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Relatividade em Engenharia Características e desempenho de sistemas de posicionamento global Cláudio Miguel Raposo Gualdino Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Prof. Dr. José Manuel Biouca Dias Orientador: Profª. Drª. Maria Hermínia Caeiro Costa Marçal Vogal: Profª. Drª. Maria João Marques Martins Maio/2011

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Relatividade em Engenharia

Características e desempenho de sistemas de posicionamento global

Cláudio Miguel Raposo Gualdino

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Prof. Dr. José Manuel Biouca Dias

Orientador: Profª. Drª. Maria Hermínia Caeiro Costa Marçal

Vogal: Profª. Drª. Maria João Marques Martins

Maio/2011

i

Resumo

O GPS (Global Positioning System) tem sido, desde do seu desenvolvimento na década de 70, o

sistema GNSS (Global Navigation Satellite System) de referência. Este sistema surgiu inicialmente

com motivações meramente militares tendo sido disponibilizado a utilizadores civis apenas no final da

segunda metade da década de 90. Com início em 1998, a União Europeia assinalou a sua vontade

em interromper a dependência do sistema norte-americano GPS anunciando o desenvolvimento de

um sistema de posicionamento global com carácter inteiramente civil - GALILEO.

Os sistemas GNSS, devido à velocidade e altura a que se encontram os seus satélites sofrem

determinados efeitos, o - quais podem ser explicados pelas Teorias da Relatividade Geral e Restrita –

de Einstein. Estes efeitos relativistas provocam um desvio do ritmo dos relógios incorporados nos

satélites relativamente aos relógios localizados na superfície terrestre, ou na sua vizinhança. Caso

não fossem levados em consideração, os erros acumulados tornariam os sistemas GNSS

completamente ineficazes.

O presente trabalho faz uma comparação entre os dois sistemas (GPS - GALILEO) no que respeita

às suas características físicas e técnicas, nomeadamente os seus segmentos, serviços

disponibilizados e sinal, e analisa os erros devido aos efeitos relativistas e respectivas correcções a

efectuar em ambos sistemas.

Com base nesta análise conclui-se que a correcção a efectuar nos relógios incorporados nos satélites

são de , no caso do GPS, e de para o GALILEO.

Palavras-chave:

GPS, GALILEO, GNSS, efeitos relativista.

ii

Abstract

The GPS (Global Positioning System) has been, since its development in the 70s, the reference of

GNSS (Global Navigation Satellite System) systems. This system initially arose with military

motivation, having been made available for civilian use only later, in the second half of the 90s. Since

1998, the European Union demonstrated its willingness to break the dependence on the U.S. GPS

system and announced the development of a global positioning system with entirely civil character -

GALILEO.

The GNSS systems, due to the speed and height of their satellites, suffer relativistic effects which

cause a deviation of the beat of clocks embedded in satellites, compared to clocks located on the

Earth, or in its neighborhood. If not taken into account, those effects would make the system

completely useless. They are explained by the Theories of Relativity - General and Special – of Albert

Einstein.

The goal of this report is to compare the two systems (GPS - Galileo) and the level of their physical

skills and techniques, in particular their segments, available services and signal. An analysis of the

errors, due to relativistic effects and the corrections to be made in both systems will also be carried

out. Supported on Einstein‟s theories of Special and General relativity it was possible to determine the

corrections to be made on the clocks due to relativistic effects, obtaining a correction of 39μs/day and

41μs/day to GPS and GALILEO, respectively..

Keywords:

GPS, GALILEO, GNSS, Relativistic effects,

iii

Índice

Resumo .................................................................................................................................. i

Abstract ................................................................................................................................ ii

Índice .................................................................................................................................... iii

Lista de Figuras ................................................................................................................... vi

Lista de Tabelas ................................................................................................................. vii

Acrónimos ......................................................................................................................... viii

Constantes ........................................................................................................................... xi

Agradecimentos ................................................................................................................. xii

1 Introdução ....................................................................................................................... 13

2 Sistema GNSS ................................................................................................................ 14

2.1 Aspectos Gerais ........................................................................................................ 14

2.2 Como determinar a distância ................................................................................... 15

2.3 Aplicações do GNSS ................................................................................................. 16

2.4 Diferentes sistemas GNSS ....................................................................................... 16

2.4.1 GPS .................................................................................................................... 16

2.4.2 GLONASS ........................................................................................................... 17

2.4.3 GALILEO ............................................................................................................ 17

2.4.4 BeiDou ................................................................................................................ 18

2.4.5 QZSS................................................................................................................... 19

2.4.6 IRNSS ................................................................................................................. 20

3 Comparação entre os sistemas GPS e GALILEO ......................................................... 21

3.1 Sistema GPS ............................................................................................................. 21

3.1.1 Serviços ............................................................................................................. 21

3.1.1.1 PPS .......................................................................................................... 21

3.1.1.2 SPS .......................................................................................................... 22

3.1.2 Segmentos do sistema ..................................................................................... 22

3.1.2.1 Segmento espacial .................................................................................. 22

3.1.2.2 Segmento de controlo ............................................................................. 24

iv

3.1.2.3 Segmento do utilizador ........................................................................... 25

3.1.3 Caracterização do sinal GPS ............................................................................ 26

3.1.4 GPS Diferencial - DGPS ..................................................................................... 27

3.2 Sistema GALILEO ..................................................................................................... 28

3.2.1 Serviços ............................................................................................................. 28

3.2.1.1 Serviços satélites GALILEO ..................................................................... 29

3.2.1.2 Serviços localmente assistidos ............................................................... 31

3.2.1.3 Serviços do EGNOS ................................................................................. 32

3.2.2 Segmentos do sistema ..................................................................................... 33

3.2.2.1 Segmento espacial ................................................................................... 33

3.2.2.2 Segmento de controlo.............................................................................. 33

3.2.2.3 Segmento do utilizador ........................................................................... 34

3.2.3 Caracterização do sinal GALILEO .................................................................... 35

3.2.4 Interoperabilidade ............................................................................................. 36

3.3 Factores de degradação do sinal GNSS................................................................. 38

3.3.1 Erro de relógio .................................................................................................. 38

3.3.2 Efemérides ........................................................................................................ 39

3.3.3 Efeitos atmosféricos .......................................................................................... 39

3.3.3.1 Atraso ionosférico .................................................................................... 40

3.3.3.2 Atraso troposférico ............................................................................................ 40

3.3.4 Geometria dos satélites .................................................................................... 41

3.3.5 Multicaminho ..................................................................................................... 42

3.3.6 Efeitos relativistas ............................................................................................ 43

4 Relatividade nos sistemas GNSS .................................................................................. 44

4.1 Dilatação do tempo ................................................................................................. 46

4.2 Dilatação gravitacional do tempo ........................................................................... 48

4.3 Correcções a introduzir .......................................................................................... 49

4.3.1 Dilatação do tempo ........................................................................................... 50

4.3.2 Efeito gravitacional ........................................................................................... 51

4.3.3 Efeito Sagnac..................................................................................................... 52

v

4.3.4 Correcção da excentricidade ............................................................................ 54

4.3.5 Correcções a introduzir .................................................................................... 55

4.3.6 Futuro ................................................................................................................. 56

5 Conclusões ..................................................................................................................... 59

6 Bibliografia ..................................................................................................................... 60

Anexos ................................................................................................................................ 62

Anexo A .............................................................................................................................. 63

vi

Lista de Figuras

Figura 1 – Trilateração......................................................................................................... 15

Figura 2 – Órbita da constelação do sistema QZSS ............................................................ 19

Figura 3 – Constelação do sistema IRNSS .......................................................................... 20

Figura 4 – Segmentos do sistema GPS ............................................................................... 22

Figura 5 – Fluxo de Comunicação entre segmento espacial e de controlo .......................... 24

Figura 6 – Localização das estações do segmento de controlo ........................................... 25

Figura 7 – Sistema DGPS ................................................................................................... 27

Figura 8 – Área de cobertura do sistema EGNOS ............................................................... 33

Figura 9 – Arquitectura do segmento de controlo GALILEO ................................................ 34

Figura 10 – Terminal receptor - GALILEO ........................................................................... 35

Figura 11 – Diluição de precisão ......................................................................................... 41

Figura 12 – Efeito Sagnac ................................................................................................... 45

Figura 13 – Velocidade da luz constante ............................................................................. 46

Figura 14 – Relatividade da Simultaneidade ........................................................................ 47

Figura 15 – Dilatação gravitacional do tempo ..................................................................... 49

Figura 16 – Vectores de estado de um satélite GNSS ......................................................... 49

Figura 17 – Efeito Sagnac proporcional à área A ................................................................. 53

Figura 18 – Projecto SYPOR – Segmento de Controlo e Espacial coincidem ...................... 56

vii

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Desempenho dos serviços do sistema GALILEO .............................................. 29

Tabela 2 – Desempenho do serviço SAR ............................................................................ 31

Tabela 3 – Classificação DOP ............................................................................................. 42

Tabela 4 – Erros devido a efeitos relativistas ....................................................................... 55

Tabela 5 – Parâmetros técnicos dos sistemas GNSS .......................................................... 64

viii

Acrónimos

AFB Air Force Base

AS Antispoofing

BeiDou Sistema de Posicionamento Regional Chinês

BIM Broadcast Ionosphere Model

BNTS BeiDou Navigation Test System

CS Commercial Service

C/A Coarse/Acquisition

DGPS Differential Global Navigation System

DOD United States Department of Defense

DOP Dilution of Precision

DOT United States Department of Transportation

ECEF Earth Centered Earth Fixed

ECI Earth Centered Inertial

EGNOS European Geostationary Navigation Overlay Service

ESA European Space Agency

Galileo Sistema de Posicionamento Global Europeu

GCC GALILEO Control Center

GCS GALILEO Control System

GDOP Geometric Dilution of Precision

GEO Geostationary Earth Orbit

GGTO GPS – GALILEO Time Offset

Giove Galileo In-Orbit Validation Element

Glonass GLObal NAvigation Satellite System

GMS GALILEO Mission System

GNSS Global Navigation Satellite System

GOC Galileo Operating Company

GPS Global Positioning System

GSO Geosynchronous Orbit

ix

GSS GALILEO Sensor Station

GST GALILEO System Time

GTRF GALILEO Terrestrial Reference Frame

HDOP Horizontal Dilution of Precision

HEO Highly Elliptical Orbits

ICRS International Celestial Reference System

IERS International Earth Rotation Service

IGS International GNSS Service

IRI 95 International Reference Ionosphere 1995

IRNSS India Regional Navigation Satellite System

ITRS International Terrestrial Reference System

ITRF International Terrestrial Reference Frame

JAXA Japan Aerospace Exploration Agency

JPO Joint Program Office

MEDLL Multipath Estimation Delay Lock Loop

MEO Medium Earth Orbit

MET Multipath Elimination Technique

NASA National Aeronautics and Space Administration

OCS Operational Control System

OS Open Service

PDOP Position Dilution of Precision

PPS Precise Positioning Service

PRN Pseudo Random Noise

PRS Public Regulated Service

QZSS Quasi-Zenith Satellite System

RDSS Radio Determination Satellite Service

SA Selective Availability

SAR Search and Rescue Service

SBAS Satellite-Based Augmentation System

SoL Safety of Life Service

SPS Standard Positioning Service

x

SYPOR Système de Positionnement Relativiste

TAI International Atomic Time

TCAR Three Carrier Ambiguity Resolution

TDOP Time Dilution of Precision

TOA Time of Arrival

TT&C Telemetry Tracking and Command

ULS UpLink Stations

UTC Coordinated Universal Time

VDOP Vertical Dilution of Precision

WGS 84 World Geodetic System - 1984

xi

Constantes

Velocidade da luz

Constante de Gravitação Universal

Massa da Terra

Parâmetro gravitacional da Terra

Raio da Terra

Velocidade angular da Terra

Coeficiente do momento quadrupolar

da Terra

xii

Agradecimentos

A realização deste trabalho final de mestrado consiste no encerrar de mais um ciclo da minha vida.

Este momento representa o culminar de muito esforço, dedicação, e espírito de sacrifico, que só foi

possível com a compreensão, afecto e motivação da família e amigos. Contudo, quero endereçar

um especial obrigado à Professora Doutora Maria Hermínia Costa Marçal pelo tema sugerido,

acompanhamento, compreensão e disponibilidade que sempre demonstrou no decorrer desta

dissertação; à família lá de casa que são os grandes responsáveis pelo que sou e consegui até hoje;

e finalmente mas, com certeza, não menos importante àquela pessoa que sempre esteve presente

com as suas palavras de incentivo, compreensão e apoio incondicional…obrigado Sofia.

