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Universidade Estadual de Feira de Santana
Departamento de Ciências Humanas e Filosofia Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial
Mestrado Profissional – PLANTERR
LIDIANE RIOS DE OLIVEIRA
REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E PARTICIPAÇÃO EM
EMPREENDIMENTOS DO PMCMV: A CONSTRUÇÃO DE UM GUIA
Feira de Santana/BA 2017
LIDIANE RIOS DE OLIVEIRA
REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS E PARTICIPAÇÃO EM
EMPREENDIMENTOS DO PMCMV: A CONSTRUÇÃO DE UM GUIA
Relatório técnico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial (PLANTERR), em nível de Mestrado Profissional, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de Mestre em Planejamento Territorial pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
Orientador: Prof. Dr. Janio Santos
Feira de Santana/BA
2017
Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado
Oliveira, Lidiane Rios de
O48r Representantes comunitários e participação em empreendimentos do PMCMV : a construção de um guia/ Lidiane Rios de Oliveira. – Feira de Santana, 2017.
118 f.: il. Orientador: Janio Santos.
Relatório Técnico (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial, 2017.
1. Políticas públicas – Participação social – Feira de Santana, BA. 2. Política de habitação. I. Santos, Janio, orient. II. Universidade Estadual de Feira de Santana. III. Título. CDU: 304(814.22)
Aos representantes comunitários, sujeitos deste estudo, que
contribuíram com seus conhecimentos e suas histórias de
vida.
AGRADECIMENTOS
Acredito que a gratidão é a energia mais transformadora que existe. Assim
como não existe caminho sem o caminhante, também não existe trajetória de vida
sem apoio.
Agradeço a Deus, a fonte criadora de tudo, que provê toda a energia vital
necessária para que eu acorde todos os dias e siga em frente. Em muitos momentos
não sei muito bem para onde estou indo (risos), mas tem dias que acordo e sinto
que o sentido de tudo está relacionado com o ser, apenas ser.
Neste momento, aproveito a oportunidade para agradecer a todas as pessoas
que me apoiaram de alguma forma para que eu pudesse vivenciar essa experiência.
Acredito que tudo está relacionado, nada acontece ao acaso, então, tenho certeza
que todos os seres que passaram por minha vida trocaram experiências comigo em
algum nível e esse Mestrado é o resultado de muitas trocas de saberes.
Agradeço à minha família pela dedicação, incentivo, compreensão e amor. A
minha mãe, Edileusa, pelo exemplo de perseverança e fé; ao meu pai, Izaac, pelo
exemplo de simplicidade; à minha irmã, Isi, por sempre estar presente, oferecendo
apoio.
Ao meu professor Alfredo Oliveira que, na graduação em Serviço Social, me
ensinou a fazer pesquisa.
Ao meu orientador, Janio Santos, pela organização e disciplina sempre
presentes nos encontros de orientação e, especialmente, por estimular a minha
criticidade e criatividade. Foi muito bom conhecê-lo e as suas orientações sempre
me trouxeram segurança.
Aos meus professores e à coordenação do curso de Mestrado Profissional em
Planejamento Territorial pelo profissionalismo e por conduzirem o curso de forma
responsável e organizada.
Aos professores, Acácia e James, pela clareza e qualidade das indicações e
sugestões que agregaram valor a este trabalho.
Aos colegas da minha turma do Mestrado Profissional em Planejamento
Territorial, foi maravilhoso conhecê-los.
Aos funcionários das Secretarias de Desenvolvimento Social, de Habitação e
de Planejamento de Feira de Santana por me atenderem e disponibilizarem os
documentos para a realização da análise documental.
Ao Grupo de Pesquisa Urbanização e Produção de Cidades na Bahia pelos
encontros e discussões produtivas.
Manifesto a minha gratidão a Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado da
Bahia (FAPESB), pela concessão da bolsa de pesquisa.
Aos sujeitos deste estudo, sem eles seria impossível escrever sobre
participação social. Aprendi muito com todas as experiências compartilhadas nas
oficinas e nas entrevistas.
Tudo cooperou para que eu encerrasse mais um ciclo. Gratidão!
Acumular todos os fatos não significa ainda conhecer a realidade; e todos os
fatos (reunidos em seu conjunto) não constituem, ainda, a totalidade.
(Kosik)
RESUMO
Esta pesquisa manifesta o resultado de um trabalho de campo de natureza qualitativa, com aplicação de entrevistas e o desenvolvimento de oficinas. O objetivo é analisar as estratégias de participação social adotadas por moradores, no que concerne ao acesso aos serviços de mobilidade urbana, saúde, assistência social e educação, com base no estudo dos empreendimentos do PMCMV, localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, em Feira de Santana. Para alcançar a proposta de pesquisa foram apresentados alguns conceitos que se relacionam com o tema políticas públicas, bem como a relação dessas com o surgimento da questão social, que incide no caráter social das políticas, sobretudo da política de habitação. Essa discussão se justifica pelo fato de que a carência habitacional encontra-se intrinsecamente relacionada com a questão social. Outro assunto discutido foi sobre a participação social no âmbito da habitação e essa etapa contou com uma análise de documentos do município de Feira de Santana. Como trata-se de uma investigação de campo, foram apresentados os aspectos metodológicos do processo de desenvolvimento das oficinas e a caracterização dos representantes comunitários e suas trajetórias. Diante disso, pode-se depreender que no quesito legalização e normatização, a participação social se fortaleceu intensamente nas últimas décadas. No entanto, a sua prática ainda é tímida e incipiente, pois, de acordo com os resultados desta pesquisa de campo, poucos sujeitos se interessam em se apropriar da participação social. Assim, com base neste estudo, no município de Feira de Santana, foi possível observar que as estratégias de aplicação dos mecanismos de participação social precisam ser revisadas e trabalhadas nas comunidades com um envolvimento maior. A gestão do município, além de sancionar leis e decretos, necessita instituir canais participativos que de fato desenvolvam o trabalho do controle social e, também, deve atentar-se para a divulgação desses canais e para a acessibilidade dos mesmos.
Palavras chave: Participação Social. Política de Habitação. Representantes Comunitários. Poder Público. PMCMV.
ABSTRACT
This research shows the results of a qualitative field work, with the application of interviews and the development of workshops. The objective is to analyze the social participation strategies adopted by residents regarding access to urban mobility services, health care, social assistance and education, based on PMCMV projects, located in the Mangabeira and Aviário neighborhoods, in the Santana. In order to reach the research proposal, some concepts related to public policies were presented, as well as their relationship with the emergence of the social question, which affects the social character of policies, especially housing policy. This discussion is justified by the fact that the housing shortage is intrinsically related to the social question. Another issue discussed was about social participation in housing, and this stage had an analysis of documents from the municipality of Feira de Santana. As it is a field investigation, the methodological aspects of the workshop development process and the characterization of community representatives and their trajectories were presented. In view of this, it can be deduced that in the legalization and normalization, social participation has intensified intensely in the last decades. However, their practice is still timid and incipient, because, according to the results of this field survey, few subjects are interested in appropriating social participation. Thus, based on this study, in the municipality of Feira de Santana, it was possible to observe that the strategies of application of social participation mechanisms need to be reviewed and worked in the communities with a greater involvement. The management of the municipality, besides sanctioning laws and decrees, needs to institute participatory channels that in fact develop the work of social control, and also, attention should be paid to the dissemination of these channels and their accessibility. Keywords: Social Participation. Housing Policy. Community Representatives. Public Power. PMCMV.
LISTA DE FOTOS
Foto 01 Moradores cultivando jardins no Residencial Viver Iguatemi II........... 64 Foto 02 Área de lazer do Residencial Vida Nova Aviário I quando foi
inaugurado...........................................................................................
65 Foto 03 Área do parque após ser destruído e o quiosque do Residencial
Vida Nova Aviário I..............................................................................
65 Foto 04 Imagem atual da quadra de esportes.................................................. 66 Foto 05 Apresentação da pesquisa na reunião do PCSC, Viver Iguatemi
II...........................................................................................................
69 Foto 06 Identificação dos problemas locais com textos e desenhos, Viver
Iguatemi II............................................................................................
69 Foto 07 Jogo rápido denominado “De quem é o problema?” com a utilização
de placas com os nomes “meu”, “todos” e “poder público”, Viver Iguatemi II............................................................................................
70 Foto 08 Dinâmica do barbante com a pergunta: “Quais são os meus
direitos?”, Viver Iguatemi II..................................................................
70 Foto 09 Discussão sobre os problemas locais, Vida Nova Aviário I................ 71 Foto 10 Discussão sobre participação social, Vida Nova Aviário I................... 72
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 Déficit Habitacional por faixas de renda média familiar mensal (em salários mínimos), Brasil, 2012........................................................
44
Gráfico 02 Insuficiência na prestação de Serviços Públicos nos bairros Aviário e Mangabeira, Feira de Santana, 2016................................
86
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Evolução da política da habitação no Brasil, 1946 – 2009............... 40 Quadro 02 Orientações do Ministério das Cidades sobre o Desenvolvimento
da Política Habitacional.................................................................... 42
Quadro 03 Escala de participação popular......................................................... 48 Quadro 04 Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de Santana,
Bahia................................................................................................. 55
Quadro 05 Caracterização dos Residenciais Viver Iguatemi I e II, Vida Nova Aviário I e Rio São Francisco, 2016.................................................
62
Quadro 06 Síntese metodológica das oficinas................................................... 69 Quadro 07 Caracterização sociodemográfica dos sujeitos de estudo................ 76 Quadro 08 Informações sobre a trajetória dos representantes dos
residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, 2016..................................................................................................
82
Quadro 09 Resultado do jogo “De quem é o problema?”................................... 91
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 Localização do Município de Feira de Santana, 2017.......................... 16 Mapa 02 Localização do bairro Mangabeira e do Residencial Viver Iguatemi II,
Feira de Santana, 2017........................................................................ 17
Mapa 03 Localização do bairro Aviário e do Residencial Vida Nova Aviário I, Feira de Santana, 2017........................................................................
18
Mapa 04 Localização das Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de Santana, 2017........................................................................
56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ASSOMIVI Associação de Articulação Social dos Beneficiários do Minha
Casa Minha Vida
BNH Banco Nacional de Habitação BPC Benefício de Prestação Continuada CEF Caixa Econômica Federal CSU Centro Social Urbano FCP Fundação da Casa Popular FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FJP Fundação João Pinheiro FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFBA Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Bahia IPMF Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras MPF Ministério Público Federal MPO Ministério do Planejamento e Orçamento PBF Programa Bolsa Família PCSC Programa de Convivência Social e Cidadania PDDM Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano PDLI Plano de Desenvolvimento Local Integrado PHFS Política de Habitação de Feira de Santana PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Social PMCMV Programa Minha Casa, Minha Vida PMFS Prefeitura Municipal de Feira de Santana PNPS Política Nacional de Participação Social RATS Relatórios de Acompanhamento do Trabalho Social SEAC Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária SEHAB Secretaria Municipal de Habitação SEPURB Secretaria de Política Urbana SFH Sistema Financeiro de Habitação SIC Sistema de Informação ao Cidadão SNHIS Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16
2. A POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO BRASIL ......................................................... 30 2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E A RELAÇÃO COM O SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL ..................................................................................................................... 30 2.2 TRAJETÓRIA DA POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL ................................ 38
3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO ÂMBITO DA POLÍTICA DE HABITAÇÃO ........... 48 3.1 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO POLÍTICO ............................. 48 3.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLÍTICA DE HABITAÇÃO EM FEIRA DE SANTANA ................................................................................................................. 53
4. ESPECIFICIDADES DA INVESTIGAÇÃO: CAMPO EMPÍRICO E OFICINAS .... 61 4.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA ............ 61 4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS MANGABEIRA E AVIÁRIO ...................... 62 4.3 CARACTERIZAÇÃO DOS RESIDENCIAIS ........................................................ 65 4.3.1 Residencial Viver Iguatemi II ............................................................................ 67
4.3.2 Residencial Vida Nova Aviário I ....................................................................... 68
4.4 O CAMINHO METODOLÓGICO DAS OFICINAS ............................................... 71
5. REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS: EXPERIÊNCIAS E HISTÓRIAS ........... 79 5.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DOS SUJEITOS DE ESTUDO ... 79 5.2 TRAJETÓRIAS DOS REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS DOS RESIDENCIAIS VIVER IGUATEMI II E VIDA NOVA AVIÁRIO I ............................... 84 5.3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO PODER PÚBLICO ........................... 89
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 100
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 104
APÊNDICES ........................................................................................................... 112 Apêndice A: Roteiro de entrevista semiestruturada ................................................ 112 Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 114 Apêndice C: Roteiro das oficinas ............................................................................ 115
ANEXO ................................................................................................................... 118 Anexo A: Guia Participação Social no Âmbito da Política de Habitação em Feira de Santana ................................................................................................................... 118
16
1. INTRODUÇÃO
O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) é uma proposta do Governo
Federal que investe em projetos habitacionais na perspectiva de oportunizar
moradias dignas às pessoas que habitam locais precários ou que não possuem
moradia própria. Conforme as especificações do Governo Federal, na Lei 11.977, de
7 de julho de 2009, o PMCMV objetiva atingir, prioritariamente, famílias de baixa
renda, residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas
com prioridade para mulheres responsáveis pela unidade familiar e pessoas com
deficiência (BRASIL, 2009).
O Governo Federal é o responsável pela transferência de recursos1 para a
edificação dos empreendimentos. No entanto, o material didático desenvolvido no
60º Fórum Nacional de Habitação de Interesse Social de 2013 elucida que o poder
público municipal também possui um papel importante, uma vez que é o gestor do
município que discute os projetos propostos pelo setor privado e os aprova. Na
condição de gestor do território deve conciliar os investimentos em habitação aos da
educação, saúde e transporte, promovendo integração entre as políticas setoriais
(BRASIL, 2013).
Por todo Brasil, em geral, os residenciais do PMCMV têm sido construídos em
áreas periféricas e com insuficiência de serviços públicos básicos para ofertar aos
novos habitantes. A ocupação de novos espaços por pessoas advindas de situações
vulneráveis e de risco, de locais distintos, requer um trabalho de pertencimento,
integração e convivência social.
Em consulta aos Relatórios de Acompanhamento do Trabalho Social (RATS),
elaborados pelas equipes técnicas que atuam dentro dos residenciais do PMCMV
em Feira de Santana, observou-se a existência de uma série de demandas, tais
como: transporte público insuficiente, equipamentos de saúde, educação e
assistência social que não atendem as necessidades locais (FEIRA DE SANTANA,
2015).
No caso de Feira de Santana (Mapa 1), cidade localizada na Bahia, a uma
distância de 108km da capital, Salvador, está concentrado um número significativo
de unidades habitacionais financiadas pelo PMCMV, totalizando quarenta e dois
1 O repasse de recursos realizado pelo Governo Federal ocorre através da transferência do
Orçamento Geral da União para o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR).
17
empreendimentos, segundo dados do Relatório Anual do Programa de Convivência
Social e Cidadania (PCSC) do ano de 20142. Teoricamente, esse crescimento
imobiliário contribuiu para a redução do déficit habitacional, pois, de acordo com
informações da Prefeitura Municipal de Feira de Santana, já foram entregues 10.228
unidades residenciais (FEIRA DE SANTANA, 2015).
Dentre os bairros contemplados com a edificação dos residenciais assistidos
pelo PMCMV em Feira de Santana, cita-se os bairros Mangabeira e Aviário (Mapas
2 e 3), áreas consideradas como vetor de crescimento imobiliário e objeto de forte
especulação. Portanto, caracterizam-se como um espaço relevante para análise,
pois, apesar do crescimento no setor habitacional, decorrente do número de
construções realizadas, ainda constituem-se como áreas desprovidas de
infraestrutura, serviços e equipamentos públicos, que deveriam ser capazes de
atender a todos os novos núcleos habitacionais. Assim, foram escolhidos dois
residenciais, Viver Iguatemi II e o Vida Nova Aviário I (Mapas 2 e 3), o primeiro
localizado nos limites entre os bairros Mangabeira e Conceição, e o segundo nos
limites dos bairros 35º BI e Aviário.
Há de se considerar, em tese, que a expansão urbana deve ser promovida de
forma planejada, garantindo “[...] sustentabilidade urbana, para os moradores e
cidade”, de modo que possua qualidade da unidade habitacional, do
empreendimento e na relação do empreendimento com a cidade, conforme foi
esclarecido no 60º Fórum Nacional de Habitação de Interesse Social de 2013
(BRASIL, 2013, p.3). No entanto, esse processo é frágil, sobretudo, por conta da
produção de projetos habitacionais “[...] padronizados e repetitivos, desarticulados
do tecido urbano” (ARAÚJO, 2014, p. 12).
A produção habitacional deveria promover transformações sociais, políticas e
territoriais, e isso remete a importância da participação social e do planejamento
territorial para o desenvolvimento das ações desse Programa. A participação dos
beneficiários do MCMV no processo de implementação de políticas públicas é
imprescindível, tendo em vista que eles são os demandatários dos serviços públicos
e, portanto, devem indicar quais são as suas necessidades e, por conseguinte,
articularem-se para a superação das problemáticas existentes.
2 O PCSC é vinculado a Prefeitura Municipal de Feira de Santana e responsável pelo trabalho social
executado nos residenciais do PMCMV no município.
18
Mapa 1: Localização do Município de Feira de Santana, 2017
19
Mapa 2: Localização do bairro Mangabeira e do Residencial Viver Iguatemi II, Feira de Santana, 2017
20
Mapa 3: Localização do bairro Aviário e do Residencial Vida Nova Aviário I, Feira de Santana, 2017
21
Assim, com o intuito de compreender como os beneficiários do programa se
articulam em prol da melhoria da infraestrutura dos seus novos espaços de moradia,
tendo em vista a distância entre os empreendimentos e o centro da cidade, bem
como, as fragilidades na oferta de serviços públicos, elegeu-se como principal
problema pensar até que ponto os moradores dos empreendimentos do PMCMV,
localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, alcançam, por meio da participação, a
integração com o contexto urbano no que concerne ao acesso aos serviços de
mobilidade urbana, saúde, assistência social e educação em Feira de Santana?
Para complementar tal indagação, questiona-se ainda: de que forma os
representantes locais se articulam para garantir que o poder público cumpra o seu
papel no que concerne a seguridade de políticas públicas? Qual instrumento de
articulação com o poder público é possível ser elaborado com base nas experiências
desses grupos comunitários? Quais instrumentos e canais o poder público local
disponibiliza para que haja participação social?
Pressupõe-se que as circunstâncias desfavoráveis decorrentes da adaptação
dos beneficiários a um novo contexto de moradia os impulsionam a mobilização e
organização comunitária, ainda que incipientes. Muitos desses sujeitos se
posicionam em prol de melhorias e as associações de moradores e os corpos
diretivos dos residenciais (síndico, subsíndico e conselho fiscal) são representantes
que, na teoria, agem em prol de melhores condições de vida, com vistas à conquista
de uma infraestrutura de qualidade.
Assim, na perspectiva de responder a problemática estabelecida, elegeu-se
como objetivo geral: analisar as estratégias de participação social adotadas pelos
moradores, no que concerne ao acesso aos serviços de mobilidade urbana, saúde,
assistência social e educação, com base no estudo dos empreendimentos do
PMCMV, localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, em Feira de Santana. Os
objetivos específicos são: caracterizar os representantes comunitários dos
empreendimentos do PMCMV, localizados nos bairros Mangabeira e Aviário, Feira
de Santana e suas trajetórias; compreender as alternativas utilizadas pelos
representantes comunitários para que o poder público cumpra o seu papel no que
concerne a seguridade dos serviços públicos básicos; verificar os instrumentos e
canais que o poder público local disponibiliza para que haja participação social no
âmbito da habitação; elaborar um guia, com base nos dados coletados nas
entrevistas e oficinas, composto de informações que possam ser utilizadas para que
22
ocorra a articulação com o poder público com vistas à seguridade dos serviços
públicos básicos.
Portanto, com base no entendimento de tais questionamentos, propôs-se
ainda a elaboração de um guia, capaz de fortalecer a integração dos moradores, por
meio da participação, com o contexto urbano de Feira de Santana. A finalidade
deste guia é orientar a população sobre a participação social e estimular os leitores
a refletirem e discutirem proposições para a cidade onde moram.
Para alcançar os objetivos de forma exitosa, considera-se fundamental
enfocar a metodologia, pois é através dela que o caminho a ser seguido na pesquisa
é traçado, o que possibilita, segundo Lakatos e Marconi (1991), o alcance do
objetivo com segurança e evita desperdícios, além de auxiliar o pesquisador na
constatação de possíveis erros.
No entanto, é válido lembrar que o uso do método não corresponde somente
às técnicas e aos instrumentos a serem utilizados, mas deve também relacionar-se
com o que se pretende estudar. Assim, entende-se que o mesmo precisa estar
articulado com a reflexão, não sendo definido de forma aleatória e desconectado do
sujeito e objeto de pesquisa (OLIVEIRA, 1998).
O olhar e a escuta fizeram parte da construção deste estudo, que também se
apoiou nos ensinamentos de Minayo, quando define que metodologia é “[...] o
caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”, sendo
também “[...] a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência” (1999, p.16).
Do mesmo modo, entende-se que “[...] olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer
o mundo para dentro de si” (CHAUÍ,1988, p.33) e essa ideia retrata como o
pesquisador interage com o objeto de estudo em um processo mútuo de doação e
absorção de conhecimento.
Esta pesquisa trata-se de um estudo de campo, o qual se caracteriza pelo
fato da coleta de informações ser realizada diretamente no local a ser estudado e
pessoalmente pelo pesquisador, o que possibilita que os resultados sejam mais
próximos do real (GIL, 1999). Assim, empregou-se um modelo de investigação social
com abordagem qualitativa, que “[...] consiste em desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais
precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1999, p.33).
23
Também optou-se seguir pelo viés descritivo por se tratar de um trabalho que
visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis. Entende-se que o trabalho descritivo
abrange vários aspectos do contexto social, além de possibilitar ao pesquisador
melhor compreensão sobre os fenômenos estudados, não desprezando elementos
que possam alterá-los (GIL, 1999).
Disso exposto, no âmbito da metodologia, esta pesquisa se dividiu em quatro
etapas: 1) Pesquisa bibliográfica; 2) Pesquisa documental com coleta de dados
secundários; 3) Coleta de dados primários com aplicação de entrevista
semiestruturada para elaboração do quadro de caracterização dos representantes
comunitários; 4) Realização das oficinas para elaboração do guia. Para subsidiar o
guia com as experiências de participação social dos sujeitos de estudo foi elaborado
um Relatório Técnico, que apresenta os resultados obtidos, conclusões e
recomendações.
Dentro dessa lógica, este estudo se apoiou nos preceitos da pesquisa-
intervenção, uma vez que teve um enfoque participativo e transformador em todas
as etapas, especialmente no desenvolvimento das oficinas, que tiveram a finalidade
de coletar informações por meio da comunicação e interação. Pretendeu-se, com
isso, além de pesquisar e analisar dados, fomentar a atuação dos sujeitos desta
pesquisa no âmbito da participação social, “[...] já que propõe uma intervenção de
ordem micropolítica na experiência social” (AGUIAR; ROCHA, 2007, p. 660).
