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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
REDUCcedilAtildeO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL
Por Mauro Simas de Lima
Orientador
Professora Valesca Rodrigues
Rio de Janeiro
2009
2
Apresentaccedilatildeo de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre ndash Universidade Candido Mendes como requisito
parcial para obtenccedilatildeo do grau de especialista em
Direito e Processo Penal
Por Mauro Simas de Lima
3
AGRADECIMENTOS
agrave DEUS que vocecirc pode natildeo acreditar
mas Ele estaacute sempre por perto agrave minha
esposa Geoacutergia meus filhos Mauro e
Pedro aos meus Pais Marilda e Pedro
minha irmatilde Marise a minha sogra
Ywone e tambeacutem agraves adversidades que
nos fazem perceber que precisamos
continuar em frente
4
DEDICATOacuteRIA
a todos os amigos que me ajudaram e
contribuiacuteram de alguma forma e em
especial aos meus queridos filhos Mauro e
Pedro com sua Monografia Penal do papai
iniciada
5
RESUMO
Em que pese a nossa Constituiccedilatildeo garantir a inviolabilidade dos direitos e
garantias individuais e se tratar de questatildeo imodificaacutevel (claacuteusula peacutetrea) portanto
a inimputabilidade ateacute os 18 anos estaacute garantida pela constituiccedilatildeo ( art 60 sect 4ordm
IV CF) e tentativas de modificaccedilatildeo satildeo claramente inconstitucionais natildeo podemos
nos furtar ou se esconder da discussatildeo do tema
Preliminarmente conveacutem assinalar que a questatildeo do desrespeito agraves leis
natildeo eacute caracteriacutestica peculiar de nossos jovens infratores Tal caracteriacutestica estaacute
disseminada no conjunto da sociedade e tambeacutem do Estado que natildeo respeita o
que o Estatuto da Crianccedila e Adolescente impotildee como direitos das crianccedilas e
adolescentes Sauacutede educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo seguranccedila satildeo direitos baacutesicos
inexistentes para grande parte da populaccedilatildeo jovem de nosso paiacutes nosso jovem
fica abandonado agrave proacutepria sorte nos centros urbanos e rurais O Estado quer ser o
grande defensor da ldquoboa sociedaderdquo mas se esquece de fazer cumprir as leis de
papel no mundo real ou ainda promulgando leis penais de maneira compulsiva
que atacam os problemas porem natildeo combatem a causa natildeo eacute verdade que a
violecircncia se restrinja tatildeo somente ao comportamento dos ditos rdquomarginaisrdquo e sim
de toda a sociedade de todas as ilegalidades arbitrariedades corrupccedilatildeo e abusos
diuturnamente cometidos pela gama da sociedade e seus vaacuterios grupos sociais
Os crimes que os menores participam e que assustam a sociedade e
fazem os oportunistas e defensores da ideacuteia de diminuir a idade penal lanccedilarem
discursos populistas que pregam ser os menores impunes com a famosa
expressatildeo ldquo sou di menor nada acontece comigordquo e de que satildeo utilizados pelos
adultos Bem que se prendam os adultos se o adulto for punido talvez natildeo
corrompa o menor se o Estado natildeo consegue punir o adulto porque haveria de se
voltar contra o menor
A prisatildeo sempre foi uma instituiccedilatildeo hipoacutecrita muito bonita no papel e
vergonhosa na praacutetica natildeo serve para reintegrar e sim para esconder os
criminosos da sociedade na verdade excluiacute-los Os presos entram numa espiral
crescente de produccedilatildeo da violecircncia satildeo condicionados e tratados como seres de
segunda categoria verdadeiros ratos para depois a sociedade exigir deles
6
comportamento diverso do crime pelo contrario os presos se tornam cada dia
mais incapazes de conviver em sociedade mais frios e violentos aptos a
cometerem novos delitos e agressotildees contra a sociedade
O Brasil eacute um paiacutes de desigualdades sociais perversas havendo
sabidamente uma camada da populaccedilatildeo que vive na linha extrema da pobreza e
da miseacuteria Embora miseacuteria e pobreza - diga-se a bem da verdade ndash natildeo sejam
necessariamente as raiacutezes principais da criminalidade eacute forccediloso reconhecer que
em muitos casos podem conduzir suas viacutetimas de um quadro de desesperanccedila
fome e desespero agrave marginalidade ajudada ainda pela fase aguda de decadecircncia
moral de nossa sociedade sobre o olhar complacente das autoridades
constituiacutedas
A gravidade do momento estaacute a exigir uma soluccedilatildeo realiacutestica distanciada
da ideacuteia de uma puniccedilatildeo desmedida e tambeacutem do paternalismo exacerbado
maneiras como a questatildeo eacute tratada hoje Eacute hora de exigir das autoridades
constituiacutedas e de nossos representantes nas casas legislativas coragem e
determinaccedilatildeo para que se busque uma soluccedilatildeo para esse desafio antes que seja
demasiadamente tarde
A modificaccedilatildeo ventilada viria a ser a maior das mazelas para o sistema
penitenciaacuterio misturar jovens de 16 anos com outros presos de 25 ou 30 anos
daria inicio a uma Universidade do crime em tempo integral dentro de nossos
presiacutedios A sociedade quer que esta situaccedilatildeo se estabeleccedila Acredito fortemente
que natildeo
Somos absolutamente contraacuterios agrave tese de diminuir a idade penal ainda
que nosso sistema prisional funcionasse seria uma atrocidade legal mandar para a
cadeia os jovens que ainda natildeo tem sua formaccedilatildeo biopsicoloacutegica completa
Nossos jovens precisam na verdade ter direito a sua cidadania aprender a ser
cidadatildeo e natildeo ser encarcerado para se tornar um criminoso de alta periculosidade
As causas da violecircncia desenfreada natildeo estatildeo nos jovens e sim fora deles no
ventre de nossa sociedade
Eacute preciso que haja a implantaccedilatildeo urgente em todos os Estados e
Municiacutepios do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente na sua integralidade em
todo territoacuterio nacional Soacute assim noacutes poderemos avaliar de maneira honesta se o
Estatuto realmente daraacute certo Eu acredito que um trabalho nessa direccedilatildeo poderaacute
ao longo do tempo nos mostrar mais resultados do que tirarmos o jovem da rua e
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
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METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
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CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
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32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
2
Apresentaccedilatildeo de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre ndash Universidade Candido Mendes como requisito
parcial para obtenccedilatildeo do grau de especialista em
Direito e Processo Penal
Por Mauro Simas de Lima
3
AGRADECIMENTOS
agrave DEUS que vocecirc pode natildeo acreditar
mas Ele estaacute sempre por perto agrave minha
esposa Geoacutergia meus filhos Mauro e
Pedro aos meus Pais Marilda e Pedro
minha irmatilde Marise a minha sogra
Ywone e tambeacutem agraves adversidades que
nos fazem perceber que precisamos
continuar em frente
4
DEDICATOacuteRIA
a todos os amigos que me ajudaram e
contribuiacuteram de alguma forma e em
especial aos meus queridos filhos Mauro e
Pedro com sua Monografia Penal do papai
iniciada
5
RESUMO
Em que pese a nossa Constituiccedilatildeo garantir a inviolabilidade dos direitos e
garantias individuais e se tratar de questatildeo imodificaacutevel (claacuteusula peacutetrea) portanto
a inimputabilidade ateacute os 18 anos estaacute garantida pela constituiccedilatildeo ( art 60 sect 4ordm
IV CF) e tentativas de modificaccedilatildeo satildeo claramente inconstitucionais natildeo podemos
nos furtar ou se esconder da discussatildeo do tema
Preliminarmente conveacutem assinalar que a questatildeo do desrespeito agraves leis
natildeo eacute caracteriacutestica peculiar de nossos jovens infratores Tal caracteriacutestica estaacute
disseminada no conjunto da sociedade e tambeacutem do Estado que natildeo respeita o
que o Estatuto da Crianccedila e Adolescente impotildee como direitos das crianccedilas e
adolescentes Sauacutede educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo seguranccedila satildeo direitos baacutesicos
inexistentes para grande parte da populaccedilatildeo jovem de nosso paiacutes nosso jovem
fica abandonado agrave proacutepria sorte nos centros urbanos e rurais O Estado quer ser o
grande defensor da ldquoboa sociedaderdquo mas se esquece de fazer cumprir as leis de
papel no mundo real ou ainda promulgando leis penais de maneira compulsiva
que atacam os problemas porem natildeo combatem a causa natildeo eacute verdade que a
violecircncia se restrinja tatildeo somente ao comportamento dos ditos rdquomarginaisrdquo e sim
de toda a sociedade de todas as ilegalidades arbitrariedades corrupccedilatildeo e abusos
diuturnamente cometidos pela gama da sociedade e seus vaacuterios grupos sociais
Os crimes que os menores participam e que assustam a sociedade e
fazem os oportunistas e defensores da ideacuteia de diminuir a idade penal lanccedilarem
discursos populistas que pregam ser os menores impunes com a famosa
expressatildeo ldquo sou di menor nada acontece comigordquo e de que satildeo utilizados pelos
adultos Bem que se prendam os adultos se o adulto for punido talvez natildeo
corrompa o menor se o Estado natildeo consegue punir o adulto porque haveria de se
voltar contra o menor
A prisatildeo sempre foi uma instituiccedilatildeo hipoacutecrita muito bonita no papel e
vergonhosa na praacutetica natildeo serve para reintegrar e sim para esconder os
criminosos da sociedade na verdade excluiacute-los Os presos entram numa espiral
crescente de produccedilatildeo da violecircncia satildeo condicionados e tratados como seres de
segunda categoria verdadeiros ratos para depois a sociedade exigir deles
6
comportamento diverso do crime pelo contrario os presos se tornam cada dia
mais incapazes de conviver em sociedade mais frios e violentos aptos a
cometerem novos delitos e agressotildees contra a sociedade
O Brasil eacute um paiacutes de desigualdades sociais perversas havendo
sabidamente uma camada da populaccedilatildeo que vive na linha extrema da pobreza e
da miseacuteria Embora miseacuteria e pobreza - diga-se a bem da verdade ndash natildeo sejam
necessariamente as raiacutezes principais da criminalidade eacute forccediloso reconhecer que
em muitos casos podem conduzir suas viacutetimas de um quadro de desesperanccedila
fome e desespero agrave marginalidade ajudada ainda pela fase aguda de decadecircncia
moral de nossa sociedade sobre o olhar complacente das autoridades
constituiacutedas
A gravidade do momento estaacute a exigir uma soluccedilatildeo realiacutestica distanciada
da ideacuteia de uma puniccedilatildeo desmedida e tambeacutem do paternalismo exacerbado
maneiras como a questatildeo eacute tratada hoje Eacute hora de exigir das autoridades
constituiacutedas e de nossos representantes nas casas legislativas coragem e
determinaccedilatildeo para que se busque uma soluccedilatildeo para esse desafio antes que seja
demasiadamente tarde
A modificaccedilatildeo ventilada viria a ser a maior das mazelas para o sistema
penitenciaacuterio misturar jovens de 16 anos com outros presos de 25 ou 30 anos
daria inicio a uma Universidade do crime em tempo integral dentro de nossos
presiacutedios A sociedade quer que esta situaccedilatildeo se estabeleccedila Acredito fortemente
que natildeo
Somos absolutamente contraacuterios agrave tese de diminuir a idade penal ainda
que nosso sistema prisional funcionasse seria uma atrocidade legal mandar para a
cadeia os jovens que ainda natildeo tem sua formaccedilatildeo biopsicoloacutegica completa
Nossos jovens precisam na verdade ter direito a sua cidadania aprender a ser
cidadatildeo e natildeo ser encarcerado para se tornar um criminoso de alta periculosidade
As causas da violecircncia desenfreada natildeo estatildeo nos jovens e sim fora deles no
ventre de nossa sociedade
Eacute preciso que haja a implantaccedilatildeo urgente em todos os Estados e
Municiacutepios do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente na sua integralidade em
todo territoacuterio nacional Soacute assim noacutes poderemos avaliar de maneira honesta se o
Estatuto realmente daraacute certo Eu acredito que um trabalho nessa direccedilatildeo poderaacute
ao longo do tempo nos mostrar mais resultados do que tirarmos o jovem da rua e
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
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CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
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32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
3
AGRADECIMENTOS
agrave DEUS que vocecirc pode natildeo acreditar
mas Ele estaacute sempre por perto agrave minha
esposa Geoacutergia meus filhos Mauro e
Pedro aos meus Pais Marilda e Pedro
minha irmatilde Marise a minha sogra
Ywone e tambeacutem agraves adversidades que
nos fazem perceber que precisamos
continuar em frente
4
DEDICATOacuteRIA
a todos os amigos que me ajudaram e
contribuiacuteram de alguma forma e em
especial aos meus queridos filhos Mauro e
Pedro com sua Monografia Penal do papai
iniciada
5
RESUMO
Em que pese a nossa Constituiccedilatildeo garantir a inviolabilidade dos direitos e
garantias individuais e se tratar de questatildeo imodificaacutevel (claacuteusula peacutetrea) portanto
a inimputabilidade ateacute os 18 anos estaacute garantida pela constituiccedilatildeo ( art 60 sect 4ordm
IV CF) e tentativas de modificaccedilatildeo satildeo claramente inconstitucionais natildeo podemos
nos furtar ou se esconder da discussatildeo do tema
Preliminarmente conveacutem assinalar que a questatildeo do desrespeito agraves leis
natildeo eacute caracteriacutestica peculiar de nossos jovens infratores Tal caracteriacutestica estaacute
disseminada no conjunto da sociedade e tambeacutem do Estado que natildeo respeita o
que o Estatuto da Crianccedila e Adolescente impotildee como direitos das crianccedilas e
adolescentes Sauacutede educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo seguranccedila satildeo direitos baacutesicos
inexistentes para grande parte da populaccedilatildeo jovem de nosso paiacutes nosso jovem
fica abandonado agrave proacutepria sorte nos centros urbanos e rurais O Estado quer ser o
grande defensor da ldquoboa sociedaderdquo mas se esquece de fazer cumprir as leis de
papel no mundo real ou ainda promulgando leis penais de maneira compulsiva
que atacam os problemas porem natildeo combatem a causa natildeo eacute verdade que a
violecircncia se restrinja tatildeo somente ao comportamento dos ditos rdquomarginaisrdquo e sim
de toda a sociedade de todas as ilegalidades arbitrariedades corrupccedilatildeo e abusos
diuturnamente cometidos pela gama da sociedade e seus vaacuterios grupos sociais
Os crimes que os menores participam e que assustam a sociedade e
fazem os oportunistas e defensores da ideacuteia de diminuir a idade penal lanccedilarem
discursos populistas que pregam ser os menores impunes com a famosa
expressatildeo ldquo sou di menor nada acontece comigordquo e de que satildeo utilizados pelos
adultos Bem que se prendam os adultos se o adulto for punido talvez natildeo
corrompa o menor se o Estado natildeo consegue punir o adulto porque haveria de se
voltar contra o menor
A prisatildeo sempre foi uma instituiccedilatildeo hipoacutecrita muito bonita no papel e
vergonhosa na praacutetica natildeo serve para reintegrar e sim para esconder os
criminosos da sociedade na verdade excluiacute-los Os presos entram numa espiral
crescente de produccedilatildeo da violecircncia satildeo condicionados e tratados como seres de
segunda categoria verdadeiros ratos para depois a sociedade exigir deles
6
comportamento diverso do crime pelo contrario os presos se tornam cada dia
mais incapazes de conviver em sociedade mais frios e violentos aptos a
cometerem novos delitos e agressotildees contra a sociedade
O Brasil eacute um paiacutes de desigualdades sociais perversas havendo
sabidamente uma camada da populaccedilatildeo que vive na linha extrema da pobreza e
da miseacuteria Embora miseacuteria e pobreza - diga-se a bem da verdade ndash natildeo sejam
necessariamente as raiacutezes principais da criminalidade eacute forccediloso reconhecer que
em muitos casos podem conduzir suas viacutetimas de um quadro de desesperanccedila
fome e desespero agrave marginalidade ajudada ainda pela fase aguda de decadecircncia
moral de nossa sociedade sobre o olhar complacente das autoridades
constituiacutedas
A gravidade do momento estaacute a exigir uma soluccedilatildeo realiacutestica distanciada
da ideacuteia de uma puniccedilatildeo desmedida e tambeacutem do paternalismo exacerbado
maneiras como a questatildeo eacute tratada hoje Eacute hora de exigir das autoridades
constituiacutedas e de nossos representantes nas casas legislativas coragem e
determinaccedilatildeo para que se busque uma soluccedilatildeo para esse desafio antes que seja
demasiadamente tarde
A modificaccedilatildeo ventilada viria a ser a maior das mazelas para o sistema
penitenciaacuterio misturar jovens de 16 anos com outros presos de 25 ou 30 anos
daria inicio a uma Universidade do crime em tempo integral dentro de nossos
presiacutedios A sociedade quer que esta situaccedilatildeo se estabeleccedila Acredito fortemente
que natildeo
Somos absolutamente contraacuterios agrave tese de diminuir a idade penal ainda
que nosso sistema prisional funcionasse seria uma atrocidade legal mandar para a
cadeia os jovens que ainda natildeo tem sua formaccedilatildeo biopsicoloacutegica completa
Nossos jovens precisam na verdade ter direito a sua cidadania aprender a ser
cidadatildeo e natildeo ser encarcerado para se tornar um criminoso de alta periculosidade
As causas da violecircncia desenfreada natildeo estatildeo nos jovens e sim fora deles no
ventre de nossa sociedade
Eacute preciso que haja a implantaccedilatildeo urgente em todos os Estados e
Municiacutepios do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente na sua integralidade em
todo territoacuterio nacional Soacute assim noacutes poderemos avaliar de maneira honesta se o
Estatuto realmente daraacute certo Eu acredito que um trabalho nessa direccedilatildeo poderaacute
ao longo do tempo nos mostrar mais resultados do que tirarmos o jovem da rua e
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
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A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
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em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
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atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
