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1 RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO ESPECIAL DE INQUÉRITO (Requerimento nº 017/2013) O presente Relatório origina-se do Requerimento nº 017/2013, aprovado pelo Plenário na sessão ordinária de 11 de março de 2013, objetivando a formação de uma Comissão Especial de Inquérito, destinada a apurar supostas irregularidades praticadas por servidor ou servidores públicos envolvendo a falsificação de ponto eletrônico autuado em flagrante no SAMU, a qual foi constituída pelo Ato da Mesa nº 021/2013, com prazo de 90 (noventa) dias, composta inicialmente por 06 (seis) Vereadores. Ato este publicado no Diário Oficial do Estado no dia 14 de março de 2013, sendo que a primeira reunião se deu aos 11 (onze) dias de março de 2013, ocasião em que se elegeu o Vereador Roberto Antunes de Souza como Presidente da Comissão, Vereador Antônio Carlos Alves Correia como Relator e Vereadores Ana Acilda Alves da Silva, Marcos Antonio Castello, Luiz Tenório de Melo e Walter Marsal Rosa como membros, e posteriormente, através do Ato da Mesa nº 022/2013, publicado no DOE em 16 de março de 2013, foi incluído como membro da Comissão, o Vereador Claudio Ramos Moreira. No dia 14 de março de 2013, foi publicado no D.O.E. a Portaria nº 4916/2013, que designou o servidor Krisna Batista Ribeiro para secretariar a Comissão de Inquérito, tendo exercido suas funções até 12/04/2013, sendo substituído pelo servidor Renato Hiroshi Kitajima, que secretariou os trabalhos até 07/04/2014, que posteriormente foi substituído pelo servidor Alan Borges de Melo. Registre-se que a Vereadora Ana Acilda Alves da Silva compôs esta Comissão até 28/02/2014, tendo se afastado da Vereança para ocupar o cargo de Secretária Municipal, conforme Portaria nº 25.286, de 27 de fevereiro de 2014, do Executivo Municipal. Registre-se ainda que na data de 17 de abril de 2013, o servidor Walter da Costa Victória, contador desta Casa, foi designado para auxiliar os trabalhos da Comissão, no que diz respeito à análise dos documentos relativos ao sigilo bancário e fiscal, ficando no ato comprometido a manter absoluto sigilo do material por ele manuseado.

RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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Page 1: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO ESPECIAL DE INQUÉRITO

(Requerimento nº 017/2013)

O presente Relatório origina-se do Requerimento nº 017/2013,

aprovado pelo Plenário na sessão ordinária de 11 de março de 2013, objetivando

a formação de uma Comissão Especial de Inquérito, destinada a apurar supostas

irregularidades praticadas por servidor ou servidores públicos envolvendo a

falsificação de ponto eletrônico autuado em flagrante no SAMU, a qual foi

constituída pelo Ato da Mesa nº 021/2013, com prazo de 90 (noventa) dias,

composta inicialmente por 06 (seis) Vereadores. Ato este publicado no Diário

Oficial do Estado no dia 14 de março de 2013, sendo que a primeira reunião se

deu aos 11 (onze) dias de março de 2013, ocasião em que se elegeu o Vereador

Roberto Antunes de Souza como Presidente da Comissão, Vereador Antônio

Carlos Alves Correia como Relator e Vereadores Ana Acilda Alves da Silva,

Marcos Antonio Castello, Luiz Tenório de Melo e Walter Marsal Rosa como

membros, e posteriormente, através do Ato da Mesa nº 022/2013, publicado no

DOE em 16 de março de 2013, foi incluído como membro da Comissão, o

Vereador Claudio Ramos Moreira. No dia 14 de março de 2013, foi publicado no

D.O.E. a Portaria nº 4916/2013, que designou o servidor Krisna Batista Ribeiro

para secretariar a Comissão de Inquérito, tendo exercido suas funções até

12/04/2013, sendo substituído pelo servidor Renato Hiroshi Kitajima, que

secretariou os trabalhos até 07/04/2014, que posteriormente foi substituído pelo

servidor Alan Borges de Melo. Registre-se que a Vereadora Ana Acilda Alves da

Silva compôs esta Comissão até 28/02/2014, tendo se afastado da Vereança para

ocupar o cargo de Secretária Municipal, conforme Portaria nº 25.286, de 27 de

fevereiro de 2014, do Executivo Municipal. Registre-se ainda que na data de 17

de abril de 2013, o servidor Walter da Costa Victória, contador desta Casa, foi

designado para auxiliar os trabalhos da Comissão, no que diz respeito à análise

dos documentos relativos ao sigilo bancário e fiscal, ficando no ato comprometido

a manter absoluto sigilo do material por ele manuseado.

Page 2: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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A Comissão deliberou por decretar o sigilo absoluto de todos os

trabalhos. (fls. 032)

A Comissão de Inquérito deliberou: requerer ao senhor Prefeito

Municipal a escala de funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência;

requerer ao senhor Delegado de Polícia do município cópia da Perícia realizada

nos objetos apreendidos, “dedos de silicone”, bem como sobre os relógios de

registro de ponto no SAMU, solicitando ainda uma cópia do Inquérito Policial

alusivo às duas perícias mencionadas; e requerer junto à empresa de

comunicação “TV Diário” de Mogi das Cruzes - SP cópias de todas as imagens

publicadas em vídeo, relativas ao escopo desta Comissão. (fls. 48 e 66)

A Comissão de Inquérito requereu ao Poder Judiciário a quebra do

sigilo bancário, fiscal e telefônico do senhor Jorge Luiz Cury e da senhora

Thauane Nunes Ferreira. (fls. 129)

