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4 CONVERGÊNCIA E NARRATIVA A convergência na comunicação estuda a integração de elementos culturais, organizacionais e tecnológicos envolvidos no processo de difusão das informações, por conseguinte, desenvolvem-se linhas de pesquisa que seguem focos diferentes, porém complementares. São guias nesta abordagem de convergência os pesquisadores espanhóis Ramón Salaverría, Samuel Negredo, José Alberto García Avilés, o norte- americano Henri Jenkins e os brasileiros Marcelo Kischinhevsky, Débora Lopez e Carlos Pernisa Jr. A arte de codificar, registrar, transmitir e decodificar o conhecimento se utiliza, entre outras técnicas, da combinação de sons, desenhos icônicos, do alfabeto, dos impulsos eletrônicos e, mais recentemente, das combinações binárias. Os códigos integrados pelas tecnologias digitais multiplicaram as possibilidades de combinação e, conseqüentemente as zonas de convergência entendidas aqui como o espaço em que se cruzam e se encontram informações de códigos distintos. Como exemplo, uma publicação impressa onde se combinam foto e texto, ambos interferem no processo de compreensão da mensagem, complementam-se ou criam redundância. Na mensagem cada elemento assume um território, tanto nas margens do papel, quanto no processo de significação. Limites que se cruzam e se mesclam até determinado ponto, este local de fusão é chamado de zona de convergência. Segundo Salaverría e Negredo (2008, p. 50-51) “cuando esas dos líneas terminan por unirse finalmente en un punto, dejan de ser convergentes. En ese preciso lugar de intentersección es donde se sitúa el concepto periodístico de integracón”. Segundo os autores a convergência, por sua própria natureza, é algo sempre inacabado, mas a tendência é a integração harmônica entre os códigos diversos. Os diferentes formatos se encontram e causam uma determinada tensão que pode ser administrada pelo planejamento, arquitetura e narrativa. Na prática e, de um modo generalista, pode-se concluir que os usos das tecnologias digitais interfere decisivamente nas rotinas dos veículos de comunicação, nos suportes de difusão, nos hábitos de acesso e conseqüentemente nos fluxos informacionais. Lemos (1997, pg. 3) afirma que “A tecnologia digital proporciona assim uma dupla ruptura: no modo de conceber a informação (produção por processos micro- eletrônicos) e no modo de difundir as informações (modelo “Todos-Todos”).

Rádio Convergência e Narrativa

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Parte do trabalho de conclusão do curso, o qual fui responsável pela elaboração, sempre com a implacável crítica e orientação da orientadora pela Prof. Débora Lopez.

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4 CONVERGÊNCIA E NARRATIVA

A convergência na comunicação estuda a integração de elementos culturais,

organizacionais e tecnológicos envolvidos no processo de difusão das informações, por

conseguinte, desenvolvem-se linhas de pesquisa que seguem focos diferentes, porém

complementares. São guias nesta abordagem de convergência os pesquisadores

espanhóis Ramón Salaverría, Samuel Negredo, José Alberto García Avilés, o norte-

americano Henri Jenkins e os brasileiros Marcelo Kischinhevsky, Débora Lopez e

Carlos Pernisa Jr.

A arte de codificar, registrar, transmitir e decodificar o conhecimento se utiliza,

entre outras técnicas, da combinação de sons, desenhos icônicos, do alfabeto, dos

impulsos eletrônicos e, mais recentemente, das combinações binárias. Os códigos

integrados pelas tecnologias digitais multiplicaram as possibilidades de combinação e,

conseqüentemente as zonas de convergência – entendidas aqui como o espaço em que

se cruzam e se encontram informações de códigos distintos. Como exemplo, uma

publicação impressa onde se combinam foto e texto, ambos interferem no processo de

compreensão da mensagem, complementam-se ou criam redundância. Na mensagem

cada elemento assume um território, tanto nas margens do papel, quanto no processo de

significação.

Limites que se cruzam e se mesclam até determinado ponto, este local de fusão é

chamado de zona de convergência. Segundo Salaverría e Negredo (2008, p. 50-51)

“cuando esas dos líneas terminan por unirse finalmente en un punto, dejan de ser

convergentes. En ese preciso lugar de intentersección es donde se sitúa el concepto

periodístico de integracón”. Segundo os autores a convergência, por sua própria

natureza, é algo sempre inacabado, mas a tendência é a integração harmônica entre os

códigos diversos. Os diferentes formatos se encontram e causam uma determinada

tensão que pode ser administrada pelo planejamento, arquitetura e narrativa.

