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Universidade Estadual de Feira de Santana Departamento de Ciências Humanas e Filosofia Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial Mestrado Profissional PLANTERR LIDIANE RIOS DE OLIVEIRA REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E PARTICIPAÇÃO EM EMPREENDIMENTOS DO PMCMV: A CONSTRUÇÃO DE UM GUIA Feira de Santana/BA 2017

REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

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Universidade Estadual de Feira de Santana

Departamento de Ciências Humanas e Filosofia Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial

Mestrado Profissional – PLANTERR

LIDIANE RIOS DE OLIVEIRA

REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E PARTICIPAÇÃO EM

EMPREENDIMENTOS DO PMCMV: A CONSTRUÇÃO DE UM GUIA

Feira de Santana/BA 2017

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LIDIANE RIOS DE OLIVEIRA

REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E PARTICIPAÇÃO EM

EMPREENDIMENTOS DO PMCMV: A CONSTRUÇÃO DE UM GUIA

Relatório técnico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial (PLANTERR), em nível de Mestrado Profissional, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de Mestre em Planejamento Territorial pela Universidade Estadual de Feira de Santana.

Orientador: Prof. Dr. Janio Santos

Feira de Santana/BA

2017

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Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado

Oliveira, Lidiane Rios de

O48r Representantes comunitários e participação em empreendimentos do PMCMV : a construção de um guia/ Lidiane Rios de Oliveira. – Feira de Santana, 2017.

118 f.: il. Orientador: Janio Santos.

Relatório Técnico (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial, 2017.

1. Políticas públicas – Participação social – Feira de Santana, BA. 2. Política de habitação. I. Santos, Janio, orient. II. Universidade Estadual de Feira de Santana. III. Título. CDU: 304(814.22)

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Aos representantes comunitários, sujeitos deste estudo, que

contribuíram com seus conhecimentos e suas histórias de

vida.

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AGRADECIMENTOS

Acredito que a gratidão é a energia mais transformadora que existe. Assim

como não existe caminho sem o caminhante, também não existe trajetória de vida

sem apoio.

Agradeço a Deus, a fonte criadora de tudo, que provê toda a energia vital

necessária para que eu acorde todos os dias e siga em frente. Em muitos momentos

não sei muito bem para onde estou indo (risos), mas tem dias que acordo e sinto

que o sentido de tudo está relacionado com o ser, apenas ser.

Neste momento, aproveito a oportunidade para agradecer a todas as pessoas

que me apoiaram de alguma forma para que eu pudesse vivenciar essa experiência.

Acredito que tudo está relacionado, nada acontece ao acaso, então, tenho certeza

que todos os seres que passaram por minha vida trocaram experiências comigo em

algum nível e esse Mestrado é o resultado de muitas trocas de saberes.

Agradeço à minha família pela dedicação, incentivo, compreensão e amor. A

minha mãe, Edileusa, pelo exemplo de perseverança e fé; ao meu pai, Izaac, pelo

exemplo de simplicidade; à minha irmã, Isi, por sempre estar presente, oferecendo

apoio.

Ao meu professor Alfredo Oliveira que, na graduação em Serviço Social, me

ensinou a fazer pesquisa.

Ao meu orientador, Janio Santos, pela organização e disciplina sempre

presentes nos encontros de orientação e, especialmente, por estimular a minha

criticidade e criatividade. Foi muito bom conhecê-lo e as suas orientações sempre

me trouxeram segurança.

Aos meus professores e à coordenação do curso de Mestrado Profissional em

Planejamento Territorial pelo profissionalismo e por conduzirem o curso de forma

responsável e organizada.

Aos professores, Acácia e James, pela clareza e qualidade das indicações e

sugestões que agregaram valor a este trabalho.

Aos colegas da minha turma do Mestrado Profissional em Planejamento

Territorial, foi maravilhoso conhecê-los.

Aos funcionários das Secretarias de Desenvolvimento Social, de Habitação e

de Planejamento de Feira de Santana por me atenderem e disponibilizarem os

documentos para a realização da análise documental.

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Ao Grupo de Pesquisa Urbanização e Produção de Cidades na Bahia pelos

encontros e discussões produtivas.

Manifesto a minha gratidão a Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado da

Bahia (FAPESB), pela concessão da bolsa de pesquisa.

Aos sujeitos deste estudo, sem eles seria impossível escrever sobre

participação social. Aprendi muito com todas as experiências compartilhadas nas

oficinas e nas entrevistas.

Tudo cooperou para que eu encerrasse mais um ciclo. Gratidão!

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Acumular todos os fatos não significa ainda conhecer a realidade; e todos os

fatos (reunidos em seu conjunto) não constituem, ainda, a totalidade.

(Kosik)

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RESUMO

Esta pesquisa manifesta o resultado de um trabalho de campo de natureza qualitativa, com aplicação de entrevistas e o desenvolvimento de oficinas. O objetivo é analisar as estratégias de participação social adotadas por moradores, no que concerne ao acesso aos serviços de mobilidade urbana, saúde, assistência social e educação, com base no estudo dos empreendimentos do PMCMV, localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, em Feira de Santana. Para alcançar a proposta de pesquisa foram apresentados alguns conceitos que se relacionam com o tema políticas públicas, bem como a relação dessas com o surgimento da questão social, que incide no caráter social das políticas, sobretudo da política de habitação. Essa discussão se justifica pelo fato de que a carência habitacional encontra-se intrinsecamente relacionada com a questão social. Outro assunto discutido foi sobre a participação social no âmbito da habitação e essa etapa contou com uma análise de documentos do município de Feira de Santana. Como trata-se de uma investigação de campo, foram apresentados os aspectos metodológicos do processo de desenvolvimento das oficinas e a caracterização dos representantes comunitários e suas trajetórias. Diante disso, pode-se depreender que no quesito legalização e normatização, a participação social se fortaleceu intensamente nas últimas décadas. No entanto, a sua prática ainda é tímida e incipiente, pois, de acordo com os resultados desta pesquisa de campo, poucos sujeitos se interessam em se apropriar da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação dos mecanismos de participação social precisam ser revisadas e trabalhadas nas comunidades com um envolvimento maior. A gestão do município, além de sancionar leis e decretos, necessita instituir canais participativos que de fato desenvolvam o trabalho do controle social e, também, deve atentar-se para a divulgação desses canais e para a acessibilidade dos mesmos.

Palavras chave: Participação Social. Política de Habitação. Representantes Comunitários. Poder Público. PMCMV.

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ABSTRACT

This research shows the results of a qualitative field work, with the application of interviews and the development of workshops. The objective is to analyze the social participation strategies adopted by residents regarding access to urban mobility services, health care, social assistance and education, based on PMCMV projects, located in the Mangabeira and Aviário neighborhoods, in the Santana. In order to reach the research proposal, some concepts related to public policies were presented, as well as their relationship with the emergence of the social question, which affects the social character of policies, especially housing policy. This discussion is justified by the fact that the housing shortage is intrinsically related to the social question. Another issue discussed was about social participation in housing, and this stage had an analysis of documents from the municipality of Feira de Santana. As it is a field investigation, the methodological aspects of the workshop development process and the characterization of community representatives and their trajectories were presented. In view of this, it can be deduced that in the legalization and normalization, social participation has intensified intensely in the last decades. However, their practice is still timid and incipient, because, according to the results of this field survey, few subjects are interested in appropriating social participation. Thus, based on this study, in the municipality of Feira de Santana, it was possible to observe that the strategies of application of social participation mechanisms need to be reviewed and worked in the communities with a greater involvement. The management of the municipality, besides sanctioning laws and decrees, needs to institute participatory channels that in fact develop the work of social control, and also, attention should be paid to the dissemination of these channels and their accessibility. Keywords: Social Participation. Housing Policy. Community Representatives. Public Power. PMCMV.

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LISTA DE FOTOS

Foto 01 Moradores cultivando jardins no Residencial Viver Iguatemi II........... 64 Foto 02 Área de lazer do Residencial Vida Nova Aviário I quando foi

inaugurado...........................................................................................

65 Foto 03 Área do parque após ser destruído e o quiosque do Residencial

Vida Nova Aviário I..............................................................................

65 Foto 04 Imagem atual da quadra de esportes.................................................. 66 Foto 05 Apresentação da pesquisa na reunião do PCSC, Viver Iguatemi

II...........................................................................................................

69 Foto 06 Identificação dos problemas locais com textos e desenhos, Viver

Iguatemi II............................................................................................

69 Foto 07 Jogo rápido denominado “De quem é o problema?” com a utilização

de placas com os nomes “meu”, “todos” e “poder público”, Viver Iguatemi II............................................................................................

70 Foto 08 Dinâmica do barbante com a pergunta: “Quais são os meus

direitos?”, Viver Iguatemi II..................................................................

70 Foto 09 Discussão sobre os problemas locais, Vida Nova Aviário I................ 71 Foto 10 Discussão sobre participação social, Vida Nova Aviário I................... 72

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Déficit Habitacional por faixas de renda média familiar mensal (em salários mínimos), Brasil, 2012........................................................

44

Gráfico 02 Insuficiência na prestação de Serviços Públicos nos bairros Aviário e Mangabeira, Feira de Santana, 2016................................

86

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Evolução da política da habitação no Brasil, 1946 – 2009............... 40 Quadro 02 Orientações do Ministério das Cidades sobre o Desenvolvimento

da Política Habitacional.................................................................... 42

Quadro 03 Escala de participação popular......................................................... 48 Quadro 04 Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de Santana,

Bahia................................................................................................. 55

Quadro 05 Caracterização dos Residenciais Viver Iguatemi I e II, Vida Nova Aviário I e Rio São Francisco, 2016.................................................

62

Quadro 06 Síntese metodológica das oficinas................................................... 69 Quadro 07 Caracterização sociodemográfica dos sujeitos de estudo................ 76 Quadro 08 Informações sobre a trajetória dos representantes dos

residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, 2016..................................................................................................

82

Quadro 09 Resultado do jogo “De quem é o problema?”................................... 91

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 Localização do Município de Feira de Santana, 2017.......................... 16 Mapa 02 Localização do bairro Mangabeira e do Residencial Viver Iguatemi II,

Feira de Santana, 2017........................................................................ 17

Mapa 03 Localização do bairro Aviário e do Residencial Vida Nova Aviário I, Feira de Santana, 2017........................................................................

18

Mapa 04 Localização das Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de Santana, 2017........................................................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ASSOMIVI Associação de Articulação Social dos Beneficiários do Minha

Casa Minha Vida

BNH Banco Nacional de Habitação BPC Benefício de Prestação Continuada CEF Caixa Econômica Federal CSU Centro Social Urbano FCP Fundação da Casa Popular FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FJP Fundação João Pinheiro FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFBA Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Bahia IPMF Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras MPF Ministério Público Federal MPO Ministério do Planejamento e Orçamento PBF Programa Bolsa Família PCSC Programa de Convivência Social e Cidadania PDDM Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano PDLI Plano de Desenvolvimento Local Integrado PHFS Política de Habitação de Feira de Santana PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Social PMCMV Programa Minha Casa, Minha Vida PMFS Prefeitura Municipal de Feira de Santana PNPS Política Nacional de Participação Social RATS Relatórios de Acompanhamento do Trabalho Social SEAC Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária SEHAB Secretaria Municipal de Habitação SEPURB Secretaria de Política Urbana SFH Sistema Financeiro de Habitação SIC Sistema de Informação ao Cidadão SNHIS Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2. A POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO BRASIL ......................................................... 30 2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E A RELAÇÃO COM O SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL ..................................................................................................................... 30 2.2 TRAJETÓRIA DA POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL ................................ 38

3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO ÂMBITO DA POLÍTICA DE HABITAÇÃO ........... 48 3.1 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO POLÍTICO ............................. 48 3.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLÍTICA DE HABITAÇÃO EM FEIRA DE SANTANA ................................................................................................................. 53

4. ESPECIFICIDADES DA INVESTIGAÇÃO: CAMPO EMPÍRICO E OFICINAS .... 61 4.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA ............ 61 4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS MANGABEIRA E AVIÁRIO ...................... 62 4.3 CARACTERIZAÇÃO DOS RESIDENCIAIS ........................................................ 65 4.3.1 Residencial Viver Iguatemi II ............................................................................ 67

4.3.2 Residencial Vida Nova Aviário I ....................................................................... 68

4.4 O CAMINHO METODOLÓGICO DAS OFICINAS ............................................... 71

5. REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS: EXPERIÊNCIAS E HISTÓRIAS ........... 79 5.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DOS SUJEITOS DE ESTUDO ... 79 5.2 TRAJETÓRIAS DOS REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS DOS RESIDENCIAIS VIVER IGUATEMI II E VIDA NOVA AVIÁRIO I ............................... 84 5.3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO PODER PÚBLICO ........................... 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 100

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 104

APÊNDICES ........................................................................................................... 112 Apêndice A: Roteiro de entrevista semiestruturada ................................................ 112 Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 114 Apêndice C: Roteiro das oficinas ............................................................................ 115

ANEXO ................................................................................................................... 118 Anexo A: Guia Participação Social no Âmbito da Política de Habitação em Feira de Santana ................................................................................................................... 118

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1. INTRODUÇÃO

O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) é uma proposta do Governo

Federal que investe em projetos habitacionais na perspectiva de oportunizar

moradias dignas às pessoas que habitam locais precários ou que não possuem

moradia própria. Conforme as especificações do Governo Federal, na Lei 11.977, de

7 de julho de 2009, o PMCMV objetiva atingir, prioritariamente, famílias de baixa

renda, residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas

com prioridade para mulheres responsáveis pela unidade familiar e pessoas com

deficiência (BRASIL, 2009).

O Governo Federal é o responsável pela transferência de recursos1 para a

edificação dos empreendimentos. No entanto, o material didático desenvolvido no

60º Fórum Nacional de Habitação de Interesse Social de 2013 elucida que o poder

público municipal também possui um papel importante, uma vez que é o gestor do

município que discute os projetos propostos pelo setor privado e os aprova. Na

condição de gestor do território deve conciliar os investimentos em habitação aos da

educação, saúde e transporte, promovendo integração entre as políticas setoriais

(BRASIL, 2013).

Por todo Brasil, em geral, os residenciais do PMCMV têm sido construídos em

áreas periféricas e com insuficiência de serviços públicos básicos para ofertar aos

novos habitantes. A ocupação de novos espaços por pessoas advindas de situações

vulneráveis e de risco, de locais distintos, requer um trabalho de pertencimento,

integração e convivência social.

Em consulta aos Relatórios de Acompanhamento do Trabalho Social (RATS),

elaborados pelas equipes técnicas que atuam dentro dos residenciais do PMCMV

em Feira de Santana, observou-se a existência de uma série de demandas, tais

como: transporte público insuficiente, equipamentos de saúde, educação e

assistência social que não atendem as necessidades locais (FEIRA DE SANTANA,

2015).

No caso de Feira de Santana (Mapa 1), cidade localizada na Bahia, a uma

distância de 108km da capital, Salvador, está concentrado um número significativo

de unidades habitacionais financiadas pelo PMCMV, totalizando quarenta e dois

1 O repasse de recursos realizado pelo Governo Federal ocorre através da transferência do

Orçamento Geral da União para o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR).

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empreendimentos, segundo dados do Relatório Anual do Programa de Convivência

Social e Cidadania (PCSC) do ano de 20142. Teoricamente, esse crescimento

imobiliário contribuiu para a redução do déficit habitacional, pois, de acordo com

informações da Prefeitura Municipal de Feira de Santana, já foram entregues 10.228

unidades residenciais (FEIRA DE SANTANA, 2015).

Dentre os bairros contemplados com a edificação dos residenciais assistidos

pelo PMCMV em Feira de Santana, cita-se os bairros Mangabeira e Aviário (Mapas

2 e 3), áreas consideradas como vetor de crescimento imobiliário e objeto de forte

especulação. Portanto, caracterizam-se como um espaço relevante para análise,

pois, apesar do crescimento no setor habitacional, decorrente do número de

construções realizadas, ainda constituem-se como áreas desprovidas de

infraestrutura, serviços e equipamentos públicos, que deveriam ser capazes de

atender a todos os novos núcleos habitacionais. Assim, foram escolhidos dois

residenciais, Viver Iguatemi II e o Vida Nova Aviário I (Mapas 2 e 3), o primeiro

localizado nos limites entre os bairros Mangabeira e Conceição, e o segundo nos

limites dos bairros 35º BI e Aviário.

Há de se considerar, em tese, que a expansão urbana deve ser promovida de

forma planejada, garantindo “[...] sustentabilidade urbana, para os moradores e

cidade”, de modo que possua qualidade da unidade habitacional, do

empreendimento e na relação do empreendimento com a cidade, conforme foi

esclarecido no 60º Fórum Nacional de Habitação de Interesse Social de 2013

(BRASIL, 2013, p.3). No entanto, esse processo é frágil, sobretudo, por conta da

produção de projetos habitacionais “[...] padronizados e repetitivos, desarticulados

do tecido urbano” (ARAÚJO, 2014, p. 12).

A produção habitacional deveria promover transformações sociais, políticas e

territoriais, e isso remete a importância da participação social e do planejamento

territorial para o desenvolvimento das ações desse Programa. A participação dos

beneficiários do MCMV no processo de implementação de políticas públicas é

imprescindível, tendo em vista que eles são os demandatários dos serviços públicos

e, portanto, devem indicar quais são as suas necessidades e, por conseguinte,

articularem-se para a superação das problemáticas existentes.

2 O PCSC é vinculado a Prefeitura Municipal de Feira de Santana e responsável pelo trabalho social

executado nos residenciais do PMCMV no município.

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Mapa 1: Localização do Município de Feira de Santana, 2017

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Mapa 2: Localização do bairro Mangabeira e do Residencial Viver Iguatemi II, Feira de Santana, 2017

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Mapa 3: Localização do bairro Aviário e do Residencial Vida Nova Aviário I, Feira de Santana, 2017

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Assim, com o intuito de compreender como os beneficiários do programa se

articulam em prol da melhoria da infraestrutura dos seus novos espaços de moradia,

tendo em vista a distância entre os empreendimentos e o centro da cidade, bem

como, as fragilidades na oferta de serviços públicos, elegeu-se como principal

problema pensar até que ponto os moradores dos empreendimentos do PMCMV,

localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, alcançam, por meio da participação, a

integração com o contexto urbano no que concerne ao acesso aos serviços de

mobilidade urbana, saúde, assistência social e educação em Feira de Santana?

Para complementar tal indagação, questiona-se ainda: de que forma os

representantes locais se articulam para garantir que o poder público cumpra o seu

papel no que concerne a seguridade de políticas públicas? Qual instrumento de

articulação com o poder público é possível ser elaborado com base nas experiências

desses grupos comunitários? Quais instrumentos e canais o poder público local

disponibiliza para que haja participação social?

Pressupõe-se que as circunstâncias desfavoráveis decorrentes da adaptação

dos beneficiários a um novo contexto de moradia os impulsionam a mobilização e

organização comunitária, ainda que incipientes. Muitos desses sujeitos se

posicionam em prol de melhorias e as associações de moradores e os corpos

diretivos dos residenciais (síndico, subsíndico e conselho fiscal) são representantes

que, na teoria, agem em prol de melhores condições de vida, com vistas à conquista

de uma infraestrutura de qualidade.

Assim, na perspectiva de responder a problemática estabelecida, elegeu-se

como objetivo geral: analisar as estratégias de participação social adotadas pelos

moradores, no que concerne ao acesso aos serviços de mobilidade urbana, saúde,

assistência social e educação, com base no estudo dos empreendimentos do

PMCMV, localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, em Feira de Santana. Os

objetivos específicos são: caracterizar os representantes comunitários dos

empreendimentos do PMCMV, localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, Feira

de Santana e suas trajetórias; compreender as alternativas utilizadas pelos

representantes comunitários para que o poder público cumpra o seu papel no que

concerne a seguridade dos serviços públicos básicos; verificar os instrumentos e

canais que o poder público local disponibiliza para que haja participação social no

âmbito da habitação; elaborar um guia, com base nos dados coletados nas

entrevistas e oficinas, composto de informações que possam ser utilizadas para que

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ocorra a articulação com o poder público com vistas à seguridade dos serviços

públicos básicos.

Portanto, com base no entendimento de tais questionamentos, propôs-se

ainda a elaboração de um guia, capaz de fortalecer a integração dos moradores, por

meio da participação, com o contexto urbano de Feira de Santana. A finalidade

deste guia é orientar a população sobre a participação social e estimular os leitores

a refletirem e discutirem proposições para a cidade onde moram.

Para alcançar os objetivos de forma exitosa, considera-se fundamental

enfocar a metodologia, pois é através dela que o caminho a ser seguido na pesquisa

é traçado, o que possibilita, segundo Lakatos e Marconi (1991), o alcance do

objetivo com segurança e evita desperdícios, além de auxiliar o pesquisador na

constatação de possíveis erros.

No entanto, é válido lembrar que o uso do método não corresponde somente

às técnicas e aos instrumentos a serem utilizados, mas deve também relacionar-se

com o que se pretende estudar. Assim, entende-se que o mesmo precisa estar

articulado com a reflexão, não sendo definido de forma aleatória e desconectado do

sujeito e objeto de pesquisa (OLIVEIRA, 1998).

O olhar e a escuta fizeram parte da construção deste estudo, que também se

apoiou nos ensinamentos de Minayo, quando define que metodologia é “[...] o

caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”, sendo

também “[...] a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência” (1999, p.16).

Do mesmo modo, entende-se que “[...] olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer

o mundo para dentro de si” (CHAUÍ,1988, p.33) e essa ideia retrata como o

pesquisador interage com o objeto de estudo em um processo mútuo de doação e

absorção de conhecimento.

Esta pesquisa trata-se de um estudo de campo, o qual se caracteriza pelo

fato da coleta de informações ser realizada diretamente no local a ser estudado e

pessoalmente pelo pesquisador, o que possibilita que os resultados sejam mais

próximos do real (GIL, 1999). Assim, empregou-se um modelo de investigação social

com abordagem qualitativa, que “[...] consiste em desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais

precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1999, p.33).

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Também optou-se seguir pelo viés descritivo por se tratar de um trabalho que

visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o

estabelecimento de relações entre variáveis. Entende-se que o trabalho descritivo

abrange vários aspectos do contexto social, além de possibilitar ao pesquisador

melhor compreensão sobre os fenômenos estudados, não desprezando elementos

que possam alterá-los (GIL, 1999).

Disso exposto, no âmbito da metodologia, esta pesquisa se dividiu em quatro

etapas: 1) Pesquisa bibliográfica; 2) Pesquisa documental com coleta de dados

secundários; 3) Coleta de dados primários com aplicação de entrevista

semiestruturada para elaboração do quadro de caracterização dos representantes

comunitários; 4) Realização das oficinas para elaboração do guia. Para subsidiar o

guia com as experiências de participação social dos sujeitos de estudo foi elaborado

um Relatório Técnico, que apresenta os resultados obtidos, conclusões e

recomendações.

Dentro dessa lógica, este estudo se apoiou nos preceitos da pesquisa-

intervenção, uma vez que teve um enfoque participativo e transformador em todas

as etapas, especialmente no desenvolvimento das oficinas, que tiveram a finalidade

de coletar informações por meio da comunicação e interação. Pretendeu-se, com

isso, além de pesquisar e analisar dados, fomentar a atuação dos sujeitos desta

pesquisa no âmbito da participação social, “[...] já que propõe uma intervenção de

ordem micropolítica na experiência social” (AGUIAR; ROCHA, 2007, p. 660).

