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ARROZ IRRIGADO
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS DA PESQUISA PARA O
SUL DO BRASIL
V CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO XXVII REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO
Pelotas, RS, 07 a 10 de agosto de 2007
Promoção: SOSBAI – Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado
Realização: Embrapa Clima Temperado
Co-Promoção: EPAGRI, IRGA, UFPel, UFRGS, UFSM
Pelotas, RS 2007
Exemplares desta publicação podem ser solicitados à: Embrapa Clima Temperado BR 392, km 78 Caixa Postal 403 – Pelotas, RS Fone: (53) 32758199 Fax: (53) 32758219 – 32758221 Home page: www.cpact.embrapa.br E-mail: [email protected] Tiragem: 4.000 exemplares Editoração Eletrônica: Embrapa Clima Temperado Capa: Orium Comunicação & Marketing Fotolitos e Impressão: Gráfica e Editora Pallotti SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO Arroz irrigado : recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil / Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado; V Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, XXVII Reunião da Cultura do Arroz Irrigado. – Pelotas: SOSBAI, 2007. 161 p., il. Arroz irrigado - Recomendações técnicas - Brasil - Região Sul . I. Congresso Brasileiro de Arroz irrigado (5.: 2007: Pelotas, RS) II. Reunião da Cultura do Arroz Irrigado (27 : 2007: Pelotas, RS) III. Título CDD: 633.18.03
Ficha catalográfica elaborada por Regina Vasconcelos Santos CRB 10/686 Biblioteca da Embrapa Clima Temperado
COMISSÃO TÉCNICA SUL-BRASILEIRA DE ARROZ - CTAR
Presidente: José Francisco da Silva Martins
Vice-presidente: Ariano Martins de Magalhães Júnior I - SUBCOMISSÃO DE FITOMELHORAMENTO 1- Paulo R. Reis Fagundes e Ariano M. de Magalhães Jr. – Embrapa Clima
Temperado 2 - Rubens Marschalek e Juliana Vieira – EPAGRI 3 - Antonio F. Rosso e Mara Cristina Barbosa Lopes – IRGA 4 - Orlando Peixoto de Morais e Péricles de Carvalho Ferreira Neves –
Embrapa Arroz e Feijão II - SUBCOMISSÃO DE MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 1 - André Andres e Giovani Theisen – Embrapa Clima Temperado 2 - José Alberto Noldin e Domingos Sávio Eberhardt – EPAGRI 3 - Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot – IRGA 4 - Sérgio Luiz de Oliveira Machado e Nelson Diehl Kruse – UFSM 5 - Dirceu Agostinetto e Jesus Juares Oliveira Pinto - UFPel 6 - Aldo Merotto Júnior e Nilson Gilberto Fleck - UFRGS 7 - Rogério Rubin - ANDEF III - SUBCOMISSÃO DE MANEJO DE DOENÇAS 1 – Cley Martins Donizetti Nunes – Embrapa Clima Temperado 2 - Ivan F. Dressler da Costa - UFSM 3 - Luiz Augusto M. Peruch – EPAGRI 4 - Gustavo Rodrigo Daltrozo Funck e Ricardo Luiz da Silva Herzog - IRGA 5 - Valácia Lemes da Silva Lobo – Embrapa Arroz e Feijão IV - SUBCOMISSÃO DE MANEJO DE INSETOS E OUTROS FITÓFAGOS 1 - José Francisco da Silva Martins e Ana Paula Schneid Afonso -Embrapa
Clima Temperado 2 - Anderson Dionei Grützmacher – UFPel 3 - Honório Francisco Prando e Eduardo Rodrigues Hickel – EPAGRI 4 - Jaime Vargas de Oliveira e Eduardo Pinto Amilibia - IRGA 5 - Francisco P. Moura Neto – Embrapa Arroz e Feijão V - SUBCOMISSÃO DE MANEJO DA CULTURA E DOS RECURSOS
NATURAIS 1 - Walkyria Bueno Scivittaro e Algenor da Silva Gomes – Embrapa Clima
Temperado 2 - Richard Elias Bacha e Dario Alfonso Morel – EPAGRI 3 - Rodrigo Schoelfeld e Silvio Aymone Genro Júnior - IRGA 4 - Paulo Régis Ferreira da Silva e Ibanor Anghinoni – UFRGS
5 – Alberto Baêta dos Santos e Luis Fernando Stone – Embrapa Arroz e Feijão 6 – Ledemar Carlos Vahl - UFPel VI - SUBCOMISSÃO DE TECNOLOGIA DE COLHEITA, PÓS-COLHEITA E INDUSTRIALIZAÇÃO DE GRÃOS E SEMENTES 1 - Ana Crisitina Richter Krolow e Daniel Fernandes Franco - Embrapa Clima
Temperado 2 - Márcia Arocha Gularte – UFPel 3 - Ronaldir Knoblauch – EPAGRI 4 - José Mauro Costa Rodrigues Guma e Carlos Alberto Alves Fagundes -
IRGA 5 - Adriano Pereira Castro – Embrapa Arroz e Feijão
VII - SUBCOMISSÃO DE SÓCIO-ECONOMIA 1 - Isabel Helena Vernetti Azambuja - Embrapa Clima Temperado 2 - Victor Hugo Kayser – IRGA 3 - Irceu Agostini – EPAGRI 4 - Alcido Elenor Wander – Embrapa Arroz e Feijão
APRESENTAÇÃO
O documento Recomendações Técnicas da Pesquisa para a Cultura
do Arroz Irrigado no Sul do Brasil foi publicado pela primeira vez em 1991.
Tradicionalmente incorpora um conjunto de tecnologias recomendadas pelas
principais Instituições dedicadas à pesquisa com arroz no Sul do Brasil e reflete
o atual estágio de desenvolvimento tecnológico da cultura nesta região do País.
O conteúdo foi atualizado pela Comissão Sul-brasileira de Arroz (CTAR), por
ocasião do V Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado e XXVII Reunião da
Cultura do Arroz Irrigado, realizados simultaneamente em Pelotas, RS, Brasil,
no período de 07 a 10 de agosto de 2007.
O suporte técnico para atualização das recomendações mais uma vez
resultou de um esforço integrado de técnicos, principalmente, dos vinculados à
Embrapa Clima Temperado (CPACT), ao Instituto Rio Grandense do Arroz
(IRGA), à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de
Santa Catarina S.A. (EPAGRI), á Universidade Federal de Pelotas (UFPel), à
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e à Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), instituições que continuamente atuam na realização
ou co-promoção dos eventos sobre a cultura do arroz irrigado na região Sul do
Brasil. É importante ressaltar e agradecer, porém, a relevante participação de
técnicos de outras Instituições que contribuíram para a elaboração das
recomendações técnicas. Conclama-se ainda que novas Instituições e aquelas
que, mais recentemente, passaram a realizar pesquisa com arroz irrigado,
intensifiquem a participação de representantes no âmbioto CTAR, de modo a
fortalecer os esforços interdisciplinares e interinstitucionais em prol do
desenvolvimento da cadeia produtiva do arroz no Sul do Brasil.
COMISSÃO ORGANIZADORA
SUMÁRIO 1 - DESENVOLVIMENTO DA PLANTA DE ARROZ E CLIMA ......................11
1.1 - Desenvolvimento da plântula ..................................................................11 1.1.2 - Desenvolvimento vegetativo.................................................................12 1.1.3 - Desenvolvimento reprodutivo ...............................................................12 1.1.4 - Escala de desenvolvimento..................................................................13 1.2 - Zoneamento agroclimático: recomendação de épocas de semeadura
para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina .....................29 1.2.1 - Rio Grande do Sul ................................................................................29 1.2.1.1 - Épocas de semeadura para cultivares de ciclos tardio, médio,
precoce e muito precoce ......................................................................30 1.2.1.2 - Épocas de semeadura para o sistema pré-germinado ......................34 1.2.2 - Santa Catarina......................................................................................34 2 - SISTEMATIZAÇÃO DO SOLO .................................................................39 2.1 - Introdução ...............................................................................................39 2.2 - Sistematização do solo em desnível .......................................................39 2.3 - Sistematização do solo em nível ............................................................39 3 - SISTEMAS DE CULTIVO E ROTAÇÃO DE CULTURAS ........................41
3.1 - Sistemas de cultivo e preparo do solo.....................................................41 3.1.1 - Sistema convencional...........................................................................41 3.1.2 - Cultivo mínimo......................................................................................42 3.1.3 - Plantio direto.........................................................................................42 3.1.4 - Sistema pré-germinado ........................................................................43 3.1.5 - Sistema mix..........................................................................................43 3.1.6 - Sistema de transplante de mudas ........................................................44 3.1.6.1 - Produção de mudas ..........................................................................44 3.1.6.2 - Transplante........................................................................................44 3.2 - População de plantas .............................................................................45 3.3 - Rotação e sucessão de culturas em áreas de arroz irrigado...................46 4 - ADUBAÇÃO E CALAGEM .......................................................................49 4.1 - Introdução ...............................................................................................49 4.2 - Amostragem do solo................................................................................49 4.3 - Calagem..................................................................................................50 4.3.1 - Recomendação da calagem.................................................................51 4.3.2 - Qualidade do calcário e cálculo da quantidade a aplicar.....................52 4.3.3 - Escolha do calcário ..............................................................................53 4.3.4 - Mistura de calcário com gesso .............................................................53 4.3.5 - Aplicação e incorporação .....................................................................54 4.3.6 - Reaplicação de calcário.........................................................................54
4.3.7 - Calcário na linha...............................................................................54 4.3.8 - Calagem sob plantio direto em sistemas de rotação de cultura.......54 4.4 - Recomendação de adubação..............................................................55 4.4.1 - Recomendação de nitrogênio...........................................................56 4.4.2 - Recomendação de fósforo................................................................58 4.4.3 - Recomendação de potássio..............................................................60 4.4.4 – Observações....................................................................................61 4.5 - Adubação orgânica..............................................................................62 4.6 - Adubação com fertilizantes organicos e minerais................................63 4.7 - Adubação foliar e uso de micronutrientes............................................63 4.8 - Toxidez por ferro..................................................................................63 4.9 - Solos orgânicos....................................................................................64 4.9.1 - Reação do solo - Calagem – CTC....................................................65 4.9.2 - Nutrientes em solos orgânicos..........................................................65 4.9.2.1 – Nitrogênio......................................................................................66 4.9.2.2 – Fósforo..........................................................................................66 4.9.2.3 – Potássio.........................................................................................66 4.9.2.4 – Micronutrientes..............................................................................67 5 - IRRIGAÇÃO E DRENAGEM .................................................................69
5.1 – Introdução...........................................................................................69 5.2 - Necessidade de água..........................................................................69 5.3 - Qualidade da água...............................................................................70 5.3.1 – Salinidade.........................................................................................70 5.3.2 - Temperatura da água........................................................................71 5.4 - Manejo da água de irrigação................................................................72 5.5 – Drenagem............................................................................................73 6 - CULTIVARES ........................................................................................75
6.1 - Cultivares registradas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares SNPC...................................................................................................75
7 – INSETOS E OUTROS FITÓFAGOS......................................................89
7.1 – Introdução...........................................................................................89 7.2 - Considerações gerais..........................................................................89 7.3 - Épocas de ocorrência..........................................................................89 7.3.1 - Cascudo preto...................................................................................89 7.3.2 - Pulgão-da-raiz...................................................................................90 7.3.3 - Pulga-do-arroz..................................................................................90 7.3.4 - Lagarta-da-folha................................................................................90 7.3.5 - Lagarta-boiadeira..............................................................................90 7.3.6 - Bicheira-da-raiz.................................................................................91 7.3.7 - Percevejo-do-colmo..........................................................................91
7.3.8 - Broca do colo....................................................................................91 7.3.9 - Broca do colmo.................................................................................92 7.3.10 - Percevejo do grão...........................................................................92 7.3.11 - Lagarta-da-panícula........................................................................92 7.3.12 - Pássaro-preto..................................................................................92 7.3.13 - Moluscos gastrópodes em arroz pré-germinado.............................92 7.4 - Métodos de controle de insetos na lavoura.........................................93 7.4.1 - Controle cultural................................................................................93 7.4.2 - Controle físico...................................................................................94 7.4.3 - Controle biológico.............................................................................94 7.4.4 - Medidas preventivas e complementares...........................................94 7.4.5 - Controle químico...............................................................................94 7.5 – Controle do pássaro preto...................................................................96 7.6 – Controle de moluscos..........................................................................96 8 – DOENÇAS
...................................................................................................................103 8.1 – Introdução.........................................................................................103 8.2 - Cultivares resistentes.........................................................................103 8.3 - Manejo da cultura...............................................................................104 8.4 - Controle químico................................................................................105 8.5 - Controle biológico..............................................................................106 9 - PLANTAS DANINHAS ........................................................................109 9.1 - Principais espécies de plantas daninhas...........................................109 9.2 - Métodos de manejo e controle...........................................................109 9.2.1 – Prevenção......................................................................................109 9.2.2 - Manejo cultural................................................................................110 9.2.3 - Controle biológico...........................................................................110 9.2.4. - Controle mecânico.........................................................................111 9.2.5 - Controle químico.............................................................................111 9.3 - Utilização de herbicidas.....................................................................111 9.3.1 - Época e métodos de aplicação dos herbicidas...............................112 9.3.2 - Fatores do ambiente que afetam a eficiência.................................113 9.4 - Herbicidas recomendados.................................................................115 9.5 - Resistencia de plantas daninhas aos herbicidas ..............................115 9.6 - Indicação para manejo do arroz-vermelho.........................................116 9.6.1 - Sementes de arroz isentas de arroz-vermelho...............................116 9.6.2 - Semeadura direta da cultura...........................................................116 9.6.3 - Semeadura direta após cultivo mínimo...........................................116 9.6.4 - Sistema pré-germinado de semeadura e transplante de mudas....117 9.6.5 - Sistema Clearfield...........................................................................117 9.6.6 - Uso de regulador do crescimento...................................................119
9.6.7 - Prática de pousio da área...............................................................120 9.6.8 - Pratica de rotação de culturas........................................................120 9.6.9 - Manejo da área na entressafra.......................................................120 9.6.10 - Uso da barra química ...................................................................121 9.6.11 - Uso de marrecos-de-pequim.........................................................121 10 - TECNOLOGIA DE COLHEITA, PÓS-COLHEITA E
INDUSTRIALIZAÇÃO DE GRÃOS E SEMENTES ........................131
10.1 – Colheita...........................................................................................131 10.2 – Transporte.......................................................................................131 10.3 – Recepção........................................................................................132 10.4 – Pré-limpeza.....................................................................................132 10.5 – Secagem.........................................................................................132 10.6 – Armazenamento..............................................................................135 10.7 - Beneficiamento industrial de grãos..................................................140 10.8 - Produção e beneficiamento de sementes........................................147 10.8.1 - Produção de sementes.................................................................147 10.8.2 - Beneficiamento de sementes........................................................147 10.8.2.1 - Sementes de arroz.....................................................................148 10.8.2.2 - Legislação e normas para produção, beneficiamento
e comercialização de sementes......................................................148 10.8.2.3 - Classes e Categorias de sementes...........................................150 10.8.2.4 - Padrões para produção e comercialização de sementes de
arroz.................................................................................................151 11 - GERENCIAMENTO DA ATIVIDADE ORIZÍCOLA ............................152 11.1 – Introdução.......................................................................................152 11.2 - Custo de produção...........................................................................152 11.3 - Preço do arroz – acompanhamento de mercado.............................156 11.4 - Riscos inerentes à atividade............................................................158 11.5 - Mecanismos de comercialização.....................................................159 11.6 - Produção social e ambientalmente corretas....................................160 12 - INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES ....................................................161
1 - DESENVOLVIMENTO DA PLANTA DE ARROZ E CLIMA
O arroz é uma gramínea anual, classificada no grupo de plantas C-3, adaptada
ao ambiente aquático. Esta adaptação é devida à presença de aerênquima no colmo e
nas raízes da planta, que possibilita a passagem de oxigênio do ar para a camada da
rizosfera.
Para expressão de seu potencial produtivo, a cultura requer temperatura ao
redor de 24 a 30°C e radiação solar elevada, considerando que a disponibilidade hídrica
não é um fator limitante quando cultivada em condição de solo inundado.
O ciclo de desenvolvimento do arroz pode ser dividido em três fases principais,
a saber: plântula, vegetativa e reprodutiva, conforme escala proposta por Counce et al.
(2000). A duração de cada fase é função da cultivar, época de semeadura, região de
cultivo e das condições de fertilidade do solo. A duração do ciclo varia entre 100 e 140
dias para a maioria das cultivares utilizadas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina,
sendo que a maior parte da variação entre cultivares ocorre na fase vegetativa.
1.1 - Desenvolvimento da plântula
Para germinar a semente de arroz precisa absorver água. Nas sementes em
germinação, tanto o coleóptilo quanto a radícula podem emergir primeiro. Em condições
de ambiente seco, a radícula pode emergir primeiro, mas em condições de semeadura
em água o coleóptilo pode emergir primeiro.
O número de dias da semeadura à emergência depende da temperatura e
umidade do solo, nos sistemas de semeadura em solo seco. Na semeadura em solo
inundado (sistema pré-germinado), a duração desse subperíodo é função das
temperaturas do solo, do ar e da água e do grau de desenvolvimento da plântula por
ocasião da semeadura.
A emergência da plântula de arroz ocorre devido ao alongamento da estrutura
denominada mesocótilo. A capacidade de desenvolvimento do mesocótilo depende da
temperatura do solo, se a água não for limitante. Por essa razão, em solos frios a
profundidade de semeadura deve ser menor que a realizada em solos com temperatura
mais alta.
Após a emergência, a plântula de arroz mantém-se às expensas das reservas
presentes no grão por 10 a 14 dias. As raízes seminais, que se originam da semente, são
as responsáveis pela sustentação da plântula durante esse período. Este sistema
radicular é temporário, pois entra em degeneração logo que começam a surgir as raízes
adventícias dos nós do colmo, logo abaixo da superfície do solo. Este segundo sistema
radicular passa a constituir-se no principal mecanismo de extração de água e nutrientes e
de fixação da planta ao solo até o final do ciclo de desenvolvimento.
11
A Figura 1.1 ilustra as estruturas morfológicas externas de uma planta de arroz no
Estádio V1.
1.1.2 - Desenvolvimento vegetativo
Após o estabelecimento inicial, a planta começa a desenvolver a sua estrutura
foliar, formando uma folha em cada nó, de forma alternada no colmo. Durante as
primeiras quatro a cinco semanas de desenvolvimento, todas as folhas já estão formadas,
sendo que o número total de folhas por planta varia com a cultivar e época de
semeadura.
Quando a quarta folha do colmo principal está com o colar formado,
correspondendo aproximadamente a três a quatro semanas após a emergência, a planta
de arroz começa a emitir perfilhos, que surgem dos nós do colmo numa ordem alternada.
Esta capacidade de perfilhamento faz com que o arroz tenha uma resposta elástica à
densidade de semeadura, podendo compensar baixas populações de plantas com maior
número de perfilhos emitidos por planta. A capacidade de perfilhamento depende da
cultivar, densidade de semeadura, temperatura do solo, disponibilidade de nitrogênio no
solo e da altura da lâmina de água de irrigação. A duração do estádio de perfilhamento é
de três a quatro semanas.
A Figura 1.2 apresenta os estádios de desenvolvimento de uma plântula de
arroz com os indicadores morfológicos. A Figura 1.3 ilustra os estádios de
desenvolvimento vegetativo com os identificadores morfológicos para uma cultivar de
arroz com até 13 folhas verdadeiras no colmo principal. Os estádios desta fase são
antecedidos pela letra “V” (vegetativo). O número subscrito refere-se ao número de folhas
completamente desenvolvidas no colmo principal com formação do colar.
1.1.3 - Desenvolvimento reprodutivo
A partir da diferenciação do primórdio da panícula (DPP), os entre-nós do colmo
começam a se alongar rapidamente e a planta cresce a taxas muito elevadas. Este é um
momento crítico no desenvolvimento da planta, pois está sendo formado o número de
grãos por panícula. Por isso, é importante que durante este período a planta não sofra
estresses, principalmente os causados por temperatura baixa (inferior a 17°C) e
deficiência de nutrientes. O subperíodo que antecede imediatamente à floração é
denominado emborrachamento, o qual inicia entre 7 e 10 dias antes da floração com a
divisão das células-mãe dos grãos de pólen. O momento em que ocorre essa divisão é o
mais crítico a temperaturas baixas. Por isto, a semeadura deve ser realizada em época
que possibilite a coincidência dessa fase com o mês que tenha as menores
probabilidades de ocorrência de temperaturas baixas.
12
O arroz é uma planta autofecundada, com a polinização ocorrendo primeiro nas
espiguetas da extremidade superior da panícula, seguindo para a base. Ventos quentes,
secos ou úmidos afetam seriamente a fecundação dos estigmas, reduzindo o número de
grãos formados. Por outro lado, baixas temperaturas da água e do ar também podem
causar efeito similar.
Por ocasião da floração, a planta de arroz atinge sua máxima estatura e área
foliar. Boas condições de luminosidade no período compreendido entre 20 dias antes a 20
dias após a floração aumenta a eficiência de uso do N e, conseqüentemente, contribuem
para maior rendimento de grãos.
A duração do período de formação e enchimento de grãos oscila entre 30 a 40
dias. Essa diferença decorre, principalmente, da variação da temperatura do ar, havendo
pouca influência do ciclo da cultivar. Os grãos passam pelas etapas de grãos leitosos,
grãos pastosos e grãos em massa dura até atingirem a maturação fisiológica. Considera-
se que o grão atingiu a maturação fisiológica quando está com o máximo acúmulo de
massa seca. Teoricamente, o arroz poderia ser colhido nesta fase, desde que fossem
dadas condições para secagem imediata, uma vez que a umidade dos grãos ainda é
elevada, na faixa de 30%. Normalmente, espera-se que a umidade caia para 22% para se
iniciar a colheita mecanizada. Ao se atingir a maturação fisiológica já está determinado o
peso de grãos. Contudo, qualquer deficiência nutricional ou ocorrência de pragas ou
moléstias durante o período de formação e enchimento de grãos reflete-se em menor
peso de grãos.
No período compreendido entre a maturação fisiológica e a maturação de
colheita, os grãos passam por um processo físico de perda de umidade. Sua duração
pode variar de uma a duas semanas, dependendo das condições climáticas vigentes.
Temperatura do ar elevada e umidade relativa baixa, associadas à ocorrência de ventos,
aceleram o processo de perda de umidade nos grãos.
A Figura 1.4 ilustra os diferentes estádios de desenvolvimento reprodutivo com
os identificadores morfológicos. Os estádios desta fase são antecedidos pela letra “R”
(reprodutivo). A Figura 1.5 mostra as relações entre os diferentes estádios de
desenvolvimento com o desenvolvimento morfológico visualizado na planta, segundo
Counce et al. (2000).
1.1.4 - Escala de desenvolvimento
A eficiência da adoção de uma dada tecnologia agrícola depende da aplicação
correta e da determinação do momento oportuno de sua aplicação. O uso de uma escala
apropriada para expressar o desenvolvimento da planta permite maior precisão na época
de aplicação de práticas de manejo, além de melhorar a comunicação entre técnicos e
produtores. Não é correto relacionar-se o desenvolvimento da planta à idade cronológica,
expressa em dias após a emergência, uma vez que ela pode variar amplamente em
13
função de cultivar, temperatura do solo, do ar e da água, disponibilidade de radiação
solar, condições hídricas e nutricionais, época de semeadura, região de cultivo e estação
de crescimento.
Assim, é importante que sejam identificados com maior precisão os estádios de
desenvolvimento: a) em que são aplicadas as práticas de manejo; b) em que as respostas
das plantas aos diferentes tratamentos são avaliadas e c) em que ocorrem algumas
condições meteorológicas adversas, tais como baixas temperaturas e danos por granizo,
que causam prejuízos às plantas. Desta forma, haverá maior entendimento do
desenvolvimento da planta e melhoria nas condições de manejo da cultura.
A Tabela 1.1 relaciona os estádios de desenvolvimento da planta em que são
definidos os componentes do rendimento de arroz. Já nas Tabelas 1.2 a 1.6 são
propostos alguns exercícios para associar a época de aplicação das principais práticas de
manejo descritas nas Recomendações Técnicas da Pesquisa de Arroz para o Sul do
Brasil.
As Tabelas 1.2 e 1.3 tratam, respectivamente, dos aspectos de irrigação e de
adubação. Por sua vez, a Tabela 1.4 relaciona-se às épocas de controle de plantas
daninhas e as Tabelas 1.5 e 1.6 tratam, respectivamente, das épocas de ocorrência e de
controle das principais pragas e doença que atacam a cultura do arroz.
É importante enfatizar que as tabelas apresentadas são tratativas iniciais para
se relacionar a aplicação de práticas de manejo não à idade cronológica, mas ao estádio
de desenvolvimento da planta de arroz. Elas certamente deverão ser melhoradas através
de sugestões feitas pelos técnicos que atuam em pesquisa com esta cultura.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
COUNCE, P.A.; KEISLING, T.C.; MITCHELL, A.J. A uniform, objective, and adaptative
system for expressing rice development. Crop Science, Madison, 40:436-443. 2000.
COUNCE, P.A.; KEISLING, T.C.; MITCHELL, A.J. Rice growth staging system. Disponível
no site http://www.uaex.edu/nerec.
14
Figura 1.1 - Estruturas morfológicas externas de uma planta de arroz no estádio V1.
15
Figura 1.2 - Estádios de desenvolvimento da plântula com identificadores morfológicos. Estádio S0 S1 S2 S3
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Semente não
embebida de
água
Emergência do
coleóptilo1
Emergência da
radícula1
Emergência do
profilo do
coleóptilo2
Ilu
str
ação
1 A seqüência dos eventos que normalmente ocorrem no desenvolvimento da plântula, está
apresentada acima. Há exceções desta seqüência. Em alguns casos, o coleóptilo do arroz emerge
primeiro da semente, em outros casos da radícula. Quando um deles emerge sozinho, considera-se
atingido o estádio S1. Quando os dois estão emergidos o estádio é S2. Se o profilo emerge do
coleóptilo antes que a radícula emerja da semente, considera-se que o estádio é S3. 2 O profilo é a primeira folha a emergir, mas ele não apresenta limbo e consiste apenas da bainha
foliar.
16
Figura 1.3 - Estádios de desenvolvimento vegetativo com identificadores morfológicos
1.
Estádio V1 V2 V3 V4
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Formação do colar na 1ª folha completa (folha 1) do colmo principal
Formação do colar na 2ª folha do colmo principal
Formação do colar na 3ª folha do colmo principal
Formação do colar na 4ª folha do colmo principal
Ilu
str
ação
Estádio V5 V6 V7 V8
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Formação do colar na 5ª folha do colmo principal
Formação do colar na 6ª folha do colmo principal
Formação do colar na 7ª folha do colmo principal
Formação do colar na 8ª folha do colmo principal
Ilu
str
ação
17
Figura 1.3 - Continuação.
Estádio V9 (VF-4)2 V10 (VF-3)
2 V11 (VF-2)
2
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Formação do colar na 9ª folha do colmo principal
Formação do colar na 10ª folha do colmo principal
Formação do colar na 11ª folha do colmo principal
Ilu
str
ação
Estádio V12 (VF-1)2 V13 (VF)
2
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Formação do colar na 12ª folha do colmo principal
Formação do colar na 13ª folha (folha bandeira) do colmo principal
Ilu
str
ação
1 O número de estádios de desenvolvimento vegetativo varia com o número de folhas do colmo principal. 1 VF significa folha bandeira; VFn significa o número de nós antes da folha bandeira.
18
Figura 1.4 - Estádios de desenvolvimento reprodutivo com identificadores morfológicos. Estádio R0 R1 R2 R3
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Início do desenvolvimento da panícula
Formação das ramificações da panícula
Formação do colar da folha bandeira
Excerção da panícula; ponta da panícula está acima do colar da folha bandeira
Ilu
str
ação
19
Figura 1.4 - Continuação.
Estádio R4 R5 R6
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Uma ou mais espiguetas na panícula do colmo principal atingiu a antese
Pelo menos uma cariopse da panícula do colmo principal está alongando até a extremidade da casca
Pelo menos uma cariopse da panícula do colmo principal alongou-se até a extremidade da casca
Ilu
str
ação
20
Figura 1.4 - Continuação.
Estádio R7 R8 R9
Iden
tifi
cad
or
mo
rfo
lóg
ico
Pelo menos um grão da panícula do colmo principal apresenta casca amarela
Pelo menos um grão da panícula do colmo principal apresenta casca marrom
Todos os grãos que atingiram o estádio R6 apresentam casca marrom
Ilu
str
ação
21
Figura 1.5 - Ontogenia da planta de arroz.
Estádio de desenvolvimento
Desenvolvimento morfológico
S0
S1
S2
S3
V1
V2
V3
V4
V5
V6
V7
V8
Emergência da radícula ou coleóptilo
Emergência da radícula e coleóptilo
Emergência do profilo do coleóptilo
Formação das raízes nodais
Início do perfilhamento
Metade do perfilhamento
Final do perfilhamento
22
Figura 1.5 - Continuação.
23
Tabela 1.1 - Estádios do desenvolvimento em que são definidos os
componentes do rendimento de grãos de arroz.
Componentes de rendimento Estádio de desenvolvimento
Nº de panículas/m2 S0 a R4
Nº de espiguetas/panícula R0 A R4
Nº de grãos/panícula R4 a R6
Massa do grão R4 a R8
Tabela 1.2 - Relação da época de manejo da água com o estádio de
desenvolvimento da planta de arroz.
Estádios de desenvolvimento Manejo da água
Designação Descrição
- Iniciar a irrigação definitiva:
* em solo
V3 a V5
Com 3 a 5 folhas
* em lâmina de água Antes de S0 20 dias antes da
semeadura
- Elevação do nível da água para
aumentar seu efeito termoregulador
R2 a R4 Emborrachamento a
floração
- Supressão da irrigação:
* solo com difícil drenagem
R6
15 dias após floração
* solo com boa drenagem R7 Completo enchimento
de grãos
24
Tabela 1.3 - Relação da época de aplicação das práticas de adubação com
o estádio de desenvolvimento da planta de arroz.
Estádios de desenvolvimento Adubação
Designação Descrição
- Semeadura
· Nitrogênio:
. semeadura em solo seco
. sistema pré-germinado
S0
-
Na semeadura
Não é recomendada a
aplicação
· Fósforo e potássio:
. semeadura em solo seco
. sistema pré-germinado
S0
Antes da
semeadura
Na semeadura
Antes da semeadura, na
formação de lama ou
após o renivelamento da
área
- Cobertura
· Nitrogênio:
. semeadura em solo seco
. sistema pré-germinado:
Cvs ciclo curto e médio
Cvs ciclo longo
V4 e R0
V4 e R0
V4, V10 e R0
Início do perfilhamento e
início do
desenvolvimento da
panícula
Início do perfilhamento e
início do
desenvolvimento da
panícula
Início do perfilhamento,
perfilhamento pleno e
início do
desenvolvimento da
panícula
· Potássio:
. solos arenosos e orgânicos
de Santa Catarina, no
sistema pré-germinado
R0
Início do
desenvolvimento da
panícula, juntamente
com a aplicação de N
25
Tabela 1.4 - Relação da época de controle de plantas daninhas com o
estádio de desenvolvimento da planta de arroz.
Estádios de desenvolvimento Controle de plantas daninhas
Designação Descrição
- Aplicação de herbicidas para
controle de:
· Gramíneas, ciperáceas e
dicotiledôneas
Plantas
daninhas com 2
a 3 folhas
-
- Aplicação do regulador de
crescimento hidrazida maleica para
controle de arroz vermelho:
· Arroz cultivado
R6 a R7
Grãos pastosos ou
mais amadurecidos
· Arroz vermelho R5 a R6 Grãos leitosos ou mais
precoces
26
Tabela 1.5 - Relação da época de ocorrência e de controle de pragas com
o estádio de desenvolvimento da planta de arroz.
Estádios de desenvolvimento Controle de pragas
Designação Descrição
- Aplicação de inseticida
· Para controle de:
. Cascudo preto
(Euetheola humilis)
. Pulga do arroz
(Chaetocnema sp.)
. Lagarta da folha
(Spodoptera frugiperda)
. Bicheira da raiz
(Oryzophagus oryzae):
Tratamento de sementes
Controle de adultos
Controle de larvas
. Percevejo do colmo
(Tibraca limbativentis)
. Broca do colmo
(Diatraea saccharalis)
. Percevejo do grão
(Oebalus poecilus)
- Estratégias para controle de:
· Molusco gástropodes
no pré-germinado
(Pomacea canaliculata)
· Pássaro preto
(Agelaius ruficapillus)
V1 a V4
V1 a V4
V1 a V4
S0
V4
V4 a V6
V4 a R4
R0 a R6
R5 a R7
S1-S2 a V4
S0 a V2 e
R6 a R8
Antes da irrigação definida
Emergência até o início do
perfilhamento
Emergência até a irrigação
definida
Antes da semeadura
Logo após a irrigação definida
10 dias após a irrigação
definida
Início do perfilhamento até a
floração
Período vegetativo e
reprodutivo
Formação e enchimento de
grãos
Com 1 a 4 folhas
Semeadura e enchimento dos
grãos
27
Tabela 1.6 - Relação da época de ocorrência e de controle da brusone com
o estádio de desenvolvimento do arroz.
Estádios de desenvolvimento Controle de moléstias
Designação Descrição
- Aplicação de fungicida para
controle de brusone (Pyricularia
grisea (Cooke) Sacc)
R2 a R4
Emborrachamento a
floração
28
1.2 - Zoneamento Agroclimático: recomendação de épocas de semeadura
para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
1.2.1 - Rio Grande do Sul
Apesar dos níveis crescentes de produtividade da cultura do arroz no Rio Grande
do Sul, causados pelo uso de melhores cultivares e técnicas agronômicas, há uma
considerável variabilidade do rendimento de grãos causada, fundamentalmente, pelas
condições climáticas ao longo dos anos nas diferentes regiões produtoras. As variações
da temperatura do ar e da radiação solar, durante as fases críticas da planta, são os
principais elementos climáticos relacionados com a variabilidade dos níveis de
produtividade.
A época de semeadura é uma das práticas que desempenha um papel de
destaque na obtenção de níveis altos e estáveis de produtividade, pelo fato de aumentar
as chances de que as fases críticas da planta escapem das condições climáticas
adversas e/ou coincidam com as favoráveis. Foram definidos os períodos de semeadura
recomendados para todos os municípios climaticamente aptos ao seu cultivo. Os critérios
utilizados encontram-se na Tabela 1.7.
Tabela 1.7 - Critérios para a definição dos períodos recomendados de
semeadura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul.
