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DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL AA ANO LXIV - 24 - SÁBADO, 14 DE FEVEREIRO DE 2009 - BRASÍLIA-DF

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DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

AA

ANO LXIV - Nº 24 - SÁBADO, 14 DE FEVEREIRO DE 2009 - BRASÍLIA-DF

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MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS (Biênio 2009/2010)

PRESIDENTE MICHEL TEMER – PMDB-SP

1º VICE-PRESIDENTE MARCO MAIA – PT-RS

2º VICE-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO – DEM-BA

1º SECRETÁRIO RAFAEL GUERRA – PSDB-MG

2º SECRETÁRIO INOCÊNCIO OLIVEIRA – PR-PE

3º SECRETÁRIO ODAIR CUNHA – PT-MG

4º SECRETÁRIO NELSON MARQUEZELLI – PTB-SP

1º SUPLENTE MARCELO ORTIZ – PV-SP

2º SUPLENTE GIOVANNI QUEIROZ – PDT-PA

3º SUPLENTE LEANDRO SAMPAIO – PPS-RJ

4º SUPLENTE MANOEL JUNIOR – PSB-PB

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

SUMÁRIO

SEÇÃO I

1 – ATA DA 011ª SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, ORDINÁRIA, DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA, DA 53ª LEGISLATU-RA, EM 13 DE FEVEREIRO DE 2009

* Inexistência de quorum regimental para abertura da sessão

I – Abertura da sessãoII – Leitura e assinatura da ata da sessão

anteriorIII – Leitura do expediente

OFÍCIOS

N° 58/09 – Do Senhor Deputado Henrique Edu-ardo Alves, Líder do Bloco PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB, encaminhando a relação dos Deputados do citado Bloco que integrarão a Comissão Especial destinada a proferir parecer à PEC nº 117-A/03. ...... 03960

N° 808/08 – Da Senhora Deputada Janete Capiberibe, Presidente da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, comunicando a apreciação do PL nº 3.416/08. ..... 03960

RELATÓRIOS DE VIAGEM

OF. S/N°/08 – Do Senhor Marco Antonio Nu-nes Ribeiro, Chefe-de-Gabinete da Presidência da Câmara dos Deputados, encaminhando os relató-rios de viagem dos Deputados Marcondes Gadelha, Dr. Ubiali, Nelson Pellegrino, Celso Russomanno, Leandro Sampaio, Valdir Colatto, Renato Molling, Celso Russomanno, José Paulo Tóffano, Germano Bonow, Luiz Carlos Hauly e Fernando Ferro. ........ 03961

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO

Nº 321/2009 – Do Sr. Jair Bolsonaro – Acres-centa parágrafo ao art. 166 da Constituição Federal. 03983

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR

Nº 443/2009 – Do Sr. Chico Alencar – Altera o caput e o inciso XIV do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que “estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º, da Constituição Fede-ral, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências”. ......................... 03986

PROJETOS DE LEI

Nº 4.593/2009 – do Sr. Nelson Goetten – Dis-põe sobre o assédio moral nas relações de traba-lho. ......................................................................... 03986

Nº 4.600/2009 – do Sr. Vital do Rêgo Filho – Altera dispositivos da Lei nº 8.069, de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, para dispor sobre a adoção internacional. ..................... 03993

Nº 4.602/2009 – do Sr. Vital do Rêgo Filho – Altera o art. 19 da Lei nº 10.671, de15 de maio de 2003 – Estatuto de Defesa do Torcedor. ................ 03994

Nº 4.605/2009 – do Sr. Marcos Montes – Acrescenta um novo artigo 985-A à Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, para instituir a empresa individual de responsabilidade limitada e dá outras providências. ......................................................... 03995

Nº 4.606/2009 – do Sr. Roberto Britto – Dis-põe sobre a obrigatoriedade do Governo Federal a arcar com custos dos livros didáticos destinados aos alunos da Educação Básica das redes públicas.... 03997

Nº 4.609/2009 – do Sr. William Woo – Altera a redação do Decreto-Lei nº 2.284, de 10 de março de 1986, concedendo o benefício do seguro-desem-prego aos brasileiros que trabalham no exterior. ... 03998

Nº 4.610/2009 – do Sr. José Guimarães – Mo-difica a Lei nº 9.954, de 06 de janeiro de 2000, que dispõe sobre a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF, e dá outras providências. ....................................... 03998

Nº 4.611/2009 – do Sr. Ciro Pedrosa – Acres-centa o inciso XXIV ao art. 1º do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, que “dispõe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências”. ............................................. 03999

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 1.373/2009 – do Sr. Chico Alencar – Es-tabelece critérios para o pagamento de ajuda de custo a Parlamentar a título de indenização. ......... 04000

INDICAÇÕES

Nº 3.619/2008 – da Comissão de Direitos Hu-manos e Minorias – Sugere ao Ministro da Secreta-ria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a criação do Observatório de Prevenção e Repressão a práticas de racismo e exploração se-xual de crianças e adolescentes durante a Copa do Mundo de 2014, incluindo a necessidade de participação de órgãos governamentais brasileiros e organismos nacionais e internacionais que com-

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03958 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

batam o racismo, lutam pelo respeito aos Direitos Humanos e pela proteção à infância. .................... 04000

Nº 3.636/2009 – do Sr. Carlos Zarattini – Suge-re ao Ministério das Comunicações procedimentos necessários para regulamentação da atividade de franquia postal da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT ................................................ 04001

PROPOSTA DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE

Nº 68/2009 – do Sr. Dr. Pinotti – Propõe que a Comissão de Fiscalização e Controle realize ato de fiscalização e controle em procedimentos e re-cursos federais destinados ao funcionamento e à manutenção das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). .................................................................... 04002

RECURSOS

Nº 237/2009 – do Sr. Paulo Henrique Lustosa – Recorre contra a apreciação conclusiva do ato que outorga permissão ao Sistema Beija Flor de Radio-difusão Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Milhã, Estado do Ceará (TVR nº 816, de 2008), nos termos do Projeto de Decreto Legislativo nº 1.107 de 2008. ................................................................. 04002

Nº 241/2009 – da Srª. Elcione Barbalho – Contra a apreciação conclusiva do Projeto de Lei nº 419, de 1999, que “Altera o § 2º do art. 148 da Lei nº 9.503, de 1997, e dá outras providências”, e dos apensados: PL 697, de 1999 e PL 1496, de 1999. ...................................................................... 04003

REQUERIMENTOS

Nº 4.107/2009 – Do Senhor Tadeu Filippelli – Requer a retirada das emendas de números: 33, 47, 60, 65, 82, 103, 185, 214 e 308, de sua autoria, apresentadas à Medida Provisória nº 449/2008. ... 04005

Nº 4.117/2009 – Do Senhor José Linhares – Requer convocação de sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem à Campanha da Fraternidade 2009. ................................................ 04005

PRESIDENTE (Nilson Mourão) – Abertura da sessão.................................................................... 04006

IV – Pequeno Expediente

CHICO LOPES (Bloco/PCdoB – CE) – Re-púdio às críticas de partidos oposicionistas ao Pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva por realização de eventos com suposta motivação eleitoral. ............. 04006

VELOSO (Bloco/PMDB – BA) – Suspensão, pela Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, de restrições impostas ao funcionamento do Ae-roporto Jorge Amado, no Município de Ilhéus, Es-tado da Bahia. Expectativa quanto à realização de investimentos governamentais no Aeroporto. Indig-nação do orador com a transferência compulsória de superintendentes regionais pela Presidência da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuá-ria – INFRAERO. Elaboração, pela sociedade civil

organizada, de documento a favor da permanência do Sr. Edylson Pereira no cargo de Superintendente do Aeroporto Jorge Amado. ................................... 04006

NILSON MOURÃO (PT – AC) – Indignação do orador ante a agressão física praticada contra a advogada brasileira Paula Oliveira na Suíça. Exi-gência, pelo Governo brasileiro, de esclarecimento dos fatos por parte das autoridades daquele país. 04007

CLEBER VERDE (Bloco/PRB – MA) – Impe-riosidade da promulgação, pelo Congresso Nacio-nal, da proposta de emenda à Constituição sobre a recomposição numérica das Câmaras Municipais brasileiras. Retomada dos trabalhos da Frente Par-lamentar em Defesa dos Aposentados e Pensionis-tas. Expectativa de realização, pela Comissão de Finanças e Tributação, de audiências públicas para debate da extinção do fator previdenciário como critério para concessão de aposentadorias. Caráter inaceitável da desvinculação do reajuste do salário mínimo dos benefícios previdenciários. ................. 04008

V – Grande Expediente

ULDURICO PINTO (Bloco/PMN – BA) – Con-siderações sobre a crise econômica mundial e seus efeitos no Brasil. Identificação da especulação fi-nanceira com base em títulos derivativos como causa da crise. Razão das condições favoráveis da economia brasileira. Relevância da proteção ao emprego e à renda dos trabalhadores brasileiros. Consequências da crise para a economia dos Es-tados Unidos da América. Queda dos indicadores econômicos brasileiros relacionados à produção e ao emprego. Avaliação de cenários prováveis para a economia do País. Necessidade de preservação da credibilidade do sistema financeiro nacional. .. 04009

NILSON MOURÃO (PT – AC) – Vinculação entre as eleições realizadas no Estado de Israel e os ataques à população palestina na Faixa de Gaza. Natureza genocida das investidas militares israelenses na região. Ascensão da ultradireita no Estado judeu e queda da influência do Partido Tra-balhista, de orientação política moderada e secular. Imperiosidade da consolidação de Estado palestino para a pacificação da região. ................................. 04012

RICARDO QUIRINO (PR – DF) – Associação ao pronunciamento do Deputado Nilson Mourão acerca do conflito entre israelenses e palestinos. Necessidade de fomento da educação pública para o desenvolvimento do País. Importância da Lei n° 11.738, de 2008, sobre a fixação do piso salarial nacional para os profissionais do magistério da educação básica. Apresentação do Projeto de Lei nº 3.757, de 2008, sobre a obrigatoriedade da ins-talação de dispositivo de sonorização em salas de aula do ensino médio ou superior com 40 ou mais alunos. Medidas do Governo do Distrito Federal em prol dos professores da rede de ensino público. ... 04015

CAPITÃO ASSUMÇÃO (Bloco/PSB – ES) – Biografia militar e política do orador. Atuação do

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03959

Parlamentar em defesa da segurança pública, do desenvolvimento econômico sustentável e da jus-tiça social. ............................................................. 04019

CHICO LOPES (Bloco/PCdoB – CE – Pela ordem) – Apoio ao pronunciamento do Deputado Marcondes Gadelha sobre a criação, pela Casa, de Comissão Especial destinada ao acompanhamento da execução do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco. ............................................ 04023

MOREIRA MENDES (PPS – RO – Pela or-dem) – Incremento das exportações do agronegócio brasileiro. Protesto contra a execução de dívidas de produtores rurais por instituições bancárias no Município de Vilhena, Estado de Rondônia. Rego-zijo com a edição da Medida Provisória nº 458, de 2009, sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal. .............................. 04023

VELOSO (Bloco/PMDB – BA – Pela ordem) – Indignação do orador com o percentual aplicado ao reajuste das aposentadorias pagas pela Previ-dência Social. ....................................................... 04025

VALDIR COLATTO (Bloco/PMDB – SC – Pela ordem) – Urgente regularização fundiária dos Es-tados brasileiros. Defesa da aprovação do Código Ambiental Brasileiro. Necessidade de adoção, pelo Governo Federal, de medidas efetivas em prol do setor produtivo. ..................................................... 04025

Apresentação de proposições: Não foram apresentadas proposições. .................................... 04027

VI – Comunicações Parlamentares(Não houve oradores.) ................................. 04027VII – Encerramento2 – DECISÕES DA PRESIDÊNCIA: Arquivem-

se, nos termos do § 4º do artigo 164 do RICD, os Projetos de Lei que especifica. .............................. 04038

Arquivem-se, nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD, os Projetos de Lei que especifica. ......... 04038

Arquivem-se, nos termos do artigo 133 do RICD, os Projetos de Lei nºs 1.466/96 e 5.111/05. 04038

3 – PARECER – Projeto de Lei nº 3.416-A/08. ...................................................................... 04038

COMISSÃO

4 – NOTAS TAQUIGRÁFICASa) Comissão de Direitos Humanos e Mino-

rias, Audiências Públicas, em 17, 23 e 29.04.08 e em 14.05.08. .......................................................... 04039

SEÇÃO II

5 – MESA6 – LÍDERES E VICE-LÍDERES7 – DEPUTADOS EM EXERCÍCIO8 – COMISSÕES

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03960 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

SEÇÃO I

Ata da 11ª Sessão, em 13 de fevereiro de 2009Presidência dos Srs.: Chico Lopes, Nilson Mourão, Ricardo Quirino e Veloso,

§2º do art. 18 do Regimento Interno

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Não haven-do quorum regimental para abertura da sessão, nos termos do § 3° do art. 79 do Regimento Interno, aguar-daremos até meia hora para que ele se complete.

O Sr. Chico Lopes, § 2º do art. 18 do Re-gimento Interno, deixa a cadeira da presidên-cia, que é ocupada pelo Sr. Nilson Mourão, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

I – ABERTURA DA SESSÃO (às 9 horas e 30 minutos)

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) – Declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.

II – LEITURA DA ATA

O SR. CHICO LOPES, servindo como 2° Secre-tário, procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) – Passa-se à leitura do expediente.

O SR. CHICO LOPES, servindo como 1° Secre-tário, procede à leitura do seguinte

III – EXPEDIENTE

OF/GAB/I/Nº 58

Brasília, 11 de fevereiro de 2009.

A Sua Excelência o SenhorDeputado MICHEL TEMERPresidente da Câmara dos Deputados

Senhor Presidente,Em atenção ao Ofício nº 72/2009, encaminho

a Vossa Excelência a relação dos nomes dos Depu-tados do Bloco PMDB, PTB, PSC, PTdoB, PTC que integrarão a Comissão Especial destinada a apreciar a Proposta de Emenda à Constituição nº 117-A, de

2003, que “acrescenta o inciso VI e o § 10 ao Art. 144 da Constituição Federal, criando as polícias da Câma-ra dos Deputados e do Senado Federal, e dá outras providencias.”.

TITULARES SUPLENTES

Laerte Bessa Fátima PelaesMarcelo Melo Geraldo PudimMauro Lopes

Outrossim, informo que as vagas restantes serão preenchidas oportunamente.

Atenciosamente, – Deputado henrique eduardo alves, Líder do BLOCO.

Publique-se.Em 13-02-09. – Michel Temer, Presidente

da Câmara dos Deputados.

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Ofício Presidente nº 808/08 – CAINDR

Brasília, 17 de dezembro de 2008

A Sua Excelência o Senhor Deputado Arlindo ChinagliaPresidente da Câmara dos DeputadosAssunto: Publicação do PL nº 3.416/2008

Senhor Presidente,Em cumprimento ao disposto no art. 58 do Regi-

mento Interno, comunico a Vossa Excelência a apre-ciação do Projeto de Lei nº 3.416 de 2008, por este Órgão Técnico.

2. Solicito a Vossa Excelência autorizar a pu-blicação da referida Proposição e do Parecer a ela oferecido.

Respeitosamente, – Deputada Janete Capibe-ribe, Presidente.

Publique-se.Em 13-02-09. – Michel Temer, Presidente

da Câmara dos Deputados.

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PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 321, DE 2009

(Do Sr. Jair Bolsonaro e outros)

Acrescenta parágrafo ao art. 166 da Constituição Federal.

Despacho: Apense-se à(ao) PEC-385/2005.

Apreciação: Proposição Sujeita à Apre-ciação do Plenário

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se-nado Federal, nos termos do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte emenda ao texto cons-titucional:

Art. 1º Fica acrescido, no art. 166, o § 9º, com a seguinte redação:

“Art. 166 ................................................ ..............................................................§ 9º As emendas parlamentares de ini-

ciativa individual incluídas nos orçamentos públicos são de execução obrigatória, não se lhes aplicando contingenciamento de dotações ou retenção de recursos.”

Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vi-gor na data de sua publicação.

Justificação

A prática do contingenciamento das dotações orçamentárias e o atraso na execução da programa-ção financeira banalizaram-se no Brasil, em todas as esferas da Administração. Depois de meses de discus-sões e negociações nas Casas Legislativas, os orça-mentos públicos são aprovados e os Poderes Execu-tivos tornam-se verdadeiros árbitros do processo de execução orçamentária e financeira, decidindo, com apoio da burocracia dos diversos níveis, o que pode ou não ser executado. É o que se convencionou justi-ficar como sendo o caráter autorizativo do orçamento, sem nenhum compromisso com os programas de tra-balho, com a implementação dos planos de governo, com o pacto estabelecido com a sociedade mediante a intermediação dos Poderes Legislativos.

Pior que isso é o fato de tais práticas reiteradas e abusivas terem institucionalizado um tipo de relação que, de um lado, hipertrofia os poderes do Executivo, e de outro amesquinha as prerrogativas do Legislativo. O aspecto vicioso se traduz na barganha sistemática, que leva à negociação obscura dos descontingenciamentos de dotações e das liberações de recursos, o conhecido processo do “toma-lá-dá-cá”, em que o Executivo con-diciona o descontingenciamento e a liberação à apro-vação de proposições de seu interesse e à tramitação

quase exclusiva de matérias de iniciativa do Executivo, em detrimento de uma pauta que inclua questões de maior transcendência e de longo alcance, de iniciativa parlamentar, representativas da sensibilidade e da le-gitimidade que o contato permanente e muito próximo de cada Deputado e de cada Senador com suas bases confere às preocupações manifestadas e às proposições apresentadas pelos mandatários do povo.

Deste modo, animado pela perspectiva de recu-perar e materializar o papel e as funções do Congresso Nacional, venho solicitar o decidido apoio dos ilustres Pares à aprovação desta PEC.

Sala das Sessões, 3 de fevereiro de 2009. – Deputado Jair Bolsonaro, Câmara dos Deputados, Secretaria-Geral da Mesa, Serviço de Análise de Pro-posições – SERAP, ( Fones: 3216-1110 / 1111 / 1112 – Fax: 3216-1105 – e-mail: [email protected] )

CONFERÊNCIA DE ASSINATURAS

(53ª Legislatura 2007-2011) 10/02/2009 13:07:24Proposição: PEC 0321/09Autor da Proposição: JAIR BOLSONARO E OU-TROSData de Apresentação: 03/02/2009Ementa: Acrescenta parágrafo ao art. 166 da Cons-tituição Federal.Possui Assinaturas Suficientes: SIMTotais de Assinaturas: Confirmadas 173Não Conferem 011Fora do Exercício 003Repetidas 040Ilegíveis 000Retiradas 000Total 227

Assinaturas Confirmadas

ABELARDO CAMARINHA PSB SPADEMIR CAMILO PDT MGALDO REBELO PCdoB SPALEX CANZIANI PTB PRALFREDO KAEFER PSDB PRALICE PORTUGAL PCdoB BAALINE CORRÊA PP SPANDRÉ DE PAULA DEM PEANSELMO DE JESUS PT ROANTONIO BULHÕES PMDB SPANTÔNIO CARLOS BIFFI PT MSANTONIO CARLOS CHAMARIZ PTB ALANTONIO CRUZ PP MSARIOSTO HOLANDA PSB CEARMANDO ABÍLIO PTB PBASSIS DO COUTO PT PRÁTILA LIRA PSB PI

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03984 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

AUGUSTO FARIAS PTB ALBARBOSA NETO PDT PRBENEDITO DE LIRA PP ALBERNARDO ARISTON PMDB RJBETINHO ROSADO DEM RNBONIFÁCIO DE ANDRADA PSDB MGBRIZOLA NETO PDT RJBRUNO RODRIGUES PSDB PECARLOS EDUARDO CADOCA PSC PECELSO MALDANER PMDB SCCHICO ALENCAR PSOL RJCIRO PEDROSA PV MGCLEBER VERDE PRB MACOLBERT MARTINS PMDB BADANIEL ALMEIDA PCdoB BADARCÍSIO PERONDI PMDB RSDAVI ALCOLUMBRE DEM APDAVI ALVES SILVA JÚNIOR PDT MADELEY PSC RJDEVANIR RIBEIRO PT SPDILCEU SPERAFICO PP PRDOMINGOS DUTRA PT MADR. NECHAR PV SPDUARTE NOGUEIRA PSDB SPEDIGAR MÃO BRANCA PV BAEDINHO BEZ PMDB SCEDIO LOPES PMDB RREDMILSON VALENTIM PCdoB RJEDUARDO CUNHA PMDB RJEDUARDO DA FONTE PP PEEDUARDO LOPES PSB RJEFRAIM FILHO DEM PBELIENE LIMA PP MTELISEU PADILHA PMDB RSENIO BACCI PDT RSERNANDES AMORIM PTB ROEUGÊNIO RABELO PP CEEVANDRO MILHOMEN PCdoB APFÁBIO FARIA PMN RNFÁBIO SOUTO DEM BAFELIPE BORNIER PHS RJFÉLIX MENDONÇA DEM BAFERNANDO CORUJA PPS SCFERNANDO DE FABINHO DEM BAFERNANDO DINIZ PMDB MGFERNANDO FERRO PT PEFLAVIANO MELO PMDB ACFLÁVIO BEZERRA PMDB CEFRANCISCO TENORIO PMN ALGERALDO PUDIM PMDB RJGERALDO RESENDE PMDB MSGERSON PERES PP PAGIOVANNI QUEIROZ PDT PA

GIVALDO CARIMBÃO PSB ALGLADSON CAMELI PP ACILDERLEI CORDEIRO PPS ACJACKSON BARRETO PMDB SEJAIR BOLSONARO PP RJJEFFERSON CAMPOS PTB SPJERÔNIMO REIS DEM SEJILMAR TATTO PT SPJOÃO CAMPOS PSDB GOJOÃO DADO PDT SPJOÃO MAIA PR RNJOÃO MATOS PMDB SCJOÃO OLIVEIRA DEM TOJORGE KHOURY DEM BAJOSÉ CHAVES PTB PEJOSÉ MENTOR PT SPJOSÉ PAULO TÓFFANO PV SPJULIÃO AMIN PDT MAJÚLIO CESAR DEM PIJUTAHY JUNIOR PSDB BAJUVENIL PRTB MGLAERTE BESSA PMDB DFLÁZARO BOTELHO PP TOLEANDRO VILELA PMDB GOLELO COIMBRA PMDB ESLEONARDO QUINTÃO PMDB MGLEONARDO VILELA PSDB GOLINCOLN PORTELA PR MGLINDOMAR GARÇON PV ROLUCENIRA PIMENTEL PR APLUCIANA COSTA PR SPLUIZ BASSUMA PT BALUIZ CARLOS BUSATO PTB RSLUIZ PAULO VELLOZO LUCAS PSDB ESMAGELA PT DFMAINHA DEM PIMARCELO ORTIZ PV SPMÁRCIO FRANÇA PSB SPMARCIO JUNQUEIRA DEM RRMARCONDES GADELHA PSB PBMARIA HELENA PSB RRMÁRIO HERINGER PDT MGMAURÍCIO QUINTELLA LESSA PR ALMAURÍCIO RANDS PT PEMAURO NAZIF PSB ROMENDES RIBEIRO FILHO PMDB RSMILTON MONTI PR SPMOISES AVELINO PMDB TONEILTON MULIM PR RJNELSON MARQUEZELLI PTB SPNELSON MEURER PP PRNILMAR RUIZ DEM TONILSON MOURÃO PT AC

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03985

ODAIR CUNHA PT MGODÍLIO BALBINOTTI PMDB PROSMAR JÚNIOR PCdoB PIOSVALDO REIS PMDB TOPASTOR MANOEL FERREIRA PTB RJPASTOR PEDRO RIBEIRO PMDB CEPAULO HENRIQUE LUSTOSA PMDB CEPAULO LIMA PMDB SPPAULO PEREIRA DA SILVA PDT SPPAULO PIAU PMDB MGPAULO ROBERTO PTB RSPAULO ROCHA PT PAPAULO RUBEM SANTIAGO PDT PEPEDRO CHAVES PMDB GOPEDRO EUGÊNIO PT PEPEDRO HENRY PP MTPINTO ITAMARATY PSDB MAPOMPEO DE MATTOS PDT RSRAFAEL GUERRA PSDB MGRAIMUNDO GOMES DE MATOS PSDB CERATINHO JUNIOR PSC PRRENATO AMARY PSDB SPRENATO MOLLING PP RSRIBAMAR ALVES PSB MAROBERTO ROCHA PSDB MAROBERTO SANTIAGO PV SPRODRIGO ROLLEMBERG PSB DFROGERIO LISBOA DEM RJROGÉRIO MARINHO PSB RNRÔMULO GOUVEIA PSDB PBSANDRO MABEL PR GOSARAIVA FELIPE PMDB MGSEBASTIÃO BALA ROCHA PDT APSÉRGIO MORAES PTB RSSEVERIANO ALVES PDT BASILVIO COSTA PMN PESILVIO LOPES PSDB RJSOLANGE ALMEIDA PMDB RJTATICO PTB GOVALTENIR PEREIRA PSB MTVANDERLEI MACRIS PSDB SPVICENTINHO PT SPVICENTINHO ALVES PR TOVILSON COVATTI PP RSVITOR PENIDO DEM MGWALTER IHOSHI DEM SPWILLIAM WOO PSDB SPZÉ GERARDO PMDB CEZENALDO COUTINHO PSDB PAZONTA PP SC

Assinaturas que Não Conferem

CIRO NOGUEIRA PP PI

DR. PAULO CÉSAR PR RJFERNANDO NASCIMENTO PT PEFRANCISCO RODRIGUES DEM RRJOSÉ OTÁVIO GERMANO PP RSMANUELA D’ÁVILA PCdoB RSREGINALDO LOPES PT MGVITAL DO RÊGO FILHO PMDB PBWELLINGTON ROBERTO PR PBWILSON SANTIAGO PMDB PBZÉ GERALDO PT PA

Assinaturas de Deputados(as) fora do Exercício

JOSÉ EDMAR PR DFLUCIANO PIZZATTO DEM PRSANDRO MATOS PR RJ

Assinaturas Repetidas

ALDO REBELO PCdoB SPALEX CANZIANI PTB PRALFREDO KAEFER PSDB PRANDRÉ DE PAULA DEM PEÁTILA LIRA PSB PICELSO MALDANER PMDB SCCHICO ALENCAR PSOL RJCHICO ALENCAR PSOL RJCIRO NOGUEIRA PP PIDANIEL ALMEIDA PCdoB BADEVANIR RIBEIRO PT SPEDIO LOPES PMDB RREDUARDO CUNHA PMDB RJEDUARDO DA FONTE PP PEFELIPE BORNIER PHS RJJACKSON BARRETO PMDB SEJILMAR TATTO PT SPLAERTE BESSA PMDB DFLEONARDO VILELA PSDB GOLINCOLN PORTELA PR MGMAGELA PT DFMAINHA DEM PIMARCONDES GADELHA PSB PBMÁRIO HERINGER PDT MGMAURO NAZIF PSB ROMAURO NAZIF PSB ROMENDES RIBEIRO FILHO PMDB RSMILTON MONTI PR SPNELSON MARQUEZELLI PTB SPOSMAR JÚNIOR PCdoB PIPAULO LIMA PMDB SPPAULO PIAU PMDB MGPAULO ROBERTO PTB RSPINTO ITAMARATY PSDB MAPOMPEO DE MATTOS PDT RSSEVERIANO ALVES PDT BA

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03986 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

TATICO PTB GOVALTENIR PEREIRA PSB MTVILSON COVATTI PP RSZÉ GERALDO PT PA

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 443, DE 2009

(Do Sr. Chico Alencar)

Altera o caput e o inciso XIV do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que “estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências”.

Despacho: À Comissão de Constitui-ção e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD)

Apreciação: Proposição Sujeita à Apre-ciação do Plenário

O Congresso Nacional decreta:Art. 1o O caput e o inciso XIV do art. 22 da Lei

Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 22. Qualquer partido político, coliga-ção, candidato ou Ministério Público Federal poderá representar à Justiça Eleitoral, dire-tamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investiga-ção judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de cen-tro social ou assemelhado e de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:

.................................................... .”(NR).“XIV – julgada procedente a representa-

ção, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, inclusive servidor públi-co, cominando-lhes a sanção de inelegibili-dade para as eleições que se realizarem nos 3 (três) anos subseqüentes à eleição em que se verificou , além da cassação do registro do candidato diretamente beneficiado pela inter-ferência do poder econômico e pelo desvio ou abuso do poder de autoridade, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Fe-

deral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e processo crime, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar;

.................................................... ”(NR).

Art. 2º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.

Justificação

A proposição em epígrafe intenta alterar o art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 1990, com o ob-jetivo de incluir, entre as hipóteses de declaração de inelegibilidade, por meio da Ação de Investigação Ju-dicial Eleitoral (AIJE), a utilização indevida de centro social ou assemelhado em benefício de candidato ou de partido político.

Optou-se pela AIJE, tendo em vista, de um lado, que a espécie comporta ato de abuso do poder eco-nômico ou do poder de autoridade; de outro lado, se declarada procedente pela Justiça Eleitoral, os efeitos da AIJE atingirão não apenas o requerido, mas também todos aqueles que tenham contribuído para a prática do ato indevido ou abusivo, inclusive servidor público.

Estamos certos de que a transformação deste projeto de lei complementar em norma de direito po-sitivo contribuirá sobremodo para a normalidade e a moralidade do processo eleitoral

Em face do exposto, esperamos contar com o apoio de nossos pares no Congresso Nacional para a aprovação do presente projeto de lei complementar.

Sala das Sessões, 3 de fevereiro de 2009. – Depu-tado Chico Alencar.

PROJETO DE LEI Nº 4.593, DE 2009 (Do Sr. Nelson Goetten)

Dispõe sobre o assédio moral nas re-lações de trabalho.

Despacho: Apense-se à(ao) PL- nº 2.369/2003.

Apreciação:Proposição sujeita à apreciação conclu-

siva pelas Comissões – Art. 24 II

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Fica vedada na relação de trabalho a prá-

tica de qualquer ação ou a omissão que possam ca-racterizar o assédio moral.

§ 1º Entenda-se por assédio moral a reiterada e abusiva sujeição do empregado a condições de traba-lho humilhantes ou degradantes, implicando violação

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03987

à sua dignidade humana, por parte do empregador ou de seus prepostos, ou de grupo de empregados, bem como a omissão na prevenção e punição da ocorrên-cia do assédio moral.

§ 2º Não configura assédio moral o exercício do poder hierárquico e disciplinar do empregador e de seus prepostos nos limites da legalidade e do contra-to de trabalho.

Art. 2º Considera-se assédio moral nas relações de trabalho, dentre outras situações ilícitas:

I – a exposição do empregado a situação constran-gedora, praticada de modo repetitivo ou prolongado;

II – a tortura psicológica, o desprezo e a sone-gação de informações que sejam necessárias ao bom desempenho das funções do empregado ou úteis ao desempenho do trabalho;

III – a exposição do empregado, em prejuízo de seu desenvolvimento pessoal e profissional, a críticas reiteradas e infundadas, que atinjam a sua saúde físi-ca, mental, à sua honra e à sua dignidade, bem como de seus familiares;

IV – a apropriação do crédito do trabalho do em-pregado, com desrespeito à respectiva autoria;

V – a determinação de atribuições estranhas ou atividades incompatíveis com o contrato de trabalho ou em condições e prazos inexeqüíveis;

VI – a obstacularização, por qualquer meio, da evolução do empregado na respectiva carreira;

VII – a ocorrência das hipóteses previstas nas alíneas ‘a’, ‘b’, ‘d’, ‘e’ e ‘g’, do art. 483 da Consolida-ção das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

§ 1º A configuração de qualquer hipótese de as-sédio moral autoriza a rescisão indireta do contrato de trabalho, o pagamento em dobro de todas as verbas trabalhistas rescisórias, independentemente das dis-cussões sobre responsabilidade civil por danos morais, além da multa prevista nesta Lei.

§ 2º Além da indenização prevista no § 1º deste artigo, todos os gastos relativos ao tratamento médi-co do empregado, decorrentes de lesões à sua saúde física ou mental, em razão do assédio moral sofrido, serão pagos pelo empregador.

§ 3º O assédio moral configura hipótese de dano moral nas relações de trabalho, ensejando a respectiva indenização. O Juiz deverá considerar, para a fixação do valor indenizatório, entre outros fatores:

I – a posição social da vítima;II – a situação econômica do ofensor;III – a culpa do ofensor na ocorrência do evento,

quando superior hierárquico;

IV – as iniciativas preventivas e repreensivas do empregador e de seus prepostos no sentido de mini-mizar os efeitos da ocorrência do assédio moral;

V – a avaliação médica e psicológica para verifi-car o dano e o nexo causal relacionado ao meio am-biente do trabalho.

Art. 3º Pratica o assédio moral vertical tanto o superior hierárquico nas relações de trabalho quanto o empregador.

§ 1º O empregador é solidário e objetivamente responsável pelos atos de assédio moral do superior hierárquico ou de grupo de empregados de que trata este artigo.

§ 2º Praticam assédio moral horizontal dois ou mais empregados, quando debocham, ridicularizam, caluniam, difamam, injuriam, sonegam informações ou dificultam, por qualquer meio, o pleno desempenho das atividades laborais de outro empregado.

§ 3º O empregador e seus prepostos têm o de-ver de tomar medidas para prevenir a ocorrência de assédio moral, bem como, ciente de sua ocorrência, de promover imediatamente a devida apuração e pu-nição do infrator.

§ 4º As medidas preventivas ou punitivas de que trata o § 3º deste artigo não afastam a responsabilida-de objetiva e solidária do empregador.

Art. 4º Caracterizado o assédio moral, aquele lhe deu causa se sujeita às seguintes penalidades, independentemente da responsabilidade trabalhista, civil e penal:

I – advertência;II – suspensão;III – dispensa por justa causa;IV – multa.§ 1º A advertência será aplicada por escrito, nos

casos em que não se justifique a imposição de pena-lidade mais grave.

§ 2º A suspensão será aplicada em caso de rein-cidência em falta punida com advertência.

§ 3º A dispensa por justa causa será aplicada em caso de reincidência em falta punida com suspensão e mediante inquérito administrativo, assegurado o amplo direito à defesa e aos meios a ela inerentes.

§ 4º A multa será fixada segundo a gravidade dos atos configuradores do assédio moral, obrigatoriamente cumulada às demais penalidades, observando-se:

I – o percentual mínimo de vinte por cento sobre os valores das verbas rescisórias trabalhistas;

II – o percentual máximo de quarenta por cento sobre os valores das verbas rescisórias trabalhistas.

§ 5º Incorre em justa causa o superior hierárqui-co omisso em relação à prática de assédio moral ho-

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03988 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

rizontal por parte de grupo de empregados que lhes são subordinados direta ou indiretamente.

Art. 5º Esta lei entra em vigor na data da sua publicação.

Justificação

Até o presente momento, não há legislação espe-cífica regulando o assédio moral nas relações de traba-lho, que coíba de forma eficaz e eficiente esse instituto deletério, responsável pela desestruturação do meio am-biente do trabalho, além configurar fator de desrespeito à dignidade humana do trabalhador brasileiro.

Há inúmeras iniciativas estaduais e municipais, no sentido de coibir, mediante lei, a prática do assé-dio moral nas relações de trabalho: Lei Municipal nº 1.163, de 24.04.200, de Iracemápolis/SP; Lei Munici-pal nº 13.288, de 10.01.2002, de São Paulo/SP; Lei Municipal nº 3.243, de 15.05.2001, de Cascavel/PR; Lei Municipal nº 358, de 2002, de Guarulhos/SP; Lei Municipal nº 189, de 23.02.2002, de Natal/RN e a Lei Estadual nº 3.921, de 2002, do Rio de Janeiro.

O assédio moral ganha espaço, especialmente em momentos nos quais a economia não vai bem, e a oferta de empregos se torna menor que a deman-da por novos postos de trabalho, quadro esse que se acentuou nas últimas décadas do séc. XX e prosse-gue no atual.

Embora seja difícil estabelecer uma conceituação para o assédio moral, podemos defini-lo como uma con-duta abusiva e reiterada praticada contra o empregado pelo empregador ou por algum de seus prepostos com poder de mando sobre a vítima, deixando seqüelas na saúde física e psíquica do trabalhador, vulnerando o ambiente laboral, configurando inequívoca afronta à dignidade da pessoa humana do empregado.

Para Valentin Carrion1, o assédio moral é espécie de dano moral, por afetar os direitos de personalidade do trabalhador:

“Dano moral é o que atinge os direitos da personalidade, sem valor econômico, tal com a dor mental psíquica ou física. Independe das indenizações previstas pelas leis trabalhis-tas e se caracteriza pelos abusos cometidos pelos sujeitos da relação de emprego. As hi-póteses mais evidentes poderiam ocorrer na pré-contratacão (divulgação de fatos negativos pessoais do candidato), no desenvolvimento da relação e no despedimento por tratamento humilhante.”

1 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 33ª edição atualizada por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008, p-371.

O Dr. Heinz Leymann2, médico e psicólogo, já na década de 60, em trabalho pioneiro, identificava e conceituava o assédio moral:

“A deliberada degradação das condições de trabalho através do estabelecimento de comu-nicações não éticas (abusivas) que se caracteri-zam pela repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior ou colega(s) desenvolve(m) contra um indivíduo que apresenta, como reação, um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura.”

No entendimento da Ministra Maria Cristina Iri-goyen Pesuzzi3, do TST:

“A teoria do assédio moral se baseia no di-reito à dignidade humana, fundamento da Repú-blica Federativa do Brasil, como prevê o artigo 1º, inciso III, da Constituição. É possível citar também o direito à saúde, mais especificamente à saúde mental, abrangidas na proteção conferida pelo artigo 6º, e o direito à honra, previsto no artigo 5º, inciso X, também da Constituição.”

No vácuo da inexistência de legislação federal reguladora do tema, o Ministério do Trabalho e Em-prego, por meio da Portaria nº 604, de 1º de junho de 2000, assim procurou intervir:

“Art. 2º (...).............................................(...)II – propor estratégias e ações que visem

eliminar a discriminação e o tratamento degra-dante e que protejam a dignidade da pessoa humana, em matéria de trabalho.

(...)IV – acolher denúncias de práticas discri-

minatórias no trabalho, buscando solucioná-las de acordo com os dispositivos legais e, quando for o caso, encaminha-las ao Ministério Públi-co do Trabalho.”

Mas não se deve confundir os poderes diretivo e disciplinar do empregador com o assédio moral, en-quanto aqueles derivam da lei, este é oriundo da con-figuração do abuso de poder, como também entende Valentin Carrion4:

2 Apud MENEZES, Cláudio armando Couce. Assédio moral e seus efeitos jurídicos. Revista LTR 67-03, vol. 67, nº03, março de 2003, p-291.

3 FEIJÓ, Carmem. Matéria especial: assédio moral na Justiça do Trabalho. Tribunal superior do Trabalho. Assessoria de Comu-nicação Social. Informação para a Imprensa. Disponível em: http://www.tst.gov.br)

4 Ob. cit. p-371.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03989

“Não se caracteriza pelo simples exercício de um direito, como é a dispensa, mesmo imo-tivada, ou a revelação de fatos pelo emprega-do em sua defesa, quando acusado; a revista pessoal do trabalhador, ou a sua fiscalização por instrumentos mecânicos ou pessoas, só caracteriza dano moral se houver abuso des-necessário.”

Mas é de boa indicação deixar aqui registrada a advertência de Maurício Godinho Delgado5 sobre a existência de limites os poderes de mando do em-pregador:

“(...), é inquestionável que a Carta cons-titucional de 1988 rejeitou condutas fiscali-zatórias e de controle da prestação de ser-viços que agridam à liberdade e dignidade básicas da pessoa física do trabalhador. Tais condutas chocam-se, frontalmente, com uni-verso normativo e de princípios abraçado pela Constituição vigorante. É que a constituição pretendeu instituir um ‘Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem precon-ceitos, fundada na harmonia social...’ (Preâm-bulo da CF/88; grifos acrescidos). A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, constituída em Estado Democrático de direito (art. 1º, III, CF/88), que tem por alguns de seus objetivos fundamentais ‘construir uma sociedade justa e solidária’, além de ‘promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimi-nação’ (art. 3º, I e IV, CF/88)”

Também não se pode confundir assédio moral com agressões apenas pontuais ou mesmo com o estresse que advém de toda e qualquer atividade la-boral, mormente quando se vive num mundo cada vez mais competitivo. Conflitos individuais e esporádicos entre colegas igualmente não podem ser tidos como configuradores de assédio moral, sob pena de se exa-gerar na sua configuração, desprezando a existência de incômodos comuns na vida de relações, inclusive laborais.

5 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 5ª

edição, São Paulo: LTR, 2006, p-635.

Quanto à necessidade de reiteração de condu-ta destrutiva da estrutura psíquica, social e física do trabalhador, esclarecedora é a lição de Marie-France Hirigoyen6, uma das maiores especialistas mundiais sobre assédio moral, quando analisa que a ocorrência infrequente não tem o condão de caracterizar a agres-são, mas sim a sua prolongação no tempo, de forma insidiosa, sorrateira, destrutiva, traumatizante, exigindo-se, para tanto, efeitos temporalmente acumulados.

O assédio moral é fenômeno globalizado, sendo conhecido de quase todo o mundo, como nos esclarece José Carlos Ferreira7, em sua obra “Violência no local de trabalho”. Na Itália, Alemanha, Inglaterra e países escandinavos é denominado mobbing; nos Estados Unidos bullying; ijime, no Japão; na França fala-se em harcèlement moral e nos países de língua espanhola psicoteror laboral ou acoso moral.

Percebe-se em todos os conceitos doutrinários aqui colacionados, que a configuração do assédio mo-ral exige a reiterada prática de atitudes marcadamente abusivas, com o escopo de prejudicar o trabalhador, culminando por deixar-lhe seqüelas prejudiciais à sua saúde física e mental.

Vários são os dispositivos constitucionais que podem e devem ser invocados em defesa do traba-lhador que sofre as pressões do assédio moral, entre os quais:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

(...)III – a dignidade da pessoa humana;IV – os valores sociais do trabalho e da

livre iniciativa;(...)Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem

distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro-priedade, nos termos seguintes:

(...)V – é assegurado o direito de resposta,

proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem;

(...)

6 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Tradução de Rejane Jonowitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 202, p-17.7 FERREIRA, José Carlos. Violência no local de trabalho: as-sédio moral. Revista Jurídica Consulex, Ano X, nº 227, 30 de junho/2006, p-39.

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03990 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, as-segurado o direito a indenização pelo dano ma-terial ou moral decorrente de sua violação;

(...)XXIII – a propriedade atenderá a sua

função social;(...)Art. 6º São direitos sociais a educação,

a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a se-gurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

(...)Art. 170. A ordem econômica, fundada

na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos exis-tência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)III – função social da propriedade;(...)Art. 193. A ordem social tem como base

o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.”

É inegável que a Constituição Federal tem um perfil subjetivo, qual seja, o da dignidade da pessoa humana. A pessoa humana foi guindada ao centro dos interesses jurídicos nacionais. A dignidade da pessoa humana passa a ser o valor-fonte do próprio Direito, imprimindo de forma indelével uma dimensão subjetiva ao texto constitucional. A dignidade da pessoa humana é elevada à condição de um super-princípio.

Proteger o trabalhador contra as ofensivas do as-sédio moral é garantir-lhe os seus direitos fundamentais assegurados pelo texto constitucional vigente. É preci-so que o Legislativo crie mecanismos concretizadores dos direitos fundamentais do trabalhador.

O trabalhador é dotado de dignidade, não poden-do ser tratado como meio: ele será sempre um fim em si mesmo. Não se pode permitir mais o divórcio entre a execução de um contrato de trabalho e a ética.

Os direitos humanos passam a ser verdadeiros parâmetros de mensuração e validade das relações de trabalho e do exercício dos poderes proprietários (mando, fiscalização e disciplinador).

Na esteira do pensamento de Hannah Arendt, para quem “os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em cons-tante processo de construção e reconstrução”, é que estamos submetendo à consideração desta Casa, representação do povo brasileiro, esta proposição le-gislativa, que tem por escopo transformar-se em ins-

trumento de concretização dos direitos humanos dos trabalhadores brasileiros.

Também o Código Civil vigente dá suporte ao tra-balhador vítima do assédio moral, para que ingresse em juízo pleiteando a respectiva reparação econômica do dano sofrido, apesar da inexistência de legislação federal específica:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omis-são voluntária, negligência ou imprudência, vio-lar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

(...) Art. 932. São também responsáveis pela

reparação civil:(...)III – o empregador ou comitente, por seus

empregados, serviçais e prepostos, no exer-cício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;”

Na mesma linha de defesa, há dispositivos da CLT que podem e devem ser invocados:

“Art. 483 O empregado poderá conside-rar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;

b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor ex-cessivo;

(...)d) não cumprir o empregador as obriga-

ções do contrato;e) praticar o empregador ou seus pre-

postos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama;(...)

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários.”

Não é demais recordar que a saúde é um direi-to social garantido ao trabalhador pela Constituição Federal. O assédio moral, é de se reiterar, prejudica a saúde do trabalhador, e portanto deve ser combatido com firmeza.

As empresas acabam por se prejudicarem, quan-do não adotam práticas preventivas do assédio moral, ou mesmo quando não o reprimem exemplarmente. O

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03991

A Justiça do Trabalho tem contribuído muito para a redução das ocorrências de assédio moral, já que tem atuado sistematicamente não somente no seu reconhecimento no âmbito das relações de trabalho, como também impondo indenizações por danos mo-rais em vários casos concretos, de que são exemplos as jurisprudências abaixo:

“A tortura psicológica, destinada a golpear a auto-estima do empregado, visando forçar sua demissão ou apressar sua dispensa através de métodos que resul-tem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o âmbito profissio-nal, eis que minam a saúde física e mental da vítima e corrói a sua auto-estima. No caso dos autos, o assédio foi além, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de trabalho e, por conseqü-ência, descumprindo a sua principal obrigação que é a de fornecer trabalho, fonte de dignidade do empre-gado.” (TRT da 17ª Região Acordam nº 7660/2002,

Recurso Ordinário nº 1315.2000.00.17.00.1, Relatora Desembargadora Sônia das Dores Dionízio)

“A violência ocorre minuto a minuto, enquanto o empregador, violando não só o contrato, mas também, o disposto no § 2º do art. 461 consolidado – preceito imperativo – coloca-se na insustentável posição de exigir trabalho de maior valia, considerando o enqua-dramento do empregado, e observa contraprestação inferior, o que conflita com a natureza onerosa, sina-lagmática e comutativa do contrato de trabalho e com os princípios de proteção, da realidade, da razoabili-dade e da boa-fé, norteadores do Direito do Trabalho. Conscientizem-se os empregadores de que a busca do lucro não se sobrepõe, juridicamente, à dignidade do trabalhador como pessoa humana e partícipe da obra que encerra o empreendimento econômico.” (TST, 1ª Turma, Acordam nº 3.879, Recurso de Revista nº 7.642/86, 09.11.1987, Relator Ministro Marco Aurélio Mendes de Faria Mello)

8 BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações. São Paulo: EDUC, 2003.

primeiro reflexo se dá na produtividade da vítima, que culmina por reduzir a produção do empreendimento, causando prejuízos financeiros inevitáveis. Também o Estado perde, pois nos afastamentos superiores a quinze dias, são os recursos orçamentários da Previ-dência Social os responsáveis pela recuperação da saúde do trabalhador vitimado. O assédio moral, além de prejudicar a saúde física e psíquica do trabalhador,

também é uma “sanguessuga” de recursos financeiros e orçamentários privados e estatais.

Várias são as doenças que acometem os que sofrem assédio moral, como demonstra a pesquisa-dora Margarida Maria Silveira Barreto8, com a tabela abaixo, publicada em sua dissertação de mestrado intitulada “Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações”, defendida na PUC/SP:

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03992 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

EMENTA. RESCISÃO INDIRETA. CULPA DO EM-PREGADOR. ÔNUS DA PROVA. ARTS. 818 DA CLT E 333, I, DO CPC. Atribuindo ao empregador a culpa pela rescisão do contrato de trabalho, o reclamante atrai para si o ônus de provar suas alegações, já que fato constitutivo do seu direito. Comprovando a recla-mante com testemunhas de que foi xingada pela ge-rente, dentro da loja na frente de outros empregados e clientes da empresa, a sentença deve ser mantida. Re-curso improvido. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. O assédio moral se caracteriza por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e prolongada e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à perso-nalidade, à dignidade ou à integridade psíquica, que tenha por efeito ameaça do seu emprego e deteriorando o ambiente de trabalho. Para fazer jus à indenização por assédio moral o autor deve fazer prova nos autos da sua existência, fato que comprovou a reclamante. Recurso improvido. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. VALOR DA INDENIZAÇÃO. A indenização por danos morais, embora seja arbitrada pelo juiz, deve levar em consideração alguns critérios, tais como: a posição so-cial do ofendido, a situação econômica do ofensor, a culpa do ofensor na ocorrência do evento, iniciativas do ofensor em minimizar os efeitos do dano. Em suma, deve servir para punir o infrator e compensar a vítima. Deve ser um valor alto e suficiente para garantir a puni-ção do infrator, com o fito de inibi-lo a praticar atos da mesma natureza, cujo caráter é educativo, mas não a tal ponto capaz de justificar enriquecimento sem causa do ofendido. MULTA DO ART. 477, § 8º DA CLT. Não sendo pagas as verbas rescisórias no prazo legal, e não tendo o reclamante dado causa à mora, devida é a aplicação da referida multa. Independente da mo-dalidade do rompimento do vínculo, se por iniciativa do empregado ou do empregador, o pagamento das verbas rescisórias deve ser realizado no prazo legal (art. 477, § 6º, “b’, da CLT)” (TRT da 23ª Região, Re-curso Ordinário nº 02476.2006.036.23.00-3, 08.08.07, Relator Desembargador Osmair Couto)

“EMENTA. EXPRESSÕES PEJORATIVAS E PRE-CONCEITUOSAS. Trabalhador que, por repetidas ve-zes, é tratado em público por superior hierárquico de forma pejorativa e preconceituosa, procedimento que beira a discriminação racial, tem assegurado o direito de perceber indenização por dano moral.” (TRT da 12ª Região, Recurso Ordinário nº 00357.2003.024.12.00-3, 10.08.2004, Relator Desembargador C. A. Godoy Ilha)

“EMENTA: ASSÉDIO MORAL – PROCEDIMEN-TO VEXATÓRIO – ABUSO DE DIREITO – DEVER

DE BOA-FÉ E DE SOLIDARIEDADE – DANO E IN-DENIZAÇÃO – A exigência de que o empregado per-corra diversos setores da empresa, para verificação de pendências e devolução de material não pode ser aceita sob a justificativa de agilização do processo de dispensa. Ao contrário, configura atitude perversa que, deliberadamente, coloca o trabalhador, já desgastado pela perda do emprego, em situação constrangedora. Trata-se do dever de boa-fé que deve permear o con-trato de trabalho e não se encerra na rescisão. Há que se incentivar atitudes de solidariedade, na dispensa, que, além de reduzir os efeitos estressantes do pro-cesso demissional, impedirão que o demitido transmita informações negativas sobre a empresa. Há que se observar, ainda, que a defesa do patrimônio, pelo em-pregador, é lícita, desde que não transborde os limites necessários e atinja o patrimônio moral do trabalhador. Configurado o dano moral, a indenização se impõe, também como medida preventiva da reincidência. Re-curso provido, no particular, para condenar o réu ao pagamento de indenização por dano moral.” (TRT da 9ª Região, Recurso Ordinário nº 06689.2001.652.09.00-4, 28.05.2007, Relatora Desembargadora Marlene T. Fu-verki Suguimatsu)

De indiscutível valor no combate à ocorrência do assédio moral nas relações de trabalho, configurando um verdadeiro marco histórico, está a Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Trabalho do Estado do Rio Grande do Norte contra a AMBEV – Companhia de Bebidas das Américas, que culminou com a condena-ção da empresa ao pagamento de indenização no valor de um milhão de reais por assédio moral, em sede de Recurso Ordinário sob o nº 01034.2005.001.21.00-6, com confirmação da sentença condenatória pelo TRT da 23ª Região.

Os trabalhadores que não logravam alcançar as metas estabelecidas pela AMBEV eram obrigados a pagar certas “prendas” como receber e ouvir insultos, pagar flexões de braço, dançar na “boquinha da gar-rafa”, assistir a reuniões em pé, desenhar caricaturas num quadro, fantasiar-se e submeter-se a outras ati-tudes depreciativas.

Em face de todos os argumentos aqui expendi-dos, estamos apresentando ao debate desta Câmara dos Deputados, este projeto de lei, que esperamos converta-se em breve em lei, para assegurar efetiva proteção aos trabalhadores brasileiros contra os male-fícios do assédio moral nas relações de trabalho.

Para tanto, propomos a proibição de qualquer ação ou omissão que configurem assédio moral nas relações de trabalho, como estabelece o caput do art. 1º desta proposição legislativa, assim entendida a ati-tude reiterada e abusiva que sujeite o “empregado a

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03993

condições de trabalho humilhantes ou degradantes, por parte do empregador ou de seus prepostos, impli-cando violação à sua dignidade humana”. Tomamos o cuidado de prever, no § 2º que “o exercício do poder hierárquico e disciplinar do empregador e de seus prepostos nos limites da legalidade e do contrato de trabalho” não configura o assédio moral.

No art. 2º apresentamos um rol exemplificativo de cinco hipóteses configuradoras do assédio moral, qualquer uma delas permitindo a rescisão indireta do contrato de trabalho pelo empregado, conforme pre-visto no § 1º, além do direito ao recebimento em do-bro das verbas rescisórias trabalhistas, sem prejuízo da discussão sobre danos morais e da multa previs-ta no § 4º, incisos I e II do art. 4º. Também “todos os gastos relativos ao tratamento médico do empregado, decorrentes de lesões à sua saúde física ou mental, em razão do assédio moral sofrido, serão pagos pelo empregador”, como rege o § 2º.

A punição econômica do empregador, quando da ocorrência de hipóteses de assédio moral vertical ou horizontal, é alternativa eficaz, não somente porque compensa financeiramente a vítima, como, em espe-cial, pune os infratores, coibindo a reincidência desses atos deletérios das atividades laborais.

É imperativo que as indenizações por danos morais decorrentes da prática de assédio moral nas relações de trabalho sejam arbitradas judicialmente, considerando as particularidades do caso concreto, e a gravidade das ações e omissões configuradas, sob pena de indesejável tarifação do quantum debeatur.

Todavia entendemos que o magistrado deve con-siderar alguns parâmetros, entre os quais, a posição social da vítima; a situação econômica do ofensor; a culpa do ofensor na ocorrência do evento, quando su-perior hierárquico e as iniciativas preventivas e repre-ensivas do empregador e de seus prepostos no sen-tido de minimizar os efeitos da ocorrência do assédio moral, além de avaliação médica e psicológica para verificar o dano e o nexo causal relacionado ao meio ambiente do trabalho.

No art. 3º estabelecemos que tanto o emprega-dor quanto o preposto com mando podem ser respon-sabilizados pela prática do assédio moral vertical. A responsabilidade civil do empregador é objetiva, por-tanto com culpa presumida, e também solidária em relação aos atos de assédio moral praticados pelos seus prepostos ou por grupos de empregados autores de assédio moral horizontal. Impõe-se ao empregador “o dever de tomar medidas para prevenir a ocorrência de assédio moral, bem como, ciente de sua ocorrên-cia, de promover imediatamente a devida apuração e punição do infrator”, como estabelece o § 3º.

A iniciativa privada não detém um cheque em branco para preencher como bem entenda para a busca do lucro. A atividade econômica sempre se pauta pela busca do lucro, e isto é perfeitamente lícito e constitu-cional, entretanto essa empreitada não pode desco-nhecer o princípio da dignidade da pessoa humana, não pode vilipendiar o valor social do trabalho, razão pela qual é preciso que a Ordem Econômica seja pau-tada sob os ditames da ética laboral, com respeito à integridade física e psíquica da for;a de trabalho, sem a qual, inclusive, não há possibilidade de produção. Empregadores e prepostos com mando têm a inde-legável responsabilidade de criarem todos os meios possíveis para o estabelecimento de um equilibrado ambiente de trabalho, onde as potencialidades de cada trabalhador sejam desenvolvidas.

Por fim, no art. 4º, estabelecemos as diversas penalidades para os que praticam o ilícito do assédio moral, a serem aplicadas de forma gradativa e confor-me a gravidade das agressões: advertência (nos casos em que não se justifique a imposição de penalidade mais grave); suspensão (em caso de reincidência em falta punida com advertência); dispensa por justa causa (em caso de reincidência em falta punida com suspen-são e mediante inquérito administrativo, assegurado o amplo direito à defesa e os meios a ela inerentes) e multa, esta última cumulável com as demais sanções. No § 5º, propomos a criação de nova figura de justa causa, para o “o superior hierárquico omisso em rela-ção à prática de assédio moral horizontal por parte de grupo empregados que lhes são subordinados direta ou indiretamente”.

Diante dos fundamentos jurídicos e sociais desta iniciativa, esperamos contar com o inafastável debate, do qual surgirão muitas sugestões de aperfeiçoamento do presente texto, para que ele se torne instrumento efetivo de proteção da dignidade da pessoa humana do trabalhador brasileiro.

Sala das Sessões, 3 de fevereiro de 2009. – De-putado Nelson Goetten.

PROJETO DE LEI Nº 4.600, DE 2009 (Do Sr. Vital do Rêgo Filho)

Altera dispositivos da Lei nº 8.069, de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, para dispor sobre a adoção internacional.

Despacho: Às Comissões de: Segurida-de Social e Família e Constituição e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD)

Apreciação: Proposição sujeita à apre-ciação conclusiva pelas Comissões – Art. 24 II

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03994 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Esta Lei altera dispositivos da Lei nº 8.069,

de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Crian-ça e do Adolescente.

Art. 2º O art. 31 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte pará-grafo único:

“Art. 31. ................................................Parágrafo único. É vedado o deferimento

da adoção internacional antes de comprova-do terem sido esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou adolescente na fa-mília natural ou em família substituta residente e domiciliada no País.”

Art. 4º O art. 52 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte alteração:

“Art. 52. A adoção internacional é con-dicionada a estudo prévio e análise de uma comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente.

§ 1º Compete à comissão manter regis-tro centralizado de interessados brasileiros e estrangeiros na adoção.

§ 2º O deferimento da habilitação fica condicionado ao reconhecimento da capaci-dade social e psicológica dos interessados na adoção. “(NR)

Art. 5º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Justificação

Esta proposta tem por objetivo fortalecer o cum-primento dos direitos relativos à criança e ao adoles-cente previstos na Carta Magna.

Temos presenciado, pela mídia, diversos casos de violação de direitos fundamentais de jovens brasi-leiros, que, muitas vezes, acabam em impunidade ou caindo no esquecimento.

A adoção internacional é apenas um dos casos im-portantes que deve ser fiscalizado e acompanhado pelas autoridades, tendo em vista os freqüentes casos de ex-ploração de crianças e adolescentes praticados por meio do instituto da adoção. Nesta Casa, por várias vezes, já se investigou a prática de ações criminosas envolvendo crianças e adolescentes, levadas para o exterior com a finalidade de serem exploradas sexualmente.

Já se identificou, também, a utilização da ado-ção, para permitir a extração de órgãos de crianças e adolescentes por quadrilhas especializadas em tráfico de órgãos. Esses casos absurdos e monstruosos po-deriam ser evitados, se a adoção internacional fosse

precedida de cuidados, de pré-requisitos determinados e acompanhamento por uma comissão especializada, que pudesse constatar a idoneidade dos adotantes e o bem-estar dos adotandos nesses novos lares.

Por essa razão, estamos propondo algumas altera-ções na legislação aplicada à criança e ao adolescente, no que tange especificamente à adoção internacional, como forma de resguardar por conseguinte e em sentido amplo, a inviolabilidade dos direitos e garantias conferidos a estes nos termos da Lei Maior e Estatuto da Criança e do Adolescente. Deste modo, esperamos poder contar com o apoio dos nobres Pares para a sua aprovação.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Depu-tado Vital do Rêgo Filho.

PROJETO DE LEI Nº 4.602, DE 2009 (Do Sr. Vital do Rêgo Filho)

Altera o art. 19 da Lei nº 10.671, de15 de maio de 2003 – Estatuto de Defesa do Torcedor.

Despacho: Às Comissões de: Turismo e Desporto e Constituição e Justiça e de Cida-dania (Mérito e Art. 54, RICD)

Apreciação: Proposição Sujeita à Aprecia-ção Conclusiva Pelas Comissões – Art. 24 II

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º Esta lei altera o artigo 19 da Lei n° 10.671,

de 15 de maio de 2003.Art. 2° O artigo 19 da Lei n° 10.671, de 15 de maio

de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da competição, bem como seus dirigentes respondem solidariamente com as entidades de que trata o art. 15 e seus diri-gentes, em caso de comprovada culpa, pelos prejuízos causados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos estádios ou da ino-bservância do disposto neste capítulo. (NR)”

Art.3° . Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Justificação

A proteção e defesa conferidas ao torcedor me-diante a aprovação do Estatuto de Defesa do Torce-dor, nos termos da Lei n° 10.671, de 15 de maio de 2003, tem sido um instrumento de grande valia para todos os apaixonados pelas diversas modalidades de práticas esportivas.

No tocante à responsabilidade atribuída às enti-dades esportivas e seus dirigentes prevista no artigo 19 da mencionada lei, no nosso ponto de vista a sua redação precisa ser alterada.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03995

Sabemos que mesmo havendo as cautelas devi-das, especialmente nos estádios, há hipótese de ocor-rência de dano ao torcedor, embora após o advento do Estatuto do Torcedor essa incidência tenha reduzido no decorrer desse tempo. Levando-se em conta mui-tas das falhas detetadas na segurança desses locais, não obstante é patente que as próprias entidades envolvidas no evento e seus dirigentes não fazem a segurança desses lugares. Contando-se ainda para esse triste desfecho, as omissões e falhas dos agentes públicos, policiais que muitas vezes não dão a devida cobertura local. Talvez por despreparo destes acabam ferindo torcedores quando deveriam zelar pela integri-dade física dos mesmos.

Por outro lado também temos o posicionamento errôneo de torcedores que ao invés de permanecerem em determinado local no estádio, ultrapassam limites demarcados, sobem e pulam grades, cercas e, na maioria das vezes estes acabam atingindo e ferindo pessoas de outras alas, tanto por agressão física ou lançamento de objetos diversos. Fato infelizmente ainda comum e que precisa ser contido. Afinal, o Estatuto do Torcedor não parece muito apropriado nesse sentido, pois lança sobre os dirigentes e as entidades organiza-doras, ainda que tenham sido rigorosamente diligentes, a responsabilidade civil em razão de fato praticado por exemplo, por torcedores, policiais ou outras pessoas. Tal situação, como é fácil perceber, poderia até mesmo inviabilizar o esporte como atividade econômica, pois não estimula quem pretenda investir no ramo, pois de acordo com a redação em vigor do citado artigo, este pune os dirigentes e as entidades organizadoras, pe-los prejuízos causados a torcedor independente da existência de culpa.

Partindo desse ponto, apresentamos o presente Projeto de Lei com o objetivo de modificar o artigo 19 da Lei 10.671, de 15 de maio de 2003, estabelecendo que a responsabilidade das entidades esportivas e dos dirigentes pelos prejuízos causados ao torcedor que decorram de falhas na segurança dos estádios ou da inobservância do disposto no capítulo IV da lei em tela resultará da comprovação de culpa.

Assim, conto com o apoio dos membros desta Casa, no sentido da aprovação deste projeto de lei.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Deputado Vital do Rêgo Filho.

PROJETO DE LEI Nº 4.605, DE 2009 (Do Sr. Marcos Montes)

Acrescenta um novo artigo 985-A à Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, para ins-tituir a empresa individual de responsabili-dade limitada e dá outras providências.

Despacho: Às Comissões de: Desenvol-vimento Econômico, Indústria e Comércio e Constituição e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD)

Apreciação:Proposição sujeita à apreciação conclu-

siva pelas Comissões – Art. 24 II

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002,

passa a vigorar acrescida do seguinte art. 985-A:

“Art. 985-A. A empresa individual de res-ponsabilidade limitada será constituída por um único sócio, pessoa natural, que é o titular da totalidade do capital social e que somen-te poderá figurar numa única empresa dessa modalidade.

§ 1º A empresa individual de responsa-bilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração.

§ 2º A firma da empresa individual de responsabilidade limitada deverá ser forma-da pela inclusão da expressão “EIRL” após a razão social da empresa.

§ 3º Somente o patrimônio social da em-presa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio pessoal do empresário, conforme descrito em sua declaração anual de bens entregue à Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

§ 4º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada os dispositivos rela-tivos à sociedade limitada, previstos nos arts. 1.052 a 1.087 desta lei, naquilo que couber e não conflitar com a natureza jurídica desta modalidade empresarial.” (NR)

Art. 2º Esta lei entra em vigor no prazo de 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.

Justificação

Para justificar a importância de apresentarmos o presente projeto de lei, que tem o objetivo de instituir legalmente a “Sociedade Unipessoal”, também conhe-cida e tratada na doutrina como “Empresa Individual de Responsabilidade Limitada”, tomamos a liberdade de reproduzir o ótimo artigo publicado na Gazeta Mercantil de 30 de junho de 2003, pág. 1 do caderno “Legal e Jurisprudência”, sob o título “Sociedade limitada e a nova lei”, de autoria do Prof. Guilherme Duque Estrada

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03996 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

de Moraes, que é Diretor Vice-Presidente do Instituto Hélio Beltrão e um estudioso da matéria:

“Pelo menos desde os primeiros anos da década de 80, discute-se, no Brasil, a institui-ção da figura da “empresa individual de res-ponsabilidade limitada” ou, simplesmente EIRL. A idéia foi analisada no âmbito do Programa Nacional de Desburocratização, conduzido à época por seu criador, o saudoso Ministro Hélio Beltrão. Na ocasião, tinha-se em mente aplicar o conceito apenas às microempresas, cujo estatuto estava sendo então concebi-do pela equipe do programa. A prioridade no tratamento da questão tributária fez com que o exame da proposta de criação das EIRLs fosse adiado.

Já na década de 90, no âmbito do Pro-grama Federal de Desregulamentação, com o apoio e a colaboração dos então dirigentes do Departamento Nacional do Registro do Comércio, tive a oportunidade de apresentar ao governo um anteprojeto sobre o assunto. O propósito era permitir que o empresário, individualmente, pudesse explorar atividade econômica sem colocar em risco seus bens pessoais, tornando mais claros os limites da garantia oferecida a terceiros.

A essa altura, o conceito de “socieda-de unipessoal de responsabilidade limitada”, adotado na França e em outros países (ou de “estabelecimento individual de responsabilida-de limitada”, utilizado em Portugal) já estava inserido no direito europeu. O próprio Conse-lho da Comunidade Européia havia publicado uma diretriz com o objetivo de harmonizar o conceito no âmbito comunitário.

Mas, apesar de rapidamente consagrado na Europa, o conceito não havia sido absor-vido por alguns juristas brasileiros, que conti-nuavam a ver a limitação da responsabilidade indissoluvelmente associada ao conceito de sociedade, esse último exigindo, com aparente lógica, a reunião de pelo menos duas pessoas. Pareceres conservadores, nesse sentido, im-pediram que o Poder Executivo encaminhasse o projeto ao Congresso Nacional.

Outros anteprojetos criando as EIRLs chegaram a ser oferecidos ao governo. Des-taca-se, entre eles, o anteprojeto de nova lei das limitadas, recentemente produzido por uma comissão de eminentes juristas, coor-denada pelo Professor Arnold Wald, em que se admitia expressamente a EIRL. Esse ante-

projeto, entretanto, acabou sendo atropelado pelo novo Código Civil e a limitação da respon-sabilidade ao capital da empresa está, ainda hoje, no Brasil, condicionada à existência de uma sociedade.

O fato é que uma grande parte das socie-dades por quotas de responsabilidade limitada, designadas sociedades limitadas pelo novo Código Civil, foi constituída apenas para que se pudesse limitar a responsabilidade do em-presário ao valor do capital da empresa. A rigor, o que existe, nesses casos, é uma “sociedade faz-de-conta”: uma firma individual vestida com a roupagem de sociedade. Basta ver o número de sociedades em que um único sócio detém a quase totalidade do capital social ou em que os dois sócios são marido e mulher, casados em regime de comunhão universal de bens, situação que, aliás, poderá exigir grande nú-mero de alterações contratuais, já que o novo Código Civil não a admite.

O artifício de se criar uma “sociedade-faz-de-conta” gera enorme burocracia, pois, além de tornar mais complexo o exame dos atos constitutivos, por parte das Juntas Comer-ciais, exige alterações nos contratos, também sujeitas a um exame mais apurado das Jun-tas, para uma série de atos relativos ao fun-cionamento da empresa. Além disso, causa, também amiúde, desnecessárias pendências judiciais, decorrentes de disputas com sócios que, embora com participação insignificante no capital da empresa, podem dificultar inú-meras operações.

Ao transferir para o novo Código Civil as normas sobre a matéria, o legislador pre-ocupou-se, justificadamente, em proteger os interesses dos sócios minoritários das so-ciedades limitadas. É inegável, porém, que o cumprimento dos dispositivos do novo código também trará conseqüências burocráticas e custos administrativos adicionais para essas empresas, bem como para as Juntas Comer-ciais. É razoável que assim seja no caso das sociedades em que há, efetivamente, inte-resses minoritários a proteger. Não é o caso, porém, das sociedades constituídas apenas para efeitos de limitação da responsabilidade do empreendedor, titular, na prática, da totali-dade das quotas.

Questão mais complexa é a das socie-dades limitadas que passaram a ter um único sócio por motivo da morte ou retirada dos de-

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mais. Trata-se de situação aceita pela jurispru-dência, mas agora limitada a seis meses pelo novo Código Civil, que exige a admissão de um novo sócio ou a dissolução da sociedade ao fim desse prazo. Não seria mais simples a sua transformação em uma empresa individu-al de responsabilidade limitada? Claro, mas é difícil espanar a poeira do nosso proverbial formalismo jurídico.

Quase vinte anos de experiência em diver-sos países do primeiro mundo são o suficiente para atestar não haver contra-indicações para a aceitação das empresas individuais de responsa-bilidade limitada. E não são poucos esses países: França, Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Paí-ses Baixos, Alemanha, Reino Unido, a pioneira Dinamarca ... Sem falar de outros continentes. Aqui mesmo, na América do Sul, o Chile aca-ba de introduzir em seu ordenamento jurídico a empresa individual de responsabilidade limitada. Não faltarão, assim, referências ao legislador brasileiro, que poderá cercar-se dos cuidados necessários, como, por exemplo, determinar que uma mesma pessoa física ou jurídica não possa ser titular de mais de uma empresa individual de responsabilidade limitada.

O novo Código Civil concedeu um prazo de apenas um ano para que as sociedades limita-das existentes adaptem-se às suas normas. Pra-zo que se encerrará em janeiro de 2004. É um bom pretexto para tomarmos logo as medidas destinadas a acabar com as “sociedades faz-de-conta”, que só contribuem para aumentar a burocracia, dificultar a gestão empresarial e esti-mular a economia informal. A inserção da figura da EIRL no direito brasileiro pode proporcionar, certamente, uma grande desburocratização na criação e no funcionamento das empresas. Sobretudo das micro, pequenas e médias em-presas, que ficarão livres de diversos trâmites administrativos inerentes às sociedades e dos possíveis percalços provocados pela existência de um sócio com participação fictícia no capital da empresa. Por que esperar mais?”

Pois bem, Senhores Parlamentares, valho-me das palavras finais do Prof. Guilherme Duque Estrada de Moraes para indagar por que esperamos tanto nesta Casa para disciplinar esse novo modelo de sociedade empresária em nosso País, que, por certo, trará grandes contribuições e incentivará a formalização de milhares de empreendedores que atuam em nossa economia de maneira desorganizada e sem contribuir devidamente para a arrecadação de impostos.

