113

Relatório de Economia Bancária e Crédito - bcb.gov.br · Relatório de Economia Bancária e Crédito Publicação anual do Banco Central do Brasil ... Em segundo lugar, apresenta-se

  • Upload
    vantu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Relatrio de Economia Bancria e CrditoPublicao anual do Banco Central do Brasil (BCB)

    Os textos e os correspondentes quadros estatsti cos so de responsabilidade dos seguintes componentes:

    Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep)(E-mail: [email protected])

    Departamento Econmico (Depec) Evoluo do Mercado de Crdito(E-mail: [email protected])

    permitido reproduo das matrias, desde que mencionada a fonte: Relatrio de Economia Bancria e Crdito, 2012.

  • Economia Bancria e CrditoIII

    Apresentao

    As operaes de crdito do sistema financeiro mantiveram trajetria de expanso em 2012, em ritmo mais moderado, em linha com o menor dinamismo da atividade econmica. A flexibilizao da poltica monetria nacional, entre outros fatores, conduziu as taxas de juros no mercado de crdito a patamares historicamente baixos. Os nveis de taxas de juros contriburam para que se observasse tendncia favorvel tanto do grau de comprometimento de renda das famlias como dos ndices de inadimplncia. Nesse cenrio, o saldo total das operaes de crdito do sistema financeiro atingiu R$2,368 trilhes (53,8% do PIB) em dezembro de 2012, com expanso anual de 16,4% em relao a 2011.

    Este Relatrio apresenta, na parte I Evoluo Recente do Mercado de Crdito e Decomposio do Spread , a dinmica dos principais indicadores do mercado de crdito, entre os quais saldos e taxas de juros, bem como spreads e taxas de inadimplncia. Em segundo lugar, apresenta-se a decomposio do spread para clientes preferenciais com duas inovaes metodolgicas: a utilizao da taxa de captao das instituies financeiras que apresentaram operaes com clientes preferenciais e o clculo da participao dos custos administrativos. No final da parte I, analisam-se os resultados da Pesquisa Trimestral sobre Condies de Crdito para os segmentos de pessoas jurdicas grandes empresas, pessoas jurdicas micro, pequenas e mdias empresas, pessoas fsicas crdito voltado ao consumo e pessoas fsicas crdito habitacional, bem como apresenta-se avaliao de sua capacidade preditiva.

    Na parte II Estudos Selecionados , constam estudos realizados no mbito do Banco Central sobre regulao prudencial, riscos, estabilidade financeira e economia bancria. Esses trabalhos visam contribuir para aprofundar o entendimento do sistema financeiro nacional, bem como fortalecer a comunicao do Banco Central com a sociedade.

    O texto Insolvncia e Contgio no Mercado Interfinanceiro Brasileiro prope um modelo de anlise de propagao de perdas em redes de instituies financeiras e o aplica ao mercado interfinanceiro brasileiro. O trabalho mostra que instituies financeiras originadoras de contgio so, principalmente, bancos de grande e mdio porte, enquanto as vulnerveis a esse processo so, em sua maioria, instituies no bancrias. Aponta, ainda, que o tamanho de uma instituio no o nico determinante de sua importncia sistmica, que tambm depende da fragilidade das instituies credoras. , por fim, calculado o valor da perda esperada do sistema financeiro no horizonte de um ano.

  • Economia Bancria e CrditoIV

    No artigo Um modelo baseado em agentes para crdito bancrio, apresenta-se um modelo simplificado para mercado de crdito bancrio, base para outros mais elaborados. A aplicao dos modelos considerados no artigo ganhou importncia aps a crise financeira de 2008, haja vista que constituem uma alternativa a modelos tradicionais que no consideram a heterogeneidade e a interao entre agentes econmicos. Entre os resultados, verificou-se que a taxa de inadimplncia responde diferentemente taxa de juros ou ao valor mdio do crdito, dependendo da distribuio do choque de renda dos tomadores.

    O artigo Anlise do Comportamento dos Bancos Brasileiros Pr e Ps-Crise Subprime foca no comportamento de captaes e aplicaes dos bancos brasileiros antes e depois da crise subprime. A distribuio, tanto da captao como da aplicao, apresenta mudanas entre esses dois perodos. Adicionalmente, implementa-se um modelo VAR com o objetivo de construir as funes resposta ao impulso e decomposio de varincia. Os resultados sugerem que, antes da crise, previses de varincias de captaes e de aplicaes eram independentes. Porm, aps a crise, a varincia da aplicao influenciada pela da captao para horizontes maiores que trs meses.

    O texto Celeridade do Sistema Judicirio e Crditos Bancrios para as Indstrias de Transformao estuda o papel da celeridade do sistema judicirio na determinao do impacto de uma reforma legal no crdito bancrio. So utilizados microdados de crdito para as indstrias de transformao, oriundos do Sistema de Informaes de Crdito (SCR) do Banco Central do Brasil, combinados com uma medida de celeridade das varas ao nvel das comarcas. Entre as concluses, a anlise indica que, aps a introduo da nova Lei de Falncias, o crdito a tomadores localizados em comarcas com varas mais cleres cresceu mais, bem como foi contratado a menores taxas de juros, maiores prazos e com menores percentuais de garantias reais em relao ao valor do crdito. Sugere tambm que pequenas e mdias indstrias de transformao so as que obtiveram maiores benefcios com a celeridade das varas.

    O trabalho Um Estudo sobre Comportamento de Tomadores e Ofertantes no Mercado de Crdito procura avaliar efeitos da heterogeneidade dos agentes econmicos, ofertantes e tomadores, no mercado de crdito bancrio, e como essas diferenas se refletem na deciso de tomar crdito e nas caractersticas das operaes. Entre os principais resultados, verificou-se que, aps a introduo de medidas macroprudenciais em dezembro de 2010, houve aumento das taxas de juros, principalmente no segmento de bancos grandes. Observaram-se, tambm, maiores atrasos nos pagamentos dos novos financiamentos e direcionamento da oferta de crdito para tomadores de faixas de renda mais elevadas.

    O artigo Efeitos de Requerimentos Intrassetoriais de Capital sobre Spreads de Crdito: o caso dos financiamentos de veculos no Brasil investiga o impacto do aumento de capital regulatrio bancrio para financiamentos de veculos com prazos longos e altos LTVs, adotado pelo Banco Central no final de 2010, sobre os spreads cobrados nesses financiamentos. Os resultados mostram que houve uma elevao, de no mnimo 13%, dos spreads cobrados do mesmo tomador para emprstimos automotivos similares, cujos requerimentos de capital sofreram majorao. Por outro lado, no h evidncia de aumento no spread cobrado de financiamentos de

  • Economia Bancria e CrditoV

    veculos cujos requerimentos de capital no foram alterados. As evidncias sugerem tambm que a liberao do capital regulatrio, no final de 2011, foi associada, de modo semelhante, a menores spreads cobrados em emprstimos automotivos, cujos requerimentos de capital decresceram, embora a reduo tenha sido menor que o aumento original.

  • Sumrio

    Parte I Evoluo Recente do Mercado de Crdito e Decomposio do Spread ..................................................................... 8

    1 Evoluo............................................................................................................................................................9

    1.1 Taxas de juros, spreads e inadimplncia ...........................................................................................................11

    2 Decomposio do spread bancrio para clientes preferenciais ....................................................................14

    3 Anlise de resultados da Pesquisa Trimestral de Condies de Crdito .......................................................17

    Parte II Estudos Selecionados ....................................................................... 23

    1 Insolvncia e Contgio no Mercado Interfi nanceiro Brasileiro ........................................ 24 1 Introduo .......................................................................................................................................................24

    2 Literatura ........................................................................................................................................................26

    3 Metodologia ...................................................................................................................................................29

    3.1 Algoritmo de compensao de um sistema financeiro .....................................................................................30

    3.2 Clculo de perdas: abordagens possveis ..........................................................................................................31

    3.3 Clculo de probabilidades de default ................................................................................................................33

    4 Dados ..............................................................................................................................................................34

    5 Resultados ......................................................................................................................................................35

    6 Concluso e comentrios finais .....................................................................................................................40

    7 Referncias .....................................................................................................................................................41

    2 Um modelo baseado em agentes para crdito bancrio .................................................. 43 1 Introduo .......................................................................................................................................................43

    2 Modelo bsico ................................................................................................................................................44

    3 Simulaes .....................................................................................................................................................46

    3.1 Resultados das simulaes ................................................................................................................................47

    4 Concluses .....................................................................................................................................................48

    5 Referncias .....................................................................................................................................................49

    6 Apndice .........................................................................................................................................................50

    3 Anlise do Comportamento dos Bancos Brasileiros Pr e Ps-Crise Subprime............... 53 1 Introduo .......................................................................................................................................................53 2 Base de Dados ................................................................................................................................................54

    3 Anlise das propriedades estatsticas das sries de aplicaes e captaes ..............................................56

    4 Dinmica das aplicaes e das captaes.....................................................................................................58

  • 4.1 Escolha de defasagens dos VARs ......................................................................................................................58

    4.2 Funo resposta ao impulso...............................................................................................................................59

    4.3 Decomposio de varincia ...............................................................................................................................60

    5 Concluso .......................................................................................................................................................62

    6 Referncias .....................................................................................................................................................63

    4 Celeridade do Sistema Judicirio e Crditos Bancrios para as Indstrias de Transformao ............................................................................................. 65 1 Introduo .......................................................................................................................................................65

    2 Descrio dos dados.......................................................................................................................................67

    3 A falncia no Brasil ........................................................................................................................................69

    4 Os resultados empricos .................................................................................................................................70

    5 Concluses......................................................................................................................................................76

    6 Referncias .....................................................................................................................................................76

    7 Anexo ..............................................................................................................................................................77

    5 Um Estudo sobre Comportamento de Tomadores e Ofertantes no Mercado de Crdito ..................................................................................................... 78 1 Introduo .......................................................................................................................................................78

    2 Anlises descritivas........................................................................................................................................80

    2.1 Atrasos por faixas de renda ...............................................................................................................................80

    2.2 Atributos das operaes por grupos de IF .........................................................................................................81

    3 Anlises economtricas .................................................................................................................................82

    3.1 Anlise da srie agregada de inadimplncia por safra .....................................................................................82

    3.2 Anlise cross-section do atraso por safra .........................................................................................................83

    4 Concluses......................................................................................................................................................86

    5 Referncias .....................................................................................................................................................87

    6 Apndice .........................................................................................................................................................88

    6 Efeitos de Requerimento Intrassetoriais de Capital sobre Spreads de Crdito: o caso dos fi nanciamentos de veculos no Brasil ............................................................. 95 1 Introduo .......................................................................................................................................................95

    2 Metodologia ...................................................................................................................................................98

    3 Base de dados e caracterizao da amostra................................................................................................100

    4 Resultados ....................................................................................................................................................101

    5 Concluso .....................................................................................................................................................107

    6 Referncias ...................................................................................................................................................107

    7 Apndice: grficos e tabelas ........................................................................................................................110

  • Parte IEvoluo Recente do

    Mercado de Crdito e Decomposio do Spread

  • Economia Bancria e Crdito9

    1 Evoluo

    Em 2012, as operaes de crdito do sistema financeiro se mantiveram em expanso, no entanto, em ritmo mais moderado do que nos dois anos precedentes.

