Recuero (2012)

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    A CONVERSAÇÃO 

    EM REDEcomunicação mediada  pelo

    computador e redes sociais na Internet

    Raquel Recuero

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    R311c Recuero, Raquel.A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e

    redes sociais na Internet / Raquel Recuero – Porto Alegre: Sulina,2012.

      238 p. (Coleção Cibercultura)

      ISBN: 978-85-205-0650-9 

    1. Comunicação Digital. 2. Internet. 3. Cibercultura. 4. Redes Sociais.  5. Conversação. I. Título  CDD: 302.2  303.483

    CDU: 316.77

    © Raquel Recuero, 2012.

    Capa:Eduardo Miotto

    Editoração:Vânia Möller

    Revisão:Gabriela Koza

    Rvs grác:Miriam Gress

    Editor:Luis Gomes

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIPBibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza – CRB 10/960

     

    Todos os direitos desta edição reservados àEditora Meridional Ltda. Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 – Bom FimCep: 90035-190 Porto Alegre-RSTel: (0xx51) 3311-4082Fax:(0xx51) 3264-4194www.editorasulina.com.bre-mail: [email protected]

    {Maio/2012}

    IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL

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    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO .......................................................................................

    INTRODUÇÃO .............................................................................................

    1 ComuniCação mediada pelo ComputadoR e ConVERSAÇÃO ...............................................................................................1.1 A conversação como apropriação no ciberespaço .......1.2 Características da conversação mediada pelo com-putador .....................................................................................................

    1.2.1 O ambiente da conversação ..........................................

    1.2.2 Escrita “oralizada” ..............................................................1.2.3 Unidade temporal elástica: os tipos de conversa-ção mediada .....................................................................................1.2.4 Públicas e privadas: os tipos de conversaçãomediada .............................................................................................1.2.5 A representação da presença .......................................1.2.6 Migração e multimodalidade ........................................

    2 A ORGANIZAÇÃO DA CONVERSAÇÃO MEDIADA PELOCOMPUTADOR ......................................................................................2.1 Turnos e pares ...............................................................................2.2 Rituais da conversação mediada pelo computador ......2.3 A noção de polidez .......................................................................

    3 O CONTEXTO NA CONVERSAÇÃO MEDIADA PELO COMPUTADOR ................................................................................................3.1 Microcontexto e macrocontexto .............................................

    3.2 A construção dos contextos .......................................................3.3 A recuperação do contexto .........................................................3.4 A negociação do contexto ............................................................

    9

    15

    2127

    3740

    45

    49

    565860

    65667486

    95100

    104113117

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    4 A CONVERSAÇÃO EM REDE ...............................................................4.1 Problematizando a conversação em rede ..........................

    4.1.1 Redes sociais na Internet e sites de rede social ...

    4.1.2 O capital social e as redes sociais na Internet .......4.2 Os processos da conversação em rede ................................4.2.1 prs c cvrsõs ..............................................4.2.2 as cxõs cvrs ........................................

    4.3 O problema do contexto ............................................................4.3.1 o úbc rv s cvrsõs ...4.3.2 A visibilidade na conversação .......................................4.3.3 Multimodalidade, migração e multiconversação

    4.3.4 Capital social e a polidez nas redes sociais .............5 ESTUDANDO A CONVERSAÇÃO EM REDE .................................

    5.1 Mapas de conversação em rede .............................................5.1.1 A análise de redes sociais e a conversação ...........5.1.2 Caso 1: #GTCiber .................................................................5.1.3 Caso 2: #BeloMonte ..........................................................5.1.4 Cvrsõs r ccs: cssAmy Winehouse e Oslo ...............................................................

    5.2 Efeitos e impactos da conversação em rede ......................

    CONSIDERAÇÕES FINAIS: O FENÔMENO DA CONVERSAÇÃO EM REDE ............................................................................................

    ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS ......................................................

    REFERÊNCIAS ............................................................................................

    121123127

    134138139143146146152155

    160171173174177187

    195201

    215

    221

    223

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    APRESENTAÇÃO

    A conversa é uma prática de linguagem genui-namente cotidiana, pois, todos os dias, conversamos unscom os outros, respondendo, contestando, concordando,opinando. A conversação, portanto, realiza-se de muitas formas e maneiras, graças a sua relação com o contextoimediato. Nesse sentido, como já assinalaram Sacks,Schegloff e Jefferson (1974), a conversação é o gêneromais básico da interação humana e, por isso, foiconsiderado por esses autores como a  pedra sociológica

     fundamental  da interação entre os homens. Nessa mesma

    direção, nos anos 20 do século passado, Bakhtin ([1953]2000) já analisava a conversa como sendo um dos gênerosprimários mais ligados às esferas do discurso cotidiano.A conversa, segundo este pensador russo, não apenas estáassociada às necessidades cotidianas das pessoas comotambém é um gênero fundamental para a constituição deoutros que Bakhtin denominava de secundários, como oromance, por exemplo.

     

    Se a conversação é o gênero mais básico e maisprimário da interação humana, é importante olharmos

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    para ela como um gênero basilar o qual é afetado porseu contexto imediato e pelas tecnologias que sustentam,rgsr z s rbrõs s qsss ss gêr. a, “ cg rjestratégias de textualização, gera um novo gênero esubverte, até certo ponto, cânones bem estabelecidos noprocesso de construção social” (Marcuschi, 2000, p. 10).

    É exatamente nessa direção que Raquel Recuerotraz à lume o seu novo livro:  A conversação em rede:

    comunicação mediada pelo computador e redes sociais naInternet . Neste trabalho, Recuero mostra com acuidadeacadêmica que as ferramentas computacionais há muitodeixaram de ser apenas isso: ferramentas. Elas evoluírampara serem “espaços conversacionais” importantes, jáque os usos que fazemos delas reelaboram a conversa es ss r rs fõs. e f ss, rde uma problematização do conceito de ComunicaçãoMediada pelo Computador (CMC), Recuero ofereceum exercício de sistematização dos usos sociais docomputador e de outros artefatos digitais que permitema prática do gênero mais antigo da humanidade:a conversação.

    Nessa empreitada, teorias da Pragmática Lin-guística, como a Sociolinguística Interacional e a Análiseda Conversa, são convocadas pela autora para explicaro conceito de conversação, o qual é delineado como“um processo organizado, negociado pelos atores, quesegue determinados rituais culturais e que faz partedos processos de interação social”. Nesse sentido, porter base epistemológica no interacionismo simbólico,Rcr rõ q cvrs vr sj como um caso de apropriação, isto é, “as ferramentas da

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    CMC são apropriadas com caráter conversacional pelosusuários”. Logo, o conceito de apropriação é muito bemconstruído no primeiro capítulo do livro.

    Por meio dessa discussão, o leitor compreende-rá, por exemplo, que algumas idiossincrasias da conver-sação na web resultam muito menos da determinação dasferramentas computacionais e muito mais dos usos queas pessoas fazem delas. E quais seriam as característicasdessa apropriação? Qual o papel do ambiente no proces-

    so de apropriação? Como explicar o fenômeno da orali-z scr q rg s cvrsõs gs?Quais os tipos de conversa que emergem da apropriação?Como as presenças dos interagentes são representadaspelos que praticam a conversação na web? E como a mul-timodalidade e a migração afetam as conversas digitais?esss qsõs s b scs rr cí, q frc sós rxõs crc s crcríscsda Comunicação Mediada pelo Computador.

    Após essa caracterização, somos conduzidospela autora, no segundo capítulo, por meio da seguinteproposição: se a conversação é um evento organizadocom uma sintaxe que lhe é própria, então podemos nos

    perguntar se essa organização se manifesta de outro modoquando lidamos com a conversa em rede. Nesse sentido,Recuero discute ainda sobre a organização da conversa bs gs , r ss, r s õs r rs, gr rs cvrs r conclui o capítulo do livro discutindo a noção de polidezlinguística, pois, segundo Kerbrat-Orecchioni (2006, p.77), a polidez evidencia “os aspectos do discurso quesão regidos por regras cuja função é preservar o caráterharmonioso da relação interpessoal”.

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    Dando prosseguimento e contorno à discussãosobre a organização da conversa nos ambientes digitais,a autora nos fala acerca da relevância do contexto paraa conversação mediada pelo computador. A noção decontexto, entretanto, não é simples e, por isso, Recueroa problematiza no terceiro capítulo, oferecendo ao leitor q scssõs q r mcrcx Macrocontexto. A discussão sobre o contexto é relevanteporque, conforme salienta Recuero, ele não é algo

    dado e/ou estanque. Pelo contrário, por ser essencial àorganização da conversação, os contextos não apenas s rs r c bé cvc provocam os interagentes a se engajarem em um exercíciomútuo e constante de (re)construção, recuperação e ne-gociação dos contextos de suas conversas.

    No quarto capítulo,  A conversação em rede,encontramos uma importante contribuição para quemse interessa pelo estudo das redes sociais, já que Recueroajusta sua lupa para examinar as características espe-cícs s cvrsõs s rs scs Internet.Cuidadosamente, a metáfora da rede  é apresentada ediscutida neste capítulo para, na sequência, dar realce à

    importante noção de capital social para a conversação emr. t ss rx é f à z s írcs,que sustentam a discussão teórica proposta pela autora,o que a torna mais vigorosa do ponto de vista acadêmico.

    Próximo à conclusão do livro, Recuero apresentao capítulo  Estudando a Conversação em Rede  o qualmostra a Análise de Redes Sociais como sendo umarelevante alternativa teórico-metodológica para o estudoda conversa em rede sociais. Com base nessa perspectiva,s áss fs r Rcr õ c vrss

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    mapas de conversação em rede, os quais evidenciamalguns efeitos e impactos da conversação, salientandoseus aspectos estruturais e semânticos. Nesse sentido,a alternativa teórico-metodológica se mostra produtivadevido ao fato de que o objeto de estudo – conversa emrede – é complexo, portanto estudá-lo sob apenas um viésseria depauperar a análise.

    Com base nessa sumária apresentação, é pos-sív rr q s vr ér cêc

    apenas por ser muito bem escrito, mas também porreunir elementos que certamente despertarão o interesseamplo de pesquisadores da área de Linguística Aplicada, Cc Sc rs ár s. iss sjsc q frc crbõs órcs,metodológicas e empíricas para que se entenda melhora conversa em rede à luz da Pragmática Linguística e daaás Rs Scs. Grs s ss s órcsque o tecem, o livro mostra com lucidez que a conversaçãoem rede não é somente aquela conversa tão antiga quantoa linguagem, mas, no contexto das ferramentas digitais,ela é uma “conversação emergente” que, em função dosusos das ferramentas computacionais, passa por vários

    rcsss rbrõs. C b cc Rcr,“o ponto fundamental é aquele onde essa conversaçãoreconstrói práticas do dia a dia, mas que, no impacto , c-s rz vs ss r compreensão de seus impactos nos atores sociais”.