Assim, o campo empírico, no qual se desenvolveu a pesquisa, corresponde

aos bairros Mangabeira e Aviário, que encontram-se situados fora do anel de

contorno da cidade e, conforme o Censo do IBGE (2010), contam com uma

população de 20.819 e 11.912 habitantes, respectivamente. Nesses bairros existem

empreendimentos habitados há pelo menos dois anos e isso implica em um número

relevante de representantes instituídos para tratar das questões condominiais,

garantirem uma boa convivência entre os moradores, a conservação do patrimônio e

a manutenção das despesas coletivas.

Além de observar que Feira de Santana é uma cidade em expansão no que

concerne a construção de habitações de interesse social e que os bairros

Mangabeira e Aviário recebem investimentos nessa perspectiva, outro aspecto

influenciou para a decisão de realizar uma pesquisa nesse campo. A responsável

por este estudo executou, durante dois anos, atividades referentes ao trabalho social

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nos residenciais do PMCMV, em Feira de Santana, e pôde observar com

significativa aproximação a realidade social das famílias beneficiárias e como é

fundamental que os moradores dessas residências desenvolvam estratégias de

participação social para compelir o poder público a assegurar políticas públicas, o

que despertou o interesse no tema, objeto deste estudo.

Esta pesquisa permitiu uma aproximação “[...] de significados, de vivências”,

tendo “[...] a possibilidade de compor intencionalmente o grupo de sujeitos”

estudado, com a compreensão de que “[...] é preciso aprofundar o conhecimento em

relação àquele sujeito com o qual estamos dialogando” (MARTINELLI, 2010, p. 23-

24). Desse modo, os sujeitos de estudo foram os representantes eleitos pelos

moradores dos residenciais do PMCMV nos bairros Mangabeira e Aviário. Foram

escolhidos dois empreendimentos, dentre os dezesseis, e que estão habitados há

dois anos no mínimo.

A exigência do tempo mínimo se deve ao fato de que o universo da pesquisa

foi constituído pelos grupos gestores dos condomínios e das associações de

moradores, em função dos quais foi constituída a amostra, e o processo de

instituição desses representantes requer tempo, pois ocorre após a

acomodação/adaptação dos moradores, formação das chapas e realização das

assembleias. O critério de inclusão consistiu na escolha de sujeitos, independente

de sexo, que estejam cumprindo com as suas atribuições, conforme preconiza os

estatutos sociais das associações comunitárias e dos condomínios, com pelo menos

um ano na função.

Ressalta-se que a escolha do tipo de amostragem é de fundamental

importância, pois é através dela que se seleciona uma parte dos sujeitos de estudo

que possa representar o universo da pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 2009). Dentre

os tipos de amostragem existentes optou-se pela não-probabilística de caráter

intencional, que dependeu exclusivamente dos critérios do pesquisador e “[...]

consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações

disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população” (GIL,1999,

p. 28). A escolha da amostra justifica-se por meio da intenção de selecionar

representantes comunitários que demonstraram interesse na participação social e

encontram-se ativos em busca de melhorias para a comunidade.

Page 26: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

25

Para coleta de dados primários foi utilizada a entrevista semiestruturada, que

permitiu ao entrevistado falar livremente sobre o tema principal. Nesse sentido, o

pesquisador estabeleceu uma relação direta com o sujeito de estudo e isso

favoreceu a captação de uma variedade de dados. Foi um processo de cautela e

cuidado, um momento de fundamental importância para a aceitação do pesquisador

pelo grupo (PÁDUA, 2004).

O roteiro contemplou questões referentes a dados sociodemográficos, sexo

(no sentido de gênero), idade, endereço, escolaridade, profissão, situação

ocupacional, renda mensal individual, renda mensal familiar, tempo de residência,

função, tempo que exerce a função, além de quatro questões abertas, que versam

sobre a trajetória dos representantes comunitários dos empreendimentos em estudo,

participação social, existência ou não de instrumentos e canais que o poder público

local disponibiliza para que haja participação social no âmbito da habitação,

alternativas utilizadas pelos representantes comunitários para que o poder público

cumpra o seu papel no que concerne a seguridade dos serviços públicos básicos,

conforme o apêndice A.

A escolha desse roteiro justifica-se por se aproximar melhor da abordagem

qualitativa e por reconhecer a dinamicidade que existe nas experiências sociais e

relações “[...] entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o

sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade

do sujeito” (CHIZZOTTI, 2003, p. 79). Nesse sentido, permitiu captar dados

objetivos e subjetivos, dentro de uma análise de observação da realidade através da

qual o grupo deu as informações.

Antes de proceder cada entrevista, foi pontuado o objetivo da pesquisa a cada

sujeito, a instituição de ensino que a pesquisadora está vinculada, bem como o

esclarecimento de que eles tinham a liberdade de responder ou não aos

questionamentos.

Após a leitura e os esclarecimentos, cada entrevistado assinou o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme o apêndice B, a fim de

formalizar a sua autorização para a realização da entrevista. Foram realizadas 20

entrevistas, 10 no Residencial Viver Iguatemi II e 10 no Vida Nova Aviário I, na

residência dos sujeitos e foi utilizado um gravador para registrá-las.

Page 27: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

26

Também foi realizada a coleta de dados secundários nos arquivos da PMFS,

que fundamentaram a discussão sobre a participação social em Feira de Santana,

especialmente, sobre os canais instituídos pelo poder público no âmbito da

habitação. A pesquisa nos documentos dos condomínios subsidiou a elaboração da

caracterização dos residenciais e dos representantes comunitários.

Outra técnica utilizada para coleta de informações foi o desenvolvimento de

oficinas, compostas por grupos de seis a dez integrantes, com o objetivo de

compreender as alternativas utilizadas pelos representantes comunitários para que o

poder público cumpra o seu papel no que concerne a seguridade dos serviços

públicos básicos, bem como contribuir para a caracterização dos representantes

comunitários dos empreendimentos e suas trajetórias. Em cada um dos dois

residenciais, foram realizadas três oficinas e os procedimentos metodológicos

adotados estão descritos na seção 4.

Os dados foram analisados com o uso da técnica denominada análise de

conteúdo, já que a pesquisa qualitativa tem por objetivo demonstrar o que os

sujeitos envolvidos pensam a respeito do que está sendo estudado. A abordagem de

Bardin (2002) norteou essa etapa através da orientação de que a análise de dados

deve ser organizada em três polos cronológicos: a pré-análise, que tem o objetivo de

sistematizar as ideias e organizar o material coletado; a exploração do material,

momento em que o pesquisador administra de forma sistemática as decisões a

serem tomadas para a análise, e o tratamento dos resultados com a interpretação.

Nesse processo, muito mais que a visão do pesquisador, o que interessa é o

que o sujeito tem a expressar, conforme demonstra Severino acerca da análise de

conteúdo:

[...] um conjunto de técnicas da análise das comunicações. Trata-se de compreender criticamente o sentido manifesto ou oculto das informações. Envolve, portanto, a análise dos conteúdos das mensagens, os enunciados dos discursos, a busca do significado das mensagens. As linguagens, a expressão verbal, os enunciados, são vistos como indicadores significativos, indispensáveis para a compreensão dos problemas ligados às práticas humanas (SEVERINO, 2007, p. 121).

Foi realizada, na medida do possível, a articulação entre as informações

coletadas pelo pesquisador, através das entrevistas, das oficinas e do referencial

teórico do estudo, a fim de responder às questões da investigação.

Page 28: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

27

Após os esclarecimentos metodológicos, é válido salientar que o PMCMV é

objeto de estudo de muitos pesquisadores, devido a sua contribuição na expansão

da produção de habitações no Brasil, em tese, porque favorece a redução do déficit

habitacional, bem como impulsiona a economia através de investimentos na área de

construção civil. Autores como Araújo (2016), Krause (2013), Balbim (2013), Neto

(2013) e Moura (2014) exploram a temática com ênfase na discussão, por exemplo,

sobre padrões de segregação espacial, desterritorialização, política habitacional

brasileira, implicações socioambientais, políticas e territoriais, dentre outros

aspectos.

Os autores Oliveira Filho (2009) e Silva et. al. (2009) elaboraram estudos

sobre a participação popular no planejamento urbano, não focalizando, portanto, o

PMCMV. Dentre as pesquisas realizadas em Feira de Santana, destaca-se a de

Araújo (2016), que escreve sobre o PMCMV e a produção do espaço nas áreas

periféricas de Feira de Santana, especificamente no bairro Mangabeira.

Dentre os autores utilizados para subsidiar este trabalho, cita-se: as autoras

Souza (2006) e Rua (2012) nas conceituações de política pública; Paulo Netto

(2009), Behring et. al. (2011), Iamamoto (2006), Couto (2006), Yazbek (2009) e

Prédes (2002) na discussão sobre as políticas sociais e o Estado neoliberal;

Cardoso (2013), Aragão (2013) e Botega (2007) na trajetória da política de habitação

no Brasil; Ammann (2003), Silva (2003) e Souza (2006) que contribuíram para as

análises sobre participação social.

Este Relatório foi organizado em quatro seções, além da parte introdutória e

das considerações finais, seguindo as normas da ABNT3 (2015). A seção 2 aborda a

política de habitação no Brasil e, com vistas ao entendimento desta temática, optou-

se por tratar da origem das políticas públicas e da sua relação com a questão social.

Esse embasamento teórico contribuiu para a descrição da trajetória da política

habitacional no Brasil e suas imbricações com o modo de produção capitalista.

A seção 3 apresenta o tema participação social no âmbito da política de

habitação e aborda o caráter político da participação, que é capaz de inserir as

camadas pobres da sociedade nos processos decisórios das políticas públicas,

especialmente da habitação. A segunda etapa desta seção contempla uma análise

documental sobre a participação social na política de habitação em Feira de

3 Este relatório encontra-se de acordo com as normas da ABNT sobre Relatório Técnico, presentes

na Norma Brasileira 10719 (2015).

Page 29: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

28

Santana.

Na seção 4, as especificidades da investigação são descritas no que

concerne a caracterização do município de Feira de Santana, dos bairros

Mangabeira e Aviário, bem como dos Residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova

Aviário I, que compõem o campo empírico deste estudo, onde foram realizadas as

oficinas sobre participação social. Além disso, há a descrição do caminho

metodológico das oficinas, com exposição de fotos e do quadro síntese que dispõe

sobre os roteiros de cada oficina realizada.

A seção 5 é composta pela trajetória dos representantes comunitários

entrevistados, com ênfase na caracterização sociodemográfica desses sujeitos e na

análise das respostas das entrevistas aplicadas e das oficinas. As informações

coletadas e analisadas foram sobre o desenvolvimento das funções desses

representantes, integrantes da equipe de gestão condominial e das associações de

moradores e sobre as alternativas que esses utilizam para que o poder público

cumpra o seu papel no que concerne a seguridade dos serviços públicos básicos.

Salienta-se que, no que concernem as formas de participação social, há uma

diversidade que abrange os meios de participação normatizados pelo poder público

e outros que são alternativos, não institucionalizados. Este trabalho considera

relevante tal variedade e cita, de forma sucinta, algumas ações participativas

advindas da população. Todavia, o foco são os canais institucionalizados pelo poder

público.

Com base nas entrevistas e nas oficinas realizadas com os representantes

comunitários foi possível elaborar o guia “Participação Social no Âmbito da Política

de Habitação em Feira de Santana”. A ideia de criar esse instrumento surgiu da

compreensão de que ofertar informações sobre a participação social pode contribuir

para melhorar o diálogo entre a população e a gestão pública.

Trata-se de uma alternativa de caráter socioeducativo, que reconhece na

participação social uma estratégia de empoderamento e que pode ser utilizada pelas

camadas empobrecidas da sociedade com vistas à melhoria da qualidade de vida.

Diante disso, a presente proposta possui originalidade por tratar-se de uma

pesquisa com foco na participação social, dentro dos residenciais do PMCMV, nos

bairros Mangabeira e Aviário, como meio para que os beneficiários alcancem a

integração com o contexto urbano no que concerne ao acesso aos serviços públicos.

Trata-se de um tema relevante por ser contemporâneo e, sobremodo, porque

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29

estudá-lo também contribui para criar uma técnica que seja capaz de atenuar ou, ao

menos, mitigar os problemas decorrentes dos impactos socioterritoriais ocasionados

pelas construções e políticas oriundas do referido Programa, com o intuito de

fortalecer a participação social na gestão urbana do município.

Dessa forma, propostas de pesquisa com caráter propositivo como esta são

importantes para academia e sociedade, pois, em primeiro lugar, permitem estudar

as formas de organização comunitária que os beneficiários do Programa utilizam em

prol de melhorias infraestruturais nos espaços ocupados pelas habitações do

MCMV. Mas, sobretudo, por permitir a construção de propostas de promoção de

intervenções no real, com vistas a uma transformação social efetiva.

Trata-se, portanto, de um estudo proeminente, pois se apoia em métodos

específicos na perspectiva de entender a realidade experienciada por esses núcleos

habitacionais no que concerne à urbanização, assim como, favorecer as práticas de

participação social com a criação de um guia, com base em informações e nas

demandas fornecidas pelos beneficiários.

Page 31: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

30

2. A POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO BRASIL

Nesta seção são apresentados alguns conceitos que se relacionam ao tema

políticas públicas, bem como a relação dessas com o surgimento da questão social,

que incide no caráter social das políticas, sobretudo da política de habitação que é

foco deste estudo. A apreciação de tais aspectos contribui para o entendimento da

trajetória da política de habitação no Brasil, que é sintetizada neste trabalho entre o

governo Getulista e o governo de Lula, ou seja, da criação da Fundação da Casa

Popular (FCP) até o PMCMV.

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E A RELAÇÃO COM O SURGIMENTO DA QUESTÃO

SOCIAL

O Estado, em meados do século XVI, em meio a um período marcado por

conflitos civis e religiosos, surge com o objetivo primordial de garantir a vida e a

propriedade através de leis e da manutenção da ordem. Nessa perspectiva, a

seguridade de direitos aos cidadãos e outras necessidades, que porventura viessem

a acontecer, só eram analisadas após o restabelecimento da paz (CREVELD, 2004).

No decurso da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea,

notadamente entre os séculos XVIII e XIX, o Estado desempenhava funções

restritas à manutenção da segurança pública interna e da preservação da

propriedade privada, bem como a defesa das fronteiras e prevenção para ataques

externos de outros Estados, considerados inimigos (CREVELD, 2004).

No século XX, com a consolidação da democracia e o adensamento das

atividades dentro das sociedades, o Estado foi compelido a responsabilizar-se por

uma nova dinâmica social e os teóricos discorreram sobre a necessidade de uma

refuncionalização governamental. Assim, surgiu uma nova atividade, a promoção do

bem-estar-social, que por certo demandou uma intervenção estatal distinta, com o

requisito de que houvesse uma aproximação do Estado com a sociedade para a

proposição de soluções dos problemas cotidianos (RUA, 2012).

Com base nisso, surgiu o conceito de políticas públicas com vistas à

superação de demandas sociais específicas. Para os especialistas no tema, seu

surgimento deu-se nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX, como

“[...] área do conhecimento e disciplina acadêmica”, com “[...] ênfase nos estudos

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sobre a ação dos governos” (SOUZA, 2006, p. 02-03).

Nesse sentido, observa-se a seguir um conceito de política pública que é:

[...] um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. [...] É possível considerá-las como estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório (SARAVIA, 2006, p. 28).

Ressalta-se que “[...] embora uma política pública implique em decisão

política, nem toda decisão política chega a constituir uma política pública” é

necessário um conjunto de deliberações relacionadas entre si, com objetivos e

estratégias estabelecidos (RUA, 2012, p. 18). Para complementar essa reflexão,

salienta-se que as políticas públicas:

[...] envolvem tanto uma decisão política, quanto requerem diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas e isso implica escolher dentre várias alternativas, conforme a hierarquia das preferências dos atores envolvidos, expressando uma adequação entre os fins pretendidos e os meios disponíveis para alcançá-los (SIMAN, 2005, p. 36).

Para alguns especialistas, as políticas públicas “[...] expressam a capacidade

do governo em realizar as preferências dos cidadãos” (SIMAN, 2005, p. 29). Dessa

forma, a participação da sociedade civil nas etapas decisórias das políticas públicas

possibilita uma agenda política condizente com as demandas sociais.

Com base nessas conceituações, sintetiza-se que a compreensão de política

pública neste estudo é de um conjunto de decisões estrategicamente relacionadas,

escolhidas com a participação ativa da sociedade civil, com a finalidade de intervir

na realidade social, aplicada pelo poder público com o desenvolvimento de

programas, projetos e ações.

A discussão ora apresentada tem como uma de suas vertentes analíticas a

política de habitação que será debatida não apenas como uma política pública, mas

como uma política pública de caráter social. Essa escolha se justifica pelo fato de

que a carência habitacional encontra-se intrinsecamente relacionada com a questão

social e essa análise será elucidada a seguir, através da contextualização do

surgimento das políticas sociais, para uma melhor compreensão a esse respeito.

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32

A política social começou a ser refletida na Inglaterra, século XIX, onde se

iniciou o processo de industrialização. Nesse contexto, originaram-se as primeiras

discussões sobre possíveis intervenções nas condições de pobreza da população,

decorrentes do novo sistema produtivo. A outra nação que também começou a

discutir essas questões foi à Alemanha, na qual foi desenvolvida “[...] uma teoria de

igualdade de direito e igual distribuição de benefícios como base do progresso

econômico e social do indivíduo” (LEVCOVITZ; VIANA, 2005, p.19-20).

Diante disso, foram criadas duas vertentes filosóficas sobre política social,

que são as seguintes:

a tradição alemã, em que a política social é definida em função da autonomia do corpo social; as agências organizadoras de base voluntária exercem papel preponderante e cabe ao Estado normatizar;

a corrente inglesa, na qual o Estado tem papel dominante na política social, com função não só de regular, mas de prover e gerir bens e serviços sociais (LEVCOVITZ; VIANA, 2005, p.20).

Ressalta-se que, nas sociedades pré-capitalistas, as intervenções estatais

eram de caráter assistencialista e o interesse do Estado não era assumir

responsabilidades sociais, mas sim manter a ordem social através da filantropia. As

leis inglesas foram precursoras nesse contexto e estabeleceram legislações

punitivas, repressivas e não protetoras. O intuito era compelir os sujeitos a

trabalharem e, através de ações assistencialistas, era garantido um auxílio mínimo

ao pobre selecionado que, obrigatoriamente, teria que trabalhar em qualquer

trabalho, sem negociação de remuneração, para compensar a assistência recebida

(BEHRING; BOSCHETTI, 2011).

Nesse ínterim, não havia assistência ao pobre na perspectiva da seguridade

de direitos e, em decorrência disso, bem como da exploração nas intensas jornadas

de trabalho, a classe trabalhadora passou a lutar pela regulamentação trabalhista e

a pressionar o Estado em busca da ampliação dos direitos. Com isso, no final do

século XIX e início do século XX, o enfrentamento da classe trabalhadora “contribuiu

[...] para ampliar direitos sociais, para tencionar, questionar e mudar o papel do

Estado no âmbito do capitalismo” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 64).

A origem das políticas sociais foi paulatina e não linear e ocorreu de formas

distintas entre os países. Foi com a emergência do capitalismo monopolista que a

política social pública começou a ser pensada na sociedade burguesa, tendo como

intenção o enfrentamento das sequelas da questão social que é definida como:

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[...] as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e a burguesia (IAMAMOTO, 2006, p.77).

Essa nova organização do capitalismo, denominada monopolista, tem como

característica principal o “[...] acréscimo de lucros capitalistas através do controle

dos mercados” e nessa conjuntura surgem os grandes conglomerados financeiros e

industriais (PAULO NETTO, 2009, p. 20). Doravante, com base no mesmo autor,

aparecem os rebatimentos sociais decorrentes do aumento progressivo dos preços

das mercadorias, altas taxas de lucros nos setores monopolizados, concentração de

investimentos nos setores de maior concorrência, introdução de novas tecnologias e

substituição do trabalho humano, assim, um grande número de trabalhadores passa

a integrar o exército industrial de reserva.

A respeito disso, pontua-se que a política social no Estado burguês não é

direcionada ao enfrentamento da questão social em si, uma vez que isso colocaria

em risco a ordem burguesa. As intervenções políticas são realizadas nas refrações

da questão social que fragmentam e individualizam as problemáticas decorrentes da

relação capital/trabalho (PAULO NETTO, 2009).

No Brasil, a origem da política social possui características peculiares, uma

vez que “[...] não fomos o berço da Revolução Industrial e as relações sociais

tipicamente capitalistas desenvolveram-se aqui de forma bem diferente dos países

de capitalismo central” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 71). O primeiro ponto a

ser destacado nessa análise é a questão da escravidão que resultou em marcas nas

relações sociais e de trabalho, que possuem características de degradação até os

dias atuais, devido ao longo período de exploração.

Outra questão relevante presente na história da formação do capitalismo no

Brasil foi “[...] a ruptura com a homogeneidade da aristocracia agrária”, que

caminhou a passos lentos, pois o processo de modernização do país sofreu

interferências da aristocracia agrária que não queria abrir mão dos seus privilégios.

Assim, “[...] a crise do poder oligárquico-escravista inaugura um processo de

transição – „cinzento e morno‟ – que cria as bases para a concretização do poder

burguês no país” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 77).

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No Brasil, as lutas e manifestações provenientes da classe trabalhadora em

busca de melhores condições nas relações de trabalho só ocorreram a partir do

início do século XX, “[...] sobretudo após 1907, quando se reconhece o direito de

livre organização sindical, naquele momento com total autonomia em relação ao

Estado” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 104).

Com a crise econômica de 1929, que teve início “[...] no sistema financeiro

americano, a partir do dia 24 de outubro de 1929, quando a história registra o

primeiro dia de pânico na Bolsa de Nova Iorque e se alastrou pelo mundo, reduzindo

o comércio mundial a um terço do que era antes” (BEHRING, 2009, p.7) houve um

aumento dos conflitos e desigualdades sociais próprios do sistema capitalista

monopólico. Diante disso, “[...] surgiu, no âmbito mundial, a proposta do estado

social, que alcança sua consolidação e desenvolvimento no pós-guerra,

notadamente nas décadas de 1950 e 60” (COUTO, 2006, p.64). Assim, iniciam-se

estratégias em prol do bem-estar, sustentadas nas ideias de Keynes, que

recomendam a intervenção do Estado “[...] na economia por meio de investimentos

no mercado produtivo [...] buscando, assim, diminuir as desigualdades sociais”

(COUTO, 2006, p.64).

Essa crise abalou a economia brasileira, especialmente, a produção de café

que era responsável por 70% do PIB brasileiro. Com isso, por um lado, “[...] as

oligarquias agro-exportadoras cafeeiras ficaram extremamente vulneráveis

economicamente e politicamente” e, em decorrência disso, por outro, as “[...]

oligarquias do gado, do açúcar e outras, que estavam fora do núcleo duro do poder

político, aproveitaram as circunstâncias para alterar a correlação de forças e

diversificar a economia brasileira” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 105).

