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Pro je to EuroBras i l 2000Apoio à Modernização do Aparelho do Estado
Par t i c ipação Soc ia l no GovernoRelatório da Missão Técnica à Suécia e à Alemanha
Brasília, julho de 2007
1
SUMÁRIO
1. CONTEXTUALIZAÇÃO.............................................................................3
2. DESENVOLVIMENTO DA MISSÃO..........................................................4
2.1. SUÉCIA................................................................................................4
2.2. ALEMANHA.......................................................................................43
3. CONTEÚDO TÉCNICO DA MISSÃO.......................................................76
3.1. A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL.............................................76
3.2. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL ESTUDADOS NA MISSÃO............................................................................80
3.3. PROPOSIÇÕES DE MELHORIA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL........................................................................................................81
4. AVALIAÇÃO GLOBAL............................................................................82
5. EVENTO DE MULTIPLICAÇÃO.............................................................83
6. Conclusões/Recomendações............................................................................83
2
1. Contextualização
A missão técnica à Europa, realizada no período de 21 de maio a 01
de junho de 2007, teve como tema na participação social no governo. A
semana na Suécia (21 a 25 de maio) abordou as questões relativas ao
diálogo entre o governo central e a sociedade civil, além da coordenação
interna dos trabalhos pelo Gabinete do Governo no que se refere à
transparência social e ao acesso da sociedade a documentos públicos.
Foram feitas visitas a ministérios e organizações do Governo central e o
Gabinete de Ouvidoria.
Na Alemanha, no período de 28 de maio a 01 de junho, foram
tratadas as complexas relações entre as duas câmaras parlamentares, o
Governo e a sociedade civil no âmbito de uma República Federativa, além
do forte poder dos Estados dentre da República, com a visita a um Governo
Estadual.
O programa contemplou também visitas a instituições para mostrar o
grau e as formas de participação dos parceiros sociais e de outras
organizações na preparação das decisões governamentais em matéria de
legislação, elaboração de orçamentos e controle do Estado.
A missão teve por objetivo capacitar gestores públicos brasileiros,
beneficiando instituições governamentais na melhoria da administração
pública. Os participantes da missão são:
Participante Órgão
Ana Elisa Estrela Ferreira Ministério da Educação
Andressa Souza Mendes Agência Nacional de Energia Elétrica
Danielle Cancela Cronemberger Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Fábia Oliveira Martins de Souza Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Isadora Louzada Hugueney Lacava Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Jomilton Costa Souza Ministério da Saúde
José Valente Chaves Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada
Luciana Batista de Sá Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial
Paulo Roberto Paiva Casa Civil
Sandro Gerardi Ministério da Saúde
2. Desenvolvimento da Missão
3
2.1. Suécia
Principais Características
Geografia
A Suécia é dividida em três grandes regiões, a Götaland, ao sul, a
Svealand, na parte central e Norrland, que fica ao norte. Cada uma
dessas três regiões é subdividida em regiões menores chamadas
landskaps ou landstings.
As características geográficas da Suécia são:
Área de 450.000 quilômetros quadrados, incluindo 39.000
quilômetros quadrados de lagos;
Precipitação pluviométrica entre 400 – 700 mm;
Diferentes climas em 1.900 quilômetros no sentido N – S;
As áreas de florestas correspondem a 234.000 quilômetros
quadrados;
35.000 quilômetros quadrados de fazendas;
71.000 quilômetros quadrados de montanha.
População
A população sueca está estimada, atualmente, em 9,1 milhões de
habitantes, assim caracterizados:
2/3 vivem no sul do país;
1 milhão são originários do exterior, principalmente da Finlândia,
Dinamarca, Noruega, Hungria;
Cerca de 4,3 milhões estão empregados, correspondendo a 74% da
força de trabalho;
0,22 milhão corresponde a desempregados;
0,6 milhão encontra-se em tratamento de saúde;
O número de pensionistas é crescente.
Economia
A economia sueca é uma das mais importantes da Europa. Após um
período de recessão, aumento do desemprego e altas taxas de inflação no
4
começo da década de 1990, a Suécia atingiu crescimento sustentável por
meio de ajustes fiscais e da dinamização da sua economia.
Historicamente, a economia sueca sempre experimentou avanços a
partir do aumento de suas exportações. No século XIX, o aumento da
demanda Européia e o acesso à infra-estrutura barata no país
possibilitaram o nascimento da sua indústria. A abertura econômica, a
liberdade de imprensa e a desregulamentação tiveram papel bastante
significativo.
A Suécia manteve-se neutra durante as duas Grandes Guerras
Mundiais na primeira metade do século XX. O país beneficiou-se, no pós II
Grande Guerra, de uma combinação de demanda intensa por seus produtos
e da devastação do parque industrial de outras nações do Oeste Europeu. A
desvalorização da moeda nacional, a coroa sueca, também influenciou na
balança comercial. As principais fontes de divisas para a Suécia, nesse
período, foram as indústrias de origem florestal, de mineração, de veículos
automotores e de aço.
Durante os anos 60, a Suécia enfrentou aumento da concorrência por
mercado devido não só à reconstrução dos países Europeus como também
ao crescimento da economia japonesa. A produção industrial de alguns
setores - como o têxtil -, sofreu abalos e demissões tiveram de ocorrer.
Nos anos 70, a crise do petróleo afetou em muito a economia sueca
que dependia, excessivamente, da estabilidade internacional. A intervenção
governamental não foi capaz de sustentar o crescimento sueco, e certos
setores do parque industrial, como o metalúrgico, sofreram mais do que
outros.
A década de 80 foi proveitosa para a Suécia, que manteve baixíssima
taxa de desemprego no período. Porém, foi marcada por altas e crescentes
taxas de inflação e o governo passou a ter problemas no âmbito fiscal. A
Suécia não conseguiu evitar uma crise econômica na primeira metade da
década de 1990, cujas conseqüências foram a desaceleração econômica e o
aumento do desemprego.
Os avanços tecnológicos e uma força de trabalho bastante preparada
(educada) resultaram em um aumento substancial de produtividade na
Suécia. O eixo principal da economia sueca se deslocou da agricultura e
indústria para o setor de serviços, com destaque para o setor de
telecomunicações e de tecnologia da informação (TI). Isso permitiu ao país
5
reduzir sua vulnerabilidade econômica face às flutuações dos preços das
comodities.
Atualmente, a economia do país apresenta a seguinte formação:
O setor de serviços emprega maior número de pessoas;
A indústria fabrica carros, caminhões, ônibus, máquinas,
medicamentos, aço, mobiliário, tecnologia da informação,
alimentação, roupas;
As principais empresas são as seguintes: Scania, Volvo, Ericsson,
Atlas, Copco, Alfa Laval, IKEA, HM, SKF, Skanska;
A agricultura emprega 2% da força de trabalho;
As exportações correspondem a 50% do PIB;
As exportações estão direcionadas para a União Européia (62%), os
EUA (8%), a Noruega (9%), o Brasil (0,7%) e a China (2%).
Os grandes indicadores econômicos da Suécia, em bilhões de coroa
sueca (2006) são:
PIB: 2.838;
Exportação: 1.456;
Importação: 1.224;
Consumo doméstico: 1.338;
Governo Central: 207;
Governo Local: 552;
Formação bruta de capital: 509.
Desde a crise ocorrida no período 1991-93, o governo sueco superou
o período de instabilidade, caracterizado por dívidas, inflação e déficits
fiscais. Atualmente, a Suécia tem superávit fiscal de cerca de 1% do PIB e a
inflação sob controle. Medidas como teto para gasto no Orçamento,
independência do Banco Central e reforma previdenciária resultaram em
alívio para as contas públicas. A manutenção da excelência no setor público
exige investimentos significativos. A Suécia tem um imposto de renda
altíssimo, além de impostos indiretos.
Qualidade de vida
6
A Suécia dispõe atualmente de um extensivo programa de bem-estar
social. Além disso, serviços públicos como saúde e educação estão entre os
melhores do mundo.
Introdução ao Sistema de Governo Sueco e o papel da sociedade civil
O sistema de governo sueco tornou-se uma monarquia constitucional
parlamentarista a partir da constituição de 1974 a qual restringiu a
atuação da realeza a funções cerimoniais, embora o rei ainda conserve a
função de chefe de Estado. Antigamente, o rei era eleito pelos agricultores.
O Parlamento Sueco – Riksdag -, foi bicameral até 1970, quando foi
instituída uma única Câmara, com 349 membros eleitos. As eleições gerais
ocorrem a cada quatro anos, no terceiro domingo do mês de setembro.
Para um partido político conquistar uma cadeira no Parlamento, ele precisa
obter mais de 4% do número total de votos na eleição ou 12% de votos
numa região eleitoral.
O país conta, atualmente, com o Partido Social Democrata, o Partido
Moderado, o Partido Popular, o Partido Democrata Cristão, o Partido da
Esquerda, o Partido do Centro e o Partido Ambiental (os Verdes). Há
também partidos de extrema-direita que conquistaram alguma
popularidade nas últimas eleições. O Partido Democrata Sueco –
Sverigedemokraterna -, conseguiu eleger vários representantes nas
eleições locais, especialmente no sul da Suécia (região densamente
povoada – cerca de 2/3 da população sueca).
O Riksdag - também chamado de Sveriges Riksdag -, é o
Parlamento legislativo nacional da Suécia. Também pode alterar a
Constituição e formar um governo. Como na maioria das democracias
parlamentares, o chefe de estado delega um político para formar um
governo. Após acordo com os líderes partidários no Riksdag, o Presidente
da Assembléia nomeia o primeiro-ministro. Para formar o governo, o
primeiro-ministro escolhido apresenta a lista com os Ministros escolhidos
para ser avaliada e aprovada pelo Parlamento.
Sistema Político
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O Sistema Democrático na Suécia possui o seguinte desdobramento:
Nível nacional:
Eleições para o Parlamento;
O Parlamento elege o Primeiro-Ministro que forma um governo.
Nível Regional:
Eleições para a Assembléia do Conselho do Condado (20 Conselhos);
A Assembléia do Conselho do Condado elege os executivos do
Conselho do Condado.
Nível Local:
Eleições para o Conselho Municipal (290 municípios);
O Conselho Municipal elege o executivo municipal.
Auto-governança na Suécia
A auto-governança sueca possui uma longa tradição (1862);
Constituição (regulações básicas);
Atos do Governo Local (regulações específicas).
Princípios para auto-governança local
Garantida pela Constituição;
Poder de taxação para autoridades locais;
O município é a unidade básica;
O Conselho do Condado é a segunda autoridade (municipal ou
regional);
Poderes regulados geral e especificamente
(cultura, esportes).
Legislação
Constituição de 1974;
Ato do Governo Local de 1991;
Leis especiais;
Decreto autorizativo ou regulamento municipal;
Regra para assuntos internos/regulamentos internos;
Acordos internacionais.
8
Ato do Governo Local Sueco
Divisão, sociedade (membership);
Poderes dos municípios e Conselhos dos
Condados;
Organização dos municípios e Conselho dos
Condados;
Representantes eleitos;
Assembléias;
Comitê executivo e outros comitês;
Procedimentos co-determinados;
Auditoria;
Avaliação de legalidade.
Gastos do Governo Local
a. Município:
Escolas: 25%;
Atendimento à criança: 13%;
Serviços sociais: 8%;
Atendimento à terceira idade: 20%;
Outros (diversos): 34%.
b. Conselho do Condado
Auxílio médico: 80%;
Transporte público: 5%;
Auxílio dentário: 3%;
Outros (diversos): 12%.
Controlando as Finanças do Governo Local
Regulamentação dos fundos para serviços;
Medidas temporárias contra a criação de
taxas locais;
Bom financiamento para manutenção da
moradia (Local GVT Act);
Orçamento balanceado (Local Gvt Act);
Concessões gerais e sistemas de equalização;
Compensação para o VAT (imposto sobre o
valor agregado).
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Concessão Geral e Sistema de Equalização de 2005
Concessão de equalização da receita para município com de taxa de
capacidade per capita menor do que 115%;
Concessão de equalização da receita para Conselho do Condado com
de taxa de capacidade per capita menor do que 110%;
Concessão de equalização da receita para autoridades locais (local
authorities) com a taxa de capacidade per capita de 115% ou 110%;
Equalização horizontal da estrutura de custos entre autoridades
locais;
Concessão adicional estrutural para certas autoridades locais;
Concessão adicional per capita.
Estrutura do Governo Sueco
O Parlamento: faz as leis;
O Governo: faz a política;
As agências de estado: implementam a
política.
10
Escritório do Governo
Emprega 4.600 pessoas sendo que 95% são
técnicos não-políticos.
Estrutura do Governo Central
250 agências governamentais que são responsáveis pela política de
implementação;
Aproximadamente, 230.000 empregados: 50.000 nas universidades;
16.000 policiais; 14.000 na seguridade social; 13.000 na
administração dos impostos.
Estrutura do Governo Local
20 Conselhos de Condado (Região) – saúde, transportes local e
regional, cultura, com 240.000 empregados;
290 municípios – saúde das crianças, ensino primário e secundário,
terceira idade, ruas, água, esgoto etc (730.000 empregados).
Possibilidades de Influência
Por meio de reuniões com políticos, cartas endereçadas a eles
endereçadas, artigos escritos e periódicos, verificação de documentos e
contas, representação em Conselhos é possível influenciar decisões na
Suécia.
Organizações sociais
Na Suécia, as principais organizações sociais são:
Confederação Sueca dos Sindicatos, conhecida pela sigla “LO” (The
Swedish Trade Union Confederation): possui 1.918.800 filiados,
sendo 46% mulheres e 54% homens;
Confederação Sueca dos Empregados Profissionais, conhecida pela
sigla “TCO” (Swedish Confederation of Professional Employees):
possui 1.051.742 filiados, sendo 38% homens e 62% mulheres;
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Confederação Sueca das Associações Profissionais, conhecida pela
sigla “SACO” (Swedish Confederation of Professional Associations):
possui 514.000 filiados, sendo 52% homens e 48% mulheres.
Organizações de empregadores;
Organizações ligadas a “lobby” (organização de contribuintes, de
inquilinos, de proprietários de bosques);
Organizações esportivas e de diversão;
Organizações não-governamentais;
Associações para propósitos (objetivos) especiais.
A preparação do orçamento na Suécia – a relação entre o Governo central, as regiões e os municípios
A estrutura política/organizacional do governo
A estrutura de governo é composta, além do Gabinete do Primeiro-
Ministro, de cerca de 21 ministros. Alguns ministérios possuem dois
Ministros, sendo que um deles (ministro) está ligado diretamente ao
Parlamento. Os ministérios são os seguintes: Negócios junto a União
Européia, Justiça, Migração e Asilo Político, Relações Exteriores,
Cooperação e Desenvolvimento Internacional, Comércio Exterior, Defesa,
Saúde e Negócios Sociais, Terceira Idade e Saúde Pública, Seguridade
Social, Finanças, Governo Local, Educação e Pesquisa, Escolas,
Agricultura, Alimentação e Pesca, Meio Ambiente, Infra-Estrutura e
Energia, Comunicações, Integração e Igualdade de Gênero, Cultura e
Emprego.
As competências nos Escritórios do Governo estão definidas da
seguinte maneira:
Escritório do Primeiro Ministro: dirige e coordena o trabalho dos
escritórios do governo e a política sueca para com a União Européia;
Ministros: cada ministro tem sua própria área de responsabilidade.
Os ministros esboçam os negócios do governo e preparam “projetos
e/ou programas” para as decisões de governo;
Oficial para Negócios Administrativos: dentro do Escritório do
Governo, o Oficial para Negócios Administrativos é o órgão
responsável pelo desenvolvimento de métodos e rotinas
12
administrativos, finanças, administração, empregadores, tecnologia
da informação, treinamento, bibliotecas, arquivos, serviços a comitês
e outros serviços internos, assim como informação interna e externa.
Há aproximadamente 250 agências governamentais na Suécia. Essas
agências governamentais decidem e implementam suas próprias decisões.
Em princípio, nem o Governo ou um único Ministro pode determinar o
resultado (outcome) das decisões das agências em matéria de sua
competência.
O Ministério das Finanças responde pela elaboração do orçamento
que será submetido ao Parlamento sueco (Rickdag). O Ministro das
Finanças responde pela Política econômica; Política orçamentária,
orçamento nacional; Legislação fiscal e tributária; Política monetária,
seguridade social e seguro; Cooperação econômica internacional; Governo
local e administração do governo Central; e Regulação de agências
estaduais.
O perfil das pessoas que trabalham no Ministério das Finanças é o
seguinte:
Idade média de 40 anos;
95% são empregados não políticos;
25% possuem responsabilidades administrativas;
As ocupações mais comuns são as seguintes: economistas,
advogados e cientistas sociais;
10% possuem responsabilidades gerenciais;
65% possuem responsabilidades executivas;
50% são mulheres;
470 empregados.
13
Os procedimentos para a preparação do orçamento são:
A Estrutura Orçamentária:
Estrutura econômica;
Objetivos da política fiscal explícita: teto para gastos; superávit
primário de 1%.
Procedimento de cima para baixo: preparação no gabinete; decisões
tomadas no Parlamento.
Monitoramento;
Controle de saída – orçamento baseado nos resultados.
Monitoramento do Orçamento:
Realizadas entre 5 e 6 estimativas anuais: estimativa para o ano em
curso e para os próximos três anos; estimativa para os gastos,
receitas e variáveis macroeconômicas.
Existência de um sistema de informação próprio para estimativas:
baseado na web e utilizado pelas agências e ministérios;
Custos correntes por agências são incrementados com indicadores
menos o coeficiente de produtividade.
Controle de Entrada e Saída
Orçamento baseado em resultados (gasto efetivo/controle de saída);
O propósito é mudar o foco de controle de entrada a fim de favorecer
o controle de saída (não para reduzir o controle total).
Medidas de Controle
Relatório Anual sobre as finanças e não sobre o resultado financeiro;
Auditoria externa dos relatórios anuais – eles podem ser confiáveis;
Auditores externos podem também examinar resultados não
financeiros;
O Escritório de Auditoria Nacional é uma agência ligada diretamente
ao Parlamento (não ao Governo).
14
Processo de elaboração do Orçamento:
O processo de elaboração do Orçamento do Governo Central ocorre
da seguinte maneira1:
Meses Governo Parlamento Agências
Janeiro Ministérios projetam suas áreas de despesas e apropriações.
Fevereir
o
Os Ministérios continuam com o trabalho orçamentário.