Um Muito Obrigado a todos vós!

13

1 Introdução

Os sistemas GNSS (Global Navigation Satellite System), principalmente desde a abertura do GPS

(Global Positioning System) ao público civil, têm vindo a registar uma enorme evolução, quer a nível

técnico, precisão e fiabilidade, quer a nível de serviços disponíveis. Neste contexto, a União Europeia,

querendo libertar-se da sua dependência do GPS, está a desenvolver o seu próprio sistema –

GALILEO.

Este trabalho surge do desejo de colmatar uma ausência, na bibliografia especializada, de uma

comparação detalhada entre o actual sistema americano GPS e o primeiro sistema com motivação

inteiramente civil, desenvolvido pela União Europeia, o GALILEO. Isto será feito tendo em conta não

só a respectiva estrutura física e técnica, mas também a forma como estes dois sistemas são

afectados pelos efeitos relativistas.

Inicialmente será feita uma breve caracterização dos GNSS – capítulo dois – existentes ou em

desenvolvimento, onde se inclui o sistema russo GLONASS, o chinês BeiDou-Compass, e os dois

sistemas regionais o QZSS e o IRNSS originários do Japão e Irão, respectivamente.

Indo de encontro a um dos objectivos centrais deste trabalho, no terceiro capítulo, irá realizar-se uma

descrição dos sistemas GPS e GALILEO respectivamente. Neste ponto serão caracterizados

pormenorizadamente ambos os sistemas, em termos dos seus segmentos (Espacial, Controlo e

Utilizador), dos serviços disponibilizados e do seu sinal.

Os GNSS actuais, para que a sua utilidade seja efectiva, necessitam de correcções devido a efeitos

relativistas. Neste sentido, no quarto capítulo será realizada uma introdução aos conceitos da teoria

da Relatividade de Einstein relevantes para as correcções a integrar tanto no sistema GPS como no

sistema GALILEO. Mostrar-se-á que, caso tais correcções não fossem tidas em conta teríamos,

tomando como exemplo o caso GPS, uma acumulação de erros na ordem de . Neste ponto

irá ainda ser destacado um projecto que se encontra numa fase de desenvolvimento, tendo em visto

o futuro dos GNSS.

Por fim, no quinto capítulo serão efectuadas considerações finais relativamente às diferenças

encontradas entre o GPS e o GALILEO, tendo em conta a sua estrutura física e técnica e as

correcções a implementar devido aos efeitos relativistas.

14

2 Sistema GNSS

2.1 Aspectos gerais

Um sistema GNSS é um sistema utilizado para a determinação da posição de um objecto. O GNSS é

formado por uma constelação de satélites, com cobertura global, que envia sinais para um receptor

localizado na superfície, ou próximo, da Terra, permitindo que este possa calcular a sua localização

no espaço ( longitude, latitude e altitude) e tempo.

Inicialmente este sistema surgiu apenas devido a motivações militares. Contudo, o paradigma alterou-

se em 1996, altura em que o sistema GNSS americano, conhecido como GPS, foi disponibilizado a

utilizadores civis.

Para determinar a sua posição o receptor necessita de receber um sinal de cada um de quatro

satélites, para assim determinar as três coordenadas espaciais e uma outra respeitante ao tempo. O

método de cálculo utilizado neste sistema denomina-se por trilateração, uma vez que este processo

consiste em medir a distância entre o receptor e os diferentes satélites.

Tal como foi dito anteriormente, necessitamos de 4 satélites para determinar a posição tridimensional

de um qualquer ponto localizado no globo terrestre (ou perto dele) a qualquer instante (ver fig. 1).

Recorrer apenas a um satélite permite-nos calcular a posição de um objecto colocado numa esfera,

cujo raio é a própria distância calculada. A utilização de um segundo satélite reduz a incerteza da

posição a um círculo (intersecção de duas esferas). Um terceiro satélite intersecta o círculo anterior

em dois pontos. Por exclusão de partes, a posição está determinada uma vez que um dos pontos se

encontra, normalmente, muito distante da Terra. É ainda utilizado um último satélite como auxiliar, o

qual envia um quarto sinal ao receptor, permitindo deste modo sincronizar os relógios dos satélites e

receptor. Assim, um sistema GNSS pode determinar, de forma precisa, a posição de um dado

objecto. De salientar ainda que os satélites estão equipados com relógios atómicos, ao contrário do

que sucede com os receptores.

15

Figura 1 - Trilateração

Fonte: http://www.portalppc.com/v2/forum/viewtopic.php?f=4&t=121

Por outras palavras, o receptor recebe sinais de quatro satélites, no mínimo, relativos ao tempo e

posição . As mensagens enviadas no sinal possuem o tempo e posição de cada acontecimento

transmitido , em que . Assim, obtém-se 4 equações do tipo

(1)

Usualmente para facilitar a resolução é assumida uma aproximação da posição (p.ex o centro da

Terra ou a melhor posição conhecida) e resolvido por iteração. A precisão nos cálculos é

imprescindível porque, por exemplo, um erro de três nanosegundos no tempo corresponde a um erro

de um metro na determinação da posição. Estes cálculos são efectuados no receptor.

2.2 Como determinar a distância

Para determinar a distância do receptor a um satélite é necessário medir o tempo que um sinal - de

velocidade conhecida – demora a chegar ao receptor, o que é feito utilizando a já bem conhecida

fórmula

(2)

16

A distância entre o receptor e cada um dos satélites é a incógnita que se pretende determinar. A

velocidade é a velocidade da luz, constante e conhecida. O tempo corresponde ao tempo

decorrido entre a “partida” e a “chegada” do sinal ao receptor. O satélite envia um sinal (pseudo-

código, próprio a cada satélite) com uma mensagem que contém a sua posição e instante em que a

mensagem foi enviada. Assim, o receptor que tem o seu relógio sincronizado com o relógio do satélite

pode calcular a distância a que se encontra do satélite.

2.3 Aplicações do GNSS

A capacidade de determinar a posição tridimensional, precisa, de um objecto pode ser utilizada nas

mais variadas aplicações, nomeadamente:

Navegação;

Localização;

Mapeamento;

Emergência;

Aviação;

Etc.

2.4 Diferentes sistemas GNSS

Os governos dos EUA e da Rússia desenvolveram dois sistemas, durante as décadas de 60/70, o

GPS e o GLONASS, respectivamente. No entanto a evolução destes sistemas foi distinta, como se

demonstrará mais à frente. Em fase de desenvolvimento encontram-se os sistemas de navegação

Europeu, GALILEO, o sistema Chinês, BeiDou, o Japonês QZSS e o IRNSS, um sistema de origem

Indiana.

2.4.1 GPS

Os EUA em 1964 tinham um sistema de navegação operacional conhecido por TRANSIT. Contudo, o

sistema tinha muitas limitações, nomeadamente um serviço de posicionamento a duas dimensões, e

apenas servia para plataformas de baixa dinâmica.

As organizações governamentais americanas, incluindo o DOD (Department of Defense), a NASA

(National Aeronautics and Space Administration), e o DOT (Department of Transportation), estavam

empenhadas em desenvolver um sistema de navegação por satélite que tornasse possível determinar

uma posição nas três dimensões. Os atributos exigidos do sistema seriam cobertura global,

disponibilidade, capacidade de servir plataformas de elevada dinâmica e precisão.

17

Todos os esforços realizados pelas organizações referidas resultaram no sistema GPS, que será

descrito mais à frente no capítulo 3.

2.4.2 GLONASS

A Rússia, semelhante ao que se passou com o GPS, começou a desenvolver o seu sistema no final

da década de 1960, início de 1970, inicialmente com o intuito de dar suporte às suas forças militares.

Todavia, testes iniciais do sistema demonstraram que seria possível utilizar este sistema também

para uso civil, sem comprometer a vertente militar.

O primeiro satélite da constelação foi enviado a 12 de Outubro de 1982. No início do ano de 1996 foi

declarada como operacional a constelação GLONASS. Esta constelação é constituída por 24

satélites, sendo 3 dos quais de reserva (21 + 3). Os satélites estão dispostos em três planos orbitais

espaçados entre si de 120º. Os 21 satélites asseguram, em 97% dos casos, que pelo menos 4

satélites estejam visíveis em qualquer ponto da superfície da Terra. Os satélites encontram-se em

órbita MEO (Medium Earth Orbit), a 19 100 km da superfície da Terra com uma inclinação de 64,8º. O

período orbital é de 11 horas e 15 minutos. Porém, devido a problemas económicos e de manutenção

alguns satélites deixaram de funcionar e depressa o sistema deixou de estar operacional.

Em 2001, o governo russo estabeleceu um programa para restabelecer o seu sistema entre 2002 –

2011 – GLONASS M.

O GLONASS utiliza duas bandas L ( L1 - 1602 MHz, L2 - 1246 MHz), apresentando dois níveis de

precisão. Alta precisão para serviços militares e baixa precisão para serviços civis.

Os russos estão a trabalhar com a União Europeia e os Estados Unidos de forma a alcançarem

compatibilidade entre o sistema GLONASS - GALILEO e GPS - GLONASS, respectivamente.

2.4.3 GALILEO

Em 1998 a União Europeia decidiu construir um sistema de navegação por satélite independente do

GPS e para uso civil. Surge assim o sistema conhecido por GALILEO, ainda em fase de

desenvolvimento, estando previsto a sua operacionalidade para o biénio de 2012/13.

O sistema é composto por uma constelação de 30 satélites em órbita MEO, em três planos inclinados

56º relativamente ao plano equatorial, a 23 222 km de altitude. Cada plano contém 10 satélites, sendo

um deles de reserva. Este último satélite terá a capacidade de substituir um qualquer outro satélite,

do mesmo plano, em cerca de 6 horas. O tempo de órbita é de 14 horas. Actualmente existem dois

satélites do programa GALILEO em órbita. O lançamento do primeiro, denominado Giove-A, ocorreu

a 28 de Dezembro de 2005 (Falcone et al., 2006). O segundo, Giove-B, teve lugar no dia 27 de Abril

de 2008 (ESA, 2008).

18

O sistema irá disponibilizar múltiplos níveis de serviço ao utilizador:

Open Service (OS);

Safety of Life (SoL);

Commercial Service (CS);

Public Regulated Service (PRS);

Search and Rescue Service (SAR).

No capítulo 3, o sistema será caracterizado com maior pormenor.

2.4.4 BeiDou

BeiDou é o nome atribuído ao programa Chinês de navegação por satélite multi-plataforma,

concebido para fornecer posicionamento, gestão de frotas e divulgação em tempo preciso, para uso

militar e civil. Actualmente, BeiDou está numa fase semi-operacional, com três satélites em órbita

GEO (Geostationary Earth Orbit), implantado sobre a China.

A longo prazo, o plano chinês passa por implantar uma constelação de navegação regional, ou

mundial, de 30 satélites (27 MEO + 3 GSO) no âmbito do Programa BeiDou-2 - Compass.

O programa BeiDou foi primeiramente proposto pelo académico chinês Chen Fangyun em 1983 com

o intuito de oferecer suporte à navegação de navios da marinha chinesa.

O BNTS (BeiDou Navigation Test System) fornece um serviço de RDSS (Radio Determination

Satellite System). Ao contrário do GPS, GLONASS e GALILEO, que utilizam medições TOA (Time of

Arrival) apenas num sentido, o RDSS exige medições nos dois sentidos. Ou seja, um centro de

operações envia um sinal através de um dos satélites BeiDou para um subconjunto de utilizadores.

Esses utilizadores respondem a este sinal transmitindo um sinal através de pelo menos dois dos três

satélites geoestacionários do sistema. O tempo de viagem é medido através do loop realizado pelo

sinal desde o centro de operações até ao satélite, receptor de um utilizador e caminho inverso. No

seu conjunto, estas informações sobre tempo de viagem, posições (conhecidas) dos dois satélites, e

estimativa da altitude do utilizador, permitem que o centro de operações determine a localização do

utilizador. Assim que realizado o cálculo, o centro de operações transmite a informação de

posicionamento ao utilizador.

