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RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE RECICLAGEM DE ELETROELETRÔNICOS A experiência japonesa a serviço das oportunidades brasileiras 12 e 13 de março de 2013 Auditório da Confederação Nacional da Indústria – CNI Brasília, DF

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RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO

SOBRE RECICLAGEM DE ELETROELETRÔNICOS

A experiência japonesa a serviço das oportunidades brasileiras

12 e 13 de março de 2013

Auditório da Confederação Nacional da Indústria – CNI

Brasília, DF

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SUMÁRIO

SIGLAS...4RESUMO EXECUTIVO (Objetivo, Contexto e Síntese)...5

1. PRIMEIRO DIA - 12 de março de 20131.1. Política Nacional de Resíduos Sólidos e Logística Reversa de Eletroeletrônicos. Palestrante: Sra.

Zilda Maria Faria Veloso, Diretora do Departamento de Ambiente Urbano (SRHU/MMA)....71.2. Resíduos Sólidos no Japão e a Política sobre a Reciclagem. Palestrante: Sr. Shigeyoshi Sato,

Representante do Gabinete para a Promoção da Reciclagem do Ministério do Meio Ambiente doGoverno do Japão...8

1.3. Lei da Reciclagem de Eletrodomésticos no Japão. Palestrante: Sr. Satoshi Suenaga, Chefe daDivisão de Equipamentos de Informática e Telecomunicações do Bureau de Política deInformações Comerciais do Ministério da Indústria e Economia do Japão...10

1.4. Perguntas e Respostas...11

1.5. Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica para Logística Reversa de REE. Palestrante: Sr. RicardoGonzaga Martins de Araújo, Especialista em Projetos, Agência Brasileira de DesenvolvimentoIndustrial/ABDI...14

1.6. Panorama de Programas de Atração de Investimentos dos Estados do Brasil. Palestrante: Sr.Eduardo André de Brito Celino, Coordenador Geral de Investimentos da Rede Nacional deInformações Sobre o Investimento/RENAI/MDIC...17

1.7. Perguntas e Respostas...18

2. SEGUNDO DIA - 13 de março de 2013:2.1 Técnicas de Reciclagem de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos no Japão 1 (coleta,

gestão, desmanche e reciclagem). Palestrante: Sr. Noriyuki Sato, Chefe da Divisão de Reciclagem

de Metais da DOWA ECO-SYSTEMS Co., Ltd....20

2.2 Técnicas de Reciclagem de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos no Japão 2 (separação

de materiais, recuperação de recursos naturais, reciclagem). Palestrante: Sr. Yasuo Tsuchida,

Saimu Corporation e Universidade Kinki – Departamento de Ciência e Engenharia Industrial...22

2.3 Perguntas e Respostas...23

2.4 Edital de Logística Reversa de REE. Palestrante: Sra. Beatriz Martins Carneiro, Coordenadora

Geral de Análise da Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, Departamento de

Competitividade Industrial, Secretaria de Desenvolvimento da Produção/MDIC...23

2.5 Programa Tecnológico para Produtos Eletroeletrônicos Ambientalmente Corretos. Palestrante:

Sr. Marcos Pimentel, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer/CTI...24

2.6 Normatização Brasileira Aplicável à Cadeia Reversa de Eletroeletrônicos. Palestrante: Sr. José

Rocha Andrade da Silva, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer/CTI...26

2.7 Perguntas e Respostas...26

2.8 Iniciativas em reciclagem de resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Municípios do

Japão. Palestrante: Sr. Yasumitsu Kondo, Gerente Sênior do Centro Asiático de Kitakyushu para a

Sociedade de Baixo Carbono, Cidade de Kitakyushu...29

2.9 Iniciativas em reciclagem de resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Municípios do

Brasil. Palestrante: Sra. Gislaine Villas Boas Simões, Representante do Município de Sorocaba,

SP...31

2.10 Perguntas e Respostas...33

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CONSIDERAÇÕES FINAIS...35

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SIGLAS

ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento IndustrialABNT Associação Brasileira de Normas TécnicasBNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e SocialCNI Confederação Nacional da IndústriaCORI Comitê Orientador para a Implantação de Sistemas de Logística ReversaCTI Centro de Tecnologia da Informação Renato ArcherEVTE Estudos de Viabilidade Técnica e EconômicaFBB Fundação Banco do BrasilFINEP Financiadora de Estudos e ProjetosFUNTEC Fundo de TecnologiaGT Grupo de TrabalhoGTA Grupo Técnico de AssessoramentoGTTs Grupos de Trabalho TemáticosJETRO Organização de Comércio Exterior do JapãoJICA Agência de Cooperação Internacional do JapãoMAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoMCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçãoMDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorMF Ministério da FazendaMMA Ministério do Meio AmbienteMS Ministério da SaúdeOCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento EconômicoPNRS Política Nacional de Resíduos SólidosREEE Reciclagem de Equipamentos Elétricos e EletrônicosRENAI Rede Nacional de Informações Sobre o InvestimentoRoHS Restrição de Uso de Substâncias PerigosasSLR Sistema de Lógica ReversaSRHU Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano

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RESUMO EXECUTIVO

O “Seminário Brasil-Japão sobre Reciclagem de Eletroeletrônicos” ocorreu no Auditório da

Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Brasília, DF, entre os dias 12 e 13 de março de 2013. O

evento foi uma realização da JETRO, JICA, MDIC, com apoio da CNI e organização da DF Eventos. O

número de pessoas inscritas foi 232, com 148 confirmações e 160 pessoas credenciadas. A metodologia

do Seminário incluiu uma mesa de honra de abertura com quatro palestrantes (dois japoneses e dois

brasileiros), um total de 12 palestras (7 brasileiros e 5 japoneses) divididas em 4 blocos, com sessões de

perguntas e respostas seguindo cada bloco de apresentações, e uma sessão de encerramento (ver

programação no Anexo 1).

Objetivo do Seminário:

Promover a interação e cooperação entre os dois países a fim de encontrar soluções para desafios

relativos ao tratamento de resíduos sólidos. Facilitar a troca de informações e conhecimentos técnicos,

legislativos e debater sobre a situação atual em Resíduos Eletroeletrônicos (E-Waste).

Contexto

A Lei nº 12.305 de dois de agosto de 2010, denominada Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),

representa um marco importante na gestão de resíduos sólidos Brasil.

A PNRS determinou que fosse implantado um sistema de logística reversa de resíduos eletroeletrônicos,

entre outros, e a reciclagem como forma de promover o desenvolvimento sustentável, assim como a

responsabilidade compartilhada entre os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes,

consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana, envolvidos com o objetivo de

fortalecer um sistema integrado de gestão e tratamento de resíduos sólidos.

O Japão possui uma vasta experiência na regulação, desenvolvimento tecnológico e promoção industrial

nessa área, que podem ser adaptadas ao Brasil.

Neste contexto, o seminário teve como objetivo apresentar técnicas avançadas japonesas na área de

reciclagens, especialmente de eletroeletrônicos e facilitar o diálogo entre os dois países como primeiro

passo para futuros projetos que inclua cooperação técnica Japonesa e investimento comercial.

Síntese

O Seminário proporcionou uma troca de experiências entre Japão e Brasil. O Japão mostrou como faz o

tratamento de resíduos desse tipo de equipamentos, onde a responsabilidade final da reciclagem é

atribuída ao consumidor. Além disso, o Japão expôs a experiência das Cidades Sustentáveis e o

compromisso do povo japonês com a sustentabilidade. O Brasil mostrou sua Política Nacional de

Resíduos Sólidos (2010), sua ênfase na inclusão social com a participação de cooperativas na coleta e

triagem de resíduos em geral, e o Sistema de Logística Reversa de Eletroeletrônicos. Sessões de

perguntas e respostas após blocos de apresentações permitiram uma rica troca de ideias, visando

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encontrar soluções para superar os desafios no tratamento desses materiais no Brasil, e visando

também incrementar a cooperação já existente entre os dois países.

Na abertura, a secretária Heloisa Menezes (MDIC) exaltou a parceria com os japoneses como uma

cooperação técnica de excelência. “A exigência de tratamento adequado de resíduos se faz cada vez

mais necessária em todos os países do mundo”, disse. O Seminário traz para o Brasil a experiência

consolidada de um país como o Japão, não só na produção de eletroeletrônicos, mas também na sua

reciclagem e destinação. O Brasil tem muito a ganhar com essa parceria.

Por sua vez, Satoshi Murosawa, Representante Chefe da JICA/Brasil, destacou que, acompanhando o

desenvolvimento econômico dos últimos anos, há uma tendência de aumento significativo (de mais de

20% em oito anos) de resíduos sólidos produzidos no Brasil. Segundo Murosawa, “Apesar de seu imenso

território, os aterros das áreas urbanas não serão suficientes para suportar o crescente volume de

resíduos produzidos”. A quantidade reciclada é muito baixa. No Japão, a porcentagem de reciclagem de

resíduos sólidos é de mais de 20%. Para isso foram estabelecidas leis e desenvolvidas várias técnicas de

reciclagem, além de medidas para a redução de produção de resíduos.

O primeiro dia do evento contou com representantes da JICA e da JETRO, parceiras do MDIC na

organização, além de representantes do governo japonês, que explicaram a política de reciclagem do

país. “O Japão tem como meta uma sociedade sustentável, e para isso precisamos reduzir e reciclar

resíduos, especialmente os eletroeletrônicos”, disse Shigeyoshi Sato, representante do Minnitério do

Meio Ambiente no Japão, acrescentando que os resíduos sólidos são o reflexo de uma sociedade.

A redução do consumo, a utilização por longo prazo, o reaproveitamento de materiais e o descarte

definitivo apropriado, aliados à responsabilidade compartilhada sobre a destinação de rejeitos, foram

apontadas por Sato como as principais medidas tomadas para alcançar esse objetivo. A representante

do MMA no Brasil, Zilda Veloso, concordou. “A logística reversa é a materialização da responsabilidade

compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e o poder

público, para recolocar resíduos sólidos na cadeia produtiva”, disse.

A necessidade de conscientizar a população sobre essa questão também foi enfatizada, com a afirmação

de Zilda que “Nenhuma proposta vai funcionar se todos os segmentos da sociedade não receberem

informações suficientes de modo contínuo e apropriado”. O governo brasileiro busca consenso entre os

vários segmentos da sociedade, especialmente a indústria, principal agente de transformação no que se

refere aos custos da redução e reciclagem. A busca de consenso é feita por meio de acordos setoriais,

regulamentos e compromissos públicos para conseguir a responsabilidade compartilhada. Para

implementar o sistema de logística reversa de resíduos eletroeletrônicos, foi criado grupo de trabalho -

GT composto por membros do governo e da iniciativa privada. O Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior (MDIC) coordena os trabalhos desse GT, que elaborou estudo de

viabilidade técnico-econômica. Aliado a isso há um panorama de programas de atração de

investimentos nos estados do Brasil.

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No segundo dia houve a apresentação detalhada de técnicas de reciclagem de eletroeletrônicos no

Japão, de um programa tecnológico ambientalmente correto destinado a esses produtos e a

normatização brasileira aplicável à sua cadeia. Casos de sucesso de iniciativas de reciclagem de resíduos

eletroeletrônicos no Japão (no município de Kitakyushu) e no Brasil (em Sorocaba, SP) foram expostos,

seguidos por debates com a plateia e o encerramento oficial.

Durante os debates, apresentações e também nas considerações finais ficaram claras as diferenças

culturais e tecnológicas existentes entre os dois países, o que inviabiliza soluções simples de

transferência de tecnologia e/ou experiência. O Brasil pode e deve aprender muito com o Japão, no que

se refere à reciclagem de eletroeletrônicos, mas sua trajetória terá que ser diferente, devido às

diferenças culturais e de avanço tecnológico. No Brasil já existem várias iniciativas positivas em

andamento, mas o país ainda tem um longo caminho pela frente, até alcançar níveis de redução e

reciclagem de resíduos comparáveis aos do Japão.

PRIMEIRO DIA - 12 DE MARÇO DE 2013

1.1 . POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LOGÍSTICA REVERSA DE ELETROELETRÔNICOS

Palestrante: Sra. Zilda Maria Faria Veloso, Diretora do Departamento de Ambiente Urbano

(SRHU/MMA).

