mais sensata é aquelaque é direccionada para o tratamento das causas e não dos sintomas.

Entendo perfeitamente as razões que levam o senhor Primeiro-Ministro a enjeitar a ideiade outro referendo sobre o novo Tratado. Ele tem já um “super-mandato”, pelo que está

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT58

Page 59: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

em condições de sancionar um “mini-Tratado”. Temos de ratificar rapidamente este Tratadopara iniciarmos um novo caminho em direcção a uma Europa mais integrada.

(Aplausos)

Bogdan Pęk (UEN). – (PL) Senhor Presidente, à medida que fui acompanhando estedebate, fiquei com a sensação de que tudo está bem e vai ficar ainda melhor, embora arealidade seja já tão perfeita que dificilmente há espaço para melhorias. Existe, todavia,uma série de problemas sobre os quais os grandes líderes da União Europeia falam emuníssono, mas em que estão errados.

Estamos perante uma nova quase-religião, designadamente o chamado efeito de estufa. Oefeito de estufa é-nos apresentado de tal forma que parece não restar alternativa senão umaredução radical das emissões. Assim, os países europeus são obrigados a concorrer compaíses que não têm planos tão severos para a restrição das emissões. Entretanto, todos oscientistas credíveis estão hoje convictos de que o efeito de estufa é um fenómeno naturalque ocorre ciclicamente e no qual a totalidade dos esforços humanos apenas terá umainfluência de alguns pontos percentuais, no máximo.

Caros Colegas, apelo a que não se deixem levar por ideias ilusórias. Ao contrário, peço-vosque se dediquem à criação de uma política energética sensata, já que o petróleo custa já100 dólares americanos por barril, com previsões que indicam que esse valor deve aumentarem breve. É natural que se pergunte o seguinte: porque é que chegámos a esta situação equem lucra com ela?

Gerardo Galeote (PPE-DE). – (ES) Senhor Primeiro-Ministro, faço minhas as palavrasde boas-vindas proferidas por todos os colegas do meu Grupo, num acto de respeito ecortesia parlamentar que, ao que parece, são conceitos estranhos ao Grupo PSE.

Senhor Primeiro-Ministro, nós, os deputados europeus espanhóis, devemos tambémsentir-nos honrados por o senhor estar hoje aqui antes de informar o Parlamento espanholdo resultado do Conselho de Lisboa, algo que, certamente, tencionará fazer antes dadissolução do Parlamento espanhol, já que, como concordará, o povo espanhol mereceuma explicação por ter sido, como aliás referiu, o primeiro povo europeu a votar emreferendo uma Constituição que ainda não existe.

Senhor Primeiro-Ministro, o compromisso europeísta que manifestou no seu discurso épartilhado pela grande maioria dos deputados deste Parlamento. Assim, seria presumívelque, neste momento, partindo da Europa e particularizando para o caso da Espanha, comoreferiu, o senhor partilhasse da nossa preocupação em relação ao facto de a Espanha tersido o pior país europeu em termos da transposição das directivas comunitárias para alegislação nacional e o país com mais processos por infracção das leis da UE. De igualmodo, devo dizer que os compromissos que assumiu hoje em relação ao ambiente – e quemerecem o elogio de todos – contrastam com a realidade dos factos, já que, hoje mesmo,ficámos a conhecer um relatório da Comissão Europeia que indica que o nosso país pertenceao grupo dos que estão mais longe de cumprir as metas definidas no Protocolo de Quioto.

Senhor Primeiro-Ministro, não lhe posso desejar sorte para as eleições de Março próximo.É verdade que o seu discurso foi mais um discurso de campanha do que qualquer outracoisa, mas quero que o senhor – e aqui reside a questão essencial – faça tudo o que estiverao seu alcance para restabelecer o consenso entre as forças políticas espanholas a nível dasinstituições europeias, já que esse consenso se esvaiu, Senhor Primeiro-Ministro, e não foicertamente por causa de iniciativas deste lado da...

59Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 60: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

( O Presidente retira a palavra ao orador )

José Luis Rodríguez Zapatero, Chefe do Governo espanhol. − (ES) Senhor Presidente, voufazer dois comentários breves às questões que foram mais vezes referidas: a política deimigração e a regularização da situação dos migrantes na Espanha.

Sou a favor de uma política de imigração para a União Europeia que abranja o controlodas fronteiras, a integração e um estatuto para a sua regulação comum. Estamos longedesse desiderato, mas posso garantir uma coisa aos dois deputados que levantaram estaquestão: quando assumi funções como Primeiro-Ministro, fiquei a saber que existiam 700000 imigrantes clandestinos a trabalhar no meu país em situação de exploração, sem pagarimpostos ou contribuições para a segurança social e que trabalhavam na economia informalou ilegal.

Os nossos valores europeus consubstanciam-se em direitos, legalidade, transparência e noEstado de direito. Procurarei, por isso, certificar-me de que, no meu país, ninguém trabalhailegalmente, ninguém é explorado, ninguém é impedido de exercer os seus direitos eninguém fica isento dos deveres de um cidadão de um país democrático. Nunca.

(Aplausos)

Não sei quantos destes 700 000 indivíduos entraram no nosso país através da França. Nãosei. O que sei é que a França e a Espanha, ao cabo de muito diálogo, uma vez que haviadivergências de opinião, partilham agora uma filosofia comum e uma abordagem políticacomum. O mesmo se aplica ao Governo alemão. As experiências e circunstâncias diferemmuito de país para país, devido à ausência de uma política comum de imigração. Na faltadessa política, temos tendência para responsabilizar a França pelos nossos problemas,como a França para nos responsabilizar, ou a Alemanha para responsabilizar a Itália evice-versa. Esta situação é absolutamente estéril e lesa a construção europeia.

Quanto tivermos uma política comum sobre fronteiras externas, com todos os paísesenvolvidos no seu controlo, e uma política de integração e um estatuto comum, será maisdifícil cair na tentação simplista de criticar um país que enfrentou um problema de 700 000trabalhadores ilegais e lhes garantiu um estatuto legal.

No que respeita às alterações climáticas, não me quero repetir nem olhar para o passadoe para um ou outro Governo em particular, porque o meu país teve governos de todas ascores políticas... A Espanha teve, sem qualquer dúvida, um enorme crescimento económico.A única coisa que posso afirmar com conhecimento de causa é que o Governo a que presidofoi o único que conseguiu travar o aumento das emissões de gases com efeito de estufa –conseguimo-lo em 2006 – e o único que foi capaz de começar a reduzir essas emissõespromovendo, ao mesmo tempo, um crescimento económico de 4%. Para além disso, 2006foi o primeiro ano em que se verificou uma redução do consumo primário de electricidadeem Espanha. Estamos extremamente determinados nesta área, como temos estado noutrosdomínios da acção política em que não hesitamos em aprovar legislação de grandeenvergadura sobre direitos ou em tomar decisões enérgicas em questões de política externaquando nos deparamos com determinadas acções. Na arena internacional, não deixaremosde ser firmes ou determinados nas questões que descrevi como um enorme desafio e umaexcelente oportunidade. Posso garantir-vos que a Espanha não é o pior país, nem o serános próximos anos, porque vamos fazer um esforço enorme a nível nacional para reduzirdrasticamente as emissões de gases com efeito de estufa, para investir na energia de fontes

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT60

Page 61: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

renováveis alternativas e para dar seguimento a uma política de eficiência e economiaenergética.

Termino reiterando a minha profunda gratidão ao Parlamento Europeu. Aqui, senti-meconfortável, senti-me europeu, profundamente europeu e, quando sair desta casa do povoeuropeu, sentir-me-ei ainda mais europeu. Teria sido um prazer ter cá vindo antes.

(Aplausos)

Presidente. – Está encerrado o debate.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Katalin Lévai (PSE), por escrito. – (HU) Senhor Presidente, o desenvolvimento económicoe a criação de empregos são requisitos primordiais na Europa de hoje. É necessário fazerprogressos na área da criação de empregos através do desenvolvimento económico, o querequer planeamento a mais longo prazo do que os próximos 1 a 2 anos, bem como umautilização mais flexível dos fundos de solidariedade.

Temos de enfrentar a ameaça das alterações climáticas e de assegurar um aprovisionamentoenergético seguro e sustentável. A protecção ambiental e a introdução de tecnologiasrespeitadoras do ambiente constituem hoje desafios globais que afectam a sociedade noseu conjunto.

Cumprindo a Estratégia de Lisboa e corrigindo-a sempre que necessário, a União devetransformar-se numa região de prosperidade, solidariedade, segurança e liberdade, embusca de novas parcerias em todo o mundo, em especial com os seus vizinhos maispróximos, a Ásia e a África.

A Europa tem de assumir um papel decisivo na globalização! Neste contexto, é importantecriar uma sociedade baseada no conhecimento, onde os cidadãos possam adquirirconhecimentos flexíveis e transmissíveis, que possam utilizar na sua vida diária, atravésdo ensino e da formação. A aprendizagem ao longo da vida é a base da mobilidadeprofissional. No domínio do emprego, temos de alcançar a plena igualdade deoportunidades, combater a exclusão social e apoiar os que ficam para trás, as pessoas emsituação de desvantagem e as que, por força das circunstâncias, acabam por ficar à margemda sociedade. Deve ser dada especial atenção às pequenas e médias empresas, que podemser sustentáculos de uma “sociedade-providência” e de um nível de emprego adequado.

A produção de energia tem de assentar em bases sólidas, o consumo tem de diminuir e énecessário limitar os resíduos através da introdução de tecnologias economizadoras deenergia. É fundamental aumentar a proporção de energia gerada a partir de fontesalternativas e, em paralelo, reduzir a utilização de combustíveis fósseis.

17. Acordos de parceria económica (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre Acordos deParceria Económica.

Ján Figeľ, Membro da Comissão . − Senhor Presidente, agradeço esta oportunidade queme é concedida para fazer o ponto da situação das negociações de Acordos de ParceriaEconómica (APE). Congratulo-me por verificar que a estratégia proposta pela Comissãona sua comunicação de 23 de Outubro foi aprovada pelo Conselho na semana passada.

61Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 62: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Como disse o Comissário Mandelson à Comissão do Comércio Internacional desteParlamento na semana que passou, demos um passo decisivo nestas negociações.

As negociações estão a avançar muito rapidamente. Permitam-me que descrevagenericamente a situação em que nos encontramos neste momento. Na África Oriental,foram concluídas as negociações para um acordo precursor com a Comunidade da ÁfricaOriental, que inclui o Quénia, o Uganda, o Ruanda, o Burundi e a Tanzânia. Estamos prestesa concluir um acordo com os países do Oceano Índico no contexto do agrupamento daÁfrica Oriental e Austral.

Na Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, conseguimos negociar umacordo precursor com o Botsuana, o Lesoto, a Suazilândia e Moçambique. Angola tambémfará parte do projecto, logo que tenha reunidas as condições necessárias. A África do Sule a Namíbia vão tomar uma decisão sobre a sua participação nos próximos dias.

No que respeita à região do Pacífico, estamos a trabalhar em paralelo para gizar um acordopermanente para a região no seu conjunto e acordos específicos relativos ao acesso aomercado que permitam salvaguardar os interesses imediatos dos países daquela zona quetêm relações comerciais com a União Europeia. Prevejo que estes acordos possam seranunciados muito em breve.

Nas restantes regiões, a situação é mais complexa. No que respeita à África Ocidental e àÁfrica Central, estão a decorrer reuniões com os chamados “subgrupos”. É possível queconsigamos fechar acordos temporários relativos a mercadorias com os países maisafectados, que poderiam posteriormente ser ampliados e transformados em verdadeirosAPE com a região no seu conjunto, em 2008. Tal dependerá, naturalmente, da vontadedos interessados em seguir este caminho e em apresentar acordos de acesso ao mercadocompatíveis com a OMC.

Na região das Caraíbas, chegámos a acordo em quase todas as matérias mas não oconseguimos em questões cruciais como as trocas de mercadorias, área em que a propostadaquela região fica muito abaixo das directrizes da OMC. As negociações prosseguem, masprecisamos agora de uma decisão política clara por parte da região para desbloquear asnegociações, que implica a elaboração de um plano de acesso ao mercado compatível coma OMC.

Em todas as regiões, estamos a adoptar uma abordagem pragmática e flexível da realizaçãodaquele que continua a ser o nosso objectivo para estes acordos: APE completos comquatro regiões. Deste modo modernizaremos a nossa relação comercial, pondo-a ao serviçodo desenvolvimento; a nossa meta é, portanto, concluir acordos completos com estasquatro regiões.

Fizemos bastantes progressos nos últimos dias, mas não estamos ainda em condições degarantir que haverá um acordo que inclua novas disposições comerciais compatíveis coma OMC com todos os Estados ACP.

A compatibilidade com a OMC é o elemento essencial de todos os acordos, sejam elesacordos APE completos, acordos precursores ou mesmo acordos relativos exclusivamentea mercadorias. Sem isso, só podemos oferecer o sistema generalizado de preferências.

Na próxima semana, o Conselho “Assuntos Gerais e Relações Externas” vai tomar umadecisão sobre o regulamento da Comissão Europeia destinado a implementar o acesso aomercado que foi proposto aos Estados ACP. É a melhor proposta de sempre num acordo

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT62

Page 63: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

bilateral: acesso com direito integral e sem contingentes pautais, com períodos de transiçãoapenas para dois produtos – o açúcar e o arroz.

Continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para chegarmos a acordos. Anossa proposta está em cima da mesa e, assim que qualquer um dos Estados ACP apresenteuma proposta compatível com a OMC para concluir um acordo, poderemos agirrapidamente e propor ao Conselho que esse país beneficie da regulação do acesso aomercado prevista num APE.

Já manifestámos a nossa disponibilidade para trabalhar com sub-regiões, se for esse odesejo dos Estados ACP. Concordámos em prosseguir as negociações para lá de 1 de Janeirode 2008 sobre outras matérias, como serviços, investimento e outras áreas relacionadascom o comércio, que constituem uma parte fundamental da componente dedesenvolvimento integrada nestes acordos. Cumprimos a promessa de desenvolver acordosde comércio equivalentes ou melhores do que o Acordo de Cotonu com qualquer país queconcerte posições connosco. Mostrámo-nos disponíveis para abrir em pleno os nossosmercados e compensar a proposta relativa ao comércio de mercadorias com propostasgenerosas na área dos serviços.

Só não podemos ampliar o regime de comércio especificado no Acordo de Cotonu enquantoprosseguimos com as negociações. Na ausência de um APE, deixámos bem claro que nãopodemos nem vamos propor soluções que sejam ilegais ou pouco seguras.

Os nossos parceiros ACP precisarão de apoio para aplicar os acordos e efectuar as reformase os ajustes necessários. É por isso que a Comissão está a fazer todos os possíveis paraassegurar que o Fundo Europeu de Desenvolvimento dará prioridade à ajuda ao comérciono âmbito dos APE. É também por isso que estamos a trabalhar estreitamente com osEstados-Membros para que eles forneçam fundos adicionais no contexto da estratégia daUE de ajuda ao comércio, recentemente adoptada.

Sabemos que a conclusão destas negociações implica decisões políticas difíceis, mascongratulamo-nos com o espírito de liderança das regiões e dos Estados ACP que decidiramrubricar também os APE. Continuaremos a apoiá-los durante o período de cumprimentodos compromissos assumidos e no nosso trabalho conjunto para que esta relação comercialcontribua genuinamente para o seu desenvolvimento.

Robert Sturdy, em nome do Grupo PPE-DE . – Senhor Presidente, após sete anos denegociações, é um eufemismo dizer que não estamos na posição em que deveríamos estar.Não sei se é correcto afirmar que demos um passo decisivo.

Durante as últimas semanas, alguns Estados ACP têm revelado um desconforto crescenteem relação às perspectivas do limitado – como o descreveu o senhor Comissário – regimepautal de SPG que os espera em 1 de Janeiro se não assinarem um APE. A Comissão Europeiaalega que foi bem-sucedida nos seus esforços para a promoção de um acordo provisóriocom Estados e subgrupos regionais. Como o próprio Comissário disse, a Comissão assinouontem um acordo com o grupo da África Oriental e, na semana passada, outro acordocom a SADC, mas sem a África do Sul e sem a Namíbia! Que acordo económico é este, quedeixa países de fora? Ao que parece, a Comissão está a pressionar a África Ocidental aassinar um acordo sem a Nigéria, que é um dos maiores países de África e tem em cursonegociações comerciais consideráveis com a União Europeia. Que efeito a longo prazoterá a assinatura destes supostos acordos-quadro? E que dizer da integração regional? Tanto

63Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 64: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

quanto me consigo aperceber, estes relatórios estão a dividir as mesmas regiões que descrevono meu relatório como as destinatárias essenciais dos APE.

A resolução do Parlamento Europeu, preparada por um grupo político, define claramentea necessidade de encarar estas negociações, que decorrem a um ritmo acelerado, numaperspectiva de futuro. Podemos não aprovar estas disposições, mas o prazo está à porta e,neste momento, não existem alternativas. A Declaração de Kigali foi extremamente durae crítica. A resolução que apresentamos hoje no Parlamento é progressiva, pelo que esperoque possamos ter boas perspectivas de futuro.

Tal como o seu nome sugere, os APE são um primeiro passo para relações comerciaisplenas e amplas entre a UE e os Estados ACP. Fico decepcionado por saber que o GrupoPSE decidiu votar contra.

Deixo uma nota final para o senhor Comissário. No Reino Unido, é costume dizer que hátrês grandes mentiras no mundo: “o cheque já foi enviado”, “a culpa não foi minha” e “souda União Europeia e estou aqui para ajudar”.

Harlem Désir, em nome do Grupo PSE. – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, éforçoso constatar que a forma como a Comissão conduziu as negociações não foi suficientepara assegurar a assinatura de um APE genuíno antes da data prevista. Neste ponto, estoude acordo com o senhor deputado Sturdy: os acordos provisórios põem em causa os gruposregionais que foram criados e que serviram de base aos debates relacionados com aassinatura destes APE.

Em lugar de fortalecer os laços e a confiança entre a Europa e os Estados ACP, estasnegociações despertaram enormes preocupações. Os países estão preocupados comeventuais perdas de recursos públicos: o Presidente do Senegal disse recentemente àimprensa que 35% a 70% dos orçamentos africanos eram assegurados por pautas aduaneiras:a Nigéria, por exemplo, está na iminência de perder 800 milhões de euros.

Há também preocupações com as consequências que a liberalização terá em sectores frágeisdas economias dos Estados ACP, que terão de se confrontar com a concorrência dasempresas europeias. Estão preocupados com os pedidos de inclusão de uma série de outrospontos na segunda fase que não correspondem às obrigações impostas pela OMC. Falo,mais concretamente, de serviços, investimentos, mercados públicos e regras de concorrência.Outra preocupação é a da ameaça de imposição de pautas aduaneiras mais duras em 2008a Estados ACP que não fazem parte dos países menos desenvolvidos (PMD), numa espéciede chantagem destinada a obrigar esses Estados a aceitar qualquer acordo.

Julgo que é necessário dar um novo impulso às relações entre os Estados ACP e a UE evoltar a colocar as negociações na rota dos princípios de Cotonu. Os APE são instrumentosde desenvolvimento. A liberalização não é um fim em si. O objectivo dos APE é fortaleceras economias dos Estados ACP e ajudá-las a integrar-se na economia mundial.

Nenhum Estado ACP deve ficar pior que estava antes de assinar um APE. Os signatáriostêm de beneficiar de um sistema preferencial pelo menos tão favorável como o que tinhamantes da assinatura de qualquer APE. Os acordos têm de se basear nos interesses dos EstadosACP e na sua diversificação económica.

É necessário clarificar as regras de origem para que seja possível avaliar os benefícios dequaisquer novas medidas que venhamos a tomar em termos de acesso ao mercado, bemcomo promover mecanismos genuínos para compensações financeiras. É essencial assimilar

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT64

Page 65: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

a mensagem veiculada pela Declaração de Kigali, subscrita por parlamentares de EstadosACP e da Europa. A data de 31 de Dezembro não é um golpe tão duro como aquele queos senhores desferiram.

Gianluca Susta, em nome do Grupo ALDE. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, nós, no Grupo ALDE, apoiámos o pedido do líder do Grupo Socialista relativoao adiamento da votação, para que fosse possível alcançar um consenso mais alargadosobre o texto da resolução.

De igual modo, partilhamos as preocupações e esperanças resumidas no documento finalda reunião de Kigali. Os APE constituem um instrumento importante de desenvolvimento,integração regional e redução da pobreza. A acção da UE neste mundo globalizado em quevivemos tem de assumir estes objectivos. O comércio livre, as regras da OMC e mesmo osAPE não são fins em si mesmos, mas instrumentos ao serviço do comércio mundial.

Ainda assim, temos de reconhecer que o vazio legal criado pelo termo do Acordo de Cotonucoloca os próprios Estados ACP numa situação de risco grave; está muito mais em jogodo que saber se estes acordos são ou não legítimos à luz das regras e decisões da OMC.

Também nós temos esperança de que seja possível concluir rapidamente as negociaçõesque estão em curso nas seis regiões e que a continuação e conclusão a contento dasnegociações de Doha, mais complexas, sobre a reforma do comércio mundial possamestruturar um quadro bem definido que permita fazer face às necessidades dos países maispobres em termos de desenvolvimento, até no que respeita às relações entre a UE e osEstados ACP.

Temos consciência, no entanto, de que as negociações com os Estados ACP estão a avançarlentamente e de que a reforma do comércio mundial, que, para além de tudo o resto, teriao mérito de revitalizar o multilateralismo no comércio mundial, está a abrandar.

Assim, devem ser procuradas soluções viáveis de modo pragmático. Para isso, entendemosque a estratégia adoptada pela Comissão, baseada numa abordagem em duas fases –começando por acordos provisórios relacionados apenas com o comércio, passando depoispara um acordo mais geral – contribui para evitar uma interrupção na circulação demercadorias com tarifas mais favoráveis, como prevê o Acordo de Cotonu, que poderiaprejudicar bastante os Estados ACP.

Frithjof Schmidt, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário, fiquei atónito ao ouvi-lo falar das negociações como se não tivesse havidopercalços e tudo tivesse corrido na perfeição para a Comissão.

Nos últimos meses, denunciámos várias vezes, aqui no Parlamento, o facto de a Comissãoter sobrecarregado as negociações com os Estados ACP. Afirmámos que um acordo sobremercadorias era suficiente para cumprir as condições da OMC e que não era essencial umacordo sobre as questões de Singapura. Estas críticas foram ignoradas pela Comissão; emboa verdade, a Comissão desprezou as nossas críticas. A vossa abrupta mudança de caminho,baseada em acordos provisórios relativos exclusivamente a mercadorias, é insuficiente echega demasiado tarde. A adopção dessa estratégia constitui, neste momento, umreconhecimento do fracasso provocado pela vossa própria falta de visão. Sairiam muitomais credibilizados se, por uma vez, reconhecessem, com espírito de autocrítica, que avossa estratégia negocial foi um erro.

65Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 66: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O segundo grande erro foi a forma como foram encaminhadas as negociações. Elas foramclaramente conduzidas como se estivesse em causa um simples acordo de comércio livree não um acordo-quadro baseado no desenvolvimento. Os Estados ACP denunciaramunanimemente terem sido alvo de pressões, o que demonstra o ambiente deplorável dasnegociações. Esta mensagem ficou bem clara em Kigali, e devo dizer à Comissão que o tomdas negociações também é importante, não apenas a sua substância.

É essencial evitar cometer outro erro de grandes proporções. Precisamos agora de umasolução para os países que não fazem parte dos PMD e que não se sentem preparados paraassinar acordos neste momento. Temos de evitar o colapso das relações comerciais, peloque precisamos de uma proposta para um regime transitório para 2008.

Helmuth Markov, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário, a estratégia negocial da Comissão foi um erro tremendo; foi, diga-se, umacatástrofe. Baseou-se na estratégia da “Europa Global”, que está relacionada apenas com oacesso ao mercado para as grandes empresas multinacionais da Europa.

Sempre me questionei sobre o que esta abordagem teria a ver com acordos de parcerias.Parceria significa algo completamente diferente. Parceria significa respeito pelo país quetem de se desenvolver em termos sociais e económicos. Um acordo de parceria tem depromover o respeito pelo facto de a ajuda ao desenvolvimento não poder ser associada àassinatura de um APE. Os acordos de parceria económica têm de ter em conta odesenvolvimento dos países fracos, dos países mais fracos. Nenhum país que não assineum acordo pode ficar numa situação pior do que aquela em que já se encontra. É nisso queconsiste uma parceria justa e uma abordagem baseada na solidariedade. A Comissão ficoua quilómetros de distância destas premissas. Julgo que é positivo que, depois de ter sidopressionada por muitos quadrantes, a Comissão comece agora a adoptar outra estratégia,embora eu esteja bastante céptico em relação a este aspecto quando vejo o modo comoestá a negociar com os países do Mercosul, da ASEAN e da Comunidade Andina, mantendoa mesma postura retrógrada.

Fica a ideia de que nós, os europeus, colocamos a questão nestes termos: “é assim que vaiser, é pegar ou largar”. Repito, isto não tem nada que ver com parceria. Fiquei bastanteincomodado – fiquei mesmo chocado, para dizer a verdade – com o que aconteceu aquihoje, designadamente pelo facto de nos ter sido vedada a utilização da decisão de Kigalicomo ponto de partida, mesmo sabendo que ela foi aprovada por todos os parlamentaresque estiveram em Kigali. O Parlamento deveria ter apoiado esta delegação sancionando adecisão em causa.

( O Presidente retira a palavra ao orador )

Maria Martens (PPE-DE). – (NL) Senhor Presidente, os APE são um tema controversoem África e, cada vez mais, na Europa. Esta questão origina divergências de fundo quantoao entendimento das possibilidades de combater a pobreza nos Estados ACP através deum crescimento económico sustentável. Parece evidente que a ajuda puramente financeiranão deu um contributo real para a redução da pobreza. Entendemos que estes acordoscomerciais podem criar uma janela que nos permitirá deixar para trás um longo historialde ajuda pouco eficaz. O comércio global com os Estados ACP diminuiu. Representa agoramenos de 1% do comércio total, e os objectivos de desenvolvimento das Nações Unidaspara o milénio não foram concretizados em África. Urge alterar esta situação. A Europatem o dever moral de ajudar os Estados ACP a crescerem economicamente, bem como de

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT66

Page 67: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

incrementar o comércio com estes países. Os APE têm de dar um contributo válido paraesse fim.

Senhor Presidente, os benefícios da integração comercial e económica são evidentes, emespecial num mundo cada vez mais globalizado. A concorrência, um ambiente propícioao investimento, o acesso ao mercado e fábricas activas são factores essenciais para ocrescimento económico nos Estados ACP. Temos de ser flexíveis e pragmáticos, mas sempreno quadro da Organização Mundial do Comércio. É provável que os acordos comerciaisfinais não sejam assinados dentro do prazo definido, que termina a 1 de Janeiro 2008.Ainda assim, alguns países da África Oriental e Meridional assinaram acordos provisórios.Estes acordos referem-se exclusivamente a mercadorias. Não podemos encará-los com umpasso na direcção do desenvolvimento regional. Temos de começar rapidamente a prestarapoio técnico para consolidar estes países e, numa fase posterior, celebrar um acordocompleto que inclua, por exemplo, os serviços.

Glenys Kinnock (PSE). – Senhor Presidente, o meu Grupo aconselha o Parlamento, nalinha do que já foi dito por outros colegas, e a bem da credibilidade e da autenticidade, adefinir uma posição que reflicta o que foi unanimemente acordado na nossa AssembleiaParlamentar Paritária e ficou depois expresso na Declaração de Kigali. Entendo que se tratade um documento moderado e equilibrado, que é o resultado de negociações prolongadase bem-sucedidas entre todos os grupos políticos aqui representados – incluindo, é claro,o grupo político do senhor deputado Sturdy, como ele próprio referiu – e representantesdos Estados ACP.

A pressão a que estiveram sujeitos os Estados ACP durante estas negociações é inaudita,principalmente por estarem a ser ameaçados com desvantagens consideráveis no âmbitodo regime pautal de SPG da Europa. Foi esta ameaça que provocou a emergência de novosagrupamentos regionais, e haverá possivelmente acordos bilaterais, por exemplo, com aCosta do Marfim. Estes subagrupamentos de que falou o senhor Comissário não devemser entendidos como uma grande conquista, mas como algo que ameaça a integraçãoregional e origina enormes tensões regionais entre os Estados ACP.

A Maurícia, as Seicheles, Madagáscar e as Comores chegaram a acordo sobre um APEsub-regional; a África Ocidental e Central não apresentou propostas de acesso ao mercadoe vê-se confrontada com o SPG. A África do Sul e a Namíbia, na SADC, parecem ter atingidoum limite que não podem ultrapassar e estão a ser convidadas a incluir cláusulashabitualmente utilizadas com nações mais favorecidas, que as obrigariam a ceder à UEqualquer acesso ao mercado que venham a atribuir no futuro a outros países. O Pacífico,como se sabe, está a atravessar uma fase negativa nas negociações, e é pouco provável que,para além das Ilhas Fiji e da Papua-Nova Guiné, alguém assine ou rubrique um acordo.

A intransigência e falta de flexibilidade da Europa afastaram claramente os Estados ACP,sobretudo quando eles se apercebem de que a Comissão está a fazer exigências a estespaíses que não fez a outros, algo que os meus colegas da Comissão do ComércioInternacional podem confirmar. Tanto de um ponto de vista técnico como político, ficouclaro que o acordo relativo exclusivamente a mercadorias é inexequível, mesmo nasCaraíbas. A capacidade das Caraíbas é superior à de qualquer outra região. Ainda na semanapassada, os seus responsáveis políticos afirmaram que a oferta que estava em cima da mesaera insustentável.

Parece-me evidente que a Comissão tem de dar um passo atrás, diminuir a pressão e repensara forma de evitar que façamos o impensável lançando às feras os países que não fazem

67Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 68: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

parte dos PMD. Deve ser comunicada à OMC a disponibilidade de ambas as partes paraprosseguir de boa-fé com as negociações, a fim de evitar as interrupções no comércio quea não assinatura de um APE dentro do prazo poderia provocar.

A UE tem de efectuar as alterações legislativas internas necessárias à prossecução dosacordos comerciais actuais. Numa fase posterior, a UE e os Estados ACP poderão trabalharem conjunto para assegurar que a OMC não se opõe nem contesta os acordos celebrados.

Enquanto deputados do Parlamento Europeu, não podemos regressar aos nossos círculoseleitorais, quaisquer que eles sejam, e dizer que os vulneráveis Estados ACP vão ser tratadosdesta forma, numa altura em que todos eles já partilham a opinião de que estão a serconvidados a fazer parte de parcerias económicas que entendem como prejudiciais paraos seus interesses económicos.

Margie Sudre (PPE-DE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, pretendoinformá-lo das graves preocupações manifestadas nos últimos meses pelas comunidadesultramarinas em relação aos APE.

Os APE não podem limitar-se a ser acordos de comércio livre sob a égide da OMC nempodem pôr em risco as economias, já de si frágeis, das nossas comunidades ultramarinas.Eles devem representar parcerias genuínas destinadas a criar um novo quadro económicoe comercial propício ao desenvolvimento em todos estes territórios. A localização geográficadas comunidades ultramarinas, bem perto de muitos Estados ACP, coloca-as no cerne dosacordos recíprocos preferenciais com estes países.

Tenho plena consciência de que as regiões ultraperiféricas e os países e territóriosultramarinos (PTU) que compõem o território ultramarino da Europa dizem respeito aapenas seis Estados-Membros da UE, pelo que, naturalmente, as questões que mais afectamessas zonas são muito pouco divulgadas. Ainda assim, a situação específica das regiõesultraperiféricas é conhecida e deve ser tida em conta, mais concretamente no âmbito destasnegociações, com base no n.º 2 do artigo 299.º do Tratado CE. Para além disso, é necessáriodar especial atenção aos PTU próximos de Estados ACP, designadamente no que se refereao cumprimento dos acordos de associação que já os ligam à UE a título deste artigo.

Agradeço o vosso apoio à alteração que pretendo apresentar para assegurar um equilíbriointeligente entre a integração regional dos territórios ultramarinos e as suas ligações àEuropa. Ainda que as negociações possam vir a revelar-se difíceis, em especial no querespeita à protecção dos mercados locais e à lista de produtos sensíveis, acredito que aComissão encontrará uma solução de compromisso honrosa entre os interesses específicosdas regiões ultraperiféricas e dos PTU e os interesses dos Estados ACP.

Erika Mann (PSE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, penso que será importante utilizar as próximas semanas para estruturar oacordo de modo a deixar todas as partes satisfeitas. Este acordo é muito importante e temuma enorme repercussão simbólica. Não se trata apenas da negociação de um acordo decomércio livre para as regiões e países de África que os aproxime da Europa. Trata-se decriar um acordo que represente um verdadeiro ciclo de desenvolvimento, que combata apobreza e mostre claramente que a União Europeia está preparada para negociar um acordoque deixe os países africanos à vontade e os ajude a sentirem-se ligados à União Europeia.

Há vários pontos importantes, como o senhor disse, e a sua intervenção abordou algunsdeles. Temos de assegurar que os acordos regionais beneficiam verdadeiramente os paísesem causa. Temos também de preparar acordos para os países que não fazem parte dos

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT68

Page 69: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

PMD, para não os deixarmos ficar de fora, e assegurar que todos os países têm a possibilidadede avançar na direcção certa. O acordo que propôs, com uma abordagem em duas fases,tem de ser elaborado de molde a não excluir ninguém para que, em última análise,avancemos de facto na direcção certa, algo que hoje não está garantido.

