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I Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Território, especialização em Planeamento e Ordenamento do Território realizado sob a orientação científica de Prof. Dra. Dulce Pimentel.

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I

Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Mestre em Gestão do Território, especialização em Planeamento e

Ordenamento do Território realizado sob a orientação científica de Prof. Dra. Dulce

Pimentel.

II

Agradecimentos

Desejo agradecer a um conjunto de pessoas que acompanharam o estágio que

realizei na Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território da Câmara Municipal

do Barreiro e que contribuíram para o meu enriquecimento profissional e pessoal.

À Professora Dra. Dulce Pimentel pela orientação científica, apoio e atenção prestados

ao longo da elaboração deste relatório, que me fizeram evoluir e melhorar.

À arquitecta Patrícia Pio pelo apoio e orientação dispensados ao longo do estágio.

Ao arquitecto e chefe de divisão João Paulo Lopes que possibilitou a concretização do

estágio em causa, bem como pelo apoio, pelas correcções e acompanhamento dos

trabalhos que me permitiram progredir.

À urbanista Ausenda Nunes pelo modo como me auxiliou e transmitiu conhecimento

durante os trabalhos que elaborámos em conjunto.

Ao Chefe da Divisão de Informação Geográfica, o engenheiro Manuel Landum pela

aprendizagem em AutoCAD MAP e apoio ao longo do trabalho.

À engenheira topógrafa Ana Pereira pelo apoio ao longo do trabalho em AutoCAD

MAP.

Ao desenhador Marco Cardoso pela aprendizagem dos comandos básicos em

AutoCAD.

Para além das pessoas anteriormente mencionadas, é minha vontade demonstrar

gratidão a outras que também me auxiliaram e facilitaram a minha integração na

equipa e no local de trabalho, nomeadamente o arquitecto Paulo Galindro, o

arquitecto João Marques, a arquitecta paisagista Inês Belchior, o engenheiro do

território Milton Gomes, a desenhadora Olga Jorge, o Chefe da Equipa Multidisciplinar

das AUGI arquitecto António Pardal, a administrativa Cristina Mendes e o gestor de

obras David Pires.

Muito obrigada a todos por me terem proporcionado uma óptima experiência.

III

Resumo

Este relatório resulta do estágio desenvolvido no âmbito do Mestrado em

Gestão do Território, na especialização em Planeamento e Ordenamento do Território.

O estágio desenrolou-se na Câmara Municipal do Barreiro (CMB), um município da

Área Metropolitana de Lisboa (AML), mais precisamente da Península de Setúbal,

entre Outubro de 2011 e Maio de 2012.

Os objectivos do estágio consistiam no desenvolvimento de competências e na

adquisição de conhecimentos na área do planeamento e do ordenamento do

território. Aprender a trabalhar numa equipa que desenvolve a sua actividade numa

autarquia local era também uma prioridade. Tive oportunidade de trabalhar em várias

áreas da especialização em causa, o que valorizou bastante esta experiência.

Durante décadas, o desenvolvimento industrial conferiu ao Barreiro a imagem

de um município com fortes níveis de poluição e um rápido crescimento urbano que

originaram problemas ambientais e urbanísticos.

No início do estágio foi minha preocupação conhecer melhor o território,

identificando um conjunto de pontos fortes e de oportunidades para o futuro. Esta

análise SWOT foi realizada a fim de apresentar o território em estudo e enquadrar os

projectos seguidamente descritos.

No decorrer do estágio, participei na elaboração de diversos trabalhos no

âmbito do Relatório de avaliação da execução do Plano Director Municipal (PDM), da

revisão do PDM e das Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI). No Relatório de

avaliação da execução do PDM, o trabalho que desenvolvi centrou-se na estrutura do

plano, na metodologia de trabalho, assim como nas orientações do Plano Regional de

Ordenamento do Território da AML e do Plano Estratégico para o Desenvolvimento da

Península de Setúbal e na construção de uma base de dados sobre os equipamentos

de educação. Na revisão do PDM, colaborei na elaboração da planta de estudos

urbanísticos, com tarefas ao nível da inserção e identificação dos elementos

topográficos, e também na proposta de Estratégia para o Regulamento. No contexto

IV

dos processos de reconversão, redigi as análises biofísicas para as AUGI Fonte do Feto

Sul e Cabeço Verde, ambas localizadas na freguesia de Santo António da Charneca.

Para além destas tarefas, apresentei uma sessão teórica sobre Sistemas de

Informação Geográfica e a sua utilização para os técnicos superiores da Divisão de

Planeamento e Ordenamento do Território da CMB.

Palavras-Chave: Barreiro, planeamento e ordenamento do território, Relatório de

Avaliação de Execução do Plano Director Municipal, Plano Director Municipal, Áreas

Urbanas de Génese Ilegal, Sistemas de Informação Geográfica

V

Abstract

This academic report results from the work experience, which is requested on

the spatial management master degree, specialization in planning and spatial

management. It was held at the Barreiro Municipality Council, a Metropolitan area of

Lisbon municipality, more precisely in the Setúbal Peninsula, between October 2011

and May 2012.

The goals consisted in developing skills and achieving some knowledge about

spatial planning and management and learning how to work in a local municipality

team. I had the opportunity to work in different themes of the specialization

mentioned, which gave value to my experience.

During decades, the industrial development gave to Barreiro the image of a

territory that has high levels of bad air quality and a fast urban growth that resulted in

ambient and urban problems.

At the beginning of the work experience, it was my concern to acquire

knowledge on the territory. Therefore, I identified strengths and opportunities. This

SWOT analysis was written to introduce the territory in study and to contextualize the

projects described forward.

Through the work experience, I executed several tasks within projects like the

Report on Evaluation of the Municipal Master Plan Implementation, the Municipal

Master Plan revision and the Urban Areas of Illegal Genesis. In Report on Evaluation of

the Municipal Master Plan Implementation my participation was focused on the plan

structure, its methodology, as well as on the guidelines from the Regional Spatial

management Plan of Metropolitan area of Lisbon and the Strategic Plan for the Setúbal

Peninsula Development and on the construction of a database for the education

facilities. In the Municipal Master Plan revision, I collaborated on the urban studies

map, inserting and identifying topographic elements, and also on the Strategy proposal

to the Regulation. Within the reconversion processes, I drafted the biophysical

analyses for the Urban Areas of Illegal Genesis of Fonte do Feto Sul and Cabeço Verde,

both located in Santo António da Charneca.

VI

In addition, I presented a theoretical session about the Geographic Information

System and its use for the technicians that work at the Planning and Spatial

Management Division from the Barreiro Municipality Council.

Keywords: Barreiro, planning and spatial management, Report on Evaluation of the

Municipal Master Plan Implementation, Municipal Master Plan, Urban Areas of Illegal

Genesis, Geographic Information System

VII

Índice

Agradecimentos……………………………………………………………………………………………………..……II

Resumo/Abtract………………………………………………………………………………………………………….III

1.Introdução ................................................................................................................. 1

2. Objectivos do estágio ................................................................................................ 3

3. Apresentação da instituição de acolhimento – Divisão de Planeamento e

Ordenamento do Território/Câmara Municipal do Barreiro .......................................... 4

4. Enquadramento e contextualização da área de estudo ............................................. 6

4.1. Localização do município do Barreiro.................................................................. 6

4.2. O Barreiro no presente e no futuro: análise SWOT…..…………………………..……………7

5. Actividades desenvolvidas durante o estágio .......................................................... 26

5.1. Relatório de avaliação da execução do Plano Director Municipal ...................... 27

5.2. Revisão do Plano Director Municipal................................................................. 34

5.3. Áreas Urbanas de Génese Ilegal ........................................................................ 36

5.4. Sistemas de Informação Geográfica – sessão teórica ........................................ 46

6. Considerações finais……………………………………………………………………………………………….47

7. Referências bibliográficas………………………………………………………………………………………49

VIII

Índice de figuras

Figura 1 – Enquadramento geográfico do município do Barreiro………………………………….6

Figura 2 – Freguesias do município do Barreiro……………………………………………..…………….6

Figura 3 – Localização geográfica do Parque Empresarial da Quimiparque e da Zona

Industrial de Coina…………………………………………………………….…………………………………………7

Figura 4 – Fotografia aérea do Parque Empresarial da Quimiparque………………………….9

Figura 5 – Enquadramento geográfico da Mata Nacional da Machada……………………….9

Figura 6 – Sapal do Rio Coina, elemento natural rico em diversidade de fauna e

flora……………………………………………………………………………………………………………………………10

Figura 7 – Fotografia aérea do Estuário do Tejo……………………………………………..………….10

Figura 8 – Rede Ecológica Metropolitana da AML…………………………………………..………….11

Figura 9 – Pórtico da antiga Igreja de Palhais……………………………………………..………………12

Figura 10 – Duração média das deslocações pendulares na AML (1991 e 2001)…...……13

Figura 11 – Índice de envelhecimento do Barreiro, da PS e da AML (1991, 2001 e

2011)…...……………………………………………………………………………………………………………….……14

Figura 12 - Evolução da população do município do Barreiro……………………………………..15

Figura 13 – Pirâmide etária da AML e do município do Barreiro (1991)………..……………17

Figura 14 – Pirâmide etária da AML e do município do Barreiro (2001)…………..………..17

Figura 15 – Grupos etários da AML e do município do Barreiro (2011)……………………….18

Figura 16 – Taxa de crescimento migratório do Barreiro, PS e AML (1992, 2001,

2010)………………………………………………………………………………………………………………………….19

Figura 17 – Percentagem de população, por nível de instrução (2001)……………….…..…20

Figura 18 – Percentagem de população, por nível de instrução (2011)…………………..….20

Figura 19 – Época de construção predominante dos edifícios, por freguesia………………22

Figura 20 – Antiga ponte férrea que ligava o Barreiro ao Seixal………………………………….24

IX

Figura 21 – Diagrama da rede dos Transportes Colectivos do Barreiro (TCB)…………….25

Figura 22 – Sistema de Gestão Territorial………………………………………………………..…………26

Figura 23 – Processo de planeamento………………………………………………………………………..29

Figura 24 – “ID” e “Descrição” do Processo DP 7 – Alburrica………………………………………35

Figura 25 – AUGI por tipo de processo de reconversão……….……………………………………..39

Figura 26 – Existência de infra-estruturas nas AUGI……………………………………………………40

Figura 27 – Enquadramento das AUGI Fonte do Feto Sul e Cabeço Verde………..………..41

Figura 28 – AUGI Fonte do Feto Sul…………………………………………………………………………….42

Figura 29 – AUGI Cabeço Verde………………………………………………………………………………….43

Índice de tabelas

Tabela 1 – Análise SWOT do município do Barreiro………………………………………….………….8

Tabela 2 – População residente total e variação da população………………………..…………16

Tabela 3 – Densidade populacional (1991 e 2011)…………………………………………….……….16

Tabela 4 – Época de construção dos edifícios do Barreiro………………………………….………21

Tabela 5 – Número e taxa de variação dos alojamentos vagos (1991, 2001 e

2011)…………………………………………………………………………………………………………….……..…….23

Tabela 6 – Instrumentos de Gestão Territorial……………………………………………………………27

1

1. Introdução

O presente relatório vem cumprir os requisitos do regulamento da componente

não lectiva dos cursos de mestrado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (UNL).

