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Reações à exortação pós-sinodal

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Page 1: Reações à exortação pós-sinodal
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04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: D. Manuel Linda22 - Opinião: José Luis Gonçalves24 - Opinião: António Rebelo26 - Semana de.. Sónia Neves28 - A alegria do Amor Reações à exortação pós-sinodal

36 - Dossier Eutanásia em debate38 - Entrevista Monsenhor Feytor Pinto60 - Multimédia62 - Estante64 - Concílio Vaticano II66 - Agenda68 - Por estes dias70 - Programação Religiosa71 - Minuto Positivo72 - Liturgia76 - Jubileu da Misericórdia78 - Fundação AIS80 - LusoFonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Reações àexortação «AAlegria do Amor» [ver+]

Francisco aoencontro dosrefugiados[ver+]

Eutanásia, umdebate necessário[ver+]

D. Manuel Linda | José LuisGonçalves | António Rebelo |

Octávio Carmo | Manuel Barbosa |Paulo Aido | Tony Neves | Fernando

Cassola Marques

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O Papa salva-vidas

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

O Papa Francisco recentrou o discurso da IgrejaCatólica (e não só), por força das suasintervenções e gestos com repercussão global,na defesa dos mais excluídos, dos descartadosda sociedade, dos refugiados, dos “últimos”.Não surpreende por isso que, depois de tercomeçado as suas viagens pela ilha italiana deLampedusa, Francisco tenha decidido acorrer aLesbos, uma espécie de Lampedusa do Egeu,como foi definida pelo Vaticano, para ali chamara atenção do mundo para dois factosfundamentais, coadjuvado pelo patriarcaecuménico de Constantinopla: a tragédiahumana que se esconde por trás de cada“número”, quando se fala em refugiados; e aperseguição contra as minorias religiosas,particularmente os cristãos, que as está aempurrar para fora dos seus lares.Uma das frases mais marcantes do pontificado foiproferida durante a visita do Papa a um cemitériomilitar na Itália: ‘A mim, que me importa?’. Umaquestão para toda a humanidade, uma espéciede teste ao coração de cada um. No fundo, deladepende o crescimento ou não da globalizaçãoda indiferença. P.S. O debate que se seguiu à publicação daexortação apostólica pós-sinodal ‘A Alegria doAmor’ foi exatamente o que se esperava. Mais,exatamente o que o Papa esperava, como sepode ler: “Compreendo aqueles que preferemuma pastoral mais rígida, que não dê lugar aconfusão alguma; mas creio sinceramente queJesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem queo Espírito

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derrama no meio da fragilidade:uma Mãe que, ao mesmo tempo queexpressa claramente a sua doutrinaobjetiva, ‘não renuncia ao bempossível, ainda que corra o risco desujar-se com a lama da estrada’”(n.º 308).Lembro-me que passei no exame decondução depois de ultrapassar umtraço contínuo. O Código deEstrada

é claro, só que não era possívelfazer de outra maneira. Espero quea leitura de um texto tão rico como odo Papa Francisco não se limite auma discussão sobre “traçoscontínuos” e se é possível ou nãopisá-los ou ultrapassá-los. Seriauma pena. Foto: Vinheta de Mauro Biani para‘Il Manifesto’

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Refugiados: Uma preocupação contínua do Papa Francisco

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“Em Portugal já muitos trabalhadores haviamsido avisados dos perigos dos seus posts defacebook. Em alguns casos, os posts forammesmo usados em processos dedespedimentos. Mas nunca tal haviaacontecido a um ministro” (Manuel Halpern; In:Jornal de Letras; 13 a 26 de abril de 2016). “Os relatos de voluntários que estão a tentarajudar nas zonas de afluência e retenção derefugiados, neste sentido, são terrivelmenteesclarecedores do abismo que existe entre osdois lados dos campos e da imaginação: o ladode quem fornece e o de quem necessita deapoio” (Elsa Lechner; In: Jornal «Público», 14de abril de 2016) “A Casa do Gaiato de Lisboa não pertence àObra da Rua/Casa do Gaiato, fundada peloSanto Padre Américo em 1940. Pertence aoPatriarcado que já há muito devia ter tido ocuidado de lhe mudar o nome pelo menos emrespeito pela verdadeira Casa do Gaiato e pelamemória do seu fundador” (José da CruzSantos; In: Jornal «Voz Portucalense», 13 deabril de 2016). “Não adianta nada escorraçar ou excomungar.A Igreja deve ser como um hospital decampanha que cura os feridos nas agruras davida. Toda a gente é pessoa – os solteiros,casados, divorciados ou recasados” (RuiOsório; In: Jornal «Voz Portucalense», 13 deabril de 2016).

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Leigos para o Desenvolvimentocelebram30 anos de atividade

Os Leigos para o Desenvolvimento(LD), organização não-governamental para odesenvolvimento, comemoram estemês o seu 30.º aniversário deatividade. Em entrevista à AgênciaECCLESIA, a diretora executivadesta ONGD realça umaorganização orientada sobretudopara a capacitação e apoio a paísese comunidades mais carenciadas, apartir dos “recursos locais”, demodo a que sejam as própriaspessoas desses territórios “aassumir o protagonismo”

na melhoria das suas condições.“Acreditamos muito no potencialhumano, as pessoas têm muitavontade e capacidade em assumir ocontrolo das suas vidas”, salientaCarmo Fernandes.Fundados a 11 de abril de 1986, osLD foram “pioneiros” naimplementação do voluntariado deleigos em Portugal, contandoatualmente com cerca de 400voluntários com idades entre os 20e os 40 anos. No início, tiveram acolaboração de vários jovensligados

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ao Centro Universitário Manuel daNóbrega e ao Centro UniversitárioPadre António Vieira, instituiçõesdirigidas pela Companhia de Jesus(jesuítas).Depois de começarem em Portugal,lançaram-se em missões em SãoTomé e Príncipe (1988), e no Malawi(entre 1991 e 1994) ajudando noscampos de refugiadosmoçambicanos, deslocados pelaguerra. Passaram também porTimor-Leste durante o período maisconturbado daquela naçãolusófona.Hoje têm projetos em Portugal, SãoTomé e Príncipe, Angola eMoçambique, em áreas como a“educação, formação, emprego,empreendedorismo e voluntariadolocal” e também na vertente“pastoral”.A formação dos voluntários tem sidoum processo fundamental nopercurso dos Leigos para oDesenvolvimento, que contam com“recursos humanos qualificados”,muitos deles já com “percursoacadémico concluído” e experiência“profissional”. Uma vez

no terreno, é feito o “diagnóstico darealidade” para a partir daí“perceber problemas eoportunidades” e “colocar emprática” as respostas que sejammais adequadas às necessidadesdas populações apoiadas.Independente da duração dasmissões, um, dois ou mais anos, atónica é sempre na preparação daspessoas locais para que elaspossam ser agentes de mudança e“assumam soluções que os Estadoslocais deixam muitas vezes deassumir”.“Sabemos que somos externos, anossa passagem ainda que longa,tem o objetivo de ser transitória”,aponta Carmo Fernandes, que foitambém voluntária durante três anosem São Tomé e Príncipe.“Ser voluntário”, segundo a diretoraexecutiva dos LD, “abre horizontes”,alarga o sentido e a “dimensão damissão” das pessoas na sociedadee, no caso do voluntariado católico,dá também maior consciência de“pertença ao corpo da Igreja”.

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Claretianos com novo provincialO novo superior da ProvínciaPortuguesa dos MissionáriosClaretianos explica os desafiosconcretos de uma “missão queabarca imensos campos” emterritório nacional e internacional,num período de reconfiguração.“Queremos olhar para a sociedadecom olhar positivo, que reconheceimensos valores apesar de, àsvezes, estarmos tentados a ver osaspetos negativos da realidade”,disse o padre Carlos Nascimento àAgência ECCLESIA, em Fátima.Na Casa de Acolhimento eEspiritualidade, onde se realizou ocapítulo provincial, o sacerdoteassinala que querem ser “capazesde estar próximos e sersignificativos” na vida dos jovens,com capacidade de questionamentoe de “os levar a pensar”. “De queforma o nosso modo de estar emIgreja, na missão, como Cristo, osdesafiam”, acrescentou, destacandoobras sociais “importantes” dacongregação como o Lar dosCarvalhos, “que trabalha comjovens e crianças desfavorecidas”, eoutras em paróquias.O padre Carlos Nascimento sublinhaainda que o concreto dosMissionários Claretianos acontecede “diferentes maneiras”, onde a

educação também se realiza noscolégios, “a nível do básico esecundário”, nas residênciasuniversitárias, têm publicações e,por exemplo, a Casa de Acolhimentoe Espiritualidade.Devido à diminuição das vocações eenvelhecimento dos religiosos, areflexão passa também pela pastoraljuvenil vocacional. “Como podemosgerir melhor os nossos recursos ecomo podemos sobretudo ser defacto missionários, viver isso a partirde dentro”, acrescenta.Segundo o responsável daProvíncia portuguesa dosMissionários Claretianos acongregação está a entrar numperíodo de reconfiguração “peladiminuição dos recursos humanos epela necessidade de seremsignificativos” hoje na culturaeuropeia.

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Marcelo Rebelo de Sousa preside àabertura do «Meeting Lisboa»O presidente da RepúblicaPortuguesa, Marcelo Rebelo deSousa, vai presidir à sessão deabertura do ‘Meeting Lisboa’, às19h00 de sexta-feira, no CentroCultural de Belém. Subordinado aotema “E tu, que novidade trazes?”, aIV edição do Meeting Lisboapretende "aprofundar as maisdiversas vertentes da vida real"através de expressões culturais que"promovem o diálogo", comoexposições, concertos, conferênciase encontros, refere um comunicadoda ACML - Associação CulturalMeeting Lisboa, promotora doevento, enviado à AgênciaECCLESIA.Após a sessão de abertura, ostrabalhos prosseguem com umdebate dedicado ao tema “Amisericórdia que muda”, com NicolaBoscoletto (Coperativa Giotto) eCatarina Martins Bettencourt (Ajudaà Igreja que Sofre) e apresentadopor Aura Miguel, jornalista epresidente da ACML.A iniciativa parte de pessoas ligadasao movimento católico ‘Comunhão eLibertação’. O tema do MeetingLisboa 2016 pretende ser um"desafio" num momento histórico emque, segundo a ACML, "é fácilafastar a importância dos outros".

"Os outros que batem às portas daEuropa como refugiados ou os quesão vítimas do terrorismo, da criseeconómica, do pessimismoinstalado; mas também os outrosque são nossos vizinhos", precisa anota de imprensa.O Meeting Lisboa assume comoobjetivo "criar espaços de diálogo ereflexão" entre pessoas de culturas,tradições e credos diferentes. Oprograma da quarta edição doencontro inclui exposiçõesdedicadas à violência no mundo e à"aventura do trabalho". Entre osoradores estão Joana Carneiro,Henrique Leitão e João Só.O encerramento deste encontro, nodomingo, conta com a presença dohistoriador Rui Ramos e presidenteda Fraternidade 'Comunhão eLibertação', Julian Carrón.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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D. José Ornelas presidiu à primeira ordenação sacerdotal como bispo deSetúbal

Jubileu das Prisões em Elvas

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Francisco com os refugiados deLesbos

O Vaticano apresentou o programada visita “humanitária” que o Papavai fazer este sábado à ilha gregade Lesbos, que inclui um encontrocom crianças, num campo derefugiados, e uma evocação das“vítimas” das migrações. O porta-voz do Vaticano, padre FedericoLombardi, disse aos jornalistas quea passagem de cinco horas pela ilhado Mar Egeu tem uma natureza“estritamente humanitária”

e ecuménica, sem qualquer intençãode tomar “posições políticas”.Francisco vai visitar Lesbos nacompanhia do patriarca deConstantinopla (Igreja Ortodoxa),Bartolomeu, e do arcebispoortodoxo de Atenas, Jerónimo II. Olíder do executivo grego, AlexisTspiras, vai receber e acompanhar oPapa em Mitilene, capital de Lesbos,às 10h20 (08h20 em Lisboa).

