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Mestrado em Educação Artística Investigação sobre o Poetry Slam em Portugal – entrevista exploratória Relação com a arte, cultura, poesia Antes de falarmos do slam, algumas perguntas sobre as formas como utilizas o teu tempo, sobre as tuas actividades. 1. Quais são as tuas áreas de interesse, os teus hobbies, actividades de tempos livres? Eu estudo uma área da poesia bastante suigeneris que é a poesia grega arcaica. Tendo em conta que isso se situa no século VII e VI a.C, portanto acaba por ser um nicho ali no meio, um nicho dos meus interesses. Depois gosto muito de teatro embora não faça tanto como gostaria, mas também se pode considerar um dos meus hobbies e interesses (inaudível 1:33) ate agora foi presidente dum workshop de teatro. COROS (?) (inaudível 1:38) lá está, teatro clássico. Depois gosto de quê? Gosto de cinema. Gosto de natação. Estava a falar em desporto, gosto de natação. E gosto muito de tudo o que é movimentos sociais, associações culturais... e etc. Movimentos sociais nas suas vertentes de culturais, sejam associações culturais e tudo mais, mas também movimentos cívicos. Também tenho a minha quota parte do tempo dedicado a fazer um bocadinho de movimento de artigo. E em república acaba-se por ter um bocadinho as duas vertentes juntas. E ainda hoje, apesar de já ter saído de uma casa, e um república, ainda hoje participo activamente quer nas actividades culturais, quer nas acções mais contestatária que se desenvolvam. Portanto acaba por ser um bocadinho de tudo, não é? Tudo isto que se prende com a importância de, no fundo, tentar mudar a sociedade ou criticar ao que julgo que nela está mal. 2. No que toca à cultura, à arte, como usa(s) o teu tempo? Que actividades fazes? 3. Lês poesia? Sim

Relação com a arte, cultura, poesia · 2018-06-22 · Mestrado em Educação Artística Investigação sobre o Poetry Slam em Portugal – entrevista exploratória Relação com

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Mestrado em Educação Artística

Investigação sobre o Poetry Slam em Portugal – entrevista exploratória

Relação com a arte, cultura, poesia

Antes de falarmos do slam, algumas perguntas sobre as formas como utilizas o teu tempo, sobre as tuas actividades.

1. Quais são as tuas áreas de interesse, os teus hobbies, actividades de tempos livres?

Eu estudo uma área da poesia bastante suigeneris que é a poesia grega arcaica. Tendo em

conta que isso se situa no século VII e VI a.C, portanto acaba por ser um nicho ali no meio,

um nicho dos meus interesses. Depois gosto muito de teatro embora não faça tanto como

gostaria, mas também se pode considerar um dos meus hobbies e interesses (inaudível

1:33) ate agora foi presidente dum workshop de teatro. COROS (?) (inaudível 1:38) lá está,

teatro clássico. Depois gosto de quê? Gosto de cinema. Gosto de natação. Estava a falar em

desporto, gosto de natação. E gosto muito de tudo o que é movimentos sociais,

associações culturais... e etc. Movimentos sociais nas suas vertentes de culturais, sejam

associações culturais e tudo mais, mas também movimentos cívicos. Também tenho a

minha quota parte do tempo dedicado a fazer um bocadinho de movimento de artigo. E em

república acaba-se por ter um bocadinho as duas vertentes juntas. E ainda hoje, apesar de já

ter saído de uma casa, e um república, ainda hoje participo activamente quer nas

actividades culturais, quer nas acções mais contestatária que se desenvolvam. Portanto

acaba por ser um bocadinho de tudo, não é? Tudo isto que se prende com a importância de,

no fundo, tentar mudar a sociedade ou criticar ao que julgo que nela está mal.

2. No que toca à cultura, à arte, como usa(s) o teu tempo? Que actividades fazes?

3. Lês poesia?

Sim

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4. Tens algum autor/a (conhecido ou não, consagrado ou não), poema preferido?

Desde logo Homero. Gosto muito da Ilíada. Gosto muito de Blake. Gosto muito de

Pessoa, também. Gosto muito de Safre (?), voltando um bocadinho atrás no tempo,

gosto muito de Safre (?), muitíssimo. E depois gosto muito, por exemplo, poesia com

Oliva (?) que é só ouvida. Que eu não consigo... não é uma coisa que eu leia. Estou-me a

lembrar, por exemplo, de uma album que há do Al Berto que é o Words Sound.

