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Florianópolis, Dezembro de 1989

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**Melhor

Peça GráficaI e II Set

UniversitárioMaio 88

Setembro 89

ZEBOJornal-laboratório do Curso

de Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina.Arte: Frank. Hubert, Mirko

!liá. QuinoColaboradores: professor

César Valente; Patrick Chawel.Stephen Ferry. Devoss-Wer­ner-Reichenback (fotos). Pier­re Rou"elin. Vavv PachecoBorges (textos); Inside. Istoé­Senhor. Time.Coordenação: profe�sora

Neila 13ianchin _

Diagramação: AlessandraMeinicke.BllIe. Christiane Bal­bys. Fabiano Melato. JeanineBellini. Josiane Laps. NilvaBianco. Pedro Saraiva, Viviande AlbuyueryueEdição: Daniela Aguiar. Fa­

biano Melato. Geraldo Hoff­mann. Ivaldo Brasil Jr. MariaTeresinha da ·Silva. Murilo Va­lente. Rogério F. da Silva. Sô­nia BridiEdição e supervisão: profes­

�or Ricardo BarretoFotogralia: Ana Paula Mar­

cili. Carol do Vale Pereira . .Iac-4"es Mick. Maria T da Silva.Marta Moritz. Romir RochaLaboratório fotográlico: Pe­

dro MelloTextos: Christiane Balbys.

Clari"" dos Santos. Deise Frei­ta:-.. Elaine Tavares. FabülI10Melato. Geraldo Hoffmann.Heloísa Dalanhol. Iv,ildo Brasil.Ir. .Iacqllt:� Mick. "Marta Mo­ritz. Murilo Na�polini. Ozia�Alves Jr. Pedro dos Santos, Pe­dro Saraiva. Rafael Ma�:-.cli.Robert Willecke, R""me Por­to. Sílvia Pav��i'Telefone: (04X2) 33-Y2 I 5Telex: (t14X2) 240 HRTclerax: 3340(1Y

.

At'ahamentn e impressão: JIll-prelarCorrespondência: Caixa Po:-.­

tal .fT:!, Depart,.ullLntn dt' Co­nlllnic;,I�,.IO, Cur:-.o de .Inrnali�-1110, Flnrianüpoli:-.-SCCircula(;;jo dirigidaDístrihuiçúu gratuita

VENCE O FENÔMENO VIDEO-C'LIPo

o candidato dos poderososLe Figaro não

se impressionacom o eleito

�o candidato chega num

ambiente efervescente, er­gue os punhos em sinal dedeterminação. A multidão se

comprime, querendo tocá­lo, abraçá-lo. O "belo" Fer­nando Collor é o fenômenodesta campanha eleitoral.Campeão em todas as pes­quisas e puro produto damagia mediática,' ele estabe­lece um contacto físico com

o seu público. Uma equipede "fazedores de imagens" ,que não fica nada a deveraos publicitários de Manhat­tan e de Los Angeles, rodeiao jovem pródigo da políticabrasileira. Os seus comíciossão verdadeiros espetáculos,onde a exuberância do car­naval se mistura ao rigor deHollywood.

Collor não recorre aos I

efeitos dramáticos, que jásão tradição em tribunas la­tino-americanas. Os favela­dos e os pobres do interiornão vão escutá-lo falar. Ha­bitualmente, ele não discur­sa por muito tempo. Só falapor alguns minutos antes deseguir para outros comíciosneste gigantesco país. São es­

tas aparições q�e o povão vaiassistir: aparições que paraeles têm um pouco de mila­gre. "kbaixo Judas, vivaCollor". Uma mulher da fa­vela da Fregut;sia do Ó, naGrande São Paulo, brandiaeste cartaz em apoio ao can­

didato. Deus sabe porquê ...

Fernando Collor de Mel­lo, ex-governador de Ala­goas, garantiu sua vaga paradisputar o segundo turno no

dia IT de dezembro. E temboas chances de toçnar-se o

próximo Presidente do Bra­sil, o primeiro Chefe de Esta­do eleito pelo voto diretoapós 29 anos. O candidatotem 40 anos, e quer encarnara nova geração. Metade dos·82. milhões' de eleitores tem

L!:� oetues oens oe ta

ta ...eta tt"UJ ccs llOurgaele�ce I mteneur. ne vrennentoas pour recovrer Comme

d nabnune. II ne parter aQue cueroues minutes,avant de Iller vers un auve

. �naen��;�u�,<t��s cv�e��;�1 ��VOir, ass.stet ii cene appan­non QUI, pour ecx. trent un

peu du miracle .. A basJudas, vive Collor I .. Uneternme de Ia favela de Frf'·questa rO. dans Ie grandSao Paulo, br ancrsseu ceneoancarte I autre Jour Drevsan oour cuc..

fernando Collor eleMette ancien oouverneurdu cem Elat de-I'Alagoasdans Ie Noroeste eSI man­ouemenl assure de disputerIe oeuneme lour qur auralieu te 17 oecembre. II a debonnes cnances de oevemrte orocnam- prés.oent duêr és!t. te premier cnetd'Etat élu au suttiaçe uru­

versei ceours vmçt-neutans. A quarente ans: LI veutmcarner Ia nouvelle gene.retrcn. La moitlê des qua­tre-vmct-oeux millions

" ���I���:;�eal��n�:��s�oter

MERCREDI 15 NOVEMBRE 19B!

La chasseaux " maharajas »

Beau çosse. athlênoue.Collor est cemture none deaeretê. II 8 bAh eon Imagesur une idee simple Quiplait aux petnes gens dont iiveut se tarre Ie heros: .. Lesmaux du Brésil sont liés àIa corrupt/on de ses jdiri·geanls et de sa cresse po/i·tIque ..

Collor s'est fait Ie cham­pion de Ia .. chasse awe

maharaJas ., tes tcncnon­nanes qui touchenl des sa­

íarres miTifiques et ne se

présentent pranquement ja­mais à leur travail. - Nausallons emprisonner les íri­buns ., a-t-il annoncé en·

profitanl de I'impopularite.

du gouvernement pour fa iredu president. José Sarney,sa prLnclpale têle de Turc.

II se veul intra liable à

I'egard de ces fonctlonnai-'res Qui, du haut en bas de Iahiérarchle, dOlvent leur�place au .. c/ienté/isme poli·tique ", .. Nous allons en

fmlr avec ces corrompus etces incapabJes qui �eulenltransformer /e Brésil en une

mer, de désespolf. .. Des

slogans simplistes, des for­mules à I'emporte-p,êce, unphysiQue qui passe bien à12 télevision, Ia receite éstconnue

FernanCo Collor est IeRonald Reagan des milieux

Ion. rl Irl.: fJd��t: fJéI� oe I «o­

rue a 16 core-e II Lrrt- etmaneie M:S mOI�. Ie pOlngIerme Collor est un mau­

vais orateur Ses ccnseu­

lers lU! onl eeoc Clil oe par.

ler te morns possible Drxrmnutes te plus souvent. II a

adopte un rvtnme euréoéQUI rmpreasronne !!'plO)!!!!..� de reooesse.

tloen��r;�a��IS���rmlOa.5esãõVeTmes cons­

der ent QU'II nest au un.. candida' video-clip �

Peut-etre MaiS ca marcheparti de nen. II est monte

rusou'a 42 % Clans res son­

cages avant de se stabu­ser a 25 % á ta vetne dupremier 10Ul, 1010 cevantses concunents oe caucne

Collor fall carnpeçne au

nom du pent peupte. m�!!...est soutenu par les_.DIUSp��o Ma­

r)nno, te proOfletarre de Iachame de tetevlSlon _oGlobO c�ntróle 70 % ã80 % de raucrence cesrun arne de cotes. Le canm­dai mene sa crorsadecentre Ia classe potrucue.mais ii en 'est Iui-mêrne Ie

proouu, Petit-fils d'un ministre

��s����:n:��I�V�;;�l��r:(Ies chets pohtlQues du Nor­deste), son pére a tue. un

jour. un de ses cg"êgllesd'un COllp de pistolel au

c cuzs d'lIop pye au

�Aormratecr de Margaret

Tnatctrer; Collor n a pas élé'res expliCite sur spo pro­gramme, It veut pnvauser et1iDãfãTiSer t'econorrúe. II

compte sur Ie .. choc psy­ch%gique .. de son elec­tion pour vemr à bout del'inflaUon QUI e n etnt1300%.

Fernit.do Coil r a corn­

mencé sa

a IX ans: en devenantmaire de Macelo, Ia capi­tale de l'Alagoas,�volonté de's mitilaires. Ouel­ques années auparavant. iiavait pns Ia direction dugroupe familial: un journal,une stallon de televiSion el

deux slatLons de radio.Les conseillers du can­

didal aHlrmenl que, s'i1 eslélu, ii fera appel aux " for­ces socis/es progressistes ..

pour soulenir son acILon,Impulsil el d'esprit indepen­dant., iI cache son jeu : " Lagaúche a peur de Collor àcaUse 'fie son psssé; Isdroile â cause de son ave­

nif ", resume un observa­teur bresilien.

P.R.

çâo, de "machismo".Os seus adversários o con­

sideram um candidato "ví­deo-clip". Talvez. Mas issomarca: saído do nada, ele su­biu até 42% nas pesquisas,antes de se estabilizar em

25 % nas vésperas do primei­ro turno. Mesmo assim supe­rando todos os outros con­

correntes..

Collor faz campanha em

nome dos mais pobres, comoele gosta de afirmar,. mas é

.

apoiado pelo. todo-poderosoRoberto. Marinho,. proprie­tário da Rede Globo de Tele­visão, que controla entre70% a 80% da audiência no

país. É um aliado de peso.O candidato direcioná sua

cruzada contra a classe polí­tira, da qual é produto. Eneto de um ministro do Tra­balho Ide Getúlio Vargas nos

anos 30 e filho de Senador.Na pura tradição dos "coro­néis" (os chefes políticos doNordeste), seu pai matou,um dia, um de seus colegas,com um tiro de pistola, du­rante uma rixa 11.0, Congres­so.

Admirador de Ma'rgaretThatcher, Collor não foi ex­plícito sobre seu programa.Ele quer privatizar e liberara economia, contando com

"o choque psicológico" quepode advir da sua eleição.Não esclatece como comba­terá a inflação que está su­

bindo a um ritmo galopante.Fernando Collor de Mello

começou a sua vida política,há dez anqs, quando foi no-­meado prefeito biônico deMaceió, capital da Alagoas.Alguns anos depois assumiu� direção dó grupo familiar:um jrlrnal, uma estação detelevisão e duas emissoras derádio.

Os seus assessores afir­mam que,- se eleito, Collorfará um apelo às "forças so­

ciais progressistas" paraapoiarem sua ação. Impul­sivo e de espírito indepen­dente, o candidato do PRNsó representa uma incerteza:"a esquerda tem receio deCollor pelo seu passado polí­tico; a direita pelo seu futu-'ro", resume um observadorbrasileiro.

entielle

�dQ__Collor I

��n__'à la brésilienne

d'affaires bresiliens, UneéQUlpe de .. faiseurs d'ima­ges "', qui n'a rien à envieraux publicistes de Manhat­tan et de Los Angeles, efl­toure Ie jeune prodlge de Iapolitique 'brésillenne. Sesmeetings sont de vraisspectacles au I'exubérancedu carnaval se mêle ii. Iarigueur d'Hollywood.

Le Figaro: Collor é um demagogo Reagan latino

Pierre RouSSelinTradução Pedro Santos

RIO DE JANEIRO:,., de notre envoyé spécial

P;e.... ROUSSELtN

,Le candida! arrive dans

'une bousculade eHrénee. 11tend les poings en I'air en

slgne de' determination. Lafoule se presse. On veut Ietoucher, I'embrasser, Lebeau Fernando Collor est tephénomene de cette cam­

pagne électorale, Cham­pion toutes catégorieS' dessondages, pur produit de Iamagie médlatlque, ti établitun contact physique avec

son pubhc,

Candidalcc vidéo-clip ..

Ce n'est pas un tribun âIa mode latino-amencaine.Ouand it parle, ii ne prati­que pas d'eftets dramali­

que�: de changem�nl" de II

com os corruptos e os inca­pazes que querem transfor­mar o Brasil num mar de de­sesperança". Este discursoapaixonado só convence o

povão, que infelizmenteconstitui boa parte dos elei�tores brasileiros.Fernando Collor de Mello

é Ronald Reagan de meiotom, e não passa da ironiaà cólera. Ele grita e martelaseus slogans, com o punho _

cerrado. Collor é um mau

orador. Os seus conselheiroslhe recomendaram falar o

menos possível.Dez minutos de palanque,

bastam. Eni compensaçãoadotou um ritmo aceleradoque impressiona, e projetauma imagem de juventude,de energia, de determina-

menos de 30 anos.