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51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
4
DEDICATOacuteRIA
a todos os amigos que me ajudaram e
contribuiacuteram de alguma forma e em
especial aos meus queridos filhos Mauro e
Pedro com sua Monografia Penal do papai
iniciada
5
RESUMO
Em que pese a nossa Constituiccedilatildeo garantir a inviolabilidade dos direitos e
garantias individuais e se tratar de questatildeo imodificaacutevel (claacuteusula peacutetrea) portanto
a inimputabilidade ateacute os 18 anos estaacute garantida pela constituiccedilatildeo ( art 60 sect 4ordm
IV CF) e tentativas de modificaccedilatildeo satildeo claramente inconstitucionais natildeo podemos
nos furtar ou se esconder da discussatildeo do tema
Preliminarmente conveacutem assinalar que a questatildeo do desrespeito agraves leis
natildeo eacute caracteriacutestica peculiar de nossos jovens infratores Tal caracteriacutestica estaacute
disseminada no conjunto da sociedade e tambeacutem do Estado que natildeo respeita o
que o Estatuto da Crianccedila e Adolescente impotildee como direitos das crianccedilas e
adolescentes Sauacutede educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo seguranccedila satildeo direitos baacutesicos
inexistentes para grande parte da populaccedilatildeo jovem de nosso paiacutes nosso jovem
fica abandonado agrave proacutepria sorte nos centros urbanos e rurais O Estado quer ser o
grande defensor da ldquoboa sociedaderdquo mas se esquece de fazer cumprir as leis de
papel no mundo real ou ainda promulgando leis penais de maneira compulsiva
que atacam os problemas porem natildeo combatem a causa natildeo eacute verdade que a
violecircncia se restrinja tatildeo somente ao comportamento dos ditos rdquomarginaisrdquo e sim
de toda a sociedade de todas as ilegalidades arbitrariedades corrupccedilatildeo e abusos
diuturnamente cometidos pela gama da sociedade e seus vaacuterios grupos sociais
Os crimes que os menores participam e que assustam a sociedade e
fazem os oportunistas e defensores da ideacuteia de diminuir a idade penal lanccedilarem
discursos populistas que pregam ser os menores impunes com a famosa
expressatildeo ldquo sou di menor nada acontece comigordquo e de que satildeo utilizados pelos
adultos Bem que se prendam os adultos se o adulto for punido talvez natildeo
corrompa o menor se o Estado natildeo consegue punir o adulto porque haveria de se
voltar contra o menor
A prisatildeo sempre foi uma instituiccedilatildeo hipoacutecrita muito bonita no papel e
vergonhosa na praacutetica natildeo serve para reintegrar e sim para esconder os
criminosos da sociedade na verdade excluiacute-los Os presos entram numa espiral
crescente de produccedilatildeo da violecircncia satildeo condicionados e tratados como seres de
segunda categoria verdadeiros ratos para depois a sociedade exigir deles
6
comportamento diverso do crime pelo contrario os presos se tornam cada dia
mais incapazes de conviver em sociedade mais frios e violentos aptos a
cometerem novos delitos e agressotildees contra a sociedade
O Brasil eacute um paiacutes de desigualdades sociais perversas havendo
sabidamente uma camada da populaccedilatildeo que vive na linha extrema da pobreza e
da miseacuteria Embora miseacuteria e pobreza - diga-se a bem da verdade ndash natildeo sejam
necessariamente as raiacutezes principais da criminalidade eacute forccediloso reconhecer que
em muitos casos podem conduzir suas viacutetimas de um quadro de desesperanccedila
fome e desespero agrave marginalidade ajudada ainda pela fase aguda de decadecircncia
moral de nossa sociedade sobre o olhar complacente das autoridades
constituiacutedas
A gravidade do momento estaacute a exigir uma soluccedilatildeo realiacutestica distanciada
da ideacuteia de uma puniccedilatildeo desmedida e tambeacutem do paternalismo exacerbado
maneiras como a questatildeo eacute tratada hoje Eacute hora de exigir das autoridades
constituiacutedas e de nossos representantes nas casas legislativas coragem e
determinaccedilatildeo para que se busque uma soluccedilatildeo para esse desafio antes que seja
demasiadamente tarde
A modificaccedilatildeo ventilada viria a ser a maior das mazelas para o sistema
penitenciaacuterio misturar jovens de 16 anos com outros presos de 25 ou 30 anos
daria inicio a uma Universidade do crime em tempo integral dentro de nossos
presiacutedios A sociedade quer que esta situaccedilatildeo se estabeleccedila Acredito fortemente
que natildeo
Somos absolutamente contraacuterios agrave tese de diminuir a idade penal ainda
que nosso sistema prisional funcionasse seria uma atrocidade legal mandar para a
cadeia os jovens que ainda natildeo tem sua formaccedilatildeo biopsicoloacutegica completa
Nossos jovens precisam na verdade ter direito a sua cidadania aprender a ser
cidadatildeo e natildeo ser encarcerado para se tornar um criminoso de alta periculosidade
As causas da violecircncia desenfreada natildeo estatildeo nos jovens e sim fora deles no
ventre de nossa sociedade
Eacute preciso que haja a implantaccedilatildeo urgente em todos os Estados e
Municiacutepios do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente na sua integralidade em
todo territoacuterio nacional Soacute assim noacutes poderemos avaliar de maneira honesta se o
Estatuto realmente daraacute certo Eu acredito que um trabalho nessa direccedilatildeo poderaacute
ao longo do tempo nos mostrar mais resultados do que tirarmos o jovem da rua e
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
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SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
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58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
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VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
5
RESUMO
Em que pese a nossa Constituiccedilatildeo garantir a inviolabilidade dos direitos e
garantias individuais e se tratar de questatildeo imodificaacutevel (claacuteusula peacutetrea) portanto
a inimputabilidade ateacute os 18 anos estaacute garantida pela constituiccedilatildeo ( art 60 sect 4ordm
IV CF) e tentativas de modificaccedilatildeo satildeo claramente inconstitucionais natildeo podemos
nos furtar ou se esconder da discussatildeo do tema
Preliminarmente conveacutem assinalar que a questatildeo do desrespeito agraves leis
natildeo eacute caracteriacutestica peculiar de nossos jovens infratores Tal caracteriacutestica estaacute
disseminada no conjunto da sociedade e tambeacutem do Estado que natildeo respeita o
que o Estatuto da Crianccedila e Adolescente impotildee como direitos das crianccedilas e
adolescentes Sauacutede educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo seguranccedila satildeo direitos baacutesicos
inexistentes para grande parte da populaccedilatildeo jovem de nosso paiacutes nosso jovem
fica abandonado agrave proacutepria sorte nos centros urbanos e rurais O Estado quer ser o
grande defensor da ldquoboa sociedaderdquo mas se esquece de fazer cumprir as leis de
papel no mundo real ou ainda promulgando leis penais de maneira compulsiva
que atacam os problemas porem natildeo combatem a causa natildeo eacute verdade que a
violecircncia se restrinja tatildeo somente ao comportamento dos ditos rdquomarginaisrdquo e sim
de toda a sociedade de todas as ilegalidades arbitrariedades corrupccedilatildeo e abusos
diuturnamente cometidos pela gama da sociedade e seus vaacuterios grupos sociais
Os crimes que os menores participam e que assustam a sociedade e
fazem os oportunistas e defensores da ideacuteia de diminuir a idade penal lanccedilarem
discursos populistas que pregam ser os menores impunes com a famosa
expressatildeo ldquo sou di menor nada acontece comigordquo e de que satildeo utilizados pelos
adultos Bem que se prendam os adultos se o adulto for punido talvez natildeo
corrompa o menor se o Estado natildeo consegue punir o adulto porque haveria de se
voltar contra o menor
A prisatildeo sempre foi uma instituiccedilatildeo hipoacutecrita muito bonita no papel e
vergonhosa na praacutetica natildeo serve para reintegrar e sim para esconder os
criminosos da sociedade na verdade excluiacute-los Os presos entram numa espiral
crescente de produccedilatildeo da violecircncia satildeo condicionados e tratados como seres de
segunda categoria verdadeiros ratos para depois a sociedade exigir deles
6
comportamento diverso do crime pelo contrario os presos se tornam cada dia
mais incapazes de conviver em sociedade mais frios e violentos aptos a
cometerem novos delitos e agressotildees contra a sociedade
O Brasil eacute um paiacutes de desigualdades sociais perversas havendo
sabidamente uma camada da populaccedilatildeo que vive na linha extrema da pobreza e
da miseacuteria Embora miseacuteria e pobreza - diga-se a bem da verdade ndash natildeo sejam
necessariamente as raiacutezes principais da criminalidade eacute forccediloso reconhecer que
em muitos casos podem conduzir suas viacutetimas de um quadro de desesperanccedila
fome e desespero agrave marginalidade ajudada ainda pela fase aguda de decadecircncia
moral de nossa sociedade sobre o olhar complacente das autoridades
constituiacutedas
A gravidade do momento estaacute a exigir uma soluccedilatildeo realiacutestica distanciada
da ideacuteia de uma puniccedilatildeo desmedida e tambeacutem do paternalismo exacerbado
maneiras como a questatildeo eacute tratada hoje Eacute hora de exigir das autoridades
constituiacutedas e de nossos representantes nas casas legislativas coragem e
determinaccedilatildeo para que se busque uma soluccedilatildeo para esse desafio antes que seja
demasiadamente tarde
A modificaccedilatildeo ventilada viria a ser a maior das mazelas para o sistema
penitenciaacuterio misturar jovens de 16 anos com outros presos de 25 ou 30 anos
daria inicio a uma Universidade do crime em tempo integral dentro de nossos
presiacutedios A sociedade quer que esta situaccedilatildeo se estabeleccedila Acredito fortemente
que natildeo
Somos absolutamente contraacuterios agrave tese de diminuir a idade penal ainda
que nosso sistema prisional funcionasse seria uma atrocidade legal mandar para a
cadeia os jovens que ainda natildeo tem sua formaccedilatildeo biopsicoloacutegica completa
Nossos jovens precisam na verdade ter direito a sua cidadania aprender a ser
cidadatildeo e natildeo ser encarcerado para se tornar um criminoso de alta periculosidade
As causas da violecircncia desenfreada natildeo estatildeo nos jovens e sim fora deles no
ventre de nossa sociedade
Eacute preciso que haja a implantaccedilatildeo urgente em todos os Estados e
Municiacutepios do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente na sua integralidade em
todo territoacuterio nacional Soacute assim noacutes poderemos avaliar de maneira honesta se o
Estatuto realmente daraacute certo Eu acredito que um trabalho nessa direccedilatildeo poderaacute
ao longo do tempo nos mostrar mais resultados do que tirarmos o jovem da rua e
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
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natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
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entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
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CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
6
comportamento diverso do crime pelo contrario os presos se tornam cada dia
mais incapazes de conviver em sociedade mais frios e violentos aptos a
cometerem novos delitos e agressotildees contra a sociedade
O Brasil eacute um paiacutes de desigualdades sociais perversas havendo
sabidamente uma camada da populaccedilatildeo que vive na linha extrema da pobreza e
da miseacuteria Embora miseacuteria e pobreza - diga-se a bem da verdade ndash natildeo sejam
necessariamente as raiacutezes principais da criminalidade eacute forccediloso reconhecer que
em muitos casos podem conduzir suas viacutetimas de um quadro de desesperanccedila
fome e desespero agrave marginalidade ajudada ainda pela fase aguda de decadecircncia
moral de nossa sociedade sobre o olhar complacente das autoridades
constituiacutedas
A gravidade do momento estaacute a exigir uma soluccedilatildeo realiacutestica distanciada
da ideacuteia de uma puniccedilatildeo desmedida e tambeacutem do paternalismo exacerbado
maneiras como a questatildeo eacute tratada hoje Eacute hora de exigir das autoridades
constituiacutedas e de nossos representantes nas casas legislativas coragem e
determinaccedilatildeo para que se busque uma soluccedilatildeo para esse desafio antes que seja
demasiadamente tarde
A modificaccedilatildeo ventilada viria a ser a maior das mazelas para o sistema
penitenciaacuterio misturar jovens de 16 anos com outros presos de 25 ou 30 anos
daria inicio a uma Universidade do crime em tempo integral dentro de nossos
presiacutedios A sociedade quer que esta situaccedilatildeo se estabeleccedila Acredito fortemente
que natildeo
Somos absolutamente contraacuterios agrave tese de diminuir a idade penal ainda
que nosso sistema prisional funcionasse seria uma atrocidade legal mandar para a
cadeia os jovens que ainda natildeo tem sua formaccedilatildeo biopsicoloacutegica completa
Nossos jovens precisam na verdade ter direito a sua cidadania aprender a ser
cidadatildeo e natildeo ser encarcerado para se tornar um criminoso de alta periculosidade
As causas da violecircncia desenfreada natildeo estatildeo nos jovens e sim fora deles no
ventre de nossa sociedade
Eacute preciso que haja a implantaccedilatildeo urgente em todos os Estados e
Municiacutepios do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente na sua integralidade em
todo territoacuterio nacional Soacute assim noacutes poderemos avaliar de maneira honesta se o
Estatuto realmente daraacute certo Eu acredito que um trabalho nessa direccedilatildeo poderaacute
ao longo do tempo nos mostrar mais resultados do que tirarmos o jovem da rua e
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
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SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
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natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
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SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
7
o jogarmos numa cadeia num sistema penitenciaacuterio sabidamente falido como o
que temos hoje simplesmente para dar uma satisfaccedilatildeo agrave sociedade e para tirar
esse jovem de nossa vista O Jovem precisa ter a chance de escolher pelo
menos em igualdade de condiccedilotildees qual o caminho deseja seguir
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
8
METODOLOGIA
Observando que a sociedade deve enfrentar sem perda de tempo a questatildeo da
reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro e que essa
mesma sociedade sofre uma brutal influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo que no
intuito de angariar maior audiecircncia para seus programas relata a violecircncia
sobremaneira a praticada por crianccedilas e adolescentes de maneira sensacionalista
e irresponsaacutevel deixando de lado o dever de informar e educar apelando para a
emoccedilatildeo barata e desinformada fato este que natildeo contribui para o verdadeiro
esclarecimento da populaccedilatildeo Assim sendo eacute necessaacuterio reunir as informaccedilotildees e
tornaacute-las acessiacuteveis para o conhecimento de todos soacute assim poderemos de forma
transparente estabelecer um verdadeiro confronto de ideacuteias atraveacutes do debate
Como basicamente lidamos com a informaccedilatildeo foi necessaacuteria a coleta e a reuniatildeo
de um nuacutemero consideraacutevel de livros artigos revistas estatiacutesticas e opiniotildees que
pudessem dar base e estrutura agrave convicccedilatildeo de que seria um erro a diminuiccedilatildeo da
maioridade penal no ordenamento juriacutedico brasileiro
Atraveacutes de muita leitura e pesquisa aliados a observaccedilatildeo dos fatos e
acontecimentos que recentemente envolveram firmamos nossa convicccedilatildeo tendo
como base fundamental a Lei 806990 ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Procuramos atraveacutes da reuniatildeo do maior numero possiacutevel de material
entendermos a argumentaccedilatildeo dos que satildeo partidaacuterios da reduccedilatildeo da maioridade
penal e tambeacutem dos que perceberam que o combate agrave violecircncia natildeo se daacute
atraveacutes de soluccedilotildees maacutegicas que prometem a cura instantaneamente e acreditam
que o caminho passa por fazer valer as garantias constitucionais e expressas no
ECA e portanto se posicionam de forma contraacuteria a reduccedilatildeo
Sinceramente depois de apreciarmos esse farto material natildeo conseguimos em
nenhum momento comungar dos pensamentos e ideacuteias dos que defendem de
maneira ateacute irresponsaacutevel a reduccedilatildeo da maioridade penal
Eacute preciso pocircr fim ao conformismo e agrave passividade com que o verdadeiro desafio
que constitui o problema do menor vem sendo enfrentado por uma sociedade que
parece ter perdido o edificante haacutebito de se indignar
Nosso Brasil eacute um paiacutes que embora alguns recentes avanccedilos tem uma das
distribuiccedilotildees de renda mais desiguais do planeta poucos tem muito alguns
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
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CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
9
poucos sobrevivem e muitos estatildeo condenados desde seu nascimento a mais
absoluta miseacuteria miseacuteria esta financeira moral e educacional
Importante ressaltar que Instituiccedilotildees como o Instituto Brasileiro de Ciecircncias
Criminais ndash IBCCRIM em Satildeo Paulo o Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP no
Rio de Janeiro nos proporcionaram com muita cordialidade e profissionalismo um
material inestimaacutevel que aliados a leitura de diversos livros e pesquisas efetuadas
pela Internet compuseram o material de pesquisa alicerccedilando nosso trabalho que
tem como foco e objetivo principal a certeza que a reduccedilatildeo da maioridade penal
em nada ajudaria a sociedade e principalmente aos jovens que por alguma
circunstacircncia satildeo levados pela forccedila do crime
Natildeo podemos deixar de dar creacutedito agrave orientaccedilatildeo da professora Valesca Rodrigues
que depois de ouvir nossa proposta nos deu a direccedilatildeo e nos manteve no caminho
ateacute a conclusatildeo do trabalho Que se iniciou e teve como objetivo fundamental a
crenccedila que a sociedade natildeo pode abandonar seus jovens a proacutepria sorte precisa