    Prof. Dr. Júlio AraújoDocente do Programa de Pós-Graduação emLinguística da Universidade Federal do Ceará.Fortaleza – CE, janeiro de 2012.

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    REFERÊNCIAS

    BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: MartinsFontes, 2000.

    KERBRAT-ORECCHIONI, C.  Análise da conversação: prin-cípios e métodos. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

    MARCUSCHI, L. A. Gêneros Textuais Emergentes no Contextoda Tecnologia Digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. S.Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do

    sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.SACKS, H.; SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. A SimplestSystematics for the Organization of Turn Taking forConversation. Language, 50 (4), p. 696-735, 1974.

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    INTRODUC O

    Recentemente, o Facebook

    1

    atingiu a marca de

    800 milhoes de usmirios em todo o mundo, tornando

    se uma das maiores ferramentas de comunicac;:ao na

    Internet em numero de usuarios.

    2

    0 Orkut

    3

    , no final de

    2009 tinha mais de 30 milhoes de usuarios apenas

    no Brasil, de acordo com dados do lbopejNielsen.

    4

    Twitter

    5

    , ainda outra ferramenta bastante popular, tern

    cerca de 200 milhoes de usuarios estimados

    em

    marc;:o

    de

    2011.

    6

    Essas ferramentas pertencem a categoria

    cada vez mais popular dos sites de rede social ,

    ou

    1

    http:/

    www.facebook.com

    2

    Dados de http :/ jwww.facebook.com/

    pr

    essj

    info.php

    ?s

    tatisti

    cs

    Acesso

    em dezembro de 2011.

    3

    http:/

    www orkut.com

    4

    Dados de novembro

    de

    2009.

    5

    http:/ ;www.twitter.com

    6

    ht

    tp :/

    jwww

    .bbc.eo.uk

    /newsjbus

    iness-12889048. Acesso em de

    zembro de 201 1.

    15

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    seja, ferr ment s que proporcion m a publicayao e

    a construyao de

    redes

    sociais. s redes sociais

    s o

    s

    estrutur s

    dos

    grup mentos humanos, constitufdas

    pelas interay5es,

    que

    constroem os

    grupos

    sociais. Nessas

    ferramentas, essas redes sao modificadas, tr

    nsform d s

    pela mediayao d s tecnologias

    e,

    principalmente, pela

    apropriayao delas

    p r

    a comunicayao.

    Com a

    popu

    larizayao dess s ferramentas, as

    praticas

    de

    uso

    de

    computadores, notebooks, celulares

    etc.

    p r troc r

    ideias e conectar-se a outr s

    pesso s

    p ss r m

    a fazer

    p rte

    do dia a dia

    de

    milhares

    de

    pesso s

    em

    todo o mundo,

    incorpor d s

    no cotidiano de

    su s

    praticas

    de comun

    icayao.

    Com

    isso, essas tecnologias

    p ss m

    a proporcion r espayos conversacionais, ou

    seja, espayos onde a interayao

    7

    com

    outros

    indivfduos

    dquire

    contornos semelh ntes queles

    d

    conversayao,

    busc ndo est belecer ejou m nter

    layos sociais

    8

    .

    Passam

    a

    represent r

    urn espayo

    de

    lazer

    9

    , Juga

    res

    virtuais onde as

    7

    Os

    te

    rmos

    int

    era

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    praticas

    sociais comec;am a acontecer, seja

    por

    limitac;oes

    do espac;o fisico, seja por limitac;i5es

    da

    vida

    moderna se

    ja

    apenas

    pela

    comodidade da

    interac;ao

    sem

    face. Tratam-

    se de novas formas de ser social

    que possuem

    impactos

    variados

    na

    sociedade contemporanea

    a partir

    das

    praticas

    estabe

    lecidas no ciberespac;o. Essas praticas sao

    tambern dependentes clas limi

    tac;i e

    s tecnicas dos espac;os

    construidos

    para

    a interac;ao

    que

    vao reconstruir, atraves

    da

    apropriac;ao,

    sentidos

    e convenc;oes para a conversac;ao

    on

    line.

    Ao

    mesmo

    tempo,

    essas

    conversac;oes tern novas

    formatos e sao

    constantemente

    adaptadas e negociadas

    para acontecer

    dentro

    das

    limitac;i5es, possibilidades e

    caracterfsticas

    das

    ferramentas.

    Este livro e focado nas conversac;i5es

    que

    eme

    rgem e

    es

    tabelecem os

    rastros

    dos usuarios nes-

    ses

    espac;os.

    Ma

    is do

    que mera

    s interac;oes,

    essas

    milhares de trocas entre

    pessoa

    s que

    se

    conhecem,

    que

    nao

    se

    conhecem ou

    que

    se

    conhecedio

    representam

    conversac;oes que permeiam estabelecem e

    constroem

    as

    redes sociais na

    Int

    ernet. As caracteristicas dos sites

    de

    rede soc ial, nesse contexto,

    acabam

    gerando uma nova

    forma conversacional, mais publica, mais coletiva, que

    chamaremos de

    conversac;ao em r

    ede

    . As conversac;oes

    que acontecem

    no Twitter,

    no

    Orkut, no Facebook e em

    outras ferramenta

    s com caracteristicas semelhantes sao

    muito mais publicas, mais permanentes e rastreaveis

    do que outras. Essas caracteristicas e sua apropriac;:ao

    sao capazes

    de de

    line

    ar redes,

    tra

    zer informac;oes sabre

    sentimentos

    coletivos, tendencias, interesses e intenc;oes

    de

    grandes grupos de pessoas. _?ao essas conversas

    publicas e coletivas

    que

    hoje influenciam a cultura,

    constroem fenomenos e espalham informac;:oes e memes,

    17

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    debatem e organizam protestos, criticam e acompanham

    ~ o e s

    politicas e publicas. nessa c o n v e r s ~ o

    em

    rede

    que nossa cultura

    esta

    sendo

    interpretada

    e reconstrufda.

    Compreender essas pniticas, assim, e chave

    para

    que possamos tambem

    compreender

    de modo

    mais aprofundado essas redes e

    seu

    impacto no mundo

    contemporaneo. Essas c o n v e r s a ~ o e s nao sao, desse mo-

     

    o, determinadas pela existencia desses novas meios,

    mas elementos de apropriac;:ao dos grupos sociais de .

    ferramentas com potencial comunicativo.

    1

    Nesse sentido,

    e

    importante salientar

    a p e r c e p ~ a o

    da c o n v e r s a ~ a o

    me-

    ) diada pelo

    c o m p u t d o r

      c o ~ o uma p r o p r i ~ o de urn ·

    sistema tecnico para uma pratica social. Ela e

    portanto

    ,

    criativa, dinamica e dificil de

    ser

    capt

    u

    rada

    e

    enquadrada

    em urn unico foco e em uma unica

    perspect

    iva.

    este

    o risco de elencar suas caracteristicas . Par serem

    dinamicas, elas mudam com o tempo e com as

    pr6prias

    ferramentas

    que su

    rgem e sao

    reapropriadas

    pelos atores.

    Este Jivro, assim, busca

    ser

    urn infcio de

    discussao. Queremos, atraves dessa

    s i s t e m a t i z a ~ a o

    e do

    debate das

    a p r o p r

    i ~ o e s correntes, oferecer subsfdios

    para a discussao de praticas que ainda nao aconteceram

    e formas de estudo

    que ainda

    nao foram pensadas.

    Dentro dessa perspectiva, este trabalho busca di

    scut

    ir

    como compreender essa

    c o n v e r s a ~ a o

    em

    rede

    a partir

    dos conceitos de o m u n i c a ~ a o Mediada par Computador,

    procurando ve-la atraves de urn prisma social e cultural.

    1

    Primo (2006), por exemplo,

    j

    a

    tent

    a pa ra o perigo

    de se

    poder

    perceber a interac;:ao como apenas

    depend

    e

    nte

    do meio, explicando

    qu

    e epreciso compreende-Ja como

    um

    processo

    cr

    iativo.

    18

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    Assim o livro organizado em cinco capitulos. No

    primeiro procuramos

    discutir

    o conceito de conversac;:ao

    no espac;:o

    da

    mediac;:ao digital do

    computador

    como

    uma

    apropriac;:ao. Discutimos ali al

    gumas

    perspectivas

    te6ricas a respeito do conceito e suas caracteristicas.

    seguir no segundo capitulo pensamos nessa conver-

    sac;:ao

    a partir

    de suas

    caracterfsticas organizacionais

    ou

    se

    ja de urn modo especffico a estrutura

    de

    pares 

    os rituais da conversac;:ao e o conceito de polidez

    focando como a mediac;:ao altera

    esses

    elementos.

    No

    terceiro capitul

    o

    focamos o debate do el

    emento

    que

    consideramos o mais crftico: o contexto. Esta e para

    n6 s a questao crucial

    da

    conversac;:ao mediada tanto

    pel

    as

    ca

    ract

    erfsticas e limita

    c;:oes

    do meio  quanto pelas

    apropriac;:oes possfveis que sao criadas pelos atores.

    No

    quarto

    capitulo

    trazemos

    a ideia

    de

    conversac;:ao

    em

    re

    d

    e

    explicitando suas caracterfsticas a

    partir

    dos sites de

    rede

    social e

    da

    apropriac;:ao das redes sociais no ciberespac;:o.

    No quinto e ultimo capitulo apresentamos algumas

    propostas de estudo das praticas da conversac;:ao em rede

    e suas possfveis contribuic;:oes.

    Com

    esta estrutura

    buscamos assim

    constru

    ir

    urn conjunto de observac;:oes debates e ideias a respeito

    da conversac;:ao no espac;:o da mediac;:ao focando de modo

    rna is especffico no que chamamosde conversac;:ao em rede:

    aquela que

    surge

    dos

    milhares de

    atores interconectados

    que dividem negociam e constro

    em

    contextos coletivos

    de

    interac;:ao troc

    am

    e difundem informac;:oes criam

    l

    ac;:os

    e estabelecem redes sociais.

    E

    importante salientar ainda que neste livro

    vemos a rede social como o grupo de atores que utiliza

    determinadas ferramentas

    par

    a publicar suas conexoes e

    19

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    16/60

    interagir. Assim o Orkut ou o Facebook n o

    s

    o rede socia

     ,

    m s

      sim o s p ~ o tecnico

    que

    proporciona a emergencia

    dessas

    redes

    .