"Belo rapaz", atlético,Collor é faixa preta de kara­tê. Identificou a sua imagema uma idéià simples e queagrada aos jovens, de quemele quer fazer-se heroí: "Osmales do Brasil estão ligadosà corrupção de seus gover­nantes e da sua classe políti­ca". Ele se fez' campeão àcaça aos marajás. "Nós va­

mos prender os corruptos",anunciou aproveitando-seda impopularidade do go­verno Sarney, sua principalcabeça de turco.

-

Os discursos do candidatobaseiam-se em slogans sim­plistas e em fórmulas talha­das pela indústria televisiva.Mas, ele não se cansa de re­

petir: "Nós vamos acabar

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Em IS de novembro come­

morou-se os cem anos de vida

republicana e se processa, de­

pois de 29 anos, a escolha dlre­ta e universal, por 80 milhõesde brasileiros, de um novo

presidente. É uma coincidên­cia importante para o país e

que traz algumas inquietaçõese reflexões: o que comemorarnesse centenário'? O que pen­sar do século de vida republia­na cujo terço se passou "emregime de exceção"? O fan­tasma dessa excepcionalida­de, ou seja, de uma ditadurabaseada na força militar, éuma-constante em nossa vida'republicana, que desde sua

proclamação foi vista como

mera quartelada pelos que a

desvalorizavam ,e ignoravama evolução das aspirações re­

pub l i c a n a s . Na sucessãoatual, essa excepcionalidadefunciona como uma espada deDâmocles a influir num voto

aparentemente cada vez maisconsciente de sua importânciana história do país.

O que significa a Repúblicapara nós brasileiros? O termorecobre formas diferentes,pois .vern da Antigüidade gre­co-romana, passando pela"respublica christiana" me­

dieval. .. Em 1776, houve a

primeira concretização repu­blicana na América Norte, e

em 1792, a Primeira Repúbli­ca Francesa, durante o perío­do revolucionário: as duasmarcaram profundamentenosso imaginario cotidiano e

nossas aspirações. Nossa no­

ção de República parece terse fundido com a de democra­cia, baseada nas experiênciasacima, com característicastais como liberdades políticas,império da lei, sufrágio eleito­ral ... universalizados somente

para os cidadãos proprietá­rios.

A prática republicana foimuito diversa e mostra em

cem anos diferentes ordens ju­rídico-políticas. De 1889 a

1930 houve a Primeira Repú­blica, de início presidida pordois militares, depois por ci­vis, eleitos sem voto secreto.Esse regime termina com o

movimento político-militar deoutubro de 30, que instala no

poder o Governo Provisóriode Getúlio Vargas. Em 34houve nova Constituição queprolongou o governo Vargas,por eleição indireta, até 37,quando o mesmo grupo pro­clama o "Estado Novo". Oano 4'5 traz novo golpemilitare nova mudança de regime,com um período de quase 20anos de eleições regulares como voto secreto. Em 64, outrogolpe e novo período ditato­rial.No conhecimento histórico,

DESAFIO

-Brasil festejaos cem anos de

falsa RepúblicaHistoriadora questiona as comemoraçoes

pontos nevrálgicos da históriacontemporânea para a discus­são das rupturas, das transi­ções de um tipo de sociedade

para outro, assim como paraa discussão da democracia.Percebeu-se que a política temseus limites: não se consegue,de uma hora para outra,transformar uma sociedade

por um passe de mágica, comum golpe militar ou mesmo

uma revolução. Há hoje inclu­sive um consenso sobre a lentamudança dos valores, dos há­bitos e mesmo as instituições.Mas há também outro consen­

so: apesar de seus limites, o

campo da política é funda­mental para efetivar transfer­mações, pois nele se explici­tam e se resolvem conflitos detoda natureza. Mudanças es­

trurais jamais ocorrem de for­ma súbita, por mais que as

vontades políticas o desejem!A eleição em questão pode ser

um momento fundamental

para os destinos do país, masnão é uma revolução. ,

Xeste centenário. o que se

den comemorar não é a Pro­clamação da República. Essafoi a ruptura do regime ante­

rior, apresentada oficialmen­te como o fim do processo em

que o país esteve preso às suas

origens coloniais, à monar­

quia. - ao trabalho escravo: a

Abolição teria libertado os es­

cravos, a República igualariatoda a nossa população. todosos homens exerceriam livre­mente sua condição de cida­dãos e/ou venderiam sua forçade trabalho. As elites domi­nantes paulistas. já antes da

República, assumiram a dire­

ção da formação de um mer­

cado de trabalho que hoje.com as alterações de mais decem anos, aí está. Mas, e o

exercício do direito-de cidada­nia para a imensa maioria da

população?A oportuna coincidência

den nos incitar para, em con­

tinuidade com antigas aspira­ções democráticas, travaruma discussão sobre como im­plementar essa república de­mocrática não concretizada,onde todos sejam realmente.cídadãos: na qual as garantiasindivlduais (igualmente pe­rante a lei, liberdade de cren-

o ça, de expressão, de associa­,� çáo) assim como os direitos so­o cia is (a educação e a saúde pu­� blica, a moradia, o trabalho

e sua remuneração condizen­te) sejam realidade para todoo povo brasileiro..

....

.

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\'a\"�' Pacheco Borges

\"a\., Pacheco Burues, historiadora. é pro­fessora da Lniversidude Estadual de Cam­pinas ll"nicamph membro da As.so(.·ja-.:ào:\adonal dos Prulessures L'niv t'rsitoil'i(J� deUistúria tAnpuh r, autora de "(;eluiiuVaruas e a Oligarquia Paulista ".

-

.

,

:" DEZ-89 ZERO" P 3-

', ,

•"1 I'

a ordenação dos acontecimen­tos é uma das funções primor­diais para a abordagem do ob­jeto. Essa cronologia dos regi­mes tem seu sentido óbvio e

uma função explicativa ine­rente, mas também seus limi­tes; ao citá-Ia, e evidenciamossuas diferenças e o que dessasdecorre, não explicamos con­

tinuidades estruturais que se

prolongaram pelo século e queaté hoje impedem, à imensa

maioria de nossa população,o exercício dos direitos essen­

ciais do cidadão. Essa contí- -

nuidade de dominação se per­petua desde o início da vidarepublicana, porém se con­cretizou, logicamente, sob di­ferentes circunstâncias.Ao historiador compete ex­

plicar as transformações e as

continuidades das sociedades;ora, quais são e como se dãoasmudaças sociais? A grande

transformação - sempre ater­

rorizadora para as minoriasdominantes - desde as mudan­

ças que culminaram na Ingla­terra' do século 17 com a "Re­

volução Gloriosa", de 1688,é chamada de "revolução".Foram feitas inúmeras análi­ses sobre o significado dessemovimento assim ç.omo ás re­

voluções Francesa e Russa de1917 e de suas decorrências.Isso por serem consideradas

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I'ISEM-TETO & SEM-MURO

Prefeito descumprepromessa,

. é vaiadoe o povo leva a culpaDia da abertura dos trabalhos

de elaboração da lei orgânica do

município de Florianópolis. Opovo queria entrar para reivin­dicar seus direitos. Dentro da Câ­mara de Vereadores, um pelotâoda Polícia Militar esperava es­

condido dentro de uma sala. Noscorredores, o clima entre os fun­cionários era de tensão. "Não vaientrar ninguém. só quem .tiver'0 crachá". repetiam feito autô­matos.O motivo de toda esta expec­

tativa era a chegada de um grupode "sem-teto", que viria protes­tar contra o não cumprimento deum acordo já firmado pela Pre­feitura, com o aval da Câmara.No dia da abertura solene dos tra­balhos, eles lá estiveram e cobra­ram do prefeito EsperidiãoArnin, também presente, a com­

pra do terreno para alojgr as fa­mílias que vivem na via expressa.O prefeito não deu satisfações e

saiu debaixo de muita vaia.Foi por causa desta "afronta"

ao prefeito, que o (Presidente da

Ir pra onde, Amin?

Câmara de Vereadores. AdirCentil. decidiu baixar uma or­

dem. Só entrariam no plenáriopessoas credenciadas, e cada H­

reador teria direito de credenciarapenas duas pessoas. A lei pegoude surpresa todos os vereadorescom prometidos com as causas

populares. Jalila Achkar. do PV,recusou-se a pegar as duas cre­

denciais. "Isto' é um absurdo, a

ditadura já acabou e as pessoasquerem participar do processo.'ião vou compactuar com isso','.Vitor Schmidt, do PT, tambémestava indignado. "Restriglrammais uma vez a participação dopO\O'·. João Ghizoni, do PC doB. afirmava que ia devolver os

crachás e registrar um protestocm ata.

SEM-TETOEnquanto isso, os "sem-teto"

"e reuniram em frente à Cate­dral, discutindo como entrariamna Câmara para assistir à sessão.Eram mais de 300 pessoas. ElesIcmbraram a falta de palavra doprefeito, que sõ naquela semana

mandou derrubar sete barracos.O acordo estava quebrado. OFundo de Terras criado pela Pre­feitura, com a aprovação da Câ­mara, não estava saindo do pa­pel, Diziam ainda que o dinheiroestava no banco e a prefeituranão 'comprava o terreno. por"questão pohticá".Na Praça XV, os policiais des­

filavam com seus cães e dentroda Câmara havia um pelotão de'soldados. "Eles estão lá dentropara defender o quê?", pergun­tavam os "sem-teto" _ Lembra­vam que, "se os dominantes fe­cham as portas para fazer as leis,com força de polícia, é porquenão estão pensando no povo"."Vamos pra lá", foi adecisáo.E marcharam pela rua com fai­xas e cartazes, gritando palavrasde ordem. Em Florianópolis são

quase 500 famílias sem teto amea­

çadas de despejo, por estaremmorando em áreas irregulares.O grupo avançou rumo à porta

da Câmara, os soldados fecha­ram um cordão e com empurrõesimpediram a entrada. Os "sem­teto" sentaram na entrada doprédio e ocuparam a rua. "Nin­

guém sai daqui sem uma solu­ção", diziam/La em cima, os ve­readores prosseguiam a reuniãocomo se nada estivesse acontecen­do. Só as janelas foram fechadaspara evitar o barulho.

Os vereadores Vitor Schmidtdo PT, João Ghizzoni do PC doB e Jalíla do PY são os únicosque vão solidarizar-se com os\"sem-teto". As lideranças con­

versam com os vereadores. Játêm um documento pronto, que­rem falar com os líderes dos par­tidos. Duas crianças cantam uma

canção que fala da vida dura de

quem não tem casa pra morar.

Só aí a sessão é suspensa. Os líde­res dos partidos decidemconver-:sar. "Foi mais uma vitória da or:ganização do povo, da união das

pessoas em torno da justiça",,

acreditava hone Perassa, do Ca­prom (Centro de Apoio e Promo­ção ao Migrante).

Mas o problema da terra na

capital não está resolvido. A Pre'­feitura comprou um terreno, quevai beneficiar poucas famílias. Orestante vai ter que continuar o

jogo de correlação de forças. Ou­tro grupo, há pouco tempo conse­guiu parar a construção de um

posto de gasolina_ Na área exis­tem moradores que estão sendoexpulsos corn violência. Foi outravitória, só obtida .porque , segun­do suas lideranças, "o movimen­to dos sem-teto está coeso. firmena luta pelo cumprimento das

promessas" .

Elaine Tavares

Depois de 28 anos, cai um trecho de uma barreira de 28 milhas

Redemocratizaçãodo Leste derrubao muro 'de BerlimBerlinensescelebram nos

dois lados

A vassoura democrática quevarre o planeta têm limpado pou­co a pouco a sujeira e os resquí­cios de poeira dexados pelos regi­mes autoritários implantados na

Europa pós-guerra e na Arnéri­ca-milico- Latina.