Elemento climático Critério Fase crítica da planta
1.Temperatura do solo
desnudo a 5 cm de
profundidade (Ts)
Ts ³ 20ºC Germinação/emergência
2.Temperatura mínima
do ar (Tn) (P) Tn £ 15ºC*
Pré-floração/floração
(de 15 dias antes a 5 dias após
o início da floração)
3. Radiação solar
Maior
disponibilidade*
Reprodutiva/maturação
(de 21 dias antes a 21 dias
após o início da floração)
* Os períodos recomendados de semeadura são aqueles em que a fase crítica da planta coincide com
as menores probabilidades (P) de ocorrência de temperaturas mínimas (Tn) menores ou iguais a
15ºC, e com a maior disponibilidade possível de radiação solar, no período de dezembro a março.
29
Considera-se que a semeadura pode ser iniciada no decêndio (período de 10
dias) em que a temperatura média do solo desnudo, a 5 cm de profundidade, for maior ou
igual a 20°C. Esse valor representa o limite inferior da temperatura ótima para a
germinação das sementes de arroz. Uma vez definido o período de início de semeadura,
foram estabelecidas as demais épocas recomendadas da seguinte forma:
a) definiu-se um período de 20 dias, envolvendo as fases de pré-floração
(microsporogênese) e floração, como o mais crítico às baixas temperaturas e um período
de 42 dias, em torno da floração, como o mais crítico à radiação solar (Tabela 1.7);
b) definiu-se a época de ocorrência dos períodos críticos de cultivares de ciclos
tardio, médio, precoce e muito precoce, para as diferentes épocas de semeadura, a partir
das datas médias de floração; e
c) definiram-se as épocas recomendadas de semeadura de cultivares de ciclos
tardio, médio, precoce e muito precoce, para as doze regiões e suas sub-regiões
agroecológicas do Estado usando-se como base os critérios estabelecidos na Tabela 1.7.
Para tanto, utilizaram-se as informações geradas no item b e os dados de probabilidade
de ocorrência de temperaturas mínimas iguais ou menores do que 15°C, para diversas
localidades do Rio Grande do Sul e da disponibilidade de radiação solar durante as
respectivas fases críticas da planta.
1.2.1.1 - Épocas de semeadura para cultivares de ciclos tardio, médio,
precoce e muito precoce
Os períodos favoráveis de semeadura para cultivares de ciclos tardio, médio,
precoce e muito precoce para as distintas regiões e sub-regiões agroecológicas do
Estado são definidos na Tabela 1.8.
Ainda que a temperatura do solo permita, o início da semeadura das cultivares
precoces e muito precoces deverá ser atrasada em relação as de ciclos tardio e médio,
para possibilitar a coincidência das fases críticas da planta com períodos em que a
temperatura e luminosidade sejam as mais favoráveis para a cultura. Se, por alguma
razão, o produtor necessitar antecipar a época de semeadura, recomenda-se que seja
feito o tratamento de sementes, que se mostrou eficiente em condições de baixa
temperatura do solo quando tratadas com fungicidas ou com ácido giberélico e fungicidas.
Nessa situação, a época de início de semeadura pode ser antecipada entre 7 e 10 dias,
em todas a regiões produtoras.
30
Tabela 1.8 - Períodos favoráveis de semeadura do arroz irrigado, ciclos
tardio, médio, precoce e muito precoce no estado do Rio Grande do Sul.
Períodos favoráveis de semeadura do
arroz irrigado em função dos ciclos das
cultivares
Regiões/Sub-regiões
agroecológicas *
Tardio Médio Precoce Muito
Precoce
1. Campanha (10a); São
Borja - Itaqui (9); Alto Vale
do Uruguai (7a;7b;7c)
21 Set. a
30 Out.
21 Set. a
20 Nov.
01 Out.
a 30
Nov.
01 Out. a
10 Dez.
2. Depressão Central
(1a;1b;1c); Campanha
(10a**); Missioneira de Santo
Ângelo - São Luiz Gonzaga
(8); Litoral (2a;2b)
01 Out. a
30 Out.
01 Out. a
20 Nov.
11 Out. a
30 Nov.
11 Out. a
10 Dez.
3. Litoral (2c); Região das
Grandes Lagoas (12a;12b);
Serra do Sudeste (11);
Campanha (10b); Planalto
Médio (5a;5b;5c;5d;5e);
Encosta Inferior da Serra
do Nordeste (6a;6b)
11 Out. a
30 Out.
11 Out. a
20 Nov.
21 Out. a
30 Nov.
21 Out. a
10 Dez.
4. Serra do Nordeste
(4a;4b); Planalto Superior
(3b)
21 Out. a
30 Out.
21 Out. a
20 Nov.
01 Nov. a
30 Nov.
01 Nov. a
10 Dez.
5. Demais regiões Cultivo não recomendado
* Fonte: RIO GRANDE DO SUL. SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO.
Macrozoneamento Agroecológico e Econômico do Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria da
Agricultura e Abastecimento. Embrapa Trigo. Porto Alegre, 1994. 2v.
** 10a Sub-região da Campanha que, devido as suas características climáticas, foi agrupada às
regiões da Depressão Central, Litoral e Missioneira de Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga.
Os períodos favoráveis de semeadura do arroz irrigado para cada município
pertencente às regiões e sub-regiões agroecológicas definidas na Tabela 1.8 são os
seguintes:
31
1. Campanha (10a); São Borja-Itaqui (9); Alto Vale do Uruguai (7a; 7b; 7c):
Alecrim, Alegrete, Alegria, Alpestre, Ametista do Sul, Aratiba, Barra do Guarita,
Barra do Quaraí, Barra do Rio Azul, Benjamin Constant, Boa Vista do Buricá, Bom
Progresso, Braga, Caiçara, Campina das Missões, Campo Novo, Cândido Godoi, Coronel
Bicaco, Crissiumal, Cristal do Sul, Derrubadas, Dois Irmãos das Missões, Doutor Mauricio
Cardoso, Entre Rios do Sul, Erval Grande, Erval Seco, Esperança do Sul, Faxinalzinho,
Frederico Westphalen, Garruchos, Giruá, Gramado dos Loureiros, Horizontina, Humaitá,
Independência, Iraí, Itacurubi, Itaqui, Itatiba do Sul, Liberato Salzano, Maçambara,
Manoel Viana, Marcelino Ramos, Mariano Moro, Miraguaí, Nonoai, Nova Candelária,
Novo Machado, Novo Tiradentes, Palmitinho, Pinhal, Pinheirinho do Vale, Pirapó,
Planalto, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Porto Xavier, Redentora, Rio dos
Índios, Rodeio Bonito, Santa Margarida do Sul., Santa Rosa, Santo Antônio das Missões,
Santo Augusto, Santo Cristo, São Borja, São Francisco de Assis, São José do Inhacorá,
São Martinho, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Valentim, São Valério do Sul,
Seberi, Sede Nova, Senador Salgado Filho, Sete de Setembro, Severiano de Almeida,
Taquaruçú do Sul, Tenente Portela, Tiradentes do Sul, Três de Maio, Três Passos,
Trindade do Sul, Tucunduva, Tuparendi, Ubiretama, Uruguaiana, Vicente Dutra, Vista
Alegre, Vista Gaúcha.
2. Depressão Central (1a; 1b; 1c); Litoral (2a; 2b); Campanha (10a**); Missioneira de
Santo Ângelo-São Luiz Gonzaga (8):
Agudo, Alvorada, Araricá, Arroio do Sal, Arroio dos Ratos, Augusto Pestana, Balneário Pinhal, Barão do Triunfo, Barra do Ribeiro, Bom Retiro do Sul, Bossoroca, Bozzano, Brochier, Butiá, Cacequi, Cachoeira do Sul, Cachoeirinha, Caibaté, Campo Bom, Canoas, Capão da Canoa, Capão do Cipó, Capivari do Sul, Caraã, Catuípe, Cerro Branco, Cerro Largo, Charqueadas, Chiapeta, Cidreira, Coronel Barros, Dezesseis de Novembro, Dilermano de Aguiar, Dom Pedro de Alcântara, Dona Francisca, Eldorado do Sul, Entre Ijuís, Estância Velha, Esteio, Eugênio de Castro, Faxinal do Soturno, Formigueiro, General Câmara, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Guarani das Missões, Harmonia, Ijuí, Imbé, Inhacorá, Itaara, Itati, Jaguari, Jóia, Mampituba, Maquiné, Maratá, Mariana Pimentel, Mata, Mato Queimado, Minas do Leão, Montenegro, Morrinhos do Sul, Mostardas, Nova Esperança do Sul, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Osório, Palmares do Sul, Pantano Grande, Paraíso do Sul, Pareci Novo, Parobé, Passo do Sobrado, Paverama, Portão, Porto Alegre, Restinga Seca, Rio Grande, Rio Pardo, Riozinho, Rolador, Rolante, Roque Gonzales, Rosário do Sul, Salvador das Missões, Santa Margarida do Sul, Santa Maria, Santiago, Santo Ângelo, Santo Antônio da Patrulha, São Jerônimo, São João do Polésine, São José do Norte, São Leopoldo, São Luiz Gonzaga, São Martinho da Serra, São Miguel das
32
Missões, São Pedro do Butiá, São Pedro do Sul, São Vicente do Sul, São
Gabriel, São Sepé, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Sertão Santana, Silveira Martins,
Taquara, Taquari, Tavares, Terra de Areia, Toropi, Torres, Tramandaí, Três Cachoeiras,
Três Forquilhas, Triunfo, Unistalda, Vale Verde, Viamão, Vila Nova do Sul, Vitória das
Missões, Xangri-lá.
3. Litoral (2c); Região das Grandes Lagoas (12a; 12b); Serra do Sudeste (11); Campanha
(10b); Planalto Médio (5a; 5b; 5c; 5d; 5e); Encosta Inferior da Serra do Nordeste (6a; 6b):
Aceguá, Água Santa, Ajuricaba, Almirante Tamandaré do Sul, Alto Alegre, Alto Feliz, Amaral Ferrador, Arambaré, Arroio do Meio, Arroio do Padre, Arroio do Tigre, Arroio Grande, Arvorezinha, Áurea, Bagé, Barão, Barão do Cotegipe, Barra Funda, Barros Cassal, Boa Vista das Missões, Boa Vista do Cadeado, Boa Vista do Incra, Bom Princípio, Boqueirão de Leão, Caçapava do Sul, Camaquã, Camargo, Campinas do Sul, Campos Borges, Candelária, Candiota, Canguçu, Canudos do Vale, Capão do Leão, Capela de Santana, Capitão, Carazinho, Carlos Gomes, Centenário, Cerrito, Cerro Grande, Cerro Grande do Sul, Chapada, Charrua, Chuí, Chuvisca, Ciríaco, Colinas, Colorado, Condor, Constantina, Coqueiros do Sul, Coxilha, Cristal, Cruz Alta, Cruzaltense, Cruzeiro do Sul, David Canabarro, Dois Irmãos, Dom Feliciano, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Engenho Velho, Erebango, Erexim, Ernestina, Espumoso, Estação, Estrela, Estrela Velha, Fazenda Vilanova, Feliz, Floriano Peixoto, Fontoura Xavier, Forquetinha, Fortaleza dos Vales, Gaurama, Gentil, Getúlio Vargas, Gramado Xavier, Herval, Herveiras, Hulha Negra, Ibarama, Ibirapuitã, Ibirubá, Igrejinha, Imigrante, Ipiranga do Sul, Itapuca, Ivorá, Ivoti, Jaboticaba, Jacuizínho, Jacutinga, Jaguarão, Jari, Júlio de Castilhos, Lageado do Bugre, Lagoa Bonita do Sul, Lagoa Três Cantos, Lagoão, Lajeado, Lavras do Sul, Lindolfo Collor, Linha Nova, Machadinho, Marau, Mato Castelhano, Mato Leitão, Maximiliano de Almeida, Mormaço, Morro Redondo, Morro Reuter, Muçum, Muliterno, Não-Me-Toque, Nicolau Vergueiro, Nova Alvorada, Nova Boa Vista, Nova Palma, Nova Ramada, Novo Barreiro, Novo Cabrais, Novo Xingú, Paim Filho, Palmeira das Missões, Panambi, Passa Sete, Passo Fundo, Paulo Bento, Pedras Altas, Pedro Osório, Pejuçara, Pelotas, Pinhal, Pinhal Grande, Pinheiro Machado, Piratini, Poço das Antas, Pontão, Ponte Preta, Pouso Novo, Presidente Lucena, Progresso, Quaraí, Quatro Irmãos, Quevedos, Quinze de Novembro, Roca Sales, Ronda Alta, Rondinha, Sagrada Família, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Salvador do Sul, Santa Bárbara do Sul, Santa Clara do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa Maria do Herval, Santa Vitória do Palmar, Santana da Boa Vista, Santana do Livramento, Santo Antônio do Planalto, São João da Urtiga, São José das Missões, São José do Herval, São José do Hortêncio, São José do Sul, São Lourenço do Sul, São Pedro da Serra, São Pedro das Missões, São Sebastião do Caí, São Vendelino, Sarandi, Segredo, Selbach, Sentinela do Sul, Sério, Sertão, Sinimbu, Sobradinho, Soledade, Tabaí, Tapejara, Tapera, Tapes, Teutônia, Tio
33
Hugo, Travesseiro, Três Arroios, Três Coroas, Três Palmeiras, Tunas,
Tupanciretã, Tupandi, Turuçu, Vale do Sol, Vale Real, Venâncio Aires, Vera Cruz,
Viadutos, Vila Lângaro, Vila Maria, Vitor Graeff, Westfalia.
4. Serra do Nordeste (4a; 4b); Planalto Superior (3b):
André da Rocha, Anta Gorda, Antônio Prado, Barracão, Bento Gonçalves, Boa
Vista do Sul, Cacique Doble, Campestre da Serra, Canela, Capão Bonito do Sul, Carlos
Barbosa, Casca, Caseiras, Caxias do Sul, Coqueiro Baixo, Coronel Pilar, Cotiporã, Dois
Lajeados, Doutor Ricardo, Encantado, Esmeralda, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores
da Cunha, Garibaldi, Gramado, Guabiju, Guaporé, Ibiaça, Ibiraiaras, Ilópolis, Ipê, Lagoa
Vermelha, Marques de Souza, Montauri, Monte Alegre dos Campos, Monte Belo do Sul,
Muitos Capões, Nova Araça, Nova Bassano, Nova Bréscia, Nova Pádua, Nova Petrópolis,
Nova Prata, Nova Roma do Sul, Paraí, Picada Café, Pinhal da Serra, Pinto Bandeira,
Protásio Alves, Putinga, Relvado, Sananduva, Santa Cecília do Sul, Santa Tereza, Santo
Antônio da Palma, Santo Expedito do Sul, São Domingos do Sul, São Jorge, São José do
Ouro, São Marcos, São Valentim do Sul, Serafina Corrêa, Tupanci do Sul, União da
Serra, Vacaria, Vanini, Veranópolis, Vespasiano Correa, Vila Flores, Vista Alegre do
Prata.
1.2.1.2 - Épocas de semeadura para o sistema pré-germinado
Resultados preliminares obtidos nesse sistema de cultivo, no Rio Grande do
Sul, indicam que há uma redução no período em que a cultura permanece no campo.
Entretanto, ainda não existem informações suficientes sobre o desempenho das
cultivares em diferentes épocas de semeadura, nas distintas regiões produtoras. Assim,
recomenda-se manter os mesmos períodos indicados na Tabela 1.8.
1.2.2 - Santa Catarina
Em Santa Catarina, a semeadura é realizada em solo inundado com sementes
pré-germinadas. Foram utilizados os dados de 26 estações agrometeorológicas do
Estado, com períodos de observação variáveis de 15 a 30 anos, sendo que, para se
chegar aos períodos recomendados ou favoráveis de semeadura, os índices adotados
foram calculados por decêndio (períodos de 10 dias). Os índices utilizados para delimitar
as regiões de aptidão para o arroz irrigado foram determinados por meio de revisão
bibliográfica, juntamente com as respostas biológicas observadas por técnicos da Epagri,
em sua Rede Experimental, no período de 1970 a 1997.
Devido ao sistema de plantio com sementes pré-germinadas, considerou-se que a semeadura pode ser iniciada no decêndio em que a temperatura média do ar seja
34
superior a 15°C. Após a definição do início do período de semeadura, adotou-se
como o período mais crítico às baixas temperaturas, de acordo com vários autores, o
período de 20 dias, que abrange as fases de pré-floração (microsporogênese) e floração.
A literatura mostra que há uma alta correlação entre a freqüência de dias com
temperaturas mínimas iguais ou inferiores a 15°C e as normais da média das
temperaturas mínimas em fevereiro (período reprodutivo) entre localidades
representativas de diferentes regiões orizícolas do Rio Grande do Sul. Desta forma,
adotou-se a média das temperaturas mínimas maiores que 17,6°C, ou seja, risco de frio
médio no período reprodutivo (microsporogênese e floração) como índice determinante
dos períodos favoráveis de semeadura. Baseando-se em dados experimentais das
cultivares recomendadas para a safra 1996/97, foram estabelecidas as datas médias de
floração das cultivares de ciclo precoce (80 dias), médio (95 dias) e tardio (115 dias) e,
conseqüentemente, a época de ocorrência do período crítico, que ocorre nas cultivares
precoces, no 8° e 9° decêndios, nas cultivares de ciclo médio, no 10° e 11° decêndios e
nas cultivares tardias, no 11° e 12° decêndios.
A Tabela 1.9 apresenta os períodos favoráveis (recomendados) de semeadura do
arroz irrigado, ciclos precoce, médio e tardio, nas regiões aptas do estado de Santa
Catarina.
Tabela 1.9 - Períodos favoráveis de semeadura do arroz irrigado, ciclos
precoce, médio e tardio no estado de Santa Catarina.
Sub-região Períodos favoráveis de semeadura do arroz irrigado
em função dos ciclos das cultivares
Precoce Médio Tardio
1. Baixo Vale do
Itajaí e Litoral
Norte
21 de agosto a
10 de janeiro
11 de agosto a
20 de dezembro
11 de agosto a
10 de dezembro
2. Litoral Centro 11 de setembro a
31 de dezembro
01 de setembro a
10 de dezembro
21 de agosto a
30 de novembro
3. Litoral Sul e
Região Sul
21 de setembro a
20 de dezembro
11 de setembro a
10 de dezembro
01 de setembro a
20 de novembro
4. Médio Vale do
Itajaí
21 de setembro a
10 de dezembro
21 de setembro a
30 de novembro
21 de setembro a
20 de novembro
5. Alto Vale do Itajaí 11 de outubro a
10 de dezembro
11 de outubro a
30 de novembro
11 de outubro a
20 de novembro
6. Demais regiões Cultivo não recomendado
35
Os municípios pertencentes às regiões definidas na Tabela 1.9 são os
seguintes:
1. Baixo Vale do Itajaí e Litoral Norte:
Araquari, Balneário Barra do Sul, Balneário Camboriú, Barra Velha, Brusque,
Camboriú, Corupá, Garuva, Gaspar, Guabiruba, Guaramirim, Ilhota, Itajaí, Itapoá,
Jaraguá do Sul, Joinville, Luiz Alves, Massaranduba, Navegantes, Penha, Piçarras,
Pomerode, São Francisco do Sul, São João do Itaperiú e Schroeder.
2. Litoral Centro:
Águas Mornas, Antonio Carlos, Biguaçu, Bombinhas, Canelinha, Florianópolis,
Governador Celso Ramos, Itapema, Palhoça, Paulo Lopes, Porto Belo, Santo Amaro da
Imperatriz, São José, São Pedro de Alcântara, São João Batista e Tijucas.
3. Litoral Sul e Região Sul:
Araranguá, Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota, Capivari de Baixo, Cocal
do Sul, Criciúma, Ermo, Forquilhinha, Garopaba, Gravatal, Içara, Imaruí, Imbituba, Jacinto
Machado, Jaguaruna, Laguna, Maracajá, Meleiro, Morro da Fumaça, Morro Grande, Nova
Veneza, Passo de Torres, Praia Grande, Sangão, Santa Rosa do Sul, São João do Sul,
Siderópolis, Sombrio, Timbé do Sul, Treze de Maio, Tubarão, Turvo e Urussanga.
4. Médio Vale do Itajaí:
Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, Blumenau, Ibirama, Indaial, Pomerode,
Presidente Getúlio, Rio dos Cedros, Rodeio e Timbó.
5. Alto Vale do Itajaí:
Agrolândia, Agronômica, Alfredo Wagner, Atalanta, Aurora, Benedito Novo (Santa
Maria), Botuverá, Braço do Trombudo, Chapadão do Lageado, Dona Emma, Doutor
Pedrinho, Ituporanga, José Boiteux, Laurentino, Lontras, Mirim Doce, Petrolândia, Pouso
Redondo, Presidente Nereu, Rio do Campo, Rio do Oeste, Rio do Sul, Salete, Taió,
Trombudo Central, Vidal Ramos, Vitor Meireles e Witmarsum.
Recomenda-se que, a cada safra, os produtores, especialmente aqueles que pretendem contar com as garantias do PROAGRO, verifiquem se as informações contidas nesta publicação coincidem com aquelas das portarias sobre o Zoneamento Agrícola, publicadas no Diário Oficial da União. Por serem publicadas anualmente, antes do início da safra, essas portarias podem conter alterações e, nessa situação, prevalecem
36
as informações nelas contidas. O acesso a essas portarias é obtido no endereço
eltrônico: http://www.agricultura.gov.br. Neste site, acessar “Serviços”, “Zoneamento
Agrícola” e “Portarias do Zoneamento Agrícola”.
37
38
2 - SISTEMATIZAÇÃO DO SOLO
2.1 - Introdução
Os solos próprios para o cultivo do arroz irrigado caracterizam-se pela topografia
plana, geralmente hidromórficos, que permanecem saturados em períodos de maior
precipitação. A drenagem deficiente está relacionada não apenas à topografia plana,
mas, principalmente à ocorrência de horizontes argilosos, que por apresentarem uma
condutividade hidráulica muito baixa, dificultam a percolação da água no perfil. Estas
características, normalmente desfavoráveis para outras culturas, tornam-se adequadas
para o cultivo do arroz, facilitando a manutenção de uma lâmina d’água sobre a superfície
do solo e dificultando a lixiviação de nutrientes.
Para o aproveitamento eficiente e racional destes solos, há necessidade de
condicioná-los, anteriormente ao cultivo, a um processo de sistematização do terreno,
que consiste na criação de um sistema funcional de manejo que vai desde a remoção de
detritos vegetais, abertura de canais de drenagem e irrigação, construção de estradas
internas, regularização da superfície do terreno, em nível ou desnível, entaipamento, até
a construção de estruturas complementares, conforme a necessidade de cada projeto.
A sistematização deve basear-se em estudos envolvendo dados do terreno, como
análises das condições do solo, de água, topográficas e obedecendo às características
peculiares de cada propriedade. Há duas modalidades de sistematização para as
lavouras de arroz, que são realizadas em função do sistema de cultivo.
2.2 - Sistematização do solo em desnível
Este sistema visa uniformizar a superfície do solo, transferindo das partes mais
elevadas para as depressões do terreno. Normalmente a declividade natural do terreno é
mantida, podendo-se ajustar o gradiente conforme a necessidade da cultura a ser
implantada. No caso do arroz, a água de irrigação é retida sobre a superfície do solo
através de taipas em curva de nível. A diferença de cotas de uma taipa para outra
depende da declividade do terreno e do sistema de cultivo.
Esta modalidade de sistematização possui como vantagens o menor movimento
da terra, menor custo inicial e melhor drenagem superficial. As desvantagens são o
aumento do volume de água utilizada e a desuniformidade da lâmina, causando maiores
dificuldades no controle de plantas daninhas e manejo de insumos agrícolas.
2.3 - Sistematização do solo em nível
Neste sistema a área é subdividida em quadros, preferencialmente de formato regular. O terreno dentro de cada quadro é nivelado, em um plano pré-definido,
39
utilizando-se o solo das cotas mais elevadas para aterrar os de cotas inferiores. O
tamanho destes quadros pode variar em função do desnível do terreno, sendo que quanto
menor a declividade, maior será a área de cada quadro. Para facilitar a mecanização é
aconselhável que os mesmos possuam áreas compatíveis com o tamanho das máquinas
e que apresentem uma adequada relação entre comprimento e largura. É aconselhável
que a largura dos quadros se situe entre 20 e 50 metros, variando em função do desnível
do terreno e das características do solo. Quadros com comprimento superior a 200
metros dificultam a manutenção do nivelamento e os tratos culturais.
No processo de nivelamento do solo, quando ocorrerem cortes superiores a
profundidade do horizonte A, e os horizontes subseqüentes forem de baixa fertilidade,
faz-se necessário a retirada do primeiro horizonte e a sua posterior reposição após o
nivelamento das camadas inferiores do solo. É importante salientar que se deve ter mais
cuidado com a fertilidade do solo nestas áreas.
Para cada área deve-se projetar estrutura de irrigação e drenagem
individualizadas, bem como acessos facilitados a todos os quadros. Os quadros são
cercados por taipas com altura mínima de 20 centímetros.
A sistematização de quadros em nível apresenta vantagens, tais como:
distribuição mais adequada da água, permitindo a irrigação uniforme da cultura desde o
seu estabelecimento e maior facilidade no controle de plantas daninhas, redução da
perda de nutrientes do solo, da incidência de pragas e doenças e da oscilação de
temperatura da água e do solo. Com isto, a uniformidade da lavoura possibilita maior
eficiência nos tratos culturais e na colheita, melhor aproveitamento do solo, com redução
da área ocupada por taipas e economia de insumos. Como desvantagem, na maioria dos
casos, a alternância de cultivo com outras culturas é dificultada pela deficiência de
drenagem superficial, originada pelo nivelamento do terreno. Ademais, o custo inicial da
sistematização de quadros em nível é normalmente mais elevado do que a
sistematização em desnível.
40
3 - SISTEMAS DE CULTIVO E ROTAÇÃO DE CULTURAS
3.1 - Sistemas de cultivo e preparo do solo
Os sistemas de cultivo utilizados na cultura do arroz irrigado, nos estados do Rio
Grande do Sul e de Santa Catarina, diferenciam-se, basicamente, quanto a forma de
preparo do solo, aos métodos de semeadura e ao manejo inicial da água e são
denominados:
a) Sistema convencional d) Pré-germinado
b) Cultivo mínimo e) Mix
c) Plantio direto f) Transplante de mudas
Na safra 2006/07, no RS predominou o sistema cultivo mínimo (66% da área),
seguido dos sistemas convencional (21% da área), pré-germinado (10%) e plantio direto
(3%). Já no estado de Santa Catarina, o único sistema de cultivo utilizado é o pré-
germinado. O sistema de transplante de mudas é pouco usado no sul do Brasil e está
restrito a campos de produção de sementes de alta qualidade.
Mais informações sobre os sistemas de cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do
Sul e em Santa Catarina podem ser obtidas, respectivamente, nos endereços eletrônicos:
http://www.irga.rs.gov.br e http://www.epagri.sc.gov.br.
3.1.1 - Sistema convencional
O preparo do solo, no sistema convencional, envolve o preparo primário, que
consiste em operações mais profundas, normalmente realizadas com arado, que visam
principalmente o rompimento de camadas compactadas e a eliminação e/ou enterrio da
cobertura vegetal. No preparo secundário, as operações são mais superficiais, utilizando-
se grades ou plainas para nivelar, destorroar, destruir crostas superficiais, incorporar
agroquímicos e eliminar plantas daninhas no início do seu desenvolvimento, criando
assim um ambiente favorável à germinação, emergência e desenvolvimento da cultura
implantada. Convém ressaltar que todas essas atividades concorrem para a deformação
da estrutura do solo. No sistema convencional a semeadura é realizada a lanço ou em
linha.
Um aspecto importante que deve ser considerado no preparo do solo é o ponto de umidade ideal, que pode ser determinado na prática pela condição em que o trator opera com o mínimo esforço, proporcionando melhores resultados à atividade que está sendo realizada. Quando o preparo é realizado com umidade elevada, o solo sofre danos físicos na estrutura (compactação no lugar onde trafegam as rodas do trator) e tende a aderir (principalmente em solos argilosos) com maior força nos implementos agrícolas,
41
até mesmo inviabilizando a operação desejada. Por outro lado, quando o preparo
é efetuado com o solo muito seco, há a formação de torrões difíceis de serem quebrados,
exigindo maior número de passadas do implemento e, conseqüentemente, maior
consumo de combustível e de tempo.
3.1.2 - Cultivo mínimo
O cultivo mínimo é o sistema no qual se utiliza menor mobilização do solo,
quando comparado ao sistema convencional. No caso da cultura do arroz irrigado, os
trabalhos de preparo do solo tanto podem ser realizados no verão como no final do
inverno e início da primavera, sendo, neste último caso, com uma antecedência mínima
que permita a formação de uma cobertura vegetal. Por ocasião do preparo do solo é
conveniente que se faça também o entaipamento, com taipas de base larga e de perfil
baixo. Esse tipo de taipa, desde que bem construída, pode ser transposta por máquinas e
tratores sem maiores danos à sua estrutura. Dessa forma, a semeadura do arroz pode
ser realizada sobre a taipa previamente construída, uma vez que existem máquinas com
dispositivos que permitem tal procedimento.
A semeadura é realizada diretamente sobre a cobertura vegetal previamente
dessecada com herbicida, sem o revolvimento do solo. Desta forma, a incidência de
plantas daninhas, principalmente arroz vermelho, é bastante reduzida.
3.1.3 - Plantio direto
Segundo o vocabulário da ciência do solo, o plantio direto é definido como sendo
o “sistema de semeadura, no qual a semente é colocada diretamente no solo não
revolvido”. Abre-se um pequeno sulco (ou cova) de profundidade e largura suficientes
para garantir uma boa cobertura e contato da semente com o solo, de forma que não
mais de 25 a 30% da superfície do solo sejam movimentados. O controle de plantas
daninhas antes e depois do plantio direto é geralmente feito com herbicidas.
O desenvolvimento inicial do plantio direto fundamenta-se em três princípios
básicos: a mínima movimentação do solo, a permanente cobertura do solo e a prática de
rotação de culturas. Esses fundamentos viabilizam o objetivo principal do plantio direto,
que é a conservação do solo. Entretanto, o plantio direto de arroz irrigado na várzea está
mais relacionado ao controle do arroz vermelho e à redução dos custos de produção, do
que à conservação do solo.
Neste sistema também se deve realizar o entaipamento, com taipas de base larga
e de perfil baixo na adequação da área para o plantio direto do arroz irrigado, que
compreende as operações de sistematização da superfície do solo ou aplainamento,
calagem quando for necessário, e construção da infra-estrutura de irrigação e de
drenagem e estradas.
42
3.1.4 - Sistema pré-germinado
Este sistema caracteriza-se pelo uso de sementes pré-germinadas em solo
previamente inundado. No preparo do solo, há necessidade da formação de lama e o
nivelamento e alisamento são realizados, normalmente, com o solo inundado.
A primeira fase do preparo do solo visa trabalhar a camada superficial para a
formação de lama, podendo ser realizada em solo seco com posterior inundação ou em
solo já inundado. As principais técnicas utilizadas nessa fase envolvem: a) aração em
solo úmido, seguida de destorroamento sob inundação com enxada rotativa; b) aração
seguida de destorroamento com grade de disco ou enxada rotativa em solo seco, sendo a
lama formada após a inundação, utilizando-se de enxada rotativa; e c) uso de enxada
rotativa sem aração, preferencialmente em solo inundado, repetindo-se a operação, de
modo a permitir a formação de lama sem deixar restos de plantas daninhas. Uma
alternativa para a formação da lama é a utilização da roda de ferro tipo “gaiola”, que
oferece maior sustentação e deixa menos rastro das rodas do trator.
A segunda fase compreende o renivelamento e o alisamento do terreno, após a
formação da lama, utilizando-se de pranchões de madeira, com o intuito de tornar a
superfície lisa e nivelada, própria para receber a semente pré-germinada.
As operações descritas foram desenvolvidas, principalmente, para pequenas
áreas, características das propriedades de Santa Catarina. Na zona sul do Rio Grande do
Sul, em função das áreas serem mais extensas, vem se buscando um sistema próprio de
preparo do solo, que compreende basicamente as seguintes operações:
a) uma ou duas arações em solo seco;
b) uma ou duas gradagens para destorroar o solo, tendo-se o cuidado de não
pulverizá-lo para que pequenos torrões impeçam o arraste de sementes pelo vento;
c) aplainamento e entaipamento do terreno;
d) inundação da área com uma lâmina de no máximo 10 cm, mantendo-a por, no
mínimo, 15 dias antes da semeadura, para controlar o arroz vermelho;
e) alisamento com pranchões de madeira; e
f) semeadura das sementes pré-germinadas.
3.1.5 - Sistema mix
Este sistema é uma variante do sistema pré-germinado. Através de operações mecânicas de preparo antecipado do solo estimula-se a germinação das sementes de plantas daninhas. Cerca de 15-20 dias antes da semeadura deve ser feita a dessecação da cobertura vegetal e a inundação do solo. Um dos pontos importantes a ser observado neste sistema é o desenvolvimento da cobertura vegetal. Ela deve ser a mínima possível, pois o excesso não permite que as sementes pré-germinadas atinjam o solo e a
43
decomposição de muita matéria orgânica dentro da água gera a produção de
ácidos orgânicos, que interferem negativamente no desenvolvimento das sementes.
3.1.6 - Sistema de transplante de mudas
O método de cultivo por transplante de mudas objetiva, principalmente, a
obtenção de sementes de alta qualidade. Para se conseguir alta pureza varietal, o
“roguing” é prática fundamental, sendo facilitado, neste sistema, pelo fato de o transplante
ser realizado em linhas.
O sistema compreende as fases de produção de mudas e de transplante.
3.1.6.1 - Produção de mudas
As mudas são produzidas em caixas, com fundo perfurado, com as seguintes
dimensões: 60 cm de comprimento x 30 cm de largura x 5 cm de altura (as medidas de
largura e de comprimento das caixas, poderão variar de acordo com o tipo de
transplantadora). O solo a ser utilizado deve apresentar, preferencialmente, textura franco
arenosa, baixo teor de matéria orgânica e ser livre de sementes nocivas. Após passar
por peneiras com abertura de malha de 5 mm, o solo é colocado nas caixas numa
espessura de 2,5 cm. São semeadas em torno de 300 gramas de sementes pré-
germinadas por caixa e cobertas com uma camada de solo com 1 cm de espessura.
Após a semeadura, as caixas são irrigadas abundantemente, empilhadas e cobertas com
lona plástica por 2 a 4 dias, até a emergência das plântulas. A duração desta fase varia
em função da temperatura.
Quando as plântulas iniciam a emergência, as caixas são espalhadas em um
viveiro protegido contra o ataque de pássaros e ratos e irrigadas diariamente, até a fase
de duas folhas (12 a 18 dias). No caso de ocorrência de doenças nas plântulas, estas
devem ser controladas com a aplicação de fungicidas específicos.
3.1.6.2 - Transplante
O transplante é feito quando as mudas alcançam de 10 a 12 cm de altura (12 a
18 dias após a semeadura). No momento do transplante, as caixas devem estar com
umidade adequada, para facilitar o desempenho da transplantadora. Esta operação deve
ser realizada com a área previamente drenada.
