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CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS AMÉRICA LATINA OBSERVATÓRIO DA JUSTIÇA BRASILEIRA RELATÓRIO DE PESQUISA PARA UMA NOVA CARTOGRAFIA DA JUSTIÇA NO BRASIL COORDENADOR: Leonardo Avritzer CO-COORDENADORES: André Rubião Lilian Cristina B. Gomes Marjorie Marona PESQUISADORES: Débora Vales Helena Dolabela Pereira João Pedro Meira Reis Lidiane Neves Nogueira Lilian Bernardes Rafaela Lacerda Vanderson Carneiro Belo Horizonte maio de 2011

Relatório Para uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

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Esta pesquisa pretende mostrar uma cartografia da justiça brasileira, pensando o território como chave para a produção da igualdade social. Nosso principal objetivo é estabelecer um marco analítico para estudar o acesso à justiça no Brasil, adotando como ponto de partida a tensão que existe entre o conjunto das relações de conflito vivenciadas por grupos e indivíduos e o processo seletivo de uma parte desses conflitos pelo sistema de justiça.

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CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS AMÉRICA LATINA

OBSERVATÓRIO DA JUSTIÇA BRASILEIRA

RELATÓRIO DE PESQUISA

PARA UMA NOVA CARTOGRAFIA DA JUSTIÇA

NO BRASIL

COORDENADOR:

Leonardo Avritzer

CO-COORDENADORES:

André Rubião Lilian Cristina B. Gomes

Marjorie Marona

PESQUISADORES:

Débora Vales Helena Dolabela Pereira

João Pedro Meira Reis Lidiane Neves Nogueira

Lilian Bernardes Rafaela Lacerda

Vanderson Carneiro Belo Horizonte

maio de 2011

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

2

ÍNDICE

Observatório da Justiça Brasileira

6

Para uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

7

I - Organização do Poder Judiciário Brasileiro

13

II - Geografia da Justiça a partir da Análise de Mapas: Inclusões e Exclusões Estruturais

15

O caso da Defensoria Pública (Minas Gerais)

40

III - Acesso aos Tribunais: Desigualdade no acesso, Atores Recorrentes

45

Justiça Estadual - Primeira Instância: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo

45

Justiça Estadual - Tribunais: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo

64

Justiça Federal - Minas Gerais e Distrito Federal

77

IV - Considerações Finais

109

Apêndices

113

Apêndice 1 - Nota Metodológica 114

Apêndice 2 - Juizados Especiais

116

Referências bibliográficas

120

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

3

SUMÁRIO DE QUADROS, TABELAS, MAPAS; GRÁFICOS, E FIGURAS

QUADROS

Quadro 1: Organização e Divisão Judiciárias 15

Quadro 2: Requisitos para Criação de Comarcas 16

Quadro 3: Relação entre Total de Municípios e a Divisão Judiciária (ordem decrescente do total de municípios)

17

Quadro 4: Relação da população exigida em lei e divisão judiciária (sede de comarca)

20

Quadro 5: Distribuição dos intervalos do Indíce de Desenvolvimento Humano (IDH) por Estado

22

Quadro 6: Síntese da relação entre a divisão judiciária e a variação no intervalo de IDH

35

Quadro 7: Distribuição do IDH entre Sede de Comarcas e Não Sede de Comarcas e existência de Defensoria Pública

44

Quadro 8: Acervo do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (2009) 65

MAPAS

Mapa 1: Divisão Judiciária Estado Minas Gerais 18

Mapa 2: Divisão Judiciária Estado Rio Grande do Sul 18

Mapa 3: Divisão Judiciária Estado Pará 19

Mapa 4: Divisão Judiciária Estado Rio de Janeiro 19

Mapa 5: Divisão Judiciária Estado Pernambuco 19

Mapa 6: Sedes de comarcas x População acima do exigido em lei - PA 21

Mapa 7: Sedes de comarcas x População acima do exigido em lei - RJ 21

Mapa 8: Sedes de comarcas x População acima do exigido em lei - MG 21

Mapa 9: Sedes de comarcas x População acima do exigido em lei - RS 21

Mapa 10: Sedes de comarcas x População acima do exigido em lei - PE 21

Mapa 11: IDH Municípios Estado de MG 24

Mapa 12: IDH Municípios Estado de RS 24

Mapa 13: IDH Municípios Estado de RJ 25

Mapa 14: IDH Municípios Estado de PA 25

Mapa 15: IDH Municípios Estado de PE 26

Mapa 16: IDH somente Municípios Sede de Comarcas - MG 27

Mapa 17: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas - MG 28

Mapa 18: IDH somente Municípios Sede de Comarcas - RS 29

Mapa 19: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas - RS 29

Mapa 20: IDH somente Municípios Sede de Comarcas - RJ 30

Mapa 21: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas - RJ 31

Mapa 22: IDH somente Municípios Sede de Comarcas - PA 32

Mapa 23: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas - PA 32

Mapa 24: IDH somente Municípios Sede de Comarcas - PE 33

Mapa 25: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas - PE 34

Mapa 26: Sedes com população acima do exigido em lei - MG 38

Mapa 27: Sedes com população abaixo do exigido em lei - MG 38

Mapa 28: Sedes com população acima do exigido em lei - RS 38

Mapa 29: Sedes com população abaixo do exigido em lei - RS 38

Mapa 30: Distribuição das Defensorias Públicas MG 41

Mapa 31: Sede de comarcas e existência de Defensorias Públicas 41

Mapa 32: Não Sede de comarcas e existência de Defensorias Públicas 42

Mapa 33: Existência de Defensoria x IDH 43

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

4

TABELAS

Tabela 1: Movimentação Processual na Comarca de Belo Horizonte

(Varas de Interesse) 47

Tabela 2: Movimentação Processual na Justiça Estadual de Minas Gerais - 2009 52

Tabela 3: Acervo do Tribunal de Justiça do Rio Grande doSul (2009) 66

Tabela 4: Distribuição dos feitos do TJMG por natureza (cível ou criminal) - 2009 67

Tabela 5: Distribuição processual por natureza de ação - TJRS (2009) 71

Tabela 6: Movimento Judiciário TJSP (2009) 73

Tabela 7: Fluxo Processual do TRF1 (2004-2009) (Recursos originários de Minas Gerais)

79

Tabela 8: Fluxo processual do TRF1 (2004-2009) (Recursos originários do Distrito Federal)

80

Tabela 9: Fluxo Processual do TRF1 (2005-2009) (Recursos de natureza econômica originários de Minas Gerais)

82

Tabela 10: Fluxo Processual do TRF1 (2005-2009) (Recursos de natureza econômica originários do Distrito Federal)

83

Tabela 11: Tabela 11: Litigantes Frequentes no TRF1 (2009) (Recursos originários de Minas Gerais)

88

Tabela 12: Tabela 12: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação

90

Tabela 13: Demanda Processual por categoria de parte (Banco Central) e tipo de ação

93

Tabela 14: Demanda Processual por categoria de parte (ECT) e tipo de ação 94

Tabela 15: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação 96

Tabela 16: Litigantes Frequentes no TRF1 (2009) (Recursos originários do Distrito Federal)

97

Tabela 17: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação 98

Tabela 18: Demanda Processual por categoria de parte (União) e tipo de ação 101

Tabela 19: Demanda Processual por categoria de parte (Administração Indireta) e tipo de ação

104

Tabela 20: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação 107

GRÁFICOS:

Gráfico 1: Evolução do Movimento Processual - Justiça Comum - 1ª Instância 45

Gráfico 2: de Distribuição do Acervo Total 2009 por instâncias do Poder Judiciário de Minas Gerais

46

Gráfico 3: Demanda Processual da Comarca de Belo Horizonte - Justiça Comum 53

Gráfico 4: Demanda Processual da Comarca de Belo Horizonte pela categoria de Bancos

54

Gráfico 5: Demanda Processual no Rio Grande do Sul por categoria de partes - Pessoa Jurídica

55

Gráfico 6: Demanda Processual por categoria de partes - Pessoa Jurídica como demandada/requerida

56

Gráfico 7: Demanda Processual por categoria de partes - Pessoa Física e Jurídica

57

Gráfico 8: Demanda Processual por categoria de parte - Estado 58

Gráfico 9: Demanda Processual por categoria de parte - Bancos 58

Gráfico 10: Demanda processual por categoria de parte autora - Pessoa física e Jurídica

59

Gráfico 11: Demanda Processual - Pessoa Física x Pessoa Jurídica 59

Gráfico 12: Demanda Processual por categoria de demandados - Pessoa Jurídica 60

Gráfico 13: Demanda Processual na Justiça Estadual de São Paulo 61

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

5

Gráfico 14: Demanda Processual por categoria de partes 62

Gráfico 15: Demanda Processual por categoria de parte - Atores macroeconômicos

63

Gráfico 16: Demanda Processual por categoria de ator - Empresas de Telefonia 64

Gráfico 17: Acervo do Tribunal de Justiça de São Paulo (2000-2010) 67

Gráfico 18: Acervo dos Tribunais de Justiça (Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo)

68

Gráfico 19: Demanda Processual por categoria de atores - Bancos e Estado 69

Gráfico 20: Demanda Processual por categoria de ator - Bancos 70

Gráfico 21: Demanda Processual por categoria de atores - Estado e Macroatores econômicos

74

Gráfico 22: Demanda Processual por categoria de atores (Estado) - TJSP/2009 75

Gráfico 23: Demanda Processual por categoria de atores (Prefeituras) - TJSP/2009

75

Gráfico 24: Eficiência dos Tribunais (processos distribuídos X julgados) - 2009 77

Gráfico 25: Demanda Processual por Grupos de Ação (Assunto) - Recursos de natureza econômica originários de Minas Gerais

84

Gráfico 26: Demanda Processual por Grupos de Ação (Dados desagregados) - Recursos de natureza econômica originários de Minas Gerais

85

Gráfico 27: Demanda Processual por Grupos de Ação (Assunto) - Recursos de natureza econômica originários do Distrito Federal

86

Gráfico 28: Demanda Processual por Grupos de Ação (Assunto) - Recursos de natureza econômica originários do Distrito Federal

87

Gráfico 29: Litigantes Frequentes no TRF1 - 2009 - (Recursos originários de Minas Gerais)

89

Gráfico 30: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação 91

Gráfico 31: Demanda Processual por categoria de parte (Banco Central) e tipo de ação

92

Gráfico 32: Demanda Processual por categoria de parte (ECT) e tipo de ação 94

Gráfico 33: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação 95

Gráfico 34: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação 100

Gráfico 35: Demanda Processual por categoria de parte (União) e tipo de ação 103

Gráfico 36: Demanda Processual por categoria de parte (Administração Indireta) e tipo de ação

106

Gráfico 37: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação 108

Gráfico 38: Evolução do Movimento Processual - Juizado Especial em Minas Gerais (1998-2009)

118

Gráfico 39: Evolução do Movimento Processual - Justiça Comum de primeira instância em Minas Gerais (1994-2009)

119

Figuras

Figura 1: Mapas IDH municípios sede e não sede 37

Figura 2: Mapa da Divisão Judiciário da Justiça Federal brasileira 78

Figura 3: Organograma da Tramitação de um processo no Juizado Especial 117

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

6

Observatório da Justiça Brasileira

Criado em fevereiro de 2010, o Observatório da Justiça Brasileira (OJB)

integra o Centro de Estudo Sociais América Latina (CES-AL), com sede no

Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais

(DCP-UFMG), tendo também como parceiro o Centro de Estudos Sociais da

Universidade de Coimbra.1

Além deste relatório Para uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil,

desenvolvido pelo DCP-UFMG, o Observatório da Justiça Brasileira apresenta

mais quatro trabalhos nesta sua primeira etapa2: i) Judicialização da política e

demandas por juridificação: o Judiciário frente aos outros poderes e frente à

sociedade, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Direito Público; ii)

Judicialização e Equilíbrio de poderes no Brasil: eficácia e efetividade do direito

à saúde, desenvolvido pela PUC/RS; iii) Acesso ao direito e à justiça: entre o

Estado e a comunidade, desenvolvido pelo DCP-UFMG; e iiii) Judicialização do

direito à saúde: o caso do Distrito Federal, desenvolvido pelo Instituto de

Bioética, Direitos Humanos e Gênero.

A proposta de todos esses relatórios é desenvolver análises sobre o

universo jurídico brasileiro, visando orientar o Ministério da Justiça em suas

políticas públicas e reformas normativas, bem como apresentar sugestões para

o aperfeiçoamento do sistema de justiça nacional.

O Observatório da Justiça pretende dar sequência a uma preocupação

expressa por Cappelletti e Garth ao final de Access to Justice (1978). Assim,

por mais imperfeitos que sejam nossos sistemas jurídicos, não podemos

ignorar os avanços institucionais adquiridos ao longo dos anos; de que maneira

então reformar sem corromper nossas conquistas?

1 Sob coordenação do Professor Boaventura de Sousa Santos, o CES Coimbra gere há mais de dez anos o

Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. Por meio de um protocolo de cooperação, a metodologia

utilizada pelo CES Coimbra foi cedida ao CES América Latina e ao Observatório da Justiça Brasileira. 2 Todos eles financiados pela Secretaria de Reforma do Judiciário.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

7

Para uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

Esta pesquisa pretende mostrar uma cartografia da justiça brasileira,

pensando o território como chave para a produção da igualdade social. Nosso

principal objetivo é estabelecer um marco analítico para estudar o acesso à

justiça no Brasil, adotando como ponto de partida a tensão que existe entre o

conjunto das relações de conflito vivenciadas por grupos e indivíduos e o

processo seletivo de uma parte desses conflitos pelo sistema de justiça.

Nas sociedades modernas, é possível analisar a estrutura de conflitos

levando em conta um conjunto abrangente de áreas: i) as relações privadas,

que são fortemente desiguais e marcadas pelas relações de gênero e de

raça/etnia (Fraser, 2007); ii) as relações privadas e econômicas, que são

fortemente marcadas por uma regulação seletiva do direito de propriedade

(Santos, 2001; Holston, 2008); iii) uma visão estruturalmente estreita da

sociedade civil que tenta reduzir esta última ao mercado (Avritzer, 2009); iv)

uma regulação estatal seletiva das relações entre o indivíduo e o Estado

(Santos, 2001). Esse conjunto de relações complexas entre indivíduos, grupos

sociais e Estado mostra que o conflito social motivado pela identidade, pelo

reconhecimento desigual de atores sociais ou pela exclusão social é uma das

características mais fortes das sociedades contemporâneas. A pergunta que

colocamos então nesta pesquisa é a seguinte: até que ponto o

equacionamento dessas relações, feito pelo sistema formal de justiça, pode

conduzir a formas perversas de seletividade?

Uma das maneiras de abordar essa questão é por meio de uma análise

crítica do conceito de sistema de justiça. Podemos defini-lo como as formas de

administração do consenso e do dissenso, interindividual e coletivo, no interior

de um determinado território, a partir de um conjunto de regras historicamente

estabelecidas. Apesar de imperfeita, como toda definição, essa tentativa pode

trazer algumas virtudes analíticas:

(1) Pelas noções de história e territorialidade: muito além do universo

linear da justiça estatal, há um pluralismo jurídico, abrangendo diferentes

espaços, cada uma com sua especificidade. Dessa forma, a ideia de que a

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

8

justiça está associada de forma homogênea a um determinado território e que

para cada território existe apenas um sistema de justiça pode ser questionada

de duas maneiras: primeiro, é necessário levar em conta que os atores sociais,

através das suas práticas, criam direitos e exercem mediações nas questões

de justiça (Offe, 1988; Santos, 2001) e, em segundo lugar, que mais de um

sistema de justiça, da escala micro-local à internacional, pode existir em um

território (Santos, 2001; Wolkmer, 2001).

(2) Pela referência à coletividade: a justiça não se limita à defesa dos

direitos individuais. Isso significa que atores coletivos frequentemente procuram

o Poder Judiciário, mas este último responde estabelecendo uma assimetria

entre atores individuais e atores coletivos. Assim, demandas de gênero, de

grupos raciais e de atores que atuam coletivamente em relação à propriedade

urbana e rural tendem ou a serem ignoradas ou a serem indivudalizadas pelos

magistrados. Quando pensamos na economia e nos direitos coletivos, estes

foram fortemente subestimados seja na organização da estrutura territorial do

Poder Judiciário, seja pelos analistas do sistema de justiça (Trubek, 2006;

Faria, 1993).

(3) Pela ideia de regras advindas da relação entre o consenso e o

dissenso: ao contrário de algo estático, assente num normativismo abstrato, a

justiça é um movimento em busca do equilíbrio social. Nesse sentido, é fácil

perceber que as regras de conduta, com forte enraizamento histórico e social,

frequentemente acabam impedindo o próprio processo de equilíbrio entre o

consenso e o dissenso. Elas são, muitas vezes, colonizadas por um formalismo

que impede a renovação social ou a inovação política (Avritzer, 2009). Dito de

outra forma, novas práticas criam novas regras e/ou desafiam regras

constituídas, sendo que a justiça estatal nem sempre consegue absorver a

complexidade dessa relação ou incorporar a inovação social (Santos, 2001).