DOS TRABALHOS

I- Do Flagrante

Conforme B.O. 1.600/13, datada de 10 de março de 2013, lavrado

na Delegacia de Polícia de Ferraz de Vasconcelos, em desfavor da médica

Thauane Nunes Ferreira, funcionária do SAMU de plantão no dia dos fatos,

flagrada no interior das dependências da Prefeitura, mais precisamente junto ao

relógio de registro de ponto por sistema biométrico, utilizando prótese de silicone

dos médicos Aline Monteiro Cury, Felipe de Moraes e Rodrigo Gil de Castro

Jorge, sendo que em seguida ao flagrante foram apreendidas mais três próteses,

no armário do coordenador doutor Jorge Luiz Cury, sendo uma da própria doutora

Thauane e as outras dos doutores Caio José Losito Mantovani e Ronnie Munis de

Oliveira. (fls. 85 a 90)

II- Dos Depoimentos dos Implicados

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Thauane Nunes Ferreira, qualificada nos autos às fls. 79 a 81, nos

respondeu ter iniciado seu serviço junto à Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos no

segundo semestre de 2011, tendo como coordenador o Dr. Jorge Luiz Cury. Que

com referência ao uso dos dedos de silicone, disse que sua utilização iniciou-se

após dois meses da instalação de referido registro do ponto eletrônico, não se

recordando efetivamente quem seria o responsável pelo processo, afirmando em

um primeiro momento que teria sido o coordenador que havia encaminhado os

dispositivos de silicone da a Dra. Aline Cury, sua filha, para que Thauane

registrasse o ponto da mencionada médica. Thauane informou que quem fabricou

os dispositivos de silicone, bem como os apresentou foi o próprio Dr. Jorge Luiz

Cury, inclusive confeccionando o dedo da mesma. Soube informar ainda que

outros médicos tinham o referido dispositivo de silicone, encontrados no dia do

flagrante no armário do Dr. Jorge Luiz Cury, em sua sala, sendo que havia seis

dedos com as iniciais dos nomes dos médicos, quais sejam: Aline Monteiro Cury

“A”, Caio José Losito Mantovani “C”, Felipe de Moraes “F”, Rodrigo Gil de Castro

Jorge “G”, e Ronnie Munis de Oliveira “R”. Esclareceu ainda a implicada que

registrava o ponto dos outros médicos acatando determinação do coordenador,

esclarecendo ainda que com referência a seus plantões quinzenais, os mesmos

eram apontados através do dedo de silicone pelo Dr. Jorge Cury, uma vez que a

mesma realizava curso de especialização. Relatou ainda a implicada que foi

surpreendida ao constatar em sua conta bancária valores superiores ao previsto,

sendo que os mesmos eram repassados diretamente ao Dr. Jorge Cury.

Esclareceu ainda que o coordenador Jorge Luiz Cury cumpria plantões para a

Dra. Thauane durante a semana, valendo-se dos dedos de silicone, sem anuência

e consentimento da mesma.

Ronnie Munis de Oliveira, qualificado nos autos às fls. 455 a 457.

Referido médico desempenhava suas funções junto ao SAMU desde sua criação,

ou seja, no ano de 2009, cumprindo seus plantões as sextas-feiras em período de

24 horas, tendo como coordenador e chefe direto o Dr. Jorge Luiz Cury. Que

necessitando adequar seu horário de plantões com o objetivo de fazer curso de

residência médica, tendo para isso procurado o coordenador, o mesmo sugeriu

que o implicado moldasse o dedo de silicone para que através de referido

Page 4: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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dispositivo o mesmo tivesse o ponto registrado. Informou-nos ainda o implicado

que o doutor Jorge Cury teria solicitado ao doutor Felipe de Moraes para que o

mesmo confeccionasse tal dispositivo, esclarecendo ainda que no momento de

confecção da prótese, o doutor Felipe de Moraes, segundo o implicado, estaria no

local, ou seja, na sala do doutor Jorge Luiz Cury. Que a remuneração dos seus

plantões era repassada diretamente ao doutor Jorge Luiz Cury através de

transferências bancárias. Afirma ainda o implicado que nos seus plantões, o uso

de sua falange era realizado apenas pelo doutor Jorge Cury, que os apontava

junto ao ponto de registro. Esclareceu ainda o implicado que repassou, além das

quantias mensais, 50% de seu 13º salário.

Rodrigo Gil de Castro Jorge, qualificado nos autos às fls. 458 a

460, nos informou que exerce suas funções junto ao SAMU desde sua criação, no

ano de 2008, esclarecendo que repassava ao doutor Jorge Luiz Cury, bem como

ao doutor Caio e doutor Ricardo, importâncias pelos plantões não cumpridos pelo

implicado, através de transferências bancárias. Informou-nos ainda o implicado

que o molde de seu dedo foi confeccionado no início do ano de 2012, sendo

requisitado tal dispositivo pelo coordenador doutor Jorge Luiz Cury, inclusive,

segundo o implicado, tendo sido o mesmo que o confeccionou, esclarecendo

ainda que tal artefato era utilizado sempre pelo doutor Jorge Luiz Cury. Relatou-

nos ainda que apesar de não saber o valor exato das transferências bancárias

para o coordenador, nem mesmo das transferências em favor do doutor Caio e

doutor Ricardo, pelo cumprimento de seus plantões, reitera que as fez várias

vezes, conforme sigilo bancário.

Felipe de Moraes , qualificado nos autos às fls. 498 a 501, nos

relatou que, por estar cursando residência médica, tendo incompatibilidade de

horário, procurou seu coordenador, Doutor Jorge Luiz Cury, onde este, com o

objetivo de resolver o problema, convidou o implicado a confeccionar a prótese de

silicone, sendo que após uma semana das conversações, doutor Jorge, sem a

presença de demais pessoas, passou a massa ao implicado para que o mesmo

moldasse sua falange, sendo que tal dispositivo fraudulento ficaria sob o domínio

e custódia de doutor Jorge Luiz Cury. Naquele momento, doutor Felipe passou a

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desconfiar de outros médicos, inclusive do doutor Ronnie, pelo fato de este