1\1i1 nov ecentos e oitenta é nOHti o ano. Excluindo-se a questãomilenarmente não resolvida daPalestina, o massacre chinês na

praça da Paz Celestial, as mortescausadas pela máfia narcotrafi­cante colombiana e a insustentá­HI guerra civil salvadorenha ,

1989 foi um bom ano. Pode ser

melhor ainda se o collorido globalnão emplacar em 17 de dezem­bro.O ser humano continua estú­

pido, ludibriando a si mesmo. Fe­lizmente nem tudo está perdido.Eleições presidenciais diretas na

Argentina, no Brasil, no Uru­guai, no Uruguai, no Chile e na

Polónia. Abertura democráticana lJRSS. Conseqüências glas­nostianas nos países do Leste eu­

ropeu com .o rompimen-to de sis­temas po.líticos unipartidários na

Hungria, na Tchecoslovaquia e

na Alemanha Oriental (a demo­crática!). Decididamente o mun­

do clama por liberdade, igualda-

Vma fuga via túnel em 64: nunca mais,

de e fraternidade!Apenas seis dia separam dos

grandes momentos históricos: a

queda do muro berlinense no dia09 e a eleição direta para presi­dente do Brasil em 15 de novem­

bro. Lá, em Berlim, federalistase democráticos assistiram à que­da ideológica do muro que enver­

gonhava a nação alemã. Aqui, noBrasil, assistimos à queda do mu­ro autoritário que sufocava a na­

ção brasileira. Em Berlim sonha­se corn a unificação alemã, no

Brasil sonha-se com a justiça so-

cial, com a erradicação da misé­ria e com a igualdade de oportu­nidades._

Há quem diga que o dia D nãoexiste e sim a era apocalípticaatualmente vivenciada por todosnos. Pois então que o apocalipseseja denso e doce, lento o sufi­ciente para que os homens acor­

dem e derrubem as muralhas queinsistem em ficar de pév-E paraa nova década, axé muito axé.

Murilo Naspolini

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Os grupos que formam a Fren­te são: Exército Revolucionáriodo Povo (ERP), Forças Popularesde Libertação (FPL), Partido Co­munista Salvadorenho (PCS),Exército de Resistência Nacional(ERN) e Partido Revolucionáriodos Trabalhadores Centro-Ame­ricanos (PRTC). A facção majo­ritária hoje é o ERP, que conta'com o maior estrategista da guer­rilha, o ex-estudante de Econo­mia, Joaquin Villalobos, de 38anos. A ERP tem sua origem no

Movimento Estudantil e adota a

tática da insurreição popular -participação direta da popula-

o SEMPAZ I, i

i

Entidades . repudiam massacre

Vários paísescondenam governo'salvadorenho

till grupode ultradireita inva­diu a L'niverxidade Católica da

capital de EI Salvador, no dia 16de novembro, e assassinou seis

padres jesuítas, entre eles o rei­tor, 19mírio Ellacuria, que teveseu cérebro arrancado devido a

torturas que sofreujunto com ou­

tras vítimas. Â direita acusava

'()� jesuítas de colaborarem com

a Frente Farabundo Manti de Li­bertação Nacional (FMLN I, quelançou uma ofensiva à capital,San Salvador quatro dias antes,numa tentativa de demonstrarforça. O atentado se caracterizoucomo represália à Frente que éo pólo oposto ail governo nessa .

guerra civil que já dura 17 anos.

Em repúdio a esse assassinatoe em favor da proposta de uma

solução política para o conflito -

defendida pela FMLN - é queo Instituto Cultural de Amizadee Solidariedade entre os Povos(Icasp) resolveu encaminhar um.abaíxo-assínado a várias entida­des de Florianópolis.

.

Maurício Tomazoní, do Icasp,explica que, a proposta de uma

solução política negociada con­

tém várias exigências, como: o sa-

neamento das Forças Armadas;a transformação da ajuda militardos Estados Unidos - de 1,8 mi­lhões de dólares diários em ajudaeconômica para a reconstruçãodo país e a garantia de socorro

aos feridos, já que a Cruz Verme­lha Internacional e a Cruz Verdeestão proibidas de atender aos fe-ridos da FMLN.

'

A FMLN, que controla a terçaparte do país há sete anos, iniciouuma ofensiva geral contra o go­verno do presidente Alfredo Cris­tiani no dia 12. Segundo a embai­xada americana, a batalbajá ma­

tou mais de I.SOO pessoas só na

primeira semana, Os ataques do

gOHrno não poupam nem os

bairros civis mais populosos, co­mo os de Mejicanos e Cuscatan­cingo, na capital, que foram atin­gido� por bombas de até 250 kg,lançadas (' � aviões de combate.

Estrangeiros - Além dos pa­dres jesuítas, dos 10 sindicalistasmortos e 23 feridos no atentadoà sede da Federação Nacional dosSindicatos Salvadorenhos, os es­

trangeiros são também vítimasda violência. No dia 17 de novem­bro o jornalista britânico DavidMichael Blundy, 44 anos, do"Sunday Correspondent". foimorto por uma bala "perdida"na periferia de San Salvador.Outra estrangeira vítima da

violência foi a norte-americanaBrenda Hubbard, de-41 anos.

Brenda estava cumprindo missãoem favor dos direitos humanos

junto ao Comitê de Mães e Paren­tes de Prisioneiros, Assassinadose Desaparecidos Políticos de EISalvador (Comadres). Ela e mais

oito pessoas foram presas pelapolícia alfandegária, quando estainvadiu uma das sedes do Coma­dres. Os policiais torturaram to­do o grupo e os fotografaram em

frente às paredes, que estavamcobertas com propaganda daFMLN. Além das torturas, Bren­da ainda foi estuprada.

,

Com a dívulgaçâo desses fatos,hou ve manifestações em favor dopovo salvadorenho em váriaspartes do mundo. No Brasil, o

governo não se pronunciou, masa Ordem dos Advogados do Bra­sil (OAB), a Associação Brasilei­ra de Imprensa (ABI) e o ComitêTeotônio Vilela mandaram uma

moção de repúdio ao governo deEI Salvador. Em Florianópolis,o Icasp enviou dois telegramas deprotesto: um ao Itamaraty e ou­

tro ao palácio presidencial deCristiani.Em 20 cidades norte-america­

nas também realizaram-se mani­festações em apoio à solução polí­tica pregada pela FMLN. A Eu­ropa, através da Anistia Interna­cional, organizou protestos emfrente às embaixadas de EI Salva­dor em todos os países do conti­nente a favor do povo salvado­renho, contra Tomasini.A FMLN é reconhecida em di­

versos países como México, Dina­marca, Suécia e Holanda. Mes­mo os Estados Unidos - que fi­nanciam o 'governo Arena, deCristiani - há 400 entidades desolidariedade. O Icasp de Floria­nópolis é ligado ao Comitê de So­lidariedade aos Povos do 3� Mun­do, e é formado por entidades sin­dicais e partidos políticos. Este é o argumento da direita salvadorenha

Entenda El Salvador.Farabundo Marti foi assassi­

nado justamente com 30 mil cam­poneses ao liderar uma revoltapela reforma agrária em 1932.

"Marti era membro do PartidoComunista Salvadorenho, foiamigo pessoal de-Sadino e até lu­tou a seu lado na Nicarágua. A·Frente que leva seu nome é a

união de cinco. grupos de esquer­da de EI Salvador e foi criadaem 1980 - oito anos após o inícioda Guerra Civil.

ção. A segunda força dentro daFrente é a FLP, que é uma dissi­dêncía do Partido Comunista queprega a guerra popular prolon­gada. -A estratégia conta apenascom o apoio logístico da popula- �

ção, sem sua participação diretano confronto.

No governo está a Aliança Re­publicana Nacionalista (Arena),que elegeu Alfredo Cristiani em19 de março deste ano para súbs­tituir Napolean Duarte, da De­mocracia Cristã. A Arena é o

mesmo partido domajor RobertoD'Abuisson, - que foi ó man­

dante do assassinato do padreprogressista Monsenhor Rome­ro, em 1981 - .tem corno refrãode seu hino "Pátria sim, comu­nismo não".A oligarquia salvadorenha é

formada por 14 famílias e recebeuma ajuda diária de 1,8 milhõesde dólares e 55 assessores milita­res, ambos vindos dos EstadosUnidos para manter a guerra ci­vil. Para arrumar soldados o

exército do governo invade al­deias onde recruta à força garo­tos a partir de 13 ano de idade.

TextosDeise Freitas

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'"'

FICÇAO

Impasse. na cobertura da ciênciaram longos anos de vida docientista, mas em sua inabi­lidade em abordar este tipode entrevistado.A presença de André-y­

ves Portnoff foi valiosatambém para demonstrar oquanto a experiência brasi-

-

leira nesta área de Jorna­lismo ainda é primária. Acomunidade científica dequalquer país desenvolvidorespeita e até reconheceplenamente a importânciadadivulgação científica porjornalistas, ao invés de ten- _

tar substituí-los em suas

funções. Depoimentos demédicos e pesquisadores'brasileiros forneceramsubsídios para análises decoberturas jornalísticas detemas como a Aids e as va­

cinas anti-meningite, queefetivamente "mexeram"com seu público. Ainda quea abordagem sobre a Aids

pareça ser completa e

abrangente, à vista de ummédico ela negligencia di­versos aspectos e bate insis­tentemente nas mesmas te­

clas, nem sempre nas maisimportantes.A Associação Brasileira

de Jornalismo Científicoaproveitou o 2� CongressoI realizado sete anos apóssua primeira edição em

1972, para anunciar a

abertura de inscrições paraestudantes de Comunica­ção. Mediante o pagamentode uma taxa, o associadopassa a receber o boletiminformativo da entidade.Desta forma, ainda duran­te a fase de graduação, os

aspirantes a Jornalismo po­dem tomar consciência quea maioria das matérias de­veria ser ácompanhada porum box com a abordagemcientífica do assunto. Asprovas que a ciência ofere­ce têm a força de desmas­carar opiniões inconsisten­tes e fariam a festa aos se­

rem confrontadas com as

baboseiras que hoje ocu­

pam lugar nos jornais.

Jornalismo nãotem habilidade

com o tema

-

Não hã nada que justlfi­.

que a omissão da maioriados jornais brasileiros no

que se refere à divulgaçãode matérias de cunho cien­tífico e tecnológico. Olnsti­tuto Gallup de Opinião PÚ­blica já indicou que 16 mi-

, lhões de brasileiros afir­mam ter interesse em notí­cias desta natureza, atravésde um levantamento reali­zado em 1987. Foi para dis­cutir as razões desta lacunano jornalismo nacional queprofissionais de comunica­ção e cientistas reuniram-seem outubro, em São Paulo,para a segunda edição do

Congresso Brasileiro deJornalismo Científico.

O evento, promovido pe­la Associação Brasileira deJornalismo Centífico, ser­

viu para que assessores deimprensa, repórteres, re­datores de empresas jorna­lísticas e cientistas confron­tassem suas críticas mútuase detectassem onde estão os

problemas que impedem o

fluxo da informação cientí­fica na sociedade. Apesarda inevitável troca de far­pas, os 88 participantes saí­ram com uma certeza: a de­ficiência da cobertura jor­nalística na área de ciênciae tecnologia tem a ver com

a formação insuficiente dosprofissionais de comunica­ção. Escrever sobre ciênciaexige mais que técnica alia­da a bom senso.

No Brasil não existe se­

quer um curso de especia­lização em jornalismo cien­tífico. A única universidadeque promove o ensino daespecialidade é o InstitutoMetodista de São Paulo.Seu mestrado em Comuni­cação Científica atende aos

interesses de formação depesquisadores neste cam­

po, mas de forma algumainstrumenta jornalistasque pretendam trabalhardentro das redações.

o

"Sem preparo, o jorna­lista é controlado pelo dis-

o

O

O

Q-

curso científico", observa o

vice-diretor da ASBJ, De­mócrito Moura, que editao informativo da Associa-

o ção e trabalha no Jornal daTarde. Na medida em queos redatores não conse­

guem efetuar a tradução daterminologia técnica e dalinguagem dos cientistas, osjornais passam a argumen­tar que não vale investir emmatérias incompreensíveispara o público leigo. Estáconfigurado o círculo vicio­so.

Outro obstáculo à evolu­ção do jornalismo científicoé o conservadorismo com

que sempre foi tratado.Quando um jornalista optapor uma abordagem maiscriativa do tema, cientistase leitores reagem contra a

ousadia na linguagem e no

tratamento de um assunto"tão sério". Veículos con-

nizados para defender seusdireitos profissionais e para.garantir a repercussão dosresultados de seu país nestecampo, conforme foi rela­tado pelo editor da revistáfrancesa "Sciences &Technologie", André-YvesPortnoff, No Brasil, a uni­dade interna da .categoriaé inviabilizada pela richahistórica entre jornalistasde empresas-e assessores deimprensa dos Centros dePesquisas. Estes reclamamdo não-aproveitamento dosreleases enviados e de aindaterem que arcar com a fú­ria dos pesquisadores queinsistem em apontar "dis­torções" na menor das no­

tas que envolvem seu nome,às vezes, com razão. O pro­blema não está no jorna­lista apressado que em

meia hora pretende saberde investigações que toma-

ceituados como a Folha deS. Paulo ainda mantêm a

prática de, em muitos ca­

sos, reservar a redação denotícias sobre a produçãocientífica e tecnológica aos

próprios pesquisadores, aoinvés de atribuir a tarefaa um profissional treinadoexatamente para este fim.