Diante desse disciplinamento legal, que ora propo-mos, acreditamos que o Estado terá grandes ganhos no aumento da arrecadação e a economia como um todo evoluirá com a formalização e melhor organização de um segmento importante dos negócios, que responde por mais de 80% da geração de empregos neste país, conforme dados do próprio SEBRAE.

Sendo assim, apelamos à compreensão de nos-sos ilustres Pares e contamos com o indispensável apoio necessário à aprovação dessa importante pro-posição nesta Casa.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Deputado Marcos Pontes.

PROJETO DE LEI Nº 4.606, DE 2009 (Do Sr. Roberto Britto)

Dispõe sobre a obrigatoriedade do Governo Federal a arcar com custos dos livros didáticos destinados aos alunos da Educação Básica das redes públicas.

Despacho: Às Comissões de: Educa-ção e Cultura; Finanças E Tributação (Art. 54 Ricd) e Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD)

Apreciação: Proposição Sujeita à Apre-ciação Conclusiva pelas Comissões – Art. 24 II

Art. 1º Fica o Poder Executivo, por intermédio do Ministério da Educação, obrigado a arcar com os custos dos livros didáticos destinados aos alunos da Educação Básica.

§ 2º Os livros didáticos serão distribuídos através da Secretaria de Educação e divulgada a relação dos livros no Diário Oficial da União anualmente.

§ 3º A relação de que trata o caput deverá conter o nome da editora, o nome do autor e o título do livro.

Justificação

O MEC, no ano de 2007, gastou cerca de R$ 5 milhões, com a avaliação de livros didáticos e cerca de R$ 710 milhões na aquisição de 120 milhões de exem-plares para as redes públicas de ensino fundamental e médio. Recursos estes, todos oriundos do Orçamento Geral da União. Será que os interesses financeiros das editoras são superiores às responsabilidades constitu-cionais da União, conforme estabelece o § 1º do artigo 211 da Constituição Federal?

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

§ 1º A União organizará o sistema federal de en-sino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria edu-

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cacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Dis-trito Federal e aos Municípios;” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996).

Será que o Ministério da Educação com tantos re-cursos garantidos pelo Orçamento Geral da União, não teria condições de arcar com os custos dos livros didáticos destinados aos alunos da Educação Básica neste país.

Por estas razões peço apoio aos nobres colegas para aprovação desta matéria.

Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Deputado Roberto Britto.

PROJETO DE LEI Nº 4.609, DE 2009 (Do Sr. William Woo)

Altera a redação do Decreto-Lei nº 2.284, de 10 de março de 1986, conceden-do o benefício do seguro-desemprego aos brasileiros que trabalham no exterior.

Despacho: Apense-se à(ao) PL-nº 3.360/2008.

Apreciação:Proposição sujeita à apreciação conclu-

siva pelas Comissões – Art. 24 II

O Congresso Nacional decreta:Art.1º Esta lei altera a redação do Decreto-Lei

n° 2.284, de 10 de março de 1986, concedendo o benefício do seguro-desemprego aos brasileiros que trabalham no exterior.

Art. 2º O artigo 26 do Decreto-Lei n° 2.284, de 10 de março de 1986, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo:

“Art.26 ................................................... .............................................................. Parágrafo único. Terá direito à percepção

do benefício todo trabalhador que tenha atu-ado no exterior por período igual ou superior a dois anos, desde que ateste a remessa de valores ao Brasil durante período superior a 2/3 do tempo de sua estadia, ou comprove a remessa de valores equivalentes à metade do total dos rendimentos auferidos”. (NR)

Art.3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Justificação

O projeto de lei visa amparar os milhares de brasileiros que retornam ao mercado brasileiro após malogro no exterior. Outrora promissor, o mercado de trabalho internacional não é mais capaz de absorver o

enorme contingente de mão de obra oriunda de países em desenvolvimento. Esse é um dos fortes reflexos da crise financeira que aflige a economia mundial.

Caso exemplar dos milhares de dekasseguis, brasileiros que trabalham no Japão, cujos empregos foram ceifados em nome do corte de custos das gran-des empresas japonesas. Demitidos de seus empregos e sem perspectivas de novas contratações, centenas retornam ao Brasil dia após dia, sem nenhuma pers-pectiva de trabalho ou recolocação no mercado.

Uma grande parcela desses brasileiros é respon-sável pela remessa de valores ao país. Estima-se que, anualmente, os brasileiros que trabalham em países como os Estados Unidos, Japão, Portuga, dentre ou-tros, sejam responsáveis pela remessa de cerca de 5 bilhões de dólares para o Brasil. Quantia vultosa que ajuda a movimentar a economia nacional.

Porém, ao perderem seus lucrativos empregos no exterior e precisarem recomeçar suas vidas na terra natal, não encontram amparo da legislação brasileira para fazer jus ao seguro-desemprego. Logo, aumentam os contingentes de desempregados do país, sem nem ao menos poderem usufruir do benefício que lhes traria enorme alento para enfrentar momento tão difícil.

A ausência de acordos bilaterais de matéria previ-denciária entre o Brasil e os países de maior interesse da imigração brasileira, em especial o Japão, torna im-perativo o acolhimento do presente projeto de lei, visto que a atual impossibilidade de recolhimento de contri-buições previdenciárias dos trabalhadores brasileiros no exterior mostra-se um dos maiores impeditivos à possibilidade de conferir-lhes o seguro-desemprego.

Razões estas que justificam a pertinência e rele-vância do presente projeto de lei, uma medida impor-tante que ajudará os brasileiros que precisam retornar ao país neste momento de incertezas financeiras.

Assim, em face do patente interesse público deste Projeto, espera-se contar com o apoio e com a recep-tividade dos Nobres Pares.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Deputado William Woo, PSDB/SP.

PROJETO DE LEI Nº 4.610, DE 2009 (Do Sr. José Guimarães)

Modifica a Lei nº 9.954, de 06 de janeiro de 2000, que dispõe sobre a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francis-co e do Parnaíba – CODEVASF, e dá outras providências.

Despacho: Às Comissões de: Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional; e Constituição e Justiça e de Cida-dania (Art. 54 RICD)

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 03999

Apreciação: Proposição Sujeita à Aprecia-ção Conclusiva pelas Comissões – Art. 24 II

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º – O art. 2º, da Lei nº 9.954, de 06 de Ja-

neiro de 2000, passa a ter a seguinte redação:

“Art. 2° – A Codevasf terá sede e foro no Distrito Federal e atuação nos vales dos rios São Francisco, Parnaíba e Poti, nos Esta-dos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Piauí, Maranhão e Ceará, podendo instalar e man-ter, no País, órgãos e setores de operação e representação.”(NR)

Art. 2º – Acrescenta Parágrafo Único ao art. 2º, com a seguinte redação:

“Art 2º – .............................................. .”Parágrafo único – No Estado do Ceará, o

órgão de representação da CODEVASF, men-cionado no caput deste artigo, será instalado no município de Crateús.

Art. 3º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Justificação

A Codevasf, criada em 16 de julho de 1974, teve como embrião, a Comissão do Vale do São Francisco, por iniciativa dos constituintes de 1946, que inseriram no Ato das Disposições Transitórias, o art. 29, preco-nizando a execução, no prazo de 20 anos, de plano de aproveitamento das possibilidades econômicas da bacia hidrográfica do São Francisco.

A Comissão foi sucedida em 1976, pela SUVALE para, em 1974 nascer a Codevasf.

Em janeiro de 2000, a Lei nº 9.954 incluiu na área de atuação da Codevasf a bacia do Rio Parna-íba, abrangendo assim, 11,30% da área do território nacional (970.000 km²).

O Estado do Ceará vem, de forma recorrente, pleiteado a instalação de escritório da Codevasf em seu território, por entender que as suas atividades serão de grande importância para o desenvolvimento econômico e social da Região dos Inhamuns, onde se localiza o vale do rio Poti, segundo maior afluente do Parnaíba.

Assim, para melhor subsidiar a apreciação desta matéria pelos senhores parlamentares, este mandato valeu-se, desta feita, da Academia, através da Pro-fessora Marta Celina Linhares Sales, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, Mestre e Doutora em Geografia Física pela USP, com ênfase em Clima e Desertificação, que, em

Nota Técnica, oferece os argumentos necessários à justificativa do presente projeto de lei.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – José Guimarães, Deputado Federal (PT-CE).

PROJETO DE LEI Nº 4.611, DE 2009 (Do Sr. Ciro Pedrosa)

Acrescenta o inciso XXIV ao art. 1º do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, que “dispõe sobre a responsabilida-de dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências”.

Despacho: Apense-se à(ao) PL-nº 1.019/2007.

Apreciação: Proposição Sujeita à Apre-ciação do Plenário

O Congresso Nacional decreta:Art. 1o É acrescentado o inciso XXIV ao art. 1º

do Decreto-lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, com a seguinte redação:

“Art. 1º ..................................................XXIV – deixar de entregar, dentro do pra-

zo estabelecido em lei, documentação exigida pelo poder público federal ou estadual relativa aos recursos repassados ao Município oriundos da lei orçamentária da União ou do Estado a que pertence.

............................................................ .”Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua

publicação.

Justificação

O presente projeto de lei visa a alterar o art. 1º do Decreto-lei nº 201, de 1967, definindo como hipótese de crime de responsabilidade do Chefe do Executivo municipal a não-entrega, no prazo legal, da documen-tação relativa aos recursos recebidos pelo Município provenientes dos orçamentos da União e do Estado.

A medida proposta atinge, também, o Prefeito eleito e empossado, impedindo que desavenças polí-ticas paroquiais acarretem a descontinuidade de obras públicas iniciadas na gestão anterior que, por decurso de prazo ou qualquer outro motivo, se encontrem pen-dentes de empenho e/ou liberação.

Assim, a alteração alvitrada, além de reafirmar o princípio da moralidade administrativa, busca as-segurar os elevados interesses do Município no que tange ao atendimento de suas demandas de desen-volvimento continuado e de melhoria de qualidade de vida, sobrepondo-se às questões meramente político-partidárias.

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04000 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Em face do exposto, esperamos contar com o apoio de nossos pares no Congresso Nacional para a aprovação do presente projeto de lei.

Sala das Sessões, 4 de Fevereiro de 2009. – Deputado Ciro Pedrosa

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.373, DE 2009

(Dos Srs. Chico Alencar e Ivan Valente)

Estabelece critérios para o pagamento de ajuda de custo a Parlamentar a título de indenização.

Despacho: À Mesa Diretora da Câmara dos Deputados; e às Comissões de: Finan-ças e Tributação (Mérito e Art. 54, RICD); e Constituição e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD)

Apreciação: Proposição Sujeita à Apre-ciação do Plenário

O Congresso Nacional decreta:Art. 1º As parcelas de ajuda de custo pagas a

Parlamentar no início e no final de cada Sessão Le-gislativa a título de indenização apenas serão devidas mediante o comparecimento do Parlamentar a 2/3 da Sessão Legislativa.

Parágrafo Único: O Parlamentar que não compa-recer a 2/3 da Sessão Legislativa perderá o direito ao recebimento da parcela final de ajuda de custo referi-da no caput e deverá devolver a parcela recebida no início da Sessão Legislativa até o dia 02 de fevereiro do ano subsequente.

Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor na data de sua publicação.

Justificação

O artigo 3º do Ato Conjunto da Mesa do Senado Federal e da Câmara dos Deputados S/Nº, de 2003, ao regulamentar o Decreto Legislativo nº 444, de 2002, dis-põe sobre a ajuda de custo a título de indenização equi-valente ao valor da remuneração devida ao Parlamentar no início e no final de cada sessão legislativa.

O § 2º do referido artigo prevê a perda do direito ao recebimento da parcela final da ajuda de custo ao Parla-mentar que não compareça a 2/3 da sessão legislativa.

Entretanto, não há dispositivo no Ato Conjunto das Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Depu-tados que obrigue a devolução da parcela inicial paga aos Parlamentares que não tenham o mesmo índice de comparecimento, o que gera uma distorção em face dos Parlamentares que, logo no início da sessão legis-lativa, assumam cargos no Poder Executivo.

A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados edi-tou o Ato da Mesa nº 34, de 2009, com a finalidade

de minorar tal distorção, vinculando a percepção da ajuda de custo em sua integralidade “ao efetivo exer-cício do mandato nos 30 (trinta) dias subseqüentes à primeira assunção”.

Dessa forma, paralelamente à louvável iniciativa da Mesa Diretora, é necessário que seja estabelecido mais um critério para o direito ao recebimento das duas parcelas da ajuda de custo e que este critério abranja todos os Parlamentares do Congresso Nacional.

Além disso, a possibilidade de um parlamentar receber a ajuda de custo inicial por comparecer me-nos de 2/3 da Sessão Legislativa é inconstitucional, vez que fere o princípio da moralidade ao qual está subordinada a Administração Pública.

Sala das sessões, 5 de fevereiro de 2009. – Deputado Chico Alencar, PSOL/RJ, Deputado Ivan Valente, Líder do PSOL.

INDICAÇÃO Nº 3.619, DE 2008 (Da Comissão de Direitos Humanos e Minorias)

Sugere ao Ministro da Secretaria Espe-cial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a criação do Observatório de Preven-ção e Repressão a práticas de racismo e ex-ploração sexual de crianças e adolescentes durante a Copa do Mundo de 2014, incluindo a necessidade de participação de órgãos governamentais brasileiros e organismos nacionais e internacionais que combatam o racismo, lutam pelo respeito aos Direitos Humanos e pela proteção à infância.

Despacho: Publique-se. Encaminhe-se.

Excelentíssimo Sr. Ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial:

Acreditamos que a criação do Observatório de Pre-venção e Repressão a práticas de racismo e exploração sexual de crianças e adolescentes durante a Copa do Mundo de 2014 é uma iniciativa necessária para contribuir com o bom transcurso das atividades relacionadas a este importante evento esportivo internacional. Ressaltamos a necessidade da participação de órgãos governamentais brasileiros e organismos nacionais e internacionais que combatam o racismo, lutem pelo respeito aos Direitos Humanos e pela proteção à infância.

Sugerimos, entre outros organismos: o UNIFEM – Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher; o UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância; a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e a Secretaria Especial dos Direitos Huma-nos. Acreditamos que a construção deste processo possa incorporar outros organismos internacionais re-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04001

lacionados com os temas, assim como outros órgãos governamentais de combate ao racismo, e/ou promo-ção da igualdade, e/ou combate à exploração sexual de crianças e adolescentes da esfera federal.

Justificação

As Copas do Mundo são acontecimentos que mo-vimentam milhares de pessoas, com desdobramentos econômicos e sociais de grande impacto para os países-sede. Devido ao grande porte da competição e de sua capilaridade, com jogos acontecendo em vários municí-pios do Brasil, haverá uma extraordinária circulação de estrangeiros e brasileiros em todo o território nacional.

A criação do Observatório reflete nossas preocu-pações com a segurança, a integridade física e psico-lógica de visitantes, assim como a cobertura da mídia nacional e internacional de fatos, direta ou indiretamen-te, ligados aos jogos da Copa do Mundo de 2014.

Os recorrentes casos de racismo em competições de futebol internacionais, de forma mais recorrente, explíci-ta e pública, no futebol europeu, nos motivou a apresentar esta proposta. Devido ao número de ocorrências, a FIFA-Federação Internacional de Futebol realiza campanhas periódicas para combater as práticas racistas no esporte. Esta possibilidade, dentro do nosso território, envolvendo nacionais ou estrangeiros, fere nossa legislação frontal-mente e precisa ser coibida com extremo rigor.

Outra questão preocupante é a emergência do Brasil como um destino dos chamados “turistas sexu-ais”. Além da gravidade desta imagem ser associada ao nosso país, há denúncias e registros de tais práti-cas envolvendo crianças e adolescentes, o que torna a situação ainda mais inaceitável. Esta é outra situação extremamente indesejável, ilegal, violenta, que requer ação preventiva para ser reprimida de forma eficiente e articulada na Copa do Mundo de 2014.

Temos certeza de que esta força-tarefa a ser cria-da e gerenciada pelo governo federal, numa colabora-ção efetiva entre órgãos nacionais e internacionais, de gestores públicos, sociedade civil e movimentos sociais, será um instrumento importante para coibir as práticas de racismo, exploração sexual de crianças e adoles-centes no período da competição internacional.

Sala das Sessões, 22 de dezembro de 2008. – Deputado Pompeo de Mattos, Presidente.

INDICAÇÃO Nº 3.636, DE 2009 (Do Sr. Carlos Zarattini)

Sugere ao Ministério das Comuni-cações procedimentos necessários para regulamentação da atividade de franquia postal da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT

Despacho: Publique-se. Encaminhe-se.

Excelentíssimo Senhor Ministro das Comunica-ções:

Dirijo-me a Vossa Excelência para solicitar que esse Ministério tome as providências necessárias a fim de autorizar a ECT selecionar sua rede de agencias franqueadas, cuja atividade fim, que se buscou regu-lamentar por meio da Lei 11.668/2008, consiste em comercializar os produtos e serviços postais da ECT.

A alteração do Decreto 6.639/2008, de forma a conter autorização expressa, se faz necessária e ur-gente tendo em vista que a constitucionalidade da Lei 11.668/2008, editada a partir da Medida Provisória 403/2007 vem sendo questionada por meio da ADI n. 4.155 no STF, fato esse que reflete de forma prejudi-cial tanto para o Governo Federal, como para o Con-gresso Nacional.

Porém, apesar das informações prestadas pela Advocacia Geral da União nos autos da ADI, escla-recendo a relevância do marco legal para atividade desenvolvida pelas franquias da ECT, de forma a ga-rantir a continuidade e excelência do serviço postal no Brasil, bem como a razoabilidade do prazo de 24 meses estabelecido por meio da lei 11.668/2008 e aco-lhido pelo Decreto 6.639/2008 para substituição dos atuais contratos, hoje a ECT se vê obrigada por meio de decisão judicial emanada pela Ação Civil Pública que tramita na Justiça Federal no DF – Processo n° 2007.34.00.042990-2 a substituir até abril deste ano os contratos de franquias legalmente vigentes.

Por fim, lembramos que a recente criação de Grupo de Trabalho Interministerial, por Decreto Presi-dencial, com a finalidade de elaborar estudos e propor diretrizes para a modernização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, tem seu prazo estipula-do em 60 dias, a partir da indicação de seus membros, para concluir seus trabalhos. A considerar a relevância do assunto e para bem cumprir seu escopo, é mister que o Grupo ouça e seja ouvido, por todas as instituições que representam a sociedade, principalmente os membros desta Casa.

Face ao dano iminente ao setor postal, caso ve-nha ser desconsiderado todo esforço do executivo e legislativo para sua regulamentação, solicitamos de forma reiterada, a especial atenção deste MM Minis-tério, para implementação em caráter de urgência das medidas necessárias a fim que se cumpra a legislação especial do setor.

Atenciosamente, – 10 de fevereiro de 2009. – Deputado Carlos Zarattini, PT/SP.

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04002 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

PROPOSTA DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE Nº 68, DE 2009

(Do Sr. Dr. Pinotti)

Propõe que a Comissão de Fiscaliza-ção e Controle realize ato de fiscalização e controle em procedimentos e recursos federais destinados ao funcionamento e à manutenção das Unidades de Terapia In-tensiva (UTIs).

Despacho: À Comissão de Fiscalização Financeira e Controle

APRECIAÇÃO:Proposição sujeita à apreciação interna

nas Comissões

Senhor Presidente,Com fulcro no art. 100, § 1º, combinado com os

artigos 60, incisos I e II, e 61 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, proponho a Vossa Excelência que, ouvido o digno Plenário desta Comissão, adote as medidas necessárias para realizar ato de fiscali-zação e controle sobre os procedimentos e recursos federais destinados ao funcionamento à manutenção das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Estudos recentes promovidos pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva chegaram à conclusão de que 70% dos 3.500 leitos das Unidades de Terapia Intensiva (SOBRATI) não estão minimamente adequa-dos ao modelo de humanização considerado ideal por especialistas da área.

Esses estudos indicaram que detalhes simples, como a presença de janela e relógio no quarto – para que o paciente tenha noção do tempo – e maior con-tato com familiares durante a internação são conside-rados decisivos para a recuperação mais rápida como também para evitar seqüelas físicas e psicológicas. No entanto, em muitas unidades nem mesmo com isso os pacientes podem contar.

Com isso, nos últimos anos, os especialistas passaram a se preocupar não apenas a salvar vidas, mas também a ter cuidado com a qualidade de vida do paciente após a internação, o que está ligado ao que chamam de “aumento da sobrevida”.

Outro dado é alarmante. Segundo o presiden-te da SOBRADI, Douglas Ferrari, o déficit de leitos de UTI no país está em torno de 50%, o que é mais grave nas áreas pediátrica e de neonatologia, onde o déifit chega a 70%. Ele acrescenta que esse pro-cesso de humanização tão indispensável às UTIs não estará completo enquanto houver crianças es-perando um leito nos corredores de hospitais, num

momento em que um respirador faz a diferença entre a vida e a morte.

Um fato recente chama a atenção dessa triste realidade: a falta de leitos foi um dos problemas que levaram a UTI neonatal do Hospital das Clínicas de Pernambuco a suspender novos atendimentos. Um dia após a divulgação da suspensão, que também ocorreu por causa de um surto de infecção que atin-giu pelo menos seis bebês, o Ministério Público esta-dual anunciou a realização de uma audiência pública sobre o caso.

Por todas essas razões, o Legislativo deve pro-mover o devido debate da questão, promovendo a presente Proposta de Fiscalização e Controle para obter informações e fazer um levantamento preciso dos procedimentos e dos recursos federais que estão sendo destinados aos hospitais, especificamente, para a manutenção e o funcionamento dessas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), pela importância que elas tem no sistema de saúde de nosso país e para a vida de milhões de brasileiros. Dessa forma, estare-mos contribuindo para a indispensável humanização e ampliação desse espaço que é vital para o nosso sistema de saúde.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Deputado Dr. Pinotti, (DEM-SP).

RECURSO Nº 237, DE 2009 (Do Sr. Paulo Henrique Lustosa e outros)

Recorre contra a apreciação conclu-siva do ato que outorga permissão ao Sis-tema Beija Flor de Radiodifusão Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Milhã, Estado do Ceará (TVR nº 816, de 2008), nos termos do Projeto de Decreto Legislativo nº 1.107 de 2008.

Despacho: Publique-se. Submeta-se ao Plenário.

Senhor Presidente:Com fundamento nos arts. 58, § 1º, e 132, § 2º,

do Regimento Interno, os Deputados abaixo assinados recorrem ao Plenário contra a apreciação do ato do Poder Executivo que outorga permissão ao Sistema Beija Flor de Radiodifusão Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Milhã, Estado do Ceará (TVR nº 816, de 2008), devido à existência de várias denúncias junto à Procuradoria Geral da República que apontam irre-gularidade na instituição responsável pela rádio.

Sala das Sessões, 4 de fevereiro de 2009. – Paulo Henrique Lustosa, Deputado Federal, PMDB/CE.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04003

Proposição: REC 0237/09Autor: PAULO HENRIQUE LUSTOSA E OUTROSData de Apresentação: 05/02/2009 3:00:00 PMEmenta: Recorre contra a apreciação conclusiva do ato que outorga permissão ao Sistema Beija Flor de Radiodifusão Ltda. para explorar serviço de radiodifu-são sonora em frequência modulada, no Município de Milhã, Estado do Ceará (TVR nº 816, de 2008), nos termos do Projeto de Decreto Legislativo nº 1.107, de 2008.Possui Assinaturas Suficientes: SIMTotal de Assinaturas: Confirmadas: 053Não Conferem: 003Fora do Exercício: 000Repetidas: 000Ilegíveis: 000Retiradas: 000Total: 056

Assinaturas Confirmadas

1-FÉLIX MENDONÇA (DEM-BA)2-PEDRO HENRY (PP-MT)3-LEONARDO VILELA (PSDB-GO)4-WALDIR MARANHÃO (PP-MA)5-FRANCISCO RODRIGUES (DEM-RR)6-AFONSO HAMM (PP-RS)7-WILLIAM WOO (PSDB-SP)8-ZONTA (PP-SC)9-BRUNO RODRIGUES (PSDB-PE)10-ANTONIO BULHÕES (PMDB-SP)11-MARCELO MELO (PMDB-GO)12-HERMES PARCIANELLO (PMDB-PR)13-ILDERLEI CORDEIRO (PPS-AC)14-TAKAYAMA (PSC-PR)15-ARACELY DE PAULA (PR-MG)16-REGIS DE OLIVEIRA (PSC-SP)17-MOREIRA MENDES (PPS-RO)18-LUIZ ALBERTO (PT-BA)19-MAURO NAZIF (PSB-RO)20-ALEXANDRE SANTOS (PMDB-RJ)21-EDUARDO DA FONTE (PP-PE)22-GERALDO PUDIM (PMDB-RJ)23-RÔMULO GOUVEIA (PSDB-PB)24-JOSÉ FERNANDO APARECIDO DE OLIVEIRA (PV-MG)25-LOBBE NETO (PSDB-SP)26-LUIZ SÉRGIO (PT-RJ)27-LEONARDO MONTEIRO (PT-MG)28-RATINHO JUNIOR (PSC-PR)29-BENEDITO DE LIRA (PP-AL)30-CARLOS BRANDÃO (PSDB-MA)31-CLEBER VERDE (PRB-MA)32-JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA)

33-JORGE KHOURY (DEM-BA)34-LINCOLN PORTELA (PR-MG)35-DUARTE NOGUEIRA (PSDB-SP)36-PEDRO CHAVES (PMDB-GO)37-LELO COIMBRA (PMDB-ES)38-WALTER IHOSHI (DEM-SP)39-COLBERT MARTINS (PMDB-BA)40-OSVALDO REIS (PMDB-TO)41-LEANDRO VILELA (PMDB-GO)42-CARLOS ALBERTO LERÉIA (PSDB-GO)43-MARCELO CASTRO (PMDB-PI)44-ELIENE LIMA (PP-MT)45-EDINHO BEZ (PMDB-SC)46-GASTÃO VIEIRA (PMDB-MA)47-ARNON BEZERRA (PTB-CE)48-DAVI ALVES SILVA JÚNIOR (PDT-MA)49-DR. ADILSON SOARES (PR-RJ)50-HOMERO PEREIRA (PR-MT)51-MARCELO ORTIZ (PV-SP)52-PEDRO NOVAIS (PMDB-MA)53-EFRAIM FILHO (DEM-PB)

Assinaturas que Não Conferem

1-CIRO NOGUEIRA (PP-PI)2-DAMIÃO FELICIANO (PDT-PB)3-FÁBIO RAMALHO (PV-MG)

RECURSO Nº 241, DE 2009 (Da Sra. Elcione Barbalho e outros)

Contra a apreciação conclusiva do Projeto de Lei nº 419, de 1999, que “Altera o § 2º do art. 148 da Lei nº 9.503, de 1997, e dá outras providências”, e dos apensados: PL 697, de 1999 e PL 1496, de 1999.

Despacho: Publique-se. Submeta-se ao Plenário.

Apreciação: Proposição Sujeita à Apre-ciação do Plenário

Senhor Presidente,Os Deputados abaixo assinados, com base no

art. 132, § 2º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, recorrem ao Plenário contra a apreciação conclusiva do Projeto de Lei nº 419, de 1999, que “Al-tera o § 2º do art. 148 da Lei nº 9.503, de 1997, e dá outras providências”, e dos apensados: PL 697, de 1999 e PL 1496, de 1999, discutido e votado nos termos do art. 58, § 2º, da Constituição Federal.

Justificação

O Senado Federal, em 3/12/2008, aprovou o Pro-jeto de Lei do Senado nº 110, de 2003, que “Altera a Lei nº 9503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, no sentido de exigir o

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04004 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

porte da Carteira Nacional de Habilitação para a con-dução de veículos nas rodovias e estradas”.

Dessa forma, entendo ser oportuno a apreciação do Projeto de Lei nº 419, de 1999, no Plenário desta Casa, porquanto a proposição aprovada no Senado, que ainda este mês será encaminhada à Câmara, trata de tema semelhante aquele.

Ademais, o voto do relator que rejeitou o Projeto de Lei nº 419, de 1999, que tem como objetivo proibir os motoristas, habilitados a menos de 1 (um) ano, de dirigir em rodovia federal ou estadual com velocida-de máxima de 90 (noventa) quilômetros por hora, na Comissão de Viação e Transporte, a meu ver, não se sustenta com o que foi argumentado, conforme aná-lise abaixo:

Eis o voto do Relator:

(...)“Não há que se pensar, assim, que ao

se empregar velocidade superior à máxima comumente estabelecida se esteja praticando ato de grande risco”.

Em nosso entendimento, para se poder aferir o grau de segurança de uma rodovia, muito mais importante do que o liminte máxi-mo de velociadade fixado é o padrão de con-servação a que está submetida, o volume de tráfego que sobre ela se abate.

Ademais, cumpre lembrar que o portador da Pertmissão para Dirigir, a vigorar o disposto no projeto em exama, pode ter bastante limi-tado o universo de rodovias a sua disposição, já que cada vez mais se procura modernizar a infra-instrutura rodoviária, possibilitanto a ado-ção de um maior limite de velocidade.

...É o casa até de se perguntar se a me-dida não feriria o direito de ir e vir.”

Como se verifica, na exposição do voto acima, os argumentos não atacam diretamente o mérito da pro-posta, porquanto tratou o assunto de forma genérica e não especifica. O projeto, ora em discussão, busca dar segurança aos motoristas, recém aprovados, e a terceiros, a fim de proibir esses motoristas, de dirigir em rodovia federal ou estadual com velocidade máxi-ma de 90 (noventa) quilômetros por hora.

A proposta, como já mencionada, trata da segu-rança do condutor recém aprovado, ou seja, habilitados a menos de 1 (um) ano, mas o relator não levou em consideração a inexperiência deste conduto, ao dizer que o padrão de conservação da rodovia eliminaria o risco de acidentes. A questão não está no estado de conservação da rodovia, mas o que transita nela.

Ainda, foi levantada a possibilidade da propos-ta ferir o direito de ir e vir. Ora, se tal premissa fosse verdadeira, o sistema de pedágio e a norma proibindo o motorista de conduzir o veículo embriagado seriam regras inconstitucionais, o que não é o caso.

Com isto, mais um motivo para que o Plenário decida sobre a proposição ora em discussão, porquan-to a Comissão de Viação e Transporte não considerou a orientação do Dentran, o qual defende que quanto maior a velocidade menor o tempo de reação aos pe-rigos, quanto mais o motorista recém aprovado.

Diante do exposto, solicito seja deferido o pre-sente Requerimento, para que o Projeto de Lei 419, de 1999, de minha autoria, e seus apensados sejam apreciados no Plenário desta Casa.

Sala da Comissão, 10 de fevereiro de 2009. – Deputado Elcione Barbalho.

Proposição: REC 0241/09Autor: ELCIONE BARBALHO E OUTROSData de Apresentação: 10/02/2009 7:03:00 PMEmenta: Recorre contra a apreciação conclusiva do Projeto de Lei nº 419, de 1999, que Altera o § 2º do art. 148 da Lei nº 9.503, de 1997, e dá outras pro-vidências, e dos apensados: PL 697, de 1999 e PL 1496, de 1999.Possui Assinaturas Suficientes: SIMTotal de Assinaturas:Confirmadas: 052Não Conferem: 005Fora do Exercício: 000Repetidas: 000Ilegíveis: 000Retiradas: 000Total: 057

Assinaturas Confirmadas

1-GERALDO SIMÕES (PT-BA)2-ELCIONE BARBALHO (PMDB-PA)3-JOSÉ EDUARDO CARDOZO (PT-SP)4-ARMANDO ABÍLIO (PTB-PB)5-PINTO ITAMARATY (PSDB-MA)6-MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ)7-EDUARDO GOMES (PSDB-TO)8-BETO MANSUR (PP-SP)9-OSÓRIO ADRIANO (DEM-DF)10-ELIZEU AGUIAR (PTB-PI)11-CHICO ALENCAR (PSOL-RJ)12-PAULO RUBEM SANTIAGO (PDT-PE)13-FRANCISCO RODRIGUES (DEM-RR)14-CLEBER VERDE (PRB-MA)15-DALVA FIGUEIREDO (PT-AP)16-VELOSO (PMDB-BA)17-MARCIO JUNQUEIRA (DEM-RR)

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04005

18-IVAN VALENTE (PSOL-SP)19-ZÉ GERALDO (PT-PA)20-ARIOSTO HOLANDA (PSB-CE)21-VICENTINHO (PT-SP)22-PEDRO WILSON (PT-GO)23-PAULO ROBERTO (PTB-RS)24-PAULO ROCHA (PT-PA)25-OSMAR SERRAGLIO (PMDB-PR)26-DR. TALMIR (PV-SP)27-LUIZ CARREIRA (DEM-BA)28-WILLIAM WOO (PSDB-SP)29-NELSON GOETTEN (PR-SC)30-ROBERTO BRITTO (PP-BA)31-MAURÍCIO QUINTELLA LESSA (PR-AL)32-GERALDO RESENDE (PMDB-MS)33-PROFESSOR RUY PAULETTI (PSDB-RS)34-DILCEU SPERAFICO (PP-PR)35-OSMAR JÚNIOR (PCdoB-PI)36-JOSÉ GENOÍNO (PT-SP)37-LUIZ CARLOS BUSATO (PTB-RS)38-DAVI ALVES SILVA JÚNIOR (PDT-MA)39-ADEMIR CAMILO (PDT-MG)40-MARCELO ALMEIDA (PMDB-PR)41-ROBERTO MAGALHÃES (DEM-PE)42-MANATO (PDT-ES)43-VICENTINHO ALVES (PR-TO)44-DOMINGOS DUTRA (PT-MA)45-MÁRCIO MARINHO (PR-BA)46-MARCELO SERAFIM (PSB-AM)47-DEVANIR RIBEIRO (PT-SP)48-ANTÔNIO ROBERTO (PV-MG)49-ILDERLEI CORDEIRO (PPS-AC)50-GIVALDO CARIMBÃO (PSB-AL)51-LUIZ FERNANDO FARIA (PP-MG)52-MARIA DO ROSÁRIO (PT-RS)

Assinaturas que Não Conferem

1-EDIO LOPES (PMDB-RR)2-JILMAR TATTO (PT-SP)3-DR. PAULO CÉSAR (PR-RJ)4-BONIFÁCIO DE ANDRADA (PSDB-MG)5-MARCOS ANTONIO (PRB-PE)

REQUERIMENTO Nº 4.107, DE 2009 (Do Senhor Tadeu Filippelli )

Requer a retirada das emendas de números: 33, 47, 60, 65, 82, 103, 185, 214 e 308, de sua autoria, apresentadas à Medida Provisória nº 449/2008.

Senhor Presidente:Requeiro a Vossa Excelência a retirada das emen-

das de números: 33, 47, 60, 65, 82, 103, 185, 214 e 308, todas de minha autoria, apresentadas à Medida

Provisória nº 449/2008, que altera a legislação tribu-tária federal relativa ao parcelamento ordinário de dé-bitos tributários, concede remissão nos casos em que especifica, institui regime tributário de transição, e dá outras providências.

Sala das Sessões, 11 de fevereiro de 2009. – Deputado Tadeu Filippelli, PMDB/DF

Defiro. Publique-se.Em 13-2-09, – Michel Temer, Presidente

REQUERIMENTO No 4.117 , DE 2009 (Do Sr. José Linhares)

Requer convocação de sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem à Campanha da Fraternidade 2009.

Senhor Presidente:Requeiro a Vossa Excelência, nos termos do

art. 68 do Regimento Interno, a convocação de ses-são solene desta Casa, com o intuito de homenagear a Campanha da Fraternidade 2009, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Justificação

Para 2009, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu o tema “Fraternidade e se-gurança pública”, objetivando “suscitar o debate sobre a segurança pública e contribuir para a promoção da cultura da paz nas pessoas, na família, na comunida-de e na sociedade, a fim de que todos se empenhem efetivamente na construção da justiça social que seja garantia de segurança para todos”.

Há 45 anos, a Campanha da Fraternidade mobili-za o País em torno de temas afetos à agenda nacional, promovendo discussões, buscando soluções, esten-dendo a mão fraterna aos mais necessitados.

Quanto ao tema escolhido, poucos como o pro-posto para o próximo ano têm falado tão de perto à sociedade brasileira quanto a questão da violência, que ganha absurdas proporções.

O Brasil, lamentavelmente, detém um dos mais perversos índices de concentração de renda do mundo, o que estabelece um fosso quase intransponível entre ricos e pobres, provocando crescente desequilíbrio na distribuição de riquezas e serviços.

A exclusão social daí oriunda pavimenta o cami-nho para o livre tráfego da violência, problema que nos coloca em terceiro lugar entre os países mais violentos da América Latina.

Por essa razão, queremos emprestar nosso apoio à iniciativa da CNBB por meio da realização de sessão solene nesta Casa, de modo a fazer repercutir em todo o Brasil a nobre proposta daquela instituição.

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04006 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Sala das Sessões, 12 de fevereiro de 2009. – Deputado José Linhares, (PP – CE).

Defiro. Publique-se.Em 13-2-09, – Michel Temer, Presidente

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) – Finda a leitura do expediente, passa-se ao

IV – PEQUENO EXPEDIENTEEsta fase da sessão é dedicada a breves co-

municações. Os Parlamentares tratam de questões importantes de interesse dos respectivos Estados e do povo brasileiro.

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Chico Lopes. S.Exa. dispõe de 5 minutos.

O SR. CHICO LOPES (Bloco/PCdoB-CE. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Depu-tados, senhoras e senhores, a campanha presidencial para o próximo ano já foi aberta na Câmara Federal. Qualquer evento que o Presidente da República pro-mova é imediatamente caracterizado pela Oposição como palanque político. A minha preocupação é saber se essa atitude é boa ou ruim para a Câmara dos De-putados e, principalmente, para aqueles que pagam com a sua contribuição a manutenção do Estado e de suas políticas públicas.

Na minha avaliação, matérias como a PEC dos Vereadores, a PEC relativa aos empresários que têm dívidas com o Governo, a PEC que visa a melhoria da Defensoria Pública e tantas outras são muito impor-tantes, pois quem mais se beneficia com esse tipo de matéria aprovada pela Câmara são aquelas pessoas que não têm acesso à Justiça. Entretanto, nesta Casa, o debate ocorre entre os grandes, e a maioria dos De-putados tidos aqui como da periferia ou do segundo time ficam sem oportunidade de falar da tribuna, ou o fazem apenas às sextas e segundas-feiras, quando têm essa liberdade.

Eu diria que a Oposição está ajudando o Presiden-te da República. Não acredito que, qualquer que fosse o partido no poder, ao inaugurar obras, o Presidente não convidaria seus Ministros. Isso não existe. Em to-dos os eventos, participam Ministros, no caso federal, ou Secretários de Estado, no caso estadual.

O encontro de Prefeitos foi positivo porque eles puderam expor suas necessidades, e o Presidente da República vem tomando a frente, através dos municí-pios, no sentido de ajudar a resolver a crise, que não foi feita pelo Brasil, mas da qual estamos sendo vítimas com o desemprego e com certas dificuldades.

O PAC foi colocado dentro da crise. No lugar de as pessoas criticarem para fazer avançar esse progra-ma, criticam como se nada estivesse acontecendo. De

qualquer modo, foi bom, porque hoje a imprensa traz esta manchete: “Serra defende o PAC paulista”. Se fosse “Lula defende o PAC”, diriam que estaria defendendo a candidatura da Ministra Dilma Rousseff.

Ora, quem gaba o noivo é a noiva. Se o Presi-dente não fizer isso, se o Governador não fizer isso, não é a Oposição que vai fazê-lo.

E o PAC apresentado por Serra é ruim ou é bom? É bom porque ele começou também a armar o seu pa-lanque para Presidente da República. É só ler o que diz a imprensa de Brasília, que, pode-se dizer, está fora de qualquer suspeita:

“No anúncio do pacote de medidas para estimular a economia paulista, realizado ontem no Palácio dos Bandeirantes, o Governador José Serra procurou des-vincular a iniciativa da corrida sucessória à presidência da República em 2010. ‘Não politizamos medidas, elas não têm conotação política, mas social’.”

Essa não-afirmação é uma confirmação.Ele declara ainda que algumas medidas depen-

dem de ações do Governo Federal. E diz que, “em São Paulo nós temos um governo estadual, ele não tem política monetária, nem política cambial e nem megainstituições de crédito”.

Então, por que esse PAC, se não mexe na estru-tura, se não há verba para infraestrutura, se não há verba para investimento? É ou não é um palanquezi-nho do Governador do maior “país” da América Latina, que é São Paulo? Será que ele acha que todos nós não temos inteligência política suficiente para enten-der a questão?

Logo mais, o Governo de Minas Gerais vai fazer o seu PAC; o Rio de Janeiro, os grandes Estados vão fazer isso. Não temos nada contra os Estados procu-rarem formular políticas para melhorar, para comba-ter a crise. Fazemos apenas uma observação: esse pacote deve compensar o trabalho também e não só o capital.

Nesse sentido, Sr. Presidente, entendo que a campanha está aberta, está nas ruas. E duvido muito que o debate aqui tenha uma preocupação maior do que a da Oposição de querer voltar ao poder e do que a nossa de lutarmos para continuar no poder. Não há nada de errado, isso é democrático. Agora, não aceita-mos a demagogia da Oposição em cima do Presidente da República, no sentido de achar que pode fazer todo tipo de provocação, todo tipo de crítica. Queremos ape-nas governar o Brasil, continuar o que estamos fazen-do. Não temos medo dessa crise e vamos combatê-la, para o bem do nosso País.

O SR. VELOSO (Bloco/PMDB-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente Nilson Mourão, Sras. e Srs. Deputados, no dia de ontem, fui informa-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04007

do de que o aeroporto de Ilhéus finalmente terá as duras restrições que lhe foram impostas pela ANAC suspensas e voltará a funcionar com a utilização de instrumentos para pousos e decolagens a partir desta sexta-feira.

Sr. Presidente, Ilhéus e toda a região sul da Bahia foram severamente prejudicadas durante quase 2 anos com as medidas impostas pela ANAC, que reduziu o tamanho da pista e limitou as operações naquele ae-roporto, fazendo, assim, que diminuísse o número de voos e o tamanho das aeronaves credenciadas a pousar em sua pista. Tudo isso gerou prejuízos astronômicos e uma série de desempregos para uma região que já se encontra em dificuldades econômicas.

Diante desses fatos, lutamos incansavelmen-te, numa peregrinação sem fim nos órgãos governa-mentais, com a finalidade de reverter tais medidas. Inúmeras foram as nossas audiências na ANAC, na INFRAERO e no Ministério da Defesa, em articulação com a bancada baiana. E, ontem, o Ministro da Defe-sa, Nelson Jobim, do alto de sua sensibilidade e bom senso, anunciou a volta da normalidade ao Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus.

Esperamos agora, Sr. Presidente, que o Gover-no destine investimentos a esse aeroporto como for-ma de recuperar o tempo perdido e tantos prejuízos acumulados. Necessitamos de maiores investimentos em equipamentos de navegação aérea e melhorias na infraestrutura e na climatização do terminal.

Sr. Presidente, enquanto comemoramos a libe-ração do Aeroporto Jorge Amado, outro fato surge e nos faz lamentar a maneira como está sendo gerida a INFRAERO. Na semana passada, cerca de 100 su-perintendentes de aeroportos foram destituídos de seus cargos e transferidos de localidade, o que gerou um clima de grande insatisfação e incerteza entre os funcionários da INFRAERO, fato que foi duramente criticado pela Associação Nacional de Empregados da INFRAERO, que considerou a atitude um desrespeito aos empregados e familiares, taxando-a de desumana e antidemocrática.

Nota divulgada pelo Sindicato Nacional dos Aero-portuários informa que as mudanças ocorreram de uma hora para outra, sem critérios, transparência e prévia comunicação, e relata o clima de pânico e tensão que passou a predominar entre os funcionários.

Imagine, Sr. Presidente, um pai de família sair de casa para trabalhar e, ao se sentar à sua mesa, ser surpreendido, através de um e-mail, com a notícia de que aquela cadeira não mais lhe pertence.

As ações públicas, Sr. Presidente, requerem de seus gestores planejamento, administração, diálogo e bom senso. Em Ilhéus, a comunidade perde com a

saída do Superintendente Edylson Pereira, um pro-fissional técnico, capacitado, sintonizado com a so-ciedade e profundo conhecedor do aeroporto local. É inadmissível aceitar passivamente a saída de um profissional que há 28 anos presta seus valiosos ser-viços à INFRAERO, que possui família e residência no Município de Ilhéus, tendo ali investido seu patrimônio, seja surpreendido por uma transferência compulsória tão agressiva quanto esta.

Para concluir, Sr. Presidente, quero ressaltar ainda que a sociedade civil organizada do Município, através de seus entes representativos do turismo, comércio e de classes, formalizou um documento de apoio ao então Superintendente Edylson Pereira.

Tenho certeza, Sr. Presidente, de que o bom senso há de imperar no Presidente da INFRAERO, Cleonilson Nicácio, e ele há de rever essa posição e restabelecer a ordem e a tranquilidade na Superinten-dência de Ilhéus.

É o que esperamos. Solicito a V.Exa. que este pronunciamento seja

divulgado nos meios de comunicação da Casa.

Durante o discurso do Sr. Veloso, o Sr. Nilson Mourão, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr. Chico Lopes, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Concedo a palavra ao Sr. Deputado Nilson Mourão.

O SR. NILSON MOURÃO (PT-AC. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero manifestar deste plenário minha indignação e perplexidade com a agressão sofrida pela brasileira Paula Oliveira, uma advogada de 26 anos, casada com um suíço, em situação absolutamente regular e legal na Suíça, que foi covardemente agredida por um grupo de rapazes em Zurique, que recortaram seu corpo para desenhar letras que remetem a um partido suíço, uma manifestação claramente de xenofobia e de nazismo.

Sr. Presidente, indago-me sobre o que se passa na Europa, com uma legislação extremamente restritiva, controladora, rigorosamente fiscalizadora da entrada de estrangeiros em seus países.

Essa jovem, Paula Oliveira, é o exemplo mais típico, mais acabado da xenofobia que vai tomando conta dos países europeus. Tudo indica que, ao ouvi-rem essa jovem falar português, uma língua diferente das que se falam na Suíça – o francês, o alemão –, esses jovens a atacaram sem perguntar quem era, de quem se tratava, numa ação covarde, manifestando uma pequenez que não tem tamanho.

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04008 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Sr. Presidente, as pessoas devem ter a liberdade de ir e vir. Os países podem, devem ter e efetivamente têm regras para acolher turistas, para acolher pessoas que vão a serviço, a trabalho e para aqueles que pedem para fixar residência em determinado país, mas não é possível admitir ações dessa natureza. Brasileiros são humilhados em vários aeroportos europeus, como recentemente ocorreu na Espanha, e agora ações trá-gicas dessa natureza.

Quero manifestar desta tribuna minha solidarie-dade à advogada Paula Oliveira, ao seu pai, aos seus familiares, ao seu esposo e ao povo suíço, que tem juízo. Devemos compreender que o Governo da Suíça não tem nenhum tipo de responsabilidade neste caso, mas está correta a ação do Presidente Lula e do Itamaraty de exigirem explicações mais claras sobre o fato.

O Brasil é um País acolhedor. Para cá vêm turis-tas de diversas nacionalidades e pessoas para traba-lhar ou fixar residência, muitos querem ter nosso País como sua casa. O mesmo direito desejamos. Faz parte de valores da civilidade o desejo de ir e vir, de morar em qualquer país do mundo, naturalmente respeitando suas legislações.

Lamento profundamente que na Europa, que, em alguns momentos, já deu exemplos de civilização avançada, noutros nem tanto, esteja crescendo essa visão xenófoba da vida, estreita, de perseguição a estrangeiros, de não querer admitir em seu território pessoas de outras nacionalidades. É normal que os nacionais sejam protegidos, que exigem de seus go-vernos prioridades para atendê-los, mas não é normal ações de perseguição, de violência e de xenofobia con-tra estrangeiros que residem, passeiam, fazem turismo ou vão a encontros oficiais nos seus países.

Creio que a Embaixada da Suíça no Brasil deva dar consistentes explicações sobre esse fato, pois repudiamos veementemente esse tipo de posições e ações, que estão se tornando regra em muitos países europeus.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.O SR. CLEBER VERDE (Bloco/PRB-MA. Sem

revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Depu-tados, quero cumprimentar os ouvintes da Rádio Câ-mara, os telespectadores da TV Câmara, em especial Emmanuel Nascimento, Suplente de Vereador em Pe-dreira, no Maranhão, em nome de quem cumprimento os suplentes de Vereadores de todo o País.

No ano passado, criou-se grande expectativa em torno da PEC dos Vereadores, que o Senado tomou a iniciativa de dividir em 2 partes. Uma parte tratava dos repasses para as Câmaras e, outra, da regulari-zação do número máximo de Vereadores em relação à população do Município.

Obviamente, quando o TSE diminuiu o número de Vereadores, prejudicou muito a representatividade nas Câmaras Municipais. Entretanto, em momento al-gum houve redução de despesas.

Sabemos que os repasses continuam os mesmos, portanto, as Câmaras continuam a gastar o mesmo valor que lhes é repassado, mas com menor número de Ve-readores, diminuindo a representatividade popular.

Quando o Senado aprovou parte do texto legal, deu nova perspectiva aos Vereadores de terem re-presentatividade singular em suas Câmaras. Cabia simplesmente a esta Casa e ao Senado promulga-rem essa emenda constitucional, o que não foi feito na gestão anterior.

Apelamos mais uma vez, portanto, à nova Mesa Diretora, a fim de que possa oportunamente fazê-lo, considerando que não haja qualquer tipo de aumen-to de repasse às Câmaras Municipais. Pelo contrário, que seja dada maior representatividade da população nos Municípios.

Esse o registro que faço em nome dos suplen-tes de Vereadores, que estão na expectativa de uma favorável solução desta Casa aos anseios da popula-ção brasileira.

Aproveito ainda, Sr. Presidente, para dizer que reiniciamos os trabalhos da Frente Parlamentar em Defesa dos Aposentados e Pensionistas. Na quarta-feira, tivemos oportunidade de reiniciar os trabalhos e contamos com a presença do Senador Paulo Paim, do Deputado Pepe Vargas, que é Relator na Comis-são de Finanças e Tributação do projeto que acaba com o fator previdenciário, e pude ouvir que de fato S.Exa. concorda que há muitas histórias negativas no sentido de que a Previdência é deficitária. Na verda-de, sabemos que não é bem assim, porque todas as isenções recaem sobre a Previdência, o que prejudica os trabalhadores.

Enfim, o Relator nos disse que realizará pelo me-nos 3 audiências públicas até encontrar um termo que seja bom para os que têm direito à aposentadoria por tempo de contribuição, uma vez que esses têm sido penalizados em aproximadamente 30% dos seus ven-cimentos. No caso das mulheres é ainda mais grave: esse percentual chega a ser 40%.

Portanto, as audiências públicas serão fundamen-tal para apresentarmos um relatório que corresponda aos anseios dos trabalhadores e dos aposentados brasileiros.

Também estiveram presentes à Comissão a CO-BAP, a ANFIP, o Instituto Mozart, o Deputado Arnaldo Faria de Sá, todos preocupados em encontrar uma so-lução para os aposentados e com o objetivo de fazer uma agenda positiva nesta Casa.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04009

Estão na pauta 3 projetos: o primeiro trata do fim do fator previdenciário; o segundo é o PL nº 1, que pede ao Governo que aplique o mesmo índice de correção que é dado ao salário mínimo àqueles aposentados e pensionistas que recebem acima do mínimo.

Este ano, foi concedido um reajuste de 12% ao salário mínimo e, para quem ganha acima do mínimo, 5,92%. É notável a diminuição do poder de compra e drástica a redução nos vencimentos dos aposentados. Por isso, além de aprovarmos os mesmos índices aos aposentados, discutiremos com o Governo a recompo-sição das perdas, que têm sido bastante significativas ao longo dos anos devido aos diferenciados índices.

Há uma agenda positiva nesta Casa e chegou a hora de os Deputados se manifestarem favoravelmente em prol dessa categoria.

Peço especialmente aos aposentados e aos tra-balhadores que têm tempo de contribuição para se aposentar que procurem o seu Deputado, ou a bancada do seu Estado, ou a Frente Parlamentar em Defesa dos Aposentados, a fim de que sejam aprovadas iniciativas que lhes tragam respeito e dignidade.

Obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Passa-

se ao

V – GRANDE EXPEDIENTEConcedo a palavra ao Sr. Deputado Uldurico

Pinto.O SR. ULDURICO PINTO (Bloco/PMN-BA. Pro-

nuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, senhores internautas, telespectadores da TV Câmara, povo brasileiro, é muito importante que tenhamos condições de analisar com calma e objetivi-dade a evolução da atual crise financeira internacional, pois as escolhas que fizermos agora serão decisivas para o desenvolvimento do País nos próximos anos.

Em primeiro lugar, já está claro para todos que a crise é sistêmica e afetará em maior ou menor grau todas as economias do mundo. A crise de hoje é a con-trapartida de longa fase de expansão mundial, que, por sua vez, intensificou e aprofundou a interdependência entre as nações. Se algum país passar ao largo dessa crise, é porque não está conectado ao comércio inter-nacional e certamente não experimentou os benefícios propiciados por sua expansão.

Na verdade, esse é o primeiro princípio que deve orientar a análise da crise financeira mundial: tudo tem 2 lados, um negativo e um positivo, e é o relaciona-mento dinâmico entre as 2 partes que traz a riqueza e a pobreza, a prosperidade e a depressão.

Se queremos aprender com a crise e proteger o Brasil de seus efeitos nefastos, precisamos entender

que os mecanismos que produziram pânico e incerteza foram os mesmos que geraram oportunidades para o crescimento das empresas, para a expansão das bol-sas de valores e para o consumo das famílias.

Esses mecanismos financeiros que proporciona-ram vertiginosa expansão do crédito nos últimos anos estão ancorados na confiança, no investimento e na especulação. Quando as expectativas são favoráveis, eles funcionam; caso contrário, entram em colapso.

A crise que estamos vivendo hoje decorre justa-mente de súbita reversão de expectativas, em face da desconfiança generalizada, que produz contração do investimento, redução do consumo e especulação des-trutiva, numa espiral descendente que se retroalimenta e projeta cenários cada vez mais catastróficos.

Nesse sentido, a condição relativamente favorá-vel vivida pelo Brasil decorre justamente de sua menor exposição ao ciclo de expansão econômica baseada na especulação financeira sem lastro, os chamados derivativos. O crescimento relativamente menor do Brasil nas últimas décadas teve, como contrapartida, uma menor contaminação pela crise de crédito.

Derivativo é um eufemismo criado para designar o velho e conhecido golpe da “pirâmide”, um jogo no qual quem entra envia dinheiro para os que estão na lista e espera receber daqueles que entrarem depois. Para que o jogo funcione, é preciso que um número crescente de pessoas entrem na base da “pirâmide” – quando isso não acontece, o sistema rui como um castelo de cartas.

Foi isso o que aconteceu no mundo financeiro, sobretudo nos EUA e na Inglaterra, pois os bancos em-prestaram dezenas de vezes mais do que tinham – a chamada alavancagem – e, pior, baseados em papéis sem garantia. Quiseram criar riqueza do nada, enga-naram quase todo mundo por um bom tempo, mas um dia a mentira foi descoberta e deu no que deu.

As inumeráveis crises econômicas vividas pelo Brasil no passado recente, com sucessivos choques fiscais e cambiais, confiscos e desmoralização da moeda, acabaram forçando escolhas mais prudentes, materializadas na Lei de Responsabilidade Fiscal e na regulamentação mais rigorosa das operações do sistema financeiro. O trauma causado pelos erros de planos mirabolantes acabou vacinando a população e as autoridades econômicas contra as soluções má-gicas que levaram os maiores bancos do mundo à insolvência.

É importante entender isso, porque uma escolha decisiva que teremos pela frente diz respeito justamen-te à forma como iremos aproveitar essa experiência. Para evitar que a onda da crise nos arraste, deveremos manter a prudência e não ceder à tentação de repetir

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04010 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

os erros que conduziram ao descontrole fiscal, à infla-ção endêmica e à insolvência externa.

O Brasil irá sofrer com a crise – isso é claro. Mas sofrerá mais ou menos se tiver discernimento para proteger o essencial, ou seja, o emprego e a renda, sem abrir mão da credibilidade de que gozam as au-toridades monetárias.

O epicentro da crise são os Estados Unidos. Entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, foram perdidos mais de um milhão de empregos na-quele país.

Estimam-se em trilhões de dólares as perdas no mercado financeiro, com impacto direto sobre a saúde dos principais bancos norte-americanos, europeus e asiáticos. O fantasma da insolvência continua pairando sobre todo o conjunto, e os analistas sugerem que os balanços revelarão prejuízos imensos, para os quais, em muitos casos, a única solução seria a nacionaliza-ção das instituições.

O retrocesso americano não se restringe a seu próprio mercado, mas repercute diretamente sobre o resto do mundo, pois o encolhimento de suas im-portações deprime a atividade exportadora de seus parceiros, aí incluído o Brasil. Além disso, o equilíbrio das contas externas dos Estados Unidos depende do financiamento de déficits crônicos, feito através da venda de títulos do tesouro, que têm na China um dos principais compradores.

Se a depressão se alastrar e a Ásia não aceitar mais financiar os déficits norte-americanos, teremos uma crise de confiança ainda mais grave e mais de-sastrosa.

Tudo indica que a recuperação americana será lenta e que não se poderá retomar os níveis de crédi-to anteriores à crise, pois será inevitável uma regula-mentação mais rigorosa do sistema bancário. O que se discute agora é qual a profundidade e a duração do ajuste, uma vez que os preços exagerados dos ativos precisarão adequar-se à realidade. O Fundo Monetá-rio Internacional estima uma taxa de crescimento de 0,5% para a economia mundial este ano, o menor ín-dice desde o fim da Segunda Guerra.

No Brasil, a reversão de expectativas foi dramá-tica. O otimismo e a confiança, estimulados pelo cres-cimento sustentável do último ano, cederam terreno a uma desconfiança generalizada, que produziu reação fortemente preventiva das empresas.

De acordo com o IBGE, o emprego industrial ex-perimentou uma contração de 1,8% em dezembro, em comparação com o mês anterior. Foi a maior queda desde 2001, quando foi iniciada a série histórica.

De acordo com a CNI, o faturamento da indústria brasileira, descontado o efeito da sazonalidade, caiu

10,4% no último trimestre de 2008, e as horas traba-lhadas caíram 10,1%.

Para o IBGE, a produção industrial caiu 12,4% em dezembro, na comparação com novembro. Foi também o maior recuo no índice desde que passou a ser calcu-lado, em 1991. Dos 27 ramos industriais pesquisados, só 2 não apresentaram queda, e o recuo foi maior na indústria de veículos, 39,7%, e no setor de máquinas e equipamentos, 19,2%.

De acordo com dados do Cadastro Geral de Em-pregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, em dezembro houve uma redução de 654 mil postos de trabalho no País, maior variação negativa desde 1999, quando a medição começou a ser feita.

Num primeiro momento, o principal impacto ne-gativo sobre o País veio na forma de um súbito corte nas linhas de crédito internacional. A falta de finan-ciamento produziu uma paralisia nos negócios, pois o mundo viveu dias de pânico com previsões de falências em cascata dos bancos nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Vieram, como resposta, as intervenções maci-ças dos bancos centrais, que conseguiram acalmar os mercados e os cidadãos, inquietos quanto à segurança de suas poupanças.

Assentada a poeira, temos pela frente um cenário negativo para o crescimento mundial, que deverá im-por fortes restrições ao avanço do PIB brasileiro. Hoje, estima-se que o crescimento, em 2009, deverá ficar em torno de 1,8%, queda significativa em relação aos momentos anteriores à crise, quando se tinha números em torno de 6% de expansão anualizada.

Diante desse cenário, as ameaças para o Brasil são aprofundamento da retração econômica, inflação e choque cambial. O resultado final irá depender da com-binação dessas variáveis e das ações do Governo.

O ponto de partida para analisar a crise é con-siderar a inevitável diminuição das receitas externas em função da redução das exportações e da queda no preço das commodities. Em janeiro passado, as exportações brasileiras recuaram 20%, o que produ-ziu um déficit na balança comercial de 518 milhões de dólares.

O Ministério da Agricultura trabalha com a esti-mativa de queda de 8,4% da renda agrícola neste ano em função, sobretudo, dos impactos negativos sobre as lavouras de café, milho e soja, que, juntas, repre-sentam 45,6% do valor da produção agrícola.

Quanto maior for a recessão mundial, menor será a demanda pelos produtos brasileiros e maior será a restrição na balança comercial. Se o processo se acentuar, será criada uma expectativa de déficits crescentes, que produzirá desvalorização da moeda. Como o regime de câmbio é flutuante, a cotação da

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04011

moeda se ajusta automaticamente para compensar o excesso de importações.

Se a desvalorização do real for muito grande, será criada uma pressão inflacionária, por causa do encarecimento dos produtos importados. Nesse caso, o Governo ou reduz o nível de atividade para conter as importações, ou sanciona a escalada de preços.

O resultado final deverá levar em conta, também, a tendência deflacionária verificada nos países ricos. É o que se verifica, por exemplo, no preço da gasoli-na: por um lado, o petróleo está mais barato, mas por outro lado, a desvalorização do real encarece o pro-duto. Por enquanto, o preço ao consumidor final está estabilizado.

Para evitar os efeitos da crise, o Governo tem procurado garantir a oferta de crédito, para empresas e famílias, e procurado estimular medidas que garantam o emprego, como negociações trabalhistas que contem-plem redução da jornada em troca de estabilidade.

Essas medidas anticíclicas procuram manter o nível de atividade da economia, estimulando o merca-do interno. Elas são eficazes, mas têm limite, pois não se pode continuar crescendo com restrição externa, porque isso produz inflação.

A expansão dos gastos do Governo será limita-da pela perspectiva de queda na arrecadação e pela dificuldade de aumentar a carga tributária, que tem crescido e já atinge cerca de 35% do PIB, ou seja, aproxima-se de um limite além do qual a sociedade não aceitaria avançar.

Para completar o esboço do cenário atual, é pre-ciso ainda considerar a tendência ao crescimento do protecionismo, mecanismo de defesa instintiva que costuma ser usado pelos governos na tentativa de pro-tegerem seus mercados internos, mas que, no final, acaba produzindo o efeito contrário ao que se preten-dia, ampliando o desemprego em vez de atenuá-lo. Se todos adotarem esse mecanismo, ninguém compra de ninguém, e a recessão se aprofunda.

Como podemos ver, o nó da questão hoje é a crise de confiança que se disseminou a partir do medo de que os bancos não tenham condições de arcar com os prejuízos provocados pela inadimplência no sistema hipotecário norte-americano.

Nesse contexto, os efeitos sobre o Brasil depen-derão, em grande parte, da capacidade de preservar a credibilidade no nosso sistema financeiro para que ele continue ofertando o crédito que tem sustentado o crescimento da demanda interna. Dados do Banco Central indicam que a concessão de crédito no mer-cado interno passou de 34% do PIB, em dezembro de 2007, para 40,4% em dezembro de 2008.

O desafio agora está justamente em preservar o equilíbrio das contas públicas e a credibilidade do sistema financeiro, para que os efeitos da crise sejam minimizados pela manutenção da demanda domés-tica. Felizmente, 2009 não é um ano eleitoral, o que reduz a tentação do Governo de expandir seus gas-tos para além do ponto em que o descontrole fiscal se transforma em espiral inflacionária, com retração dos investimentos.

O foco principal das ações do Governo deve ser a preservação do emprego. Esse é, sem dúvida, o elo de ligação entre a crise econômica e a crise social. É na esteira do desemprego que prosperam a violência, a intolerância e as aventuras políticas.

Ao contrário de outras situações, em que esti-vemos inteiramente a reboque dos acontecimentos externos, dessa vez o Brasil tem um maior grau de liberdade para fazer suas escolhas. Além disso, con-ta com a torcida positiva do resto do mundo, pois as economias mais ricas do Planeta esperam que a ex-pansão dos emergentes possa compensar a retração que verificam em seus mercados internos.

O Sr. Chico Lopes – Permita-me um aparte, nobre Deputado?

O SR. ULDURICO PINTO – Pois não, Deputa-do.

O Sr. Chico Lopes – O discurso de V.Exa. nesta manhã tem vital importância, porque temos 2 corren-tes, pelo menos nesta Casa. Uma é que a crise não foi feita pelo Brasil, portanto, não temos nada a ver com isso. Essa afirmação é falsa porque, diante do mun-do globalizado e da “financeirização”, não podíamos estar de fora, já que essa crise, apesar de ser única e exclusivamente dos Estados Unidos, pelo relacio-namento comercial, político e financeiro que eles têm com o resto do mundo, ia nos atingir de qualquer ma-neira. A outra é que a crise é tão grande que o Brasil tem de voltar à Oposição porque só eles são capazes de salvar o País, tendo em vista que o Presidente não tem tomado atitude alguma que não seja para palan-que político. Também não é verdade. Preferimos dizer que temos de tomar atitudes como a de que o Banco Central não pode continuar com esses juros altíssimos. Temos também de ver que destinamos para mais de 90 bilhões das nossas reservas aos bancos e às em-presas, mas não temos, o que me chamou a atenção, a mesma preocupação com os empregos. Acho que não vamos sair da crise se não olharmos para o ou-tro lado; que não seja só o do capital, mas também o do trabalho; e do trabalho só podemos ver se algum mecanismo for criado no sentido de repassarmos o dinheiro para as empresas e para os bancos, mas as-sinarmos um termo para garantir que não vamos des-

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04012 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

pedir empregado algum. Aqui faço uma observação, porque foi uma surpresa desagradável ver algumas centrais sindicais fazerem acordo no sentido de dimi-nuir a carga horária e o salário. Ora, a poupança po-pular entrou aí, e ela é fruto também do desempenho do trabalhador. Seja ele qualificado, seja intelectual, é o trabalho que gera, como V.Exa. ressalta muito bem em seu discurso, condições de termos mais empregos e não entrarmos numa recessão, do que estamos bem próximos. Portanto, parabenizo V.Exa. pelo discurso que faz nesta manhã, que nos dá oportunidade de discutir uma questão seriíssima para nosso País. Pa-rabéns, Deputado.

O SR. ULDURICO PINTO – Parabéns, ilustre Deputado representante do Ceará. V.Exa. traz contri-buição importante a este pronunciamento. Uma das coisas mais graves que esta crise está cometendo é o desemprego, o que deveria ser prioridade das ações governamentais.

Crise é sinônimo de oportunidade. Nas crises vemos o que antes estava oculto, novos caminhos se apresentam, novas forças e novos aliados mostram uma utilidade que não conhecíamos.

O Brasil tem uma enorme força econômica, graças aos recursos naturais abundantes de que dispõe e que se combinam com uma força trabalhadora vigorosa, uma indústria diversificada e uma agricultura pujante para constituírem uma das mais promissoras nações do mundo neste século.

Precisamos aproveitar as oportunidades cria-das pela crise para evitar os erros que a provocaram, ampliando, em bases sólidas, o mercado interno, que estava em expansão e que poderá continuar crescen-do, ainda que dentro de limites impostos pelas restri-ções externas.

Essa é uma grande oportunidade para democra-tizar e tornar mais transparente o sistema financeiro, para permitir um cada vez maior acesso da população ao crédito, sem os custos abusivos das taxas injusti-ficadas que sempre foram uma forma camuflada de confisco da renda dos trabalhadores, transformada em lucros exorbitantes que não se traduzem em bem-estar para a população.

Os desdobramentos da crise estão mostrando que a transferência de riqueza do setor produtivo para o setor financeiro é um dos entraves para o crescimento sustentável do País.

Essa crise, que começou nos bancos america-nos e europeus, está nos dando a oportunidade para revermos o sistema financeiro brasileiro, corrigindo as distorções que levaram ao estado de hipertrofia em que hoje se encontra.

A democratização financeira poderá ser um dos melhores frutos do compromisso do Governo com os interesses da população trabalhadora.

Era o que tinha a dizer.O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Nesta opor-

tunidade, parabenizamos o nobre Deputado.

Durante o discurso do Sr. Uldurico Pinto, assumem sucessivamente a presidência os Srs. Ricardo Quirino e Chico Lopes, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Concedo a palavra ao nobre Deputado Nilson Mourão.

O SR. NILSON MOURÃO (PT-AC. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo o horário do Grande Expediente para fazer uma reflexão nesta Casa e tecer alguns comentários sobre as últimas eleições realizadas em Israel.

Como normalmente acontece, o primeiro ato rela-cionado às eleições em Israel consiste em mover uma guerra contra o povo palestino ou contra algum país árabe, como o Líbano, a Síria. Na disputa que se es-tabeleceu entre o ex-Primeiro-Ministro Netanyahu, que dirige o partido de direita chamado Likud, e o partido que está no Governo, Kadima, moveu-se uma guerra contra o povo palestino de Gaza.

A maioria das pessoas não tem conhecimento sobre Gaza, uma pequena faixa litorânea no Mar Me-diterrâneo. Faz fronteira com o Egito e, por todos os outros lados, com Israel. Gaza já foi destruída muitas vezes. Recentemente foi arrasada, e agora, no final do ano passado, houve, salvo engano, 24 ou 25 dias de guerra intensa, com armas pesadas, armas proibidas por convenções internacionais, que destruíram o que ainda existia. Destruíram todos os prédios públicos, escolas – escolas, Sr. Presidente! –, hospitais, prédios da ONU e mais de 6 mil casas, residências. Tudo sob o manto de se arrasar o Hamas, o Movimento de Resis-tência Islâmica, dos palestinos residentes em Gaza.

Nesse primeiro ato, foram aproximadamente 24 dias de fogo intenso. E o mais importante: mais de 1.300 pessoas foram mortas, dentre as quais crianças. Metade dos mortos são crianças. Essa vai passar para história como a guerra de Israel contra as crianças palestinas; um holocausto, um genocídio de fato, per-petrado contra um povo pobre, humilde e encurralado em 300 quilômetros quadrados, cujas fronteiras estão inteiramente cercadas.

Como já disseram José Saramago, grande es-critor português, e, mais recentemente, um cardeal de grande prestígio da Igreja Católica, Gaza é, antes de tudo, um campo de concentração a céu aberto. Estão presas 1 milhão e meio de pessoas em 300 quilôme-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04013

tros quadrados – a maior concentração demográfica do mundo.

Depois desse balanço, eu diria, trágico, marcante para a história do povo palestino e desesperador para a consciência do povo israelense, teve sequência o segundo ato das eleições. A campanha ganhou as ruas, e o resultado oficial está praticamente anunciado. O partido que está no governo, o Kadima, que tem à frente a Sra. Tzipi Livni, obteve uma cadeira a mais: 28 cadeiras; o partido de direita, tradicional, o Likud, que tem à frente o ex-Primeiro-Ministro Netanyahu, obteve 27 cadeiras. Uma cadeira de diferença. O sistema de governo de Israel é parlamentarista.

Mas essas eleições trouxeram consigo 2 gran-des novidades. A primeira delas foi a fraca votação do Partido Trabalhista. O General Ehud Barak, que co-mandou a guerra e já foi Primeiro-Ministro – aliás, um dos generais mais condecorados de Israel –, liderou a lista dos Parlamentares trabalhistas derrotada pelo povo israelense. Está em quarto lugar aquele que di-rigiu Israel por tantas décadas.

E a segunda grande novidade foi a ascensão ex-traordinária do Partido Yisrael Beiteinu, dirigido pelo Sr. Lieberman, ultradireitista. É da extrema direita de Israel. Imaginem! Está aquele partido à direita do Likud! Não sei o que poderá ocorrer. Ele obteve 15 cadeiras, é a terceira força política de Israel.

Resultado desse processo: Israel mergulha numa crise, porque a Chanceler Tzipi Livni, cujo partido tem apenas 1 cadeira de diferença do segundo mais votado, reivindica o direito de formar o Governo de Israel, mas não conta com o apoio de outros partidos para formar uma coalizão capaz de perfazer os 61 Parlamentares necessários à maioria.