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A comitiva segue depois para ocampo de refugiados de Mória, numpercurso de 16 quilómetros, aoencontro das 2500 pessoas alihospedadas.O encontro, com início marcadopara as 11h15, prevê que os líderesreligiosos cumprimentem numagrande tenda cerca de 150 menorese 250 requerentes de asilo, depoisde passarem pelo pátio dedicado aoregisto dos refugiados.“Esta visita nasce da preocupaçãodo Papa com os migrantes erefugiados”, sublinhou o porta-vozdo Vaticano.Lesbos, ilha com 90 mil habitantes,próxima da costa turca, tem sido umponto de passagem para milharesde pessoas que procuram chegar àEuropa vindas de África e do MédioOriente.Francisco, Bartolomeu e Jerónimo IIvão discursar, pelas 12h25, antesde assinar uma declaração conjuntae de almoçar com algunsrefugiados, ainda em Mória.Os três líderes religiosos deslocam-se em seguida para o porto, ondese vão encontrar comrepresentantes

da sociedade civil e dacomunidade católica, para umasessão de homenagem às “vítimasdas migrações”.Francisco vai proferir aqui o seusegundo discurso, antes de ummomento de oração com o patriarcade Constantinopla e o arcebispoortodoxo de Atenas.O programa prevê um “minuto desilêncio” e o lançamento de trêscoroas de flores ao mar, que vão serentregues aos líderes cristãos portrês crianças.A visita do Papa conclui-se comencontros privados, no aeroporto,com Jerónimo II, Bartolomeu e oprimeiro-ministro Alexis Tspiras.Francisco deixa Lesbos às 15h15locais e o regresso a Roma estáprevista para as 16h30 italianas(15h30 de Lisboa).O Papa afirmou esta quarta-feira noVaticano que vai visitar a ilha gregade Lesbos para manifestar“proximidade e solidariedade” aosrefugiados e à população local,pedindo a oração dos fiéis por estaviagem.

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Papa apela à libertação de sacerdotesequestrado no Iémen

O Papa apelou no Vaticano àlibertação do padre Tom Uzhunnali,sequestrado durante um assalto àresidência das Missionárias daCaridade em Áden, no Iémen. Oreligioso salesiano encontra-sedesaparecido desde 4 de março etem havido notícias contraditóriassobre o seu paradeiro.“Na esperança que nos é dada porCristo ressuscitado, renovo o meuapelo pela libertação de todas aspessoas sequestradas em zonas deconflito armado. Em particular,desejo lembrar o sacerdote TomUzhunnali”, disse Francisco, após arecitação

da oração do ‘Regina Caeli’.O assalto de um comando jihadistaà residência e asilo geridos pelasMissionárias da Caridade,congregação fundada pela BeataTeresa de Calcutá, provocou amorte de 16 pessoas e o sequestrodo sacerdote salesiano, de 56 anos,cujo paradeiro é desconhecido.Logo após o ataque terrorista, oPapa Francisco enviou umamensagem de condolências econdenou este “ato de violência semsentido e diabólica”. As quatroreligiosas mortas eram naturais daÍndia, Quénia e Ruanda.

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Papa vai visitar Arménia, Geórgiae AzerbaijãoA sala de Imprensa da Santa Séanunciou que o Papa Francisco vairealizar uma viagem apostólica àArménia, em junho, e à Geórgia eAzerbaijão, no fim de setembro. Avisita do Papa au Cáucaso, nasperiferias da Europa e em regiõesonde o cristianismo é minoritário,acontece no seguimento dosconvites das autoridades religiosase civis dos respetivos países.Francisco visita a Arménia nos dias24 a 26 de junho de 2016“acolhendo o convite de SuaSantidade Karekin II, SupremoPatriarca e Catholicos de todos osArménios, das autoridades civis eda Igreja Católica”, refere ocomunicado da Sala de ImprensaA visita do Papa à Geórgia e aoAzerbaijão vai decorrer entre osdias 30 de setembro e 2 deoutubro deste ano, após convite de“Sua Santidade e Beatitude Elias II,Catholicos Patriarca de toda aGeórgia e das Autoridades civis ereligiosas da Geórgia e doAzerbaijão”, acrescenta a Sala deImprensa.Karekin II é 132.º patriarca dosarménios, foi eleito em 1999 e élíder espiritual de seis milhões decristãos;

visitou oficialmente o Vaticano emduas ocasiões, em 2008 quando foirecebido por Bento XVI, e a 8 demaio de 2014, sendo recebido porFrancisco; em 2001, João Paulo IIrealizou uma viagem à Arménia.Em novembro de 1999 o Papa JoãoPaulo II visitou a Geórgia, emretribuição de uma visita dopresidente georgiano Shevardnadzee de Elias II ao Vaticano, tendoassinado com o catholicos patriarcade toda a Geórgia uma declaraçãoconjunta com um “apelo em favor dapaz”.No ano 2016, o Papa Francisco temprevistas viagens à ilha grega deLesbos, no dia 16 de abril, e àPolónia, entre os dias 27 e 31 dejulho, para participar na JornadaMundial da Juventude.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Refugiados: Francisco em Lesbos para manifestar «proximidade esolidariedade»

Vaticano: «Que nenhum pecador seja excluído», pede o Papa

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Família, acreditas verdadeiramenteno amor?

D. Manuel Linda Bispos das Forças Armadas e Forças de Segurança

Sempre achei curioso o facto de S. João terminaro seu Evangelho com o relato da trípliceconfissão de Pedro: “Pedro, tu amas-me?”,pergunta-lhe o Ressuscitado. No tempo pós-pascal, quando o Senhor já espaçava muito asaparições, prelúdio do afastamento visualdefinitivo, justificava-se tal «bagatela»? Jesusnão conhecia Pedro sobejamente? Não seriamais eficiente aproveitar o pouco tempodisponível para dar os últimos conselhos,elaborar os planos definitivos e afinar asestratégias e táticas operacionais para aedificação da Igreja?Na nossa mentalidade humana, certamente seriaisso o que importava fazer. Não assim na mentede Cristo nem da do «discípulo amado». Paraestes, a Igreja não é o produto da reflexão deorganismos de consultadoria, nem surgiu num«ninho incubador de empresas»: a Igreja ésimplesmente a comunidade dos que captaram aonda do amor misericordioso e “louco” doRedentor e intentam a resposta com um amor tãoforte quanto possível.Veio-me isto à memória no primeiro contacto–ainda que mínimo e «em diagonal»- com a tãodesejada exortação pós-sinodal do PapaFrancisco sobre o matrimónio e a família. Umacerta mentalidade de automatismos, esperavaque o Papa resolvesse por decreto as enormes eprofundas contradições com as quais seconfronta a família contemporânea: bastaria dizerque tudo é «igual ao litro» para que asproblemáticas desaparecessem.

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Mas não. Francisco nem escolheunem podia escolher esta via. Depoisde dois Sínodos, lançando mão deuma enorme reflexão livrementeoperada no seio da Igreja, situando-se no melhor da antropologia e datradição eclesial, o Papa reconduzao amor puro e vero, como únicaterapia apta a minimizar a doença erecuperar a saúde de umasociedade que se deixou contagiarpelo vírus da pretensa autonomiasolipsista: cada um a pensar em si;o outro, só se lhe for útil para seugozo e conforto. Sem se esquecerde que este amor também se traduzem misericórdia, acolhimento eperdão, de que a Igreja, aliás, devecomeçar por dar o exemplo.

O Papa sabe bem que “nenhumafamília é uma realidade perfeita eacabada de uma vez para sempre,mas que reclama umdesenvolvimento gradual da própriacapacidade de amar” (nº 325). Porisso, toda a Exortação é sobre oamor e não sobre a «doutrina» domatrimónio. Como indica claramenteo subtítulo: “Sobre o amor nafamília”. Deste modo, a família éuma perene construção a realizar.Será que as nossas famílias o vãoouvir com o mesmo entusiasmo dehá cerca de dois anos? Uma coisa écerta: nada está «parado». AExortação conclui-se com umaoração final, precedida de um apeloque é toda uma palavra de ordem:“Caminhemos, famílias.Continuemos a caminhar!”.

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A transparência mediáticaque reifica a pessoa

José Luís Gonçalves Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

Em nenhuma outra época o espaço público foitão dominado pela exigência de transparência dainformação como este em que vivemos. Desde aesfera política e social à económica e financeira,passando pela esfera privada e até íntima daspessoas, esta Sociedade da Transparência(Byung-Chul Han) escrutina e avalia tudo e, depreferência, em tempo real. Acontece que estefenómeno ocorre num momento em que vivemosuma crise do modelo de vida em comum quedeixou de se centrar na sociedade e nas suasfunções de integração de cada um para passar avalorizar cada indivíduo per si . O novo leitmotivda vida social consiste, então, em cada um“marcar a diferença”. Imersos, pois, nestapassagem de uma sociedade fundada sobre elamesma para a “produção de si” dos indivíduos,fomos erigindo uma Civilização da Imagem emque o sujeito que “se” comunica constitui, afinal,o objeto da notícia!Na ânsia de protagonismo mediático, as marcasda singularidade da pessoa vão-se, todavia,apagando, na medida em que a velocidade dainformação provoca uma reação em cadeia e vaitecendo um inferno onde todos são iguais.Muitos descobrem, tardiamente que o espaçomediático, afinal, não tolera a diferença: “anegatividade do outro e do estranho, ou aresistência do outro, perturba e atrasa acomunicação lisa do igual. A transparênciaestabiliza e acelera o sistema através daeliminação do outro e do estranho” (Byung-ChulHan).

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Constituindo a vulnerabilidade umamarca da condição humana, oexcesso de exposição do serhumano no espaço mediático –muitas vezes voluntariamenteprocurada nos reality shows ou nasredes sociais -, cria as condições dasua precarização existencial e dasua fragilização social. A plenavisibilidade, sem sombras, máscarasou disfarces, enfim, a experiência deser visto e saber-se visto, sem ver,instaura uma lógica próxima doterror: como vítima, é vista, mas nãovê; inteiramente exposta edesnudada sente-se desprotegida;permanecendo cega para a origemda sua exposição, é incapaz de aidentificar ou nomear, ainda quesinta a sua presença ameaçadora.Neste olhar coisificante, a vítimareduz-se a um mero objeto

disponível para efeitos demanipulação e é nesta condição quea sua visibilidade é focalizada eenaltecida na Sociedade daTransparência. O que se vê não é apessoa nos seus traços desingularidade e de mistério; pelocontrário, a sua sobre-exposiçãotem por finalidade alimentaro voyeurismomediático da Civilização da Imagem.Neste sentido, a Sociedade daTransparência, coisificando apessoa no espaço mediático, aomesmo tempo que esvazia o seupresente - destituindo-o de valor -,aprisiona o seu futuro, retirando-lhemargem de liberdade, de projeto ede sentido. Eis, pois, um desafiopara uma vida digna em comum:educar para uma renovada razãocomunicativa e relacional entretodos no espaço mediático!

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Beatificação de D. Isabel de Aragão,Rainha de Portugal (15-4-1516)

António ManuelRibeiro Rebelo

Faz hoje precisamente 500 anos que o Papa Leão Xelevou aos altares D. Isabel de Aragão, Rainha dePortugal. O povo considerou-a santa logo após asua morte, tal era a fama das virtudes que aacompanhava, Os primeiros milagres manifestaram-se ainda o seu féretro não tinha sido colocado nobelo túmulo de pedra que ela mandara fazer. Desdeentão foram muitas as gerações que lhe devotaramextremosa veneração, não só em Coimbra, mas emmuitas terras bem mais longínquas, aonde chegavaa fama da santidade e dos milagres de D. Isabel.Também o Rei D. Manuel I tinha por ela grandedevoção. Foi ele que iniciou junto do PontíficeRomano o processo do reconhecimento das virtudesheróicas de sua santa avó. Muitos haviam sido osmilagres registados ao longo dos anos por notários,com as devidas testemunhas. O processo estavaadiantado. Era apenas necessário dar o primeiropasso. D. Manuel assim fez e o Papa anuiu,reconhecendo D. Isabel como digna de veneração,180 anos depois da sua entrada na glória celeste.Nesse breve, assinado a 15 de Abril de 1516, oSumo Pontífice determina que “nas igrejas,mosteiros e lugares da cidade e da diocese deCoimbra, os respectivos fiéis possam, uma vez porano, celebrar e mandar celebrar a comemoração ouo ofício litúrgico” em honra daquela que “já agora,naquelas paragens, é comummente chamadaRainha Santa”. Logo a seguir, especifica ainda queautoriza que, na cidade e diocese de Coimbra,mandem pintar a sua imagem e a

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coloquem entre as dos outrossantos venerados, nas igrejas e nascasas particulares.A partir de 15 de Abril de 1516, opovo da diocese de Coimbra passoua poder tributar culto público à bem-aventurada Rainha. Por essemotivo, neste ano, em quecelebramos o quinto centenáriodesta data, a Confraria da RainhaSanta Isabel decidiu que aveneranda imagem da suapadroeira seria transportada até àSé Nova, para aí ser celebrada

festivamente por toda a diocese.Por outro lado, como Santa Isabelse notabilizou pela prática do amorao próximo nas mais variadasformas que identificamos em cadauma das obras de misericórdia, asua imagem será transportada daigreja de Santa Cruz para a Sé Novanuma procissão jubilar damisericórdia, que acolherá todas asinstituições de apoio social dadiocese que nela queiram participarou fazer-se representar.