Senhor Deputado Markov, devemos aproveitar a oportunidade que nos é dada peloadiamento da adopção da resolução para promover um consenso no Parlamento, e pensoque existem pontos de convergência suficientes para que isso aconteça.

Ján Figeľ, Membro da Comissão . − Senhor Presidente, gostaria de agradecer a todos aquelesque contribuíram para este interessante debate. Estou certo de que todos o encaramoscomo um processo contínuo. Não estou directa ou pessoalmente envolvido neste processo,mas, para que seja possível chegar a um acordo, os senhores precisarão de boa vontade deambas as partes e da anuência de muitos parceiros.

Como disse na minha intervenção inicial, estamos a trabalhar de uma forma pragmáticae flexível. Aqueles que estão disponíveis ou empenhados em seguir a mesma abordagemnão têm como motivação prejudicar os outros, mas concretizar gradualmente as metasque são importantes para todas as regiões e para o comércio internacional no seu conjunto.

Alguns oradores questionaram ou criticaram o tom das negociações. Posso garantir-vosque tudo está a ser feito com espírito de parceria. Temos sempre em consideração, dentrodeste espírito de parceria, os objectivos de desenvolvimento dos nossos parceiros e as suaslimitações.

Foram feitas algumas perguntas sobre os acordos relativos exclusivamente a mercadorias.Os acordos precursores abrem caminho a APE amplos que, por sua vez, contribuem parao desenvolvimento e para a integração regional do Estados ACP. Assim, não perdemos devista o quadro global e as necessidades globais dos países e regiões que são nossos parceiros.

Não quero repetir muitos dos argumentos que avancei no início, mas posso dizer que oprocesso continua. Por vezes, os prazos obrigam-nos a encontrar soluções durante osúltimos dias ou semanas, e estamos a fazer progressos reais. Referi muitos nomes e paísesonde rubricámos recentemente acordos precursores, e continuaremos a fazê-lo, mas o queverdadeiramente nos interessa é encontrar soluções.

Estes processos não vão ficar por aqui, porque esta situação evolui por etapas. Como disse,após 1 de Janeiro, vamos continuar a trabalhar em questões como serviços, investimentoe outras áreas relacionadas com o comércio.

Acredito que, na próxima semana, o Conselho “Assuntos Gerais e Relações Externas” vaiapoiar a proposta de um regulamento comunitário destinado a implementar o acesso aomercado que foi proposto aos Estados ACP. Como referi, é a melhor proposta alguma vezfeita num acordo bilateral. Temos assumido uma posição não apenas aberta, mas tambémconstrutiva. A estratégia que a Comissão propôs e que eu tentei aqui descrever foiplenamente confirmada pelo Conselho – os 27 países – e vamos avançar com este espíritode parceria e com esta mentalidade construtiva.

O objectivo é, na verdade, celebrar um acordo de parceria económica completo. Este acordoserá um catalisador da integração regional. Quando os acordos precursores estiveremconcluídos, vamos avançar para esse objectivo. Ninguém é excluído nem ignorado nesteprocesso. Não só temos bem presentes os países menos desenvolvidos, como os apoiamosde forma muito activa.

69Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 70: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Julgo que é tudo o que posso dizer neste momento para responder às vossas perguntas oupara confirmar o que disseram, mas estou certo de que o Parlamento voltará a debater estetema nas próximas semanas ou meses, que coincidem, aproximadamente, com o calendáriodos nossos acordos.

Presidente. – Comunico que recebi quatro propostas de resolução (1) , apresentadas nostermos do n.º 2 do artigo 103.º do Regimento. Está encerrado o debate.

A votação terá lugar em 12 de Dezembro de 2007.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Gay Mitchell (PPE-DE), por escrito . – Chegamos a um período crítico para os Acordosde Parceria Económica (APE). Um acordo compatível com a OMC é fundamental para osEstados ACP que não fazem parte dos PMD.

É lamentável que a relação de confiança entre as duas partes não tenha sido sempre evidente.Nenhum país se deve sentir pressionado a assinar um acordo. A Comissão deveria ter-seesforçado mais para tornar as negociações mais inclusivas.

A UE é o mais importante parceiro comercial da maioria dos Estados ACP.

As mercadorias importadas pela UE dos Estados ACP atingiram um valor total de 28 milmilhões de euros em 2004. Este valor representa o dobro do montante disponibilizadopara a região ACP a título de ajuda ao desenvolvimento no âmbito do 9.º FED, entre 2000e 2007.

O comércio, e não a ajuda, é a chave do desenvolvimento e do crescimento económicosustentável. Embora ninguém possa negar que muitos Estados ACP têm à sua frente desafiosconsideráveis, os APE, se forem devidamente enquadrados, podem ser vistos como umaoportunidade para os Estados ACP.

A União Europeia deve apoiar plenamente a agenda de desenvolvimento que terá deacompanhar qualquer APE.

Devem ser accionados os acordos provisórios, para evitar perturbações no comércio eriscos para o bem-estar de milhões de pessoas.

18. Segurança dos caminhos-de-ferro - Interoperabilidade do sistema ferroviáriocomunitário (reformulação) - Agência Ferroviária Europeia (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta dos seguintes relatórios:

- A6-0346/2007 do deputado Costa, em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo,sobre a proposta de directiva do Parlamento Europeu e do Conselho que altera a Directiva2004/49/CE relativa à segurança dos caminhos-de-ferro da Comunidade [COM(2006)0784– 6-0493/2006 – 2006/0272(COD)];

- A6-0345/2007 do deputado Ortuondo Larrea, em nome da Comissão dos Transportese do Turismo, sobre a proposta de directiva do Parlamento Europeu e do Conselho relativaà interoperabilidade do sistema ferroviário comunitário (reformulação) [COM(2006)0783– C6-0474/2006 – 2006/0273(COD)];

(1) Ver acta.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT70

Page 71: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

- A6-0350/2007 do deputado Costa, em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo,sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que altera oRegulamento (CE) n.º 881/2004 que institui a Agência Ferroviária Europeia[COM(2006)0785 – C6-0473/2006 – 2006/0274(COD)].

Jacques Barrot, Membro da Comissão. − (FR) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, após a adopção dos dois primeiros pacotes ferroviários em 2001 e 2004 eantes da adopção do terceiro pacote ferroviário em 13 de Dezembro de 2006, a Comissãopropôs um novo conjunto de medidas legislativas relativas à aceitação mútua do materialcirculante, em especial no que se refere às locomotivas. O objectivo destas medidas érenovar o sector ferroviário através da supressão dos obstáculos ao funcionamento doscomboios na rede ferroviária europeia.

A Comissão lançou esta iniciativa por duas razões: para facilitar a livre circulação decomboios dentro da UE tornando o procedimento de entrada em serviço das locomotivasmais transparente e eficiente, bem como para simplificar regulamentos através daconsolidação e fusão das três directivas relativas à interoperabilidade ferroviária numa sódirectiva.

O pacote completo compreende uma comunicação, três propostas legislativas e a respectivaavaliação de impacto: uma comunicação que descreve as dificuldades actuais e propõe umconjunto de soluções destinadas a simplificar a certificação dos veículos ferroviários, umaproposta de reformulação das actuais directivas relativas à interoperabilidade do sistemaferroviário, uma proposta de alteração do Regulamento que institui a Agência FerroviáriaEuropeia e um relatório sobre a avaliação de impacto.

Qual é o aspecto central destes textos? Um dos seus aspectos essenciais tem que ver coma livre circulação de comboios, que está relacionada com o procedimento de aprovaçãode locomotivas. Segundo as empresas ferroviárias e os fabricantes de locomotivas, oprocedimento de aprovação é extremamente demorado e oneroso, pelo que, do ponto devista puramente técnico, parecem não se justificar algumas das exigências das autoridades.

A Comissão partilha desta opinião e tenciona resolver o problema alterando a legislaçãoe solicitando às administrações ferroviárias dos Estados-Membros que alterem a sua posição,o que revela a importância da comunicação e das propostas legislativas apresentadas, quesugerem soluções que podem ser aplicadas imediatamente sem que seja necessário esperarpor quaisquer alterações às leis. Esta comunicação não foi emitida em vão. Já esteve nabase de um acordo de cooperação, assinado em Maio, relativo ao corredor Roterdão-Génova.Este acordo segue integralmente os conceitos propostos na nossa comunicação.

Podemos também referir a reformulação das directivas relativas à interoperabilidade e àsegurança. A Comissão tinha em mente dois objectivos quando elaborou estas propostas.O primeiro era simplificar o procedimento de aprovação dos veículos ferroviários. Paraisso, introduzimos o princípio do reconhecimento mútuo de autorizações de entrada emserviço já emitidas por um Estado-Membro. Este princípio determina que o materialcirculante que já tenha recebido autorização de entrada em serviço num Estado-Membronão necessita de qualquer certificação noutro Estado-Membro, para além do que for exigidopor regulamentos nacionais complementares, decorrentes, por exemplo, das característicasda rede local.

Em segundo lugar, e em nome da clareza, utilizámos um texto único que combina aDirectiva de 1996 relativa à interoperabilidade do sistema ferroviário transeuropeu de alta

71Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 72: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

velocidade e a Directiva de 2001 relativa à interoperabilidade do sistema ferroviáriotranseuropeu convencional. Neste contexto, foi introduzido o novo procedimento deregulamentação com controlo para certos poderes delegados à Comissão e ao ParlamentoEuropeu.

A alteração das directivas relativas à interoperabilidade e à segurança serviu-nos de motepara mais duas operações. Fizemos várias alterações a questões técnicas da nova Directivarelativa à interoperabilidade em função da experiência adquirida durante dez anos detrabalho, não apenas pela Comissão, mas também pelos Estados-Membros, pela indústriae pelo sector, bem como, a partir de 2005, pela Agência Ferroviária Europeia.

Queríamos também dar resposta a outros operadores através da clarificação, na Directivarelativa à segurança, das relações entre a empresa ferroviária e a entidade responsável pelamanutenção. Pretendemos, com esta directiva, definir o novo quadro regulamentardecorrente das directivas comunitárias relativas à abertura do mercado e do novo contratode utilização de vagões aplicado à escala internacional pela Convenção COTIF.

Passo agora à questão final, sobre a proposta de alteração do Regulamento que institui aAgência Ferroviária Europeia. Refiro-me ao alargamento dos poderes da Agência FerroviáriaEuropeia para que ela possa compilar os diferentes procedimentos e regras técnicas nacionaisjá existentes para a autorização de locomotivas, com o objectivo de elaborar e,posteriormente, alargar a lista de requisitos que só têm de ser verificados uma vez, porestarem relacionados com normas internacionalmente aceites ou normas equivalentesentre Estados-Membros. Esta tarefa será executada em cooperação com as autoridadesnacionais responsáveis pela segurança, sob orientação da Agência. A Agência terá de emitiros pareceres técnicos que lhe sejam solicitados pela Comissão ou pelas autoridades nacionaisresponsáveis pela segurança.

Durante o processo de introdução destas alterações, clarificámos também alguns pontosdo Regulamento com base na experiência passada, em especial no que diz respeito àintrodução do ERTMS (Sistema Europeu de Gestão do Tráfego Ferroviário) e de registosdo material circulante.

Senhor Presidente, peço desculpa por este comentário bastante técnico e permita-me quediga que os dois primeiros pacotes ferroviários e, em breve, também o terceiro pacote, dãoforma ao quadro jurídico e económico destinado a proporcionar um bom funcionamentodos serviços ferroviários no mercado único. Esta operação será concluída com a aberturados mercados nacionais no que respeita a questões técnicas. É este o objectivo destaspropostas tão ansiosamente aguardadas pela indústria ferroviária. Quero agradecer aoParlamento pelo excelente e rápido trabalho que fizeram com estes textos.

Paolo Costa, relator. − (IT) Senhor Presidente, Senhor Vice-Presidente da Comissão,Senhoras e Senhores Deputados, apesar da nossa tendência para tornar o debate mais“técnico”, como referiu o senhor Vice-Presidente da Comissão, estamos hoje a dar umgrande passo em frente em termos políticos.

Desde a elaboração do primeiro Tratado no final da década de 1950, a política europeiade transportes tem-se pautado por três objectivos: criar um mercado único, ligar as redesque estejam separadas – de modo a criar um mercado único para e entre modos detransporte, naturalmente – e assegurar a interoperabilidade das redes durante a fase deconstrução. A interoperabilidade não é, por isso, uma questão técnica; é, na realidade, uma

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT72

Page 73: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

condição necessária para a criação de mercados a nível europeu, que são absolutamentenecessários e constituem o objectivo declarado do Tratado.

Registaram-se progressos sensíveis em quase todas as áreas, mas o sector ferroviário pareceter ficado um pouco para trás. Temos hoje os mesmos objectivos que tínhamos na décadade 1960. Os motivos são diferentes, e este não é o momento certo para os explorar, masé necessário deixar este ponto bem claro, para fortalecer a nossa convicção de que estamosa dar um passo fundamental e crucial para o nosso sucesso.

A interoperabilidade é, por isso, uma condição essencial para construir e assegurar acirculação em redes sem barreiras técnicas que obstem à total liberdade de circulação delocomotivas e carruagens. Este é, portanto, um passo fundamental e que tem de ser dadoo mais rapidamente possível.

A Comissão fez bem em abandonar a distinção entre interoperabilidade em redes de altavelocidade e em redes convencionais e em fazer pressão para que avancemos cada vez maisnesta direcção.

Também fez bem em colocar ao mesmo tempo o problema da segurança em cima da mesa,uma vez que a segurança é por vezes apresentada – e aqui devo ser muito cauteloso – comoum motivo para sujeitar a interoperabilidade a algumas condições. Como podemos obrigarum maquinista a atravessar uma fronteira quando existe a possibilidade de ele não entendera língua do país para onde viaja? Como podemos obrigar uma locomotiva a atravessaruma fronteira quando pode não estar devidamente adaptada à rede do outro lado? E poderiacontinuar a citar outros exemplos.

Neste contexto, a Comissão fez bem em unir os dois elementos. É nossa estrita obrigaçãogarantir a segurança, mas no quadro de um sistema que seja interoperável, e se a segurançafor apresentada como argumento para impedir a interoperabilidade, então há aqui algode errado. O simples facto de se ter decidido criar uma Agência Europeia que trate destase de outras questões é, como veremos, um sinal inequívoco de que estamos a levar as coisasa sério.

O que fez o Parlamento? O Parlamento aprovou, em linhas gerais, as propostas da Comissão,com algumas recomendações destinadas a tornar o sistema mais interoperável. No relatóriosobre interoperabilidade, o Parlamento prevê a fixação de prazos para a concessão deautorizações no que diz respeito, naturalmente, ao material circulante. Defende tambémque o ónus da prova relacionado com o facto de algum elemento não cumprir as regrasde interoperabilidade – mesmo por motivos de segurança – deve incumbir aosEstados-Membros: por outras palavras, deve presumir-se inicialmente que, uma vezcertificados, todo o material circulante pode ir para qualquer local, a não ser que alguémapresente um motivo forte para que isso não aconteça. Em terceiro lugar, o Parlamentoprevê a possibilidade de o reequipamento de todo o material circulante beneficiar de ajudasestatais. Estes são, a meu ver, os contributos dados pelo Parlamento.

O mesmo se aplica à segurança. Também nesta área procurámos argumentar a favor daadopção de um sistema vinculativo de certificação até uma determinada data: nóspropusemos o ano de 2010. Esta medida deverá mitigar os receios de todos, sem excepção,uma vez que todos serão tratados da mesma forma e deixaremos de encarar os monopóliosque ainda dominam os serviços ferroviários como sendo automaticamente maiscompetentes, e estando, por isso, dispensados destas obrigações.

73Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 74: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O terceiro ponto tem que ver com o início da actividade da Agência. Nesta questão, háuma pergunta que gostava de fazer a todos, em especial à Comissão. Achámos por bem,e com razão, separar a segurança de tudo o resto através da criação de 25 agências europeias.Foi uma decisão importante que tomámos há algum tempo. Questiono-me agora, tendoem conta que essas agências ainda não estão operacionais, se não valeria a pena colocar ahipótese de instituir uma única Agência Europeia que funcionasse através de 25 ramificaçõesnos diferentes países. Trata-se de uma questão fundamental que, do meu ponto de vista,nos ajudaria a encontrar uma solução positiva para os problemas relacionados com ainteroperabilidade e a segurança a nível europeu.

Josu Ortuondo Larrea, relator. − (ES) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhorase Senhores Deputados, nos dias de hoje, em resultado da globalização, a nossa economia,o progresso da Comunidade e o bem-estar dos nossos cidadãos dependem, mais do quenunca, de um sistema de transportes eficaz, eficiente, económico e, acima de tudo,sustentável.

Todos os modos de transporte são necessários. Os caminhos-de-ferro viveram temposáureos numa fase inicial, mas foram depois secundarizados pelos veículos que circulamem estradas e auto-estradas, devido à sua maior versatilidade, individualidade eacessibilidade. Agora, com as nossas estradas em risco de colapso e o nosso ambiente emestado crítico devido à poluição, voltamos a olhar para os caminhos-de-ferro como umaesperança para o futuro, com potencial para satisfazer as nossas necessidades em termosde mobilidade interna.

Consciente deste facto, a Comissão propôs um novo pacote legislativo destinado a melhorara parte técnica do quadro regulamentar para os transportes ferroviários. Este processoimplica rever as directivas relativas à interoperabilidade e à segurança e o Regulamentoque institui a Agência Ferroviária Europeia. Em termos gerais, foi já há vários anos que asinstituições europeias consideraram pela primeira vez a necessidade de consolidar oscaminhos-de-ferro a nível comunitário. Só no que se refere à interoperabilidade, todossabem que, em Julho de 1996, ou seja, há 11 anos, adoptámos a Directiva 96/48/CE doConselho relativa à interoperabilidade do sistema ferroviário transeuropeu de alta velocidadeseguida, em Março de 2001, pela Directiva relativa à interoperabilidade do sistemaferroviário transeuropeu convencional.

Todavia, durante mais de uma década, o nível de interoperabilidade das redes europeiasnão passou de 7%, e é precisamente a obrigatoriedade de homologação das locomotivase das unidades de tracção a nível nacional em cada um dos Estados-Membros onde elasvão ser utilizadas um dos principais entraves à criação de novas empresas ferroviáriasdedicadas ao transporte de passageiros e de carga, bem como um dos principais obstáculosà interoperabilidade do sistema ferroviário europeu. Uma vez que não podem ser osEstados-Membros a definir autonomamente se as suas autorizações de colocação em serviçosão válidas no território dos outros Estados-Membros, é necessária uma iniciativacomunitária que simplifique e harmonize os procedimentos nacionais e promova umautilização mais sistemática do princípio do reconhecimento mútuo.

As directivas actualmente em vigor regulam apenas o material circulante novo que écolocado em serviço. A nova directiva tem por objecto a consolidação, reformulação efusão das actuais directivas. Pela nossa parte, partindo de relatórios técnicos concisos quesolicitámos em conformidade com o Regimento do Parlamento, propusemos a transferênciado artigo 14.º da antiga Directiva relativa à segurança para a nossa Directiva relativa à

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT74

Page 75: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

interoperabilidade. Esta transferência destina-se, especificamente, a conferir uma maiorsegurança jurídica ao sector ferroviário e a contribuir para a simplificação das autorizaçõesde colocação em serviço.

Estamos de acordo com a condição que determina que, para cada veículo, exista pelomenos, uma autorização de um Estado-Membro. Esta autorização decorrerá documprimento da declaração ”CE” e das especificações técnicas aplicáveis relativas àinteroperabilidade. Os Estados-Membros partirão do princípio de que os subsistemasestruturais autorizados a serem colocados em serviço noutro Estado-Membro cumpremos requisitos técnicos essenciais e não exigirão qualquer outra autorização, excepto emsituações que possam pôr em causa a compatibilidade com as características ou limitaçõesdas infra-estruturas.

No nosso relatório, procurámos estruturar os diferentes aspectos e secções da directiva deuma forma mais facilmente compreensível para os envolvidos, dedicando um capítuloseparado aos requisitos para colocação de veículos em serviço, dividindo os veículos entreos que implicam primeiras ou segundas autorizações, os que cumprem todas asespecificações técnicas de interoperabilidade (ETI) e os que cumprem apenas algumas.

Mantivemos contactos periódicos sobre todos os aspectos referidos e durante todo oprocesso com os relatores-sombra dos vários grupos políticos, com a Comissão e tambémcom a Presidência do Conselho. Conseguimos finalmente chegar a um acordo, depois deresolver uma questão importante, a dos prazos máximos para as decisões relativas a umaautorização, o que permitiu pôr fim ao bem conhecido e paralisante silêncio administrativoprovocado pela ausência de uma decisão.

Graças a um esforço considerável, concordámos que essa autorização será automática senão houver uma decisão e também chegámos a acordo em relação aos outros artigos.Assim, em nome deste Parlamento, apresentámos uma alteração conjunta, assinada portodos os grupos parlamentares, que contém o mesmo texto que será apresentado aoConselho de Ministros dos Transportes. Espero que o facto de termos chegado a acordoem primeira leitura seja benéfico para o sector no seu conjunto.

Termino agradecendo a todos os relatores-sombra pela sua ajuda e cooperação naconcretização deste objectivo.

Georg Jarzembowski, em nome do Grupo PPE-DE. – (DE) Senhor Presidente, SenhorVice-Presidente da Comissão, Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de agradecer, emnome do meu Grupo, a ambos os relatores pela sua cooperação positiva e construtiva.Penso que fomos sempre capazes de encontrar princípios comuns em questões de fundo,conseguimos chegar a acordo muito rapidamente e, por isso, quero felicitar os dois relatorespela forma célere como se concertaram com o Conselho. Afinal de contas, que benefíciospoderíamos retirar de uma disputa prolongada com o Conselho? Poderíamos ter perdidoum ano inteiro! Não, do meu ponto de vista, e apesar de tudo, conseguimos fazer progressosnesta matéria em primeira leitura, e isso é uma grande vitória para o Parlamento, para aComissão e para o Conselho.

Gostaria de sublinhar apenas dois ou três pontos e estou certo, Senhor Comissário, de quetransmitirá as minhas ideias à Agência Ferroviária Europeia. Estamos a delegar na Agênciamais responsabilidades no que se refere à definição de normas de segurança e critérios deinteroperabilidade. Espero que a Agência aproveite estas oportunidades para melhorar anossa indústria, que defina rapidamente novas normas e que funcione de uma forma

75Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 76: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

eficiente e prática. Acrescente-se de passagem que também espero – e aqui dirigir-me-iaao senhor deputado Costa se ele me conseguisse ouvir, já que ele está ao telefone e ostelefonemas são sempre mais importantes – que, à medida que a Agência FerroviáriaEuropeia for assumindo mais tarefas, as agências nacionais passem a ter menosresponsabilidades e que, com as agências menos ocupadas, seja possível diminuir aburocracia. Se a burocracia funcionar bem a nível europeu, não necessitaremos de 25autoridades nacionais. Queremos que a indústria ferroviária europeia não tenha de sesujeitar a sobreposições desnecessárias e duplicação de esforços.

Deixo um comentário final para o Comissário e para os dois relatores: é muito importanteque tenhamos chegado a acordo. Se os Estados-Membros não cumprirem os prazos paraas decisões relativas ao reconhecimento mútuo, devemos presumir que o autorizam. Sócom esta função de autorização poderemos exercer pressão sobre as autoridades nacionaisde molde a impedi-las de protelar constantemente este processo.

Assim, em conjunto, vamos promover uma diminuição das despesas através da aceitaçãomútua de locomotivas e material circulante, incrementando deste modo a disponibilidadee imprimindo uma maior dinâmica, em especial, ao transporte ferroviário de mercadorias.

Inés Ayala Sender, em nome do Grupo PSE. – (ES) Senhor Presidente, SenhorVice-Presidente Barrot, tenho de admitir que hoje estou dividida, porque o meuPrimeiro-Ministro, senhor Zapatero, que compareceu neste Parlamento, está neste momentonuma recepção do Conselho. No entanto, decidi ficar aqui para vos ouvir e, espero eu, parareforçar de algum modo a europeização dos transportes ferroviários.

Registo com enorme prazer a honestidade da Comissão e a oportunidade que ela apresentouao povo europeu através de um verdadeiro exercício em matéria de legislar melhor, coma reformulação de uma série de directivas antigas para apresentar um texto único e promoverprogressos substanciais que favorecem os caminhos-de-ferro.

Neste contexto, felicito mais uma vez o senhor deputado Ortuondo pela sua dedicação epela sua perseverança quase meticulosa no desenvolvimento de um texto legislativo comtanta qualidade. Registo também com enorme prazer a excelente cooperação que se verificouentre todos os grupos para que fosse possível avançar numa questão tão importante comoa interoperabilidade.

Devo ainda dizer que foi atingido o melhor equilíbrio possível entre segurança e anecessidade de avançar corajosamente na direcção da interoperabilidade. A segurança ficatambém absolutamente assegurada pelos dois relatórios elaborados pelo senhor deputadoCosta, que revelou igual determinação.

A Agência sai melhorada e reforçada, e as suas tarefas e necessidades passam a ser maisclaras. Esperamos conseguir desenvolvê-las de forma mais harmoniosa no futuro. Nestecontexto, os cidadãos europeus não devem ter quaisquer receios, já que a segurançaferroviária foi europeizada e, consequentemente, fortalecida.

Era absolutamente premente concluir o trabalho na área na interoperabilidade, uma vezque se impõe, em primeiro lugar, europeizar os transportes ferroviários e, posteriormente,aperfeiçoar a conveniência e a logística, considerando que temos agora um novo textosobre trajectos específicos que tornarão a interoperabilidade ainda mais importante.

Como referiu o senhor deputado Costa, é necessário fazer progressos em termos dapercepção das ambições do legislador, o mesmo é dizer do Parlamento e do Conselho, no

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT76

Page 77: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

que respeita a permitir a livre circulação dos comboios. Acredito que conseguimos criaras condições necessárias para minimizar a sempre presente insegurança jurídica, responsávelpelo facto de as questões do reconhecimento mútuo de autorizações de material circulanteterem esbarrado constantemente em entraves e obstáculos.

Acredito que clarificámos até o quem, o como e o quando destas autorizações. Demosinclusivamente um impulso razoável, através dos progressos realizados em termos desilêncio administrativo...

( O Presidente retira a palavra à oradora )

Nathalie Griesbeck, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhor Presidente, SenhorComissário, Senhoras e Senhores Deputados, o debate de hoje pode, de facto, parecerbastante técnico aos olhos dos nossos concidadãos. Trata-se de uma questão eminentementetécnica, ainda que a harmonização das regras de interoperabilidade e segurança para osector ferroviário constituam uma das maiores preocupações dos cidadãos, por fazeremparte da sua vida diária. Recordo-me, por exemplo, do terrível acidente ocorrido há algunsmeses em Zoufftgen, perto da fronteira francesa com o Luxemburgo, que nos chocou atodos.

Se queremos encontrar uma solução para os desafios que se nos colocam, em especial noque respeita às alterações climáticas, se queremos reduzir as emissões de gases com efeitode estufa e impulsionar a transferência modal, ou seja, reduzir os serviços de transporterodoviário de mercadorias e privilegiar outros meios de transporte menos poluentes, temosde suprimir alguns dos entraves técnicos actuais.

Para criarmos um espaço ferroviário genuinamente europeu, temos de harmonizar asespecificações técnicas de interoperabilidade ou introduzir o reconhecimento mútuo denormas. Os procedimentos em vigor para aprovações nacionais de material circulante sãodemasiado lentos e onerosos. Temos de facilitar os procedimentos administrativos, encurtaros prazos e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para harmonizar os regulamentos desegurança nacionais, que, por vezes, provocam enormes restrições do tráfego sem qualquerrazão válida.

Quero, naturalmente, agradecer muito sinceramente aos nossos relatores, senhor deputadoPaolo Costa e senhor deputado Josu Ortuondo Larrea, pelo seu excelente trabalho, emespecial porque os seus relatórios parecem satisfazer todos os grupos políticos, deixandoa ideia, que espero ver confirmada, de estarmos no bom caminho para chegar a acordocom o Conselho em primeira leitura.

Deixo três observações rápidas. Em primeiro lugar, como referiram todos os meus colegas,congratulo-me por termos conseguido textos de leitura mais acessível. As disposiçõesrelativas à autorização serão agrupadas num único documento legislativo, a nova Directivarelativa à interoperabilidade, que abrange tanto o sistema ferroviário transeuropeu de altavelocidade como o sistema convencional.

Segunda observação: quero expressar a minha enorme satisfação pela adopção de váriosprincípios, a priori bastante técnicos, mas muito importantes, relacionados com a aprovação;refiro-me, em particular, à aceitação mútua de material circulante com excepção de situaçõesde redes locais com características específicas, à obrigação imposta às autoridades nacionaisde indicarem os riscos reais para a segurança e ao papel da Agência na compilação eclassificação das regras nacionais para efeitos de clarificação. Também aqui julgo que éimportante que a Agência tire partido do aconselhamento técnico dos gestores das redes.

77Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 78: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Congratulo-me ainda pelo princípio da autorização implícita na ausência de uma decisãodas autoridades nacionais no prazo de três meses, mas quero deixar bem claras as minhasreservas em relação aos prazos determinados para a responsabilização do detentor, umavez que receio que essa medida possa retirar responsabilidades à empresa ferroviária.

Bogusław Rogalski, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhor Presidente, durante o processode alteração da Directiva relativa à segurança dos caminhos-de-ferro da Comunidade, éimportante apoiar os esforços destinados a criar um mercado comum para os serviços detransportes ferroviários. É por isso que é fundamental estabelecer um quadro normativocomum que regule a segurança dos caminhos-de-ferro.

A Comissão deve ser autorizada a ajustar e a adoptar medidas e metas comuns em matériade segurança. Deve também ser autorizada a introduzir um sistema único de certificação.Para isso, devem ser verificados os requisitos já existentes, bem como as condições desegurança em vigor nos Estados-Membros de modo a determinar se o nível de segurançaactual do sistema ferroviário não se deteriorou em nenhum Estado-Membro. Devemtambém ser identificadas as áreas em que é prioritário reforçar ainda mais a segurança. Ocertificado de segurança deve provar que a empresa ferroviária criou um sistema de gestãoda segurança que abrange a prestação de serviços de transporte na rede europeia.

É necessário assegurar que o material circulante cuja colocação em serviço tenha sidoautorizada num determinado Estado-Membro esteja autorizado a ser colocado em serviçonoutros Estados-Membros, se estes exigirem essa autorização. A directiva em causadetermina que, quando da colocação em serviço de material circulante, deve ser designadapara cada veículo uma entidade com personalidade jurídica que ficará encarregue da suamanutenção. Este ponto é muito importante. A entidade em causa poderá ser uma empresaferroviária, um subcontratante da empresa ferroviária ou o detentor do material circulante.Esta medida vai ao encontro das expectativas do mercado no que respeita ao processo decolocação em serviço.

A iniciativa em apreço tornará os transportes ferroviários mais competitivos e permitirámanter postos de trabalho neste sector. As alterações a esta directiva eram aguardadas comgrande expectativa, principalmente nos novos Estados-Membros. Por isso mesmo, felicitoo relator.

PRESIDÊNCIA: COCILOVOVice-presidente

Michael Cramer, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, SenhorVice-Presidente, caros Colegas, minhas Senhoras e meus Senhores, com estes três relatórios,a convergência da rede ferroviária europeia vai dar um gigantesco passo em frente. Asnormas de segurança passarão a ser harmonizadas e controladas pela Agência FerroviáriaEuropeia. Será assegurado o reconhecimento mútuo dos veículos ferroviários em todosos Estados-Membros da UE, há muito necessário. Assim sendo, gostaria de expressar omeu sincero agradecimento aos dois relatores e aos relatores-sombra porque, sem esta boacolaboração, não teríamos conseguido este resultado.

Os tempos difíceis ficaram finalmente para trás. Para se poder colocar em operação umalocomotiva licenciada noutro Estado-Membro, eram precisos muitas vezes 3 anos e até10 milhões de euros. Esta situação gerava perturbação e era prejudicial para os transportesferroviários respeitadores do ambiente muito antes de a UE ter 27 membros. No futuro, aautorização de um veículo ferroviário aplicar-se-á a todos os 27 Estados-Membros da

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT78

Page 79: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

União, a não ser que, num prazo de 3 meses, um Estado-Membro levante uma objecção eindique razões de segurança que impeçam o normal funcionamento do veículo. Deixa deser possível impedir o funcionamento de um veículo por razões triviais como a cor de umextintor ou o tamanho do espelho lateral. Inverte-se assim o ónus da prova. No passado,os fabricantes tinham de se submeter a uma série de procedimentos morosos para provarque não havia motivo para preocupações mas, no futuro, será necessário apresentarargumentos fortes para questionar a segurança dos veículos, e será a Agência FerroviáriaEuropeia – cujos poderes serão alargados – a decidir se estes argumentos são válidos.