    As condies do mercado de crdito seguiram favorveis, expressas por recuos das taxas de juros e dos spreads bancrios, que atingiram mnimos histricos, em ambiente de flexibilizao da poltica monetria. Esse cenrio favoreceu a reduo do grau de comprometimento da renda das famlias com servio de dvidas, concorrendo para a conteno dos ndices de inadimplncia.

    A expanso do crdito ao longo da ltima dcada e sua crescente importncia como elemento transmissor de poltica monetria, aliadas s transformaes ocorridas nos mercados financeiros, especialmente a partir da crise de 2008, ensejaram oportunidade de aprimoramento e ampliao da base de dados de crdito. Nesse sentido, o Banco Central do Brasil (BCB) passou a divulgar conjunto mais extenso e detalhado de informaes relativas ao mercado de crdito. Destacam-se modalidades que adquiriram expresso em anos recentes, a exemplo do crdito consignado, carto de crdito e capital de giro. Alm disso, passou-se a fazer maior detalhamento de linhas de crdito consolidadas ao longo do tempo, como financiamentos imobilirio, rural e com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). Essas e outras inovaes constituem avano importante e contribuem para a classificao mais precisa e uniforme das informaes produzidas.1

    Nesse contexto, j considerada a nova estrutura de dados e de acordo com a tabela 1, o saldo total das operaes de crdito do sistema financeiro, computados os recursos livres e direcionados, alcanou R$2,368 trilhes em dezembro de 2012, com expanso anual de 16,4%, ante 18,8% em 2011 e 20,6% em 2010, passando a representar, relativamente ao Produto Interno Bruto (PIB), 53,8%, ante 49,1% em 2011 e 45,4% em 2010. Por segmento, as carteiras de crdito referentes a pessoas jurdicas e a pessoas fsicas totalizaram R$1,292 trilho e R$1,076 trilho, aps elevaes anuais de 16,1% e 16,8% em 2012, respectivamente.

    1 Informaes adicionais a respeito das mudanas efetuadas encontram-se detalhadas na nota metodolgica Nova estrutura de dados de crdito ().

  • Economia Bancria e Crdito10

    Financiamentos concedidos por bancos pblicos alcanaram saldo de R$1,134 trilho ao final de 2012 (aumento de 27,9% no ano) e corresponderam a 47,9% da carteira total de crdito, comparativamente a 43,6% em 2011. Por sua vez, o estoque de emprstimos realizados por instituies privadas nacionais e estrangeiras cresceu 6,8% e 9,4%, para R$847 bilhes e R$387 bilhes, respectivamente, e atingiu participaes de 35,8% e 16,3% (redues de 3,2 p.p. e 1,1 p.p., nessa ordem, em relao ao registrado em 2011).

    O saldo de emprstimos com recursos livres alcanou R$1,399 trilho (31,8% do PIB) em dezembro (crescimento de 13,6% no ano), 59,1% do crdito total do sistema financeiro, ante 60,6% em 2011. As carteiras de pessoas jurdicas avanaram 17% no ano e somaram R$706 bilhes (tabela 2), destacando-se aumentos nas modalidades de capital de giro, adiantamentos sobre contratos de cmbio (ACC) e repasses externos, em oposio reduo nas operaes de leasing de veculos. Os emprstimos a pessoas fsicas cresceram 10,2%, ao atingir saldo de R$693 bilhes (tabela 3), sobressaindo-se as expanses do crdito consignado, carto de crdito a vista e aquisio de veculos, bem como recuo das operaes de arrendamento mercantil.

    Tabela 1 Evoluo do crditoR$ bilhes

    Discriminao 2010 2011 2012

    2011 2012

    Total 1 712,7 2 034,0 2 368,4 18,8 16,4

    Pessoas jurdicas 936,3 1 112,9 1 292,5 18,9 16,1

    Recursos livres 502,6 603,8 706,5 20,1 17,0

    Direcionados 433,7 509,1 586,0 17,4 15,1

    Pessoas fsicas 776,4 921,1 1 075,9 18,6 16,8

    Recursos livres 555,2 628,4 692,7 13,2 10,2

    Direcionados 221,2 292,7 383,2 32,3 30,9

    Participao %: Total/PIB 45,4 49,1 53,8

    Pessoas jurdicas/PIB 24,8 26,9 29,4

    Pessoas fsicas/PIB 20,6 22,2 24,4

    Recursos livres/PIB 28,1 29,7 31,8

    Recursos direcionados/PIB 17,4 19,4 22,0

    Variao %

    Tabela 2 Crdito a pessoas jurdicas - SaldosR$ bilhes

    Discriminao 2010 2011 2012

    2011 2012

    Recursos livres 502,6 603,8 706,5 20,1 17,0

    Capital de giro 264,4 310,1 366,4 17,3 18,2 Conta garantida 36,5 43,7 43,1 19,6 -1,3 ACC 29,4 39,7 45,9 35,1 15,8 Financiamentos a exportadores 15,9 28,0 36,9 76,1 31,5 Demais 156,5 182,3 214,2 16,5 17,5Recursos direcionados 433,7 509,1 586,0 17,4 15,1 BNDES 333,4 393,4 446,7 18,0 13,6 Imobilirio 22,4 32,2 42,9 43,5 33,4 Rural 37,8 43,3 48,8 14,5 12,6 Demais 40,0 40,2 47,6 0,5 18,3

    Variao %

  • Economia Bancria e Crdito11

    O estoque de financiamentos com recursos direcionados atingiu R$969 bilhes (22% do PIB) em 2012, com expanso anual de 20,9% e participao de 40,9% no total de crdito. Emprstimos a pessoas jurdicas, 60,5% do total de crditos direcionados, cresceram 15,1% no ano, somando R$586 bilhes (tabela 2), com destaque para financiamentos para capital de giro e investimentos, com recursos do BNDES; e crdito imobilirio, que se destinou, quase em sua totalidade, a financiar a construo de unidades habitacionais. No que se refere ao crdito com recursos direcionados que foi concedido a pessoas fsicas, em 2012 a expanso alcanou 30,9% (e o estoque, R$383 bilhes), com destaque para os financiamentos imobilirio e rural (tabela 3).

    1.1 Taxas de juros, spreads e inadimplncia

    A cobertura das estatsticas sobre taxas de juros das operaes de crdito passou a incluir crdito direcionado e, no segmento livre, houve maior detalhamento das operaes em relao estrutura anterior. Nesse sentido, a taxa mdia de juros relativa ao total de crdito do sistema financeiro, em consonncia com a taxa de poltica monetria e com a acomodao dos ndices de inadimplncia, recuou 4,8 p.p. no ano, ao atingir 18% ao final de 2012, menor patamar desde maro de 2011.

    Nas operaes com recursos livres, o custo mdio diminuiu 5,8 p.p., deslocando-se para 25,3%. J a taxa mdia do crdito direcionado recuou 2,3 p.p. em relao a 2011 e atingiu 7%.

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    30

    34

    38

    42

    46

    50

    54

    Mar 2011

    Jun Set Dez 2011

    Mar Jun Set Dez 2012

    Recursos direcionados

    (%)Recursos livres (%)

    Grfico 1 Taxas de juros Crdito a pessoas fsicas

    Recursos livres Recursos direcionados

    Tabela 3 Crdito a pessoas fsicas SaldosR$ bilhes

    Discriminao 2010 2011 2012

    2011 2012

    Recursos livres 555,2 628,4 692,7 13,2 10,2

    Crdito pessoal 201,6 238,9 279,1 18,5 16,9 Consignado 136,3 159,3 188,9 16,9 18,5 Aquisio de veculos 140,3 177,7 193,2 26,6 8,8 Carto de crdito 100,1 114,0 126,5 13,9 11,0 Cheque especial 16,3 17,6 18,3 8,2 4,0 Demais 96,9 80,2 75,6 -17,2 -5,8Recursos direcionados 221,2 292,7 383,2 32,3 30,9 BNDES 22,3 24,8 29,2 11,1 17,8 Imobilirio 131,3 189,4 255,4 44,2 34,8 Rural 61,4 72,6 90,7 18,3 24,8 Demais 6,2 5,9 8,0 -4,6 36,1

    Variao %

  • Economia Bancria e Crdito12

    A taxa mdia de juros nas operaes com pessoas fsicas diminuiu 5,7 p.p. e alcanou 24,3% em dezembro, traduzindo, principalmente, o decrscimo de 5,8 p.p. na taxa referente ao crdito com recursos livres (para 33,9%), notadamente nas modalidades cheque especial, crdito renegociado e crdito pessoal. No mbito do crdito direcionado, a taxa mdia de juros contratada pelas famlias recuou 1,8 p.p. no ano e atingiu 6,8%, com destaque para operaes de financiamentos de investimentos com recursos do BNDES, microcrdito e crdito imobilirio.

    Nas operaes com pessoas jurdicas, a taxa mdia recuou 4,1 p.p. e se situou em 13,3% ao final de 2012. Essa diminuio reflete redues de 5,3 p.p. e 2,5 p.p. nos crditos contratados com recursos livres e direcionados, respectivamente, cujas taxas mdias alcanaram 18% e 7,2%, nessa ordem. No crdito livre, destacou-se a diminuio nos custos mdios das modalidades de capital de giro, de desconto de duplicatas e de conta garantida. No crdito direcionado, houve reduo nas modalidades de capital de giro e de financiamentos para investimento com recursos do BNDES.