A apresentação da Sra. Veloso tratou, entre outros temas, de onze princípios da PNRS, entre os quais se

destaca o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor

social, gerador de trabalho e renda e promotor da cidadania. Na gestão e gerenciamento de resíduos

sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização,

reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Após quase duas décadas de esforços, houve a promulgação da Lei Nº 12.305/2010 e do Decreto Nº

7.404/2010, que definem a Logística Reversa e os sistemas operacionais utilizados para implantação da

logística reversa. A Logística Reversa é um instrumento da PNRS caracterizado por um conjunto de

ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição de resíduos sólidos ao setor

empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação

final ambientalmente adequada. O Artigo 15 do Decreto acima mencionado define que os sistemas de

logística reversa serão implementados e operacionalizados por meio de acordos setoriais, que são atos

de natureza contratual, firmados entre o Poder Público e os fabricantes, importadores, distribuidores ou

comerciantes, visando à implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto.

Além dos acordos setoriais, o Decreto contempla também regulamentos expedidos pelo Poder Público

ou termos de compromisso. “Vamos tentar construir vários consensos e vários acordos”, disse a Sra.

Zilda. Há um Comitê Interministerial da PNRS, com a participação de 12 ministérios, com a finalidade de

apoiar a estruturação e implementação da Política. Há também um Comitê Orientador para a

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Implantação de Sistemas de Logística Reversa (CORI), presidido pelo MMA e composto de mais outros

quatro ministérios: MDIC, MAPA, MF, e MS. Finalmente, há um Grupo Técnico de Assessoramento

(GTA), formado por técnicos do CORI, com a incumbência de apreciar tecnicamente os Estudos de

Viabilidade Técnica e Econômica dos sistemas de logística reversa e as minutas dos editais de

chamamento para a elaboração dos acordos setoriais. E Grupos de Trabalhos Temáticos (GTTs), criados

para propor soluções de modelagem e governança para cada uma das cadeias consideradas prioritárias

(eletroeletrônicos e seus componentes, embalagens plásticas de óleos lubrificantes, lâmpadas

fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, embalagens em geral e medicamentos).

Existe a intenção de se firmar acordos setoriais para as demais cadeias com a logística já implementada

antes da aprovação da Lei 12.305/2010 (óleos lubrificantes, pilhas e baterias, pneus e embalagens de

agrotóxicos).

Aterros: somente para os resíduos rejeitados que não possam ser reciclados. A Lei trouxe a noção de

responsabilidade compartilhada, que incide diretamente nos fabricantes. Construir novos hábitos não é

uma tarefa fácil. Princípio de desenvolvimento sustentável, transversal a todas as iniciativas de

produção. O reconhecimento de que um resíduo sólido pode ser bem utilizado, respeitar as diversidades.

Novidades: direito da sociedade ao controle e monitoramento do processo. Se o consumidor não tiver

informações sobre onde ele vai dispor do produto, o sistema não vai funcionar. Entendemos que o

MMA tem essa responsabilidade. Logística reversa: materializar a responsabilidade compartilhada.

Utilizar matéria prima dos produtos. Além de contribuir para que esses produtos possam ser

reaproveitados, estamos desonerando os municípios. Eles nem sempre sabiam como proceder. A

política determinou a responsabilização.

GTTs estabelecidos em maio de 2011. A modalidade de governança foi discutida. Em alguns casos é

governo, e em outros, a iniciativa privada. Houve a aprovação do estudo de viabilidade e a minuta de

edital: Edital de Chamamento para Elaboração de Acordo Setorial. Estamos aguardando propostas até

o final de junho. A análise é feita com base no Edital. Se as propostas não atenderem aos requisitos do

Edital elas podem ser desqualificadas. Os três editais anteriores receberam um número variável (porém

baixo) de propostas. Devemos sentar com os proponentes antes de chegar a uma proposta única. Se

esse texto passa pelo crivo dos proponentes, ele vai para consulta pública. Cabe então ao MMA analisar

a proposta e consolidar, publicando. Visite o site www.sinir.gov.br para mais informações. E-mail:

[email protected] – comitê[email protected]

1.2 . RESÍDUOS SÓLIDOS NO JAPÃO E A POLÍTICA SOBRE A RECICLAGEM

Palestrante: Sr. Shigeyoshi Sato, Representante do Gabinete para a Promoção da Reciclagem do

Ministério do Meio Ambiente do Governo do Japão.

A apresentação do Sr. Sato tratou do Modelo de uma Sociedade Sustentável, que reduza a produção de

resíduos pelo uso/descarte correto e cíclico, diminuindo assim o consumo de recursos naturais e o

impacto sobre o meio ambiente (Lei da Promoção para Sociedade Ecologicamente Sustentável, Artigo 2º

- publicado em junho de 2000 e validado em janeiro de 2001). A Estrutura Legal para uma Sociedade

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Sustentável foi baseada na Lei Básica do Meio Ambiente (agosto de 1994) e no Planejamento Ambiental

(abril de 2012). Em última instância, a Lei de Promoção para uma Sociedade Sustentável trata da

regulamentação específica para cada tipo de resíduo (embalagens, eletrodomésticos, alimentos,

construção, automóveis, e eletroeletrônicos). A Lei prevê o tratamento apropriado de resíduos e

também a promoção da reutilização, com plantas que favoreçam a estrutura e os insumos para a

reciclagem.

Ao apresentar o Histórico da Legislação Sustentável, o Sr. Sato mostrou a evolução das leis desde os

anos 50 (pós-guerra), quando o tratamento de resíduos era por conta da política de saneamento

ambiental, até a atual Era da Gestão de Resíduos Sólidos, com: (1) o desenvolvimento da política do 3R

(Reduzir, Reciclar, Reutilizar); (2) o fortalecimento de medidas para o tratamento de resíduos industriais;

e (3) o fortalecimento da política para combater o abandono ilegal de resíduos. O abandono ilegal de

resíduos causa poluição do meio ambiente, refletindo no cotidiano e na saúde da população. Além da

influência no meio ambiente, o abandono e o tratamento incorreto dos resíduos causam prejuízos

econômicos, degradando terrenos e tornando-os inutilizáveis. Se tratado corretamente, não há

necessidade de recuperar o meio ambiente degradado ou sujo, evitando-se enormes gastos.

Como o Japão combateu o problema dos resíduos?

1900-1954: Era da Lei de Remoção de Resíduos. Municípios ficam obrigados a coletar o lixo em áreas

públicas, levar às áreas designadas e queimar (incineração a céu aberto). Na época, o lixo era composto

basicamente por restos de alimentos (metais, papéis e têxteis eram coletados como objetos de valor).

1954-1970: Era da Lei de Limpeza Pública. Com o objetivo de lidar com o grande aumento de resíduos

sólidos urbanos causados pelo crescimento econômico, porém insuficiente para controlar os resíduos

das atividades econômicas. Nessa época o governo foi requisitado para prover suporte tecnológico e

financeiro aos municípios, ao mesmo tempo em que encorajava o progresso em ciência e tecnologia. Os

municípios ficaram totalmente responsáveis pelo manejo dos resíduos, e as pessoas eram obrigadas a

manter suas casas e instalações limpas. A construção de instalações de incineração foi promovida com

subsídios do Governo, e houve um aumento substancial em termos de % de resíduos plásticos. A

cooperação dos moradores locais foi altamente requisitada.

1970-1990: Era da Lei da Gestão de Resíduos e Limpeza Pública. Em 1970 houve a promulgação da Leide Gestão de Resíduos e Limpeza Pública. Em 1980 a lei foi revista várias vezes, refletindo as exigênciassociais, e em 1990 houve promulgações de leis relacionadas à reciclagem.

O caso da Doença de Minamata é citado para demonstrar que a prevenção custa muito menos. O slidemostra o custo para Controle da Poluição (USD $1.5 milhões) versus o montante total dos danos(incluindo saúde, poluição e setor de pesca – USD $156 milhões). Essa é a denominação dada aoenvenenamento de centenas de pessoas por mercúrio ocorrido na cidade de Minamata, no Japão. ADoença de Minamata é uma síndrome neurológica causada por severos sintomas de envenenamentopor mercúrio. Os sintomas incluem distúrbios sensoriais nas mãos e pés, danos à visão e audição,fraqueza e, em casos extremos, paralisia e morte.

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1990-presente: Era da Reciclagem. As circunstâncias que levaram à promulgação da Lei de Reciclagem(1995) foram, principalmente, a escassez de lixões, a existência de novos e complexos produtos queexigem descarte adequado complexo, e a necessidade de matéria prima. Há uma Lei de Reciclagem paracada tipo de produto (embalagens, eletrodomésticos, automóveis, construção civil, alimentos, emicroeletrônicos domésticos). Os governos municipais e locais se responsabilizam totalmente eaumentam as responsabilidades dos fabricantes para o tratamento desses materiais. Vários slidesmostram que o descarte final vem decrescendo por conta das políticas de reciclagem e diminuição naprodução de resíduos.

O desenvolvimento econômico centralizado na Ásia e o aumento da população causam um grandeaumento na quantidade e variedade de resíduos. No panorama mundial, em 2050 (22.31 bilhões detoneladas) prevemos que a quantidade de resíduos será o dobro de 2010 (10.5 bilhões de toneladas).Porém, com uma legislação adequada, vamos promover o descarte adequado e a reciclagem!

1.3 .LEI DA RECICLAGEM DE ELETRODOMÉSTICOS NO JAPÃO

Palestrante: Sr. Satochi Suenaga, Chefe da Divisão de Equipamentos de Informática e Telecomunicações

do Bureau de Política de Informações Comerciais do Ministério da Indústria e Economia do Japão.

O Sr. Suenaga fez um resumo da Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos (promulgada em junho de 1998,

em vigor a partir de abril de 2011), enfocando sete pontos:

1. Fluxo da disposição do lixo eletrônico antes da Lei da Reciclagem de Eletrodomésticos;

2. Equipamentos sujeitos à Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos;

3. Motivo do recolhimento do custo no momento do descarte do lixo eletrônico;

4. Papel do Descartante;

5. Papel do Varejista;

6. Papel do Fabricante de Eletrodomésticos; e

7. Estrutura da logística e custo de disposição da reciclagem de eletrodomésticos usados.

Os equipamentos sujeitos à Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos são: ar condicionado, aparelhos de

TV, geladeira, freezer, máquina de lavar roupa, secadora, etc. O motivo do recolhimento do custo no

momento do descarte do lixo eletrônico é explicado da seguinte maneira:

Imprevisibilidade do custo de processamento da disposição, no momento da aquisição;

Possibilita o atendimento mesmo no caso da falência do fabricante;

Promove o uso prolongado do produto e redução de resíduos;

Não requer o sistema de reembolso do custo de reciclagem; e

Equiparação do ônus do benefício.

Papel do Descartante: Arca com o custo necessário para a coleta, transporte e reciclagem. Entrega a

varejistas, para que a reciclagem seja realizada de forma segura. Utiliza os eletrodomésticos por longo

prazo e reduz assim o descarte.

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Papel do Varejista: Coleta o eletrodoméstico do descartante e entrega para o fabricante. O aparelho

pode ser um equipamento que o próprio varejista vendeu no passado, ou um equipamento solicitado a

recolher no momento da nova aquisição.

Papel do Fabricante: Promover o desenho ambientalmente correto, considerando o momento do

descarte, além da execução eficiente da reciclagem.

A reciclagem de eletrodomésticos no Japão procura fazer o uso eficiente de recursos naturais limitados.