Assim, o campo empírico, no qual se desenvolveu a pesquisa, corresponde
aos bairros Mangabeira e Aviário, que encontram-se situados fora do anel de
contorno da cidade e, conforme o Censo do IBGE (2010), contam com uma
população de 20.819 e 11.912 habitantes, respectivamente. Nesses bairros existem
empreendimentos habitados há pelo menos dois anos e isso implica em um número
relevante de representantes instituídos para tratar das questões condominiais,
garantirem uma boa convivência entre os moradores, a conservação do patrimônio e
a manutenção das despesas coletivas.
Além de observar que Feira de Santana é uma cidade em expansão no que
concerne a construção de habitações de interesse social e que os bairros
Mangabeira e Aviário recebem investimentos nessa perspectiva, outro aspecto
influenciou para a decisão de realizar uma pesquisa nesse campo. A responsável
por este estudo executou, durante dois anos, atividades referentes ao trabalho social
24
nos residenciais do PMCMV, em Feira de Santana, e pôde observar com
significativa aproximação a realidade social das famílias beneficiárias e como é
fundamental que os moradores dessas residências desenvolvam estratégias de
participação social para compelir o poder público a assegurar políticas públicas, o
que despertou o interesse no tema, objeto deste estudo.
Esta pesquisa permitiu uma aproximação “[...] de significados, de vivências”,
tendo “[...] a possibilidade de compor intencionalmente o grupo de sujeitos”
estudado, com a compreensão de que “[...] é preciso aprofundar o conhecimento em
relação àquele sujeito com o qual estamos dialogando” (MARTINELLI, 2010, p. 23-
24). Desse modo, os sujeitos de estudo foram os representantes eleitos pelos
moradores dos residenciais do PMCMV nos bairros Mangabeira e Aviário. Foram
escolhidos dois empreendimentos, dentre os dezesseis, e que estão habitados há
dois anos no mínimo.
A exigência do tempo mínimo se deve ao fato de que o universo da pesquisa
foi constituído pelos grupos gestores dos condomínios e das associações de
moradores, em função dos quais foi constituída a amostra, e o processo de
instituição desses representantes requer tempo, pois ocorre após a
acomodação/adaptação dos moradores, formação das chapas e realização das
assembleias. O critério de inclusão consistiu na escolha de sujeitos, independente
de sexo, que estejam cumprindo com as suas atribuições, conforme preconiza os
estatutos sociais das associações comunitárias e dos condomínios, com pelo menos
um ano na função.
Ressalta-se que a escolha do tipo de amostragem é de fundamental
importância, pois é através dela que se seleciona uma parte dos sujeitos de estudo
que possa representar o universo da pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 2009). Dentre
os tipos de amostragem existentes optou-se pela não-probabilística de caráter
intencional, que dependeu exclusivamente dos critérios do pesquisador e “[...]
consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações
disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população” (GIL,1999,
p. 28). A escolha da amostra justifica-se por meio da intenção de selecionar
representantes comunitários que demonstraram interesse na participação social e
encontram-se ativos em busca de melhorias para a comunidade.
25
Para coleta de dados primários foi utilizada a entrevista semiestruturada, que
permitiu ao entrevistado falar livremente sobre o tema principal. Nesse sentido, o
pesquisador estabeleceu uma relação direta com o sujeito de estudo e isso
favoreceu a captação de uma variedade de dados. Foi um processo de cautela e
cuidado, um momento de fundamental importância para a aceitação do pesquisador
pelo grupo (PÁDUA, 2004).
O roteiro contemplou questões referentes a dados sociodemográficos, sexo
(no sentido de gênero), idade, endereço, escolaridade, profissão, situação
ocupacional, renda mensal individual, renda mensal familiar, tempo de residência,
função, tempo que exerce a função, além de quatro questões abertas, que versam
sobre a trajetória dos representantes comunitários dos empreendimentos em estudo,
participação social, existência ou não de instrumentos e canais que o poder público
local disponibiliza para que haja participação social no âmbito da habitação,
alternativas utilizadas pelos representantes comunitários para que o poder público
cumpra o seu papel no que concerne a seguridade dos serviços públicos básicos,
conforme o apêndice A.
A escolha desse roteiro justifica-se por se aproximar melhor da abordagem
qualitativa e por reconhecer a dinamicidade que existe nas experiências sociais e
relações “[...] entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o
sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade
do sujeito” (CHIZZOTTI, 2003, p. 79). Nesse sentido, permitiu captar dados
objetivos e subjetivos, dentro de uma análise de observação da realidade através da
qual o grupo deu as informações.
Antes de proceder cada entrevista, foi pontuado o objetivo da pesquisa a cada
sujeito, a instituição de ensino que a pesquisadora está vinculada, bem como o
esclarecimento de que eles tinham a liberdade de responder ou não aos
questionamentos.
Após a leitura e os esclarecimentos, cada entrevistado assinou o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme o apêndice B, a fim de
formalizar a sua autorização para a realização da entrevista. Foram realizadas 20
entrevistas, 10 no Residencial Viver Iguatemi II e 10 no Vida Nova Aviário I, na
residência dos sujeitos e foi utilizado um gravador para registrá-las.
26
Também foi realizada a coleta de dados secundários nos arquivos da PMFS,
que fundamentaram a discussão sobre a participação social em Feira de Santana,
especialmente, sobre os canais instituídos pelo poder público no âmbito da
habitação. A pesquisa nos documentos dos condomínios subsidiou a elaboração da
caracterização dos residenciais e dos representantes comunitários.
Outra técnica utilizada para coleta de informações foi o desenvolvimento de
oficinas, compostas por grupos de seis a dez integrantes, com o objetivo de
compreender as alternativas utilizadas pelos representantes comunitários para que o
poder público cumpra o seu papel no que concerne a seguridade dos serviços
públicos básicos, bem como contribuir para a caracterização dos representantes
comunitários dos empreendimentos e suas trajetórias. Em cada um dos dois
residenciais, foram realizadas três oficinas e os procedimentos metodológicos
adotados estão descritos na seção 4.
Os dados foram analisados com o uso da técnica denominada análise de
conteúdo, já que a pesquisa qualitativa tem por objetivo demonstrar o que os
sujeitos envolvidos pensam a respeito do que está sendo estudado. A abordagem de
Bardin (2002) norteou essa etapa através da orientação de que a análise de dados
deve ser organizada em três polos cronológicos: a pré-análise, que tem o objetivo de
sistematizar as ideias e organizar o material coletado; a exploração do material,
momento em que o pesquisador administra de forma sistemática as decisões a
serem tomadas para a análise, e o tratamento dos resultados com a interpretação.
Nesse processo, muito mais que a visão do pesquisador, o que interessa é o
que o sujeito tem a expressar, conforme demonstra Severino acerca da análise de
conteúdo:
[...] um conjunto de técnicas da análise das comunicações. Trata-se de compreender criticamente o sentido manifesto ou oculto das informações. Envolve, portanto, a análise dos conteúdos das mensagens, os enunciados dos discursos, a busca do significado das mensagens. As linguagens, a expressão verbal, os enunciados, são vistos como indicadores significativos, indispensáveis para a compreensão dos problemas ligados às práticas humanas (SEVERINO, 2007, p. 121).
Foi realizada, na medida do possível, a articulação entre as informações
coletadas pelo pesquisador, através das entrevistas, das oficinas e do referencial
teórico do estudo, a fim de responder às questões da investigação.
27
Após os esclarecimentos metodológicos, é válido salientar que o PMCMV é
objeto de estudo de muitos pesquisadores, devido a sua contribuição na expansão
da produção de habitações no Brasil, em tese, porque favorece a redução do déficit
habitacional, bem como impulsiona a economia através de investimentos na área de
construção civil. Autores como Araújo (2016), Krause (2013), Balbim (2013), Neto
(2013) e Moura (2014) exploram a temática com ênfase na discussão, por exemplo,
sobre padrões de segregação espacial, desterritorialização, política habitacional
brasileira, implicações socioambientais, políticas e territoriais, dentre outros
aspectos.
Os autores Oliveira Filho (2009) e Silva et. al. (2009) elaboraram estudos
sobre a participação popular no planejamento urbano, não focalizando, portanto, o
PMCMV. Dentre as pesquisas realizadas em Feira de Santana, destaca-se a de
Araújo (2016), que escreve sobre o PMCMV e a produção do espaço nas áreas
periféricas de Feira de Santana, especificamente no bairro Mangabeira.
Dentre os autores utilizados para subsidiar este trabalho, cita-se: as autoras
Souza (2006) e Rua (2012) nas conceituações de política pública; Paulo Netto
(2009), Behring et. al. (2011), Iamamoto (2006), Couto (2006), Yazbek (2009) e
Prédes (2002) na discussão sobre as políticas sociais e o Estado neoliberal;
Cardoso (2013), Aragão (2013) e Botega (2007) na trajetória da política de habitação
no Brasil; Ammann (2003), Silva (2003) e Souza (2006) que contribuíram para as
análises sobre participação social.
Este Relatório foi organizado em quatro seções, além da parte introdutória e
das considerações finais, seguindo as normas da ABNT3 (2015). A seção 2 aborda a
política de habitação no Brasil e, com vistas ao entendimento desta temática, optou-
se por tratar da origem das políticas públicas e da sua relação com a questão social.
Esse embasamento teórico contribuiu para a descrição da trajetória da política
habitacional no Brasil e suas imbricações com o modo de produção capitalista.
A seção 3 apresenta o tema participação social no âmbito da política de
habitação e aborda o caráter político da participação, que é capaz de inserir as
camadas pobres da sociedade nos processos decisórios das políticas públicas,
especialmente da habitação. A segunda etapa desta seção contempla uma análise
documental sobre a participação social na política de habitação em Feira de
3 Este relatório encontra-se de acordo com as normas da ABNT sobre Relatório Técnico, presentes
na Norma Brasileira 10719 (2015).
28
Santana.
Na seção 4, as especificidades da investigação são descritas no que
concerne a caracterização do município de Feira de Santana, dos bairros
Mangabeira e Aviário, bem como dos Residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova
Aviário I, que compõem o campo empírico deste estudo, onde foram realizadas as
oficinas sobre participação social. Além disso, há a descrição do caminho
metodológico das oficinas, com exposição de fotos e do quadro síntese que dispõe
sobre os roteiros de cada oficina realizada.
A seção 5 é composta pela trajetória dos representantes comunitários
entrevistados, com ênfase na caracterização sociodemográfica desses sujeitos e na
análise das respostas das entrevistas aplicadas e das oficinas. As informações
coletadas e analisadas foram sobre o desenvolvimento das funções desses
representantes, integrantes da equipe de gestão condominial e das associações de
moradores e sobre as alternativas que esses utilizam para que o poder público
cumpra o seu papel no que concerne a seguridade dos serviços públicos básicos.
Salienta-se que, no que concernem as formas de participação social, há uma
diversidade que abrange os meios de participação normatizados pelo poder público
e outros que são alternativos, não institucionalizados. Este trabalho considera
relevante tal variedade e cita, de forma sucinta, algumas ações participativas
advindas da população. Todavia, o foco são os canais institucionalizados pelo poder
público.
Com base nas entrevistas e nas oficinas realizadas com os representantes
comunitários foi possível elaborar o guia “Participação Social no Âmbito da Política
de Habitação em Feira de Santana”. A ideia de criar esse instrumento surgiu da
compreensão de que ofertar informações sobre a participação social pode contribuir
para melhorar o diálogo entre a população e a gestão pública.
Trata-se de uma alternativa de caráter socioeducativo, que reconhece na
participação social uma estratégia de empoderamento e que pode ser utilizada pelas
camadas empobrecidas da sociedade com vistas à melhoria da qualidade de vida.
Diante disso, a presente proposta possui originalidade por tratar-se de uma
pesquisa com foco na participação social, dentro dos residenciais do PMCMV, nos
bairros Mangabeira e Aviário, como meio para que os beneficiários alcancem a
integração com o contexto urbano no que concerne ao acesso aos serviços públicos.
Trata-se de um tema relevante por ser contemporâneo e, sobremodo, porque
29
estudá-lo também contribui para criar uma técnica que seja capaz de atenuar ou, ao
menos, mitigar os problemas decorrentes dos impactos socioterritoriais ocasionados
pelas construções e políticas oriundas do referido Programa, com o intuito de
fortalecer a participação social na gestão urbana do município.
Dessa forma, propostas de pesquisa com caráter propositivo como esta são
importantes para academia e sociedade, pois, em primeiro lugar, permitem estudar
as formas de organização comunitária que os beneficiários do Programa utilizam em
prol de melhorias infraestruturais nos espaços ocupados pelas habitações do
MCMV. Mas, sobretudo, por permitir a construção de propostas de promoção de
intervenções no real, com vistas a uma transformação social efetiva.
Trata-se, portanto, de um estudo proeminente, pois se apoia em métodos
específicos na perspectiva de entender a realidade experienciada por esses núcleos
habitacionais no que concerne à urbanização, assim como, favorecer as práticas de
participação social com a criação de um guia, com base em informações e nas
demandas fornecidas pelos beneficiários.
30
2. A POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO BRASIL
Nesta seção são apresentados alguns conceitos que se relacionam ao tema
políticas públicas, bem como a relação dessas com o surgimento da questão social,
que incide no caráter social das políticas, sobretudo da política de habitação que é
foco deste estudo. A apreciação de tais aspectos contribui para o entendimento da
trajetória da política de habitação no Brasil, que é sintetizada neste trabalho entre o
governo Getulista e o governo de Lula, ou seja, da criação da Fundação da Casa
Popular (FCP) até o PMCMV.
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E A RELAÇÃO COM O SURGIMENTO DA QUESTÃO
SOCIAL
O Estado, em meados do século XVI, em meio a um período marcado por
conflitos civis e religiosos, surge com o objetivo primordial de garantir a vida e a
propriedade através de leis e da manutenção da ordem. Nessa perspectiva, a
seguridade de direitos aos cidadãos e outras necessidades, que porventura viessem
a acontecer, só eram analisadas após o restabelecimento da paz (CREVELD, 2004).
No decurso da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea,
notadamente entre os séculos XVIII e XIX, o Estado desempenhava funções
restritas à manutenção da segurança pública interna e da preservação da
propriedade privada, bem como a defesa das fronteiras e prevenção para ataques
externos de outros Estados, considerados inimigos (CREVELD, 2004).
No século XX, com a consolidação da democracia e o adensamento das
atividades dentro das sociedades, o Estado foi compelido a responsabilizar-se por
uma nova dinâmica social e os teóricos discorreram sobre a necessidade de uma
refuncionalização governamental. Assim, surgiu uma nova atividade, a promoção do
bem-estar-social, que por certo demandou uma intervenção estatal distinta, com o
requisito de que houvesse uma aproximação do Estado com a sociedade para a
proposição de soluções dos problemas cotidianos (RUA, 2012).
Com base nisso, surgiu o conceito de políticas públicas com vistas à
superação de demandas sociais específicas. Para os especialistas no tema, seu
surgimento deu-se nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX, como
“[...] área do conhecimento e disciplina acadêmica”, com “[...] ênfase nos estudos
31
sobre a ação dos governos” (SOUZA, 2006, p. 02-03).
Nesse sentido, observa-se a seguir um conceito de política pública que é:
[...] um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. [...] É possível considerá-las como estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório (SARAVIA, 2006, p. 28).
Ressalta-se que “[...] embora uma política pública implique em decisão
política, nem toda decisão política chega a constituir uma política pública” é
necessário um conjunto de deliberações relacionadas entre si, com objetivos e
estratégias estabelecidos (RUA, 2012, p. 18). Para complementar essa reflexão,
salienta-se que as políticas públicas:
[...] envolvem tanto uma decisão política, quanto requerem diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas e isso implica escolher dentre várias alternativas, conforme a hierarquia das preferências dos atores envolvidos, expressando uma adequação entre os fins pretendidos e os meios disponíveis para alcançá-los (SIMAN, 2005, p. 36).
Para alguns especialistas, as políticas públicas “[...] expressam a capacidade
do governo em realizar as preferências dos cidadãos” (SIMAN, 2005, p. 29). Dessa
forma, a participação da sociedade civil nas etapas decisórias das políticas públicas
possibilita uma agenda política condizente com as demandas sociais.
Com base nessas conceituações, sintetiza-se que a compreensão de política
pública neste estudo é de um conjunto de decisões estrategicamente relacionadas,
escolhidas com a participação ativa da sociedade civil, com a finalidade de intervir
na realidade social, aplicada pelo poder público com o desenvolvimento de
programas, projetos e ações.
A discussão ora apresentada tem como uma de suas vertentes analíticas a
política de habitação que será debatida não apenas como uma política pública, mas
como uma política pública de caráter social. Essa escolha se justifica pelo fato de
que a carência habitacional encontra-se intrinsecamente relacionada com a questão
social e essa análise será elucidada a seguir, através da contextualização do
surgimento das políticas sociais, para uma melhor compreensão a esse respeito.
32
A política social começou a ser refletida na Inglaterra, século XIX, onde se
iniciou o processo de industrialização. Nesse contexto, originaram-se as primeiras
discussões sobre possíveis intervenções nas condições de pobreza da população,
decorrentes do novo sistema produtivo. A outra nação que também começou a
discutir essas questões foi à Alemanha, na qual foi desenvolvida “[...] uma teoria de
igualdade de direito e igual distribuição de benefícios como base do progresso
econômico e social do indivíduo” (LEVCOVITZ; VIANA, 2005, p.19-20).
Diante disso, foram criadas duas vertentes filosóficas sobre política social,
que são as seguintes:
a tradição alemã, em que a política social é definida em função da autonomia do corpo social; as agências organizadoras de base voluntária exercem papel preponderante e cabe ao Estado normatizar;
a corrente inglesa, na qual o Estado tem papel dominante na política social, com função não só de regular, mas de prover e gerir bens e serviços sociais (LEVCOVITZ; VIANA, 2005, p.20).
Ressalta-se que, nas sociedades pré-capitalistas, as intervenções estatais
eram de caráter assistencialista e o interesse do Estado não era assumir
responsabilidades sociais, mas sim manter a ordem social através da filantropia. As
leis inglesas foram precursoras nesse contexto e estabeleceram legislações
punitivas, repressivas e não protetoras. O intuito era compelir os sujeitos a
trabalharem e, através de ações assistencialistas, era garantido um auxílio mínimo
ao pobre selecionado que, obrigatoriamente, teria que trabalhar em qualquer
trabalho, sem negociação de remuneração, para compensar a assistência recebida
(BEHRING; BOSCHETTI, 2011).
Nesse ínterim, não havia assistência ao pobre na perspectiva da seguridade
de direitos e, em decorrência disso, bem como da exploração nas intensas jornadas
de trabalho, a classe trabalhadora passou a lutar pela regulamentação trabalhista e
a pressionar o Estado em busca da ampliação dos direitos. Com isso, no final do
século XIX e início do século XX, o enfrentamento da classe trabalhadora “contribuiu
[...] para ampliar direitos sociais, para tencionar, questionar e mudar o papel do
Estado no âmbito do capitalismo” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 64).
A origem das políticas sociais foi paulatina e não linear e ocorreu de formas
distintas entre os países. Foi com a emergência do capitalismo monopolista que a
política social pública começou a ser pensada na sociedade burguesa, tendo como
intenção o enfrentamento das sequelas da questão social que é definida como:
33
[...] as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e a burguesia (IAMAMOTO, 2006, p.77).
Essa nova organização do capitalismo, denominada monopolista, tem como
característica principal o “[...] acréscimo de lucros capitalistas através do controle
dos mercados” e nessa conjuntura surgem os grandes conglomerados financeiros e
industriais (PAULO NETTO, 2009, p. 20). Doravante, com base no mesmo autor,
aparecem os rebatimentos sociais decorrentes do aumento progressivo dos preços
das mercadorias, altas taxas de lucros nos setores monopolizados, concentração de
investimentos nos setores de maior concorrência, introdução de novas tecnologias e
substituição do trabalho humano, assim, um grande número de trabalhadores passa
a integrar o exército industrial de reserva.
A respeito disso, pontua-se que a política social no Estado burguês não é
direcionada ao enfrentamento da questão social em si, uma vez que isso colocaria
em risco a ordem burguesa. As intervenções políticas são realizadas nas refrações
da questão social que fragmentam e individualizam as problemáticas decorrentes da
relação capital/trabalho (PAULO NETTO, 2009).
No Brasil, a origem da política social possui características peculiares, uma
vez que “[...] não fomos o berço da Revolução Industrial e as relações sociais
tipicamente capitalistas desenvolveram-se aqui de forma bem diferente dos países
de capitalismo central” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 71). O primeiro ponto a
ser destacado nessa análise é a questão da escravidão que resultou em marcas nas
relações sociais e de trabalho, que possuem características de degradação até os
dias atuais, devido ao longo período de exploração.
Outra questão relevante presente na história da formação do capitalismo no
Brasil foi “[...] a ruptura com a homogeneidade da aristocracia agrária”, que
caminhou a passos lentos, pois o processo de modernização do país sofreu
interferências da aristocracia agrária que não queria abrir mão dos seus privilégios.
Assim, “[...] a crise do poder oligárquico-escravista inaugura um processo de
transição – „cinzento e morno‟ – que cria as bases para a concretização do poder
burguês no país” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 77).
34
No Brasil, as lutas e manifestações provenientes da classe trabalhadora em
busca de melhores condições nas relações de trabalho só ocorreram a partir do
início do século XX, “[...] sobretudo após 1907, quando se reconhece o direito de
livre organização sindical, naquele momento com total autonomia em relação ao
Estado” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 104).
Com a crise econômica de 1929, que teve início “[...] no sistema financeiro
americano, a partir do dia 24 de outubro de 1929, quando a história registra o
primeiro dia de pânico na Bolsa de Nova Iorque e se alastrou pelo mundo, reduzindo
o comércio mundial a um terço do que era antes” (BEHRING, 2009, p.7) houve um
aumento dos conflitos e desigualdades sociais próprios do sistema capitalista
monopólico. Diante disso, “[...] surgiu, no âmbito mundial, a proposta do estado
social, que alcança sua consolidação e desenvolvimento no pós-guerra,
notadamente nas décadas de 1950 e 60” (COUTO, 2006, p.64). Assim, iniciam-se
estratégias em prol do bem-estar, sustentadas nas ideias de Keynes, que
recomendam a intervenção do Estado “[...] na economia por meio de investimentos
no mercado produtivo [...] buscando, assim, diminuir as desigualdades sociais”
(COUTO, 2006, p.64).
Essa crise abalou a economia brasileira, especialmente, a produção de café
que era responsável por 70% do PIB brasileiro. Com isso, por um lado, “[...] as
oligarquias agro-exportadoras cafeeiras ficaram extremamente vulneráveis
economicamente e politicamente” e, em decorrência disso, por outro, as “[...]
oligarquias do gado, do açúcar e outras, que estavam fora do núcleo duro do poder
político, aproveitaram as circunstâncias para alterar a correlação de forças e
diversificar a economia brasileira” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 105).