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Page 14: Reações à exortação pós-sinodal

Haverá melhor título?

Sónia Neves Agência ECCLESIA

Com a ‘Alegria do Amor’ ainda a palpitar em mime a corroer-me de curiosidade de ainda não terlido todas as páginas recordo um episódio pormim presenciado.18h50, uma tarde outonal. Junto a uma estaçãode Metro um jovem parou o carro dirige-se aoparquímetro, apercebe-se que não tem asmoedas certas. De t-shirt branca com umasletras grandes a preto: CALOIRO, podia ler-se.Chegou junto a um carro e disse: “- Desculpeincomodá-la, precisava que me trocasse umasmoedas”… E ali foi uma conversa de segundos,onde as moedas apareceram e os rostossorriram. O caloiro, de olhos azuis profundos ebarba aparada, soltou depois uma fraseentusiasta, a justificar: “Não posso chegar tardepara me encontrar com a minha namorada…afinal, não se pode deixar o Amor à espera, nãoacha?”Quantas vezes deixamos o Amor à espera? Umareflexão para cada dia, a cada segundo. Hojeserve de mote para olhar a exortação do Papaque traz à tona o sabor do Amor, os desafios domatrimónio, o valor da família, a educação dasnovas gerações… Há quem fuja do Amor, háquem nem queira ouvir falar, há quem o veja dediversas formas, há quem o olhe nos olhos; hátantas maneiras de ver, entender e sentir o Amor.O Papa Francisco vem dar dicas aos maisdistraídos do significado do verdadeiro Amor,aquele que muitas vezes é deixado à espera, ousimplesmente esquecido, mas que ‘é feliz aonascer’.

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‘As pessoas creem que o Amor,como acontece nas redes sociais,se possa conectar e desconectar aogosto do consumidor e inclusivebloquear rapidamente’ (Cap. II,nº39). E lá é citado o descartávele a fuga ao compromisso. Apropósito até surgem questões quese devem fazer antes de casar… ONew York Times lançou estasemana, 13 questões a fazer, umaespécie de fórmula mágica para adecisão. ‘A força da família resideessencialmente na sua capacidadede amar e ensinar a amar’ (Cap. II,nº53). Amar, este verbo que por sisó contém toda a universalidadeque lhe foi dada. O Papa vai maislonge e aponta a atitude de 'amar eensinar a amar',

que advém dessa grandiosidade,que quem experimenta nãoesquece: dar vida; já pressupõeensinar a amar, pois esse é oprimeiro testemunho que os paisdão aos filhos, amarem-se.‘A comunhão familiar exige, de facto,de todos e de cada um, pronta egenerosa disponibilidade àcompreensão, à tolerância, aoperdão, à reconciliação’ (Cap. IV,nº106). O segredo de cada famíliafeliz, a chave de todos os enigmasda vida em família, o xeque mate dafelicidade.Nesta semana uma reflexão sobrea ‘Alegria do Amor’, um convite parauma montanha russa de dicas,citações e conselhos… para chegarà verdadeira alegria do Amor.Eu acredito que a alegria só podevir do Amor, haverá assim melhortítulo?

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Page 15: Reações à exortação pós-sinodal

AMORIS LAETITIA

Acesso dos divorciados à Comunhãosem uma nova "normativa geral" doPapa

O cardeal-patriarca de Lisboaafirmou que a nova exortaçãoapostólica do Papa sobre a famíliaevitou “novidades” em relação aoacesso à Comunhão dosdivorciados católicos em segundaunião. “O Papa, em termos dedecisão, não quer expressamenteadiantar novidades”, declarou D.Manuel Clemente, em conferênciade imprensa no Patriarcado deLisboa.O presidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP), queparticipou nas duas assembleias doSínodo dos

Bispos sobre a família (2014 e2015), no Vaticano, citou aexortação ‘A Alegria do Amor’, nosseus números 299 e 300, parasublinhar que “dentro do catálogode assuntos a resolver” não está o“sacramental”, mas práticas doâmbito “litúrgico, pastoral, educativoe institucional”. “Não está previsto,falta o adjetivo eucarístico,sacramental”, assinalou.Após observar que durante ostrabalhos do Sínodo foi visível afalta de “unanimidade" em relação aesta matéria, D. Manuel Clemente

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considerou que o Papa “não podiaser” mais específico. “A ausência dapalavra sacramental é muitoreveladora”, insistiu.No capítulo oitavo da novaexortação, o Papa propõe umcaminho de “discernimento” para oscatólicos divorciados que voltaram acasar civilmente, sublinhando quenão existe uma solução única paraestas situações. “É compreensívelque não se devia esperar do Sínodoou desta exortação uma novanormativa geral de tipo canónico,aplicável a todos os casos”,sublinha Francisco.Para D. Manuel Clemente, esteolhar de “discernimento, deperceber que as situações não sãoiguais” não implica novidades “noque diz respeito à doutrinapropriamente”. “Tão importante é oque se diz como o que não se diz”,assinalou.Os católicos divorciados,prosseguiu, devem estar “maisintegrados nas comunidadescristãs”, com participação em“diferentes serviços eclesiais”. “Sãopessoas que têm na Igreja umacidadania plena”, defendeu opresidente da CEP.‘A Alegria do Amor’ está centrada na“temática familiar”, com insistênciana família alargada como “escola desociedade em geral”.

D. Manuel Clemente recordou as“milhares de famílias que têm de sairdas suas terras” e defendeu que aIgreja tem de “corresponder” àimportância da família, napreparação do matrimónio e noacompanhamento dos casais.“O ideal do casamento cristão ébelo, é cativante como projeto devida, desde que seja apresentado”,a partir da infância, como uma“vocação”, precisou.A exortação apostólica será objetode “muita reflexão” por parte doepiscopado católico, a partir da“atitude básica de misericórdia”proposta por Francisco.“Todas as pessoas merecem-nosrespeito”, asseverou o cardeal-patriarca, antes de reforçar arejeição de qualquer “discriminação”em relação aos homossexuais.

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AMORIS LAETITIA

Papa inaugura uma nova relação daIgreja com as famílias, diz bispo deLeiria-Fátima

O bispo da Diocese de Leiria-Fátimamostrou-se “agradavelmentesurpreendido” com as mudançasque o Papa promove na relação daIgreja com as famílias, na sua novaexortação ‘A Alegria do Amor’. “OPapa Francisco, de modo genial,introduziu uma mudança dadisciplina sem pôr em causa adoutrina sobre o matrimónio e afamília”,

disse D. António Marto, emdeclarações ao jornal ‘PresenteLeiria-Fátima’, enviadas à AgênciaECCLESIA.D. António Marto, vice-presidente daConferência Episcopal Portuguesa(CEP), considera que Francisco“inova desde logo no estilo, naabordagem e na linguagem, que vãomais longe do que uma abordagemmeramente abstrata e moralista”.“Isso

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percebe-se logo no título: trata-sede dar testemunho da beleza e daalegria do amor em família”, precisa.O prelado aborda a situação dosdivorciados civilmente recasados,para quem não foi possível adeclaração de nulidade por parte daIgreja Católica. O Papa nãoestabelece uma “regra geral”, mas“propõe percursos (itinerários)personalizados de discernimentopessoal (caso a caso) e pastoral,com vários momentos, para amelhor integração na vida dacomunidade com a ajuda da Igreja”.“Aqui o Papa abre mesmo umajanela para a possibilidade da ‘ajudados sacramentos’ da Reconciliaçãoe da Eucaristia em certos casos”,realça D. António Marto.O responsável elogia a “linguagemdireta, simples e envolvente” daexortação pós-sinodal, que se dirigeàs “famílias concretas, imperfeitas,frágeis, mas extraordinárias”.

Em particular, o bispo de Leiria-Fátima alude a uma “mudança doolhar e da atitude pastoral da Igrejarelativamente às situações familiarescomplexas”, que devem ser tratadascom “a lógica da misericórdiapastoral”.“Trata-se do acompanhamentopastoral próximo, compreensivo,realista, encarnado, em ordem auma maior integração nacomunidade cristã, de modo queninguém se sinta excomungado ouexcluído. As palavras-chave são:acompanhar, discernir, integrar afragilidade”, elenca.O bispo fala da ‘Alegria do Amor’como uma “Magna Carta da pastoralfamiliar para o futuro”. O Papa,acrescenta, deixa o desafio de uma“conversão pastoral” que se traduzanuma “maneira nova de serpastores por parte de padres ebispos”.

O presidente da Federação Europeia de Famílias Católicas a últimaexortação apostólica do Papa Francisco como uma contribuição“fantástica” para a defesa da Família. Em entrevista à AgênciaECCLESIA, Antoine Renard frisou que o documento “A Alegria do Amor”surge num tempo em que “alastra uma cultura contrária à família”, tendopor base dois vértices. Em primeiro lugar “a crise económica, em que osofrimento das famílias não está a ser tido em conta” e onde elas sãofrequentemente consideradas um problema, quando deveriam ser vistascomo parte da solução”.

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AMORIS LAETITIA

Acompanhar, discernir e integrarO bispo de Portalegre-CasteloBranco considera que a exortaçãopós-sinodal sobre a família do Papaacentua a “doutrina da Igreja” edestacou três verbos “muitoimportantes” – “acompanhar,discernir e integrar” -, nas JornadasArciprestais da Família em Proença-a-Nova.“Este acompanhar, integrar e inserirpenso que são três verbos de factoimportantes e que hão de marcar apastoral familiar nestes próximostempos ou sempre”, observou D.Antonino Dias à Agência ECCLESIA.O presidente da ComissãoEpiscopal do Laicado e Famíliaconsidera que uma pastoral dequalidade, “que é precisa nestemomento”, tem de passarnecessariamente por esses verbos.“Como diz o Santo Padre, importamais olhar para a realidade dasprópria famílias e a partir dai realizara pastoral do que estar comdiscursos muito bem formalizados enão resultarem”, acrescentou.No Centro Paroquial de Proença-a-Nova, D. Antonino Dias explicou quea família “não é só destinatária” daevangelização como tem de serprotagonista e “as famílias seremIgreja em saída”. “Primeiro

evangelizarem-se uns aos outrosdentro de casa, o que é próprio deuma pequena igreja doméstica.Depois uma família em saída, umaigreja em saída, porque se asfamílias não assumem a sua partena evangelização dificilmente ela sefará”, alertou o prelado, que em2015 participou na assembleia doSínodo dos Bispos sobre a família.Na exortação apostólica pós-sinodal‘Amoris laetitia’ (A Alegria do Amor),o Papa Francisco reforça a rejeiçãoda Igreja em relação à eutanásia eao aborto. “Não posso olhar paraisso de outra forma”, comenta obispo de Portalegre-Castelo Branco,sublinhando que a “vida é dom deDeus e é um valor inestimável,inegociável” que é

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preciso “promover e não destruir”.“Não adianta muito lutar por outrosdireitos se não existir o direito à vidaque é a base essencial”, frisou.Já sobre os casais separados erecasados, o prelado reforça asrespostas de “inserção,acompanhar e integrar”. “Fazer comque eles

também, se têm possibilidade desair da situação em que seencontram, de chegar à declaraçãode nulidade, se há razões para isso,que de facto aconteça e as pessoasaproximem-se dos tribunaiseclesiásticos para que isso seresolva”, destacou.

O vice-presidente da Federação Europeia das Famílias Católicasconsidera que a exortação “A Alegria do Amor” sumariza o empenho doPapa Francisco em “associar a misericórdia à doutrina” na resposta aosdesafios das famílias. Algirdas Petronis veio esta segunda-feira aPortugal e a Fátima, por ocasião de um encontro da FEFC, e abordoupara a Agência ECCLESIA o novo documento do Papa argentino, bemcomo a sua ligação ao último Sínodo sobre a Família.

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AMORIS LAETITIA

Um hino à família e ao matrimónio

O bispo de Angra afirmou que aexortação pós-sinodal “A Alegria doAmor” é um hino ao matrimónio” e“deve ser bem difundida eaprofundada por cada família pararecuperar o mistério destesacramento”. Em declarações aoportal ‘Igreja Açores’, D. JoãoLavrador referiu que se trata de umtexto “muito pastoral e prático queabre caminho para o que é apreparação, a vivência, oacompanhamento e oreconhecimento verdadeiro domatrimónio”.