E o Sr. Netanyahu, cujo partido tem 1 cadeira a menos do que o mais votado, procura formar o Gover-no com os partidos de direita. De fato, se somarmos todos os votos dados aos partidos de direita, o resul-tado será 65 cadeiras.

Nunca ocorreu na história recente de Israel, nos últimos 60 anos, que o Presidente desse a um partido que não ganhou as eleições o direito de formar o Go-verno. Nunca! O partido que conseguiu eleger o maior número de cadeiras constitui o Governo. Essa é a tra-dição, aliás, é uma regra do parlamentarismo. Se ela não for seguida, não faz o menor sentido.

O Sr. Netanyahu reivindica, portanto, o direito de formar o Governo. E há Deputados que poderão emprestar-lhe apoio para constituir a coalizão de direta para governar Israel.

A crise, portanto, está estabelecida. Caberá ao Partido Trabalhista um lugar sem muita proeminência no próximo Governo.

Mas a reflexão que quero fazer no plenário des-ta Casa não é exatamente sobre a descrição dos fatos ocorridos na última eleição em Israel. No que diz respeito às decisões internas daquele país, na minha concepção – é uma concepção de princípios –, trata-se de questão a ser resolvida exclusivamen-te pelo povo israelense. Não posso, não devo e não é conveniente opinar se quem vai formar o Governo é Tzipi Livni ou Netanyahu. Não é politicamente cor-reto formar juízo. Formar o Governo de Israel é uma decisão interna e soberana do povo israelense. Não nos cabe discutir. Devemos apenas respeitá-la, como devem ser respeitados todos os chefes de governo e todos os Presidentes que forem eleitos em qualquer lugar do mundo, independentemente se temos ou não simpatia pelo eleito.

Nunca questionei a legitimidade do Governo do Sr. Bush, mas nunca tive simpatia por ele. Foi o povo norte-americano que o escolheu. Esse princípio deve ser observado pelos israelenses. Eles devem respei-tar as decisões autônomas e soberanas tomadas por todos os povos e reconhecer-lhes a soberania sem querer definir se reconhecem ou não qualquer decisão que qualquer povo do mundo tome soberana, legitima e democraticamente.

O sistema eleitoral de Israel e a situação de fra-gilidade do Governo, com a pulverização dos partidos, podem trazer como resultado que a chefia de governo fique com quem teve menos cadeiras no Parlamento. Esse é um problema para o povo israelense resolver.

O que eu gostaria de destacar neste pronuncia-mento, Sr. Presidente, é que, independentemente de quem forme o Governo, seja a Sra. Tzipi Livni, seja o ex-Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, o líder es-colhido compreenda em definitivo que só existe um caminho para garantir a estabilidade de vida do povo de Israel: a construção da paz. Independentemente de quem esteja no governo, de quem conduza a política externa de Israel, só existe um caminho: a construção da paz.

A paz no Oriente Médio tem um ponto central, a construção do Estado palestino. Essa questão não pode ser olvidada nem considerada como secundá-ria. É a questão essencial. Várias iniciativas já foram tomadas, Sr. Presidente, mas para essa situação só existem 3 caminhos, já amplamente discutidos, de conhecimento público, de conhecimento de todos os políticos, juristas, centros de estudos.

O primeiro é a construção de um único Estado formado por palestinos e israelenses, juntos, dada a precariedade da região para a formação de Estados pequenos, muitas vezes até economicamente inviáveis.

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04014 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Israelenses e palestinos unidos formando um único Estado. É uma tese.

O segundo caminho é o dos 2 Estados. Israe-lenses com o seu Estado, palestinos com o seu, com fronteiras claras, definidas, seguras, reconhecidas in-ternacionalmente, com presença em todos os órgãos internacionais. E cada povo constrói o seu caminho. É outra tese.

O terceiro caminho é o da ocupação, o domínio de um povo sobre o outro, que é o que estamos viven-do atualmente. Israel ocupou a Palestina. Desde 1967, ocupou a Palestina, a Cisjordânia, Gaza, a Síria, o Lí-bano. Retirou-se de parte do Líbano, ainda continua ocupando a Síria e ocupou toda a Palestina.

Existem assentamentos em territórios da Cisjordâ-nia. Milhares de judeus emigrados, num projeto organi-zado pelo Estado. Milhões de assentados em territórios palestinos. Expansão de colônias dentro de Jerusalém e a militarização. Há postos militares espalhados por toda a Cisjordânia e demais ocupações.

A Cisjordânia palestina não tem autonomia finan-ceira. Os impostos recolhidos do povo palestino vão para a economia e o caixa de Israel e não retornam. É aquilo que se chama de colonização mesmo. É um país colonizado.

Várias iniciativas foram tomadas. O Presiden-te Bush teve uma importante iniciativa: realizou uma reunião em Annapolis, nos Estados Unidos, há 1 ano e meio. Estava em marcha o debate de uma proposta chamada Mapa do Caminho. Mas não andou. E existe uma proposta da Liga Árabe, chamada Iniciativa Árabe, simples, clara, objetiva: o retorno às fronteiras de 1967 e a resolução sobre a questão de Jerusalém, como era naquele. Assim, a paz estaria constituída.

Portanto, não é por falta de propostas que não se avança em relação à paz. É por falta de maturidade, de grandeza. São interesses econômicos e geopolíti-cos envolvidos.

Sr. Presidente, eu diria algo forte no plenário des-ta Casa, porque tive a oportunidade de visitar a região por 3 vezes, como peregrino, cristão, anonimamente, orando nos lugares santos, mas também em missões oficiais: Israel se parece muito com uma base militar americana. Lamentavelmente, parece uma base militar norte-americana instalada no Oriente Médio.

O povo é militarizado. Dá tristeza ver jovens, crian-ças, meninas e meninos espalhados pela Cisjordânia, fardados e com metralhadoras a tiracolo, alimentando o ódio dos palestinos. Não são só os palestinos jovens que estão armados, como a imprensa muitas vezes mostra. Também os jovens israelenses estão incorpo-rando em definitivo uma visão racista, beligerante, em

relação a um povo que é primo. Na verdade, árabes e judeus são primos. São todos filhos de Abraão.

O que eu queria, enfim, Sr. Presidente, dizer no plenário desta Casa é que, porque tenho isso como princípio de visão política, respeito a soberania do povo israelense para definir quem chefiará o Governo de Israel. Por isso peço a quem quer que seja o novo governante que coloque em prática uma política exter-na de construção da paz. Trata-se de construir a paz, reconhecer o Estado palestino, voltar às fronteiras de 1967, debater uma saída justa para os refugiados pa-lestinos, como se discutiu há décadas a respeito dos judeus.

A paz está construída. Não existe mais lugar para guerras dessa natureza, guerras coloniais. O século XXI mostra apenas 3 ou 4 países ocupados: a Pales-tina, recentemente o Afeganistão, o Iraque. Seus terri-tórios foram ocupados militarmente por outros países, colonizados por outros países. Entendo que é uma questão complexa, contraditória e polêmica a ocupa-ção do Tibete pela China. Fora esses países, não há outros nessa condições. Houve a descolonização de toda a África, a descolonização de todos os lugares. O momento é de construirmos uma nova política ex-terna que reconheça o direito à autonomia do povo palestino, o direito de ter o seu Estado viável, de se organizar como povo.

Não é possível, Sr. Presidente, dizer que os isra-elenses reconhecem o Estado palestino, pois há mais de 500 colônias instaladas, com milhares de colonos judeus dentro do próprio território palestino. Há um muro de 700 quilômetros dividindo o território palestino e tornando-o inviável econômica e socialmente. Já não basta a divisão geográfica de Gaza para a Cisjordânia, porque ainda há esse problema interno.

Antes de finalizar, desejo êxito àqueles que pas-sarão a dirigir Israel nos próximos anos: êxito econô-mico, social, solidário e fraterno. Dentro de Israel, Sr. Presidente, existem intelectuais, jornalistas, estudantes, religiosos e ONGs que lutam pela construção da paz, que reconhecem o povo palestino. Lamentavelmen-te, a política externa do Estado israelense é diferente daquilo que pensa grande parte do povo. No entanto, creio que chegou a hora de colocarmos todas essas questões na mesa e procurarmos um caminho justo e legítimo, que permita a existência pacífica, o progresso social, solidário entre 2 povos que tanto influenciaram a humanidade, o de tradição árabe e o de tradição ju-daica. Esse é o meu desejo. Da tribuna desta Casa, desejo paz ao Oriente Médio, a imediata construção do Estado palestino.

Devo dizer que sou um adepto e defensor da Ini-ciativa Árabe, que propõe, de modo singelo e concreto,

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04015

a solução do problema. Ela vai ao ponto, é simples de ser realizada. É o retorno às fronteiras de 1967. Ponto final. Caso essa iniciativa seja acolhida, estará dado um passo grande no que se refere à construção da paz no Oriente Médio.

Finalizo afirmando que tenho grande esperança de que o Presidente Barack Hussein Obama traga uma grande contribuição nesse processo. Ele precisa se lembrar, antes de tudo, do seu nome, Barack Hussein. Seus ancestrais são vinculados a essa tradição. Ele deve ter um compromisso com essa paz, sim. Obama poderia passar para a história – vários Presidentes dos Estados Unidos tentaram, e não conseguiram – como aquele que assentou a pedra definitiva da construção da paz no Oriente Médio.

Toda a humanidade ganhará com isso, toda a humanidade avançará. Será importante para todos, do ponto de vista espiritual e religioso, mas também do ponto de vista material, considerando-se o petróleo e outras riquezas que possuem, da convivência pa-cífica, tolerante e cooperativa entre todas as nações daquela região.

Paz ao Oriente Médio! Almejo uma grande con-tribuição, neste momento, por parte do Presidente norte-americano, Barack Hussein Obama.

Era o que eu tinha a dizer.O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Obrigado,

Deputado Nilson Mourão pelo brilhante pronunciamen-to em favor da paz.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Conce-do a palavra ao Deputado Ricardo Quirino, do PR do Distrito Federal, e, em seguida, ao último orador des-ta manhã, o Deputado Capitão Assumção, do PSB do Espírito Santo.

O SR. RICARDO QUIRINO (PR – DF. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, antes de entrar no assunto que me traz à tribuna nes-ta oportunidade, quero fazer um pequeno comentário sobre o pronunciamento do nobre Deputado Nilson Mourão – é pena que S.Exa. tenha se ausentado do plenário. Não vi em seu discurso uma discriminação contra Israel, nada que apontasse o Estado de Israel como o principal ator nessa guerra destrutiva, mas, sim, o desejo de paz.

Aliás – sabemos todos – não é fácil alcançar a paz. E é necessário retornar a tempos muito antigos, até bíblicos, para entender o problema ali existente e que envolve questões sociais, religiosas e políticas. Temos de ir à raiz ou às raízes da questão para en-tender o processo e as diferenças daquele povo, que é irmão.

Estou certo de que, do fundo do nosso coração, todos desejamos que palestinos e israelenses possam

viver em paz, o que não é fácil. Existe uma guerra, uma estrutura formada, uma cultura que tem de ser mudada, e é por isso que os órgãos internacionais de-vem intervir. Não é fácil, repito, é uma longa estrada. Trata-se, porém, de sonho que pode ser alcançado naquela região.

Mas, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, te-lespectadores da TV Câmara, o assunto que quero abordar é educação. No ano passado a educação foi marcada – e V.Exa., nobre Deputado Chico Lopes, que é professor, sabe muito bem disso – por momentos muito tristes, em razão dos inúmeros casos de vio-lência ocorridos em todo o Brasil, especialmente no Distrito Federal. Precisamos fazer um balanço disso e esperar que o ano de 2009 seja diferente, que haja um grande avanço nessa área. O Presidente da República e o Ministro da Educação muito se têm se esforçado para agregarem valor à educação, especialmente no que diz respeito aos professores, que merecem ser valorizados.

“Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra”. É com esse pensamento do inesquecível educador Anísio Teixeira que inicio algumas reflexões sobre a educação. E, com certeza, não há conceito mais real que esse.

A educação, por ser vida, alcança a todos, inde-pendentemente de sua condição social, econômica, religiosa e política. E, como vida, tem seus momentos de fortaleza e de fraqueza: ora acerta, ora erra. O que é inconcebível é a omissão, a falta de vontade política de acertar e fortalecê-la.

Mostra a nossa história que a educação sempre teve uma importância secundária. O professor e mes-tre José Luiz de Paiva Bello, em seu trabalho “Edu-cação no Brasil: a história das rupturas”, afirma que, enquanto em 1538 já existia uma universidade em São Domingos, em 1551, uma no México e outra no Peru, a nossa primeira instituição de ensino superior surgiu somente em 1934.

Por todo o período imperial, pouco se fez pela educação brasileira. Com a Proclamação da República, tentou-se várias reformas, mas a educação brasileira não evoluiu em termos de modelo. Por isso, trago à re-flexão dos nobres colegas alguns pontos sobre esse apaixonante tema.

Começo pelo que considero a base da educação: os educadores, especialmente os da escola pública, os seres cíclicos do grande sistema educacional, que um dia foram alvos da aprendizagem e hoje ensinam e educam, mas devem continuar aprendendo, pois, como a vida, a educação tem sempre algo mais a ensinar.

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04016 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Alvo de constantes cobranças e também da falta de investimento ao longo da nossa história, somente a partir de 1990, percebida a desvalorização salarial e as más condições de trabalho, causas de um ensino criticado pela UNESCO, o magistério brasileiro passou a ser visto com outros olhos.

Desde então, vemos, ainda que a curtos e, às vezes, lentos passos, o surgir de uma caminhada em favor de nossos educadores, o que inclui a aprovação, no ano de 2008, da Lei Federal nº 11.738, que insti-tuiu o piso salarial de 950 reais para os profissionais da educação básica pública. Importante passo para a valorização do magistério, essa medida, por alguns motivos – e não posso afirmar se justificáveis ou não –, foi alvo de reações contrárias por parte de gover-nantes estaduais.

Sabe muito bem V.Exa., Sr. Presidente, que muitos governantes ainda batem o martelo dizendo que não podem pagar o piso salarial aos professores, como se eles não fossem importantes na construção do País e dos Estados. É bom lembrar que, sem educação, o Estado para e, dessa forma, não há desenvolvimento, não há progresso, não há futuro.

Uma coisa é certa: a necessidade de dignificar essa carreira que, do ponto de vista salarial, é um quase sacerdócio e que vem, ao longo dos anos, acumulan-do a pressão exercida pelo surgimento e agravamento de inúmeros problemas. Além da questão salarial, a violência dentro e fora das salas de aula vem aumen-tando, as condições de trabalho piorando e a queda no número de interessados em ingressar no magistério diminuindo. Esses são alguns dos problemas que têm de ser enfrentados.

Esse fato foi comprovado com a divulgação de dados do Censo Escolar 2008, em janeiro último, mas já havia sido detectado em junho daquele ano por estudo encomendado pela Fundação Lemann e pelo Instituto Futuro Brasil. Os dados apontam que apenas 5% dos melhores alunos formados no ensino médio querem atuar como docentes do ensino básico.

O baixo retorno financeiro e o desprestígio social da carreira docente foram citados entre os principais fatores para o perfil identificado no levantamento. E, naturalmente, neste mundo competitivo, alunos e pais desejam carreiras com rápido retorno – não só finan-ceiro, como também social.

Assim, polemicamente, o estudo concluiu que, ao contrário dos países com sucesso educacional, o Bra-sil atrai para o magistério sobretudo profissionais que possuem mais dificuldades acadêmicas e sociais.

Nessa minha peregrinação por colégios públicos e unidades escolares do Distrito Federal, conversei com vários educadores e diretores e pude constatar

sua tristeza diante da falta de interesse dos alunos em se tornarem professores.

Muitos lamentam o que temos sempre comen-tado neste plenário, nobre Deputado Veloso: o fato de os professores não receberem um salário digno, com-patível com seus currículos com o seu empenho. Eles, porém, são vencedores, e resistem nessa luta.

De uma professora, ouvi o seguinte comentário: “Eu sou professora, porque tenho isso no meu sangue, não vou olhar para o salário. Enfrentamos dificuldades, mas nós não arredamos pé, nós temos um sonho”. Assim, deixo registrada a palavra dessa educadora, o sonho e a luta que ela enfrenta na sua escola.

E, como falei sobre o Censo Escolar de 2008, abro um parêntese para a esperança, pois seria injus-ta minha participação nesta tribuna se não citasse os avanços detectados na educação: em relação a 2007, aumentou em 14,7 pontos percentuais o número de alunos em escolas de educação profissional; foram ampliadas as matrículas de alunos com deficiência em escolas regulares; cresceu o número de escolas de tempo integral e avançou-se na alfabetização.

Sr. Presidente, senhoras e senhores que acom-panham esta sessão, no item Condições de trabalho do magistério, é preciso discutir pontos como a dimi-nuição da jornada, a redução do número de alunos por sala e a relação saúde/ambiente de trabalho.

Sobre os problemas de saúde do professor rela-cionados ao exercício da atividade, pesquisa divulgada pelo Centro de Estudo da Voz, em São Paulo, mostra que 63% dos educadores já sofreram problemas vocais e mais de 15% acreditam que precisarão mudar de ocupação no futuro por conta desses problemas. Suas principais causas são o uso excessivo e inadequado da voz e as condições impróprias para o trabalho.

Ouço, com prazer, o Deputado Chico Lopes.O Sr. Chico Lopes – Primeiro, quero elogiar a

maneira tranquila com que V.Exa. discorre sobre edu-cação. Segundo, quero parabenizá-lo por ter invocado Anísio Teixeira, um educador fora de moda, mas que deu grande contribuição não só política como ideológica à educação do Brasil naquela época tão difícil – ago-ra tornou-se tão mais fácil. Vou comentar 3 questões mencionadas no discurso de V.Exa. A primeira delas é a universalização. Hoje, podemos dizer que está cami-nhando bem a universalização do ensino brasileiro. A descentralização também é importante, assim como o financiamento da educação. Mas estamos nos esque-cendo de discutir – e V.Exa. já dá o caminho – o atual momento de crise e de violência da sociedade que recai sobre o profissional do magistério. Sou daqueles que discordam quando dizem que a escola está violenta. A escola não está violenta, mas a sociedade, sim. A escola

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04017

sempre foi o santuário da transformação, do respeito e do conhecimento das pessoas que a procuram. Nós, professores – e faço uma autocrítica, professor que sou há 40 anos –, perdemos a autoridade dentro da sala de aula em nome de algumas pedagogias ou de algumas inovações no ensino. Somos tratados como “cara”, “bicho”, e vemos aluno sair e entrar na sala de aula sem nos dar a menor satisfação. Não quero a volta da palmatória, é lógico, mas quero que volte o respeito do aluno pelo professor. O aluno está na escola para aprender e precisa de um mestre. Dizem os Governos Municipal e Estadual que não têm condições de pagar 950 reais para o professor até 2010. Como se pensar em educação sem salário? Vocação sacerdotal? Isso era no passado! O magistério é uma profissão como qualquer outra, com grande importância para o desen-volvimento não só econômico e social, mas comporta-mental da sociedade, porque a paz passa pela formação educacional, como disse o Deputado Nilson Mourão em seu discurso e observou V.Exa. Seja muçulmano, seja judeu, seja o que for, se a sociedade não com-preender que a educação aproxima as pessoas, fica difícil, mesmo sabendo que a educação teoricamen-te é de classe, é um subsistema. Seria bom se mais Deputados pudessem apartear o discurso de V.Exa., porque não podemos aceitar que uma Prefeitura diga não poder pagar um salário de 950 reais, até porque o nosso sistema de financiamento educacional é pelo número de alunos, e o Governo Federal repassa uma boa parte ou a maior parte aos Governos Estaduais e Municipais, cabendo a esses apenas uma pequena parte. O Presidente prontificou-se a ajudar o máximo. Então, é falso esse discurso de não poder pagar os 950 reais. Um delegado da Polícia Federal ganha mais de 14 mil reais, um salário suficiente. Por que nós, que somos responsáveis pela transformação dos alunos, vamos nos limitar a receber apenas 400, 600, 800 re-ais, doando-nos aos filhos de pessoas que não podem pagar uma escola cara, um ensino particular? Portanto é um discurso que poderia ser melhor aproveitado num debate, para mostrar que nós, que somos do batente do magistério, estamos conscientes do nosso papel. Os governantes e a sociedade que procurem fazer a sua parte, porque nós já fazemos a nossa. A propósito, ressalto que ontem, aqui em Brasília, foram julgados os assassinos de um professor morto na escola. Vá-rios professores do meu Estado não querem ir para certos bairros, porque não têm condições de enfrentar a violência das crianças. Eu sou de um tempo em que as crianças respeitavam os mais velhos. Hoje, os mais velhos têm medo das crianças, há uma inversão. Sem investimentos na educação, estaremos fadados, cada vez mais, à violência, porque as elites podem pagar

1.300 reais para seus filhos estudarem num colégio como o Galois, 1.200 num bom colégio em São Paulo, mas quem recebe salário mínimo tem de recorrer ao ensino público? O ensino público tem de ser de quali-dade para atender às políticas públicas dos governos. Deputado Ricardo Quirino, obrigado pelo aparte e me desculpe pelo entusiasmo, mas não poderia deixar de aproveitar esta oportunidade para falar num discurso importante como o de V.Exa.

O SR. RICARDO QUIRINO – Agradeço a V.Exa., Deputado Chico Lopes, o aparte.

É exatamente isso. Há uma incoerência. Os go-vernantes devem se lembrar de que um dia passaram pelas salas de aula e que receberam ensinamentos dos professores, formadores de opinião, formadores da sociedade.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a cons-tatação acerca do problema de voz dos professores me fez apresentar, em julho do ano passado, o Projeto de Lei nº 3.75, de 2008, que destina às salas de aula dos ensinos médio e superior, com 40 ou mais alunos, dispositivos de sonorização, a fim de assegurar melhor desempenho dos professores, instrutores e monitores, elevando, assim, a qualidade de ensino.

E, neste início de ano letivo, fiquei muito feliz com a decisão do Governo do Distrito Federal de adquirir 18 mil microfones para evitar que os professores gri-tem nas salas de aula. O Governo do Distrito Federal assume posição de vanguarda ao atender ao sonho de todos os educadores e ao projeto que apresentei nesta Casa.

Ainda no âmbito do Distrito Federal, registro a re-cente posse de 699 novos professores concursados na rede pública e a convocação de 1.200 temporários.

A educação, no sentido amplo, é o fenômeno res-ponsável pela manutenção e perpetuação da sociedade a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir, necessários à convivência e ao ajustamento de um membro.

Quanto à educação escolar, o seu principal ator é o professor; o alvo inicial que compõe a platéia, mas que não deixa de ser ator coadjuvante, é a criança; o palco é inicialmente a escola. E, como palco da vida, a escola deveria ser um lugar agradável, de com-panheirismo, mutualidade e compartilhamento. E na verdade o é.

Conforme comentou o Deputado Chico Lopes, essa violência, esse desrespeito vem de fora para dentro. A educação começa na família, que tem impor-tância vital sobre como a criança vai se apresentar na escola. Com certeza, os pais têm de se envolver muito mais nos conceitos de educação, a fim de que seus filhos reconheçam que a escola é a extensão de sua

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04018 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

casa. No entanto, é cada vez mais difícil a criança, o jovem e mesmo o adulto da atualidade entenderem e viverem esse conceito.

Infelizmente, a escola atual está perdendo a iden-tidade original por estar cada vez mais vulnerável a agentes externos que danificam gravemente o apren-dizado, as relações sociais e o próprio ambiente de ensino. Infelizmente, um desses fatores é a violência.

Confesso que não gostaria de tratar de violência relacionada ao ambiente escolar. Não! Na condição de alguém ligado à paz cristã, não desejaria abordar esse assunto. Mas, legislador e fiscal do Executivo, assim constituído pelo povo que depositou em mim sua con-fiança por meio do voto, não posso fechar os olhos ao fato de que, somente em um dia, o último dia 10, o jornal Correio Braziliense publicou 3 matérias ligadas a esse assunto: “Menor é detido com arma de fogo dentro da sala de aula”, “Acusados de matar Prof. Carlos Mota vão a júri na quarta-feira” – e foram condenados – e “Polícia mapeia pontos onde adolescentes costumam se reunir para confrontos”.

Infelizmente, ficou notório para todo o País que há essa guerra, essa batalha entre alunos de escolas particulares de Brasília, no Parque da Cidade, mas, graças a Deus, e por intervenção da Polícia, depois de uma denúncia anônima, evitou-se tragédia maior. E não esqueçamos de que o Distrito Federal ainda se orgulha dos baixos índices de violência.

Mas, Sr. Presidente, não é de hoje que tomamos conhecimento do registro, em todo o Brasil, de agres-sões, ameaças, consumo e tráfico de drogas dentro dos estabelecimentos de ensino e em seus arredores. Sa-bemos que está mais forte na juventude a necessidade de autoafirmação, mas essa afirmação está transpondo as barreiras da legalidade de forma brutal e invadindo as escolas, por meio da violência e do consumo das drogas. E isso, inevitavelmente, está trazendo à tona, e de forma mais rápida, a necessária discussão sobre a adoção de medidas de natureza policial dentro e ao redor dos estabelecimentos de ensino.

Esta Casa já discutiu racionalmente e optou por rejeitar propostas legislativas que obrigavam o uso de detectores de metais nas escolas. Mas, pela ausência ou ineficiência de outras opções, vemos que, por extre-ma necessidade e para garantir a segurança de nossos filhos, já há algum tempo os detectores chegaram aos portões das escolas e agora chegam às salas de aula. Essa medida é fruto da violência que sai das ruas e de lares mal-estruturados em direção às escolas, às salas de aula, aos educadores e alunos.

A violência, dentro ou fora das salas de aula, mas relacionada ao ensino, torna-se uma porta aberta para o caminho de desqualificação da educação brasileira.

Não são poucos os casos de educadores que abando-nam ou pensam em abandonar o magistério para se dedicar a outras atividades “menos arriscadas”.

Em sua edição de hoje, o jornal Correio Brazilien-se, no caderno Cidades, menciona a condenação dos acusados de terem assassinado o Prof. Mota – todos podem ter acesso. Diz a matéria:

“A rotina do colégio do Lago Oeste nunca mais foi a mesma depois da morte de Carlos Mota. O professor que assumiu o lugar dele para sair menos de um mês depois. Foi amea-çado de morte por telefone. Márcia, professora de matemática, 40 anos, assumiu a missão. Na segunda semana de trabalho, encontrou no banheiro masculino o seguinte recado: ‘Foi o Carlos, agora vai a nova diretora’. Ela não de-sistiu. ‘Meu ideal foi maior que o medo’.”

A coisa é séria, mas, graças a Deus, o Gover-no daqui tem enfrentado de maneira positiva e inte-ligente.

Quem imaginaria que a profissão que, no início da República, adquiriu certo status – tanto que, nos pequenos Municípios, os professores, tidos como ver-dadeiros agentes do Estado, gozavam do respeito da sociedade – passaria a enfrentar a desqualificação, o desprestígio e, principalmente, o desrespeito por parte de governantes, pais e alunos?

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, demais pessoas que nos acompanham pela TV Câmara, um bom ensino exige alto investimento. Boas escolas custam caro. É ilusão acreditar na possibilidade de se proporcionar ensino público gratuito e de qualidade a baixo custo.

E quando falo de investimento não me refiro apenas à realização de obras, muitas delas faraôni-cas, algumas desnecessárias, que o passar do tempo transforma em verdadeiros elefantes brancos e revela o prejuízo que geraram, em muitos casos da ordem de milhões, em termos monetários.

Investir milhões em educação é crer que haverá retorno a curto, médio e longo prazos. É crer que esse investimento produzirá uma geração pronta para en-frentar desafios, disposta a aplicar os conhecimentos adquiridos e apta para competir nos mercados inter-no e externo, principalmente neste momento de crise mundial.

É possível, sobretudo adotar medidas de custo zero por intermédio de uma formação além da cultu-ra. Princípios e valores precisam ser resgatados no processo educacional, para que tenhamos crianças, jovens e adultos dotados de caráter equilibrado.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04019

O escritor norte-americano Theodore Palmquis-tes alerta para a formação, especialmente na escola pública, ao formular o seguinte pensamento:

“O grande segredo da educação públi-ca de hoje é sua incapacidade de distinguir conhecimento e sabedoria. Forma a mente e despreza o caráter e o coração. As consequ-ências são estas que se vê.”

Alguns países perceberam isso há mais tempo e passaram a investir maciçamente em todos os ní-veis da educação pública. Hoje, esses países são re-conhecidos pelos resultados positivos das aplicações em suas economias e na qualidade de vida de seus habitantes.

No Brasil, a formação durante algum tempo não foi eficaz nem na cultura nem no caráter, graças à mal-fadada aprovação automática na rede pública de ensi-no, que gerou mentes perdidas em termos de conhe-cimento, contrariou o arts. 205 e 206 da Constituição Federal, não resolveu o problema da evasão escolar e só serviu às estatísticas que falsamente passaram a ideia de que caía os índices de repetência nas es-colas brasileiras.

Nobre Deputado Veloso, que também é educador, Sras. e Srs. Deputados, não sou educador no senti-do profissional da palavra, mas sou representante do povo brasileiro, sou Parlamentar, e meu compromisso com a educação vai muito além do custo da profissão – e precisamos ter grande envolvimento não só com a educação, mas também com a segurança e a saúde, dever de todos nós e cobrança do povo brasileiro. Mas, na certeza de que é preciso somar esforços, coloco-me na linha de frente da batalha por um sistema educa-cional eficaz e eficiente, com educadores qualificados e valorizados e com alunos conscientes, responsáveis e dotados de conhecimentos que os inspirem e os mo-tivem a lutar para alcançar uma colocação digna na sociedade do ponto de vista profissional e humano.

Concluo, Sr. Presidente, com um pensamento do educador Paulo Freire:

“Não é possível refazer este País, de-mocratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofen-dendo a vida, destruindo o sonho, inviabili-zando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade mudará”.

Era o que queria deixar registrado nesta ma-nhã.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Veloso) – Parabenizo o Deputado Ricardo Quirino, do PR do Distrito Federal, pelo excelente pronunciamento.

Durante o discurso do Sr. Ricardo Quirino, o Sr. Chico Lopes, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr. Veloso, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Veloso) – Concedo a pala-vra ao Deputado Capitão Assumção, do PSB do Espí-rito Santo. S.Exa. dispõe de até 25 minutos.

O SR. CAPITÃO ASSUMÇÃO (Bloco/PSB-ES. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, amado De-putado Veloso, do PMDB da Bahia, Sras. e Srs. De-putados, senhores funcionários desta Casa de leis, louvado seja o nome do Senhor!

Sou iniciante na Câmara dos Deputados. O fato de estar neste plenário no intento de proferir meu pro-nunciamento como membro efetivo desta Casa enseja a passagem de um “filme” em minha mente, onde têm lugar momentos e pessoas que marcaram e marcam a minha vida.

Falo de pessoas especiais: minha família, meus amigos militares e civis, demais operadores de segu-rança pública e tantos outros agentes do Estado que ainda não perderam a consciência de cidadania e a capacidade de sonhar.

Nasci no dia 12 de abril de 1963, no Município de Vila Velha, Estado do Espírito Santo. Sou filho de Manoel Assumção e de Luci Castelo de Assumção.

No bairro do IBES, vivi minha infância e adoles-cência com simplicidade e tranquilidade.

A disposição de iniciar a carreira militar herdei de meu saudoso pai, então sargento da PM do Estado do Espírito Santo.

Tamanha era a vontade de seguir os passos de meu pai, Sr. Presidente, que inicialmente ingressei no Exército Brasileiro, servindo como soldado no 38º Ba-talhão de Infantaria por mais de 1 ano.

Ingressei como soldado nos quadros da Polícia Militar em 1983. A ascensão funcional ocorreu de forma paulatina, e, degrau por degrau, fui galgando a esca-da da hierarquia militar. Um ano após minha formação como soldado, já alcançava o posto de sargento.

A insistência em defender as causas dos soldados que sofriam perseguições dentro da caserna trouxe-me graves consequências, haja vista que os comandantes da Polícia Militar capixaba não viam com bons olhos ninguém que “subvertesse a ordem”.

Tal fato me coibiu a ascensão ao quadro dos ofi-ciais por quase 10 anos. Tentava concursos públicos, era aprovado, mas administrativamente minha ascen-

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04020 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

são para a academia de polícia era inexplicavelmente indeferida. Nos idos de 1992, pude finalmente galgar à academia de oficiais da Polícia Militar do Espírito Santo. Na minha simplicidade de policial militar, eu acreditava que o ostracismo finalmente havia chegado ao fim.

Durante todo esse tempo, fixou-se em minha mente a dificuldade que o militar estadual tinha em defender os seus parcos direitos, pois aprendi desde os remotos tempos de formação como soldado na Po-lícia Militar que “o direito do militar era não ter direitos”. Inexplicável um negócio desses!

Todo esse processo se cristalizou em 2002, du-rante o caos administrativo perpetrado numa gestão governamental desastrosa. Nesse momento, todos os servidores públicos do Estado e a própria sociedade capixaba foram duramente atingidos, não sendo dife-rente com a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros do Espírito Santo.

Foi dessa forma, Sr. Presidente, que falaram mais alto todos os anos vividos como soldado, sargento, tenente e, naquela feita, já como capitão. Ocupava o posto de capitão no momento em que o Estado pas-sou por dificuldades, e todo o Brasil sabe o que acon-teceu mais ou menos nos idos de 2002. Foi quando alguns militares estaduais colocaram-se em defesa não de uma casta, mas de toda uma categoria que se encontrava totalmente insegura ante o descaso com os guardiões da paz e que, paradoxalmente, tinham a difícil missão de proporcionar segurança à população. Afinal, segurança só dá quem tem.

Infelizmente, como comprovação inequívoca des-se triste tempo, está escrita, de forma perene, no his-tórico de nosso querido Estado do Espírito Santo uma página que registra o envio de força-tarefa federal com o objetivo de realizar uma assepsia moral em um Esta-do que, naquela feita, estava corroído pela corrupção e malversação do dinheiro e patrimônio públicos.

Isso me faz lembrar uma citação de Santo Tomás de Aquino: “Se a meta principal de um capitão fosse preservar o seu barco, ele o conservaria no porto para sempre”.

Ora, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, des-se porto seguro, há tempos já havia zarpado para a luta. E, antes de nosso Estado praticamente sofrer uma “intervenção federal” – período histórico e triste do Estado do Espírito Santo –, os militares estaduais viveram um movimento paredista, em que a reivindi-cação não era por melhorias salariais nem por condi-ções mínimas de trabalho – nem coletes os policiais tinham para ir às ruas, tampouco armas –, mas pura e simplesmente para recebimento de seus minguados salários em dia. Além de serem poucos, parcos, não eram pagos em dia. O expurgo veio rapidamente. Os

considerados insurgentes foram exemplarmente pu-nidos com transferências para o interior do Espírito Santo. Deu-se a diáspora.

Por obra divina, fui transferido compulsoriamente para Ecoporanga, Município situado no extremo noro-este do Estado do Espírito Santo, a 320 quilômetros de Vitória, vindo então a comandar a 2ª Companhia do 11º BPM.

Hoje, depois de 6 anos residindo nesse Município, sinto-me como um verdadeiro cidadão ecoporanguen-se. Lá tive a alegria de conviver em uma comunida-de formada, em sua maioria, por gente trabalhadora e honesta. Lá, também, encontrei aquela com quem vim a constituir um lar, na acepção completa da pala-vra, a minha amada esposa Alda Marcia Vaz de Arau-jo Casagrande Assumção. E são de lá meus 2 filhos: Manuella Amaral Castelo de Assumção e Victor Ga-briel Casagrande. Hoje vejo que nada aconteceu por mero acaso.

O meu compromisso na esfera da segurança pú-blica vai além do puro pragmatismo na aplicabilidade de normas. Ela gera inquietação e, por vezes, inconfor-mismo. O dinamismo nas relações sociais, alavanca-das pelo materialismo e individualismo cada vez mais exacerbados, estão levando as pessoas a perder o seu senso de humanidade. É cada vez mais comum ver o interesse coletivo sendo suplantado pelo individual. O volume de ocorrências delituosas colaboram para a banalização da vida, e muitos já não mais se impres-sionam com essa faceta perversa da desigualdade social e da irracionalidade do homo sapiens.

Uma tentativa de compreensão dessa teia de interações sociais, políticas e econômicas engendra certo grau de complexidade, com certeza. Esse de-safio aponta para uma busca por maior capacitação, aprimoramento, aperfeiçoamento, enfim, por total pro-fissionalização do agente do Estado, cada vez mais necessária e imprescindível, por parte dos envolvidos com a área de segurança pública.

Mas, do mesmo modo, não pode ser esquecida a imperativa preservação do sentido de humanidade desses agentes. O senso de cidadania não pode sim-plesmente ser suprimido ao vestirem uma farda ou um uniforme, na missão de representar e exercer o poder conferido pelo Estado.

Independentemente do grau de consciência ou alienação, de motivações justas ou não, legais ou ile-gais, as manifestações impulsionadas por essa orfan-dade instituída estão relegando as ações policiais a um instrumento exclusivamente paliativo, por vezes, configurando-se em mera demonstração de força, em momentos de maior efervescência.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04021

Para nós, Sr. Presidente, é totalmente relevante questão posta entre o exercício da cidadania e a fun-ção de agente do Estado, por parte daqueles que in-tegram as corporações policiais civis e militares, bem como as Forças Armadas. Estamos convencidos de que nossa maior luta classista passa pela correção dessa distorção, dessa dicotomia, desse quase para-doxo afeto à rotina e à vida do policial cidadão e do cidadão policial.

Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores telespectadores da TV Câmara, somos sabedores da dificuldade dessa missão, a começar por mim mesmo, que trago em meu nome o posto que ocupava quando assumi este mandato, qual seja, o de capitão. Dificil-mente voltarei a vestir uma farda, pois, por força de um preceito constitucional anacrônico, ao tomar pos-se, fui compulsoriamente transferido para a reserva. Nós somos militares não cidadãos, porque a Consti-tuição Federal nos trata com desrespeito. A ditadura já acabou.

É isso que ocorre com qualquer militar, indepen-dentemente da sua graduação na ativa, quando ousa se candidatar a qualquer cargo público. Se assumir, Sr. Presidente, Deputado Veloso, aposenta-se. E, conve-nhamos, isso não é nem um pouco incentivador. Não há um incentivo para que o militar se candidate ou tente defender a sua sociedade na política. No entan-to, chegamos até aqui. E não é agora que iremos nos desfazer dessa identidade. Não iremos negá-la, pois, do pouco que sei, muito eu aprendi com meus irmãos militares. A minha educação veio de um policial militar, de um soldado que se aposentou como sargento. Em qualquer momento dessa nova vida pública, duplamen-te estigmatizado ou não, continuarei sendo o Capitão Assumção. E, agora, Deputado Capitão Assumção.

Arguimos a pecha do estigma porque sentimos na pele o quanto alguns aspectos históricos contribu-íram para que a potente arma do preconceito estabe-lecesse as forças policiais como quase que inimigas da população, quando, na verdade, somos os guar-diões da sociedade, da lei e de todos os preceitos e normas sociais.

A utilização das Forças Armadas e das polícias como braço do então ideológico Estado ditatorial reper-cute até os dias de hoje, mesmo porque a invocação desse fantasma, desse espectro sombrio, por vezes, é realizada em demasia e a todo instante. Sentimos isso na pele o tempo todo. Tenho a convicção de que esse período infeliz de nossa história nunca mais voltará, em razão da consolidação do Estado Democrático de Direito no Brasil.

Fica aqui uma certeza: nós, os militares do pre-sente, não somos os supostos torturadores do passa-do. Amo a democracia e morro por ela.

Qualquer pessoa percebe que algo está muito errado quando assiste a repetidos casos em que or-ganizações criminosas praticamente impõem um es-tado de sítio, restringindo a liberdade da população e desafiando o Poder Público.

Enquanto o crime se planeja e se organiza, por-que o crime é organizado, sim, nossa sociedade e os Poderes Públicos praticamente se deliciam em apontar os organismos policiais como responsáveis pelas altas taxas de criminalidade, como se a inoperância pela au-sência de políticas públicas fosse da polícia. Mas não é da polícia. A polícia não faz políticas públicas.

Devemos ter em mente, e atualmente estamos testemunhando essa tendência, que excesso de di-reitos não se constitui na garantia de que os mesmos sejam exercidos em sua plenitude, em cima de quem realmente precisa, que é a grande massa da socie-dade brasileira.

Foi alcançada a tão esperada liberdade. Mas o que fazer com ela? Para muitos o uso da liberdade significa simplesmente quebra das normas e não submissão a elas, sendo óbvio que elas são princípios basilares para a vida em grupo. Os direitos não podem prescin-dir das obrigações. O equilíbrio nas relações sociais resulta dessa harmonia.

Sr. Presidente, hoje em dia, quando observamos questões graves, como a desagregação das famílias, assistimos à confirmação e à afirmação de um tem-po em que se pode quase tudo. Esse é o campo fértil para o crescimento do consumo de drogas lícitas ou ilícitas, para o aumento da violência contra as mulhe-res, para a prática animalesca da pedofilia e outras mazelas sociais.

Adiciona-se negativamente a essa triste realidade a distância abissal empreendida pela TV brasileira da função de ser um instrumento para entreter e educar com qualidade, e estará criado o cenário ideal para o esfacelamento das relações familiares e a abertura do caminho do mais fácil, do imediatismo, em que os fins justificam os meios e qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Esse resgate da família brasileira passa pela observância dos preceitos divinos e dos homens e pelo respeito a eles.

Mas essa tarefa de resgate não é nada fácil. É muito desigual e injusta essa luta, mas nunca inglória. Nesse sentido, será passível de mensuração a quan-tidade de pessoas no Brasil que, diariamente, entram para a marginalidade ao cometerem o seu primeiro delito? Se isso fosse possível, certamente ensejaria números assombrosos, coisa que nenhuma estatísti-

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04022 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

ca brasileira consegue fidelizar. Então, se considerar-mos os delituosos primários, mais os profissionais do crime, teremos um número elevadíssimo de delitos a cada dia em nosso País.

Proporcionalmente, as forças policiais estão em permanente desvantagem, e as goleadas estabeleci-das entre infrações cometidas contra prisões efetuadas serão sempre frequentes. Quando ocorre de a policia marcar o gol de honra, os transgressores são sumaria-mente encaixotados em um DPJ, não se respeitando os princípios basilares dos direitos humanos, e, no fim desse processo, transferidos para uma penitenciária, a chamada “pós-graduação do crime”. Se for um me-nor de idade penal, irá para os estabelecimentos de ressocialização, institutos ou fundações, onde, depen-dendo do caso, tudo é possível, menos um indivíduo ser ressocializado. Se alguém souber de algum caso, conte-me, que baterei palmas, no mínimo.

Urge não mais colocarmos em um mesmo am-biente, independentemente de idade, “ladrões de gali-nha” e criminosos de alta periculosidade, pois, agindo dessa forma dentro do sistema carcerário atual, esta-remos promovendo às expensas de recursos públicos um curso de pós-graduação em criminalidade. Devi-damente “formado”, qualificado, capacitado, quando o ex-detento retornar ao convívio social, seus objetivos e projetos criminosos serão bem mais audaciosos. E as galinhas de outrora, de menor potencial ofensivo, formam uma etapa cumprida no mundo do crime, que, na maioria das vezes, o Estado deixa de controlar, com toda certeza.

Sr. Presidente, Deputado Veloso, diante da mi-nimização das funções do Estado e da decorrente or-fandade institucional a que grande parte da sociedade é compelida, como estabelecer uma política social no Brasil que não seja classificada como assistencialista? Parece certo, apesar das criticas contumazes ou de falhas já detectadas, que a política social do Governo Lula não encontra precedentes na história recente de nosso País. Nesse sentido, podemos afirmar que o mí-nimo sustento pôde ter feito com que muitas famílias superassem o estágio de miséria absoluta.

Com efeito, a tendência neodesenvolvimentista, que conta com a efetiva participação do Estado no es-tabelecimento de políticas econômicas que visam ao crescimento da produção industrial e da infraestrutura, pôde representar um alento, uma tentativa de romper as barreiras do assistencialismo, criando condições para que a geração de emprego e renda alcance de fato aqueles que dela necessitam e que, por um deta-lhe mínimo, poderiam estar entrando para o mundo do crime, permitindo a saída do estágio de passividade

para a efetiva inserção no mercado de trabalho. Enal-teço a política do Presidente Lula.

Se o Estado brasileiro propiciar o acesso mais amplo a serviços essenciais constitucionalmente pre-vistos, como saúde e educação, aí, sim, poderemos permitir maior inclusão de pessoas no mercado de trabalho e, pari passu, promover a tão propalada jus-tiça social. Quantos primeiros delitos poderíamos já ter evitado? Persistindo o contrário, estaremos, como sempre, apenas tampando a cabeça e desencobrin-do os pés.

Podemos achar até pouco provável a coexistência do fenômeno do desenvolvimento com justiça social, mas não deixaremos de acreditar que é possível. Do mesmo modo nos parece quanto ao respeito ao meio ambiente. O aquecimento global e o efeito do derreti-mento dos glaciares são ameaças que até pouco tempo pareciam coisa de filmes-catástrofe hollywoodianos.

Se não promovermos o crescimento econômico centrado no desenvolvimento sustentável com a pro-moção de justiça social, podemos devastar nossas esperanças e condenar nossas expectativas de um mundo melhor, pois nem ele suportará a irracionali-dade do bicho homem.

Por fim, Sr. Presidente, minha história e essa vi-são de mundo que transcende para além das neces-sidades e clamores classistas, mas considerando-as como imprescindíveis para a construção de uma so-ciedade mais justa e humana em todos os sentidos, levaram-me a lançar meu nome numa consulta interna realizada dentro das corporações Polícia Militar e Bom-beiro Militar, no Estado do Espírito Santo, no ano de 2005. Nessa consulta fui referendado como candidato para disputar a cadeira de Deputado Federal, dentro do projeto político dos militares estaduais, que, após, veio a contar com o apoio do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais.

Dessa forma, encarei o pleito eleitoral de 2006 com muita coragem e disposição, pois era o pouco de que dispunha para a primeira disputa para um cargo público a que me habilitava em minha vida.

O resultado final colocou-me como primeiro su-plente da coligação que elegeu 3 Deputados. A vitó-ria do nosso amado Deputado Neucimar Fraga nas eleições para a Prefeitura de Vila Velha trouxe-me para Brasília para, neste momento, fazer o primeiro discurso como Deputado Federal, agora na condição de titular do mandato.

Quero, de pronto, colocar-me como mais um membro da bancada evangélica para, junto com os demais Parlamentares dessa bancada, lutar para que os princípios cristãos sejam respeitados na preserva-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04023

ção da vida e da família. Sim, Sr. Presidente, sou mais um irmão nessa luta.

No que se refere à segurança pública, coloco à disposição minha experiência profissional para en-frentarmos um desafio em que o Estado do Espírito Santo, como provam as estatísticas, é um triste e real exemplo. As notícias dos nossos jornais locais retra-tam isso diariamente.

Todos os Parlamentares que se preocupam com esse delicado tema podem contar comigo, não como um capitão, mas como mais um soldado para cerrar fileiras nessa luta que, como frisamos, é desigual e, por vezes, injusta, mas nunca inglória.

Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Veloso) – Parabenizo o

Deputado Capitão Assumção pelo contundente pro-nunciamento. Ao iniciá-lo, V.Exa. disse que este é o seu primeiro mandato. Tenho certeza de que não será o último. V.Exa. estará conosco em muitos outros mandatos.

O SR. PRESIDENTE (Veloso) – Concedo a pa-lavra, pela ordem, ao Deputado Chico Lopes.

O SR. CHICO LOPES (Bloco/PCdoB-CE. Pela or-dem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, nobres colegas Deputados, senhores funcionários, esta rápida comunicação é apenas para reforçar o pronunciamento do Deputado Marcondes Gadelha sobre o requerimento de nossa autoria que trata da fiscalização do projeto de transposição do Rio São Francisco.

Por que essa preocupação? Quando chegamos a esta Casa, criamos a Frente Parlamentar de Defesa da Revitalização do Rio São Francisco, enfatizando que ela estaria presente para intermediar, perante o Gover-no Federal, solução de qualquer dificuldade na obra e para ajudar o Ministério da Integração Nacional.

Parece-nos que a iniciativa não foi bem compre-endida pelo Presidente da Mesa anterior, o qual não teve a delicadeza de dar qualquer resposta – sim ou não – ao requerimento. Aliás, acreditamos que o re-querimento em referência representava uma efetiva contribuição ao empreendimento, porque baseado a experiência de ter, no Ceará, como Deputado Esta-dual, organizado um comitê – com o envolvimento de universidades, de empresários, de associações de bairro, enfim, daqueles que estão preocupados com a situação do Estado, que está incluído no Polígono das Secas e tem 80% de seu território sujeito a irregulari-dade no regime de chuvas – sobre a necessidade de abastecimento d’água para o consumo de humano e de animais.

O Presidente Lula levou a sério a transposição do Rio São Francisco. Tivemos diversos debates em universidades de vários Estados, com muita gente se

manifestando contra a transposição do Rio São Francis-co sob a alegação de que o Velho Chico iria secar.

A partir de então, passamos a integrar outra frente, por achar que, independentemente da transpo-sição, se fazia necessária a revitalização do Rio São Francisco. E assim está acontecendo. Temos de elo-giar a postura do ex-Ministro Ciro Gomes, que travou grandes embates não só na Bahia, como também em Sergipe para convencer os Governadores contrários sobre a importância da transposição do Rio São Fran-cisco. Também participamos desses embates, como o Deputado Marcondes Gadelha e o ex-Governador Wilson Braga.

Agora, Sr. Presidente, estamos na fase da im-plantação do projeto. O Ceará receberá 1,5% da água que iria diretamente para o oceano, depois de gerar energia e servir para irrigações em alguns Estados do Nordeste.

Queremos que o novo Presidente desta Casa crie essa Comissão, já apoiada por vários Deputados do Nordeste. Queremos acompanhar de perto a trans-posição do Rio São Francisco e colaborar para que a obra não fique no meio do caminho.

Ao finalizar, agradecemos ao Deputado Marcon-des Gadelha o empenho, reiterando a esperança de que, nos próximos dias, o Presidente Michel Temer crie a Comissão objeto do requerimento apresentado.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. MOREIRA MENDES – Sr. Presidente, peço

a palavra pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Veloso) – Tem V.Exa. a

palavra.O SR. MOREIRA MENDES (PPS-RO. Pela or-

dem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo a tribuna nesta manhã para registrar um fato. Notícias dão conta de que a balan-ça comercial do agronegócio mantém o superávit e de que as exportações do agronegócio em janeiro, em moeda brasileira, totalizaram 9,6 bilhões, valor 16,4% superior ao do mesmo período do ano anterior, quan-do foi exportado o equivalente a 8,2 bilhões. Houve crescimento de 22%, tendo sido alcançada a cifra de 7,8 bilhões.

Então, Sr. Presidente e Deputado Valdir Colatto, Presidente da Frente Parlamentar da Agricultura, per-cebemos, pela informação – o artigo depois disseca o assunto –, que, apesar de todos os pesares, apesar da crise, apesar da dificuldade, o agronegócio brasileiro é um dos poucos setores da economia brasileira que enfrenta a crise e que dá uma resposta, à sua própria custa. É preciso registrar isso.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, aproveito a oportunidade para elogiar o Ministro Reinhold Ste-

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04024 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

phanes, que, na minha opinião, tem sido um fiel es-cudeiro na defesa do agronegócio. Às vezes, S.Exa. tem-se confrontado com as questões de meio am-biente corajosamente, tomando posições firmes em defesa do agronegócio, sem se descuidar da questão ambiental no Brasil.

Um pouco antes de eu vir a esta tribuna, recebi uma ligação do presidente do sindicato rural da cida-de de Vilhena, no meu Estado. Ele, ao lado dos seus companheiros e de vários produtores rurais, estava lamentando que o Banco do Brasil e o Banco da Ama-zônia começam a executar as dívidas dos produtores rurais.

Isso é uma vergonha. Se, de um lado, o aumento da produção segura a crise, ajuda o Brasil a enfrentá-la, garante os empregos no campo, de outro, o Banco do Brasil, instituição pública, executa dívida de quem trabalha.

Apertam os produtores, exigem o que eles não podem cumprir, por conta desta crise, por conta da falta de crédito. E vejo, Sr. Presidente, notícia estarrecedo-ra, paradoxal, publicada em jornais: “Revendedoras de carros usados terão 200 milhões do FAT para capital de giro”. Isso é ou não é uma vergonha? De um lado, aquele que produz, que está no campo, que batalha, que trabalha, que tem as mãos calejadas não dispõe às vezes de crédito para renegociar uma dívida de mil, 2 mil, 5 mil reais; de outro, o Governo dá dinheiro para revendedoras de veículos usados, para que te-nham capital de giro. Quantos funcionários têm uma garagem dessa? O dono e mais um, que fica lavando os carros. Isso é indiscutivelmente uma vergonha. Fica registrado o meu veemente protesto.

Por isso valorizo o Ministro Reinhold Stephanes, que tem sido um parceiro corajoso nessas horas e tem defendido o agronegócio. Recentemente, S.Exa. publi-cou artigo a respeito da crise que concluiu da seguinte maneira: “O contexto que deixa apreensivos o Gover-no e o setor rural indica que o atual modelo de crédito agrícola está esgotado, sendo preciso adotar medidas que perpassem as crises e blindem a agricultura”.

Diria mais, outro problema que temos de en-frentar é a questão ambiental. Não podemos permitir que, por conta daquilo que se chama de defesa das questões de meio ambiente, prejudiquem a produção, sufoquem quem trabalhe na produção. Não podemos esquecer-nos de que o arroz, o feijão, os itens do café da manhã que comemos todos os dias são produtos do homem do campo, daquele que está lá trabalhando e, portanto, precisa ser protegido.

Sr. Presidente, pela Liderança do partido, peço a V.Exa. que me dê um tempo a mais, por conta da

abertura dos debates e pelo fato de haver poucos ora-dores inscritos.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – V.Exa. dis-põe regimentalmente de mais 3 minutos.

O SR. MOREIRA MENDES – Quero ainda co-mentar um assunto muito importante. Se, de um lado, critico o Governo com veemência quando ele acerta, de outro, tenho também a coragem de vir a esta tribu-na para enaltecer atitudes suas.

O Governo encaminhou a esta Casa a Medida Provisória nº 458, que dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situadas na Amazônia Legal. Excelente medida.

O Ministro Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, disse com muita propriedade que um dos grandes problemas que temos hoje na Amazônia é a questão fundiária, a falta de regulariza-ção das terras. E por que isso não acontece? Porque o INCRA está vencido, caiu em desuso, está “ideolo-gizado”, não cumpre mais o seu papel, como fazia no passado, inclusive no meu Estado. E digo com muito orgulho que o INCRA do passado colonizou o meu Estado de Rondônia.

Essa medida provisória, fruto do trabalho do Ministro Mangabeira Unger, está aqui no Congresso Nacional para discussão. Estou há 2 dias debruçado sobre ela, lendo e relendo, e vou apresentar muitas emendas, algumas no sentido de melhorar o texto, de realmente identificar e resolver este grande problema, a regularização fundiária.

Já começam por aqui as manifestações. O Mi-nistro Minc, apesar do seu estrelismo – ele gosta mui-to da televisão, gosta muito de subir no trator com a chibata na mão para ameaçar quem trabalha –, está reconhecendo que a medida provisória tem bons olhos para a questão do meio ambiente. De outro lado está o Ministro Reinhold Stephanes mais uma vez saindo na frente e dizendo que essa medida provisória é im-portantíssima.

São vários os comentários, mas eu queria me referir aqui, Sr. Presidente, a uma preocupação que tenho. Acho que essa medida provisória deveria ser executada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, a cargo do Ministro Mangabeira Unger, mas não sei por que o Governo acabou deixando-a nas mãos do MDA. Avançou, porque tirou do INCRA – esse INCRA vencido a que me referi –, mas centraliza no MDA todo o poder. E é preciso um controle efetivo da sociedade brasileira e transparência para esse processo, porque o MDA, não muito diferente do INCRA, é também hoje uma instituição “ideologizada”, que tem muita preocu-pação, além dos limites, com os chamados movimen-tos sociais. Tudo bem que os tenha, mas não pode

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esquecer o outro lado. O meu receio é de que comece a levar essa questão para o campo na hora de regula-rizar as terras da Amazônia e queira discriminar: esse pode, aquele não pode; esse pode porque está dentro do nosso perfil, do que entendemos como correto, e aquele não pode porque é latifundiário, isso e aquilo. Essa é a minha preocupação.

Nessa medida provisória que vamos discutir a partir da semana que vem no Congresso Nacional, é preciso que se criem mecanismos para fiscalizar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a fim de dar esse equilíbrio necessário para que efetivamente ele cumpra seu papel e faça aquilo que tem de ser feito na Amazônia: a regularização fundiária, independen-temente de quem seja a pessoa beneficiada, branca, negra, rica, pobre, do PT ou não. Todos lá são brasilei-ros e precisam receber o mesmo tratamento.

Era esse o pronunciamento que queria fazer, com a advertência que queria trazer a toda a Nação brasileira nesta manhã.

Durante o discurso do Sr. Moreira Men-des, o Sr. Veloso, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr. Chico Lopes, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Concedo a palavra, pela ordem, ao nobre Deputado Veloso.

O SR. VELOSO (Bloco/PMDB-BA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, ocupo esta tribuna para falar de assunto referente aos aposenta-dos deste País.

Na semana passada, estava num posto de ga-solina quando 2 senhores liam, no Jornal de Brasília, que os aposentados poderiam ter 10% de aumento na aposentadoria e observei a alegria deles. Diziam: “Até que enfim o Presidente Lula e o Ministro da Previdên-cia Social, José Pimentel, vão ter a sensibilidade de nos dar não um aumento grandioso, mas pelo menos um aumento melhor”.

E ontem ou anteontem foi anunciado um aumento percentual de 5,92% para os aposentados. Uma ver-gonha nacional.

Creio que o Presidente Lula tem sensibilidade; creio que o Ministro da Previdência, José Pimentel, também tem sensibilidade.

Comecei a receber telefonemas da minha ci-dade, Ilhéus, e de todo o Estado da Bahia como se nós, Deputados, tivéssemos alguma culpa de eles, os aposentados, não terem um percentual melhor nas respectivas aposentadorias. Mas, a verdade é que o homem nasce, vive, trabalha, sofre, dá tudo pelo Bra-

sil e, já idoso, ao se aposentar, é tratado como se não tivesse dignidade.

É preciso, acima de tudo, pensar nos nossos amigos que estão prestes a se aposentar. Hoje, dói ver uma pessoa, ainda trabalhando, que está prestes a se aposentar. Ninguém a quer! Li notícia segundo a qual alguém que se aposenta com 10 salários, 3 ou 4 anos depois não recebe sequer a metade do valor com que foi aposentado. É uma vergonha!

As autoridades precisam saber que o aposenta-do tem dignidade, precisam tratar o aposentado com respeito. Um reajuste de 5,92% no valor das aposenta-dorias é uma vergonha para este País, Sr. Presidente! Não podemos aceitar isso de maneira nenhuma! É o apelo que faço aos nobres Deputados, no sentido de que ajudemos aqueles que laboraram, que lutaram pelo País.

Sou filiado ao PMDB, esse grande partido. Sou da base aliada. Confio na sensibilidade do Presidente Lula. Tantas coisas boas S.Exa. tem feito, tantas coi-sas boas! O Presidente Lula lembra de tudo, mas se esquece principalmente daqueles que foram o susten-táculo deste País, os aposentados.

Quero dizer ao meu Estado, a Bahia; quero dizer à minha cidade, Ilhéus, que vou estar hoje e sempre com o aposentado, porque eu tenho de pensar nos meus filhos, nos meus netos, amanhã; tenho de pen-sar nos meus amigos que estão prestes a se aposen-tar. E não posso concordar, de maneira alguma, que fiquemos calados.

Por isso, conclamo os Deputados para se aliarem aos aposentados nessa luta que tem sido inglória. O aposentado tem de ter dignidade neste País!

Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Concedo

a palavra ao Deputado Valdir Colatto.O SR. VALDIR COLATTO (Bloco/PMDB-SC. Pela

ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, De-putado Chico Lopes, é uma honra tê-lo na Presidência no dia de hoje.

Sras. e Srs. Deputados, secundo aqui o Deputa-do Moreira Mendes, Vice-Presidente da Frente Parla-mentar da Agropecuária. S.Exa. é de Rondônia e cuida do Norte do País com muita competência. Inclusive, falou agora da Medida Provisória nº 458, que trata da regularização fundiária da Amazônia. A Frente Parla-mentar discutiu o assunto longamente com o Ministro Mangabeira Unger, que, com certeza, vai amenizar os conflitos de terras na região.

Precisamos fazer a regularização fundiária ur-gentemente, não apenas na Amazônia, mas em todo o Brasil, para trazer tranquilidade ao nosso agricultor e proprietário, a fim de que ele tenha certeza de que,

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04026 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

quando possuir uma escritura, um documento ou mes-mo uma posse mansa e pacífica, como diz a lei, terá direito a essa propriedade. Nesse sentido, o Ministro Mangabeira Unger mostrou ter competência e visão estrategista, como pôde ser verificado na conversa com a Frente Parlamentar da Agropecuária, de que o Deputado Moreira Mendes e outros participaram.

Também precisamos fazer, Sr. Presidente, a re-gularização ambiental deste País. Essa é a proposta que estamos apresentando. A Frente Parlamentar da Agropecuária, composta por 200 Deputados e 30 Se-nadores, fará essa discussão no Brasil, neste ano. Nós, brasileiros, precisamos enfrentar este desafio: dizer como queremos planejar a ocupação territorial brasi-leira, onde haverá florestas, preservação permanente, reserva legal e onde haverá agricultura e pecuária para produção de comida.

As pessoas, às vezes, falam apaixonadamente sobre a questão ambiental e se esquecem de que nós, todos os dias, precisamos ter comida na mesa – no café, no almoço e na janta. Dizemos sempre que, se o agricultor não planta, não almoçamos e não janta-mos. Precisamos parar um pouco para pensar nesse dito popular sempre que nos sentarmos à mesa para uma refeição.

De repente, o produtor brasileiro virou bandido, porque produz comida para os 200 milhões de brasi-leiros e também para exportar.

Falava o Deputado Moreira Mendes sobre a ba-lança comercial. A agricultura é que segura este País, Deputado. Noventa por cento do superávit da balança comercial vêm da área agropecuária. Ai do Brasil se não houvesse isso! Nós não precisamos importar nada. Nós produzimos tudo e exportamos para o mundo. Agora, o Governo deve dar um tratamento realmente atencioso à questão fundiária, à garantia do direito de propriedade, ao acerto da legislação ambiental brasileira.

É por isso que estamos propondo isso. A Fren-te Parlamentar lutará por isso. Convocamos o Brasil, toda a sociedade, aqueles que queiram participar desse processo a nos ajudar na elaboração de uma lei que esta Casa tem de votar, que se chama Código Ambiental Brasileiro.

Este é o desafio: consolidar toda essa parafernália de legislação – instruções normativas, portarias que existem sobre questão ambiental –, fazer um Código Ambiental Brasileiro para a cidade e para o campo, a fim de que tenhamos, então, a tranquilidade de que existe uma lei. Com ela, podemos fazer com que haja produção e também preservação do meio ambiente, numa ação harmônica entre as 2 coisas.

Há um exemplo muito brilhante em Santa Catarina e em outros Estados brasileiros: o sistema de micro-

bacias. Há o planejamento e a recomendação técnica de como a pessoa vai ocupar o território de sua pro-priedade, colocar as árvores, a floresta onde ela tem de ser colocada; preservar a água, sim, mas também saber onde localizar a agricultura, pecuária e pasta-gem, para que haja garantia alimentar. É uma questão de segurança nacional, e todos sabem disso.

Sr. Presidente, vamos trabalhar nesse projeto até a metade deste ano para que possamos ter um Código Ambiental Brasileiro. Ele regulamentará o art. 24 da Constituição, que diz que caberá à União fazer uma legislação de normas gerais e aos Estados, sua legislação específica, com zoneamento econômico-ecológico, com recomendação técnica, baseados na ciência e não na ideologia, no discurso fácil, sem qual-quer embasamento científico e técnico.

Esse é o desafio que queremos trazer a esta Casa, e todos poderão participar da discussão. Não há ninguém que queira ser o pai desse projeto, mas quem vai votar é o Parlamento – a Câmara e o Senado –, Deputado Moreira Mendes.

Nós precisamos enfrentar esse desafio. Que não haja ganhadores nem perdedores; que se preserve o meio ambiente; que se trate do ativo ambiental e não só do passivo. Aquele proprietário, aquele agricultor que tiver de preservar o meio ambiente estará pres-tando um serviço ambiental ao País, à sociedade e terá de ser pago por isso, como é feito, por lei, em to-dos os países civilizados. É isso que temos de trazer para o Brasil.

Querem que nós preservemos a Amazônia, De-putado Moreira? Que nos paguem. Alguém tem de pagar por isso. Agora, o que não se pode é fazer uma política pública sob a responsabilidade da iniciativa privada, na qual o proprietário não pode usar o seu patrimônio, a sua propriedade, porque tem de preser-var para a sociedade, às vezes urbana. Ela polui de segunda-feira a sexta-feira e, no sábado e domingo, quer sombra e água fresca no interior. Isso é injusto. Precisamos resolver essa questão.

Sr. Presidente, fazemos uma convocação para que o Brasil diga o que realmente quer com o planejamento e a ocupação territorial brasileira, se quer produzir e o quanto quer produzir. E que se retire o carimbo de que o produtor brasileiro é um destruidor da natureza, é um bandido, não quer ajudar o desenvolvimento, só quer destruir a natureza.

Onde se vai plantar um grão de feijão, de milho, de arroz? Não se planta embaixo da floresta. Há um impacto ambiental para que possa haver terras dispo-níveis. E nós temos terras disponíveis.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04027

A proposta é esta: plantar onde se pode plantar, preservar o que se tem de preservar. É isso que temos de fazer racionalmente, tecnicamente e com justiça.

Para encerrar, Sr. Presidente, peço ao Governo brasileiro que, na linha do que disse o Deputado Moreira Mendes, ajude o setor produtivo. Não é possível que este País socorra bancos e banqueiros que quebraram a economia do mundo, quebraram a economia produ-tiva e, protegidos, continuam fazendo com que o setor produtivo seja mantido refém de um sistema financeiro que não empresta, apresenta mil dificuldades, não res-peita a legislação e as leis que aprovamos aqui, como a que trata do endividamento. Assim, estamos reféns do gerente do banco, das normas dos banqueiros in-ternacionais, e até dos nacionais. Precisamos que o Governo olhe para a economia. Não deixe a economia produtiva quebrar, Sr. Presidente Lula!

Nós vamos cobrar, se não der certo com o Pre-sidente Lula, dos próximos candidatos à Presidência da República. Eles terão de decidir como tratar o se-tor produtivo brasileiro. Vamos fazer essa cobrança do Parlamento.

Muito obrigado, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Apresen-

tação de proposições.

NÃO FORAM APRESENTADAS PRO-POSIÇÕES.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Vai-se pas-sar ao horário de

VI – COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES

Não há oradores inscritos.

VII – ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a sessão.

O SR. PRESIDENTE (Chico Lopes) – Encerro a sessão, antes convocando para segunda-feira, dia 16 de fevereiro, às 14h, sessão ordinária da Câmara dos Deputados; convoca também Sessão Extraordinária, às 18h, com a seguinte

ORDEM DO DIA

AVISOS

PROPOSIÇÕES EM FASE DE RECEBIMENTO DE EMENDAS OU RECURSOS

I – EMENDAS

2. PROJETO DE RESOLUÇÃO QUE ALTERA O RICD

Prazo para apresentação de emendas: 5 Sessões (Art. 216, § 1º, do RICD).

Nº 149/2009 (Raul Jungmann) – Cria a Corregedoria Parlamentar e dá outras providências.DECURSO: 2a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 19/02/2009

II – RECURSOS

1. CONTRA APRECIAÇÃO CONCLUSIVA DE CO-MISSÃO – ART. 24, II, DO RICD

INTERPOSIÇÃO DE RECURSO: art. 58, § 3º, c/c o art. 132, § 2º (PARECERES FAVORÁVEIS),

ou com o art. 133 (PARECERES CONTRÁRIOS), to-dos do RICD.

Prazo para apresentação de recurso: 5 sessões (art. 58, § 1° do RICD).

1.1 COM PARECERES FAVORÁVEIS

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 137/2007 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que autoriza a Associação da Rádio Comunitária “Voz do Povo” a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no município de Porto de Moz, Estado do Pará.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 249/2007 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Cultural Comunitária de Salinópo-lis a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no município de Salinópolis, Estado do Pará.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 266/2007 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação de Cultura e Informação de Pa-cajá – ACIPA – Emissora Comunitária “Novo Tempo” a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no município de Pacajá, Estado do Pará.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 876/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Co-municação e Informática) – Aprova o ato que outorga permissão à Rádio e TV Desan Telecomunicações Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqü-ência modulada, no Município de Engenheiro Navarro, Estado de Minas Gerais.DECURSO: 4a. SESSÃO

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04028 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

ÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 922/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Comunitária Educativa e Cultural de Radiodifusão Glória Embratel a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 923/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Co-municação e Informática) – Aprova o ato que autoriza a Associação de Comunicação Comunitária Barrense a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Barra do Quaraí, Estado do Rio Grande do Sul.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1026/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que autori-za a Associação Comunitária FM Céu Aberto a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Santa Rosa da Serra, Estado de Minas Gerais.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1032/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Beneficente e Cultural Nova Era a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Monte Santo de Minas, Estado de Mi-nas Gerais.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1036/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que outorga permissão à Rádio Mampituba Ltda. para ex-plorar serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Cachoeira do Sul, Estado do Rio Grande do Sul.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1067/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que ou-torga permissão ao Sistema Integrado de Comunica-ção Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Peixoto de Azevedo, Estado do Mato Grosso.DECURSO: 4a. SESSÃO

ÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1080/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que ou-torga permissão à TV Mucuripe Ltda. para explorar ser-viço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Crateús, Estado do Ceará.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1081/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que ou-torga permissão à 102,3 FM Comunicação Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqüên-cia modulada, no Município de Nova América, Estado de Goiás.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1086/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Co-municação e Informática) – Aprova o ato que outorga permissão à TV MUCURIPE LTDA. para explorar ser-viço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Crato, Estado do Ceará.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1093/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que ou-torga permissão à TV Mucuripe Ltda. para explorar ser-viço de radiodifusão sonora em freqüência modulada, no Município de Quixeramobim, Estado do Ceará.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1099/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Comunitária de Difusão Sul de No-noai a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Nonoai, Estado do Rio Grande do Sul.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1100/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que outorga concessão à Televisão Diamante Ltda. para explorar serviço de radiodifusão de sons e imagens, no Município de Caxias do Sul, Estado do Rio Gran-de do Sul.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1109/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que ou-torga permissão à Rádio Alto do Vale Ltda para explo-rar serviço de radiodifusão sonora em onda média, no município de Lajeado, Estado do Rio Grande do Sul.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04029

DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1111/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que outor-ga concessão à Rádio Vera Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em onda média no Município de Rosário Oeste, Estado de Mato Grosso.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1119/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que autoriza a Associação de Rádio Comunitária de Pro-moção Social de Canudos a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Canudos, Estado da Bahia.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1122/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação de Comunicação Comunitária de Gália a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Gália, Estado de São Paulo.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1124/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Comunitária Nova Dimensão de Radiodifusão para o Desenvolvimento Cultural e Artís-tico a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Barra do Choça, Estado da Bahia.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1133/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação do Movimento de Radiodifusão Renascer de Campo Novo – RS a executar, pelo pra-zo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Campo Novo, Estado do Rio Grande do Sul.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1134/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Comunitária Progressiva de Ser-rinha dos Pintos a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Serrinha dos Pintos, Es-tado do Rio Grande do Norte.

DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1159/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que ou-torga permissão à Rádio Metrópole Regional FM Ltda. para explorar serviço de radiodifusão sonora em freqü-ência modulada, no município de Ouro Verde, Estado de São Paulo.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1216/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Rádio Comunitária Castilho FM a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Castilho, Estado de São Paulo.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1237/2008 (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) – Aprova o ato que au-toriza a Associação Comunitária Sinai de Radiodifusão para o Desenvolvimento Cultural e Artístico a executar, pelo prazo de dez anos, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão comunitária no Município de Vitória da Conquista, Estado da Bahia.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

PROJETO DE LEI

Nº 3628/1997 (Vic Pires Franco) – Altera a alínea “j” do inciso III do art. 302 da Lei nº 7.565, de 19 de de-zembro de 1986, que dispõe sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 3954/1997 (Ricardo Izar) – Revoga as Leis Delega-das nº 4 e nº 5, ambas de 26 de setembro de 1962.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 4800/1998 (Senado Federal – Abdias Nascimen-to) – Dispõe sobre a ação civil destinada ao cumpri-mento da obrigação de fazer ou de não fazer, para a preservação da honra e dignidade de grupos raciais, étnicos e religiosos.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 3430/2000 (Senado Federal – Mozarildo Caval-canti) – Denomina “Rodovia Governador Aquilino Mota Duarte” ao trecho da rodovia BR-210.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

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04030 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Nº 3431/2000 (Poder Executivo) – Estabelece limites para a dívida pública mobiliária federal.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 3884/2000 (Lincoln Portela) – Acrescenta inciso VIII ao art. 23 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 4686/2001 (Luiz Bittencourt) – Torna obrigatória a manutenção de exemplar do Código de Defesa do Consumidor nos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, e dá outras providências.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 5758/2001 (Luciano Castro) – Dispõe sobre nor-ma geral para os Corpos de Bombeiros Militares, que estabelece a obrigatoriedade de uso de redes de pro-teção.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 5940/2001 (Celso Russomanno) – Dispõe sobre as normas de comercialização de produtos e serviços ao consumidor.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 6044/2002 (Pompeo de Mattos) – Institui o “Dia da Legalidade” no calendário oficial brasileiro.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 714/2003 (Rubens Otoni) – Regulamenta as trans-missões das TVs Câmara e Senado, em canal aberto, para todo o Território Nacional. E seus apensados.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 2592/2003 (Max Rosenmann) – Altera a Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, para dispor sobre a cooperação institucional entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e instituições de ensino universitário e de pesquisa mantidas pelo Poder Público.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 4464/2004 (Deley) – Estabelece medidas para o controle de avifauna nas imediações de aeródromos.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 4516/2004 (Bernardo Ariston) – Dispõe sobre a duração da jornada de trabalho dos Operadores de Telemarketing.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 6071/2005 (Celso Russomanno) – Acrescenta dispositivo à Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor e dá ou-tras providências.

DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 7290/2006 (Senado Federal – Rodolpho Tourinho) – Altera a redação dos arts. 6º e 49 da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, e dá outras providências.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 345/2007 (Senado Federal-Romeu Tuma) – Disci-plina o funcionamento de empresas de desmontagem de veículos automotores terrestres, altera o art. 114 e o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, e dá outras providências.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 1933/2007 (TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABA-LHO) – Cria cargos de provimento efetivo e em co-missão no Quadro de Pessoal da Secretaria do Tribu-nal Regional do Trabalho da 18ª Região e dá outras providências.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1975/2007 (Fernando Coruja) – Altera a Lei nº. 9.875, de 25 de novembro de 1999, para dispor so-bre a denominação suplementar “Trecho Carlos Jo-ffre do Amaral” do trecho que menciona da Rodovia BR-282.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 3350/2008 (TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO) – Dispõe sobre a criação de cargos de provimento efe-tivo e em comissão e funções comissionadas no Qua-dro de Pessoal da Secretaria do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região e dá outras providências.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

1.2 COM PARECERES CONTRÁRIOS

PROJETO DE LEI

Nº 864/1999 (Cunha Bueno) – Concede isenção de contribuições corporativas aos profissionais maiores de 65 anos. E seus apensados.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 5216/2001 (Alberto Fraga) – Acrescenta os inci-sos IV e V no art. 5º, do Decreto-Lei nº 938, de 13 de outubro de 1969, e dá outras providências.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 3994/2004 (Carlos Nader) – Fixa percentual de distribuição de moradias populares para servidores públicos. E seus apensados.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04031

Nº 4362/2004 (Davi Alcolumbre) – Altera a Lei nº 9.604, de 05 de fevereiro de 1998, para permitir o re-passe de recursos do Fundo Nacional de Assistência Social a entidades ou organizações civis regulares.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 6218/2005 (Edinho Bez) – Institui a franquia pos-tal para as correspondências postadas pelas Defen-sorias PúblicasDECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 95/2007 (Carlos Souza) – Revoga a Lei nº 6.050, de 24 de maio de 1974, que “dispõe sobre a fluoreta-ção da água em sistemas de abastecimento quando existir estação de tratamento”.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 2007/2007 (Carlos Bezerra) – Altera a Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962 – Código Brasileiro de Tele-comunicações. E seus apensados.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 2367/2007 (Carlos Alberto Leréia) – Dispõe sobre o pagamento dos prêmios de loterias pagos pela Caixa Econômica Federal e dá outras providências.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 2493/2007 (Ratinho Junior) – Determina a insta-lação de equipamentos de conexão com o Sistema de Posicionamento Global – GPS em todas as viaturas dos órgãos federais de segurança pública.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 2937/2008 (Senado Federal – Valdir Raupp) – Al-tera a redação do § 1º art. 111 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, para estabelecer a aquisição do direito a voto pelos titulares de ações preferenciais sem direito a voto ou com limitação desse direito, no caso de não-pagamento de dividendos pelo prazo de 3 (três) exercícios consecutivos. E seus apensados.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 2993/2008 (Vander Loubet) – Altera o Código de Processo Civil – Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 3141/2008 (José Carlos Vieira) – Torna obrigatória a instalação de passarelas para pedestres em trechos urbanos de rodovias federais.DECURSO: 4a. SESSÃO

ÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

1.3 PROPOSIÇÕES COM TRAMITAÇÃO CONJUNTA QUE RECEBERAM PARECERES FAVORÁVEIS A UMAS E/OU CONTRÁRIOS A OUTRAS, NÃO DIVER-GENTES; E/OU PELA INCONSTITUCIONALIDADE E/OU INJURIDICIDADE.

PROJETO DE LEI

Nº 715/1999 (José Linhares) – Assegura acesso de religiosos, para fins de assistência, nos hospitais, clí-nicas e similares de ordem pública ou privada.

COM PARECER FAVORÁVEL: PL 715/99, principal.

COM PARECER CONTRÁRIO: PLs 881/99 e 1.293/99, apensados.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 2073/1999 – (Marcos de Jesus) – Dispõe sobre a reserva de imóveis, construídos por programas habi-tacionais, à mulher sustentáculo de família e dá outras providências.COM PARECER FAVORÁVEL: PL 2.488/00, apen-sado.COM PARECER CONTRÁRIO: PL 2.073/99, princi-pal.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 7309/2002 (Sr. Cabo Júlio) – Torna obrigatória a inclusão, no programa de disciplinas do ensino funda-mental e médio, de estudos sobre o uso de drogas e dependência química.COM PARECER FAVORÁVEL: PL 7.309/02, principal.COM PARECER CONTRÁRIO: PL 779/03, apensado.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

Nº 1304/2003 (Leonardo Monteiro) – Dispõe sobre a criação de telefone de três dígitos para uso exclusivo dos Conselhos Tutelares.COM PARECER FAVORÁVEL: PL 1.870/03, apensado.COM PARECER CONTRÁRIO: PL 1.304/03, principal.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

2. CONTRA PARECER TERMINATIVO DE COMISSÃO – ART. 54 DO RICD C/C ART. 132, § 2º DO RICD

(MATÉRIAS SUJEITAS A DELIBERAÇÃO DO PLENÁ-RIO EM APRECIAÇÃO PRELIMINAR, NOS TERMOS DO ART.144 DO RICD)

INTERPOSIÇÃO DE RECURSO – PEC: art. 202, § 1º do RICD.

INTERPOSIÇÃO DE RECURSO – DEMAIS PROPO-SIÇÕES: art. 58, § 3º, c/c o art. 132, §2º, do RICD.

Prazo para apresentação de recurso: 5 sessões (art. 58, § 1° do RICD).

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04032 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

2.1 PELA INCONSTITUCIONALIDADE E/OU INJU-RIDICIDADE OU INADMISSIBILIDADE

PROJETO DE LEI

Nº 6959/2006 (Fernando de Fabinho) – Altera a Lei nº 8.038, de 28 de maio de 1990, que “Institui normas procedimentais para os processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal”.ÚLTIMA SESSÃO: 16/02/2009

2.2 PELA INADEQUAÇÃO FINANCEIRA E/OU OR-ÇAMENTÁRIA

PROJETO DE LEI

Nº 401/2007 (Senado Federal – Luiz Estevão) – Institui o sistema de bolsa de estudo para os integrantes das carreiras de policiais federais, policiais civis, policiais mi-litares, dos corpos de bombeiros militares e das Forças Armadas.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 3421/2008 (Senado Federal – Comissão Parla-mentar de Inquérito – Apagão Aéreo) – Altera a Lei nº 6.009, de 26 de dezembro de 1973, que dispõe sobre a utilização e a exploração dos aeroportos, das facili-dades à navegação aérea e dá outras providências, e o Decreto-Lei nº 1.896, de 17 de dezembro de 1981, que dispõe sobre a utilização de instalações e serviços destinados a apoiar e tornar segura a navegação aé-rea e dá outras providências, e revoga a Lei nº 7.920, de 12 de dezembro de 1989, a Lei nº 8.399, de 7 de janeiro de 1992, e a Lei nº 9.825, de 23 de agosto de 1999, para desonerar as tarifas aeroportuárias e aeronáuticas e autorizar a sua gradação conforme o grau de saturação e o horário de utilização dos res-pectivos serviços.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 3491/2008 (Comissão de Legislação Participativa) – Cria o Fundo Nacional de Segurança da Justiça Fe-deral e dispõe sobre suas receitas e a aplicação de seus recursos.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR

Nº 355/2006 (Luciana Genro) – Dispõe sobre o finan-ciamento e as normas de gestão financeira das Ins-tituições Federais de Ensino Superior, nos termos do art. 165, § 9º, II, da Constituição Federal, e dá outras providências.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

3. CONTRA DECLARAÇÃO DE PREJUDICIALIDA-DE – ART. 164, § 2º, DO RICD

(SUJEITO A DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO, APÓS OUVIDA A CCJC, NOS TERMOS DO ART. 164, §§ 2º e 3º DO RICD)

Prazo para apresentação de recurso: 5 sessões (Art. 164, § 2º, do RICD).

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 323/1993 (Senado Federal – HUMBERTO LUCENA) – Dispõe sobre o não pagamento da ajuda de custo aos Membros do Congresso NacionalDECURSO: 2a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 19/02/2009

PROJETO DE LEI

Nº 2437/2000 (Germano Rigotto) – Acrescenta pa-rágrafo ao art. 217 do Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, para permitir que testemunhas deponham via televisão, em caso de ameaças. DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 1726/2003 (Jutahy Junior) – Dá nova redação aos artigos 122 e 124 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de ou-tubro de 1941 – Código de Processo Penal.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 2662/2003 (Pompeo de Mattos) – Dispõe sobre prazos para registro de armas de fogo irregulares e dá outras providências.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 2878/2004 (Luiz Carlos Hauly) – Fixa valor simbólico para o pagamento de parcela indenizatória na sessão legislativa extraordinária aos membros do Poder Le-gislativo e dá outras providências.DECURSO: 2a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 19/02/2009

Nº 3038/2004 (Paulo Bauer) – Estabelece o destino das armas de fogo apreendidas ou voluntariamente devolvidas e dá outras providências DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 3574/2004 (Carlos Nader) – “Autoriza o uso, pelas Polícias Civil e Militar, de armas de fogo apreendidas e à disposição da Justiça.” DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 4057/2004 (Maninha) – Altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que “Dispõe sobre registro,

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04033

posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – SINARM, define crimes e dá outras providências”. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 5019/2005 (Cabo Júlio) – Altera a redação da Lei nº 10.826, de 2003 (Estatuto do Desarmamento), autori-zando o uso, pelas Polícias Civis e Militares, das armas de fogo apreendidas e à disposição da Justiça. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 5552/2005 (Capitão Wayne) – Altera a redação da Lei nº 10.826, de 2003 (Estatuto do Desarmamento), autorizando o uso, pelos órgãos de segurança públi-ca, das armas de fogo apreendidas e à disposição da Justiça. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 6163/2005 (Jair Bolsonaro) – Dá nova redação ao art. 25 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comerciali-zação de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá ou-tras providências. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 7211/2006 (Carlos Nader) – Determina que as ar-mas, munições, explosivos, granadas e congêneres, apreendidas, sejam adjudicadas para o uso das pró-prias corporações e dá outras providências. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 7613/2006 (Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as organizações criminosas do tráfico de armas.) – Altera a redação da Lei nº 10.826, de 2003, autorizando o uso de munição apre-endida em atividades de instrução de tiro pelos órgãos de segurança pública. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 98/2007 (Neilton Mulim) – Altera a redação da Lei nº 10.826, de 2003 (Estatuto do Desarmamento), autori-zando o uso, pelas Polícias Civis e Militares, das armas de fogo apreendidas e à disposição da Justiça. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 148/2007 (Neucimar Fraga) – Altera a redação da Lei n.º 10.826, de 2003, autorizando o uso de munição apreendida em atividades de instrução de tiro pelos órgãos de segurança pública. DECURSO: 3a. SESSÃO

ÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 718/2007 (Eliene Lima) – Altera o art. 25 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, determinando o repasse de armamento apreendido para as polícias civil e militar. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 1116/2007 (Mendonça Prado) – Altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, disciplinando a destinação de armas de fogo, acessórios e munições apreendidos. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 1438/2007 (Dilceu Sperafico) – Altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, e dá outras pro-vidências. DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 2081/2007 (Manato) – Institui a videoconferência como regra no interrogatório judicial, alterando o De-creto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

Nº 3060/2008 (Sandro Matos) – Altera dispositivos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento). DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 3753/2008 (Vital do Rêgo Filho) – Institui o dia 29 de outubro o Dia do Cerimonialista.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 4200/2008 (Laercio Oliveira) – Dispõe sobre a profissão de bombeiro profissional civil.DECURSO: 4a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 17/02/2009

PROJETO DE RESOLUÇÃO (CN)

Nº 4/1992 (MESA DIRETORA DA CÂMARA DOS DE-PUTADOS) – Dispõe sobre a estrutura administrativa da Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

4. DEVOLVIDO(S) AO(S) AUTOR(ES)INTERPOSIÇÃO DE RECURSO – RCP: art. 35, §§ 1º e 2º, do RICD.INTERPOSIÇÃO DE RECURSO – DEMAIS PROPO-SIÇÕES: art. 137, § 1º, do RICD.

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04034 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE RECURSO: 5 sessões.

INDICAÇÃO

Nº 3422/2008 (Juvenil) – Sugere ao Excelentíssimo Senhor Secretário da Receita Federal a indicação de funcionário para recebimento de informações, na for-ma que especifica.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

Nº 3423/2008 (Juvenil) – Sugere ao Excelentíssimo Senhor Diretor-Geral da Polícia Federal a indicação de funcionário para recebimento de informações, na forma que especifica.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO

Nº 1348/2008 (Wellington Fagundes) – Dispõe sobre a realização de plebiscito para decidir sobre a altera-ção da hora legal dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.DECURSO: 3a. SESSÃOÚLTIMA SESSÃO: 18/02/2009

III – DIVERSOS

1. PRAZO PARA RECEBIMENTO DE SUGESTÕES A PROJETO DE CONSOLIDAÇÃO: art. 212, § 2º, do RICD ( 30 dias).

PROJETO DE LEI

Nº 4343/2008 (Sérgio Barradas Carneiro) – Consoli-da, no Código Civil, as leis que especifica e dá outras providências.

(Publicado no DCD nº 021, Suplemento “A”, e DOU de 11/02/09.)DECURSO: 6º. DIAÚLTIMO DIA: 12/03/2007

ARQUIVEM-SE, nos termos do artigo 133 do RICD, as seguintes proposições:

PROJETO DE LEI:

Nº 1.466/1996 (Duilio Pisaneschi) – Dispõe sobre a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os equipamentos de segurança dos veículos de passageiros.

Nº 5.111/2005 (Carlos Nader) – Dispõe sobre o Exa-me de PSA (Antígeno Prostático Específico) na Rede Pública de Saúde e dá outras providências.

ARQUIVEM-SE, nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD, as seguintes proposições:

PROJETO DE LEI:

Nº 1.387/1995 (Júlio Redecker) – Cria o Programa de Controle de Segurança Automotiva – PROCONSEG, e dá outras providências.

Nº 2.707/2000 (Poder Executivo) – Altera o art. 1º da Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, que cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS.

Nº 1.192/2003 (Osvaldo Biolchi) – Altera o art. 10 da Consolidação das Leis do Trabalho para dispor acerca da sucessão de empregador da falência.

Nº 1.217/2003 (Paes Landim) – Institui a detenção correcional preventiva, como medida de natureza só-cio-educativa.

ARQUIVEM-SE, nos termos do § 4º do artigo 164 do RICD, as seguintes proposições:

PROJETO DE LEI

Nº 3.896/2008 (Manoel Junior) – Inclui a ligação fer-roviária EF-410 e a ferrovia transversal EF-225, previs-tas na Lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, que institui o Plano Nacional de Viação, entre os trechos integrantes da Ferrovia Transnordestina.

Nº 4.307/2008 (Paulo Lima) – Proíbe o tráfego de ca-minhões nas rodovias federais e estaduais nas condi-ções que estipula, e dá outras providências.

Nº 4.445/2008 (Paulo Lima) – Acrescenta dispositivos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

MATÉRIA SOBRE A MESA

I. Requerimento nº 3.002/08, do Sr. Narcio Rodri-gues, que requer urgência na apreciação do Projeto de Lei nº 1.825, de 2007, do Senado Federal, que al-tera o art. 105 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, para estabelecer a obrigatoriedade de uso do equipamento suplementar de retenção (air bag).

II. Requerimento nº 3.063/08, do Sr. Maurício Rands, que requer urgência na apreciação do Projeto de Lei nº 3.021, de 2008, do Poder Executivo, que dis-põe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social, regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social e dá outras providências. (Apensado ao PL 7.494/06)

III. Requerimento nº 3.454/08, do Sr. Mauricio Rands e outros, que solicita, nos termos do art. 155, do Regimento Interno, urgência para apreciação do Projeto de Lei nº 836, de 2003, do Sr. Bernado Ariston, que disciplina o funcionamento de bancos de dados e serviços de proteção ao crédito e congêneres e dá outras providências.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04035

URGÊNCIA (Art. 62, § 6º, da Constituição Federal)

Votação

1 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 447-A, DE 2008

(Do Poder Executivo)

Continuação da votação, em turno úni-co, da Medida Provisória nº 447-A, de 2008, que altera a Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, a Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, a Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, a Lei nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991, a Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e a Lei nº 10.666, de 8 de maio de 2003, para alterar o prazo de pagamento dos impostos e contribuições federais que especifica; tendo parecer da Comissão Mista, proferido em Plenário, pelo atendimento dos pressupostos constitucionais de relevância e urgência; pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa; pela adequação financeira e orçamentária; e, no mérito, pela aprovação desta MPV e pela rejeição das Emendas de nºs. 1 a 67 (Relator: Dep. Átila Lira).

PRAZO NA COMISSÃO MISTA: 30-11-08 PRAZO NA CÂMARA: 14-2-08 SOBRESTA A PAUTA EM: 11-2-009

(46º DIA)PERDA DE EFICÁCIA: 26-4-09

URGÊNCIA (Art. 62 da Constituição Federal)

Discussão

2 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 449, DE 2008

(Do Poder Executivo)

Discussão, em turno único, da Medi-da Provisória nº 449, de 2008, que altera a legislação tributária federal relativa ao par-celamento ordinário de débitos tributários, concede remissão nos casos em que es-pecifica, institui regime tributário de tran-sição, e dá outras providências. Pendente de parecer da Comissão Mista. As Emendas de nºs 17, 33, 47, 60, 65, 82, 103, 185, 214 e 308 foram retiradas pelos autores.

PRAZO NA COMISSÃO MISTA: 17-12-08 PRAZO NA CÂMARA: 10-2-09

SOBRESTA A PAUTA EM: 28-2-09 (46º DIA)

PERDA DE EFICÁCIA: 13-5-09

3 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 450, DE 2008

(Do Poder Executivo)

Discussão, em turno único, da Medida Provisória n° 450, de 2008, que autoriza a União a participar de Fundo de Garantia a Empreen-dimentos de Energia Elétrica – FGEE; altera o § 4º do art. 1º da Lei nº 11.805, de 6 de novembro de 2008; dispõe sobre a utilização do exces-so de arrecadação e do superávit financeiro das fontes de recursos existentes no Tesouro Nacional; altera o art. 1º da Lei nº 10.841, de 18 de fevereiro de 2004; e autoriza a União a repassar ao Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social – BNDES recursos captados junto ao Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento – BIRD. Pendente de parecer da Comissão Mista.

PRAZO NA COMISSÃO MISTA: 2-2-09PRAZO NA CÂMARA: 16-2-09SOBRESTA A PAUTA EM: 6-3-09 (46º

DIA)PERDA DE EFICÁCIA: 19-5-09

4 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 451, DE 2008

(Do Poder Executivo)

Discussão, em turno único, da Medi-da Provisória n° 451, de 2008, que altera a legislação tributária federal, e dá outras providências. Pendente de parecer da Co-missão Mista.

PRAZO NA COMISSÃO MISTA: 8-2-09PRAZO NA CÂMARA: 22-2-09 SOBRESTA A PAUTA EM: 12-3-09 (46º

DIA)PERDA DE EFICÁCIA: 25-5-09

PRIORIDADE

Discussão

5 PROJETO DE LEI Nº 1.825-A, DE 2007

(Do Senado Federal)

Discussão, em turno único, do Proje-to de Lei nº 1.825-A, de 2007, que altera o art. 105 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito

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04036 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Brasileiro, para estabelecer a obrigatorie-dade de uso do equipamento suplementar de retenção (air bag); tendo pareceres: da Comissão de Economia, Indústria e Co-mércio, pela aprovação dos de nºs 25/03 e 225/03, apensados, com substitutivo (Re-lator: Dep. Ronaldo Dimas); da Comissão de Viação e Transportes, pela aprovação dos de nºs 25/03 e 225/03, apensados, com substitutivo, e pela rejeição do substituti-vo da Comissão de Economia, Indústria e Comércio (Relator: Dep. Giacobo); e da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, pela constitucionalidade, juridi-cidade e técnica legislativa deste, dos PLs apensados de nºs 225/03, com substituti-vo, 1.668/07, com emenda, 1.822/07, com emenda, e 25/03, com substitutivo, e dos Substitutivos ao Projeto de Lei nº 25/03 da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, com 2 subemendas, e da Comissão de Viação e Transportes, com subemenda (Relator: Dep. Hugo Leal).

Tendo apensados os PLs nºs 25/03 (1.668/07, 1.822/07 e 225/03).

6 PROJETO DE LEI Nº 836-C, DE 2003

(Do Sr. Bernardo Ariston)

Discussão, em turno único, do Pro-jeto de Lei nº 836-C, de 2003, que discipli-na o funcionamento de bancos de dados e serviços de proteção ao crédito e con-gêneres e dá outras providências; tendo pareceres das Comissões: de Defesa do Consumidor, pela aprovação deste e dos de nºs 2.101/03, 2.798/03, 3.347/04, 5.870/05, 5.958/05, 5.961/05, 6.558/06 e 6.888/06, apen-sados, e das emendas oferecidas ao subs-titutivo de nºs 3, 4, 6, 10, 11, 12, 16 e 19; pela aprovação parcial das emendas oferecidas ao substitutivos de nºs 1, 13, 15, 17, 20, 23 e 25, na forma do novo substitutivo adotado; e pela rejeição das emendas de nºs 1 a 6 apresentadas a este, das emendas de nºs 1 a 5 apresentadas ao Projeto de Lei nº 2101/03, e das emendas de nº 2, 5, 7, 8, 9, 14, 18, 21, 22, 24, 26, 27 e 28 apresentadas ao substi-tutivo (Relator: Dep. Max Rosenmann); e de Constituição e Justiça e de Cidadania, pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa deste, com emenda, dos de nºs 2.101/03, com emendas, 2.798/03, 3.347/04,

5.870/05, 5.958/05, com emendas, 5.961/05, 6.558/06, 6.888/06, com emenda, apensados; do Substitutivo da Comissão de Defesa do Consumidor, com subemenda; das Emen-das de nºs 01/04 a 06/04 ao PL 836/2003, 01/04 a 05/04 ao de nº 2.101/2003 e 01/06 a 28/06 ao Substitutivo, todas apresentadas na Comissão de Defesa do Consumidor; e pela anti-regimentalidade das Emendas nºs 01/06 a 03/06 e 01/07 a 08/07, apresen-tadas nesta Comissão (Relator: Dep. Mau-rício Rands).

Tendo apensados os PLs nºs 2.101/03, 2.798/03, 3.347/04, 5.870/05, 5.958/05, 5.961/05, 6.558/06, 6.888/06 e 4.334/08.

ORADORES SORTEADOS PARA O GRANDE

EXPEDIENTE DO MÊS DE FEVEREIRO DE 2009

Dia 16, 2ª-feira

15:00 JAIRO ATAIDE (DEM – MG)15:25 PROFESSORA RAQUEL TEIXEIRA (PSDB – GO)15:50 ELIZEU AGUIAR (PTB – PI)16:15 VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB – AM)16:40 FERNANDO MARRONI (PT – RS)

Dia 17, 3ª-feira

15:00 DARCÍSIO PERONDI (PMDB – RS)15:25 DAGOBERTO (PDT – MS)

Dia 18, 4ª-feira

15:00 URZENI ROCHA (PSDB – RR)15:25 CIRO PEDROSA (PV – MG)

Dia 19, 5ª-feira

15:00 NAZARENO FONTELES (PT – PI)15:25 JOÃO HERRMANN (PDT – SP)

Dia 20, 6ª-feira

10:00 REBECCA GARCIA (PP – AM)10:25 ROBERTO ALVES (PTB – SP)10:50 ANDRE ZACHAROW (PMDB – PR)11:15 MAJOR FÁBIO (DEM – PB)11:40 ZÉ VIEIRA (PSDB – MA)

Dia 26, 5ª-feira

15:00 PEDRO CHAVES (PMDB – GO)15:25 NELSON PELLEGRINO (PT – BA)

Dia 27, 6ª-feira

10:00 ODAIR CUNHA (PT – MG)10:25 ASSIS DO COUTO (PT – PR)10:50 ÁTILA LINS (PMDB – AM)

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04037

11:15 PAULO LIMA (PMDB – SP)11:40 LUPÉRCIO RAMOS (PMDB – AM)

ORDEM DO DIA DAS COMISSÕES

I – COMISSÕES TEMPORÁRIAS

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER À PROPOSTA DE EMEND

A À CONSTITUIÇAO 231-A, DE 1995, DO SR. INÁCIO ARRUDA, QUE “ALTERA OS INCISOS XIII E XVI DO ART. 7º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL” (REDUZINDO A JORNADA MÁXIMA DE TRABA-

LHO PARA 40 HORAS SEMANAIS E AUMENTAN-DO PARA 75% A REMUNERAÇÃO DE SERVIÇO

EXTRAORDINÁRIO).

AVISOS

PROPOSIÇÕES EM FASE DE RECEBIMENTO DE EMENDAS (10 SESSÕES)

DECURSO: 6ª SESSÃO ÚLTIMA SESSÃO: 20-02-09

Proposta de Emenda à Constituição (Art. 202, §3º)

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 231/95 – do Sr. Inácio Arruda – que “altera os incisos XIII e XVI do art. 7º da Constituição Federal”. (Apensados: PEC 271/1995 e PEC 393/2001) RELATOR: Deputado VICENTINHO.

II – COORDENAÇÃO DE COMISSÕES PERMANENTES

ENCAMINHAMENTO DE MATÉRIA ÀS COMISSÕES

EM 13/02/2009:

Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional: PROJETO DE LEI Nº 4.610/2009

Comissão de Constituição e Justiça e de Cidada-nia: PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 851/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 873/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 941/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 943/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 951/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.040/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.055/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.059/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.060/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.061/2008

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.062/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.064/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.065/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.066/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.070/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.074/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.075/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.076/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.077/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.079/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.087/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.090/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.091/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.094/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.098/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.101/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.108/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.120/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.123/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.125/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.126/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.127/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.128/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.130/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.136/2008 PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 1.137/2008 PROJETO DE LEI Nº 3.799/2000 PROJETO DE LEI Nº 5.560/2001 PROJETO DE LEI Nº 6.043/2002 PROJETO DE LEI Nº 6.853/2002 PROJETO DE LEI Nº 6.904/2002 PROJETO DE LEI Nº 6.905/2002 PROJETO DE LEI Nº 7.200/2002 PROJETO DE LEI Nº 163/2003 PROJETO DE LEI Nº 421/2003 PROJETO DE LEI Nº 237/2007 PROJETO DE LEI Nº 1.098/2007 PROJETO DE LEI Nº 1.801/2007 PROJETO DE LEI Nº 2.191/2007 PROJETO DE LEI Nº 2.200/2007 PROJETO DE LEI Nº 3.633/2008 PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 443/2009 PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 321/2009

Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indús-tria e Comércio: AVISO Nº 3/2009 PROJETO DE LEI Nº 4.586/2009 PROJETO DE LEI Nº 4.605/2009

Comissão de Fiscalização Financeira e Controle: PROPOSTA DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE Nº 68/2009

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04038 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Comissão de Seguridade Social e Família:

PROJETO DE LEI Nº 4.600/2009

Comissão de Trabalho, de Administração e Servi-ço Público:

PROJETO DE LEI Nº 4.457/2008

(Encerra-se a sessão às 12 horas e 1 minuto.)

DECISÃO DA PRESIDÊNCIA

ARQUIVEM-SE, nos termos do § 4º do artigo 164 do RICD, as seguintes proposições:

PROJETO DE LEI

Nº 3.896/2008 (Manoel Junior) – Inclui a ligação ferroviária EF-410 e a ferrovia transversal EF-225, pre-vistas na Lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, que institui o Plano Nacional de Viação, entre os trechos integrantes da Ferrovia Transnordestina.

Nº 4.307/2008 (Paulo Lima) – Proíbe o tráfego de caminhões nas rodovias federais e estaduais nas condições que estipula, e dá outras providências.

Nº 4.445/2008 (Paulo Lima) – Acrescenta dispo-sitivos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Brasília, 13 de fevereiro de 2009. – Michel Temer, Presidente.

DECISÃO DA PRESIDÊNCIA

ARQUIVEM-SE, nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD, as seguintes proposições:

PROJETO DE LEI:

Nº 1.387/1995 (Júlio Redecker) – Cria o Pro-grama de Controle de Segurança Automotiva – PRO-CONSEG, e dá outras providências.

Nº 2.707/2000 (Poder Executivo) – Altera o art. 1º da Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, que cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS.

Nº 1.192/2003 (Osvaldo Biolchi) – Altera o art. 10 da Consolidação das Leis do Trabalho para dispor acerca da sucessão de empregador da falência.

Nº 1.217/2003 (Paes Landim) – Institui a deten-ção correcional preventiva, como medida de natureza sócio-educativa.

Brasília, 13 de fevereiro de 2009. – Michel Temer, Presidente.

DECISÃO DA PRESIDÊNCIA

ARQUIVEM-SE, nos termos do artigo 133 do RICD, as seguintes proposições:

PROJETO DE LEI:

Nº 1.466/1996 (Duilio Pisaneschi) – Dispõe sobre a isenção do Imposto sobre Produtos Industria-

lizados (IPI) para os equipamentos de segurança dos veículos de passageiros.

Nº 5.111/2005 (Carlos Nader) – Dispõe sobre o Exame de PSA (Antígeno Prostático Específico) na Rede Pública de Saúde e dá outras providências.

Brasília, 13 de fevereiro de 2009. – Michel Temerm, Presidente.

PARECER

PROJETO DE LEI Nº 3.416-A DE 2008 (Do Sr. Lira Maia)

Dispõe sobre a transferência de titu-laridade de bens imóveis de propriedade da União para os Municípios da Amazônia Legal; tendo parecer da Comissão da Ama-zônia, Integração Nacional e de Desenvol-vimento Regional, pela aprovação (relator: DEP. GLADSON CAMELI).

Despacho: Às Comissões de: Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Re-gional; Trabalho, de Administração e Serviço Público e Constituição e Justiça e de Cidada-nia (Art. 54 RICD)

Apreciação: Proposição Sujeita à Aprecia-ção Conclusiva Pelas Comissões – Art. 24 II

Publicação do Parecer da Comissão da Amazô-nia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional

I – Relatório

Com a ausência da Relatora do Projeto de Lei de Lei nº 3.416/2008, Deputada Perpétua Almeida, na Reunião Ordinária Deliberativa de 17 de dezembro de 2008, fui designado Relator Substituto pela Presidência da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, nos termos do Art. 41, VI, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

O projeto de lei em tela contém um mandamento de caráter geral: estabelece que os bens imóveis de propriedade da União localizados em áreas urbanas passam ao domínio do Município, com exceção da-queles onde funcionam órgãos ou entidades federais ou que integram áreas destinadas à preservação am-biental, mediante transferências que serão formaliza-das como doações não onerosas.

Na Justificação, explica o ilustre Autor que, por razões históricas, muitos terrenos em áreas urbanas na Amazônia Legal continuam sob domínio da União, acarretando diferentes problemas para os municípios, especialmente no que se refere à tributação. Tais pro-blemas necessitariam ser solucionados mediante lei.

É o nosso Relatório.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04039

II – Voto do Relator

Nas últimas décadas, o fomento à interiorização constituiu o pilar das políticas de desenvolvimento para as áreas de menor densidade populacional do País. A Amazônia Legal, até por uma questão de soberania nacional, a região do território brasileiro onde, inequi-vocamente, essa política foi implementada de forma mais incisiva.

Vale destacar, a esse respeito, que, principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, foram criados diversos Municípios na Amazônia Legal, alavancados por uma série de medidas de incentivo à migração po-pulacional para essa região, sem que as respectivas situações fundiárias tivessem sido regularizadas de forma a garantir o pacto federativo.

Assim é, que, passados já cerca de vinte anos, as áreas urbanas onde estão localizados os Municípios da Amazônia Legal continuam em propriedade da União, acarretando diversas dificuldades para esses Municí-pios, principalmente no que tange à arrecadação dos impostos de sua competência, e, conseqüentemente, para as suas populações, que sofrem com a falta de estrutura dos serviços públicos e com a impossibili-dade de escrituração das respectivas propriedades em que residem.

A proposição em epígrafe visa, assim, corrigir uma lacuna deixada pela Constituição Federal de 1988, de forma a assegurar aos entes municipais referidos o pleno domínio sobre as propriedades que compõem a sua extensão territorial urbana e a conseqüente possi-bilidade de aumentar a sua capacidade arrecadatória, por meio da cobrança do IPTU e do ITBI, indispensável à prestação de serviços públicos de melhor qualidade às populações que vivem em suas circunscrições.

Desta forma, votamos pela aprovação do Pro-jeto de Decreto Legislativo nº 3.416, de 2008, nesta Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de De-senvolvimento Regional.

Sala da Comissão, 17 de dezembro de 2008. – Deputado Gladson Cameli, Relator Substituto.

III – Parecer da Comissão

A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, em reunião ordinária realizada hoje, aprovou unanimemente o Projeto de Lei nº 3.416/2008, nos termos do Parecer do Relator Substituto, Deputado Gladson Cameli.

Estiveram presentes os Senhores Deputados:Maria Helena, Sergio Petecão e Neudo Campos –

Vice-Presidentes, Asdrubal Bentes, Francisco Praciano, Lindomar Garçon, Marcelo Castro, Marcelo Serafim, Marinha Raupp, Natan Donadon, Elcione Barbalho,

Flaviano Melo, Gladson Cameli, Ilderlei Cordeiro, Lira Maia, Perpétua Almeida e Silas Câmara.

Sala da Comissão, 17 de dezembro de 2008. – Deputada Janete Capiberibe, Presidente.

COMISSÃO

NOTAS TAQUIGRÁFICASO SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Declaro abertos os trabalhos da presente au-diência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que tem por finalidade debater o tema Ope-ração Condor, resgatando a verdade histórica.

Ao apresentarmos o requerimento para esta audi-ência, nosso objetivo era jogar luzes sobre o que está obscuro em nossa história e, dessa forma, contribuir para restabelecer a verdade dos fatos.

Os presentes podem tomar assento nos seus respectivos lugares.

Entendemos que lutar pelos direitos humanos é um trabalho de prevenção, educação e, exatamente, de defesa desses direitos, mas é também trabalhar para reparar as injustiças cometidas e recuperar a verdade e restabelecer a dignidade das pessoas ofen-didas, principalmente quando o agente agressor age em nome do Estado.

Aproveito esta ocasião especial, com o testemu-nho de todos os presentes, pessoas que têm a visão larga sobre o processo histórico, para anunciar algu-mas modestas contribuições que fazemos na condição de Presidente desta Comissão de Direitos Humanos e Minorias para que seja melhor conhecidos e reve-lados os episódios da repressão durante a ditadura militar de 1964.

Convido para compor a Mesa o Sr. Ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Dr. Paulo Vannuchi (palmas) e o Presidente da Comissão de Anistia, Dr. Paulo Abrão Pires Júnior. (Palmas.)

Teremos agora uma pequena solenidade de as-sinatura de termo de entrega de documentos para a guarda do memorial da anistia política do Brasil, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, do con-junto documental da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados referente à Guerrilha do Araguaia. Tratam-se de documentos va-liosos que se encontravam nas dependências de nossa Comissão, que não eram as mais apropriadas para a guarda desse acervo e, com certeza, na Comissão de Anistia eles serão úteis na instrução de processos e posteriormente arquivados de forma adequada. Os do-cumentos já foram entregues, mas vamos firmar esse documento que, vamos dizer assim, instrumentaliza e oficializa essa entrega.

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04040 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Convido para assinar o documento o Dr. Paulo Abrão Pires Júnior. (Palmas.)

Vamos firmar o documento em nome da Comis-são. (Pausa.)

Firmadas as assinaturas, tenho a honra de con-vidar o Ministro Paulo Vannuchi para assinar como testemunha.

Ato contínuo, concedemos a palavra ao Dr. Paulo Abrão Pires para fazer suas considerações.

O SR. PAULO ABRÃO PIRES JÚNIOR – Bom-dia a todos.

Cumprimento o Deputado Pompeo de Mattos na condição de Presidente desta importante Comissão de Direitos Humanos da nossa Câmara dos Deputados, cumprimento o Ministro Paulo Vannuchi, ferrenho de-fensor dos direitos humanos.

É muito gratificante fazer parte de uma Mesa na qual temos, pela representação das pessoas presen-tes, a junção dos esforços dos Poderes Legislativo e Executivo relativamente à questão dos direitos huma-nos no Brasil. Sinto-me honrado de compor esta Mesa e, por especial razão, pelo fato de que neste momen-to recebemos da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados a primeira grande doação de documentos que vão compor a casa de memória da anistia política brasileira.

É um projeto que o Ministro Tarso Genro solicitou-nos criar nessa nova gestão na Comissão de Anistia, que agregou às suas funções duas novas tarefas para além do mero julgamento dos processos dos perse-guidos políticos brasileiros. Uma de caráter eminente-mente educativo, visando – como objetivo central ao estabelecimento do trabalho da Comissão de Anistia como momento de reflexão para o País, relativamente à nossa história de um passado bem recente – levar à nossa juventude um conhecimento melhor desses fatos do passado e promover adequada divulgação dos trabalhos da Comissão de Anistia e da riqueza das informações que chegam até ela na sua atividade quotidiana de julgamento dos processos.

Esse projeto educativo é composto de uma sé-rie de ações, que vão desde a edição de um prêmio nacional de monografias a respeito da anistia política até a instituição de projetos como a anistia cultural, lançado em fevereiro, com uma palestra do Frei Beto nas dependências do Ministério da Justiça.

Há também aquele projeto que hoje tem já maior visibilidade, que denominamos de Caravanas da Anis-tia, que constitui, nada mais nada menos, do que rea-lização de sessões reais de julgamento da Comissão de Anistia País afora. As duas primeiras edições da Caravana da Anistia foram lançadas no último dia 4 de abril, no auditório da Associação Brasileira de Impren-

sa, em homenagem ao centenário da ABI. Anteontem tivemos a segunda edição da Caravana da Anistia na realização de uma sessão de julgamento real na cidade de São Paulo, em parceria com uma série de entidades e associações de anistiandos e anistiados políticos brasileiros.

Apontamos ainda este ano a realização de um seminário internacional sobre reparação e memória, que pretendemos realizar em parceria com a Secreta-ria de Direitos Humanos, bem como a criação de um centro de referência virtual para se constituir em um espaço de acessibilidade a quaisquer cidadãos bra-sileiros pela Internet. Essas são algumas das ações previstas no projeto educativo.

O segundo projeto é o do memorial, que nada mais é do que a organização de uma casa de memória da anistia política brasileira, como política de Estado, visando à preservação da nossa memória, efetivação dos direitos relacionados à anistia política. Esse me-morial será constituído de um centro de documentação e de um centro de divulgação.

O centro de documentação visa a constituir inclu-sive algumas parcerias com universidades e centros de pesquisa para lidar com o rico acervo da Comissão de Anistia, que é a história do Brasil contada do ponto de vista do perseguido político.

Ainda estamos lutando pela abertura de boa parte dos arquivos da ditadura que não foram desvelados. Mas o fato é que temos, nos processos dos requerentes, dos perseguidos políticos brasileiros, na Comissão de Anistia, a história contada sob o olhar de quem sofreu as agressões de um Estado que tinha o direito de pro-teger e não de perseguir. Ali existe, portanto, a história contada. É um acervo muito rico. São verdadeiros ar-quivos da ditadura contada do ponto de vista de quem sofreu suas conseqüências mais drásticas.

Para constituir esse centro do documentação, es-tamos hoje tendo a imensa satisfação de receber das mãos do Deputado Pompeo de Mattos e da Comissão de Direitos Humanos a primeira grande doação que, a partir de agora, compõe esse acervo, o qual nos pre-tendemos articular nos próximos 2 anos, com a digi-talização de toda a documentação lá existente, para, se tudo der certo, fazer o ato de fundação da casa de memória da anistia política no Brasil.

Passo às mãos do Deputado Pompeo de Mattos projetos que também já foram entregues ao Ministro Paulo Vannuchi, a fim de que possamos contar com a parceria da Comissão de Direitos Humanos na im-plementação dos mesmos. Ao mesmo tempo, coloco à disposição a Comissão de Anistia para os objetivos comuns na defesa tão importante do direito dos anis-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04041

tiados políticos, do desvelamento da história e da pre-servação da nossa memória.

Muito obrigado. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Agradeço ao Dr. Paulo Abrão Pires as conside-rações. Ao mesmo tempo, a documentação ofertada a V.Sa., que assume a responsabilidade sobre a série de importantes documentos e arquivos que detinha esta Comissão e agora passam a fazer parte da Comissão de Anistia, permitirá que V.Sa. e seus comandados pesquisem e busquem dados para se aprofundarem na persecução da verdade e finalizarem os muitos processos que tratam da anistia, cujas demandam angustiam esta Comissão, a sociedade brasileira e cada cidadão que espera por uma resposta da Comis-são de Anistia.

Sei que o trabalho é árduo, mas como costuma dizer o Presidente Lula, “quem tem fome, tem pressa”. E a fome não é só de alimentos, mas também de justiça. E na questão da anistia temos fome de justiça.

Por isso, a pressa faz-se importante nesta hora.O SR. PAULO ABRÃO PIRES – Sr. Presidente,

desejo fazer apenas mais uma observação.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Pois não. O SR. PAULO ABRÃO PIRES – Só para fazer

referência à próxima Caravana da Anistia, que será exatamente na Região do Araguaia, com vista a jul-gar os moradores atingidos pelas ações das Forças Armadas no combate à guerrilha.

E destaco a importância fundamental de estar sendo entregue agora esta documentação para ins-trução de cada um desses processos, a fim de termos a promoção da justiça muito em breve para aquele povo. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito. Informo a todos sobre duas ações que vêm sendo desencadeadas por esta Comissão que visam a destacar documentos históricos sobre a Ope-ração Condor.

Foram aprovados ontem nesta Comissão de Direi-tos Humanos e Minorias 2 requerimentos de informa-ção de nossa autoria, juntamente com os Deputados Sebastião Bala Rocha e Sueli Vidigal.

O primeiro é dirigido ao Sr. Ministro das Relações Exteriores e solicita cópia de documentos de posse da-quele Ministério relativos à Operação Condor e sobre ações de cooperação entre diplomatas brasileiros e da Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia e Estados Unidos da América, entre 1964 a 1985.

Aliás , aproveito a presença do Jair Krischke, um dos nossos palestrantes, para dizer que essa é uma antiga reivindicação sua e de ativistas de direitos hu-

manos, não do Brasil, mas da América Latina. Esse requerimento foi aprovado pela Comissão.

O segundo requerimento de informação, aprovado por esta Comissão e também solicitado pelos ativistas de direitos humanos do Rio Grande do Sul, liderados pelo Jair Krischke, solicita ao Ministério das Relações Exteriores oficiar o Departamento dos Estados Unidos da América o envio de cópia dos documentos desclas-sificados naquele país, nos últimos 5 anos, tidos como secretos ou reservados, relacionados à Operação Con-dor e a atividades políticas de opositores e políticos do regime militar no Brasil.

Desde já adiantamos que não pretendemos ficar com a guarda desses documentos, e sim estimular e facilitar a pesquisa sobre nossa história, disponibili-zar esse conjunto de documentos a todos os interes-sados no Brasil, inclusive a outros países – está aqui o Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Argentina – e às demais autoridades argentinas. E, de posse desse documentos, iremos franqueá-los à sociedade brasileira, à Comissão de Anistia, enfim, a tantos quantos forem os órgão que se interessarem, inclusive ao cidadão brasileiro. Este é o entendimento desta Comissão de Direitos Humanos sobre desem-penhar seu papel.

Peço a todos compreensão – e aproveito a hon-rosa presença dos nossos parceiros argentinos, o Deputado Remo Carlotto, ativista dos direitos huma-nos, e o Bruno Huck – para mais uma ação nossa. É que vamos assinar um Termo de Cooperação entre as Comissões de Direitos Humanos da Argentina e a Comissão de Direitos Humanos do Brasil.

Convido, portanto, V.Sas. e o Deputado Remo Car-loto, Presidente da Comissão de Direitos Humanos na Argentina para fazerem parte da Mesa e, em seguida, assinarmos esse documento. (Palmas.)

(Assinatura de Termo de Cooperação.)Pela Comissão de Direitos Humanos e Garan-

tias da Câmara dos Deputados da Nação Argentina, convido a assinar o Termo de Cooperação, o Sr. Pre-sidente, Deputado Remo Carlotto. É um protocolo de colaboração entre las naciones da Comissão de Direi-tos Humanos da Argentina e do Brasil.

Na verdade, saliento que é um passo adiante que as duas Comissões estão dando. Ontem eu aqui dizia, sobre a Operação Condor, que as ditaduras brasileira, argentina, uruguaia, paraguaia, chilena e boliviana se uniram exatamente para perpetrar atos criminosos. Em tempos de democracia, de liberdade e de garantia dos direitos humanos, mais do que nunca, faz-se neces-sários tomarmos atitudes reversas, ou seja, que nos unamos daqui para lá e de lá para cá, para garantir os direitos humanos, a memória, a verdade dos fatos.

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04042 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

A colaboração entre Brasil e Argentina e vice-versa já tem sido, na prática, muito positiva. Dou este testemunho, até porque quando fui Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos De-putados estive, por 3 vezes, na Argentina, para aten-der a demandas, inclusive a de um menor brasileiro, de pai argentino e mãe brasileira, que foi seqüestrado em território brasileiro. Lá recebemos pronto apoio da Comissão de Direitos Humanos da Argentina.

Ainda temos outras demandas na Argentina e contamos com a parceria e o apoio da Comissão de Direitos Humanos daquele país. Na verdade, quere-mos instrumentalizar aquilo que já é realidade para atuarmos com mais força. E esse documento é um passo a frente para depois podermos ampliar esse protocolo bilateral Brasil e Argentina com outros paí-ses do Cone Sul.

Então, para assinar, em nome da Comissão de Direitos Humanos e Garantias da Câmara dos Depu-tados da nação argentina, convido o Deputado Remo Carlotto. (Pausa.)

E nós assinamos em nome da Comissão de Di-reitos Humanos do Brasil. Pausa.)

Peço ao Dr. Bruno Huck, representante da Central dos Trabalhadores Argentinos e Delegado da Associa-ção dos Trabalhadores do Estado de Buenos Aires, que nos honre com o seu testemunho, bem como a honrosa assinatura do Ministro Paulo Vannuchi e do Presidente da Comissão de Anistia, Dr. Paulo Abrão Pires. (Pausa.)

Procedida esta solenidade, informo aos nossos convidados que iremos desfazer esta Mesa para co-meçar a nossa audiência pública propriamente dita sobre a Operação Condor.

Convido para compor a Mesa desta audiência pública o Ministro Paulo Vannuchi, que já está aqui co-nosco, o Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; o Deputado Remo Carlotto, também aqui conosco, Presidente da Comissão de Di-reitos Humanos e Garantias do Congresso da nação argentina; o Sr. Jair Krischke, fundador e Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Cone Sul; o Sr. Nilson Cezar Mariano, jornalista, autor do livro As Garras do Condor; o Sr. Chistopher Goulart, neto do ex-Presidente João Goulart; o Dr. Bruno Huck, representante da Central de Trabalhadores Argentinos e delegado da Associação dos Trabalhadores do Es-tado Buenos Aires.

Esclareço que o tempo concedido, a priori, para cada expositor será de 15 minutos. Após a exposição será concedida a palavra aos Deputados presentes, respeitada a ordem de inscrição. Cada colega Parla-

mentar inscrito terá o prazo de 3 minutos para formular suas considerações ou pedidos de esclarecimento.

Esclareço que esta reunião está sendo gravada para posterior transcrição, por isso solicito que falem sempre ao microfone.

De imediato, concedo a palavra ao nosso convi-dado, Sr. Ministro Paulo Vannuchi, Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

O SR. MINISTRO PAULO VANNUCHI – Muitís-simo obrigado, Sr. Presidente, Deputado Pompeo de Mattos, a quem cumprimento pela brilhante estréia, com uma audiência pública na Casa, em torno de tema tão relevante e tão emergente no contexto brasileiro acerca do debate que já está presente na imprensa com força e da eventual responsabilidade dos órgãos de segurança da ditadura militar na morte do ex-Presi-dente João Goulart, a quem homenageamos também com a presença de seu filho, João Vicente Goulart ,e do seu neto, Christopher Goulart.

Faço minha saudação ao Presidente Paulo Abrão, que tem imprimido uma dinâmica nova, forte, simbóli-ca e educativa no andamento da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça; ao querido Deputado Remo Carlotto; ao companheiro Bruno; aos meus amigos de jornadas da articulação de direitos humanos no MERCOSUL; aos companheiros com os quais já tive o prazer de desfrutar alguns sanduíches de miga na nossa querida Buenos Aires; ao Dr. Jair Krischke; e ao Dr. Nilson Cezar Mariano, especialistas no tema.

Também faço uma saudação a toda a minha equi-pe, com bastante gente presente: Maricarmem, Carla, Valéria, Firmino Fecchio, Ouvidor-Geral dos Direitos Humanos, Alice e Kelly.

Cumprimento os queridos Deputados Jusmari Oliveira, Sebastião Madeira, Luiz Couto, Guilherme Menezes; os colegas jornalistas, fundamentais para que esta audiência pública saia desses muros para o conhecimento amplo do Brasil; representantes de movimentos da sociedade; o querido Zezinho do Ara-guaia, aqui presente.

Também chamo a atenção para a importância de os colegas jornalistas aproveitarem a passagem do Deputado Remo Carlotto, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados da Argentina, um país que exerce nítida liderança regio-nal em torno do tema direitos humanos relacionados com memória, verdade e justiça – liderança regional tão inequívoca quanto o Brasil pode dizer que tem lide-rança regional em outros aspectos, como o do futebol e de muitos outros.

A imprensa poderia aproveitar a presença de S.Exa., porque, além de seu trabalho, é filho de Este-la Carloto, uma das lideranças das avós da Praça de

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04043

Maio, e irmão de uma desaparecida. Trata-se de um dos casos mais impressionantes. Já ouvi o relato. Vale a pena uma grande matéria.

Quando a sua irmã foi presa, a D. Estela visitou o General da Unidade, de quem tinha sido colega na for-mação escolar, para pedir a ele o seguinte: “Se a minha filha for presa, quero um compromisso do senhor, como meu ex-colega de escola na infância, na adolescência, eu quero que o senhor me entregue o corpo”.

Então, é o retrato do que foi o terrorismo de Es-tado, o que foi a nossa América Latina no período.

Acrescento, nessa introdução, um rápido boletim médico para explicar que este artefato aqui é uma colu-na cervical (Mostra artefato), para atender uma hérnia de disco. Os médicos, de alto coturno, do Sarah Ku-bitschek, Dr. Aloísio Campos da Paz e Dra. Lúcia Bra-ga, determinaram que eu ficasse de cama por 1 mês. Como não tenho como ficar de cama, estou fazendo uma alternância. Faço uma agenda, deito um pouco. Faço outra, deito um pouco. Tenho de ir ao hospital às 11h30 para fazer o último exame que falta. Depois da tomografia e da ressonância, falta o último exame. Portanto, vou ter de fazer uma coisa desagradável, que é sair às 11h15. E gostaria muito de aproveitar a pre-sença dos especialistas em Operação Condor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Sr. Ministro, não tem nada a ver o artefato com a Operação Condor. Vamos deixar claro.

O SR. MINISTRO PAULO VANNUCHI – Sabe Deus! Sabe Deus! Pode não ter relação com a Ope-ração Condor, porque ela começou em 1975, e eu fui preso em fevereiro de 1971. Mas que tem alguma possível relação com as atrocidades daquela período, nós não podemos descartar.

Eu estava dizendo que nosso idioma recomenda a pronúncia “Condor”, porque existe a palavra no Brasil e a sílaba tônica é “dor”, embora a onda seja seguir a pronúncia espanhola e dizer “Côn-dor” .

Eu queria aprender mais sobre ela. Não sou lei-go no assunto. Eu o conheço, mas quero aproveitar um pouco da fala dos oradores para reforçar. Quero, sobretudo, apresentar minha vinda aqui como parte de um compromisso da pequena, mas combativa e aguerrida Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, uma institucionalidade federal que nasceu no Brasil como desdobramento da Conferência de Viena, em 1993.

No Governo Fernando Henrique, ela nasceu no Ministério da Justiça. Teve titulares importantes, tais como José Gregório; Paulo Sérgio Pinheiro; o Embai-xador Gilberto Sabóia, que foi o coordenador do Docu-mento de Viena. Atualmente, no Governo Lula, conta com Nilmário Miranda; durante um período intermedi-

ário, Mário Mamede, e eu, nesse cargo há 2 anos e 4 meses. Marcamos o crescimento da Secretaria ano a ano, do Governo Lula para cá, com status ministerial. Não chega a ser bem um Ministério, mas tem o seu status. E como uma construção do Estado brasileiro.

Apostamos e trabalhamos juntos, mesmo sendo pessoas eventualmente egressas de partidos coliden-tes na arena política imediata, no caso o PSDB e o PT. Estamos juntos em temáticas como essa, a afirmação de que em torno dos direitos humanos é preciso cons-tituir um campo vasto, protegido ao máximo possível da disputa democrática, que é saudável e desejável, mas que sempre traz o risco de confrontos que inter-rompem a acumulação histórica tão necessária.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos abriga a Comissão Especial sobre Mortos e Desa-parecidos, que lançou, em agosto do ano passado, o livro Direito à Memória e à Verdade, registrando os 11 anos de trabalho daquela Comissão, praticamente encerrando os casos – eu digo praticamente porque sempre é possível. Até a publicação do livro suscita um universo maior de eleitores que podem apontar insuficiências, apresentar outros casos. E sempre ha-verá espaço para reexaminar casos indeferidos. Para casos que não foram examinados, teria de passar por uma reelaboração legislativa, a que esta Casa não se recusará, caso haja fundamentos consistentes.

A Operação Condor está presente no livro, no registro dos 11 anos de trabalho, por conta de vários depoimentos, episódios, vários casos julgados de ci-dadãos argentinos. Também alguns casos da presença policial brasileira, reportada no Uruguai, na Argentina, no Chile, no Paraguai e até na Bolívia.

Em algum momento, assim como hoje é convi-dado o Deputado Remo Carlotto, seria conveniente convidar também o Sr. Martin Almada, de Assunção, no Paraguai, que é o responsável pelos chamados Arquivos do Terror, trabalho muito importante. E o Pa-raguai também marca muito fortemente a presença de autoridades militares brasileiras no processo repressi-vo, sobretudo a integração, que, segundo depoimentos inequívocos de especialistas norte-americanos, de es-pecialistas como os que compõem a Mesa, com livros publicados, levou ao assassinato de Carlos Prates, de Zelmar Michelini – que é o pai do nosso colega de Direitos Humanos do Uruguai, Letelier – e de tantos outros. E as evidências de situações com a presença do torturador Sérgio Fleury, prendendo pessoas em Santiago do Chile, em Buenos Aires. A presença de torturadores falando português nos momentos do golpe de Estado. E, por último, o episódio João Goulart, que precisa ser valorizado. O Dr. João Vicente já esteve na Secretaria conversando com a nossa equipe. Temos

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04044 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

agendado um próximo encontro. Existe uma equipe de pesquisadores trabalhando, que recebeu da Ministra Dilma Rousseff, responsável pelo Arquivo Nacional, um bem nutrido lote de documentos, em que há pegadas, impressões digitais que vão muito além do depoimento que pode ser contraditório, mas não pode ser descar-tado, de uma pessoa que está presa no Rio Grande do Sul, ex-agente da repressão no Uruguai.

De qualquer forma, se fosse o depoimento único, poderia ser fragilizado. Mas, por exemplo, cruzando com a ocorrência de documentos que eventualmente regis-trem a presença de agentes do aparelho de repressão rondando a vida do ex-Presidente, podemos ter uma decisão que promoverá uma completa reviravolta na compreensão da própria sociedade civil brasileira e da imprensa brasileira sobre o episódio.

Quero acrescentar um depoimento que não é de Ministro, mas de um ex-preso político e, de algu-ma maneira, de uma pessoa que também acabou se especializando no tema. Eu trabalhei quase 6 anos em uma pesquisa chamada Brasil: Nunca Mais, sob a coordenação de Dom Paulo Evaristo Arns. Foram 6 anos escavando documentos da repressão política, através dos arquivos do Superior Tribunal Militar. E fui interrogado por muitos dias, em fevereiro de 1971, com os métodos que todos conhecem.

Se naquele momento houvesse a alegação de que em 1971 o aparelho de repressão no Brasil se-ria o responsável pela morte de João Goulart, o tema teria menos credibilidade do que na data precisa em que ocorreu.

Chamo a atenção dos colegas jornalistas para este dado: dezembro de 1976 é o meio de um perío-do de transição da institucionalidade do regime militar, em que a posse de Geisel, em março de 1974, marca um primeiro período que está razoavelmente bem re-fletido na tetralogia de Elio Gaspari sobre a ditadura, em que aparentemente os mais altos sistemas de po-der político dão um aval para a complementação do massacre no Araguaia e também para os casos de desaparecimento, sobretudo da direção do Partido Comunista Brasileiro.

Quando eu fui preso, para cada um de nós que éramos torturados por envolvimento com organizações ligadas à luta armada ou a uma Esquerda não armada, porém não vinculada ao Partido Comunista Brasilei-ro, o torturador respondia: “Não queremos informação sobre o partidão”.

Havia um foco muito centrado em liquidar a luta armada. Quando essa tarefa começar a ser concluída, o passo seguinte é eliminar a Esquerda não armada, organizações dissidentes de Esquerda, mas que não recorreram aos métodos armados e, por último, o Parti-

do Comunista Brasileiro – David Capistrano, Luís Inácio Maranhão e tantos outros daquele período.

Com a morte de Vladimir Herzog houve o pri-meiro grande impacto na imprensa, porque a morte do meu primo, Alexandre Vannuchi Leme, em março de 1973, já tinha gerado uma missa na Sé, com 5 mil estudantes que foram para lá não sabendo se iam ser presos. Só que a imprensa ainda era inteiramente amordaçada. E, sem imprensa, a notícia só transita em circuitos restritos.

Em 1975, dia 25 de outubro, Herzog, a institu-cionalidade já tinha uma reabertura em passos lentos desde março – Golbery, Geisel. E a imprensa perdia o medo de noticiar. Então, enfrenta e noticia ampla-mente o episódio Herzog.

É presumível que tenha havido uma orientação presidencial para que os porões parassem de matar.

Em janeiro de 1976, Manuel Fiel Filho foi mor-to – de novo no DOI-CODI de São Paulo, onde eu fui preso e onde Alexandre e Herzog foram mortos – sob tortura, levando à demissão, por Ernesto Geisel, do Comandante do então 2º Exército, General Ednardo D’Ávila Melo.

Abriu-se uma era de confronto aberto entre Pre-sidência da República e o aparelho de repressão, que terminou em outubro de 1977, com a tentativa golpista de Sílvio Frota, derrotada.

Então, o episódio João Goulart, em dezembro de 1976, ocorre precisamente no momento em que esse aparelho de repressão desconfiava que Golbery e Ernesto Geisel pudessem ser traidores e que es-tivessem preparando uma transição para entregar o Brasil aos subversivos.

Jarbas Passarinho, Senador, Governador, Mi-nistro de várias Pastas, gaba-se de depoimentos de torturados que lhe relataram ter ele sido referido pelos torturadores como um possível vacilante, um possível simpatizante, ou um membro do regime militar que fosse mole.

Eu estive na semana passada em São Paulo, num evento com a Comunidade Judaica B´nai B´rith, ao qual estava presente o Sr. José Mindlin. E eu Lembrei com ele o episódio em que ele, Secretário de Cultura, foi acusado de comunista como o Governador Paulo Egídio, por manter Vladimir Herzog como Diretor de Jornalismo da TV Cultura.

Então, nesse ambiente, a tendência geral de todas as ditaduras é que, em algum momento, o aparelho de repressão ensandeça, enlouqueça, e comece a reali-zar resultados que colidem inclusive com os objetivos estratégicos dos mais altos escalões.

Eu chamo a atenção para a importância de o evento de hoje também buscar concentrar a atenção

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na investigação em torno da morte de João Goulart. E, a partir disso, também lembro que uma parte da investigação é feita com documentos cedidos pela Ministra Dilma, numa ação interministerial – que tem de ser feita, sim, com o envolvimento, pelo menos, da Casa Civil, da Defesa, da Justiça e de Direitos Huma-nos e do Itamaraty, pelo menos desses 5 pólos, com o compromisso de abrir arquivos políticos.

Aproveito, mais uma vez, para me contrapor ao equívoco consolidado no Brasil de que não há no País documentos da repressão política abertos. Há, e há milhares de páginas.

No relatório final da Comissão Interministerial do Araguaia, que eu integrei, recomendamos ao Presi-dente da República várias iniciativas, e uma delas é a reconstituição de arquivos. O que é isso? Vejam este exemplo: quando um cartório pega fogo, as pessoas não perdem os seus imóveis porque perdeu-se o re-gistro do cartório sobre a propriedade. A lei brasileira tem mecanismos que prevêem a reconstituição.

Então, é preciso reconstituir os autos. A Secre-taria de Direitos Humanos tem 200 mil páginas, que podem ser repassadas imediatamente. O Presidente Paulo Abrão tem milhares de páginas. O STM tem pelo menos 1 milhão de páginas, muitas delas com o logo-tipo, com o papel timbrado do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, além da Polícia Federal e do DOPS de todos os Estados.

Nessa caminhada, a Ministra Dilma, assim que tiver cessado o tiroteio de que é alvo atualmente, anunciará, como estaria anunciando nesses dias, se não tivesse havido esse incidente – que existe na vida democrática, com as suas vicissitudes –, o tratamen-to digitalizado da integração dos arquivos já abertos, onde há importantíssimas informações ainda não su-ficientemente trabalhadas pela imprensa.

E eu repilo a versão surgida em dezembro de 2005 por erros de todos, inclusive do próprio Governo, que anunciou a abertura dos arquivos, com timidez, de familiares de mortos e desaparecidos, que, des-contentes com a frustração de expectativas de ações mais urgentes, disseram que aqueles arquivos não tinham nada; e da própria imprensa, que, na época, muito contaminada pelo clima da crise mensalão etc., tratou o 21 de dezembro de 2005 como um episódio do tipo “nada foi aberto”.

O arquivo da ABIN que foi deslocado para o Arqui-vo Nacional trará informações importantíssimas, assim que pesquisadores, jornalistas, todos, enfim, puderem mergulhar neles, através desse processo que o Arquivo Nacional e a Ministra Dilma anunciarão.

O Ministro Jobim trabalha, com os Chefes das 3 Armas, o dever de cumprir a sentença federal da

Juíza Solange Salgado sobre o Araguaia, que agora transita em julgado, correndo o momento de aguardar a citação, após cuja formalização haverá 120 dias de prazo para que as exigências da juíza – sobretudo a localização dos corpos e a abertura de todos os arqui-vos – sejam atendidas.

Por último, a Ministra Dilma está preparando uma nova legislação para substituir a Lei nº 11.111, que ainda admite sigilo eterno, e, nessa alteração legislati-va, incorporar, primeiro, o conhecimento de que todos os arquivos da repressão política no Brasil, pelas leis brasileiras, de hoje ou da época, estão tecnicamente desclassificados. A palavra “desclassificados” quer di-zer abertos; não paira sobre eles mais a condição de ultra-secretos, secretos ou sigilosos. Porque tanto as leis atuais quanto as antigas exigem uma renovação do sigilo, da reserva, a qual não foi providenciada.

Então, tecnicamente, os arquivos estão ou aber-tos, ou foram destruídos, ou subtraídos. Se foram sub-traídos, espero que não estejam subtraídos no interior de repartições públicas do Estado, mas subtraídos em mãos privadas – como com toda certeza estão, por-que pesquisas, trabalhos jornalísticos e livros, a cada semana, mostram que há arquivos. Recentemente, a revista ISTOÉ traz de novo o Curió dizendo inclusive da execução sumária de que pessoalmente participou, crime em todas as latitudes.

Então, se a Lei da Anistia a acoberta – e eu digo “se” porque o Supremo Tribunal Federal brasileiro ainda não deu sua última palavra sobre isso; não foi provo-cado, há controvérsias. Juristas de primeira grande-za sustentam que a palavra “conexos” da lei de 1979 não tem poder nominativo para agasalhar homicídios, ocultações de cadáveres, violências sexuais, torturas, estupros inomináveis. Se o entendimento do Supremo, finalmente, for esse, a atitude do Estado Democrático de Direito será a de acatá-la, como acatamos do Supremo decisões até mesmo como esta recente, de intervir na questão Raposa Serra do Sol, sustando o andamento de uma operação que já demorava 3 anos e que pre-tendia concretizar o que manda a lei no nosso País. O Supremo tem que ser obedecido sempre. Podemos nos preocupar e discordar dele, mas acatando o que ele determina. E pode ser que o Supremo reveja essa opinião, assim como os organismos internacionais dos direitos humanos podem revê-la.

Eu termino lembrando que o mundo entra numa nova era, na qual os ditadores novos têm de saber que seus crimes poderão ser analisados por um juiz corajoso como o da Espanha, que determina a prisão de Pinochet em Londres. Os ditadores novos têm de saber que cessou o período em que os ditadores po-

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diam pensar numa impunidade, como certamente o aparelho de repressão brasileiro pensou.

E pode haver episódio como aquele em que o Dr. Krischke esteve envolvido, como especialista e como pessoa que apresentava as informações, quando a Justiça italiana solicitava ao Brasil a prisão de determi-nadas autoridades superiores, com toda a observância das técnicas jurídicas. Se a Constituição brasileira não prevê a extradição, de qualquer maneira – já o disse também o Ministro Tarso Genro –, é possível fazer o processo do direito à memória e à verdade; conhecer detalhadamente, informar, jogar plena luz sobre todos os episódios.

Saúdo então a chegada da Deputada Janete Pie-tá, do Deputado Pedro Wilson, lutadores em prol dos direitos humanos. Agradeço esta chance e reafirmo o compromisso da Secretaria Especial dos Direitos Hu-manos, da Presidência da República – e falamos em nome do Presidente Lula, da Presidência da Repúbli-ca – de parceria e solidariedade com esta Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo Deputado Pom-peo de Mattos, para que desta e de futuras audiências saiam programas, ações, que nós, com muita honra, cumpriremos e cuidaremos de levar adiante.

Muito obrigado. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito obrigado, Ministro Paulo Vannuchi, Secre-tário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.

Quero, honrosamente, registrar aqui a presença dos colegas Deputados Guilherme Menezes, Janete Rocha Pietá, Luiz Couto, Pedro Wilson, Sebastião Bala Rocha e Jusmari Oliveira.

Quero, de imediato, passar a palavra ao Deputado Remo Carloto, Presidente da Comissão de Direitos e Garantias do Congresso da Nação Argentina.

V.Exa. está com a palavra.O SR. REMO CARLOTO – (Exposição em es-

panhol.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – O Ministro Paulo Vannuchi está se despedindo, porque, obviamente, tem outro compromisso. Nós queremos agradecer-lhe, Sr. Ministro, a presença, a palavra e o trabalho em conjunto que temos feito junto a esta Comissão e a seu Ministério.

Muito obrigado, Ministro Paulo Vannuchi, Secre-tário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República!

Nós queremos registrar ainda a presença aqui do Dr. Sérgio Muylaert, representante do IAB – Instituto dos Advogados Brasileiros e ex-Vice-Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

Nós queremos registrar também a presença do nosso colega, Deputado Pastor Manoel Ferreira.

Registramos também uma carta-resposta a um convite feito ao Senador e ex-Ministro Jarbas Passari-nho para que também participasse desta audiência, e ele escreveu a seguinte carta, muito brevemente:

“Agradeço-lhe o convite de que trata o ofício em que V.Exa. me supõe capaz de expor sobre a Operação Condor, porque tive papel continuado nos governos militares e utilizei os meios de comunicação para abordar o tema.

Deixei o Exército em julho de 1966, já concorri ao Senado da República em novem-bro do mesmo ano, na condição de oficial ina-tivo. Nos 3 mandatos para os quais fui eleito pelo povo paraense, nunca me coube relatar ou mesmo votar matéria referente às patrio-tas Forças Armadas, nos 3 Ministérios para os quais fui nomeado, no ciclo militar, todos em Pastas civis. Só tratei de assuntos civis. A úni-ca vez que fui à tribuna, num 27 de novembro, ao prestar culto às vítimas da Intentona Co-munista de 1935, chefiada por Carlos Prestes, nisso se resumiu em assunto militar o papel continuado dos governos militares.

Da Operação Condor, só ouvi falar re-centemente. Procurado por um repórter, e não por minha iniciativa a respeito, ative-me em entrevista e num artigo para jornal, a formular conceitos de valor sobre velhos camaradas de farda dos meus 29 anos de vida castrense. E, em decorrência da instituição, envolvendo os já mortos.

Concedendo-lhes o caráter, tenho certe-za de que não os coadunaria eles com ativi-dades que V.Exa. cita, entre elas o assassínio de opositores políticos.

O que disse e escrevi não ajuda a ave-riguação dos fatos em que louvavelmente se empenha a nobre Comissão que V.Exa. pre-side.

Atenciosamente, – Jarbas Passari-nho.”

Também a bem da verdade registramos a ma-nifestação do eminente Senador e Deputado Jarbas Passarinho.

