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Recensão Crítica de Educação e Sociologia_Durkheim

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LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA Recensão Crítica da Obra Educação e Sociologia de Émile DurkheimDisciplina de Teorias Sociológicas: FundadoresDocente: Professor Doutor Nuno Dias Discente: Davide Morais Pires Bombarral, 13 de Dezembro de 2010 Durkheim, Émile Educação e Sociologia, Edições Melhoramentos, 8ª edição, São PauloNo Capítulo I, A educação, sua natureza e função, o autor indica que educação significa o conjunto de influências que os outros exercem sobre nós e que seu ideal é construir

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LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA

Recensão Crítica da Obra

Educação e Sociologia

de

Émile Durkheim

Disciplina de Teorias Sociológicas: Fundadores

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Docente: Professor Doutor Nuno Dias

Discente: Davide Morais Pires

Bombarral, 13 de Dezembro de 2010

Durkheim, Émile Educação e Sociologia, Edições Melhoramentos, 8ª edição, São Paulo

No Capítulo I, A educação, sua natureza e função, o autor indica que educação

significa o conjunto de influências que os outros exercem sobre nós e que seu ideal é

construir o ser social, por oposto ao ser individual, ela tem como missão despertar

estados físicos e mentais, na qual a sociedade e o grupo a que pertence, encaram como

indispensáveis. Mas esta influência consiste em quê?

Segundo Kant: «o fim da educação é desenvolver, e, cada indivíduo, toda a

perfeição de que ele seja capaz» (p.34)

Segundo James Mill a educação é a forma de trazer felicidade ao próprio

indivíduo, como também aos outros indivíduos (p.34)

Durkheim aponta que as definições para educação têm uma grande falha, que

passa, que incide no facto de algo que é considerado correcto hoje, não o ser amanhã.

Ou seja, tal como o autor afirma, existe a utopia de que existe uma educação ideal, e

como exemplo, cita as educações efectuadas durante a Antiguidade Clássica, Idade

Média, Renascimento e na própria actualidade do autor. Outro ponto que aborda é o

facto de a educação, imposta à criança, ser influenciada, não pelo indivíduo, mas pela

sociedade, revelando aqui o primado do social (que obriga o indivíduo a ter em conta

outros interesses que não os dele – nomeadamente os da sociedade em que está inserido

-, obriga-nos a dominar as nossas paixões e o instinto, através de leis – estas

materializam-se através da educação) sobre o individual (que na sua génese é egoísta,

apenas interessa ao indivíduo o seu bem-estar). E esta submissão é benéfica e do

interesse do indivíduo, visto que ela é o que de melhor existe no Homem, ao que

Durkheim refere: “… o homem não é humano senão porque vive em sociedade.”

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Uma sociedade é composta por instituições, logo as instituições têm muita

influência sobre a construção de educação (através da qual se inculca nos indivíduos

sentimentos, ideais e práticas), das quais se destacam a religião, política, ciência e

economia. Durante a educação nós não conseguimos alterar as normas que nos são

impostas, no entanto, podemos entrar em contacto com elas, mediante o conhecimento

delas através da observação.

No entanto a educação não é toda homogénea, no sentido em que é igual em

todo e qualquer lugar. E para justificar esta afirmação, o autor recorre aos exemplos

seguintes: a educação citadina não é igual a uma educação campesina. Esta diferença

ocorre, também, porque as finalidades de educação são diferentes nos dois lugares

acima mencionados. Enquanto na cidade o indivíduo tem que dominar a capacidade de

cálculo, a pontualidade e exactidão (cf. Simmel, Georg, As metrópoles e a vida mental),

no campo basta saber as regras básicas de cálculo. Com isto reforço a ideia do autor que

afirma o seguinte: “Cada profissão constitui um meio sui generis, que reclama um

conjunto de aptidões…”. Varia igualmente entre as classes sociais, e tomemos por

exemplo um pajem e um de um vilão. O pajem, na Idade Média era instruído em todos

os saberes da cavalaria e cortesia, o vilão apenas aprendia escassas noções gramática e

cálculo. Ou seja observa-se aqui uma dualidade que o autor divide em educação una e

múltipla. E esta dualidade, Durkheim aponta como o sustentáculo básico do sistema

chamado educação.

Pode-se afirmar, então, que o fim último da educação é o de preparar a criança para

o seu futuro, de forma a poder comportar-se de acordo com as necessidades sociais. Esta

é a que trás a coesão necessária que é exigida na cooperação, e por consequência na

vida social. Esta educação apenas satisfaz as necessidades da sociedade, indica o autor.

Um factor decisivo para a implementação e estabilidade da educação (mesmo

comportando um conjunto de diferenças como já observámos mais acima) é o aprender

uma linguagem. Esta é o motor pelo qual aprendemos moral, religião, interagimos com

os outros indivíduos, apreendemos um conjunto de ideias, que o autor diz serem

organizadas e classificadas.