sim tentar por todos os meios vencer a verdadeira guerra contra as forccedilas do mal
e lutar de maneira ininterrupta pelo bem estar do jovem de hoje como soluccedilatildeo para
o adulto do amanhatilde nos conscientizando que a prevenccedilatildeo de forma a preservar e
proteger o jovem eacute a melhor arma contra a escalada da violecircncia
Quando pesquisamos nos deparamos com estatiacutesticas que demonstram que o
quadro de terror pintado pelos meios de comunicaccedilatildeo natildeo eacute a realidade temos
instituiccedilotildees e pessoas que se preocupam e no exerciacutecio do trabalho diaacuterio
conseguem dar oportunidade e orientaccedilatildeo aos jovens contribuindo de forma
decisiva para nos dar esperanccedila de que estamos seguindo o Estatuto da Crianccedila
e Adolescente na direccedilatildeo certa
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
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CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
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simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
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A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
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CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
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confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
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natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
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entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
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CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
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Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
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58
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
10
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44 CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO 60
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
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32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
11
INTRODUCcedilAtildeO
A ideacuteia de reduccedilatildeo da maioridade penal como formula de combate agrave
violecircncia e a criminalidade eacute antiga todavia a sociedade brasileira estaacute agraves portas
de uma questatildeo importante qual seja a Reduccedilatildeo ou natildeo da maioridade penal e a
decisatildeo de punir de maneira mais rigorosa o menor infrator quando do
cometimento de infraccedilotildees penais O tema eacute por demais importante vem a mitigar
garantias constitucionais jaacute que em nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art
228 prevecirc a inimputabilidade penal do menor infrator submetendo-o a uma
legislaccedilatildeo especial corporificada no atual Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei n 806990
Recentemente apoacutes a morte brutal do menino Joatildeo Helio 6 anos no Rio
de Janeiro arrastado por um carro durante um assalto sendo os assaltantes
menores de 18 anos a miacutedia sensacionalista deu notoriedade ao fato e a principio
mobilizou a sociedade atraveacutes da emoccedilatildeo faacutecil a favor da reduccedilatildeo da maioridade
penal como soluccedilatildeo para o problema da violecircncia Sem duvida eacute perfeitamente
compreensiacutevel a indignaccedilatildeo e a comoccedilatildeo causadas pelas circunstancias da morte
bem como a frieza demonstrada pelos infratores
Temos de lembrar que a idade penal fixada em 18 anos eacute fruto de uma
ampla mobilizaccedilatildeo da sociedade brasileira ao longo de deacutecadas e marca o
compromisso do Estado Brasileiro para com a infacircncia e a adolescecircncia bem
como a concepccedilatildeo adotada por nossa Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que garante a
proteccedilatildeo integral a nossa juventude As medidas soacutecio-educativas previstas no
Estatuto da Crianccedila e Adolescente natildeo excluem o Estado de intervenccedilatildeo quando
da pratica de fatos definidos como crime pelos menores infratores mas sim no
cuidado na reinserccedilatildeo desses menores infratores em sua volta ao conviacutevio regular
na sociedade tendo em vista seu estagio de desenvolvimento humano fiacutesico
mental e bioloacutegico estar em plena formaccedilatildeo
O Estado natildeo pode mover-se por paixotildees accedilodadas pela miacutedia e por
aqueles poliacuteticos que movidos pelo palanque e pelos votos despejam discursos do
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
12
que acreditam ser seguranccedila puacuteblica jaacute que atua por uma coletividade
salvaguardada por princiacutepios como legalidade e isonomia Foi em nome da
seguranccedila puacuteblica que o Estado avocou para si o monopoacutelio da coerccedilatildeo O que se
percebe nos uacuteltimos anos e um fenocircmeno interessante no cenaacuterio poliacutetico do
Brasil Aproveitando-se de determinados crimes que causam enorme comoccedilatildeo a
miacutedia e os poliacuteticos descobriram o filatildeo daquilo que podemos chamar de Produccedilatildeo
do Direito penal via fatos de exceccedilatildeo
Com base em fatos delitivos que tiveram superexposiccedilatildeo e diante do
crescente medo da populaccedilatildeo impotente diante da ousadia e crueldade dos
criminosos heroacuteis de plantatildeo pregam o maacuteximo de puniccedilatildeo cativando assim
preferecircncia de grande parte das pessoas que em frente da televisatildeo vivenciam
diuturnamente as trageacutedias fazendo nascer de maneira equivocada no seio da
sociedade um sentimento de vinganccedila
Com isso se tenta confundir o cidadatildeo comum fazendo-lhe crer que a lei
tem o poder maacutegico de exorcizar e nos conduzir ao melhor dos mundos acabando
com nossos problemas medos e fantasmas a partir de uma simples rdquocanetadardquo
Em meio ao apoio coletivo e anestesiada pela violecircncia galopante a sociedade
esquece da regra baacutesica de que para ser materialmente eficaz e justa deve a lei
emergir de uma demanda coletiva que leve em conta a realidade social e os
anseios da Naccedilatildeo Estado e sociedade natildeo podem se eximir de suas
responsabilidades na construccedilatildeo de uma efetiva democracia que contemple o
interesse de todos os indiviacuteduos
Por que a miacutedia se torna tatildeo voraz em noticiar determinados casos
normalmente ocorridos com pessoas de classe social mais abastada e tatildeo mais
domesticada ao natildeo denunciar dezenas de outros delitos contra membros de
classe economicamente menos favorecidas ocorridos diariamente em
circunstancias tatildeo crueacuteis quanto agravequelas ocorridas no homiciacutedio que envolveu o
menor Joatildeo Helio Por qual motivo a violecircncia contra brancos e pessoas
economicamente privilegiadas causa mais comoccedilatildeo e impacto que a perpetrada
contra pobres negros e pessoas menos favorecidas economicamente jaacute que este
segundo grupo de pessoas eacute maioria na sociedade como tambeacutem na populaccedilatildeo
carceraacuteria
Natildeo pode o Estado Brasileiro afastar-se do gerenciamento e
implementaccedilatildeo de poliacuteticas publicas de caraacuteter social de distribuiccedilatildeo de renda
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
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A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
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em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
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Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
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17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
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atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
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51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
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situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
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fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
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sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
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BIBLIOGRAFIA
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
13
Deve se ocupar em garantir ativamente aos indiviacuteduos acesso os meios legiacutetimos
de desenvolvimento e educaccedilatildeo Sem tal intervenccedilatildeo passa a valer a lei do
economicamente mais forte nestas circunstancias tendo-se em conta o abismo
que separa a elite de uma grande massa de miseraacuteveis fica faacutecil concluir que se
vive num contexto que convida a criminalidade
Vivendo num Estado ldquopenalmente Maximo e socialmente miacutenimordquo natildeo se
pode negar que aquele sujeito que nasce sem as miacutenimas condiccedilotildees de
desenvolver suas potencialidades tendo acesso a um miacutenimo de educaccedilatildeo e
sauacutede sem condiccedilotildees de subsistir dignamente tem grandes chances de achar o
caminho do crime como alternativa
No atual contexto se mostra pertinente agrave posiccedilatildeo da entatildeo Presidente do
Supremo Tribunal Federal Ministra Ellen Gracie ldquoEssa discussatildeo retorna cada vez
que acontece um crime como esse terriacutevel (alusatildeo ao assassinato do menino
Joatildeo Helio arrastado e morto apoacutes assalto no Rio de Janeiro) Natildeo sei se eacute a
soluccedilatildeo A soluccedilatildeo certamente vem tambeacutem com essa agilizaccedilatildeo dos
procedimentos com uma justiccedila penal mais aacutegil mais raacutepida com a aplicaccedilatildeo das
penalidades adequadas inclusive para os menores infratores A reduccedilatildeo da idade
penal natildeo eacute a soluccedilatildeo para a criminalidade no Brasilrdquo Chega de querermos uma
legislaccedilatildeo sempre casuiacutestica e midiaacutetica Precisamos eacute mergulhar num grande
debate nacional sobre seguranccedila publica tendo como meta a combinaccedilatildeo da
defesa das pessoas com a resoluccedilatildeo das crises sociais que vivenciamos
Tudo se manifesta como um grande teatro ante a cobranccedila da sociedade
por accedilotildees os legisladores produzem uma saiacuteda faacutecil e raacutepida a sociedade volta ao
silecircncio como se tudo estivesse resolvido Assim nascem as propostas de reduccedilatildeo
de idade penal Tudo parece estar encaminhado quando na verdade estaacute tudo
apenas jogado debaixo do tapete no caso atraacutes das grades
Precisamos de uma poliacutetica de seguranccedila publica ampla integrada aacutegil
Pactuada entre o Estado e o conjunto da sociedade civil comprometida com os
direitos humanos Uma poliacutetica que entenda a complexidade do avanccedilo da
violecircncia e criminalidade e as ataque em sua base a desigualdade social Egrave
condiccedilatildeo primeira entendermos que o aumento das penas e a reduccedilatildeo da
maioridade penal natildeo satildeo capazes de alterar a realidade em que vivemos Soacute
piora querermos prender mais cedo crianccedilas e adolescentes precisam de
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
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32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
14
orientaccedilatildeo proteccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede moradia e alimentaccedilatildeo que precisam ser
reguladas e providas pelo Estado
Estamos num momento crucial nossos representantes no Legislativo
precisam tomar atitudes em favor da sociedade brasileira precisamos ultrapassar
a barreira do Paiacutes que adotas soluccedilotildees maacutegicas e faacuteceis para questotildees de
fundamental relevacircncia deixar de lado a imaturidade poliacutetica os holofotes da
televisatildeo e assumir a responsabilidade de mudar o rdquostatus quordquo sem omissotildees
levar o Estado Brasileiro a uma condiccedilatildeo adulta capaz de responder pelo bem
estar do conjunto de brasileiros e honrar os compromissos de igualdade e
legalidade firmados na Constituiccedilatildeo de 1988
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
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32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
15
CAPIacuteTULO I
Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo voltada a crianccedila e
adolescente
11 Esboccedilo histoacuterico do Direito do Menor
A responsabilidade do menor sempre foi tema de calorosas e constantes
discussotildees desde os tempos mais remotos ate os dias de hoje em todo o mundo
nos diversos sistemas juriacutedicos Desde os primoacuterdios admitia-se que o Homem
natildeo podia ser responsabilizado pessoalmente pela praacutetica de um ato tido como
fora dos padrotildees impostos e julgados fora da lei pela sociedade sem que para
isso tivesse alcanccedilado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental pessoal e
social Contudo muitos menores pagaram com a proacutepria vida e porque natildeo dizer
pagam ate hoje ateacute que conseguiacutessemos um arcabouccedilo que viesse a garantir
seus direitos mais fundamentais
Em Esparta a crianccedila era objeto de Direito estatal para ser aproveitada
como futura formaccedilatildeo de contingentes guerreiros com a seleccedilatildeo precoce dos
fisicamente mais aptos e os infantes portadores de deficiecircncia com malformaccedilotildees
congecircnitas ou doentes eram jogados nos despenhadeiros
Na Greacutecia antiga era costume popular que serem humanos nascidos com
alguma deformidade fossem imediatamente sacrificados Herodes rei da Judeacuteia
mandou executar todas as crianccedilas menores de dois anos na tentativa de eliminar
Jesus Cristo Percebe-se que a eacutepoca pagatilde foi prospera nas agressotildees e
desrespeito aos menores
O Direito Medieval de acordo com Jose de Farias Tavares( 2001 p48)
atenuou a severidade de tratamento de idade mais tenra em razatildeo da influencia
do cristianismo
No Periacuteodo Feudal temos registros em livros e relatos da eacutepoca que em
paises como a Itaacutelia e a Inglaterra era utilizado o meacutetodo da ldquoprova da maccedila de
Lubeccardquo que consistia em oferecer uma maccedila e uma moeda agrave crianccedila sendo
que se escolhida a moeda considerava-se comprovada a maliacutecia da crianccedila esta
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
16
simples escolha faria com que houvesse possibilidade inclusive de ser aplicada
pena de morte a crianccedilas de 10 anos
Podemos afirmar que o marco inicial da garantia de direitos foi o
Cristianismo que conferiu direitos e garantias nunca antes observados visando a
proteccedilatildeo fiacutesica dos menores
O Direito Romano exerceu grande influecircncia sobre o direito de todo
mundo ocidental de onde se manteacutem a noccedilatildeo de que a famiacutelia se organiza a partir
do Paacutetrio Poder Entretanto o caminhar do tempo e consequumlentemente a evoluccedilatildeo
da sociedade ocorreu um abrandamento desse poder absoluto jaacute natildeo se podia
mais matar maltratar vender ou abandonar os filhos Mesmo assim o Direito
Romano foi mais aleacutem ao estabelecer de forma especifica uma legislaccedilatildeo penal
adotada para os menores distinguindo os seres humanos em puacuteberes e
impuacuteberes era feita uma avaliaccedilatildeo fiacutesica Aos impuacuteberes( menores ) cabia ao juiz
apreciar e julgar seus atos poreacutem com a obrigaccedilatildeo de sentenciar com penas mais
moderadas Jaacute os menores de sete anos eram considerados infantes
absolutamente inimputaacuteveis Dentre as sanccedilotildees atribuiacutedas destacaram-se a
obrigaccedilatildeo de reparar o dano causado e o accediloite sendo entretanto proibida a
pena de morte como se extrai da lei das XLI Taacutebuas
Taacutebua Segunda
Dos julgamentos e dos furtos
5 Se ainda natildeo atingiu a puberdade que seja fustigado com varas a
criteacuterio do pretor e que indenize o dano
Taacutebua Seacutetima
Dos delitos
5 Se o autor do dano eacute impuacutebere que seja fustigado a criteacuterio do pretor e
indenize o prejuiacutezo em dobro
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
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o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
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CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
17
A idade Meacutedia atraveacutes dos Glosadores suportou uma legislaccedilatildeo que
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos posteriormente pelos
crimes por eles praticados na infacircncia
O Direito Canocircnico compartilhou e seguiu fielmente os padrotildees e
diretrizes inclusive em relaccedilatildeo a cronologia as responsabilidades
preestabelecidas pelo Direito Romano
No ano de 1971 com o advento do Coacutedigo Francecircs se observou um
avanccedilo na repressatildeo da delinquumlecircncia juvenil com aspecto eminentemente
recuperativo com o aparecimento das primeiras medidas de reeducaccedilatildeo e o
sistema de atenuaccedilatildeo das penas impostas
De grande importacircncia para a efetiva garantia dos direitos dos menores foi
a declaraccedilatildeo de Genebra em 1924 Foi a primeira manifestaccedilatildeo internacional
nesse sentido seguida da natildeo menos importante Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos da Crianccedila adotada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 1959 que
estabelece onze princiacutepios considerando a crianccedila e o adolescente na sua
imaturidade fiacutesica e mental evidenciando a necessidade de uma proteccedilatildeo legal
Contudo foi em 1979 declarado o Ano Internacional da Crianccedila que a ONU
organizou uma comissatildeo que proclamou o texto da Convenccedilatildeo dos Direitos da
Crianccedila no ano de 1989 obrigando assim aos paiacuteses signataacuterios a adequar as
normas vigentes em seus respectivos paiacuteses agraves normas internacionais
estabelecidas naquele momento
Assim com o desenrolar da Histoacuteria a evoluccedilatildeo da humanidade e dos
princiacutepios de cidadania foi ocorrendo o aperfeiccediloamento da legislaccedilatildeo sendo
criadas regras especificas para proteccedilatildeo da infacircncia e adolescecircncia
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
18
CAPIacuteTULO II
O Direito do Menor no BRASIL
A partir do seacuteculo XIX o problema comeccedilou a atingir o mundo inteiro e
loacutegico tambeacutem o Brasil O crescente desenvolvimento das industrias a
urbanizaccedilatildeo o trabalho assalariado notadamente das mulheres que tendo que
sustentar ou ajudar no sustento do lar se viram diante da necessidade de deixar o
lar e trabalhar fora deixando os filhos sem a presenccedila constante do responsaacutevel