O custo de processamento de eletrodomésticos usados é arcado por ambas as partes, descartante

(consumidor) e fabricante. Há introdução de produtos recicláveis na produção de novos produtos e há

também o desenvolvimento de tecnologia de reciclagem. A chave é o lixo eletrônico levado ao varejista

ou ponto de coleta designado, chegando devidamente ao fabricante. Isso não existe nem nos EUA. Taxa

de reciclagem do consumidor: é muito mais prático. Se a empresa falir, a taxa ainda é paga pelo

consumidor. Segundo a apresentação do MMA, as responsabilidades são divididas. No Japão, os

consumidores devem pagar pela taxa de descarte, o que promove o uso mais adequado e o cuidado

com o produto. A função dos varejistas: quando o consumidor adquirir um novo produto, ele é isento de

recolher o produto usado. Mas por boa educação ele ainda recolhe. O consumidor/descartante paga

pela reciclagem. Ex: ar condicionado (1.575 yenes). TVs, geladeiras e freezers, máquinas de lavar e

secadoras, tem valores diferentes conforme o tamanho. Há os pontos de coleta, e se o consumidor levar

o produto até os pontos de coleta, ele economiza no valor do transporte. Há um ticket que é colado ao

produto uma vez que o produto é descartado. O próprio consumidor pode acompanhar o destino de seu

produto descartado. O ticket comprova e possibilita esse acompanhamento, porque os dados são

digitalizados. Os fabricantes também podem desmontar os aparelhos. Essa experiência de atuação do

projetista faz com que ele projete melhor. Slide mostra foto de um compressor, mostrando como evitar

o vazamento de CFC durante a desmontagem. “De agora em diante vamos mostrar 3 minutos de vídeo

sobre a reciclagem”, disse o Sr. Suenaga. VÍDEO: mostrando a desmontagem de refrigeradores. Tudo

está sendo moído. Há uma eletrocorrente através de uma peneira vibratória. Mediante essa tecnologia,

é possível obter diversos materiais. Dessa forma, há uma proporção diferente de materiais ferrosos,

plástico, etc. A reciclagem é de materiais domésticos para outros materiais elétricos, ou mesmo outros

tipos de materiais. Somando as despesas das instalações, esse em verde é o que você gastou para a

reciclagem. A lei estabelece que essa atividade não deva gerar lucro. À medida que a parte cor de rosa

diminui, a taxa cobrada do consumidor diminui. No momento não há uma verba destinada às

instalações. O Japão é muito escasso em termos de recursos, ao contrário do Brasil. Tanto o consumidor

quanto o produtor pagam pela reciclagem. Rota entre o vendedor e fabricante. Isso é o que eu

recomendaria aos brasileiros. Endereço dos vídeos:

http://www.aeha.or.jp/assessment/en/english_flame_rp.html

1.4. PERGUNTAS E RESPOSTAS

Pergunta: Essa taxa que é cobrada para descarte de eletrônicos no Japão reduz com o tempo, isto é,

equipamentos mais velhos pagam menos? Como as indústrias fabricantes reagiram a esse incremento

de custo que o consumidor teria para adquirir um novo equipamento? Os valores são iguais para todas

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as marcas? Como se calcularam as parcelas? Os materiais resultantes da reciclagem são vendidos ou

reenviados para onde? O valor pago pelo consumidor é distribuído entre os vários integrantes da

cadeia? Qual é o destino do dinheiro pago pelo consumidor?

Resposta do Sr. Suenaga: Sim, os valores são iguais para todas as marcas. Não há parcelamento da taxa

de reciclagem. O valor pago pelo descarte do equipamento é baseado no tamanho, e não no tempo de

uso. Na verdade as indústrias fabricantes reagiram bem ao incremento de custo, porque a reciclagem

disponibilizou mais acesso à matéria prima. O que geramos de taxa tem que ser reduzido. Não há

diferença para marcas, mas sim em relação ao tamanho. A parte do transporte pode dar um valor de

transporte. A taxa paga pelo consumidor vai para um Fundo que administra esse dinheiro.

Pergunta: No Japão cada empresa teve que criar processos internos e externos para o descarte dos

equipamentos eletroeletrônicos? Como foi? Houve algum modelo para o mercado seguir?

Resposta do Sr. Suenaga: Não houve iniciativa dos fabricantes. Houve pressão sobre os aterros. Houve

uma Lei do MMA. Os aterros não suportariam mais 10 anos de lixo. O país então criou essa Lei. Muitos

fabricantes criaram empresas para utilizar os materiais descartados.

Pergunta dirigida ao Sr. Suenaga: Quais os mecanismos para incentivar o comércio de matéria prima

recuperada (reciclada)? Como “obrigar” a indústria a comprar matéria prima reciclada para produzir

novos produtos?

Resposta: A legislação sobre materiais reciclados não é clara. Cada fabricante vende para a empresa que

utiliza o material. Ex: cobre. Colocamos obrigatoriedade na reciclagem. Aparelhos novos de ar

condicionado têm que ter 70% de material reciclado. Tampa de garrafa Pet pode ser reciclada para fazer

tampa de ar condicionado.

Pergunta dirigida ao Sr. Suenaga: Se no Japão discutiu-se fazer a cobrança da taxa na hora da compra

do material? Assim, quem polui mais tem mais taxa e com isso menor consumo daquele material,

estimulando a produção mais limpa?

Resposta: Para os fabricantes, a lei orienta percentuais de materiais reutilizados. No mundo não há um

movimento para impedir o uso de materiais tóxicos. No Japão, gostaríamos de honrar esse movimento.

Pergunta dirigida a Sra. Veloso: Quais as iniciativas de planejamento e do MMA quanto a problemas

relacionados à conscientização e educação ambiental voltado à logística reversa da PNRS, já que se

admite que o consumidor é fator essencial para o sucesso para a implementação da PNRS e o prazo para

iniciar a coleta seletiva de resíduos sólidos é 2014?

Resposta: Bem, tenho a oportunidade de esclarecer duas coisas: 1) a obrigatoriedade de programas de

educação é de parte de fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores. O governo tem

planejado programas globais educativos e grandes campanhas que estão sendo avaliadas pela Secretaria

de Informação da Presidência da República. Dependem de um custo total que existe na programação do

Executivo do Brasil. Um dos pontos do Edital é que a proposta de acordo setorial apresente como será

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feita a programação de informação com o consumidor. 2) Não há obrigatoriedade direta de coleta

seletiva até 2014. Indiretamente sim, porque há obrigatoriedade de não se depositar rejeitos EE em

lixões, e sim em aterros sanitários. A logística reversa, pela PNRS não tem prazo. A pressa é nossa, do

governo federal, no sentido de dar apoio aos municípios nas tarefas que eles têm de implantar a coleta

seletiva e erradicar os lixões a céu aberto.

Pergunta dirigida a Sra. Veloso: No processo produtivo de EE, em que momento de sua carreira se

vislumbra a obrigatoriedade da presença do elo “descarte” ou destinação sustentável dos resíduos?

Nesta ótica, a aprovação dos PPB de tais produtos não poderia condicionar a implantação de projetos?

Resposta: Entendemos que o momento crucial é o momento do descarte. Eu compro um bem, ou

adquiro de segunda mão, e utilizo. No momento que ele não serve mais para mim é feito o descarte. A

cultura do brasileiro é preservar um bem através do repasse para terceiros ou da revenda a preços mais

baixos (2ª mão). Dificilmente o produto chega a um descarte final como resíduo. Estudo das Nações

Unidas apontando o Brasil como um dos maiores geradores de resíduos EE foi contestado pelo governo

brasileiro. Já fizemos o pedido de correção ao Ministério das Relações Exteriores, porque esse estudo

não levou em consideração a cultura de nosso povo e simplesmente aplicou uma fórmula que é: número

de habitantes - modelo europeu de consumo. Ora, nós não temos os mesmos hábitos dos europeus

com relação à troca e atualização dos nossos eletrodomésticos. Nós tivemos um problema de geladeiras,

por conta das substâncias controladas pelo Protocolo de Montreal, da qual o Brasil é signatário, em que

tivemos toda uma programação de governo para substituição de geladeiras mais um recolhimento das

geladeiras antigas. A pessoa só receberia o benefício se entregasse a geladeira antiga. Temos dificuldade

de implantar esse tipo de programa. Com certeza, a meta do Edital, de 17% em cinco anos é razoável de

cumprimento, tomando em consideração essa realidade brasileira de reutilização de EE.

Pergunta: Nos desdobramentos da PNRS, qual o posicionamento do MMA sobre a inclusão das

cooperativas e associações de catadores no processo de logística reversa de REE?

Resposta: A política nos obriga, ao montarmos as cadeias, a inserirmos cooperativas de catadores

sempre que possível. No caso de EE, nós acreditamos que, em algumas etapas os catadores podem ser

utilizados, e em outras não porque estaremos infringindo a Lei. Uma boa parte dos resíduos

eletroeletrônicos é perigosa, e no Artigo Nº 37 da Lei, vemos uma série de obrigações para geradores e

gerenciadores de resíduos perigosos. Isso tem que ser licenciado ambientalmente. Cadastro de

operadores de resíduos perigosos e procedimentos de licença ambiental conforme o sistema nacional

de meio ambiente prevê. A maioria das associações/cooperativas de catadores não possui os requisitos

necessários. Elas poderiam claramente participar da coleta de resíduos, porém não da reciclagem e

desmonte. Isso se aplica a todos os resíduos perigosos, sujeitos à cadeia de logística reversa. Nas cadeias

de embalagens em geral, que são aquelas embalagens que passam pelas nossas residências, o papel dos

catadores já é historicamente muito importante, no recolhimento e separação.

1.5. ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICO-ECONÔMICA PARA LOGÍSTICA REVERSA DE REE

Page 14: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

14

Palestrante: Sr. Ricardo Gonzaga Martins de Araújo, Especialista em Projetos, Agência Brasileira de

Desenvolvimento Industrial/ABDI

Em sua apresentação, o Sr. Araújo mostrou a perspectiva da Cadeia Produtiva com seus vários

componentes (Unidades de Matérias Primas, Unidades de Produção, Unidades de Consumo, Unidades

de Coleta e Triagem, Unidades de Reciclagem e Unidades de Coprodutos, que, juntamente com fontes

primárias de recursos naturais, alimentam as Unidades de Matérias Primas). Em seguida ele tratou dos

principais fundamentos da modelagem proposta para o estudo:

Alinhamento à PNRS;

Preservação da isonomia competitiva do Setor Eletrônico nacional;

Incorporação de experiências nacionais e internacionais exitosas;

Tratamento diferenciado a equipamentos de pequeno porte e grande porte;

Associação de fabricantes e importadores em uma ou mais organizações gestoras;

Implantação do sistema de fases, priorizando inicialmente regiões com maior densidade de

resíduos;

Articulação intensa com o setor privado para a obtenção de sugestões, dados e informações; e

Simulações de números globais, sem distinção de marcas para fins logísticos. As marcas serão

individualizadas para gestão, controle do sistema e rateio de custos.

A modelagem proposta para o lixo físico passa por seis etapas: (1) transporte até o ponto de

descarte/recebimento; (2) descarte/recebimento e devida armazenagem; (3) transporte até o ponto de

triagem; (4) triagem do resíduo; (5) transporte até o reciclador; e (6) reciclagem do resíduo.

Na Modelagem para a Logística Reversa, na primeira etapa (transporte até o ponto de

descarte/recebimento), para os produtos de pequeno porte, o CONSUMIDOR transporta e entrega seu

REEE na rede de pontos fixos. Para os produtos de maior porte, o CONSUMIDOR entra em contato com

o FABRICANTE ou ORGANIZAÇÃO GESTORA que o represente para solicitar a retirada do produto – a

custo do CONSUMIDOR – em sua casa. Observa-se aí uma tendência de custo zero e um bônus para o

CONSUMIDOR no ato da troca.

Na segunda etapa (recebimento e devida armazenagem), o COMÉRCIO disponibiliza pontos de

descarte/recebimento e fazem a devida armazenagem. Apenas os municípios de grande porte

comporão a rede de pontos fixos de descarte/recebimento. Pontos adicionais, fora do COMÉRCIO,

poderão compor o sistema a critério e custo da ORGANIZAÇÃO GESTORA (Ex: assistências técnicas,

cooperativas, agências de correios, etc.). O CONSUMIDOR com intenção de doar seu eletroeletrônico

para reuso é orientado quanto às possibilidades de fazê-lo.

Na terceira etapa (transporte até o centro de triagem), o COMÉRCIO e ORGANIZAÇÃO GESTORA

realizam esse transporte até o centro de triagem mais próximo. Os custos de transporte poderão der

objeto de tratativas entre comércio e indústria, no estabelecimento do acordo comercial. Os centros de

triagem poderão ser terceirizados pela ORGANIZAÇÃO GESTORA, criando oportunidades de parcerias

com Prefeituras, Cooperativas, Recicladores e outros parceiros para a realização do transporte.

Page 15: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

15

Na quarta etapa (triagem do resíduo), a ORGANIZAÇÃO GESTORA estrutura, coordena e gerencia a rede

de centros de triagem, promove a triagem, armazenamento e despacho do REEE. A ORGANIZAÇÃO

GESTORA pode optar pela instalação de centros de triagem em parceria com outros atores do processo.

No centro de triagem é feita a separação do REEE por tipo de equipamento e contagem por amostragem

para fins de monitoramento do processo.

Na quinta etapa (transporte até o reciclador), a ORGANIZAÇÃO GESTORA recolhe o REEE nos centros de

triagem e transporte para o reciclador com o qual estabeleceu contrato de serviço. A ORGANIZAÇÃO

GESTORA pode receber remuneração pelo RECICLADOR em função do valor do REEE entregue.

Na sexta e última etapa (reciclagem do resíduo), o RECICLADOR realiza a descaracterização de marcas e

dados (quando aplicável), faz a rastreabilidade, recicla o REEE e realiza o balanço de massa, conforme

contrato de serviço estabelecido com a ORGANIZAÇÃO GESTORA. O RECICLADOR repõe o material

reciclado no mercado e dá a devida destinação ao rejeito (cumprindo licenciamento ambiental e normas

técnicas).