Se, no prazo de 3 meses, não forem apresentadas objecções, a autorização passa a aplicar-sea toda a rede ferroviária da UE. Quer isto dizer que passa a ser possível construir maisveículos com custos mais baixos. O organismo regulador alemão foi o que mais resistiu àrestrição dos seus poderes, mesmo até ao fim. Foi graças à persistência de todos os gruposdeste Parlamento que foi possível chegar a um compromisso viável e que o relatório dosenhor deputado Josu Ortuondo Larrea pode agora ser aprovado de modo consensual, emprimeira leitura, pela Comissão, pelo Conselho e pelo Parlamento.

Erik Meijer, em nome do Grupo GUE/NGL. – (NL) Senhor Presidente, tendo em conta asatisfação geral decorrente do apoio unânime a estes três relatórios da Comissão dosTransportes e do Turismo, gostaria apenas de rematar o debate com duas observaçõescríticas: a Agência Ferroviária Europeia tem capacidade para cumprir a tarefa importantede continuar a desenvolver e aplicar o novo sistema europeu de gestão do tráfego ferroviárioe reduzir a sua dependência em relação aos fabricantes. No entanto, a Agência éparticularmente necessária noutras áreas devido à enorme e crescente escala das operações,da liberalização e da concorrência nas ferrovias. Esta evolução impõe cada vez maisburocracia para que seja possível coordenar adequadamente todos os aspectos envolvidos.

Muito antes da criação da União Europeia, essa coordenação tinha contornos diferentes.Havia bons acordos entre as empresas de caminho-de-ferro nacionais, que organizavamem conjunto ligações ferroviárias em trajectos longos, em parceria com a CompagnieInternationale des Wagons Lits. Tenho dúvidas sobre se este novo modelo constitui de factouma melhoria.

A partir de agora, qualquer veículo ferroviário que seja aprovado genericamente numEstado-Membro será automaticamente aceite noutros Estados-Membros. Esta situaçãonem sequer se aplica ainda em pequena escala entre empresas de eléctricos, porque aacentuação das curvas, a localização dos sinais de paragem e, por vezes, a distância entreduas linhas levam a que alguns eléctricos não consigam percorrer todos os trajectos. Pensotambém que as empresas de caminhos-de-ferro irão recorrer frequentemente ao pedidode excepção por razões de segurança. Assim sendo, na prática, muito pouco vai mudar.

Michael Henry Nattrass, em nome do Grupo IND/DEM . – Senhor Presidente, a Directivada Comissão relativa à interoperabilidade reconhece que tem como objectivo permitir que“os cidadãos da União (…) beneficiem plenamente das vantagens decorrentes da criaçãode um espaço sem fronteiras”. Esta visão é prejudicial ao Reino Unido, porque muitos doscidadãos da UE só compram bilhetes simples.

Fico satisfeito pelo facto de as linhas isoladas, as linhas de via estreita e as linhas restauradasficarem isentas. Mas que dizer dos trajectos ferroviários secundários? Suponho que todoeste trabalho administrativo vai pôr os luxemburgueses, os letões e os lituanos a gerirserviços entre Long Eaton e Letchworth.

79Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 80: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Sei que estamos a discutir essencialmente os comboios de mercadorias, “sem parar entreLisboa e Liverpool e sem mudar de locomotiva ou de pessoal de bordo”, diz a perspectivada sessão. Que belo objectivo! O que terá o pessoal de bordo a dizer acerca da Directivarelativa ao tempo de trabalho? Para além disso, o comboio vai ter parar para um controlode imigrantes ilegais a oeste de Folkestone. As locomotivas portuguesas em actividadedescarrilariam antes do túnel da Mancha, já que as linhas francesas são demasiado estreitas.

Este comboio vai parar. É o triunfo da ideologia cega sobre o bom senso que transformaeste Parlamento na fábrica de papel que o Reino Unido se habituou a desprezar. Tenha umbom dia, Senhor Presidente, mas primeiro trate a doença da visão em túnel.

Luca Romagnoli (NI). – (IT) Senhor Presidente, Senhor Vice-Presidente, Senhoras eSenhores, para se conseguir redes ferroviárias interoperáveis e garantir um alto nível demobilidade sustentável dos nossos cidadãos, assim como conexões eficazes entre as regiõesda UE, devemos certamente congratularmo-nos com a simplificação do actual quadroregulamentar pretendida pelos relatórios do senhor deputado Costa e do senhor deputadoOrtuondo Larrea. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer a ambos oscolegas pelo seu excelente trabalho, em especial dada a importância estratégica dainteroperabilidade, a necessidade incontornável de segurança e a necessidade de instituira Agência Ferroviária Europeia alargando as suas competências.

Pelas razões apresentadas, é, sem dúvida, também uma boa ideia melhorar a parte técnicado quadro regulamentar e promover a aceitação mútua do material circulante. O novoprocedimento basear-se-á pois no princípio da aceitação mútua de autorizações jáconcedidas por um Estado-Membro, para o qual a necessidade de certificação adicionalnão passará de um mero pro forma.

Tudo isso está muito certo, mas é indispensável que todo o material circulante esteja emperfeitas condições: não só o material circulante que se desloca de um país para outro,como também o que circula em redes locais. Em Itália, os utentes do serviço ferroviáriosão objecto de manifesta discriminação, uma vez que na rede local italiana é utilizadomaterial circulante do mais obsoleto que há e, muitas vezes, em condições impróprias,pelo menos em comparação com o que é a norma em muitos outros países da UE.

Se a Comissão realizasse uma investigação mais aprofundada, detectaria grandes diferençasno serviço prestado. Tal como referi em anteriores ocasiões, em geral os caminhos-de-ferroitalianos prestam um serviço insatisfatório, sobretudo no que se refere ao transporte local.

É também por esta razão que considero que as responsabilidades das empresas ferroviáriase dos proprietários devem ser definidas de forma mais clara, não só no que respeita àsegurança como também ao cumprimento de níveis mínimos em termos sociais e deserviço a prestar aos utentes.

Luis de Grandes Pascual (PPE-DE). – (ES) Senhor Presidente, Senhor Comissário Barrot,Senhoras e Senhores, em primeiro lugar quero felicitar os relatores pelo seu trabalho nosvários relatórios que constituem mais um passo em frente no sentido da integração doscaminhos-de-ferro europeus.

Vemo-nos confrontados com o desafio de desenvolver um sistema ferroviário europeucompetitivo, lucrativo, sustentável e seguro, por outras palavras, uma verdadeira alternativaa outros meios de transporte, permitindo assim uma transferência modal.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT80

Page 81: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

No entanto, o sistema ferroviário europeu actual continua a padecer de muitos problemasque ainda não foram resolvidos. Podemos viajar de comboio de Madrid para Berlim mas,numa Europa em que temos uma moeda única e um mercado interno, esta viagem seria,infelizmente, uma verdadeira odisseia, porque carecemos de um sistema ferroviáriointegrado.

As diferenças de largura da via entre alguns países, a falta de normalização e harmonizaçãotecnológica do material circulante e dos sistemas de sinalização, as disparidades na formaçãoe certificação dos maquinistas e as insuperáveis diferenças na tensão de alimentação dasvias, tudo isso torna o transporte ferroviário menos competitivo e contraria o espírito comque se projectaram as redes transeuropeias de transporte, ou seja, a consecução de umverdadeiro mercado interno dos transportes que permita construir mais Europa.

Permitam-me, Senhoras e Senhores, que aborde convosco e com o Senhor Comissário,ainda que brevemente, o bem conhecido e sério problema que está a ameaçar a conexãoentre a Península Ibérica e a rede ferroviária europeia, nomeadamente na área doMediterrâneo. Não é um problema unicamente espanhol ou francês, mas sim europeu.Senhor Comissário, se o trabalho nesta matéria não for agilizado, a médio prazo, nãosuperaremos o obstáculo orográfico quase insuperável dos Pirinéus.

A este respeito, quero pedir à Comissão Europeia e ao Senhor Comissário que instem osgovernos espanhol e francês a resolverem este problema no sentido de conseguir umverdadeiro sistema ferroviário europeu. Neste momento sei que a situação em Espanha édifícil, porque há uma ministra que está a ser questionada e o Governo está em final demandato, mas em breve haverá outro governo e, com ele, uma nova esperança. Esperosinceramente que este problema, que não é nem espanhol nem francês, mas sim europeu,possa ser superado com êxito.

Leopold Józef Rutowicz (UEN). – (PL) Senhor Presidente, as condições em que aeconomia funciona estão em constante mudança. Consequentemente, são necessáriasmudanças contínuas em muitos sectores, e nós hoje estamos preocupados com as mudançasno funcionamento dos caminhos-de-ferro, nomeadamente com a segurança do seufuncionamento. Assim, há que adequar sistematicamente as disposições relevantes àsituação actual.

Recentemente ocorreram muitas mudanças. Entre elas, o alargamento do espaço Schengende modo a admitir uma série de países cujos sistemas ferroviários diferem consideravelmenteem termos de condições técnicas. Além disso, os monopólios ferroviários foram extintosem muitos países, tendo surgido empresas que detêm a rede e empresas de transportesregionais e internacionais. Tudo isto exige mais rigor nas definições e nos princípios deprocedimento relacionados com a segurança no território da União. A situação resolver-se-á,em boa parte, alterando as disposições nacionais no sentido de levarem em conta asevoluções.

As propostas contidas no relatório do senhor deputado Costa representam uma mais-valianeste aspecto. O senhor deputado Costa propôs alterações destinadas a promover umasimplificação, como a transferência do artigo 14.º do Anexo VII para a directiva relativa àinteroperabilidade. Tal irá melhorar significativamente a legibilidade da directiva. Éfundamental definir com maior clareza a responsabilidade pela segurança. Gostaria deagradecer ao senhor deputado Costa por todo o trabalho que dedicou à preparação dorelatório.

81Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 82: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Jacky Henin (GUE/NGL). – (FR) Senhor Presidente, relativamente a esta questãoaparentemente técnica da interoperabilidade do sistema ferroviário europeu e ao papel daAgência Ferroviária Europeia em matéria de segurança, estamos no meio de uma verdadeiraescolha entre civilizações.

Ou a UE implementa um mercado ferroviário europeu baseado na concorrência de “todoscontra todos” e no desmembramento das companhias de caminhos-de-ferro nacionais navaga esperança de manter os níveis de segurança adequados – é isto que significam aspropostas da Comissão –, ou criamos condições para a cooperação entre todas ascompanhias de caminhos-de-ferro dos Estados-Membros com vista à execução, em todaa UE, de uma rede de transporte de passageiros e de mercadoria a grande velocidade e coma máxima segurança. Esta última podia ser conseguida através do desenvolvimento daaliança Railteam, que reúne os principais operadores de alta velocidade europeus.

Há que referir que a história ferroviária europeia já tomou uma decisão entre os doissistemas. Há dez anos, a Grã-Bretanha implementou na sua rede ferroviária as escolhasque a Comissão está presentemente a propor. Resultado: a deterioração geral do serviçoprestado, a deterioração da segurança e acidentes mortais. Por outro lado, há dez anos oThalys foi criado com base na cooperação entre a SNCF e a SNCB, apesar da oposição daComissão. Resultado: um serviço de qualidade, eficaz e seguro que responde às necessidadesdos passageiros.

Apoiado nesta experiência histórica, peço à Comissão que abandone a sua opção pelaconcorrência ferroviária e opte pela cooperação.

Reinhard Rack (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Vice-Presidente, Senhorase Senhores, a Europa tem muito a oferecer para nos ajudar a todos a melhorar as nossasvidas e as nossas economias. Infelizmente, praticamente todas estas boas intenções têmnomes difíceis de pronunciar.

Tal aplica-se, em particular, a uma das prioridades do pacote ferroviário actual.Interoperabilidade é a palavra mágica que descreve o que queremos e o que temos dealcançar se quisermos verdadeiramente ter um sistema ferroviário operacional na Europa.As locomotivas e outro material circulante têm de ser adaptados entre si, mas para isso,necessitamos de procedimentos de autorização que estejam interligados.

A Comissão apresentou uma proposta relevante que desenvolvemos ainda mais noParlamento através de um consenso entre todas as famílias políticas. Esperamos que,juntamente com as “Especificações Técnicas de Interoperabilidade” (ETI), entre outros, issonos ajude a conseguir uma melhor coordenação do sistema ferroviário com vista a umaEuropa unida. O nosso sistema baseia-se no conceito e no princípio do reconhecimentomútuo e da harmonização técnica, estabelece prazos e critérios claros para as autorizações,e exige – o que é muito importante – que, no caso de rejeição de um pedido de autorização,seja a autoridade de segurança nacional a provar que há risco para a segurança e não oinverso.

Pretendemos e esperamos conseguir que muitas das tarefas que foram transferidas para aAgência Ferroviária Europeia, neste contexto, sejam executadas por essa agência tão rápidoe objectivamente quanto possível. Tenho esperança que, tal como referiu o meu colega, osenhor deputado Georg Jarzembowski, durante e no final do processo, haja menosburocracia na nossa Europa unida do que acontece actualmente. Confiamos que, aquando

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT82

Page 83: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

da votação, as nossas propostas granjeiem um vasto consenso nesta Assembleia, de modoa que o resultado palpável seja, na verdade, uma maior interoperabilidade.

Jacques Barrot, membro da Comissão. − (FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores,quero felicitar os relatores, o senhor deputado Ortuondo Larrea e o senhor deputado Costa,pelo esplêndido trabalho que realizaram em tão curto espaço de tempo sobre uma questãotão técnica.

No que se refere à proposta de reformulação das directivas relativas à interoperabilidadeferroviária, julgo ser possível chegarmos a acordo numa primeira leitura. Este resultado éo culminar de várias sessões de trabalho e quero felicitar, em particular, o senhordeputado Ortuondo Larrea pelo seu empenho pessoal no sentido de fazer passar estaproposta. Era importante estabelecer um procedimento de certificação das locomotivas eoutros veículos ferroviários preciso e detalhado em relação a intervenções possíveis porparte das autoridades de segurança nacionais e, ao mesmo tempo, impor um limite àduração máxima do procedimento de certificação, tal como referiu o senhor deputadoJarzembowski.

O resultado das negociações para as quais a Comissão contribuiu a nível técnico é umaalteração que modifica completamente o texto da directiva e com a qual a Comissão estáinteiramente de acordo. Assim, Senhor Presidente, se este acordo se confirmar, estaremosa enviar um sinal político firme ao sector e às autoridades de segurança nacionais.

Cabe agora às autoridades de segurança nacionais tornar os procedimentos de aprovaçãode veículos ferroviários menos dispendiosos e mais rápidos. Estaremos igualmente a adoptaresta legislação em tempo recorde, mostrando que as leis europeias se podem deslocar àmesma velocidade que o TGV.

Gostaria de responder ao senhor Presidente Costa relativamente às autoridades de segurançanacionais. Estas foram criadas em resposta à directiva relativa à segurança ferroviária, de2004. Para a maioria dos Estados-Membros, isso significou criar uma nova autoridade deraiz, com todas as dificuldades orçamentais e de recrutamento que isso implicava. Seriauma tarefa extremamente difícil, Senhor Presidente, tirar a estas autoridades uma funçãoque lhes foi recentemente atribuída, e isso iria igualmente pôr em dúvida a credibilidadeda nossa política ferroviária. No entanto, estou de acordo consigo. A longo prazo, é deprever que, um dia, haja uma europeização mais alargada deste instrumento. Não quisdeixar de lhe dar uma resposta sobre esta matéria.

E agora a questão da segurança, sobre a qual foi relator. Tal como pretendia, uma partedestas directivas foi transferida para a nova directiva relativa à interoperabilidade. Àexcepção do cumprimento da nova decisão de comitologia através da introdução doprocedimento de regulamentação com controlo, o único grande componente desta propostaque subsiste é a questão da manutenção dos veículos ferroviários e o papel dos detentoresdos veículos.

Mais de metade das alterações apresentadas são aceitáveis para a Comissão tal como seencontram, em princípio ou em parte. No entanto, tenho de referir a situação da alteração21. Relativamente a esta questão bastante técnica, quaisquer alterações previstas devemrespeitar a legislação que se encontra em vigor, nomeadamente a directiva relativa àsegurança e a especificação técnica de interoperabilidade relativa a vagões, que entrou emvigor em 31 de Janeiro de 2007, e a decisão relativa ao registo nacional de materialcirculante, que entrou em vigor em 9 de Novembro de 2007.

83Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 84: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Estas alterações deverão igualmente, na medida do possível, estar de acordo com as váriassituações susceptíveis de ocorrer na prática. Têm de ter uma relação estreita com as práticasem vigor noutros meios de transporte. Não têm de consagrar na legislação um modelocomercial contratual que pode evoluir a par da reforma do sistema ferroviário. Por estarazão a alteração 21 não merece a aprovação da Comissão. O mesmo se aplica, SenhorPresidente, às alterações 3 a 7, 10, 14, 17 e 22, essencialmente por razões meramentetécnicas ou jurídicas.

Gostaria de terminar com algumas observações sobre a alteração proposta ao regulamentoque institui a Agência Ferroviária Europeia. Uma vez que as novas funções atribuídas àAgência Ferroviária Europeia dependem essencialmente das directivas relativas àinteroperabilidade e à segurança e da directiva relativa à certificação dos maquinistas, otexto não deverá apresentar problemas de maior.

Relativamente à alteração 4, nos termos da qual a Agência deverá funcionar como a entidadecertificadora das autoridades nacionais, apraz-me constatar que se chegou a umcompromisso razoável em relação ao relatório do senhor deputado Ortuondo Larrea. Alongo prazo, a Agência podia assumir essa responsabilidade, mas presentemente os peritosconcordam que este tipo de reorganização seria prematuro. Há que analisar os potenciaismodelos de cooperação entre a Agência Ferroviária Europeia e as autoridades de segurançanacionais. A Comissão comprometeu-se a avaliar o impacto de todas estas opções de modoa permitir que, até 2015, seja tomada a melhor decisão.

As demais alterações são aceitáveis tal como se encontram, quer em parte quer em princípio,com excepção de três. Em primeiro lugar, a alteração 5 atribui à Agência um papel demediação em problemas relacionados com a questão dos certificados de segurança. Nãoconcordamos com esta alteração pelas razões que já referimos. Em segundo lugar, nãoaceitamos a alteração 6 por razões que se prendem com a coerência com o respectivoartigo da directiva relativa à segurança ferroviária. Por último, não aceitamos a alteração8 porque, ao abrigo da mesma, a Agência funcionaria como consultora em matéria deprojectos comerciais, ao passo que essa tarefa é da competência de um organismo daComunidade.

Ouvi atentamente todos os discursos que foram aqui hoje proferidos. Penso que, de ummodo geral, o Parlamento Europeu avaliou correctamente o valor destas disposições quevisam europeizar verdadeiramente os nossos caminhos-de-ferro. Não pretendo respondera todas as perguntas colocadas. Quero simplesmente dizer que concedemos às redestranseuropeias 85% dos fundos destinados a projectos ferroviários. Quero dizer ao senhordeputado de Grandes Pascual que não negligenciámos as ferrovias de montanha,nomeadamente os Pirinéus.

Quero igualmente dizer que, independentemente da abordagem que se faça ao sistemaferroviário, temos de reconhecer que, se quisermos que os comboios recuperem a suaimportância na Europa, temos de fazer um esforço genuíno para europeizar o sistemaatravés da interoperabilidade técnica e de regulamentos de segurança harmonizados.

Senhor Presidente, o ano de 2007 será um ano crucial para o transporte ferroviário. Desde1 de Janeiro que o transporte nacional e internacional de mercadorias está aberto àconcorrência. Temos vindo a constatar que o processo de revitalização neste sector está acomeçar a dar frutos. Após uma descida a partir de 1970 na maioria dos Estados-Membros,a quota de mercado do transporte ferroviário actualmente estabilizou e está, na verdade,a aumentar.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT84

Page 85: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

As propostas legislativas que estão aqui hoje a ser discutidas irão ajudar as empresasferroviárias a competir com o tráfego rodoviário. Consequentemente, estou muitíssimosatisfeito com o acordo sobre a directiva relativa à interoperabilidade, e a Comissão tudofará para conseguir um acordo rápido sobre os dois outros aspectos destas medidas.

Senhor Presidente, permita-me que manifeste a minha sincera gratidão a todos os deputadosque fizeram um esforço sustentado sobre uma questão tão técnica. Penso que isso nosajudou a fazer progressos muito mais rápidos, uma vez que, se tivéssemos sido forçadosa contemplar uma segunda leitura, teríamos perdido um ano precioso. Assim, julgo que2007 será um bom ano para o transporte ferroviário, o que também faz dele um bom anopara a luta contra o aquecimento global, para a qual sabemos que o transporte ferroviáriopoderá ser particularmente útil.

Presidente. − Está encerrado o debate.

Uma vez que dois comboios não podem entrar na mesma linha ao mesmo tempo, amanhãvotaremos o relatório do senhor deputado Costa e em 11 de Dezembro, terça-feira, orelatório do senhor deputado Ortuondo Larrea, em Estrasburgo.

Declarações escritas (Artigo 142º)

Marian-Jean Marinescu (PPE-DE), por escrito . – (RO) A proposta da Comissão nosentido de melhorar a legislação no domínio da interoperabilidade é de louvar, tendo emconta a necessidade que há-de melhorar o sistema de transportes ferroviários na UniãoEuropeia.

Os procedimentos nacionais de certificação de locomotivas e material circulante, assimcomo os procedimentos nacionais de certificação de maquinistas, são muito diferentes,impedindo inclusivamente a livre circulação de comboios no território da União.

É extremamente importante que os regulamentos relativos à interoperabilidade sejamalargados a toda a rede ferroviária da Comunidade. As RTE já se baseiam no princípio dainteroperabilidade e, consequentemente, os investimentos devem concentrar-se noscaminhos-de-ferro normais e em todas as categorias de material circulante, de modo a que,no futuro, estes cumpram as normas europeias comuns.

A interoperabilidade é um requisito, mas há igualmente regiões da zona europeia ondenão é possível construir ferrovias compatíveis com comboios de alta velocidade: regiõesmontanhosas, regiões isoladas de um modo geral, ferrovias que atravessam túneis e viadutos.

Considero que o legislador deve elaborar disposições específicas porque, por um lado, nãopodemos privar estas regiões dos benefícios do transporte ferroviário e, por outro, nãopodemos ignorar as condições para a segurança dos passageiros, dos comboios e daspróprias infra-estruturas.

Silvia-Adriana Ţicău (PSE), por escrito. – (RO) As normas nacionais de segurançaferroviária impostas pelos Estados-Membros são fundamentais para que os sistemasferroviários preencham os requisitos de segurança e para a sua interoperabilidade.

Após a colocação em funcionamento de qualquer material circulante, será designada umaentidade jurídica responsável pela sua manutenção. Julgo que as especificações técnicasdevem indicar os parâmetros básicos e as características técnicas necessárias para amanutenção de componentes, subconjuntos ou conjuntos integrados ou destinados aserem integrados num subsistema ferroviário.

85Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 86: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

66% dos caminhos-de-ferro romenos têm limites de velocidade devido ao estado dainfra-estrutura ferroviária, e 77% do material ferroviário está velho. A Roménia tem deinvestir no desenvolvimento do transporte ferroviário. Considero extremamente importanteque a Roménia e a Bulgária se liguem rapidamente ao sistema do transporte ferroviário dealta velocidade.

A segurança do transporte ferroviário é fundamental. O primeiro conjunto de projectosrelativos aos objectivos de segurança comuns para os caminhos-de-ferro, que visa melhoraros desempenhos no domínio da segurança do sistema ferroviário nos Estados-Membros,será adoptado pela Comissão até 30 de Abril de 2009, e o segundo conjunto de projectosaté 30 de Abril de 2011. Peço à Comissão Europeia que ajude os novos Estados-Membrosa ter acesso aos instrumentos comunitários disponíveis para desenvolvimento dasinfra-estruturas de transporte.

19. Televisão sem fronteiras (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a recomendação para segunda leitura(A6-0442/2007), em nome da Comissão da Cultura e da Educação, relativa à coordenaçãode certas disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membrosrelativas ao exercício de actividades de radiodifusão televisiva (10076/6/2007 –C6-0352/2007 – 2005/0260(COD) (Relatora: senhora deputada Hieronymi).

Ruth Hieronymi, relatora. − (DE) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras eSenhores, estamos hoje a discutir uma posição comum pré-negociada do Parlamento e doConselho relativa à revisão da Directiva relativa ao exercício de actividades de radiodifusãotelevisiva. Podemos considerá-la um grande sucesso para o Parlamento, o Conselho e aComissão, pelo que gostaria de começar por expressar os meus calorosos agradecimentosaos meus colegas deputados de todos os grupos políticos e de todas as comissões envolvidas,em particular aos relatores-sombra da Comissão da Cultura e da Educação, os senhoresdeputados Henri Weber, Ignasi Guardans Cambó e Helga Trüpel. Trabalharam muito nosentido de nos permitir apresentar hoje um sucesso, um resultado conjunto.

Os meus agradecimentos também à Senhora Comissária Reding – parabéns SenhoraComissária do ano de 2007! – que apresentou a proposta para a revisão da directiva com,simultaneamente, grande firmeza e vontade de cooperar, e trabalhou nela em parceriaconnosco.

Gostaria igualmente de agradecer ao Conselho, especificamente à Presidência alemã, soba liderança da qual foi possível chegar à posição comum, e à actual Presidência portuguesa,que resolutamente defendeu a posição comum alcançada, o que nos permitiu estar aquihoje a debatê-la e votá-la amanhã.

A Directiva “Televisão Sem Fronteiras” é crucial para a liberdade de informação e para opluralismo dos meios de comunicação social na Europa. Por conseguinte, saudamosvivamente o facto de termos conseguido actualizar esta directiva a tempo. Com base noprincípio do país de origem, alcançámos objectivos conjuntos para formas de televisãotradicionais e novas, independentemente da plataforma. No caso da televisão tradicional,isto inclui principalmente o direito à transmissão de pequenos excertos à escala da Europa,salvaguardas com vista à melhoria do acesso por parte das pessoas com deficiência, melhorescontrolos sobre a publicidade destinada às crianças, e supervisão independente dos meiosde comunicação social nacionais.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT86

Page 87: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

No entanto, melhorámos igualmente as bases financeiras para a radiodifusão comercial,não através do aumento da publicidade – que se mantém em, no máximo, 12 minutos porhora – mas sim através da introdução de normas mais flexíveis. Demos o difícil passo depermitir a colocação de produtos, de modo a que as empresas de radiodifusão privadas,que competem com o Google e outros adversários, no futuro possam oferecer serviçostelevisivos gratuitos. Neste caso, foi o Parlamento Europeu que trabalhou no sentido deelaborar directivas de transparência adequadas.

No caso da televisão moderna na Internet, o princípio que se aplicará depois da decisão deamanhã e a subsequente aplicação a nível nacional é que a televisão continuará a ser umproduto económico e cultural, independentemente da tecnologia usada. É o modelo europeuque salvaguardamos através desta Directiva “Serviços de comunicação social audiovisual”,como será conhecida no futuro. A televisão na Internet e a televisão móvel devemigualmente ter futuro na Europa, não só como produto económico como também comogarantia fulcral da liberdade de informação e do pluralismo dos meios de comunicaçãosocial.

É por este motivo que é tão importante ter iniciado esta directiva modernizada a tempo.“A tempo” significa que as próximas negociações sobre o pacote das comunicações, quejá começaram, bem como as deliberações sobre o conteúdo em linha podem realizar-setendo como pano de fundo este quadro jurídico clarificado para serviços de comunicaçãosocial audiovisual tradicional e moderna.

É por isso que peço o vosso apoio na votação de amanhã, de modo a garantirmos umaampla maioria a favor do progresso na nossa política europeia para os meios decomunicação social.

Viviane Reding, membro da Comissão. − (FR) Senhor Presidente, é sempre uma grandesatisfação para uma mãe ver a criança que trouxe ao mundo crescer e tornar-se numadolescente inteligente e cheio de vida. É assim que me sinto esta noite em relação à nossadirectiva relativa a serviços de comunicação social audiovisual “sem fronteiras”, umsentimento de satisfação e orgulho que quero partilhar com a madrinha da criança, a nossaexcelente relatora, a senhora deputada Ruth Hieronymi.

Há muitas maneiras de pôr a inteligência de uma criança à prova. A senhora deputadaHieronymi enumerou-as: um âmbito de aplicação adaptado aos meios de comunicaçãosocial audiovisual do futuro, uma vez que foi alargado a meios de comunicação socialaudiovisual a pedido, como o VOD (vídeo a pedido); reafirmação do princípio do país deestabelecimento e, consequentemente, consolidação da liberdade de circulação dosprogramas, acrescentando um procedimento de cooperação e diálogo inteligente comvista a evitar ou resolver qualquer potencial conflito; um equilíbrio entre o respeito pelosconsumidores e o acréscimo da liberdade para as nossas empresas; reforço do direito àinformação através das novas normas sobre o acesso a pequenos excertos de acontecimentosimportantes. Sinto que todos estes elementos, e não só, demonstram um equilíbriointeligente entre renovação e respeito pelos valores.

Como testemunho da vitalidade da criança, gostaria de referir a promoção da diversidadecultural no domínio digital, o reconhecimento de novas técnicas de publicidade, um quadrojurídico que prevê finalmente a colocação de produtos, a atenção que é finalmente dadaao acesso aos meios de comunicação social audiovisual por parte dos nossos concidadãoscom deficiências visuais ou auditivas, e a confiança depositada na indústria através deacordos no sentido de aplicar a directiva usando a auto-regulação ou a co-regulação.

87Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 88: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O Parlamento desempenhou um papel fundamental no acompanhamento da criança atéà adolescência, e gostaria de manifestar a minha gratidão. É mais um exemplo da excelentecooperação entre as três instituições que elaboraram com sucesso legislação que constituiráuma base essencial para a indústria e para a cultura de amanhã.

É chegado o momento de a criança abandonar o ninho e abrir as asas como um adulto.No caso de uma directiva comunitária, isso significa a sua transposição pelosEstados-Membros. De acordo com a política da UE, espero que esta fase não torne a criançaobesa. Seria tanto mais paradoxal quanto, na nova directiva, apelamos ao sector para queelabore códigos de boa conduta sobre publicidade, destinada a crianças, tendente a favorecera obesidade. Consequentemente, espero que, na medida do possível, os Estados-Membrosse abstenham de acrescentar obrigações nacionais que prejudiquem a sua indústriaaudiovisual.

Tenho a certeza absoluta de que o texto que irá ser amanhã submetido à vossa aprovaçãoproporcionará segurança jurídica genuína no sector, e promoverá igualmente os nossosvalores de sociedade e de cultura. Através deste quadro jurídico, a UE está a tomar a dianteiraem relação à legislação existente noutros continentes. Creio que podemos estar orgulhosos.Estamos igualmente a ajudar as nossas indústrias audiovisuais no que se refere à criação.Estamos a contribuir para o melhor plano de financiamento possível para os nossos filmese para o acesso dos cidadãos europeus a fórmulas de conteúdo “premium” na televisãogratuita: assim, esta noite, convosco e graças a vós, tenho o sentimento de dever cumprido.

Gunnar Hökmark, em nome do Grupo PPE-DE. – (SV) Senhor Presidente, antes de maispermita-me que felicite e agradeça à nossa relatora pelo seu trabalho nesta matéria, bemcomo à Senhora Comissária. Trata-se de uma questão que suscita muitos pontos de vistadiferentes e muito fortes e, no entanto, apresentámos uma proposta que estamos aqui adiscutir esta noite e que indica o caminho que a televisão europeia deve seguir.

Há algumas coisas que considero importante realçar. Entre outras coisas, instituímos oprincípio do país de origem, o que significa não só uma base melhor e mais forte para adiversidade como também para uma televisão europeia comum e – um ponto importante– melhores condições para uma indústria cinematográfica europeia, dado que é uma questãointimamente relacionada. Significa igualmente um melhor âmbito para a existência demeios de comunicação social gratuitos através das fronteiras europeias.

É claro que certas coisas podiam ter sido ainda melhores. Eu próprio considerei que teriasido bom se tivéssemos tido maior abertura no que se refere ao tempo dedicado àpublicidade, mas há maior flexibilidade. Julgo que a proposta que agora regressou sobre aquestão da colocação dos produtos também constitui uma melhoria. Consequentemente,temos razões para estar satisfeitos com o progresso realizado.

Permitam-me apenas que diga uma coisa relativamente ao futuro, uma vez que estalegislação se baseia largamente na existência de uma diferença entre os chamados serviçosde comunicação lineares e não lineares. Julgo que a diferença terá cada vez menosimportância no futuro. Actualmente já se verifica que esta diferença não é assim tão grandeou tão relevante. Creio que será importante seguir as evoluções neste domínio, de modoa que não acabemos por ter uma situação em que os meios de comunicação televisivostradicionais na Europa estejam numa posição menos favorável que os que transmitem deformas não lineares, através da Internet ou de outros meios, porque, a longo prazo, issopode lesar as nossas probabilidades no contexto global. Gostaria de agradecer uma vezmais à relatora e de referir que demos um passo em frente.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT88

Page 89: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Catherine Trautmann, em nome do Grupo PSE. – (FR) Senhor Presidente, SenhoraComissária, Senhoras e Senhores, quero começar por citar o meu colega, o senhor deputadoHenri Weber. Este texto é um compromisso aceitável para o Grupo PSE e, durante asnegociações, conseguimos contribuir com disposições preciosas com vista à preservaçãodo modelo audiovisual europeu. Quero agradecer à relatora, a senhora deputada Hieronymi,pela sua determinação, pela sua paciência e também pelo seu espírito de compromissoparticularmente positivo e aberto.