    O spread bancrio mdio referente ao total de crdito do sistema financeiro ou seja, computadas as operaes com recursos livres e direcionados recuou 2,8 p.p. no ano e atingiu 11,5 p.p. em dezembro de 2012, menor nvel da srie histrica iniciada em maro de 2011. Essa variao resultou das redues de 3,3 p.p. no spread de operaes com pessoas fsicas e de 2,2 p.p. no spread de operaes com pessoas jurdicas para 17,7 p.p. e 7 p.p., respectivamente. O spread relativo ao crdito livre alcanou 17,6 p.p., com recuo de 3,2 p.p., refletindo redues de 3,4 p.p. e 2,7

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    15

    18

    21

    24

    27

    30

    Mar 2011

    Jun Set Dez 2011

    Mar Jun Set Dez 2012

    Recursos direcionados

    (%)Recursos livres (%)

    Grfico 2 Taxas de juros Crdito a pessoas jurdicas

    Recursos livres Recursos direcionados

    15

    17

    19

    21

    23

    25

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    Mar 2011

    Jun Set Dez 2011

    Mar Jun Set Dez 2012

    Total PJ PF

    p.p. PF

    Grfico 3 Spread mdio das operaes de crdito p.p. Mdia e PJ

  • Economia Bancria e Crdito13

    p.p. nos crditos s famlias e s empresas, respectivamente. No tocante ao crdito direcionado, o diferencial entre a taxa ativa e o custo de captao diminuiu 1,3 p.p. no ano e atingiu 2,4 p.p.

    O indicador de inadimplncia, equivalente s operaes com atraso superior a noventa dias, atingiu 3,7% em dezembro, menor nvel em 2012, porm 0,1 p.p. acima do observado em igual perodo do ano anterior. O percentual de atrasos correspondeu a 5,6% nas operaes com recursos livres e a 1% naquelas com recursos direcionados.

    A inadimplncia relativa a emprstimos a pessoas fsicas recuou 0,1 p.p. no ano, para 5,6%, sendo 8% nas operaes com recursos livres e 1,9% nas com recursos direcionados. Assinale-se que o nvel de atrasos nos financiamentos de veculos, aps elevao a partir do incio de 2011, declinou 0,8 p.p. no segundo semestre de 2012 e atingiu 6,4% em dezembro. No tocante s operaes com pessoas jurdicas, a taxa de inadimplncia situou-se em 2,2%, aumentando 0,1 p.p. em relao a dezembro de 2011. O indicador atingiu 3,7% no segmento livre e 0,5% no direcionado, com destaque para as elevaes nas modalidades de capital de giro, conta garantida e financiamentos com recursos do BNDES, bem como para as redues em crdito rural e financiamentos imobilirios.

    10

    15

    20

    25

    30

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    Mar 2011 Jun Set Dez 2011 Mar Jun Set Dez 2012

    Tx mdia geral (%)

    Selic e spreadgeral (%)

    Grfico 4 Meta Selic X Taxa de Juros X Spread Mdio Geral

    meta selic spread geral taxa mdia geral

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    Mar 2011 Jun Set Dez 2011 Mar Jun Set Dez 2012

    Grfico 5 Taxa de inadimplncia1/%

    Total PJ PF1/ Percentual da carteira com atraso superior a noventa dias.

  • Economia Bancria e Crdito14

    2 Decomposio do spread bancrio para clientes preferenciais

    A Taxa Preferencial Brasileira (TPB), apresentada inicialmente em boxe do Relatrio de Estabilidade Financeira de setembro de 2011, calculada a partir das operaes de crdito pactuadas mensalmente entre instituies financeiras e os respectivos clientes preferenciais.2 Por representar taxas de juros utilizadas em operaes de elevado valor concedidas a clientes com baixo risco de inadimplncia, a TPB permite comparao mais adequada das taxas praticadas no Brasil com as de outros pases, fato esse que motivou a elaborao da decomposio do spread desse segmento desde o Relatrio de Economia Bancria e Crdito (REBC) - 2010.3

    Conforme verificado no Relatrio de Economia Bancria e Crdito - 2011, nota-se que a evoluo da TPB continua apresentando comportamento similar ao da taxa bsica (taxa Selic), com correlao de 0,88. Note-se que, em 2012, o spread de aproximadamente 4,4 p.p. em relao taxa Selic posicionou-se acima da mdia observada no perodo de 2005 a 2011 (4,0 p.p.), contudo, abaixo do spread verificado no perodo aps a crise financeira (5,5 p.p.), entre outubro de 2008 e dezembro de 2011.

    Visando obter maior acurcia na decomposio do spread da TPB, bem como atenuar eventuais variaes decorrentes do nmero reduzido de instituies financeiras que atendem sistematicamente clientes preferenciais,4 foram realizadas algumas atualizaes e aperfeioamentos na metodologia de clculo.

    A primeira refere-se ao prprio clculo do spread, agora dado pela diferena entre o valor da TPB apurado no ms e a taxa de captao das instituies financeiras que contrataram operaes com clientes preferenciais. Anteriormente, considerava-se

    2 So considerados clientes preferenciais aqueles que apresentam, simultaneamente, as seguintes caractersticas: (i) ser pessoa jurdica; (ii) possuir operaes de crdito com trs ou mais instituies financeiras; (iii) ter, pelo menos, uma operao em curso normal com valor maior ou igual a R$5 milhes; (iv) possuir, pelo menos, uma operao com classificao de risco AA; (v) possuir operaes classificadas nos riscos AA e A, cuja soma corresponda a, no mnimo, 90% (noventa por cento) do total de seu endividamento perante o Sistema Financeiro Nacional (SFN); e (vi) no possuir operaes com atraso superior a noventa dias que representem mais que 1% do total de seu endividamento junto ao SFN.

    3 Publicado em dezembro de 2011.4 Por ms, so identificadas aproximadamente 610 operaes para o clculo da TPB; contudo, essas

    operaes se encontram concentradas em apenas treze instituies financeiras em mdia, sendo que somente sete apresentaram operaes em pelo menos 75% dos meses avaliados.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Jan 2005AbrJulO

    utJan 2006AbrJulO

    utJan 2007AbrJulO

    utJan 2008AbrJulO

    utJan 2009AbrJulO

    utJan 2010AbrJulO

    utJan 2011AbrJulO

    utJan 2012AbrJulO

    utD

    ez 2012

    %

    Grfico 6 Selic X TPB

    Selic TPB

  • Economia Bancria e Crdito15

    como taxa de captao a mdia, ponderada pelos volumes, de taxas de captao de algumas operaes de todas as instituies financeiras.

    Uma segunda mudana refere-se ao clculo do item custo administrativo parcela do spread bancrio originada do custeio de despesas com manuteno do processo produtivo das instituies financeiras, como as vinculadas ao fator trabalho (salrios, honorrios, treinamentos, encargos e benefcios) e utilizao de recursos operacionais (gua, energia, comunicaes, material de escritrio, processamento de dados, propaganda e publicidade, seguro, vigilncia, transporte, entre outros).

    Visando evitar a fixao de um valor nulo para a participao dessa componente no spread da TPB, como na metodologia anterior, bem como um mesmo valor por unidade monetria emprestada, utilizou-se o algoritmo de Aumann-Shapley no intuito de separar os custos relacionados aos produtos de crdito5 e, posteriormente, calcular o custo mdio por operao. Vale ressaltar que a adoo desse algoritmo, apesar de apresentar impacto irrelevante na componente custo administrativo, tem efeito indireto no clculo da componente de subsdio cruzado.

    No que diz respeito aos recolhimentos compulsrios, cunha fiscal e inadimplncia, foram mantidas as frmulas de clculo apresentadas no ltimo Relatrio de Economia Bancria e Crdito.6

    Com informaes relativas aos meses de dezembro de 2007 a 2012, as tabelas 4 e 5 apresentam a decomposio do spread bancrio para clientes preferenciais.7 As maiores participaes percentuais no spread das operaes com clientes preferenciais continuaram, em 2012, sendo as das componentes inadimplncia e margem bruta, erros e omisses (tabela 4). A componente inadimplncia, aps recuar de 2009 a 2011, mudou de tendncia em 2012 e voltou aos patamares de 2009. A componente margem bruta, erros e omisses se mostrou relativamente estvel no perodo analisado e apresentou em 2008 e em 2011 as maiores participaes, assim como na metodologia anterior.

    A decomposio na forma de p.p. (tabela 5) apresenta, em outra perspectiva, a evoluo nominal das componentes do spread de 2007 a 2012. Nota-se que, na crise internacional de 2008, o spread apresentou forte elevao (8,4 p.p.), seguido de

    5 Para a alocao dos custos, foram considerados os seguintes produtos: crdito livre, crdito direcionado, Ttulos e Valores Mobilirios (TVM) e cmbio. Mais detalhes sobre a metodologia de decomposio do spread podem ser obtidos no Relatrio de Economia Bancria e Crdito 2004 e 2008. Foi avaliada tambm a possibilidade de alocao do custo para os produtos de crdito via diferena entre o custo total e o custo dos produtos de TVM e cmbio. Para o clculo do custo dos produtos de TVM e cmbio para cada instituio, foram selecionados os bancos que operavam apenas nesses dois segmentos, sendo calculado um custo mdio, o qual foi multiplicado pelo volume monetrio das operaes desses segmentos. Tendo em vista que esses resultados foram similares aos calculados pela metodologia de alocao de Aumann-Shapley, manteve-se essa ltima.

    6 Assim, admite-se que os recursos para os emprstimos aos clientes preferenciais tm origem no funding global da instituio e que uma proxy da inadimplncia desse segmento pode ser obtida a partir do provisionamento mnimo requerido de todas as operaes selecionadas para o clculo da TPB que estejam na carteira de crdito das instituies financeiras.

    7 Em virtude das mudanas metodolgicas realizadas para o clculo do spread e da incluso de novos valores para o clculo dos custos administrativos por meio do algoritmo de Aumann-Shapley (os quais, apesar de apresentarem impacto irrelevante na componente custo administrativo, apresentam efeito indireto para o clculo da componente de subsdio cruzado), os valores apresentados neste Relatrio diferem em relao aos divulgados no Relatrio de Economia Bancria e Crdito de 2011.

  • Economia Bancria e Crdito16

    acomodao em patamar em torno de 5% de 2009 a 2011. Em 2012, h um retorno aos nveis observados no perodo pr-crise. Em relao inadimplncia, nota-se que, apesar da tendncia decrescente de 2009 a 2011, em 2012 os nveis dessa componente ainda no retornaram aos patamares do perodo anterior crise. Os custos administrativos, apesar da mudana metodolgica, apresentaram uma mdia de 0,000247% do spread e 0,000014 p.p. para o perodo de 2007 a 2012, indicando que a adoo de uma participao nula, na metodologia anterior, era plausvel.