também ter problemas com horário, uma vez que este profissional também

cursava especialização. Afirmou ainda que doutor Jorge Luiz Cury utilizou sua

prótese por cerca de um ano, sendo que referido coordenador realizava todos

seus plantões de 24 horas, sendo certo que o implicado somente comparecia em

seus plantões uma vez ao mês, repassando os valores dos plantões não

cumpridos ao doutor Jorge Cury através de transferências bancárias. Esclareceu

ainda o implicado que nunca realizou horas-extras. Afirmou-nos que seu salário

sempre variava de cinco a dez mil reais. Alegou ainda o implicado que em

determinado momento recebeu do doutor Jorge Cury uma caixa de papelão de

pequeno tamanho para entregar a doutora Thauane, sendo que a mesma

encontrava-se na companhia de Rodrigo Gil, que, após apanhar a referida caixa,

a levou para a sala de conforto dos médicos. Esclareceu ainda que ficava

estarrecido pelos valores aportados em sua conta bancária, sendo certo que os

repassava integralmente ao doutor Jorge Luiz Cury, ficando apenas com os

valores relativos ao plantão que cumpria. Esclareceu que com referência a 13º

salário e férias, mais precisamente no mês de fevereiro, observou o valor de

cerca de onze mil reais em sua conta, repassando, deste montante, cinco mil

reais ao doutor Jorge Luiz Cury. Esclareceu ainda o implicado que ficou ausente

de seus plantões, ou seja, não realizou nenhum, desde outubro de 2012.

Caio José Losito Mantovani, qualificado às fls. 1625, informou-nos

que de forma esporádica durante o ano de 2012, sem muita certeza, fez três

repasses de dinheiro ao doutor Jorge Luiz Cury, por alguns plantões que este

cumpria em seu nome, sendo certo que o implicado não estava escalado nessas

ocasiões. Que com referência ao salário, todo o excedente era repassado

integralmente ao coordenador Jorge Luiz Cury que os cumpria em seu nome. Que

com referência as próteses, nos esclareceu que quem efetivamente as moldou foi

seu coordenador Jorge Cury, sendo que foi feito nas dependências do SAMU, que

não sabe desde quando as mesmas eram utilizadas, pois ficavam inteiramente

sob a responsabilidade do coordenador, tendo pouca certeza que a utilização do

referido artefato se passou no final do primeiro trimestre de 2012. Informou-nos

ainda que em conversas com os outros médicos ficou sabendo que havia

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próteses dos seguintes médicos: Aline Cury, Thauane, Felipe, Rodrigo Gil, Ronnie

Munis. Que com referência a doutora Aline, a viu em algumas ocasiões, sendo

certo que há algum tempo, sem saber precisar quanto, não mais a viu no setor,

observando a presença de maneira alternada do doutor Jorge Cury ou da doutora

Thauane Ferreira, substituindo referida profissional ausente. Esclareceu-nos

ainda que somente o doutor Jorge Cury e doutora Thauane utilizavam sua

prótese, afirmando que nunca fez uso de referido dispositivo.

A Comissão, mesmo tendo exaustivamente tentado contato com os

médicos Jorge Luiz Cury e Aline Monteiro Cury, não logrou êxito em trazê-los

para dar seus depoimentos com as suas justificativas. Faz-se necessário

constatar que tampouco designaram advogados para acompanhar os trabalhos

realizados por este Colegiado. Diversas foram as tentativas de ouvir os citados

médicos, conforme se verifica nas intimações às fls. 483, 513, 523 e 2230 para a

doutora Aline Monteiro Cury e às fls. 514, 524, 534, 2104 e 2229 para o doutor

Jorge Luiz Cury.

III- Depoimentos das Testemunhas

Eduardo Maciel Mesquita , qualificado nos autos às fls. 1600 e

1601. Informou-nos de que há aproximadamente três anos a frequência no SAMU

é apontada por relógio biométrico, tratando-se de seu coordenador doutor Jorge

Luiz Cury. Esclareceu que trabalha de forma de plantão, cumprindo escala de 12

por 36 horas, relatando que apesar da escala, os plantões funcionavam na

maioria das vezes com um único médico, salientando q ue tal prática passou

a ocorrer principalmente nos últimos 12 meses, send o que na maioria das

vezes, ocorria nos finais de semana. Que com referência a doutora Thauane,

que realizava residência médica, o depoente a via na maioria de seus plantões,

mas com referência a doutora Aline Monteiro Cury, após o ingresso no curso de

especialização, não mais cumpriu seus plantões, sendo que não era comum sua

substituição nos aludidos plantões, e quando isso ocorria o plantão era cumprido

pelo próprio coordenador, pelo Jorge Luiz Cury, e que com referência ao doutor

Page 7: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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Felipe de Moraes, o depoente, durante os últimos 12 meses, o viu por apenas

umas duas vezes.

Sheila Miranda da Silva , qualificada nos autos às fls. 1602.

Relatou-nos que trabalha na Prefeitura há um ano e nove meses, prestando seus

serviços junto ao SAMU, sendo certo que o coordenador tratava-se de Jorge Luiz

Cury. Disse que realizava seus plantões em escala de 12 por 36 horas. E que

com referência às escalas dos médicos, nos reportou que aos finais de semana

comparecia apenas um único médico, lembrando vagamente tratar-se de Rodrigo

Gil de Castro Jorge, e que aos domingos em forma de rodízio, ou alternadamente,

eram cumpridos pela doutora Thauane ou Jorge Luiz Cury, não sabendo dizer

com precisão se ambos cumpriam referidos plantões juntos. Que não se recorda

efetivamente, mas pôde informar que de uns meses até o problema do SAMU não

mais viu a doutora Aline Monteiro Cury no serviço, o mesmo ocorrendo com o

doutor Felipe de Moraes, ou seja, de uns meses até os fatos ocorridos o mesmo

não estava presente em plantões.

Samuel do Amaral Morrone , qualificado nos autos às fls. 1606.