Também gosto muito de Al Berto. Acompanha o tempo... acompanha a linha do

tempo. Gosto muito, por exemplo, mas já não é poesia, mas gosto muito, por

exemplo, do Elogio da Loucura. Que deve ser coisa que eu mais gosto do

Renascimento, que eu não gosto muito do Renascimento, mas pronto.

5. Em que momentos lês poesia? É uma leitura regular ou de momentos?

Lês à noite, antes de dormir? Numa caminhada, numa pausa do trabalho, num sítio

especial, etc.)?

Vamos tirar a parte do trabalho? Não? Então leio todos os dias, quando estou a

trabalhar, mas lá está... quando estou a trabalhar não a leio, analiso-a, é diferente.

Portanto leio quando estou à espera de alguma coisa. E aí leio indiferenciadamente,

tanto leio poesia como qualquer coisa. E depois à noite, antes de dormir.

6. Compras livros de poesia? Onde? O que te faz comprar um livro de poesia/como

escolhes?

Compro. Compro onde os vir. Onde encontre um livre que me agrade, pode ser numa

feira qualquer de velharias, posso ir de propósito a uma grande superfície. Mas

normalmente é muito raro eu ir à procura de determinado livro, isso não acontece

muitas vezes. Apetece-me ir à livraria e depois lá escolho. Não acontece muito eu

vou agora sair de casa para ir comprar aquele livro. É raro isso acontecer.

VAIS EXPLORAS? Im, é mais por aí.

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E O QUE TE FAZ COMPRAR UM LIVRO DE POESIA?

Tenho que ler um poema e gostar. Eu, às vezes, faço figuras estúpidas porque os

gosto de ler alto. Não é que me ponha a gritar, mas tenho que os ler alto.

EQUANDO É QUE DIZES “VOU COMPRAR ESTE LIVRO”?

Primeiro tenho que ver se tenho dinheiro, o que não acontece sempre. É um factor

importante! Para comprar o livro tenho que querer ler o poema outra vez. Isso

aconteceu-me, por exemplo, com o “I left” do Borges (?). Aconteceu-me isso. Li e

wawww!, li outra vez e pensei, “ok, tem que ser!”.

E ESSA NECESSIDADE DE TERES QUE LER OUTRA VEZ, VEM DE ONDE?

É por que me prende. É por que sinto que há qualquer coisa mais para além

daquilo...

PORQUE É UM TEXTO QUE SENTES QUE NÃO ESTÁ TUDO CAPATADO NAQUELE

MOMENTO, QUE QUERES EXPLORAR MAIS?

Quero explorar mais e sinto que... é muito engraçado, por exemplo, lembro-me

perfeitamente quando li “horto de incêndio” , que foi o meu professor de filosofia

que mo emprestou, no secundário, e que senti, a páginas tantas, numa quadra, acho

que era ua quadra, já não tenho a certeza, senti que aquilo iria ter vário significado

durante a minha vida, e pensei “eu tenho que arranjar este livro”. E é verdade, já

tenho aquele livro, para aí há uns dez anos. Dez não, para aí há uns oito e já

aconteceu.

7. Lês poesia na Internet? Tens/Vais a algum site/blogue?

Sim, normalmente vou à procura.

E PROCURAS O QUE?

Depende, normalmente quando vou ler poesia na internet, das duas uma, ou é

alguma coisa que me aparece – temos que admitir que as redes sociais dão muito

jeito – algum blogue qualquer partilhado por uma amigo,ou qualquer coisa, ou vou

à procura de determinado poema ou determinado autor e leio. Basicamente é isso.

Quando é que foi, que eu percebi que não conhecia nada de Jorge de Sena. Cheguei

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lá e gostei. Não foi nada... haa!, não fiquei fanática. Mas pensei “olha que boa ideia

teres-te lembrado que não conheces nada de Jorge de Sena!”

8. Escreves poesia? Se sim, quando começaste a escrever? Costumas partilhar o que

escreves com alguém? Tens algo publicado em papel, suporte digital (cd, dvd), na

web (blogue, site, etc.)?