    No que diz respeito componente compulsrio, subsdio cruzado, encargos fiscais e FGC, de modo similar ao observado na metodologia anterior, nota-se significativo aumento em 2008 devido elevao da TPB (21,8% a.a.) e a consequente ampliao do spread que compe a base de clculo para os tributos indiretos (PIS, Cofins). Posteriormente, com a diminuio da taxa Selic e da TPB, em dezembro de 2012, para 7,16% a.a. e 10,96% a.a., respectivamente, e, principalmente, com o recuo do spread de 8,44% a.a. em 2008 para 3,81% a.a. em 2012, observou-se reduo do componente.

    A componente margem bruta, erros e omisses, conforme anteriormente comentado, tende a apresentar valores mais elevados em anos de grandes instabilidades, em parte, reflexo da maior percepo de risco das operaes e da sua incorporao gradativa nas classificaes de risco.

    Tabela 4 - Decomposio do spread bancrio prefixado TPB

    Discriminao 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    1 - Spread Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

    2 - Custo Administrativo 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    3 Inadimplncia 33,85 13,16 33,50 24,40 21,27 33,604 - Compulsrio + Subsdio Cruzado + Encargos Fiscais e FGC

    9,44 14,52 12,71 11,68 9,06 9,25

    5 - Margem Bruta, Erros e Omisses (1-2-3-4-5) 56,71 72,33 53,78 63,92 69,67 57,15

    6 - Impostos Diretos 22,68 28,93 21,51 25,57 27,87 22,867 - Margem Lquida, Erros e Omisses (6-7) 34,02 43,40 32,27 38,35 41,80 34,29

    Fonte: Depep

    Em proporo (%) do spread

    Tabela 5 - Decomposio do spread bancrio prefixado TPB

    Discriminao 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    A - Taxa de Aplicao 13,79 21,78 13,85 15,53 15,59 10,96

    B - Taxa de Captao 10,87 13,34 8,48 10,16 9,76 7,15

    1 - Spread Total 2,92 8,44 5,37 5,37 5,83 3,81

    2 - Custo Administrativo 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    3 - Inadimplncia 0,99 1,11 1,80 1,31 1,24 1,284 - Compulsrio + Subsdio Cruzado + Encargos Fiscais e FGC 0,28 1,22 0,68 0,63 0,53 0,355 - Margem Bruta, Erros e Omisses (1-2-3-4-5) 1,66 6,10 2,89 3,43 4,06 2,18

    6 - Impostos Diretos 0,66 2,44 1,16 1,37 1,62 0,877 - Margem Lquida, Erros e Omisses (6-7) 1,00 3,66 1,73 2,06 2,44 1,31

    Fonte: Depep

    Em pontos percentuais (p.p.)

  • Economia Bancria e Crdito17

    3 Anlise de resultados da Pesquisa Trimestral de Condies de Crdito

    Com o propsito de ampliar e aprimorar o conjunto de informaes sobre a conjuntura macroeconmica, desde maro de 2011 o Banco Central coleta opinies sobre as condies do crdito bancrio nacional a exemplo do que ocorre em outros pases como Estados Unidos (Senior Loan Officer Opinion Survey on Bank Lending Pratices), Inglaterra (Credit Conditions Survey), Japo (Senior Loan Officer Opinion Survey on Bank Lending Pratices), Chile (Estndares de Aprobacin en el Mercado del Crdito Bancario) e Unio Europeia (Bank Lending Survey for the Euro Area).

    Nesse sentido, so preenchidos questionrios qualitativos enviados a cada final de trimestre s instituies financeiras representativas dos seguintes segmentos do mercado de crdito: pessoas jurdicas grandes empresas (PJG); pessoas jurdicas micro, pequenas e mdias empresas (PJM); pessoas fsicas crdito habitacional (PFH); e pessoas fsicas crdito voltado ao consumo (PFC).

    Os indicadores se referem percepo dos agentes a respeito das condies de oferta, de demanda e de aprovao de crdito observadas no trimestre corrente, bem como as expectativas do comportamento dessas trs variveis para o prximo trimestre 8.

    Esta seo tem por objetivo apresentar os fatores que determinaram movimentos nas condies de oferta e nas de demanda por crdito, na avaliao dos especialistas consultados; bem como comparar os valores dos indicadores de aprovao com os valores efetivamente observados de novas concesses de crdito em cada um dos segmentos acima mencionados, no perodo de 2011 a 2012.

    Fatores determinantes do comportamento da oferta e demanda por crdito

    A amostra utilizada na pesquisa trimestral de condies de crdito no Brasil (PTC) engloba 46 conglomerados e instituies financeiras, que, em dezembro de 2012, foram responsveis pela concesso de cerca de 90% do total de crdito do segmento PJG (22 instituies), 94% do segmento PJM (40 instituies), 83% do segmento PFC (17 instituies) e 99% do segmento PFH (8 instituies).9

    Os respondentes atribuem nota de zero a dez ao grau de importncia de cada fator listado (zero para os fatores irrelevantes e dez para fatores que mais influenciam a capacidade ou a disposio de conceder crdito). A figura 1 apresenta a evoluo, em cada segmento, da mdia dos trs principais fatores determinantes da oferta, bem como o comportamento mdio dos demais itens mencionados como relevantes no processo decisrio sobre a poltica de concesso a ser adotada.

    8 Detalhes sobre a construo dos indicadores podem ser verificados no trabalho para discusso 245 Pesquisa Trimestral de Condies de Crdito no Brasil.

    9 Nessa anlise so classificadas como grandes empresas as pessoas jurdicas, no bancrias e no pertencentes administrao pblica direta, que no perodo de anlise tenham tido um endividamento bancrio igual ou superior a R$ 100 milhes no Sistema Financeiro Nacional.

  • Economia Bancria e Crdito18

    Figura 1 Importncia histrica dos fatores responsveis pelo comportamento do indicador de oferta

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorGrandes Empresas

    Condies gerais da economia domsticaCondies especficas da indstria/setor ou da empresaPercepo de risco do clienteOutros fatores

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    Indicador

    Micro, Pequenas e Mdias Empresas

    Condies especficas dos clientes Nvel de inadimplncia

    Nvel de tolerncia ao risco Outros fatores

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorCrdito voltado para consumo de pessoa fsica

    Nvel de comprometimento da renda do consumidor Nvel de inadimplncia da carteiraNvel de tolerncia ao riscoOutros fatores

  • Economia Bancria e Crdito19

    possvel notar que, de forma geral, os fatores mais relevantes esto associados diretamente ao risco de inadimplncia ou a aspectos conjunturais que podem comprometer a capacidade de pagamento dos tomadores. Foram avaliados, tambm, aspectos relacionados concorrncia (bancria e no bancria), liquidez do mercado, ao custo de funding, s normas e estrutura de capital. Apesar de relevantes, a importncia relativa desses itens em todos os segmentos foi menor do que a da inadimplncia.

    Cabe notar que no segmento de grandes empresas, a preocupao com as condies gerais da economia aparece como o terceiro fator mais relevante. Comportamento similar pode ser identificado tambm no segmento de crdito habitacional.

    Comparando o segmento de micro, pequenas e mdias empresas e o voltado para consumo de pessoa fsica, identifica-se similaridade tanto em termos dos fatores determinantes como da prpria ordem de importncia relativa entre eles. Nos dois casos, a capacidade de pagamento do tomador10 o fator mais relevante, seguido por inadimplncia e tolerncia ao risco.

    A figura 2 apresenta a evoluo mdia da importncia atribuda aos principais fatores que determinam a demanda por crdito.

    Figura 2 Importncia histrica dos fatores responsveis pelo comportamento do indicador de demanda

    10 No segmento de PJM expresso pelo fator condies especficas dos clientes e no segmento de PFC expresso pelo fator nvel de comprometimento de renda do consumidor.

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorCrdito Habitacional de Pessoa Fsica

    Nvel de emprego e condies salariaisNvel de tolerncia ao riscoNvel de comprometimento da renda do consumidorOutros fatores

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorGrandes Empresas

    Necessidade de capital de giro Necessidade de investimento em ativo fixo

    Concorrncia de outros bancos Outros fatores

  • Economia Bancria e Crdito20

    Nas modalidades voltadas a pessoas jurdicas, fatores relacionados necessidade de reforo do capital de giro e realizao de investimentos so os mais relevantes. Note-se ainda que enquanto para grandes empresas a concorrncia fator decisivo para o dimensionamento da demanda por crdito, no caso de MPMEs, o fator chave a taxa de juros.

    No que se refere demanda no segmento de pessoas fsicas, nvel de emprego ou de condies salariais, e nvel de comprometimento de renda do consumidor, so os mais importantes tanto no crdito voltado ao consumo quanto no habitacional. Note-se que a taxa de juros aparece como terceiro fator mais importante para o crdito ao consumo; e a confiana do consumidor, para o habitacional.

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorMicro, Pequenas e Mdias Empresas

    Necessidade de capital de giro Necessidade de investimento em ativo fixo

    Alterao nas taxas de juros Outros fatores

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorCrdito voltado para consumo de pessoa fsica

    Nvel de emprego/condies salariaisNvel de comprometimento da renda do consumidorAlterao nas taxas de jurosOutros fatores

    4

    5

    6

    7

    8

    1T2011 2T2011 3T2011 4T2011 1T2012 2T2012 3T2012 4T2012

    IndicadorCrdito Habitacional de Pessoa Fsica

    Nvel de emprego/condies salariaisConfiana do consumidorNvel de comprometimento da renda do consumidorOutros fatores

  • Economia Bancria e Crdito21

    Avaliao da capacidade preditiva do indicador da porcentagem de aprovao de novas concesses

    Visando avaliar a capacidade preditiva do indicador de aprovaes de novas linhas de crdito, comparou-se o indicador do trimestre em anlise (t), que se refere s expectativas de concesses para o trimestre seguinte (t+1), com as variaes percentuais do volume de novas concesses do trimestre subsequente (t+1).