BNTS é composto por três satélites. Os dois primeiros satélites, lançados em Outubro e Dezembro de

2000, foram colocados a 80º E e 140º E longitude na faixa geoestacionária e transportam um

transponder RDSS. Os transponders RDSS operam numa banda L (1610-1626.5 MHz) uplink e

banda S (2483.5-2500 MHz) downlink. O terceiro satélite do programa Beidou-1 foi lançado em Maio

de 2003 e colocado a 110º E de longitude. Este satélite carrega um transponder RDSS e um SBAS

19

(Satellite-Based Augmentation System). SBAS opera nas faixas de frequências do GPS L1 e L2 e é

usado para melhorar a precisão de dados obtidos através dos sistemas GPS e GLONASS.

O sistema BeiDou é caracterizado por uma dupla utilização (militar e civil). O serviço civil foi

declarado operacional após o lançamento do terceiro satélite em Junho de 2003.

Em 2007 iniciou-se o programa Compass, com o envio do primeiro satélite em órbita MEO, a 21

500km de altitude, no dia 14 de Abril de 2007 – Compass M1. Actualmente, já se encontram em

órbita seis satélites da constelação. É expectável que no decorrer de 2011 o território chinês esteja

coberto pelo Compass, no entanto apenas entre 2015 e 2020 o sistema apresentará uma cobertura

global. As bandas de frequência do sistema Compass sofreram uma alteração comparativamente ao

sistema BeiDou, passando a utilizar-se três bandas (1559.05 -1591.79 MHz; 1166.22-1217.37 MHZ;

1250.62-1286.42 MHz ), sendo a terceira banda de acesso restrito. O Compass apresenta-se com

uma precisão inferior a 10 m (95%).

2.4.5 QZSS

O QZSS (Quasi-Zenith Satellite System) é um sistema desenvolvido pelo Japão com o objectivo de

melhorar e garantir o serviço de navegação por satélite, nomeadamente o GPS, na região nipónica.

Devido às zonas montanhosas e às cidades dotadas de numerosos e grandes edifícios existem

problemas de cobertura em cerca de 80% do território, o que é francamente negativo. (Kaplan and

Hegarty, 2006)

Este sistema será constituído por uma constelação de 3 satélites, tendo o primeiro – satélite Michibiki

– sido lançado no dia 11 de Setembro de 2010 (Jaxa, 2010). Os satélites realizarão uma órbita HEO

(Highly Elliptical Orbits) (vide figura 2), com um raio orbital de 35 786 km acima da superfície

terrestre, envolvendo o território japonês e australiano.

Figura 2 – Órbita da constelação do sistema QZSS

Fonte: (JAXA, 2010)

20

Este formato orbital permitirá assegurar a presença de, no mínimo, um satélite sobre o território

japonês durante as 24 horas diárias. Os sinais a utilizar encontram-se nas bandas L1, L2 e L5 de

forma a garantir a compatibilidade com o sistema GPS. Os serviços disponibilizados pelo sistema

QZSS são, para lá do objectivo principal que é o posicionamento, as aplicações móveis, no intuito de

proporcionar uma comunicação à base de serviços de vídeo, áudio e dados.

É expectável a sua operacionalidade para o ano de 2013.

2.4.6 IRNSS

No mesmo sentido o governo indiano aprovou, em 2006, um programa de desenvolvimento do seu

sistema de navegação regional por satélite, o IRNSS (India Regional Navigation Satellite System). O

sistema será utilizado com grande incidência nas áreas de vigilância, telecomunicações, transporte,

identificação de áreas criticas e segurança pública. (Kulkarni, 2007)

Este sistema consiste numa constelação de 7 satélites distribuídos em duas órbitas, GEO

(Geostationary Earth Orbit) – 3 satélites - e GSO (Geosynchronous Orbit) – 4 satélites - sobre a

região indiana (ver figura 3). Todos os satélites estão visíveis, continuamente, durante 24 horas/dia

na região. O IRNSS terá dois tipos de serviços, um standard e outro restrito/autorizado. Ambos terão

os seus sinais em duas bandas, L5 (1176.45 MHz) e S (2492.08 MHz).

Figura 3 – Constelação do sistema IRNSS

Fonte: (Majithiya, 2011)

O lançamento do primeiro satélite está agendado para o último trimestre de 2011. A sua

operacionalidade estará assegurada a partir de 2014, com uma precisão anunciada inferior a 20m

sobre a região. (Majithiya et al, 2011)

21

3 Comparação entre os sistemas GPS e

GALILEO

Sendo, actualmente, o GPS o sistema mais utilizado no mundo para navegação por satélite, e sendo

o GALILEO a futura grande ameaça à hegemonia do sistema americano, considera-se de grande

utilidade, e tendo em conta o objectivo deste trabalho, uma pormenorizada caracterização destes dois

sistemas.

3.1 Sistema GPS

3.1.1 Serviços

GPS é um sistema caracterizado por actuar em duas vertentes, disponibilizando serviços a

utilizadores civis e militares. Estes serviços estão agrupados em dois formatos, designados por SPS

(Standard Positioning Service) e PPS (Precise Positioning Service). O SPS está definido para a

comunidade civil, enquanto que o PPS está destacado apenas para utilizadores autorizados das

forças militares e agências governamentais dos EUA.

3.1.1.1 PPS

O PPS está desenhado para oferecer uma precisão de pelo menos 13m (95%) no plano horizontal e

22m (95%) no plano vertical.

Como dito anteriormente, o PPS está disponível para uso por parte das forças militares e algumas

agências governamentais. Para uso civil é necessária uma aprovação especial do DOD.

O acesso ao serviço PPS é controlado através de dois recursos criptográficos denominados por AS

(antispoofing) e SA (selective availability). O AS impede que os receptores GPS sejam enganados por

sinais falsos e que utilizadores não autorizados façam medições directas em L2. Esta técnica foi

activada no dia 31 de Janeiro de 1994 e permanece em operação.

O DOD implementou o SA para reduzir a precisão da informação GPS (posição, velocidade e tempo),

através de dois factores, nomeadamente, 1-introdução de erros pseudo-aleatórios no relógio do

satélite; 2-degradação das efemérides radiodifundidas.

O SA foi entretanto removido a 1 de Maio de 2000, pelo que actualmente o SPS disponibiliza uma

precisão muito semelhante à dada pelo PPS.

22

3.1.1.2 SPS

O SPS está disponível para todos os utilizadores em todo o mundo, sem qualquer custo directo. Não

há restrições sobre o uso do SPS. Este serviço está projectado para fornecer precisão superior a 22m

(95%) no plano horizontal e 27m (95%) no plano vertical (média global).

3.1.2 Segmentos do Sistema

O sistema GPS é dividido em três segmentos principais:

O segmento espacial constituído pelos satélites que transmitem os sinais usados no

posicionamento GPS;

O segmento de controlo que é responsável pela manutenção do sistema;

O segmento de utilizador que abrange todas as aplicações e tipos de receptores.

Figura 4 – Segmentos do sistema GPS

Fonte: http://www.colorado.edu/geography/gcraft/notes/gps/gps_f.html

3.1.2.1 Segmento espacial

O segmento espacial é constituído pela constelação de satélites em órbita que fornecem os sinais e

mensagens de dados ao equipamento (receptor) do utilizador.

Constelação do GPS

Este sistema é constituído por 24 satélites localizados a uma altitude de 20 184 km e distribuídos por

6 planos orbitais com uma inclinação de 55º relativamente ao plano equatorial. O seu período orbital é

de 12 horas siderais ( ≈ 11h 58 min). Esta arquitectura permite que em qualquer ponto do globo, a

qualquer momento, estejam disponíveis, no mínimo, 4 satélites GPS.

23

Os satélites GPS transportam no seu interior transmissores para a radiodifusão dos sinais, e 4

relógios atómicos com precisão de 10-12

, i.e., apresentam uma estabilidade de 1 em

1.000.000.000.000 segundos, o mesmo será dizer que só ao fim de 32 000 anos o relógio se atrasará

ou adiantará 1 segundo.

Configuração do GPS:

o 24 satélites;

o 6 planos orbitais, com inclinação de 55º relativamente ao equador;

o Período sideral de 11h 58min;

o Altura orbital de 20.184 km;

o Cobertura global.

Actualmente a constelação é composta por 30 satélites operacionais, 11 da classe IIA, 12 da classe

IIR e 7 da classe IIR-M. (Chidester, 2010)

Neste segmento, o GPS apresenta 5 tipos de satélites que constituem as seguintes classes:

Bloco I, Bloco II. Bloco IIA, Bloco IIR, Bloco IIR-M, e por fim Bloco IIF. (Sá, 2004)

Bloco I – Nesta classe foram lançados 11 satélites pelo JPO (Joint Program Office), entre 22 de

Fevereiro de 1978 e 9 de Outubro de 1985. Actualmente a classe está completamente extinta.

Bloco II – As duas maiores diferenças entre as classes I e II prende-se com o facto dos satélites do

Bloco II apresentarem uma inclinação orbital que passou de 63º para 55º, e a restrição de sinal ao

utilizador civil. Foram lançados 9 satélites pela AFB (Air Force Base) entre 14 de Fevereiro de 1989 e

1 de Outubro de 1990.

Bloco IIA (Advanced) – Esta classe continuou com as características anteriormente desenvolvidas e

foram acrescentadas outras por forma a assegurar a capacidade de comunicação mútua. Alguns

satélites foram equipados com reflectores que permitiam a sua detecção através de estações laser.

Um conjunto de 19 satélites foi lançado entre 26 de Novembro de 1990 e 6 de Novembro de 1997.

Bloco IIR (Replacement) - Estes satélites caracterizam-se por algumas inovações, nomeadamente

são equipados com osciladores de hidrogénio, pelo menos uma ordem de grandeza mais precisa que

os osciladores de césio dos satélites existentes, e a comunicação e predição de órbita a bordo foram

melhoradas. Entre 17 de Janeiro de 1997 e 6 de Novembro de 2004 foram lançados 13 satélites

desta classe.

Bloco IIR-M (Modernized) – Esta classe foi concebida com o intuito de modernizar a classe anterior,

tendo em vista a introdução de três novos sinais disponíveis, nomeadamente, dois novos códigos

militares na banda L1 e L2, que ficou conhecido por M – code, e um sinal de uso civil na banda L2,

24

conhecido por L2C. Esta classe é constituída por 8 satélites, enviados entre 26 de Setembro de 2005

e 17 de Agosto de 2009.

Bloco IIF (Follow-on) – Esta classe ainda está em fase de desenvolvimento, tendo sido lançado o

primeiro satélite no dia 28 de Maio de 2010. Estes satélites apresentam a introdução de um novo

sinal, L5 = 1176,45 Mhz, de uso civil e transmitido numa frequência específica para aplicações de

segurança de vida humana (safety-of-life).

Actualmente, prevê-se a estruturação de mais uma classe, denominada Bloco III – Satélites de Nova

Geração, com o objectivo de fornecer precisão sub-métrica, maior precisão de tempo e elevada

capacidade de cruzamento de dados inter-satélite. (Kaplan and Hegarty, 2006)

3.1.2.2 Segmento de controlo

O segmento de controlo é responsável por detectar e manter os satélites no espaço. Monitoriza o

estado do satélite, mantém a configuração da sua órbita, e analisa a integridade do sinal. Além disso,

actualiza as correcções do relógio do satélite e efemérides, bem como numerosos outros parâmetros

essenciais para a determinação da posição do utilizador.

O segmento de controlo constitui o OCS (Operational Control System) que consiste numa estação

principal, uma rede mundial de estações de monitorização e de estações de controlo terrestres. (Sá,

2004)

Figura 5 – Fluxo de comunicação entre segmento espacial e de controlo

Fonte: (Sá, 2004)

A estação principal de controlo, sediada no Colorado, E.U.A, recolhe os dados de detecção das

estações de monitorização, calcula tanto os parâmetros orbitais1 como dos relógios e, posteriormente,

1 - O sistema GPS trabalha com as coordenadas cartesianas (X, Y, Z), referenciadas ao Sistema Geodésico Mundial 84

(WGS - 84).

25

reenvia-os para uma das 3 estações de controlo terrestre, para que esta possa comunicar com os

satélites. Esta estação principal é igualmente responsável pelo controlo dos satélites e do sistema de

operação.

A rede de monitorização é constituída por 5 estações, situadas em 5 pontos distintos, uma no

Colorado, e as restantes nas ilhas Hawaii, Ascention, Diego Garcia e Kwajalein. Estas estações

determinam continuamente as pseudo-distâncias relativamente a todos os satélites visíveis. Estas

são recolhidas com intervalos de 1,5 segundos, usando dados ionosféricos e meteorológicos, para

serem enviadas à estação principal. Esta rede é utilizada para a determinação das efemérides

transmitidas.