Não, sou incapaz.

PORQUÊ?

Por que sou incapaz... não, por que não me soa bem. Mas é um problema que eu tenho

na mesma com a escrita normal, mas isso é um problema meu... deixa estar...

TENS QUE IR A UMA WORKSHOP

não, por favor, não!

9. Que tipo de eventos culturais frequentas? Onde?

Que tipo de arte a que vou?

POR EXEMPLO, CINEMA, VAIS A UM FILME A UM CENTRO COMERCIAL OU VAIS À

CINEMATEVA? ISTO É SÓ UM EXEMPLO.

Não vou à cinemateca porque estou em Coimbra.... não, mas sabes? eu fiquei com

muita pena quando fechou o Cinema Avenida. Se me perguntares assim: “Preferes

ir ver um filme ao TAGV ou ir ver um filme ao Forum?” eu digo que prefiro ir ver um

filme ao TAGV. 1- o filme do TAGV, na minha perspectiva tem muito mais conteúdo ;

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2 – Não é a Lusomundo... embora aquilo já seja uma fundação... não interessa,

pronto! É sempre melhor!

ENTÃO FREQUENTAS EVENTOS DE CINEMA?

Sim, sim, sim e de teatro. Não só os académicos. Dou preferência. Confesso que se tiver

uma peça do Teatrão ou uma do TEUC, prefiro ir ao TEUC, por uma questão de

colegialidade. O TEUC e da Academia, grande parte das pessoas, não posso dizer

que sejam meus amigos, mas são meus conhecidos. Tenho grande respeito

(Inaudível 12:12) e até porque, normalmente as peças da companhias profissionais

de teatro estão mais tempo e as dos grupos de teatro da academia estão menos.

PORTANTO TENS QUE GARANTR QUE TENS TEMPO PARA IR A ESSAS, NÃO É?

A essas, de certeza.

E MÚSICA?

Os concertos são muito caros e essa é uma grande desgraça, mas se gostar muito

da banda, vou. Se for uma banda mais pequena, tento mas, às vezes... confesso que

música não é uma coisa que me passe (?), que me puxe, que me faça mexer tanto

como é, por exemplo o teatro académico. Não sei porquê. Tenho uma relação

meticulosa com a música.

LITERTURA?

Não gosto muito de lançamento de livros, acho que é uma bajulação

completamente desnecessária. Detesto lançamentos de livros. Não gosto nada. Se

for uma sessão de recitais, ou qualquer coisa do género, gosto e se puder vou. Mas

também é complicado estar aqui a pensar o que é um evento cultural de literatura.

AQUILO QUE TE LEMBRAS QUE FIZESTE NOS ULTIMOS ANOS, E AQUILO A QUE

FOSTE. SE CINSIDERARES OS ÚLTIMOS ANOS FOSTE A QUE TIPO DE EVENTOS

RELACIONADOS COM A LITERATURA?

FRAM (?), fui à declamações do Lusíadas, aquelas que faz o Fernando qualquer-

coisa, como aquela que houve na Biblioteca Joanina feita pela Quinta das Lágimas,

aquele festival que há.

MAS ACHAS QUE HÁ MEMOS EVENTOS DE LITERATURA, É?

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Eu acho que sim. Não sei, se calhar sou eu que não sei das coisas. Muito possivelmente,

sou. Mas acho que sim.

Mas o teatro também é um evento de literatura, não é. Pode também um evento de

literatura.

AS FRONTEIRAS, HOJE EM DIA, SÃO UM BOCADINHO COMPLICADAS....

Exacto, por isso é que.... música também pode ser literatura. Eu no (inaudível 14:24)

chamo literatura.

NO FUNDO TODOS SÂO DE POESIA...

Também pode ser...

ESTOU A BRINCAR...

Os gays iam concordar comigo.... tudo o que é dito é poesia

EXACTAMENTE! TUDO O QUE SE FAZ É POESIA.

10. Que eventos relacionados com poesia frequentavas e/ou continuas a frequentar?

A QUE EVENTOS É QUE FOSTE?