Até na China os jorna­listas científicos estão orga-

Heloisa Dalanhol

o endereço da Associação Bra­sileira de Jornalismo Científico éRua Francisco de Morais, 137 -

Chácara Santo Antônio, SãoPaulo, Capital. CEP 04714. Fo­'ne: (011) 548-1649.

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Luta perdida no segundo. round

Depois de 100 anos de Re­pública sem povo, o primeiroencontro de dois candidatosao segundo turno das eleiçõespresidenciais - tansmitido ao

vivo por um "pool" de emis­soras de rádio e televisão no

dia 3 de dezembro - revelouporque Collor de Mello (PRN)fugiu de pelo menos quatrodebates no primeiro turno. Nocampo das idéias é manco,mas usa meias palavras nos

meios de comunicaçáo como

multe para atacar a canela doadversário. Se debate decideeleição, Lula (da Frente BrasilPopular) será o futuro presi­dente do Brasil. .

Collor não conseguiu escon­der a sua insegurança atrásdo terno escuro, do cabelobem penteado e da "pose deestadista". Tentou conter os

nervos com um bom tom devozmonocórdio, mas o cons­

tante piscar de olhos denun­ciava que as palavras não es­

tavam muito claras no seu te­

leprompter cerebral. Cinismoà parte, o candidato não foitão mal assim. Se estivessecerto da vitória, não teriacomparecido ao debate.Agradecer a Lula um su­

posto "elogio" ao governadorde Alagoas e ignorar os 57 diasde críticas da Rede Povo foi,no entanto, começar um deba­te com as mesmas mentirascom que Collor alimenta sua

campanha. Mentiras que re­

petiu durante as 2h47min deduração do programa e queextrapolaram o limite do ridí­culo quando o ex-governadortentou desmentir uma foto­grafia em que aparece fazen­do um gesto agressivo duranteum confronto com militantesdo. PDT, PT em Niterói. Foiunia banana para os telespec­tadores.

Nos dois primeiros"rounds" os candidatos estu­daram um ao outro, boxeandodentro das linhas programá­ticas. Collor parecia progra­mado para vomitar mímeros,teoremas tecnocráticos discu­tidos com a "sociedade brasi­leira" , formada por 400 técni-

.

cos. Os colloridos devem tertido orgasmos diante da inteli­gência artificial do garoto-

Lula venceu o 1�.

debate, mas

perdeu o decisivo

»:

propaganda dos sonhos dasagências de publicidade. Atensão fez Lula escorregar nosrevides aos primeiros ataques

. rasteiros do adversário. Ocandidato da Frente não res­

pondeu às surradas críticascontra as prefeituras adminis­tradas pelo PT. Passou os doisprimeiros blocos rebatendo"inverdades" desferidas pelocandidato do PRN.

Já descontraído Lula pas­sou à ofensiva no terceiro blo­co, sobre "Justiça e Democra­cia". Avisou que, se Collorcontinuasse "falando inver­dades, sairia dali sendo cha­mado de Pinóquio pelos teles­

pectadores". Mostrou fotoscom cenas de violência prota­gonizadas por seguranças doPRN, criticou o autoristaris­mo à 1 '; Hitler do seu oponentee defe.ndeu as alianças.

"Nandinho do PÓ" só con­

seguiu gaguejar quando Lulalembrou das contratações ir­

regulares feitas pela prefeitu­ra de Maceió na sua gestão.Não convenceu, também,'quando Lula quis saber comoaumentaria de fato o poder decompra do salário mínimo.Collor tentou desmoralizar o

candidato da Frente ressusci­tando a farsa do "Caso Lube­

ca", mas foi nocauteado porLula: ':£u sabia que meu ad­versário era collorido por forae Caiado por dentro" .

O debate não trouxe fatosnovos, como era esperado.Além das farpas e martelaçõesprogramáticas, só confirmouque Lula é um democrata,aberto às negociações corn as 1

forças que resistiram à dita­dura militar, e que Collor agecomo um andróide de 100 mi­lhões de dólares (o custo desua campanha 'no primeiroturno), que tenta projetaruma capacidade de fazer tudosozinho, nos moldes do"prendo e arrebento". Collo­ridos e lulistas gostaram do

desempenho dos candidatos,mas não é preciso nem recor­

rer à pesquisa do Datafolhapara comprovar que Luladerrotou o marajá das Ala­goas. Logo depois do debate,o ex-presidenciãvel e ex-go­vernador Leonel Brizola(PDT) anunciou que "subiria.aos pal�nques" da Frente.Brasil Popular, e até o inde­ciso tucano Mário Covas mi­grou para a esquerda, con­vencidos de que Collor devemesmo "morrer na praia" nodia 17 de dezembro.

2� TURNO

/

Mentiras convicentes Lula: excesso de cautela

Surge um campeão de audiência. ,

.

E veio o segundo turno dapropaganda eleitoral, inva­dindo, coin Lula e Collor, 40minutos por dia, a telinha e

as ondas do rádio dos eleitoresbrasileiros. Pode parecermentira, mas o horário eleito­ral do primeiro turno na TVsó foi superado em audiênciapelos debates da Bandeirantese do SBT. Nesta etapa o pro­grama tem tudo para- repetiros mesmos ou ter maiores ín­dices. A guerra eletrônica foiretomada na terça-feira 28 dedezembro.Lula e Collor gastaram me­

tade dos dez minutos que cadaum tem direito apelando paraa fidelidade eleitoral. Collorabriu o programa esbanjandoefeitos especiais e exibindo a

estatística que the foi favorá­vel no primeiro turno: lide­rança nas urnas de quase to­dos os estados. Com um visualimpecável, posou no vídeo co­

mo o Juscelino Kubistcheckpós-moderno e como pidão de

votos, tornando a usar o jar­dão "I need you".

"Agora é a vez do povo".Começa o programa da Fren­te Brasil Popular e do Movi­mento Lula Presidente. Anto­nio Fagundes, o galã da RedeGlobo (agora da Rede Povo),foi escalado para tirar um sar­

ro de quem não acreditava:"Oi nós aqui traveiz". Lula,agora apelidado de "sapobarbudo", surge na telaquente do segundo turno cer­

cado por Brizola, Freire, Ar-. raes e Covas, uma aliança quefinalmente se materializou.Ao final dos 10 minutos, a

Frente/Movimento tira maisum sarro: mostra Collor cer­cado por Mario Amato e ou­

tros empresários da Fiesp,

O segundo programa eleito­ral (dia 29 de novembro) nãofoi muito diferente. Lula falouda distribuição de renda e·

mos!rou o jogo de esconde-es-

conde de Collor com AntonioCarlos Magalhães, RobertoMarinho e outros colloridos-'(ou seriam píllantras"). Co­llor não deixou por menos e

abriu seu segundo programacom o que considera camba­lacho. Mostrou Lula, Brizola,Covas, Sarney, Jorge Murade outros pendurados no mes­

mo cacho de bananas.'

Esconde-esconde e camba­lachosão a parte "Xuxa" do

programa eleitoral, um pratocheio para os indecisos Se per-

-

derem de vez eu optarem pelomais engraçado. Começou o

segundo round.Até a hora de votar serão

18 dias, 720 minutos, 12 horasde p�ograma no rádio e na

'LV. E a Rede Povo contra a

Rede Globo. O' "Sapo Barbu­do" contra o JK pós-modernoou Pillantra Collorido.

Rosane Porto

/

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ENFIM

Título garante voto ... ., .que vai pra urna ... ...e segue pra apuração Schuster: empenho

Um direito recuperado após'I'

29 anos de inquieta ·espera

Momento crítico: a fiscalização

À primeira vista aquela quarta-feira po­deria parecer um feriado comum. O calça­dão da Felipe Schmidt estava deserto, o co­mércio fechado, os ônibus partindo lotados

rumo às praias. Os habitantes da "Ilha da

Magia" aproveitaram para curtir o sol e

as belezas naturais de Florianópolis. Masas aparências enganam: qualquer pessoa

que prestasse um pouco mais de atenção sen­tiria um certo clima de expectativa, um ner­

vosismo que, com certeza,' não se devia à

proibição do consumo de bebidas alcóolicas.O dia 15 de novembro de 1989 podia ser

tudo, menos um dia comum. A datamareou,muito mais que OS 100 anos de República,o reencontro da população brasileira com

as urnas que levarão ao Palácio do Planalto,no dia 15 de março de 90, o primeiro presi­dente eleito diretamente em quase 30 anos.

Em Floripa, como de resto em todo o país,a votação foi tranqüila. A maior parte do

eleitorado votou ou justificou seu voto pelamanhã. A tarde, o dia quente e ensolarado

pedia um banho de mar e o movimento nas

seções eleitorais e no Correio diminuiu bas­tante.

Cenário de uma democracía genuína

Os poucos cidadãos que ficaram peram­bulando pelas ruas cruzavam, esporadica­mente, com policiais ou com grupos de em­

polgados militantes fazendo sua boquinha ...de urna. De vez em quando eram importu­nados pelas equipes de reportagem, que ron­davam a cidade atrás de q_ualquer fato quepudesse ilustrar, com precisão, o momento

histórico pelo qual o país passava.Aliás, tocando no assunto, a imprensa es­

tava ouriçada: flashes ao vivo iam para o

ar a toda hora, páginas de revistas e jornaiseram reservadas pra a cobertura das elei­

ções. Em meio a esta febre por informações,algumas enquetes com "populares" foramfeitas e as respostas eram as mais divergen­tes. Manifestaram-se os esperançosos, os

pessimistas, os "sei lá", os "vamos ver no

que dá", os janistas arrependidos, os brizo­listas, petistas, covistas, malufistas, collori­dos ... enfim, a convivência pacífica dos

opostos, característica básica da democra­

cia.Às 17 horas as urnas foram lacradas e

a tensão eleitoral se concentrou nos locaisde apuração: no ginásio do SESC, a 12� zona,

e no ginásio do Colégio Catarinense, a 13�zona. Os trabalhos de escrutínio mobiliza­

ram fiscais, políticos, imprensa, militantes,escrutinadores convocados e, é claro, a Jus­tiça Eleitoral.Durante mais de seis horas o movimento

de contagem e fiscalização de votos foi inin­

terrupto, fazendo com que Florianópolis ti­vesse uma ds apurações mais rápidas' dopaís. Na primeira hora da madrugada do­

dia 16 encerraram-se os trabalhos de escru­

'tínio, com a vitória de Brizola. Apesar doresultado, enquanto o pessoal que participouda apuração ia deixando o ginásio do Catari..

nense, militantes simpatizantes do PT canta­

vam alegremente suas palavras de ordem,talvez vislumbrando a futura passagem deLula para o segundo turno.Em Florianópolis o dia 15 chegava ao fim,

junto com o primeiro turno da eleição presi­dencial, mas deixava atrás de si uma liçãode maturidade política. Além de uma irresis­

tível vontade de beber cerveja!

Militantes e

adesões foram

armas do PTOs militantes da Frente Brasil Popular realiza­

ram várias carreatas pelo centro de Florianópolispara comemorar a ida de Lula para o segundoturno, logo após o TSE informar a sua virada

sobre Brizola. Segundo Cláudio Schuster, asses­sor de imprensa do PT, as carreatas não foram

só comemoração, mas sim trabalho de campa­nha. Schuster enfatizou que a campaha da FrenteBràsil Popular já ganhou as ruas para o segundoturno e com a força dos militantes de outros parti­dos, promete derrubar a candidatura de Fernan­do Collor de Mello.

Já na sexta feira, 17 de novembro, a FrenteBrasil Popular realizou uma ato no calçadão paracomemorar a vitória da esquerda. Nesta come­

moração estiveram presentes também, militantesdo PDT e do PCB. 'No sábado à noite, a Frentefez uma festa (mais uma) na União Catarinensedos Estudantes (UCE), onde estavam presentesos eleitores de Lula e partidários de outras cand]­daturas - que agora vão apoiar a de Lula. Afesta estava muito animada, mas quem não gos­toumuito foi a vizinhança que convocou apolícia.Mas nem a PM estragou as comemorações: o

volume da musica foi diminuído e a festa rolou

até a madrugada.