Por fim, temos as estações de controlo terrestre, que são 3, localizadas na estação de monitorização

de Ascention, Diego Garcia e Kwajalein. Estas estações funcionam como sistema de comunicação

com os satélites, aos quais transmitem as efemérides e as correcções de tempo, previamente

calculadas na estação principal.

Figura 6 – Localização das estações do segmento de controlo

Fonte: (Sá, 2004)

3.1.2.3 Segmento do utilizador

O segmento do utilizador é constituído pelo equipamento do utilizador (receptor) que processa os

sinais transmitidos dos satélites de forma a determinar a sua posição. Encontra-se dividido em dois

tipos de serviços, civil e militar.

26

Os receptores GPS recolhem os dados enviados pelos satélites transformando-os em coordenadas,

(distâncias, tempo, deslocamento e velocidade) através de processamento em tempo real ou pós

processamento.

3.1.3 Caracterização do sinal GPS

Os satélites da constelação GPS transmitem sinais em duas frequências da banda L, denominadas

por L1 e L2, que são obtidas a partir da frequência fundamental (fo) de 10,23 MHz multiplicada por

154 e 120 para gerar as portadoras. Portanto as frequências (L) e os comprimentos de onda

resultantes são:

O código PRN (Pseudo Random Noise) é modulado sobre as duas portadoras. O código C/A

(Coarse/Aquisition) é modulado apenas na portadora L1 e tem comprimento de onda (λ) por volta de

300 m e frequência de 1,023 MHz. O código P (Precise ou Protected), reservado ao uso militar

americano e a utilizadores autorizados, tem comprimento de onda de aproximadamente 30 m e é

transmitido com uma frequência de 10.23 MHz, além de ser modulado nas duas portadoras (L1 e L2).

Com a modernização do sistema GPS surgiram três novos sinais, L2C, M-code e L5 (Kaplan and

Hegarty, 2006)

O sinal civil L2C,que é um sinal melhorado do L1 C/A, permite a correcção de erros ionosféricos ao

utilizador civil.

O M-code consiste na modernização do código militar, exclusivo para uso militar, nas bandas L1 e L2.

Este código irá trazer mais segurança, robustez, e fiabilidade ao sistema.

Por fim, temos o sinal L5, também um sinal civil, que opera na banda L numa frequência de 1176, 45

Mhz (115 fo ), específico para aplicações de segurança da vida humana (safety-of-life).

27

3.1.4 GPS Diferencial – DGPS

Com a necessidade de melhoria da qualidade e precisão do GPS surgem novas técnicas para cálculo

e diminuição de erros na determinação do posicionamento de um objecto. Neste contexto, foi

implementado o DGPS (Differential Global Positioning System).

Este método baseia-se no envio de duas medidas ao receptor (Correia, 2003). A primeira é

directamente recebida a partir do satélite. A segunda medida é enviada por uma estação terrestre,

próxima do receptor. Esta estação recebe, igualmente, o sinal oriundo do satélite, que virá afectado

sensivelmente pelo mesmo erro, uma vez que a estação e o receptor estão geograficamente

próximos. A estação terrestre ao processar o sinal recebido, e conhecendo a sua própria posição

“real”, faz a correcção entre a sua posição, enviada pelo satélite, e a sua real posição.

Posteriormente, envia a rectificação ao receptor, que de forma diferencial procede à correcção da

informação anteriormente recebida.

Figura 7 – Sistema DGPS

Fonte: (Correia, 2003)

Com este método é possível alcançar níveis de precisão bastante elevados, dependendo da distância

entre o receptor e a estação terrestre.

28

3.2 Sistema GALILEO

Reconhecendo a importância estratégica das aplicações dos sistemas GNSS, no inicio da década de

90 a Comissão Europeia e a ESA (European Space Agency) desenvolveram a primeira geração de

um sistema global de posicionamento, o GNSS-1, conhecido por programa EGNOS (European

Geostationary Navigation Overlay Service2).

Apesar do GNSS-1 fornecer benefícios imediatos, com evidentes melhorias na integridade e precisão

do sinal, não oferece um nível de controlo sobre o GNSS. Dada a sua dependência do GPS não pode

oferecer garantias quanto à disponibilidade e desempenho dos sinais. Perante esta conjuntura as

agências Europeias estão a desenvolver a futura geração de navegação por satélite (GNSS-2) - o

sistema GALILEO - uma constelação de satélites com cobertura mundial.

O uso combinado do GALILEO, EGNOS e GPS / GLONASS irá aumentar o desempenho global,

robustez e segurança inerentes aos serviços realizados a partir de sistemas GNSS. (Kaplan and

Hegarty, 2006)

3.2.1 Serviços

O programa GALILEO é o primeiro sistema direccionado apenas para uso civil. Assim, o seu principal

objectivo encontra-se nas necessidades do utilizador civil e do mercado global. (European

Commission, 2002)

Os serviços fornecidos pelo sistema podem agrupar-se em serviços independentes e serviços

combinados com os restantes sistemas GNSS existentes. Os serviços do programa GALILEO podem

ser classificados da seguinte forma:

Serviços satélites GALILEO;

Serviços localmente assistidos;

Serviços EGNOS;

Serviços combinados.

2 - EGNOS – Este programa consiste no aumento da funcionalidade do GPS e GLONASS, com grande ênfase

nas aplicações de transportes (terra-água-ar) no território europeu e vizinhança. Tem como base o envio, a partir

de 3 satélites geoestacionários, de sinais GPS e GLONASS com as devidas introduções diferenciais, efectuadas

a partir de 30 estações de controlo e monitorização da integridade do sinal, de 4 centros de controlo principais e

de 6 estações de emissão.

29

3.2.1.1 Serviços satélites GALILEO

Este pacote de serviços oferece uma cobertura global e independente dos outros sistemas GNSS,

recorrendo apenas à combinação de sinais transmitidos pelos satélites GALILEO.

Na tabela 1 apresenta-se uma breve referência ao desempenho dos serviços disponibilizados pelo

sistema GALILEO.

Serviços Globais do

GALILEO

Serviço

Aberto

Serviço

Comercial Segurança de Vida Serviço Público Regulado

Cobertura Global Global Global Global

Precisão Posicional (H, 2

dRMS, 95%) (Vert, 95%)

15m ou 24m H – 35m V (frequência simples)

4m H – 8m V

(dupla frequência)

4m H – 8m V (dupla frequência)

15m ou 24m H – 35m V (frequência simples)

6.5m H – 12m V

(dupla frequência)

Precisão Temporal

(95%) 30 ns 30 ns 30 ns 30 ns

Limite do Alerta de Integridade

Tempo de Alerta

Risco de Integridade

Não

Não

12m H – 20m V

6s

3.5 x 10-7

/ 150s

20mH – 35m V

10s

3.5 x 10-7

/ 150s

Risco de

Continuidade -- -- 1 x 10

-5 / 15s 1 x 10

-5 / 15s

Disponibilidade do

Serviço 99.5% 99.5% 99.5% 99.5%

Controle de Acesso Acesso Aberto Livre

Acesso Controlado de

Códigos de Distâncias e

Mensagens de Navegação

Autenticação de Informações de Integridade nas Mensagens de

Navegação

Acesso controlado de Códigos de Distâncias e

Mensagens de Navegação

Certificação e Garantias de Serviço

Não Garantia de

Serviço Possível

Projectado para Certificação e Garantia

de Serviço

Projectado para Certificação e Garantia

de Serviço

Tabela 1 – Desempenho dos serviços do sistema GALILEO

Fonte: (Kaplan and Hegarty, 2006)

Os serviços prestados contemplam uma larga escala de possíveis aplicações com diferentes

requisitos operacionais que se podem agrupar em 5 níveis.

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1. Open Service (OS)

Este serviço está concebido para o utilizador comum – aplicações do mercado de massas - que não

requer qualquer garantia. A sua precisão será equivalente ao sistema DGPS, mas sem a necessidade

de recurso a infra-estruturas no solo. Como se observa na tabela acima, o OS apresenta uma

precisão horizontal de 4 metros e vertical de 8 metros, ambas com 95% de fiabilidade. Este serviço é

gratuito e será disponibilizado a qualquer utilizador que possua um receptor.

A gama de sinais disponíveis para difusão deste serviço são, as bandas E5a+E5b (1164 – 1215 MHz)

e L1 (1559 – 1592MHz).

2. Safety of Life (SoL)

Com o intuito de garantir um serviço de alto desempenho a utilizadores de segurança crítica,

nomeadamente marinha, aviação e comboios, será criado o serviço SoL. Este serviço pretende

fornecer altos níveis de desempenho global, satisfazendo as necessidades destes utilizadores e

aumentando a sua segurança, especialmente nos locais onde as infra-estruturas tradicionais no solo

não apresentam tanta eficácia.

O SoL será cedido abertamente e o sistema terá o seu sinal autenticado (p.ex através de assinatura

digital) de forma a assegurar ao utilizador que o sinal recebido é efectivamente o sinal real do

GALILEO. O serviço será igual para qualquer utilizador, e activado através de requerimento do

próprio.

Os sinais ocupados por este serviço são, as bandas E5a+E5b (1164 – 1215 MHz) e L1 (1559 –

1592MHz).

3. Commercial Service (CS)

Este serviço possibilitará o desenvolvimento de aplicações profissionais, com um alto desempenho de

navegação e dados de valor acrescentado. Estas aplicações terão como base: a disseminação de

dados com uma velocidade de 500 bps, para serviços de valor acrescentado; a difusão de dois sinais

de forma a facilitar aplicações avançadas, tais como a integração das aplicações de posição

GALILEO com redes de comunicação sem fio; o fornecimento de alta precisão de posição e

navegação indoor.

O nível de desempenho deste serviço resulta da conjugação de três factores, nomeadamente o

serviço comercial em causa, a procura da Indústria, as necessidades do consumidor. O serviço será

regulado pela GOC (Galileo Operating Company).

Os sinais utilizados serão os mesmo que o OS, adicionando-se outros mais dois sinais encriptados

(revestimento no código e dados) na banda E6 (1260 – 1300 MHz).

4. Public Regulated Service (PRS)

O PRS apresenta-se como um serviço robusto (exibe um nível de protecção superior aos anteriores

serviços) e de acesso controlado para aplicações governamentais. O serviço deverá exibir um

funcionamento contínuo e em qualquer circunstância. O PRS é um serviço independente. Uma

característica que destaca o serviço PRS é a robustez do seu sinal, o qual está protegido contra os

efeitos das tentativas de interferências intencionais e emissão de um sinal modificado. O acesso será

31

controlado por entidades previamente definidas, através de sinais encriptados e chaves distribuídas

apropriadamente.

As frequências ocupadas serão a E6 (1260 – 1300 MHz) e L1 (1559 – 1592MHz)..

5. Search and Rescue Service(SAR)

O SAR representa a contribuição do programa GALILEO para actividades de procura e resgate. Este

serviço trará importantes melhoramentos no sistema existente do COSPAS – SARSAT3,

nomeadamente, tempo de recepção de mensagens de socorro mais próximo do tempo real e

localização mais precisa dos alertas. Na tabela 2 faz-se uma breve descrição do desempenho deste

serviço.

Serviço de Apoio a Busca e Salvamento

Capacidade Cada satélite tem a capacidade de retransmitir o sinal de, no máximo, 150 pedidos em simultâneo

Tempo de latência < 10 min. Tempo medido desde o envio do pedido até à sua localização

Qualidade do serviço Taxa de erro < 10-5

Taxa de recepção de dados 6 mensagens/min, de 100bits cada uma

Disponibilidade >99,8%

Tabela 2 – Desempenho do serviço SAR

Fonte: (Kaplan and Hegarty, 2006)

3.2.1.2 Serviços localmente assistidos

A componente local será incorporada no programa Galileo com intuito de aumentar a precisão,

integridade, desempenho e comunicação sobre áreas locais. Podemos catalogar a integração dos

Elementos Locais em quatro categorias principais de serviços.

3 - COSPAS – SARSAT (Space System for Search of Distressed Vessel – Search and Rescue Satellite-Aided

Tracking) é uma organização que nasceu em 1979, resultante de um acordo entre França, EUA, Rússia e

Canadá, com o objectivo de detectar sinais de emergência emitidos por navios, aeronaves e pessoas, auxiliando

assim na busca e salvamento. Em 1982 iniciaram-se testes do sistema que foi considerado operacional em

1985.