    As rede

    s sociais

    desse

    modo nao sao pre-

     

    construidas

    pe

    las ferramentas

    e,

    sim a

    pr

    opr

    iadas pelos

    tores sociais que lhes conferem sentido e que as adaptafn

    p r suas praticas sociais.

    20

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    17/60

     

    COMUNIC C O

    MEDI D PELO

    COMPUT DOR

    CONVERS C O

    Ana chega da escola corre

    p r

    o

    comput dor

    .

    Ali por meio de diversas ferramentas conver

    s

    com

    s amigas e coment os

    tontecimentos

    do dia. Joao

    fa

    z urn pequeno

    int

    ervalo p r o cafe no seu trabalho.

    Enquanto

    tom

    cafe checa seus e-mails e convers com

    os amigos via Inte

    rnet

    no cel

    ul

    ar combin  ndo um

    happy

    hour. Ester

    prep

    ara-se para conversar com os netos que

    estao vi sitando outro pafs us ndo seu novo laptop.

    As

    cenas embor ficticias  descrevem pr  ticas cotidianas

    cada vez mais comuns em tod s as

    p rtes

    do mundo._Q

    computador mais do que um ferramenta de pesq

    ui

    sa

    de processamento de dados e de trabalho e hoje uma

    \fe

    rr ment

    soci

    aT

    1

    caracterizada pr incipalmente pelos

    usos conversacionais.

    Isso

    quer

    dizer que os computa

    dore

    s foram propriados como ferramentas sociais e que

    esse sentido em muitos aspectos undamental

    p r

    a

    co

    mpreens o

    d sociabilidade na contemp

    or n

    eidade.

    21

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    18/60

    Assim

    neste capitulo, discutiremos como a Comunicas;ao

    Mediada pelo Computador da espas:o para

    as

    praticas

    conversacionais e como esses dois conceitos podem ser

    vistos diante das aproprias;oes sociais que lhes dao forma

    e conteudo. Para iniciar a apresentas:ao desse

    tema

    , e

    preciso, antes, discutir o que sao e como se

    apresentam

    essas praticas conversaciona is.

    As praticas de conversas;ao na medias;ao do

    computador

    sao comumente referidas na literatura

    dentro

    do estudo da chamada Comunicas;ao Mediada

    por

    Computador CMC

    11

      . Essa perspectiva de estudos

    abarca todo urn conjunto de praticas sociais decorrente

    das aproprias;oes comunicativas das ferramentas digitais

    e e discutida

    por

    diversos

    autores

    desde

    0

    prindpio dos

    estudos a respeito do impacto do ciberespas:o como

    ambiente comunicacional na vida social. lsso porque

    propria historia da Internet confunde-se com a historia

    da aproprias;ao conversacional da tecnica que lhe deu .

    origem. 0 projeto da Web,

    por

    exemplo,

    foi

    comentado

    e apresentado por Tim Berners-Lee em urn forum de

    discussao

    12

     

    enquanto

    o

    mesmo

    era

    construfdo

    em

    1991.

    0 proprio surgimento das

    primeiras redes

    se

    fa

    z enquanto

    milhares desses programadores estao, justamente, tro-

    11

    E

    no

    se

    nticlo

    de

    C o m u n i c a ~ a o

    Mediada pelo Computador 

    que

    a

    sigla

    sera

    usada neste trabalho.

    2

    http://group

    s.go

    ogle.com/group/a

    l

    t.hypertext/tree/browse

    _

    frm/

    thread/7824e490ea

    164c06

    /f61 c1

    ef93d2a8398?rnum=

    l&h

    l=en&

    q =g

    rou

    p:al t.hypertext+a uthor:Ti

    m+author: Berners-

    Lee&_done=

    I

    gro

    up

    l

    t.hypertext/browse_frm/thread /78

    2

    4e49Oea

    164

    c0

    6

    f61 c

    lef93d2a8398?tvc%3

    D1 26q 3

    Dgro up:alt.hypertext+au thor:Tim

    +author:Berners-Lee%26hi%3Den%26&pli=l. Acesso em

    deze

    mbro

    de

    2011.

    22

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    19/60

    cando mensagens a respeito

    de

    como

    imp

    lementa-las.

    Assim, a

    C o m u n i c a ~ a o

    Mediada pelo

    Computador

    foi

    consolidada como a area de estudo dos processos de

    c o m u n i c a ~ a o

    hum

    a

    no

    s realizados

    atraves

    da

    m

    d i

    a ~ a o

    das tecnologias digitais .

    Para Baron (2002, p. 10), ~ M e definida de

    modo amp lo como quaisquer mensagens de linguagem

    natural que sejam transmitidas jou recebidas atraves de

    urn computador. Falando de modo geral, o termo CMC se

    ref

    ere

    a

    inguagem n

    at

    ur

    al

    escrita env

    i

    ada

    via Internet .

    13

    0 conceito de Baron da uma

    p e r c e p ~ a o

    bastante in-

    te ressa

    nte

    do que

    eo

    foco da o m u n i c a ~ a o Mediada pelo

    Computador, mas e datado, pois fal ha ao

    considerar

    outros

    aspec

    tos nao

    escr

    itos, como a linguagem oral e visual.

    Dece

    mb

    er (1996) da uma d e f i n i ~ a o semelhante, focando

    tambem

    os aspectos tecnicos

    da

    m e d i a ~ a o

    amp

    liando-

    a para a troca de i n f o r m a ~ o e s

    usando

    s e v i ~ o s de te-

    l e c o m u n i c a ~ o

    e s

    em rede outro elemento fundamental.

    Entretanto, o conceito de

    CMC

    nao diz respe ito

    ape

    nas

    aos

    eleme

    nt

    os tecnicos

    das

    ferramentas e nem

    apenas

    a linguagem escrita. Ha uma pluralidade de aspectos

    soc

    iais e culturais

    que tambem

    precisam

    ser

    observados.

    Herring (1996) da urn conceito mais completo. Para

    a a

    utor

    a, a C o m u n i c a ~ a o Mediada pelo Computador

    e a

    c o

    m u

    n T a ~ a o

    que aco

    nt

    ece entre

    seres humanos

    atraves da instrumentalidade dos computadores

    14

    (p. 1).

    13

    Tradw;:ao da autora para: Is loosely defined as any natural language

    messaging

    th

    at

    is

    tran

    sm

    itted and

    /or

    received via a

    computer

    connection. Generally

    spea

    king, the

    term CMC

    refers to a written

    natural language message sent via

    th

    e

    In

    ternet .

    14

    r a d u

    ~ a o

    da autora

    para

    : Is com

    mun

    ication that takes place

    between

    human

    beings via the instrumentality

    of

    computers .

    23

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    20/60

    Herring tambem salienta a importancia do estudo

    dos aspectos sociais e culturais da

    CMC

    bern como

    a

    necessidade

    do estudo da linguagem que emerge

    nessa ferramenta. Consideramos essa perspectiva como

    mais adequada pais vai

    alem

    do foco

    na

    CMC como

    um

    a ferramenta

    ou

    co

    mo

    restrita as ferramentas

    mas

    observando tambem as relac;oes que ali emergem e as

    praticas sociais e lingufsticas

    que

    ali tomam forma. De

    fato

    h

    inumeras

    ferramentas

    que

    proporcionam

    esse

    ambiente algumas focadas apenas em texto outras em

    imagem outras em

    some

    outras ainda que compreendem

    todos esses elementos.

    Mas a

    CMC

    nao e influenciada

    somente pela

    s suas

    ferramentas. Ela e tambem, urn produto

    da

    apropriac;ao

    social

    gerada

    pelas ressignificac;oes

    que

    sao

    construfdas

    pel

    os

    a tores sociais quando dao sentido a essas ferra-

    mentas em seu cotidiano. Jones 1995) constr6i alem

    disso uma definic;ao que foca esse elemento. Para ele 

    a CMC nao e apenas constitufda de urn conjunto de

    ferramentas, mas

    e urn motor de relac;oes sociag>_ que

    nao apenas estrutura essas relac;oes

    mas

    tambem pro-

    porciona urn ambiente

    para

    que elas ocorram. na CMC

    que as relac;oes socia is sao forjadas pelas trocas de infor-

    mac;ao entre OS indivfduos e e principalmente

    atraves

    das conversac;oes que essas

    praticas

    sao estruturadas.

    Comunicac;ao M

    ediada

    pelo

    Computador

    e assim urn

    conceito amplo aplicado a

    capacidade

    de

    proporcionar

    trocas entre dais

    int

    eragentes via computadores.

    pesquisa em Comunicac;ao Mediada pelo

    Computador tern sido desenvolvida de forma ampla

    principalmente por linguistas e soci6logos

    em varias

    partes do mundo.

    De

    urn modo geral podemos

    apontar

    4

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    21/60

    algumas vertentes importantes. Ha aqueles

    que

    estudam

    o discur

    so

    produzido na CMC tambem apontado por

    alguns como "discurso mediado

    por

    co

    mputador

    ").

    Herring (2001) explica

    que

    a diferens:a

    desta

    perspectiva

    e

    seu

    foco "na linguagem e no uso da linguagem nos

    ambientes em

    r

    ede

    dos computadores". Por

    outro

    ado,

    tambem

    ha uma perspectiva interacional, focada n

    as

    trocas sociais que emergem dessas trocas linguisticas e,

    de modo mais pontual, nos efeitos dessas trocas (vide, por

    exemplo, o trabalho de Wellman, 2001), desenvolvidos

    principalmente por pesquisadores das n c i   s sociais.

    E

    dificil, no entanto, separar as du

    as perspect

    ivas. Por

    exemplo, o

    li

    vro Computer-Mediated

    Co

    mmunication:

    Linguistic Social and Cross-Cultural Perspectives orga

    ni

    zado

    por

    Herring 1996), traz uma abordagem mais

    ab

    r

    ange

    nt

    e do conceito,

    ap

    re

    sentando

    nao

    apenas

    p

    ers

    pectivas linguf

    st

    icas e discursivas, mas perspectivas

    tambem

    sociais e cultura is. Essa perspectiva trfp

    li

    ce e

    que faz tao rica a pesq

    ui

    sa na area de CMC.

    Neste livro,

    optamos

    por focar a conversas:ao

    como a principal forma

    de CMC

    toma

    ndo

    esta

    visao

    trfp

    li

    ce como ponto

    de

    partida.