Àqueles que vi. Realmente esses no ano passado para além dos recitais e para além

daquela coisa na Biblioteca Joanina, fui aos Slams.

11. Já organizaste ou organizas eventos culturais/artísticos? Quais?

Organizar um evento cultural artístico? Já, já organizei diversas coisas no contexto

da Bota Abaixo. Organizei exposições. Dias com workshops e depois concertos.

Coisas do género: ciclos de cinema … de facto, quando vivia na Real República do

Bota Abaixo fazíamos muito isso. Tentávamos com ue todos os meses houvesse

qualquer coisa, nem que fosse um filme. E nesse tempo organizei muitas coisas.

Depois nós organizámos/participámos em alguma coisas no nono ano durante um

Recital de Poesia … e ainda hoje sei alguns dos poemas de cor da Catarina. Sabes a

Catarina? Éramos da mesma turma, então toda a gente lia os poemas de toda a

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gente e não-sei-quê e lembro-me da maneira como cada um recitava e os gestos

que fazia. Foram para aí três meses intensos de ensaios. Já viste o que é pores os

miúdos do nono ano a fazer um recital de poesia? Oh pá é extraordinário! Para mim

foi e para a Catarina e para a Francisca também. Disso tenho a certeza. Com os

outros não sei, não falámos mais sobre isso.

TRES MESES É MUITO TEMPO

Foi muita giro aquilo! Por que organizámos para a escola, para as duas escolas e

depois organizámos no anfiteatro municipal . E estava cheio. Foi muita giro!

12. E como artista? Participas, trabalhas, actuas? Em que áreas?

Em participar enquanto artista? Lá está, esse recital de que estávamos a falar. Participei

numa peça organizada pelo Grupo de Teatro da Faculdade de Letras, “Mensagem

da Cicuta” trabalhavam com textos de Platão, adaptações de textos de Platão.

Trabalhei com o GESPAR no cá ca vinhas (17:46) foi uma produção com a Madalena

Vitorino, uma coreografa bastantes importante que chegou a ser Directora Artística

do Centro Cultural de Belém. Era um happening nas repúblicas. Em três republicas:

na minha.... e por que é que todas as conversas vão parar ao raio da república ?!?

EU QUERO SABER ISSO. ISSO É MUITO IMPORTANTE. SABER QUE ESTIVESTE

ENVOLVIDA TAMBÉM POR CAUSA DE ESTARES NO MEIO DAS REPÚBLICAS.

E um dos grandes momentos criativos, foi precisamente, nessa... nessas peças,

porque foram três diferentes que dependiam da casa. Foi das experiência mais

marcantes que eu tive no âmbito artístico de sempre e duvido que alguma, alguma

vez a venha a colmatar, por que foi muito interessante por que trabalhámos com os

elementos da casa, de cada casa.

COM ESSA COREOGRAFA?

Sim. Ela é genial, simplesmente genial. Com cada casa ela fazia a historia e fazia o guião.

É muito mais movimento que....

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ISSO É UMA METODOLOGIA ESPECTACULAR

tu ias adorar, tu tinhas adorado por que... a questão é que... a nossa cozinha, a

cozinha da Bota Abaixo tem frases escritas, montes de frases escritas. Ela pós-nos

um dia todos na cozinha da Bota, ”Têm estas frases. Escrevam outras.” e todos os

textos de todas as peças, à excepção dos da Raios te Partam que era também feito

com os assuntos... ela foi falar com os repúblicos e “Quais é que são os assunto aqui

falados nesta mesa?”, perguntou ela. “Carros, futebol, mulheres, professores...” e

nós depois tivemos que escrever uma frase, um parágrafo que contivesse essas

palavras. E isso deu então o texto da Raios te Parta. Estão textos feitos a partir das

frases que escreveram na parede da Bota Abaixo e eu tenho-te a dizer que o último

momento da peça “pré questão para última” (19:59) era uma declaração solene

que consistia no seguinte:

“bolsa bate sardinhas nas asas

enfardando competências no cú da polícia

bem cozia na panela a alvaca (20:09)

a transpirar da ressaca e o caralho enfiado na boca do futuro

se eu não sou sensível a ter umas cuecas enfiadas nos pendentes”

Solene, está a ver? Foi tudo trabalhado assim. Foi genial!

