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EXCELENTÍSSIMA SENHORA CONSELHEIRA PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO NOELIA LIMA BRITO, brasileira, solteira, servidora pública municipal, exercendo o cargo efetivo de procuradora judicial do Município do Recife, portadora do RG 1154415-86 e do CPF 357.041.103-63, residente e domiciliada na Av. João de Barros, nº 633, aptº 1303, Bloco B, Boa Vista, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar DENUNCIA da prática de atos de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA e do DELITO PREVISTO NO ART. 315, DO CP, tendo em vista despesas realizadas por agentes públicos do MUNICIPIO DO RECIFE com terceiros, realizadas com os recursos do FUNDO DE INCREMENTO À ARRECADAÇÃO DA DÍVIDA ATIVA DO MUNICÍPIO DO RECIFE, posteriormente transformado em FUNDO ESPECIAL DE APOIO A PROCURADORIA DO MUNICIPIO DO RECIFE, referentes aos exercícios de 2007 a 2012, pelas razões que doravante passará a expor: O Fundo Especial de Incremento da Arrecadação da Dívida Ativa do Município do Recife foi instituído pela Lei Municipal nº 17.239/2006, nos seguintes termos: “Art. 40. Fica criado o Fundo Especial de Incremento da Arrecadação da Dívida Ativa do Município do Recife, gerido pelo Secretário de Assuntos Jurídicos, em consonância com o inciso XXII do art. 37 da Constituição Federal de 1988 e caput do art. 11 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, como instrumento de provisão de

Representacao tce fundo_procuradoria

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REPRESENTAÇÃO AP TCE/PE SOBRE DESVIOS NO FUNDO DE INCREMENTO DA PROCURADORIA DO MUNICIPIO DO RECIFE E IRREGULARIDADES ENVOLVENDO O PREDIO DA PFM DA RUA MONTEVIDEU

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Page 1: Representacao tce fundo_procuradoria

EXCELENTÍSSIMA  SENHORA  CONSELHEIRA  PRESIDENTE  DO  EGRÉGIO  TRIBUNAL  DE  

CONTAS  DO  ESTADO  DE  PERNAMBUCO  

 

 

 

 

 

 

 

 

NOELIA LIMA BRITO, brasileira, solteira, servidora pública

municipal, exercendo o cargo efetivo de procuradora judicial do Município do

Recife, portadora do RG 1154415-86 e do CPF 357.041.103-63, residente e

domiciliada na Av. João de Barros, nº 633, aptº 1303, Bloco B, Boa Vista, vem

respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar DENUNCIA da prática de

atos de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA e do DELITO PREVISTO NO ART.

315, DO CP, tendo em vista despesas realizadas por agentes públicos do

MUNICIPIO DO RECIFE com terceiros, realizadas com os recursos do FUNDO

DE INCREMENTO À ARRECADAÇÃO DA DÍVIDA ATIVA DO MUNICÍPIO DO

RECIFE, posteriormente transformado em FUNDO ESPECIAL DE APOIO A

PROCURADORIA DO MUNICIPIO DO RECIFE, referentes aos exercícios de

2007 a 2012, pelas razões que doravante passará a expor:

O Fundo Especial de Incremento da Arrecadação da Dívida

Ativa do Município do Recife foi instituído pela Lei Municipal nº 17.239/2006, nos

seguintes termos:

“Art. 40. Fica criado o Fundo Especial de

Incremento da Arrecadação da Dívida Ativa do Município do

Recife, gerido pelo Secretário de Assuntos Jurídicos, em

consonância com o inciso XXII do art. 37 da Constituição

Federal de 1988 e caput do art. 11 da Lei Complementar nº 101,

de 4 de maio de 2000, como instrumento de provisão de

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recursos para a formulação e implementação de projetos e

ações que tenham por objetivo incrementar e otimizar a

arrecadação, pela Procuradoria da Fazenda Municipal, da Dívida

Ativa do Município do Recife.