concorreram de maneira importante para a instabilidade e a degradaccedilatildeo dos
valores dos menores culminando com os atos criminosos
Muitas foram as legislaccedilotildees criadas e aplicadas no Brasil Cada uma a seu
modo e a sua eacutepoca cumpria em parte seu papel poreacutem sempre demonstravam
ser ineficazes frente a arrancada da criminalidade no pais como um todo
As primeiras medidas educativas ou de poliacutetica puacuteblica para a infacircncia
brasileira foram a criaccedilatildeo das lsquoCasas de rodarsquo fundada na Bahia em 1726 a lsquoCasa
dos Enjeitadosrsquo no Rio de Janeiro em 1738 e a lsquoCasa dos Expostosrsquo no Recife em
1789 todas elas destinadas a de alguma forma abrigar o Menor
Ateacute 1830 Joatildeo Batista Costa Saraiva (2003 p23) explica que vigoravam
as Ordenaccedilotildees Filipinas e a imputabilidade penal se iniciava aos sete anos
eximindo-se o menor da pena de morte concedendo-lhe reduccedilatildeo de pena
Em 1830 o primeiro Coacutedigo penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos prevendo um sistema bio-psicoloacutegico para a
puniccedilatildeo de crianccedilas entre 07 e 14 anos
Jaacute em 1890 o Coacutedigo republicano previa em seu art 27 paraacutegrafo 1 que
irresponsaacutevel penalmente seria o menor com idade ateacute 9 anos Assim o maior de
09 e menor de 14 anos submeter-se-ia a avaliaccedilatildeo do Magistrado
A esteira das legislaccedilotildees menoristas continuou a evoluir de modo que em
1926 passou a vigorar o Coacutedigo de Menores instituiacutedo pelo Decreto legislativo de 1
de dezembro de 1926 prevendo a impossibilidade de recolhimento do menor de
18 que houvesse praticado crime ( ato infracional ) agrave prisatildeo comum Em relaccedilatildeo
aos menores de 14 anos consoante fosse sua condiccedilatildeo peculiar de abandono ou
jaacute pervertido seria abrigado em casa de educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo ou ainda
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
19
confiado a guarda de pessoa idocircnea ateacute a idade de 21 anos Poderia ficar
tambeacutem sob a custoacutedia dos pais tutor ou outro responsaacutevel se a sua
periculosidade natildeo exigisse medida mais assecuratoacuteria Sendo importante
ressaltar que em todas as legislaccedilotildees supra citadas entre os 18 e 21 anos o
jovem era beneficiado com circunstacircncia atenuante
Os termos lsquocrianccedilarsquo e lsquomenorrsquo comeccedilam a serem diferenciados eacute nessa
etapa que surge o primeiro Coacutedigo de menores criado atraveacutes do Decreto-Lei n
179472-A no dia 12 de outubro de 1927 conhecido como o lsquoCoacutedigo de Mello
Matosrsquo conforme relata Josiane Rose Petry (1999 p26) o coacutedigo sintetizou de
maneira ampla e eficaz leis e decretos que se propunham a aprovar um
mecanismo legal que desse a proteccedilatildeo e atenccedilatildeo especial agrave crianccedila e ao
adolescente com foco na assistecircncia ao menor e sob uma perspectiva
educacional
Em 1941 temos a criaccedilatildeo do Serviccedilo de Assistecircncia ao Menor (SAM) e
depois em 1964 atraveacutes da Lei 451364 a Fundaccedilatildeo Nacional do Bem Estar do
Menor (FUNABEM) entidade que deveria amparar atraveacutes de poliacuteticas baacutesicas de
prevenccedilatildeo e centradas em atividades fora dos internatos e atraveacutes de medidas
soacutecio-terapecircuticas dirigidas aos menores infratores
A inspiraccedilatildeo para os discursos e para as novas legislaccedilotildees que seratildeo
produzidas naquele momento vem da legislaccedilatildeo americana que em nome da
proteccedilatildeo da crianccedila e da sociedade concedeu aos juiacutezes o poder de intervir nas
famiacutelias principalmente nas famiacutelias pobres e nos lares desfeitos quando se
julgava que por sua influecircncia as crianccedilas poderiam ser levadas para o lado do
crime
Lembra ainda Josiane Petry Veronese (1998 p153-154 35 96 ) o
Estado Brasileiro natildeo permitia a participaccedilatildeo popular e armava-se de mecanismos
que lhe garantiam reprimir as formas de resistecircncia popular como por exemplo a
centralizaccedilatildeo do poder A proacutepria FUNABEM eacute exemplo dessa centralizaccedilatildeo pois
a instituiccedilatildeo foi delegada para ser administrada pela Poliacutetica Nacional do Bem
Estar do Menor (PNBEM) a PNBEM como outras poliacuteticas sociais definidas no
periacuteodo do regime militar revestiu-se de manto extremamente reformista e
modernizador sem contudo acatar as verdadeiras causas do problema
O SAM tinha objetivos de natureza assistencial enfatizando a importacircncia
de estudos e pesquisas bem como o atendimento psicopedagoacutegico no entanto
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
20
natildeo conseguiu atingir seus objetivos e finalidades sobretudo devido a sua
estrutura engessada sem autonomia sem flexibilidade com meacutetodos
inadequados de atendimento que acabavam gerando grande revolta e
desconfianccedila justamente naqueles que deveriam ser amparados e orientados
Seguiu-se a FUNABEM que seguia com os mesmos problemas e era incapaz de
cuidar e proporcionar a reeducaccedilatildeo para as crianccedilas assistidas os princiacutepios
tuteladores que fundamentavam a doutrina da ldquosituaccedilatildeo irregularrdquo natildeo tinham
contrapartida jaacute que as instituiccedilotildees que deveriam acolher e educar esta crianccedila ou
adolescente natildeo cumpriam efetivamente esse papel Isso porque a metodologia
aplicada ao inveacutes de socializaacute-lo o massificava o despersonalizava e deste
modo ao contraacuterio de criar estruturas soacutelidas nos planos psicoloacutegico bioloacutegico e
social afastava este chamado menor em situaccedilatildeo irregular definitivamente da
vida em sociedade da vida comunitaacuteria levando o infrator ao conviacutevio de uma
prisatildeo sem grades
Em 1969 O Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro volta a adotar o caraacuteter
da responsabilidade relativa dos maiores de 16 anos de modo que a estes seria
aplicada pena reservada aos imputaacuteveis com reduccedilatildeo de 13 ateacute a metade se
fossem capazes de compreender o iliacutecito do ato por eles praticados A presunccedilatildeo
de inimputabilidade ressurge como sendo relativa
A Lei 6016 de 31 de dezembro de 1973 modificou novamente o texto do
art 33 do Coacutedigo de 1969 de modo que voltou a considerar os 18 anos como
limite da inimputabilidade penal jaacute que a adoccedilatildeo da responsabilidade relativa havia
gerado inuacutemeras e fortes criacuteticas
O Coacutedigo de menores instituiacutedo pela Lei 669779 disciplinou com maestria
lei penal de aplicabilidade aos menores mas foi no acircmbito da assistecircncia e da
proteccedilatildeo que alcanccedilou os mais significativos avanccedilos da legislaccedilatildeo menorista
brasileira acompanhando as diretrizes das mais eficientes e modernas
codificaccedilotildees aplicadas pelo mundo Contudo ressalte-se que essa legislaccedilatildeo natildeo
tinha caraacuteter essencialmente preventivo mas um aspecto de repressatildeo de cunho
semi-policial Evidentemente que durante sua vigecircncia surgiram algumas leis
especiacuteficas na tentativa de adequar a legislaccedilatildeo agrave realidade
Analisando a evoluccedilatildeo histoacuterica da legislaccedilatildeo nacional que contempla o
Direito da crianccedila e do adolescente percebe-se que embora tenham sido criadas
normas especiacuteficas estas natildeo alcanccedilaram todos os objetivos propostos pois as
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
21
entidades de internaccedilatildeo apresentavam graves problemas os quais persistem ateacute
hoje como a falta de espaccedilo a promiscuidade a ausecircncia de profissionais
especializados e comprometidos com a qualidade e a proacutepria sociedade como um
todo que prefere ver o menor infrator trancafiado e excluiacutedo
Toda a previsatildeo legal portanto se mostra utoacutepica sem correspondecircncia
com a praacutetica e as vivecircncias do dia a dia ou seja ao dar prioridade para poliacuteticas
excludentes repressivas e assistencialistas o paiacutes perdeu a oportunidade de
colocar em praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas capazes de promover a cidadania e a
integraccedilatildeo (Veronese 1996 p6)
Observou-se que a questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo deixou de
ser ao longo do tempo contemplada por Leis Todavia raramente estas leis foram
obedecidas o que reforccedila que o ordenamento juriacutedico por si soacute natildeo resolve os
problemas da sociedade Faz-se necessaacuterio o entendimento que a questatildeo da
crianccedila e do adolescente natildeo eacute uma questatildeo meramente circunstancial mas sim
um problema estrutural do conjunto da sociedade
21 A Constituiccedilatildeo de 1988
Jaacute a Constituiccedilatildeo de 1988 foi mais abrangente dispondo sobre a
aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo capacidade eleitoral ativa assistecircncia
social seguridade e educaccedilatildeo prerrogativas democraacuteticas processuais incentivo
agrave guarda prevenccedilatildeo contra entorpecentes defesa contra abuso sexual estiacutemulo a
adoccedilatildeo e a isonomia filial Desta forma pela primeira vez na histoacuteria da legislaccedilatildeo
menorista brasileira a crianccedila e o adolescente satildeo tratados como prioridade
sendo dever da famiacutelia da sociedade e do Estado promoverem a devida proteccedilatildeo
jaacute que satildeo garantias constitucionais devidamente elencadas no corpo da nossa
Constituiccedilatildeo Federal demonstrando pelo menos em tese a preocupaccedilatildeo do
legislador com o problema do menor
A saber
O art7ordm XXXIII combinado com artsect 3ordm incisos I II e III da Constituiccedilatildeo
Federal dispotildeem sobre a aprendizagem trabalho e profissionalizaccedilatildeo o art 14 sect
1ordm II c prevecirc capacidade eleitoral os arts 195 203 204 208IIV e art 7ordm XXV
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
22
o art220 sect 3ordm I e II dispotildeem sobre programaccedilatildeo de radio e TV o art227 caput
dispotildee sobre a proteccedilatildeo integral
Nossa Constituiccedilatildeo de 1988 tem por finalidade instituir um Estado
Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos e deveres sociais e
individuais a liberdade a seguranccedila o bem estar a igualdade e a justiccedila satildeo
valores supremos para uma sociedade fraterna e igualitaacuteria sem preconceitos O
art 227 de nossa Carta Magna conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde seus
paraacutegrafos e incisos satildeo intocaacuteveis em decorrecircncia de alegarem direitos e
garantias individuais que a exemplo do que dispotildee o art 5ordm do mesmo diploma
legal satildeo tidas como claacuteusulas peacutetreas que vem a ser a preservaccedilatildeo dos
princiacutepios constitucionais por ela estabelecidos conforme explicitadas no art 60
paraacutegrafo 4ordm ldquoNatildeo seraacute objeto de deliberaccedilatildeo a proposta de emenda tendente a
abolirrdquo
Inciso IV ldquoos direitos e garantias individuaisrdquo
Cabe ressaltar no art 227 CF a clara definiccedilatildeo como princiacutepio basilar dos
pais da famiacutelia da sociedade e do Estado o desafio e a incumbecircncia de passar
da democracia representativa para uma democracia participativa atribuindo-lhes a
responsabilidade de definir poliacuteticas puacuteblicas controlar accedilotildees arrecadar fundos e
administrar recursos em benefiacutecio das crianccedilas e adolescentes priorizando o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave dignidade ao
respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a
salvo de toda forma de discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo
Estes princiacutepios e direitos satildeo a expressatildeo da Normativa Internacional pela
Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre os Direitos da Crianccedila promulgada pela
Assembleacuteia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil mediante voto do
Congresso Nacional portanto passou a integrar a Lei e fazer parte do Sistema de
Direitos e Garantias por forccedila do paraacutegrafo 2ordm do art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal
que afirma ldquo os direitos e garantias nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros
decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela dotados ou dos tratados
internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parterdquo
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
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natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
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Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
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32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
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Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
23
CAPIacuteTULO III
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente- ECA Lei nordm
806990
Diploma Legal criado para atender as necessidades da crianccedila e do
adolescente surge o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente-ECA (Lei nordm 806990)
revogando o Coacutedigo de Menores rompendo com a doutrina da situaccedilatildeo irregular
estabelecendo como diretriz com inspiraccedilatildeo na legislaccedilatildeo internacional a meta da
proteccedilatildeo integral vale lembrar que ao prever a proteccedilatildeo integral elevou o
adolescente a categoria de responsaacutevel pelos atos infracionais que vier a cometer
atraveacutes de medidas socio-educativas causando agrave eacutepoca verdadeira revoluccedilatildeo face
ao entendimento ateacute entatildeo existente e mostrando a sociedade vitimada pela falta
de seguranccedila que natildeo bastava cadeia lei ou repressatildeo para o combate efetivo e
humano da violecircncia na sua forma mais hedionda que eacute justamente a violecircncia
praticada por crianccedilas e adolescentes
31 Princiacutepios orientados
O ECA eacute regido por uma seacuterie de princiacutepios que servem para orientar o
inteacuterprete sendo os principais conforme entendimento de Paulo Luacutecio
Nogueira(1996 p15) em seu livro de 1996 e atual ateacute a presente data satildeo os
seguintes Prevenccedilatildeo Geral Prevenccedilatildeo Especial Atendimento Integral Garantia
Prioritaacuteria Proteccedilatildeo Estatal Prevalecircncia dos Interesses Indisponibilidade da
Escolarizaccedilatildeo Fundamental e Profissionalizaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo
Sigilosidade Respeitabilidade Gratuidade Contraditoacuterio e Compromisso
O Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Geral estaacute previsto no art54 incisos I e VII e
art70 segundo os quais respectivamente eacute dever do Estado assegurar agrave crianccedila
e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito e eacute dever de todos
prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo desses direitos
Pelo Princiacutepio da Prevenccedilatildeo Especial expresso no art 74 o poder
puacuteblico atraveacutes dos oacutergatildeos competentes regularaacute as diversotildees e espetaacuteculos
puacuteblicos informando sobre a natureza e conteuacutedo deles as faixas etaacuterias a que
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
24
natildeo se recomendam locais e horaacuterios em que sua apresentaccedilatildeo se mostre
inadequada
O Princiacutepio da Garantia Prioritaacuteria consignado no art 4ordm aliacutenea a b c e d
estabelecem que a crianccedila e o adolescente devem receber prioridade no
atendimento dos serviccedilos puacuteblicos e na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas
sociais
O Princiacutepio da Proteccedilatildeo Estatal evidenciado no art 101 significa que
programas de desenvolvimento e reintegraccedilatildeo seratildeo estabelecidos visando a
formaccedilatildeo biopsiacutequica social familiar e comunitaacuteria Seguindo a mesma
orientaccedilatildeo podemos destacar os Princiacutepios da Escolarizaccedilatildeo Fundamental e
Profissionalizaccedilatildeo encontrados nos art 120 sect 1ordm e 124 inciso XI tornam
obrigatoacuterias a escolarizaccedilatildeo e Profissionalizaccedilatildeo como deveres do Estado
O princiacutepio da Prevalecircncia dos Interesses do Menor criado atraveacutes do art
6ordm orienta que na Interpretaccedilatildeo da Lei seratildeo levados em consideraccedilatildeo os fins
sociais a que o Estatuto se dirige as exigecircncias do Bem comum os direitos e
deveres indisponiacuteveis e coletivos e a condiccedilatildeo peculiar do adolescente infrator de
pessoa em desenvolvimento que precisa de orientaccedilatildeo
Jaacute o Princiacutepio da Indisponibilidade dos Direitos do Menor e da
Sigilosidade previsto no art 27 reconhece que o estado de filiaccedilatildeo eacute direito
personaliacutessimo indisponiacutevel e imprescritiacutevel observado o segredo de justiccedila
O Princiacutepio da Reeducaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo observado no art119 incisos
I a IV estabelece a necessidade da reeducaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo do adolescente
infrator atraveacutes das medidas socio-educativas e medidas de proteccedilatildeo
promovendo socialmente a sua famiacutelia fornecendo-lhes orientaccedilatildeo e inserindo-os
em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio e assistecircncia bem como
supervisionando a frequumlecircncia e o aproveitamento escolar
Pelo Princiacutepio da Respeitabilidade e do Compromisso estabelecidos no
art 18124 inciso V e art 178 depreende-se que eacute dever de todos zelar pela
dignidade da crianccedila e do adolescente pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano violento aterrorizante vexatoacuterio ou constrangedor
O Princiacutepio do Contraditoacuterio e da Ampla Defesa previsto inicialmente no
art 5ordm LV da Constituiccedilatildeo Federal jaacute garante aos adolescentes infratores ampla
defesa e igualdade de tratamento no processo de apuraccedilatildeo do ato infracional
como dispotildeem os arts 171 1 190 do Estatuto sendo tal direito indisponiacutevel
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
25
Importante ressaltar conforme Joatildeo Batista Costa Saraiva (2002 a p16)
que considera ser de fundamental importacircncia explicar que o ECA estrutura-se a
partir de trecircs sistemas de garantias o Sistema Primaacuterio Secundaacuterio e Terciaacuterio
O Sistema Primaacuterio versa sobre as poliacuteticas puacuteblicas de atendimento a
crianccedilas e adolescentes previstas nos arts 4ordm e 87 O Sistema Secundaacuterio aborda
as medidas de proteccedilatildeo dirigidas a crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco
pessoal ou social previstas nos arts 98 e 101 e o Sistema Terciaacuterio trata da
responsabilizaccedilatildeo penal do adolescente infrator atraveacutes de mediadas soacutecio-
educativas previstas no art 112 que satildeo aplicadas aos adolescentes que
cometem atos infracionais
Este triacuteplice sistema de prevenccedilatildeo primaacuteria (poliacuteticas puacuteblicas) prevenccedilatildeo
secundaacuteria (medidas de proteccedilatildeo) e prevenccedilatildeo terciaacuteria (medidas soacutecio-
educativas opera de forma harmocircnica com acionamento gradual de cada um
deles Quando a crianccedila ou adolescente escapar do sistema primaacuterio de
prevenccedilatildeo aciona-se o sistema secundaacuterio cujo grande operador deve ser o
Conselho Tutelar Estando o adolescente em conflito com a Lei atribuindo-se a ele
a praacutetica de algum ato infracional o terceiro sistema de prevenccedilatildeo operador das
medidas soacutecio educativas seraacute acionado intervindo aqui o que pode ser chamado
genericamente de sistema de Justiccedila (Poliacutecia Ministeacuterio puacuteblico Defensoria
Judiciaacuterio)
Percebemos que o ECA fundamenta-se em princiacutepios juriacutedicos herdados
de outras normas inclusive de nosso Coacutedigo Penal com siacutentese no art 227 de
nossa Constituiccedilatildeo Federal ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado
Brasileiro assegurar a crianccedila e ao adolescente com prioridade absoluta o direito
agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e ao lazer a profissionalizaccedilatildeo agrave
cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e a convivecircncia familiar e comunitaacuteria
aleacutem de colocaacute-los agrave salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo
exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeordquo
Ou seja de acordo com esta doutrina todos os direitos das crianccedilas e do
adolescente devem ser reconhecidos sendo que satildeo especiais e especiacuteficos
principalmente pela condiccedilatildeo que ostentam de pessoas em desenvolvimento
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
26
32 Ato Infracional e Medidas Soacutecio-Educativas
O Estatuto construiu um novo modelo de responsabilizaccedilatildeo do
adolescente atraveacutes de sanccedilotildees aptas a interferir limitar e ateacute suprimir
temporariamente a liberdade possuindo aleacutem do caraacuteter soacutecio-educativo uma
essecircncia retributiva Aleacutem disso a adolescecircncia eacute uma fase evolutiva de grandes
utopias que no geral tendem a tornar mais problemaacutetica a relaccedilatildeo dos
adolescentes com o ambiente social porquanto sua pauta de valores e sua visatildeo
criacutetica da realidade ora intuitiva ou reflexiva acabam destoando da chamada
ordem instituiacuteda
O ECA com fundamento na doutrina da Proteccedilatildeo Integral bem como em
criteacuterios meacutedicos e psicoloacutegicos considera o adolescente como pessoa em
desenvolvimento prevendo que assim deve ser compreendida a pessoa ateacute
completar 18 anos
Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como delituosa no
Coacutedigo Penal ou em leis especiais passa a ser chamado de ldquoadolescente infratorrdquo
O adolescente infrator eacute inimputaacutevel perante as cominaccedilotildees previstas no Coacutedigo
Penal ou seja natildeo recebe as mesmas sanccedilotildees que as pessoas que possuam
mais de 18 anos de idade vez que a inimputabilidade penal estaacute prevista no art
227 da Constituiccedilatildeo Federal que fixa em 18 anos a idade de responsabilidade
penal e no art 27 do Coacutedigo Penal
Apesar de ser inimputaacutevel o adolescente infrator eacute responsabilizado pelos
seus atos pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente atraveacutes das medidas soacutecio-
educativas a construccedilatildeo juriacutedica da responsabilidade penal dos adolescentes no
Eca ( de modo que foram eventualmente sancionadas somente atos tiacutepicos
antijuriacutedicos e culpaacuteveis e natildeo os atos anti-sociais definidos casuisticamente pelo
Juiz de Menores) constitui uma conquista e um avanccedilo extraordinaacuterio
normativamente consagrados no ECA
Natildeo bastassem as medidas soacutecio-educativas podem ser aplicadas outras
medidas especiacuteficas como encaminhamento aos pais ou responsaacutevel mediante
termo de responsabilidade orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios matriacutecula
e frequumlecircncia obrigatoacuterias em escola puacuteblica de ensino fundamental inclusatildeo em
programas oficiais ou comunitaacuterios de auxiacutelio agrave famiacutelia e ao adolescente e
orientaccedilatildeo e tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
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estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
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anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
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42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
27
Nomenclatura do Sistema de Justiccedila juvenil e do Sistema Penal
Sistema Justiccedila Juvenil Sistema Penal
Maior de 12 menor de 18Maior de 18 anos
Ato infracionalCrime e Contravenccedilatildeo
Accedilatildeo Soacutecio-educativaProcesso Penal
Instituiccedilotildees correcionaisPresiacutedios
Cumprimento medida
Soacutecio-educativa art 112 EcaCumprimento de pena
Medida privativa de liberdade Medida privativa de
- Internaccedilatildeoliberdade ndash prisatildeo
Regime semi-liberdade prisatildeo
albergue ou domiciliarRegime semi-aberto
Regime de liberdade assistida Prestaccedilatildeo de serviccedilos
E prestaccedilatildeo serviccedilo agrave comunidadeagrave comunidade
32a Ato Infracional
O ato infracional eacute uma accedilatildeo praticada por um adolescente
correspondente agraves accedilotildees definidas como crimes cometidos pelos adultos portanto
o ato infracional eacute accedilatildeo tipificada como contraacuteria a Lei
No direito penal o delito constitui uma accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica culpaacutevel e
puniacutevel Jaacute o adolescente infrator deve ser considerado como pessoa em
desenvolvimento analisando-se os aspectos como sua sauacutede fiacutesica e emocional
conflitos inerentes agrave idade cronoloacutegica aspectos estruturais da personalidade e
situaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e familiar No entanto eacute preciso levar em consideraccedilatildeo
que cada crime ou contravenccedilatildeo praticado por adolescente natildeo corresponde uma
medida especiacutefica ficando a criteacuterio do julgador escolher aquela mais adequada agrave
hipoacutetese em concreto
28
A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
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A crianccedila acusada de um crime deveraacute ser conduzida imediatamente agrave
presenccedila do Conselho Tutelar ou Juiz da Infacircncia e da Juventude Se efetivamente
praticou ato infracional seraacute aplicada medida especiacutefica de proteccedilatildeo (art 101 do
ECA) como orientaccedilatildeo apoio e acompanhamento temporaacuterios frequumlecircncia escolar
requisiccedilatildeo de tratamento meacutedico e psicoloacutegico entre outras medidas
Se for adolescente e em caso de flagracircncia de ato infracional o jovem de
12 a 18 anos seraacute levado ateacute a autoridade policial especializada Na poliacutecia natildeo
poderaacute haver lavratura de auto e o adolescente deveraacute ser levado agrave presenccedila do
juiz Eacute totalmente ilegal a apreensatildeo do adolescente para averiguaccedilatildeo Ficam
apreendidos e natildeo presos A apreensatildeo somente ocorreraacute quando em estado de
flagracircncia ou por ordem judicial e em ambos os casos esta apreensatildeo seraacute
comunicada de imediato ao juiz competente bem como a famiacutelia do adolescente
(art 107 do ECA)
Primeiro a autoridade policial deveraacute averiguar a possibilidade de liberar
imediatamente o adolescente Caso a detenccedilatildeo seja justificada como
imprescindiacutevel para a averiguaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica a autoridade
policial deveraacute comunicar aos responsaacuteveis pelo adolescente assim como
informaacute-lo de seus direitos como ficar calado se quiser ter advogado ser
acompanhado pelos pais ou responsaacuteveis Apoacutes a apreensatildeo o adolescente seraacute
conduzido imediatamente conduzido a presenccedila do promotor de justiccedila que
poderaacute promover o arquivamento da denuacutencia conceder remissatildeo-perdatildeo ou
representar ao juiz para aplicaccedilatildeo de medida soacutecio-educativa
O adolescente que cometer ato infracional estaraacute sujeito agraves seguintes
medidas soacutecio-educativas advertecircncia liberdade assistida obrigaccedilatildeo de reparar o
dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade internaccedilatildeo em estabelecimentos
especiacuteficos entre outras As reprimendas impostas aos menores infratores tem
tambeacutem caraacuteter punitivo jaacute que se apura a mesma coisa ou seja ato definido
como crime ou contravenccedilatildeo penal
32b Conselho Tutelar
O art131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente preconiza que ldquo O
Conselho Tutelar eacute um oacutergatildeo permanente e autocircnomo natildeo jurisdicional
encarregado pela sociedade de zelar diuturnamente pelo cumprimento dos direitos
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da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
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das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
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32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
29
da crianccedila e do adolescente definidos nesta Leirdquo Esse oacutergatildeo eacute criado por Lei
Municipal estando pois vinculado ao poder Executivo Municipal Sendo oacutergatildeo
autocircnomo suas decisotildees estatildeo agrave margem de ordem judicial de forma que as
deliberaccedilotildees satildeo feitas conforme as necessidades da crianccedila e do adolescente
sob proteccedilatildeo natildeo obstante esteja sob fiscalizaccedilatildeo do Conselho Municipal da
autoridade Judiciaacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico e entidades civis que desenvolvam
trabalhos nesta aacuterea
A crianccedila cuja definiccedilatildeo repousa no art20 da Lei 806990 quando da
praacutetica de ato infracional a ela atribuiacuteda surge uma das mais importantes funccedilotildees
do Conselho Tutelar qual seja a aplicaccedilatildeo de medidas protetivas previstas no art
101 da lei supra Embora seja provavelmente a funccedilatildeo mais conhecida do
Conselho Tutelar natildeo eacute a uacutenica jaacute que entre suas atribuiccedilotildees figuram diversas
accedilotildees de relevante importacircncia como por exemplo receber comunicaccedilatildeo no caso
de suspeita e confirmaccedilatildeo de maus tratos e determinar as medidas protetivas
determinar matriacutecula e frequumlecircncia obrigatoacuteria em estabelecimentos de ensino
fundamental requisitar certidotildees de nascimento e oacutebito quando necessaacuterio
orientar pais e responsaacuteveis no cumprimento das obrigaccedilotildees para com seus filhos
requisitar serviccedilos puacuteblicos nas ares de sauacutede educaccedilatildeo trabalho e seguranccedila
encaminhar ao Ministeacuterio Puacuteblico as infraccedilotildees contra a crianccedila e adolescente
Quando a crianccedila pratica um ato infracional deveraacute ser apresentada ao
Conselho Tutelar se estiver funcionando ou ao Juiz da Infacircncia e da Juventude
que o substitui nessa hipoacutetese sendo que a primeira medida a ser tomada seraacute o
encaminhamento da crianccedila aos pais ou responsaacuteveis mediante Termo de
Responsabilidade Eacute de suma importacircncia que o menor permaneccedila junto agrave famiacutelia
onde se presume que encontre apoio e incentivo contudo se tal convivecircncia for
desarmoniosa mediante laudo circunstanciado e apreciaccedilatildeo do Conselho poderaacute
a crianccedila ser entregue agrave entidade assistencial medida essa excepcional e
provisoacuteria O apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento temporaacuterios satildeo
procedimentos de praxe em qualquer dos casos Os incisos III e IV do art 101 do
estatuto estabelece a inclusatildeo do menor na escola e de sua famiacutelia em programas
comunitaacuterios como forma de dar sustentaccedilatildeo ao processo de reestruturaccedilatildeo
social
A Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 do Conselho Nacional dos Direitos
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
30
das Crianccedilas e do Adolescente ndash CONANDA dispotildees sobre os paracircmetros para
criaccedilatildeo e funcionamento dos Conselhos Tutelares
O Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente ndash CONANDA no uso de suas atribuiccedilotildees legais nos termos do art 28 inc IV do seu Regimento Interno e tendo em vista o disposto no art 2o incI da Lei no 8242 de 12 de outubro de 1991 em sua 83a Assembleacuteia Ordinaacuteria de 08 e 09 de Agosto de 2001 em cumprimento ao que estabelecem o art 227 da Constituiccedilatildeo Federal e os arts 131 agrave 138 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Federal no 806990) resolve Art 1ordm - Ficam estabelecidos os paracircmetros para a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o territoacuterio nacional nos termos do art 131 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente enquanto oacutergatildeos encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente Paraacutegrafo Uacutenico Entende-se por paracircmetros os referenciais que devem nortear a criaccedilatildeo e o funcionamento dos Conselhos Tutelares os limites institucionais a serem cumpridos por seus membros bem como pelo Poder Executivo Municipal em obediecircncia agraves exigecircncias legais Art 2ordm - Conforme dispotildee o art 132 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute obrigaccedilatildeo de todos os municiacutepios mediante lei e independente do nuacutemero de habitantes criar instalar e ter em funcionamento no miacutenimo um Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo da administraccedilatildeo municipal Art 3ordm - A legislaccedilatildeo municipal deveraacute explicitar a estrutura administrativa e institucional necessaacuteria ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar Paraacutegrafo Uacutenico A Lei Orccedilamentaacuteria Municipal deveraacute em programas de trabalho especiacuteficos prever dotaccedilatildeo para o custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho Tutelar inclusive para as despesas com subsiacutedios e capacitaccedilatildeo dos Conselheiros aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bens moacuteveis e imoacuteveis pagamento de serviccedilos de terceiros e encargos diaacuterias material de consumo passagens e outras despesas Art 4ordm - Considerada a extensatildeo do trabalho e o caraacuteter permanente do Conselho Tutelar a funccedilatildeo de Conselheiro quando subsidiada exige dedicaccedilatildeo exclusiva observado o que determina o art 37 incs XVI e XVII da Constituiccedilatildeo Federal Art 5ordm - O Conselho Tutelar enquanto oacutergatildeo puacuteblico autocircnomo no desempenho de suas atribuiccedilotildees legais natildeo se subordina aos Poderes Executivo e Legislativo Municipais ao Poder Judiciaacuterio ou ao Ministeacuterio Puacuteblico Art 6ordm - O Conselho Tutelar eacute oacutergatildeo puacuteblico natildeo jurisdicional que desempenha funccedilotildees administrativas direcionadas ao cumprimento dos direitos da crianccedila e do adolescente sem integrar o Poder Judiciaacuterio Art 7ordm - Eacute atribuiccedilatildeo do Conselho Tutelar nos termos do art 136 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ao tomar conhecimento de fatos que caracterizem ameaccedila eou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente adotar os procedimentos legais cabiacuteveis e se for o caso aplicar as medidas de proteccedilatildeo previstas na legislaccedilatildeo sect 1ordm As decisotildees do Conselho Tutelar somente poderatildeo ser revistas por autoridade judiciaacuteria mediante
31
provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
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provocaccedilatildeo da parte interessada ou do agente do Ministeacuterio Puacuteblico sect 2ordm A autoridade do Conselho Tutelar para aplicar medidas de proteccedilatildeo deve ser entendida como a funccedilatildeo de tomar providecircncias em nome da sociedade e fundada no ordenamento juriacutedico para que cesse a ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da crianccedila e do adolescente Art 8ordm - O Conselho Tutelar seraacute composto por cinco membros vedadas deliberaccedilotildees com nuacutemero superior ou inferior sob pena de nulidade dos atos praticados sect 1ordm Seratildeo escolhidos no mesmo pleito para o Conselho Tutelar o nuacutemero miacutenimo de cinco suplentes sect 2ordm Ocorrendo vacacircncia ou afastamento de qualquer de seus membros titulares independente das razotildees deve ser procedida imediata convocaccedilatildeo do suplente para o preenchimento da vaga e a consequumlente regularizaccedilatildeo de sua composiccedilatildeo sect 3ordm-No caso da inexistecircncia de suplentes em qualquer tempo deveraacute o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente realizar o processo de escolha suplementar para o preenchimento das vagas Art 9ordm - Os Conselheiros Tutelares devem ser escolhidos mediante voto direto secreto e facultativo de todos os cidadatildeos maiores de dezesseis anos do municiacutepio em processo regulamentado e conduzido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que tambeacutem ficaraacute encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade sendo fiscalizado desde sua deflagraccedilatildeo pelo Ministeacuterio Puacuteblico Art 10ordm - Em cumprimento ao que determina o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente o mandato do Conselheiro Tutelar eacute de trecircs anos permitida uma reconduccedilatildeo sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou prorrogue esse periacuteodo Paraacutegrafo uacutenico A reconduccedilatildeo permitida por uma uacutenica vez consiste no direito do Conselheiro Tutelar de concorrer ao mandato subsequumlente em igualdade de condiccedilotildees com os demais pretendentes submetendo-se ao mesmo processo de escolha pela sociedade vedada qualquer outra forma de reconduccedilatildeo Art 11ordm- Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar devem ser exigidas de seus postulantes a comprovaccedilatildeo de reconhecida idoneidade moral maioridade civil e residecircncia fixa no municiacutepio aleacutem de outros requisitos que podem estar estabelecidos na lei municipal e em consonacircncia com os direitos individuais estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal Art 12ordm- O Conselheiro Tutelar na forma da lei municipal e a qualquer tempo pode ter seu mandato suspenso ou cassado no caso de descumprimento de suas atribuiccedilotildees praacutetica de atos iliacutecitos ou conduta incompatiacutevel com a confianccedila outorgada pela comunidade sect 1ordm As situaccedilotildees de afastamento ou cassaccedilatildeo de mandato de Conselheiro Tutelar devem ser precedidas de sindicacircncia eou processo administrativo assegurando-se a imparcialidade dos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo o direito ao contraditoacuterio e a ampla defesa sect 2ordm As conclusotildees da sindicacircncia administrativa devem ser remetidas ao Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente que em plenaacuteria deliberaraacute acerca da adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sect 3ordm Quando a violaccedilatildeo cometida pelo Conselheiro Tutelar constituir iliacutecito penal caberaacute aos responsaacuteveis pela apuraccedilatildeo oferecer notiacutecia de tal fato ao Ministeacuterio Puacuteblico para as providecircncias legais cabiacuteveis Art 13ordm - O CONANDA formularaacute Recomendaccedilotildees aos Conselhos Tutelares de forma agrave orientar mais detalhadamente o seu funcionamento Art 14ordm - Esta Resoluccedilatildeo entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo Brasiacutelia 22 de outubro de 2001 Claacuteudio Augusto Vieira da Silva