(4) Pelo conceito de formas de administração: a justiça depende de uma

organização estrutural, em especial, e não exclusivamente, de corpos

burocráticos dispostos de forma hierárquica. Frequentemente o interesse

desses corpos administrativos prevalece em relação ao reconhecimento de

novos direitos e demandas. Essa constatação é importante para nos lembrar

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

9

que existe uma relação direta entre a capacidade de justiça e a forma como os

mecanismos administrativos estão organizados (Sousa Junior et al., 1996).

Esse exame crítico do conceito de sistema de justiça vem sendo feito

nas últimas décadas por diversas correntes de pensamento, buscando superar

as incongruências do modelo jurídico advindo da modernidade ocidental. A

esse respeito, não há como deixar de analisar, como ponto de partida, a

colocação weberiana acerca do que torna o direito válido: “a probabilidade de

que um conjunto de pessoas engajadas em um tipo de ação social (...)

subjetivamente considere uma norma existente válida e aja praticamente a

partir dela de maneira a orientar a sua conduta” (Weber, 1968: 311).

A colocação weberiana acerca do direito centra-se unicamente, como é

sabido, na capacidade que ele tem de orientar ações e de, consequentemente,

torná-las previsíveis do ponto de vista sociológico. Podemos, contudo,

questionar a perspectiva weberiana em dois sentidos bastante claros: em

primeiro lugar, existe um conjunto bastante amplo de formas de racionalidade,

baseadas no hábito e no costume, que não são normativamente codificadas e

que também tornam a ação previsível (Pitkin, 1967); em segundo lugar, o

conjunto de conflitos e de formas de ação nas quais os indivíduos se envolvem

são muito mais amplos do que o direito positivo supõe (Santos, 2001).

Portanto, a linearidade racional do modelo jurídico proposto por Weber

aparece corrompida desde a sua base, inviabilizando uma perspectiva legal e

sociológica mais ampla da justiça que, nos últimos anos, vem despontando.

Ou ainda seria possível defender, sem ressalvas, que a sociologia é

capaz de descobrir “regularidades estatísticas que correspondem a um sentido

(...) compreensível de uma ação social” (Weber, 1995: 39), para que essas

regularidades, em seguida, possam ensejar a construção dogmática de normas

jurídicas teoricamente aplicáveis (Weber, 1977: 133), visando a “colocar em

relação todos os princípios jurídicos elaborados pela análise de modo que eles

formem um sistema logicamente claro, sem se contradizer, e (...) sem lacuna”

(Weber, 1986: 44)?

Não se trata de negar as conquistas advindas desse modelo, mas de

mostrar a existência dos seus limites, além de investigar os meios para atingir

uma nova realidade. Remetendo à nossa definição de sistema de justiça: (1)

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

10

Como valorizar ou recuperar juridicidades alternativas, legitimando cada vez

mais um pluralismo organizacional? (2) Como dar atenção maior aos atores e

às causas coletivas, observando questões de gênero, de raça, de poder

econômico, de representatividade? (3) Como ampliar os canais de

comunicação, constituindo formas de poder compartilhado, para que a justiça

contemple cada vez mais o equilíbrio social? (4) Como promover inovações

administrativas, sobretudo transformando a formação e a organização dos

corpos burocráticos de justiça?

Essas questões, complexas e heterogêneas, integram o conjunto das

atividades do Observatório da Justiça Brasileira. Não foi nosso objetivo

responder a todas elas. Este relatório é um primeiro passo. Nosso objetivo foi

levantar um conjunto de dados empíricos, em seis Estados da federação,

referentes à organização e aos usuários do sistema formal de justiça, para

ajudar a refletir sobre toda a dinâmica referente ao próprio conceito de sistema

de justiça. A justificativa é de que, por um lado, não há como analisar questões

tão abrangentes, como a necessidade de uma visão mais ampla de justiça,

sem dialogar com a realidade empírica e, por outro, não é recomendável

instituir políticas públicas no âmbito jurídico, como sugere Jacques Commaille

(2005), sem o auxilio de uma cartografia detalhada do universo judiciário.

No Brasil, apesar dos esforços que vêm sendo feitos pelo Conselho

Nacional de Justiça (CNJ), não há dúvidas de que esse levantamento estrutural

ainda é bastante limitado, o que acaba gerando um déficit analítico para a

visibilidade sociológica. O presente relatório visa, então, contribuir da seguinte

forma para essa dinâmica:

(1) Em primeiro lugar, é necessário, tanto do ponto de vista analítico

quanto empírico, determinar a distribuição e a localização das estruturas

administrativas da justiça estatal e relacioná-las com algumas variáveis que

organizam a população e seus conflitos. Será que existe uma relação entre a

desigualdade social (medida pelo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH) e

a ausência de estruturas administrativas do sistema de justiça (verificada pelo

tipo e número de corpos burocráticos-administrativos do sistema de justiça nas

comarcas)? Começaremos este relatório com uma série de mapas que nos

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

11

levam empírica e topograficamente a responder essa questão de forma

afirmativa. Esses mapas tentam demonstrar que a questão do acesso à justiça

não se resume à existência de normas jurídicas, mas também à presença de

estruturas administrativas capazes de torná-la realidade. De que forma então

analisar a relação entre a oferta institucional e as diferentes configurações

sócioespaciais e econômicas no território brasileiro? Seria possível, a partir daí,

pensar uma política de democratização do acesso à justiça?

(2) Em segundo lugar, vale a pena realizar uma diferenciação entre os

atores que fazem uso do sistema judiciário. Supostamente, a perspectiva

weberiana não realiza nenhum tipo de distinção entre os atores sociais no que

diz respeito à utilização da norma para a ação social. Será que atores sociais

diferenciados – seja com relação ao subsistema poder ou ao subsistema direito

(Habermas, 1984; Luhmann,1982) – podem ter acesso privilegiado aos órgãos

jurisdicionais? Na segunda parte deste relatório, mostraremos uma série de

dados, em especial no que toca aos atores financeiros, que parece comprovar

essa hipótese. Esses atores, seja pela facilidade de acessar ao judiciário, seja

pela capacidade de financiar tal acesso, tornam-se litigantes habituais, criando

uma série de assimetrias no universo jurídico (Galanter, 1974). Quem são

esses atores? De que forma eles criam desigualdades no sistema judiciário?

Qual o volume e a natureza de suas ações? Seriam eles os principais

responsáveis pelo congestionamento deste sistema?

Este relatório inaugura a proposta de uma geografia da justiça que visa

contribuir com o debate acerca do acesso à justiça, a partir de uma perspectiva

sociológica, buscando compreender os processos de inclusão e de exclusão

que a organização e o funcionamento do sistema de justiça implicam. Ao longo

da história do Brasil, o processo de organização do sistema de justiça passou

por diversas fases, sendo que o marco regulatório atual foi inaugurado com a

promulgação da Constituição da República de 1988 (CR/88). Buscamos

compreender como esse marco regulatório impactou no processo de inclusão e

exclusão de atores e demandas. Realizamos este trabalho em seis Estados:

Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Pernambuco e Rio de

Janeiro. Esses seis Estados representam bem a diversidade brasileira, na

medida em que estão distribuídos por quatro regiões que expressam as

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

12

desigualdades, as variações entre atores sociais e também a concentração de

atores econômicos. Para três desses seis estados apresentaremos dados

sobre o uso do judiciário feito por macroatores importantes, em especial atores

estatais e macroatores econômicos.

Com o objetivo de apresentar essas questões, o presente relatório está

organizado em três seções. Nas duas primeiras seções, apresenta-se a

organização e distribuição do sistema de justiça formal do ponto de vista do

território. Na terceira seção, apresenta-se o uso do Poder Judiciário no Brasil

do ponto de vista dos macroatores.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

13

I – ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO

A Constituição da República contém uma ampla regulamentação do

Poder Judiciário brasileiro, que determina a estrutura, a organização, os

princípios gerais e a fixação de competência para juízes e tribunais, dedicando

35 artigos (art.92 a 126) ao Capítulo intitulado “Do Poder Judiciário”. Além

disso, o Capítulo IV (Das Funções Essenciais à Justiça) conta com mais oito

artigos que tratam do Ministério Público, da Advocacia Pública, da Advocacia

Privada e da Defensoria Pública.

Portanto, em boa parte, a própria Constituição da República fixa a

estrutura e a competência dos órgãos do Poder Judiciário brasileiro, podendo-

se extrair diretamente da Carta Magna a organização básica de diversos

tribunais, como, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal e o Superior

Tribunal de Justiça. A organização interna dos tribunais brasileiros, por outro

lado, é, de regra, fixada nos respectivos regimentos internos dos mesmos,

conforme previsão do art. 96, I, a, da CR/88. Por fim, os Estados membros da

Federação têm a estrutura fundamental de seus sistemas judiciários

estabelecidos em suas respectivas Constituições estaduais, bem como nos

Regimentos Internos dos Tribunais de Justiça e nos Códigos de Organização e

Divisão Judiciária de cada Estado.

Os órgãos que exercem a jurisdição no Brasil podem ser divididos em:

Tribunais Superiores, Justiça Comum (Federal e Estadual) e Justiça

Especializada (Trabalhista, Eleitoral e Militar), integrando o Poder Judiciário,

nos termos do art. 92 da CR/88.

O Supremo Tribunal Federal (STF), com sede na Capital Federal, é o

órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro, composto por 11 ministros

nomeados pelo Presidente da República. Compete precipuamente ao STF a

guarda da Constituição, embora possua, conforme o art. 102 da Carta Magna,

uma ampla competência originária e recursal.

Também sediado na Capital Federal, o Superior Tribunal de Justiça

(STJ), conforme determina o art. 104 da CR/88, é composto por 33 ministros,

nomeados pelo Presidente da República, sendo 1/3 dentre juízes dos Tribunais

Regionais Federais, 1/3 dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça e

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

14

1/3, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público

Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios. O STJ tem como função

precípua a uniformização da jurisprudência no âmbito da Justiça Comum

(Federal e Estadual), mediante o julgamento de Recursos Especiais, além de

outras competências originárias, fixadas no art. 105 da CR/88.

Enquanto as Justiças Trabalhista, Eleitoral e Militar possuem

competência limitada às respectivas matérias e, por isso, são consideradas

especializadas, a Justiça Federal e a dos Estados podem julgar matérias

variadas, pertinentes a direito civil, penal, administrativo, tributário, ambiental,

motivo pelo qual são classificadas como integrantes da Justiça Comum.

Ressalte-se, contudo, que a competência da Justiça Federal encontra-se

taxativamente prevista na Constituição da República, enquanto a competência

das Justiças Estaduais é residual, ou seja, abrange tudo o que não for de

competência dos Tribunais Superiores, da Justiça Especializada ou da Justiça

Federal, sendo definida, portanto, por exclusão.

De acordo com o que determina o art. 125 da CR/88, os Estados

membros organizarão seu respectivo sistema judiciário, observando-se os

princípios da própria Constituição, que fornece um modelo que compreende a

existência de um Tribunal de Justiça em cada Estado membro, com

competência definida na Constituição de cada Estado, e uma organização e

divisão judiciária baseada em comarcas, que podem abranger um ou mais

municípios.

Dentro de cada comarca pode haver apenas uma vara, com

competência ampla para todas as matérias da Justiça Estadual, ou várias

varas, especializadas, em regra, em termos de varas Cíveis, Criminais, de

Execuções Penais, de Tribunal do Júri, de Família, de Sucessões, de Falências

e Concordatas, Agrárias, da Fazenda Pública e de Juizados Especiais (para

causas de menor complexidade). As varas possuem um juiz titular e, por vezes,

um substituto, denominados “juiz de direito” e os integrantes do Tribunal de

Justiça são designados “desembargadores”. A organização e divisão judiciária

dos Estados devem ser disciplinadas em leis estaduais, normalmente

designadas Código de Organização e Divisão Judiciárias do Estado, podendo

ser criada, ainda, uma Justiça Militar.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

15

II. GEOGRAFIA DA JUSTIÇA A PARTIR DA ANÁLISE DE MAPAS:

inclusões e exclusões estruturais

Nesta seção, a perspectiva analítica que nos orienta consiste na ideia de

uma cartografia do sistema de justiça. O Poder Judiciário não está organizado

de forma igual no território, que, por sua vez, também não é estruturado

homogeneamente. Assim, o modo como o sistema judiciário se estrutura pode

gerar exclusões de atores e demandas. Consequentemente, nem todos os

conflitos sociais, econômicos e políticos que têm lugar no território são

processados pelo Poder Judiciário, devido à forma de organização deste

último.

Como dito anteriormente, os Estados membros, através da Constituição

de cada Estado, organizam seus respectivos sistemas judiciários, nos quais há

uma organização e divisão judiciária. Neste relatório, é apresentada a

organização e divisão judiciárias dos Estados do Pará, Pernambuco, Minas

Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, conforme Quadro 1 abaixo.

Quadro 1: Organização e Divisão Judiciárias

Estados Organização (Órgãos de Jurisdição) Divisão Judiciária

Minas Gerais

I – Tribunal de Justiça; II – Tribunal de Justiça Militar; III – Turmas Recursais; IV – Juízes de Direito; V – Tribunais do Júri; VI – Conselhos e Juízes de Direito do Juízo Militar; VII – Juizados Especiais.

Comarcas

Rio de Janeiro I - o Tribunal de Justiça; II - os Juízes de Direito; III - o Tribunal do Júri; IV - os Conselhos da Justiça Militar; V - os Juizados Especiais e suas Turmas Recursais.

Comarcas, regiões judiciárias, distritos, subdistritos, circunscrições e zonas judiciárias

Pernambuco I - O Tribunal de Justiça; II - Os Tribunais do Júri; III - Os Conselhos de Justiça Militar; IV - Os Juizados Especiais; V - Os Juízes Estaduais.

Comarcas, circunscrições, comarcas integradas, termos e distritos judiciários.

Pará I - Tribunal de Justiça; II - Juízes de Direito; III - Pretores; IV - Juízes de Paz; V - Tribunais do Júri; VI - Justiça Militar.

Comarcas, regiões judiciárias, termos, distritos, subdistritos

Rio Grande do Sul

I - Tribunal de Justiça; II - Juízes de Direito; III - Tribunais do Júri; IV - Juizados Especiais; V - Pretores; VI - Juízes de Paz.

Comarcas, comarcas integradas, distritos e municípios.

Fonte: Código de Organização e Divisão Judiciária dos respectivos Estados

Para efeitos da administração da Justiça Comum, o território de cada

Estado é dividido em comarcas, que podem abranger um ou mais municípios, e

estão distribuídas de forma desigual pelo território. É nas comarcas que se

encontram os principais serviços jurisdicionais, sendo os distritos, subdistritos e

demais divisões administrativas criadas em cada Estado vinculados a

determinada comarca, frequentemente denominada “sede de comarca”. Neste

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

16

relatório, adotamos a definição “município sede de comarca” para os

municípios que possuem algum serviço jurisdicional, e “município não sede de

comarca” para os municípios que não possuem serviços jurisdicionais e estão

vinculados à determinada sede de comarca.

As leis estaduais de organização e divisão judiciárias determinam os

limites geográficos de cada comarca. Nessas leis são definidos os critérios e

requisitos para que os municípios sejam considerados sede de comarcas. De

acordo com as Leis Estaduais dos respectivos Estados analisados neste

relatório, para a criação das comarcas os municípios devem atender aos

seguintes critérios ou requisitos.

Quadro 2: Requisitos para Criação de Comarcas

Estados

Requisitos para criação de comarcas

População e eleitorado Movimento Forense

(Feitos judiciais) - anual Receita Tributária

municipal Extensão Territorial

Minas Gerais 18 mil habitantes; 13 mil eleitores

400 feitos judiciais - -

Pará Cita a exigência, mas não especifica mínimo

Cita a exigência, mas não especifica mínimo

Cita a exigência, mas não especifica

mínimo

Certidão do I.B.G.E. quanto à extensão territorial;

Pernambuco 20 mil habitantes;

6 mil eleitores Mínimo de 300 (ano

anterior)

Mínima igual a exigida para a criação

de municípios -

Rio de Janeiro 15 mil habitantes;

8 mil eleitores 200 feitos judiciais

3 mil vezes o salário mínimo vigente na

capital -

Rio Grande do Sul

20 mil habitantes; 5 mil eleitores

300 feitos judiciais ingressados anualmente

Mínima igual a exigida para a criação

de municípios -

Fonte: Código de Organização e Divisão Judiciária dos respectivos Estados

A primeira orientação de pesquisa que seguimos foi contextualizar a

divisão judiciária (municípios sede e não sede de comarcas) de cada Estado

em relação ao número de municípios e à distribuição da população.3 No caso

da distribuição da divisão judiciária em relação ao total de municípios, podemos

encontrar duas configurações, conforme Quadro 3 abaixo.