Certas questões relacionadas com a revolução digital no contexto da economia doconhecimento tornaram necessária esta revisão. As normas foram convenientementealargadas aos novos serviços audiovisuais. A protecção dos menores está salvaguardada,tal como a protecção dos cidadãos da UE contra o incitamento a todo o tipo dediscriminação. Estes novos serviços contribuirão para o financiamento de filmes e do sectoraudiovisual europeu. Uma percentagem do seu volume de negócios será depositada emcontas de apoio e haverá a garantia de exposição das produções europeias em catálogosem linha. O pluralismo dos meios de comunicação social tornou-se agora um requisitooficial. O papel das autoridades reguladoras foi reforçado e recomenda-se vivamente aosEstados-Membros que adoptem disposições relativas à acessibilidade para todos.

Em termos de publicidade, o Grupo PSE quis manter as normas da actual directiva. Coma limitação da publicidade a 20% por hora, o intervalo entre dois anúncios publicitáriospassa a ser de 30 minutos, embora a nossa vontade fosse de manter 45 minutos. Nãoobstante, estamos satisfeitos com o facto de a publicidade a produtos estar proibida durantedocumentários, emissões informativas e programas infantis. Os Estados-Membros podem,no entanto, optar por permitir este tipo de publicidade durante filmes, ficção televisiva eemissões desportivas. Neste caso, a colocação de produtos é rigorosamente regulamentada,de modo a evitar abusos e efeitos perversos.

Encontrou-se pois um equilíbrio entre a liberdade de expressão, a circulação de informação,o acesso público a novos serviços como o VOD (vídeo a pedido) e os conteúdos com valorcultural e económico. A ênfase na qualidade permitirá à produção europeia reforçar a suaposição. Este é um dos principais efeitos da directiva.

Ignasi Guardans Cambó, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhor Presidente, sinto quechegámos ao fim de uma viagem muito longa. Ocupou-nos muito tempo e mobilizou osesforços de muitas pessoas, de muitos deputados e de muitos peritos, até mesmo de pessoasde fora da Assembleia que acompanharam este debate de muito perto porque era muitoimportante para elas. Devíamos estar todos muito satisfeitos porque amanhã, se não houversurpresas, o texto que resultará de todas estas negociações e debates será adoptadounanimemente, talvez mesmo sem ser submetido a votação, o que é verdadeiramente aprova de que tal texto poderia ser adoptado quase por aclamação.

É chegado pois o momento de felicitar a senhora deputada Hieronymi e os demaisrelatores-sombra, mas em particular a senhora deputada Hieronymi e, devo dizer, à SenhoraComissária também. Ela diz que tem o sentimento do dever cumprido. Tem razão. Hojepode sentir-se realmente assim.

Isto significa que vamos adoptar um quadro jurídico muito claro e com normas claras quetornarão mais seguro e certo o investimento em meios de comunicação social audiovisual.Estas normas serão extensíveis aos novos meios de comunicação social digitais e aos novosmeios ligados a novos meios de comunicação social, com todos os elementos essenciaisnecessários à protecção dos consumidores e à protecção dos menores, sem que, em

89Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 90: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

simultâneo, se sobreponham ou simplesmente amplifiquem as disposições existentes,porque os meios são novos e as respostas jurídicas também devem ser novas.

É certo que as novas normas tornam a publicidade mais flexível. Estamos cientes disso.Debatemo-las e demos-lhes o nosso apoio. De um modo geral, foi o meu Grupo quetrabalhou mais arduamente para garantir que este texto finalmente se concretizava, porquenão desnaturámos o modelo audiovisual europeu. Na verdade, nunca fomos tão longe,mas sabemos – e devemos dizê-lo em voz alta porque também apoiámos a colocação deprodutos, e fizemo-lo de forma perfeitamente consciente – que se quisermos que osespectadores tenham televisão gratuita – embora nunca seja gratuita, mas é-o para osespectadores –, e se não quisermos que este tipo de televisão gratuita seja pago apenasatravés dos impostos e das finanças públicas, há que haver meios de financiamento numquadro de concorrência. Foi neste contexto que autorizámos a colocação de produtos.Tornámo-lo transparente e deixámos bem claro como e quando deve ser aplicado.

É chegado o momento de criarmos condições para a sua execução. Neste contexto peço àComissão que assuma mais uma vez as suas responsabilidades. É verdade que a criançaabandonou o ninho, mas não completamente. A aplicação deve ser acompanhada de muitoperto, devendo, nomeadamente, fazer-se alguma coisa, Senhora Comissária, em relação aum aspecto que me suscita sérias preocupações. Julgo que em alguns Estados-Membroshá o sentimento geral de que, a partir de hoje e até à data de aplicação, não háregulamentação da televisão europeia. Já não há, por assim dizer, leis. No entanto, isso nãoé verdade. A Directiva “Televisão Sem Fronteiras”, que ainda é válida, estabeleceu normaspara a publicidade, estipulando o que se podia e o que não se podia fazer. Há o sentimentogeral de que, até ao novo regulamento, até a nova directiva ser aplicada nosEstados-Membros, as normas em vigor já não são aplicáveis. É sua responsabilidade e daComissão esclarecer que esta percepção está errada, e que não é desta forma que a situaçãodeve ser encarada.

Zdzisław Zbigniew Podkański, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhor Presidente, asalterações à directiva do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à coordenação decertas disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membrosrelativas ao exercício de actividades de radiodifusão televisiva visa garantir que osdestinatários de serviços de comunicação social audiovisual nos Estados-Membrosaproveitem ao máximo os benefícios do mercado interno ao aplicar os princípios doregulamento de acordo com o país de origem.

A alteração da directiva adequará as disposições da União Europeia aos mais recentesprogressos tecnológicos. A proposta da Comissão Europeia faz a distinção entre serviçoslineares, nomeadamente a transmissão através da televisão tradicional, da Internet ou datelevisão móvel que fornece constantemente conteúdos ao espectador segundo umprograma em vigor, e serviços não lineares semelhantes à televisão descarregada da redea pedido.

Manter a chamada Directiva “Televisão Sem Fronteiras” na sua forma actual iria agravaras diferenças injustificadas no tratamento regulamentar de diferentes métodos dedistribuição de conteúdos dos meios de comunicação social semelhantes ou idênticos. Asactuais disposições relativas à televisão devem manter-se em vigor para os serviços lineares.No entanto, para os serviços não lineares devem ser estabelecidas disposições essenciaismínimas. Estas podem, por exemplo, dizer respeito à protecção dos menores, à proibiçãodo incitamento ao ódio racial e à proibição de publicidade oculta. Tudo isto está previsto

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT90

Page 91: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

nas alterações propostas. Consequentemente, o Grupo União para a Europa das Naçõesvotará a favor da proposta.

Helga Trüpel, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, nas nossas renovadasdeliberações sobre a nova versão da directiva relativa ao exercício de actividades deradiodifusão televisiva, doravante designada por Directiva “Serviços de comunicação socialaudiovisual”, também realizámos constantemente um debate sobre política cultural, relativoà diversidade cultural e à manutenção da qualidade na radiodifusão televisiva. A decisãofinal do Parlamento constitui apenas o início do processo legislativo, pelo que já estamosa olhar para o futuro.

Insto os Estados-Membros a fazerem uso do princípio da subsidiariedade consagrado nadirectiva e a explorarem plenamente o seu âmbito para mais diversidade cultural e decomunicação social. Isto aplica-se sobretudo a um reforço dos direitos dos produtoresindependentes, à contribuição dos serviços não lineares, como os fornecedores de vídeoa pedido, a favor das produções europeias, e à restrição do âmbito da colocação de produtos.Na radiodifusão pública, na Europa, não deve haver colocação de produtos.

Durante o trabalho sobre a nova versão da directiva debatemos questões de princípiofundamental. Este debate centrou-se no grau de liberalização de mercado que queremose, precisamente, em que áreas pretendemos regulamentar. Da perspectiva dos Verdes, estedebate decidiu-se a favor de mais liberalização orientada para o mercado, em particular depublicidade. Consequentemente, na votação de amanhã o nosso Grupo não apoiará a novaversão da directiva. As inúmeras novas oportunidades para um reforço ainda maiorpublicidade – seja ela em programas desportivos, séries ou filmes de longa-metragem –resultará numa perda de qualidade nos meios de comunicação social europeus. Aradiodifusão pública terá pois um papel ainda mais importante no futuro, e os legisladoresnacionais devem permitir que desempenhe a sua função de informar e educar de formatão ampla quanto possível, nomeadamente através de novos meios de comunicação socialcomo a televisão móvel ou a televisão pela Internet. Por esta razão, quando abordarmos anova versão da Directiva “Telecomunicações”, temos de estabelecer um quadro adequadoa nível europeu, se quisermos que, no futuro, a radiodifusão seja recebida em maior escalaatravés dos telemóveis ou da Internet.

Doris Pack (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, apoio inteiramente o compromissopreconizado pela senhora deputada Ruth Hieronymi – obviamente com a ajuda dos seuscolegas. Gostaria de lhe agradecer muito calorosamente; trata-se de um trabalho muitodifícil e ela fez um excelente trabalho. Em minha opinião, o compromisso abrange a maiorparte daquilo que queríamos alcançar numa primeira leitura.

Como sabemos, o ritmo acelerado do desenvolvimento tecnológico tornou a antiga directivaobsoleta. Eu própria trabalhei nesta primeira directiva. Agora temos algo novo: novasoportunidades de transmissão, novos serviços “a pedido” a par da televisão tradicional,pelo que necessitamos desta nova directiva. Para mim, neste contexto era importanterespeitar o princípio do país de origem e manter a transmissão de pequenos excertos.Foram introduzidos regulamentos mais flexíveis em matéria de publicidade, mas julgo estácerto manter um limite de 12 minutos por hora. Tal como antes, as obras cinematográficase os novos programas não serão interrompidos.

Como a Senhora Comissária sabe, um ponto de fricção era a colocação de produtos. Foicom pesar que muitos de nós votaram a favor do presente compromisso. No entanto, épositivo que a proibição venha primeiro, seguida das excepções já aqui referidas. Considero

91Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 92: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

que se estas forem correctamente aplicadas, não teremos condições ao estilo americano.Congratulo igualmente com a restrição à publicidade nos programas infantis. Estecompromisso permite ao sector audiovisual enfrentar as grandes mudanças que estão ater lugar e adaptar-se às condições tecnológicas e de mercado. O compromisso ajuda osector audiovisual a tornar-se mais competitivo no futuro. Este compromisso é, nestemomento, o melhor equilíbrio entre o pluralismo dos meios de comunicação social e adiversidade cultural, e proporciona a oportunidade de desenvolver uma indústria audiovisualeuropeia mais competitiva.

Permitam-me mais uma vez que agradeça calorosamente à Senhora Comissária e, emparticular, à nossa colega, a senhora deputada Ruth Hieronymi.

Viviane Reding, membro da Comissão. − (FR) Senhor Presidente, só me resta concordarcom o que aqui se acabou de dizer: de facto, graças à ajuda das instituições e ao empenhoda nossa relatora e dos seus colegas, apresentámos uma directiva que irá levar a nossaindústria audiovisual para o futuro respeitando os nossos valores e as nossas culturas. Éum considerável passo em frente para a indústria audiovisual europeia, e só me restaregozijar-me com esse facto, acompanhando todos os oradores que se manifestaram nomesmo sentido.

Foi colocada uma questão: que acontecerá a partir de agora e o momento da aplicaçãoefectiva da nova directiva? Posso tranquilizar o senhor deputado nesta matéria.Continuaremos a aplicar as normas constantes da Directiva “Televisão Sem Fronteiras”.Na verdade, acabo de instaurar processos de infracção contra a Espanha por exceder otempo dedicado à publicidade. O mesmo acontecerá a todos os Estados-Membros que nãocumpram as regras: até termos novas normas, as normas anteriores continuarão a vigorar.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã.

Declarações escritas (Artigo 142º)

Claire Gibault (ALDE), por escrito. – (FR) Quero agradecer à senhora deputada Hieronymie ao senhor deputado Guardans pelo esplêndido diálogo que mantiveram com os deputadose pela qualidade dos relatórios que elaboraram com o Conselho e que levaram àapresentação deste relatório extremamente consensual em segunda leitura.

O Conselho aceitou um grande número de pedidos do Parlamento e todos os pedidos domeu grupo político. Apraz-me constatar o facto de dois tópicos que me são particularmentecaros terem sido incluídos no texto: o princípio do país de origem e a protecção das criançasem relação às mensagens publicitárias.

O Parlamento demonstrou ser capaz de conduzir as negociações com o Conselho, tendoestas resultado num texto muito mais elaborado que antes. Não foi tarefa fácil, masalcançámos o nosso objectivo. Espero que a boa vontade entre os nossos governos facilitea transposição para a legislação nacional.

Gyula Hegyi (PSE), por escrito . – (HU) O novo regulamento relativo a uma televisãosem fronteiras teve um sucesso irregular. É positivo o facto de estarmos a criar bases jurídicaspara a televisão digital e não linear. À última hora, dado o rápido desenvolvimento datecnologia. Considero muito importante que os canais de televisão públicos que difundemos valores da Comunidade aproveitem as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT92

Page 93: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Se os organismos de radiodifusão públicos não conseguirem acompanhar os canaiscomerciais no que se refere à qualidade da tecnologia, é de temer que percam os espectadoresque têm até agora, e que os seus programas culturais, sobre a vida pública e outrosprogramas de qualidade não cheguem às gerações mais novas. A versão final moderasubstancialmente o regime de publicidade. É particularmente aborrecido o facto de tambémnão termos conseguido proibir o astucioso aumento do volume da publicidade, emborao nosso eleitorado em toda a Europa lamente esta prática. É igualmente triste que até osprogramas infantis possam ser interrompidos por anúncios. O regulamento relativo àcolocação de produtos é um compromisso modesto. A legislação não realiza muitos dosobjectivos do Parlamento Europeu, mas se não fosse criada a falta de regulamentaçãoprovavelmente seria ainda mais problemática.

Daciana Octavia Sârbu (PSE), por escrito . – (RO) Saúdo a posição comum do Conselho,que traz algumas mudanças importantes em termos de protecção das crianças e dosmenores, do acesso de pessoas com deficiência aos serviços audiovisuais e da colocaçãode produtos publicitários.

Os “spots” publicitários a álcool e tabaco são considerados pelos jovens como uma formade serem socialmente aceites entre os adultos e estes vícios estão correlacionados comatracção física, diversão, aventura e recreação. Além disso, a publicidade intensiva aalimentos e bebidas com um elevado teor de gordura e açúcar, dirigida em particular àscrianças, põe em causa as iniciativas positivas para protecção da saúde pública, como aeducação nutricional e a rotulagem correcta dos produtos. A União Europeia tem em mãosuma crise de obesidade e a televisão agrava este problema. Em Espanha, 48% da publicidadeque passa durante os programas infantis é a doces, produtos de “fast-food” e batatas fritasde pacote, e na Grã-Bretanha, os produtos alimentares com elevado teor de gordura eaçúcar representam 80 a 90% da publicidade televisiva.

O texto do Conselho coloca ênfase no desenvolvimento de códigos de conduta relacionadoscom publicidade a “junk food” dirigida às crianças, bem como na introdução de sistemasde filtração e códigos PIN que irão aumentar a protecção dos menores contra a influêncianegativa dos serviços audiovisuais e desempenhar um papel importante na luta contra aobesidade.

20. Intervenções de um minuto sobre questões políticas importantes

Presidente. − Seguem-se na ordem do dia as intervenções de um minuto sobre assuntospolíticos importantes.

Vytautas Landsbergis (PPE-DE). – Senhor Presidente, o Parlamento Europeu adoptourecentemente uma resolução sensata sobre as relações com um dos seus Estados vizinhos.Gostaria de citar concretamente algumas linhas. Por favor oiça com atenção e sem nadarecear: “Considerando que o povo” russo “não está suficientemente informado da extensãodos crimes cometidos” na Segunda Guerra Mundial, designadamente na” Finlândia, nosEstados Bálticos, em Katyń e na região de Königsberg; o Parlamento “entende que oscidadãos” da Rússia “têm o direito a ser informados sobre as... políticas de guerra e genocídiocometidos em seu nome e a saber quem foram os autores de tais crimes”; o Parlamento"acredita que” a Rússia “tem de se confrontar honestamente com o seu passado” soviético“para poder progredir e que enfrentar o passado faz parte integrante da via da reconciliaçãocom os vizinhos”.

93Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 94: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Na verdade, o nosso Parlamento dirigiu estas palavras – à Sérvia, que agradeceu as nossassugestões, mas, como esta Assembleia não pratica a duplicidade de critérios, devem serusadas as mesmas formas de incentivo nos nossos documentos relativos à Rússia.

Lívia Járóka (PPE-DE). – (HU) Muito obrigada, Senhor Presidente. Senhoras e Senhores,Senhor Presidente, gostaria de dizer algumas palavras sobre a situação dos Roma europeus,associada à nossa opinião que foi adoptada na última sessão plenária. Considero essencialque a Comissão Europeia e o Parlamento trabalhem juntos e se responsabilizem por estaminoria, assumindo um papel muito mais enfático que o assumido até hoje, e preparando,aplicando e acompanhando programas que visam a inclusão de grupos sociais que foramexcluídos e marginalizados. Neste âmbito, seria muito importante que os deputados doParlamento Europeu trabalhassem lado a lado com os Comissários que são directa ouindirectamente responsáveis pelas minorias, pela sua integração e pela sua inclusão e, naqualidade de grupo especializado, preparassem em conjunto uma estratégia abrangente etransfronteiriça para os Roma com acompanhamento eficaz, o que daria uma oportunidadeàqueles que vivem nas regiões mais pobres e aos grupos que estão nas situações maisdesfavorecidas de terem acesso aos programas de desenvolvimento da União. Nesse sentido,é necessário elaborar um mapa europeu conjunto de zonas críticas, através do qual sejamais fácil avaliar as regiões afectadas por pobreza extrema. Há dois anos, o Partido PopularEuropeu foi o primeiro neste Parlamento a adoptar uma estratégia para os Roma. Gostariaque os outros partidos se lhe juntassem. Julgo que seria muito importante para nósaparecermos juntos, lado a lado, na audição dos Roma, que terá lugar em 14 de Fevereiro,e defendermos esta minoria. É muito importante que algo aconteça. Obrigado.

Hans-Peter Martin (NI). – (DE) Senhor Presidente, testemunhas dão conta de uminacreditável incidente relacionado com excesso de velocidade, envolvendo o senhor HaraldRømer, Secretário-Geral do Parlamento Europeu, por volta das 15h00 de 14 de Novembrodo corrente ano, aparentemente num veículo do corpo diplomático com matrícula doLuxemburgo que se deslocava do Parlamento Europeu para o centro de Estrasburgo.Disparou pela Allée de la Robertsau fora, atropelando pardais, passando a mais de100 km/hora por veículos lentos que se encontravam em filas de trânsito e obrigando ospeões assustados a fugir da passadeira.

Por conseguinte, tenho algumas perguntas a fazer ao senhor Rømer: encontrava-se nesteveículo na altura? Quem o conduzia? Que instruções tinha – ou não tinha – dado aocondutor? Por que razão estava o veículo em questão a ser conduzido de forma tãoimprudente e por que razão se excedeu tanto o limite de velocidade? Considera que asregras de trânsito não se lhe aplicam? Não considera que, na qualidade de mais altofuncionário do Parlamento Europeu, devia demonstrar particular consideração para comos demais e manter-se dentro dos limites de velocidade previstos no Código da Estrada? Éassim que se pretende comportar no futuro e deverão todos os utentes da estrada fugircom medo de si?

Monica Maria Iacob-Ridzi (PPE-DE). – (RO) No passado domingo os romenos elegerampela primeira vez os seus representantes no Parlamento Europeu. A Roménia junta-se àtradição europeia das eleições directas para o Parlamento, que teve início em 1979.

A eleição na Roménia mostrou-nos que temos uma grande responsabilidade para com oscidadãos romenos, a quem devemos falar mais sobre a União Europeia e explicar osbenefícios e as contingências da família a que pertencemos. Embora a Roménia seja osegundo país a favor da União Europeia, o resultado desta eleição foi relativamente baixo

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT94

Page 95: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

– 29,4%. No entanto, a eleição foi um êxito retumbante para a tendência popular europeia.Os representantes do Partido Democrata da Roménia são agora quase três vezes maisnumerosos neste fórum e, na sequência da nossa vitória, o peso do PPE-DE no ParlamentoEuropeu aumentou quase cerca de 4%.

Agradeço aos romenos pela sua confiança e agradeço aos senhores deputados pelasmensagens positivas que transmitem aos eleitores romenos.

Pierre Pribetich (PSE). – (FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a areiada ampulheta do Kosovo está a escoar-se de forma inexorável e o dia 10 de Dezembro estáquase a chegar. Infelizmente, o diálogo de surdos prossegue entre um Kosovo extremamenteautónomo dentro das fronteiras da Sérvia e uma independência controlada. As eleiçõeslegislativas de 18 de Novembro só serviram para aumentar as aspirações políticas, comuma vitória dos apoiantes da independência num escrutínio que se caracterizou por umaabstenção recorde.

Consequentemente, a UE deve apresentar uma estratégia alternativa à independência,afirmando dessa forma uma política externa europeia. A própria palavra independência éuma armadilha, um sinónimo de caos para a nossa Europa. Ao aceitar este processo estamosa abrir uma caixa de Pandora com todos os nacionalismos, regionalismos e localismos queisso implica no nosso próprio território.

Num mundo globalizado, a independência é uma ilusão. Há que apelar a todas as partespara que construam uma comunidade regional através de intercâmbios pacíficos querespeitem os princípios democráticos. Apoiar a divisão e a independência vai simplesmentereforçar os nacionalismos. Lembremo-nos das palavras do Presidente François Miterrandao Parlamento: o nacionalismo é a guerra, e a guerra não é só o passado, também pode ser

o nosso futuro.

Marian Harkin (ALDE). – Senhor Presidente, é muito provável que a Irlanda seja o únicopaís europeu a realizar um referendo sobre o Tratado de Lisboa. Eu própria sou pró-UE evotei “sim” em todos os referendos aos tratados. No entanto, tenho um problema e peçoao Conselho que o resolva.

Necessitamos de uma versão consolidada do Tratado antes de pedirmos aos nossos cidadãosque façam uma escolha informada. Para ilustrar o meu ponto de vista, basta consultar apágina 51 do Tratado, uma secção intitulada “Não discriminação e cidadania”, que qualquercidadão poderá querer ler e analisar. No ponto 32 afirma-se “É inserido o artigo 16.º-D,com a redacção do artigo 12.º”. No ponto 33 afirma-se “É inserido o artigo 16.º-E, com aredacção do artigo 13.º; no n.º 2, o trecho “… sempre que adopte…” é substituído por “…o Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo legislativoordinário, podem adoptar os princípios de base das…” e, no final, é suprimido o trecho“…, o Conselho delibera nos termos do artigo 251.º”.

Senhor Presidente, não preciso de continuar a ler, creio que o meu ponto de vista ficou

bem esclarecido.

Roberta Alma Anastase (PPE-DE). – (RO) Senhor Presidente, apraz-me vê-lo hoje, trêsdias depois de um momento tão importante para a Roménia.

De acordo com o Tratado de Adesão à União Europeia, no passado domingo, seis mesesapós o prazo inicialmente estabelecido, a Roménia realizou eleições para o Parlamento

95Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 96: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Europeu. Assim, os cidadãos da Roménia, cidadãos europeus, puderam eleger directamenteos seus representantes na instituição mais democrática da União Europeia. Embora oresultado da eleição tenha ficado dentro da média europeia, que não é muito elevada, estouconvencida de que, graças ao envolvimento dos nossos novos colegas na Roménia, oscidadãos romenos ficarão a conhecer, mais do que nunca, o impacto que a actividade doParlamento Europeu tem na sua vida quotidiana. O facto de os partidos extremistas nãoterem obtido o número de votos necessários para entrar no Parlamento Europeu demonstraque os cidadãos romenos já têm maturidade e responsabilidade europeias.

Aproveito esta ocasião para felicitar todos os deputados que foram eleitos pelos cidadãosda Roménia como seus representantes no Parlamento Europeu, e espero cooperar para o

bem-estar dos romenos, independentemente da sua filiação em famílias políticas diferentes.

Bogusław Rogalski (UEN). – (PL) Senhor Presidente, ontem os pescadores polacosmanifestaram-se diante da sede da Comissão Europeia em Bruxelas. O motivo do protestofoi a medida injusta e discriminatória tomada pela Comissão contra o sector pesqueiropolaco.

O problema refere-se à proibição da pesca do bacalhau no Mar Báltico. O bacalhau é aprincipal fonte de rendimento dos pescadores polacos. A proibição da pesca foi impostapela Comissão como castigo por a Polónia exceder a quota anual de capturas de bacalhau.Além disso, a Comissão ameaçou a Polónia de que não lhe seria atribuída uma quota depesca para 2008, ou de que a mesma lhe seria reduzida. Isso iria certamente levar à falênciao sector pesqueiro polaco. As quotas atribuídas são muito restritivas e baseiam-se em dadosincompletos e distorcidos relativamente às populações de bacalhau no Báltico.

Por conseguinte, a pergunta que se coloca é a de saber por que razão é que a Polónia foi oúnico país sujeito a controlo, quando o meu país pediu um controlo detalhado da pescaem todos os países. Os pescadores alemães, suecos e dinamarqueses também estão a excederas quotas. Será que os pescadores polacos se vão tornar no bode expiatório do senhorComissário Borg? Ou será talvez um esforço para eliminar a concorrência recorrendo àComissão Europeia? A União não entendeu manifestamente a noção de igualdade, pelo

que estou de acordo com o protesto.

Maciej Marian Giertych (NI). – (PL) Senhor Presidente, apelo a que abracemos a causade uma mulher egípcia, Shadia Nagui Ibrahim. Esta mulher foi condenada a três anos deprisão porque, quando se casou, afirmou de forma alegadamente falsa que era cristã. Narealidade, disse a verdade, porque é cristã. Pertence à Igreja Cóptica e desconhecia que oseu pai, também ele cristão cóptico, se convertera ao islamismo durante algum tempo eque depois regressara à fé cóptica.

De acordo com a lei egípcia, Shadia Nagui Ibrahim é muçulmana porque o seu pai foioutrora muçulmano. A fé de uma pessoa não pode ser determinada pela posição dasautoridades nacionais ou jurídicas. Trata-se de uma convicção pessoal. Se o Egipto quiser

ser considerado um país civilizado, tem de alterar a sua legislação anti-cristã intolerante.

Antonio Tajani (PPE-DE). – (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, dirijo-me ao senhor Comissário relativamente à utilização indevidados Fundos Estruturais, o que, lamentavelmente, é um fenómeno em crescimento na UniãoEuropeia.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT96

Page 97: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O que aconteceu na Hungria relativamente ao programa LEADER é profundamentechocante. Os Grupos de Acção Local LEADER (GAL), que é suposto unirem as autoridadeslocais e os municípios com vista ao uso e desenvolvimento do programa LEADER naHungria, foram constituídos exclusivamente por autoridades pertencentes a um únicopartido político, nomeadamente o partido do Governo nacional, excluindo as autoridadeslocais dirigidas por partidos não governamentais.

É um verdadeiro escândalo, e julgo que a Comissão Europeia deve tomar medidas contrao Governo húngaro, eventualmente instaurando processos por infracção, porque os fundosestruturais não estão a ser devidamente utilizados. As populações locais estão a ser lesadas

pura e simplesmente porque as suas administrações não estão em sintonia com o Governo.

PRESIDÊNCIA: Adam BIELANVice-presidente

Kyriacos Triantaphyllides (GUE/NGL). – (EL) Senhor Presidente, a Conferência deAnnapolis sobre o Médio Oriente terminou com resultados contraditórios para a UniãoEuropeia. Nos últimos meses, quer o senhor Comissário Waldner quer o Alto-Representante,o senhor Solana, asseguraram-nos em plenário que a União Europeia desempenha umpapel activo na formação da política do Médio Oriente. No entanto, ao ler hoje o discursodo Presidente Bush não vejo sinais disso. Pelo contrário, leio que as partes concordam emcriar um mecanismo para executar o plano do roteiro, que será controlado pelos EUA. Ofuturo tratado de paz será igualmente executado com base no roteiro, sendo os EUA oárbitro supremo. Onde está, então, a União Europeia? Que mensagem de esperança podemos

transmitir em relação ao futuro, se somos meros espectadores dos acontecimentos?

Laima Liucija Andrikienė (PPE-DE). – (LT) Senhor Presidente, no passado sábado, naRússia – em Moscovo e em São Petersburgo –, as tentativas pacíficas e inteiramente legítimasdos cidadãos russos de manifestarem o seu desagrado face à política prosseguida peloactual Governo russo foram brutalmente reprimidas. O dirigente do grupo da oposição AOutra Rússia, Gary Kasparov, os dirigentes da União das Forças de Direita, Nikita Belyche Boris Nemtsov, e outros apoiantes foram alvo de violência e detidos pela Militsya. GaryKasparov foi, inclusivamente, condenado a cinco dias de prisão.

Este incidente é mais uma prova de que o povo da Rússia não tem liberdade de expressãoe vive em perigo constante, receando constantemente os membros da oposição pelasegurança das suas famílias.

Senhor Presidente, tenho a certeza absoluta de que nós, o Parlamento Europeu, não estamosem posição de continuar em silêncio face a estes acontecimentos. Não podemos aplicardiferentes critérios de moralidade, democracia e direitos humanos a Mianmar e ao Paquistão,ao mesmo tempo que aplicamos outros critérios, menos exigentes, à Rússia. SenhorPresidente, insto-o a que tome medidas com vista a defender os direitos de liberdade deexpressão e de associação na Rússia. Não importa em que país as pessoas estão a lutar pelaliberdade – elas estão também a lutar pela nossa liberdade. Consequentemente, onde querque haja uma pessoa livre agrilhoada...

(O Presidente retira a palavra à oradora)

97Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 98: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Presidente. – Muito obrigado, senhora deputada Andrikienė. Infelizmente, não podemos

dedicar mais tempo a este ponto da ordem do dia.

Marios Matsakis (ALDE). – Senhor Presidente, fazendo um ponto de ordem, há quemesteja aqui à espera desde as 19H00 – são agora 21H40 – só para ter oportunidade de falarnas intervenções de um minuto. Agora o Senhor Presidente encurta-as para menos de 15minutos. Não é justo para os deputados que têm estado aqui à espera toda a noite. Talvez

devêssemos ter sido avisados mais cedo, para não termos de esperar tantas horas.

Presidente. – É compreensível que esteja aborrecido. Só assumi a Presidência há doisminutos. Fui, no entanto, informado de que, infelizmente, nos resta muito pouco tempo.Temos de encerrar os debates à meia-noite, e ainda há muitos pontos a abordar na nossa

ordem do dia. Lamento imenso.

21. Aquisição e detenção de armas (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0276/2007) da senhora deputadaKallenbach, em nome da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dos Consumidores,sobre uma proposta de directiva do Parlamento Europeu e do Conselho que altera a Directiva91/477/CEE do Conselho relativa ao controlo da aquisição e da detenção de armas

[COM(2006)0093 – C6-0081/2006 – 2006/0031(COD)].

Günter Verheugen, Vice-Presidente da Comissão. − (DE) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, as armas de fogo não são um artigo como outro qualquer. Uma sériede acontecimentos trágicos – em Erfurt, em Antuérpia, em Helsínquia e noutras cidades –demonstrou claramente o potencial perigo que as armas de fogo constituem para asegurança dos nossos cidadãos, em especial para as crianças. Consequentemente,necessitamos de normas muito rigorosas para reger o fabrico, a venda e a detenção dearmas de fogo.

Embora a nossa legislação europeia permita expressamente aos Estados-Membrosultrapassarem o nível de protecção comum previsto pela legislação da UE, estou muitograto pelo facto de o Parlamento ter procurado melhorar substancialmente os níveis desegurança aplicáveis na Europa no que respeita às armas de fogo. Gostaria de agradecerem particular à relatora da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dos Consumidores,a senhora deputada Kallenbach, e à presidente da mesma comissão, a senhora deputadaMcCarthy. Os meus agradecimentos a ambas pela sua excelente cooperação.

Permitam-me que relembre os antecedentes da decisão de hoje. O ponto de partida foi anecessidade de fazer várias alterações à nossa legislação, de modo a permitir-nos ratificaro Protocolo da ONU sobre Armas de Fogo. Só depois de isso acontecer é que estavaagendada uma revisão abrangente da legislação europeia sobre armas de fogo. Graças avós, Senhoras e Senhores Deputados, fizemos tudo isto de uma vez só, na verdade, àprimeira tentativa, uma vez que o Conselho também deu a sua bênção à proposta unificadaapresentada hoje nesta Assembleia.

Era necessário encontrar soluções para uma série de questões difíceis e o resultado de hojeresiste ao escrutínio. Não estamos a ofender, mas a respeitar as diferentes tradições eespecificidades culturais existentes nos nossos Estados-Membros, onde há tradições antigase muito díspares ligadas à caça, ao tiro desportivo e ao coleccionismo de armas. Estas foram

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT98

Page 99: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

respeitadas. Um cartão europeu de armas de fogo simplificará as viagens transfronteiriçase proporcionará uma boa base para futuros encontros transnacionais de caçadores eatiradores desportivos. Optámos igualmente pela marcação e registo adequados das armasde fogo, de modo a permitir a transferência e o transporte transfronteiriços das mesmasno mercado interno, mas tornando este processo mais transparente e, consequentemente,mais seguro.