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
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autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
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18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
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Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
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aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
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revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
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CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
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alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
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necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
32
32c Medidas Soacutecio-Educativas aplicaccedilatildeo
Ao administrar as medidas soacutecio-educativas o Juiz da Infacircncia e da
Juventude natildeo se ateraacute apenas agraves circunstacircncias e agrave gravidade do delito mas
sobretudo agraves condiccedilotildees pessoais do adolescente sua personalidade suas
referecircncias familiares e sociais bem como sua capacidade de cumpri-la Portanto
o juiz faraacute a aplicaccedilatildeo das medidas segundo sua adaptaccedilatildeo ao caso concreto
atendendo aos motivos e circunstacircncias do fato condiccedilatildeo do menor e
antecedentes A liberdade assim do magistrado eacute a mais ampla possiacutevel de sorte
que se faccedila uma perfeita individualizaccedilatildeo do tratamento O menor que revelar
periculosidade seraacute internado ateacute que mediante parecer teacutecnico do oacutergatildeo
administrativo competente e pronunciamento do Ministeacuterio Puacuteblico seja decretado
pelo Juiz a cessaccedilatildeo da periculosidade
Toda vez que o Juiz verifique a existecircncia de periculosidade ela lhe impotildee
a defesa social e ele estaraacute na obrigaccedilatildeo de determinar a internaccedilatildeo Portanto a
aplicaccedilatildeo de medidas soacutecio-educativas natildeo pode acontecer de maneira isolada do
contexto social poliacutetico econocircmico e social em que esteja envolvido o
adolescente Antes de tudo eacute preciso que o Estado organize poliacuteticas puacuteblicas
infanto-juvenis Somente com os direitos agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria agrave
sauacutede agrave educaccedilatildeo agrave cultura esporte e lazer seraacute possiacutevel diminuir
significativamente a praacutetica de atos infracionais cometidos pelos menores
O ECA nos arts 111 e 113 preconiza que as penas somente seratildeo
aplicadas apoacutes o exerciacutecio do direito de defesa sendo definidas no Estatuto
conforme mostraremos a seguir
Advertecircncia
A advertecircncia disciplinada no art 115 do Estatuto vigente eacute a medida
soacutecio-educativa considerada mais branda diz o comando legal supra que ldquoa
advertecircncia consistiraacute em admoestaccedilatildeo verbal que seraacute reduzida a termo e
assinada sendo logo apoacutes o menor entregue ao pai ou responsaacutevel Importante
ressaltar que para sua aplicaccedilatildeo basta a prova de materialidade e indiacutecios de
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
33
autoria acompanhando a regra do art114 paraacutegrafo uacutenico do ECA sempre
observado o princiacutepio do contraditoacuterio e do devido processo legal
Aplica-se a adolescentes que natildeo registrem antecedentes de atos
infracionais e para os que praticaram atos de pouca gravidade como por exemplo
agressotildees leves e pequenos furtos exigindo do juiz e do promotor de justiccedila
criteacuterio na analise dos casos apresentados natildeo ultrapassando o rigor nem sendo
por demais tolerante Eacute importante para a obtenccedilatildeo de resultados satisfatoacuterios
que a advertecircncia seja aplicada ao infrator logo em seguida agrave primeira praacutetica do
ato infracional e que natildeo seja por diversas vezes para natildeo acabar incutindo na
mentalidade do adolescente que seus atos natildeo seratildeo responsabilizados de forma
concreta
Obrigaccedilatildeo de Reparar o Dano
Caracteriza-se por ser coercitiva e educativa levando o adolescente a
reconhecer o erro e efetivamente reparaacute-lo disposta no art 116 do Estatuto
determina que o adolescente restitua a coisa promova o ressarcimento do dano
ou por outra forma compense o prejuiacutezo da viacutetima tal medida tem caraacuteter
fortemente pedagoacutegico pois atraveacutes de uma imposiccedilatildeo faz com que o jovem
reconheccedila a ilicitude dos seus atos bem como garante agrave vitima a reparaccedilatildeo do
dano sofrido e o reconhecimento pela sociedade que o adolescente eacute
responsabilizado pelo seu ato
Questatildeo importante diz respeito agrave pessoa que iraacute suportar a
responsabilidade pela reparaccedilatildeo do dano causado pela praacutetica do ato infracional
consoante o art 928 do Coacutedigo Civil vigente o incapaz responde pelos prejuiacutezos
que causar se as pessoas por ele responsaacuteveis natildeo tiverem obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo
ou natildeo tiverem meios suficientes No art 5ordm do diploma supra citado estaacute definido
que a menoridade cessa aos 18 anos completos portanto quando um adolescente
com menos de 16 anos for considerado culpado e obrigado a reparar o dano
causado em virtude de sentenccedila definitiva tal compensaccedilatildeo caberaacute
exclusivamente aos pais ou responsaacuteveis a natildeo ser que o adolescente tenha
patrimocircnio que possa suportar a responsabilidade Acima dos 16 anos e abaixo de
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
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58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
34
18 anos o adolescente seraacute solidaacuterio com os pais ou responsaacuteveis quanto as
obrigaccedilotildees dos atos iliacutecitos praticados com fulcro no art 932I do Coacutedigo Ciacutevel
Cabe ressaltar que por muitas vezes tais medidas esbarram na
impossibilidade do cumprimento ante a condiccedilatildeo financeira do adolescente infrator
e de sua famiacutelia
Da Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade
Esta prevista no art 117 do ECA constitui na esfera penal pena restritiva
de direitos propondo a ressocializaccedilatildeo do adolescente infrator atraveacutes de um
conjunto de accedilotildees como alternativa agrave internaccedilatildeo
Eacute uma das medidas mais aplicadas aos adolescentes infratores jaacute que ao
mesmo tempo contribui com a assistecircncia a instituiccedilotildees de serviccedilos comunitaacuterios e
de interesse geral tenta despertar no menor o prazer da ajuda humanitaacuteria a
importacircncia do trabalho como meu de ocupaccedilatildeo socializaccedilatildeo e forma de
conquistarem seus ideais de maneira liacutecita
Deve ser aplicada de acordo com a gravidade e os efeitos do ato
infracional cometido a fim de mostrar ao adolescente os prejuiacutezos caudados pelos
seus atos assim por exemplo o pichador de paredes seria obrigado a limpaacute-las o
causador de algum dano obrigado agrave reparaccedilatildeo
A medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos eacute comumente a mais aplicada
favorece o sentimento de solidariedade e a oportunidade de conviver com
comunidades carentes os desvalidos os doentes e excluiacutedos colocam o
adolescente em contato com a realidade cruel das instituiccedilotildees puacuteblicas de
assistecircncia fazendo-os repensar de forma mais intensa e consciente sobre o ato
cometido afastando-os da reincidecircncia Eacute importante considerar que as tarefas natildeo
podem prejudicar o horaacuterio escolar devendo ser atribuiacuteda pelo periacuteodo natildeo
excedente a 6 meses conforme a aptidatildeo do adolescente a grande importacircncia
dessas medidas reside no fato de constituir-se uma alternativa agrave internaccedilatildeo que
soacute deve ser aplicada em caraacuteter excepcional
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
35
Da Liberdade Assistida
A Liberdade Assistida abrange o acompanhamento e orientaccedilatildeo do
adolescente objetivando a integraccedilatildeo familiar e comunitaacuteria atraveacutes do apoio de
assistentes sociais e teacutecnicos especializados e esta prevista nos arts 118 e 119
do ECA Natildeo eacute exatamente uma medida segregadora e coercitiva mas assume
caraacuteter semelhante jaacute que restringe direitos como a liberdade e locomoccedilatildeo
Dentre as formulas e soluccedilotildees apresentadas pelo Estatuto para o
enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil a medida soacutecio-educativa da
Liberdade Assistida eacute de longe a mais importante e inovadora pois possibilita ao
adolescente o seu cumprimento em liberdade junto agrave famiacutelia poreacutem sob o controle
sistemaacutetico do Juizado
A duraccedilatildeo da medida eacute de primeiramente de 6 meses de acordo com
paraacutegrafo 2ordm do art 118 do Eca podendo ser prorrogada revogada ou substituiacuteda
por outra medida Assim durante o prazo fixado pelo magistrado o infrator deve
comparecer mensalmente perante o orientador A medida em princiacutepio aos
infratores passiacuteveis de recuperaccedilatildeo em meio livre que estatildeo iniciando o processo
de marginalizaccedilatildeo poreacutem pode ser aplicada nos casos de reincidecircncia ou praacutetica
habitual de atos infracionais enquanto o adolescente demonstrar necessidade de
acompanhamento e orientaccedilatildeo jaacute que o ECA natildeo estabelece um limite maacuteximo
O Juiz ao fixar a medida tambeacutem pode determinar o cumprimento de
algumas regras para o bom andamento social do jovem tais como natildeo andar
armado natildeo se envolver em novos atos infracionais retornar aos estudos assumir
ocupaccedilatildeo liacutecita entre outras
Como finalidade principal da medida esta a orientaccedilatildeo e vigilacircncia como
forma de coibir a reincidecircncia e caminhar de maneira segura para a recuperaccedilatildeo
Do Regime de Semi-liberdade
A medida soacutecio-educativa de semi-liberdade estaacute prevista no art 120 do
Eca coercitiva a medida consiste na permanecircncia do adolescente infrator em
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
36
estabelecimento proacuteprio determinado pelo Juiz com a possibilidade de atividades
externas sendo a escolarizaccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo obrigatoacuterias
A semi-liberdade consiste num tratamento tutelar feito na maioria das
vezes no meio aberto sugere necessariamente a possibilidade de realizaccedilatildeo de
atividades externas tais como frequumlecircncia a escola emprego formal Satildeo
finalidades preciacutepuas das medidas que se natildeo aparecem aquela perde sua
verdadeira essecircncia
No Brasil a aplicaccedilatildeo desse regime esbarra na falta de unidades
especiacuteficas para abrigar os adolescentes soacute durante a noite e aplicar medidas
pedagoacutegicas durante o dia a falta de unidade nos criteacuterios por parte do Judiciaacuterio
na aplicaccedilatildeo de semi-liberdade bem como a falta de avaliaccedilotildees posteriores ao
adimplemento das medidas tecircm impedido a potencializaccedilatildeo dessa abordagem
conforme relato de Mario Volpi(2002p26)
Nossas autoridades falham no sentido de promover verdadeiramente a
justiccedila voltada para o menor natildeo existem estabelecimentos preparados
estruturalmente a aplicaccedilatildeo das medidas de semi-liberdade os quais deveriam
trabalhar e estudar durante o dia e se recolher no periacuteodo noturno portanto o
oacutebice desta medida esta no processo de transiccedilatildeo do meio fechado para o meio
aberto
Percebemos que eacute necessaacuterio a vontade de nossos governantes em
realmente abraccedilar o jovem infrator natildeo com paternalismo inconsequumlente mas sim
com a efetivaccedilatildeo das medidas constantes no Estatuto da Crianccedila e Adolescente eacute
urgente o aparelhamento tanto em instalaccedilotildees fiacutesicas como na valorizaccedilatildeo e
reconhecimento dos profissionais dedicados que lidam e se importam em seu dia
a dia com os jovens infratores que merecem todo nosso esforccedilo no sentido de
preparaacute-los e orientaacute-los para o conviacutevio com a sociedade
Da Internaccedilatildeo
A medida soacutecio-educativa de Internaccedilatildeo estaacute disposta no art 121 e
paraacutegrafos do Estatuto Constitui-se na medida das mais complexas a serem
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
37
aplicadas consiste na privaccedilatildeo de liberdade do adolescente infrator eacute a mais
severa das medidas jaacute que priva o adolescente de sua liberdade fiacutesica Deve ser
aplicada quando realmente se fizer necessaacuteria jaacute que provoca nos adolescentes o
medo inseguranccedila agressividade e grande frustraccedilatildeo que na maioria das vezes
natildeo responde suficientemente para resoluccedilatildeo do problema alem de afastar-se dos
objetivos pedagoacutegicos das medidas anteriores
Importante salientar que trecircs princiacutepios baacutesicos norteiam por assim dizer
a aplicaccedilatildeo da medida soacutecio educativa da Internaccedilatildeo a saber brevidade da
excepcionalidade e do respeito a condiccedilatildeo peculiar da pessoa em
desenvolvimento
Pelo princiacutepio da brevidade entende-se que a internaccedilatildeo natildeo comporta
prazos devendo sua manutenccedilatildeo ser reavaliada a cada seis meses e sua
prorrogaccedilatildeo ou natildeo deveraacute estar fundamentada na decisatildeo conforme art 121 sect
2ordm sendo que em nenhuma hipoacutetese excederaacute trecircs anos ( art 121 sect 3ordm ) A exceccedilatildeo
fica por conta do art 122 1ordm III que estabelece o prazo para internaccedilatildeo de no
maacuteximo trecircs meses nas hipoacuteteses de descumprimento reiterado e injustificaacutevel de
medida anteriormente imposta demonstrando ao adolescente que a limitaccedilatildeo de
seu direito pleno de ir e vir se daacute em consequecircncia da praacutetica de atos delituosos
O adolescente infrator privado de liberdade possui direitos especiacuteficos
elencados no art 124 do Eca como receber visitas entrevistar-se com
representante do Ministeacuterio Puacuteblico e permanecer internado em localidade proacutexima
ao domiciacutelio de seus pais
Pelo princiacutepio do respeito ao adolescente em condiccedilatildeo peculiar de
desenvolvimento o estatuto reafirma que eacute dever do Estado zelar pela integridade
fiacutesica e mental dos internos
Importante frisar que natildeo se deseja a instalaccedilatildeo de nenhum oaacutesis de
impunidade a medida soacutecio-educativa da internaccedilatildeo deve e precisa continuar em
nosso Estatuto eacute impossiacutevel que a sociedade continue agrave mercecirc dos delitos cada
vez mais graves de alguns adolescentes frios e calculistas que se aproveitam do
caraacuteter humano e social das leis para tirar proveito proacuteprio mas lembramos que
toda a Lei eacute feita para servir a sociedade e natildeo especificamente para delinquumlentes
Isso natildeo quer dizer que a internaccedilatildeo eacute uma forma cruel de punir seres humanos
em estado de desenvolvimento psicossocial Afinal a medida pode ser
considerada branda jaacute que tem prazo de 03 anos podendo a qualquer tempo ser
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
38
revogada ou sofrer progressatildeo conforme relatoacuterios de acompanhamento Aleacutem
disso a internaccedilatildeo eacute a medida uacuteltima e extrema aplicaacutevel aos indiviacuteduos que
revelem perigo concreto agrave sociedade contumazes delinquumlentes
Natildeo se pode fechar os olhos a esses criminosos que jaacute satildeo capazes de
praticar atos infracionais que muitas vezes rivalizam em violecircncia e total falta de
respeito com os crimes praticados por maiores de idade Contudo precisamos
manter o foco na recuperaccedilatildeo e ressocializaccedilatildeo repelindo a puniccedilatildeo pura e
simples que jaacute se sabe natildeo eacute capaz de recuperar o indiviacuteduo para o conviacutevio com
a sociedade
Egrave bem verdade que alguns poucos satildeo mesmo marginais perigosos com
tendecircncia inegaacutevel para o crime mas a grande maioria sofre de abandono o
abandono social o abandono familiar o abandono da comida o abandono da
educaccedilatildeo e o maior de todos os abandonos o abandono Familiar
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
39
CAPIacuteTULO IIII
Impunidade do Menor ndash Verdade ou Mito
A delinquumlecircncia juvenil se mostra como tema angustiante e cada vez com
maior relevacircncia para a sociedade jaacute que a maioria desconhece o amplo sistema
de garantias do ECA e acredita que o adolescente infrator por ser inimputaacutevel
acaba natildeo sendo responsabilizado pelos seus atos o Estatuto natildeo incorporou em
seus dispositivos o sentido puro e simples de acusaccedilatildeo Apesar de natildeo ocultar a