3 No caso da população, tivemos como parâmetro o mínimo exigido nas leis estaduais. Utilizamos a estimativa populacional de 2008 (IBGE).

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

17

Quadro 3: Relação entre Total de Municípios e a Divisão Judiciária (ordem

decrescente do total de municípios)

UFs Nº total municípios Nº total sedes Municípios/Sede Municípios/ Não Sede

MG 853 320 38% 62%

RS 496 164 33% 67%

PE 185 152 82% 18%

PA 142 115 81% 19%

RJ 92 66 72% 28% Fonte: IBGE e Código de Organização e Divisão Judiciária dos respectivos Estados

De acordo com o Quadro 3, uma primeira configuração corresponde aos

Estados de MG e RS, que, no total de municípios, possuem menor número de

sedes em relação ao número de municípios não sede, sendo que do total dos

municípios respectivamente em cada Estado, 38% e 33% são sedes e 62% e

67% não são sedes.

Uma segunda configuração corresponde aos Estados de PE, RJ e PA,

que no total de municípios possuem maior número de sedes em relação aos

municípios não sede, sendo em PE uma relação de 82% para sedes e 18%

para municípios não sede; no PA uma relação de 81% para sedes e 19% para

não sedes; e no RJ uma relação de 72% para sedes e 28% para não sedes.

Os mapas abaixo mostram territorialmente a divisão judiciária presente

nos respectivos Estados.4

4 Os mapas indicam municípios sede e não sede, sendo verde escuro para municípios sede de comarcas e

verde claro para municípios não sede.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

18

Mapas Divisão Judiciária (1 a 5)

Mapa 1: Divisão Judiciária Estado Minas Gerais

Mapa 2: Divisão Judiciária Estado Rio Grande do Sul

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

19

Mapa 3: Divisão Judiciária Estado Pará

Mapa 4: Divisão Judiciária Estado Rio de Janeiro

Mapa 5: Divisão Judiciária Estado Pernambuco

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

20

No caso da relação entre a população exigida em lei e a distribuição dos

municípios sede, também encontramos duas configurações, conforme Quadro

4 abaixo.

Quadro 4: Relação da população exigida em lei e divisão judiciária (sede de

comarca)

UFs

Total de Municípios com população

acima do exigido em lei

Nº total sedes

Maior que exigido em lei

Menor que exigido em lei

MG 200 320 60% 40%

RS 103 164 60% 40%

PE 95 152 63% 37%

PA 104 115 84% 16%

RJ 73 66 88% 12% Fonte: IBGE e Código de Organização e Divisão Judiciária dos respectivos Estados.

De acordo com o Quadro 4, podemos constatar, em primeiro lugar, que

a distribuição das sedes nos Estados, quando relacionada com a população e

tendo como parâmetro o mínimo exigido em lei, indica que em todos os

Estados a criação de sedes não obedece a esse critério especificamente, uma

vez que encontramos municípios sede com população menor do que a exigida

em lei.

Em segundo lugar, essa distribuição é desigual nos diferentes Estados.

Os mapas abaixo mostram territorialmente a distribuição dos municípios sede

de comarcas, nos respectivos Estados, em relação à população acima do

exigido em lei (cor verde) e abaixo (cor laranja).5

5 Os espaços em branco nos mapas indicam municípios não sede de comarcas.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

21

Mapas Sedes de comarcas x População acima do exigido em lei (6 a 10)

Mapa 6: PA Mapa 7: RJ

Mapa 8: MG Mapa 9: RS

Mapa 10: PE

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir das Leis Estaduais de

Organização e Divisão Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

22

A segunda orientação de pesquisa que seguimos foi relacionar a lei que

estabelece a divisão judiciária com variáveis empíricas que diagnosticam

características da organização da população, entre as quais destacamos a

desigualdade medida pelo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH. A nosso

ver, o IDH, ainda que não seja o melhor índice possível para determinar a

desigualdade, é o mais recorrente.6 Utilizamos diferentes intervalos de IDH

(conforme Quadro 5), respeitando as particularidades de cada Estado. Esses

intervalos foram medidos a partir de uma distribuição estatística (quintil), que

dividiu os municípios em um conjunto ordenado de IDH em cinco partes iguais.

Assim, a distribuição do IDH corresponde à realidade de cada Estado,

sendo o primeiro intervalo correspondente aos 20% de munícipios com IDH

mais alto no Estado e o quinto intervalo corresponde aos 20% dos munícpios

com IDH mais baixo no Estado. Na confecção dos mapas, cada intervalo é

relacionado a uma cor específica. Dessa forma, os mapas têm uma mesma

identidade visual. Os intervalos para cada Estado foram distribuídos da

seguinte forma:

Quadro 5: Distribuição dos intervalos do Indíce de Desenvolvimento Humano

(IDH) por Estado

UF/ Intervalos

IDH -2000

Intervalo 1

Max-min.

(cor azul)

Intervalo 2

Min.

(verde)

Intervalo 3

Min.

(cor amarelo)

Intervalo 4

Min.

(cor laranja)

Intervalo 5

Min.

(cor vermelha)

RJ 0,886-0,789 0,773 0,753 0,733 0,679

RS 0,87-0,817 0,798 0,777 0,754 0,666

MG 0,841-0,77 0,744 0,708 0,668 0,568

PA 0,806-0,71 0,681 0,662 0,631 0,525

PE 0,862-0,669 0,633 0,604 0,581 0,467

Fonte: PNUD (Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000) e OJB

Lembramos que essa variação de IDH deve ser analisada

separadamente nos Estados, não podendo ser utilizada para compará-los, uma

6 Foram utilizados os dados de IDH do ano de 2000 (PNUD).

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

23

vez que a distribuição nos intervalos de um Estado é diferente de outro. Por

exemplo, o quinto intervalo no Estado do RJ corresponde ao IDH de 0,679 a

0,732, sendo que no Estado de PE essa variação está contida no primeiro

intervalo correspondente ao IDH de 0,669 a 0,862.

Por fim, cabe ressaltar que a distribuição a partir do quintil possibilita

analisar, na comparação com a divisão judiciária, se há ou não variação na

distribuição do IDH. Ou seja, tendo uma distribuição igual em cinco partes no

IDH nos munícipios, veremos se essa distribuição sofre alguma variação

quando filtramos pela divisão judiciária (munícipios sede de comarcas e

munícipios não sede), e com isso verificar se há alguma relação entre a

desigualdade social (medida pelo IDH) e a ausência ou presença de estruturas

jurídicas (divisão judiciária).

Para isso, foram feitos, para cada Estado, três mapas que

correspondem: ao IDH dos munícipios; ao IDH somente das sedes; e ao IDH

somente dos múnicpios não sede.

Abaixo indicamos a distribuição territorial do IDH, tendo como referência

os munícipios dos Estados pesquisados.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

24

Mapas Indíce de Desenvolvimento Humano dos Munícipios (11 a 15)

Mapa 11: IDH Munícipios do Estado de MG

Mapa 12: IDH Munícipios do Estado do RS

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE e PNUD

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE e PNUD

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

25

Mapa 13: IDH Munícipios do Estado do RJ

Mapa 14: IDH Munícipios do Estado do PA

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE e PNUD

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE e PNUD

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

26

Mapa 15: IDH Munícipios do Estado de PE

Como podemos perceber nos mapas (11 a 15), há uma distribuição

desigual no território quanto ao IDH. Por um lado, a distribuição desigual pode

ser identificada a partir dos intervalos selecionados (Quadro 5), ou seja, ao

selecionar os intervalos necessariamente distribuímos os municípios em cinco

grupos. Por outro lado, essa divisão, quando analisada topograficamente,

demonstra que ainda há uma distribuição desigual no território que divide os

Estados em regiões que possuem IDH mais alto e regiões que possuem IDH

mais baixo. Essa divisão não é perfeita, como podemos observar no caso dos

municípios do estado do Pará que aparecem com forte presença de azul

devido ao seu tamanho e obscurece as fortes zonas de desigualdade

presentes naquele estado. Ainda assim, quando observamos os mapas,

podemos identificar regiões nos Estados que concentram municípios com IDH

mais alto e regiões que concentram municípios com IDH mais baixo e tal

distinção nos auxilia a pensar os padrões de acesso à justiça. A pergunta,

portanto, que nos colocamos é como essa concentração regional está

relacionada ao acesso à justiça. Assim, a partir desses questionamentos sobre

a distribuição desigual do IDH no território, procuramos analisar se a mesma

desigualdade se apresenta na distribuição dos municípios sede e não sede de

comarcas. Como se trata de dinâmicas estaduais, descreveremos caso a caso

o acesso à justiça nos estados.

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE e PNUD

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

27

No caso do Estado de Minas Gerais, e como visto anteriormente no

quadro 3, os municípios sede de comarcas correspondem a 38% do total dos

municípios mineiros e os municípios não sede somam 62%. Entre os

municípios sede de comarcas, a porcentagem de municípios com IDH no

primeiro e segundo intervalos (valores mais altos de IDH) somam

aproximadamente 62% do total das sedes, enquanto que, nos municípios não

sede, a porcentagem de municípios com IDH nesses mesmos intervalos

somam apenas 25% dos não sede.

No caso de MG, podemos observar que há variações significativas entre

os intervalos e que a distribuição nos cinco intervalos tem direção inversamente

proporcional quando comparamos os municípios sede de comarcas com os

municípios não sede de comarcas. Podemos assim perceber que o acesso à

justiça obedece às estruturas de desigualdade social do Estado, na medida em

que IDH baixo e municípios não sede praticamente coincidem.

Nos mapas abaixo (16 e 17), podemos ver essas relações, bem como a

distribuição territorial da relação divisão judiciária versus IDH.

Mapa 16: IDH somente Municípios Sede de Comarcas – MG

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

28

Mapa 17: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas – MG

No caso do Estado do Rio Grande do Sul, os municípios sede de

comarcas correspondem a 33% do total dos municípios gaúchos e os

municípios não sede somam 67%. Entre os municípios sede de comarcas, a

porcentagem de municípios com IDH no primeiro e segundo intervalos (valores

mais altos de IDH) somam aproximadamente 52% do total das sedes,

enquanto que nos municípios não sede a porcentagem de municípios com IDH

nesses mesmos intervalos somam apenas 29% do total dos municípios não

sede.

Assim, como em MG, no Estado do RS a distribuição nos cinco

intervalos tem direção inversamente proporcional quando comparamos os

municípios sede de comarcas com os municípios não sede de comarcas.

Nesse sentido, também percebe-se a relação entre a estrutura de desigualdade

social do Estado com a divisão judiciária, na medida em que IDH baixo e

municípios não sede praticamente coincidem.

Nos mapas abaixo (18 e 19), podemos ver essa relação, bem como a

distribuição territorial da relação divisão judiciária versus IDH.

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

29

Mapa 18: IDH somente Municípios Sede de Comarcas – RS

Mapa 19: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas – RS

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

30

No caso do Estado do Rio de Janeiro, os municípios sede de comarcas

correspondem a 72% do total dos municípios fluminenses e os municípios não

sede somam 18%. Entre os municípios sede de comarcas, a porcentagem de

municípios com IDH no primeiro e segundo intervalos (valores mais altos de

IDH) somam aproximadamente 44% do total das sedes, enquanto que nos

municípios não sede a porcentagem de municípios com IDH nesses mesmos

intervalos somam 23% do total dos municípios não sede.

No caso do Estado do RJ, a distribuição dos intervalos nos municípios

sede de comarcas tem uma redução importante no quinto intervalo (valor mais

baixo), assim como esse mesmo intervalo tem um aumento importante nos

municípios não sede de comarcas.

Nos mapas abaixo (20 e 21), podemos ver essas variações, bem como a

distribuição territorial da relação divisão judiciária versus IDH.

Mapa 20: IDH somente Municípios Sede de Comarcas – RJ

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

31

Mapa 21: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas – RJ

No caso do Estado do Pará, os municípios sede de comarcas

correspondem a 81% do total dos municípios paraenses e os municípios não

sede somam 19%. Entre os municípios sede de comarcas, a porcentagem de

municípios com IDH no primeiro e segundo intervalos (valores mais altos de

IDH) somam aproximadamente 44% do total das sedes, enquanto que nos

municípios não sede a porcentagem de municípios com IDH nesses mesmos

intervalos somam 22% do total dos municípios não sede.

No caso do Estado do PA, a distribuição dos intervalos nos municípios

sede de comarcas tem pouca variação, já nos municípios não sede de

comarcas há diferenças significativas entre os intervalos.

Nos mapas abaixo (22 e 23), podemos ver essas relações, bem como a

distribuição territorial da relação divisão judiciária versus IDH.

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

32

Mapa 22: IDH somente Municípios Sede de Comarcas – PA

Mapa 23: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas – PA

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

33

Por fim, no caso do Estado de Pernambuco, os municípios sede de

comarcas correspondem a 82% do total dos municípios pernambucanos e os

municípios não sede somam 18%. Entre os municípios sede de comarcas, a

porcentagem de municípios com IDH no primeiro e segundo intervalos (valores

mais altos de IDH) somam aproximadamente 42% do total das sedes,

enquanto que nos municípios não sede a porcentagem de municípios com IDH

nesses mesmos intervalos somam 24% do total dos municípios não sede.

Em PE, temos uma pequena variação dos intervalos nos municípios

sede de comarcas. Destaca-se, no entanto, uma importante variação entre o

primeiro intervalo (valor mais alto de IDH) e o quinto intervalo (valor mais baixo

de IDH), principalmente nos municípios não sede.

Nos mapas abaixo (24 e 25), podemos ver essa variação, bem como a

distribuição territorial da relação divisão judiciária versus IDH no Estado de

Pernambuco.

Mapa 24: IDH somente Municípios Sede de Comarcas – PE

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

34

Mapa 25: IDH somente Municípios Não Sede de Comarcas – PE

Assim, a partir desses mapas, podemos fazer uma reflexão que

responda às duas perguntas mencionadas anteriormente, a saber, se a

distribuição desigual do IDH no território se mantém ou sofre alterações

significativas quando relacionamos a divisão judiciária com o IDH; e se a

concentração regional do IDH permanece quando relacionamos a divisão

judiciária.

Em relação ao primeiro questionamento, percebe-se que a distribuição

do IDH no território tem alterações quando dividimos os municípios por sedes e

não sedes e observamos a partir dessa divisão a variação nos intervalos de

IDH. Podemos fazer duas observações a partir dessa relação entre a divisão

judiciária e a variação no intervalo de IDH, conforme ilustrado no Quadro 6:

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

35

Quadro 6: Síntese da relação entre a divisão judiciária e variação no intervalo

de IDH (%)

(A) Variação externa (1º+2º intervalo)

%

(B) Variação interna (1º

intervalo) %

(c) Variação interna (5º

intervalo) %

% Municípios/

sede

UF Sede Não sede Sede Não sede Sede Não sede

MG 62 25 75 25 19 81 38

RS 52 29 53 47 11 89 33

RJ 44 23 72 28 42 58 72

PA 44 22 96 4 80 20 81

PE 42 24 89 11 69 31 82

Fonte: OJB a partir das Leis Estaduais de Organização e Divisão Judiciária e PNUD

A primeira observação tem a ver com uma variação interna da proporção

de municípios pertencentes a cada intervalo de IDH (colunas B e C). Nesse

sentido, tendo como filtro a divisão judiciária, quando observamos a variação,

em cada intervalo, em comparação ao 1/5 (quintil) do IDH dos municípios

(mapas 11 a 15), percebemos que em todos os intervalos a proporção dos

municípios tende a ser diferente de 20%.

No entanto, é necessário observar que nos intervalos de IDH mais alto

(primeiro intervalo) a proporção de municípios é muito maior naqueles que são

sede de comarcas do que nos municípios não sede de comarcas. Sendo que o

inverso também é encontrado, ou seja, nos intervalos de IDH mais baixo

(quinto intervalo), a proporção de municípios é muito maior naqueles que são

não sede de comarcas do que nos municípios sede de comarcas. Em ambos

os casos, constata-se que há uma distribuição desigual em relação à divisão

judiciária, uma vez que a distribuição igual por intervalo sofre alterações

significativas quando tomamos como filtro a divisão judiciária.

Uma segunda observação refere-se à variação externa entre os

intervalos e à comparação dessa variação entre os munícipios sede e não sede

(coluna A). Como vimos nos mapas (16 a 25), há variações significativas entre

os intervalos, o que configura em alguns Estados (MG, RS) uma distribuição

nos cinco intervalos inversamente proporcional quando comparamos os

municípios sede de comarcas com os municípios não sede de comarcas. Ainda

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

36

em relação à comparação entre sedes e não sedes, o Quadro 6 mostra que em

todos os Estados a proporção de municípios com IDH no primeiro e segundo

intervalos (valores mais altos de IDH) é maior nos municípios sede do que nos

municípios não sede.