A escolha do estágio curricular prende-se não só com o contexto económico

actual e a dificuldade em encontrar oportunidades de emprego, mas também pela

valorização da experiência e da aquisição das competências na área de formação

académica.

O estágio decorreu na Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território,

do Departamento de Planeamento e Gestão Urbana da Câmara Municipal do Barreiro,

entre Outubro de 2011 e Maio de 2012, tendo tido a duração de 800 horas.

Ao longo destes meses, fui inserida na equipa de técnicos da Divisão, tendo

ocupado funções nas diferentes áreas da gestão, planeamento e ordenamento do

território, concretamente no âmbito do Plano Director Municipal (revisão e avaliação),

da reconversão, dos sistemas de informação geográfica e de outros projectos com

relevância à escala municipal, como é o caso da rede de equipamentos de educação.

O corpo de texto do relatório é constituído por duas partes principais. A

primeira incide sobre a descrição da área de estudo, ou seja, o município do Barreiro,

integrando a localização geográfica, assim como a caracterização do mesmo. A

segunda parte contém a enumeração e a explicação das actividades desenvolvidas

durante o estágio.

Com o intuito de conhecer a realidade do município comecei por realizar uma

análise SWOT onde se identificam os pontos fortes e fracos e ainda potencialidades e

ameaças futuras ao seu desenvolvimento.

A indústria, a ausência de planeamento do território e os erros urbanísticos

ocorridos no passado originaram problemas ambientais e urbanísticos. Neste sentido,

tem sido necessário melhorar a qualidade do ar e do rio e concretizar os planos de

reconversão de algumas áreas urbanas. São, contudo, de destacar elementos naturais

e paisagísticos de importância regional, como a frente ribeirinha, o sapal e várzea de

Coina e a Mata Nacional da Machada. A localização estratégica do Parque Empresarial

2

da Quimiparque e da Zona Industrial de Coina, os principais pólos de emprego

industrial, constituem, também, um ponto forte para o município. A existência de

infra-estruturas e a construção de novas, como é o caso da Terceira Travessia do Tejo,

que assegurará a ligação entre Barreiro e Chelas (Lisboa), e o Novo Aeroporto de

Lisboa, são elementos essenciais ao desenvolvimento territorial.

Durante o estágio, tive a oportunidade de participar na elaboração do Relatório

de avaliação da execução do PDM, através da realização da estrutura do plano, da

metodologia de trabalho, do enquadramento das orientações do Plano Regional de

Ordenamento do Território da AML e do Plano Estratégico para o Desenvolvimento da

Península de Setúbal para o Barreiro e ainda na construção de uma base de dados

sobre os equipamentos de educação. Esta base de dados serviria também para o

relatório comparativo entre as propostas de equipamentos de educação do PDM e da

Carta Educativa. No processo de revisão do PDM, colaborei na elaboração da planta de

estudos urbanísticos, tendo inserido e identificado os elementos topográficos, bem

como na proposta de Estratégia para o Regulamento. Nos estudos urbanísticos de

reconversão das AUGI, redigi as análises biofísicas para duas AUGI - Fonte do Feto Sul e

Cabeço Verde - que se localizam no Sul do município, na freguesia de Santo António da

Charneca.

3

2. Objectivos do estágio

Como principais objectivos do estágio, podem ser mencionados os seguintes

pontos:

- Pôr em prática os conhecimentos adquiridos na licenciatura, bem como na parte

curricular (1º ano) do mestrado;

- Desenvolver competências como técnica superior de planeamento e ordenamento do

território integrada numa equipa multidisciplinar;

- Adquirir conhecimentos e métodos de trabalho que facilitem a integração técnica e

profissional na área do planeamento e ordenamento do território;

- Aprender a lidar com os problemas que possam surgir durante a elaboração de

planos ou projectos de âmbito municipal;

- Desenvolver tarefas em diferentes áreas do planeamento:

- Sistemas de Informação Geográfica,

- Caracterização da(s) componente(s) biofísica,

- Estratégia para o regulamento da revisão do PDM,

- Relatório de Avaliação do Estado do Ordenamento do Território;

- Conhecer a dinâmica de funcionamento de uma divisão de planeamento e

ordenamento do território de uma Câmara Municipal da Área Metropolitana de

Lisboa;

- Evoluir enquanto profissional da área de planeamento e ordenamento do território;

- Demonstrar a versatilidade da formação de um geógrafo. A geografia, ciência que

estuda a relação entre o Homem e o meio, permite aos indivíduos ganharem uma

visão diferente sobre o território e o que nele ocorre. A sua área de estudo incide não

só nas questões e fenómenos naturais e humanos, como na área do planeamento e

ordenamento do território e ainda dos sistemas de informação geográfica e detecção

remota. Deste modo, o seu papel é importante em equipas multidisciplinares, como as

de planeamento do território.

4

3. Apresentação da instituição de acolhimento – Divisão de

Planeamento e Ordenamento do Território/Câmara Municipal

do Barreiro

A Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território (DPOT) pertence ao

Departamento de Planeamento e Gestão Urbana da Câmara Municipal do Barreiro. No

âmbito do estágio, fui inserida na equipa técnica da Divisão, ficando incumbida de

funções em alguns dos projectos em curso, que serão mencionados adiante com mais

pormenor. As funções desempenhadas enquadram-se na área de especialização de

planeamento e ordenamento do território.

A estrutura orgânica da Câmara Municipal adoptou um modelo misto e

hierarquizado, existindo Serviços e Gabinetes de Assessoria e Apoio à Gestão, ou seja,

departamentos e as respectivas divisões, e ainda subunidades orgânicas, gerais e

secretarias departamentais. Enquanto os Departamentos se caracterizam por ser

“unidades orgânicas de carácter permanente” e são chefiados por um Director,

“integrando funções de âmbito operativo e institucional e constituindo,

fundamentalmente, unidades de planeamento, direcção e gestão de recursos”, “as

Divisões são unidades orgânicas de carácter temporário, chefiadas por um Chefe de

Divisão, integrando competências de âmbito operativo e instrumental” (Despacho nº

19391/2010).

As funções do Departamento de Planeamento e Gestão Urbana são

especificadas no Artigo 7.º, ANEXO I, do mesmo Despacho, sendo que, no essencial, o

departamento deverá desenvolver acções e projectos no âmbito da gestão urbanística

e do planeamento e ordenamento do território, tendo em conta o Plano Director

Municipal em vigor.

No que diz respeito à Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território, é

possível verificar no Artigo 31.º, CAPÍTULO IX, ANEXO II, do mesmo Despacho, que as

suas funções consistem em:

- Assegurar o cumprimento do Plano Director Municipal;

5

- Elaborar estudos, projectos e planos de planeamento e ordenamento do território;

- Promover acções de planeamento e ordenamento, tendo em vista o

desenvolvimento do município.

As actividades desenvolvidas na Divisão centram-se, essencialmente, na revisão

do Plano Director Municipal, trabalhando, nomeadamente, na cartografia de riscos, de

servidões e de ordenamento e no regulamento. Para além disto, os técnicos da DPOT

foram ainda chamados a elaborar projectos relacionados com a mobilidade e as hortas

urbanas.

O Departamento é constituído por técnicos de várias formações académicas e

técnicas, sendo que a sua maioria é composta por arquitectos. Na Divisão de

Planeamento e Ordenamento do Território, existem quatro arquitectos, incluindo o

chefe de Divisão arquitecto João Paulo Lopes, uma arquitecta paisagista, uma

urbanista, um engenheiro do território e dois desenhadores.

6

Figura 1 – Enquadramento geográfico do município do Barreiro

Fonte: CAOP. Elaboração própria

4. Enquadramento e contextualização da área de estudo

4.1. Localização do município do Barreiro

O município do Barreiro localiza-se geograficamente na Área Metropolitana de

Lisboa (Figura 1), pertencendo à NUT II Região de Lisboa e à NUT III sub-região

Península de Setúbal, integrando, também, o distrito de Setúbal. O município em causa

faz fronteira a Este com o município da Moita, a Sudeste com o de Palmela e a Sul com

o de Setúbal, assim como com os municípios de Sesimbra a Sudoeste, e do Seixal,

separado fisicamente pelo Rio Coina, a Oeste e a Norte com o Estuário do Rio Tejo.

O município do Barreiro tem uma área de, aproximadamente, 31,6 km² e divide-se em

8 freguesias - Alto do Seixalinho, Barreiro, Coina, Lavradio, Palhais, Santo André, Santo

António da Charneca e Verderena (Figura 2).

Figura 2 – Freguesias do município do Barreiro

Fonte: CAOP. Elaboração própria

7

4.2. O Barreiro no presente e no futuro: análise SWOT

No âmbito da elaboração deste relatório, torna-se necessário apresentar a

realidade do território em estudo. Deste modo, optei pela elaboração de uma análise

SWOT com o intuito de apresentar as características principais do município do

Barreiro, importantes para compreender os trabalhos desenvolvidos e que serão

adiante objecto de explicação mais detalhada. Esta análise foi elaborada com base no

conhecimento adquirido ao longo do estágio e na leitura de análises SWOT

preliminares, realizadas no processo de revisão do PDM.

A análise SWOT consiste numa síntese da caracterização do território,

apontando os seus pontos fortes (Strenghts) e pontos fracos (Weakenesses), à escala

interna, assim como as oportunidades (Opportunities) e ameças (Treats) externas, com

que o município se depara ou pode vir a enfrentar, e que influenciam ou podem vir a

influenciar o território municipal (Tabela 1).