Foi nesse período que o líder Getúlio Vargas iniciou a sua trajetória política

como presidente do Brasil em um Governo Provisório de 1930 a 1934, em seguida,

de 1934 até 1937 foi eleito pela Assembleia Nacional Constituinte, e de 1937 a 1945

tornou-se presidente de um governo ditador, o Estado Novo. Esse cenário

caracterizou-se pelo fortalecimento das novas oligarquias agrárias e indústria, bem

como demarcou a introdução de políticas sociais, com o estabelecimento de

regulamentações trabalhistas, criação do Ministério da Educação e Saúde Pública,

Legião Brasileira de Assistência, como resposta as demandas provenientes da

questão social (BEHRING; BOSCHETTI, 2011).

Page 36: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

35

Os 15 anos de governo Vargas demarcaram um período chamado de

populista, caracterizado pelo clientelismo e paternalismo no que diz respeito às

políticas sociais. Foi um governo que promoveu o crescimento da indústria, das

cidades e, consequentemente, dos problemas sociais. Com isso, houve avanços no

sistema de proteção social do país, só que de forma fragmentada, tendo em vista

que só os trabalhadores sindicalizados tinham acesso aos benefícios sociais.

O governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 a 1961, tinha como proposta

principal o desenvolvimento do Brasil com o discurso do crescimento de 50 anos em

5. Esse avanço desenvolvimentista da economia capitalista no país gerou

consequências, tais como o acirramento da “[...] luta de classes, pois implicava o

aumento numérico e a concentração da classe trabalhadora” e “[...] também as

tensões no campo, [...] em função da inexistência de um reforma agrária

consistente” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 110).

É importante salientar que o Brasil não vivenciou o Estado de bem-estar

social, como nos países europeus. No período da ditadura militar, a partir de 1964, o

Brasil “[...] vivia a expansão do „fordismo à brasileira‟, por meio de chamado Milagre

Brasileiro [...] que assumiu a introdução da produção em massa de automóveis e

eletrodomésticos [...] que, ademais, já vinha acontecendo desde 1955” (BEHRING;

BOSCHETTI, 2011, p. 134-135).

Na perspectiva da política social, esse período revelou um caráter

modernizador, no qual “[...] expandia-se [...] a cobertura da política social brasileira,

conduzida de forma tecnocrática e conservadora, reiterando uma dinâmica singular

de expansão de direitos sociais em meio à restrição de direitos civis e políticos”

(BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 135). Em meados da década de 1970 a

economia brasileira entrou em colapso por não conseguir seguir adiante com o ritmo

acelerado de crescimento.

Na conjuntura mundial já estavam sendo introduzidas as ideias neoliberais,

pois, apesar das estratégias keynesianas serem consideradas, por um espaço de

tempo, bem sucedidas no âmbito da ideologia capitalista, já que foram responsáveis

por reestabelecer o crescimento econômico, expandir o número de empregos,

aumentar o consumo de massas (LEVCOVITZ; VIANA, 2005), elas também

ocasionaram duas crises na década de 1970, que impulsionaram os trabalhadores a

se unirem em mobilizações em prol da ampliação do Estado (COUTO, 2006).

Page 37: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

36

Essa crise econômica foi caracterizada “[...] pela tendência decrescente das

taxas de lucros, acompanhada de altas taxas de inflação, ruindo, assim, os pilares

econômicos que sustentavam o projeto de planejamento da fórmula keynesiana”

(COUTO, 2006, p.69). Foi nesse contexto que surgiu a necessidade de se apropriar

de um novo modelo econômico, sendo esse o neoliberal.

O neoliberalismo trouxe consigo propostas liberais reformuladas, que criticam

o papel do Estado como interventor no mercado e na sociedade. Sobre as ideias

neoliberais, cita-se o seguinte:

Utilizadas de forma superficial e oportunista, suas teses rapidamente ordenaram a necessidade de ajustes a serem procedidos por todos os países com o objetivo de: minimizar a presença do Estado e desregular o desempenho das leis de mercado. A tese vulgarizada era a seguinte: se se permitisse que os negócios se realizassem livremente, o progresso da

humanidade se daria de forma inevitável (WILHEIM, 1999, p. 46).

Para tanto, o Estado neoliberal apresenta “[...] alternativas e estratégias

refilantropizadas para a pobreza e a exclusão social” (YAZBEK, 2009, p.29) e,

também, “[...] a opção neoliberal na área social passa pelo apelo à filantropia e à

solidariedade da sociedade civil e programas seletivos e focalizados de combate a

pobreza” (YAZBEK, 2009, p.29), o que coloca como alvo as políticas sociais, só que

subordinadas à lógica do capital e à política de estabilização econômica.

O capital, orientado pela visão neoliberal, cria estratégias para manter a

coesão do sistema, apaziguando as desigualdades e, concomitante a isso, tornando

as expressões da questão social funcionais aos objetivos neoliberais. A inclusão

social e a garantia de direitos sociais tornam-se meios para reduzir a insatisfação

popular e conter os movimentos trabalhistas. Dessa maneira, são ocultadas a

exploração, a exclusão social, a miséria, o desemprego, enfim, encontram-se formas

de legitimar o sistema, reproduzir as relações sociais e ampliar a acumulação do

capital (BORÓN, 1995).

Todavia, ressalta-se que as políticas sociais, para alguns teóricos, surgem

pelo interesse do sistema capitalista, mas, para outros, como fruto de uma forte

mobilização da sociedade. Essa contraposição de ideias é nomeada por Couto como

o “[...] binômio concessão ou conquista” (2006, p.60). Acerca disso, a autora escreve

o seguinte:

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Para alguns estudiosos, o que caracteriza as políticas sociais é o seu compromisso em manter a acumulação e reproduzir a força de trabalho, buscando a legitimação do sistema capitalista (Coimbra, 1987), o que traduziria a sua concepção de concessão. Outros entendem as políticas sociais como campo contraditório, onde as demandas dos trabalhadores e sua disputa por ampliar direitos sociais ganham visibilidade, introduzindo aí a ideia de que elas se constituíram numa conquista (COUTO, 2006, p.60).

É inegável o fato das políticas sociais serem utilizadas pelo Estado para

minimizar os conflitos sociais, porém compreende-se que para que os direitos

sociais sejam concretizados é necessária a manifestação da população para tornar

visível as suas demandas. Assim, este relatório se apóia no seguinte conceito:

[...] uma forma de gestão estatal da força de trabalho e, nessa gestão, não só conforma o trabalhador às exigências da reprodução, valorização e expansão do capital, mas também é o espaço de articulação das pressões e movimentos sociais dos trabalhadores pela ampliação do atendimento de suas necessidades e reivindicações (SPOSATI,1998, p.34).

Entende-se que os avanços obtidos no campo social são provenientes das

lutas populares. No entanto, as reivindicações precisam ser constantes, pois o

Estado neoliberal tende a minimizar os gastos com o social para favorecer o

crescimento econômico. Assim, outro conceito de política social, que contribui para a

discussão ora apresentada, é o seguinte:

[...] uma atribuição, definida politicamente, de direitos e deveres legais dos cidadãos. Estes direitos consistem na transferência de dinheiro e serviços com objetivo de compensar condições de necessidade e risco para o cidadão que goza de tal direito, e que não consegue acesso a esses mesmos bens com seus próprios recursos e/ou dotes individuais [...] (LEVCOVITZ; VIANA, 2005, p.19).

No entanto, no Brasil, “[...] as políticas sociais, particularmente pós-64, tem-se

caracterizado pela subordinação a interesses econômicos e políticos”. A mesma

autora também afirma que as políticas do governo destinadas ao social são

utilizadas na intenção de atenuar e camuflar os problemas e não de resolvê-los e

que “[...] as políticas governamentais no campo social, embora expressem o caráter

contraditório das lutas sociais, acabam por reiterar o perfil da desigualdade no país e

mantém essa área de ação submersa e paliativa (YAZBEK, 2009, p.40).

Nesse ínterim, assinala-se ainda que os direitos assegurados pelo Estado

brasileiro caracterizam-se por fazer parte de uma relação clientelista, o que trata-se

“[...] de um padrão arcaico de relações que fragmenta e desorganiza os subalternos

ao apresentar como favor ou como vantagem aquilo que é de direito” (YAZBEK,

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2009, p.41).

O entendimento dos sujeitos é obscurecido no que diz respeito ao que de fato

é seu direito e obrigação do Estado e isso dificulta a concretização da cidadania e

impede que os indivíduos lutem por melhores condições de vida, pois sempre se

sentirão gratos e em dívida por terem um direito assegurado em forma de benesse.

2.2 TRAJETÓRIA DA POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL

A aceleração do processo de urbanização sofrido pelo Brasil ao longo do

século XX provocou uma consequente concentração da população nas cidades.

Essa conjuntura apresentou um quadro de desigualdades sociais e, neste estudo,

pretende-se tratar especificamente da insuficiência de serviços públicos, dos

elevados déficits em saneamento, infraestrutura e habitação.

Esse cenário se estabeleceu em decorrência da gênese da questão social na

sociedade capitalista, na qual houve a apropriação privada dos meios de produção e

do excedente de trabalho (trabalho não pago), ou seja, o homem trabalha além do

que necessita para o seu sustento e o excedente é apropriado pelo detentor dos

meios de produção, o que gera o acúmulo de riquezas. Esse fator ocasionou o

surgimento de classes sociais desiguais e contraditórias, definidas por Marx (1993,

p. 157 apud OLIVEIRA, 1997, p. 83) como “[...] os possuidores de propriedade e os

trabalhadores sem propriedade”.

O surgimento da questão social está diretamente ligado com a relação entre o

trabalho e o capital. O trabalho encontra-se na base de toda a vida social e a

exploração da força de trabalho humana pelo capital trouxe consequências para a

vida do trabalhador, alterando, assim, as relações sociais até os dias atuais.

Com as modificações históricas a questão social adquiriu novas expressões,

no entanto, trata-se de um mesmo fato que se manifesta diferentemente,

dependendo do contexto histórico, e a sociedade também responde a essas

transformações de forma distinta. A respeito disso, complementa-se:

A questão social explicita as exigências históricas que marcam a reprodução/continuidade da desigualdade de condições e de inserção das classes sociais no processo de reprodução da riqueza material e cultural de uma sociedade. Portanto, a questão social está vinculada historicamente às condições de vida da classe trabalhadora, à forma como esta produz seus meios de vida e às suas lutas para sobreviver na dinâmica da sociedade capitalista (PRÉDES, 2002, p.63).

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Assim, o que há de similar é a conservação dos “[...] elementos da busca da

estabilidade e [...] da ordem estabelecida, da preocupação com a reprodução dos

antagonismos e contradições capitalistas, e da legitimação social, como

denominador comum entre essas diferentes versões” (PASTORINI, 2004, p. 12).

O processo de urbanização no Brasil também sofreu transformações

decorrentes das novas relações de produção e esteve estritamente relacionado ao

“[...] caráter de capitalismo dependente que a formação econômica e social brasileira

adquiriu, sobretudo, após a passagem do modelo agrário-exportador para o [...]

urbano-industrial de desenvolvimento” (BOTEGA, 2007, p. 65). Os segmentos

empobrecidos da população foram os mais atingidos pelas refrações da questão

social e o Estado foi compelido a enfrentar esse cenário de vulnerabilidade para

minimizar os conflitos sociais iminentes.

O Estado passa a atuar na questão da habitação com a instituição de políticas

governamentais, o que favoreceu o desenvolvimento do capitalismo, uma vez que a

manutenção desse sistema necessita de mão-de-obra barata e os trabalhadores não

têm como adquirir moradia por conta própria. Assim, a habitação tornou-se uma

demanda urgente, principalmente nas camadas pobres e também um importante

foco de exploração para os empreendedores imobiliários, pois tornou-se uma valiosa

mercadoria (SANTO, 2012).

O intenso êxodo rural desencadeou um surto de crescimento urbano no Brasil

e impulsionou o governo getulista a criar estratégias para sanar os problemas

advindos da urbanização. Para tanto, a aquisição da casa própria passou a ser

ofertada em forma de “[...] crédito imobiliário pelas Caixas Econômicas e pelos

Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS) ou por bancos incorporadores

imobiliários” (BOTEGA, 2007, p.67).

A primeira política de habitação no Brasil foi criada em 1946 e intitulada como

Fundação da Casa Popular (FCP), com o objetivo inicial de financiar habitações e

atividades complementares de caráter urbanístico. Por falta de recursos e ineficácia

das regras de financiamento, a FCP não obteve êxito e em 1961 entrou em declínio

por conta da insuficiência do seu atendimento diante da demanda habitacional no

país (BRASIL, 2004).

Em 1964, foi criado o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco

Nacional de Habitação (BNH) “[...] com a missão de estimular a construção de

habitações de interesse social e o financiamento da aquisição da casa própria,

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especialmente pelas classes da população de baixa renda” (BOTEGA, 2007, p. 67).

Ainda segundo o autor, em 1986, o SFH/BNH não resistiu à crise inflacionária

e o presidente Sarney declarou o fechamento do BNH. Nesse período, o público alvo

era a classe média que se tornou inadimplente e, além disso, foram descobertos

esquemas de corrupção que também contribuíram para esse desfecho.

Diante disso, as responsabilidades atribuídas ao BNH foram repassadas para

a Caixa Econômica Federal (CEF). A área de habitação continuou ligada ao

Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente que, em 1987, transformou-

se em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente e incorporou a CEF,

que outrora estava vinculada ao Ministério da Fazenda (BRASIL, 2004).

Em 1988, criou-se o Ministério da Habitação e do Bem Estar Social (MBES),

responsável pela gestão da política habitacional e extinto em 1989, quando se criou

a Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária (SEAC) (BRASIL, 2004).

Salienta-se que o marco histórico do ano de 1988 foi à promulgação da

Constituição Federal, que teve como uma das suas características principais a

descentralização, que possibilitou aos Estados e Municípios a gestão de programas

sociais, como os de habitação. Além disso, também influenciou na gestão da política

de habitação com a incorporação de uma conquista no âmbito da participação

social, a exigência da participação comunitária através dos conselhos (AZEVEDO,

1995).

No que concerne ao trabalho desenvolvido pela SEAC, assinala-se a

autonomia concedida aos governos estaduais e municipais, que deixaram de ser

apenas executores da política de habitação. Em contrapartida, os recursos advindos

do FGTS não foram suficientes para dar conta do financiamento habitacional e isso

provocou a interrupção temporária dos programas. Assim, após muitas turbulências

políticas, os estados e municípios desenvolveram ações locais por meio de

programas de urbanização, regularização das favelas e de loteamentos periféricos,

com recursos advindos do autofinanciamento (BRASIL, 2004).

No ano de 1994, o governo federal lançou dois programas, Habitar Brasil e

Morar Município, com vistas à finalização das obras encetadas na gestão anterior

“[...] com recursos oriundos do Orçamento Geral da União e do Imposto Provisório

sobre Movimentações Financeiras (IPMF)” (BRASIL, 2004, p. 10). O Presidente

Fernando Henrique Cardoso, em seu primeiro governo, promoveu a extinção do

Ministério de Bem Estar Social e a criação da Secretaria de Política Urbana

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(SEPURB), na esfera do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO),

responsável pela formulação e implementação da Política Nacional de Habitação

(BRASIL, 2004).

Foi um período marcado pela desarticulação institucional, na qual os estados

e municípios não possuíam claras competências e responsabilidades, e o governo

federal sustentou todo o sistema de forma centralizada. Em 2001 o governo FHC

sancionou a Lei nº 10.257, referente ao Estatuto da Cidade, que é responsável por

regulamentar a política urbana estabelecida na Constituição de 1988 (BRASIL,

2004).

As implementações para esse panorama foram introduzidas com o governo

do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, por meio da criação do Ministério

das Cidades, que se responsabilizou pela Política de Desenvolvimento Urbano e,

setorialmente, a Política de Habitação (BRASIL, 2004).

Em 2005, criou-se o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social

(SNHIS), regulamentado pela Lei nº 11.124/2005, complemento da Política Nacional

de Habitação, com a pretensão de angariar mais recursos para oferecer moradias

aos sujeitos que habitam as favelas e os loteamentos clandestinos. Todavia, em

2008, o mundo vivenciou uma intensa crise4 que se originou nos Estados Unidos e

atingiu a globalizada economia capitalista. Em decorrência disso, o governo

brasileiro adotou estratégias, como a expansão do crédito dos bancos públicos e

apoio aos setores com dificuldades. Nesse contexto que o Programa Minha Casa,

Minha Vida (PMCMV) foi criado, em 2009, com o objetivo de alavancar o mercado

habitacional e atender as famílias com renda de até 10 salários mínimos (ARAGÃO;

CARDOSO, 2013).

A intensificação da expansão imobiliária no país ocorreu com o MCMV, que

tornou-se o programa de maior amplitude no âmbito da construção de habitações de

interesse social no Brasil. Além disso, foi responsável por dinamizar a produção

habitacional e estimular o crescimento do setor empresarial. O MCMV contribui para

a redução do déficit habitacional, no entanto, encontra-se desarticulado de políticas

urbanas e sociais, e o poder público demonstra priorizar a construção de um maior

4 “[...]crise econômica que teve início nos Estados Unidos a partir dos problemas sistêmicos financeiros provocados pela crise dos mercados secundários de títulos lastreados em hipotecas, envolvendo os chamados subprimes. [...] Os subprimes eram créditos de alto risco que, em um ambiente financeiro desregulado, eram vendidos como papéis seguros e que permitiam taxas elevadas de rentabilidade.” (ARAGÃO; CARDOSO, 2013, p. 35).

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número de empreendimentos (ARAGÃO; CARDOSO, 2013).

Isso coloca em questão a qualidade do desenvolvimento desse programa,

uma vez que o seu público estratégico é composto por famílias em situação de

pobreza e que deveriam morar em um território articulado com as políticas de

mobilidade urbana, assistência social, sustentabilidade ambiental, saúde e

educação.

No quadro 1 estão dispostas as principais estratégias políticas adotadas no

Brasil no âmbito da habitação no período de 1946 a 2009:

Quadro 1: Evolução da política da habitação no Brasil, 1946 - 2009

Ano Estratégias

1946 Criação da Fundação da Casa Popular (FCP), primeira política de

habitação do Brasil

1961 Extinção da FCP

1964 Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de

Habitação (BNH)

1986 Extinção do SFH/BNH

1988 Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente transformou-se

em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente.

1988 Promulgação da Constituição Federal do Brasil

1988 Promulgação da Constituição Federal do Brasil

1989 Instituição da Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária

1994 Instituição dos programas Habitar Brasil e Morar Município

2001 Instituição do Estatuto da Cidade

2003 Instituição do Ministério das Cidades

2005 Instituição do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social

2009 Instituição do Programa Minha Casa, Minha Vida

Fonte: AZEVEDO; CARDOSO (2013); BOTEGA (2007); BRASIL (2004). Elaboração: Lidiane Oliveira.

No que tange a participação social nesse contexto, em meados da década de

1970 a ditadura militar extinguiu os poucos “[...] canais de expressão e de

negociação de interesses e conflitos mantidos pelo populismo” (PINHEIRO, 2004, p.

72). Com isso, surgiram atores sociais, envolvidos em movimentos sociais, que

iniciaram o processo de luta por direitos sociais, políticos e civis. Havia uma

divergência nesse período, tendo em vista as altas taxas de crescimento econômico

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que não combinavam com a intensa degradação das condições de vida nas

periferias das grandes cidades.

Esse cenário impulsionou o Estado a criar estratégias de planejamento e

gestão urbana e, assim, surgiram alguns programas de construção de moradias que

contaram com a participação das comunidades através da mão-de-obra e, também,

com sugestões para os projetos. Nesse ínterim, foram criados os Centros Sociais

Urbanos (CSU) na periferia, com a finalidade de ofertar serviços e lazer, além de

estimular a organização comunitária e a participação em prol de melhores condições

de vida (AZEVEDO; PRATES, 1991).

A ação desses atores sociais impulsionou na década de 1980 o processo de

redemocratização da sociedade brasileira, que contou com a atuação dos

movimentos sociais e isso subsidiou a institucionalização da participação social

através da Constituição de 1988.

A promulgação da Constituição Federal e a sanção do Estatuto da Cidade são

referências para a história da política urbana no Brasil, com ênfase na gestão

democrática e a partir desses marcos históricos foi instituído o reconhecimento “[...]

do direito à cidade e à moradia como princípios da política urbana” (RIBEIRO, 2013,

p.1). A criação do SNHIS e do Estatuto da Cidade contribuíram para o

“fortalecimento do cidadão no processo de planejar seu espaço de moradia”

(PEREIRA, 2013, p. 145).

Em tese, o problema habitacional do país deixou de corresponder apenas à

falta de habitações para as camadas empobrecidas e a política nacional de

habitação passou a promover a ideia “[...] de uma reforma urbana, no qual a moradia

não se resume a casa, mas se amplia para uma noção de sistema urbano que

incorpora o direito à cidade, entendido como um direito social fundamental”

(RIBEIRO, 2013, p.2). De certo que as políticas de habitação no Brasil articulam

“interesses políticos, ideológicos e econômicos” e atendem “[...] a uma situação de

urgência: o agravamento da questão da habitação e o aumento das tensões sociais

[...]” (ARRUDA, 2004, p. 8). O autor ainda esclarece que:

[...] a habitação urbana vai além dos números e das unidades; que há uma inter-relação entre a habitação e as redes de infraestrutura (água, esgoto, energia elétrica, drenagem pluvial, pavimentação) e os serviços urbanos coletivos (educação, saúde, abastecimento transporte coletivo, coleta de lixo) (ARRUDA, 2004, p. 8).

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É importante enfatizar que a política habitacional não se restringe apenas a

execução de programas e projetos direcionados a edificação de conjuntos

habitacionais. Está associada ao direito à moradia, a infraestrutura e a serviços

urbanos, conforme preconiza a Constituição de 1988 (BRASIL, 2004).

A indicação do Ministério das Cidades é de que a política habitacional se

desenvolva com base nos aspectos social, econômico e territorial, conforme o

Quadro 2.

Quadro 2: Orientações do Ministério das Cidades sobre o desenvolvimento da

Política Habitacional

Aspectos

Estratégias

SOCIAL

Política de subsídio: é a mobilização de recursos por parte do poder público a fim de subsidiar a produção e o comércio de habitação para a população pobre que não tem condições de adquirir um imóvel; Política de redistribuição de rendimentos: simplifica o processo de aquisição de moradia através de incentivos fiscais, subsídios de renda, benefícios financeiros para a população pobre que não tem condições de adquirir um imóvel; Política de integração social: define-se pelo enfrentamento da segregação urbana, periferização e marginalização de grupos em determinados espaços urbanos.

ECONÔMICO

Em momentos de crise econômica a política habitacional pode ser utilizada para:

Fortalecimento da economia,

Geração de empregos,

Incentivo ao aumento do consumo;

Incentivo a poupança das famílias em situação de pobreza.

TERRITORIAL

A política habitacional deve ser realizada através de um planejamento urbano, aliado às especificidades territoriais contidas no Plano Diretor. Assim, é possível combater a segregação urbana e os desequilíbrios sociais e urbanísticos.

Fonte: BRASIL (2004). Elaboração: Lidiane Oliveira.

De acordo com Maricato (1997, p. 168), “[...] o espaço urbano não é apenas

um mero cenário para as relações sociais, mas uma instância ativa para a

dominação econômica e ideológica” e, em decorrência disso, as carências

habitacionais de uma população devem ser atendidas por uma política imbricada

“[...] com o processo de reprodução social do espaço urbano, em pelo menos três

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aspectos: social, econômico e territorial” (BRASIL, 2004, p. 73).