Esclareceu-nos achar estranho a presença dos médicos nos plantões, pois era

comum a presença do coordenador doutor Jorge Cury, com exceção das quartas-

feiras quando o referido coordenador realizava os plantões sozinho. Reiterou-nos

ainda não observar no último ano a presença dos doutores Felipe de Moraes e

Aline Cury nos plantões durante a semana, esclarecendo ainda que tinha

conhecimento que o doutor Jorge Cury prestava serviço nos municípios de Poá e

Itaquaquecetuba, laborando ainda na Prefeitura de Mogi das Cruzes, da qual

encontrava-se afastado de suas funções.

Claudionor Janes , qualificado nos autos conforme fls. 1609.

Informou-nos que com referência a plantões de finais de semana, principalmente

aos domingos, nem a doutora Thauane nem a doutora Aline Monteiro Cury,

compareciam, sendo realizados apenas pelo coordenador doutor Jorge Luiz Cury.

Que com referência a doutora Thauane e Aline Cury, no início do ano de 2012,

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vislumbrava as mesmas cumprindo normalmente as escalas, e que

posteriormente só via nos plantões a doutora Thauane, sendo que, ainda com

referência a doutora Thauane, no final do mesmo ano, não mais a viu nos seus

plantões.

Júlio de Morais Oliveira de Souza , qualificado nos autos às fls.

1614. Relatou-nos que durante seus plantões via com frequência o doutor Jorge

Luiz Cury, o qual cumpria referidas jornadas na maioria das vezes sozinho.

Cátia Aparecida da Silva , qualificada nos autos às fls. 1616. Com

referência às próteses de silicone, somente tomou conhecimento no dia do

flagrante, mas um fato chamou a sua atenção, haja vista o comportamento do

coordenador, pois o mesmo passava maior parte do seu tempo no setor,

notadamente nos finais de semana, sendo que a depoente chegou a presenciar o

coordenador no interior da regulação médica cobrando de maneira enfática

valores altos em dinheiro bem como transferências, exemplo, “SIC” “Porra,

Thauane você ainda não transferiu o dinheiro para m inha conta, caralho!”

Sendo que em relação a outras cobranças não se reco rda quando, porém,

ouviu várias, haja vista o doutor Jorge se mostrar com atitudes explosivas,

ser mal educado, pois não tinha respeito por nenhum funcionário.

João de Paiva Coimbra Filho , qualificado nos autos às fls. 1619.

Declarou-nos a testemunha que muito raramente não vislumbrava a presença do

doutor Jorge Luiz Cury nas dependências do SAMU, sendo certo que poucas

vezes observou no plantão a presença de dois ou mais médicos. E que com

relação aos plantões de finais de semana, informou ter observado a presença da

doutora Thauane aproximadamente de 15 em 15 dias, e quanto a doutora Aline

Monteiro Cury, a testemunha não a via, com exceção de uma única vez que a viu

nas dependências do SAMU, pois estava, segundo o mesmo, visitando o setor,

causando estranheza ao depoente, haja vista sequer saber de quem se tratava.

Com referência aos dedos de silicone, não sabe precisar de quem ou quando,

mas que já teria ouvido rumores sobre os “dedinhos” (SIC).

Page 9: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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Marcos de Moraes , qualificado nos autos às fls. 1621. Esclareceu-

nos que com referência as escalas realizadas de segunda a domingo, o doutor

Jorge Luiz Cury fazia rodízio principalmente aos sábados, alternando com os

doutores Rodrigo Gil e Caio, e aos domingos alternando com as doutoras Aline

Monteiro Cury e doutora Thauane, sendo certo que a maior parte do ano somente

o doutor Jorge Luiz Cury cumpria os plantões, enfatizando ainda a testemunha

que inúmeras vezes presenciou um único médico por plantão, sendo que na

maioria das vezes esses plantões eram realizados pelo próprio coordenador

doutor Jorge Luiz Cury. Esclareceu-nos que tomou conhecimento das próteses

apenas pela mídia e que anteriormente aos fatos tinha ouvido rumores “SIC” dos

dedinhos de silicone, não sabendo precisar por quem ou quando.

Paula Alessandra Soares de Britto , qualificada nos autos às fls.

1937. Relatou-nos a depoente que somente as quintas-feiras além dos médicos

escalados, observava a presença do coordenador também no plantão e que nos

demais dias via somente o médico plantonista e o doutor Jorge Cury. Relatou-nos

ter conhecimento de que os médicos faziam especialização, tratando-se dos

doutores Felipe de Moraes, Aline Cury, Thauane e Ronnie de Monis. Esclareceu

ainda que com referência aos plantões observou várias vezes os mesmos serem

realizados por um único médico, esclarecendo que o doutor Jorge “dormia na

base do SAMU”.

IV- Das Provas

a) Das Provas Periciais

Às folhas 107 a 122, comprova-se efetivamente, após minuciosa

perícia, que as próteses dos dedos de silicone, sem sombra de dúvida, tratam-se

das falanges dos seguintes médicos do SAMU: doutora Thauane Nunes Ferreira

(T); doutor Caio José Losito Mantovani (C); doutora Aline Monteiro Cury (A);

doutor Rodrigo Gil de Castro Jorge (G); doutor Felipe de Moraes (F); e de doutor

Ronnie Munis de Oliveira (R).

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b) Das Provas Documentais

A Comissão analisou por amostragem as folhas de frequência dos

médicos envolvidos na prática fraudulenta de uso de dedos de silicone, sendo que

utilizamos a frequência do mês de novembro de 2012, onde observamos a

movimentação dos profissionais já citados, demonstrados abaixo.

Conforme registro de frequência, como base o mês de novembro de

2012, o doutor Felipe de Moraes teria cumprido três plantões de 24 horas, todos

aos finais de semana, (fls. 662), inclusive sendo apontado mais um adicional de

15,48 horas-extras (fls 663), bem como ainda 16 horas de adicional noturno.

Com referência a doutora Thauane Ferreira Nunes, conforme fls.