E MESMO COM ESSAS EXPERIENCI NUNCA PENSASTE EM ESCREVER?

Não, eu não penso em escrever.

Relação com o Poetry Slam

1. Quando ouviste, leste, etc. sobre o Poetry Slam pela 1ª vez?

Foi quando começou, para ai... cá, cá...em Coimbra

2. E por que é que ficaste interessado no Poetry Slam?

Primeiro porque eu tenho uma grande confiança no trabalho feito pelas

pessoas que eu sabia que estavam a organizar o Poetry Slam. Ponto numero

um. Ponto numero dois: o formato era uma coisa curiosa, porque aliava tudo

o que é (inaudível (23:33) rap com literatura e isso é muito giro. São duas

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linguagens que se tocam mais do que à primeira vista parece. E depois

porque é muito giro pensar nas antigas cenas de cantar à desgarrada e coisas

assim. Competições. Por se fores reparar sempre houve competições da

palavra. E em todos os ambitos há competições da palavra. Tens... desde

logo a Assembleia da Republica, não é? E isso acontece desde os gregos.

Aquilo é um belo slam! Aquilo é um slam e eles só dizem barbaridades.

HÁ SLAMS ONDE SÓ SE DIZEM BARBARIDADES.

Continuam a ser mais assertivas e mais racionais do que as que se dizem na

Assembleia da Republica, tenho isso para mim, não sei...

MAS NÃO TE PERCAS, ESTAVA A FALAR POR QUE É QUE TE INTERESSOU.

Já disse, precisamente por esses duas vertentes. Eu percebi logo o esquema.

Por que eu conhecia a estrutura da organização e sabia o trabalho que ela

fazia e que fazem, por que eu já as conhecia de outros anos. Conhecia-as das

Aranhiças e Elefantes e antes disso da Oficina. Portanto já estava a saber ao

que é que ia e isso interessa-me bastante. Tanto que uma das coisas que

organizei de cultura, voltando um bocadinho atrás, foram precisamente

aquela tertúlias de (inaudível 25:16) que foram antecedidas sempre de um

momento cultural... que foi genal... constituição os nossos demónios 25:39)

3. Achas que há uma relação entre o teu envolvimento na arte e na

cultural em geral e o teu envolvimento no poetry slam? Há uma relação entre

o papel da arte e da cultura na tua vida e o interesse que tens pelo poetry

slam? /achas que o interesse que tens pela arte e cultura em geral condiciona

o interesse que tens, que sentiste pelo poetry slam?

COMO É QUE DESCREVES O TIPO DE ENVOLVIMENTO QUE TENS COM O

SLAM? A NIVEL PESSOAL, OU SE HÁ ALGUM INTERESSE DO LADO

PROFISSONAL OU ACADÉMICO

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É hobbie, acho que é mais considerado um hobbie. Se bem que... a questão é

que o Slam, sendo spoken word e não sendo livro, a maneira que tens é a

ouvir. Como tu, enquanto público quando interages com o que está a

acontecer é ouvindo. E a questão, precisamente de ser esse o ponto mais

mais importante no Slam, para mim, na minha opinião, a maneira como as

coisas funcionam no aspecto do som. A (inaudível 26:43) ou era russa, não

sei? Eu não percebi nada do ela disse, não é? Zero! Mas como eu estava dizer

a questão da importância do som... da impressão de ouvir determinada

sequência de sons. Por um pouco ligar poesia a som despertou-me a atenção

para a importância desse mesmo aspecto no hiato temporal que eu estudo

que é a poesia greco-arcaica (inaudível 27:39) em que as coisas eram lidas....

e recitadas, recitadas não... quer dizer performadas. E ter esta atenção... eu

agora tenho a sensação que é escrito, mas a questão é ter atenção ao efeito

sonoro que aquilo tinha e o que é que isso pode sugerir em termos de

emoções, por que normalmente contam historias, são narrativas. Mas ter

isso em atenção deu-me perguntas importantes para intrpretações, mesmo

relacionando esse ritmo, esse som com a palavra. Quando tu tens anáforas

tu consegues perceber que tens um ritmo mais acelerado. E essas coisas são

importantes são cornetas (28:27) muito importantes para quem estuda uma

coisa que alguns dizem que está morta. Só que não está! (inaudível 28:34)

ACHAS QUE O TEU INTERESSE COM O POERTRY SLAM TEM QE VER COM O

TEU INTERESSE MAIS GERAL COM AS ARTES A E PELA CULTURA, OU ACHAS

QUE MESMO QUE NÃO HOUVESSE UM INTERESSE PRÉVIO, OU UM

INVESTIMENTO PRÉVIO NESSA PARTE, NESSA VERTENTE DA VIDA TE IAS

INTERESSR NA MESMA PELO POETRY SLAM?