    Figura 3 Concesses e indicador de condies de crdito

    -0,40

    -0,30

    -0,20

    -0,10

    0,00

    0,10

    0,20

    0,30

    0,40

    -20

    -15

    -10

    -5

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    1T11 2T11 3T11 4T11 1T12 2T12 3T12 4T12

    Indicador

    Variao das concesses (%)

    Grandes Empresas

    Concesses (t+1) Indicador de Aprovao para o prximo trimestre

    0,00

    0,05

    0,10

    0,15

    0,20

    0,25

    0,30

    0,35

    0,40

    0,45

    0,50

    -20

    -15

    -10

    -5

    0

    5

    10

    15

    20

    1T11 2T11 3T11 4T11 1T12 2T12 3T12 4T12

    Indicador

    Variao das concesses (%)

    Micro, Pequenas e Mdias Empresas

    Concesses (t+1)Indicador de Aprovao para o prximo trimestre

    -0,35

    -0,30

    -0,25

    -0,20

    -0,15

    -0,10

    -0,05

    0,00

    0,05

    0,10

    0,15

    -15

    -10

    -5

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    1T11 2T11 3T11 4T11 1T12 2T12 3T12 4T12

    Indicador

    Variao das concesses (%)

    Crdito voltado para consumo de pessoa fsica

    Concesses (t+1)Indicador de Aprovao para o prximo trimestre

  • Economia Bancria e Crdito22

    A figura 3 sugere que, em particular nos segmentos de crdito a grandes empresas, micro, pequenas e mdias empresas e de crdito voltado ao consumo de pessoa fsica, identifica-se correlao entre as duas sries.

    Assim, no segmento PJG, em cinco trimestres, do total de sete, o indicador das condies de crdito antecipou corretamente o sentido da evoluo das concesses. No segmento PJM, apenas no terceiro trimestre de 2011 houve divergncia. Em linha com a maior volatilidade observada nas concesses, o indicador para o segmento PFC foi menos eficiente. Finalmente, em relao ao segmento PFH, em apenas um perodo a tendncia apontada pelo indicador se confirmou.

    Em suma, os indicadores de condies de crdito constituem fonte de informao relevante para a conduo da poltica monetria. Nesse sentido, cabe destacar que as evidncias sugerem aderncia entre os indicadores e a dinmica dos diversos segmentos do mercado de crdito.

    0,00

    0,10

    0,20

    0,30

    0,40

    0,50

    0,60

    -15

    -10

    -5

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    1T11 2T11 3T11 4T11 1T12 2T12 3T12 4T12

    Indicador

    Variao das concesses (%)

    Crdito Habitacional de Pessoa Fsica

    Concesses (t+1)Indicador de Aprovao para o prximo trimestre

  • Parte IIEstudos Selecionados

  • Economia Bancria e Crdito24

    1 Insolvncia e Contgio no Mercado Interfi nanceiro BrasileiroSergio R. S. Souza*

    Benjamin M. Tabak*

    Solange M. Guerra*

    1 Introduo

    A possibilidade de ocorrncia de crises financeiras de grande monta e os prejuzos que elas provocam na sociedade justificam o esforo para se identificarem sinais antecedentes a esses eventos, os mecanismos de contgio, as aes prudenciais e de mitigao de riscos, e as aes de combate mais eficazes a serem adotadas quando uma crise est em andamento.

    Este trabalho contribui com uma metodologia de identificao e avaliao das vulnerabilidades do sistema financeiro que surgem em mercados nos quais as exposies mtuas dos participantes possam ser representadas por redes. Essa metodologia utilizada para analisar o processo de contgio de insolvncias que pode ocorrer no mercado interfinanceiro brasileiro.

    As anlises so realizadas por meio de simulaes, que fornecem o valor das perdas por contgio induzidas pela quebra das instituies financeiras (IFs) que atuam no mercado interfinanceiro brasileiro. tambm calculado o valor da perda esperada do sistema financeiro no horizonte de um ano e, por fim, o valor de um possvel contgio de outros mercados induzidos pelos defaults.

    Investigamos o potencial de contgio por meio de simulaes, uma vez que dados desse tipo de ocorrncia so escassos, uma vez que IFs potencialmente originadoras de processos de propagao de perdas recebem ajuda antes de falharem.1 As simulaes realizadas neste trabalho tm a finalidade de identificar se o default simulado de cada IF no mercado interbancrio pode originar contgio e, em caso afirmativo, qual a severidade do dano ao sistema financeiro. Apesar de existirem diversos canais de contgio no sistema financeiro, escolhemos o mercado interbancrio por representar 70% das exposies entre as IFs.

    Upper (2011) apresenta uma reviso das simulaes que avaliam o perigo de contgio associado ao mercado interbancrio, questionando a validade de se realizarem simulaes de processos de contgio se iniciando nesse mercado. Segundo ele, no h precedente histrico de falha de bancos devido a perdas em exposies no

    * Departamento de Estudos e Pesquisas, Banco Central do Brasil. 1 Ver Upper (2011).

  • Economia Bancria e Crdito25

    interbancrio. Isso pode ter dois significados: 1) esse canal no relevante e pode ser ignorado; ou 2) o canal pode ser importante, mas falhas contagiosas so prevenidas por operaes de socorro do governo. Outra crtica apresentada por Upper (2011) a de que os comportamentos de bancos e do governo modelados so muito rudimentares, impossibilitando que as simulaes reproduzam adequadamente os mecanismos de contgio identificados e prejudicando a capacidade delas de previso de crises.

    Brunnermeier (2009) analisou os fatores relacionados ao surgimento da bolha no mercado de habitao dos EUA, explicando a sequncia de eventos, os mecanismos de contgio e a amplificao das perdas do mercado hipotecrio na crise de 2007-2009. Por meio dos seguintes processos, um choque relativamente pequeno pode ser amplificado e fazer a liquidez evaporar:

    1) Espirais de perdas e espirais de margem. As espirais de perdas surgem para investidores alavancados e que procuram manter a razo de alavancagem. Quando h perda no valor dos ativos do investidor, inicialmente, o valor da perda se reflete integralmente no seu patrimnio lquido. Quando isso ocorre, ele obrigado a reduzir o valor tomado emprestado para no exceder a razo de alavancagem, do lado do passivo, e vender ativos. Essa venda pode originar maior reduo nos preos, considerando que pode haver outros investidores no mercado na mesma situao. As espirais de margens/haircuts reforam as espirais de perdas. Quando o preo de um ativo sofre quedas significativas, as exigncias de margens e os haircuts sobem, forando desalavancagem e mais vendas do ativo, que podem reduzir o preo dele mais ainda. Essa espiral confirmada empiricamente por Adrian e Shin (2010).

    2) Canal de emprstimo. Refere-se restrio de emprstimos concedidos por emprestadores com capital limitado e situao em declnio. Um dos mecanismos o entesouramento preventivo (precautionary hoarding), que surge se emprestadores precisam de fundos para os projetos e para as estratgias deles e temem perdas que podem se originar de choques. O outro o moral hazard no monitoramento de operaes de crdito. O moral hazard surge no contexto de intermedirios financeiros, que monitoram tomadores de emprstimos em troca de participao nos lucros da operao. Quando essa participao deixa de ser vantajosa, reduzem o esforo de monitoramento, forando o mercado a emprestar sem monitoramento.

    3) Corridas a IFs. Embora as corridas de depositantes praticamente no ocorram mais, as corridas podem se dar em outros contextos: hedge funds podem desinvestir ativos lquidos junto a contrapartes; na corrida de margem, diversas contrapartes requisitam aumento de margem para manter os contratos em aberto; os cotistas de um fundo podem sacar suas cotas.

    4) Efeitos de rede: risco de crdito de contraparte e risco de travamento (gridlock). Risco que surge em um ambiente de rede de operaes na qual cada participante conhece apenas as suas operaes. Em momentos de incerteza, os participantes se veem obrigados a fazer seguro de suas exposies, e uma falha pode originar perdas a muitos participantes. Nesse caso, um sistema de compensao multilateral poderia reduzir as exposies por meio de netting de posies.

  • Economia Bancria e Crdito26

    Esses mecanismos de amplificao de perdas e contgio so observados em estruturas mais complexas do que as retratadas nas simulaes de sistemas financeiros. Alm disso, o processo de deciso dos agentes tambm mais complexo.

    Upper (2011) no se mostra otimista quanto possibilidade de se preverem crises por meio da utilizao de modelos de contgio. De fato, existem duas dificuldades na modelagem de processos de contgio: a primeira a de que os processos atualmente identificados so complexos do ponto de vista comportamental; e a segunda provm do fato de que os processos de contgio mudam com o tempo, pois o sistema financeiro, em busca de rentabilidade, passa por reorganizaes, tanto estruturais quanto operacionais, trazendo, com isso, novas possibilidades de contgio. Um exemplo disso a popularizao da securitizao de carteiras de crdito, com a criao de todas as estruturas (veculos) necessrias ao empacotamento e distribuio desses ttulos e o papel que isso teve na ampliao da crise do subprime (Brunnermeier, 2009). Apesar dessas dificuldades, essas simulaes so teis para caracterizar o sistema financeiro, subsidiando as aes de superviso e as definies das polticas a serem adotadas.

    Este trabalho tem como ponto de partida as exposies entre IFs no mercado interfinanceiro e os valores de capital dessas instituies, e, simulando o contgio por meio do balano, calcula as perdas sistmicas associadas quebra de cada IF. Considera-se, nesse clculo, que as perdas so no horizonte de curto prazo, ou seja, que a taxa de recuperao em caso de default zero, pois, durante o processo de liquidao, os bens da IF esto congelados. A distribuio desses bens entre os credores ocorre em um prazo maior do que o horizonte considerado nessa simulao. O trabalho adota uma abordagem de solvncia das IFs, ou seja, se elas sofrem uma perda no mercado interbancrio e se tornam insolventes, a soluo receber um aporte de capital. Alm do clculo das perdas associadas ao default de IFs, so calculadas as probabilidades de default dessas IFs no horizonte de um ano para se obter a perda esperada do sistema financeiro associada ao mercado interfinanceiro em um ano. Para isso, utilizamos o modelo estrutural de Merton (1974) e dados contbeis das IFs. Neste artigo, so tambm investigadas as IFs que podem ser sistemicamente importantes, so identificadas as que amplificam perdas no processo de contgio e a possibilidade de contgio de outros mercados associada s perdas.

    O trabalho est estruturado da seguinte maneira: a seo seguinte apresenta uma reviso de literatura relacionada a processos de contgio em simulaes; a seo 3 descreve a metodologia utilizada; a seo 4, os dados; a seo 5, as anlises e os resultados; e a seo 6 conclui.

    2 Literatura

    A ideia de que crises financeiras de maior severidade se iniciam em uma IF, ou em um grupo pequeno de IFs, e depois se espalham, tem motivado pesquisas relacionadas a processos de contgio em redes de IFs. A maioria desses trabalhos utiliza simulaes desses processos em redes de IFs interconectadas em uma rede de obrigaes.