Foi nesse período que o líder Getúlio Vargas iniciou a sua trajetória política
como presidente do Brasil em um Governo Provisório de 1930 a 1934, em seguida,
de 1934 até 1937 foi eleito pela Assembleia Nacional Constituinte, e de 1937 a 1945
tornou-se presidente de um governo ditador, o Estado Novo. Esse cenário
caracterizou-se pelo fortalecimento das novas oligarquias agrárias e indústria, bem
como demarcou a introdução de políticas sociais, com o estabelecimento de
regulamentações trabalhistas, criação do Ministério da Educação e Saúde Pública,
Legião Brasileira de Assistência, como resposta as demandas provenientes da
questão social (BEHRING; BOSCHETTI, 2011).
35
Os 15 anos de governo Vargas demarcaram um período chamado de
populista, caracterizado pelo clientelismo e paternalismo no que diz respeito às
políticas sociais. Foi um governo que promoveu o crescimento da indústria, das
cidades e, consequentemente, dos problemas sociais. Com isso, houve avanços no
sistema de proteção social do país, só que de forma fragmentada, tendo em vista
que só os trabalhadores sindicalizados tinham acesso aos benefícios sociais.
O governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 a 1961, tinha como proposta
principal o desenvolvimento do Brasil com o discurso do crescimento de 50 anos em
5. Esse avanço desenvolvimentista da economia capitalista no país gerou
consequências, tais como o acirramento da “[...] luta de classes, pois implicava o
aumento numérico e a concentração da classe trabalhadora” e “[...] também as
tensões no campo, [...] em função da inexistência de um reforma agrária
consistente” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 110).
É importante salientar que o Brasil não vivenciou o Estado de bem-estar
social, como nos países europeus. No período da ditadura militar, a partir de 1964, o
Brasil “[...] vivia a expansão do „fordismo à brasileira‟, por meio de chamado Milagre
Brasileiro [...] que assumiu a introdução da produção em massa de automóveis e
eletrodomésticos [...] que, ademais, já vinha acontecendo desde 1955” (BEHRING;
BOSCHETTI, 2011, p. 134-135).
Na perspectiva da política social, esse período revelou um caráter
modernizador, no qual “[...] expandia-se [...] a cobertura da política social brasileira,
conduzida de forma tecnocrática e conservadora, reiterando uma dinâmica singular
de expansão de direitos sociais em meio à restrição de direitos civis e políticos”
(BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 135). Em meados da década de 1970 a
economia brasileira entrou em colapso por não conseguir seguir adiante com o ritmo
acelerado de crescimento.
Na conjuntura mundial já estavam sendo introduzidas as ideias neoliberais,
pois, apesar das estratégias keynesianas serem consideradas, por um espaço de
tempo, bem sucedidas no âmbito da ideologia capitalista, já que foram responsáveis
por reestabelecer o crescimento econômico, expandir o número de empregos,
aumentar o consumo de massas (LEVCOVITZ; VIANA, 2005), elas também
ocasionaram duas crises na década de 1970, que impulsionaram os trabalhadores a
se unirem em mobilizações em prol da ampliação do Estado (COUTO, 2006).
36
Essa crise econômica foi caracterizada “[...] pela tendência decrescente das
taxas de lucros, acompanhada de altas taxas de inflação, ruindo, assim, os pilares
econômicos que sustentavam o projeto de planejamento da fórmula keynesiana”
(COUTO, 2006, p.69). Foi nesse contexto que surgiu a necessidade de se apropriar
de um novo modelo econômico, sendo esse o neoliberal.
O neoliberalismo trouxe consigo propostas liberais reformuladas, que criticam
o papel do Estado como interventor no mercado e na sociedade. Sobre as ideias
neoliberais, cita-se o seguinte:
Utilizadas de forma superficial e oportunista, suas teses rapidamente ordenaram a necessidade de ajustes a serem procedidos por todos os países com o objetivo de: minimizar a presença do Estado e desregular o desempenho das leis de mercado. A tese vulgarizada era a seguinte: se se permitisse que os negócios se realizassem livremente, o progresso da
humanidade se daria de forma inevitável (WILHEIM, 1999, p. 46).
Para tanto, o Estado neoliberal apresenta “[...] alternativas e estratégias
refilantropizadas para a pobreza e a exclusão social” (YAZBEK, 2009, p.29) e,
também, “[...] a opção neoliberal na área social passa pelo apelo à filantropia e à
solidariedade da sociedade civil e programas seletivos e focalizados de combate a
pobreza” (YAZBEK, 2009, p.29), o que coloca como alvo as políticas sociais, só que
subordinadas à lógica do capital e à política de estabilização econômica.
O capital, orientado pela visão neoliberal, cria estratégias para manter a
coesão do sistema, apaziguando as desigualdades e, concomitante a isso, tornando
as expressões da questão social funcionais aos objetivos neoliberais. A inclusão
social e a garantia de direitos sociais tornam-se meios para reduzir a insatisfação
popular e conter os movimentos trabalhistas. Dessa maneira, são ocultadas a
exploração, a exclusão social, a miséria, o desemprego, enfim, encontram-se formas
de legitimar o sistema, reproduzir as relações sociais e ampliar a acumulação do
capital (BORÓN, 1995).
Todavia, ressalta-se que as políticas sociais, para alguns teóricos, surgem
pelo interesse do sistema capitalista, mas, para outros, como fruto de uma forte
mobilização da sociedade. Essa contraposição de ideias é nomeada por Couto como
o “[...] binômio concessão ou conquista” (2006, p.60). Acerca disso, a autora escreve
o seguinte:
37
Para alguns estudiosos, o que caracteriza as políticas sociais é o seu compromisso em manter a acumulação e reproduzir a força de trabalho, buscando a legitimação do sistema capitalista (Coimbra, 1987), o que traduziria a sua concepção de concessão. Outros entendem as políticas sociais como campo contraditório, onde as demandas dos trabalhadores e sua disputa por ampliar direitos sociais ganham visibilidade, introduzindo aí a ideia de que elas se constituíram numa conquista (COUTO, 2006, p.60).
É inegável o fato das políticas sociais serem utilizadas pelo Estado para
minimizar os conflitos sociais, porém compreende-se que para que os direitos
sociais sejam concretizados é necessária a manifestação da população para tornar
visível as suas demandas. Assim, este relatório se apóia no seguinte conceito:
[...] uma forma de gestão estatal da força de trabalho e, nessa gestão, não só conforma o trabalhador às exigências da reprodução, valorização e expansão do capital, mas também é o espaço de articulação das pressões e movimentos sociais dos trabalhadores pela ampliação do atendimento de suas necessidades e reivindicações (SPOSATI,1998, p.34).
Entende-se que os avanços obtidos no campo social são provenientes das
lutas populares. No entanto, as reivindicações precisam ser constantes, pois o
Estado neoliberal tende a minimizar os gastos com o social para favorecer o
crescimento econômico. Assim, outro conceito de política social, que contribui para a
discussão ora apresentada, é o seguinte:
[...] uma atribuição, definida politicamente, de direitos e deveres legais dos cidadãos. Estes direitos consistem na transferência de dinheiro e serviços com objetivo de compensar condições de necessidade e risco para o cidadão que goza de tal direito, e que não consegue acesso a esses mesmos bens com seus próprios recursos e/ou dotes individuais [...] (LEVCOVITZ; VIANA, 2005, p.19).
No entanto, no Brasil, “[...] as políticas sociais, particularmente pós-64, tem-se
caracterizado pela subordinação a interesses econômicos e políticos”. A mesma
autora também afirma que as políticas do governo destinadas ao social são
utilizadas na intenção de atenuar e camuflar os problemas e não de resolvê-los e
que “[...] as políticas governamentais no campo social, embora expressem o caráter
contraditório das lutas sociais, acabam por reiterar o perfil da desigualdade no país e
mantém essa área de ação submersa e paliativa (YAZBEK, 2009, p.40).
Nesse ínterim, assinala-se ainda que os direitos assegurados pelo Estado
brasileiro caracterizam-se por fazer parte de uma relação clientelista, o que trata-se
“[...] de um padrão arcaico de relações que fragmenta e desorganiza os subalternos
ao apresentar como favor ou como vantagem aquilo que é de direito” (YAZBEK,
38
2009, p.41).
O entendimento dos sujeitos é obscurecido no que diz respeito ao que de fato
é seu direito e obrigação do Estado e isso dificulta a concretização da cidadania e
impede que os indivíduos lutem por melhores condições de vida, pois sempre se
sentirão gratos e em dívida por terem um direito assegurado em forma de benesse.
2.2 TRAJETÓRIA DA POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL
A aceleração do processo de urbanização sofrido pelo Brasil ao longo do
século XX provocou uma consequente concentração da população nas cidades.
Essa conjuntura apresentou um quadro de desigualdades sociais e, neste estudo,
pretende-se tratar especificamente da insuficiência de serviços públicos, dos
elevados déficits em saneamento, infraestrutura e habitação.
Esse cenário se estabeleceu em decorrência da gênese da questão social na
sociedade capitalista, na qual houve a apropriação privada dos meios de produção e
do excedente de trabalho (trabalho não pago), ou seja, o homem trabalha além do
que necessita para o seu sustento e o excedente é apropriado pelo detentor dos
meios de produção, o que gera o acúmulo de riquezas. Esse fator ocasionou o
surgimento de classes sociais desiguais e contraditórias, definidas por Marx (1993,
p. 157 apud OLIVEIRA, 1997, p. 83) como “[...] os possuidores de propriedade e os
trabalhadores sem propriedade”.
O surgimento da questão social está diretamente ligado com a relação entre o
trabalho e o capital. O trabalho encontra-se na base de toda a vida social e a
exploração da força de trabalho humana pelo capital trouxe consequências para a
vida do trabalhador, alterando, assim, as relações sociais até os dias atuais.
Com as modificações históricas a questão social adquiriu novas expressões,
no entanto, trata-se de um mesmo fato que se manifesta diferentemente,
dependendo do contexto histórico, e a sociedade também responde a essas
transformações de forma distinta. A respeito disso, complementa-se:
A questão social explicita as exigências históricas que marcam a reprodução/continuidade da desigualdade de condições e de inserção das classes sociais no processo de reprodução da riqueza material e cultural de uma sociedade. Portanto, a questão social está vinculada historicamente às condições de vida da classe trabalhadora, à forma como esta produz seus meios de vida e às suas lutas para sobreviver na dinâmica da sociedade capitalista (PRÉDES, 2002, p.63).
39
Assim, o que há de similar é a conservação dos “[...] elementos da busca da
estabilidade e [...] da ordem estabelecida, da preocupação com a reprodução dos
antagonismos e contradições capitalistas, e da legitimação social, como
denominador comum entre essas diferentes versões” (PASTORINI, 2004, p. 12).
O processo de urbanização no Brasil também sofreu transformações
decorrentes das novas relações de produção e esteve estritamente relacionado ao
“[...] caráter de capitalismo dependente que a formação econômica e social brasileira
adquiriu, sobretudo, após a passagem do modelo agrário-exportador para o [...]
urbano-industrial de desenvolvimento” (BOTEGA, 2007, p. 65). Os segmentos
empobrecidos da população foram os mais atingidos pelas refrações da questão
social e o Estado foi compelido a enfrentar esse cenário de vulnerabilidade para
minimizar os conflitos sociais iminentes.
O Estado passa a atuar na questão da habitação com a instituição de políticas
governamentais, o que favoreceu o desenvolvimento do capitalismo, uma vez que a
manutenção desse sistema necessita de mão-de-obra barata e os trabalhadores não
têm como adquirir moradia por conta própria. Assim, a habitação tornou-se uma
demanda urgente, principalmente nas camadas pobres e também um importante
foco de exploração para os empreendedores imobiliários, pois tornou-se uma valiosa
mercadoria (SANTO, 2012).
O intenso êxodo rural desencadeou um surto de crescimento urbano no Brasil
e impulsionou o governo getulista a criar estratégias para sanar os problemas
advindos da urbanização. Para tanto, a aquisição da casa própria passou a ser
ofertada em forma de “[...] crédito imobiliário pelas Caixas Econômicas e pelos
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS) ou por bancos incorporadores
imobiliários” (BOTEGA, 2007, p.67).
A primeira política de habitação no Brasil foi criada em 1946 e intitulada como
Fundação da Casa Popular (FCP), com o objetivo inicial de financiar habitações e
atividades complementares de caráter urbanístico. Por falta de recursos e ineficácia
das regras de financiamento, a FCP não obteve êxito e em 1961 entrou em declínio
por conta da insuficiência do seu atendimento diante da demanda habitacional no
país (BRASIL, 2004).
Em 1964, foi criado o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco
Nacional de Habitação (BNH) “[...] com a missão de estimular a construção de
habitações de interesse social e o financiamento da aquisição da casa própria,
40
especialmente pelas classes da população de baixa renda” (BOTEGA, 2007, p. 67).
Ainda segundo o autor, em 1986, o SFH/BNH não resistiu à crise inflacionária
e o presidente Sarney declarou o fechamento do BNH. Nesse período, o público alvo
era a classe média que se tornou inadimplente e, além disso, foram descobertos
esquemas de corrupção que também contribuíram para esse desfecho.
Diante disso, as responsabilidades atribuídas ao BNH foram repassadas para
a Caixa Econômica Federal (CEF). A área de habitação continuou ligada ao
Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente que, em 1987, transformou-
se em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente e incorporou a CEF,
que outrora estava vinculada ao Ministério da Fazenda (BRASIL, 2004).
Em 1988, criou-se o Ministério da Habitação e do Bem Estar Social (MBES),
responsável pela gestão da política habitacional e extinto em 1989, quando se criou
a Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária (SEAC) (BRASIL, 2004).
Salienta-se que o marco histórico do ano de 1988 foi à promulgação da
Constituição Federal, que teve como uma das suas características principais a
descentralização, que possibilitou aos Estados e Municípios a gestão de programas
sociais, como os de habitação. Além disso, também influenciou na gestão da política
de habitação com a incorporação de uma conquista no âmbito da participação
social, a exigência da participação comunitária através dos conselhos (AZEVEDO,
1995).
No que concerne ao trabalho desenvolvido pela SEAC, assinala-se a
autonomia concedida aos governos estaduais e municipais, que deixaram de ser
apenas executores da política de habitação. Em contrapartida, os recursos advindos
do FGTS não foram suficientes para dar conta do financiamento habitacional e isso
provocou a interrupção temporária dos programas. Assim, após muitas turbulências
políticas, os estados e municípios desenvolveram ações locais por meio de
programas de urbanização, regularização das favelas e de loteamentos periféricos,
com recursos advindos do autofinanciamento (BRASIL, 2004).
No ano de 1994, o governo federal lançou dois programas, Habitar Brasil e
Morar Município, com vistas à finalização das obras encetadas na gestão anterior
“[...] com recursos oriundos do Orçamento Geral da União e do Imposto Provisório
sobre Movimentações Financeiras (IPMF)” (BRASIL, 2004, p. 10). O Presidente
Fernando Henrique Cardoso, em seu primeiro governo, promoveu a extinção do
Ministério de Bem Estar Social e a criação da Secretaria de Política Urbana
41
(SEPURB), na esfera do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO),
responsável pela formulação e implementação da Política Nacional de Habitação
(BRASIL, 2004).
Foi um período marcado pela desarticulação institucional, na qual os estados
e municípios não possuíam claras competências e responsabilidades, e o governo
federal sustentou todo o sistema de forma centralizada. Em 2001 o governo FHC
sancionou a Lei nº 10.257, referente ao Estatuto da Cidade, que é responsável por
regulamentar a política urbana estabelecida na Constituição de 1988 (BRASIL,
2004).
As implementações para esse panorama foram introduzidas com o governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, por meio da criação do Ministério
das Cidades, que se responsabilizou pela Política de Desenvolvimento Urbano e,
setorialmente, a Política de Habitação (BRASIL, 2004).
Em 2005, criou-se o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
(SNHIS), regulamentado pela Lei nº 11.124/2005, complemento da Política Nacional
de Habitação, com a pretensão de angariar mais recursos para oferecer moradias
aos sujeitos que habitam as favelas e os loteamentos clandestinos. Todavia, em
2008, o mundo vivenciou uma intensa crise4 que se originou nos Estados Unidos e
atingiu a globalizada economia capitalista. Em decorrência disso, o governo
brasileiro adotou estratégias, como a expansão do crédito dos bancos públicos e
apoio aos setores com dificuldades. Nesse contexto que o Programa Minha Casa,
Minha Vida (PMCMV) foi criado, em 2009, com o objetivo de alavancar o mercado
habitacional e atender as famílias com renda de até 10 salários mínimos (ARAGÃO;
CARDOSO, 2013).
A intensificação da expansão imobiliária no país ocorreu com o MCMV, que
tornou-se o programa de maior amplitude no âmbito da construção de habitações de
interesse social no Brasil. Além disso, foi responsável por dinamizar a produção
habitacional e estimular o crescimento do setor empresarial. O MCMV contribui para
a redução do déficit habitacional, no entanto, encontra-se desarticulado de políticas
urbanas e sociais, e o poder público demonstra priorizar a construção de um maior
4 “[...]crise econômica que teve início nos Estados Unidos a partir dos problemas sistêmicos financeiros provocados pela crise dos mercados secundários de títulos lastreados em hipotecas, envolvendo os chamados subprimes. [...] Os subprimes eram créditos de alto risco que, em um ambiente financeiro desregulado, eram vendidos como papéis seguros e que permitiam taxas elevadas de rentabilidade.” (ARAGÃO; CARDOSO, 2013, p. 35).
42
número de empreendimentos (ARAGÃO; CARDOSO, 2013).
Isso coloca em questão a qualidade do desenvolvimento desse programa,
uma vez que o seu público estratégico é composto por famílias em situação de
pobreza e que deveriam morar em um território articulado com as políticas de
mobilidade urbana, assistência social, sustentabilidade ambiental, saúde e
educação.
No quadro 1 estão dispostas as principais estratégias políticas adotadas no
Brasil no âmbito da habitação no período de 1946 a 2009:
Quadro 1: Evolução da política da habitação no Brasil, 1946 - 2009
Ano Estratégias
1946 Criação da Fundação da Casa Popular (FCP), primeira política de
habitação do Brasil
1961 Extinção da FCP
1964 Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de
Habitação (BNH)
1986 Extinção do SFH/BNH
1988 Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente transformou-se
em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente.
1988 Promulgação da Constituição Federal do Brasil
1988 Promulgação da Constituição Federal do Brasil
1989 Instituição da Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária
1994 Instituição dos programas Habitar Brasil e Morar Município
2001 Instituição do Estatuto da Cidade
2003 Instituição do Ministério das Cidades
2005 Instituição do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
2009 Instituição do Programa Minha Casa, Minha Vida
Fonte: AZEVEDO; CARDOSO (2013); BOTEGA (2007); BRASIL (2004). Elaboração: Lidiane Oliveira.
No que tange a participação social nesse contexto, em meados da década de
1970 a ditadura militar extinguiu os poucos “[...] canais de expressão e de
negociação de interesses e conflitos mantidos pelo populismo” (PINHEIRO, 2004, p.
72). Com isso, surgiram atores sociais, envolvidos em movimentos sociais, que
iniciaram o processo de luta por direitos sociais, políticos e civis. Havia uma
divergência nesse período, tendo em vista as altas taxas de crescimento econômico
43
que não combinavam com a intensa degradação das condições de vida nas
periferias das grandes cidades.
Esse cenário impulsionou o Estado a criar estratégias de planejamento e
gestão urbana e, assim, surgiram alguns programas de construção de moradias que
contaram com a participação das comunidades através da mão-de-obra e, também,
com sugestões para os projetos. Nesse ínterim, foram criados os Centros Sociais
Urbanos (CSU) na periferia, com a finalidade de ofertar serviços e lazer, além de
estimular a organização comunitária e a participação em prol de melhores condições
de vida (AZEVEDO; PRATES, 1991).
A ação desses atores sociais impulsionou na década de 1980 o processo de
redemocratização da sociedade brasileira, que contou com a atuação dos
movimentos sociais e isso subsidiou a institucionalização da participação social
através da Constituição de 1988.
A promulgação da Constituição Federal e a sanção do Estatuto da Cidade são
referências para a história da política urbana no Brasil, com ênfase na gestão
democrática e a partir desses marcos históricos foi instituído o reconhecimento “[...]
do direito à cidade e à moradia como princípios da política urbana” (RIBEIRO, 2013,
p.1). A criação do SNHIS e do Estatuto da Cidade contribuíram para o
“fortalecimento do cidadão no processo de planejar seu espaço de moradia”
(PEREIRA, 2013, p. 145).
Em tese, o problema habitacional do país deixou de corresponder apenas à
falta de habitações para as camadas empobrecidas e a política nacional de
habitação passou a promover a ideia “[...] de uma reforma urbana, no qual a moradia
não se resume a casa, mas se amplia para uma noção de sistema urbano que
incorpora o direito à cidade, entendido como um direito social fundamental”
(RIBEIRO, 2013, p.2). De certo que as políticas de habitação no Brasil articulam
“interesses políticos, ideológicos e econômicos” e atendem “[...] a uma situação de
urgência: o agravamento da questão da habitação e o aumento das tensões sociais
[...]” (ARRUDA, 2004, p. 8). O autor ainda esclarece que:
[...] a habitação urbana vai além dos números e das unidades; que há uma inter-relação entre a habitação e as redes de infraestrutura (água, esgoto, energia elétrica, drenagem pluvial, pavimentação) e os serviços urbanos coletivos (educação, saúde, abastecimento transporte coletivo, coleta de lixo) (ARRUDA, 2004, p. 8).
44
É importante enfatizar que a política habitacional não se restringe apenas a
execução de programas e projetos direcionados a edificação de conjuntos
habitacionais. Está associada ao direito à moradia, a infraestrutura e a serviços
urbanos, conforme preconiza a Constituição de 1988 (BRASIL, 2004).
A indicação do Ministério das Cidades é de que a política habitacional se
desenvolva com base nos aspectos social, econômico e territorial, conforme o
Quadro 2.
Quadro 2: Orientações do Ministério das Cidades sobre o desenvolvimento da
Política Habitacional
Aspectos
Estratégias
SOCIAL
Política de subsídio: é a mobilização de recursos por parte do poder público a fim de subsidiar a produção e o comércio de habitação para a população pobre que não tem condições de adquirir um imóvel; Política de redistribuição de rendimentos: simplifica o processo de aquisição de moradia através de incentivos fiscais, subsídios de renda, benefícios financeiros para a população pobre que não tem condições de adquirir um imóvel; Política de integração social: define-se pelo enfrentamento da segregação urbana, periferização e marginalização de grupos em determinados espaços urbanos.
ECONÔMICO
Em momentos de crise econômica a política habitacional pode ser utilizada para:
Fortalecimento da economia,
Geração de empregos,
Incentivo ao aumento do consumo;
Incentivo a poupança das famílias em situação de pobreza.
TERRITORIAL
A política habitacional deve ser realizada através de um planejamento urbano, aliado às especificidades territoriais contidas no Plano Diretor. Assim, é possível combater a segregação urbana e os desequilíbrios sociais e urbanísticos.
Fonte: BRASIL (2004). Elaboração: Lidiane Oliveira.
De acordo com Maricato (1997, p. 168), “[...] o espaço urbano não é apenas
um mero cenário para as relações sociais, mas uma instância ativa para a
dominação econômica e ideológica” e, em decorrência disso, as carências
habitacionais de uma população devem ser atendidas por uma política imbricada
“[...] com o processo de reprodução social do espaço urbano, em pelo menos três
45
aspectos: social, econômico e territorial” (BRASIL, 2004, p. 73).