As transplantadoras normalmente utilizadas são de fabricação japonesa. O sistema de regulagem permite o plantio de 3 a 10 mudas por cova, espaçamentos entre 14 e 22 cm entre covas e 30 cm entre linhas. O rendimento médio de uma transplantadora com 6 linhas é em torno de 3.000 m2 por hora, sendo necessárias 110 a
44
130 caixas de mudas por hectare (30 a 40 kg/ha de semente). A inundação
permanente deve ser evitada por uns 2 a 3 dias até o pegamento das mudas.
O preparo do solo, manejo d’água, controle de plantas daninhas, de pragas e de
doenças é idêntico ao recomendado para o sistema pré-germinado.
3.2 - População de plantas
Mesmo dentro da época recomendada de semeadura a densidade média de
sementes pode variar em função da cultivar, do sistema de cultivo, do método de
semeadura, do vigor, do poder germinativo das sementes e das condições ambientais.
Por exemplo, semeaduras tardias além da época recomendada, em regiões
sujeitas a ocorrência de frio na fase reprodutiva do arroz, com cultivares do tipo moderno
e de ciclo precoce, requerem menores quantidades de sementes por hectare, objetivando
aumentar a desuniformidade de idade entre os perfilhos para proteger a lavoura de
grandes perdas de produtividade.
Por outro lado, solo com baixa temperatura requer maior quantidade de sementes
para compensar a possível morte de plântulas menos vigorosas. Nestas condições, a
quantidade de sementes deve ser aumentada, não só para obter-se melhor população
inicial de plantas, bem como, principalmente, para favorecer a sincronia de maturação
entre as cultivares que possuem alta capacidade de perfilhamento, característica que
tende a preencher todos os espaços na lavoura.
Para o sistema de cultivo convencional, considerando-se uma semente de boa
qualidade, um solo bem preparado e condições climáticas favoráveis, recomenda-se a
densidade de 400 a 500 sementes aptas por metro quadrado, para a semeadura em linha
e de 500 sementes aptas por metro quadrado, para a semeadura a lanço. O objetivo é
garantir uma população inicial de 200 a 300 plantas por metro quadrado, uniformemente
distribuídas. No caso de híbridos, a indicação é de 140 a 160 sementes aptas por metro
quadrado, objetivando uma população inicial de 130 a 150 plantas por metro quadrado.
O espaçamento entre linhas varia de 13 a 20 centímetros. Espaçamentos
menores, de um modo geral, são mais adequados às semeaduras tardias de cultivares
precoces do tipo moderno. Espaçamentos maiores, ao mesmo tempo que favorecem
maior perfilhamento, podem acarretar desuniformemente na floração. Esse fator pode ser
positivo em áreas sujeitas a quedas bruscas de temperatura durante o período.
No sistema de semeadura a lanço, a profundidade de semeadura é mais
desuniforme do que no sistema em linha, variando com a forma de cobrir a semente. Em
razão disso devem ser tomados cuidados especiais, especialmente ao usar grade de
disco nesta operação, para que a maioria das sementes fique em profundidade nunca
superior a 5 cm.
Para os sistemas de cultivo plantio direto e cultivo mínimo, onde se utiliza semeadura em linha, recomenda-se a densidade de 400 a 500 sementes aptas por metro
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quadrado. Em solos mais pesados e em áreas em que a cobertura morta é mais
densa, pode ocorrer redução no número de plântulas que emergem e sobrevivem.
Portanto, nesses casos deve-se utilizar maior densidade de sementes, obedecendo-se os
limites acima estabelecidos.
Para o sistema “pré-germinado”, em que o processo de semeadura em solo
inundado consiste basicamente na distribuição a lanço, de maneira uniforme, das
sementes pré-germinadas, em quadros nivelados e totalmente inundados com lâmina
d’água de aproximadamente 5 cm, a densidade de semeadura deve ser de 500 sementes
aptas por metro quadrado.
A pré-germinação das sementes é o aceleramento do processo natural de
germinação. Consiste na hidratação das sementes acondicionadas em sacos porosos ou
em tanques, pela imersão em água durante 24 a 36 horas. Após este período, as
sementes são retiradas da água e deixadas à sombra por igual período (24 a 36 horas),
fase esta também conhecida como incubação. Durante este período, ocorre a emissão do
coleóptilo e da radícula que caracterizam o processo de pré-germinação. Por ocasião da
semeadura estas estruturas não devem ultrapassar 2 mm de comprimento a fim de evitar
o seu rompimento, bem como o amontoamento das sementes a serem lançadas ao solo,
como conseqüência do enovelamento das radículas. Os períodos de hidratação e de
incubação dependem da cultivar e da temperatura ambiente.
A semeadura pode ser feita tanto manual como mecanicamente, em faixas
previamente demarcadas nos quadros com água preferentemente limpa.
3.3 - Rotação e sucessão de culturas em áreas de arroz irrigado
A repetição de uma mesma cultura ano após ano em uma mesma área constitui a
monocultura. Rotação de culturas, ao contrário, consiste em alternar diferentes culturas
em uma mesma área. Numa proposta de utilização da área de forma sustentável, o
planejamento da rotação deve considerar além das exigências das culturas, as
características de clima e de solo e a adequação do terreno para a utilização com várias
espécies cultivadas.
Em áreas de várzeas, a utilização de outros cultivos, complementares ao arroz
irrigado, se justifica por três aspectos principais: econômico, técnico e ambiental.
Quanto ao aspecto econômico, observa-se que as margens de lucro estão cada vez menores para um significativo grupo de orizicultores devido, entre outras causas, à defasagem entre os custos de produção e os preços recebidos pelo produtor, competitividade com arroz oriundo de outros estados do Brasil e de outros países, especialmente os do Mercosul. As áreas de várzea ainda apresentam enorme potencial para o aproveitamento mais intensivo, citando-se o Rio Grande do Sul que possui cerca de 5,5 milhões de hectares de solos de várzea. Destes, em torno de 3 milhões de hectares vem sendo utilizados para o cultivo de arroz irrigado, dos quais anualmente
46
utilizam-se próximo a um milhão de hectares; quase todo o restante da área que
permanece em pousio vem sendo sub utilizada com pecuária de corte extensiva. Outro
potencial econômico de uso destas áreas é a infra-estrutura de irrigação já disponível,
proporcionada pela cultura do arroz irrigado, que poderá ser utilizada nos períodos de
déficit hídrico, comuns durante o desenvolvimento das culturas de verão.
Quanto ao aspecto técnico, observa-se aumento da incidência de doenças,
insetos-praga e plantas daninhas na cultura do arroz irrigado. A brusone é a principal
moléstia, constatando-se, no entanto, cada vez mais freqüentemente, a presença de
outras moléstias que poderão causar prejuízos à cultura. Problemas de nematóides são
registrados em determinadas áreas, verificando-se, também, a elevação da população de
insetos, como a bicheira da raiz do arroz, o percevejo do colmo e a lagarta da folha, entre
outras. O arroz vermelho constitui-se na principal planta daninha do arroz irrigado,
estimando-se que seja responsável pela redução anual de 20% da safra gaúcha de arroz.
Em sistemas clássicos de rotação (trigo-soja-milho, por exemplo) verifica-se a diminuição
de inóculo ou de população de insetos, pela seqüência de utilização de diferentes
espécies vegetais. Resultados de pesquisa mostram a alta desinfestação do solo de
sementes de arroz vermelho, chegando a 80% de redução das sementes viáveis em dois
anos, quando se utiliza espécies de verão, tais como, soja, milho ou sorgo.
Quanto ao aspecto ambiental, constata-se a necessidade de minimizar o controle
de pragas, doenças e plantas daninhas com produtos químicos, pois além de elevar os
custos, há o risco de contaminação do ambiente, comprometendo o ecossistema.
As espécies mais pesquisadas e utilizadas em rotação com o arroz em áreas de várzea, no verão, são as culturas do sorgo, do milho, da soja e forrageiras; e no inverno, forrageiras de estação fria, conforme a necessidade, interesse ou conveniência da propriedade e as relações de preços entre insumos e produtos agrícolas. Desta forma ampliam-se na medida em que a área não estiver adequada para ser cultivada com essas espécies. A drenagem eficiente deve ser, necessariamente, a primeira meta a ser concretizada. Como a condutividade hidráulica dos solos de várzea é baixa, a drenagem superficial passa a ser decisiva para o estabelecimento desses cultivos nas áreas de várzea. A drenagem superficial é estabelecida por dois procedimentos principais: a realização de um perfeito aplainamento do solo, visando corrigir o microrelevo, eliminando depressões e elevações do terreno e também pelo estabelecimento de drenos superficiais (valetamento), de modo que a água superficial escorra rapidamente após as chuvas ou irrigações. Isto pode ser feito também por meio da sistematização da área, o que envolve o estabelecimento adequado de canais de irrigação, de drenagem, de estrutura viária e de nivelamento da superfície do terreno. Neste processo, a área pode ser deixada com cota zero entre os diferentes pontos do talhão ou com um gradiente de declividade. A sistematização do solo em desnível melhora o uso da área para cultivos alternativos, facilitando escoamento da água, enquanto que em áreas com cota zero, há
47
mais dificuldade na retirada da água superficial, exigindo, assim, maior
quantidade de drenos. No planejamento de utilização da área, deve-se considerar a
irrigação das culturas, aproveitando a infra-estrutura existente, visando atingir seu
potencial produtivo e garantir a estabilidade de produção.
A escolha da área, associada a de espécies e/ou cultivares tolerantes à baixa
disponibilidade de oxigênio no solo deve fazer parte do planejamento da rotação/
sucessão de culturas em várzea, para que o empreendimento tenha sucesso. É
necessário, também, que o produtor e as pessoas envolvidas no processo sejam
sensibilizadas quanto a necessidade de realizar a atividade da forma tecnicamente
recomendável, sendo decisivo o conhecimento das exigências de cada cultura em suas
diferentes fases do desenvolvimento. Para isso, é indispensável o acompanhamento
técnico em todas as etapas do processo produtivo, de forma que haja a possibilidade de
realizar intervenções necessárias em tempo hábil, pois há uma diversidade muito grande
de clima e de solo no ecossistema várzea, com conseqüentes diferentes respostas da
planta. Por fim, a busca de genótipos mais adaptados às condições de encharcamento
deve ser uma constante.
Em síntese, a utilização de cultivos alternativos ao arroz em áreas de várzea
propicia a utilização mais intensiva do solo e a melhoria de alguns de seus atributos, com
a otimização do uso da mão de obra disponível, redução da incidência de arroz vermelho
na área, redução de custos de produção com elevação da produtividade do arroz e
diversificação de renda na propriedade.
48
4 - ADUBAÇÃO E CALAGEM
4.1 - Introdução
As atuais recomendações de adubação e calagem para a cultura do arroz
irrigado resultaram da análise de um grande número de experimentos de campo e de
casa de vegetação, realizados por todas as Instituições de Pesquisa que trabalham com
arroz no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. As informações apresentadas neste
documento constituem, basicamente, as recomendações de adubação e calagem para o
arroz irrigado propostas pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – Núcleo Regional
Sul. Maiores detalhes sobre procedimentos, interpretações e produtos, bem como
informações sobre as recomendações para outras culturas, podem ser obtidas no Manual
de Adubação e Calagem para os Estados do RS e SC (CQFS, 2004).
As recomendações para o arroz irrigado têm como meta proporcionar ao produtor
o maior retorno líquido por cultivo e por unidade de área. O sistema baseia-se,
fundamentalmente, na utilização da análise de solo como um instrumento básico para
determinar as necessidades de utilização de corretivos e fertilizantes.
Análises de solo a cada cultivo de arroz são indicadas para o sistema tradicional,
ou seja, arroz seguido de arroz, eventualmente intercalado com pastoreio extensivo. Nas
situações em que o arroz faz parte de um sistema de rotação de culturas, recomenda-se
monitorar a fertilidade do solo a cada dois cultivos, considerando-se para os cultivos de
sequeiro em rotação ou sucessão ao arroz, a interpretação de fósforo correspondente à
classe de argila do solo.
No caso da calagem, quando aplicada em quantidades indicadas para corrigir a
acidez do solo, a meta é a obtenção do máximo retorno econômico em médio prazo, ou
seja, para um período de aproximadamente cinco anos. A indicação de necessidade de
nova aplicação de corretivo só deverá ser feita após esse período, mediante uma nova
análise de solo, cuja decisão deverá se basear nas considerações apresentadas no item
4.3 (Tabelas 4.1 e 4.2) e na observação do desempenho das culturas.
Por fim, deve-se ter em conta que as recomendações descritas a seguir
constituem-se numa ferramenta importante a ser utilizada por extensionistas e
produtores, mas, por conterem indicações genéricas, devem ser utilizadas com cautela,
sempre tendo em vista os demais fatores de produção e, essencialmente, a situação
sócioeconômica de cada caso.
4.2 - Amostragem do solo
A coleta de solo para a formação da amostra que identificará as condições de fertilidade é a etapa crítica de todo o processo de análise. Uma amostra mal coletada pode constituir a principal fonte de erro do processo de recomendação de corretivos e
49
fertilizantes e o laboratório de análise de solo não tem como diagnosticar nem corrigir
erros de amostragem.
O número de amostras depende dos tipos de solo que constituem a área a ser
cultivada na propriedade. Os diferentes tipos de solo são facilmente reconhecidos pelas
diferenças de textura, de cor, da conformação do terreno, pelas variações da vegetação
nativa, de manejo, de tratos anteriores, entre outros. Em terrenos ondulados, mesmo com
pequenas diferenças de nível, as partes altas, as encostas e as partes baixas são
consideradas áreas distintas. Desta maneira, o número de amostras a serem enviadas ao
laboratório depende da identificação de áreas na propriedade com características
semelhantes ou homogêneas.
Dentro de cada área homogênea, devem ser coletadas de 10 a 20 sub-amostras
com pá, trado ou calador (tubo de aço), na camada de 0-20 cm de profundidade do solo.
Essas sub-amostras devem ser colocadas em um recipiente limpo, de material não
metálico, misturadas e delas deve ser retirada uma amostra de aproximadamente 500 g
para remessa ao laboratório. A amostra deve ser acondicionada em saco isento de
resíduos para evitar contaminações. Ao etiquetá-la, deve-se preencher as informações
necessárias, que possibilitem identificar a amostra com a área na propriedade.
Uma amostra de solo representativa permitirá que a análise química sirva de
base para uma recomendação racional e econômica de adubos e de corretivos.
4.3 - Calagem
Em solos ácidos, cultivados sob condições de sequeiro, o crescimento das
plantas é limitado devido aos baixos valores de pH, à presença de alumínio e manganês
em níveis tóxicos e à baixa atividade microbiana, diminuindo a taxa de mineralização da
matéria orgânica. Como conseqüência, há baixa disponibilidade e menor aproveitamento
de alguns nutrientes essenciais, especialmente, nitrogênio, fósforo, enxofre e molibdênio.
A calagem é definida como a prática de manejo que corresponde à utilização de
calcário, ou produtos equivalentes, que atuam como agente corretivo da acidez do solo e
como fonte de cálcio e de magnésio para as plantas, com a finalidade de proporcionar às
plantas um ambiente de crescimento radicular adequado, seja através da diminuição da
atividade no solo de elementos potencialmente tóxicos (alumínio, manganês e ferro) e/ou
favorecendo a disponibilidade de elementos essenciais. As indicações de calagem
pressupõem a sua utilização integrada às recomendações de adubação, em consonância
com as demais práticas agronômicas.
Entretanto, em solo inundado, a elevação do pH ocorre naturalmente como
conseqüência do processo de redução do solo. Disso resulta o fenômeno conhecido
como “auto-calagem”. As novas condições de pH e de disponibilidade de alguns
nutrientes, decorrentes da redução do solo, atingem níveis estáveis num período variável
de quatro a seis semanas após a inundação.
50
4.3.1 - Recomendação de calagem
Quando o arroz é semeado em solo seco e a inundação é iniciada ao redor de 30
dias após a emergência (sistema convencional, plantio direto e cultivo mínimo), a
correção da acidez e as condições de solo mais adequadas ao crescimento da cultura,
provocadas pela inundação, ocorrem, apenas, próximo ao fim da fase vegetativa (40 a 60
dias após a emergência). Considerando-se que é nesse período que a planta absorve
grande parte dos nutrientes essenciais, admite-se que a calagem corrige a acidez e
propicia melhores condições para o desenvolvimento das plantas desde o início do ciclo.
Nesses casos, recomenda-se a correção da acidez sempre que o pH em água for £5,5 e
a saturação por bases <65%.
Para os sistemas de cultivo de arroz irrigado em que a planta está sob condições
de solo inundado desde o início do ciclo (pré-germinado e transplante de mudas), não é
recomendada a calagem, exceto para o caso de corrigir prováveis deficiências de cálcio
e/ou de magnésio, ou seja, quando o solo apresentar níveis de Ca£2,0 cmolc/dm³ e/ou
Mg£0,5cmolc/dm³. Nesses casos, recomenda-se aplicar 1 t/ha de calcário dolomítico com
PRNT 100%. As indicações de necessidade de calagem para o arroz irrigado encontram-
se na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 - Critérios para definição de necessidade, quantidades de
corretivos da acidez e procedimentos associados.
Situação Critérios de decisão Quantidade de calcário
equivalente
Manejo convencional ou
semeadura em solo
seco
pH<5,5 e V<65%(1)
1 SMP para pHágua 5,5
Incorporado
Sistemas pré-germinado
ou com transplante de
mudas
Ca £2,0 cmolc/dm³ e/ou
Mg £0,5cmolc/dm³.
1 t/ha (PRNT100%)(2)
Incorporado
(1) Quando um dos critérios for atendido, não aplicar calcário. (2) Calcário dolomítico para suprir Ca e Mg.
Definida a necessidade de correção da acidez, a Tabela 4.2 indica as
necessidades de calcário determinadas pelo índice SMP para elevar o pH até o valor
desejado.
51
Tabela 4.2 - Recomendações de calcário (PRNT = 100%) para corrigir a
acidez, visando elevar o pH em água a 5,5 e 6,0 pelo índice SMP.
Índice SMP pH Desejado Índice SMP pH Desejado
pH 5,5 pH 6,0 pH 5,5 pH 6,0
-------------- t/ha ------------ -------------- t/ha ------------
£4,4 15,0 21,0 5,8 2,3 4,2
04,5 12,5 17,3 5,9 2,0 3,7
04,6 10,9 15,1 6,0 1,6 3,2
04,7 09,6 13,3 6,1 1,3 2,7
04,8 08,5 11,9 6,2 1,0 2,2
04,9 07,7 10,7 6,3 0,8 1,8
05,0 06,6 9,9 6,4 0,6 1,4
05,1 06,0 9,1 6,5 0,4 1,1
05,2 05,3 8,3 6,6 0,2 0,8
05,3 04,8 7,5 6,7 0,0 0,5
05,4 04,2 6,8 6,8 0,0 0,3
05,5 03,7 6,1 6,9 0,0 0,2
05,6 03,2 5,4 7,0 0,0 0,0
05,7 02,8 4,8
A calagem também pode minimizar os efeitos prejudiciais da toxidez por ferro,
que passou a se manifestar mais intensamente no Rio Grande do Sul e em Santa
Catarina a partir do lançamento das cultivares modernas.
Devido ao efeito residual do calcário por cinco ou mais anos e à intensificação do
cultivo de arroz em rotação e/ou sucessão com culturas de sequeiro, como pastagens,
soja, sorgo e milho, deve-se fazer a correção do solo levando em consideração a
exigência dessas culturas.
4.3.2 - Qualidade do calcário e cálculo da quantidade a aplicar
Existem dois tipos principais de calcário: o calcítico, composto basicamente de
carbonato de cálcio, e o dolomítico, que tem em sua composição carbonatos de cálcio e
de magnésio. Tendo em vista que o magnésio é um nutriente essencial ao crescimento
das culturas e pode apresentar-se com baixos teores nos solos ácidos do Rio Grande do
Sul e de Santa Catarina, recomenda-se optar pelo calcário dolomítico.
52
O valor corretivo da acidez do solo dos calcários disponíveis no mercado é
avaliado pelo poder relativo de neutralização total (PRNT), que é uma medida da
qualidade do calcário. Este índice é calculado em função do equivalente em CaCO3 (valor
de neutralização) e da granulometria (reatividade ou eficiência relativa das frações
granulométricas), como segue:
PRNT = (valor de neutralização x reatividade)/100
Exemplificando-se, um calcário com 75% de valor de neutralização e 80% de
reatividade, tem:
PRNT = (75,0 x 80,0)/100 = 60%
O valor encontrado (60%) pressupõe que este calcário pode neutralizar 60% dos
ácidos do solo dentro de 1 a 4 anos, aproximadamente. Como as recomendações de
calagem são baseadas em PRNT=100%, para se utilizar, por exemplo, 3 t/ha do calcário
acima, deve-se proceder a seguinte correção na quantidade a aplicar:
(3 x 100)/60 = 5 t/ha de calcário com PRNT = 60%
Quanto ao PRNT, a legislação brasileira atual reconhece as seguintes classes de
calcário:
A - PRNT entre 45% e 60%; B - PRNT entre 60,1% e 75%;
C - PRNT entre 75,1% e 90%; D - PRNT superior a 90%.
4.3.3 - Escolha do calcário
Ao adquirir um corretivo da acidez, deve-se considerar o custo do produto por
tonelada efetiva do material posto na propriedade, levando-se em conta o PRNT do
material e não o custo por tonelada bruta do produto.
4.3.4 - Mistura de calcário com gesso
A adição de gesso ao calcário reduz o PRNT da mistura, visto que o gesso não
corrige a acidez do solo. Não se dispõe atualmente de resultados de pesquisa que
permitam recomendar a utilização de misturas de calcário com gesso ou gesso,
isoladamente, na cultura do arroz irrigado.
53
4.3.5 - Aplicação e incorporação
Para se obter os efeitos esperados, o calcário deverá ser aplicado,
preferencialmente, três meses ou mais antes da semeadura do arroz. Contudo,
resultados experimentais demonstram que a aplicação do calcário de ótima qualidade
(PRNT próximo a 100%) produz retorno econômico já no primeiro cultivo, quando
aplicado até 30 dias antes da semeadura.
Uma boa incorporação de calcário, principalmente em solos já cultivados, tem
sido obtida com gradagem ou rotativação seguida de aração e outra gradagem. A
finalidade da primeira gradagem é de melhorar a distribuição e, ao mesmo tempo, fazer
uma pré-incorporação do calcário na camada superficial do solo, anteriormente à
lavração.
4.3.6 - Reaplicação de calcário
As informações disponíveis indicam que o efeito residual da calagem é igual ou
superior a cinco anos. Isto quer dizer que novas aplicações de calcário só deverão ser
feitas após esse período, mediante indicação de nova análise de solo.
4.3.7 - Calcário na linha
Esta prática consiste na aplicação de pequenas quantidades de calcário
finamente moído na linha de semeadura. A pesquisa com arroz irrigado não dispõe de
resultados a respeito dessa prática.
4.3.8 - Calagem sob plantio direto em sistemas de rotação de culturas
Apesar da pesquisa não ter resultados específicos com a cultura do arroz irrigado
em sistemas de rotação de culturas, algumas considerações gerais serão feitas sobre
este tópico, independentemente da cultura. Para maiores detalhes, consultar Manual...
(CQFS, 2004).
Antes de iniciar o sistema plantio direto, recomenda-se proceder à correção
integral da acidez do solo, sendo esta etapa fundamental para a adequação do solo ao
mesmo. O calcário deve ser incorporado uniformemente na camada arável do solo, ou
seja, até 20 cm de profundidade.
A camada superficial do solo, manejada sob o sistema de plantio direto, apresenta um processo de acidificação diferente do sistema convencional de manejo do solo. Devido à manutenção da resteva na superfície, há uma tendência de acúmulo de resíduos, os quais com o passar do tempo durante o processo de decomposição da
54
palha, liberam determinadas substâncias que tendem a acidificar a camada superficial. A
adição de adubos, especialmente nitrogenados, também gera acidez do solo e, como
resultado desses processos, tem-se a redução do pH na camada superficial. Nessas
condições, poderão surgir situações que requeiram reaplicações mais freqüentes de
calcário do que o normalmente esperado, ou seja, antes de cinco anos.
4.4 - Recomendação de adubação
Neste item são apresentadas indicações de adubação ajustadas para o objetivo
do máximo retorno econômico em curto prazo (por cultura), pressupondo o seu uso
integrado com a correção da acidez do solo (item 4.3.1), com as práticas de manejo da
cultura e em sintonia com os padrões de aptidão de uso das terras para fins agrícolas.
As recomendações de adubação para o arroz irrigado foram estabelecidas com
base nos teores de matéria orgânica (para nitrogênio), de fósforo e de potássio no solo e
diferenciam-se para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
No Rio Grande do Sul, considera-se que os diversos fatores determinantes da
produção do arroz, em associação com as características edafo-climáticas das regiões
agroecológicas de cultivo, determinam diferentes potenciais de produtividade para a
cultura. Por essa razão, as indicações de fertilizantes são relacionadas ao incremento de
produtividade pretendido, a partir do potencial de produção das diferentes regiões de
cultivo.
Ressalta-se que o potencial de produção de uma determinada região refere-se à
produtividade média atingida pela cultura na ausência de adubação. Por sua vez, o
estabelecimento do incremento de produtividade pretendido para cada lavoura deve
fundamentar-se na adequação de todos os demais fatores que influenciam a produção do
arroz (cultivar; época e densidade de semeadura e práticas de manejo), elevando-se o
nível de expectativa de incremento de produtividade proporcionalmente à sua adequação.
Em Santa Catarina, as recomendações de adubação para o arroz irrigado são
apresentadas para duas expectativas de produtividade, também estabelecidas de acordo
com a adequação dos fatores que influenciam a produção, sendo descritas a seguir:
Produtividade de 6,0 a 9,0 t/ha: quando o arroz for cultivado com limitação em
algum(ns) dos fatores que afetam a produção.
Produtividade >9 t/ha: quando o arroz for cultivado em condições favoráveis de
clima, especialmente alta radiação solar no período reprodutivo; uso de variedades com
alto potencial produtivo; época e densidade de semeadura adequadas para a região,
manejo adequado da irrigação, com relação à época e ao controle da lâmina de água;
controle adequado de plantas daninhas, especialmente o arroz vermelho, e controle
fitossanitário da lavoura.
Adicionalmente, esclarece-se que as aplicações de nutrientes indicadas nas tabelas não necessariamente asseguram a obtenção do incremento de produtividade ou
55
expectativa de produtividade esperados. As tabelas de recomendação de adubação
referem-se a uma condição média de resposta do arroz irrigado à adubação.
4.4.1 - Recomendação de nitrogênio
As Tabelas 4.3 e 4.4 indicam, respectivamente, as doses de nitrogênio com base
no teor de matéria orgânica do solo para o arroz irrigado cultivado no Rio Grande do Sul e
em Santa Catarina.
Tabela 4.3 - Recomendação de adubação nitrogenada para o arroz irrigado
no Rio Grande do Sul, considerando o incremento de produtividade
pretendido.
Teor de matéria Incremento de produtividade(1)
(t/ha)
Orgânica no solo 2 3 4
% ------------------------------- kg de N//ha ------------------------------
£2,5 60 90 120
2,6 - 5,0 50 80 110
> 5,0 £40 £70 £100 (1) Valores de incremento de produtividade a serem adicionados sobre o potencial de produção
médio de uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.
Tabela 4.4 - Recomendação de adubação nitrogenada para o arroz irrigado
em Santa Catarina, considerando a expectativa de produtividade.
Teor de matéria Expectativa de produtividade (t/ha)
Orgânica no solo 6,0 a 9,0 > 9,0
% ------------------------------- kg de N//ha ------------------------------
£2,5 90 120
2,6 - 5,0 70 – 90 90 - 120
> 5,0 £70 £90
A dose de nitrogênio indicada nas tabelas poderá ser reduzida ou acrescida em até 30%, levando-se em consideração o histórico da lavoura com respeito às respostas ao nitrogênio e cultivos antecedentes (leguminosas/gramíneas), a incidência de doenças, especialmente brusone cujo desenvolvimento é favorecido pelo excesso de nitrogênio, o
56
desenvolvimento vegetativo da lavoura e as condições climáticas ocorridas com relação à
temperatura e luminosidade.
Para os sistemas de semeadura em solo seco (convencional, cultivo mínimo e
plantio direto), recomenda-se aplicar 10 kg N/ha na semeadura e o restante em cobertura.
Quando a dose a aplicar em cobertura for inferior a 50 kg N/ha, pode-se proceder uma
aplicação única no início do desenvolvimento da panícula (“ponto de algodão”). Para os
demais casos, é mais eficiente aplicar em torno de 50% da dose de cobertura no início do
perfilhamento (a partir da emissão da quarta folha) e o restante no início do
desenvolvimento da panícula (“ponto de algodão”). Eventualmente, ao ser constatado um
desenvolvimento vegetativo acima do esperado, pode-se reduzir ou até evitar aplicações
adicionais de nitrogênio, face os riscos de acamamento e de problemas associados ao
excesso do nutriente, a critério da assistência técnica.
Para o sistema pré-germinado, a adubação com N na base não é recomendada
devido aos riscos de perdas por desnitrificação. Para as cultivares de ciclo curto (até 120
dias) e médio (entre 120 e 135 dias), recomenda-se aplicar 50% do N no início do
perfilhamento e o restante no início do desenvolvimento da panícula. Para as cultivares
de ciclo longo (mais de 135 dias), a cobertura pode ser fracionada em três aplicações, 1/3
no início do perfilhamento, 1/3 no perfilhamento pleno e, se necessário, completada com
1/3 no início do desenvolvimento da panícula (Tabela 4.5).
Tabela 4.5 - Época de aplicação e fração da dose da adubação nitrogenada
em função do ciclo da cultivar para o sistema pré-germinado.
Ciclo Dias após semeadura Fração da dose de N
25 a 30 50% Curto (até 120 dias)
50 a 55 50%
25 a 30 50% Médio (120 a 135 dias)
60 a 65 50%
25 a 30 33%
50 a 60 33% Longo (mais de135 dias)
75 a 80 33%
A primeira adubação de cobertura com nitrogênio deve ser realizada com aplicação do fertilizante preferencialmente em solo seco, desde que a inundação da lavoura se estabeleça o mais rápido possível (indica-se um tempo máximo entre a aplicação de N e a inundação da lavoura de três dias). Nos casos em que não for possível a primeira aplicação de N em solo seco, a aplicação do fertilizante pode ser realizada sobre a lâmina de água. As demais aplicações de cobertura com nitrogênio
57
após o início da inundação devem ser realizadas sobre a lâmina de água. Nestes
casos, deve ser interrompida a circulação da água por no mínimo três dias.
A uréia e sulfato de amônio são as fontes de nitrogênio indicadas para o arroz
irrigado. As fontes nítricas não são aconselhadas devido às elevadas perdas que ocorrem
no solo. O uso de sulfato de amônio em doses altas e sob temperatura elevada pode ser
prejudicial ao arroz, fato este atribuído à formação de gás sulfídrico oriundo da redução
de sulfatos.
4.4.2 - Recomendação de fósforo
As Tabelas 4.6 e 4.7 indicam, respectivamente, as doses de fósforo com base
no teor de P no solo extraído pelos métodos Mehlich-I e Resina para o arroz irrigado
cultivado no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O método da resina possibilita
aprimoramentos no diagnóstico da disponibilidade de fósforo para solos sob uso intenso
de fosfatos naturais. No entanto, este serviço ainda é restrito a alguns laboratórios da
ROLAS (Rede Oficial dos Laboratórios de Análise de Solo e de Tecido Vegetal do RS e
SC).
Tabela 4.6 - Recomendação de adubação fosfatada para o arroz irrigado
no Rio Grande do Sul, considerando o incremento de produtividade
pretendido.
P extraído P extraído Interpretação Incremento de produtividade(1)
(t/ha)
Mehlich-1 Resina do teor de P 2 3 4
---------- mg/dm3 ---------- ----------------- kg de P2O5/ha ----------
-
£3 £10 Baixo 40 50 60
3 a 6 10,1 a 20 Médio 30 40 50
6,1 a 12 20,1 a 40 Alto 20 30 40
>12 >40 Muito alto £20 £30 £40 (1) Valores de incremento de produtividade a serem adicionados sobre o potencial de produção
médio de uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.
58
Tabela 4.7 - Recomendação de adubação fosfatada para o arroz irrigado em Santa Catarina, considerando a expectativa de produtividade.
Fósforo
Expectativa de produtividade (t/ha) P extraído
Mehlich-1
P extraído
Resina
Interpretação
do teor de P 6,0 a 9,0 > 9,0
---------- mg/dm3 --------- ------------------ kg de P2O5/ha -------------
£3 £10 Baixo 60 70
3 a 6 10,1 a 20 Médio 40 50
6,1 a 12 20,1 a 40 Alto 20 30
>12 >40 Muito alto £20 £30
Os teores de 6,0 mg P/dm3 e 20 mg P/dm
3 no solo, para os métodos Mehlich-I e
Resina, respectivamente, são considerados os teores críticos, acima dos quais a
probabilidade de retorno econômico é muito pequena. As recomendações para solos com
teores acima desses valores têm como objetivo repor a quantidade retirada pela cultura.
Para solos com baixos teores de fósforo (<3 mg/dm3), recomenda-se dar
preferência ao uso de fontes de fósforo solúveis. Para solos com teores maiores que 3
mg/dm3 é viável a utilização de outros fosfatos, isoladamente ou em misturas. No caso de
fosfatos naturais, recomendam-se os reativos, sendo a dose calculada considerando até
o dobro do teor de P2O5 solúvel em ácido cítrico 2% (relação 1:100), a qual
corresponderia a um acréscimo de cerca de 20% na dose calculada com base no teor
total, para equivalências ao solúvel (Tabela 4.8).
Tabela 4.8 - Concentrações de P2O5 dos principais fertilizantes fosfatados.
Fosfato P2O5
Total HCi(1)
CNA(2)
Água
------------------------ % ----------------------
Superfosfato simples 19 18 18 17
Superfosfato triplo 45 40 44 38
Diamônio fosfato (DAP) 45 42 44 40
Monoamônio fosfato (MAP) 52 50 52 50
Termofosfato Mg 19 16 13 0
Escória siderurgica-Thomas 19 15 12 0
Multifosfato magnesiano 20 n.d.(3)
19 6
Fosfato natural Gafsa 27 13 6 0
Fosfato natural Arad 33 9 n.d. 0 (1) HCi - ácido cítrico a 2%, relação 1:100. (2) CNA - citrato neutro de amônio. (3) n.d. - não determinado. Fonte: adaptado de Malavolta & Alcarde (1986).