Podemos assim perceber que o acesso à justiça obedece às estruturas

de desigualdade do Estado, na medida em que IDH baixo e municípios não

sede praticamente coincidem.

Por fim, como mencionado anteriormente, a distribuição desigual no

território em relação ao IDH sugere um segundo questionamento. Nesse caso,

procuramos analisar se a concentração regional encontrada nos Estados

permanece quando relacionamos a divisão judiciária com o IDH.

Topograficamente podemos dizer que essa concentração se mantém,

principalmente quando observamos nos mapas de IDH somente dos

municípios sede que a distribuição do IDH agrupa-se nos intervalos 1 e 2, e

estes concentram-se em regiões com índices mais elevados de

desenvolvimento humano.

Em termos visuais podemos perceber isso quando comparamos os

mapas do IDH dos municípios com os mapas do IDH correspondentes à

divisão judiciária. Veremos uma predominância das cores azul e verde nos

mapas dos municípios sede, e das cores vermelho, laranja e amarelo nos

mapas dos municípios não sede. A figura 1 abaixo agrupa os mapas do IDH

dos municípios, sede e não sede, com o intuito de facilitar a visualização

topográfica e a comparação da distribuição territorial.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

37

Figura 1: Mapas IDH municípios sede e não sede

IDH Municípios Divisão Judiciária

IDH Municípios Sede IDH Municípios Não Sede

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

38

Essa distribuição desigual das estruturas administrativas do sistema de

justiça no território é percebida ainda com mais intensidade quando dividimos

os municípios sede em dois grupos: sedes com população acima do exigido em

lei; e sedes com população menor do que exigido em lei.

Esses casos parecem ser exemplificados nos Estados de MG e RS. Os

mapas abaixo (26 a 29) descrevem esses casos.

Mapa 26: Sedes com população

acima do exigido em lei - MG

Mapa 27: Sedes com população

abaixo do exigido em lei - MG

Mapa 28: Sedes com população

acima do exigido em lei - RS

Mapa 29: Sedes com população

abaixo do exigido em lei - RS

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Fonte: Elaboração OJB, 2010

A partir do IBGE, PNUD e Lei

Estadual de Organização e Divisão

Judiciária

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

39

É possível observar nos mapas que os municípios sede de comarcas

com população abaixo do exigido em lei estão localizados em regiões do

Estado que possuem IDH mais elevado e, em alguns casos, estão próximos de

sedes com população acima do exigido em lei que também têm IDH elevado.

No caso de MG, por exemplo, esse recorte é exemplar. Encontramos

poucos municípios sede de comarca com população abaixo do exigido em lei

em regiões como o Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas (regiões

conhecidas como as mais carentes do Estado e que possuem baixo IDH,

conforme indicado no mapa dos municípios). Pelo contrário, os municípios

sede se concentram na região do Triângulo Mineiro, Sul de Minas e região

Central (regiões com o melhor IDH do Estado).

Esse dado é importante, pois, nos municípios sede com população

abaixo do previsto em lei, a criação da comarca evidencia o peso do IDH mais

elevado, bem como da desigualdade territorial que concentra municípios e

sedes de comarcas em regiões de melhores índices de desenvolvimento

humano.

Podemos assim perceber uma relação entre a desigualdade social

(medida pelo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH) e a ausência ou

presença de estruturas administrativas do sistema de justiça (verificada pela

divisão judiciária).

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

40

O caso da Defensoria Pública (Minas Gerais)

Além dessa análise feita a partir do sistema judiciário, é possível

investigar o acesso à justiça por meio de uma cartografia da Defensoria

Pública. Tal cartografia nos permite não só pensar o acesso à justiça da

população de baixa renda pela presença de comarcas, mas também pela

presença de meios para acionar o sistema de justiça, entre os quais a

defensoria é um dos mais importantes instrumentos. Criada na Constituição de

1988, a Defensoria Pública, conforme o art. 134 da Carta, “é instituição

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica

e a defesa, em todos os graus, dos necessitados”. Trata-se de uma conquista

institucional. Afinal, embora a origem do direito à defesa seja antiga, a criação

de uma instituição pública especializada na assistência às pessoas vulneráveis

representa um avanço considerável na luta pela justiça social.

A partir da emenda constitucional n° 45, de 2004, as Defensorias

Públicas estaduais ganharam autonomia funcional e administrativa. Cada

Estado da federação é responsável por lei que dispõe sobre sua organização,

desde que em consonância com a lei complementar n° 80, de 2004, que dispõe

sobre as regras gerais de organização. Nesta última série de mapas,

gostaríamos de analisar o caso de Minas Gerais, partindo do mesmo estudo

sociológico feito anteriormente: será que existe uma relação entre a

desigualdade social, medida pelo IDH, e a ausência de Defensorias Públicas

nos municípios mineiros?

Segundo a lei complementar 65/2003, que dispõe sobre a organização

da Defensoria no Estado de MG, “é obrigatória a instalação de Defensoria

Pública em todas as comarcas do Estado” (art. 41).

No entanto, a partir dos mapas 30 a 32 abaixo, podemos observar que

ainda é baixa a presença de Defensoria Pública nos municípios mineiros, e que

sua distribuição territorial não atende especificamente à obrigatoriedade citada

pela lei 65/20037.

De acordo com o mapa 30, temos 399 municípios com Defensoria

Pública, o que representa 47% dos municípios mineiros.

7 As informações sobre as Defensorias Públicas foram coletadas na Pesquisa de Informações Básicas

Municipais – Munic, do IBGE, ano 2009.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

41

Mapa 30: Distribuição das Defensorias Públicas MG

Já em relação ao Mapa 31, podemos observar que das 320 comarcas de

Minas Gerais, temos a presença de Defensoria Pública em 195 comarcas, o

que representa 61% dos municípios que são sede de comarcas.

Mapa 31: Sede de comarcas e existência de Defensorias Públicas

Fonte: Elabora

ç ão OJB, 2010 A partir do IBGE,

Fonte: Elabora

ç ão OJB, 2010 A partir do IBGE,

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

42

Por sua vez, o Mapa 32 mostra a presença de Defensorias Públicas em

municípios não sede de comarcas. De acordo com o mapa 32, temos 204

municípios não sede de comarcas com Defensorias Públicas, o que representa

38% desses municípios.

Mapa 32: Não Sede de comarcas e existência de Defensorias Públicas

Esses dados nos levam a analisar se existe uma relação entre a

desigualdade social, medida pelo IDH, e a distribuição de Defensorias Públicas

nos municípios mineiros. O mapa 33 abaixo apresenta a distribuição das

Defensorias Públicas nos municípios sede e não sede de comarcas em relação

ao IDH:

Fonte: Elabora

ç ão OJB, 2010 A partir do IBGE,

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

43

Mapa 33: Existência de Defensoria x IDH8

De acordo com esse mapa, os municípios com Defensorias Públicas

possuem aproximadamente 45% de municípios com IDH no primeiro e

segundo intervalos (índices mais altos de IDH), levando ao entendimento da

existência de uma relação entre a desigualdade social e a distribuição de

Defensorias Públicas nos municípios mineiros.

Podemos dizer ainda que esse mapa se assemelha ao mapa dos

municípios sede de comarcas (mapa 16), apesar da relação entre a

desigualdade social e Defensoria Pública ser menos intensa do que aquela

encontrada entre a desigualdade social e divisão judiciária.

Por sua vez, essa relação se intensifica quando dividimos a presença e

ausência de Defensoria Pública entre os municípios sede de comarcas e

municípios não sede de comarcas. É o que podemos observar no quadro 7

abaixo:

8 Tendo como base a distribuição do quintil de todos os municípios, similar ao que foi feito para os mapas

de comarcas. Analisa a variação dentro de cada estrato.

Fonte: Elabora

ç ão OJB, 2010 A partir do IBGE,

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

44

Quadro 7: Distribuição do IDH entre Sede de Comarcas e Não Sede de

Comarcas e existência de Defensoria Pública.

Municípios /

IDH

Sede Comarca Não sede de Comarca

Com

Defensoria

Sem

Defensoria

Com

Defensoria

Sem

Defensoria

1º intervalo 96 (49%) 28 (22%) 9 (4%) 36 (11%)

2º intervalo 40 (21%) 36 (29%) 35 (17%) 56 (17%)

3º intervalo 27 (14%) 26 (21%) 55 (27%) 67 (20%)

4º intervalo 17 (9%) 15 (12%) 57 (28%) 77 (23%)

5º intervalo 15 (8%) 20 (16%) 48 (24%) 93 (28%)

Fonte: OJB a partir da Pesquisa de Informações Básicas Municipais – Munic, do IBGE, ano 2009, e Lei de Divisão Judiciária do Estado de MG.

A partir do quadro 7, podemos observar que as variáveis sede de

comarca com Defensoria Pública e não sede de comarca sem Defensoria

Pública reforça as análises realizadas na relação entre a desigualdade social

(medidas pelo IDH) e a ausência ou presença de estruturas administrativas do

sistema de justiça (verificada pela divisão judiciária), realizada anteriormente na

análise das comarcas.

No caso das Defensorias Públicas, podemos dizer que quanto maior o

IDH, maior a presença de Defensorias Públicas e quanto menor o IDH menor a

presença de Defensorias Públicas. Além disso, a associação entre a presença

de Defensorias Públicas e municípios sede de comarcas faz intensificar a

relação entre altos índices de desenvolvimento econômico e a presença de

estruturas administrativas do sistema de justiça. Neste sentido, não há como

não apontar a existência de uma forte estrutura de desigualdade social

influenciando o acesso a justiça no Brasil.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

45

III. ACESSO AOS TRIBUNAIS: desigualdade no acesso, atores recorrentes

Justiça Estadual

Primeira Instância: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo

A Justiça Comum é notadamente conhecida pela falta de celeridade,

atrasando a prestação jurisdicional pleiteada. O Gráfico 1 abaixo, que

apresenta a movimentação processual na justiça estadual de Minas Gerais, no

período situado entre 1994 e 2009, corrobora a afirmação. O acervo tende a

crescer, enquanto os processos julgados e encerrados obedecem a certa

ordem de estagnação. No entanto, é importante saber quem são os usuários

do sistema judiciário e, principalmente, os usuários mais frequentes, para

entender como a falta de celeridade tem impacto diferenciado entre os

diferentes grupos sociais.

Gráfico 1: Evolução do Movimento Processual - Justiça Comum - 1ª Instância

Fonte: Relatório 2009 TJMG

O aumento da capacidade de julgamento, verificado ao longo dos anos,

não tem sido suficiente para atender à demanda, também crescente, havendo

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

46

um maior acúmulo de feitos no acervo da justiça estadual de Minas Gerais,

aumentando a carga de trabalho das secretarias de juízo.

O acervo processual de Minas Gerais é de 4,2 milhões de processos,

sendo que 96,6% encontram-se na Justiça Comum de primeira instância e nos

Juizados Especiais, como demonstra o Gráfico 2 a seguir.

Gráfico 2: Distribuição do Acervo Total 2009 por instâncias do Poder Judiciário

de Minas Gerais

Fonte: Relatório 2009 TJMG

Em 2009 o acervo total da primeira instância em Minas Gerais era de

3.422.250, enquanto o acervo apenas da comarca de Belo Horizonte era de

670.854. Tal dado demonstra que a capital concentra um grande volume de

processos.

Utilizaremos em nossa análise os feitos cíveis que correspondem a 74%

do acervo de primeira instância da Justiça de Minas Gerais.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

47

Tabela 1: Movimentação Processual na Comarca de Belo Horizonte (Varas de Interesse)

(continua)

* Obs: Índices e Taxas: 1) Conceituação: IJ = Índice de Julgamento = Proc. Julgados / Proc. Distribuídos e IE = Índice de Encerramento = Proc. Encerrados / Proc. Distribuídos; 2) Avaliam a quantidade de processos julgados e de encerrados em relação às distribuições, ou seja, os novos processos. Os resultados desejáveis devem ser iguais ou maiores que 1. Estes resultados indicam que a unidade jurisdicional julga e encerra processos na mesma proporção ou acima do que recebe. Número índice abaixo de 1 indica acúmulo de processos carecendo de sentença e acúmulo de processos no acervo.

Vara Distribuídos Julgados Encerrados Audiências

Acervo Índices*

Saldo em

30/06/10

IE IJ

10ª Vara Cível 974 771 762 298 5588 0,78 0,792

11ª Vara Cível 960 828 822 248 4575 0,86 0,863

12ª Vara Cível 997 1328 1103 225 5813 1,11 1,332

13ª Vara Cível 960 1318 1089 346 4715 1,13 1,373

14ª Vara Cível 1004 1226 826 258 4212 0,82 1,221

15ª Vara Cível 980 926 858 222 5998 0,88 0,945

16ª Vara Cível 1030 1015 888 374 4923 0,86 0,985

17ª Vara Cível 977 879 869 343 6473 0,89 0,9

18ª Vara Cível 973 785 711 344 6155 0,73 0,807

19ª Vara Cível 954 726 623 143 7060 0,65 0,761

1ª Vara Cível 962 1108 671 246 6823 0,7 0,115

2

1ª Vara de

Feitos

Tributários do

Estado

731 1150 968 0 12328 1,32 1,573

1ª Vara de

Feitos da

Fazenda

Pública

Municipal

1304 3012 3982 2 20751 3,05 2,31

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

48

Tabela 1: Movimentação Processual na Comarca de Belo Horizonte

(Varas de Interesse) (continuação)

(continua)

Vara Distribuídos Julgados Encerrados Audiências

Acervo Índices

Saldo em

30/06/10

IE IJ

1ª Vara

Empresarial 261 251 308 4 752 1,18 0,962

20ª Vara Cível 952 730 520 74 6280 0,55 0,767

21ª Vara Cível 919 740 379 226 7942 0,41 0,805

22ª Vara Cível 941 691 523 190 7387 0,56 0,734

23ª Vara Cível 929 561 665 447 6072 0,72 0,6

24ª Vara Cível 1005 1284 846 292 7126 0,84 1,278

25ª Vara Cível 1000 1095 915 98 5968 0,92 1,1

26ª Vara Cível 1003 1093 660 306 6622 0,66 1,09

27ª Vara Cível 986 902 509 167 6575 0,52 0,915

28ª Vara Cível 941 864 617 343 6862 0,66 0,918

29ª Vara Cível 962 1001 750 83 6827 0,78 1,041

2ª Vara Cível 980 662 579 180 7233 0,59 0,676

2ª Vara da

Fazenda

Pública e

Autarquias

1102 2171 1269 116 9755 1,15 1,97

2ª Vara de

Feitos

Tributários do

Estado

691 691 623 12 14185 0,9 1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

49

Tabela 1: Movimentação Processual na Comarca de Belo Horizonte

(Varas de Interesse) (continuação)

(continua)

Vara Distribuídos Julgados Encerrados Audiências

Acervo Índices

Saldo em

30/06/10

IE IJ

2ª Vara dos

Feitos da

Fazenda

Pública

Municipal

1330 2576 2494 10 25352 1,88 1,937

2ª Vara

Empresarial 130 125 176 23 2145 1,35 0,962

30ª Vara Cível 969 837 676 137 5159 0,7 0,864

31 ª Vara Cível 1222 427 674 17 5944 0,55 0,349

32ª Vara Cível 925 938 656 346 6597 0,71 1,014

33ª Vara Cível 959 1019 896 228 5822 0,93 1,063

34ª Vara Cível 964 712 602 292 5725 0,62 0,739

3ª Vara Cível 948 1143 870 61 5163 0,92 1,206

3ª ª Vara da

Fazenda

Pública e

Autarquias

1056 1411 635 53 10705 0,6 1,336

3ª Vara de

Feitos

Tributários do

Estado

696 1805 1240 1 12142 1,78 2,593

3ª Vara de

Feitos da

Fazenda

Pública

Municipal

1338 2180 2038 8 18856 1,52 1,629

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

50

Tabela 1: Movimentação Processual na Comarca de Belo Horizonte

(Varas de Interesse) (continuação)

(continua)

Vara Distribuídos Julgados Encerrados Audiências

Acervo Índices

Saldo em

30/06/10

IE IJ

3ª Vara

Empresarial 179 225 235 5 1000 1,31 1,257

4ª Vara Cível 1017 771 729 108 6460 0,72 0,758

4ª Vara da

Fazenda

Pública e

Autarquias

1091 1588 861 181 10082 0,79 1,456

4ª Vara de

Feitos

Tributários do

Estado

794 1240 1421 1 12585 1,79 1,562

4ª Vara dos

Feitos da

Fazenda

Pública

Municipal

1342 3524 2325 8 22126 1,73 2,626

5ª Vara Cível 964 991 846 253 6958 0,88 1,028

5ª Vara da

Fazenda

Pública e

Autarquias

1108 1484 919 191 9983 0,83 1,339

5ª Vara dos

Feitos da

Fazenda

Pública

Municipal

1335 2976 3158 10 18642 2,37 2,23

6ª Vara Cível 1088 757 829 314 7648 0,76 0,7

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

51

Tabela 1: Movimentação Processual na Comarca de Belo Horizonte

(Varas de Interesse) (continuação)

Fonte: Relatório 2009 TJMG

Quanto à natureza dos feitos, a Tabela 2 abaixo representa a

movimentação processual no ano de 2009.