Uma inovação importante é o registo de todas as armas na posse de particulares. Temosde saber quem possui o quê. O registo permitir-nos-á controlar a posse ou transferênciailegais numa escala ainda maior. Os dados serão conservados por 20 anos, de modo agarantir a rastreabilidade durante um período suficientemente longo. Isso é, certamente,de louvar. No entanto, neste contexto, a Comissão está a ponderar clarificar, numadeclaração, a nossa compreensão do novo considerando 9e da directiva relativa à protecçãode dados.

Decidimos igualmente, no futuro, proibir a aquisição de armas de fogo por parte de menorescom idade inferior a 18 anos. Desta forma, a Europa está a transmitir a mensagem clarade que as armas de fogo não são algo a que os jovens devam ter acesso. Continuaremos,obviamente, a permitir que os atiradores desportivos e os caçadores com idade inferior a18 anos pratiquem o seu hobby, mas apenas sob a supervisão de um adulto, ou seja, os paisou os treinadores, por exemplo. Já ocorreram demasiadas tragédias envolvendo armas defogo que caíram nas mãos de jovens. Espero que as novas normas ajudem a evitar maistragédias deste tipo e a sensibilizar, especialmente entre os atiradores desportivos e oscaçadores jovens, para a necessidade de terem muito cuidado no manuseamento das armas.

Fomos confrontados com um novo problema resultante dos progressos tecnológicos edas actividades criminosas na Europa: refiro-me à conversão de armas, por si só inofensivas,em armas totalmente operacionais. Foi a senhora deputada McCarthy quem primeiro noschamou a atenção para este problema. Isso permitiu a subversão de facto da lei. Mas agorairá acabar. Diga-se, de passagem, que, durante os próximos dois anos, teremos de analisarmais de perto o problema da conversão da arma de fogo, de modo a colmatar quaisquerlacunas em matéria de segurança. O mesmo se aplica à questão de como garantir que asarmas de fogo são desactivadas eficazmente.

Como sabem, a Comissão era a favor da introdução de sanções na legislação europeia, noseguimento de acórdãos do Tribunal de Justiça nesse sentido. No entanto, a Comissãoreconhece que o considerando 8 inclui uma referência a estas sanções ao abrigo da legislaçãopenal e do protocolo da ONU. Tal é importante, uma vez que o cumprimento do artigo5.º do Protocolo da ONU requer a aplicação de sanções por parte dos Estados-Membros.Estou confiante em que os Estados-Membros prevejam tal situação nas suas legislaçõesnacionais. Será igualmente apresentada uma declaração da Comissão a este respeito aoSecretariado do Parlamento Europeu (2) . Gostaria de agradecer particularmente ao senhordeputado Alvaro pelo seu apoio nesta matéria.

Assim, a Europa terá uma legislação sobre armas de fogo moderna que dá prioridade àsegurança dos cidadãos e tem em conta a necessidade de proteger as nossas crianças ejovens. Estamos, desta forma, a aumentar o nível de protecção previsto pela legislaçãocomunitária.

(2) Ver “Declarações da Comissão anexas ao debate”

99Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 100: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Cabe agora aos Estados-Membros reconhecerem o sinal dos tempos e, tendo em conta ascondições nacionais, desenvolverem individualmente estas disposições a nível nacional.Isto significa que qualquer Estado-Membro que considere serem necessárias e adequadasdisposições mais severas terá o meu apoio pessoal, e só me resta encorajar essesEstados-Membros a tomarem essas medidas.

Estou a contar que os vossos colegas nos parlamentos nacionais tomem uma decisão clarano que se refere à questão das armas de fogo. O lema deverá ser sempre “a segurança emprimeiro lugar”. A decisão de hoje abrirá esse caminho, e gostaria de agradecer aos senhores

deputados pelo apoio neste esforço.

Declarações da Comissão anexas ao debate

“A Comissão congratula-se com a rápida adopção da directiva do Conselho que altera aDirectiva 91/477 relativa ao controlo da aquisição e da detenção de armas, mas lamentaque o Conselho se tenha oposto à sua proposta inicial sobre o artigo 16.º relativo a sançõespenais.

A Comissão refere que a Comunidade tem competência para impor sanções penais aoabrigo do artigo 5.º do Protocolo contra o fabrico e tráfico ilícitos de armas de fogo, , suaspeças e componentes e munições [Protocolo da ONU sobre Armas de Fogo], à Convençãoda ONU contra o Crime Organizado Transnacional.

Assim, a Comissão considera que qualquer decisão no sentido de ratificar o Protocolo teriade ser acompanhada por uma declaração de competência que reflicta correctamente oâmbito da competência comunitária.

A Comissão reserva os seus direitos institucionais nesta matéria.”

2) Projecto de declaração sobre protecção de dados

“A Comissão refere que o tratamento de dados pessoais nos termos desta directiva estásujeito ao cumprimento da Directiva 95/46/CE e não pode prejudicar o nível de protecçãodas pessoas relativamente ao tratamento de dados pessoais nos termos das disposições dalegislação comunitária e nacional, e, nomeadamente, não altera as obrigações e os direitosprevistos na Directiva 95/46/CE.

Neste contexto, deve ser justificada a necessidade de prolongar de dez para vinte anos operíodo mínimo durante o qual se deverão conservar os registos que contêm informaçãosobre os proprietários de armas. A Comissão está convencida de que tal tratamento dosdados pessoais é justificado, atendendo à perigosidade e à durabilidade das referidas armase ao possível uso indevido das mesmas para fins criminosos, o que, consequentemente,exige a devida rastreabilidade, quer das armas de fogo quer dos seus proprietários.

A Comissão refere igualmente que, face aos objectivos da presente directiva, e de acordocom os requisitos da Directiva 95/46/CE, o acesso ao ficheiro de dados centralizado, ouao sistema que garante acesso a ficheiros não centralizados, só deverá estar disponível àpolícia e às autoridades judiciais para fins de prevenção, investigação, detecção e repressão

de infracções penais.”

Gisela Kallenbach, relatora. − (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, um processo muito demorado está a aproximar-se do que esperovenha a ser uma conclusão bem-sucedida. Permitam-me que comece por expressar os

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT100

Page 101: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

meus calorosos agradecimentos a todos aqueles que deram um contributo precioso paraeste processo: os relatores-sombra da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dosConsumidores, os senhores deputados Podestà, Lehtinen e Riis-Jørgensen, a presidentedesta comissão, a senhora deputada Arlene McCarthy, e o secretariado responsável, aequipa de relatores da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos,o senhor deputado Alvaro, e outros que apoiaram o processo, a Presidência do Conselho,representada pelo senhor deputado António Delicado e pelos seus colegas e, por último,mas não menos importante, a Comissão, representada pelo senhor Michel Ayral e pelosseus colegas, que foram incentivados pelo seu Comissário, o senhor Verheugen, a encontraruma solução comum.

Aprendi muito ao longo de todo este processo. Percebi qual o verdadeiro papel que osgrupos de pressão podem desempenhar: alguns deles contribuíram de forma construtivapara alcançar soluções comuns, enquanto outros se esforçaram deliberadamente porobstruir o processo com meias-verdades e desinformação. Desde o início, tornou-se óbviopara mim que não é tarefa fácil encontrar o equilíbrio certo entre os requisitos de ummercado interno que funcione bem, as justificadas preocupações com a segurança doscidadãos relativamente ao uso ilegal de armas de fogo e o compreensível desejo doscaçadores e atiradores desportivos de praticarem os seus hobbies sem impedimentos demaior. Tal como o senhor Comissário Verheugen referiu, quisemos aproveitar a experiênciaadquirida com a aplicação da Directiva 91/477/CEE, eliminar algumas das deficiênciasidentificadas e transpor o Protocolo da ONU sobre Armas de Fogo, que foi assinado pelaComissão em 2002, para legislação comunitária. Consequentemente, fomos obrigados aincluir artigos específicos de modo a abranger o uso ilegal, o comércio e a aquisição dearmas de fogo. Este compromisso leva em conta estes requisitos. Reconheço que,pontualmente, teria preferido disposições ainda mais rigorosas, por exemplo, com vista aobter melhor legislação ou a simplificar as questões e, na verdade, a reduzir para dois onúmero de categorias de armas de fogo a nível europeu, como já acontece em dois terçosdos Estados-Membros. No entanto, não consegui garantir maiorias nestas matérias.

Contudo, em termos gerais, estou muito satisfeita com o compromisso conseguido.Pensemos por um momento no seguinte: estaremos a aplicar uma lei sobre as armas defogo parcialmente harmonizada em 27 Estados-Membros. A nível nacional continuamosa ter em vigor leis muito díspares sobre armas de fogo, pelo que esta harmonização parcialirá facilitar o comércio legal e contribuir para uma maior segurança. É impossível garantira 100% que não haverá qualquer abuso, mas, como já ouvimos, devemos reconhecer quetemos a obrigação de tentar, na medida do possível, evitar tragédias como as ocorridas naAlemanha, na Finlândia ou na Bélgica.

Neste momento não pretendo concentrar-me nos pormenores da nova legislação; ossenhores deputados já estão familiarizados com eles e o senhor Comissário Verheugen járeferiu uma série deles. Congratulo-me pelo facto de, até 2014, irmos ter um registoinformatizado de armas de fogo nos Estados-Membros; isso irá melhorar a troca deinformações e contribuir grandemente para facilitar ou até mesmo possibilitar arastreabilidade em caso de abuso. Tomamos igualmente em conta a idade de acesso àInternet, uma vez que as disposições se aplicarão tanto às aquisições em linha como aocomércio directo.

Permitam-me que conclua referindo uma série de pontos que visam facilitar a vossa decisãoe refutar os argumentos daqueles que estão contra uma melhor legislação sobre armas defogo a nível europeu. A directiva não se aplicará a coleccionadores de armas e munições,

101Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 102: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

a serviços públicos ou a instituições culturais e históricas. As disposições não terão efeitoretroactivo. O que propomos são registos de armas de fogo nacionais e não um registoeuropeu. Embora tenhamos um registo desse género para vacas, parece que é mais difícilfazê-lo para armas de fogo. Não nos opomos igualmente, por princípio, a fabricantes,comerciantes, atiradores desportivos ou caçadores que manuseiam as armas de fogo deforma responsável, plenamente conscientes da sua natureza específica.

Tomei conhecimento de que, na década de 1990, quando a directiva original foi debatida,foram manifestadas preocupações muito sérias, e de que as discussões se tornaram muitoacaloradas. No entanto, mais tarde, esta directiva passou a ser considerada muito útil,prática e eficaz. Nesse sentido, estou confiante de que o compromisso que se avizinha será

também um êxito, e conto com o vosso apoio.

Alexander Alvaro, relator de parecer da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dosAssuntos Internos. − (DE) Senhor Presidente, creio que não há muito a acrescentar ao que asenhora deputada Kallenbach acabou de dizer, a não ser que tive muito prazer em trabalharlado a lado com a presidente da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dosConsumidores, a senhora deputada Arlene McCarthy, e com a minha colega nessa comissão,a senhora deputada Gisela Kallenbach, com quem trabalhei de muito perto e com grandeconfiança durante esta fase do processo. Por último, gostaria igualmente de agradecer àComissão, representada neste caso pelo senhor Comissário Verheugen. Não é comumhaver uma cooperação tão estreita.

Que se pode dizer num minuto quando já gastámos 30 segundos para agradecer às pessoas?

Essencialmente, o que conseguimos foi o seguinte: a União Europeia transmitiu umamensagem clara de que, ao regulamentar o comércio legal de armas de fogo, está igualmentepreocupada em combater a transferência ilegal e o abuso das armas de fogo. Deixámosclaro que a União Europeia não tolerará no seu território qualquer forma de crime queenvolva armas de fogo, que não toleraremos que as pessoas usem armas que não adquirirampelas vias legais, e que não toleraremos uma situação em que as pessoas abusem dos direitosque adquiriram através da UE.

Digo isto a todos os deputados que, à semelhança do que aconteceu comigo, hoje receberaminúmeros e-mails de caçadores e atiradores desportivos acusando os deputados da UniãoEuropeia, de restringir as suas liberdades: leiam a directiva, contactem a Comissão econstatarão que a União Europeia tomou medidas para proteger os seus cidadãos, e não

o contrário!

Guido Podestà, em nome do Grupo PPE-DE. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, agradeço à relatora, a senhora deputada Kallenbach, e aos relatores-sombrados outros grupos por se terem permanentemente disponibilizado para consultas, o quenos permitiu chegar a um compromisso inovador mas, devo dizer, equilibrado.

O objectivo da alteração proposta à directiva é adaptá-la ao Protocolo da ONU sobre ocombate ao crime organizado, no que se refere à aquisição e ao comércio legais de armasde fogo destinadas exclusivamente a serem usadas por particulares. A directiva abrangequestões a que todos somos sensíveis, como a segurança dos nossos cidadãos, e tambémas tradições desportivas e os estilos de vida habituais de milhões de europeus que vão àcaça.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT102

Page 103: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

A estreita concertação com o Conselho permitiu-nos produzir um texto que encontra umjusto equilíbrio entre o desejo de elaborar normas harmonizadas e o respeito pelas práticasculturais específicas de cada país, em conformidade com o princípio da subsidiariedade.

Relativamente ao primeiro ponto, gostaria de realçar o sistema de marcação das armas defogo e das suas partes essenciais, com vista a garantir a sua rastreabilidade, a obrigação deconservar os dados por, pelo menos, 20 anos, a fiscalização mais rigorosa da venda emlinha, dados os riscos que se sabe que isso implica, restrições ao uso de armas de fogo porparte de menores e pessoas susceptíveis de constituir perigo para a segurança pública, e aintrodução de princípios gerais sobre a desactivação de armas de fogo.

Relativamente ao segundo ponto, recordaria que a actual classificação em quatro categoriasfoi mantida, por respeito pelas já referidas práticas culturais e tradicionais, estando prevista,até 2012, uma reavaliação das vantagens e dos inconvenientes de uma eventual reduçãopara apenas duas categorias.

No entanto, a falta de disponibilidade do Conselho significou que o cartão europeu dearmas de fogo não será o único documento necessário para o porte de armas de fogo, o

que, na minha opinião, é uma oportunidade desperdiçada.

Lasse Lehtinen, em nome do Grupo PSE . – (FI) Senhor Presidente, os meus sincerosagradecimentos à relatora, a senhora deputada Kallenbach, aos outros relatores-sombra,e à senhora deputada McCarthy, presidente da Comissão do Mercado Interno e da Protecçãodos Consumidores, por concretizar este complicado pacote jurídico. Quando, há quasedois anos, iniciámos este trabalho, garantiram-nos que seria, acima de tudo, uma medidatécnica, cujo único objectivo era usar o Protocolo da ONU sobre Armas de Fogo etransformá-lo em legislação da UE. Todavia, o processo foi tudo menos técnico. Algumaspessoas queriam proibir completamente as armas e restringir o uso legal das mesmas, aopasso que outras não queriam qualquer tipo de controlo sobre a aquisição e uso de armas.

Contudo, sob a orientação da nossa relatora, a senhora deputada Kallenbach, encontrámosum compromisso equilibrado entre os grupos principais, que tem em conta a segurançados indivíduos e da sociedade, bem como as necessidades daqueles que gostam de usararmas como passatempo e dos caçadores também, por exemplo. É positivo que todas asarmas da UE sejam registadas, de modo a facilitar a sua localização e que, no futuro, osEstados-Membros tenham de conservar as informações relativas a uma arma e ao seuproprietário por um período de 20 anos. É igualmente importante que as armas de imitaçãoe as armas modificadas sejam abrangidas pela directiva. As vidas de caçadores e atiradoresestarão muito mais facilitadas quando o cartão europeu de armas de fogo for o únicodocumento de que necessitam quando viajarem de um país para outro, e não deve sercobrada nenhuma taxa por ele.

O limite de idade de 18 anos que é estabelecido na directiva e as respectivas excepções é,na minha opinião, sensato. Significa, por exemplo, que no meu país, a Finlândia, os milharesde caçadores menores registados podem continuar a praticar o seu hobby com permissãodos pais, tal como até agora. São directivas como estas que o público valoriza. As quatroliberdades da UE ganharão igualmente força quando a UE se tiver tornado numa zona

segura de direitos internos.

Samuli Pohjamo, em nome do Grupo ALDE . – (FI) Senhor Presidente, também eu, antesde mais, gostaria de agradecer à relatora, a senhora deputada Kallenbach, pelo relatório

103Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 104: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

muito bem elaborado. É importante para o futuro de todos impedir o fabrico e o comércioilegais de armas de fogo. O relatório ajudará a atingir este objectivo.

Nós, Finlandeses, estávamos preocupados com o facto de os jovens poderem ou nãocontinuar a caçar por prazer. Na Finlândia, este desporto requer licença e está sujeito a umcontrolo rigoroso, e os caçadores experientes dão orientação sobre o uso seguro eresponsável das armas. Julgo que é importante que estas boas práticas e longa tradição naFinlândia também possa continuar após a adopção da nova directiva. É importante queamanhã cheguemos a um compromisso cuidadosamente preparado, em que as diferentespráticas nos Estados-Membros sejam compatibilizadas e os Estados-Membros possampermitir, mediante determinadas condições, a aquisição e a posse de armas de fogo para

fins de caça, incluindo por parte de menores de 18 anos.

Andrzej Tomasz Zapałowski, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhor Presidente, é muitoimportante controlar a posse de armas de fogo se quisermos garantir a segurança daspessoas que vivem na Europa. Obviamente, quaisquer disposições relevantes não devemrestringir excessivamente o direito dos cidadãos de garantir a sua segurança na sua própriacasa, nem devem restringir o direito dos mesmos de garantir a sua segurança pessoal nodesempenho de serviços públicos importantes ou posteriormente.

Além disso, os cidadãos têm o direito de possuir armas que sejam herança de família ouque sejam usadas na caça ou para fins desportivos. Tudo isto faz parte da tradição europeia.Todas as restrições devem estar relacionadas com o estado psicológico do indivíduo edevem aplicar-se igualmente a pessoas suspeitas de ofensas classificadas como crimes.Além disso, creio que essas restrições se devem aplicar a pessoas que defendem publicamenteo fascismo e o comunismo radical e aos extremistas islâmicos.

Actualmente, na Europa, existe tecnologia que permite que qualquer pessoa habilidosacrie uma arma de fogo amadora de forma relativamente rápida. A aplicação de restriçõesindevidas não irá, por conseguinte, impedir que uma associação criminosa possua armasde fogo e irá restringir excessivamente os direitos dos cidadãos, incluindo o seu direito deauto-defesa. Os nossos controlos fronteiriços devem ser ainda mais reforçados, porque osimigrantes ilegais continuam a conseguir entrar na Europa e as armas podem ser

introduzidas com maior facilidade.

Jens Holm, em nome do Grupo GUE/NGL. – (SV) Senhor Presidente, as alterações propostasà directiva sobre armas da UE visam melhorar o controlo das armas. Haverá uma melhorrotulagem e requisitos mais rigorosos relativamente ao comércio e ao fabrico de armas.Isso é positivo, e é particularmente positivo que a Comissão queira tornar estes requisitosainda mais rigorosos. Esta questão adquire uma importância especial face aos trágicostiroteios fatais ocorridos na escola de Jokela, na Finlândia, há algumas semanas atrás. Acombinação de jovens sem rumo, a disseminação da cultura da violência na Internet e oacesso a armas é, infelizmente, letal. Por esse motivo

é muitíssimo importante que adoptemos agora medidas mais rigorosas.

É igualmente positivo o facto de esta directiva instituir requisitos mínimos. Por outraspalavras, os Estados-Membros podem ir mais longe e aprovar legislação mais progressiva.Gostava que toda a legislação da UE fosse nesta base. Isso resolveria muitos problemas.Parece que podemos chegar a acordo em primeira leitura. Isso é positivo porque nos permite

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT104

Page 105: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

poupar tempo e recursos que podem ser dedicados a outras coisas, por exemplo, a trabalhar

no sentido de realizar uma sociedade mais pacífica e mais amiga das crianças.

Hélène Goudin, em nome do Grupo IND/DEM. – (SV) Senhor Presidente, a caça é umcostume muito arreigado. Cada Estado-Membro tem a sua tradição única de caça a proteger.Consequentemente, o debate de hoje é o corolário de um longo processo. Houve muitaobstinação de parte a parte, muitas discussões e o relator-sombra foi impedido de participarnas reuniões tripartidas.

Muitas das propostas originais podiam ter ameaçado as culturas de caça dosEstados-Membros. Lamentavelmente, o cartão europeu de armas não foi consideradosuficiente como único documento necessário para o uso ocasional de armas de caça edesportivas noutro Estado-Membro. A liberdade de circulação está a ser obstada pelo factode alguns Estados-Membros terem autorização para exigir documentos adicionais. Oscaçadores e os atiradores da Comunidade serão sujeitos a maior burocracia do que aspessoas de países terceiros. Felizmente foi proibido cobrar taxas por essas licenças.

Ao longo do processo, enquanto relator-sombra, procurei influenciar o relatório final nasocasiões em que me era permitido participar nas reuniões. O meu trabalho centrou-seprincipalmente em duas questões. Preocupei-me em impedir a proibição da encomendade armas pela Internet e em antecipar alterações relacionadas com a possibilidade de abrirexcepções para escolas que prestam formação em matéria de gestão da natureza e tirodesportivo. Nas regiões remotas uma proibição sobre a aquisição de armas na Internetimpediria o acesso a armas para fins de caça. Actualmente, na Suécia, temos bonsregulamentos sobre as aquisições na Internet, que são aceites quer pelos caçadores querpelas autoridades.

A segunda questão prendia-se com o critério da idade mínima, o que afectaria vários tiposde programas de escolas secundárias. Na Suécia a formação em caça desempenha umaimportante função no ensino das gerações futuras sobre a caça e a conservação da caça.Agora as nossas tradições de caça podem perdurar. Uma proposta outrora extremamente

burocrática tornou-se agora um compromisso aceitável, embora não ideal.

Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, o espaço Schengen e os grupos decriminosos cada vez mais violentos tornam essencial adoptar uma abordagem mais duraà posse ilegal de armas de fogo e à criminalidade organizada. No entanto, tudo isso passaa ser uma farsa quando cidadãos inocentes, caçadores e atiradores desportivos são, naverdade, tratados da mesma maneira que os criminosos. Em vez disso, a prioridadeprimordial deverá ser aumentar o número de efectivos das nossas forças policiais, que temvindo a decrescer nos últimos anos.

No Reino Unido, as estatísticas sobre a criminalidade dispararam desde que a proibiçãototal das armas curtas foi introduzida, e, na minha opinião, isso devia fazer-nos parar parapensar. Nestes tempos de crescente desgoverno, quando o Estado está a economizar a nívelda segurança, os cidadãos inocentes em poder de todas as suas faculdades mentais devempoder precaver-se, se for necessário, de um ataque iminente à sua vida e integridade física.O facto é que a maioria dos crimes não são cometidos com armas adquiridas legalmente.

Talvez a UE se devesse concentrar mais em proteger melhor as suas fronteiras, por exemplo,aumentando os recursos disponíveis da FRONTEX, e melhorando a cooperação a nível dasegurança.

105Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 106: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Os países da UE possuem legislação sobre as armas de fogo perfeitamente funcionais e,caso sejam exigidas ou necessárias disposições mais rigorosas, as decisões relevantes devem

ser tomadas nos países em questão.

Andreas Schwab (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, se olharmos para o início deste dossier e virmos onde chegámos,julgo que é justo dizer que conseguimos colocar esta questão tão controversa numa baseobjectiva. Em cooperação com a Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos AssuntosInternos, encontrámos uma solução que possibilita melhores controlos das armas de fogoem toda a União Europeia, sem descurar os justificados interesses dos atiradores desportivose dos caçadores que estão preocupados com a excessiva burocracia e os excessivos requisitosde registo. Estou muito grato não só ao senhor comissário Verheugen como também àpresidente da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dos Consumidores, a senhoradeputada Arlene McCarthy, e, é claro, ao nosso relator-sombra, que, durante muitos meses,trabalhou muito neste dossier com a relatora e os outros colegas envolvidos. Não foi tarefafácil para os grupos envolvidos, mas creio que chegámos a uma solução de compromissoque – dados os antecedentes no Conselho – era o único caminho possível.

No que diz respeito à parte relacionada com o comércio, que é abrangida pelo Protocoloda ONU e que ainda está para vir, a questão é saber em que medida a Comissão é capaz deapresentar uma proposta que mereça a aprovação geral do Conselho e torne o trabalhodo Parlamento mais linear. Não estou a ser irónico, Senhor Comissário: desejo-lhesinceramente as maiores felicidades para convencer habilmente os seus colegas do Conselhode que as obrigações que assumiram nos termos do Protocolo da ONU naturalmentetambém se devem aplicar na UE.

Consequentemente, gostaria de agradecer a todas as pessoas que contribuíram para mantera bola em jogo nesta questão tão controversa. Julgo que foi encontrada uma boa soluçãopara todos os interessados com base num compromisso, e espero que amanhã possamos

aprovar este compromisso por uma vasta maioria.

Arlene McCarthy (PSE). – Senhor Presidente, falo na qualidade de deputada preocupadae não na qualidade de presidente da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dosConsumidores . Julgo que, através desta nova lei sobre as armas, podemos mostrar aosnossos cidadãos que a Europa pode agir no sentido de resolver o problema das armasilegais. Na Grã-Bretanha temos leis duras, mas sem esta lei comunitária as armas continuarãoa chegar às ruas de cidades como Manchester e Liverpool.

Caros colegas, esta é uma réplica de um revólver Smith & Wesson de 9 mm – uma armamodificável destinada a disparar cartuchos de pólvora seca ou projécteis de gás lacrimogéneo– que, quando modificado, dispara munições reais. Não entrem em pânico – não estácarregada, é modificável, ainda não está modificada. Foi uma arma igual a esta quetragicamente matou uma menina de 12 anos de Manchester, Kamilah Peniston. Aorganização Mothers Against Violence (Mães Contra a Violência), constituída por mãescujos filhos foram vítimas de crimes com armas de fogo, perguntam-me de onde vêm estasarmas e o que estamos a fazer nesta Assembleia para acabar com o contrabando ilegaldestas armas mortíferas.

A polícia de Greater Manchester disse-me que 46% de todas as armas apreendidas no anopassado foram armas modificadas. As armas modificadas são actualmente uma escolha

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT106

Page 107: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

barata e popular entre os criminosos, e são um problema crescente na Europa – e não sóno Reino Unido.

Consequentemente, agradeço ao senhor Comissário Verheugen, à senhora deputadaKallenbach, ao nosso relator, o senhor deputado Alvaro, e a 25 dos Estados-Membros porapoiarem as minhas alterações com vista a reprimir e apertar os controlos sobre estasarmas modificáveis. Submetê-las ao mesmo sistema de controlo que as armas reais tornarámuito mais difícil que os grupos de criminosos lhes deitem a mão, e acabará com o tráficodestas armas, que estão proibidas na Grã-Bretanha.

A Association of Chief Police Officers (Associação dos Chefes de Polícia), no Reino Unido,apoia inteiramente esta lei e os respectivos requisitos em relação a armas modificáveis edesactivadas, a marcação, a rastreabilidade e a controlos sobre as vendas de armas atravésde comunicação à distância, incluindo a Internet.

No seguimento do recente e trágico tiroteio na Finlândia e da tentativa de tiroteio numaescola na Alemanha, é evidente que necessitamos de normas mais rigorosas em termos decontrolo das armas a nível da UE. A Europa está a ser pragmática e a tomar medidas práticaspara proteger os nossos cidadãos.

As mortes trágicas e sem sentido de jovens na minha região – Jessie James de 15 anos, RhysJones de 11 anos e Kamilah Peniston de 12 anos – são uma questão extremamente sensível.Roubaram-lhes a vida. Nós, na Europa, temos uma dívida para com eles e as suas famílias:

garantir que retiramos estas armas das ruas.

Siiri Oviir (ALDE). – (ET) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados.

Na sociedade actual, com todos os perigos que lhe são inerentes, todas as tentativas deaumentar a segurança das pessoas são muitíssimo bem-vindas. A segurança é umpré-requisito de todas as liberdades. A segurança é uma qualidade básica de uma sociedadedemocrática.

Está bem presente nas nossas mentes o massacre da Escola de Jokela, que não foi o primeiroexemplo de uma ocorrência do género. Temos, no entanto, de assegurar que é a última.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a violência interpessoal e osuicídio ocupam, respectivamente, a terceira e a quarta posições a nível mundial entrepessoas com idades entre 15 e 44 anos como as principais causas de invalidez e mortalidadeprematura.

Uma grande proporção das mesmas deve-se ao uso de armas de fogo. A facilidade de acessoàs armas de fogo tem sido associada a taxas de mortalidade por armas de fogo mais elevadas.

É mais do que louvável o facto de a União Europeia entender a necessidade de se concentrarna ameaça específica.

Gostaria de abordar um outro aspecto. Concretamente, desde a transposição da directiva,em 1993, a Internet desenvolveu-se consideravelmente e tornou-se um mercado electrónico.

Consequentemente, o objectivo da directiva de acabar com o comércio de armas de fogosó pode ser atingido se o comércio pela Internet for incluído no seu âmbito.

Sou, pois, da opinião de que os Estados-Membros da União Europeia devem reagir de formaadequada e coerente à situação relacionada com as armas de fogo em questão. Para o efeito,

107Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 108: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

necessitamos de medidas preventivas e punitivas harmonizadas e temos de as integrarnuma política única.

Por último, os meus agradecimentos à relatora e às pessoas que com ela trabalharam.

Paul Rübig (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, gostaria apenas de dizer à senhora

deputada McCarthy que as armas de fogo são proibidas nesta Assembleia.

Jim Allister (NI). – Senhor Presidente, uma vez que só tenho tempo para referir um únicoponto, quero chamar a atenção para a forma desigual como o cartão europeu de armas defogo funciona na prática, nomeadamente para a forma como afecta a comunidade decaçadores. Se o proprietário de uma arma registada quiser ir caçar na maioria dos outrospaíses da UE, basta-lhe apresentar o seu cartão europeu no ponto de entrada, mas se quiserentrar no Reino Unido tem de fornecer previamente o cartão europeu original e depoisaguardar entre seis e oito semanas para que este seja processado pela polícia local. Assim,durante esse tempo não tem consigo o cartão e, durante esse período, não pode caçarnoutros países terceiros.

Não há necessidade de tanta burocracia, que está a prejudicar gravemente a promoção deférias de caça no Reino Unido, incluindo no meu círculo eleitoral da Irlanda do Norte.Certamente que a apresentação prévia de uma fotocópia do cartão europeu teria o mesmo

efeito. Consequentemente, confio que, a seu tempo, essa anomalia seja resolvida.

Michl Ebner (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, a base para a alteração desta directiva foi o Protocolo da ONU e a questão daforma como podemos combater eficazmente o terrorismo. Essa foi também a base para aproposta da Comissão. A proposta da relatora adoptou uma abordagem bastanterevolucionária à directiva existente.

Se analisarmos o que estamos a discutir hoje e que vamos votar amanhã, constatamos queé um compromisso que, tal como acontece frequentemente, não satisfaz completamentetodas as partes. O compromisso é o seguinte: por um lado, estamos a tentar combater tudoo que é ilegal – e, neste contexto, nunca somos suficientemente rigorosos – e, por outro,não queremos complicar em demasia o uso de armas de fogo legais. Há certamente algunsaspectos, como as categorias ou o registo, em que teria sido adequado prever normas maisseveras com base na subsidiariedade, mas tal não foi completamente bem-sucedido. Noentanto, já foi um começo e iremos ver como o exercício funciona na prática e como osEstados-Membros abordam esta questão.

Creio que é um compromisso viável, e sei que todos os envolvidos trabalharam muito parao conseguir, pelo que também eu gostaria de expressar os meus agradecimentos.

No entanto, neste contexto, julgo que temos de estar constantemente conscientes dadiferença entre armas de fogo legais e ilegais. Embora tenhamos de abordar a questão dailegalidade de maneira rigorosa e coerente, temos de aplicar uma abordagem criteriosa e

uma ausência de complexidade burocrática como parâmetros adequados na esfera legal.

Véronique Mathieu (PPE-DE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhorase Senhores Deputados, o texto que vamos votar amanhã é um compromisso que, finalmente,satisfaz quase todos os utilizadores de armas legais. O texto original da Comissão eraperfeitamente aceitável para nós, assim como o eram as posições do Conselho. A relatora,infelizmente, adoptou posições muito estranhas, e tivemos de lutar e muito contra as suas

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT108

Page 109: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

ideias iniciais. Quero igualmente agradecer ao senhor deputado Podesta pelo seu árduotrabalho, pela sua paciência e pela sua diplomacia dentro do Grupo PPE e em muitasreuniões de trabalho.