646 e 647, tendo como base o mês de novembro de 2012, conforme registro de

frequência, cumpriu seis plantões de 24 horas, quais sejam, entrou no dia 09 do

citado mês, às sete horas, saindo no dia 12, às sete horas, bem como no dia 16,

às sete horas, cumprindo uma jornada ininterrupta até o dia 19, às sete horas,

tendo ainda cumprido outros plantões, compreendidos das sete horas do dia 23,

tendo como saída, ininterruptamente, às sete horas do dia 26, tendo ainda como

complemento salarial adicional noturno de 48 horas, e mais 55 horas acrescidas

de 50% de horas-extras, bem como mais 17 horas com adicional de 100% em

horas-extras.

Com referência ao doutor Ronnie Munis de Oliveira, tendo como

base também o mês novembro de 2012, apontava em seu registro de frequência,

conforme folhas 648 e 649, que o mesmo realizou quatro plantões de 24 horas no

referido mês, constando ainda na mesma folha, apontamentos em seus

vencimentos, relativos à adicional noturno.

Rodrigo Gil de Castro Jorge, às fls 653 e fls. 744, das quais

constam registros de frequência, tendo como base o mês de novembro de 2012,

nos traz a fl. 653 apontamentos de 04 plantões de 24 horas realizados pelo

Page 11: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

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referido médico, com adicional noturno, e por outro lado a fl. 744 aponta apenas

três plantões de 24 horas, com adicional noturno, conforme fls 745.

Às folhas 660, que se trata de frequência individual do doutor Jorge

Luiz Cury, referente ao mês de novembro de 2012, obervamos que a mesma tem

apontamentos durante a semana da jornada de trabalho do referido coordenador,

compreendendo sua carga horária das 13 horas às 17 horas, e as folhas 661

também que trata de registro de frequência do doutor Jorge Luiz Cury, pertinente

também ao mês de novembro de 2012, o mesmo cumpriu 04 plantões de 24

horas, iniciando sempre às sete horas de domingo e terminando às sete horas de

segunda-feira.

Às folhas 665 e 667 constam registros de frequência do mês de

novembro de 2012 da doutora Aline Monteiro Cury, onde ficou apontado na

referida folha de frequência que a mesma cumpriu os seguintes plantões: entrou

no domingo, dia 11, às sete horas da manhã e foi até o dia 14, ininterruptamente,

até às sete horas, o mesmo ocorrendo nos outros plantões, quais sejam, às sete

horas do dia 18 do mesmo mês, laborando, ininterruptamente, até às sete horas

do dia 21, bem como às sete horas do dia 25, indo, conforme a ficha de

frequência, ininterruptamente, até às sete horas do dia 28 do mesmo mês, tendo

adicional noturno, bem como horas-extras apontadas em sua ficha.

Às folhas 676, conforme registro de frequência, também do mês de

novembro de 2012, o doutor Caio José Losito Mantovani cumpriu três plantões

de 24 horas, compreendidos nos dias da semana de segunda a terça, com

adicional noturno.

V- Do Sigilo

a) Do Sigilo Telefônico

A Comissão entendeu desnecessária a análise das ligações

telefônicas, pois demandaria trabalho em um número excessivo de ligações,

Page 12: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

12

sendo certo que as outras provas já nos apontaram satisfatoriamente as práticas

delituosas.

b) Do Sigilo Bancário

Conforme folhas de número 01 a 124, tratando-se de informações

confidenciais referentes às contas do tipo corrente, poupança e de investimentos

emitidas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, através do CAEX –

Centro de Apoio Operacional à Execução, registrado sob nº 003-MPSP-0000297-

48, em desfavor de Jorge Luiz Cury, CPF 061.854.878-53, e de Thauane Nunes

Ferreira, CPF 332.640.068-39, expedido pelo excelentíssimo Juiz da 2ª Vara

Criminal do fórum distrital de Ferraz de Vasconcelos, comarca de Poá, doutor

João Walter Cotrim Machado, a Comissão solicitou sob sigilo a intervenção do

contador desta Casa de Leis, senhor Walter da Costa Victória, CRC

1SP99269/O2, para que, após minuciosa análise de referidas contas bancárias,

nos desse parecer, sendo certo que referido perito nos ofertou relatório, onde uma

vez cruzando os dados numéricos, nos forneceu informações de montantes

aportados nas contas acima mencionadas, detalhando todos os repasses que

foram realizados entre os titulares das contas com os médicos envolvidos no fato

em tela, bem como transações ocorridas no período de 10 de outubro de 2011 a

04 de março de 2013, onde, por força de lei, e por tais documentos se mostrarem

sigilosos, ficarão a disposição da justiça.

c) Do Sigilo Fiscal

Conforme folhas 01 a 44, que versam sobre documentos de sigilo

fiscal, emitido pela Receita Federal, em desfavor de Jorge Luiz Cury, CPF

061.854.878-53, e de Thauane Nunes Ferreira, CPF 332.640.068-39,

determinado a quebra judicialmente através do processo de autos nº 0002780-

68.2013.8.26.0191, expedido pelo excelentíssimo Juiz da 2ª Vara Criminal do

fórum distrital de Ferraz de Vasconcelos, comarca de Poá, doutor João Walter

Cotrim Machado, a Comissão solicitou sob sigilo a intervenção do contador desta

Casa de Leis, senhor Walter da Costa Victória, CRC 1SP99269/O2, para que,

Page 13: RELATÓRIO FINAL - CEI DO SAMU - FINALIZADO

13

após minuciosa análise das declarações de bens pertinentes ao exercício de 2011

até o exercício de 2013, nos desse parecer, sendo certo que referido perito nos

ofertou relatório, onde uma vez cruzando os dados numéricos, nos forneceu

informações da variação patrimonial dos supramencionados implicados,

detalhando todos os dados, onde, por força de lei, e por tais documentos se

mostrarem sigilosos, ficarão a disposição da justiça.

.