Vara Distribuídos Julgados Encerrados Audiências

Acervo Índices

Saldo em

30/06/10

IE IJ

6ª Vara de

Fazenda

Pública e

Autarquias

1081 1461 962 114 9518 0,89 1,35

6ª Vara dos

Feitos da

Fazenda

Pública

Municipal

1335 2976 3158 10 18642 2,37 2,23

7ª Vara Cível 971 899 725 136 6145 0,75 0,93

7ª Vara da

Fazenda

Pública e

Autarquias

1062 1787 1029 219 10377 0,97 1,68

8ª Cível Vara 945 706 457 214 6953 0,48 0,75

9ª Vara Cível 977 656 557 148 6785 0,57 0,67

Vara de

Precatórias

Cíveis

19950 0 19856 494 13952 1 0

71254 63022 72359 9169 466466 1,015 0,88

BH Total

Todas as

varas da

comarca de

Belo

Horizonte

132190 98665 121366 40419 691562 0,92 0,75

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

52

Tabela 2: Movimentação Processual na Justiça Estadual de Minas Gerais -

2009

Fonte: Relatório 2009 TJMG

Verifica-se que as execuções fiscais são as ações judiciais distribuídas

mais representativas em números (juntamente com as ações de família que

não são objeto de análise da presente pesquisa), o que embasa nossa

hipótese de que o Estado é um dos maiores atores judicantes, dado que ações

desse tipo envolvem necessariamente o Estado.

Para determinarmos se, de fato, o Estado e os atores econômicos são

os principais litigantes, é necessário estabelecermos a relação quantitativa

entre atores e demandas. É fundamental conhecer e caracterizar quem mais

demanda e contra quem demanda, uma vez que na litigância cível é

indispensável a manifestação de vontade da parte autora para dar início à

demanda, pondo em marcha a prestação jurisdicional, que mobiliza o judiciário

com o fito de resolver o conflito gerado no âmbito da sociedade.

O Gráfico 3, abaixo, apresenta os maiores atores da Justiça Comum

(sem distinguir se autor ou réu), isso é, aqueles que mais mobilizam a justiça

estadual, no âmbito de competência da comarca de Belo Horizonte.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

53

Gráfico 3: Demanda Processual da Comarca de Belo Horizonte - Justiça

Comum

Fonte: Site do TJMG/ Relatório 2009 TJMG / Relatórios mensais das Varas Estaduais da Fazenda Pública

Tal representação gráfica nos mostra que o Estado, parte

necessarimante envolvida nos feitos das Varas da Fazenda Pública Estadual e

Municipal e nos feitos tributários, é sem dúvidas um dos atores processuais

mais frequentes.

Considerando especificamente o grupo BANCOS, como representativos

dos macroatores econômicos, observamos que não há muita divergência entre

o percentual de demandas que envolve o Banco do Brasil (empresa de

economia mista) e as que envolvem os principais bancos privados, tais como o

Bradesco ou o Itaú.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

54

Gráfico 4: Demanda Processual da Comarca de Belo Horizonte pela categoria

de Bancos

Fonte: Site do TJMG/ Relatório 2009 TJMG

Por outro lado, no Rio Grande do Sul, o volume total de processos da

primeira instância da Justiça Comum é de 2.996.551, sendo 2.770.070 os feitos

cíveis, representando 92% do total.

Segundo o relatório anual do TJRS de 2002 a 2005, houve grande

crescimento no acervo geral do TJ, visto que a quantidade de processos

distribuídos superava muito a quantidade de processos extintos. Porém, a partir

de 2006, notou-se a diminuição de tal diferença, apesar do acervo ter quase

dobrado a partir de 2004.

A fonte por nós utilizada para análise dos dados no Rio Grande do Sul,

diferentemente de Minas Gerais, agrupa os dados de Juizados Especiais,

juntamente com os demais feitos de primeira instância da Justiça Comum. Fato

esse que nos dá um panorama mais amplo da primeira instância do judiciário

no Rio Grande do Sul.

Como se observa nos Gráficos a seguir, o Estado e os bancos, assim

como em Minas Gerais, também figuram como os maiores litigantes no sistema

judiciário estadual do Rio Grande do Sul, quando considerado somente as

pessoas jurídicas.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

55

Gráfico 5: Demanda Processual no Rio Grande do Sul por categoria de partes -Pessoa Jurídica

Fonte: Relatório 2009 TJRS

Quando se considera apenas os processos em que um conjunto de

atores figuram no pólo passivo, ou seja, na qualidade de réus/demandados, o

Estado e os bancos seguem sendo as pessoas jurídicas que aparecem de

forma mais significativa, pois dos 55% de ações movidas contra pessoas

jurídicas, 42% são movidas contra o Estado ou contra alguma instituição

financeira.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

56

Gráfico 6: Demanda Processual por categoria de partes Pessoa Jurídica como demandada/requerida

Relatório 2009 TJRS

Nota-se que os dados do Rio Grande do Sul agrupam as Varas Cíveis e

as Varas dos Juizados Especiais, razão pela qual aparecem, de modo mais

evidente, as empresas de telefonia.9 Estas, na qualidade de rés/demandadas,

representam 6% das ações movidas contra pessoas jurídicas. Tal fato ocorre

pois, geralmente, os litígios contra empresas de telefonia derivam-se de

relações de consumo e contratos de adesão, questões recorrentemente

tratadas em Juizados Especiais.

9 Em Minas Gerais as demandas contra as empresas de telefonia são, em grande medida,

deslocadas para a competência dos Juizados Especiais. Em Belo Horizonte foi criado um Juizado Especial para atender especificamente demandas desse tipo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

57

Gráfico 7: Demanda Processual por categoria de partes - Pessoa Física e Jurídica

Fonte: Relatório do TJRS

Por outro lado, o Gráfico 8 abaixo nos mostra que, quando

consideramos apenas as ações que envolvem o Estado, é a administração

pública direta (Estado do Rio Grande do Sul) que sobressae em relação à

administração pública indireta, envolvendo-se em 82% das demandas judiciais.

Da administração indireta, destaca-se o IPERGS, que é o Instituto de

Previdência do Estado do Rio Grande do Sul, autarquia estadual que atua na

área de assistência (saúde e previdência).

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

58

Gráfico 8: Demanda Processual por categoria de parte - Estado

Fonte: Relatório TJRS 2009

Quando consideramos as demandas que envolvem especificamente os

bancos, observamos, conforme o Gráfico 9 abaixo, que o Banco do Estado do

Rio Grande do Sul (Banrisul S/A), empresa de economia mista, acumula

percentual um pouco superior (18%) ao dos mais significativos bancos

privados, o HSBC (13%), o Unibanco (12%) e o Bradesco (11%).

Gráfico 9: Demanda Processual por categoria de parte - Bancos

Fonte: Relatório 2009 TJRS

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

59

Observa-se, ainda, a partir da análise do Gráfico 10 abaixo, que, em

73% dos casos, as demandas são iniciadas por pessoa física, ou seja, elas

veiculam pretensão individual.

Gráfico 10: Demanda processual por categoria de parte autora - pessoa física e jurídica

Fonte: Relatório 2009 TJRS

Ademais, o Gráfico 11 abaixo demonstra que, no caso da Justiça

Estadual do Rio Grande do Sul, 50% das demandas iniciadas por pessoa física

têm como rés/demandas pessoas jurídicas.

Gráfico 11: Demanda Processual – Pessoa Física X Pessoa Jurídica

Fonte: Relatório TJRS 2009

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

60

Mais uma vez, o Gráfico 12 abaixo demonstra que, dentre as pessoas

jurídicas mais demandas no Estado do Rio Grande do Sul, o próprio Estado

representa 60% do total, seguido pelos grandes atores econômicos, tais como

bancos (17%), empresas de telefonia (10%) e financeiras (5%).

Gráfico 12: Demanda Processual por categoria de demandados - Pessoa

Jurídica

Fonte: Relatório TJRS 2009

Em relação à justiça estadual de São Paulo, observa-se que o Estado e

os bancos, do mesmo modo como ocorre em Minas Gerais e no Rio Grande do

Sul, são os maiores litigantes, contudo, o Estado tem uma participação

expressiva, figurando em 55% da demandas de primeira instância, conforme se

observa do Gráfico 13.

Note-se, ademais, que esse percentual considera tão somente aquelas

demandas nas quais a participação do Estado é obrigatória (as Execuções

Fiscais), de modo que se pode pressupor uma participação ainda maior, já que

o Estado pode figurar como réu em inúmeras ações de natureza cível, mesmo

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

61

as que tramitam nos Juizados Especiais, considerando a responsabilidade civil

dos agentes estatais e das prestadoras de serviços públicos (concessionárias).

Gráfico 13: Demanda Processual na Justiça Estadual de São Paulo

Fonte: Relatório TJSP

A análise mais detalhada da demanda processual na justiça estadual

paulista aponta para uma pluralidade de atores, desconsiderando as

Execuções Fiscais já mencionadas. Dos 45% das demandas que não são de

natureza fiscal – e, portanto, não envolvem obrigatoriamente o Estado –, os

bancos aparecem como os litigantes mais frequentes (5%), seguindos das

empresas de cartão de crédito e financeiras (1%), além das empresas de

telecomunicações (1%) e fornecimento de água e energia (1%), conforme se

observa do Gráfico 14.

Dois dados parecem importantes: o primeiro deles, já mencionado, diz

respeito à pluralidade dos atores, já que 37% da demandas foram

categorizadas como “outros”, reunindo inúmeras e distintas partes; além disso,

as demandas que envolvem as empresas de telecomunicações e fornecimento

de água e energia – que juntas somam 2% da demandas na justiça estadual

paulista – podem envolver o Estado, já que se trata da prestação de serviço

público, via concessão.

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62

Gráfico 14: Demanda Processual por categoria de partes

Fonte: Relatório TJSP

Os atores macroeconômicos (bancos e empresas de cartões de crédito,

financeiras e leasing) somados integram 6% das demandas; desse total o

Santander, ABN Amro e Aymoré figuram em mais de 30% delas. O BV figura,

por sua vez, em quase 24% da demandas que envolvem bancos, empresas de

cartões de crédito e financeiras. Observe-se o Gráfico 15, abaixo.

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63

Gráfico 15: Demanda Processual por categoria de parte - Atores

macroeconômicos

Fonte: Relatório TJSP

Por fim, dentre as empresas de telefonia, as quais integram 1% das

demandas no Estado de São Paulo, destaca-se a participação da Telefônica

que, do total de demandas que se referem ao setor, figura em 83,5% delas,

conforme se observa do Gráfico 16, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

64

Gráfico 16: Demanda Processual por categoria de ator - Empresas de Telefonia

Fonte: TJSP

Justiça Estadual

Tribunais: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo

A segunda instância, ou segundo grau, é responsável pela reapreciação

das demandas judiciais. Os atores judiciais, insatisfeitos com o resultado obtido

no juízo de primeiro grau, recorrem aos tribunais, a fim de obter uma nova

resposta do sistema judiciário.

Neste tópico, vamos limitar nossa análise aos feitos cíveis, realizando

uma comparação dos dados de movimentação processual nos Tribunais de

Justiça de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, no ano de 2009, e no Tribunal de

Justiça de São Paulo, a partir de um comparativo dos dados referentes aos

anos 2000 e 2010.

O levantamento de dados, realizado nos Tribunais de Justiça desses

dois Estados, demonstra uma participação muito reduzida dos processos que

tramitam na segunda instância na composição do acervo de processos em

tramitação no órgão jurisdicional.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

65

Compõem o acervo da segunda instância, no TJMG, um total de

124.294 processos, o que corresponde a 2,93% do acervo da Justiça Comum

de Minas Gerais, conforme se observa no Quadro 7 abaixo.

Quadro 8: Acervo do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (2009)

Fonte: Relatório Anual 2009 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

No TJRS esse número é de 312.132 processos, correspondendo a

8,49% do acervo da Justiça Comum do Rio Grande do Sul. Dentre os

processos em segunda instância, os feitos cíveis correspondem a 93,49% do

acervo do TJRS, conforme Tabela 3.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

66

Tabela 3: Acervo do Tribunal de Justiça do Rio Grande doSul (2009)

Fonte: Relatório Anual 2009 do tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Já no Estado de São Paulo, o que se observa em relação ao acervo –

comparando-se os números referentes ao ano 2000 e ao ano 2010 – é que em

matéria cível houve um crescimento de mais de 100% das demandas, que

passaram de 1,5 milhão para pouco mais de 4 milhões. O mesmo fenômeno

ocorre quando se observa a evolução das demandas fiscais, que totalizavam

quase 4 milhões em 2000 e saltaram para algo em torno de 10 milhões de

feitos em 2010.

Os Juizados Especiais Cíveis também apresentaram crescimento

expressivo de seu acervo, ultrapassando mais de 1 milhão de processos no

ano de 2010, conforme se verifica do Gráfico 17.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

67

Gráfico 17: Acervo do Tribunal de Justiça de São Paulo (2000-2010)

Por outro lado, em Minas Gerais, os feitos cíveis correspondem a

80,91% do acervo dos processos do Tribunal, conforme Tabela 4 abaixo.

Tabela 4: Distribuição dos feitos do TJMG por natureza (cível ou criminal) -

2009

Distribuídos Julgados Acervo –

31/12/2009

Processos Cíveis 211.553 186.466 100.577

Processos

Criminais

45.200 42.289 23.717

Total 256.753 228.755 124.294

Fonte: Relatório Anual 2009 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Comparando-se o acervo de cada um dos três tribunais estaduais,

observa-se que o de São Paulo é o que apresenta um maior número de

demandas, conforme Gráfico 18, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

68

Gráfico 18: Acervo dos Tribunais de Justiça (Minas Gerais, Rio Grande do Sul

e São Paulo)

A evolução da movimentação processual nos tribunais aponta para um

crescimento no número de processos distribuídos e julgados, o que não

caracteriza um maior índice de recursos nas ações, já que tal crescimento

também se dá na primeira instância, conforme já observado.

O crescimento do fluxo processual apresentou, na última década, um

aumento vertiginoso, experimentando, entre os anos de 2003 e 2008, um

intenso crescimento no número de ações iniciadas/distribuídas. No TJMG, o

número de processos iniciados em 2003 era de 62.641, passando a 242.228

em 2008 e chegando a 256.753 em 2009. No TJRS, em 2003, foram iniciados

254.198 processos, em 2008 foram 590.203, chegando ao total de 674.331 em

2009.

Outra constatação é que, apesar de Minas Gerais, em comparação com

o Rio Grande do Sul, ter uma população maior e uma participação mais

relevante no PIB nacional, o fluxo processual na segunda instância da Justiça

Estadual no Rio Grande do Sul é pelo menos três vezes maior do que em

Minas Gerais.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

69

Por outro lado, se analisarmos os feitos cíveis em tramitação na

segunda instância, considerando os diferentes atores processuais, ainda que

sem distinção entre autor e réu, observamos a recorrência dos entes públicos e

dos grandes agentes econômicos, em especial os integrantes do sistema

bancário.

Gráfico 19: Demanda Processual por categoria de atores - Bancos e

Estado

Fonte: Relatório Anual 2009 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

A recorrência dos entes públicos pode ser explicada pela

obrigatoriedade de recorrer que recai sobre eles. Chama atenção, contudo, a

recorrência dos bancos, que integram a lide em 30% das demandas que

chegam à segunda instância de julgamento.

Os dados da primeira instância, Comarca de Belo Horizonte, apontam

uma participação dos bancos em 6% das demandas, o que demonstra um

exessivo grau de litigiosidade destes, recorrendo sempre que a decisão lhes é

desfavorável.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

70

Gráfico 20: Demanda Processual por categoria de ator - Bancos

Fonte: Relatório Anual 2009 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

O Banco do Brasil (34%), seguido pelo Banco Bradesco (27%) e pelo

Banco Itaú (26%), são os atores mais recorrentes no segundo grau da justiça

estadual em Minas Gerais. Já havíamos observado que eram também os

atores mais recorrentes do grupo BANCOS, o que denota que, em boa medida,

as ações que envolvem esses atores são analisadas em duas instâncias de

jurisdição, mobilizando à exaustão o aparato da justiça estadual, que engloba

os juízos (primeira instância) e os tribunais (segunda instância).

