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Reforma Trabalhista em Perspectiva Desafios e Possibilidades

Reforma Trabalhista em Perspectiva · 2019. 1. 18. · Borba, doutora em direito pela PUC/SP desenvolve o tema da terceirização diante da nova Lei n. 13.467/2017, com a nova abordagem

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  • Reforma Trabalhista em Perspectiva Desafios e Possibilidades

  • 1ª Edição – Maio, 2018 2ª Edição - Janeiro, 2019

  • Zélia Maria Cardoso Montal Luciana Paula de Vaz Carvalho

    (Organizadoras)

    Reforma Trabalhista em Perspectiva Desafios e Possibilidades

    2ª Edição

  • EDITORA LTDA.© Todos os direitos reservados

    Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP – BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brJaneiro, 2019

    Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: LINOTECCapa: Dorinho Bastos – Cartunista, Publicitário e Professor da ECA/USPImpressão: BOK2

    Versão impressa: LTr 6147.0 — ISBN: 978-85-361-9868-2

    Versão digital: LTr 9511.0 — ISBN: 978-85-361-9929-0

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Reforma trabalhista em perspectiva: desafios e possibilidade / Zélia Maria Cardoso Montal, Luciana Paula de Vaz Carvalho, (organizadoras). – 2. ed. – São Paulo: LTr, 2018.

    Vários autores.

    Bibliografia.

    ISBN: 978-85-361-9868-2

    1. Direito do trabalho 2. Direito do trabalho - Brasil 3. Processo do trabalho4. Reforma constitucional - Brasil 5. Trabalho - Leis e legislação - Brasil I. Mon-tal, Zélia Maria Cardoso. II. Carvalho, Luciana Paula de Vaz.

    18-20954 CDU-34:331.001.73(81)

    Índice para catálogo sistemático:1. Brasil: Reforma trabalhista: Direito do trabalho 34:331.001.73(81)

    Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

  • Autores

    ANTONIO CARLOS AGUIAR

    BIANCA BASTOS

    CARLA TERESA MARTINS ROMAR

    CLÁUDIA JOSÉ ABUD

    CRISTIANE DE MATTOS CARREIRA

    CRISTINA PARANHOS OLMOS

    DINAURA GODINHO PIMENTEL GOMES

    IRATELMA CRISTIANE MARTINS MENDES

    IVANI CONTINI BRAMANTE

    JOSELITA NEPOMUCENO BORBA

    LEONEL MASCHIETTO

    LUCIANA PAULA DE VAZ CARVALHO

    MARCELO MORELATTI VALENÇA

    MARIA CIBELE DE OLIVEIRA RAMOS VALENÇA

    MARIA IVONE FORTUNATO LARAIA

    MARIA JOSÉ GIANNELLA CATALDI

    MICHEL OLIVIER GIRAUDEAU

    OTTO DMITRY GARKAUSKAS HERNANDES

    PAULO SERGIO JOÃO

    RENATA BARBOSA CASTRALLI MUSSI

    RICARDO PEREIRA DE FREITAS GUIMARÃES

    RODRIGO CHAGAS SOARES

    RUI CÉSAR PÚBLIO BORGES CORREA

    TÚLIO DE OLIVEIRA MASSONI

    WERNER KELLER

    ZÉLIA MARIA CARDOSO MONTAL

  • sumário

    Notas Prévias à 2ª Edição .............................................................................................................. 9

    Apresentação à 1ª EdiçãoPedro Paulo Teixeira Manus ........................................................................................................... 11

    Prefácio à 1ª EdiçãoLuciano Martinez .......................................................................................................................... 13

    i – Direito inDiviDuAl Do trAbAlho

    A Responsabilidade Patrimonial dos Sócios e a Reforma TrabalhistaBianca Bastos ................................................................................................................................ 17

    A Desproteção à Maternidade e a Possibilidade de Trabalho Insalubre pela Gestante e Lactante: A Monetização da Saúde do NascituroCristiane de Mattos Carreira. ......................................................................................................... 28

    Contrato IntermitenteIvani Contini Bramante .................................................................................................................. 36

    Terceirização. Lei n. 13.467/2017. Os Novos Contornos da TerceirizaçãoJoselita Nepomuceno Borba .......................................................................................................... 45

    Jornada de Trabalho – Horas In ItinereMarcelo Morelatti Valença e Maria Cibele de Oliveira Ramos Valença ........................................... 54