A atribuição de responsabilidades aos diferentes agentes, dentro dessa proposta de Modelagem, fica da

seguinte maneira:

Consumidor: Levar seu resíduo EE (de pequeno porte) ao ponto de descarte/recebimento, e solicitar e

arcar com os custos da retirada de seu resíduo EE (de grande porte) de sua casa.

Comércio: Providenciar rede de pontos fixos de descarte/recebimento, segundo premissas de volume a

serem estabelecidas. Receber e armazenar adequadamente os resíduos. Divulgar os pontos de

recebimento, práticas de descarte e alternativas de reuso. Fazer a gestão do volume de resíduos para

devolução ao reciclador. Compartilhar custos de frete primário com a ORGANIZAÇÃO GESTORA. Prover a

retirada gratuita do resíduo EE do consumidor em caso de troca, caso seja do seu interesse. E participar

das campanhas de coleta de REEE em municípios com população abaixo da linha de corte para

estabelecimento de pontos fixos de recebimento.

Fabricante/Importador: Arcar com a parte que lhe cabe dos custos de implantação e operação do

sistema de logística reversa, e habilitar-se como tal ou associar-se a uma ORGANIZAÇÃO GESTORA.

Organização Gestora: A ela cabe o maior volume de responsabilidades:

Compartilhar custos com o Comércio da retirada dos resíduos dos pontos de recebimento;

Fazer a triagem por tipo/porte de equipamento;

Realizar amostragem de REEE por marca para fins de monitoramento de volume de órfãos.

Informação aos órgãos fiscalizadores e compensação de custos com outras Organizações

Gestoras;

Processar 100% dos REEE que entrar em seu sistema;

Gerenciar e custear a logística dos centros de triagem até os recicladores;

Contratar e acompanhar o serviço de reciclagem;

Page 16: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

16

Prover informação e serviço de retirada de REEE ao seu cliente;

Informar fluxo do processo de logística aos órgãos fiscalizadores;

Realizar campanhas de conscientização e de coleta de REEE em municípios com população

abaixo da linha de corte para estabelecimento de pontos fixos de recebimento.

Reciclador: Certificar-se junto aos órgãos fiscalizadores. Realizar a reciclagem e disposição final do

rejeito, conforme contrato estabelecido com Organizações Gestoras. Prover informações de

desempenho do processo, e reintegrar material reciclado ao mercado.

Poder Público: A este cabem as seguintes responsabilidades:

Atribuir e fiscalizar as metas da reciclagem;

Regular e incentivar os recicladores para ganho de desempenho no processo (certificação);

Prover incentivos à fabricação de produtos com maior conteúdo de reciclados, recicláveis e

facilidade de reciclagem, seja no setor EE ou em outros setores;

Lançar editais para o incentivo à pesquisa e desenvolvimento, de forma a promover o

desenvolvimento de conhecimento e tecnologias relacionadas à cadeia da logística reversa de

REEE;

Estudar a criação de mecanismos de compensação dos custos de processamento dos órfãos

realizado pelo sistema;

Prover financiamento para infraestrutura de recicladoras e outros atores do sistema;

Promover a conscientização sobre o tema; e

Articular comitê de acompanhamento da implantação do sistema.

Premissas: Em 2013, apenas os municípios com população acima de 200 mil habitantes comporão o

sistema. Esse número ai evoluindo até atingir um mínimo de 30 mil habitantes em 2017. Em termos de

número de municípios, isto se traduz de 134 (2013) para 1.058 (2017). Isto representa 2,4% dos

municípios com cobertura do sistema de coleta fixos (2013), até 100% (2017).

Resultados esperados: Redução de impactos ambientais; geração de empregos e maior formalização do

setor de reciclagem; geração de renda com a reinserção de matérias primas e remuneração de

atividades na cadeia produtiva; e elevação da imagem do setor EE junto à sociedade e rejeição de

práticas danosas.

Estimativa de ganhos com o Sistema de Lógica Reversa (SLR): O último slide apresentado pelo Sr.

Araújo mostra as oportunidades e os potenciais de geração de renda pelo SLR:

Oportunidades Potenciais de Geração de Renda pelo SLR

Matérias Primas 800 mil toneladas (alumínio, aço, cobre, plástico e vidro.

Valor das Matérias Primas R$ 700 milhões

Geração de Empregos 10 a 15 mil (até a fase de entrega ao reciclador)

Mitigação de GEE 268 mil toneladas (alumínio, aço e vidro)

Page 17: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

17

Esse estudo de viabilidade é fruto da interação do GTT, conduzido a diversas mãos. Pelo SLR, após o

consumo a matéria prima pode voltar à cadeia produtiva. O que não pode ser reaproveitado? Vamos

fazer o descarte correto, como por ex: aterro sanitário. A modelagem vai respeitar a competitividade. A

proposta consultou experiências de vários países. Tratamento diferenciado para aparelhos de diferentes

portes. Criamos uma organização gestora, que vai tomar conta do dinheiro, operacionalizar a lógica

reversa. No Brasil o custo é arcado principalmente por quem produz, com um pequeno repasse para o

varejista. Indiretamente, o custo é repassado ao consumidor. Daí, a livre iniciativa e a concorrência. O

sistema será implantado em fases. À medida que o Brasil for amadurecendo, novas fases serão

implementadas. A proposta é não excluir ninguém, inclusive catadores. Com os cuidados do descarte e

desmonte de resíduos perigosos. Vamos individualizar por marca, e assim o produtor vai pagar

proporcionalmente ao que produziu. Temos resíduos EE, logística primária e secundária. À medida que

os brasileiros valorizarem a reciclagem, pode ser que as empresas se interessem em levar os produtos

descartados. O processo será lento e progressivo, principalmente nos lugares mais isolados. Quem

banca a organização gestora é a indústria. O centro de triagem vai desmontar. Cada fabricante vai pagar

pelo que fabricou. Problema do produto que vai entrar no Brasil do tipo “órfão”. O centro de triagem

não vai desmontar 100% do produto. O que não for desmontado vai para algum centro de descarte.

Cada órgão foi responsabilizado por alguma coisa. Quantos pontos de recebimento: ver gráfico. Ao final

de 2020: 6.500. 269 centros de triagem (meta). Começamos com 34. São Paulo terá uns 20 centros de

triagem. Número de toneladas que vai adentrar o sistema? 5.578.000 toneladas. Custo? Quem banca?

Unidade gestora, financiada pelas indústrias. Esperamos que a sociedade dê mais valor às marcas que

deem importância à logística reversa.

1.6. PANORAMA DE PROGRAMAS DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS DOS ESTADOS DO BRASIL

Palestrante: Sr. Eduardo André de Brito Celino, Coordenador Geral de Investimentos da Rede Nacional

de Informações Sobre o Investimento/RENAI/MDIC

A apresentação do Sr. Celino teve o objetivo de explicar o que é a RENAI: um sistema de informação

sobre investimentos diretos no Brasil, coordenada pelo MDIC. A RENAI busca disseminar ao máximo as

informações a diferentes investidores, e possui uma rede de parcerias com órgãos pertinentes, na área

tributária, legislativa, etc. A RENAI mantém interação constante com diversos setores e outros

ministérios, buscando as informações para investidores. Na parte de facilitação, a RENAI desempenha

funções de monitoramento e propõe ações e projetos para aumentar investimentos públicos e privados.

A organização trabalha com órgãos federais e estaduais, e participa de fóruns internacionais,

principalmente no Japão. A RENAI atua como um formulador de políticas públicas, procurando

identificar possíveis parceiros. Isso será cada vez mais intensificado em nossas atividades.

A RENAI produz um relatório sistemático dos investimentos no Brasil, para facilitar o processo de

decisão dos investidores, definindo quais as regras devem ser respeitadas. Os anúncios de investimentos

constituem a base de dados mais investigada, mostrando o volume de investimento. Mobilização da

imprensa. Website: [email protected] parte de identificar o que está sendo priorizado pelos diferentes

estados. Assistência proporcionada por meio de treinamentos. Quais incentivos os diferentes estados

Page 18: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

18

estão oferecendo para diferentes tipos de investimento, respeitando questões de sigilo e de momento

adequado para anunciar. Vamos trazer para a nova versão do website uma ferramenta de geo-

referenciamento. A consulta poderá ser feita de várias formas, com vários filtros, conectando isso com a

infraestrutura e logística das cidades. Da nossa base de dados fazemos algumas estatísticas, que são

bastante consultadas. Com a implementação da PNRS, a estruturação de informação é muito

importante. Estamos montando um catálogo, com panorama geral sobre setores mais emergentes, de

forma estruturada e compreensível. Mostrar a dinâmica desses processos nos estados. Os Estados

buscam ampliar esse trabalho em rede com os municípios. Slide mostra o que cada estado tem feito.

Vamos atualizar essas informações de forma permanente. Queremos dar visibilidade ao nosso trabalho.

1.7. PERGUNTAS E RESPOSTAS

Pergunta dirigida ao Sr. Celino: Não é o caso de nivelar os impostos, para que haja atratividade da

indústria pelas competências de cada Estado, por sermos uma Federação? Quem será o gestor desse

processo?

Resposta: Sem dúvida alguma, a questão da equalização tributária é um assunto de extrema

importância nesse momento. Estão sendo discutidas políticas no Congresso relativas ao ICMS e esse

tema será objeto de mudanças nos próximos meses, envolvendo uma audiência pública no Congresso

com o objetivo de discutir essas políticas. Devido à própria complexidade do tema, a tendência é

caminharmos, senão para uma solução plena, para um aprimoramento do arcabouço tributário nacional,

de forma a que se evite uma política predatória entre os Estados nessa linha. Para o desenvolvimento

do setor, o aspecto tributário não é o único, mas é muito importante. Nas discussões com os outros

ministérios, buscamos pensar nas medidas que são fundamentais para incrementar os investimentos

nessa área no país e, portanto, estamos abertos a sugestões. Queremos colocar isso de uma forma

bastante consistente nos diálogos que estão sendo mantidos com outros ministérios afetos a essa área.

Pergunta dirigida ao Sr. Celino: Um dos pontos cruciais levantados em todos os debates sobre Logística

Reversa (não só sobre REE) é a desoneração da cadeia de reciclagem. O MDIC/RENAI está discutindo

esse tema?

Resposta: Reforçando o que eu havia dito, nós recebemos esses elementos e damos extrema

importância para isso. Especificamente, o MDIC coordena um grupo de trabalho de desoneração da

cadeia. Inclusive, na nossa própria diretoria do Departamento de Competitividade Industrial, receber

esses elementos será fundamental para que haja uma melhor qualidade nas políticas que estão sendo

gestadas.

Pergunta dirigida ao Sr. Araújo: Partindo do modelo apresentado, haverá desoneração (corte de

impostos no processo de logística reversa) para a indústria? Nesse caso, a indústria repassará esse corte

ao consumidor final?

Resposta: Há uma série de órgãos envolvidos nessa desoneração da cadeia produtiva. Não sei como vai

ser para que a indústria repasse ao consumidor final o custo que ela vai ter da logística reversa. Isto não

Page 19: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

19

está claro. O preço de um produto depende do mercado, e não do custo de produção. Se a cadeia de

logística reversa vai ficar mais barata para indústria, há situações distintas. Ela pode ficar mais

competitiva, abaixar o preço e aumentar o volume de venda. São coisas distintas. Como é que você

repassa o custo de uma coisa para outra coisa, se elas não estão diretamente vinculadas? Não existe

uma regra dizendo que se algo custa R$ 0,20 para produzir, eu devo vender por R$ 0,50. Se o mercado

estiver disposto a pagar R$1,50, eu posso vender por R$1,50 ou R$1,40 e quero vender mais. O custo de

venda e o custo de produção não estão vinculados.

Pergunta dirigida ao Sr. Araújo: Qual a base de dados utilizada para definir o número de recicladores?

Como você separa a triagem e o reciclador?

Resposta: Triagem: seriam os centros que temos hoje, para onde todos os materiais da logística reversa

serão encaminhados, para serem catalogados (ou seja, a quem pertence, qual vai ser o rateio das

despesas) e quem é que vai ser responsável pela desmontagem. Reciclador: vai pegar os materiais

produzidos pela desmontagem, separar, processar e reconduzir ao processo produtivo. O que não for

reutilizável será conduzido à destinação final apropriada, por exemplo, aterro sanitário. Quanto à base

de dados para definir o número de recicladoras. Existe uma planilha que explica isso. Essa planilha pode

ser mudada de acordo com as premissas. As premissas básicas que foram utilizadas para elaborar a

planilha foram custo médio de transporte dos centros de triagem, oportunidades de emprego e o

volume de REE que estará sendo levada para aquela região. Custo da ordem de R$ 515 milhões, e uma

recuperação de R$700 milhões. O valor que está na planilha do reciclador já inclui o desconto do que ele

conseguiu vender de produto. Cada operação representa o que o reciclador recuperou de dinheiro

menos o que foi pago por todo pacote da logística (transporte, energia elétrica, operários, etc.). O custo

seria de R$1 bilhão e 230 milhões, se não tivéssemos vendendo matéria prima.