O Barreiro, município ribeirinho do Tejo, localiza-se no centro da AML. Esta

posição favoreceu o seu desenvolvimento industrial nos anos 40 e seguintes do século

XX. Actualmente, e apesar das profundas alterações no tecido industrial ocorridas nas

últimas décadas, o Parque Empresarial da Quimiparque e a Zona Industrial de Coina,

localizada no centro da Península de

Setúbal, constituem os principais pólos

industriais, criando emprego e atraindo

indivíduos e empresas (Figuras 3 e 4).

Figura 3 – Localização geográfica do Parque

Empresarial da Quimiparque e da Zona

Industrial de Coina

Fonte: CM Barreio 0 1 km

8

Pontos fortes Pontos fracos

Localização geográfica estratégica Poluição do ar e do estuário do Tejo

Frente ribeirinha Subaproveitamento da zona ribeirinha

Mata Nacional da Machada Elevado número de fogos vagos no Barreiro “Velho”

Sapal e Várzea de Coina Áreas Urbanas de Génese Ilegal

Áreas de montado de sobro Decréscimo da população

Criação da Estrutura Ecológica Municipal Envelhecimento da população

Património histórico “Dormitório” de Lisboa

Elevado número de colectividades e associações

Rede de transportes (TCB)

Oportunidades Ameaças

Quimiparque e Coina como pólos de desenvolvimento de indústria

Imagem industrial

Coina e Quimiparque como centros de emprego

Deficiente mobilidade aos municípios vizinhos, principalmente ao Seixal

Localização estratégica de Coina à escala da

Península de Setúbal

A não concretização de projectos (ex.: TTT, NAL)

Estuário do Tejo

Ligação fluvial a Lisboa

Construção do IC 32 (ligação entre Almada e

Montijo/Alcochete)

Construção da ligação rodoviária entre

Barreiro e Seixal

Construção do Metro Sul do Tejo (MTS)

Construção da Terceira Travessia do Tejo

Construção do Novo Aeroporto de Lisboa

Tabela 1 – Análise SWOT do município do Barreiro

Fonte: Relatórios provisórios da revisão do PDM. Elaboração própria

9

Figura 4 – Fotografia aérea do Parque Empresarial da Quimiparque

Fonte: http://www.skyscrapercity.com

Figura 5 – Enquadramento geográfico da

Mata Nacional da Machada

Fonte: imagem retida do Google Earth, 2012

A zona ribeirinha com uma extensão de 17 km é, sem dúvida um ponto forte,

não só pelo enquadramento paisagístico no estuário do Tejo, que permite uma das

melhores vistas de Lisboa, mas também pelas actividades económicas e recreativas

que aí se podem desenvolver. Integra o projecto do Arco Ribeirinho Sul conjuntamente

com os municípios de Almada e Seixal, projecto que inclui a reconversão da área da

Quimiparque. No entanto, embora já no PDM,

aprovado em 1994, se alertasse para a

importância da fruição destas áreas, o facto é

que continuam subaproveitadas, não obstante

terem sido realizados alguns investimentos e

articulada a sua valorização com o município

vizinho da Moita. A concretização do projecto

do Arco Ribeirinho Sul revela-se necessária para

a melhoria da qualidade ambiental e de vida

das populações, mas está fortemente

condicionada pelas restrições orçamentais

decorrentes da actual crise económica. A Mata

Nacional da Machada, que ocupa uma área de

10

cerca de 386 hectares e constitui a maior área florestal do município, sendo por isso

considerada o “pulmão” da cidade (Figura 5), tal como o Sapal, a Várzea de Coina

(Figura 6) e Estuário do Tejo (Figura 7) são elementos de importância ambiental,

natural e paisagística de interesse municipal e regional.

As áreas de montado de sobro, com maior expressão no Sul do município,

comprovam um passado relacionado com a cortiça, ainda que hoje em dia esta

indústria tenha perdido relevância na região. A indústria da cortiça surgiu por volta do

ano de 1865, devido à instalação do caminho-de-ferro. Em 1890, existiam no Barreiro

duas corticeiras - a Garrelon & Cª, na Rua Miguel Pais, e a de João Reynolds, nas

Lezírias - que contavam com 68 trabalhadores. Nesse mesmo ano são criados o

Sindicato Nacional e a Associação dos Operários Corticeiros do Barreiro. Já nos anos 20

do século passado, existiam 40 fábricas, que empregavam cerca de 1/3 da população

Figura 7 – Fotografia aérea do

Estuário do Tejo

Fonte: http://salvador-

nautico.blogspot.pt

Figura 6 – Sapal do Rio Coina, elemento

natural rico em diversidade de fauna e

flora

Fonte:

http://noticias.ipts.org/2012/02/sapal-rio-

coina

11

activa do Barreiro. Posteriormente, a procura de cortiça decresce, em particular, com o

aparecimento de materiais como o plástico. Desde meados do século XX, a indústria

corticeira não voltou a ganhar notoriedade no município. Actualmente, existe apenas

uma sociedade – a Sociedade Nacional de Cortiças – fundada pela família Reynolds na

Quinta Braamcamp, que se localiza no Norte do Barreiro (Reservas Museológicas do

Barreiro).

A Estrutura Ecológica Municipal, ainda em elaboração, e também a Rede

Ecológica Metropolitana integram algumas áreas verdes do município, o que

demonstra a importância natural dessas áreas no contexto da AML (Figura 8).

De origem antiga, o Barreiro possui igualmente património histórico de

relevância e importância supra-municipal, que deverá ser salvaguardado e valorizado.

É o caso dos moinhos de maré construídos entre o século XV e o século XVI, embora

não estejam classificados pelo Igespar, e da Real Fábrica de Vidros de Coina, fundada

em 1719, tendo, mais tarde, sido transferida para a Marinha Grande. Outros exemplos

Figura 8 – Rede Ecológica Metropolitana da AML

Fonte: PROT AML (2002; 62)

12

são o pórtico manuelino da Igreja de Nossa Senhora da Graça de Palhais, cuja

construção terminou nos finais do século XV (Figura 9), o Convento da Madre de Deus

da Verderena, construído entre 1591 e 1609, e a Igreja da Misericórdia do Barreiro,

fundada em 1569, através do restauro de instalações de uma antiga albergaria, o que

lhe conferiu importância arquitectónica.

Outro ponto forte diz respeito à existência de um elevado número de

colectividades e associações, elementos de integração e coesão social vitais ao

desenvolvimento do território no passado e que continuam a existir na generalidade

dos municípios da Península de Setúbal.

A mobilidade no município, do ponto de vista do modo de transporte público, é

assegurada, maioritariamente, pelos Transportes Colectivos do Barreiro (TCB). A

existência destes transportes públicos urbanos é responsável pela menor actuação da

rede de autocarros da empresa Transportes Sul do Tejo (TST), que garante a maioria

dos percursos aos habitantes da Península de Setúbal. Este facto acaba por ser reflectir

na carência de boas ligações entre o Barreiro e os municípios vizinhos, favorecendo,

deste modo a utilização do Transporte Individual (TI). Tanto em 1991, como em 2001,

Figura 9 – Pórtico da antiga Igreja de Palhais

Fonte: www.igespar.pt

13

o Barreiro foi dos municípios da AML com maior duração média dos movimentos

pendulares, ultrapassando os 40 minutos (Figura 10).

Em 2001, 47% dos movimentos pendulares eram internos, 34% tinham como

destino a Grande Lisboa e 17% a Península de Setúbal, sendo que os restantes 2%

correspondem a destinos fora da AML, o que demonstra uma grande dependência do

emprego no exterior do município, em destaque para Lisboa. No ano de 1991, 43,4%

da população residente no Barreiro utilizou os TC nas suas deslocações para o trabalho

ou escola, 14% os TI, 22,3% deslocou-se a pé e 20,3% utilizou outro modo de

transporte. Dez anos mais tarde, denota-se o incremento do TI. Este modo de

transporte foi utilizado por 34,2% da população, 32,3% optou pelos TC, 16,9%

deslocou-se a pé e 16,6% elegeu outro tipo de transporte.

No contexto da AML, a ligação fluvial entre Barreiro e Lisboa assegurava, em

2001, 47% das deslocações com destino à cidade de Lisboa.

Relativamente aos pontos fracos existentes no município do Barreiro,

destacam-se, essencialmente, aspectos socio-demográficos e urbanísticos.

Figura 10 – Duração média das deslocações pendulares na AML (1991 e 2001)

Fonte: INE – “Destaque do INE, Movimentos pendulares na Área Metropolitana de

Lisboa” (2003;6)

14

As questões ambientais mais preocupantes dizem respeito à poluição que a

Quimiparque liberta para o ar e para o Estuário do Tejo. Embora os níveis de poluição

tenham reduzido bastante nas últimas décadas, o município continua a ter uma

imagem industrial, pouco atractiva, pelo que a actuação da Autarquia é, também,

neste domínio, essencial. Dados recentes (estudo de um grupo de investigação da

Escola Superior de Tecnologia de Setúbal, 2008) revelam que o Barreiro tem níveis de

qualidade do ar idênticos aos de outras cidades com indústria e tráfego intenso e a

Autoridade Portuguesa do Ambiente divulgou, no seu relatório de 2010, que as

excedências de ozono libertadas estão dentro dos limites permitidos.

Inserido na área metropolitana mais dinâmica e povoada do país, o Barreiro

tem sido incapaz de contrariar, nas últimas décadas, a progressiva perda demográfica,

ainda que atenuada entre 2001 e 2011, o que é acompanhada de alterações

significativas na composição da população. Em duas décadas, o índice de

envelhecimento mais do que duplicou. Em 1991 era de 71,4, enquanto na Península de

Setúbal era de 60,7 e na AML de 72,6, alcançando, em 2001, os valores de 122,2 no

Barreiro, de 93,8 na PS e de 104,1 na AML, ou seja, o município em estudo já detinha

no início do século XXI uma população mais envelhecida do que a da PS e da AML. Os

resultados provisórios do último recenseamento mostram que em 2011 o Barreiro

continua a apresentar os valores mais elevados, com um índice de envelhecimento de

152, enquanto na PS era de 114 e de 118 na AML (Figura 11).

Figura 11 – Índice de envelhecimento do Barreiro, da PS e da AML (1991, 2001 e 2011)

Fonte: INE

15

Considerando um período relativamente longo de cinquenta anos, a evolução

demográfica do município do Barreiro evidencia duas fases distintas: a primeira de

grande crescimento entre 1960 e 1981, ano em que ultrapassou os 88 000 habitantes;

a segunda, que corresponde aos últimos trinta anos, de decréscimo, mais acentuado

na década de 90 (Figura 12). O incremento de cerca de 150%, observando as primeiras

décadas da segunda metade do século XX, deveu-se à atracção de populações,

oriundas sobretudo do Alentejo e das Beiras, na sequência do grande surto industrial

que favoreceu a suburbanização das periferias de Lisboa. Também a chegada de novos

residentes vindos das antigas colónias Portuguesas em África contribuíram para a

manutenção do crescimento destas áreas no final dos anos 70.