    Meio Ambiente do Trabalho e Limites de Jornada de Trabalho e a Desvinculacão da Proteção da Saúde do TrabalhadorMaria José Giannella Cataldi ......................................................................................................... 58

    Desemprego e Trabalho IntermitenteMichel Olivier Giraudeau .............................................................................................................. 72

    Limites à Responsabilização do Sócio Retirante por Débitos TrabalhistasOtto Dmitry Garkauskas Hernandes ............................................................................................. 79

    O Dano Extrapatrimonial na Lei n. 13.467/2017 – Um Texto Sem ContextoRicardo Pereira de Freitas Guimarães ............................................................................................ 90

    Extinção Contratual por Acordo entre Empregado e Empregador. Art. 484-A da CLTRui César Públio Borges Correa e Renata Barbosa Castralli Mussi .................................................. 96

    ii – Direito Coletivo Do trAbAlho

    Cibercultura e o Papel dos Sindicatos Pós-Reforma TrabalhistaAntonio Carlos Aguiar ................................................................................................................... 105

    A Prevalência do Negociado sobre o Legislado e o Regime de Compensação de HorasCláudia José Abud ......................................................................................................................... 112

  • 8 | Reforma Trabalhista em Perspectiva: Desafios e Possibilidades

    Reforma Trabalhista e a Relevância de Normas Coletivas à Luz dos Princípios e Regras Consti-tucionaisDinaura Godinho Pimentel Gomes ................................................................................................ 116

    Limites da Negociação Coletiva à Luz dos Direitos Fundamentais: Análise da Lei n. 13.467/2017Luciana Paula Vaz de Carvalho ...................................................................................................... 128

    Sistema Sindical Brasileiro e o Fim da Contribuição SindicalPaulo Sergio João .......................................................................................................................... 137

    A Ultratividade das Normas Coletivas de TrabalhoRodrigo Chagas Soares .................................................................................................................. 143

    A Prevalência do Acordo Coletivo de Trabalho de Empresa no Sistema das Fontes do Direito do TrabalhoTúlio de Oliveira Massoni .............................................................................................................. 153

    Dispensa ColetivaWerner Keller ................................................................................................................................ 172

    iii – Direito ProCessuAl Do trAbAlho

    Gratuidade e Sucumbência sob a Perspectiva do Acesso à JustiçaCarla Teresa Martins Romar ........................................................................................................... 183

    O Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica no Processo do TrabalhoCristina Paranhos Olmos ............................................................................................................... 190

    Honorários Advocatícios: Impedimento de Acesso à Justiça ou Avanço Social?Iratelma Cristiane Martins Mendes ................................................................................................ 194

    Distribuição do Ônus da Prova no Direito Processual do TrabalhoMaria Ivone Fortunato Laraia ......................................................................................................... 203

    A Litigância de Má-Fé na Justiça do Trabalho após a Reforma TrabalhistaLeonel Maschietto ......................................................................................................................... 212

    Reflexões sobre a Inclusão do § 3º no Art. 8º da CLT pela Lei n. 13.467/2017Zélia Maria Cardoso Montal .......................................................................................................... 222

  • notAs PréviAs à 2ª eDição

    Certos da importância de uma obra atualizada, apresentamos artigos revisados e em conformidade com o texto original da Lei n. 13.467/2017. Isso porque, ao longo da edição anterior, novos horizontes foram descortinados na legislação que acabara de ser editada (Lei n. 13.467/2017) tais como, a não conversão da Medida Provisória n. 808/2017 e a publicação da IN n. 41/2018 do TST, com esclarecimentos sobre a aplicação das normas processuais da novel legislação. De fato, logo após a entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017, conhecida como Reforma Traba-lhista, veio a lume a Medida Provisória n. 808, de novembro de 2017, que alterava e complementava muitos dis-positivos recém-aprovados. A edição anterior desta obra foi concebida sob a égide da referida Medida Provisória. Pois bem, esta segunda edição foi atualizada tendo em consideração a não conversão da referida Medida Provisória n. 808/2017 e a publicação pelo Tribunal Superior do Trabalho da Instrução Normativa n. 41/2018, cujo propósito maior foi dirimir dúvidas quanto à aplicação dos dispositivos da novel legislação no âmbito do processo do tra-balho, dando um direcionamento aos órgãos do Judiciário Trabalhista, sinalizando como devem ser aplicadas as normas processuais previstas na Lei n. 13.467/2017, com o objetivo de conferir um norte para todos os operadores do Direito do Trabalho e de assegurar maior segurança jurídica aos jurisdicionados.