Pergunta dirigida ao Sr. Araújo: Embutir a taxa de reciclagem no preço de venda dos produtos

eletroeletrônicos não agravaria a reputação negativa que o mercado brasileiro tem com relação à falta

de clareza da composição do preço final dos produtos? Além de comprometer a confiabilidade do

sistema de reciclagem?

Resposta: Já respondi. Preço final e custo não têm relação direta. Quem tem relação direta com o preço

é o mercado. E com o custo é sua tecnologia de fabricação. Se eu tenho uma boa tecnologia de

fabricação, eu fabrico a um custo baixo. Se o mercado está disposto a pagar R$500,00 por um produto

que eu consigo fabricar por R$100,00, eu vou continuar vendendo a R$500,00, ou posso optar por

abaixar o preço para R$450,00 se eu quiser aumentar mercado. Ainda assim, uma coisa é desvinculada

da outra. Custo e preço não possuem uma relação biunívoca.

Pergunta dirigida ao Sr. Araújo: Por que razão a indústria e o comércio terão que arcar com o custo da

reciclagem de produtos órfãos, se não foi eles que colocaram esses produtos no mercado? Não seria o

caso do governo participar do custeio dessa despesa?

Resposta: Porque não achamos ninguém que quer pagar por esses custos. Infelizmente não existe

nenhum mecanismo legal que permita ao governo arcar com esse custo.

Page 20: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

20

Pergunta dirigida ao Sr. Araújo: Esse estudo verificou, a nível nacional, a situação atual dos recicladores

quanto ao cumprimento da legislação? Ex: licenças ambientais, alvarás e outros documentos necessários

para a atividade de reciclagem?

Resposta: A gente foi a muitos recicladores, às cooperativas de catadores, conversamos com um monte

de gente. Agora, saber sobre o cumprimento da legislação pelas cooperativas e associações não fez

parte do estudo. Isso caberá a cada Estado e cada município, que vai ter a função de cobrar as

regulamentações necessárias, providenciar treinamentos, etc. Não dá para fazer uma coisa dessas com

abrangência nacional.

Pergunta dirigida ao Sr. Araújo: No estudo apresentado, foi observada a deliberação CORI/MMA Nº 2,

que trata do impacto nas micro e pequenas empresas?

Resposta: Foi. Nós estamos incluindo catadores, os pequenos recicladores, etc. Ninguém foi excluído do

estudo. Os catadores vão se juntar e levar os produtos para o centro de triagem. Provavelmente o

centro de triagem pagará ao catador o custo de transporte. As micro e pequenas empresas podem

participar de forma equânime nessa logística reversa.

SEGUNDO DIA - 13 DE MARÇO DE 2013

2.1. TÉCNICAS DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NO JAPÃO 1

(COLETA, GESTÃO, DESMANCHE E RECICLAGEM)

Palestrante: Sr. Noriyuki Sato, Chefe da Divisão de Reciclagem de Metais da DOWA ECO-SYSTEMS Co.,

Ltd.

Sr. Sato explica a agenda da DOWA, com informações sobre a empresa e seus empreendimentos no

Japão e no Exterior. A DOWA iniciou seus negócios em 1884, foi fundada em 1037, possui um capital de

¥36,4 bilhões (2012) e tem aproximadamente 5.000 funcionários. A DOWA trabalha com cinco negócios

principais: (1) Meio Ambiente e Reciclagem; (2) Refino; (3) Materiais Eletrônicos; (4) Processamento de

Metais; e (5) Tratamento Térmico. Mineração é a parte principal de nossa empresa. Fazemos a parte de

tratamento, resíduos, solos e devolvemos estes materiais para o ciclo de produção. Incineração para

eliminar parte desses resíduos. Começamos com esse tipo de trabalho e somos a primeira empresa

certificada para esse tipo de reciclagem. Fazemos a descontaminação dos solos e o controle adequado

dos produtos perigosos. A imagem está pequena, mas fazemos tratamento de solo, reciclagem,

tratamento de resíduos. No norte e nordeste do Japão temos uma planta de reciclagem e em outros

municípios (4 regiões principais do Japão). Trabalhamos no sudeste da Ásia e na China. Também em

Nova Iorque.

Características dos Negócios Ambientais da DOWA:

Ser fabricante de materiais e fazer negócios com grandes fabricantes do setor industrial;

Page 21: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

21

Ter a mineração e o refino na veia, com controle adequado e eliminação de danos de materiais

tóxicos desde a entrada até o controle permanente; e

Na realidade, temos uma tecnologia extremamente adequada para negócios ambientais.

Sr. Sato enfatiza o rápido aumento de demanda mundial devido ao rápido crescimento dos países

emergentes, com competição para garantir minérios e sucatas e instabilidade no fornecimento de

matérias primas. Daí a importância de garantir a “estabilidade” dos recursos metálicos advindos da

reciclagem. Com a constatação da situação atual e a tendência à dificuldade de garantia de recursos, foi

promulgada em agosto de 2012 a Legislação para a promoção da reciclagem de pequenos aparelhos

eletrônicos usados, a entrar em vigor em 1º de abril de 2013. Isto conduzirá o Japão à reciclagem de

metais a partir de resíduos domésticos comuns, que antes eram descartados como rejeitos.

Sr. Sato cita a realização do estudo sobre a situação de descarte dos aparelhos EE de pequeno porte,

iniciado na cidade de Odate, província de Akita, em dezembro de 2008, com a colaboração da JOGMEC,

METI, província de Akita, cidade de Odate, e DOWA Eco-Systems. Foram estudados os tipos de

aparelhos, anos até o descarte, situação de estoque sem uso, para serem utilizados como dados para

projetos futuros.

Sobre a importação de sucatas para o Japão, a DOWA importa mais de 1.000t/mês em placas eletrônicas

descartadas. No caso de importação de placas eletrônicas descartadas de países não membros da

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), há necessidade de solicitação

com base na Convenção de Basileia, que trata da regulamentação da movimentação de resíduos tóxicos

entre países e sua disposição, em vigor desde maio de 1992 (as placas eletrônicas contêm chumbo, que

é uma sustância objeto da Convenção).

Há uma expectativa de aumento da exportação de placas eletrônicas descartadas no Brasil para o Japão,

porque está quase em implementação a agilização dos procedimentos segundo a Convenção da Basileia,

com a cooperação do MOE e METI. As plantas de purificação do Japão podem controlar tanto a garantia

de recursos quanto à toxicidade. Para obter mais informações, favor visitar o website:

http://www.dowa-eco.jp

2.2. TÉCNICAS DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NO JAPÃO 2

(SEPARAÇÃO DE MATERIAIS, RECUPERAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS, RECICLAGEM)

Palestrante: Sr. Yasuo Tsuchida, Saimu Corporation e Universidade Kinki – Departamento de Ciência e

Engenharia Industrial.

A apresentação do Sr. Tsuchida tratou da tecnologia de reciclagem de plásticos e do triturador de

resíduos eletrodomésticos, com foco no método sensível de espectroscopia Raman de alta precisão. Ele

menciona que, dentro do plano de reciclagem de eletrodomésticos, há um total de 47 plantas em

operação no Japão, divididas em dois grupos (A: 21 empresas e 32 plantas; e B: 23 empresas e 16

plantas).

Page 22: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

22

Antes da utilização do método de espectroscopia Raman, a separação dos resíduos era manual,

portanto sujeita a avaliações incorretas, de baixa produtividade (70kg/dia/homem) e com danos à saúde.

A partir da seleção pela espectroscopia Raman, o volume de produção aumentou para 400-

1.000kg/hora. Essa tecnologia foi criada a partir da necessidade de alta velocidade e exatidão na

“identificação”, e é capaz de determinar as estruturas moleculares dos componentes.

Características da Técnica de Espectroscopia Raman:

Selecionam independentemente da condição apresentada pelos resíduos plásticos, como

presença de água, sujeira, dobras, etc.;

Seleciona de forma simples e fácil, sem interferência das cores dos resíduos plásticos (preto,

transparente, etc.);

Identifica a estrutura molecular, sem entrar em contato; realiza uma seleção com alta exatidão e

velocidade.

Identifica os aditivos contidos nos resíduos plásticos.

O resíduo plástico é um grande negócio com alto valor agregado (aproveitamento eficiente de recursos).

Em 2008, com apoio do governo, foi construída a planta piloto que utiliza o sensor Raman, iniciando-se a

pesquisa e desenvolvimento para sua operação. Em 2012 houve o desenvolvimento do sensor Raman

com alto nível de funcionalidade. Esse foi um projeto delegado pelo Ministério da Economia, Indústria e

Comércio.

Componentes Tecnológicos da Coleta Seletiva Avançada de Plásticos;

Pré-tratamento: eliminação de metais e componentes bromados e eliminação da pasta pelo

equipamento próprio;

Seleção por peso específico: purificação PP, PS e ABS em alto grau;

Sensor Raman: recuperação de PP, PS e ABS em nível de ultra pureza.

O material produzido é utilizado para reciclagem avançada de materiais, podendo ser transformado em

brinquedos, produtos de uso diário, plantas e materiais agrícolas, árvores artificiais dos parques e ruas,

peças internas e revestimento externo de novos eletrodomésticos, e equipamentos de automação de

escritórios.

O que nós visamos é uma cadeia de reciclagem onde os produtos retornam à cadeia produtiva original.

Afinal, isso dá lucro? Depende no numero de toneladas. Usamos o sensor Raman para separação de

plásticos. Raman veio da Índia. O lucro depende do volume.

2.3. PERGUNTAS E RESPOSTAS

Pergunta dirigida ao Sr. Tsuchida: Existe algum estudo comparativo sobre custo/benefício que indique

claramente quando recuperar a resina e quando queimar para gerar energia em misturas de sucatas de

plásticos? Com a tecnologia Raman.

Page 23: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

23

Resposta: Não existe um estudo nosso, mas existe uma associação de eletrodomésticos – Life Cicle

Assessments/LCA que fez estudos desse tipo. Não temos o material aqui. Mas pensando no ciclo de vida

do material, se você pode aumentar esse ciclo de vida se reciclar e reutilizar, como no caso dos plásticos,

onde o ciclo de vida pode ser aumentado em uma ou duas gerações (entre 30 e 40 anos). No caso do

petróleo, você vai utilizar só uma vez. Em termos energéticos, temos que pensar no aquecimento global,

que seria uma desvantagem. No Japão, nós temos sempre que separar e fazer uma reutilização.

Pergunta dirigida ao Sr. Sato: Considerando os custos de implantação da planta de reciclagem e a

escala/produção de resíduos EE, o interesse da DOWA é somente importar/receber resíduos ou

implantar uma planta no Brasil também seria interessante?

Resposta: Se isso não fosse oneroso para a empresa, acredito que existe uma grande possibilidade de

iniciarmos uma planta aqui no Brasil. Contudo, agora, nós não temos o conhecimento suficiente. Num

primeiro momento, falando sinceramente, nosso desejo é o de receber as sucatas do Brasil lá no Japão.

Pergunta dirigida ao Sr. Tsuchida: Qual o impacto nos custos finais do produto reciclado, das soluções

de tratamento, controle e destinação final dos rejeitos da reciclagem?

Resposta: A questão de exportar o resíduo, isto está contra a Convenção de Basileia. Com relação à

transferência de produtos tóxicos, isto é severamente controlado.

2.4. EDITAL DE LOGÍSTICA REVERSA DE REE

Palestrante: Sra. Beatriz Martins Carneiro, Coordenadora Geral de Análise da Sustentabilidade e

Desenvolvimento Sustentável, Departamento de Competitividade Industrial, Secretaria de

Desenvolvimento da Produção/MDIC.

A palestra da Sra. Carneiro enfocou no Edital que foi publicado em 13 de fevereiro de 2012. Ele prevê

algumas metas para 2018: (1) atingir 100% dos resíduos nos municípios com mais de 80 mil habitantes;

e (2) em cada cidade atendida pela logística reversa em caráter permanente, haverá pelo menos um

ponto de recolhimento para cada 25 mil habitantes. Essas metas serão revistas em cinco anos. Meta:

1058 municípios. Acordo setorial determinado pelo MMA.

