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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 2015 277 AVALIAÇÃO DA SECAGEM EM ESTUFA SOLAR DE MADEIRAS DE Eucalyptus dunnii Maiden E Pinus elliottii Engelm. Joel Telles de Souza¹, Elizandra de Lima², Gustavo Lopes da Silva³, Talita Baldin 4 , Walmir Marques de Menezes 5 . ¹ Engenheiro Florestal, Professor dos cursos de Engenharia Florestal e Engenharia Bioenergética Campus de Xanxerê - SC, e-mail: <[email protected]>. ² Acadêmico do Curso Engenharia Florestal da UNOESC Campus de Xanxerê - SC ³ Acadêmica do Curso Engenharia Florestal da UNOESC Campus de Xanxerê - SC, 4 Engenheira Florestal, M. Sc., Doutorando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. 5 Engenheiro Florestal, M. Sc., Doutorando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015 RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar o uso da estufa solar para a secagem da madeira de Eucalyptus dunnii Maiden e Pinus elliottii Engelm. Foi comparado o comportamento das duas espécies com relação ao tempo e a taxa de secagem, bem como a qualidade da madeira ao final do processo. Para isso, na cidade de Xanxerê – SC, localizado em uma região de Clima Temperado Mesotérmico, foi construído um secador solar com estrutura de madeira sentido Norte/Sul, possibilitando a incidência dos raios solares no sentido Leste/Oeste, e coberto com plástico policloreto de vinila (PVC). O secador foi constituído por uma câmara de aquecimento, uma de secagem e outra de desumidificação do ar. Por meio do estudo, permitiu-se concluir que a madeira de Pinus elliottii apresentou maior velocidade de secagem e melhores índices de qualidade da madeira que a de Eucalyptus dunnii, a espécie de Pinus, entretanto, apresentou o defeito de encurvamento, enquanto E. dunnii apresentou rachaduras de topo e superficiais, encurvamento e encanoamento. PALAVRAS-CHAVE: defeitos de secagem, qualidade da madeira, secagem da madeira, secagem solar EVALUATION OF SOLAR KILN DRYING FOR WOOD OF Eucalyptus dunnii Maiden AND Pinus elliottii Engelm. ABSTRACT This study aimed to evaluate the use of solar kiln for drying the wood species of Eucalyptus dunnii Maiden and Pinus elliottii Engelm. The behavior of the two species was compared with respect to time and drying rate and quality of the wood at the end of the process. For this, in the city of Xanxerê - SC, located in a region Temperate Mesothermal, a solar dryer with wood structure was built in the direction North/South, allowing the sunlight towards East/West, and covered with plastic polyvinyl chloride (PVC). The dryer consisted of a chamber, drying and other dehumidifying the air.

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AVALIAÇÃO DA SECAGEM EM ESTUFA SOLAR DE MADEIRAS DE

Eucalyptus dunnii Maiden E Pinus elliottii Engelm.

Joel Telles de Souza¹, Elizandra de Lima², Gustavo Lopes da Silva³, Talita Baldin4, Walmir Marques de Menezes5.

¹ Engenheiro Florestal, Professor dos cursos de Engenharia Florestal e Engenharia

Bioenergética Campus de Xanxerê - SC, e-mail: <[email protected]>. ² Acadêmico do Curso Engenharia Florestal da UNOESC Campus de Xanxerê - SC

³ Acadêmica do Curso Engenharia Florestal da UNOESC Campus de Xanxerê - SC, 4 Engenheira Florestal, M. Sc., Doutorando em Engenharia Florestal, Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. 5 Engenheiro Florestal, M. Sc., Doutorando em Engenharia Florestal, Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil.

Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo avaliar o uso da estufa solar para a secagem da madeira de Eucalyptus dunnii Maiden e Pinus elliottii Engelm. Foi comparado o comportamento das duas espécies com relação ao tempo e a taxa de secagem, bem como a qualidade da madeira ao final do processo. Para isso, na cidade de Xanxerê – SC, localizado em uma região de Clima Temperado Mesotérmico, foi construído um secador solar com estrutura de madeira sentido Norte/Sul, possibilitando a incidência dos raios solares no sentido Leste/Oeste, e coberto com plástico policloreto de vinila (PVC). O secador foi constituído por uma câmara de aquecimento, uma de secagem e outra de desumidificação do ar. Por meio do estudo, permitiu-se concluir que a madeira de Pinus elliottii apresentou maior velocidade de secagem e melhores índices de qualidade da madeira que a de Eucalyptus dunnii, a espécie de Pinus, entretanto, apresentou o defeito de encurvamento, enquanto E. dunnii apresentou rachaduras de topo e superficiais, encurvamento e encanoamento. PALAVRAS-CHAVE : defeitos de secagem, qualidade da madeira, secagem da madeira, secagem solar

EVALUATION OF SOLAR KILN DRYING FOR WOOD OF Eucalyptus dunnii Maiden AND Pinus elliottii Engelm.