    Por fim, externamos nossa gratidão aos leitores e aos que nos têm honrado com a divulgação desta obra e es-peramos continuar merecendo a acolhida de todos os que militam na Justiça do Trabalho e daqueles que têm no Direito Laboral a salvaguarda dos seus direitos, desejando que este trabalho seja efetivamente uma contribuição para fomentar o crescente debate sobre as relevantes modificações da legislação trabalhista em nosso país.

    São Paulo/SP, novembro de 2018.

    As Coordenadoras.

  • APresentAção à 1ª eDição

    Pedro Paulo Teixeira Manus(*)

    A legislação do trabalho entre nós tem quase um século de existência, bastando para constatar este fato o advento da Lei n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecida como Lei Eloy Chaves, que criou a estabilidade no emprego para os trabalhadores ferroviários de São Paulo, quando da criação da caixa de assistência dos ferroviá-rios, fruto de projeto aprovado pelo Poder Legislativo e da autoria do Deputado Federal Paulista Eloy Chaves.

    Assim, embora a Consolidação das Leis do Trabalho tenha surgido em maio de 1943, nada mais fez além de consolidar as normas já existentes, o que revela a necessidade de adequação das regras aplicáveis às relações entre empregados e empregadores aos tempos atuais, diante de tantas mudanças ocorridas em nossa sociedade.

    Não obstante, a fim de que tais mudanças fossem eficazes e comprometessem toda comunidade jurídico--trabalhista, seria necessário que os variados setores tivessem contribuído para tais mudanças, o que demandaria tempo e reflexão, requisitos essenciais para resultar num trabalho de qualidade.

    Infelizmente assim não foi, tendo a Lei n. 13.467, de 2017, deixado de lado temas importantes e tratado não da melhor forma outros institutos que modificou. A urgência na aprovação das modificações ocasionou uma lei que tem sofrido críticas de variados setores do mundo do trabalho.

    A lei demanda exame e compreensão, a fim de melhor orientar juízes, advogados, membros do Ministério Público, do Ministério do Trabalho, bem como empregadores, empregados e sindicatos, na aplicação de seus dis-positivos, compreendendo as modificações havidas.

    Eis aí a oportunidade para um livro de qualidade a respeito e que conta com a contribuição de profissionais do melhor gabarito e que se dedicam ao Direito do Trabalho, orientados na organização dos textos pelas professoras Zélia Maria Cardoso Montal, Procuradora do Trabalho aposentada e pela Advogada Luciana Paula Vaz de Carva-lho, que junto com os autores desenvolvem excelente trabalho nos curso de especialização em Direito do Trabalho da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

    O livro está estruturado em três grandes capítulos, que se ocupam do direito individual do trabalho, do direito coletivo do trabalho e do direito processual do trabalho, abrangendo desta forma todo o conteúdo da nova lei, o que propicia um formidável panorama ao leitor das modificações havidas e de seus reflexos.

    A parte I do livro tem início com o texto da Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, Bianca Bastos mestre e doutoranda pela PUC/SP, e que desenvolve o tema da responsabilidade patrimonial dos sócios perante a reforma trabalhista. A Advogada Cristiane Mattos Carreira, mestre em direito, ocupa-se do de-licado tema da desproteção à maternidade e a possibilidade de trabalho insalubre pela gestante e lactante, apon-tando para o que denomina de “monetização da saúde do nascituro”. A Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região Ivani Contini Bramante, doutora pela PUC/SP, trata do tema introduzido pela nova lei referente aos contratos intermitentes, que merecem detido exame pela novidade que representam e pelos reflexos nos contratos individuais de trabalho. A Advogada e Procuradora do Trabalho aposentada, Joselita Nepomuceno Borba, doutora em direito pela PUC/SP desenvolve o tema da terceirização diante da nova Lei n. 13.467/2017, com a nova abordagem trazida a respeito pelo legislador. Marcelo Morelatti Valença e Maria Cibele de Oliveira Ramos Valença, Advogados e doutores em direito, dissertam sobre o tema da jornada de trabalho e as horas in itinere, tema que sofreu sensível alteração com a nova lei. A Advogada Maria José Giannella Cataldi, doutora em direito pela PUC/SP, cuida do tema do meio ambiente do trabalho e limites da jornada de trabalho e a desvinculação da proteção da saúde do trabalhador. O Advogado Michel Olivier Giraudeau, mestre em direito, dedica-se à questão

    (*) Professor Titular e Diretor da Faculdade de Direito da PUC/SP. Ministro aposentado do Tribunal Superior do Trabalho.