Esse esclarecimento teórico evidencia a importância da intersetorialidade das

políticas públicas que, nesse caso, trata-se do diálogo entre a habitação e as

políticas de educação, saúde, desenvolvimento urbano, assistência social, trabalho,

meio ambiente, recursos hídricos, educação ambiental, segurança alimentar,

segurança pública, dentre outras. Além disso, demonstra como o Estado assume um

papel ativo na urbanização, “[...] atua na questão da habitação, desde sua

regulamentação, passando pela construção e culmina na sua comercialização,

enquanto agente financiador” (SANTO, 2012, p. 79).

A análise da evolução da política habitacional no Brasil remete ao

entrelaçamento das estratégias adotadas com a lógica do capital. A produção de

habitações visa diminuir o déficit, ao mesmo tempo em que contribui para o

crescimento econômico do país. Para tanto, o Estado apoia financeiramente as

grandes empresas ligadas a construção civil e ao mercado imobiliário.

No entanto, apesar do Estado investir na implantação de conjuntos

habitacionais direcionados às camadas empobrecidas, o déficit habitacional ainda se

concentra na faixa de renda “até três salários mínimos”, sobretudo na região

Nordeste, que possui 88,4% do déficit nessa faixa (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO,

2015). No gráfico 1 é possível observar o déficit habitacional por faixas de renda

média familiar mensal, disponibilizado no site do Ministério das Cidades.

Gráfico 1: Déficit Habitacional por faixas de renda média familiar mensal (em salários mínimos), Brasil, 2012

Fonte: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (2015). Elaboração: Lidiane Oliveira.

até 3 SM

mais de 3 a 5 SM

mais de 5 a 10 SM

mais de 10 SM

82,5%

10,1%

5,6%

1,8%

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Vale ressaltar que o conceito de déficit habitacional não se restringe apenas

ao número insuficiente de moradias, mas tem relação direta com as deficiências das

moradias existentes,

[...] sem condições de serem habitadas em razão da precariedade das construções ou do desgaste da estrutura física [...]. Inclui ainda a necessidade de incremento do estoque em função da coabitação familiar forçada [...], dos moradores de baixa renda com dificuldades de pagar aluguel e dos que vivem em casas e apartamentos alugados com grande densidade (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2015, p. 18).

Diante disso, percebe-se como “[...] a história tem demonstrado que nem o

livre mercado nem os Estados sozinhos têm conseguido oferecer respostas à falta

de habitação adequada e às violações ao direito à moradia”, sobretudo para as

classes empobrecidas do país (OSÓRIO, 2006, p. 39).

A política de habitação no Brasil, apesar de possuir um aparato teórico

baseado em um discurso de desenvolvimento integrado e sustentável, possui um

caráter de política social por atender a demandas sociais de forma fracionada, sem

contemplar a problemática da habitação com todas as suas nuances, sem promover

a intersetorialidade das políticas, e por subordinar-se a interesses econômicos e

políticos. O Estado propõe intervenções na área da habitação, através da garantia

de moradia dissociada de outros direitos sociais e da realização do trabalho social,

que camuflam as expressões da questão social, minimizam os problemas, mas não

solucionam, e que ainda não foram capazes de promover um desenvolvimento

urbano igualitário e acabar com a desigualdade socioespacial.

As demandas provenientes da habitação impulsionam não somente o Estado,

mas também a própria população em busca de canais de participação que possam

ser utilizados para a inserção popular nos processos decisórios das políticas

públicas. Apesar de ser perceptível o caráter paliativo ainda presente nas

intervenções estatais, também é visível que houve um avanço no que tange à

gestão democrática, tendo em vista que nas décadas de 1960 e 1970 o que

prevalecia era a visão tecnocrática na tomada de decisões e, atualmente, já é

possível perceber uma ênfase no modelo participativo (PEREIRA, 2013).

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Assim, a próxima seção baseia-se em uma discussão sobre a participação

social no âmbito da política da habitação, com ênfase na relevância da inclusão da

população pobre no interior dos espaços participativos como um meio para alcançar

justiça social e realizar a gestão democrática.

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3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO ÂMBITO DA POLÍTICA DE HABITAÇÃO

Nesta seção, apresenta-se uma discussão sobre a participação social como

processo político e estratégico, capaz de inserir as camadas empobrecidas da

sociedade nas esferas de tomadas de decisões políticas e, assim, assegurar

direitos. A compreensão da participação social, neste trabalho, está atrelada à

política de habitação. Portanto, apresentar-se-á, a seguir, uma análise teórica e logo

após um estudo documental, de caráter mais local, baseado nos seguintes

documentos: o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) do município

de Feira de Santana; a Lei nº 3522/2015, que criou o Conselho da Cidade de Feira

de Santana; e o Relatório da 5ª Conferência da Cidade de Feira de Santana.

3.1 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO POLÍTICO

A participação social é um meio de inserção consciente, participativo e

dinâmico de pessoas, grupos e/ou organizações nos processos sociais, econômicos,

políticos que refletem o interesse da coletividade nas comunidades em que o sujeito

se insere. Apresenta como elemento significativo a consciência coletiva, pois a

representatividade comunitária é um elemento de força, diferentemente da

representação de apenas um indivíduo isolado.

A tomada de consciência do indivíduo no processo de participação está

relacionada com a percepção de sua realidade concreta, sendo imprescindível “[...]

analisar as condições reais e atuais da sua existência; exprimir seus verdadeiros

interesses e criar formas de ação para a concretização desses interesses”

(AMMANN, 2003, p. 139). Para tanto, a análise do espaço de vivência é um

instrumento de extrema importância para a população, iniciando, assim, um

processo de transformação que inclui a maneira de enxergar o local, fazer o

levantamento das demandas sociais e colocar em prática ações que viabilizem uma

melhor qualidade de vida.

A participação é uma estratégia que pode ser utilizada para a concretização

dos direitos sociais – entendidos como o direito à saúde, educação, moradia,

saneamento, dentre outros – e para o alcance dos objetivos do grupo, o que

possibilita uma melhor qualidade de vida. Por essa razão, “[...] a participação social

não representa um sujeito social específico, mas se constrói como modelo de

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49

relação/ideal, na relação sociedade/Estado” (GOHN, 2001, p. 58).

Para analisar a participação social nos empreendimentos do PMCMV é

interessante adotar alguns argumentos de Souza, quando trata da distinção de dois

tipos de luta na esfera do ativismo: “de bairro” e “a partir do bairro”. A luta de bairro

expressa à articulação de um grupo criticamente vulnerável, que pode ser facilmente

cooptado e enfraquecido. Já a luta a partir do bairro retrata “[...] horizontes políticos

mais amplos e a possibilidade (ou realidade) de articulação com outros ativismos e

organizações” e que não se baseia apenas na satisfação de demandas imediatas

(2006, p. 286).

Há algumas crenças difundidas na sociedade que dificultam a inclusão de

novos atores sociais no processo de participação social na gestão pública. No que

diz respeito à esfera da habitação, cita-se como exemplo a ideia de que as pessoas

não estão “[...] preparadas para decidir qual a melhor solução habitacional e

urbanística para a sua família e a sua área”; a sociedade não possui conhecimento

suficiente para ser sujeito político das políticas públicas; e a “[...] sociedade dificulta

a tomada de decisões, seja pela questão do tempo [...], seja pela questão de

posicionamento crítico diante das propostas ou ausência delas por parte do Estado”

(BRASIL, 2011, p. 24).

É necessário superar esses mitos e caminhar em direção ao desenvolvimento

de uma organização comunitária proveniente da conquista consciente de uma nova

postura. A população deve estar articulada e organizada, pois essa “[...] projeta,

avalia e confronta sua força social com a dinâmica da realidade social” por meio da

tomada de consciência em direção a tomada de decisão (SOUZA, 2008, p. 93).

Outra proposta é a formação de “[...] profissionais especializados em técnicas

e estratégias de planejamento e rotinas de gestão dentro de uma mentalidade que

não seja tecnocrática”, meramente direcionada para manutenção da ordem vigente,

do mesmo modo que se invista no envolvimento da “[...] sociedade civil, informando-

a e capacitando-a para melhor poder participar” (SOUZA, 2006, p. 263-264). Com

base no mesmo autor, é necessário manter uma desconfiança em relação ao

Estado, no entanto, a cooptação, aniquilação ou não consolidação dos esforços

empreendidos nem sempre representará a anulação da sua influência.

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50

Com efeito, para que uma comunidade se desenvolva é imprescindível que o

sujeito participe ativamente, sendo capaz de refletir, questionar sua realidade e

modificá-la, conforme ainda acrescenta Souza:

A participação, assim como o processo de conscientização, não se opera no vazio; supõe sempre um contexto de referência no qual, por sua vez, se encontra sempre um processo real de participação ou conscientização. Esse processo pode ser mais ou menos desenvolvido, não importa; o fato é que ele existe, e é a partir da realidade em que ele se encontra que se pode considerar as ações a serem desenvolvidas como conscientes, capazes de assumir um caráter educativo em função do processo de participação (2008, p. 90).

Acerca disso, esclarece-se que comunidade é um “[...] grupo permanente de

pessoas que ocupa uma zona comum, desenvolve interação dentro e fora de seus

papéis institucionais e possui um sentimento de identificação resultante dessa

interação”. Assim, envolve formas de relacionamento e realiza-se na união de

vontades individuais (SILVA, 2003, p.15-16).

A participação social, quando pensada no âmbito das habitações de interesse

social, é um desafio, uma vez que as famílias que ocupam essas moradias são

oriundas de locais e realidades distintas, e precisam aprender a conviver e a

estabelecer objetivos em comum. Assim, o sentimento de fazer parte de uma

comunidade, com o reconhecimento das necessidades compartilhadas por todos, é

imprescindível para que a participação social tenha êxito.

As conquistas dos movimentos sociais são exemplos de como a participação

social no Brasil contribuiu para uma mudança estrutural na concepção das políticas

públicas, pois foram estabelecidas parcerias entre Estado e sociedade civil na

elaboração, execução, monitoramento, avaliação e fiscalização de projetos e ações.

Isso pode ser vislumbrado na Constituição Federal de 1988, que criou mecanismos

da chamada democracia participativa e que incentiva a participação dos cidadãos

nas esferas do governo por meio das instâncias de controle social.

No entanto, os processos reivindicatórios e de luta manifestados com o auxílio

da participação social são permeados pela correlação de forças entre a sociedade

civil e o Estado. É importante destacar a interferência do Estado nas formas de

participação social. Para subsidiar tal análise, utilizar-se-á a escala de participação

popular apresentada por Souza (2006), a qual demonstra situações de não

participação, graus de pseudoparticipação e graus de participação autêntica,

conforme adaptação no quadro 3:

Page 52: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

51

Quadro 3: Escala de participação popular

Grau Categoria Características

SIT

UA

ÇÃ

OE

S D

E N

ÃO

-

PA

RT

ICIP

ÃO

1 Coerção Notadamente vista em regimes ditatoriais

ou totalitários. No Brasil pode ser vislumbrada em

situações que o Estado não se preocupa com

aparências, como a remoção de favelas.

2 Manipulação Indução da população a aceitar uma

intervenção; ausência de diálogo; existência de

políticas públicas compensatórias e intervenções

pontuais com o objetivo imediato de ganhar

eleições.

GR

AU

S D

E

PS

EU

DO

PA

RT

ICIP

ÃO

3 Informação Há uma disponibilização de informações

por parte do Estado sobre as intervenções

planejadas. No entanto, isso dependerá de

aspectos culturais, políticos e do nível de

transparência do jogo político.

4 Consulta O Estado consulta a população, mas isso

não implica que as sugestões serão

incorporadas.

5 Cooptação Cooptação de sujeitos que exerçam

funções de liderança, representações ou que

sejam ativistas dentro da sociedade. A

participação, nesse caso, não é deliberativa,

apenas de consulta.

GR

AU

S D

E P

AR

TIC

IPA

ÇÃ

O

AU

NT

ICA

6 Parceria Há diálogo e significativa transparência

entre o Estado e a sociedade civil organizada

com vistas à implementação de políticas públicas

ou a realização de uma intervenção.

7 Delegação

de poder

O Estado renuncia significativas

atribuições, que lhes eram exclusivas, em

benefício da sociedade civil. É possível

estabelecer a co-gestão entre o Estado e a

sociedade civil, em algumas situações.

8 Autogestão A sociedade civil implementa políticas e

intervenções, incorpora a autogestão com

autonomia e sem a necessidade da presença de

instâncias de poder.

Fonte: SOUZA (2006a). Elaboração: Lidiane Oliveira.

Page 53: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

52

Percebe-se que os graus de participação autêntica (6, 7 e 8) remetem-se a

uma sociedade civil organizada que participa da gestão pública na esfera das

formulações, intervenções e deliberações de políticas públicas. Os graus referentes

à pseudoparticipação (3, 4 e 5) revelam a ilusão que muitos sujeitos têm de que

interferem na gestão pública, no entanto, na prática são marionetes no jogo político.

As situações de não-participação são claramente compulsórias, não há interferência

da sociedade civil no âmbito do planejamento e da gestão pública.

Nessa experiência do MCMV é necessária a conexão de duas forças para

garantir a dignidade dos sujeitos beneficiários, que são: a iniciativa do poder público

em criar instrumentos e canais de participação social e as pressões populares com

vistas ao direito de participar dos processos decisórios com a expressão das suas

reais demandas e discussão sobre as possíveis soluções. Deve-se atentar para os

conflitos políticos, interesses partidários e questões particulares da população que

permeiam esse cenário.

Assim, é imprescindível que haja a integração e participação da população,

entrelaçando meios que busquem a sustentabilidade e a inserção dos sujeitos no

processo de planejamento participativo como formas de intervir na realidade que os

cerca. Para que tais ações sejam efetivadas a população precisa: ser estimulada a

formar uma mentalidade condizente com sua “[...] inserção no processo de

desenvolvimento”; organizar seus esforços em prol de uma “[...] participação

eficiente nos planos e programas de desenvolvimento”; além de ser incluída em

“[...] programas de integração” subsidiados pelos “[...] esforços e recursos de

setores públicos e privados” (WANDERLEY, 1998, p. 78).

Dessa forma, a partilha de responsabilidades, levando-se em conta a

participação do sujeito, assume um papel fundamental na formulação de políticas

e/ou definição de prioridades das necessidades humanas e sociais de cada

comunidade. O espaço participativo propicia a formação de um sujeito social,

consciente e organizado, capaz de estabelecer suas prioridades, na defesa dos seus

direitos.

A participação social não garante a escolha de caminhos certos e não elimina

a existência de equívocos. No entanto, quanto maior for o nível de participação,

maiores serão as possibilidades de transformação da realidade social e “[...] uma

ampla participação pode contribuir para minimizar certas fontes de distorção

(SOUZAb, 2006, p.333 grifos do autor)”.

Page 54: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

53

Isso requer um desenvolvimento gradativo por conta da quantidade de atores

que estão envolvidos, sendo que cada um traz consigo uma noção da realidade e

anseios particulares. É permeada por conflitos e lutas, mas só por meio dela é

possível aos sujeitos, dentro de um Estado que assume o modo de produção

capitalista e um modelo neoliberal, alcançarem a cidadania que implica na

seguridade de direitos civis, políticos e sociais.

3.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLÍTICA DE HABITAÇÃO EM FEIRA DE

SANTANA

A participação social requer um envolvimento coletivo com vistas a uma

transformação social que represente as necessidades de um determinado grupo.

Para que ocorram as mudanças desejadas no campo das políticas públicas, os

sujeitos interessados devem tomar consciência das suas realidades, identificar

demandas que anseiam superar e, coletivamente, reunirem-se em busca de

soluções junto ao poder público (AMMANN, 2003). Em contrapartida, o poder

público deve fornecer canais de participação para esses coletivos, conforme

preconiza a Constituição de 1988.

De acordo com a Política Nacional de Participação Social (PNPS), Decreto nº

8.243, de 23 de maio de 2014,

Art. 6º São instâncias e mecanismos de participação social, sem prejuízo da criação e do reconhecimento de outras formas de diálogo entre administração pública federal e sociedade civil: I - conselho de políticas públicas; II - comissão de políticas públicas; III - conferência nacional; IV - ouvidoria pública federal; V - mesa de diálogo; VI - fórum interconselhos; VII - audiência pública; VIII - consulta pública; e IX - ambiente virtual de participação social (BRASIL, 2014).

Assim, com o intuito de verificar os instrumentos e canais que o poder público

local disponibiliza para que haja participação social no âmbito da habitação em Feira

de Santana, propõe-se refletir sobre a participação social prevista na legislação

municipal que subsidia a política de habitação local. Como dito alhures, os

documentos analisados foram: o PLHIS do município de Feira de Santana; a Lei nº

3522/2015 que criou o Conselho da Cidade de Feira de Santana e o Relatório da 5ª

Conferência da Cidade de Feira de Santana.

Page 55: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

54

É válido salientar que o primeiro documento referente à legislação urbana de

Feira de Santana foi o Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), elaborado

em 1968, que contou com a “participação popular inserida através de questionários

[...] e entrevistas, principalmente com comerciantes [...], industriários e prestadores

de serviços (médicos e outros)” (SANTO, 2012, p.124). Apesar de tratar-se de um

período marcado pela Ditadura Militar, a equipe interdisciplinar que construiu esse

Plano enfatizou a relevância da formação de lideranças para que essas elaborassem

proposições em prol do desenvolvimento das comunidades (SANTO, 2012).

A mais recente proposta de Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal

(PDDM) é do ano de 2006, que é uma revisão da proposta de Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano (PDDU) do ano de 2000. Todavia, ambas não foram

instituídas, sendo que a de 2006 foi inviabilizada pelo Ministério Público, em

decorrência da pequena participação popular (SANTO, 2012).

A Política de Habitação de Feira de Santana (PHFS) foi instituída no dia 15 de

março de 2012 como Lei Complementar nº 65. De acordo com os dados coletados

na Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB), a PHFS foi elaborada através de um

trabalho participativo, desenvolvido nos anos de 2006 e 2007, com o

desenvolvimento de oficinas e audiências públicas.

Esse trabalho contou com a participação de representantes de associações

de moradores, de entidades de ensino superior pública e privada, e grupos não

formais. Esses sujeitos foram convidados com o apoio da Casa dos Conselhos, que

possui uma lista com os nomes de lideranças comunitárias. Houve, também, a

publicação de um edital de convocação, convites por meio de contato telefônico e e-

mail.

Foram ofertadas oficinas de capacitação para instruir os participantes sobre a

elaboração da política de habitação, em seguida, foram realizadas as audiências

públicas, nas quais os presentes estabeleceram as necessidades locais no âmbito

da habitação. Assim, os eixos de intervenção constituídos foram: requalificação

habitacional e urbana; provisão de novas oportunidades habitacionais;

implementação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS); e regularização

fundiária (FEIRA DE SANTANA, 2012).

No entanto, com a criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse

Social (FNHIS), o município de Feira de Santana teve que elaborar o PLHIS, tendo

em vista que esse plano foi instituído como requisito indispensável para que o

Page 56: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

55

município acesse os recursos, sendo que é através dele que os municípios e

estados materializam no âmbito local a Política Nacional de Habitação, condizente

com as decisões decorrentes da participação da sociedade civil e também com os

Planos Diretores (se houver) e os Planos Plurianuais (BRASIL, 2011).

Diante disso, a Lei Complementar nº 65/2012 institui o PLHIS do município

de Feira de Santana e informa no seu artigo 3º que houve ampla participação na

construção, advinda, especialmente, do Orçamento Participativo. Além disso, nas

diretrizes da Participação Popular do PLHIS há a institucionalização de canais de

participação e controle social, dentre esses, cita-se a Conferência das Cidades a

nível Municipal; o Conselho Municipal de Desenvolvimento Social, o Conselho

Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social, e audiências e

consultas públicas (FEIRA DE SANTANA, 2012).

No Relatório da 5º Conferência das Cidades, em nível municipal, estão

dispostas algumas prioridades no âmbito da participação e do controle social, dentre

essas cita-se duas que estão condizentes com a proposta de discussão ora

apresentada: 1º- a implantação do Conselho da Cidade de Feira de Santana e 2º- a

imediata elaboração do PDDM participativo (FEIRA DE SANTANA, 2013).

No entanto, somente em abril de 2015 foi sancionada a Lei nº 3522/2015 que

criou o Conselho da Cidade de Feira de Santana e constitui parte integrante da

gestão urbana no município (FEIRA DE SANTANA, 2015). Salienta-se que, em uma

visita realizada a Casa dos Conselhos no mês de abril de 2016, constatou-se que o

referido Conselho ainda não havia iniciado as suas atividades.

No mês de julho de 2016 ocorreu a 6ª Conferência Municipal das Cidades e

os membros do Conselho da Cidade de Feira de Santana, representantes da

sociedade civil, foram eleitos. Todavia, em decorrência do período eleitoral, os

conselheiros não tomaram posse e até o mês de janeiro de 2017 não foram

identificadas atividades desse conselho.

Os conselhos municipais existentes e atuantes são: Assistência Social,

Criança e Adolescente, Segurança Alimentar, Mulher, Idoso, Pessoa Portadora de

Deficiência, Participação e Desenvolvimento de Comunidades Negras e Indígenas,

Parlamento Juvenil, Desenvolvimento Econômico e dos Transportes. Assim,

salienta-se a importância da atuação do Conselho das Cidades para discutir a

política urbana e possibilitar que a sociedade civil participe das deliberações e

implementações dessa política no município.

Page 57: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

56

Em consulta ao site da Prefeitura, visualizou-se que, em janeiro de 2016,

ocorreu uma reunião com os órgãos articuladores, executores e fiscalizadores do

PMCMV em Feira de Santana, na qual estabeleceram a criação de um Disque-

denúncia direcionado para a área de habitação e a criação do Conselho Municipal

de Habitação. Entretanto, esses instrumentos ainda não foram instituídos.

Assim, quanto à existência de um canal de participação, direcionado para a

política de habitação, instituído pelo poder público, identificou-se, através de uma

visita técnica à Secretaria Municipal de Habitação, que as opções ofertadas para a

sociedade civil são: direcionar-se as secretarias municipais, utilizarem o Sistema de

Informação ao Cidadão (SIC) através do site da Prefeitura ou por contato telefônico

ou recorrerem ao Conselho Municipal de Assistência Social.

Diante desse panorama, percebe-se algumas fragilidades na disponibilização

de instrumentos e canais por parte do poder público de Feira de Santana para que

haja participação social no âmbito da política de habitação. Para validar tal premissa,

é importante citar que, com base na promulgação da Constituição o município

passou a ser reconhecido como “[...] ente autônomo da federação, transferindo-se

para o âmbito local novas competências e recursos públicos capazes de fortalecer o

controle social e a participação da sociedade civil nas decisões políticas” (BRAVO,

2012, p. 2).

Assim, o que se observou, através da presente análise documental, foi um

PDDU do ano de 2006 que não foi instituído por insuficiência de participação

popular; e um PLHIS que tem em suas diretrizes a institucionalização de instâncias

de controle social, que na prática não atuam. Portanto, pode-se depreender que há

fragilidades no processo de discussão, implementação, fiscalização e deliberação da

política de habitação.