Ato contínuo, passamos a palavra ao Dr. Jair Kris-chke, fundador e conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Cone Sul.

O SR. JAIR KRISCHKE – Ao saudar o Deputado Pompeo de Mattos, Presidente da Comissão de Direi-tos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados,

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saúdo todos os demais companheiros da Mesa, em especial o Deputado Remo Carlotto, da nossa vizinha e irmã nação argentina; saúdo todos os presentes, mas especialmente também me permito saudar Firmi-no Fecchio, que há tempo não via, e juntos estivemos numa jornada em janeiro de 1987, em Santiago do Chile, visitando presos políticos condenados à morte, uma jornada muito interessante e da qual guardo ex-celentes lembranças.

Deputado Pompeo de Mattos, encontro-me num dilema. Vim para um depoimento que certamente ne-cessitaria de cerca de uma hora e meia. Por que razão? Já é tempo de terminarmos com esta história de que a operação é Côndor ou Condor. O pássaro é outro, Deputado. O pássaro poderia ser araponga, poderia ser curió, um pássaro brasileiro, porque o Brasil teve um papel protagônico. Não foi na reunião de Santiago do Chile, em novembro e dezembro de 1975, que se criou essa operação. Não. É que os militares brasilei-ros sempre tiveram habilidade de atuar sem deixar impressões digitais.

Nós sabemos quem foram os militares argentinos que participaram da reunião, quem foram os chilenos, quem foram os uruguaios, quem foram os bolivianos, e os brasileiros lá estiveram. E vêm com um discurso desonesto dizendo que só estiveram como observa-dores.

Acho que desse assunto, de uma vez por todas, nós temos que rasgar essa cortina que oculta a ver-dade e dizer o que aconteceu.

Aqui tenho documentos. Não é especulação! São documentos que contam palidamente, mas contam, essa articulação brasileira que começa a operar, em fatos concretos, na Argentina, em 70. Um episódio co-nhecido. É que no Brasil, Deputado, nós não temos o hábito de debruçar-nos sobre todas as informações e organizá-las. Não temos esse hábito, essa cultura.

Trabalhando com a justiça italiana, pela primei-ra vez, nós que combatemos a repressão – e nunca, nesse combate, tivemos tempo para sentar e pensar como ela funcionava –, ao assessorar o juiz italiano pela primeira vez eu sentei, porque ele me pedia o se-guinte: “Forneça-me a estrutura do aparelho repressivo brasileiro e a sua dinâmica de funcionamento.”

Passei a vida combatendo esse monstro, mas nunca tinha sentado para escrever sobre ele. Aí me chamou a atenção que o mesmo se dá com a opera-ção, seja o pássaro que for, que se queira dar o nome, porque, em 70, militares brasileiros, com a repressão argentina, prenderam em Buenos Aires o Coronel Jefferson Cardim de Alencar Osório, seu filho e seu sobrinho, e o levaram de Buenos Aires para o Rio de

Janeiro, onde cumpriu uma pena até 77. Esse é um fato conhecido.

Depois, nós temos operações outras, várias ope-rações, em que o Brasil atuou e que envolvem brasilei-ros que estão desaparecidos. Aqui tenho documentos que referem. Que operações? Por exemplo, o Coronel... Não, Major Joaquim Pires Cerveira, Major do Exército Brasileiro, gaúcho, que havia estado exilado no Chile, que foi para a Argentina e, junto com um jovem estu-dante nascido em Santa Catarina, mas que foi fazer o secundário lá em Porto Alegre, Deputado, João Batista Rita Pereda, foi seqüestrado em Buenos Aires. Teste-munhas relatam que foram levados por pessoas que falavam português, junto com a repressão argentina.

Isso foi em dezembro de 72. Esses 2 foram vis-tos no DOI-CODI do Rio de Janeiro. Isso está regis-trado. Barbaramente torturados... Está registrado pelo seguinte: como não se publicava no Brasil, logrou-se publicar em Londres, no jornal The Guardian, de 19 de fevereiro, que diz que 2 brasileiros estavam sendo torturados no DOI-CODI. E eles foram seqüestrados em Buenos Aires. Então, eu cito o fato.

Nós temos documentos aqui, Deputado... Eu não sei como vou fazer isso... São documentos que dizem, por exemplo: “o Major Joaquim Pires Cerveira, em Bue-nos Aires, mudou o visual.” Está aqui, num documento do Exército Brasileiro. “Ele hoje tem uma aparência de hippie: deixou o cabelo crescer, está usando roupas de cores mais fortes” – descreve – “e pensa ingressar no Brasil, mas certamente não o fará por avião, porque não vai deixar acontecer com ele o que aconteceu com o Gauchão.” O que aconteceu com o Gauchão?

Gauchão é Edmur Péricles Camargo, paulista , mas que viveu muito tempo no Rio Grande do Sul, por isso o chamavam de Gauchão. Era um negro grande, forte, uma figura extraordinária, Deputado. No início, era membro do Partido Comunista. Ele vendia, no Mercado Público, o jornal do partido. Subia numa cai-xa de cerveja e anunciava as manchetes do jornal do Partido Comunista, olhando a polícia, mas quando ela chegava, ele corria. Quando a polícia saía, ele voltava. Eu me lembro de um episódio dele extraordinário. Ha-via morrido o Papa, e a manchete do jornal do Partido Comunista: “Morreu o Papa”, e o Edmur disse: “Essa manchete eu não vou publicar. Eu sou um comunis-ta, como vou anunciar a morte do Papa? Não posso. Como comunista, não posso.” Os dirigentes do partido disseram: Edmur, é uma tarefa. É uma tarefa do par-tido. Então ele foi. Era uma tarefa, ele foi, e anunciava lá em cima da caixa de cerveja: “Morreu o cidadão Pa-celli”. Ele dava o nome civil do Papa, porque ele não reconhecia o Papa, como comunista.

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Então, meus amigos, o Gauchão está desapa-recido. O Gauchão voava de Santiago do Chile para Montevidéu, com escala em Ezeiza. Ele foi retirado do avião em Ezeiza. E há vários episódios de brasileiros desaparecidos, e alguns documentos que trago aqui referem, em que foram vítimas lá na Argentina ainda em democracia, antes do golpe de 76 na Argentina, os brasileiros atuando em conluio com a repressão Argentina que já existia, mesmo em democracia. En-tão, são vários os documentos que eu aqui trago, que são interessantes do ponto de vista, Deputado, de que comprovam que o Brasil exerceu um papel protagônico. Eu gostaria de referir alguns documentos. Isso aqui é documento do Paraguai convidando para a IV Confe-rência Bilateral de Inteligência, entre os Exércitos do Paraguai e do Brasil, IV bilateral de inteligência.

Esse outro documento convida para uma nova... Comando-em-Chefe das Forças Armadas da Nação Paraguai. Muito interessante. O General de Divisão Dom João Baptista de Oliveira Figueiredo falará sobre o tema Princípios fundamentais em que se baseia um serviço nacional de inteligência. General João Baptista Figueiredo pronunciando palestra num encontro bina-cional, Brasil-Paraguai, de inteligência. É o papel prota-gônico do Brasil, porque tocou ao Brasil ser o país que exerceria a hegemonia na América Latina. Esse era o papel que o Brasil devia cumprir, e cumpriu.

Este documento aqui, norte-americano, secreto, desclassificado, revela a visita do Presidente Médici ao Presidente Nixon, reuniões com Kissinger, com o Secretário de Estado e com o General Vernon Walters, de péssima memória para nós, brasileiros, porque era Adido Militar dos Estados Unidos no Brasil quando do golpe. E o que foi tratar o General Médici nos Estados Unidos? Ele foi tratar das eleições uruguaias, está aqui. Por que razão? Porque a ditadura brasileira não acei-taria uma nova experiência semelhante à de Salvador Allende. Não. Aqui do nosso lado, não. Então o Brasil interveio, e como? Fortemente, chegando ao ponto de preparar a famosa Operação 30 Horas. O que significa? Em 30 horas as Forças Armadas brasileiras invadiriam e ocupariam o Uruguai, em 30 horas, Operação 30 Ho-ras. Se fosse vitoriosa a candidatura de Líber Seregni, grande líder da Frente Ampla. Está aqui a visita. Esses documentos que a Comissão irá pedir são importan-tes porque neles está relatada a Operação 30 Horas. Essa operação está muito bem documentada, muito bem documentada. A primeira vez que isso aparece em público é num livro, cujo título não me lembro, do Coronel Grael. Ele estava servindo no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, e relata que, como membro do Estado Maior, lhe tocou organizar a ope-ração. E depois há outras informações e, por último,

ano passado, um general de pijama, lá em Porto Ale-gre, numa entrevista à TVCom, para o jornalista José Mitchell, revela, dizendo assim: “Lembra da Operação 30 Horas? Isso é uma balela. Foram eles que pediram. Foi Pacheco Areco que pediu que as tropas brasileiras invadissem o Uruguai, para que ele permanecesse no poder, já que estava pleiteando uma reeleição, vedada pela Constituição uruguaia.”

O outro documento trata do Chile, a tal reunião que inaugurou Condor. Aqui ela está relatada e aqui tem a chave de comunicação secreta em que o Condor operaria. Aqui está o documento e outros documentos mais. A questão do Chile é muito interessante para nós brasileiros. Era Embaixador do Brasil em Santiago do Chile Câmara Canto. Ele era o Embaixador do Brasil. E nós temos um livro publicado por um ex-embaixador norte-americano que relata, e Câmara Canto estava convidando embaixadores para articular o apoio ao golpe, e por aí vai.

Esse embaixador brasileiro era considerado o quinto homem da Junta. Era Pinochet, mais 3 oficiais generais, e o quinto homem era o nosso embaixador. Por essa razão, os brasileiros que estiveram exilados no Chile – e éramos mais de 5 mil – sofreram brutalmente. Mais de 100 foram levados para o Estádio Nacional. E relatam que lá no Estádio Nacional interrogadores falavam português, torturadores falavam português. Então isso é muito importante saber. Nesses docu-mentos que nós vamos juntando pelo mundo afora há o relato 108 brasileiros que se asilaram na Embaixada da Argentina, em Santiago. Aqui está o nome de todos os que estavam. São documentos brasileiros. Agora, no Uruguai, eu consigo um documento, que está sen-do desclassificado no Uruguai, cujo título é: Nómina de Ciudadanos Brasileños Detenidos en Chile, Según Requerimiento de Información. Os brasileiros presos no Estádio Nacional, pelo Serviço Secreto Uruguaio. Interessante isso.

Nós temos uma outra operação, muito interes-sante, da colaboração brasileira. A repressão chilena matou 119. Estavam presos. Matou. E havia entre eles alguns que tinham cidadania inglesa, outros tinham cidadania alemã, e as embaixadas cobravam. Como Pinochet resolveu? De duas formas. Eu chamo de “A morte por press release”. Inaugura-se uma revista em Buenos Aires, cujo título era Ler – só saiu um número –, que, outras matérias, conta uma história de que cin-qüenta e poucos chilenos se empenharam numa luta fratricida, por discussões internas, e se auto-eliminaram na Argentina. E no Brasil, um jornal de Curitiba, O Dia, antigo, criado em 1870, que tinha fechado, ressuscita e publica 3 números. E aí publica uma história em que

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anuncia a morte dos que faltavam para completar os 119. Isto no Brasil. Vejam a colaboração chegando.

Aqui eu trago, dos argentinos desaparecidos no Brasil, montoneros desaparecidos no Brasil. Isto é muito interessante. O Nilson Mariano falará a esse respeito. Eu atuei nos casos desses 6 argentinos desaparecidos no Brasil. O Brasil reconheceu a sua responsabilidade e indenizou as famílias.

Aqui eu tenho um documento do Exército Bra-sileiro intitulado Atividades da Organização Terrorista Montoneros, que nomeia Fernando Vaca Narvaja , Mário Firmenich , a tensão da repressão brasileira. É um documento do

Exército Brasileiro. Tenho outro sobre os mesmos montoneros. “Olha,

vai haver o campeonato do mundo em Buenos Aires. Cuidado, porque essa gente vai ingressar na Argen-tina pelo Brasil.” Estão aqui os nomes deles, as iden-tidades e até mesmo possíveis identidades falsas. É a colaboração.

Prisão de montoneros no Uruguai. O que é que o Brasil tem a haver com o que aconteceu no Uruguai? Está aqui, prenderam, e o documento é do Exército Brasileiro.

Pedidos de busca de cidadãos argentinos.Itaipu Binacional. Brasil, Direção-Geral, Secreta-

ria de Segurança de Itaipu Binacional. “Os elementos abaixo têm vinculação com grupo subversivo perten-cente ao ERP”. Dá os nomes e chama a atenção para o perigo dessas pessoas.

Aqui temos outro documento do Exército Bra-sileiro, o 1º Exército, um largo documento, pedindo a prisão de argentinos, com todas as características. Deve haver aqui cerca de 100 nomes de argentinos que deveriam ser presos. Exército Brasileiro.

Nós temos um caso pouco conhecido, pouco re-latado, de uma operação acontecida em Uruguaiana, fronteira da Argentina com o Brasil, onde, em 1979, 2 policiais da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, acom-panhados de 1 oficial da Gendarmeria argentina, farda-do, ingressaram em território brasileiro, seqüestraram uma cidadã argentina de nome Cristina Glória Fiori de Vina e queriam seqüestrar uma cidadã espanhola, que conseguiu fugir, Margarita Mengol Viña de Muñoz. A Polícia Federal do Rio Grande do Sul, na pessoa do meu querido amigo o delegado federal hoje aposenta-do José Ram, ao tomar conhecimento, imediatamente interveio e conseguiu salvar a espanhola. Os policiais gaúchos foram condenados e expulsos da Polícia. Isto na Argentina pouco se sabe, e não sabemos onde essa cidadã argentina se encontra ou o que aconte-ceu com ela.

Nós temos um outro episódio, de 1989 – o Brasil já em democracia —,acontecido no Rio de Janeiro, onde 2 jovens argentinos acusados de terem participado do ataque ao Quartel de La Tablada, em Buenos Aires, foram presos pela Polícia Federal e eram interrogados pela Polícia Federal argentina dentro da Polícia Federal brasileira. Seguindo uma tática que a repressão sempre usou, libertaram um deles, sem documento – portanto ele não podia se mover. Esse rapaz ligou para um com-panheiro nosso da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Rio, narrou a situação que estava vivendo e pediu socorro. O companheiro lhe pediu que voltasse a ligar logo mais e então ligou para mim, perguntando o que fazer. Eu lhe sugeri que marcasse um encontro com o sujeito, num bar bem movimentado, para não correrem risco, e ali o rapaz contaria como haviam sido presos. Imediatamente fizemos a denúncia, e, por sorte, o Ministro Sepúlveda Pertence, do nosso Supremo, interveio, muitíssimo bem.

Estes são documentos argentinos de brasileiros desaparecidos na Argentina, com uma bela ficha do Edimor, que eu referi como “o gauchão”. Aqui, a ficha do Edimor. E nunca se fala no Brasil. Estes são docu-mentos de pessoas desaparecidas na Argentina des-cendentes de brasileiros, filhos de mãe ou pai brasileiro. Elas desapareceram na Argentina, e não se fala nisso em nosso País. Aqui está a lista deles.

Aqui, Deputado, há documentos e documentos, como este que eu referi sobre o major brasileiro Joa-quim Pires Cerveira e vários outros brasileiros desa-parecidos na Argentina.

Outra preciosidade. Fui testemunha num pro-cesso que correu na Justiça argentina e condenou militares argentinos, 6 oficiais do Exército Argentino, entre eles um ex-Comandante-em-Chefe, o General Nicolaides, e um policial federal argentino. No último dia 18 de dezembro foi lida a sentença. Fui a Buenos Aires, porque, tendo sido testemunha, eu tinha muito interesse no caso. Eles foram condenados a 25 anos de prisão. Não é como no Brasil. No Brasil, nem o cabo da Guarda foi molestado. Na Argentina, põem-se ge-nerais na prisão, presidentes na prisão.

Como eu fui testemunha, tomei a iniciativa de pedir ao juiz uma cópia do processo, uma cópia da sentença, de trezentas e oitenta e tantas páginas. Li o material com atenção e descobri umas pérolas. O aparelho repressivo, o famoso Batalhão 601, agia muito semelhantemente à nossa Operação Bandeiran-tes. Tinha gente de outros setores, nem só militares do Exército. Um agente penitenciário federal, Nestor Norberto Sendon, disse, em seu depoimento à Justiça argentina: “Nós tínhamos 2 bases no Brasil, uma em São Paulo e outra no Rio, para monitorar os subversi-

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04050 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

vos argentinos.” Isso está no depoimento. Este trecho eu trago aos senhores.

Outro depoimento que para nós é da maior im-portância é o do Coronel do Exército Argentino Antonio Herminio Simón, que comandou o serviço de inteligên-cia em Paso de los Libres, o que depois nós podemos “linkar” com a questão do Presidente João Goulart.

Pedem-me para encerrar em 5 minutos, e é esta certamente a última oportunidade que teremos neste País de encarar esta questão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – O que não quer dizer que seja o fim. É preciso dar a palavra aos outros, e depois voltamos ao debate.

O SR. JAIR KRISCHKE – Aqui está o depoi-mento desse coronel, que comandava a Inteligência em Paso de los Libres. Disse ele em seu depoimento: “El orden de batalla gravitaba en el comando del Ter-cer Cuerpo del Ejército Brasileño, con asiento en Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.” Traduzo, em bom português: a ordem de batalha, a ordem de ação do Serviço de inteligência do Exército Argentino em Paso de los Libres, gravitava no comando do 3º Exército Brasileiro, hoje Comando Militar do Sul, em Porto Alegre. Paso de los Libres, meus amigos, fica defronte a Uruguaiana. Já o agente Sendón dizia que tinham 2 bases no Brasil e 1 em Paso de los Libres – era só cruzar a ponte para estar no Brasil. E esse co-ronel disse que a ordem de batalha estava vinculada ao Comando Militar do Sul.

Aqui eu trago os casos de reconhecimento da desaparição de Lourenço Ismael Viñas, meus pró-prios depoimentos neste caso, os casos de Campiglia e Monica Suzana Pinus de Binstock, seqüestradas no Aeroporto do Galeão, e, de novo, a importância dos documentos norte-americanos. O que nos ajudou mui-to, aqui no Brasil, a provar o acontecido foi o informe norte-americano que relata como foi a operação no Aeroporto do Galeão em 12 de março de 1980, agora objeto de interesse da Justiça italiana, porque Gampi-glia era ítalo-argentino. Aqui está o informe.

Tenho o caso do seqüestro de uruguaios em Por-to Alegre, o primeiro caso de operação Condor, em que se provou a operação e se logrou condenar os policiais brasileiros envolvidos, em muito porque nós conseguimos o depoimento de um soldado do Exército Uruguaio que nos contou a história. Nós juntamos esse depoimento ao processo e obtivemos a condenação. Aqui está a sentença e outros documentos.

Eu queria aproveitar para dizer aos meus caros companheiros de Mesa e aos demais presentes que no Brasil começa-se a dizer que os arquivos foram queimados, que não existem mais. Isso é mentira, a mesma mentira em todos os países. Há uma regra

internacional nos serviços de inteligência: informação nunca se destrói. Ela é sempre guardada.

Em Porto Alegre aconteceu um episódio muito interessante. Os arquivos do DOPS do Rio Grande do Sul foram queimados publicamente, no Governo Ama-ral de Souza, em 1982. Saíram do Palácio e da Polícia vários caminhões com os documentos, protegidos por carros da Polícia e motos. Foram levados até uma ola-ria e lá queimados, publicamente. Muito bem.

Tempos depois, convidamos para ir a Porto Ale-gre, preocupados com a questão da redemocratização do Uruguai, Wilson Ferreira Aldunate, para fazer uma palestra na Assembléia Legislativa do Estado. Ele foi. Esteve lá e fez a palestra. Muita gente veio do Uruguai. Seus companheiros do Partido Blanco vieram. E tem-pos depois, lá no Ministério de Relações Exteriores do Uruguai, é encontrado um informe do Cônsul com os diálogos de Wilson Ferreira e seus companheiros. Muito bem.

No final deste relatório há algo impressionante. O ilustre Cônsul do Uruguai informa, como última conside-ração, que, na visita realizada ao Congresso, à nossa Assembléia Legislativa, subiu num veículo Alfa Romeo de chapa tal, pertencente ao Dr. Fulano de Tal – está aqui o nome dele –, do Partido Comunista Brasileiro... No meio do caminho mudava-se de carro. Junta, em anexo, ficha confidencial do Dr. Fulano de Tal. Portanto, as fichas do DOPS do Rio Grande do Sul, queimadas 1 ano e meio antes, reaparecem neste informe. E aqui estão elas. Depois de queimadas, aqui estão, reapa-recem, com 2 anotações posteriores.

Quero lembrar que um ex-Ministro do Exército, o General Zenildo Lucena, queria devolver – 25 de agosto de 1995, notícia do Estado de S.Paulo – os arquivos do DOPS que estavam com o Exército, e foi criticado, o que confirma onde estão os documentos. Os docu-mentos do DOPS estão no Exército. Isto aconteceu em 1995, meus amigos.

Por último, um documento de Montevidéu. O Ser-viço Secreto do Exército Uruguaio narra que, durante sua recente estada na Argentina, João Goulart teria se entrevistado com Zelmar Michelini – assassinado – e com o ex-Presidente boliviano Juan José Torres, para tratar da situação de uruguaios, brasileiros e bolivianos que estavam num hotel em Ezeiza aguardando do Go-verno argentino a decisão de os receber na condição de exilados políticos.

Juan José Torres e Michelini foram assassinados em Buenos Aires, o que nos remete à suspeita grave de que a morte do Presidente João Goulart não foi, absolutamente, um problema simples, de alguém que era portador de cardiopatia. É muito suspeita, porque

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naquele momento vários líderes políticos da região foram assassinados.

Quero encerrar dizendo que nossos militares con-tinuam os mesmos. Não mudaram. Por meu trabalho junto à Justiça italiana, neste momento já estou com 2 processos. Vejam como reagem. O último foi apresen-tado sexta-feira. Eles não suportam. E, repito, aqui no Brasil nem o cabo da Guarda foi molestado. No pequeno Uruguai, temos um ex-Presidente, o último Presidente da democracia, Bordaberry, na prisão e um Presidente da ditadura na prisão, além de vários militares. E aqui no Brasil, lamentavelmente, não acontece nada.

Precisamos, de uma vez por todas, enfrentar esse problema. Temos uma dívida com as futuras gerações. Ou encaramos isso de frente, ou não vamos mais brin-car de democracia. A democracia faz exigências, e uma delas é desvendar esse passado.

Muito obrigado. (Palmas.)A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA – Sr.

Presidente, uma questão de ordem.O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Antes, Deputada, eu gostaria, em nome do Presidente da Comissão, o Deputado Pompeo de Mat-tos, de agradecer pela valiosa contribuição ao Sr. Jair Krischke, fundador e conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Cone Sul. Penso que ele deverá entregar à Comissão esses documentos.

O SR. JAIR KRISCHKE – Vamos negociar. (Ri-sos.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Pergunto, então, se ele deixará com a Co-missão esse valioso acervo, esse riquíssimo acervo de informações, que realmente serão de grande re-levância para a elucidação de todos esses episódios, ainda obscuros. Todos nós queremos a memória, a verdade e a justiça.

Pois não, Deputada Jusmari.A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA – Sr.

Presidente, sei que vamos seguir uma ordem de ex-posições. Ainda vamos ouvir os jornalistas e outros convidados, por demais importantes para esta sessão. Estou acompanhando atentamente este momento his-tórico da nossa Comissão e do Parlamento brasileiro. Até fui incentivada pelo Presidente Pompeo de Mattos a esperar pacientemente a minha vez de falar, mas o tempo urge e temos muitos compromissos.

Eu gostaria apenas que o senhor me permitisse fazer uma pergunta, com exclusividade, ao Sr. Jair. Ele apresentou muitos documentos, e eu busco re-construir a história da vida do meu pai. Ele foi preso na Argentina, mas foi libertado. Foi preso primeiro no Brasil, depois foi preso na Argentina.

O senhor disse que tem várias listas de brasilei-ros desaparecidos na Argentina. O meu pai não está na condição de desaparecido. Simplesmente ele, de-pois que retornou da Argentina, pediu à família que nunca mais tocasse no assunto de sua prisão. Nunca entendemos o que o levou a ser preso na Argentina. Lembro-me bem de que ele dizia o seguinte: “Eu era inimigo da Gendarmeria”. Ele foi liberado por um ape-lo de um parente nosso que habitava nas salas da ditadura no Brasil; por interferência nossa, dos filhos e de minha mãe. Houve na época uma reunião dos Consulados brasileiro, paraguaio e uruguaio; é isso que lembro da história e, por apelo, nessa reunião a Argentina liberou meu pai.

Então, gostaria muito de saber exatamente dessa história e indago ao senhor se teria lista dos que foram presos e libertados, para que, por meio de seu trabalho importante, corajoso, de vanguarda, de guardião mes-mo dos direitos daqueles que lutam pelo que acredi-tam... É claro que há aqui um interesse muito particular meu, mas também pode ser um interesse da história. Meu pai era gaúcho – Pompeo sabe – e, depois, ele foi morar no Paraná, na fronteira com a Argentina, e ele foi preso no Brasil, no Rio Grande do Sul, como sub-versivo. É aquilo que a história conta; por isso, muitas coisas não se esclarecem. Nossa Nação coloca isso. A minha mãe, por exemplo, tinha vergonha de dizer que meu pai havia sido preso como subversivo, e ela nos dizia que meu pai era um louco, um irresponsável, que se metia em coisas que não devia, que não devía-mos seguir seu exemplo e devíamos esquecer aquela história. Minha mãe é descendente de italianos, mal aprendeu a falar e escrever o português.

Por tudo isso, a gente ficou muito à margem de tudo isso. Gostaria muito de contar com sua ajuda; por isso, fiz essa intervenção, encorajada pelo Deputado Pompeo de Mattos, pois não a faria. (Palmas.)

O SR. JAIR KRISCHKE – Deputada, estou à sua disposição. Depois, a senhora me dê o nome completo de seu pai. Aqui, há os desaparecidos. Não trouxe ne-nhum documento que não tratasse de desaparecidos. Mas pode ser que tenha, no conjunto de documentos que possuímos, alguma referência. Depois, V.Exa. me passe o nome completinho de seu pai, que, com muito prazer, pesquisarei.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado mais uma vez ao Sr. Jair Krischke e também à Deputada Jusmari Oliveira pela interven-ção.

Dando prosseguimento, convidamos a usar da palavra o Sr. Nilson Cezar Mariano, jornalista, autor do livro “As garras do Condor”, em português.

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04052 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. NILSON CEZAR MARIANO – Prezado Deputado; prezado Deputado argentino, Remo Carloto; Sr. Bruno Huck; Christopher Goulart; Sr. Jair Krischke, um homem que esteve ao revés da Operação Condor, porque, com o Movimento de Justiça e Direitos Huma-nos, ajudou a salvar cerca de 2 mil presos políticos no Cone Sul; Sras. e Srs. Deputados; Deputado Pompeo de Mattos; gostaria também de fazer uma referência ao Luiz Cláudio Cunha, um dos primeiros jornalistas a começar a abrir esse grande véu, que é o das coopera-ções entre as ditaduras militares, ao revelar o seqüestro da Lilian Celiberti, na Universindo Diaz em 1978.

Vou-me ater especificamente – tentarei ser breve e objetivo – ao seqüestro dos 6 montoneiros em ter-ritório brasileiro. Entendo que isso demonstra cabal-mente o envolvimento do Brasil na Operação Condor em todas as articulações dos aparatos repressivos com a Argentina, com o Uruguai, com o Chile, com o Paraguai e a Bolívia.

Primeiramente, um breve resumo, que é desne-cessário ao Deputado. Mas, quem eram esses mon-toneiros? Eles apareceram em torno de 1968, 1969, proclamando-se herdeiros do peronismo, e exigiam a volta do proscrito Juan Domingo Perón à Argentina, expulso do País desde o golpe de 1955. Os montone-ros tinham uma mescla ideológica de nacionalismo, teologia da libertação, culto ao peronismo e a luta ar-mada por meio de Che Guevara.

O primeiro seqüestro de montonero em territó-rio brasileiro ocorreu em 1974 com o jovem Enrique Ernesto Rugia, de 18 anos, estudante de Veterinária. Ele tentou entrar no Brasil acompanhando 5 brasilei-ros que estavam refugiados na Argentina, em Buenos Aires, e que faziam parte da Vanguarda Popular Re-volucionária. No início de julho de 1974, esses guer-rilheiros, comandados pelo ex-Sargento do Exército, Onofre Pinto, e todos os outros, foram emboscados no Parque Nacional do Iguaçu, mortos e os corpos desapareceram.

Os outros seqüestros ocorreram já aí por obra do Batalhão de Inteligência 601, de Buenos Aires, encarregado de monitorar os montoneros além das fronteiras.

Por que esses montoneros foram seqüestrados aqui, no Brasil? Inicialmente, com o golpe de março de 1976, na Argentina, eles já estavam sendo caçados, já estavam desarticulados e por isso tiveram de fugir da Argentina. Um dos caminhos, a partir de 1976, foi o Brasil. Além do nosso País, eles se estabeleceram na Europa, em Madrid, principalmente, no México e em Cuba.

Os seqüestros ocorrem depois em 1978/79, quan-do esses montoneros exilados decidem fazer a contra-

ofensiva, uma tentativa alucinada da parte deles de ten-tar derrubar a ditadura militar argentina. E novamente eles incursionam pelo Brasil, porque eles achavam que o País, em 1979/80, já não passava por uma fase dura da repressão, caminhava para a sua transição demo-crática, enquanto outros países limítrofes à Argentina, como o Uruguai, o Paraguai e o Chile principalmente, estavam com suas ditaduras... (Falha na gravação.) ... era conveniente para eles; eles achavam que pelo menos assim fosse e entraram pelo Brasil.

O segundo seqüestro de montonero no Brasil ocorreu em 30 de julho de 1978. Foi o jornalista e es-critor Norberto Armando Habeger. Ele chegou a ser o número 10 na hierarquia montonera. Era um intelec-tual muito ligado à Igreja Católica. Ele foi seqüestra-do quando entrava no Rio de Janeiro, procedente da Cidade do México.

Vou fazer agora uma revelação importante, porque a viúva dele, a Florinda, apelou à ABI – Associação Brasileira de Imprensa –, à OAB, à ONU, a várias en-tidades e personalidades, e quem se dispôs a ajudá-la foi D. Eugênio Sales, Cardeal-Arcebispo do Rio de Ja-neiro, insuspeito por ser considerado um bispo da ala moderada e até da conservadora pela Igreja Católica. Não era como D. Hélder Câmara, ou D. Paulo Evaristo Arns, ou D. Ivo Lorscheider.

D. Eugênio escreveu uma carta à Florinda, em que a prevenia, caso viesse ao Brasil, da presença de militares argentinos dentro do nosso País, para perse-guir esquerdistas argentinos.

Dizia a carta: “Conforme prometi, mandarei um sacerdote, ou uma religiosa, esperá-la no aeroporto e conduzi-la a uma casa de freiras. De parte do Brasil, não acredito que exista perigo. Suponho que tenha sua documentação em ordem. Entretanto – e aqui está a revelação –, há elementos da Polícia argentina aqui. Não se pode provar, mas constatou-se – isto tudo são palavras de D. Eugênio – nos últimos meses, por 3 ou 4 vezes, essa presença.”

Por que esses montoneros eram tão visados aqui no Brasil? O Brasil vinha encaminhando sua transição democrática, mas não nos interessava o trânsito deles por aqui, porque eles poderiam recrudescer, poderiam até se articular com guerrilheiros brasileiros já desarti-culados ou que já estavam na defensiva. Esses monto-neros também eram visados por que haviam treinado guerrilha no Líbano, em Damour, a 20 quilômetros de Beirute, instruídos por palestinos do Fatah, precursora da Organização para a Libertação da Palestina, num convênio com o chefe militar da Fatah, Abu Shbak, um dos fundadores, ao lado de Yasser Arafat. Eles também haviam treinado na Síria.

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Foi nesse contexto da contra-ofensiva, com es-ses guerrilheiros vindos da Espanha e do México, que ocorre o terceiro seqüestro de argentino aqui no Brasil, o seqüestro de Horacio Domingo Campiglia, o Petros. Horacio foi o dirigente montonero mais graduado a ser apanhado aqui. Ele era o segundo comandante montonero no México. Vale lembrar que o Presidente mexicano, José López Portillo, apoiava esses movi-mentos. Horacio já havia entrado no Brasil antes, em 1979, foi até à Argentina, mas conseguiu voltar ao México. Foi apanhado num segundo momento, em 12 de março de 1980, junto com outra montonera – e aí seria o quarto seqüestro –, Monica Susana Pinus de Binstock. Eles foram apanhados no aeroporto do Rio de Janeiro. Há até um informe, que o Jair Krischke já apresentou, do James Blystone, o então Embaixador dos Estados Unidos em Buenos Aires. O informe dizia o seguinte: “A inteligência militar argentina entrou em contato com seus colegas da inteligência militar brasi-leira para obter a permissão de realizar uma operação no Rio de Janeiro, a fim de capturar 2 montoneros que chegavam do México. Os brasileiros deram a sua per-missão – palavras do Embaixador americano – e uma equipe especial de argentinos seguiu para o Rio de Ja-neiro, sob o comando operacional do Tenente-Coronel Roman, a bordo de um C-130, da Força Aérea Argen-tina. Então, isso é extremamente... (Inaudível. Falha na gravação.) ... porque o Brasil abriu o seu território, abriu o seu espaço aéreo para que uma nave militar argentina entrasse aqui para levar esses 2 argentinos de volta a Buenos Aires.

Vou pular alguns pontos em função do tempo.Os últimos 2 seqüestros foram do Padre Jorge

Oscar Adur, ocorrido na fronteira, no cruzamento en-tre Paso de los Libres, na Argentina, e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Por que naquele local? Porque ali era um dos ninhos da Operação Condor, uma das bases. O Padre Adur foi seqüestrado ali... E ali havia algo muito interessante, porque tinha um sistema de marcadores. Montoneros que sucumbiam à tortura, que aceitavam colaborar em troca de continuarem vi-vos, prestavam-se a ficar nesse cruzamento, no lado de Libres, ali na Gendarmeria, para espionar pela ja-nela os montoneros que passavam tentando fugir da Argentina ou até entrar na Argentina.

Tenho depoimento aqui, tudo documentado, de uma das marcadoras, da Silvia Tolchinsky, que diz exatamente assim: “Me explicaram o que eu tinha que fazer. Eu teria que ir, desde a manhã até à noite, ao posto migratório de Paso de los Libres, e os empre-gados das imigrações faziam baixar todas as pessoas dos ônibus. Eles passavam em frente à janela onde eu estava e depois me traziam os passaportes.”

O último seqüestro, o sexto seqüestro e o poste-rior desaparecimento de um montonero em território brasileiro, foi o de Lorenzo Ismael Viñas. Foi em 26 de junho de 1980, na mesma data do padre Adur , mas em circunstâncias diferentes. Esse Lorenzo Ismael Viñas é filho do escritor David Viñas, premiado com a Casa das Américas, professor de Literatura da Universidade Nacional de Buenos Aires, ensaísta, autor renomado, com mais de 15 livros. Ele está vivo e não gosta muito de contar essa história.

Um documento da Justiça Federal da Argentina disse como teria sido seqüestrado Lorenzo. Ele ia num ônibus da Pluma. Já atravessava a ponte sobre o Rio Uruguai e chegava a Uruguaiana, no lado brasileiro, quando foi devolvido para Libres e recambiado para Buenos Aires, o que diz esse documento da Justiça Federal argentina, o qual eu pesquisei. E se acredita que desapareceu no cruzamento fronteiriço, presumi-velmente no lado brasileiro, dado que a empresa de ônibus mencionava que informou que, segundo seus registros, a vítima havia cruzado a fronteira.

Do lado de Paso de los Libres havia um centro de tortura e de triagem, que era a fazenda La Polaca. Nós o visitamos, o Jair Krischke também, e foi possi-velmente ali que o Lorenzo e outros passaram, sofre-ram os primeiros interrogatórios, as primeiras torturas, depois de serem levados a Buenos Aires.

Os corpos desses 6 argentinos desapareceram. É possível, não se tem provas, que tenham sido atirados em alto-mar naqueles chamados vôos da morte, se-dados. Cerca de 1.500 a 2 mil argentinos tiveram essa solução final. O interessante, em mais uma demons-tração de que o Brasil esteve seriamente implicado na Operação Condor, é que 2 desses cadáveres apare-ceram no Rio Grande do Sul, um, em Santa Vitória do Palmar e outro, em São José do Norte.

Já vou finalizar. Só queria dizer que comecei a tomar conhecimento da Operação Condor em maio de 1993. Em 1998 nós publicamos um primeiro livro em espanhol, que é este aqui. Eu vou deixar com o Adro-aldo. Ele foi publicado na Argentina, meio às pressas, porque a editora queria que coincidisse com o fato de o Pinochet estava sendo preso naquele momento. Mas ele pode ser interessante porque tem alguns documen-tos anexos que mostram a gênese da Operação Con-dor. Então eu vou passar ao Adroaldo. Em 2003, esse livro que já se mencionou, e 2006, como eu achava que ainda tinha muito o que pesquisar e que eu não estava entendendo bem do assunto, eu fiz um mes-trado em História pela PUC, com foco exclusivo sobre o seqüestro e desaparecimento desses montoneros aqui, com pesquisas na Argentina, de documentos ar-

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gentinos. Então também vou deixar uma cópia dessa dissertação com o Adroaldo.

Muito obrigado. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito obrigado ao jornalista Nilson Cezar Ma-riano.

Antes de passar a palavra ao Dr. Christopher Goulart, neto do nosso saudoso ex-Presidente João Goulart e herdeiro de uma façanha que é lutar pelas idéias do seu avô, mas fundamentalmente pelo resga-te da memória do que aconteceu com seu avô. João Vicente, seu pai, que aqui está, filho do Jango, foi Deputado Estadual no Rio Grande do Sul, Deputado gaúcho, honrou a Assembléia Legislativa, e de quem nós temos muito orgulho.

Antes de passar a palavra, eu quero só fazer uma referência aqui – permitam-me, já que a Depu-tada Jusmari Oliveira aqui está. O mundo é pequeno, dizia aqui o Jair Krischke.

Vendo o drama pessoal e familiar de S.Exa., re-latado aqui, fui tendo a compreensão de coisas que me surpreendem. Em 1971, 1972, formou-se na região onde nasci – Santo Augusto, Três Passos, Campo Novo – um grupo de pessoas sonhadoras que queriam fazer o contraponto, a contra-revolta, o contragolpe contra a ditadura. Movimentaram-se, lideradas pelo Sargen-to Alberi, e formaram um pequeno exército – dizia o Sargento Alberi que por ordem do Dr. Brizola, não se sabia se verdadeiro ou não. Formaram uma tropa e avançaram sobre Três Passos, onde há um quartel im-portante, uma corporação importante da brigada militar. Tomaram o quartel da brigada na madrugada, foram à rádio e deram a voz de comando da contra-revolução. Enfim, tomaram o armamento e seguiram adiante. E foram incorporando. O objetivo era exatamente fazer o enfrentamento ao Presidente Geisel, à época, que iria ao Paraná, a Foz do Iguaçu, para inaugurar a Pon-te da Amizade.

Aí o pai da Deputada Jusmari Oliveira se incor-porou àquele grupo de sonhadores e homens da re-sistência democrática, na luta contra a ditadura. Essa corporação enorme, de um bom contingente, conter-râneos meus, familiares meus também, meu pai junto, foram presos. Foram passando por Tenente Portela, Itapiranga; atravessaram o Rio Uruguai, subiram San-ta Catarina adentro e foram para o Paraná. Acabaram sendo presos. Vieram para Três Passos, onde o pai da Deputada Jusmari Oliveira, a exemplo de tantos outros, acabou sendo torturado.

Vamos resgatar aqui na Comissão – é um com-promisso meu – essa história, porque isso faz parte da memória e da verdade da luta dos democratas, daqueles que queriam a democracia, que sonhavam

com a democracia no País. Alguns pagaram com a vida, outros pagaram com a pele, pagaram com a an-gústia, com a dor, com o sofrimento da tortura. Então, vamos resgatar isso. É um compromisso que eu tenho comigo mesmo, contigo, com esta Comissão e com o povo brasileiro. Esta audiência pública permite essa inspiração neste momento.

Com a palavra o Dr. Christopher Goulart, neto do ex-Presidente João Goulart, nosso sempre Presi-dente democrata.

O SR. CHRISTOPHER GOULART – Muito obri-gado, Sr. Presidente, por nos dar esta oportunidade de apresentar fatos relacionados ao ex-Presidente João Goulart.

Saúdo todos os presentes. Venho aqui em nome do Instituto Presidente João

Goulart, presidido por meu pai, João Vicente Goulart, como Diretor Jurídico. Evidentemente, não vou ater-me à Operação Condor, dadas as autoridades aqui presentes, que nos falam com tantos detalhes e tanta riqueza de informações. Não me atreveria a falar es-pecificamente sobre isso, mas me atreveria, sim, Sr. Presidente, a falar sobre as questões ligadas ao ex-Presidente João Goulart.

Na verdade, eu nasci no exílio. Eu não tive a opor-tunidade de nascer no Brasil. A minha mãe e toda a mi-nha família por parte de mãe é uruguaia. Então, sempre me senti bastante ligado a essa história política.

Na verdade, é uma história política lamentável, uma história política trágica, no sentido de que o Presi-dente João Goulart, um líder de vanguarda deste País, que há mais de 40 anos, 44 anos do golpe, falava em reformas estruturais para a sociedade brasileira, falava em reformas de base, falava nas reformas necessárias que até hoje, lamentavelmente, não se concretizaram neste País.

Vimos sempre enfatizando essas questões polí-ticas porque acreditamos que tão importante quanto essas questões que envolvem as circunstâncias da morte do meu avô, também é falar sobre a vida dele, porque esta é uma oportunidade ímpar que nós temos de ressaltar o porquê de tantos historiadores, oposi-tores, especuladores denegrirem a imagem do Presi-dente João Goulart – covardemente, no sentido de que o Presidente João Goulart faleceu no exílio, não teve oportunidade de retornar ao Brasil – com argumentos extremamente comprometidos com o sistema financei-ro, com lucros comprometidos com interesses que não correspondem à soberania brasileira, que não corres-pondem ao projeto autêntico daquele que era, sim, o ordeiro político do Presidente Getúlio Vargas.

Sempre determinado na sua missão, sempre consciente da sua herança política, João Goulart ja-

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mais traiu as suas origens. Então, a sua grandeza, no seu Governo, foi exatamente esta, foi sempre na luta pela soberania nacional, foi sempre pela luta do for-talecimento, divergindo daqueles que entendem que conceito de pátria se resume apenas a questões de interesses privados, a questões de propriedade priva-da; divergindo daqueles que entendem que se funda-menta a pátria considerando exclusivamente os lucros das multinacionais que vinham ao País e espoliavam absurdamente o trabalhador brasileiro.

Então, nesse sentido, nos deparamos com essas questões sobre as circunstâncias da morte do Presi-dente João Goulart. Eu, como advogado, sempre con-duzido pelo meu pai, João Vicente Goulart, estou nessa batalha, nessa linha de frente, no Rio Grande do Sul, principalmente agora, com a consideração e com toda a responsabilidade que V.Exa. tem, como trabalhista e como um líder político extremamente comprometido com a verdade do nosso País, pois este é exatamente o nosso compromisso: a verdade.

Não se trata de gerações passadas. É evidente que são gerações que acompanharam esse processo. Hoje eu tenho a sorte e a condição de ouvir e de me abeberar dessa sabedoria que é apresentada aqui por lideranças como Jair Krischke, por Deputados, pelo Sr. Presidente, por escritores. Nós entendemos que essa é uma reivindicação, evidentemente, como afirmado, para as próximas gerações – a minha e as futuras ge-rações. Essa luta tem que continuar.

Entendemos que 20 anos de ditadura fizeram muito mal a este País, no sentido de que castraram uma geração inteira da liberdade democrática, da maior liberdade de expressão que uma nação pode ter, que é o posicionamento ideológico. Vinte anos de ditadu-ra, na verdade, representou um atraso, dito por muitos historiadores e por pessoas entendidas, de mais de 50 anos na história deste País.

Então, Sr. Presidente, nós queremos saber se hou-ve, efetivamente, um atentado contra o meu avô e por quê. E aí nós vamos ingressar com todo esse legado, que é extremamente importante nos dias de hoje.

Em relação especificamente ao falecimento, em 1976, desde sempre existiram essas suspeitas em relação ao falecimento de meu avô. Desde o primeiro momento havia suspeitas diante da condição, da rapi-dez, das circunstâncias do enterro, da maneira rápida, da negligência em relação a se fazer uma autópsia, de toda a pressa, de todo o interesse que não havia em si. E de fato não aconteceu o luto oficial, este País não concedeu luto oficial ao meu avô, Presidente João Goulart, o único Presidente a falecer no exílio. Foi tudo muito rápido, sem condições sequer de se chegar pró-ximo ao corpo.

Na verdade, a única anistia que o meu avô teve foi uma bandeira que a minha tia Denise colocou em cima do caixão, que foi a única oportunidade que ela teve, tanto que nos registros históricos existem lá: anistia. Então, aquela foi a anistia do Presidente que lutou, que se sacrificou, um mártir da história deste País, que evitou 2 guerras civis, em 1961 e em 1964, sempre interpretando os anseios sociais no sentido de que o poder pelo poder não vale a pena.

O Presidente João Goulart foi conduzido pelo des-tino a Presidente do Brasil. Muito embora tivesse todo o apoio das classes populares, o destino lhe conduziu numa trajetória política de 17 anos. Vejam só, com 57 anos ele faleceu. Vejam a rapidez das circunstâncias. Com certeza, era um homem de vanguarda, era um homem predestinado à missão que os grandes líderes, os grandes homens possuem.

Eis que agora aparece esse agente, esse pre-sidiário, em Charqueadas, que já havia falado antes. Meu pai, Presidente do Instituto, o ouviu agora, recen-temente, num documentário elaborado em conjunto com a TV Senado – eu até disponibilizo, tenho toda a documentação aqui para disponibilizar para esta Comissão –, e ele narra uma série de detalhes que realmente só a família poderia saber. Não existe ou-tra interpretação em relação a uma pessoa que saiba números de telefones, dados íntimos ligados ao Pre-sidente João Goulart e ao círculo de amigos, placas de carros, acidentes, enfim, uma série de questões que efetivamente comprovam que existia esse moni-toramento. E não existe apenas esse indivíduo preso, existe também toda a documentação que temos aqui – vamos colocá-la à disposição –, que nos foi cedida pela Ministra Dilma, numa atitude corajosa, inclusive contrariando muitas diretrizes. S.Exa. nos concedeu 7 mil documentos do SNI, e aqui está detalhado todo o monitoramento, toda a preocupação que se tinha com o retorno de Jango ao Brasil.

Se houve um atentado – e houve, estamos con-victos de que houve esse atentado –, foi justamente em relação ao fato de que Jango, no seu retorno ao Brasil, era o único líder capaz de conciliar todas as esquerdas, pelo seu perfil conciliador, pelo seu perfil pacífico, pelo seu perfil de congregação das forças de esquerda. Na verdade, isso era péssimo naquele momento, quando se falava na reabertura do proces-so ditatorial, que era articulada pelo General Golbery, porque ali já existia o interesse em se abrir o País para uma democracia gradual, lentamente, porque o siste-ma militar, a ditadura não se sustentava mais em ra-zão de todas as atrocidades cometidas, dos atentados contra os direitos mais básicos dos seres humanos e que atentam violentamente contra a Constituição. Ali-

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ás, a Constituição foi completamente desconsiderada no período militar.

Houve um absurdo que deve ser sempre lem-brado, o AI-5, promulgado em 1967, que em seu art. 5º se refere a uma liberdade vigiada aos exilados po-líticos. Vejam o absurdo: liberdade vigiada. Isso está perfeitamente comprovado até pelo próprio AI-5, no seu art. 5º.

Na verdade, desde o início da década de 80 já havia essas especulações sobre a morte do meu avô. Porém, naquele momento, não era propício se levar adiante em razão justamente dos líderes de plantão que ali estavam. Não havendo mais essa condição, em 2001, houve uma CPI nesta Casa cujo Relator foi o Deputado Miro Teixeira. Muito embora não tenha apontado uma conclusão assertiva, deixou, assim como afirma o nosso líder Jair Krischke, registrado o fato de que realmente a morte foi muito suspeita por todas as circunstâncias.

Muitos querem descredenciar as declarações do Neira, mas não são só as declarações desse presidi-ário que nos conduzem a essa vertente. Existe uma série de documentos, uma série de dados e arquivos que nos vêm sendo concedidos; e se cruzarmos as informações, realmente não resta a menor dúvida de que o Presidente sofreu um atentado. Muitos querem descredenciar: “Ah, mas ele é preso. Não, ele é um presidiário. Imagina!”

Na versão dele, o Presidente Geisel haveria dado uma ordem ao Delegado Fleury. E hoje existem provas de que, realmente, o Delegado Fleury, em 1972,1973, participou diretamente, representando os interesses brasileiros, interesses militares brasileiros, daquela eleição onde o candidato de esquerda do Uruguai foi derrotado. Mas, em havendo uma vitória naquela elei-ção, certamente ali haveria uma intervenção, sempre – é importante que se diga – patrocinada pela CIA, pelo financiamento dos dólares americanos, pela questão da guerra fria e pela questão dos interesses que havia em se manter os regimes ditatoriais na América Latina, que, na verdade, são aqueles que representam melhor os interesses americanos, essa é a grande verdade.

Então, àqueles que dizem “Não, ele é um preso, não tem condição, não tem autonomia”, levantamos a seguinte questão: será que aqueles agentes infiltrados, na época, agentes clandestinos no círculo familiar – temos provas aqui de que roubavam cartas, surrupia-vam, tiravam fotos em data de aniversário do meu avô, vasculhavam sua vida íntima –, esses têm autonomia moral para falar que aquele não pode ser considerado porque é preso? Qual é a autonomia moral de alguma força clandestina, pela ordem que seja, para intervir diretamente na intimidade de uma pessoa, de um ci-

dadão? Pois antes de ser Presidente, era um cidadão brasileiro exilado. Então, não cremos que esses tenham idoneidade moral. Cremos que se equivalem à mesma condição da pessoa que está presa.

Na verdade, muitos outros questionamentos são apresentados, como, por exemplo, que não seria do perfil de Geisel dar essa ordem, outro contraponto que vemos muito.

Pois bem, já foi citado aqui o livro do Elio Gaspari, que não é janguista, é opositor ao meu avô. Portanto, dizer que se trata de uma pessoa tendenciosa não cabe nesse sentido. Ele narra, em seu livro, que teve acesso a uma gravação de um diálogo – creio que seja importante de uma maneira ou de outra verificar isso, porque está publicado em um livro do Prof. Omar, em Porto Alegre, porém, é uma reprodução do livro do Elio Gaspari. Então, eu gostaria de citar um trecho rápido, para aqueles que entendem que Geisel não faria.

Geisel conversa com Dale Coutinho e diz o se-guinte: “Bom, eu acho que a subversão continua. Esse negócio não se acabou. Isso é um vírus danado que não há antibiótico que liquide com facilidade. Está amainado, está resolvido. Você vê, de vez em quan-do há uma desarticulação, morre gente ou gente é presa. Ele continua a se movimentar.” Esse é o futuro Ministro Militar.

Depois o Dale Coutinho responde: “E eu que fui para São Paulo logo em 69, o que eu vi naquela épo-ca para hoje... Ah, o negócio melhorou muito. Agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós começamos a matar. Começamos matar”.

Geisel responde: “Porque antigamente você pren-dia o sujeito e o sujeito ia lá para fora. (...) Ó, Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser”.

Dale Coutinho: “Eu fui obrigado a tratar esse pro-blema lá e tive que matar. Tive que matar.”

“Sabe que agora pegaram o tal líder e liquida-ram com ele? Não sei qual é o nome dele”, haveria dito Geisel.

Dale Coutinho responde: “É. O Chicão, Luizão”. Responde Geisel: “Bom, o que eu queria assinalar

é isso. Nós temos que continuar ano que vem. Nós não podemos largar essa guerra. Infelizmente, nós vamos ter que continuar”.

Pois bem: essas atrocidades, essas barbaridades, esses atentados que cometeram não só em relação do Presidente Goulart, mas também a uma série de outras pessoas que têm todo o direito de reconhecer e de saber de seus entes queridos, pela dor que lhe causaram, por tudo o que representou esse absurdo na nossa história, realmente não pode e não deve... O Instituto João Goulart tomará todas as iniciativas,

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04057

e cremos que já estamos no caminho certo, traba-lhando com todos os poderes institucionais possíveis – Câmara Federal, Assembléia Legislativa, Ministério Público Federal.

O Ministério Público Federal é de uma importância ímpar no sentido de que nos dá autonomia para ouvir pessoas, para ouvir indiciados, para ouvir suspeitos. Nós temos que considerar todos os poderes institucio-nais do País – os Poderes Legislativos, os Executivos e também a via judiciária. Assim como existe o juiz ita-liano que decretou a prisão dos ítalo-brasileiros, assim como existe o espanhol Baltasar Garzón, que decretou a prisão de Pinochet, quando estava na Europa e de-pois veio a falecer, temos que ter um representante no Poder Judiciário que mobilize isso. Esse é um clamor desta Nação. Não imaginamos uma outra forma para que toda essa situação tenha um desfecho. Nossos esforços estarão sempre concentrados nessa mobili-zação para, inclusive, passar a verdade histórica para as próximas gerações. Não imaginamos um país que não se comprometa com sua história, que não observe os erros – erros, não –, as atrocidades que cometeu no sentido de que devemos caminhar sempre para um futuro próspero, um futuro em que se respeitam as li-berdades e garantias individuais.

Agradeço a V.Exas. a oportunidade de aqui falar em nome do Instituto João Goulart.

Desde já nós nos comprometemos, em nome do Instituto, a ir até o fim, até o limite de nossas for-ças para que essas questões se resolvam e para que se obtenha esse esclarecimento. Buscamos a justiça, queremos que a verdade venha à tona.

Agradeço, Sr. Presidente, a oportunidade.Agradeço a todos os presentes.Muito obrigado. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Obrigado, Dr. Christopher Goulart. A respeito do Presidente João Goulart, nunca é

demais lembrar um fato: ele morreu, ou foi morto, na Argentina, e não houve necropsia. Veio para o Brasil em um caixão lacrado, foi enterrado com calça jeans e camisa de manga curta.

O SR. CHRISTOPHER GOULART – No atestado de óbito foi dito que enfermedad era a causa mortis.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Enfermedad. Agora, qual é a enfermidade...

O que só ele sabe que nós não sabemos e, se o descobrirmos e contarmos para o mundo, fará cair a casa? Em nome da memória e da verdade, é preciso buscar o que realmente ocorreu, ainda mais quando se trata da pessoa mais ilustre do País que foi exilada, Presidente da República, e morreu nessas condições. Vamos perseguir a verdade.

Parabenizo o Dr. Christopher Goulart e o Dr. João Vicente Goulart, filho de Jango. Esta Comissão fará o seu trabalho.

Aliás, a reunião está sendo gravada. Depois da degravação, vamos compilar o material e fazer um li-vro, para termos a memória da Comissão. E haverá conseqüências, atos seguintes que esta Comissão vai desencadear, até porque não é possível, por exemplo, que a Justiça argentina tenha demandas, que a Jus-tiça italiana tenha demandas em razão da Operação Condor, envolvendo nomes de brasileiros ilustres, de autoridades da época da repressão, e o Brasil não tome para si a responsabilidade de proceder às ave-riguações.

Temos a anistia, que é respeitada, mas a memória e a verdade preponderam sobre tudo e sobre todos.

Vamos perseguir a verdade enquanto tivermos força, inclusive, se necessário, indo à Itália buscar in-formações que a Justiça italiana tem sobre nós, das quais nós mesmos não dispomos.

Com a palavra o Sr. Bruno Huck, representante da Central de Trabalhadores Argentinos e delegado da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE) – Buenos Aires, Argentina.

O SR. BRUNO HUCK – Bom dia a todos.Muito obrigado, Sr. Presidente.Primeiro, quero contar o meu trabalho. Sou asses-

sor da Comissão de Direitos Humanos e Garantias da Câmara dos Deputados, da Presidência da Comissão, e sou representante dos trabalhadores do Congresso da Nação, na seccional Capital Federal da Associação dos Trabalhadores do Estado. Também sou assessor da Secretaria de Relações Internacionais da Central de Trabalhadores Argentinos. É uma central alternativa que temos na Argentina, ainda não está reconhecida juridicamente pelo nosso Governo. Também sou asses-sor de comunicação da Central de Trabalhadores.

Quero agradecer à Comissão de Direitos Huma-nos e Minorias da Câmara dos Deputados do Brasil o convite, na figura do meu amigo Márcio Marques Araújo. Nós nos conhecemos como militantes sociais no Fórum Mundial em 2006, quando fazíamos ativi-dades da nossa militância política e social. Pela sorte, não o destino, penso que podemos começar o trabalho de parceria entre as 2 Comissões, que, para nós, está dando muitos bons resultados. Poremos muita paixão para que essa parceria continue.

Também agradeço ao Deputado Pompeo de Mat-tos, que continua sem conhecer-nos, que continua com essa parceria, com essa política da Comissão. No Brasil é mais difícil, porque todos os anos tem novo Presi-dente na Comissão e é difícil que tenha uma continui-

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04058 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

dade a política. Nós também na Argentina queremos que sejam políticas permanentes.

Depois quero explicar um pouco por que estou falando português e não estou falando espanhol. Tam-bém quero aproveitar este momento para agradecer ao povo brasileiro. Sou filho de exilados políticos. Fui alfabetizado no Brasil, comecei a escrever e a ler em português antes do que em espanhol. Para mim, é mui-to importante ter um espaço aqui. Os senhores são os representantes do povo do Brasil e quero agradecer, através dos senhores, a todo o povo que nos deu a mão em Vila Maria, São Paulo, em Suzano, no inte-rior de São Paulo, onde nos receberam e nos trataram como irmãos. Gente que não tinha militância política, que não tinha nenhuma relação nos tratou como se fôssemos iguais.

Eu sou muito agradecido pela minha infância, nesses 2 anos que nós fugimos da ditadura argentina. Minha família, fugindo, foi tratada como qualquer pes-soa. E encobriram também, muitas vezes, e ajudando a minha família.

Eu quero falar um pouco diferente não só das questões dos documentos e das vítimas, falar um pouco como é que foi, como é que se dá, que se prepara um plano de repressão e segurança tão coordenado.

Nós temos que reivindicar a história de luta de nossos povos, os movimentos políticos, os movimentos sociais que tinha nas décadas de 60 e 70. Mais que nada, tinha uma relação muito grande entre os traba-lhadores e os estudantes, tinha uma aliança política. Acho que foi a maior que tivemos na história latino-americana de união e de consciência de luta desses 2 setores tão importantes, puxados por muitos dirigen-tes combativos que queriam as melhoras sociais para todos os nossos povos.

Nós temos um fato histórico muito importante, no ano de 1969, na Argentina, que foi o Cordobazo, que sintetiza, acho, essa união histórica entre o estudanta-do e os trabalhadores. Foram 2 dias de toma de uma cidade, da cidade de Córdoba, a Capital de um dos principais Estados do meu país, a Argentina.

Também temos que ver que tudo isso estava acompanhado, porque tivemos, no ano de 1959, uma revolução cubana, quando tínhamos um argentino que foi adotado pelos cubanos e que fez também uma experiência e um ensinamento de entrega, que foi Ernesto Che Guevara, que morreu na Bolívia ten-tando instalar uma guerrilha, no ano 1967. Também tínhamos o socialismo real. Do outro lado do Muro de Berlim, tinha países que praticavam o socialismo, que era visto pela juventude e pelos trabalhadores como algo possível de fazer em nosso continente. Tínhamos um Presidente que foi eleito pela cidadania, no Chile,

que foi Salvador Allende, que era socialista e queria, democraticamente, considerar todas as idéias do socia-lismo. Depois do Concílio Vaticano II, depois do Papa João XXIII, aconteceu o movimento de sacerdotes do Terceiro Mundo. Acho que onde teve maior presença, maior participação foi aqui no Brasil, mais do que nos outros países.

A juntada de todas essas coisas pôs a América Latina num lugar onde os Estados Unidos não podiam permitir. A base de nossos povos e de nossas juventu-des e nossas organizações políticas e sociais seguiram avançando, e poderiam convergir numa Cuba ou em algo contra os interesses não só políticos, geográficos e estratégicos, mas também comerciais, das empre-sas daquele país.

Por isso mesmo, nós, em 24 de março de 1976, quando se deu o golpe de Estado, tivemos a maior re-pressão nos corpos de delegados de base dos sindi-catos. No mesmo dia do golpe, chegaram os militares nas fábricas, nas indústrias, com listas dadas pelos empresários, não pelas multinacionais, de quem eram os delegados que deveriam ser seqüestrados e leva-dos aos centros clandestinos.

Tivemos, na fábrica da Ford, em General Pache-co, no Estado de Buenos Aires, um centro clandestino funcionando. Uma multinacional, a Ford. Conhecem? Um centro clandestino funcionou durante 1 mês, apro-ximadamente, seqüestrando todos os ativistas dessa fábrica.

Esse setor era o mais combativo e dinâmico. Seus trabalhadores eram os maiores opositores da ditadura. Acho que por isso também foi tão forte a repressão nesse setor social.

Eu vi um pouco tudo isso, certamente. Mas tem algo que o companheiro aqui, Nilson Mariano, falou, com que eu não concordo, que tem a ver também com minha história pessoal. Ele falou em alucinada contra-ofensiva dos montoneros, quando foram seqüestrados aqui, no Brasil, tentando ingressar, para retomar a luta no seu país.

Eu acho que tem que fazer um pouco mais de análise, tem que haver um pouco mais de conhecimen-to. Eu acho que a contra-ofensiva dessa organização guerrilheira não foi alucinada. Minha mãe participou, e ela não foi presa; minha mãe viajou no mesmo avião que fala...

Mas ela tem outra função, que era fazer a reto-mada da construção política desse setor político na Argentina. Não era só uma questão militar, não era só uma organização militar, também tinha política, tinha outras coisas. Tem militantes que voltaram para se in-serir novamente na política argentina para reconstruir

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04059

tudo o que havia sobrevivido à feroz repressão que se deu no nosso país.

Acho que também, ao falar de “marcadores”, co-laboradores, tem que ser consciente sobre o que é a repressão e o nível de crueldade que teve a repressão nos nossos países.

A tortura é uma coisa totalmente inumana, cruel. Ninguém sabe quem pode resistir aos níveis de tortura. Ninguém pode falar: “Não, minha consciência revolu-cionária pode impedir que eu...”. É muito... É terrível. Que eficiência para torturar tinham os nossos Exércitos, as nossas Marinhas, esse plano repressivo, e como estavam preparados para reprimir o nosso povo e os nossos militantes, sejam guerrilheiros, sejam políticos, seja quem for!

Acho que temos que ter um pouco mais de cui-dado quando damos declarações sobre... e de algu-ma maneira fazemos alusão a esse tipo de coisas que aconteciam.

Eu quero também resgatar aqui um escritor que foi também membro da organização Montoneros, um escritor muito famoso no meu país, Rodolfo Walsh, que foi desaparecido no ano de 1977. Ele, no dia em que desapareceu, estava repartiendo uma carta aberta à junta militar argentina, na qual ele já estava denun-ciando o Plano Condor, sem ter as informações que temos nós agora de todos documentos desclassifica-dos. Ele já estava falando de toda essa combinação de inteligência, de repressão entre todos os países do Cone Sul. Com sua contra-inteligência, digamos, e sua militância e com sua qualidade de escritor, estava já denunciando esse plano Condor.

Mas nessa carta também tem algo muito importan-te: essa repressão não foi só para eliminar opositores políticos, foi também para impor um modelo econômico, foi para também cortar os laços de solidariedade dos nossos povos, foi para que as ganâncias dos setores mais poderosos dos nossos países pudessem sempre continuar com os seus privilégios.

E mais, ainda temos o resultado dessas polí-ticas implementadas pelas ditaduras: o aumento da pobreza, o desemprego, a exclusão social, a falta de norte, de projetos dos nossos jovens. Temos que ver as conseqüências econômicas, políticas e culturais. É um compromisso de todas as nossas democracias e de nossas militâncias políticas e sociais poder dar volta a isso, que é o mais importante, para reconhecer e para estar à altura do que foram os nossos heróis e os nossos mártires que morreram, que foram presos, que lutaram contra essas ditaduras.

O nosso compromisso é para melhorar a distribui-ção da renda nos nossos países. O nosso compromisso é que não tenha mais pobres nos países que podem

fabricar alimento para todo o mundo. Não pode ter me-ninos mortos de fome nos nossos países. Nós temos o compromisso de seguir a luta dos companheiros que foram reprimidos nos anos das ditaduras.

E algo também é incrível. Um cara que sai de todos os documentos é Henry Kissinger. Como pode quem avalizou todo esse plano repressivo ainda ter o Prêmio Nobel da Paz na sua mão? (Palmas.) Como pode isso ser possível, quando a todos os militares ele dá uma espada na mão para que seguissem a repres-são? Ele falava: “Faz rápido, faz mais rápido, porque muito tempo pode ser contrário aos interesses dos Estados Unidos”.

Era mais ou menos isso que eu queria expres-sar.

Desculpem-me o português ruim, mas faz muito tempo, eu tinha 8 anos quando morei aqui.

Muito obrigado pelo convite. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito bom. Obrigado, Dr. Bruno Huck, repre-sentante da Central dos Trabalhadores Argentinos. É um pouco brasileiro também, um tanto argentino e bastante brasileiro.

O SR. BRUNO HUCK – E nossos amigos da CUT.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Registro a presença da Dra. Alexandrina Cristen-sen, Diretora da Associação Brasileira dos Anistiados Políticos, nossa parceira, sempre presente às nossas atividades, e também de José Miquéias, o Zezinho do Araguaia, fundador e Diretor do Instituto de Apoio aos Povos do Araguaia – IAPA.

Eu ia passar a palavra aos Deputados, mas, como o Nilson Cezar Mariano foi citado pelo Bruno Huck, ob-viamente ele tem o direito de se manifestar.

O SR. NILSON CEZAR MARIANO – Serei rápido. Eu devo ter sido infeliz ao usar o adjetivo “alucinada”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Foi o que imaginei.

O SR. NILSON CEZAR MARIANO – O que quis dizer é que foi algo muito temerário, porque essa con-tra-ofensiva não tinha a menor chance contra uma ditadura superaparelhada e cruel. Foi nesse sentido. Até se tem que lembrar aqui que os comandantes da contra-ofensiva não fizeram esse trajeto. Eles ficaram na segurança do seu exílio. Roberto Perdia ficou.

O SR. BRUNO HUCK – Roberto Perdia esteve na Argentina. Vaca Narvaja esteve na Argentina. Isso não é verdade. O único que não entrou na Argentina foi Mario Eduardo Firmenich.

O SR. NILSON CEZAR MARIANO – Bom, eu me baseei em Cristina Zuker, em tantos outros, em Scagliusi.

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04060 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. BRUNO HUCK – Desculpe-me, essa é uma questão interna nossa, Cristina Zuker é uma es-critora que tem um irmão...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Esse é o momento da memória e da verdade.

O SR. BRUNO HUCK – Cristina Zuker é uma mulher que escreveu um livro, que tem uma questão pessoal, porque o seu irmão morreu na contra-ofensiva. Ele foi seqüestrado por um grupo que fazia treinamento militar no Líbano, que chegou para fazer ações militares pela Organização Montoneros na Argentina.

A contra-ofensiva não era só uma operação militar. Minha mãe participou, fez política, fez contato com o gremialismo, era uma das partes, era de propaganda e de inserção política dos quadros sobreviventes. Infe-lizmente, os que voltaram para fazer questões militares foram rapidamente seqüestrados e transportados para centros clandestinos de detenção e depois desapa-recidos. Mas os chefes da Organização Montoneros também voltaram, clandestinamente, para a Argentina e também participaram dessa organização no país.

O SR. NILSON CEZAR MARIANO – Bom, o ou-tro ponto é sobre a tortura. É claro que não se pode suportar a tortura, tanto que os montoneros e outros guerrilheiros portavam uma cápsula de cianureto – o cianuro, para vocês –, e vários se suicidaram, prevendo que seriam capturados e torturados. Vocês têm essa questão dos “marcadores”, e nós temos aqui no Brasil os arrependidos, que também sucumbiram à tortura e foram para a televisão elogiar as obras da ditadura militar e tal. Infelizmente, padeceram com todo esse sofrimento, porque isso implica traição. Imagino que seja um sofrimento inesgotável.

É isso aí. Desculpe-me.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Está bom. Acho que é importante também se fazer essa interatividade. Quando eu ouvi a palavra “alucinado”, fiquei imaginando o pai da Deputada Jus-mari Oliveira, sonhador, sem compreender totalmente que estava enfrentando, submeteu-se àquela atitude. O meu pai também, foi preso em 1964 e depois tomou atitude dessa grandeza. Eles não tinham a compreen-são do que estavam enfrentando, não tinham conhe-cimento do tamanho da fera que estava do outro lado, mas tinham tanta coragem que se propuseram a isso, de forma quase alucinada.

Está inscrito o Deputado Guilherme Menezes, que pacientemente suportou até agora, mas tenho certeza de que incorporou aos seus conhecimentos muitas informações e agora nos pode brindar com a sua palavra.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES – Sr. Presidente, nem foi preciso paciência, tal a riqueza do

que aqui foi apresentado. Pena que o tempo seja tão espremido, tão curto! Essa é uma história que precisa ser debatida, mostrada. Como disse o Sr. Jair Krischke, a cortina tem que ser rasgada, esse tumor tem que ser aberto, até porque o passado está no presente.

O senhor disse inclusive que os nossos militares continuam os mesmos. Nós sabemos que no Brasil os direitos políticos foram restaurados, mas os direitos jurídicos principalmente para os pobres não foram. É comum confissão sob tortura no Brasil de hoje. Em qualquer delegacia de polícia, em qualquer carcera-gem, isso é comum. São comuns as mortes que eles justificam como ato de resistência. É um número imo-ral. Pessoas morrem, e depois se alega resistência à Polícia. Nós sabemos como é atual essa discussão.

Eu fiquei até penalizado, pela restrição do tempo que é dado a cada um dos expositores para que se manifestem, e há tanta riqueza, tanto a se apresentar... No Brasil de hoje, isso precisa ser mostrado nas esco-las, deve fazer parte de um processo de educação dos nossos povos, de todos esses países do Cone Sul.

Eu lia um relato do jornalista Nilson Mariano, que dizia que essas ditaduras geraram em torno de 400 mil prisões. Eu li, num documento na Internet, que fo-ram 50 mil mortes, 30 mil desaparecidos. Não sei se confundi o autor do texto.

O SR. NILSON CEZAR MARIANO – O obituário dessas sócias da Operação Condor dá um total de 35 mil mortos e desaparecidos. Somente na Argentina, são 30 mil mortos e desaparecidos; no Chile, 2.011; no Paraguai, entre mil e 2 mil. O total é de 35 mil. É claro que nem tudo isso é da Operação Condor. A Operação Condor contribuiu para esse obituário.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES – Obrigado.

O Sr. Jair Krischke disse que os nossos militares continuam os mesmos. Outro dia um estava dizendo – todo o Brasil tomou conhecimento disto – que se arrependia de não ter tirado a vida de José Genoíno, que hoje é Deputado nesta Casa e participou daqueles acontecimentos da Guerrilha do Araguaia. Fez essa afirmação sem remorso algum, sem medo do passado. Inclusive isso suscitou pronunciamento no plenário da Câmara dos Deputados há alguns meses.

Ele se mostro arrependido, porque teve a condição de matar uma pessoa, e não a matou. A própria história do Deputado José Genoíno mostra o bem que ele está fazendo ao Brasil, o seu trabalho, a sua participação não só naquele momento, mas também no atual.