Mas nem só de festa sobrevive a candidatura

Lula. Na reunião da Executiva Nacional do PT,realizada no dia 20 em São Paulo, o partido dei­

xou claro que não abandonará os treze pontosque são a base da campanha. Os outros partidosque se juntarem à Frente, farão movimentos de

apoio, com propostas que poderão ser incorpo­radas ao programa já existente. Segundo Vilson

Santin, presidente do PT em Santa Catarina,"as alianças serão feitas em cima de propostas,mas todas devem ser coerentes com as que a

Frente vem mostrando durante toda a campanhado primeiro turno" .

Segundo Cláudio Schuster, desde que o TSEanunciou que Lula ia para o segundo turno, mili­tantes de varlos partidos foram ao comitê buscarmaterial de campanha. Além disso, 'nesta segun­da fase, precisa-se de muito mais gente na rua

para o corpo-a-corpo e a formação de novos comi­tês. Agora, concorrendo com um só candidato,talvez fique mais fácil, ja que as propostas deLula e Collor são totalmente antagônicas. ParaVilson Santin, a campanha não terá muitas difi­

culdades, pois a classe trabalhadora já votóu na

esquerda no primeiro turno. Além disso, Santindiz que os eleitores de Maluf, Afif e de outros

candidatos da direita não votaram em ideologiae sim na simpatia que tinham pelo candidato.

"Agora',' completa, "precisaremos trabalharem cima desses eleitores, fàzer campanha de mas­sa, com contato direto com a população".

-

Além de militantes, várias lideranças políticasde outros partidos já declararam apoio à candi­datura de Lula. E o caso do vice-governador Ca­sildo Maldaner, que declarou que vota em Lula,mas não definiu ainda se fará campanha publica­mente. Já o senador Dirceu Carneiro e o depu­tado federal Wilson de Souza, ambos do PSDB"e Nelson Wedekin, do PMDB, declararam apoioe disseram que vão fazer campanha.

Sílvia PavesiPedro Saraiva

A chuva intensa não dispersou o público que foi ouvir Lula e seus aliados

São Pedro colloriuO comício de Luís Inácio Lula da Silva a primeira estrela a brilhar". Q episódio

em Florianópolis reuniu cerca de 20 mil pes- curioso da noite foi o casamento que aeon­

soas, que enfrentaram uma forte chuva na teceu na catedral, atrás do palanque, quan­noite de sexta-feira, dia 1� de dezembro, pa- do a noiva declarou que considerava Lula

ra ouvir o candidato da Frente Brasil Popu- seu padrinlto.lar. Florianópolis foi a última cidade de'San- Varios políticos�discursararn apoiando o

ta Catarina visitada por Lula, antes do se- candídato.do-P'I'.. entre eles o ex-eandídàto

gundo turno da eleição, mas a imprensa local do PCB, Roberto Freire, o presídente está­

não deu destaque ao fato, apesar do grande, dual doPDT, Manoel Dias, o senadorNelson'número de jornalistas presentes. , Wedekin (PMDB) e os deputados FranciscoA Frente Brasil Popular organizou um Küster e Vilson" de Souza (PSDB). Também

comício-festa no Largo da Catedral, com a falaram participantes da "novembrada",

participação de diversos artistas, que sere- que em 1979 puseram o general Figueiredovezaram no palanque depois das cinco horas e o ministro César Cals para correr e foramda tarde. Aos poucos, formou-se uma multi- enquadrados na Lei de Segurança Nacional.dão, que acompanhava o ritmo da música O candidato a vice na chapa da FrenteBrasil

agitando as bandeiras do Brasil, do PT, do Popular, José Paulo Bisol, também fez um

PC do B e de outros partidos que apóiam discurso.

a candidatura de Lula. Ao anoitecer, o ator Lula chegou ao comício. depois das nove

Ademir Rosa deu um toque poético à mani- e meia, debaixo de chuva e fogos de artifício,festação, dizendo ao público: "Agora, olhem acompanhado do presidente nacional do PT,para a esquerda e vejam, ao lada da Lua, deputado Luiz Grushiken. Muitosmilitantes

e jornalistas esperavam o candidato, que te­

ve dificuldades em chegar ao palanque. Lulapôs na cabeça o capacete de um mineiro

da Companhia Brasileira Carbonífera de

Araranguá (CBCA) e foi aplaudido pelamultidão.

No discurso, Lula enfatizou os compro­míssos do PT e da Frente Brasil Popularcom a reforma agrária, a suspensão do paga­mento da dívida externà e a democracia.

Disse que queria ver todos os trabalhadores

"com um bom salário, uma boa casa, poden­do tomar uma cerveja depois do expedientee ir à praia no fim-de-semana", vivendo co­

mo a classe média. E pediu a união das forçasprogressistas contra a direita e as elites, queapóiam Fernando Collor de Mello.

Robert Willecke

)<

A máscaracedeu espaçopara ouviro discursocontundente

A concentraçãodos eleitores

diagnosticavao

candidato

o eleitor mirim resistiu incólume na frente do palanque

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Mas a foicee o marteloainda assustam

Comunista. Esta palavra ain­da assusta muita gente. Mas hojeem dia o mito mais forte parecenão ser mais o de que "comunistacome criancinhas". Na campa­nha, para a eleição presidencialdo ,l.Íltimo dia 15 de novembro;o candidato - comunista - Ro­berto Freire, procurou combateros preconceitos que sofre essa

corrente política.A guerra ideológica contra o

comunismo foi intensificada du­rante 01' 60 dias de propagandaeleitoral gratuita no rádio e na

TV. As mudanças recentes no

mundo socialista deram o tomdas acusações não só contra o

PCB, mas também contra qual­quer partido de proposta socia­lista. A cor vermelha foi usadacomo símbolo do comunismo énão faltaram acusações de que as

bandeiras - vermelhas - de al­guns partidos substituíriam a,

•bandeira nacional. O que nãodeixa de ser uma nova versão dahistória de comer criancinhas.O aposentado Antônio Silva,

59 anos, considera o candidatodo Partido Comunista Brasileiro(PCB), Roberto Freire, uma

"ótima pessoa", mas lembra que"dizem que o comunismo não

presta", O vendedor Nilton Ro­sa, 41, está ente esses: "se o Frei­re for eleito, estamos todos perdi-'dos". E a aposentada JuventinaFarias, 71 anos, não tem mais dú­vidas: "não sei o que é comu­

nismo, mas sei que o mundo vaificar ruim".A força dos mitos que cercam,

o comunismo não pode ser subes­timada. Angela Melo, 18 anos,acredita que "com o comunismoa gente não' teria mais lazer e o

PRECONCEITO E EXPECTATIVA

povo não pararia de trabalhar".Ou então, como suspeita um ven­

dedor de calçados chamado Pau­lo, 20 anos, que não quis infor-.mar seu sobrenome, "com o co­

munismo o mundo só ficaria em

greve" .

Mas existem aqueles que con­

seguem ter opiniâo menos pre­conceituosa e até simpática. A la­vadeira Marta de Souza , 41anos,' acha que "Freire poderiamudar o Brasil". E o bancárioGilberto Moritz, 30 anos, apostanos bons ventos da perestroika,"que está sendo muito boa paraa àtualização do comunismo". Jáo servente João Simão, 53 anos,vê o PCB como uma opção paravotar "caso os partidos que esti­verem no poder fracassem". Atémesmo adversários políticos, co­mo o secretário do Partido daFrente Liberal (PFL), de Bigua­çu, Hermes de Azevedo, 29 anos,reconhecem que "Freire está en­

tre os mais- qualificados". Paraele, no entanto o PCB necessitaconstruir uma estrutura maisconsistente para poder crescer

eleitoralmente.A demonstração mais evidente

de que o PCB, com a candidaturaRoberto Freire, tem vencido pre­conceitos, está na declaração domédico Marivaldo de Assis, 4'0anos, pertencente ao diretório doPRN de Biguaçu, partido do can­didato ·Collor de Mello, acusadopor seus adversários de servir defachada moderna para a velha di­reita: "a candidatura de RobertoFreire deu impulso não só parao PCB, mas para a esquerda".Religião - Acreditar em

Deus, no Brasil, parece ser requi­sito indispensável para candida­tos a qualquer cargo público (queo diga Fernando Henrique Car­doso, cuja derrota à prefeiturade São Paulo foi atribuída ao fatode ter declarado, na TV, que nãoacreditava em Deus). Na verda­de, esta é uma questão funda­mentai para grande número deeleitores. Não é difícil.encontrar

quem possa tornar isto uma realidade .

•É o caso de Benta de Assis e de seu Rafael. Benta trabalhacomo servente da UFSC e seu Rafael vende pipocas no pontode ônibus da cidade Universitárià. Ele não votou no primeiroturno porque, além de não conhecer os candidatos nem ter

assistido ou lido nada à- respeito deles, o seu título está em

Imbituba. Seu Rafael acredita que não vale a pena gastar seudinheiro, que já é pouco, só para ir votar, preferiu justificarno correio.

Freire no comício de Lula: modernidade

vigários, principalmente em ci­dades pequenas, como Biguaçu,que ainda recitam velhos chavõesda década de 60: "a religião corresérios riscos com um comunistano poder".O agricultor Roque Orso, 42

anos, está convicto: "sou católicoe

.

nós temos de votar ém gentecatólica". E mesmo eleitores quese dizem sem religião, como Pau­lo Oliveira, 22 anos, acham que'''0 presidente tem que acreditarem Deus". O assunto torna-seainda mais grave quando as opi­niões são dadas por seguidoresde seitas pentecostais, como Car­los Rodrigues, 27 anos, que sente"raiva" pela ousadia de um co­

munista pretender disputar a

presidência: "Roberto Freire éum ateu hipócrita que não crêem si próprio", afirma. E adver­te que "a palavra de Deus conde­na o comunismo". A evangélicaRosângela Silva teme pelas igre­jas que fechariam num governocomunista "por não poderem pa­gar as altas taxas que seriamobrigadas". E arremata: "o po­vo fala que só gente burra votaneles". Ela votou em Paulo Ma­luf por causa de suas posições an­ti-comunistas.Socíalismo-- É difícil encon­

trar alguém que saiba exatamen­te o que significa socialismo e co­

munismo. Mesmo sem-saber exa­tamente o que é uma e outra coisaou mesmo quais as diferenças e

Comunismo não' dá mais cadeia-r

Promessas de campanha vistas com muito ceticismo por eleitoresA campanha presidencial está de novo nas ruas e em meio'

à festa dos panfletos e todo tipo de propaganda, o eleitor pareceainda estar confuso. Nas ruas, a expectativa de mudança mistu­ra-se às dúvidas diante de tantas propostas e' promessas.A funcionária da UFSC, Fátima de Aquino, apesar de ter

anulado seu voto nas eleiçôes do primeiro turno, confiava na

vitória de Brizola, do PDT. Para a eleitora, ele seria capazde fazer algumas mudanças, principalmente na economia. Fáti­ma não está satisfeita com o resultado de 15 de novembro e

por isso vai anular seu voto novamente. "Espero que depoisdessas eleições o Brasil melhore pelo menos 0,5%". . .

Já Ana Cristi, estudante de letras na UFSC e pr ofessora.

primária, aposta numa mudança, não só na economia, mas

no sistema. Para ela, a mudança institucional no Brasil, seriaum processo lento, '.'mas não impossível". Ana aposta no candi­dato do PT, Lula. Na sua opinião, Collor não tem interesseem mudar muita coisa.

As expectativas convergem para um ponto em comum: mu­

dança. Mas os próprios eleitores não sabem ao certo o quesignifica esta mudança. e corno ela deve ser feita. Apenas espe­ra-se .urn novo país após as eleições, com uma nova economia

e uma nova política. O Nível de informação a respeito dos

programas dos partidos e do conhecimento dos reais problemase suas respectivas soluções, por parte .dos eleitores, deixa a

desejar. Por esta razão algumas pessoas tendem a se apegarna pessoa do candidato e achar que qualquer um deles podecriar um país novo em cinco anos ou até menos.

.0 presidente do diretório municipal dó PFL de Florianóplis,Miguel Sedrez, diz que uma mudança só deve ser esperadapara seis meses após a posse do novo presidente e que o povonão deve aguardar um milagre. �'O povó.brasileiro ainda tem

medo da mudança e por isso prefere Collor, pois vê nele uma

mudança sem perígo. A esquerda para eles, ainda é um bichode sete cabeças". Miguel afirma que o PT tem propostas inviá­veis como' o não pagamento da dívida externa.A respeito de um mudança no sistema Miguel Sedrez afirma:

"não se passa de capitalismo para socialismo por decreto nem

por lei".Só que depoisde tanto esperar por uma melhora em todos

os sentidos, os brasileiros parecem cansados e desespei ançosos,Os trabalhadores, que sempre foram a classe menos privilegiadano Brasil, estão querendo ver suas vidas melhorar, e procuram

,"-

...