Na prática e, de um modo generalista, pode-se concluir que os usos das

tecnologias digitais interfere decisivamente nas rotinas dos veículos de comunicação,

nos suportes de difusão, nos hábitos de acesso e conseqüentemente nos fluxos

informacionais. Lemos (1997, pg. 3) afirma que “A tecnologia digital proporciona assim

uma dupla ruptura: no modo de conceber a informação (produção por processos micro-

eletrônicos) e no modo de difundir as informações (modelo “Todos-Todos”).

O espaço social é permeado por múltiplas possibilidades de efetivar a

comunicação social. Como exemplo dos locais onde a comunicação social acontece, é

possível citar os meios tradicionais (rádio, cinema, TV, impresso), a internet (blog,

portal, rede social, banco de dado, fórum, etc.) e mais recentemente os dispositivos

portáteis que permitem armazenamento e leitura em variados formatos midiáticos (Ipod,

celular, MP3 player, netbook, pen drive, câmera fotográfica, etc.).

Empresas e estudiosos no início deste século se esforçam para compreender os

processos de convergência, a fim de garantir a eficácia da comunicação especializada.

Salaverría e Avilés (2008) apontam para múltiplos processos simultâneos de

convergência, analisam as práticas jornalísticas descrevendo-as de modo

multidimensional, ou seja, além do determinismo tecnológico e das práticas

organizacionais. Já Henry Jenkins (2009) mantém o foco nas transformações culturais

ocorridas em virtude das práticas produtivas e de consumo, mas discute também, os

múltiplos suportes de difusão que a tecnologia digital possibilita. Kischinhevsky (2009)

ao pesquisar as rotinas de jornalistas em redações de jornais, revistas, TVs, rádios,

agências e portais constata que o profissional da comunicação é obrigado a assumir

múltiplas funções pelo mesmo salário.

Ao tratar da convergência nas rotinas produtivas, Lopez (2009, p. 225) analisa a

rotina de redações como a CBN e BandNews FM e percebe olhares distintos na exploração

dos potenciais dessa nova forma de trabalho. O processo de convergência é administrado

ainda de acordo com as características de cada empresa. Enquanto um veículo investe em

novos formatos e a exploração do potencial das multimídias e on-line, o outro investe em

produção colaborativa entre redações e nas ferramentas de interação com o ouvinte.

Além da interação, Pernisa Jr. (2009) compreende que o trânsito de sons,

imagens e textos é potencializado por intermédio de redes, porque não mais necessitam

de transcodificações no momento da chegada ou saída dos dados. Além das trocas pela

internet os arquivos digitais podem ser visualizados e usados em celulares, MP3

players, câmeras digitais, DVDs ou qualquer aparelho eletrônico de última geração, já

que a maioria permite a leitura de múltiplos formatos de mídia: MP3, AVI, JPEG,

MPEG, TXT, entre outros, um fenômeno que não impõe restrições ao fluxo

informacional conferindo portabilidade e a democratizando o acesso a informação.

Além disso, o surgimento da conexão “ligar usar” USB (Universal Serial Bus)

que se desenvolveu a partir do padrão “PnP” (Plug and Play) permite que ocorra com

mais simplicidade o controle de entrada e saída dos dados de computadores para outros

suportes de mídia. A leitura de conteúdo utilizando as tecnologias analógicas exigia a

posse de aparelhos específicos para cada formato de mídia. Ao passo que o processo de

conversão de arquivos em múltiplos formatos exigia múltiplos aparelhos, embora as

práticas sociais inaugurem a cada dia novos dispositivos, a maioria deles faz a leitura de

múltiplos formatos em um único dispositivo. Mesmo que a digitalização não seja a

condição primeira para a convergência, Pernisa Jr. (2009) acredita que a digitalização

acelera e potencializa os processos de troca de informações.

