92
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL CURSO DE MESTRADO REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL BONAL Ana Paula Diniz Brito Rio Branco 2013

REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

CURSO DE MESTRADO

REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS

NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

BONAL

Ana Paula Diniz Brito

Rio Branco

2013

Page 2: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

ANA PAULA DINIZ BRITO

REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS

NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVELBONAL

Dissertação de Mestrado elaborada junto ao

Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento

Regional, da Universidade Federal do Acre, como

requisito para obtenção do Título de Mestre em

Desenvolvimento Regional.

Orientador: Raimundo Cláudio Gomes Maciel

Rio Branco

2013

Page 3: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

BRITO, A. P. D., 2013.

BRITO, Ana Paula Diniz. Reforma agrária, capital social e a gestão dos recursos

naturais: caso do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal. Rio Branco: UFAC,

2013. 103f

Marcelino G. M. Monteiro – CRB/11 - 258

B862r Brito, Ana Paula Diniz, 1978 -

Reforma agrária, capital social e a gestão dos recursos naturais: o

caso do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal / Ana Paula

Diniz Brito --- Rio Branco : UFAC, 2013.

93 f : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) – Programa

de Pós-Graduação Mestrado em Desenvolvimento Regional da

Universidade Federal do Acre.

Orientador: Prof. Dr. Raimundo Cláudio Gomes Maciel.

Inclui bibliografia

1. Capital Social. 2. Cooperação. 3. Ação coletiva. 4.

Comunidade. 5. Acre – Condições econômicas. 6. Acre – Condições

sociais. I. Título.

CDD.: 306.3098112

CDU.: 309.18(811.2)

Page 4: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS

NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

BONAL.

COMISSÃO EXAMINADORA

PROF. DR. SILVIO SIMIONE DA SILVA

PPG/MDR - Universidade Federal do Acre- UFAC

PROF. DR. CARLOS ALBERTO FRANCO DA COSTA

CCJSA - Universidade Federal do Acre- UFAC

PROF. DR. RAIMUNDO CLÁUDIO GOMES MACIEL

PPG/MDR - Universidade Federal do Acre- UFAC

Orientador

Page 5: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

Em memória ao amigo Marco Antônio Toledo (ex-delegado do município de Bujari-

Acre), que em sua vida sempre buscou o conhecimento, a honestidade e a dedicação ao

trabalho, transformado o mundo das pessoas que com ele tiveram o prazer de conviver.

Page 6: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me presenteou com o dom da vida, força,

saúde e fé necessária para a conclusão deste trabalho, providenciando todas as minhas

necessidades.

À minha família pelo amor incondicional e apoio: ao meu pai pelo cuidado

constante e as incansáveis orações da minha mãe, além da amizade dos meus irmãos.

Ao professor Dr. Raimundo Cláudio pela orientação nesse trabalho, pelo

cuidado que ele nutre pela manutenção da academia e por fazer parte da equipe do

ASPF.

Aos professores do mestrado pela dedicação em nos ensinar, pelos bons

momentos que passamos juntos no período de conclusão dos créditos, em especial ao

Dr. Silvio Simione e Antonio Carlos pelas contribuições essenciais para a dissertação.

Aos colegas do curso de mestrado, em especial a Francisco Júnior, Flávia

Simoura, Marta e Jeigiane pelo companheirismo, amizade e pela ajuda recíproca que

cultivamos, afeição pelos quais quero levar por toda a minha vida.

Não poderia deixar de agradecer ao meu amigo Zé Mastrângelo, amigo de todas

as horas, pessoa que, desde o primeiro momento em que nos conhecemos, mostrou-se

leal e companheira e nas horas difíceis se transformou num irmão amado.

Ao professor Rubiclies Gomes, meu primeiro professor do curso de Economia,

com o qual aprendi as lições iniciais, os conceitos e a vontade de sempre querer mais na

vida.

Ao professor Raimundo Lopes de Melo, meu incentivador, amigo e conselheiro

quando necessito de ajuda sobre o mundo acadêmico, além da ajuda no tempo em que

eu cursava o ensino médio, quando realizou o meu sonho de estudar no CERB.

À CAPES, pelo apoio financeiro com a bolsa-auxílio durante o curso de

mestrado.

Page 7: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

Ao Governo do Estado do Acre através da FUNTAC, pelo suporte financeiro

indispensável para execução da pesquisa de campo.

Ao INCRA, pela parceria, informações e ao suporte na pesquisa.

À equipe do Programa ASPF, em especial a Pedro, Geso, Eline, Rodrigo e João

Paulo.

À amiga Débora Souza pelo fim de semana produtivo na UFAC com direito a

caminhadas, leituras e produção de texto, cada uma de nós concentrada em seus

trabalhos.

Ao amigo Renato Almeida pela amizade que ao longo dos anos vem se

solidificando, meu professor de inglês, consultor de tecnologia e outras tantas

atribuições especiais em minha vida.

Aos moradores do PDS Bonal, em especial ao casal Francisca e Raimundo, pela

acolhida, informações acerca do projeto e o carinho que nos foi dispensado durante os

dois anos no assentamento. Ao casal Dieime e Adelar, pela acolhida e hospedagem nos

dias em que passamos em campo.

Mesmo na tentativa de fazer uma lista exaustiva, certamente cometerei alguma

injustiça. Foram muitas as pessoas que, de alguma forma, ajudaram-me a cumprir esta

etapa da minha vida. Mas a todas aquelas que deixei de mencionar, saibam, pois, que

contribuíram, e por isso meus sinceros agradecimentos.

Page 8: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

“Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante de

mim, prossigo para o alvo.” Filipenses 3.1

Page 9: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

BIOGRAFIA

Ana Paula Diniz Brito, filha de Raimundo de Almeida Brito e Dona Maria das Graças

Pinheiro Diniz, nasceu em no dia 08 de dezembro de 1978 na cidade de Sena Madureira

(AC).

Cursou o Ensino Fundamental na Escola Estadual São João Batista, no município de

Bujari (AC), concluindo em dezembro de 1994.

Em março de 1995, iniciou o Ensino Médio na Escola Estadual São João Batista, no

município de Bujari (AC). No ano seguinte, cursou o 2º ano do Ensino Médio no

Colégio Estadual Rio Branco, onde concluiu em dezembro de 1997.

Em fevereiro de 2006, ingressou no Curso de Comunicação Social/Jornalismo no

Instituto de Ensino Superior do Acre (IESACRE), terminando em 08 de dezembro de

2009.

Um ano depois entrou no Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do

Acre (UFAC) e formou-se em 09 de setembro de 2011.

Foi selecionada, em março de 2011, no Programa de Pós Graduação em

Desenvolvimento Regional (MDR/UFAC), submetendo à defesa a Dissertação no dia

29 de julho de 2013, para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional.

Page 10: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

RESUMO

BRITO, Ana Paula Diniz, Me., Universidade Federal do Acre, março de 2013.

Reforma Agrária, Capital Social e a Gestão dos Recursos Naturais: O caso do Projeto de

desenvolvimento Sustentável Bonal. Orientador: Raimundo Cláudio Gomes Maciel.

A discussão em torno do capital social é relativamente nova na academia, contudo está

diretamente relacionada com um antigo problema da vida social: os dilemas da vida

coletiva, ou seja, a necessidade da sociedade em desenvolver ações que gerem confiança

mútua entre seus membros e cooperação, buscando atingir objetivos comuns, evitando

os velhos problemas que envolvem os bens públicos e possibilitando atitudes que

influenciam na geração de renda e, consequentemente, na diminuição da pobreza no

meio rural. Neste sentido, o presente trabalho tem por finalidade analisar os níveis do

capital social no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal, localizado no

município de Senador Guiomard (AC), tendo em vista as discussões referentes ao

desenvolvimento sustentável. A metodologia utilizada baseou-se em técnicas de grupos

focais, diagrama de Venn, mapeamentos e questionários semiestruturados, além de

variáveis que identificam o estágio do capital social na região de estudo. Os resultados

obtidos indicam que o capital social do Projeto encontra-se em fase inicial, justamente

por conta de fatores decorrentes do processo de maturação do assentamento, levando-se

em consideração as dificuldades de reprodução social das famílias, que resulta numa

frágil gestão dos recursos naturais.

Palavras-Chave: Capital Social, Reforma Agrária, Projeto de Assentamento Sustentável,

Amazônia.

Page 11: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

ABSTRACT

BRITO, Ana Paula Diniz, M.Sc., Federal University of Acre. March 2013. Agrarian

Reform, Social Capital and Natural Resource Management: The Case of Sustainable

Development Project Bonal. Advisor: Raimundo Cláudio Maciel

The discussion on the issue of capitalism considered relatively new topic in academia,

but is directly related to an old problem of social life: the dilemmas of collective life, in

the need for society to develop by means of actions that build trust mutual cooperation

among its members and seeking to achieve common goals, avoiding the old problems

involving public goods, and enabling attitudes that influence the generation of in come

and there for reduction in rural areas. In this sense, the present study aims to analyze the

levels of social capital in Sustainable Development Project Bonal, located in the

municipality of Senador Guiomard (AC), as well as consider what are their impacts on

sustainable development. The methodology consists of gatheringin formation from the

elaboration no ffocus groups, using the techniques of the Venn diagram, mapping and

prepared questions, and socioeconomic indicators and variables that identify the stage of

social capital in the study region. The results obtained from the survey indicate that the

share capital of the Project is in the initial stage, precisely because of factorsarising

from the maturation process of the settlement, taking into account the difficulties of

social reproduction of families, resulting in weak management natural resources.

Keywords: Social Capital, Land Reform, Sustainable Settlement Project, Amazon.

Page 12: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa do Estado do Acre ................................................................................. 40

Figura 2: Mapa de Localização do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal,

2012. ............................................................................................................................... 41

Figura 3: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no PDS

Bonal ............................................................................................................................... 43

Figura 4: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no PDS

Bonal ............................................................................................................................... 44

Figura 5: Aplicação da técnica do diagrama de Venn, durante a pesquisa exploratória,

no PDS Bonal ................................................................................................................. 45

Figura 6: Aplicação da técnica das entrevistas pré-elaboradas, durante a pesquisa

exploratória, no PDS Bonal ............................................................................................ 47

Figura 7: Unidade de processamento para beneficiamento do palmito no PDS Bonal .. 55

Figura 8: Representação da importância de cada instituição para a comunidade do PDS

Bonal, 2012 ..................................................................................................................... 57

Figura 9: Indicadores Econômicos por Unidade de Produção Familiar do PDS Bonal,

2012. ............................................................................................................................... 70

Figura 10: Renda mensal por Unidade de Produção Familiar do PDS Bonal, 2012. .... 71

Page 13: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Mão-de-obra da voluntária da comunidade em instituições/organizações, em

2012 ................................................................................................................................ 66

Gráfico 2: Linha de Pobreza e Miséria, com base no salário mínimo (SM) oficial, entre

as famílias do PDS Bonal, Senador Guiomard (AC), por estrato no período de

2011/2012 (Valores em R$) ............................................................... …………………73

Gráfico 3: Linha de Pobreza e Miséria, com base no valor dos bens de consumo

comprados no mercado (VBCC), entre as famílias do PDS Bonal, Senador Guiomard

(AC) por estrato no período de 2011/2012 (Valores em R$) ......................................... 75

Gráfico 4: Perfil dos produtores do PDS Bonal, período 2012 ...................................... 76

Page 14: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de análise por estágios

........................................................................................................................................ 49

Quadro 2: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de análise por estágios

........................................................................................................................................ 60

Quadro 3: Dimensões, categorização e parâmetros para medir capital social ................ 63

Page 15: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

LISTAS DE SIGLAS

MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

II PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária

CIGA - Cooperativa Incubadora de Gestão Avançada e Assessoria Técnica, Social e

Ambiental

SEAPROF - Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

PAD- Programa de Assentamento Dirigido

PAE- Projeto de Assentamento Agroextrativista

PE- Projeto de Assentamento Estadual

PDS- Plano de Desenvolvimento Sustentável

PAC- Projeto de Assentamento Conjunto

PIC- Projeto Integrado de Colonização

PAF - Projeto de Assentamento Florestal

FHC - Fernando Henrique Cardoso

CONTAG- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

ASPF - Análise Socioeconômica de Produção Familiar Rural do Estado do

Acre

NARIs- Núcleos de Apoio Rural Integral

CIMI - Conselho Indigenista Missionário

CPT - Comissão Pastoral da Terra

PROBOR- Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Page 16: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16

1. GESTÃO DOS RECURSOS NA AMAZÔNIA: DO EXTRATIVISMO À

MUDANÇA NA ESTRUTURA AGRÁRIA ................................................................. 20

1.1. Síntese do Processo de Ocupação das Terras Acreanas ...................................... 20

1.2. Políticas Desenvolvimentistas e a Reforma Agrária na Amazônia ..................... 25

2. AGRICULTURA FAMILIAR E CAPITAL SOCIAL ........................................... 30

2.1. Agricultura Familiar como Base para Compreender a Realidade dos

Assentamentos Rurais .................................................................................................... 30

2.2. A Agricultura Familiar no Brasil ......................................................................... 33

2.3. Capital Social: Contribuição dos Principais Autores .......................................... 35

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 39

3.1 Caracterização do Objeto.......................................................................................... 39

3.2 Descrição dos Momentos da Pesquisa ...................................................................... 41

3.3 Pesquisa de Campo – Fase 1: Pesquisa Exploratória. .............................................. 42

4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................ 53

4.1 Características do Universo Pesquisado ................................................................... 53

4.2 Mapeamento da Comunidade ................................................................................... 55

4.2.1Espaços descrito pelos moradores ................................................................... 55

4.3 Diagrama de Venn do PDS Bonal ....................................................................... 57

4.3.1 As organizações e a instituições públicas no PDS Bonal............................... 57

4.4 Avaliação do Capital Social ..................................................................................... 59

4.5 Capital Social do PDS Bonal: Qual o Nível de Maturidade? ................................... 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 79

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 83

ANEXOS ........................................................................................................................ 90

Page 17: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

16

INTRODUÇÃO

Fazer pesquisa é caminhar do conhecido para o desconhecido.

Fazer pesquisa é revelar uma realidade.

O desafio maior para o pesquisador não é descrever, mas compreender.

(Hannah Arendt, 1988)

O modelo desenvolvimentista no Brasil adotou uma política baseada na proteção

de mercados, utilizando-se de premissas economicistas, visando atingir um crescimento

econômico em curto período. O desenvolvimento expandiu-se por meio das fronteiras

naturais e concentrou-se apenas numa pequena parcela da população, suscitando

preocupação em âmbito internacional com a conservação e manutenção da

biodiversidade brasileira, já que esse processo alterou toda a estrutura dos estoques de

recursos naturais, que sofreram procedimento de degradação e diminuição.

O desenvolvimento na região amazônica surge com a expansão de atividades

produtivas que colaboram para ampliar os desmatamentos. Muitos autores atribuem as

causas enfaticamente a fatores específicos, como a construção de estradas, o avanço da

pecuária, crescimento populacional e os surgimentos dos assentamentos de reforma

agrária.

A implantação do desenvolvimentismo pelo governo militar, na década de 1970,

praticamente foi abandonado após a queda desse regime, na segunda metade dos anos

1980. Em seu lugar, surge a concepção da valorização do desenvolvimento sustentável,

efetivamente nas comunidades alvos das políticas públicas.

No entanto, verificaram-se correntes que assinalaram a importância de atributos

sociais para que uma determinada região obtenha o desenvolvimento por intermédio do

fortalecimento do capital social. Tais correntes vêm crescendo e ganhando forças. O

capital social, que reúne elementos da economia e de outras ciências, como a sociologia,

busca a capacitação social da população de uma região para atingir o desenvolvimento,

já que promove a cooperação entre os atores com objetivos comuns, possibilitando a

obtenção de recursos, por meio de trocas de informações e conhecimentos, participação

política e associativismo, ações que os indivíduos sozinhos jamais poderiam alcançar.

Assim o capital social aparece como forma de amenizar as desigualdades, incentivar e

apoiar a agricultura familiar, permitindo que os agricultores permaneçam no campo, não

Page 18: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

17

como um excedente social, mas como vetores do desenvolvimento local, com base em

suas potencialidades como a pluriatividade e a multifuncionalidade.

O capital social pode ser entendido em termos funcionais como um elemento da

estrutura social que cumpre com a função de servir através dos recursos para que os

atores sociais satisfaçam seus interesses.

A possibilidade de existência do capital social em comunidades rurais,

principalmente nas que exercem a agricultura familiar, pode ser uma ferramenta de

grande importância na diminuição da pobreza. O capital social que se apresenta como

um conceito em determinação do nível “micro”, isto é, através de

associações/organizações que buscam resoluções dos problemas coletivos com intuito

de proporcionar qualidade de vida para os membros da comunidade e desenvolvimento

local.

Para a discussão da temática serão apresentadas abordagens teóricas acerca do

capital social, vinculando-o ao desenvolvimento local. Buscou-se propor o capital social

como um instrumento viável ao desenvolvimento rural, tendo como base a agricultura

familiar. Para tanto, foi feita a caracterização física, histórica e social da região de

estudo, buscando compreender sua relação com a possível construção do capital social,

bem como relacionar a existência deste ao processo de fortalecimento da agricultura

familiar.

De tal modo, compreender a forma de colonização da Amazônia é fundamental

para o entendimento da pesquisa. A forma diferenciada do restante do país evidenciou

uma colonização baseada no extrativismo da borracha, o fator motivador para a chegada

dos primeiros imigrantes para a região.

Nas duas fases de exploração da borracha, tanto no primeiro ciclo1 como no

segundo2, não existia nenhuma espécie de preocupação com a gestão dos recursos

naturais, pois a exploração extrativista, com o manejo adequado, pressupõe a

manutenção da floresta. Com a falência dos seringais, pós-segunda Grande Guerra e a

emergência da agropecuária, pós- 1970, é que a gestão dos recursos florestais entra em

discussão face aos desmatamentos evidenciados e, principalmente, aos conflitos pela

1 Fenômeno socioeconômico mais expressivo que teve lugar na Amazônia no final do século XIX. Houve

um aumento considerável na produção da borracha, que, em razão das primitivas técnicas de extração

empregada, baseado no aumento da mão-de-obra (Sem sentido). Paula, 1982. 2O segundo ciclo foi um momento importante da história econômica e social do Brasil relacionado com a

extração de látex e comercialização da borracha. Teve o seu centro na região amazônica e proporcionou a

expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais e sociais. Martinello, 2004

Page 19: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

18

posse da terra. Nesse período, emerge a primeira manifestação do capital social na

região com o movimento seringueiro.

A proposta de reforma agrária instalada pelo governo militar mostrou-se

ineficiente, visto que os problemas sociais só se agravaram. Além do mais, a política

beneficiou apenas os migrantes do Centro-Sul, que alteram a base econômica do Estado,

passando do extrativismo vegetal para a pecuária extensiva, indo contra a lógica da

gestão dos recursos naturais. Mesmo com bom desempenho econômico, os efeitos

negativos, como desmatamentos e degradação progressiva dos solos, repercutiram na

esfera política.

Assim, com a proposta de um modelo capaz de criar formas viáveis para garantir

a sobrevivência das populações rurais e ainda a conservação dos recursos naturais, uma

vez que os assentamentos convencionais ao longo dos anos se mostraram incapazes de

resolver demandas da reprodução social das famílias assentadas, nascem os Projetos de

Desenvolvimento Sustentável (PDS), idealizados pelo INCRA, baseados nas

reivindicações sociais dos movimentos trabalhistas ligados à reforma agrária.

Contudo, analisar o desenvolvimento a partir do Projeto de Desenvolvimento

Sustentável Bonal, em particular, permite compreender a formação e consolidação de

um assentamento com particularidades próprias que, ao longo dos anos de formação e

estruturação, busca solucionar questões comuns da comunidade, valorizando a

agricultura familiar e o trabalho coletivo para amenizar problemas sociais acarretados

pela estrutura funcional do assentamento. Além de objetivar algumas questões

relacionadas com forma de reprodução social que envolve a agricultura familiar, o

capital social e a reforma agrária.

Não obstante, nessa linha reside a questão fundamental que a pesquisa pretende

responder: A implantação de uma nova forma de assentamento, como é o caso do PDS

Bonal, é suficiente para garantir a boa gestão comunitária e elevar a qualidade dos

recursos naturais?