    De

    urn ado,

    uma

    per

    spect

    iva linguis

    ti

    ca

    de

    es

    trutur

    a e organizas:a

    o; de

    outro, os aspectos culturais das aproprias:oes; e, fi nal

    me

    nt

    e, os efeitos dessas trocas a partir desses doi s

    elem

    en

    tos. Ea partir daf que vemos a conversas:ao em

    rede: tra

    ta

    -se de urn fen6meno novo, que exige dos

    estudiosos e pesquisadores novas fo

    rmas

    e

    per

    spec

    tivas de estudo. Essa conversas:ao em rede e uma das

    formas de CMC. Entretanto,

    antes

    de irmos

    adiante

    e

    pr

    eciso discutir como

    esses

    conceitos p

    er

    meiam-se e

    conf

    und

    em-se em nossa perspectiva.

    5

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    22/60

    A Comunica

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    23/60

    da conversa

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    24/60

    o que constitui o fenomeno

    no e s p a ~ o

    offline

    17

    . Assim,

    iniciaremos debate

    ndo 0

    que e e como e

    compreendida

    a c o n v e r s a ~ a o

    Quan

    do pe

    n

    samos

    em

    conversar ,

    rapidamente

    imagin

    amos um

    a

    ser

    ie

    de

    fenomenos caracterfsticos

    da

    linguagem

    oral

    e

    da i n t e r a ~ a o hum

    anas. Por exemplo,

    a imagem

    de urn di;Hogo evoca uma serie de elementos,

    pertencentes

    tanto

    ao pjano daquilo

    que

    e dito, quanta

    tambem

    ao

    do

    modo

    como e dito e as circunstancias

    qu

    e

    sao relevantes

    . Enquanto interagentes,

    estamos

    constantemente conectados a todas as i n f o r m a ~ 6 e s

    que nos auxiliam a perceber e a interpretar

    aquila que

    e

    dito

    pe

    los outros e a negociar

    aq

    uila que dizemos de

    forma a apontar algum sentido que desejamos transmitir.

    Qualquer urn

    de

    n6s que ja tenha, em algum

    momenta

    observado a ocorrencia de

    uma

    c o n v e r s a ~ a o percebe,

    em certa medida, que elementos sao esses. Num dialogo,

    tudo e

    i n f o r m a ~ a o :

    el.:_mentos pros6dicos (como 0 tom

    da voz, a

    e

    n t o n a ~ a o e as pausas da fala), elementos

    gestuais e, evidentemente as palavras. A ocorrencia

    de uma c o n v e r s a ~ a o necessita, deste modo,

    de

    que os

    part

    icipantes

    compreendam

    e legitimem

    os enunciados

    urn do outro, alternando-se na fa la e negociando o

    contexto

    no

    processo.

    A c o n v e r s a ~ a o e comumente referenciada pela

    literatura como

    uma parte

    importante do processo

    de

    o u n i c a ~ a o

    entre

    dois

    ou

    mais indivfduos. Marcuschi

    (2006),

    por

    exempl

    o

    define a c o n v e r s a ~ a o como uma

    17

    Empregamos o termo offl ine como referencia ao s p a ~ o que nao e

    mediado pelas tecnologias digitais.

    8

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    25/60

    i n t e r a ~ a o verbal

    centrada,

    que

    se

    desenvolve d

    urante

    o

    tempo

    em

    que

    dais

    ou

    mais interlocutores voltam sua

    a t e n ~ a o visua l e cognitiva para

    uma

    tarefa comum (p.

    15). A

    c o n v e r s a ~ a o

    e

    assim como dissemos, a po

    rta

    atraves

    da qual

    as

    i n t e r a ~ 6 e s sociais

    acontece

    m e

    as

    r e

    a ~ 6 e s sociais se

    estabelecem

    . E por me io deJa

    que

    estabelecemos

    tambem nossas

    primeiras

    experiencias

    sociais.

    Pridham (2001, p. 30)

    exp

    li

    ca que a

    c o n

    v e r s a ~ a o

    e basicamente

    ,

    qualquer

    troca

    int

    erativa falada

    ent

    re

    duas ou

    mais pessoas .

    18

    Como Marcusc

    hi

    , o conceito

    de

    Pridham

    foca, principalmen te, a c o n v e r s a ~ a o como

    pratica falada. 0 dialogo,

    enquanto

    pratica falada, implica,

    necessariamente, uma a l o c

    u

    ~ a o i n t e o c u ~ a o e urn

    processo

    de i n t e r a ~ a o

    Kerbrat

    -Orecchioni,

    200

    6)

    .

    Essa

    i n t e r a ~ a o consiste na s i t u a ~ a o

    comunicat

    iva, construfda

    e dividida

    pe

    los participantes,

    erg

    uida

    pe

    la

    n e g o c i a ~ a o

    entre eles. A

    a l o c

    u

    ~ a o

    refere-se

    a

    existencia

    de ou

    tro

    part

    icipante, e a i n

    e r

    o c u ~ a o

    a

    roca de

    pa

    lavras. Assim,

    o

    exerdcio

    da fa la e a c o n v e r s a ~ a o portan to, nao sao

    ape

    nas constitufdas

    de

    linguagem oral,

    mas

    igualmente,

    de

    uma

    serie de elementos como tom de voz

    e n t o n a ~ a o

    s

    il

    enc

    io

    s e elementos, nao ver

    ba

    is

    que

    vao delimi

    tar

    o

    sentido

    daquilo

    que

    e

    dito

    cons trui

    ndo

    a

    s i t u a ~ a o

    comunicativa. Esses elementos sao facilmente percebidos

    quando

    imaginamos uma

    s i t u a ~ a o conver-saciona l.

    Ora para

    que

    exi

    sta

    o dialogo, e

    prec

    iso

    que

    alguem

    esteja

    fa

    l

    ando

    com urn outro (

    o c

    u ~ a

    o ,

    que

    essas fa

    las

    a c o n t e ~ a m

    em

    turnos

    ou

    ainda, que

    estejam

    organizadas

    8

    Tradu

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    26/60

    e sejam interlocut6rias) e que a situas;ao contextual

    onde

    acontece o processo seja demarcada pelos participantes.

    conversas;ao, portanto, e urn processo complexo, que

    envolve

    elementos

    diferenciados e possui caracterfsticas

    espedficas, tanto em

    seus

    aspectos organizacionais

    quanta sociais e culturais. Mas quais seriam os elementos

    da conversas;ao?

    Marcuschi (2006) cita cinco caracterfsticas

    praticas, constitutivas da organizas;ao de uma conver-

    sas;ao, a partir daquela definis;ao, como sendo:

    1. interas;ao

    entre

    pelo menos dois falantes;

    2. ocorrencia de pelo

    menos

    uma troca de

    falantes;

    3. presens:a

    de

    uma

    sequencia

    de

    as;oes

    coordenadas;

    4. execus;ao em

    uma

    identidade temporal;

    5. envolvimento numa interas:ao 'centrada '

    (Marcuschi, 2006, p 15).

    Os

    elementos

    de

    Marcuschi

    sao bastante

    perceptfveis nos processos conversacionais cotidianos.

    interas;ao

    entre

    os falantes e a ocorrencia da troca de

    posis;ao

    entre os

    dois focam a caracterfstica dial6gica da

    fala. Ao mesmo tempo, os

    outros tres

    elementos

    apontam

    a construs;ao de urn contexto conversacional, ou seja,

    dos elementos

    externos, negociados pelos

    interagentes

    durante o processo.

    Aconversas:ao e tambem ritualistica.

    Ou

    seja,

    seu

    processo e constituido

    de

    diversos rituais construfdos

    culturalmente, que delimitam suas fronteiras e fornecem

    contextos de interpretas;ao, conforme nos explica

    3

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    27/60

    Goffman (1974, 1981). Assim, ha rituais de

    abertura

    da

    conversac;:ao

    por

    exemplo,

    Oi, tudo

    bern? , cujo

    sentido

    ede

    limit

    ar

    uma abet

    ·t 

    ·a

    para

    a conversac;:ao) e rituais de

    fechamento

    por

    exemp

    lo, Entao ta, tchau ).

    Ha

    rit

    uais

    para a troca

    de

    falantes,

    para

    a linguagem

    eo

    formato da

    fala, e todos dependem do contexto onde a conversac;:ao

    esta

    in

    se

    rida. Assim,

    uma

    conversac;:ao

    que ocorra entre

    dois

    debatores em

    urn congresso nao tern os mesmos

    rituais daquele dialogo que ocorre

    entre

    amigos, em urn

    encontro

    informal.

    Do

    mesmo

    modo, nao

    sao

    os

    mesmos

    rituais

    da

    conversa

    entre

    pessoas de idades e classes

    sociais diferentes.

    conversac;:ao e, portanto, urn processo orga-

    nizado, negociado

    pe

    los atores, que

    segue

    de

    terminados

    rituais

    l t u r

      i s

    e

    que

    faz

    parte

    dos

    processos

    de

    interac;:ao

    social. Nao

    se

    LTat

    a

    apenas

    daqueles dialogos

    orais

    diretos,

    mas

    de inumeros fenomenos que

    compreendem

    os

    elementos

    propostos e

    constituem as trocas

    sociais

    e que sao

    construldos

    pela negoc

    iac;:ao,

    at

    ra

    ves

    da

    linguagem,

    de

    contextos comuns de

    int

    erpretac;:ao pelos

    ato res sociai

    s.

     9

    Essas

    caracterlsticas

    e

    elementos,

    no

    entanto,

    nao

    sao

    imediatamente

    evidentes

    no

    ambiente

    do

    ciberespac;:o. Comunicac;:ao Mediada pelo Computador

    opera sabre varias ferramentas

    , com

    caracterfsticas

    e limitac;:oes

    pr6prias,

    que vao tambem influenciar

    as

    praticas conversaciona

    is

    que

    emergem

    no ciberespac;:o.

    Ora,

    se

    ha

    comunicac;:ao

    mediada pelo computador

    construlda no ciberespac;:o,

    ha

    tambem conversac;:oes

    9

    De forma a naloga aos state o alk de Goffman.

    31

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    28/60

    que

    tern Iugar neste ambiente. Mas como podemos

    observa-las?

    A

    primeira

    concepc;:ao

    de conv

    ersac;:ao

    no

    ciberespac;:o deu-se atraves

    da pe

    rcepc;:ao

    da

    interac;:ao e

    do dialogo como con

    str

    ufd

    os atraves da

    linguagem escrita

    possib

    ili

    tada por

    essas tecnologias.

    Herring (2010)

    argumenta que, no

    infcio, essa concepc;:ao

    era po

    lemica, e a

    percepc;:ao das trocas textuais no ambiente dacomunicac;:ao

    mediada

    por

    computador

    era vista simplesmente

    como

    uma

    metafora

    para a conversac;:ao, mas

    nao como uma

    conversac;:ao em si mesma,

    que

    so acontecia atraves

    da

    fa

    la. En

    tr

    etanto, com o desenvolvimento da

    pesqu

    i

    sa na

    area,

    a autora

    exp li

    ca

    que

    ha

    evidencias cada

    vez

    maiore

    s

    de que ,a conversac;:ao

    no

    ciberespac;:o possui elementos

    tfpicos

    da

    conversac;:ao

    ora

    l e que,

    portanto,

    e e

    deve

    ser

    cornpree

    ndida como conversac;:ao e

    nao como

    simulac;:ao

    ou

    metaforas.