Os dados referentes ao TJMG representam a participação dos atores no

universo do acervo processual cível em dezembro de 2009. Já os dados do

TJRS tomam como referência os processos iniciados no ano de 2009. Apesar

da diferença na natureza dos dados, a predominância dos mesmos atores é

recorrente: ambos os sistemas judiciários apresentam predominância dos entes

públicos e do sistema bancário.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

71

Tabela 5: Distribuição processual por natureza de ação - TJRS (2009)

Natureza da Ação Quantidade

Direito Privado não especificado 133.806

Negócio jurídico bancário 90.659

Alienação fiduciária 84.159

Servidor público 53.967

Direito Público não especificado 28.636

Responsabilidade Civil 26.860

Direito Tributário 25.775

Previdência Pública 19.840

Seguro 12.973

Família 10.229

Previdência Privada 9.162

Arrendamento Mercantil 8.964

Contrato de cartão de crédito 6.097

Estatuto da Criança e do Adolescente 5.963

Acidente do Trabalho 5.030

Locação 4.343

Responsabilidade civil em Acidente de Trânsito 3.965

Sucessão 3.879

Promessa de compra e venda 3.727

Posse (bens imóveis) 2.354

Condomínio 2.124

Honorário de Profissional Liberal 1.712

Concurso Público 1.627

(continua)

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

72

Tabela 5: Distribuição processual por natureza de ação – TJRS (2009) - continuação

Natureza da Ação Quantidade

Ensino Particular 1.467

Licitação e contrato administrativo 1.301

Contrato do Sistema Financeiro de Habitação 1.160

União Estável 1.094

Outros Feitos 9470

TOTAL 560.343

Fonte: Relatório Anual 2009 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Esses dados, comparados com a participação dos mesmos atores na

justiça de primeira instância, demonstram uma taxa de recorribilidade muito

maior do que a apresentada nas ações envolvendo outros entes econômicos

ou apenas pessoas físicas. Daí percebe-se uma cultura de litígio entre os

macroatores econômicos. Entre os entes públicos, deve-se atentar para o fato

de que a lei processual determina o reexame necessário sempre que o Estado

for vencido em primeira instância. Ainda assim ,não deixa de surpreender a

forte presença das fazendas municipais.

Em relação ao movimento processual na segunda instância do Estado

de São Paulo, verifica-se valores muito mais expressivos, em comparação com

os outros dois tribunais observados, o que talvez possa ser explicado pelo fato

de São Paulo ser o principal centro populacional e econômico do país.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

73

Tabela 6: Movimento Judiciário TJSP (2009)

Fonte: Publicação no site do TJSP

Nos dados da demanda processual da segunda instância do Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo, observa-se o mesmo fenômeno verificado em

outros Estados, qual seja, uma predominância dos entes públicos, devido à

obrigatoriedade de recorrer que recai sobre eles sempre que vencidos na

primeira instância.

Por outro lado, no TJSP, a fatia representada pelos bancos e outros

grandes prestadores de serviços é bem reduzida (em comparação com o

TJMG, por exemplo), o que pode ser justificado pelo fato de que a maior parte

das ações em que figuram esses entes veicula demandas provenientes de

relações de consumo, as quais serão dirimidas nos Juizados Especiais.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

74

Gráfico 21: Demanda Processual por categoria de atores - Estado e Macroatores econômicos

Fonte: Publicação no site do TJSP em 29/09/2010, acerca das 100 instituições com mais processos na Justiça Estadual

Considerando apenas as demandas que envolvem o Estado, observa-se

que o Estado de São Paulo, em especial a Fazenda Pública do Estado,

reunindo causas de servidores públicos e execução fiscal, ocupa o lugar mais

proeminente dentre os usuários recorrentes. Esse cenário se repete em outros

tribunais.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

75

Gráfico 22: Demanda Processual por categoria de atores (Estado) - TJSP/2009

Fonte: Publicação no site do TJSP em 29/09/2010, acerca das 100 instituições com mais processos na Justiça Estadual

Em segundo lugar, encontram-se as prefeituras municipais. Dentre

estas, a Prefeitura de São Paulo concentra 50% das ações, o que é de se

esperar da maior cidade do país, que concentra grande parte da atividade

econômica nacional.

Gráfico 23: Demanda Processual por categoria de atores (Prefeituras) -

TJSP/2009

Fonte: Publicação no site do TJSP em 29/09/2010, acerca das 100 instituições com mais processos na Justiça Estadual

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

76

Em terceiro lugar, figura o governo federal. Neste grupo, o INSS

concentra mais de 99% das ações que tratam de benefício de aposentadoria e

pensão.

Diante dessas informações, é possível observar que a maior parte dos

litígios se encerra na primeira instância e que na segunda instância

predominam os entes públicos devido à obrigatoriedade de recorrer. Quanto

aos grandes atores econômicos, eles figuram nas turmas recursais com maior

proeminência.

Por fim, comparativamente, o que se observa é que o Tribunal de Justiça

de Minas Gerais, pelo menos durante o ano de 2009, obteve a menor taxa de

eficiência, embora – assim como os outros dois tribunais – tenha julgado um

maior número de processos do que os que foram distribúidos.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

77

Gráfico 24: Eficiência dos Tribunais (processos distribuídos X julgados) - 2009

Justiça Federal

Minas Gerais e Distrito Federal

Regulamentada pela Lei n. 5010, de 1966, a Justiça Federal brasileira se

organiza de forma autônoma e distinta dos demais âmbitos do judiciário

brasileiro. A Justiça Federal tem por competência o julgamento de ações em

que a União, as fundações, as empresas públicas federais e as autarquias da

União figurem na condição de autoras ou rés. Além disso, é de competência da

Justiça Federal o julgamento de questões de interesse da Federação.

As instâncias de primeiro grau da Justiça Federal são representadas

pelos juízos federais monocráticos e estão presentes em todo território nacional

por meio das seções judiciárias. Cada ente federado é contemplado por uma

seção judiciária, que é composta por subseções judiciárias, presentes em

cidades de médio e grande porte.

No que se refere à organização da segunda instância da Justiça Federal,

observa-se a existência de cinco regiões que contemplam todos os Estados

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

78

brasileiros, mas que não correspondem à divisão padrão instituída

territorialmente, ficando a critério da própria Justiça Federal a divisão dos

Estados pertencentes a cada região.

Figura 2: Mapa da Divisão Judiciário da Justiça Federal brasileira

Fonte: Site do Tribunal Regional Federal/1 Região

O presente relatório apresenta análises que se limitam aos dados

referentes ao movimento processual no Tribunal Regional Federal da Primeira

Região (TRF1), especificamente em relação aos recursos originados das

Seções de Minas Gerais e Distrito Federal. Os resultados apresentados a

seguir concentram-se em três vertentes de análise, sendo elas: o fluxo

processual de todos os recursos e daqueles de natureza econômica; os

temas/tipos de litígios mais frequentes (ainda no universo dos recursos de

natureza econômica); e os litigantes mais frequentes.

Observando os recursos originários de Minas Gerais, no TRF1, ao longo

dos últimos anos, verifica-se certa estabilidade em relação ao volume. Se

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

79

compararmos o volume dos que foram efetivamente julgados com o volume

total de recursos protocolados, ao longo dos anos, observamos também que

não há grandes alterações nessa relação, razão pela qual o volume de

recursos que permanece “em tramitação” (aguardando solução judicial) é muito

alto em comparação com as demais vertentes do fluxo processual, conforme se

observa na Tabela 7 abaixo.

Tabela 7: Fluxo Processual do TRF1 (2004-2009) (Recursos originários de Minas Gerais)

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

O panorama não se altera muito quando consideramos o fluxo

processual do TRF1, no mesmo período, em relação aos recursos originários

do Distrito Federal, conforme Tabela 8 abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

80

Tabela 8: Fluxo processual do TRF1 (2004-2009) (Recursos originários do Distrito Federal)

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Em relação aos recursos protocolados, no entanto, observa-se aumento

ano a ano; além disso, o volume de recursos em tramitação é muito maior em

relação aos julgados e protocolados, chegando, em alguns casos, a

representar um volume três vezes maior em comparação às demais vertentes

do fluxo processual (recursos distribuídos e julgados).

Nota-se também o baixo e estável volume de recursos julgados. No ano

de 2008, por exemplo, foram distribuídos 59.710 recursos, sendo que apenas

26.307 foram julgados. Além disso, aproximadamente 160 mil processos

permaneciam em tramitação, naquele ano, no TRF1. Anualmente, quase duas

vezes mais recursos são protocolados do que julgados, o que colabora para a

ampliação do número de processos que permanecem em tramitação, ou seja,

sem resolução.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

81

Por outro lado, se recortarmos os dados para analisarmos apenas os

recursos referentes a causas de natureza econômica, os dados se alteram

substancialmente.

Segundo a organização da Justiça Federal, os recursos protocolados,

em tramitação e julgados, referentes a causas de natureza econômica, são

classificados em três grandes grupos de tipo de litígio: (1)

Contrato/Civil/Comercial/Econômico, que engloba os recursos que versam

sobre Crédito Rotativo, Linha de Crédito, Mútuo Habitacional, Empréstimo,

Conta Corrente, Cartão de Crédito, Cheque Bancário, Prestação de Serviços,

Arrendamento Mercantil, Compra e Venda, Extrato Bancário, Consórcio,

Seguro, Agendamento Eletrônico, Depósito, Locação e Penhor; (2) Intervenção

no Domínio Econômico, que engloba os recursos que versam acerca de

Expurgos Inflacionários e Controle de Preços; (3) Contratos de

Consumo/Direito do Consumidor, que engloba os recursos referentes a

relações de consumo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

82

Tabela 9: Fluxo Processual do TRF1 (2005-2009) Recursos de natureza econômica originários de Minas Gerais

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Observa-se um aumento expressivo no volume de recursos protocolados

no ano de 2007, seguido por uma considerável diminuição desse volume nos

anos seguintes que, no entanto, ainda são muito superiores aos patamares

anteriores.

Em relação aos recursos julgados, é notório o aumento de volume ano a

ano de maneira regular. Contudo, a comparação entre essas duas vertentes do

fluxo processual demonstra que o volume de recursos julgados ainda é

infinitamente inferior ao de recursos protocolados, tendo representado algo em

torno de 10% nos anos de 2007 e 2008, ampliando-se para pouco mais de 30%

no ano de 2009, daí porque o volume dos processos em tramitação é bastante

superior àqueles protocolados e julgados.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

83

Tabela 10: Fluxo Processual do TRF1 (2005-2009) Recursos de natureza econômica originários do Distrito Federal

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Quanto ao fluxo processual referente aos recursos vinculados a causas

econômicas, originários da Seção Judiciária do Distrito Federal, nota-se um

crescente aumento nas três vertentes: ano a ano mais recursos são

protocolados, amplia-se o número de recursos julgados, mas também o

número de recursos em tramitação, provavelmente em razão da amplitude do

acervo já constituído anteriormente.

A análise dos dados acima explicitados mostra um crescimento no

volume de recursos protocolados a partir de 2007, números que têm uma

pequena baixa nos anos seguintes. No entanto, assim como no caso de MG, o

volume de recursos protocolados continua a significar um expressivo aumento

relativo aos anos anteriores a 2007.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

84

No ano de 2006 é possível identificar um significativo aumento no

número de recursos julgados, seguido por uma pequena diminuição nesse

volume. Posteriormente, é possível perceber um aumento crescente e regular.

Por outro lado, se considerarmos os recursos de natureza econômica

por grupos de causas (assuntos/temas), em Minas Gerais, observamos que a

maioria desses recursos se insere na categoria Contrato Civil, conforme

Gráfico 22 abaixo, o qual indica que 45% do total de recursos protocolados

estão nessa categoria, enquanto 36% são representativos do grupo

Intervenção do Domínio Econômico/Administrativo, e apenas 19% do total

referem-se a Contratos de Consumo/Direitos do Consumidor.

Gráfico 25: Demanda Processual por Grupos de Ação (Assunto)

Recursos de natureza econômica originários de Minas Gerais

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

85

Desagregados, os dados revelam configuração pouco semelhante à

encontrada nos dados agregados. O assunto mais recorrente entre os recursos

de natureza econômica que são protocolados é Expurgos Inflacionários,

representando 36% do total de recursos dessa natureza. Na sequência, nota-

se o grande volume de recursos referentes a Conta Poupança/Contrato Civil,

os quais representam 21% do total de recursos de natureza econômica,

seguidos por Expurgos Inflacionários/Direito do Consumidor e Empréstimos-

Contrato Civil, representativos de 19% e 12%, respectivamente, do total de

recursos de natureza econômica.

Gráfico 26: Demanda Processual por Grupos de Ação (Dados desagregados) - Recursos de natureza econômica originários de Minas Gerais

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

86

Em relação ao volume de recursos de natureza econômica protocolados

na Justiça Federal originários da Seção Judiciária do Distrito Federal, observa-

se acentuado volume de recursos que estão inseridos na categoria Contratos

Civis, com quase 70% do total de recursos protocolados. Já Intervenção no

Domínio Econômico/Administrativo, com 28%, é o segundo que mais aparece.

Os demais 3% se enquadram no tipo de litígio Contratos de Consumo.

Gráfico 27: Demanda Processual por Grupos de Ação (Assunto) Recursos de natureza econômica originários do Distrito Federal

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Por outro lado, a partir da análise dos dados desagregados, isto é,

classificados por tipo de litígios mais específicos, é possível observar que a

maioria dos recursos protocolados são aqueles que correspondem à categoria

Conta Poupança, com 24%, seguidos por aqueles representados por Expurgos

Inflacionários, com 17% do total de recursos de natureza econômica. E,

representando 12% do total de recursos dessa natureza, aparecem os

relacionados a litígios acerca de Linha de Crédito, conforme Gráfico 25, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

87

Gráfico 28: Demanda Processual por Grupos de Ação (Assunto) Recursos de natureza econômica originários do Distrito Federal

Fonte: dados fornecidos pelo TRF1

Os dados que seguem referem-se não mais ao tipo de recurso que

aporta no TRF1 ou ao fluxo processual, mas especificamente aos litigantes

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

88

mais frequentes, aqueles que fazem uso recorrente do Tribunal Regional

Federal da primeira região.

Tabela 11: Litigantes Frequentes no TRF1 - 2009 (Recursos originários de Minas Gerais)

LITIGANTES MAIS FREQUENTES

Litigantes Números absolutos Porcentagem

CAIXA ECONÔMICA 5191 19,86

PODER JUDICIÁRIO 718 2,75

BANCO CENTRAL 554 2,12

CORREIOS ECT 319 1,22

INSS 316 1,21

RECEITA FEDERAL 244 0,93

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA 219 0,84

UNIÃO 210 0,80

TRANSPORTADORAS 77 0,29

SINDICATOS 72 0,28

PREFEITURAS 60 0,23

Demais bancos públicos 56 0,21

OUTROS 53 0,20

MINISTERIO PUBLICO FEDERAL 48 0,18

UNIVERSIDADE FEDERAL 45 0,17

BANCO DO BRASIL 38 0,15

ESTADO DE MINAS GERAIS 28 0,11

BANCOS PRIVADOS 23 0,09

FAZENDA ESTADUAL 11 0,04

CARTAO DE CREDITO 8 0,03

FUNDOS NACIONAIS 6 0,02

USIMINAS 6 0,02

BELGO MINEIRA 5 0,02

DEMAIS LITIGANTES 17832 68,22

TOTAL DE PROCESSOS 26139 100,00

Fonte: Dados recebidos do TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

89

Gráfico 29: Litigantes Frequentes no TRF1 - 2009 (Recursos originários de Minas Gerais)

Fonte: Dados recebidos TRF1

A análise sistemática dos recursos em tramitação no Tribunal Regional

Federal/1ª Região, originários da Seção Judiciária de Minas Gerais, mostra que

o maior litigante é a Caixa Econômica Federal, sendo parte em quase 20% dos

recursos em tramitação.

Outros grandes litigantes são o Banco Central do Brasil, a Empresa de

Correios e Telégrafos e o Instituto Nacional de Seguridade Social. A Receita

Federal, as instâncias de administração indireta e a União Federal aparecem

como parte nos recursos em quase 1% do total.

É importante ressaltar que, na categoria Demais Litigantes, encontram-

se especialmente pessoas físicas.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

90

Tabela 12: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Litigantes N. Absolutos

Porcentagem

EXPURGOS INFLACIONARIOS / PLANOS ECONOMICOS - BANCARIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

2487 47,91

CREDITO ROTATIVO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1255 24,18

LINHA DE CREDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

434 8,36

MUTUO HABITACIONAL -CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

220 4,24

EMPRESTIMO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

177 3,41

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

173 3,33

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

130 2,50

CARTAO DE CREDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

76 1,46

CHEQUE BANCARIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

71 1,37

PRESTAÇAO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

39 0,75

ARRENDAMENTO MERCANTIL - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

37 0,71

CRUZADOS NOVOS/BLOQUEIO - EXPURGOS INFLACIONARIOS/PLANOS ECONOMICOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO – ADMINISTRATIVO

37 0,71

COMPRA E VENDA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

34 0,65

EXTRATO BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

8 0,15

CONSORCIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 0,08

SEGURO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,04

EXPURGOS INFLACIONARIOS/PLANOS ECONOMICOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO - ADMINISTRATIVO

1 0,02

AGENDAMENTOELETRONICO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,02

CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO - CIVIL 1 0,02

CONTROLE DE PREÇOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,02

DEPOSITO – CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,02

LOCAÇAO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,02

PENHOR - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,02

TOTAL 5191 100,00 Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

91

No que toca os dados desagregados dos recursos em tramitação no

TRF1/MG, que têm como parte a Caixa Econômica Federal, é possível

observar que o tema recorrente é Expurgos inflacionários/Planos Econômicos,

Bancários, Contratos de Consumo, Direito do Consumidor, representando

quase 48% do total; seguido por Crédito Rotativo; Contratos

Civil/Comercial/Econômico/Financeiro, responsável por 24%; e em seguida

Linha de crédito, Contratos Civil/Comercial/Econômico/Financeiro, Civil, com

pouco mais de 8% do total, conforme Tabela 12, acima.