A partir da década de 1980, a população do município tem diminuído

progressivamente - 85 768 habitantes, em 1991, cerca de 79 000, em 2001 - e,

segundo os dados provisórios dos Censos de 2011, foram contabilizados 78 764

residentes, ou seja, nos últimos vinte anos, o município perdeu cerca de 8% dos seus

residentes, embora o declínio se tenha atenuado na última década. Estes números

evidenciam o de o Barreiro não estar a acompanhar a tendência de crescimento da

população observada entre 2001 e 2011, tanto na Península de Setúbal, como na Área

Metropolitana de Lisboa (Tabela 2). No contexto metropolitano, este é, aliás, à

semelhança do que sucede nos municípios de Lisboa e da Amadora, na margem Norte,

Figura 12 - Evolução da população do município do Barreiro

Fonte: INE

16

o único município da margem Sul que perdeu população.

O Barreiro é um município densamente povoado. Em 1991, a densidade

populacional era quase tripla da média da AML e quíntupla da PS (Tabela 3).

Internamente, a Verderena era a freguesia com a densidade mais elevada, enquanto a

de Palhais apresenta a densidade mais baixa, conservando algumas características

rurais e um tipo de povoamento mais disperso. Em 2011, segundo dados provisórios

do último recenseamento, o Barreiro continuava a apresentar os valores mais

elevados. Todavia, os valores da AML e da PS aumentaram. Palhais continua a ser a

freguesia com menor densidade populacional e Alto do Seixalinho a que detém os

valores mais elevados.

Unidade Territorial 1991 (hab/km²) 2011 (hab/km²)

AML 898 940

Península de Setúbal 405 480

Barreiro (município) 2 680 2 164

Barreiro 3 569 2 009

Lavradio 4 492 3 582

Palhais 181 263

Santo André 3 958 2 745

Verderena 24 750 8 289

Alto Seixalinho 13 295 11 386

Santo António da Charneca 1 348 1 499

Coina 276 258

Unidade territorial 1991 2001 2011 Variação

1991-2011 (%)

AML 2 520 708 2 661 850 2 821 699 11,94

Península Setúbal 640 493 714 589 779 373 21,68

Barreiro 85 768 79 012 78 764 - 8,17

Tabela 3 – Densidade populacional (1991 e 2011)

Fonte: INE e Relatórios provisórios da revisão do PDM, 2011.

Tabela 2 – População residente total e variação da população

Fonte: INE

17

Como é possível verificar nas pirâmides etárias elaboradas para os anos de

1991 e 2001, tanto no município do Barreiro, como no conjunto da AML, a população

envelheceu, ou seja, a base da pirâmide diminuiu e o topo alargou, ilustrando um

duplo processo de envelhecimento (Figuras 13 e 14). Para isto tem contribuído o

aumento da esperança média de vida e, sobretudo, a diminuição da taxa de

natalidade.

Figura 13 – Pirâmide etária da AML e do município do Barreiro (1991)

Fonte: INE

Figura 14 – Pirâmide etária da AML e do município do Barreiro (2001)

Fonte: INE

18

Em 2011, embora não existam dados para todas as classes etárias, é possível

afirmar que a percentagem de jovens é já inferior à dos idosos, denunciado, mais uma

vez, o envelhecimento da população, que no Barreiro é, como anteriormente referido,

superior ao da AML (Figura 15).

No que diz respeito ao Índice de dependência dos jovens, este era de 22,7 no

Barreiro, de 26,3 na Península de Setúbal e de 24,9 na AML, no ano de 1991. No ano

de 2010, o índice de dependência dos jovens era de 21,3 no Barreiro, de 24,4 na

Península de Setúbal e de 24,7 na Área Metropolitana de Lisboa. Assim, constata-se

que o Barreiro tem o índice mais baixo e, portanto, menor número de jovens por cada

cem adultos em idade activa. Observando os dados relativos ao índice de dependência

dos idosos, este tem vindo a aumentar tanto no Barreiro, como na PS e na AML, fruto

do envelhecimento da população. Enquanto em 1991 o Barreiro tinha cerca de 16,2

idosos para cada cem adultos em idade activa, em 2010 esse valor sobe para 30,4. Na

Península de Setúbal, em 1991, este índice era de 16 e na AML de 18,1, sendo que em

2010 os valores atingiram os 25,9 idosos por cada cem adultos em idade activa, na PS,

e os 27,4, na AML. Estes indicadores reforçam a ideia já transmitida que a população

barreirense está a envelhecer e que esse processo se desencadeia de forma mais

acelerada do que na região onde se insere.

Figura 15 – Grupos etários da AML e do município do Barreiro (2011)

Fonte: INE, dados provisórios dos Recenseamento de 2011

19

Analisando os dados sobre o número de estrangeiros que solicitou o estatuto

de residente no município do Barreiro, verifica-se que, tal como na AML e na

generalidade das regiões portuguesas, a maior parte dos estrangeiros tem origem nos

PALOP e no Brasil. O número total de estrangeiros que solicitaram estatuto de

residente foi de 305 em 2001, representando 0,4% da população total, e de 495, em

2006, o que se traduz em 0,6% da população residente no município.

Contrariamente ao que aconteceu na PS e na AML, a taxa de crescimento

migratório tem sido negativa, denunciando a menor atractividade do município desde

a década de 90 (Figura 16). Esta situação, aliada a saldos naturais reduzidos, explicam a

recente dinâmica populacional.

O nível médio de escolaridade da população residente no Barreiro é idêntico ao

da PS e do conjunto da AML. A excepção reside na percentagem de população com

ensino superior em que a AML supera, em 2001, em 3,4 pontos percentuais e, em

2011, em 5,6 pontos percentuais, a percentagem do município barreirense (Figuras 17

e 18).

Os níveis de analfabetismo situam-se abaixo de 6% (dados de 2001), valor

semelhante ao registado para a AML e abaixo da média da PS (7%).

Também a redução da taxa de abandono escolar constitui um indicador da

melhoria dos níveis médios de escolaridade. Em 1991, a taxa de abandono escolar no

Figura 16 – Taxa de crescimento migratório do Barreiro, PS e AML

(1992, 2001, 2010)

Fonte: INE

20

Barreiro era de 3,89%, na Península de Setúbal era de 5,33% e na AML era de 5,17%. Já

no ano de 2001, a taxa descrita era de 2,17% no Barreiro, de 2,03% na Península de

Setúbal e de 1,89% na AML, apresentando o valor mais baixo.

A taxa de desemprego apresenta valores distintos nas diferentes áreas. Em

2001, segundo dados do Censo, o município do Barreiro tinha uma taxa de

desemprego de 9,5%, a mais elevada, enquanto a média na Península de Setúbal era

de 8,9% e na AML de 7,5%. Segundo o portal PORDATA, o número de desempregados

nesse ano seria de 3 753, valor que sobe para 4 690 em Agosto de 2012 (IEFP). Uma

vez que este número se refere aos inscritos nos centros de emprego, é expectável que

Figura 17 – Percentagem de população, por nível de instrução (2001)

Fonte: INE

Figura 18 – Percentagem de população, por nível de instrução (2011)

Fonte: INE

21

a taxa de desemprego tenha atingido os dois dígitos, seguindo a tendência aliás a

tendência nacional.

O Barreiro, tal como a maior parte dos municípios da Península de Setúbal

próximos de Lisboa, como o Seixal e Almada, é considerado um município

“dormitório”. A proporção da população residente que trabalha ou estuda fora do

município era de 39,91%, em 1991, e de 52,65%, em 2001. Este aumento verificou-se

não só no município, mas também na restante Península de Setúbal, demonstrando a

dependência face a Lisboa, principal destino, dos movimentos pendulares da

população barreirense.

O crescimento urbano fez-se a partir do núcleo central do Barreiro, pelo que

não é de estranhar que seja esta a freguesia em que a época predominante de

construção dos edifícios é mais antiga. Por sua vez, Palhais tem a maior proporção de

edifícios novos - 43% foram construidos depois de 1991 (Tabela 4 e Figura 19). Num

total de 11 000 edifícios, 54,8% localizam-se nas freguesias de Barreiro, Santo António

da Charneca e Alto do Seixalinho, enquanto Coina e Palhais são as freguesias com

menos edifícios, representando cerca de 6% do parque habitacional do município.

Unidade

territorial

Antes de

1919

1919-1945 1946-1970 1971-1990 1991-2011 Total

edifícios

Barreiro

(município)

612 869 4100 3319 2108 11 008

Barreiro 444 292 392 311 290 1729

Lavradio 61 52 813 301 215 1442

Palhais 6 38 129 162 253 588

Sto André 16 76 553 599 327 1571

Verderena 8 37 459 273 47 824

Alto

Seixalinho

14 131 891 492 189 1717

Sto Ant. da

Charneca

35 166 605 1066 716 2588

Coina 28 77 258 115 71 549

Tabela 4 – Época de construção dos edifícios do Barreiro

Fonte: INE

22

A dinâmica construtiva tem sido nitidamente superior à evolução da população

residente, verificando-se um acréscimo de 22% no número de alojamentos nos últimos

anos (10,3% entre 2001 e 2011). Consequentemente, também o número de

alojamentos vagos tem aumentado (Tabela 5). No entanto, entre 2001 e 2011 houve

uma alteração desta tendência em três das freguesias, principalmente na freguesia do

Lavradio. Esta problemática pode ter consequências no património, sendo que o

abandono dos alojamentos propicia a degradação dos edifícios.

Figura 19 – Época de construção predominante dos edifícios, por freguesia

Fonte: Relatórios provisórios da revisão do PDM, 2011

23

Unidades

territorial

1991 2001 2011 Variação

1991-2001

(%)

Variação

2001-2011

(%)

Barreiro

(município)

2802 5339 5212 90,54 -2,38

Barreiro 649 989 1228 52,39 24,17

Lavradio 401 1269 711 216,46 -43,97

Palhais 40 66 96 65 45,45

Sto André 318 618 568 94,34 -8,09

Verderena 320 537 484 67,81 -9,87

Alto

Seixalinho

699 1191 1462 70,39 22,75

Sto Ant.