Esse esclarecimento teórico evidencia a importância da intersetorialidade das
políticas públicas que, nesse caso, trata-se do diálogo entre a habitação e as
políticas de educação, saúde, desenvolvimento urbano, assistência social, trabalho,
meio ambiente, recursos hídricos, educação ambiental, segurança alimentar,
segurança pública, dentre outras. Além disso, demonstra como o Estado assume um
papel ativo na urbanização, “[...] atua na questão da habitação, desde sua
regulamentação, passando pela construção e culmina na sua comercialização,
enquanto agente financiador” (SANTO, 2012, p. 79).
A análise da evolução da política habitacional no Brasil remete ao
entrelaçamento das estratégias adotadas com a lógica do capital. A produção de
habitações visa diminuir o déficit, ao mesmo tempo em que contribui para o
crescimento econômico do país. Para tanto, o Estado apoia financeiramente as
grandes empresas ligadas a construção civil e ao mercado imobiliário.
No entanto, apesar do Estado investir na implantação de conjuntos
habitacionais direcionados às camadas empobrecidas, o déficit habitacional ainda se
concentra na faixa de renda “até três salários mínimos”, sobretudo na região
Nordeste, que possui 88,4% do déficit nessa faixa (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO,
2015). No gráfico 1 é possível observar o déficit habitacional por faixas de renda
média familiar mensal, disponibilizado no site do Ministério das Cidades.
Gráfico 1: Déficit Habitacional por faixas de renda média familiar mensal (em salários mínimos), Brasil, 2012
Fonte: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (2015). Elaboração: Lidiane Oliveira.
até 3 SM
mais de 3 a 5 SM
mais de 5 a 10 SM
mais de 10 SM
82,5%
10,1%
5,6%
1,8%
46
Vale ressaltar que o conceito de déficit habitacional não se restringe apenas
ao número insuficiente de moradias, mas tem relação direta com as deficiências das
moradias existentes,
[...] sem condições de serem habitadas em razão da precariedade das construções ou do desgaste da estrutura física [...]. Inclui ainda a necessidade de incremento do estoque em função da coabitação familiar forçada [...], dos moradores de baixa renda com dificuldades de pagar aluguel e dos que vivem em casas e apartamentos alugados com grande densidade (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2015, p. 18).
Diante disso, percebe-se como “[...] a história tem demonstrado que nem o
livre mercado nem os Estados sozinhos têm conseguido oferecer respostas à falta
de habitação adequada e às violações ao direito à moradia”, sobretudo para as
classes empobrecidas do país (OSÓRIO, 2006, p. 39).
A política de habitação no Brasil, apesar de possuir um aparato teórico
baseado em um discurso de desenvolvimento integrado e sustentável, possui um
caráter de política social por atender a demandas sociais de forma fracionada, sem
contemplar a problemática da habitação com todas as suas nuances, sem promover
a intersetorialidade das políticas, e por subordinar-se a interesses econômicos e
políticos. O Estado propõe intervenções na área da habitação, através da garantia
de moradia dissociada de outros direitos sociais e da realização do trabalho social,
que camuflam as expressões da questão social, minimizam os problemas, mas não
solucionam, e que ainda não foram capazes de promover um desenvolvimento
urbano igualitário e acabar com a desigualdade socioespacial.
As demandas provenientes da habitação impulsionam não somente o Estado,
mas também a própria população em busca de canais de participação que possam
ser utilizados para a inserção popular nos processos decisórios das políticas
públicas. Apesar de ser perceptível o caráter paliativo ainda presente nas
intervenções estatais, também é visível que houve um avanço no que tange à
gestão democrática, tendo em vista que nas décadas de 1960 e 1970 o que
prevalecia era a visão tecnocrática na tomada de decisões e, atualmente, já é
possível perceber uma ênfase no modelo participativo (PEREIRA, 2013).
47
Assim, a próxima seção baseia-se em uma discussão sobre a participação
social no âmbito da política da habitação, com ênfase na relevância da inclusão da
população pobre no interior dos espaços participativos como um meio para alcançar
justiça social e realizar a gestão democrática.
48
3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO ÂMBITO DA POLÍTICA DE HABITAÇÃO
Nesta seção, apresenta-se uma discussão sobre a participação social como
processo político e estratégico, capaz de inserir as camadas empobrecidas da
sociedade nas esferas de tomadas de decisões políticas e, assim, assegurar
direitos. A compreensão da participação social, neste trabalho, está atrelada à
política de habitação. Portanto, apresentar-se-á, a seguir, uma análise teórica e logo
após um estudo documental, de caráter mais local, baseado nos seguintes
documentos: o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) do município
de Feira de Santana; a Lei nº 3522/2015, que criou o Conselho da Cidade de Feira
de Santana; e o Relatório da 5ª Conferência da Cidade de Feira de Santana.
3.1 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO POLÍTICO
A participação social é um meio de inserção consciente, participativo e
dinâmico de pessoas, grupos e/ou organizações nos processos sociais, econômicos,
políticos que refletem o interesse da coletividade nas comunidades em que o sujeito
se insere. Apresenta como elemento significativo a consciência coletiva, pois a
representatividade comunitária é um elemento de força, diferentemente da
representação de apenas um indivíduo isolado.
A tomada de consciência do indivíduo no processo de participação está
relacionada com a percepção de sua realidade concreta, sendo imprescindível “[...]
analisar as condições reais e atuais da sua existência; exprimir seus verdadeiros
interesses e criar formas de ação para a concretização desses interesses”
(AMMANN, 2003, p. 139). Para tanto, a análise do espaço de vivência é um
instrumento de extrema importância para a população, iniciando, assim, um
processo de transformação que inclui a maneira de enxergar o local, fazer o
levantamento das demandas sociais e colocar em prática ações que viabilizem uma
melhor qualidade de vida.
A participação é uma estratégia que pode ser utilizada para a concretização
dos direitos sociais – entendidos como o direito à saúde, educação, moradia,
saneamento, dentre outros – e para o alcance dos objetivos do grupo, o que
possibilita uma melhor qualidade de vida. Por essa razão, “[...] a participação social
não representa um sujeito social específico, mas se constrói como modelo de
49
relação/ideal, na relação sociedade/Estado” (GOHN, 2001, p. 58).
Para analisar a participação social nos empreendimentos do PMCMV é
interessante adotar alguns argumentos de Souza, quando trata da distinção de dois
tipos de luta na esfera do ativismo: “de bairro” e “a partir do bairro”. A luta de bairro
expressa à articulação de um grupo criticamente vulnerável, que pode ser facilmente
cooptado e enfraquecido. Já a luta a partir do bairro retrata “[...] horizontes políticos
mais amplos e a possibilidade (ou realidade) de articulação com outros ativismos e
organizações” e que não se baseia apenas na satisfação de demandas imediatas
(2006, p. 286).
Há algumas crenças difundidas na sociedade que dificultam a inclusão de
novos atores sociais no processo de participação social na gestão pública. No que
diz respeito à esfera da habitação, cita-se como exemplo a ideia de que as pessoas
não estão “[...] preparadas para decidir qual a melhor solução habitacional e
urbanística para a sua família e a sua área”; a sociedade não possui conhecimento
suficiente para ser sujeito político das políticas públicas; e a “[...] sociedade dificulta
a tomada de decisões, seja pela questão do tempo [...], seja pela questão de
posicionamento crítico diante das propostas ou ausência delas por parte do Estado”
(BRASIL, 2011, p. 24).
É necessário superar esses mitos e caminhar em direção ao desenvolvimento
de uma organização comunitária proveniente da conquista consciente de uma nova
postura. A população deve estar articulada e organizada, pois essa “[...] projeta,
avalia e confronta sua força social com a dinâmica da realidade social” por meio da
tomada de consciência em direção a tomada de decisão (SOUZA, 2008, p. 93).
Outra proposta é a formação de “[...] profissionais especializados em técnicas
e estratégias de planejamento e rotinas de gestão dentro de uma mentalidade que
não seja tecnocrática”, meramente direcionada para manutenção da ordem vigente,
do mesmo modo que se invista no envolvimento da “[...] sociedade civil, informando-
a e capacitando-a para melhor poder participar” (SOUZA, 2006, p. 263-264). Com
base no mesmo autor, é necessário manter uma desconfiança em relação ao
Estado, no entanto, a cooptação, aniquilação ou não consolidação dos esforços
empreendidos nem sempre representará a anulação da sua influência.
50
Com efeito, para que uma comunidade se desenvolva é imprescindível que o
sujeito participe ativamente, sendo capaz de refletir, questionar sua realidade e
modificá-la, conforme ainda acrescenta Souza:
A participação, assim como o processo de conscientização, não se opera no vazio; supõe sempre um contexto de referência no qual, por sua vez, se encontra sempre um processo real de participação ou conscientização. Esse processo pode ser mais ou menos desenvolvido, não importa; o fato é que ele existe, e é a partir da realidade em que ele se encontra que se pode considerar as ações a serem desenvolvidas como conscientes, capazes de assumir um caráter educativo em função do processo de participação (2008, p. 90).
Acerca disso, esclarece-se que comunidade é um “[...] grupo permanente de
pessoas que ocupa uma zona comum, desenvolve interação dentro e fora de seus
papéis institucionais e possui um sentimento de identificação resultante dessa
interação”. Assim, envolve formas de relacionamento e realiza-se na união de
vontades individuais (SILVA, 2003, p.15-16).
A participação social, quando pensada no âmbito das habitações de interesse
social, é um desafio, uma vez que as famílias que ocupam essas moradias são
oriundas de locais e realidades distintas, e precisam aprender a conviver e a
estabelecer objetivos em comum. Assim, o sentimento de fazer parte de uma
comunidade, com o reconhecimento das necessidades compartilhadas por todos, é
imprescindível para que a participação social tenha êxito.
As conquistas dos movimentos sociais são exemplos de como a participação
social no Brasil contribuiu para uma mudança estrutural na concepção das políticas
públicas, pois foram estabelecidas parcerias entre Estado e sociedade civil na
elaboração, execução, monitoramento, avaliação e fiscalização de projetos e ações.
Isso pode ser vislumbrado na Constituição Federal de 1988, que criou mecanismos
da chamada democracia participativa e que incentiva a participação dos cidadãos
nas esferas do governo por meio das instâncias de controle social.
No entanto, os processos reivindicatórios e de luta manifestados com o auxílio
da participação social são permeados pela correlação de forças entre a sociedade
civil e o Estado. É importante destacar a interferência do Estado nas formas de
participação social. Para subsidiar tal análise, utilizar-se-á a escala de participação
popular apresentada por Souza (2006), a qual demonstra situações de não
participação, graus de pseudoparticipação e graus de participação autêntica,
conforme adaptação no quadro 3:
51
Quadro 3: Escala de participação popular
Grau Categoria Características
SIT
UA
ÇÃ
OE
S D
E N
ÃO
-
PA
RT
ICIP
AÇ
ÃO
1 Coerção Notadamente vista em regimes ditatoriais
ou totalitários. No Brasil pode ser vislumbrada em
situações que o Estado não se preocupa com
aparências, como a remoção de favelas.
2 Manipulação Indução da população a aceitar uma
intervenção; ausência de diálogo; existência de
políticas públicas compensatórias e intervenções
pontuais com o objetivo imediato de ganhar
eleições.
GR
AU
S D
E
PS
EU
DO
PA
RT
ICIP
AÇ
ÃO
3 Informação Há uma disponibilização de informações
por parte do Estado sobre as intervenções
planejadas. No entanto, isso dependerá de
aspectos culturais, políticos e do nível de
transparência do jogo político.
4 Consulta O Estado consulta a população, mas isso
não implica que as sugestões serão
incorporadas.
5 Cooptação Cooptação de sujeitos que exerçam
funções de liderança, representações ou que
sejam ativistas dentro da sociedade. A
participação, nesse caso, não é deliberativa,
apenas de consulta.
GR
AU
S D
E P
AR
TIC
IPA
ÇÃ
O
AU
TÊ
NT
ICA
6 Parceria Há diálogo e significativa transparência
entre o Estado e a sociedade civil organizada
com vistas à implementação de políticas públicas
ou a realização de uma intervenção.
7 Delegação
de poder
O Estado renuncia significativas
atribuições, que lhes eram exclusivas, em
benefício da sociedade civil. É possível
estabelecer a co-gestão entre o Estado e a
sociedade civil, em algumas situações.
8 Autogestão A sociedade civil implementa políticas e
intervenções, incorpora a autogestão com
autonomia e sem a necessidade da presença de
instâncias de poder.
Fonte: SOUZA (2006a). Elaboração: Lidiane Oliveira.
52
Percebe-se que os graus de participação autêntica (6, 7 e 8) remetem-se a
uma sociedade civil organizada que participa da gestão pública na esfera das
formulações, intervenções e deliberações de políticas públicas. Os graus referentes
à pseudoparticipação (3, 4 e 5) revelam a ilusão que muitos sujeitos têm de que
interferem na gestão pública, no entanto, na prática são marionetes no jogo político.
As situações de não-participação são claramente compulsórias, não há interferência
da sociedade civil no âmbito do planejamento e da gestão pública.
Nessa experiência do MCMV é necessária a conexão de duas forças para
garantir a dignidade dos sujeitos beneficiários, que são: a iniciativa do poder público
em criar instrumentos e canais de participação social e as pressões populares com
vistas ao direito de participar dos processos decisórios com a expressão das suas
reais demandas e discussão sobre as possíveis soluções. Deve-se atentar para os
conflitos políticos, interesses partidários e questões particulares da população que
permeiam esse cenário.
Assim, é imprescindível que haja a integração e participação da população,
entrelaçando meios que busquem a sustentabilidade e a inserção dos sujeitos no
processo de planejamento participativo como formas de intervir na realidade que os
cerca. Para que tais ações sejam efetivadas a população precisa: ser estimulada a
formar uma mentalidade condizente com sua “[...] inserção no processo de
desenvolvimento”; organizar seus esforços em prol de uma “[...] participação
eficiente nos planos e programas de desenvolvimento”; além de ser incluída em
“[...] programas de integração” subsidiados pelos “[...] esforços e recursos de
setores públicos e privados” (WANDERLEY, 1998, p. 78).
Dessa forma, a partilha de responsabilidades, levando-se em conta a
participação do sujeito, assume um papel fundamental na formulação de políticas
e/ou definição de prioridades das necessidades humanas e sociais de cada
comunidade. O espaço participativo propicia a formação de um sujeito social,
consciente e organizado, capaz de estabelecer suas prioridades, na defesa dos seus
direitos.
A participação social não garante a escolha de caminhos certos e não elimina
a existência de equívocos. No entanto, quanto maior for o nível de participação,
maiores serão as possibilidades de transformação da realidade social e “[...] uma
ampla participação pode contribuir para minimizar certas fontes de distorção
(SOUZAb, 2006, p.333 grifos do autor)”.
53
Isso requer um desenvolvimento gradativo por conta da quantidade de atores
que estão envolvidos, sendo que cada um traz consigo uma noção da realidade e
anseios particulares. É permeada por conflitos e lutas, mas só por meio dela é
possível aos sujeitos, dentro de um Estado que assume o modo de produção
capitalista e um modelo neoliberal, alcançarem a cidadania que implica na
seguridade de direitos civis, políticos e sociais.
3.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLÍTICA DE HABITAÇÃO EM FEIRA DE
SANTANA
A participação social requer um envolvimento coletivo com vistas a uma
transformação social que represente as necessidades de um determinado grupo.
Para que ocorram as mudanças desejadas no campo das políticas públicas, os
sujeitos interessados devem tomar consciência das suas realidades, identificar
demandas que anseiam superar e, coletivamente, reunirem-se em busca de
soluções junto ao poder público (AMMANN, 2003). Em contrapartida, o poder
público deve fornecer canais de participação para esses coletivos, conforme
preconiza a Constituição de 1988.
De acordo com a Política Nacional de Participação Social (PNPS), Decreto nº
8.243, de 23 de maio de 2014,
Art. 6º São instâncias e mecanismos de participação social, sem prejuízo da criação e do reconhecimento de outras formas de diálogo entre administração pública federal e sociedade civil: I - conselho de políticas públicas; II - comissão de políticas públicas; III - conferência nacional; IV - ouvidoria pública federal; V - mesa de diálogo; VI - fórum interconselhos; VII - audiência pública; VIII - consulta pública; e IX - ambiente virtual de participação social (BRASIL, 2014).
Assim, com o intuito de verificar os instrumentos e canais que o poder público
local disponibiliza para que haja participação social no âmbito da habitação em Feira
de Santana, propõe-se refletir sobre a participação social prevista na legislação
municipal que subsidia a política de habitação local. Como dito alhures, os
documentos analisados foram: o PLHIS do município de Feira de Santana; a Lei nº
3522/2015 que criou o Conselho da Cidade de Feira de Santana e o Relatório da 5ª
Conferência da Cidade de Feira de Santana.
54
É válido salientar que o primeiro documento referente à legislação urbana de
Feira de Santana foi o Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), elaborado
em 1968, que contou com a “participação popular inserida através de questionários
[...] e entrevistas, principalmente com comerciantes [...], industriários e prestadores
de serviços (médicos e outros)” (SANTO, 2012, p.124). Apesar de tratar-se de um
período marcado pela Ditadura Militar, a equipe interdisciplinar que construiu esse
Plano enfatizou a relevância da formação de lideranças para que essas elaborassem
proposições em prol do desenvolvimento das comunidades (SANTO, 2012).
A mais recente proposta de Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal
(PDDM) é do ano de 2006, que é uma revisão da proposta de Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU) do ano de 2000. Todavia, ambas não foram
instituídas, sendo que a de 2006 foi inviabilizada pelo Ministério Público, em
decorrência da pequena participação popular (SANTO, 2012).
A Política de Habitação de Feira de Santana (PHFS) foi instituída no dia 15 de
março de 2012 como Lei Complementar nº 65. De acordo com os dados coletados
na Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB), a PHFS foi elaborada através de um
trabalho participativo, desenvolvido nos anos de 2006 e 2007, com o
desenvolvimento de oficinas e audiências públicas.
Esse trabalho contou com a participação de representantes de associações
de moradores, de entidades de ensino superior pública e privada, e grupos não
formais. Esses sujeitos foram convidados com o apoio da Casa dos Conselhos, que
possui uma lista com os nomes de lideranças comunitárias. Houve, também, a
publicação de um edital de convocação, convites por meio de contato telefônico e e-
mail.
Foram ofertadas oficinas de capacitação para instruir os participantes sobre a
elaboração da política de habitação, em seguida, foram realizadas as audiências
públicas, nas quais os presentes estabeleceram as necessidades locais no âmbito
da habitação. Assim, os eixos de intervenção constituídos foram: requalificação
habitacional e urbana; provisão de novas oportunidades habitacionais;
implementação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS); e regularização
fundiária (FEIRA DE SANTANA, 2012).
No entanto, com a criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social (FNHIS), o município de Feira de Santana teve que elaborar o PLHIS, tendo
em vista que esse plano foi instituído como requisito indispensável para que o
55
município acesse os recursos, sendo que é através dele que os municípios e
estados materializam no âmbito local a Política Nacional de Habitação, condizente
com as decisões decorrentes da participação da sociedade civil e também com os
Planos Diretores (se houver) e os Planos Plurianuais (BRASIL, 2011).
Diante disso, a Lei Complementar nº 65/2012 institui o PLHIS do município
de Feira de Santana e informa no seu artigo 3º que houve ampla participação na
construção, advinda, especialmente, do Orçamento Participativo. Além disso, nas
diretrizes da Participação Popular do PLHIS há a institucionalização de canais de
participação e controle social, dentre esses, cita-se a Conferência das Cidades a
nível Municipal; o Conselho Municipal de Desenvolvimento Social, o Conselho
Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social, e audiências e
consultas públicas (FEIRA DE SANTANA, 2012).
No Relatório da 5º Conferência das Cidades, em nível municipal, estão
dispostas algumas prioridades no âmbito da participação e do controle social, dentre
essas cita-se duas que estão condizentes com a proposta de discussão ora
apresentada: 1º- a implantação do Conselho da Cidade de Feira de Santana e 2º- a
imediata elaboração do PDDM participativo (FEIRA DE SANTANA, 2013).
No entanto, somente em abril de 2015 foi sancionada a Lei nº 3522/2015 que
criou o Conselho da Cidade de Feira de Santana e constitui parte integrante da
gestão urbana no município (FEIRA DE SANTANA, 2015). Salienta-se que, em uma
visita realizada a Casa dos Conselhos no mês de abril de 2016, constatou-se que o
referido Conselho ainda não havia iniciado as suas atividades.
No mês de julho de 2016 ocorreu a 6ª Conferência Municipal das Cidades e
os membros do Conselho da Cidade de Feira de Santana, representantes da
sociedade civil, foram eleitos. Todavia, em decorrência do período eleitoral, os
conselheiros não tomaram posse e até o mês de janeiro de 2017 não foram
identificadas atividades desse conselho.
Os conselhos municipais existentes e atuantes são: Assistência Social,
Criança e Adolescente, Segurança Alimentar, Mulher, Idoso, Pessoa Portadora de
Deficiência, Participação e Desenvolvimento de Comunidades Negras e Indígenas,
Parlamento Juvenil, Desenvolvimento Econômico e dos Transportes. Assim,
salienta-se a importância da atuação do Conselho das Cidades para discutir a
política urbana e possibilitar que a sociedade civil participe das deliberações e
implementações dessa política no município.
56
Em consulta ao site da Prefeitura, visualizou-se que, em janeiro de 2016,
ocorreu uma reunião com os órgãos articuladores, executores e fiscalizadores do
PMCMV em Feira de Santana, na qual estabeleceram a criação de um Disque-
denúncia direcionado para a área de habitação e a criação do Conselho Municipal
de Habitação. Entretanto, esses instrumentos ainda não foram instituídos.
Assim, quanto à existência de um canal de participação, direcionado para a
política de habitação, instituído pelo poder público, identificou-se, através de uma
visita técnica à Secretaria Municipal de Habitação, que as opções ofertadas para a
sociedade civil são: direcionar-se as secretarias municipais, utilizarem o Sistema de
Informação ao Cidadão (SIC) através do site da Prefeitura ou por contato telefônico
ou recorrerem ao Conselho Municipal de Assistência Social.
Diante desse panorama, percebe-se algumas fragilidades na disponibilização
de instrumentos e canais por parte do poder público de Feira de Santana para que
haja participação social no âmbito da política de habitação. Para validar tal premissa,
é importante citar que, com base na promulgação da Constituição o município
passou a ser reconhecido como “[...] ente autônomo da federação, transferindo-se
para o âmbito local novas competências e recursos públicos capazes de fortalecer o
controle social e a participação da sociedade civil nas decisões políticas” (BRAVO,
2012, p. 2).
Assim, o que se observou, através da presente análise documental, foi um
PDDU do ano de 2006 que não foi instituído por insuficiência de participação
popular; e um PLHIS que tem em suas diretrizes a institucionalização de instâncias
de controle social, que na prática não atuam. Portanto, pode-se depreender que há
fragilidades no processo de discussão, implementação, fiscalização e deliberação da
política de habitação.