Benta afirmou confiar em Brizola, do PDT, para melhoraro país e esperava que ele ganhasse, mas agora não sabe em

quem votar. Disse que não tem mais esperança que as coisasmelhorem. "Dizem que o Lula é pobre e pode fazer algumacoisa por nós. Eu espero que melhore e quem assuma façaalguma coisa de ·bom" .

e semelhanças, é visível uma acei­� tação maior' para o socialismo.B A professora do 2� grau, Julieta:l' dos Reis, 26 anos, acha' que "o* socialismo é o regime ideal para�vP Brasil". O lavrador José Lins

� Cunha, 51 anos, que acredita que:ii o comunismo é ditatorial, prefere

o socialismo, "um regime ondeo governo produz para a socieda­de". Existem também aquelesque não gostam nem de um nem

de outro, como o motorista deônibus José Silva, 34 anos, paraquem "socialismo é bom para fi­lhinho de papai".Contra-inf'orrnaçâo - "Não

deu na Rússia, a Polônia estácaindo fora e na China mataram

os estudantes", analisa.o vende­dor Waldemar Hofmann, 57anos. Mesmo tendo certeza de játer ouvido falar em Karl Marxna TV (" não é alguém ligado àpolítica externa'?" ou então com

alguma participação na queda domuro de Berlim, "não foi'?"), eleincorpora o noticiário das mu­

danças no leste europeu à visãoque tem da candidatura RobertoFreire no Brasil.A junção dos preconceitos,

com a leitura apressada e descon­textualizada dos recentes aconte­cimentos históricos, talvez ajudea explicar a votação recebida peloPCB: 1 % do total dos votos. Tal­vez um pouco mais, se for possí­vel avaliar quanto dos votos daFrente Brasil Popular (que apóiaLula), podem ser creditados ao

PC do B, o outro partido comu­

nista.'

Esse quadro do primeiro turnocertamente terá cores ainda mafsfortes no segundo. Fernando Co­llor e os setores que o apóiam pro­vavelmente insistirão em acusar

Lula de "radical e perigoso",adicionando, como prova e refor­ço da idéia,' que ele é "apoiadoe influenciado por comunistas".

ReportagemOzias Alves Jr.

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ReportagemChristiane Balbys

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REAÇOES

Polarização entre estrangeiros

Fator "ex-namorada" nocauteou Lula

Tesoura-press no JB'

novas democracias ou para os O estudante identificado

Mesmo sem votar países em fase de mudanças com a esquerda acha justa a

políticas. O evento serviu de "briga" de Lula pelas mu-

eles escolheramexemplo para muitos países danças no país, -e solidariza-seque pregam reformas 'e aber- com as propostas de governoturas políticas, mas relutam do candidato. O outro tam-

seus candidatos quando se fala de pluralismo bém considera justas as pro-partidário, filosófico ou reli- postas sociais da Frente Brasilgioso. Alguns admitem a for- Popular, mas entende que

- O meu candidato é Paulo mação de agremiações ou as- ainda não é chegada a vez desociações de convicções dife- Lula governar o Brasil, "Ele

Maluf', Se eu fosse votar não rentes, mas a superestrutura tem ainda muito que apren-hesitaria em escolhê-lo. Ele é mantém-se a mesma, ou seja, der; precisa solidificar a sua,o melhor de todos os candi- a formação política no poder postura política" diz. Já umdatos. Entende muito bem da ganha o caráter vitalício. Os padre estrangeiro receia quepolítica, é competente e sabe outros partidos ficam como fi- "se O Lula chegar ao Planaldofazer o "jogo de cintura". No gurinos políticos ou como a vai sofrer restrições ds facçõesGoverno de São Paulo ele máscara de pluripartida- radicais do PT, que habitual-mostrou do que é capaz de fa- rismo. mente recusam o diálogo comzer para o Brasil. A eleição de 15 de novem- outros partidos; a pressão dos

Que mau gosto! Por que 10- bro mostrou que ao povo empresários e generais con-

go Maluf, um dos piores can- quando é dada a oportunida- servadores; dos fazendeiros

didatos de direita? Um "filho- de de decidir, escolhe o que da UDR e das forças políticaste da ditadura", como diz o

lhe agrada. Se a escolha foi de direita no Congresso". Ba-Brizola. Em São Paulo ele fez errada desta vez, el.e não repe- seado nestes fatores, o padreobras bonitas, grandes estra-

te o mesmo erro pois, se não diz-se cético quanto ao sucesso

das com viadutos. Mas, en-tem grande cultura política, do Lula se eventualmente se

quanto os ricos trafegam co-unia coisa o povo saber fazer: eleger. A opinião "de todos

mo seus carros em cima, osderrubar os governantes e os converge para um ponto: a

miseráveis se abrigam em bai- partidos que no poder não falta de título universitário

xo das pontes. Grande compe- correspondem às suas asp ira- não atrapalha a candidatura

tente que ele é! Será que é dis- ções. Exemplos do PDS, der- de Lula. A sua experiênciaso que o país está precisando? rotado através do Colégio parlamentar e sindical e o seu

_ Quanto a mim, eu, votaria Eleitoral em 1985 e do PMDB dinamismo valem mais que o

num dos candidatos de es-e PFL, coligação da fracassa- diploma universitario.:

querda. A direita governou ada Aliança Democrática. Os

fio durante um século, semcandidatos Ulysses Guima- -Quanto ao candidato do

mudar coisa alguma.rães (PMDB) e Aureliano PRN, seu oponente FernandoChaves (PFL) não passaram Collor de Mello, a 'posição da

Se o leitor pensa que este de ridículas posições na classí- -maloría dos estrangeiros é defoi um diálogo entre brasileí- ficação geral para o segundo expectativa, uma vez que seros se enganou. Foi um "pa- turno. conhece pouco seu programa

-r-

po" entre dois estudantes Durante a campanha e no,

de governo. A propagandaafricanos: um malufista e ou- dia da votação o povo não es- promovida pela imprensatro esquerdista. condia a alegria de poder vo-

conservadora conferiu a ele a

tar, alguns pela primeira vez, imagem de principal crítico_Para um, deles, a candida- depois de 29 anos. Acesos de- da administração Sarney e de

tura Maluf representava a bates não faltaram na rua, nas "caçador de marajás". Maspossibilidade de um redimen- escolas, nos bares. Todas as

é propaganda.sionamento das estruturas da

pessoas estavam envolvidasUnião e o replenejamento das

,no processo, mas dírecíona- Enquanto, os brasileiros es-empresas públicas. Para ele,a experiência política do can-

dos de 22 maneiras, até que tão preocupdos em votar paradidato pelo PDS influiria mui-

o TSE decidiu baixar o núme- mudar os destinos do País, aosto nestas mudanças.

ro para 21 alternativas. Os es- estrangeiros, só resta a expec-trangeiros sentiram-se partí- tativa de quem será eleito. E

Para o segundo as candida-cipes do processo. Cada um qual será a posição do futuroa seu modo mas sempre por chefe de Estado em relação ,

turas de esquerda, notada- trás das câmeras - fazia suas aos estrangeiros. Todos estão "mente de Lula, Freire, Mário apreciações sobre o aconteci- em suspense. Os empresáriosCovas e Brizola são as defen-sáveis. Para ele qualquer um

mento. e investidores estrangeiros se

perguntam se o futuro gover-dos candidatos de esquerda Casos de maior polêmica no não adotaria medidas se-que chegasse ao Planalto faria como a pretensão de Sílvio rnelhantes àquelas que estãomudanças profundas na eco- Santos a candidato, o número sendo cogitadas contra os bra-nomia e nas relações sociais, elevado de concorrentes, al- .slguaíos pelo Parlamento docom o objetivo de beneficiar guns desconhecidos da cena Paraguai. Os estudantes e bol-a maioria da população, não política brasileira e a candí- sistas também se perguntamumaminoria como tem aeon- datura do torneiro-mecânico

quanto ao seu futuro no país.tecido até agora. Lula, fora os pontos de maior Pelo voto dos mais de 80 mi-discussão política. Se o caso Ihões de eleitores, os estran-

Embora com visões ideoló- SIlvio Santos e o excessivo nu- geiros ficarão sabendo o quegicas inconciliáveis, os dois mero da candidatos deixaram

o futuro lhes reserva no Bra-africanos reconhecem que as os estrangeiros estupefatos e sil.eleições do dia 15 de Novem- sem referência histõrica, as

bro e toda a campanha foram opiniões se dividem quanto àum autêntico exercício de de- candidatura de Luís Inácio Pedro dos Santos

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mocracia e uma lição para as Lula da Silva.

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$OL E ÁGUA FRE$CA

Esporte cresce e,

estimula vendasÉdison Ronchi, 30 anos, casa­

do, formado em jornalismo pela(fFSC. editor chefe da revista In­side e presidente da FederaçãoCatarinense de Surf (Fecasurf),é uma personalidade conhecidano meio do surf.

ração de uma classe. Porém, estaultima tentativa foi feita de cimapara baixo: os senhores RicardoBocáo e Frederico, D'Orev busca­ram benefícios apenas para os 30melhores colocados no rankingda Abrasp, E os outros'? E neces­

sário criar uma consciência declasse, mas não fracionar estaconsciência. Imagine o Lula pe­dindo melhorias apenas para 30funcionários de uma fábrica demil.

Em seu escritório, entre inú­meros telefonemas e interminá­veis com ersações, Édison (podechamar de Ledão) recebeu o re­

pórter Pedro Saraiva e bateu um

papo sobre o momento atual do'esporte no País.

'

P - E Santa Catarina. C0l110

�e posiciona no contexto nacio-'nul?R - Eu poderia dizer que o

Estado tem a hegemonia em ter­mos de infra-estrutura. Veja só:aqui se realizam três etapas docircuito nacional (inclusive a

abertura e o encerramento, sen­do que uma delas tem premiaçãodobrada); uma etapa do circuitoamador (que aliás é agora, entre7 e 10 de janeiro, na Joaquina,as dez etapas do circuito catari­nense e, para terminar, em 90teremos nas praias de Floripaduas etapas do circuito mundial.Para não falar que a Fecasurf éa única entidade do surf brasi­leiro legalizada junto ao Conse­lho Nacional de Desportos.

'

P - Como você viu o circuitode 89. encerrado recentementena Praia da Joaquina')R - O circuito de 89 foi me­

lhor que o anterior, assim como

o de 88 foi melhor que o de 87.Na verdade, quem quiser anali­sar o surf brasileiroem 89 vaiter que, necessariamente, voltara 87 e lembrar do nascimento daAssociação Brasileira de SurfProfissional (Abrasp) e do apoiode um grupo de empresários quepossibilitararn a realização doprimeiro circuito nacional. Comoesta organização do esporte era

uma necessidade além de ser umaárea interessante de investimen­tos, a evolução foi acontecendo:surgiram novos patrocinadores,ampliou-se o número de etapas ...enfim, o próprio circuito se pro-fissionalizou de fato.

'

Só boas ondas não bastaP - De que modo o surf é

atingido pela situação política e

ecõnômica do país?R - O Surf é auto-suficiente.

Tanto que no meio da maior crisecontinua evoluindo. No entanto,se vivêssemos com uma economiaestável, tenho certeza que as coi­-sas melhorariam ainda mais. Seas empresas pudessem projetaro seu futuro com o mínimo desegurança, os investimentos no

esporte, inclusive no valor daspremiações, aumentaria sensivel­mente, assim ajudando o esporte.

Surfista tam-bémexige reajuste.Mas falta união

P - Durante o Sea Club Final, Heat, muitos atletas reclamaramda falta de reajuste nas premia­ções, Houve inclusive um movi­mento para reivindicar um pisosalariàl para os Top 16 e os Back14, Gomo fica esta história?

R - Este movimento foi malfeito. Já ocorreram outros movi­mentos reivindicatórios que, se

não foram atendidos por inteiro,pelo menos atingiram parte deseus objetivos, e esse tipo de coisaé normal no processo de estrutu-

ZERO - Qual o papel da im­prensa no desenvolvimento dosurf?R - Primordial. Costumo a

dizer que existem dois eixos quecohsolidaram o surf: a organiza­ção, que trouxe os investimentos,e a imprensa, tanto a especiali­zada quanto a diária. Os jornais,TVs e rádios familiarizaram a so­

ciedade com o surf, tornando o

esporte e os atletas conhecidos e

respeitados. '

ZERO - E aquele velho es­

tigma de que surfista é vagabun-do? .