59
4.4.3 - Recomendação de potássio
As Tabelas 4.10 e 4.11 indicam, respectivamente, as doses de potássio com base
no teor de K no solo extraído pelo método Mehlich-I para o arroz irrigado cultivado no Rio
Grande do Sul e em Santa Catarina. Ressalta-se que no Rio Grande do Sul, para a
interpretação dos teores de potássio no potássio no solo passou-se a considerar a
capacidade de troca de cátions do solo, conforme apresentado na Tabela 4.9. Desta
verifica-se que os teores críticos de potássio estabelecidos são: 45; 60 e 90 mg/dm3, para
solos com CTCpH 7,0 £ 5,0; entre 5,1 e 15,0 e >15,0 cmolc/dm3, respectivamente. Em Santa
Catarina, o valor de 60 mg/dm3 de K no solo é considerado como teor crítico.
Independentemente do valor, admite-se que a probabilidade de retorno econômico
oriundo da adubação potássica em solos contendo teores acima do nível crítico é muito
pequena.
Tabela 4.9 – Interpretação dos teores de potássio (Mehlich-1) para solos
do Rio Grande do Sul, em função da CTC pH7,0.
Interpretação do CTCpH 7,0
teor de K no solo < 5 5 -15 > 15
Baixo £ 30 £ 40 £ 60
Médio 31 a 45 41 a 60 61 a 90
Alto 46 a 90 61 a 120 91 a 180
Muito alto > 90 > 120 > 180
Tabela 4.10 - Recomendação de adubação potássica para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul, considerando a CTC do solo e o incremento de produtividade pretendido.
Interpretaçã
o
CTCpH 7,0 £ 15 cmolc/dm3
CTCpH 7,0 > 15 cmolc/dm3
Do teor de K Incremendo de produtividade(1)
(t/ha)
no solo 2 3 4 2 3 4
----------------------------------- kg de K2O/ha ------------------------------
-
Baixo 60 75 90 60 85 110
Médio 40 55 70 40 65 90
Alto 20 35 50 20 45 70
Muito alto £ 20 £ 35 £ 50 £ 20 £ 45 £ 70 (1) Valores de incremento de produtividade a serem adicionados sobre o potencial de produção
médio de uma determinada região, considerando o cultivo sem adubação.
60
Tabela 4.11 - Recomendação de adubação potássica para o arroz irrigado
em Santa Catarina, considerando a expectativa de produtividade.
Potássio
Expectativa de produtividade (t/ha) K extraído
Mehlich-1
Interpretação do
teor de K no
solo 6,0 a 9,0 > 9,0
mg/dm3 ------------------- kg de K2O/ha ----------------
£30 Baixo 80 90
31 a 60 Médio 60 70
61 a 120 Alto 40 50
>120 Muito alto £40 £50
As fontes de fertilizantes potássicos existentes no mercado são o cloreto e o
sulfato de potássio. Recomenda-se o cloreto de potássio por ser mais barato e seguro. O
uso de sulfato de potássio em doses elevadas (acima de 60 kg/ha de K2O) e sob
temperatura alta pode liberar H2S, o qual poderá atingir níveis tóxicos ao arroz.
4.4.4 - Observações
Solos arenosos e orgânicos: quando cultivados em sistema pré-germinado, podem
ocorrer maiores perdas de potássio e doses maiores do nutriente podem ser utilizadas.
Neste caso, poderão ser realizadas duas aplicações de potássio, metade da dose antes
da semeadura e outra em cobertura, antes do início do desenvolvimento da panícula,
juntamente com a aplicação do nitrogênio.
Modo de aplicação e incorporação de P e K: no caso de plantio de arroz pré-
germinado, os fertilizantes fosfatados e potássicos podem ser aplicados e incorporados
com enxada rotativa ou grade na formação da lama ou após o renivelamento da área,
antes da semeadura. No sistema de semeadura em solo seco, os fertilizantes devem ser
aplicados e incorporados por ocasião da semeadura.
Outros cultivos no sistema: no caso de outros cultivos, em rotação ou sucessão ao arroz irrigado, observar a classe textural do solo para fins de interpretação das análises de fósforo. A recomendação dessas culturas deve compensar as baixas quantidades de fósforo e de potássio aplicadas ao arroz, especialmente quando os teores iniciais desses nutrientes forem baixos e se tratarem de culturas exigentes como milho e sorgo, entre outras. No caso dos cultivos previstos incluírem o arroz como o primeiro e a soja, em seqüência, como o segundo cultivo, por exemplo, recomenda-se utilizar as indicações de
61
fósforo e de potássio de primeiro cultivo para esta cultura (soja), desconsiderando o P e o
K aplicado no arroz.
Ajustamentos de valores extremos de P e K: para os solos cujos teores de fósforo ou
de potássio forem duas vezes ou mais que o teor crítico, considerados como “muito
altos”, os valores indicados poderão ser reduzidos ou eqüivalerem-se às quantidades
exportadas pelas culturas (as retiradas de fósforo e de potássio do solo pela colheita de
grãos do arroz correspondem, em média, a cerca de 5 kg P2O5 e a 3 kg K2O por tonelada
de grãos).
Freqüência de amostragem do solo: Análises de solos a cada cultivo de arroz são
indicadas para o sistema tradicional de cultivo (arroz após arroz, intercalado com
pastoreio extensivo). Em outros sistemas recomenda-se monitorar a fertilidade do solo a
cada dois cultivos.
Enxofre: solos afastados de regiões industriais, com baixos teores de matéria orgânica e
de argila e com teores de S extraível com fosfato de Ca (500 mg/L) abaixo de
10 mg/dm3, sugere-se utilizar fontes de nutrientes contendo enxofre para aplicar até no
máximo 20 kg de S/ha.
4.5 - Adubação orgânica
A maior parte da área cultivada com arroz irrigado no Rio Grande do Sul,
aproximadamente 70%, constitui-se de solos com baixo teor de matéria orgânica (inferior
a 2,5%) havendo indicativos de que a produtividade da cultura é limitada devido a esse
fator, mesmo quando são utilizadas quantidades razoáveis de fertilizantes minerais. A
aplicação de resíduos orgânicos poderá conferir a esses solos melhoria em seus atributos
físicos, químicos e biológicos.
Alguns experimentos conduzidos nas unidades de mapeamento de solo Pelotas e
Vacacaí, constituídas predominantemente de planossolos com baixos teores de matéria
orgânica, mostraram que a aplicação de vários resíduos orgânicos, tais como casca de
arroz, palha de arroz, esterco bovino, resíduo de curtume e cinza de carvão mineral
melhoraram o potencial produtivo do solo e, como conseqüência, elevaram
significativamente a produtividade do arroz, principalmente quando complementados com
a adubação mineral NPK.
Diante dos poucos resultados obtidos pela pesquisa até o momento, recomenda-
se, sempre que possível, a aplicação de quaisquer daqueles resíduos para solos com
menos de 2,5% de matéria orgânica, com as seguintes observações:
62
a) a quantidade a aplicar não deve exceder 20 t/ha de material com umidade
normal (palha de arroz - 5%; esterco bovino - 10%; casca de arroz - 5%; resíduo de
curtume - 26%);
b) a época de aplicação deve anteceder em no mínimo dois meses à data de
semeadura;
c) a distribuição e incorporação dos resíduos ao solo devem seguir os
procedimentos recomendados para a calagem;
d) a reaplicação de resíduos deve ser realizada num período mínimo de três
anos, quando sob cultivo intensivo, devendo-se ter um acompanhamento de seus efeitos
residuais por meio da análise do solo, anterior à cada aplicação;
e) a palha e a casca do arroz devem ser compostadas, acrescentando-se para
isso, outros resíduos orgânicos mais ricos em nitrogênio, tais como estercos de bovinos,
de suínos ou de aves, estabelecendo uma relação C/N inicial ao redor de 30. A
compostagem propiciará um produto mais rico em nutrientes e, no caso específico da
casca de arroz, eliminará o problema decorrente de sementes de plantas invasoras que
possam estar presentes na mesma.
4.6 - Adubação com fertilizantes orgânicos e minerais
Este grupo de fertilizantes provém da mistura de fertilizantes orgânicos e minerais
e a sua comercialização no nosso mercado relativamente recente. Os resultados de
pesquisa obtidos até o momento indicam que o cálculo da dose a ser aplicada deve ser
feito com base nos teores de NPK do produto, determinados conforme a legislação em
vigor. A escolha do fertilizante, em relação às demais opções do mercado, deve ser
baseada no custo da unidade de NPK entregue na propriedade.
4.7 - Adubação foliar e uso de micronutrientes
Os resultados de pesquisa obtidos até agora não indicam vantagens econômicas
da utilização de adubos foliares para adubação do arroz irrigado. Também não tem sido
obtida resposta econômica com a aplicação de micronutrientes para a cultura do arroz
irrigado. No entanto, nas lavouras em que for constatada a deficiência de micronutrientes,
poderá ser justificada a aplicação de produtos contendo estes elementos, sempre que se
disponha da orientação técnica especializada. Recomenda-se a utilização da análise de
tecido vegetal como instrumento de auxílio na identificação de problemas nutricionais.
4.8 - Toxidez por ferro
O alagamento do solo promove a solubilização de ferro, podendo o acúmulo de Fe
2+ na solução do solo atingir níveis tóxicos ao arroz. A toxidez por ferro pode ocorrer
63
por absorção excessiva (toxidez direta) ou por precipitação sobre as raízes das plantas
(toxidez indireta ou alaranjamento), reduzindo a absorção de nutrientes (Ca, Mg, K, N, P,
Si, Na e Mn).
A seguir é encontrada uma proposta para diagnóstico da probabilidade de
ocorrência de toxidez por ferro na lavoura, baseado no teor de Fe extraído por oxalato de
amônio pH 6,0 (Feo), conforme método descrito por Tedesco et al. (1995) com ajuste do
pH para 6,0. Primeiro deve-se estimar o teor de Fe+2
trocável e posteriormente a
saturação da CTC com Fe+2
(PSFe+2
), utilizando-se das seguintes equações:
Fe+2
trocável (cmolc/dm3) = 0,322 + 17,92 Feo (g/100cm
3)
PSFe+2
(%) = 100 x Fe+2
/CTCpH7,0
PSFe2+ (%) Risco de toxidez por ferro
<20 Baixo
21 a 40 Médio
>40 Alto
A utilização de cultivares tolerantes é a forma mais econômica de contornar o
problema. A calagem prévia do solo para elevar o pH a 6,0 também poderá minimizá-lo. A
irrigação intermitente, em casos muito específicos, com o objetivo de evitar acúmulo de
Fe2+
, pode ser recomendada com muito critério, pois existem períodos críticos no ciclo da
cultura (fase reprodutiva) em que a manutenção de uma lâmina d’água no solo é
fundamental. Esta prática também acarreta maior consumo de água, perdas de nutrientes
e reinfestação da lavoura. Efeitos da toxidez por ferro também podem ser diminuídos com
a antecipação da adubação de cobertura em geral uma semana antes do início de
diferenciação da panícula.
4.9 - Solos orgânicos
Os solos orgânicos pertencem à ordem dos Organossolos e, segundo a
classificação brasileira de solos (EMBRAPA, 1999), devem apresentar horizonte O ou H
hístico com teor de matéria orgânica ³ 0,2 kg/kg de solo (³ 20% em massa), com
espessura mínima de 40 cm quer se estendendo em seção única a partir da superfície,
quer tomado, cumulativamente, dentro de 80 cm da superfície do solo, ou com no mínimo
30 cm de espessura, quando sobrejacente a contato lítico.
Por se tratar de uma classe especial de solo, informações adicionais se fazem necessárias. As recomendações de corretivos e fertilizantes para solos orgânicos não têm sido diferentes daquelas para solos minerais, sabendo-se, entretanto, que os solos
64
orgânicos constituem-se num sistema extremamente frágil sob aspectos físicos e
químicos.
4.9.1 - Reação do solo - Calagem - CTC
Os solos orgânicos da planície litorânea do sul do Brasil têm pH em água
variando de 3,4 a 4,7, com exceção dos solos orgânicos tiomórficos, que possuem pH
abaixo desses valores. Ao contrário dos solos minerais, nos solos orgânicos a presença
de ácidos orgânicos é que determina a acidez enquanto a presença de Al trocável é de
menor importância.
A calagem em solos orgânicos não é necessária para elevar o pH aos mesmos
níveis preconizados para os solos minerais, especialmente porque, naqueles ocorre maior
complexação do Al pela matéria orgânica.
Em termos gerais, o pH ideal para o arroz irrigado nesses solos é em torno de
4,8. Todavia, diferentemente dos solos minerais nos quais a inundação eleva o pH
próximo à neutralidade, nos solos orgânicos isto não se verifica. Diante disso, em alguns
solos orgânicos, há necessidade de calagem para o arroz irrigado, mesmo no sistema
pré-germinado.
Constata-se também que a resposta do arroz à calagem não depende do pH
inicial do solo. Por isso, recomenda-se que a avaliação da necessidade de calagem para
o arroz irrigado seja feita individualmente sobre cada área de solo orgânico. Para isto,
sugere-se, preliminarmente, testes com doses de calcário entre 3 e 10 t/ha.
A CTC dos solos orgânicos é altamente dependente do pH e muito variável. Os
solos orgânicos da faixa litorânea dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul
possuem CTC variando entre 22 e 115 cmolc/dm3 de solo. Os valores de CTC são
maiores nos solos cultivados do que nos solos virgens, uma vez que o cultivo e a
calagem contribuem para o aumento da CTC desses solos.
4.9.2 - Nutrientes em solos orgânicos
Em seu estado natural, os solos orgânicos são deficientes em diversos nutrientes,
principalmente nitrogênio, fósforo e potássio. Em alguns solos, pode ocorrer deficiência
de micronutrientes especialmente cobre, zinco e ferro.
Os solos orgânicos da planície litorânea dos estados de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul possuem grande variação no material de formação, nos teores de matéria
orgânica e nos teores dos nutrientes minerais. Estes fatores proporcionam potenciais de
produção bastante diferenciados entre os solos.
Alguns estudos mostraram que os teores de fósforo e de potássio nesses solos são muito variáveis e que a extração desses elementos pelos atuais métodos de análise
65
de solo, utilizados pelos laboratórios da ROLAS, não dão boa indicação da sua
disponibilidade para o arroz irrigado.
4.9.2.1 - Nitrogênio
O teor de N total nos solos orgânicos da planície litorânea do sul do Brasil é alto,
variando normalmente entre 7 e 15 g/dm3, oriundo principalmente da matéria orgânica. Os
teores de N mineral (NO3- + NH
4+) variam entre 30 e 100 mg/dm3. Embora os teores de N
total sejam considerados altos, a disponibilidade de N mineral para as plantas é baixa,
devido a alta relação C/N desses solos que varia, normalmente, entre 20:1 e 45:1. A
disponibilidade de N para as plantas nesses solos é afetada, também, pela atividade dos
microorganismos, e esta por sua vez depende da temperatura, umidade, aeração e
acidez do solo. Tendo em vista que alguns desses fatores são distintos nos diferentes
solos orgânicos, a disponibilidade de N para as plantas é bastante variável. Testes
realizados em casa de vegetação, em seis solos orgânicos, mostraram que o nitrogênio é
deficiente para o arroz irrigado em todos os solos testados.
4.9.2.2 - Fósforo
O P total na maioria dos solos orgânicos encontra-se abaixo de 3 g/dm3 sendo
que 30 a 85% de P total está na forma orgânica que necessita ser mineralizado para ser
absorvido pelas plantas. O P inorgânico ocorre ligado a compostos de ferro, alumínio e
cálcio na fase sólida. Como os solos orgânicos possuem baixos teores desses
compostos, a capacidade de adsorção de P é muito baixa, facilitando a perda de P com a
drenagem da lavoura. Estas perdas podem chegar até 30 kg/ha ano, contrastando com
os solos minerais, que normalmente perdem menos de 1 kg/ha ano, por lixiviação.
4.9.2.3 - Potássio
Nos solos minerais, o K total varia ente 5 a 20 g/kg. Nos solos orgânicos, os teores de K correspondem apenas a décima parte desses teores. O K trocável é considerado como um bom critério para avaliar a disponibilidade do nutriente no solo para
as plantas. Nos solos orgânicos, não existem sítios seletivos ao íon K+, como ocorre nos solos minerais. Por isso, nos solos orgânicos, o K não reverte à forma não trocável como pode ocorrer nos solos minerais. Portanto, a única fonte do elemento para as plantas em solos orgânicos é o K trocável. Embora os solos orgânicos tenham alta CTC, eles retém
muito fracamente os cátions monovalentes como K+, NH4+ e Na+, nos sítios de troca.
Em conseqüência disso, o poder tampão do K nesses solos é muito baixo, bem como, podem ocorrer grandes perdas por lixiviação. Também para o K, testes preliminares
66
indicam a necessidade de adicionar esse nutriente para suprir as necessidades das
plantas de arroz irrigado.
4.9.2.4 - Micronutrientes
A literatura cita que a maioria dos solos orgânicos são deficientes em
micronutrientes. Testes preliminares realizados com solos orgânicos da planície litorânea
dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul mostraram alguma deficiência de
ferro, zinco e cobre para o arroz irrigado. Todavia, não existe experimentação suficiente
para a recomendação de tais micronutrientes.
Referências Bibliográficas
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO RS/SC. Manual de adubação e calagem
para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 10 ed. Comissão de
Fertilidade do Solo/Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Porto Alegre, 2004. 387p.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação. 1999. 412p.
MALAVOLTA, E.; ALCARDE, J.C. Adequação da legislação sobre fosfatos às tecnologias
em desenvolvimento. In: Encontro Nacional de Rocha Fosfática, 3. Brasília ,1986.
Anais...São Paulo: IBRAFOS/MME, 1986. p. 177-204.
TEDESCO, M.J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C.A. et al. Análises de solo, planta e outros
materiais. 2. ed. Porto Alegre: Departamento de Solos, Faculdade de Agronomia,
UFRGS, 1995. 174p. (Boletim técnico, 5).
SCHOENFELD, R.; GENRO JÚNIOR, S.A.; MARCOLIN, E.; MACEDO, V.R.M.;
ANGJHINONI, I. Estratégia de adubação para incremento de produtividade do arroz
irrigado no Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO,
5.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 27., 2007, Pelotas. Anais. Pelotas:
Embrapa Clima Temperado, 2007. p.555-558.
GENRO JÚNIOR, S.A.; SCHOENFELD, R.; ANGJHINONI, I.; MARCOLIN, E.; MACEDO,
V.M. Resposta do arroz irrigado à adubação potássica em função da capacidade de troca
de cátions do solo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 5.; REUNIÃO
DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 27., 2007, Pelotas. Anais. Pelotas: Embrapa
Clima Temperado, 2007. p.583-585.
67
68
5 - IRRIGAÇÃO E DRENAGEM
5.1 - Introdução
A irrigação da lavoura de arroz está intimamente relacionada ao sistema de
cultivo adotado. A adoção de um ou outro sistema irá determinar diferenças na época de
início e fim da irrigação, manejo e uso da água e, principalmente, no preparo do solo. Por
esta razão, o planejamento da irrigação deve ser feito por ocasião da sistematização da
lavoura.
O Rio Grande do Sul caracteriza-se pelo cultivo de grandes áreas de arroz, onde
predomina amplamente o sistema de cultivo com taipas em nível. A irrigação, na grande
maioria das lavouras, é pouco planificada, embora se tenha o domínio da água. O
irrigante coloca a água no ponto mais alto e a conduz por gravidade, mantendo uma
lâmina de água através de taipas construídas com diferença de nível de 5 a 10 cm.
O Estado de Santa Catarina caracteriza-se por pequenas áreas de cultivo, onde
predomina amplamente o sistema de cultivo de quadros em nível. Este sistema tem-se
mostrado mais eficaz no manejo da água, tendo em vista a boa distribuição da água e um
maior planejamento no sistema de irrigação e drenagem.
5.2 - Necessidade de água
A quantidade de água exigida para o cultivo de arroz é o somatório da água
necessária para saturar o solo, formar uma lâmina, compensar a evapotranspiração e
repor as perdas por percolação vertical, as perdas laterais e dos canais de irrigação. Esta
quantidade depende, principalmente, das condições climáticas, do manejo da cultura, das
características físicas do solo, das dimensões e revestimento dos canais, da duração do
ciclo da cultivar, da localização da fonte e da profundidade do lençol freático.
No sistema de plantio com sementes pré-germinadas, além da água necessária
durante o ciclo da cultura, deve-se somar as necessidades para o preparo do solo, que
normalmente é feito sob condições de inundação (ver capítulo 3).
A evapotranspiração e a percolação são responsáveis pela maior percentagem
da demanda hídrica. A evapotranspiração compreende a água transpirada pela planta
mais a água evaporada da lâmina devido à diferença de pressão de vapor entre a
superfície e a atmosfera. A evaporação está diretamente relacionada com a radiação
solar e a temperatura e inversamente à umidade do ar e à cobertura do solo pela cultura.
A velocidade dos ventos incrementa a evaporação. A transpiração varia com o estádio de
crescimento e desenvolvimento das plantas. A percolação, por sua vez, consiste nas
perdas de água por infiltração profunda e está relacionada com a textura e estrutura do
solo, preparo do solo e manejo da água.
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Para suprir a necessidade de água durante o ciclo para os sistemas de cultivo
convencional, cultivo mínimo e plantio direto, recomenda-se a utilização de vazões
contínuas de até 1,5 litros por segundo por hectare num período médio de irrigação de 80
a 100 dias. Solos com textura franco-arenosa ou arenosos e com maior gradiente de
declividade necessitam de vazões maiores. O uso de água também aumenta em
condições de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar.
No sistema de plantio com sementes pré-germinadas, o período de irrigação é
proporcionalmente maior, iniciando-se já no preparo do solo. Apesar disto, normalmente
ocorre um menor volume de água utilizado durante o ciclo da cultura. Para o preparo do
solo, aplica-se uma lâmina de água de 4 a 5 centímetros sobre a superfície, mais a
lâmina necessária para saturar o solo. A quantidade de água para saturar o solo é em
função da profundidade do lençol freático e/ou da camada impermeável, do teor de
umidade e do espaço poroso do solo. Normalmente são necessários de 1.000 a 2.000
metros cúbicos por hectare para essa fase.
Outra fase crítica de demanda de água nesse sistema ocorre por ocasião da
reposição de água após a aplicação do herbicida pós-plantio do arroz. Nesta fase, a
reposição deverá ser feita em 1 ou 2 dias, sendo recomendável uma vazão mínima de 2 a
3 litros por segundo por hectare, o que sugere um escalonamento na aplicação do
herbicida, para evitar falta de água na reposição da lâmina. Para a manutenção da
lâmina, vazões em torno de 1 litro por segundo por hectare são suficientes, tendo em
vista a baixa percolação da água no solo, devido à formação da lama.
5.3 - Qualidade da água
A qualidade da água é definida por uma ou mais características físicas, químicas
ou biológicas. Para a irrigação, leva-se em consideração, principalmente, as
características químicas e físicas. Quando há suspeitas quanto à sua qualidade, deve-se
coletar amostras para análise a fim de estabelecer a concentração de elementos que
podem ser tóxicos à planta, ou danosos ao meio ambiente.
Embora ainda não se disponham de parâmetros definitivos para a maioria dos
agroquímicos usados para a lavoura de arroz, recomenda-se evitar a retirada da água da
lavoura com resíduos de agrotóxicos e sólidos em suspensão. O Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama) define alguns parâmetros sobre a qualidade da água de
diversas classes, através da resolução nº 357 de 17 de março de 2005.
5.3.1 - Salinidade
As características da água de irrigação quanto à salinidade são: a concentração total de sais minerais, a relação sódio em comparação com outros cátions, concentração de boro e outros elementos e, sob algumas situações, as concentrações de bicarbonato
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em relação à concentração de cálcio e magnésio. Somente a determinação de todos
esses fatores permitirá uma melhor avaliação da qualidade da água para irrigação.
Em anos onde a precipitação é muito baixa, principalmente em locais próximos ao
mar, podem ocorrer sérios problemas para a cultura e para o solo, pela inversão do fluxo
de água. Em tais circunstâncias, é possível iniciar-se o processo de salinização em solos
onde não havia esse problema. O uso de água com alto conteúdo de sais pode também
contribuir para a salinização dos solos. Este último problema ocorre nas lavouras da zona
litorânea do RS e Litoral Sul de SC e se intensifica nos meses de janeiro e fevereiro, o
que coincide com o início da fase reprodutiva, quando as plantas são mais sensíveis à
salinidade.
Trabalhos realizados concluíram que as cultivares de arroz com alto potencial
produtivo cultivadas no RS e SC não toleram irrigação com água cujo teor de NaCl seja
igual ou superior a 0,25%. Águas com estes teores, aplicadas a partir do início da fase
reprodutiva, podem determinar redução superior a 50% na produtividade. O
monitoramento sistemático da condutividade elétrica da água de irrigação é fundamental.
Toda a irrigação deve ser suspensa quando a condutividade elétrica atingir valores iguais
ou maiores que 2 mS/cm (miliSiemens por centímetro), equivalente a 2 mmho/cm na
unidade antiga.
5.3.2 - Temperatura da água
O desenvolvimento da cultura de arroz, da fase inicial de irrigação até o início da
formação da panícula, é afetado mais pela temperatura da água que do ar, em virtude de
que as gemas responsáveis pelo desenvolvimento das folhas, perfilhos e panículas
permanecem sob a água. Já nos estádios seguintes de crescimento e elongação, o
desenvolvimento é afetado por ambas as temperaturas. Na maioria dos casos, a
temperatura da água é superior à temperatura do ar.
À medida que a panícula se desenvolve e se sobressai do nível da água,
aumenta a influência da temperatura do ar para a planta do arroz e diminui a influência da
temperatura da água. A temperatura da água de irrigação, de um modo geral, não
apresenta problemas nos climas tropicais, exceto quando são excessivamente altas e a
água não sofre processo de renovação. Nestes casos, podem causar danos no início da
formação da panícula, reduzindo o número destas e determinando a podridão das raízes.
Em casos de fontes de água mais fria é recomendada a utilização de canais de condução
mais largos e rasos.
Temperaturas elevadas causam prejuízos em semeadura com sementes pré-
germinadas, pois as plântulas não completam o processo de germinação sob
temperaturas elevadas (>36°C). Neste caso, recomenda-se a aplicação de pequenas
lâminas d’água para diminuir a temperatura do solo e da água estagnada. As
71
temperaturas baixas (<20°C) prejudicam o desenvolvimento inicial da plântula e o
desenvolvimento da cultura nas fases vegetativa e reprodutiva.
5.4 - Manejo da água de irrigação
O manejo da água é de fundamental importância para o sucesso na produção de
arroz irrigado por inundação, pois estudos efetuados demonstram que existe uma
interação irrigação-cultivo. A água, além de influir no aspecto físico das plantas, interfere
na disponibilidade dos nutrientes, na população e espécies de plantas daninhas
presentes e na incidência de algumas pragas e doenças.
A cultura necessita de água durante todo o seu ciclo. Porém, há três períodos em
que ela é mais exigente: estabelecimento do cultivo; perfilhamento; e no período entre
início da diferenciação da panícula (IDP) e enchimento de grãos. Isto significa que a falta
de água nestes três períodos causa danos significativos à cultura, com reflexos na
produtividade.
Para o suprimento de água para a cultura do arroz, basta manter-se solo saturado
uniformemente durante todo o ciclo. Entretanto, a presença da lâmina de água sobre o
solo é importante, visto que influi na população de plantas daninhas, em termos de
número e espécies presentes. Lâminas de água baixas ou apenas a saturação do solo
favorecem o crescimento de gramíneas, ciperáceas e de folhas largas, as quais tem seu
desenvolvimento prejudicado com lâminas de água mais profundas desde o início do
cultivo. Em áreas mal drenadas, lâminas elevadas facilitam o surgimento e
desenvolvimento de plantas daninhas aquáticas.
Para determinar-se a altura da lâmina de água mais adequada, deve-se levar em
consideração:
a) cultivar: as cultivares tradicionais suportam uma lâmina de água mais elevada
sem prejudicar o desenvolvimento. Já as cultivares tipo intermediária e as cultivares
modernas se desenvolvem melhor quando a altura da lâmina de água não ultrapassa a
10 cm de altura.
b) topografia do solo: lavouras com menor declividade possibilitam maior
uniformidade na lâmina de água. Quando as lavouras têm declividades mais acentuadas,
a altura da lâmina de água é bastante desuniforme. Em solos sistematizados, a lâmina é
mais uniforme e o problema de topografia é minimizado.
Nos sistemas de cultivo convencional, cultivo mínimo e plantio direto, a
interação herbicida-água é muito importante no controle de plantas daninhas. A aplicação
de herbicidas precocemente, quando as plantas daninhas têm de uma a três folhas,
diminui a dose destes e aumenta sua eficiência, propiciando bom controle e menor
concorrência destas com a cultura do arroz, desde que logo em seguida se inicie a
72
irrigação para que a lâmina d’água evite a reinfestação. Geralmente, em anos
considerados normais, isto
ocorre entre 15 e 20 dias após a emergência. Para isso, é importante que as estruturas
de distribuição sejam planificadas e estejam em boas condições de funcionamento.
O início da inundação da lavoura depende das condições de umidade do solo e
do controle de plantas daninhas, podendo ser realizado até 30 dias após a emergência
das plantas. No sistema pré-germinado, inicia-se a inundação antes da semeadura. Para
o processo de renivelamento, alaga-se o quadro e utiliza-se o nível de água como
referência para a operação. A semeadura é feita com uma lâmina de 5 a 10 cm. Após a
semeadura das sementes pré-germinadas em lavouras com adequado nivelamento
superficial do solo, não se recomenda a retirada da lâmina d’água, seja por ocasião da
drenagem inicial ou do perfilhamento da planta, independentemente da cultivar utilizada.
A manutenção de lâmina baixa de água (em torno de 5 cm de espessura) não altera o
rendimento de grãos e a ocorrência de acamamento das plantas de arroz, em relação à
realização da drenagem. Além disso, a presença de lâmina de água contribui para o
controle mais efetivo de plantas daninhas e para a redução de perdas de solo e de
agroquímicos aplicados na lavoura, diminuindo o impacto ambiental negativo da lavoura
orizícola.
À medida que as plantas de arroz se desenvolvem, o nível de água deve ser
gradativamente aumentado até 10 cm, mantendo-o assim durante todo o ciclo das
plantas. Não há necessidade de circulação da água nos quadros, desde que esteja na
temperatura adequada. Nas regiões onde há possibilidade de ocorrer frio (<16°C) durante
a fase de emborrachamento, o nível da água deve ser elevado (mais 15 cm
"afogamento") por um período de 15 a 20 dias, afim de que a água exerça maior efeito
termoregulador, reduzindo a esterilidade de espiguetas.
Em qualquer sistema de cultivo, recomenda-se não retirar a água da lavoura
antes de se completar 30 dias da aplicação de agroquímicos, efetuando-se apenas a
reposição para manutenção da lâmina.
5.5 - Drenagem
A supressão da irrigação deve ser feita, como regra geral, quando a maioria dos
grãos tiver alcançado o estado pastoso. Se o solo possuir boa drenagem, a irrigação
pode ser suprimida após o completo enchimento dos grãos. Em solos argilosos, de difícil
drenagem, pode-se sugerir a supressão de água à lavoura de arroz 10 dias após a
floração das plantas (±80%) para as cultivares do tipo intermediário e 15 dias para as
cultivares do tipo moderno.
Durante o período de inundação, os drenos secundários devem permanecer
fechados para diminuir as perdas de água. Na entressafra da cultura do arroz, o solo
deve ser drenado para permitir a emergência das plantas indesejáveis.
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6 - CULTIVARES
6.1 - Cultivares registradas no Serviço Nacional de Proteção de
Cultivares – SNPC
Com a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456, de 25 de abril
de 1997) e da instituição do Registro Nacional de Cultivares – RNC (Portaria nº 527, de
31 de dezembro de 1997) as instituições ou empresas detentoras das variedades de
arroz irrigado ao fazerem o registro junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares –
SNPC, vinculado a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Ministério da Agricultura e do
Abastecimento, ficam responsáveis por todas as informações fornecidas sobre as
características e desempenho das cultivares dentro da região recomendada.
A listagem completa e atualizada das cultivares de arroz registradas no Brasil
está disponível para consulta na Internet (www.agricultura.gov.br/snpc). As principais
cultivares registradas e recomendadas para o cultivo nos estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul constam nas Tabelas 6.1 e 6.2, respectivamente. Também são incluídas
nas tabelas algumas características agronômicas e industriais das cultivares. Para
maiores informações o interessado deve dirigir-se à instituição ou empresa detentora do
material genético.
Em razão da diversidade genética entre cultivares, representada por diferenças
nas reações a doenças e a estresses ambientais, resposta à nitrogênio e, ainda, pela
desigualdade do ciclo, é aconselhável utilizar no mínimo duas cultivares com
características distintas para garantir maior estabilidade da produção e facilitar o
escalonamento da colheita.
RESUMO DE CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ DA
EPAGRI
Epagri 106 - Cultivar de ciclo precoce (106 dias), medianamente resistente ao
acamamento e à toxidez indireta de ferro. Destaca-se por ser resistente às raças de
brusone atualmente prevalentes em Santa Catarina.
Epagri 107 - Cultivar de ciclo médio (124 dias), resistente ao acamamento e à toxidez
indireta de ferro. Apresenta resistência mediana à brusone na panícula, considerando-se
as raças atualmente prevalentes em Santa Catarina.
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Epagri 108 - Cultivar de ciclo longo (142 dias), resistente ao acamamento e à toxidez
indireta de ferro. É medianamente resistente à brusone na panícula considerando-se as
raças atualmente prevalentes em Santa Catarina.
Epagri 109 - Bastante semelhante à Epagri 108, apresentando também, ciclo longo (142
dias), resistência ao acamamento e à toxidez indireta de ferro. É medianamente
resistente às raças de brusone atualmente prevalentes em Santa Catarina.
SCSBRS 111 - Cultivar de ciclo médio (123 dias), medianamente resistente ao
acamamento, brusone e à toxidez indireta de ferro.
SCS 112 - Cultivar tardia (138 dias), resistente ao acamamento. Não é aconselhável o
plantio desta cultivar em áreas com histórico de ocorrência de toxidez indireta de ferro e
de brusone, pois é medianamente suscetível a estes dois fatores. É mais sensível a
extremos de temperatura, por isso, recomenda-se especialmente que o plantio seja feito
dentro do período preferencial, conforme Tabela 1.3.
SCSBRS Tio Taka - Cultivar tardia (141 dias), resistente ao acamamento. É
medianamente suscetível à toxidez indireta de ferro.
SCSBRS 114 Andosan - É uma cultivar de arroz que se destaca pela estabilidade de
produção nos diversos ambientes em que foi testada, pela alta qualidade de grãos tanto
beneficiados para arroz branco como para parboilizado, além da alta produtividade.
Apresenta ciclo longo, 140 dias da semeadura até a maturação e é medianamente
resistente a toxidez indireta por ferro e brusone.