De acordo com informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal de

Planejamento e análise das atas, desde 2001 a participação da população no que

concerne ao orçamento ocorre através de audiências públicas divididas por 5

regiões administrativas que delimitam o município, correspondentes à sede, e 8 aos

distritos (Quadro 4) (Mapa 4).

Page 58: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

57

Quadro 4: Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de

Santana, Bahia

Região Bairros integrantes

SE

DE

I Aeroporto; Mangabeira; Conceição I; Conceição II; Rosário; Caseb; Bela Vista; Santo Antônio dos Prazeres; Lagoa Grande; SIM; Parque Getúlio Vargas; Capuchinhos; Santa Mônica; Lagoa Salgada; Subaé.

II 35º BI; Aviário; Irmã Dulce; Brasília; Eucalipto; Jomafa; Tomba; Sítio Matias; Parque Panorama; Feira VII; Luciano Barreto; Francisco Pinto; Fraternidade; Limoeiro.

III Pedra do Descanso; Serraria Brasil; Chácara São Cosme; Muchila I; Muchila II; Jardim Acácia; Jussara; Mar da Tranquilidade; Olhos D‟água; Feira X; Viveiros; São João do Cazumbá; Centro Industrial; Bem-te-vi.

IV Novo Horizonte; Campo Universitário; Asa Branca; Campo Limpo; Feira VI; Pampalona; Caraíbas; George Américo; Campo do Gado Novo; Três Riachos; Baraúna de Cima; Baraúna de Baixo; Galileia; Jardim Cruzeiro; Alto do Cruzeiro; Nagé; Cruzeiro; Tanque do Urubu; Barro Vermelho; Calumbi; Morada do Sol; Feira IX; Feira IV; Parque Manoel Matias; Tanque da Nação; Parque das Acácias; Horto; DNER; Gabriela; Sobradinho; Centro de Abastecimento; Monte Pascoal; J. J. Lopes de Brito; Morada das Árvores; Minadouro; Barroquinha; Nova Esperança; Três Riachos.

V Papagaio; Santa Quitéria; Cidade Universitária; Parque Ipê; João Paulo II; Cidade Nova; Morada do Bosque; Feira V; Milton Gomes; Iguatemi; Queimadinha; São João; Prato Raso; Coronel José Pinto; Estação Nova; Ponto Central.

DIS

TR

ITO

S

VI Distrito Gov. João Durval Carneiro (Ipuaçu)

VII Distrito de Bonfim de Feira

VII Distrito de Maria Quitéria (São José)

IX Distrito de Humildes

X Distrito de Tiquaruçu

XI Distrito de Jaíba

XII Distrito Jaguara

XIII Distrito da Matinha Fonte: Feira de Santana (2016).

Elaboração: Lidiane Oliveira.

Page 59: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

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Mapa 4: Localização das Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de Santana, 2017

Page 60: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

59

As reuniões referentes à sede do município acontecem no auditório da

Secretaria de Saúde e, conforme visto nos registros, a participação popular é

pequena. Salienta-se a existência de atas negativas por não terem nenhum

participante, e outras com apenas cinco pessoas. Talvez, em decorrência da

localização, tendo em vista que facilitaria se as audiências acontecessem em locais

próximos à população. O objetivo dessas audiências é levantar as prioridades e

encaminhar às secretarias de competência para análise de viabilidade. Dessa forma,

não há garantia de que as solicitações serão atendidas, pois trata-se de um

processo de caráter consultivo (FEIRA DE SANTANA, 2015).

Na perspectiva do PMCMV em Feira de Santana, elucida-se o Trabalho

Social que é desenvolvido com as famílias beneficiárias, através do PCSC, e está

sob a gestão do município. Esse trabalho conta com o apoio de uma equipe técnica

multiprofissional que executa projetos sociais, conforme descrito na Introdução deste

relatório. Salienta-se que o objetivo do Trabalho Social, de acordo com a Portaria 21

de 01 de Janeiro de 2014, é “[...] promover a participação social, a melhoria das

condições de vida, a efetivação dos direitos sociais dos beneficiários e a

sustentabilidade da intervenção” (BRASIL, 2014, p. 5). Os dois residenciais

pesquisados neste estudo receberam a intervenção do Trabalho Social, através do

PCSC, vinculado a PMFS.

Mesmo com a atuação da equipe técnica do PCSC dentro dos residenciais, o

que se percebeu, através das visitas técnicas e do contato com os moradores, é que

ainda há carência de informações sobre o tema participação social e, sobretudo, de

espaços de participação instituídos pelo poder público. Deve-se levar em

consideração que o projeto desenvolvido por essas equipes é direcionado para

questões coletivas, como a organização da comunidade e a gestão condominial,

bem como há o acompanhamento por família e, quando necessário, individualizado.

Isso resulta em um trabalho que abarca inúmeras demandas e que é paulatino. No

entanto, tem que cumprir um prazo definido, geralmente de um ano, que é

estabelecido de acordo com o recurso federal disponibilizado.

Com isso, é possível analisar esse cenário com base na análise da escala de

participação de Souza (2006a), pois percebe-se a similaridade da participação social

no âmbito da política de habitação em Feira de Santana com o grau

pseudoparticipação. Observa-se uma participação incipiente, de caráter informativo

e consultivo, na qual o poder público realiza as audiências, institui leis e prioridades,

Page 61: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

60

no entanto, em contrapartida, não amplia a discussão e não desenvolve o que foi

planejado na esfera do controle social para que assim possa ser possível realizar

uma gestão democrática da política habitacional.

Há uma percepção que todo processo de participação social é paulatino, está

sujeito a limitações e que não é possível alcançar desenvolvimento humano, vida

sustentável e cidadania se os sujeitos não fizerem parte do processo de tomada de

decisão das políticas públicas. Por isso é imprescindível “[...] solidificar os canais de

comunicação e poder popular para que o Estado se coloque a serviço do povo”,

através da publicização do trabalho desenvolvido nas instâncias de controle social e

do estabelecimento do diálogo em todas as esferas públicas (SOUZA, 2008, p. 221).

O indivíduo no contexto social assume uma postura passiva e não se

reconhece como ser político, capaz de decidir sobre os processos que dizem

respeito a sua vida e a sociedade que ele faz parte, sujeita-se à subalternização,

contribuindo para a dominação de uma classe sobre a outra.

Page 62: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

61

4. ESPECIFICIDADES DA INVESTIGAÇÃO: CAMPO EMPÍRICO E OFICINAS

Nesta seção, apresenta-se a descrição do trabalho desenvolvido nas oficinas

nos residenciais do PMCMV. Na primeira subseção, elabora-se uma breve

caracterização do município de Feira de Santana, dos bairros Mangabeira e Aviário,

e dos residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, com base nos dados do

IBGE, documentos disponibilizados pela PMFS, em autores como Araújo (2015),

Araújo (2016) e Santo (2012), que também pesquisaram sobre o campo empírico

deste trabalho, e das observações realizadas nas visitas de campo.

Em seguida, há a descrição do caminho metodológico percorrido no

desenvolvimento dessas oficinas, que se baseou nas seguintes técnicas: visitas

domiciliares para conhecer os moradores e para apresentar a proposta de trabalho;

mobilização social através da entrega de convites e contatos telefônicos; realização

de três encontros, um a cada semana, no local, data e horário previamente definidos

junto aos sujeitos de estudo.

4.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA

O município de Feira de Santana, brevemente apresentado na introdução

deste trabalho, tornou-se vila, em 1833, e, em 1873, tornou-se cidade. Em sua

origem, a atividade econômica que prevalecia era a pecuária e, em seguida, as “[...]

áreas de pastagens foram substituídas pelos canaviais” (FREITAS, 2015, p. 93).

Com isso, Feira de Santana “[...] firma-se como importante centro econômico,

denotando a importância do capitalismo comercial para a valorização do espaço”

(FREITAS, 2015, p. 93).

Em 1970 foi criado o Centro Industrial do Subaé (CIS) que integrou a proposta

de desenvolvimento industrial da cidade. Com isso, foram construídos “[...] os

primeiros conjuntos habitacionais Feira I e II, denominados atualmente Cidade Nova

[...] programados para abrigar os proletários que integrariam a mão de obra” do CIS

(FREITAS, 2015, p. 258-259).

Atualmente, a cidade de Feira de Santana, ainda de acordo com Freitas,

pode ser classificada “[...] como cidade média, mas também se posiciona como

cidade intermediária, tomando-se como referência a sua influência econômica

quanto a concentração do desenvolvimento do comércio, serviços, e

Page 63: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

62

industrialização” (FREITAS, 2015, p. 299).

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Feira de Santana,

em 2010, era de 0,712, maior do que a média do estado da Bahia, que foi de 0,660.

Quanto ao déficit habitacional, é importante evidenciar que há controvérsias, tendo

em vista que, de acordo com a Fundação João Pinheiro, a estimativa é de 24.074

moradias para a população com nível de renda entre zero a três salários mínimos, já

para a CEF o déficit é de 57 mil e, por isso, há um grande investimento do Governo

Federal no PMCMV em Feira de Santana (ARAÚJO, 2015).

Salienta-se que foi a partir de 1960 que os primeiros conjuntos habitacionais

foram construídos. No ano de 2000, essas construções passaram a ocupar os locais

fora do anel de contorno da cidade, como, por exemplo, os bairros Mangabeira e

Aviário, que compõem o campo empírico deste estudo (ARAÚJO, 2016).

É válido ressaltar que o primeiro empreendimento do PMCMV no Brasil, o

Residencial Nova Conceição, foi construído em Feira de Santana e inaugurado no

ano de 2010. Apesar de o bairro Conceição ter sido o primeiro contemplado, foi no

bairro Mangabeira que o governo federal financiou a maior quantidade de

empreendimentos do PMCMV, conforme dito na seção introdutória deste trabalho.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS MANGABEIRA E AVIÁRIO

Nesta subseção, apresenta-se uma caracterização dos bairros Mangabeira e

Aviário, que considera os aspectos geográficos, infraestruturais e sociais, além de

abordar sobre a atuação das associações comunitárias, que demonstram a

importância da representatividade em locais onde há as expressões da questão

social, sobretudo, a carência de direitos básicos, como é o caso desses dois bairros.

Assim, o primeiro bairro escolhido para este trabalho foi o Mangabeira e isso

ocorreu em decorrência da existência significativa de empreendimentos do PMCMV

nessa área. Possui uma população de aproximadamente 20.819 habitantes,

segundo os dados do IBGE de 2010, sem considerar as mais de 3 mil famílias

beneficiárias do PMCMV (FEIRA DE SANTANA, 2014).

A área onde localiza-se esse bairro é conhecida por possuir lagoas e

nascentes de drenagem, característicos de toda a região nordeste do município e

tem como limítrofes os seguintes bairros: Conceição, Aeroporto, Papagaio, Parque

Ipê, Cidade Nova e São João.

Page 64: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

63

No decorrer das visitas técnicas ao bairro, foi possível perceber a carência por

espaços de lazer, como praças e parques. No entanto, identificou-se uma melhoria

no que diz respeito à circulação, tendo em vista que, em 2014, foi pavimentada a

Avenida Iguatemi e, em 2016, a Avenida Ayrton Senna. Ambas beneficiam as

comunidades dos bairros Mangabeira, Agrovila, Conceição e Papagaio, bem como

facilitam o acesso ao centro da cidade.

O bairro Aviário tornou-se opção de estudo por fazer parte da trajetória

profissional da pesquisadora deste trabalho, conforme dito na Introdução. Durante

as visitas técnicas percebeu-se uma melhora no acesso ao bairro após a

pavimentação da Rua Olney Sampaio, via principal que liga o bairro ao centro da

cidade. No entanto, ainda existem vias com buracos e sem pavimentação, e isso,

além de dificultar a locomoção, facilita a ocorrência de roubos, de acordo com os

moradores.

Quanto ao lazer, cita-se a inauguração da Praça Esportiva do Conjunto Paulo

Souto, que possui uma quadra-poliesportiva e pista de skate, onde também se

encontra localizado o Centro de Referência de Assistência Social.

A população deste bairro é constituída de pessoas em situação de pobreza e

algumas vivem em condições de miséria. Na questão da moradia, o bairro foi

beneficiado pela construção do Conjunto Habitacional Paulo Souto e atualmente

possui cinco residenciais do Programa Minha Casa, Minha Vida (Vida Nova Aviário I,

II, III, IV e Aquários). No entanto, ainda existem algumas famílias morando em

barracas feitas com lona, papelão e madeira, o que contribuiu para que a área fosse

popularmente conhecida como “Favela do Plástico”. O Presídio Regional de Feira de

Santana localiza-se no Aviário e o bairro possui um alto índice de tráfico de drogas,

registro de homicídios e de violência (FEIRA DE SANTANA, 2014).

Sabe-se que o Brasil é um país com grande incidência de desigualdades

sociais e tanto o bairro Mangabeira quanto o Aviário são áreas caracterizadas por

altos índices de vulnerabilidade social e pobreza, conforme apontam os relatórios do

trabalho social do PCSC, vinculado a PMFS.

Em decorrência desse contexto, muitos grupos sociais são formados em torno

de objetivos comuns na tentativa de propor soluções para causas coletivas. A

participação, nesse sentido, é uma estratégia necessária que contribui para a

materialização de objetivos coletivos, trata-se do “[...] próprio processo de criação do

homem ao pensar e agir [...] sobre os desafios sociais” (SOUZA, 2008, p. 81).

Page 65: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

64

Sobre esse aspecto, é importante salientar a existência das Associações de

Moradores no bairro Mangabeira e Aviário que contribuíram para o alcance de

melhorias no âmbito das políticas públicas; a Associação de Articulação Social dos

Beneficiários do Minha Casa Minha Vida (ASSOMIVI), a Associação dos Moradores

do Residencial Rio São Francisco e a Associação dos Moradores do Residencial

Vida Nova Aviário I.

Na entrevista realizada com o atual presidente da ASSOMIVI ele explicou que

a diretoria da associação e os associados são atuantes, no entanto, ressaltou a

dificuldade de diálogo com a prefeitura e de obter apoio da mesma. No levantamento

documental, foram observados ofícios da associação direcionados ao Governo

Federal que solicitam a melhoria da infraestrutura dos bairros, tendo em vista que os

empreendimentos foram construídos em locais carentes de políticas públicas e o

poder público municipal não viabilizou antes da entrega das casas serviços públicos

básicos para a população.

Como exemplo de uma das solicitações, cita-se a pavimentação das vias

públicas do bairro Mangabeira, conforme dito outrora, sendo essa demanda também

sinalizada em um estudo sobre o PMCMV em áreas periféricas de Feira de Santana,

o qual identificou uma “[...] diferenciação espacial entre aqueles que já moravam no

bairro, todo pavimentado, e os novos residentes que estavam situados em uma área

[...] inóspita e carente de todo tipo de infraestrutura, inclusive, a pavimentação”

(ARAÚJO, 2016, p. 229).

A ASSOMIVI, de acordo com a fala do presidente e com o estudo documental

da associação, iniciou a luta pela pavimentação das vias no ano de 2010 e somente

em 2014 foi possível ver a conclusão das obras da Avenida Iguatemi e em 2016 a

Avenida Ayrton Sena.

Outras demandas têm sido alvo da ASSOMIVI, tais como:

Problemas estruturais identificados em alguns empreendimentos;

Instalação do piso nas residências, que foram entregues na primeira fase do

programa;

Apoio aos inscritos no programa no que concerne à documentação

necessária para a assinatura de contrato com CEF;

Realização de ações sociais que oportunizem aos associados o acesso à

educação e ao mercado de trabalho, através de parcerias com escolas e empresas;

Page 66: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

65

Intermediação de demandas coletivas dos empreendimentos do PMCMV com

as secretarias municipais.

Na entrevista com a presidente da Associação de Moradores do Residencial

Vida Nova Aviário I, ela também relatou algumas conquistas para o bairro e

esclareceu que, apesar de ter constituído a associação dentro do residencial, o

trabalho realizado alcança todo o bairro, como, por exemplo, a pavimentação da Rua

Olney São Paulo. A presidente informou que também trabalha para melhorar os

serviços públicos de educação e saúde, que ainda não suprem as demandas da

população.

4.3 CARACTERIZAÇÃO DOS RESIDENCIAIS

De acordo com o Diagnóstico Socioterritorial dos Residenciais Viver Iguatemi

II e Vida Nova Aviário I, a população é formada, principalmente, por pessoas em

situação de vulnerabilidade social e pobreza, de baixa escolaridade, que não

possuem uma fonte de renda proveniente de um trabalho formal e a maioria é

beneficiária do Programa Bolsa Família (PBF) (FEIRA DE SANTANA, 2014).

No quadro 5, elaborado com base no Diagnóstico Social do Residencial Viver

Iguatemi II, contido no Projeto Técnico do Trabalho Social do Residencial Viver

Iguatemi II e no Diagnóstico Socioterritorial e Familiar do Residencial Vida Nova

Aviário I, estão dispostas informações sobre a localização, as características

estruturais dos empreendimentos e uma síntese do diagnóstico social da população

e nas subseções estão descritas as caracterizações dos residenciais.

Na síntese do diagnóstico social dos residenciais foram destacados alguns

aspectos relevantes que caracterizam o público do PMCMV dos bairros Mangabeira

e Aviário. Sabe-se que o PMCMV tem como requisito que o inscrito encontre-se na

faixa de renda de zero até três salários mínimos. Nos dois empreendimentos

apresentados a renda mensal é de até um salário mínimo e o Residencial Vida Nova

Aviário I possui a menor renda média domiciliar do grupo, que é de R$571, 75.

Page 67: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

66

Quadro 5: Caracterização dos Residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, 2016

Residencial Endereço Estrutura Síntese do Diagnóstico

VIV

ER

IG

UA

TE

MI

II Av. Iguatemi,

bairro Mangabeira.

Tipologia: prédio

Unidade: 320

Blocos: 16

Escolaridade: 50,5% com Ensino Médio;

Situação ocupacional: 40% trabalho informal e 33% desempregados;

Renda mensal domiciliar: 47% até 1 salário mínimo;

Renda média domiciliar: R$620,84.

VID

A N

OV

A

AV

IÁR

IO I

Rua Olney São Paulo, bairro Aviário.

Tipologia: prédio

Unidade: 520

Blocos: 36

Escolaridade: 42% com Ensino Fundamental Incompleto;

Situação ocupacional: 58% trabalho informal e 20% desempregados;

Renda mensal domiciliar: 50% até 1 salário mínimo;

Renda média domiciliar: R$571,75.

Fonte: FEIRA DE SANTANA, (2013; 2014). Adaptado pela autora.

È notório que os quatro residenciais são compostos por sujeitos que fazem

parte da classe empobrecida do país, que sofrem diretamente com as mazelas da

questão social e, dessa forma, muitos encontram-se destituídos de direitos.

A garantia de políticas sociais corresponde, de maneira geral, a interesses

privatistas e excludentes, que têm direta relação com a gestão estatal da força de

trabalho. Em contrapartida, isso também garante aos sujeitos a materialização de

serviços públicos básicos, no entanto, sabe-se que o alcance desses direitos ainda é

mínimo e as necessidades advindas da vida urbana estão longe de serem atendidas

na sua totalidade (YAZBEK, 2009).

A realidade dessas famílias é repleta de contradições inerentes ao modo de

produção capitalista e ao modelo neoliberal presente na sociedade brasileira, uma

vez que o Estado assegurou o direito à moradia a essas famílias, todavia, isso não

significa que os sujeitos encontram-se inseridos socialmente. Trata-se de uma

realidade de negação de direitos, caracterizada por desigualdades sociais que são

intrínsecas a estrutura econômica adotada no país.

Page 68: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

67

4.3.1 Residencial Viver Iguatemi II

O Residencial Viver Iguatemi II está localizado na Avenida Iguatemi, bairro

Mangabeira e foi inaugurado em abril de 2014. Foi entregue com piso nos

apartamentos e nos blocos, diferente do Vida Nova Aviário I, e é composto por um

quiosque, um parque para crianças, uma quadra de futebol, 16 blocos e 320

apartamentos.

Na visita de campo, observou-se que não há problemas de acesso ao

residencial, pois a Avenida Iguatemi encontra-se pavimentada e em bom estado. A

coleta de lixo é regular e os moradores depositam os resíduos em um

compartimento chamado de “casa do lixo”. No entanto, há de se considerar a

existência de pequenos resíduos de lixo descartados em algumas áreas coletivas.

Algumas mudanças foram realizadas após a entrega do residencial. Os

moradores isolaram o empreendimento com uma cerca e colocaram portão na

entrada dos blocos. Além disso, é válido salientar que esse residencial encontrava-

se destituído de áreas verdes, porém alguns moradores começaram a plantar

recentemente algumas mudas e estão cultivando jardins (Foto 1).

Outro aspecto importante é o fato de que algumas unidades habitacionais

revelaram “vícios de construção” e estão interditadas pelo Ministério Público Federal

(MPF), tendo em vista que os moradores alegaram que os imóveis estavam com

rachaduras e infiltrações de água. As famílias foram remanejadas e encontram-se

morando de aluguel, enquanto aguardam o término das reparações e o MPF

determinou que a construtora disponibilizasse uma ajuda de custo aos moradores.

De acordo com o Diagnóstico Socioterritorial do Residencial, as famílias são

atendidas por três instituições públicas de ensino, as escolas municipais Ester da

Silva Santos, que oferta o Ensino Fundamental I e Pró-jovem Urbano; a João

Macário de Atayde, que disponibiliza a Pré-escola e o Ensino Fundamental I; e o

Centro Municipal de Educação Infantil Professora Eduarda Oliveira França, que

oferta a Educação Infantil em período integral. Todavia, destaca-se que a oferta de

vagas não supre a demanda da população (FEIRA DE SANTANA, 2014).

Page 69: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

68

Foto 1: Moradores cultivando jardins no Residencial Viver Iguatemi II

Fonte: Trabalho de campo (2016).

A Política de Assistência Social é assegurada através do Centro de

Referência de Assistência Social Padre José Dusi e a Política de Saúde conta com a

existência de três equipamentos públicos; a Unidade Básica de Saúde Maria do

Nascimento Souza, a Unidade de Saúde da Família Videira e a Unidade de Pronto

Atendimento Jairo de Jesus dos Santos (FEIRA DE SANTANA, 2014).

4.3.2 Residencial Vida Nova Aviário I

O Residencial Vida Nova Aviário I foi entregue no ano de 2011, sem piso nos

apartamentos e nos blocos, e é composto por 36 blocos, 520 apartamentos, um

quiosque, uma quadra de esportes e um parque para crianças que foi destruído e,

atualmente, só resta o espaço com areia (Fotos 2, 3 e 4). Os moradores fizeram um

abaixo-assinado para que o valor dos pisos que eles colocaram por conta própria

fosse devolvido, mas ainda não obtiveram êxito nessa reivindicação. Os

apartamentos que ainda não tinham piso receberam o assentamento, realizado pela

construtora no ano de 2015.

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69

Foto 2: Área de lazer do Residencial Vida Nova Aviário I quando foi inaugurado

Fonte: Associação de Moradores Vida Nova Aviário I (2012).

Foto 3: Área do parque após ser destruído e o quiosque do Residencial Vida Nova Aviário I

Fonte: Trabalho de campo (2016).

Page 71: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

70

Foto 4: Condição atual da quadra de esportes

Fonte: Trabalho de campo (2016).