A Sra. Carneiro explica que o GTT Eletroeletrônicos foi instalado em maio de 2011, sob a coordenação

do MDIC. Até outubro de 2012 esse grupo se reuniu 11 vezes, e elaborou as bases do Estudo de

Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE), dentro dos princípios da logística reversa. Os custos do EVTE

estão estimados em R$218 milhões em 2013, com previsão de chegarem a R$515 milhões em 2020.

Desafios:

Responsabilidade e forma de custeio dos órfãos;

Bem descartado, sem manuseio, ter procedimento de gerenciamento simplificado;

Modelo de rateio das despesas entre os fabricantes e o comércio;

Promoção da adesão dos consumidores ao sistema; e

Page 24: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

24

Viabilização do reuso.

Benefícios:

Ganhos ambientais, evitando a disposição incorreta dos resíduos;

Melhoria das condições de trabalho e renda do setor de reciclagem;

Consolidação da imagem do setor EEE como exemplo de logística reversa nos planos nacional e

internacional; e

Integração produtiva entre o setor EEE e a indústria de reciclagem brasileira.

2.5. PROGRAMA TECNOLÓGICO PARA PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS AMBIENTALMENTE

CORRETOS

Palestrante: Sr. Marcos Pimentel, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer/CTI

O CTI tem sede em Campinas, SP, e faz parte do MCTI. Trabalha com hardware, software, e aplicações

de Tecnologia da Informação. O grande problema ambiental dos eletroeletrônicos resume-se na

seguinte equação: consumo ilimitado + recursos limitados = sistema em crise. O desafio maior é a

mudança no modelo industrial, com a criação de novos processos para agregar valor aos produtos na

cadeia produtiva brasileira. O ciclo de vida de EE começa na extração desses produtos na natureza até

seu descarte. Os resíduos são perigosos. Para solucionar o problema, falta a parte da reciclagem. Fica

apenas o rejeito. Para fazer a reciclagem precisamos de tecnologia, desde a coleta, desmontagem,

reciclagem com aplicação físico-química, e finalmente o descarte. No mundo, há uma estimativa de

produção de 50 milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos, que representam 5% de todo lixo

produzido no planeta.

Há três aspectos ambientais relevantes no ciclo de vida de eletroeletrônicos:

1. Avaliação do ciclo de vida e desenho ecológico/ambientalmente correto;

2. Produção/manufatura limpa. RoHS (Restrição de Uso de Substâncias Perigosas) limitar ou proibir

substâncias específicas - chumbo, cádmio, bifenil polibromados (PBB), mercúrio, cromo

hexavalente, éter difenil polibromados e (PBDE) retardantes de chama - em equipamentos

eletrônicos e elétricos novos; e

3. Gestão dos resíduos. O Japão começou seu programa de coleta e reciclagem em 1995, e o Brasil

somente em 2010. O Brasil segue as diretrizes da União Europeia.

MCTI/CTI: Desenvolveu o programa Ambientronic para a produção ambientalmente adequada de

produtos eletrônicos. Objetivos:

Contribuir para a integração de diferentes atores (governo, universidades/centros de pesquisa e

indústria) para apoiar a sustentabilidade do setor eletrônico;

Page 25: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

25

Apoiar a adequação da indústria brasileira de eletrônicos à legislação nacional e internacional,

aos padrões e outros requisitos básicos (eco design, produção limpa e reciclagem);

Criar a infraestrutura necessária para o desenvolvimento de tecnologias conscientes,

ambientalmente, a fim de preencher as necessidades brasileiras por tecnologias sustentáveis

(inovação, qualificação e gestão); e

Apoiar o desenvolvimento de empreendimentos sociais, criação de empregos e inclusão social,

associados ao ciclo de vida dos equipamentos eletrônicos.

O programa Ambientronic atualmente conta com a participação de 60 companhias, e já publicou seis

padrões de qualidade. As fontes de financiamento são o Programa Brasil Sustentável da FINEP, o

FUNTEC/BNDES, e a FBB. Os cinco laboratórios RoHS estão localizados no Amazonas, São Paulo (2), Rio

de Janeiro e Rio Grande do Sul. O programa está aberto à colaboração de projetos nacionais e

internacionais.

Procuramos adequar as empresas brasileiras às normas e diretrizes vigentes, tanto a nível nacional

como internacional. O Brasil deve entrar no mapa, criar infraestrutura, laboratórios, etc. PNRS: apoiar as

cooperativas. Sobre análise de tecnologias limpas, o primeiro evento foi em 2008 em SP. Em 2011 –

encontro em Fortaleza. O que o Brasil tem pensado? Eco design – A CTI tem um piloto, em colaboração

com o Ministério do Comércio para ganhar mercado com selos (“beija-flor”). O Ministério do Comércio

nos convidou para parceria e selo para eletrodomésticos. A partir de 2014 as empresas devem se

adequar às diretrizes. Desenvolvemos outro projeto sobre placas eletrônicas, com recuperação de

metais valiosos. MCTI apoia políticas e está aberto a cooperações nacionais e internacionais. Brasil

trabalha fortemente com produtos renováveis. Desde 2010 houve um crescimento de consumo da

tecnologia branca (geladeiras, máquinas de lavar, TVs, etc.). Nossa cultura é diferente, mas temos

interesse nas tecnologias ambientalmente corretas.

2.6. NORMATIZAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL À CADEIA REVERSA DE ELETROELETRÔNICOS

Palestrante: Sr. José Rocha Andrade da Silva, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer/CTI

As novas tecnologias que estão surgindo no Brasil precisam de monitoramento e controle para separar

quem está reciclando de maneira correta. Como separar o sucateiro do coletador? Deve haver uma

exigência com normas e requisitos mínimos. A implantação dessas normas é responsabilidade da

Associação Brasileira de Normas Técnicas/ABNT. Há um Comitê Técnico para normatizar a produção de

produtos EE: CT 111, espelho da Comissão internacional de Eletrotécnicos/IEC – que é a organização

mundial responsável pela preparação e publicação dos padrões internacionais para todas as tecnologias

relacionadas a produtos elétricos e eletrônicos. A decisão da lei é governamental. CT 111 visa

nacionalizar as normas dentro do país. No Brasil há demandas específicas, diferentes das normas

internacionais.

Projetos em andamento:

Page 26: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

26

Padrões para a determinação dos níveis de substâncias RoHS em equipamentos elétricos e

eletrônicos;

Diretrizes para fornecer informação sobre o fim de vida de um produto, necessário para calcular

a taxa de reciclagem dos equipamentos EE.

Essa norma é brasileira, mas é uma demanda do próprio governo, para garantir a reciclagem correta.

Essa norma teve por motivação a necessidade de separar os verdadeiros recicladores. Os fundamentos

dos requisitos brasileiros para reciclagem de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos apoia-se

em 4 pilares:

1. Preocupação com a proteção do meio ambiente;

2. Segurança dos trabalhadores;

3. Rastreabilidade dos resíduos; e

4. Segurança e marca do produto.

O futuro da comissão é apoiar esse selo reconhecido internacionalmente. Esse selo deve ter uma

representatividade: base de dados para avaliação de ciclo de vida de produtos EE deve ser regional. Essa

base de dados ambientais ainda não existe, e estamos apoiando sua construção. Há também a

necessidade de treinamento e capacitação de mão de obra. Outro trabalho é buscar apoiar outros

países da América Latina para que esse conhecimento seja repassado. Há duas comissões regionais, o

COPAN e o Mercosul.

2.7. PERGUNTAS E RESPOSTAS

Pergunta dirigida ao Sr. Pimentel: Já há iniciativas do governo do Estado do Rio de Janeiro que

necessitam ser mais bem estruturadas e complementadas. Como formalizar a cooperação para

implementação de piloto para gestão de resíduos EE com cooperativas?

Resposta: Essa parte de inclusão das cooperativas no ciclo reverso de eletroeletrônicos existe várias

iniciativas, e por acaso nós estamos em um processo configurado com a Prefeitura de Osasco. A USP em

São Paulo tem várias iniciativas e vários cursos, e recentemente estamos estruturando um curso mais

específico para isso. Mas o projeto se baseia em um modelo de negócio com três ações: uma ação da

Prefeitura, recrutando e selecionando as cooperativas que já estão um pouco maduras para essa ação;

uma ação de uma Organização Não Governamental (ONG) que tem muita experiência em estruturar um

modelo de negócio para cooperativas; e uma ação de assistência técnica da CTI para o treinamento

dessas pessoas. Temos também estrutura financiamento com apoio o Banco do Brasil, que ainda não

está aprovado, mas que tem recursos para isso. O MCTI tem uma Secretaria de Inclusão Social chamada

SESIS, que também pode apoiar essa ação. Enfim, é um modelo que inclui governo, Prefeitura, ONGs, de

tal maneira para capacitar essas empresas. Podem nos procurar para tentar montar um projeto.

Pergunta dirigida ao Sr. Pimentel: Como você “desenha” o papel da cooperativa na logística reversa de

REEE e nas questões de licenças?

Page 27: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

27

Resposta: Esse é um problema que a Dra. Zilda já levantou ontem. Existem restrições ambientais para

fazer o manejo de eletroeletrônicos. A princípio, as empresas que trabalharem com EE devem ter licença

ambiental. E existe uma dificuldade das cooperativas em conseguir isso. Na verdade, o trabalho que nós

estamos fazendo não é com catadores individuais. Estamos trabalhando com empreendimentos sociais

que possuem uma pessoa física de jurídica por trás, e pessoas treinadas para isso. Como governo, vemos

que é vantagem utilizar as cooperativas para maximizar a coleta. A cooperativa, provavelmente, vai

coletar resíduos em locais onde as empresas não têm acesso. Utilizar as cooperativas como um ponto de

coleta dos EE potencializa e maximiza a coleta, e isso é interessante para o país. Agora, isto tem que ser

feito de uma maneira correta. As cooperativas vão ter que atender as normas, atender ao licenciamento

ambiental para isso. Então, provavelmente só vão poder participar cooperativas um pouco mais

maduras, mais estruturadas, e com o apoio tecnológico dos centros de pesquisa. Outra coisa, essa é

uma diferença bem interessante da PNRS, que coloca a inclusão dos catadores uma recomendação

muito forte, quase uma obrigação. Apesar de ser um desafio, e não ter uma solução muito clara de

como fazer isso, a gente tem feito um esforço para tornar as cooperativas competentes para entrar

nesse sistema.

Pergunta dirigida ao Sr. Pimentel: Nos projetos em que são envolvidas cooperativas no processo de

triagem e separação de materiais recicláveis, quais são os critérios para selecioná-los? Como é realizada

a remuneração para os trabalhos realizados?

Resposta: Essa parte de triagem das cooperativas e pagamentos é um trabalho que fica mais com a

Prefeitura local. Pelo menos com as Prefeituras que temos trabalhado, elas possuem experiência de

criar cooperativas na parte alimentícia ou de manufatura de roupas, então a gente tem deixado essa

parte de triagem com as Prefeituras. Da nossa parte, é que os requisitos é que os componentes das

cooperativas têm que ter uma consciência ambiental. Portanto, a gente tem uma consciência muito

clara de pessoas que sabem ler e escrever, para que elas possam ser treinadas e elas vão ser treinadas e

capacitadas para entender o que são eletroeletrônicos. Esse é um desafio que estamos enfrentando. A

remuneração é de cooperativa. As cooperativas de sucesso sempre tem por trás uma entidade que

apoia a gestão, a qual tem que ser muito bem estruturada.

Esclarecimento geral oferecido pela Sra. Carneiro: Na verdade, no Brasil, nós não temos dados efetivos

de resíduos. Como eu falei, os estudos técnicos de viabilidade técnica e econômica são baseados em

dados secundários, de produção, de população e de consumo de energia. Aquilo é uma modelagem que

foi feita, que não responde às questões que foram aqui colocadas. Quando o sistema começar a operar

é que vamos ter essas respostas.

Pergunta dirigida a Sra. Carneiro: Considerando que na fase da logística reversa o bem não é

considerado resíduo perigoso, por que restringir que o transporte seja efetuado por uma empresa

licenciada? (Fato apontado pelo Sr. Cássio – ABDI).

Resposta: O resíduo de EE é considerado um resíduo perigoso, pela Convenção da Basileia. O que a

gente entende ao pensar na logística reversa? Por exemplo, em relação ao celular. Na medida em que

Page 28: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

28

ele começa a ser manipulado e descartado, de acordo com a legislação atual, ele é um resíduo perigoso,

e o transporte, a triagem e a coleta teriam que ser licenciados. Na fase de coleta, transporte e triagem, o

governo federal está lutando para mudar a legislação nessa fase de logística propriamente dita, e não na

fase de reciclagem. As estações de reciclagem tem que ser licenciadas por um órgão ambiental

competente.

