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I .. f,l / I /Rascunho , sobre Janete Glair, narrativa e cult'Ht3,,t:t3;. para entender uma autora como Janete crair é preciso entrar no corpo da curtura popular 6omo pil" int"gr*t" -. integradora bessa teia de influencias que a revaram a ser o nome oá-referencia ãà"t"t.norera brasireira. Mas a que noção de cultura popular vamos nos circunt"rún Principalmente à de Guinzburg quando propõe uma leitura ãã t.fàço"s 9$re as duas culturas que contempla a dicotomia cutturat, mas tamoeã ã ôú"rtarioaoelãlnnuencia recíproca (...) entre a cultura subalterna e a cuttuã negàmônica (1). Ou seja: os modos de apropri'ry de uma cuttura pela outra iããtrnárrentais'pâã ã*pót a mobilidade de ambas' Quer dizer quê: nem a alta nêm a baixa cultura são parâ este autor estáticas' interditas' E por que colocar Janete clair num campo como o da cultura popular? Porque nela, e em perfeita sintonia com etá, riutriu-se dos mitos' fábulas' alegorias' mistérios e utopiai-[ue a arimentam e o'eRnem. Nesse sentido pode-se dizer que a autora estava "rn-rihtonia de classe com o seu público; onde a realidade supera muitas vezês a ficção (2). Neste r"Àtiáo Janeie Ctair dizia que "quando falta inspiração, teio ;oÃãt" iã1. Neste sentido vale a pena lembrar que os famosos pontes de Madison, quê dêram nome ao filme, pegaram fogo pouco tempo atrás' não restanoo naoá. rirn"gú"ç"o " á reatidad'e mirabolante ao seu serviço, ao serviço do EXCESSO- Excesso este que caracteriza todas as narraüvas populares.ê que "constitui a grande afronta à verossimilhança õrã-iàpOe o reàismo; este sim aceito pela ,,inteligência", iôt quê procura .a ürOaOd central almejada pelo pensamento positivista qqe foi àeRnitivo na impulnãçao Oos gêneros populares' (4)' E essa EXAGERAÇAO, caraCteríStica das fóimaà "não cultas" de narrar' onde a oralidade á 4 ordenadora do relato, esta presã;6;* ianete Clair a través da sua relação gom a cuttura poôrrài ã*.irprinàOà n"statrase Qu9 fora emblemática na sua vida: ,,toda vida uma novela" (5). E é nessa hipOtétiCa concepção de "contar um @nto,, que se estabelece o cruzameÁio entre autora - cultuia popular; através desta mestiçagá; edodirá uma autora pessoal, delicada ç9m os seus peÊonagens, generosa, que encontrará na exacerbação o seu.estilo,,? ,, estilo é o mais ditícil Oe se à"f'ãi em telenàveà Ésta prátiá colocará Janete Clair entre os poucos nurónÉS ã"ti" gênero; e explicar o seu estilo é algo simples' indicativo Oe que o te.m E estã simpticiOade passa por cima, de precorrce:1"^Ii faVOf" e "Contfa". FalO de "a ÍavoÍ'' pofque paSSOU a Sef OUtfa fOfma de COnVençaO gostar de telenovela a desgosto' Voltando ao EXCESSO, ele Íazparteda nanativa junto à RETÓR|C1 -E'diria que sáo as duas caras de uma mesma moeoa. Enquanto o primeiro 9 ql,no um "saco de gatos que absorve tudo que entra nele, e o organiza em funso de contar uma história,' (6), história que t" t1"rÀe em metáÍãras da experiência coletiva e indiúduar oo g*pã'r;i;r; ãhETóRicÀ pooeríamos dizer que é a "repetição de diálogos, situações, temas musicais, *111 o objetivo de persuadir o espectadof'

Rascunho Sobre Janete Clair

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Janete Clair falando sobre generos cinematograficos

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Page 1: Rascunho Sobre Janete Clair

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/Rascunho, sobre Janete Glair, narrativa e cult'Ht3,,t:t3;.

para entender uma autora como Janete crair é preciso entrar no corpo da curtura

popular 6omo pil" int"gr*t" -. integradora bessa teia de influencias que a

revaram a ser o nome oá-referencia ãà"t"t.norera brasireira. Mas a que noção de

cultura popular vamos nos circunt"rún Principalmente à de Guinzburg quando

propõe uma leitura ãã t.fàço"s 9$re as duas culturas que contempla a dicotomia

cutturat, mas tamoeã ã ôú"rtarioaoelãlnnuencia recíproca (...) entre a cultura

subalterna e a cuttuã negàmônica (1). Ou seja: os modos de apropri'ry de uma

cuttura pela outra iããtrnárrentais'pâã ã*pót a mobilidade de ambas' Quer dizer

quê: nem a alta nêm a baixa cultura são parâ este autor estáticas' interditas'