Trabalha-se com a hipótese de que a implantação do assentamento baseado no

modelo PDS imposto por decreto, partindo das políticas públicas para a comunidade

assentada, não é suficiente para a promoção do desenvolvimento local sustentável,

tampouco para a formação do capital social, uma vez que a literatura indica que os casos

de sucessos acontecem justamente da lógica inversa. A base comunitária desenvolve o

capital social, transformando no pilar de sustento do desenvolvimento para então

constituir as normas de convívio.

Page 20: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

19

Os procedimentos metodológicos baseiam-se no levantamento e análise de

indicadores e variáveis desenvolvidos para medir o estágio do capital social, além de

atividades baseadas nas técnicas do diagrama de Venn, mapeamentos e perguntas pré-

elaboradas.

O presente trabalho pretende contribuir para a elaboração de políticas públicas e

estratégias no processo de estruturação dos projetos de assentamentos com o intuito de

viabilizar o fortalecimento da agricultura familiar e sua responsabilidade na preservação

do meio ambiente e ainda na influência de novos valores que estão pautados na nova

forma de reprodução familiar.

A dissertação está estruturada, além de Introdução e Considerações Finais, da

seguinte forma: o primeiro capítulo apresenta a Gestão dos Recursos na Amazônia,

tratando da borracha com suas dinâmicas ao longo do período de colonização. No

segundo capítulo, a abordagem será mais direta no que tange ao tema Agricultura

Familiar, Capital social e a Gestão dos Recursos Naturais e suas implicações na vida da

comunidade. O terceiro versa sobre a metodologia da pesquisa e o último aborda os

resultados e discussões enfocando a realidade evidenciada pela comunidade.

Page 21: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

20

2. GESTÃO DOS RECURSOS NA AMAZÔNIA: DO EXTRATIVISMO À

MUDANÇA NA ESTRUTURA AGRÁRIA

2.1. Síntese do processo de ocupação das terras acreanas

Para um melhor entendimento acerca da situação agrária que permeia a

Amazônia, é importante compreender os ciclos produtivos da região, levando-se em

consideração três principais momentos: a exploração das drogas do sertão; o período

áureo e a decadência da borracha; e os grandes projetos oriundos das políticas

desenvolvimentistas do governo militar, pós-1970.

A história da gestão dos recursos naturais na Amazônia inicia-se com as

denominadas “drogas do sertão3”, que eram produtos da região vendidos como

especiarias, época em que a Amazônia pertencia à subordinação da Coroa Portuguesa

(TOCANTINS, 1979).

No segundo momento, a gestão das florestas na Amazônia está diretamente

ligada ao extrativismo da borracha, iniciado com a Primeira Revolução Industrial. Em

um primeiro momento, a borracha foi explorada exclusivamente com a extração do

caucho. Alguns autores descrevem essa fase da história da economia do extrativismo da

goma elástica como “extrativismo expedicionário” 4. Os seringueiros, em sua maioria,

eram indígenas e a forma evidenciada pela produção os tornava nômades. As condições

de técnicas da operação podem ser expressas pela seguinte forma:

O tronco da árvore é primeiro atacado a golpes de machadinha até

uma altura de oito a sei pés da base, deixando-se o látex correr por

algumas cavidades feitas no solo, junto ao pé da árvore. Esse processo

continua durante uma semana ou até dez dias, até cessar o

escoamento. A árvore então é derribada [sic], sofrendo a parte

superior do tronco, bem os ramos, outros golpes, para abrir as células

restantes, e o látex escorrer durante 24 ou 30 horas, sendo então

abandonada a árvore caída (SOARES, apud LIMA, 1994).

Nesse contexto, os seringueiros referenciavam-se em um universo sociocultural

próprio, estabelecendo suas relações de tensões e harmonia – uma dialogia com o

mundo, fazendo sua linguagem e proposta de sustentabilidade própria, ou seja, homem e

natureza em consonância (LIMA, 1994).

3 É um termo que se refere a determinadas especiarias do chamado sertão brasileiro na época da entrada e

das bandeiras, Martinello, 2004. 4 A expressão é empregada por Ernesto Pinho Filho, apud Lima, 1994.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 22: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

21

Por outro lado, a forma da extração do caucho enfraquece a composição da

relação de produção, notadamente em decorrência da forma de produção. Octavio Ianni

(1978) relata que a relação de produção evidenciada pelo extrativismo não significa a

inexistência da afinidade com a natureza ou fraco relacionamento com ela. Segundo o

autor, existia uma relação especial na qual a existência da relação de produção acontece

em virtude do suporte da apropriação privada das terras.

A segunda fase ocorre com a utilização da borracha no processo industrial por

meio da vulcanização e, por último, após o desenvolvimento da indústria

automobilística e a invenção dos pneus (LIMA, 1994).

Esta fase ocorreu na segunda metade do século XIX, quando os imigrantes

nordestinos vieram para o Acre, em busca do enriquecimento através da exploração da

borracha. Foi a fase denominada “Ciclo da Borracha”, constituído, sobretudo, em

virtude de sua ação monopolizadora que propiciou um período de grande expressão

política, cultural e socioeconômica, gerando condições materiais de vida

(MARTINELLO, 2004).

Assim, ocorrem profundas transformações na maneira de produção, como, por

exemplo, o surgimento do sistema de aviamento, que funcionava como uma cadeia a

base de créditos, ou seja, com relações de interdependência vertical, em que o

seringueiro era uma figura quase escrava, dentro de uma estrutura montada com base

nas casas exportadoras → casas importadoras → intermediários (seringalistas ou não)

→ seringalistas → seringueiros (MARTINELLO, 2004).

Contudo, enquanto parte desse processo, os seringueiros não desempenharam

habilidades suficientes para desenvolver capital social

Segundo Paula (1982), a economia do aviamento5 na Amazônia cresceu de

forma instantânea, ocupando toda a região, promovendo um surto de ocupação humana

e de exploração dos recursos naturais.

Ao reproduzir uma situação característica do período colonial, de

economia primário-exportadora dependente dos países centrais,

condenava a região e a população que ali se estabelecia a uma luta

inglória cujo resultado era a transferência de praticamente todo o

excedente para o exterior e a assimilação do ônus do processo. Sendo

que um dos principais custos desse processo foi a perda de uma

enorme quantidade de vidas devido às precárias condições de vida da

região e ao nível de exploração do sistema. (PINTO, 1984, apud

MACIEL, 2004 ).

5 Sistema de aviamento pode ser entendido como o fornecimento de mercadorias a crédito, que consistia

na manutenção da dependência ao patrão seringalista através do endividamento, Martinello, 2004.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 23: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

22

A incorporação da borracha enquanto matéria-prima implica algumas

transformações no produto com uma nova dinâmica de trabalho. À medida que avança o

processo de domesticação da Hevea brasiliensis, cresce o distanciamento dos alicerces

naturais que eram determinantes para a produção inicial. Contudo, os efeitos da

expansão da demanda sobre as estruturas produtivas são expressos com uma continuada

elevação dos preços de exportações regionais (LIMA, 1994).

A transformação da borracha em matéria-prima é uma decorrência da

descoberta do processo de vulcanização por Charles Goodyear, em

1839, o que promove sua incorporação em elevado número de

processos de produção industrial (LIMA, 1994 p.53).

Com a inserção da região amazônica no movimento do capital industrial, inicia-

se uma nova fase relacionada à gestão dos recursos naturais, com relação direta com o

progresso técnico no processo de extração do látex. A mudança na forma de “sangrar” a

árvore, proporcionando maior vida útil à floresta, serviu para a fixação do homem no

seringal e, por conseguinte, elevou a produção e produtividade do trabalho (LIMA,

1994).

Nesse contexto, a demanda pelo produto tem um aumento significativo e, por

conseqüência, é evidente a pressão sobre as fontes fornecedoras da matéria-prima,

direcionando os movimentos de capitais para as zonas produtoras de borracha com

intuito de incorporá-las ao processo de expansão do capital. Historicamente, a

Amazônia é inserida nesse contexto por se tratar do habitat natural da Hevea

brasiliensis, conhecida popularmente por seringueira (LIMA, 1994).

Entretanto, a Inglaterra, na segunda metade do século XIX, começou a investir

em projetos de experimentação da racionalização da produção vegetal da borracha em

suas colônias asiáticas. É importante destacar que os primeiros empreendimentos

iniciaram-se com sementes pirateadas do Brasil (PAULA, 1982).

Portanto, estavam lançadas as bases de política internacional de

substituição do monopólio amazônico com suas estruturas arcaicas e

de baixa produtividade pela produção racional em bases capitalistas

orientadas pelo progresso técnico-científico (MACIEL, 2004 p. 4).

Só partir de 1900, no entanto, é que a produção de borracha originária de

seringais de cultivos asiáticos começa a competir com a produção da Amazônia. Em

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 24: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

23

1912, a produção asiática altera os preços da produção mundial e anuncia o fim do

boom da Amazônia (MACIEL, 2004).

Estando o capital estrangeiro voltado para a Malásia, a Amazônia experimenta

um período de anacronismo e estagnação, principalmente no Acre, com a desativação

dos seringais nativos. A economia começar a trilhar por caminhos diferentes, baseada

especificamente nas relações desempenhadas no campo, sendo que os seringueiros que

permaneceram em terras acreanas se adaptaram às novas condições econômicas,

guiados por dois caminhos: a busca de novos produtos para exportação e a produção de

subsistência (OLIVEIRA, 1985).

Com a explosão da Segunda Guerra Mundial e a invasão do Sudeste Asiático

pelos japoneses, os centros industriais mais avançados do Ocidente foram duramente

atingidos pela falta de borracha natural, matéria-prima imprescindível naquele

momento, inclusive para a indústria bélica (MARTINELLO, 2004).

Em resposta a essa demanda, que se consubstanciou em um acordo do governo

brasileiro com o governo norte-americano para reativação da produção de borracha nos

seringais da Amazônia – o Tratado de Washington. Em 1942, foi criado o Serviço de

Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, visando organizar e incentivar a

migração de um novo contingente de nordestinos, que ficaram conhecidos como

"soldados da borracha".

Além disso, estabeleceu-se o monopólio estatal sobre a borracha e fixaram-se

regras para regulação das relações de trabalho nos seringais como condição para

efetivação das operações de crédito com os seringalistas. Mais uma vez o sistema de

aviamento foi estabelecido (MARTINELLO, 2004). Todavia esse sistema de produção

não deu certo. Além de impedir a formação do capital social, alterava toda a estrutura de

funcionamento da floresta.

Na fase denominada “Segunda Batalha da Borracha”, período evidenciado pela

reativação das bases econômicas do sistema de aviamento com implicações diretas nas

bases sociais, o capital social ainda não tinha atingido o grau de amadurecimento

suficiente para somar de forma acumulativa em prol de melhorar a qualidade de vida da

comunidade (MARTINELLO, 2004).

A maioria dos trabalhadores que se aventuraram na região, acredita-se em mais

de 30 mil seringueiros, enfrentou situações atípicas na floresta e morreu abandonada por

causa da exaustão de suas forças nas atividades produtivas. Outros morreram em

decorrência de doenças tropicais que eram comuns na região.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 25: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

24

Vale ressaltar que a Amazônia mais uma vez vivenciou um período de

estagnação após os ciclos do extrativismo, com a decadência da produção, em virtude

dos seringais de cultivos na Ásia e do uso da borracha sintética como matéria-prima no

processo industrial (PAULA, 2005).

Nem mesmo as políticas adotadas pelo Governo Federal, que tinham como

objetivo principal a regulamentação e organização dos seringais silvestres da Amazônia,

através da criação do Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal

(PROBOR), salvaram os seringais da falência (PAULA, 2005).

Desse modo, a desestruturação dos seringais implicou a substituição do

extrativismo da borracha pela pecuária extensiva. Não obstante o declínio da borracha, o

governo militar implantou políticas de incentivos fiscais e financeiros, pelos quais a

Amazônia começa a conhecer um plano de capital mais centralizado, unificando o

mercado nacional (OLIVEIRA, 1985).

Conforme Silva (1982), o bojo das transformações evidenciadas na economia

Amazônica, em especial no Acre, de certo modo privilegiou o crescimento da atividade

agropecuária. Outros fatores importantes para despertar os interesses dos capitalistas da

região Centro-Sul, foram, em especial, o baixo preço relativo das terras à perspectiva de

especulação fundiária, o crédito fácil, os abundantes programas em âmbito nacional e as

facilidades desenvolvidas pelo Governo Estadual.

As transformações por sua vez originaram diversos problemas decorrentes pela

nova atividade econômica praticada no Estado, a qual, além de expulsar os seringueiros

do campo, provocou desmatamentos na floresta. Por essa razão, os centros urbanos

passaram a receber um grande número de pessoas, surgindo, assim, as periferias com

todos os problemas sociais oriundos da falta de planejamentos (MARTINS, 1997).

Nessa circunstância, a reforma agrária torna-se fundamental para a

reorganização do espaço geográfico da região, sendo ela primordial para a consolidação

da agricultura familiar. A reforma agrária, ao longo dos anos, procura a distribuição

mais equilibrada da terra, ampliando a produção e o consumo interno e promovendo o

desenvolvimento (MARTINS, 1997).

Portanto, é na totalidade da reforma agrária que os trabalhadores assentados

estão sujeitos à reprodução social junto à terra em um espaço preciso, assumindo a

responsabilidade da fixação no local e a recriação do espaço.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 26: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

25

2.2. Políticas Desenvolvimentistas e a Reforma Agrária na Amazônia

As políticas desenvolvimentistas idealizadas para a região amazônica

representavam uma tentativa de integração regional, ou seja, dar homogeneidade às

estruturas socioeconômicas. De tal modo, que o papel do Estado na estratégia de

desenvolvimento foi impor um processo de modernização forçada para caracterizar uma

fase que determinou um crescimento vertiginoso na concentração fundiária, aumento

populacional, conflitos sociais, impactos ambientais provocados pela urbanização rural

e periferização das cidades amazônicas.

SILVA (1982) comenta que:

A expansão do capitalismo na área dinâmica do país, onde a

acumulação do capital se dá, é que vai explicar o surgimento de

condições objetivas à corrida pela terra no Acre. O Governo passa,

então, a criar mecanismos que estimulassem a penetração do grande

capital nacional e estrangeiro, na Amazônia, a fim de incorporar a

região ao processo geral de acumulação de capital (SILVA (1982).

No entanto com a chegada do “progresso”, os índios, seringueiros e outros

pequenos grupos tornaram-se invisíveis no conjunto das políticas públicas, agravando-

se, dessa maneira, os conflitos sociais, uma vez que a floresta já aparecia nos projetos

estatais como “sendo substituída por empreendimentos modernos”. A meta do governo

passou a ser a de transformar a região em grandes propriedades agrícolas e de pastagens

extensivas, com o intuito de proporcionar o desenvolvimento (LOUREIRO, 1992 p. 12).

Desse modo, a região agrícola passa a ser palco de conflitos sociais

acompanhados de lutas violentas, resultantes da forma de apropriação do solo

amazônico, que, na maioria das vezes, era ocupado ilegalmente.

Grandes extensões de terras rurais na Amazônia gozavam da condição

de serem bens relativamente 'livres' — do ponto de vista de estarem

passivas de serem trabalhadas sem disputa, por pequenos posseiros

(...), em geral, naturais da região. Seja porque grande parte delas

constituía-se de terras devolutas do Estado ou da União; seja porque

[uma] parte não estava titulada como propriedade privada e (...) outra

parte, embora assim titulada, face às dificuldades de acesso, ou pela

grande extensão de alguns imóveis rurais, ou ainda, porque as terras

tinham baixo valor de mercado, (...) [não impediram] a ocupação por

posseiros [que] era, com freqüência, ignorada e simplesmente não

questionada pelo próprio proprietário legal (LOUREIRO, 1992, 11).

Page 27: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

26

Com a expansão progressiva da pecuária, os seringueiros se deparam com a

expulsão de suas próprias terras, resultado decorrente do desmatamento para a formação

dos pastos. Diante dessa situação, os seringueiros começam a ser articular em

movimentos de ações coletivas denominados “movimentos seringueiros”. Em resumo, é

nesse contexto de forças contraditórias que brota o movimento como resultado de um

conflito rural clássico entre posseiros e grandes proprietários. No entanto, desenvolve-se

pela ação de atores sociais que arquitetam identidades coletivas singulares como forma

de aglutinação de forças em um espaço político próprio (PAULA, 2005).

Os grupos de seringueiros, que através das articulações desenvolvidas com

movimentos sociais, começam a se organizar em ações comunitárias para garantir a

preservação dos recursos naturais, registro que define a formação de capital social

(ARAÚJO, 2006).

Segundo Mahar (1989), no Brasil o movimento ambientalista concentrou sua

atenção na degradação ambiental crescente por conseqüência do processo de

desenvolvimento, que na região amazônica foi evidenciado pelas políticas

desenvolvimentistas implantadas ainda na década de 1950, quando iniciou a era do

desenvolvimento moderno, o qual tinha como objetivos a integração, segurança

nacional e a criação de assentamentos, além da perspectiva de um desenvolvimento

regional, pensado de fora para dentro. Nesse contexto, o extrativismo e economia

cabocla não somavam como potencial, mas como déficit.

Depois de 1964, com a Ditadura Militar, o desbravamento da Amazônia

continua e se intensifica. Apesar de muitas oscilações e contradições internas, é possível

identificar dois aspectos principais na estratégia das políticas de desenvolvimento, de

um lado grandes projetos nas áreas de mineração e energia e de outro lado, uma nova

fronteira agrícola que nasce através dos assentamentos com pequenos agricultores e

ainda pelo incentivo a grandes empreendimentos pecuaristas.

Depois de duas décadas de intenso desenvolvimento, o estoque de floresta foi

significativamente reduzido. Para Sachs (1986), o desmatamento era considerado como

sinônimo de progresso econômico. Porém o termo “desenvolvimento” sempre permeou

na literatura como um conceito controverso. Para um maior entendimento, surge a

necessidade de abrir um parêntese para conceituar o termo.

As concepções acerca do termo adquiriram diversos conceitos e significados ao

longo dos anos. Na literatura econômica, existem três conceitos básicos. A primeira

corrente traz a idéia de que o desenvolvimento seja sinônimo de crescimento

Page 28: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

27

econômico. A segunda assegura que não passa de pura ilusão. Por fim, uma terceira

visão afirma que o crescimento econômico é indispensável, no entanto não suficiente,

uma vez que o desenvolvimento deve ter como base o aspecto qualitativo do ponto de

vista social (MACIEL, 2009 apud FURTADO, 2000; SOUZA, 2008; VEIGA, 2005).

Não desprezando as diversas conceituações, segue-se a última, a qual entende o

desenvolvimento como um processo mais amplo, mais do que resultado da produção de

bens e serviços ou, ainda, o aumento econômico constante. Além disso, o crescimento

econômico consegue gerar resultados na vida do ser humano, trazendo benefícios nos

aspectos econômicos e sociais e auxiliando no processo de conservação e preservação

dos recursos ambientais (MACIEL, 2009).

Destaque-se que o contexto das mudanças sobre o desenvolvimento rural no

Brasil é a incorporação do desenvolvimento sustentável, que prioriza a agricultura em

sua totalidade complexa, que vai além dos aspectos econômicos, passando por questões

relacionadas à preocupação ambiental e cultural.

Uma definição completa de desenvolvimento envolve, além da

melhoria de indicadores econômicos e sociais, a questão da

preservação do meio ambiente. Com o tempo, o crescimento

econômico tende a esgotar os recursos produtivos escassos, através de

sua utilização indiscriminada. Por exemplo, o crescimento econômico

acelerado pode provocar o desmantelamento de florestas, a exaustão

de reservas minerais e a extinção de certas espécies de peixes

(SOUZA, 2008, P.7).

Depois do entendimento acerca de desenvolvimento, é fundamental continuar

escrevendo acerca dos caminhos que foram traçados para a Amazônia, em especial a

partir da década de 1970, período marcado pela tentativa do governo de promover uma

política de reforma agrária para atender à demanda dos movimentos sociais através dos

projetos de assentamentos (SILVA, 2003).