O bispo de Angra, Açores, referiuque valorizou a preocupação doPapa em “reconhecer a dinâmicaprópria da vida de um casal que écomposto por duas pessoas quevão mudando e com elas ascircunstâncias da vida conjugal”. “Oser humano é um ser complexo queestá sempre a mudar e fazer esseacompanhamento não deixandomorrer o amor é algo que mesensibiliza muito e por issoconsidero que a exortação é umhino ao matrimónio”, precisa.“O Papa tem um sentido pastoralmuito forte e pede aos pastores queacolham e se insiram na realidadeque os rodeia procurando versempre a realidade concreta daspessoas e, neste caso particular,das famílias e isso é muitoimportante”, acrescentou.D. João Lavrador indicou ainda que,nas questões relacionadas com oacesso dos divorciados recasadosaos sacramentos da reconciliação ecomunhão, o Papa substitui porvezes a palavra “irregular porimperfeição”, colocando “a questãoda gradualidade, noacompanhamento, discernimento eexigência do matrimónio”.

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“O Papa coloca todas essasquestões a partir do contexto damisericórdia e centra a exortaçãoem Jesus Cristo”, afirma o bispo deAngra, acrescentando que odocumento

não fala nas questões sacramentais.“Trata-se, portanto, de umdocumento que vai exigir muitaaplicação pastoral”, concluiu D. JoãoLavrador.

O cardeal Christoph Schoenborn, arcebispo de Viena, apresentou noVaticano, a exortação apostólica pós-sinodal ‘A Alegria do Amor’,considerando que o caminho de “discernimento” proposto aos católicosdivorciados é “delicado, mas necessário”. A este respeito, recordou que aadmissão de alguns católicos em segunda união à Comunhão é uma“prática antiga” que nem São João Paulo II ou Bento XVI “colocaram emdúvida”. “O Papa Francisco disse claramente que esta não é uma novadisposição canónica”, precisou.Para o arcebispo de Viena (Áustria), “há muitas questões para continuara discutir”, incluindo a “renovação da práxis sacramental”, no seuconjunto. “Não se pode brincar com os sacramentos, não se pode brincarcom a consciência”, advertiu.

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A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou uma nota para

contestar uma eventual legalização da eutanásia no país, rejeitandosoluções que coloquem em causa a “inviolabilidade” da vida. O tema

está no centro desta edição do Semanário ECCLESIA, comdeclarações

de vários responsáveis e especialistas: monsenhor Feytor Pinto,Isabel Galriça Neto, Isilda Pegado, José Ramos Ascensão, Laurinda

Alves,Pedro Vaz Patto e Sofia Raimão.

A nota pastoral, intitulada ‘Eutanásia: o que está em causa?Contributos para um diálogo sereno e humanizador’ começa por

recordar o debate em curso na Assembleia da República e nasociedade sobre estas matérias. Os bispos criticam

a “atitude simplista e anti-humana” de quem embarcaem soluções tidas como “fáceis”, sublinhando que “não se elimina

o sofrimento com a morte: com a morte elimina-sea vida da pessoa que sofre”.

Os responsáveis católicos assinalam que alguns doentes, de modoparticular os mais pobres e débeis, poderiam sentir-se “socialmente

pressionados a requerer a eutanásia, porque se sentem‘a mais’ ou ‘um peso’”.

Segundo a CEP, subjacente à legalização da eutanásia e do suicídioassistido

está “a pretensão de redefinir tomadas de consciência éticas ejurídicas ancestrais” relativas ao respeito e à sacralidade da vida

humana.Os bispos recordam ainda que a própria Constituição Portuguesa

o reconhece, ao “afirmar categoricamente que‘a vida humana é inviolável’” (artigo 24.º, nº 1).

Ao longo deste dossier encontra também citações do documentocom 26 questões sobre temas ligados à eutanásia e ao fim da vida,

que acompanhou a nota pastoral da CEP.

Ler Mais: Nota Pastoral da CEP

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Com o debate sobre a legalização da eutanásia como tema da ordem do diaa Ecclesia foi ao encontro do Monsenhor Victor Feytor Pinto, mestre emBioética e antigo Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde. O sacerdotede 83 anos, muitos deles ligados à área da Saúde, ouviu muitas vezes opedido de eutanásia, que entende ser uma fuga ao sofrimento ou à solidão,e onde a assistência e acompanhamento ganham sentido redobrado.

Entrevista conduzida pelo jornalista Paulo Rocha

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Agência ECCLESIA (AE) – Comorecebeu este debate sobre aeutanásia e que pertinência temneste momento na sociedadeportuguesa?Victor Feytor Pinto (VFP) - Há cercade 2 anos e meio comecei a alertarnos espaços onde trabalhavaespaços sociais, de medicina,enfermagem ou de Igreja e aténumo encontro que tive com ocardeal patriarca, levantei oproblema que, muito em breve,iriamos ter o problema da eutanásia.Quais eram os sinais disso? Adiscussão acesa sobre o testamentovital era apenas uma porta quepermitiria rapidamente debater isso,depois o problema dos cuidadospaliativos, a insuficiência no paísestava em debate e previa-se que,dentro de pouco tempo, o problemaviria à estacada no debate nasociedade portuguesa. E é muitobem que se faça esse debateporque nos não podemos ficar comconceitos errados, temos de terconceitos claros para tomardecisões elas próprias claras. Paramim, eu gostaria de dizer emprimeiro lugar, que o grande erro domanifesto para a morte assistida,como é chamado, é o conceitoporque, na minha perspetiva, desdehá dezenas de anos, com grandes

professores catedráticos de toda aEuropa defendemos a morteassistida, indiscutivelmente. Agora omanifesto o que refere é definidocomo eutanásia, aqui está umagrande confusão. Eutanásia é aprecipitação da morte comcondições determinadas, pacíficas edefinidas. Outra coisa é a morteassistida. Eu aqui lembro-me de umgrande professor que dizia demaneira interessante: “para eusaber como deve ser a morte devosaber que tem dignidade, quandotem todo o apoio e assistência que odoente tem direito”. Assistênciamedica, terapêutica, de apoioscontinuados, assistência denatureza de compaixão (elementomuito importante, acompanhar odoente em todas as situações dasua vida), assistência da paliação,necessária para que não tenha dor,embora possa ter sofrimento,assistência espiritual e religiosa,indiscutivelmente necessária, factopara quem tem fé e toda a gentetem uma relação com o Deus emque acredita e segundo a suareligião ou mentalidade pode teruma assistência especial nesta linhae depois a assistência da família.

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VFP - Há muitas famílias que nestaaltura desaparecem, evaporam. Istoé a morte assistida, acompanhada,apoiada até ao último momento davida, isto não é eutanásia. Chamarao manifesto “apoio para a morteassistida” é uma contradição porquetodo o contexto do manifesto é aprecipitação da morte por causa dosofrimento, uma enormecontradição.O ponto de partida tem de serclarificar conceitos, e dois conceitosfundamentais, a eutanásia e adistanásia. Muitas vezes considera-se que de devem multiplicartratamentos, inúteis, fúteisdesproporcionados, extraordinários,elevadíssimos que não têm sentido,mas esta decisão não é da família…suspender estes tratamentos é umato médico. A equipa médica tem odever de fazer essa suspensão,todo um trabalho interessantediante de nós. Não podemos querera eutanásia, nem querer obstinaçãoterapêutica, ou distanásia, umprolongamento inútil da vida apenascom sofrimento sem sentido. Sendoassim resta-nos a orto tanásia, querdizer a pessoa tem direito a morrercom dignidade, serenidade,acompanhada, assistida até aoúltimo momento da vida,

é o que chamamos em termosmédicos a medicina de compaixão, oacompanhamento profundo em quelevamos o peso do doente para queele possa sentir até ao fim que nãoesta só. O drama da solidão numdoente terminal é a fonte do maiorsofrimento e esse, podemos evitá-lo. AE – Como incluir aqui o conceitode liberdade e da pessoa diante deuma situação limite de sofrimento?Há aqui um direito a decidir?VFP – Está também em questãooutra coisa, o conceito de liberdade.Quanto a isso tenho de ter atençãoa três coisas. Primeiro eu sou livrequando posso escolher entre umacoisa e outra mas esta liberdade émuito redutora, pobrezinha, aliberdade tem de ser maior. Deveser a escolha entre duas coisasboas, eu escolher a que é melhor.Depois eu escolher uma coisa mánão é bom para ninguém, nem parao próprio. Portanto eu quando uso aliberdade é capacidade de escolhaentre duas coisas boas e eu escolhoa melhor. Escolher coisas más écontra a natureza. Mas terceiracoisa, quando escolho tenho deescolher entre as coisas boas,aquele que melhor serve o bemcomum,

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porque sou um ser social, quandofaço a escolha, escolho o que nãovai incomodar, destruir, magoar, ouferir outros. Ora eu tenho a minhavida e esta relacionada com muitagente, muitos dependem de mim.‘Eu agora decido, não estou paravos aturar, mato-me’, isto não temsentido nenhum... Por causa dadimensão social que temos.Há uns tempos na televisão falou-sede um caso de um livro que foipublicado e diz-se que uma pessoatinha pedido para morrer na Suíça enão tinha ninguém. Mas a autora dolivro afirmou que tinha, mas que asenhora não quis dizer nada aosfilhos… Eu pergunto o que os filhosterão sofrido com a partida destasenhora que não pensou neles,quando a sua vida também erasocial…Dentro desta perspetiva, o ConcílioVaticano II, que eu cito tantas vezes,diz a certa altura que a ‘liberdade éo sinal privilegiado da imagem deDeus no coração do Homem’, isto éteologia. Isto quer dizer que quandosou livre eu sigo tudo o que Deusme pede que eu celebre e oprimeiro dom é a vida e tenho de orespeitar sempre.

A distanásia consiste em utilizartodos os meios possíveis — semque exista uma esperança de cura— para prolongar de formaartificial a vida de um doentemoribundo

Perguntas e respostassobre a eutanásia

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AE – A autonomia da pessoa podechegar a esse ponto de poderdecidir o seu final de vida?VFP – Aí coloca-se o problema daliberdade, eu tenho autonomia mastambém tenho de ter autonomiasocial. Eu realmente possoconsiderar um bem o homem quemete uma cinta de bombas e se fazexplodir no aeroporto de Bruxelas,ele é autónomo e não pensa emninguém? Tem os seus objetivos,explode-se, concordam com isto?Claro que não! A autonomia érelativa por isso é que

nós, em comissão de Ética, que façoparte de duas delas, consideramosmito importante a autonomia mas,avaliada clinicamente, em cadamomento, porque tantas vezes odoente não tem capacidade dedefinir, em autonomia plena, o que émelhor para ele. A eutanásia e o suicídio nãorepresentam um exercício deliberdade, mas a supressão daprópria raiz da liberdade

Perguntas e respostassobre a eutanásia

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AE – Como decidir perante asituação limite, quandoaparentemente a vida não tem maissentido, porque não há respostasmédicas, sociais ou familiares, oque fazer?VFP – Atenção: vamos verobjetivamente, sem recursos aosproblemas espirituais e religiosos.Temos de distinguir entre dor esofrimento, isto é um elementofundamental embora tenhamos hojea dor ou sofrimento global. A dorque foi tão profunda que se tornouum sofrimento latente a atingir avida toda. A dor e sofrimentoconfundem-se. Mas temos de fazera distinção porque a dor possosempre neutralizar. Hoje hácondições para fazer a neutralidadedo sofrimento e não são só oscuidados paliativos gerais. Em todasas unidades de cuidados intensivos,intermédios, em todos os hospitaispúblicos ou privados, se tem asedação. A sedação é o alívio dosofrimento físico, não é tanto apaliação, porque isso é um trabalhoem que eu acompanho a pessoa efaço tudo através da medicina quelhe dou para ela manter sempre asua consciência, sua capacidade dedecisão. Na sedação a pessoaperde a possibilidade de se afirmarmas é um estatuto transitório.