Art. 41. Constituem receitas do Fundo Especial

de Incremento da Arrecadação da Dívida Ativa do Município do

Recife:

os valores a ele destinados no orçamento do

Município;

parcela dos honorários advocatícios cobrados

sobre os créditos tributários;

percentual do incremento da arrecadação da

Dívida Ativa do Município:

30% (trinta por cento) nos próximos 12(doze)

meses;

20% (vinte por cento) para idêntico período

posterior;

10% (dez por cento) a partir de então.

auxílios, subvenções, contribuições, doações e

legados;

rendas decorrentes de aplicações financeiras

de seus próprios recursos;

outros recursos que lhe sejam destinados.

§ 1º A parcela de que trata o inciso II deste

artigo será obtida:

I - No caso de pagamento à vista dos créditos

tributários:

16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis

centésimos por cento) no caso de ultrapassagem das metas

mensais de incremento da arrecadação da Procuradoria da

Fazenda Municipal;

33,33% (trinta e três inteiros e trinta e três

centésimos por cento) - no caso da não ultrapassagem das

Page 3: Representacao tce fundo_procuradoria

metas mensais de incremento da arrecadação da Procuradoria

da Fazenda Municipal;

II - No caso de pagamento parcelado dos

créditos tributários:

25,00% (vinte e cinco por cento) - no caso de

ultrapassagem das metas mensais de incremento da

arrecadação da Procuradoria da Fazenda Municipal;

50,00% (cinqüenta por cento) - no caso da não

ultrapassagem das metas mensais de incremento da

arrecadação da Procuradoria da Fazenda Municipal.

§ 2º O incremento de que trata o inciso III do

caput deste artigo será apurado mensalmente e obtido a partir

da comparação dos valores arrecadados no mês de referência

com a média dos valores arrecadados no mesmo mês dos 3

(três) exercícios financeiros imediatamente anteriores ao de

referência.

§ 3º Para atualização dos valores de referência

da média a que se refere o parágrafo anterior será utilizado o

mesmo índice de correção dos tributos municipais.

Art. 42. Para efeito de fixação dos valores de

que tratam o inciso II e o § 1º do art. 41, será estabelecida pelo

Secretário de Assuntos Jurídicos meta de arrecadação que

tomará por base os valores mensais apurados na forma do § 2º

do art. 41 desta Lei, submetido ao Conselho de Política

Financeira para homologação.

Art. 43. Os recursos do Fundo Especial de

Incremento da Arrecadação de Dívida Ativa do Município do

Recife serão movimentados em conta específica no mesmo

banco que administrar a conta única do Município do Recife, na

qual deverão ser depositados diretamente os recursos previstos

no art. 41 desta Lei.

Page 4: Representacao tce fundo_procuradoria

Parágrafo único. O saldo positivo existente ao

final de cada exercício será transferido para o exercício

seguinte.

Art. 44. Os recursos do Fundo Especial de

Incremento da Arrecadação de Dívida Ativa do Município do

Recife serão destinados a:

aquisição de materiais e equipamentos

necessários para a cobrança da dívida ativa;

aquisição e publicação de livros e periódicos;

promoção de estudos e pesquisas destinados

ao aperfeiçoamento e incremento da arrecadação da dívida

ativa;

investimentos em cursos e seminários de

aperfeiçoamento profissional dos Procuradores Judiciais;

aquisição ou locação de imóveis e veículos

destinados aos serviços da Procuradoria da Fazenda Municipal;

aprimoramento tecnológico das ações e

atividades concernentes à cobrança judicial da Dívida Ativa

Tributária;

contrapartida de projetos de financiamentos da

modernização dos equipamentos utilizados na cobrança judicial

da Dívida Ativa Tributária; e,

outras ações, projetos, campanhas e atividades

inerentes ao aprimoramento das ações e da gestão da cobrança

judicial da Dívida Ativa Tributária.”

Posteriormente, a fim de ampliar a possibilidade de gastar os

recursos do Fundo, que inicialmente se destinavam apenas ao incremento da

Dívida Ativa e, também, de modo a confirmar essa assertiva, referido Fundo

teve alargada sua aplicação, passando a denominar-se Fundo Especial de Apoio à

Procuradoria do Município do Recife, por força de alteração trazida a lume pela

Lei Municipal nº 17.626 /2010:

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“Art. 47. O art. 40 e 44, VIII, da Lei Municipal nº 17.239, de 7 de

julho de 2006 passam a vigorar com a seguinte redação: "Art. 40.