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the use of solar kiln for drying the wood species of Eucalyptus dunnii Maiden and Pinus elliottii Engelm. The behavior of the two species was compared with respect to time and drying rate and quality of the wood at the end of the process. For this, in the city of Xanxerê - SC, located in a region Temperate Mesothermal, a solar dryer with wood structure was built in the direction North/South, allowing the sunlight towards East/West, and covered with plastic polyvinyl chloride (PVC). The dryer consisted of a chamber, drying and other dehumidifying the air.

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Through the study allowed to conclude that the wood Pinus elliotti presented a faster drying and better quality scores than wood Eucalyptus dunnii, given, showing the defect of bending, while Eucalyptus dunnii presented top cracks and surface curving and cupping. KEYWORDS: drying defects, drying of wood, wood quality, solar drying

INTRODUÇÃO

As atividades de reflorestamento com as espécies exóticas no Brasil foram impulsionadas pelo Governo Brasileiro em 1966, através do Incentivo Fiscal para plantio de florestas, com objetivo de abastecer as indústrias de papel e celulose, diminuir a exploração das florestas nativas e garantir o suprimento de matéria prima para a indústria madeireira, proporcionando resultados inegavelmente positivos (MENDES, 2005).

Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF, 2012), a participação do setor florestal, baseado em florestas plantadas, é expressiva para a economia nacional. Atualmente essa atividade continua sendo a principal fonte de matéria prima, com uma área plantada de cerca de 6.664.812 hectares, e importante fator de competitividade para diversos segmentos industriais, como celulose e papel, siderurgia, painéis, uma gama de produtos de madeira e móveis.

De acordo com SILVA et al. (1997), a utilização da madeira para satisfazer a necessidade dessas indústrias traz vários inconvenientes relacionados com a perda e depreciação, que vão desde a operação de abate das árvores até a fase final de processamento. A adequada secagem da madeira serrada, antes de sua transformação em bens e produtos, conforme (JANKOWSKY, 1995), é reconhecidamente a fase mais importante de todo o processamento que visa agregar valor ao produto final. O processo de secagem consiste de uma técnica que visa à redução do teor de umidade da madeira, com objetivo de levá-la até um determinado ponto, com um mínimo de defeitos e no menor tempo possível (ANJOS et al., 2011).

Diversos estudos com secagem da madeira foram realizados por inúmeros pesquisadores, tais como: SILVA et al. (1997); SEVERO (2000) e STANGERLIN (2009). Os autores trabalharam com algumas das principais espécies florestais comercializadas no Brasil.

STANGERLIN (2009) realizou estudos no Sul do Brasil com o uso de estufa solar na secagem da madeira de Eucalyptus tereticornis Sm., Eucalyptus saligna Sm. e Corymbia citriodora (Hook.) K.D.Hill & L.A.S.Johnson, e, com isso, obteve resultados superiores em qualidade, quando comparada a secagem ao ar livre. A estufa solar emprega a mesma fonte de energia da secagem ao ar livre, entretanto, nesse processo o aproveitamento da energia apresenta maior eficiência. Com base no exposto, e devido à importância de um processo adequado da secagem da madeira, a presente pesquisa teve como objetivo avaliar a eficiência da secagem de madeira de Eucalyptus dunnii e de Pinus elliottii em estufa solar.

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MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo e construção da es tufa

A estufa foi instalada na cidade de Xanxerê – SC, localizada na zona de Clima Temperado Mesotérmico brando, com temperatura média anual entre 10 e 15°C (IBGE, 2005). De acordo com SANTA CATARINA (20 02), citado por DORIGON et al. (2008), a precipitação média anual é de 2.100 a 2.300 mm. As árvores de Pinus elliottii e Eucalyptus dunnii utilizadas no estudo, foram obtidas em povoamentos com 20 anos de idade de propriedade da empresa Bragagnolo S.A., localizada na linha Fortaleza, no município de Faxinal dos Guedes.