Por outro lado, ao avaliarmos os dados agregados nas três grandes

classificações por tipos de litígios de causas econômicas, é possível mensurar

ainda a persistência do tema Direito do Consumidor, representativo de 48% do

total de recursos de natureza econômica que envolve a CEF. Contudo, o grupo

de recursos agregados pelo tema Contrato Civil Comercial e Econômico

representa mais da metade (51%) do total dos recursos, conforme Gráfico 27,

abaixo.

Gráfico 30: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

92

Por outro lado, considerando os recursos de natureza econômica em

que o Banco Central do Brasil é parte, observa-se que há uma distribuição um

pouco mais uniforme em comparação com aqueles dados referentes à

participação da Caixa Econômica Federal.

De fato, do total de recursos em tramitação, 60% são classificados como

sendo Direito do Consumidor, enquanto pouco mais de 23% estão englobados

pela categoria Intervenção no Domínio Econômico Administrativo, seguida pela

categoria Contratos Civis, representativa de 17% do total, conforme Gráfico 28.

Gráfico 31: Demanda Processual por categoria de parte (Banco Central) e tipo

de ação

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

93

Em relação aos dados desagregados, observamos que o volume de

recursos classificados como Direito do Consumidor representa quase 60%,

Expurgos Inflacionários/Intervenção no Domínio Econômico Administrativo

pouco mais de 22,7 %, e Conta Poupança/Contratos Civis quase 15%,

conforme Tabela 13.

Tabela 13: Demanda Processual por categoria de parte (Banco Central) e tipo

de ação

BANCO CENTRAL

Litigantes N. Absolutos

Porcentagem

EXPURGOS INFLACIONARIOS / PLANOS ECONOMICOS - BANCARIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

330 59,57

CRUZADOS NOVOS/BLOQUEIO - EXPURGOS INFLACIONARIOS/PLANOS ECONOMICOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO – ADMINISTRATIVO

126 22,74

CONTA POUPANÇA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

82 14,80

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

5 0,90

CARTAO DE CREDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,36

CHEQUE BANCARIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,36

CONTROLE DE PREÇOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO – ADMINISTRATIVO

2 0,36

MUTUO HABITACIONAL -CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,36

PROAGRO - INCENTIVO - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO – ADMINISTRATIVO

2 0,36

CONSORCIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,18

TOTAL 554 100,00 Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Em relação aos recursos de natureza econômica que têm como parte a

Empresa de Correios e Telegráficos, pode-se observar, conforme Tabela 14, os

seguintes temas, presentes nesses recursos: o primeiro deles, identificado em

quase 98% dos dados analisados, consiste em Contratos Civis; 4% do total são

referentes a Crédito Rotativo e quase 2% a Linha de Créditos. Já os recursos

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

94

que têm por tipo de litígio Direito do Consumidor representam mais de 2% do

total.

Tabela 14: Demanda Processual por categoria de parte (ECT) e tipo de ação

CORREIOS

Tipos de Litígio N. Absolutos Porcentagem

PRESTAÇAO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO - CIVIL

293 91,85

CREDITO ROTATIVO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO - CIVIL

12 3,76

EXPURGOS INFLACIONARIOS / PLANOS ECONOMICOS - BANCARIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

6 1,88

LINHA DE CREDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO - CIVIL

5 1,57

CHEQUE BANCARIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO - CIVIL

3 0,94

TOTAL 319 100 Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Considerando os dados agregados, observa-se que 98% do total de

recursos que envolvem a ECT veiculam temas categorizados como Contrato

Civil e Econômico, conforme se observa no Gráfico 29, abaixo.

Gráfico 32: Demanda Processual por categoria de parte (ECT) e tipo de ação

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

95

Por fim, a análise dos dados referentes aos recursos de natureza

econômica em que o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) figura

como parte mostra que 46% dos referidos recursos veiculam temas atrelados

ao Direito do Consumidor, sendo todos eles relacionados aos chamados

expurgos inflacionários, conforme dados ilustrados pelo Gráfico 30 e Tabela 15.

Gráfico 33: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

De fato, os recursos em tramitação, referentes a Expurgos Inflacionários,

são o segundo maior tipo de litígio entre os dados do INSS (ver Tabela 15

abaixo), no entanto, inserem-se em causas de Intervenção do Domínio

Econômico e, juntamente com os demais recursos enquadrados no referente

tipo de litígio, representam 36% do total (ver Gráfico 30, acima). Por fim,

aparecem os recursos referentes a Contrato Civil, com os demais 18%.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

96

Tabela 15: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação

INSS

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

EXPURGOS INFLACIONARIOS / PLANOS ECONOMICOS - BANCARIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

147 46,52

EXPURGOS INFLACIONARIOS/PLANOS ECONOMICOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO - ADMINISTRATIVO

111 35,13

EMPRESTIMO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

22 6,96

MUTUO HABITACIONAL -CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

22 6,96

CONTA POUPANÇA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 1,27

EXPURGOS INFLACIONARIOS/PLANOS ECONOMICOS - INTERVENÇAO NO DOMINIO ECONOMICO – ADMINISTRATIVO

2 0,63

CARTAO DE CREDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,63

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,63

PRESTAÇAO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,63

PREVIDENCIA PRIVADA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONOMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,63

TOTAL 316 100,00 Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Se considerarmos, por outro lado, os recursos em tramitação no TRF1

no ano de 2009, originários do Distrito Federal, observamos que, apesar de ser

um universo menor, que totaliza 9.120 recursos, a composição dos recursos

em tramitação no Tribunal Regional Federal/1ª Região, referente à Seção

Judiciária do Distrito Federal, no ano de 2009, não difere muito do que foi

apresentado anteriormente quanto à Seção Judiciária de Minas Gerais.

Sumariamente, pode-se dizer que os litigantes mais frequentes são

praticamente os mesmos, nos dois casos, apenas em proporções diferentes.

Conforme Tabela 16, dos 9.120 recursos em tramitação, quase 62 %

têm como parte a Caixa Econômica Federal. A União aparece como segundo

maior litigante em mais de 8% dos recursos em tramitação. Chama atenção a

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

97

larga participação da Fundação Habitacional do Exército (FHE), que é parte em

quase 7% dos recursos. É possível pensar que se trata de um fato isolado, já

que a Fundação Habitacional do Exército não aparece como litigante frequente

nos anos anteriores.

O Banco Central e a Empresa de Correios e Telégrafos são parte em

torno de 1% dos recursos em tramitação; a Receita Federal e o Ministério

Público aparecem entre os litigantes recorrentes, com, respectivamente, 0,63%

e 0,13% do total de recursos analisados.

Quanto ao conjunto dos bancos, eles representam 2,8% dos recursos,

sendo que, desse total, 1% representa a participação de bancos privados.

Tabela 16: Litigantes frequentes no TRF1 - 2009 (Recursos originários do Distrito Federal)

LITIGANTES MAIS FREQUENTES

Litigantes números absolutos porcentagem

Caixa econômica 5636 61,80

União 697 7,64

FHE- fundação habitacional do exército 631 6,92

Administração indireta 354 3,88

INSS 100 1,10

Banco central 88 0,96

Correios ECT 88 0,96

Bancos estaduais 77 0,84

Bancos privados 66 0,72

Receita federal 57 0,63

Sindicatos 50 0,55

Prefeituras 30 0,33

Universidades federais 27 0,30

Banco do Brasil 24 0,26

Empresas de comunicação 13 0,14

Ministério Público Federal 12 0,13

Demais bancos públicos 8 0,09

Entes federados 7 0,08

Poder judiciário 7 0,08

Demais atores 1148 12,59

Total 9120 100,00

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

98

Quando confrontamos, por outro lado, a participação dos litigantes mais

frequentes com o tipo de demanda em que estão envolvidos, temos os

seguintes resultados:

Tabela 17: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

EMPRÉSTIMO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2955 52,43

LINHA DE CRÉDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

826 14,66

COMPRA E VENDA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

441 7,82

CONTA POUPANÇA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

436 7,74

CRÉDITO ROTATIVO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

346 6,14

MÚTUO HABITACIONAL -CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

180 3,19

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS / PLANOS ECONÔMICOS - BANCÁRIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

142 2,52

CHEQUE BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

74 1,31

CARTÃO DE CRÉDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

70 1,24

CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

36 0,64

EXTRATO BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

36 0,64

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

34 0,60

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

24 0,43

(continua)

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

99

Tabela 17: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação

(continuação)

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

DEPÓSITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

17 0,30

SEGURO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

5 0,09

CONSÓRCIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 0,07

LOCAÇÃO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

3 0,05

ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,04

SAFRA (ARMAZENAGEM / PREÇO MÍNIMO) - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,04

ARRENDAMENTO MERCANTIL - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,02

CRUZADOS NOVOS/BLOQUEIO - EXPURGOS INFLACIONÁRIOS/PLANOS ECONÔMICOS - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,02

MANDATO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,02

Fonte: Dados enviados pelo TRF1

A apreciação dos recursos em tramitação no TRF1, originários da Seção

Judiciária do Distrito Federal, indica como mais frequentes três tipos de litígios:

Empréstimo, Linha de Crédito e Compra e Venda/Contratos Civis,

representando, respectivamente, 52,4%, 14,6% e 7,8% do total de recursos em

que a CEF é parte, conforme Tabela 17, acima.

Ao mensurar os dados agregados, é possível identificar Contratos Civis

como representativo de 97% do total de recursos, seguido por Direito do

Consumidor, 3%, conforme Gráfico 31, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

100

Gráfico 34: Demanda Processual por categoria de parte (CEF) e tipo de ação

Fonte: Dados fornecidos pelo TRF1

Quando consideramos os recursos originários do Distrito Federal, nos

quais a União Federal é parte, observamos que 30% destes estão classificados

em Conta Poupança, seguidos por 13,6% de Prestação de Serviços, ambos

enquadrados em Contratos Civis, conforme Tabela 18, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

101

Tabela 18: Demanda Processual por categoria de parte (União) e tipo de ação

UNIÃO

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

CONTA POUPANÇA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

208 29,84

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

95 13,63

DESEMBARAÇO ADUANEIRO - IMPORTAÇÕES - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

68 9,76

EMPRÉSTIMO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

60 8,61

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS/PLANOS ECONÔMICOS - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

47 6,74

CONTROLE DE PREÇOS - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

44 6,31

IMPORTAÇÕES - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

41 5,88

COMPRA E VENDA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

32 4,59

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS / PLANOS ECONÔMICOS - BANCÁRIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

24 3,44

EXTRATO BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

16 2,30

CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

14 2,01

MÚTUO HABITACIONAL -CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

8 1,15

CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO (CIDE) - CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS - CONTRIBUIÇÕES - TRIBUTÁRIO - DIREITO TRIBUTÁRIO

6 0,86

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 0,57

DEPÓSITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 0,57

LINHA DE CRÉDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 0,57

PROAGRO - INCENTIVO - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

4 0,57

(continua)

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

102

Tabela 18: Demanda Processual por categoria de parte (União) e tipo de ação

(continuação)

UNIÃO

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

SEGURO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

4 0,57

CONTROLE DE ABASTECIMENTO - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

3 0,43

LOCAÇÃO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,29

ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,14

CARTÃO DE CRÉDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,14

CARTEL - PROTEÇÃO À LIVRE CONCORRÊNCIA - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO –ADMINISTRATIVO

1 0,14

CONSÓRCIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,14

CRUZADOS NOVOS/BLOQUEIO - EXPURGOS INFLACIONÁRIOS/PLANOS ECONÔMICOS - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,14

MOEDA ESTRANGEIRA - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,14

PENHOR - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,14

PROTEÇÃO À LIVRE CONCORRÊNCIA - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,14

SAFRA (ARMAZENAGEM / PREÇO MÍNIMO) - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,14

TOTAL 697 100,00

Fonte: Dados encaminhados pelo TRF1

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

103

Agregados, os dados apontam que 66% do total de recursos veiculam

temas referentes a Contratos Civis. Na sequência, 30% dos recursos em

tramitação se enquadram entre os recursos de Intervenção do Domínio

Econômico, seguido por 3% daqueles referentes a Direito do Consumidor,

conforme Gráfico 32, abaixo.

Gráfico 35: Demanda Processual por categoria de parte (União) e tipo de ação

Fonte: Dados obtidos junto ao TRF1

Ao confrontarmos a participação da administração indireta (autarquias e

fundações) no volume total de recursos originários do Distrito Federal, com o

tipo de demanda que veiculam, observamos que se destacam aqueles que se

referem a Prestação de Serviços, com 18,1%, e a Conta Poupança e a Conta

Corrente, com 17,2% e 15,5%, respectivamente, conforme Tabela 19, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

104

Tabela 19: Demanda Processual por categoria de parte (Administração Indireta) e tipo de ação

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

64 18,08

CONTA POUPANÇA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

61 17,23

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

55 15,54

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS / PLANOS ECONÔMICOS - BANCÁRIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

39 11,02

DEPÓSITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

33 9,32

CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

14 3,95

EMPRÉSTIMO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

13 3,67

IMPORTAÇÕES - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

11 3,11

SEGURO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

9 2,54

COMPRA E VENDA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

8 2,26

EXTRATO BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

8 2,26

CHEQUE BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

7 1,98

CRÉDITO ROTATIVO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

5 1,41

LOCAÇÃO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

5 1,41

DESEMBARAÇO ADUANEIRO - IMPORTAÇÕES - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

3 0,85

ARRENDAMENTO MERCANTIL - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,56

CONTROLE DE PREÇOS - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

2 0,56

INCENTIVO - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

2 0,56

continua

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

105

Tabela 19: Demanda Processual por categoria de parte (Administração Indireta) e tipo de ação

(continuação)

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

LINHA DE CRÉDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,56

MANDATO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,56

MÚTUO HABITACIONAL -CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,56

SAFRA (ARMAZENAGEM / PREÇO MÍNIMO) - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

2 0,56

CONSÓRCIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,28

CONTROLE DE ABASTECIMENTO - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO - ADMINISTRATIVO

1 0,28

PERDIMENTO DE BENS - IMPORTAÇÕES - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,28

PREVIDÊNCIA PRIVADA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO – CIVIL

1 0,28

PROAGRO - INCENTIVO - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO – ADMINISTRATIVO

1 0,28

TOTAL 354 100,00

Fonte: Dados encaminhados pelo TRF1

Os dados agregados nas três vertentes classificatórias de tipos de litígio

apontam para a proeminência da participação da Administração Indireta em

recursos que veiculam assuntos ligados a Contratos Civis, 83%, seguidos por

Direito do Consumidor e Intervenção do Domínio Econômico, referentes a 11%

e a 6% do total de recursos, respectivamente, conforme ilustra o Gráfico 33

abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

106

Gráfico 36: Demanda Processual por categoria de parte (Administração Indireta) e tipo de ação

Fonte: Dados enviados pelo TRF1

No que toca o Instituto Nacional de Seguridade Social, observa-se que

cerca de 50% dos recursos referem-se a Conta Poupança/Contrato Civil,

enquanto 15% enquadram-se na categoria Expurgos Inflacionários dentro do

grupo temático Intervenção do Domínio Econômico. Os outros tipos de litígios

mais recorrentes, ambos com 7%, são referentes aos seguintes temas: Extrato

Bancário e Prestação de Serviços, todos dois enquadrados na categoria

Contratos Civis, conforme Tabela 20, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

107

Tabela 20: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de

ação

INSS

Litigantes N. Absolutos Porcentagem

CONTA POUPANÇA - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

51 51

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS/PLANOS ECONÔMICOS - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO - ADMINISTRATIVO

15 15

EXTRATO BANCÁRIO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

7 7

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

7 7

EMPRÉSTIMO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

6 6

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS / PLANOS ECONÔMICOS - BANCÁRIOS - CONTRATOS DE CONSUMO - DIREITO DO CONSUMIDOR

4 4

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

2 2

CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

2 2

DEPÓSITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

2 2

CONTA CORRENTE - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

1 1

LINHA DE CRÉDITO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

1 1

LOCAÇÃO - CONTRATOS/CIVIL/COMERCIAL/ ECONÔMICO E FINANCEIRO - CIVIL

1 1

PERDIMENTO DE BENS - IMPORTAÇÕES - INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO - ADMINISTRATIVO

1 1

TOTAL 100 Fonte: Dados obtidos junto ao TRF1

Agregados, os dados apresentam configurações não muito distintas do

que foi exposto acima: observa-se que 80% são recursos referentes a

Contratos Civis. Já aqueles referentes a Intervenção do Domínio Econômico

representam 16%. Por fim, 4% dos recursos enquadram-se entre os atrelados

a Direito do Consumidor, como bem ilustra o Gráfico 34, abaixo.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

108

Gráfico 37: Demanda Processual por categoria de parte (INSS) e tipo de ação

Fonte: Dados encaminhados pelo TRF1

Feitas as principais considerações acerca dos grandes litigantes

referentes a causas econômicas em tramitação no TRF1 (Seção Judiciária do

Distrito Federal), é interessante mencionar sinteticamente dados de tipos de

litígios relativos a outros importantes litigantes.