Devido à limitação do tempo, já concluo. Antes quero dizer que essa história tem essa parte podre, mas tem situações que merecem ser mostradas. Foi citado aqui, o jornalista Luís Cláudio Cunha estava ao lado

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do fotógrafo João Batista Scalco naquela questão do seqüestro dos uruguaios em Porto Alegre. Parece-me que praticamente todos que foram seqüestrados em outros países foram mortos. No caso, por causa de um telefonema anônimo, os repórteres vão até a casa de Universindo Díaz, que já tinha sido levado para o Uruguai com os filhos, e a esposa, Lilian Celiberti, es-tava indo. Graças a isso, a esses 2 repórteres, aquelas pessoas foram salvas.

Então, há muitos relatos que merecem ser apre-sentados, e, considerando-se a coragem, o compro-misso político, o compromisso profissional dessas pessoas, precisaríamos de mais tempo ou de outras audiências como esta, para que se continue revelan-do essa história, a fim de que essa memória não se apague e todos esses depoimentos possam vir à tona, como o da suposta morte do Presidente João Goulart, bem como do Presidente Juscelino Kubitschek – ainda há pessoas que levantam suspeitas quanto ao fato –, de Carlos Lacerda. Há muito ainda a ser debatido. A única coisa a lamentar é justamente o tempo, que é curto, espremido.

Tenho certeza de que a Comissão de Direitos Hu-manos vai abrir mais espaço, para que debates assim possam acontecer, relatos assim possam incorporar-se ao nosso presente, à nossa memória.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Ma-

tos) – Muito obrigado, Deputado Guilherme Mene-zes.

Registro a presença do Prefeito Camarão, que veio lá da nossa querida Herval, lá da ponta do Rio Grande, na fronteira com o Uruguai. Ele é um tanto gaúcho, um pouco brasileiro e bastante castelhano.

Quero agradecer a presença ao Sr. João Alberto Peixoto, que é Secretário de Administração do Muni-cípio de Santo Antônio da Patrulha. Se alguém ouvir na região esse nome, não vai saber de quem se trata. Tenho que dizer que é o Pichula, uma figura querida e amiga lá do Rio Grande do Sul.

O próximo inscrito é o Deputado Sebastião Bala Rocha, Vice-Presidente desta Comissão, que tem a palavra.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Sr. Presidente, quero cumprimentar todos os expo-sitores, os colegas Deputados e as demais pessoas que estão aqui no nosso plenário.

Eu não tenho perguntas a fazer. Farei apenas um breve comentário sobre a importância desta audiência pública, o papel que esta Comissão tem e também sobre o papel que a Câmara dos Deputados desempenha, para trazer um pouco mais de luz para esse tenebroso período que vivemos. Muita coisa ainda continua nas

trevas. O resgate da memória, da história não pode ficar restrito só aos registros. Sei que é importante o registro, a pesquisa, o aprofundamento do conheci-mento, de tudo o que aconteceu.

E deve também servir de mudança de atitude, nesse contexto que já foi apresentado pelo Krischke e pelo Deputado Guilherme, o entendimento de que não podemos, de maneira nenhuma, numa sociedade democrática, de direito, tolerar qualquer tipo de tortura nos dias atuais. Ainda convivemos com isso, conforme já foi expressado aqui.

Eu sou de um partido que tem uma ligação his-tórica com o Presidente João Goulart. Todos os fatos relatados aqui, todos os conhecimentos, tudo isso que está sendo estudado e aprofundado também nos traz um certo sentimento de que realmente devemos esclarecer as circunstâncias da morte do Presidente João Goulart, também a do Presidente Juscelino e assim por diante.

Quero parabenizar V.Exa. e também cumprimen-tar todos os expositores. Realmente o tempo hoje não nos permite prosseguir nesta audiência pública. É cla-ro que, mesmo que passássemos horas e horas aqui, ainda assim teriam muito mais informações a repas-sar, que estão aí descritas, estão nos livros, estão nos documentos.

Considero esta audiência pública como um marco, como mais uma atitude da Câmara dos Deputados no sentido de contribuir para que a verdade possa ser de conhecimento público e de que todos esses documentos tidos ainda como secretos possam ser desclassificados num futuro próximo e possamos ter acesso mesmo a todas as informações sobre o que aconteceu naquele triste período em que vivemos.

Muito obrigado, Presidente.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito obrigado, Deputado Sebastião Bala Ro-cha.

Com certeza, esta audiência está permitindo a revelação de muitos fatos, alguns históricos. Estamos perquirindo e ainda vamos descobrir outros fatos, até porque a Comissão vai ter acesso a alguns do-cumentos.

Mas um fato novo, relevante, foi trazido à Comis-são pela Deputada Jusmari Oliveira, que surpreendeu a mim e a nós todos, com absoluta certeza. Está com a palavra S.Exa.

A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA – Sr. Presidente, inicialmente, quero parabenizá-lo, assim como toda a Comissão de Direitos Humanos, pela or-ganização desta audiência pública.

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04062 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Lamento também a falta de tempo para conti-nuarmos a discussão, como disse o Deputado Gui-lherme.

Lamento ainda que a nossa TV Câmara não se tenha preocupado em gravar esta reunião. Mais cedo, por causa da sessão no plenário, ela não poderia fazer a transmissão ao vivo deste evento. Parece-me que a sessão já terminou. Agora, então, poderia estar trans-mitindo ao vivo esta reunião, que é muito especial não só para mim, que busco alguma coisa dentro desse tema, mas também para muitos brasileiros que, mes-mo que não tenham tido parentes envolvidos com a questão da ditadura, com a tortura e todo esse capítulo terrível da nossa Nação e da América Latina, tenham interesse em saber sobre essa questão. Eu lamento, Sr. Presidente.

Eu gostaria que V.Exa. fizesse esse registro para a nossa Casa. Precisaríamos ter esta reunião gravada em vídeo, que seria exibido pela nossa TV Câmara em momento oportuno, pelo menos nas madrugadas. Eu encontro muitos brasileiros que dizem que têm insô-nia e assistem de madrugada à TV Câmara, a única coisa que resta.

Sinceramente, não era minha intenção passar todo o tempo aqui, pois temos muitos compromissos. Ontem, eu até comentei com a minha assessoria: “Que pena que eu não possa ficar o tempo todo nessa audi-ência, seria muito importante”. Mas acabei ficando, pela oportunidade; pela forma como o Deputado argentino se manifestou, a quem saúdo e também, por seu inter-médio, a nação argentina; pela maneira como o tema foi exposto por esse jovem, que traz no sangue, com certeza, um pouco da garra, da coragem do avô.

Quero saudar também o jornalista, que contribuiu muito, o Presidente da Central dos Trabalhadores e especialmente o Dr. Jair, que espero seja um parceiro na recomposição da minha história familiar.

Eu sei que talvez possa ter parecido um pouco oportunista, mas não podemos perder as oportunida-des, e o Deputado Pompeo me incentivou muito. Sin-ceramente, admirada eu estou. Confabulamos num momento até de indisciplina nesta Comissão. Mas con-siderou-se a relevância do fato. Ele começou a contar a história do pai dele, e eu fui complementando com a história do meu, e ele foi complementando, e chegamos à conclusão de que é uma história só. Não é contada, nunca foi escrita, mas realmente existiu.

Daí a importância desta audiência pública. Eu mesma sou filha de um torturado. Fui educada pela minha mãe e pelos meus tios – alguns fizeram parte da ditadura – para nunca contar a história do meu pai, porque era vergonhosa. O meu pai era um subversivo, e, assim, como subversivo, foi preso.

Então, Sr. Presidente, Deputado Pompeo de Mat-tos, Dr. Jair, a importância desta audiência é exata-mente essa.

Quando se começou a veicular na imprensa a Operação Condor, muitos perguntaram a nós, De-putados, o que pensávamos sobre isso. As pessoas pensam que é novelesca demais: “Deve ser alguma coisa fantasiosa, criada pela cabeça de alguém, isso não pode ter existido”.

Vejam o caso Isabella. Hoje mesmo minha as-sessora me perguntou: “Deputada, como pode uma pessoa ter coragem de pegar uma criança de 5 anos e jogar da janela de um prédio?” Algumas coisas não entram na cabeça do ser humano correto, do ser hu-mano justo.

As pessoas que mais duvidam da Operação Con-dor são exatamente aquelas que têm o maior senso de justiça, porque elas acham que é impossível que isto passe na cabeça de um ser humano, ou seja, prepa-rar toda essa operação e fazer todas essas atuações em vários países. Parece algo muito macabro. Mas aí estão os fatos.

O senhor apresenta documentos, e por isso esta audiência é importante demais. Eu acredito que ela vai ficar, como disseram os Deputados Guilherme Mene-zes e Sebastião Bala Rocha, como referência para estudos, não nossos, políticos, mas de todos aqueles que buscam construir um mundo cidadão, um mundo mais humano.

A tortura é diária na nossa vida. No Brasil, De-putado, a tortura é algo comum. Está instalada nesta Casa a CPI do Sistema Carcerário, onde buscamos passar a limpo os cárceres brasileiros. Sistema carce-rário nós não temos, essa é a realidade. O Deputado Pompeo de Mattos, inclusive, esteve conosco no Rio Grande do Sul em visita aos presídios. Como bem disse o Deputado Guilherme, a tortura neste País é comum. E pessoas agora se convenceram de que, se não deixarem marcas no corpo, não estão torturando. Mas os nossos presidiários não têm direito de falar nem se sentem dor, eles não têm direito nem de falar de algum sonho que eles possam ter no dia da saída da cadeia; se falarem, vão para o calabouço, onde ficam por 1 ano, sem sol, sem luz, num quartinho fechado, no escuro. Enfim, tudo isso acontece hoje, e nós ficamos aqui, e não conseguimos fazer muitas coisas.

A meu ver, a tortura aconteceu, e hoje é muito visível nessa questão dos presos políticos. Ela existe na nossa sociedade.

É lamentável que o Deputado Guilherme e nós tenhamos de fazer esse registro no nosso Parlamen-to. Mas o importante é que tenhamos pessoas, como todas as que ficaram aqui até agora, militantes da

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causa “tortura nunca mais”, que atuem em qualquer espaço que ela possa vir a acontecer e atingir nossas vidas, ou a vida do próximo, ou a vida do nosso irmão. E para essa luta eu acredito que não haja fronteiras, territórios, municípios, Estados, países.

Portanto, louvo a atitude do Parlamento brasilei-ro e do Parlamento argentino. Todas as dúvidas que pairam sobre todas as operações e sobre toda essa história podem agora ser sanadas. Pode-se buscar o fortalecimento da coibição disso, o rompimento dessa história que nos é muito vergonhosa.

Parabenizo o Deputado Pompeo de Mattos e, por seu intermédio, a Comissão de Direitos Humanos bra-sileira; o Deputado Remo Carlotto e, por seu intermé-dio, a Comissão de Direitos Humanos do Parlamento argentino, pela oportunidade dada a todos nós, que buscamos a verdade, o esclarecimento do que acon-teceu, a fim de que possamos fortalecer-nos e lutar para que nunca mais aconteça isso. Do contrário, que pelo menos façamos a nossa parte e a nossa obriga-ção diante da sociedade.

Muito obrigada. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito obrigado, Deputada Jusmari, pela excelente e importantíssima contribuição para esta Comissão.

Aliás, Deputado Carlotto, se eles, na Operação Condor, se uniram para reprimir, vamos nos unir para descobrir o que eles fizeram. (Palmas.)

A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA – Sr. Presidente, se V.Exa. ainda me permitir...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Pois não.

A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA – De-sejo fazer uma referência à discussão entre o Dr. Bruno e o jornalista Nilson. Eu não acho inadequada a palavra “alucinação”. O meu Bispo Dom Luís Flávio Cappio faz greve de fome e jejum contra a transposição de águas do São Francisco. No caso, eu sempre participo, pelo menos para lhe dar apoio, por considerar justa sua cau-sa. Quem quiser que discorde. Mas ele diz o seguinte: “Quando a razão não vence, nos resta a alucinação”. É com loucura, às vezes, que agimos. (Palmas.) Por isso, não considero inadequada essa palavra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Eu disse, ela está reveladora hoje. (Risos.) Mui-to bem.

O próximo orador inscrito é o Deputado Pedro Wilson.

O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON – Sr. Presi-dente, mais uma vez, apresento meus parabéns pela iniciativa.

Já havíamos discutido essa questão. De manei-ra geral, a partir desta audiência, não podemos mais

guardar os alfarrábios. Foi assinado o protocolo entre as Comissões de Direitos Humanos do Brasil e da Argentina, e eu acho que isso deve ser estendido ao Paraguai, ao Uruguai e ao Chile.

Volta e meia temos participado de eventos que, às vezes, ficam paralelos. Creio que é hora de consti-tuirmos um comitê ou uma secretaria que permanente-mente troque informações. Mas não só isso. Não que-remos só descobrir o passado, a verdade, a memória, queremos construir, olhando para frente.

O Dr. Jair, a quem novamente saúdo – muito o admiro pela sua luta –, e a cooperativa com o jornal do Rio Grande do Sul, onde trabalhou o jornalista aqui presente, Luís Cláudio Cunha, foram responsáveis pelo salvamento de vidas. Naquela luta, o Rio Grande do Sul se tornou uma bandeira no sentido de ajudar bra-sileiros, uruguaios, argentinos ali na fronteira.

Precisamos ter o sentimento de que é necessário construirmos a democracia, e o Congresso tem de to-mar ciência de que essa vertente militar, essa posição militar pode estar encoberta. Muitas vezes não se está aceitando para valer a democracia, a liberdade e a ci-dadania. Será que os novos rumos do mundo fazem com que se aquietem?

Vemos a ação de setores da Polícia Militar que não fazem mais a repressão política, mas a fazem contra o negro, o pobre, aqueles que vivem nas peri-ferias, que são presos constantemente ao arrepio da lei e da ordem. Não sei na Argentina como isso acon-tece. Muitas vezes, a repressão é transferida para os movimentos sociais.

No ano passado estive na Argentina, onde exis-te uma favela em que começaram a proibir a entrada de gente lá, porque o pessoal entrava para espionar. Eles disseram: “Não. Este aqui é território nosso”. Fica perto da antiga ferrovia. Eu queria entrar lá, mas res-peitei. Eles me disseram: “Bom, nós sabemos que você está interessado, mas não podemos, porque a gente não sabe se você... Porque tem gente que vem aqui, fala que vem para ajudar, e depois sai no jornal como somos nós, querem passar a imagem de que somos traficantes de droga, isso ou aquilo outro.” Isso existe em toda a sociedade.

Enfim, Sr. Presidente, quero parabenizá-lo e apro-veito para pedir a V.Exa. que possamos aprofundar esse protocolo e criar tratativas no sentido de avançar na discussão teórica, na prática e em políticas públicas de segurança no MERCOSUL.

Discutimos muito mais no MERCOSUL como vamos compor o preço do trigo, da carne ou da soja, mas não discutimos os direitos trabalhistas de brasi-leiros que estão no Paraguai, ou de paraguaios que estão no Brasil, ou de argentinos. Quer dizer, como é

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que se descobre o direito de aposentadoria no futuro, como é essa integração? Vai ser uma integração para valer, não dos empresários, do mundo do capital, mas do mundo do trabalho? Conhecemos as contradições do sistema capitalista, mas, muitas vezes, fazemos as tratativas por cima e esquecemos o povo comum, os Garcias, os Silvas, que estão por aí no nosso País e que não recebem a proteção histórica devida.

O Deputado Luiz Couto vai viajar para um encon-tro em Lisboa a respeito dos trabalhadores emigrantes. Quando éramos a terra da ventura, vinha gente para cá. Vieram, fizeram a América, e nós somos em grande parte descendentes dessas pessoas. Agora, quando acumularam riqueza, fizeram fortuna, quando queremos ir lá e participar dessa fortuna, não podemos, somos deportados, humilhados ou ficamos com o trabalho sujo nos Estados Unidos ou na Europa. Precisamos de uma nova discussão.

Estive em Barcelona. Lá tenta-se controlar a vinda de africanos para a Europa, eles que foram lá na África e destruíram as tribos, a cultura. Até hoje existe briga lá porque eles dividiram uma tribo e outra em países, a exemplo do Congo, em que até hoje tem a briga dos tútsis e dos hutus, que se destroem por causa do veneno que veio do colonialismo, do neocolonialismo e de um neo-imperialismo do Sr. Bush, que faz o que quer depois da queda do Muro de Berlim.

Mais uma vez faço referência ao Coojornal, para lembrarmos do seu papel, ou do Movimento, do Opi-nião, do Brasil Urgente. Hoje temos uma mídia globali-zadora, que passa o que eles querem. Sobre a Opera-ção Condor eles publicam muita coisa, mas não vão a fundo, não colocam seus jornalistas em profundidade, da forma como estão interessados nos cartões corpo-rativos, por exemplo. Devem investigar isso também, mas por que não colocam os jornais, os jornalistas para investigar os canais, os escaninhos que estão aí escondidos dos arquivos, como eu acredito, como o Dr. Jair, que as coisas estão presentes?

Permito-me até fazer uma referência. Um ge-neral mandou reunir todo o arquivo. Aí o sargento foi lá e reuniu todo o arquivo. Terminou, juntou tudo. “E agora, mando queimar?” “Não, tira uma cópia antes e guarda, porque vamos queimar o arquivo, mas fica uma cópia aqui.”

E esta Comissão, por ação de um cabo que foi expelido do Exército, teve acesso a muita coisa. Ele participou, certamente, de sumiço de documentos e nos entregou 3 caixas que revelaram muitas ações da Polícia, e nós as colocamos aqui na Comissão.

Quer dizer, esse é um trabalho diuturno, perma-nente, de uma pessoa, de um partido, mas a instituição legislativa tem um papel talvez ainda mais avançado.

Vimos que o nosso Ministro fez um esforço enorme o ano passado para publicar um livro para recuperar a memória e a verdade e recebeu uma prensa danada. Mas publicou. O que tem lá no livro, quem teve aces-so, é a mesma coisa. Fica registrado porque, muitas vezes, forças de repressão ou de direita não querem que se faça o desvendamento nem se dê a explica-ção. Como disse aqui a Deputada Jusmari, diante dos absurdos, a gente fica assim: “Mas isso aconteceu mesmo?” Aconteceu.

Por fim, eu gostaria, mais uma vez, de passar a V.Exa. um documento e um artigo do Dr. Sérgio Muyla-ert, a quem rendo nossas homenagens pelo seu tra-balho. O Deputado Remo Carloto referiu-se a texto do Dr. Martín Almada, que é uma situação em que nós, no Parlamento, podemos avançar na investigação. Ele entregou também a V.Exa. cópia do documento, que trata da questão dessa pessoa.

Eu estava numa audiência em que discutíamos a questão indígena. No Brasil o Dia do Índio é 19, mas todo dia é dia de índio, e eles estavam dizendo assim: “Vocês discutem aqui a mineração das nossas terras, e nós pegamos a doença lá e perdemos tudo lá”.

Quero parabenizar a Comissão pela realização desta audiência, que revela questões dramáticas e pessoais, como a da Deputada Jusmari, que tem cada vez mais nos encantado pelo seu compromisso, que tem origem no Rio Grande do Sul, passa pelo Paraná, está lá na Bahia. Divirjo de S.Exa. e de D. Cappio – sou católico: acho que as águas podem ir também para a Paraíba, o Ceará e outros Estados.

É esta a discussão, é este o debate. Então, eu faria isso. Permitam-me fazer uma sugestão ao Márcio, o nosso jornalista, junto com o Augustinho, que veio do Rio Grande, esteve lá com o Dr. Jair, hoje é um dos grandes assessores e uma memória da nossa luta. Que a gente pudesse, quem sabe, convidar jornalistas do Coorjonal ou do Movimento, daquela época, que luta-ram, assim como jornais no Uruguai ou na Argentina que têm arquivos lá, que têm muita matéria, inclusive sobre a questão do casal que o Dr. Jair salvou da mor-te, Lilian Celiberti e Universindo Díaz.

Temos de fazer um debate sobre a responsabili-dade da mídia, que, às vezes, se torna a dona da ver-dade. Qual foi o papel dela ao encobrir a ditadura no Brasil, na Argentina e outros países, ou ao divulgar, às vezes, manchetes que não condiziam com a realidade? Quando a luta é geral, eles até apóiam, mas quando é dos trabalhadores, ocorre todo tipo de situação.

Dr. Bruno, vi que o senhor representa os trabalha-dores lá na Argentina. Acho que precisávamos criar um canal permanente das instituições, não só do Estado, mas da sociedade para, inclusive, não ter problemas

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assim. Muitas vezes, no jogo político, a gente não avan-ça, mas a sociedade e a Comissão de Direitos Huma-nos, que têm uma história, são importantes.

Por fim, quero fazer um registro. Esta Comissão acompanhou o massacre de Eldorado de Carajás, no dia 17 de abril de 1997, quando morreram 19 traba-lhadores sem terra. Hoje faz 11 anos que esse massa-cre ocorreu no Pará, e a justiça ainda não foi feita. Por causa de uma condenação de um coronel da polícia, que depois foi revogada, todos os outros não tiveram seqüência no julgamento. A impunidade, mais uma vez, fere os direitos humanos, como fere também o direito à verdade aos desaparecidos do Brasil e da Argenti-na, que lutavam, e lutam, como nós, pela democracia, pela liberdade e pela cidadania.

Muito obrigado, parabéns e o nosso abraço ao povo argentino, povo amigo. Brigamos de vez em quan-do por causa do futebol, mas somos hermanos. (Pal-mas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Obrigado, Deputado Pedro Wilson, que já presidiu esta Comissão e fez um trabalho excelente.

O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON – Sr. Pre-sidente, permita-me, também, por dever de justiça, falar na história do Presidente João Goulart. Eu era estudante e ouvi uma frase com a qual eu concordei. Se o Presidente João Goulart teve defeito, ele não foi derrubado nem assassinado, ou se foi, temos de avançar na investigação. Mas as melhores qualidades de sua liderança político-trabalhista no Brasil eram as reformas de base, que, aliás, estamos reclamando até hoje: reforma universitária, agrária, bancária.

Então, quero aqui render a minha homenagem. Não tenho origem no trabalhismo, como V.Exa., mas quero reconhecer a luta estudantil na época, o apoio do Presidente João Goulart ao Centro de Cultura Popular da UNE. E só por um dado mereceria ele ser lembrado para sempre: foi ele que criou, em 1962, a Universidade de Brasília, a partir de projeto do nosso grande antro-pólogo e Prof. Darcy Ribeiro. Foi um desafio.

Há várias interpretações políticas, mas a morte de João Goulart, de Carlos Lacerda – o oponente mais visceral – e de JK em meses próximos apresenta in-terrogações. São dados que cada vez mais se abrem. Concordo com a sugestão de fazermos uma ação, porque o império às vezes se torna mais transparente do que as colônias. Os Estados Unidos têm a prática de liberar seus documentos. Vimos aí como a interfe-rência de Henry Kissinger foi decisiva para o golpe no Chile, e certamente sabemos que foi também decisiva aqui, tanto que a família Goulart, inclusive – e acho que deveria assim fazer – ajuizou ação de indenização por danos não só materiais, mas também morais, para

resgatar a história. Muitas vezes os livros de história não são esclarecedores para a nossa mocidade.

Então, gostaria de parabenizar a presença aqui do jovem Christopher Goulart e da família. E devemos resgatar tudo isso, pois muitas vezes achamos que a história passou e tal. Por exemplo, Dr. Jair, no Brasil, milhares de trabalhadores não puderam ser anistiados, porque foram demitidos com base na lei. Ou seja, eram trabalhadores, mas fugiram, abandonaram seus em-pregos, e a família não se lembrava mais e não entrou na Justiça quando da Lei de Anistia. Naquele tempo, havia pressão. O trabalhador se afastava por 30 dias, e a empresa alegava abandono do cargo. Nunca foi feito um levantamento desses casos. Felizmente, há muitos que, por atuação política e tal, conseguiram resgatar esse passado. Mas milhares de trabalhadores brasilei-ros foram obrigados a mudar de Estado, tiveram destru-ídas suas famílias, não puderam resgatar suas vidas. É aquela história: o sujeito não era de uma organização, e o medo da ditadura fez com que desaparecessem as reclamações – o que ocorre ainda hoje.

Muito obrigado a V.Exa.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Deputado Pedro Wilson, V.Exa. presidiu esta Co-missão e, na verdade, estamos aqui dando seqüência ou conseqüência a tudo o que foi feito.

Obviamente, esta audiência pública terá também conseqüências. Não queremos que fique resumida a si mesma. Portanto, temos os dados históricos, os re-gistros, a reclamação legítima da Deputada Jusmari Oliveira, e vamos resgatar e cobrar da TV Câmara um horário nobre para repassar tudo isso, que é um resgate da história da Operação Condor. Será uma forma de passar a limpo uma fase da vida brasileira, bastante dramática, mas importante.

Portanto, vamos dar conseqüência a este tra-balho. Acredito que esse acordo que firmamos com a Comissão de Direitos Humanos da Argentina, e que precede outros com diferentes países do MERCOSUL, será provavelmente o embrião da Comissão de Direitos Humanos do Parlamento do MERCOSUL. Não tenho dúvida de que estamos construindo a história.

Estamos caminhando para o final desta audiência pública, mas duas pessoas nos solicitaram a palavra. Obviamente, vamos franqueá-la.

O primeiro a falar será o Dr. Sérgio Muylaert, a quem se referiu o Deputado Pedro Wilson e que fez chegar às nossas mãos um documento.

Depois, falará o Dr. João Vicente Goulart, nos-so sempre Deputado gaúcho, filho do saudoso Presi-dente, de quem tenho orgulho. Meu pai era getulista e janguista – como se diz no Rio Grande do Sul, onde o janguismo é referência e arrepia os pêlos só de se falar

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04066 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

nele. Então, somos janguistas e brizolistas. E temos orgulho de V.Exa. ser essa referência ética e étnica, João Vicente Goulart.

O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON – Sr. Pre-sidente, queria só fazer uma correção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Pois não.

O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON – Quero dizer que foi em Ruanda e Burundi o massacre de 1 milhão de pessoas, quando os hutus atacaram os tútsis, e não no Congo. Foi em Ruanda e Burundi. Mataram os tútsis a pauladas, a tiros. Foi um massacre. Eu só queria fazer essa correção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Muito obrigado.

Com a palavra o Dr. Sérgio Muylaert. O SR. SÉRGIO MUYLAERT – Sr. Presidente,

quero agradecer a generosidade de V.Exa. ao conce-der-me a palavra e saudar, na sua pessoa, os demais membros que integram a Mesa e os Deputados.

Quero agradecer, também, a referência bondosa feita a mim pelo Deputado Pedro Wilson. Mas quero dizer que estou aqui apenas na condição de ex-Vice-Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a qual integrei até o mês de fevereiro passa-do. Agora, estou incorporando-me uma vez mais à luta dos direitos humanos com a amplitude que estamos vendo aqui, pelo projeto que está sendo levado a cabo pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Estendo minha saudação ao nobre Parlamen-tar argentino, ao representante dos trabalhadores, ao Dr. Jair Krischke, ao Christopher Goulart e ao ilustre escritor presente, dizendo que atualmente sou repre-sentante do Instituto dos Advogados Brasileiros. Acho importante essa referência, não por auto-emulação, mas pela necessidade não só de ampliar os debates, as informações, mas de traduzirmos, na realidade atu-al, as necessidades comuns de nossos povos, tendo em vista o atraso ainda numa série de segmentos de nossa sociedade.

Foi muito feliz a intervenção do nobre Deputado Pedro Wilson ao referir-se à questão das periferias, das favelas, das minorias, que não são minorias, são apenas silenciosas, pois ainda não têm o direito à palavra.

Saúdo, também, em especial, a fala do Dr. Jair, no sentido do resgate da materialidade deste trabalho. É por esse motivo que eu gostaria de registrar exatamente um artigo que foi publicado – e o Deputado Pedro Wil-son já o incorpora aos trabalhos desta Comissão – na Tribuna da Imprensa, no dia 16 de janeiro deste ano, referente à questão da extradição dos direitos humanos e da imprescritibilidade dos crimes hediondos.

Outro documento mais reflexivo refere-se a uma questão que envolve presos políticos paraguaios, pes-soas que foram banidas, estão na Argentina e que, desafortunadamente, não obtiveram êxito na Justiça daquele país. É uma matéria para reflexão.

Quero agradecer muitíssimo e dizer que o Insti-tuto dos Advogados Brasileiros estará presente e se desenvolverá no sentido da progressão desses traba-lhos em nossa instituição.

Muito obrigado, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Obrigado, Dr. Sérgio Muylaert. Franqueio, então, a palavra ao Dr. João Vicente

Goulart. O SR. JOÃO VICENTE GOULART – Sr. Presi-

dente, em nome do Instituto Presidente João Goulart, gostaria de agradecer fundamentalmente mais esta iniciativa da Câmara dos Deputados, em especial desta Comissão de Direitos Humanos, onde se abre neste momento mais uma expectativa de esclarecermos todos esses crimes ocorridos no Brasil e no Cone Sul.

Sinto-me satisfeito em transmitir a V.Exa. o abra-ço de nossa família, que vem tentando, por meio do Instituto Presidente João Goulart, esclarecer definiti-vamente fatos importantes, através de pesquisas em documentos que estão sendo catalogados e arquiva-dos no Instituto. É evidente que morrer pela pátria não é pouca sorte para ninguém. Foram vários os mártires argentinos, uruguaios, chilenos, paraguaios e brasilei-ros que lutaram pela emancipação da América Latina e que, sem dúvida alguma, deram suas vidas para que hoje possamos estar aqui construindo um futuro democrático, um futuro socialmente mais justo para o povo latino-americano, tão tremendamente espoliado durante anos e tão tremendamente perseguido na luta por sua identidade cultural, antropológica e por ser um povo realmente que contesta qualquer império que possa vir nos tutelar.

Presidente, cumprimento, na pessoa de V.Exa., todos os que compõem a Mesa.

Vimos alguns requerimentos que V.Exa. aprovou nesta Comissão no início da reunião. Gostaria de ler um pedido, em nome do instituto, a esta Comissão, uma vez que entendemos que esta investigação só irá adiante, sem dúvida alguma, se houver correlação entre a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o Senado Federal – que também tem uma audiência com os italianos, futuramente –, esta Comissão e, prin-cipalmente, o Ministério Público Federal no Rio Gran-de do Sul. Após termos feito a denúncia e o pedido de abertura de inquérito civil público ao Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando de Souza, para nossa surpresa, disse S.Exa. que não era atribuição

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04067

dele investigar a morte do ex-Presidente João Goulart e encaminhou o processo ao Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, que prontamente lavrou a ata de abertura da investigação.

Após as declarações que fizemos, com apresen-tação de documentos, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, presidida pelo Deputado Adroaldo, obtivemos da Procuradora que está investigando esse caso uma declaração de que o Ministério Público do Rio Grande do Sul deve, não somente ao Rio Grande do Sul, mas à Nação brasileira, a investigação sobre a morte do ex-Presidente João Goulart.

É de fundamental importância essa união entre os órgãos de direitos humanos do Cone Sul, senão a burocracia se torna muito lenta para a troca de docu-mentos. Assim como existem acordos alfandegários, tarifários, de exportação, seria de bom tom que houves-se também no Parlamento do MERCOSUL um acordo sobre direitos humanos, para que as informações fos-sem transmitidas mais rapidamente.

Já que V.Exa. pediu ao Itamaraty alguns dados, gostaria de dizer que, claramente, as nossas embai-xadas, durante aquele período, funcionavam sob as ordens do Embaixador Pio Corrêa, que foi designado embaixador no Uruguai, e montaram uma rede de es-pionagem internacional para perseguir os exilados, para perseguir todas as pessoas que estavam no exterior. O Itamaraty que nós temos hoje, aqui, é responsável, sim, por meio de suas embaixadas, pelo fato de haver ali agentes infiltrados.

Como fazer isso? Nós já temos algumas coisas de Buenos Aires, meu caro Presidente. Gostaria de encaminhar a V.Exa. esta carta, que diz o seguinte:

“Sr. Presidente, venho por meio desta, em nome do Instituto Presidente João Gou-lart, entidade que vem denunciando as ilicitu-des cometidas durante os anos ditatoriais da América Latina, no que se refere à violação dos direitos humanos, apresentar a V.Exa. dados novos e relevantes que podem vir a contribuir, em nosso entendimento, para a elucidação de crimes contra a humanidade. Dentre esses cri-mes hediondos inclui-se também o assassinato de nosso patrono, Presidente Jango, que, após ser derrocado pelo criminoso golpe de 1964, apoiado pelos Estados Unidos da América, veio a morrer assassinado no exílio, em operação orquestrada pelo Plano Condor, que, naquele momento, unificou os serviços secretos das diversas ditaduras latino-americanas.

Vários documentos já cedidos a este Ins-tituto que foram desclassificados pelas autori-dades brasileiras e uruguaias daquele período

levam-nos a ter a certeza de que houve inten-sa cooperação entre a CIA, o DOI-CODI, do Brasil, e o serviço de inteligência uruguaia, o OCOA. Todos esses eram coordenados pelo SNI, que operava nas embaixadas brasileiras por meio do CIEX, monitorando, delatando e perseguindo os exilados no exterior, dentre os quais o ex-Presidente João Goulart.

Certos da importância desta Comissão, reivindicamos os esclarecimentos necessários para elucidar aqueles anos tenebrosos, não somente em relação à morte de nosso patro-no, mas também com vistas a contribuir para o esclarecimento de outras mortes praticadas por essa cooperativa do terror que levou ao desaparecimento na Argentina de mais de 30 mil pessoas, 1.500 no Uruguai e os conheci-dos desaparecimentos, torturas e assassinatos praticados em nossa Pátria.

Estamos, Sr. Presidente, cada vez mais mobilizados na arrecadação de novos docu-mentos. Recentemente, estivemos com o Mi-nistro de Relações Exteriores do Uruguai, ao qual solicitamos os documentos desclassifi-cados da época do exílio de Jango. À medi-da que formos obtendo tais documentos em nossos acervos, também os estaremos dispo-nibilizando para esta Comissão, assim como para o Ministério Público do Rio Grande do Sul, que está empenhado em que a verdade venha à tona.

Sabemos, através de documentos já apre-sentados na Comissão do Rio Grande do Sul, como agiam essas embaixadas, quando se tratava de espiar os exilados brasileiros.

Temos conhecimento de que os agentes secretos brasileiros que operavam nas em-baixadas eram alimentados com informações do CIEX e do SNI eram designados. Nos do-cumentos oficiais figuram como funcionários administrativos encarregados de assuntos de segurança.

Sabedores da força do Parlamento bra-sileiro e desta Comissão, presidida por V.Exa., seria de fundamental importância a convoca-ção de todos aqueles funcionários do Estado lotados nas embaixadas brasileiras durante o regime militar. Tais militares e agentes secretos, ainda que possam não ter atuado diretamente na monitoração e assassinato de João Goulart e de outros exilados brasileiros, certamente têm informação relevante sobre as ordens transmitidas ao posto do Brasil.

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04068 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Além de municiá-las com informação sigi-losa, também eram encarregados de recepcio-nar as autoridades brasileiras em aeroportos e bases aéreas, tendo conhecimento das visitas realizadas e do teor das mesmas.

Tal reivindicação se faz fundamental, considerando que, em 1975, 31 funcionários da Embaixada brasileira em Buenos Aires obtiveram autorizações do Ministério da De-fesa da República da Argentina – Registro Nacional de Armas –, para compra e porte legal de pistolas Browning, de fabricação ar-gentina. Ou seja, pelos registros argentinos, chega-se à lista de funcionários administrati-vos encarregados de assuntos de segurança – leia-se: adidos militares e de inteligência –, que estavam lotados na Embaixada do Brasil em Buenos Aires durante o período crítico das denominadas Operação Escorpião, de monito-ramento e eliminação física de João Goulart, e Operação Condor.

Nesse sentido, solicito a V.Exa. convidar os adidos militares e de inteligência abaixo relacionados para que colaborem com esta Comissão e colaborem com o esclarecimento da história para o Brasil, no sentido de infor-mar tudo o que sabem a respeito das opera-ções acima mencionadas, tendo em vista que prestavam seus serviços ao Estado brasileiro, estando lotados, durante o segundo semestre de 1976, na Embaixada do Brasil em Buenos Aires.

Diplomatas com status diplomático: Em-baixador Marcos Henrique Camilo Côrtes, apo-sentado – aqui estão os endereços —; Pedro Moacir Maia, Diretor do Centro de Estudos da Embaixada em Buenos Aires.

Agentes da Polícia Federal lotados na Embaixada em Buenos Aires, no segundo semestre de 1976: Anésio Perigo de Souza, PF 3, matrícula tal – está tudo aqui —; Abel Duarte Alves de Miranda; Adalberto Fragoso de Arruda, Artur Puglia, Emanuel Cerqueira Campos, José Sílvio da Fonseca” – Polícia Federal.

“Militares: Antônio Alfredo Silveira Neto solicita autorização para porte de armas na Argentina, em 12 de novembro de 1975, re-movido para Montevidéu por volta de janeiro de 1976; José Augusto de Oliveira solicita au-torização de porte de arma; Luís Carlos dos Santos Gaia, Passaporte oficial nº tal, solicita autorização de porte de arma argentino; An-

tônio Vianei Campos; Antônio Ricardo Bum Splinder; Walter Bernardo de Araújo Silva; Wal-dir Siebi; Comandante Odilon Lima Cardoso, adido naval; Hilton Ponto Vasconcelos, adido aeronáutico; Coronel Zaudir de Lima, adido do Exército; Rubens Vieira Simões, adido naval adjunto; Waldir Lopes de Siqueira, suboficial auxiliar; João Carlos Abud Skef, subtenente; Ênio Mandetta, subtenente. (...)”

Sr. Presidente, entendemos que essas pessoas poderão elucidar como operavam as embaixadas na-queles momentos. Esses 31 militares são apenas da Embaixada em Buenos Aires. São 31 militares. É um número excessivo de militares dentro de uma embai-xada, visto que se prevê a presença de apenas 2.

Para efeito de esclarecimento, nós não estamos dizendo que essas pessoas participaram da Operação Condor. Apenas queremos que elas digam a esta Co-missão como funcionavam essas embaixadas e como era a troca de informação entre elas.

Encaminho este documento à Presidência da Comissão e parabenizo V.Exa., meu caro Presidente Pompeo de Mattos, porque essa é mais uma iniciati-va importante. Não estamos apenas começando uma história, estamos começando uma luta pelo esclare-cimento não somente da morte do Presidente João Goulart, mas também desta que foi uma grave violação de direitos humanos.

Lamentavelmente, nós temos que conhecer a história para que possamos traçar o nosso destino. O povo que não conhece o seu passado não pode tra-çar o seu destino.

Quero parabenizar o Deputado Remo Carlotto, Presidente da Comissão de Diretos Humanos e Ga-rantias do Parlamento argentino, porque nós precisa-mos rever a nossa história. Nós temos que conhecer os crimes cometidos contra a humanidade para saber se eles são ou não anistiáveis. Mas isso é para depois, Presidente.

Parabéns pela sua iniciativa e obrigado a todos os presentes. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Obrigado, nosso sempre Deputado João Vicente pela colaboração. Quando esse documento chegar a nossa mão, vamos ter muitas tarefas a cumprir, como disse V.Exa. Este é o começo de um novo momento de ação, de atitude. Eu não tenho dúvida de que esta Comissão tem a responsabilidade de avançar, e muito, na perseguição da verdade sobre a morte do nosso saudoso Presidente João Goulart.

Concedo a palavra ao Deputado Sebastião Bala Rocha.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04069

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Sr. Presidente, depois de tudo o que ouvimos aqui me ocorreu a idéia de fazer uma sugestão. Conversei com a Deputada Jusmari e com o nosso secretário, Dr. Márcio, no sentido de ampliar os objetivos da Sub-comissão de Anistia, para incluir também a Operação Condor, visto que não temos mais espaço para criar uma Subcomissão Permanente ou Especial. A minha sugestão é que aditemos ao requerimento já aprova-do de criação da Subcomissão de Anistia – a Subco-missão foi instalada ontem – o importante tema da Operação Condor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito. A idéia é boa e alvissareira. Solicito a V.Exa. e à Deputada Jusmari Oliveira que subscrevam requerimento nesse sentido, e nós o submeteremos aos colegas Parlamentares na próxima reunião. Mas, não tenham dúvida, já tem o nosso beneplácito, o nosso apoio.

Estamos chegando ao encerramento da reunião, então vamos franquear a palavra ao Deputado Carlotto e, depois, ao Deputado Jair Krischke, quer dizer, Dr. Jair Krischke. Seria Deputado se quisesse, porque se seu nome fosse submetido ao povo gaúcho, ele já o teria feito Deputado nos primeiros dias após a ditadu-ra, se antes não pudesse.

O SR. REMO CARLOTTO – (Exposição em es-panhol.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Muito obrigado, Deputado Remo Carlotto, Presi-dente da Comissão de Direitos Humanos e Garantias do Congresso argentino.

Para encerrar, concedo a palavra ao Dr. Jair Kris-chke, fundador e conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Cone Sul.

O SR. JAIR KRISCHKE – Deputado Pompeo de Mattos, demais Deputados, vou ser bem rápido e sucinto.

Tomando como base as observações do Depu-tado Carlotto, nós copiamos muitas coisas do Primeiro Mundo – o MERCOSUL é uma cópia da Comunidade Européia –, mas sempre copiamos mal. Os cidadãos da Comunidade Européia circulam pelos países-mem-bros, e questões como previdência social, atenção à saúde e outras estão resolvidas. Aqui nós copiamos só as questões econômicas e nos esquecemos de fazer a integração cidadã.

Tramita nesta Casa projeto de lei, enviado pelo Presidente Collor, do novo Estatuto dos Estrangeiros. O Estatuto em vigência é um dos lixos autoritários da ditadura e não serve para o MERCOSUL. Ele é muito restritivo.

Eu vou contar a V.Exa., Deputado Carlotto, a origem desta lei, porque talvez V.Exa. não a conheça. O General Figueiredo, ex-Presidente da República Federativa do Brasil, foi visitar o General Videla, na Argentina. E esse, num gesto de obséquio, sabendo que o General Figueiredo gostava muito de cavalos, apresentou a ele 3 cavalos e disse: “Escolha o que mais lhe agrade e leve como presente da Argentina”. O general ficou indeciso. Os 3 eram exemplares fabu-losos. Então ele disse a Videla: “Não sei, general, eu fico confuso, os 3 são tão bons!” Respondeu o General Videla: “Leve os 3 então”.

Quando o General Videla veio visitar o Brasil – um dia que eu nunca esquecerei, porque era o dia que haviam prometido prender-me, para que eu não circulasse por aqui enquanto durasse a visita de Vi-dela –, o General Figueiredo estava preocupado em como iria retribuir. E retribuiu com essa lei. O Estatuto do Estrangeiro foi a forma de retribuição, porque ela é duríssima. Ela não beneficia ninguém. E o Collor queria fazer uma nova lei, abrindo espaço para aquilo que o MERCOSUL, econômico, trazia como exigência. Por exemplo: os trabalhadores poderiam vir para o Brasil, desde que houvesse contrato de trabalho por, no má-ximo, 2 anos, renovável por outros 2. Depois, teriam de ir embora. Os investidores já receberiam visto de permanência. É isso que está no projeto de lei que está em tramitação nesta Casa, ou seja, só quer re-gular uma parte. Mas nós temos também que avançar nesta área. Isso é fundamental.

Respondo agora a algumas observações dos Depu-tados, por exemplo, quanto à tortura. Um Filme fantás-tico do Costa-Gavras, Estado de Sítio, narra o episódio do Dan Mitrione, no Uruguai, e tem algumas imagens muito interessantes. Numa delas, aterrissa um avião da VARIG no Aeroporto de Carrasco, em Montevidéu, e desse avião – está lá: VARIG – são retiradas caixas com equipamentos de tortura. Em outra cena, aparece Dan Mitrione dando uma aula de tortura e, na parede, ao fundo, 2 bandeiras, uma do Brasil e outra do Uruguai. Sempre digo que não foi por acaso que Costa-Gavras colocou no seu filme essas imagens.

Nós, brasileiros, também exportamos a tortura para os países da região, fruto da doutrina de segu-rança nacional. E exportamos um método de tortura brasileiro que até hoje é muito usado no Brasil: o pau-de-arara. O pau-de-arara é um produto brasileiro de tortura exportado; no mundo hispânico chama-se pe-riquera. Então, temos muito a ver com a tortura. Como no Brasil a tortura é muito comum, as pessoas vão achando que está tudo bem. Mas sempre digo que o que é comum não é normal. É muito comum vermos no nosso País – nas metrópoles, nas médias cidades,

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04070 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

nas pequenas cidades – crianças de rua. Isso é muito comum, mas não é normal. As crianças não devem es-tar na rua, devem estar na escola, alimentadas. Mas, como é muito comum, isso vai se tornando algo a que não se dá muita importância.

Continuando a responder as questões apresen-tadas pelos Deputados, a impunidade no nosso País é muito comum, mas não é normal. E porque a impunida-de vem transitando no nosso País livremente, afirmei que os militares brasileiros continuam os mesmos. O Deputado Pedro Wilson referiu-se ao fato de que, em agosto do ano passado, o Governo brasileiro, através da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, publicou um livro sobre a memória da ditadura. E no meio mili-tar: “Mas como?” Vejam que interessante. Talvez 90% ou mais do conteúdo desse livro já havia sido publica-do pelo Deputado Nilmário Miranda, numa publicação privada, e ninguém ficou bravo. Mas quando o Estado brasileiro publica: “Ah, não pode!” Como não pode? Acho que a Constituição continua a mesma e diz que o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas é o Presidente da República. E nesses momentos gostaria muito que o Presidente da República, mesmo sem far-da, desse uma voz de comando: “O senhor está preso, general.” Está fazendo falta no Brasil o comando efetivo das Forças Armadas por parte do Presidente da Repú-blica, porque as forças armadas de um país civilizado, segundo as suas Constituições, estão submetidas ao poder civil, e não o inverso. Então, acho que chegou o momento de darmos atenção a isso.

Quando há queixa sobre a ação da imprensa, quando lamentamos algumas atitudes da imprensa, quero chamar atenção para a necessidade de separar-mos uma coisa de outra. Uma coisa são as empresas de comunicação social, outra são os jornalistas. Os jornalistas brasileiros, em número bastante significativo – e temos aqui Nilson Mariano, Luiz Cláudio Cunha e certamente haverá outro por aí que não estou locali-zando –, têm trajetória irreparável como profissionais da informação e são companheiros fundamentais na luta pelos direitos humanos. Sem essa parceria com o jornalista, olha, eu não digo que seria impossível, mas seria muito difícil a luta pelos direitos humanos. Então, quero sublinhar que os jornalistas deste País têm cumprido tarefa muitíssimo importante.

O depoimento da Deputada é muito interessante, porque, quando falamos em números de desapareci-dos, surgem números que sempre digo que não são verdadeiros, mesmo sendo expressivos. Trinta mil de-saparecidos na Argentina é um número que, relaciona-do à população argentina, é um escândalo, mas será que são só 30 mil? Acho que não. E o depoimento da Deputada confere com essa minha desconfiança de

que não é verdade, porque muitíssimos casos nunca foram denunciados, porque as pessoas ainda hoje temem, porque as chocou tanto que não revelam. En-tão, os números são os possíveis; serão muitíssimos maiores, tenham certeza.

Quanto à referência ao seqüestro dos uruguaios em Porto Alegre, quero dizer aos senhores o seguinte: foi, sim, o primeiro caso da Operação Condor denun-ciado, tornado público, graças a jornalistas. Circulou fortemente na imprensa e se logrou a primeira conde-nação no Cone Sul da América Latina. A primeira con-denação se deu na Justiça de Porto Alegre. Trouxe aqui a sentença. Está aqui, junto com os documentos. Na ocasião, exultamos com a sentença. A sentença foi de 6 meses de detenção. Crime cometido: abuso de auto-ridade. Nós exultamos. Foi a primeira condenação.

Outro dia, conversando com o jornalista Luiz Cláudio Cunha, comentava com ele o seguinte: “Bem, quem foi condenado? Policiais de baixíssimo nível”. Lembro-me, Luiz Cláudio, de que um dos últimos atos do Governador Amaral de Souza foi promover o Didi Pedalada de Inspetor de Segunda Classe para Inspetor de Terceira Classe, promoção por merecimento. Vários jornalistas me procuraram para saber qual era a minha opinião. “Pô, o cara foi condenado lá pelo seqüestro dos uruguaios e está sendo promovido por merecimento”. E na época eu respondi: “Sim, claro que sim. Ele merece”. Porque quem restou condenado foi só o Didi Pedalada, só um. Então, ele tem merecimento. Ele, sozinho, se-qüestrou um jovem, uma mulher, seus 2 filhos menores e dirigiu 3 automóveis de Porto Alegre ao Uruguai. Se ele não tem merecimento, quem vai ter?

Sempre me perguntei – e disse isso ao Luiz Cláudio Cunha – o seguinte: esses policiais de me-nor status no aparelho repressivo teriam autorizado militares uruguaios a ingressar em território brasileiro para realizar a operação? É claro que não! Pessoas com muitas estrelas no ombro até hoje não indicadas autorizaram, é claro. Mas este é o País da impunida-de. Então, os menores, os menos importantes paga-ram a conta.

Deputado Pompeo de Mattos, eu lhe passo às mãos todos os documentos aos quais me referi du-rante a minha intervenção, para que esta Comissão faça bom uso.

Muitíssimo obrigado a todos pela atenção. (Pal-mas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Quero chamar aqui o João Vicente e o Dr. Chris-topher para fazer a entrega da carta a que fizeram menção. (Pausa.)

Senhoras e senhores, agradeço a cada um da-queles que fizeram suas manifestações a presença.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04071

Está encerrada a reunião. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Declaro abertos os trabalhos da presente audi-ência pública que tem como finalidade ouvir o Médi-co Legista e Professor Universitário Daniel Ponte e o Delegado de Polícia Civil Dr. Alexandre Neto, ambos do Estado do Rio de Janeiro, sobre as denúncias de corrupção nos serviços de medicina legal e em outros órgãos da área de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro.

Dando início aos trabalhos, convido para compor a Mesa desta nossa audiência pública os expositores. Primeiramente, o Dr. Daniel Ponte, Médico Legista do Estado do Rio de Janeiro; em seguida, o Dr. Antônio Teixeira Alexandre Neto, Delegado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.

Quero, ainda, esclarecer que o tempo a ser con-cedido a cada um dos expositores é de 15 minutos – obviamente, haverá um beneplácito da Comissão para que possamos, se houver necessidade, ampliar esse tempo.

Após as exposições será concedida a palavra aos Deputados presentes, respeitada a ordem de inscrição. Cada Deputado inscrito terá o prazo de 3 minutos para formular suas considerações ou pedidos de esclare-cimento, dispondo os expositores do mesmo tempo para as respostas.

Esclareço, ainda, que esta reunião está sendo gravada para posterior transcrição, por isso solicito que falem ao microfone.

Dando continuidade aos trabalhos, quero, ime-diatamente, conceder a palavra, ao Dr. Daniel Ponte, Médico Legista, a quem eu quero, desde logo, agra-decer a generosidade e a disponibilidade deste tempo para comparecer à Comissão e prestar esclarecimentos sobre os fatos graves ocorridos na área de segurança pública do Rio de Janeiro, uma série de irregularidades apontadas pelo convidado, as quais suscitaram repre-sálias muito fortes e que repercutiram nesta Comissão de Direitos Humanos

Queremos, portanto, esclarecer as questões sus-citadas e ampliar o debate sobre o tema, para que pos-samos encontrar uma saída, uma solução, até porque ameaças pesam sobre a pessoa de S.Sa. e também sobre a pessoa do Dr. Antônio Teixeira Alexandre Neto, Delegado da Polícia Civil daquele Estado.

A Comissão de Direitos Humanos se vê na res-ponsabilidade, no direito, no dever, na obrigação de intervir tanto quanto possível.

Por conta disso, V.Sa. está com a palavra.O SR. DANIEL PONTE – Boa tarde, Exmos. De-

putados, Exmo. Sr. Presidente. Primeiramente, farei um resumo da minha atuação na área. Entrei para a Polícia

Civil em 2002 e cheguei ao cargo de Vice-Diretor do Instituto Médico Legal, porém, não consegui atuar de forma real. Era um cargo apenas fictício. Tentei largar o cargo por várias vezes, mas fui impedido, sob ameaças do que chamam de “punição geográfica”. Na Polícia Civil, quando fazemos algo que desagrada, mandam-nos para algum local bem distante.

Quem exercia, na verdade, o cargo de Vice-Diretor é o atual Perito Legista e também Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Carlos Leal Prestes Júnior, que continua com os dois cargos, mesmo sendo essa acumulação irregular.

Durante o período em que estive à frente da Vi-ce-Diretoria levei várias irregularidades ao Diretor de Polícia Técnico-Científica, Dr. Walter Barros, e também ao seu assessor, Dr. Henrique Viana. Nenhuma provi-dência foi tomada. O que aparentava era que ambos não tinham poder, apenas figuravam na direção da-quele Departamento.

Posteriormente, em final de 2006, quando houve a troca de Governo, fui coagido a aceitar a direção da-quele Instituto, o que logicamente me causou enorme desespero, pois nunca compactuei com roubo, nunca levei um centavo além do meu salário e eu não pode-ria ficar num cargo com poder de mando e sem poder fazer nada, que era o que eles na verdade queriam. O que eu fiz? Procurei o Delegado aposentado Carlos Alberto de Oliveira, mais uma vez o Delegado Henrique Viana e mais uma vez o Delegado Walter Barros, que orientaram que eu ficasse afastado do Instituto no mês de dezembro para evitar retaliações do Perito Legista Roger Vinicius Ancillotti e do seu Chefe de Gabinete, Aristóteles Marcos Batista.

Nesse ínterim, um auxiliar de necropsia de nome Alexandre Várzea alertou que a minha morte tinha sido tramada. Como eu tinha recusado participar do roubo, eu seria morto. E isso está gravado. Não sei se poderia colocar... Esse aviso do Alexandre Várzea foi devida-mente gravado e devidamente entregue ao Ministério Público, inclusive em mãos do Exmo. Promotor Homero Neves. Para minha surpresa, tudo que eu passava para esse promotor ele passava para o Chefe de Polícia. E não tomava as medidas cabíveis.

O que ocorreu, até acelerando um pouco os fatos? Esse rapaz que avisou da minha morte chegou em se-tembro sem ser ouvido. Isso eu entreguei em janeiro, lembrando que o prazo de conclusão do inquérito são 30 dias. Ele, em setembro, foi morto em um acidente. Então, a principal testemunha foi morta sem ser ouvi-da. Só que eu gravei. Gravei esse primeiro aviso e o segundo aviso dele também, da reunião em que ele se encontrou com esse Aristóteles, avisando que não me matasse porque senão ele, Alexandre, iria tomar

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04072 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

outras providências. Aristóteles responde que, quan-do ele fosse ver, eu já estaria frio e em cima da mesa. Isso tudo está gravado e foi entregue para o Promotor de Justiça Dr. Homero das Neves. Também foi entre-gue para a Polícia Federal, também foi entregue para a Corregedoria de Polícia, também foi entregue para o Dr. Beltrame. Nenhuma providência foi tomada.

Coincidência, uma semana após a morte de Ale-xandre, exatamente uma semana, o nobre delegado que se encontra ao meu lado foi alvejado com 9 tiros de fuzil calibre 762. Uma semana de diferença. Inclu-sive, num parecer, o Ministério Público Federal salien-ta bem esse nexo temporal entre a morte de um e o caso do outro.

Infelizmente, eu posso dizer: a Polícia Civil do Rio é uma organização criminosa. Não há outro nome. Ela arrecada dinheiro de tudo que é local onde haja ilicitudes. Poderiam ser levantados patrimônios dos delegados, dos chamados Chefes GSI. No Orkut há comunidade da Polícia Civil do Rio. Nessa comunida-de, eu tenho gravado em vários CDs à disposição de V.Exas., vários policiais civis explicam como é feita a arrecadação de dinheiro das delegacias.

E não precisamos ir muito longe. Esta aqui é a revista policial do Rio de Janeiro. Quem financia a Re-vista 4x4 é uma casa de prostituição na Avenida Bue-nos Aires, 44, casa de prostituição de luxo. Tem mais casas aqui. Clube Cancun. Não sei se V.Exas. conse-guem ver, tem até imagem de uma mulher nua aqui em cima. Rua do Carmo, 64, Centro, Rio de Janeiro. Outra casa de prostituição de luxo. Isso na revista po-licial do Rio de Janeiro. Acho que por aí se imagina o nível da criminalidade institucional. Uma promotora, Dra. Dora Beatriz, com certeza desconhece o art. 229 do CP, que trata da exploração de prostituição, casa de prostituição.

Nessa revista ainda tem uma casa de prostitui-ção que fica bem em frente ao prédio do Ministério Público, na Travessa do Ouvidor, 33. Há outros mais explícitos: 2 mulheres seminuas com anúncios tam-bém nesta revista.

Então, eu pergunto, uma revista da polícia, que tem o dever garantidor, como pode fazer a apologia da exploração da prostituição? E o IML não era diferente. Conforme eu tenho as gravações do Alexandre Várzea, de outro perito e de outros, era o local de arrecadação de dinheiro. Segundo o Delegado Luís, da Corregedoria de Polícia... V.Exas. vejam o tamanho do absurdo. Eu, ao depor na Corregedoria de Polícia, um delegado de nome Luís tentou me pressionar para ver se eu sabia como era feita a divisão de dinheiro dentro do IML. Todo o mundo sabia que as famílias tinham de dar 250 reais para liberar o corpo. Eu, por exemplo, não sabia para

onde ia esse dinheiro. Esse delegado da Corregedo-ria tentou me pressionar. Vendo que realmente eu não sabia, ele me explicou: 20 reais ficavam em cada local que o cadáver passava, 20 reais na papiloscopia, 20 reais no óbito, e o resto subia para a Chefia de Polícia. Ou seja, a corrupção vem de cima.

Salientando que ele fazia referência ao ex-Chefe de Polícia Álvaro Lins. Só que no atual Governo a cor-rupção lá embaixo não parou. Até quando estive lá, tudo continuou a mesma coisa. Então, é o mercado do crime. Infelizmente, a polícia serve para arrecadar dinheiro de forma ilícita.

Quero apresentar alguns áudios e vídeos.Voltando ao IML propriamente dito, estávamos

trabalhando em meio a milhares de moscas. Está fil-mado. É inacreditável a cena. O que fizeram? Pegaram o IML e interditaram a parte boa dele, a clínica mé-dica. De fato. De direito, interditaram o IML todo, mas de fato interditaram só a parte boa e visível, tanto que o necrotério funciona até hoje no IML interditado. Isso tudo para quê? Para pegar dinheiro da SENASP e de outros locais e fazer obras sem licitar.

Curiosamente, parece que o inquérito foi envia-do para a Polícia Federal do Rio em junho ou julho, segundo advogada do Sindicato dos Médicos. Esse inquérito sumiu. Já é o segundo que some dentro da Polícia Federal do Rio de Janeiro.

Então, o crime tem tentáculos em todos os cantos. Não há como pensar diferente. A situação do Rio de Janeiro em matéria de criminalidade é a pior possível. E o pior: a criminalidade institucional.

Por último, há cerca de 1 mês, mais uma pessoa do IML foi morta, a tiros, lá na Tijuca. (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Esclareço a quem quiser inscrever-se para fa-lar que a lista está disponível aos Srs. Deputados. (Pausa.)

O SR. DANIEL PONTE – Enquanto tentam sanar os problemas técnicos, passo mais alguns detalhes do caso. Em julho, houve uma audiência pública con-vocada pelo Deputado do PDT Paulo Ramos, na qual estiveram presentes o Delegado Beltrame, o Chefe de Polícia Civil. Ao final dessa audiência, o Chefe de Polícia Civil, Dr. Gilberto, disse as seguintes palavras para mim – abre aspas: “Você é um péssimo servidor, desonra a instituição, e eu vou arrumar um jeito de lhe punir, por você estar passando informações para a Po-lícia Federal”. Ou seja, roubar pode, o que não pode é denunciar. E realmente eu estou com inquérito ad-ministrativo disciplinar, um APAD, praticamente sendo demitido da Polícia Civil, a bem do serviço público, não por roubar, mas simplesmente por falar a verdade e denunciar o crime institucional.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04073

O Dr. Gilberto Ribeiro, Chefe de Polícia, tem tanta certeza de impunidade e ignora de tal forma as cláusulas pétreas constitucionais, que juntou a ficha criminal de uma pessoa chamada Daniel Kates Eins-tein Pontes, sendo que meu nome é Daniel Ponte, no singular, e mais nada, e imputou o fato criminoso à minha pessoa. Fez isso até dentro de um mandado de segurança federal. A advogada do Sindicato dos Médi-cos peticionou, pedindo a falsidade ideológica, por ele ter inserido informação falsa dentro de um documento verdadeiro. O Juiz, Dr. Lafredo Lisboa, sequer se ma-nifestou. Aí é o que eu digo: a certeza de impunidade é muito grande. Não sei se é devido o fato de ele ser filho e genro de procurador do MP do Rio, se é devido ao fato de ele ser Chefe de Polícia. Eu sei que todas as ilegalidades que ele faz ficam impunes.

Então, voltamos a época pior do que a ditadura. Na ditadura, se matava. Duas testemunhas já morre-ram, tem 1 testemunha viva aqui, com 9 tiros de fuzil, perdeu 1 dedo e era para estar morta também. Então, não tem diferença da chamada ditadura militar. Sim-plesmente hoje nós temos a ditadura da cleptocracia. É a ditadura do roubo, da propina. Infelizmente, essa é a realidade do Rio de Janeiro. É mais do que lasti-mável, mas é a infeliz realidade.

Voltando a essas pérolas da Polícia carioca nessa revistinha maravilhosa, francamente patrocinada pelo crime, nós temos Paris Café Boate. Reparem bem, Pa-ris Café Boate, Avenida das Américas, 15.150, outra conhecida casa de prostituição de luxo no Rio de Ja-neiro. Tem o distintivo da 17ª DP. Ou seja, é uma casa de prostituição com o brasão da polícia. Onde chega-mos? Passamos do fundo do poço. Agora já estamos no magma. É o cúmulo da certeza da impunidade e do roubo. Na capa, Secretário de Segurança. Dentro da revista, o nosso Exmo. Governador, a Promotora Dora Beatriz, sempre presente nesta revista, figura sempre presente.

O famoso Dr. Gilberto Ribeiro, que tanto me odeia, essa pessoa que junta informações criminais falsas contra mim, ele usou o sistema da Polícia para pegar alguém com nome semelhante ao meu e simplesmen-te jogar as informações dessa outra pessoa dentro da minha ficha criminal. E está impune. É esse senhor que vocês estão vendo, que aparece na revista da Polícia com anúncios de casas de prostituição, com distintivo.

Há também, neste mesmo exemplar, o novo Supe-rintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, que, diga-se de passagem, foi quem tirou minha escolta. Tive escolta da Polícia Federal por cerca de 10 a 15 dias, mas o Dr. Jacinto Caetano, Superintendente da Polícia Federal no Rio Janeiro, nessa revistinha, finan-

ciada pelo crime... Será que ele desconhece que junto com a prostituição vem a sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro, a sonegação de contribuição previdenci-ária, crimes que puxam competência federal? Será que o mínimo que ele deveria fazer não seria fechar essas casas? Ou seja, estamos entregues ao crime. Não tenho dúvidas.

No mais, as ameaças de morte continuam. Pro-teção policial, nenhuma, absolutamente nenhuma. É essa a minha sobrevivência.

Para V.Exas. terem idéia, várias ONGs estão ten-tando me dar apoio – já até me ofereceram asilo fora do Brasil. Um aluno meu que trabalha na Corregedo-ria, sabendo que eu pretendia sair do Brasil, avisou-me, sem me ameaçar, mas tentando ser muito solícito: “Olha, se você sair do Brasil fazendo muito escândalo, sem levar sua mãe... Você sabe, ela é uma senhorinha, uma senhorinha idosa...” – isso palavra literais dele – “...ela pode ser morta facilmente num latrocínio, pode ser facilmente morta num roubo. Eu posso escondê-la onde você quiser.” Ele foi muito solícito. Só que ele trabalha lá na Corregedoria de Polícia. Não sei até que ponto vai a solicitude, ou se realmente era uma ameaça.

Na semana passada, eu estava dando aula quan-do um aluno chamado Cássio Holanda entrou na sala e me disse as seguintes palavras: “O Alfa Lima” – Alfa Lima, na linguagem policial, é AL: Álvaro Lins – “lhe mandou um abraço.” Eu nunca vi esse homem. Quer dizer, para não dizer que nunca vi o homem, eu o vi na minha formatura na Academia de Polícia, em 2002. Mas não troquei uma palavra com ele, então não tem por que ele me mandar um abraço.

Esse mesmo aluno que foi muito solícito em rela-ção à minha mãe, disse que era para eu tomar cuidado, porque realmente poderiam me pegar etc. e tal.

Agora um protesto que eu quero registrar perante a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos do Exe-cutivo, não do Legislativo. Numa reportagem da revista IstoÉ eu aparecia de colete e armado, então eles disse-ram que uma pessoa com perfil de defensor de direitos humanos não podia usar colete e arma. Isso estava causando problemas para eu ter proteção policial. Ve-jam o absurdo. Eu sou julgado não pelas minhas atitu-des, mas por usar um colete e uma arma que, diga-se de passagem, me dão pouquíssima proteção, porque, quando eles atacam, eles atacam com fuzil 762, e isso aí, infelizmente, o colete não segura.

Eu sofri essa discriminação pelo próprio pessoal do PT, que deveria ser o primeiro a me dar apoio, e simplesmente por eu andar armado, legalmente arma-do. Foi um verdadeiro absurdo. Levei o caso imediata-mente ao Adroaldo, assessor do Deputado Pompeo. Eu realmente me senti muito aviltado com isso. Além

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04074 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

de médico, sou também formado em Direito. Leciono direitos humanos, ensino aos meus alunos o art. 5º da Constituição. Bato muito nessa tecla. E tenho que ouvir a desculpa de que, como eu uso colete e arma, posso não me encaixar no perfil de defensor. É lastimável.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-te, são 15h23min. É importante que os Parlamentares não percam a oportunidade do debate. Às 16h começa a Ordem do Dia. Há um problema técnico, que acho que não vão resolver logo. Seria importante que nós, a partir da fala dos 2... É claro que há problemas, porque eles já deveriam ter toda essa informação. Mas daqui a pouco começa a Ordem do Dia, e não teremos tempo para fazer os nossos questionamentos.

O SR. DANIEL PONTE – Peço a atenção de V.Exas. Esta gravação que eu vou reproduzir é do auxiliar de necrópsia Alexandre Várzea, o primeiro a alertar para o plano para a minha morte.

(Reprodução de áudio.)O SR. DANIEL PONTE – Nesse áudio, que in-

felizmente não foi possível transmitir, quem fala é o Alexandre Várzea, já morto, avisando sobre o plano da minha morte, perpetrado pelo perito Roger Vinícius, pelo inspetor de Polícia Aristóteles Marques Batista, pelo inspetor Ricardo, pela inspetora Meire, pelo técnico policial de necrópsia José Carlos Paim e outros.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Enquanto o Deputado Pompeo de Mattos conversa com o Delegado Antônio Teixeira Alexandre, consulto o Plenário se gostaria de fazer logo algumas observações ou algumas perguntas.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Pois é. Mas podemos dialogar logo com o Dr. Daniel?

Deputado Luiz Couto, o que V.Exa. acha?O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Acho que,

para não atrapalhar, o Dr. Alexandre e o Presidente devem conversar num outro lugar, porque não dá para servir a 2 senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – O.k. Então vamos...

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS – Sr. Presidente, permita-me.

O que está acontecendo? Daqui a pouco o pes-soal que está aqui não compreenderá o que está acon-tecendo. Quero relatar o que está havendo de viva voz, de forma bem clara e transparente, na Comissão de Direitos Humanos. Ocorre que o Delegado Alexandre Neto foi convidado, a partir de requerimento formula-do... Acho que fui eu que apresentei o requerimento. Quem mais?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Na realidade, minha solicitação foi formulada no dia 11 de abril de 2008. Eu fui convidado para comparecer a esta Comissão, até porque me interessava, em função do risco de vida que corro no Rio de Janeiro. Então, embora esteja de licença médica, em razão dos 9 tiros de fuzil que levei na porta da minha casa, resolvi com-parecer para denunciar como isso aconteceu e como isso tudo vem acontecendo no Rio de Janeiro.

Paralelamente, por uma desafeta pessoal, uma das pessoas que estou denunciando perante esta Comissão de Direitos Humanos, a Deputada Federal Marina Maggessi...

Eles me convidaram para ir à Comissão Parlamen-tar de Inquérito que trata das escutas telefônicas ilegais no dia 16, ou seja, 6 dias depois dos senhores. Está aqui, dia 18 de abril. O primeiro convite foi da Comissão de Direitos Humanos. Então, resolvi atendê-lo e fiz esse sacrifício, porque diz respeito à minha sobrevivência. Já sofri um atentado, que ocorreu, coincidentemente, depois de a Inspetora Marina Maggessi, hoje Deputada Federal, ter vaticinado isso na imprensa.

Trago o áudio da Rádio CBN, onde ela, depois de Deputada, candidamente apregoa a minha morte. Inclusive, uma dessas frases que ela proferiu foi pre-miada pelo O Globo. Eles não se calaram. Melhores frases de 2007 mostram excessos do Brasil no mun-do. Ela diz candidamente que matar uma pessoa é crime, mas ter vontade não é. Esse foi o prêmio que ela ganhou. Está consagrada como Deputada Federal. Fora as reportagens que junto aqui para o Deputado Pompeo de Mattos ver. Uma delas é do JB Online: “Deputada Marina Maggessi diz que delegado não perde por esperar”.

Coincidentemente, depois disso tudo, levei 9 tiros de fuzil na minha casa. Não sei se foi algum eleitor dela ou alguém ligado a ela, mas o fato é que, coincidente-mente, levei 9 tiros de fuzil.

Quem é a Deputada Marina Maggessi? Marina Terra Maggessi de Souza. Ela já respondeu a processo por uso de drogas, em 14 de maio de 1992 – art. 16 da Lei nº 6.368/76. Isso está no ICA da Polícia Civil.

Então, na realidade, estou duelando contra uma pessoa bastante poderosa, que está na Câmara dos Deputados hoje e insiste em querer me ouvir, mesmo eu estando de licença médica.

Vim aqui para tratar da minha segurança pessoal. Espero – não só eu, como o Dr. Daniel Pontes – que saiamos daqui com alguma posição, porque a nossa situação está cada vez pior e já não temos mais a quem recorrer. Existem vídeos. O áudio está aí para ser visto. Foi instaurada uma sindicância perante a CGU e perante a Corregedoria de Polícia do Rio, que

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04075

não anda, porque ela é Deputada, tem imunidade. E as coisas continuam como antes. Vamos ver o que pode ser feito a partir de agora.

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS – Eu quero, Presidente..

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Pois não, Deputado Pompeo...

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS – ...na linha do que foi dito pelo delegado, relatar que, quan-do nós fizemos o convite tanto ao delegado quanto ao ilustre médico legista, exatamente com o intuito de a Comissão de Direitos Humanos tomar pé da situação e ver a amplitude, enfim, o que se tinha oferecido em termos de segurança, o que se podia avaliar, no que diz respeito à condição... na visão, na ótica dos direi-tos humanos.

Hoje pela manhã tomei conhecimento de que a CPI que trata dos grampos telefônicos tem interesse em ouvir o delegado. É um interesse legítimo, não há como negar. Há todos os procedimentos legais, formais. A Comissão sabe disso. Já participei de várias Comis-sões Parlamentares de Inquéritos, e como advogado criminalista também sei bem como isso funciona.