Fica criado o Fundo Especial de Apoio à Procuradoria do

Município do Recife, gerido pelo Secretário de Assuntos

Jurídicos, em consonância com o inciso XXII do art. 37 da

Constituição Federal de 1988 e o caput do art. 11 da Lei

Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, como instrumento

de provisão de recursos para a formulação e implementação de

projetos e ações que tenham por objetivo incrementar e otimizar

a atuação da Procuradoria do Município do Recife." "Art. 44.

(...) (...) VIII - outras ações que tenham por objetivo incrementar e

otimizar a atuação de todos os órgãos da Procuradoria do

Município do Recife."

As irregularidades detectadas são de duas ordens: desvio de

finalidade (crime do art. 315, do CP) e malversação dos recursos

(improbidade administrativa, Lei nº 8.429/92).

O desvio de finalidade está caracterizado pela aplicação dos

recursos do Fundo, cujas receitas são vinculadas às despesas legalmente

especificadas, em despesas diversas daquelas apontadas pela própria lei de

regência.

A consulta ao SOFIN da Secretaria de Finanças da PCR deixa

claro esse desvio quando analisamos as despesas empenhadas e liquidadas em

todos os exercícios analisados e percebemos que a maior parte da receita do

Fundo foi gasta com o pagamento de prestadores de serviços terceirizados e

estagiários, além de despesas com passagens aéreas, por exemplo. Em anexo,

seguem as listagens de todos os Empenhos de todas as despesas realizadas

com os recursos do Fundo desde 2007 até a presente data, donde se poderá

perceber, mediante consulta direta ao SOFIN, ou mesmo requisição à Prefeitura

do Recife dos respectivos contratos e originais dos Empenhos, os valores

estratosféricos que foram despendidos com serviços não autorizados pela lei

Page 6: Representacao tce fundo_procuradoria

que instituiu o Fundo de Incremento da Arrecadação da Dívida Ativa, nem muito

menos pela versão que o sucedeu, o Fundo Especial da Procuradoria do

Município.

Os gastos com terceirizações, por exemplo são tão exorbitantes

que chegam a consumir a quase totalidade dos recursos, a ponto de não sobrar

praticamente nada para investir nas reais finalidades do Fundo que seriam

aquelas apontadas na Lei.

Além disso, até 2010 os recursos do Fundo somente poderiam

ser aplicados em despesas destinadas ao incremento a arrecadação da dívida

ativa, porém, passou a servir de verba destinada ao custeio das despesas gerais

da secretaria de assuntos jurídicos como um todo, incluindo o pagamento de

passagens aéreas e locação de veículos e pagamento de estagiários e

terceirizados para os mais diversos órgãos da secretaria, num total desvio de

finalidade, enquanto a finalidade da criação do Fundo, qual seja, aquela prevista

pela Lei de Responsabilidade Fiscal, era totalmente desvirtuada, o que se

comprova pelo altíssimo índice de execuções fiscais extintas por prescrições,

pelos simples fato de não terem sido, sequer materializadas, uma vez que sendo

processos virtuais, não tiveram seguido seu curso natural, por falta do devido

investimento que caberia ao Fundo de Incremento custear, o que não ocorreu

porque sua finalidade era desviada para despesas que deveriam ser arcadas por

verbas orçamentárias da própria Secretaria, caracterizando-se descumprimento

evidente da Lei de Responsabilidade Fiscal e gestão temerária dos créditos

tributários que findaram prescritos, como é público e notório em nossa cidade,

ex vi da Portaria nº 300/2009, da SAJ, que autoriza a Procuradoria da Fazenda

Municipal a reconhecer a prescrição de seus créditos.