De acordo com informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal de
Planejamento e análise das atas, desde 2001 a participação da população no que
concerne ao orçamento ocorre através de audiências públicas divididas por 5
regiões administrativas que delimitam o município, correspondentes à sede, e 8 aos
distritos (Quadro 4) (Mapa 4).
57
Quadro 4: Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de
Santana, Bahia
Região Bairros integrantes
SE
DE
I Aeroporto; Mangabeira; Conceição I; Conceição II; Rosário; Caseb; Bela Vista; Santo Antônio dos Prazeres; Lagoa Grande; SIM; Parque Getúlio Vargas; Capuchinhos; Santa Mônica; Lagoa Salgada; Subaé.
II 35º BI; Aviário; Irmã Dulce; Brasília; Eucalipto; Jomafa; Tomba; Sítio Matias; Parque Panorama; Feira VII; Luciano Barreto; Francisco Pinto; Fraternidade; Limoeiro.
III Pedra do Descanso; Serraria Brasil; Chácara São Cosme; Muchila I; Muchila II; Jardim Acácia; Jussara; Mar da Tranquilidade; Olhos D‟água; Feira X; Viveiros; São João do Cazumbá; Centro Industrial; Bem-te-vi.
IV Novo Horizonte; Campo Universitário; Asa Branca; Campo Limpo; Feira VI; Pampalona; Caraíbas; George Américo; Campo do Gado Novo; Três Riachos; Baraúna de Cima; Baraúna de Baixo; Galileia; Jardim Cruzeiro; Alto do Cruzeiro; Nagé; Cruzeiro; Tanque do Urubu; Barro Vermelho; Calumbi; Morada do Sol; Feira IX; Feira IV; Parque Manoel Matias; Tanque da Nação; Parque das Acácias; Horto; DNER; Gabriela; Sobradinho; Centro de Abastecimento; Monte Pascoal; J. J. Lopes de Brito; Morada das Árvores; Minadouro; Barroquinha; Nova Esperança; Três Riachos.
V Papagaio; Santa Quitéria; Cidade Universitária; Parque Ipê; João Paulo II; Cidade Nova; Morada do Bosque; Feira V; Milton Gomes; Iguatemi; Queimadinha; São João; Prato Raso; Coronel José Pinto; Estação Nova; Ponto Central.
DIS
TR
ITO
S
VI Distrito Gov. João Durval Carneiro (Ipuaçu)
VII Distrito de Bonfim de Feira
VII Distrito de Maria Quitéria (São José)
IX Distrito de Humildes
X Distrito de Tiquaruçu
XI Distrito de Jaíba
XII Distrito Jaguara
XIII Distrito da Matinha Fonte: Feira de Santana (2016).
Elaboração: Lidiane Oliveira.
58
Mapa 4: Localização das Regiões Administrativas da sede e dos distritos, Feira de Santana, 2017
59
As reuniões referentes à sede do município acontecem no auditório da
Secretaria de Saúde e, conforme visto nos registros, a participação popular é
pequena. Salienta-se a existência de atas negativas por não terem nenhum
participante, e outras com apenas cinco pessoas. Talvez, em decorrência da
localização, tendo em vista que facilitaria se as audiências acontecessem em locais
próximos à população. O objetivo dessas audiências é levantar as prioridades e
encaminhar às secretarias de competência para análise de viabilidade. Dessa forma,
não há garantia de que as solicitações serão atendidas, pois trata-se de um
processo de caráter consultivo (FEIRA DE SANTANA, 2015).
Na perspectiva do PMCMV em Feira de Santana, elucida-se o Trabalho
Social que é desenvolvido com as famílias beneficiárias, através do PCSC, e está
sob a gestão do município. Esse trabalho conta com o apoio de uma equipe técnica
multiprofissional que executa projetos sociais, conforme descrito na Introdução deste
relatório. Salienta-se que o objetivo do Trabalho Social, de acordo com a Portaria 21
de 01 de Janeiro de 2014, é “[...] promover a participação social, a melhoria das
condições de vida, a efetivação dos direitos sociais dos beneficiários e a
sustentabilidade da intervenção” (BRASIL, 2014, p. 5). Os dois residenciais
pesquisados neste estudo receberam a intervenção do Trabalho Social, através do
PCSC, vinculado a PMFS.
Mesmo com a atuação da equipe técnica do PCSC dentro dos residenciais, o
que se percebeu, através das visitas técnicas e do contato com os moradores, é que
ainda há carência de informações sobre o tema participação social e, sobretudo, de
espaços de participação instituídos pelo poder público. Deve-se levar em
consideração que o projeto desenvolvido por essas equipes é direcionado para
questões coletivas, como a organização da comunidade e a gestão condominial,
bem como há o acompanhamento por família e, quando necessário, individualizado.
Isso resulta em um trabalho que abarca inúmeras demandas e que é paulatino. No
entanto, tem que cumprir um prazo definido, geralmente de um ano, que é
estabelecido de acordo com o recurso federal disponibilizado.
Com isso, é possível analisar esse cenário com base na análise da escala de
participação de Souza (2006a), pois percebe-se a similaridade da participação social
no âmbito da política de habitação em Feira de Santana com o grau
pseudoparticipação. Observa-se uma participação incipiente, de caráter informativo
e consultivo, na qual o poder público realiza as audiências, institui leis e prioridades,
60
no entanto, em contrapartida, não amplia a discussão e não desenvolve o que foi
planejado na esfera do controle social para que assim possa ser possível realizar
uma gestão democrática da política habitacional.
Há uma percepção que todo processo de participação social é paulatino, está
sujeito a limitações e que não é possível alcançar desenvolvimento humano, vida
sustentável e cidadania se os sujeitos não fizerem parte do processo de tomada de
decisão das políticas públicas. Por isso é imprescindível “[...] solidificar os canais de
comunicação e poder popular para que o Estado se coloque a serviço do povo”,
através da publicização do trabalho desenvolvido nas instâncias de controle social e
do estabelecimento do diálogo em todas as esferas públicas (SOUZA, 2008, p. 221).
O indivíduo no contexto social assume uma postura passiva e não se
reconhece como ser político, capaz de decidir sobre os processos que dizem
respeito a sua vida e a sociedade que ele faz parte, sujeita-se à subalternização,
contribuindo para a dominação de uma classe sobre a outra.
61
4. ESPECIFICIDADES DA INVESTIGAÇÃO: CAMPO EMPÍRICO E OFICINAS
Nesta seção, apresenta-se a descrição do trabalho desenvolvido nas oficinas
nos residenciais do PMCMV. Na primeira subseção, elabora-se uma breve
caracterização do município de Feira de Santana, dos bairros Mangabeira e Aviário,
e dos residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, com base nos dados do
IBGE, documentos disponibilizados pela PMFS, em autores como Araújo (2015),
Araújo (2016) e Santo (2012), que também pesquisaram sobre o campo empírico
deste trabalho, e das observações realizadas nas visitas de campo.
Em seguida, há a descrição do caminho metodológico percorrido no
desenvolvimento dessas oficinas, que se baseou nas seguintes técnicas: visitas
domiciliares para conhecer os moradores e para apresentar a proposta de trabalho;
mobilização social através da entrega de convites e contatos telefônicos; realização
de três encontros, um a cada semana, no local, data e horário previamente definidos
junto aos sujeitos de estudo.
4.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA
O município de Feira de Santana, brevemente apresentado na introdução
deste trabalho, tornou-se vila, em 1833, e, em 1873, tornou-se cidade. Em sua
origem, a atividade econômica que prevalecia era a pecuária e, em seguida, as “[...]
áreas de pastagens foram substituídas pelos canaviais” (FREITAS, 2015, p. 93).
Com isso, Feira de Santana “[...] firma-se como importante centro econômico,
denotando a importância do capitalismo comercial para a valorização do espaço”
(FREITAS, 2015, p. 93).
Em 1970 foi criado o Centro Industrial do Subaé (CIS) que integrou a proposta
de desenvolvimento industrial da cidade. Com isso, foram construídos “[...] os
primeiros conjuntos habitacionais Feira I e II, denominados atualmente Cidade Nova
[...] programados para abrigar os proletários que integrariam a mão de obra” do CIS
(FREITAS, 2015, p. 258-259).
Atualmente, a cidade de Feira de Santana, ainda de acordo com Freitas,
pode ser classificada “[...] como cidade média, mas também se posiciona como
cidade intermediária, tomando-se como referência a sua influência econômica
quanto a concentração do desenvolvimento do comércio, serviços, e
62
industrialização” (FREITAS, 2015, p. 299).
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Feira de Santana,
em 2010, era de 0,712, maior do que a média do estado da Bahia, que foi de 0,660.
Quanto ao déficit habitacional, é importante evidenciar que há controvérsias, tendo
em vista que, de acordo com a Fundação João Pinheiro, a estimativa é de 24.074
moradias para a população com nível de renda entre zero a três salários mínimos, já
para a CEF o déficit é de 57 mil e, por isso, há um grande investimento do Governo
Federal no PMCMV em Feira de Santana (ARAÚJO, 2015).
Salienta-se que foi a partir de 1960 que os primeiros conjuntos habitacionais
foram construídos. No ano de 2000, essas construções passaram a ocupar os locais
fora do anel de contorno da cidade, como, por exemplo, os bairros Mangabeira e
Aviário, que compõem o campo empírico deste estudo (ARAÚJO, 2016).
É válido ressaltar que o primeiro empreendimento do PMCMV no Brasil, o
Residencial Nova Conceição, foi construído em Feira de Santana e inaugurado no
ano de 2010. Apesar de o bairro Conceição ter sido o primeiro contemplado, foi no
bairro Mangabeira que o governo federal financiou a maior quantidade de
empreendimentos do PMCMV, conforme dito na seção introdutória deste trabalho.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS MANGABEIRA E AVIÁRIO
Nesta subseção, apresenta-se uma caracterização dos bairros Mangabeira e
Aviário, que considera os aspectos geográficos, infraestruturais e sociais, além de
abordar sobre a atuação das associações comunitárias, que demonstram a
importância da representatividade em locais onde há as expressões da questão
social, sobretudo, a carência de direitos básicos, como é o caso desses dois bairros.
Assim, o primeiro bairro escolhido para este trabalho foi o Mangabeira e isso
ocorreu em decorrência da existência significativa de empreendimentos do PMCMV
nessa área. Possui uma população de aproximadamente 20.819 habitantes,
segundo os dados do IBGE de 2010, sem considerar as mais de 3 mil famílias
beneficiárias do PMCMV (FEIRA DE SANTANA, 2014).
A área onde localiza-se esse bairro é conhecida por possuir lagoas e
nascentes de drenagem, característicos de toda a região nordeste do município e
tem como limítrofes os seguintes bairros: Conceição, Aeroporto, Papagaio, Parque
Ipê, Cidade Nova e São João.
63
No decorrer das visitas técnicas ao bairro, foi possível perceber a carência por
espaços de lazer, como praças e parques. No entanto, identificou-se uma melhoria
no que diz respeito à circulação, tendo em vista que, em 2014, foi pavimentada a
Avenida Iguatemi e, em 2016, a Avenida Ayrton Senna. Ambas beneficiam as
comunidades dos bairros Mangabeira, Agrovila, Conceição e Papagaio, bem como
facilitam o acesso ao centro da cidade.
O bairro Aviário tornou-se opção de estudo por fazer parte da trajetória
profissional da pesquisadora deste trabalho, conforme dito na Introdução. Durante
as visitas técnicas percebeu-se uma melhora no acesso ao bairro após a
pavimentação da Rua Olney Sampaio, via principal que liga o bairro ao centro da
cidade. No entanto, ainda existem vias com buracos e sem pavimentação, e isso,
além de dificultar a locomoção, facilita a ocorrência de roubos, de acordo com os
moradores.
Quanto ao lazer, cita-se a inauguração da Praça Esportiva do Conjunto Paulo
Souto, que possui uma quadra-poliesportiva e pista de skate, onde também se
encontra localizado o Centro de Referência de Assistência Social.
A população deste bairro é constituída de pessoas em situação de pobreza e
algumas vivem em condições de miséria. Na questão da moradia, o bairro foi
beneficiado pela construção do Conjunto Habitacional Paulo Souto e atualmente
possui cinco residenciais do Programa Minha Casa, Minha Vida (Vida Nova Aviário I,
II, III, IV e Aquários). No entanto, ainda existem algumas famílias morando em
barracas feitas com lona, papelão e madeira, o que contribuiu para que a área fosse
popularmente conhecida como “Favela do Plástico”. O Presídio Regional de Feira de
Santana localiza-se no Aviário e o bairro possui um alto índice de tráfico de drogas,
registro de homicídios e de violência (FEIRA DE SANTANA, 2014).
Sabe-se que o Brasil é um país com grande incidência de desigualdades
sociais e tanto o bairro Mangabeira quanto o Aviário são áreas caracterizadas por
altos índices de vulnerabilidade social e pobreza, conforme apontam os relatórios do
trabalho social do PCSC, vinculado a PMFS.
Em decorrência desse contexto, muitos grupos sociais são formados em torno
de objetivos comuns na tentativa de propor soluções para causas coletivas. A
participação, nesse sentido, é uma estratégia necessária que contribui para a
materialização de objetivos coletivos, trata-se do “[...] próprio processo de criação do
homem ao pensar e agir [...] sobre os desafios sociais” (SOUZA, 2008, p. 81).
64
Sobre esse aspecto, é importante salientar a existência das Associações de
Moradores no bairro Mangabeira e Aviário que contribuíram para o alcance de
melhorias no âmbito das políticas públicas; a Associação de Articulação Social dos
Beneficiários do Minha Casa Minha Vida (ASSOMIVI), a Associação dos Moradores
do Residencial Rio São Francisco e a Associação dos Moradores do Residencial
Vida Nova Aviário I.
Na entrevista realizada com o atual presidente da ASSOMIVI ele explicou que
a diretoria da associação e os associados são atuantes, no entanto, ressaltou a
dificuldade de diálogo com a prefeitura e de obter apoio da mesma. No levantamento
documental, foram observados ofícios da associação direcionados ao Governo
Federal que solicitam a melhoria da infraestrutura dos bairros, tendo em vista que os
empreendimentos foram construídos em locais carentes de políticas públicas e o
poder público municipal não viabilizou antes da entrega das casas serviços públicos
básicos para a população.
Como exemplo de uma das solicitações, cita-se a pavimentação das vias
públicas do bairro Mangabeira, conforme dito outrora, sendo essa demanda também
sinalizada em um estudo sobre o PMCMV em áreas periféricas de Feira de Santana,
o qual identificou uma “[...] diferenciação espacial entre aqueles que já moravam no
bairro, todo pavimentado, e os novos residentes que estavam situados em uma área
[...] inóspita e carente de todo tipo de infraestrutura, inclusive, a pavimentação”
(ARAÚJO, 2016, p. 229).
A ASSOMIVI, de acordo com a fala do presidente e com o estudo documental
da associação, iniciou a luta pela pavimentação das vias no ano de 2010 e somente
em 2014 foi possível ver a conclusão das obras da Avenida Iguatemi e em 2016 a
Avenida Ayrton Sena.
Outras demandas têm sido alvo da ASSOMIVI, tais como:
Problemas estruturais identificados em alguns empreendimentos;
Instalação do piso nas residências, que foram entregues na primeira fase do
programa;
Apoio aos inscritos no programa no que concerne à documentação
necessária para a assinatura de contrato com CEF;
Realização de ações sociais que oportunizem aos associados o acesso à
educação e ao mercado de trabalho, através de parcerias com escolas e empresas;
65
Intermediação de demandas coletivas dos empreendimentos do PMCMV com
as secretarias municipais.
Na entrevista com a presidente da Associação de Moradores do Residencial
Vida Nova Aviário I, ela também relatou algumas conquistas para o bairro e
esclareceu que, apesar de ter constituído a associação dentro do residencial, o
trabalho realizado alcança todo o bairro, como, por exemplo, a pavimentação da Rua
Olney São Paulo. A presidente informou que também trabalha para melhorar os
serviços públicos de educação e saúde, que ainda não suprem as demandas da
população.
4.3 CARACTERIZAÇÃO DOS RESIDENCIAIS
De acordo com o Diagnóstico Socioterritorial dos Residenciais Viver Iguatemi
II e Vida Nova Aviário I, a população é formada, principalmente, por pessoas em
situação de vulnerabilidade social e pobreza, de baixa escolaridade, que não
possuem uma fonte de renda proveniente de um trabalho formal e a maioria é
beneficiária do Programa Bolsa Família (PBF) (FEIRA DE SANTANA, 2014).
No quadro 5, elaborado com base no Diagnóstico Social do Residencial Viver
Iguatemi II, contido no Projeto Técnico do Trabalho Social do Residencial Viver
Iguatemi II e no Diagnóstico Socioterritorial e Familiar do Residencial Vida Nova
Aviário I, estão dispostas informações sobre a localização, as características
estruturais dos empreendimentos e uma síntese do diagnóstico social da população
e nas subseções estão descritas as caracterizações dos residenciais.
Na síntese do diagnóstico social dos residenciais foram destacados alguns
aspectos relevantes que caracterizam o público do PMCMV dos bairros Mangabeira
e Aviário. Sabe-se que o PMCMV tem como requisito que o inscrito encontre-se na
faixa de renda de zero até três salários mínimos. Nos dois empreendimentos
apresentados a renda mensal é de até um salário mínimo e o Residencial Vida Nova
Aviário I possui a menor renda média domiciliar do grupo, que é de R$571, 75.
66
Quadro 5: Caracterização dos Residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, 2016
Residencial Endereço Estrutura Síntese do Diagnóstico
VIV
ER
IG
UA
TE
MI
II Av. Iguatemi,
bairro Mangabeira.
Tipologia: prédio
Unidade: 320
Blocos: 16
Escolaridade: 50,5% com Ensino Médio;
Situação ocupacional: 40% trabalho informal e 33% desempregados;
Renda mensal domiciliar: 47% até 1 salário mínimo;
Renda média domiciliar: R$620,84.
VID
A N
OV
A
AV
IÁR
IO I
Rua Olney São Paulo, bairro Aviário.
Tipologia: prédio
Unidade: 520
Blocos: 36
Escolaridade: 42% com Ensino Fundamental Incompleto;
Situação ocupacional: 58% trabalho informal e 20% desempregados;
Renda mensal domiciliar: 50% até 1 salário mínimo;
Renda média domiciliar: R$571,75.
Fonte: FEIRA DE SANTANA, (2013; 2014). Adaptado pela autora.
È notório que os quatro residenciais são compostos por sujeitos que fazem
parte da classe empobrecida do país, que sofrem diretamente com as mazelas da
questão social e, dessa forma, muitos encontram-se destituídos de direitos.
A garantia de políticas sociais corresponde, de maneira geral, a interesses
privatistas e excludentes, que têm direta relação com a gestão estatal da força de
trabalho. Em contrapartida, isso também garante aos sujeitos a materialização de
serviços públicos básicos, no entanto, sabe-se que o alcance desses direitos ainda é
mínimo e as necessidades advindas da vida urbana estão longe de serem atendidas
na sua totalidade (YAZBEK, 2009).
A realidade dessas famílias é repleta de contradições inerentes ao modo de
produção capitalista e ao modelo neoliberal presente na sociedade brasileira, uma
vez que o Estado assegurou o direito à moradia a essas famílias, todavia, isso não
significa que os sujeitos encontram-se inseridos socialmente. Trata-se de uma
realidade de negação de direitos, caracterizada por desigualdades sociais que são
intrínsecas a estrutura econômica adotada no país.
67
4.3.1 Residencial Viver Iguatemi II
O Residencial Viver Iguatemi II está localizado na Avenida Iguatemi, bairro
Mangabeira e foi inaugurado em abril de 2014. Foi entregue com piso nos
apartamentos e nos blocos, diferente do Vida Nova Aviário I, e é composto por um
quiosque, um parque para crianças, uma quadra de futebol, 16 blocos e 320
apartamentos.
Na visita de campo, observou-se que não há problemas de acesso ao
residencial, pois a Avenida Iguatemi encontra-se pavimentada e em bom estado. A
coleta de lixo é regular e os moradores depositam os resíduos em um
compartimento chamado de “casa do lixo”. No entanto, há de se considerar a
existência de pequenos resíduos de lixo descartados em algumas áreas coletivas.
Algumas mudanças foram realizadas após a entrega do residencial. Os
moradores isolaram o empreendimento com uma cerca e colocaram portão na
entrada dos blocos. Além disso, é válido salientar que esse residencial encontrava-
se destituído de áreas verdes, porém alguns moradores começaram a plantar
recentemente algumas mudas e estão cultivando jardins (Foto 1).
Outro aspecto importante é o fato de que algumas unidades habitacionais
revelaram “vícios de construção” e estão interditadas pelo Ministério Público Federal
(MPF), tendo em vista que os moradores alegaram que os imóveis estavam com
rachaduras e infiltrações de água. As famílias foram remanejadas e encontram-se
morando de aluguel, enquanto aguardam o término das reparações e o MPF
determinou que a construtora disponibilizasse uma ajuda de custo aos moradores.
De acordo com o Diagnóstico Socioterritorial do Residencial, as famílias são
atendidas por três instituições públicas de ensino, as escolas municipais Ester da
Silva Santos, que oferta o Ensino Fundamental I e Pró-jovem Urbano; a João
Macário de Atayde, que disponibiliza a Pré-escola e o Ensino Fundamental I; e o
Centro Municipal de Educação Infantil Professora Eduarda Oliveira França, que
oferta a Educação Infantil em período integral. Todavia, destaca-se que a oferta de
vagas não supre a demanda da população (FEIRA DE SANTANA, 2014).
68
Foto 1: Moradores cultivando jardins no Residencial Viver Iguatemi II
Fonte: Trabalho de campo (2016).
A Política de Assistência Social é assegurada através do Centro de
Referência de Assistência Social Padre José Dusi e a Política de Saúde conta com a
existência de três equipamentos públicos; a Unidade Básica de Saúde Maria do
Nascimento Souza, a Unidade de Saúde da Família Videira e a Unidade de Pronto
Atendimento Jairo de Jesus dos Santos (FEIRA DE SANTANA, 2014).
4.3.2 Residencial Vida Nova Aviário I
O Residencial Vida Nova Aviário I foi entregue no ano de 2011, sem piso nos
apartamentos e nos blocos, e é composto por 36 blocos, 520 apartamentos, um
quiosque, uma quadra de esportes e um parque para crianças que foi destruído e,
atualmente, só resta o espaço com areia (Fotos 2, 3 e 4). Os moradores fizeram um
abaixo-assinado para que o valor dos pisos que eles colocaram por conta própria
fosse devolvido, mas ainda não obtiveram êxito nessa reivindicação. Os
apartamentos que ainda não tinham piso receberam o assentamento, realizado pela
construtora no ano de 2015.
69
Foto 2: Área de lazer do Residencial Vida Nova Aviário I quando foi inaugurado
Fonte: Associação de Moradores Vida Nova Aviário I (2012).
Foto 3: Área do parque após ser destruído e o quiosque do Residencial Vida Nova Aviário I
Fonte: Trabalho de campo (2016).
70
Foto 4: Condição atual da quadra de esportes
Fonte: Trabalho de campo (2016).
Nesse residencial são identificadas algumas fragilidades na organização dos
espaços, pois o quiosque é próximo a quadra e isso dificulta sua utilização por conta
das bolas que batem tanto na cobertura quanto nas pessoas que encontram-se na
área. Além disso, essas duas áreas coletivas encontram-se próximas aos blocos da
quadra C e as bolas se chocam com as janelas e, também, há o incômodo
decorrente do barulho.