  • Economia Bancria e Crdito27

    Allen e Gale (2001) propem um modelo de equilbrio com uma rede de quatro bancos. Estudam a reao do equilbrio a choques de preferncia por liquidez sofridos por um dos bancos e concluem que a possibilidade de contgio para os demais bancos depende da estrutura da rede, e que esta mais robusta quando a estrutura completa.

    Uma ferramenta bastante empregada nessas simulaes tem sido o processo de compensao de Eisenberg e Noe (2001). Ela utilizada neste trabalho e ser abordada com mais detalhe na seo seguinte. A ferramenta tambm foi usada em trabalhos que procuraram reproduzir o efeito conjunto dos fatores de risco de crdito, de mercado, bem como os relacionados s exposies na rede de IFs. Diversos desses trabalhos foram realizados por bancos centrais, devido tanto ao interesse de avaliar o risco do sistema financeiro que supervisionavam quanto pelas restries de acesso aos dados necessrios.

    Boss et al. (2004b) simularam a reao do sistema financeiro austraco a choques estocsticos nos fatores de risco de mercado e de crdito, calculando as perdas relacionadas a esses choques, sofridas pela rede de bancos. Concluram que esse sistema bancrio muito estvel e que poucos bancos podem ser classificados como contagiosos. Elsinger et al. (2006a) afirmaram que a regulao e o monitoramento de bancos eram realizados para os bancos individuais, com base na hiptese de que o sistema bancrio seria saudvel se cada banco individual fosse saudvel. Segundo esses autores, a anlise de bancos individuais no permite que se considerem duas fontes de risco que podem resultar em uma quebra da intermediao financeira em larga escala: correlaes nos valores de portflios dos bancos e interligaes de crdito podem transmitir insolvncia contagiosamente de um banco para outros bancos em um efeito domin. Utilizando tcnicas-padro de clculo de riscos de crdito e mercado e o processo de compensao de Eisenberg e Noe (2001), eles calcularam uma estimativa do valor que um emprestador de ltima instncia deve ter em mos para injetar no sistema bancrio de modo a evitar defaults contagiosos. Concluram tambm que a correlao entre as exposies muito mais importante, como fonte de risco sistmico, do que as ligaes financeiras. Seguindo essa mesma linha, Alessandri et al. (2009) apresentaram, para o mercado interbancrio ingls, um modelo para a quantificao de risco sistmico a partir dos balanos dos bancos e das interaes deles em rede, em um horizonte de trs anos. Os clculos so feitos para cada trimestre, e os resultados so utilizados como ponto de partida no perodo seguinte.

    Outros trabalhos tiveram por objetivo estudar as relaes entre a estrutura de rede do sistema financeiro e a robustez dela. Boss et al. (2004a) analisaram a estrutura da rede formada pelo mercado interbancrio austraco por meio de tcnicas de teoria de redes. Verificaram que a conectividade dos ns da rede tinha distribuio power law, afirmando que redes com esse tipo de estrutura permaneceriam estveis se ocorressem defaults aleatrios ou mesmo ataques intencionais. Nier et al. (2007), por sua vez, investigaram como o risco sistmico afetado pela estrutura do sistema financeiro. Concluram que, quanto mais capitalizados os bancos, mais resiliente o sistema bancrio contra o contgio de defaults, e que o valor das dvidas interbancrias tende a aumentar o risco de contgios em cascata, mesmo que os bancos mantenham capital contra essas exposies. Li (2012) relacionou o risco de contgio s atividades dos bancos e concluiu que o tamanho das exposies interbancrias o principal fator que determina o efeito desses riscos e que o impacto total dos emprstimos no risco de contgio depende da estrutura da rede.

  • Economia Bancria e Crdito28

    Cifuentes (2005) prope modelo para analisar o efeito de problemas de liquidez na solvncia de bancos, tendo como ponto de partida as exposies interbancrias e os ativos ilquidos no balano. Recomenda a adoo de requerimentos de liquidez, afirmando que podem ser to eficazes quanto requerimentos de capital na preveno de falhas contagiosas.

    Shin (2008) analisa a relao entre liquidez e risco em um sistema em que as IFs possuem balanos interligados. A liquidez do sistema financeiro como um todo afeta os preos dos ativos, que afetam os balanos das IFs. Por sua vez, os balanos afetam os preos dos ativos, formando um ciclo que pode amplificar os choques no sistema financeiro.

    A partir da crise de 2007-2009, so identificados e modelados novos canais de contgio, surgindo preocupao com a amplificao de choques durante o processo de contgio.

    Gai (2010) modela dois canais de contgio: contgio direto entre IFs, no qual o default de uma IF devedora afeta as suas credoras; e o contgio indireto, no qual IFs com problemas de liquidez vendem seus ativos ilquidos, resultando em uma queda no preo desses ativos. Os resultados de simulaes desse modelo permitem sugerir que sistemas financeiros exibem uma tendncia robusta-ainda-que-frgil: enquanto a probabilidade de contgio pode ser baixa, os efeitos podem se espalhar amplamente quando problemas ocorrem.

    Battiston et al. (2012a) investigam fatores endgenos de amplificao do risco sistmico por meio do canal de contgio formado por interligaes das exposies de crdito. Nesse canal, considera estes mecanismos de contgio: interdependncia (propagao no espao), acelerador financeiro (propagao no tempo) e cascatas de default. O processo do acelerador financeiro ocorre quando o efeito de uma mudana na condio financeira de um agente em um perodo gera uma retroalimentao que leva variao da condio financeira do agente na mesma direo, no perodo seguinte. Eles concluem que a diversificao de riscos torna a rede mais resiliente. No entanto, se h presena de acelerador financeiro, a resilincia mxima para nveis intermedirios de diversificao financeira, mas decresce para diversificao maior. Battiston et al. (2012b), por sua vez, estudam a propagao de defaults em diversas situaes de robustez e conectividade em uma rede de relacionamentos de crdito entre IFs, prevendo a possibilidade de que emprestadores de curto prazo no renovem a concesso de emprstimos, caso percebam aumento na fragilidade de seus devedores. Concluem que a diversificao de riscos de crdito junto a muitos tomadores tem efeitos ambguos no risco sistmico quando h potencial de ocorrncia de corridas de emprestadores de curto prazo de IFs da rede.

    Krause e Giansante (2012) analisam efeitos da iliquidez e da insolvncia de IFs na avaliao do risco sistmico no mercado interbancrio e afirmam que o tamanho do banco falhando inicialmente o fator dominante para definir a ocorrncia de contgio ou no, mas, para se determinar a extenso dele, so mais importantes as caractersticas da rede de emprstimos interbancrios. Sugerem que regular apenas o balano das IFs no suficiente; necessria a suplementao por consideraes sobre a estrutura das interligaes dos bancos.

  • Economia Bancria e Crdito29

    Upper (2011), avaliando modelos de simulao do mercado interbancrio, afirmou que nenhum desses modelos previu a crise do subprime, nem desempenhou um papel maior nas decises de poltica tomadas durante o perodo. No entanto, eles promoveram um avano no entendimento do processo de contgio, principalmente no que se refere identificao dos bancos crticos para a estabilidade do sistema, que no so identificados somente a partir de dados dos balanos, mas tambm a partir das interaes interbancrias, do capital e da localizao deles na rede. Avaliando os modelos analisados no trabalho, ele afirma que so ferramentas teis em anlises de estabilidade financeira, pois pem em evidncia as concentraes de risco; no entanto, no podem ser usados como ncleo de um modelo que ajudaria a prever crises.

    Algumas crticas aos modelos que analisam os mercados interbancrios tm sido tecidas devido aos baixos riscos de exposio encontrados. Cumpre ressaltar que a crise do subprime evidenciou que esse mercado fundamental como fonte de liquidez. Por um lado, o congelamento desses mercados gerou um efeito cascata entre mercados interbancrios do mundo todo, originando crises de liquidez e levando IFs insolvncia; por outro, gerou efeitos devastadores sobre a confiana dos agentes econmicos, amplificando as perdas. Os riscos potenciais nos mercados interbancrios so grandes devido rapidez com que o contgio pode se espalhar entre IFs, originando abalos na confiana nos mercados financeiros e culminando em crises de grandes propores.

    Este trabalho utiliza o processo de compensao de Eisenberg e Noe (2001) para identificar a possvel ocorrncia de insolvncia de IFs aps a falha de uma delas no mercado interbancrio, sem a atuao simultnea de outros mecanismos de contgio. O clculo do valor de perda esperada no horizonte de um ano, pelo modelo estrutural de Merton (1974), as anlises de contgio potencial de outros mercados, assim como a identificao de IFs amplificadoras de perdas no contexto do mercado interbancrio, no so realizados nos trabalhos anteriores. Um modelo como esse pode ser utilizado como ferramenta de apoio no processo de superviso do sistema financeiro. O valor da perda esperada pode ser um indicador da fragilidade do sistema financeiro relacionado ao mercado interfinanceiro e ao processo de contgio modelado. No se sugere que esse valor seja utilizado como proviso a ser utilizada em caso de default, pois, como o socorro representa uma transferncia de recursos entre os contribuintes e os credores e acionistas da IF, necessrio saber se o custo social do default supera o custo social dessa transferncia no processo de tomada de deciso.

    3 Metodologia

    Neste trabalho, so calculadas as perdas totais do sistema financeiro originadas pela inadimplncia de IFs no mercado interfinanceiro. O sistema financeiro considerado isolado, isto , excludos os acionistas das IFs, no credor ou devedor de entidades externas a ele. O processo de propagao de perdas considerado o contgio por meio do balano, no qual a inadimplncia de uma IF obriga as suas credoras a baixar de seus balanos os ativos correspondentes. Isso pode tornar insolventes as IFs que sofreram baixas de ativos, tornando-as fontes de choques para as credoras delas. No so considerados outros processos de contgio, como o originado pela exposio de grupos de IFs a riscos em comum, o originado por espirais de iliquidez ou o devido ao movimento de preos motivado por vendas macias de ativos.

  • Economia Bancria e Crdito30

    Esse clculo utiliza o algoritmo de compensao proposto por Eisenberg e Noe (2001). Esse processo usa uma representao do sistema financeiro como uma rede na qual os ns so IFs e as interligaes so os pagamentos que elas devem realizar s demais. Dados, para cada IF, o saldo inicial e os recebimentos e pagamentos a serem realizados, o processo calcula a parcela da dvida efetivamente paga, considerando os possveis defaults. Esse processo de clculo apresenta as seguintes vantagens: 1) sempre possui soluo com sentido econmico, isto , os pagamentos calculados so no negativos; 2) a soluo nica, se o sistema financeiro for regular (definio na seo 3.1); 3) a soluo obtida maximiza a soma dos pagamentos realizados; e 4) o algoritmo de clculo eficiente: se a rede no possuir ciclos, o clculo converge para a soluo em um nmero finito de iteraes, no mximo igual distncia mxima entre alguma IF do sistema financeiro e um credor dela, direto ou indireto.