    Na

    c o   v e r s a ~ a o casua l, os us

    uar

    ios da

    Internet

    fr

    equcntemcntc

    referem-

    se

    as trocas

    textuais como

    c o n v e r s a ~ o e s usando verbos co mo falei'', disse

    e ouvi  ao inves de digitci , cscrevi ou li  pa1a

    descrever s uas atividades na CMC Mesmo au tores

    publicados, algumas vezes, referem-se,

    de

    forma

    inconsciente, parece-me, aos falantes mais do que

    aos escreventes , conversa

    mais do qu

    e

    trocas

    digi tadas , turnos

    ma

    is do que mensagens e daf por

    diant

    e qua

    ndo

    reportam

    -se

    a

    CMC

    0

    uso

    linguf

    stico

    atesta ao fa to que

    a experiencia dos

    usuar

    ios na

    CMC

    e

    fundalmenta

    lmen te s im ilar aquela da c o n v e r s a ~   o

    fa

    lada, apesar da CMC ser

    produ

    zida e recebida por

    meios

    cscr

    i

    tos

    20

    (Herring, 2010,

    on

    line).

    32

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    29/60

    Observamo

    s, deste modo,

    que essa similaridade

    vern, em parte, da i n c o r p o r a ~ a o dessas ferramentas ao

    cotidiano

    das

    pessoas,

    construfda

    pela r e s s i g n i f i c a ~ a o de

    suas

    potencialidad

    es diante dos

    in

    teresses

    e motiva(,:5 es

    dos grupos sociais. Epor isso que defendemos que essa

    c o n v e r s a ~ a o e

    uma

    a p r o p r i a ~ a o

    Ou

    seja,

    as ferramentas

    da CMC sao apropriadas com carcHer conversaciona l

    pelos usuarios.

    Diversos autores

    tem

    consistentemente com-

    parade

    as

    i n t e r

    a ~ o e s

    online

    com

    c o n

    v e r s a ~ o e s

    como

    Primo e Smani

    otto

    (2006), AraC1jo

    (2004

    ), Scobie e

    Israel2

    1

    (2006), dentre outros. lsso porque as trocas

    interativas

    ent

    re os atores

    nesses

    ambi

    en

    tes possuem

    muitas

    s imilarid

    ades

    com a c o n v e r s a ~ a o oral. Herring

    (1996, p. 3), por

    exemp

    lo, argumenta que a linguagem

    da CMC apresenta uma linguagem digitada, escrita,

    mas

    rapida

    e informal como a linguagem

    fa

    lada ,

    que

    constitu

    i a

    c r i a ~ a o

    de elementos Cmicos, como o uso

    do

    s emoticons, elementos grMicos, lexicos especiais e

    z Trad

    w;:ao da autora

    par

    a: In

    casua

    l

    par

    lance, In

    ternet

    users

    often refer to textual exchanges as conversations, using ver s such

    as 'talked

    ,

    'said,' and 'heard

    rather

    than 'typed,' 'wrote,' or read ' to

    describe their CMC activit i

    es

    . Even published authors sometimes

    r e f e ~ unconsciously, it seems, to 'speakers' rather than online writers',

    'talk' rather than 'typed exchanges','turns' rather than

    messag

    es;

    and so forth,

    when reportin

    g on

    CMC.

    This

    li

    nguistic usage

    att

    ests to

    the fact th

    at

    users exper ience CMC in fundamen tal ly similar ways to

    spoken

    conversation, despite CMC being

    produced

    and received by

    written means.

    21

    Os auto res usam o

    termo

    naked conversations (conversas:oes

    nuas).

    33

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    30/60

    acr6nimos. Mas, a

    autora

    ressalta que a linguagem

    da CMC

    nao e homogenea e se manifesta atraves

    de

    diferentes

    est

    ilos e gen

    er

    os, alguns, inclusive, determinados pela

    ferramenta tecnol6gica. Baron 2002) tambem associa

    as ferramentas

    de

    CMC

    a dialogos, dizendo que algumas

    dessas

    ferra

    menta

    s geram conversac;ao entre

    dais

    ou

    mais participantes. Essa conversac;ao e fruto do uso

    da

    s

    ferramentas, que nao sao necessariamente voltadas

    para

    a conve

    rsa

    c;ao

    ora

    l.

    Na

    verdade, a

    per

    cepc;ao

    de

    conversac;oes que nao se desenham ape

    na

    s no espac;o da

    oralidade e uma clas

    primeiras

    observac;oes a respeito

    cia

    conversac;ao no espac;o

    da

    mediac;ao do computador.

    Nesse

    se

    nt

    iclo

    December (1996) aponta ainda que

    essas caracterlsticas orais

    da CMC

    implicam o fato

    de

    que

    o cliscurso

    nao precisa

    ser

    b

    asea

    do

    em

    s

    om

    para

    ter caracterfsticas orais. Boyd, Go l

    der

    e Lotan (2010),

    outro exemplo, analisam as conversac;oes no Twitter

    clemon

    strando

    a negociac;ao de co

    nt

    exto e de praticas de

    direcionamento

    dos

    participantes, de uma

    forma

    similar

    a Honeycutt e Herring (2009). Ora, o

    Tw

    itter e outro meio

    onde as interac;oes sao pr

    edo

    minantemente textuais.

    Pr

    imo e Smaniotto (2006), seguindo

    es

    sa perspectiva,

    tambem

    analisam as

    int

    erac;oes que acontecem

    nos

    blogs

    como conversac;oes, discutindo que

    essas

    trocas

    sao

    sim

    parte de urn dialogo.

    Do

    mesmo modo, Araujo (

    2004)

    defende

    os

    chats como

    tr

    ansmutac;oes

    das

    conversac;o

    es

    orais, onde outros el

    eme

    n

    tos

    sao incorporados, como

    imagem e som.

    que se observa

    na

    literatura, portanto, e

    que,

    embora

    as tecnologias nao

    tenham

    sido,

    em sua

    maioria, construidas

    para

    simular conversac;oes, sao

    34

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    31/60

    u t i l i z a d a ~

    9este modo, construindo, portanto, ambientes

    conversacionais.

    Essas pniticas de

    c o n v e r s a ~ a o

    deste modo,

    vao aparecer, conforme dissemos, como

    a p r o p r i a ~ o e s

    como formas de uso das ferramentas de

    CMC

    para

    construir

    contexto e proporcionar urn

    ambiente

    de trocas

    interacionais. Lemos (2002) define a

    a p r o p r i a ~ a o

    como

    a essencia da cibercultura. Para o autor, a

    a p r o p r i a ~ a o

    e

    o produto do uso da tecQologia pelo homem, tendo duas

    dimens6es, uma

    i m b l i c ~

    uma tecnica.

    E

    nesse

    sentido

    que tambem utilizamos o conceito aqui. A a p r o p r i a ~ a o

    tecnica compreende o aprendizado do uso da ferramenta.

    A simb6lica

    compreende

    a construyao de sentido do uso

    dessa ferramenta, quase

    sempre

    de forma desviante, ou

    seja, com praticas que vao sair do escopo do design de

    uso desta.

    Se

    observarmos,

    por

    exemp

    lo

    , os recados

    do

    Orkut,

    e

    imediatamente perceptfvel que se

    trata

    de uma

    forma assfncrona de

    i n t e r a ~ a o n

    e que as

    c o n v e r s a ~ 6 e s

    que ali sao desenvolvidas espalham-se pelos perfis dos

    envolvidos, que respondem cada qual no perfil do outro

    interagente. No entanto, ja foram observadas praticas

    sincronas

      3

    ,

    como aquela de marcar urn encontro  em

    urn perfil aleat6rio e fazer dele urn chat. Trata-se de uma

    a p r o p r i a ~ a o ao

    mesmo tempo

    tecnica - o aprendizado

    do uso - e simb6lica - o uso para a

    c o n v e r s a ~ a o

    A

    22

    Assfncrona no sentido de que nao se constitui em uma troca onde

    os dais atores dividem o

    mesmo

    espas;o ao mesmo tempo, mas uma

    troca onde um deles nao

    esta presente

    . Esta ideia sera discutida

    adiante neste capitulo.

    3

    Os

    conceitos

    de

    conversas;ao sfncrona e assfncrona na media

    s ao

    do

    computador serao retomados adiante neste capitulo.

    35

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    32/60

    a p r o p r i a ~ a o em sua dimensao simb6lica e, portanto,

    criativa, inovadora e

    capaz de

    suplantar os limites

    tecnicos da CMC

    A

    c o n v e r s a ~ a o

    no c i b e r e s p a ~ o e tambem

    capaz de

    simular, sob muitos aspectos, elementos

    da c o n v e r s a ~ a o oral. C o n v e n ~ o e s sao criadas para

    suplementar, textualmente, os elementos da linguagem

    ora

    l e

    da

    n t e r a ~ a o gerando uma nova escrita oralizada .

    Contextos sao convencionados pelos interagentes atraves

    da negocias;ao. E uma conversas;ao em rede, multipla,

    espalhada, com a participas;ao de muitos, e que permanece

    gerando novas aproprias;oes e migrando entre as diversas

    ferramentas. Essas praticas provem caracterfsticas que

    permitem examinar a conversas:ao online como analoga a

    c o n v e r s a ~ a o ora

    l, com elementos semelhantes,

    mas

    ainda,

    como p r o p r i a ~ a o simb61ica e tecnica Essas praticas sao

    co

    nstantemente

    alteradas e renegociadas pelos

    atores

    que passam a us

    ar

    essas ferramentas, cri

    ando

    novas

    convens:oes e novas formas de expressao.

    Sao tambem praticas

    oriundas

    de uma nova

    estrutura

    proveniente do

    advento da

    int

    erconexao

    entre

    os atores no espas:o online, possibilitadas

    pe

    las

    redes

    sociais. Essa estrutura de rede, caracterfstica tambem

    que influencia essas aproprias:oes, gera urn contexte

    novo de

    n e g o c i a ~ a o

    dessas praticas. Interconectados,

    os atores precisam, tambem,

    aprender

    a conversar em

    rede. E a

    rede

    nao oferece urn contexte simples, pois a

    conversas:ao e capaz de migrar,

    estrutura-se

    de forma

    multimodal e coletiva. Essas caracteristicas, entretanto

    serao aprofundadas no capitu lo 4. Antes delas, e precise

    discutir elementos mais gerais da conversas;ao

    em

    rede,

    decorrentes dessas praticas de

    a p r

    o p

    r

    a ~ a o .