  • 12 | Reforma Trabalhista em Perspectiva: Desafios e Possibilidades

    do desemprego e o contrato de trabalho intermitente. Otto Dmitry Garkauskas Hernandes, Advogado e especialista em direito, trata dos limites à responsabilização do sócio retirante por débitos trabalhistas. Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, Advogado e doutor em direito, cuida do dano extrapatrimonial na Lei n. 13.467/2017 e na Medida Provisória n. 808/2017, aduzindo tratar-se de um texto sem contexto. Encerrando a Parte 1 do livro, o Juiz do Trabalho Rui Cesar Públio Espinheira, doutor em direito e a Assistente de juiz do TRT da 2ª Região e mestre em direito Renata Barbosa Castralli Mussi tratam da questão da extinção do contrato de trabalho por acordo entre empregado e empregador.

    Como já referido, a Parte II do livro cuida do direito coletivo do trabalho, iniciando com o texto do Advogado Antonio Carlos Aguiar, doutor em direito pela PUC/SP e que cuida do tema Cibercultura e o papel dos Sindicatos pós-reforma trabalhista. Cláudia José Abud, Advogada e doutora em direito pela PUC/SP disserta sobre o tema do negociado sobre o legislado e o regime de compensação de horas. Dinaura Godinho Pimentel Gomes, Juíza do Trabalho e doutora em direito trata do tema reforma trabalhista e a relevância de normas coletivas à luz dos princípios e regras constitucionais. A Advogada e mestre em direito, que é uma das coordenadoras desta obra, Luciana Paula Vaz de Carvalho disserta sobre o tema dos limites da negociação coletiva à luz dos direitos funda-mentais. O Advogado e doutor em direito pela PUC/SP Paulo Sergio João, com quem tenho a honra de coordenar os cursos de especialização em direito do trabalho da PUC/SP, e que produz trabalhos primorosos como este livro, disserta sobre o sistema sindical brasileiro e o fim da contribuição sindical. Rodrigo Chagas, Advogado e mestre em direito ocupa-se do tema da ultratividade das normas coletivas o trabalho. Tulio Oliveira Massoni, Advogado e doutor em direito traz-nos a questão da prevalência do acordo coletivo de trabalho de empresa no sistema das fontes do direito do trabalho. E encerrando a Parte II do livro o Advogado e mestre em direito Werner Keller cuida da delicada questão da dispensa coletiva.

    A Parte III da obra dedica-se ao direito processual do trabalho e inicia com o texto da Advogada e doutora em direito Carla Tereza Martins Romar sobre gratuidade e sucumbência sob a perspectiva do acesso à justiça. Cristina Paranhos Olmos, advogada e doutora em direito ocupa-se do tema do incidente de desconsideração da personalidade jurídica no processo do trabalho. Iratelma Cristiane Martins Mendes, Advogada e mestre em direito trata do tema dos honorários advocatícios, cuja regulamentação pela nova lei é inovatória. Ivone Laraia, Advogada, mestre e doutoranda em direito na PUC/SP, dedica-se ao tema do ônus da prova na Justiça do Traba-lho. O Advogado e doutor em direito pela PUC/SP Leonel Maschietto cuida do tema da litigância de má-fé. E, encerrando a Parte III, a Procuradora do Trabalho aposentada e doutora em direito, Zélia Maria Cardoso Montal, que coordena esta obra, trata do tema delicado da inclusão do § 3º no artigo 8º da CLT pela Lei n. 13.467/2017.

    Como se vê pelo gabarito acadêmico e profissional dos autores, trata-se de obra que reúne profissionais ex-perientes e competentes no universo do Direito do Trabalho. E o sumário da obra revela o exame dos principais temas da Lei n. 13.467/2017, possibilitando ao estudioso e ao profissional do Direito do Trabalho o conhecimento das novas regras postas e a reflexão sobre as modificações havidas.

    Trata-se o livro “Reforma Trabalhista em Perspectiva: Desafios e Possibilidades” de excelente obra que vem se somar a outros estudos que nos vão dando os rumos da melhor interpretação da nova lei. Merecem nossas congra-tulações os autores e, especialmente, as coordenadoras da obra Professoras Zélia Maria Cardoso Montal e Luciana Paula Vaz de Carvalho.