    Na metodologia adotada neste trabalho, simulado o default fictcio de cada IF do sistema financeiro e so identificados os defaults induzidos pelo default inicial e as respectivas perdas adicionais. Essas perdas so calculadas em unidades monetrias. Obtidas as perdas associadas ao default de IFs individuais, so calculadas as probabilidades de default dessas IFs no horizonte de um ano para se obter a perda esperada do sistema financeiro associada ao mercado interfinanceiro em um ano, utilizando o modelo estrutural de Merton (1974) e dados contbeis2 das IFs. Essa perda esperada pode ser vista como uma medida de risco sistmico associada ao mercado interbancrio, mas no como o valor a ser aprovisionado como fundo para resgate a IFs, uma vez que: 1) h grande disparidade entre as perdas induzidas pelas IFs; 2) as IFs de grande porte podem induzir perdas de grande severidade, embora venham apresentando probabilidade de default muito baixa (ainda assim, com pouca influncia na perda esperada total); e 3) o nmero de IFs baixo. Nessas condies, a quebra de uma IF de grande porte e indutora de perdas elevadas no absorvida por esse fundo de resgate.

    A utilizao de dados contbeis mensais faz com que, em tempos de turbulncia, o modelo no consiga detectar aumentos abruptos nas perdas esperadas do sistema financeiro de default de forma tempestiva. Apesar dessa limitao, a medida pode identificar aumentos graduais nessas perdas ao longo de um perodo maior.

    3.1 Algoritmo de compensao de um sistema financeiro

    A seguir, apresentado, de forma resumida, o processo de compensao proposto por Eisenberg e Noe (2001). Mais detalhes sobre ele so encontrados nessa referncia.

    Sejam:

    di a dvida total da IF i;

    ei o fluxo de caixa recebido pela IF de fontes externas (fluxo de caixa operacional);

    2 Poderiam ter sido utilizados, no clculo, preos de aes; no entanto, relativamente poucas IFs tm aes em bolsa.

  • Economia Bancria e Crdito31

    o pagamento total efetivado pela IF i, como resultado do processo de compensao;

    Li,j o elemento da matriz de dvidas que representa a dvida da IF i para com a IF j, sendo di = j Li,j ;

    i,j a matriz de propores da dvida de i a ser paga a cada credor j, ou seja, i,j = Li,j / di

    O vetor de pagamentos o ponto fixo do mapa:

    (1)

    Ou, em notao vetorial:

    p* = min ( T p* + e, d) (2)

    Eisenberg e Noe (2001) demonstram que p* existe e nico quando o sistema financeiro regular. Um sistema financeiro definido como regular se toda rbita de risco o(i) das IFs participantes i for um surplus set. rbita de risco de uma IF o conjunto de IFs credoras dela, direta ou indiretamente. Surplus set um conjunto de IFs no qual nenhuma delas devedora de IF que no pertena ao conjunto; alm disso, nesse conjunto, pelo menos uma IF possui fluxo de caixa operacional estritamente positivo. Uma condio suficiente para a regularidade, apontada por Eisenberg e Noe (2001), a de que todas as IFs tenham fluxo de caixa operacional estritamente positivo; outra condio suficiente possvel a de que todas as IFs sejam fortemente interconectadas3 e pelo menos uma delas tenha fluxo de caixa operacional positivo.

    3.2 Clculo de perdas: abordagens possveis

    O clculo das perdas decorrentes do default de uma IF utiliza o algoritmo de compensao de Eisenberg e Noe (2001) apresentado anteriormente. Na utilizao desse algoritmo, pode-se adotar um enfoque de liquidez ou um enfoque de solvncia, sendo o primeiro associado evoluo das disponibilidades das IFs medida que os pagamentos entre elas so realizados no tempo, e o segundo associado identificao de situaes de insolvncia relacionadas no realizao de pagamentos por IFs. Note-se que a IF insolvente pode permanecer lquida e em funcionamento, at que a superviso determine a sua liquidao.

    Neste trabalho, adotado o enfoque de solvncia, que mais apropriado realizao de anlises relacionadas ao impacto da no realizao de pagamentos associados ao passivo de IFs no capital das IFs credoras. Esse tipo de abordagem utilizado em Elsinger et al. (2006a). Nesse enfoque, utiliza-se, como saldo inicial, o valor do buffer de capital na data de anlise, deduzidos os ativos e os passivos associados aos pagamentos a realizar definidos anteriormente, ou seja, o saldo inicial o valor que o buffer de capital teria se a IF no tivesse esses ativos e passivos. Isso

    3 Um grupo de IFs fortemente interconectado se h um caminho entre qualquer IF do grupo e qualquer outra IF desse grupo. Para isso ser possvel, so necessrios ciclos.

  • Economia Bancria e Crdito32

    feito dessa forma pois o valor do capital apresentado no balano considera que os pagamentos relacionados a esses ativos e passivos foram efetivados. A metodologia requer que as exposies entre IFs sejam representadas na matriz de dvidas L; as linhas da matriz representam as dvidas (passivos) das IFs para as IFs nas colunas. Partindo-se do saldo inicial definido anteriormente e realizando-se os pagamentos entre as IFs relacionados aos passivos e ativos que possuem, recompe-se o valor do buffer de capital calculado a partir do balano, ou seja, as IFs retornam situao em que se encontram na data de anlise, sem entrar em default. Com essa configurao, esse modelo pode ser utilizado para verificar como os balanos das IFs do sistema financeiro so afetados quando uma delas no honra seus passivos (entra em default). Para isso, escolhe-se uma IF, que colocada em default fictcio. Nessa situao, essa IF no paga as suas dvidas, obrigando as suas credoras a baixar do balano os ativos correspondentes a elas. Essas baixas provocam perda de capital e podem levar algumas dessas IFs insolvncia. Se isso acontecer, esse processo de baixa de ativos e possvel default se repete at no ocorrer nenhum default adicional devido baixa de ativos nos balanos. A perda total induzida pelo default original o total no pago pelas IFs do sistema financeiro, descontado o valor do default original.

    Elsinger et al. (2006a) tambm sugerem que, aps o default, no curto prazo,4 todos os pagamentos so suspensos, ou seja, o clculo de perdas considera que, se uma IF entra em default, no realiza nenhum pagamento. A repartio dos bens da IF entre os credores ocorre no longo prazo, ao trmino do processo de liquidao.

    No enfoque de solvncia, existe possibilidade de o saldo inicial de uma IF (buffer de capital), subtradas as dvidas a receber e somadas as dvidas a pagar, ser menor do que zero. Isso viola a condio de regularidade do sistema financeiro. Eisenberg e Noe (2001) elaboraram o algoritmo considerando que o saldo em caixa inicial ei no negativo, sugerindo que, nos casos em que isso no ocorrer, esse saldo negativo seja transformado em um saldo zero e em uma dvida para com um n adicional (uma IF fictcia), criado para receber esses valores. Essa IF deve ser criada com saldo inicial zero e sem dvidas para com as demais IFs do sistema.

    Seguindo Eisenberg e Noe (2001), neste trabalho, IFs com dotao inicial negativa recebem o seguinte tratamento: criada, no sistema financeiro, uma IF fictcia que recebe pagamentos que correspondem a essas dotaes negativas. Para essas IFs, partindo-se do saldo inicial igual a zero e do pagamento adicional IF fictcia, chega-se ao mesmo saldo final aps o processamento de pagamentos e recebimentos.

    Para cada IF nessa situao, esse valor negativo o valor mnimo de captaes em outros mercados que forosamente so relacionadas a aplicaes no mercado interfinanceiro; portanto, se a IF no puder resgatar a totalidade das suas aplicaes no interfinanceiro, o impacto em outros mercados ser, no mnimo, igual a esse valor negativo. Somando-se esses valores para todo o sistema financeiro, tem-se um limitante superior para perdas em outros mercados motivadas por perdas no mercado interfinanceiro.

    Depois desse tratamento dos saldos iniciais negativos das IFs do sistema, segue-se o algoritmo de compensao, conforme definido.

    4 Isso coerente com a hiptese, assumida neste modelo, de que a IF colocada em processo de liquidao assim que entra em default; nesse caso, no curto prazo, os pagamentos dela so congelados.

  • Economia Bancria e Crdito33

    Nos clculos de perdas de capital sob o enfoque de solvncia, do ponto de vista dos efeitos de curto prazo, o algoritmo sofre uma pequena modificao, que o torna semelhante ao algoritmo de Furfine (2003), na qual se considera que, se uma IF est em default, no realiza nenhum pagamento:

    (3)

    3.3 Clculo de probabilidades de default

    O clculo das probabilidades de default das IFs foi feito por meio do modelo estrutural de Merton (1974), que a anlise de direitos contingentes aplicada medida e anlise de risco de crdito.5 Nesse modelo, o balano da instituio separado nos seus principais componentes: ativos, passivo e capital (patrimnio lquido). A ideia bsica dessa abordagem modelar o capital da instituio como uma opo de compra, com preo de exerccio igual ao valor da dvida e prazo at o resgate T. No caso de um default, os acionistas no recebem nada, porque os ativos no so suficientes para o pagamento integral das dvidas (passivo). Se a instituio no entra em default, os acionistas recebem a diferena entre o valor dos ativos e dos passivos. Dessa forma, o valor a ser recebido pelos acionistas dado por max[A-DB,0], sendo A o valor dos ativos; e DB, o total da dvida. De acordo com Black e Scholes (1973), o valor a ser recebido pelos acionistas dado por:

    , (4)

    sendo A o valor implcito do ativo; DB, a dvida a ser paga; r a taxa de juros livre de risco; T o prazo at o vencimento da opo; N() a distribuio normal acumulada; e d1 e d2 so definidos por:

    (5)

    (6)

    A partir de Black e Scholes (1973), possvel obter a equao que relaciona as volatilidades de ativos e patrimnio lquido:

    (7)

    Com o valor de mercado e a volatilidade do patrimnio lquido e com o valor contbil das dvidas, possvel estimar o valor implcito de A e A, resolvendo o sistema formado pelas equaes (4) e (7). A dvida a ser paga DB interpretada como uma barreira de default. Se o valor implcito dos ativos da instituio cai abaixo dessa barreira, ela entra em default. A barreira de default dada por:

    5 Anlise de direitos contingentes uma generalizao da teoria de apreamento de opes de Black e Scholes (1973).

  • Economia Bancria e Crdito34

    , (8)

    sendo STD as dvidas de curto prazo (vencimento at um ano), LTD as dvidas de longo prazo (vencimento a partir de um ano) e um parmetro entre 0 e 1, assumido pela Moodys-KMV, a quem seguimos, em torno de 0,5.6 Esse parmetro uma proxi da parcela das dvidas de longo prazo sujeitas a resgate antecipado em caso de estresse.