Analisando os projetos de assentamentos existentes no Estado, com os seringais

loteados, é possível perceber que nem de longe a política contemplou uma ferramenta

para a realização da reforma agrária6. Foi, sim, um instrumento para a reprodução e

perpetuação capitalista sobre a terra, deixando de lado o aspecto social. Com isso, os

6 Considera-se reforma agrária o conjunto de medidas que visem promover melhor distribuição da terra,

mediante modificações no regime de posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e o

aumento da produtividade. (Estatuto da Terra, Lei 4504, Art. 1º , § 1º).

Page 29: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

28

grandes investidores, denominados de “paulistas” pelos acreanos, foram chegando e

comprando as terras, com o intuito de especulá-la no mercado fundiário (SILVA, 2003).

A política de colonização do INCRA não veio promover uma reforma

agrária, uma democratização da terra, ela atuou contra a reforma

agrária [...] nega-se com isto a finalidade do INCRA, de promover a

‘democratização da propriedade da terra’, pois possibilitou o acesso,

mas o que não foi acompanhado de políticas agrárias com infra-

estruturas necessárias para possibilitar a permanência deste homem do

campo. (SANTOS, 1993 apud SILVA, 2003, p.210).

Além disso, é instituída uma nova forma de latifundiários se apropriarem das

terras públicas, impedindo o acesso à terra aos trabalhadores que dependiam dela. Esses

latifundiários criaram uma nova forma de burlar a lei, método pelo qual se falsificava

um título de cartório, colocando-o em um baú fechado com grilos para dar aparência de

documento antigo, tornando essa prática comum e impune em várias regiões do país.

Assim, cresce a concentração de terras improdutivas em relação aos

trabalhadores excluídos do processo de produção do capital. Vale lembrar que os

seringais também eram constituídos por grandes extensões de terras, mas a finalidade do

uso das terras foi se modificando com as atividades econômicas da região (OLIVEIRA,

2005).

Nesse contexto, passa a existir uma forte pressão que desencadeou freqüentes

lutas de trabalhadores rurais sem-terras, que transversalmente, em forma de resistência,

estabeleceram um processo de expropriação, expulsão e exclusão motivado pela procura

de um pedaço de terra para fixar, estabelecer suas relações de trabalho e garantir o

sustento de sua família (OLIVEIRA, 2005).

Dos conflitos mais significativos na luta pela terra, destacam-se os vivenciados

nos municípios de Brasiléia e Xapuri. Entretanto, esses conflitos também ocorreram em

todo o Vale do Acre e em menor grau no Vale do Juruá. Lideranças como Chico

Mendes e Wilson Pinheiro tornaram-se famosas mundialmente.

Além dos conflitos pela posse da terra, os assentamentos tradicionais de reforma

agrária, idealizados para solucionar os impasses, não apresentaram resultados

satisfatórios. A política adotada representava apenas a necessidade de fixar o indivíduo

na terra, mas não oferecia condições de sobrevivência para as famílias assentadas, fruto

da falta de planejamento (ALENCAR et al.,2004).

Para Soares (2008), o planejamento refere-se à área, à infraestrutura do projeto

de assentamento, às dimensões organizacionais da área produtiva (distribuições dos

Page 30: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

29

lotes), da área socioeconômica, ambiental e a otimização dos recursos. “Projetos de

assentamento mal planejados favorecem o extrativismo predatório ao prover a área de

infraestrutura precária, mão-de-obra não qualificada e um proprietário cúmplice.”

(SOARES, 2008).

O movimento dos seringueiros, já fortalecido e com características definidas,

estabeleceu o posicionamento das políticas públicas relacionadas com dois aspectos

fundamentais à sua identidade coletiva: a defesa dos direitos de posse e a garantia de

acesso e de uso dos recursos naturais disponíveis na floresta (ARAÚJO, 2006).

Designou-se, deste modo, uma interconexão com duas políticas governamentais:

a da reforma agrária e a do meio ambiente, produzindo importantes modificações

conceituais em ambas, para ajustá-las às especificidades de suas demandas. Em um

primeiro momento, a proposta dos seringueiros questionou as duas alternativas, tanto

em termos conceituais quanto institucionais, e, em um segundo momento, fundiu as

duas tradições em um novo conceito, no qual a regularização da posse ficou

subordinada à proteção do meio ambiente (ARAÚJO, 2006).

De tal modo, a aliança de várias forças com os seringueiros começa a apresentar

resultados na amenização dos conflitos. Nas palavras de Costa Filho:

[...] o Governo do Estado do Acre passou a defender os interesses

tradicionais do Acre, realizando ações para o fortalecimento da

economia rural. Ainda sob a orientação do Governo local, o INCRA

passa a ter uma ação restritiva quando à transação de terras do Estado.

(COSTA FILHO, 1995, p.13).

Para Silva (2003), o fracasso de muitos assentamentos implantados pelo INCRA

foi expresso pela falta de planejamento, infraestrutura, dificuldade de acesso, créditos

limitados, falta de assistência técnica, além de se mostrarem inadequados do ponto de

vista social e ambiental.

Desse modo, a solução encontrada foi repensar numa nova forma de reforma

agrária para a Amazônia. Assim sendo, nas décadas seguintes, surgem novas

modalidades de assentamentos, todos com o intuito de preservar os recursos naturais e

com responsabilidade social. Com incentivos dos Sindicatos Rurais, Órgãos Públicos,

ONGs, através de associações e cooperativas, de 1970 a 1999, segundo o INCRA, são

implantados 49 projetos de assentados de diversas modalidades no Acre (SILVA, 2003).

Para Nascimento Soares (2008), o incremento dos esforços de colonização na

Amazônia levou o INCRA a criar diversas modalidades de assentamento, em uma

Pedro
Highlight
Page 31: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

30

tentativa de adequação a realidade das comunidades e mais recente com as questões

ambientais, no intuito de promover a preservação dos recursos naturais: Projetos

Integrados de Colonização (PIC), Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD), Projetos

de Assentamento Rápido (PAR), Projetos de Assentamentos (PA), Projetos de

Assentamento Extrativista (PAE), Assentamentos Agroflorestais, Projetos de

Desenvolvimento Sustentável (PDS).

O PDS, por sua vez, é uma modalidade de assentamento que se baseia

essencialmente na produção de produtos florestais, formados por plantios consorciados

com a finalidade de garantir uma maior vida útil ao solo, bem como a racionalização

dos recursos naturais a partir dos sistemas agroflorestais.

3. AGRICULTURA FAMILIARE CAPITAL SOCIAL

3.1.Agricultura familiar como base para compreender a realidade dos

assentamentos rurais

Surgida há cerca de 1,5 milhões de anos, a espécie humana teve de enfrentar as

adversidades de um mundo até então inóspito para as necessidades da espécie. No

sentido de garantir seu espaço, buscou a competitividade com outras espécies de

animais. A principal dificuldade foi sempre garantir a disponibilidade de alimentos.

Durante algum tempo, o homem teve que sobreviver como caçador e coletor de frutos

(PATERNIANI, 2001).

Esse período é chamado de economia primitiva. Nessa fase, o homem era

condicionado ao que a terra lhe oferecia para viver, assim alimentava-se dos produtos

naturais obtidos através da coleta, caça, pesca, etc.(CORAZZA e MARTINELLI JR.,

2002).

Durante esse período, o homem buscou apenas garantir a sobrevivência,

operando basicamente como caçador e coletor, e não conseguiu avanço social

(PATERNIANI, 2001). Com o tempo, foi adaptando-se à natureza e, assim, observou

que, cultivando a terra, garantiria seu sustento. Assim, buscou produzir seus próprios

alimentos, de acordo com suas necessidades, passando a exercer controle sobre as

condições naturais de sobrevivência (CORAZZA e MARTINELLI JR., 2002).

A agricultura começa uma domesticação das plantas e dos animais

úteis ao homem. Essa domesticação principiou desde o aparecimento

Pedro
Highlight
Page 32: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

31

do homem sobre a terra. Onívoro, sente o homem a necessidade de

uma alimentação variada, tirada, ao mesmo tempo, do reino vegetal e

do reino animal. Somente em casos excepcionais, quando se vê

privado de quaisquer recursos vegetais, é que o homem se torna, por

força das circunstâncias, carnívoro e ictiógrafo [...] (GEORGE, 1975

p.9).

A agricultura tem como objetivo a produção de alimentos, sobretudo voltados

para o autoconsumo, além da sua importância na absorção de mão-de-obra na produção,

ou seja, enfatizando mais sua função de caráter social do que econômica, tendo em vista

sua menor produtividade e incorporação tecnológica.

No Brasil, a história agrícola está ligada ao processo de colonização, no qual a

dominação social, política e econômica privilegiou a grande propriedade. Nos países

capitalistas desenvolvidos, o desenvolvimento rural passou por um processo de

modernização agrícola que almejava suprir tanto a necessidade de produtividade como a

do trabalho (WANDERLEY, 2003).

A agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a

maior parte do trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si laços

de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja unânime e

muitas vezes tampouco operacional. É perfeitamente compreensível,

já que os diferentes setores sociais e suas representações constroem

categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas: a

definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito,

pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com

finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O

importante é que estes três atributos básicos (gestão, propriedade e

trabalho familiar) estão presentes em todas elas. (ABRAMOVAY,

1997, p.3)

A definição da agricultura familiar não determina limites máximos de área para

as propriedades. Na prática, é o nível de desenvolvimento tecnológico e os sistemas de

produção aceitos que limitam a extensão da área que pode ser explorada com base no

trabalho familiar.

O universo dos agricultores familiares é composto por grupos com interesses

particulares e estratégias próprias de sobrevivência e de produção, que reagem de

maneira desigual a desafios, oportunidades e restrições semelhantes e que, portanto,

demandam tratamento compatível com as diferenças.

Os agricultores organizam suas estratégias, vivem suas lutas e fazem

suas alianças em função destes dois domínios: a memória que

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 33: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

32

guardam de sua história e as ambições que têm para o futuro. Suas

chances de atingir o modelo ideal, ou simplesmente de se aproximar

dele, dependerão da complementaridade de seu projeto junto ao que a

sociedade elaborou para eles (Lamarche, 1994, p.19)

É comum caracterizar a agricultura familiar como um setor arcaico, do ponto de

vista econômico, tecnológico e social, voltado para a produção de produtos alimentares

básicos e com uma lógica de produção de subsistência. Ultimamente, pode-se observar

uma nova fase totalmente diferente dessa idéia estereotipada.

A agricultura familiar não é um fenômeno tão generalizado que não

pode ser explicada pela herança histórica camponesa, de fato, em

alguns casos existentes, na verdade, o Estado foi determinante na

moldagem da atual estrutura social do capitalismo agrário das nações

centrais. Uma agricultura familiar altamente integrada ao mercado,

capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às

políticas governamentais não pode ser nem de longe caracterizada

como camponesa. (ABRAMOVAY 1992, p.19).

Para Martins (2001), a agricultura familiar é a instituição de reprodução familiar

baseada na relação direta com a terra e com a produção agrícola. Além disso, suas

estratégias de reprodução não se resumem apenas em reproduzir, subsistir e permanecer

no campo, estão cada vez mais adapto nas resoluções dos problemas.

O termo “agricultura familiar” vem sendo utilizado como sinônimo para o que

anteriormente era classificado como camponeses ou pequenos produtores, contudo a

nova terminologia busca uma composição administrativa que resulta do movimento da

burocratização do Estado com o setor.

Ainda existe uma dificuldade teórica para atribuir um valor conceitual a

agricultura familiar, especialmente depois da implantação de programas como o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Para alguns

autores, o conceito atribuído se confunde com a definição adotada pelo programa, que

estabelece os beneficiários em função da capacidade de atendimento, além de

contratação de até dois empregados pernamentes e posse de área inferior a quatro

módulos fiscais.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 34: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

33

3.2. A Agricultura Familiar no Brasil

A agricultura familiar tem um perfil heterogêneo distribuído por todo o país,

fator que muitas vezes dificulta a classificação. Nesse universo, encontram-se os que

produzem para o autoconsumo e agricultores economicamente integrados a redes de

distribuição, tais como, o setor exportador e a agroindústria.

Por sua vez, a Conferência Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

(CONTAG) definiu como familiares todos os agricultores que trabalham em menos de

quatro módulos fiscais e que não contratem mão-de-obra permanente.

Enquanto para outros, a agricultura familiar corresponde à parcela de

agricultores que estão tentando se adaptar às novas exigências do mercado em curto

prazo para consolidar sua produção e renda familiar (WANDERLEY, 2003)

Para Gonçalves e Souza ( 2005), a melhor definição de propriedade rural

consta no inciso II do artigo 4º do Estatuto da Terra, estabelecido pela Lei 4.504, de 30

de novembro de 1964, com a seguinte redação:

Propriedade familiar: o imóvel que, direta e pessoalmente explorado

pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho,

garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com

área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e

eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros.

E na exatidão da área máxima, a Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993,

estabelece como pequena os imóveis rurais com até 4 módulos fiscais e, como média

propriedade, aqueles entre 4 e 15 módulos fiscais.

Para Wanderley (2003), o agricultor familiar pode ser classificado como a

camada de produtores capazes de incorporar as modernas exigências do mercado em

relação aos que são incapazes de assumir tais mudanças.

Segundo Carmo (1999), o perfil da agricultura brasileira compreende a

agricultura familiar como forma de organização de produção em que os critérios

adotados para orientar as decisões relativas à exploração agrícola não se subordinam

unicamente pelo ângulo da produção, mas levando em consideração também as

necessidades e objetivos familiares. Contrariando o modelo patronal, no qual existe uma

completa separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar estes fatores estão

diretamente relacionados.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 35: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

34

Para Guanziroli (2001), a prevalência da produção familiar como alicerce da

produção agrícola nos países capitalistas adiantados pode ser entendida, em primeiro

lugar, pela sua capacidade de aliar progresso técnico e responder às demandas do setor

urbano-industrial em expansão. Em segundo lugar, pela valorização de importância

político-estratégica em projetos de desenvolvimento nacionais não excludentes.

O universo agrário é muito complexo, em conseqüência da grande diferença da

paisagem agrária (meio físico, ambiente, variáveis econômicas, etc.). Na verdade, a

existência de diferentes tipos de agricultores responde de maneira diferenciada aos

desafios e restrições, alguns por seus interesses particulares, estratégias próprias de

produção e sobrevivência (GUANZIROLI, 2001).

De acordo com Corazza e Martinelli Jr. (2002), com o desenvolvimento da

agricultura, o homem se estabeleceu no solo e apropriou-se da terra. Desse modo,

surgiu a divisão social do trabalho e a divisão da sociedade em classes, os conflitos de

interesses e o poder político do Estado. Criaram-se, deste modo, as bases materiais,

sociais e políticas das primeiras civilizações agrícolas.

O desenvolvimento da sociedade motivou novas técnicas para a agricultura. Os

aparelhamentos rudimentares foram sendo substituídos e isso permitiu o crescimento da

produção de alimentos desdobrados, visto que o trabalho feito por homens e animais

passou a contar com o auxílio de máquinas. Os solos puderam ser melhorados com a

mecanização e os fertilizantes químicos. A agricultura tradicional abriu espaço a uma

agricultura moderna.

A modernização da agricultura não aconteceu equitativamente. Nos países

subdesenvolvidos e em desenvolvimento amplo, parte da produção agrícola sucede da

forma tradicional de agricultura, como é o caso do Brasil. Esse tipo de agricultura é

realizado, na maioria das vezes, por grupos familiares.

Wanderley (2001) diz que a agricultura familiar se distingue quando a família é

ao mesmo tempo a proprietária dos meios de produção e adota o trabalho nas unidades

produtivas. Sendo assim, todas as técnicas utilizadas na produção são definidas pelos

próprios produtores rurais, os quais se utilizam de seus conhecimentos tradicionais em

todos os tratos culturais, como, por exemplo, a escolha do local onde será feita a

plantação, a maneira como será preparado o solo, as formas de colheita, até o

planejamento de como será comercializado o produto final.

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 36: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

35

Em linhas gerais, entende-se que os empreendimentos familiares apresentam

duas características principais: eles são administrados pela própria família; e neles a

família trabalha diretamente, com ou sem a ajuda de terceiros. Vale dizer que a gestão e

o trabalho são predominantemente familiares. Podemos afirmar também que um

estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de produção e de consumo;

uma unidade de produção e de reprodução social (DENARDI, 2001).

Além disso, no meio rural passa a existir como alternativa de sobrevivência o

cooperativismo, que nasce em razão da grande dificuldade na dinâmica de produção,

fator originado da depreciação na relação de troca entre campo/cidade, por decorrência

da prática baseada na monocultura agroexportadora. Muitas experiências de ajuda

mútua têm dado certo, e a cooperação vem promovendo o desenvolvimento de

comunidades (FLEURY, 1983).

Nos assentamentos de reforma agrária, a associação cooperativa pode trazer

benefícios para a aquisição de créditos, equipamentos, insumos, capacitação, além de

facilitar a comercialização dos produtos, barateando o transporte. Assim, o capital social

aparece como resultado do processo mental reforçado pela ideologia e cultura de um

grupo atribuído por normas crenças, atitudes, que por sua vez contribuem para o

desenvolvimento local.

3.3. Capital Social: Contribuição dos Principais Autores

A agricultura familiar sempre esteve presente na organização do espaço rural

brasileiro, constituindo-se em uma atividade principal ou complementar à medida que se

apresentam as condições históricas, dependente da expansão ou retratação das culturas

“impostas” pelo mercado. Porém, com a crise das monoculturas tradicionais e em

decorrência de vários problemas enfrentados pelos produtores rurais, surge a

necessidade da incorporação do capital social.

Putnam (2000) explica que o termo “capital social” foi inventado e reinventado

diferentes vezes ao longo do século XX. Foi utilizado por Jane Jacobs7em relação à vida

urbana, por Pièrre Bourdieu (1983) com relação à teoria social e por Coleman (1988)

nas suas discussões sobre o contexto social da Educação. Nos últimos anos, foi

7Ver JACOBS, J., (1961). The Death and Life of Great American Cities, New York: Random apud SMITH (2001).

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 37: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

36

“adotado” pelo Banco Mundial (WORLD BANK, 1999) e pela OCDE (2001), os quais

passaram a sistematizar as informações existentes sobre o tema e a estimular novos

estudos, principalmente no que concerne à sua criação, medição e relação com o

desenvolvimento econômico e redução da pobreza.

O capital social é um conceito ainda em formação, entretanto com um

crescimento de abordagens que discutem as relações entre mensuração, utilidade e

fomento a partir das diversas formulações, que convergem na idéia de que as relações

sociais instituem um patrimônio “não visível”, mas com grande eficácia a serviço dos

sujeitos sociais, sejam estes na coletividade ou individualmente (HIGGINS, 2005).

Há certa resistência por parte de alguns pesquisadores em considerar o capital

social como um “capital” de fato. Para Silva, por exemplo:

(…) o conceito de capital social é equivocado. Por que usar o termo

‘capital’ para este conceito que remete a noções que vão desde

relações cooperativas horizontais, até confundir o conceito de infra-

estrutura social? No meu entender, definir capital social como infra-

estrutura social ou o conjunto de leis, normas, (e a eficácia das

mesmas) talvez seja a forma mais interessante de se lidar com esta

intuição econômica, que é, sem dúvida, interessante. Melhor ainda,

sugiro, é definir algo como tecnologia social ou tecnologia

institucional para dar conta do fenômeno em questão (SILVA, 2001,

p.21).

Com essa definição, Silva (2001) não quer desprezar o conceito mais amplo do

capital social, apenas propõe uma abordagem simplificada do conceito para facilitar sua

incorporação nos modelos econômicos, retirando a parte que convencionamos chamar

de “dimensão cognitiva”. Assim, como a tecnologia de modo geral pode aumentar a

produtividade do capital e do trabalho, o entendimento do capital social pode ser

evidenciado como uma ‘tecnologia social’ que produz o aumento da produtividade dos

demais fatores de produção.

Logo, o capital social é entendido de forma relativamente diferente das outras

formas de capital. Diferentemente do capital físico, o capital social aparece para

beneficiar e acumular com o uso, de certa forma assemelhando-se ao capital humano.

Entretanto, o capital social é intangível e tem nítidas características de um bem público.

