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TEHA11-P2 © Porto Editora Maria Antonieta (1755-1793), quadro de Elisabeth Vigée-Lebrun, uma das raras mulheres pintoras do Antigo Regime (c. 1786) Situação-problema Redigir um texto-síntese sobre «A condição feminina na França revolucionária» Saberes a mobilizar Saber Saber-fazer – Contextualizar a eclosão da Revolução Francesa – Distinguir as etapas da Revolução Francesa – Analisar as principais transformações produzidas pela Revolução – Analisar fontes de natureza diversa, distinguindo informa- ção explícita e implícita – Pesquisar informação relevante, organizando-a segundo critérios de pertinência – Comparar diferentes perspetivas – Elaborar sínteses com correção linguística: estabelecendo traços definidores; distinguindo situações de rutura; utili- zando, de forma adequada, terminologia específica. Documentação doc A Junto ao berço encontra-se o príncipe herdeiro, Luís-José, que faleceu em 1789; no colo de Maria Antonieta está o futuro Luís XVII e, encostada à mãe, vê-se a princesa Marie-Thérèse Charlotte. Filha da imperatriz Maria Teresa de Áustria, Maria Antonieta ainda nem 15 anos completara quando desposou o futuro Luís XVI. Infeliz no casamento (consumado 7 anos depois!), olhada com suspeição na cerimoniosa Versalhes (que nela via “a austríaca”) e alvo da maledicência (era apelidada de “Madame Défice” pelos seus gastos extravagantes), Maria Antonieta acabou por também subir ao cadafalso no auge do Terror. Vilã para uns, mártir para outros, Maria Antonieta é uma complexa figura de mulher que continua a suscitar o inte- resse e a polémica da historiografia. A corveia da camponesa (gravura anónima de 1789) doc B Resolução de situações-problema

Redigir um texto-síntese sobre «A condição feminina na ... · viver em legítimo casamento e se apresentam hoje à Municipalidade de Paris para aí reiterarem a presente promessa

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Maria Antonieta (1755-1793), quadro deElisabeth Vigée-Lebrun, uma das rarasmulheres pintoras do Antigo Regime (c. 1786)

Situação-problemaRedigir um texto-síntese sobre «A condição feminina na França revolucionária»

Saberes a mobilizar

Saber Saber-fazer

– Contextualizar a eclosão da Revolução Francesa

– Distinguir as etapas da Revolução Francesa

– Analisar as principais transformações produzidas pela

Revolução

– Analisar fontes de natureza diversa, distinguindo informa-

ção explícita e implícita

– Pesquisar informação relevante, organizando-a segundo

critérios de pertinência

– Comparar diferentes perspetivas

– Elaborar sínteses com correção linguística: estabelecendo

traços definidores; distinguindo situações de rutura; utili-

zando, de forma adequada, terminologia específica.

Documentaçãodoc

A

Junto ao berço encontra-se o príncipe herdeiro, Luís-José,que faleceu em 1789; no colo de Maria Antonieta está o futuroLuís XVII e, encostada à mãe, vê-se a princesa Marie-ThérèseCharlotte.Filha da imperatriz Maria Teresa de Áustria, Maria Antonietaainda nem 15 anos completara quando desposou o futuroLuís XVI. Infeliz no casamento (consumado 7 anos depois!),olhada com suspeição na cerimoniosa Versalhes (que nela via“a austríaca”) e alvo da maledicência (era apelidada de“Madame Défice” pelos seus gastos extravagantes), MariaAntonieta acabou por também subir ao cadafalso no auge doTerror.Vilã para uns, mártir para outros, Maria Antonieta é umacomplexa figura de mulher que continua a suscitar o inte-resse e a polémica da historiografia.

A corveia da camponesa (gravura anónima de 1789)

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A marcha das mulheres parisienses a Versalhes (gravura anónimade 1789)

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CA Boa Justiça (gravuraanónima de 1790)

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A fome, que se fazia sentir em Paris, explica a marcha das mulheres a Versalhes, nos dias 5 e 6 deoutubro de 1789. No regresso, entre os sacos de farinha, trazem com elas a família real (que irá parao palácio das Tulherias) e os deputados à Constituinte. Repare-se na mulher à esquerda, uma aristo-crata, obrigada a marchar com as mulheres do povo.

Reivindicações de Olympe de Gouges (1791)

Homem, és tu capaz de seres justo? É uma mulher que te põe estaquestão; não lhe tirarás esse direito. Diz-me? Quem te deu o impériosoberano de oprimir o meu sexo? A tua força? Os teus talentos?