Nesse sentido, a convergência desafia o campo da comunicação seja

viabilizando o fluxo da informação ou, até mesmo, interrompendo o processo por meio

de práticas obsoletas. Dominar as técnicas de produção, organizar o conteúdo e

viabilizar o fluxo conta, cada vez mais, com possibilidades inusitadas, deste modo,

jornalistas e empresários precisam se atualizar constantemente. Negredo e Salaverría

(2008, p. 21) afirmam que, até pouco tempo atrás, as regras que norteavam a produção

jornalística de cada veículo eram claras: o impresso cumpria a função de interpretar, o

rádio servia a instantaneidade ou ao imediatismo e a televisão ao entretenimento. Cada

qual direcionava os conteúdos para distinto público e percebia sua cota publicitária.

Com a popularização da internet e a digitalização dos conteúdos, a rotina das

redações foi modificada, assim como o modo de consumo dos produtos jornalísticos,

instaurando um momento histórico em que a convergência interpretada como processo

tecnológico e também cultural, coloca em campo um novo jogador que, segundo os

autores, “juega en todos los terrenos: ofrece interpretatión, inmediatez y entretenimento

[...] És una plataforma de comunicación que há subsumido a los médios tradicionales”.

(NEGREDO E SALAVERRÍA, 2008, p. 21)

Porém, Negredo e Salaverría (2008, p.16) não acreditam na extinção dos

veículos tradicionais. Os autores afirmam que este é um processo que vai além das

possibilidades tecnológicas da internet. A convergência é um processo multidimensional

que, no mínimo, compreende aspectos relacionados com as tecnologias de produção e

consumo da informação, com a organização interna das empresas, com o perfil dos

jornalistas e, por conseguinte, com os próprios conteúdos que se relacionam.

Os veículos que durante longo período se estruturaram para atender o modelo de

comunicação de massa estão diante do desafio de difundir o conhecimento num

processo de convergência tecnológica, de indivíduos e conteúdos, que necessita da

interação de ambas as partes em cada etapa do processo. A convergência não está só nos

códigos e formatos, a própria rotina dos jornalistas foi afetada pelas ferramentas de

apuração, hoje, um único aparelho pode fotografar, gravar o áudio, filmar e até

transmitir as informações em tempo real. A apuração pode ser feita in loco ou através de

bancos de dados, além de estabelecer comunicação direta ou indireta pela internet. A

produção da notícia envolve um processo mais complexo, devido às variáveis que se

multiplicaram, as barreiras de tempo e espaço enfraqueceram e a convergência

comunicativa que se estabelece com o diálogo constante entre fontes e bancos de dados,

leitores e repórteres, redações e veículos, técnicas e tecnologias, formatos e plataformas.

No uso das ferramentas para a internet todos passam a ser produtores e

consumidores ao mesmo tempo, não existem barreiras para a criação de rádios web,

podcastings, blogs, participação em comunidades, promoção e troca de arquivos em

plataformas P2P, permitindo a interação com nichos de interesse para compartilhamento

de idéias. Juan Varela (2007, p. 54) afirma que os “meios sociais de comunicação são

definidos pela convergência de indivíduos em redes sociais, pelo uso de novos meios e

pela junção ou conexão de idéias, textos e outros conteúdos informativos e de opinião”.

As mudanças estruturais no modelo de comunicação, em que a construção coletiva do

conhecimento é formalizada por narrativas digitais, demandam posturas empresariais

adequadas ao cenário de convergência.

Nesse sentido, Kischinhevsky (2009, p. 13-14) afirma que a convergência nas

redações não pode ser uma imposição do departamento financeiro, mas sim “uma nova

cultura profissional, em que o trabalho colaborativo seja uma construção coletiva”. As

possibilidades de integrar os processos comunicativos afetam diretamente as redações.

Integram-se produções para o impresso, on-line, rádio e TV e segundo Kischinhevsky

(2009, p. 14) esse fato gera um pesadelo trabalhista. “Ao receber a incumbência de

cobrir um mesmo fato em texto, áudio e vídeo, um repórter se vê diante do desafio de

cumprir a missão em tempo hábil”. O autor alerta para a exaustiva carga de tarefas a que

está submetido o jornalista, rotina que pode comprometer a profundidade do conteúdo.

Henry Jenkins (2009) em entrevista ao programa Milênio, da Rede Globo de

Televisão, define o processo de convergência como o fluxo de histórias, idéias, sons e

marcas em múltiplos suportes midiáticos. O autor aposta na convergência como um

processo cultural, referindo-se à possibilidade de produção descentralizada da

informação. Na perspectiva de Jenkins (2008) a audiência pode acessar o conteúdo por

intermédio de variados suportes e canais midiáticos.