Nesse residencial são identificadas algumas fragilidades na organização dos

espaços, pois o quiosque é próximo a quadra e isso dificulta sua utilização por conta

das bolas que batem tanto na cobertura quanto nas pessoas que encontram-se na

área. Além disso, essas duas áreas coletivas encontram-se próximas aos blocos da

quadra C e as bolas se chocam com as janelas e, também, há o incômodo

decorrente do barulho.

Nos dias das visitas de campo, observou-se toldos com venda de lanches e

alguns carros com o som ligado, e isso causa uma intensa poluição sonora que

incomoda muitos moradores. O acesso ao residencial é satisfatório, se for utilizada a

Rua Olney São Paulo, porém as outras vias encontram-se em má conservação e

com muitos buracos. No entorno do residencial são poucos os pontos comerciais,

foram identificados apenas pequenos mercados e bares.

Tanto a quadra quanto o quiosque encontram-se em má conservação e nas

áreas coletivas é possível verificar muito resíduo descartado indevidamente, apesar

da coleta de lixo ser regular. Há árvores cultivadas e em alguns blocos existem

jardins que os moradores cultivam.

Page 72: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

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A política de Assistência Social é ofertada pelo Centro de Referência de

Assistência Social e pelo Centro Profissionalizante Juiz Walter e a Associação de

Moradores, que oferta atividades culturais de capoeira, fanfarra, percussão, balet,

teatro, coral e violão. A política de educação é contemplada pela Escola Estadual

Paulo VI, Escola Juíza Lourdes Trindade, Escola Municipal Monsenhor Jessé,

Escola Municipal Professora Josenita Nery Boaventura e o Instituto Federal de

Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). De acordo com o Diagnóstico Socioterritorial

do residencial, as escolas não possuem vagas suficientes e existe a necessidade de

construção de creches para crianças de 0 a 5 anos de idade (FEIRA DE SANTANA,

2013).

4.4 O CAMINHO METODOLÓGICO DAS OFICINAS

Na perspectiva de compreender as alternativas utilizadas pelos

representantes comunitários para que o poder público cumpra, em tese, o seu papel

no que concerne a seguridade dos serviços públicos básicos, dentro do que

preconiza a legislação, sobremodo, o Estatuto da Cidade, foram realizadas três

oficinas em cada residencial pertencente ao campo empírico deste trabalho, como

mencionado na introdução. Os participantes são sujeitos que exercem a função de

síndico, subsíndico ou conselheiro fiscal, escolhidos por meio de relação fornecida

pela equipe técnica do trabalho social do PCSC, vinculado a PMFS, que atua nos

residenciais.

O PCSC desenvolve o Trabalho Social do PMCMV nos residenciais baseado,

essencialmente, em quatro eixos de atuação: mobilização, organização e

fortalecimento social; acompanhamento e gestão social da intervenção; educação

ambiental e patrimonial; e desenvolvimento socioeconômico. Cada residencial do

PMCMV possui uma equipe técnica que executa um projeto que pode durar um ano

ou mais. Por conta disso, eles encontram-se próximos as comunidades e possuem

uma relação com o nome dos representantes, uma vez que auxiliam na formação

dos grupos gestores dos condomínios e na organização comunitária.

Para esta pesquisa, utilizou-se a oficina como metodologia de trabalho de

grupo, que possibilita desenvolver discussões, debates e aprendizagens “[...] em

torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto

social. [...] não se restringe a uma reflexão racional mas envolve os sujeitos de

Page 73: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

72

maneira integral, formas de pensar, sentir e agir” (AFONSO, 2006, p. 9).

As discussões versaram sobre participação social, políticas públicas, o papel

que cada um assume diante das necessidades coletivas e as estratégias de

organização comunitária utilizadas para melhorar a qualidade de vida.

O desenvolvimento do trabalho com grupos já foi experienciado pela

pesquisadora deste estudo. A vivência profissional contribuiu para o entendimento

de alguns aspectos que devem ser considerados, tais como: a relevância de

identificar na comunidade a pessoa de referência, que possui maior

representatividade, e solicitar o seu apoio; permitir que os sujeitos de estudo

definam qual o melhor local, dia e horário para a realização dos encontros; respeitar

a postura de cada participante, principalmente, se ele se opuser a realizar alguma

das atividades propostas; é importante também entender que o plano nem sempre é

vivenciado conforme foi planejado e é necessário trabalhar com várias estratégias

para evitar desperdício de tempo.

A primeira oportunidade de apresentação do projeto foi no dia 04 de maio de

2016, em uma reunião organizada pela equipe do trabalho social no Residencial

Viver Iguatemi II, que permitiu a exposição da proposta de pesquisa. Nesse

encontro, havia alguns representantes presentes e após a explanação sucinta da

pesquisa foi importante aproveitar o momento para estabelecer o primeiro contato.

Após as visitas domiciliares para aplicação das entrevistas, foi formado um

grupo de dez sujeitos que optaram pelos dias de quarta-feira às 19 horas. Assim, as

oficinas aconteceram nos dias 11, 18 e 25 de maio de 2016, sendo que no primeiro

dia compareceram três mulheres, no segundo e terceiro dias foram quatro mulheres.

O trabalho transcorreu de forma satisfatória, tendo em vista que houve a

contribuição de todas nas atividades propostas (Fotos 5, 6, 7 e 8).

É importante ressaltar que uma das participantes cedeu voluntariamente a

sua residência para que os encontros ocorressem, pois o quiosque do residencial é

aberto e todas entenderam que seria melhor em um local fechado. Além disso, outra

integrante do grupo não quis aparecer nas fotos.

Page 74: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

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Foto 5: Apresentação da pesquisa na reunião do PCSC, Viver Iguatemi II

Fonte: Trabalho de campo (2016).

Foto 6: Identificação dos problemas locais com textos e desenhos, Viver Iguatemi II

Fonte: Trabalho de campo (2016).

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74

Foto 7: Jogo rápido denominado “De quem é o problema?” com a utilização de placas com os nomes “meu”, “todos” e “poder público”, Viver Iguatemi II

Fonte: Trabalho de campo (2016).

Foto 8: Dinâmica do barbante com a pergunta: “Quais são os meus direitos?”, Viver Iguatemi II

Fonte: Trabalho de campo (2016).

Page 76: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

75

O Residencial Vida Nova Aviário I foi o segundo empreendimento onde

ocorreu o trabalho de campo. O primeiro contato foi estabelecido com a presidente

da Associação de Moradores do residencial, que contribuiu com a mobilização dos

outros participantes. Nesse residencial, a apresentação da proposta de pesquisa foi

realizada nas visitas domiciliares, juntamente com a aplicação das entrevistas.

Os encontros ocorreram aos domingos às 16 horas, dias 19 de junho e 03 e

10 de julho, conforme a sugestão dos participantes. O local do primeiro encontro foi

a área comum em frente a um dos blocos, na qual está montado um toldo, e os

outros dois ocorreram no quiosque. A realização das oficinas em locais abertos

resultou em interferências externas de crianças brincando ao redor e adolescentes

jogando bola na quadra, que algumas vezes batia na cobertura do quiosque (Fotos 9

e 10).

As discussões foram satisfatórias e a participação dos sujeitos nos encontros

do Vida Nova Aviário I foi de nove pessoas na primeira e segunda oficina, e seis

pessoas no terceira. Vale ressaltar que as atividades de escrita ou desenho não

foram aceitas pelos participantes desse residencial, eles optaram por apenas falar.

Foto 9: Discussão sobre os problemas locais, Vida Nova Aviário I

Fonte: Trabalho de campo (2016).

Page 77: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

76

Foto 10: Discussão sobre participação social, Vida Nova Aviário I

Fonte: Trabalho de campo (2016).

O primeiro roteiro das oficinas, intitulado com o questionamento “Quais são os

problemas?”, iniciou com uma dinâmica de abertura, na qual se propôs uma reflexão

sobre a participação desses sujeitos no processo que antecedeu a construção dos

empreendimentos e, em seguida, os participantes apontaram as demandas locais; o

segundo tratou da temática participação social e ocorreu um debate sobre a

importância da coletividade em prol da seguridade de políticas públicas no bairro; o

terceiro baseou-se no objetivo de esclarecer o papel do poder público diante das

necessidades locais expostas na reunião anterior e no encerramento houve o

incentivo aos sujeitos a participarem das instâncias de controle social e a lutarem

por melhores condições de vida (Quadro 6).

Page 78: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

77

Quadro 6: Síntese metodológica das oficinas

Oficinas Objetivo Introdução Desenvolvimento Conclusão Avaliação

1º Quais são os problemas?

Conhecer as demandas locais.

Dinâmica de apresentação dos presentes e pergunta: Como vim parar aqui nesse bairro?

Discussão sobre a participação desses sujeitos no processo que antecedeu a construção dos empreendimentos.

Aplicação da técnica “Tempestade de ideias” para identificação dos problemas locais.

Organização das ideias expostas e incentivo a pensarem em soluções a serem discutidas no próximo encontro.

Avaliação oral.

2º Participação Social

Debater sobre a importância da coletividade em prol da seguridade de políticas públicas no bairro.

Jogo rápido denominado “De quem é o problema?” com perguntas sobre as responsabilidades individuais, coletivas e do poder público.

Utilizou-se placas com os nomes: Meu, Todos e Poder Público e cada participante as expôs como resposta às perguntas que o moderador realizou.

Discussão sobre: Os ganhos advindos das decisões coletivas no que concerne a seguridade de direitos e serviços públicos;

Qual a responsabilidade de cada um na melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Espaço aberto para dúvidas.

Avaliação oral.

Page 79: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

78

Oficinas Objetivo Introdução Desenvolvimento Conclusão Avaliação

3º O que faz o poder público?

Esclarecer o papel do poder público diante das necessidades locais expostas na reunião anterior.

Pergunta: Quais são os meus direitos?

Dinâmica do barbante, na qual todos os participantes ficam em círculo e jogam o barbante uma para o outro fazendo perguntas sobre direitos.

Discussão sobre o direito à moradia e toda infraestrutura necessária para que se tenha qualidade de vida; Apresentação dos serviços públicos: saúde, mobilidade urbana, assistência social, educação, saneamento.

Informações sobre os canais e veículos de participação social.

Incentivo a participarem das instâncias de controle social e a lutarem por melhores condições de vida.

Avaliação oral.

Elaboração: Lidiane Oliveira.

Page 80: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

79

5. REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS: EXPERIÊNCIAS E HISTÓRIAS

Nesta seção, apresentam-se os dados coletados através das entrevistas, que

dizem respeito às características sociodemográficas dos sujeitos que compõem o

universo da pesquisa e sobre as suas trajetórias, assim como as questões que

contemplam a participação social e o papel do poder público.

Na perspectiva de analisar as informações coletadas foi adotada a técnica

de análise de conteúdo, que considera a observação social do objeto de estudo

parte fundamental desse processo (BARDIN, 2002).

Assim, para elaboração desta seção, conforme a orientação de Bardin (2002),

as informações coletadas nas entrevistas foram divididas em unidades de análise.

No sentido metodológico, o primeiro passo foi a pré-análise, que contou com a

transcrição das entrevistas, leitura e sistematização das informações; em seguida,

foram elaborados os quadros 7 e 8 com a caracterização sociodemográfica dos

sujeitos de estudo e as informações sobre a trajetória dos representantes; o último

passo foi a interpretação e discussão dos resultados, aspecto já apontado na

introdução.

5.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DOS SUJEITOS DE ESTUDO

A caracterização sociodemográfica dos sujeitos deste estudo está

sistematizada no quadro 7 e foi elaborada com base na análise dos seguintes

aspectos: sexo, estado civil, faixa etária, número de filhos, escolaridade, profissão,

situação ocupacional, benefício assistencial, renda mensal individual e familiar,

situação e tempo de moradia, e condições de moradia anterior. Para garantir aos

sujeitos o sigilo, os seus nomes foram substituídos por nomes de flores.

Page 81: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

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Quadro 7: Caracterização sociodemográfica dos sujeitos de estudo

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Acácia F C 41-45 1 EM NP Dona de casa BF Até ½ Até 2 Família 2 - 3 Aluguel

Alecrim M C 51-55 2 EF Soldador Pintor autônomo NR Até 1 Até 2 Família 2 - 3 Cedida

Alfazema F O 31-40 1 NSI NP Cobradora de ônibus

NR Até 2 Até 3 Família 2 - 3 Aluguel

Amarílis F C 31-40 4 EM NP Desempregada BF Até ½ Até 1 Família 2 – 3 Aluguel

Anis F C 41-45 4 EM NP Desempregada BF Até ½ Até 2 Família 2 – 3 Cedida

Anêmona F C 31-40 2 EM NP Promotora de vendas

NR Até 1 Até 2 Família 2 – 3 Aluguel

Azalea F C 31-40 1 EM Costureira Costureira autônoma

NR Até 1 Até 2 Família 2 – 3 Aluguel

Begônia M C 46-50 3 EFI NP Pedreiro autônomo

NR Até 1 Até 2 Família 2 – 3 Aluguel

Beladona F O 31-40 1 EM NP Vendedora de cosméticos autônoma

BF Até ½ Até 2 Família 2 - 3 Aluguel

Camélia F C 41-45 2 EFI NP Dona de casa BF Até ½ Até 2 Família 2 - 3 Aluguel

5 F: feminino; M: masculino 6 S: solteiro; C: casado; SE: separado; V: viúvo; O: outros 7 NA: não alfabetizado; EFI: ensino fundamental incompleto; EF: ensino fundamental; EMI: ensino médio incompleto; EM: ensino médio; NSI: nível superior incompleto; NS: nível superior 8 NP: não possui 9 BF: bolsa família; BPC: benefício de prestação continuada; NR: não recebe 10 SM: salário mínimo

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Re

sid

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Cravo M C Mais de 60

9 EF Mecânico Aposentado NR Até 1 Até 1 Família Acima de 4

Aluguel

Crisântemo M C 56-60 4 NS Professor Professor de História

NR Até 3 Até 3 Família Acima de 4

Aluguel

Lis F C 56-60 5 EM NP Dona de casa BF Até ½ Até 2 Família Acima de 4

Aluguel

Fúcsia F C 56-60 2 EF NP Vendedora de cosméticos autônoma

NR Até ½ Até 2 Família Acima de 4

Aluguel

Gardênia F C 31-40 4 EF NP Dona de casa BPC

Até 1 Até 2 Família Acima de 4

Aluguel

Genciana F SO 46-50 3 EF Manicure Desempregado BF Até ½ Até 1 Família Acima de 4

Aluguel

Gerânio F O 21-25 1 EM NP Desempregada BF Até 1 Até 2 Família Acima de 4

Cedida

Girassol M C Mais de 60

5 EFI NP Aposentado NR Até 1 Até 2 Família Acima de 4

Cedida

Hortênsia F SE 41-45 2 EFI NP Dona de casa BF Até 1 Até 2 Família Acima de 4

Aluguel

Íris F C 41-45 2 NSI NP Educadora social

NR Até 2 Até 3 Família Acima de 4

Aluguel

Fonte: Pesquisa de campo (2016) Elaboração da autora.

Page 83: REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E …da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação

82

De acordo com as informações do quadro 7, pode-se depreender que o grupo

de sujeitos desta pesquisa é composto, majoritariamente, por mulheres, uma vez

que 75% dos entrevistados é do sexo feminino, e revela que esse mesmo número

encontra-se com o estado civil de casada. A faixa etária é de 55% entre 31 e 50

anos, e 65% possui até 3 filhos. Esse perfil tem relação com o fato de que,

atualmente, as mulheres são priorizadas nas políticas públicas e benefícios do

Governo Federal, como, por exemplo, o PBF e PMCMV que fazem parte das

políticas de Assistência Social e Habitação.

Quanto à escolaridade, 40% concluiu o Ensino Médio, no entanto, no

Residencial Vida Nova Aviário I esse número cai para 10%. É relevante citar que,

dentre os 20 sujeitos, 10% está com o curso de nível superior em andamento e 5%

possui o 3º grau completo (Quadro 7).

Durante as entrevistas, explicou-se aos entrevistados que a análise da

profissão, nesta pesquisa, está vinculada à realização de algum curso de

qualificação profissional de nível técnico ou superior. Assim, 75% dos sujeitos não

têm profissão, trata-se de um número significativo de pessoas que não estão

“qualificadas” para o mercado de trabalho, isso dentro da ideologia comumente

propagada pela sociedade atual. Os 25% que informaram ter realizado algum curso

possuem uma formação que tende mais ao trabalho informal, como os cursos de

manicure e costureira.

No quesito situação ocupacional, 70% não possuem uma renda formal, ou

seja, 25% são donas de casa, 20% estão desempregados e 25% trabalham como

autônomo. Foi interessante observar que há mulheres que se consideram donas de

casa, mas há outras que também realizam esse papel, porém, se apresentam como

desempregadas. A Lei 8.213/91 reconhece a dona de casa como uma trabalhadora

e assegura o direito aos benefícios pagos pela Previdência Social, exceto aqueles

relacionados com acidente de trabalho (BRASIL, 1991).

Todavia, mesmo com a existência dessa lei, que reconhece as donas de casa

como trabalhadoras, é muito raro elas contribuírem para a previdência social, muitas

só possuem a renda oriunda do PBF, que não deve ser utilizada para esse fim, e as

famílias que recebem encontram-se em situação de pobreza. Seria contraditório e

inviável utilizar o benefício para contribuir e, em decorrência disso, as mulheres

ficam sem a segurança previdenciária.

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83

O mesmo se aplica aos trabalhadores informais que também podem

contribuir, mas em muitos casos eles não têm condições ou não contribuem por

miopia social. Dessa forma, a informalidade pode representar um custo social

extremamente alto, uma vez que esses sujeitos encontram-se expostos a situações

de vulnerabilidade, como enfermidades, acidentes, velhice e essas circunstâncias

influenciam para que ocorra a dependência de benefícios assistenciais como o Bolsa

Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Quanto ao recebimento de benefícios, 50% dos sujeitos informaram que são

beneficiários do PBF ou do BPC. Isso reflete na renda mensal individual, tendo em

vista que 45% recebem até um salário mínimo e 40% até ½ salário mínimo. No que

concerne a renda mensal familiar, 70% dos sujeitos informaram que é até dois

salários mínimos.

No quesito condições de moradia anterior, 80% responderam que moravam

em casas alugadas. A aquisição da casa própria, em tese, possibilita uma redução

nas despesas. No entanto, há controvérsias quanto a melhorias efetivas, pois,

quando questionados sobre como eram as condições de vida antes de morarem no

empreendimento do PMCMV, alguns moradores responderam o seguinte:

Eu prefiro tá aqui porque eu não to pagando aluguel mais, já é uma boa diminuída na renda, mas a água deveria ser individual, porque nem todo mundo tem essa consciência de que tem que pagar, isso dificulta. Não só a água como a limpeza, a limpeza de cada bloco isso é uma dificuldade (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Antes era melhor, depois que eu cheguei aqui eu estacionei. Eu tinha lavanderia, meu quintal era grande e eu lavava as minhas roupas. Eu pagava aluguel alto, mas era tudo perto, aqui eu tenho dificuldade de locomoção e não consigo trabalhar dentro da minha casa. Aqui é difícil. É bom por ser meu, mas em compensação eu não consigo ganhar dinheiro (LIS, AVIÁRIO I).

Assim, percebe-se que não pagar aluguel é um alívio, todavia, há outras

questões a serem observadas, como o fato de terem que se habituar a morarem em

apartamento, compartilharem áreas comuns com outros moradores, realizarem o

pagamento de taxas referentes à manutenção do bloco etc. Os empreendimentos

ficam distantes do centro da cidade, principalmente o Residencial Vida Nova Aviário

I, e isso acarreta em despesas com transporte e, em alguns casos, dificuldades para

encontrar emprego.

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Esses sujeitos conquistaram a casa própria e de fato, para muitos, é a

realização de um sonho. Todavia, tanto na caracterização dos bairros Mangabeira e

Aviário, dos residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, quanto na análise

das entrevistas, é perceptível que a realidade desses indivíduos, apesar de

possuírem uma moradia, ainda não assegura todos os direitos. Ainda há carência no

acesso a uma educação capaz de inseri-los no mercado de trabalho formal, de

assegurar direitos trabalhistas e, sobretudo, de possibilitar a obtenção de

conhecimento suficiente que os tornem cidadãos críticos. Isso é imprescindível,

tendo em vista que a educação, a profissionalização e a inserção no mercado de

trabalho são requisitos necessários para a elevação social e econômica do sujeito,

ao menos, para garantir as condições básicas de reprodução da existência.

5.2 TRAJETÓRIAS DOS REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS DOS

RESIDENCIAIS VIVER IGUATEMI II E VIDA NOVA AVIÁRIO I

Nesta subseção, apresentam-se as trajetórias dos representantes

comunitários dos residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I. O grupo de

sujeitos escolhido para constituir esta pesquisa é composto por síndicos,

subsíndicos, conselheiros fiscais e lideranças ligadas à associação de moradores.

A análise descrita neste tópico contempla algumas questões fechadas da

entrevista que são: função, tempo que exerce a função e vinculação com a

associação de moradores (Quadro 8). A discussão das informações subjetivas se

baseou nas seguintes perguntas:

Como descreve a sua história como representante comunitário nessa

comunidade?

Você se voluntariou para exercer essa função ou foi por força de outras

circunstâncias? Quais circunstâncias?

Os moradores contribuem no desenvolvimento do seu trabalho? Eles

entendem a importância da cooperação de todos?

Nas visitas de campo aos bairros Mangabeira e Aviário e nas conversas com

os moradores, observou-se que a construção de novos empreendimentos provocou

alterações nos processos políticos, sociais e econômicos desses espaços. Novos

núcleos familiares passaram a habitar esses bairros e essas novas áreas de

moradia passaram por um processo de organização comunitária que foi decorrente

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85

da chegada de novos indivíduos.

Com isso, toda a realidade foi alterada, são mudanças que influenciam na

vida dos recém-chegados, assim como dos moradores antigos. Essas

transformações surgiram em função das construções que modificaram o espaço,

ampliaram a área habitada do bairro e, sobretudo, com a chegada dos novos

habitantes, que logo começaram a usufruir dos serviços públicos e de toda a

infraestrutura que o bairro oferecia. Assim, surgiram/intensificaram-se as demandas

coletivas, uma vez que o transporte público, as escolas, os postos de saúde já não

atendiam a todos; as vias não pavimentadas dificultavam a locomoção; e as áreas

coletivas, que já eram frágeis, tornaram-se ainda mais precárias.

Diante disso, os grupos são incitados a, minimamente, se organizarem. No

caso dos empreendimentos do PMCMV, esse processo de organização é estimulado

pelo próprio Programa, através dos projetos de trabalho social, em prol da

preservação dos residenciais e para que os moradores assumam as despesas

coletivas oriundas do compartilhamento da energia dos blocos, no caso dos

residenciais com tipologia predial.

Nesta pesquisa, optou-se por reconhecer como representantes comunitários

os indivíduos que assumem as funções pertinentes à gestão condominial, devido às

observações e vivências que a pesquisadora fez durante o trabalho desenvolvido em

um residencial do PMCMV, como contratada da PMFS. Nesse ínterim, identificou-se

que esses gestores, diante de determinadas circunstâncias, eram compelidos a

exercerem papéis políticos e de articulação para solucionar problemas coletivos.