A estrutura da estufa foi confeccionada com madeira seca de Pinus elliotti, obtidas de madeireiras da cidade de Xanxerê - SC. Utilizou-se na cobertura da estufa lona plástica de 0,6 mm transparente. As dimensões para a câmara de secagem e desumidificação, que estão inseridos no mesmo módulo, foram de 2 m de comprimento, 3 m de largura e 2,5 m de altura. Já para o módulo de pré-aquecimento do ar, teve dimensão de 2 m de comprimento, 3 m de largura e 1 m de altura (Figura 1).

FIGURA 1 Estufa solar utilizada no experimento. Fonte: Os autores.

Obtenção dos dados

O desdobro da madeira foi feito por meio de cortes tangenciais e obtidas 12 tábuas de cada espécie, com dimensão nominal de 2,5 cm X 15 cm x 1 m (espessura, largura e comprimento), respectivamente. O volume de madeira utilizado foi de 1 m³, disposto no interior da estufa solar em duas fileiras, de acordo com as duas espécies utilizadas. Também foram colocados separadores de 2,5 cm X 2,5 cm X 75 cm para cada pilha de madeira, espaçados de 50 em 50 cm, com objetivo de melhorar a eficiência do processo de secagem.

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A temperatura do interior da estufa foi observada e anotada diariamente, uma vez por dia entre 14h 00min e 15h 00min, durante os 30 dias de estudo, usando um termômetro digital. Após o desdobro da madeira, foram feitas amostras de controle com 2,5 cm x 10 cm x 20 cm de espessura, largura e comprimento, respectivamente, que serviram para o monitoramento do teor da umidade de cada espécie, com auxílio de uma balança de precisão de 1 g. Ao término do processo de secagem, para avaliação da eficiência do método, foram cortados pequenos pedaços de igual tamanho ao das amostras, e comparadas com as tábuas utilizadas no experimento.

Processamento dos dados

A taxa de secagem foi determinada de acordo com a Equação 1.

(Equação 1)

Onde: Ts = Taxa de secagem (%) dia Tui = Teor de umidade inicial (%) Tuf = Teor de umidade final (%) T = Tempo de secagem decorrido (dias)

As avaliações dos defeitos, como rachaduras, arqueamento, encurvamento e encanoamento foram realizados em duas etapas, a primeira, logo após o desdobro, antes do início da secagem e, posteriormente, a segunda após o término da secagem, de acordo com a normativa para Classificação de Madeira Serrada de Folhosas do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF, 1983).

Para a obtenção do defeito de colapso, foi utilizada uma plaina manual para remoção de alguns milímetros da superfície onde foi classificado conforme STANGERLIN (2009). Os resultados foram avaliados por análise de variância e teste de médias, considerando o nível de 95% de confiabilidade. Para tanto, foi utilizado o pacote estatístico Statgraphics Plus.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Teor de umidade

O teor de umidade inicial médio para a madeira de Eucalyptus dunni estudada foi de 82,98% e após 30 dias, obteve-se o teor de umidade final de 12,84%. Enquanto para Pinus elliottii submetido à secagem, juntamente, com o Eucalyptus dunnii, apresentaram teor de umidade inicial médio de 159,54%, após os mesmos 30 dias, e finalizou o processo com teor de umidade final de 12,04% (Figura 2).

A espécie de Pinus elliottii alcançou um teor de umidade satisfatório em apenas 15 dias chegando a 12,04%, enquanto o Eucalyptus dunnii precisou de 30 dias para chegar a 12,84%.

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FIGURA 2 Teor de umidade inicial e final das madeiras de Eucalyptus dunnii e Pinus

elliottii durante o período de secagem. Fonte: Os autores.