E por que colocar Janete clair num campo como o da cultura popular? Porque

nela, e em perfeita sintonia com etá, riutriu-se dos mitos' fábulas' alegorias'

mistérios e utopiai-[ue a arimentam e o'eRnem. Nesse sentido pode-se dizer que a

autora estava "rn-rihtonia

de classe com o seu público; onde a realidade supera

muitas vezês a ficção (2). Neste r"Àtiáo Janeie Ctair dizia que "quando falta

inspiração, teio ;oÃãt" iã1. Neste sentido vale a pena lembrar que os famosos

pontes de Madison, quê dêram nome ao filme, pegaram fogo pouco tempo atrás'

não restanoo naoá. rirn"gú"ç"o " á reatidad'e mirabolante ao seu serviço, ao

serviço do EXCESSO-

Excesso este que caracteriza todas as narraüvas populares.ê que "constitui a

grande afronta à verossimilhança õrã-iàpOe o reàismo; este sim aceito pela

,,inteligência", iôt quê procura .a ürOaOd central almejada pelo pensamento

positivista qqe foi àeRnitivo na impulnãçao Oos gêneros populares' (4)' E essa

EXAGERAÇAO, caraCteríStica das fóimaà "não cultas" de narrar' onde a oralidade

á 4 ordenadora do relato, esta presã;6;* ianete Clair a través da sua relação

gom a cuttura poôrrài ã*.irprinàOà n"statrase Qu9 fora emblemática na sua vida:

,,toda vida dá uma novela" (5). E é nessa hipOtétiCa concepção de "contar um

@nto,, que se estabelece o cruzameÁio entre autora - cultuia popular; através

desta mestiçagá; edodirá uma autora pessoal, delicada ç9m os seus

peÊonagens, generosa, que encontrará na exacerbação o seu.estilo,,? ,, estilo é

o mais ditícil Oe se à"f'ãi em telenàveà Ésta prátiá colocará Janete Clair entre

os poucos nurónÉS ã"ti" gênero; e explicar o seu estilo é algo simples'

indicativo Oe que o te.m E estã simpticiOade passa por cima, de precorrce:1"^Ii

faVOf" e "Contfa". FalO de "a ÍavoÍ'' pofque paSSOU a Sef OUtfa fOfma de COnVençaO

gostar de telenovela a desgosto'

Voltando ao EXCESSO, ele Íazparteda nanativa junto à RETÓR|C1 -E'diria

que

sáo as duas caras de uma mesma moeoa. Enquanto o primeiro 9 ql,no um "saco

de gatos que absorve tudo que entra nele, e o organiza em funso de contar uma

história,' (6), história que t" t1"rÀe em metáÍãras da experiência coletiva e

indiúduar oo g*pã'r;i;r; ãhETóRicÀ pooeríamos dizer que é a "repetição de

diálogos, situações, temas musicais, *111 o objetivo de persuadir o espectadof'

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(7). E a "paquera" do espectador, é o cortejá-lo, convencê-lo, coloú-lo a favor oucontra um determinado pe.rsonagem. Nesse sentido, enquanto o EXCESSO tem aver com a história, a RETORICA tem a ver com o público.

A utilização da música é um bom exemplo disso, coloca o tema musical paraaprofundar o conceito sobre a situação exposta. Esta, sem o elemento musical,seria carente de sentido na telenovela. Por exemplo, em Duas Vidas, de 1976, umdos temas centrais é Menina dos cabelos longos, de Agepê. Não casualmente omotivo central da novela era o quotidiano de duas famÍlias suburbanas. Agepé,nesse momento se instalava como cantor brega de sucesso. Em Coração alado,de 1980, Momentos, por Joana, data em que a cantora explodia com esse tema,era o leit motiv central. E em Sétimo sentido, de 1982, Luana Camará chegaprocedente de Casablanca. O tema é Esotérica de Gilberto Gil. Nessa perspectivapodemos afirmar que a música beira a sensualidade, se faz notar pelo dito e pelonão dito. E uma promessa...

Mas como se manifesta em Janete Clair essa retórica? Em Pecado capital, porexemplo, Daniel Filho disser "... A cada cena que passa, Janete acrescenta umnovo dado". Quer dizer que conta a mesma história com algo a mais. E nesse"algo a mais" está o elemento novo, não retórico, dentro da retórica. Esse uso do"algo a mais", a repeüção nova, é uma característica de Janete Clair. É comumque a repetição seja interpretada literalmente, repetindo, e só isso. Então, dois doselementos básicos da cultura popular: EXCESSO e RETÓRICA, que por sua vezformam parte do contar uma história, estão presentes na autora com tranqüilidade,quase coln pêv na alma. Por que? uma das possíveis respostas é a de que aintriga foi capital na sua infância. Queria ser o Selznick brasileiro. Quando a suamãe se separou até mudou o nomê, passou a se chamar de Diva e Diva teve queir à justiça para reaver seus filhos (9). lsso não daria um melodrama de EmilioFernández, ou lmitação da vida, versão George staler? Num cinema da suainfância aprendeu a rir e amar. E o mais importante, a RELATAR. Janete absorveua cultura popular trazida com a revoluçâo industrial na área do espetáculo: rádio,cinema. E essa cultura popular tinha um fim: nanar como uma avô, ou umaSherezade. O que é um autor de telenovelas senão um grande nanador? Umnarrador gentil, que tem uma relação de carinho com o seu público, única, que égeneroso com ele e acima de tudo está em sintonia como ele. E isso não émaravilhoso?(1) - Guinzburg, Carlos. El queso y los guzanos. Ed. §eixBarral. Barcelona 1994(2) - Gonceito de Orcz, Silvia. Em Melodrama o cinema delágrimas de América Latina. Ed. Funarte, í999(31- J.B. 3 de rnaio de í978. Cademo B(4) - Xexeo, Arthur. Janete Clair. Ed. Rio Arte. í996(5) -J.8.3 de maio de í978. Cademo B(6) - Oroz, Silvia. Quien le tenre al melodrama? Encontrc deT.V. em Caracas,1998(7) - Oroz, Silvia. lbid.(8) - Xexeo, Arthur. lbid.(9) - Xexeo, Arthur. lbid. Gonceito tomado deste autor.