Charneca

324 605 546 86,73 -9,75

Coina 64 64 117 25,49 82,81

Uma dos problemas com que o planeamento e ordenamento do território se

deparam são Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI). Estas áreas surgiram, na maioria

dos municípios da Península de Setúbal, a partir da década de 60, com as migrações da

população rural para as cidades, em busca de melhores condições de vida e da vinda

de Portugueses das ex-colónias em África, aquando da sua descolonização.

No Barreiro, existem trinta e seis AUGI, constituindo um dos problemas

urbanísticos do município. A Autarquia tem feito um esforço no sentido de melhorar as

condições urbanísticas e sociais destas áreas e algumas já se encontram em processo

de reconversão.

Tabela 5 – Número e taxa de variação dos alojamentos vagos (1991, 2001 e 2011)

Fonte: INE e Relatórios provisórios da revisão do PDM, 2011

24

Figura 20 – Antiga ponte férrea que ligava o Barreiro ao Seixal

Fonte: http://barreiro-e-arredores.blogspot.pt

O município tem-se deparado com a elaboração de projectos de importância

regional e nacional, que poderão beneficiar o Barreiro.

A construção de determinadas infra-estruturas poderá influenciar,

positivamente, a realidade do território municipal, sendo estas a construção do IC 32,

que faz a ligação entre Almada e Montijo/Alcochete (inaugurado recentemente), e da

ligação Barreiro-Seixal, que existira entre 1923 e 1969 (Figura 20), tendo o tráfico

(ferroviário) sido suspenso devido à colisão de um navio. O Metro Sul do Tejo fará

ligação com os municípios do Seixal e de Almada, onde este modo de transporte já

existe. Pretende-se ainda construir a Terceira Travessia do Tejo (TTT), que ligará Chelas

e Barreiro, mais precisamente à zona industrial da Quimiparque, cuja zona possui um

plano de urbanização. O Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), dada a proximidade a

Alcochete, poderá influenciar economicamente o município, resultando no aumento

do custo do solo e do número de potenciais visitantes.

A fraca rede de transportes colectivos nas ligações com os municípios vizinhos,

principalmente com o município do Seixal, constitui uma ameaça. Tal como foi

mencionado anteriormente, esta deve-se à reduzida abrangência territorial da

25

principal rede de transportes públicos (TST) e falta de percursos dos TCB para além dos

limites do município. O transporte mais utilizado nos movimentos inter-concelhios é o

automóvel, enquanto no que diz respeito aos movimentos intra-concelhios é o

autocarro, dada a cobertura territorial dos Transportes Colectivos do Barreiro (Figura

21), que satisfazem a maioria das necessidades dos residentes. Esta entidade surge em

1957, assegurando hoje mais de mil viagens por dia e transportando, por ano, cerca de

vinte milhões de passageiros. Actualmente, a frota é constituída por setenta e quatro

autocarros.

Figura 21 – Diagrama da rede dos Transportes Colectivos do Barreiro (TCB)

Fonte: https://www.facebook.com/pages/Transportes-Colectivos-do-Barreiro

26

Figura 22 – Sistema de Gestão Territorial

Fonte: Caldeira, Josué – “As Grandes Opções da LBPOTU e a Agenda necessária à constituição e

consolidação do Sistema de Gestão Territorial” (2008:7)

5. Actividades desenvolvidas durante o estágio

Durante cerca de sete meses foram elaborados diversos trabalhos na área do

planeamento e do ordenamento do território. Este facto constitui uma mais-valia para

a formação e enriquecimento profissional, enquanto geógrafa a iniciar os primeiros

contactos com o mercado de trabalho.

O Ordenamento do território, disciplina central deste relatório, consiste em

reforçar a coesão territorial, ordenar e organizar o território e assegurar a igualdade de

acesso dos cidadãos aos diversos equipamentos, infra-estruturas e serviços (Lei

nº48/98, 11 de Agosto). Este é assegurado pelo Sistema de Gestão Territorial que

define e caracteriza os Instrumentos de Gestão Territorial nas diferentes escalas, que

se relacionam entre si. Assim, existem os instrumentos de desenvolvimento territorial

e os de planeamento territorial, bem como os de política sectorial e ainda os de

natureza especial (Figura 22).

27

Os instrumentos de desenvolvimento territorial, de natureza estratégica,

traduzem as grandes orientações para o modelo organizacional do território, que

devem ser tidas em conta pelos instrumentos de hierarquia inferior. Os segundos

instrumentos mencionados, os instrumentos de planeamento territorial, são de

natureza regulamentar e estabelecem o regime de uso do solo à escala local. Já os

instrumentos de política sectorial abrangem planos ou políticas dos vários e diferentes

sectores que tenham incidência no território. Por fim, os instrumentos de natureza

especial salvaguardam territórios com importância nacional do ponto de vista

ambiental (Tabela 6).

Instrumentos de desenvolvimento territorial Programa Nacional de Política de

Ordenamento do Território

Plano Regional de Ordenamento do Território

Plano Intermunicipal de Ordenamento do

Território

Instrumentos de planeamento territorial Planos Municipais de Ordenamento do

Território: Plano Director Municipal, Plano de

Urbanização e Plano de Pormenor

Instrumentos de política sectorial Plano Rodoviário Nacional

Plano Nacional da Água

Plano Estratégico Nacional do Turismo

Instrumentos de natureza especial Plano de Ordenamento da Orla Costeira

Plano de Ordenamento das Albufeiras de

Águas Públicas

Plano de Ordenamento de Estuário

Tabela 6 – Instrumentos de Gestão Territorial

Fonte: Lei nº 48/98, de 11 de Agosto

28

5.1. Relatório de avaliação da execução do Plano Director Municipal

O Plano Director Municipal de primeira geração do município do Barreiro foi

aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 26/94, de 4 de Maio.

Este plano, de elaboração obrigatória, estabelece a estratégia de

desenvolvimento e a política de ordenamento do território e de urbanismo para o

município, tendo em conta as orientações estabelecidas pelos instrumentos de gestão

territorial de âmbito nacional e regional. Insere-se nos instrumentos de planeamento

territorial, “de natureza regulamentar, que estabelecem o regime de uso do solo,

definindo modelos de evolução da ocupação humana e da organização de redes e

sistemas urbanos e, na escala adequada, parâmetros de aproveitamento do solo”

(Artigo 8º, CAPITULO II, Lei nº 48/98, 11 de Agosto).

O relatório do PDM do Barreiro é composto por objectivos de desenvolvimento

e por um capítulo denominado Ordenamento que se subdivide em Objectivos gerais,

Estrutura Urbana - em que o município é dividido pelas grandes áreas - Acessibilidades,

Actividades Económicas, Estrutura Verde, Quantitativos populacionais - por Unidade

Operativa de Planeamento e Gestão, por freguesia e por classe de espaços -

Equipamentos e Infra-estruturas. Os objectivos de desenvolvimento do PDM de 1994

são os seguintes:

- Melhorar a posição económica do Barreiro à escala da Península de Setúbal;

- Requalificar os espaços residenciais e reconverter os espaços industriais no sentido

de atrair e fixar mão-de-obra qualificada;

- Incentivar a criação de emprego local com o intuito de atenuar a dependência do

município face ao mercado de trabalho regional;

- Promover a modernização do tecido económico do município, através de incentivos

para a fixação de actividades tecnologicamente avançadas.

Decorridos quase vinte anos, o plano encontra-se, actualmente, em fase de

revisão.

29

Figura 23 – Processo de planeamento

Fonte: Pereira, Margarida – Dinâmica Urbanística do Município de Palmela. CMP (2003)

O processo de planeamento divide-se em várias fases cíclicas que se

desenvolvem num horizonte temporal alargado (Figura 23). Tem início com a decisão

de elaboração do plano, sendo que no caso do PDM é obrigatória por Lei.

Seguidamente este é elaborado, procedendo-se então à formalização do mesmo e, de

seguida, à sua implementação. A monitorização e a avaliação devem ocorrer ao longo

de todo o processo, sendo que ao fim de dez anos deve ser elaborada uma revisão do

plano em vigor. A avaliação deve ter em conta a evolução dos diferentes indicadores,

as acções definidas e o seu grau de concretização e as carências existentes no

território. Esta fase é deveras importante, pois não só permite verificar a concretização

ou implementação do que é proposto, como serve para analisar os resultados e, se

necessário, repensar a estratégia e os objectivos anteriormente definidos. Ao relatório

de avaliação da execução do PDM chama-se Relatório de Estado de Ordenamento do

Território (REOT).

Na Área Metropolitana de Lisboa alguns municípios, como Amadora, Almada e

Lisboa, já elaboraram este documento, embora não exista uma estrutura e

30

metodologia definidas. Deste modo, cada autarquia elabora o documento em causa da

maneira que entende ser a mais adequada.

O PDM do município do Barreiro encontra-se, como foi referido, em fase de

revisão, sendo que, após concurso público, a sua elaboração ficou a cargo da empresa

Progitape. Neste contexto, a Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território, da

Câmara Municipal do Barreiro está a elaborar o REOT, também designado Relatório de

Avaliação da Execução do PDM. Esta acabou por ser a primeira tarefa que me foi

atribuída, a preparação do REOT, coadjuvando urbanista a Ausenda Nunes.

Inicialmente, foi feita uma leitura da legislação relativa aos REOT, bem como

uma consulta pormenorizada dos REOT elaborados para os municípios da AML já

mencionados. A seguir seguiram-se várias reuniões com a urbanista e com o chefe de

divisão, Arquitecto João Paulo Lopes, para discutir a proposta de estrutura do relatório

e a sua metodologia.

Para a elaboração tanto da estrutura, como da metodologia, foi tida em conta a

estrutura do PDM, aprovado em 1994, e os elementos resultantes da pesquisa que

desenvolvi em conjunto com a urbanista Ausenda Nunes. Esta pesquisa abrangeu não

só os documentos da Divisão, como os de outras Divisões, com o intuito de reunir os

dados e informações disponíveis e analisar a necessidade de proceder a outras

recolhas.

A estrutura baseava-se em quatro capítulos essenciais, sendo estes a

constatação dos objectivos de desenvolvimento e objectivos gerais do PDMB em vigor,

os níveis de execução dos mesmos, a identificação de factores de mudança e ainda a

definição de novos objectivos de desenvolvimento e identificação de critérios de

sustentabilidade.

A fase seguinte consistiu na adaptação das orientações do Plano Regional do

Ordenamento do Território (PROT), bem como do Plano Estratégico para o

Desenvolvimento da Península de Setúbal (PEDEPES) para o município do Barreiro. O

facto do PROT da Área Metropolitana de Lisboa (AML) ter sido aprovado em 2002 e o

PEDEPES em 2004, fez com que o PDM tivesse de ser ajustado, tendo em conta as suas

directrizes.