Conforme a Figura 2, a estufa solar mostrou-se eficiente na redução da

umidade das madeiras de Pinus elliottii e de Eucalyptus dunnii, chegando ao valor ideal de 12%, mesmo o Eucalyptus dunnii necessitando de um período maior para alcançar esse valor. Conforme BUSATTO et al. (2013), comumente, as madeiras do gênero Pinus têm uma estrutura mais porosa que as madeiras de eucalipto, característica que pode ter influenciado o resultado encontrado. Taxa de secagem

Os resultados encontrados na análise de variância para a taxa de secagem (Pro.>F=0,0968), evidenciaram que não houve diferença significativa em nível de 5% de probabilidade de erro. A taxa de secagem do Eucalyptus dunnii foi próxima a encontrada por STANGERLIN (2009) em estufa solar para a madeira de Eucalyptus saligna, no entanto, a taxa de secagem do Eucalyptus dunnii foi superior as espécies de Eucalyptus tereticornis e Corymbia citriodora, com taxas de secagem média de 1,91% e 1,31%, respectivamente. Isto pode ter ocorrido devido às condições ambientais não serem as mesmas, sendo que este estudo iniciou-se no início do inverno, terminando na primavera, entretanto, o autor realizou seu experimento no período de inverno.

Defeitos de secagem

Na Tabela 1 são apresentados o índice de rachaduras médio e o índice de rachaduras superficiais, após a secagem das madeiras de Eucalyptus dunnii e Pinus elliottii.

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TABELA 1 Comparação das médias dos parâmetros de rachaduras de topo e rachaduras superficiais das tábuas de Eucalyptus dunnii e Pinus elliottii

* IRT – Índice de rachaduras de topo, IRS – Índice de rachaduras superficiais.

** Médias seguidas pela letra em cada coluna não diferem significativamente entre si em nível de 5% de probabilidade de erro pelo Teste de Médias (LSD = Least Significant Difference).

De acordo com os dados observados na análise de variância para o índice de

rachaduras de topo das tábuas (Prob.>F=0,0061), observa-se que ocorreu diferença significativa em nível de 5% de probabilidade de erro entre Pinus elliottii e Eucalyptus dunnii. Ao analisar as médias das rachaduras de topo observou-se que o Pinus elliottii não apresentou incidência do referido defeito, enquanto o Eucalyptus dunnii apresentou 4,91%. STANGERLIN (2009), trabalhando com as madeiras de Eucalyptus tereticornis, Eucalyptus saligna e Corymbia citriodora, também encontrou valores inferiores a 5% de IRT ao final da secagem.

Resultado semelhante também foi verificado por STHÖR (1977), que obteve valores de IRT abaixo de 5%. Segundo CUETO (1997), em estudo verificou alta incidência de rachadura de topo utilizando a secagem em estufa solar. De acordo com SIMPSON (1991), uma alternativa para diminuir a incidência de IRT nas tábuas durante a secagem em estufa solar seria pintar os topos das peças, para que a saída de água seja mais lenta, reduzindo o gradiente de umidade entre o topo e o centro das tábuas.

Assim como as rachaduras de topo, as rachaduras de superfície resultam da presença de gradiente de umidade, entre superfície (mais seca) e o centro da peça (mais úmida), proporcionando tensões que excede a resistência a tração perpendicular as fibras (DENIG et al., 2000). Os resultados mostraram-se significativos para os índices na análise de variância (Prob.>F= 0,0288), com diferença significativa de 5% de probabilidade de erro, onde as madeiras de Pinus elliotti não apresentaram rachaduras superficiais, enquanto as madeiras de Eucalyptus dunnii apresentaram 12,44 % de rachaduras superficiais.

Analisando a Norma Brasileira de Classificação de Madeira Serrada (IBDF, 1983), para os parâmetros IRT e IRS, classificamos a madeira de Pinus elliottii como de Classe A, entretanto, a madeira de Eucalyptus dunnii apresentou 5% e 12,44% de defeitos de IRT e IRS, respectivamente, classificando-a como de classe A e de classe B.

Resultados semelhantes foram encontrados por STANGERLIN (2009), para secagem combinada (secagem ao ar livre e secagem em estufa convencional) e secagem em estufa solar. O autor refere no estudo valores altos de rachaduras de superfícies, evidenciando a suscetibilidade das espécies do gênero Eucalyptus no

Espécie IRT* IRS*

Eucalyptus dunnii 4,91 a* 12,44 a*

Pinus elliottii 0,00 b* 0,00 b*

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parâmetro de rachadura de superfície para os vários métodos de secagem da madeira. O resumo da análise de variância para arqueamento das tábuas evidencia que, tanto para Pinus elliottii como para Eucalyptus dunnii, ocorreu o defeito de arqueamento, sendo assim foram influenciadas significativamente pela condição de processamento, em nível de 5% de probabilidade de erro.