R - Quem diz isso diz um ab­surdo, vive em outro mundo.Aqui, o próprio trabalho que estásendo feito com o surf prova queisto é uma idiotice, um precon­ceito sem fundamento na realida­de. Creio que o fim deste estigmaé um fato. consumado.

de 88 Jojó de Olivença e, por fim,venceu Picuruta Salazar numabateria emocionante.Enquanto na água as compe­

tições rolavam, nos bastidores os

atletas reclamavam do não 'rea­

juste nas premiações e surgia um

movimento buscando um piso sa­

larial para os surfistas que são

Top 16 e Back 14. Até agora essa

reivindicação não surtiu efeitoprático algum' e mereceu inúme­ras críticas pelo seu caráter eliti­zante. Mas, no futuro ... Quemsabe algum dia se ouvirá:

- Surfistas de todo o mundouni-vos.

car nas mãos de Felipe Dantas,do Rio Grande do Norte. O cata­rinense David Husadel conquis­tou o terceiro lugar, 20 pontosatrás de Dantas, e o baiano Jojóde Olivença, .surfista de Cristo,ficou com a quarta colocação.

Dia 12 de novembro na Praiada Joaquina, ao terminar o SeaClub Final Heat de Surf, encer­rava também o circuito brasileirode surf profissional versão 89após sete etapas e algumas confu­sões.Mesmo antes do último cam­

peonato, o vencedor da tempo-'

I"ada já era conhecido: o cariocaPedro Müller sagrou-se campeãocom 4340 pontos. As maiores dis-

- putas durante a etapa final foramem tomo da segunda posição dadefinição dos Top 16 e Back 14(explicando: os 30 surfistas me­

lhores colocados no ranking bra­sileiro de 89 e que não terão queenfrentar as fases de triagem nas

competições do ano que vem). Ovice-campeonato 'acabou por fi-

A surpresa ficou por conta dopaulista Paulo Kid, que espantoua todos ao vencer o Sea Club Fi­nal Heat, assim avançando milpontos na classificação geral e en­trando, na última hora, no seletogrupo dos Top 16. Para conquis­tar a etapa final do circuito 89,Paulo Kid venceu competidoresconsagrados do surf brasileiro:"matou" o amador Jair Olivei­ra, o experiente Cauli Rodrigues,o vice Felipe Dantas, o campeão

Textos e entrevistaPedro Saraiva Ledáo: esporte evolui

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Muito gasto e poucas novidadesBienal 89 não

superou anterior.

O cartaz sim

Como acontece em todo evento

periódico, como a Copa do Mun­do e as Olimíadas, a XX Bienalde Artes Plásticas foi aguardadaansiosamente pela possibilidadede superar a exposição de 1987.No entanto, a expectativa foifrustrada. Não que a exposiçãodeste ano chegue a decepcionar,mas para o desorientado especta­dor, que lotou o estacionamentodo Parque Ibirapuera (SP), eladeixou muito a desejar.

Durante os três meses de expo­sição o parque se transformou no

reduto de artistas, críticos e inte­lectuais de 42 países (inclusive o

Brasil), formando uma -imensatorre de Babel. Porém, o entendi­mento era possível graças aos hie­róglifos artísticos. Já, para o pú­blico, pouco acostumado com es­

sa forma de linguagem, foramcontratados monitores especiali­zados, com o objetivo de escla­recer O' significado das obras, ,

Segundo Mário Gallo, a pro­postá da XX Bienal era possibi­litar uma visitação descomplicá­da, cum espaços para descansoe reflexão, com um mínimo deinterferência visual. Arquiteto-responsável pelo aproveitamentodo espaço físico, Mário confiromou que os acessos já existentesnu edifício (rampas e escadas ro­

lantes) foram enfatizados na ten­tativa de tornar O' trajeto O' maisnatural possível. Evitava-se, des­sa maneira, os constrangedoreslabirintos.

o projeto da XX Bienal eraconstituído por três áreas: Even­tos Especiais (térreo). Internacio­nais e Salas Especiais Internacio­nais (I ':, 2': e 3': andares, juntoà rampa) e Brasileiros (2': andar).

Apesar da completa distinçáo deestilos, que variavam tanto quan­to a versão dos monitores paraa mesma obra, um dos destaquesunânimes foi Tomie Ohtake.

Com inconfundível talento, elaexibiu maquetes f fotos do cená­rio da opera Madame Butterfly.

Já nas salas reservadas aos ex·

positores Internacionais O' inte­resse do publico oscilou. Afinal,

.

o aborrecimento de percorrercentenas de metros quadrados,apárentemente indecifráveis e a

falta de novidades intrigantes cu­

mo na Bienal passada, começavaa pesar. Nem a boa vontade e

a ensaiada retórica dosmonitoresconseguia convencer os visitantesde que obras consagradas não

da obra "Saguão de Hotel", deHamilton, sugeriu definições co­

mo a da professora de Artes San­dra Salles: "Pur alguma mágicaé possível habitar um quadro".Contrariando a teoria de Wai­

ter Benjamin sobre a írreproduti­bilidade de uma obra de arte, Da­vid Hockney, discípulo da arte

pup, enviou todas as suas via tele­fax. Cornu se nâo bastasse a per­da da aura dos quadros, segundoos teóricos da Escola de Frank­furt; o renomado artista inglêsacabou comprometendo tambéma admiração de seus fãs, que es­

tranharam bastante a atitude deHockney.Encerrada no último dia 10,

a XX Bienal de Artes Plásticasao contrário de finalizar algunsanos de trabalhos inicia os prepa­rativos para a exposição de 1991.Desde já esperada ansiosamentepela possibilidade de superar a

de 19R9.

Clarissa dos Santos

eram alusões a supostas visões Ii­sérgicas de seus idealizadores.Apesar do contratempo das in­

terpretações, um dos grandesmomentos das salas internacio­nais ficou pur conta do francêsYves Klein. Apaixonado pela corazul, Klein utiliza a tinta em suas

obras como a idéia principal. Ou­tro francês, Alan Jacquet tam­bém se sobressaiu com uma se­

quência de fotos, nas quais eleconsegue captar a magia da artecósmica. Porém, na galeria dosmais cotados, a Inglaterra foi co­roada pelo êxito da instalação deRichard Hamilton. A perspicácia

Abstracionismo e visões lisérgicas

YvesKlein,destaqueindividuale corno

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Censurar ninguém se atreve .I

o rock continua vivo'!

Marcelo Nova

ficou só

para a elite

Marcelo Nova lotou o Clu­be Doze de Agosto, no dia 18de novembro, com os fãs doseu rock, que enfrentaramatémesmo o preço salgado do in-:gresso e a limitação de luga­res. Muita gente teve que vol­tar para casa chupando o de­do porque encontrou as por­tas fechadas.

No show, uma aula de,rock'n roll matando a sauda­de daqueles que sempreacompanharam sua trajetó­ria musical. Apresentando a

nova banda' e as melhorescanções de seu, último disco,Marcelo Nova já iniciou em

alta temperatura, própria deuma "Panela do Diabo".

Atendendo aos pedidos dopúblico, o roqueiro homena­geou seu eterno ídolo, RaulSeixas: cantou as antigas"Trem das Sete", "Rock dasAranhas" e a antológica

,

..Maluco Beleza". Depois re­lembrou os grandes sucessosdo Camisa de Vênus: "Eu nãomatei Joana D'arc", "Ho­je", "Bete Morreu" e "Sim­ca Chambord". Um show ele­trizante que deixou, maisuma vez, a certeza de que o

rock não vai morrer nunca.

ReportagemRafael Masselí

Um LP resgataa obra de

Arnaldo Baptista

Numa época onde o imedia­tismo e a descartabilidadepredominam em quase todasas produções artísticas, um

LP que tenta resgatar - sem

saudosismos de última hora..:... uma figura importantíssi­ma do rock nacional, acabasoando injustamente desloca­do do contexto geral. O discoem questão chama-se Sangui­nho Now lançamento do Es­túdio Eldorado e o homena­geado. é Arnaldo Baptista.

Para quem não se lembra(ou não era nascido ainda),Arnaldo Baptista integrava,ao lado de Rita Lee e SérgioDias, os Mutantes, considera­do por boa parte do públicoe crítica como a única bandade rock que o país já teve.Num primeiro m om e n to(1966), os Mutantes soavam

como um cruzamento entreThe Mammas and The Papase a fase psicodélica dos Bea­tles, evoluindo em seguida pa­ra um rock progressive, semperder, porém, o frescor daTropicália movimento queajudaram a lançar. Eles deli­nearam junto com a turma daBahia, um mapa de referên­cias para orientar boa parteda produção musical das dé­cadas seguintes. Tocaramjuntos com Caetano Veloso a

anárquica "É proibido proi­bir" (vaiada ao extremo no IIIFesfíval Internacional daCanção da Rede Globo, em

1968), gravaram "Panis etCircensis" (de Gil e Caetano,"2001" (composta em parce­ria com Tom Zé), esta com

direito a uma introdução"caipira", com viola e sanfo­na e ainda "Rua Augusta",de Hervé Cordovil.

Em 72, após o lançamentodo LP "Os Mutantes no Paísdos Baurets", Rita e Arnaldosaem do grupo, deixando-onas mãos do guitarrista SérgioDias, durando só mais algunsLPs: Rita Lee evolui (sic)aquilo que ela faz hoje e Ar­naldo grava dois discos, Lô­ky?(74) e Singin' A/one (81),além de participar da bandaPatrulha do Espaço (77). Nes­se meio tempo ele mergulhanuma estranha e conturbadaprodução filosófica/musical,entrecortada por trips de áci­do, chegando ao limiar da lou-

REVERÊNCIAS

A falta de memória nacional está perto do fim

Mutantes: foi há 20 anos

Sepultura: metal

cura. Em 82, Arnaldo se atirado terceiro andar do Hospitaldo Servidor Público (SP), on­de estava internado. Escapapor pouco e recolhe-se num

sítio em Juiz de Fora (MG).São Paulo, 1989. Treze

bandas mais Paulo Miklos(Titãs) gravam "SanguinhoNovo", revisitando Arnaldo e

cedendo a ele os direitos dagravação. Por um lado, a von­tade de acabar com a "faltade memória nacional" e deoutro, pôr em prova a tempo-

Vzyadoq: experimental

Angélica: hard

ralidade da obra dos Mutan­tes e de Arnaldo Baptista. Osegundo objetivo foi cumpri­do quando se ouve o disco. Abrincadeira foi inevitável: o

moderno e ó antigo se enten­dem na mesma cama.

De Belo Horizonte, o SexoExplícito (cujo primeiro LPsaiu recentemente pela Eldo­rado) recria "O Sol". E tome

psicodelia ("eu quero ver o

nascer do sol. .. ), entremeadapor densos climas de guitarra.O grupo mineiro Sepultura

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" ZERO/

o, ·DEZ-89, '

transformou"A Hora e a Vezdo Cabelo Nascer" (censura­da quando foi lançada origi­nalmente) em um thrash me­

ta/ estilo que tem feito dessabanda uma das mais respei­tadas no exterior. "JardimElétrico" seguiu pelo mesmo

caminho pelos ínstrumentosdos Ratos do Porão.

3 Hombres - banda paulis­tana até então inédita em vinil- regravou "Dia 36", uma

belíssima balada com sotaqueprogressivo. Os mineiros d'OUltimo Número também opta­ram pela balada ("I Fell inLove One Day" I, mais pesa­da. com longos solos de gui­tarra. "Bomba H Sobre SãoPaulo" ganhou do sorocaba­no Vzyadoq Moe um arranjocaótico (latas na percussão e

pedais de efeitos), assim corno"Sittin' on The Roadside",regravada pela banda gaúchaAtahualpa i us Panquis: um

must em distorção e microfo­nia. Já Paulo Miklos deixoudiscreta a "Superfície do Pla­neta", órgão e voz em harmo­nia perfeita.

Akira S e As Garotas queErraram esbanjam bateriaeletrônica e samplers, trans­formando a faixa-título no

momento mais dançante dodisco, ao lado de "E fácil"(Scowa & A Máfia), permea­da por scratches. Maria An­

gélica e Fellini (velhos bata­lhadores do undergroundpaulistano) se encarregaramrespectivamente de "Te Amo,Podes Crer" (lenta e pesada,um hard rock agonizante) e

"Cê Tá Pensando que Eu SouLóky?", pura MPB da déca­da passada.