31

Ambos os planos pertencem aos instrumentos de desenvolvimento territorial,

ou seja, são de natureza estratégica e traduzem as grandes orientações para o modelo

organizacional do território, que devem ser tidas em conta pelos instrumentos de

âmbito inferior. Os PROT circunscrevem a estratégia para o desenvolvimento regional,

seguindo as orientações dos instrumentos a nível nacional e sendo referência para os

instrumentos elaborados à escala municipal. Estes são elaborados pelas Comissões de

Coordenação e Desenvolvimento Regional e aprovados por Resolução de Conselho de

Ministros.

A visão estratégica do PROT AML consiste em “Dar dimensão e centralidade

europeia e ibérica à AML, espaço privilegiado e qualificado de relações euroatlânticas,

com recursos produtivos, científicos e tecnológicos avançados, um património natural,

histórico, urbanístico e cultural singular, terra de intercâmbio e singularidade,

especialmente atractiva para residir, trabalhar e visitar” (PROT AML, 2002). No PROT

AML, o núcleo do Barreiro é classificado como “Centro de Nível Sub-regional” e Coina

como “Pólo Industrial e Logístico”, enquanto a parte Norte do município se insere na

“Área Urbana a Articular e/ou Qualificar” e a parte Sul enquadra-se na “Área Urbana a

Estruturar e Ordenar”. Para a “Área Urbana a Articular e/ou Qualificar”, definiram-se

as seguintes acções:

- Reforçar as acessibilidades locais e metropolitanas e proceder à qualificação

dos núcleos degradados;

- Definir áreas dedicadas às actividades de recreio e lazer, sem comprometer a

salvaguarda dos valores naturais e paisagísticos das zonas ribeirinhas;

- Promover o aumento dos espaços públicos, espaços verdes, espaços para

equipamentos e áreas de circulação de peões;

- Promover a reconversão e modernização das áreas industriais obsoletas,

privilegiando usos compatíveis com o uso residencial.

Na área classificada como “Área Urbana a Estruturar e Ordenar” as acções

definidas foram as seguintes:

32

- Definir, tendo em conta a delimitação das Unidade Operativas de

Planeamento e Gestão (UOPG), as estruturas urbanas e a salvaguarda dos valores

naturais e culturais;

- Colmatar das carências existentes ao nível dos equipamentos e das infra-

estruturas e garantir a qualificação do espaço público e a requalificação urbana;

- As Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI) devem ser uma prioridade.

Foram ainda definidas Unidades Territoriais para a AML. O Barreiro pertence às

Unidades “Estuário do Tejo” e “Arco Ribeirinho Sul” e, a Sul, à “Planície Interior Sul”. O

“Estuário do Tejo” localiza-se no centro da AML e caracteriza-se pela sua dimensão e

pela diversidade de ecossistemas. A Unidade Territorial “Arco Ribeirinho Sul”

distingue-se pela ocupação urbana polinucleada, descontínua e desordenada, por

áreas industriais obsoletas e ainda por uma fraca acessibilidade interna. No entanto,

existem algumas áreas de elevada importância natural. A terceira Unidade, “Planície

Interior Sul” compreende o território central da Península de Setúbal, caracterizada

pelas boas acessibilidades, mas também pela construção fragmentada e desordenada.

Relativamente aos transportes, de salientar a ligação do “Arco Ribeirinho Sul”

através do Metro Sul do Tejo e ainda a possibilidade de construção do novo aeroporto

de Lisboa, que poderá trazer benefícios ao município face à proximidade existente. É

ainda importante salientar a hipótese da construção de uma ponte entre Chelas e

Barreiro, podendo ser incluído o modo ferroviário, com o intuito de melhorar as

acessibilidades na Área de Metropolitana de Lisboa.

O PEDEPES é um instrumentos intermunicipal e foi elaborado com o objectivo

de melhorar a situação social e económica da Península de Setúbal (PS), sendo que a

sua visão consiste em: “reduzir e eliminar a distância que actualmente separa a PS dos

indicadores de desenvolvimento da AML, tornando-a numa região mais competitiva,

com maior capacidade de crescimento endógeno, menos sujeita aos enormes

sacrifícios que os períodos de recessão lhe impunham no passado, contribuindo assim

para que assuma o papel de relevo que pode e deve desempenhar na AML, no país e

mesmo a nível internacional” (PEDEPES, 2004).

33

O modelo de desenvolvimento para a Península baseia-se na “ Promoção da

qualidade do território regional”, na “Promoção da coesão do tecido social da PS”, no

“Reforço da capacidade do tecido empresarial” e no “Reforço do sistema regional de

conhecimento”.

Neste plano foi definida uma hierarquia de pólos urbanos, tendo em conta as

suas especializações e a sua importância à escala da Península de Setúbal. Foram

definidos dois pólos para o município, o pólo do Barreiro, associado à “Indústria” e a

“Equipamentos, Comércio, Serviços”, e o Pólo de Coina, ligado à “Armazenagem e

Logística” e, também, à “Indústria”, sendo que no PEDEPES é destacada a posição

geográfica estratégica de Coina.

Considerando as Unidades Territoriais estabelecidas no plano, o território

municipal pertence à “Frente Urbana do Tejo”, ao “Estuário do Tejo” e ao “Pinhal

Novo/Atalaia”. A “Frente Urbana do Tejo” é uma unidade com uma grande pressão

urbanística. Pretende-se requalificar a frente ribeirinha, através da criação de uma

plataforma logística metropolitana, da promoção de novas indústrias e de

estabelecimentos de Investigação e Desenvolvimento. É ainda objectivo proceder à

revitalização e à reabilitação dos espaços públicos e à valorização e integração social

dos grupos mais desfavorecidos. O “Estuário do Tejo” caracteriza-se pela sua

importância natural, sendo importante a sua valorização e protecção, particularmente

entre o Barreiro e Alcochete. Por último, a Unidade Territorial “Pinhal Novo/Atalaia”

abrange o centro da PS e estende-se até Alcochete, fazendo parte desta o pólo de

Pinhal Novo, urbanizado. Esta unidade caracteriza-se pela ausência de planeamento e

espaços rurais, com povoamento disperso.

Após a realização do tópico anterior, devido ao facto de não existirem bases de

dados ou simples documentos com a informação armazenada e organizada, tomei a

iniciativa de criar uma base de dados. A construção desta base de dados veio a ser

uma peça importante para o Relatório de Avaliação de Execução do PDM, mas

também para o relatório comparativo das propostas da Carta Educativa do município,

publicada em 2008, e das propostas do PDM, de 1994, que incidiam sobre os

equipamentos de educação. No PDM estava proposto um número elevado de novas

34

escolas, num cenário de forte crescimento da população escolar, enquanto na Carta

Educativa há uma visão mais realista, em que, acima de tudo, se valoriza a

requalificação e ampliação dos equipamentos escolares existentes.

O relatório da Carta Educativa e o mapa com implantação das propostas de

equipamentos escolares constituíram elementos essenciais para a elaboração da base

de dados. A base de dados que desenvolvemos engloba as diferentes nomenclaturas

das escolas e dos jardins-de-infância, a sua localização e características, como o

número de salas, de alunos e de turmas (dependendo dos dados existentes), as

propostas que incidiam sobre cada equipamento e a sua concretização. Este processo

foi acompanhado e discutido com a equipa de modo a estabelecer o que demais

relevante teria de ser incluído neste estudo comparativo.

No que diz respeito às dificuldades encontradas pode referir-se a ausência de

descrição textual ou em tabela das propostas do PDM, existindo, apenas, um mapa,

não-georreferenciado, com a implantação dos equipamentos. Também a existência de

escolas recentes com o mesmo nome de antigas escolas que existiam em locais

distintos, dificultou a elaboração da tabela.

Deste modo, a base de dados em causa torna-se numa ferramenta importante

para uma melhor avaliação da execução tanto do PDM, como da Carta Educativa. Esta

possibilitará um melhor acompanhamento e monitorização das propostas e,

consequentemente, uma maior facilidade na elaboração de documentos de propostas

para equipamentos de educação.

5.2. Revisão do Plano Director Municipal

As revisões dos PDM de primeira geração têm sido processos bastante morosos

e, regra geral, os municípios não têm conseguido aprovar a revisão dentro do

horizonte temporal definido por lei, ou seja, dez anos.

A Câmara Municipal do Barreiro encontra-se, neste momento, como referido,

em processo de revisão do PDM, em conjunto com a Progitape, empresa de

planeamento responsável pela sua elaboração. Neste contexto, foi solicitada a minha

35

participação em dois trabalhos - a planta de estudos urbanísticos e a Estratégia para o

Regulamento do PDM.

No âmbito da elaboração da planta, coube-me inserir e identificar os

elementos topográficos, utilizando o AutoCAD MAP. Por não ter antes trabalhado com

este software, foram valiosos os ensinamentos do desenhador Marco Cardoso, que me

ensinou as funcionalidades do AutoCAD, e do chefe de Divisão de Informação

Geográfica, Eng. Manuel Landum, com quem aprendi a trabalhar em AutoCAD MAP.

Para a execução da tarefa que fui incumbida de realizar, procedeu-se a um

conjunto de mecanismos. Primeiramente, isolaram-se os diferentes polígonos, ou seja,

criaram-se documentos para as diferentes delimitações dos estudos. De seguida, fez-se

a limpeza dos diferentes documentos para assegurar que os desenhos estavam

geometricamente correctos, para, então, criar topologias e inserir os elementos,

dando-lhes um “ID” e uma “Descrição”. O nome dado à topologia é igual para todos os

polígonos, tendo sido escolhido o nome “ESTUDO_URBANISTICOS”, para depois se

agregarem num só mapa. Relativamente ao “ID”, é atribuído um número a cada

polígono, tendo sido numerados consoante a ordem do número dos processos e a

“Descrição” consiste no número do processo, seguido do seu nome, de que se

apresenta um exemplo na Figura 24.

Figura 24 – “ID” e “Descrição” do Processo DP 7 – Alburrica

Fonte: CM Barreiro

36

As dificuldades que surgiram ao longo deste trabalho dizem respeito a erros do

software. Após várias tentativas, procurando encontrar soluções, estes erros foram

ultrapassados, exportando os ficheiros .dwg para .shp, voltando, depois, a importá-los,

de modo a corrigir o erro. Nos documentos em que foi detectado este erro, o exercício

teve de ser repetido desde o início.