SCS 115 CL - Cultivar de ciclo médio (130-135 dias), destinada ao sistema de produção
Clearfield de controle de arroz-vermelho (é resistente ao herbicida Only), de excelente
desempenho agronômico, no entanto de estatura relativamente alta (110 cm), o que
sugere cautela nas adubações nitrogenadas; é resistente a toxidez por ferro, e
medianamente resistente à brusone; é adequada ao processo de beneficiamento direto
(arroz branco) ou arroz parboilizado.
RESUMO DE CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ DA
EMBRAPA CLIMA TEMPERADO E DO IRGA
BR-IRGA 409 - Foi a primeira cultivar semi-anã do tipo moderno de planta, lançada em parceria pela EMBRAPA e IRGA no ano de 1979. Destaca-se pela excelente qualidade
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dos grãos e alta produtividade. As principais limitações são suscetibilidade à brusone e
toxidez por ferro. É uma cultivar que possui alta abrasividade nas folhas e na casca e
possui arista de tamanho variável em alguns grãos da extremidade da panícula.
BR-IRGA 410 - Cultivar do tipo moderno de planta e juntamente com a BR-IRGA 409
foram as mais plantadas nas décadas de 80 e 90 no RS. Destaca-se pelo alto potencial
de rendimento de grãos e boa adaptação a todas as regiões orizícolas do RS. Possui
ciclo médio (cerca de cinco dias menor que a BR-IRGA 409). As principais limitações são
suscetibilidade à brusone e toxidez por ferro, alto índice de centro branco e menor
rendimento de grãos inteiros.
BR-IRGA 412 - É uma cultivar derivada da BR-IRGA 409, da qual diferencia-se pela
ausência de pilosidade nas folhas e grãos e pelo ciclo mais longo. É suscetível à brusone
e a mais sensível à toxidez por ferro, o que tem limitado sua utilização.
BR-IRGA 414 - Foi obtida a partir da seleção de uma planta lisa e mais precoce
encontrada na linhagem P 793-B4-38-1T. É suscetível à brusone e apresenta fácil
debulha dos grãos. Foi muito cultivada na Depressão Central devido à reação de
tolerância à toxidez por ferro.
IRGA 416 - Cultivar de ciclo precoce, com alta produtividade e excelente aspecto visual
dos grãos. Por outro lado, o teor de amilose nos grãos pode variar de intermediário a
baixo o que pode fazer com que os grãos fiquem pegajosos após a cocção. Esta cultivar
tem demonstrado falta de estabilidade na produtividade e alta susceptibilidade à brusone.
IRGA 417 - Foi a primeira cultivar do tipo moderno derivada de cruzamento de genitores
das subespécies índica x japônica. Destaca-se pela precocidade, alta produtividade,
ótima qualidade dos grãos, alto vigor inicial das plântulas e boa adaptabilidade a todas as
regiões orizícolas do RS. Apresenta reação de suscetibilidade à toxidez por ferro e nas
últimas três safras tem-se mostrado suscetível à brusone na panícula.
IRGA 418 - Cultivar de ciclo precoce e estatura mais alta que a IRGA 417. Apresenta bom
vigor inicial das plântulas, alto potencial produtivo e resistência à brusone. As principais
limitações são falta de estabilidade na produtividade e no rendimento industrial de grãos
inteiros. É uma cultivar de fácil debulha e com reação intermediária à toxidez por ferro.
IRGA 419 - Cultivar de ciclo médio e com ausência de pilosidade nas folhas e grãos.
Apresenta resistência à brusone e tolerância à toxidez por ferro. A debulha dos grãos é
considerada fácil e nas regiões mais frias do RS apresenta-se suscetível às manchas nos
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grãos. Embora inicialmente tenha sido indicada para o sistema pré-germinado também
pode ser utilizada para o cultivo nos sistemas de semeadura em solo seco. Não
recomenda-se o uso desta cultivar no extremo sul do RS.
IRGA 420 - É uma cultivar muito similar à IRGA 419, distinguindo-se pelo ciclo levemente
mais curto e com maior potencial produtivo. Também pode ser usada no sistema de
cultivo pré-germinado. Apresenta excelente adaptação às condições climáticas da
Fronteira Oeste, mas pode ser cultivada nas demais regiões, exceto no extremo sul do
RS.
IRGA 421 - É derivada da cultivar IRGA 416 e destaca-se pela precocidade (ciclo
completo em torno de 100 dias) e qualidade dos grãos. É suscetível à brusone e com
reação intermediária à toxidez por ferro. É uma excelente opção para controle de arroz
vermelho.
IRGA 422CL - Esta cultivar foi derivada da IRGA 417, através do método de
retrocruzamento, diferenciando-se desta pelo ciclo mais longo, maior peso do grão e por
possuir tolerância ao herbicida Only. É recomendada exclusivamente para o sistema de
produção CLEARFIELD, que tem como principal objetivo o controle de arroz vermelho.
IRGA 423 - Cultivar de ciclo precoce que se destaca pela excelente qualidade industrial
dos grãos. Apresenta porte baixo, folhas pilosas, resistência à brusone e tolerância à
toxidez por ferro. Está indicada para cultivo em todas as regiões orizícolas do Estado,
porém apresenta-se mais adaptada às regiões da Depressão Central, Fronteira Oeste e
Planícies Costeiras Interna e Externa.
IRGA 424 - Cultivar de ciclo médio derivada de um cruzamento triplo e selecionada na
Estação Regional do IRGA em Santa Vitória do Palmar, RS. Destaca-se pelo alto
potencial produtivo e boa qualidade industrial e de cocção dos grãos. Apresenta porte
baixo, folhas pilosas, é tolerante à toxidez por ferro e resistente à brusone. É
especialmente indicada para cultivo nas regiões da Zona Sul e Campanha pela sua boa
adaptação às condições de temperatura média baixa, porém mostra excelente
desempenho também nas demais regiões do Estado do RS.
IAS l2-9 FORMOSA - Foi liberada para o cultivo no Rio Grande do Sul, em 1972.
Pertence ao grupo de arroz japônico, apresentando tolerância às baixas temperaturas,
que ocorrem principalmente na zona sul do RS, durante o período reprodutivo das
plantas. Esta cultivar possui grão curto do tipo japonês, com baixo teor de amilose e baixa
temperatura de gelatinização.
78
BRS 6 “CHUÍ” - Tem boa capacidade produtiva de grãos, ciclo precoce e grão do tipo
patna (longo, fino e cilíndrico) e liso. Apresenta moderada tolerância à toxicidade por ferro
e pode ser semeada mais tarde, com possibilidade da fase reprodutiva das plantas
escapar do frio.
BRS 7 “TAIM” - Destaca-se pela elevada capacidade produtiva, sendo que, em algumas
lavouras na região Fronteira-oeste do RS e na Argentina, atingiu produtividades médias
acima de 10.000 kg de grãos com casca por hectare. Essa cultivar tem ciclo médio,
grãos do tipo patna, de casca lisa, clara e sem aristas. BRS 7 “Taim” possui genes da
cultivar TE-TEP, que lhe conferem melhor reação às raças de brusone atualmente
predominantes no Rio Grande do Sul.
BRS LIGEIRINHO - Destaca-se pelo ciclo super-precoce, em torno de 100 dias, da
emergência à completa maturação. Apresenta grãos do tipo patna e bom rendimento
industrial. Seu ciclo curto proporciona melhor otimização da área (diversificação com
outras espécies na mesma safra); controle da população de arroz daninho (vermelho e
preto), por ser colhida antes da maturação da invasora; redução de custos de produção;
escape da lavoura aos danos do frio em semeaduras tardias. Contudo, deve-se salientar
que essa cultivar tem menor teto produtivo do que as demais do tipo moderno.
BRS AGRISUL - Tem ciclo médio e apresenta grande capacidade de emissão de
perfilhos. Tem excelente qualidade de grão, com rendimento industrial ao redor de 63%
de grãos inteiros quando polidos. Apresenta certa suscetibilidade a algumas raças de
brusone em condições desfavoráveis. Esta cultivar apresenta excelente comportamento
em áreas com problemas de toxidez por ferro.
BRS BOJURU - Ë a primeira cultivar de arroz irrigado de grão curto, da subespécie
japônica, desenvolvida pela Embrapa no Sul do Brasil. A sua liberação visa a atender o
mercado formado pelos consumidores de origem oriental. Esta cultivar apresenta uma
estatura média de plantas de 90 cm.
BRS ATALANTA - É uma cultivar de ciclo super-precoce, apresentando plantas com
folhas lisas e ciclo biológico ao redor de 100 dias. Possui grão longo e fino (agulhinha),
de casca lisa-clara. É uma cultivar comparável à BRS Ligeirinho, porém apresenta
potencial produtivo cerca de 20% superior e grão de melhor qualidade, bem como maior
resistência à brusone e à bicheira-da-raíz.
79
BRS FIRMEZA - Tem se adaptado bem a todos os sistemas de cultivo, especialmente ao
sistema Pré-germinado. Apresenta colmos vigorosos e baixo perfilhamento, necessitando
uma maior densidade de semeadura que as demais cultivares. Seu ciclo biológico é semi-
precoce. O rendimento industrial de grãos pode superar a 65% de grãos inteiros e
polidos. O baixo grau de esterilidade indica que a cultivar tem certo nível de tolerância
genética ao frio, na fase reprodutiva.
.
BRS PELOTA - É uma cultivar de ciclo médio e destaca-se pelo seu alto potencial
produtivo (acima de 12.000 kg de grãos com casca por hectare). O grão é do tipo
agulhinha de casca pilosa-clara. Essa cultivar tem rendimento industrial que pode
superar a 65 % de grãos inteiros e polidos. Em algumas situações de cultivo, pode
mostrar-se moderadamente sensível à toxicidade por ferro, na fase vegetativa, e a
quedas de temperatura, na fase reprodutiva.
BRS QUERÊNCIA - Cultivar de ciclo precoce, ao redor de 110 dias, com variação de 106
a 115 dias, da emergência das plântulas à maturação completa dos grãos, é constituída
por plantas do tipo “moderno-americano”, de folhas e grãos lisos com boa tolerância a
doenças, apresenta alta capacidade de perfilhamento, colmos fortes e destaca-se pela
panícula longa, variando entre 24 e 27 cm, com grande número de espiguetas férteis.
Seus grãos são longo-finos, com elevado rendimento industrial, altamente translúcidos e
de ótima qualidade culinária.
BRS FRONTEIRA - Cultivar de ciclo médio, em torno de 135 dias, podendo variar de 130
a 140 dias, da emergência à maturação, constituída de plantas do tipo “moderno” de
folhas lisas, apresenta ampla adaptação no Rio Grande do Sul, com boa tolerância ao
acamamento e às doenças. Seus grãos são longo-finos, de ótima qualidade, com baixa
incidência de centro branco, e com textura solta e macia após a cocção.
RESUMO DE CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ HÍBRIDO
DA RICETEC
AVAXI - Híbrido de arroz com ciclo precoce que se destaca pelo seu alto potencial
produtivo (alcançando 14.287 kg/ha em Dom Pedrito – RS, na safra 06/07). Possui
grande capacidade de emissão de perfilhos, o que permite a utilização de baixa
densidade de semeadura (45kg/ha). Apresenta boa tolerância à brusone, manchas
foliares e estresses ambientais.
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TIBA - Híbrido de arroz com ciclo médio que apresenta boa adaptabilidade a zonas
temperadas, subtropicais com bons níveis de resistência a brusone e manchas foliares.
Apresenta alto potencial produtivo (alcançando 13.469 kg/ha em Maçambará – RS, na
safra 06/07). Possui alta capacidade de emissão de perfilhos o que permite a utilização
da densidade de semeadura de 50 kg/ha.
SATOR CL – Híbrido Clearfield de arroz com ciclo médio que, apresenta alta tolerância
ao herbicida Only com boa adaptabilidade a zonas temperadas, subtropicais e tropicais.
Apresenta alto potencial produtivo (alcançando 14.801 kg/ha em Jaguarão – RS, na safra
06/07). Devido ao seu alto potencial de emissão de perfilhos indicamos a densidade de
semeadura de 50 kg/ha. Possui alta tolerância à brusone e manchas foliares e estresses
ambientais.
INOV – Híbrido de arroz com ciclo precoce adaptado a zonas temperadas e subtropicais,
que se destaca pela sua alta produtividade (13.076 kg/ha em Arroio Grande – RS, na
safra 06/07) aliada ao seu alto padrão de qualidade industrial. É característica deste
material bom nível de resistência a brusone e manchas foliares. Em função de seu alto
potencial de perfilhamento indica-se a densidade de semeadura de 50 kg/ha.
AVAXI CL – Híbrido Clearfield de arroz com ciclo precoce que se destaca pelo seu alto
potencial produtivo (alcançando 15.676 kg/ha em Cachoeira do Sul – RS, na safra 06/07)
com alta tolerância ao herbicida Only. Possui grande capacidade de emissão de perfilhos,
o que permite a utilização de baixa densidade de semeadura (45 kg/ha). Apresenta boa
tolerância à brusone, manchas foliares e estresses ambientais.
XP710 CL – Híbrido Clearfield de arroz com ciclo precoce que, apresenta alta tolerância
ao herbicida Only com boa adaptabilidade a zonas temperada e subtropical, destacando-
se por seu alto potencial produtivo (14.051 kg/ha em Cachoeira do Sul – RS, na safra
06/07). Sua capacidade de emissão de perfilhos é alta, o que permite a utilização de
semeadura de 50 kg/ha. Possui uma boa tolerância à brusone, manchas foliares e
estresses ambientais.
RESUMO DE CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ DA
BAYER CROPSCIENCE
ARIZE 1003 - Trata-se da cultivar de arroz híbrido da Bayer CropScience de ciclo médio,
destacando-se pelo uso de baixa densidade de semeadura, 40 kg/ha, com alto potencial
produtivo, grão tipo longo-fino, excelente qualidade culinária e industrial, resistente ao
acamamento e degrane natural.
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QUALIMAX 1 - É a denominação comercial da linhagem de arroz irrigado Supremo E.3,
originária de seleções feitas a partir da safra 1990/91, em população de material genético
muito utilizado no RS, comercialmente chamada de Colombiano, caracterizando-se por
apresentar plantas de porte baixo, eretas e boa capacidade de perfilhamento, ciclo médio,
com produtividades acima de 8.000 kg/ha.
QUALIMAX 13 - É a cultivar de arroz de ciclo médio, com baixa esterilidade floral, com
produtividades acima dos 8.500 kg/ha, oriunda de seleções realizadas em populações
geradas a partir do cruzamento artificial entre as cultivares CICA 8 e BR-Irga 416, no ano
agrícola de 1990/91.
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(1) MP=muito precoce (<105 dias); P=precoce (106 a 120 dias); M=médio (121 a 135 dias) ; T=tardio (136 a
150 dias); MT=muito tardio (>150 dias); (2) D=Difícil; I=Intermediário, F=Fácil; (3) R=Resistente; MR= Médio-Resistente; MS= Médio-Suscetível; S=Suscetível; MT= Médio tolerante; SI= Sem informação;
(4) C=Curto;
L=Longo; LF=Longo-Fino; (5)
Exceto os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí; (6)
Cultivar tolerante ao herbicida Only para controle de arroz vermelho. Observação: as informações destas tabelas são fornecidas pelas instituições detentoras das cultivares. Informações sobre o rendimento de grãos devem ser obtidas diretamente com as instituições detentoras das cultivares
Tabela 6.1 – Características das cultivares registradas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) para cultivo no Rio Grande do Sul.
83
Tabela 6.1 – Continuação.
(1) MP=muito precoce (<105 dias); P=precoce (106 a 120 dias); M=médio (121 a 135 dias) ; T=tardio (136 a 150 dias); MT=muito tardio (>150 dias);
(2) D=Difícil; I=Intermediário, F=Fácil;
(3) R=Resistente; MR= Médio-
Resistente; MS= Médio-Suscetível; S=Suscetível; MT= Médio tolerante; SI= Sem informação; (4)
C=Curto; L=Longo; LF=Longo-Fino;
(5) Exceto os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí;
(6) Cultivar tolerante
ao herbicida Only para controle de arroz vermelho. Observação: as informações destas tabelas são fornecidas pelas instituições detentoras das cultivares. Informações sobre o rendimento de grãos devem ser obtidas diretamente com as instituições detentoras das cultivares
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Tabela 6.1 – Continuação.
(1) MP=muito precoce (<105 dias); P=precoce (106 a 120 dias); M=médio (121 a 135 dias) ; T=tardio (136 a 150 dias); MT=muito tardio (>150 dias); (2) D=Difícil; I=Intermediário, F=Fácil; (3) R=Resistente; MR= Médio-Resistente; MS= Médio-Suscetível; S=Suscetível; MT= Médio tolerante; SI= Sem informação; (4) C=Curto; L=Longo; LF=Longo-Fino; (5) Exceto os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí; (6) Cultivar tolerante ao herbicida Only para controle de arroz vermelho. Observação: as informações destas tabelas são fornecidas pelas instituições detentoras das cultivares. Informações sobre o rendimento de grãos devem ser obtidas diretamente com as instituições detentoras das cultivares
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Tabela 6.2 – Características das cultivares registradas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) para cultivo no sistema pré-germinado em Santa Catarina.
(1) MP=muito precoce (<105 dias); P=precoce (106 a 120 dias);M=médio (121 a 135 dias) ; T=tardio (136 a 150 dias); MT=muito tardio (>150 dias); (2) D = Difícil; I=Intermediário, F=Fácil; (3) R=Resistente; MR = Médio-Resistente; MS= Médio-Suscetível; S = Suscetível; MT = Médio tolerante; S I= Sem informação; (4) C = Curto; L = Longo; LF = Longo-Fino; (5) Resistência avaliada em condições experimentais (Hot Spot) na Estação Experimental de Itajaí- Santa Catarina; (6) Cultivar tolerante ao herbicida Only para controle de arroz vermelho. Observação: as informações destas tabelas são fornecidas pelas instituições detentoras das cultivares. Informações sobre o rendimento de grãos devem ser obtidas diretamente com as instituições detentoras das cultivares
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Endereço dos detentores para maiores informações sobre as cultivares de arroz irrigado: Embrapa Clima Temperado BR 392 Km 78 Caixa Postal 403 96001-970 Pelotas – RS Fone: 053- 3275-8400 www.cpact.embrapa.br EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí Rodovia Antônio Heil Km 6 Caixa postal 277 88301-970 Itajaí, SC Telefone: 047- 3341-5244 Fax: 047- 3341-5255 E-mail: [email protected] IRGA - Estação Experimental do Arroz Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494 Caixa Postal 29 94930-030 – Cachoeirinha, RS, Brasil Telefone: 051-3470-0600 Fax: 051-3470-0601 [email protected] Ademir dos Santos Amaral Rua Mal. Mascarenhas de Moraes, n. 134 96077-190 - Pelotas - RS Fone: O53-3222-83420 RiceTec Sementes Ltda. Av. São Paulo, 877 - Bairro São Geraldo 90230-161 - Porto Alegre - RS Fone: 051-3323- 8800 www,ricetec.com.br Bayer CropScience Ltda Rua Jaime Biz, 85 São Leopoldo Rio Grande do Sul 93120-600 www.bayercropscience.com.br
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7 – INSETOS E OUTROS FITÓFAGOS
7.1 - Introdução
As recomendações técnicas para o controle de insetos e outros fitófagos na
cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul e Santa Catarina visam o emprego de
medidas integradas de manejo capazes de reduzir os danos à cultura.
7.2 - Considerações gerais
Com base em diagnóstico sobre a ocorrência de insetos e outros fitófagos na
cultura do arroz irrigado no Estado do Rio Grande do Sul, foi constatado que algumas
espécies são freqüentemente encontradas em níveis populacionais elevados. Em Santa
Catarina, apenas a bicheira-da-raiz ocorre de modo generalizado e as demais pragas são
ocasionais e regionalizadas.
De maneira geral, os insetos fitófagos podem ser classificadas de acordo com a
parte da planta que atacam:
a) sementes e raízes - são atacadas por larvas e adultos de coleópteros antes
e/ou depois da inundação;
b) colmos e folhas - sofrem o ataque de insetos mastigadores, sugadores e
raspadores, sendo os dois primeiros grupos os mais importantes;
c) grãos - são atacados por um complexo de insetos sugadores que afetam
diretamente a quantidade e a qualidade do produto.
Atualmente o controle de insetos ainda é feito basicamente com a utilização de
produtos químicos, entretanto, também podem ser empregadas práticas culturais,
mecânicas, físicas e biológicas. A integração desses métodos, além de preservar o
agroecossistema, torna mais racional o programa de manejo integrado de pragas - MIP.
7.3 - Épocas de ocorrência
Neste trabalho as insetos e outros fitófagos são apresentados obedecendo à
ordem de ocorrência nas diferentes fases da cultura do arroz irrigado.
7.3.1 - Cascudo-preto
O cascudo-preto (Euetheola humilis) é um inseto de ocorrência cíclica, causando danos às raízes em períodos que antecedem a entrada da água na lavoura. As larvas, conhecidas como “pão-de-galinha” ou “coró”, alimentam-se de raízes, enquanto os adultos destroem a base das plantas. Excepcionalmente, esses danos podem ocorrer no
89
final do ciclo da cultura, no momento da retirada da água da lavoura para a
colheita. Este inseto não é problema no sistema de cultivo pré-germinado.
7.3.2 - Pulgão-da-raiz
O pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum rufiabdominale) é um inseto que se encontra
em processo de expansão no Rio Grande do Sul. A praga tem sido mais freqüente em
lavouras da região da Fronteira Oeste, onde nos últimos anos os índices de infestação
têm aumentado, principalmente após o advento do cultivo sobre taipas, onde as plantas
são mais danificadas pelo pulgão. No período que antecede a inundação dos arrozais, o
inseto alimenta-se dos colmos e raízes das plantas de arroz, próximo ao nível do solo. As
plantas atacadas amarelecem, murcham e morrem. Dependendo do nível de infestação
pode ocorrer redução drástica da população de plantas, comprometendo o
estabelecimento da cultura.
7.3.3 - Pulga-do-arroz
A pulga-do-arroz (Chaetocnema sp.), também de ocorrência cíclica, é prejudicial
às plantas desde a emergência até o início do perfilhamento, quando provoca raspaduras
no limbo foliar, causando redução na população de plantas.
7.3.4 - Lagarta-da-folha
A lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda), em determinados anos, atinge níveis
populacionais elevados. Além de alimentarem-se de folhas, cortam os colmos novos rente
ao solo. Em lavouras planas, o período crítico de ataque vai desde a emergência das
plantas até a inundação da lavoura. Em áreas inclinadas (lavouras de coxilha), o ataque
pode se estender até a fase de emissão da panícula. As lagartas preferem atacar plantas
daninhas de Echinochloa spp, passando a atacar plantas de arroz após a eliminação das
primeiras por herbicidas.
7.3.5 - Lagarta-boiadeira
A lagarta-boiadeira (Nymphula indomitalis) é mais freqüente em Santa Catarina. Corta as folhas de plantas novas, por ocasião dos primeiros banhos. Inicialmente se alimenta do tecido das folhas deixando somente a epiderme inferior, dando um aspecto esbranquiçado à lavoura. Posteriormente, as lagartas se protegem no interior de cartuchos feitos com folhas cortadas. Estes cartuchos flutuam na água podendo espalhar-se por toda a lavoura. À noite, as lagartas sobem nas plantas de arroz para se alimentar.
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O ataque é percebido, portanto, por lesões foliares esbranquiçadas e pelas
pontas cortadas das folhas que flutuam na água.
7.3.6 - Bicheira-da-raiz
A denominação bicheira-da-raiz é atribuída às larvas do gorgulho-aquático
(Oryzophagus oryzae), as quais danificam o sistema radicular das plantas. Os gorgulhos
são encontrados logo após a irrigação definitiva da lavoura e as larvas dez dias após.
Os gorgulhos alimentam-se das folhas produzindo faixas longitudinais
descoloridas de aproximadamente 1,5 mm de largura. Em cultivos de arroz, no sistema
pré-germinado, os adultos podem danificar, na semente, a estrutura denominada
mesocótilo que dá formação à plântula de arroz. Os principais danos são causados pelas
larvas. As plantas atacadas apresentam crescimento reduzido, coloração amarelada e
secamento do ápice das folhas.
As primeiras lavouras instaladas dentro do período recomendado para o cultivo,
geralmente são as mais infestadas. A maior intensidade de infestação ocorre em pontos
da lavoura onde a lâmina d’água é mais espessa. Nos últimos anos, entretanto, além da
incidência do inseto ter aumentado, têm sido observadas infestações generalizadas nas
lavouras, independentemente da espessura da lâmina de água.
7.3.7 - Percevejo-do-colmo
O percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) pode ser encontrado nas fases
vegetativa e reprodutiva da cultura, quando provoca os sintomas conhecidos por “coração
morto” e “panícula branca” respectivamente.
O inseto preferencialmente se estabelece nas plantas situadas em locais não
atingidos pela lâmina de água. Por esse motivo, sua incidência é maior em lavouras
implantadas em terrenos inclinados, predominantes na região da Fronteira Oeste e
Depressão Central do Rio Grande do Sul. Esse tipo de lavoura, por exigir maior
proximidade entre as taipas, sobre as quais o arroz também é semeado, contém maior
população de plantas em condições favoráveis ao inseto.
Em Santa Catarina, o percevejo-do-colmo tem ocorrido com freqüência nas
regiões do Alto Vale do Itajaí, Norte e Sul do Estado.
7.3.8 - Broca-do-colo
A broca-do-colo (Ochetina uniformis) ocorre na fase vegetativa, perfurando a
base dos colmos. As larvas se alimentam no interior do colmo em formação, provocando
“coração-morto” e morte de perfilhos que se reflete em redução do número de panículas
por área. Apresentam distribuição agregada com danos próximos as taipas.
91
7.3.9 - Broca-do-colmo
As brocas (Diatraea saccharalis e Rupela albinella) ocorrem durante a fase
vegetativa e reprodutiva da cultura, também provocando os sintomas de “coração-
morto” e “panícula-branca”. O ataque é mais intenso em arrozais formados com
cultivares pouco perfilhadoras, de porte alto, colmos grossos, folhas lisas e também
em arrozais próximos a lavouras cultivadas com milho e sorgo.
7.3.10 - Percevejo-do-grão
Cuidados com os percevejos-do-grão (Oebalus poecilus, O. ypsilongriseus)
devem ser tomados, do perfilhamento ao início do amadurecimento da panícula.
A natureza e extensão do dano dependem do estágio de desenvolvimento do
grão. Atacadas pelos percevejos as espiguetas com endosperma leitoso podem ficar
totalmente vazias e as com endosperma pastoso, originam grãos “gessados”, com
manchas escuras, o que diminui ainda mais o rendimento de engenho.
7.3.11 - Lagarta-da-panícula
Lagartas das espécies Pseudaletia adultera e P. sequax, nos últimos anos,
tem causado danos significativos às panículas de arroz, podendo provocar perdas de
produtividade. Ainda não foram definidas medidas de controle para o inseto (lagarta-
da-panícula). Como o ataque ocorre mais próximo à época da colheita do arroz, há
um entendimento interinstitucional de que pesquisas futuras sobre o controle com
inseticidas, priorizem produtos biológicos, de modo a reduzir os riscos de acúmulo de
resíduos químicos nos grãos.
7.3.12 - Pássaro-preto (Agelaius ruficapillus)
O pássaro-preto Agelaius ruficapillus, causa danos à cultura do arroz em
duas épocas distintas. Na fase inicial, alimentando-se de sementes e plântulas, e na
fase final, alimentando-se de grãos em formação.
7.3.13 - Moluscos gastrópodes, em arroz pré-germinado
Os caramujos têm causado danos severos ao cultivo de arroz pré-germinado, tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina. No estado Catarinense, no Alto e Médio Vale de Itajaí, ocorrem as espécies Phisilla acuta (família Physidae), Biomphalaria peregrina e Biomphalaria tenagophila (família Planorbidae),
92
predominando a primeira. No Baixo Vale do Itajaí e Sul do Estado tem
ocorrido à espécie Pomacea caniculata (Ampullariidae).
No Rio Grande do Sul foram identificadas as espécies Pomacea canaliculata,
Physa marmorata e B. tenagophila. Os principais danos são causados pela espécie
P. canaliculata.
7.4 - Métodos de controle de insetos na lavoura
7.4.1 - Controle cultural
O uso de métodos alternativos de controle necessita ser intensificado, visando
especialmente à redução do custo de produção e a conservação ambiental. Os métodos
culturais recomendados para o controle de algums insetos fitófagos estão descritos a
seguir:
- Inundação e drenagem da lavoura
Havendo disponibilidade de água, é viável a utilização de uma irrigação
temporária para reduzir a população do cascudo-preto e suas larvas, do pulgão-da-raiz,
da lagarta-da-folha e da pulga-do-arroz. A elevação da lâmina de água, a partir do
perfilhamento, reduz os danos do percevejo-do-colmo. A drenagem da lavoura por um
período de dois a três dias reduz substancialmente a população da lagarta-boiadeira, pois
essa não sobrevive no seco.
- Manejo de restos culturais
Essa prática é eficiente, principalmente, em lavouras que foram infestadas
anteriormente pelo percevejo-do-colmo e broca-do-colmo. Pode ser implementada por
meio de pastoreio, destruição de taipas e, fundamentalmente, pelo preparo de primavera-
verão.
- Manejo da cultura
Consiste em criar condições favoráveis à concentração de insetos em
determinadas partes da lavoura via adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de
áreas com plantas daninhas e o uso de cultivares precoces. Essas práticas possibilitam o
controle localizado do percevejo–do-colmo, broca-do-colmo e percevejo-do-grão.
93
7.4.2 - Controle físico
A armadilha luminosa é relativamente eficiente para captação do cascudo-preto,
quando instalada sobre canais e açudes. Podem ser utilizadas quaisquer fontes de luz,
como a chama de lampião e, principalmente, lâmpadas fluorescentes tipo luz do dia.
7.4.3 - Controle biológico
Em pequenas lavouras a introdução de marrecos-de-pequin com idade entre 20 e
40 dias, associado à elevação da lâmina de água, contribui para a redução da população
do percevejo-do-colmo.
7.4.4 - Medidas preventivas e complementares
No caso específico da bicheira-da-raiz podem ser adotadas algumas medidas
práticas que contribuem para a redução dos danos à cultura, tais como: aplainamento do
solo; limpeza dos canais de irrigação e adubação nitrogenada suplementar (30 kg/ha)
somente até a fase de “ponto-de-algodão”.
Quanto às infestações da lagarta-da-folha e broca-do-colmo deve haver maior
cuidado com arrozais situados próximos a cultivos de milho e sorgo.
No caso da bicheira-da-raiz, as lavouras instaladas mais cedo tendem a ser mais
infestadas uma vez que a maioria dos gorgulhos hibernantes migram para essas áreas.
Quando a semeadura é escalonada, existe o risco da infestação contínua pelos gorgulhos
às áreas mais novas.
Quanto menor o ciclo de uma cultivar, os danos da bicheira-da-raiz tendem a ser
mais importantes porque o período para a recuperação do sistema radicular durante a
fase vegetativa é menor.
7.4.5 - Controle químico
Devido as suas características próprias, a cultura do arroz irrigado forma um
agroecossistema particular, sensível a interferência de fatores negativos como o uso
indiscriminado de inseticidas. Neste contexto, os inseticidas recomendados pela Sub-
comissão de Manejo de Insetos-praga do arroz irrigado, estão expressos em duas tabela
(Tabela 7.1 para plantio convencional e Tabela 7.2 para plantio no sistema pré-
germinado).
O emprego desses produtos normalmente é feito sem levar em consideração os
níveis populacionais de controle (NCE) e de dano econômico (NDE). O NDE é o nível
populacional de uma determinada espécie de inseto, o qual, ao ser atingido, provoca uma
perda de produção cujo valor econômico é maior que o custo do controle. O NCE
94
corresponde ao nível populacional em que o controle deve ser iniciado para evitar que o
NDE seja atingido. Muitos dos inseticidas usados para controle de insetos na cultura do
arroz irrigado não estão registrados para esse fim. Isso implica na falta de informações
sobre dois aspectos básicos para o Manejo Integrado de Pragas (MIP): a eficiência de
controle e a seletividade para inimigos naturais.
Resultados de pesquisa obtidos nos últimos anos, na região Sul do Brasil ou
informações adaptadas de outras regiões, possibilitam adotar o princípio de controle
econômico (NCE) para algumas das principais espécies de insetos prejudiciais ao arroz
irrigado. Para tal, basta comparar o custo atual de controle (CT) de determinado inseto
(custo de inseticidas, equipamentos, mão-de-obra, etc) com valores estimados de perdas
de produção de grãos, possíveis de serem calculados via os procedimentos a seguir:
a) Lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda) - a partir da emergência das plantas,
durante o período pré-inundação, em intervalos semanais, vistoriar o maior número
possível de pontos do arrozal (0,5 x 0,5 m), ao longo de linhas transversais imaginárias. A
cada lagarta de 3º instar (+ 1 cm de comprimento) encontrada, em média/m2, o que
corresponde a uma lagarta/4 pontos de 0,5 x 0,5 m observados, é esperada uma redução
de 1 % na produção de grãos. Atentar principalmente para arrozais infestados com
capim-arroz, onde há maior incidência do inseto.
b) Bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae) - a partir de dez dias após a
emergência das plantas, no sistema de arroz pré-germinado ou da inundação, no sistema
de cultivo convencional (semeadura em solo seco), avaliar a presença de larvas, no
mínimo em dez locais escolhidos ao acaso na lavoura. É importante considerar que,
inicialmente, há maior concentração de larvas, ao longo das margens e/ou nas primeiras
partes inundadas da lavoura. Em cada local, retirar quatro amostras de solo e raízes,
usando uma secção de cano de PVC com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura,
aprofundando-a 8 cm no solo. Agitar as amostras sob água, em uma peneira apropriada,
para liberação e contagem das larvas. Acima de um determinado nível populacional
(cerca de 5 larvas) e dependendo da cultivar, a cada larva, em média/amostra, é
esperada uma redução de 1,1 e 1,5 % na produção de grãos de cultivares de ciclo médio
e precoce, respectivamente. O controle de larvas, após o início de diferenciação da
panícula (IDP), não evita perdas de produtividade.
c) Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) - a partir do início do perfilhamento das
plantas, em intervalos semanais, à fase de floração, monitorar a população de insetos.
Como no início do perfilhamento grande quantidade de percevejos hibernantes
permanece nas partes mais baixas das plantas, é recomendada, para indicativo de NCE,
a contagem desses entre os colmos, em no mínimo 30 pontos
95
eqüidistantes de amostragem. Na fase de floração, após ao meio-dia, é
recomendado o uso de rede de varredura (aro de 30 cm de diâmetro). A cada inseto
adulto, em média/m2
, é esperada uma redução de 1,2 % na produção de grãos.
d) Percevejo-do-grão (Oebalus poecilus e O. ypsilongriseus) - a partir do
perfilhamento até o início do amadurecimento das panículas, em horários com
temperaturas mais amenas, identificar os prováveis focos de infestação (locais com
plantas vigorosas, plantas daninhas como capim-arroz, arroz-vermelho) usando rede de
varredura, com aro de 30 cm de diâmetro. Há indicativos de que em torno das 6 e 18
horas é que ocorrem as melhores condições à captura do percevejo-do-grão. A cada
inseto adulto/m2 é esperada uma redução média de 1 % na produção de grãos, sem
considerar ainda as possíveis perdas qualitativas.