Algumas pessoas vieram me dizer que poderiam, aqui na Comissão, prender o delegado e levá-lo, de forma coercitiva, para depor na CPI. Eu disse que aqui na Comissão nós não iríamos aceitar isso. Dialoguei in-clusive com o Deputado Chico Alencar sobre o assunto. O que a Comissão decidir lá... A Comissão decide lá fora. Aqui na Comissão de Direitos Humanos nós não vamos aceitar, absolutamente, nenhuma interferência, como não vamos interferir lá na Comissão.

Só quero esclarecer isso, e essa é a preocupação que antecede o debate. Não queremos misturar o que acontece lá com o que acontece aqui. Aqui tratamos a questão sob a visão, a ótica dos direitos humanos. Discutimos as coisas mais elementares, como a dig-nidade da vida, a ameaça contra pessoas. São essas questões que queremos tratar aqui. Quanto a outras questões que a CPI do grampo telefônico quer tratar, isso deve ser feito lá. Desculpem-me a expressão, mas “cada macaco no seu galho”. Eles lá, nós aqui, numa e noutra missão. E vamos nos respeitar.

Só queria esclarecer isso. Essa é a angústia que está havendo aqui na Comissão. Não vamos aceitar uma interferência indevida, como jamais vamos inter-ferir indevidamente lá, ainda mais numa Comissão Parlamentar de Inquérito, pois sabemos a importân-cia que tem.

Só quero deixar isso claro, de forma pública, trans-parente, na Comissão de Direitos Humanos, que tenho a honra, o desafio, o compromisso, o dever e ao mesmo tempo o direito de presidir e também de preservar a

integridade física e a relação clara, límpida e cristalina daqueles que aqui comparecem para depor.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Sr. Presidente, V.Exa. me concede a palavra, por favor.

O SR PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Só um instante, por gentileza.

Primeiro, quero dizer que, na condição de Pre-sidente, neste momento, estou de pleno acordo com o Deputado Pompeo de Mattos, nosso Presidente de fato. Não sei se seria o caso... se já foi feito algum con-tato com o Presidente da Câmara, Deputado Arlindo Chinaglia. Não tem cabimento um procedimento dessa natureza vindo de uma outra Comissão.

Está aberta a palavra sobre este assunto também para os outros Deputados, mas penso que a Comis-são Parlamentar de Inquérito deve tomar as medidas que julgar cabíveis, se for o caso, até do ponto de vis-ta judicial, para ouvir o delegado, se tiver realmente justificativa para ouvi-lo, se tiver respaldo legal e regi-mental para isso. Mas não se pode, de maneira algu-ma, interromper uma reunião da Comissão de Direitos Humanos, que está ouvindo 2 autoridades que foram convidadas para falar aqui, e criar uma constrangimen-to dessa natureza não só ao delegado, mas também a todos nós da Comissão de Direitos Humanos.

Então, neste momento em que estou assumindo a Presidência, a nossa posição é totalmente contrária a qualquer intervenção de uma outra Comissão em nossos trabalhos.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – De-putada Marina Maggessi.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Pois não, Deputada.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ex-celência, não houve nenhuma intervenção nesta Co-missão. Em momento algum, ninguém interferiu aqui. Realmente o requerimento para o encaminhamento do Sr. Alexandre Neto da forma que ele escolheu ir lá já foi aprovado naquela CPI. E nós estamos aguardando, apesar de ele estar marcado para as 14h, no mesmo horário desta Comissão, o término desta audiência pública para que ele possa comparecer à CPI. Ele vai escolher a maneira que quer ir. É só isso.

Em nenhum momento algum membro da Comis-são Parlamentar de Inquérito quis criar, ou criou, alguma crise. O que houve foi que o Presidente da Associação dos Delegados de Polícia, que estava na CPI e viu o requerimento ser votado, resolveu tentar convencer o Dr. Alexandre Neto de que não era necessário esse tipo de conduta. Mas como ele, acintosamente, res-pondeu àquela Comissão que não iria, isso acabou sendo deliberado no plenário por todos os Deputados que fazem parte daquela Comissão. Só isso.

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04076 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Muito obrigada. O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Sr. Pre-

sidente.O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Qual o seu nome, Deputado? Desculpe-me.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Laerte Bessa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Pergunto ao Deputado Chico Alencar, que pediu a palavra anteriormente, se posso, primeiro, conceder a palavra ao Deputado Bessa.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Tudo bem. Depois quero falar como membro da Comissão para continuarmos com a nossa audiência pública, inclusive.

O SR. PRESIDENTE(Deputado Sebastião Bala Rocha) – Está bem. Obrigado.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Sr. Presi-dente, também pertenço à Comissão Parlamentar de Inquérito que trata dos grampos telefônicos. Foi ago-ra aprovado um requerimento de condução coercitiva do nosso colega Dr. Neto. Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não vamos interferir no trabalho aqui. Só que não custa nada, acho que não tem nenhum problema, o Dr. Neto ir à CPI, já que está em Brasília, e participar, colaborar com a nossa CPI. Ele foi convidado para ir à nossa CPI para colaborar com as nossas investigações. Então, não vejo nenhum empecilho para que ele não possa ir. Agora, não há nenhuma interferência nas interceptações ilegais por parte da Comissão de Direitos Humanos. O senhor pode ficar tranqüilo. Assim que terminar esta reunião vamos convidá-lo, a princípio, para que lá compare-ça. Mas se ele não comparecer, vamos ter que usar a forma requerida pela Deputada Marina Maggessi, ou seja, a condução coercitiva.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado, Deputado. Vou devolver a Presi-dência ao Deputado Pompeo de Mattos, com a suges-tão de que haja um diálogo, se for possível, entre o Presidente Pompeo de Mattos e o Presidente da Co-missão Parlamentar de Inquérito, para tentar chegar a um entendimento sobre este assunto, porque acredito que ficaria muito mal para a Comissão de Direitos Hu-manos ver um depoente, alguém que veio prestar um esclarecimento à Comissão, sair daqui conduzido de maneira coercitiva para uma outra Comissão. Essa é a minha posição pessoal. Prefiro que o Deputado Pompeo de Mattos encaminhe uma solução negociada com a Presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito e com a Presidência da Câmara dos Deputados.

Deputado Pompeo. Obrigado.

O Deputado Chico Alencar pediu a palavra. O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Com a palavra o Deputado Chico Alencar, do Rio de Janeiro, que, aliás, desculpa a expressão, vive todo esse drama lá, que se transferiu para cá.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Pois é. O tambor de ressonância do Brasil. Vamos simplificar para continuar nossa audiência pública extremamen-te importante.

O Dr. Daniel fez afirmações aqui da mais alta gra-vidade. Sabemos que existe corrupção na vida públi-ca brasileira, inclusive na política, quase como rotina, mas isso não significa que não devamos combatê-la. Isso faz parte também dos direitos humanos, que di-zem respeito à dignidade da pessoa, à honestidade e à moralidade pública.

Então, tenho até algumas questões – já estou inscrito – para o Dr. Daniel . Entendo que devemos ouvir o Delegado Alexandre. Eles vieram aqui nesta audiência pública como convidados. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito, instrumento importantíssi-mo, não pode ser banalizado nem desprestigiado por ninguém, nem pelo Executivo, nem pelo Judiciário, nem por nós mesmos e nem pela cidadania, ela tem, Delegado Alexandre, o poder de convocar. Então, pelo que fui informado aqui, a própria CPI aprovou a convo-cação do Delegado Alexandre para prestar depoimen-to, responder o que quiser e o que souber – e isso é importante para o próprio trabalho da Comissão dos Grampos Telefônicos –, e ela tem também esse ins-trumento, em caso de recusa do convidado, qualquer que seja ele, da condução coercitiva. Entendo que é perfeitamente plausível se resolver isso de maneira tranqüila. O depoimento rico e importante do Delega-do Alexandre aqui é indiscutível – quero encerrar para ouvirmos – e lá na CPI também. Tenho certeza que ele pode colaborar com isso sem ir sob vara. Isso é desnecessário. Agora é óbvio que não abrimos mão da autonomia da Comissão. Enquanto não acabar essa audiência pública nenhuma medida pode ser tomada. Aliás, a bem da verdade, a Deputado Marina me disse que tinha havida essa deliberação e que, é óbvio, iria esperar o término da Comissão. Mas a notícia corre e se cria essa tensão. Espero que todos que estão aqui assistam a audiência pública, prestigiando-a.

E também, Delegado Alexandre, só um detalhe. Claro que o ambiente parlamentar tem seus códigos, assim como a polícia também tem, todos respeitáveis, mas aqui não pode ser o espaço do duelo entre V.Sa. e a Inspetora e Deputada Marina. O senhor tem a li-berdade de falar o que quiser, mas esta Comissão vai fazer por onde, com o Presidente Pompeo, para que não haja um duelo aqui. Queremos saber a situação

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04077

de risco que vossa senhoria corre e como esta Comis-são, a exemplo do caso do Dr. Daniel, pode minimizar isso, tomar providências. A situação é realmente dra-mática e grave.

Então, vamos solucionar com o critério do bom senso e não da espetaculosidade, que acaba atrapa-lhando esta audiência pública.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Pois não.

Agradeço a colaboração sempre pronta e quali-ficada do Deputado Chico Alencar, que, como disse, vive esse drama.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Só para entender a dinâmica. Agora o Dr. Alexandre faz a sua exposição e, depois, os Parlamentares...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Os questionamentos. Depois os questionamen-tos.

O Dr. Daniel pediu uma breve manifestação. O SR. DANIEL PONTE – Acompanho o Dr. Ale-

xandre Neto desde que ele sofreu o atentado. (Pausa.) Inclusive, temos a foto ali dos 9 tiros de fuzil que ele levou. Aquela projeção é dele, fora a mão.

Então, o Dr. Alexandre se encontra num perío-do de estresse pós-traumático. Isso é um diagnóstico médico. Digo que o Dr. Alexandre não tem capacidade plena de autodefesa. E contra-indico. Se alguém dis-cordar, por favor, chame uma junta de psiquiatras para analisá-lo e analisar o caso. Estresse pós-traumático não é ser maluco.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Vamos aqui fazer o debate da Comissão de Di-reitos Humanos, que tem um outro propósito, um outro viés. Sei que tem muita angústia. Acompanhei pela im-prensa, acompanhei pela mídia aquilo que aconteceu no Rio de Janeiro. Não vivenciei pessoalmente. Mas à distância, pela experiência que tenho como advogado, pude medir o ambiente belicoso que existe no Rio de Janeiro no que tange a essa questão.

O propósito do convite feito aos Drs. Daniel Pon-te e Alexandre Neto é para tratar aqui questões de di-reitos humanos. Não tem outro propósito. Não é para se fazer aqui contraponto com a Deputada – muito pelo contrário – por quem temos um profundo respei-to. Afinal de contas, é a nossa colega e, como tal, te-mos essa identidade. Então, estamos tratando dessa questão: direitos humanos. Queremos separar uma coisa da outra.

Quanto à CPI, ela que resolva as questões. O que não quero é que seja travado um debate da CPI na Comissão de Direitos Humanos, porque não é o lo-cal apropriado, nem da parte dos colegas Deputados que integram a CPI, de forma honrosa e desafiadora,

uma missão nobre e honrada – e sei quão é porque participei de várias CPIs –, tampouco do Dr. Alexan-dre, que vai tratar das questões em relação à própria segurança e às graves ameaças, enfim, ao tiroteio do qual ele foi vítima. É isso que queremos.

Portanto, Dr. Alexandre Neto, V.Sa. está com a palavra.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Boa-tarde, Srs. Deputados, Sr. Presidente desta Co-missão de Direitos Humanos.

O que nos trouxe aqui foi exatamente o que nos aflige.

O Rio de Janeiro hoje é um grande campo de batalha, onde marginais e policiais travam diariamente lutas para sobreviver. O que me trouxe aqui foi exata-mente essa aflição, não só minha como do Dr. Daniel, em função de tudo pelo qual a gente passou.

Isso teve um início. Essa minha situação teve um início. Gostaria que o Dr. Daniel Ponte pudesse colo-car o vídeo, onde mostra como isso tudo começou, como vim a perder um dedo, depois de um atentado em que levei 9 tiros de fuzil na porta da minha casa, há menos de 2 metros de distância. Isso tudo tam-bém depois de haver uma forte incitação por parte de uma Deputada Federal. Mas isso está documentado. A gente vai ouvir primeiro a reportagem, o que acon-teceu em Copacabana, o que é altamente atentatório aos direitos humanos.

Como delegado de polícia, de plantão no dia, fui jantar – não fui com viatura, fui com o meu carro pessoal –, parei no estacionamento, fui abordado por policiais militares, curiosamente o comandante desse batalhão hoje está preso no batalhão de choque, foi preso na segunda fase da Operação Gladiador, Ope-ração Hurricane, e ligado ao Deputado Álvaro Lins, muito amigo dele. Acho que até foram colegas de turma, se não me falhe a memória. Mas são pessoas conhecidas. Mas a gente vai ver como isso começou e qual foi o desdobramento disso logo após, em razão das escutas telefônicas, onde uma Deputada foi sur-preendida falando com um dos marginais. Marginais eu não digo, mas foi usado por um grande marginal. E esse policial está preso hoje, até agora, em Bangu I, por conta dessa Operação Hurricane. Ele foi surpre-endido num diálogo com uma Deputada Federal, onde ela, então, apregoa que eu tenha que levar um monte de tiros nos cornos. Uma Deputada Federal eleita já, porque ela falou isso antes. Essa captação telefônica foi decodificada, foi transcrita e, assim que ela assumiu o mandato dela, ela, candidamente, declarou isso na Rádio CBN. E não só na Rádio CBN....

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Sr. Pre-sidente, acho que concordamos em tratar o assunto

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04078 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

de direitos humanos. Acho que poderíamos entrar diretamente no assunto e deixar a queixa do Alexan-dre Neto para depois na CPI. Vamos tratar de direitos humanos.

Acho que não é o momento, mesmo porque a Deputada Marina não quer responder, não quer con-trapor ele porque vai ficar um bate-boca aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Então, pe-dimos a V.Exa. que conduzisse a oitiva dele como...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Eu quero dizer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Olha, eu tenho o laudo na mão, eu já tenho o laudo na mão...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Só um minutinho, Dr. Alexandre...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Então, ela não está nem na Polícia Civil do Rio de Janeiro, está afastada, está licenciada e quer saber mais do que quem levou o tiro. É engraçado isso. Ela sabe tudo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Dr. Alexandre.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Ela ficou no SINPOL durante 2 anos, eu acho, não prendeu ninguém de dentro da polícia. A polícia federal teve que fazer isso. É engraçadíssimo isso. Quer dizer, eu tenho que rir muito. Mas, infelizmente, eu não faço em respeito aos senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Dr. Alexandre, Dr. Alexandre, por favor.

Quero deixar claro aqui, até para que não tumul-tuemos a audiência pública na Comissão de Direitos Humanos. Sei que tem demandas e angústias mui-to graves. Gostaria que os senhores se ativessem à questão de relatar...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não admito que a senhora me xingue aqui dentro da sua Casa. A Casa é sua, mas a senhora tem que me respeitar, por favor.

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES – Sr. Pre-sidente, por favor, para o bom andamento da nossa sessão, seria importante que o convidado se ativesse ao tema...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – É exatamente o que estou propondo...

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES – ... para não provocar reação de nenhum Parlamentar, porque o in-teresse da Comissão de Direitos Humanos é conhecer as denúncias, saber se elas têm procedência e se a

Comissão vai tomar alguma providência a respeito, por-que caso contrário não chegaremos a lugar algum.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Compreendo, Deputada Iriny. Essa é a angústia que tenho também. O que acontece? Temos aqui um fato de uma controvérsia muito grande que envolve respeitosamente o nome da Deputada Maggessi e com denúncias do Dr. Alexandre.

Mas o que quero é que o senhor relate as ques-tões sob o ponto de vista dos direitos humanos, da sua angústia, mas não para fazer um contraponto, uma acusação.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Excelência...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – É essa a diferenciação que quero que se esta-beleça. Para essa oportunidade vai ter outro foro, que não é a Comissão de Direitos Humanos. Se não, não vamos evoluir nesse debate, e o senhor não vai poder dar as declarações que tanto se fazem necessárias para a Comissão de Direitos Humanos e até mesmo por parte de V.Sa.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Será que tem algum material? Já até procurei, na época, o chefe de polícia. Existe algum material escrito que eu possa levar comigo?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Já está sendo feito, Deputado. O IML do Rio já está em plena conclusão em São Cristóvão, muito embora contra a comunidade lá. Inicialmente, eles não qui-seram.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Mas não está pronto. O material existente sobre o IML tem aí? Está escrito? Ah, está em CD.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Na verdade, só para esclarecer, Deputado. In-clusive, ele colocou em vídeo aqui para vermos as imagens muito chocantes do IML do Rio de Janeiro, que, obviamente, imagino, está franqueado a todos os colegas Parlamentares.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Diga-se de passagem, só para complementar, porque são coisas que se entrelaçam, a minha vida aqui, no-tadamente por causa disso, porque estou sob licença médica. Está aqui. Vim aqui mais para tratar dessa si-tuação de segurança pessoal, porque isso nos aflige, e isso diz respeito aos direitos humanos. Na medida em que este é um País, um Estado Democrático de Direito que garante a liberdade de expressão e a de-núncia contra aqueles maus servidores públicos, acho que isso está acima de qualquer outro tipo de CPI, sem querer desprestigiar, obviamente, Deputado, a parti-cipação dos senhores. Mas a administração pública é

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04079

impessoal. A impessoalidade deve reger os princípios norteadores da administração pública. E é isso que a gente está tentando evitar. Então, a gente não pode ver uma CPI sendo instrumentalizada para atingir um delegado que, efetivamente...

Mas vamos ao que interessa, para a gente ter uma idéia do que...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Só para esclarecer. Sr. Presidente, só para esclarecer ao Dr. Alexandre Neto. Sou delegado de polícia licenciado. Agora sou Deputado. O senhor pode ter certeza de que o senhor vai ser muito bem recebido lá, com dig-nidade, e o assunto que vamos tratar lá não se trata de rixa do Rio de Janeiro. Vamos tratar de assunto de interceptação telefônica. Não tem nada a ver. O senhor pode ficar tranqüilo, porque os colegas que estão lá estão receptivos. O senhor pode ficar tranqüilo que a casa é de respeito. Eu também estarei lá como dele-gado de polícia, já que sou um colega seu. Pode ter certeza que será bem tratado na Comissão. Espero que V.Sa. compareça para nos ajudar, para colaborar conosco.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – O senhor pode ter certeza que isso vai acontecer, Excelência.

Só quero deixar claro o que está acontecendo para o senhor entender. Já respondi ao requerimento que me foi mandado posteriormente ao convite dessa Comissão. Foi me enviado o convite no dia 11 – tenho aqui tudo documentado – e os senhores me mandaram outro convite no dia 18. Como havia essa preocupação de segurança pessoal – não é este o caso do Dr. Da-niel, mas é arriscado a acontecer comigo –, viemos a esta Casa, colocando em risco até mesmo a minha saúde, a minha situação pessoal, para tratar desse as-sunto. Mas tecnicamente tenho um documento público do Estado que comprova que estou de licença médica, sucessivamente prorrogada. Estou com uma cirurgia de mão marcada para a semana que vem; já com risco cirúrgico aqui. Vim em função da minha situação pes-soal que me aflige, porque eu levei 9 tiros de fuzil. O laudo já consta do inquérito, está tudo documentado. Não tenho que ficar contando história.

O Dr. Daniel Ponte acompanhou todo o caso. Nós não acreditamos inicialmente que fossem tiros de fuzil, mas foram tiros de fuzil. Isso desnuda uma face muito maior do atentado que eu sofri, porque se fossem tiros de pistola eu estaria satisfeito, mas não foram tiros de pistola, foram de fuzil. Os projéteis foram apreendidos e foi feita perícia com as balas que reti-raram do meu corpo e as que ficaram no carro. Foram 9 tiros de fuzil 762.

Quero que o senhor entenda o que sofreu um delegado de polícia de plantão na DAS no dia em que se desenrolava um seqüestro. Fui jantar com o meu carro, para não usar uma viatura oficial, porque geral-mente quando se usa uma viatura oficial, encontra-se um problema. Eu janto no Galeto, na Rua Prado Júnior, onde ao lado fica um inferninho. Eu vou a inferninho, eu sou solteiro, eu adoro.

Acho que as mulheres aqui presentes deveriam trabalhar muito para regularizar a vida das meninas que trabalham em inferninho, porque não é uma vida fácil. É uma vida muito dura. Eu, quando não tenho nada para fazer, visito inferninho. Eu adoro, converso, bate-papo e vou embora. Mas nesse dia, infelizmente, não pude porque eu fui obstado em função disso.

Gostaria que o senhor assistisse a esse vídeo que vai demonstrar o que está acontecendo, o que aconteceu e o que está por vir. Por favor.

Vou ficar de pé apenas para que vocês tenham uma noção do que está acontecendo.

(Exibição de vídeo.)Essa operação se desenrola no Rio de Janeiro

todas as noites e era, aliás, até hoje é chamada de Operação Copacabana Legal. É uma operação muito eficiente para coibir os abusos noturnos, pessoas que ficam à noite explorando estacionamento irregular e outras atividades de desordem urbana.

O que aconteceu? Nesse dia eu estava de plantão na DAS e eu iria coordenar essa operação juntamente com o Delegado Freitas, que era o delegado encarre-gado. Mas como choveu o SINPOL comunicou, às 22 horas, que não haveria mais Operação Copacabana Legal. Eu então desativei as duas equipes da DAS que estavam comigo e disse: vocês podem descan-sar que eu vou mandar uma interceptação para o fó-rum. Essa interceptação de uma escuta telefônica de um seqüestro em andamento foi para o fórum e eu fui jantar com o meu carro. Quando cheguei à Rua Prado Júnior, onde tem um restaurante chamado... Esqueci o nome do restaurante de galeto... É um galetinho que tem lá. Eu parei o carro na porta do galeto. Quando subi na calçada com as duas rodas, fui instado por um policial que disse que eu não poderia parar o carro ali. Desci imediatamente, parei o carro atrás das viaturas da PM que estavam estacionadas e perguntei: o que está acontecendo?

Esse é o meu carro. O policial militar que se cha-ma Barbosa, esse policial militar que me empurrou... Não tem voz, não tem áudio.

Eu paro o carro atrás deles e me identifico: O que está acontecendo?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Quem gravou, por gentileza, essas imagens?

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04080 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – A própria PM. O Serviço Reservado da PM estava trabalhando nesse dia. Então, eles tinham a mania de gravar esse vídeo. O senhor vai ver tudo o que aconte-ceu aí. É porque o senhor não está ouvindo o diálogo, mas foi tudo degravado, o processo está todo aqui, foi xerocopiado.

Eu me identifiquei para esse policial Barbosa, aquele de quepe branco, e disse: Sou Delegado de Polícia da DAS. O que está havendo? Ele falou assim: “Hoje é Operação Copacabana Legal”. Eu falei: Legal não, ela é ilegal porque a operação está suspensa. Vo-cês não eram para estar aqui, o que está acontecen-do?. “Não, nosso comandante mandou a gente ficar aqui hoje e estamos tomando conta aqui”.

O que acontece geralmente: eles ficam nas por-tas das boates porque se alguém pára ali, tem aquela pressãozinha. O cara pára, ele multa e dá aquela pres-são para o caro dizer: “Meu amigo, anda aí, toma um dinheirinho e vai embora.” Então, como eu questionei isso falei: Essa operação não era para estar aconte-cendo. Ele disse que está acontecendo e está acabado, vai acontecer. Eu falei: Essa operação tecnicamente não poderia, porque eu inclusive fui dispensado dessa operação. Eu estaria comandando essa operação hoje com o Dr. Freitas. E aí começou o bate-boca.

Esse Sargento Barbosa é a pessoa que me agre-diu inicialmente. Eu conversando com ele, ele insistiu na apresentação do meu documento, eu já tinha me identificado para ele. Recusei-me a fazê-lo e disse: Olha, você está levando a coisa para o lado pessoal, já me identifiquei para você. Sou Delegado de Polícia, estou trabalhando e não vou me identificar de novo para você. Ele veio e multou o carro. Eu falei que não ia me identificar e ele foi e me empurrou.

Esse é um policial civil que chega, da 12ª DP. Esses dois são policiais, tanto esse quanto esse, vi-ram a situação, trabalham na circunscrição e vieram ao meu auxílio para ver o que estava acontecendo. Aí eu explico, nisso estou algemado. Estou algemado e eles querendo me levar para a delegacia porque eu teria desacatado e agredido o policial militar. Isso está tudo documentado aqui e vou deixar com o Deputado Pompeo de Mattos para que ele verifique minudente-mente o que aconteceu.

Esse é o tenente que comandava a operação, Tenente Medeiros. Esse é o Sargento Barbosa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – A sua detenção foi por estacionamento irregular e desacato a autoridade?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Deixe eu explicar o que aconteceu. Não, a deten-ção... A gente vai se estender muito. O que aconteceu?

Quando chegamos à delegacia, vi que estava sendo filmado, porque eles filmaram todo esse evento. Então, eu peguei e falei: está sendo filmado, está ótimo, então estou tranqüilo. Está sendo filmado e gravado, está óti-mo. Quando eu cheguei à delegacia, a primeira coisa que eu fiz: apreender a máquina com a delegada que estava de plantão e separar o PM Barbosa, o Sargento, do Oficial Medeiros. O depoimento do Tenente Barbosa diz o seguinte: Ele me levou preso... Está aqui, pode-ria até ler para vocês. Ele me levou preso porque eu teria me negado a fornecer a identificação. Como eu me neguei a fornecer a identificação e a comparecer à delegacia, ele me prendeu.

O Tenente Medeiros, por seu turno, diz que me prendeu porque eu agredi o Sargento Barbosa. Quer dizer, são duas declarações totalmente díspares. Um diz uma coisa e outro diz outra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – De qualquer forma, o senhor mostrou os seus documentos.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu mostrei, claro. Eles vão ser mostrados de novo. O senhor vai ver que eles vão ser mostrados de novo. Aqui, ele pega a minha carteira, volta a mostrar o do-cumento – isso tem um laudo aqui – para o tenente. Eu já tinha mostrado, entendeu? Eu não mostrei de novo porque eu já tinha mostrado. É inacreditável, mas aconteceu no Rio de Janeiro, mas tem mais coisas ina-creditáveis. Isso é só o começo, o senhor vai ver que tem ainda mais coisas inacreditáveis.

Eu não deixo que ele pegue a minha carteira. Eu falo: não, eu já me identifiquei. Eu não me recusei a me identificar.

Quatro testemunhas para a delegacia, além de policiais que lá estavam também que viram, mas havia quatro policiais civis.

(Exibição de vídeo.) (Não identificado) – Deputado Gabeira, Depu-

tado Chico Alencar, eu sei de um episódio no Rio que a polícia prendeu um juiz federal e transitou no Rio procurando saber onde é que ia levá-lo, se iria levar para a delegacia ou se sumia com ele.

(Não identificado) – Enquanto isso a população está à mercê de tudo. A população que paga o salário de todos eles e o nosso também.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – O resultado disso tudo foi isso aqui. Mas o senhor vai ver depois o que aconteceu. Foi uma série de fatores que colaboraram para isso aqui, no final desses 8 tiros que eu levei na porta da minha casa.

Eu não chamei a Polícia Civil, porque se eu cha-mo a CORE ou a minha delegacia, ia ter uma troca de tiros no meio da rua, com certeza. Eu evitei isso ao

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04081

máximo. O pessoal disse chama a Polícia. Eu não vou fazer isso, porque daria um problema sério. Eu alge-mado com o pessoal da minha delegacia chegando, ia ser uma confusão no meio da rua sem limites. Então, eu evitei chamar a CORE ou a própria DAS que esta-va de prontidão. Eles estavam esperando lá. Eles não foram embora, e na delegacia tive que contornar esse problema, que foi um problema seriíssimo.

Esse aí apertava a minha algema proposital-mente para me machucar. Ele apertava e eu estava reclamando. Ele dizendo que eu o agredi. As primeiras imagens mostram que quem me empurrou foi ele. E ele dizendo que eu o agredi. O azar é que ele não sa-bia que estava gravado. Mas na delegacia, eu prestei meu depoimento e nós fomos ver a fita. A delegada, Karina, uma delegada nova, ou invés de prendê-los por denunciação caluniosa, não o fez. Apenas os elencou na lei de abuso de autoridade. Mas V.Exas. verão o que aconteceu depois.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Delegado, vai longe esse vídeo? Quanto tempo dura?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Seria bom que todos os senhores assistissem para ver a quantas...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Quanto tempo dura o vídeo?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Mais uns 5 minutos.

Isso foi no Governo Anthony Garotinho. Um Go-verno exemplar, que não era da Rosinha, quem go-vernava era o Garotinho. Foi no Governo da família Garotinho.

Mais tarde eu fiquei sabendo que o Comandante desse batalhão chama-se Celso Nogueira Lacerda, está preso na Hurricane. Quando houve esse problema, o tenente ligou para o comandante e disse que estava tendo um problema com o delegado. O comandante perguntou qual o nome do delegado e ele informou que era Alexandre Neto. O comandante ligou para o Álvaro Lins e disse: “Pode esculachar.” E aconteceu o que vocês estão vendo aí.

Quem me passou isso foi gente do batalhão. Al-guns policiais que me conheciam não intercederam, ficaram preocupados, porque sabiam que ia dar proble-ma. Alguns até se recusaram a depor na delegacia. Eu estou com uma ação cível contra o Estado, em trâmite acho que na 4ª Vara de Fazenda Pública.

Acho que acaba. Ele me coloca na marra den-tro do carro, eu sou levado dentro de uma viatura da PM para a delegacia onde conseguimos apreender a fita e periciá-la.

Pode acelerar, já está no final.

Isso aconteceu no dia... Foi bem antes do atenta-do. Isso aconteceu no dia 22 de fevereiro de 2006.

Ocorrido isso, delegacia de polícia, procedimento, todos foram ouvidos. Para eu conseguir fazer o laudo da fita foi uma guerra, porque o Dr. Álvaro Lins inter-cedia para que esse laudo não fosse feito. O chefe de polícia civil, ele intercedia para que o laudo não fosse feito. Mas como eu tinha um amigo dentro do ICE, já era final do mandato, ele fez o laudo, o laudo saiu, está aqui. Esse aqui é o segundo volume. O caso foi enca-minhado para o GECRIM, porque no dia a delegada, pressionada, filha de general, recém-concursada... Se fosse meu plantão, estavam todos presos por de-nunciação caluniosa, porque, se os senhores virem o que está na fita e o que eles dizem, é óbvio. E o que aconteceu? Isso seguiu, foi mandado para o GECRIM e o promotor que oficia no 4º GECRIM entendeu que o crime não era de menor potencial ofensivo. Ele en-tendeu que isso era um crime gravíssimo e que não poderia tramitar pelo GECRIM. Ele faz um parecer, que está aqui, e encaminha esse procedimento para a vara comum. Caiu na vara comum. A juíza abre vis-tas, os meus advogados entraram como assistente de acusação, o processo vai para o Ministério Público. No Ministério Público, a promotora que oficiava na vara criminal suscitou um conflito negativo de atribuição. Ou seja, não sou competente para julgar isso, é no GECRIM mesmo, porque seria um crime de abuso de autoridade, a despeito de tudo que vocês viram aí.

Isso foi para o Conselho Superior do Ministério Público onde foi decidido que é o GECRIM. Quando saiu essa decisão, os meus advogados entraram com um recurso perante o Colégio dos Procuradores. Nesse intervalo eu sofri o atentado. O atentado que eu sofri foi no dia 2 de setembro de 2007, agora, no ano passado. Eu levei 8 tiros de fuzil na porta da minha casa.

Com a eclosão desse fato novo, recorremos ao Conselho Superior do Ministério Público. Resumin-do, o recurso foi feito, e está aqui. O recurso passou 7 meses no Ministério Público e o crime de abuso de autoridade prescreveu. Ou seja, tudo que aconteceu até agora não deu em nada.

Nesse entremeio, surgiu um fato novo que pode ter açodado a iniciativa desses policiais militares. Quando eu sofri o atentado, o carro filmado na minha rua foi o do Sargento Barbosa. O carro dele passou, embora não tivesse placa, mas apreendeu-se o carro e verifi-cou-se que na janela de trás, por onde os tiros foram disparados, havia excessiva quantidade de pólvora, característica de arma de fogo.

Quando eu fui baleado, fui andando para o hospi-tal, eu pressenti a emboscada, eu me abaixei, os tiros resvalaram aqui, só levei esse tiro na mão, eu vi que

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04082 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

era um carro prata e eu falei para o policial: olha é um carro prata. O policial que havia feito o laudo coinciden-temente era o policial que estava na Homicídios e foi direto nos carros dos policiais envolvidos. No terceiro carro que ele pesquisa, o carro do Barbosa, um Polo prata, a gente foi apreender o carro e eles estão pre-sos. Por que até plantaram uma terceira testemunha. Uma viatura da PM que passa minutos antes plantou uma testemunha que mais tarde descobriu-se que es-tava falando mentira, porque ela falou que teria sido um Tempra, que um cara teria saltado do Tempra e me alvejado. Só que, quando ele depôs na DPJM, ele mostrou essa versão. Quando foi para a delegacia de polícia, nós tínhamos a fita da rua, e não passava ne-nhum Tempra branco. E aí então ele teve que falar a verdade. Ele falou: “Não, eu fui coagido pelos policiais.” Então, essa foi a situação que se colocou.

Agora, o que aconteceu? Antes disso, uma De-putada – não vou citar nome –, eu já brigando com o Álvaro Lins, até porque eu tenho mania de escrever em jornal, isso é um erro meu, dediquei vários artigos ao Álvaro, a essa Deputada, e até hoje não fui interpelado. Estou louco para ser interpelado, mas não fui.

Então, os artigos, Deputado Pompeo de Mattos, estão aqui. Agora, gostaria que... Daniel, bota a fita de mídia da Rádio CBN.

Eu digo isso porque diz respeito a direitos huma-nos. Quando você vê que um cidadão que é escula-chado, como eu fui, um delegado de polícia, no meio da rua, trabalhando, como os PMs fizeram comigo... Isso porque era na Zona Sul. Se fosse na Baixada, em Bangu, eu estaria dentro da mala de um carro e estaria morto, eu nunca mais iria aparecer. Como foi na Zona Sul, não deu para fazer isso, eles tiveram que me le-var para a delegacia, me autuar. Se fosse na Baixada Fluminense... Eu branco, delegado de polícia, na Zona Sul... Imaginem – sem qualquer tipo de discriminação – um pretinho, em Bangu, de fusca! Estaria na mala de uma viatura, tranqüilamente, mortinho da silva, e ninguém iria saber o que aconteceu. Aí, então, o que aconteceu? Com a eclosão da Operação Gladiador, Hurricane, flagrou-se...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Delegado, eu só queria alertar que temos aqui vários colegas Parlamentares, todos interessados em fazer seus questionamentos. Quem sabe o senhor en-cerra e nós vamos abrir espaço para eles fazerem os seus questionamentos. Assim poderemos avançar.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Excelência, isso é importante. Olha só, eu vou dizer por que é importante. Eu gostaria que o senhor ou-visse essa entrevista, é uma entrevista importante, porque diz respeito àqueles que deveriam zelar por

nossa segurança, àqueles que são eleitos para zelar por nós, para orar por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte, amém.

Então, esse áudio, para mim, é muito importante ser ouvido porque é um áudio que vai dizer a quantas anda a situação no Rio de Janeiro, e quem é eleito no Rio de Janeiro para defender a nossa sociedade. Isso é importante para mim. Isso aqui, esse tiro que eu le-vei e esse dedo que eu perdi, eu podia estar morto, eu tenho prazer de ver minha mão faltando um dedo, mas eu estou vivo, isso não foi à toa, houve uma con-juntura que levou a isso, alguém foi encorajado a: “Pô, vamos esculachar esse delegado, ninguém gosta dele; pô, vamos dar uma esculachada nele, já teve até uma pessoa que mandou dar um monte de tiro nos cornos dele. Então, vamos esculachar, não custa nada dar uns tirinhos de fuzil nele, ninguém vai correr atrás”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Por favor, o vídeo.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Então, Deputado, estou entregando para o senhor. Isso aí está parado, está no GECRIM, a denúncia não foi aceita, está prescrito. E vamos ver o que é que vai acontecer. Aí está tudo documentado.

Um fato que coadjuvou esse foi esse fato que aqui está...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Os policiais estão presos, não é? Os policiais militares estão presos?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não. Olha só: o Barbosa está preso e os 2 PMs que teriam plantado a testemunha também estão presos por terem coagido essa testemunha.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Mas o senhor está convicto de que foram eles que pratica-ram esse crime?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Olha, eu não tenho essa convicção, porque eu não acredito que 2 sargentos e um cabo tenham feito isso confiando na condição deles.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Mas o senhor não acompanhou essas investigações na Homicídios?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não, eu estou baleado, Deputada. Deputado, com todo o respeito, está faltando um dedinho aqui. Eu es-tou me recuperando de um trauma violento na porta da minha casa.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Eu sei, eu encontrei o senhor na festa de posse na sema-na passada. Eu encontrei o senhor na festa de posse do Dr. Reimão.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04083

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – É obrigação. É obrigação. É meu colega de turma. Nós estudamos um do lado do outro. Eu me sentava nessa mesa aqui e ele se sentava nessa.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Está, mas não vamos desvirtuar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Delegado, vamos abrir os questionamentos enquanto o vídeo não sai, vamos fazer os questiona-mentos até achar o vídeo. Por favor, o senhor pode se sentar aqui. Eu tenho inscritos para os questiona-mentos. O primeiro deles, a quem franqueio a palavra imediatamente, é o Deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Com a rapidez que o horário exige, porque nós já temos a Ordem do Dia aberta, queria perguntar ao Dr. Da-niel Ponte – se possível, sugiro anotar aí as questões para depois responder – e também ao Dr. Alexandre. Primeiro...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Quer ouvir o vídeo?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Não, sin-ceramente, se é notícia, eu conheço perfeitamente, não só da CBN como de vários jornais, as transcrições...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Sr. Pre-sidente, eu peço a V.Exa. que essa fita não envolva a Deputada, que não cite o nome dela. Se for citar, eu sou contra a publicação disso aí.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Ma-tos) – Esse não é o problema. O Deputado Chico Alen-car está com a palavra.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Isso. Vamos lá. Então, primeiro o Dr. Daniel. O senhor po-deria repetir o esquema de corrupção para liberação de corpos no Instituto Médico Legal, aquele valor que o senhor citou, como é feita a partilha e se o senhor pode afirmar se esse esquema prossegue? Esta é a primeira pergunta.

Segunda: a revista policial que o senhor mostrou aí várias vezes é uma publicação de que entidade? Aquela que tem anúncios de patrocinadores de casas de saliência e atividades que não têm o escopo legal? Quem a edita?

Terceira: o senhor disse que na Polícia Civil há uma corrupção vertical, que vem de cima, e não só no IML, na Polícia toda. Esse esquema prossegue?

Quarta: o senhor disse que o Superintendente da Polícia Federal, tão logo assumiu, tirou sua escol-ta em função dessas denúncias que o senhor fez. O senhor se recusou a aceitar uma proteção, entrando no programa PROVITA mais recentemente? Eu tenho essa informação.

É evidente que, pelo grau de denúncias que o senhor faz, os riscos são enormes, e esta Comissão tem extrema preocupação com esse aspecto. Mas o senhor teria recusado entrar em algum programa de proteção à testemunha?

A outra questão: o senhor disse que a Secreta-ria de Direitos Humanos da Presidência da República disse que o senhor – para clarear isso, eu não entendi bem – não mereceria ser considerado, inclusive nas suas denúncias, e nem ser protegido, porque em al-gum lugar apareceu o senhor com arma e colete? Mas como assim? Um comentário. Quem fez e que efeitos isso teve? O senhor disse que está praticamente de-mitido. O que é exatamente estar praticamente demi-tido? Estar demitido é uma coisa. Eu já o estive em várias situações da vida. E não estar é outra. Esses processos que o senhor sofre podem culminar em de-missão? É isso?

E o senhor disse que o Diretor do Departamento de Polícia Técnica e Científica é o mesmo do Governo Rosinha Garotinho. Ele estaria também nesse esque-ma de corrupção?

São essas as indagações.E agora para o Dr. Alexandre Neto, objetivamen-

te: o senhor foi ameaçado antes do atentado? É bom responderem os 2 juntos e eu vou encerrar minha participação. Depois do atentado, de setembro para cá, houve novas ameaças? Qual é a situação em que o senhor está? O senhor tem proteção? Qual é a si-tuação atual?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Com a palavra, para as suas respostas, o Dr. Daniel.

O SR. DANIEL PONTE – Excelência, eu gostaria que o senhor fizesse a pergunta número um.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Não anotou?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Por isso eu pedi para anotar, como um bom professor. Mas o senhor não é meu aluno, o senhor é professor também. Mas vamos lá, perdendo tempo de novo. Depois dizem que Deputado é que enrola. Vamos lá.

O senhor confirma o esquema... Parece que qualquer pessoa, para liberar um corpo do deplorável, abjeto Instituto Médico Legal... Não sei se em outros Estados é assim, eu já estive lá também, tomara que transfiram logo. Mas, se não me engano, o senhor dis-se que, para liberar os corpos, são 250 reais, isso é, por fora, sendo que 210 iriam para a cúpula da Polícia Civil. É isso?

O SR. DANIEL PONTE – Isso daí foi dito pelo Delegado Luís, da Corregedoria de Polícia, que expli-cou como era a divisão do dinheiro.

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04084 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – É o de-legado da Corregedoria. É o Corregedor atual?

O SR. DANIEL PONTE – Não, da Corregedoria atual. Não é a corregedora, é um delegado-corregedor. Ele riu, tentou me imprensar para ver se eu sabia como era feita a divisão. Aí ele riu e explicou: “É, vai. Dos 250 reais, 20 reais ficam em cada local que o cadáver passa, e o resto passa para a chefia”. Isso ele se refe-ria à época de Álvaro Lins. Isso na frente do advogado do SINDMED, Dr. Antônio Erlon. Tive testemunha do que ele disse.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Quando o senhor publicizou essa informação, ele negou?

O SR. DANIEL PONTE – Não. O que ele fez? Ele pegou e deu para o Dr. Leonardo Tumiati seguir com a sindicância. Saiu da sindicância. E um detalhe: ele garantiu que as minhas denúncias não dariam em nada.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Essa revista policial que o senhor exibiu aí é editada por quem? É uma revista de que entidade?

O SR. DANIEL PONTE – É uma revista de um grupo de policiais, PMs, policiais civis. Tem um rol ali de...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Mas não tem uma entidade que a edita?

O SR. DANIEL PONTE – Polícia em Ação, Ação Policial. Olhe ali o índice. Pegue ali a revista. (Pausa.) Quem edita... Diretor Responsável, Departamento Jurídico, Conselheiros... Tem coronel, coronel, dele-gado...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Mas ela é uma publicação – não tem na capa, não? – da associação tal?

O SR. DANIEL PONTE – Não, não diz nada. Polícia em Ação. Agora, não acredito que quem saia nessa revista não veja os anúncios, ainda mais com a casa de prostituição. A Deputada Marina, com todo o respeito que eu tenho à senhora... (Pausa.)

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – As pes-soas entrevistadas... Antes o senhor falou do Governa-dor, do Superintendente da Polícia Federal, do Chefe da Polícia Civil. Elas são entrevistas pela equipe da própria revista?

O SR. DANIEL PONTE – Exatamente.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Então,

o senhor poderia deixar na Comissão um exemplar, não é?

O SR. DANIEL PONTE – Eu deixo. Vou deixar um CD.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Sim.O SR. DANIEL PONTE – Eu não tenho muitos

exemplares.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Está certo.

O senhor falou da corrupção vertical na Polícia, que a cúpula é que estimula em cada delegacia... É exatamente isso?

O SR. DANIEL PONTE – Isso aí eu tenho uma gravação do falecido Alexandre Várzea, que foi morto num acidente muito suspeito, em que ele ainda cita lite-ralmente, falando do IML, que tinha o Álvaro Lins, que era o Ali Babá, e tinha os 40 ladrões e que o Roger, que era o Diretor do IML, fazia parte dos 40 ladrões. Isso eu tenho gravado. Eu tenho vários CDs aqui e posso deixar com vocês. Essa pessoa foi morta.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Isso tem gravado onde?

O SR. DANIEL PONTE – Em CD. Eu vou deixar com os senhores.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – E o se-nhor fez essa denúncia onde?

O SR. DANIEL PONTE – Polícia Federal, Polícia Civil, Corregedoria, Ministério Público Federal.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – E há uma investigação em curso?

O SR. DANIEL PONTE – Em tese, sim. O Minis-tério Público Federal deu o seu parecer, disse que as denúncias são graves, as provas são contundentes, que eu presto relevantes serviços à sociedade – tenho parecer do Ministério Público Federal – e delegou a competência ao Ministério Público Estadual. O Minis-tério Público Federal já apreciou todo o fato e disse que há fundamento.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Esse Alexandre Várzea morreu num acidente automobilís-tico?

O SR. DANIEL PONTE – Em ziguezague, de moto, na contramão.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Como assim? Ele estava de moto?

O SR. DANIEL PONTE – Ele estava de moto, em ziguezague, na contramão. Muito estranha a morte dele, ele sendo a principal testemunha, tendo todas as autoridades e essas gravações desde janeiro – janei-ro e fevereiro. E ele morreu em setembro. Por que ele não foi ouvido, se o prazo do inquérito são 30 dias? E maior coincidência: exatamente uma semana depois o Dr. Alexandre Neto é fuzilado.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – O se-nhor falou – o que nos interessa particularmente – que a Superintendência da Polícia Federal do Rio retirou a sua escolta.

O SR. DANIEL PONTE – Exatamente. O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Quan-

do foi isso?

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04085

O SR. DANIEL PONTE – Retirou a minha escolta em janeiro, alegando que eu não sou testemunha em processo federal algum, criminal. Isso é mentira, porque eu tenho, inclusive no CD aqui, eu posso projetar, a in-timação para comparecer à Delegacia Fazendária com data de dezembro. Então, como é que eu não sou tes-temunha, não tem nenhum procedimento, se eu tenho a intimação? Inclusive a ONU... O Brasil respondeu à OEA que eu não sou testemunha em processo algum criminal. Eu peguei, escaneei a intimação, escaneei o meu depoimento e mandei para a OEA, mostrando que o Brasil litiga de má-fé.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – O se-nhor está há quase 4 meses então sem nenhuma proteção?

O SR. DANIEL PONTE – Nenhuma.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – E o se-

nhor teria se negado a entrar num programa de pro-teção, como o PROVIDA?

O SR. DANIEL PONTE – O Programa de Prote-ção a Testemunhas é simplesmente uma cadeia para a pessoa honesta, porque eu não posso exercer minha Medicina, não vou poder exercer o Direito, não vou po-der fazer nada da minha vida, vou ter de viver escondido. É esse o prêmio que eu ganho por ser honesto.

Enquanto isso, se vocês forem à Polícia do Rio, vamos ver o padrão de vida de vários delegados e chefes de SI. No Orkut, se vocês entrarem no Orkut da Polícia Civil, na comunidade, que inclusive está no CD, os próprios policiais explicam a divisão de dinhei-ro. Não sou eu que falo, são os policiais no Orkut, que é uma coisa pública.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Está no Orkut?

O SR. DANIEL PONTE – Está no Orkut. Está no CD, está no CD que eu apresento para os senhores. Está lá falando que eles pegam... A delegacia A pega dinheiro da termas; delegacia B pega dinheiro do fer-ro-velho; a delegacia C pega dinheiro do tal... Está no Orkut, policiais mostrando a cara. Eu já entreguei esse CD para tudo que é lugar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Final-mente, o Dr. Alexandre Neto então...

O SR. DANIEL PONTE – Acho que o senhor ti-nha mais algumas perguntas, não?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – É, tinha em relação ao “praticamente demitido”...

O SR. DANIEL PONTE – O “praticamente demi-tido”, eu respondo, (ininteligível) de 040, na Correge-doria-Geral Unificada, não por ser ladrão. Mas aquelas imagens que V.Exas. viram, eu trabalhando em meio a moscas, eu entreguei para o meu sindicato, o Sindicato dos Médicos, e o Sindicato dos Médicos entregou para

a imprensa. Então, eu feri o sigilo policial. Eu peguei pneumonia, peguei abcesso de pele trabalhando na-quelas condições. Isso se chama crime de exposição a perigo contra a saúde. Isso daí não foi apurado.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Ago-ra, com relação à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, sempre tem tido uma parceria...

O SR. DANIEL PONTE – Outra coisa: o Dr. Hugo disse...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Quem é o Dr. Hugo?

O SR. DANIEL PONTE – É o assessor da De-putada Irany.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Iriny Lopes.

O SR. DANIEL PONTE – Perdoe-me. Muito pra-zer. O que ele disse para mim? Que como eu saí na Istoé de colete de arma, isso dificultou muito, pois não era uma postura de um defensor. Então eu pen-so: qual é a postura do defensor? Eu fiz até uma ana-logia um pouco grosseira: Mengele era um médico que andava de branco e fez as maiores atrocidades. Eu, infelizmente, tenho de andar de arma e de colete porque o Estado não me dá nenhuma segurança. Eu não roubei. Ofereceram-me uma lista para eu dar o aval, uma lista da SENASP, do perito Jefferson, lá do IML, a mando do Dr. Walter Barros. Eu recusei dar o aval. Ele me ofereceu o “convênio”, entre aspas, das funerárias. Eu perguntei para ele se tinham firmado algum tipo de parceria público-privada. Ele arrancou essa lista da minha mão. Quem deu o aval nessa lista foi o Capitão-de-Mar-e-Guerra e Perito Legista Luiz Carlos Leal Prestes. Eu não sei como é que ele pode ser perito legista e capitão-de-mar-e-guerra ao mes-mo tempo, porque a Constituição não permite; são 2 cargos de dedicação integral. Só que ele continua no cargo, e ele que deu esse aval para a interdição frau-dulenta do IML, porque interditaram só a melhor parte, que era a clínica médica. Aquelas imagens que V.Exas. viram eram do IML interditado, inclusive porque eu fiz filmagens e fotos com jornais, onde há datas. Então, não há como dizer que era antigo.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – A sua situação atual funcional. O senhor leciona onde?

O SR. DANIEL PONTE – Na Estácio de Sá.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – E no

serviço público?O SR. DANIEL PONTE – Estou afastado por

stress pós-traumático ligado à atividade.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Obri-

gado.

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04086 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. DANIEL PONTE – E outra coisa. Já fui ameaçado de morte dentro do IML e dentro da Corre-gedoria de Polícia. E um detalhe: quem me ameaçou de morte dentro da Corregedoria da Polícia, com tes-temunhas... O Inspetor Aristóteles Marques Batista me pediu claramente cuidado com o que eu fosse falar e disse que ele não sabia como a gente estava vivo ain-da. Isso é claro: 344, coação à testemunha. Misterio-samente, o Delegado Leonardo Tumiati tipificou como mera ameaça. Ou seja, ele deixou de ser preso.

Deve ser considerado ainda que, quanto a esse Inspetor Aristóteles, consta na ficha criminal dele que ele já matou um policial militar pelas costas. Foi ab-solvido. Curiosamente, os amigos deles, o Wilson – eu tenho gravado, a gravação do próprio Alexandre Vár-zea, morto – disse que quem conseguiu a absolvição dele foi por influência do ex-chefe de Polícia. Está tudo gravado. Wilson Queiroz, auxiliar de cartório. Tenho as gravações em que ele conta muito bem as fraudes previdenciárias lá no IML, peculato de grande material. Está tudo bem gravado aqui.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Por fim, então, para o Dr. Alexandre: o senhor, antes desse epi-sódio, desse entrevero, dessa detenção, em fevereiro de 2006, já tinha sofrido alguma ameaça?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu não sofri ameaça nenhuma? A gente não pode ter medo de ameaça, inclusive, isso eu respondi a essa entrevista que foi dada à CBN. Mas eu concluo que isso, decisivamente, incitou as pessoas, porque é aquela história: chutar cachorro...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Mas antes de fevereiro de 2006, desse episódio aí?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Antes não. Antes não. Não houve nenhuma amea-ça. A gente, efetivamente, é ativista do sindicato. Eu pertenço ao Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro. Estamos sempre pleitean-do para que haja uma melhora no trabalho da perícia técnica, da Polícia Judiciária de modo geral. Não recebi nenhum tipo de ameaça, mas obviamente não sabe-mos até que ponto uma incitação a um crime contra alguém pode... A idéia que fica é a seguinte: se você tem uma pessoa de destaque que está mandado fazer isso, por que não vou fazer? Até porque vai ficar na dúvida, pode ter sido A, B ou C. E isso é que foi grave. Acho que foi uma coisa muito grave que aconteceu, uma coisa gravíssima.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – O senhor se refere ao atentado de setembro de 2007...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não, ao atentado e à incitação...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – ...ou à sua detenção em fevereiro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não, às 3 coisas que aconteceram, porque você tem o atentado, depois a incitação e depois o atentado concretizado? É muito grave isso, mormente partindo de alguém que deveria primar pela instituição. Porque diferenças podem existir, mas não a ponto de você vulnerar a hierarquia e a disciplina em virtude do que aconteceu. Eu nunca havia destratado essa pessoa que proferiu isso contra mim. Apenas me insurgi devido ao que aconteceu em razão da operação que desnudou aquela situação toda.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Agora, do ponto de vista, como o Dr. Daniel disse, de amea-ças que ele sofreu até diretamente. Isso, com o senhor, nunca aconteceu?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não, não, mas isso é algo viável, porque pode acon-tecer. Na realidade, sou delegado da anti-seqüestro, como estou de licença por mais de 90 dias, posso ser removido para o Departamento Geral de Administração – DEGAF, onde toda a parte operacional da Polícia é subtraída. Quem me dava a segurança, por ordem do Secretário Beltrame, era o próprio Fernando Moraes, da DAS. Com a mudança, o Reimão, meu colega de turno, disse: “Alexandre, não tem problema nenhum. O pessoal continua andando com você e eu volto a dizer, com toda a tranqüilidade, eu não tenho medo de mor-rer, nenhum medo de morrer. Vou continuar andando por onde tiver que andar, mas é claro que se você tiver alguém para andar com você e te ajudar a se defender seria bem melhor”.

Minha preocupação, minha vinda aqui hoje foi exatamente por isso, porque o Reimão assumiu a de-legacia na semana passada, na terça-feira. Ele: “Não vou mudar nada”. Mas na sexta-feira ele veio me dizer o seguinte: “Alexandre, como você é um cara que vive escrevendo aí no jornal, eles podem querer, vamos falar o português claro, te sacanear e te passar para o DEGAF para você perder a segurança aqui. Eu não vou tirar tua segurança, vou manter o pessoal. Se você me ligar, a hora que você me ligar querendo alguém contigo eu vou mandar, mas vai ficar uma coisa oficio-sa”. Então, já me reportei ao Secretário Beltrame, já me reportei ao Subsecretário Berene, e há todo esse problema envolvendo minha situação. O Daniel Ponte corre esse risco de ser mandado embora, sim, porque a perseguição política existe. Eu me insurgi contra o Chefe de Polícia, Dr. Gilberto Ribeiro, numa reunião do sindicato. Ele tomou posse para moralizar a Polícia e nomeou como chefe de gabinete dele a mulher dele. Então, essa foi uma atitude meio antiética em termos

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04087

de... A gente viu isso, o sindicato viu isso como atitude antiética: você assume para moralizar e bota sua mu-lher para ser chefe de gabinete? Isso foi o que acon-teceu, e aí começou essa rixa contra mim. Somos a bola da vez. Basta alguém dizer: “Olha, pode dar um monte de tiro porque não vai dar em nada não”. É essa a gravidade das circunstâncias em virtude de tudo o que aconteceu.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – De qual-quer forma o senhor tem uma proteção oficiosa...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Ainda não sei até quando, mas ela é oficiosa.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – ...da Divisão Anti-Seqüestro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – É, ela é uma...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – E na conversa com o Secretário de Segurança o senhor pediu uma proteção oficial?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – O Secretário de Segurança está na Alemanha. Vou estar amanhã com o Dr. Berene, até porque, em fun-ção dessa minha cirurgia, o que vai acontecer? Vou me submeter a uma cirurgia na semana que vem e vou ficar com uma mão só, porque a outra vai ter que ser aberta para ver se solta um tendão, porque meu dedo não está fazendo o curso todo. Então, repito, vou ficar com uma mão só. Como vou me defender com uma mão só? Quando você tem duas, dá para fazer algu-ma coisa, mas com uma mão só não tem como. Então, vou negociar isso lá para ver como vai ficar, entendeu? Mas gostaria de uma posição, já que é a Comissão de Direitos Humanos que pugne.

Outra coisa que queria deixar registrado: fiz um pequeno texto que serve para reflexão de todos os Srs. Deputados. Essa lei de proteção à testemunha, na realidade, não se aplica ao servidor público probo. A Lei de Proteção a Testemunhas estabelece normas para a organização e a manutenção de programas es-peciais de proteção a vítimas e a testemunhas ame-açadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à inves-tigação policial e ao processo criminal.

Vejam bem. Fiz um pequeno texto que é um de-sabafo, não só para o Daniel como para mim ou para qualquer outro servidor público, que são os persegui-dos da democracia.

“Outrora, havia os chamados subversivos, que eram todos aqueles que se viam perseguidos pelo re-gime militar, instaurado por força de uma revolução ba-tizada de Salvadora. Eram tempos da chamada Guerra

Fria, onde alguns poucos não se conformavam como o sistema, que se recusava a absorver as idéias da esquerda, conhecidas então como comunismo e socia-lismo. Era a chamada política do proletariado, através da qual a sociedade alcançaria as benesses de seus dirigentes segundo suas necessidades e todos seriam felizes para sempre.

Hoje, aos perseguidos da democracia, da chama-da ditadura da democracia, que são aqueles que não se conformam com um sistema que só funciona em prol daqueles que querem para si tudo aquilo que deveria ser carreado para sociedade e para os necessitados. A queda do muro de Berlim desnudou a esquerda, que acabou no Velho Mundo e cambaleia no chamado Novo Mundo, mostrando a todos que tanto a direita como aquela padecem dos mesmos defeitos.

Os perseguidos da ditadura conseguiam se ver livres dela deixando o País, pois os políticos no poder não mais os alcançava, ficavam livres dos intelectuais, e o mundo os acolhia como valorosos dissidentes e todos podiam ser felizes para sempre.

Já os perseguidos da democracia terminam como reféns em seu próprio país, sempre alcançados pelos políticos que se vêm impedidos de realizar suas falca-truas e desmandos, impondo-lhes e a estigmatização. Outrora, o chamado exílio preservava a identidade dos perseguidos do regime, que até ganhavam notoriedade fora do País, pois estes não eram obrigados a abdicar de suas identidades e aptidões ao se fixarem como re-sidentes em outros países – o Deputado Gabeira deve saber bem disso. Hoje, na chamada ditadura da demo-cracia, se busca impor aos perseguidos do regime um exílio legal, um exílio que se denomina vulgarmente como Lei de Proteção a Testemunhas, Lei nº 9.807/99, onde servidores públicos e não vítimas e testemunhas, que se oponham contra a corrupção são jogados na vala comum das ditaduras, pois se vêm compelidos a abdicar de suas profissões e ideais, de suas famílias e identidades, para se apequenarem diante da fraude e da roubalheira que hoje impera em nosso País. Che-gou-se a uma encruzilhada onde qualquer um pode ser vítima, onde quem quer que seja pode se transformar em vilão, mesmo sendo o mocinho, pois briga de qua-drilha não tem resultado previsível. Chegou a hora de se separar o joio do trio, de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, sob pena de se sucumbir à marginália infame e afrontosa que se alastra sobre a sociedade e sobre nossas instituições. O servidor público que denuncia irregularidades administrativas e a malversação do Erário não pode ser tratado como vítima ou testemunha, mormente se em razão de tal ato de improbidade venha sofrer ameaças concretas de morte. De duas, uma: ou se proteja aqueles que

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04088 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

cumprem seu dever ou se puna exemplarmente aque-les que o descumprem. O que não se pode é admitir a dupla omissão reinante, ou seja, ninguém é protegido e ninguém é punido. Será o fim do interesse púbico e a total primazia dos interesses privados, custe o que custar a quem ousar contrariar”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Bom, satisfeito o Deputado Chico Alencar, temos mais 5 inscrições. A Deputada Iriny Lopes também foi citada, mas o próximo inscrito é o Luiz Couto, do PT.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presi-dente, em primeiro lugar, estamos na Ordem do Dia e, segundo o Regimento Interno, tudo que fizermos depois será nulo de fato.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Na verdade, não estamos tomando decisão ne-nhuma, por isso que...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas há enca-minhamentos, é claro. Estávamos ouvindo numa CPI e fomos obrigados a parar porque fomos informados de que não era só decisão, mas qualquer ato depois...

Mas quero perguntar ao Dr. Daniel: o senhor está na polícia há quanto tempo?

O SR. DANIEL PONTE – Seis anos.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Seis anos.

Essa situação do IML que o senhor... Quando o senhor começou a trabalhar, já existia essa situação toda?

O SR. DANIEL PONTE – A situação do IML nunca foi boa, só que nunca ninguém pensou que pudesse piorar, e, infelizmente – isso em relação às condições de trabalho –, piorou muito entre janeiro e julho do ano passado.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor começou a verificar isso, mas a partir de quando o senhor começou a denunciar?

O SR. DANIEL PONTE – Desde 2006 eu treinei os policiais federais administrativos da DPF Rio. Por-quê? Por que quem faz a parte médico-legal da Po-lícia Federal é a Polícia Civil, e eu estava vendo que estavam querendo vazar informações. Eu era man-dado para fazer exame e me perguntavam coisas. Eu não respondia e conversei com o chefe dos médicos da Polícia Federal do Rio e treinei os mesmos para fazerem os exames médicos legais. Só que o grande problema é o seguinte: não tem... Uma das palavras do Dr. Luiz, esse corregedor que explicou a divisão de dinheiro, eu falei para ele naquela época que não tinha para quem reclamar, ele riu e perguntou: “E você acha que agora tem?”

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E o Conselho Estadual de Medicina tinha conhecimento dessa...

O SR. DANIEL PONTE – Total, o Roger faz parte do Conselho, o Luiz Carlos Prestes faz parte do Con-selho, então por ali...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E nenhu-ma...

O SR. DANIEL PONTE – Não. O Roger é da minha turma, ele entrou junto comigo para ser diretor do IML. Ele nunca tinha feito uma necrópsia antes de ser diretor. Nunca.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo. E o senhor, ao denunciar essa situação, começou a ser perseguido?

O SR. DANIEL PONTE – Sim, perseguido tanto com ameaças quanto...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quais eram as formas que havia de ameaça e perseguição?

O SR. DANIEL PONTE – Melhor do que dizer para V.Exa. é fazer V.Exa. ouvir.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presi-dente, para não atrapalhar, pediria que pudessem conversar ali no canto, porque do contrário atrapalha. A Comissão de Direitos Humanos não pode virar uma delegacia onde todo mundo entra e atrapalha a audi-ência pública. Se for desse jeito, nós paramos, porque é um desrespeito para com aquele que foi convidado para ser ouvido.

(Exibição da gravação.)O SR. DANIEL PONTE – Essa foi a primeira gra-

vação feita com Alexandre Várzea já morto.(Exibição da gravação.)O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-

te, desliga aí. Está desligado? O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Deputado Pompeo, Deputado Nelson Pel-legrino, seria possível, a pedido do Deputado Luiz Couto...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Eu me recurso a continuar desse jeito. É um desrespeito à Comissão de Direitos Humanos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – É possível se afastarem um pouquinho para darmos continuidade aos trabalhos, enquanto V.Exas. negociam uma solução pacífica, sem qualquer cons-trangimento para a Comissão?

O SR. DANIEL PONTE – Essa é uma das gra-vações.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo. Então, o senhor foi ameaçado por telefone?

O SR. DANIEL PONTE – Não, não, isso daí eu gravei... Falando com o Nextel, eu gravei a minha con-versa com o Nextel.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Ah sim. O telefone, no caso...

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04089

(Exibição da gravação.) O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Não está

dando para ouvir direito, porque o som está ruim, mas uma das coisas foi...

(Exibição da gravação.) O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo. O se-

nhor gravou isso aqui?O SR. DANIEL PONTE – E tem várias outras.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Eu pergun-

to: dentro do IML, pessoalmente, o senhor recebeu alguma ameaça?

O SR. DANIEL PONTE – Sim, do Inspetor de Polícia Aristóteles Marques Batista.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo.O SR. DANIEL PONTE – Ele ficou mais de uma

hora me esperando na escada...O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E alguma

vez, no caminho para sua residência, o senhor tam-bém foi seguido?

O SR. DANIEL PONTE – Três vezes, indo de casa para a academia de ginástica, fui seguido.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Foi segui-do.

SR. DANIEL PONTE – E um colega que trabalha diretamente comigo – pena que eu esqueci de colocar as imagens. Éramos eu e ele no necrotério – ele indo a caminho do IML trabalhar comigo, o carro dele foi alvejado no vidro dele, e a delegacia, misteriosamen-te, fez o registro como tentativa de roubo. Foram 3 ti-ros, sendo que um deles no vidro dele, motorista, que atingiu o volante, ele ficou com o estilhaço. Tem no CD isso e foi registrado como tentativa de roubo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor, quando começou a... No caso do outro Alexandre, esse Alexandre em algum momento disse para o senhor que também estava sendo ameaçado de morte?

O SR. DANIEL PONTE – Não.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Não?O SR. DANIEL PONTE – Não, mas ele disse que

se interpôs com esse Aristóteles, que essa pessoa é de tal extirpe que, quando ele encontrou comigo no....

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presidente, eu não sei agora. Está um pandemônio aqui.

O SR. DANIEL PONTE – Quando ele encontrou comigo dentro do IML...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – É que o assunto é grave, meu Presidente Luiz Couto.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Pois é, mas eu...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – O assunto é muito sério, eu...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Pois é, eu sei, mas não é aqui. Aqui há que se respeitar a Comissão de Direitos Humanos. Não se pode tratar disso aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Pois é, mas eu acredito, desculpe o Presi-dente Pompeo...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Aqui está vi-rando uma delegacia onde todo mundo entra, pega o preso e leva para lá.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Minha posição como Presidente da Mesa é totalmente contrária a que seja tomada qualquer atitude pela CPI com relação à presença do nosso convidado aqui na Comissão, independentemente de ser agora ou depois do encerramento da sessão. Se acontecer qualquer coisa ao convidado, será sob meu protesto. Eu considero de qualquer jeito – não sei se o Deputa-do Nelson Pellegrino ainda está aqui – um desrespei-to. Está aqui o Deputado Simão Sessim, que acredito deve ser membro da CPI também, mas considerarei um desrespeito a esta Comissão se for tomada qual-quer medida coercitiva ao convidado, porque ele veio à Câmara dos Deputados a convite da Comissão de Direitos Humanos. Então, ele tem que sair daqui são e salvo, ileso e sem qualquer constrangimento. Essa é minha posição como Vice-Presidente da Comissão. Falo até em nome pessoal, não em nome da presidên-cia, porque o Presidente está presente.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Dr. Daniel, continuando...

O SR. DANIEL PONTE – Para V.Exa. ter...A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Sr.

Presidente... Só um minuto, Dr. Daniel...O SR. DANIEL PONTE – Deixe eu só, pela or-

dem...O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Deputada Marina, vamos dar continuidade à reunião.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Mas ele foi convocado para a CPI, ele não foi convidado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Mas a CPI deve tomar as medidas que ela entender necessárias e cabíveis...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Quando acabar esta sessão aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Não. Acredito que se tomar medida coer-citiva hoje é um desrespeito à Comissão de Direitos Humanos.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Não é não, senhor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – É a minha posição pessoal.

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04090 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ele foi convocado pela CPI.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Se acontecer, é sob meu protesto.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ah, sob seu protesto sim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Enquanto Deputado, é sob meu protesto...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Sim, o.k.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – ...porque acredito que podem ser tomadas outras medidas, se for o caso coercitivas, quando ele se ausentar da Câmara dos Deputados. Fora da Câ-mara dos Deputados. No ambiente da Câmara dos Deputados, eu considero um desrespeito à Comissão de Direitos Humanos. E esta Comissão, acredito, Depu-tada, que V.Exa. tem todo direito de aqui na Comissão de Direitos Humanos inclusive se defender, ser ouvida, o tempo que V.Exa. precisar, porque V.Exa. está sen-do vítima também de acusações aqui. Então, acredito que V.Exa. tem todo o direito de se defender, repito, de usar da palavra quantas vezes achar oportuno. A Mesa jamais lhe negará a palavra e o direito de se defender, mas conduzir de maneira coercitiva o convidado após ele sair desta Comissão, no meu entendimento, é um desrespeito à Comissão de Direitos Humanos...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Cer-to. V.Exa. entende assim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – ... e a Câmara dos Deputados, porque ele está aqui como convidado. Se ele aqui não viesse como convidado da Comissão de Direitos Humanos, a CPI não tomaria nenhuma medida coercitiva contra ele hoje.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – To-maria sim, senhor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Então, acredito que não se justifica...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – To-maria.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Hoje?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Hoje. Ele não vai comparecer sabe por quê?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Se ele estivesse no Rio de Janeiro...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ele não quer comparecer, porque lá ele vai depor na Co-missão de Investigados...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – ...a Comissão Parlamentar de Inquérito iria conduzi-lo até aqui hoje?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – ... porque ele colocou um grampo clandestino.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-te, por favor, assegure minha palavra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Essa é a minha posição. Depois cada Depu-tado pode se pronunciar a respeito do assunto. É mi-nha posição pessoal. Como estou neste momento na Presidência, esta é minha posição. E que fique claro que o Presidente Pompeo de Mattos, como Presiden-te da Comissão, é que poderá depois se manifestar oficialmente pela Comissão.

Deputado Luiz Couto, dando prosseguimento.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Continuan-

do...O SR. DANIEL PONTE – Esse Inspetor, Aristó-

teles Marques Batista, ele, dentro do IML, na escada, proferiu as seguintes palavra para mim: “Olha, você tem a cabeça fraca. Estão dizendo que quero te ma-tar, mas isso daí é mentira, eu sou muito seu amigo. Você sabe, eu já matei muitos, já perdi até a conta de quantos, mas nenhum, ninguém nem desconfiava que ia morrer”. Eu lembro dessas palavras como hoje. São 2 palavras que eu não esqueço: essas e a do Dr. Gil-berto Ribeiro, Chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, quando disse que ia me punir por eu passar informa-ções para a Polícia Federal. E assim faz, porque colo-ca informações até de uma pessoa chamada Daniel (ininteligível) na minha ficha criminal, dentro até de um mandado de segurança em que o Dr. Lafredo Lisboa não tomou nenhuma providência.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo. Além do senhor, como médico perito, quantos médicos pe-ritos tinham lá no IML?

O SR. DANIEL PONTE – Em torno de 120 apro-ximadamente.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Cento e vin-te. Só o senhor denunciou ou teve mais alguém que denunciou?

O SR. DANIEL PONTE – Mais uma colega... A verdade é a seguinte: no IML, os peritos têm 40 horas de carga horária. Nós ganhamos – pasmem – 2 mil reais para trabalhar naquelas condições. Então, em vez de se trabalhar 40 horas, trabalha-se 6. Então, nin-guém quer reclamar, porque trabalha 6 horas e está satisfeito. Eu não.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E esse ou-tro médico também sofreu a mesma ameaça que o senhor ou ...

O SR. DANIEL PONTE – Esse outro médico está afastado por motivo de doença.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Afastado. Uma outra questão que eu teria...

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04091

O SR. DANIEL PONTE – Eu tenho inclusive a gravação dele explicando a também divisão de di-nheiro. Tenho várias gravações que falam da divisão de dinheiro.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Correto. O se-nhor falou que a Secretaria Especial de Direitos Huma-nos teria dito... Aí o senhor falou o nome do Hugo...