Submetem os relatórios anuais e os documentos do orçamento ao Governo.
Março O Governo conduz as deliberações e acordos sobre as características essenciais da política econômica e os objetivos da política orçamentária.
O Escritório de Auditoria do Estado apresenta relatório de auditoria ao Governo.
Abril São apresentados a Política Fiscal e o Relatório Anual do Governo Central ao Parlamento (Ricksdag).
Começa o processo de conhecimento da Política Fiscal e do Relatório Anual do Governo Central.
Maio O trabalho do orçamento continua em vários ministérios.
Continua o trabalho de conhecimento sobre a Política Fiscal.
A Oposição apresenta diferentes alternativas para o Governo sobre a Política Fiscal.
Junho Ocorrem decisões preliminares sobre os números do orçamento.
Tomada de decisão formal sobre a Política Fiscal e o Relatório Anual do Governo Fiscal.
Julho Pausa do trabalho sobre o orçamento sueco. O Escritório do Governo trabalha sobre o orçamento da União Européia.
Agosto Continua o trabalho sobre o orçamento.
Setembr
o
Apresenta o Orçamento no Parlamento (Ricksdag).
1 “The Central Government Budget process”, Ministry of Finance Sweden, January, 2007.
15
Meses Governo Parlamento AgênciasOutubro Analisa o Orçamento. A Oposição apresenta
diferentes alternativas para a proposta de Orçamento ao Governo.
Novembro
Os ministros preparam a apropriação.
Tomada de decisão sobre o teto de gasto, a expansão sobre a estrutura do gasto por área e a receita do governo central.
Dezembro
A apropriação é aprovada.
Tomada de decisão sobre a apropriação orçamentária do governo central.
O Orçamento possui:
11 volumes;
2.700 páginas;
27 áreas de gastos;
500 apropriações;
200 itens revistos.
Objetivos do Departamento de Orçamento:
Disciplina fiscal;
Efetividade na alocação de recursos;
Alta qualidade e eficiência na administração.
Departamento de Orçamento
Unidade de coordenação: coordena o processo orçamentário, projeta
o orçamento;
Unidade 1: articulação com os Ministérios das Relações Exteriores,
da Justiça, da Defesa, das Finanças, do Emprego, e da Integração e
Igualdade de Gênero;
Unidade 2: articulação com os seguintes Ministérios Infra-estrutura,
Cultura, Educação, Agricultura e Companhias Estatais;
Unidade 3: articulação com os Ministérios do Emprego e da
Seguridade Social;
16
Unidade de Análise: desenvolvimento estrutural e outros
programas/projetos de longo prazo;
Unidade de desenvolvimento orçamentário: desenvolvimento do
sistema de orçamento;
Unidade Orçamentária para a União Européia: relação com a União
Européia, incluindo a contribuição da Suécia a ela.
O Parlamento e o processo de tomada de decisão. As relações com o Governo e com outras organizações. O papel do Parlamento na elaboração do orçamento.
A História do Parlamento na Suécia
Em 1809, uma das novas leis fundamentais adotadas na Suécia, o
Instrumento do Governo, dividiu o poder entre o Parlamento e o Rei e
baseou-se na separação de poderes entre o legislativo, o judiciário e o
executivo. O primeiro ato do Parlamento, uma lei que determinou os
procedimentos para o trabalho do Parlamento, foi introduzido em 1810.
Entre 1809 e 1974, foram feitas várias mudanças na Constituição
para assegurar a representação das novas classes sociais. Em 1865, o
Parlamento dos quatros estados foi abolido e substituído por um sistema
bicameral. A 1ª Câmara era eleita indiretamente pelos condados e
assembléias municipais das grandes cidades. As eleições para a 2ª Câmara
eram diretas, mas apenas 21% dos homens acima de 21 anos podiam votar.
Em 1921, o Parlamento alcançou um sistema democrático de
representação para todos os cidadãos.
O sistema bicameral foi abolido em 1971 e foi instituída uma única
câmara de 349 membros. Além disso, o sistema de diferentes comissões
para matérias legislativas e orçamentárias foi abandonado e foram criadas
16 comissões para áreas específicas.
Em 1974, os princípios do parlamentarismo foram introduzidos na
Constituição e o Presidente adquiriu um papel central na formação do novo
governo após uma eleição. Duas decisões importantes foram tomadas em
1994: estender o período eleitoral de 3 para 4 anos e o tornar mais
eficiente o processo orçamentário, ou seja, o ano orçamentário coincide
com o ano calendário e o projeto de lei do orçamento é apresentado e
discutido no outono.
17
Composição do Parlamento
O Parlamento é composto de 349 membros escolhidos a cada quatro
anos. Durante o período de 2006-2010, sete partidos estão representados
no Parlamento com a seguinte composição:
Partido Membros
Social-Democrata 130Moderado 97Centro 29Liberal 28Cristão-Democrata 24Esquerda 22Verde 19
Cada parlamentar tem sua própria secretaria política como estrutura
de apoio (ajudas de custo/viagens/estudos).
Atuação Legislativa
A iniciativa legislativa tem origem predominantemente no governo
(90%). Os parlamentares podem ter a iniciativa, mas dificilmente o fazem,
pois o governo detém as informações que justificam a necessidade de uma
nova lei.
O processo de decisão está concentrado nas Comissões
Permanentes, que realizam audiências com organizações e cidadãos antes
do debate na Câmara. Elas atuam na análise de novas leis ou alterações de
leis existentes. Portanto, toda proposta de lei é analisada pelas comissões
permanentes. Os parlamentares têm um prazo de 15 dias para apresentar
projetos de lei individuais alternativos à proposta do governo, que pode ser
alterada, complementada ou rejeitada.
O Parlamento também pode instalar Comissões Provisórias, caso o
próprio Parlamento inicie uma investigação, o que ocorre geralmente para
assuntos relacionados à organização do Parlamento e outras questões
internas.
O governo e as agências podem regulamentar as leis aprovadas no
Parlamento. Há uma agência de auditoria no Parlamento, criada
recentemente, que tem o poder de controle e inspeção decisões tomadas e
da implementação das leis pelo governo e pelas agências. Esta agência 18
elabora um relatório anual para cada agência e não controla as atividades
do Parlamento.
Não há uma corregedoria no Parlamento, apenas um cadastro que
pode notificar conflito de interesses entre os parlamentares, ao qual a
sociedade pode ter acesso, o que caracteriza uma imunidade relativa dos
membros, que querem independência para atuar.
As votações no Parlamento são públicas e encontra-se em discussão
a possibilidade de tornar públicas as reuniões das Comissões Permanentes
também.
Não há um lobby organizado, pois os membros do Parlamento têm
sua origem nos diversos grupos de interesses da sociedade, ou seja, a
influência das organizações ocorre por meio dos parlamentares.
Processo Orçamentário
Recentemente, houve uma mudança no Parlamento em relação ao
processo orçamentário. Atualmente, o Parlamento define metas para as
variáveis macroeconômicas e as despesas (cima para baixo).
A Lei Especial do Orçamento é diferente da Lei Orçamentária. Ela
define as regras para o orçamento, tais como os investimentos,
responsabilidades em caso de não cumprimento das metas, etc.
Os membros do Parlamento podem fazer qualquer tipo de alteração
no orçamento (aumento de despesas, criação de impostos, etc). Os partidos
de oposição apresentam orçamentos alternativos à proposta do governo,
que geralmente é aceita com pequenas modificações.
O processo orçamentário ocorre em duas etapas:
1ª etapa: previsão das receitas e despesas para o período de 3 a 5
anos na primavera;
2ª etapa: apresentação e aprovação do orçamento no outono.
No segundo momento, o Parlamento decide o teto total para as
despesas e a alocação das despesas em 27 áreas com os respectivos tetos
(500 apropriações). As 27 áreas estão divididas nas 15 Comissões
Permanentes, ou seja, todas elas trabalham com o orçamento.
A Comissão de Finanças atua na definição do teto geral das despesas
e também de cada área e nas questões tributárias, bem como emite parecer
19
em relação à proposta orçamentária do governo e aos orçamentos
alternativos apresentados pela oposição, que conta com o apoio de uma
área de pesquisa do Parlamento. Todas as mudanças de legislação têm que
prever o impacto econômico.
Após a aprovação do orçamento no Parlamento, o governo
encaminha às agências as respectivas apropriações para que elas possam
implementar suas políticas públicas. Durante a execução orçamentária, as
agências podem pedir suplementação (maio e novembro), que pode ser
aprovada ou não pelo Parlamento. Caso seja aprovada, o governo faz o
remanejamento entre as apropriações e encaminha a suplementação às
agências. Quando as agências não utilizam todo o recurso recebido, o
governo e o Parlamento podem redirecionar os recursos não utilizados para
outras agências.
Participação Social no Parlamento
O público geralmente faz suas requisições diretamente aos membros
do Parlamento por meio de cartas. Além disso, pode requisitar sua
participação em reuniões das Comissões Permanentes e participar de todos
os debates, os quais são transmitidos ao vivo na televisão.
20
Como melhorar a democracia, os direitos humanos e a participação social
das minorias na sociedade sueca
O Ministério da Integração e Equidade de Gênero atua nas seguintes
áreas:
Cidadania: questões relacionadas à cidadania e sua legislação;
Consumidores: proteção do consumidor, segurança dos produtos,
organizações dos consumidores;
Democracia: sustentação e fortalecimento da democracia;
Equidade de Gênero: coordenação da ação governamental para
promover a equidade de gênero;
Direitos Humanos: coordenação e desenvolvimento de ações
governamentais para promover e proteger os direitos humanos a
nível nacional;
Integração: coordenação das políticas de integração, introdução dos
imigrantes na sociedade, medidas anti-discriminatórias;
Metrópoles: promoção do crescimento sustentável nas grandes
cidades e ajuda e desenvolvimento das áreas urbanas desprovidas;
Minorias: proteção e suporte às minorias nacionais e às línguas
historicamente minoritárias;
Organizações Não-governamentais: condições para os movimentos e
as organizações populares;
Política de juventude: melhoria da situação dos jovens.
No período de 1999 a 2006, as medidas adotadas na Suécia para o
fortalecimento da democracia e a proteção e defesa dos direitos humanos
foram:
Lei da Democracia em 2002: encaminhamento de propostas dos
cidadãos para as assembléias locais e criação de um fórum para as
organizações não-governamentais. Cabe destacar que 2/3 dos
municípios adotaram a reforma voluntariamente;
Termo de desenvolvimento de longo prazo;
1º Plano Nacional de Direitos Humanos em 2002;
Criação do Ministério da Integração e Equidade de Gênero.
21
A avaliação do 1º Plano revelou que a situação na Suécia havia
melhorado, mas não o suficiente. Entre as ações realizadas, pode-se
destacar a criação do sistema de monitoramento da democracia e do
comitê de combate à violência contra os eleitos e a realização de uma
intensa campanha sobre democracia.
O acompanhamento do sistema democrático é realizado pela Agência
Estatística Sueca, por meio de uma base de dados pública, na qual são
analisadas 70 variáveis que permitem a comparação entre os municípios.
Os usuários são o governo, pesquisadores, jornalistas, políticos regionais e
locais e servidores públicos.
A campanha sobre a democracia, realizada em 2006, antes das
eleições, teve como foco aumentar o poder de influência das pessoas e o
conhecimento dos políticos em relação aos desafios a serem enfrentados e
aos efeitos das políticas públicas na redução da exclusão social. O
ministério contou com a cooperação de associações locais e organizações
não-governamentais em 12 municípios. Além disso, foram realizadas
eleições escolares em 2006, para aumentar a participação dos jovens nas
eleições e a motivação para votar. Nas eleições de 2006, 82% dos eleitores
votaram, o que representou um aumento de 6% na participação da
sociedade em relação às últimas eleições.
A iniciativa popular foi incorporada ao governo local em 1994. O
cidadão tem que ser residente para poder propor um referendo e deve ter,
ainda, apoio de 5% da população. As minorias são organizadas nos níveis
central e local. Em 2006, foi desenvolvido um Plano Nacional de Não-
Discriminação das Minorias Nacionais, considerando e respeitando as
tradições. Não há um sistema de cotas para as minorias e as políticas
direcionadas a esse público são de preservação da cultura. O que se
pretende é mudar o foco para uma política de integração para evitar a
exclusão social dessas minorias.
As prioridades políticas para 2007 são:
Estratégia de empoderamento e novos objetivos para democracia e
direitos humanos;
Estratégia para e-democracia;
Fórum para o futuro da democracia;
Ameaças assimétricas contra a democracia;
Implementação do 2º Plano Nacional de Direitos Humanos;
22
Diálogo nacional (cultural, religioso);
Criação de uma lei para as minorias nacionais;
Estratégia para economia social;
Acordos entre o estado e o setor voluntário.
O 2º Plano Nacional de Direitos Humanos 2006-2009
O 1º Plano Nacional de Direitos Humanos 2002-2004 foi adotado
nove anos depois da recomendação da Conferência Mundial de Direitos
Humanos de Viena em 1993. O monitoramento e a avaliação do 1º Plano
contribui para a elaboração do 2º Plano Nacional de Direitos Humanos
2006-2009 adotado pelo governo e apresentado no Parlamento em março
de 2006.
O 2º Plano é composto de duas partes: um estudo sobre a situação
dos direitos humanos na Suécia em 2005 e o plano de ação para os anos de
2006 a 2009. A sua elaboração baseou-se na avaliação do 1º Plano, nas
recomendações internacionais e nas opiniões dos grupos de referência.
O processo de consulta aos grupos de referência mobilizou quase
200 atores, dentre os quais se destacam partidos políticos, autoridades
nacionais, conselhos dos condados e municípios, universidades e conselhos
universitários, sindicatos e organizações de empregadores e organizações
não-governamentais (350 ONG’s das áreas de direitos humanos, saúde,
educação, pessoa com deficiência, etc).
O objetivo de longo prazo do 2º Plano é “assegurar o respeito total
aos direitos humanos na Suécia”. Para que esse objetivo seja alcançado, é
crucial elevar a educação e a conscientização em direitos humanos e
melhorar a coordenação dos esforços para proteger e promover os direitos
humanos.
O Plano foca na não-discriminação e aborda as seguintes áreas:
minorias nacionais, os direitos das crianças, direitos econômicos, sociais e
culturais (trabalho, moradia, saúde, educação), violência contra a mulher,
cumprimento da lei, asilo e migração e direitos políticos.
Toda a administração pública na Suécia está envolvida na
implementação do Plano. As agências receberam a atribuição de educar as
pessoas em direitos humanos e foi delegada aos conselhos de condados e
municípios a transferência de conhecimento sobre direitos humanos. Além
disso, foi estabelecida uma Delegação de Direitos Humanos, agência
23
temporária que deverá assessorar o governo, os conselhos de condados, os
municípios e as agências no que diz respeito à disponibilização de
treinamento e ferramentas que garantam a implementação do Plano.
O esforço de conscientização e educação em direitos humanos deve
considerar as escolas e educação superior, a administração pública, o
público, informação e diálogo em direitos humanos, informação em
diferentes línguas e para pessoas com deficiência e um website de direitos
humanos.
Há uma comissão interministerial responsável pelo acompanhamento
da implementação do plano. Em 2008, haverá um seminário de
monitoramento com os grupos de referência e deverá ser publicado um
relatório de monitoramento em março de 2010, ano em que será realizada
a avaliação do plano.
Melhorando a democracia: retrospectiva e algumas reflexões.
A Suécia começou a se preocupar com as questões democráticas
devido à redução na participação eleitoral, na confiança do povo em
relação à política e aos políticos e na participação das pessoas na política.
Diante disso, foi instituída uma comissão composta pelo governo, partidos
políticos e cientistas, que realizou reuniões em todo o país para incorporar
os interesses locais. Em 1998, foram criados o Ministério da Democracia e
uma agência especial, que trata das questões eleitorais.
Para aumentar a confiança das pessoas na política, a administração
pública deve funcionar (eficiência) e ser orientada para o cidadão, com foco
na transparência. Quanto à participação social na política, foram adotadas
medidas as seguintes medidas:
Criação dos embaixadores da democracia antes das eleições que
visitavam as casas das pessoas, para aumentar a participação dos
imigrantes;
Mudanças na legislação para possibilitar a participação das pessoas
com deficiência;
Educação dos servidores públicos e dos políticos;
Conscientização da sociedade.
24
Portanto, o tratamento da democracia se restringiu na participação
política e não abordou aspectos como educação e gênero, porque já estão
funcionando. O resultado alcançado com as intervenções foi um maior
diálogo entre municípios e partidos políticos.
As lições aprendidas com esse processo foram:
Nunca subestime a resistência dos diferentes grupos políticos. A
necessidade de mudança deve estar assimilada pelos grupos de
interesse, pois o poder gera conflito de interesses;
As mudanças democráticas são de longo prazo;
O governo deve estar ciente do que se pode melhorar, pois as
pessoas criam expectativas e não se pode iniciar uma ação quando
não se sabe se há condições de alcançar os resultados esperados.
Diante disso, as áreas importantes para uma mudança democrática
são:
Educação: não garante a participação democrática, mas ajuda;
Intercâmbio de experiências: espaços para encontro das pessoas;
Confiança: dar às pessoas uma razão para acreditar na política;
Efetividade da administração pública: cumprimento das metas
estabelecidas;
Participação política.
25
O papel do Gabinete de Ouvidoria Parlamenta – a supervisão das
autoridades públicas
Histórico da Instituição
A ouvidoria na Suécia foi instalada em 1810, quando o poder do rei
foi divido com o Parlamento (Riksdag). O rei devia indicar o chanceler da
justiça (o ombudsman real) e o Parlamento seu próprio ombudsman
parlamentar. A principal finalidade do ombudsman parlamentar era
proteger os direitos dos cidadãos estabelecendo uma agência supervisora
que fosse completamente independente do poder executivo.
Logo após a Suécia, a Finlândia criou uma ouvidoria, e há uma
distinção entre as instituições de ouvidoria nos diferentes países.
Instituições francesas utilizam a ouvidoria como mediação do governo com
o cidadão, na Espanha o “Defensor del Pueblo” tem trabalho e metodologia
diferente.
Competências
Inicialmente, o papel de um ombudsman parlamentar podia ser
caracterizado como aquele de um prosecutor (advogados que possuem um
grau de conhecimento da lei e são reconhecidos como profissionais legais
pela corte e que podem representar o estado – como são os procuradores
no Brasil).