Portanto para a dor física temossoluções, não temos soluçõescompletas para a dor diferente, parao sofrimento, esse que muitas vezesé anímico, de natureza espiritual dedensidade relacional, de impactosocial pelos problemas que seacarretam sobre si e então peranteeste sofrimento tenho de encontrarsoluções. Senão vou admitir quequando o sofrimento é muito densoeu posso sempre acabar com avida, é o problema dramático de umsuicida. Ora se o sofrimento é deoutra natureza eu tenho deencontrar a solução para esseproblema e a fonte mais importantede um doente terminal é a solidão, eessa merece acompanhamento, nãosó de voluntários ou familiares eamigos, mas acompanhamento daequipa técnica, que tem o dever deterapia de compaixão. Não é terpena do doente, isso é compaixão àportuguesa! Mas a compaixão querdizer acompanhamento, sofrer com,o sofrimento que tenho é levado poroutros, isto rompe a solidão, e aliviao sofrimento. É frequente que,quando uma pessoa está só e foivisitada por alguém muito amigo,quando o amigo se vai embora diz,já me sinto melhor.

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AE – Este debate está relacionadocom opções religiosas?VFP – Eu coloco o problema aocontrário, sou um eticista, não é porcausa da minha religião que eudefendo a vida. É porque,psicologicamente, em termos éticos,a vida é primeiro valor, o primeirodireito do Homem e a cada direitoHumano corresponde um deverHumano. O artigo 3º da declaraçãodos direitos humanos diz que todo oSer humano ter direito à vida, àliberdade e à segurança da suapessoa. Não é a liberdade paracontrariar a vida, a vida é ofundamento da liberdade e asegurança também. Não pode ser aequipa clínica que retire segurançaàquele que tem o direito à vida. Porisso a vida torna-se inalienável,inviolável e indisponível. Estra trêspalavras são chave, a partir daética, nem é a partir da religião…Agora, de facto, se sou religioso, aíencontro direito à vida comdimensão espiritual e religiosa. Paraaqueles que são crentes o direito àvida e o dever da vida são,indiscutivelmente, a resposta grataao dom de Deus, Deus deu me avida e eu tenho o dever de a

desenvolver, dar-lhe continuidade ede a tornar útil para os outros. Nãotenho o direito de a destruir. AE – Imaginemos uma legalizaçãoda eutanásia. Que consequênciasteria, por exemplo, para os maisfrágeis e até, para a relaçãomédico-doente?VFP – Primeiro ponto consequênciasociais, seria uma permanentetentação da destruição das vidas, eia avançar se a ser o pp estado aproteger a destruição das vidas. Apouco e pouco íamos ter o ‘mundoselvagem’, como dizia Papa Pio XII.Eu tenho de defender a vida comovalor máximo do ser humano e daínão tenho direito de a manipular.Pode ser manipulada pelo meucapricho, por aqueles que meassistem e a provocam. Há cerca deum século a eutanásia praticava-seem Portugal, na montanha. Há umautor, Miguel Torga, diz a certaaltura a história do abafador.Quando, na família, um idoso oudoente estava a ser um grandepeso chamava-se o abafador. Vinhao abafador, com uma almofada,abafava a respiração do doente eele morria. Isto é descrito peloMiguel Torga. A eutanásiaapareceria sempre

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como uma solução de comodidadede quem tem o dever de assistir odoente, quer o clínico, quer ofamiliar, quer o Estado. O Estadoaliviaria muito os seus orçamentossem ter a preocupação de garantir atodos os doentes a capacidade deultrapassar os seus próprios limites.Como é seu dever. O estadodefende a vida dos cidadãos, nãoprovoca a morte dos cidadãos. Istoé inadmissível, nem

na guerra, eu sou contra a penade morte. Portanto assim sendotambém não posso considerar queatravés da eutanásia alguém temdireito a decidir para si próprio apena de morte. A legalização daeutanásia viria a afetar gravementea relação médico-doente. Elaassenta num ponto-chave, aconfiança e num objetivo, o serviçoà vida. A medicina é para servir avida, não é para precipitar a morte.Nunca!

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VFP - Desde o código de 2500 A.C.até ao juramento de Hipócrates, atéaos Direitos Humanos, ate àConstituição da RepúblicaPortuguesa… Os códigos de ética,todos os códigos de ética, deenfermagem, de medicina,consagram o dever de cuidar davida. É o objetivo da medicina, é oobjetivo dos profissionais de saúdeé o objetivo da enfermagem.Ninguém pode fazer isso, ninguém!Legalizar a eutanásia vai afetargravemente as relações entre omédico e o doente. O médico deixade ter a função sagrada de serapenas, só e sempre um defensorda vida. Por outro lado afetagravemente doente porque perde aconfiança e quando entra numhospital diz: o que é que me irãofazer? O que é que me irão fazer?Eu entro para ser curado, não entropara ser condenado, para sercuidado.AE – Nos muitos ambientes onde jáandou, nos trabalhos quedesempenhou, este problema já selhe colocou? Já alguém lhe disseque queria morrer?VFP – Já, muitas vezes. As pessoasna sua solidão brutal dizem que jápodia morrer, Deus já me pode virbuscar e não é propriamentequerer

O direito à vida é indisponível. Nãopode justificar-se a morte de umapessoa com o consentimentodesta.

Perguntas e respostassobre a eutanásia

a eutanásia. Mas já me aconteceu,uma ou duas vezes, pessoas queexpressam que gostariam de, nummomento mais grave da vida, lhe serprecipitada a morte. É curioso que,depois de uma conversa longa, deassistência continuada, de umaternura e carinho que o doentesente gosto em receber, a pessoadesiste. Em casos vários a pessoavoltou a recuperar a saúde e falacomigo e diz-me que anoa queriamorrer mas estava numa situaçãode vida que queria que fossealterada. A legalização da eutanásiaentre nós, embora haja nalgunspaíses, seria em termos decivilização um risco muito grandepara o respeito profundo peladignidade da pessoa humana.

insira a foto aqui

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A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reforçou em Fátima a suaposição de “total rejeição” de uma eventual legalização da eutanásia nopaís. “A Assembleia reafirmou a total rejeição da eutanásia, que eliminaa vida de uma pessoa, matando-a. A Igreja nunca deixará de defender avida como bem absoluto para o homem, rejeitando todas as formas decultura de morte”, refere o comunicado final da reunião da últimasemana.

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Europa sem agenda para a eutanásiaDiscute-se em Portugal adespenalização da eutanásia comomais um “avanço civilizacional”, daqueles que, normalmentepromovidos pela esquerda, sãoposteriormente mantidos peladireita, ao retomar o poder, acabando assim por seconsolidarem na nossa ordemjurídica.No caso vertente é singularmenteespantoso verificar que este nosso“atraso” é virtualmente universal: hámuito reiterada e firmementerejeitada pela Associação MédicaMundial, a euthanasia, na realidade,encontra-se legalizada numpunhado reduzidissimo de países,incluindo somente, entre os 28Estados membros da UniãoEuropeia, a Holanda, a Bélgica e oLuxemburgo. Os resultados têm sidoextremamente preocupantes, comdenúncias de reiterados abusos nasua prática, a tendência consistentede aumento do número de casosreportados (sem contar os nãoreportados) ou ainda com o seu alargamento, na Bélgica, àscrianças. Também por isso nãosurpreende que a “morte assistida”venha sofrendo em todo o mundoimportantes reveses, como, por

exemplo, recentemente, noParlamento escocês. No âmbito da jurisprudência doTribunal Europeu dos Direitos doHomem o reconhecimento de umalegado “direito a uma morte digna”– incluindo nos casos de “auxílio aosuicídio” – não logrou acolhimento. Finalmente, é ainda notável aausência de apoio a esta agendapolítica no seio do ParlamentoEuropeu. Recentemente, umadeclaração escrita sobrea “dignidade no fim da vida”,sustentando designadamente que “todos os cidadãos (…) que seencontrem numa fase avançada outerminal de uma doença incurávelque causa um sofrimento físico oumental insuportável e que não podeser atenuado devem poderbeneficiar de assistência médicapara acabarem a vida comdignidade”, não recolheu, entre os751 deputados, o número mínimo deassinaturas, 95, necessário para asua aprovação.Um relatório do Parlamento Europeude 2008, não obstante, prevê apossibilidade de uma intervençãolegislativa no campo dos cuidadospaliativos que, segundo algunspostulam, devem incluir

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os “serviços de “morte assistida”,num entendimento indevidamenteabrangente dos chamados“cuidados paliativos integrados”. Poroutro lado, na sequência da reuniãoinformal do Conselho dedicada àterapia da dor e aos cuidadospaliativos realizada durante apresidência italiana em 2014, foicometida à Comissão Europeia apreparação de um Quadro Europeude cuidados paliativos, em que sedefinirá justamente, e desde logo, oâmbito destes referidos cuidados desaúde. Com este desiderato, aComissão deverá lançar

brevemente uma consulta pública afim de recolher contributos dos maisdiversos“stakeholders”. Não deixade ser preocupante, porém, que oConselho tenha utilizado expressões tais como “cuidadosterminais” e “direito do paciente aevitar sofrimento e dordesnecessários”, que, sem mais,podem se prestar a perigosasinterpretações, o que reforça anecessidade de que, também anível europeu, esta matéria sejaobjeto de uma vigilância rigorosa econtinuada.

José Ramos Ascensão Conselheiro jurídico na COMECE

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Page 26: Reações à exortação pós-sinodal

A morte não pode ser a respostapara o sofrimento

O presidente da Comissão NacionalJustiça e Paz (CNJP) assinala querecusar a eutanásia é tambémrecusar a ideia que a “vida podeperder dignidade”, quando deve“ser acompanhada e protegida atéao fim”, e indica os cuidadospaliativos como uma das respostasao sofrimento.“A morte não pode ser a resposta

para o sofrimento. Há outro tipo deresposta e essas passampelos cuidados paliativos que, dizemos especialistas, permitem eliminar osofrimento intolerável. Não eliminamcompletamente mas isso nunca épossível, não é só na fase terminalda vida que as pessoas passampelo sofrimento”, explica Pedro VazPatto.

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À Agência ECCLESIA, o juiz doTribunal Eclesiástico da Diocese deLisboa sublinha que ao sofrimentointolerável a morte não é a respostaporque é “fácil, ilusória”, não exigeum “compromisso sólido e forte” dasociedade.“Que mensagem estamos atransmitir em relação às pessoasque vivem essas situações desofrimento quando admitimos que aresposta para o sofrimento é amorte”, questiona.A eutanásia, sublinha o presidenteda CNJP, não é uma forma decombater o sofrimento mas umamaneira de “eliminar a pessoa quesofre”, por isso, é necessário “daruma resposta” a argumentos com aautonomia que “também pressupõea vida”.Outro argumento subjacente àlegalização eutanásia é a dignidadeda vida humana e para Pedro VazPatto a vida deve ser“acompanhada e protegida” até aofim.Ao fundamento que essa opção éuma questão de liberdade, oentrevistado vê contradições porquea vida “é o pressuposto de todos osbens”, onde se inclui a liberdade e adignidade.“Só é livre a pessoa que está viva. Aideia de que há um direito à morte éem si contraditória porque o direitosupõe sempre um bem. Falar de

Por eutanásia, deve entender-seuma ação ou omissão que, porsua natureza e nas intenções,provoca a morte com o objetivo deeliminar o sofrimento.

Perguntas e respostassobre a eutanásia

direito à morte é tão absurdo comofalar do direito à doença”,desenvolveu.Para o entrevistado existe o direito àsaúde mas “não há direito àdoença”, como “há direito à vida nãohá direito à morte”, uma contradiçãoque “importa denunciar”.O manifesto assinado por váriaspersonalidades que pede alegalização da eutanásia dávisibilidade a este tema que para opresidente da CNJP é o momento“oportuno para esclarecer aspessoas”, algo que considera ser oobjetivo da Conferência EpiscopalPortuguesa com a notapastoral ‘Eutanásia: o que está emcausa? Contributos para um diálogosereno e humanizador’.

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Eutanásia: Se legitimar o «negócioda morte» a humanidade «bate nofundo» Laurinda Alves sublinha que aeutanásia exige “um debate sério”na sociedade portuguesa, poisconsidera que o tema está a serconduzido com base em“pressupostos pouco claros”.Em entrevista à Agência ECCLESIA,a jornalista salienta que em causanão está apenas “uma questão decompaixão, de quem está mais pelolado da dignidade”, ou de “quem émais humano e humanitário”.Segundo a profissional decomunicação, a legalização ou nãolegalização desta prática vaitambém além da discussão do “valorda vida” que “é um valor sem valor”pelo qual é preciso lutar“coletivamente”.“Não pode haver relativismo quandofalamos de vida, a vida ao nascer eao morrer. Dar como única respostaa eutanásia é dar muito pouco”,sustenta Laurinda Alves.Para a comunicadora, é essencial“pôr todas as cartas na mesa” eperceber que do resultado destareflexão à volta da eutanásiadepende também determinar aquem pertence “a decisão última determinar uma vida”.“Quem não pode pagar, ir à clinica,quem não pode sequer decidir, ou

É absurdo falar em “direito àmorte”, como seria absurdo falarem “direito à doença”, porque odireito tem sempre por objeto umbem.