Nos dias das visitas de campo, observou-se toldos com venda de lanches e
alguns carros com o som ligado, e isso causa uma intensa poluição sonora que
incomoda muitos moradores. O acesso ao residencial é satisfatório, se for utilizada a
Rua Olney São Paulo, porém as outras vias encontram-se em má conservação e
com muitos buracos. No entorno do residencial são poucos os pontos comerciais,
foram identificados apenas pequenos mercados e bares.
Tanto a quadra quanto o quiosque encontram-se em má conservação e nas
áreas coletivas é possível verificar muito resíduo descartado indevidamente, apesar
da coleta de lixo ser regular. Há árvores cultivadas e em alguns blocos existem
jardins que os moradores cultivam.
71
A política de Assistência Social é ofertada pelo Centro de Referência de
Assistência Social e pelo Centro Profissionalizante Juiz Walter e a Associação de
Moradores, que oferta atividades culturais de capoeira, fanfarra, percussão, balet,
teatro, coral e violão. A política de educação é contemplada pela Escola Estadual
Paulo VI, Escola Juíza Lourdes Trindade, Escola Municipal Monsenhor Jessé,
Escola Municipal Professora Josenita Nery Boaventura e o Instituto Federal de
Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). De acordo com o Diagnóstico Socioterritorial
do residencial, as escolas não possuem vagas suficientes e existe a necessidade de
construção de creches para crianças de 0 a 5 anos de idade (FEIRA DE SANTANA,
2013).
4.4 O CAMINHO METODOLÓGICO DAS OFICINAS
Na perspectiva de compreender as alternativas utilizadas pelos
representantes comunitários para que o poder público cumpra, em tese, o seu papel
no que concerne a seguridade dos serviços públicos básicos, dentro do que
preconiza a legislação, sobremodo, o Estatuto da Cidade, foram realizadas três
oficinas em cada residencial pertencente ao campo empírico deste trabalho, como
mencionado na introdução. Os participantes são sujeitos que exercem a função de
síndico, subsíndico ou conselheiro fiscal, escolhidos por meio de relação fornecida
pela equipe técnica do trabalho social do PCSC, vinculado a PMFS, que atua nos
residenciais.
O PCSC desenvolve o Trabalho Social do PMCMV nos residenciais baseado,
essencialmente, em quatro eixos de atuação: mobilização, organização e
fortalecimento social; acompanhamento e gestão social da intervenção; educação
ambiental e patrimonial; e desenvolvimento socioeconômico. Cada residencial do
PMCMV possui uma equipe técnica que executa um projeto que pode durar um ano
ou mais. Por conta disso, eles encontram-se próximos as comunidades e possuem
uma relação com o nome dos representantes, uma vez que auxiliam na formação
dos grupos gestores dos condomínios e na organização comunitária.
Para esta pesquisa, utilizou-se a oficina como metodologia de trabalho de
grupo, que possibilita desenvolver discussões, debates e aprendizagens “[...] em
torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto
social. [...] não se restringe a uma reflexão racional mas envolve os sujeitos de
72
maneira integral, formas de pensar, sentir e agir” (AFONSO, 2006, p. 9).
As discussões versaram sobre participação social, políticas públicas, o papel
que cada um assume diante das necessidades coletivas e as estratégias de
organização comunitária utilizadas para melhorar a qualidade de vida.
O desenvolvimento do trabalho com grupos já foi experienciado pela
pesquisadora deste estudo. A vivência profissional contribuiu para o entendimento
de alguns aspectos que devem ser considerados, tais como: a relevância de
identificar na comunidade a pessoa de referência, que possui maior
representatividade, e solicitar o seu apoio; permitir que os sujeitos de estudo
definam qual o melhor local, dia e horário para a realização dos encontros; respeitar
a postura de cada participante, principalmente, se ele se opuser a realizar alguma
das atividades propostas; é importante também entender que o plano nem sempre é
vivenciado conforme foi planejado e é necessário trabalhar com várias estratégias
para evitar desperdício de tempo.
A primeira oportunidade de apresentação do projeto foi no dia 04 de maio de
2016, em uma reunião organizada pela equipe do trabalho social no Residencial
Viver Iguatemi II, que permitiu a exposição da proposta de pesquisa. Nesse
encontro, havia alguns representantes presentes e após a explanação sucinta da
pesquisa foi importante aproveitar o momento para estabelecer o primeiro contato.
Após as visitas domiciliares para aplicação das entrevistas, foi formado um
grupo de dez sujeitos que optaram pelos dias de quarta-feira às 19 horas. Assim, as
oficinas aconteceram nos dias 11, 18 e 25 de maio de 2016, sendo que no primeiro
dia compareceram três mulheres, no segundo e terceiro dias foram quatro mulheres.
O trabalho transcorreu de forma satisfatória, tendo em vista que houve a
contribuição de todas nas atividades propostas (Fotos 5, 6, 7 e 8).
É importante ressaltar que uma das participantes cedeu voluntariamente a
sua residência para que os encontros ocorressem, pois o quiosque do residencial é
aberto e todas entenderam que seria melhor em um local fechado. Além disso, outra
integrante do grupo não quis aparecer nas fotos.
73
Foto 5: Apresentação da pesquisa na reunião do PCSC, Viver Iguatemi II
Fonte: Trabalho de campo (2016).
Foto 6: Identificação dos problemas locais com textos e desenhos, Viver Iguatemi II
Fonte: Trabalho de campo (2016).
74
Foto 7: Jogo rápido denominado “De quem é o problema?” com a utilização de placas com os nomes “meu”, “todos” e “poder público”, Viver Iguatemi II
Fonte: Trabalho de campo (2016).
Foto 8: Dinâmica do barbante com a pergunta: “Quais são os meus direitos?”, Viver Iguatemi II
Fonte: Trabalho de campo (2016).
75
O Residencial Vida Nova Aviário I foi o segundo empreendimento onde
ocorreu o trabalho de campo. O primeiro contato foi estabelecido com a presidente
da Associação de Moradores do residencial, que contribuiu com a mobilização dos
outros participantes. Nesse residencial, a apresentação da proposta de pesquisa foi
realizada nas visitas domiciliares, juntamente com a aplicação das entrevistas.
Os encontros ocorreram aos domingos às 16 horas, dias 19 de junho e 03 e
10 de julho, conforme a sugestão dos participantes. O local do primeiro encontro foi
a área comum em frente a um dos blocos, na qual está montado um toldo, e os
outros dois ocorreram no quiosque. A realização das oficinas em locais abertos
resultou em interferências externas de crianças brincando ao redor e adolescentes
jogando bola na quadra, que algumas vezes batia na cobertura do quiosque (Fotos 9
e 10).
As discussões foram satisfatórias e a participação dos sujeitos nos encontros
do Vida Nova Aviário I foi de nove pessoas na primeira e segunda oficina, e seis
pessoas no terceira. Vale ressaltar que as atividades de escrita ou desenho não
foram aceitas pelos participantes desse residencial, eles optaram por apenas falar.
Foto 9: Discussão sobre os problemas locais, Vida Nova Aviário I
Fonte: Trabalho de campo (2016).
76
Foto 10: Discussão sobre participação social, Vida Nova Aviário I
Fonte: Trabalho de campo (2016).
O primeiro roteiro das oficinas, intitulado com o questionamento “Quais são os
problemas?”, iniciou com uma dinâmica de abertura, na qual se propôs uma reflexão
sobre a participação desses sujeitos no processo que antecedeu a construção dos
empreendimentos e, em seguida, os participantes apontaram as demandas locais; o
segundo tratou da temática participação social e ocorreu um debate sobre a
importância da coletividade em prol da seguridade de políticas públicas no bairro; o
terceiro baseou-se no objetivo de esclarecer o papel do poder público diante das
necessidades locais expostas na reunião anterior e no encerramento houve o
incentivo aos sujeitos a participarem das instâncias de controle social e a lutarem
por melhores condições de vida (Quadro 6).
77
Quadro 6: Síntese metodológica das oficinas
Oficinas Objetivo Introdução Desenvolvimento Conclusão Avaliação
1º Quais são os problemas?
Conhecer as demandas locais.
Dinâmica de apresentação dos presentes e pergunta: Como vim parar aqui nesse bairro?
Discussão sobre a participação desses sujeitos no processo que antecedeu a construção dos empreendimentos.
Aplicação da técnica “Tempestade de ideias” para identificação dos problemas locais.
Organização das ideias expostas e incentivo a pensarem em soluções a serem discutidas no próximo encontro.
Avaliação oral.
2º Participação Social
Debater sobre a importância da coletividade em prol da seguridade de políticas públicas no bairro.
Jogo rápido denominado “De quem é o problema?” com perguntas sobre as responsabilidades individuais, coletivas e do poder público.
Utilizou-se placas com os nomes: Meu, Todos e Poder Público e cada participante as expôs como resposta às perguntas que o moderador realizou.
Discussão sobre: Os ganhos advindos das decisões coletivas no que concerne a seguridade de direitos e serviços públicos;
Qual a responsabilidade de cada um na melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Espaço aberto para dúvidas.
Avaliação oral.
78
Oficinas Objetivo Introdução Desenvolvimento Conclusão Avaliação
3º O que faz o poder público?
Esclarecer o papel do poder público diante das necessidades locais expostas na reunião anterior.
Pergunta: Quais são os meus direitos?
Dinâmica do barbante, na qual todos os participantes ficam em círculo e jogam o barbante uma para o outro fazendo perguntas sobre direitos.
Discussão sobre o direito à moradia e toda infraestrutura necessária para que se tenha qualidade de vida; Apresentação dos serviços públicos: saúde, mobilidade urbana, assistência social, educação, saneamento.
Informações sobre os canais e veículos de participação social.
Incentivo a participarem das instâncias de controle social e a lutarem por melhores condições de vida.
Avaliação oral.
Elaboração: Lidiane Oliveira.
79
5. REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS: EXPERIÊNCIAS E HISTÓRIAS
Nesta seção, apresentam-se os dados coletados através das entrevistas, que
dizem respeito às características sociodemográficas dos sujeitos que compõem o
universo da pesquisa e sobre as suas trajetórias, assim como as questões que
contemplam a participação social e o papel do poder público.
Na perspectiva de analisar as informações coletadas foi adotada a técnica
de análise de conteúdo, que considera a observação social do objeto de estudo
parte fundamental desse processo (BARDIN, 2002).
Assim, para elaboração desta seção, conforme a orientação de Bardin (2002),
as informações coletadas nas entrevistas foram divididas em unidades de análise.
No sentido metodológico, o primeiro passo foi a pré-análise, que contou com a
transcrição das entrevistas, leitura e sistematização das informações; em seguida,
foram elaborados os quadros 7 e 8 com a caracterização sociodemográfica dos
sujeitos de estudo e as informações sobre a trajetória dos representantes; o último
passo foi a interpretação e discussão dos resultados, aspecto já apontado na
introdução.
5.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DOS SUJEITOS DE ESTUDO
A caracterização sociodemográfica dos sujeitos deste estudo está
sistematizada no quadro 7 e foi elaborada com base na análise dos seguintes
aspectos: sexo, estado civil, faixa etária, número de filhos, escolaridade, profissão,
situação ocupacional, benefício assistencial, renda mensal individual e familiar,
situação e tempo de moradia, e condições de moradia anterior. Para garantir aos
sujeitos o sigilo, os seus nomes foram substituídos por nomes de flores.
80
Quadro 7: Caracterização sociodemográfica dos sujeitos de estudo
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Acácia F C 41-45 1 EM NP Dona de casa BF Até ½ Até 2 Família 2 - 3 Aluguel
Alecrim M C 51-55 2 EF Soldador Pintor autônomo NR Até 1 Até 2 Família 2 - 3 Cedida
Alfazema F O 31-40 1 NSI NP Cobradora de ônibus
NR Até 2 Até 3 Família 2 - 3 Aluguel
Amarílis F C 31-40 4 EM NP Desempregada BF Até ½ Até 1 Família 2 – 3 Aluguel
Anis F C 41-45 4 EM NP Desempregada BF Até ½ Até 2 Família 2 – 3 Cedida
Anêmona F C 31-40 2 EM NP Promotora de vendas
NR Até 1 Até 2 Família 2 – 3 Aluguel
Azalea F C 31-40 1 EM Costureira Costureira autônoma
NR Até 1 Até 2 Família 2 – 3 Aluguel
Begônia M C 46-50 3 EFI NP Pedreiro autônomo
NR Até 1 Até 2 Família 2 – 3 Aluguel
Beladona F O 31-40 1 EM NP Vendedora de cosméticos autônoma
BF Até ½ Até 2 Família 2 - 3 Aluguel
Camélia F C 41-45 2 EFI NP Dona de casa BF Até ½ Até 2 Família 2 - 3 Aluguel
5 F: feminino; M: masculino 6 S: solteiro; C: casado; SE: separado; V: viúvo; O: outros 7 NA: não alfabetizado; EFI: ensino fundamental incompleto; EF: ensino fundamental; EMI: ensino médio incompleto; EM: ensino médio; NSI: nível superior incompleto; NS: nível superior 8 NP: não possui 9 BF: bolsa família; BPC: benefício de prestação continuada; NR: não recebe 10 SM: salário mínimo
81
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Aluguel
Crisântemo M C 56-60 4 NS Professor Professor de História
NR Até 3 Até 3 Família Acima de 4
Aluguel
Lis F C 56-60 5 EM NP Dona de casa BF Até ½ Até 2 Família Acima de 4
Aluguel
Fúcsia F C 56-60 2 EF NP Vendedora de cosméticos autônoma
NR Até ½ Até 2 Família Acima de 4
Aluguel
Gardênia F C 31-40 4 EF NP Dona de casa BPC
Até 1 Até 2 Família Acima de 4
Aluguel
Genciana F SO 46-50 3 EF Manicure Desempregado BF Até ½ Até 1 Família Acima de 4
Aluguel
Gerânio F O 21-25 1 EM NP Desempregada BF Até 1 Até 2 Família Acima de 4
Cedida
Girassol M C Mais de 60
5 EFI NP Aposentado NR Até 1 Até 2 Família Acima de 4
Cedida
Hortênsia F SE 41-45 2 EFI NP Dona de casa BF Até 1 Até 2 Família Acima de 4
Aluguel
Íris F C 41-45 2 NSI NP Educadora social
NR Até 2 Até 3 Família Acima de 4
Aluguel
Fonte: Pesquisa de campo (2016) Elaboração da autora.
82
De acordo com as informações do quadro 7, pode-se depreender que o grupo
de sujeitos desta pesquisa é composto, majoritariamente, por mulheres, uma vez
que 75% dos entrevistados é do sexo feminino, e revela que esse mesmo número
encontra-se com o estado civil de casada. A faixa etária é de 55% entre 31 e 50
anos, e 65% possui até 3 filhos. Esse perfil tem relação com o fato de que,
atualmente, as mulheres são priorizadas nas políticas públicas e benefícios do
Governo Federal, como, por exemplo, o PBF e PMCMV que fazem parte das
políticas de Assistência Social e Habitação.
Quanto à escolaridade, 40% concluiu o Ensino Médio, no entanto, no
Residencial Vida Nova Aviário I esse número cai para 10%. É relevante citar que,
dentre os 20 sujeitos, 10% está com o curso de nível superior em andamento e 5%
possui o 3º grau completo (Quadro 7).
Durante as entrevistas, explicou-se aos entrevistados que a análise da
profissão, nesta pesquisa, está vinculada à realização de algum curso de
qualificação profissional de nível técnico ou superior. Assim, 75% dos sujeitos não
têm profissão, trata-se de um número significativo de pessoas que não estão
“qualificadas” para o mercado de trabalho, isso dentro da ideologia comumente
propagada pela sociedade atual. Os 25% que informaram ter realizado algum curso
possuem uma formação que tende mais ao trabalho informal, como os cursos de
manicure e costureira.
No quesito situação ocupacional, 70% não possuem uma renda formal, ou
seja, 25% são donas de casa, 20% estão desempregados e 25% trabalham como
autônomo. Foi interessante observar que há mulheres que se consideram donas de
casa, mas há outras que também realizam esse papel, porém, se apresentam como
desempregadas. A Lei 8.213/91 reconhece a dona de casa como uma trabalhadora
e assegura o direito aos benefícios pagos pela Previdência Social, exceto aqueles
relacionados com acidente de trabalho (BRASIL, 1991).
Todavia, mesmo com a existência dessa lei, que reconhece as donas de casa
como trabalhadoras, é muito raro elas contribuírem para a previdência social, muitas
só possuem a renda oriunda do PBF, que não deve ser utilizada para esse fim, e as
famílias que recebem encontram-se em situação de pobreza. Seria contraditório e
inviável utilizar o benefício para contribuir e, em decorrência disso, as mulheres
ficam sem a segurança previdenciária.
83
O mesmo se aplica aos trabalhadores informais que também podem
contribuir, mas em muitos casos eles não têm condições ou não contribuem por
miopia social. Dessa forma, a informalidade pode representar um custo social
extremamente alto, uma vez que esses sujeitos encontram-se expostos a situações
de vulnerabilidade, como enfermidades, acidentes, velhice e essas circunstâncias
influenciam para que ocorra a dependência de benefícios assistenciais como o Bolsa
Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Quanto ao recebimento de benefícios, 50% dos sujeitos informaram que são
beneficiários do PBF ou do BPC. Isso reflete na renda mensal individual, tendo em
vista que 45% recebem até um salário mínimo e 40% até ½ salário mínimo. No que
concerne a renda mensal familiar, 70% dos sujeitos informaram que é até dois
salários mínimos.
No quesito condições de moradia anterior, 80% responderam que moravam
em casas alugadas. A aquisição da casa própria, em tese, possibilita uma redução
nas despesas. No entanto, há controvérsias quanto a melhorias efetivas, pois,
quando questionados sobre como eram as condições de vida antes de morarem no
empreendimento do PMCMV, alguns moradores responderam o seguinte:
Eu prefiro tá aqui porque eu não to pagando aluguel mais, já é uma boa diminuída na renda, mas a água deveria ser individual, porque nem todo mundo tem essa consciência de que tem que pagar, isso dificulta. Não só a água como a limpeza, a limpeza de cada bloco isso é uma dificuldade (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Antes era melhor, depois que eu cheguei aqui eu estacionei. Eu tinha lavanderia, meu quintal era grande e eu lavava as minhas roupas. Eu pagava aluguel alto, mas era tudo perto, aqui eu tenho dificuldade de locomoção e não consigo trabalhar dentro da minha casa. Aqui é difícil. É bom por ser meu, mas em compensação eu não consigo ganhar dinheiro (LIS, AVIÁRIO I).
Assim, percebe-se que não pagar aluguel é um alívio, todavia, há outras
questões a serem observadas, como o fato de terem que se habituar a morarem em
apartamento, compartilharem áreas comuns com outros moradores, realizarem o
pagamento de taxas referentes à manutenção do bloco etc. Os empreendimentos
ficam distantes do centro da cidade, principalmente o Residencial Vida Nova Aviário
I, e isso acarreta em despesas com transporte e, em alguns casos, dificuldades para
encontrar emprego.
84
Esses sujeitos conquistaram a casa própria e de fato, para muitos, é a
realização de um sonho. Todavia, tanto na caracterização dos bairros Mangabeira e
Aviário, dos residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, quanto na análise
das entrevistas, é perceptível que a realidade desses indivíduos, apesar de
possuírem uma moradia, ainda não assegura todos os direitos. Ainda há carência no
acesso a uma educação capaz de inseri-los no mercado de trabalho formal, de
assegurar direitos trabalhistas e, sobretudo, de possibilitar a obtenção de
conhecimento suficiente que os tornem cidadãos críticos. Isso é imprescindível,
tendo em vista que a educação, a profissionalização e a inserção no mercado de
trabalho são requisitos necessários para a elevação social e econômica do sujeito,
ao menos, para garantir as condições básicas de reprodução da existência.
5.2 TRAJETÓRIAS DOS REPRESENTANTES COMUNITÁRIOS DOS
RESIDENCIAIS VIVER IGUATEMI II E VIDA NOVA AVIÁRIO I
Nesta subseção, apresentam-se as trajetórias dos representantes
comunitários dos residenciais Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I. O grupo de
sujeitos escolhido para constituir esta pesquisa é composto por síndicos,
subsíndicos, conselheiros fiscais e lideranças ligadas à associação de moradores.
A análise descrita neste tópico contempla algumas questões fechadas da
entrevista que são: função, tempo que exerce a função e vinculação com a
associação de moradores (Quadro 8). A discussão das informações subjetivas se
baseou nas seguintes perguntas:
Como descreve a sua história como representante comunitário nessa
comunidade?
Você se voluntariou para exercer essa função ou foi por força de outras
circunstâncias? Quais circunstâncias?
Os moradores contribuem no desenvolvimento do seu trabalho? Eles
entendem a importância da cooperação de todos?
Nas visitas de campo aos bairros Mangabeira e Aviário e nas conversas com
os moradores, observou-se que a construção de novos empreendimentos provocou
alterações nos processos políticos, sociais e econômicos desses espaços. Novos
núcleos familiares passaram a habitar esses bairros e essas novas áreas de
moradia passaram por um processo de organização comunitária que foi decorrente
85
da chegada de novos indivíduos.
Com isso, toda a realidade foi alterada, são mudanças que influenciam na
vida dos recém-chegados, assim como dos moradores antigos. Essas
transformações surgiram em função das construções que modificaram o espaço,
ampliaram a área habitada do bairro e, sobretudo, com a chegada dos novos
habitantes, que logo começaram a usufruir dos serviços públicos e de toda a
infraestrutura que o bairro oferecia. Assim, surgiram/intensificaram-se as demandas
coletivas, uma vez que o transporte público, as escolas, os postos de saúde já não
atendiam a todos; as vias não pavimentadas dificultavam a locomoção; e as áreas
coletivas, que já eram frágeis, tornaram-se ainda mais precárias.
Diante disso, os grupos são incitados a, minimamente, se organizarem. No
caso dos empreendimentos do PMCMV, esse processo de organização é estimulado
pelo próprio Programa, através dos projetos de trabalho social, em prol da
preservação dos residenciais e para que os moradores assumam as despesas
coletivas oriundas do compartilhamento da energia dos blocos, no caso dos
residenciais com tipologia predial.
Nesta pesquisa, optou-se por reconhecer como representantes comunitários
os indivíduos que assumem as funções pertinentes à gestão condominial, devido às
observações e vivências que a pesquisadora fez durante o trabalho desenvolvido em
um residencial do PMCMV, como contratada da PMFS. Nesse ínterim, identificou-se
que esses gestores, diante de determinadas circunstâncias, eram compelidos a
exercerem papéis políticos e de articulação para solucionar problemas coletivos.
A carência e, em muitos casos, a inexistência de políticas públicas estimulam
alguns moradores a se posicionarem em busca de melhores condições de vida.
Entretanto, tem-se a clareza de que esses processos, em muitas situações, são
mínimos e paulatinos, tendo em vista que toda luta contra-hegemônica requer mais
esforço, pois trata-se de um movimento contrário às ideologias individualistas e
competitivas, que estão postas na sociedade, e que são difundidas por aparelhos
ideológicos do Estado, empresas midiáticas etc. e, por isso, são assimiladas pela
população com mais facilidade.