Atualmente, o ombudsman parlamentar na Suécia deve certificar-se
de que o governo e as agências de governo local e as cortes seguem a lei
sueca, trabalhando com queixas que os cidadãos lhes emitem. Além dessas
queixas, o órgão tem o poder de iniciar investigações por iniciativa própria
com base em artigos divulgados na mídia, por erros cometidos pela
administração e se a denúncia anônima for consistente, e podem
recomendar soluções aos procedimentos adotados pelos órgãos públicos.
Estrutura
Na Suécia, há quatro ombudsman eleitos pelo Parlamento, que
trabalham com 5 a 7 investigadores, cada um compondo um total de 55
servidores no órgão. Os investigadores são substituídos a cada seis anos e
26
geralmente foram ocupantes de cargo de juiz. Os ministérios, as agências,
os condados e os municípios não possuem serviços de ouvidoria,
entretanto, em Estocolmo, existe um conselho que controla o atendimento
de saúde na capital.
Forma de Atuação
Atuam basicamente sobre as agências públicas, não atuando sobre o
Primeiro Ministro e seu Ministério que são controlados por comissão
específica do Parlamento, principalmente sob o aspecto político.
Geralmente nas inspeções in loco, verifica-se documentos, inspeciona-se a
qualidade do serviço, o comportamento dos funcionários e a existência de
divergências sistêmicas e estruturais dos serviços.
Se for identificada a ocorrência de crime por parte de um servidor
público, o ombudsman possui um procurador que faz a acusação à justiça e
recomenda as sanções criminais cabíveis, em relação às sanções
disciplinares o servidor é submetido a um conselho de trabalhadores e
autoridades, podendo ser penalizado com um aviso público, a redução dos
vencimentos e até a perda do emprego.
O resultado das inspeções é público, divulgando o nome do servidor
nas declarações e informando como a ação deveria ter sido conduzida
corretamente, assim a ouvidoria atua como um guia para o futuro, pois os
demais servidores tomam ciência de como proceder em situações análogas.
O trabalho da ouvidoria pode resultar na necessidade de modificação da lei
para que seja incluído novo dispositivo, ou anulados outros, em função de
conflitos legislativos.
Resultados
O ombudsman parlamentar da Suécia recebe em média 6.000
queixas por ano, com um acréscimo de 10% em relação ao exercício de
2005/06, devido principalmente à utilização da internet para acesso ao
órgão, e realiza aproximadamente 100 ações por iniciativa própria ao ano.
Do total de queixas, 80 a 85% são encaminhadas às agências
públicas para apuração, com uma média de 30 dias para a resposta à
ouvidoria pois 35% são resolvidas por contato telefônico; de 10 a 15% o
resultado é favorável ao cidadão. Aproximadamente 50% deixam de ser
27
atendidas considerando que trabalham com um prazo de prescrição de dois
anos, sendo que o atraso está relacionado com a tarefa após o resultado da
apuração que é o de elaborar relatórios.
As diferenças no sistema de ouvidoria entre o Brasil e a Suécia são
significativas e perfeitamente justificadas, pois as dimensões brasileiras
inviabilizam a centralização praticada pelo sistema sueco. Como exemplo,
em 2006, somente no Departamento de Ouvidoria Geral do SUS do
Ministério da Saúde foram recebidas 6.322.854 ligações telefônicas que
geraram 15.504.203 informações prestadas, e juntamente com outros
meios de contato produziram 14.042 demandas para outros órgãos, o que
demonstra a conscientização do povo brasileiro em utilizar os instrumentos
de ouvidoria como forma de garantia de direitos.
Destaca-se nas competências da ouvidoria sueca o poder de
investigação e recomendação de punição, que no Brasil são
responsabilidades de órgãos específicos. A disseminação de informação e a
maturidade política da população são fatores preponderantes da
participação social no controle das autoridades públicas, fatores que no
Brasil são incipientes se considerarmos as dificuldades decorrentes da
exclusão digital e das grandes distâncias, e se consideramos ainda que faz
apenas 18 anos que adotamos o sufrágio direto comparado com os 200
anos de Parlamento sueco.
As regiões e os municípios da Suécia e o papel da Associação Sueca de Regiões e Autoridades Locais (SALAR)
A Constituição da Suécia em seu artigo 1º estabelece que a
democracia está baseada na autonomia regional e local, inclusive com
capacidade de arrecadação de tributos e liberdade de determinação dos
valores das taxas. A tabela abaixo apresenta as responsabilidades das
esferas de governo:
28
ESFERA RESPONSABILIDADE
Governo Federal
Política Externa
Previdência
Polícia
Educação de Nível Superior
Condados Saúde Pública
Transporte Intermunicipal
Municípios Cuidados com as Crianças
Tratamento de Lixo e Meio Ambiente
A receita do município é composta de 69% do imposto sobre a renda,
14% de subsídios (1/5 destes são despesas pré-determinadas), e o restante
é em função de suas próprias taxas.
A Associação Sueca de Regiões e Autoridades Locais (SALAR)
representa os 20 condados (county councils) e os 290 municípios
(municipalities) nos assuntos tratados pelos ministérios e pelo Parlamento
e visam melhorar as propostas em discussão.
A Associação é constituída de 450 voluntários e é custeada com taxas
pagas pelos seus membros o que a torna independente do Governo Federal
e do Parlamento. As decisões são tomadas por um conselho eleito pelos
políticos municipais.
Os principais assuntos tratados atualmente são:
A reavaliação da divisão dos condados que está em debate faz 3 anos
– reduzir o número de condados de forma que cada um possua uma
população de 1 a 2 milhões de habitantes com um hospital, e uma
universidade, pois a divisão atual está baseada em um estudo de
1650, a distância entre os habitantes está diminuindo e as estruturas
estão muito pesadas;
O princípio de autodeterminação da aplicação dos recursos (decisão
sobre a aplicação do 1/5 citado anteriormente);
A possibilidade dos municípios negociarem sobre os acordos centrais
com os sindicatos, pois estes se relacionam diretamente com os
ministérios e o Parlamento;
Estudar a participação dos municípios em relação aos diversos
setores da economia;
29
Facilitar a cooperação entre os municípios nas áreas de atuação de
sua responsabilidade.
Atualmente, a associação tem que acompanhar o desenvolvimento
dos trabalhos em Bruxelas, onde as decisões da União Européia são
tomadas, considerando que as normas lá emanadas influenciam na
legislação dos países membros, afetando assim as atividades desenvolvidas
nos condados e municípios.
Seu maior desafio é a homogeneização do discurso, pois o presidente
é conservador e a estrutura da organização reflete a estrutura política do
país, que agora está composta pela coalizão dos principais partidos
políticos.
O papel das autoridades locais no sistema sueco de educação
As metas e normas gerais são determinadas pelo Parlamento por
intermédio da lei de educação, inclusive o currículo escolar, e está baseada
na autonomia local. Há escolas administradas pelos municípios e outras
independentes sob administração privada competindo entre si, mas ambas
são custeadas por recursos públicos, sendo que os pais tem liberdade de
escolher o tipo de escola que seus filhos desejam freqüentar.
O ensino tem início na pré-escola que perdura até o sexto ano de
vida, onde 83% das crianças estão matriculadas. Nessa faixa etária, 87%
das crianças freqüentam a escola municipal e 13% freqüentam a escola
independente.
O ensino básico tem início aos 7 anos e termina aos 15 anos, onde
91% estão matriculados na escola municipal e apenas 9% estão
matriculados nas escolas independentes. O ensino médio, que abrange
jovens de 16 aos 19 anos, só é disponibilizado por escolas municipais, onde
são lecionadas as aulas vocacionais, ou seja, ensino com ênfase no mercado
de trabalho nas seguintes áreas: recreação de crianças; energia; veículos;
construção; artes e eletricidade.
Nos casos em que as crianças têm que se deslocar de uma localidade
para outra, os recursos necessários para custear seus estudos também são
transferidos, assim é que os municípios elaboram seu planejamento para a
educação levando em consideração os seguintes dados:
30
O atual número de alunos;
A necessidade de transporte dos alunos;
A quantidade necessária de recursos financeiros;
A opinião local dos habitantes;
Os programas de governo;
A opinião dos outros municípios.
A educação na Suécia tende a sofrer uma reforma em diversas áreas
das quais se destacam: aumentar o número de escolas independentes;
aumentar o número de salas de aula para educação vocacional; e
desenvolvimento de auto-avaliação da escola e do sistema de educação.
Os desafios que justificam essas reformas é o fato de 12% das
escolas não adotarem cronograma para as matérias, pois apenas estipulam
a carga horária, e a população defende que o aluno faça os exames quando
estiver pronto, além disso, não há dialogo entre os professores dos
diferentes níveis de ensino.
A nova lei da educação deverá ser capaz de solucionar os problemas
com o Governo Central em relação ao sub-financiamento do município,
como o fato de que os municípios são obrigados a ter um pedagogo para
atender as questões de gênero, pois alegam que não tem problemas com o
ensino especial e que isto só necessita constar do currículo escolar.
Os princípios do sistema sueco de equalização das finanças dos municípios
e regiões
O principal fator que motivou a Suécia a estabelecer um sistema de
equalização das finanças dos municípios e regiões, implantado em 1996, foi
a reforma das fronteiras em decorrência da movimentação da população da
área rural para a área urbana gerando maiores despesas aos municípios
que recebiam a população migrante.
Diante disso, o governo sueco elaborou uma forma de calcular a taxa
de arrecadação de impostos per capta do nível federal que mede a
capacidade de determinado poder público de arrecadar impostos em
relação ao número de habitantes e que serve de base para o cálculo da taxa
dos municípios. Atualmente, os municípios com maiores dificuldades em
função de suas características geoeconômicas têm uma taxa de capacidade
31
de arrecadação per capta de 100 %, enquanto nos mais ricos essa taxa é de
300%.
A sociedade sueca paga os impostos diretamente na fonte e depois
são transferidos aos municípios pelo sistema de equalização, que reduz as
desigualdades na qualidade de vida dos cidadãos suecos.
Diversos são os fatores que influenciam no cálculo do valor a ser
distribuído aos municípios, tais como: a média salarial per capta; a
estrutura etária dos cidadãos: a quantidade de habitantes; o tipo de
atividade econômica praticada, o número de escolas, dentre outros. Dessa
forma, os municípios com maior número de creches e de mulheres idosas e
com maior volume de trânsito são os municípios mais caros para o governo.
Como exemplo, o sistema de equalização ajudou a reduzir o valor médio
gasto por habitante na educação. Antes do processo de equalização,
gastava-se SEK 75.000,00 por habitante/ano e, atualmente, o valor se
encontra no patamar de SEK 36.000,00.
Na média um município sueco estabelece uma carga tributária de 21
a 22%, enquanto a carga tributária nacional está em torno de 32 a 33%.
Até 2003, o nível estipulado para o qual os municípios deveriam contribuir
para o sistema de equalização era de 90% da taxa nacional e foi
gradativamente sendo aumentado, de forma que, em 2005, dos 54
municípios que estavam acima daquele nível, somente 13 municípios com
115.000 habitantes estão acima do nível de 115%, e direcionam SEK 3,4
bilhões para os demais municípios abaixo desse nível. Em 2003, dois
condados estavam acima do nível e, desde 2005, apenas um está acima de
110% colaborando com SEK 2,2 bilhões.
Conforme gráfico abaixo, no exercício de 2005, foram redistribuídos
SEK 59,9 bilhões, dos quais SEK 55,2 bilhões eram contribuições do
Governo Federal, e assim divididos: SEK 45,0 bilhões para os municípios e
SEK 14,9 bilhões para os condados.
32
Diálogo entre os cidadãos e as autoridades locais suecas
Os municípios são dotados de conselhos que decidem a respeito do
desenvolvimento das comunidades, sobre o emprego, como prover os
serviços e sobre a supervisão da autoridade local. Nos conselhos, os temas
são debatidos em comissões nas quais as pessoas e as empresas afetadas
podem debater os assuntos.
Embora existam 40.000 políticos trabalhando nas localidades, a
população tem afirmado que necessita de um maior diálogo com os
gestores municipais, pois a facilidade e o excessivo uso de ferramentas de
contato com o nível central e com sindicatos, em especial a internet, tem
feito com que a autoridade nos municípios não seja acionada. Não há uma
sistemática ideal para abordagem entre o prefeito e a comunidade, tão
pouco existe a difusão de boas práticas de gestão nesse sentido.
Influenciando a política de ambiente na Suécia. Trabalhando com a dimensão Européia.
A maior associação de preservação do meio ambiente da Europa,
fundada em 1909, além de trabalhar com o tema na Suécia, tem forte
influência na União Européia e está presente em todos os continentes, seja
por meio de atuação direta, seja por financiamento e/ou parceria com mais
de 50 instituições congêneres. Entidade sem fins lucrativos, a Sociedade
Sueca de Conservação da Natureza tem o seu Presidente, que é Doutor em
33
115
100
Taxa de Capacidade %
Municípios1-290
SEK 45 bilhõesGoverno Federal
SEK 3,4 bilhões
Sistemas Ambientais e Energia e trabalha em regime de dedicação
exclusiva, além de 70 outros empregados – 50 na sede, 10 em Gotemburgo
e 10 em outras localidades. Tem uma unidade em cada um dos municípios e
representação regional em todos os condados.
Tem como estratégia principal, visando a se manter na ordem do dia,
a participação em debates na TV e o trabalho investigativo cujo objetivo
central seria o desenvolvimento de ações consentâneas com os temas
abaixo:
Conservação – Preservação da Natureza, proteção de áreas virgens e
manejadas;
Proteção da saúde pública, permitindo que as pessoas enxerguem
árvores, com o objetivo de visualizarem o verde que
comprovadamente é a cor que mais satisfaz os nossos olhos;
Aumentar a democracia de baixo para cima;
Conexão cidades/natureza;
Contra produtos químicos não degradáveis;
Ajudar os consumidores a fazerem opção por produtos que não
tragam malefícios ao meio ambiente;
Adoção do selo de qualidade (selos ecológicos);
Incentivar as crianças a irem aos bosques, que o verde esteja
próximo de onde moram as pessoas; e,
Publicação de revista sobre o tema.
O orçamento para 2007, cerca de 20 milhões de dólares, é financiado
majoritariamente pelos seus associados, atualmente em torno de 170 mil
membros contribuintes – tomando como parâmetro, equivaleria a 3,5
milhões de pessoas no Brasil. No entanto, o governo sueco historicamente
financia ¼ dos projetos desenvolvidos pela associação e que são de
interesse específico do mesmo.
A tentativa de influenciar o Parlamento está respaldada pela tradição
antiga de movimentos populares na Suécia, pela via do consenso. A
associação conta também, com membros experientes oriundos de outros
segmentos, tais como igrejas, trabalhadores, associação de jovens, etc.
A associação tem participação informal em todas as comissões do
Parlamento. Às vezes, participa formalmente de algumas delas.
34
Atualmente, o maior lobby é para duplicar os recursos voltados para o setor
floresta.
O trabalho dos associados é voluntário, cerca de 6 mil pessoas
participam das atividades da associação despendendo de 10 minutos a 10
horas de trabalho semanal. O trabalho de fiscalização da entidade é
facilitado, pois existem competências institucionais claras, por exemplo, no
que se refere ao manejo do lixo, os municípios são responsáveis pelo seu
tratamento, sendo que os produtores têm responsabilidade sobre o seu lixo
– pneus, alumínios, papéis, etc. São responsáveis coletivamente pela
reciclagem, atualmente em torno de 90%.
A Associação faz avaliações sistemáticas da atuação dos políticos no
tema meio ambiente, no que se refere às promessas e ao cumprimento das
mesmas. Atualmente, os políticos conservadores são os piores avaliados,
pois votaram contra tudo que se referia ao meio ambiente. Afirmam que, na
visão dos conservadores, mudanças climáticas têm a ver com o destino
humano.
Na ótica da Associação, os transgênicos não se apresentam como a
maior ameaça ao meio ambiente, embora acredite que é melhor diversificar
os produtos do que modificá-los geneticamente. Considera que a produção
atual de alimentos no mundo é suficiente e que a questão da fome é em
razão de logística inadequada.
Maneiras de Influenciar a Política Social e as Decisões Governamentais
A constituição de sindicatos na Suécia, em toda sua história não
visava somente a metas sindicais, sobretudo a igualdade social e
econômica. A Confederação Sueca de Sindicatos (LO), que já teve vínculo
muito estreito com o Partido Social-Democrata (PSD), atualmente está mais
afastada.
Em termos de organização social na Suécia, 80% dos chamados
colarinho azul e 70% do colarinho branco são participantes de sindicatos. A
LO representa muitos trabalhadores, por isso supõem que a sociedade
sueca como um todo tem que ouvi-la. Tenta-se influenciar o Partido Social-
Democrata. Muitos dos membros desse partido são ativistas sindicais.
A imprensa sindical tem um papel muito importante, conta com a
revista LO – nacional - e uma revista para cada uma das 15 federações
35
afiliadas. No início do século XIX, os sindicatos fundaram o PSD – voz no
mercado de trabalho e no Parlamento.
Não existe na Suécia tradição de grandes movimentos. Procuram
influenciar nos bastidores. No entanto, recentemente foram feitas
manifestações em todo o país contra a proposta do governo de reduzir o
percentual do seguro-desemprego.
O sindicato não tem programas sociais para seus filiados, trata-se de
uma atribuição do governo. A preocupação central da LO é apresentar
propostas para melhoria geral da sociedade. No entanto, hoje a relação
com o governo não é muito boa, pois se trata de governo de centro-direita.
Tomando como base as informações, não muito esclarecedoras,
prestadas pelo Sr. Mats Eriksson, representante da LO e a partir da
literatura, podemos inferir que, no resto da Europa, quando os social-
democratas participaram de governos de coalizão criados para combater a
crise que se instalou no interstício entre a primeira e a segunda grandes
guerras, às vezes apoiando iniciativas de seus aliados conservadores, na
Suécia, a social-democracia formou um governo no auge da crise, sob sua
liderança e com um programa inédito e bem sucedido de promoção do
crescimento, do pleno emprego e do bem-estar social.
O Partido Social-Democrata tornou-se hegemônico na Suécia e,
assim, pôde realizar as progressivas reformas, atingindo seus objetivos
socialistas fundamentais em poucos anos. O sistema previdenciário
implementado pelos social-democratas suecos ao longo dos anos mostra-se
eficiente, abrangendo aposentadoria, pensões, assistência à saúde e outros
benefícios sociais. Desta forma, não há muito espaço para uma política
sindical voltada ao confronto, ou mesmo para reivindicações de melhorias,
pois aparentemente não há insatisfação quanto a esse aspecto. Ainda, como
reforço, a LO que é majoritariamente a representante da classe
trabalhadora sueca é umbilicalmente ligada ao partido Social-Democrata,
que historicamente é hegemônico. Portanto, praticamente não há oposição
política, tampouco um contraditório mais consistente.