Perguntas e respostassobre a eutanásia

seja, um doente do foro psiquiátrico,um doente mental, vai decidir sobrea sua própria vida e morte?”,questiona a jornalista.Legitimar a eutanásia, prossegueLaurinda Alves, seria abrir as portasa “um negócio, o negócio da morte”que traz consigo toda “uma lógicacomercial que tem de estar dentroda discussão”. “Como é que se gera lucro, como éque se fidelizam clientes, se levampessoas a uma clínica destas. Quemseriam estes profissionais que, soba aparência de médicos e a capa damedicina”, seriam “os profissionaisda morte?”, aponta Laurinda Alves,convicta de que quando foremiluminadas estas “zonas de sombra”,talvez “mais pessoas não queiram aeutanásia”.

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Sobre o argumento de que aeutanásia será uma forma deacabar com o sofrimento daspessoas mais doentes e debilitadas,a jornalista salienta que “nãoexistem vidas indignas de seremvividas” e que a humanidade, aoconsiderar isto, “bate no fundo”.“Conheço pessoas queatravessaram não um, nem doismas três cancros. Pessoas que sãopais e mães de filhos, que vivemfelizes, que atravessaram essemassacre e porque o atravessaramse fortaleceram, apesar dafragilidade toda. Imagine que aoprimeiro cancro só eramconfrontadas com a possibilidade deacabar com a vida”, complementa.Para Laurinda Alves, exemploscomo estes mostram que é possívelquerer mais do que a eutanásia,que é possível “abrir para outrasperspetivas para além de uma morteimediata ou de uma morte a pedido”.Porque “existem outras maneiras deminimizar, às vezes até eliminar osofrimento físico”, lembra a tambémtradutora, apontando para oscuidados paliativos que existemapenas para possibilitar a “estaspessoas viverem com dignidade atéà hora da morte”.“Não há vida sem sofrimento, e nãoé por masoquismo, é porque eleexiste.

E no dia em que acharmos quedescartando o sofrimento,descartando os velhos, os feios, osgordos, os magros, os que têmqualquer coisa fora do padrão, achoisto muito perigoso”, conclui.

Há o sério risco de que a mortepasse a ser encarada comoresposta à doença e o sofrimento,já que a solução não passaria porum esforço solidário de combate aessas situações, mas pelasupressão da vida da pessoadoente e sofredora,pretensamente diminuída na suadignidade

Perguntas e respostassobre a eutanásia

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Oferecer a morte ao sofrimento éredutor, retrogrado e ultrapassado

A diretora da Unidade de CuidadosContinuados e Paliativos do Hospitalda Luz, em Lisboa, considera serurgente um debate “amplo, sereno,esclarecedor” sobre a eutanásia ealerta que falar de morte assistida“induz a equívocos” e é poucoesclarecedor.“Morte assistida é um equívoco, éum branqueamento do termoeutanásia porque, no limite, morteassistida por cuidados médicos

devidos é o que todos queremosainda que não queiramos que amorte nos seja precipitada eprovocada”, disse Isabel GalriçaNeto.À Agência ECCLESIA, observa queos termos têm de ser usados deforma clara para “não dar origem aequívocos”, uma vez que o quetodos querem “é vida assistida”.“Queremos ter direito a bonscuidados de saúde queproporcionem um fim de vida digno,não é igual a dizer que

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Em vez de “morte assistida”, fariamais sentido falarmos em “vidaassistida até ao seu termo natural.

Perguntas e respostas sobre a eutanásia

a morte nos seja provocada”,assinala. Segundo a médica especialista osCuidados Paliativos têm de ser “umdireito de todas as pessoas” quandoestão em situações de doençagrave e de sofrimento porque aeutanásia não é a resposta para osofrimento e a medicina temrespostas.Isabel Galriça Neto explica que oscuidados paliativos não fazem comque as pessoas morram comovegetais, nem intoxicadas emmorfina, “que é um fármacoexcelente” e do qual se precisa,“mas não é essa a realidade”.Às pessoas que estão emsofrimento e em fim de vida épreciso ter-se “muito mais” paraoferecer “do que a morte” que é“profundamente redutor, retrogradoe ultrapassado”.“Não é nem inovador, nem moderno.Uma sociedade moderna mede-sepela forma como trata os maisvulneráveis, aqui é simplesmentetratá-los como lixo”, alerta.Para a entrevistada quando seinvoca o sofrimento comojustificação para

legalizar a eutanásia essajustificação “vai-se alargando,alargando” e passa a ser usadatambém em caso como “doençapsiquiátrica, deficiência, situaçõesde estar cansado de viver”.“A sociedade se tem que interrogarse efetivamente quer esta resposta”,alerta a diretora da Unidade deCuidados Continuados e Paliativosdo Hospital da Luz sobre aeutanásia.Para a também deputada do partidocom assento parlamentar CDS-PP, odebate sobre a eutanásia não éuma “prioridade” porque nenhumpartido político apresentou estainiciativa no seu programa eleitoral,com exceção para o PAN (Pessoas,Animais, Natureza).“Que se faça debate sobre a formacomo se morre, como se vive o fimde vida e como é que os cuidadosde saúde são prestados a estaspessoas”, é o mais urgente para aespecialista.A médica e política comenta aindaque o “pretenso direito a ser morto”tem implicações na sociedade e nobem comum.“A minha liberdade começa ondeacaba a liberdade do outro e é estaharmonização dos direitos que temque ser feita e uma legislação sobrea eutanásia prejudicaria”, refereIsabel Galriça Neto.

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Legalização da eutanásia seriaenorme retrocesso civilizacionalA presidente da FederaçãoPortuguesa pela Vida diz que adiscussão sobre a legalização daeutanásia “é uma maldade que estáa ser feita aos portugueses” equestiona o caminho que se quertomar com a aprovação destaprática.Em entrevista à Agência ECCLESIA,Isilda Pegado realça que quem faz aapologia da eutanásia assenta empressupostos como “a vida é umbem disponível”, que a eutanásia“acaba com o sofrimento” e quequem recorre a esta prática o faz deforma “livre e esclarecida”.“Uma falsidade”, frisa a advogada,sublinhando que “a eutanásia nãoacaba com o sofrimento, mas com apessoa”, quando existem nasociedade e na legislação “dezenas,centenas de exemplos” queconsagram a vida humana comoalgo inalienável e a ser“preservado” em qualquercircunstância.Para aquela responsável, “aquestão da eutanásia e da morteassistida” introduz “um novoelemento, o homicídio praticado coma chancela do Estado”, ao mesmotempo que

ameaça “o conceito da dignidade davida humana” que tem sidoconsolidado “nos últimos anos”.Com base nestes argumentos, apresidente da FederaçãoPortuguesa pela Vida defende que aeventual legalização da eutanásiarepresentará “um enormeretrocesso”, em termoscivilizacionais.Isilda Pegado aponta depois àrealidade dos “países onde aeutanásia já está legalizada”, e ondeesta prática, de forma “recorrente”,tem deixado de ser “um direito” para“passar a ser um dever”.Nações em que pessoas, num“determinado estado da sua vida”,mais “dependentes da família, dasociedade”, são levadas a entrarnum “espírito de que já não estãoaqui a fazer nada”.Num contexto destes, quem “nãopedir a tal morte assistida oueutanásia, então é egoísta porqueestá a ser um peso para asociedade, para os seus. E nósqueremos que no futuro, isto sejauma realidade?”, pergunta apresidente da FederaçãoPortuguesa pela Vida.

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Para a antiga deputada daAssembleia da República, aorientação do debate político esocial deveria ser outra.Mais no sentido da construção de“uma sociedade do amor, docarinho, do encontro de gerações”,mesmo perante o sofrimento dosmais idosos e doentes, pois a vida éfeita de “circunstâncias difíceis queninguém nega e têm de serapoiadas”.“É evidente que há todo o respeitopelo sofrimento, todos temosconsciência que ele é uma realidadeobjetiva e que merece daqueles queestão à nossa volta todo o respeito,carinho e apoio”, realça IsildaPegado.O que está aqui em causa é apreservação de uma “civilizaçãoonde todos tenham lugar, ondetodos É bem diferente matar e aceitar amorte. Quer a eutanásia, quer aobstinação terapêutica,desrespeitam o momento natural da morte

Perguntas e respostas sobre a eutanásia

sejamos iguais, com mais ou menoscapacidades” e não apenas os“mais fortes”, complementa.A proposta de despenalização eregulamentação da eutanásia vaiser entregue no Parlamentoportuguês no dia 26 de abril, nasequência de uma petição lançadapelo movimento “Direito a morrercom dignidade”.

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Aproveitamento político é contrárioao esclarecimento de conceitos

A presidente do Núcleo de Lisboada Associação dos MédicosCatólicos Portugueses (AMCP)considera que existe um“aproveitamento político” para otema da eutanásia estar emdiscussão na sociedade e destacaque os médicos têm um “papelimportante” na clarificação deconceitos.“Este esclarecimento é fundamentalquando estamos a falar em morte

provocada, em provocar a morte dealguém com essa intenção, seja apedido do próprio ou mesmo dafamília. Coisas a que temosassistido na Europa”, assinala SofiaReimão.À Agência ECCLESIA, a especialistaem Neurorradiologia observa quemorte assistida é o que querem quesejam todas as mortes, que aspessoas “não morram sozinhas etenham cuidado, afeto” e o que hojea medicina

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consegue dar de apoio nessasalturas tão difíceis.A presidente do Núcleo de Lisboada AMCP afirma que o debate nasociedade portuguesa sobre aeutanásia “é provocardeliberadamente a morte a umapessoa”, por isso, sublinha que há a“necessidade de clarificar conceitos”.“Acima de tudo não passarmos paraa opinião pública ideias erradas eum bocadinho manipulação dosconceitos e dos termos”,acrescenta.Para Sofia Reimão “é estranho” ehá, “claramente, motivos políticos”,“aproveitamento do momento”, parao tema aparecer porque para quem“lida” com doentes nos cuidados desaúde é “confrontado no dia-a-diacom carências”.“Gostávamos de ver a sociedade eos políticos a investirem de facto emsoluções para melhorarnomeadamente o Sistema Nacionalde Saúde”, revela a entrevistadaque numa altura de crise económicaquer que sejam proporcionadosmelhores meios.Segundo a mestre em Filosofia -especialização em Filosofia eMedicina - existem aqui também umdebate filosófico interessante eafirma que a vida “é o direitoprimordial” sem o qual “não hásequer liberdade”.

“Quando estamos a negar a umapessoa o direito à vida estamos anegar a liberdade. Não há liberdadesem vida, isso parece-meessencial”, sublinha, interrogando-se sobre quantas dessas pessoas“não estão coagidas”, com“decisões pouco livres”, por causado seu sofrimento, da sua dor.Sofia Reimão acentua que há um“trabalho grande” deacompanhamento desses doentes,e das pessoas em geral, nacompreensão que sem um direito àvida não pode-se “sequer falar deliberdade”.A presidente do Núcleo de Lisboada Associação dos MédicosCatólicos Portugueses na discussãosobre a eutanásia destaca ainda a“noção clara” da dignidade e dorespeito pela vida que para si “étransversal a qualquer religião”.“Precisamos de redescobrir essadimensão na nossa vida e acho quea sociedade ocidental perdeu umbocadinho essa noção ao afastar amorte até da própria sociedade. Nósnão somos confrontados com aquestão do sentir”, declara a mestrecom especialização em Filosofia eMedicina.