    36

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    33/60

    0 estudo dessas praticas ainda incipiente em

    suas variadas forma s

    foi

    aqui brevemente explicado

    atraves

    de

    uma tentativa de

    s i s t e m a t i z a ~ a o

    de suas

    caracteristicas, que serao aprofundadas a seguir.

    No

    entanto,

    por ser

    fruto

    da

    a p r o p r i a ~ a o a c o n v e r s a ~ a o

    mediada pelo computador e mutante, transformadora

    e

    produtora

    de novas redes sociais. Esses elementos

    auxiliam a compreensao dela, mas nao dao conta de sua

    integralidade. Praticas conversacionais caracterfsticas

    de urn determinado grupo podem

    ser

    diferentes em

    outro grupo dentro de uma mesma f

    er

    ramenta, por

    caracterfsticas especfficas da rede social que a apropriou.

    Justamente

    por

    isso, epreciso estudar essas g n i f i c a

    ~ o e s

    e sistematiza-las buscando compreender aquilo que

    se chama de

    c o n v e r s a ~ a o

    mediada pelo computador e

    seus efeitos.

    1 2

    Caracterfsticas d

    c o n v e r s a ~ a o mediada

    pelo

    computador

    A

    m e d i a ~

    a o

    digital, ou seja, a

    i n t e r m

    e d

    i a ~ a o

    da c o n v e r s a ~ a o por suportes de

    i n f o r m a ~ a o

    digitais

    transforma essa c o n v e r s a ~ a o

     

    0 suporte, que nao

    caracteristico da pratica, esubvertido pela a p r o p r i a ~ a o

    que lhe da_sentido e he confere form

    as

    de

    o r g a n i z a ~ a o

    e

    24

    McLuhan (1964, p. 21) em seu trabalho apo

    nt

    a para os impactos

    da m e d i a ~ a o no

    e s p a ~ o

    da

    c o m u n i c a ~ a o

    explicando que o meio

    interfere profundamente tambem no sentido da mensagem.

    0

    meio

    e a mensagem."

    37

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    34/60

    e s t r u t u r a ~ a o

    coletivamente estabelecidas, transformando

    a pn1tica e

    subsequentemente,

    as pr6prias

    p r o p r i a ~ 6 e s .

    Quando focamos o e s p a ~ o

    da

    m e d i a ~ a o digital

    como urn

    e s p a ~ o

    co

    nver

    sacional, ha, como dissemos,

    pontos diferentes daqueles da c o n v e r s a ~ a o oral. Urn

    primeiro ponto e 0 fato de que a larga maioria das

    ferramentas

    de CMC

    ainda)

    opera

    sobre bases

    de

    linguagem predominantemente textual. E o caso dos

    chats, e-mails, micromensageiros

    25

    e f6runs. Ainda

    que

    ferramentas

    predominantemente

    orais tenham surgido

    nos ultimos tempos

    26

    -

    como o Skype

    27

    ,

    por exemplo,

    que proporciona

    i n t e r a ~ 6 e s

    com vfdeo e voz, e seguro

    dizer

    que

    a

    maior parte

    da

    CMC

    ainda

    ocorre

    de forma

    textual. Do mesmo modo, a

    c o p r e s e n ~ a

    dos interagentes

    envolve

    uma

    complexa

    r e p r e s e n t a ~ a o

    de identidades e

    indivfduos,

    que

    nao e evidente

    em

    todas

    as

    ferramentas.

    0

    propr

    io conceito

    de unidade

    temporal

    torna-se

    elastico, a l

    terando

    tambem a

    p e r c e p ~ a o de

    contexto,

    pois as ~ 6 e s acontecem,

    muitas

    vezes,

    durante e s p a ~ o s

    de

    horas e a te dias.

    Ferramentas como o Twitter

    http:/ w w w

    t w i t t e

    ~ c o m ou

    o Plurk

    http: / www.plurk.com). Sao definidas como se

    melhantes

    aos

    weblogs, mas permitindo apenas

    que

    se publique mensagens com

    l l l l pequeno numero de caracteres, que sao visiveis para uma rede

    de seg

    uidores.

    6

    E mesmo es

    sas

    ferrame

    nt

    as, por envolver m a ~ a o nao dao a

    mesma dimensao de um dialogo ora l pois nao conseguem

    tran

    smi tir

    todos os elementos nao verbais que

    normalm

    ente acompanham esses

    eventos. Assim,

    por

    exemplo emuito mais dificil negociar

    os

    tu

    rnos

    de

    fal

    a quem fala quando) em uma ferramenta mediada como um

    Hangout

    do

    Google+

    p

    lus.google.com).

    27

    http:/ www.skype.com.

    38

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    35/60

    A

    c o n v e r s a ~ a o

    no

    ambiente

    mediado pelo

    computador, assim,

    assume

    idiossincrasias

    pr6prias que

    sao decorrentes da a p r o p r i a ~ a o dos meios para o uso

    conversacional. Ela e portanto, menos uma

    e t

    e r m

    i n a ~ a o

    da ferram

    enta

    e-mais uma pratica de uso e c o n s t r u ~ a o de

    significado dos

    int

    eragentes, sejam essas ferrame n

    tas

    constr

    uidas

    pa

    ra isso ou nao. Falamos em apropria

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    36/60

    Oeste modo, urn dos elementos mais diffceis

    de sistematizar

    sao as caracterfsticas

    da conversac;ao

    mediada pelo computador. lsso porque de

    urn

    ad

    o,

    essas

    caracterfsticas

    sao tambem

    decorrentes

    das

    apropriac;oes

    dessas ferramenta

    s e,

    portanto,

    sao

    mut

    antes. Alem disso,

    ha elementos

    que sao

    dife

    renciais

    por

    conta

    da

    propria

    tecnologia

    que

    apoia

    essas tro

    cas. A seguir, faremos

    uma discussao das caracteristicas mais importantes

    observadas

    pela

    literatura

    e pelos

    est

    udos

    empfricos

    dessas

    praticas

    conversacionais.

    1 2 1 ambiente da

    c o n v e r s ~ o

    A

    primeira

    m

    ud

    anc;a

    no processo de

    conversac;ao

    mediad a

    pelo computador

    e a utilizac;ao e a criac;:ao de urn

    novo

    amb ient

    e

    de

    conversac;:ao.

    Trata-se de

    um

    ambiente

    mediado, que,

    portanto, poss

    ui caracterfs ticas e limi

    tac;:oes

    especfficas

    que

    se

    rao apropriadas, subvertidadas

    e amplificadas pela conversac;ao. 0

    ambiente

    da

    convcrsac;ao,

    ass

    im, e o ciberespac;o.

    :ll

    E por i

    ss

    o muitos

    rituais

    constr

    ufdos

    no

    espac;o digital

    perpa

    ssam

    varias

    ferramentas

    utilizadas para a conversac;ao.

    Embora

    o ciberespac;:o,

    em

    princfpio, seja urn

    es

    pac;o virtual,

    constitufdo

    pelos fluxos de informac;ao

    e comunicac;ao

    que

    circulam pela infraestrutura da

    com

    unicac;ao digital (Levy,

    1999), ele

    e urn espac;o

    tambem

    consb·uido e negociado pela participac;:

    ao

    dos

    atores

    atra

    v

    es

    da conversac;ao.

    l A alucinac;ao consensua l  proposta

    por

    William Gibson em seu

    livro Neuromancer de 1

    984

    .

    4

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    37/60

    Apesar de a n o ~ o

    de

    ciberespac;o parecer in

    te

    irame

    nte

    descon

    ectada daquela que temos

    do

    e s p ~ o

    ffsico,

    esse

    nao

    e

    o caso. A

    noc;ao

    de espac;o

    e

    construf

    da

    pela

    nossa

    percepc;ao e

    por

    ela delimitada Fragoso,

    2000). Portanto, o espac;o

    sempre

    urn constructo e

    ja

    mais algo

    un

    iversal. Fragoso 2000)

    questiona

    a aparente

    falta

    de

    conexao entre o ciberespac;o

    eo

    espac;o

    ff

    sico,

    de

    monstrando

    que

    as

    metaforas

    utilizadas pe los interagen

    tes

    para

    referir-se a

    seus

    contextos os reconstroem como

    espac;o

    e

    inclusive, como territ6rio vide Fragoso, Rebs e

    Barth, 2010). Fragoso

    argumenta ainda em se

    u trabalho

    que

    o ciberespac;o

    e

    urn espac;o relacional, ou seja, que

    emerge

    das

    n t e r r e l

      ~ o e s

    e

    ntre

    os

    dados,

    suas represen-

    t ~ o e s

    grMicas, os fluxos

    de

    i n f o r m ~ o e as i n t e r ~ o e s

    dos indivfduos. Dentro

    desta

    perspectiva, o ciberespac;o

    econstitu fdo tambem das nossas percepc;oes de espac;o,

    trazidas

    pelos conceitos

    de

    espac;o geografico, informa

    cional e social Fragoso, Rebs e Barth, 2010).

    Com isso,

    podemos

    perceber que o ciberespac;o,

    como

    ambiente da

    conversac;ao, e con

    str

    ufdo

    enquanto

    amb

    i

    ente

    social e

    apropriado enquanto

    ambiente

    tecnico.

    Ha portanto duas

    dimensoes

    que

    nos

    sao

    re

    levantes: como esse espac;o fornece elementos para

    a construc;ao da c o n v e r s ~ o atraves das

    ferramenta

    s

    utilizadas pelos grupos sociais e como

    esses grupos

    constroem

    e

    se

    apropriam do contexto gerado por elas

    e por

    sua

    experiencia no ciberespac;o como eleme

    nto da

    conversac;ao. Enquanto os aspectos tecnicos, de certa

    forma,

    podem dir

    ecionar a interac;ao, os aspectos sociais

    e culturais

    podem

    perpassar diversas ferramentas. Assim,

    por exemplo, embora a h

    ashtag

    seja

    uma

    apropriac;ao

    41

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    38/60

    caracterfstica do Twitter, ela tambem e

    usada

    em outras

    fer

    ramenta

    s com o

    mesmo

    sentido.

    Outra ideia

    interessant

    e

    para

    ana

    lisar o ambiente

    fla

    conver

    sa

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    39/60

    Entretanto, a media

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    40/60

    Boyd explica que, enquanto

    no

    s publicos nao mediados

    e possfvel perceber a audi€mcia pela

    sua

    copresenya

    fisica,

    no

    es

    payo

    da

    m e

    a ~ a o

    essas

    a u d H ~ n c i a s

    sao

    invisiveis.