A Comunicação Social como Instrumento de Controle Social dos Assuntos
do Estado: A Experiência do mais respeitado Jornal da Suécia.
O direito de acesso à informação pública apareceu pela primeira vez
na Lei de Liberdade de Imprensa da Suécia, em 1766. Apesar disso, foi
36
apenas em 1949, que tal princípio passou a ser adotado explicitamente pela
Constituição sueca.
Constitui um direito fundamental de cada indivíduo participar e
exercer influência na evolução da sociedade. Todas as pessoas têm direito
a ser informadas e conhecer as atividades do setor público, a exprimir
livremente as suas opiniões, a aderir a organizações e partidos políticos e a
votar em eleições livres.
Acredita-se que essa Lei de Imprensa tenha sido a inspiradora do
preceito contido na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 26
de agosto de 1789, proveniente da Revolução Francesa que diz, no artigo
15 que “A sociedade tem o direito de pedir a qualquer agente público,
contas de sua administração”. Portanto, mesmo que a Declaração não
trouxesse explícita a garantia de efetivo acesso a todos os documentos
públicos, inclusive suas contas, apresentava o princípio da transparência.
Em termos de liberdade de imprensa, de expressão e respeito aos
direitos do cidadão, a Suécia é um celeiro de inovações. Como exemplo, a
figura do Ombudsman, que surgiu no século 19, não com o objetivo
específico de trabalhar em meios de comunicação, mas, como defensor do
povo em gera, e depois surge como defensor de leitores junto à imprensa,
também, no início do século 20. Outra novidade, a auto-regulamentação da
Imprensa, surgiu na Suécia em 1916 por meio do Conselho de Imprensa.
A Suécia tem quatro leis constitucionais: a forma de governo, a
ordem de sucessão, a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão.
Apesar de ser uma nação onde a democracia é exercida quase que na sua
plenitude, criou-se uma lei que proíbe a publicidade dirigida às crianças.
Elas estão proibidas inclusive de participar dos comerciais. Isso denota que
a liberdade de imprensa não pode ser um instrumento que prevaleça sobre
o direito e a proteção das liberdades de outros de segmentos sociais, como
por exemplo, as crianças.
Todo esse aparato legislativo e a tradição antiga do controle social
da imprensa, aliado ao grande número de famílias leitoras de jornais
impressos, - em torno de 82% das famílias assinam jornais – contribui
decisivamente para que esse controle seja exercido na Suécia, em grande
dose. Inclusive, a transformação social rápida e profunda que ocorreu na
Suécia - população rural para população industrial - somente teve êxito na
quantidade e qualidade tendo como auxiliar a mídia livre e responsável.
37
O sistema de educação na Suécia e suas relações com o Governo central e
os municípios
Este tópico trata do sistema educacional sueco, em especial
relacionado à educação infantil, ao nível compulsório – correspondente ao
nosso Ensino Fundamental, e à educação secundária. O foco sobre esses
níveis ocorreu devido às relações institucionais entre governo central na
Suécia e municipalidades. De qualquer modo, são também abarcadas
questões relacionadas ao Ensino Superior, bem como sobre Educação de
Jovens e Adultos e Ensino à Distância.
Nesse sentido, a educação escolar que compreende desde a
educação infantil até o secundário é responsabilidade das municipalidades
e o nível obrigatório é o correspondente ao Ensino Fundamental. No que
tange à Educação Infantil, 83% das crianças já vão para a creche a partir
do 1º ano de idade. De qualquer forma, a pré-escola é uma forma não-
compulsória de educação dentro do sistema escolar público. As
municipalidades têm a obrigação de oferecer às crianças uma vaga até os
seus 6 anos de idade – quando inicia o nível compulsório. O programa pré-
escolar apresenta um mínimo de 525 horas por ano.
Na educação compulsória, a ser freqüentada regularmente entre os 7
e 16 anos de idade, existem várias disciplinas obrigatórias. Dentre elas,
destacam-se a de Tecnologia, que trata do funcionamento de máquinas,
motores, com foco em ciências naturais, e a de Civismo, que lida com
aspectos e formação da sociedade, democracia, fatos básicos sobre o
município e o condado, dado o contexto histórico e geográfico. Há também
a disciplina que versa sobre trabalhos têxteis, em madeira e metais, bem
como a oferta de outros idiomas, além do sueco e do inglês.
A instituição privada (ou escola independente) tem a possibilidade de
um currículo diferenciado da pública, desde que atenda aos objetivos
básicos demandados das escolas municipais. As escolas independentes
geralmente têm uma abordagem pedagógica diferenciada, considerando
ainda orientações lingüísticas e/ou étnicas.
Observa-se que um dos princípios do sistema escolar na Suécia é a
sua descentralização. São as escolas municipais, por exemplo, que
decidem quando os alunos aprendem um determinado assunto. E, uma vez
mais, os municípios têm a obrigação de oferecer uma vaga no sistema.
38
Nesse nível escolar, estão incluídas, além das regulares, as escolas
especiais e as Sâmi.
Há, entretanto, algumas diferenças de gestão e/ou estruturação
dessas. No caso do ensino compulsório ofertado para o povo Sâmi, os 6
primeiros anos de escola são obrigatórios e devidamente integrados com a
sua realidade e cultura. A educação especial, que é ofertada quando da
impossibilidade de alguns alunos com deficiência não conseguirem assistir
às aulas em sistema regular, não é administrada pelo município, mas pelo
governo central. E essa educação apresenta um tempo maior que o regular,
sendo de 10 anos.
Quanto ao nível secundário, toda municipalidade na Suécia deve
oferecer aos estudantes esse nível de educação, não compulsório e
correspondente ao nosso Ensino Médio. Os estudantes têm o direito de
escolher qual escola a freqüentar. Isso inclui as escolas independentes que,
mesmo que não existam no município em que o aluno reside, são obrigadas
a oferecer transporte para que o aluno assista a suas aulas, como também
pagar a mensalidade da escola. Segundo o Ministério da Educação da
Suécia, 15% dos alunos nesse nível estudam em escolas independentes.
No que diz respeito ao currículo da educação secundária, há diversos
cursos profissionalizantes, incluindo os ligados à assistência médica básica,
mecânica, programação de computadores, dentre outros. O município
também tem a obrigação de auxiliar o aluno a encontrar uma atividade
dentro do mercado de trabalho. Também é possível combinar horário de
trabalho com horário de aula.
O direito a esse nível de ensino, garantido integralmente aos alunos,
vai até os 20 anos de idade. Após isso, há diversos tipos de educação
secundária para adultos. O nível médio regular sueco proporciona ainda
aos alunos um currículo no qual elementos profissionalizantes estão
fortemente presentes, além de prepará-los para o nível correspondente ao
ensino superior brasileiro.
Se, após o aluno completar 20 anos, não houver terminado o nível
compulsório ou secundário (geralmente esse último), ele pode freqüentar a
educação para jovens e adultos municipal. Para essa modalidade de ensino,
não há ofertas dentro de escolas independentes. Nessa modalidade,
freqüentam também imigrantes, em especial para aprender o idioma sueco.
Uma vez mais, os municípios têm a obrigação de oferecer essa modalidade
aos alunos.
39
Há também as chamadas “folk high schools” e associações de
voluntários de estudos. Para a modalidade de educação de jovens e adultos,
há ainda um programa de educação suplementar, que vai de 6 meses a um
ano, geralmente. É um tipo de re-qualificação, que pode treinar o pessoal
no local do trabalho. Para essa educação, o pré-requisito é a educação
secundária completa. O nível terciário ou superior compreende 40
instituições públicas universitárias. A partir de 2007, o Parlamento proporá
uma entrada mais seletiva a essas instituições.
Por fim, há ainda uma política forte contra “bullying” – assédio
moral, dentro do sistema escolar. Nas escolas, há um conselheiro que
encaminha e está preparado para lidar com o assunto. A educação à
distancia – EAD, encontra-se mais relacionada com o nível secundário, além
de algumas instituições de ensino superior que apresentam alguns cursos
nessa modalidade em cidades como Pequim (China) e Riad (Arábia Saudita)
A União Nacional Sueca do Povo Sâmi.
O povo Sâmi é indígena e vive do comércio relacionado à carne de
rena e turismo sustentável. Mora principalmente nas regiões setentrionais
da Noruega, Suécia, Finlândia e da península de Kola, na Rússia. É um dos
maiores grupos indígenas. Estimam-se cerca de 70.000 pessoas
pertencentes ao povo Sâmi nesses países.
Na Suécia, existem 51 aldeias – sendo 32 na parte setentrional do
país, com 4500 Sâmi registrados como donos de rena (lá, existem 230 mil
dessas). Os Sâmi são os únicos que detêm o direito de serem donos de
rena. Outras atividades econômicas comuns são a pesca, o artesanato, além
do turismo.
O Estado sueco não reconhecia o povo Sâmi como indígena até 1977.
Em 1998, o então ministro para a agricultura e assuntos indígenas, Annika
Åhnberg, pediu perdão ao povo Sâmi, em nome do governo, pela maneira
como os trataram ao longo do tempo. No passado, as crianças Sâmi eram
separadas das crianças com outras ascendências, em “escolas para
nômades”. Acreditava-se que os Sâmi não podiam ir a escolas “normais”,
porque se considerava que eles não saberiam comer de garfo e faca, não
saberiam viver em casas ditas normais. Isto é, que eles seriam incapazes de
compreender a civilização ocidental.
40
E, quando os Sâmi conseguiam ir à escola para “não-nômades”, eles
perdiam o direito de terem renas. Viviam, portanto, em um limbo, sendo
considerados pelos suecos “melhores” que os nômades, mas nunca à altura
do cidadão Europeu “civilizado”.
Atualmente, apesar do fato de que há um fortalecimento da
(re)construção da identidade Sâmi, houve pouca mudança, em termos
políticos. O formato do Parlamento Sâmi, por exemplo, é controlado pelo
Parlamento sueco. Os Sâmi ainda não têm uma representação política no
legislativo sueco. A região da Lapônia, que foi considerada pela UNESCO
como patrimônio mundial em 1996, devido a sua biodiversidade, seu
significado histórico e a sua relevância ao povo Sâmi, não foi tratada
diretamente com o povo Sâmi. E a sua área protegida é quase descontínua
devido a uma hidrelétrica lá construída.
Segundo uma representante dos Sâmi, a mídia não escreve porque
não tem conhecimento sobre os Sâmi e que é necessário um canal de
comunicação mais efetivo e consistente. Por fim, estudos de impacto
ambiental e de fortalecimento ambiental na região deveriam ter a
participação dos Sâmi na formulação das políticas públicas afetas.
Os atores e o financiamento do sistema sueco de saúde.
O atendimento básico de saúde representa uma obrigação do
governo do condado, que conta com 11% da arrecadação tributária.
Ademais, os custos referentes à saúde e assistência médica representam
algo acima de 9% do PIB.
Como indicadores gerais de saúde, tem-se que a expectativa de vida
na Suécia é de 82 anos para mulheres e 78 para homens. A taxa de
mortalidade é de 2 crianças em 1000 nascidos vivos.
Há 21 conselhos nos condados, bastante variáveis, em termos de
população e oferta de serviços. Gottland, o menor, atende a 50 mil pessoas
e o maior, Estocolmo, a 1,8 milhão. Esses conselhos do condado são
responsáveis por organizar os seus serviços, a fim de que cada cidadão
possa usufruir de um adequado tratamento. Há também normas para dar
liberdade às municipalidades e condados para organizar a oferta dos seus
serviços de saúde.
O atendimento correspondente a baixa complexidade é
descentralizado, encontrando-se os de média e alta complexidade nos
41
grandes centros. Há nove hospitais regionais, 70 hospitais nos condados e
mais de 1000 centros de saúde. Ao contrário do Reino Unido, a Suécia não
dispõe de um serviço de saúde tipo “Médico da Família”, seguindo o
atendimento do posto de saúde direto para um hospital.
Dentre os novos pontos para saúde, o antigo secretário apontou para
a mudança no perfil das doenças, dado o envelhecimento da população, e a
realização de novos estudos médicos e medicamentos. Esses medicamentos
estarão cada vez mais caros, uma vez que, dada a avaliação de genótipos,
eles serão cada vez mais individualizados.
Ainda sobre o envelhecimento da população, tem-se que 18% dos
atendidos têm acima de 65 anos, mas 80% dos recursos saúde seguem para
esse público. Com a tendência de taxas de natalidade decrescentes, urge,
como em outros países, considerar a situação atuarial para o devido
atendimento de saúde. Existem projetos de migrar os mais ricos para o
setor privado de saúde, bem como uma reforma previdenciária, que
considere as novas expectativas médias de vida. Mas, é necessário que um
dos princípios levados em conta para o sistema de saúde sueco se
mantenha: a garantia da qualidade do serviço prestado. Isso leva em conta
desde o preparo de um médico, até prazos máximos para atendimento
médico. No caso de uma cirurgia na Suécia, o tempo de espera máximo é
de 3 meses.
Em contrapartida, até os 19 anos do cidadão, tudo é gratuito em
termos de atendimento de saúde na Suécia, até o odontológico. Após essa
idade, 60% do tratamento são pagos pelo indivíduo. Mas, após o dispêndio
individual de 1500 coroas/ano, essa pessoa arcará com 15% do tratamento,
com o Estado se responsabilizando pelo restante.
Com tudo isso, considera-se que os condados são pequenos para essa
estrutura e previsões. Inclusive, em termos regionais, o norte da Suécia
não tem um sistema de medicina privada. E, a fim de minimizar esses
impactos, existe a possibilidade de redução desses condados, portanto,
ficando entre 6 e 9, prevendo-se essa nova divisão para meados da próxima
década.
O seguro-desemprego na Suécia é de até 2 anos e o controle de
informações de saúde do indivíduo é realizado mediante um cartão, que ele
recebe ao nascer. Nesse cartão, constam informações como o seu sexo,
além da naturalidade. Os direitos do cidadão também estão garantidos pela
42
presença de um sistema de defesa de seus direitos, personificado pela
figura do “ombudsman”.
2.2. Alemanha
Introdução ao sistema político na Alemanha (federalismo alemão) e
interesses organizados e acesso ao processo político
A Alemanha é uma democracia constitucional federal, cujo sistema
político foi criado com a constituição de 1949, chamada Grundgesetz (Lei
Básica). Na sua democracia representativa, a política deve garantir aos
cidadãos uma vida digna (Estado Social).
A Alemanha possui 16 estados federados e cada um possui seu
próprio governo, tribunal confederado e capital. Mas no que se refere à
legislação, as leis nacionais se sobrepõe às leis federais. Os vários níveis
que compõem o federalismo alemão foram criados no sentido de evitar
concentração numa só instância.
Há 18 anos, o voto, na Alemanha, é direto, livre, igualitário e secreto.
As eleições municipais estão também consagradas na Constituição do país.
Uma das principais características do sistema político-eleitoral alemão é a
existência de várias coligações, já que o eleitor tem 2 votos: um que vai
para o candidato e outro que vai para o partido político.
O Presidente, na Alemanha, é o chefe de Estado e é eleito para um
mandato de 5 anos, com direito a uma candidatura para reeleição. O chefe
de Estado tem a prerrogativa de nomear os membros do governo bem como
os juízes, mas os seus poderes estão limitados apenas a funções
cerimoniais e de representação do Estado. O chanceler é o único membro
eleito do Parlamento e possui competência diretiva: as linhas gerais das
leis são, por ele, determinadas.
O Parlamento, chamado Bundestag (Assembléia Federal), é eleito de
quatro em quatro anos por voto popular, usando um complexo sistema que
combina o voto direto com representação proporcional. Os 16 Bendiz
(Estados) estão representados federalmente no Bundesrat (Conselho
Federal), que tem palavra no processo legislativo. Nos últimos tempos, tem
havido alguma controvérsia sobre o fato de que o Bundestag e o Bundesrat
43
bloquearam decisões um do outro, o que dificulta a ação efetiva do
governo.
O braço judicial inclui o Tribunal Constitucional, chamado
Bundesverfassungsgericht, que pode bloquear qualquer ato de legislação
ou administração se estes forem considerados inconstitucionais.
Com relação às questões tributárias, os orçamentos estaduais e
federais são autônomos. Existe o que se chama de distribuição vertical e
distribuição horizontal. De acordo com a primeira, o bolo fiscal excedente é
distribuído entre os 3 entes. A distribuição horizontal refere-se à
participação dos Estados no bolo fiscal federal.
Em decorrência do alto nível de desigualdades existentes entre as
regiões que antes representavam as duas Alemanhas, foi firmado um pacto
de solidariedade. Em função desse pacto, houve, durante os anos de 1995 a
2004, uma compensação financeira entre as regiões de maneira que a parte
ocidental realizava transferências financeiras para a parte oriental. Dada a
existência de policentrismo na Alemanha, há uma grande necessidade de
articulação e cooperação entre os entes federados.
Regulamentos, diálogo social e lobbying na União Européia
Os processos de lobby no âmbito da União Européia são importantes
tendo em vista que cerca de 80% das leis aprovadas na esfera nacional de
cada país são, na verdade, de aplicação das normas Européias. Segundo
Florian Nehm, Chefe dos Assuntos Europeus do Axel Springer Publishing
Group, a maior parte dos stakeholders não se dão conta desse número e
60% dos policy makers tomam decisões sem conhecer a fundo seu setor. A
Alemanha não consegue alcançar seus objetivos por meio de lobby, daí a
necessidade de informar os governos de maneira adequada a fim de
influenciar a tomada de decisões no âmbito da própria União Européia.
Estudo de caso: Anunciando restrições à alimentação intensiva em açúcar
O estudo de caso apresentado referia-se à propaganda de redes de
fast food versus aumento da obesidade e diabetes em crianças. Tal estudo
permite questionar até que ponto vai a responsabilidade do Estado e
quando começa a responsabilidade do indivíduo. Os argumentos pró-
propaganda se baseavam no fato de que: (i) produtos legais têm direito à
44
publicidade, (ii) educação da alimentação é tarefa das escolas e das
famílias, (iii) a mídia deve ser parte da solução e não parte do problema e
(iv) liberdade de expressão também é direito social.