  • PrefáCio à 1ª eDição

    Luciano Martinez(*)

    Um desafio interpretativo à reforma trabalhista.

    “Desafio” é uma daquelas palavras cheias de energia que pelo seu mero enunciar nos despertam imenso inte-resse. A notícia da existência de um desafio nos instiga e nos faz sentir correr o sangue nas veias... Assim ocorre porque “desafiar” (dis-, prefixo empregado para indicar dispersão ou negação, e -fides, que significa fé) pressupõe o rompimento da crença que pode preexistir em torno do suposto poder do desafiado. O desafiante é, portanto, um provocador, um inquieto, um incitante, que muito colabora com o crescimento das instituições na medida em que coloca em discussão o que para alguns pode ser entendido como incontestável. Afinal, cabe a quem desafia a dura missão de investigar as características do desafiado para descobrir a extensão de sua força e para salientar os seus pontos fracos. E quanto maior é o desafio, mais potentes precisam ser os provocadores. Assim ocorreu diante da obra que ora tenho a honra de prefaciar.

    Reuniram-se aqui importantes e conceituados docentes e pesquisadores de uma das mais respeitadas institui-ções de ensino do Brasil – a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) – para investigar e desafiar a “reforma trabalhista”, avaliando em detalhes todas as suas perspectivas e possibilidades, respeitada a diversidade de seus entendimentos e orientações políticas. Um verdadeiro dream team, portanto, enfrenta todas as facetas das modificações normativas trazidas pelo novo sistema, apreciando tanto as discussões que envolvem o direito material (relações individuais e coletivas) quanto o direito processual.

    Os desafiantes não deixam escapar a análise de nenhum dos estandartes da reforma trabalhista, merecendo destaque os estudos sobre os novos contornos da terceirização, as investigações em face da nova formulação da contratação do trabalho intermitente, a revisão do marco relacionado à responsabilidade patrimonial de sócios, a profunda pesquisa sobre a inovadora disciplina aplicável aos danos extrapatrimoniais e as tão polêmicas modifi-cações que oficializaram a resilição por distrato. Esses estudos que se dedicaram a apreciar verdadeiras mudanças de paradigma na esfera do direito material do trabalho associaram-se a outros temas que mudaram a forma de ver e de interpretar o processo do trabalho, destacando-se aqui o estudo sobre o incidente de desconsideração da per-sonalidade jurídica, o detalhamento referente a distribuição da carga probatória e as investigações relacionadas às novas bandeiras que objetivaram a injunção de uma mais rígida disciplina judiciária mediante a imposição de honorários de sucumbência e a dura apuração de responsabilização por danos processuais.

    A obra é realmente completa. Foram objetos de estudo também as intrigantes e questionáveis perdas de di-reitos e as exclusões de proteção social, entre as quais se destacam as que dizem respeito ao desaparecimento das horas in itinere, à sistemática do trabalho insalubre pela gestante e lactante e à exclusão das regras de duração do labor do âmbito do direito fundamental à proteção em face dos riscos inerentes ao trabalho.

    Ponto de alto relevo reside na cuidadosa parte que trata sobre direito coletivo do trabalho. Ali, especialistas de esplendor analisaram a prevalência do negociado sobre o legislado, a posição dos instrumentos normativos no novo sistema de fontes, a imposição de respeito ao princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva, os limites para o exercício dessa autonomia sindical, os contornos do sistema sindical brasileiro diante da revisão conceitual da contribuição sindical, as novidades no campo da ultratividade das normas coletivas de trabalho, as discussões sobre os pressupostos e efeitos da dispensa coletiva e, até mesmo, o papel dos sindicatos no pós-reforma trabalhista.

    Os bravos intérpretes dos textos extraídos da “reforma trabalhista”, mediante o prestígio de suas convicções e o respeito de seus pareceres, trouxeram à luz respostas claras e convincentes sobre cada uma das problemáticas

    (*) Juiz do Trabalho. Mestre e Doutor em Direito pela USP. Professor Adjunto de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da UFBA da Academia Brasileira de Direito do Trabalho.

  • 14 | Reforma Trabalhista em Perspectiva: Desafios e Possibilidades

    produzidas por uma norma gestada no caos da incerteza política. Soluções práticas, previsões sensatas e exegeses extremamente bem fundamentadas são alguns dos melhores presentes que os articulistas generosamente ofere-ceram a você, estimado leitor. Não tenho, por isso, dúvidas em antever o sucesso da obra que merecerá o pleno reconhecimento público.