32

1. Serviços locais de navegação com precisão

Com o recurso a Elementos Locais é possível oferecer um código com correcções diferenciais que

poderão alcançar uma precisão inferior a 1 metro. Estes elementos têm igualmente a capacidade de

aumentar o nível de determinação do sinal de alarme de integridade do sinal, em 1 segundo.

2. Serviços locais de navegação com alta precisão

Com a exploração do método TCAR (Three Carrier Ambiguity Resolution) juntamente com os

elementos locais do sistema será possível o utilizador determinar o seu posicionamento com um erro

inferior a 10 centímetros.

3. Serviço de navegação localmente ajudado

Reduzindo a quantidade de informação a ser descodificada no utilizador final, é possível melhorar a

disponibilidade do sinal no espaço, especialmente quando consideramos aplicações que operam em

ambientes de acesso dificultado, como é o caso de zonas urbanas e aplicações em interiores.

4. Serviços locais para aumento de disponibilidade

As estações locais que transmitem sinais de satélite, pseudo-satélite4 ou pseudolite, também serão

utilizadas para aumentar a disponibilidade do serviço. Estes sinais têm a vantagem de não sofrerem o

mesmo nível de distorção do ambiente quando comparado com o sinal de satélite. Este aumento de

disponibilidade é desejável em ambientes restritos, como p.ex urbanos, e situações que requerem um

alto nível de disponibilidade, como é o caso de aterragem de aviões.

3.2.1.3 Serviços do EGNOS

Este serviço é fornecido pelo programa EGNOS já em funcionamento desde 1 de Outubro de 2009. O

EGNOS fornece um serviço a uma ampla categoria de utilizadores, público geral (mercado de

massa), especialistas e segurança crítica.

Este sistema apresenta-se como uma ferramenta de futuras aplicações para o sistema GALILEO.

O EGNOS oferece actualmente uma complementaridade aos sistemas GPS e GLONASS, com

incidência na zona Europeia (ver figura 8), proporcionando níveis superiores de precisão e

integridade de sinal. Este serviço é disponibilizado abertamente, estando no entanto condicionado à

disponibilidade dos sistemas GNSS existentes.

4 - Pseudo-satélite ou pseudolite é um equipamento, localizado no solo, receptor - transmissor que funciona

como um satélite. Este sistema tem a capacidade de enviar o sinal Galileo com mensagens de navegação.

33

Figura 8 – Área de cobertura do sistema EGNOS

Fonte: (European Commission, 2002)

3.2.2 Segmentos do sistema

Para fornecer os serviços a que se propõe o sistema GALILEO apresenta uma vasta infra-estrutura

que se pode agrupar em 3 segmentos, espacial, controlo e utilizador.

3.2.2.1 Segmento espacial

O sistema é composto por uma constelação de,

30 satélites em órbita MEO (23 222 km de altitude);

Inclinação orbital de 56º;

Três planos orbitais igualmente espaçados;

Nove satélites operacionais em cada plano;

Um satélite de reserva, igualmente operacional em cada plano.

Cada satélite está construído para transmitir sinais de tempo precisos, em simultâneo com a

sincronização do relógio, efemérides das órbitas, entre outros dados.

3.2.2.2 Segmento de controlo

Este segmento será responsável pelo controlo, comunicação e processamento da informação

transmitida pelos satélites. O sistema é composto pelo GCS (GALILEO Control System), GMS

(GALILEO Mission System) e o GCC (GALILEO Control Center). O GCS contém 5 estações de TT&C

(Telemetry Tracking and Command) que comunicam entre si através da banda S (2483 – 2500 MHz).

34

O GMS abrange 40 locais com GSS (GALILEO Sensor Station) que comunicam utilizando a banda C

(5010 – 5030 MHz), e 9 estações ULS (UpLink Stations) para transmissão de dados de missão na

banda L. O GCC interage com o GCS e o GMS. Para uma melhor compreensão do segmento,

apresenta-se a sua arquitectura na figura 9.

Figura 9 – Arquitectura do segmento de controlo GALILEO

Fonte: (Kaplan and Hegarty, 2006)

O sistema de Controlo do GALILEO e o Segmento Espacial estão ligados através da banda S para

transmissão de dados de Telemetria e Telecomandos.

3.2.2.3 Segmento do utilizador

Este segmento diz respeito aos diferentes tipos de receptores disponíveis ao utilizador, para

tratamento do sinal recebido. As funções executados no terminal receptor serão as seguintes:

Receber directamente os sinais Galileo;

Ter acesso aos serviços fornecidos por componentes regionais e locais;

Interoperabilidade com outros sistemas.

Para beneficiar completamente dos serviços disponíveis (global, local e combinado), o utilizador

necessita de um equipamento com terminal multifuncional. (European Commission, 2002)

35

Figura 10 – Terminal receptor - GALILEO

Fonte: (European Commission, 2002)

3.2.3 Caracterização do sinal GALILEO

Esta secção apresenta uma descrição do plano de frequências do sistema GALILEO. Para fornecer

os serviços e compatibilidade com outros sistemas, algumas considerações foram tidas em conta na

selecção das características do sinal GALILEO, a saber, (Kaplan and Hegarty, 2006)

• Transmissão de sinais de banda larga no espectro da banda L, permitindo um desempenho de

monitorização preciso e robusto, e capacidade de mitigação multi-caminho;

• Minimização de interferência com os sistemas de navegação por satélite existentes (GPS,

GLONASS), para fins de compatibilidade de rádio frequência;

• Selecção de frequências com bom desempenho e pequenos erros de monitorização nas altas

frequências da banda L, para efeitos de compensação da ionosfera nos receptores de dupla

frequência;

• Interoperabilidade com os demais sistemas GNSS, em particular com o GPS;

• Aspectos de segurança relativamente aos códigos militares, GPS M-code e o GALILEO PRS - a

separação dos serviços militares e de protecção especial, dos serviços públicos.

O GALILEO fornecerá seis sinais de navegação nas faixas de frequências 1164 - 1215 MHz (banda

E5), 1260 - 1300 MHz (banda E6), e 1559 - 1592 MHz (banda E2-L1-E1 – ou simplesmente L1).

As bandas E5 e L1 usufruem de permissão internacional para a utilização dos sinais transmitidos

nestas bandas, exclusivamente para aplicações relacionadas com a aviação e segurança crítica.

36

Cada satélite irá transmitir seis sinais de navegação, denominados por L1F, L1P, E6C, E6P, E5a e

sinais E5b.

L1F - é um sinal de acesso aberto transmitido na banda L1. Estará acessível a todos os

utilizadores. O fluxo de dados L1F também contém mensagens de integridade e dados

comerciais encriptados. A taxa de dados L1F é de 125 bps. Este sinal suportará o OS, CS e

SoL.

L1P - é um sinal de acesso restrito transmitidos na banda L1. Possui códigos e dados

encriptados, utilizando um algoritmo de encriptação governamental. O sinal L1P suportará o

PRS.

E6C - é um sinal de acesso comercial, transmitido na banda E6. Tem os códigos e dados

encriptados utilizando um algoritmo comercial. A taxa de dados de 500 bps permitirá a

transmissão de serviços de valor acrescentado. O sinal E6C é um sinal específico para apoiar

o CS.

E6P - é um sinal de acesso restrito transmitido na banda E6. Os códigos e dados são

encriptados através de um algoritmo governamental. O sinal E6P apoiará o PRS.

E5a - é um sinal de acesso aberto transmitido na banda E5. Possui um sinal não encriptado,

acessível a todos os utilizadores. Ele transmite os dados básicos de suporte às

funcionalidades de navegação e tempo. O sinal E5a apoiará o OS.

E5b - é um sinal de acesso aberto transmitido na banda E5, acessível a todos os utilizadores.

O fluxo de dados E5b também contém mensagens de integridade e de dados comerciais

encriptados. A taxa de dados é de 125 bps. O sinal E5b apoiará o OS, CS e SoL.

3.2.4 Interoperabilidade

A interoperabilidade pode ser definida como a combinação de informação (p. ex, dados de

navegação), de dois sistemas de navegação (p.ex, GPS e GALILEO) no receptor do utilizador, de

forma a obter um melhor desempenho do que empregar qualquer um dos sistemas individualmente.

(Kaplan and Hegarty, 2006)

O nível de interoperabilidade resulta de um processo de optimização. Alguns factores revestem-se de

grande importância neste processo de compatibilidade, nomeadamente, frequência de rádio,

complexidade do equipamento do utilizador, perspectivas de mercado, independência dos sistemas e

problemas de compatibilidade de segurança nacional.

Nesta temática de interoperabilidade, destacam-se três temas de importância primordial:

37

Sinal no espaço

De forma a minimizar a complexidade e custo de implementação do receptor, os sinais GALILEO -

E5a e E2-L1-E1, serão transmitidos usando frequências idênticas aos sinais GPS L5 e L1,

respectivamente.

Sistema de referências geodésicas

O programa GALILEO irá adoptar o sistema de coordenadas de referência internacional. O sistema

de referência de coordenadas e tempo do programa GALILEO será baseado em estações e relógios

diferentes do GPS.

O GTRF (GALILEO Terrestrial Reference Frame) será uma adaptação independente do ITRS

(International Terrestrial Reference System). O ITRS é definido e monitorizado pelo Serviço IERS

(International Earth Rotation Service).

O sistema GPS utiliza o sistema de referência WGS-84 (World Geodetic System - 1984), que se

apresenta também como uma adaptação do ITRS. As diferenças entre o WGS-84 e o GTRF serão,

no máximo, de 2 cm, o que não afectará a maioria dos utilizadores (Miller, 2004). Isto implicará que o

sistema WGS-84 e GTRF serão idênticos (as coordenadas de referência são compatíveis).

Sistemas de referência de tempo

Tal como o Sistema de Tempo GPS , que coordena o seu tempo através do UTC (Coordinated

Universal Time), o GALILEO terá a sua própria escala de tempo de referência, o GST (GALILEO

System Time). O GST será coordenado pelo TAI (International Atomic Time). O GST está definido

com um offset de tempo relativo ao TAI de 50 nanossegundos para 95% do tempo num intervalo

de tempo de 1 ano. A principal função do GST é a manutenção do tempo para navegação, cujo

principal objectivo consiste na determinação de órbitas dos satélites e a sincronização do tempo.

Haverá um desvio entre estas duas escalas de tempo, conhecido por GGTO (GPS – GALILEO Time

Offset), que é necessário ter em conta quando combinados dados provenientes dos dois sistemas.

Este offset será calculado e enviado para os utilizadores, em tempo real, na mensagem de

navegação do GALILEO. (Forrest, 2004)

38

3.3 Factores de degradação do sinal GNSS

A precisão com que um utilizador (receptor) pode determinar a sua posição, velocidade, ou

sincronização com o tempo de um sistema GNSS, depende de uma complexa interacção de vários

factores. A precisão de um sistema GNSS depende da qualidade das medições das pseudo-

distâncias e da fase da portadora, bem como da transmissão dos dados de navegação.

3.3.1 Erro de relógio

Como dito anteriormente, os receptores para determinar a sua posição tridimensional necessitam das

medidas de tempo dos sinais enviados de, no mínimo, quatro satélites. Assim, é fundamental

conhecer, de forma precisa, a data de transmissão e recepção dos dados. Idealmente, os satélites

transmitiriam o seu posicionamento com o tempo exactamente sincronizado com o tempo GNSS, no

entanto existe sempre um erro de sincronização entre o relógio do satélite e o relógio do sistema.

A estação de controlo em solo determina e transmite os parâmetros de correcção do relógio para os

satélites, que posteriormente transmitem na sua mensagem de navegação. A diferença de tempos

pode ser determinada através da seguinte expressão (Kaplan and Hegarty, 2006)

(3)

em que é o desvio do oscilador do satélite, é a deriva do oscilador, a velocidade da

deriva, o instante de referência, o instante de transmissão e a correcção devido a efeitos

relativistas - o quarto capítulo ocupa-se, com maior pormenor, das correcções que devem ser

aplicadas para corrigir a estes efeitos.

No entanto, existirá sempre um erro residual. Este erro, , pode variar entre 0.3 - 4m, dependendo do

tipo de satélite e do tempo em que são transmitidos os dados. Esta gama de erros residuais são,

geralmente, menores logo após um upload efectuado pelo segmento de controlo para o satélite, e

degradar-se-á lentamente ao longo do tempo, até ao próximo upload (normalmente diário).