O palestrante explicou que a Alemanha é um país tradicionalmente
muito organizado e que o corporativismo se faz presente em muitas
instâncias, sejam conferências, sindicatos, igrejas, associações de
fazendeiros, agricultores, silvicultores. O Estado, portanto, delega
determinadas funções a instituições privadas e isso funciona dado que os
grupos de interesse são fortes e consolidados. O lobby na Alemanha é
regulamentado, existem leis que tratam do assunto, de modo que esses
grupos conseguem realizar audiências públicas nas comissões temáticas do
Bundestag e do Bundesrat.
Segundo Florian Nehm, o cenário de representação aumentou, nos
últimos anos. O número de Organizações Não-Governamentais aumentou e
a sociedade está cada vez mais pluralista e participativa. Ainda nesse
contexto, ele explicou que existe uma rede muito forte de cooperação e
contato entre as organizações.
45
O papel do Conselho Federal Alemão (Segunda Câmara do Parlamento
Alemão – Bundesrat) eleito pelos Estados e o diálogo com a sociedade civil
A Lei fundamental atribui competência legislativa aos Estados
Federados, desde que não haja outra disposição em Lei. Para além da
divisão vertical entre os Estados Federados, há a divisão horizontal com os
cinco poderes públicos (Presidente, Bundestag, Bundesrat, governo federal
e tribunal constitucional federal).
A Alemanha adota um sistema rígido de distribuição de poderes. Via
de regra, as questões penais ficam na esfera federal, embora a execução e
aplicabilidade dessas esteja a cargo dos Estados, e as questões civis a
cargo da esfera estadual. Tudo o que for referente à execução/aplicação
legislativa é incumbência dos Estados Federados.
Na estrutura administrativa, os Estados Federados possuem suas
secretarias. Conforme mencionado anteriormente, os Estados têm uma
competência legislativa básica, no entanto, cada vez mais há uma
tendência de centralizar a competência legislativa para o nível federal,
atribuída a uma conscientização de que a iniciativa legislativa deveria ser
da União, cabendo aos Estados Federados a execução e aplicabilidade das
mesmas.
Nesse sentido, os Estados Federados foram de certo modo
compensados nesta divisão de poderes com a criação do Conselho Federal,
onde os Estados Federados tem competência direta no processo legislativo.
Desta forma, o Poder Legislativo federal possui duas câmaras: o Bundestag
(Parlamento federal) com 672 deputados eleitos pelo voto direto para um
mandato de 4 anos e o Bundesrat (conselho federal) formado por 69
membros que representam os estados.
Os membros do Conselho Federal não são eleitos. Somente os
próprios governadores e seus secretários podem representar seus estados
nas reuniões e votações do Conselho Federal. Conforme a população, cada
unidade da federação possui de três a seis votos no Bundesrat. O número
de votos depende do número da população dos Estados. O maior Estado
tem 25 vezes a população do Estado menor. Os componentes do Bundesrat
estão em constante alteração, pois dependem das eleições estaduais.
As leis alemãs são aprovadas por maioria simples no Parlamento e
somente as que dizem respeito a assuntos de competência dos estados são
analisadas pelo Conselho Federal, a câmara alta do Legislativo alemão. Sua
46
competência é a ratificação de todas as leis que envolvam interesses dos
Estados Federados, mas podem solicitar qualquer dispositivo legal para sua
manifestação, desta maneira todas as leis vigentes nos 16 Estados
Federados tem que ser aprovadas no Conselho Federal.
Hoje, cerca de 40% das leis só podem entrar em vigor com a
aprovação expressa do Bundesrat (a própria lei estipula em quais casos). A
aprovação dessa lei no Conselho precisa de maioria a ser negociada na
câmara. Uma emenda constitucional restringiu as matérias a serem
ratificadas pelo Conselho, que antes tinha que dar manifestação expressa
de aprovação em um percentual de 60% das iniciativas legislativas.
No modo de composição do Poder Político alemão, há um elo estreito
entre governo federal e Parlamento, uma vez que o chanceler federal é
eleito pelos partidos que fazem a coligação no Bundestag. O Bundesrat
representa uma reação à representação expressa no Bundestag. Em função
dessa necessidade de consenso da Câmara Federal para aprovação das leis,
a maioria parlamentar do governo está dependente da 2ª Câmara.
Na República Federativa da Alemanha há partidos políticos muito
fortes. Os votos refletem o apoio ao partido político e não aos candidatos.
A disciplina no seio de uma bancada parlamentar é muito rígida. Os
membros dos diversos governos estaduais também assumem funções
importantes a nível de partido federal. Em questões que mobilizam a
opinião pública, os partidos tendem a se agrupar em alianças.
Os partidos existentes na Alemanha são: Partido Social Democrata –
PSD (esquerda); Partido “Os Verdes”; Partido Cristão – CDU (conservador);
Partido Cristão – CSU; Partido Liberal – FDP; Partido esquerdista – PDS;
Partido Nacional Democrata – NDP.
Os governos Estaduais vêm com pouca freqüência em Berlim, porque
esse ato poderia ser considerado de apoio/anuência e com isso tenderiam a
fortalecer a União e isso não é desejável. Eles comparecem o menos
possível nas reuniões do Conselho Federal. Geralmente, nestas audiências,
existem grandes quantidades de pontos por dia a serem analisados, cerca
de 300 a 700 numa reunião plenária. Nas reuniões de aprovação, a média é
de 100 pontos por dia, com pré-concordância partidária e aprovação de 5 a
10 pontos. O restante é analisado de acordo com o respectivo interesse dos
Estados Federados.
Atualmente, há dois grandes partidos com grande coligação a nível
federal. Os dois trabalham conjuntamente. Tem 2/3 em nível do Parlamento
47
e uma maioria confortável em nível da 2ª Câmara – sempre de acordo com
o Parlamento federal, conforme a orientação dos 2 grandes partidos.
Uma lei de pequena complexidade leva em torno de 3 semanas para
sua aprovação. Essas três semanas começam a contar do encaminhamento
do Bundestag ou da chegada do projeto de lei no Bundesrat.
Freqüentemente, as bancadas de maioria do Bundestag enviam a lei para o
Conselho Federal com pedido de redução de prazo para 2 semanas.
Raramente, convocam uma reunião extraordinária para votar apenas um
ponto de pauta. Diante disso, são acusados de não terem uma conduta
cordial (quando não aceitam formalmente uma redução de prazo). Toda
essa situação, dependendo da configuração política, pode causar atritos de
grande proporção.
O Conselho Federal tem que cumprir prazos estipulados em ato
normativo para aprovação dos projetos de lei. Como sanção pelo não
cumprimento do prazo, existe uma estância chamada Comissão de
mediação, na qual o Conselho expõe os motivos pelo descumprimento do
prazo legal para aprovação/votação.
Atualmente, cerca de 60% dos projetos de leis não necessitam da
aprovação da 2ª Câmara, no entanto, remanesce o direito à reivindicação
de sua apreciação. São leis que não afetam as finanças dos Estados, nem
tratam de implementação federal a nível estadual e nem de mudanças
constitucionais. Nestes casos, o Bundestag pode desconsiderar a
solicitação.
Há um princípio interno de igualdade de tratamento entre todos os
Estados. A única diferença prevista na Constituição é a do número de
votos. A proporção de votos é definida da seguinte maneira:
Até 2 milhões – 3 votos
Até 6 milhões - 5 votos
Mais de 7 milhões - 6 votos
Para cada Estado, tem que haver consenso interpartidário e não há
possibilidade de divisão do comportamento eleitoral. Quando não houver
consenso para votação, existe a possibilidade de abstenção (que
corresponde a um voto negativo). Os parlamentares federais estão sujeitos
apenas a sua consciência e suas decisões não estão vinculadas aos seus
partidos. O que não acontece no Bundesrat.
48
Não é permitido fazer divisão dos votos.
O diálogo social na Alemanha – Sindicato do Serviço Público (Verdi)
Os funcionários a tempo integral do sindicato não são custeados pelo
Estado, mas por cotas dos filiados. Há, aproximadamente, 2 milhões de
filiados, sendo 1 milhão de funcionários do setor público e a outra metade
no setor de prestação de serviços.
O sindicato funciona em 11 regiões, além da central há cerca de 100
unidades descentralizadas. Trabalham com participação em eventos,
congressos internacionais, além de todas as atividades sindicais.
Há diferenças entre os dois segmentos:
Assalariado público vitalício = aqueles aprovados por
“concurso”, que tem suas atribuições e direitos instituídos em
Lei, não podem fazer greves, e tem a vitaliciedade como garantia.
Assalariado público não vitalício = prestam serviços não
ligados diretamente à soberania dos Estados e da União, tem seus
direitos e atribuições definidas em contratos coletivos negociados
pelos sindicatos Verdi e a representação do sindicato dos
empregadores, podem fazer greves.
Sistema de Emprego no Setor Público
Dos 4,7 milhões de funcionários do setor público, cerca de 1,7 são
vitalícios. O direito dos assalariados vitalícios não é um contrato
negociável, porque seus limites estão dispostos em legislação. Seus direitos
são estipulados pelo Ministério Especial da Fazenda e a proposta de Lei do
Governo Federal ou do Parlamento Federal, com a aprovação seguindo
tramitação normal. A função do sindicato Verdi, nestes casos, é a
participação em todo o processo legislativo (lobby) na defesa dos interesses
dos funcionários. No caso da atuação dos sindicatos e da mobilização da
classe assalariada não vitalícia, não há meios para greve política. O único
objetivo é conflito tarifário ou reajuste salarial.
A divisão de tarefas entre os assalariados vitalícios e não vitalícios
não são firmadas por livre arbítrio, mas dizem respeito às funções a serem
desempenhadas. As funções correlatas à soberania do Estado somente
podem ser executadas por assalariados vitalícios. As principais vantagens
do assalariado vitalício são:
Condescendência por parte do Estado;
49
Condições de trabalho estão vinculadas na Constituição;
Vitaliciedade no Trabalho;
Dividido por carreiras em todos os níveis.
A tabela a seguir apresenta os salários dos funcionários vitalícios,
inclusive das mulheres, que ganham abaixo do salário médio dos
funcionários, sendo que este tratamento desigual é considerado tradicional.
No setor privado a diferença salarial entre homens e mulheres é ainda
maior, de 30 a 40%.
Assalariados Vitalícios
- Total
Assalariados
Vitalícios - Mulheres
Simples 2.070 1.440
Média 2.360 2.000
Superior 3.200 2.580
Suprema 4.200 3.550
Salário Médio (em €)
Carreira
A aposentadoria de um funcionário vitalício é custeada pelo Estado,
que define o montante. Houve um saneamento de dívidas e uma das
medidas foi o corte do valor das pensões dos funcionários vitalícios. Já o
sistema de aposentadoria dos funcionários não vitalícios é calculado e pago
de acordo com as cotizações (cláusula de proteção do patrimônio).
Os assalariados não vitalícios têm direito à greve e para que os
serviços sejam garantidos faz-se um acordo de emergência entre Verdi e o
Sindicato dos Empregadores (qual o percentual de trabalhadores deve
permanecer para garantir minimamente o atendimento das demandas). Os
vitalícios não podem ser colocados no lugar dos grevistas.
O objetivo das greves é afetar economicamente o empregador e não
o usuário do serviço. O horário de trabalho varia segundo regiões e poderá
ir até 42 horas semanais e o mínimo de 40 horas, no caso dos vitalícios. Os
funcionários não vitalícios têm jornadas de trabalho de 38,5 a 40,5 horas
semanais, resultado dos direitos engendrados nos contratos coletivos. A lei
está sempre acima do acordo coletivo de trabalho.
Conforme diagrama abaixo, o Sistema Legal na Alemanha é
escalonado, Princípio da Maior Vantagem:
50
Constituição Federal
Leis trabalhistas
Acordos coletivos
Acordos empresariais
Contrato de trabalho
Segundo o Princípio Vinculativo, o nível inferior só pode aprovar uma
norma se não estiver em conflito com lei superior. Não existe salário
mínimo na Alemanha, ficando à discricionariedade dos sindicatos e do
Parlamento vincular o acordo coletivo e legislar normas com os valores
expressos.
A licença para maternidade é de 2 semanas antes do parto a 4
semanas depois (a mãe pode ficar 1 ano em casa recebendo 70% do salário
bruto). Existem acordos coletivos que prevêem até 6 anos com segurança
de emprego, mas sem salários.
A taxa de desemprego é de 9,4%. O programa de Política Econômica
pode incentivar a economia para que o desemprego seja combatido pelo
desenvolvimento econômico. O Sindicato exige melhor
qualificação/capacitação dos desempregados. Outra reivindicação do Verdi
é que seja implementado salário mínimo na Alemanha. O acesso ao serviço
público vitalício é por meio de exames de concurso. O setor público não
está acompanhando aumentos do setor privado.
A interação entre o Governo Federal e atores não-governamentais no setor
do meio-ambiente
A Deutsche Umwelthlife (DUH) é uma organização para preservação
do meio ambiente, fundada em 1975, com orçamento de € 3,2 milhões em
2006, oriundos de doadores e dedicado aos projetos ecológicos. A entidade
possui 60 funcionários em tempo integral, com dedicação quase exclusiva à
proteção do meio ambiente, embora a sua função tenha sido ampliada há
51
Os acordos verbais podem ser considerados, mas não configuram na
hierarquia da Lei do Primado.
10 anos. Nesse sentido, a organização faz um trabalho mais no âmbito
político, como por exemplo, a introdução de combustíveis com baixo teor
de enxofre, a economia de reciclagem, o depósito para bebidas em lata e a
política de energia e do clima.
A DUH destaca-se também como liga de defesa do consumidor desde
2004, quando houve também o crescimento do número de funcionários. Há
outras instituições maiores, como a Worl Wildlife Fund (WWF) e o
Greenpeace Alemão (confederações). A Confederação Círculo de proteção
da Natureza conjuga várias ligas de interesses.
O Conselho de Administração da DUH dá as linhas diretivas da
atuação. Os donativos são transferidos por organizações locais. Tratam
também da moderação e mediação de conflitos, com grande ênfase nos
processos de tomada de decisão a nível político.
A Liga de Meio Ambiente nos seguintes âmbitos:
Influência a nível político (aspectos formais e informais);
Relações públicas;
Campanhas;
Contato com tomadores de decisão;
Contratos regulares com membros de governo (informal);
Palestras com mídia;
Contatos com Parlamento e Conselho Federal;
Processo de legislação.
Cada vez mais se percebe o nível em que o lobby deve ser
trabalhado. O papel dessa ação na União Européia, em Bruxelas, é muito
importante uma vez que a Alemanha só implementa os normativos ali
discutidos e ajustados.
No contexto de mudança climática, a indústria automobilística da
União Européia vai baixar emissão de CO2 até 2008 (decisão aprovada para
até 2012). A campanha pela não poluição do ar no trânsito – 380 mil
pessoas na Alemanha com veículos altamente poluentes – ocasionou um
conflito com fabricantes franceses e japoneses, inclusive com montadoras
alemãs, mas os suecos ganharam essa campanha pela circulação de
automóveis com filtros a diesel na União Européia, unindo-se à
Organização Mundial de Saúde e à Liga das Crianças.
52
A DUH apresentará também propostas próprias na cúpula da
chancelaria sobre energia e reciclagem de embalagem, uma vez que a
Alemanha tem cerca de 1200 tipos de cervejas diferentes.
Cooperação entre os níveis federal e estadual na área da educação
Em função do sistema federativo, há um jogo de conjugação União e
Estados Federados. Tanto a nível federal quanto estadual, existe
Parlamento, assembléia legislativa no caso dos Estados Federados. Em
ambos os níveis, há Ministérios para função executiva, com competência
estipulada pela lei fundamental.
No tocante à Política de Educação, os Estados Federados têm
soberania educacional e cultural – responsabilidade exclusiva pela garantia
de qualidade, construção de escolas superiores e pesquisas nas
Universidades.
Nas conferências dos Ministros da Cultura, compostas pelo Ministro
Federal da Cultura e os 16 secretários de cultura dos Estados, são
debatidas questões com relevância superior – assuntos que afetam da
mesma forma os 16 Estados Federados. Atualmente, uma importante
discussão é assegurar a mobilidade dos estudantes no espaço territorial,
buscando garantir que não haverá atraso na educação de um alemão
transferido de um Estado Federado para outro. A conferência de ministros
vai estabelecer compatibilidade de diplomas e exames. Esses pareceres são
declarações de intenção política e não tem efeito vinculativo (não tem valor
jurídico).
Ao Ministério das Relações Exteriores da União compete a
divulgação da cultura e língua alemã no exterior, intercâmbio de bolsistas
por meio de instituição financiada pela união (instituto Goethe).
A União não pode tomar decisão sobre política externa em educação
sem dar ciência aos Estados Federados. A União lidera as negociações, mas
com representação dos Estados Federados para assegurarem seus
interesses. O Bundestag é que decide o limite da verba a ser destinada
para política externa de educação e cultura.
A estipulação e controle de capacitação e da qualidade de ensino a
nível internacional é tarefa conjunta da União e Estados Federados. Os
recursos para cultura e formação são oriundos do orçamento dos Estados
Federados, podendo diferir um do outro. Não existe um limite mínimo de
53
investimento pelos Estados, suas respectivas assembléias legislativas
definem.
Os currículos escolares não são ditados pela União, mas sim
estabelecidos em cada Estado Federado, o que causa muitas
incompatibilidades. O ensino é publico, apesar de existirem escolas
privadas. O nível de qualidade das escolas é variável. Os padrões são
piores em bairros com crianças estrangeiras. Devido à autonomia neste
tema, são os Estados Federados que, isoladamente, decidem se tem que
haver um ensino específico/próprio para o estrangeiro.
A união pode fazer transferências de recursos em educação nos
Estados Federados, mas a aplicação destes tem que ser com uma finalidade
específica, sem contudo que a união possa interferir na sua gestão. O
ensino é obrigatório de 06 aos 16 anos de acordo com a Constituição
Alemã. Aos Estados Federados é permitida ampliação desta faixa, mas
nunca sua redução.
O resultado da pesquisa da qualidade de ensino na Alemanha,
através do relatório de PISA, foi ruim. A administração das escolas é feita
pelas secretarias de educação dos Estados Federados. Ao município cabe
apenas a construção do prédio escolar. Os municípios existem a nível
publico com direito a auto-administração.
54
A interação entre o Governo Federal e atores não governamentais na área
da educação.