No quadro 8, observa-se que foram entrevistados 13 síndicos, 3 conselheiros
fiscais, 3 subsíndicos e 1 síndico, e esse último também é presidente da Associação
de Moradores Vida Nova Aviário I. Os representantes do Residencial Viver Iguatemi
II estão no exercício de suas funções de 2 a 3 anos, já o grupo do Vida Nova Aviário
86
I desempenha as suas funções a mais 4 anos.
Quadro 8: Informações sobre a trajetória dos representantes dos residenciais
Viver Iguatemi II e Vida Nova Aviário I, 2016
Residencial Sujeitos
Função
Tempo que exerce (anos)
Vinculação com
Associação de Moradores
Viv
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Igua
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Acácia Conselheiro Fiscal 2-3 Não
Alecrim Síndico 2-3 Não
Alfazema Síndico 2-3 Não
Amarílis Síndico 2-3 Não
Anis Síndico 2-3 Não
Anêmona Conselheiro Fiscal 2-3 Não
Azaléa Conselheiro Fiscal 2-3 Não
Begônia Síndico 2-3 Não
Beladona Síndico 2-3 Não
Camélia Subsíndico 2-3 Não
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Cravo Síndico Acima de 4 Sim
Crisântemo
Síndico Acima de 4 Sim
Lis Síndico Acima de 4 Sim
Fúcsia Síndico Acima de 4 Sim
Gardênia Subsíndico Acima de 4 Sim
Genciana Síndico Acima de 4 Sim
Gerânio Síndico Acima de 4 Sim
Girassol Síndico Acima de 4 Sim
Hortência Subsíndico Acima de 4 Sim
Íris Síndico/Presidente da Associação de Moradores
Acima de 4 Sim
Fonte: Pesquisa de campo, 2016.
A vinculação com a Associação de Moradores só foi identificada nas
entrevistas com os moradores do Residencial Vida Nova Aviário I. Acerca disso, é
importante ressaltar que em ambos os bairros existem associações comunitárias, no
entanto, os moradores do Viver Iguatemi II desconhecem o trabalho da ASSOMIVI e
os moradores do Vida Nova Aviário I atribuem à associação muitas das conquistas
alcançadas para o bairro.
87
A trajetória dos representantes comunitários nos residenciais Viver Iguatemi II
e Vida Nova Aviário I possui similaridades, uma vez que a maioria dos entrevistados
informou que fazem parte dos grupos gestores por conta da necessidade. Assim,
80% dos representantes relataram que não tinham interesse em assumir nenhuma
função de gestão, mas, por força das circunstâncias, eles aceitaram. Essas
informações podem ser vistas nas falas a seguir:
Não fui eu mesmo que disse eu vou querer ser, o povo que me batizou (ACÁCIA, IGUATEMI II). Precisava ter alguém à frente para resolver as coisas, pagar as taxas, a energia [...] e eu acabei ficando (ALECRIM, IGUATEMI II). O povo que escolheu, né? [...] não ia deixar o meu bloco abandonado (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Por vontade ninguém quer, eu fiquei na preocupação e me responsabilizei (AMARÍLIS, IGUATEMI II). Na verdade, eu não queria ser, foi falta de opção, não tinha outras pessoas e resolveram me colocar (ANÊMONA, IGUATEMI II). Ninguém queria assumir, porque é uma dificuldade (AZALÉA, IGUATEMI II). Eu não queria, mas como o pessoal quis, eu aceitei (BELADONA, IGUATEMI II). Acharam que eu tinha condições de ser, mas eu disse que eu não tinha condições de nada (GENCIANA, AVIÁRIO I). Eu não queria, a síndica geral pediu para eu ficar arrecadando dinheiro e acabei ficando como síndica (HORTÊNCIA, AVIÁRIO I).
Existem outros exemplos de representantes que se preparam para isso,
mesmo sendo minoria. Dos entrevistados, alguns sujeitos demonstraram ter
interesse em se tornar integrante do grupo gestor do residencial e revelaram as suas
histórias na entrevista com vários exemplos de perseverança. Como exemplo, cita-
se a trajetória do síndico, nomeado neste Relatório como Crisântemo, que informou
ter se preparado durante seis meses, antes de ir morar no residencial, para exercer
a função de síndico. O seu objetivo fica claro no texto a seguir:
Eu estudava convenções de condomínio, eu já ensaiava reuniões, eu ansiava pelo momento de ver os moradores para nós construirmos um paraíso, eu achava que o meu prédio tinha que dá exemplo, inclusive parece que o meu prédio goza desse conceito. Primeiro, eu reuni os moradores e expliquei direitinho sobre direitos e deveres, além das reuniões eu coloquei debaixo da porta dos moradores a convenção do condomínio, a prestação de contas semestral. Eu passei seis meses varrendo o prédio para dar exemplo [...] Os trabalhos mais difíceis eu fazia questão de fazer como carregar o lixo, podar as árvores, eu gostava de dar o exemplo (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I).
88
É essencial que existam representantes comunitários em espaços de moradia
onde existem fragilidades ou, como ocorre na maioria das vezes, a inexistência de
serviços públicos básicos. Esse aspecto pode ser comprovado na fala da presidente
da Associação de Moradores do Vida Nova Aviário I:
O diferencial da Associação do Aviário I é que quando a gente buscava algum benefício, a gente não pensava só no residencial, mas em todo bairro. Nós acreditamos que nós fazemos parte do bairro, apesar de já existir um bairro e a gente ter sido inserido nele, um bairro com muitas dificuldades nos serviços prestados pelo município, mas a gente se via como parte daquela comunidade. Então buscamos, enquanto associação, nós reivindicamos que a frota de ônibus fosse aumentada, como aumentou em seis ônibus, nós buscamos a pavimentação, foi quando o atual prefeito se comprometeu com a comunidade em pavimentar, porque na verdade o projeto de pavimentação só ia até o presídio, então ele foi na comunidade e se comprometeu, e com o recurso do município a pavimentação foi até a frente do residencial. O ônibus, nós não tínhamos ônibus até a frente do residencial, tinha que descer em frente a Fazenda do Menor, onde era muito perigoso, escuro, porque tem uma área de matagal, então nós conseguimos ter um ponto de ônibus em frente ao residencial (ÍRIS, AVIÁRIO I).
Outra questão abordada foi em relação à contribuição dos moradores no
desenvolvimento do trabalho dos grupos gestores e se eles entendem a importância
da cooperação. Acerca disso, a maioria respondeu que a contribuição é pouca e
alguns afirmaram o seguinte:
Entendem, o problema é que eles não aceitam. Todas as vezes que eles vão aceitar deveres, eles reagem, porque só querem aceitar direitos. Isso tá na vida social, todo mundo só pensa no direito. O morador aqui, a maioria é de baixa escolaridade, ou seja, reagem mal a essa questão de ter deveres (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I). Alguns contribuem. Nem todos concordam, tem alguns que fazem de conta que nem moram (FÚCSIA, AVIÁRIO I).
Os entrevistados alegaram ter muita dificuldade com o fato de morarem em
prédios. Essa situação provoca problemas de convivência e fragiliza o processo de
pertencimento dos sujeitos no novo espaço de moradia. Muitos não preservam o
patrimônio, pois ainda não estabeleceram uma identidade com o local e isso se
reflete na baixa participação das reuniões que são realizadas pelos gestores para
discutirem como melhorar o espaço onde vivem.
Outra percepção é de que os processos de participação em comunidades
com altos índices de violência, pobreza e de exclusão das mais diversas formas
possuem um grau de dificuldade, atrelado ao fato de que os sujeitos, inseridos
89
nesse contexto, têm necessidades imediatas. Isso implica em dizer que, em muitas
situações, não há como passar por um movimento de luta paulatino, tendo em vista
que as demandas advindas da sobrevivência são urgentes.
Essas circunstâncias revelam a importância da representatividade
comunitária, principalmente, através da formação de uma associação. Isso se
comprova em muitas das falas dos moradores do Aviário, uma vez que eles sempre
se referem à presidente da associação de moradores quando relatam alguma
melhoria que ocorreu no bairro.
No Residencial Viver Iguatemi II alguns entrevistados informaram que não
sabiam a quem recorrer em algumas situações de urgência. Outro aspecto relevante
é o fato de que eles não demonstram serem pertencentes ao bairro Mangabeira
tanto quanto os moradores do residencial do Aviário. Nas entrevistas, quando
questionados sobre aspectos referentes ao bairro Mangabeira, muitos não souberam
responder ou sempre respondiam baseados na experiência vivida dentro do
residencial. Em muitos momentos, foi necessário relembrá-los que o Residencial
Viver Iguatemi II faz parte do bairro Mangabeira, mas ainda há dificuldade de se
sentirem parte desse contexto maior. Talvez, a explicação para isso seja o tempo de
vivência, tendo em vista que eles moram nesse residencial há um pouco mais de 2
anos.
5.3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO PODER PÚBLICO
Esta seção tem como objetivo compreender as alternativas utilizadas pelos
representantes comunitários para que o poder público cumpra o seu papel no que
concerne a seguridade dos serviços públicos básicos. Portanto, os elementos que
constituem esta etapa estão presentes na coleta de dados realizada nas oficinas e
em algumas questões da entrevista.
A análise da oficina 1, intitulada de “Quais são os problemas?”, foi relacionada
com as respostas coletadas através da entrevista, especificamente na questão 20,
com a seguinte pergunta: “Qual dos serviços assinalados é ofertado, mas não é
condizente com a demanda?”.
Desse modo, no que concerne aos problemas indicados na discussão da
oficina 1 e na questão 20, nos dois residenciais, pode-se observar no gráfico 2 que
os entrevistados demonstraram insatisfação no que concerne a prestação de
90
serviços públicos e consideraram, sobretudo, a educação, saúde, segurança pública,
limpeza das vias públicas, áreas verdes e áreas de lazer como insuficientes.
Ressalta-se que apenas os participantes do Residencial Vida Nova Aviário I
indicaram a pavimentação das vias públicas como problema.
Gráfico 2: Insuficiência da prestação de serviços públicos dos bairros Aviário e Mangabeira, Feira de Santana, 2016
Fonte: Entrevista semiestruturada (2015). Elaboração: Lidiane Oliveira.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
Educação
Saúde
Assistência Social
Transporte coletivo
Rede de esgoto
Coleta de lixo
Pavimentação das vias
Limpeza das vias
Acessibilidade
Área verdes
Áreas de lazer
Segurança Pública
Aviário
Mangabeira
91
Nas discussões da oficina alguns participantes indicaram os seguintes
problemas:
Falta de lazer, falta de posto médico que tenha tudo, a gente sai para procurar lá fora, as ruas têm quer ser mais limpas, não tem segurança 100%, deveria ter uma base policial aqui. As crianças aqui não têm lazer (GARDÊNIA, AVIÁRIO I). Aqui no condomínio não tem colégio com vagas perto. É tudo longe. Tudo perigoso. Já teve tiroteio e eu levando a minha filha para escola (HORTÊNSIA, AVIÁRIO I). Quando a gente chegou aqui não tinha nada plantado, a gente começou a plantar umas mudas e fazer jardins, a construtora deveria ter entregado com as áreas verdes (AZALÉA, IGUATEMI II).
Outra temática levantada na discussão sobre os problemas, tanto no
Residencial Viver Iguatemi II quanto no Residencial Vida Nova Aviário I, foi a
necessidade de eleger uma equipe responsável pela gestão condominial para que
ocorra a organização dos blocos no que diz respeito ao pagamento das taxas
condominiais, conservação patrimonial e estruturação de regras de convivência.
Sobre isso, os participantes falaram o seguinte:
São 20 moradores, aí faz reunião e aparece 5 ou 7 (CRAVO, AVIÁRIO I). É muito difícil uma pessoa se responsabilizar para organizar esse povo todo. Esse negócio de ter que coletar dinheiro, nem todo mundo quer pagar e ainda desconfia do síndico. A gente tenta organizar as coisas, mas até pra dividir a limpeza do bloco o pessoal não ajuda, o síndico acaba tendo que fazer tudo, senão fica entregue as baratas (ANIS, IGUATEMI II). A minha vida aqui depois de ser síndica só piora, as pessoas não me respeitam. Era pra ter organizado isso bem antes da gente vim morar, pra todo mundo ir se acostumando, as pessoas não sabem viver em prédio (FÚCSIA, AVIÁRIO I).
A análise documental dos Diagnósticos dos Residenciais Viver Iguatemi II e
Vida Nova Aviário I, elaborados pelas equipes técnicas do PCSC, corrobora a
problemática da carência de políticas públicas nos bairros Mangabeira e Aviário,
principalmente, devido ao crescimento habitacional vislumbrado na área com a
construção de empreendimentos do PMCMV. Nesse documento é pontuado que
existem equipamentos e prestação de serviços públicos, mas que os mesmos não
possuem a estrutura e qualidade necessárias para atender toda a população. No
caso do Aviário, a realidade é ainda mais precária, pois muitas famílias se deslocam
para outros bairros a procura de vagas em escolas e atendimentos de saúde (FEIRA
DE SANTANA, 2014).
92
Nas visitas de campo, em ambos os residenciais, observou-se a presença de
uma viatura policial que realiza a ronda de forma frequente. Esse fato contribuiu para
que alguns sujeitos ficassem com dúvida sobre a existência ou não de segurança
pública nos residenciais. Assim, a questão sugerida para reflexão foi “Você se sente
seguro?” Diante desse questionamento, os participantes avaliaram que a ronda
policial não garante segurança, apenas inibe temporariamente a ocorrência de
crimes, pois eles não se sentem seguros.
Dessa forma, discutiu-se sobre a necessidade de ações preventivas no
âmbito da segurança pública. Os moradores de ambos os residenciais já
vivenciaram ou presenciaram alguma situação de violência e eles declararam que a
polícia vai ao local quando acionada. No entanto, isso não garante a segurança.
A oficina 2, denominada como “Participação Social”, se baseou na questão
“De quem é o problema?” e no debate sobre a importância das decisões coletivas,
assim como na questão 5 da entrevista, que questiona aos sujeitos como é possível
trabalhar para o bem de todos.
Na perspectiva dos participantes da oficina, participação é:
Fazer a sua parte (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Participar das reuniões, pagar a bomba e ir aos mutirões de limpeza que a gente chama e poucos vão (GERÂNIO, AVIÁRIO I). Participar é falar a opinião da gente e trabalhar para melhorar (ANÊMONA, IGUATEMI II).
O termo participação, elucidado nesta oficina, foi descrito, inicialmente, como
o ato de participar ou fazer parte de algo. Logo em seguida, a discussão sobre
participação foi direcionada para a reflexão sobre o processo de tomada de
consciência do indivíduo direcionado para as necessidades da coletividade, com
vistas à efetivação da democracia, conforme a revisão bibliográfica da seção 3.
De acordo com Avritzer (2008, p. 47 apud OLIVEIRA, 2013, p. 34), o “[...]
sucesso dos processos participativos está relacionado [...] à maneira como se
articulam desenho institucional, organização da sociedade civil e vontade política de
implementar desenhos participativos”. Essa reflexão corrobora os posicionamentos
dos entrevistados sobre a questão se é possível trabalhar para o bem de todos, na
qual informaram que apesar das dificuldades eles acreditam que é possível.
Todavia, relatam que precisam do apoio do poder público e da cooperação dos
moradores. Acerca disso, cita-se algumas falas:
93
É possível se tiver todo mundo em acordo e se a prefeitura lembrar que a gente existe. Se uma pessoa só quiser, como diz o ditado, uma andorinha só não faz verão. Então se todos não chegar junto pra ajudar e procurar melhoria, não vai ser nada fácil pra um só fazer. A gente tem que saber aonde ir, a quem recorrer, a prefeitura tem que se abrir pra gente (ANIS, IGUATEMI II). Ninguém vive sozinho, a gente vive em um espaço que um tá precisando do outro. Então jamais eu vou fazer uma coisa pensando só em mim e em minha família (ÍRIS, AVIÁRIO I). Eu acho que todos têm que viver em comum, se preocupar. Se acontece um defeito na bomba, os 19 tem que se preocupar, não 1 ou 2 se preocupar. Um chega na janelinha e diz que tá sem água, mas não procura saber o que aconteceu. Pra gente melhorar tem que se unir (AMARÍLIS, IGUATEMI II).
Na oficina 2 deu-se uma ênfase não só ao significado da participação social,
mas, principalmente, ao fato de que é através dela que, no Estado democrático, é
possível que ocorra a inserção da sociedade civil nos espaços públicos para discutir,
sugerir, fiscalizar, implementar e deliberar sobre as políticas públicas da região onde
moram. A discussão também se baseou no entendimento de que a sociedade civil é
capaz de identificar as suas próprias necessidades e propor ações políticas.
No ítem 22 da entrevista, os sujeitos foram questionados se eles participaram
de alguma reunião para discutirem o projeto de construção do residencial onde
moram e todos declararam que não e que gostariam de ter participado. Esse fator
pode contribuir para que o envolvimento dos beneficiários com o novo espaço de
moradia seja difícil de ser estabelecido.
Nesses residenciais estudados, a PMFS só realizou um trabalho de
pertencimento após a entrega das habitações, através do desenvolvimento do
Trabalho Social, que, conforme outrora citado, possui um prazo estabelecido para
ser efetuado e tem inúmeras responsabilidades dentro dos empreendimentos. Isso
compromete a relação dos beneficiários com os seus vizinhos, com o bairro, com as
suas novas habitações.
No jogo rápido, denominado como “De quem é o problema?”, os participantes
receberam placas com os nomes “Meu”, “Todos” e “Poder Público”. Esclarece-se
que foi explicado aos participantes que eles poderiam levantar mais de uma placa
para cada demanda. Assim, na medida em que a facilitadora citava as demandas
identificadas na oficina 1, os participantes levantavam a placa que, na concepção
deles, correspondia ao responsável pela demanda.
94
Dessa forma, tomou-se como parâmetro a escolha da maioria e o resultado
do jogo, dividido por residencial, pode ser visto no Quadro 9. Vale ressaltar que onde
tiver o hífen significa que a demanda não foi pontuada pelos participantes.
A intenção desse jogo, além de identificar qual a compreensão dos
participantes em relação às responsabilidades individuais, coletivas e do poder
público, também foi a de promover uma discussão sobre essas responsabilidades,
tendo em vista as dúvidas que eles demonstraram ter em relação a esse tema.
Algumas questões geraram um debate que favoreceu a troca de conhecimentos.
Como exemplo, cita-se a ideia da “drogadição”, que gerou dúvidas no grupo do
bairro Mangabeira, tendo em vista que os participantes inicialmente pontuaram que
tratava-se de um problema individual. Após discutirem, perceberam que é uma
questão coletiva, que necessita do apoio da sociedade civil e, principalmente, do
poder público, através de ações de prevenção e da promoção de possibilidades de
educação e emprego para os jovens.
A poluição sonora, no grupo do bairro Mangabeira, também suscitou dúvidas
e, após o debate, os participantes chegaram à conclusão de que tratava-se de um
problema de responsabilidade de todos, mas que o poder público deveria intervir
caso o diálogo entre vizinhos não solucionasse a questão. No caso da saúde
bucal, todos os participantes da Mangabeira informaram que tratava-se de uma
demanda individual. No entanto, após as discussões, ficou claro que a saúde bucal
deve ser incluída nos serviços de saúde pública.
Na condução da oficina, os participantes, moradores do bairro Aviário,
chegaram ao entendimento de que, em alguns casos, é possível solucionar
questões sem a intervenção do poder público. No entanto, relataram que é difícil
mobilizar pessoas para executar determinadas tarefas, mesmo tratando-se de um
benefício para todos. Como exemplo, citaram a “poda” das árvores e a limpeza das
áreas comuns do residencial, que poderiam ser realizadas pelos próprios
moradores; contudo, uma minoria se envolve.
Nos dois residenciais, os serviços públicos de saúde, educação, segurança
pública, transporte coletivo e pavimentação das vias foram claramente identificados
como de responsabilidade do poder público. Com base nisso, fomentou-se no grupo
a reflexão do que fazer quando as políticas públicas são insuficientes, a quem se
deve recorrer, na perspectiva de estimulá-los para a discussão da oficina 3.
95
Sobre as questões: “Você vê o trabalho da Prefeitura aqui no bairro? Ela
oferece um espaço para ouvir os moradores? Caso não, como isso poderia ser
feito?”, a maioria dos entrevistados informou que percebem o trabalho da Prefeitura
nos bairros, mas que ainda é incipiente. Um dos aspectos mais citados foi a falta de
consulta a população. Eles informaram que não são ouvidos e que gostariam de
participar de reuniões promovidas pelo poder público nos bairros.
Sim. É um trabalho mínimo, mas ele existe. E esse mínimo é positivo, mesmo sendo mínimo. [...] A prefeitura gosta de vim falar, não gosta de ouvir. O prefeito quando veio aqui, veio muito pra falar, não veio pra ouvir. [...] A cidade de Feira de Santana já está hora de ser planejada de se dividir a cidade por zona, subprefeituras, subdelegacias e você descentralizar a coisa, a coisa tá centralizada e não pode atender todo mundo (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I). De vez em quando uma vez por mês ou de 6 em 6 meses eles deveriam aparecer aqui pra olhar pra gente, pra ouvir, aí ficava mais fácil (AMARÍLIS, IGUATEMI II).
Quadro 9: Resultado do jogo “De quem é o problema?”
Demandas identificadas Residencial Viver Iguatemi II
Residencial Vida Nova Aviário I
Carência de áreas de lazer Poder público Poder público
Carência de áreas verdes Poder público Meu
Poder público Todos
Coleta de lixo Poder público Todos
Poder público Todos
Convivência com os vizinhos Todos Todos
Drogadição Poder público Meu
Poder público Todos
Inexistência de creches - Poder público
Limpeza das áreas comuns do residencial
Todos Todos
Limpeza das vias públicas Poder público Todos
Poder público Todos
Pavimentação das vias públicas
Poder público Poder público
Poluição sonora Poder público Todos
Poder público Todos
Poda das árvores do residencial
- Poder público Todos
Saúde bucal Meu -
Saúde coletiva Poder público Poder público
Transporte coletivo Poder público Poder público
Vagas nas escolas Poder público Poder público
Violência Poder público Poder público Fonte: Pesquisa de campo, 2016.
96
No que concerne as questões “Diante dos problemas do bairro, em algum
momento vocês se organizaram para solicitar serviços na Prefeitura? De que forma
fizeram isso?”, a maioria dos entrevistados informou que nunca fizeram nada.
Todavia, alguns declaram o seguinte:
Sim, a gente já fez um trabalho desse na Secretaria de Habitação por um problema do bloco 16 e outras coisas que vieram acontecer, nos reunimos e fomos lá. Fomos bem recebidos e foram umas 20 pessoas, a gente tinha aqui no bloco um morador deficiente que queria fazer uma construção no fundo do bloco, eu fiquei sem saber o que fazer, fiz ofício e fui onde tinha que ir (ALFAZEMA, IGUATEMI II). Eu já fui com a presidente da associação questionar sobre a poda de árvore, o transporte mesmo a gente fez abaixo assinado. Quando eu cheguei aqui, era dentro da lama, e hoje melhorou o transporte e o calçamento da rua. A gente que solicitou, fizemos abaixo assinado. Na época da eleição dele, ele veio e a gente fez vários abaixo assinado. O ônibus não entrava aqui dentro do condomínio. Aí botaram um ônibus pra entrar aqui e agora melhorou muito (GARDÊNIA, AVIÁRIO I).