VI- Das Conclusões

A Comissão, através de seu relator, após analisar vasta

documentação, como: depoimentos dos implicados, das testemunhas, das provas

documentais, provas periciais, bem como corroboradas pelas quebras de sigilo

autorizadas pela justiça, tendo em vista a convergência entre elas, conclui que os

crimes de peculato, formação de quadrilha, falsificação de documento público,

bem como de falsidade ideológica ficaram bem provados, pois analisando, como

já foi citado no bojo deste relatório, as fichas de registro de frequência do mês de

novembro de 2012, ano este em que estariam em curso as referidas fraudes,

após ter sido feita minuciosa análise, observou-se que o doutor Felipe de

Moraes, já citado neste relatório, reportou-nos que estava deixando de cumprir

seus plantões desde outubro do mesmo ano, pois estava se dedicando ao curso

de especialização do tipo residência médica, tendo sido constatado através de

folha de frequência que o citado funcionário não compareceu em seus plantões

de 24 horas e que, mesmo assim, recebeu normalmente seus vencimentos,

inclusive tendo como adicional no seu salário, horas-extras e adicional noturno,

tudo devidamente assinado por Dr. Felipe, bem como vistado por seu

coordenador doutor Jorge Luiz Cury. Que com referência a médica e filha do

coordenador, Aline Monteiro Cury, conforme relatos, a mesma não estaria

cumprindo sua jornada de plantões durante o ano todo, inclusive não sendo

conhecida por alguns funcionários daquele setor, ficando constatado, nos

apontamentos do seu registro de frequência do mês de novembro de 2012, que

referida funcionária supostamente teria cumprido três plantões de 48 horas,

assinados por ela, bem como conferidos pelo seu pai e coordenador do setor,

doutor Jorge Luiz Cury, tendo ainda, em seus vencimentos, apontamentos de

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14

horas-extras e de adicional noturno. A doutora Thauane Ferreira Nunes, tendo

sido presa em flagrante com os dispositivos delituosos, deixou ratificado que o

mentor de todas as fraudes praticadas no SAMU, tratava-se do coordenador

doutor Jorge Luiz Cury, deixando a Comissão sem nenhuma sombra de dúvida

que a mesma também participava diretamente das fraudes como colaboradora,

pois no ato do flagrante fora pega fazendo registro de outros médicos que sequer

estavam presentes em seus plantões, e que ainda ficou demonstrada sua

relevante participação no esquema fraudulento, inclusive pelo fato de ter sido

apontado um alto valor nas transferências bancárias de sua conta corrente para a

conta corrente do doutor Jorge Luiz Cury, conforme quebra de sigilo bancário.

Vale esclarecer ainda que tanto era a ligação de Thauane com o coordenador

Jorge Cury, que a mesma inclusive tinha acesso ao armário do coordenador, o

que ficou demonstrado no dia do flagrante, haja vista que, após ter sido apanhada

com algumas próteses de silicone, Thauane revelou que havia outras próteses no

interior do citado armário. Deve-se apontar ainda que na folha de registro de

frequência do mês base de novembro de 2012, Thauane Nunes Ferreira teria

cumprido três plantões de 48 horas, sendo que cada plantão foi prestado de

forma ininterrupta, tendo ainda, como complemento salarial, adicional noturno,

bem como horas-extras. Que com referência ao doutor Caio José Losito

Mantovani ficou registrado em sua folha de frequência, também no mês de

novembro de 2012, que o mesmo teria cumprido três plantões de 24 horas,

compreendidos no dia da semana, sendo certo também que o mesmo fez durante

o ano repasses de sua conta corrente para a conta corrente do coordenador e

que afirmou que alguns plantões cumpridos em seu nome pelo coordenador,

doutor Caio não se encontrava escalado, esclarecendo ainda que quem

confeccionou o molde de sua falange, foi o doutor Jorge Luiz Cury. O doutor

Rodrigo Gil de Casto Jorge também fez diversos repasses de sua conta

corrente para a do doutor Jorge Luiz Cury, conforme demonstrado na quebra do

sigilo bancário, e, conforme seu relato, quem teria feito, bem como utilizado sua

prótese “dedo de silicone” foi o coordenador doutor Jorge Luiz Cury. O doutor

Ronnie Munis de Oliveira afirmou que também cursava a especialização

residência médica e deixou bem claro em sua oitiva que quem fez a prótese de

sua falange foi o coordenador, solicitando, segundo o depoente, a ajuda do doutor

Felipe de Moraes, o qual, tendo sido ouvido posteriormente, negou referida

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acusação de Ronnie Munis, esclareceu ainda o doutor Ronnie Munis que fez