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O que é que a Igreja tem dito sobrea sociedade em rede? (2ª parte)

Na continuação do artigo dasemana passada, vamos concluirsobre o que é que o magistério daIgreja tem escrito sobre a sociedadeem rede. A própria Igreja é umacommunio, uma comunhão depessoas que se congregam emcomunidades eucarísticas.Podemos destacar três grandesideias que os sucessores de Pedrorefletiram acerca dos modernosmeios de comunicação. Há mais dequarenta anos a instrução pastoralCommunio et progressio, no número128, dizia que “os modernos meiosde comunicação social dão aohomem

de hoje novas possibilidades deconfronto com a mensagemevangélica”. Por outro lado, o PapaPaulo VI escreveu na exortaçãoapostólica Evangelii nuntiandi , nonúmero 45, que a Igreja “viria asentir-se culpada diante do seuSenhor, se não lançasse mãodestes instrumentos deevangelização”. Por último, JoãoPaulo II na cartaencíclica Redemptoris missio, nonúmero 37, definiu os mass médiacomo “o primeiro areópago dostempos modernos”, declarando que“não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristãe o Magistério da Igreja, mas é

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necessário integrar a mensagemnesta “nova cultura”, criada pelasmodernas comunicações”.Sintetizando, os meios decomunicação social têm influênciasobre aquilo que as pessoaspensam acerca da vida, mastambém porque, para as geraçõesmais novas “a experiência humanacomo tal tornou-se uma experiênciavivida através dos mass média”,está escrito na instruçãopastoral Aetatis novae, documentosobre as comunicações sociais quecelebra o vigésimo aniversário daCommunio et progressio. Olhemosentão para as capacidades positivase benéficas da Internet, quepossibilitam, entre outras coisas,

a transmissão de informações eensinamentos que ultrapassam asbarreiras físicas e as fronteiras. “Umauditório tão vasto estaria além dasimaginações mais ousadas daquelesque anunciaram o Evangelho antesde nós... Os católicos não deveriamter medo de abrir as portas dacomunicação social a Cristo, de talforma que a sua Boa Nova possaser ouvida sobre os telhados domundo!”, escreveu João Paulo II, nasua mensagem para o XXXV diaMundial das Comunicações Sociais.

Fernando Cassola [email protected]

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O regresso de Tomáš Halík

‘Quero que tu sejas! Podemosacreditar no Deus do amor?’ é anova obra do teólogo checo TomášHalík. Distinguido com o «PrémioTempleton 2014», ensina Sociologiae Filosofia da Religião naUniversidade Charles, em Praga. SinopseA expressão ‘Amo-te, quero que tusejas’ é atribuída a Santo Agostinho.Tomáš Halík retoma-a para, depoisde vários livros acerca da fé e daesperança, se centrar, aqui, narelação entre fé e amor. “Deustalvez não

esteja interessado naquilo que nóspensamos acerca da sua existência,mas em se nós o amamos. Contudo,o que significa ‘amor a Deus’? Deusnão é um ‘objeto’, por isso tambémnão pode ser ‘objeto de amor’.Portanto, o Cristianismo relaciona,de forma irrevogável, o amor a Deusao amor às pessoas. Aquele queafirma amar a Deus, que não podever, e não ama o seu irmão, a quemvê, é mentiroso, diz a Escritura. Euconheço pessoas que não seatrevem a acreditar que Deus existe;apesar disso, desejariamsinceramente que Ele existisse.

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Conheço outras pessoas queestão firmemente convencidas daexistência de Deus; contudo, têmuma tal ideia dele que, naverdade, prefeririam que Ele nãoexistisse. Quais destes dois tiposde pessoas estão mais próximosde Deus? Todas as reflexõescontidas neste livro giram, defacto, à volta desta frase”. O público-alvo“Os meus livros não sãodestinados àqueles que têm acerteza absoluta de quecompreendem perfeitamente oque significa o mandamento doamor a Deus. Eu dirijo-meàqueles que procuram osignificado dessas palavras, querse considerem crentes, quase-crentes ou “antigos crentes”,incrédulos e agnósticos, ou não-crentes. Dirijo-me às pessoascom quem me encontro todos osdias e que são, simultaneamente,crentes e não-crentes. Por outraspalavras, não são de modoalgum ‘religiosamente surdos’,mas, no seu caminho de fé,conhecem momentos de silêncioda parte de Deus, e a suaprópria aridez

interior; às vezes extraviam-se docaminho e depois voltam a encontrá-lo;têm interrogações por responder etambém passam por momentos derevolta”

Paulinas Editora

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II Concílio do Vaticano: A Igreja nãopode ficar fechada na sacristia

Quando se realizou o II Concílio do Vaticano (1962-65), o padre Ramón Cazallas Serrano estudava emRoma e teve a oportunidade de ver e sentir o pulsardeste acontecimento do século XX. “A igreja passou ater uma Teologia e Eclesiologia, um tipo de conduta ede vida religiosa diferentes”, sublinhou estemissionário da Consolata.Na obra «Quando a Igreja desceu à Terra –Testemunhos de memória e futuro nos 50 anos doConcílio Vaticano II», o sacerdote espanhol revelou aojornalista António Marujo que ainda estava “impresso”na sua cabeça, o momento em que foi aprovada aconstituição sobre a Igreja «Lumen Gentium».No dia seguinte à promulgação, o professor deeclesiologia chegou à aula e disse: «Podem fechar olivro porque a eclesiologia era particamente umaapologética. Agora vamos estudar isto»; e “mostrou asfolhas com o documento aprovado no dia anterior, quetrazia consigo”, disse na entrevista concedida aAntónio Marujo.Com o II Concílio do Vaticano surgiu um conceito deIgreja bem diferente daquela que era vivida. Gestosnovos nasceram com o decorrer desta assembleiaconvocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo seusucessor. O missionário espanhol – nascido em 1942em Castela, La Mancha – recorda o encontro com osbispos conciliares nas paragens de autocarro, nacidade romana. E lembra-se que, um dia, participoucom alguns colegas num debate de teólogos comHenry de Lubac como conferencista. Essa iniciativacontava também com

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a presença de muitos bispos.“Apareceu D. Hélder da Câmara,que se sentou nas escadas, porqueo anfiteatro estava cheio.Levantámo-nos para ceder o lugar,porque ele era arcebispo e eledisse. «Não, não. Eu sou umapessoa como vocês, fiquem nosvossos lugares»” (In: «Quando aIgreja desceu à Terra –Testemunhos de memória e futuronos 50 anos do Concílio VaticanoII»; página 17).O missionário da Consolata revelatambém que a constituição«Gaudium et Spes» é o “olharamoroso da Igreja sobre o mundo, acara carinhosa da

Igreja sobre as realidades terrenas. Toca os temas candentes da Igrejade há 50 anos mas, em embrião,estão lá todas as situações que hojeafligem a humanidade: a fome, aguerra e a paz, a dignidade e osdireitos humanos”. Baseada noEvangelho, ela ilumina a pessoahumana e a sua problemáticaexistencial. “A Igreja não pode ficarfechada na sacristia, mas deve sairao encontro do homem na suarealidade existencial”.O sonho e a ousadia de João XXIIIlançaram a Igreja num diálogoaberto com a modernidade.

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Abril 2016 16 de abril. Portalegre – Seminário -Assembleia sinodal conclusiva daDiocese de Portalegre-CasteloBranco . Porto - Casa diocesana de Vilar -«A linguagem» é o tema da formação para docentes de Educação Morale Religiosa Católica (EMRC). Ainiciativa organizada conjuntamentepelos secretariados diocesanos daEMRC de Viana do Castelo, Porto,Braga, Lamego e Bragança-Miranda . Grécia - O Papa Francisco visita aIlha de Lesbos (Grécia) nacompanhia do patriarca deConstantinopla . Beja - Ferreira do Alentejo -Sessão do «Festival Terras SemSombra» com concerto na Igrejamatriz de Ferreira do Alentejo com otema «Pelo Mar, pelo Sertão:Música do Brasil nas Épocas doReino Unido e do Império» e sessãoda biodiversidade «Hospedaria dePeregrinos: A Lagoa dos Patos, Ilhade Biodiversidade no OceanoOlivícola» (termina a 17 de abril)

. Algarve – Tavira - Passeio comhistória sobre a Igreja Matriz deSantiago com orientação dohistoriador de arte, Daniel Santana . Bragança - Torre de Moncorvo,09h30 - Dia diocesano da juventudecom a presença de D. José Cordeiro . Açores - Ilha do Faial (Biblioteca eArquivo Regional João José daGraça), 14h00 - Colóquio sobre«Desafios e oportunidades narecuperação de um problema desaúde mental», promovido peloServiço Diocesano da PastoralSocial dos Açores, em parceria coma Ouvidoria do Faial . Aveiro - Auditório das Florinhas doVouga, 14h30 - Colóquio sobre «AMissão na Prisão» . Lisboa - Igreja de São MaximilianoKolbe, 15h30 - Sessão deapresentação pública e de reflexãosobre o documento «Contributospara o Sínodo daDiocese» elaborado pelosmovimentos, comunidades e grupospromotores do «Escutar a Cidade»

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. Beja - Seminário de Beja, 16h00 - Lançamento da obra «D. José doPatrocínio Dias - O homem, o militare o bispo restaurador da Diocese deBeja» da autoria de Luis MiguelFernandes com apresentação deDavid Sampaio . Funchal - Igreja de Santa Cecília,19h00 - Conferência sobre «Misericórdia, um caminho para apaz» pela irmã Arantza Uriaste(Missionária Verbum Dei) e promovida pelo SecretariadoDiocesano da Pastoral Familiar . Funchal - Paróquia do Coração deJesus, 20h30 - Vigília de oraçãopelas Vocações . Porto – Sé, 21h30 - Concerto dePáscoa com a organista LiudmilaMatsyura . Coimbra - Sé Velha, 21h30 - Concerto vocacional integrado naSemana de Oração pelas Vocações . Beja - Ferreira do Alentejo (Igrejade Nossa Senhora da Assunção),21h30 - Festival Terras SemSombra apresenta sonoridades doBrasil 17 de abril. Dia Mundial de Oração pelasVocações

. Lisboa - Torres Vedras (PavilhãoMultiusos) - Assembleia Diocesanade Catequistas com o tema«Catequistas com Espírito: Acolher oolhar de Jesus, ser dom para todos,educar para a misericórdia» . Fátima - A Família FranciscanaHospitaleira vai realizar a suaperegrinação nacional ao Santuáriode Fátima centrada no «Abrircaminhos de misericórdia» . Braga – Famalicão - Dia arciprestaldos movimentos juvenis, centradono Jubileu Juvenil da Misericórdiacom a presença de D. Nuno deAlmeida . Vaticano - Basílica de São Pedro,09h15 - Papa Francisco preside aordenações sacerdotais . Leiria – Sé, 16h00 - Os diáconosTiago Silva e Armindo Rodriguesvão ser ordenados, na Sé de Leiria,numa celebração presidida por D.António Marto . Braga - Famalicão (Matriz Nova),17h30 - Conferência pascal sobre«Anunciadores da Misericórdia» porD. Nuno Almeida, bispo auxiliar deBraga 18 de abril. Fátima - Assembleia geral da CIRP(até 19 de abril)

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A Diocese de Portalegre-Castelo Branco vai realizaruma Assembleia conclusiva do Sínodo Diocesano paraapresentação do documento final a 16 de abril, noSeminário de Portalegre, e a celebração de umaEucarística de ação de graças, às 18h00, na Sé. A Igreja Católica em Portugal celebra este domingo oDia Mundial de Oração pelas Vocações. O PapaFrancisco convida “todos” os católicos a"responsabilizar-se" por uma área essencial da Igreja. A Família Franciscana Hospitaleira vai realizar a suaperegrinação nacional ao Santuário de Fátima, dia 17de abril, centrada no «Abrir caminhos de misericórdia». Vai decorrer em Fátima, nos dias 18 e 19 de abril, aAssembleia Geral da CIRP, a Conferência dosInstitutos Religiosos de Portugal. O cardeal D. José Saraiva Martins, prefeito emérito daCongregação da Causa dos Santos, profereconferência sobre «Os cristãos na vida da cidade», nodia 19 de abril, uma iniciativa promovida pela VigarariaEpiscopal da Cultura da Diocese de Vila Real. Os católicos das Filipinas vão receber as relíquias deSanto António de Lisboa a partir de 20 de abril, numpériplo por igrejas de todo o arquipélago que serealiza duas décadas depois da última iniciativa dogénero.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

10h30 - Oitavo Dia 11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 20h30Domingo, 17 de abril -Eutanásia: questões emdebate RTP2, 15h00Segunda-feira, dia 18 -Entrevista a a Juan Ambrosiosobre o documento "A Alegriado Amor" Terça-feira, dia 19 -Informação e entrevista aMiguel Panão sobre o IIIEncontro Nacional de Leigos. Quarta-feira, dia 20 - Informação e entrevista A MariaJoão Pinto e Raquel Rocha sobre os "Jovens por umMUndo Unido" Quinta-feira, dia 21 - Informação e entrevista a PedroAguiar Pinto sobre o Dia da Terra Sexta-feira, dia 22 - Análise à liturgia de domingopelos padres António Rego e Armindo Vaz. Antena 1Domingo, dia 17 de abril - 06h00 - "A Alegria doAmor": novas pistas para as relações entre Igreja e asfamílias. Segunda a sexta-feira, 18 a 22 de abril - 22h45 - Eutanásia: questões em debate.