De acordo com as entrevistas e com as oficinas, percebeu-se que no
Residencial Viver Iguatemi II, localizado no bairro Mangabeira, as solicitações estão
relacionadas com o residencial em si, não houve relato de solicitações para
solucionar questões amplas, que envolvam o bairro. Os entrevistados do Residencial
Vida Nova Aviário I relataram solicitações que envolvem questões coletivas do
bairro, como o transporte público, pavimentação das vias. Além disso, há sempre um
relato que envolve a Associação de Moradores como parte fundamental nesse
processo de intermediação com a Prefeitura e de encaminhamentos.
Na oficina 3, intitulada com a questão “O que faz o poder público?”, foram
discutidos os seguintes aspectos: introdução da oficina com dinâmica sobre direitos,
discussão sobre o papel do poder público e sobre os canais de participação
institucionalizados em Feira de Santana.
Nesse sentido, no momento da dinâmica, os participantes citaram alguns
direitos, como saúde, alimentação, educação, transporte, lazer, segurança, dentre
outros. Essa etapa da oficina teve a intenção de promover um “quebra-gelo”, pois foi
realizada através da “dinâmica do barbante”; e, também, de compreender a
concepção dos sujeitos sobre direitos. Com isso, percebeu-se, nos dois residenciais,
que os participantes sabem quais são os seus direitos, mas relataram que nem
sempre lutam por eles, por não saberem a quem recorrer.
97
Na discussão sobre o papel do poder público, um dos participantes, morador
do Residencial Vida Nova Aviário I, informou que é o de servir o povo. Essa
afirmação conduziu o debate para o âmbito local e alguns sujeitos relataram o
seguinte:
Parte dos nossos problemas se dá pela falta de interesse do município em educar os seus munícipes. A prefeitura não educa o povo, ela não quer saber de organizar a população para que a sociedade possa progredir como um todo. Eles preferem o trabalho de assistencialismo, assistencialismo individual, porque o coletivo vai esclarecer a população e para os políticos de plantão isso não é bom (CRISÂNTEMO, AVIÁRIO I). Eu nem sei direito o que significa esse papel, tenho minhas dúvidas. As vezes os políticos parecem que tão fazendo um favor pra gente. Em outubro tem eleição e aí a gente vai ver os candidatos chamando a gente para participar de reunião, pra comprar o nosso voto. Isso é o chamado voto de cabresto, né? (GIRASSOL, AVIÁRIO I).
Na oficina realizada no Residencial Viver Iguatemi II os participantes disseram
que o papel do poder público é:
Trabalhar pra melhorar a vida da gente, pra pelo menos a gente criar os nossos filhos com educação, pra eles poder trabalhar mais tarde e sobreviver (CAMÉLIA, IGUATEMI II). Pagamos tanto imposto, a gente precisa ter um retorno desse dinheiro. A prefeitura tem que fazer a parte dela, o governo geral tem que fazer também, a gente tem que saber a quem recorrer, saber onde ir quando tiver problema. O papel deles é esse, ouvir e atender a população (ALECRIM, IGUATEMI II).
Nos dois residenciais os participantes demonstraram compreender que o
poder público deve estar a serviço da população. No entanto, foi necessário elucidar
que a sociedade civil também precisa estar atenta ao desempenho político dos seus
representantes. Dessa forma, para que ocorra a seguridade de direitos e a melhoria
das condições de vida da população, a participação social é imprescindível, essa é
uma das conquistas, bem como uma responsabilidade da sociedade civil dentro do
Estado democrático.
De acordo com o Estatuto da Cidade, uma das diretrizes da política urbana é
“[...] a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população
e de associações representativas dos vários segmentos da Comunidade” e o “[...]
plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana” (BRASIL, 2004, p. 17 e 33).
98
Com isso, é importante, neste momento, traçar um paralelo sobre as
informações dos sujeitos de estudo com a análise, outrora realizada, sobre a
participação social na política de habitação em Feira de Santana. A realidade
identificada nos residenciais corresponde a forma como ainda é tratado o tema
participação social na Prefeitura. Se, por um lado, existe uma população que
desconhece os canais de participação social, que informa ter dificuldades de
recorrer ao poder público para acioná-lo quando necessário; por outro, observa-se
que o poder público ainda não dispõe de um Plano Diretor e não possui canais
abertos que permitam uma relação mais próxima com a população, que favoreçam o
diálogo e a promoção de ações políticas condizentes com as necessidades locais.
Sabe-se que a introdução de concepções democráticas e participativas não
ocorre de forma “milagrosa”. É necessário investir em ações socioeducativas para
que assim seja possível informar a população e estimular a inserção de sujeitos nos
espaços políticos. Trata-se de semear uma mudança de hábitos, na qual os sujeitos,
que antes assumiam uma postura passiva, obtenham a oportunidade de vislumbrar
a possibilidade de atuar de forma propositiva, pessoas que refletem e discutem
sobre a cidade onde moram.
É um trabalho socioeducativo paulatino, mas que é imprescindível para que
ocorra a gestão da cidade de forma democrática. Não se pode perder de vista que a
participação é um instrumento de reivindicação por melhores condições de vida, e,
em decorrência disso, não deve ser uma responsabilidade atribuída apenas ao
poder público. Se assim for, os processos participativos serão limitados e perderão a
força popular.
A participação social possibilita a concretização da cidadania, e, para Souza,
“[...] o caminho democraticamente mais legítimo para se alcançarem mais justiça
social e uma melhor qualidade de vida é quando os próprios indivíduos e grupos
específicos definem os conteúdos concretos e estabelecem as prioridades” (2006b,
p. 66).
Contudo, quando se trata da efetivação da participação institucionalizada, da
qual trata-se neste texto, é necessária a abertura de canais por parte do poder
público. Nas oficinas, foram socializadas as informações sobre esses canais no
município de Feira de Santana e apenas uma participante, moradora do Residencial
Vida Nova Aviário I e presidente da associação de moradores, tinha conhecimento
sobre a existência e o funcionamento dos Conselhos Municipais.
99
Assim, foram apontados todos os conselhos municipais existentes, o
endereço onde estão localizados e a competência dos mesmos de possibilitar uma
discussão sobre políticas públicas com a presença da sociedade civil, uma vez que
os conselhos possuem as atribuições de fiscalizar, implementar e deliberar sobre
políticas.
Todas as oficinas executadas proporcionaram aos participantes um
entendimento sobre as responsabilidades coletivas e do poder público e
promoveram um estímulo aos sujeitos a se tornarem atuantes nas esferas de
participação social. Isso proporcionou, minimamente, um contato com novas
possibilidades de pensar sobre o espaço de moradia e sobre as políticas públicas.
Assim, o trabalho de campo foi a base para a elaboração do guia Participação
Social no Âmbito da Política de Habitação em Feira de Santana. A ideia de criar um
instrumento de cunho socioeducativo veio da compreensão de que ofertar
informações sobre a participação social é fundamental para estimular a população a
buscar melhores condições de vida e, também, colabora com o trabalho da gestão
municipal.
Com base nisso, o guia elaborado é a materialização desses conhecimentos
e uma forma de fazer com que esta pesquisa contribua de forma educativa para que
a população seja informada sobre a participação social.
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão da categoria participação social como meio para o alcance de
políticas públicas é um debate relevante, especialmente na área da habitação em
Feira de Santana, uma vez que a cidade está em expansão. Com base na análise
presente neste documento, percebeu-se que esse crescimento possui
características de exclusão e injustiça social, uma vez que os espaços de moradia
foram construídos e habitados antes da constituição dos serviços públicos básicos,
como exemplo dos bairros Mangabeira e Aviário.
Assim, depreende-se sobre a importância deste estudo para a sociedade e
para a academia, por possuir elementos que caracterizam o controle social
desenvolvido no município de Feira de Santana e as alternativas que os
representantes comunitários executam, mesmo que minimamente, para melhorarem,
em seu novo espaço de moradia, a qualidade da mobilidade urbana, dos serviços de
saúde e de assistência social, a segurança pública, dentre outras políticas.
Além disso, uma das características deste trabalho foi a identificação das
fragilidades dos processos de participação social em Feira de Santana. Com isso, a
intenção foi de consubstanciar proposições de participação social, importantes tanto
para a sociedade civil quanto para o bom funcionamento da gestão pública em Feira
de Santana. Espera-se, também, contribuir para outros municípios, uma vez que o
fenômeno da expansão imobiliária está presente em todo o país e a participação é
uma estratégia que promove o empoderamento e a organização comunitária.
No percurso da investigação houve momentos de vulnerabilidade decorrentes
da falta de locais adequados para a realização das oficinas e da existência de
situações de violência, inclusive, que coincidiram em acontecer com esta
pesquisadora durante algumas visitas de campo. O acesso aos documentos da
PMFS, em alguns momentos, foi difícil, principalmente, porque as pessoas
responsáveis pela documentação tinham pouco tempo para disponibilizá-los para
consulta. Apesar dos percalços, a aplicação das técnicas metodológicas resultou
em uma coleta de dados satisfatória.
A discussão sobre políticas públicas, na seção 2, evidenciou a ligação
intrínseca dessas com a relação capital versus trabalho e com a questão social,
principalmente, no sentido de que, diante das mazelas sociais decorrentes do modo
de produção capitalista, o Estado passou a investir em medidas sociais para sanar,
101
minimamente, as desigualdades sociais. Isso, sem se desvincular dos interesses da
própria reprodução do capital, e o mercado imobiliário, voltado para a habitação
popular, é um caso exemplar dessa dinâmica.
Essa reflexão foi à base da discussão sobre a política habitacional no Brasil,
que é abordada neste trabalho como uma política pública social. Assim, a
contextualização histórica das políticas sociais, da política de habitação no Brasil do
Governo Getulista ao Governo de Lula, e, nesse ínterim, a identificação de
incipientes estratégias de participação comunitária adotadas pelo Estado nesse
período, demonstraram a relevância em unir essas temáticas no debate sobre
habitação e participação.
A seção 3 contemplou a participação social como categoria de análise, mas,
também, revelou alguns resultados. Foi importante adotar a escala de participação
social de Souza (2006a), pois tal abordagem teórica estabeleceu um parâmetro para
o reconhecimento de que em Feira de Santana a participação é incipiente,
especialmente no âmbito da habitação, que é o foco desta pesquisa. Observou-se,
com base na pesquisa documental, nas visitas às Secretarias e à Casa dos
Conselhos, que trata-se de uma pseudoparticipação, por possuir um caráter
informativo, sobremodo, porque o poder público municipal não possui canais ativos
de participação no âmbito da habitação, como, por exemplo, o Conselho Municipal
das Cidades, que, apesar de criado, ainda não encontra-se atuante.
O breve contexto histórico de Feira de Santana e análise da caracterização
dos bairros Mangabeira e Aviário, bem como dos residenciais Viver Iguatemi II e
Vida Nova Aviário I, revelaram a vulnerabilidade dos núcleos familiares que
compõem o campo empírico deste estudo. A seção 4 demonstrou como a exclusão
social é uma característica da realidade dos sujeitos que moram nesses bairros e a
existência de desigualdades gera a necessidade de representação comunitária.
Na seção 5, foi estabelecido o perfil sociodemográfico dos representantes
comunitários, sujeitos de pesquisa, e ocorreu a descrição das suas trajetórias. Foi
possível identificar que muitos moradores assumem o papel de representante por
não terem outra opção, alguns compreendem e querem ser, e a presença da
associação de moradores é um fator que contribui para que os moradores se sintam
representados e seguros. Foram evidenciadas dificuldades de adequação aos novos
espaços de moradia e, principalmente, para os que assumem alguma função de
gestão, pois relatam ter dificuldades na hora de recolher o valor das taxas
102
condominiais, assim como, de estimularem os moradores a zelarem pelo patrimônio
e se organizarem.
Ainda nesta seção supracitada, ficou evidente a carência de diálogo entre a
população e o poder público local. Os sujeitos entrevistados, em sua maioria,
desconhecem as possibilidades que a participação social oferece no âmbito da
tomada de decisões sobre as políticas públicas.
A Constituição Federal e o Estatuto das Cidades são referências históricas
que legitimaram a população como capaz de participar do planejamento da cidade
onde moram. Nos quesitos legalização e normatização, a participação social se
fortaleceu intensamente nas últimas décadas. No entanto, a sua prática ainda é
tímida e incipiente, pois, de acordo com os resultados da pesquisa, poucos sujeitos
se interessam em se apropriar da participação social.
A ideia não é “culpabilizar” a sociedade civil ou o poder público pelo atual
cenário da participação social em Feira de Santana, e até mesmo no Brasil. O que
se pretende é demonstrar que as estratégias de aplicação dos mecanismos de
participação social precisam ser revisadas e trabalhadas nas comunidades com um
envolvimento maior. A gestão do município, além de sancionar leis e decretos,
necessita instituir canais participativos que, de fato, desenvolvam o trabalho do
controle social e também deve atentar-se para a divulgação desses canais e para a
acessibilidade dos mesmos.
O que se sugere é a criação de instrumentos socioeducativos, realização de
capacitações para a sociedade civil e para os servidores públicos, especialmente,
para os que trabalham nos equipamentos da política de educação, assistência social
e saúde. Tendo em vista que esses profissionais estão mais próximos das
comunidades.
O envolvimento da sociedade civil é fundamental para que ocorra a gestão
democrática. A inexistência de diálogo com o poder público compromete o
desenvolvimento das políticas, uma vez que só ao ouvir a população é possível
identificar as suas reais demandas.
A elaboração do guia, resultado deste trabalho, provém da observação de que
há uma carência de informações sobre a participação social. Trata-se de uma
estratégia que visa ao menos sensibilizar os sujeitos e despertar a curiosidade deles
sobre o tema. Compreende-se que isso não irá mudar o contexto da participação
social no município, mas pode, ao menos, mitigar a falta de informação e de diálogo
103
entre a sociedade civil e o gestor público.
Enfatiza-se, nestas considerações finais, a compreensão de que este tema
não se finda nesta pesquisa e de que há um respeito por todo o conhecimento que
foi ofertado pelos sujeitos deste estudo. Esse respeito provém do reconhecimento de
que todos os indivíduos possuem as suas próprias estratégias para viver, na maioria
das vezes sobreviver, nesse mundo desigual.
Com isso, ressalta-se que o desenvolvimento deste trabalho resultou em uma
troca de conhecimentos, na qual não houve a intenção de desprezar os saberes
populares ou de incutir nos sujeitos os saberes técnicos. Reconhece-se a
importância da ação do indivíduo na sua rotina diária, com a realização das suas
tarefas corriqueiras e a sua luta por uma vida melhor com as armas que possui.
Este trabalho demonstrou que os beneficiários do PMCMV entrevistados
possuem dificuldades de adaptação aos novos espaços de moradia, por conta da
carência de acompanhamento e de infraestrutura dos bairros. Todavia, identificou-
se, ainda que sumariamente, pessoas que se organizam, buscam alternativas para
zelar pelos seus novos lares e para estimular os seus vizinhos a fazerem o mesmo.
Diante disso, a ideia de criar um instrumento de cunho socioeducativo é uma
forma de retribuir a esses sujeitos pela abertura das suas casas e das suas
trajetórias.
104
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112
APÊNDICES
Apêndice A: Roteiro de entrevista semiestruturada
I DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Sujeito de estudo: _______________________________ nº da entrevista _____
II INFORMAÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS:
1. Sexo: ( ) M. ( )F. 2. Espaço de moradia: ___________
3. Estado Civil:
( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) separado(a) ( ) viúvo(a) ( ) outros
4. Faixa etária:
( ) menor de 20 anos ( ) 21 a 25 anos ( ) 26 a 30 ( ) 31 a 40 anos
( ) 41 a 45 anos ( ) 46 a 50 ( ) 51 a 55 anos ( ) 56 a 60 anos
( ) mais de 60 anos
5. Filhos: ( ) sim ( ) não
6. Número de filhos: ____
7. Escolaridade:
( ) não alfabetizado ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental
completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo
( ) Nível Superior incompleto ( ) Nível Superior completo
8. Profissão: ____________________________________________________
9. Situação ocupacional: ___________________________________________
10. Recebe algum benefício: ( ) sim ( ) não Qual? _______________
11. Renda mensal individual: ( ) Nenhuma ( ) Até ½ SM ( ) Até 1 SM ( ) Até 2
SM ( ) Até de 3 SM
12. Renda mensal familiar: ( ) Nenhuma ( ) Até ½ SM ( ) Até 1 SM ( ) Até 2 SM
( ) Até 3 SM
13. Situação de moradia: ( ) sozinho(a) ( ) com família ( ) com parentes
14. Tempo de moradia: ( ) 1 a 2 anos ( ) 2 a 3 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) acima de 4
anos
15. Condições de moradia anterior: ( ) própria ( ) alugada ( ) cedida ( ) invadida
16. Função: ( ) Presidente da Associação de Moradores
113
( ) Integrante da diretoria da Associação de Moradores ( ) Síndico
( ) Subsíndico ( ) Outros
17. Tempo que exerce a função: ( ) 1 a 2 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) acima de 4 anos
18. No bairro/empreendimento onde mora tem Associação de Moradores:
( ) Sim ( ) Não
19. Caso a resposta seja sim, está vinculado a Associação do bairro:
( ) Sim ( ) Não
20. Qual dos serviços assinalados é ofertado, mas não é condizente com a
demanda:
( ) Acessibilidade para pessoas com deficiência ( ) Manutenção das áreas verdes
( ) Áreas de lazer ( ) Segurança pública ( ) Limpeza das vias
( ) Educação ( ) Saúde ( ) Assistência Social ( ) Transporte coletivo
( ) Rede de esgoto ( ) Coleta de lixo regular ( ) Pavimentação das vias públicas
21. Você participou de alguma reunião para discutir sobre projeto de construção do
residencial onde mora? ( ) Sim ( ) Não
22. Caso a resposta seja não, gostaria de ter participado? ( ) Sim ( ) Não
III INFORMAÇÕES QUALITATIVAS
1. Antes de ter sido contemplado com essa casa onde você morava e como
eram as suas condições de vida?
2. Como descreve a sua história como representante comunitário nessa
comunidade?
3. Os moradores contribuem no desenvolvimento do seu trabalho? Eles
entendem a importância da cooperação de todos?
4. Você se voluntariou para exercer essa função ou foi por força de outras
circunstâncias? Quais circunstâncias?
5. Para você como é possível trabalhar para o bem de todos?
6. Você vê o trabalho da Prefeitura aqui no bairro? Ela oferece um espaço para
ouvir os moradores? Caso não, como isso poderia ser feito?
7. Diante dos problemas do bairro, em algum momento vocês se organizaram
para solicitar serviços na Prefeitura? De que forma fizeram isso?
114
Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
O senhor(a) está sendo convidado a participar de uma pesquisa, cujo tema é:
Representantes comunitários e participação em empreendimentos do PMCMV: a
construção de um guia.
A referente pesquisa é desenvolvida pela aluna, Lidiane Rios de Oliveira, do
Mestrado Profissional em Planejamento Territorial, da Universidade Estadual de
Feira de Santana, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia,
sob a orientação do Prof. Dr. Janio Santos.
Ressalta-se que a sua participação não é obrigatória e em qualquer momento
poderá desistir e retirar o seu consentimento, onde sua recusa não lhe trará nenhum
tipo de prejuízo.
É importante esclarecer que sua identidade será mantida em sigilo e que suas
opiniões jamais serão associadas ao seu nome quando da publicação dos
resultados do trabalho. Será garantido o respeito à sua integridade física, psíquica,
moral, intelectual, social e espiritual. As informações serão analisadas e os
resultados apresentados no trabalho acadêmico. Esses dados serão arquivados por
cinco anos e depois destruídos, sendo seu conteúdo utilizado apenas em pesquisas
e publicações.
O presente estudo é de fundamental importância, pois visa analisaras
estratégias de participação social adotadas pelos moradores, no que concerne ao
acesso aos serviços de mobilidade urbana, saúde, assistência social e educação,
com base no estudo dos empreendimentos do PMCMV, localizados no bairro
Mangabeira, em Feira de Santana. Se você concordar em participar, deverá assinar
este termo. Uma cópia dele ficará com você e a outra com a pesquisadora
responsável.
Agradecemos a sua participação.
Feira de Santana, ____ de ___________________ de 2016.
____________________________________________ Lidiane Rios de Oliveira
____________________________________________
Entrevistado
115
Apêndice C: Roteiro das oficinas
QUAIS SÃO OS PROBLEMAS?
Carga Horária
Local Associação de Moradores
Nº de participantes 6 a 10 representantes
Objetivo Conhecer as demandas locais.
Introdução Dinâmica de apresentação de
todos os presentes e pergunta: Como
vim parar aqui nesse bairro?
Essa pergunta tem a finalidade
de propor uma reflexão sobre a
participação desses sujeitos no
processo que antecedeu a
construção dos
empreendimentos.
15 min
Desenvolvimento Utilização da técnica
“Tempestade de ideias” para
identificação dos problemas locais.
30 min
Conclusão Organização das ideias expostas e
incentivo a pensarem em soluções a
serem discutidas no próximo encontro.
5 min
Avaliação Avaliação oral. 10 min
Total - 60 min
116
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Carga Horária
Local Associação de Moradores
Nº de participantes 6 a 10 representantes
Objetivo Debater sobre a importância da
coletividade em prol da seguridade de
políticas públicas no bairro.
Introdução Jogo rápido denominado “De
quem é o problema?” com perguntas
sobre as responsabilidades individuais,
coletivas e do poder público.
Serão utilizadas placas com os
nomes: Meu, Todos e Poder
Público, que serão expostas
como resposta as perguntas que
o moderador fará.
15 min
Desenvolvimento Discussão sobre:
Qual a importância de decidir
coletivamente;
Os ganhos advindos das
decisões coletivas no que
concerne a seguridade de
direitos e serviços públicos;
Qual a responsabilidade de cada
um na melhoria da qualidade de
vida da comunidade.
30 min
Conclusão Espaço aberto para dúvidas. 5 min
Avaliação Avaliação oral. 10 min
Total - 60 min
117
O QUE FAZ O PODER PÚBLICO?
Carga Horária
Local Associação de Moradores
Nº de participantes 6 a 10 representantes
Objetivo Esclarecer o papel do poder
público diante das necessidades locais
expostas na reunião anterior.
Introdução Pergunta: Quais são os meus
direitos?
15 min
Desenvolvimento Discussão sobre o direito à
moradia e toda infraestrutura necessária
para que se tenha qualidade de vida;
Apresentação dos serviços
públicos:
Saúde,
Mobilidade urbana,
Assistência social,
Educação,
Saneamento.
Informações sobre os canais e
veículos de participação abertos pelo
poder público.
30 min
Conclusão Incentivo a participarem das instâncias
de controle social e a lutarem por
melhores condições de vida.
5 min
Avaliação Avaliação oral. 10 min
Total - 60 min
118
ANEXO
Anexo A: Guia Participação Social no Âmbito da Política de Habitação em Feira
de Santana