Resultado semelhante ao que foi encontrado por TRUGILHO (2006), que estudando a qualidade da madeira de Eucalyptus dunnii, não encontrou diferença significativa nos valores de arqueamento das tábuas, nas condições de processamento da madeira verde e após sua secagem. Os defeitos ocasionados pelo arqueamento durante a secagem podem ser reduzidos, evitando o desdobro de toras que apresentam alguma excentricidade, ocasionada pelo deslocamento da medula. Ainda, deve-se ter cuidado com o mau posicionamento da tora no carrinho durante a execução de cortes assimétricos.

Os resultados encontrados na análise de variância para o encurvamento das tábuas, exposto na Tabela 2, evidenciaram que Pinus elliotti, e Eucalyptus dunnii, são diferentes significativamente ao nível de 5% de probabilidade de erro (Prob. >F= 0,0238).

TABELA 2 Comparação das médias dos parâmetros de

encanoamento e encurvamento das tábuas de Eucalyptus dunni e Pinus elliottii

Espécie Encanoamento Encurvamento (%)

Eucalyptus dunnii 0,27 a* 0,33 a*

Pinus elliottii 0,00 b* 0,20 b*

*Médias seguidas pela letra em cada coluna não diferem significativamente entre si em nível de 5% de probabilidade de erro pelo Teste de Médias (LSD = Least Significant Difference).

Ao analisar às médias do índice de encurvamento na Tabela 2, observa-se que o Pinus elliotti apresentou 0,20 % do referido defeito, enquanto o Eucalyptus dunnii apresentou 0,33 %. O encurvamento pode ser eliminado durante o empilhamento da carga de madeira. Em geral, o encurvamento é influenciado pela maneira do empilhamento do que pela secagem propriamente dita. Logo, pode ser evitado com a adição de pesos sobre a pilha, ou também a colocação de peças defeituosas sobre a pilha, conforme descrito em estudo realizado por BERKELEY (1995) os quais obtiveram reduções significativas do encurvamento.

O encanoamento pode ser resultante da diferença entre contrações transversais e pela exposição de apenas uma face da tábua a secagem (STANGERLIN, 2009). A espécie Pinus elliottii não apresentou defeito de encanoamento, no entanto, o Eucalyptus dunni apresentou um aumento de IEA de 2,76 mm após a secagem em relação a pré-secagem. Esse valor ficou no limite do encontrado por CALONEGO & SEVERO (2007), que obtiveram 1,41 e 4,41 mm para a madeira de E. grandis, aos 30 anos de idade. Entretanto, foi superior ao resultado

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de CARVALHO & NAHUZ (2002), que avaliaram a madeira serrada de um híbrido de E. urophylla, aos 7 anos de idade e encontraram encanoamento médio de 0,96 mm.

A madeira de eucalipto é suscetível ao defeito de encanoamento durante a secagem, principalmente se realizada em condições severas e de altas temperaturas (PONCE, 1995). Em relação ao colapso, nenhuma das peças de madeira submetidas à secagem em estufa solar desenvolveram o defeito, isto se deve, presumidamente, as baixas temperaturas de secagem no início do processo. Resultados contraditórios foram reportados por SEVERO (2000) em secagem convencional para Eucalyptus dunnii em estufa piloto, sendo encontrados elevados e moderados defeitos de colapso, respectivamente.

CONCLUSÃO A estufa solar mostrou-se eficiente no processo de secagem da madeira. A madeira de Pinus elliottii apresentou uma taxa de secagem,

significativamente, superior a madeira de Eucalyptus dunnii A madeira de Eucalyptus dunnii mostrou-se suscetível ao desenvolvimento de

rachaduras de topo e superficiais, encanoamento e encurvamento, durante o processo de secagem em estufa solar

A madeira de Pinus elliottii submetida a secagem em estufa solar apresentou apenas o defeitos de secagem de encurvamento.

A secagem em estufa solar possibilitou a obtenção de teores de umidade final, para as duas espécies estudadas, na faixa de 12%.

A secagem em estufa solar é muito econômica, pois além de sua construção simples, não exige energia elétrica, em alguns casos, como deste trabalho, que utilizou somente a energia solar. Desta forma, consegue-se uma secagem suave e com custo reduzido, comparado com a secagem em estufas convencionais.

REFERÊNCIAS

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