diversos repasses através de transferências de sua conta corrente, bem como

transferiu 50% de seu 13º salário ao doutor Jorge Luiz Cury. Conforme citação do

senhor Eduardo Maciel Mesquita, foi informado para a Comissão que apesar da

escala, os plantões funcionavam na maioria das vezes com um único médico,

apontando que tal prática passou a ocorrer nos últimos dozes meses, ocorrendo

mais comumente nos finais de semana, sendo certo que com referência a doutora

Aline, após o início do curso de especialização, não mais a viu. Sheila Miranda

da Silva nos informou que aos finais de semana comparecia penas um único

médico, lembrando apenas tratar-se de Rodrigo Gil de Castro Jorge e que aos

domingos, em forma de rodízio, ou alternadamente, eram cumpridos pela doutora

Thauane ou doutor Jorge, e que de uns meses até o problema do SAMU, não

mais viu a doutora Aline Monteiro Cury, o mesmo ocorrendo com o doutor Felipe

de Moraes. Samuel do Amaral Morrone nos relatou que no último ano, ou seja,

em 2012, não mais vislumbrou a presença dos doutores Felipe de Moraes e Aline

Cury. Claudionor Janes relatou-nos que com referência aos plantões de finais de

semana, nem a doutora Thauane e nem mesmo a doutora Aline compareciam,

sendo esses plantões cumpridos apenas pelo doutor Jorge Luiz Cury. Julio de

Moraes Oliveira de Souza informou-nos que durante seus plantões via com

frequência o doutor Jorge Luiz Cury, cumprindo, na maioria das vezes, o plantão

sozinho. Kátia Aparecida da Silva afirmou em seu depoimento que doutor Jorge

Cury passava a maior parte do tempo no SAMU, notadamente nos finais de

semana, e que presenciou o mesmo cobrando de Thauane valores possivelmente

relativos a plantões. João de Paiva Coimbra Filho afirmou que era comum a

presença do doutor Jorge Cury nas dependências do SAMU e que raramente

observava dois médicos por plantão, e que, com referência a doutora Thauane, o

mesmo a via, o que não acontecia com a doutora Aline Monteiro Cury, pois

apenas a observou uma única vez visitando o setor. Marcos de Moraes afirmou

também que o doutor Jorge Cury fazia Rodízio com outros médicos, sendo certo

que na maior parte do ano, tal médico, em sua maioria das vezes, realizava os

plantões de forma solitária, o mesmo ocorrendo com outros médicos. Paula

Alessandra Soares de Brito esclareceu que inúmeras vezes observou o plantão

sendo realizado por um único médico, esclarecendo ainda que doutor Jorge Cury

“dormia na base do SAMU”.

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16

No que se refere ao então coordenador do SAMU, requeremos ao

Ministério Público local, s.m.j., que após a análise das provas tome providências

em relação ao senhor Dr. Jorge Luiz Cury, pelos motivos abaixo citados:

I – ficou demonstrado nas investigações da Comissão Especial de

Inquérito que o referido médico era o responsável direto das fraudes praticadas

no SAMU, haja vista ter sido apontado pelos médicos como responsável pela

confecção das próteses de dedos de silicone, inclusive mantendo-os em seu

armário, bem como repassando à doutora Thauane a prótese da doutora Aline

Monteiro Cury;

II – que como chefe imediato dos médicos, ao invés de combater

qualquer atitude ilícita dos seus subordinados, ao contrário, quando era procurado

pelos profissionais interessados em realizar cursos de especialização, ele mesmo,

exercendo forte pressão, instigava os profissionais a confeccionar as próteses de

dedos de silicone;

III – que o coordenador doutor Jorge Luiz Cury, tinha

responsabilidades pertinentes a chefia do SAMU, laborando em horário que

compreendia das 13 às 17 horas, durante a semana, inclusive conforme se

observou na quebra de sigilo fiscal, o mesmo, além de outros empregos, exercia

mais de uma função na saúde de Ferraz de Vasconcelos, causando estuporação

o fato de estar sempre de plantão, sendo que em muitas vezes, o fazia de

maneira solitária, haja vista a utilização das próteses, o que ficou demonstrado

através de transferências bancárias dos médicos: Aline Monteiro Cury, Thauane

Nunes Ferreira; Felipe de Moraes e Ronnie Munis de Oliveira, que conforme

demonstrado cursavam especializações, além de outros médicos profissionais do

SAMU, conforme quebra do sigilo bancário e fiscal (segue relatório em anexo).

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IV – a Comissão tentou por inúmeras vezes notificar doutor Jorge

Luiz Cury para apresentar sua versão dos fatos, ou na impossibilidade de fazê-lo,

apresentar através de advogados, o que não ocorreu em nenhum momento da

CEI;

V - analisando as folhas de registro de frequência dos médicos

citados nesta CEI, tendo como base o mês de novembro de 2012, como já foi

relatado, notou-se que doutor Felipe de Moraes afirmou em sua oitiva que em

outubro daquele ano não teria mais cumprido seus plantões devido ao curso de

especialização, ou ainda que teria cumprido apenas um plantão, mas se

constatou que o mesmo tinha vários plantões hipoteticamente realizados por ele,

devidamente assinados, e inclusive vistados pelo coordenador doutor Jorge Luiz

Cury, fato este ocorrido também com a doutora Thauane Nunes Ferreira que

cumpriu alguns plantões, restando provado que referidos plantões foram

cumpridos em forma de 48 horas, ininterruptamente entre eles;

VI - Desta forma, não restando dúvida que o coordenador doutor

Jorge Luiz Cury cumpria os plantões de modo solitário, e quando não era ele, era

a doutora Thauane que o fazia, sendo que observamos que com referência a

outros profissionais médicos foram realizados alguns plantões entre eles, em

menor escala, o que ficou comprovado na quebra de sigilo bancário e fiscal,

dessa forma denotando que era feito apontamento de dois médicos, através de

próteses de silicone, mas apenas um profissional cumpria o plantão;

VII - Vale ressaltar ainda que o doutor Jorge Cury, conforme relatório

do contador desta Câmara e perito nomeado por esta Comissão, tendo como

referência o sigilo fiscal e bancário acostado nos autos, o coordenador, além dos

empregos na Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, manteve vínculo empregatício,

no corrente ano de 2012, com as seguintes instituições: a) Prefeitura do Município

de Itaquaquecetuba; b) Governo do Estado de São Paulo; c) Secretaria da Saúde;

d) e mais um emprego na Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos.

A Comissão, com referência aos demais funcionários do SAMU, não

vislumbrou fraudes pertinentes às praticadas pelos médicos.

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Cumpre-nos informar que com referência a quebra de sigilo bancário

e fiscal fora ofertado relatório por perito nomeado pela Comissão (segue em

anexo ao MP-SP), como já citado, mostrando a evolução patrimonial, tanto do

doutor Jorge Cury quanto de Thauane Nunes Ferreira, nos levando a crer ter

indícios com as movimentações financeiras de ambos os implicados.

Que com relação ao relatório apresentado pelo contador, notou-se

que houve também várias transferências sem origem, sendo que desta forma a

Comissão não soube detectar de onde seriam suas procedências.

Isto posto, s.m.j., requeremos ao Ministério Público para que adote

as medidas necessárias para que os implicados sejam processados, na forma da

lei, pelos seguintes delitos:

Doutor Jorge Luiz Cury: Peculato - artigo 312 do Código Penal;

Formação de Quadrilha - artigo 288 do Código Penal; Falsificação de Documento

Público - artigo 297, § 1º, do Código Penal; e Falsidade Ideológica - artigo 299, §

único, do Código Penal.