    E

    possfvel perceber a existencia desses grupos,

    mas nao sua p r

    e s e n ~ a diretamente.

    Finalmente, como

    caracteristica especifica da rede esta a buscabilidade, que

    permite que as n f o r m a ~ 5 e s e

    express5es

    sejam buscadas

    e recuperadas

    atraves

    de

    ferramentas de

    busca.

    Como

    esses

    publi

    cos

    em rede constituem-se

    no

    amb

    iente

    da

    conversayao, e possivel

    depreender

    que

    essas caracterfsticas influenciam, tambem a conversayao

    que

    emerge

    nesses

    e s p a ~ o s

    Entretanto, ha outros ele

    mentos

    que

    tambem podem

    ser apresentados e que sao

    decorrentes da m e d i a ~ a o

    do computador.

    0

    e s p a ~ o

    dig

    it

    al

    e

    urn

    s p a ~ o

    fundamentalmente

    anonimo, g r a ~ a s

    a

    mediac;ao. Co mo o corpo ffsico,

    el

    emento fundamental da

    c o n

    s t r u ~ 5 o da

    s i t u a ~ a o

    de

    i n t e r a ~ a o nao e urn

    partkipe

    do processo no espayo

    mediado, ha uma p r e s u n ~ a o

    de

    anonimato

    gerada

    pela

    propria

    p e r c e p ~ a o

    deste

    . por isso que as audiencias

    sao

    invisiveis

    par

    princfpio.

    Ha

    urn

    distanciamento

    fisico causado pela m e d i a ~ a o entre

    os

    interagentes, e

    essa nao proximidade

    esta

    relacionada ao descol

    amento

    do processo conversacional

    da

    c o p r e s e n ~ a

    Assim,

    e

    co

    mum

    que a lin

    guagem

    e

    os

    contextos utilizados

    para

    a

    o m u n i c a ~ a o neste ambiente sejam apropriados

    pelos

    atores

    como eleme

    nto

    s de

    c o

    n

    s t r

    u ~ a o

    de i

    dentidade

    (Donath, 1999; Herring, 1999; ~ o y d 2007). Essa

    construyao, n

    ecessar

    ia para a visibili

    dade

    daq uele com

    quem

    se fa Ia, e fundamental

    a

    n t

    e

    r l o c u

    ~ a o .

    A partir dessa

    construc;ao, tem-se a presenya, a

    inda que

    virtual ,

    que

    permite a s i t u a ~ a o

    da

    conversac;ao.

    44

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    41/60

    Ja dissemos, tambem, que a conversac;:ao e

    uma apropriac;:ao, nao apenas urn fato. Ela e construfda,

    significada e

    moldada

    de acordo com as limitac;:oes e

    possibilidades da mediac;:ao, mas

    tambem

    a

    subverte

    e

    reconstr6i.

    1.2.2 Escrita oralizada

    As tecnologias de informac;:ao e comunicac;:ao e

    seu desenvolvimento

    sempre

    tiveram efeitos variados

    sabre a linguagem das populac;:oes e sabre

    as

    relac;:oes

    estabelecidas atraves dessa

    linguagem entre

    os

    interlocutores. Baron

    (2001)

    explica que p

    arte

    dessas

    mudanc;:as quanta

    a

    mediac;:ao do digital esta focada

    no

    apagamento ou hibridjzac;:ao das linguagens escrita e oral,_

    tradicionalmente diferentes, ainda que intrinsecamente

    relacionadas.

    Embora a separac;:ao entre fala e escrita seja

    secular

    em

    termos

    linguisticos, e caracteristica dessa

    apropriac;:ao do ciberespac;:o o estabelecimento de uma

    escrita

    falada" ou "oralizada".

    34

    que

    isso quer dizer? As

    ferramentas

    de comunicac;:ao

    mediada

    pelo computador,

    inicialmente, suportavam apenas a linguagem escrita.

    Com isso, a conversac;:ao

    no

    ciberespac;:o acontece,

    em

    grande

    parte,

    atraves da linguagem escrita.

    35

    I

    31

    Enquanto alguns

    autores

    consideram que h uma

    h i b r i d i z ~ o

    dessas linguagens (vide Herring, 2008), outros ainda consideram que

    euma nova linguagem (ou "netspeak , co mo afirma Crystal, 2006).

    3

    " Herring (2010) expl ica que,

    embora

    hoje em di a outras formas de

    c o n v e r s ~ o

    que focam a linguagem oral (como o VolP por exemplo)

    estejam acontecendo,

    ~

    u n i y o textl gl t ~ m precedencia.

    hist6 rica e continua a mais

    ti]J

    rca da fnteri1et e a mais interessante do

    ponto de vista te6rico.

    45

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    42/60

    Com a a p r o p r i a ~ a o

    para

    a

    c o n v e r s a ~ a o ,

    essa

    linguagem precisou

    ser

    adaptada. Em outras palavras, ela

    precisou incorporar formas de indicar elementos que sao

    essenciais para a t r a d u ~ a o da lingua escrita em lingua

    falada, como elementos que dao dimensao pros6dica da

    fala e elementos nao verbais, como gestos e express6es.

    Sem esses elementos, a fala seria

    extremamente

    ruidosa no e s p a ~ o

    on

    lin

    e.

    Por exemplo, como indicar a

    urn

    int

    erloc

    utor

    que

    se

    esta sendo sarcast

    ico?

    No

    dialogo

    oral, o sarcasmo pode ser construfdo pela e n t o n a ~ a o

    voca

    l

    pela expressao facia l ou mesmo, pelos gestos que

    acompanha m o enunciado. Entretanto, como dissemos,

    esses elementos nao acompanham a linguagem escrita.

    Assim, como transmitir essa i n f o r m a ~ a o na c o n v e r s a ~ a o

    mediada, cujo univ

    erso

    possfvel

    de

    transmissao com

    preendia apenas a linguagem escrita?

    Ora, foi

    pr

    eciso u r n ~ a p r o p r i a ~ a o . E

    uma

    das

    primeiras a p r o p r a ~ 6 e s dos interagentes fo i o uso dos

    caracteres simb6

     

    cos de que dispunham para, justamen

    te, criar formas de simular

    esses

    elementos nao verbais.

    Uma dessas primeiras

    o n v e n ~ 6 e s

    foi

    o u

    so de

    emoticons.

    Emoticons sao conjuntos de caracteres do teclado que

    simbolizam express6es faciais como, por exemplo:

    :-) - sorriso

    :- -

    tristeza

    :-P- lingua

    de

    fora

    Embora nao tenham sido, exatamente, uma

    c r a ~ a o exclusiva da Internet ( o uso de emoticons ja

    acontecia, por exemplo, nas cartas), foi a m e d i a ~ a o do

    computador

    que

    os

    popu

    larizou. Mesmo que inicialmente

    46

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    43/60

    fossem limitados a caracteres do teclado, hoje

    quase

    toda

    a ferramenta inclui emoticons (inclusive animados )

    de todos

    os

    tipos.

    36

    Alem disso, outras estrategias ca

    racterfsticas

    da

    comunicac;:ao oral f

    oram

    incorporadas,

    co

    mo

    o

    usa

    de

    onomatopeias

    e a repetic;:ao de

    letras para

    caracterizar

    a pros6dia. Afinal, sem o cantata direto com

    OS interagentes, a falta

    de

    contexto e Uill problema Serio

    da conversac;:ao online.

    Com o tempo, essas apropriac;:oes to rnaram

    se

    mais

    complexas e mais detalhadas,

    se

    ndo, inclusive,

    ut

    il izadas com caracterfsticas de dialetos especfficos de

    determinado

    s grupos de usuarios

    37

    (como Baron, 2001,

    demonstra).

    Hoje,

    ha

    diferentes tipos

    de

    convenc;:5es

    para

    a conversac;:ao online, que

    se

    diferem em bora nao

    total mente) tambern

    entre as

    varias linguas (vide Crystal,

    2006

    e Herring, 1999) .

    sempre liiiiiiiiiiiiiiiiiiinda

    ma

    r i *-* born final de

    semana

    :*'u

    (comentario observado em urn fotolog)

    39

    36

    Essa pluralidade pode ser

    vi

    sta em ferram

    entas

    como o Microsoft

    Live

    Messenger eo Plurk,

    por

    exemplo,

    que

    permitem, inclusive, uma

    p e r s o n

    z ~ o dos

    emo

    ticons de acordo com a vontade do usuar

    io.

    37

    Ha var ios trabalhos que relatam, no Bras

    il

    , o su rgimento de formas '

    diferentes de

    fa

    la r na Internet, associadas, em gera l, a grupos

    etarios, como o de Pimen tel (2006), que foca os adolescentes e

    os blogs.

    38

    Todos os exemplos util i

    zados

    neste

    l  vro

    foram anonimizados, com

    raras e x c e ~ o e s e sao to

    do

    s frutos de pesquisas

    de

    campo anteriores

    da autora.

    39

    Fotologs sao ferramentas de publi ca

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    44/60

    No exemplo acima, vemos

    uma mensagem que

    e

    parte de

    um

    a conversac;ao entre dais u

    su

    arios do Fotolog,

    uma ferramente mais recente. Observa-se o usa da repe-

    tic;ao

    da letr

    a i

    como

    forma de

    simular

    uma entonac;ao

    oral

    eo usa

    dos emoticons

    nao

    tao convencionais

    ( *-*

    e

    :* ) representando,

    respectivamente, olhos

    arrega

    lados

    e urn be ijo. No caso, sao signos cri

    ados

    a partir de con

    venc;6es

    de uso da

    linguagem

    no

    ciberespa

    c;o

    e fornecem

    o contexto pa

    ra

    o dialogo, bern como

    tran

    sformam a lin

    guagem em ac;ao. 0 usuario nao apenas manda um bei

    jo, ele literalmente coloca uma co nvenc;ao de

    alguem

    (ele

    mesmo?) que da urn beijo.

    A informalidade da linguagem

    tambem

    e uma

    caractcrfst

    ica

    dessa

    oralizac;ao. A fala na

    Internet

    e

    tambem associada

    a u

    rn

    uso

    informal

    da

    lfngua,

    qu

    e

    tambem

    e mais caracteristico

    da

    linguagem oral.

    @usuarioA: Ta chovendo

    nas

    Pelotas?

    @usuar

    ioB: Hihihi Nao

    sei

    mas ta

    sempr

    e umido

    nas Pelotas RT

    No exemplo acima, temos uma resposta dada

    par

    um usuario (usuarioB) a outro (usuarioA)

    no

    Twitter.