A carência e, em muitos casos, a inexistência de políticas públicas estimulam

alguns moradores a se posicionarem em busca de melhores condições de vida.

Entretanto, tem-se a clareza de que esses processos, em muitas situações, são

mínimos e paulatinos, tendo em vista que toda luta contra-hegemônica requer mais

esforço, pois trata-se de um movimento contrário às ideologias individualistas e

competitivas, que estão postas na sociedade, e que são difundidas por aparelhos

ideológicos do Estado, empresas midiáticas etc. e, por isso, são assimiladas pela

população com mais facilidade.

No quadro 8, observa-se que foram entrevistados 13 síndicos, 3 conselheiros

fiscais, 3 subsíndicos e 1 síndico, e esse último também é presidente da Associação

de Moradores Vida Nova Aviário I. Os representantes do Residencial Viver Iguatemi

II estão no exercício de suas funções de 2 a 3 anos, já o grupo do Vida Nova Aviário

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I desempenha as suas funções a mais 4 anos.

Quadro 8: Informações sobre a trajetória dos representantes dos residenciais

Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, 2016

Residencial Sujeitos

Função

Tempo que exerce (anos)

Vinculação com

Associação de Moradores

Viv

er

Igua

tem

i II

Acácia Conselheiro Fiscal 2-3 Não

Alecrim Síndico 2-3 Não

Alfazema Síndico 2-3 Não

Amarílis Síndico 2-3 Não

Anis Síndico 2-3 Não

Anêmona Conselheiro Fiscal 2-3 Não

Azaléa Conselheiro Fiscal 2-3 Não

Begônia Síndico 2-3 Não

Beladona Síndico 2-3 Não

Camélia Subsíndico 2-3 Não

Vid

a N

ova

Aviá

rio

I

Cravo Síndico Acima de 4 Sim

Crisântemo

Síndico Acima de 4 Sim

Lis Síndico Acima de 4 Sim

Fúcsia Síndico Acima de 4 Sim

Gardênia Subsíndico Acima de 4 Sim

Genciana Síndico Acima de 4 Sim

Gerânio Síndico Acima de 4 Sim

Girassol Síndico Acima de 4 Sim

Hortência Subsíndico Acima de 4 Sim

Íris Síndico/Presidente da Associação de Moradores

Acima de 4 Sim

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

A vinculação com a Associação de Moradores só foi identificada nas

entrevistas com os moradores do Residencial Vida Nova Aviário I. Acerca disso, é

importante ressaltar que em ambos os bairros existem associações comunitárias, no

entanto, os moradores do Viver Iguatemi II desconhecem o trabalho da ASSOMIVI e

os moradores do Vida Nova Aviário I atribuem à associação muitas das conquistas

alcançadas para o bairro.

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A trajetória dos representantes comunitários nos residenciais Viver Iguatemi II

e Vida Nova Aviário I possui similaridades, uma vez que a maioria dos entrevistados

informou que fazem parte dos grupos gestores por conta da necessidade. Assim,

80% dos representantes relataram que não tinham interesse em assumir nenhuma

função de gestão, mas, por força das circunstâncias, eles aceitaram. Essas

informações podem ser vistas nas falas a seguir:

Não fui eu mesmo que disse eu vou querer ser, o povo que me batizou (ACÁCIA, IGUATEMI II). Precisava ter alguém à frente para resolver as coisas, pagar as taxas, a energia [...] e eu acabei ficando (ALECRIM, IGUATEMI II). O povo que escolheu, né? [...] não ia deixar o meu bloco abandonado (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Por vontade ninguém quer, eu fiquei na preocupação e me responsabilizei (AMARÍLIS, IGUATEMI II). Na verdade, eu não queria ser, foi falta de opção, não tinha outras pessoas e resolveram me colocar (ANÊMONA, IGUATEMI II). Ninguém queria assumir, porque é uma dificuldade (AZALÉA, IGUATEMI II). Eu não queria, mas como o pessoal quis, eu aceitei (BELADONA, IGUATEMI II). Acharam que eu tinha condições de ser, mas eu disse que eu não tinha condições de nada (GENCIANA, AVIÁRIO I). Eu não queria, a síndica geral pediu para eu ficar arrecadando dinheiro e acabei ficando como síndica (HORTÊNCIA, AVIÁRIO I).

Existem outros exemplos de representantes que se preparam para isso,

mesmo sendo minoria. Dos entrevistados, alguns sujeitos demonstraram ter

interesse em se tornar integrante do grupo gestor do residencial e revelaram as suas

histórias na entrevista com vários exemplos de perseverança. Como exemplo, cita-

se a trajetória do síndico, nomeado neste Relatório como Crisântemo, que informou

ter se preparado durante seis meses, antes de ir morar no residencial, para exercer

a função de síndico. O seu objetivo fica claro no texto a seguir:

Eu estudava convenções de condomínio, eu já ensaiava reuniões, eu ansiava pelo momento de ver os moradores para nós construirmos um paraíso, eu achava que o meu prédio tinha que dá exemplo, inclusive parece que o meu prédio goza desse conceito. Primeiro, eu reuni os moradores e expliquei direitinho sobre direitos e deveres, além das reuniões eu coloquei debaixo da porta dos moradores a convenção do condomínio, a prestação de contas semestral. Eu passei seis meses varrendo o prédio para dar exemplo [...] Os trabalhos mais difíceis eu fazia questão de fazer como carregar o lixo, podar as árvores, eu gostava de dar o exemplo (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I).

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É essencial que existam representantes comunitários em espaços de moradia

onde existem fragilidades ou, como ocorre na maioria das vezes, a inexistência de

serviços públicos básicos. Esse aspecto pode ser comprovado na fala da presidente

da Associação de Moradores do Vida Nova Aviário I:

O diferencial da Associação do Aviário I é que quando a gente buscava algum benefício, a gente não pensava só no residencial, mas em todo bairro. Nós acreditamos que nós fazemos parte do bairro, apesar de já existir um bairro e a gente ter sido inserido nele, um bairro com muitas dificuldades nos serviços prestados pelo município, mas a gente se via como parte daquela comunidade. Então buscamos, enquanto associação, nós reivindicamos que a frota de ônibus fosse aumentada, como aumentou em seis ônibus, nós buscamos a pavimentação, foi quando o atual prefeito se comprometeu com a comunidade em pavimentar, porque na verdade o projeto de pavimentação só ia até o presídio, então ele foi na comunidade e se comprometeu, e com o recurso do município a pavimentação foi até a frente do residencial. O ônibus, nós não tínhamos ônibus até a frente do residencial, tinha que descer em frente a Fazenda do Menor, onde era muito perigoso, escuro, porque tem uma área de matagal, então nós conseguimos ter um ponto de ônibus em frente ao residencial (ÍRIS, AVIÁRIO I).

Outra questão abordada foi em relação à contribuição dos moradores no

desenvolvimento do trabalho dos grupos gestores e se eles entendem a importância

da cooperação. Acerca disso, a maioria respondeu que a contribuição é pouca e

alguns afirmaram o seguinte:

Entendem, o problema é que eles não aceitam. Todas as vezes que eles vão aceitar deveres, eles reagem, porque só querem aceitar direitos. Isso tá na vida social, todo mundo só pensa no direito. O morador aqui, a maioria é de baixa escolaridade, ou seja, reagem mal a essa questão de ter deveres (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I). Alguns contribuem. Nem todos concordam, tem alguns que fazem de conta que nem moram (FÚCSIA, AVIÁRIO I).

Os entrevistados alegaram ter muita dificuldade com o fato de morarem em

prédios. Essa situação provoca problemas de convivência e fragiliza o processo de

pertencimento dos sujeitos no novo espaço de moradia. Muitos não preservam o

patrimônio, pois ainda não estabeleceram uma identidade com o local e isso se

reflete na baixa participação das reuniões que são realizadas pelos gestores para

discutirem como melhorar o espaço onde vivem.

Outra percepção é de que os processos de participação em comunidades

com altos índices de violência, pobreza e de exclusão das mais diversas formas

possuem um grau de dificuldade, atrelado ao fato de que os sujeitos, inseridos

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nesse contexto, têm necessidades imediatas. Isso implica em dizer que, em muitas

situações, não há como passar por um movimento de luta paulatino, tendo em vista

que as demandas advindas da sobrevivência são urgentes.

Essas circunstâncias revelam a importância da representatividade

comunitária, principalmente, através da formação de uma associação. Isso se

comprova em muitas das falas dos moradores do Aviário, uma vez que eles sempre

se referem à presidente da associação de moradores quando relatam alguma

melhoria que ocorreu no bairro.

No Residencial Viver Iguatemi II alguns entrevistados informaram que não

sabiam a quem recorrer em algumas situações de urgência. Outro aspecto relevante

é o fato de que eles não demonstram serem pertencentes ao bairro Mangabeira

tanto quanto os moradores do residencial do Aviário. Nas entrevistas, quando

questionados sobre aspectos referentes ao bairro Mangabeira, muitos não souberam

responder ou sempre respondiam baseados na experiência vivida dentro do

residencial. Em muitos momentos, foi necessário relembrá-los que o Residencial

Viver Iguatemi II faz parte do bairro Mangabeira, mas ainda há dificuldade de se

sentirem parte desse contexto maior. Talvez, a explicação para isso seja o tempo de

vivência, tendo em vista que eles moram nesse residencial há um pouco mais de 2

anos.

5.3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO PODER PÚBLICO

Esta seção tem como objetivo compreender as alternativas utilizadas pelos

representantes comunitários para que o poder público cumpra o seu papel no que

concerne a seguridade dos serviços públicos básicos. Portanto, os elementos que

constituem esta etapa estão presentes na coleta de dados realizada nas oficinas e

em algumas questões da entrevista.

A análise da oficina 1, intitulada de “Quais são os problemas?”, foi relacionada

com as respostas coletadas através da entrevista, especificamente na questão 20,

com a seguinte pergunta: “Qual dos serviços assinalados é ofertado, mas não é

condizente com a demanda?”.

Desse modo, no que concerne aos problemas indicados na discussão da

oficina 1 e na questão 20, nos dois residenciais, pode-se observar no gráfico 2 que

os entrevistados demonstraram insatisfação no que concerne a prestação de

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serviços públicos e consideraram, sobretudo, a educação, saúde, segurança pública,

limpeza das vias públicas, áreas verdes e áreas de lazer como insuficientes.

Ressalta-se que apenas os participantes do Residencial Vida Nova Aviário I

indicaram a pavimentação das vias públicas como problema.

Gráfico 2: Insuficiência da prestação de serviços públicos dos bairros Aviário e Mangabeira, Feira de Santana, 2016

Fonte: Entrevista semiestruturada (2015). Elaboração: Lidiane Oliveira.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

Educação

Saúde

Assistência Social

Transporte coletivo

Rede de esgoto

Coleta de lixo

Pavimentação das vias

Limpeza das vias

Acessibilidade

Área verdes

Áreas de lazer

Segurança Pública

Aviário

Mangabeira

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Nas discussões da oficina alguns participantes indicaram os seguintes

problemas:

Falta de lazer, falta de posto médico que tenha tudo, a gente sai para procurar lá fora, as ruas têm quer ser mais limpas, não tem segurança 100%, deveria ter uma base policial aqui. As crianças aqui não têm lazer (GARDÊNIA, AVIÁRIO I). Aqui no condomínio não tem colégio com vagas perto. É tudo longe. Tudo perigoso. Já teve tiroteio e eu levando a minha filha para escola (HORTÊNSIA, AVIÁRIO I). Quando a gente chegou aqui não tinha nada plantado, a gente começou a plantar umas mudas e fazer jardins, a construtora deveria ter entregado com as áreas verdes (AZALÉA, IGUATEMI II).

Outra temática levantada na discussão sobre os problemas, tanto no

Residencial Viver Iguatemi II quanto no Residencial Vida Nova Aviário I, foi a

necessidade de eleger uma equipe responsável pela gestão condominial para que

ocorra a organização dos blocos no que diz respeito ao pagamento das taxas

condominiais, conservação patrimonial e estruturação de regras de convivência.

Sobre isso, os participantes falaram o seguinte:

São 20 moradores, aí faz reunião e aparece 5 ou 7 (CRAVO, AVIÁRIO I). É muito difícil uma pessoa se responsabilizar para organizar esse povo todo. Esse negócio de ter que coletar dinheiro, nem todo mundo quer pagar e ainda desconfia do síndico. A gente tenta organizar as coisas, mas até pra dividir a limpeza do bloco o pessoal não ajuda, o síndico acaba tendo que fazer tudo, senão fica entregue as baratas (ANIS, IGUATEMI II). A minha vida aqui depois de ser síndica só piora, as pessoas não me respeitam. Era pra ter organizado isso bem antes da gente vim morar, pra todo mundo ir se acostumando, as pessoas não sabem viver em prédio (FÚCSIA, AVIÁRIO I).

A análise documental dos Diagnósticos dos Residenciais Viver Iguatemi II e

Vida Nova Aviário I, elaborados pelas equipes técnicas do PCSC, corrobora a

problemática da carência de políticas públicas nos bairros Mangabeira e Aviário,

principalmente, devido ao crescimento habitacional vislumbrado na área com a

construção de empreendimentos do PMCMV. Nesse documento é pontuado que

existem equipamentos e prestação de serviços públicos, mas que os mesmos não

possuem a estrutura e qualidade necessárias para atender toda a população. No

caso do Aviário, a realidade é ainda mais precária, pois muitas famílias se deslocam

para outros bairros a procura de vagas em escolas e atendimentos de saúde (FEIRA

DE SANTANA, 2014).

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Nas visitas de campo, em ambos os residenciais, observou-se a presença de

uma viatura policial que realiza a ronda de forma frequente. Esse fato contribuiu para

que alguns sujeitos ficassem com dúvida sobre a existência ou não de segurança

pública nos residenciais. Assim, a questão sugerida para reflexão foi “Você se sente

seguro?” Diante desse questionamento, os participantes avaliaram que a ronda

policial não garante segurança, apenas inibe temporariamente a ocorrência de

crimes, pois eles não se sentem seguros.

Dessa forma, discutiu-se sobre a necessidade de ações preventivas no

âmbito da segurança pública. Os moradores de ambos os residenciais já

vivenciaram ou presenciaram alguma situação de violência e eles declararam que a

polícia vai ao local quando acionada. No entanto, isso não garante a segurança.

A oficina 2, denominada como “Participação Social”, se baseou na questão

“De quem é o problema?” e no debate sobre a importância das decisões coletivas,

assim como na questão 5 da entrevista, que questiona aos sujeitos como é possível

trabalhar para o bem de todos.

Na perspectiva dos participantes da oficina, participação é:

Fazer a sua parte (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Participar das reuniões, pagar a bomba e ir aos mutirões de limpeza que a gente chama e poucos vão (GERÂNIO, AVIÁRIO I). Participar é falar a opinião da gente e trabalhar para melhorar (ANÊMONA, IGUATEMI II).

O termo participação, elucidado nesta oficina, foi descrito, inicialmente, como

o ato de participar ou fazer parte de algo. Logo em seguida, a discussão sobre

participação foi direcionada para a reflexão sobre o processo de tomada de

consciência do indivíduo direcionado para as necessidades da coletividade, com

vistas à efetivação da democracia, conforme a revisão bibliográfica da seção 3.

De acordo com Avritzer (2008, p. 47 apud OLIVEIRA, 2013, p. 34), o “[...]

sucesso dos processos participativos está relacionado [...] à maneira como se

articulam desenho institucional, organização da sociedade civil e vontade política de

implementar desenhos participativos”. Essa reflexão corrobora os posicionamentos

dos entrevistados sobre a questão se é possível trabalhar para o bem de todos, na

qual informaram que apesar das dificuldades eles acreditam que é possível.

Todavia, relatam que precisam do apoio do poder público e da cooperação dos

moradores. Acerca disso, cita-se algumas falas:

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É possível se tiver todo mundo em acordo e se a prefeitura lembrar que a gente existe. Se uma pessoa só quiser, como diz o ditado, uma andorinha só não faz verão. Então se todos não chegar junto pra ajudar e procurar melhoria, não vai ser nada fácil pra um só fazer. A gente tem que saber aonde ir, a quem recorrer, a prefeitura tem que se abrir pra gente (ANIS, IGUATEMI II). Ninguém vive sozinho, a gente vive em um espaço que um tá precisando do outro. Então jamais eu vou fazer uma coisa pensando só em mim e em minha família (ÍRIS, AVIÁRIO I). Eu acho que todos têm que viver em comum, se preocupar. Se acontece um defeito na bomba, os 19 tem que se preocupar, não 1 ou 2 se preocupar. Um chega na janelinha e diz que tá sem água, mas não procura saber o que aconteceu. Pra gente melhorar tem que se unir (AMARÍLIS, IGUATEMI II).

Na oficina 2 deu-se uma ênfase não só ao significado da participação social,

mas, principalmente, ao fato de que é através dela que, no Estado democrático, é

possível que ocorra a inserção da sociedade civil nos espaços públicos para discutir,

sugerir, fiscalizar, implementar e deliberar sobre as políticas públicas da região onde

moram. A discussão também se baseou no entendimento de que a sociedade civil é

capaz de identificar as suas próprias necessidades e propor ações políticas.

No ítem 22 da entrevista, os sujeitos foram questionados se eles participaram

de alguma reunião para discutirem o projeto de construção do residencial onde

moram e todos declararam que não e que gostariam de ter participado. Esse fator

pode contribuir para que o envolvimento dos beneficiários com o novo espaço de

moradia seja difícil de ser estabelecido.

Nesses residenciais estudados, a PMFS só realizou um trabalho de

pertencimento após a entrega das habitações, através do desenvolvimento do

Trabalho Social, que, conforme outrora citado, possui um prazo estabelecido para

ser efetuado e tem inúmeras responsabilidades dentro dos empreendimentos. Isso

compromete a relação dos beneficiários com os seus vizinhos, com o bairro, com as

suas novas habitações.

No jogo rápido, denominado como “De quem é o problema?”, os participantes

receberam placas com os nomes “Meu”, “Todos” e “Poder Público”. Esclarece-se

que foi explicado aos participantes que eles poderiam levantar mais de uma placa

para cada demanda. Assim, na medida em que a facilitadora citava as demandas

identificadas na oficina 1, os participantes levantavam a placa que, na concepção

deles, correspondia ao responsável pela demanda.

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Dessa forma, tomou-se como parâmetro a escolha da maioria e o resultado

do jogo, dividido por residencial, pode ser visto no Quadro 9. Vale ressaltar que onde

tiver o hífen significa que a demanda não foi pontuada pelos participantes.

A intenção desse jogo, além de identificar qual a compreensão dos

participantes em relação às responsabilidades individuais, coletivas e do poder

público, também foi a de promover uma discussão sobre essas responsabilidades,

tendo em vista as dúvidas que eles demonstraram ter em relação a esse tema.

Algumas questões geraram um debate que favoreceu a troca de conhecimentos.

Como exemplo, cita-se a ideia da “drogadição”, que gerou dúvidas no grupo do

bairro Mangabeira, tendo em vista que os participantes inicialmente pontuaram que

tratava-se de um problema individual. Após discutirem, perceberam que é uma

questão coletiva, que necessita do apoio da sociedade civil e, principalmente, do

poder público, através de ações de prevenção e da promoção de possibilidades de

educação e emprego para os jovens.

A poluição sonora, no grupo do bairro Mangabeira, também suscitou dúvidas

e, após o debate, os participantes chegaram à conclusão de que tratava-se de um

problema de responsabilidade de todos, mas que o poder público deveria intervir

caso o diálogo entre vizinhos não solucionasse a questão. No caso da saúde

bucal, todos os participantes da Mangabeira informaram que tratava-se de uma

demanda individual. No entanto, após as discussões, ficou claro que a saúde bucal

deve ser incluída nos serviços de saúde pública.

Na condução da oficina, os participantes, moradores do bairro Aviário,

chegaram ao entendimento de que, em alguns casos, é possível solucionar

questões sem a intervenção do poder público. No entanto, relataram que é difícil

mobilizar pessoas para executar determinadas tarefas, mesmo tratando-se de um

benefício para todos. Como exemplo, citaram a “poda” das árvores e a limpeza das

áreas comuns do residencial, que poderiam ser realizadas pelos próprios

moradores; contudo, uma minoria se envolve.

Nos dois residenciais, os serviços públicos de saúde, educação, segurança

pública, transporte coletivo e pavimentação das vias foram claramente identificados

como de responsabilidade do poder público. Com base nisso, fomentou-se no grupo

a reflexão do que fazer quando as políticas públicas são insuficientes, a quem se

deve recorrer, na perspectiva de estimulá-los para a discussão da oficina 3.

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Sobre as questões: “Você vê o trabalho da Prefeitura aqui no bairro? Ela

oferece um espaço para ouvir os moradores? Caso não, como isso poderia ser

feito?”, a maioria dos entrevistados informou que percebem o trabalho da Prefeitura

nos bairros, mas que ainda é incipiente. Um dos aspectos mais citados foi a falta de

consulta a população. Eles informaram que não são ouvidos e que gostariam de

participar de reuniões promovidas pelo poder público nos bairros.

Sim. É um trabalho mínimo, mas ele existe. E esse mínimo é positivo, mesmo sendo mínimo. [...] A prefeitura gosta de vim falar, não gosta de ouvir. O prefeito quando veio aqui, veio muito pra falar, não veio pra ouvir. [...] A cidade de Feira de Santana já está hora de ser planejada de se dividir a cidade por zona, subprefeituras, subdelegacias e você descentralizar a coisa, a coisa tá centralizada e não pode atender todo mundo (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I). De vez em quando uma vez por mês ou de 6 em 6 meses eles deveriam aparecer aqui pra olhar pra gente, pra ouvir, aí ficava mais fácil (AMARÍLIS, IGUATEMI II).

Quadro 9: Resultado do jogo “De quem é o problema?”

Demandas identificadas Residencial Viver Iguatemi II

Residencial Vida Nova Aviário I

Carência de áreas de lazer Poder público Poder público

Carência de áreas verdes Poder público Meu

Poder público Todos

Coleta de lixo Poder público Todos

Poder público Todos

Convivência com os vizinhos Todos Todos

Drogadição Poder público Meu

Poder público Todos

Inexistência de creches - Poder público

Limpeza das áreas comuns do residencial

Todos Todos

Limpeza das vias públicas Poder público Todos

Poder público Todos

Pavimentação das vias públicas

Poder público Poder público

Poluição sonora Poder público Todos

Poder público Todos

Poda das árvores do residencial

- Poder público Todos

Saúde bucal Meu -

Saúde coletiva Poder público Poder público

Transporte coletivo Poder público Poder público

Vagas nas escolas Poder público Poder público

Violência Poder público Poder público Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

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No que concerne as questões “Diante dos problemas do bairro, em algum

momento vocês se organizaram para solicitar serviços na Prefeitura? De que forma

fizeram isso?”, a maioria dos entrevistados informou que nunca fizeram nada.

Todavia, alguns declaram o seguinte:

Sim, a gente já fez um trabalho desse na Secretaria de Habitação por um problema do bloco 16 e outras coisas que vieram acontecer, nos reunimos e fomos lá. Fomos bem recebidos e foram umas 20 pessoas, a gente tinha aqui no bloco um morador deficiente que queria fazer uma construção no fundo do bloco, eu fiquei sem saber o que fazer, fiz ofício e fui onde tinha que ir (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Eu já fui com a presidente da associação questionar sobre a poda de árvore, o transporte mesmo a gente fez abaixo assinado. Quando eu cheguei aqui, era dentro da lama, e hoje melhorou o transporte e o calçamento da rua. A gente que solicitou, fizemos abaixo assinado. Na época da eleição dele, ele veio e a gente fez vários abaixo assinado. O ônibus não entrava aqui dentro do condomínio. Aí botaram um ônibus pra entrar aqui e agora melhorou muito (GARDÊNIA, AVIÁRIO I).