Dois receptores distintos, observando os mesmos satélites sofrem exactamente os mesmos erros dos

relógios. Desta forma, é possível eliminar esta fonte de erro residual, recorrendo a métodos

diferenciais, p. ex., GPS diferencial. Os erros nos relógios incorporados no satélite são independentes

da distância entre a estação de referência e o utilizador (Horváth, 2002).

39

Os relógios dos receptores são osciladores de quartzo, mais baratos que os relógios atómicos

utilizados nos satélites, e consequentemente menos precisos. Estes relógios, assim como acontece

nos relógios incorporados nos satélites, também não estão sincronizados com o tempo do sistema.

Deste modo, as correcções podem variar das dezenas de nanosegundos até milisegundos, ou mais,

dependendo da sincronização e das técnicas de navegação usadas.

3.3.2 Efemérides

Os erros que advêm das órbitas dos satélites são causados por uma imperfeita modelação da

dinâmica dos satélites, i. e., o erro das efemérides dos satélites resulta da divergência entre o valor

real da posição de um satélite e o respectivo valor indicado nas efemérides. O actual erro das

efemérides é de cerca de 1m (IGS, 2009).

Pode-se abordar de duas formas a minimização deste erro. Se duas estações efectuarem,

simultaneamente, o mesmo tipo de observações relativamente ao mesmo satélite, é possível obter a

diferença simples entre receptores. Contudo, permanece um erro residual que está intimamente

ligado com a distância existente entre os dois receptores, ou seja, à medida que esta distância

aumenta, o erro residual também aumenta (Horváth, 2002).

Outra forma de minimizar os erros orbitais passa pela utilização de efemérides mais precisas

resultantes de observações de um grupo de estações de monitorização. Algumas instituições

internacionais disponibilizam órbitas pós-processadas, como por exemplo, a IGS (International GNSS

Service). Esta instituição oferece quatro tipos de órbitas – órbitas previstas ultra-rápidas, disponíveis

em tempo real e com uma precisão aproximada de 5cm, órbitas observadas ultra-rápidas, disponíveis

entre 3 - 9 horas, com uma precisão aproximada de 3cm, e por fim, órbitas rápidas e finais,

disponíveis de 17 - 41 horas e 12 – 18 dias, respectivamente, ambas com uma precisão aproximada

de 2,5cm (IGS, 2009).

3.3.3 Efeitos atmosféricos

O sinal transmitido pelos satélites antes de atingir o receptor tem que atravessar a atmosfera

terrestre, o que implica uma alteração na sua velocidade e direcção de propagação. As duas

camadas com interferência na forma de propagação do sinal são, a ionosfera – composta por átomos

ionizados pela radiação solar – e a troposfera – com alto teor de humidade. Este efeito aumenta à

medida que o satélite se aproxima do horizonte.

40

3.3.3.1 Atraso ionosférico

A ionosfera é a camada da atmosfera compreendida entre 50 e 1 000 km acima da superfície da

Terra. Dentro desta região, os raios ultravioleta ionizam uma parte das moléculas de gás e libertam

electrões livres, que vão influenciar a propagação das ondas electromagnéticas (Langley, 1996).

Sendo a ionosfera um meio dispersivo a velocidade de propagação do sinal electromagnético vai ser

afectada, o que implicará uma alteração da distância medida. A ionosfera causa um atraso na

medida da fase e um avanço na medida da pseudo-distância, isto é, a pseudo-distância obtida é

superior à distância geométrica entre o satélite e o receptor, e a distância calculada com a fase é

inferior a essa distância geométrica (Rizos, 1999).

Existem duas abordagens possíveis no sentido de minimizar os erros nomeadamente, medir ou

modelar o atraso ionosférico. Estamos perante um meio dispersivo para as ondas de rádio, o seu

índice de refracção é uma função da frequência (Langley, 1996). Assim, utilizando receptores de

dupla frequência é possível medir e remover, quase na sua totalidade, o atraso ionosférico. Com

receptores de frequência singular é possível recorrer a modelos ionosféricos, tais como os modelos

BIM (Broadcast Ionosphere Model), transmitidos na mensagem de navegação, que permitem

minimizar em cerca de 50 – 80% o atraso ionosférico. Bent, IRI 95 (International Reference

Ionosphere 1995), entre outros. Estes modelos mostram-se eficazes em regiões compreendidas nas

latitudes de ±20 a ±60, ao contrário do verificado nas regiões equatorial e polar (Horváth, 2002).

3.3.3.2 Atraso troposférico

A troposfera é a região mais baixa da atmosfera na qual a temperatura decresce com o aumento da

altitude. A espessura desta camada não é a igual ao longo da mesma, variando aproximadamente,

entre os 9 km, nos pólos, e os 16 km, no equador. A troposfera caracteriza-se por uma presença de

átomos e moléculas neutros que afecta a propagação dos sinais electomagnéticos. Estamos perante

um meio neutro, não dispersivo, para as ondas de rádio com frequências até 30 GHz (Langley, 1996).

Assim, a propagação dos sinais GNSS são independentes da frequência. As características

determinantes para o atraso troposférico são a pressão atmosférica, a temperatura e a humidade ao

longo da trajectória do sinal, assim como o ângulo de elevação do satélite e a altura do receptor.

Quando este ângulo é pequeno (tipicamente inferior a 15º) o atraso troposférico é superior e estimado

com menor grau de precisão. Especificamente, tem-se para a grandeza do efeito troposférico, para

uma estação ao nível do mar, cerca de 2,3 m para satélites no zénite5 e entre 20 - 30 m para satélites

próximos do horizonte (Rizos, 1999).

Da mesma forma que no atraso ionosférico teremos duas formas possíveis para minimizar o atraso

troposférico. Quando a distância entre duas estações não é elevada, e a diferença de altura entre

elas não é significativa, as condições atmosféricas estão suficientemente correlacionadas entre as

5 - O Zénite é o ponto no céu que se observa quando, na superfície terrestre, se olha “exactamente para cima”.

Mais precisamente, é o ponto no céu com uma Altitude de +90º

41

duas estações, o que possibilita a utilização como observação da diferença existente nas duas

estações e consequentemente minimização do erro (Seeber, 2003).

Caso a correlação entre estações esteja comprometida é possível recorrer a um modelo de

troposfera. Os modelos dividem o atraso troposférico, , em duas componentes, a componente

seca, ou hidrostática, e a componente húmida, (Rizos, 1999)

(4)

A componente seca é responsável por cerca de 90% do atraso troposférico total, é gerada pela

influência da atmosfera hidrostática, principalmente pela influência do nitrogénio e do oxigénio. Esta

componente pode ser determinada com bastante precisão – erro de, aproximadamente, 1% para

satélites no zénite. Quanto à componente húmida é gerada pela influência do vapor de água

atmosférico, e representa 10% do atraso total. Sendo a componente húmida variável no tempo e no

espaço é possível obter erros de 10 – 20% na sua estimativa (Rizos, 1999).

3.3.4 Geometria dos satélites

O erro que advém da geometria dos satélites conhecido como DOP (Dilution of Precision) ou GDOP

(Geometric Dilution of Precision), descreve a importância que a configuração da constelação dos

satélites do sistema tem na precisão das medidas obtidas

Ao observarmos 4 satélites, se estes se encontrarem muito próximos entre si, implicará um valor DOP

alto e teremos uma geometria fraca. Mas para obter melhores resultados de precisão é crucial ter

valores baixos de DOP, assim quanto mais afastados entre si estiverem os satélites, visíveis, melhor.

(ver figura 11)

Figura 11 – Diluição de precisão

Fonte: http://www.dashdyno.net/tech/GPS/gps_location.html

42

O volume formado pelos sinais vindos dos satélites é inversamente proporcional ao DOP, ou seja,

quanto mais dispersos estiverem os satélites visíveis maior será o volume e consequentemente o erro

causado pela geometria dos satélites será menor.

Contudo, não é apenas a configuração da constelação que afecta o DOP, também o local onde está

inserido o receptor, que executa o pedido, é influenciador uma vez que se tivermos numa região com

muitos obstáculos, esta irá afectar os satélites que se encontram visíveis para aquela localização.

Esta situação ocorre com frequência em grandes cidades e terrenos montanhosos.

Na tabela 3 podemos ver as diferentes classificações atribuídas ao factor DOP

Valor DOP Classificação

1 Ideal

2-4 Excelente

4-6 Bom

6-8 Moderado

8-20 Suficiente

20-50 Fraco

Tabela 3 - Classificação DOP

Fonte: (Dutt et al., 2009)

Para examinar a diluição de precisão o GDOP é discretizado em várias formas, a saber:

PDOP (Position Dilution of Precision) – representa a incerteza na medida da posição

tridimensional;

HDOP (Horizontal Dilution of Precision) – incerteza na medida da posição horizontal (latitude

e longitude);

VDOP (Vertical Dilution of Precision) – incerteza na medida da posição vertical (altitude);

TDOP (Time Dilution of Precision) – incerteza na medida no relógio do receptor.

3.3.5 Multicaminho

Multicaminho é o fenómeno em que o sinal chega ao receptor através de dois ou mais caminhos,

distintos do caminho directo. Este fenómeno sucede devido à existência de superfícies reflectoras nas

proximidades do receptor, por exemplo, em ambientes urbanos (edifícios) (Langley, 1996). O

multicaminho é inevitável, particularmente nas aplicações dinâmicas.

Os erros de multicaminho variam significativamente dependendo do ambiente no qual o receptor está

localizado, o ângulo de elevação do satélite, o processamento de sinal do receptor, o ganho da

antena e as características do sinal (Kaplan and Hegarty, 2006).

43

Este erro é único para cada estação receptora, impedindo a utilização de técnicas diferenciais para

minimização do erro (Horváth, 2002). É possível diminuir o erro recorrendo a correladores de sinal

com o intuito de afastar o sinal indesejado através da análise da correlação entre o sinal original e a

sua réplica, de forma a obter uma diminuição das interferências dos sinais adjacentes. Alguns

exemplos de correladores implementados são, Narrow Correlator, MET (Multipath Elimination

Technique) e MEDLL (Multipath Estimation Delay Lock Loop) (Ray, 2006).

Sendo o multicaminho inevitável é possível tomar algumas medidas preventivas, tais como, a escolha

cuidadosa da localização do receptor, evitando ambientes reflectores – difícil de implementar em

aplicações dinâmicas; desenvolver antenas pouco sensíveis ao multicaminho (e.g. microstrip; chock

ring); construção da antena com material absorvente para cortar a reflexão do sinal; o receptor deve

filtrar o efeito da perturbação das reflexões do sinal; não utilizar observações de satélites de baixa

elevação, uma vez que os seus sinais estão mais dispostos ao multicaminho (Langley, 1996).

3.3.6 Efeitos relativistas

Tanto a teoria geral como a teoria restrita da relatividade, concebidas por Albert Einstein, são

processo determinante na medição das pseudo-distâncias e da fase da portadora. A necessidade de

correcção através da teoria da relatividade restrita advém do facto do sinal fonte (satélite) e do sinal

do receptor se moverem relativamente a um referencial de inércia, em que a velocidade da luz é igual

em qualquer direcção, p. ex no caso do GPS temos o ECI (Earth Centered Inertial). A relatividade

geral surge em virtude da localização do satélite e do receptor, se encontrarem em regiões com

diferente potencial gravitacional (Kaplan and Hegarty, 2006). O facto destes erros serem acumuláveis

implica que, em caso de omissão da sua correcção, os sistema de GNSS sejam completamente

inúteis, mesmo para as aplicações menos exigentes (Ashby, 2002).

Sendo o estudo dos efeitos relativistas nos sistemas GNSS um dos principais objectivos deste

trabalho, irá ser-lhe dedicada uma secção autónoma.

44

4 Relatividade nos sistemas GNSS

Presentemente, os sistemas GNSS para cumprirem eficientemente a sua função precisam ter em

conta os efeitos relativistas. Estes sistemas são baseados num modelo Newtoniano, isto é, um

modelo que usa um sistema de referência não inercial, que tem um movimento de rotação em

conjunto com a Terra e origem no centro da mesma, ECEF (Earth Centered Earth Fixed), e um

sistema de referência de tempo inercial centrado na Terra, ECI.