O Sindicato para a Educação e a Ciência (GEW) possui, ao todo, 250
mil afiliados, desde creches até instituições de ensino superior. Desse
número, 165 mil são professores de escolas. Em relação aos funcionários
vitalícios, como eles não pode ser demitidos, não se interessam pelas
atividades das organizações sindicais, logo, não se filiam. O leste da
Alemanha possui o menor grau de sindicalização, dado o número reduzido
de postos de trabalho, bem como o próprio índice demográfico, que é baixo
em comparação com as outras regiões do país.
O trabalho do sindicato se resume a: (i) atividades de lobby, (ii)
contato com o governo, com o parlamento e o com conselho federal e (iii)
contato com as organizações estaduais. Além disso, existem processos
formalizados de participação. São promovidos, regularmente, encontros
dentro dos ministérios, de 3 a 4 vezes por ano. O sindicato promove, ainda,
discussões em outros momentos, convocando eventos e convidando peritos
dos ministérios e especialistas de pesquisa em educação. Organiza,
também, ciclos de debate e reuniões com representantes de partidos
políticos, que são muito importantes para a criação de redes e para que se
saiba o que cada entidade, instituição, partido político está pensando
acerca do tema e também o que se está pesquisando na área.
No que diz respeito às principais características estruturais do
sistema de educação alemão, a educação é privada e voluntária até os 6
anos, se resumindo a creches e jardins de infância. Isso se deve a uma
cultura do povo alemão de acreditar que essa educação é de
responsabilidade da família e não da escola. Dos 6 aos 10 anos, tem-se o
ensino básico.
Segundo o Estudo PISA, realizado no âmbito da União Européia,
constatou-se que 25% dos alunos de 15 anos, na Alemanha, sabem ler, mas
não sabem interpretar. A conclusão do estudo, para o caso alemão, é a de
que, quanto maior for o nível de escolaridade dos pais, maior será a chance
das crianças entrarem nos liceus. Isso denota que o desempenho dos
alunos está diretamente relacionado à capacidade financeira dos pais.
Quanto ao critério de entrada para as universidades, não existe
vestibular na Alemanha, pois os diplomas dos 12º e 13º anos é que dão
direito ao aluno de entrar na universidade.
55
A formação profissional na Alemanha se dá de duas formas. A
tradicional é pelas escolas. Uma outra forma, chamada de dual, é dada pelo
contrato que empresas fazem com os alunos em tempo parcial aliada à
capacitação teórica oferecida nas escolas profissionalizantes, de
responsabilidade dos estados federados. O contrato com as empresas, por
sua vez, é de responsabilidade da União. Cerca de 50 a 70 mil alunos não
conseguem lugar na capacitação dual, existe uma lista de espera de mais
de 1 ano.
Acerca do federalismo e das imposições por ele colocadas, há um
problema no que se refere às competências relativas à educação. Os
estados queriam tornar-se responsáveis por todas as competências
relativas à formação e ensino, ou seja, da creche ao ensino superior. O
problema principal é que, assim, não haveria uma uniformidade no ensino,
o que poderia levar à dificuldade de mobilidade dos alunos entre as
diversas regiões. Atualmente, os municípios são responsáveis pelas creches
e jardins de infância e, é de responsabilidade da União, a capacitação
profissional nas empresas. O restante fica a cargo dos estados.
Havia uma proposta de reforma da educação na Alemanha. De
acordo com essa proposta, as atividades de pesquisa ficariam a cargo da
União e as ligadas ao ensino superior ficariam a cargo dos estados. O
sindicato foi contra, com o argumento de que isso significaria uma divisão
entre ensino e pesquisa que seria prejudicial. Por fim, o sindicato teve êxito
e a proposta não foi aprovada.
As relações financeiras entre o Governo Federal e os Estados
A delegação brasileira foi recebida pelo Sr. Axel Nawrath, Secretário
Estadual de Finanças; pelo Sr. Andreas Kienemund, Chefe da Divisão de
Regras Constitucionais das Finanças Públicas; e pela Sra. Ulla Schwarze,
Chefe da Divisão de Coordenação dos Orçamentos Públicos.
Os Estados são entes autônomos, podendo utilizar suas receitas da
maneira que lhes convier, sem intervenção da União. Essa, por sua vez,
somente pode executar uma lei se essa lei estiver expressa na Constituição.
Caso contrário, fica a cargo dos Estados a competência. O federalismo
alemão é caracterizado pelo centralismo legislativo e pela descentralização
administrativa.
56
Nesse contexto, os Estados querem ter mais competência originária
e a União deseja, por outro lado, se retirar de determinadas áreas, como
por exemplo, o sistema de ensino superior e a remuneração dos
funcionários públicos estaduais. Entretanto, os Estados com menos
recursos não desejam esse aumento de competência, exigido por alguns
Estados.
As organizações podem participar do processo legislativo de duas
formas. Quando da votação de determinado projeto apresentado pelos
ministérios, as organizações são chamadas a participar de audiências e têm
a prerrogativa de entregar, antes das reuniões, seus próprios pareceres ao
projeto. Outra forma de participação se dá quando da realização de
audiências públicas nas comissões parlamentares temáticas. Nesse
momento, as organizações são também convidadas.
A União e Estados baseiam-se no princípio da Conexão, segundo o
qual cada ente é responsável pelo financiamento de suas tarefas. Em outras
palavras, o responsável pela administração é também responsável pelo seu
financiamento. Há, contudo, algumas exceções à essa regra. Primeiro, é o
caso das ajudas financeiras concedidas pela União a Estados e Municípios
para investimentos em áreas como saneamento, abastecimento de água,
habitação e transporte. A União, no entanto, somente pode ser responsável
por até 90% desse financiamento.
Com relação às questões tributárias, a União não pode criar novos
tipos de impostos. Qualquer novo imposto deve ser agregado aos já
existentes. O mesmo ocorre no caso dos Estados. Para os Municípios, no
entanto, não existe essa determinação. Por conta disso, existe um certo
ressentimento por parte dos Estados. Ademais, no que concerne à
arrecadação, foi apontado que ela não é centralizada na União. Há
impostos federais, estaduais, municipais e comuns entre os três níveis.
O Conselho de Planejamento Financeiro é composto pelo Ministro de
Finanças Federal, por um conselho de peritos, pelo Banco Central e por
Estados e Municípios. São funções desse Conselho: (i) manter as regras da
União Européia, (ii) determinar limites para despesas e endividamento, (iii)
estimar a evolução da conjuntura econômica e (iv) recomendar regras e
aplicação de sanções.
A proteção aos consumidores na Alemanha
57
Há cerca de 80 milhões de consumidores que, de alguma forma,
demandam proteção da Federação Alemã de Consumidores. Em cada
estado alemão, existe uma central de proteção, que é responsável por
assessorar, informar os consumidores, fazer lobby nas instâncias estaduais
e assim por diante. O papel da federação, no nível federal, é realizar
atividades de lobby no que se refere à atuação dos agentes econômicos que
podem ferir o interesse dos consumidores.
No total, são 25 organizações que fazem parte da Federação. As
principais são as associações de mulheres e as filantrópicas, que são tidas
como a raiz das organizações de consumidores na Alemanha. Há, ainda, 45
entidades afiliadas. Essas entidades se ocupam de fazer lobby, assessoria,
consultoria e representações. Possuem uma relação estreita com a
Confederação Européia de defesa do consumidor, bem como com a
Confederação Mundial.
A atuação das entidades e organizações que fazem parte da
federação é independente de qualquer relação com os partidos políticos,
mas cerca de 75% do orçamento, que está em torno de € 15,9 bilhões, vem
do Governo Federal. Por conta disso, é feita uma auditoria anual nas contas
da Federação.
A Federação se ocupa de garantir direitos básicos aos consumidores,
quais sejam: a satisfação das necessidades básicas, o direito à informação e
à integridade física, o direito de ser ouvido, à indenização por dano sofrido,
entre outros. Fazer valer o direito do consumidor é uma tarefa pública que
deve sempre ser perseguida. A Federação deve, portanto, fiscalizar as
atividades do mercado quando o Estado não consegue fazê-lo, contribuindo
assim para o efetivo cumprimento das leis.
Um dos modos de veicular os trabalhos da Federação é por meio de
publicações e pela internet. Nesse sentido, são publicados indicadores que
sintetizam a política de defesa do consumidor. Essa publicização levou os
parlamentares a perceberem a importância de serem os “porta-vozes” dos
consumidores. Outro resultado positivo é a constante busca pela melhora
dos indicadores, por parte dos Estados.
No âmbito do governo, os temas ligados à defesa do consumidor
estão espalhados por todos os ministérios. Há departamentos transversais
que tratam da proteção ao consumidor e tentam integrar o tema nas
políticas públicas levadas a cabo. A Federação faz sua parte ao participar,
anualmente, das negociações sobre o orçamento, visando a garantir verbas
58
para tais políticas. Outra maneira de influenciar o processo decisório é por
meio do envio de pareceres acerca de projetos, que os próprios
parlamentares demandam da federação.
O Sistema de Saúde, suas atribuições e responsabilidades
O Ministério da Saúde é composto de 500 servidores divididos em
dois grupos, sendo um em Bonn com 350 funcionários e outro em Berlin
com 150. A Ministra Federal é a Excelentíssima Ulla Schmidt que assumiu
em 2002, pertencente ao Partido Social Democrático. Há 5 departamentos
no Ministério: serviços centrais; Europeu e internacional; medicamentos e
proteção a saúde; assistência aos doentes e previdência social, cuidado de
pessoas; e prevenção, combate e biomedicina.
O Parlamento e a 2ª Câmara aprovam os projetos leis, indicadores de
projetos leis e iniciativa do governo em formato de lei. As leis centrais que
modificam o sistema de saúde necessitam da maioria simples das duas
casas por meio de muita negociação.
O Ministério Federal da Saúde conta com uma série de instituições:
Instituto Federal para Medicamentos;
Instituto Alemão de Documentação e Informações Medicinais;
Entidade de Seguros (previdência);
Instituto Investigação Epidemiológica e Vacinação; e
Centro Federal de Informações sobre Saúde.
As Secretarias Estaduais da Saúde possuem tarefas específicas
menos legislativas, como planejamento e controle, organizações dos
médicos e caixa da previdência.
No nível federal, o Parlamento, a 2ª Câmara e o Governo Federal
criam uma legislação de base e os pormenores são gerenciados pelos
estados e centros, hospitais associações e federações (estados/federal). Os
municípios dependem dos estados, em regra existem repartições de saúde
e hospitais locais, que pertencem aos municípios.
O Comitê Federal a nível nacional realiza trabalhos e normatizações
de caixas de saúde, diretrizes de prestação de serviços, que são totalmente
descentralizadas. O sistema é formado pelo Comitê de hospitais, caixa de
saúde e Governo Federal. O Ministério Federal de saúde supervisiona as
divisões do comitê, que possui a seguinte composição: 1/3 de hospitais
59
públicos municipais, 1/3 de entidades públicas e 1/3 de entidades privadas
de pequeno e grande porte e os hospitais universitários.
A esperança de vida está em 78,7 anos, a taxa de fertilidade é de 1,3
filhos por mulher e a de mortalidade infantil é de 1,3/1000 nascidos vivos.
Outro dado interessante é que há um crescente processo de
envelhecimento da população. As estatísticas mostram que, em 2000,
15,7% da população tinham menos de 14 anos e, em 2050, esse percentual
cairá para 15,2%; enquanto que a população acima de 65 anos crescerá de
16,3% para 28,0% no mesmo período. Em média, a proporção da população
mais velha passará do patamar atual de 39,9% para 46,8%.
Quanto aos dados dos serviços de saúde, pode-se destacar:
361,7 médicos para 100.000 habitantes;
57,9 farmacêuticos para 100.000 habitantes;
950,8 enfermeiros para 100.000 habitantes;
10,8% de participação no PIB;
2.900 Euros por habitante em média.
O sistema de saúde é financiado do seguinte modo:
8% de recursos públicos;
57% de seguros de saúde - pagos pelos segurados que são
chamados de caixa saúde
Outros seguros: 7% do seguro de atendimento a enfermidades
de alta duração; 2% de aposentadoria; 2% de seguros de
acidentes públicos; 9 % de caixas de saúde privadas; 4%
financiados pelos empregados; e, 12% da saúde privada.
Quanto à cobertura do sistema, 87,5% das pessoas possuem os
seguros da saúde pública, 9,7% os seguros de saúde privados, 2,0% os
seguros específicos dos servidores públicos vitalícios e 0,2% não tem
seguro de saúde que são em grande parte os desempregados. Os segurados
públicos totalizam 70,1 milhões de segurados, divididos da seguinte
maneira:
28,5 milhões emprego fixo;
16,9 milhões de aposentados;
4,8 milhões de privados;
20,1 milhões de crianças e jovens.
60
Os trabalhadores/empregadores pagam 3.562,00 de Euros por ano.
Em 2005, a participação dos empregadores era de 0,9% a mais do que os
empregados, ou seja, 13,9% de participação dos empregados. Em média, os
empregados pagam 14,4% do salário e há 14,8 empregadores/empregados.
Os aposentados contribuem com 1/2 da caixa de saúde. Em relação aos
desempregados, as entidades responsáveis pagam suas contribuições. Em
2005, havia 140 tipos de caixa de saúde e, em 2009, está prevista a
unificação das caixas para uma única.
O Sistema de Saúde é financiado por 90% das caixas de saúde. O
sistema como um todo gasta por volta de 140 bilhões de Euros, o Estado
participa com 1 bilhão e os agricultores com uma contribuição mínima.
Existe uma caixa específica para doenças de crianças, que gasta por volta
de 2,5 bilhões de Euros do Estado com previsão de aumento para 14
bilhões em 2008.
Há ainda pagamentos adicionais para indivíduos que usam o sistema:
farmácias (5 a 10 Euros por pessoa), massagens de terapia, auxiliares –
aparelhos de audição, próteses, cadeiras de rodas, internamentos (10
Euros por 28 dias), consultas (10 Euros/3 meses), dentistas (10
Euros/tratamento) – próteses de dentes são isentos de pagamentos para
crianças e jovens, adultos pagam 2% do salário bruto anual, as doenças
crônicas 1% do teto.
Os tratamentos são feitos nos consultórios ou casa consultórios
médicos, raramente são consultados nos ambulatórios, os medicamentos
são distribuídos através das farmácias e é cobrado o percentual conforme o
caso, as grávidas são atendidas nas maternidades e são feitos exames
periódicos em crianças para prevenir doenças.
As mulheres vão periodicamente aos consultores para exames
rotineiros, os homens têm nota baixa nesta questão. São feitos trabalhos de
marketing para incentivar a práticas de esporte e para o cidadão parar de
fumar dando cursos específicos.
Os principais gastos em saúde são: 20% para tratamentos, 20% em
medicamentos e 33% para hospitais. Estão sendo investidos agora em um
novo projeto de reabilitação, médicos auxiliares, saúde em casa e
transporte de fisioterapia.
Os seguros por categorias nos 16 estados são: seguros das empresas
ou grupos de assegurados em saúde; seguros de artes e oficiais; seguros de
cooperativas de artistas; seguros de mineiros, agricultores e marinheiros;
61
seguro de livre escolha do segurado; as pessoas da alta classe escolhem os
seguros privados e pagam conforme a idade, quanto mais jovem mais
barato.
O governo necessita sempre de uma nova reforma, pois as despesas
estão aumentando com internamentos, medicamentos, atendimento
ambulatorial, exames, os médicos não abrem mão dos seus consultórios e a
evolução com as contribuições estão estáveis. Existe pouca concorrência no
sistema e as contribuições não podem ser aumentadas por pressão da
sociedade. O comitê foi ampliado desde 2003 para resolver essas questões.
Recentemente foi aumentada a participação dos pacientes para equilibrar o
sistema.
Em 1º de Abril de 2007, foi proposta mais uma reforma, dessa vez,
com algumas novidades: (i) a concorrência deve ser acentuada, (ii) todas as
pessoas serão protegidas pelos seguros, (iii) haverá livre escolha entre os
trabalhadores e (iv) os subsídios estatais deverão ser aumentados. Estão
prevendo outras reformas já, estruturais, de organização, financeiro e de
seguro privado.
A reforma estrutural pretende melhorar a eficiência e o tratamento
ambulatorial e hospitalar. A organizacional pretende reduzir as caixas em
menos de 100 até chegar a uma única. No âmbito do financiamento a longo
prazo, pretende-se diferenciar caixas dos jovens de caixas de pessoas com
mais de 65 anos. Já os seguros privados, a pretensão é obrigar a aceitação
das pessoas com doenças graves. Essas situações de reforma são
importantes, mas não se conseguirá uma reforma radical devido aos limites
e respeito pelos cidadãos.
62
A relação entre o Governo Federal e os Estados num sistema de educação descentralizado
No sistema de educação, há 4 secretários, educação, formação,
pesquisa e informação, e 8 departamentos centrais, básico, internacional,
profissional, sistema científico, pesquisa chave inovação, pesquisa básica
vida-saúde e pesquisa cultura.
A cooperação com América do Norte e Sul conta com um orçamento
de € 8,5 bilhões, sendo a cooperação com o Brasil a mais importante, com
pesquisas técnicas do meio ambiente, climáticas e marítimas, presentes
nos estados do Amazonas, Pará, Pernambuco, Bahia, Rio de janeiro e
Distrito Federal. A cooperação totaliza € 1,9 bilhões com a participação de
€ 600.000,00 da Alemanha.
Na relação dos 16 estados com o Ministério Federal de Educação, há
uma federação moderada, na qual são determinadas as competências por
meio da Constituição Federal. São competências estaduais: sistema
escolar, básico de 1 ao 4º ano, o 2º ciclo temos três tipos que são o liceu,
geral e o avançado. No nível superior existe um co-planejamento entre os
estados e União.
Quanto ao direito do ensino superior com perspectivas Européias, a
União Européia introduziu em 2002 a padronização do ensino superior. Há
a possibilidade de cooperação entre estados e União por meio de
convênios. Serão pactuadas com os estados metas para 2020, como o
aumento de 90.000 vagas, competitividade nas pesquisas, acréscimo
programático do investimento em € 700.000,00 e construção de escolas
superiores. Esta sendo criado um sistema dual onde a União se
responsabiliza pela profissionalização prática dos alunos em parcerias com
as empresas, enquanto os estados os educa teoricamente antes da
realização dos cursos práticos.
A participação do setor privado no processo legislativo – As relações
financeiras entre a República Federal, os Estados e os Municípios
Na Alemanha, há uma participação do setor privado no Processo
Legislativo, que é realizada principalmente pela Associação das Câmaras
de Comércio e Indústria (DIHK), composta de 4 milhões de associados.