    Observa-se o uso coloquial

    da

    lingua

    ja adaptado para

    a

    Internet, o ta , por exempio, e a expressao

    nas

    Pelotas ,

    que

    se

    refere a uma cidade - Pelotas/RS. Mesmo o nao

    u

    sa

    de

    acentos pode

    ser

    atr

    ibu fdo a

    uma

    forma mais

    coloquial e pratica de

    falar .

    Crystal (2006) discute que a conversac;ao na

    Internet

    obedece a restric;6es que sao caracterfsticas do

    meio ou

    das

    ferramentas utilizadas. Essas restric;6es aca

    bam par

    influenciar a ca

    pacidade

    lingufstica

    prod

    utiva e

    48

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    45/60

    receptiva dos interagentes, mas nao necessariamente do

    mina-Ia Afinal, como e s p ~ o simb61ico, essas ferramen

    tas vao oferecer espac;os

    de

    construc;ao

    de

    praticas que

    vao

    ampliar

    a negociac;ao de sentido

    de

    seus

    usuarios

    criar convenc;oes (como os emoticons) e ajustar contex

    tos que vao permitir a conversac;ao.

    Assim

    ferramentas

    diferentes vao oferecer contextos de apropriac;ao dife

    rentes da

    linguagem. E

    grupos

    diversos podem, tambem,

    ressignificar esses elementos de acordo com sua propria

    percepc;ao

    da

    ferramenta e

    seu un

    iverso contextual.

    Essa simulac;ao do oral da as trocas interacionais

    realizadas no ciberespac;o

    contornos

    semelhantes aos

    da

    conversac;ao oral. A estrutura aparente

    dessas

    trocas,

    relativamente organizada e onde

    ha turnos

    e convenc;oes

    de

    contexto (como demonstra o trabalho de Herring,

    1999), e similar

    de

    uma conversac;ao. linguagem

    e adaptada, convencionada e alt

    erada para dar

    conversac;ao dimens6es da oralidade.

    Talvez por conta dessas caracteristicas, a

    c o n v e r s ~ o no ciberespac;o seja tao relacionada a

    construc;ao

    de

    relac;oes sociais e

    agrupamentos

    (vide

    Rheingold, 1995; Recuero, 2009).

    Assim

    podemos dizer

    que em

    bora

    nao seja constituida de fala na maioria das

    vezes, a conversac;ao no

    ambiente

    virtual e constituida

    de

    interac;oes pr6ximas desta, que simulam a

    o r g n i z ~ o

    conversacional oral e que tern efeitos

    semelhantes

    nas

    int

    erac;oes sociais e na constituic;ao dos grupos.

    1 2 3

    Unidade

    temporal elastica:

    os tipos e

    c o n v e r s ~ o

    mediada

    Outro elemento apresentado na conversac;ao

    online e a sua caracteristica

    de

    acontecimento, pois

    9

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    46/60

    compreende trocas em

    uma

    unidade temporal na qual

    os participantes constroem e dividem urn contexte

    em

    uma copresenr,:a.

    No ambiente

    do ciberespar,:o, no

    entanto, essa unidade temporal torna-se mais elastica,

    e a presenr,:a e compartilhada apenas pela persistencia

    das trocas e dos contextos. conversac;ao

    mediada

    pelo

    computador,

    deste

    modo, nao

    necessariamente

    ocorre

    em

    urn mesmo momenta temporal onde os interlocutores

    estao

    presente

    s, com urn

    contexte

    negociado e construido

    naquele momenta. Ao contnirio,

    sao

    unidades temporais

    elasticas, que podem ser estentidas pelo tempo desejado

    pelos interlocutores, cujo contexte precisa

    ser

    adaptado

    para essas trocas no tempo. Es sa elasticidade e car

    ac

    teristica tambem do

    amb

    i

    ente dessas

    conversar,:oes.

    conversar,:ao,

    no

    caso

    da

    mediar,:ao do

    cornputador

    e

    constitufda

    de

    praticas que vao organizar

    as trocas informativas entre os agentes para a construc;ao

    de contextos sociais. Para compreende J

    a

    e precise

    verificar a

    inter

    ac;ao e os elementos apontados entre

    as re

    presenta

    c;oes

    de

    interlocutores no ambiente vir

    tual, de

    ntro

    de urn m

    esmo

    contex

    te

    interacional

    que

    e negociado pelos interagentes. Assim, S contextos

    sao

    geralm

    ente

    construfdos

    sabre duas ap

    ropri

    ar :oes:

    a conversar,:ao sfncrona e a assfn crona. 0 conceito de

    formas de

    CMC

    sincronas e assincronas e trabalhado

    por muitos autores e fornece alguns eleme

    nto

    s para

    compreender essa caracterfstica. Baron (2002), por

    exemplo, explica que formas sfncronas sao aquelas que

    possuem o potencial para a

    int

    erac;ao em tempo real 

    dos participantes, enquanto

    as

    assfncronas

    sao aquelas

    ferramentas que nao possu

    em

    esse potencial. Herring

    (1999) refere-se aos ambientes

    da CMC

    como sfncronos

    s

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    47/60

    ou assfncronos, dentro da mesma perspectiva de Baron,

    demonstrando que ambientes com potencial de tempo

    real ainda sao capazes de simular mais a conversas;ao. 0

    que

    temos

    aqui, portanto, e a nos;ao de que

    OS

    ambientes

    da comunicas;ao mediada pelo computador sao capazes

    de proporcionar contextos ampliados , que podem ser

    recuperados, buscados e atualizados

    por

    novas inte

    ras;6es, gerando conversas;6es que podem estender-se

    por largos perfodos de tempo.

    conversac;ao sfncrona e aquela que e carac

    terizada pelo compartilhamento do contexto temporal e

    midiatico. Ou seja, sao conversas;oes que acontecem entre

    dais ou mais atores atraves de uma ferramenta de

    CMC

    e

    cuja expectativa de resposta dos interagentes e imediata.

    conversac;ao assfncrona e

    uma

    conversas:ao

    que se

    estende

    no tempo, muitas vezes atraves de varios

    softw res

    (migrando,

    por

    exemplo, entre varios deles,

    conforme veremos adiante). Com isso, o sequenciamento

    da conversac;ao e diferente, pais esta espalhado no

    tempo. Essas conversas;6es ja foram observadas

    por

    outros pesquisadores (vide Herring

    t a/.

    2005;

    Primo

    Smaniotto, 2006; Efimova

    De

    Moor 2005). Elas

    sao, geralmente, perpetradas atraves de sistemas como

    os weblogs, fotologs,

    1

    listas de discussao por e-mails,

    micromensageiros ou, mesmo, nos sites de redes

    sociais. Na conversas:ao assfncrona, a reconstrus;ao dos

    pares conversacionais e dificultada, pois a ordenac;ao

    e diferente no tempo (Herring, 1999). Ou seja,

    OS

    4

    De estrutura

    semelhante aos weblogs, mas focados em publicas;oes

    de

    fotos acompanhadas ou nao

    de

    comentarios.

    51

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    48/60

    atores envolvidos precisam de

    mais envolvimento para

    relacionar

    as

    mensagens com

    seus pares e compreender o

    sequenciamento das mesmas. A conversac;:ao assincrona,

    em bora

    i

    gualment

    e

    com

    um na CMC

    tem s

    ido menos

    ado

    tad

    a

    como

    objeto de estudo

    do

    que a sfncrona.

    A

    conversas:ao mediada por

    computador

    em

    sua

    forma sfncrona e

    geralmente, mais

    associada

    com

    a conversac;:ao oral vide, por exemplo, o

    trabalho

    de Ko

    2 6

    enquanto a

    modalidade assfncrona normalmente

    relacionada pelos estud

    ioso

    s a forma

    escrita por

    exernplo, Herring,

    2001). Herring 2010), entretanto,

    expl ica que isso parece acontccer porque enquanto a

    co

    nv

    ersac;:ao sfncrona exige uma ac;:ao

    mais dinamica

    na

    elaborac;:ao e

    envio

    das mensagens, na

    assfncrona

    h um

    tempo

    maior para

    revisar,

    editar

    e

    ate

    rn

    es

    rno, a

    pagar

    aqui la que

    foi

    dito. A a utora

    sa

    lic

    nt

    a, entretanto, que as

    formas assfncronas de

    conversac;:ao

    sao par

    isso,

    ainda

    mais interessa ntes c

    dcsafiadoras

    ern seu estudo, pois sao

    conversac;:oes onde a

    hibridiza

    c;:ao entre a linguagem oral

    e escrita parece ser

    mais

    co mp lexa e mais diferenciada.

    Reid

    1991), em

    seu

    trabalho

    sabre

    o

    TRC

    11

    ,

    apontou que a comunicac;:ao

    mediada

    pelo computador

    pode ser

    compreendida

    como sfncrona

    ou

    assfncro

    na

    a

    partir

    de s

    ua

    s

    ferrarnentas. As

    ferramentas sincronas

    seriarn

    aq

    ue las que permitem uma expectativa de res-

    pasta im

    edia ta ou, em uma mesma identidade

    temporal,

    como

    as

    sa

    l

    as

    de

    chat.

    Seriam

    ferramentas

    que

    sirnu-

    l

    ariam uma troca de

    informac;:oes

    de forma se

    melhante

    1 1

    Internet

    Re

    l

    ay

    Cha

    t:

    Protocolo de chat

    muito

    popul

    ar

    no inicio da

    decada de 90.

    52

  • 8/19/2019 Recuero (2012)

    49/60

    a

    uma

    interac;ao face a face. Ja

    nas ferramentas

    assin

    cronas, a expectativa

    de respos

    ta nao e imediata, mas

    alargada

    no

    tempo

    . Essas

    seriam ferramentas

    como o

    e-mail e

    os

    f6runs

    da

    Web.

    No

    entanto, o conceito de sincronia e ass incron ia

    e urn tanto quanta limitado. Por exemplo, quando

    pensamos na

    conversac;ao como pratica, ve-se claramen

    te

    que,

    embora

    o e-mail seja tradicionalm

    ente apontado

    pelos auto res como urn meio assincrono, ele pode

    ad

    quirir

    caracteristicas sincronas

    em seu

    uso diario. lmaginemos,

    por exemplo,

    que

    urn individuo A envia urn e-mail a urn

    indivfduo 8, que imediatamente responde. Percebendo

    que

    8

    esta

    online, A

    passa

    a respond

    er

    im

    ediatame

    nte,

    dando prosseguimento ao dialogo. Neste caso, o e-mail

    passa a

    ser

    uma

    ferramenta

    sincrona. Murphy

    Co ll

    ins

    (1999) e

    Ko

    (1996)

    tamb

    em

    fazem considerac;ao seme