O capital social aparece como agregador dos conceitos anteriores, como capital

físico, humano e natural na forma de agente para a geração de desenvolvimento. Deste

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 38: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

37

modo, é entendido como característica da organização social que se torna possível às

ações coordenadas. O capital social é produtivo, pois permite a realização de certos

objetivos que seriam inalcançáveis se este não existisse (HIGGINS, 2005).

Teu milho está maduro hoje; o meu estará amanhã. É vantajoso para

nós dois que eu te ajude a colhê-lo hoje e que tu me ajudes amanhã.

Não tenho amizade por ti e sei que também não tens por mim.

Portanto, não farei nenhum esforço em teu favor; e sei que, se eu te

ajudar, esperando alguma retribuição, certamente me decepcionarei,

pois não poderei contar com tua gratidão. Então, deixo de ajudar-te, e

tu me pagas na mesma moeda. As estações mudam; e nós dois

perdemos nossas colheitas por falta de confiança mútua (HUME,

1996, p. 78).

Bourdieu (1980), autor da primeira análise contemporânea sobre o conceito, na

sua definição colocou o capital social como sendo o agregador de recursos, o que

representa pertencimento duradouro a determinados grupos e instituições. Ou seja, o

conjunto de relações sociais em que os membros dos grupos extraem recursos e

vantagens como um multiplicador das outras formas de capital.

Coleman (1988) descreve o capital social como produtivo e explica a

possibilidade de atingir certos fins que de outra forma não seriam atingidos.

Diferentemente do capital físico e humano, o capital social é proveniente das relações

estruturais por meio dos atores e entre atores. Por não ser tangível o capital social, só

existe no espaço relacional por meio e entre pessoas intimamente ligadas com as

mudanças, crenças e opiniões pessoais.

Para Coleman, o capital social é entendido em termos funcionais, isto

é, consiste em todos aqueles elementos de uma estrutura social que

cumprem a função de servir com recursos para que atores individuais

alcancem suas metas e satisfaçam seus interesses. Dentro das

estruturas sociais há pelo menos três grupos de elementos com essa

finalidade: em primeiro lugar as obrigações, expectativas e lealdades,

em segundo lugar os canais de informação e, em terceiro, as normas e

sanções estabelecidas. As obrigações podem contar com diferentes

graus de reciprocidade, levando em conta o tempo e o motivo, [...] os

canais de informação reduzem os custos através das pessoas que têm

informações pertinentes e a compartem com a rede social. As normas

têm por função específica inibir os comportamentos negativos que

debilitam o capital social (HIGGINS, 2005, p.33).

Assim, o capital social atribuído ao conceito apresentado por Coleman (1988)

busca introduzir um novo elemento nos dilemas da ação coletiva. Partindo da escolha

racional, contudo, ignora as premissas individualistas que normalmente acompanhavam

Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Pedro
Highlight
Page 39: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

38

os pensamentos da comunidade. Com isso, ele introduzia um novo “recurso” à

disposição das pessoas em que o capital social tem a função de dinamizar a produção de

uma sociedade e, portanto, capaz de promover maior crescimento econômico através

das instituições (HIGGINS, 2005).

Para Evans (1997), as instituições assumem um papel essencial na formação de

capital social, através da relação entre Estado e sociedade civil, bem como na

implantação do desenvolvimento social. Deste modo, a parceria entre a relação de dois

tipos que convivem: uma baseada nas ações de complementaridade de governos e

cidadãos e a outra fundamentada nas articulações da divisão do público- privado.

Paralelo à temática abordada sobre o capital social, surge a necessidade de

avançar na mensuração do processo de minimizar a subjetividade intrínseca a ele,

contribuindo para ampliar as discussões dos estudos práticos e aproximar mais da

realidade. Quando se busca aproximar a teoria existente do capital social com a prática,

duas categorias inter-relacionadas desse fenômeno são sugeridas: a estrutura e cognitiva

(UPHOFF, 2000).

Quanto à organização social, as redes são avaliadas como fonte de capital

social, pois as relações entre indivíduos, grupos e as redes são as reproduções dos

modelos estabelecidos de comunicação e cooperação, que atuam nas reduções dos

custos transacionais e fazem da atuação coletiva lucrativa. Outro artifício que integra a

análise do capital social estrutural é a ação coletiva, essa por sua vez implica que as

pessoas estão até certa questão investidas umas nas outras, ou seja, estão dispostas a

contribuir com o bem-estar das outras pessoas (UPHOFF, 2000).

Coleman (1988) ressalta a importância das estruturas sociais que obedecem a

rigorosas metas que sugerem que os indivíduos interajam com outros, a fim de resgatar

a experiência de fontes alternativas de recursos, adquirirem a capacidade de gestão para

obter ajuda, a coesão das redes sociais e a logística para contatos sociais.

As redes criadas a partir do acúmulo de capital social são compostas por todos

os membros e entre as conexões com cada um, que são representados por sujeitos

sociais como indivíduos, grupos, organizações ligadas por algum tipo de relação.

O modo de vida dos indivíduos representa sua visão de mundo. Seu

comportamento é determinante das relações passadas ou atuais. Desse modo, a

interdependência das funções humanas sujeitas e moldadas soma em ações positivas que

garantem qualidade de vida e harmonia com o meio ambiente, facilitando a gestão dos

recursos naturais e garantido maior durabilidade dos ecossistemas.

Pedro
Highlight
Page 40: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

39

Além disso, a administração dos recursos naturais de uso comum está baseada na

questão ambiental. No caso particular do PDS Bonal, a gestão foi sugerida pela proposta

do projeto de reforma agrária, que prioriza uma gestão coletiva racional de uso comum,

tendo em vista que os então chamados recursos naturais podem ser passíveis de

utilização por vários indivíduos. No entanto, para que isso aconteça, é necessário limitar

o seu uso. Além de garantir sua disponibilidade para diferentes usuários, existe a

preocupação de preservar o recurso para que ele permaneça ao longo do tempo.

Portanto, o capital social aparece como elemento fundamental para nortear os atores

sociais na tomada de decisões a que freqüentemente estão sujeitos a enfrentar, levando-

os a estipular a criação de regras de uso comum.

3. METODOLOGIA

3.1 Caracterização do Objeto

O Acre foi a última grande área a ser incorporada ao território brasileiro, pelo

limite do acordo colonial. A extensão de terra pertencia à Bolívia e ao Peru, porém, no

final do século XX, o governo brasileiro financiou políticas de ocupação, resultantes de

um processo da produção de borracha no mercado internacional. Hoje, o Estado é uma

das 27 unidades federativas do Brasil, localizado no sudoeste da Região Norte e tem

como limites os estados do Amazonas ao norte, Rondônia ao leste, e os países Peru, e ao

sul e oeste e Bolívia. Ocupa uma área de 152.581,4 km² e sua capital é a cidade de Rio

Branco, com uma população de aproximadamente 733.559 habitantes (IBGE, 2010),

divididos em 22 municípios, com densidade demográfica de 2,73 habitantes por km2.

Page 41: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

40

Figura 1: Mapa do Estado do Acre

Fonte: IBGE, 2006.

O objeto de estudo do presente trabalho é a produção familiar rural assentada

no PDS Bonal, situado no município de Senador Guiomard, à margem da BR-364, entre

Rio Branco e Porto Velho, no km76, conforme mostra a Figura 02.

Criado no ano de 2005 com o objetivo de promover um modelo de reforma

agrária diferenciada, buscando promover o desenvolvimento com base em práticas

sustentáveis, o PDS Bonal surge com benfeitorias herdadas da Agroindústria de

Processamento de Palmito Belga, presente desde o início dos anos 1970. A Fazenda

Bonal, como era conhecida na região, desenvolveu inicialmente o plantio racional de

seringueiras para extração de látex. No início dos anos 1980, a empresa começou o

plantio de pupunha para a produção de palmito. E, em meados dos anos 1990, foi

construída a agroindústria para o beneficiamento do palmito (INCRA, 2010).

Page 42: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

41

Figura 2: Mapa de Localização do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal,

2012.

Fonte: Base de Dados INPE e ZEE/AC (2012)

Elaboração: Francisco Ivam Castro do Nascimento (2012)

3.2 Descrição dos Momentos da Pesquisa

Esta pesquisa foi dividida em quatro fases distintas. A primeira constituiu na

construção do projeto de pesquisa, que ocorreu no período de março a junho de 2011. O

segundo momento marca as visitas a campo para levantamento de dados e entrevistas. A

terceira fase aconteceu no escritório do Projeto ASPF, onde os dados levantados foram

processados no fluxograma específico para gerar resultados, levando em consideração

as peculiaridades do objeto de estudo do meio rural, observando como, por exemplo, o

calendário agrícola e o modo de vida dos moradores do PDS. A quarta e última fase

consistiu na realização de entrevistas com representantes de moradores, líderes

comunitários e representantes de instituições.

Baseando-se nas características peculiares da área de estudo, tomando como

base o estudo de caso da comunidade, o presente trabalho busca delinear as

potencialidades e analisar os níveis de participação de agricultores familiares em uma

metodologia participativa para o desenvolvimento rural sustentável.

Page 43: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

42

3.3 Pesquisa de Campo – Fase 1: Pesquisa Exploratória

O primeiro contato com a comunidade do PDS Bonal aconteceu no dia 13 de

fevereiro de 2012, na Escola Estadual Bom Destino. A professora Francisca da Silva

Araújo de Macedo foi o elo entre a equipe do ASPF, os moradores e os líderes da

comunidade. Essa primeira visita foi vital para a pesquisa, que largou a apresentação do

projeto de dissertação e, além disso, o conhecimento preliminar da comunidade que

posteriormente foi o ponto inicial para definição do tamanho da amostra.

No decorrer do ano em questão, a partir do mês de abril, acorreram outros

contatos com os moradores do PDS através de entrevistas orais com a população,

definida pelo método de amostragem e subseqüentes com o auxílio do questionário de

pesquisa do Projeto ASPF, que trabalha uma metodologia apropria que busca englobar

dados gerais das famílias, patrimônio, autoconsumo, transferência de renda, avaliação

estratégica. Além disso, aconteceram diversas reuniões com as lideranças da

comunidade para discussão de temas relacionados ao papel das instituições e às

inovações na gestão do PDS Bonal.

Inicialmente, a pesquisa foi do tipo exploratória, uma medida adotada para

propiciar familiaridade com o ambiente do problema proposto pela pesquisa e

transversalmente o amadurecimento do problema de pesquisa. A demarcação dos

objetivos muito se deve a esses encontros com os moradores em seu lugar. Para Gil

(2002), a idealização da pesquisa exploratória é maleável, o que permite a consideração

das mais variadas roupagens relativas ao fato estudado.

Após as primeiras visitas ao PDS Bonal, fizeram-se levantamento bibliográfico

acerca do assentamento, com auxílio de conversas informais com pessoas que

participaram do processo de transição da Empresa Belga para a instalação do modelo

coletivo de assentamento e com identificação de fontes documentais, elementos

fundamentais que subsidiaram a definição de novas estratégias em campo e a

significação dos objetivos da pesquisa.

Além da metodologia do Programa ASPF, optou-se também pela realização de

duas outras, o mapeamento e o Diagrama de Venn. O mapeamento possibilitou

aproximar a equipe e a comunidade em uma atividade, na qual os moradores do PDS

representaram o local em que residem. Para tanto, formou-se um grupo com moradores

de todas as agrovilas, em que foi solicitado que eles reproduzissem o espaço em que

residem e suas relações com este, com auxílio de pincéis no quadro da Escola Estadual

Page 44: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

43

Bom Destino. A partir do desenho dos moradores, aos poucos foram sendo destacados

vários espaços de referências, tais como: recursos naturais, áreas de lazer, demarcações

de lotes, escola, etc.

Figura 3: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no

PDS Bonal

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

Essa atividade durou em média cerca de 50 minutos. Para a finalização, a

coordenadora da atividade perguntava, a cada novo desenho, se todos concordavam com

a representação. Se a resposta fosse negativa, sugeria que outro morador refizesse outra

vez o desenho. Quando a resposta era positiva, a atividade seguia seu ritmo normal.

Durante a atividade, os moradores tiveram de fazer concessões, que aconteceram

de forma tranqüila. Na maioria das vezes, eles concordavam com as representações

feitas pelos membros da comunidade que participaram da atividade. Porém, em alguns

momentos, divergiram quando não concordavam, como, por exemplo, a localização de

uma propriedade de uso comum.

Page 45: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

44

Figura 4: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no

PDS Bonal

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

A técnica do diagrama de Venn objetivou uma melhor compreensão das

organizações, instituições e /ou pessoas que estão presentes no cotidiano do PDS Bonal

e que fazem parte do processo que influencia no desenvolvimento e, ainda, como os

grupos sociais estão abrangidos nesse processo. Para a realização dessa atividade, foi

sugerido que o grupo apontasse todas as instituições, organizações e pessoas que

julgava essenciais para toda a comunidade.

À medida que os nomes eram citados, a pesquisadora anotava na mesma ordem

no quadro. Depois de encerrada a relação, pergunta-se se ainda existiam mais nomes a

serem incluídos na lista. Quando a resposta era negativa, a coordenadora da atividade

desenhava um círculo, em que a comunidade estivesse representada. Em seguida, eram

feitas as demarcações, que indicavam o limite de onde a atividade deveria ser realizada.

Depois, a proposta da atividade exigia uma construção coletiva de um desenho

que representasse a importância e a distância de cada nome citado na lista em relação à

comunidade, que já estava posicionada no centro. Solicitou-se que alguém, entre as

Page 46: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

45

pessoas do grupo, desenhasse um círculo que representasse a importância da

organização em relação à comunidade.

O exercício foi realizado por todos os membros da comunidade que estavam

presentes. Quando a atividade parava, recomendava-se que outro membro se dispusesse

a desenhar mais um círculo representando outra instituição.

Para a finalização de cada círculo, perguntava-se se todos concordavam com o

tamanho e a distância, ou seja, com a importância e as ações atribuídas para cada

organização. No momento da realização, teve-se o cuidado de anotar as negociações,

discussões e concessões em que surgiriam as atribuições de importância para o coletivo.

Em alguns momentos, a pessoa que fazia o desenho não representava de acordo com a

opinião dos demais. No momento em que era para transpor para o círculo seguinte, era

perguntado se o desenho estava em consonância com a opinião de todos. Se não

estivesse, era apagado e outro membro desenhava conforme a opinião de todos.

Figura 5: Aplicação da técnica do diagrama de Venn, durante a pesquisa

exploratória, no PDS Bonal

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

Posteriormente, quando todas as organizações listadas já estavam devidamente

posicionadas e o diagrama todo preenchido, a organizadora da atividade levantou

algumas questões para que cada um relatasse pareceres sobre cada uma das

organizações mencionadas. Nesse momento, os moradores tinham a oportunidade de

expressar seus posicionamentos sobre a atividade que se refere ao papel e à importância

de cada arranjo. Na maioria das vezes, os comentários eram feitos a partir de críticas ou

Page 47: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

46

elogios, os quais geravam reações de concordância ou de discordância. Em média, a

técnica do diagrama de Venn durou 60 minutos.

Vale ressaltar que o importante na efetivação das duas atividades, tanto no

mapeamento quanto no diagrama de Venn, não era o desenho obtido no final. O mais

importante era o debate que conduziu a construção de cada desenho individual e

coletivo, representando a importância que a comunidade dá aos temas abordados. Todas

as atividades realizadas eram acompanhadas de anotações por escrito, gravações de

áudio das reuniões, gravações de vídeo e registros fotográficos.

As entrevistas previamente elaboradas consistem em conversas realizadas

com lideranças e moradores que participaram das outras atividades interativas. As

questões apresentadas para a discussão consideraram aspectos como natureza,

tecnologia, confiança, acesso a serviços básicos, tipos de organização social e redes

informais, visão de mundo, conflitos e violência, preocupações ambientais, informação

e comunicação, coesão e inclusão social.

Durante a realização das entrevistas, teve-se o cuidado de formar um semicírculo

para que todos os participantes estivessem no mesmo ângulo. A organizadora da

atividade sentava-se na roda de conversas e apontava um tema e impulsionava o grupo

para a discussão. Os temas apresentados eram comuns a todos, relatavam seu cotidiano

e suas experiências de convívio, além de resgatarem questões vividas no passado e a

comparação com a atualidade. Normalmente, todos participavam da atividade, à medida

que as perguntas eram feitas; outros, porém, tinham de ser convidados para responder.

Geralmente, as questões eram respondidas em um clima de tranqüilidade e

concessão, porém, em alguns momentos, os moradores tiveram divergências de

opiniões, e foi proposto um consenso. Desse modo, todas as perguntas receberam a

aprovação de todos os presentes. Essa atividade teve duração de 60 minutos e, na

finalização, a mediadora, como em todas as atividades, perguntou ao grupo se todos os

participantes entendiam que as respostas dadas às questões levantadas pela proposta da

atividade estavam de acordo com a opinião de todos.

Page 48: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

47

Figura 6: Aplicação da técnica das entrevistas pré-elaboradas, durante a pesquisa

exploratória, no PDS Bonal

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

Uma parte da entrevista tinha a função de validar as informações obtidas nas

atividades específicas: mapeamento e o diagrama. É importante ressalvar que o trabalho

de campo necessita de um pensamento projetivo ou de ações sistemáticas, condição

histórica efetivada pela modernização que esquadrinhou ações intervenientes movidas

pelo planejamento (Coelho, 2005).

As intervenções das orientações técnicas exigem, portanto, uma forma

metodológica de ação, como uma pesquisa de caráter aplicado. Essas

intervenções podem, inclusive, fornecer hipóteses para outros

trabalhos de pesquisa mais sistemática ou teórica. Para o trabalho de

orientação técnica, a literatura sobre pesquisa participante ou pesquisa

ação desponta também como referência bibliográfica indispensável.

Além disso, percebe-se que, na prática da orientação técnica, não

distanciamento, tão comum nos meios universitários, entre o que se

convencionou chamar de atividade de pesquisa e atividade de

extensão (COELHO, 2005p. 78).

A proposta da metodologia aplicada na pesquisa partiu da idéia de uma

ferramenta empírica para medir o capital social. Objeto de estudo das últimas décadas, o

Page 49: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

48

conceito tem gozado de um crescente prestígio nas ciências sociais e na literatura em

geral.

O uso do método histórico contribuiu para a confirmação da importância e

influência das organizações e instituições, e para a dinâmica da evolução, modificação e

ainda as questões atuais da forma de vida social em todos os seus aspectos. A forma

pela qual se buscou identificar a existência do capital social consta em um roteiro de

questões objetivas que analisa o capital social sobre a forma estrutural e cognitiva,

tomando como base adaptações, com intuito de atender à totalidade do estudo. A seguir,

encontra-se de forma detalhada o conjunto de dimensões e parâmetros utilizados para a

análise do capital social.

Quanto ao tratamento e análise de dados, optou-se pela forma qualitativa

(priorizando analisar os dados acerca das dimensões do capital social proposta pelo

Quadro 01), sendo obtidos em critérios que se referem à correlação entre os dados

primários e secundários. No que compõem os dados primários, estes se deram por meio

de entrevistas, baseadas na aplicação do questionário ASPF e ainda nas atividades

metodológicas do diagrama de Venn, mapeamento e entrevistas semi-estruturadas

aplicadas junto aos moradores da comunidade por meio de amostragem probabilística,

em que entrevistados, 22 sorteados de um total de 208 Para tanto, foram, levadas em

consideração seis dimensões dos estágios, que serviram de arcabouço para o corpo da

pesquisa. Veja no quadro1 abaixo:

Page 50: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

49

Quadro 1: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de Análise por Estágios

Indicadores Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3

Visão de mundo/ sentido

de fazer (criar)

Os indivíduos do grupo tendem a olhar

para trás no sentido de buscar

marcações velhas.

Indivíduos e grupos que procuram

para dentro da marcação o novo

senso da realidade das redes sociais.

Interação entre a comunidade e

líderes políticos na solicitação de

ações de desenvolvimento e formas

de decisão relacionada a projetos de

desenvolvimento.

Grupo autodeterminado a moldar a realidade

olhando para frente.

Mudanças de atitudes e

valores Medo de mudança.

Nenhuma mudança nas atitudes.

Ajustando o acaso.