Está a perguntar se era uma coisa que me iria seduzir do nada?

OU SE ACHAS QUE HÁ UMA RELAÇÃO COM O INTERESSE QUE TU TENS

PELA LITERATURA, PELO CINEMA, PELO TEATRO...

isso é um pergunta curiosa que eu não te sei responder. Eu tendo a achar

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que sim. Nunca me tinha imaginado duma outra forma sem ser a gostar

destas coisas. Isso é difícil, mas eu julgo que sim.

CHAS, POR EXEMPLO, QUE MOVERES-TE NOS MEIOS AJUDA TAMBÉM A

SABER DO QUE SE PASSA E EM CONSEQUENCIA DO SLAM?

Ajuda, ajuda muito. Sim e depois há outra questão. Sabendo que mesmo que

vá sozinha nunca vou ficar sozinha porque conheço toda a gente: conheço

os slamers, conheço os organizadores, conheço toda a gente... Eu não sei até

que ponto é que se eu não conhecesse ninguém não sei se, não estando eu

já desperta previamente para isso se arriscava. Não sei. A questão é que ….

bem mas se queres saber acho que me interessava à mesma....lá está!... não

sei. Acho que não consigo responder a isso. Mas que mover-me nos meios

em que me movo ajuda, ajuda. Sem duvida. Mas também só me movo nos

meios em que me movo por acontecem determinadas coisas, portanto está

tudo ligado.

4. Conheces Poetry Slams de outros pontos do país? E de outros países?

SE JÁ OUVISTE FALAR, SE JÁ VISTE NA INTERNER...

sim, já vi do de Lisboa e do de Braga

E DE OUTROS PAISES?

Não, já ouvi falar de algumas coisas.... já ouvi falar na Ana Rafi... não sei se ela

se pode considerar uma slamer, mas não sei se ela se pode considerar uma

slamer porque não me parece que ela compita. E creio que é só... no

mundo... lembro-me de ouvir falar qualquer coisa dos Estados Unidos,é

possível? Eu ouvi falar qualquer coisa, mas não sei se não foi em conversa

com o Bruno.... somewhere...

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5. Participas no slam DE COIMBRA em que vertentes: organização,

slammer, público, júri?

No publico e no Juri

6. Em que outros Poetry Slams já participaste? Como slammer, público,

júri,...?

Não, mas queria.

7. (se respondeu sim à pergunta anterior) Que semelhanças existem

entre os Poetry Slams em que já participaste? E diferenças?

MESMO NÃO TENDO PARTICIPADO, DAQUILO QUE SABES, IDENTIFICAS

DIFERENÇAS ENTRE AQUELES QUE FALASTE, DOS TRES: COIMBRA, BRAGA E

LISBOA?

Não sei o suficiente para...

8. Como descreverias o poetry slam?

Dizia que é basicamente uma competição, em que existem os slamers e um

júri em nome do publico. Costuma mirar sempre mais pessoas no publico do

que aquelas que vão para o júri e isso é bom (33:00). É um ponto importante.

Mas depois têm um determinado tempo para fazer slam. E depois vão sendo

eliminadas, ou seja, o que é que conta para que.... e depois há outra questão

que eu também... que é muito, que é muito... subjectivo da maneira como se

avalia. Se calhar, tinha que chamar a atenção para isso. Por que a maneira

como se avalia, é pela questão como quantificas, não tens critério de

eleição... eu, se calhar, olho ao conteúdo mais do que faz sentido, mas

também pode fazer... avaliar a componente sonora também faz sentido.