Observa o Criador na sua sabedoria; percorre a Natureza em toda asua grandeza, da qual pareces querer aproximar-te, e dá-me, se ousas,exemplo deste império tirânico. […]

Preâmbulo – As mães, as filhas, as irmãs, como representantes daNação, pedem para ser constituídas em Assembleia Nacional. […] Emconsequência, o sexo, que é superior em beleza e em coragem nos sofri-mentos maternais, reconhece e declara, na presença e sob os auspíciosdos Ser Supremo, os seguintes Direitos da Mulher e da Cidadã.

Art. 1.º – A mulher nasce livre e permanece igual ao homem emdireitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum.[…]

Art. 6.º – A lei deve ser a expressão da vontade geral; todos as cida-dãs e os cidadãos devem contribuir pessoalmente ou através dos seusrepresentantes para a sua formação […].

Art. 13.º – Para a manutenção da força pública e para as despesas da administração, as contribuiçõesda mulher e do homem são iguais; ela participa em todas as corveias, em todas as tarefas dolorosas; eladeve, portanto, participar na distribuição de lucros, de emprego, de cargos, de dignidades e de bens.

Em Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, setembro de 1791

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Olympe de Gouges é o pseudónimo deMarie Gouze (1748-1793), uma girondinaque se opôs abertamente a Rosbespierre.Denunciada como “mulher desnaturada” econdenada como contrarrevolucionária,acabou por ser guilhotinada.

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Um clube patriótico de mulheres (guachede Lesueur, finais do século XVIII)

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Casamento e divórcio na Revolução

Deviam ser muito divertidos de observar os casaisque, por fins de setembro de 1792, se matrimoniavamconforme os novos métodos adotados pela República.

Durante séculos e séculos, sempre fora necessáriopedir a bênção da Igreja para os esponsórios. Porém,uma lei de fresquíssima data acabava de substituir osacramento por um contrato civil e agora podia passar-sesem o cura. Bastava mandar afixar no edifício daCâmara da cidade um aviso assim concebido: “Casa-mento entre o Senhor... e a Menina... os quais queremviver em legítimo casamento e se apresentam hoje à Municipalidade de Paris para aí reiterarem a presentepromessa e serem autorizados pelas Leis do Estado”. Isto feito, comparecia-se perante as autoridades,ouvia-se um pequeno discurso, respondia-se com um duplo sim à pergunta tradicional e ficava-se maridoe mulher. […]

Doravante as uniões podiam desfazer-se tão rapidamente como se haviam formado. Na mesma salaem que se trocavam juramentos de felicidades, grandes editais, coroados pelo barrete frígio, traziam estesugestivo título: Lei do Casamento e do Divórcio. Impossível indicar com mais clareza que a farmáciamunicipal vendia, simultaneamente, o veneno e o contraveneno.

Para chegar a tal ponto, fora necessário que se operasse uma profundíssima revolução nos costumesfranceses, pois até ao fim do Antigo Regime poucos princípios tinham sido menos discutíveis do que aindissolubilidade do casamento. [...]

Se, em dois anos, as ideias se modificaram, tal reviravolta parece ter duas causas: uma, o movimentoantirreligioso; a outra, o culto sempre crescente da liberdade individual cuja natural consequência seria orompimento facultativo de enlaces infelizes.

Jean Robiquet, s/d – A Vida Quotidiana no Tempo da Revolução Francesa, Lisboa, Edição «Livros do Brasil»

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A invasão da Sala do Manège, 1792 (desenho deFrançois Gérard, 1794/95)

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A gravura documenta a invasão popular da Sala onde decorriam os trabalhos daAssembleia Legislativa, no dia 10 de agosto de 1792.Através do gradeamento, à direita, pode ver-se a família real que se haviaacolhido à proteção da Assembleia.

O Divórcio (guache de Lesueur, finais do século XVIII).

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Uma petição feminina (1793)

Legisladores, as cidadãs lavadeirasde Paris vêm depositar as suas lágrimasno santuário sagrado das leis e da jus-tiça. Não somente todos os génerosnecessários à vida são de um preço exces-sivo, mas, ainda, as matérias-primasnecessárias ao branqueamento subiram[…]. Não são os alimentos que faltam,eles são abundantes; é o açambarca-mento, é a agiotagem […].

Vocês fizeram tombar, sob a espadada lei, a cabeça do tirano; que a espadada lei desça sobre a cabeça das sangues-sugas públicas. Pedimos a pena de mortepara os açambarcadores e agiotas.

Petição levada à Convenção pelas“cidadãs lavadeiras de Paris”,

24 de fevereiro de 1793

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A posição de um deputado republicano (1793)

Republicanos, libertemos as mulheres de umaescravatura aviltante para a humanidade, talcomo quebramos as cadeias dos nossos vizinhos(1).Homens, envergonhemo-nos de ver as mulheresamesquinhadas sob o jugo dos nossos costumesfeudais e das nossas leis bárbaras. Inimigosdeclarados dos déspotas e dos tiranos, renuncie-mos a este império odioso do mais forte sobre omais fraco. Apóstolos da igualdade, tratemos asmulheres como iguais e avancemos na carreirapolítica. Defensores da liberdade, proclamemos adas mulheres, restituídas à dignidade humana, efranqueemos-lhes perante o espanto da Europa,as portas das assembleias primárias. Fundadoresda República, ofereçamos aos povos do universo omodelo da mais pura democracia sem Hilotas(2).