É evidente que o desvio de finalidade ora narrado causou danos

ao Erário, pois a falta de investimentos da cobrança da Dívida Ativa ocasionou a

prescrição dos créditos tributários, o que é gravíssimo, pois não se concebe que

se crie um Fundo Especial para se investir em arrecadação e o que se observe

seja o altíssimo índice de processos extintos por prescrição durante o período

Page 7: Representacao tce fundo_procuradoria

de vigência desse Fundo, em razão do desvio dos recursos para finalidades

diversas de sua destinação.

Mas não é só isso, o que não é pouca coisa. Dentre as inúmeras

irregularidades detectadas, destacamos, por exemplo, o pagamento do

aplicativo contratado à empresa PARTEC PARTICIPAÇAO E CONSULTORIA. Os

pagamentos foram realizados com dinheiro do Fundo de Incremento da

Arrecadação da Dívida Ativa, mas em rigorosamente nada reverteu para essa

finalidade, tratando-se de banco de dados de toda a legislação municipal para

consulta pública, chamado “legiscidade” que deveria ser custeado por receita

do Tesouro e não por receita vinculada ao incremento da arrecadação, como é a

receita do Fundo. Ademais, de se questionar o custo do serviço, caríssimo,

conforme se pode observar pelo valor apontado nos respectivos empenhos:

EXTRATO DO CONTRATO N° 264, FIRMADO EM 01 DE

SETEMBRO DE 2008.

Modalidade de Licitação: Pregão Presencial nº 004/2008 - CPLS.

CONTRATANTES: MUNICÍPIO DO RECIFE/SECRETARIA DE

ASSUNTOS JURÍDICOS E A PARTEC - PARTICIPAÇÃO E

CONSULTORIA LTDA.

OBJETO: O fornecimento de sistema aplicativo para

instrumentalização do grupo de trabalho especial, instituído pela

Lei Municipal nº 17.245/2006, via WEB, suporte técnico e

operacional, para geração de banco de dados de toda legislação

municipal, objetivando consulta, pesquisa, seleção e impressão,

por solicitação da Secretaria de Assuntos Jurídicos, conforme

especificações constantes do Termo de Referência (anexo II do

Edital) e da proposta da CONTRATADA.

PREÇO GLOBAL: R$ 728.000,00 (setecentos e vinte e oito mil

reais)

PRAZO: De 180 (cento e oitenta) dias, tendo como termo de

início a data da sua assinatura, podendo ser prorrogado por até

60 (sessenta) meses, na forma do art. 57, II, da Lei Federal nº

8.666/93.

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DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA: nº

4302.04.122.2.160.2.866.4.4.90.39.

RECURSO FINANCEIRO: Tesouro Municipal.

O pagamento foi mediante o Empenho 2008NE00134000,

todo custeado com dinheiro que deveria ser aplicado do incremento da

arrecadação da Dívida Ativa.

Outra despesa que deve ser objeto de investigação é a aquisição

do sistema de acompanhamento de processo Q-Juridico (NºEmpenho:

2008NE00164000). Primeiro, porque embora adquirido em 2008, pelo altíssimo

custo, à época de R$ 60.000,00, e mais R$ 25.000,00 por 50 licenças

(NºEmpenho: 2008NE00168000), não é utilizado por nenhuma das

procuradorias, muito menos, pela Procuradoria da Fazenda Municipal, que

deveria ser sua principal destinatária, uma vez que custeado com recursos do

Fundo de Incremento da Arrecadação da Dívida Ativa, sendo imprestável ao

acompanhamento das ações de execução fiscal, que seguem, sem qualquer

sistema que as monitore.

Até a contratação de prestação de serviços de confecção de

projeto arquitetônico para reforma da Secretaria de Assuntos Juridicos, no 3º,

da PCR, foi custeada com dinheiro do Fundo de Incremento da Arrecadação da

Dívida Ativa, o que é um verdadeiro absurdo, conforme se vê no NºEmpenho:

2008NE00116000, no valor de R$ 14.940.00.