Porque há poemas em que os slamers dão mais importância ao sentido do

que ao som. A questão é tu conseguires no meio daquilo tudo entre os

diversos slamer, que existem ou podem existir, seleccionar o que é melhor. E

para isso tudo define tu os teus critérios. E isso também é interessante, cada

júri define os seus critérios. Isto pode-se ter, para um mesmo poema, entre

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um e dez. Um um e Dez! E isso é muito engraçado de perceber... perceber

também depois a intenção do publico... por que com a votação consegues

perceber... consegues perceber do que é que o público vai à procura, o juri,

no caso... o público/ júri. E depois juntado a isso... é que tempo bem passado

em que nos rimos muito das coisas, sobretudo essas (inaudivel 34:34) acho

sempre muita piada... e que, no fundo, acaba por ser o que é mais conhecido

de um recital não sendo um recital. E depois tens o microfone aberto.

PORQUÊ? QUAL É A DIFEENÇA ENTRE UM RECITAL E UM SLAM?

Um recital, na acepção que eu lhe daria... se alguém entrasse num recital era

uma coisa muito mais normais... a pessoa lê o poema e vem-se embora. Eu

não conectaria a um recital a competição. Percebes? E nesse sentido parece-

me bastante diferente. Quem chega a um recital... se calhar uma pessoa vai

fazer uma... não, pode fazer várias... toda aquela questão de saber se levo

três poemas preparados ou não.

Público

1.0 (para organizadores e slammers) Também participas no Poetry Slam como parte do público?

1. (se não é slammer) Como soubeste da existência do Poetry Slam?

Flyers

2. Por que escolhes o poetry slam em relação a outros eventos ou outras actividades

que poderias fazer à mesma hora e dia do slam?

Se for um concerto que eu queira mito ir ver e que eu queira ir ver, se calhar eu

escolho o concerto. Depende muito da actividade. Se for ir ao cinema ver um filme

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qualquer que está lá cinquenta mil anos... quero lá saber... porque não é uma coisa

que aconteça assim todos os dias e porquê? Porque é um registo e tem um foco de

acção e de interesse, muito, muito específico que não é assim tão comum. Uma

peça de teatro é comum, um concerto é comum, o cinema é comum. Desde logo

uma competição de poesia não é nada comum aqui, pelo menos do que eu conheço

nesta cidade. Portanto, por causa disso seria a minha preferencia.

3. (só para público) como definirias a tua participação no Poetry Slam?

Desculpa lá, mas eu já compus um poema para tu leres e o Bruno! Já participei

daquela vez, já chega!

MAS DE UMA FORMA MAIS SISTEMÁTICA?

Nao!

4. Pensas participar no slam numa das outras vertentes: organizando, competindo ou

fazendo parte do júri? Se sim, porquê?

Ah na organização talvez! Na organização pode ser.

VES-TE A ORGANIZAR UM SLAM NUM SITIO QUALQUER?

Não é alguma coisa que eu pensasse “Nunca na vida!” de maeira nenhuma

SE O FIZESSES QUAL SERIA A TUA MOTIVAÇÃO?

Lá está o carácter... enfim... raro, por que é raro, pelo menos do mundo que eu

conheço. Não é muito comum teres (inaudível 38:48) …. eu também sou do

Bombarral,não exemplo para ninguém o Bombarral. Não acontece nada no

Bombarral,mas enfim...

O SALM EM PORTUGAL FEZ DOIS ANOS AGORA SÓ

pois, também é isso, mas estou a pensar... mas a questão é também dar outra

roupagem à... ou seja, mostrar às pessoas o que é que se pode fazer com a poesia

na verdade. Pront que não são só uns livros no armário. Não faz sentido. Fazeres o

que tu quiseres e isso é bom, ou seja, dar esta vertente de qualquer pessoa pode

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escrever menos eu, é giro.

ENTÃO E SE FOREM OUTRAS PESSOAS A LER, ESCREVES? EU POSSO CONTINUAR A

LER AS TUAS POESIAS.

Não, nem assim. Não, não, não, não, não. Aquilo foi só mesmo por que sim. Nesse

dia não havia competição.

É UM CONCEITO INTERESSANTE FAZ-ME LEMBRAR A QUESTÃO DO VENTRÍOLUCO.