Meu argumento aqui será contra a idéia de que a convergência deve

ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que

une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a

convergência representa uma transformação cultural, à medida que

consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer

conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos (JENKINS, 2008,

p.28).

Embora o autor não exclua as transformações tecnológicas, o argumento enfatiza

o processo cultural e a convergência com ênfase no conteúdo. Narrativas que se

propagam com múltiplas possibilidades de interação, de leitura e de veiculação. Jenkins

(2008, p. 29) além dos múltiplos suportes midiáticos, considera:

[...] à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos, o

comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação,

que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de

entretenimento que desejam (JENKINS 2008, p. 29).

Na perspectiva de Jenkins (2008) o conteúdo de um filme, por exemplo, pode ser

explorado em suportes de difusão distintos, como livros, CDs de música, jogos em

vídeo game, blogs, seriados de TV e assim por diante. De modo que a narrativa pode ser

apreendida em parte ou no todo, muitas vezes ela é construída conforme o feedback dos

consumidores. Essa interação demonstra a postura ativa da audiência, bem como a

mudança de hábito frente ao acesso.

A entrada de novos produtos que exploram as múltiplas plataformas em torno de

um mesmo conteúdo é incentivada pelos hábitos de consumo, por outro lado, práticas

organizacionais permitem o surgimento de novas relações trabalhistas.

Negredo e Salaverría (2008, p. 48-49) ao descreverem o processo de

convergência na dimensão profissional classificam duas modalidades de jornalistas.

Aqueles que produzem conteúdos em múltiplos formatos para o mesmo veículo, e

outros, que especializados em um assunto, produzem conteúdo para veículos diversos.

Os autores constroem essa percepção após observarem o trabalho de jornalistas das

organizações e autônomos freelancers. Planejar a elaboração de uma narrativa

considerando a convergência nas dimensões de conteúdos, profissional, organizacional,

tecnológica e cultural interfere inclusive nos interesses publicitários que envolvem os

projetos de um veículo.

Para conquistar novos territórios as empresas de comunicação exploram as zonas

de convergência. A maioria dos veículos tradicionais mantém atualizações diárias em

sites na internet, disponibiliza conteúdo complementar, integra redações, incentiva a

participação da audiência, enfim, a profusão informativa e tecnológica desencadeia

práticas experimentais que resultam em inusitados fluxos informacionais e novas

práticas jornalísticas, “alimentando” a cultura da convergência.

Cada veículo integra o máximo de possibilidades em narrativas que ainda os

identifiquem no espaço social. O rádio, um dos mais tradicionais veículos de

comunicação teve sua “época de ouro”, já ultrapassou crises e mais uma vez está

inserido no processo de transformação. Desafiado a integrar tecnologias e hábitos para

manter ou expandir suas fronteiras na via digital.

4.1 Convergência e a Narrativa Radiofônica

No uso das tecnologias digitais o rádio pode contar histórias mesclando os

elementos sonoros clássicos, mas também conteúdos adicionais capturados em

múltiplos formatos nas apurações, utilizar os bancos de dados da emissora, e também

aqueles encontrados na internet em escala mundial. As ferramentas de interação

permitem trocas mais intensas de conteúdos, mas antes de concorrer com o áudio

podem complementar a narrativa. Lopez (2009, p. 35) identifica uma nova identidade

para o veículo radiofônico, em que a transmissão conta com a possibilidade de

complementar a informação, combina textos escritos, áudios, vídeos e infografias.

Formatos de conteúdo que concorrem para a ampliação da estratégia narrativa. Palácios

(2002, pg. 6) afirma que no jornalismo on-line um fato midiático importante é que “na

Web, dissolvem-se (pelo menos para efeitos práticos) os limites de espaço e/ou tempo

que o jornalista tem a seu dispor para a disponibilização do material noticioso”. Lopez

complementa que no ambiente de convergência a informação pode ser ampliada, através

de links internos e externos, e múltiplas fontes e pontos de vista” (LOPEZ, 2009, p. 35).