Pergunta dirigida a Sra. Carneiro: Já há alguma percepção sobre quantas propostas/grupos

responderão ao Edital de chamamento REE? Trata-se de propostas por grupos de empresas/setores ou

o setor se articula para um sistema único?

Resposta: O ideal é que seria apresentada uma proposta única, que seria transformada em um acordo

setorial. Mas a gente imagina que haverá mais de uma proposta. A Lei diz que qualquer membro dos

quatro setores (fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores). Qualquer membro pode

apresentar uma proposta, mas a gente imagina que por uma questão de viabilidade os setores vão se

agrupar e provavelmente apresentarão quatro propostas.

Pergunta dirigida a Sra. Carneiro: Segundo a Lei 12.305, Artigo 34º, os acordos federais prevalecem

sobre os estaduais ou regionais. Sendo assim, após assinado o acordo, cessam os demais acordos já

assinados? Pelo Edital, a meta de implantação compreende 366 cidades com 4.552 pontos. Esta

quantidade é por tipo de produto ou somatória do setor EEE? Pelo Decreto 7.404, Artigo 18º: a logística

reversa deve ser feita na proporção dos produtos colocados no mercado interno. Sendo assim, órfãos

não foram colocados no mercado pela indústria. No estudo são nominados alguns produtos apenas,

então como definir a abrangência dos produtos objeto do acordo? A proposta poderá ser por produto

ou setorial? Sendo que os processos de logística reversa são diferentes por produto, as metas serão por

produto ou para o setor?

Resposta: O Edital diz 17% dos produtos. Essa é uma meta geral. A gente entende que os setores podem

apresentar propostas diferenciadas, por produtos que se compensem de forma a atingir esses 17%. A

gente acha que começar a rodar um sistema com 100% dos produtos e 100% de capacidade é o ideal,

mas é bastante complicado. Então a gente imagina que os setores vão apresentar propostas

escalonadas no tempo, para o atingimento dessas metas, até inclusive que poderão ser discutidas para

formar a meta geral. Nós vivemos num sistema federativo, mas os Estados e municípios têm suas

competências definidas. Realmente, a PNRS diz que os acordos nacionais prevalecem sobre os estaduais

e regionais. Mas ela também dá essa oportunidade de haverem acordos regionais e estaduais. A regra

básica do direito ambiental no Brasil é isso: o local nunca pode ser mais restritivo do que o nacional. Em

havendo já assinados acordos estaduais e regionais, eles deverão ser adequados para não serem menos

restritivos do que a regra nacional.

Pergunta dirigida a Sra. Carneiro: O MDIC/MMA cogitou a possibilidade de, caso uma empresa tenha

destinado mais de 17%, que ela possa vender para outra que destinou menos de 17%, os créditos

referentes à destinação correta?

Page 29: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

29

Resposta: Olha, é uma ótima ideia! Ela não está explicita no estudo nem no Edital, mas a gente imagina

que uma vez que o sistema esteja funcionando, essas opções serão criadas de forma a viabilizar o

sistema como um todo.

2.8. INICIATIVAS EM RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS

MUNICÍPIOS DO JAPÃO

Palestrante: Sr. Yasumitsu Kondo, Gerente Sênior do Centro Asiático de Kitakyushu para a Sociedade de

Baixo Carbono, Cidade de Kitakyushu.

Na década de 60 a cidade de Kitakyushu era muito poluída. No primeiro momento as mulheres tomaram

a iniciativa. Elas começaram a movimentar os governos e a iniciativa privada, e assim foi definido o

objetivo de estabelecer uma cidade ecológica. Cidades ecológicas são cidades com emissão zero e

programas de reciclagem. “Na cidade de Kitakyushu fazemos várias reciclagem”, disse o Sr. Kondo. No

Japão, as cidades ecológicas nasceram a partir dessa iniciativa. Uma cidade ecológica visa reduzir o

consumo de matéria prima. Em 1997 essa atividade foi iniciada. Hoje ela já é a maior do país,

privilegiando as ações de reciclagem e preservação do meio ambiente. Ela assimila a noção de atividade

ambiental como prática social. Todos agem de maneira consonante para reduzir o consumo. Esse

pensamento, ou conceito, existe nas 26 cidades ecológicas atualmente operacionais no Japão.

Com que base ela foi criada? Bem, ela era uma cidade muito produtiva, com muitas atividades

econômicas. Cidades cíclicas. São 42 instituições voltadas para a atividade ecológica. A atividade de

reciclagem pretende recolher materiais que tenham valor. Se aumentarmos a reciclagem, geramos

empregos. Essa é uma das vantagens de se estabelecer uma cidade ecológica. A Legislação dá apoio

para que os produtos gerados pela reciclagem tenham aceitação, com a Lei Básica para Estabelecimento

da Sociedade Baseada na Reciclagem (em vigor desde janeiro de 2001), entre outras, e finalmente a Lei

para a Promoção da Compra Verde. Fizemos estudos para superar os obstáculos. Quanto à legislação foi

importante fazer reuniões, debates e disseminação das informações. Hoje esse é um motivo de orgulho

para os moradores. 1. Educação e pesquisa básica. 2. Tecnologia e validação, 3. Fazer tudo de forma

integrada. O primeiro ponto, é que existe uma cidade totalmente voltada para a pesquisa. 2001 – curso

de engenharia ambiental, com várias faculdades. Também existem centros de pesquisa do exterior

estabelecidos no local. Normalmente não é assim que se faz, mas é assim que foi feito. É importante

fazer uma validação da tecnologia. Temos o lixo orgânico e doméstico para fazer adubo. Resíduo da soja.

Pensando em negócio podemos pensar em 30 negócios no total. Projeto de reciclagem de garrafas Pet.

Temos certificação. 100 milhões de yenes para essa empresa. A municipalidade faz a coleta. Houve um

custo de construção, com subsídio do governo central do Japão. Ao se lançar esse tipo de negócio é

importante ter um subsídio inicial do governo, até que as iniciativas comecem a gerar renda. Há várias

formas de subsídio para que o negócio possa começar.

Explicando sobre o processo de reciclagem de garrafas pet, produzimos uniformes, gravatas,

equipamentos de escritório, etc. A instalação de Kytakyushi é a maior do Japão. Nosso processamento

Page 30: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

30

de emissão zero implica na aplicação de tecnologia adequada. Na cidade ecológica a informação que

vem de computadores tem que ser limpa e apagada. Há uma recuperação quase total de automóveis,

quase o oposto de uma linha de montagem. Em 45 minutos se consegue desmontar um carro inteiro,

com aproveitamento de 99% dos resíduos. No caso dos eletrodomésticos, 7% do total do país são

processados nessa planta. Temos que atender o mínimo exigido pela legislação de reciclagem de cada

produto. Lâmpadas fluorescentes: extraímos vidros e metais. O mercúrio é separado e tratado como

matéria prima para reuso. Nessa fábrica esses ingredientes são reutilizados como produto para revenda.

Reciclagem de papéis: são triturados e utilizados como palha artificial para animais domésticos, chácaras,

etc. Lixo hospitalar: injeções, kits de soro, etc. passam por um processo de desinfecção com micro-ondas

e reaproveitamento como matéria prima da própria indústria.

Qual é o mérito de reunir todas essa indústrias em um mesmo local? Facilita o repasse, articulação,

cooperação, reduzindo fortemente a emissão de resíduos. Geramos a própria energia para abastecer a

cidade ecológica. Produtos compostos, com emissão zero. Linha de incineração.

O que é o Negócio Eco-Town?

Visa ao “Uso de qualquer tipo de resíduo como matéria prima para outras indústrias, de modo que a

emissão de resíduos descartados no meio ambiente aproxime de zero, ou Emissão Zero”, e a tentativa

de construção da Sociedade Baseada na Reciclagem.

O Negócio Eco-Town utiliza “Medidas para a promoção do desenvolvimento industrial”, com a

concentração de indústrias regionais, e “Medidas para preservação ambiental”, com a reorganização

ambientalmente correta e avançada da comunidade através da promoção da redução e reciclagem de

resíduos, pela cooperação entre governos locais, cidadãos e indústrias regionais.

Kytkyushu possui uma Unidade Central (Forno para fusão) para fornecimento de energia. Utilizamos a

energia do resíduo para geração de energia elétrica. Assim, além dos 3 Rs normais, acrescentamos um

4º R (Recuperação térmica). ´´É importante disseminar isso. Principalmente para as crianças, que visitam

as instalações, e também os idosos”. Temos o Centro para divulgação. Para o futuro, vamos ter projetos

de cooperação internacional. Setores de academia e governo se reúnem. A partir de abril de 2013

teremos uma legislação para a reciclagem de EE de pequeno porte. Para cada residência temos um

jornal informativo com informações sobre onde os moradores podem levar os EE. Queremos que as

pessoas entendam o que está sendo feito. Temos cooperação com a China. “Quem trabalha com isso é

nosso centro para a Ásia, que é onde eu trabalho”. Tivemos mais de um milhão de visitantes na Eco-

Town. Isso gerou impactos ambientais. Para uma cidade ecológica temos que pensar em várias coisas,

sempre pensando em produção limpa. É preciso haver pesquisa de desenvolvimento, para ter uma

sociedade sustentável. A grande força foi o prefeito com forte liderança. O que fazemos no Japão não

pode ser utilizado aqui, mas algo pode ser aproveitado e adaptado.

Page 31: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

31

2.9. INICIATIVAS EM RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS

MUNICÍPIOS DO BRASIL

Palestrante: Sra. Gislaine Villas Boas Simões, Representante do Município de Sorocaba, SP.

A apresentação da Sra. Simões fala um pouco de reciclagem e de eletroeletrônicos. Sorocaba é uma

cidade muito próxima de São Paulo (90 km, a oeste). Têm 600 mil habitantes e possui cerca de 22 mil

empresas, compostas por empresas da área de serviços e também da área automobilística. As indústrias

automobilísticas são muito fortes. Sorocaba é uma cidade bonita, que nos últimos anos tem se focado

muito em cuidar da beleza da cidade, da qualidade de vida, de sustentabilidade. O rio Sorocaba foi

despoluído, e há muitas pessoas pescando, embora seja proibido. As ciclovias só perdem para o Rio de

Janeiro. Sorocaba quer dizer “terra rachada”, com terreno acidentado, mas o sorocabano pedala. As

bicicletas são disponibilizadas para o cidadão com o passe transporte público por uma hora. Sorocaba

tem um parque tecnológico, que é uma empresa pública, que foi inaugurado no ano passado (2012),

cujo objetivo é desenvolver tecnologias voltadas para o ramo automobilístico. Está começando agora, as

empresas estão chegando. Eu já fiz um desafio aos administradores do parque tecnológico, que é uma

empresa pública, ou seja, precisamos desenvolver tecnologias voltadas para a reciclagem e tratamento

de resíduos, para que se feche o ciclo. Realmente não só produza, e não saiba o que fazer com o

produto lá no fim da cadeia dele, lá na hora que ele for descartado.

Nós temos duas empresas fortes no ramo de eletroeletrônicos, que é a Flextroints, que monta grande

parte dos celulares do país, e a Arenoff, que é uma fábrica montadora de notebooks, PCs. E temos a

Toyota. O parque tecnológico surgiu junto com a chegada da Toyota. Coleta seletiva... A JAICA e a JETRO

já conversa conosco há muito conosco sobre tecnologias de resíduos. Os modelos japoneses são muito

interessantes, mas temos um diferencial, que é a inclusão do catador. Primeiro, porque por lei, ele deve

ser incluído, ele deve ser capacitado. Ou seja, é um grande desafio, e todos sabem do que estou falando.

Incluir cooperativas, capacitá-las e regularizá-las.

A cidade de Sorocaba ficou dividida em seis setores e dividas em quatro cooperativas de catadores. Esse

projeto começou forte em 2006, quando eles tinham apenas uma cooperativa, e foram formadas mais

três. Cada cooperativa tem a responsabilidade de atender a sua região, e aí ela atende a população. Há

um termo de parceria tratado entre as cooperativas e a Prefeitura. Temos hoje sete núcleos de

armazenagem de resíduos, sendo um deles de REE. Todas as áreas onde essas cooperativas trabalham

foram cedidas ou alugadas pela Prefeitura. São aproximadamente 160 cooperados, e esse número oscila.