  • I Direito Individual do Trabalho

  • A resPonsAbiliDADe PAtrimoniAl Dos sóCios e A reformA trAbAlhistA

    Bianca Bastos(1)

    (1) Desembargadora Federal do Trabalho TRT2. Mestre e Doutoranda pela PUC/SP.

    (2) Art. 880 da CLT: “Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal mandará expedir mandado de citação do executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro, inclusive de contribuições sociais devidas à União, para que o faça em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execução, sob pena de penhora.”

    (3) Gráfico – Resíduo na Fase de Execução nas Varas do Trabalho por Região Judiciária do período de 01.01.2016 a 31.12.2016. Extraído do sítio do TST. Acesso em: 5 jan. 2018.

    (4) A partir da vigência da Lei n. 13.467/2017, passou a ser aplicável no processo de execução a prescrição intercorrente, nos termos da nova previsão legal do art. 11-A da CLT, que assim dispõe: “Art. 11-A. Ocorre a prescrição intercorrente no processo do trabalho no prazo de dois anos. § 1º A fluência do prazo prescricional intercorrente inicia-se quando o exequente deixa de cumprir determinação judicial no curso da execução. § 2º A declaração da prescrição intercorrente pode ser requerida ou declarada de ofício em qualquer grau de jurisdição.”

    1. INTRODUÇÃO

    A responsabilidade patrimonial dos sócios sempre foi uma questão controvertida nas execuções trabalhistas. A partir de um recorrente inadimplemento das dívidas em processos judiciais e da previsão legal para que a execução trabalhista se realizasse ex officio, os atos processuais direcio-nados ao pagamento do crédito adotaram uma característica de execução forçada, com o uso de prerrogativas judiciais para apreensão de bens e quitação das dívidas trabalhistas.

    As críticas se assomaram contra o modelo da execução trabalhista, diante de uma imputada agressividade proces-sual na apreensão de bens de pessoas físicas. A certa medi-da, com razão. Mas, de outra parte sem a consideração de uma questão essencial no exercício da jurisdição.

    Começando por esta essencialidade, que é própria do exercício da jurisdição na execução de título de dívida lí-quida e certa, fato é que o pagamento da dívida é de rigor. Na execução não se discute mais a existência do direito material e aquele que está condenado deve pagar. Para isto possui prazo de 48 horas, a contar da citação, por expressa previsão da Lei(2).

    Não obstante, as estatísticas da Justiça do Trabalho apontam para uma inadimplência recorrente. A estatística apurada pelo Tribunal Superior do Trabalho para o perío-do de janeiro a dezembro de 2016 demonstra que foram iniciadas no país 724.491 execuções trabalhistas, tendo sido encerradas 661.850, remanescendo em andamento 1.723.351, e permanecendo em arquivo provisório o saldo de 795.390(3).

    Como se vê, do número de execuções iniciadas no ano de 2016, o correspondente ao percentual de 94,64% foi quitado. Mas o saldo remanescente revela falta de efe-tividade, quanto a um número de credores de 2.428.741 titulares de direito, sendo que a quase unanimidade é de credores trabalhadores. Sem contar que o número de pro-cessos que já estão em arquivo provisório (795.390) é de casos em que normalmente já foram esgotados todos os meios de busca patrimonial, tratando de uma contingência da inexecução por ausência de bens, que se perpetuou na Justiça do Trabalho, diante a adoção da tese jurispruden-cial que considerou por muitos anos inaplicável a prescri-ção intercorrente nos processos trabalhistas, situação hoje modificada na Reforma Trabalhista, e do novo art. 11-A da CLT(4).

    Daí é que, para ganhar efetividade, apesar de todos os esforços dos agentes estatais (especialmente, dos juízes do trabalho), a execução trabalhista ganhou fama de de-satender ao melhor direito processual, possuindo como seu primeiro objetivo o econômico, e afrontando princí-pios básicos na constrição patrimonial de bens de pessoa física, como o contraditório. Como se verá neste artigo, a execução trabalhista nunca foi antijurídica. Foi sim a expressão da jurisdição que representa, que é satisfativa e se realiza por coerção estatal, diante da resistência do devedor.

    Contudo, não há como negar que a Reforma Traba-lhista trouxe boas regras à execução trabalhista. Vieram regras expressas na Consolidação das Leis do Trabalho sobre a forma como proceder a desconsideração da per-

    Sem nome