A definição da estratégia para o regulamento da revisão do PDM foi incumbida

à Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território. Embora a empresa Progitape

esteja encarregue de elaborar a revisão do PDM, o Departamento decidiu contar com

a sua equipa de técnicos, onde me integrei, e elaborar um documento orientador.

Numa primeira fase, procedeu-se à leitura de revisões de PDM já aprovadas ou

em fase final de elaboração, como o de Lisboa e do Seixal, bem como a estratégia do

PDM em vigor no Barreiro. O segundo passo consistiu na elaboração de duas

propostas, uma minha e outra da urbanista Ausenda Nunes, que foram discutidas com

o chefe de Divisão, tendo resultado uma única proposta estratégica em que se

articularam ambas as propostas iniciais. Ao longo da elaboração da estratégia tiveram

lugar várias reuniões com o chefe de divisão arquitecto João Paulo Lopes no sentido de

melhorar a estratégia para o Regulamento.

A estratégia centra-se na promoção de um desenvolvimento sustentado do

Município e da equidade, coesão social e governança, no desenvolvimento económico,

através da captação de empresas, na aposta na requalificação do espaço urbano e na

valorização ambiental e paisagística e na promoção da coesão territorial.

5.3. Áreas Urbanas de Génese Ilegal

A problemática das Área Urbanas de Génese Ilegal (AUGI) ganhou maior

notoriedade aquando da publicação da Lei nº91/95, de 2 de Setembro, tendo esta sido

alterada ao longo do tempo, pela Lei nº 165/99, de 14 de Setembro, pela Lei nº

64/2003, de 23 Agosto e pela Lei nº 10/2008, de 20 de Fevereiro.

Segundo o Artigo 1º, do CAPÍTULO I, da Legislação anteriormente mencionada,

“consideram-se AUGI os prédios ou conjuntos de prédios contíguos que, sem a

competente licença de loteamento, (…) tenham sido objecto de operações físicas de

37

parcelamento destinadas à construção até à data da entrada em vigor do Decreto - Lei

n.º 400/84, de 31 de Dezembro”. “As câmaras municipais delimitam o perímetro e

fixam a modalidade de reconversão das AUGI existentes na área do município, por sua

iniciativa ou a requerimento de qualquer interessado, nos termos do artigo 35º”

(Artigo 1º, CAPÍTULO I, Lei n.º165/99, de 14 de Setembro, alteração à Lei 91/95, de 2

de Setembro).

Em Portugal, as AUGI começaram a ser foco de atenção na década de 60,

embora só bastante mais tarde tenha sido, como referido, redigida legislação

específica. As AUGI surgiram na sequência de processos de loteamento e construção

ilegal, desencadeados, em grande parte pela pressão urbanística. Foram sobretudo as

áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto que receberam uma enorme quantidade de

população, num curto espaço de tempo, não existindo capacidade de dar resposta à

procura existente do ponto de vista de habitação, das infra-estruturas e de

equipamentos colectivos.

A falta de habitação e a inexistência de políticas urbanísticas acabaram por

facilitar o surgimento de construções clandestinas, geralmente com pouca qualidade e

sem infra-estruturas básicas.

Este fenómeno contribuiu para o aumento da mancha urbana, caracterizado

pelo seu crescimento irregular, fragmentação territorial e falta de planeamento,

apresentando-se, assim, como áreas onde reinam problemas urbanísticos e sociais. O

movimento de saída do centro da cidade para a periferia, pelas classes mais

desfavorecidas, vem acentuar os problemas e carências já existentes. Face a esta

realidade, a problemática das Áreas Urbanas de Génese Ilegal ganhou relevância.

Os processos de reconversão das AUGI tornaram-se, nos últimos vinte anos,

numa das prioridades dos municípios numa óptica de reforçar a coesão territorial. A

promoção destes processos torna-se vital não só para a melhoria da qualidade de vida

da população dos municípios, mas também para melhorar a imagem do município e

consequentemente aumentar a sua atractividade.

No município do Barreiro existem trinta e seis AUGI, na sua maioria (vinte e

seis) na freguesia de Santo António da Charneca e as restantes dez distribuem-se por

38

outras freguesias – quatro em Coina, três em Santo André, duas em Palhais e uma no

Lavradio. A área total abrangida pelas AUGI ocupa, aproximadamente 300 hectares,

representando cerca de 10% do território municipal.

Estas áreas surgiram nos finais da década de 1960, pela pressão habitacional de

novos residentes, na sequência dos movimentos de população vinda das ex-colónias e

pelo êxodo rural, sendo que no caso da Península de Setúbal se fixou, principalmente,

população agrícola vinda do Alentejo, em busca de trabalho na indústria. As AUGI

acabam por surgir em loteamentos de quintas e territórios juntos à fronteira do

município, beneficiando do menor controle exercido nestes espaços.

Como é possível verificar na Figura 25, os processos de reconversão existentes

tiveram origem em iniciativa tanto autárquica, como dos proprietários. Do universo de

AUGI existente, vinte e nove iniciaram o processo de reconversão através de iniciativa

dos próprios proprietários, sendo que os restantes ocorreram por iniciativa da Câmara

Municipal. Relativamente às AUGI cujo processo de reconversão teve origem em

iniciativa dos proprietários, em Maio de 2012, catorze dessas áreas estavam com o

processo a decorrer, duas tinham alvará emitido e as restantes treze ainda se

encontravam numa fase inicial. Estas AUGI localizam-se no Sul do município, ocupando

parte da freguesia de Santo António da Charneca e da freguesia de Coina. Nos

processos de iniciativa municipal, quatro das áreas têm alvará emitido e os restantes

processos encontram-se em curso. Estas AUGI encontram-se próximas de áreas

urbanas consolidadas, ou seja, na envolvente do Barreiro, enquanto cidade, na

freguesia de Santo André e na área Norte da freguesia de Santo António da Charneca.

Analisando a existência de infra-estruturação (Figura 26), aspecto essencial

neste tipo de processos, constata-se que nos casos de iniciativa autárquica, somente

uma AUGI não se encontra infra-estruturada, a AUGI 4, denominada por Quinta

Francisco Rodrigues, sendo que nas AUGI com iniciativa de reconversão por parte dos

proprietários, a realidade é distinta, pois das vinte e nove, apenas duas se encontram

infra-estruturadas.

39

Figura 25 – AUGI por tipo de processo de reconversão

Fonte: Relatório de revisão do PDM do Barreiro, 2011

Os processos de reconversão das Áreas Urbanas de Génese Ilegal têm sido uma

preocupação e uma prioridade da Câmara Municipal do Barreiro, como atesta a

existência de uma Equipe Multidisciplinar das AUGI, criada unicamente para se dedicar

a estas áreas.

40

Figura 26 – Existência de infra-estruturas nas AUGI

Fonte: Relatório de revisão do PDM do Barreiro, 2011

Durante o estágio, desenvolvi tarefas no âmbito de estudos urbanísticos de

reconversão. Neste sentido, redigi as análises biofísicas para as AUGI de Fonte Feto Sul

e Cabeço Verde, localizadas na freguesia de Santo António da Charneca (Figura 27).

41

Áreas Urbanas de Génese Ilegal da Fonte do Feto Sul e do Cabeço Verde

A AUGI de Fonte do Feto Sul constitui a Unidade Operativa de Planeamento e

Gestão 145, tendo sido definida como Espaço Urbano de Habitação em Áreas de

Reconversão, aquando da elaboração de PDM, aprovado em 1994.

Figura 27 – Enquadramento das AUGI Fonte do Feto Sul e Cabeço Verde

Fonte: CM Barreiro

0 1 km

42

O processo de reconversão desta AUGI (nº 13) teve início no ano de 1995,

tendo sido aprovada a execução de um PP e aberto concurso público no mesmo ano.

Todavia, em 1998 foi aprovada, por deliberação da Câmara, a anulação do concurso.

Com a segunda alteração à Lei nº 91/95, de 2 de Setembro, ocorrida em 2003, com a

Lei nº 64/2003, de 23 de Agosto, foi criado um estudo urbanístico de reconversão e os

limites das AUGI foram alterados, adaptando os contornos das áreas a intervir e

dividindo-as para uma melhor execução e implementação. Deste modo, a AUGI Nº 13

foi dividida em quatro áreas, a Nº 13.I, denominada Quinta dos Clérigos, a Nº 13.II, de

nome R. da Machada, bem como a Nº 13.III, ou seja, Fonte Feto Sul e, por último, a Nº

Figura 28 – AUGI Fonte do Feto Sul

Fonte: CM Barreiro

0 50 m

43

13.IV, denominada por Travessa da Esperança. Embora tenham sido criados processos

distintos para as sub-AUGI, alguns tópicos teóricos dos processos são encarados para a

totalidade da AUGI inicial, como é o caso da caracterização biofísica elaborada no

âmbito do estágio.

Este processo encontra-se ainda numa fase inicial, estando, no fim do estágio,

em Maio de 2012, a ser feito o cadastro da área.

A AUGI do Cabeço Verde (Figura 29) surgiu na fazenda de Domingos Ramos e

localiza-se a Este da povoação de Santo António da Charneca.

O processo de reconversão da AUGI do Cabeço Verde surgiu em 1976/1977,

tendo sido, portanto, um dos pioneiros. A partir desse ano foram elaboradas as

diversas plantas necessárias com a situação do território, como a planta de localização,

Figura 29 – AUGI Cabeço Verde

Fonte: CM Barreiro 0 100 m

44

de enquadramento urbano, de loteamento primitivo e da topografia, assim como a

planta de arruamentos, o perfil transversal e longitudinal e o traçado de esgotos.

Aquando do início da elaboração do processo de reconversão, estimou-se que a

população residente seria de 60 habitantes, constituída, na sua maioria, por operários

industriais e agrícolas. O loteamento ilegal desta área rural fez-se a partir de Janeiro de

1972, não tendo sido reservados terrenos destinados a equipamentos ou a espaços

verdes e não possuindo infra-estruturas de saneamento ou pavimentos regulares. No

essencial, as propostas consistiam em normalizar os arruamentos e em modificar o

desenho do loteamento. Assim, foi definida uma área para habitação social, outra para

habitação de renda livre e ainda áreas para arruamentos e espaços verdes. Por outro

lado, enquanto o número de lotes inicial era de 47, o estudo previa apenas 32 e um

número máximo de 53 fogos. Já na década de 1990, o Despacho de 8 de Março de

1996 definia que os lotes de habitação poderiam ter o máximo de 2 pisos e de 2 fogos.