Os compromissos a que chegámos satisfazem todos os utilizadores de armas legais. Devodizer que os caçadores franceses estão bastante satisfeitos com o facto de as quatro categoriasterem sido mantidas: trata-se de uma questão importante em França, e esta noite estoumuito contente pelo facto de as termos conseguido conservar. Apraz-me igualmente dizerque estou satisfeita com o sistema de registo centralizado, porque é lógico que tambémsejamos capazes de localizar as armas. Considero que é um ponto extremamente importantepara a segurança dos cidadãos. Os armeiros também estão satisfeitos com a marcação CIP.Nós também estamos satisfeitos com as vendas à distância. Estamos relativamente satisfeitoscom o texto em geral.

Dito isto, julgo que o trabalho dos últimos anos devia fazer-nos reflectir na questão dasposições iniciais dos relatores, e creio que devíamos ser prudentes ao adoptar posiçõesexcessivamente inflexíveis em relação a determinados aspectos iniciais. Na verdade, se aComissão, o Conselho e o Grupo PPE não tivessem defendido firmemente as suas posições,creio que nos teríamos encaminhado para um texto impossível de aplicar, bem como paraposições e para uma ideologia verdes que seriam muito prejudiciais para caçadores eutilizadores de armas legais.

Paul Rübig (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, quero apenas perguntar à senhoradeputada McCarthy se a arma que traz consigo está marcada e registada e se tem licença

para a trazer para o Parlamento.

Arlene McCarthy (PSE). – Senhor Presidente, tenho de responder a essa pergunta porqueela só demonstra que o senhor deputado Rübig não compreende a legislação que temdiante dele. Uma vez que não está definida como arma de fogo, não necessita de licença:qualquer pessoa na rua pode comprá-la – um criminoso pode comprá-la. O senhor deputadoRübig devia informar-se antes de intervir.

Peço, no entanto, o uso da palavra para um ponto de ordem, relativamente a uma acusaçãofeita pela senhora deputada Goudin e desejo fazer uma rectificação à acta. Nenhumrelator-sombra foi excluído deste trílogo. O Grupo IND/DEM foi convidado, há 18 mesesnomeou um relator, que não compareceu em nenhuma reunião em comissão nem emnenhuma audição, e que não apareceu em nenhum trílogo. A senhora deputada Goudinsabe perfeitamente que foi nomeada há apenas duas semanas para substituir orelator-sombra, que não apareceu.

Defendo o trabalho da nossa relatora, dos relatores-sombra e da Comissão porque levamosos nossos assuntos muito a sério, fazemos um trabalho sério e o Grupo IND/DEM também

devia levar o seu trabalho a sério.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã.

22. Política de turismo europeia renovada (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0399/2007) do deputado Costa,em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo, sobre uma política de turismo

109Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 110: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

europeia renovada: rumo a uma parceria reforçada para o turismo na Europa[2006/2129(INI)].

Paolo Costa, relator. − (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, o relatório que estou a apresentar, e que tive o prazer de elaborar com acooperação de vários colegas, na verdade é a continuação de um relatório já adoptado poresta Assembleia – o relatório do senhor deputado Queiró – e através do qual o Parlamentoprocurou contribuir para a política de turismo europeia.

O que inspirou este relatório foi a necessidade de conceber uma abordagem diferente e,espero, mais prática, à política de turismo da União Europeia, actualmente limitada pelasdisposições do Tratado.

Os Estados-Membros não atribuíram às instituições europeias muita responsabilidade emmatéria de turismo ao abrigo do Tratado existente, e devo dizer que o Tratado que estamosprestes a aprovar – e que espero que a União adopte no próximo mês em Lisboa – tambémnão irá alargar grandemente as competências formais da UE em matéria de turismo.

No entanto, ao mesmo tempo, os Tratados existentes permitem que a União execute umgrande número de políticas que têm um impacto considerável no turismo e na possibilidadede aumentar o mesmo ou de manter a competitividade da Europa enquanto líder mundial.

Consequentemente, o objectivo deste relatório é delinear algumas possibilidades. A listapor nós elaborada nesta Assembleia, com a ajuda de todos, é meramente indicativa, e esperoque possa ser futuramente alargada. É uma lista de oportunidades para utilizar todas ascompetências da UE actualmente existentes para benefício do turismo.

Permitam-me que dê apenas dois exemplos: o turista é um viajante, por isso, por definição,muitas das nossas políticas de transportes podem ser vistas, ou consideradas, no contextode e em prol do turismo; o turista é um consumidor, pelo que muitas das medidas deprotecção dos consumidores da UE podem ser encaradas na perspectiva das exigênciasdos turistas.

No entanto, em traços mais largos, os turistas – em particular os que chegam à Europaprovenientes de países terceiros – são pessoas que atravessam fronteiras, tal como outraspessoas atravessam fronteiras por outras razões. Uma política de vistos, uma política deimigração da União Europeia deve ser cuidadosamente revista, de modo a atrair o máximonúmero de turistas possível.

Muitos dos contratos que os turistas actualmente assinam de maneira directa, utilizandoa tecnologia da Internet, não os protegem totalmente. Assim, a UE pode ajudar muito osturistas protegendo este tipo de contratos ou introduzindo tipos de contratos que osprotejam. Poupo-vos os detalhes.

Em suma, todos reconhecemos que o turismo é uma das indústrias mais promissoras daUE, e creio que podemos dizer que – sobretudo por razões que se prendem com a coesão– vale a pena prosseguirmos o nosso objectivo principal de desenvolver a economia turística;isto significa, aproveitar ao máximo os recursos, nomeadamente os recursos culturais eambientais, o que pode ser feito através das competências formais da UE.

Por conseguinte, a intenção subjacente a este relatório é incentivar a Comissão e o Conselhoa conceber um conjunto de iniciativas que pertencem formalmente a outros domínios decompetência – repito: protecção dos consumidores, segurança nos transportes, garantiaspara alguns contratos relativos ao turismo, política de imigração, campanhas de promoção

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT110

Page 111: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

coordenadas para além das fronteiras europeias, etc. –, a reunir um conjunto de iniciativas,um pacote de iniciativas turísticas. É minha firme convicção que estas podem constituirum verdadeiro contributo das instituições europeias para preservar e desenvolver umsector que, como todos sabemos, desempenha um papel fundamental e irá desempenharum papel ainda maior no futuro da União Europeia.

Günter Verheugen, Membro da Comissão. − (DE) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, gostaria de felicitar o Presidente da Comissão, o senhor deputado Costa, peloseu relatório. O relatório mostra claramente até que ponto o turismo é influenciado pelasdiferentes políticas comunitárias, mas, sobretudo, quão importante este sector é para aEuropa em geral.

O turismo é, simultaneamente, uma expressão do estilo de vida e da prosperidade da Europae um sector económico fundamental com um considerável potencial de crescimento eemprego. Na verdade, o turismo já é responsável, directa e indirectamente, por mais de10% do produto interno bruto da União Europeia e representa cerca de 12% dos postosde trabalho.

No entanto, não é só a Europa que está a tentar beneficiar das extraordinárias perspectivaseconómicas que o desenvolvimento do turismo oferece. Temos de nos munir dascapacidades que nos permitirão crescer em termos competitivos com outros mercadosturísticos tradicionais e novos.

Neste aspecto, a Europa pode tirar partido das vantagens competitivas que já fazem delaum destino altamente atractivo. Possuímos uma herança histórica incomparável, umaconcentração geográfica única de locais atractivos e culturalmente diferentes e temos, comrazão, a reputação de prestar serviços de alta qualidade.

São trunfos que temos de jogar à medida que desenvolvemos a Europa como produtoturístico no futuro. É muito simples: os nossos destinos têm de ser os melhores e os maisatractivos, constituindo uma oferta que faça com que os cidadãos europeus e não europeusqueiram repetir a experiência de passar aqui as suas férias.

Significa isto que os critérios que é necessário preencher noutros sectores da nossa economiatêm igualmente de ser preenchidos no turismo: o turismo europeu tem de ser um produtoinovador e que satisfaça plenamente as necessidades dos consumidores, um produto quepreencha os mais elevados padrões de qualidade e que seja o mais amigo do ambientepossível. Resumindo, tem de ser um produto que exprima os valores e os pontos forteseuropeus.

Permitam-me que vos dê exemplos da forma como estamos a promover a cooperação eesta vantagem competitiva no sector do turismo. No mês passado, realizámos em Portugalo Fórum Europeu de Turismo, um evento anual que reúne todos os actores deste sector, eque é uma excelente oportunidade para cooperar e apresentar a Europa. Tive na altura ahonra de atribuir o prémio “Destino Europeu de Excelência” a dez destinos europeusnomeados como Melhores Destinos Rurais Europeus Emergentes de Excelência. Esteprojecto-piloto está a contribuir para promover o perfil de todos os destinos europeus noexterior da UE e a chamar a atenção para a diversidade e a qualidade do turismo na Europa.Gostaria de relembrar a todos que este tipo de projecto foi exigido explicitamente noanterior relatório do Parlamento da responsabilidade do senhor deputado Queiró. Gostariade agradecer ao Parlamento Europeu e ao senhor deputado Costa em particular pelo

111Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 112: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

generoso apoio prestado a esta iniciativa de sucesso. Apraz-me dizer que a segunda voltada competição terá a participação de muitos mais países.

Neste momento podemos igualmente dizer que o portal da Internet para “Destino Europa”foi um sucesso e constitui uma boa base com potencial para expansão. Estamos actualmentea explorar outras formas de melhorar a imagem da Europa enquanto destino turístico econtamos com o vosso apoio.

Para concluir, permitam-me que saliente que o aumento da sustentabilidade no sector doturismo é um aspecto fundamental da nossa política. Estou convencido de que seintegrarmos os aspectos da sustentabilidade em todas as áreas da nossa indústria do turismo,poderemos proteger as vantagens competitivas que fazem hoje da Europa o destino turísticomais atractivo do mundo.

No mês passado a Comissão revelou a sua nova “Agenda para um Turismo EuropeuSustentável e Competitivo”. Os elementos dessa “Agenda” constituem uma resposta aosapelos apresentados neste e no anterior relatório do Parlamento. Julgo que nesta matériatambém podemos contar com a continuação de uma boa cooperação no futuro.

É minha esperança que a “Agenda” seja adoptada por todas as partes interessadas da indústriaturística e, na verdade, pelos próprios turistas, incluindo por todos nós neste Hemiciclo,como viajantes frequentes que somos.

PRESIDÊNCIA: Diana WALLISVice-presidente

Stavros Arnaoutakis, relator do parecer da Comissão do Desenvolvimento Regional. − (EL)Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, a importânciado sector do turismo é particularmente significativa. Gera, directa e indirectamente, maisde 10% do PIB da União Europeia e emprega cerca de 12% da mão-de-obra. Embora issonão seja da competência da União Europeia, há uma série de medidas e acções que podemcontribuir para uma tendência de crescimento no sector e para o seu desenvolvimentosustentável. Muitas delas são já referidas no relatório, razão pela qual gostaria também defelicitar o relator.

Os desafios que o turismo enfrenta exigem uma resposta política coerente a nível da UE:um quadro de acção abrangente e competitivo, com objectivos quantitativos e qualitativosespecíficos. No novo período de planeamento, e tendo em conta os objectivos definidosao abrigo da estratégia de Lisboa revista, é necessário que haja cooperação e energia a todosos níveis – europeu, nacional, regional e local –, de modo a possibilitar que o sector doturismo contribua para alcançar estes objectivos. É igualmente necessário coordenar aspolíticas e as acções que têm impacto directo ou indirecto no sector do turismo.

Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de realçar que, relativamente à questão sobre otipo de sector de turismo que pretendemos na União Europeia, já demos a nossa resposta.Queremos um sector viável que se desenvolva de acordo com os princípios dasustentabilidade, que ofereça produtos e serviços turísticos de elevada qualidade e que nãoexclua ninguém. Se agirmos em conjunto, a todos os níveis, podemos alcançar já hoje esteobjectivo.

Marie-Hélène Descamps, relatora do parecer da Comissão da Cultura e da Educação. − (FR)Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, o turismo é

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT112

Page 113: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

extremamente importante para a UE. Tem, efectivamente, grande influência no crescimentoeconómico e na criação de emprego na Europa. Além destes aspectos, promove tambéma integração, o diálogo entre povos diferentes e o conhecimento das respectivas culturas,contribuindo assim para o desenvolvimento de um sentido de cidadania europeia.Consequentemente, na ausência de uma política comum de turismo, há que ter em conta,a nível europeu, os aspectos desta indústria, que abrange várias áreas e envolve um vastoleque de serviços e profissões.

O relatório que nos foi hoje apresentado traz à luz esta necessidade. Por conseguinte, devofelicitar o relator pelo seu excelente trabalho, e, mais especificamente, por apoiar algumasdas prioridades definidas pela Comissão da Cultura e da Educação. A diversidade e a riquezada Europa significam que esta continua a ser o destino turístico mais popular do mundo.Para conservarmos esta posição temos de repensar as nossas políticas e actualizá-las demodo a levarem mais em conta a cultura. Do mesmo modo, temos de salientar a necessidadede preservar a herança natural e cultural da Europa e de promover a cultura tradicional,nomeadamente as artes, os ofícios e os conhecimentos populares e artísticos em processode extinção, e de incentivar iniciativas que visam melhorar e promover esta herança.

Neste contexto, temos, entre outras medidas, de apoiar a criação do rótulo Herança CulturalEuropeia, que tenho a certeza irá aumentar o sentimento que os nossos concidadãos têmde pertencerem a um espaço e a uma identidade culturais comuns. É igualmente essencialincentivar o desenvolvimento de nova tecnologia, que desempenha um papel tão importantena comercialização dos produtos turísticos, promover os bens e os eventos culturais, eadministrar e conservar os locais, e continuar a fazê-lo.

Por último, em conjunto com todos os actores do turismo e a todos os níveis, temos depromover um turismo sustentável e de elevada qualidade que seja competitivo, amigo doambiente, responsável e, acima de tudo, acessível a todos.

Luís Queiró, em nome do Grupo PPE-DE . – Senhora Presidente, Senhor Comissário, éreferido, e bem, no relatório em debate, cujo relator aproveito para saudar, que o sectordo turismo se encontra na encruzilhada de numerosas políticas da União Europeia, o quetem um considerável impacto no crescimento e no emprego, bem como na coesão territoriale social. Por isso, se torna indispensável concretizar alguns dos aspectos da sua política,no seguimento da definição dos princípios orientadores inscritos na resolução doParlamento, de 8 de Setembro de 2005, de cujo relatório, aliás, fui relator.

O primeiro aspecto tem a ver com a simplificação e a harmonização dos procedimentosde pedido de visto turístico para entrada nos Estados-Membros, tendo em vista reduzir osseus custos e a facilitação do acesso à União Europeia dos turistas originários de paísesterceiros. Parece-nos positivo, sendo, porém, necessário, salvaguardar as regras de segurançaexigidas pelo combate ao terrorismo, ao crime organizado e à imigração ilegal.Acompanhamos igualmente a necessidade de aperfeiçoamento do sistema de recolha deinformações estatísticas, incluindo as Contas Satélite, pois só com dados actualizados efiáveis é possível, aos poderes públicos e à indústria, tomar as decisões estrategicamentemais adequadas que permitam à Europa manter a sua actual posição de liderança.

Uma palavra, ainda, sobre a questão, esta sim, mais polémica, de uma possível harmonizaçãodas normas de qualidade para o alojamento turístico na Europa. A multiplicidade de regimesde classificação dos estabelecimentos hoteleiros cruza-se com a questão da protecção dosdireitos e expectativas dos turistas no momento em que fazem as suas escolhas. Será possívelestabelecer na União Europeia normas mínimas em matéria de segurança e de qualidade

113Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 114: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

que garantam a fiabilidade e a transparência das informações fornecidas a estesconsumidores? Desejável é certamente, mas pensamos que apenas será possível numa basevoluntária e convocando todos os interessados para essa tarefa. A Comissão poderá ter aí,se quiser, um papel dinamizador fundamental.

Falta-nos o tempo para mencionar outros aspectos igualmente importantes deste relatório,entre outros, o turismo acessível a turistas com mobilidade reduzida, os direitos dospassageiros, ou ainda a promoção externa dos destinos da Europa e o desenvolvimento depolíticas sustentáveis. Fica, no entanto, suficientemente demonstrado, e, com isto concluo,que o Parlamento Europeu tem feito o seu trabalho e esperamos que as demais entidadespúblicas, em parceria com o sector privado, reforcem o seu espírito de cooperação erespondam com eficácia aos desafios do desenvolvimento de uma política europeia deturismo, renovada e sustentável.

Emanuel Jardim Fernandes, em nome do Grupo PSE . – Senhor Comissário, Caras e CarosColegas, a nova política europeia de turismo, proposta pela Comissão Europeia e discutidacom o relatório Costa, merece o meu inteiro apoio pelos principais objectivos visados nasequência do relançamento da Estratégia de Lisboa - melhoria de competitividade, criaçãode mais e melhores empregos, desenvolvimento sustentável - assim como pelosinstrumentos que a Comissão propõe para os alcançar: coordenação ao nível da Comissãoe das autoridades nacionais, cooperação entre as diferentes partes interessadas e criaçãode acções de apoio específico.

O relator, Paolo Costa, que felicito pela qualidade do seu relatório, mas também pela suadisponibilidade em aceitar as alterações propostas, chamou a atenção para aspectos epreocupações omissos na referida comunicação, avançando possíveis oportunidades esoluções para uma futura e nova política europeia de turismo, designadamente quanto àpolítica de concessão de vistos, harmonização das normas de qualidade, melhoria devisibilidade e compreensão dos rótulos para os turistas, protecção dos consumidores,acessibilidade do turismo para os turistas com mobilidade reduzida, garantia dos direitosdos passageiros, promoção dos destinos no interior da União Europeia. A consideraçãodesses aspectos e as soluções propostas parecem-nos muito pertinentes.

O projecto de relatório de Paolo Costa, por sua vez enriquecido e melhorado por umconjunto de alterações, muitas de Deputados do meu grupo político. Eu próprio com vistaa reforçar os termos da propostas da Comissão e a contemplar as propostas do relator,apresentei várias propostas de alteração na sequência de posições que defendi no relatórioQueiró, designadamente a necessidade de considerar devidamente o défice de acessibilidadede regiões com características naturais ou geográficas específicas como, por exemplo, entreoutras, as regiões ultraperiféricas, a necessidade de que a política europeia de turismorenovada assegure a sustentabilidade económica, social, territorial, ambiental e culturaldo turismo europeu, a promoção da Europa como um destino turístico ou um grupo dedestinos turísticos atraentes, a necessidade de coordenação das políticas com impactodirecto ou indirecto no turismo, a maior cooperação entre as partes interessadas no sector- a Comissão Europeia e os Estados-Membros, as regiões, as autoridades locais e os serviçosde turismo - e a melhor utilização dos instrumentos financeiros europeus existentes. Porisso, apelo especialmente ao meu Grupo, ao apoio a este relatório e insto a Comissão e oConselho a tomarem em devida conta as sugestões e recomendações do ParlamentoEuropeu.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT114

Page 115: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Nathalie Griesbeck, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhora Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, o turismo é, sem dúvida, responsável por uma fatia muito grandedas nossas economias mas, até certa medida, representa igualmente a continuação daconstrução da identidade europeia e da nossa política de coesão. Contribui frequentemente,como é óbvio, para manter a actividade nas regiões mais isoladas e é, muitas vezes, oprincipal recurso nas nossas regiões ultraperiféricas.

Este relatório abrangente estabelece os pontos principais em que a UE pode hojeproporcionar um genuíno valor acrescentado, com vista a optimizar este recurso de formainteligente, de modo a ser vantajoso para todos, para as pessoas que trabalham na indústriado turismo, para os próprios turistas e, em suma, para os europeus, conservando a longoprazo as nossas paisagens e os nossos ecossistemas.

Pessoalmente, como venho de uma região que tem a sorte de ter três vizinhos europeus,sou particularmente sensível ao turismo fronteiriço e espero que, através das parcerias,este tipo de turismo ajude a criar um verdadeiro espaço de vida, por um lado, para oscidadãos europeus, e por outro, que ultrapasse as fronteiras internas da UE.

No entanto, para a abertura em maior escala ao turismo de fora da UE, é necessário aplicaruma política coordenada de concessão de vistos de turismo. Gostava igualmente que a UEadoptasse ferramentas estatísticas e uma abordagem transectorial em termos definanciamento comunitário, no sentido de produzir os bem conhecidos efeitos de alavancano que se refere a inovação, emprego e uma melhoria da oferta e da qualidade dos serviços.Espero que possamos criar rótulos de qualidade europeus de acordo com critérios ecológicose sociais, e, muito simplesmente, melhorar a informação e a protecção dos consumidoreseuropeus.

Mieczysław Edmund Janowski, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhora Presidente,quando, em 1841, Thomas Cook abriu a sua primeira agência de viagens, tenho a certezaque não previu que, 166 anos mais tarde, o turismo fosse directamente responsável poraproximadamente 5% da receita dos países europeus. Devo acrescentar que, seconsiderarmos as ligações a outros sectores, actualmente o turismo gera mais de 11% doPIB e aproximadamente 25 milhões de postos de trabalho.

Consequentemente, gostaria de agradecer ao senhor deputado Costa pelo seu relatóriosobre um sector tão dinâmico da economia. Todos nós sabemos que o turismo não édirectamente abrangido pelas normas da União. Todavia, o papel da União enquantocoordenadora e promotora contribui significativamente para apresentar a Europa comoum destino turístico muito atractivo e diversificado. Tem influência no turismo dentro daUnião, no turismo proveniente de países de fora da União e nas viagens realizadas parafora para estes últimos.

Estas questões são extremamente importantes para os novos Estados-Membros, incluindoa Polónia. Só agora muitas pessoas começam a descobrir quão atractivos podem ser,enquanto destinos turísticos, os locais que antigamente se encontravam por trás da Cortinade Ferro. Neste contexto, as autoridades nacionais, regionais e locais têm um papelimportante a desempenhar no que se refere à promoção do turismo. O turismo incluiigualmente o chamado Turismo Verde, o turismo que procura a herança cultural da Europa,o turismo de saúde, as peregrinações e o ecoturismo que procura a beleza natural.

Congratulo-me com o facto de os problemas para os turistas com deficiência e os turistasmais idosos terem sido tomados em conta, embora talvez lhes pudesse ter sido dedicada

115Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 116: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

mais atenção. O Fundo de Coesão deve ser usado de forma sensata no sentido de apoiar odesenvolvimento de infra-estruturas, nomeadamente as infra-estruturas de transporte. OFundo Europeu de Desenvolvimento Regional também pode ser usado para apoiar odesenvolvimento das TIC, incluindo a Internet, e para promover a cooperaçãotransfronteiriça com vista a beneficiar o turismo no seu sentido mais lato. Além disso, oFundo Social Europeu deve ser usado para financiar programas de formação neste sector.

Para concluir, gostaria de dizer que os padrões de qualidade são essenciais para o sucessoneste sector. Ninguém fica satisfeito com uma qualidade medíocre. Um turista que fiquedesapontado com a qualidade do transporte ou de um hotel, ou um turista que tenha umamá experiência num restaurante nunca mais regressará ao destino em questão. Ele ou elasó se deixa enganar uma vez.

Sepp Kusstatscher, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhora Presidente, gostava demanifestar os meus agradecimentos ao senhor deputado Paolo Costa. Saúdo, em particular,os aspectos do relatório que sublinham a importância da sustentabilidade social e ecológica.Uma paisagem natural e cultural cuidadosamente preservada é o melhor pólo de atracçãode turistas para um país de destino.

A aceitação do turismo por parte dos cidadãos do país anfitrião – por outras palavras, aspessoas que nele vivem e trabalham – é um pré-requisito fundamental para garantir queos turistas se sentem verdadeiramente bem-vindos. Um nível de formação elevado e asatisfação geral entre os trabalhadores da indústria do turismo é fundamental para garantirque os visitantes ficam satisfeitos. A mobilidade é um pré-requisito do turismo, e os modos“suaves” – transportes públicos, bicicleta ou caminhada – irão promover o crescimentosem destruir as bases essenciais de uma indústria de turismo saudável e, é claro, sustentável.

Este completo relatório contém uma série de ideias que não devem ficar pelo papel. Confioem que estes princípios ecológicos e sociais sejam integrados na anunciada “Agenda 21para um turismo europeu”.

Kyriacos Triantaphyllides, em nome do Grupo GUE/NGL. – (EL) Senhora Presidente, aindústria do turismo, em particular em países como a República de Chipre, Espanha, Gréciae outros, é um sector de grande importância económica, e, no entanto, a Comissão Europeianão tem uma palavra a dizer em relação às pessoas que nele trabalham.

Trata-se de uma indústria que é, provavelmente, a primeira a aplicar horários flexíveis aostrabalhadores e onde os despedimentos sazonais são prática corrente. É igualmente umsector onde o emprego de cidadãos estrangeiros levanta duas questões fundamentais: emprimeiro lugar, a sua exploração, e, em segundo lugar, a sua utilização como forma dechantagem por parte de grandes cadeias de hotéis com vista a fazer baixar os salários ouos benefícios pagos aos trabalhadores locais.

Para além disto, a Comissão Europeia limita-se a confirmar o facto, sem grandescomentários, de que a causa da criação de emprego neste sector é o elevado nível de empregoa tempo parcial e a flexibilidade dos contratos de trabalho. O conceito de emprego a longoprazo parece ser uma miragem.

Etelka Barsi-Pataky (PPE-DE). – (HU) Senhora Presidente, gostaria de chamar a atençãopara as oportunidades que o turismo de saúde proporciona. É importante que aproveitemostodos os programas disponíveis para apoiar esse turismo de saúde, incluindo o segundoprograma de acção comunitário em matéria de cuidados de saúde. Gostaria de frisar que

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT116

Page 117: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

temos de envolver mais o sector dos seguros no apoio ao turismo de saúde e, em conjunto,encontrar uma forma de cooperação transfronteiriça com este financiamento.

A questão consiste em saber se seremos capazes de integrar esses serviços no mercadocomum. Referimo-nos a serviços que não só são responsáveis por uma parte do crescimentoeconómico, mas também ajudam os cidadãos europeus, de modo a que todos possambeneficiar das oportunidades que o turismo de saúde oferece e, por conseguinte, dasoportunidades que o mercado comum oferece. De facto, é verdade que, para o efeito,iremos necessitar, ou iríamos necessitar, de um sistema de qualidade ligeiramente melhordefinido, pelo que apoio muitíssimo a iniciativa do senhor deputado Costa, que arranjou,inegavelmente, uma maneira de fazer progressos neste sentido. Seria positivo para o turismoeuropeu se as pessoas que vêm de fora, de países terceiros, soubessem que serviços estavama receber e o que estavam a pagar. Em resumo, é por isso que julgo que quando falamossobre este sector, temos de olhar para o turismo de uma forma muito mais multifacetada,e temos igualmente de investigar o que estes serviços nos podem proporcionar daperspectiva do mercado comum. Muito obrigado.

Robert Evans (PSE). – Senhora Presidente, também eu quero agradecer ao relator, osenhor deputado Costa, que é Presidente da Comissão dos Transportes e do Turismo e quecomeçou por referir que os Tratados possibilitam políticas que têm impacto no turismo.Consequentemente, é muito oportuno que estejamos a considerar esta questão. Do mesmomodo, tal como o senhor deputado Arnaoutakis nos relembrou há poucos momentos,pelo menos 12% dos postos de trabalho na UE dependem do turismo.

Actualmente, a UE é muito mais que um mero mercado comum de produtos e capitais. Éum mercado comum de pessoas. Como sabemos, actualmente os cidadãos da UE viajammais que nunca, nomeadamente como turistas. Muitos, talvez a maioria, têm experiênciasmuito positivas, mas é a minoria – os poucos que têm experiências menos positivas – quedá má fama a alguns aspectos da indústria do turismo.

Chamo a atenção dos colegas em particular para os números 24 e 25, que reclamam umconjunto de orientações abrangentes para os hotéis que sejam sensíveis às necessidadesdos consumidores. Essas orientações devem ter em conta as necessidades das famílias comfilhos. Nem todos os hotéis poderão satisfazer essas necessidades, mas a indústria temrealmente de se tornar tão favorável às famílias quanto possível.

Do mesmo modo, qualquer sistema de classificação tem de tomar em conta as necessidadesdos idosos e das pessoas portadoras de deficiência. A Comissão dos Transportes e doTurismo defendeu este princípio no caso das companhias aéreas, e é justo exigir que oshotéis também não discriminem este grupo social. Nem devem poder fazer juízos de valorrelativamente a quem se qualifica ou não como casal.

O relatório tem igualmente razão em referir, como acontece no número 48, que sugereuma carta dos direitos e deveres dos turistas, que os próprios turistas se deviam comportardevidamente e respeitar os hotéis e a actividade do turismo.

É um bom relatório, uma história auspiciosa que envia a mensagem de que o Parlamentoestá a agir de forma sensata no interesse dos consumidores. Espero que a mensagem chegueaos povos da Europa.

Alfonso Andria (ALDE). – (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, o relatório verdadeiramente excelente do senhor deputado PaoloCosta contém algumas ideias extremamente interessantes.

117Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 118: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Gostaria apenas de fazer algumas observações breves, com base nas profundas alteraçõesda procura causadas sobretudo pela globalização, pela presença cada vez maior no nossoterritório de turistas de países terceiros e pelo aumento da esperança de vida. Tudo istosignifica que temos de elaborar uma política de turismo da União Europeia que se adeqúeaos dias de hoje, e que temos igualmente de rever os seus objectivos estratégicos.

O senhor deputado Queiró salientou a necessidade de uma classificação das instalaçõeshoteleiras. Estou plenamente de acordo com ele, e acrescentaria que devem ser igualmenteinstituídos padrões europeus de qualidade e de segurança para os produtos turísticos.

Temos de responder às novas exigências dos nossos cidadãos enquanto beneficiários econsumidores de serviços turísticos. Deste ponto de vista, citaria apenas dois exemplos deentre as muitas ideias novas apresentadas no relatório Costa: um rótulo “Acesso para todos”que iria garantir instalações acessíveis a turistas com mobilidade reduzida, e o programaturístico europeu para reformados.

Permitam-me que conclua com uma observação sobre a formação: devemos igualmentepensar nas qualificações individuais específicas dos trabalhadores envolvidos no turismopara pessoas reformadas e com deficiência.

Pedro Guerreiro (GUE/NGL). – Acompanhando muito os aspectos contemplados norelatório, os quais valorizamos, gostaríamos de intervir neste debate para sublinhar, emprimeiro lugar, que uma actividade turística e um turismo de qualidade exigem que asprofissões relacionadas com este sector estejam enquadradas por regimes legais quesalvaguardem os direitos laborais e que promovam empregos de qualidade e a qualificaçãodos trabalhadores, o que implica, em nossa opinião, entre outros aspectos, uma formaçãoprofissional adequada, a melhoria das condições de trabalho, a promoção de vínculoscontratuais estáveis e um nível de remunerações salariais equitativo e dignificante.

Em segundo lugar, sublinhamos que o turismo poderá contribuir para a coesão territorial,para o desenvolvimento económico e para o emprego a nível regional, pelo que se deverápromover uma abordagem transversal nas políticas e nos fundos comunitários relativamentea este sector, designadamente criando um programa comunitário específico emcomplemento da acção dos Estados-Membros. Estes são os conteúdos de algumas daspropostas que apresentámos e que esperamos que recebam o apoio deste Parlamento.

Bogusław Liberadzki (PSE). – (PL) Senhora Presidente, não é frequente abordarmos aquestão do turismo nesta Assembleia, razão pela qual estou particularmente agradecidoao relator, o senhor deputado Costa. Gostaria de felicitá-lo pelo bom trabalho realizado.

Em minha opinião, os elementos mais positivos deste relatório são a abordagem sustentávelao turismo, bem como a necessidade de aumentar a coesão e a qualidade de vida europeias.Saúdo igualmente a ênfase colocada na importância do acesso a serviços turísticos.

O relatório refere igualmente a política de vistos. Considero que é uma matéria crucial, edevemos prestar mais atenção ao controlo da questão dos vistos e à gestão das passagensfronteiriças no território dos novos países do espaço Schengen. A Rússia e a Ucrâniamanifestaram preocupações relativamente à questão dos vistos a motoristas, incluindomotoristas de autocarros, e a correios de turismo. Efectivamente, o Presidente da ComissãoEuropeia, o senhor Barroso, recebeu ontem o líder da Association of International RoadCarriers (Associação de Transportadores Rodoviários Internacionais) da Ucrânia, queexpressou as suas preocupações. Tenho conhecimento da situação e no mês passado remetia questão para o senhor deputado Frattini. Até ao momento não obtive qualquer resposta.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT118

Page 119: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Creio que se trata de uma questão importante. É essencial que o Parlamento e a Comissãose concentrem no controlo da execução da política de vistos.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, 29 de Novembro de 2007.

Declarações escritas (Artigo 142º)

Alessandro Battilocchio (PSE), por escrito. – (IT) O impasse em torno do TratadoConstitucional teve um efeito retumbante no sector do turismo, o qual, de acordo com aabordagem em debate, deve tornar-se uma política comunitária. Nos últimos anos, osEstados-Membros prosseguiram individualmente estratégias turísticas que, de um modogeral, conduziram ao crescimento global neste sector no contexto socioeconómico decada um dos 27 países. O número de turistas aumentou, houve uma injecção deinvestimento e a necessidade de pessoal aumentou, o que teve efeitos manifestamentepositivos no emprego. O que faltou até agora foi um plano claro e abrangente por partedas instituições comunitárias. A concorrência entre os países está a aumentar e estãomanifestamente a aparecer inúmeras novas ofertas em várias partes do mundo. Nestascircunstâncias a Europa tem de mostrar que está à altura da situação: por outras palavras,tem de estar à altura dos grandes desafios que se esboçam no horizonte e superá-los.