Além de dialogar com os conteúdos multimídia a linguagem deve contemplar

uma audiência inserida na cultura da convergência. As ferramentas de interação se

multiplicaram e os hábitos de acesso também, as novas tecnologias da informação

aliadas à digitalização dos conteúdos modificaram a relação de acessibilidade. Como

conseqüência os programas veiculados ao vivo nas emissoras, podem ser acompanhados

pela internet no endereço eletrônico das rádios ou consumidos em arquivos,

posteriormente. Na internet é possível a comunicação direta ou indireta, postar

comentários, participar de fóruns e comunidades, e-mail, enviar fotos, vídeos. A

interatividade é expandida e, por conseguinte, a narrativa em áudio ao se integrar ao

conteúdo digital altera a estética do programa.

Portanto, o fluxo dos conteúdos se estabelece em uma via de mão dupla,

produtor e receptor possuem os mesmos dispositivos para produção e consumo da

informação. Lopez (2009, p. 48) afirma que o

[...] internauta-ouvinte deseja interação e atualização, o que fez com

que as emissoras passassem a, além de transmitir o áudio em

streaming, disponibilizar espaços de interação e informações

jornalísticas atualizadas periodicamente e organizadas em um canal de

últimas notícias.

A convergência na dimensão organizacional interfere na rotina de trabalho dos

jornalistas que não mais produzem pensando em um único suporte de difusão. O

repórter capta a sonora, mas também fotografa, faz vídeos, produz texto para o site da

emissora e, muitas vezes, para o suporte impresso. O uso de múltiplos formatos de

conteúdos pode expandir a narrativa, mas também, pode prejudicar a produção

radiofônica. Alterações na rotina do repórter, sem o devido planejamento e definição de

prioridades, podem comprometer a qualidade da informação. Negredo e Salaverría

(2008), afirmam que quando o repórter precisa pensar em adequar o material para

qualquer plataforma precisa pensar não só na construção da informação como em ser

ágil e versátil para lidar com a situação.

Não perder território para outros suportes de mídia obriga a narrativa radiofônica

a usar o potencial oferecido pelo meio digital. Produzir para o rádio passa pela

necessidade de participar ativamente de todo processo de atualização do conteúdo em

sites e redes sociais. É exigido do repórter atualização constante e aptidão para

manusear múltiplos equipamentos. Do lado das organizações percebe-se a necessidade

de planejamento estratégico para que o processo de integração possa ultrapassar a zona

de turbulência provocada pela convergência. Processo que tem a possibilidade de

integrar de modo harmônico a produção de áudio e o conteúdo digital. De modo que

possam ser complementares e não redundantes.

A narrativa radiofônica conta com as possibilidades de combinar recursos

ofertados pela internet, conforme destaca Palácios (2002).

“Memória com Instantaneidade, Hipertextualidade e Interactividade,

bem como a inexistência de limitações de armazenamento de

informação, potencializam de tal forma a Memória que cremos ser

legítimo afirmar-se que temos nessa combinação de características e

circunstâncias uma Ruptura com relação aos suportes mediáticos

anteriores.” (PALÁCIOS, 2002, pg. 8)

A memória combinada com a interatividade, por exemplo, permite que o ouvinte

possa escutar um programa a qualquer horário, recebê-lo por e-mail e escutar no celular

ou “players”. A hipertextualidade permite o aprofundamento do conteúdo ao relacionar

múltiplas fontes e bancos de dados. A interatividade, como já se discutiu, oferece a

participação ativa na construção dos programas e a identificação com o conteúdo.

Enfim, o principal desafio está em organizar e apresentar o conteúdo de modo atraente.

Vencer o desafio está condicionado ao planejamento, passando pela edição e chegando a

arquitetura da informação que ajuda a contar histórias, ampliar os níveis de

aprofundamento e, conseqüentemente, integrar com plataformas complementares de

difusão, sem descaracterizar a narrativa principal, neste caso, o áudio que será o fio

integrador de todo o processo.

A atualização constante e a multimidialidade são favorecidas por fatores técnicos

e avanços relacionados à usabilidade. Os sites e blogs contam com plataformas de

atualização, cada vez mais amigáveis. Conseqüentemente, a postagem de conteúdo em

áudios, vídeo e fotografia, bem como, a atualização de conteúdo a qualquer tempo sem

a dependência de técnicos em informática, viabiliza e potencializa a narrativa expandida

do som.

Referências adicionadas:

PALACIOS, Marcos. “Jornalismo online, informação e memória: apontamentos

para debate”. Universidade Federal da Bahia, 2002, on-line

LEMOS, André L.M. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre

interatividade e interfaces digitais. 1997. Disponível em:

<http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interativo.pdf> Acesso em 15 dez.

2010.