Dentre aqueles cujos recursos incluem-se majoritariamente na categoria

Contratos Civis, destacam-se o Banco Central, a Empresa de Correios e

Telégrafos, o Poder Judiciário, os Estados federados e as Prefeituras

Municipais. Entretanto, nos recursos em que o Ministério Público é parte, todos

estão categorizados como Crimes contra a Ordem Econômica. Considerando

os recursos em que a Receita Federal é parte, observa-se a predominância de

recursos que veiculam temas incluídos na categoria Intervenção no Domínio

Econômico.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

109

IV – Considerações finais

É possível apresentar três grandes conclusões preliminares sobre a

organização do sistema de justiça e o seu uso no Brasil.

A primeira conclusão diz respeito à territorialidade dos conflitos e sua

relação com a organização da justiça. Os mapas sobre a localização das

comarcas apontam em duas direções: em primeiro lugar, de uma coincidência

entre a organização das comarcas e altos índices de desenvolvimento humano.

Em segundo lugar, eles apontam na direção de uma não coincidência entre

baixo IDH e sede de comarca. Essa não coincidência é ainda mais grave

quando constatamos a ausência da defensoria pública em uma porção

considerável dos municípios que não são sedes de comarcas. Em conjunto, a

localização territorial do acesso à justiça no Brasil aponta para um problema

grave, a saber, quanto menor a renda e a educação dos brasileiros, expressa

pelo IDH, menos eles podem contar com o sistema de justiça, ao passo que a

lógica da justiça social deveria ser contrária, uma vez que os locais onde a

pobreza incide de modo mais intenso são também os locais onde a população

de baixa renda sofre injustiças de difícil reparação.

Nesse sentido, nos parece importante alterar a lei de formação de

comarcas, estabelecendo critérios mais “finos”, além da densidade

populacional, para determinar a formação de comarcas. O acesso da

população de baixa renda ao sistema formal de justiça é fundamental para que

este desempenhe um papel positivo na alteração das fortes desigualdades que

ainda afligem o país, sendo a “cartografia da justiça” um elemento essencial

para tanto. Como defendeu Milton Santos, “as divisões e subdivisões

territoriais, através da conformação dos Estados, municípios e outras

configurações, não são apenas uma moldura, um dado passivo, mas

constituem um elemento ativo no quadro de vida. Das relações territoriais

depende cada vez mais a orientação e a eficácia das demais relações sociais”

(Santos, 2000: 34). No caso do acesso à justiça, o território se mostra mais

uma vez local de produção de fortes desigualdades.

Em segundo lugar, vale a pena observar o papel que o Estado e o

mercado desempenham ao acessar de modo recorrente o sistema judiciário.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

110

Os dados apresentados para os Estados do Rio Grande do Sul e São Paulo e

para a cidade de Belo Horizonte são contundentes. As fazendas municipais e

estaduais são hoje os grandes usuários do sistema judiciário brasileiro. No

caso de Belo Horizonte, a fazenda municipal representa 38% do total das

ações na comarca da cidade. No caso do Rio Grande do Sul, o Estado

representa 60% do total das ações. No caso do estado de São Paulo, as

fazendas municipais também representam perto de 60% do total das ações.

Não foi possível ainda estudar o conteúdo dessas ações para além da

observação de uma enorme incidência de feitos tributários, cujo valor ainda não

sabemos. No que toca o mercado, vale a pena observar a enorme presença

das empresas do setor financeiro no total das ações. As ações de bancos, de

outras empresas ligadas ao sistema financeiro e de concessionários de

serviços públicos, em especial de telefônicas, se destacam no conjunto das

causas analisadas. No caso da comarca de Belo Horizonte, elas representam

6% do total das ações e, no caso do Rio Grande do Sul, elas representam 16%

do total das ações. Quando olhamos para os recursos, percebemos um

aumento desproporcional da presença de grandes atores financeiros.

Essa situação acaba por ensejar uma “colonização do Poder Judiciário”,

tendo o Estado e os macroatores econômicos como principais protagonistas.

No que toca o mercado, é preciso alertar que essa reincidência dos atores

econômicos, como mostrou Marc Galanter num estudo precursor (1974), pode

trazer efeitos perversos. Afinal, esses litigantes habituais adquirem uma série

de vantagens: “1) maior experiência com o Direito possibilita-lhes melhor

planejamento do litígio; 2) o litigante habitual tem economia de escala, porque

tem mais casos; 3) o litigante habitual tem oportunidade de desenvolver

relações informais com os membros da instância decisora; 4) ele pode diluir os

riscos da demanda por maior número de casos; e 5) pode testar estratégias

com determinados casos, de modo a garantir expectativa mais favorável em

relação a casos futuros” (Cappelletti, 1998: 25). No que toca o Estado, é

preciso balancear a sua ação, de modo que ele não acabe se constituindo no

principal obstáculo ao próprio acesso á justiça. Uma política de solução

administrativa de causas fazendárias municipais, por exemplo, poderia

contribuir para desafogar o volume de processos. Nesse sentido, como sugere

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

111

Boaventura Santos, é preciso instaurar um processo de desjudicialização,

sendo o estudo comparado um dos melhores caminhos. Ele cita o caso da

Dinamarca, onde ações que não exigem complexidade jurídica, como a

cobranças de dívidas, são resolvidas nas próprias secretarias dos tribunais

(2007: 28). Este pode ser um passo inicial para um pacto de desobstrução da

justiça brasileira.

Em terceiro lugar, vale a pena mencionar que, até este momento, são

poucas as evidências que apontam na direção de um uso mais cidadão do

sistema judiciário, ainda que algumas causas no Rio Grande do Sul sugiram

um número um pouco maior de ações envolvendo os cidadãos e o sistema de

previdência do Estado. No entanto, os locais de maior incidência de

desigualdade social e os conflitos gerados pela desigualdade ainda não

encontram um respaldo forte no sistema de justiça, devido, entre outras coisas,

à sua distribuição desigual no território, conforme apontaram os dados deste

relatório.

Pelo menos em um sentido, a judicialização da política foi identificada

com a atuação mais garantista do Poder Judiciário que, por meio de uma

reinterpretação do direito ordinário a partir do texto constitucional, permitia a

inclusão de setores historicamente discriminados, pelo reconhecimento de um

conjunto de direitos de cidadania. Contudo, se a judicialização da política

reflete, de fato, a crescente utilização do judiciário como meio de resolução de

conflitos e desigualdades sociais, nas democracias liberais contemporâneas, a

incidência de conflitos envolvendo setores organizados da sociedade civil

deveria ser mais evidente. Até onde avançamos não foi possível identificar o

crescente protagonismo social e político dos tribunais com o estabelecimento

de um novo padrão de intervencionismo judicial, assente em um “entendimento

mais amplo e profundo do controle de legalidade, que inclui, por vezes, a

reconstitucionalização do direito ordinário, como meio de fundar um garantismo

mais ousado dos direitos dos cidadãos” (Santos, 1996: 20).

É certo que a expansão do sistema judiciário, expressa pelo aumento do

número de processos, tal qual apontam os dados coletados, não

necessariamente se traduz em ampliação do acesso à justiça, que passa pela

análise mais aprofundada do processo de ampliação da cidadania e do acesso

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

112

ao judiciário como estratégia de acesso aos direitos (Rifiotis; Matos, 2010). Até

o presente momento, entretanto, os dados que coletamos não nos permitem

afirmar a existência desse processo no Brasil; isto é, a organização do Poder

Judiciário no território brasileiro e a presença recorrente do Estado e de atores

macroeconômicos, em demandas individuais, indicam a persistência de uma

lógica organizada em torno do binômio civil-contratual ou criminal-controle

social.

Ainda não encontramos no sistema de justiça no Brasil uma presença,

expressa em dados quantitativos sobre a mobilização do judiciário por causas,

que aponte mais claramente para a inclusão cidadã. Para concluir, acreditamos

que esse conjunto de medidas propostas neste relatório pode produzir uma

maior democratização territorial e associar de modo mais forte, mais

democrático e mais justo a cidadania e o sistema de justiça no país.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

113

APÊNDICES

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

114

APÊNDICE 1

NOTA METODOLÓGICA

Tendo em vista os objetivos de pesquisa estabelecidos em “Para uma

Nova Geografia da Justiça”, a coleta dos dados foi, inicialmente, circunscrita às

estruturas judiciais estaduais de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo,

bem como à estrutura da justiça federal na 1ª Região.

Em relação à justiça estadual no Rio Grande do Sul, os dados foram

enviados pela Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado, em consonância

com solicitação feita pelo Observatório da Justiça. Nesse caso, os dados

refletem a dinâmica de atuação da justiça estadual, em primeira e em segunda

instâncias, em todo território do Estado, incluídos os dados referentes aos

Juizados Especiais.

Em Minas Gerais, os dados foram coletados diretamente a partir de

relatórios publicados do site do Tribunal de Justiça do Estado, no que se refere

à segunda instância e à comarca de Belo Horizonte. A metodologia

estabelecida não permitiu uma coleta mais ampla dos dados, mas uma

solicitação foi encaminhada ao setor competente do TJMG para que fosse

franqueado acesso mais abrangente ao Observatório da Justiça.

Inicialmente, buscou-se construir uma lista com os supostos usuários

mais frequentes do judiciário estadual em Minas Gerais, a partir de pesquisas

já realizadas por outros órgãos e de discussões com os demais membros do

Observatório da Justiça Brasileira e com vários funcionários do Poder Judiciário

em Minas Gerais. O passo seguinte foi levantar o real número de processos

existentes em nome de nossa lista de atores, o que foi realizado

artesanalmente, a partir dos dados disponíveis no site do TJMG.

Os dados referentes ao fluxo processual dos Juizados Especiais foram

coletados separadamente, tendo em vista o fato de não serem disponibilizados

pelo portal do TJMG. Nesse caso, um conjunto genérico de dados nos foi

enviado diretamente pela Presidência dos Juizados Especiais de Consumo.

Enfim, com relação aos dados referentes à justiça estadual de São

Paulo, eles foram enviados em consonância com solicitação encaminhada à

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

115

presidência do TJSP e abrangem o movimento processual no próprio tribunal e

também na primeira instância do Estado.

Quanto à Justiça Federal, a coleta de dados foi feita a partir tanto dos

relatórios publicados no site do TRF (“Transparência em Números”) quanto a

partir de dados enviados pelo próprio tribunal, mediante solicitação formal à

Divisão de Estatística. Devido ao imenso número de informações que o

universo empírico inicial abordava, foi necessário um recorte e, assim, as

informações sobre fluxo processual, grandes litigantes e temas da Justiça

Federal, apesar de contemplados em primeira e segunda instâncias, se

restringiram aos litígios de causas econômicas e à seção judiciária de Minas

Gerais e do Distrito Federal.

Os elementos referentes ao volume de processos julgados, em

tramitação e protocolados na Justiça Federal, foram coletados a partir dos

dados disponíveis no site do TRF1; tais dados estão separados por jurisdição

(primeiro e segundo graus), por ano, por órgão julgador e por subseção

judiciária. No entanto, não há qualquer tipo de comparação ou agregação entre

os dados, de modo que os gráficos e tabelas gerados no relatório são fruto da

análise dos dados disponibilizados na internet. As informações do volume de

processos da Seção Judiciária de Minas Gerais e do Distrito Federal foram

disponibilizadas pela Divisão de Estatística do Tribunal Regional Federal/1

Região, bem como as demais informações presentes no relatório no tocante à

Justiça Federal.

As dificuldades que se colocaram ao longo dos trabalhos da pesquisa

estão centradas no baixo volume de informações e no alto grau de

desagregação dos dados disponíveis na internet.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

116

APÊNDICE 2

Juizados Especiais

JUIZADOS ESPECIAIS EM BELO HORIZONTE / MINAS GERAIS

Atualmente, parte das demandas que tramitam na primeira instância das

justiças estaduais são encaminhadas para os Juizados Especiais, que foram

criados pela Constituição da Republica de 1988 e regulamentados pela Lei nº

9099/95, visando a dar maior celeridade e eficácia à prestação jurisdicional.

Sua competência abarca as causa cíveis de menor complexidade e as

infrações penais de menor potencial ofensivo, conforme a CR/88, arts. 24 e 98,

I.

Os Juizados Especiais engendram um processo menos formal, podendo

a demanda ser proposta de forma oral. Outra vantagem observada é a

economia, tanto procedimental quanto pecuniária, pois as audiências, que em

geral demandam tempo e são muito dispendiosas, são feitas de forma una e

concentrada. A Lei 9.099/95, que orienta o funcionamento dos Juizados

Especiais, determina sua forma de atuação, tendo por critérios a oralidade, a

simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade, buscando

sempre que possível a conciliação ou a transação.

A composição dos Juizados é feita por um juiz de direito, juntamente

com escrivães, escreventes, oficiais de justiça, dentre outros serventuários.

Além disso, há conciliadores e juízes leigos, ambos considerados auxiliares da

justiça. Os primeiros são recrutados dentre os bacharéis em direito e os

segundos dentre advogados com mais de cinco anos de experiência.

O organograma abaixo apresenta visualmente o fluxo das demandas

nos Juizados Especiais.

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

117

Figura 3: Organograma da Tramitação de um processo no Juizado Especial

Pedido oral ou escrito

Citação

Sessão de conciliação

Conciliação Não há

conciliação

Réu não

comparece

Autor não

comparece

Partes optam pelo

juízo arbitral

Partes não optam pelo

juízo arbitral

Audiência de instrução

e julgamento

Contestação

Ouvida do perito

Depoimentos pessoais

Testemunhas

SENTENÇA

tentativa imediata de

conciliação, se

demandante e

demandado vierem

juntos

Sentença

homologatória

(irrecorrível)

Sentença

imediata Extinção do

processo

Instrução

Laudo arbitral

Sentença

homologatória

(irrecorrível)

Cabe Recurso para o

próprio juizado (art. 41),

este a ser julgado por uma

turma de três juízes

togados

(“Turma Recursal”)

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

118

A Competência dos Juizados Especiais Cíveis está especificada no

parágrafo 3° da Lei 9099/95 e abarca, basicamente, as causas cujo valor não

exceda a quarenta vezes o salário mínimo. Não cabe às pessoas jurídicas de

direito público, às empresas públicas da União, dentre outras, a propositura de

ação nos Juizados. Estes, em boa medida, são mobilizados por pessoas físicas

em busca da prestação jurisdicional.

Os Juizados surgiram da tentativa de estender a prestação jurisdicional,

possibilitando um acesso menos burocrático ao sistema judiciário e reduzindo

os custos desse acesso, ao tornar dispensável a presença de advogado em

causas cujo valor não exceda ao equivalente a vinte salários mínimos.

De fato, se observarmos a evolução do movimento processual dos

Juizados Especiais em Minas Gerais, poderemos notar que o número de

processos julgados cresceu em proporção maior do que o número de

processos distribuídos, no período de 1998 a 2009, chegando a se igualar

nesse último ano. Isso mostra a capacidade crescente dos Juizados Especiais

de pôr fim às demandas que lhes são apresentadas.

Gráfico 38: Evolução do Movimento Processual - Juizado Especial em Minas Gerais (1998-2009)

Fonte: Relatório 2009 TJMG

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

119

O mesmo não se pode dizer em relação à Justiça Comum de Minas

Gerais, que, de um modo geral, não tem apresentado o mesmo desempenho.

Observando-se a evolução do movimento processual, no mesmo período de

1998 a 2009, percebe-se um aumento significativo da busca da prestação

jurisdicional, mas não se observa um correlato aumento no número de

processos julgados ou encerrados, ainda que estes tenham apresentado um

leve crescimento.

Gráfico 39: Evolução do Movimento Processual - Justiça Comum de primeira instância em Minas Gerais (1994-2009)

Fonte: Relatório 2009 TJMG

Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

120

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Para Uma Nova Cartografia da Justiça no Brasil

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