Mas observemos agora outros parâmetros. Durkheim informa-nos que a educação é

prioritariamente ligada ao meio familiar e que o Estado só deve se envolver neste

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domínio quando o indivíduo não tem uma família. No entanto visto que e educação é

relativa ao social, o Estado tem de ter um especial interesse por tudo o que toca

relativamente ao que é social. E com esta ideia o autor não defende que haja um

monopólio do ensino por parte do Estado. E aqui se trata da questão do educador,

aquele, que a meu ver tem uma extrema importância neste processo. O Estado é o seu

juiz, ou seja, é o Estado quem coloca, através dos seus moldes, os educadores que lhe

mais satisfaçam as necessidades. Daí Durkheim afirmar que uma escola não pode ter a

liberdade de criar um sistema de educação que vá contras as normas de uma sociedade

em que está inserida, criando assim um ser anti-social, deslocado quanto ao tempo e

época em que vive.

Neste momento o autor vai determinar qual o caminho para atingir esse tal ideal

de educação. Ele afirma que a educação não retira ninguém de lugar algum, como

acreditavam Locke e Helvetios. Referente a esta temática expõe que quem tem essa

capacidade não é a educação, e muito menos o educador, mas o próprio indivíduo.

Através do quê? Através de predisposições que estão presentes no indivíduo, mais

precisamente, na criança. Estes podem ser instintos (estes desdobram-se em vários: o

instinto de conservação, no qual o indivíduo tenazmente tenta fugir a qualquer forma de

sofrimento ou morte; paternal ou maternal, ou sexual), os quais o autor define como

sendo um “sistema de movimentos determinados, sempre idênticos”, ou seja, são

propensões para certas direcções. Mas nem sempre são idênticos, os indivíduos adaptam

esses movimentos consoante as circunstâncias em que se encontram. O autor contesta

que a propensão para o suicídio, ou o crime não é hereditário, o que poderá ser

hereditário é a capacidade imaginativa e de atenção, ou seja, são aquelas que mais se

repetem de forma igualitária.

Durkheim aponta duas características que colocam os educandos sobre a sua influência:

“A criança fica, por condição natural, em estado de passividade…”

“O ascendente que o mestre naturalmente possui sobre o discípulo, em

razão de superioridade da experiência e cultura ”

Aqui podemos observar o tamanho poder que este instrumento, que é a

educação, tem, afirma o autor. Ou seja com isto ele, Durkheim, quer dizer que temos

sobre nós uma responsabilidade extremamente importante. Ao depararmo-nos com a

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propensão que uma criança tem para imitar os adultos, que são importantes para elas,

vemos que a nossa responsabilidade é a de termos o zelo constante de sermos

cuidadosos no uso das palavras que empregamos, nas atitudes e comportamentos que

adoptamos. Será senso comum afirmar que se o modelo que a criança tem é o de um pai

violento, não terá, a criança, probabilidades de o ser também? Eu acredito que sim. O

segundo ponto refere-se à autoridade que é exigida do educador face ao educando.

No capítulo II, Natureza da Pedagogia e seu método, aborda-se a confusão que

pode advir e há, com os termos de educação e pedagogia. O autor acima já definiu o

conceito de educação, agora ele, vai definir o de pedagogia, este “consiste, […], em

teorias, […], maneiras de conceber a educação…”. Ou seja, como que uma Ciência da

Educação, como Durkheim diz. Mas para ser considerada ciência, tem de responder de

forma positiva a três características:

“Os estudos devem recair sobre factos que conheçamos, que se realizem

e sejam passíveis de observação, […], define-se pelo seu objecto de

estudo”

“É preciso que esses factos apresentem entre si homogeneidade

suficiente para que possam ser classificados numa mesma categoria…”

“A ciência estuda os factos para conhece-los, e tão-somente para

conhece-los, de modo absolutamente desinteressado.”

As práticas educativas poderão incorporar os factos sociais, e sobre os quais a

ciência da educação tem a legitimidade para estudar. O autor considera que à medida

que uma determinada sociedade a forma de ensinar evolui, por exemplo, numa

sociedade tribal a educação é feita de forma difusa (não existe um indivíduo que tem a

responsabilidade de educar outras indivíduos), nas sociedades mais avançadas a

educação fica encarrega a um grupo específico de indivíduos.

O autor refere que as teorias sobre pedagogia são todas de carácter especulativo.

Ou seja elas não têm como objectivo descrever ou explicar, mas o de dizer como deve

ser. A pedagogia passaria por ser assim uma teoria prática, ou seja, ela reflecte os

sistemas de educação.

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No capítulo III, Pedagogia e Sociologia, vai-se de encontro ao carácter social da

educação, à importância da acção educativa e aos fins e meios da educação.