Os satélites são afectados pela relatividade de três maneiras diferentes, a saber: nas equações do

movimento, na propagação do sinal e no ritmo dos relógios dos satélites. Nos presentes sistemas

GNSS apenas os efeitos nos relógios são mensuráveis (Pascual-Sánchez, 2007). Se estes efeitos

não fossem tidos em conta ocorreria um erro na determinação da posição de por dia, ou seja

uma desfasagem temporal, acumulada, de por dia (Haustein, 2009).

Os efeitos relativistas que afectam os relógios de um satélite de forma mais perceptível são, o desvio

da frequência do relógio do satélite devido ao potencial gravítico (Relatividade Geral) e a dilatação do

tempo, devido ao movimento do satélite (Relatividade Restrita). (Pascual-Sánchez, 2007)

A. Desvio gravitacional da frequência do relógio do satélite

O ritmo de um relógio é tanto maior, quanto maior for a sua distância a um centro de atracção

gravitacional. No caso dos sistemas de GNSS o centro de gravitação coincide com o centro

da Terra, o que implica um desvio de frequência para o azul dos sinais enviados pelo satélite

para Terra.

B. Dilatação do tempo

Os relógios incorporados num satélite estão em movimento relativamente a um relógio

colocado em Terra, originando um fenómeno conhecido por dilatação do tempo que se traduz

por um atraso do relógio do satélite comparativamente ao relógio em Terra.

Consequentemente, temos um desvio de frequência para o vermelho do sinal enviado pelo

satélite.

C. Efeito Sagnac

Sendo a escala de tempo GPS definida num sistema inercial, a passagem para outro sistema

rotacional, no caso a Terra, origina o aparecimento de um efeito relativista conhecido por

efeito Sagnac. Durante a propagação do sinal vindo do satélite, o relógio (receptor) na

superfície terrestre sofre uma rotação finita, devido ao movimento de rotação da Terra

relativamente ao sistema de coordenadas ECI. (figura 12)

45

Este efeito pode produzir erros na ordem dos 133ns, no caso do GPS, e 153ns para o

GALILEO, para um receptor em repouso sobre o geoide6 (Nelson, 2003)

Figura 12 – Efeito Sagnac

Fonte: (Kaplan and Hegarty, 2006)

Na base da análise destes efeitos está a Teoria da Relatividade, concebida por Albert Einstein no

século XX – Relatividade Restrita (Especial) em 1905 e Relatividade Geral (Gravitação) em 1915.

A grande mudança introduzida por Einstein com esta Teoria foi a quebra completa do conceito tempo

absoluto, até à data defendido pela Mecânica Clássica.

Os postulados desta Teoria podem ser definidos como:

1. As leis da Física têm a mesma forma em todos os referenciais de inércia;

2. A velocidade da luz, c, propaga-se no vácuo a um valor constante e independente do estado

do movimento da fonte;

3. Numa pequena região de espaço e de tempo, é impossível distinguir entre o campo

gravitacional devido à massa e o campo gravitacional devido à aceleração.

6 - Modelo físico da forma da Terra

46

A Teoria da Relatividade está assente em duas teorias, a Relatividade Restrita expressa nos dois

primeiros postulados e a Relatividade Geral no terceiro postulado.

4.1 Dilatação do tempo

O conceito dilatação do tempo surge com o desenvolvimento da Relatividade Restrita por Einstein,

em que a medida de um intervalo de tempo entre dois acontecimentos depende do referencial em

que é medido. O tempo deixa de ser absoluto.

Para Einstein, como evidenciado no seu segundo postulado, a velocidade da luz no vácuo é

constante e independente do movimento da fonte (ver figura 13)

Figura 13 – Velocidade da luz constante

Fonte: Haustein, 2009

Suponha-se que um observador que se encontra em repouso relativamente à fonte de luz, mede a

velocidade a que o feixe se propaga no vácuo, ou seja, . Um segundo observador (que se encontra

a uma velocidade na direcção da fonte) realiza exactamente a mesma medida. De acordo com a

mecânica clássica este segundo observador deveria medir . Contudo, em conformidade

com o segundo postulado ele irá medir o mesmo valor que o primeiro observador, isto é, . A

direcção e grandeza da velocidade a que o observador se desloca é irrelevante para este resultado

Pelo facto de se considerar que a velocidade da luz é constante para todos os observadores, a

sincronização dos relógios irá ser afectada consoante o estado do movimento do observador (ver

figura 14)

47

Figura 14 – Relatividade da Simultaneidade

Fonte: Ashby, 2006

Imagine-se uma barra de comprimento deslocando-se a uma velocidade relativamente ao

referencial de laboratório. Agora suponha-se um sinal de luz que se desloca desde a extremidade

esquerda da barra até à extremidade oposta. Para um observador, em movimento relativamente ao

laboratório, o sinal demora a realizar o seu trajecto num tempo dado por

(5)

Um observador que se encontre em repouso relativamente ao laboratório vê o sinal a aproximar-se

da extremidade direita da barra com uma velocidade e mede o tempo

(6)

Relacionando os tempos medidos pelos dois observadores

(7)

Verifica-se que o tempo medido pelos dois observadores é diferente, o que implica uma alteração na

noção de simultaneidade de acontecimentos. Esta passa a depender do referencial em que se

encontra o observador. O resultado leva à inexistência de um tempo global. (Haustein, 2009)

Este facto - ausência de um tempo global - obriga à extensão do espaço tridimensional para um

espaço-tempo quadrimensional, onde é incluída a variável tempo às três dimensões espaciais -

comprimento , largura e altura . Esta nova formulação é conhecida por espaço-tempo de

Minkowski.

A extensão do espaço de coordenadas não foi a única alteração imposta por Einstein com a sua

Teoria da Relatividade Restrita. As fórmulas de transformações de Galileu, que não eram compatíveis

com o segundo postulado, foram substituídas pelas fórmulas de transformações de Lorentz,

propostas por Hendrik A. Lorentz em 1904.

48

Suponhamos que se tem as coordenadas espaço-tempo de um evento medido em dois referenciais,

e . Assumindo que os eixos de e coincidem em , e a origem de move-se com

velocidade ao longo do eixo do referencial . A partir da transformação de Lorentz, um

observador em repouso no referencial pode transpor as suas coordenadas para o referencial

tendo em conta que

(8)

com

(9)

conhecido por factor de Lorentz.

Considerando um relógio em repouso em ( ), então um observador no referencial obterá

(10)

tendo em conta que , verifica-se que os tempos medidos nos dois referenciais são diferentes.

Este resultado mostra que o tempo deixa de ser um elemento absoluto, o que, para o objectivo deste

trabalho, implica uma alteração no ritmo dos relógios que se encontram no satélite relativamente aos

relógios sobre a superfície terrestre.

Relógios em movimento apresentam um ritmo mais lento do que um relógio idêntico em repouso.

4.2 Dilatação gravitacional do tempo

Para os sistemas de GNSS a Relatividade Geral tem um efeito relevante, conhecido por dilatação

gravitacional do tempo.

Um raio de luz emitido na direcção de um corpo, colocado num potencial gravitacional forte, ganhará

energia e deslocar-se-á para as altas frequências (azul). Em contraste, se o raio de luz for emitido no

sentido de um potencial gravitacional fraco, irá perder energia e deslocar-se para as baixas

frequências (vermelho).

49

Figura 15 – Dilatação gravitacional do tempo

O valor da dilatação do tempo

para um observador em repouso no potencial gravitacional para

um relógio num potencial gravitacional é dado pela equação,

(11)

Numa região de elevado potencial gravitacional os relógios apresentam um ritmo mais lento do que

numa região de baixo potencial gravitacional.

4.3 Correcções a introduzir

Para os níveis de precisão actuais dos sistemas GNSS é necessário ter em conta os efeitos da ordem

de (Pascual-Sánchez, 2007). O satélite de um sistema de navegação que se encontra em

órbita, é acelerado no sentido do centro da Terra devido aos efeitos da gravidade, que resultam numa

aceleração.

Figura 16 - Vectores de estado de um satélite GNSS

Fonte: Haustein, 2009

50

A grandeza de (velocidade do satélite) é , constante, e pode ser obtida pela seguinte

equação

(12)

a grandeza do vector também é constante e igual a

tendo em consideração que o raio equatorial da Terra e a altura orbital dos satélites,

no caso do GPS, é de 20 184 km.

Se nos referirmos aos satélites GALILEO , uma vez que o seu plano orbital é

superior (23 222 km).

O parâmetro gravitacional da Terra é definido como (European Union, 2010) (GPSWing, 2010)

sendo a constante de gravitação universal e a massa da Terra.

Conclui-se que para o sistema GPS, e para o sistema Galileo.

4.3.1 Dilatação do tempo

Um dos efeitos relevantes da relatividade nos sistemas GNSS, como visto na secção 4.1, é o

abrandamento do ritmo do relógio que se encontra em movimento relativo à Terra.

Como visto acima, a velocidade de um satélite (e.g. no GPS) é de relativamente ao

ECI. Um observador em repouso no ECI verá o relógio do satélite apresentar um ritmo inferior, pelo

factor

(13)

Um relógio de referência que se encontre no geóide terrestre está, igualmente, em movimento

relativamente a ECI, devido à rotação da Terra (Ashby, 2006). Contudo, tem uma velocidade inferior à

dos satélites. No plano equatorial a Terra roda a uma velocidade de , sendo

a velocidade angular média da Terra. Para obtermos a diferença

51

entre um relógio que se encontra em repouso no referencial ECEF e o relógio em repouso no

referencial ECI é necessário recorrer à seguinte equação

(14)

Portanto, o valor da dilatação do tempo entre o relógio em órbita e outro na superfície terrestre é dado

por

(15)

Pode realizar-se idêntica análise para o sistema GALILEO. Tendo em conta que a velocidade do

satélite neste caso será , apenas o factor

sofrerá alterações, uma vez que as

variáveis de que depende o factor

mantêm-se para ambos os sistemas. Desta forma, irá obter-se

uma dilatação temporal de

4.3.2 Efeito gravitacional

Outro dos efeitos relativistas destacados anteriormente prende-se com a influência do campo

gravitacional no ritmo dos relógios.

O potencial gravitacional num ponto especifico da superfície terrestre é dado por

(16)

em que corresponde ao raio de um relógio que se encontra em repouso (equador), o raio de um

satélite e o coeficiente do momento quadrupolar da Terra e igual a (Ashby, 2006)

O potencial gravítico medido no equador, ou seja para , é obtido a partir da seguinte equação

52

(17)

Para o cálculo do potencial gravítico de um relógio em órbita é possível utilizar a equação

(18)

em que corresponde ao raio da órbita do satélite

Com o recurso às equações (17) e (18) descobrimos o erro temporal provocado pelo campo

gravitacional

(19)

Idêntica análise agora para o GALILEO obter-se-á

4.3.3 Efeito Sagnac

Como foi dito no inicio deste capítulo, existe um terceiro efeito a considerar nos sistemas de

navegação. Um receptor que se encontre em repouso na superfície terrestre irá sofrer um

deslocamento na sua posição durante o período em que o sinal, vindo do satélite, se propaga. Este

fenómeno, que advém do movimento de rotação da Terra, é conhecido por efeito Sagnac.

A correcção para este erro é dada pela equação

(20)

com

53

onde representa a posição do receptor no instante t, a velocidade média angular da Terra,

a distância entre o emissor e o receptor no momento da transmissão, e corresponde à área varrida

por um vector desde o eixo de rotação até ao local onde é recebido o sinal (ver figura 17).

Figura 17 – Efeito Sagnac proporcional à área A

Fonte: (Ashby, 2006)

Para determinar o erro máximo cometido para um receptor em repouso na superfície do geóide, pode

considerar-se que , , , e

Assim temos

Para o Galileo é necessário reformular o valor da variável , que passa a ser

então

Após a consideração realizada, relativamente aos principais erros relativistas que afectam os

sistemas GNSS, pode ainda, adicionar-se um último erro causado pela imperfeição das órbitas

circulares. Apesar de originar um erro inferior aos demais, continua a ser significativo, apresentando

um valor da ordem de grandeza dos nanossegundos. (Ashby, 2003)

54

4.3.4 Correcção da excentricidade

As órbitas dos satélites, consideradas até ao momento como circulares perfeitas ( ), sofrem

perturbações que originam uma excentricidade orbital. Este facto leva a que o satélite atinja

diferentes alturas e velocidades ao longo da sua órbita, o que, como vimos nas secções anteriores,

causa mudanças no padrão rítmico dos relógios atómicos. A velocidade e o potencial gravítico

irão sofrer alterações periódicas devido às mudanças do raio orbital dos satélites .