necessidade de responsabilizaccedilatildeo penal e social do adolescente poreacutem atraveacutes
de medidas soacutecio-educativas eacute sabido que aquilo que se previne eacute mais faacutecil de
corrigir de modo que a manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito e das
garantias constitucionais dos cidadatildeos deve partir de poliacuteticas concretas do
governo principalmente quando se tratar de crianccedilas e adolescentes de onde
parte e para onde converge o crescimento do paiacutes e o desenvolvimento de seu
povo A repressatildeo a segregaccedilatildeo a violecircncia estatildeo longe de serem instrumentos
eficazes de combate a marginalidade O ECA eacute uma arma poderosa na defesa dos
direitos da crianccedila e do jovem deve ser capaz de conscientizar autoridades e toda
a sociedade para a necessidade de prevenir a criminalidade no seu nascedouro
evitando a transformaccedilatildeo e solidificaccedilatildeo dessas mentes desorientadas em mentes
criminosas numa idade adulta
A ideacuteia da impunidade decorre de uma compreensatildeo equivocada da Lei e
porque natildeo dizer do desconhecimento do Estatuto da Crianccedila e Adolescente que
se constitui em instrumento de responsabilidade do Estado da Sociedade da
Famiacutelia e principalmente do menor que eacute chamado a ter responsabilidade por seus
atos e participar ativamente do processo de sua recuperaccedilatildeo
Essa estoacuteria de achar que o menor pode praticar a qualquer tempo
praticar atos infracionais e ldquonatildeo vai dar em nadardquo eacute totalmente discriminatoacuteria
preconceituosa e inveriacutedica poreacutem se faz presente no inconsciente coletivo da
sociedade natildeo podemos admitir cultura excludente como se os menores
infratores natildeo fizessem parte da nossa sociedade
Mario Volpi em diversos estudos publicados normatiza e sustenta a
existecircncia em relaccedilatildeo ao adolescente em conflito de um triacuteplice mito sempre ao
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
40
alcance de quem prega ser o menor a principal causa dos problemas de
seguranccedila puacuteblica
Satildeo eles
hiperdimensionamento do problema
periculosidade do adolescente
da impunidade
Nos dois primeiros casos basicamente temos o conjunto da miacutedia
atuando contra os interesses da sociedade jaacute que veiculam diuturnamente
reportagens com acontecimentos e informaccedilotildees sobre situaccedilotildees de violecircncia das
quais o menor praticou ou faz parte como se abutres fossem a esperar sua
carniccedila Natildeo contribuem para divulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e Adolescentes
informando as medidas ali contidas para tratar a situaccedilatildeo do menor infrator As
notiacutecias sempre com emoccedilatildeo e sensacionalismo exacerbado contribuem para
criar um sentimento de repulsa ao menor jaacute que as emissoras optam em divulgar
determinados crimes em detrimento de outros crimes sexuais trafico de drogas
sequumlestros seguidos de morte tem grande clamor e apelo popular sua veiculaccedilatildeo
exagerada contribui para a instalaccedilatildeo de uma sensaccedilatildeo generalizada de
inseguranccedila pois noticiam que os atos infracionais cometidos cada vez mais se
revestem de grande fuacuteria
Embora natildeo possamos negar que os adolescentes tecircm sua parcela de
contribuiccedilatildeo no aumento da violecircncia no Brasil proporcionalmente os iacutendices de
atos infracionais satildeo baixos em relaccedilatildeo ao conjunto de crimes praticados portanto
natildeo existe nenhum fundamento natildeo existe nenhuma pesquisa realizada que
aponte ou justifique esse hiperdimensionamento do problema de violecircncia
O art 247 do Eca prevecirc que natildeo eacute permitida a divulgaccedilatildeo do nome do
adolescente que esteja envolvido em ato infracional contudo atraveacutes da televisatildeo
eacute possiacutevel tomar conhecimento da cidade do nome da rua dos pais enfim de
todos os dados referentes aos menores infratores natildeo estamos aqui a defender a
censura mas como a televisatildeo alcanccedila grande parte da populaccedilatildeo muitas vezes
em tempo real a divulgaccedilatildeo de notiacutecias sem a devida eacutetica contribui para a criaccedilatildeo
de um imaginaacuterio tendo o menor como foco do aumento da violecircncia como foco
de uma impunidade fato que realmente natildeo corresponde com nossa realidade Eacute
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
41
necessaacuterio que os meios de comunicaccedilatildeo verifiquem as informaccedilotildees antes de
divulgaacute-las e quando ocorrer algum erro que este seja retificado com a mesma
ecircnfase sensacionalista dada a primeira notiacutecia Jaacute que os meios de comunicaccedilatildeo
satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de diversos mitos que causam a
ilusatildeo de impunidade e agravamento do problema que tambeacutem seja responsaacutevel
pela divulgaccedilatildeo de notiacutecias de esclarecimento sobre o verdadeiro significado da
Lei
41 A maioridade penal em outros paiacuteses
Paiacutes Idade
Brasil 18 anos
Argentina 18anos
Meacutexico 18anos
Itaacutelia 18 anos
Alemanha 18 anos
Franccedila 18 anos
China 18 anos
Japatildeo 20 anos
Polocircnia 16 anos
Ucracircnia 16 anos
Estados Unidos variaacutevel
Inglaterra variaacutevel
Nigeacuteria 18 anos
Paquistatildeo 18 anos
Aacutefrica do Sul 18 anos
De acordo com pesquisas realizadas por organismos internacionais as
estatiacutesticas mostram que mais da metade da populaccedilatildeo mundial tem sua
maioridade penal fixada em 18 anos A ONU realiza a cada quatro anos a
pesquisa Crime Trends (tendecircncias do crime) que constatou na sua ultima versatildeo
que os paiacuteses que consideram adultos para fins penais pessoa com menos de 18
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
42
anos satildeo os que apresentam baixo Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) com
exceccedilatildeo para os estados Unidos e Inglaterra
Foram analisadas 57 legislaccedilotildees penais em todo o mundo concluindo-se
que pouco mais de 17 adotam a maioridade penal inferior aos dezoito anos
dentre eles Bermudas Chipre Haiti Marrocos Nicaraacutegua na maioria desses
paiacuteses a populaccedilatildeo e carente nos indicadores sociais e nos direitos e garantias
individuais do cidadatildeo
Sendo assim na legislaccedilatildeo mundial vemos um enfoque privilegiado na
garantia do menor autor da infraccedilatildeo contra a intervenccedilatildeo abusiva do Estado pode
ser compreendido como recurso que visa a impedir que a vulnerabilidade social e
bioloacutegica funcione como atrativo e facilitador para o arbiacutetrio e a violecircncia Esse
pressuposto eacute determinante para que se recuse a utilizaccedilatildeo de expedientes mais
gravosos para aplacar as anguacutestias reais e muitas vezes imaginaacuterias diante da
delinquumlecircncia juvenil
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para dezoito anos a idade
penal sendo que a Alemanha ainda criou um sistema especial para julgar os
jovens na faixa de 18 a 21 anos Como exceccedilatildeo temos Estados Unidos e Inglaterra
porem comparar as condiccedilotildees e a qualidade de vida de nossos jovens com a
qualidade de vida dos jovens nesses paiacuteses eacute no miacutenimo covarde e imoral
Todos sabemos que violecircncia gera violecircncia e sabemos tambeacutem que
mais do que o rigor da pena o que faz realmente diminuir a violecircncia e a
criminalidade eacute a certeza da puniccedilatildeo Portanto o argumento da universalidade da
puniccedilatildeo legal aos menores de 18 anos usado pelos defensores da diminuiccedilatildeo da
idade penal que vislumbram ser a quantidade de anos da pena aplicada a
soluccedilatildeo para o controle da criminalidade natildeo se sustenta agrave luz dos
acontecimentos
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
43
42 Proposta de Emenda agrave constituiccedilatildeo nordm 20 de 1999
A Pec 2099 que tem como autor o na eacutepoca Senador Joseacute Roberto Arruda altera o art 228 da Constituiccedilatildeo Federal reduzindo para dezesseis anos a
idade para imputabilidade penal
Duas emendas de Plenaacuterio apresentadas agrave Pec 2099 que trata da
maioridade penal e tramita em conjunto com as PECs 0301 2602 9003 e 0904
voltam agrave pauta da Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania (CCJ) O relator
dessas mateacuterias na comissatildeo senador Demoacutestenes Torres (DEM-GO) alterou o
parecer dado inicialmente acolhendo uma das sugestotildees que abre a
possibilidade em casos especiacuteficos de responsabilizaccedilatildeo penal a partir de 16
anos Essa proposta estaacute reunida na Emenda nordm3 de autoria do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) que acrescenta paraacutegrafo uacutenico ao art228 da Constituiccedilatildeo
Federal para prever que ldquolei complementar pode excepcionalmente desconsiderar
o limite agrave imputabilidade ateacute 16 anos definindo especificamente as condiccedilotildees
circunstacircncias e formas de aplicaccedilatildeo dessa exceccedilatildeordquo
A outra sugestatildeo que prevecirc a imputabilidade penal para menores de 18
anos que praticarem crimes hediondos ndash Emenda nordm2 do senador Magno Malta
(PR-ES) foi rejeitada pelo relator jaacute que pela forma como foi redigida poderia
ocasionar por exemplo a condenaccedilatildeo criminal de uma crianccedila de 10 anos pela
praacutetica de crime hediondo
Cabe inicialmente uma apreciaccedilatildeo pessoal com relaccedilatildeo a emenda nordm3
nosso ilustre senador Tasso Jereissati deveria honrar o mandato popular conferido
por seus eleitores e tentar legislar no sentido de combater as causas que levam
nosso paiacutes a ter uma das maiores desigualdades de distribuiccedilatildeo de renda do
planeta e lembrar que ainda temos muitos artigos da nossa Constituiccedilatildeo de 1988
que dependem de regulamentaccedilatildeo posterior e que os poliacuteticos ateacute hoje 2009 natildeo
conseguiram produzir a devida regulamentaccedilatildeo sua emenda sugere um ldquocheque
em brancordquo que seria dados aos poliacuteticos para decidirem sobre a imputabilidade
penal
No que se refere agrave emenda nordm2 do senador Magno Malta natildeo obstante
acreditar em sua boa intenccedilatildeo pela sua total falta de propoacutesito natildeo merece
maiores comentaacuterios jaacute que foi rejeitada pelo relator
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
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Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
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Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
44
A votaccedilatildeo se daraacute em dois turnos no plenaacuterio do Senado Federal para
ser aprovada em primeiro turno satildeo necessaacuterios os votos favoraacuteveis de 49 dos 81
senadores se for aprovada em primeiro turno e natildeo conseguir os mesmos 49
votos favoraacuteveis ela seraacute arquivada
Se a Pec for aprovada nos dois turnos no senado seraacute encaminhada aacute
apreciaccedilatildeo da Cacircmara onde vai encontrar outras 20 propostas tratando do mesmo
assunto e para sua aprovaccedilatildeo tambeacutem requer dois turnos se aprovada com
alguma alteraccedilatildeo deve retornar ao Senado Federal
43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator
O ECA eacute conhecido como uma legislaccedilatildeo eficaz e inovadora por
praticamente todos os organismos nacionais e internacionais que se ocupam da
proteccedilatildeo a infacircncia e adolescecircncia e direitos humanos
Alguns criacuteticos e desconhecedores do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente tecircm responsabilizado equivocadamente ou maldosamente o ECA
pelo aumento da criminalidade entre menores Mas como sabemos esse
aumento natildeo acontece somente nessa faixa etaacuteria o aumento da violecircncia e
criminalidade tem aumentado de maneira geral em todas as faixas etaacuterias
A legislaccedilatildeo Brasileira seguindo padratildeo internacional adotado por
inuacutemeros paiacuteses e recomendado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas confere
aos menores infratores um tratamento diferenciado levando-se em conta estudos
de neurocientistas psiquiatras psicoacutelogos que atraveacutes de vaacuterios estudos e varias
convenccedilotildees das quais o Brasil eacute signataacuterio adotaram a idade de 18 anos como
sendo a idade que o jovem atinge sua completa maturidade
Mais de dois milhoes de jovens com menos de 16 anos trabalham em
condiccedilotildees degradantes ora em contato com a droga e com a marginalidade
sendo muitas vezes olheiros de traficantes nas inuacutemeras favelas das cidades
brasileiras ora com trabalhos penosos degradantes e improacuteprios para sua idade
como nas pedreiras nos fornos de carvatildeo nos canaviais e em toda sorte de
atividades nas recomendadas para crianccedilas Cerca de 400 mil meninas trabalham
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
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Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
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Juruaacute2002
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LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
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Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
45
em serviccedilos domeacutesticos 500 mil satildeo viacutetimas de exploraccedilatildeo sexual 120 mil
crianccedilas vivem em abrigos sem um lar aconchegante e sem o conviacutevio das
famiacutelias Sem falar nas crianccedilas que moram em casas cujo arrimo de famiacutelia eacute a
mulher analfabeta abandonada pelo marido que para trabalhar deixa a crianccedila
sozinha em casa a mercecirc do ambiente jaacute que natildeo existe a figura do pai e da matildee
De acordo com estudo da UNICEF o homiciacutedio eacute a principal causa da
morte de crianccedilas brasileiras sendo 405 dos oacutebitos satildeo de causas natildeo naturais
Por outro lado o iacutendice de homiciacutedios cometido pelos menores fica em torno de
1 O iacutendice de reincidecircncia entre os jovens infratores fica em torno de 20 e
com certeza poderia ser menor se nossos governantes implementassem o ECA na
sua totalidade em contrapartida o iacutendice de reincidecircncia entre a populaccedilatildeo de
criminosos adultos eacute de 60 diferenccedila significativa e reveladora demonstrando
que quanto mais jovem maior a possibilidade de recuperaccedilatildeo Esses dados natildeo
divulgados de maneira massificada demonstram que a crianccedila estaacute realmente na
condiccedilatildeo de viacutetima e natildeo de infrator
No Brasil apenas 396 dos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa concluiacuteram o ensino fundamental eacute necessaacuterio a compreensatildeo que
o envolvimento dos menores com a delinquumlecircncia e o crime deve ser revertido com
poliacuteticas puacuteblicas adequadas com acesso agrave escola e ao trabalho natildeo podemos
legislar sobre as exceccedilotildees por ter acontecido um caso pontual aqui ou acolaacute as
leis satildeo para a sociedade alcanccedilar um niacutevel satisfatoacuterio de convivecircncia e natildeo para
dar legitimidade a segregaccedilatildeo Precisamos enfrentar o problema com
responsabilidade coragem e compromisso com a juventude brasileira
Estudos promovidos pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP do Rio de
Janeiro nos oferecem estatiacutesticas que comprovam natildeo haver necessidade alguma
de alterar a maioridade penal com o propoacutesito de conter a violecircncia em seu ultimo
estudo publicado com o tiacutetulo de Dossiecirc Crianccedila e Adolescente- seacuterie estudos
nordm32007 trabalho importante e fonte de informaccedilatildeo preciosa para quem quer
realmente entender o quadro real da situaccedilatildeo penal do jovem no Rio de Janeiro
O estudo nos demonstra a seacuterie histoacuterica de apreensotildees de crianccedilas e
adolescentes que cometeram algum ato infracional no Estado do Rio de Janeiro
no periacuteodo de 2002 a 2006
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
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CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
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GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
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3ed Rio de Janeiro Forense 1972
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Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
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Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
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SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
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VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
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Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
46
Ano Apreensatildeo
2002 3956 2003 3382 2004 2206 2005 2026
2006 1890
Verificamos que apoacutes 2002 temos uma queda consistente nos iacutendices de
apreensatildeo de menores por atos infracionais Com relaccedilatildeo as regiotildees do Estado
temos na capital 392 das apreensotildees seguidos do interior com 25 baixada
fluminense com 21 e grande Niteroacutei com 148
Especificamente na capital temos a zona norte com 501 das
apreensotildees seguida da zona Oeste com 278 e zona Sul com 208 com
relaccedilatildeo ao sexo temos 873 do sexo masculino 78 do sexo feminino e 49
sem informaccedilatildeo
Idade 10 a 12 anos 08 13 a 14 anos 101 15 a 16 anos 433 17 anos 458 Cor da pele Parda 434 Preta 252 Branca 244 Sem informe 70
Nas demonstraccedilotildees acima percebemos o quatildeo necessaacuterio eacute a educaccedilatildeo e
como eacute importante estarmos preparados para no primeiro sinal de delinquecircncia o
Estado e a sociedade estejam atentos e vigilantes para agir no sentido de tentar
reverter a situaccedilatildeo quando da crianccedila de menor idade Sendo inegaacutevel que regioes
onde os iacutendices de miseacuteria e exclusatildeo social satildeo mais sentidos temos um maior
numero de jovens levados a criminalidade
Assim temos um perfil das crianccedilas que cometeram atos infracionais no
Estado do Rio de Janeiro majoritariamente do sexo masculino faixa etaacuteria de 15 a
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
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VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
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Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
47
17 anos Os dados sobre cor das crianccedilas e adolescentes clasisificaccedilatildeo esta
atribuiacuteda pelo policial no momento do registro de ocorrecircncia revelam um