De acordo com as entrevistas e com as oficinas, percebeu-se que no

Residencial Viver Iguatemi II, localizado no bairro Mangabeira, as solicitações estão

relacionadas com o residencial em si, não houve relato de solicitações para

solucionar questões amplas, que envolvam o bairro. Os entrevistados do Residencial

Vida Nova Aviário I relataram solicitações que envolvem questões coletivas do

bairro, como o transporte público, pavimentação das vias. Além disso, há sempre um

relato que envolve a Associação de Moradores como parte fundamental nesse

processo de intermediação com a Prefeitura e de encaminhamentos.

Na oficina 3, intitulada com a questão “O que faz o poder público?”, foram

discutidos os seguintes aspectos: introdução da oficina com dinâmica sobre direitos,

discussão sobre o papel do poder público e sobre os canais de participação

institucionalizados em Feira de Santana.

Nesse sentido, no momento da dinâmica, os participantes citaram alguns

direitos, como saúde, alimentação, educação, transporte, lazer, segurança, dentre

outros. Essa etapa da oficina teve a intenção de promover um “quebra-gelo”, pois foi

realizada através da “dinâmica do barbante”; e, também, de compreender a

concepção dos sujeitos sobre direitos. Com isso, percebeu-se, nos dois residenciais,

que os participantes sabem quais são os seus direitos, mas relataram que nem

sempre lutam por eles, por não saberem a quem recorrer.

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Na discussão sobre o papel do poder público, um dos participantes, morador

do Residencial Vida Nova Aviário I, informou que é o de servir o povo. Essa

afirmação conduziu o debate para o âmbito local e alguns sujeitos relataram o

seguinte:

Parte dos nossos problemas se dá pela falta de interesse do município em educar os seus munícipes. A prefeitura não educa o povo, ela não quer saber de organizar a população para que a sociedade possa progredir como um todo. Eles preferem o trabalho de assistencialismo, assistencialismo individual, porque o coletivo vai esclarecer a população e para os políticos de plantão isso não é bom (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I). Eu nem sei direito o que significa esse papel, tenho minhas dúvidas. As vezes os políticos parecem que tão fazendo um favor pra gente. Em outubro tem eleição e aí a gente vai ver os candidatos chamando a gente para participar de reunião, pra comprar o nosso voto. Isso é o chamado voto de cabresto, né? (GIRASSOL, AVIÁRIO I).

Na oficina realizada no Residencial Viver Iguatemi II os participantes disseram

que o papel do poder público é:

Trabalhar pra melhorar a vida da gente, pra pelo menos a gente criar os nossos filhos com educação, pra eles poder trabalhar mais tarde e sobreviver (CAMÉLIA, IGUATEMI II). Pagamos tanto imposto, a gente precisa ter um retorno desse dinheiro. A prefeitura tem que fazer a parte dela, o governo geral tem que fazer também, a gente tem que saber a quem recorrer, saber onde ir quando tiver problema. O papel deles é esse, ouvir e atender a população (ALECRIM, IGUATEMI II).

Nos dois residenciais os participantes demonstraram compreender que o

poder público deve estar a serviço da população. No entanto, foi necessário elucidar

que a sociedade civil também precisa estar atenta ao desempenho político dos seus

representantes. Dessa forma, para que ocorra a seguridade de direitos e a melhoria

das condições de vida da população, a participação social é imprescindível, essa é

uma das conquistas, bem como uma responsabilidade da sociedade civil dentro do

Estado democrático.

De acordo com o Estatuto da Cidade, uma das diretrizes da política urbana é

“[...] a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população

e de associações representativas dos vários segmentos da Comunidade” e o “[...]

plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de

desenvolvimento e expansão urbana” (BRASIL, 2004, p. 17 e 33).

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Com isso, é importante, neste momento, traçar um paralelo sobre as

informações dos sujeitos de estudo com a análise, outrora realizada, sobre a

participação social na política de habitação em Feira de Santana. A realidade

identificada nos residenciais corresponde a forma como ainda é tratado o tema

participação social na Prefeitura. Se, por um lado, existe uma população que

desconhece os canais de participação social, que informa ter dificuldades de

recorrer ao poder público para acioná-lo quando necessário; por outro, observa-se

que o poder público ainda não dispõe de um Plano Diretor e não possui canais

abertos que permitam uma relação mais próxima com a população, que favoreçam o

diálogo e a promoção de ações políticas condizentes com as necessidades locais.

Sabe-se que a introdução de concepções democráticas e participativas não

ocorre de forma “milagrosa”. É necessário investir em ações socioeducativas para

que assim seja possível informar a população e estimular a inserção de sujeitos nos

espaços políticos. Trata-se de semear uma mudança de hábitos, na qual os sujeitos,

que antes assumiam uma postura passiva, obtenham a oportunidade de vislumbrar

a possibilidade de atuar de forma propositiva, pessoas que refletem e discutem

sobre a cidade onde moram.

É um trabalho socioeducativo paulatino, mas que é imprescindível para que

ocorra a gestão da cidade de forma democrática. Não se pode perder de vista que a

participação é um instrumento de reivindicação por melhores condições de vida, e,

em decorrência disso, não deve ser uma responsabilidade atribuída apenas ao

poder público. Se assim for, os processos participativos serão limitados e perderão a

força popular.

A participação social possibilita a concretização da cidadania, e, para Souza,

“[...] o caminho democraticamente mais legítimo para se alcançarem mais justiça

social e uma melhor qualidade de vida é quando os próprios indivíduos e grupos

específicos definem os conteúdos concretos e estabelecem as prioridades” (2006b,

p. 66).

Contudo, quando se trata da efetivação da participação institucionalizada, da

qual trata-se neste texto, é necessária a abertura de canais por parte do poder

público. Nas oficinas, foram socializadas as informações sobre esses canais no

município de Feira de Santana e apenas uma participante, moradora do Residencial

Vida Nova Aviário I e presidente da associação de moradores, tinha conhecimento

sobre a existência e o funcionamento dos Conselhos Municipais.

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Assim, foram apontados todos os conselhos municipais existentes, o

endereço onde estão localizados e a competência dos mesmos de possibilitar uma

discussão sobre políticas públicas com a presença da sociedade civil, uma vez que

os conselhos possuem as atribuições de fiscalizar, implementar e deliberar sobre

políticas.

Todas as oficinas executadas proporcionaram aos participantes um

entendimento sobre as responsabilidades coletivas e do poder público e

promoveram um estímulo aos sujeitos a se tornarem atuantes nas esferas de

participação social. Isso proporcionou, minimamente, um contato com novas

possibilidades de pensar sobre o espaço de moradia e sobre as políticas públicas.

Assim, o trabalho de campo foi a base para a elaboração do guia Participação

Social no Âmbito da Política de Habitação em Feira de Santana. A ideia de criar um

instrumento de cunho socioeducativo veio da compreensão de que ofertar

informações sobre a participação social é fundamental para estimular a população a

buscar melhores condições de vida e, também, colabora com o trabalho da gestão

municipal.

Com base nisso, o guia elaborado é a materialização desses conhecimentos

e uma forma de fazer com que esta pesquisa contribua de forma educativa para que

a população seja informada sobre a participação social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão da categoria participação social como meio para o alcance de

políticas públicas é um debate relevante, especialmente na área da habitação em

Feira de Santana, uma vez que a cidade está em expansão. Com base na análise

presente neste documento, percebeu-se que esse crescimento possui

características de exclusão e injustiça social, uma vez que os espaços de moradia

foram construídos e habitados antes da constituição dos serviços públicos básicos,

como exemplo dos bairros Mangabeira e Aviário.

Assim, depreende-se sobre a importância deste estudo para a sociedade e

para a academia, por possuir elementos que caracterizam o controle social

desenvolvido no município de Feira de Santana e as alternativas que os

representantes comunitários executam, mesmo que minimamente, para melhorarem,

em seu novo espaço de moradia, a qualidade da mobilidade urbana, dos serviços de

saúde e de assistência social, a segurança pública, dentre outras políticas.

Além disso, uma das características deste trabalho foi a identificação das

fragilidades dos processos de participação social em Feira de Santana. Com isso, a

intenção foi de consubstanciar proposições de participação social, importantes tanto

para a sociedade civil quanto para o bom funcionamento da gestão pública em Feira

de Santana. Espera-se, também, contribuir para outros municípios, uma vez que o

fenômeno da expansão imobiliária está presente em todo o país e a participação é

uma estratégia que promove o empoderamento e a organização comunitária.

No percurso da investigação houve momentos de vulnerabilidade decorrentes

da falta de locais adequados para a realização das oficinas e da existência de

situações de violência, inclusive, que coincidiram em acontecer com esta

pesquisadora durante algumas visitas de campo. O acesso aos documentos da

PMFS, em alguns momentos, foi difícil, principalmente, porque as pessoas

responsáveis pela documentação tinham pouco tempo para disponibilizá-los para

consulta. Apesar dos percalços, a aplicação das técnicas metodológicas resultou

em uma coleta de dados satisfatória.

A discussão sobre políticas públicas, na seção 2, evidenciou a ligação

intrínseca dessas com a relação capital versus trabalho e com a questão social,

principalmente, no sentido de que, diante das mazelas sociais decorrentes do modo

de produção capitalista, o Estado passou a investir em medidas sociais para sanar,

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minimamente, as desigualdades sociais. Isso, sem se desvincular dos interesses da

própria reprodução do capital, e o mercado imobiliário, voltado para a habitação

popular, é um caso exemplar dessa dinâmica.

Essa reflexão foi à base da discussão sobre a política habitacional no Brasil,

que é abordada neste trabalho como uma política pública social. Assim, a

contextualização histórica das políticas sociais, da política de habitação no Brasil do

Governo Getulista ao Governo de Lula, e, nesse ínterim, a identificação de

incipientes estratégias de participação comunitária adotadas pelo Estado nesse

período, demonstraram a relevância em unir essas temáticas no debate sobre

habitação e participação.

A seção 3 contemplou a participação social como categoria de análise, mas,

também, revelou alguns resultados. Foi importante adotar a escala de participação

social de Souza (2006a), pois tal abordagem teórica estabeleceu um parâmetro para

o reconhecimento de que em Feira de Santana a participação é incipiente,

especialmente no âmbito da habitação, que é o foco desta pesquisa. Observou-se,

com base na pesquisa documental, nas visitas às Secretarias e à Casa dos

Conselhos, que trata-se de uma pseudoparticipação, por possuir um caráter

informativo, sobremodo, porque o poder público municipal não possui canais ativos

de participação no âmbito da habitação, como, por exemplo, o Conselho Municipal

das Cidades, que, apesar de criado, ainda não encontra-se atuante.

O breve contexto histórico de Feira de Santana e análise da caracterização

dos bairros Mangabeira e Aviário, bem como dos residenciais Viver Iguatemi II e

Vida Nova Aviário I, revelaram a vulnerabilidade dos núcleos familiares que

compõem o campo empírico deste estudo. A seção 4 demonstrou como a exclusão

social é uma característica da realidade dos sujeitos que moram nesses bairros e a

existência de desigualdades gera a necessidade de representação comunitária.

Na seção 5, foi estabelecido o perfil sociodemográfico dos representantes

comunitários, sujeitos de pesquisa, e ocorreu a descrição das suas trajetórias. Foi

possível identificar que muitos moradores assumem o papel de representante por

não terem outra opção, alguns compreendem e querem ser, e a presença da

associação de moradores é um fator que contribui para que os moradores se sintam

representados e seguros. Foram evidenciadas dificuldades de adequação aos novos

espaços de moradia e, principalmente, para os que assumem alguma função de

gestão, pois relatam ter dificuldades na hora de recolher o valor das taxas

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condominiais, assim como, de estimularem os moradores a zelarem pelo patrimônio

e se organizarem.

Ainda nesta seção supracitada, ficou evidente a carência de diálogo entre a

população e o poder público local. Os sujeitos entrevistados, em sua maioria,

desconhecem as possibilidades que a participação social oferece no âmbito da

tomada de decisões sobre as políticas públicas.

A Constituição Federal e o Estatuto das Cidades são referências históricas

que legitimaram a população como capaz de participar do planejamento da cidade

onde moram. Nos quesitos legalização e normatização, a participação social se

fortaleceu intensamente nas últimas décadas. No entanto, a sua prática ainda é

tímida e incipiente, pois, de acordo com os resultados da pesquisa, poucos sujeitos

se interessam em se apropriar da participação social.

A ideia não é “culpabilizar” a sociedade civil ou o poder público pelo atual

cenário da participação social em Feira de Santana, e até mesmo no Brasil. O que

se pretende é demonstrar que as estratégias de aplicação dos mecanismos de

participação social precisam ser revisadas e trabalhadas nas comunidades com um

envolvimento maior. A gestão do município, além de sancionar leis e decretos,

necessita instituir canais participativos que, de fato, desenvolvam o trabalho do

controle social e também deve atentar-se para a divulgação desses canais e para a

acessibilidade dos mesmos.

O que se sugere é a criação de instrumentos socioeducativos, realização de

capacitações para a sociedade civil e para os servidores públicos, especialmente,

para os que trabalham nos equipamentos da política de educação, assistência social

e saúde. Tendo em vista que esses profissionais estão mais próximos das

comunidades.

O envolvimento da sociedade civil é fundamental para que ocorra a gestão

democrática. A inexistência de diálogo com o poder público compromete o

desenvolvimento das políticas, uma vez que só ao ouvir a população é possível

identificar as suas reais demandas.

A elaboração do guia, resultado deste trabalho, provém da observação de que

há uma carência de informações sobre a participação social. Trata-se de uma

estratégia que visa ao menos sensibilizar os sujeitos e despertar a curiosidade deles

sobre o tema. Compreende-se que isso não irá mudar o contexto da participação

social no município, mas pode, ao menos, mitigar a falta de informação e de diálogo

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entre a sociedade civil e o gestor público.

Enfatiza-se, nestas considerações finais, a compreensão de que este tema

não se finda nesta pesquisa e de que há um respeito por todo o conhecimento que

foi ofertado pelos sujeitos deste estudo. Esse respeito provém do reconhecimento de

que todos os indivíduos possuem as suas próprias estratégias para viver, na maioria

das vezes sobreviver, nesse mundo desigual.

Com isso, ressalta-se que o desenvolvimento deste trabalho resultou em uma

troca de conhecimentos, na qual não houve a intenção de desprezar os saberes

populares ou de incutir nos sujeitos os saberes técnicos. Reconhece-se a

importância da ação do indivíduo na sua rotina diária, com a realização das suas

tarefas corriqueiras e a sua luta por uma vida melhor com as armas que possui.

Este trabalho demonstrou que os beneficiários do PMCMV entrevistados

possuem dificuldades de adaptação aos novos espaços de moradia, por conta da

carência de acompanhamento e de infraestrutura dos bairros. Todavia, identificou-

se, ainda que sumariamente, pessoas que se organizam, buscam alternativas para

zelar pelos seus novos lares e para estimular os seus vizinhos a fazerem o mesmo.

Diante disso, a ideia de criar um instrumento de cunho socioeducativo é uma

forma de retribuir a esses sujeitos pela abertura das suas casas e das suas

trajetórias.

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APÊNDICES

Apêndice A: Roteiro de entrevista semiestruturada

I DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Sujeito de estudo: _______________________________ nº da entrevista _____

II INFORMAÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS:

1. Sexo: ( ) M. ( )F. 2. Espaço de moradia: ___________

3. Estado Civil:

( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) separado(a) ( ) viúvo(a) ( ) outros

4. Faixa etária:

( ) menor de 20 anos ( ) 21 a 25 anos ( ) 26 a 30 ( ) 31 a 40 anos

( ) 41 a 45 anos ( ) 46 a 50 ( ) 51 a 55 anos ( ) 56 a 60 anos

( ) mais de 60 anos

5. Filhos: ( ) sim ( ) não

6. Número de filhos: ____

7. Escolaridade:

( ) não alfabetizado ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental

completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo

( ) Nível Superior incompleto ( ) Nível Superior completo

8. Profissão: ____________________________________________________

9. Situação ocupacional: ___________________________________________

10. Recebe algum benefício: ( ) sim ( ) não Qual? _______________

11. Renda mensal individual: ( ) Nenhuma ( ) Até ½ SM ( ) Até 1 SM ( ) Até 2

SM ( ) Até de 3 SM

12. Renda mensal familiar: ( ) Nenhuma ( ) Até ½ SM ( ) Até 1 SM ( ) Até 2 SM

( ) Até 3 SM

13. Situação de moradia: ( ) sozinho(a) ( ) com família ( ) com parentes

14. Tempo de moradia: ( ) 1 a 2 anos ( ) 2 a 3 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) acima de 4

anos

15. Condições de moradia anterior: ( ) própria ( ) alugada ( ) cedida ( ) invadida

16. Função: ( ) Presidente da Associação de Moradores

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( ) Integrante da diretoria da Associação de Moradores ( ) Síndico

( ) Subsíndico ( ) Outros

17. Tempo que exerce a função: ( ) 1 a 2 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) acima de 4 anos

18. No bairro/empreendimento onde mora tem Associação de Moradores:

( ) Sim ( ) Não

19. Caso a resposta seja sim, está vinculado a Associação do bairro:

( ) Sim ( ) Não

20. Qual dos serviços assinalados é ofertado, mas não é condizente com a

demanda:

( ) Acessibilidade para pessoas com deficiência ( ) Manutenção das áreas verdes

( ) Áreas de lazer ( ) Segurança pública ( ) Limpeza das vias

( ) Educação ( ) Saúde ( ) Assistência Social ( ) Transporte coletivo

( ) Rede de esgoto ( ) Coleta de lixo regular ( ) Pavimentação das vias públicas

21. Você participou de alguma reunião para discutir sobre projeto de construção do

residencial onde mora? ( ) Sim ( ) Não

22. Caso a resposta seja não, gostaria de ter participado? ( ) Sim ( ) Não

III INFORMAÇÕES QUALITATIVAS

1. Antes de ter sido contemplado com essa casa onde você morava e como

eram as suas condições de vida?

2. Como descreve a sua história como representante comunitário nessa

comunidade?

3. Os moradores contribuem no desenvolvimento do seu trabalho? Eles

entendem a importância da cooperação de todos?

4. Você se voluntariou para exercer essa função ou foi por força de outras

circunstâncias? Quais circunstâncias?

5. Para você como é possível trabalhar para o bem de todos?

6. Você vê o trabalho da Prefeitura aqui no bairro? Ela oferece um espaço para

ouvir os moradores? Caso não, como isso poderia ser feito?

7. Diante dos problemas do bairro, em algum momento vocês se organizaram

para solicitar serviços na Prefeitura? De que forma fizeram isso?

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Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O senhor(a) está sendo convidado a participar de uma pesquisa, cujo tema é:

Representantes comunitários e participação em empreendimentos do PMCMV: a

construção de um guia.

A referente pesquisa é desenvolvida pela aluna, Lidiane Rios de Oliveira, do

Mestrado Profissional em Planejamento Territorial, da Universidade Estadual de

Feira de Santana, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia,

sob a orientação do Prof. Dr. Janio Santos.

Ressalta-se que a sua participação não é obrigatória e em qualquer momento

poderá desistir e retirar o seu consentimento, onde sua recusa não lhe trará nenhum

tipo de prejuízo.

É importante esclarecer que sua identidade será mantida em sigilo e que suas

opiniões jamais serão associadas ao seu nome quando da publicação dos

resultados do trabalho. Será garantido o respeito à sua integridade física, psíquica,

moral, intelectual, social e espiritual. As informações serão analisadas e os

resultados apresentados no trabalho acadêmico. Esses dados serão arquivados por

cinco anos e depois destruídos, sendo seu conteúdo utilizado apenas em pesquisas

e publicações.

O presente estudo é de fundamental importância, pois visa analisaras

estratégias de participação social adotadas pelos moradores, no que concerne ao

acesso aos serviços de mobilidade urbana, saúde, assistência social e educação,

com base no estudo dos empreendimentos do PMCMV, localizados no bairro

Mangabeira, em Feira de Santana. Se você concordar em participar, deverá assinar

este termo. Uma cópia dele ficará com você e a outra com a pesquisadora

responsável.

Agradecemos a sua participação.

Feira de Santana, ____ de ___________________ de 2016.

____________________________________________ Lidiane Rios de Oliveira

____________________________________________

Entrevistado

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Apêndice C: Roteiro das oficinas

QUAIS SÃO OS PROBLEMAS?

Carga Horária

Local Associação de Moradores

Nº de participantes 6 a 10 representantes

Objetivo Conhecer as demandas locais.

Introdução Dinâmica de apresentação de

todos os presentes e pergunta: Como

vim parar aqui nesse bairro?

Essa pergunta tem a finalidade

de propor uma reflexão sobre a

participação desses sujeitos no

processo que antecedeu a

construção dos

empreendimentos.

15 min

Desenvolvimento Utilização da técnica

“Tempestade de ideias” para

identificação dos problemas locais.

30 min

Conclusão Organização das ideias expostas e

incentivo a pensarem em soluções a

serem discutidas no próximo encontro.

5 min

Avaliação Avaliação oral. 10 min

Total - 60 min

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116

PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Carga Horária

Local Associação de Moradores

Nº de participantes 6 a 10 representantes

Objetivo Debater sobre a importância da

coletividade em prol da seguridade de

políticas públicas no bairro.

Introdução Jogo rápido denominado “De

quem é o problema?” com perguntas

sobre as responsabilidades individuais,

coletivas e do poder público.

Serão utilizadas placas com os

nomes: Meu, Todos e Poder

Público, que serão expostas

como resposta as perguntas que

o moderador fará.

15 min

Desenvolvimento Discussão sobre:

Qual a importância de decidir

coletivamente;

Os ganhos advindos das

decisões coletivas no que

concerne a seguridade de

direitos e serviços públicos;

Qual a responsabilidade de cada

um na melhoria da qualidade de

vida da comunidade.

30 min

Conclusão Espaço aberto para dúvidas. 5 min

Avaliação Avaliação oral. 10 min

Total - 60 min

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O QUE FAZ O PODER PÚBLICO?

Carga Horária

Local Associação de Moradores

Nº de participantes 6 a 10 representantes

Objetivo Esclarecer o papel do poder

público diante das necessidades locais

expostas na reunião anterior.

Introdução Pergunta: Quais são os meus

direitos?

15 min

Desenvolvimento Discussão sobre o direito à

moradia e toda infraestrutura necessária

para que se tenha qualidade de vida;

Apresentação dos serviços

públicos:

Saúde,

Mobilidade urbana,

Assistência social,

Educação,

Saneamento.

Informações sobre os canais e

veículos de participação abertos pelo

poder público.

30 min

Conclusão Incentivo a participarem das instâncias

de controle social e a lutarem por

melhores condições de vida.

5 min

Avaliação Avaliação oral. 10 min

Total - 60 min

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ANEXO

Anexo A: Guia Participação Social no Âmbito da Política de Habitação em Feira

de Santana

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