O ESCANDALOSO CASO DA DESAPROPRIACAO E REFORMA DA NOVA

SEDE DA PROCURADORIA DA FAZENDA MUNICIPAL, NA RUA

MONTEVIDEU

Gravíssima, porém, é a constatação de que valor considerável

dos recursos desse Fundo foi objeto de malversação por parte de seus

gestores, mediante a aquisição e manutenção de um prédio onde deveria

funcionar a sede da Procuradoria da Fazenda Municipal, prédio este situado na

Rua Montevideu, nº 220 e que fora, inicialmente, alugado para, em seguida, ser

Page 9: Representacao tce fundo_procuradoria

desapropriado e reformado, porém, jamais ocupado pelo órgão, enquanto o

contribuinte banca aluguel caríssimo de dois outros imóveis situados na Rua do

Imperador, para que apenas uma parte da Procuradoria da Fazenda Municipal ali

funcione, vez que outra parte atende no 3º andar do prédio sede da Prefeitura

do Recife, por falta de estrutura nos prédios alugados.

Já no primeiro ano em que foram aportados recursos no Fundo

de Incremento à Arrecadação da Dívida Ativa, observou-se a sanha em dilapida-

lo. Logo no mês de abril de 2007, o então secretario de assuntos jurídicos

entendeu por bem de alugar o imóvel situado da Rua Montevideu, nº 220, ao

custo de R$ 20 mil, por mês, para abrigar a sede da Procuradoria da Fazenda

Municipal.

A análise dos dados do SOFIN demonstra que foram pagos

alugueis para o prédio da Rua Montevideu, 220, no valor de R$ 220 mil, durante

o ano de 2007, às empresas PATRIMONIO INCORPORACOES LTDA e

PERNAMBUCO EMPREENDIMENTOS LOGISTICOS S/A, ao mesmo tempo em

que também foram pagos os alugueis dos imóveis onde funcionava e ainda

funciona a Procuradoria da Fazenda, na Rua do Imperador, aos respectivos

proprietários, CELIA ARAUJO MARQUES DOS REIS (R$ 2.425,00/mês) e

CARLOS NOGUEIRA LUNDGREN (R$ 6.951,85/mês).

Após passar todo o ano de 2007 pagando aluguel por um

imóvel desocupado, fechado, o Secretário de Assuntos Jurídicos, à época

resolveu, então, que era o caso de desapropriá-lo e assim foi feito o pagamento

da desapropriação, no valor de R$ 515.885,00, mediante o Empenho

2007NE00111000, de 18/12/2007, depositado na Caixa Econômica Federal.

Iniciou-se, então, a reforma desse imóvel, por intermédio da

empresa CC ESTRADA. Mas ainda foram pagos pelo menos dois meses de

aluguel no ano de 2008, para o prédio da Montevideu, mediante os empenhos

NºEmpenho: 2008NE00012000 e NºEmpenho: 2008NE00013000, totalizando R$

40.000,00.

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Desapropriado o imóvel da Rua Montevideu, nº 220, pelo valor

de R$ 515.885,00, foi contratada a empresa C C ESTRADA CONSTRUTORA

LTDA, pelo valor de R$ 1.322.701,03 (um milhão, trezentos e vinte e dois mil,

setecentos e um reais e três centavos) para realizar a reforma do prédio daquela

que deveria ser a nova sede da Procuradoria da Fazenda Municipal, situado na

Rua Montevideu , 220, Paissandu, conforme, inclusive, consta no NºEmpenho:

2008NE00118000.

Em 09/09/2008, foi emitido o NºEmpenho: 2008NE00118000,

no valor de R$ 1.322.701,03. Em 05/11/2008, o valor subempenhado de R$

444.103,00, já havia sido pago ao empreiteiro. Ou seja, passados apenas dois

meses do contrato, 1/3 de seu valor já havia sido pago.

Poucos dias depois, ou seja, no dia 21/11/2008, novo Empenho,

desta feita o NºEmpenho: 2008NE00143000, no valor de R$ 400.000,00, quase

totalmente pago após cerca de 20 dias, quando mais R$ 316.175,00 foram

liquidados, ou seja, no dia 12/12/2008, a empresa CC ESTRADA já recebera R$

760.278,00, do total do preço contratado.