Com relação à Doutora Thauane Nunes Ferreira, por ter ficado

provada sua participação direta com o coordenador e doutor Jorge Luiz Cury, bem

como também por ter ficado evidenciado que a mesma gerenciava os esquemas

de fraude, entende-se que praticou os seguintes delitos: Peculato - artigo 312 do

Código Penal; Formação de Quadrilha - artigo 288 do Código Penal; Falsificação

de Documento Público - artigo 297, § 1º, do Código Penal; e Falsidade Ideológica

- artigo 299, § único, do Código Penal.

Com referência aos doutores Caio José Losito Mantovani, Rodrigo

Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes, Ronnie Munis de Oliveira e Aline Monteiro

Cury, restou provado terem cometido os seguintes delitos: Peculato - artigo 312

do Código Penal; Formação de Quadrilha - artigo 288 do Código Penal; Falsidade

Ideológica - artigo 299, § único, do Código Penal.

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Por outro lado, da narrativa dos fatos descritos e provados nos

presentes autos, conclui-se também que os averiguados na presente Comissão

Especial de Inquérito teriam praticado Ato de Improbidade Administrativa, nos

termos da Lei nº 8.429/93.

Tal conclusão decorre, essencialmente, do fato de que os

averiguados agiram sabendo e tendo plena consciência de que seus atos, para

além de meras irregularidades, eram praticados em flagrante afronta aos

Princípios mais basilares da Administração Pública.

Ora, os averiguados agiam sabendo que os registros de ponto feitos

através dos “dedos de silicone” eram falsos, violando assim os Princípios da

Moralidade Administrativa.

Nessa tessitura, é sabido que a atuação dos averiguados lesava

toda a coletividade e os cofres públicos ferrazenses, já que o erário público

pagava para que 02 (dois) médicos fizessem plantão quando na verdade o

esquema dos “dedos de silicone” permitia que apenas um médico por vez fizesse

plantão.

Logo, toda a sociedade era lesada, pois, para além do prejuízo

patrimonial, a conduta dos envolvidos abalou a própria relação de confiabilidade

depositada por toda a sociedade ferrazense nos serviços prestados pelo SAMU.

Assim, ao constatar a existência dos “dedos de silicone” é natural

que todo cidadão passe a duvidar da seriedade do serviço prestado no SAMU.

Visualiza-se, assim, que o engodo praticado pelo Dr. Jorge Luiz

Cury, e pelos outros médicos, a um só turno permitiu, também, que este senhor e

os outros médicos envolvidos experimentassem um enriquecimento ilícito,

calcado no recebimento por plantões não realizados por aquelas “pessoas” que

tinham suas digitais registradas.

Portanto, vez que não havia fundamento jurídico que legitimasse o

pagamento aos médicos, que tinham suas digitais registradas pelo esquema dos

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“dedos de silicone”, percebe-se que tais profissionais da saúde experimentavam

um enriquecimento indevido, e, portanto, ilícito.

Logo, a fraude perpetrada pelos “dedos de silicone” trouxe um

enriquecimento indevido por todos aqueles envolvidos no mencionado esquema,

o que, ao ver desta Comissão, subsume a mencionada prática dentre aquelas

tipificadas pela Lei nº 8.429/93.

Desta Forma, não há dúvida de que tal fraude ao mesmo tempo,

causou prejuízo ao erário, enriquecimento ilícito e violou os Princípios

Constitucionais que devem (ou deveriam) nortear a Administração Pública.

Por estes fundamentos, esta Comissão entende que deve ser

oficiada a Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos, para que com cópia integral

deste Relatório, seja ajuizada a Ação de Improbidade Administrativa em face dos

envolvidos no esquema dos “dedos de silicone”, já que o Município é legitimado

para buscar ver aplicada a Lei nº 8.429/93 ao presente caso concreto e na medida

em que compete à Procuradoria Geral do Município, na pessoa dos Procuradores

Municipais de carreira, enquanto legítimos representantes do Município em juízo,

a defesa judicial dos interesses da Municipalidade.

Ademais, informamos que esta Comissão vai requerer ao Tribunal

de Contas do Estado de São Paulo para que realize minuciosa auditoria, de forma

extraordinária, junto ao RH tanto do SAMU, como da Secretaria da Saúde, bem

como com o RH geral da Prefeitura, para que seja efetivamente conhecido o valor

do prejuízo ao erário municipal causado por profissionais daquele setor, uma vez

que a Comissão não dispõe de técnicos que possam realizar tal feito, sendo que

tal pedido prende-se ao fato de haver indícios também de que outros profissionais

daquele setor praticavam tais delitos, os quais, sem exceção, deverão restituir as

quantias ilicitamente auferidas.

Requer ainda a Comissão que sejam tomadas as providências para,

no caso de condenação transitada em julgado, além das penas cabíveis, os

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envolvidos sejam proibidos de contratar com o Poder Público, nos termos da lei,

haja vista terem o perfil incompatível com o de funcionário público.

Esta Comissão remeterá cópia deste Relatório ao Conselho

Regional de Medicina do Estado de São Paulo, bem como para a Coordenação-

Geral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde.

Deliberou-se, ainda, que este Relatório seja disponibilizado na

íntegra no site desta Casa Legislativa.

O presente Relatório foi apresentado aos membros da Comissão,

tendo sido aprovado por unanimidade.

Enfim, apresentamos este Relatório Final para ser lido no Plenário

desta Edilidade, a fim de dar conhecimento de seu teor aos nobres pares e a

população.

Sala das Comissões, 08 de dezembro de 2014.

ROBERTO ANTUNES DE SOUZA ANTÔ NIO CARLOS ALVES CORREIA

Presidente da Comissão Relator

CLAUDIO RAMOS MOREIRA MARCOS ANTONIO CASTELLO

Membro Membro

LUIZ TENÓRIO DE MELO WALTER MARSAL ROSA

Membro (Licenciado) Membro