A correcção para o erro devido à excentricidade orbital pode ser expresso através da seguinte

equação

(21)

em que e correspondem à posição e velocidade, respectivamente, no instante de transmissão.

(Ashby, 2003)

Esta equação pode ser aproximada por

(22)

( ) correspondem aos parâmetros orbitais, excentricidade da órbita do satélite, semi-eixo

maior e anomalia excêntrica da órbita do satélite, respectivamente.

A órbita realizada por um satélite apresenta uma excentricidade (Haustein, 2009).

Considerando o valor máximo de excentricidade ( ) o erro máximo causado pela

excentricidade é de .

Esta correcção é realizada pelo segmento de utilizador do sistema de navegação. Contudo, a sua

introdução faria mais sentido no sinal transmitido pelo satélite, uma vez que estes estão mais

próximos do tempo coordenado do próprio sistema (e.g. sistema de tempo GPS). (Ashby, 2003)

55

4.3.5 Correcções a introduzir

Pode-se aferir, ao longo da secção 4.2, que os relógios dos satélites sofrem duas perturbações

distintas, uma que causa um atraso no seu ritmo (dilatação do tempo), e outra que origina um efeito

oposto (efeito gravitacional). Somando os dois erros percebe-se que um relógio incorporado num

satélite, por exemplo no GPS, adianta-se em cerca de relativamente a um relógio que se

encontre no geóide, o que equivale a um erro acumulado na ordem dos , o que seria

inconcebível para um sistema de posicionamento. É interessante observar que, os dois erros

referidos, quando analisados para o raio orbital de 9 550km, ou seja 3000km acima do geóide, estes

dois efeitos cancelam-se. Acima deste raio o efeito gravitacional mostra-se com maior

preponderância no erro obtido, como ficou demonstrado pelos cálculos apresentados. Abaixo deste

limite verifica-se uma maior contribuição do efeito de Doppler. (Ashby, 2002)

Na tabela 4 pode-se observar os erros a corrigir nos sistemas GPS e GALILEO

Erros Sistema GNSS

GPS GALILEO

Dilatação do tempo (µs/dia) -7.1 -6.6

Efeito gravitacional (µs/dia) 45.7 47.3

Efeito Sagnac (µs/dia) 0.133 0.153

Tabela 4 – Erros devido a efeitos relativistas

No caso do GPS os relógios estão definidos para oscilar numa frequência de 10.23 MHz. Contudo, é

necessário incluir nesta frequência as correcções relativistas necessárias.

Assim, como referido os relógios adiantam-se em cerca de , pelo que é

necessário aplicar a seguinte correcção

Os osciladores deverão estar configurados para uma frequência de , para

que um observador, sobre a superfície terrestre, “veja” o relógio à frequência nominal de 10.23

MHz.

Relativamente ao sistema GALILEO, deverá introduzir-se um offset no oscilador do relógio de

56

4.3.6 Futuro

Os sistemas GNSS, até aos dias de hoje, são baseados num modelo Newtoniano que necessita de

correcções relativistas (importantes!) para manter a sua eficácia e precisão enquanto sistema de

determinação de posição e tempo. Este modelo utiliza dois sistemas de referência, ECI e ECEF para

o tempo e posição, respectivamente.

Todavia, basear um sistema num modelo que necessita de correcções não é a fórmula ideal. Neste

sentido, Bartolomé Coll ao longo da primeira década do século XXI tem-se ocupado do

desenvolvimento de um sistema completamente relativista, isto é um sistema que não necessita de

correcções. Surge assim o conceito SYPOR (Système de Positionnement Relativiste) pensado para,

possivelmente, integrar o novo sistema europeu – GALILEO. O SYPOR é um projecto que ainda se

encontra num quadro de construção teórica. (Pascual-Sánchez, 2007)

O projecto tem como objectivo construir um sistema onde coexistam apenas conceitos relativistas,

melhorando a eficácia e precisão de um sistema GNSS. (Coll, 2006) Uma das grandes inovações

avançadas por este projecto consiste em coincidir o segmento de Controlo com o segmento Espacial

(ver figura 18), ao contrário do que sucede com os actuais sistemas de posicionamento, em que o

segmento de Controlo encontra-se na superfície terrestre. Esta nova configuração, do segmento de

Controlo, permite determinar as coordenadas de um receptor relativamente à constelação. A base

deste modelo encontra-se nos relógios dos satélites que trocam os seus tempos (próprios) entre si e

com os receptores na Terra. (Pascual-Sánchez, 2007)

Figura 18 – Projecto SYPOR - Segmento de Controlo e Espacial coincidem

Fonte: (Pascual-Sánchez, 2007)

57

O SYPOR pretende dividir o sistema GNSS em dois sistemas hierárquicos, a saber (Coll, 2006):

1. Um sistema primário, independente da superfície terrestre, constituído pela constelação de

satélites - sistema primário de posicionamento a quatro dimensões

2. Um sistema secundário, dependente da superfície terrestre, ligando o sistema de referência

terrestre (WGS 84 ou ITRF) ao sistema primário.

Tecnicamente este modelo apresenta algumas características de destaque necessário,

nomeadamente (Pascual-Sánchez, 2007) :

a. O controlo externo de todo o sistema é conseguido através da introdução de um dispositivo

em pelo menos quatro satélites apontando para o ICRS (International Celestial Reference

System);

b. A instalação de um dispositivo em cada satélite para enviarem os seus tempos próprios para

outros satélites, permite assegurar o controlo interno do sistema.

c. O controlo feito pelo segmento do utilizador é conseguido através da inclusão de um

dispositivo em cada satélite que envia tanto o seu tempo próprio assim como o tempo próprio

dos seus vizinhos para Terra, através de sinais electromagnéticos.

Uma das grandes diferenças impostas por este modelo é não se socorrer de sistemas de referência,

visto não se determinar a posição dos satélites relativamente a coordenadas terrestres, mas sim

determinar estas em relação à constelação.

Os sistemas de referência são sistemas quadrimensionais que permitem um observador, considerado

na origem, obter quatro coordenadas através de transmissão de informação. No entanto, devido à

velocidade da luz ser finita este processo acarreta um atraso temporal na transmissão de informação.

Por outro lado, existem os sistemas de posicionamento, igualmente quadrimensionais, que

possibilitam qualquer evento conhecer as suas próprias coordenadas instantaneamente - são estes

os sistemas utilizados no SYPOR. É possível construir um sistema de referência a partir de um

sistema de posicionamento, basta que cada evento envie as suas coordenadas para um observador

na origem (pretendido com o sistema secundário). Contudo, o caminho inverso não é possível.

Este modelo, SYPOR, pode ser considerado autónomo, uma vez que qualquer receptor pode

determinar a sua trajectória espaço-tempo assim como a trajectória de quatro satélites, apenas com

base na informação recebida durante um tempo de intervalo próprio.

Tendo quatro satélites emitindo o seu tempo próprio , sem necessidade de sincronização, assim

como o tempo próprio de três satélites vizinhos recebidos pelo satélite em , no total

, constitui um sistema autónomo. Visto que, juntando o tempo

próprio do relógio do satélite com os três tempos recebidos a partir de outros satélites estabelece a

sua emissão de coordenadas próprias. Com a nova geração de satélites em operação no GPS, este

procedimento pode ser tecnicamente implementado. (Pascual-Sánchez, 2007)

58

Outro ponto a destacar prende-se com a ausência da utilização de equações de navegação, ao

contrário do que sucede com os sistemas contemporâneos, porque a emissão de coordenadas está

definida sem recurso a sistemas de coordenadas terrestres. Este sistema de posicionamento

autónomo não permite que um observador se situe relativamente ao geóide, mas possibilita que cada

utilizador se localize relativamente à constelação de satélites ou em relação a um sistema de

referência convencional que seja deduzido a partir do sistema autónomo, e permite ainda que dois ou

mais utilizadores possam saber as suas posições relativas.

Para possibilitar aplicações na superfície terrestre, como dito anteriormente, é necessário relacionar a

emissão de coordenadas primárias com um sistema de coordenadas quadrimensional terrestre, como

por exemplo o ITRF e o TAI.

Esta aplicação permitirá obter um sistema GNSS totalmente autónomo e relativista, sem necessidade

de corrigir erros que, actualmente, surgem devido aos efeitos relativistas, aumentando deste modo a

precisão e eficácia do sistema de posicionamento

59

5 Conclusão

O aumento da utilização dos sistemas GNSS no panorama mundial, que se deve a uma crescente

panóplia de serviços disponibilizados nas mais variadas áreas, torna a constante melhoria, em termos

de eficácia e fiabilidade, destes sistemas um assunto de extrema importância.

Ao longo do trabalho pôde-se verificar as diferenças existentes entre o sistema GPS e GALILEO

desde da sua ideia base e motivação, até ao modelo de construção dos seus segmentos. Ao

contrário do GPS, o GALILEO surge como um sistema inteiramente civil e com o intuito de dotar a

União Europeia de um sistema de posicionamento independente do sistema americano. Porém, estes

dois sistemas não serão completamente independentes uma vez que, estão a ser implementados

também numa perspectiva de interoperabilidade, possibilitando dessa forma que um receptor receba

sinais vindos dos dois sistemas.

Tanto o GPS como o GALILEO possuem o seu segmento espacial na órbita MEO e a velocidade dos

seus satélites na ordem dos km/s, o que implica o aparecimento de erros devido a efeitos relativistas.

Como visto no capítulo quatro, os erros que afectam ambos os sistemas são semelhantes assim

como a forma de efectuar as suas correcções. Estes erros surgem, fundamentalmente, do facto de os

satélites se encontrarem num campo gravitacional mais fraco, o que implica um avanço do relógio

que se encontra no satélite, comparativamente a um relógio no geóide. Por outro lado a velocidade

dos satélites origina um atraso no relógio do satélite relativamente a outro na Terra.

A correcção a efectuar nos relógios devido a efeitos relativistas é de , no caso do GPS, e

de para o GALILEO. Esta discrepância é explicada pela diferença existente entre o raio

orbital da constelação de cada um destes dois sistemas - para o GPS e para o

GALILEO . A dissemelhança verificada no raio orbital implica uma velocidade dos

satélites inferior para o GALILEO, , e para o GPS. Agregando

estes dois factores observamos uma dilatação temporal superior para o GPS, devido à velocidade

superior da sua constelação e, em oposição um efeito gravitacional superior no GALILEO derivado do

seu maior raio orbital. Se não fossem tidos em conta estes erros, o serviço de posicionamento teria

uma imprecisão acumulada na ordem dos , para ambos os sistemas, mais precisamente

no GPS e no GALILEO.

O futuro dos sistemas GNSS passa pela mudança de um modelo, actual, Newtoniano para um

inteiramente Relativista, possibilitando uma contínua melhoria na precisão, fiabilidade e integridade

do sistema, sem necessidade de efectuar correcções tal como sucede nos sistemas contemporâneos.

Este sistema está a ser estudado e desenvolvido pelo projecto SYPOR, desde o inicio do século XXI.

60

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62

ANEXOS

Anexo A Tabela 5 - Parâmetros técnicos dos sistemas GNSS

Sistema Constelação Órbita Operacionalidade Nº de satélites operacionais

Cobertura Serviço Espectro

GPS 24 MEO (20 184km) 1995

1996 - uso civil 30 Global Militar/Civil

L1 (1575.42 MHz) L2 (1227,60 MHZ) L5 (1176,45 MHz)

GLONASS 24 MEO (19 100km) 1995 GLONASS

2010 GLONASS-M 24 Global Militar/Civil

L1 (1602 MHz) L2 (1246 MHz)

GALILEO 30 MEO (23 222km) 2012/2013 2 Global Civil E5 (1164 - 1215 MHz) E6 (1260 - 1300 MHz) L1 (1559 - 1592 MHz)

COMPASS 27 3

MEO (21 500km) GSO (35 786km)

2020 6 Global Militar/Civil 1559.05 -1591.79 MHz 1166.22-1217.37 MHZ 1250.62-1286.42 MHz

QZSS 3 HEO (35 786km) 2013 1 Regional Civil L1 (1575.42 MHz) L2 (1227,60 MHZ) L5 (1176,45 MHz)

IRNSS 3 4

GEO (35 786km)

GSO 2014 1 (2011) Regional Militar/Civil

L5 (1176.45 MHz) S (2492.08 MHZ)