Realização de novas capacidades.

Esperar mudar como uma norma.

Reflexão crítica e conceituação de novos

insights.

Ligações horizontais e de

redes externas

Tende a ser imposta de fora do

exterior para os derivados.

Desenvolvimento de regras e normas

próprias. Evolução e articulação de regras e normas.

Tecnologias e aspectos

ambientais

Esse grupo tem algum valor para

conseguir o reconhecimento de algo

novo, uma partilha de idéias, mas

tendência e desconfiança do novo.

Membros cada vez mais dispostos a

investir no seu próprio grupo.

Grupo suscetível de exprimir suas relações

sociais.

Partilha para os atores externos.

Tempo de vida em

grupos Pouca ligação com os outros grupos. Vínculos com os outros grupos.

Grupos capazes de conduzir outros grupos

sociais.

Resiliência

Ligação no sentido único de cima para

baixo.

Percepção de que o fluxo de

informação caminha para cima.

Grupo bem ligado às muitas agências externas

e forte o suficiente.

Participação do líder, mudanças nas estruturas,

tipo de ajuda organizacional, capacidade e

competência.

Variabilidade Depende de facilitadores externos para

sustentar as atividades de grupo. Regeneração do capital natural. Facilitadores não são mais necessários.

Razão de ser Eco-eficiência de redução de custos e

danos Regeneração do capital natural.

Redesenhar os acordos para manter os

princípios ecológicos básicos.

Capacidade de apresentar Espera a solução externa.

Esperando uma bala de prata nova.

Pouca experiência de adaptação.

Percepção de que as soluções devem

ser geradas internamente.

Planejamento coletivo para a

Soluções internas e externas.

Experiência leva à adaptação e à inovação.

Mudanças de estruturas e propósito;

Page 51: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

50

experimentação/ algumas inovações.

participação organizacional, capacidade das

organizações para conviver com os conflitos;

capacidade e competência das organizações; e

liderança organizacional.

Facilitadores internos e

externos

Atrelado a uma agência.

Agrupamento com sucesso a

alcançar as atividades planejadas.

Participação por instituição, faixa

etária e gênero.

Os grupos agora são calibrados em diferentes

atividades.

Dificilmente obtêm rupturas lineares.

Indivíduos, grupos e organizações, que se

encontram interligados por algum tipo de

relação.

Normas e regras de

confiança

Grupo com o mesmo programa e o

mesmo tempo.

Possível quebra após a realização de

atividades iniciais. Grupos com olhares diferentes um dos outros.

Fonte: PRETTY E WARD (2001)

Page 52: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

51

A pesquisa aponta o nível de capital social identificado na localidade. A partir da

análise das dimensões e dos indicadores propostos pelo Banco Mundial, serão adaptadas

e divididas nas categorias e subcategorias que serão disponibilizadas em dimensões para

facilitar o entendimento.

Dimensão 1- Apoio Comunitário

Participação das pessoas nas instituições locais

Participação por gênero

Participação por faixa etária

Participação por ocupação

•Nível de organização da comunidade

• Mobilização das pessoas e ou instituições para resolução de problemas

• Programas ou instituições envolvidas na geração de desenvolvimento local [

Dimensão 2 – Capital Social Estrutural

•Infra-estrutura

Participação do líder

Diferença entre os membros (diversidade)

•Influência dos líderes

Dimensão 3 – Redes e Organizações de Apoio Mútuo

•Disponibilidade de serviços

Problemas de acesso a serviços

•Níveis de diferenças

Problemas decorrentes das diferenças

Dimensão 4 – Ação Coletiva Prévia

•Interação entre comunidade e líderes políticos na solicitação de ações de

desenvolvimento

•Formas de decisão relacionada a projetos de desenvolvimento

Dimensão 5 – Capital Social Cognitivo

•Apoio e solidariedade

•Confiança

Page 53: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

52

•(Níveis) de individualismo

•(Níveis) de respeito e Atenção à opinião alheia

Dimensão 6 – Perfil Organizacional

•Mudanças nas estruturas e propósitos da organização

•Tipo de ajuda organizacional

•Participação organizacional

•Capacidade das organizações para conviver com conflitos

•Capacidade e competência das organizações

•Liderança organizacional

Page 54: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

53

4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo, são apresentados e analisados os resultados da pesquisa, através

da descrição dos procedimentos utilizados para análise e dados obtidos.

Nesse sentido, uma primeira seção para demonstrar o universo pesquisado de

forma panorâmica, com informações gerais e peculiaridade do estudo realizado.

Tomando como base a revisão literária acerca do capital social, constatam-se a

importância e a contribuição deste no processo de desenvolvimento, evidenciando,

quando se identificam as práticas de cooperação, confiança, solidariedade adotada pela

comunidade, assim como destes para as instituições Entendemos que, nesse sentido,

quanto maior a intensidade do capital social, maiores serão as possibilidades de

existirem políticas públicas e ações voltadas para alavancar o desenvolvimento local.

4.1 Características do Universo Pesquisado

O processo de constituição do PDS Bonal iniciou-se ainda na década de 1970,

quando o grupo Bonal adquiriu a área que corresponde hoje ao assentamento para a

instalação de um projeto agroindustrial, com o objetivo de cultivar seringueiras e

fornecer palmito de pupunha. As primeiras famílias foram contratadas para trabalhar

nos plantios de seringueiras. Já na década de 80, em virtude do baixo preço da borracha

no mercado nacional e internacional, buscou-se melhorar o desempenho econômico do

empreendimento, começando o plantio da pupunha (INCRA, 2010).

Com a mudança no foco da atividade produtiva, vários seringueiros foram

demitidos, permanecendo poucos na condução dessa atividade, uma vez que a pupunha

demanda pouco volume de mão-de-obra para o manejo. No entanto, diversos

seringueiros, apesar de formalmente demitidos, continuaram a explorar a área em bases

extrativistas informais. Na década de 1990, foi instalada uma unidade para

beneficiamento da pupunha (INCRA, 2010).

Em 1999, um grupo dos antigos funcionários que haviam sido demitidos no final

dos anos 70, mas que ainda continuavam vivendo na área com exploração extrativista da

seringa, organizou-se em uma associação como forma de reivindicar antigos direitos

trabalhistas e obter financiamentos do Governo Federal para o acréscimo de renda e

acesso à terra para trabalho. Essas ações tiveram propagação no sentido de reivindicar a

área da Fazenda Bonal para a reforma agrária. Depois de um longo período de

Page 55: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

54

negociação, os proprietários do empreendimento fizeram um acordo com o INCRA-

SR14, que, em 2005, adquiriu o imóvel, mediante compra, para a constituição de um

Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), destinado às famílias que já viviam na

área e a outras famílias de trabalhadores sem-terra da região (INCRA, 2010).

No processo de compra, o INCRA proporcionou a possibilidade de todos os

empregados da fazenda ter o direito ao assentamento. Aceita a proposta, o projeto foi

designado, propiciando o acesso à terra inicialmente para 41 famílias dos antigos

empregados do imóvel. A criação do PDS Bonal aproveitou a organização territorial

original do tempo da empresa que estava distribuída em três núcleos de moradia: as

agrovilas Bom Destino, com 26 famílias residentes; Morada Nova, com 14 famílias; e a

Retiro, que, naquela ocasião, possuía apenas uma família residente. (INCRA, 2010).

Justamente nesse mesmo período, foi formada a Cooperativa Agroextrativista

Bom Destino LTDA (CAEB), destinada a coordenar a exploração do palmito e a

utilização da infraestrutura existente no assentamento. A CAEB teve início com 24

cooperados fundadores. No início de 2006, foi criado o Conselho Gestor da

Cooperativa, órgão encarregado de representar os demais assentados e buscar soluções

para os problemas (INCRA, 2010).

Criado oficialmente em julho de 2005, o PDS foi fruto do planejamento

apresentado no Plano Regional de Reforma Agrária com a parceria do INCRA e o

Governo do Estado do Acre, envolvendo a proposta de sustentabilidade constituída pelo

Ministério do Meio Ambiente. O objetivo era consolidar um sistema de gestão focado

na coletividade e no planejamento participativo, em que a exploração da terra estava

baseada na forma coletiva, e também individual (INCRA, 2010).

Com a área total de 12 mil hectares, o assentamento disponibiliza recursos

naturais que permitem várias formas de uso da terra, sem mencionar o manejo múltiplo,

a extração de borracha nativa, castanha, açaí, copaíba e outras palmáceas nativas. A área

destaca-se pelo manejo ecológico que consorcia o seringal de cultivo com o plantio de

pupunheiras, destinado para o uso da agroindústria (INCRA, 2010).

Page 56: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

55

Figura 7: Unidade de processamento para beneficiamento do palmito no PDS

Bonal

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

4.2 Mapeamento da Comunidade

4.2.1 Espaços descritos pelos moradores

Através do mapeamento, foi possível compreender a forma como os moradores

percebem o espaço em que residem. Também foi possível identificar valores, desafios e

concepções que implicam diretamente na gestão da localidade. A referência inicial para

a construção do mapa foi a BR-367, com a localização para o km 78, que corresponde à

entrada do ramal principal que dá acesso ao PDS, seguida pela escola, que ganhou

destaque nos desenhos da comunidade. As próprias casas dos moradores, agroindústria,

lugares de lazer comunitário como campo de futebol, igrejas, comércios, posto de saúde,

açudes, agrovilas, florestas, plantios, etc.

Durante a realização da atividade, evidenciou-se a importância dos espaços e a

forma como eles são utilizados, conforme se observa nos depoimentos:

Page 57: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

56

“A igreja é um lugar onde todos nós podemos contar com o

apoio dos outros.” Morador 01

“A nossa escola é um lugar de muito respeito. Dá gosto saber

que as crianças estão estudando lá!” Morador 02

“O nosso campo é o lugar das peladas na hora da folga.”

Morador 03

Ressalte-se que, durante a atividade de construção do mapeamento, os

participantes usaram a expressão “nosso”, com intuito de enfocar a consciência

comunitária para alguns espaços e recursos, tais como agroindústria, campo de futebol,

igrejas. No entanto, em outros momentos o individualismo prevaleceu quando a

construção enfocou as agrovilas (espaços onde se localizam as casas dos assentados).

Além disso, questões relevantes, como as dificuldades enfrentadas, foram

evidenciadas: a dificuldade de acesso aos ramais nos períodos do inverno amazônico,

falta de água em algumas agrovilas, a falta de assistência no posto de saúde.

Entretanto, o assentamento funciona com sua dinâmica própria, evidenciando a

forma de organização, distribuição e acesso aos recursos naturais. Cada assentado

possui seu lote e sua casa em uma das agrovilas. Ainda existem locais coletivos que são

espaços comuns, nos quais a comunidade programa suas atividades sociais e a

organização do seu trabalho.

Outro aspecto observado na forma de os moradores visualizarem o espaço foi a

iniciativa de um morador em procurar preencher as lacunas do desenho com o volume

das plantações de pupunhas e seringas existentes. Nesse momento, abriram-se espaços

para outras discussões, como acesso a financiamento de créditos, para aumentar os

plantios, e técnicas modernas para garantir mais lucratividade.

Page 58: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

57

4.3 Diagrama de Venn do PDS Bonal

4.3.1 As organizações e a instituições públicas no PDS Bonal

Nessa seção, serão apresentados os resultados da aplicação da técnica do

diagrama de Venn, conforme apresentado na metodologia do presente trabalho. Ao

longo da atividade, foram citadas 12 organizações e instituições que estão presentes no

cotidiano dos moradores.

As citações das organizações/instituições que atuam no assentamento PDS Bonal

foram feitas durante a explicação da atividade, ainda quando a monitora orientava os

participantes de como seriam conduzidos. Dessa maneira, entende-se que foram citadas

as instituições/organizações pelo grau de importância na garantia da sobrevivência dos

assentados no local, conforme a seguinte classificação:

Figura 8 Representação das instituições por grau de importância para a

comunidade do PDS Bonal, 2012

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

Outro cuidado dos participantes foi escolher o local exato para representar todas

as instituições/organizações, já que a distância do desenho usado na representação

definiria as ações presentes de cada uma delas na comunidade. Algumas citações na

categoria instituições públicas geraram discussões por causa das suas ações ou ainda por

falta de ações na opinião dos participantes. INCRA e SEAPROF, em alguns momentos,

BONAL

COMÉRCIO ESCOLA

IGREJA

PREFEITURA

CIGA

BANCO

SEAPROF

COOPERATIVA

AGROINDUSTRIA

CASA DE FARINHA

POSTO DE

SAÚDE

INCRA

Page 59: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

58

são avaliados de forma negativa e, em outros momentos, apesar de críticas dos

moradores, são avaliados positivamente, o que demonstra a dificuldade em se

operacionalizar políticas públicas em uma iniciativa com particularidades próprias.

Conforme as discussões surgidas na elaboração do Diagrama de Venn, a escola

apareceu como a instituição pública mais atuante na comunidade. Para os participantes

da atividade, a educação foi a área que mais avançou nos últimos anos. A estrutura da

Escola Estadual Bom Destino, fundada em 1979, é um exemplo, funcionando nos três

turnos com os ensinos fundamental e médio e o Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Há

ainda a Escola Municipal Infantil Criança Feliz, com cerca de 40 alunos matriculados.

A igreja aparece como auxílio espiritual para os moradores. Com seu papel

social, ela cumpre com outra função dentro da comunidade. Além do mais, existe a

proximidade dos membros, fator relevante para desenvolver tarefas em redes.

O comércio foi desenhando próximo da comunidade pelo motivo de os

moradores negociarem costumeiramente mantimentos para efetuar o pagamento no final

do mês, ou ainda quando comercializar a produção. já que os moradores deveriam ter

essa aproximação com a agroindústria, que é a principal responsável pela manutenção

econômica do assentamento.

Mesmo com 95 % dos moradores com pelos menos um financiamento para

ampliar a produção, estes identificaram os bancos com uma distância razoável da

comunidade, apresentando justificativas como burocracias para ter acesso aos

financiamentos e também dificuldades para efetuar o pagamento. Entretanto, relatos dos

próprios moradores mostram que nem todo o dinheiro foi utilizado na plantação. Muitos

adquiriram mobílias e até automóveis.

A prefeitura de Senador Guiomard é a responsável pelos serviços básicos de

saúde, coleta de lixo, educação infantil, entre outras coisas. A distância pode ser

explicada pela dificuldade enfrentada no acesso aos serviços. Por isso, justifica-se a

localização do posto de saúde, para onde os moradores são obrigados a se deslocar até à

cidade para ter direito aos serviços de saúde.

A SEAPROF, do mesmo modo que as outras instituições, apareceu longe do

PDS, evidenciando o descrédito dos moradores em relação às instituições públicas.

A agroindústria e a cooperativa correspondem às instituições que têm maior

influência direta no cotidiano dos moradores. A cooperativa, por sua vez, tem a função

de administrar as ações dos membros.

A CIGA, a assistência técnica contratada pelo INCRA, apareceu com grande

distância da comunidade. Os moradores explicam que os técnicos fazem apenas

Page 60: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

59

relatórios. Ainda não foi identificado nenhum papel de importância para a vida

econômica e social da comunidade. Apesar de não ser uma instituição pública, os

moradores a citaram na construção do diagrama de Venn, tendo em vista que a

assistência técnica desenvolvida poderia ser de atribuição do INCRA.

4.4 Avaliação do Capital Social

Os resultados obtidos com a realização da pesquisa apontam o nível de capital

social identificado na localidade pesquisada, a partir da análise das dimensões e dos

indicadores.

Page 61: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

60

Quadro 2: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de Análise por Estágios

INDICADORES PDS BONAL ESTÁGIOS 1 2 3

Visão de mundo/ sentido de Fazer (criar) “Era melhor na época da empresa”. x

Mudanças no sentido de atitudes e valores Ainda tendem a olhar por passado e alguns valores não foram

incorporados.

x

Normas e regras de confianças e criação

de normas internas.

A comunidade ainda não desenvolveu articulações para criarem suas

próprias regras. Todas que existem são frutos de fora para dentro.

x

Reconhecimento de valor do grupo/ ética

partilhada.

O grupo ainda não assumiu os valores da ética partilhada. Existem

desconfiança e medo do novo.

x

Redes interligadas e ligações horizontais. A comunidade, por vários motivos, não desenvolveu habilidades para

trabalhar em redes.

x

Facilitadores externos Depende de facilitadores externos para sustentar atividades em grupo.

Evidenciada pelo grupo de trabalhos existentes no início do sistema

coletivo.

x

Fonte de tecnologia Buscam sempre uma solução de fora para dentro. x

Tempo de vida em grupo/ razão de ser Não existe amadurecimento na vida em grupo. x

Resiliência Ligação no sentido único de cima para baixo. x

Variabilidade Os membros dos grupos não são capazes de desenvolver atividades

baseadas no mesmo tempo e nas mesmas razões.

x

Page 62: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

61

Não é correto afirmar que o “bem-estar” estaria simplesmente relacionado só

pela maximização da renda. Não obstante, o homem influenciado por suas crenças,

valores morais, que podem influenciar a maneira como ele cria suas relações na vida em

sociedade, como ele realiza suas “trocas” (econômicas ou não) com sua comunidade,

levando em consideração um maior ou menor crescimento econômico. Quais a outras

valorações possíveis então?

Dessa forma, o capital social é construído a partir do amadurecimento da

comunidade, diferentemente das outras atribuições do capital social,como o capital

físico. O capital social, por sua vez, aparece para beneficiar e acumular com o uso, de

certa maneira o assemelhando ao capital humano. Quando analisamos a comunidade

com os indicadores que são entendidos como fundamentais para surgimento e

amadurecimento do capital social, percebe-se que o estágio de maturação do grupo em

questão permanece na fase inicial, fato que pode ser justificado pela falta de articulação

de atividades redes e entrosamento com as instituições presentes, que nesse contexto

determinam uma função primordial para o desenvolvimento.

A comunidade continua voltada para a “velha ideia” de conduzir a vida fazendo

comparações com a época em que eram funcionários da empresa e tinham uma renda

mensal fixa, época em que as plantações de seringas e pupunhas estavam na sua melhor

fase de produção. Além disso, os moradores trabalhavam em outra lógica

completamente diferente da realidade em que vivem hoje. Eram apenas executores de

ações pré-estabelecidas, não necessitando tomar decisões para a resolução de problemas

funcionais relativos à produção, assim como não somavam os gastos oriundos da

produção na sua renda, apenas empregando sua mão-de-obra.

No entanto, como existe a transformação do empregado da empresa em produtor

familiar, como assentado assume toda a responsabilidade de sua produção e sustento,

implicando tomadas de decisões como contratação de mão-de-obra para realização de

alguma atividade, diversificação da produção, financiamentos junto aos bancos. Vale

lembrar que ele é o único responsável pela própria renda mensal.

Os moradores que não participaram da fase da empresa, desconhecem essa

comparação, contudo, por questões do histórico de vida em centros de cidades, são

pessoas que também estão no mesmo processo de aprendizado do modo de vida do

agricultor familiar. A transição aconteceu de forma brusca: depois da compra da

empresa pelo INCRA se iniciou o processo de escolha dos assentados, os quais, por sua

vez, foram instalados no PDS e conseqüentemente se deparam com uma forma de vida

bastante diferente da sua realidade. As regras de convívio do sistema coletivo

Page 63: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

62

representaram, sem dúvidas, as maiores dificuldades para a adaptação na vida no

campo. Entretanto, as famílias assentadas iniciaram um processo de adaptação à nova

vida, o que significou uma fase de insatisfação para os produtores que não se adaptaram

ao novo sistema.

Destaque-se que os resultados alcançados pela pesquisa representam uma visão

do processo de aprimoramento do tema, considerando que ele transita em um campo

que envolve múltiplos conceitos, dimensões, variáveis e abordagens e que busca

analisar as infinitas possibilidades de interações e relações sociais na comunidade.

Seguindo a metodologia adotada pela pesquisa, verificou-se que os resultados apontam

que a comunidade se encontra no estágio I. Ele apresenta dificuldades na organização de

atividades coletivas; as disposições tendem a ser impostas do exterior para o interior,

não desenvolveram ainda a prática da sustentabilidade consciente, são apenas meros

reprodutores de ações preestabelecidas.