7.5 – Controle do pássaro-preto
As estratégias para manejo do pássaro-preto (Agelaius ruficapillus) no
ecossistema de arroz irrigado, enfocando as causas do aumento populacional e ações
para reduzir níveis de dano durante os períodos de semeadura e maturação do arroz.
Ações contrárias às causas de aumento populacional: redução das perdas
durante a colheita; redução dos resíduos da pré-limpeza, acumulado nas propriedades
rurais; redução das perdas de arroz nas estradas durante o transporte às cidades; abate
através de caça e armadilhas.
Ações para reduzir o dano causado durante o período de semeadura.
Recomendações gerais: estabelecer uma adequada população inicial de plantas na
lavoura; semeadura sincronizada entre agricultores de uma mesma região; aumentar a
densidade de semeadura em áreas próximas até 200 m de banhados e matos. No
sistema pré-germinado, não remover totalmente a água de irrigação após a semeadura.
Manter os arrozais e suas bordas livres de plantas invasoras; manter áreas na
propriedade, longe das lavouras de arroz, com alimentos alternativos ao pássaro-preto.
Reduzir o período de exposição do arroz maduro ao ataque do pássaro-preto.
7.6 – Controle de moluscos
Não existem produtos químicos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária
e Abastecimento para controle de caramujos na cultura do arroz irrigado. Como
alternativas de controle são indicados os métodos a seguir:
a) limpeza e drenagem dos canais de irrigação, eliminando substratos para fixação,
posturas e alimentação da praga.
96
b) preparo do solo com enxada rotativa, para eliminar a população de moluscos,
principalmente dos exemplares adultos.
c) coleta e destruição de posturas e caramujos nos locais de entrada de água e nos
canais.
d) colocação de telas nos canais de irrigação, evitando a entrada de caramujos para
a lavoura através da água de irrigação.
e) drenagem dos quadros, facilitando o ataque de caramujos por fungos e
predadores, como gavião caramujeiro, bem-te-vi, etc.
f) implantação de poleiros na área, facilitando a captura de caramujos pelo gavião.
g) colocação de marrecos-de-pequin.
97
Tabela 7.1 - Inseticidas recomendados para o controle de insetos do arroz irrigado sistema convencional.
98
Tabela 7.1 – Continuação.
1- PM: pó molhável; SC: solução concentrada; CE: concentrado emulsionável; SL: concentrado solúvel.
2 p.c: Produto Comercial;
3 Controle de adultos de O. oryzae;
4 Doses em g/100 kg de
sementes. 5 I - Altamente tóxico; II - Mediamente tóxico; III - Pouco tóxico; IV - Praticamente atóxico; Fonte: AGROFIT, 2000. Anvisa 2005 -Sistema de Informação sobre Agrotóxicos - SIA.
99
Tabela 7.2 - Inseticidas recomendados para o controle de insetos do arroz irrigado no sistema pré-germinado.
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0
Tabela 7.2 – Continuação.
1PM: pó molhável; SC: solução concentrada; CE: concentrado emulsionável; SL: concentrado solúvel; 2 Produto Comercial; 3 Doses em g/100 kg de sementes. 4 I - Altamente tóxico; II - Mediamente tóxico; III - Pouco tóxico; IV - Praticamente atóxico; Fonte: AGROFIT, 2000. Anvisa 2003 – Sistema de Informação sobre Agrotóxicos - SIA.
10
1
102
8 - DOENÇAS
8.1 - Introdução
Na Região Sul do Brasil, a cultura do arroz irrigado é atacada por várias doenças,
as quais podem prejudicar a produtividade e a qualidade dos grãos colhidos.
Entre estas doenças destaca-se, como principal, a brusone (Pyricularia grisea
(Cooke) Sacc = Magnaporthe grisea Barr.), cujos danos podem comprometer até 100%
da produção de algumas lavouras nos anos de ataques epidêmicos. Nos demais, os seus
efeitos são menores, podendo até passarem despercebidos ao produtor.
Por ordem de importância, as doenças ocorridas nos últimos anos, são as
manchas de glumas (vários fungos e bactérias), a queima de bainhas (Rhizoctonia
solani), a podridão do colmo (Sclerotium oryzae), a mancha parda (Drechslera oryzae=
Helminthosporium oryzae), a mancha estreita (Cercospora janseana= C. oryzae), a
escaldadura da folha (Gerlachia oryzae= Rhynchosporium oryzae), a podridão do colar
(Sarocladium oryzae= Acrocylindrum oryzae), a cárie ou carvão preto do grão (Tilletia
barclayana), a ponta branca (nematóide Aphelenchoides besseyi) e a podridão de
bainhas (Sclerotium rolfsii).
Entretanto, deve ser esclarecido que a ocorrência e o nível dos prejuízos
causados variam de ano para ano e de local para local, em função das variações naturais
das condições ecológicas, meteorológicas, prevalência de raças dos patógenos,
suscetibilidade das cultivares e manejo das práticas culturais.
Por isso, o uso de medidas de controle integrado são sempre mais eficientes do
que a adoção de um método isolado de controle como, por exemplo, a aplicação simples
de fungicidas.
8.2 - Cultivares resistentes
O método mais prático e econômico para o produtor controlar as doenças das
plantas, consiste na semeadura de cultivares mais resistentes ou tolerantes. Entretanto,
na prática, a resistência em níveis elevados, geralmente não ocorre numa única cultivar
para todas as doenças, ou não é durável por vários anos.
Por estes motivos, sempre é necessário escolher as cultivares de arroz mais
tolerantes às principais doenças (brusone e outras) ocorrentes na Região e somar aos
efeitos desta resistência, outras medidas preventivas de controle integrado (manejo das
práticas culturais, controle biológico e controle químico). Desta forma, os danos serão
economicamente menores e o nível de controle obtido mais eficiente e duradouro.
103
As reações médias à brusone, das cultivares recomendadas para semeadura nos
estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, se encontram nas Tabelas 6.1 e 6.2.
Alertamos, porém, que estas reações podem variar ao longo dos anos e, em casos
particulares, dependem do manejo do cultivo e de situações climáticas específicas.
Algumas cultivares suscetíveis apresentam alta produtividade e boas
características de grão, podendo ser cultivadas sem grandes riscos, desde que
manejadas de acordo com as recomendações (Item 8.3), as quais influenciam a
expressão da resistência parcial.
8.3 - Manejo da cultura
O emprego correto do conjunto de práticas recomendadas para o cultivo do arroz,
normalmente é suficiente para evitar ataques severos das doenças, ao mesmo tempo em
que promove o aumento da produtividade.
Entre as medidas de manejo recomendadas, destacam-se as seguintes:
a) monitoramento de doenças e acompanhamento da sua progressão na
propriedade e/ou região circunvizinha;
b) aplainamento ou sistematização do solo facilita o manejo da água, evitando o
atraso da irrigação e permitindo a manutenção da lâmina de água uniforme;
c) dimensionamento adequado dos sistemas de irrigação e drenagem, facilitando
a entrada e retirada de água de forma correta e em tempo hábil;
d) bom preparo do solo, permitindo o crescimento normal das plantas;
e) adubação equilibrada para evitar, especialmente, o crescimento vegetativo
exagerado das plantas pelo uso excessivo de nitrogênio;
f) uso de sementes de boa qualidade fisiológica e sanitária;
g) semeadura em época normal, pois nas semeaduras tardias o arroz é mais
atacado pela brusone e doenças necróticas foliares;
h) bom controle das plantas daninhas, que podem transmitir doenças e propiciar
condições de ambiente favoráveis, como sombreamento, temperatura e
umidade;
i) preparo antecipado do solo, eliminando os restos das plantas que atuam como
fontes de multiplicação e disseminação de patógenos;
j) drenagem das áreas baixas e alagadiças, favorecendo o preparo antecipado do
solo, a decomposição dos resíduos orgânicos e a conseqüente diminuição
dos fungos de solo - Rhizoctonia, Sclerotium e outros - e do “bico-de-
papagaio”;
k) quando disponíveis, trocar as cultivares com reação de resistência à brusone a
cada 3-4 anos, pois o uso continuado de uma mesma cultivar aumenta a
pressão de seleção das raças virulentas específicas;
104
l) escalonamento da época de semeadura, evitando que eventuais condições de
ambiente favoráveis às doenças atinjam todo o cultivo, e
m) semeadura em densidade recomendada pela pesquisa e espaçamento não
muito reduzido, para evitar o excesso de plântulas e o sombreamento mútuo.
8.4 - Controle químico
O tratamento do arroz com fungicidas poderá ser um método complementar
eficiente no controle da brusone, principalmente naquelas lavouras com histórico de
danos freqüentes e nos anos em que ocorrerem condições climáticas muito favoráveis ao
aparecimento de doenças.
Entretanto, esse controle será mais eficiente e econômico, sempre que for
precedido pela melhoria no manejo da cultura e no uso de cultivares mais tolerantes à
brusone.
A aplicação dos fungicidas durante os estádios de emborrachamento e floração
possibilita a manutenção dos níveis de produtividade e melhora o rendimento de grãos
inteiros. Nas lavouras de produção de sementes, diminui a disseminação dos patógenos
através das mesmas e assegura melhorias na germinação e no vigor das plântulas.
No MAPA existem vários fungicidas registrados para as doenças do arroz. A
Tabela 8.1 relaciona os fungicidas recomendados pela CTAR-I.
Alguns desses fungicidas são específicos para o controle da brusone, enquanto
outros possuem espectro de ação mais amplo. Muitas vezes, o uso de um produto
protetor, de ação ampla e de contato, ou a sua associação com um outro produto
sistêmico de maior especificidade, poderá conferir um controle mais satisfatório e com
melhor relação custo/beneficio. Normalmente, isto ocorre nos casos de ataques não
muito intensos de brusone, em associação com outras doenças (mancha parda, mancha
estreita, escaldadura, rizoctonioses e manchas de glumas). Sob condições favoráveis ao
ataque severo de brusone, recomenda-se usar produtos mais específicos, sistêmicos ou
protetores em doses elevadas, com enfoque eminentemente protetor.
Por outro lado, o uso de fungicidas é recomendável principalmente, para àquelas
lavouras com melhor nível de tecnologia e que possam usar aplicação aérea. Nos casos
de ataques em lavouras pequenas e/ou com pouca tecnologia, poderá ser feito apenas
um controle preventivo nos focos com ataque mais severo, tomando-se precauções para
evitar casos de intoxicação. Entretanto, nessas lavouras, deve ser dada maior ênfase ao
manejo da cultura, a fim de evitar o surgimento das doenças.
105
8.5 - Controle biológico
Embora existam alguns resultados experimentais promissores no controle de
brusone e de outras doenças na parte aérea das plantas de arroz irrigado, ainda não se
pode fazer recomendações seguras, devido a irregularidade desses resultados através
dos anos.
Porém, no momento, ainda se julga prematura a recomendação desses
microorganismos antagonistas em “inoculações” artificiais (biofungicidas). Mas, esses
conhecimentos podem ser usados dentro de um sistema de controle integrado, com a
presença natural de Trichoderma e outros no controle das doenças como “queima das
baínhas” e das podridões de bainhas e colmos, evitando-se a ação de agrotóxicos sobre
os mesmos.
106
Tabela 8.1 - Fungicidas recomendados pela CTAR-I, para a cultura do arroz irrigado. Pelotas, 2007.
As recomendações constantes desta Tabela estão de acordo com as solicitações das Empresas registrantes dos produtos. Indicação e Classe/marca comercial. *Formulações – PM = pó molhável; SC = suspensão concentrada. **PC = produto comercial; ***Recomendações constantes no registro – BR = brusone (Pyricularia grisea, Magnaporthe grisea – forma perfeita); MP = mancha parda (Bipolares oryzae; Drechslera oryzae = Helminthosporium oryzae); ME = mancha estreita (Cercospora janseana = C. oryzae, Sphaerulina oryzina – forma perfeita); Esc (Gerlachia oryzae = Rhynchosporium oryzae = Microdochium oryzae, Monographella albescens – forma perfeita) e Rhs (Rhizoctonia solani, Thanatephorus cucumeris - forma perfeita).
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7
108
9 - PLANTAS DANINHAS
As plantas daninhas concorrem com as plantas de arroz por luz, água e
nutrientes, constituindo-se em um dos principais limitantes da produtividade das lavouras
de arroz irrigado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A diversidade de espécies infestantes, aliada ao elevado índice de ocorrência das
mesmas, dificulta seu controle, com conseqüências negativas de variada importância
sobre a produtividade e qualidade da produção.
9.1 - Principais espécies de plantas daninhas
As principais espécies de plantas daninhas que freqüentemente infestam as
lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina estão relacionadas
na Tabela 9.1.
9.2 - Métodos de manejo e controle
Genericamente, podem-se utilizar cinco alternativas para solucionar o problema
plantas daninhas em cultivos de arroz irrigado, a saber: prevenção, manejo cultural,
controle biológico, controle mecânico e controle químico.
O sistema ideal de manejo das plantas daninhas é a integração da prevenção e
de diversos métodos de controle. Nele se faz a associação de medidas de controle que
sejam eficientes temporariamente, pela supressão da população ativa de plantas, como
uso dos métodos mecânicos e químicos. Paralelamente, medidas de longo prazo são
adotadas para se reduzir a população passiva (sementes e outros propágulos), com a
integração dos métodos cultural e biológico. As medidas de controle de curta duração,
como capinas e/ou herbicidas, fornecem controle apenas temporário, necessitando
aplicação a cada estação de cultivo. Já as medidas de longo prazo, como culturais e/ou
biológicas, são mais permanentes, e devem englobar mudanças nas práticas
agronômicas e de manejo das áreas de lavoura.
9.2.1 - Prevenção
A prevenção objetiva evitar a infestação das áreas de lavoura em que as plantas
daninhas sejam economicamente indesejáveis. Para tal, ele se baseia no conhecimento
dos processos de reprodução e de disseminação dessas espécies, a fim de se
interromper seus ciclos de multiplicação e de disseminação.
A constante vigilância que o agricultor deve manter na propriedade é o ponto chave
para se obter sucesso com a prevenção. Nesse sentido, o uso de sementes de arroz
livres de sementes de plantas daninhas deve sempre ser o primeiro passo de
109
qualquer programa. O uso de sementes de arroz contaminadas representa o meio
mais comum de disseminação de plantas daninhas nas lavouras.
Outras medidas preventivas que também devem ser consideradas são: limpeza
dos equipamentos de uso agrícola, cuidados na movimentação e no manejo de animais
de pastoreio, limpeza de canais de irrigação e drenagem, de linhas de cercas e de beiras
de estradas.
Vale ainda lembrar que uma das medidas preventivas mais eficientes contra
plantas daninhas é impedir a produção de sementes, pois para a maioria delas, este
representa o principal meio de reinfestação. Para isso, é essencial efetuar o controle das
plantas antes de ocorrer seu florescimento.
9.2.2 - Manejo cultural
Engloba qualquer procedimento ou prática agrícola que favoreça maior
competitividade da cultura com as plantas daninhas, principalmente na fase inicial do seu
estabelecimento.
No contexto dos procedimentos adotados no controle cultural, a rotação de
culturas assume papel de grande destaque, principalmente na recuperação de áreas
altamente infestadas por arroz-vermelho. Para isso, pode-se utilizar culturas alternativas
como milho, sorgo, soja e forrageiras, desde que sejam satisfeitas suas exigências
culturais.
No caso de rotação envolvendo soja, milho ou sorgo, deve-se associar a esses
cultivos o emprego de herbicidas que proporcionem um controle eficiente de arroz-
vermelho.
Além desta, outras práticas de manejo a utilizar são: seleção de cultivares
adaptadas à região de cultivo, emprego da sistematização, preparo adequado do solo,
espaçamento e densidade de semeadura recomendados para cada cultivar e sistema de
semeadura. Estes procedimentos são especialmente indicados para que a cultura passe
a exercer maior competitividade com as plantas daninhas.
O sistema de cultivo em solo inundado, com sementes pré-germinadas, é uma
alternativa importante para o controle do arroz-vermelho. Um sistema de irrigação com
lâmina de água uniforme, proporcionando completa e permanente inundação dos quadros
durante o ciclo da cultura, também pode diminuir consideravelmente a população de
plantas daninhas, especialmente na fase inicial de desenvolvimento.
9.2.3 - Controle biológico
O uso de marrecos-de-pequim no período de entressafra do arroz e de
rizipiscicultura na safra e entressafra podem ser caracterizados como métodos de
controle biológico. As aves e os peixes alimentam-se de sementes de arroz-vermelho e
110
de outras espécies existentes no solo, reduzindo significativamente sua infestação.
Constitui-se, assim, num método biológico, além de representar alternativa de renda
complementar para a propriedade. O uso de marrecos e peixes no período de entressafra
é mais adequado ao sistema de cultivo pré-germinado, devido ao alagamento do solo
neste período facilitar a semeadura em lâmina de água.
9.2.4. - Controle mecânico
Neste método, utilizam-se implementos manuais ou tracionados para eliminar as
plantas daninhas; contudo, seu uso é pouco viável após a instalação da cultura. Isso
decorre devido às peculiaridades do sistema de semeadura do arroz, do sistema de
irrigação por inundação utilizada, do tamanho das áreas cultivadas e dos elevados níveis
de infestação e diversidade de espécies daninhas.
Entretanto, é um método que pode ser empregado em situações particulares,
tanto de forma isolada como combinado com outros métodos. Pode-se citar como viáveis
para utilização deste método as pequenas propriedades, onde a semeadura em linhas
possibilita o uso de capinas durante o período entre a emergência e a inundação
definitiva da cultura.
A antecipação do início do preparo do solo, através de gradagens periódicas,
constitui alternativa eficiente para controlar mecanicamente as plantas daninhas
estabelecidas e para reduzir o banco de sementes no solo.
9.2.5 - Controle químico
O controle químico através do emprego de herbicidas tem sido o método mais
amplamente utilizado na lavoura orizícola, em função da sua grande praticidade,
eficiência e rapidez. Por se tratar de método que envolve o uso de produtos químicos,
subentende-se como pré-condição, conhecimentos técnicos sobre a ação dos herbicidas,
principalmente para atender dois requisitos fundamentais: alcançar máxima eficiência
biológica e causar o mínimo impacto ambiental. Por isto, a opção por este método
depende da participação de um técnico experiente, tanto para recomendação, como para
acompanhamento da aplicação dos herbicidas.
9.3 - Utilização de herbicidas
O uso de herbicidas, como outros métodos de controle, apresenta vantagens e
desvantagens. Dentre as primeiras, destaca-se a possibilidade de aplicação a grandes
áreas em pouco tempo, tornando-os uma tecnologia apropriada para grandes lavouras.
111
Dentre as segundas, destaca-se o cuidado na aplicação, de modo que não resultem em
controle inadequado de ervas e em danos à cultura ou em afetar adversamente o
ambiente. Contudo, quando são empregados corretamente, os herbicidas respondem
com eficiência e segurança aos objetivos pretendidos.
9.3.1 - Épocas e métodos de aplicação dos herbicidas
Uma das primeiras etapas a ser obedecida no emprego desta tecnologia diz
respeito à época de utilização dos herbicidas, levando-se sempre em conta que sua
aplicação deve possibilitar alta eficiência, máxima praticidade, menor custo e mínimo
impacto no ambiente. Assim, com relação à época de aplicação, os herbicidas podem ser
utilizados em arroz irrigado através dos seguintes métodos:
- Pré-semeadura. Esta aplicação é realizada antes da semeadura. Refere-se,
comumente, às aplicações feitas para o estabelecimento da cultura através do sistema de
semeadura direta, com ou sem cultivo mínimo, e ainda pelo sistema pré-germinado.
No caso do sistema de semeadura direta, um herbicida não-seletivo (dessecante)
é aplicado sobre a cobertura vegetal, a qual irá constituir posteriormente a cobertura
morta, fundamental para o sucesso deste sistema. No caso da semeadura direta através
de cultivo mínimo e misto (pré-germinado e cultivo mínimo), o solo passa por preparos
mecânicos no verão e/ou no inverno e, na época da semeadura do arroz, normalmente
apresenta uma cobertura verde, constituída pelas próprias plantas daninhas ou por
espécies forrageiras de inverno. Estas, da mesma forma que no sistema anterior, serão
dessecadas com herbicidas, e passarão a constituir a cobertura morta sob a qual será
semeado o arroz.
- Pré-semeadura, com incorporação. Neste caso, o herbicida é aplicado antes
da semeadura da cultura; porém, sofre um processo de incorporação ao solo, o qual
comumente é feito com equipamento mecânico (grade de discos ou enxada rotativa).
Este procedimento é realizado quando se aplicam herbicidas voláteis que deverão ser
imediatamente incorporados ao solo, para evitar perdas por volatilização. Este é um
método de aplicação de herbicidas pouco utilizados atualmente na cultura do arroz
irrigado.
- Pré-emergência. Por esse método, o herbicida é aplicado logo após a
semeadura do arroz, ou no máximo durante o período que decorre entre a semeadura até
o início da emergência das plântulas. Para se obter máxima eficiência herbicida por
qualquer método, mas especialmente para esse, é condição fundamental a presença de
umidade suficiente no solo.
- Pós-emergência. Refere-se à aplicação realizada após a emergência do
arroz e das plantas daninhas, tanto em pulverização com o solo drenado, como aplicação
dos herbicidas diretamente na água de irrigação (‘benzedura’). Quando executada na
fase em que as plantas daninhas apresentam duas a três folhas, chama-se pós-
112
emergência precoce ou inicial, e quando realizada mais tarde, com plantas
daninhas apresentando seis a oito folhas, ou mesmo já perfilhadas, denomina-se de pós-
emergência tardia. Recomenda-se realizar o controle no estádio de desenvolvimento
inicial das plantas daninhas, quando as ciperáceas e gramíneas estiverem com até quatro
folhas e as dicotiledôneas com duas a três folhas. Nesta fase inicial de desenvolvimento,
a interferência exercida pelas plantas daninhas ainda é baixa e estas são mais sensíveis
à ação dos herbicidas.
As aplicações em pós-emergência tardia, além de permitirem a interferência das
plantas daninhas com o desenvolvimento da cultura, também estão sujeitas a não
apresentarem resultados satisfatórios de controle e/ou necessitarem doses herbicidas
mais elevadas, afetando negativamente o custo do tratamento.
A aplicação dos herbicidas diretamente na água de irrigação (benzedura), é uma
alternativa utilizada principalmente por pequenos produtores, pela facilidade na aplicação
(dispensa os equipamentos de pulverização tracionados) e pela possibilidade de
aplicação em qualquer horário do dia e em condições climáticas desfavoráveis para
outros métodos. Além disso, não há necessidade de drenagem dos quadros, o que por si
só traz inúmeras vantagens. Para que a aplicação na forma de benzedura seja possível,
os herbicidas devem apresentar características físico-químicas adequadas a este tipo de
aplicação. Nem todos os herbicidas formulados para aplicação por aspersão em arroz
irrigado são adequados para aplicação em lâmina de água, devido às diferenças no modo
de ação e na formulação dos produtos.
9.3.2 – Fatores do ambiente que afetam a eficiência
Vários fatores de ordem edáfica e climática podem influenciar a eficiência dos
herbicidas, podendo provocar perdas de eficácia no controle de plantas daninhas ou de
seletividade para a cultura.
- Características do solo. No caso particular desse fator, torna-se importante
considerar, especialmente para as aplicações ao solo, os teores de argila e de matéria
orgânica, além do pH. Argila e matéria orgânica são constituintes da fase coloidal do solo
e podem determinar maior ou menor dificuldade ao herbicida para alcançar a fase líquida
no solo, de onde será absorvido pelas plantas daninhas ou pela cultura. No solo, o
produto poderá sofrer processos de biodegradação, percolação, alteração química,
volatilização ou fotólise, determinando, em conseqüência, tanto sua eficiência no controle
das plantas daninhas, como sua seletividade para as plantas de arroz.
Além disso, as relações herbicida x solo determinarão a duração das atividades herbicida e residual no solo. Esse processo apresenta alta relevância no estabelecimento da dose correta para um produto de aplicação ao solo. No caso do arroz irrigado, o fator tipo de solo teve sua importância relativa reduzida, tendo em vista que a maioria das
113
aplicações herbicidas atuais é feita em pós-emergência, quando a influência
desse fator é minimizada.
- Teor de umidade do solo. Considerada a importância do fator anterior,
particularmente para as aplicações de produtos de solo, o teor de água no solo relaciona-
se de forma direta com a eficiência de praticamente todos os herbicidas. Isso significa
afirmar que nenhum produto será eficiente se for aplicado em condições de solo seco.
- Umidade relativa do ar. É um dos fatores que mais influencia a eficiência de
herbicidas pulverizados em pós-emergência. Níveis de umidade relativa do ar (UR)
inferiores a 60% determinam que estes produtos tenham sua eficiência seriamente
comprometida, e todos os herbicidas mostram maior eficiência de ação com UR acima de
80%.
Para os produtos de aplicação ao solo, esse fator torna-se importante quando
associado à alta temperatura, pois ambos fatores interagem e podem determinar grande
volatilização para diversos herbicidas, especialmente para aqueles que apresentam alta
pressão de vapor.
- Temperatura do ar. Este fator, quando em condições extremas, pode afetar a
eficiência tanto dos herbicidas aplicados ao solo como daqueles aplicados à folhagem.
Devido à influência da temperatura do ar sobre o comportamento dos herbicidas,
recomenda-se evitar aplicações destes produtos nos horários mais quentes do dia
(temperaturas > 30 0C)..
Altas temperaturas, associadas à baixa umidade relativa do ar, podem levar a
maior volatilização de herbicidas a partir da superfície do solo ou mesmo das folhas.
Deve-se considerar ainda que, geralmente, altas temperaturas estão associadas a altas
intensidades luminosas, e a radiação solar pode causar redução do depósito herbicida na
superfície do solo ou da planta através de fotólise. Por outro lado, baixas temperaturas
também podem afetar negativamente o comportamento de alguns herbicidas que passam
a atuar de modo muito lento. Além disso, temperaturas extremas geralmente estão
associadas a condições de estresse ao desenvolvimento vegetal, causando sérios
problemas à ação dos herbicidas através de reduções em sua absorção, translocação e
atuação nas plantas.
- Ocorrência de ventos. A ocorrência de vento forte durante a aplicação pode
causar desvio das gotículas de pulverização contendo as partículas do herbicida, de
modo que elas não atingem o alvo. Isso pode representar menor eficiência do produto e
ser causa de danos consideráveis em culturas vizinhas, principalmente em aplicações
aéreas.
Para evitar o risco de deriva dos herbicidas, são recomendados dois procedimentos: não realizar aplicação quando houver vento acima de 8 km h-1 (?) forte. Em aplicações aéreas,, mesmo com ocorrência de vento pouco intenso, manter uma faixa entre a lavoura tratada e outra em estádio sensível sem receber aplicação,
114
procedendo-se o tratamento dessa faixa por via terrestre quando as condições
meteorológicas forem favoráveis.
9.4 – Herbicidas recomendados
Nas Tabelas 9.2, 9.3 e 9.4 estão relacionados os herbicidas recomendados para
a cultura do arroz irrigado, levando-se em consideração os produtos disponíveis no
mercado e a suscetibilidade das diferentes espécies daninhas aos diversos ingredientes
ativos.
Em muitos casos, herbicidas recomendados para determinada cultura não são
seletivos para outras e cuidados especiais devem ser tomados quando da aplicação de
produtos não-seletivos (dessecantes).
9.5 - Resistência de plantas daninhas aos herbicidas
Várias espécies de plantas daninhas têm sido identificadas com resistência a
herbicidas comumente utilizados na cultura do arroz irrigado. Entre as espécies com
resistência incluem-se o capim-arroz (Echinochloa spp.) em Santa Catarina e Rio Grande
do Sul e sagitária (Sagittaria montevidensis), cuminho (Fimbristylis miliacea) e junquinho
(Cyperus difformis) em Santa catarina. O potencial de desenvolvimento de casos de
resistência se acentua com o uso prolongado de um mesmo herbicida, ou com a
utilização continuada de herbicidas que apresentam o mesmo mecanismo de ação nas
plantas.
Algumas medidas preventivas indicadas para atrasar o desenvolvimento de
resistência de plantas daninhas aos herbicidas são:
- acompanhar com atenção quaisquer mudanças nas populações de plantas
daninhas presentes na lavoura;
- praticar rotação de culturas, já que essa prática favorece a alternância de
herbicidas a utilizar na área;
- rotacionar os herbicidas, evitando utilizar, por mais de duas ocasiões
consecutivas, produtos que apresentem o mesmo mecanismo de ação (vide Tabela 9.5);
- associar herbicidas com diferentes mecanismos de ação, ou fazer aplicações
seqüenciais dos mesmos;
- utilizar intensivamente o manejo integrado de plantas daninhas, principalmente
quando houver constatação de escapes no controle químico de determinada espécie.
Uma vez constatado algum problema de resistência, realizar a semeadura, os
tratos culturais e a colheita da área-problema por último, praticando completa limpeza dos
equipamentos utilizados na mesma para evitar a disseminação de sementes dessas
plantas para outras áreas da propriedade. Sugere-se a consulta a especialista neste
assunto para dirimir dúvidas a respeito das ações a adotar no caso.
115
9.6 - Indicações para manejo do arroz-vermelho
As seguintes práticas agrícolas são indicadas para manejo das infestações de
arroz-vermelho:
9.6.1 - Sementes de arroz isentas de arroz-vermelho
Esse é um procedimento preventivo fundamental que deve ser sempre adotado
pelo agricultor como prática de produção permanente. Aqui vale o ditado “é melhor
prevenir do que remediar”, isso porque as soluções representadas pelas práticas
descritas a seguir são todas de eficiência relativa e alcançam resultados apenas a médio
e longo prazos.
O uso de sementes comerciais com apenas um grão de arroz-vermelho em cada
amostra de 500 gramas em uma área até então livre desta invasora, representa um
potencial de infestação de pelo menos 60 grãos de arroz daninho por metro quadrado
após a segunda safra (considerando neste cálculo uma densidade de semeadura de 120
kg/ha e que 50% das sementes de arroz-vermelho produzidas serão colhidas com a
lavoura ou não germinarão no solo). Em alguns estados, como Santa Catarina, não é
tolerada a presença de sementes de arroz-vermelho nas classes de sementes básica e
certificada.
9.6.2 - Semeadura direta da cultura
É o método que não recebe nenhum preparo do solo e a semeadura da cultura é
realizada diretamente na resteva da cultura anterior ou da vegetação presente numa área
de pousio. O surgimento de arroz-vermelho nesse caso é evitado simplesmente porque o
solo não é revolvido, não se trazendo sementes viáveis para a camada superficial. Não se
constitui propriamente num método de controle do arroz-vermelho, mas ele evita a
emergência ao não desenterrar as sementes contidas nas camadas mais profundas do
solo.
9.6.3 - Semeadura direta após cultivo mínimo
Esse é um sistema alternativo ao de semeadura direta propriamente dita. Nesse
caso, através de operações mecânicas de preparo antecipado do solo, tanto realizado no
verão como no inverno, estimula-se a germinação das sementes de arroz-vermelho e de
outras espécies, constituindo-se, portanto, num método de controle, pois leva à redução
do banco de sementes no solo.
116
A semeadura direta com cultivo mínimo do solo deve buscar uma melhor
integração orizicultura-pecuária. Isso pode ser feito cultivando-se forrageiras durante o
período outono-inverno, as quais irão servir para o pastoreio do rebanho, aumentando a
rentabilidade. No início do verão, a resteva dessa pastagem, após sofrer processo de
dessecação com herbicida, passará a constituir a cobertura morta para implantação da
semeadura direta do arroz.
9.6.4 - Sistema pré-germinado de semeadura e transplante de mudas
O sistema de semeadura em solo inundado com sementes pré-germinadas ou
transplante de mudas em áreas sistematizadas, é uma alternativa eficiente para a
supressão e controle do arroz-vermelho em arroz irrigado. Geralmente, o preparo é
iniciado com gradagens ou rotativagens e o solo é mantido em condições de umidade
(não saturado) adequada para a germinação das sementes existentes no solo. As
plantas emergidas podem ser controladas com novas gradagens, pois, em cada
operação, mais sementes serão expostas para germinação. Esta operação pode ser
repetida diversas vezes antes da semeadura. Após a inundação do solo e a formação da
lama, é importante que o solo seja bem nivelado, facilitando desta maneira a manutenção
de uma lâmina de água uniforme. O alisamento do solo proporciona o fechamento dos
poros, reduzindo desta maneira a penetração do oxigênio no solo e a germinação das
sementes das plantas daninhas. Após a semeadura ou transplante das mudas, é
fundamental a manutenção contínua do solo saturado ou com lâmina de água, o que
impede a germinação das sementes localizadas sob a superfície do solo.
9.6.5 - Sistema Clearfield
O sistema “Clearfield” de produção de arroz irrigado consiste no uso de cultivares
de arroz portadoras de genes que conferem resistência aos herbicidas do grupo químico
das imidazolinonas. Esta característica foi obtida, inicialmente, através de mutação
induzida e transferida para cultivares e híbridos comerciais através do melhoramento
genético convencional. Esta tecnologia constitui uma alternativa promissora para o
controle de arroz-vermelho. Atualmente, as cultivares recomendadas para uso neste
sistema são: IRGA 422 CL, SCS 115 CL, Sator CL, Avaxi CL e XP 710 CL e Only é o
herbicida registrado e recomendado para aplicação ao arroz.
O herbicida Only apresenta elevada eficiência no controle seletivo de arroz-vermelho, propiciando níveis de controle superiores a 95%. Para isso, realiza-se uma aplicação em pós-emergência precoce, quando as plantas de arroz-vermelho encontrarem-se no estádio de três a quatro folhas; à medida que se atrasa a aplicação, a eficiência do herbicida diminui. A irrigação da área com lâmina permanente de água até o
117
terceiro dia após a aspersão do herbicida proporciona o melhor controle; por decorrência,
o atraso na irrigação diminui a eficiência final.
No sistema pré-germinado, o herbicida Only deve ser aplicado seqüencialmente,
em pós-emergência, em doses de 0,75 L ha-1, totalizando 1,5 L ha-1. A primeira
aplicação deve ser realizada com plântulas de arroz-vermelho com duas a quatro folhas e
a segunda 8 a 10 dias após a primeira. A irrigação da área com a introdução de lâmina
permanente de água deve ocorrer até o terceiro dia após a segunda aplicação do
herbicida;
Inicialmente, após a pulverização do herbicida Only, podem ser observados
sintomas de toxicidade nas plantas de arroz, variáveis de moderados a relativamente
elevados. No entanto, o dano herbicida às plantas de arroz diminui com o passar do
tempo, não sendo mais detectado visualmente por ocasião do florescimento das plantas.