No dia 29/12/2008, no apagar das luzes do governo João Paulo,

portanto, do Secretário Bruno Ariosto, é emitido e pago, novo Empenho

(NºEmpenho: 2008NE00175000), em favor da CC ESTRADA, desta feita, no

valor de R$ 262.161,70. A essa altura, com 3 meses de contrato, a CC Estrada

já recebera R$ 1.022.439,00 (um milhão, vinte dois mil, quatrocentos e trinta e

nove reais) do total do contrato.

Novo empenho (NºEmpenho: 2009NE00020000) no valor de

R$ 300.258,41 foi emitido e liquidado em dois pagamentos realizados nos dias

11/02/2009 (2009NE00020001) e 20/03/2009 (2009NE00020002), totalizando

o pagamento da reforma em R$ 1.322.697,00 (um milhão, trezentos e vinte e

dois mil, seiscentos e noventa e sete reais).

Na ocasião, já haviam despesas superior a R$ 170.000,00, só

com a instalação de aparelhos de ares condicionados (“splits”), pagas pelos

Page 11: Representacao tce fundo_procuradoria

empenhos NºEmpenho: 2009NE00021000 e NºEmpenho: 2009NE00036000.

Vários projetos de arquitetos foram pagos e não utilizados, também denotando a

total irresponsabilidade com o dinheiro público, notadamente, com o dinheiro

do Fundo em questão, enquanto a Procuradoria ficava a míngua. Citemos o

exemplo das despesas custeadas pelo empenho NºEmpenho: 2008NE00051000,

pelo qual foram pagos R$ 14.630,00, por serviços contratados a um arquiteto,

para prestação de serviços de arquitetura e engenharia para a nova sede da

Procuradoria. O que soa estranho, uma vez que tais serviços já deveriam estar

inclusos naqueles contratados a preços milionários à CC Estrada.

Mesmo tendo realizado todo o pagamento do contrato de

reforma do prédio, repita-se, desde março de 2009, a Secretaria de Assuntos

Juridicos jamais realizou a mudança para a nova sede, que permaneceu

desocupada enquanto o contribuinte arca com o pagamento do aluguel dos

dois imóveis situados na Rua do Imperador, hoje nos valores de R$ 18.310,00

(NºEmpenho: 2012NE00038001) + taxas condominiais de R$ 1.184,85

(NºEmpenho: 2012NE00048001) e R$ 2.638,54 (NºEmpenho:

2012NE00040001), totalizando um valor mensal de R$ 22.132,00, ou seja, R$

265.584,00 por ano.

Importante mencionar que sequer os dois imóveis alugados na

Rua do Imperador são suficientes, devido a sua má estrutura, para albergar

todos os procuradores lotados na Fazenda Municipal, sendo que uma parte

exerce suas atividades no 3º andar do edifício sede da PCR.

Uma varredura nos empenhos anexados demonstrará que

vearias despesas foram realizadas nos prédios alugados de modo a possibilitar a

permanência da procuradoria naqueles locais, enquanto o prédio reformado a

custo superior a R$ 1,3 milhão continuava fechado sem causa aparente

“republicana”.

É um verdadeiro descalabro que por causa da decisão

irresponsável dessa gestão de não realizar a mudança para a nova sede,

Page 12: Representacao tce fundo_procuradoria

aparelhos de ar condicionado e o próprio elevador estejam sendo apontados

como danificados pela falta de uso.

O que se sabe e inclusive houve pedido do gabinete da atual

secretária de assuntos jurídicos para que a procuradoria se pronunciasse, é que

há interesse de longas datas, inclusive com lobby de escritórios de advocacia

que negociam com imóveis e de políticos, no sentido de que o prédio seja

devolvido ao antigo proprietário, anulando-se a desapropriação de modo a

favorecê-lo com o negócio, pois é fato notório que a especulação imobiliária

levou a uma enorme valorização da área e muito mais após a reforma procedida

às custas do contribuinte do Recife.