"Sanguinho Novo" não é o

disco do ano. Mas é funda­mental a partir do momentoque prova a modernidade desuas composições (Scratches e

samplers são elementos típi­cos da música desta década),sem alterar a sua essência. Ouentão fique com a frase com

que Marcelo Dolabela encerraum texto sobre os Mutantesno seu livro "ABZ do RockBrasileiro": "Tupi or not tu­pithis is question this is revo­

lution", O ponto fraco do pro­jeto fica por conta da capa:o frasco de sangue estouradomais parece uma anêmona domar cor de rosa.

A propósito, qual dessasmúsicas Marisa Monte vaigravar no seu próximo LP?

Fabiano Melato

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PULODOGATO

Som inteiro e não pela metade-

o Titãs cometem

blésq disco

blom da década

Uma ode à "alta sofística­çáo intelectual e tecnológicaaliada à brutalidade" é uma

boa definição para este quintodisco dos Titãs. O Blésq Blomconsegue sintetizar todo o pas­sado do grupo de maneira ge­nial onde a evolução sonora

e as letras das músicas são pri­morosas. o "desesperanto"babélico do novo folclore in­troduz, nos primeiros suleosdo vinil, a fantástica viagemao som titãnico. O petardo so­

noro mais inventivo da tempo-. rada: "Õ Blésq Blom" , a mú­sica que abre, fecha e dá títuloa esse último disco dos Titãsnão saiu de nenhuma das oitocabeças pensantes, mas deuma dupla de repentistas per-nambucanos.

_

O casal Mauro e Quitériadivide as dádivas deste LPcom os Titãs. Mauro é o in-

ventor do canto multilingüís­tico que alia inglês, alemão,francês, russo, grego e japo­nês, que no século XVI já era

usado por grupos de teatro e

que os especialistas chamamde simulação de línguas.Quando ainda trabalhava no

cais do porto de Recife, Mau­ro ouvia osmarinheiros e maistarde os turistas e foi incorpo­rando à sua música os vários­idiomas que ouvia. Agoraaposentado, ele e Quitéria,sua esposa, cantam na Praiada Boa Viagem, em Recife,para ganhar algum dinheiroextra. Esse é apenas o início

.da história de um nordestinopobre- e cego e de sua compa­nheira. Até que num dia elessão descobertos pelos "Titan­gues", como diz Mauro, e a

vida de super starsse inicia."Eu ouvi aquilo-e achei ge­

nial. Não é o folclore mortodo bumba-meu-boi. Mauroatualiza o folclore", diz Ar­naldo Antunes que foi contraa idéia de alguns dos outrosTitãs de levar a dupla paraabrir seus shows. Arnaldoacha que os brasileiros não

.compreenderiam aquela men­sagem. Mas, a verdade é que

Mauro e Quitéria são prota­gonistas ao lado dos oito titãsneste disco. "O canto de Mau­ro e Quitéria, modal e moder­no,miserável e criativo, cegoe visionário", como escreveu

Caetano Veloso no encarte,aliado à produção esplendo­rosa de Liminha, coloca uma

banana na boca daqueles que.acham a música brasileira in­ferior e sem criatividade, co­piando tudo o que vem doNorte. Aleluia, uma luz se

acendeu no túnel!Introduzida por "Õ Blésq

B1om", "Miséria" resulta co-.

mo a melhor música do LP.A batida

é

forte e contagiante,assim como o refrão: "misériaé miséria em qualquer canto/riquezas são diferentes". Aofinal da música o canto deMauro e Quitéria é inseridoadquirindo nuancesde worldmusic. "Racio Sfmio" é a se­

guinte, fazendo uma paródiacom os ditados populares.Num reggaegostoso e ao gostodos Titãs ouve-se um discursopara saber quais as diferençase semelhanças entre �'O Ca­melo e o Dromedário". A voz

de Paulo Miklos está à frente

Promoção Titãs foiprorrogadaResponda o que significa a expressão Õ Blesq 'Blom, junte este recorte (ou

cópia) e envie para "Promoção Disco", C.C.E., Curso de Jornalismo - UFSC,Trindade, Florianópolis, CEP 88.049 até o dia 31 de dezembro. Não esqueçade indicar seu endereço e telefone pois se, você for sorteado será avisado. Vocêestará concorrendo a uma discografia completa dos Titãs, quarenta discos e10 camisetas O Blesq Blom. Mexa-se.

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dos instrumentos cantando a

redundância sobre os amigosruminantes. "Palavras" pa­recem querer sair das caixasacústicas, a canção tem ritinosufocante e crescente que de­sembocam em palavras como:"palavras para esquecer/ver­sos que repito/palavras paradizer/de novo o que foi dito".E para terminar o lado A,"Medo". Um recado certeiropara as outras bandas perde­rem o medo da música, damorte, da musa e deles mes­

mos, coisa que os Titãs vem

conseguindo desde CabeçaDinossauro em 86, e que se

concretiza aqui.A música de trabalho deste

LP, "Flores" abre o lado Bcom o ótimo Paulo Miklos no

saxofone. Enquanto a massa

sonora nos leva à pista de dan­ça, a letra da música surge co­

mo um pensamento niilista.Idéia que perpassa em "OPulso" com seu desfile dedoenças que podem ser com­

parados aos personagens de"Nome aos Bois", do LP Je­sus Não Tem Dentes ... Aindafaltam a faixa "32 Dentes"onde o violão de 12 cordas dáum camp com a inconfundívelperformance de Branco Melo;"Faculdade", música urbanasobre as "dades" da urbani­dade num som forte; e "Deuse o Diabo", um tremendofunk com pitadas de Scowa e

Máfia e de Duran Duran (!).E para finalizar fique com "ÕBlésq B1om", a interação damiséria com a riqueza.

Õ blésq blomneon neon rightcome one nion heionion blésq au rightdiz que dizõ blésq blomele era um pioneiroé na tela de cinemano ni dé o rei do rockvou nimbora rindiomaele bera ispiqui englishvou me blast blergh inglêsô no blast siparsr Inglaterraela diz que a fila avançatem a base nuclealsó nidera lá de Londresela diz que a fila avançaeu falava italiano

r

eu telav« ispiqui 1,'sonidera ispiquioniberi na Espanhaele eri um rei

Ivaldo Brasil Jr.

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Proposta do JoucoMeyer Filho paracelebrar 70 anos

. Maluco, ingênuo e marciano éa dfscrição que fazem dele. Masnão é nada disso. Se passa poringênuo, engana todo mundo,pois é muito esperto. Maluco eleé mesmo, mas consciente destaloucura, ele faz tipo. Marciano?Não, essa história é velha. Na ver­dade nasceu em Haja! e fez seten­ta anos dia quatro de dezembro.

o pintor Ernesto Meyer Filhonunca teve meias palavras. Sem­pre fez e disse o que quis, usandoe desprezando a sociedade ao seu

redor, que o cuItua e faz dele umafigura folclórica em Florianópo­lis. Meyer Filho tem uma imagemque engana, pois a primeira im­

pressão. é de um velhinho frágile de fala macia. Mas isto só atése ouvir sua voz, entre outras ca­

racterísticas ele fala muito, é umcontador de histórias inveterado.Tanto que numa época, contavapiadas ao meio-dia em "horárionobre'", no programa de ·CézarSouza. Carismático e irônico, de­monstrava um vigor incomumem outros de sua idade.

Artista plástico, começou a de­senhar aos quatro anos e aos oitojá fazia os bichos, que tanto mar­cam seus trabalhos. E conhecidocomo pintor de galos, pois estesímbolo está presente em todasas suas obras. "E uma imagemúnica mas múltipla", diz TayroSchimidt, outro artista, "sem se

repetir e sem deixar de ser a mes­ma". Talvez relacionada

-

com a

infância de Ernesto numa cháca­ra ou com as brigas de galo, anti­gamente muito comuns em Itajaí.Afinal, acontece que ele mesmo

é um galo, tanto fisicamentequanto na própria forma de fa­lar. "Todo mundo é um galo,principalmente os latinos", dizele. Os galos do universo "meye­riano" não são comuns, são galosirreais, compostos por formas

MALUCO, ESPERTO E MARCIANO

Ele faz arte até nos cheques

abstratas e rodeados por seres ex­traterrenos e sobrenaturais quepovoam a mente do artista. Tudocondizente com o clima de exa­

gero e fantasia que faz parte dacultura de Florianópolis, afinalele se considera o primeiro pintorfantástico surrealista do Estado.

Sua pintura é por isso muito

pessoal. Criou um estilo pessoalparticular da mesma maneira

que Eli Heil. Meyer Filho consi­dera a arte catarinense tão boa

quanto do resto do país e afirma:

Pintar 35 telas simultaneamente

_ Vai desmascarar invejosos na autobiografia

"para ser um artista da minha

categoria tem que ter no mínimoestas três qualidades: olhar de

lince, paciência de Jõ e saco deFiló!". Atualmente ele pinta trin­ta e cinco quadros simultanea­mente num trab�_o que já somaa dois anos e meio�visando uma

grande exposição para comemo­

rar seus 70 anos. Diz que esta

é a melhor performance da sua

vida artística e que duvida queoutro artista tenha realizado esta

façanha.

Arte, ele nunca estudou. Devi­do às limitadas condições cultu­rais de Florianópolis, na épocaque começou a desenhar, ele éum autodidata, que buscou ad­

quirir o máximo de conhecimen­to nos livros. "Descobriu que seu

negócio era arte com uma expo­sição de artistas franceses que viuem 46, quando conheceu a artemoderna, Nessa época, já forma­do em Ciências Contábeis, MeyerFilho trabalhava no Banco doBrasil. Anos hilários aqueles,

. quando entre muitas histórias háa que em pleno expediente de tra­balho Ernesto desaparecia. Osamigos, preocupados com a che­gada do chefe, ao procurá-lo en­

contravam-no trancando no ba­nheiro desenhando. "Um dia fuifazer uma sacanagem, Eu sabia

"Galo galáxico":signo permanente

que o chefe iria.me procurar.Tranquei a porta do banheiro e

quando ele meteu os pés pela por­ta falei: " Puxa, nessa agêncianem se pode fazer cocô descan­sado? Em 71 se aposentou dandograças a Deus. Nos trinta anos

e 61 dias que trabalhou, elaborou30 mil desenhos, dos quais doismil conserva em sua casa.

Nos 'cheques que passa até hojesua assinatura é o desenho de um .

galo, pois como todo artista, Er­nesto Meyer Filho não se moldaao meio. Está escrevendo sua au­

tobiografia onde fala que vai"botar o que pensa sobre- certasfiguras de Florianópolis que nãosão merda nenhuma e se achamgrandes gênios". Para ele "aquié uma terra de olho grande, nin­guém quer verninguém progre­dir, como já me dizia FranklinCascaes".

Em 64, durante uma exposiçãoem São Paulo, a segunda que fezlá, contou que foi a Marte. O re­

lato da viagem teve uma audiên­cia enorme num programa de rá­dio chamado Mesa·Quadrada.Entrevistado por Manuel de Me­nezes, por mais de quatro horasele contou sobre como viajounum disco voador até o planetavermelho e como eram "belíssi:mas" as marcianas. Polvorosa na

cidade. "Foi uma paródia a Or­son Welles que aumentou minhafama de maluco" .

Casado desde 45, tem três fi­lhos, todos artistas plásticos pre­miados, com os quais já expôs

varras vezes, Ernesto Meyer Fi­lho tem uma relação com os jo­vens fora do comum. Fala igualcom uma pessoa de 50 ou cincoanos. A esposa, Dona Rute, éuma pessoa admirável que soubeassimilar o espírito inquieto domarido e conviver com todas as

suas nuances.

Considerado um dos poucosartistas do Brasil que consegueagradar a críticos e ao públicoao mesmo tempo, seus quadrossão muito valorizados no merca­

do nacional. Mas no começo nãofoi assim: "Na minha época tinhaque se dar o quadro e ainda a

moldura". Deir seus primeirostraços como cartunista e logo fun­dou o Grupo de Artistas Plásticosde Florianópolis (GAPF), hojeextinto. Guarda em suas obras

Ium sabor bom, do selvagem sem

violência, em estado, puro, doinstinto animal verdadeiro. Oelemento expansivo de sua perso­nalidade é retratado através dascores luminosas e diretas, com o

uso de tinta acrílica americana,onde o vermelho é o vermelhomais forte e o verde é o mesmo

e só verde, obtendo este efeito de­pois de 'várias camadas de tinta.Toda sua trajetória e maturaçãohoje está íncorporada em sua

obra. A idade o tornou mais cal­mo e traqüilo, mas ele nunca vaideixar de ser o mesmo maluco,ingênuo e inarciano.

Marta Moritz