O dano inicial causado pelo produto não afeta o potencial de produtividade das cultivares
recomendadas para uso no sistema.
O uso combinado do sistema de semeadura direta após o cultivo mínimo do solo
e o sistema Clearfield aumenta a eficiência final do controle de arroz-vermelho,
superando os níveis de controle obtidos com cada um dos métodos usados isoladamente.
Além do benefício de maior eficiência, o uso conjunto dos dois sistemas diminui o risco de
surgimento de plantas de arroz-vermelho resistentes ao herbicida Only, uma vez que se
estará utilizando dois produtos com diferentes mecanismos de ação (inibidor da enzima
EPSPS e inibidor da enzima ALS).
O sistema Clearfield não pode ser encarado como uma solução definitiva para
eliminar totalmente as infestações de arroz-vermelho. Ele se constitui em ferramenta
adicional que está à disposição dos agricultores para ser complementado com outras
técnicas de manejo. O sucesso dessa tecnologia depende de três condições básicas:
utilização de sementes de arroz de qualidade, uso do herbicida recomendado e adoção
de um programa de monitoramento das infestações de arroz-vermelho nas lavouras.
Dentre os procedimentos a serem adotados recomenda-se não cultivar arroz CL na
mesma área por mais de dois anos consecutivos, utilizar de forma conjunta as cultivares
resistentes (IRGA 422 CL; SCS 115 CL; Sator CL; AVAXI CL ou XP 710 CL) e o herbicida
Only, não usar sementes de arroz contaminadas com grãos de arroz-vermelho; e, não
permitir que plantas de arroz-vermelho não controladas pelo herbicida venham a produzir
sementes. Nesta situação, sugere-se o arrancamento das plantas ou a utilização de
herbicida não-seletivo, com auxílio da barra química. Além disto, é imprescindível usar
outras medidas preventivas, como manter canais, drenos, estradas e bordas da lavoura
livres de arroz-vermelho, destruindo a “soca” de plantas após a colheita do arroz.
O herbicida Only (imazapic + imazethapyr), utilizado no Sistema Clearfield, pode persistir no solo, vindo afetar culturas sensíveis, semeadas em sucessão ou rotação, inclusive as cultivares de arroz não resistentes àqueles herbicidas. Os danos, em sua
118
maioria, podem ser observados visualmente e, dependendo de seu grau, podem
causar até morte de plantas. Como conseqüência, podem ocorrer reduções significativas
na produtividade das culturas não tolerantes. Alguns estudos e observações de campo
sugerem/ que os principais fatores determinantes da persistência do herbicida Only no
ambiente estão diretamente associados às condições de clima e solo, como por exemplo:
1- áreas com problema de drenagem;
2- inverno e primavera ou muito secos ou chuvosos e com temperaturas baixas.
Algumas práticas de manejo podem ser adotadas para minimizar ou mesmo
evitar a ocorrência de danos pelo herbicida em culturas não tolerantes semeadas em
sucessão ou rotação ao arroz Clearfield:
1- seguir rigorosamente as recomendações para uso do Sistema;
2- empregar o Sistema Clearfield no máximo por dois anos, deixando então a área
em pousio ou adotando um sistema de sucessão ou de rotação de culturas,
incluindo preferencialmente espécies leguminosas (por exemplo, trevo no
inverno e soja no verão);
3- realizar preparo antecipado do solo após a colheita do arroz irrigado, o que
facilita a degradação do produto durante a entressafra;
4- manter a lavoura bem drenada durante o período da entressafra;
5- naquelas situações que apresentem problemas de residual herbicida no solo e
nas quais forem utilizadas espécies suscetíveis em sucessão ou rotação,
escolher cultivares que possam ser semeadas na fase final da época de
semeadura recomendada para evitar períodos de baixas temperaturas na fase
inicial de desenvolvimento, as quais potencializam a atividade herbicida de
compostos do grupo das imidazolinonas, como Only.
Estas sugestões de manejo são indicadas à luz das informações atualmente
disponíveis, mas poderão sofrer adaptações a condições edafoclimáticas locais ou
regionais à medida que a pesquisa avançar no estudo do tema em questão.
9.6.6 - Uso de regulador do crescimento
Fazor CS (hidrazida maleica) é um regulador de crescimento de ação sistêmica que inibe
a formação ou o enchimento de grãos de arroz-vermelho, reduzindo a reinfestação desta
planta daninha na safra seguinte. A dose recomendada é de 1710 g/ha (9,5 L/ha p.c.).
Aplica-se quando os grãos de arroz cultivado estiverem no estádio pastoso (R6 a R7) ou
mais amadurecidos, e os grãos de arroz-vermelho estiverem no estádio
119
leitoso ou mais precoce (R5 a R6). Para que esta prática seja realizada com
segurança, o arroz cultivado deve florescer pelo menos 7 dias antes do arroz-vermelho. O
produto não é eficiente quando aplicado após a fase de grão leitoso do arroz-vermelho.
Não se deve aplicar este produto em lavouras destinadas à produção de sementes.
9.6.7 - Prática de pousio da área
Esse procedimento contribui relativamente pouco para o manejo do arroz-
vermelho, visto que na realidade apenas faz com que durante determinado período não
surjam plantas na superfície do solo, mas o banco de sementes sofre redução muito lenta
com a utilização dessa prática.
9.6.8 - Prática de rotação de culturas
Para adoção desse procedimento, recomendam-se as culturas de sequeiro, tais
como soja, milho e sorgo, as quais, se atendidas as exigências de drenagem e irrigação,
mostram comportamento promissor em solos hidromórficos. A eficiência da rotação do
arroz irrigado com culturas de sequeiro no controle do arroz-vermelho, fundamenta-se em
dois aspectos: a) modificações das condições de solo que favorecem o desenvolvimento
do arroz-vermelho, principalmente a troca das condições de solo inundado por solo seco
durante a estação; b) efeito dos herbicidas alternativos utilizados nas culturas de soja,
milho e sorgo, reduzindo o banco de sementes de arroz-vermelho no solo.
9.6.9 - Manejo da área na entressafra
Em áreas infestadas por arroz-vermelho, especialmente aquelas que são utilizadas de
forma intensiva com cultivo anual de arroz na mesma área, a melhor alternativa de
manejo na entressafra é evitar a aração ou gradagem profunda do solo logo após a
colheita. Neste caso, uma alternativa seria apenas a roçada da palhada ou gradagem
superficial, evitando o enterramento profundo das sementes. O emprego da gradagem ou
aração profunda irá promover o enterramento das sementes de arroz-vermelho no solo,
promovendo aumento de sua longevidade. Sementes de arroz-vermelho mantidas
próximo da superfície do solo, mesmo que durante o inverno, germinarão ou perderão a
dormência e viabilidade mais rapidamente de que aquelas localizadas em maiores
profundidades no solo. Um percentual relativamente baixo de
120
sementes de arroz-vermelho localizadas na camada superficial do solo (até 5 cm)
mantém-se viável por mais de 12 meses.
9.6.10 – Uso da barra-química
O método é recomendado para complementar o controle de arroz-vermelho,
objetivando-se reduzir a produção de sementes da planta daninha em áreas infestadas. O
método consiste na passagem de uma barra que libera herbicida nas plantas de arroz-
vermelho, utilizando-se produto não seletivo de ação sistêmica. Glyphosate tem sido o
produto mais usado no procedimento. O herbicida deverá atingir apenas plantas daninhas
cuja altura supere a da cultivar comercial; por isto, deve ser aplicado apenas quando
houver um diferencial de estatura entre o arroz cultivado e o arroz-vermelho. Além disto, a
aplicação não pode ser atrasada para depois do florescimento do arroz-vermelho, sob
risco de ocorrer formação de sementes viáveis. Aplica-se a solução herbicida contendo
glyphosate na concentração de 30 a 50% v/v.
9.6.11 – Uso de marrecos-de-pequim
Os marrecos-de-pequim alimentam-se de sementes de arroz-vermelho localizadas
próximo à superfície do solo. Neste sentido, é fundamental que os marrecos sejam
colocados na área logo após a colheita do arroz e antes do revolvimento do solo. A
densidade de marrecos varia em função da infestação de arroz-vermelho e do tempo de
permanência das aves no local. Como referência, utilizam-se 30 a 50 marrecos por
hectare, mantendo-se-os em um mesmo local enquanto eles permanecerem ativos na
captura das sementes. A manutenção dos marrecos em determinado talhão é realizada
através do alagamento da área.
121
Tabela 9.1 - Principais espécies de plantas daninhas ocorrentes em
lavouras de arroz irrigado nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina
12
2
Tabela 9.1 – Continuação
12
3
Tabela 9.1 – Continuação
12
4
Tabela 9.2 - Herbicidas registrados e recomendados para o controle de plantas daninhas na cultura do arroz no RS e SC
12
5
Tabela 9.2 - Continuação.
12
6
Tabela 9.2 - Continuação.
1 SC/SL = concentrado solúvel; EC = concentrado emulsionável; EW = emulsão óleo em água; WG = granulado dispersível; WP = pó molhável;
2 Pré = pré-emergência; Pós = pós-emergência; Pós (ervas) = pós-emergência na ausência da cultura; Pré (rest.)/Pós (rest.) = pré/pós-emergência restrita a cultivares de arroz tolerantes;
3 I = extremamente tóxico; II = altamente tóxico; III = medianamente tóxico; IV = pouco tóxico; 4 I = produto altamente perigoso; II = produto muito perigoso; III = produto perigoso; IV = produto
pouco perigoso; NA = não avaliado; 5 NE = não especificado, devido à modalidade de aplicação; 6 Doses de 400 a 600 mL ha-1 de Aura acrescido do adjuvante Dash (500 mL 100 L-1 até 500 mL
ha-1
) controlam capim-arroz; 7 Utilizar preferencialmente a menor dose, devido ao risco de toxicidade ao arroz. Dose de 200 g
e.a. ha-1 de 2,4-D controla angiquinho; 8
Adicionar o adjuvante Dash (500 mL 100 L-1
); controla arroz-vermelho no estádio de até quatro folhas;
9 Adicionar óleo mineral emulsionável na concentração de 100 mL 100 L-1; 10 Adicionar Assist na dose de 1 L ha-1 nas aplicações terrestres e 300 mL ha-1 nas aplicações aéreas; 11
Adicionar Assist na dose de 1 L ha-1
; 12
Acrescentar o espalhante-adesivo Iharaguen-S na concentração de 250 mL 100 L-1
. 13 Adicionar Veget Oil na dose de 1 L ha-1;
12
7
Tabela 9.3 - Suscetibilidade das principais espécies de plantas daninhas aos herbicidas aplicados em pulverização na cultura do arroz irrigado
C=controle acima de 90%; NC=não controla; SI=sem informação; 1 Aminol 806; Deferon, DMA 806 BR; Herbi D-480; U-46 D Fluid;
2 Grassaid; Herbi-propanin; Propanil Fersol; Propanil Milenia; Propanin 450; Stam 360; Stam 480;
3 Controle obtido sobre plantas daninhas nos estádios iniciais de desenvolvimento;
4 Constatado resistência a herbicidas inibidores da ALS em Santa Catarina para Sagittaria montevidensis, Cyperus difformis e Fimbristylis miliacea;
5 Constatado resistência a quinclorac em Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
6 Herbicida recomendado apenas para as cultivares resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas.
12
8
Tabela 9.4 - Suscetibilidade das principais espécies de plantas daninhas aos herbicidas aplicados em “benzedura” na cultura do arroz irrigado
C= controle acima de 90%; NC=não controla; SI=sem informação; 1Controle obtido sobre plantas daninhas nos estádios iniciais de desenvolvimento; 2 Constatado resistência aos herbicidas inibidores da ALS em Santa Catarina para Sagittaria montevidensis, Cyperus difformis e Fimbristylis miliacea;
3 Constatado resistência ao herbicida quinclorac em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
12
9
Tabela 9.5 - Mecanismos de ação, grupos químicos e nomes comerciais de herbicidas recomendados para arroz irrigado.
13
0
10 - TECNOLOGIA DE COLHEITA, PÓS-COLHEITA E INDUSTRIALIZAÇÃO
DE GRÃOS E SEMENTES
As recomendações técnicas para colheita, pós-colheita e industrialização de
grãos e sementes visam o uso adequado de etapas do processo produtivo capazes de
afetar a quantidade e a qualidade do arroz irrigado.
10.1 - Colheita
- Colher os grãos, preferencialmente, com umidade entre 18 e 23%, dependendo do
cultivar, do sistema de colheita e de secagem, sem prolongar a permanência do arroz na
lavoura, com isso reduzindo a ocorrência de grãos quebrados no beneficiamento ou na
industrialização e evitando a intensificação de defeitos nos grãos e a redução de vigor
nas sementes.
- Regular corretamente máquinas e equipamentos, e evitar a colheita nas horas do dia
em que houver orvalho.
- Não misturar grãos de cultivares diferentes para não prejudicar o beneficiamento
industrial.
- Colher em separado o arroz de marachas ou taipas, se possível, não o misturando ao
de quadros ou quarteirões enquanto não estiver seco e limpo.
- Manter os determinadores de umidade calibrados.
- Em se tratando de semente, seguir rigorosamente as normas técnicas. Se em grãos
destinados à indústria a mistura de cultivares é prejudicial, em semente não se admitem
misturas varietais e/ou de cultivares, em nenhuma hipótese.
10.2 - Transporte
- Não submeter o arroz à exposição prolongada ao sol e evitar mantê-lo abafado sob a
lona do caminhão ou outro transportador, antes de ser submetido à secagem.
- Evitar esperas e/ou longos tempos de carga, realizando o transporte para a unidade
de secagem tão logo realize a colheita.
- Fazer adequada limpeza do transportador, evitando que resíduos de uma carga
possam servir como fonte de inóculos para outra.
- Inspecionar periodicamente o transportador e a carga, para evitar perdas de arroz por
vazamento ou derramamento.
- Não usar o mesmo transportador para transporte simultâneo de grãos de cultivares
diferentes, para evitar misturas varietais.
131
- Em condições adversas de temperatura e/ou de tempo de transporte, controlar a
temperatura dos grãos e realizar movimentação e/ou ventilação em caso de verificar
aquecimento.
10.3 - Recepção
- Avaliar umidade, impurezas e/ou matérias estranhas, rendas, rendimentos e defeitos,
de acordo com a metodologia oficial do Ministério da Agricultura.
- Receber e manter separadamente os grãos de cada cultivar.
- Se possível, aerar o arroz imediatamente após a recepção, para resfriá-lo e mantê-lo,
preferentemente, em temperaturas não superiores a 20ºC.
- Secar tão logo realize a colheita ou, no máximo, até 24 horas após.
- Não deixar os grãos úmidos na moega, sem aeração, por período superior a 12-24
horas.
10.4 - Pré-limpeza
- Escolher criteriosamente o jogo de peneiras, ajustar o fluxo de ar e o de grãos na
máquina de pré-limpeza. Inspecionar periodicamente o equipamento e analisar tanto
grãos como impurezas descartadas, para verificar a eficácia e a eficiência da operação.
- Para grãos, se forem armazenados na propriedade sem comercialização imediata, a
pré-limpeza deve ser mais seletiva, resultando em teores de impurezas e/ou matérias
estranhas não superiores a 3%. Se forem comercializados em prazo curto, fazer pré-
limpeza até 3-5% de impurezas e/ou matérias estranhas, secar, limpar novamente até
reduzir impurezas e matérias estranhas a 1%.
- Para semente, a seletividade deve ser rigorosa já nessa fase.
10.5 - Secagem
- Respeitando-se os parâmetros técnicos e operacionais, a secagem pode ser realizada
nos sistemas, processos e/ou métodos que utilizem ar não aquecido (também
denominados métodos de secagem com ar natural, com ar ambiente ou com ar frio) e/ou
naqueles com ar aquecido (também denominados métodos de secagem artificial ou
forçada).
- Se utilizar queima de combustíveis sólidos (lenhas, cascas, restos de cultura) para
aquecimento do ar de secagem, é recomendável evitar o contato direto do ar da fornalha
com os grãos e devem ser tomados mais cuidados com o controle térmico da operação,
pois os combustíveis sólidos, em conseqüência da inércia térmica característica de seu
processo de queima, produzem maior desuniformidade de aquecimento do ar.
132
- Se o aquecimento do ar de secagem for feito com a queima de gás liqüefeito de
petróleo (glp), ou outro combustível fluido, a operação deve ser monitorada por sistemas
automatizados de controle da temperatura e/ou da umidade relativa do ar, para aproveitar
o melhor potencial de eficiência técnica do sistema e aumentar a economicidade da
operação. Em secagem estacionária, em silo secador, é preferível fazer o monitoramento
do condicionamento do ar por controle de umidade relativa do que por controle de
temperatura, para reduzir a desuniformidade da secagem.
- Nos sistemas, processos e/ou métodos que utilizem ar não aquecido, o fluxo de ar
deve ser superdimensionado (em relação ao fluxo de ar usado em silos-secadores que
usam ar quente), para evitar que a lentidão do processo permita que o grão se deteriore
já durante a própria operação, enquanto nos que utilizam ar aquecido, os danos e os
choques térmicos devem ser evitados, pois o arroz é termicamente sensível.
- Na secagem estacionária em silo-secador, utilizar no mínimo fluxo de ar de 4 e no
máximo de 20m3.t-1.min-1 (m3 de ar por tonelada de grãos por minuto), para a secagem
com ar aquecido, dependendo da temperatura do ar e da espessura da camada de grãos.
- Na secagem em silos, não se encher o silo para depois secar. É recomendável fazer a
secagem em camadas, devendo-se não ultrapassar um metro e meio na altura da
camada de grãos no silo-secador de fluxo axial, para não prolongar excessivamente a
operação e não provocar grande desuniformidade na secagem. Após a secagem de cada
camada, essa pode ser removida para o silo de armazenamento definitivo.
- Pelo longo tempo de contato ar-grãos, a temperatura do ar nos silos-secadores não
deve ultrapassar 40ºC. A temperatura da massa não deve ultrapassar 37ºC nas sementes
e nem superar os 40ºC nos grãos para consumo. Em se tratando de grãos, deve haver
mais rigor no controle da uniformidade da temperatura para evitar (ou pelo menos reduzir)
os choques térmicos, os quais provocam maior incidência de grãos quebrados e
predispõem mais os grãos à ocorrência de danos metabólicos durante o armazenamento,
aumentando a incidência de defeitos e reduzindo sua conservabilidade.
- Observar os valores da Tabela 10.1.
- No caso de seca-aeração, 70ºC é a temperatura máxima do ar na câmara de
secagem do secador convencional (contínuo adaptado ou intermitente adaptado); 18% é
a umidade máxima e 38ºC ou 41ºC, respectivamente, é a temperatura de massa com a
semente ou o grão ou a semente deve sair do secador convencional, devendo ser
submetido a repouso por 6 a 12 horas no secador estacionário, antes da insuflação do ar
ambiente, em fluxo de até 1m3.t-1.min-1, podendo o silo estar cheio.
- Tanto para sementes como para grãos, é preferível utilizar secagem gradual, com ar
em temperaturas crescentes, ao invés do sistema tradicional, desde que sem choque
térmico e sem superaquecimento do produto.
133
Tabela 10.1 - Temperatura do ar de secagem (°C), na entrada do secador,
para diferentes sistemas de secagem*
Estacionário** Intermitente Contínuo
Grão Semente Grão Semente grão semente 30-40 40 70-110 40-70 *** ****
*Limites de temperatura de ar na entrada do secador.
**Deve ser observada a espessura de camada no silo-secador. Quanto mais espessa for a camada de
produto para a secagem, menor deve ser a temperatura do ar.
***Se as câmaras receberem ar de secagem com temperaturas diferenciadas, a temperatura mais
baixa deve ser utilizada na camada superior. Após o repouso, no silo aerador, a temperatura aplicada
deve ser a ambiente.
****Embora não seja comum a secagem de arroz em sistema contínuo é possível utilizá-lo em duas
circunstâncias: mediante adaptação funcional do secador ou quando o arroz se destinar à
parboilização e for armazenado por período não superior a 30 dias em locais com temperatura
ambiental superior a 20ºC, ou a 60 dias em locais com temperatura ambiental inferior a 20ºC.
*****Não é recomendável a secagem de sementes em sistema contínuo.
- Pelas características técnicas, operacionais e econômicas, o sistema intermitente é o
mais recomendável para arroz. Em qualquer dos casos, deve ser evitada a remoção
brusca da água, que deve ser harmônica durante todo o processo e não ultrapassar a
dois pontos percentuais por hora.
- Na operação de secagem intermitente, observar os limites constantes na Tabela 10.2.
Tabela 10.2 - Controles operacionais e limites de temperaturas para
secagem intermitente de sementes e grãos de arroz
Etapa procedimento operacional semente Grãos
Durante a 1ª hora elevar gradualmente a temperatura do ar até
40 + 5ºC 70 + 5ºC
Entre a 1ª e a 2ª hora elevar gradualmente a temperatura do ar até
50 + 5ºC 90 + 5ºC
Entre a 2ª e a 3ª hora elevar gradualmente a temperatura do ar até
60 + 5ºC 110 + 5ºC
da 3ª à penúltima hora manter constante a temperatura do ar em
60 + 5ºC 110 + 5ºC
Durante a última hora reduzir a temperatura do ar, para aproximá-la da do arroz, e ir diminuindo gradualmente até que a temperatura se aproxime de
37ºC 40ºC
134
10.6 - Armazenamento
- Tecnicamente é preferível carregar o silo com grãos já resfriados. Como na safra
isso é operacionalmente difícil, pode-se carregar com grãos parcialmente resfriados.
Nesse caso, deve-se ligar o ventilador e a partir desse momento, e com o ventilador
ligado, podem ser colocados os grãos diretamente no silo, sem resfriamento prévio,
cuidando-se para que não sejam submetidos a correntes de ar frio, durante o transporte
do secador até o silo.
- Além de realizar previamente limpeza e secagem uniformes, os grãos devem ser
mantidos nos silos com as temperaturas mais baixas possíveis, por aeração, a fim de
dispersar, remover ou distribuir a umidade e o calor acumulados.
- Depois de o silo estar carregado, medir a temperatura em vários pontos diariamente,
à mesma hora. Se os grãos começarem a aquecer, ligar o ventilador quando o aumento
se situar entre 3 e 5ºC, desligando-o quando resfriar (geralmente um dia é suficiente).
- Fazer transilagem ou intrassilagem a cada 30 a 60 dias, independentemente de
aquecimento, para eliminar focos de anaerobiose e reduzir os efeitos da compactação.
- Para armazenamento em sacaria, reduzir em 1 ponto percentual a umidade
referencial de armazenamento no silo-aerado, se nas mesmas condições climáticas.
Manter boa ventilação nas pilhas, utilizar estrados de madeira com altura mínima de 12
cm e que permitam boa circulação do ar também por baixo das pilhas. Evitar alturas
superiores a 6 metros nas paredes dos armazéns e limitar a altura das pilhas em 4,5
metros.
- As boas condições de higiene e sanidade nos silos e nos armazéns são
fundamentais para a conservabilidade dos grãos.
- No caso de sementes, manter os lotes individualizados e devidamente
caracterizados quanto aos itens nome do produtor, procedência, número e/ou letra do
lote, quantidade, data, espécie, cultivar, umidade, pureza e germinação, no mínimo.
- Aparecendo pragas, qualquer que seja a população, realizar expurgos de acordo
com o Receituário Agronômico e sob a orientação, supervisão e responsabilidade técnica
do Engenheiro Agrônomo que emitir a receita, considerando as informações técnicas
pertinentes. Em grãos armazenados que se destinem à alimentação humana, por
exigências legais e pelos riscos de desenvolvimento de fungos produtores de
micotoxinas, principalmente, a partir do ataque de insetos e/ou de ácaros, deve ser
aplicada a tolerância zero.
- O controle de pragas por expurgo ou fumigação deve ser realizado por métodos também
conhecidos por herméticos, onde é introduzido o inseticida, que libera aos poucos um gás
letal. Esse gás, denominado fumigante, é letal para os insetos de grãos armazenados.
Nos insetos adultos e nas fases jovens (larva e pupa), age através do seu sistema
respiratório, enquanto na fase de ovos, a difusão de gás ocorre através da
135
membrana ou canais respiratórios. É letal também para o homem, os animais
domésticos, os ratos, os pássaros, etc.
A fumigação, se bem executada, tem uma eficiência de 100%, matando os
insetos em todas as suas fases - ovo, larva, pupa e adulto - já estabelecidos nos grãos.
O controle feito através de fumigação ou expurgo é de caráter corretivo, mas não
é preventivo, podendo ocorrer novas infestações com o passar do tempo. Deve-se então
repetir o processo periodicamente ou complementá-lo com medidas preventivas e/ou
corretivas eficientes.
Em grãos a granel - geralmente quando se trabalha com fumigantes sólidos, a
distribuição deve ser feita durante a operação em que o produto está sendo armazenado,
isto é, os comprimidos ou tabletes são colocados em intervalos regulares sobre a correia
transportadora, durante o carregamento, desde que o tempo de carregamento da unidade
armazenadora não ultrapasse 12 horas. No caso em que a unidade armazenadora estiver
carregada, os tabletes ou comprimidos poderão ser aplicados através de sonda. As
unidades armazenadoras devem estar perfeitamente vedadas durante o expurgo.
Especial cuidado deve ser tomado em silos metálicos, que normalmente possuem
sistema de vedação precária e estão mais sujeitos às variações térmicas ambientais.
Nas aplicações com sondas, recomenda-se a aplicação de dois terços do
fumigante na parte superior e um terço na parte inferior (entrada de ar), sendo de
fundamental importância a vedação, principalmente da parte superior da massa de grãos.
Em grãos ensacados a operação de expurgo pode ser feita através de câmaras
móveis (lençóis plásticos), permitindo a fumigação de cada pilha separadamente.
As características das principais formulações dos fumigantes e suas capacidades
de liberação de ingrediente ativo estão apresentados nas Tabelas 10.3, 10.4 e 10.5.
136
Tabela 10.3 - Principais inseticidas (fumigantes) e suas características de utilização no expurgo de grãos armazenados a granel
Fumigantes Concentração de i.a. (%)
Característica do Silo
Duração do Expurgo (tempo mínimo)
Dosagem
Brometo de metila* 98 c/ recirculação do ar
24 horas 25 cm3/m3 de célula
Fosfeto de alumínio (past.)
57 qualquer tipo de silo
72 horas 1 a 3 past./t de grão
Fosfeto de magnésio (past.)
57 qualquer tipo de silo
72 horas 1 a 3 past./t de grão
Fosfeto de alumínio (compr.)
57 qualquer tipo de silo
72 horas 3 a 6 compr./t de grão
Fosfeto de magnésio (compr.)
57 qualquer tipo de silo
72 horas 3 a 6 compr./t de grão
compr. = comprimido de 0,6g; past. = pastilha de 3g;
*A produção do brometo de metila está proibida, sendo apenas utilizados, em expurgo, no
armazenamento de grãos, os estoques ainda remanescentes, não devendo, no entanto, ser usado
brometo de metila em expurgo no armazenamento de sementes.
Tabela 10.4 - Peso das diferentes formulações de fumigantes e capacidade
de liberação de ingrediante ativo
Formulações Peso Liberação de i.a
Comprimido 0,6 gramas 0,2 gramas Pastilha 3,0 gramas 1,0 grama Sachet 34,0 gramas 11,0 gramas Placas 117,0 gramas 33,0 gramas
Tabela 10.5 - Fumigantes e respectivas doses recomendadas para expurgo em grãos e derivados
Nome comercial
Dose g.i.a.t-1
Dose g.produto.t
-1
Intervalo de segurança
Classe toxicológica
Aluphos 1 a 4 3 a 12 4 dias I Fumicel 1 a 4 3 a 12 4 dias I Gastoxin 1 a 4 3 a 12 4 dias I Phostec 1 a 4 3 a 12 4 dias I Ifermag 1 a 4 3 a 12 4 dias I
Nos armazéns graneleiros e nos convencionais, de sacaria, o primeiro passo é a limpeza do armazém. Após, todas as superfícies internas e externas deverão ser pulverizadas com inseticida de ação residual. Também a área de recepção e as destinadas às operações de pré-armazenamento deverão ser rigorosamente limpas, incluindo as moegas, com auxílio de aspiradores. Os resíduos de elevadores, calhas,
137
rosca-sem-fim, máquinas de limpeza, secadores e demais equipamentos
deverão ser eliminados. Outro detalhe de grande importância são a limpeza e a lavagem
dos estrados, que depois de secos deverão ser expurgados com fumigantes à base de
fosfeto de alumínio e, depois, também pulverizados com inseticidas residuais.
O controle das pragas pode ser complementado com inseticidas não
fumigantes. Esses produtos são utilizados nas formulações em pó ou líquido e são
aplicados de diferentes maneiras.
Pulverização residual - o inseticida deve ser pulverizado internamente em
paredes, pisos, estrados e tetos dos silos, armazéns ou de outros depósitos vazios e
limpos. Seu uso objetiva o extermínio de insetos abrigados em depressões, vãos e
fendas. Geralmente tem efeito residual prolongado.
Pulverização e nebulização do ambiente de armazenamento - Esse processo é
muito importante em armazéns ou depósitos em que se verifica a presença de insetos
adultos. Isso normalmente ocorre em armazéns onde se encontram depositados mais de
um tipo de grão. De qualquer maneira, esse processo sempre deve ser empregado como
forma de desinsetização, momentos antes da entrada da nova colheita, após ter sido
realizada rigorosa limpeza do ambiente. No caso específico da termonebulização, para
sua maior eficácia, recomenda-se a aplicação ao anoitecer. O processo, apesar de ser
eficiente no controle de insetos adultos e larvas que se encontram na superfície, não
resulta em efeito residual.
Devem ser tomados cuidados especiais na aplicação, tais como ler o rótulo e
seguir as instruções recomendadas, usar equipamento adequado, não fumar nem comer
durante a aplicação, tomar banho e vestir roupas limpas após o trabalho. O operador
nunca deve trabalhar sozinho.
Os principais inseticidas usados são: Terra de diatomácea, Bifenthrin,
Deltamethrin, Diclorvos, Fenitrothion e Pirimiphos-methyl (Tabela 10.6).
138
Tabela 10.6 - Inseticidas indicados para tratamento preventivo de pragas
de grãos armazenados
Nome comum
Nome comercial
Dose (i.a) Dose comercial
Intervalo de segurança (dias)
Classe toxicológica
Terra de diatomácea
Insecto 867 Pó 0,9 a 1,7 kg.t-1 1 a 2 kg.t-1 - IV
Terra de diatomácea
Keepdry 860 Pó
0,9 a 1,7 kg.t-1 1 a 2 kg.t-1 - IV
Deltametrina K-Obiol 25 CE 0,35 a 0,50 ppm
14 a 20 ml.t-1 30 III
Bifentrina ProStore 25 CE 0,40 ppm 16 ml.t-1 30 III Bifentrina Starion 25 CE 0,40 ppm 16 ml.t-1 30 III Fenitrotion Sumigran 500
CE 5-10 ppm 10 a 20 ml.t-1 14 II
Pirimifós-metil
Actellic 500 CE 4-8 ppm 8 a 16 ml.t-1 30 II
Além dos citados, existem outros produtos para o controle de insetos em grãos
armazenados, como, também, é possível a utilização de mistura de dois ou mais
produtos, observadas as especificações e recomendações técnicas de cada um. A
listagem, apresentada na Tabela 10.6 pode ser alterada, por novo(s) registro(s) e/ou por
inexistência de renovação de registro(s) vencido(s) de produto(s), durante o período de
vigência da presente recomendação.
Não menos importante é o controle de ratos, devendo-se colocar raticidas ao
redor do armazém. Todos os buracos e fendas deverão ser calafetados.
Vãos ou buracos entre telhas e paredes devem ser fechados com argamassa.
Aberturas de aeração, entrada de condutores de eletricidade ou vãos de qualquer
natureza, devem ser vedados com tela metálica de malha inferior a 6 mm. Galhos de
árvores próximas aos armazéns devem ser podados para se evitar que tenham contato
com paredes e/ou telhado. Quando possível, fazer o fechamento de esgotos e canais
efluentes ou limpeza de suas margens, utilizando-se tampas de ralos pesadas, sempre
que estes tenham comunicação com a rede de esgoto cloacal ou pluvial. No interior do
armazém, fazer as pilhas de sacaria sobre estrados com 40cm de altura e afastadas das
paredes e umas das outras, por um espaço que permita a inspeção por todos os lados. Já
no lado externo do armazém é importante manter uma faixa de 5 a 10 metros livre de
qualquer vegetação
Cerca de 90% das operações de controle de ratos no mundo usam raticidas anticoagulantes, devido à grande segurança de uso e a existência de um antídoto altamente confiável, a vitamina K1. Os raticidas anticoagulantes (Tabela 10.7) são de
139
dose única (o roedor necessita ingerir apenas uma dose para que o efeito letal
ocorra) ou dose múltipla (o roedor necessita ingerir várias doses para que o efeito letal
ocorra).
Nos raticidas anticoagulantes de dose única, a morte acontece em 3 a 5 dias,
embora possa ocorrer até 14 dias após. Na prática, são recomendadas, no mínimo, duas
aplicações com intervalos de 8 dias.
Tabela 10.7- Principais raticidas anticoagulantes utilizados para controle de roedores em armazéns e depósitos
Nome técnico Nome comercial
Fabricante No de doses
DL 50 mg/kg
Concentração
Brodifacoum Klerat Zeneca Única 0,30 0,005 Bromadiolone Contrac Aventis Única 1,12 0,005 Bromadiolone Maki/outros Novartis/outros Única 1,12 0,005 Cumacloro Tomorin Novartis Múltipla 33,00 Pó; 1 : Isca; 0,05 Cumatetralil Racumin Bayer Múltipla 16,50 Pó; 0,75 : Isca; 0,05 Difenacoum Ridak Zeneca Transição 1,80 0,005 Difethialone Rodilon Bayer Única 0,56 0,0025 Floucumafen Storm Cyanamid Única 0,25 0,005
Além dos citados, existem outros produtos para o controle de roedores em
grãos armazenados, cuja utilização é possível mediante observação das especificações e
recomendações técnicas de cada um. A listagem apresentada na Tabela 10.7 pode ser
alterada por novo(s) registro(s) e/ou por inexistência de renovação de registro(s)
vencido(s) de produto(s), durante o período de vigência da presente recomendação.
10.7 - Beneficiamento industrial de grãos
Higiene, manutenção e regulagem dos equipamentos são fundamentais na
industrialização. Trata-se de alimento humano nobre, de consumo direto.