É importante destacar que a última avaliação feita para o imóvel,

realizada pelo setor de ITBI da Secretaria de Finanças superava os R$ 5 milhões,

sendo inconcebível que agentes públicos pretendem causar prejuízo ao Erário

deliberadamente, defendendo o cancelamento da desapropriação realizada nos

idos de 2007, de modo a favorecer o antigo proprietário, em razão da

valorização do patrimônio que já se tem por incorporado ao Município do Recife

e ninguém tome providências para salvaguardar o interesse público nesse caso.

Esse seria o real motivo de toda essa imoralíssima atitude da

atual gestão em manter desde 2007, um prédio de 6 andares todo reformado

(desde 2008), situado em área comercial das mais nobres de nossa capital, nas

proximidades do futuro Parque Jurídico do TJPE, inclusive, fechado, ao mesmo

tempo em que mantém sua Procuradoria da Fazenda funcionando fracionada,

em condições precárias e deploráveis e por que não dizer, desrespeitosas para

funcionários, procuradores e público em geral, pagando aluguel caríssimo, tão

somente porque a má gestão do dinheiro público tem sido a tônica dessa

Administração que se encerra de modo agonizante, de maneira impopular e

com prestações de contas reiteradamente rejeitadas.

Quanto, afinal, já foi gasto com desapropriação, reformas,

alugueis, consultorias, equipamentos e até com uma empresa, a SENA, que faz a

segurança do prédio da Rua Montevideu desde 2007 até hoje, sem solução e

Page 13: Representacao tce fundo_procuradoria

tudo porque se insiste em favorecer particulares em detrimento do Município

do Recife? Afinal, que tipo de gente é essa que colocam para ocupar cargos

públicos em nossa cidade? Que explicação os (ir)responsáveis darão para esse

descalabro que é o caso ora narrado, envolvendo esse prédio da Procuradoria

do Município do Recife na Rua Montevideu?

Espero, sinceramente, que esse não seja mais um caso em que

vejamos prosperar as iniquidades e que, finalmente, o povo do Recife assista a

punição daqueles que sistematicamente, durante esses últimos 12 anos, têm se

dedicado, sistematicamente, a dilapidar seu patrimônio sem nunca sofrerem

qualquer consequência pelos seus atos.

DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DO CRIME DE DESVIO DE

FINALIDADE PREVISTO NO ARTIGO 315, DO CP.

Não se tem notícias de que haja prestações de contas por parte

da Secretaria de Finanças, quanto aos ingressos de receitas nesse Fundo. Não há

transparência nenhuma quanto aos valores que efetivamente são repassados

para a conta, que por força de lei, deve ser individualizada e apartada da conta

única e que deveria constar no SOFIN, do mesmo modo que constam todas as

Receitas da Municipalidade. Em contrapartida, as despesas são feitas, conforme

visto, de maneira totalmente ilegal, como se os recursos do Fundo fossem

dotações orçamentárias ordinárias da secretarias e pior, com sérias suspeitas de

favorecimentos de terceiros, conforme visto acima.

Não há dúvidas de que, no caso vertente, a improbidade

administrativa danosa ao Erário se encontra presente, nos termos previstos pela

Lei nº 8429/92, em seus artigos, 10 e 11.

Não há dúvidas, ainda, de que o desvio de finalidade, ora

noticiado não é de somenos importância. Trata-se de má prática que não apenas

causou e ainda causa dano ao Erário, mas que se caracteriza, pelo menos em

tese, crime contra a Administração Pública, tipificado no art. 315, do CP, que

Page 14: Representacao tce fundo_procuradoria

prevê pena para aquele que dá às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da

estabelecida em lei.

Diante do exposto, requer a instauração do competente

procedimento investigatório, ao tempo em que solicita urgência nas

providências relativas aos pedidos de informações às autoridades denunciadas,

tendo em vistas notícias de que estariam em curso negociações no sentido de

ultimar a devolução do prédio da Rua Montevideu, ao antigo proprietário, ao

pagar das luzes da atual gestão, concretizando-se, de maneira irremediável,

parte dos prejuízos narrados na presente denúncia.

N. Termos,

P. Deferimento.

Recife, 09 de novembro de 2012.

N O E L I A B R I T O

OAB/Pe 16.261