Os recursos inerentes são “sociais” na função em que são acessíveis dentro e por

meio de relações, contrárias ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano

(habilidade, educação), propiciando um fluxo de indivíduos como um papel

fundamental para a rede.

Notadamente, é possível evidenciar, com a construção do mapa da vida

associativa da comunidade, que o conjunto de problemas sociais (violência, saúde,

pobreza) tem sido atribuído empiricamente à existência (ou falta) de capital social na

comunidade, cabendo às modernas políticas públicas a criação de novas ferramentas

com o objetivo de estimular mudanças do comportamento individual, até atingir o

pensamento coletivo.

Logo, percebe-se que a construção de um processo de desenvolvimento em

sentido mais amplo não se refere apenas ao crescimento econômico, mas também está

pautado no bem-estar social, na qualidade de vida e no respeito ao meio ambiente,

resultado de três fatores: capacidade local (capital social), atuação efetiva do Estado e

um plano de desenvolvimento em longo prazo. As discussões a respeito dos problemas

relacionados à gestão coletiva do uso comum dos recursos naturais estão profundamente

ligadas ao nível de capital social da comunidade. Os assim chamados recursos naturais

são passíveis de ser utilizados por todos os membros da comunidade, sendo, portanto,

de uso comum. No entanto, é preciso observar que alguns pontos essenciais para

garantir a conservação dos recursos em longo prazo, evitando a exploração, relacionam-

se com a consciência individual de todos os membros, formando uma consciência

global.

Page 64: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

63

Quadro 3: Dimensões, categorização e parâmetros para medir o capital social

DIMENSÕES CATEGORIAS PARÂMETROS RESULTADOS BONAL( +/-)

Apoio comunitário Participação das pessoas nas instituições Quanto maior a participação, maior a possibilidade de

existência de capital social.

Os moradores têm resistência em participação de

ações em algumas instituições. (-)

Participação por gênero Quanto mais equitativo o percentual, maior a possibilidade

de capital social.

Os homens participam mais que as mulheres. (-)

Participação por faixa etária Quanto mais equitativo o percentual, maior a possibilidade

de capital social.

As pessoas adultas tendem a participar de mais

ações, acima de 30 anos. (-)

Participação por ocupação Quanto maior a quantidade de trabalhadores de múltiplas

profissões, maior a existência de capital social.

Basicamente os moradores do PDS desempenham

as mesmas funções. (+)

Nível de organização da comunidade Quanto maior o nível de organização, maior a existência de

capital social.

Dificuldades de mobilização da comunidade (-)

Mobilização das pessoas e ou instituições

para as resoluções dos problemas

Quanto maior a mobilização de pessoas ou instituições para

a resolução dos problemas, maior a possibilidade de capital

social.

Mobilização partindo de fora para dentro da

comunidade. (-)

Programas ou instituições envolvidas na

geração do desenvolvimento local

Quanto maior o número de instituições envolvidas na

geração de desenvolvimento, maior o nível de capital social.

Foram citadas apenas 03 instituições envolvidas

diretamente na resolução do desenvolvimento. (-)

Capital Social Estrutural Infra-estrutura Quanto maior a disponibilidade de locais para encontros

públicos e privados, maior a possibilidade de capital social.

Para um assentamento de cunho rural, existe um

número aceitável. (+)

Page 65: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

64

Participação do líder Quanto maior a participação do líder maior a possibilidade

de capital social.

Embora existam vários lideres local, não foram

citados no momento da pesquisa.( -)

Serviços Serviços, maior a existência de capital social. Faltam alguns serviços básicos ( -)

Problemas de acesso a serviços Quanto maior forem os problemas de acesso aos serviços,

menor a possibilidade de existência de capital social.

Dificuldades para receber certos serviços básicos:

saúde, segurança e educação. (-)

Ação Coletiva Prévia Interação entre a comunidade e líderes

políticos na solicitação do desenvolvimento.

Quanto maior a frequência de relações entre a comunidade e

os políticos, maior a existência de capital social.

A comunidade não identificou relações entre os

políticos na comunidade com intuito de

desenvolvimento. ( -)

Formas de decisão relacionada a projetos de

desenvolvimento.

Quanto maior a participação da comunidade nas decisões,

maior o capital social.

Apenas 20% da comunidade contribuem no

processo de decisões coletivas.( -)

Capital Social Cognitivo Apoio e solidariedade Quanto maior for o nível de relacionamento entre as

pessoas, maior ás atitudes de apoio e solidariedade, maior

capital social.

90% da comunidade apresentam comportamento

solidário.( +)

Confiança Quanto maior foro nível de confiança demonstrada entre os

atores, maior o capital social.

A comunidade afirmou que confia apenas em

20% dos membros.( -)

( Níveis) de individualismo Quanto maior for o individualismo, menor será o nível de

capital social.

85% da comunidade apresentam algum tipo de

individualismo.(-)

(Níveis) de respeito e atenção a opinião

alheia.

Quanto maior for o nível de respeito e atenção à opinião

alheia será o envolvimento interpessoal desse grupo, maior

será o capital social.

A comunidade não considera relevante a opinião

de outros membros caso a sua opinião seja

relevante.( -)

Diferença entre os membros (diversidade) Quanto mais diferentes forem os membros participantes dos

grupos, maior o capital social.

Basicamente os membros exercem funções

distintas no PDS.

Redes e organizações de

apoio mútuo

Influência dos lideres Quanto mais efetiva a participação do líder, maior o capital

social.

Não foi citada a participação de líderes na

pesquisa.( - )

Page 66: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

65

Níveis de diferenças Quanto maior forem as diferenças, menor a existência de

capital social.

Os membros do PDS tem basicamente o mesmo

perfil. (+)

Problemas decorrentes de diferenças Quanto maior forem os problemas decorrentes de

diferenças, menor o capital social.

Existem apenas os problemas comuns para a

comunidade. (+)

Disponibilidade de serviços Quanto maior for à disponibilidade de serviços, maior a

existência de capital social.

A comunidade não tem dificuldade para prestar

serviços para 03 instituições. ( -)

Perfil Organizacional Mudanças nas estruturas e propósitos da

organização

Quanto mais flexível for a estrutura da organização, maior a

possibilidade de capital social.

A comunidade apresenta resistência às mudanças.

( -)

Tipo de ajuda organizacional Quanto maior a ajuda de instituições externas, maior a

existência de capital social.

Segundo relatos as instituições externas não

apresentam ajuda significativa para a

comunidade. ( -)

Capacidade das organizações para conviver

com os conflitos

Quanto maior a transparência e a participação das

organizações para resolver conflitos, maior será a

possibilidade de geração do capital social.

A comunidade afirma que as instituições

nãomostram transparência na resolução dos

conflitos. (+)

Capacidade e competência das organizações Quanto maior a capacidade e competência das organizações

no que se refere às atividades especializadas, maior será o

capital social.

Nem todas as instituições cumprem com o seu

papel. ( -)

Liderança organizacional Quanto mais pessoas puderem ocupar a posição de líder,

mais pessoas das organizações, maior representatividade

terá essa organização, maior capital social.

Poucas pessoas desenvolveram o espírito de

liderança para reivindicar em prol da comunidade.

( -)

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

Page 67: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

66

A dimensão apoio comunitário é compreendido como elemento de estabilidade,

por sua presença aparece, como forma primordial na ação coletiva dos interesses

organizados, e refere-se às características gerais da comunidade e suas prováveis

relações com a capital social.

No que concerne à análise acerca da participação comunitária. Verifica-se que

englobam algumas dimensões específicas, tais como: participação por instituição, faixa

etária e gênero. Fundamentado nas considerações obtidas a respeito das várias

categorias pode-se inferir que o apoio comunitário é uma propriedade de um ambiente

propício ao acúmulo de capital social, uma vez que os entrevistados apresentam de

modo geral ações voltadas para o apoio e ainda disponibilizam sua mão-de-obra para

determinados fins nas seguintes instituições apresentadas abaixo.

73% dos entrevistados estão dispostos a dedicar sua mão-de-obra em atividades

relacionadas às igrejas, das quais são membros, cinquenta e cinco por cento respondeu

que já trabalharam e sempre que a cooperativa precisar de seu trabalho está

dispostos,noventa e um por cento afirmaram que quando acionadas estão prontos a

ajudar na atividades da escola e 9% dos entrevistados afirmam que não têm interesse em

fazer esse tipo de serviço ,lembrando que os entrevistados poderiam nessa questão

escolher várias instituições, por isso a soma excede 100%.

Gráfico 1: Mão-de-obra da voluntária da comunidade em

instituições/organizações, em 2012

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Igreja Cooperativa Escola Nenhuma Importância

73%

55%

91%

9%

Page 68: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

67

Destacaram03 grupos/instituições como o mais importante para o

desenvolvimento da comunidade: igreja, escola e cooperativa. Quando perguntado

qual a importância de fazer parte dos grupos/instituições os moradores responderam que

cada uma representava um segmento do cotidiano, como por exemplo, a agroindústria e

a cooperativa, que são responsáveis pela condução das atividades produtivas; a escola

por sua vez representa um papel múltiplo na opinião dos entrevistados, difusão do

conhecimento, capacitação para o mercado de trabalho e ocupação para livrar os filhos

do ócio.

O ato da participação da comunidade com a mão-de-obra voluntária é de externa

importância não só para o acúmulo de capital, mas para a dinâmica da vida em

comunidade, tendo em vida que nem sempre é possível solicitar o serviço contratado

mediante pagamento, considerando a renda mensal dos assentados. No entanto existe

um grande problema quando os membros em sua concepção se fecham apenas para

algumas instituições e bloqueiam a possibilidade de existência do capital social.

O reconhecimento da importância do trabalho em rede abre espaço para as

resoluções de problemas que normalmente são típicos dos assentamentos, além de o

capital social ser considerado elemento da teoria social que age como peça essencial

para o desenvolvimento humano das comunidades.

Os moradores responderam que participam sempre que comunicados de outras

atividades, como: reuniões, palestras de todas as 11 instituições presentes no PDS,

mantendo o mesmo nível de participação dos anos anteriores. No entanto, ficou evidente

que os moradores não exercem confiança em algumas instituições, por esse motivo

apresentam resistência em participar das ações.

Os homens participam mais das atividades em redes: 65% asseguram que estão

disponíveis para realização de tarefas em prol da comunidade; as mulheres, por sua vez,

em maioria são dona de casa, mães e ainda trabalham na produção, de tal modo que sua

presença torna-se menor na cooperação comunitária.

A faixa etária dos participantes é adulta, correspondendo aos maiores de 30 a 65

anos de idade. Quanto à participação por ocupação é basicamente representada por

trabalhadores que exercem a mesma profissão, já que os assentados do PDS

desenvolvem os mesmos trabalhos.

A Dimensão capital social estrutural compreende o compartilhamento de

informações que facilitam as ações coletivas e os processos de tomada de decisão

regidos por normas estabelecidas, redes sociais e outras estruturas suplantadas por leis,

Page 69: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

68

associando ás diversas formas de organização social e de instituições locais, formais e

informais, que atuam como instrumento para o desenvolvimento comunitário. Essa

dimensão é de suma importância, as redes de relações sociais que favorecem a

cooperação, ou mais especificamente, o comportamento cooperativo, precisam criar

mecanismos para fortalecer as ações realizadas na comunidade.

Verifica-se que a comunidade apresenta dificuldade para a organização da

comunidade, não obstante a participação das ações da ações das instituições locais,

afirma que não existe de fato uma parceria entre a comunidade e as instituições, uma

vez que as ações realizadas não são avaliadas como eficaz para o planejamento.

Quanto à categoria infraestrutura, os moradores acreditam que estão cercados

com por uma infraestrutura aceitável para uma comunidade rural. Contudo, a

ineficiência de alguns serviços na localidade está contribuindo para o descrédito dos

moradores nas referidas instituições. Desta forma, fica fácil compreender o porquê da

comunidade inferir algumas instituições com uma grande distância. Assim, os serviços

básicos: saúde, segurança e educação (cursos profissionalizantes) ficam comprometidos,

na maioria das vezes. O assentado afirma que se desloca para receber certos nas cidades

mais próximas. A ausência de determinados serviços públicos que são suprimidos da

comunidade diminuem a existência da possibilidade do capital social.

Quanto à participação do líder, parâmetro necessário para desenvolver a

possibilidade de capital social, não foi relatado durante a pesquisa à existência de

nenhum líder, embora se tenha percebido em alguns momentos alguns membros da

comunidade assumam esse papel.

A Dimensão Redes e organizações de Apoio Mútuo pode ser definida, como

sistemas complexos formados por conexões que representam sujeitos sociais, tais como:

indivíduos, grupos e organizações, que se encontram interligados por algum tipo de

relação. Esta dimensão busca verificar como os membros agiriam em certas situações,

como por exemplo, fracasso de colheita, violência, falta de coleta de lixo, ausência de

assistência médica, que exija a resolução do problema em ação coletiva, ou seja, busca

entender as expectativas de ações coletivas e solidariedade futura.

A comunidade demonstra características negativas que inviabilizam a

mobilização e participação da mesma de forma efetiva, que pode ser explicado pelo

espírito de individualismo resultado da época de inicial da formação do PDS, onde

funcionava o sistema coletivo, a não adaptação ao sistema derivou um grau de

Page 70: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

69

insatisfação dos assentados, que na sua maioria buscavam conviver num assentamento

convencional, onde cada um deles possuísse de fato a demarcação de seus lotes.

Vários motivos eram determinantes para que a comunidade optasse pela divisão

do lote. O trabalho dos assentados na produção era feita mediante grupos de trabalhos

subdivididos em equipes que desempenhava funções distintas: corte de seringa, corte de

pupunha, limpeza das áreas e industrialização. Apesar disso, o salário pago para os

trabalhadores eram equivalentes, independente da função. Os trabalhadores

argumentavam que as funções desenvolvidas envolviam quantidade de trabalho

diferenciado e alguns tinham a delegação de trabalhar mais pesado do que outros.

A influência de um líder evidencia que a comunidade desenvolveu os pré-

requisitos necessários para conviver num ambiente em redes e apoio mútuo, a não

existência da organização estruturada por membros e líderes impede a existência do

capital social e ainda cai na falta de ações para gerenciar os problemas existentes na

comunidade.

O perfil dos trabalhadores assentados segundo a estrutura do assentamento

deveria basicamente o mesmo, já que os moradores teriam que desenvolver as mesmas

atividades produtivas, já que na divisão do lotes teve-se o cuidado de revezar espaço

suficiente para os produtores desenvolver pelo mesmo as duas atividades centrais do

assentamento; alguns moradores cedem uma atividade produtiva para outro morador

fazer o trabalho por ele, e dividem a produção.

Esse simples gesto que poderiam ser visto como cooperativismo repercute na

dinâmica econômica familiar, uma vez que indicadores econômicos apontam que as

unidades familiares têm uma linha de dependência do mercado superior a sua renda

bruta, e o autoconsumo dessas famílias não tem grande impacto na alimentação básica,

pois, não são produtores de lavoura branca, hortaliças, frutas e verduras. Por

consequência os bens de consumos comprados no mercado correspondem a R$ 959,43 a

margem bruta familiar é negativa R$ -5,30. A elucidação para o sustento total familiar

só é plausível por causa das transferências de renda (bolsa família), trabalho assalariado

e aposentadoria dos membros das famílias. Veja na figura a seguir:

Page 71: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

70

Figura 9: Indicadores Econômicos por Unidade de Produção Familiar do PDS

Bonal, 2012.

Indicadores Econômicos Unidade Valor

RB - Renda Bruta R$/mês 413,21

RBT- Renda Bruta Total R$/mês 887,55

LDM - Linha de Dependência do Mercado R$/mês 959,43

AC – Autoconsumo R$/mês 104,38

Obs.: Resultados medianos por UPF

Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)

Os valores evidenciados na tabela acima representam a fragilidade econômica

dos moradores; eles ainda não compreenderam que a reprodução familiar necessita de

mecanismo intrínseco, é que a agricultura de subsistência é fundamental para a

produção familiar, além das outras atividades inseparáveis para o PDS, que corresponde

ao manejo sustentável da pupunha, a industrialização do palmito (agregação de valor ao

produto) e ainda o extrativismo.

Efetivamente a pupunha não representa a principal atividade geradora dos

assentados, ela aparece apenas na quarta posição, mesmo com a agroindústria presente

no assentamento. No entanto, a presença da fábrica tem grande contribuição na vida dos

assentados, pois enquanto funcionou sempre inseriu a comunidade em atividades

produtivas com renumeração salarial.

A borracha configura-se como atividade principal representando 64, 50% na

renda bruta do PDS, somando com a castanha e a criação de porcos corresponde a 80%

da renda bruta familiar. Seguido pela produção de frutas banana comprida, açaí, banana

curta e etc.

O autoconsumo baixo pode ser explicado por questões de organização,

dificuldades de produzir sem qualificação necessária, por condições naturais

características do assentamento. A figura abaixo representa o autoconsumo familiar por

unidade.

Page 72: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

71

Figura 10: Renda mensal por Unidade de Produção Familiar do PDS Bonal, 2012.

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.

.

A dimensão Ação Coletiva Prévia corresponde às seguintes características: grau

de ação coletiva, tipo de atividades realizadas coletivamente e iniciativas para cooperar

e participar de ações coletivas, objetivando que o coletivismo associado a práticas

cooperativas é de suma relevância para que a comunidade conquiste índices melhores de

desenvolvimento. Na medida em que a comunidade tem entrosamento para desenvolver

ações em conjuntos, possui um poder maior.

As categorias avaliadas nessa dimensão são entendidas como: interação entre a

comunidade e líderes políticos na solicitação de ações de desenvolvimento e formas de

decisão relacionada com os projetos de desenvolvimento locais.

Para tanto, o PDS Bonal apresenta-se como um percentual nulo, não teve

resultados satisfatórios para nenhuma das categorias analisadas. Como justificativa para

este resultado, verificou-se que a comunidade não apresenta iniciativa para desenvolver

atividades em grupo, exceto quando surge a necessidade de alguns assentados

trabalharem em parceria, isso acontece quando um trabalhador assume a

responsabilidade de desenvolver as atividades relacionadas à produção no lote de outro

assentado, dividindo a produção ao meio com o dono. Verificou-se que as agrovilas que

mais participam de atividades coletivas são Retiro e Pista. No entanto, apenas 20% da

comunidade têm disposição para cooperar em uma atividade de cunho coletivo.

Quanto à participação de políticos e gestores para a tomada de decisões e

mobilização de ações com o intuito de garantir o desenvolvimento local, os moradores

relataram que é raro; normalmente quando acontece reunião dessa natureza é apenas

2,17%

1,18%

1,37%

1,57%

3,46%

4,40%

5,02%

5,34%

10,99% 64,50%

Outros

CRIAÇÃO DE AVES/Ovos

PUPUNHA FRUTO

BANANA CURTA

AÇAÍ

BANANA COMPRIDA

PUPUNHA PALMITO

CRIAÇÃO DE PORCOS

CASTANHA

BORRACHA

Page 73: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

72

para a comunicação de regras já estabelecidas de convívio coletivo. Os habitantes

consideram que a opinião individual e coletiva não é respeitada, além da falta de

engajamento, o que reduz consideravelmente a existência de capital social.·.

A dimensão Capital Social Cognitivo é compreendida por processos mentais

reforçados pela cultura e ideologia de um grupo, especificamente definidos por normas

sociais, valores, atitudes e crenças, que por sua vez se encaminham para o

comportamento coletivo.

Verifica-se que as categorias “apoio” e “solidariedade” obtiveram um maior

índice de positividade ao capital social, pois 90% dos entrevistados relataram que à

medida que acionados a desenvolver uma atividade relacionada à solidariedade e apoio

a algum membro da comunidade que necessite de ajuda, estão dispostos a ajudarem.

A comunidade não tem confiança na própria comunidade, pois apenas 20 % dos

entrevistados asseguram que não teriam dificuldades em realizar uma transação

comercial ou de outra natureza com os membros, relatando ainda que fossem poucas as

pessoas que venderiam para pagar posteriormente, permutaria mercadorias e mesmo

emprestariam dinheiro.