A DIHK é uma associação do direito privado e tem como associados:
63
81 câmaras de indústria e comércio com cerca 4 milhões de
empresas associadas (associações de direito público);
54 câmaras no exterior (associações do direito privado).
A DIHK tem como órgão supremo a Assembléia Geral e ademais o
Conselho Administrativo que junto com o Secretario Geral representam o
DIHK. O Secretario Geral é responsável pela administração. A DIHK tem
cerca de 200 empregados, as Câmaras cerca 7.000 e as Câmaras e
representações no exterior mais de 1000 empregados.
A representação do setor privado no processo legislativo é
essencialmente pró-ativa, uma vez que representantes dos diversos
interesses econômicos fazem parte das instituições legislativas como
deputados eleitos e, portanto, há um lobby das empresas, associações e
câmaras de comércio e indústria e de outros ramos. Entretanto, há também
uma representação reativa, já que as instituições legislativas fazem
consultas às empresas, associações, câmaras e peritos.
Ademais, a participação do setor privado ocorre também na área
judicial, com representantes dos diversos interesses econômicos nos
tribunais, e nas autarquias, dado que as assembléias gerais das câmaras de
comércio e indústrias compõem-se de representantes das empresas.
É importante fazer distinção entre as Associações na Alemanha, que
são classificadas quanto à estrutura legal, o interesse e ao nível de atuação,
conforme se segue:
Quanto à estrutura legal:
o Direito privado: associações dos diferentes ramos,
sindicatos, ONG’s;
o Direito público: câmaras de indústria e Comércio, dos
artesãos, das diversas profissões, da agricultura.
Interesse
o Interesse da comunidade econômica;
o Interesses dos diversos ramos da indústria ou do
comércio;
o Interesse geral da comunidade;
o Interesse do patronato;
64
o Interesse dos empregados;
o Interesse dos consumidores;
o Outros interesses (ONGs).
Nível de atuação:
o Associações de nível federal: Confederação da Indústria
(BDI), Associação das Câmaras de Comércio e Indústria
(DIHK), Associação dos Sindicatos Patronais (BDA) e
outras;
o Associações ao nível estatal;
o Associações ao nível regional ou local: Câmaras de
Comércio e Indústria, entre outras;
REPRESENTAÇÃO DO INTERESSE COMUN DE UM RAMO INDUSTRIAL OU COMERCIAL
Exemplo: Indústria de Automóveis
65
GovernoGoverno
Associação
Empresas da Indústria de Automoveis
REPRESENTAÇÃO DO INTERESSE GERAL DA COMUNIDADE ECONÓMICA (I)
REPRESENTAÇÃO DO INTERESSE GERAL DA COMUNIDADE ECONOMICA (II)
66
PRO
baixobaixo
médiomédio
altoalto
ConsumidorConsumidor
CONTRA
Indústria de Indústria de AutomoveisAutomoveis
Importadoras de Importadoras de Automoveis Automoveis
Servicos em Servicos em GeralGeral
Diustribuidoras Diustribuidoras de Automoveis de Automoveis
Nacionais Nacionais
Outras IndústriasOutras Indústrias
Serv. Financeiros Serv. Financeiros
Decreto para a Abolição do
Imposto sobre a Importação de Veículos
GovernoGoverno Federal/Estatal/LocalFederal/Estatal/Local
Câmara de Comércio e Indústria
Todas as Empresas do Distrito da Câmara
?
REPRESENTAÇÃO DO INTERESSE GERAL DA COMUNIDADE ECONOMICA (III)
REPRESENTAÇÃO DO INTERESSE GERAL DA COMUNIDADE ECONOMICA (IV)
REPRESENTAÇÃO DO INTERESSE GERAL DA COMUNIDADE ECONOMICA (V)
67
Interesses de Empresas
R
R
G
SF
C
V
S DG
S
S
SF
S
SS
V
I
I
II
I
CC
II
I
R
C
C
C
Assembleia GeralAssembleia Geral
G RIII
S
SF
SF SS
S
S
S
SS
SSF
SSSI
I
I
II
I
I
II
I
II
S SSF
G
GG
GR
R
R
R R
ORGANIZACAO DE UMA CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA
Há ainda uma participação específica do setor privado na Legislação:
Câmaras de Indústria e Comércio e outras Câmaras são
responsáveis pela formação profissional, administração de
registros, nomeação de peritos, certificados de origem;
68
Assembleia Geral
Commissão Jurídica
Comissão do Setor
Financeiro
Commissãodo Setor
Transporte
Comissão do Setor Indústrial
Comissão do
Setor Comercial
Empresas Associadas
ComissõesEmpregados
Presidente
Tribunais Judiciais
SupervisãoTribunal de Contas
Assembleia Geral
Secretário Geral
Câmaras das profissões decretam e administram as regras
éticas da profissão;
Câmaras atuam como legisladores elaborando estatutos, como
peritos representando o interesse geral da comunidade
econômica face às instituições legisladoras e administrativas
do estado e dos municípios e aos tribunais judiciais, como
instituições administradoras na execução de leis e decretos
estatais e como fonte de serviços as empresas associadas.
As funções, a organização e o papel de um Estado numa República Federal – O federalismo alemão na perspectiva do Estado da Saxônia.
A Saxônia é um dos 16 estados federados (Länder) da Alemanha, no
leste do país. Sua capital é Desdém. A Saxônia tem uma história de mais de
900 anos. É um dos estados mais antigos da Alemanha, porém é o mais
jovem considerando a nova configuração pós-reunificação. Nos últimos 15
anos, perdeu cerca de 15% do número de habitantes originais, devido à
migração interna e à queda da taxa de natalidade. Atualmente estão em
processo de recuperação para atingir os antigos parâmetros de riqueza do
passado. Em relação ao PIB, desde 1991 até hoje conseguiram duplicá-lo.
Algumas características do federalismo alemão: os estados alemães
são muito diferentes. Há grandes diferenças em relação ao número da
população, superfície territorial e poder econômico de estado para estado.
Essas diferenças são grandes e graves para a configuração do país, mas
existem mecanismos de compensação (interestadual) com objetivo de
proporcionar o nivelamento e a compensação financeira entre os estados.
Os estados mais pobres recebem mais dinheiro à disposição por habitante.
Há ainda o Pacto da Solidariedade II, a favor dos estados orientais,
para um período de cerca de 30 anos, que tem por objetivo auxiliar a
69
reestruturação desses estados (infra-estrutura) para atingirem pelo menos
95% do nível médio da Alemanha.
Em relação à execução das leis, a maior parte é incumbência dos
estados federados. E a maioria das leis são leis federais. Os estados
federados financiam-se por parcela de impostos comunitários (sobretudo
taxas das empresas, do retorno, do salário), e por impostos próprios. As leis
de imposto são quase exclusivamente leis federais.
As competências substanciais da legislação dos estados federados
A cooperação dos estados na legislação federal ocorre por meio do
Conselho Federal, como 2ª Câmara Federal (Governadores), que tem
influência substancial na legislação federal, pois cerca 40 a 50% das leis
federais precisam ser aprovadas pelo Conselho Federal. Além disso, há a
influência dos partidos políticos da União e dos estados e, em alguns casos,
o chanceler federal já foi governador federal, conhecendo bem a política
federal do estado. Os ministros principais exercem também,
freqüentemente, elevadas funções nos partidos de origem.
As limitações da autonomia e auto-coordenação (cooperação e co-
gestão) dos estados são:
Tarefas comuns da União e dos estados federados;
Coordenação própria dos estados por MPK e conferências
especializadas de ministros;
Controle das decisões das Cortes Nacionais por Cortes
Federais.
Já as limitações da autonomia dos estados pela constituição
fazendária são:
As condições de financiamento (impostos)
70
Escolas, Universidade
s, Cultura
Segurança interna
Rádio, imprensa
Assuntos Municipais
Pagamento de funcionários
púbicos vitalícios e
execução penal
Imposto sobre óleo (petróleo);Dever de polícia;Imposto sobre tabaco.
Impostos Federais
Imposto sobre valor agregadoImposto de rendaImposto de corporação
Impostos Comunitários
Imposto sobre veículo motorImposto sobre propriedade real.
Impostos Estaduais
Imposto sobre comércio
Imposto sobre propriedade real.
Impostos Municipais
Os estados têm pouca margem de ação para criar receitas próprias.
A administração fiscal dos estados faz exame também de impostos da
federação (os impostos comunitários). A União emite quase todas as leis de
imposto. Estes são obrigados geralmente por acordo específico. Há um
afastamento dos estados para a organização da renda. As diferenças entre
os municípios referem-se aos impostos de propriedade de comércio e real
propriedade.
Prós e Contras do Federalismo Alemão
Na visão dos estados, as vantagens do Federalismo são:
A possibilidade de interferências. Os estados dão forma ao
contrapeso forte à União, com direitos eficazes de
participação;
Manutenção da identidade regional;
Os estados que possuem estrutura econômica mais fraca
lucram com o Sistema de Solidariedade, entre a União e os
estados e sob os estados (mecanismo compensatório);
Política orientada para o consenso.
Já as desvantagens dizem respeito aos seguintes aspectos:
Escassez de limitações claras de competências;
Interesses regionais complicam as reformas necessárias;
Processo legislativo complexo;
Dependência da política da União em maiorias para mudanças
na casa superior do Parlamento.
Os mecanismos de inter-relação entre os estados federados são
muito complexos. O Estado poderia tirar proveito se o ordenamento
jurídico da Alemanha fosse mais fácil, em busca de mais eficiência
(estímulo à competição entre os estados federados).
As melhores práticas da reforma do federalismo (2006) são as leis
que distribuíram de forma clara as competências entre estados federados e
União, com a garantia de maior autonomia para os estados.
71
Relacionamento entre Estados Federados e Municípios
A Saxônia está dividida em 22 distritos (circunscrições municipais) e
7 cidades independentes, que não pertencem a nenhum distrito e 500
municípios que possuem população entre 2.000 a 50.000 habitantes. Há
uma proposta de redução do número de cidades independentes de 7 para 3,
e de circunscrições de 22 para 10. Esta reforma administrativa, também de
ordem funcional, abrange questões de coordenação e informação.
Os municípios encontram-se sujeitos à fiscalização do Estado
Federado, quanto aos parâmetros/leis que lhes foram atribuídas. O Estado
Federado tem direito de Instrução, que deve ser usado de forma reservada,
para fiscalização da forma como foram executadas as tarefas e sua
eficiência e eficácia. Há um desejo de se manter a autonomia municipal,
tornando a fiscalização dos estados sobre os municípios menos
abrangentes, uma vez que a fiscalização é vista como forma de
conscientização dos municípios.
As eleições municipais ocorrem de 5 em 5 anos, por voto direto são
eleitos os prefeitos que possuem uma posição política forte nos municípios
e nas circunscrições. De acordo com a Constituição Municipal, 15% dos
eleitores poderão solicitar que seja realizado plebiscito com objetivo de
tratar questões importantes para a localidade (Democracia Direta). Além
do plebiscito, outras formas de participação da sociedade são as reuniões
públicas nos Parlamentos e nas comissões.
A interação entre os distritos, os municípios e o Governo e as respectivas
funções e responsabilidades
Os municípios podem receber status de cidades independentes ou
circunscrições. Os municípios possuem direito à autonomia e este direito
deve ser garantido pela União e pelos estados federados. Como exemplo, o
Estado da Saxônia precisa garantir que a capital Desdém receba os
meios/recursos necessários para execução das suas tarefas.
A autonomia municipal administrativa permite ao município assumir
as tarefas por via de responsabilidade própria, segundo a legislação. Os
assuntos próprios dos municípios, de interesse local, são tratados por
Portarias ou decretos Municipais.
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A Saxônia tem como principal preocupação o seu problema
demográfico. Devido às baixas taxas de natalidade (1,2), a previsão para
2020 é de 3,9 milhões de habitantes. Isto significa menos dinheiro e menos
gastos com a administração.
A seguir alguns dados sócio-econômicos sobre a Alemanha:
40% dos jovens entram direto na faculdade depois do 2º ciclo
de ensino;
Taxa de desemprego do estado da Saxônia é de
aproximadamente 15%, representa a 4º maior taxa de
desemprego na Alemanha;
O orçamento anual da Saxônia é o único que não possui dívida;
Investimentos anuais nas circunscrições: € 180 milhões;
Receitas anuais:
o União e estados federados: € 800 milhões;
o Estado da Saxônia: € 500 milhões; e
o Municípios (cotizações municipais): € 407 milhões.
Despesas anuais:
o Questões sociais (desemprego, juventude, deficientes): €
1,3 bilhões;
o Custos de administração e pessoal: € 400 milhões;
o Escola: € 150 milhões;
o Cultura: € 50 milhões.
O estado da Saxônia pretende criar uma rede de comunicação, pois
todas as entidades públicas do estado deveriam estar interligadas numa
rede de comunicação protegida, não só Internet. Esta rede de comunicação
faz parte de uma licitação, cuja previsão de gastos é de cerca € 180
milhões para os próximos 5 anos.
Em relação à participação social, ela é limitada pela lei que é muito
inflexível. O estado pretende criar novos canais de participação, espaços
73
para comunicação, embora alguns aspectos já estejam definidos em lei e
devam ser obedecidos.
74
3. Conteúdo Técnico da Missão
3.1. A Participação Social no Brasil
No Brasil, a luta pela maior participação popular na esfera pública
teve sua origem no campo da resistência contra a ditadura militar, a partir
dos anos 70 e ao longo dos anos 80, quando os movimentos populares se
organizaram em torno das reivindicações como educação, saúde,
habitação, água, luz, transporte, dentre outros. Reivindicava-se, além disso,
a criação de espaços de participação, para que a sociedade civil organizada
pudesse canalizar suas demandas e influir nos processos decisórios de
políticas públicas.
A presença ativa dos “novos atores” e movimentos sociais
contribuíram para dar um primeiro grande passo na transformação do
Estado e para a instalação das novas regras do jogo entre as esferas
“política” e “civil”. Dessa forma, a luta orientou-se para a instalação de
mecanismos mais eficazes de influência nas políticas públicas por parte da
sociedade, desde a fase de formulação até a implementação, avaliação e
acompanhamento.
Com a abertura democrática ocorrida a partir de 1984, no Governo
Figueiredo, percebe-se um avanço na questão da participação social no
Brasil, destacando-se nesse contexto o movimento popular, denominado
“Diretas Já”, que resulta na definição de que a soberania popular será
exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos.
A Constituição de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”
incluiu mecanismos de democracia direta e de democracia participativa. No
tocante à democracia participativa, cita-se o estabelecimento de Conselhos
Gestores de Políticas Públicas, nos níveis municipal, estadual e federal com
representação paritária do Estado e da Sociedade civil, destinados a
formular políticas sobre questões relacionadas à saúde, a crianças e
adolescentes, bem como à assistência social.
A queda da censura, a liberdade de imprensa e a manutenção de
canais de comunicação com linguagem adequada ao público, como a rádio
comunitária, constituem aspectos positivos para a disseminação de
informações à população, embora o poder da imprensa, atualmente, seja
75
utilizado de forma inadequada visando, em certas ocasiões, a interesses
particulares em detrimento dos interesses coletivos.
No que tange aos aspectos macroeconômicos, um importante divisor
de águas para a gestão das contas públicas foi a publicação da norma que
versa sobre Responsabilidade Fiscal, fixando limites e regras para o gasto
público, o que representou o surgimento de uma nova mentalidade, em um
movimento contra despesas realizadas de modo irresponsável.
De qualquer modo, tem-se que a seriedade no manejo
macroeconômico é também condição indispensável para responder ao
desafio de fortalecimento da participação social, mas não suficiente. São
necessários mecanismos diretos para a inclusão social. Por isso, o governo
brasileiro tem empreendido esforços e aplicado recursos vultosos na
promoção de políticas sociais, como o “Bolsa-Família”, que beneficia a mais
de 9,2 milhões de lares. Além disso, o gasto social real do governo para o
combate à fome foi no Brasil de R$ 27 bilhões, de 2003 a 2005. O programa
Fome Zero, por exemplo, que concentra um conjunto de 31 ações, recebeu
esse investimento para ampliação do acesso à alimentação, fortalecimento
da agricultura familiar, promoção de processos de geração de renda,
articulação, mobilização e controle social, dentre outros aspectos.
Os recursos aplicados em saúde também cresceram muito, nos
últimos anos. Em 2007, por exemplo, obteve-se um orçamento de R$ 46
bilhões, só na esfera federal. E os resultados são positivos: a redução
substancial da mortalidade infantil, programa de prevenção e atendimento
da Aids, reconhecido como modelo pela Organização Mundial da Saúde –
OMS, e pela opinião pública internacional. Tem-se também o programa
Saúde da Família que chega a 24 mil equipes em 2006, o Sistema de
Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, além das farmácias populares e
de outros avanços e conquistas importantes, como o fato de que 98% dos
transplantes são feitos pelo SUS.
No que se refere às políticas públicas, verifica-se que a participação
social é maior na fase preliminar de formulação e que a falta de
conscientização do povo sobre as questões de cidadania, provoca uma
participação incipiente na fase de implementação e acompanhamento das
ações de governo, à exceção de alguns municípios que adotam o orçamento
participativo, o que propicia um certo controle da sociedade na definição
da aplicação de parte dos recursos públicos.
76
Como exceção, podemos inferir que a saúde hoje possui o principal
modelo de sistema descentralizado com canais de participação social. O
Balcão de Direitos, também, é um importante instrumento em favor da
sociedade, pois presta informações precisas, reduzindo o tempo que seria
necessário para o indivíduo ter seu problema resolvido. Nesta linha,
destaca-se, também, o sistema de controle interno e externo do governo
federal, representado pela Controladoria Geral da União - CGU e Tribunal
de Contas da União – TCU. Esses órgãos de fiscalização atuam, também, a
partir de reclamações e sugestões apresentadas pelos cidadãos, por meio
do sistema de ouvidoria.
A população conta, ainda, com outros espaços de participação social,
dentre os quais destacamos:
Conferências e Conselhos (Saúde, Cidades, Direitos
Humanos, Cultura, Classes, etc)
Organizações/ Grupos de interesses: ONG’s; UNE, CUT,
CGT, OAB, MST, etc.
Ouvidorias
Ministério Público
Audiências e Consultas Públicas
As dimensões territoriais e o tamanho da população, entretanto, são
fatores que dificultam a participação social no Brasil. No caso das
ouvidorias nos Ministérios, essas dimensões implicam em problemas de
capacidade para encaminhamento das denúncias, sugestões e reclamações.