O carácter social da educação (o autor volta a recorrer às ideias que Kant, Mill, Herbart e

Spencer) relacionado com a tentativa de desenvolver no indivíduo a máxima perfeição

possível, o autor refere que, para os teóricos, eles partem do pressuposto de que existe

educação, tese, esta que Durkheim defende a inexistência de um ideal de educação (pois

admitir que é possível atingir a perfeição das capacidades humanas através da educação); eles

incorrem do erro de que as propriedades da natureza humanas estão de, certa forma,

fechadas e a esta afirmação, Durkheim defende que desta forma qual seria o papel do

educador? Absolutamente nenhum. E como é de comum conhecimento, o educador tem um

papel extremamente importante na educação das novas gerações. Os autores que acreditam

existir uma educação capaz de desenvolver a perfeição a que um indivíduo possa aceder, ou

que possa trazer a possibilidade de fomentar a felicidade ao próprio como aos outros

indivíduos que possam entrar em contacto com ele, pecam pela contradição que a História nos

revela, defende Durkheim, ou seja, este tipo de educação nunca foi colocado em prática, pelo

contrário, observa-se claramente que todo e qualquer tipo de educação sempre teve como

objectivo adaptar o indivíduo iniciante numa determinada sociedade, para poder suprir as

necessidades sociais (que na sua génese são o que de melhor há para o indivíduo).

Observemos o caso das sociedades totalitárias precedentes (e que causaram o início da

mesma) à II Guerra Mundial. Estas sociedades eram alicerçadas numa obediência total e cega

ao líder nacional, eram de carácter belicista e agressivas para com os seus vizinhos de ideais

diferentes. Resumindo eram uma sociedade voltada para o militarismo (análogas ao Império

Romano). O seu objectivo educacional era o de formar indivíduos que fossem

“sentimentalmente frios” e que tivessem como principal valor a obediência aos interesses

nacionais. Este exemplo é o que melhor poderá ilustrar que as suas teses estavam erradas,

dando mais plausibilidade aos argumentos de Durkheim: “A Educação nunca é uma

atividade puramente intencional, os modos de relação, a dinâmica afetiva da estrutura

familiar, a maneira como a criança se situa nessa trama e a submissão ou resistência que

a ela se opõe aparecem como coordenadas cuja importância é mais e mais considerada

na socialização. Assim, as informações recebidas serão aprendidas de forma passiva se

não questionadas ou refutadas, o que dependerá dessa ponte necessária para a

interpretação das formas simbólicas transmitidas.” (In

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http://www.efdeportes.com/efd135/reflexoes-sobre-corpo-na-educacao-fisica.htm, 30-11-

2010, 11:33h).

Após esta “viagem” pelos argumentos de Durkheim, penso que está na altura

de retomar os seus principais argumentos. A educação á a socialização da criança,

educação é toda e qualquer influência que as gerações mais antigas exercem sobre as

gerações mais novas, educação como um produto social educação, proximidade entre as

estruturas sociais e a educação e que educação não é sinónimo de pedagogia.

Falemos agora de uma figura central no sistema de educação. O educador. É

ele quem nas sociedades modernas tem o papel de formar as novas gerações. Ele é

construído pela sociedade para servir a sociedade. Assim a educação não deseja do

indivíduo que ele seja apenas o que a natureza construiu, mas o que a própria sociedade

construiu, visto que a educação não tem um fim especificado e mantém-se

paralelamente à existência do indivíduo. Assim está intimamente ligada a ideia que o

ser humano “tem de si”, como afirma o autor, com a missão da educação, o que justifica

a diferença de educações presentes no mundo e durante a própria História.

A importância da acção educativa prende-se com o papel perpetuador da

homogeneidade, refere o autor. À sociologia cabe determinar os fins da educação,

enquanto os meios já é da área da psicologia.

O autor conclui o seu livro afirmando que o estudo social da educação é algo

relacionado com a época em que viveu, ou seja, não teve a sua origem em tempos

anteriores a si. Que os planos de educação devem, sempre, acompanhar todas as

transformações sociais, ou seja, uma actualização constante dos planos relativos á

educação, sem cair no erro de ter um carácter futurista, ou que olhe apenas para o

passado, deve, igualmente, ser moderada. De que forma? Analisando a sociedade (pois

não é ao virarmo-nos para nós mesmos, segundo Durkheim) e observar quais as suas

necessidades, se as suas necessidades são as de formar cidadãos, então os planos de

educação deverão incidir sobre isso mesmo, se a educação é apontada para o

conhecimento e inovação, que se crie nas gerações mais recentes essa propensão às

actividades relativas à produção de conhecimento e à criação de coisas novas e

inovadoras, se, no entanto, as necessidades se relacionarem com o facto de uma

determinada sociedade ser predominantemente agrícola, que se crie gerações

agricultoras.

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Durkheim dedica as últimas páginas do seu livro afirmando que cabe à

sociologia para o educador, para o autor, deveria ser nela que se apoiaria o “corpo de

ideias directrizes que sejam a alma e o corpo do nosso labor, […], tal condição é

indispensável à proficuidade de toda e qualquer acção educativa.”