O nível de individualismo corresponde a 85 %, uma porcentagem alta quando se

relaciona características de uma comunidade que primeiramente foi formado o sistema

coletivo para o gerenciando dos recursos naturais. Sem dúvidas, a falta de espírito

coletivo é um dos grandes vilões dos problemas existentes na comunidade. A

mobilização em redes é o caminho de sucesso para uma comunidade que apresenta

possibilidade de capital social.

O Perfil Organizacional refere-se à vitalidade de redes comunitárias e da

sociedade civil, que deriva num ambiente institucional, legal e político. Com o intuito

de acessar as características internas das organizações locais e específicas e delinear o

relacionamento e as redes com que elas têm outras ligações.

Como citado acima no quadro 02, o líder não foi mencionado durante a

realização da pesquisa, esse fato não pode ser considerado com uma variável isolado.

Nessa dimensão a participação efetiva de lideranças outorgaria uma organização

estrutural do ambiente comunitário, que consequentemente induziria mudanças

significativas para a comunidade, além de garantir capacidade de gestão para os outros

membros.

Deste modo, toda estrutura organizacional permanece comprometida, os

moradores não acreditam na transparência das instituições nem nas formas dos

Page 74: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

73

procedimentos de resoluções dos conflitos. No entanto, garantem que a maioria das

organizações presentes no PDS não cumprem com o seu papel dificultando assim a

existência de capital social.

Com a soma dos resultados analisados, a comunidade apresentou mais resultados

de ineficiência de capital social, pois 20 itens demonstraram que a comunidade precisa

de uma reestruturação das bases econômicas, assim com a organização social. Que pode

ser mobilizado por energias da sociedade, explorando suas potencialidades, além de sua

articulação e integração com o setor público, que será fundamental para o

desenvolvimento local.

Também é possível identificar a situação de pobreza gráfico 2 que mostra a

situação atual das famílias do PDS Bonal que estão em um cenário de indigência e

miséria, tomando como referência o salário mínimo que no período da pesquisa (2012)

estava em R$ 622,00.

Destaca-se, ainda o nível de vida das famílias do PDS Bonal por estrato, nível de

vida (NV) é o valor total apropriado pelo produtor familiar. Contudo, esse indicador é o

mais adequado para mensurar a condição das famílias rurais relacionando com salário

mínimo.

Gráfico 2: Linha de Pobreza e Miséria, com base no salário mínimo (SM) oficial,

entre as famílias do PDS Bonal, Senador Guiomard – Acre - por estrato no período

de 2011/2012. (Valores em R$)

0,00 50,00

100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 350,00 400,00 450,00 500,00 550,00 600,00 650,00 700,00

Nivel de Vida C1

D E

Salário Mínimo (R$ 622,00) Linha de Pobreza (R$ 311,00)

Linha de Miséria (R$ 155,50)

Linha de Pobreza

Linha de Miséria

Page 75: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

74

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.

C1= 1/2 SM/mês < NV < 1 SM/mês;

D= 1/2 SM/mês < NV < 1/4 SM/mês;

E= NV < 1/4 SM/mês

O gráfico 2 representa uma disparidade entre as famílias, umas com renda e

outras sem renda, o C1 quantifica os ganhos da famílias que representa valores maiores

que ½ salário mínimo (R$ 311,00), o que corresponde há 30% da população, contudo

15% das famílias são representados pela letra D, que possuem o nível de vida maior que

¼ do salário mínimo com o valor em menor que R$ 311,00. Dessa forma é possível

observar que as famílias pobres sobrevivem com apenas com as transferências de renda,

nesse caso em especial verifica-se que é o Bolsa Família (Programa do Governo Federal

de transferência de renda direta que beneficia famílias em situação de pobreza externa).

Enquanto o indicador representado pela letra E, corresponde à quantidade de

famílias que estão abaixo da linha da pobreza, essas famílias possuem uma renda em

torno de R$ 155,50. Esta população está caracterizada em uma situação de

vulnerabilidade, pois, a renda auferida é insuficiente para atender as necessidades

básicas das famílias, tomando com parâmetro o salário mínimo que corresponde a R$

622,00(valor do ano de 2011) verifica que essa parcela da população está vivendo com

apenas 24,11% do valor mínimo previsto para a sobrevivência básica de uma família de

04 pessoas.

Desta forma 55% das famílias assentadas no PDS Bonal estão na linha da

miséria. Nesse sentido fica evidente que somente a transferência de renda não é a

solução para acabar com a fome, a transferência de renda Bolsa Família ameniza a

situação, entretanto a produção de alimentos na zona rural tem o principal papel para

eliminar a pobreza e a miséria rural.

O gráfico 3 apresenta indicadores econômicos das famílias assentadas no PDS

Bonal, com relação ao assalariamento com a Margem Bruta Familiar (MBF),

transferências governamentais, neste caso o autoconsumo e o bolsa família,

respectivamente. Na linha horizontal verifica o volume de bens comprado no mercado

pelo (VBCC) e também os gastos das famílias somente com alimentos

(VBCC/Alimentos).

Page 76: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

75

Gráfico 3 - Linha de Pobreza e Miséria, com base no valor dos bens de consumo

comprados no mercado (VBCC), entre as famílias do PDS Bonal, Senador

Guiomard – Acre - por estrato no período de 2011/2012. (Valores em R$)

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.

No gráfico 3 verifica-se que a margem bruta familiar não aparece com

frequência, evidenciando a razão pela qual as famílias não produzir excedentes

monetários para a aquisição de bens no mercado, teoricamente essas famílias estão

isentas ao acesso de vestuários, insumos e atividade recreativas e etc. Situação que pode

ser explicada pelo fato das famílias não possui uma produção eficiente por esse motivo

estão totalmente dependente do mercado, com isso, a renda bruta familiar é abatida

pelos custos total da produção, consequentemente em dados momentos não provê os

gastos gerando uma renda familiar negativa. A pesquisa ainda identificou que 80% das

famílias trabalham fora da unidade de produção, descaracterizando o agricultor familiar,

que tem a terra o meio de tirar seu sustento.

O perfil das famílias assentadas no PDS Bonal enquadra-se nos níveis elevados

índices de trabalho familiar com capitalização e índices de assalariamento

desfavoráveis, descaracterizando a produção familiar. De acordo com o gráfico 4,

apenas 5% das Unidade de Produção Familiar (UPFs) são caracterizadas como efetiva

produção familiar rural. Não obstante, o trabalho realizado pelos próprios produtores é

fortemente comprimido pelo índice elevado de assalariamento proporcionado pela

-200 -100

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800

Assalariamento Autoconsumo

MBF Bolsa Família

VBCC R$ 751,84 VBCC/Alimento R$ 401,36

Page 77: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

76

evasão da mão-de-obra interna que busca renda fora da unidade produtiva,

caracterizando 30% das UPFs do PDS Bonal como produtores semi-assalariados.

O gráfico 4 apresenta ainda outro fator que descaracteriza o procedimento de

produção familiar é o índice alto de capitalização (IK) que indica uma produção

intensiva em capital, isso que dizer que os produtores consomem mais com capital fixo

e circulante do que com mão-de-obra, e, até mesmo os gastos com capital são realizados

com renda oriunda do trabalho externo, resultado dos elevados índices de

assalariamento (IA). Além disso, a forma de produção semi-assalariada torna-se mais

intensiva em capital, representando 55% da unidade produtiva.

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.

4.5 Capital Social do PDS Bonal: Qual o Nível de Maturidade?

A proposta do desenvolvimento local sustentável evidenciada pelo formato de

assentamento PDS pode ser entendido por meio de investimentos e aproveitamentos das

potencialidades e a diversidade de cada localidade, onde os atores sociais exercem um

papel fundamental para a promoção do desenvolvimento local. Em função disso, o

capital social representa uma variável significativa para que os indivíduos cooperem

num processo de construção do desenvolvimento.

A realização da pesquisa permitiu a identificação das influências do capital

social e os estágios de maturidade, no entanto a comunidade apresentou requisitos que

validam o estágio como iniciante, já que os parâmetros utilizados para a medição

apresentam a fragilidade de ações em redes.

A hipótese levantada foi aceita, evidenciando que o desenvolvimento local

necessita do amadurecimento da comunidade. A implantação por decreto, do modo

5%

30%

55%

10% Pequeno produtor familiar

Produtor semi-assalariado

Semi-assalariado intensivo

em capital

Outras categorias

Gráfico 4. Perfil dos produtores do PDS Bonal, período 2012

Page 78: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

77

estabelecido no PDS, não foi o suficiente; os fatores internos como individualismo,

confiança, solidariedade e consciência ambiental aparecem como empecilho para a

existência do capital social.

Os argumentos levantados por modelos convencionais sobre o uso dos recursos

comum de mostram que os indivíduos que se deparam com a necessidade de gerenciar

recursos dessa maneira, estão expostos a uma visão comum, e os casos de sucesso do

gerenciamento acontece de maneira inversa à tragédia dos comuns, teoria apresentada

no referencial teórico.

A cooperação entre os indivíduos no sistema coletivo não apresentou resultados

satisfatórios, tendo em vista que a forma de sistema implantada no PDS, não foi o

suficiente para que os moradores, mesmo que ao longo do tempo, desenvolvem a

capacidade de se articularem em redes.

Na verdade é possível identificar uma série de motivos que apontam que a

comunidade não estava preparada para o modo de vida da forma coletiva, até hoje a

estrutura organizacional do assentamento onde as agrovilas foram estruturadas longe

dos lotes(de tal forma que é preciso o morador se deslocar até o lote todos os dias para

trabalhar na sua produção) é motivo para críticas e insatisfações dos assentados.

Além disso, as primeiras regras de convívio, que tinham que ser respeitadas

pelos moradores, vão de encontro com a lógica da agricultura familiar. A proibição da

criação de animais domésticos, como por exemplo, galinhas somavam como pontos

negativos para a adaptação das famílias ao assentamento e influenciava ainda mais a

dependência do mercado.

Vale lembrar que os moradores ainda estavam em processo de adaptação ao

novo sistema (coletivo), a transição de morador de uma empresa para um morador de

um projeto de assentamento coletivo levando em consideração que a maioria dessas

pessoas deriva de centros urbanos e não tinha conhecimento das articulações e redes e

tampouco na gestão do uso comum dos recursos naturais.

E assim articulavam entre cada um morador o desejo de marcar seu “território”,

delimitando sua propriedade com uma cerca ou murro. Uma vez que esse desejo pode

ser explicado pelo perfil dos assentados, que em sua maioria vieram de periferias da

capital ou de outras cidades do interior do Estado.

Contudo, essa é uma discussão que está na fase inicial na comunidade, sendo

levantadas aqui questões para a reflexão, não compete dizer que a comunidade

Page 79: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

78

encontra-se longe de atingir o nível máximo dos estágios; compete apenas dizer que se

guiado pelo caminho da cooperação e trabalho em redes, o PDS Bonal dará oprimeiro

passo em direção ao desenvolvimento do capital social, faltando ainda ampliara

conscientização das atividades em rede, pelo menos no que diz respeito à comunidade,

não obstante, a atuação mais efetiva do Estado e o planejamento, visando o futuro

melhor para todos com a garantia da preservação dos recursos naturais e diminuição da

pobreza.

Page 80: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

79

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agricultura familiar sempre esteve relegada ao segundo plano nos projetos de

desenvolvimento brasileiro, no entanto, a partir da década de 1990, as pesquisas sobre o

tema aumentaram, contribuindo para o debate sobre as problemáticas, consensualmente

as pesquisas concordam entre si, no que tange a importância da produção de alimentos

básicos e à preservação dos recursos naturais.

O fortalecimento desse setor pode amortecer as desigualdades sociais, diminui

violência nos centros urbanos, resultado da saída da população rural para as cidades por

falta de condições de sobrevivência.

Pensando na importância da valorização dos recursos naturais presentes nos

assentamentos e na forma como os agricultores familiares conduzem suas produções e

as formas apresentadas como modelo de desenvolvimento sustentável como efeito da

organização desses produtores em redes com intuito de garantir resultados mais

eficientes em sua produção e melhorar a vida no campo.

O capital social, por sua vez, representa as normas de relacionamentos e valores

e os relacionamentos partilhados com membros e instituições que garantem a

cooperação dentro dos grupos sociais. Assim, se faz necessário a interação entre, pelo

menos dois membros, enfocando a estrutura de redes por trás do conceito, que passa a

ser definido como um recurso da comunidade construído pelas suas redes de relações.

A implicação da construção de redes sociais e a coerente aquisição de capital

social estão condicionadas por fatores sociais, políticos e culturais. Entender a

construção pode levar à sua utilização dos recursos em favor do desenvolvimento.

Vale lembrar que as comunidades que não desenvolveram o amadurecimento do

capital social estão sujeitas a máxima afirmada por Hardin que afirma que as

comunidades que utilizam a propriedade comum dos recursos naturais são conduzidas

extinção dos recursos, transformando o ambiente comum insustentável, já que o

resultado da destruição não afetaria só o equilíbrio dos ecossistemas, mas também a

economia.

As variações na configuração dos direitos de propriedade comum são

comprovados pela formação cultura de cada membro, observando que as regras

impostas de cima pra baixo não alteram a consciência ambiental nem o modo de vida

comunitário; os usurários que não têm bem definido as condições necessárias para

Page 81: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

80

cooperar com o manejo competente dos recursos naturais,acabam tomando decisões

irracionais que visam apenas os benefícios à curto prazo, consequentemente a escolha

individual leva à destruição total dos recursos.

Atribuindo a ideia de gestão coletiva de bens comuns, configura-se na

responsabilidade social que deve ser compartilhada com todos os atores sociais, e a

reprodução social busca a parcimônia do uso racional dos recursos. A reprodução

familiar nasce da mudança dos paradigmas de modernização da agricultura familiar,

como principal argumento para a geração de renda e desenvolvimento comunitário,

buscando uma nova estrutura no meio rural. Contudo o ajustamento da cada

comunidade reflete a realidade e o grau de amadurecimento em que se encontram as

famílias rurais.

Mesmo com todos os problemas comuns dos assentamentos, ainda é uma forma

de distribuição de terras é um modo eficaz contra a pobreza. Consolidando a justiça e a

efetividade da reforma agrária, mas o sustentáculo é a questão da sobrevivência

econômica nas unidades de produção familiar rural, que pode ser combinado com a

geração sustentável de renda, que necessita de acesso, mercado, créditos, educação,

informação e tecnologia.

Os moradores fortalecidos em entidades, tornam-se mais fortes para enfrentar os

problemas, com os custos financeiros e organizacionais estabelecidos pelo contexto

econômico do mundo globalizado, além de garantir a mobilização política para adquirir

outros benefícios. Mesmo defendendo a potencialidade do capital social para o

desenvolvimento das comunidades de agricultura familiar, é necessário entender que o

conceito capital social não pode ser apresentado com a salvação de todos os problemas.

Inegavelmente, existe a possibilidade do conceito como potencializador do

desenvolvimento, não esquecendo que ainda existe um grande vazio que precisa ser

preenchidos por políticas públicas.

Além disso, a renda do morador assentando ainda sofre com as decorrências

financeiras ocasionadas por uma série de fatores, que poderiam ser amenizados como

trabalhado em conjunto, ou seja, hoje no PDS os produtores granjeiam ao mês a renda

bruta de R$413, 21 decorrente de todo o trabalho do seu lote. Esse produtor, por sua

vez, não desenvolveu uma produção de autoconsumo, em médiaR$104,00, que

corresponde aos produtos que são produzidos no lote e consumidos pela família,

incluído frutas, verduras, lavoura branca, café etc.

Page 82: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

81

Evidenciando a fragilidade dessas pessoas com relacionamento rural, uma vez

que a dependência do mercado chega a R$959,43comprovandoa imaturidade da gestão

coletiva e ineficiência da produção. Vale ressaltar a existência de transferência de renda

das políticas públicas, o bolsa família, aposentadoria e ainda trabalho assalariado.

Os indicadores econômicos exercem um papel fundamental nesse contexto, é

relação direta entre os assentados e o assentamento. A vida econômica pode garantir a

permanência no local, ou simplesmente afora o desejo de mudança para outra

localidade, retrato bem comum nos assentamentos brasileiros, onde os produtores não

fixam no local assentado por inúmeros motivos, que podem ser explicados em linhas

gerais pela renda familiar ou pela falta de habilidade com a terra.

A pesquisa, por sua vez, permitiu a identificação das influências do capital social

na execução de ações e políticas voltadas para a promoção do desenvolvimento local

sustentável. A experiência bem sucedida na implantação de projetos e ações do

desenvolvimento local se configura na existência de agrupamentos humanos que o

capital social é capaz de promover com o dinamismo econômico e a melhoria da

qualidade de vida para a população.

No caso do PDS Bonal, percebe-se que a comunidade necessita de uma

reestruturação das bases econômicas, assim como na organização social. Isto só é

alcançado por meio de mobilização das energias da comunidade, explorando suas

potencialidades e capacidades, além da sua interação e articulação com o setor público,

que como expressão da vontade dos atores sociais pode aumentar sua importância no

desenvolvimento.

Logo, pode-se dizer que quanto menor o capital social e a cultura da

comunidade, menor será o desenvolvimento da região: A recíproca é igualmente

verdadeira: quando ocorre o inverso maior de capital social, maior é o desenvolvimento

local.

Fica comprovado o explicitado no referencial teórico do trabalhado, no qual os

autores referenciados apontam que a superação da pobreza e as desigualdades, só serão

alcançadas mediante a maior consolidação da democracia mais efetiva e articulada entre

Estado, mercado e sociedade. Os autores sociais são responsáveis pela construção

conjunta da participação individual.

Vale ressaltar que os resultados alcançados com a pesquisa representam uma

visão na qual continua em processo de discussão dos procedimentos metodológicos

Page 83: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

82

utilizados para avaliar o capital social, assim como a fidedignidade dos resultados

obtidos.

Considerando-se que a questão capital social redunda em um amplo campo de

pesquisa, o qual envolve múltiplos tipos de conceitos, variáveis, modelos e abordagens,

em que se avaliam infinitas possibilidades de interações e relações sociais, responsáveis

pela criação e consolidação do capital social.

Page 84: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

83

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Ricardo. Agricultura familiar e uso do solo. In: São Paulo em Perspectiva,

v.11, n.02, p.73-78, abril/jun.

ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territórios – repensando o desenvolvimento rural.

In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL “REFORMA AGRÁRIA E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL, 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza: MDA/Nead, 1998.

ADHIKARI, Bhim (2001). “Property Rights and Natural Resources: Impact of Common

Property Institutions on Community-Based Resource Management”. ThirdAnnualDevelopment

Network Conference.Rio de Janeiro, Brasil.

ALENCAR, A. et. al. O desenvolvimento que queremos: ordenamento territorial da BR-163,

Baixo Amazonas, Transamazônica e Xingu.Meeting report. 29-31 mar., (IPAM,ISA, FVPP,

Fetagri BAM, FORMAD, FVPP, CEFTBAM, Forum BR-163, GTA),Santarém, PA, 2004ª.

ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

2002.

ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à ideia de desenvolvimento (rural) sustentável. In:

ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. (Orgs.). Reconstruindo

a agricultura: idéias e ideais na perspectiva de um desenvolvimento rural sustentável. Porto

Alegre: Editora da UFRGS, 1997, p.33-55.

ANDRADE, C. M. S.; VALENTIM, J. F. Soluções tecnológicaspara a síndrome da morte do

capim-marandu. In: BARBOSA, R.A. (Ed.). Morte de pastos de braquiárias. Campo

Grande:Embrapa Gado de Corte, 2006.

ANJOS, Flávio Sacco dos; CALDAS, Nádia Velleda. A Reforma agrária na contramão: a

controvertida experiência do Banco da Terra. In: XLI Congresso Brasileiro de Economia e

Sociologia Rural. Juiz de Fora, 27 a 30 de julho de 2003, Anais..., CD-Rom.

ANTUNIASSI, Maria Helena Rocha; AUBRÉE, Maria; CHONCHOL, Maria Edy Ferreira de.

De sitiante a assentado: trajetórias e estratégias de famílias rurais. In: SãoPaulo em Perspectiva.

v. 7, n. 3, p. 125-132, jul./set., 1993.