Então a coleta seletiva da cidade é feita pelas cooperativas. A coleta é feita porta a porta. O trabalho de

triagem não é do cidadão, e sim das cooperativas.

Números: aproximadamente 330 t/mês de material comercializado. Mas coletados, são entre 500-

600t/dia. Isto representa 17% do potencial de reciclagem (que é 20%), mas do total mesmo do resíduo

sólido urbano, são 3,40%. Somente 15% das residências são atendidas, e a cidade possui cerca de 150

mil residências. Ainda há muita coisa para ser feita. Como modelo, legal. Como eficiência, ainda não é

bom. Mesmo assim, estamos acima da média nacional.

Page 32: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

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O que é reciclado? Papel, plástico, e óleo de cozinha. Com relação a óleo de cozinha, temos dois

modelos interessantes, uma usina de fabricar sabão, que uma ONG que toca, a Prefeitura e faz esse

resíduo virar sabão e eles vendem. E temos uma usina de biodiesel móvel, aonde uma carreta de 12

metros, montada dentro de um container marítimo, circula pela cidade. A população leva o óleo para

esse caminhão, e dentro dele é feita a transformação do óleo de cozinha em biodiesel. A reciclagem de

resíduos de construção civil é uma usina, e dos resíduos EE. Esse projeto começou em 2010. Até chegar

em 2010 nós tivemos muitas conversas durante dois anos. Os representantes da cooperativa

identificaram um potencial parceiro da iniciativa privada, e começamos a conversa. Depois de dois anos

virou realidade a reciclagem de REE em Sorocaba.

Como é que funciona isso? Quem faz parte? A iniciativa privada, a Prefeitura de Sorocaba, e a

Cooperativa de Reciclagem. A Prefeitura entrou com toda infraestrutura e o Termo de Parceria. A

Cooperativa fica num galpão de 1000mk2. A iniciativa privada doa os equipamentos, capacita esse

cooperado, paga esse processo da reciclagem do EE. O poder público entra na parte da regularização e

das licenças. A população em geral e os comércios, e até mesmo o poder público (apreensões de caça-

níqueis, celulares, etc.) doa os materiais, tanto pelo caminhão ou mesmo entrega direta. As

cooperativas podem vender esse material, e é impressionante o interesse nas máquinas de caça níqueis

que identifica notas.

Quando o material chega ao galpão ele é separado ou triado, e ele é vendido ou descartado. Ele é

vendido para China ou Japão. Placas chegam a R$40,00/kg. Materiais da NET, empresas de TV a cabo

enviaram mais de 250 mil aparelhos. A renda dos cooperados varia entre R$750,00 e R$1.000,00/mês. O

catador tira R$850,00/mês. São várias leis voltadas para resíduos. As leis municipais para REE são três:

2008, 2009 e 2010.

Números: operamos num barracão de 1000mk2. EE: 1.100t processadas. Poderia ser mais, mas há muito

lixo. As pilhas descarregadas são 3 toneladas. As pilhas não recarregáveis, temos 7 toneladas. Temos

cerca de 7 toneladas/mês de TVs a tubo, com CRT. São de 4 a 5 toneladas/mês de CRT. Agora apareceu

uma empresa canadense em Sorocaba que vai processar a CRT, que são 40% lixo, e 60% de material

reciclável. Então, em breve, Sorocaba vai fechar o ciclo de reciclagem. O Japão tem muito a nos ensinar.

Mas para qualquer coisa que se instale no Brasil temos que pensar nas cooperativas e na inclusão social

do catador, mas para isso temos que trabalhar na base, na capacitação.

Desafios: Sorocaba não tem pontos de entrega voluntário. Os pontos de entrega voluntários são o

galpão e os caminhões de coleta seletiva. Nosso sistema depende de doação. Acontece uma oscilação

muito forte. O material com valor agregado o povo está segurando para vender. Palavras-chave:

Vontade Política e Mercado. Há cinco casas de cidadão (prefeitura descentralizada). Sorocaba vem

trabalhando na criação de novas tecnologias. Plasma, incineração, etc. Estamos conversando com o

Japão sobre as tecnologias mais adequadas para o que fazemos em Sorocaba.

A Sra. Simões mostra dois vídeos: um sobre o processo de reciclagem na cidade de Sorocaba e outro

sobre celulares. Visitem Sorocaba!

Page 33: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

33

2.10. PERGUNTAS E RESPOSTAS

Pergunta dirigida ao Sr. Kondo: Se as indústrias que existiam na década de 60 produzindo determinado

produto ou componente, se elas continuam existindo produzindo esse produto ou componente no

Japão ou se é importado, ou se houve uma melhoria no processo?

Resposta: Como que da década de 60 para a atualidade nós melhoramos? O que posso destacar é que a

produção limpa que eu falei na minha apresentação faz com que todo um processo de produção seja

um processo que considere o meio ambiente. Isso é uma coisa muito grande para a indústria e

combinando a isso, logicamente, se melhora a seleção da matéria prima, da quantidade e da qualidade

da matéria prima, e esse esforço da indústria produtiva ocorre, e consequentemente a indústria vem se

transformando em indústrias mais limpas. Este é o diferencial de nosso desenvolvimento.

Comentário do Sr. Kondo: Desde o ano passado estou trabalhando com a gestão de resíduos no Estado

de Minas Gerais. O que posso contar para o Sr. é que da parte da administração pública, da parte do

governo, da parte das indústrias, produtores e ainda os cidadãos, o começo é ter a consciência de

diminuir a poluição para garantir a saúde de seus filhos, a saúde de suas famílias. Então a preocupação

com a saúde foi o que deu início à mobilização no Japão e talvez a conjuntura social não seja similar à do

Brasil. Mas o tema resíduo precisa da liderança do governo e da paixão dos demais agentes, envolvidos

positivamente para desenvolver. Realmente, criar um lugar de sucesso como modelo, mesmo pequeno,

a exemplo de Curitiba pode ser uma iniciativa positiva. Isso é o que eu percebo que pode ser feito no

Brasil.

Pergunta dirigida ao Sr. Kondo: Pensando num modelo de negócios que vão se adotados nas cidades

ecológicas no Japão. Essas unidades dão lucro, ela paga os custos de todo o processo? Elas são um

conjunto que pertencem á municipalidade ou são de indivíduos privados? Elas dão retorno financeiro

para os investidores? Outra questão, no Japão o município recebeu incentivos do governo para

implementar a cidade ecológica. Ela atende mais cidades do Japão, ou é especificamente de uma

região?

Resposta: Temos o incentivo do governo, que possibilitou o início das atividades. Temos empresas que

precisam ter lucros e retorno para os investidores. Não necessariamente a municipalidade está

envolvida. Esse sistema existe em todo o Japão e é basicamente igual para todos, e não apenas na

cidade de Kitakyushu.

Pergunta dirigida ao Sr. Kondo: Sr. Luiz Henrique, da Terrex Consultoria e Assessoria Ambiental. Duas

perguntas: qual é a população de Kitakyushu e qual é área do parque industrial?

Resposta: A área reservada para a instalação do parque industrial é de 2.000 ha. O início começou em

Ribikinanda, e se expandiu para a cidade de Kitakyushu. A população de Kitakyushu é de 1 milhão de

habitantes.

Page 34: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO BRASIL-JAPÃO SOBRE

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Pergunta dirigida a Sra. Simões: Sr. Genival Nunes, Secretário de Meio Ambiente do Estado do Sergipe.

O trabalho feito em Sorocaba ainda não é semelhante ao que é feito no Japão. Temos que resignficar o

lixo. Ver o lixo com outro olhar. Como entra em Sorocaba o processo de educação ambiental para que

isso tenha sustentabilidade?

Resposta: Bem, não há uma divulgação em massa. Há um trabalho junto às escolas, e junto aos locais

onde a seleta seletiva ocorre. Na mídia gratuita, sempre ocorre uma divulgação de que a população

local pode levar os materiais aos locais adequados. O próprio catador ajuda a divulgar. A divulgação é

feita ainda no boca a boca, corpo a corpo.

Pergunta dirigida a Sra. Simões: É um alívio saber que há uma prefeitura séria trabalhando nisso e o

desespero de saber que é uma entre as mais de 5.000. Você comentou um ponto importante que nada

funciona no mundo sem um horizonte de lucratividade e retorno financeiro. Isso é uma verdade para

qualquer ação humana. Eu gostaria de entender, desde que vocês estão trabalhando desde 2010, esse

fluxo de investimento entre os elos, essas perspectivas de retorno, a lucratividade dessas cooperativas,

a parceria privada com essa empresas, mesmo vendendo para o Japão. Como vocês estão vendo? O

custo da prefeitura está diminuindo, aumentando?

Resposta: Não há lucro. Não há consciência ambiental. Há consciência econômica. O plástico que não é

reutilizável é rejeito. O caixa do REE zera todo mês. O cooperado que trabalha com REE tem que ganhar

R$1.000,00/mês. E nisso o gestor tem que se mexer para conseguir esse recurso. Já na cooperativa de

catadores, há uma média de R$800 a R$850,00 por mês, então vezes 160, não há lucratividade. O

governo ainda não está improvisando com esse tipo de ação ainda. Mas hoje, o total entre coleta,

transporte e destinação (que fica em outro município), está saindo em torno de R$150,00. Eu fiz o

cálculo, fechando o ano de 2012 dos cursos da reciclagem, e nossa tonelada está saindo a R$500,00,

com todos os investimentos. Então vejamos, nós estamos quase aí com 2 ou 3 vezes a mais, que na

verdade é pouco, porque o SEMPRE, uma organização que cuida disso, disse que pode chegar até seis

vezes o valor da coleta normal. Isso diminuiu a quantidade de resíduo que vai para o aterro? Não.

Porque a quantidade é pouca para um cenário gigante. Só vai oferecer talvez uma diminuição de custo

quando a gente chegar ao mínimo de 20% de todo total. Mas nesse momento, pela própria lei e pela

própria vontade política da cidade, a intenção não é lucrar. A intenção é prestar serviço para a

população e incluir seus cooperados de maneira sustentável, ambiental, economicamente e socialmente

falando.

Pergunta dirigida a Sra. Simões: A conta do poder público nunca fecha. Para a iniciativa privada a conta

sempre é lucrativa. Temos uma dificuldade de entender o seguinte: se isso não dá lucro, por que esse

interesse pelo lixo. O rejeito de um é a oportunidade de outro. O final do aterro sanitário deveria ser

sempre o de controlar. Se essa atividade dá lucro para a iniciativa privada, para a cooperativa também

deve dar também. É questão de orientar a forma de negócio. É fazer o negócio girar dando lucro e renda.

Tudo está na forma de gestão. A sazonalidade do catador prejudica. O compromisso do cooperado com

a cooperativa. Se ele sai daquela corrente, a corrente não gira.

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Resposta: O tempo da iniciativa privada não é o mesmo do governo. Precisamos investir para agregar

valor aos produtos, e funcionar como uma empresa. Estabelecer prazos e metas, para a cooperativa

conseguir sua estabilidade financeira, com visão de iniciativa privada. Trouxemos o SEBRAE para dentro

da cooperativa, mas com o problema da sazonalidade do cooperado, temos muitos desafios a enfrentar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Precisamos estimular a cadeia. O seminário contribuiu bastante, para um debate interessante e o

exemplo de Sorocaba. Agradecer a todo pessoal do Japão. Os ministérios que compareceram, a

embaixada japonesa. Agradecer aos colegas de governo, IBAMA, prefeitura de Sorocaba, com

experiência notável. Agradecer toda equipe do Mdic. Recado: significado desse evento com relação ao

conjunto dos esforços sobre REE. Ponto alto foi a amostra da experiência japonesa, que mostra como

temos um longo caminho pela frente. É possível organizar a lógica reversa da REE, mas que o Brasil

ainda está longe disso. Estamos caminhando. O setor empresarial já tem feito alguns investimentos,

claramente resultados da PNRS. Primeiro movimento. Eles estão aguardando um avanço da

regulamentação para se dedicarem mais. Já começa haver um amadurecimento do setor privado.

Véspera de um importante momento econômico, resultante da reciclagem. O evento foi importante

para mostrar o que já está acontecendo no Brasil. Tem o lançamento do edital. Estamos com uma

contagem regressiva. Foi aprovada uma norma, que é um primeiro passo para a regulamentação sobre

esse assunto. Temos uma base mínima. Há uma parte dos muncípios do Brasil onde há interesse. Os

municípios estão enxergando a necessidade e a oportunidade. O país está se movimentando e está na

direção certa. A cooperação com nossos amigos japoneses é muito importante, particularmente na

indústria de EE. Esperamos continuar contando com a colaboração de vocês.