percentual maior de indiviacuteduos natildeo brancos
Tendo como base o Rio de Janeiro reproduziremos conforme
levantamento solicitado ao instituto de Seguranccedila Publica do Rio de Janeiro em
junho de 2009 um comparativo da ocorrecircncia policiais (registro de ocorrecircncia de
todas as delegacias do Estado do Rio de Janeiro ndash base mecircs de marccedilo 2007 a
2009) tendo como autores os menores de 18 anos
Mecircs de marccedilo 2007 - total - 501 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2008 - total - 333 ocorrecircncias
Mecircs de marccedilo 2009 - total - 441 ocorrecircncias
2007 2008 2009 Roubo a transeunte 403 291 370 Roubo interior veiculo(ocircnibus) 50 29 41 Roubo a residecircncia 10 3 5 Homiciacutedio arma de fogo branca 6 3 8 Homiciacutedio tentativa 13 2 8 Estupro 15 1 5
Autores 2007 2008 2009 Sexo Masculino 427 254 360 Sexo feminino 14 9 12 Cor parda 166 103 141 Cor negra 157 91 161 Cor branca 99 52 63
Eacute de faacutecil percepccedilatildeo que com relaccedilatildeo ao menor temos uma situaccedilatildeo que
realmente nos preocupa poreacutem longe de estar fora de controle devemos estar
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
48
atentos no sentido de aperfeiccediloar as instituiccedilotildees e mecanismos para que a
assistecircncia ao menor seja sempre mais efetiva e eficaz e voltada para as camadas
da sociedade de menor poder aquisitivo assim estaremos tratando da causa do
problema e natildeo simplesmente atacando os sintomas depois da doenccedila jaacute
instalada no seio da sociedade civil O binocircmio assistecircncia e educaccedilatildeo eacute o meio
mais eficaz do combate agrave violecircncia e a criminalidade no ambiente juvenil
Atraveacutes de estatiacutesticas disponibilizadas na pagina oficial da Vara da
infacircncia Juventude e Idosos do Rio de Janeiro temos os dados que nos retratam
uma radiografia do Trabalho do Judiciaacuterio na busca e proteccedilatildeo dos direitos dos
menores satildeo accedilotildees de Adoccedilatildeo Destituiccedilatildeo de paacutetrio poder Registro civil
Alimentos Guarda Busca e Apreensatildeo que visam fundamentalmente agrave
prevenccedilatildeo para que posteriormente esse menor natildeo se transforme no criminoso
do amanhatilde Podemos observar a seguir que o trabalho eacute feito diuturnamente e que
natildeo apresenta uma grande oscilaccedilatildeo que nos leve a crer num aumento
desenfreado da violecircncia praticado pelos menores Quando encaramos de
maneira seacuteria o problema da delinquumlecircncia infanto-juvenil percebemos atraveacutes das
estatiacutesticas que o problema existe poreacutem natildeo estaacute fora de controle eacute claro que
precisamos evoluir jaacute dizia o ditado popular ldquo nada eacute tatildeo ruim que natildeo possa
piorar e nem tatildeo bom que natildeo possa ser melhoradordquo entatildeo devemos caminhar na
direccedilatildeo da evoluccedilatildeo e natildeo ficarmos agrave mercecirc de alguns poucos pegando carona na
irresponsabilidade dos meios de comunicaccedilatildeo que nos fazem acreditar que tudo
estaacute perdido e que a soluccedilatildeo eacute pura e simplesmente a masmorra para os jovens
negando-lhes a oportunidade de escolher trilhar o caminho da dignidade da
honestidade e da convivecircncia em sociedade O conjunto da sociedade deve
garantir a possibilidade do jovem escolher qual o caminho a seguir
Chamamos atenccedilatildeo para o trabalho preventivo desenvolvido jaacute que a
proteccedilatildeo ao direito do menor e a relaccedilatildeo com sua famiacutelia ocupa lugar de destaque
entre as accedilotildees desenvolvidas pela Vara da Infacircncia da Juventude e do Idoso
Demonstrando que nossa preocupaccedilatildeo primeira natildeo deve ser simplesmente a
puniccedilatildeo e sim o respeito cuidado e atenccedilatildeo com os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo jovem principalmente os mais desprovidos de recursos econocircmicos
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
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Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
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observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
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-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
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httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
49
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
50
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
51
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
52
CONCLUSAtildeO
Eacute inegaacutevel que estamos vivendo um momento extremamente difiacutecil e
conturbado em nosso Paiacutes A escalada da violecircncia cria um clima de inseguranccedila
que inquieta e afeta a sociedade brasileira transformando nossas cidades de
forma especial e marcante as grandes metroacutepoles em cenaacuterio de medo e
intranquumlilidade A sociedade assiste todos os dias a guerra do aparato policial
contra os meliantes e em muitas ocasiotildees os bandidos se livram da espada da lei
como se rindo dos homens de bem Daiacute poreacutem eleger os adolescentes elos mais
fracos da corrente de nossa sociedade como responsaacuteveis por esta situaccedilatildeo
propondo como soluccedilatildeo rebaixamento da idade de responsabilidade penal eacute de
uma irresponsabilidade total e descortina a falta de compreensatildeo da situaccedilatildeo e da
incompetecircncia e o desaparelhamento do Estado para conduzir as accedilotildees
necessaacuterias ao efetivo combate agrave violecircncia induzindo a sociedade ao erro Natildeo eacute
verdadeira a informaccedilatildeo veiculada no sentido de serem os adolescentes
responsaacuteveis pela escalada das accedilotildees criminosas
Os adolescentes satildeo e devem continuar sendo inimputaacuteveis quer dizer
natildeo devem ser submetidos nem ao processo nem agraves sanccedilotildees aplicadas aos
adultos No entanto os adolescentes satildeo e devem seguir sendo responsaacuteveis
pelos seus atos natildeo podemos contribuir com a criaccedilatildeo de qualquer tipo de
situaccedilatildeo que associe adolescecircncia com impunidade jaacute que assim estariacuteamos
prestando um desserviccedilo ao proacuteprio adolescente a justiccedila e a toda a sociedade
natildeo podemos confundir defesa dos direitos do menor com ingenuidade desleixo e
incompetecircncia
Soacute mesmo uma consciecircncia ingecircnua ou mal intencionada seria capaz de
nos impedir de perceber que as crianccedilas e adolescentes natildeo tecircm chance de saber
e perceber quais satildeo as regras do pacto social e nem possuem recursos para
compreendecirc-lo uma vez que suas trajetoacuterias de vida constroem-se alijadas da
famiacutelia da escola do trabalho da sauacutede principais matrizes socializadoras
O caminho para a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia infanto-juvenil natildeo estaacute na
reduccedilatildeo da idade para a imputabilidade penal de 18 para 16 anos a partir do
pressuposto de que tal modificaccedilatildeo na lei causaraacute intimidaccedilatildeo aos maiores de 16 e
menores de 18 Sabe-se que muitas vezes a produccedilatildeo de leis no Brasil se faz sob
a pressatildeo da miacutedia e determinados grupos visando interesses especiacuteficos e em
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
53
situaccedilotildees circunstacircnciais para dar resposta a sociedade que se vecirc confrontada
com determinada ocorrecircncia
A questatildeo da crianccedila e do adolescente natildeo eacute meramente circunstancial
mas um problema estrutural Reduzir a idade para a imputabilidade penal significa
responsabilizar o adolescente pelo fato de natildeo ter acesso aos direitos que o
conjunto de nosso ordenamento juriacutedico lhe garante visando o seu pleno
desenvolvimento Significa a absolviccedilatildeo da famiacutelia e do Estado relativamente ao
crime de natildeo cumprir sua funccedilatildeo de proporcionar agraves crianccedilas e adolescentes todas
as condiccedilotildees ao seu desenvolvimento como tambeacutem ser capaz de fortalecer os
valores sociais que visam agrave promoccedilatildeo da uniatildeo e convivecircncia ordeira entre os
membros da sociedade
Vale lembrar que os jovens infratores no Brasil natildeo satildeo monstros
insensiacuteveis e sim fruto de uma fraacutegil situaccedilatildeo econocircmico-social com todos os
problemas dela decorrentes Mas embora renegados pela sociedade e pelo
Estado continuam sendo indiviacuteduos em formaccedilatildeo que natildeo podem simplesmente
serem deixados agrave margem da sociedade
Tambeacutem natildeo podemos sucumbir aos discursos ocos Como aqueles feitos
pelo governo por uma parte da sociedade e pela miacutedia no sentido de que o menor
eacute um ldquocoitadinhordquo viacutetima da sociedade Quem de noacutes natildeo sofreu natildeo sofre e
sofreraacute as influecircncias do meio ambiente Pessoa pobre natildeo quer dizer pessoa
desonesta da mesma forma que pessoa rica natildeo eacute sinocircnimo de pessoa honesta
A reduccedilatildeo da maioridade penal ao inveacutes de salutar seraacute desastrosa agrave
situaccedilatildeo do grupo social formado por crianccedilas e adolescentes Na verdade
provocaraacute um agravamento na questatildeo da exploraccedilatildeo do adolescente por parte
dos malfeitores que usam os menores para praacutetica de determinadas atividades
iliacutecitas exatamente por serem inimputaacuteveis A reduccedilatildeo da imputabilidade penal
para 16 anos determinaria a exploraccedilatildeo dos menores de 16 anos gerando assim
um problema cada vez maior e com consequecircncias de maior gravidade para o
conjunto da sociedade
A delinquumlecircncia eacute um fenocircmeno basicamente social que surge como
consequumlecircncia das contradiccedilotildees da organizaccedilatildeo da sociedade portanto sua
diminuiccedilatildeo depende em grande parte da realizaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade e
justiccedila social se o nosso ordenamento juriacutedico prevecirc um amplo conjunto de direito
agraves crianccedilas e adolescentes e deveres agrave Famiacutelia ao Estado e agrave sociedade e pelo
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
54
fato de ser a maneira mais correto de alcanccedilarmos a plenitude do desenvolvimento
dos menores e adolescentes
Num paiacutes em que os adultos e governantes em geral natildeo tecircm sido o que
se poderia chamar de ldquoexemplo a ser seguidordquo em mateacuteria de dignidade e
honestidade chega a ser uma trageacutedia a ideacuteia de reduccedilatildeo da idade penal como
se a culpa fosse dos jovens Parece que o Governo deveria antes se preocupar
em fornecer mecanismos para fazer valer as leis jaacute existentes Por que natildeo pensar
em dar escola aos meninos de rua Porque natildeo pensar em fornecer meios aos
miseraacuteveis que moram debaixo das pontes para que possam ter acesso a sauacutede e
alimentaccedilatildeo
O que natildeo podemos eacute confundir a inimputabilidade penal com a
irresponsabilidade penal ou impunidade a lei sozinha natildeo tecircm o condatildeo de
resolver por si soacute o problema da criminalidade infanto-juvenil e perder de vista a
oportunidade de reintegraccedilatildeo social do menor infrator seria erro indesculpaacutevel ou
algueacutem duvida que nosso sistema prisional e montado uacutenica e exclusivamente
para esconder o preso da sociedade e jamais tentar socializaacute-lo realimentando o
ciclo da reincidecircncia e violecircncia
Se noacutes Brasileiros como povo e sociedade organizada natildeo conseguimos
proporcionar ao conjunto da sociedade um miacutenimo de igualdade de vida e
oportunidades se temos uma das piores distribuiccedilotildees de renda do planeta se as
classes menos favorecidas da sociedade se vecircem privadas do acesso agrave sauacutede
habitaccedilatildeo educaccedilatildeo emprego comida na mesa fatores estes primordiais agrave
formaccedilatildeo do indiviacuteduo como podemos simplesmente condenar o menor e o
adolescentes por nossos proacuteprios erros o problema natildeo eacute deles o problema eacute
nosso e natildeo podemos ignoraacute-lo e sim enfrentaacute-lo poreacutem sem utilizar a segregaccedilatildeo
e sim ajudar aos que precisam de orientaccedilatildeo para voltar ao conviacutevio sadio da
sociedade
O esforccedilo da sociedade deveria se concentrar no sentido de que
condiccedilotildees reais sejam criadas para que as crianccedilas e adolescentes brasileiros
possam vivenciar aquilo que esta posto na Legislaccedilatildeo Brasileira Tal esforccedilo seria
diretamente proporcional ao fortalecimento dos valores sociais que objetiva unir os
membros de uma sociedade Porque dentre os objetivos fundamentais de nossa
Republica amparado em nossa Carta Magna de 1988 estaacute o de construir uma
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
55
sociedade livre justa e solidaacuteria garantindo o desenvolvimento erradicando a
pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzindo as desigualdades sociais
Na verdade natildeo falta puniccedilatildeo faltam investimentos e decisotildees poliacuteticas e
sociais A violecircncia nunca deixaraacute de existir e as pessoas querem resolver o
problema da criminalidade no curto prazo todavia isso natildeo eacute possiacutevel Temos que
arregaccedilar as mangas Estado e Sociedade criando condiccedilotildees para um verdadeiro
acolhimento de nossos jovens tenho certeza que embora seja o caminho mais
longo eacute o uacutenico capaz de apresentar resultados Vamos nos por a caminho e em
ACcedilAtildeO
Reflexatildeo
ldquoDo rio que tudo arrasta se diz que eacute violento
mas ningueacutem diz violentas as margens que o oprimemrdquo
Bertold Brecht
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
56
BIBLIOGRAFIA
BARROSO Luiacutes Roberto Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do
Direito ndash O triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil Emerj vol 9 2006
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
BELO Warley Direito Penal de Papel Consideraccedilotildees sobre a Violecircncia e a
Menoridade Penal RDPP nordm 43 abril2007
CABETTE Eduardo Luiz Santos Influecircncias do novo Coacutedigo Civil primeiras
observaccedilotildees Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
CASTRO Emerson Luiz A Maioridade Penal e a Diminuiccedilatildeo da
Criminalidade2004 Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
DALLARI Dalmo Ser Cidadatildeo Satildeo Paulo Lua Nova 1984
-------------Desconstruindo o Mito da Liberdade Um Ensaio de Direito Penal
Juvenil Brasiacutelia CEDECICA 2002 b
GOMES Luiz Flaacutevio VANZOLINI Maria Patriacutecia Reforma Criminal Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais2004
GOMIDE Paula Menor infrator A Caminho de um Novo Tempo 2edCuritiba
Juruaacute2002
HADDAD Carlos Henrique Borlido A Idade Penal do Consentimento Vaacutelido ndash
2005Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS ndash IBCCRIM
Disponiacutevel em httpwwwibccrimorgbr Acesso em 04052009
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INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
57
INSTITUTO DE SEGURANCcedilA PUacuteBLICA RJ - ISP
Disponivel em httpwwwisprjgovbr Acesso em 11062009
JUS NAVEGANDI ndash Doutrina ndash Reduccedilatildeo da Maioridade Penal Disponiacutevel em
httpwwwjusnavegandicombr Acesso em 020714042009
LIBERATI Wilson Donizete Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 2002
LOBAtildeO Ronaldo O Tempo Vertiginoso Impossiacutevel de se capturar na Lei
Disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
MEIRA Silvio AB A Lei das XII Taacutebuas ndash Fonte do Direito Puacuteblico e Privado
3ed Rio de Janeiro Forense 1972
NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo sobre Directo das Crianzas Adotada pela
Resoluccedilatildeo n L44 da Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 20 de novembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1990 Disponivel em
httpwwwnuorg Acesso em 28042009
NOGUEIRA Paulo Lucio Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Comentado
6ed ver aum e atual Satildeo Paulo Saraiva 2002
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
SAVIANI Demerval Escola e Democracia Satildeo Paulo Autores Associados 1987
SIMOES Vanessa Fusco Nogueira Reduccedilatildeo da maioridade penal ndash Limites e
Possibilidades Artigo disponiacutevel em wwwibccrimorgbr
SOUZA Luis Antonio Francisco Marcelo da Silveira Campos Reduccedilatildeo da
Maioridade Penal Uma Anaacutelise dos Projetos que tramitam na Cacircmara dos
Deputados Revista Ultima Ratio2007 Disponiacutevel wwwibccrimorgbr
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
58
TAVARES Joseacute de farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente3ed Rio de JaneiroForense1999
TRIBUNAL DE JUSTICcedilA RJndash Vara da Infacircncia Juventude e Idosos
Disponivel em httpwwwtjrjgovbr Acesso em 20062009
VALENTE Jose Jacob Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Apuraccedilatildeo do
Ato Infracional agrave Luz da Jurisprudecircncia Satildeo Paulo Atlas 2002
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
SARAIVA Joatildeo Batista Costa Adolescente e Ato Infracional Garantias
Processuais e Medidas Soacutecio-educativas Porto Alegre Livraria do
Advogado2002a
VERONESE Josiane Rose Petry Os Direitos da Crianccedila e do Adolescente
Sao Paulo LTr 1999
VOLPI Mario O Adolescente e o ato infracional 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2002
59
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
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IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMAacuteRIO 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
CAPIacuteTULO I - Histoacuterico e Evoluccedilatildeo da Legislaccedilatildeo
Voltada agrave crianccedila e ao adolescente 15
CAPIacuteTULO II - O Direito do Menor no Brasil 18
21 A Constituiccedilatildeo de 1988 21 CAPIacuteTULO III ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
ECA Lei 806990 23
31 Princiacutepios orientadores 23 32 Ato infracional e Medidas Soacutecio-Educativas 26 32a Ato infracional 27 32b Conselho Tutelar 29 32c Medidas Soacutecio-Educativas 32 CAPIacuteTULO IIII ndash Impunidade ndash Verdade ou Mito 39 41 A Maioridade penal em outros paiacuteses 41 42 Proposta de Emenda agrave Constituiccedilatildeo 2099 43 43 Jovem eacute mais viacutetima que infrator 44
CONCLUSAtildeO 52
BIBLIOGRAFIA 56
IacuteNDICE 59
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito
60
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre
Tiacutetulo da Monografia Reduccedilatildeo da Maioridade Penal no Brasil
Autor Mauro Simas de Lima
Data da entrega
Avaliado por Conceito