ARAÚJO, Flávia Camargo de. Reforma Agrária e Gestão Ambiental: Encontros e

Desencontros. 2006. 242f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) - Centro de

Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

ARENDT, Hannah. Da Revolução. Editora UnB/ Editora Ática. Brasília/ São Paulo, 1988

BAIALOSRKI NETO, S. Estratégias e cooperativas agropecuárias: um ensaio analítico. In:

Seminário e Agronegócios da UFV. Viçosa, 2002.

BELLEN, H.M.V. Desenvolvimento Sustentável: uma descrição das ferramentas de avaliação.

Ambiente e Sociedade, Campinas, v.7, p. 67- 68, jun. 2004.

BERGAMASCO, Sonia Maria Pessoa; NORDER, Luís AntonioCabello. O que são

assentamentos rurais? São Paulo: Brasiliense, 1996.

BIALOSKORSKI NETO, S. Cooperative development: changes in brazilian social economy

and institutional environment. Reviewof Internacional Cooperation, v. 94, p. 59-65, 2001

Page 85: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

84

BOISER, Sergio. Post-scriptum sobre desenvolvimento regional: modelos reais e modelos

mentais. Planejamento e políticas públicas, n° 19, p. 307-343, jun 1999.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Boas práticas dos territórios rurais. Brasília:

MDA, 2010. 146p.

BRITO, Daniel Chaves de. A modernização de superfície: Estado e desenvolvimento na

Amazônia. Belém: UFPA/NAEA, 2001.

CAPORAL, F.R; COSTABEBER,J.A . Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável:

perspectivas para uma nova extensão rural. In: ETGES, V.E. (Org.) Desenvolvimento Rural:

potencialidades em questão. Santa Cruz doSul: EDUNISC, 2001ª, p.19 -52.

CARMO, Lúcio Flávio Zancanela do. Agricultura urbana na cidade de Rio Branco, Acre:

caracterização, espacialização e subsídios ao planejamento urbano. Viçosa: Programa de Pós-

Graduação em Solos e Nutrição de Plantas, 2006. (Dissertação de mestrado

CARMO, M.S.; SALLES, J.T.A. Sistemas familiares de produção agrícola e o desenvolvimento

sustentado. In ׃ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMAS DE

PRODUCÁO, 1999, Florianópolis. Anais. Disponivel em׃ <http://

gipaf.cnptia.embrapa.br/itens/publ/sbs3/html>

CARVALHO Fº, José Juliano de. Política Agrária do Governo FHC: desenvolvimento rural e a

Nova Reforma Agrária. In: LEITE, Sergio (Org.). Políticas Públicas e Agricultura no Brasil,

Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2001.

CAVALCANTE, Euzébio 2010 apud FERREIRA ( 2010, P. 24).

CHÉVEZ, M. L. Z. Capital Social e desenvolvimento local: alguns apontamentos teóricos. In:

Congresso Brasileiro deAdministraçãoRural, 4, 2001. Anais eletrônicos.Goiânia: ABAR, 2001.

Disponível em:http://www.dae.ufla.br/Biblioteca/4CongABAR Acesso em: 18 ago. 2003

CMMAD. Nosso Futuro Comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas,

1991. 430 p.

COELHO, V. S. P.; NOBRE, C. (Org.). 2004. Participação e Deliberação. Teoria Democrática e

Experiências Institucionais no Brasil Contemporâneo. São Paulo, SP: Editora 34.

COLENAM, S.J. Foundations of social theory.CambrigdgeHavard University Press.1990.

CORAZZA, Gentil; MARTINELLI JUNIOR, Orlando. Agricultura e questão agrária na história

do pensamento econômico. In: Teorias da Evidência Econômica, Passo Fundo, v.10, n.19, p.09-

36, novembro de 2002

COSTA FILHO, Orlando Sabino da. Reserva Extrativista - Desenvolvimento Sustentável e

Qualidade de Vida. 1995. 156 p. Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal

de Minas Gerais, 1995.

CUNHA, Manuel A. Ferreira da. História da Ciência e Tecnologia no Centro de Filosofia e

Ciências Humanas da UFPA. In: Anais do Simpósio sobre História da Ciência e da Tecnologia

no Pará (Tomo I). Belém: UFPA, 1985, pp. 229-249.

DEAN, Warren. A luta pela borracha no Brasil: um estudo de história ecológica. São Paulo:

NOBEL, 1989. 286 p.

Page 86: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

85

DENARDI, Reni Antônio. Agricultura familiar e políticas públicas: alguns dilemas e desafios

para o desenvolvimento rural sustentável. In: Agroecologia e Desenvolvimento Rural

Sustentável, Porto Alegre, v.2, n.3, jul./set. de 2001

DIEGUES, A. C. (Org.) Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza

nostrópicos. São Paulo: Hucitec, 2001.

DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. (org.) Saberes tradicionais e biodiversidade no

Brasil,Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001

DUARTE, Élio Garcia. Conflitos pela Terra no Acre: A Resistência dos Seringueiros de Xapuri.

Rio Branco/Ac: Casa da Amazônia, 1987

EVANS, P. Government Action, Social Capital and Development: reviewing the evidence on

synergy”. In: State-Society Synergy: Government and Social Capital in Development. Evans,

P. (Ed.). Number 94. Berkeley: University of California at Berkeley. 1997.

Experiência de Pintadas (Bahia, Brasil). Organização & Sociedade, EAUFBA, v. 11, Edição

Especial, Salvador, 2004.

FEARNSIDE, P.M. 1993a. Deforestation in Brazilian Amazonia: theeffect of population and

land tenure. Ambio 22: 537-545

FERNANDES, Bernardo Mançano. A questão da Reforma Agrária no Limiar do século XXI.

In: 15º Encontro Nacional de Geografia Agrária. Goiânia, 02 a 05 de dezembro. Anais...; CD-

Rom.

FERREIRA, Brancolina; SILVEIRA, Fernando Gaiger. A reforma agrária e o Pronaf nos anos

FHC (1995-2002). In: XLI Congresso Brasileiro de Economia e

FLEURY, Afonso Carlos; VARGAS, Nilton. Organização do Trabalho. São Paulo: Atlas, 1983.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo, 1977.

GEORGE, Pierre. Geografia Agrícola do Mundo. São Paulo: DIFEL, 1975.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GUANZIROLI, Carlos E. et al. Agricultura familiar e reforma agrária no século XXI. Rio de

janeiro: Garamond, 2001.

GURGEL, V.A. A sustentabilidade rural e agrícola: o caso do Programa de Agricultura

Orgânica Irrigada da Comunidade da Ilha do Ferro, município do Pão de Açúcar – Estado de

Alagoas. 2001. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Universidade

Federal de Alagoas. Maceió, 2001.

HARDIN, Garrett. (1968). “The Tragedy of the Commons”.Science, 162.pp.1243-1248.

HIGGINS, S.S. Fundamentos teóricos do capital social. Chapecó: Argos, 2006.

HOMMA, Alfredo KingoOyama, A Dinâmica do Extrativismo Vegetal na Amazônia, Belém,

CPATU/EMBRAP, 1990.

HUME, Davi ( 1740), livro 3, parte 2, seção 5) apud PUTNAM ( 1996, P.173).

IAMOMOTO, A.T. Agroecologia e desenvolvimento rural. 2005.p.79. Dissertação (Mestrado

em Recursos Naturais). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, SP, 2005.

Page 87: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

86

IBGE. Censo demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro:,

2002. CD-ROM.

INCRA, Implantação e estruturação da nova agroindústria de beneficiamento de palmito de

pupunha no PDS Bonal, 2010.

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA. Pesquisa

confirma que reforma agrária é um instrumento de combate à pobreza.Jornal. Publicação

Especial do INCRA, ano 1, no. 2. Dezembro, 2010.

Jornal. Publicação Especial do INCRA, ano 1, no. 2. Dezembro, 2010 (a)

KAGEYAMA, A. Os rurais e os agrícolas de São Paulo no Censo de 2000. Cadernos de Ciência

e Tecnologia, Brasília, DF, v. 20, n. 3, p. 413-451, set./dez. 2003.

KAMIYAMA, Araci. São Paulo. Secretária do Meio Ambiente/ Coordenadoria de

Biodiversidade e Recursos Naturais. Agricultura sustentável (Cadernos de educação

ambiental). 2011, 76 p.

LAMARCHE, H. A agricultura familiar: uma realidade multiforme. Campinas: Editora da

Unicamp, 1993. A analise da empresa familiar agrícola ou industrial. In: Association dês

Ruralistes Français. Paris, 1994.

LIMA, Mário José de. Capitalismo e Extrativismo: a formação da Região Acreana. Campinas:

IE/UNICAMP, 1994. 336 p. (Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da

Universidade Estadual de Campinas)

LOUREIRO, Violeta R. Amazônia: estado, homem e natureza. Belém: Cejup, 1992.

MACIEL, R. C. G. Certificação Ambiental: uma estratégia para a conservação da floresta

amazônica. Campinas: [s.n.], 2007. 175 p. (Tese de Doutorado – Economia Aplicada,

IE/UNICAMP).Disponível em:<http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000417323>.

Acesso em 05/06/2011.

MACIEL, R. C. G; SALES, G. de O; COSTA, J, A da. Pagando pelos serviços ambientais -

uma proposta para a Reserva Extrativista Chico Mendes. In: Congresso Brasileiro de

Economia, Administração e Sociologia Rural, XLVI, 2008, Rio Branco – Acre,. Anais… Rio

Branco: SOBER, 2008.

MACKE, J. Programas de Responsabilidade Social Corporativa e capital Social: contribuição

para o desenvolvimento local? 2006. 307 f. Tese (doutorado em Administração)–Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.

MAHAR, D. J. Government Policies and deforestation in Brazil’sAmazon Region. The

International Bank for reconstruction and Development/The World Bank: Washington. 1989

MARGULIS, S. “Quem são os agentes dos desmatamentos na Amazônia e por que

elesdesmatam?” Word Bank internal paper.

2002.http://www.obancomundial.org/index.php/content/view_folder/87.html]

MARTINELLO, Pedro. A “batalha da borracha” na segunda guerra mundial. Rio Branco:

EDUFAC, 2004.

MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

(Coleção temas de atualidade)

Page 88: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

87

MEADOWS,MEADOWS, D.L, RANDERS, J., BEAHRENS, W.W., The Limits to Growth.

Nova Iorque: Universe, 1972.

MILANI, Carlos. Teorias do capital social e desenvolvimento local: lições a partir da

MILONE, Paulo César. Crescimento e desenvolvimento econômico: teorias e evidências

empíricas. In:MONTORO FILHO, André Franco et al. Manual de economia. São Paulo:

Saraiva, 1998.

NASCIMENTO SOARES, J. L. A organização territorial de assentamentos rurais para atender a

legislação ambiental na Amazônia. campo-Território: revista de geografia agrária, Uberlândia,

v. 3, n. 6, p. 143-155, 2008.

NAVARRO, Z. Desenvolvimento Rural no Brasil: os limites do passado e os caminhos do

futuro. Estudos avançados, São Paulo: USP, Instituto de Estudos avançados, n.43, dez, 2001.

OLIVEIRA FILHO, Luiz Carlos de. Considerações sobre o Potencial Florestal do Estado do

Acre. Belém, IBGE, 2005. No prelo

OLIVEIRA, Luiz Antonio Pinto de. O sertanejo, o brabo e o posseiro: os cem anos de andanças

da população acreana. Rio Branco: FDRHCD, 1985.

OSTROM, Elinor (2000). El Gobierno de losBienesComunes: La Evolucion de lasInstituciones

de AcciónColectiva. Mexico City: Universidad Nacional Autónoma de MéxicoPesquisa

confirma que reforma agrária é um instrumento de combate à pobreza.

PATERNIANI, E. Agricultura Sustentável nos Trópicos. Estudos Avançados. Universidade

de São Paulo. Instituto de Estudos Avançados, v. 15, nº 43: 143, set./dez., São Paulo, 2001, p.

303-326

PAULA, E. A. de. Seringueiros e sindicatos: um povo da floresta em busca de liberdade.

Dissertação (Mestrado). Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA, 1991.

______. (Des)Envolvimento Insustentável na Amazônia Ocidental: dos missionários do

progresso aos mercadores da natureza. Rio Branco, Edufac, 2005.

______. A conquista da floresta nas terras do Acre. In MEDEIROS & LEITE (Org) A

Formação dos Assentamentos Rurais no Brasil. Ed. Universidade/UFRGS/CPDA, 1999

PAULA, João Antonio de. Notas sobre a economia da borracha no Brasil. Estudos Econômicos,

São Paulo, v. abr. 1982.

PRESTTY and Hugh Warde, social the environmennte, University Esse Colchester, UK, 2001.

PUTNAM, Robert. D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de

Janeiro: FGV, 2000.

RECH, Daniel. Cooperativas: uma alternativa de organização popular: Rio de Janeiro: DPeA

Editora, 2000. 190p.

REGO, J. F do et al. Análise Econômica de Sistemas de Produção Familiar no Vale do Acre.

Rio Branco: UFAC/Dep. de Economia, 1996 (mimeo).

ROMEIRO, A.R., Meio ambiente e dinâmica de inovação na Agricultura. São Paulo:

Annablume/ FAPESP, 1998.

Page 89: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

88

SANDEFUR, Rebecca L.; LAUMANN, EDWARD O. A Paradigm for social capital. In:

OCEPAR. Disponível em:<WWW.ocepar.org.br> acesso em 12 de janeiro 2012.

SANDRONI, Paulo. Novo dicionário de economia. 4º Ed. São Paulo: Best Seller, 1994.

SAUER, Sérgio e SOUZA, Marcos R. Movimentos sociais na luta pela terra: conflitos no

campo e disputas políticas. IN: Ferrante, V.L.B. e Whitaker, D.C.A. (org.) Reforma

SAYAGO, D.; Tourrand, J.-F.; Burztyn, M. Amazônia: cenas e cenários. Brasília: Universidade

de Brasília. pg. 17-28. 2004.

SCHNEIDER, S. Teoria social, agricultura familiar e pluritividade, Revista Brasil de Ciências

Sociais, São Paulo, v. 18, p.99- 121, 2003.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.

SERGIO Schneider. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Ed. da UFRGS,

2003, 254p.

SILVA, Adalberto Ferreira da. Ocupação Recente das Terras do Acre: Transferência de

Capitais e Disputa pela Terra. Rio Branco: FDRHCD, 1982.

SILVA, José Graziano da.Progresso Técnico e Relações de Trabalho na Agricultura. São Paulo:

Hucitec, 1981.

SILVA, Marcos Fernandes Golçalves da. Cooperação, Capital Social e Desempenho

Econômico: Um Estudo Analítico. Relatório NPP nº 40/2001. São Paulo: FGV-EAESP, 2001.

SILVA, Simione da. Resistência camponesa e desenvolvimento agrário na Amazônia – acreana

/ Silvio Simione da Silva – Preseidente Prudente ; [ s.n], 2004.

______. Das “microrregiões geográficas” as regionais de desenvolvimentos regionalizações das

terras acreanas e as possibilidades de novos rearranjos no principio do século XX I, 2003.

SINGERP., Economia Política do trabalho, Hucitec, 1977.

SOARES, J. L. N. A organização territorial de assentamentos rurais para atender a legislação

ambiental na Amazônia. Campo-território: revisa de Geografia Agrária, v. 3, p. 143-155, 2008.

SOARES, Jorge Luís Nascimento; ESPINDOLA, Carlos Roberto. Geotecnologias no

planejamento de assentamentos rurais: premissa para o Desenvolvimento Rural Sustentável,

Revista RURIS, v.2, n.2, UNICAMP, setembro de 2008. ISSN 1980-1998. Prelo. Sociologia

Rural. Juiz de Fora, 27 a 30 de julho de 2003, Anais..., CD-Rom.

SOUZA, Márcio. Breve história da Amazônia. 2. ed. São Paulo: Marco Zero, 1994

SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento/ Nali de Jesus de Souza.- 5.ed.-3 reimpr.- São

Paulo: Atlas, 2008.

STOCKINGER, Godofredo. Amazônia: a (re) evolução do capital. In: TDI (Teoria, Debate e

Informação). Revista da Associação Profissional dos Sociólogos do Pará, nº 6, Belém, dez.,

1986, pp. 75-81.

TOCANTINS, Leandro. Formação Histórica do Acre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

1979. V. 1. 429 p.

TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América: Sentimentos e Opiniões. São Paulo:

Editora Martins Fontes, 1998

Page 90: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

89

UPHOFF, Norman. El capital social y sucapacidad de reducción de la pobreza. In. ATRIA,

Raúl; SILES, Marcelo. Capital social e reducción de la pobreza em América Latina e el Caribe:

em busca de um nuevo paradigma. Santiago do Chile: CEPAL e Universidaddel Estado de

Michigan, 2003. p. 115-147.

VERÍSSIMO A., P. Barreto. M. Matos. R. Tarifa SC. Vhl. 192. Logging impacts and prospects

sustainable forestmanagement in an old Amazonian Frontier: The case of paragominas. Forest

Ecologyand Management.

WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. A emergência de uma nova ruralidade nas

sociedades modernas avançadas – o “rural” como espaço singular e ator coletivo. Estudos

Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro:CPDA/UFRJ, n. 15, p. 87-145, 2000.

WEINSTEIN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência, 1850-1920.São Paulo:

Hucitec/Editora da USP, 1993. (Estudos históricos; 20).

WOLSTEIN, A. R.P.; LIMA, E.M.; NASCIMENTO, F.J. Estrutura Fundiária do Estado do

Acre. Rio Branco: SEMA/IMAC, 2006. 85

WOLSTEIN, A.R.P.; LIMA, E.M.; AMARAL, E.F.; BRAZ, E.M.; PINHEIRO, F.L.N.;

FRANKE, I.L.; SANTOS, M.H. & SILVA, R.F. Metodologia para o planejamento, implantação

e monitoramento de projetos de assentamentos sustentáveis na Amazônia. Rio Branco,

Embrapa-CPAF/AC/INCRA/Funtac, 1998. 29p.

Page 91: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

90

ANEXOS

Questionário de pesquisa

1. Levando em consideração o ano passado os membros do seu domicilio

participam mais ou menos dos grupos ou organização comparando com esse

ano.

2. De todos os grupos que os membros do seu domicilio fazem partem quais são os

dois mais importantes para vocês?

3. Quantas vezes nos últimos 12 meses alguém de sua família participou de uma

reunião ou tarefa em grupo dessa organização.

4. Qual a importância de fazer parte desse grupo?

5. Nos últimos 12 meses, você trabalhou com os outros membros para fazer algum

serviço para beneficiar a comunidade?

6. Falando em modo geral, você diria que pode confiar na maioria das pessoas, ou

que nunca é demais ter cuidado ao lidar com pessoas?

7. Em modo geral você acha que as pessoas de sua comunidade ajudam as outras

em momento de necessidade?

8. Como você analisa a comunicação entre os membros da comunidade, é feita

com facilidade entre todos os membros? Ou existe dificuldade com alguns?

9. Em nível geral existem conflitos ou violência na comunidade?

10. Como você considera o acesso aos serviços, tais como: educação, saúde e

justiça.

11. Você ao desenvolver sua atividade (trabalho) existe uma preocupação ambiental

ou você prioriza apenas desenvolver sua atividade?

12. Quanto você confia:

A) Na comunidade_____________

B) No governo estadual_________________

C) No governo Federal_______________

Page 92: REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS  NATURAIS

91

A pesquisa utilizou ainda o questionário socioeconômico do Programa ASPF

(Análise Socioeconômica de produção Familiar Rural do Estado do Acre) para a

obtenção dos resultados do estágio de capital social, no entanto por sua extensão,

não foi possível inserir nos anexos, mas o mesmo pode ser encontrado no seguinte

endereço eletrônico:

http://aspf.files.wordpress.com/2011/04/questionario_aspf.pdf

O projeto ao longo dos anos construiu vários indicadores para a avaliação

econômica da produção familiar rural no Estado do Acre, que vão desde os tradicionais

até os que somente se aplicam à produção familiar rural. Nesse sentido, a análise

econômica e a comparação do desempenho econômico de sistemas de produção

agrícola, extrativista e agroflorestais diferenciados exigem o emprego das categorias

sistema, ecossistema, sistema de produção, processo técnico-material de produção,

unidade de produção, patrimônio bruto e patrimônio líquido, custos de produção,

medidas de resultado econômico (resultado bruto, resultados líquidos e índices de

eficiência).