A VOZ DAQUELA PESSOA NÃO VEM DELA, É ENGRAÇADO.

Está bem, vou olhar para as paredes da Bota e vou ver o que posso sacar dali...

5. Já fizeste parte do júri de um slam?

Júri

1. Como decides a pontuação a dar?

...lá está... eu consigo num poema pensar no conteudo e noutro pensar só no som.

Depende do que me marcar mais e do que me retiver mais a atenção naquela

performance, naquela específica.

2. Quais são as tuas principais dificuldades?

Nós estamos a falar de abordar diversas performances e isso significa, que às vezes

eu tenho que por nos pratos da balança se prefiro os efeitos sonoros ou conteúdos.

E às vezes isso é muito complicado. Porque se é dada uma pontuação áquela

performace em específico, facilmente eu percebo se gosto mais do conteúdo

daquilo ou do efeikto sonoro faço um balanço mais ou menos, noves fora nada e dá

isto, pronto! Mais ou menos é isto. Quando estás a pensar em todas e estás a pensar

“Já dei determinada pontuação áquela e esta são mais perguiçosos (41:26)

POR COMPARAÇÃO

sim, sim. Tem que ser para ser mais ou menos justo.

NA PRIMEIRA RONDA TENTAS RECORDAR-TE DAS PONTUAÇÕES QUE TENS DADO

E IRES FAZENDO UMA COMPARAÇÃO.

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Sim, para ir havendo alguma justiça na pontuação. E uma outra coisa. Depois, à

medida que o Slam vai avançando tento ter em conta (e isso se calhar não é muito

justo) as performances desse slamer... em performances anteriores. Para fazer uma

avaliação.... uma média, vá.

QUALQUER DIA VAIS DE CALCULADORA

Ai vou!

Relação com o Poetry Slam

O Poetry Slam tem, geralmente, uma parte de competição e uma parte de open mic. A

primeira tem algumas regras e uma certa ordem. A segunda pressupõe uma participação

com menos limites (tempo, adereços) e não tem a atribuição de pontuação.

1. O que pensas sobre o formato de competição? (42:56(

1.1. A utilização deste formato no poetry slam faz-te repensar o conceito de

competição?

2. E o que achas da parte de open mic, microfone aberto?

3. O que pensas do papel, da função do júri?

4. Achas que deviam ser dados critérios prévios ao júri para a avaliação que fazem?

5. Como é que é o público do poetry slam?

6. O que pensas sobre a condição de os textos terem que ser da autoria do slammer

para que possa participar na competição?

7. Na tua opinião, qual foi a razão para se criar um evento desta natureza, com estas

características?

8. Qual a tua opinião sobre os textos que são lidos, performados no poetry slam?

9. Achas que há um tipo de texto, um tipo poesia do poetry slam, que tem mais a ver

com o poetry slam? (se sim) Podes descrever, dizer como é, esse tipo de texto?

10. O que gostas mais no Poetry Slam?

11. O que gostas menos?

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12. Já falaste sobre o Poetry Slam com pessoas que não ouviram falar ou nunca

estiveram num? O que dizes?

13. Na tua opinião, o que é que atrai as pessoas, público e slammers, no Poetry Slam?

14. Na tua opinião, para que serve o Poetry Slam?

15. No mundo da poesia, o Poetry Slam é um evento mainstream (de massas, popular)

ou underground, de contracultura (é uma sub-cultura com normas e valores que se

opõe àquilo que é mainstream, ex: Beat generation, hippies)?

16. Achas que existe uma comunidade em torno do Poetry Slam em Portugal? Porquê?

17. Achas que há grupos/comunidades de diferentes tipos de poesia?

18. Identificas algum tipo de relação entre as pessoas dos Poetry Slams de Portugal?

Apercebes-te de circulação de pessoas entre slam´s? (excepto para organizadores)

19. (excepto para organizadores?) Achas que o Poetry Slam é influenciado por outras

áreas artísticas (excepto poesia, performance)? Como?

20. Baseando-te na tua experiência de frequentadora de eventos de poesia, podes

fazer uma comparação entre o poetry slam e outros eventos de poesia em que há

leituras e performances de poesia?

21. (excepto para organizadores) Como vai ser o futuro do Poetry Slam em Portugal?