    O prazo at o vencimento T usualmente assumido um ano e o horizonte para o qual calculamos as probabilidades de default. Tendo definido isso, calcula-se a distncia ao default, que o nmero de desvios-padro entre o valor dos ativos e a barreira de default:

    (9)

    Essa distncia pode ser usada no clculo de uma probabilidade de default neutra ao risco, assumindo que os ativos tenham uma distribuio log-normal:

    (10)

    A probabilidade de default a rea da distribuio dos valores dos ativos abaixo da barreira de default. Para mais detalhes, veja Gray e Malone (2008) e Souto et al. (2009).

    4 Dados

    A anlise realizada neste trabalho baseada em exposies entre IFs que participam do mercado interfinanceiro brasileiro.7 As exposies se referem a operaes de depsitos interfinanceiros (85% em volume), debntures (13,4%) e operaes compromissadas com ttulos prprios (1,6%), entre conglomerados financeiros e instituies individuais, perfazendo um total de mais de 300 participantes. Exposies intraconglomerado no so consideradas. As exposies do mercado interbancrio domstico representam aproximadamente 70% da exposio total (sem garantia) entre IFs.8 O total investido nesse mercado por essas instituies variou entre R$55 bilhes e R$71 bilhes no perodo analisado, correspondendo a 1,5% dos ativos totais das IFs e a 14% do PR Nvel 1 delas.

    No Brasil, as operaes do mercado interfinanceiro domstico devem ser registradas na Cetip.9 As operaes so no garantidas e sujeitas a resgate antecipado.

    6 De acordo com Souto et al. (2009), Moodys-KMV usa entre 0,5 e 0,6 baseada na calibrao do modelo dela. O processo de calibrao procurou ajustar o modelo s probabilidades histricas de default.

    7 Participam do mercado interfinanceiro brasileiro bancos mltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento, caixas econmicas, bancos de desenvolvimento, bancos cooperativos, unies de crdito, associaes de poupana e emprstimo, cooperativas de crdito, sociedades corretoras de cmbio, sociedades corretoras de ttulos e valores mobilirios, e sociedades distribuidoras de ttulos e valores mobilirios.

    8 Desse total, esto excludas operaes de crdito entre conglomerados e de cesso de crdito (possuem garantia).

    9 Cetip (Cetip S.A. Mercados organizados) uma companhia de capital aberto que oferece servios relacionados ao registro, central depositria, negociao e liquidao de ativos e ttulos.

  • Economia Bancria e Crdito35

    Com base nisso, agregamos as posies em aberto e calculamos as exposies lquidas entre as IFs mencionadas para formar a matriz de exposies para cada data em que a anlise realizada. As exposies lquidas so calculadas para o ltimo dia til de cada ms no perodo de julho de 2011 a junho de 2012. Isso feito para que os valores de exposio sejam contemporneos s informaes disponveis de buffer de capital das IFs. O buffer de capital considerado neste trabalho o valor do capital total da IF (PR Nvel 1 + PR Nvel 2) que excede a 8% dos seus ativos ponderados ao risco. Utilizamos como referncia 8% dos ativos ponderados ao risco, pois entendemos que, se o capital da IF for inferior a esse montante (requerimento de capital mnimo recomendado pelo BCBS Basel Committee on Banking Supervision), esta ter dificuldades para adequar seu capital e sofrer interveno.

    As IFs so classificadas por porte (grande, mdia, pequena e micro), de acordo com a metodologia apresentada no Relatrio de Estabilidade Financeira do Banco Central do Brasil (ver BCB, 2012). Os dados de balano, por sua vez, so informados mensalmente ao Banco Central do Brasil por conglomerados e por IFs individuais, e so utilizados na obteno do Patrimnio de Referncia Nvel 1 e de outras informaes contbeis, que so usadas nos clculos de probabilidades de default.

    A amostra analisada composta por IFs assim caracterizadas:

    quanto ao tipo de controle: cinco pblicas federais, sete pblicas estaduais, 245 privadas nacionais, 55 privadas de controle estrangeiro e duas privadas com participao estrangeira;

    quanto ao macrossegmento: 94 bancos com carteira comercial, 29 bancos sem carteira comercial, 142 cooperativas de crdito, BNDES, dois bancos de desenvolvimento, 33 de mercado de capitais e doze administradoras de recursos de terceiros.

    5 Resultados

    Os valores de perdas por contgio calculados neste trabalho so perdas potenciais (contrafactuais), isto , so perdas decorrentes do default fictcio de IFs. Alm disso, so perdas adicionais, pois no incluem as perdas decorrentes do default fictcio original. Essas perdas se referem aos valores no pagos por IFs que entraram em default por contgio originado pela exposio direta ou indireta s que foram colocadas em default fictcio.

    Inicialmente, calculamos o valor das perdas por contgio para cada IF em junho de 2012, relacionando esse valor com a participao dos ativos da IF nos ativos totais do mercado interfinanceiro e com a alavancagem da IF nesse mercado, para investigar uma possvel relao entre alavancagem e contgio. Para esse clculo, utilizamos o algoritmo de default fictcio de Eisenberg e Noe (2001), modificado para fornecer as perdas de curto prazo, ou seja, com taxa de recuperao zero. A alavancagem de cada IF com recursos do mercado interfinanceiro dada por Fi = j Lij/Ei e indica tanto a fragilidade dela quanto o seu potencial de amplificao de perdas. Existem IFs de grande participao no mercado interfinanceiro (12% e 14%) com baixa fragilidade. Dessas IFs, o default da primeira origina contgio de 0,04% dos ativos de

  • Economia Bancria e Crdito36

    mercado, e o da segunda origina perdas por contgio da ordem de 4% dos ativos do mercado. As IFs mais frgeis, de alavancagem de 33,6% e 16,3%, tm participao no mercado nitidamente menos expressiva, mas podem originar perdas de 9,4% e 3,0%, respectivamente, que so valores superiores participao delas no mercado.

    A figura 1 apresenta a soma dos valores de perdas por contgio no mercado interfinanceiro por porte da IF originadora. Essa soma no a perda total associada ao default simultneo das IFs de cada categoria de porte, a soma das perdas induzidas por contgio originado pelo default fictcio de cada IF de cada categoria de porte do sistema financeiro, na abordagem de curto prazo, calculadas em simulaes separadas. O nmero apenas uma medida das participaes relativas de cada categoria de porte na soma de todas as perdas por contgio. Observa-se que a soma das perdas da ordem de 20% dos ativos do interfinanceiro, com pico em novembro de 2011.

    O nmero de IFs que originam contgio , em mdia, igual a dez, sendo no mnimo sete e no mximo onze, no perodo de anlise. Apenas dezessete IFs originam contgio alguma vez no perodo. A IF que origina o maior contgio de mdio porte e permanece a mesma no perodo. As IFs colocadas a partir da segunda posio revezam entre si no perodo. Essas IFs so, quase sempre, de grande e mdio porte, com poucas excees, nas quais IFs de pequeno porte originam contgio. O volume de perdas no parece indicar um aumento no risco sistmico no perodo. Quanto ao pico em novembro de 2011, est associado ao default adicional (isto , ela entrou em default por motivo de contgio) de uma IF de grande porte amplificadora de perdas que no sofreu default adicional em outros perodos. Em outras palavras, nesse perodo, o default fictcio de alguma(s) IF(s), na simulao, motivou o default adicional (isto , por contgio) de uma IF com passivo relativamente grande no mercado interfinanceiro. O no pagamento das dvidas desse passivo motivou o aumento de perdas apresentado.

    Qualificamos uma IF como amplificadora de perdas se ela possuir alavancagem superior a um. Perdas a partir do montante do seu buffer de capital levam-na a default, resultando em no pagamento integral dos passivos. Quando a alavancagem da IF superior a um, ela pode transmitir ao conjunto dos seus credores perdas totais superiores s sofridas por ela, amplificando as perdas em processo de propagao.10

    No perodo de anlise, o nmero de IFs amplificadoras de perdas em default variou entre catorze e 21, sendo dezoito em mdia (em novembro de 2011, eram 21 IFs). O grupo de IFs formado por um banco de pequeno porte e complementado por instituies no bancrias de grande porte. Especificamente, a IF amplificadora que entrou em default adicional em outubro de 2011 (um banco) no foi agente de contgio (no levou nenhuma outra a default, pois suas credoras estavam capitalizadas), mas aumentou as perdas em processo de propagao.

    10 Nos casos em que a alavancagem da IF superior a um e o total de ativos inferior ao buffer de capital, a IF nunca entra em default motivado pelo mercado em anlise. No entanto, se entrasse, transmitiria perdas superiores s sofridas por ela.

  • Economia Bancria e Crdito37

    Figura 1: Soma dos valores de perdas por contgio no mercado interfinanceiro por porte da IF

    originadora

    O nmero de IFs vulnerveis a default por contgio a partir de defaults fictcios se manteve razoavelmente estvel no perodo, variando entre 24 e 29. Nesse perodo, o volume das perdas por contgio seguiu o mesmo padro.

    Em mdia, o conjunto de IFs que entraram em default adicional na rodada de defaults fictcios tem 27 instituies em cada ms de anlise. O maior nmero de repeties quatro (ocorreu uma vez em um perodo), ou seja, h uma IF que entrou em default motivado por contgio originado por quatro devedoras diferentes em um perodo. IFs que entram em default adicional um maior nmero de vezes em uma rodada de defaults fictcios esto sujeitas a default por contgio originado por maior nmero de devedoras em um dado perodo, ou seja, esto em situao vulnervel na rede.

    As IFs em default adicional em um perodo so predominantemente instituies no bancrias de grande porte (mdia: dezessete), seguidas por IFs de mdio porte (mdia: seis), IFs de pequeno porte (em mdia, duas) e IFs de porte micro (em mdia, duas). Quanto ao tipo de controle, es