Zita Gurmai (PSE), por escrito . – (HU) A globalização, as mudanças demográficas e oaumento dos transportes estão a contribuir significativamente para o rápido crescimentodo turismo, que tem um grande potencial de crescimento e de emprego. Actualmente oturismo contribui com, aproximadamente, 4% para o PIB da UE, e, indirectamente, commais de 10%, e é responsável por cerca de 12% de todos os postos de trabalho.

O turismo incentiva as pessoas a entenderem-se melhor, promove a formação da identidadeeuropeia e, através das relações entre grupos sociais, económicos e culturais, fomenta odiálogo entre culturas. A criação de um modelo para o turismo europeu é de importânciaprimordial para a União, uma vez que este tem de assentar em valores ligados aos objectivosda qualidade e da sustentabilidade do turismo e à igualdade de acesso para todos.

Há que promover activamente a simplificação das normas, a harmonização das políticasrelacionadas com o turismo e o alargamento da utilização dos instrumentos financeiroseuropeus disponíveis. O desenvolvimento do turismo deve ser sustentável, ou seja, deverespeitar as comunidades locais e a protecção ambiental. Para o efeito, necessitamos deum quadro de apoio e de uma estrutura eficaz que envolva todas as partes regionais e locaisinteressadas, o que facilitará uma parceria e uma liderança eficaz. No que respeita às medidasaplicadas com vista a alcançar os objectivos, temos de ter presente os princípiosfundamentais da subsidiariedade, que definem a divisão da responsabilidade entre as partesindividuais em questão.

Zita Pleštinská (PPE-DE), por escrito. − (SK) Do ponto de vista do desenvolvimentoregional e local sustentável e integrado, o turismo tem um impacto considerável na coesãoeconómica, social e territorial da UE-27. Desempenha igualmente um papel importanteno aumento do emprego em regiões europeias menos desenvolvidas, contribuindo assimpara nivelar disparidades regionais. Por conseguinte, embora ainda não tenha sido possíveldesenvolver uma abordagem transectorial coerente do turismo a nível da UE, não podemospermitir que a Europa perca a sua quota de mercado neste sector.

119Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 120: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

A Comissão, juntamente com os Estados-Membros e os conselhos regionais, deve incentivare apoiar financeiramente novas formas de turismo, como o ecoturismo, o turismo rural,o turismo social e de saúde. Considero isso como uma das ferramentas para garantir odesenvolvimento sustentável das regiões, com ênfase na protecção da herança natural ecultural e na sua preservação para as gerações futuras.

É necessário que o turismo seja melhor apoiado por campanhas de informação. As PME,as empresas primariamente turísticas e aquelas que oferecem novos produtos turísticosou que desenvolvem a sua actividade económica em novas localidades ou regiões turísticastêm de ter melhor acesso à informação e de terem a possibilidade de utilizar os programaseuropeus de financiamento disponíveis através dos fundos estruturais.

Quero igualmente realçar a necessidade de intercâmbio de experiências adquiridas emprojectos turísticos já colocados em prática, o que permite aprender com abordagensincorrectas adoptadas em projectos mal sucedidos e evitar erros semelhantes noutrasregiões europeias.

Richard Seeber (PPE-DE), por escrito. – (DE) Os progressos dos últimos anosdemonstraram que o turismo europeu, como qualquer outro sector económico, éfortemente influenciado pelas condições globais.

Para responder com êxito a estes desafios, é essencial uma coordenação mais intensiva daspolíticas nacionais. Em absoluta consonância com o princípio da subsidiariedade, osEstados-Membros devem aproveitar as oportunidades disponíveis a nível da UE no sentidode incrementar as respectivas políticas nacionais. Deste modo, através da harmonizaçãoa UE pode contribuir eficazmente para combater a crescente burocracia e para eliminarobstáculos no sector do turismo. O nosso objectivo deve ser usar eficazmente os recursosdisponíveis e aproveitar todas as oportunidades para criar sinergias com vista a promovera concorrência global da UE e criar mais emprego.

Neste contexto, um passo importante seria simplificar os procedimentos de pedido devistos e reduzir os custos dos vistos turísticos para a entrada em qualquer país da UE.

Insto igualmente a UE a adoptar padrões de qualidade uniformes no que respeita aalojamentos hoteleiros na Europa, de modo a aumentar a transparência e, ao mesmo tempo,a reforçar os direitos dos consumidores. No entanto, tal não deverá provocar qualquerdescida dos padrões de qualidade nacionais mas sim enviar um sinal importante aosconsumidores. Neste contexto, a UE deve aproveitar as oportunidades existentes paraprestar apoio activo a Estados-Membros, sem, no entanto, pôr em causa as competênciasnacionais existentes.

23. Assistência macrofinanceira ao Líbano (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia o relatório do deputado Kader Arif, em nomeda Comissão do Comércio Internacional, sobre a proposta de decisão do Conselho relativaà concessão de uma assistência macrofinanceira da Comunidade ao Líbano(COM(2007)0476 – C6-0290/2007 – 2007/0172(CNS)) (A6-0452/2007).

Günter Verheugen, Membro da Comissão. − (DE) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, gostaria de agradecer ao Parlamento por apoiar a proposta da Comissão dopassado mês de Agosto. Tal como o relator, o senhor deputado Arif, salienta no seu relatório,o Líbano encontra-se numa situação política e económica muito difícil. A sua necessidade

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT120

Page 121: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

de financiamento é aguda. Através desta assistência macrofinanceira, a União Europeiacumpre a promessa que fez no passado mês de Janeiro na Conferência Internacional deDoadores, em Paris, quando concordámos em prestar ajuda financeira ao Líbano.

Como sabem, a operacionalização da assistência financeira é rodeada de incertezasconsideráveis devido à crise política e constitucional que ainda não foi superada. Todavia,a Comissão mantém a sua promessa de concluir todos os procedimentos internosnecessários, de modo a que a assistência possa ser disponibilizada assim que ascircunstâncias o permitirem.

As nossas conversações com as autoridades libanesas sobre as condições políticas associadasao programa estão a aproximar-se de uma conclusão e posso garantir-vos que estascondições estarão plenamente de acordo com o Plano de Acção UE-Líbano instituído noquadro da Política Europeia de Vizinhança e com o programa de reforma económica amédio prazo das autoridades libanesas. Usaremos, como é óbvio, todos os meios disponíveisno sentido de minimizar, tanto quanto possível, o risco de fraude, corrupção e abusofinanceiro, conforme prescrito no projecto de relatório.

Constato que o relator propõe várias alterações à proposta da Comissão. Analisaremosessas alterações com muita atenção e daremos a nossa opinião ao Conselho. No entanto,posso dizer-vos desde já que não levantaremos quaisquer obstáculos à maioria das alteraçõessobre as disposições jurídicas propriamente ditas.

A Comissão está ciente de que, nas audições sobre nova assistência financeira, o Parlamentoteve de responder em prazos muito breves. O calendário para todas as instituiçõesenvolvidas foi apertado, devido à natureza específica desta assistência financeira enquantoinstrumento de crise.

No entanto, com vista a agilizar a situação e a melhorar a cooperação com a Comissão doComércio Internacional (INTA), a Comissão promete, no futuro, informar o secretariadoda INTA, de forma sistemática e antecipadamente, de quaisquer novas transacções nodomínio da assistência financeira; isso será feito através de um memorando informativoassim que houver perspectivas de uma nova assistência financeira.

Kader Arif, relator. − (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, tenho o prazer de vos apresentar hoje este relatório sobre a concessão deassistência macrofinanceira (AMF) ao Líbano. É testemunho da promessa que a UE fez deajudar o país a recuperar de crises sucessivas.

O Líbano é actualmente um dos países mais endividados do mundo, com um rácio dívidapública/PIB de 180%. O impacto da guerra civil de 1975-1990, a crise do Verão de 2006com Israel, a instabilidade política crónica e uma política económica sem rumo causaramuma crise económica, financeira e social grave. A realidade desta situação exige que setomem medidas urgentes.

Os fundos concedidos na sequência da adopção, em Janeiro de 2007, do Plano de AcçãoUE-Líbano no contexto da Política Europeia de Vizinhança, só deverão estar disponíveisa partir de 2009. A AMF que nos preparamos para adoptar colmatará essa lacuna e teráum impacto imediato nas finanças públicas e na balança de pagamentos no Líbano, desdeque seja aplicada de imediato. A AMF consistirá numa subvenção de 30 milhões de eurose num empréstimo de 50 milhões de euros para ajudar o Governo libanês a empreendera reconstrução pós-guerra e a prosseguir a sua recuperação económica.

121Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 122: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O meu relatório aprova plenamente a necessidade de garantir esta assistência financeiraao Líbano. No entanto, propõe diversas alterações à proposta do Conselho, a fim deaumentar a clareza e a transparência.

Antes de mais, devemos ter presente que a assistência deve ser de natureza estritamentecomplementar relativamente ao apoio financeiro acordado pelas instituições de BrettonWoods, pelo Clube de Paris, pelos doadores bilaterais e pela UE ao abrigo de outrosprogramas. Tem de ser coerente com a acção ou políticas externas da UE e garantir o valoracrescentado da participação comunitária.

O Conselho terá também, de forma explícita e pública, de adoptar as recomendações doParlamento relativamente às condições e aos critérios associados à assistência, ou seja,melhoria da transparência e aumento da sustentabilidade das finanças públicas, aplicaçãodas prioridades orçamentais e macroeconómicas definidas, aplicação de medidas específicaspara evitar qualquer risco de fraude, corrupção e utilização indevida de fundos, repartiçãoda assistência com um justo equilíbrio entre as despesas posteriores ao conflito, areconstrução, o endividamento excessivo e as necessidades sociais da população, e ocumprimento integral das normas internacionais da democracia e direitos humanos e dosprincípios fundamentais do Estado de direito. A prestação de ajuda ao Líbano tem de seracompanhada pelo progresso real em relação aos objectivos referidos, e isso tem de serestabelecido numa convenção de subvenção elaborada conjuntamente com as autoridadeslibanesas.

Além do nosso trabalho de base sobre este texto, quero igualmente referir algumas dasdificuldades encontradas enquanto o relatório estava a ser elaborado, dada a sua naturezaurgente. É por esta razão que a Comissão e o Conselho devem informar mais oportunamenteo Parlamento acerca de qualquer decisão futura referente a concessão de AMF. Para que oParlamento possa realizar o seu trabalho de forma satisfatória, tem de ter acesso ainformação de melhor qualidade e em devido tempo. Refira-se, a este respeito, que ainstauração de um sistema de alerta rápido pela Comissão garantiria um tratamento maiscélere do processo pela comissão competente do Parlamento e evitaria atrasos inúteis, quepodem ter consequências negativas e graves para o beneficiário final desta assistênciafinanceira. A qualidade e a coerência do nosso trabalho e a qualidade da nossa cooperaçãocom as demais instituições dependem grandemente deste factor.

Na linha das resoluções precedentes do Parlamento, desejo sublinhar que um instrumentotão importante quanto a AMF não pode ser simplesmente considerado de natureza"excepcional". Tem de ter uma base jurídica normal e não pode continuar a fundar-se emdecisões ad hoc do Conselho para cada operação. Impõe-se um regulamento-quadroco-decidido relativo à AMF, de modo a reforçar a transparência, a responsabilidade e ossistemas de controlo e de apresentação de relatórios.

Deste modo, temos de tomar rapidamente medidas para o início de debatesinterinstitucionais relativamente à base jurídica mais adequada para este tipo de instrumento.No caso da AMF ao Líbano, um dos países abrangidos pela Política Europeia de Vizinhançae também classificado como país em desenvolvimento, consideramos que a base jurídicapara esta acção deveria ter sido o artigo 179º e não o artigo 308º do Tratado CE.

É precisamente pelo facto de o Líbano ser um país em desenvolvimento que o Parlamentoinsiste em não descurar o aspecto social das reformas que o Governo libanês poderá levara cabo. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),aproximadamente 24% dos libaneses vivem em situação de extrema pobreza e 52% dos

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT122

Page 123: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

libaneses são considerados "desfavorecidos". Além disso, quase 9% da população éanalfabeta, menos de um terço da população tem uma formação a nível primário e apenas13% dos libaneses chegam à universidade.

Apesar desta realidade, a problemática social não está no centro de debate político libanês,e o conteúdo social das reformas em preparação é muito limitado no que respeita aosaspectos económico e financeiro. É, no entanto, do interesse do Líbano e dos seus parceiros,tal como já referi, encontrar o justo equilíbrio entre as despesas, em particular as despesascom educação e formação profissional. Há que ter em conta que as desigualdades sociaispersistentes podem ter graves consequências económicas e políticas que podem prolongara instabilidade do país.

José Ignacio Salafranca Sánchez-Neyra, relator de parecer da Comissão dos AssuntosExternos. − (ES) Senhora Presidente, o Líbano encontra-se numa situação extremamentegrave e tensa e é evidente que é necessário encontrar uma forma de sair da crise institucionalnesse país. Para tal, na próxima semana um grupo de trabalho da Comissão dos AssuntosExternos visitará o país para fazer o que este Parlamento sempre fez: testemunhar asolidariedade da nossa instituição para com a causa da paz, entendimento, harmonia,reconciliação e consolidação democrática nesse país.

Foi precisamente com este objectivo que o senhor deputado Arif elaborou este relatóriosobre assistência macrofinanceira ao Líbano. Devo dizer-lhe que, na Comissão dos AssuntosExternos, não quisemos entrar demasiado em aspectos técnicos, tendo em conta, tal comoreferi, a situação de extrema gravidade e de tensão que se está a viver no Líbano relacionadacom a sucessão do Presidente Lahoud. No entanto, obviamente quisemos garantir o plenorespeito da competência do Parlamento, enquanto braço da autoridade orçamental, amáxima clareza e transparência como o relator propôs, e, consequentemente, a utilizaçãocorrecta e efectiva do financiamento, evitando assim qualquer tipo de corrupção, tal comoo Senhor Comissário Verheugen referiu no seu discurso.

Neste contexto, consideramos que esta assistência macrofinanceira se insere no espíritodo acordo de associação, ou da associação entre a União Europeia e os países doMediterrâneo, no futuro quadro da Política Europeia de Vizinhança e, é claro, nas obrigaçõesassumidas nos acordos da Conferência de Doadores de Paris III relativa à reconstrução erecuperação do Líbano. Insere-se igualmente no espírito dos acordos celebrados com asinstituições internacionais.

Esko Seppänen, relator de parecer da Comissão dos Orçamentos . − (FI) Senhora Presidente,na qualidade de relator de parecer da Comissão dos Orçamentos, é com satisfação queconstato que a comissão responsável adoptou as propostas que apresentámos. Foi muitocorajoso da parte da Comissão propor o novo conceito de “período de disponibilizaçãoda assistência financeira” e interpretá-lo de modo a que a validade do acto jurídico possaser prolongada através de um simples procedimento de comitologia da comissão. AComissão é apenas um órgão executivo e não pode desempenhar o papel de legislador. Eseria isso que estaria a fazer caso decidisse sobre o período de disponibilização da assistênciafinanceira.

Relativamente à Comissão dos Orçamentos, é com satisfação que verifico que a comissãoresponsável adoptou uma posição positiva em relação à nossa proposta de alteração à basejurídica, embora tal só se verificasse relativamente a propostas futuras de assistênciamacrofinanceira. A base jurídica mais adequada é, em nossa opinião, o artigo 179º do

123Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 124: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Tratado CE e não o artigo 308º geral que foi agora usado. Esperamos que, futuramente, aComissão e o Conselho tenham em conta esta mensagem do Parlamento.

Tokia Saïfi, em nome do Grupo PPE-DE. – (FR) Senhora Presidente, o actual vazioinstitucional que existe no Líbano constitui uma grande ameaça para o país e para a regiãoem geral. Com um parlamento que não funciona, cujos deputados temem pela suasegurança, um Governo instabilizado e uma economia paralisada, o Líbano tem de encontrarum caminho para sair desta crise. Mais que nunca, a UE deve igualmente permanecer prontapara apoiar o seu vizinho e aliado.

A assistência macrofinanceira hoje proposta pela UE é mais bem-vinda que nunca. Estaassistência excepcional com prazo de validade, que visa rectificar a situação orçamentalde um país onde os esforços concertados para reduzir o fardo do endividamento foramdestruídos pelo conflito mortífero do Verão de 2006, insere-se plenamente no contextoda Política Europeia de Vizinhança e da Parceria Euromediterrânica. Consequentemente,não é uma forma tradicional de assistência, na medida em que este apoio orçamentalcontribuirá para reforçar a soberania e a independência políticas e económicas do Líbano.A assistência deve, obviamente, estar sujeita a um mecanismo anti-fraude com vista a umamaior transparência na administração e no desembolso de fundos.

Temos igualmente de garantir uma melhor coordenação das instituições financeiras quetrabalham na reconstrução do país. Na verdade, temos de aplicar o instrumento davizinhança, as medidas do FMI e as acções da FEMIP de forma coerente no sentido degarantir uma assistência eficaz e sustentável. No momento em que a Conferência deAnnapolis abre uma pequena janela de esperança, o Líbano continua a ser um factoressencial para a paz e a estabilidade na região.

David Martin, em nome do Grupo PSE . – (EN) Senhora Presidente, saúdo o relatório dosenhor deputado Arif. Trata-se de um relatório bem fundamentado e muito equilibrado,como aliás seria de esperar do seu autor.

Lamento, no entanto, que caiba mais uma vez à UE arcar com as despesas originadas, noMédio Oriente, pela propensão de Israel para bombardear primeiro e só depois se preocuparcom as consequências.

É verdade que o Líbano já tinha dificuldades financeiras antes do conflito com Israel noVerão de 2006, mas essa guerra foi, provavelmente, a gota de água que fez transbordar ocopo. Como refere o senhor deputado Arif, o Líbano é actualmente um dos países maisendividados do mundo e, de acordo com o PNUD, praticamente um em cada quatrolibaneses vive na pobreza absoluta.

Apesar dos problemas que enfrenta, o Governo libanês está determinado a fomentar aestabilidade económica. Nestas circunstâncias, é correcto dispormo-nos a concederassistência macrofinanceira, para ajudar na recuperação. O senhor deputado Arif tem razãoao defender a introdução de cláusulas que garantam que haverá políticas apropriadas deprevenção da corrupção e que os fundos não serão utilizados abusivamente. A melhormaneira de o conseguir será através de uma transparência absoluta na concessão e naaplicação do dinheiro, um controlo adequado das despesas e uma avaliação ex post dasmedidas que forem tomadas.

Como lembrou o senhor Comissário, o Líbano conta-se entre os países parceiros da UEno quadro da Política Europeia de Vizinhança. Os fundos correspondentes a essa políticasó estarão disponíveis em 2009 ou 2010, mas tenho grandes expectativas quanto ao

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT124

Page 125: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

contributo que, a partir de então, a UE poderá dar para as reformas sociais e económicasnesse país. Entretanto, uma assistência macrofinanceira poderá ser decisiva para ajudar oLíbano a travar o seu endividamento e para proporcionar uma certa estabilidade ao seuGoverno. Por isso a aplaudo.

Bogusław Sonik (PPE-DE). – (PL) Senhora Presidente, debatemos hoje a assistênciamacrofinanceira ao Líbano. A presente crise económica e social é uma das mais graves quesobrevieram nesse país desde o fim da guerra, em 1990. Muitos foram os peritosindependentes estudiosos dos problemas do Médio Oriente que asseveraram a esteParlamento que a União Europeia deveria apoiar activamente as autoridades democráticaslibanesas.

O Líbano atravessa uma conjuntura particularmente importante. Atingiu uma fase em quefinalmente se tornou possível enterrar os últimos fantasmas da guerra. Mas o perigo de osantigos conflitos se reacenderem mantém-se. Devemos por isso munir-nos dos instrumentosde que dispomos e empenhar-nos numa mediação activa que contribua para a resoluçãodos conflitos internos do país. O conflito entre Israel e o Líbano causou uma enormedevastação num país que, após 20 anos de guerra, e arrostando com imensas dificuldades,mal concluíra o trabalho de reconstrução das suas infra-estruturas. Também a coesão dasociedade libanesa foi abalada pelo conflito. As forças radicais saíram reforçadas, levandoa que o país mergulhasse de novo em conflitos internos entre diferentes comunidades.

O Líbano precisa de tempo para readquirir estabilidade. Precisa, também, de mediaçãoentre todas as partes. A assistência financeira concedida pela União Europeia e por outrospaíses e instituições dar-lhe-á a oportunidade de que carece para retomar o curso dasreformas. Reformas essas que levarão necessariamente o seu tempo, mas que permitirãoo ressurgimento de um país política, social e economicamente estável.

Aplaudo a iniciativa da Comissão e saúdo os deputados que trouxeram a debate a questãoda assistência macrofinanceira. Isso permite-nos enviar uma mensagem ao povo do Líbano,assegurando-lhe que a União Europeia se considera sua parceira. Por conseguinte, tambémgostaria de agradecer ao relator o seu esforço inteligente no sentido de envolver oParlamento no processo de tomada de decisão relativa à assistência ao Líbano. Finalmente,importa não esquecer que a reconstrução do Líbano nos aproveita tanto a nós, europeus,quanto beneficia o povo desse país.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, 29 de Novembro de 2007.

24. Comércio e alterações climáticas (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0409/2007) do senhor deputadoLipietz, em nome da Comissão do Comércio Internacional, sobre comércio e alteraçõesclimáticas (2007/2003(INI)).

Alain Lipietz, relator. − (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, a circunstância de nos encontrarmos a poucos dias do início da Conferênciade Bali confere a este relatório uma importância acrescida.

É sabido que o comércio internacional está a crescer a um ritmo duas vezes superior ao doproduto mundial bruto. Consequentemente, a indústria dos transportes, uma das principaisresponsáveis pela produção de emissões de gases com efeito de estufa, está também em

125Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 126: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

crescimento. Além disso, a transferência da produção torna-se cada vez mais fácil, o quepode ser vantajoso em termos de utilização de mão-de-obra e de gestão de custos salariais,mas propicia a aceleração da produção de gases com efeito de estufa e, portanto, dasalterações climáticas, porquanto os custos das emissões no contexto da nova divisão dotrabalho são totalmente ignorados.

Dou-vos apenas alguns números: os navios, que transportam um volume de carga 40 vezessuperior ao da expedida por avião, são responsáveis por apenas o dobro das emissões degases com efeito de estufa, mas continuamos a recorrer ao transporte das mercadorias porvia aérea, a fim de optimizar o ciclo de produção. Parece-me, no entanto, que, depois dorelatório Stern e dos quatro relatórios elaborados pelo Painel Intergovernamental sobre asAlterações Climáticas, já deveríamos estar cientes de que mais vale esperar mais meio diaou mesmo mais três dias por um produto do que destruir o nosso clima e ter de suportarcustos que o relatório Stern estima em 5 biliões de dólares.

O relatório tenta explorar outras vias, para além deste ponto. Como não podia deixar deser, algumas delas dizem respeito aos transportes. Congratulamo-nos com o resultado darecente votação acerca da inclusão da indústria da aviação no sistema de quotas europeu.O relatório incita à reflexão sobre uma organização industrial que permita reduzir adispersão geográfica das cadeias de produção – aumentando a sua proximidade em relaçãoao utilizador final – e apresenta várias propostas a respeito da comercialização de produtosambientais.

Propomos que, no âmbito da avaliação dos efeitos ambientais de qualquer um dos acordosactualmente em negociação, tanto no quadro da OMC como a nível bilateral ou birregional,se dê primazia à avaliação dos seus efeitos sobre as alterações climáticas. Sugerimosigualmente que se dê prioridade a uma redução significativa das barreiras pautais enão-pautais – estamos a pensar, em particular, nos royalties – que dificultam o comérciode produtos e serviços que se distinguem pela sua capacidade de contribuir para a reduçãodas emissões de gases com efeito de estufa.

Não estando a Europa a negociar quaisquer acordos de âmbito birregional, tudo isto temnaturalmente de ser feito a um nível multilateral tão alargado quanto possível,preferencialmente à escala da OMC. Não podemos, contudo, excluir a hipótese de chegarmosa 2013 e entrarmos no período pós-Quioto sem que a Humanidade tenha entretantoalcançado um acordo unânime sobre a luta contra as alterações climáticas. Nesse caso, oónus da decisão da Europa de liderar essa luta recairá certamente sobre alguns dos seussectores. Não de todos, note-se. Para muitos deles, a liderança no combate às alteraçõesclimáticas constitui uma vantagem concorrencial. Noutros, porém, e refiro-me em particularà indústria cimenteira, pode dar origem a grandes problemas e, mesmo, ao “turismo” docimento. Sugerimos que, neste caso, e uma vez esgotadas todas as possibilidades decelebração de acordos multilaterais, se recorra ao artigo XX do GATT, ou seja, à introduçãode ajustamentos fiscais nas fronteiras, a fim de se restabelecer uma concorrência leal.

Eis, Senhoras e Senhores Deputados, o núcleo fundamental das minhas propostas.

Stavros Dimas, Membro da Comissão . − (EL) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, agradecemos à Comissão do Comércio Internacional a sua iniciativa de abordaras questões relativas ao comércio e às alterações climáticas.

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT126

Page 127: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

O relatório de senhor deputado Lipietz é um proveitoso manancial de ideias e propostaspolíticas. Agrada-nos ver nele reconhecida a interligação entre as várias vertentes dasnegociações.

As alterações climáticas são um assunto muito sério que, no fundo, afecta todos os sectores,incluindo o do comércio. Temos de nos empenhar na definição de uma política coerentede apoio mútuo. A União Europeia propõe-se promover o comércio, assegurando-se dasua viabilidade e, bem assim, da sua contribuição para outras políticas, designadamentepara a política relativa às alterações climáticas.

Saudamos o facto de o relatório reconhecer que são fundadas as expectativas quanto àsnegociações relativas aos bens e serviços ambientais. Cremos que se trata de uma importantecontribuição do comércio para os objectivos em matéria de alterações climáticas. Esperamosque se registem progressos nessa questão no decurso da actual ronda de negociaçõescomerciais multilaterais da Agenda de Doha para o Desenvolvimento. Verificamos, comagrado, que é reconhecida a necessidade de algo que tentámos que ficasse decidido naactual ronda de negociações comerciais, ou seja, a concessão do estatuto de observadorjunto da Organização Mundial do Comércio aos secretariados do Acordo Multilateral sobreo Ambiente. Congratulamo-nos, também, com o reconhecimento de que, se incluíremdeterminadas disposições, os nossos novos acordos de comércio livre poderão dar umcontributo positivo para a questão das alterações climáticas.

As ligações entre as oportunidades de acesso a novos mercados – ou seja, de fluxoscomerciais acrescidos – e as políticas no domínio das alterações climáticas são óbvias.

As políticas ambientais constituem um forte incentivo à inovação tecnológica e promovema eficiência económica. Os dados científicos e económicos mostram claramente que osbenefícios do abrandamento das alterações climáticas sobrelevam o custo das políticas deredução.

A adopção de novas medidas contra as alterações climáticas pode redundar em importantesvantagens competitivas para os produtores dos países em que vigoram restrições às emissõesde carbono, visto que, conjuntamente com outras políticas, levará à redução do consumode recursos de grande valor e incentivará a inovação tecnológica respeitadora do ambiente,cujas oportunidades de acesso ao mercado são cada vez maiores. Chegaremos assim a umasituação benéfica para todos, tanto em termos de concorrência como de ambiente. Temosde continuar em busca de novas oportunidades que permitam reforçar a contribuiçãopositiva da política comercial para o combate às alterações climáticas.

Verifico que o relatório aborda, a este propósito, as questões do crédito à exportação, daeliminação progressiva das subvenções ao comércio com impacto negativo no clima, e doreforço e alargamento do acesso ao mercado por parte do investimento directo estrangeiro.São, todas elas, questões interessantes que podemos discutir mais detalhadamente.

Temos de prosseguir os nossos esforços no domínio dos critérios de sustentabilidaderespeitantes a produtos silvícolas, desflorestação e abate ilegal de árvores.

Permitam-me que, a concluir, agradeça mais uma vez esta preciosa contribuição para odebate sobre as alterações climáticas, tanto mais que se revela extremamente oportuna,pois estamos a apenas alguns dias do início da Conferência de Bali sobre as alteraçõesclimáticas, da qual todos esperamos um estímulo decisivo para as negociações sobre umacordo internacional para o período pós-2012.

127Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 128: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Jens Holm, relator de parecer da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da SegurançaAlimentar. − (SV) Senhora Presidente, já era tempo de o comércio mundial assumir as suasresponsabilidades em relação ao clima. Desde 1990, o comércio mundial tem crescidoexponencialmente. Qual o resultado desse crescimento, do ponto de vista climático? Maistransportes e mais emissões, claro. Faz algum sentido, por exemplo, que os criadores degado da UE importem milhões de toneladas de soja brasileira para a indústria europeia decarnes, ou que o peixe capturado na Noruega seja enviado para a China, para filetagem elimpeza, e em seguida trazido de novo para a Europa, para ser conservado? Não, claro quenão!

O nosso excelente parecer dá-nos ensejo a que tomemos medidas concretas em relação aeste assunto. Entendemos que os transportes devem ser obrigados a suportar os custosambientais que lhes são imputáveis. Queremos que a tecnologia “verde” se expanda paraos países em desenvolvimento, ainda que tal exija, por exemplo, alterações profundas nalegislação sobre patentes e propriedade intelectual. Queremos que as subvenções à produçãode energia poluente sejam abolidas. Queremos que a certificação ambiental dosbiocombustíveis se torne obrigatória e que todos os acordos comerciais sejam avaliadosdo ponto de vista climático. Estes são apenas alguns exemplos retirados deste excelenterelatório. Se conseguirmos tudo isto, poderemos garantir que o comércio mundial seráparte da solução e não do problema.

András Gyürk, relator de parecer da Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia . −(HU) Obrigado por me ter concedido a palavra, Senhora Presidente. Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, a relação entre dois dos temas abordados no relatório emapreço reveste-se de extrema actualidade. Na verdade, a relação entre determinadas formasde comércio e as alterações climáticas é cada vez mais evidente. É inquestionável que ocomércio internacional intenso acarreta inúmeras consequências nocivas, nomeadamenteum aumento das emissões de dióxido de carbono e uma concomitante redução dos habitatsde plantas, onde ocorre a absorção de gases com efeito de estufa. Não obstante, continuoconvencido de que “comércio livre” não é necessariamente sinónimo de “danos ambientais”.Pesem embora os seus efeitos negativos, a expansão do comércio e a divisão internacionaldo trabalho proporcionam um aumento da eficácia da produção. Daí poderá resultar umaredução global do consumo de fontes de energia.

Permitam-me que, na qualidade de relator da Comissão da Indústria, saliente três ideiasque constam do parecer elaborado pela nossa Comissão e que vão nesse sentido. Emprimeiro lugar, a necessidade premente de eliminar as barreiras comerciais às tecnologiasrespeitadoras do ambiente. Para o efeito, a União Europeia terá de assumir um papel activonas negociações internacionais sobre as alterações climáticas.

Em segundo lugar, a necessidade de diligenciarmos no sentido de, futuramente, o preçodos produtos passar a reflectir os respectivos efeitos nocivos não imediatamenteperceptíveis, designadamente o seu impacto nas alterações climáticas.

Em terceiro lugar, e por último, a convicção de que a Comunidade tem um interesseprimordial na realização de um debate tão profundo quanto necessário sobre a relaçãoentre o comércio e as alterações climáticas. Quanto mais não fosse, porque a Europa podeassumir a liderança da exportação mundial de produtos e serviços “verdes”.

Senhoras e Senhores Deputados, como transparece do exposto, é entendimento unânimedos membros da Comissão da Indústria que a eliminação dos entraves ao comércio e ocombate às alterações climáticas dependem da existência de uma colaboração internacional

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT128

Page 129: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

suficientemente ampla. O debate no seio da Comissão reforçou a nossa convicção de que,do ponto de vista das alterações climáticas, o comércio constitui um problema mas é,também, parte da solução. Muito obrigado, Senhora Presidente.

Georgios Papastamkos, em nome do Grupo PPE-DE. – (EL) Senhora Presidente, Senhorase Senhores Deputados, a União tem de assumir uma posição de liderança na adopção depolíticas respeitadoras do ambiente, o que, convenhamos, já se verifica em larga medida.Neste aspecto, Senhor Comissário Dimas, a sua contribuição tem sido notável. Seja comofor, a conformação das estratégias sectoriais a modelos de desenvolvimento sustentávelconstitui um objectivo primário do esforço de regulamentação.

Crê-se que a intensificação do comércio internacional contribui para o desenvolvimentoeconómico mundial e beneficia, de facto, tanto os países desenvolvidos como os paísesem desenvolvimento. Mas, por outro lado, o rápido aumento do volume dos fluxoscomerciais transfronteiriços constitui um desafio para a política relativa ao clima. Acaracterização da relação de apoio mútuo ou de antagonismo entre o sistema mundial decomércio e as políticas em matéria de alterações climáticas é o tema do relatório em apreço.Lamentavelmente, é notório no texto um certo desequilíbrio entre as vertentes comerciale ambiental. O rápido desenvolvimento do comércio internacional deveria ser encaradoexclusivamente como um factor gerador de tensão ambiental. Além disso, a adopção depolíticas climáticas não é, por si só, suficiente; é necessária uma estratégia global e coerenteque integre as opções respeitadoras do ambiente nas políticas dos transportes, do comércio,da indústria, da energia e da agricultura. Em todo o caso, o esforço isolado da União nãobasta para combater as alterações climáticas. A liderança mundial da União na criação demodelos de protecção ambiental e social tem de ser prosseguida e afirmada nas suas relaçõescomerciais com países terceiros.