No ano de 2003, tal como aconteceu na AUGI de Fonte Feto, a AUGI foi divida para

uma melhor intervenção. Deste modo, passaram a existir a AUGI Nº 7.I, Quinta do

Corvo Sul, a AUGI Nº 7.II, Quinta do Corvo Norte, a AUGI Nº 7.III, Quinta do Corvo

Nascente e a AUGI Nº 7.IV, Cabeço Verde Norte, bem como a AUGI Nº 7.V, Quinta da

Rabicha, a AUGI Nº 7.VI, Quinta Alberto Pinto, a AUGI Nº 7.VII, Quinta Domingos

Ramos, e a AUGI Nº 7.VIII. Este processo encontra-se mais avançado do que o anterior,

mas a parte teórica do plano encontra-se ainda em elaboração.

Tendo feito parte da equipa multidisciplinar da câmara municipal para as AUGI,

chefiada pelo arquitecto António Pardal, coube-me elaborar as análises biofísicas das

AUGI Fonte do Feto Sul e Cabeço Verde, em cooperação com a arquitecta Helena

Sécio, técnica superior da Equipe Multidisciplinar das AUGI, e da arquitecta Paisagista

Inês Belchior, técnica superior da Divisão de Planeamento e Ordenamento do

Território.

Neste sentido, primeiramente, fiz uma leitura da Lei nº 91/95, de 2 de

Setembro, e das suas actualizações. Seguidamente, procedeu-se à leitura do relatório

da revisão do PDM, com a caracterização biofísica do município do Barreiro, tanto das

peças escritas, como das peças desenhadas. No que diz respeito às peças desenhadas,

45

sobrepôs-se os limites das AUGI, utilizando AutoCAD MAP e ILWIS, o que passou pela

aprendizagem de utilização do software ILWIS, a fim de retirar os dados e a informação

necessária à elaboração da referida análise. Para além disto, fiz uma pesquisa com o

intuito de saber a que período geológico pertenciam as rochas e formações geológicas

desta área e as características geológicas dos solos e ainda uma pesquisa sobre as

unidades definidas tanto no Interreg II, como no PROT AML. Esta análise teve em conta

a morfologia, a época geológica, o substrato geológico, as bacias hidrográficas e os

sistemas aquíferos, assim como as características dos solos, a capacidade de uso do

solo, a integração nas unidades de paisagem do Programa Interreg II e nas unidades

definidas no PROT, a morfologia do território, os declives e a hipsometria.

Relativamente às principais dificuldades na elaboração deste trabalho, é de

salientar a diferença de sistema de coordenadas dos mapas disponíveis, o que obrigou

a algumas sobreposições com mapas impressos à mesma escala.

O município do Barreiro insere-se, do ponto de vista geomorfológico, na Bacia

Terciária do Tejo e do Sado. Na AUGI Fonte do Feto Sul, o substrato geológico foi

formado na Época do Pliocénico, do Período do Terciário, existindo a presença de

Areias da Formação de Santa Marta (PSM), sendo que ao longo do Período

Quaternário, foram depositados Argilitos da formação do Marco Furado (QMF). Esta

AUGI é abrangida pela Bacia hidrográfica do Vale do Grou. Existem solos litólicos não

húmicos (Vt), de grande erodibilidade, com camadas de areias intercaladas com

argilas, e Pódzois Hidromórficos com surraipa de areias e arenitos (Pzh), que se

caracterizam por solos de drenagem interna elevada, com reduzida capacidade de

retenção de água. No que diz respeito à morfologia, a área em causa consiste num

sistema seco de cabeços, ou seja, terrenos de charneca, com solos arenosos, pobres e

de elevada permeabilidade, onde existem eucaliptos e pinheiros.

Na AUGI Cabeço Verde o substrato geológico foi formado na Época do

Pliocénico, do Período do Terciário, existindo a presença de Areias da Formação de

Santa Marta (PSM). Ao longo do Período Quaternário, foram depositados materiais,

sobre as areais anteriormente mencionadas, Argilitos da formação do Marco Furado

(QMF), durante a Época do Pliocénico, e Aluviões (aluv), ao longo da Época do

46

Holocénico. A AUGI Cabeço Verde localiza-se na Bacia hidrográfica do rio Moita, que

tributa para a Vala de Alhos Vedros, para Nascente. Relativamente às características

dos solos, assume-se a presença de Pódzois hidromórficos com surraipa de areias e

arenitos (Pzh), que se caracterizam por solos de drenagem interna elevada, com

reduzida capacidade de retenção de água, e de Pódzois não hidromórficos com

surraipa de areias ou arenitos (Pz), sendo que a surraipa resulta da cimentarão dos

grãos de areia, e ainda de Solos litólicos não húmicos (Vt), de grande erodibilidade,

com camadas de areias intercaladas com argilas. Tal como a AUGI Fonte do Feto, do

ponto de vista da morfologia, o Cabeço Verde pertence a um Sistema Seco.

5.4. Sistemas de Informação Geográfica: sessão teórica

Durante o estágio, fiz ainda uma apresentação sobre Sistemas de Informação

Geográfica (SIG) aos técnicos da Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território.

Esta sessão foi solicitada com o objectivo de transmitir algumas noções básicas e a

importância desta ferramenta nos processos de planeamento e ordenamento do

território, tendo-lhe dado o título de “Sistemas de Informação Geográfica – uma

importante ferramenta para um eficiente e eficaz planeamento e ordenamento do

território”.

A primeira parte da sessão consistiu na explicação da origem e definição de

Sistemas de Informação Geográfica e ainda na definição de alguns conceitos

relacionados com os SIG. Na segunda parte foi dado destaque à utilização de SIG nas

câmaras municipais e aos seus processos de implementação e adaptação e

apresentados alguns dos encontros de utilizadores da ESRI, fabricante do software

ArcGIS. Numa análise custo-benefício, procurei salientar o benefício em adquirir e

construir um Sistema de Informação Geográfica a fim de tornar o planeamento e

ordenamento do território mais eficiente e eficaz, apoiando os processos de decisão

numa autarquia e contribuindo para melhorar a qualidade de vida das populações.

47

6. Considerações finais

O estágio que realizei na Divisão de Planeamento e Ordenamento do Território

da Câmara Municipal do Barreiro proporcionou-me uma experiência profissional e

mesmo pessoal muito enriquecedora.

Os objectivos definidos inicialmente foram, na sua maioria, atingidos. Devido à

normal dinâmica de uma divisão de planeamento e ordenamento do território, houve

que proceder a alguns ajustes ao plano de estágio, mas tive a oportunidade de

colaborar em outros projectos igualmente importantes.

Este estágio permitiu-me participar e trabalhar em projectos associados às

diferentes áreas do planeamento e do ordenamento do território, o que se tornou

numa mais-valia para o meu processo de aprendizagem. Tive a oportunidade de

trabalhar numa equipa de planeamento e perceber os seus mecanismos e métodos de

trabalho. Participei não só na revisão do Plano Director Municipal, através, por

exemplo, da elaboração da estratégia para o Regulamento e do Relatório de avaliação

da execução do PDM, como em estudos de reconversão das AUGI, elaborando análises

biofísicas, e ainda em Sistemas de Informação Geográfica, tendo aprendido a trabalhar

em dois software, o AutoCAD MAP e o ILWIS.

Durante sete meses e meio, conheci a realidade do Barreiro (tal como

demonstro na análise SWOT). Um município penalizado por um passado fortemente

ligado a indústrias muito poluentes e que podem ser valorizados numa perspectiva de

desenvolvimento local.

A crise económica actual é, de facto, um entrave ao desenvolvimento de

projectos que beneficiem o território. Deste modo, torna-se ainda mais importante

definir prioridades e fazer escolhas criteriosas. O trabalho que realizámos em Sistemas

de Informação Geográfica constitui um exemplo de como se pode melhorar e

beneficiar a gestão do território, tornando os processos mais eficazes, eficientes e

rápidos.

O Plano de Urbanização para o território da Quimiparque e área envolvente

poderá ser um trunfo para o município melhorando a qualidade ambiental e de vida da

48

população, abrangendo diferentes usos e optando por tecnologias menos poluentes.

No entanto, a sua concretização depende fortemente da construção da Terceira

Travessia do Tejo.

Como foi dito anteriormente, aquando do início do estágio, foi minha

preocupação conhecer melhor o território e as transformações recentes por que

passou. Para além disso, procurei integrar-me na equipa de trabalho e empenhar-me

nas diferentes tarefas que me foram atribuídas. Aprendi a ultrapassar as dificuldades

que surgiram ao longo da elaboração das tarefas, desenvolvi competências do ponto

de vista do trabalho em equipa, adquiri métodos de trabalho e cresci enquanto

profissional de planeamento e ordenamento do território. Enquanto geógrafa,

formação transversal que abrange um vasto leque de áreas e permite compreender e

analisar diversas temáticas, colaborei em vários projectos da DPOT, desde as questões

ambientais, às questões do planeamento e ordenamento do território e aos sistemas

de informação geográfica. Durante o estágio, foi ainda fomentada a discussão e a

minha participação nos projectos em cursos como é o caso da Estrutura Municipal do

Barreiro, da cartografia de riscos e servidões e do plano de mobilidade.

49

7. Referências bibliográficas

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Apoio à Náutica de Recreio no Estuário do Tejo, 2010.

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Caldeira, Josué - As Grandes Opções da LBPOTU e a Agenda necessária à constituição e

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1994.

Câmara Municipal do Barreiro – Propostas de Análises SWOT, 2012.

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município do Barreiro, 2011.

Câmara Municipal do Seixal – A Reserva Ecológica Nacional do Concelho do Seixal,

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Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa,

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Metropolitano: Área Metropolitana de Lisboa e Área Metropolitana do Porto,

2003.

Pereira, Margarida - Dinâmica Urbanística do Município de Palmela. CMP, 2003.

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Politica do Ordenamento do Território e do Urbanismo]

Lei n.º 91/95, de 02 de Setembro (alterada pela Lei n.º165/99, de 14 de Setembro, pela

Lei n.º 64/2003, de 23 de Agosto e pela Lei n.º 10/2008 de 20 de Fevereiro

[Processo de reconversão das Áreas Urbanas de Génese Ilegal]

Decreto-Lei 380/99, de 22 de Setembro (alterado pelo DL 316/2007, de 19 de

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Despacho n.º 19391/2010 D. R. n.º 253, Série II, de 31 de Dezembro [Regulamento de

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Outras fontes

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