Para produção de arroz integral (apenas esbramado), de arroz branco polido,
pelo processo convencional, ou de arroz parboilizado, é fundamental atender às normas
legais que estão em vigor:
PORTARIA Nº. 269, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1988 (Aprova normas de
identidade, qualidade, embalagem e apresentação do arroz, na classificação, embalagem
e marcação do arroz, revogando a Portaria n°. 205, de 26 de agosto de 1981);
PORTARIA Nº 01, DE 09 DE JANEIRO DE 1989 (Aprova o roteiro e os critérios
para uniformização da classificação do arroz.)
PORTARIA Nº 157, DE 04 DE NOVEMBRO DE 1991. (Altera a Portaria nº 269,
de 17 de novembro de 1988, publicada no Diário Oficial da União, de 22 de novembro de
1988, estabelecendo novos critérios para enquadramento da classe grãos longo fino)
140
PORTARIA Nº 80, DE 10 DE ABRIL DE 1992 (Republicada por ter saído com
incorreção, do original, no D.O. de 13-4-92, Seção I. Reformula os limites máximos para o
total de Quebrados e Quirera no Arroz Beneficiado Polido, dos tipos 1, 2, 3, 4 e 5,
estabelecidos no anexo VI da Portaria nº. 269, de 17 de novembro de 1988).
PORTARIA Nº 10, DE 12 DE ABRIL DE 1996 (Aprova os critérios
complementares à Portaria nº 01, de 09 de janeiro de 1989, para a classificação do
arroz).
Para comercialização, é necessário obedecer aos padrões de rotulagem
obrigatória para alimentos embalados, determinados pela ANVISA:
RESOLUÇÃO-RDC N0 40, DE 21 DE MARÇO DE 2001 e RESOLUÇÃO-RDC
N0 259, DE 20 DE SETEMBRO DE 2002, que aprovam o regulamento técnico para
ROTULAGEM NUTRICIONAL OBRIGATÓRIA DE ALIMENTOS E BEBIDAS
EMBALADOS.
As Tabelas 10.8; 10.9 e 10.10 apresentam as características industriais dos grãos de arroz das cultivares IRGA, Embrapa Clima Temperado e EPAGRI.
141
Tabela 10.8. Características industriais dos grãos de arroz das cultivares IRGA
* Amilose: Baixa ? 22%; Intermediaria 23 a 27% e Alta 28 a 33% ** Temperatura de gelatinização: Baixa 63 a 68ºC; Intermediária 69 a 73ºC e Alta 74 a 80ºC
14
2
Tabela 10.8 – Continuação.
* Amilose: Baixa ? 22%; Intermediaria 23 a 27% e Alta 28 a 33% ** Temperatura de gelatinização: Baixa 63 a 68ºC; Intermediária 69 a 73ºC e Alta 74 a 80ºC
14
3
Tabela 10.9. Características tecnológicas de grãos de cultivares de arroz irrigado (Oriza Sativa L.) da Embrapa Clima Temperado recomendados para cultivo no estado do Rio Grande do Sul.
* LF – Longo Fino, L - Longo, C – Curto; ** A – Alto, I A – Intermediário - Alto, I – Intermediário, I B – Intermediário - Baixo, B – Baixo. Embrapa Clima Temperado 2007.
14
4
Tabela 10.10. Características industriais dos grãos de arroz dos cultivares EPAGRI
* Amilose: Baixa ? 22%; Intermediaria 23 a 27% e Alta 28 a 33% ** Temperatura de gelatinização: Baixa 63 a 68ºC; Intermediária 69 a 73ºC e Alta 74 a 80ºC
14
5
Tabela 10.10 - Continuação.
* Amilose: Baixa ? 22%; Intermediaria 23 a 27% e Alta 28 a 33% ** Temperatura de gelatinização: Baixa 63 a 68ºC; Intermediária 69 a 73ºC e Alta 74 a 80ºC
14
6
10.8 - Produção e Beneficiamento de Sementes
A semente é um insumo extremamente importante, pois o potencial máximo de
produtividade agrícola é definido pela sua carga genética, de modo que todos os demais
recursos sejam explorados em função dela. Depreende-se, então, que a semente de alta
qualidade oportuniza um melhor “stand” de lavoura, possibilita melhorar o aproveitamento
de fertilizantes e corretivos, com redução dos problemas causados por invasoras e,
consequentemente, aumenta a produtividade, fator que pode determinar a
sustentabilidade da agricultura.
10.8.1 - Produção de Sementes
Na produção de sementes de alta qualidade, vários fatores devem ser
considerados, destacando-se a escolha da região, da área e o manejo diferenciado que a
semente requer. Na determinação da região, as condições climáticas são importantes,
pois afetam diretamente a qualidade e produtividade. Dentre os fatores climáticos a
serem considerados estão a luminosidade, a temperatura, a precipitação pluvial e a
umidade relativa do ar. Baixa luminosidade, variações bruscas de temperatura, excessiva
precipitação e elevada umidade do ar, são condições desfavoráveis à alta produtividade e
qualidade fisiológica da semente e altamente favoráveis à incidência de doenças.
A escolha da área é outro fator importante, devendo-se levar em consideração
o sistema de cultivo e o histórico da área. Para a maioria dos sistemas de cultivo é
essencial que a área tenha sido anteriormente descontaminada através de pousio,
rotação de culturas e práticas de destruição de plantas daninhas, principalmente de arroz
vermelho e preto, além do espontâneo. Além disso, é indispensável um bom manejo de
água e limpezas manuais para a retirada das plantas daninhas contaminantes.
10.8.2 - Beneficiamento de Sementes
Além dos equipamentos exigidos nas Normas específicas para Produção,
Comercialização e Utilização de Sementes (Instrução normativa N09, de 2 de junho de
2005), definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
recomenda-se a utilização de equipamentos densimétricos, do tipo mesa de gravidade.
De outra parte, semente de qualidade, com ausência de sementes de qualquer espécie
de invasoras, representa menor agressão ao meio ambiente, pela conseqüente redução
no uso de herbicidas. A presença de arroz vermelho em quase toda a área cultivada com
arroz irrigado, principalmente no Rio Grande do Sul, tem se constituído na causa que
mais contribui para redução da produtividade no Sul do Brasil e é indiscutível que o uso
de sementes contaminadas foi, e continua sendo, a razão maior da infestação das áreas
de arroz por essa planta daninha. Sendo assim, deve-se optar pela utilização de
147
sementes certificadas.
10.8.2.1- Sementes de Arroz
O Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA instituiu através da
Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003 o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e seu
regulamento, com o objetivo de garantir a identidade e a qualidade do material de
multiplicação e de reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o
território nacional.
As pessoas físicas e jurídicas que exerçam as atividades de produção,
beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio, importação e
exportação de sementes e mudas ficam obrigadas à inscrição no Registro Nacional de
Sementes e Mudas (RENASEM), conforme o art. 7 e 8 da Lei 10.711.
No art. 10 desta Lei, também foram instituídos Registro Nacional de Cultivares -
RNC e o Cadastro Nacional de Cultivares Registradas - CNCR. O CNCR é o cadastro das
cultivares registradas no RNC e de seus mantenedores.
A produção, o beneficiamento e a comercialização de sementes ficam
condicionados à prévia inscrição da respectiva cultivar no RNC. Esta inscrição deverá ser
única e a sua permanência no RNC fica condicionada à existência de pelo menos um
mantenedor.
Nesta mesma Lei, ficou definida e normatizada a Certificação de Sementes como
um processo de produção de sementes, executado mediante controle de qualidade em
todas as etapas do seu ciclo, incluindo o conhecimento da origem genética e o controle
de gerações.
A partir da Lei nº 10.711, e do Decreto nº 5153, de 24 de julho de 2004, que
regulamentou a mesma, o MAPA editou um conjunto de normativos que regulamentaram
todas as etapas da produção, beneficiamento e comercialização de sementes de arroz
irrigado no Brasil.
10.8.2.2- Legislação e Normas para Produção, Beneficiamento e
Comercialização de Sementes
A seguir estão relacionados os principais instrumentos legais e normativos que
definem e regulamentam o Sistema Nacional de Sementes e Mudas - SNSM e o processo
de Certificação de Sementes de Arroz Irrigado em todo território nacional. Estes
documentos podem ser obtidos na integra através link “legislação” do site do MAPA
www.agricultura.gov.br .
148
- Leis
- Lei nº 10.711, de 05/07/2003, Dispõe o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá
outras providências.
- Decretos
- Decreto nº 5.153 de 23.07.2004, Aprova o Regulamento da Lei nº 10.711, de
05.07.2003, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras
providências.
- Instruções Normativas do MAPA
- Instrução Normativa nº 36, de 28/12/2004, Aprova a tabela anexa que fixa os valores
dos serviços públicos de que trata a Lei nº 10.711 de 05.07.2003.
- Instrução Normativa nº 9, de 02.06.2005, Aprova as Normas Gerais para Produção,
Comercialização e Utilização de Sementes e seus respectivos anexos.
- Instrução Normativa nº 17, de 08.08.2005, Altera o item 7.6 da IN nº 09, de 02.06.2005
(reserva para uso próprio) Sementes e de Boletins de Análise de Sementes.
- Instrução Normativa nº 18, de 19.04.2005, Aprova os Modelos e as Instruções de
Preenchimento dos Boletins Oficiais de Análise de Sementes e de Boletins de Análise de
Sementes.
- Instrução Normativa nº 25, de 16.12.2005, Estabelece normas específicas e os padrões
de identidade e qualidade para produção e comercialização de Sementes.
- Instruções de Serviço do LASO/LANAGRO
- Instrução de Serviço nº 3, de 09.05.2006, Instruções para preenchimento da
“Informação de Resultados”.
- Instrução de Serviço nº 4, de 28.11.2006, Instruções para relato de pragas
quarentenárias
- Ofícios Circulares do LASO/LANAGRO
- Oficio Circular nº 4, de 09.05.2006, Modelos e Instruções para preenchimento dos
Boletins de Análises de Sementes
149
10.8.3- Classes e Categorias de Sementes
As sementes de arroz são identificadas por Classes que se diferenciam segundo
o processo de produção. Estas são Genética, Básica, Certificada (C) e Não Certificada
(S).
As Classes podem ser constituídas de Categorias. Estas são unidades de
classificação que consideram a origem genética, a qualidade e o número de
gerações.Como exemplo temos as Certificadas de primeira e segunda geração (C1 e C2)
e as Não Certificadas de primeira e segunda geração (S1 e S2).
- Semente Genética: material de reprodução obtido a partir de processo de
melhoramento de plantas, sob a responsabilidade e controle direto do seu obtentor ou
introdutor, mantidas as suas características de identidade e pureza genéticas;
- Semente Básica: material obtido da reprodução de semente genética, realizada de
forma a garantir sua identidade genética e sua pureza varietal;
- Semente Certificada de primeira geração - C1: material de reprodução vegetal
resultante da reprodução de semente básica ou de semente genética;
- Semente Certificada de segunda geração – C2: material de reprodução vegetal
resultante da reprodução de semente genética, de semente básica ou de semente
certificada de primeira geração;
- Semente não Certificada de primeira geração – S1: material de reprodução vegetal
resultante da reprodução de semente genética, básica ou certificada C1 ou C2.
- Semente não Certificada de segunda geração – S2: material de reprodução vegetal
resultante da reprodução de semente não certificada S1.
- Semente para uso próprio: Toda pessoa física ou jurídica que utilize sementes, com a
finalidade de semeadura, deverá adquiri-las de produtor ou comerciante inscrito no
RENASEM.
O usuário poderá, a cada safra, reservar parte da sua produção como
“semente para uso próprio”, que deverá observar o que segue e o Anexo XXXIII, da
Instrução Normativa nº 9 do MAPA:
I - ser utilizada apenas em sua propriedade ou em propriedade cuja posse
detenha e exclusivamente na safra seguinte;
150
II - estar em quantidade compatível com a área a ser semeada na safra
seguinte, observados os parâmetros da cultivar no RNC e a área destinada à semeadura,
para o cálculo da quantidade de sementes a ser reservada; e
III - ser proveniente de áreas inscritas no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, quando se tratar de cultivar protegida.
10.8.4- Padrões para Produção e Comercialização de Sementes de Arroz
Os padrões para produção e comercialização de sementes de arroz estão
definidos segundo o anexo II da Instrução Normativa nº 25, 16 de dezembro de 2005,
editada pelo MAPA.
Em função da promulgação da Lei Federal de Sementes (Lei n. 10711, de 05
de agosto de 2003 e do decreto n. 5153, de 23 de julho de 2004), as informacões
referentes ao Registro de Produtor, Norma de Produção e Certificação de Sementes de
Arroz Irrigado deverão ser obtidas junto às respectivas Delegacias Federais do MAPA,
conforme endereços abaixo:
a) No Estado de Santa Catarina
Os interessados em obter o Registro de Produtor de Sementes de Arroz devem
se dirigir à Delegacia Federal de Agricultura (DFA/SC), no seguinte endereço:
Rua Lacerda Coutinho, nº 6 – Caixa Postal 1502
CEP 88.015-000 – Florianópolis, SC
Fone: (48) 222-6969
b) No Estado do Rio Grande do Sul
O registro de produtor é obtido na Delegacia Federal da Agricultura (DFA/RS),
órgão que executa e também credencia para a inspeção, fiscalização e certificação da
produção das sementes fiscalizadas e certificadas, que se encontra no seguinte
endereço:
Av. Loureiro da Silva, 515, 7º andar, sala 701, 90010-420, Porto Alegre, RS.
Fone: (51) 3284-9588/3284-9586
Fax: (51) 3284-9615
151
11 - GERENCIAMENTO DA ATIVIDADE ORIZÍCOLA
11.1 - Introdução
A adequada gestão da atividade agrícola é tão importante quanto produzir de
acordo com as tecnologias recomendadas. A orizicultura, assim como qualquer outra
atividade econômica, deve ser viável também sob os pontos de vista social, econômico e
ambiental.
O planejamento, monitoramento e controle dos aspectos econômicos da
produção são fundamentais para que os resultados obtidos possam ser comparados com
setores semelhantes da economia. Além disso, o gerenciamento também permite que o
tomador de decisão analise possíveis estrangulamentos de sua atividade e faça as
correções necessárias.
Nestas primeiras recomendações tratar-se-á de aspectos gerais do custo de
produção, de mecanismos de comercialização e de gerenciamento de risco.
11.2 - Custo de Produção
A informação precisa sobre o custo de produção de uma atividade agrícola é
uma variável de fundamental importância para a tomada de decisão do empresário rural.
É também uma ferramenta de grande importância para a política agrícola, notadamente
na definição da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), visando cobrir os custos
variáveis da atividade.
As lavouras de arroz irrigado possuem muitas particularidades, por isso a
dificuldade de estabelecer uma metodologia que contemple todas as especificidades,
exigindo a análise customizada de cada lavoura.
O custo total de produção de uma lavoura de arroz corresponde ao valor dos
custos fixos acrescidos dos custos variáveis. Custos fixos são aqueles cujos valores
permanecem inalterados, independente dos volumes produzidos, ou seja, passam a
existir no momento em que se ingressa na atividade. É o caso da depreciação das
máquinas e equipamentos, mão-de-obra fixa, entre outros. Os custos variáveis são
aqueles cujos valores se alteram em função do volume de produção, tais como aquisição
e aplicação de insumos, manutenção de máquinas e implementos, etc.
Uma das primeiras medidas a adotar é elaborar um plano de acompanhamento de
despesas, de modo a obter, ao final de um ano agrícola, os custos de desembolsos da
atividade. Quanto ao ano agrícola, deve-se arbitrar uma data para seu início e
encerramento que, via de regra, não precisa coincidir com o ano civil brasileiro (janeiro a
dezembro), período este utilizado na apuração fiscal da maioria das atividades
econômicas. De uma maneira geral, as lavouras anuais de verão têm o início de suas
atividades no 2º semestre, encerrando com a colheita no final do 1º semestre do ano
152
seguinte. Contudo, as vendas podem ter continuidade até o 2º semestre.
Sugere-se, como período do ano agrícola, o que inicia no dia 01 de agosto e encerra no
dia 31 de julho do próximo ano. Para o produto não comercializado no ano agrícola,
sugere-se que figure como estoque final e seja valorado ao preço médio do mês de julho
(ou mesmo o preço vigente no dia 31 de julho).
O produtor deverá determinar o custo de produção de todo seu
empreendimento agropecuário e ter centros de custos de cada atividade, para possibilitar
a análise do retorno de cada uma delas, bem como possuir um inventário de todos os
investimentos realizados (máquinas, implementos, veículos, etc.).
Para tanto, deve-se manter um registro das despesas (custeio e distribuição do
trabalho entre as diferentes atividades; trabalho, não só dos assalariados como dos
membros da família). Também dos animais de trabalho (se houverem), máquinas e
equipamentos e das benfeitorias utilizadas.
Além disso, deve especificar as despesas de cada atividade (arroz, soja, milho,
etc.), tais como: adubo, herbicidas, inseticidas, entre outros. Também, as despesas
gerais: administrativas (telefone, impostos, pessoal do escritório), sendo estas passíveis
de rateio entre as distintas atividades, a partir de um critério definido (receita bruta de
cada atividade, área ocupada, entre outros).
Para computar o custo total da atividade agrícola, deve-se ter em conta os
ativos fixos da empresa representada pelo seu capital patrimonial: máquinas,
equipamentos, terra de exploração, benfeitorias (armazéns, silos, secadores, residências,
entre outros).
Os ativos geram como custo, juros sobre o capital fundiário e o capital de
exploração e depreciação. O custo de produção calculado pelo IRGA para a cultura do
arroz irrigado no Rio Grande do Sul (custo médio ponderado) é um exemplo, podendo ser
usado como um comparativo ou mesmo indicativo.
O custo de produção total dividido pela produção obtida fornece o valor unitário
do custo de produção (custo por saco: total, fixo e variável) que, comparado ao preço de
mercado do arroz, fornece um critério para avaliar o resultado da atividade.
Para a análise da atividade agrícola deve-se considerar as peculiaridades
próprias do setor:
- A terra como fator de produção, ao contrário dos setores industrial e comercial,
que serve para as construções e localização da atividade, na agricultura é também o
meio em que se desenvolve um processo biológico de crescimento e daí a sua
importância para a produção.
- O clima e as estações do ano, associados às condições de relevo e solo são
determinantes para a escolha do produto/atividade, bem como da época de execução
das operações agrícolas.
153
- Na agricultura, de uma maneira geral, a produção ocorre de forma associada. Na
orizicultura gaúcha é comum o uso da resteva de arroz como fonte de alimento para
pastoreio, numa rotação arroz/pecuária. Entretanto, nas lavouras arrendadas, o
produtor tem data definida para utilização da área, não usufruindo da produção
associada, pois esta, normalmente, é do proprietário da terra.
- Em geral, a produção agrícola é pulverizada, sendo proveniente de um grande
número de pequenas unidades produtivas, em sua maioria constituída de áreas
próprias. Assim, no Brasil, em 1995, 69,8% dos produtores eram proprietários da terra,
ocupando 63,9% da área explorada (Tabela 11.1). Esta tendência se mantém no
Estado de Santa Catarina, com 25% da área cultivada em terra arrendada. No caso do
Rio Grande do Sul, predominam as lavouras de arroz em terra arrendada, com 58,3%
da área (Censo IRGA 1999/00).
Tabela 11.1 - Proporção do número e área dos estabelecimentos,
explorados pelo proprietário, por arrendatário, por ocupante e por
administrador – Brasil – 1970 e 1995/96
Condição do responsável Proporção do número
em 31.12 (%) Proporção da área em
31.12 (%)
1970 1995 1970 1975
Proprietário 59,6 69,8 60,6 63,9
Arrendatário 20,2 11,0 5,5 2,6
Ocupante 16,1 14,4 6,4 2,6
Administrador 4,1 4,8 27,5 30,9
Fonte: Censo Agropecuário 1995-1996, n°1 - (IBGE, 1998).
Com base no Custo Médio Ponderado calculado pelo IRGA, a preços de maio
de 2005 (Tabela 11.2), observa-se que, mantendo constante o preço de mercado de
arroz, à medida que há incremento de produtividade, o custo por hectare tanto variável,
quanto total aumenta; entretanto, o custo por saco (total, fixo e variável) diminui. Para
Santa Catarina este fenômeno também se repete, com preços e custos muito
semelhantes aos do Rio Grande do Sul.
154
Tabela 11.2 - Custo de produção do arroz irrigado no Rio Grande do Sul,
aos preços de maio de 2005, para os níveis de produtividade: preço saco
arroz R$19,25
Produtividade Custo por hectare (R$) Custo por saco (R$)
(sacos/ha) Custo Custo Custo Custo Custo Custo
Total Fixo Variável Total Fixo Variável
100 3.233,12 1.024,87 2.208,25 32,33 10,25 22,08
105 3.261,59 1.024,87 2.236,72 31,06 9,76 21,30
110 3.290,81 1.024,87 2.265,94 29,92 9,32 20,60
115 3.320,00 1.024,87 2.295,13 28,87 8,91 19,96
120 3.349,22 1.024,87 2.324,35 27,91 8,54 19,37
125 3.377,69 1.024,87 2.352,82 27,02 8,20 18,82
130 3.406,91 1.024,87 2.382,04 26,21 7,88 18,32
135 3.435,36 1.024,87 2.410,49 25,45 7,59 17,86
140 3.464,60 1.024,87 2.439,73 24,75 7,32 17,43
Fonte: IRGA
A Tabela 11.3 ilustra a variação do custo por hectare e por saco em função da
variação do preço médio do arroz. Como alguns itens que compõem o custo de produção
são indexados ao preço do produto da lavoura (por exemplo: arrendamento, aguador e
administração), a valorização do cereal no mercado reflete um aumento do custo e vice-
versa.
Tabela 11.3 - Custo de Produção no Rio Grande do Sul, a preços de maio
de 2005, mantido a produtividade média (120 sacos/ha), com variação de
preços do arroz.
Custo por hectare (R$) Custo por saco (R$)
Custo Custo Custo Custo Custo Custo Preço médio (R$/saco) Total Fixo Variável Total Fixo Variável
15,00 3.248,82 1.024,87 2.223,95 27,07 8,54 18,53
20,00 3.366,85 1.024,87 2.341,98 28,06 8,54 19,52
25,00 3.484,89 1.024,87 2.460,02 29,04 8,54 20,50
30,00 3.602,92 1.024,87 2.578,05 30,02 8,54 21,48
35,00 3.720,97 1.024,87 2.696,10 31,01 8,54 22,47
40,00 3.839,01 1.024,87 2.814,14 31,99 8,54 23,45
Fonte: IRGA
155
Em suma, gerenciar os custos de produção, racionalizando-os, pode ser
determinante para a sustentabilidade da atividade orizícola, além de tornar o produto
competitivo frente aos competidores internos e externos.
11.3 - Preço do arroz – acompanhamento de mercado
Enquanto o custo de produção é uma ferramenta gerencial e, portanto, sob
controle do produtor, a comercialização sofre influência de diversas variáveis exógenas,
que independem da vontade do mesmo. Cita-se como exemplo a oferta do arroz,
influenciada, por sua vez, pelas condições climáticas, produção do Mercosul e demais
países exportadores, consumo doméstico e estoques.
A fim de identificar possíveis tendências de preço para as próximas safras foi
realizada uma análise da série histórica dos preços do arroz em SC, os quais
apresentaram um comportamento muito semelhante no RS.
A análise da série temporal 1975/2011 do preço do arroz (Fig. 11.1) baseia-se
em algumas das principais técnicas de análise gráfica empregadas no mercado de
commodities e também no mercado de ações com negociação em bolsas. Nelas procura-
se associar a trajetória do preço a alguma figura geométrica. Os contornos destas figuras
constituem-se em pontos de suportes e de resistências, que funcionam como barreiras
psicológicas para o preço, que também são encontrados no interior das figuras. A partir
do momento que o preço consegue ultrapassar estes contornos, a figura toma outra
forma e, então, inicia-se a busca pela identificação da próxima figura geométrica que
melhor possa descrever a trajetória do preço no novo momento. No suporte a tendência
de baixa se inverte, formando um fundo, e na resistência é a tendência de alta que se
inverte, formando um pico.
A figura geométrica que melhor descreve a tendência geral do preço do arroz, que
vigorou por todo o período, iniciado há 32 anos, assume a forma de um canal de baixa
(Fig. 11.1). O fato de uma única figura perdurar por tanto tempo é uma demonstração da
grande regularidade do mercado, o que abre espaço para que sejam feitas projeções e
com um bom grau de confiabilidade. Quanto aos fundos, constata-se que eles ocorreram
nos seguintes suportes: i) último fundo e ii) linha inferior do canal. E os picos, por outro
lado, ocorreram nas seguintes resistências: i) recuperação de 2/3 daquilo que havia caído
na última tendência de baixa; ii) recuperação de 1/2 daquilo que havia caído na última
tendência de baixa; iii) último pico e iv) linha superior do canal. Na verdade, a linha
superior e a linha inferior do canal de baixa nada mais são do que o primeiro pico (em
1975) e o primeiro fundo (em 1977), respectivamente, corrigidos por uma queda de 4% ao
ano (Figura 11.1). É importante destacar que os pontos onde ocorrerem estes fundos e
e estes picos são idênticos aos observados com mais freqüência nas negociações em
bolsas de valores ou de mercadorias (commodities), o que torna as projeções mais
confiáveis. Observa-se que no ciclo 4 o preço ultrapassou bastante o
156
último fundo. Porém, deve-se considerar que, como é do conhecimento geral,
este foi um ciclo de muita turbulência política e econômica (entre 1986 e 1991), inclusive
com o lançamento de vários planos econômicos, começando pelo Plano Cruzado, e com
uma inflação muito elevada que desorganizaram toda a economia.
Além da identificação de picos e fundos, constata-se a formação de ciclos de
preços, entendidos como a trajetória do preço entre um pico e o pico seguinte. No período
1975/2004 é possível identificar a presença de oito ciclos de preço bem definidos, sendo
três com duração de três anos (ciclos 2, 3 e 5 da Figura 11.1) e cinco com duração de
cinco anos (ciclos 1, 4, 6, 7 e 8, sendo que o ciclo 8 ainda está em andamento). A
definição de ciclos facilita em muito a projeção dos picos e fundos porque fica fácil saber,
ao surgir a primeira resistência (ou o primeiro suporte), se o preço já atingiu o pico (ou
fundo), ou se ele continuará subindo (ou descendo) para testar a próxima resistência (nas
tendências de alta), ou o próximo suporte (nas tendências de baixa).
Com base nestas técnicas de análise gráfica será possível projetar qual deverá
ser o próximo pico ou o próximo fundo, ou até ambos, em alguns casos, lembrando que
tanto a linha superior como a inferior do canal (Figura 11.1) refletem uma queda de 4% ao
ano no preço do arroz. Portanto, para saber por onde passam estas linhas no futuro e o
seu valor correspondente basta descontar este percentual a partir de um valor conhecido
em cima delas. A projeção quanto à duração do ciclo seguinte pode ser feita através de
uma simples observação do percentual de recuperação do preço ocorrido entre a primeira
e a segunda safra após o pico, sem contar aquela em que ocorreu o pico (entre 2005 e
2006, para o caso do ciclo atual). Se este percentual for inferior a 50% da perda ocorrida
desde o último pico (janeiro de 2004), então o ciclo será de cinco anos, senão ele será de
três anos. Nos Anais do V Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (seção de sócio-
economia) poderão ser encontradas informações adicionais a respeito das projeções do
preço do arroz para o final do ciclo atual e início do próximo.
As projeções somente se confirmarão, se no futuro se repetir o mesmo tipo de
oscilação ocorrida nos últimos 32 anos. Para tanto, o preço deve continuar dentro do
canal de baixa e o final das tendências, onde se formam os picos e fundos de preço,
respeite os mesmos suportes e as mesmas resistências observadas ao longo da série
temporal analisada (Figura 11.1). O grau de convicção sobre a probabilidade de que isto
de fato irá ocorrer no futuro é algo inerente a cada indivíduo e, portanto, cabe a cada
tomador de decisão estabelecê-la. Mas há dois fatores que, certamente, devem contribuir
para elevar este grau de convicção. Um deles é a alta regularidade observada ao longo
de um período bastante prolongado (mais de 30 anos) quanto ao comportamento do
preço. O outro é que este comportamento é muito semelhante ao observado nas
negociações em bolsas de valores ou de mercadorias (commodities) revelando que ele é
uma prática comum de todo o mercado e não apenas do mercado do arroz.
157
Cabe, portanto, ao produtor gerir de forma eficiente as variáveis que estão ao
seu alcance, observando sempre as tendências de mercados; para assim, elevar a
competitividade de seu produto.
11.4 - Riscos inerentes à atividade
A atividade agrícola é uma das mais sujeitas aos riscos climáticos, porém, no
caso do arroz, por ser irrigado, este risco é reduzido. Todavia, o produtor deve adequar
sua área plantada à disponibilidade hídrica, pois ao contrario, estará assumindo um risco
deveras elevado. Se por um lado, a irrigação reduz o risco da atividade, por outro, eleva o
custo de produção, tendo em vista, que o sistema requer a construção de sistemas de
condução de água (canais) e drenos, barragens para acúmulo de água e/ou sistemas de
bombeamento para recalcar a água dos mananciais. O custo de produção do IRGA indica
que 18,9% do total deve-se a fatores relacionados à irrigação.
Além do risco climático, o produtor está sujeito aos riscos de mercado, ou seja,
de fatores que ele não pode controlar, tais como: o preço do arroz no mercado interno, o
custo dos fatores de produção e a influência do mercado internacional.
Também enfrenta o risco do custo financeiro, considerando que parte da lavoura é
formada com recursos próprios e, por vezes, financiada com o prazo safra pelos próprios
fornecedores de insumos, que embutem a taxa de risco. Assim, o produtor, forma sua
lavoura com determinados custos e expectativa de preço na safra, que nem
Figura 11.1 – Evolução do preço do arroz (sc 50kg) no período de 1975 a 2007. Valores em Reais indexados pelo IGP_di. Base: Abril/2007. Fonte: FGV/Epagri/Cepa Obs.: Os valores foram transformados para uma escala logarítmica e multiplicado por uma constante (50).
158
sempre se concretizam.
O produtor também enfrenta o risco da taxa cambial. Esta situação ficou nítida
nos primeiros anos do Plano Real, quando a produção agrícola foi âncora verde. Na
condição de câmbio valorizado, pode favorecer as exportações e com o câmbio
desvalorizado, as importações são favorecidas.
11.5 - Mecanismos de comercialização
A comercialização da produção é a concretização dos resultados da atividade
orizícola e, por isso, deve ser bem planejada e executada em função das necessidades
do produtor e oportunidades de mercado.
O Governo exerce intervenção no mercado de arroz através de alguns
mecanismos de comercialização que precisam ser bem compreendidos, apesar de nem
sempre todos estarem disponíveis aos agentes do mercado. A seguir serão descritos
alguns dos mecanismos existentes.
Aquisições do Governo Federal - AGF
Este mecanismo tem por finalidade garantir a aquisição de produtos pelo
Governo Federal pelo preço mínimo para a formação dos estoques públicos. Assim, nos
momentos em que os preços praticados no mercado estiverem abaixo do preço mínimo,
este mecanismo é positivo aos produtores.
Empréstimos do Governo Federal - EGF
Tem por finalidade incentivar a estocagem da produção, permitindo que o
produtor cumpra com os seus compromissos sem precisar vender a produção em
momentos desfavoráveis.
Cédula do Produto Rural – CPR
A Cédula do Produto Rural é um título de crédito, endossável, que permite a
tomada de recursos em qualquer momento do ano, com a promessa de entrega futura do
produto. Existem duas modalidades de CPR: a física e a financeira. Na primeira, o
produto é posto como garantia e na segunda a liquidação é feita em dinheiro.
Contratos de Opção
Tem por objetivo proteger o produtor/cooperativa contra riscos de queda dos
preços de seu produto e também pode objetivar a proteção de compradores contra
elevações no preço. Pode, dessa forma, ser visto como uma espécie de seguro de preço.
Existem dois tipos de opção: a opção de compra e a opção de venda.
O contrato de opção de compra permite ao titular o direito de comprar do lançador a
mercadoria, na data de vencimento, pelo preço de exercício. Já o contrato de opção de
venda, permite a venda do produto, na data combinada, pelo preço de
159
exercício. Tanto para a opção de venda, quanto na opção de compra, é
necessário o pagamento de um prêmio e cabe ao titular exercer, ou não, a opção.
11.6 - Produção social e ambientalmente corretas
O produtor cada vez mais é pressionado para que o seu sistema produtivo
tenha o menor impacto ambiental e que resulte em benefícios sociais à comunidade,
gerando emprego e renda. É fundamental que o produtor incorpore a visão do uso correto
dos recursos ambientais para que gerações futuras também possam usufruir um
ecossistema equilibrado.
Hoje, é exigido que o produtor tenha sua atividade devidamente registrada no
órgão ambiental (FEPAM, no RS), requerendo atualizações periódicas deste registro. A
realização de obras de infraestrutura deve estar legalmente registrada para que o
produtor obtenha a licença de operação de sua atividade.
A orizicultura, nos sistemas produtivos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
é uma atividade com grande demanda de água, pois utiliza a irrigação por inundação. A
atividade deve ser considerada usuária e não consumidora de água, pois esta, ao final do
processo produtivo retorna ao ecossistema.
Bibliografia:
AGOSTINI, I. Os ciclos de preço do arroz em Santa Catarina. 2007. Disponível em:
<http://www.epagri.sc.gov.br/arroz irrigado.
CONAB, Instrumentos de Política Agrícola, www.conab.gov.br, acesso em 07/08/05;
CURSO análise gráfica. Disponível em: http://www.lopesfilho.com.br. Acesso em 13
jun.2007.
CURSO de futuro e opções. São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuros, 1998. Cap.8,
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FGV- Fundação Getúlio Vargas: Índice Geral de Preços-disponibilidade (IGP/DI);
HOFFMANN, Rodolfo et al. Administração da Empresa Agrícola. 2ª edição rev. São
Paulo. Pioneira, 1978;
IBGE. Censo Agropecuário 1995-1996, nº1. 1998;
IRGA - Instituto Rio Grandense do Arroz: série de preços e custo de produção.
SÁ, G.T. de. Investimentos no Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: Livro Técnico,
cap. 6, p.92-148. 1979.
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12 – INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) Centro de Pesquisa de Clima Temperado Caixa Postal 403 – CEP 96001-970 – Pelotas, RS EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA (EPAGRI) Estação Experimental de Itajaí (EEI) Caixa Postal 227 – CEP 88304-970 – Itajaí, SC INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA) Estação Experimental do Arroz (EEA) Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494 – CEP 94930-030 – Cachoeirinha, RS UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPel) Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM) Caixa Postal 354 – CEP 96001-970 – Pelotas, RS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM) Centro de Ciências Rurais (CCR) Campus Universitário, s/n – CEP 97105-900 – Santa Maria, RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) Faculdade de Agronomia Caixa Postal 776 – CEP 90001-970 – Porto Alegre, RS EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão Caixa Postal 179 – CEP 75357-000 – Goiânia – GO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL – ANDEF Rua Capitão Antônio Rosa, 376 – 13º a. CEP 01443 – 010 – São Paulo – SP
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