Senhoras e Senhores Deputados, alguns dos pontos da proposta de resolução são essenciais.O Grupo do Partido Popular Europeu e dos Democratas Europeus decidiu que o sentidodo seu voto final, em princípio favorável à proposta, dependeria do resultado da votaçãodesses pontos.

David Martin, em nome do Grupo PSE . – (EN) Senhora Presidente, quando se fala emalterações climáticas, o comércio é muitas vezes apresentado como fazendo parte doproblema, e é bem verdade que algum comércio não tem justificação possível. Enviarcamarões da Escócia para a Tailândia para serem descascados e em seguida devolvidos àsua origem não faz qualquer sentido e representa um desperdício de energia. No entanto,como prova o bem fundamentado relatório do senhor deputado Lipietz, o comércio podetambém fazer parte da solução. Darei apenas três pequenos exemplos.

Em primeiro lugar, o estabelecimento, na Europa, de requisitos elevados de eficiênciaenergética para electrodomésticos como, por exemplo, os frigoríficos, as máquinas delavar loiça ou os microondas, que pode levar não só à redução das emissões de CO2 nestaregião, mas também à criação de condições para a definição de normas mais rigorosas noresto do mundo. Consideremos, por exemplo, o caso da fábrica chinesa que é, só por si,responsável por 80% da produção mundial de fornos de microondas. É pouco provávelque se disponha a produzir de acordo com uma norma para os seus clientes europeus,com outra para os de outras zonas no mundo e, já agora, com uma terceira para o seumercado interno.

Um segundo exemplo, referido pela Comissão da Indústria, diz respeito aos produtos“verdes” ou, para usar a designação correcta, bens e serviços ambientais. Se os direitos

129Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 130: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

sobre os bens e os serviços ambientais forem abolidos, incentivar-se-á, por exemplo, aexportação de produtos como os geradores de elevado rendimento energético, as tecnologiasde aproveitamento da energia das ondas ou os painéis solares, que podem ajudar paísesterceiros a reduzir a sua pegada de carbono. Retomemos o exemplo da China. Actualmente,o aumento anual da capacidade de produção de electricidade desse país equivale àcapacidade total do Reino Unido. É óbvio que a existência de incentivos à utilização datecnologia mais recente e eficaz por parte da China poderia contribuir substancialmentepara a criação de condições que permitissem a esse país continuar a crescer sem aumentarproporcionalmente a sua pegada de carbono.

Um terceiro e último exemplo seria o da conveniência de habilitar os consumidores afazerem escolhas informadas nas suas compras, disponibilizando-lhes informação clarasobre a pegada de carbono de cada produto. Temos, no entanto, de ser cautelosos, paranos assegurarmos de que a informação é correctamente apurada e apresentada. Os rótulosque indicam a distância percorrida pelo produto (“food miles”), actualmente utilizados emalguns supermercados do Reino Unido, são inadequados e podem ser enganosos. A pegadade carbono das flores do Quénia, por exemplo, é muito mais pequena do que a das florescriadas em estufas na Holanda, mas, se nos ativermos aos respectivos rótulos, chegaremosa uma conclusão diferente.

Zbigniew Krzysztof Kuźmiuk, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhora Presidente,gostaria de, ao usar da palavra em nome do Grupo União para a Europa das Nações nestedebate sobre o impacto do comércio mundial nas alterações climáticas, chamar a atençãopara as questões que passo a enumerar.

Primeira: no seu papel de líder mundial no combate às alterações climáticas, a UniãoEuropeia avança com a meta da redução de 25% a 40% nas emissões globais de gases comefeito de estufa até 2020. Todavia, não nos podemos esquecer de que, se essa redução forobtida graças sobretudo ao esforço da própria União Europeia, com um contributo mínimode outros países, o desenvolvimento económico da UE pode estar ameaçado.

Segunda: os agentes económicos europeus, sujeitos a diversas restrições inseridas no esforçode redução das emissões de gases com efeito de estufa, já não conseguem competir comos seus concorrentes que operam em países onde essas restrições não vigoram. Váriossectores e tipos de produção acabaram por se extinguir na Europa devido à concorrênciadesleal de produtores do Sudoeste asiático e da América do Sul.

Terceira: na sequência da introdução de restrições relacionadas com o excesso de emissõesde gases com efeito de estufa no território da União Europeia, assistimos a deslocalizaçõesda produção para fora da Europa, onde não existem restrições desse género.Consequentemente, muitos empregos se perderam para sempre na Europa.

Quarta: se não se chegar a um acordo global sobre a limitação das emissões de gases comefeito de estufa, e a União Europeia decidir avançar sozinha, deverão ser introduzidas taxascompensatórias nas fronteiras da União. Essas taxas deverão ser aplicadas sobretudo nossectores em que a concorrência já está seriamente afectada pelo facto de os custos de fabriconão incorporarem os custos ambientais. A chamada “dimensão climática das trocascomerciais” deverá, sempre que possível, ser tomada em consideração nos acordoscomerciais bilaterais entre a União Europeia e países terceiros.

As empresas apoiadas pelo Banco Europeu de Investimento deveriam ser sujeitas às mesmascondições. No caso dos apoios concedidos por outro tipo de empresas, o esquema deveria

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT130

Page 131: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

ser assegurado pelas agências nacionais que garantem o crédito à exportação e oinvestimento directo.

Graham Booth, em nome do Grupo IND/DEM . – (EN) Senhora Presidente, Al Goreproclama que o debate sobre o aquecimento global está terminado e que ficou provadosem margem para dúvidas que a actividade humana é responsável por esse fenómeno.

Defendi recentemente, na Comissão do Comércio Internacional, que a enorme influênciaexercida pelo Sol sobre o clima da Terra desde há milhões de anos não poderia ser ignoradaneste debate, e que, muito provavelmente, a explicação era fornecida pela alternância entrelongos períodos glaciários e curtos períodos interglaciários. A minha intervenção foiacolhida com grande hostilidade.

Contudo, o presidente desta comissão, senhor deputado Markov, contrapôs que não eracorrecto tentar excluir uma opinião apenas porque se opunha à ortodoxia corrente. É bomlembrarmo-nos de que, quando afirmou, no século XVII, que a Terra girava à volta do Sol,Galileu foi ameaçado de tortura pela Igreja Católica, por se atrever a contradizer a verdadeentão estabelecida de que a Terra era o centro do Universo. Só em 1992 a Igreja reconheceuque Galileu tinha razão.

O dióxido de carbono que está em causa no debate sobre o aquecimento global é apenasa quantidade insignificante que resulta da queima de combustíveis fósseis. Essa parcela,que constitui o único dado realmente novo e relativamente recente a considerar nestaquestão, é de facto bastante pequena quando comparada com as grandes quantidadesincessantemente produzidas pelo conjunto dos seres vivos e da matéria orgânica emdecomposição e pela actividade vulcânica.

Ficaria grato se, antes de nos dispormos a correr o risco de arruinar as economias de todoo mundo com impostos sobre as emissões de carbono e similares, decidíssemos retomaro debate e prossegui-lo até sabermos ao certo de que lado está a razão.

Daniel Caspary (PPE-DE). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,ao debatermos este projecto de relatório, deveríamos concentrar-nos no queverdadeiramente está aqui em causa: o comércio e as alterações climáticas.

Infelizmente, na primeira versão, o relator não apresentou propostas concretas econsistentes em termos económicos e sociais sobre o modo como poderíamos enfrentaro problema. Em minha opinião, tanto o relator como o próprio relatório confundem emlarga medida a questão do comércio com a dos transportes. O problema não está nocomércio mundial nem na divisão internacional do trabalho, nem tão-pouco no facto de,graças ao comércio, se registar actualmente crescimento económico em regiões que eramou são ainda pobres. Não, o nosso problema reside, isso sim, no facto de os transportesnão serem suficientemente eficazes e respeitadores do ambiente. O nosso problema reside,isso sim, no facto de, devido à pobreza e aos baixos níveis de prosperidade que subsistemem algumas regiões do mundo, muitas pessoas e países não estarem em condições degarantir o nível de protecção do clima que seria necessário e que faz todo o sentido emtermos ambientais e económicos.

Só através da integração dessas regiões nos circuitos do comércio mundial será possívelchegar a uma situação em que essas pessoas estarão em condições de garantir a protecçãodo ambiente e do clima. Quando se luta diariamente pela sobrevivência, não se pensa naprotecção do ambiente e do clima. Só um comércio mundial a funcionar em pleno nos

131Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 132: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

permitirá vender as nossas tecnologias modernas em todo o mundo e contribuir dessemodo para a protecção do clima.

Por conseguinte, a resposta adequada aos problemas do comércio e das alterações climáticasé, em minha opinião, mais comércio, e não menos.

Estou por isso muito grato ao senhor deputado Papastamkos, meu colega de Grupo, porter conseguido introduzir muitos temas importantes no debate da Comissão, econgratulo-me com o facto de o Grupo ALDE ter apresentado, para o plenário de amanhã,várias propostas de alteração que vão no mesmo sentido.

A concluir, gostaria de fazer um pedido. Infelizmente, há neste relatório diversas passagensem que a nossa economia social de mercado é desacreditada. Devíamos encontrar formade obliterar esses ataques a um sistema económico, o nosso, que trouxe prosperidade esegurança social a tanta gente. Ficaria grato se os diversos grupos mostrassem algumacriatividade neste ponto, para também o nosso Grupo poder votar a favor deste relatório.

Elisa Ferreira (PSE). – Começo por cumprimentar o relator pelo trabalho detalhado queproduziu num tema que é complexo, o da relação entre comércio e alterações climáticas.A Europa tem liderado internacionalmente o combate contra o agravamento das alteraçõesclimáticas. Mas, para ser credível e atingir os objectivos que se propõe, tem que reforçar acoerência das suas diversas políticas em torno deste objectivo. Em particular, a políticacomercial europeia, uma das mais antigas comuns da União, não deve, nem pode ficaresquecida. Esta relação entre ambiente e comércio não é simples, ela não estásuficientemente conseguida, nomeadamente na Organização Mundial de Comércio.

Na União Europeia, cumprir os objectivos em matéria climática requer um esforço efectivode redução das emissões de carbono, o qual se reflecte, por sua vez, nas condições deprodução e respectivo custo de um número crescente de sectores produtivos. É altura deperguntarmos: num mundo de concorrência global e perante um problema de sobrevivênciado planeta, faz sentido que este esforço de combate às alterações climáticas se resuma,acima de tudo, a um esforço europeu? Será aceitável que as emissões atmosféricas de tantossectores abandonem o solo europeu para passarem a ser feitas a partir de zonas do globoambientalmente mais desprotegidas? Pode a violação ambiental ser uma fonte legítima decompetitividade? Será aceitável que em relação aos principais bens transaccionáveis a nívelmundial haja regras distintas de respeito ambiental variando com a zona do globo ondesão produzidos?

Penso que não, em relação a todas estas questões. É necessário encontrar um equilíbrioentre o ambiente, incluindo aqui o clima e o comércio, que garantam um esforço colectivo,proporcional, equitativo, mas que não dispensa ninguém, muito menos os grandes parceiroscomerciais mundiais. Um novo equilíbrio entre o desenvolvimento das imensas zonasempobrecidas do globo e a sobrevivência do planeta tem de ser rapidamente encontradoatravés do diálogo, do respeito mútuo e da determinação face a objectivos convergentes.Mas o esforço é global, esperando apenas que, no mês de Dezembro, em Bali, este processose inicie de uma forma séria e empenhada.

Stavros Arnaoutakis (PSE). – (EL) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, é verdade que as transacções comerciais aumentaramsignificativamente nos últimos anos tanto a nível europeu como mundial. Embora estimuleo desenvolvimento das economias nacionais, esse crescimento tem um impacto significativosobre as alterações climáticas. Assim, exprimo, a título pessoal, a minha preocupação em

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT132

Page 133: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

relação a este problema específico. Temos de arranjar forma de a política comercial podercontribuir positivamente para a resolução do problema das alterações climáticas.

A meta da redução de 20% nas emissões de gases com efeito de estufa até 2020 é bastanteambiciosa. Espero que ganhemos essa aposta, pois, se isso não suceder, os custos serãoenormes. Gostaria de aproveitar para realçar o contributo do senhor comissário e para ofelicitar por todas as suas iniciativas e todo o seu empenho no sentido de tornar esse êxitopossível.

São necessários mais apoios e um maior empenho relativamente ao seguinte: transiçãopara meios de transporte mais respeitadores do ambiente; promoção de uma indústriamais respeitadora do clima; desenvolvimento de novas tecnologias e criação dedesincentivos financeiros às actividades com impacto negativo no clima; cooperaçãoefectiva entre as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e a União Europeia;mecanismos de consulta permanente e de participação da sociedade civil e das organizaçõesnão-governamentais do sector do ambiente. O Parlamento Europeu tem um papelimportante a desempenhar. Espero que os resultados da Conferência de Bali, que se realizaem Dezembro, nos façam chegar as mensagens de optimismo que todos aguardamos.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, 29 de Novembro de 2007.

Declaração escrita (artigo 142.º)

Eija-Riitta Korhola (PPE-DE), por escrito . – (FI) A integração da política climática éfundamental para assegurar a eficácia da luta contra as alterações climáticas. O relatórioem apreço é realmente precioso e suscita um debate indispensável: a política comercialtem de fazer parte da política climática, pois o crescimento do comércio está a provocarum aumento das emissões de gases com efeito de estufa. Por outro lado, a política comercialé especialmente eficaz como instrumento da política climática e pode, portanto, fazer parteda solução.

Em primeiro lugar, a política comercial é de enorme utilidade para a promoção dastecnologias ambientais. O comércio internacional é uma das ferramentas mais eficazes nodomínio da transferência de tecnologias. O papel da Organização Mundial do Comércioé importante, porque é essencial abolir os impostos aduaneiros sobre os produtos “verdes”e aperfeiçoar as normas que regulam a propriedade intelectual. Por outro lado, é intolerávelque a OMC ainda autorize, por exemplo, subsídios contraproducentes a combustíveisfósseis, desincentivando assim a adopção de tecnologias respeitadoras do ambiente.

Embora nada justifique realmente que o faça, o relatório enaltece o êxito de Quioto. OProtocolo apresenta imensas lacunas, motivo por que, na verdade, acaba por agravar asituação. As iniciativas unilaterais distorcem a concorrência e levam à fuga de carbono.Alterar o local onde as emissões ocorrem não as reduz. Além disso, a solidariedade paracom os povos dos países em desenvolvimento exige que não contaminemos o seu ambiente.O Protocolo de Quioto leva à exploração do ambiente. As alterações climáticas são umfenómeno genuinamente global que exige soluções globais. Por conseguinte, é essencialque haja um regime global de comércio de licenças de emissão de gases vinculativo parao conjunto dos países industrializados e das economias emergentes.

Compreendo perfeitamente a preocupação expressa no relatório em relação ao destinodas florestas face ao aumento do comércio. A UE tem de prestar especial atenção ao risco

133Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 134: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

que os biocombustíveis representam para os sumidouros florestais. Também não se podepermitir que os objectivos relativos às fontes de energias renováveis definidos pela Comissãoacabem por contribuir para a aceleração das alterações climáticas.

25. Referendo na Venezuela (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre o referendo naVenezuela.

Stavros Dimas, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, o Conselho NacionalEleitoral anunciou que se realizará, em 2 de Dezembro de 2007, um referendo popularsobre a proposta de revisão constitucional apresentada pelo Presidente da RepúblicaBolivariana da Venezuela. Nesse dia, o povo da Venezuela terá oportunidade de exercer oseu direito democrático de decisão sobre as alterações propostas, que visam reformaraspectos importantes da vida política, institucional, económica e social do país.

A Comissão está a acompanhar de perto os processos de revisão constitucional em cursona Venezuela e noutros países da região. É de salientar a importância que atribui ao factode qualquer nova constituição ou revisão constitucional dever consolidar a democracia eo Estado de direito. Defende, também, que as constituições devem basear-se num amploconsenso popular e reflectir adequadamente a pluralidade e a diversidade de cada país. Asconstituições devem unir e não dividir os povos.

A Comissão acompanha, com interesse, o intenso debate em curso na Venezuela sobre arevisão constitucional. Verifica que alguns sectores da sociedade venezuelana são favoráveisàs alterações propostas, mas regista também a forte oposição expressa por outros. Estesúltimos manifestam algumas preocupações, em especial quanto a certos aspectos da revisãoque, no caso de esta ser aprovada, poderiam, segundo esses mesmos sectores, redundarnuma maior concentração de poderes nas mãos do Presidente, no enfraquecimento dosmecanismos de controlo democrático e das instituições existentes e numa ameaça aopluralismo democrático. Outros ainda consideram que o que é proposto vai muito alémde uma simples revisão, envolvendo uma alteração da estrutura fundamental do Estado.

A Comissão está ciente da situação e segue-a com a devida atenção. Embora considere queé ao povo da Venezuela que cabe pronunciar-se por si mesmo sobre a proposta de revisão,não pode deixar de salientar a importância que também atribui a que a campanha para oreferendo seja conduzida com espírito de abertura e respeito mútuo. Manifesta igualmentea esperança de que o referendo decorra em clima de tranquilidade e de forma transparente.

Vale a pena lembrar, a propósito, que a missão de observação eleitoral da União Europeiaque acompanhou as últimas eleições presidenciais na Venezuela considerou que, em termosgerais, o processo eleitoral respeitou as normas internacionais e a legislação nacional, esalientou o ambiente tranquilo em que decorreram as eleições.

Francisco José Millán Mon, em nome do Grupo PPE-DE. – (ES) Senhora Presidente, ocontinente americano é, globalmente, o que mais próximo está da Europa em termos devalores, ideais e visão do mundo e do ser humano e da dignidade e direitos deste. A meuver, aquilo a que chamamos Ocidente inclui, sem dúvida, a América Latina.

As tendências positivas que se vêm registando nos últimos anos na América Latina emgeral têm-na aproximado cada vez mais da Europa: eleições pluralistas e consolidação

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT134

Page 135: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

democrática, crescimento baseado em políticas económicas mais equilibradas e abertas,processos de integração regional e acordos muito importantes com a União Europeia.

Contudo, existem excepções neste cenário optimista: a uma já tradicional, a de Cuba,junta-se agora a da Venezuela. Este país atravessa uma fase de crescente autoritarismo, aolongo da qual as liberdades vão sendo restringidas, a oposição é permanentementehostilizada, e a população, que chega a suspeitar de que o seu voto deixou de ser secreto,vive num clima de medo criado e mantido deliberadamente. Este Parlamento lamentou ofecho da Radio Caracas Televisión, que ocorreu em Maio passado.

No domingo, realizar-se-á um apressado referendo constitucional que visa consagrar umregime autoritário e exclusivista e instituir aquilo que é designado por “socialismo do séculoXXI”. Um até recentemente muito próximo aliado do Presidente Chávez chamou a todoeste processo um “golpe”. Lamento que a União Europeia não tenha sido oficialmenteconvidada a enviar uma missão de observação eleitoral.

Acontece também que o processo referendário está a decorrer num clima de crispação eviolência que já custou a vida a estudantes, também eles opositores ao projecto. Tambémaumentaram, nos últimos anos, a insegurança física e jurídica, o número de raptos e asocupações de terras. Por tudo isso, os meus compatriotas galegos, por exemplo, estão adeixar o país a uma média de mil por ano desde que o Presidente Chávez chegou ao poder.

Encorajado pelos altos preços do petróleo, o Presidente Chávez procura seguidores e aliadosnoutros países, faz muito barulho em fóruns internacionais e interfere em assuntos quedizem respeito à soberania de países vizinhos. O Presidente Chávez quer, como disse oPresidente Uribe, incendiar o continente. A sua atitude constitui um problema para aestabilidade democrática da Venezuela e para a concórdia e os processos de integração emtoda a América Latina. Além disso, está a desestabilizar as relações que se foram reforçandoao longo da última década entre países daquele continente e a União Europeia.

Atendendo à realização da próxima Cimeira de Lima, a atitude do Presidente Chávezrepresenta um sério desafio que deve merecer da União Europeia e dos seusEstados-Membros a devida atenção.

Luis Yañez-Barnuevo García, em nome do Grupo PSE. – (ES) Senhora Presidente, sequisermos ser coerentes com a tradição de respeito e de não-interferência deste Parlamento,devemos começar por deixar de, através de afirmações que aqui proferimos a propósitode situações que ocorrem noutros continentes ou em países terceiros, lançar achas paraas fogueiras.

O senhor deputado Millán Mon tem razão ao afirmar que a América Latina evoluiu deforma muito positiva nos últimos anos, tanto em termos políticos – uma vez que os regimesdemocráticos estão em grande maioria nessa região – como económicos ou mesmo sociais,embora, neste último aspecto, mais modestamente.

A Europa contribuiu consideravelmente para esse desenvolvimento através das suasempresas, dos seus investimentos e, em particular, da sua ajuda ao desenvolvimento, queé a mais importante nesse continente.

Não diria que, nesse contexto geral, a Venezuela constitui uma excepção, mas sim queexiste nesse país uma situação peculiar que decorre da personalidade, também ela muitoespecial e muito própria, do Presidente Chávez. Seja como for, não nos podemos esquecer– em particular numa instituição democrática como é este Parlamento – de que o Presidente

135Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 136: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Chávez foi reeleito três vezes com amplas maiorias e sem que haja qualquer suspeitaconfirmada de fraude eleitoral.

Assim sendo – não estamos a falar de uma ditadura, convenhamos –, devemos avançarcuidadosamente, tomando a iniciativa de um gesto de amizade que permita intensificar odiálogo e incentivando a comunicação, o consenso e a reconciliação a nível interno numpaís que, como é sabido, está dividido e fracturado. Devemos fazê-lo na convicção de queum país não deve ser reformado com base numa maioria de apenas 60% ou 40%, e de queas regras do jogo não devem ser alteradas sem um amplo consenso garantido por umamaioria de, pelo menos, 70% ou 80%, como aconteceu em outros países próximos e nonosso velho continente, na União Europeia.

A situação interna é, reconhecidamente, bastante preocupante, pelas razões que expus: aderiva ou alegada deriva autoritária, a concentração de poderes, o esbatimento progressivoda separação de poderes e a limitação da liberdade de expressão através de um instrumentopouco conhecido na Europa e denominado “en cadena”. Esse mecanismo autoriza oPresidente ou um dos seus ministros a requisitar, a qualquer momento, todos os canais detelevisão e emissoras de rádio, para a transmissão de comunicações presidenciais. Estasnão duram apenas um ou dois minutos. Na verdade, em casos excepcionais, chegam aprolongar-se por várias horas de um mesmo dia. Trata-se de uma situação problemática,já que, na Venezuela, os jornais são pouco lidos e a televisão e a rádio são os principaismeios de comunicação.

Reafirmo, porém – e com isso termino –, que, confrontados com o referendo, devemosser cautelosos, propor o diálogo, cultivar a amizade e tentar a mediação entre as duasfacções que se opõem na Venezuela.

Marios Matsakis, em nome do Grupo ALDE . – (EN) Senhora Presidente, a Venezuela éum país de rara beleza natural e muito rico em recursos naturais. Tem algumas das maioresjazidas de petróleo, carvão, ferro e ouro de todo o mundo. Apesar dessas riquezas naturais,a maioria dos venezuelanos permaneceu muito pobre, e muitos deles vivem em condiçõesde pobreza verdadeiramente atrozes. Apenas uma pequena minoria constituída por umaelite abastada tem beneficiado das riquezas do país.

Não admira que, nessas condições de desigualdade social chocante, políticos populistascomo Hugo Chávez tenham surgido como salvadores dos pobres. Como também nãosurpreende que o programa de nacionalizações do Presidente Chávez tenha sido bemrecebido pela maioria dos venezuelanos. Viram em Hugo Chávez alguém que os queriaresgatar de uma vida miserável de pobreza e carências.

Com o próximo referendo sobre a revisão constitucional acontece o mesmo. Estouconvencido de que o resultado do referendo traduzirá a indispensável aprovação popular,mas é já demasiado tarde para tentar mudar a opinião pública. Por conseguinte, no essencial,aquilo a que assistiremos depois do dia 2 de Dezembro é ao aparecimento de outro FidelCastro. Parece que, no preciso momento em que está a desaparecer um dirigente totalitárioem Cuba, um outro surge na Venezuela. Em todo o caso, quando analisamos esta tristerealidade, talvez nos devêssemos interrogar sobre se nós, o Ocidente, somos ou não dealgum modo responsáveis pelo que está a acontecer na Venezuela.

Devemos fazê-lo não só para sermos política e moralmente correctos em termosacadémicos, mas também para ficarmos de facto aptos a impedir que, no futuro, ocorramfactos semelhantes. Infelizmente, parece óbvio que cometemos vários erros graves nas

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT136

Page 137: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

nossas relações com a Venezuela ao longo dos últimos anos. Hugo Chávez chegou ondechegou em parte porque o ajudámos com as omissões e comissões da nossa política externa.Por conseguinte, seria bom que a reflexão sobre a estratégia das nossas relações com Chávezno futuro começasse por um pedido de desculpas ao povo venezuelano.

Alain Lipietz, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Intervenho na qualidade de presidenteda Delegação para as Relações com os Países da Comunidade Andina. No exercício dessasminhas funções, tenho visitado a Venezuela pelo menos uma vez por ano.

Desde que comecei a visitar esse país, ou seja, desde o golpe militar contra o PresidenteChávez, oiço sempre os meios de comunicação venezuelanos vociferar contra o Presidentee contra a ditadura. Nos hotéis em que fiquei, fossem eles de três, quatro ou mesmo cincoestrelas, não era permitido ver televisão pública, o que, de resto, nem sempre é possível,dada a má qualidade da emissão, normalmente cheia de “chuva”. Os generais que inspiraramo golpe ainda se passeiam na maior praça de Caracas, mas o Presidente Chávez, legalmenteeleito, reeleito e de novo reeleito, nunca levantou um dedo contra eles.

A Venezuela é um dos países que tenta resolver, de modo tão pacífico quanto possível,conflitos que são comuns a toda a América Latina. Não estou propriamente encantadocom as alterações que o Presidente Chávez pretende introduzir na Constituição bolivariana.Posto isto, como disse o senhor deputado Matsakis, cabe ao povo da Venezuela decidir.

Poderíamos certamente pedir desculpa por termos dado a impressão de que apoiávamoso golpe militar. É verdade que esse facto contribuiu para a radicalização do regimevenezuelano. No entanto, creio que, antes de mais e sobretudo, devemos respeitar a decisãodo povo venezuelano.

Willy Meyer Pleite, em nome do Grupo GUE/NGL. – (ES) Senhora Presidente, gostaria depedir à direita europeia que deixe de se intrometer nos assuntos internos da Venezuela.

A direita europeia, que não gosta de Cuba porque, segundo diz, não há eleições nesse país,afinal também não gosta da Venezuela, embora aí as haja. De facto, a Venezuela é um dospaíses da América Latina que mais eleições realizaram, todas elas supervisionadas pelaOrganização dos Estados Americanos, pela União Europeia e por fundações tão prestigiadascomo o Centro Carter.

Senhoras e Senhores Deputados da direita, o que vos desagrada é o sistema. Deixem de seintrometer e respeitem um povo soberano que exprime livremente a sua vontade e quecontinuará a fazê-lo. Não devemos antecipar-nos aos acontecimentos. Não é verdade que,como lembrou o senhor Comissário Dimas, a União Europeia reconheceu que as recenteseleições presidenciais foram inteiramente livres e justas?

Temos de aguardar os acontecimentos e temos de respeitar o que o povo da Venezuela –sem qualquer tipo de interferência, Senhoras e Senhores Deputados da direita – tem a dizer.

José Ribeiro e Castro (PPE-DE). – Senhor Comissário, Senhor Presidente, Caros Colegas,em 1848, Karl Marx proclamou o socialismo do século XIX e foi um desastre; em 1917,Lenine com a Revolução Russa, proclamou o socialismo do século XX e foi um desastre.Vários colegas nesta Casa saíram desse desastre para se juntarem a nós em liberdade. E oproblema com o socialismo do século XXI, que o Presidente Chávez anuncia na Venezuela,é que o século ainda agora está a começar, não sabemos como vai ser. Mas podemos pensarque, como o do século XIX e o do século XX, será também um desastre.

137Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007

Page 138: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

Vê-mo-lo, aliás, na violência. Não são as eleições que nos incomodam, é a violência brutaldo poder que se abateu sobre os estudantes que protestam na Venezuela, porque não lhesé reconhecido o direito de manifestar, e de que alguns foram mortos nos últimos dias nasruas de Caracas e noutras cidades. São as ameaças à liberdade de expressão que preocupamjornalistas independentes e livres de toda a América Latina e, particularmente, venezuelanose que se concretizaram no fecho da RadioCaracas Televisión.

É esse o caminho que nos preocupa. E há razões para preocupar, porque na revisãoconstitucional proposta pelo Presidente Chávez desaparecem palavras como“descentralização”, como “iniciativa privada”, como “liberdade de concorrência”, como“justiça social e, em contrapartida, aparecem palavras como “socialismo”, “socialista”,“imposição do estado socialista”, “eliminação da independência do Banco Central”, “poderpopular”. E nós sabemos, em todo o mundo, que quando se usa a expressão “poder popular”retira-se poder ao povo, destrói-se a democracia. É assim em todo o lado onde se usou aexpressão “poder popular”. “Força Armada bolivariana”, “comunas”, é este tipo de linhaque nos deve preocupar, que tem semeado a instabilidade e a violência desde há meses,desde há anos, nas ruas de Caracas e que representa já, também, uma ameaça à própriaestabilidade regional se seguirmos o que se tem passado recentemente nas relações entrea Venezuela e a Colômbia. E, por isso, é indispensável que sigamos com atenção osacontecimentos na Venezuela em solidariedade com os partidos democráticos e a sociedadecivil, lutando pela estabilidade regional, com certeza defendendo a democracia, mas comuma grande coesão na diplomacia da União Europeia.

Alojz Peterle (PPE-DE). – (SL) Assinámos hoje a Carta dos Direitos Fundamentais daUnião Europeia, mediante a qual nos comprometemos a respeitar a dignidade humana, osvalores democráticos e o Estado de direito. Esses princípios constituem a base daprosperidade interna da União Europeia e o ponto de partida para o desenvolvimento dasrelações com os nossos parceiros em todo o mundo.

Globalmente, a União Europeia deseja uma cooperação mais estreita e estável com os paísesda América Latina e com as suas organizações regionais. Atendendo às especificidades eaos interesses genuínos dos países da América Latina, entendemos que só naquela base esó com os países com os quais podemos partilhar os mesmos valores e princípiosfundamentais é possível criar relações estratégicas e duradouras.

A evolução política mais recente da Venezuela desviou-a do percurso acima referido. Essefacto põe em causa a dinâmica e o âmbito da futura cooperação entre a América Latina ea União Europeia, bem como a própria dinâmica de integração no seio da América Latina.O referendo sobre a Constituição está a polarizar a Venezuela, pois as novas propostasapontam no sentido da concentração do poder político e não conduzirão a uma sociedadeaberta, pluralista e democrática. Acreditamos numa sociedade solidária, mas não numasociedade socialista, porque esta exclui os que pensam de modo diferente.

Presidente. − Está encerrado o debate.

Declaração escrita (artigo 142.º)

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito . – Inacreditável! O Parlamento Europeu aagendar uma declaração da Comissão Europeia sobre a reforma constitucional que serealiza dia 2 de Dezembro na República Bolivariana de Venezuela, quando o que devia teragendado era um debate sobre a tentativa, em curso, de procurar negar aos diferentes povos

28-11-2007Debates do Parlamento EuropeuPT138

Page 139: QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2007 · 2011-02-24 · Presidente. – A votação das propostas relativas aos acordos de parceria económica está adiada para Dezembro, sendo os

dos países que integram a UE o direito a serem consultados, por via referendária, sobre otratado, dito "constitucional", "mini", "simplificado", "reformador" ou, agora, "de Lisboa".

No fundo, o agendamento deste debate procura dar resposta àqueles que alimentam epromovem um inaceitável e gravíssimo processo de ingerência e de tentativa dedesestabilização de um Estado soberano, nomeadamente quanto a um processo que só aopovo venezuelano cabe decidir, pronunciando-se, em referendo (!), sobre a alteração daConstituição do seu país.

Sem dúvida que o povo e governo venezuelanos são um exemplo que incomoda os grandesinteresses financeiros e económicos instalados na União Europeia. Um exemplo deafirmação da soberania e independência nacionais. Um exemplo de concretização de umprojecto de emancipação e de desenvolvimento patrióticos. Um exemplo de solidariedadeinternacionalista e anti-imperialista. Um exemplo de que vale a pena lutar e que é possívelum país e um mundo mais justo, mais democrático e de paz.

26. Ordem do dia da próxima sessão: ver Acta

27. Interrupção do período de sessões

(A sessão é suspensa às 00H05)

139Debates do Parlamento EuropeuPT28-11-2007