Discurso do deputado Guyomar perante a ConvençãoNacional, em 29 de abril de 1793

(1) Referência às campanhas militares francesas destinadas a libertarem os povos europeusdo jugo absolutista.(2) Espécie de escravos na antiga Esparta.

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A morte do patriota Marat (gravura anónima de 1793)

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Marat, médico e jornalista,elemento dos Montanheses naConvenção e conhecido como“o amigo do povo” pelos sans--culottes, morreu apunhaladopor Charlotte Corday, umajovem girondina, em 13 dejulho de 1793. Meses depois,Charlotte foi guilhotinada.

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1. Identifique a natureza da documentação apresentada, depois de passar o quadro para o seu caderno diário.

2. Indique, agora, o período/etapa da Revolução em que cada um dos documentos se insere.

3. Que condição feminina é expressa no quadro Maria Antonieta (doc. A)?

4. Contextualize a imagem do doc. B.

Documentos A B C D E F G H I J L M

EscritosHistóricos

Historiográficos

Outros

Atividades

A posição de um membro do Comité de Segurança Geral (1793)

De uma forma geral, as mulheres sãopouco capazes de elevadas conceções e demeditações sérias; e se, nos antigos povos, asua timidez natural e o pudor não lhes per-mitiam aparecer fora do quadro familiar,quereis que, na República Francesa, elaspossam chegar à barra dos tribunais, às tri-bunas, às assembleias políticas, abando-nando o recato, fonte de todas as virtudes doseu sexo, e os cuidados à família?

Elas dispõem de um outro meio paraprestarem serviços à Pátria; podem iluminaros seus esposos, comunicar-lhes reflexõespreciosas, transmitir-lhes calma, fortificarneles o amor da pátria, servindo-se de todosos meios que o amor privado põe à sua dispo-sição; e o homem, esclarecido por discussõestranquilas no seu lar, levará para a socie-

dade as ideias úteis que uma mulher ho-nesta lhe fornecer. Cremos, por isso, queuma mulher não deve sair do âmbito dafamília para se imiscuir nos assuntos dogoverno.

Há um outro apontamento pelo qual asassociações de mulheres parecem perigosas.Se considerarmos que a educação política doshomens está na sua aurora, que todos osprincípios ainda não se desenvolveram e quenós balbuciamos ainda a palavra liberdade,as mulheres, cuja educação moral é pratica-mente nula, apresentam-se pouco esclareci-das.[…]

Parecer do representante Amar, levado à ConvençãoNacional em 30 de outubro de 1793

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5. Quando muda a situação presente no doc. B? Que documento revela essa mudança? Justifique.

6. Distinga diferentes formas de participação das mulheres na França revolucionária (docs. C, E, F, G, I, L).

7. A que estratos sociais pertencem as mulheres desse documentos?

8. Por que redigiu Olympe de Gouges uma Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã em setembro de

1791 (doc. E)? Que reivindicava ela? Pode Olympe ser considerada uma feminista? Justifique.

9. Compare as reivindicações de Olympe com as posições do deputado Guyomar (doc. J) e do represen-

tante Amar (doc. M).

9.1. Indique pontos de contacto e de divergência.

9.2. Saliente os argumentos com que os dois políticos sustentaram as suas posições.

10. Que atitudes patrióticas revelam as mulheres da imagem do doc. F?

11. Por que se acolheu a família real à proteção da Assembleia em 10 de agosto de 1792? Como se com-

portam os invasores da Sala da Assembleia (doc. G)?

12. O que aproxima Charlotte Corday (doc. L) de Olympe de Gouges (doc. E) e de Maria Antonieta

(doc. A)? O que as separa?

13. Teve a situação expressa no doc. H algum impacto na condição feminina? Justifique.

14. Dos documentos presentes (A a M), considera algum(uns) menos relevante(s) para a redação do texto-

-síntese que lhe foi proposta no início da rubrica? Porquê?

15. Redija o texto-síntese «A condição feminina na França revolucionária». Integre os dados recolhidos na

documentação e recorra ao que estudou na unidade 2, bem como a possíveis consultas.

Sugerem-se os seguintes tópicos de desenvolvimento:

– situação da mulher nas vésperas da Revolução;

– conquistas obtidas com a Revolução;

– reivindicações não satisfeitas;

– vultos que se celebrizaram na luta pelos direitos das mulheres.

N. B.: – Não exceda 2-3 páginas de texto;

– Redija com correção linguística.

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