Falta de legitimidade das organizações e das entidades da sociedade
civil organizada nos conselhos também é outro fator dificultante, pois a
representação dos interesses pessoais ou de grupos específicos se
sobrepõe ao interesse coletivo, em muitos casos. Além disso, os conselhos
são órgãos consultivos quando, na verdade, deveriam ter um papel mais
ativo, e existe dificuldade de implementação das decisões tomadas nas
conferências. Nesse sentido, uma deficiência que se observa é a falta de
resposta do governo para a sociedade após a realização das consultas
públicas/conselhos/conferências. Quando há resposta efetiva, existe o
entrave face à exclusão social de grande parte da sociedade brasileira.
No Congresso Nacional, identifica-se também o problema da
representatividade, pois se vota nas pessoas e não nos partidos e numa
77
ideologia, talvez por falta de consciência política e senso coletivo. No
Brasil, apesar da obrigatoriedade do voto, a população não participa das
discussões travadas no Congresso Nacional, além de que o processo
legislativo é muito lento e inflexível. Outro aspecto que salta aos olhos é a
não contemplação, em grande parte, das demandas da sociedade nas
políticas públicas.
O Ministério Público é um dos lócus de participação social mais
ativos, no entanto, mostra-se ineficiente tendo em vista a própria
ineficiência dos demais órgãos públicos, aliados à morosidade do Poder
Judiciário.
No entanto, embora já ocorram esses avanços mencionados, é
necessário promover nas instituições reformas de cunho político, tributário
e legislativo. À frente, no último item desse relatório – Recomendações e
Conclusão – enumeram-se as algumas proposições com vistas à melhoria da
participação da sociedade nas decisões de governo, considerando o
fortalecimento institucional do Estado, por meio de políticas públicas e de
ações calcadas na transparência de normas e resultados.
3.2.Principais instrumentos de participação social estudados na Missão
Uma das características mais marcantes observadas na experiência
alemã com relação à participação da sociedade nos processos de tomada de
decisão, foi o caráter de legitimidade da atuação dos grupos de lobby nas
diversas instâncias do governo. Na Alemanha, o lobby é regulamentado por
lei, o que possibilita uma maior transparência nos processos de influência.
Além disso, essa regulamentação garante aos grupos de interesse maior
legitimidade perante seus representados. A organização desses grupos e o
modo como agem com vistas a influenciar as decisões representa a força
que tais grupos possuem.
Ao se traçar um paralelo com a situação brasileira, percebe-se que
há muitas diferenças. A primeira delas, e mais importante, é a não
regulamentação das atividades de lobby. Projeto de Lei do Senado do
senador Marco Maciel (PFL/PE), em tramitação desde 1989, propõe tal
regulamentação ao dispor sobre o registro, perante as mesas de ambas as
Casas do Congresso, de pessoas físicas ou jurídicas que exerçam qualquer
atividade tendente a influir no processo legislativo. Além disso, o projeto
exige declaração do capital social e receitas auferidas com as atividades de
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tais pessoas, além de uma detalhada prestação semestral de contas dos
seus gastos. O projeto, entretanto, foi aprovado somente no Senado e
encontra-se para votação no plenário da Câmara dos Deputados.
A discussão a respeito da regulamentação das atividades de lobby é
recorrente e possui várias vertentes, mas é inegável que venha a garantir
maior transparência nas relações entre governo e interesses privados,
como pode ser observado na Alemanha.
Um outro bom exemplo de instrumento de participação social,
estudado na Suécia, é a Ouvidoria. Ela é composta por quatro ombudsmen
eleitos pelo Parlamento, que trabalham com 5 a 7 investigadores cada um.
Seu papel é certificar-se de que o governo e as agências de governo local e
as cortes seguem a legislação do país. O órgão tem o poder de iniciar
investigações por iniciativa própria e de recomendar soluções aos
procedimentos adotados pelos órgãos públicos.
O trabalho da ouvidoria pode resultar na necessidade de modificação
da lei para que seja incluído novo dispositivo, ou anulados outros, em
função de conflitos legislativos.
As diferenças no sistema de Ouvidoria entre o Brasil e a Suécia são
significativas e perfeitamente justificáveis, pois as dimensões brasileiras
inviabilizam a centralização praticada pelo sistema sueco. Como exemplo,
em 2006 somente no Departamento de Ouvidoria Geral do SUS do
Ministério da Saúde, foram recebidas 6.322.854 ligações telefônicas que
geraram 15.504.203 informações prestadas, e juntamente com outros
meios de contato produziram 14.042 demandas para outros órgãos, o que
demonstra a conscientização do povo brasileiro em utilizar os instrumentos
de ouvidoria como forma de garantia de direitos.
Destaca-se nas competências da ouvidoria sueca o poder de
investigação e recomendação de punição, que no Brasil são
responsabilidades de órgãos específicos.
4. Avaliação Global
De maneira geral, os membros da delegação brasileira traçaram
pontos positivos e negativos muito semelhantes entre si com relação à
missão aos países Europeus. Alguns pontos positivos que merecem ser
comentados são os seguintes:
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Contato com funcionários de alto nível do
governo sueco e alemão
Conteúdo bastante interessante da maioria
das palestras
Qualidade elevada da maioria das
apresentações
Serviço excelente de tradução na Suécia
Receptividade, principalmente por parte dos
representantes suecos
Os pontos negativos identificados pela equipe com relação à
organização da missão podem ser resumidos nos seguintes:
Dificuldades nos traslados: a delegação tinha
que caminhar do hotel até os locais onde as palestras seriam realizadas.
Tendo em vista que havia ao menos 4 palestras por dia, ficava muito
cansativo para o grupo
Cronograma muito apertado: o horário entre
as reuniões não era suficiente para realizar refeições, no horário do
almoço.
Material de apoio utilizado não foi
disponibilizado em Português. Deveria ter sido providenciado, no mínimo, a
tradução para o Inglês.
Muitas palestras por dia: a carga de
informação diária era muito grande, de modo que a delegação apresentou
dificuldades na absorção do conteúdo.
Tendo em vista que as agências na Suécia
são o principal tipo de órgão executor da atividade pública naquele país,
um ponto negativo foi a ausência de visita a pelo menos uma dessas
instituições.
Um outro aspecto levantado pela delegação foi a ausência, em
muitos casos, da ênfase ao tema da missão: a participação social. Isso
ocorreu, principalmente, na visita à Alemanha. As palestras foram, na
maioria das vezes, focadas na explicação da estrutura e funcionamento dos
diversos ministérios, dos entes federativos. A questão da participação
social apenas tangenciou os debates promovidos.
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5. Evento de Multiplicação
Abaixo, estão quatro propostas do grupo à Direção Nacional do Projeto Eurobrasil de evento de multiplicação para a disseminação dos conhecimentos auferidos durante a missão técnica à Europa. Ressalta-se que as quatro propostas foram elaboradas pela equipe e foram colocadas em votação, restando vencedora a proposta 5.4. Achamos, por bem, no entanto, incluir todas as propostas criadas, com vistas a enriquecer o relatório final.
5.1 Seminário “Participação Social” Temas a) Produção e fluxo de informação sobre as políticas que afetam as condições de vida da população (Educação, Saúde, Transporte, Trabalho e Emprego e Meio Ambiente). b) Como se dá o processamento das críticas e sugestões da população sobre essas políticas. Sugestão: Seminário para 200 participantes de diversos órgãos dos 3 Poderes da República e outros convidados. Mesa: 1 especialista sueco, 1 especialista alemão, 1 especialista do Conselho Nacional de Saúde, 1 especialista do Conselho Nacional de Assistência Social, 1 especialista da Abong, 1 especialista da Inter-Redes 2 estudiosos do assunto (pode ser da Academia). Formato: Manhã 8h45 às 9h abertura9h às 9h50 – Apresentação do especialista sueco.9h50 às 10h40 – Apresentação do especialista alemão. 10h40 às 11h – Intervalo 11h às 12h - Comentário dos especialistas brasileiros. 12h às 12h30 – Perguntas e respostas Tarde 14h30 às 15h20 – Apresentação do 1º especialista brasileiro.15h20 às 16h10 – Apresentação do 2º especialista brasileiro. 10h10 às 16h30 – Intervalo 16h30 às 17h30 - Comentário dos especialistas estrangeiros. 1730h às 18h – Perguntas e respostas.
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5. 2 Seminário “Como promover a Participação Social no Brasil?” Temas a) Experiências da Alemanha e da Suécia. i. Na Suécia: o papel do Ombudsman, da legislação – A Carta da Democracia de 2002 – e da educação.ii. Na Alemanha: o papel dos Sindicatos b) Como aplicar no Brasil as experiências de outros países e promover a participação social no Brasili. Apresentação da experiência brasileiraii. Análise de especialistas da academia Participantes: Seminário para 200 participantes de diversos órgãos dos 3 Poderes da República e outros convidados. Mesa: 2 especialistas sueco, 1 especialista alemão, 2 especialistas no assunto ligados à Academia, 1 representante do município de Porto Alegre/RS, 1 representante do município de Teresina/PI. Formato: Manhã 8h30 às 8h45 – Abertura8h45 às 9h30 – Apresentação do primeiro especialista sueco – O Papel do Ombudsman9h30 às 10h30 – Apresentação do segundo especialista sueco – O papel da legislação e da educação. 10h30 às 11h00 – Intervalo 11h00 às 11h45 – Comentário dos especialistas brasileiros. 11h45 às 12h30 – Perguntas e respostasTarde 14h30 às 15h15 – Apresentação do representante do município de Porto Alegre/RS.15h15 às 16h00 – Apresentação do representante do município de Teresina/PI. 16h00 às 16h30 – Intervalo 16h30 às 18h00 – Comentário dos especialistas da academia – propostas de como promover a participação social no Brasil. 18h00h às 18h30 – Debate. 18h30 – Encerramento.
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5.3 Seminário: “O funcionamento da federação na Suécia, na Alemanha e no Brasil e sua distribuição de recursos: qual o melhor caminho a seguir?”
Tema: O funcionamento da federação na Suécia, na Alemanha e no Brasil e sua distribuição de recursos: qual seria o melhor caminho a seguir? Poderíamos diminuir as desigualdades regionais e sociais alterando nossa distribuição de recursos (ou seja, melhorando nosso sistema de equalização)? Se sim, qual seria a melhor forma?
O seminário (de até dois dias) deverá contar com presenças de parlamentares brasileiros (especialmente os ligados a questões tributárias), de técnicos do governo e acadêmicos visando ao aprofundamento do tema. A participação de especialista sueco e alemão neste seminário é de fundamental importância.
Os técnicos do governo federal, estadual e municipal deverão pertencer não somente à área de finanças públicas, em seu respectivo nível, como também da área da saúde, de educação, de desenvolvimento social e outros, a fim de aprofundamento da discussão e que conheçam nossa metodologia de distribuição de recursos (FPE, FPM etc).
Membros da subcomissão de reforma tributária do Congresso Nacional deverão participar assim como ex-parlamentares preocupados com o nosso sistema de distribuição de recursos.
5.4 Seminário “Como promover a Participação Social num país federativo?”
Temas
a) Experiências da Alemanha e da Suécia.
i. Na Suécia: o papel do Ombudsman, da legislação – A Carta da Democracia de 2002 – e da educação.
ii. Na Alemanha: o papel dos Sindicatos b) Como aplicar no Brasil as experiências de outros países e promover a participação social no Brasil
i. Apresentação da experiência brasileiraii. Análise de especialistas da academia
c) Participação social versus federalismo? i. Apresentação da experiência sueca – Sistema de
equalização (especialista sueco)ii. Análise de especialista da academia
d) Necessidade de realização de reforma políticai. Apresentação de representante do Congresso
Nacionalii. Análise de especialista da academia
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Participantes: Seminário para 200 participantes de diversos órgãos dos 3 Poderes da República e outros formadores de opinião. Mesa: 2 especialistas suecos (1 especialista para o primeiro dia e outro para o segundo), 1 especialista alemão, 2 especialistas no assunto ligados à Academia, 1 representante do município de Porto Alegre/RS, 1 representante do município de Recife/PE. Formato: Primeiro dia – Manhã 8h30 às 8h45 – Abertura8h45 às 9h30 – Apresentação especialista sueco – O Papel do Ombudsman9h30 às 10h15 – Apresentação especialista sueco – O papel da legislação e da educação.10h15 às 10h30 – Intervalo10h30 às 11h15 – Apresentação do especialista alemão – O papel dos sindicatos11h15 às 12h00 – Comentário dos especialistas brasileiros.12h às 12h45 – Perguntas e respostas
Tarde 14h30 às 15h15 – Apresentação do representante do município de Porto Alegre/RS.15h15 às 16h00 – Apresentação do representante do município de Recife/PE.16h00 às 16h30 – Intervalo16h30 às 18h00 – Comentário dos especialistas da academia – propostas de como promover a participação social no Brasil.18h00h às 18h30 – Debate.18h30 – Encerramento.
Segundo dia – Manhã 8h30 às 8h45 – Abertura8h45 às 10h15 – Apresentação do especialista sueco – Sistema de equalização sueco10h15 às 10h45 – Perguntas 10h45 às 11h00 – Intervalo11h00 às 12h00 – Análise dos especialistas da academia12h00 às 12h30 – Perguntas e respostas
Segundo dia – Tarde
14h30 às 15h30 – Apresentação do representante do Congresso Nacional15h30 às 15h45 – Intervalo15h45 às 17h15 – Comentário dos especialistas da academia17h15h às 18h00 – Debate.18h00 – Encerramento.
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Propõe-se, ainda que, como resultado desse seminário, sejam preparados papers pelos especialistas da academia com suas análises a respeito dos mecanismos de participação social na Suécia e na Alemanha, bem como sobre o sistema de equalização sueco, e suas recomendações e observações sobre como se tratar o tema no Brasil.
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6. Conclusões/Recomendações
Após uma série de discussões e debates a respeito das apresentações
durante as duas semanas de missão, o grupo preparou, como
recomendação, um conjunto de proposições, que se encontram a seguir.
Algumas delas foram agrupadas, visando a fortalecer o argumento da
necessidade de mudança. Assim, temos um primeiro grupo de proposições
relacionadas à publicização e transparência:
1. Ampla divulgação de informações (prazos, novas políticas
públicas, espaços para participação social existentes,...) à
população, utilizando, para isso, diversas mídias.
2. Ampla divulgação sobre órgãos de fiscalização e seu
funcionamento, bem como sobre o modo de acessá-los.
3. Criação de redes para ampliação do impacto das políticas
públicas e promoção de um diálogo amplo com o poder
público, que sejam capazes de negociar a participação no
desenho de suas políticas.
4. Campanhas massivas em rádio e televisão sobre a necessidade
de exercer o controle social.
5. Comprometimento de governos no sentido de publicizar
resultados das gestões, incluindo realizações e denúncias.
6. Divulgação ampla sobre os direitos da população, nos diversos
meios de comunicação.
7. Fortalecimento da cultura de prestação de contas e divulgação
dessa prestação de modo geral e claro a todos.
8. Fortalecimento de uma cultura de resposta do governo para a
sociedade.
9. Inclusão digital
Como já dito em pontos anteriores, existem alguns espaços efetivos
de participação da sociedade, como é o caso dos conselhos de saúde, mas
esses espaços precisam ser revitalizados, em alguns casos e, em outros,
criados. Nesse sentido, propõe-se:
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1. Aprimorar o funcionamento dos espaços de participação
existentes, tais como: conselhos, conferências, consultas
públicas e outros.
2. Fomentar a criação de Observatórios de políticas públicas, em
que se garanta a participação da sociedade, de maneira que
essa possa ser ouvida em suas demandas.
3. Processo de construção do PPA mais participativo com a
sociedade, buscando demandas mais objetivas e
transparentes, nas quais a população tenha poder de decisão.
4. Uso de diferentes representações, como os conselhos
municipais, estaduais e federais ou fóruns da articulação
política, para promover a participação ativa da sociedade civil.
Existem, ainda, modificações de caráter institucional que precisam
ser promovidas para que se possa garantir meios de melhorar a
participação da sociedade nas decisões políticas. São elas:
1. Descentralização das Ouvidorias para o controle social e
divulgação dos processos, proporcionando maior autonomia a
essas e capacidade de apuração/sanção.
2. Fortalecimento de estruturas institucionais permanentes e
sustentáveis de composição intersetorial, capazes de gerir o
processo de planejamento e a execução das ações e projetos
decorrentes.
3. Identificação e fortalecimento das organizações da sociedade
civil que tenham legitimidade para exercer os objetivos
propostos.
4. Capacitação intensiva de atores públicos representantes dos
três níveis de governo.
5. Qualificação de membros dos conselhos setoriais para a
participação e a mobilização da sociedade.
Além das proposições acima elencadas, sugere-se que (i) sejam
realizadas auditorias operacionais, visando ao atendimento de metas físicas
e qualificação dos gestores da Administração Pública nas três esferas de
governo; (ii) boas práticas de controle social sejam difundidas; (iii) sejam
incluídas disciplinas que versem sobre o civismo e práticas cidadãs nos
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currículos escolares, (iv) haja constante estímulo ao monitoramento das
instituições pelo maior número de agentes possível: cidadãos, imprensa,
órgãos de controle do Estado.
É preciso fortalecer a participação da sociedade no
acompanhamento do ciclo orçamentário federal, em todas as regiões do
país. Essa participação deve ser modelada em conjunto com a sociedade.
Aliado a isso, deve-se buscar mobilizar políticos ou agentes governamentais
em torno de ações, leis e decisões que traduzam diferentes necessidades
das comunidades ou grupos sociais. A sociedade, mais próxima de seus
representantes, poderá ser capaz de influenciar as decisões e de fazer valer
suas demandas.
Por fim, mas não menos importante, deve-se buscar o fortalecimento
do federalismo brasileiro. É fundamental que municípios e estados sejam
efetivamente autônomos e estruturados e sejam capazes de arcar com as
demandas das sociedades.
Ao final desse período em que o grupo esteve em missão, chegou-se
à conclusão de que as realidades, dimensões, históricos, backgrounds dos
dois países visitados são muito divergentes das brasileiras. Daí, que não é
simples e direta a transposição das experiências sueca e alemã. O Brasil
possui suas idiossincrasias e cultura próprias e, diante disso, é preciso
reunir esforços, de todas as frentes, para que seja possível garantir o maior
e melhor acesso da sociedade aos fóruns de discussão e de decisão.
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