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Ano C – 4.º Domingo do TempoPascal Escutar a vozdo Pastor éseguir Cristo

No Evangelho deste quarto domingo do tempo pascal,Jesus é apresentado como Bom Pastor. Por isso sechama o Domingo do Bom Pastor, que coincide com oDia Mundial de Oração pelas Vocações. A missão deCristo é trazer a vida plena às ovelhas do seurebanho, convidadas a escutar, acolher e seguir oPastor.A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos propõe duasatitudes diferentes diante da proposta que CristoPastor nos apresenta: ou somos ovelhas cheias deautossuficiência, satisfeitas e comodamente instaladasnas nossas certezas; ou somos ovelhas sempreatentas à voz do Pastor, dispostas a arriscar tudo paraO seguir até às pastagens de vida abundante, de vidatotal, de felicidade sem fim. A leitura do Apocalipseinsiste também nesta meta final para todo aquele quesegue Cristo.«Sou eu». Quem de nós não exclamou tantas vezesesta expressão? Nem se torna necessário dizer onome. «Sou eu» não se diz a um desconhecido. Paraentrar na intimidade de alguém, é preciso uma relaçãolonga, um viver-com, uma familiaridade, no sentidopleno da palavra. Isso só se pode viver na duração, nafidelidade, na paciência.«Eu sou o Bom Pastor». Jesus coloca-Se num registode intimidade para falar da sua ligação com osdiscípulos, vivida durante três anos. Tornaram-se seusamigos. Várias vezes, Jesus só precisou deste gritopara Se fazer reconhecer: “Sou Eu!” Os discípulos nãopodiam enganar-se: esta voz era a do Mestre, únicano mundo.Com Jesus, não é o meu nervo auditivo que vibra àsua voz, mas a audição do coração que me tornaatento quando a sua Palavra é proclamada em Igreja,quando

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a leio e medito. É ela que vem fazervibrar o meu ser profundo, que metoca o coração.Torno-me então capaz de integrar,na minha vida e na minha maneirade pensar e de agir, a maneiraprópria de ser, falar e agir de Jesus.A minha vida vai ganhando corevangélica e a minha consciênciavai-se afinando à vontade doPastor, torno-me discípulo de Jesuse reconheço a sua presença naminha vida.Aí está um trabalho de longoalcance, para toda a vida. Escutar avoz do Pastor é seguir Cristo. Não éessa a vocação própria de todo obatizado: fazer-se eco da voz doBom Pastor no coração do mundo?Segundo

a mensagem do PapaFrancisco para este dia, somosconvidados a «redescobrir que avocação cristã, bem como asvocações particulares, nascem nomeio do povo de Deus e são donsda misericórdia divina! A Igreja é acasa da misericórdia e também aterra onde a vocação germina,cresce e dá fruto».Que este Dia Mundial de Oraçãopelas Vocações nos leve a umarenovada atitude de oração e deempenho pelas vocações na Igreja,sinal de esperança fundada na fé,sempre no seguimento de Cristo.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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EVANGELHO DE NOSSO SENHOR JESUSCRISTO SEGUNDO SÃO JOÃONaquele tempo, disse Jesus: «As minhas ovelhas escutam aminha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eudou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer e ninguém asarrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do quetodos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Paisomos um só».

Palavra da Salvação.

(Jo 10, 27-30)

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Concurso de fotografia dedicado aoJubileu

A Santa Casa da Misericórdia deLisboa (SCML) lançou o concursode fotografia ‘Olhares deMisericórdia na Cidade’, dedicadoao Jubileu Extraordinário daMisericórdia, que decorre até ao dia9 de maio. Num comunicadoenviado à Agência ECCLESIA, aSCML informa que o concurso sedestina a fotógrafos profissionais eamadores, com mais de 18 anos.

“O objetivo é demonstrar, através dafotografia, como o conceito de‘Misericórdia’ é um valor universalpresente no dia-a-dia das pessoas,assinalando assim ascomemorações deste ano Jubilar”,explica a Santa Casa daMisericórdia de Lisboa.Neste contexto, a organizaçãopretende que as fotografias ilustrem“gestos, momentos ou situações” doquotidiano onde esteja presente

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a Misericórdia na sua “dimensãoespiritual e/ou humana”.Os três melhores trabalhos vãoreceber, respetivamente, um prémiono valor de 3000, 2000 e 1000euros, em material fotográfico e aoportunidade de verem “o seutrabalho exposto num edifício deLisboa”.A Santa Casa da Misericórdia deLisboa convidou os fotojornalistasportugueses António Pedro Ferreirae Mário Cruz a integrar o júri doconcurso pela “elevada reputação eprovas na área da fotografia, não sóa nível nacional comointernacionalmente”.

Os vencedores vão ser conhecidos“até ao final de junho” e a SCML vaifazer a divulgação no seu sítio nainternet - www.scml.pt - onde estádisponível o regulamento doconcurso de fotografia.A instituição contextualiza ainda que‘Olhares de Misericórdia na Cidade’se insere no seu programa deatividades para assinalar o Jubileuda Misericórdia, que a IgrejaCatólica vive até 20 de novembro:“Promovendo assim um dos valoresfundadores da SCML refletido nasua missão de acolher, cuidar eapoiar os que mais necessitam”.

EsmolaO Papa Francisco defendeu no Vaticano que dar esmola é um aspeto“essencial da misericórdia” e não se cumpre apenas com a oferta “àpressa” de uma moeda, mas implica falar com quem pede ajuda.“Não devemos identificar a esmola com a oferta duma moedinha, dada àpressa, sem olhar a pessoa e deter-se a falar com ela, para se entenderverdadeiramente o que ela necessita”, afirmou o Papa na audiênciapública especial de sábado, realizada no Vaticano no âmbito do Jubileuda Misericórdia.A esmola é um “gesto de amor”, de “atenção sincera de quantos seaproximam de nós para nos pedir ajuda”, adiantou Francisco. “Ofereceresmolas não pode ser um fardo ou um incómodo de que nos livramosrapidamente”, sustentou

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Uma Páscoa sangrenta, do Paquistão até à Escócia…

Lahore aqui tão perto

No domingo de Páscoa, emLahore, centenas de cristãosmorreram ou ficaram feridos emconsequência de um atentadosuicida. Três dias antes, naEscócia, um muçulmano foiassassinado por ter desejadouma Páscoa feliz aos seusclientes e amigos. Faltavam apenas três dias para aPáscoa. Já era de noite quando

alguém reparou no corpo de umhomem deitado no chão na ruaMinard, em Shawlands, na Escócia.Ao lado do corpo daquele homemalastrava uma poça de sangue.Depressa a notícia alastrou pelobairro. “Aquele homem” era osenhor Shah, do quiosque dosjornais. Todos o estimavam. O crimedeixou a comunidade local perplexa.Shah, de 40 anos, paquistanês,casado,

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era muçulmano mas, acima de tudo,era um bom homem, tolerante,simpático, afectuoso. Tão afectuosoque, na sua página no “facebook”,decidiu publicar uma mensagemdirigida a toda a comunidade local,aos clientes e amigos, aos seusvizinhos desejando-lhes umaPáscoa feliz. A polícia depressadescobriu o autor deste crime eprendeu um homem, de 32 anos,também muçulmano, que teráviajado desde Bradford apenas como objectivo de pôr fim à vida deShah. Para as autoridades, oassassino fez a viagem, de cerca de300 quilómetros, apenas para calaraquele homem de voz livre queabraçava todas as religiões e quese preocupava genuinamente comos outros. No relatório da polícia, ocrime foi descrito como tendoorigem em “preconceitos religiosos”.Asah Sarah foi assassinado apenas4 horas depois de ter colocadoaquele “post”, aquela mensagem deBoas Festas de Páscoa no seu“facebook”. Faltavam três dias paraa Páscoa. É difícil compreenderLá longe, no Paquistão,provavelmente ninguém terá sabidodeste crime. Três dias depois, nodomingo de Páscoa,

em Lahore, uma cidade com umarazoável população cristã, depoisdas cerimónias religiosas centenasde pessoas decidiram reunir-se numparque público. Já era o fim da tardequando um bombista suicida fez-seexplodir e, na sua loucura, arrastoupara a morte mais de setentapessoas, na sua maioria homens ecrianças, e provocou ainda trêscentenas de feridos, alguns aindaem estado grave. Poucas horasdepois, o atentado foi reivindicadopelo grupo taliban Jamaat-ul-Ahrar:“O alvo eram os cristãos”, disse umporta-voz deste grupo terrorista àagência Reuters.É difícil imaginar o que pode motivaralguém a cometer um crime por“preconceito religioso”. É difícilimaginar alguém percorrer cerca de300 quilómetros para esfaquear atéà morte um conterrâneo apenasporque ele desejou uma “Páscoafeliz” aos seus vizinhos cristãos. Édifícil imaginar alguém fazer-seexplodir, no meio de um parquepúblico, cheio de centenas depessoas, na sua maioria mulheres ecrianças, que estavam a brincar,apenas para castigar umacomunidade religiosa. É difícilimaginar tanto ódio por causa dareligião. Afinal, Lahore está aqui tãoperto… Paulo Aido| www.fundacao-ais.pt

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Amor gera Alegria

Tony Neves Espiritano

O Papa Francisco publicou a ‘Alegria do Amor’, a19 de Março, depois de ter dado á estampa a‘Alegria do Evangelho’. Sim, nunca falta a estePapa o espírito das Bem-Aventuranças quecomeçam todas por ‘Felizes…’!São poucas as boas razões para perder parte deuma noite. A leitura desta Exortação é uma delas.Li em dois dias, voltei a ler, sublinhei e fiquei feliz.É um texto aberto, ousado, cheio de ternura emisericórdia. Escolhi alguns recortes:‘O bem da família é decisivo para o futuro domundo e da Igreja’ (nº31).‘A força da família reside essencialmente na suacapacidade de amar e ensinar a amar’ (nº53).‘O que nos faz grandes é o amor quecompreende, cuida, integra, está atento aosfracos’ (nº97).‘Jesus dizia ás pessoas: ‘Filho, tem confiança!’(Mt 9,2). ‘Grande é a tua fé!’ (Mt 15,28).‘Levanta-te!’ (Mc 5,41). ‘Vai em paz!’ (Lc 7,50).‘Não temais!’ (Mt 14,27). Não são palavras quehumilham, angustiam, irritam, desprezam. Nafamília, é preciso aprender esta linguagemamável de Jesus’ (nº100). ‘Na família, é necessário usar três palavras: comlicença, obrigado, desculpa. Três palavras-chave’ (nº133). ‘O sentimento de ser órfãos, que hojeexperimentam muitas crianças e jovens, é maisprofundo do que pensamos’ (nº173).‘O amadurecimento do amor implica tambémaprender a ‘negociar’ (…)’fazer o exercício doamor recíproco’(…), ‘negociar novamente osacordos, de modo que não haja vencedores nemvencidos, mas ganhem ambos’ (nº220).

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‘O amor precisa de tempo disponívele gratuito, colocando outras coisasem segundo lugar. Faz falta tempopara dialogar, abraçar-se sempressa, partilhar projectos, escutar-se, olhar-se nos olhos, apreciar-se,fortalecer a relação’ (nº224). ‘é bom dar-se sempre um beijo pelamanhã, benzer-se todas as noites,esperar pelo outro e recebê-lo áchegada, ter alguma saída juntos,compartilhar as tarefas domésticas’(nº226). ‘Quanto às pessoas divorciadasque vivem numa nova união, éimportante fazer-lhes sentir quefazem parte da Igreja, que nãoestão excomungadas nem sãotratadas como tais, porque sempreintegram a comunhão eclesial’(nº243). ‘A experiência espiritual não se

impõe, mas propõe-se à sualiberdade’ (nº288). ‘Duas lógicas percorrem toda ahistória da Igreja: marginalizar ereintegrar. O caminho da Igreja,desde o Concílio de Jerusalém emdiante, é sempre o de Jesus: ocaminho da misericórdia e dareintegração(….).Por isso, temos deevitar juízos que não tenham emconta a complexidade das diversassituações e é necessário estaratentos ao modo em que aspessoas vivem e sofrem por causada sua condição’ (nº296).‘Ninguém pode ser condenado parasempre, porque esta não é a lógicado Evangelho!’ (nº297).‘A família vive a sua espiritualidadeprópria, sendo ao mesmo tempouma igreja doméstica e uma célulaviva para transformar o mundo’(nº324).

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