O SR. DANIEL PONTE – Falei do Dr. Hugo.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas o Hugo

não é membro da Secretaria, ele é um assessor...O SR. DANIEL PONTE – Não, sim, mas ele...O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – que tem o

direito... Opinião cada um pode dar. O SR. DANIEL PONTE – Mas ele não se referiu

à opinião dele própria não, tanto que eu estou sem segurança, não é?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Eu pergunto: o senhor já solicitou formalmente...

O SR. DANIEL PONTE – Segurança?O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sim.O SR. DANIEL PONTE – Já, inúmeras vezes.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – A quem?O SR. DANIEL PONTE – À própria Secretaria,

quando estive em Brasília aproximadamente um mês atrás, isso está em ata.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Está em ata.

O SR. DANIEL PONTE – À Polícia Federal, à própria Polícia Civil, porque a minha morte interessa a todos. O que eu tenho de sujeira... Isso daqui, essa Paris Café aqui, que é uma casa de prostituição den-tro da revista policial do Rio de Janeiro, com emblema de uma delegacia, uma casa de prostituição, isso dá muito lucro. Eu andei investigando, fazendo algumas investigações por conta própria...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sim? O SR. DANIEL PONTE – ... e descobri o seguin-

te: que uma casa dessa dá em torno de 50 mil por se-mana. Quer dizer, é só me darem, porque, na última reunião, eu falei com o representante da SENASP: “Emprestem-me 20 policiais que eu vou fazer uma quantidade de prisão enorme”. Porque o crime, no Rio de Janeiro, está em cada esquina. Tem o jogo do bicho, tem as casas de prostituição, tem a casa de prostitui-ção Monte Carlos, que fica quase do lado da 12ª DP, na Rua Hilário de Gouveia. Quer dizer, ninguém sabe disso? Só as pessoas do povo? Será que o delegado é tão burro, tão incompetente que não sabe que fun-ciona uma casa de prostituição do lado da delegacia? É impossível. Não é possível isso.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo.O SR. DANIEL PONTE – Então, a minha morte

interessa ao chefe de polícia, interessa ao Governa-

dor, interessa ao Secretário de Segurança, a todos eles. Porque isso daqui, o chefe de polícia está nessa revista, como é que ele não lê isso?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor falou também numa revista que teria um delegado da Polícia Federal também.

O SR. DANIEL PONTE – Tem, está aqui. O De-legado Dr. Valdinho Caetano está aqui na revista tam-bém. Eu já apresentei ao Ministério Público Federal e à Corregedoria da Polícia Federal petição com a cópia da revista, perguntando se isso não fere a mo-ralidade administrativa, sair numa revista financiada pelo crime.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, o senhor hoje não tem qualquer tipo de segurança?

O SR. DANIEL PONTE – Nenhuma. Até minha mãe, uma senhora idosa, eu recebo recado que ela pode ser morta facilmente num roubo. Quer dizer, é uma absurdo. Eu vivo à custa de 6 remédios, para po-der controlar meu stress pós-traumático, porque sou massacrado administrativamente pelo Dr. Gilberto Ri-beiro, que prometeu se vingar e prometeu me punir, sou massacrado pelos bandidos, que recebo ameaça, e não tenho amparo nenhum do Estado. Ou seja, vive-mos uma cleptocracia, é a ditadura do roubo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Em sua fala, o senhor parece que pediu à Polícia Civil também proteção.

O SR. DANIEL PONTE – Também.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas o se-

nhor disse na sua fala de que a Polícia Civil do seu Estado ...

O SR. DANIEL PONTE – Sem dúvida.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – ...estava en-

volvida com o crime.O SR. DANIEL PONTE – Está envolvida, sem

dúvida. Mas com alguém do meu lado fica mais difícil fazerem.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo.O SR. DANIEL PONTE – Seja lá quem for.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas o senhor

já pediu ao próprio Governo do Estado como ....O SR. DANIEL PONTE – Já, já solicitei até ao

Subsecretário de Direitos Humanos, Dr. Leonardo Casula.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E qual foi a resposta?

O SR. DANIEL PONTE – Não.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Não.O SR. DANIEL PONTE – Tem um inspetor que foi

braço direito do chefe de polícia, e isso eu já peticionei para o Ministério Público Federal. Essa informação eu não tenho concreta, mas parece que o nome dele é

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04092 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Estelita. Foi braço direito do chefe de polícia, chefe de SI. Chefe de SI é quem, entre outras coisas, faz arre-cadação de dinheiro, conforme consta no Orkut. Não sou eu quem está dizendo; são vários policiais dentro do Orkut. Está aqui nos CDs. Eu copiei os relatos.

Parece que esse Estelita mora num condomínio de luxo em Cabo Frio, embora seja um mero inspetor. Não sei com ele vai, e volta, todos dos dias para Cabo Frio de carro e ainda consegue morar num condomí-nio com marina e tudo. Não sei como ele faz isso. Eu, como médico, bacharel em Direito e professor, vivo com a minha mãe.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Há um pro-grama que é de proteção dos direitos humanos. Di-ferentemente do Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas, ele é dirigido a pessoas ameaçadas que podem receber um outro tipo de proteção que não aquele a que V.Sa. se referiu, que obriga a pessoa a se mudar para um local diferente, como se fosse uma prisão domiciliar.

Nesse sentido, acho que a Comissão de Diretos Humanos deveria, a partir desta audiência, analisar formas para que o Dr. Daniel possa ter a devida segu-rança, ainda que proteção mesmo só tenhamos a de Deus. Mesmo com segurança, sabemos que o crime organizado é forte e pode também destruir a qualquer momento. Não serão 2 ou 3 policiais que vão garan-tir segurança, só haverá um pouco mais de medo, de dificuldade. Nesse sentido, acho que o depoimento do Dr. Daniel, com as informações que traz, deve ser analisado por nós.

Delegado Alexandre, a quanto tempo o senhor está na Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu tenho a honra de ter entrado como detetive na Polícia Civil. Minha vida foi toda calcada em concurso público. Eu fui funcionário da DATAPREV, de onde saí após prestar concurso para a Polícia, porque, quando eu fiz concurso, meu sonho era ser delegado, e eu...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Dr. Alexandre, peço a gentileza de colabo-rar com nossa audiência pública e ser o mais objetivo possível, porque já teve início o processo de votação em plenário.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Certo. Na época, não havia concurso para delegado. A pessoa tinha que entrar para a Polícia e ir ascenden-do. Com o advento do concurso público em 1988, com a nova Carta Magna, eu fiz o concurso e passei. Sou policial há 22 anos e delegado há 15 anos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Como de-legado, o senhor serviu em que delegacia do Rio de Janeiro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu reestruturei a Delegacia Anti-Seqüestro. Esse foi o meu trabalho mais promissor, à época do ilustre General Cerqueira.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Durante esse tempo, o senhor sofreu alguma represália, alguma ameaça?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não, não. Mas sempre atrapalhamos bastante quem não queria fazer a coisa da maneira correta. Sabemos que isso recai sobre a instituição. Dar 1 passo para frente e depois 2 para trás de nada adianta. Sempre procuramos melhorar, até porque fazemos parte da sociedade, e isso é normal.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Qual foi a última delegacia em que o senhor serviu?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Na Delegacia Anti-Seqüestro.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Na sua tra-jetória como delegado, o senhor deve ter feito prisões de traficantes, de seqüestradores, de pessoas ligadas à lavagem de dinheiro, enfim. É claro que, quando se faz isso, há toda uma reação...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Posso dizer uma coisa a V.Exa.? Eu sei onde V.Exa. vai chegar?

Nenhum bandido desrespeita o bom policial. O bandido desrespeita o mau policial, quer virar sócio dele, ter uma carteirinha e uma arminha na cintura e fazer o que ele faz, usando essa arma e essa carteira que o Estado lhe outorga.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – A pergunta não era essa. A pergunta é quem é favorecido com a ação do bandido.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Tivemos um exemplo claro no Rio de Janeiro. A polí-tica é a grande favorecida – o Deputado Chico Alencar sabe disso. Existem bons Deputados e maus Deputa-dos. Para se chegar a uma Assembléia Legislativa, se faz qualquer negócio; para se chegar a uma Câmara dos Deputados, lugar que deveria ser sério, se faz qual-quer negócio. E aí você passa a ser perseguido pelo regime, pelo próprio sistema, pela própria democracia. Ou você reza pela minha cartilha e deixar eu roubar, ou vai para a vala. Para qualquer um que atrapalhe o negócio fica ruim.

V.Exas. ainda verão os desdobramentos dessa Operação Hurricane. V.Exas. verão o que era o Rio de Janeiro, onde o chefe de polícia aposta a carteira dele como os caras vão entrar no concurso. É triste, mas a polícia é usada. Quais são as coisas usadas pelos políticos no Rio de Janeiro? Polícia e fiscalização. O Deputado Chico Alencar está cansado de saber disso.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04093

Ou o Silveirinha aconteceu à toa? Ou o Dr. Álvaro Lins aconteceu à toa? Pelo amor de Deus! Não vamos ser inocentes a esse ponto. Está ali, na revista Veja: todo mundo sabia o que o Dr. Álvaro Lins fazia. Todo mundo sabia. Está aqui. Não sou eu quem está dizendo, não. Ele está me processando, mas todo mundo sabia que o ex-Chefe da Polícia Civil do Rio tinha relações com bandidos. Só agora caiu a ficha. Por quê? O senhor sabia, Deputado Chico Alencar? Todo mundo que é do Rio sabia.

E aí? Eu é que pergunto: quer dizer que o cara que anda certo vira vítima? Porque você tem de andar errado. Se você andar errado e não atrapalhar ninguém, está tudo bem.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Como nós estamos vendo a questão das ameaças, o que quere-mos saber é o seguinte...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Bandido não ameaça. O verdadeiro crime organiza-do não ameaça; ele não manda recado, ele faz. Quem ameaça é o bandido chulé, e não vai fazer nunca.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Aquela ação que foi feita pela polícia, o ato de sua prisão, depois o atentado que o senhor sofreu, tudo isso foi parte de uma corporação que era para fazer a defesa, mas que era de bandidos também que agem.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não resta dúvida. Daí a razão de estarmos aqui.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Não somente os bandidos que estão lá, mas...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – É o que eu estou dizendo para o senhor: o pior ban-dido é o que está do lado de cá. O bandido que está do lado de lá assume a postura de bandido.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Eu sei.O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO

– O pior é o cara que faz biscate de polícia. O cara que tem carteira e distintivo e delinqüe é muito mais bandido do que o bandido, porque o bandido assume a postura de bandido. Eu respeito muito mais o cara que está na boca de fumo com um chinelo e uma AR-15 do que o cara que está de terno e gravata tirando uma de bonzinho, e não é. Porque esse você não sabe. Esse tem bons advogados, tem tráfico de influência, que é um tráfico que não deixa materialidade, tem toda uma série de circunstâncias que o favorecem. Esse é o grande criminoso. Não é verdade?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo.O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO

– Então, não temos medo do bandido chulé. Agora, é claro que, quando me preocupo, é que, na conjuntura em que vivemos, em que um policial que pertence à instituição manda lhe dar um monte de tiros nos cor-

nos, isso abre um leque... É a mesma coisa que um Deputado chegar aqui e falar para o senhor... Um De-putado não, um estafeta da Assembléia chegar aqui e falar: “Aquele Deputado tem mais é que levar um monte de tiros nos cornos”. “Se ele tem um inimigo, eu vou dar, porque ele vai ficar na dúvida. Pode ter sido ela, pode ter sido o PM, pode ter sido o fulano”. Está entendendo?

Quando se dá uma declaração dessas – e o art. 19 da Lei de Imprensa taxa expressamente esse com-portamento como crime, incitação através de meios de comunicação e informação –, isso é um compor-tamento relevantíssimo que não podemos deixar pas-sar em branco.

Essa é a minha preocupação; eu não sei até quando isso vai continuar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Parece que ainda tem o Deputado Guilherme.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Deputado Luiz Couto, o problema é só o horário. Está todo mundo interessado na audiência pública.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Delegado, o senhor está recebendo segurança por parte do Es-tado?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Oficiosa. Eu estava na DAE, e os colegas faziam questão de me dar segurança. Eu não sei se isso vai continuar e até quando.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Ele está perguntando se o senhor tem se-gurança oficial.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Oficial, não. Nem eu nem o Dr. Daniel, nem ninguém no Rio de Janeiro que se mete com o crime organizado tem segurança oficial, a não ser que entre no Progra-ma de Proteção a Testemunhas, em que você, como servidor público, vira vítima e testemunha.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Essa segu-rança que o senhor recebe tem o respaldo do Secre-tário de Segurança Pública?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Sim, tem o respaldo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Então, nesse sentido, o senhor não tem a nível federal, mas o senhor tem uma segurança oficial.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Oficiosa, não oficial. Ele não disse assim: “Olha, vou destacar, vai estar publicado no boletim que o senhor vai ter...”

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Digo que é oficial porque tem a permissão do Secretário.

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04094 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Permissão tácita, não permissão expressa: “Olha, você tomam conta do cara porque está acontecendo isso”. Eu vou fazer outra cirurgia agora e sei lá se com a mão ruim o cara chega e me dá mais tiro? Estou com o risco cirúrgico marcado. Eu até mostrei.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Também por-que na segurança oficial não é publicado, do contrário, o senhor não vai ter segurança nenhuma, porque vão saber quem são os soldados.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não resta dúvida. Eu concordo. Fica mais difícil.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Digo que ela é oficial porque tem o respaldo do Secretário. O Secretário está de acordo com essa segurança que o senhor tem.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Com certeza.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas o senhor acha que essa segurança pode, a qualquer momento, ser retirada?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Exatamente. Essa é a minha preocupação. Daí minha vinda aqui. Estando de licença médica, eu vim aqui para quê? Eu não sou obrigado a ir a lugar nenhum de licença médica, por mais importante que seja o motivo. O fato é que tenho de me preservar. Até para vir aqui eu tenho de vir inteiro. Essa é a minha pre-ocupação. O que me trouxe aqui foi primordialmente essa situação.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-te, a informação que eu tenho é de que o Delegado Alexandre Neto, ao chegar aqui, ele teria solicitado à Comissão que seu depoimento fosse prestado em caráter reservado. Quero saber se foi isso mesmo o que o senhor pediu?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Foi, exatamente, porque são fatos graves que só deveriam ser dados a conhecer aos Deputados, até porque os senhores têm essa responsabilidade social com o eleitorado e com a Nação, de procurar reverter esse quadro que está acontecendo numa das unidades federativas e que compromete o Pacto Federativo.

Na medida em que o Estado vive essa situação, até que ponto isso não pode se alastrar para outros Estados? É complicado.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-te, data venia, no momento em que alguma pessoa foi convidada, disse que o depoimento público pode trazer problemas e solicitou que fosse em caráter reservado, a Comissão teria de ter dado esse espaço para que o delegado Alexandre pudesse falar e nós pudéssemos analisar as informações. Não podemos retroagir, mas

fico contente com as respostas e retorno a palavra a V.Exa., Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Deputado Luiz Couto, apenas para esclarecer: o Dr. Alexandre solicitou essa medida, mas nós pondera-mos a ele que esses fatos eram públicos e, na verdade, estavam sendo reprisados aqui na Comissão. Ele es-pontaneamente se propôs a falar, e o está fazendo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas não te-ríamos tido esse problema.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Na verdade, não, porque qualquer Deputado tem o direito a ter acesso à Comissão de Direitos Hu-manos. Não temos como evitar isso. Esse problema, aliás, transcende às questões da Comissão de Direi-tos Humanos e, de certa forma, impediu que avançás-semos o necessário em relação ao que propusemos. Atravessou-se no nosso trabalho esse problema havi-do em razão da CPI. Nós respeitamos a CPI, eu mais do que ninguém respeito a CPI, mas essa é uma si-tuação bastante constrangedora para a Comissão de Direitos Humanos.

Passo a palavra ao Deputado Guilherme Me-nezes.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES – Sr. Presidente, em primeiro lugar, solicito a V.Exa. que continue buscando um acordo para que seja marcada para outra data o atendimento à convocação da CPI dos Grampos, até por uma questão de respeito entre as Comissões desta Casa e entre todos os Deputa-dos. Nós vivemos aqui no debate, mas sempre de ma-neira respeitosa. E o Dr. Alexandre veio aqui, como já foi dito e repetido, a convite da Comissão de Direitos Humanos.

Em segundo lugar – e vou ser breve, mesmo porque os Deputados Chico Alencar e Luiz Couto já praticamente esgotaram as perguntas –, quero dizer que, antes, eu tinha encaminhado requerimento, por intermédio da Presidência desta Comissão, ao Gover-nador do Estado do Rio de Janeiro sobre a questão do Dr. Daniel Ponte, após a leitura de matéria veiculada na revista IstoÉ. A resposta que soube por intermédio da assessoria da Presidência foi que o Governador disse que encaminhou a matéria ao órgão competente, para os procedimentos cabíveis.

Ora, temos documentos, filmes, gravações, creio que temos tudo. Quero, então, informar a V.Exa., Sr. Presidente, Deputado Pompeo de Mattos, que estou encaminhando requerimento – e peço apoio dessa Presidência e dos Deputados desta Comissão – de audiência com o Governador do Estado do Rio de Janeiro para esclarecimentos desses fatos. Não há mais ninguém para dialogarmos a respeito de fatos

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04095

tão graves e tão bem documentados. Aquela imagem do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro é a prova mais contundente do desprezo à vida e do desprezo à morte. Eu sou médico. Estagiei, quando estudante, por mais de 1 ano no Instituto Médico Legal. A relação com pessoas mortas e cadáveres putrefatos é o dia-a-dia de quem trabalha nesses serviços. Mas vemos que aqueles cadáveres, verdadeiros criadores de moscas e geradores de larvas, não chegaram apodrecidos. São empilhados com o maior desrespeito e despre-zo. Trata-se de uma instituição pública, um órgão de grande importância, que ajuda a desvendar crimes e assessora as Polícias Científica e Técnica.

Portanto, vou apresentar esse requerimento, para o qual desde já peço o apoio a V.Exa., Sr. Presidente, e dos demais membros da Comissão, para que enca-minhemos um pedido de audiência ao Governador do Estado do Rio, a fim de que a Comissão de Direitos Humanos possa dialogar diretamente com ele a res-peito de todos esses fatos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito, Deputado Guilherme Menezes. Enca-minhe V.Exa. o requerimento de V.Exa. e não tenha dúvida de que, ante o que foi relatado, estaremos ao seu lado e tomaremos os procedimentos necessários para que essa audiência efetivamente aconteça.

O SR. DANIEL PONTE – V.Exa. permite, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Pois não.

O SR. DANIEL PONTE – Sr. Deputado, um deta-lhe: após a audiência pública na ALERJ com o Deputa-do Paulo Ramos, a condição melhorou. Não está mais naquele estado que o senhor viu, mas mudou graças às minhas denúncias. Só que as minhas denúncias viraram um PAD – Processo Administrativo Disciplinar para me colocarem na rua. Então, melhorou a condição, mas, em contrapartida, estou sendo demitido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – É mais um motivo para termos a audiência.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Presi-dente Pompeo de Mattos, relembro aos membros da Comissão que, na próxima terça-feira, teremos uma audiência pública sobre a atuação das Polícias no Rio de Janeiro – audiência motivada, é claro, pela altíssima letalidade delas, especialmente da Polícia Militar – e está convidado o Secretário de Segurança Pública do Estado. Como é próprio das Comissões, nós só pode-mos convidar, mas alguém estará aqui respondendo pela Secretaria de Segurança e pela política de se-gurança pública no Estado. Os dados apresentados pelos nossos convidados nesta audiência, cujo foco é a proteção à vida daqueles que denunciam situações

gravíssimas para além da investigação, obviamente serão retomados na audiência da terça-feira. Haverá uma continuidade.

Por fim, eu só queria esclarecer um ponto. O Delegado Alexandre disse: o Deputado Chico Alen-car sabe que a imbricação da política e da corrupção, que a tomada de dinheiro para financiar campanhas e a ligação com o banditismo é corriqueira no Rio de Janeiro. É, sim. Agora, o fato de eu saber e combater essa prática com os instrumentos de que disponho – o discurso, a pena, a campanha pelo voto limpo e pelo voto ético – não nos dá o poder de investigar.

O PSOL, com o seu único representante na As-sembléia Legislativa, pediu um processo contra o De-putado Álvaro Lins, mas nem a Comissão de Ética da Assembléia do Rio de Janeiro – e ao ler os nomes dos componentes da Comissão já ficamos preocupados em relação a alguns deles – aceitou. Então, temos também limitações.

O ideal é a cidadania estar cada vez mais atenta e a Polícia banir a corrupção do seu meio, investigando qualquer pessoa, doa a quem doer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Tem a palavra o Deputado Sebastião Bala Ro-cha.

A próxima oradora será a Deputada Iriny Lo-pes.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Presidente, não vou fazer perguntas. Estou satisfeito com as respostas oferecidas pelos 2 convidados.

No entanto, eu quero propor 2 procedimentos. Inicialmente, ao apoiar a iniciativa do Deputado Gui-lherme Menezes, sugiro que a essa audiência com o Governador do Estado do Rio de Janeiro seja também convidado o Secretário Nacional de Direitos Humanos, se for oportuno.

O primeiro procedimento é no sentido de que, terminada esta audiência, façamos uma reunião ad-ministrativa da Comissão, se possível até reservada, para definir que passos daremos em relação a esse grave assunto. São várias circunstâncias que agravam as denúncias aqui trazidas. Se realizamos esta audiên-cia pública, a partir de agora somos co-responsáveis também, claro que com todas as nossas limitações, porque contra a bandidagem não há muita resistência a oferecer. Com todos os instrumentos e prerrogativas que esta Comissão de Direitos Humanos tem, deve-mos daqui para frente estabelecer uma estratégia de apoio à segurança dessas pessoas. Parece-me que, já com a situação mais calma, seria muito produtivo termos uma reunião administrativa para definir quais os próximos passos que iremos dar na Comissão de Direitos Humanos.

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04096 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O segundo procedimento, Sr. Presidente, é no sentido de que V.Exa. continue negociando com a CPI para evitar que o convidado seja a ela conduzido de maneira coercitiva.

Aproveito a presença do Deputado Laerte Bessa para dizer que sei da importância de uma CPI; tenho também experiência política suficiente para saber das competências e das prerrogativas de uma CPI, e não queremos de maneira nenhuma criar qualquer óbice às investigações que a CPI dos Grampos está fazendo, nem de impedir que ouça quem quer que seja. No en-tanto, da mesma forma que a Comissão Parlamentar de Inquérito não pode se sentir desmoralizada em virtude de a Comissão de Direitos Humanos estar apelando para que a oitiva do o delegado não seja hoje, na minha visão, igualmente percebo que esta Comissão ficará desmoralizada se acontecer o contrário, ou seja, se o convidado for de maneira coercitiva conduzido à CPI. Imaginem o que vai sair nas manchetes do dia seguin-te: “Delegado vai à Comissão de Direitos Humanos e sai de lá conduzido para a CPI de maneira coercitiva”. Algo assim, porque a imprensa é muito mais criativa do que eu, que não sou da área. Isso é uma desmo-ralização, é um desrespeito à Comissão.

Então, que esta Comissão use de suas prerroga-tivas e tome todas as providências pertinentes a partir de amanhã, ou quando o convidado deixar as depen-dências da Câmara dos Deputados. De outro modo – e é claro que o delegado sabe muito bem que isso não ocorreu –, poderia até parecer que nós o convidamos para facilitar o trabalho da CPI. Da mesma maneira que não devemos criar obstáculos aos trabalhos, do pon-to de vista dos direitos humanos somos responsáveis para que o convidado saia daqui sem ser vítima de qualquer constrangimento e sem se sentir molestado. Sou membro recente desta Comissão, mas a visão de direitos humanos que eu tenho envolve também esses aspectos.

Se houver consenso, se for de comum acordo, se ele concordar em ir lá depor, não haverá nenhum problema, mas se for de maneira coercitiva desmora-lizará esta Comissão. E, se isso acontecer, vou protes-tar em plenário e em todos os espaços que eu tiver à disposição para fazê-lo, porque não aceito e não con-cordo com essa posição da Comissão Parlamentar de Inquérito. Como eu disse, reverencio todo o trabalho que qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito tem por fazer, sobretudo esta, cujo objeto é relevante, mas é muito constrangedor para a Comissão de Direitos Humanos ter um de seus convidados, imediatamente após a reunião aqui havida, ser conduzido de maneira coercitiva para a CPI.

Então, apelo aos Deputados Laerte Bessa e Pompeo de Mattos, que está fazendo muito bem o seu papel de Presidente, intermediarem essa negociação, para que isso não venha a acontecer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Deputado Sebastião Bala Rocha, para o conhe-cimento dos demais colegas Parlamentares, informo que estamos dialogando com o Presidente da CPI das Escutas Telefônicas, o Deputado Marcelo Itagiba, com o Relator e com outros interlocutores daquela Comis-são. Estamos próximos de acertar uma relação ética entre a Comissão de Direitos Humanos e a Comissão Parlamentar de Inquérito. Sabemos o poder que tem a Comissão Parlamentar de Inquérito, mas também temos consciência da responsabilidade da Comissão de Direitos Humanos. É óbvio que não vamos tolerar nenhum constrangimento para esta Comissão. Seria muito grave para a Comissão de Direitos Humanos trazer um convidado para relatar a sua condição de vítima de perseguição política e policial, tentativa de assassinato, ameaças de morte e ele sair daqui pre-so ou conduzido sob vara para depor numa CPI. Uma coisa não combina com a outra.

Era apenas esse detalhe que queria informar, sem desconhecer as prerrogativas da Comissão Par-lamentar de Inquérito, que todos respeitamos profun-damente.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Concede-me V.Exa. mais 30 segundos, apenas para dizer que propugno pelo entendimento, pelo acordo e que se marque outro, a menos que ele concorde em depor hoje.

Eventualmente, se CPI mantiver sua decisão, a minha sugestão ao convidado é que ele permaneça no recinto da Comissão de Direitos Humanos e que nós fiquemos aqui também, garantindo a ele toda a proteção do ponto de vista dos direitos humanos, que envolve tudo, vida e liberdade. Faço essa sugestão ao convidado. Se ele se sentir constrangido, que perma-neça no recinto da Comissão e que garantamos a ele o direito de sair daqui como entrou.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Inclusive já estamos entrando em contato com o Presidente da Câmara dos Deputados, o Deputado Arlindo Chinaglia, e com a sua assessoria, para que possamos chegar a bom termo. Não queremos radi-calizar, nem de um lado nem de outro, até porque a Comissão pode ficar em reunião permanente e ofere-cer uma espécie de salvo-conduto ao convidado ou um asilo dentro da Comissão.

É uma situação bastante constrangedora para todo o mundo. Não é o que nos interessa nem o que

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04097

queremos. Queremos o diálogo. Com o diálogo, que está sendo estabelecido, temos condições de avançar.

Enquanto esse diálogo se processa, vamos con-ceder a palavra à Deputada Iriny Lopes, que já foi Pre-sidenta desta Comissão, mas que possivelmente nunca tenha vivenciado momento como este em que eu estou tendo uma experiência única nesta Comissão.

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES – Sr. Presi-dente, demais colegas e pessoas presentes, como foi citado pelo Sr. Daniel o nome do meu assessor, eu que-ro relatar o fato a esta Comissão, para que não paire dúvida alguma o que ocorreu nos últimos dias.

Fui procurada por algumas entidades de direitos humanos que, conhecedoras da gravidade das denún-cias apresentadas pelo Sr. Daniel e preocupadas com a sua integridade física e a sua vida, me solicitaram que intermediasse perante o Governo a proteção, até porque aguardavam o julgamento, pela OEA, de peti-ção para que o Sr. Daniel venha a receber do Governo brasileiro proteção.

Após conversa que mantive pessoalmente com os Ministros Paulo Vanucchi e Tarso Genro e com o Dr. Luís Fernando, Diretor-Geral da Polícia Federal, iniciou-se um processo para que fosse garantida pro-teção à vida do Dr. Daniel.

Teríamos 2 possibilidades: uma seria o enquadra-mento do caso na condição de defensor ameaçado; a outra seria o enquadramento do caso na condição de testemunha sob ameaça.

Tendo em vista que o Dr. Fernando se encontra presente, representando a Secretaria de Direitos Hu-manos da Presidência da República – eu pediria ao Dr. Alexandre que deixasse o Presidente aqui, porque S.Exa. poderá fazer alguma pergunta, e também do ponto de vista que essa Comissão vai fazer, o relato que eu estou fazendo será de alguma utilidade.

Todas as conversas foram conduzidas no sentido de que o Dr. Daniel, mesmo que não fosse em caráter definitivo, ficasse no PROVITA, uma vez que tecnica-mente ainda não havia condições de enquadrá-lo no Programa de Proteção a Defensor ameaçado.

A decisão de não aceitar, pelas razões aqui ex-postas por ele mesmo, entrar no PROVITA foi do Dr. Daniel. O comentário de natureza pessoal feito pelo Hugo, que trabalha comigo e que é militante de direitos humanos há muito tempo, foi de um certo constran-gimento – e aí, Dr. Daniel, cada tem o seu direito de pensar com base nas suas convicções. O comentário do Hugo foi no sentido de que um defensor de direi-tos humanos, pelo menos na nossa visão de direitos humanos, não usa arma, uma vez que ele se apropria do que a lei lhe oferece como proteção.

O PROVITA é uma conquista dos direitos hu-manos. Esse programa não foi dado por Governo al-gum não. Houve uma luta prolongada dos militantes de direitos humanos neste País para conquistar esse programa. Ele pode não ser o melhor, mas é o que conseguimos.

O comentário feito pelo Hugo não interferiu de modo nenhum no fato de hoje o Dr. Daniel não ter proteção. A decisão de não entrar no PROVITA foi do próprio Dr. Daniel, como ele aqui relatou.

Então, quero deixar isso bastante esclarecido, para que não paire dúvida alguma.

O nosso interesse, a nossa responsabilidade é manter vivos todos aqueles que denunciam atos de violação de direitos humanos, assim como aqueles que denunciam atos de corrupção seja contra quem for e em qualquer esfera. Nossa responsabilidade é pro-curar manter essas pessoas vivas, para que tenham prosseguimento as investigações e os responsáveis por aquilo que está sendo denunciado sejam devida-mente responsabilizados.

Não é interesse de ninguém interromper o pro-cesso de busca de proteção. Também não é verdade que as pessoas não morram neste País em decorrência das denúncias que fazem. A nossa galeria de mártires é bastante extensa. Mas a galeria de crimes sem a con-clusão da investigação, a apresentação da denúncia e o devido processo, com a devida responsabilização de alguém, também é bastante ampla neste País.

No Brasil, claro, há uma coisa chamada impu-nidade, que permite que pessoas continuem sendo assassinadas, que corruptos continuem corruptos. Não damos menor importância a esse tipo de coisa, não. Nós damos importância máxima à manutenção da vida daquelas pessoas que fizeram denúncia e de quem quer que seja.

Repito: quero deixar isso bastante claro, porque não partiu, nem partirá jamais, da parte de alguém que trabalha comigo a interrupção da busca de proteção a quem quer que seja.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Com a palavra o Dr. Daniel Ponte.

O SR. DANIEL PONTE – Exma. Sra. Deputada, primeiramente, quanto ao Dr. Hugo, só tenho a agrade-cer o empenho que ele teve, assim como o empenho de V.Exa. O que o Dr. Hugo colocou para mim não foi a visão dele. Ele deixou isso muito bem claro. Foi a visão de pessoas ligadas ao Executivo. Isso eu deixo bem claro. E, mais uma vez, registro nos Anais nesta Casa meu elogio ao Dr. Hugo e a V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Estamos satisfeitos com a manifestação de um ou de outro. Temos, ao final da reunião, apenas esse

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04098 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

impasse que diz respeito à relação com a Comissão Parlamentar de Inquérito das Escutas Telefônicas. Não conseguimos chegar a um termo comum nas negocia-ções, que ainda espero possam avançar.

Por isso, quero sugerir, com base na manifestação de cada um dos Parlamentares, inclusive do Deputado Bala Rocha, Vice-Presidente da Comissão, que, ao in-vés de encerrar, suspendamos os trabalhos desta Co-missão para continuar essa negociação – e acredito que ela será ser breve – a fim de encontrar um ponto comum com os colegas da Comissão Parlamentar de Inquérito, e, a partir daí, equacionar essa situação que, para mim, acabou sendo um drama que estamos vi-venciando aqui a Comissão por conta do que....

O SR. FERNANDO MATOS – Sr. Deputado, estou entendendo, com a devida vênia, que a sessão está caminhando para ser suspensa. Meu nome é Fernando Matos. Sou coordenador do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos – o Dr. Felipe coor-dena a área de direitos humanos da Polícia Federal. E eu gostaria, até porque várias vezes o programa foi citado, se possível fazer, fazer alguns esclarecimentos a esta Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – O senhor é o Dr. Fernando Matos? E o Dr. Felipe Seixas é Diretor de Divisão dos Direitos Humanos da Polícia Federal? Não tem nenhum problema. Esta é uma audiência pública. Se V.Sas. têm interesse em se manifestar, a Comissão está aberta, e eu posso fran-quear a palavra, não sem antes atender, pela ordem, o Deputado Chico Alencar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Sr. Pre-sidente, ainda sobre o impasse extra-audiência pública. Indago a V.Exa. se o Dr. Alexandre já firmou, dentro das negociações, porque houve muita conversa pa-ralela em meio à audiência pública, um compromisso com os membros da CPI acerca de uma data para comparecer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Essa é a nossa vontade. O Dr. Alexandre confir-mou comigo a disposição de, ao ser intimado, marcar uma data para comparecer a CPI, e assim o assunto estaria encerrado. Acho que é o correto. Da nossa parte, não há nenhum óbice, até porque não haverá nenhum constrangimento, mas está remanescendo ainda um pouco de resistência na Comissão Parla-mentar de Inquérito.

É esse que acordo que queremos fechar. Gosta-ríamos que hoje fosse feita a intimação com data mar-cada para ele comparecer à Comissão de Inquérito. A Comissão de Direitos Humanos não opõe nenhum óbice nem tem como interferir, até porque a CPI tem autonomia.

Esta é a negociação estabelecida. Estamos aguar-dando a palavra final da Comissão Parlamentar de Inquérito.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – O senhor me cede a palavra em nome da CPI?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Com muito prazer, Deputada Marina Magges-si.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Acontece o seguinte: ouvi aqui falar-se de asilo... Nós não vamos torturá-lo na CPI. Ele não precisa de asilo político, nem precisa de proteção. Ele vai lá respon-der as perguntas que ele quiser responder. Ele pode chegar lá, por exemplo, e se negar a responder, pois tem essa prerrogativa.

Agora, isso virou um constrangimento muito gran-de para todo mundo, porque parece de novo: a CPI dos Grampos está cheia de policiais, então lá só tem safado. Aqui, na Comissão de Direitos Humanos, são os anjinhos. Não é verdade isso.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Não houve nada disso, não.

É o que a mim me pareceu, o senhor me descul-pe. O senhor falou o que parecia para o senhor, agora o senhor ouça o que me parece. Eu senti isso.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – (ininteligível) ... a CPI pudesse constranger qualquer convidado.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Exatamente. Então, o que acontece? Ele foi convoca-do duas vezes, inclusive eu trouxe o Boletim Interno da corporação, que foi levado agora para o Deputado Arlindo Chinaglia. Ele foi convocado por meio do Bo-letim Interno da corporação. Todos os trâmites foram cumpridos. Todas as vezes em que foi convocado pela CPI, ele dizia: “Ah, não vou, não vou, não vou”.

Não criamos nenhum constrangimento. O que aconteceu é que respeitamos o horário da convocação. O horário dele era 14 horas, o mesmo horário daqui. Nós respeitamos e esperamos ele acabar. O Deputa-do Marcelo Itagiba resolveu até esperar a Ordem do Dia acabar. Há uma resistência muito grande por parte dele. Ele não quer ir à CPI porque está sendo convoca-do na condição de ter sido acusado de um crime. Ele também gosta muito disso, de fazer tumulto.

Por mim, eu voltava lá para o plenário, porque tenho de acompanhar uma emenda na MP nº 422, pela Amazônia úmida, e estou aqui nesse ramerrame. Por mim, aceito marcar outro dia para ele vir. Só que quem vai escolher esse dia é a CPI, certo? Aqui ele foi convidado; lá, ele foi convocado. E tenho certeza de que ele não vai comparecer, mas ele vai incorrer nas

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04099

penalidades da lei. Por mim, abro mão disso, porque acho coisa de criança, meio doentia.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Quero elogiar a Deputada Marina Magessi, mas não concordo com essa visão que ela tem de que aqui é uma Co-missão dos anjinhos e lá é a dos bandidos. Não existe isso. Aliás, bandidos e anjos às vezes estão dentro da gente mesmo. Então, vamos deixar esses juízos de valor moral de lado.

Eu entendo, primeiro, que a CPI é um instrumento da democracia, pelo qual o delegado Alexandre tanto clamou no belo texto que leu ao final do seu depoimento, que deve ser respeitada sempre. Ela já produziu nada e já produziu resultados muito bons para o País.

A CPI convoca, a Comissão convida. Convocado por CPI, seja para que depoimento for, ninguém lá é constrangido, torturado, nada disso. As reuniões são públicas, e o depoente tem de ser respeitado.

Vejo na transigência da Deputada Marina Mag-gessi um fato novo e importante. Então, quero fazer um apelo ao delegado Alexandre, que muito contribuiu com esta Comissão. Tudo que os senhores disseram aqui será considerado. Vamos fazer uma reunião ad-ministrativa da Comissão com os Parlamentares para ver os desdobramentos que já começam na audiência pública da próxima terça-feira. Vamos procurar o Go-vernador do Estado. Isso não vai ficar simplesmente como um espetáculo verbal.

Entendo que é isso mesmo. A Comissão, por inter-médio de seus membros, pode determinar o dia, pode ser hoje às 9 da noite, pode ser daqui a uma semana. A ponderação para ser em outro dia, para desvincular o convite feito pela Comissão de Direitos Humanos da coerção para depor numa outra, é uma transigência, até porque poderiam fazer isso. Seria uma bela notí-cia: “Foi à Comissão Direitos Humanos e saiu em cana para a CPI”. Esse seria o lead.

Mas se há transigência, o impasse está resolvido. Agora, é óbvio que qualquer convocado que não apa-recer na CPI vai sofrer todas as sanções legais com o apoio dos Parlamentares desta Comissão, aliás, dos 513 Deputados da Casa.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Para o senhor ter uma idéia, o ex-Ministro Sepúlveda Per-tence e o Ministro Gilmar Mendes, assim como várias autoridades, já prestaram depoimento. Já conheço a personalidade da pessoa que faz esse tipo de resis-tência. Acho também que se deve desvincular mesmo, porque esta Casa não pode servir de palco para esse tipo de coisa. Eu me sinto envergonhada, tanto na qua-lidade de policial quanto na de Deputada Federal.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Com a palavra o Deputado Sebastião Bala Ro-cha.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Deixe-me só eu dizer a Deputada Marina – nós es-tamos nos conhecendo praticamente hoje – que eu não conheço os membros da CPI, nem fiz qualquer prejulgamento com relação a isso, mas com relação ao constrangimento. Estamos numa Comissão de Di-reitos Humanos. E sair alguém daqui praticamente con-duzido à força não fica bem, Deputada. Se a CPI tem mecanismos para conduzir de maneira coercitiva hoje, tem mecanismos para conduzir de maneira coercitiva amanhã. Que o faça se julgar prudente. Defendo que o delegado Alexandre – quero deixar bem clara a mi-nha posição – vá à CPI, seja hoje, seja amanhã, seja depois de amanhã. Não tem porque temer a CPI.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu sou um servidor público, eu vou a qualquer lugar, desde que regularmente intimado. Estou mostrando para o Vice-Presidente o que está acontecendo.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Deixe-me concluir, depois o senhor fala. Minha posi-ção é a de que o senhor vá a CPI. E até hoje. Se ele for convidado e concordar, não tem problema nenhum.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Ele veio aqui, depois vai lá na CPI. Mas conduzido à força não fica bem, Sr. Presidente.

Agradeço à Deputada Marina Maggessi. Não houve nenhum prejulgamento. Não tenho preconceitos. Tenho muitos amigos policiais. Existem bons policiais no Brasil. No meu Amapá, há bons policiais. Espero que o que foi dito aqui da senhora tenha sido injusto. Realmente, estou lhe conhecendo agora, e devoto à senhora toda a consideração.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Só um minutinho. Ele sabe que é injusto.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Não estou fazendo qualquer prejulgamento nem com relação a senhora nem com relação aos mem-bros da CPI

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Te-nho 18 anos de Polícia e moro num apartamento, alu-gado, de 50 metros quadrados. Tenho muita honra de ter sido Chefe da Inteligência da Polícia. Não fui para Corregedoria de Polícia para prender bandido, para prender policial bandido. Fui para a Inteligência da Polí-cia e acho que o Brasil inteiro conhece o meu trabalho. Essa é uma questão pessoal que não cabe aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito. É que o palco de discussão desse tema

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04100 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

não é a Comissão de Direitos Humanos. Aqui é um outro propósito, e essa vinculação se estabeleceu na medida em que ficou uma questão umbilicalmente li-gada e meio oportunística, ao menos é o que passa a impressão. Alguém é convidado para vir na Comis-são de Direitos Humanos na condição de vítima para apontar fatos graves em relação à corrupção policial e, aproveitando-se a oportunidade – é a impressão que passa – é carregado coercitivamente para uma CPI. Isso não pega bem para Comissão de Direitos Humanos. É só isso que queremos desvincular. Absolutamente não entramos no mérito da convocação. O que questiona-mos é tão-somente a forma de se proceder.

Então, peço à Deputada Maggessi que confirme essa posição com o Presidente da CPI, o Deputado Marcelo Itagiba ....

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ele está conversando com o Presidente desta Casa agora.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – ...bem como com o Relator e traga uma posi-ção oficial. Acho que essa é uma saída honrosa para a CPI e para a Comissão de Direitos Humanos. E vai fazer que nosso convidado, que lá convocado, assuma a responsabilidade de comparecer à CPI numa outra oportunidade. Se não o fizer, responderá sob as penas da lei. A CPI tem os mecanismos legais e formais para fazer que ele compareça de forma adequada.

Eu gostaria de obter a confirmação, porque isso facilitará nosso trabalho. Não tendo essa confirmação, vamos manter a Comissão de Direitos Humanos em reunião permanente, porque sinto que este é o am-biente que aqui está estabelecido.

Enquanto não vem a resposta, ouviremos a pa-lavra do Dr. Fernando Matos, Coordenador-Geral do Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, e, em segui-da, o Delegado Felipe Seixas, Diretor da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal.

Com a palavra o Dr. Fernando Matos.O SR. FERNANDO MATOS – Sr. Deputado, per-

mita-me. Até por uma questão cronológica, eu gostaria que fosse feita uma inversão. Já conversei com o Dr. Felipe a respeito. Ele poderia falar primeiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Pois não. Então, falará primeiro o Dr. Felipe Seixas, Diretor da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal.

O SR. FELIPE SEIXAS – Sr. Presidente, agra-deço a V.Exa. a concessão da palavra.

Desejo esclarecer que sou Chefe da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal e fui eu quem deu

o parecer contrário à entrada do Sr. Daniel Ponte no Serviço de Proteção a Depoente Especial.

Minha manifestação aqui restringir-se ao problema da proteção e não às graves denúncias reveladas nesta Comissão, até porque o Ministério Público Federal, ao invés de requisitar a instauração de inquérito à Polícia Federal, entendeu que se tratava de atribuição da Po-lícia Civil, competência da Justiça Estadual, e encami-nhou o caso ao Ministério Público Estadual.

No que se refere especificamente à proteção, o Sr. Daniel Ponte procurou a Polícia Federal, e, assim que foram mostrados quais seriam os requisitos para a entrada no programa, ele recusou, porque não concor-dava com as regras. Acho que isso está bem claro.

Então, ele ajuizou uma ação judicial requerendo a proteção. A liminar foi denegada em primeira instância e concedida em segunda. Só que não foi concedida totalmente, mas em parte. Então, o Sr. Daniel Ponte desistiu da ação e entrou com novo mandado de se-gurança, que, por prevenção, caiu na mesma vara, com o Dr. Lafredo Lisboa. Mais uma vez, a liminar foi denegada, e, na sentença, o Dr. Lafredo Lisboa deter-minou que a Polícia Federal fizesse, sim, a segurança, a escolta do Sr. Daniel Ponte até que fosse analisado o pedido de ingresso no Serviço de Proteção ao De-poente Especial.

Na análise do pedido de ingresso, foram conside-rados todos os requisitos legais, e ficou bem claro que o Sr. Daniel Ponte não os preenchia, principalmente por não concordar com as regras, e esse é um requi-sito que está na norma.

Então, por esse motivo, o ingresso no Serviço de Proteção ao Depoente Especial foi negado e, de acordo com a ordem judicial da 3ª Vara Federal, foi suspensa a segurança. Foi exatamente esse o contorno que teve a sentença da Justiça Federal.

Queria esclarecer à Comissão que foi oferecido o Serviço de Proteção ao Depoente Especial, assim como foi oferecido o PROVITA – o Dr. Fernando Matos vai esclarecer melhor como ele funciona –, mas não houve aceitação.

O Dr. Daniel Ponte também alegou que o argu-mento da Polícia Federal seria que ele não é teste-munha em processo criminal. É verdade. Na própria petição do Sr. Daniel Ponte ao juiz, ele não menciona nenhum processo criminal. Eu ouvi o Sr. Daniel Pon-te, no Rio de Janeiro, e ele realmente não tinha um procedimento instaurado, formal, para que houvesse esse ingresso. Mas, independentemente disso, o que é mais importante é a falta de anuência do Sr. Daniel Ponte com as condições do programa.

Finalmente, eu gostaria só de fazer um último comentário em relação ao Superintendente Regio-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04101

nal da Polícia Federal, Dr. Valdinho Jacinto Caetano, uma pessoa altamente íntegra e que eu acho que não fica bem relacioná-lo a casa de prostituição, a omis-são em investigações, simplesmente porque ele está numa reportagem de uma revista policial. É como se eu prestasse algum depoimento em qualquer meio de comunicação e entre seus anunciantes houvesse alguma entidade que tivesse alguma coisa contra os direitos humanos, e eu ficasse mal em minha atuação à frente da Divisão de Direitos Humanos. Isso não tem nenhuma relação, e essa é uma acusação, ao meu ver, irresponsável.

Obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito obrigado.Para uma rápida consideração, com a palavra o

Dr. Daniel Ponte.O SR. DANIEL PONTE – Dr. Felipe, eu acho que

o senhor equivoca-se em 2 pontos: um, que eu sou testemunha da própria Polícia Federal em inquérito aberto, antes de o senhor dizer ao contrário, coisa que eu vou representar contra o senhor na Corregedoria. E, segundo, se o Superintendente da Polícia Federal é pessoa tão íntegra, fato que eu não duvido, ele deve coibir essas casas que estão aqui. A partir deste ins-tante, ele tem ciência legal das casas de prostituição, que sonegam contribuições do INSS, impostos. Tem competência federal. Ele pode ir lá e fechar, na revista em que ele está na capa – na capa, não, no interior.

Só essas observações.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Pois não. Com a palavra o Dr. Felipe, para encerrar.O SR. FELIPE SEIXAS – Se o Sr. Daniel Ponte

é testemunha da própria Polícia Federal, deveria ter dito isso no seu requerimento à Justiça. Não sei se é este inquérito em que ele teria sido intimado, o que eu realmente desconheço, que foi a causa das suas ameaças. E a lei é bem clara ao dizer que no inquérito em que ele é testemunha é que deve ser a causa das ameaças, para ensejar o ingresso no programa.

Então, em nenhum documento a que eu tive acesso, existe esse inquérito da Polícia Federal que o Sr. Daniel Ponte menciona.

Sobre a questão da competência federal, não precisamos ficar divagando aqui, porque isso é cons-titucional.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito.

Parece-me que está superada essa questão, até porque há um aspecto maior nisso tudo: ele próprio recusou a proteção, até porque, imagino, ele pensava que a proteção fosse de uma maneira e, quando foi

ver o programa, era de outra forma. Respeitamos a posição dele, como temos que respeitar a posição do programa. Tenho bem clara essa compreensão.

Muito obrigado, Dr. Felipe, pelas suas palavras. O senhor é uma pessoa por quem temos, na Comissão de Direitos Humanos, o mais profundo respeito. Sua atuação não só neste caso, mas em vários outros de-põe a seu favor. E nós podemos dar este testemunho público – não só eu, mas outros tantos Parlamentares que o conhecem perfeitamente.

Passo a palavra agora ao Dr. Fernando Matos, Coordenador-Geral do Programa Nacional de Prote-ção de Defensores de Direitos Humanos da Secreta-ria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.

O SR. FERNANDO MATOS – Muito obrigado, Sr. Presidente, Deputado Pompeo de Mattos.

Desejo agradecer a oportunidade de esclarecer um pouco como funciona o Programa de Proteção aos Defensores, até como forma de contribuir não apenas nem relação ao caso concreto, mas no que diz respeito ao futuro debate que esta Casa travará sobre o marco legal dessa política pública.

Inicialmente, quero dizer que o programa foi lan-çado em 2005 pelo ex-Ministro e ex-Presidente desta Comissão, o ex-Deputado Nilmário Miranda, como uma das contribuições que o Brasil tem a dar para que dezenas de pessoas que dedicam a vida às causas da população brasileira – sindicalistas, padres, juizes, os mais diversos tipos de militantes em nosso País –, que enfrentam a morte todos os dias, tenham da parte do Estado uma proteção.

Esse programa funciona atualmente em 3 Esta-dos: Pará, Espírito Santo e Pernambuco. No ano passa-do, o Presidente Lula baixou o Decreto nº 60.044, que instituiu a Política Nacional de Proteção aos Defenso-res, definindo o que é o defensor de direitos humanos, com base em uma resolução da ONU, e dizendo o que caracteriza a violação dos direitos humanos.

Há em tramitação nesta Casa 2 projetos de lei sobre o assunto – um de iniciativa da Deputada Iriny Lopes e outro do Deputado Eduardo Valverde –, e o Governo Federal em breve estará encaminhando para apreciação dos Srs. Parlamentares um projeto de lei que vai regulamentar a criação do programa federal e dos programas estaduais.

Então, Sr. Deputado, nós estamos em um pro-grama em que não há marco legal.

Estive aqui no ano passado, a convite da De-putada Iriny Lopes e do Presidente Luiz Couto, para discutir a proteção aos defensores nos Estados do Pará e do Paraná. Defensores no campo, que estão sendo ameaçados em sua luta pela reforma agrária

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04102 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

e pela justiça social. É para mim uma honra retornar, e vim espontaneamente, porque o caso do Dr. Daniel se encontra sob análise da coordenação nacional do programa.

Recebemos diversos ofícios e comunicações, tanto da Deputada Iriny como do Presidente, Depu-tado Pompeo de Mattos, que encaminhou solicitação, a que já respondemos, para que, diante da gravidade das denúncias e da situação de ameaça ao Dr. Daniel Ponte, o programa o recebesse.

Convidei o Dr. Daniel, que foi trazido por nós a Brasília, para uma reunião sigilosa no Ministério da Justiça, com a participação da SENASP, da Assesso-ria Internacional da Secretaria de Direitos Humanos, da Coordenação Nacional do Programa de Proteção a Testemunhas. Apenas a Ouvidoria da Secretaria não pôde participar, porque o Ouvidor se encontrava adoen-tado. Foi uma reunião, no meu entendimento, bastante profícua. O Dr. Daniel apresentou essas denúncias que apresentou aqui hoje, e buscamos, dentro da possibi-lidade do marco legal em que nos encontramos hoje, uma solução para o seu caso. No dia seguinte à reu-nião, ele julgou que poderia correr risco ao retornar do aeroporto para sua residência, e, por empenho do Dr. Hugo Melo e do Dr. Felipe Seixas, foi possível viabili-zar o acompanhamento da Polícia Federal no trajeto do aeroporto até a residência.

Realmente, iniciei a reunião dizendo ao Dr. Daniel que todas as pessoas presentes nesta sala querem ajudá-lo a encontrar uma solução para sua proteção, dentro do que a lei prevê e do que o marco jurídico permite. No caso dele, a reunião foi no dia 27 de mar-ço, e nesse período nos reunimos com o Dr. Luiz Fer-nando, que já se reuniu com a Deputada Iriny, que já conversou com o Ministro Vannuchi. Estamos buscando uma alternativa, dentro do marco jurídico, que alcance a situação do Dr. Daniel Ponte.

Quero concluir dizendo, em primeiro lugar, que o PROVITA não é prisão domiciliar. Existem restrições, normas de segurança. Em função disso, mais de 3 mil pessoas passaram pela proteção do PROVITA, em 19 Estados, mais o programa federal. Nenhuma pes-soa morreu, nem sofreu atentado. E queremos que o Programa Defensores também tenha esse marco de excelência. Não queremos agir de maneira irrespon-sável. Por isso, estamos buscando uma solução que seja ao mesmo tempo técnica e garanta a integridade do Dr. Daniel Ponte.

Também quero dizer que o SPDE é o órgão da Polícia Federal para o depoente que não ingressa no PROVITA. Como está sob a gerência da Polícia Federal, as restrições são maiores do que aquelas para quem está inserido no programa. Tirando algumas situações

de segurança, a pessoa leva a vida mais normal pos-sível, tendo cuidado com a autoproteção. O Programa de Proteção aos Defensores tem um método inverso: queremos garantir que a pessoa continue no local da sua luta, para que não enfraqueçam as denúncias que está fazendo.

Esta Casa encaminhou, a Deputada Iriny pes-soalmente encaminhou, várias entidades nacionais e internacionais encaminharam o pedido do Dr. Daniel Ponte. E desde o dia 27 de março, há menos de um mês, estamos elaborando nosso parecer técnico sobre a situação dele. Por que? Porque ele é um funcionário público e algumas vantagens da sua proteção previs-tas na Lei 9.807, a Lei do PROVITA, não existem no Programa de Proteção aos Defensores. Então, esta-mos buscando uma forma compatível com a gravida-de das denúncias e com o que melhor caracteriza a sua proteção.

Para finalizar, quero dar um depoimento. Em mo-mento algum, o comentário que ele apresentou como tendo sido externado a ele pelo Dr. Hugo Melo este fez conosco. Em nenhum momento, o Dr. Hugo Melo ligou, a não ser para pedir por ele, para apoiá-lo, a se esforçar para que ele tivesse um atendimento ágil, correto, dig-no. Em momento algum, o Dr. Hugo Melo fez conosco qualquer comentário que tenha feito à pessoa do Dr. Daniel. Então, nada disso interferiu, nem interferirá na apreciação do caso dele na Coordenação.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito obrigado, Dr. Fernando Matos. Quero re-cordar que em 1999/2000, integramos a CPI do Nar-cotráfico. V.Sa. acompanhou e acredito que o Dr. Felipe também. A Polícia Federal esteve na frente conosco.

Sofríamos muitos constrangimentos exatamen-te quanto à proteção da testemunha. Muitas pessoas queriam proteção, mas quando viam o que existia, não gostavam, porque imaginavam um céu aberto, que teriam 2 seguranças ao lado o dia inteiro e poderiam fazer as mesmas coisas que faziam antes. Isso não é possível. É uma coisa muito rígida, bem restrita, e acaba tolhendo bastante a liberdade do protegido. E é assim até para poder garantir a segurança. Então, não é como as pessoas imaginam. Por conta disso, muitas pessoas não gostam do que vêem, se decepcionam ante a perspectiva que tinham e recuam.

Isso é perfeitamente compreensível, mas não dá para massacrarmos o PROVITA. Nem dizer que é o melhor programa do mundo. Mas é o melhor que temos, isso sim. O objetivo da Comissão de Direitos Humanos e de tantos quantos militam nessa área é melhorar o programa cada vez mais, e sabemos que para isso precisamos de recursos.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04103

Tem a palavra o Deputado Chico Alencar, que fez a última incursão com os nossos colegas da Comissão Parlamentar de Inquérito das Escutas Telefônicas.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Dizem que administrar bem é não criar problemas além dos que já existem no cotidiano. Podemos desarmar um problema que surgiu hoje. O Presidente Arlindo não está na Casa, quem preside a sessão é o Vice-Presidente, Deputado Narcio Rodrigues, e há um consenso nas consultas informais aos Líderes. A sessão está trans-correndo com assuntos relevantes.

Conversei também com o Presidente da Comis-são Parlamentar de Inquérito das Escutas Telefônicas, que ponderou que não temos nenhum interesse em usar força coercitiva para um convocado comparecer à CPI, que está aqui ao lado, a 10 passos. Orientou-me a ponderar com o Dr. Alexandre e a pedir a intercessão do Deputado Pompeo para que, uma vez concluída esta audiência ou a Ordem do Dia, ele apenas com-pareça, porque, embora tenha me mostrado que deu a resposta, eles não receberam essa comunicação da impossibilidade de comparecer hoje.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Foi feriado na segunda, e ontem foi ponto facultativo. Eu estive na Chefia e protocolei a resposta, porque na segunda não havia ninguém lá, como ontem também não havia. Embora não fosse feriado, foi ponto facul-tativo. E hoje é feriado lá. Mas a resposta em nenhum momento desconsiderou a autoridade da CPI. Sou um servidor público e tenho local fixo de residência. Tan-to é que os caras me acharam e me deram 8 tiros na porta da minha casa. Se o bandido me acha, como é que um Deputado que foi delegado da Polícia Federal não vai me achar?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Ninguém está falando que não achou. Apenas o que se pondera agora, e acho absolutamente razoável e simplificador, é o seguinte: V.Sa. iria sem nenhum constrangimen-to, escolta, daria 10 passos até a Comissão, que está reunida e o ouviria, em 2 minutos, se for o caso, à sua escolha, garantida constitucionalmente. O senhor pode dizer primeiro: estou aqui, de corpo presente, atenden-do a esta convocação, para dizer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não estou atendendo a essa convocação. Vou ser sincero. Elegi como prioridade atender a esta convocação.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Tudo bem, mas como a CPI está reunida...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Vou dar satisfação ao Dr. Marcelo Itagiba, que é o Presidente, quanto à impossibilidade de fazer, o que já está escrito. É porque ele ainda não chegou.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Está bem, mas como ele não recebeu, não custa nada...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Mostrei ao Vice-Presidente da Comissão, que já leu e entendeu totalmente.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Ele está com toda a disposição. Então, apelo ao senhor, inclusive em respeito à Câ-mara dos Deputados...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Deputado, pelo amor de Deus, V.Exa. me constrange ao falar que apela.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Claro, para sim-plificar.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Vou lá com a maior boa vontade, sem problema ne-nhum. Quero apenas ter o direito de falar com o Dr. Marcelo Itagiba em particular, para explicar a ele o porquê da minha posição. Entendeu?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Não, mas não precisa ser em particular.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Até em respeito a esta... Faço questão. Sabe por que?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – O se-nhor falou de coisas muito mais graves aqui, em pú-blico. Aqui é o espaço...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – É, mas tudo bem, não tem problema, eu queria con-versar com ele...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Sim, mas vai ter...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – ...para ele entender o porquê. Porque devo satisfa-ção à Comissão e...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Os se-nhores podem até jantar no Piantella, e pede para ele pagar, porque ele ganha mais do que o senhor. E me convidem, porque eu nunca fui e tenho curiosidade nessa conversa.

Brincadeiras à parte. A solução está aqui. O Dr. Marcelo Itagiba está aqui do lado, com o Deputado Simão Sessim e 3 ou 4 membros da CPI. Seria uma conversa com as formalidades da convocação, mas em tom amistoso, informal. O desdobramento compete a V.Sa. e à CPI, se vai fazer outro depoimento, se vai dizer que não tem nada a dizer, que se sente ofendi-do com a convocação. Não acontece nada e resolve, inclusive libera os servidores públicos, que têm mais o que fazer.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Deputado, vou deixar claro o seguinte: vou compa-recer para justificar a minha ausência...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Perfei-tamente.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – ...que já está justificada pelas vias que eles esco-

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04104 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

lheram. Tecnicamente, o servidor público é intimado, e não requisitado.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Isso. Está certo.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Requisitado é o militar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Está certo. Não, mas só...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Então, não fui intimado, não, senhor.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Não, mas só para comparecer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu gostaria que me mostrassem esse mandado...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Está certo.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – ...porque ninguém bateu na minha casa para me mostrar. A requisição, Dra. Marina, eu sou delegado de polícia...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Ou a gente quer simplificar ou quer esticar a corda e brigar. Se o senhor diz que comparece lá para dizer da im-possibilidade de comparecer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Com certeza. Com certeza.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – ...está fei-to, está resolvido e nós vamos para a nossa sessão.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Já expliquei isso ao Vice-Presidente, ele já enten-deu...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Não quero ficar em vigília por 24 horas.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Não, com certeza, com certeza.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Há ou-tras causas mais nobres.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Vou lá explicar. Não vou falar nada hoje, mas garanto que vou trazer tudo que tiver que trazer...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Claro.O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO

– ...para demonstrar fartamente tudo o que está acon-tecendo. Aliás, já demonstrei ao Vice-Presidente a documentação nova que tem... Quer dizer, é de 1º de abril, Dia da Mentira. Mas tem outras anteriores tam-bém. O próprio supedâneo da justificativa caiu por água abaixo. Mas não pára só aí. Existem outros fatos que mostrei a ele e ele achou razoáveis.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Mas é assunto lá da CPI.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Mas acho que o Presidente da CPI primeiro tem que

ouvir, ler e depois me chamar. Não vou fugir, tenho que me operar, tenho endereço certo e sabido, sou funcionário público. Então, não há problema nenhum, não estou com a mínima preocupação de ser ouvido, até porque não serei só eu, outras pessoas poderão ser ouvidas também. Então, vamos com tranqüilidade, não sei o porquê da pressa, dessa celeridade despro-positada. Eu, que deveria estar com mais pressa de me curar, não estou com toda essa pressa. Estou sem meu dedinho aqui tranqüilamente, me tratando. Então, está tranqüilo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Estou vendo que há impasse e não quero ser pego de surpresa.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Não, mas a informação que tenho é que ele vai lá e vai ter que sentar para depor. É a informação que tenho. Então, por conta disso, quero conferir... É a in-formação que o Deputado me deu. Quero deixar bem claro que, se for para ele ir lá, nós vamos juntos, ele vai ser intimado para comparecer tal dia, intima-se e vai embora. Nesse aspecto, não há nenhum óbice. Di-ferentemente disso, não encerro a sessão.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Mas regimentalmente não podemos fazer isso, porque já começou a Ordem do Dia, ninguém pode votar reque-rimento hoje.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Mas ele pode ser intimado.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Mas tem que ser votado um requerimento na CPI.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Votar para intimar?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – É.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Mas já tem para intimar e ele não foi intimado até hoje. Já está aprovado o requerimento.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ele foi, sim.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu não fui intimado, Excelência.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Ele foi intimado...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Eu fui intimado?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Por favor. Está intimado no boletim interno da corporação inclusive.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Não, mas boletim... A pessoa tem que intimar pessoalmente.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04105

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Pessoalmente. A intimação é pessoal.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – A intimação é pessoal. Não é militar.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Para policial não precisa. A gente lê no BI.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Não, não...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – O que é isso, doutora? Dra. Marina, pelo amor de Deus!

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Mas ele tem que ser intimado pessoalmente. Isso é direito da pessoa.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Isso é pessoal, está aqui. Tem 3 súmulas do Supre-mo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Ele tem que ser intimado pessoalmente. Quero deixar claro que não vejo constrangimento nenhum. A Comissão Parlamentar de Inquérito o intima, ele está intimado. Se não o acharam antes, agora o acharam.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI – Sim, inclusive fui eu que vim fazer isso aqui. Nós o intima-mos para amanhã, às 9h.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) – Intima-o, e eu o libero para depor amanhã, depois de amanhã, semana que vem, o dia que me-lhor convier. Nesse aspecto, temos tranqüilidade para acertar isso.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Sr. Pre-sidente, só para esclarecer uma coisa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Pois não.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Ele não vai atender à intimação. Pelo que conversamos, ele não vai atender à intimação. E tem as suas razões, não vou discuti-las.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Isso é outra questão.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Não vamos discutir. Mas poderíamos solucionar da seguinte forma, não custa nada: V.Exa. pode acompanhá-lo. Vamos lá. Ele não tem nada a declarar, ele vai dizer apenas que não tem nada a declarar e não precisa receber outra intimação, não precisa assinar intimação, não precisa receber outra convocação.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Excelência, eu tenho a declarar, sim. Só não vou ad-mitir que os senhores utilizem um ardil para que isso aconteça. Porque o que está acontecendo aqui, o se-nhor me desculpe, é um ardil. Seus próprios colegas, seus pares, já verificaram isso. E eu já lhe expliquei,

já lhe mostrei a documentação, já lhe mostrei que a justificativa não subsiste e não me furtei de respon-der. Apenas houve um feriado no Rio de Janeiro na segunda-feira, um dia imprensado na terça, e hoje é feriado, na quarta. Mas a resposta foi dada ao Chefe de Polícia.

O servidor público civil é intimado pessoalmente. Os acórdãos que estão aqui são claros nesse sentido. O servidor militar é requisitado. Então, não recebi ne-nhuma intimação. Está aqui o fax que recebi e mostrei ao senhor. E não se assinalaram os 10 dias que a lei impõe para que alguém que foi intimado compareça. O mínimo de 10 dias. Eu não posso ficar aos caprichos: amanhã você está aqui de manhã. Isso não existe, Excelência.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Dr. Neto, deixe-me explicar. Não vamos discutir.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – A docu-

mentação do Dr. Neto é regular. Eu concordo com ele. Ele tem as razões dele, documentadas. Não discuto. Mas estamos aqui para fazer um acordo para solucio-narmos um problema que surgiu entre 2 Comissões. Estamos fazendo acordo, já não estamos discutindo nem a legalidade da CPI, nem a legalidade da Comis-são de Direitos Humanos, nem a sua legalidade. Es-tamos discutindo um acordo para encontrarmos uma solução. Se você quiser no futuro voltar aqui, tudo bem. Mas você tem que declarar agora, porque foi votado requerimento lá. Mesmo que não tenha a declarar, em 5 minutos solucionamos o problema.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Mas vou declarar que me vejo impedido...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Impedi-do, você disse.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO ...de prestar qualquer informação e tendo em vista que estou com o boletim de... Acabou.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Não, não tem outra. Você está com atestado médico.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Está aqui, tenho o BIM da...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Você está com atestado médico e poderá dizer: estou com atesta-do médico, não posso responder agora e me disponibi-lizo para que, numa outra oportunidade, possa vir...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Excelência, preste atenção. Doutor, Deputado...

O SR. PRESIDENTE (Deputado (Pompeo de Mattos) – Deputado Bala, por favor. V.Exa. tem o mi-crofone, pode falar no microfone.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Já falei isso com o Vice-Presidente, não foi, doutor?

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04106 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Eu já lhe mostrei... Eu não fabriquei atestado médico. Estou com o BIM até o dia 30 deste mês.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Estou perguntando ao Deputado Laerte se ele não pode ir lá e mediante atestado médico justificar...

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES – Dr. Alexan-dre, por favor, calma. Já entendemos. Deixe o Vice-Presidente dialogar com o Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Por favor.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Estou consultando... V.Exa. é Vice-Presidente, não é, Deputado?

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Não, não sou Vice-Presidente, sou membro da Comissão.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Estou tentando ajudar também, como estão todos ten-tando colaborar. Quero saber se ele pode comparecer à Comissão e justificar que hoje não pode depor...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Exata-mente.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – ...porque está de atestado médico e marcar uma nova data.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Com certeza, mas eu já falei isso para o senhor aqui. Já lhe mostrei a documentação.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Deputado Laerte, o que foi entendido preliminarmente foi que ele deveria ir lá na condição de intimado e ficar calado ou dar uma justificativa oficial...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA – Não.O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA

– ...na Mesa, e ele queria justificar ao Presidente da Comissão. Ou ele vai ter que justificar na mesa?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Bom, vou fazer o seguinte.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA – Pode ser na mesa também?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Permitam-me fazer a questão clara. Vou suspen-der a sessão, e vamos conversar com o Presidente. Gostaria que outros colegas Parlamentares nos acom-panhassem nessa conversa. Se nós não nos enten-dermos, quem haverá de se entender? Não está en-tendido ainda. Vamos clarear bem essa questão. Acho que dá para, entre mortos e feridos, nos salvarmos todos, porque estamos numa causa do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, em função do Brasil e de um preceito maior, que é fazer justiça nas coisas claras da forma mais correta e mais reta, e não com ardil, com oportunismo. É essa a diferenciação. Muito obrigado.

Está suspensa a reunião.(A reunião é suspensa.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Está reaberta a sessão de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos.

Estivemos conversando com o Deputado Marcelo Itagiba, Presidente da Comissão Parlamentar de In-quérito dos Grampos Telefônicos. Estiveram conosco os Deputados Chico Alencar, Iriny Lopes e Sebastião Bala Rocha. Estabelecemos um diálogo e acertamos o seguinte: vamos encerrar a sessão, o Dr. Alexandre comparece à CPI e diz por que não quer ou não pode depor agora. Definido isso, acerta, em comum acordo com a CPI, uma nova data para dar o depoimento, re-cebe a intimação e está liberado para seguir viagem, voltar ao Rio de Janeiro. Depois, vai comparecer à CPI de acordo com a intimação que lhe vai ser feita na Co-missão Parlamentar de Inquérito.

Esse é o acordo firmado, com base no que nos sentimos contemplados. Acho que é uma saída im-portante, séria, honrosa, tanto para a Comissão Par-lamentar de Inquérito quanto para a Comissão de Di-reitos Humanos. Acho que conseguimos recuperar a boa relação. Vamos mantê-la daqui para a frente, com a intensidade que se faz necessária entre os integran-tes deste Parlamento.

Dr. Alexandre, esse é o acordo. V.Sa. comparece agora, nós vamos juntos, abre-se a sessão da CPI, o Deputado Marcelo Itagiba lhe concede a palavra, o senhor dá as explicações, acerta-se então nova data para o depoimento, o senhor é intimado dessa nova data e está liberado para seguir viagem.

O impasse está encerrado e também está encer-rada a presente audiência pública.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Declaro aberta a presente reunião de audiên-cia pública, que tem como finalidade debater a política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, em atendimento a requerimento do ilustre Deputado Chico Alencar, aprovado no âmbito desta Comissão.

Estou substituindo o Deputado Pompeo de Mat-tos, que, por compromisso fora de Brasília, não pôde comparecer a esta audiência.

Registro a presença do Deputado Marcelo Itagiba, que preside a CPI das Escutas Telefônicas Clandes-tinas e foi Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Seja bem-vindo, Deputado Marcelo Itagiba.

O SR. DEPUTADO MARCELO ITAGIBA – Muito obrigado, Sr. Presidente, pela recepção. Vim cumpri-mentar os presentes, o Deputado Marcelo Freixo, que enobrece a Assembléia Legislativa do Estado do Rio

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04107

de Janeiro, bem como o Coronel Mário Sérgio, digno representante da Polícia Militar do nosso Estado.

Peço licença a V.Exa. para me ausentar, em fun-ção da Presidência da Comissão Parlamentar de In-quérito que apura as escutas telefônicas. Tão logo seja necessário estarei pronto para atender qualquer solicitação desta Comissão.

Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Obrigado, Deputado Marcelo Itagiba. V.Exa. é bem-vindo a esta Comissão.

Quero justificar que tenho um compromisso inadi-ável daqui a alguns minutos, e o Deputado Chico Alen-car vai presidir a audiência pública no começo, assim que organizarmos a Mesa.

Dando início aos nossos trabalhos, convido para compor a Mesa a Sra. Márcia de Oliveira Silva Jacin-tho, parente de vítima. Seja bem-vinda, D. Márcia, sua presença certamente será de grande valia para os tra-balhos desta Comissão.

Convido para compor a Mesa a Sra. Patrícia de Oliveira da Silva, representante da Rede contra a Vio-lência. Seja bem-vinda também, Patrícia.

Convido o Tenente-Coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, Presidente do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. S.Sa. representa nesta audiência o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Dr. José Mariano Beltrame.

Com satisfação, convido o Deputado Estadual Marcelo Freixo, da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Para que não haja depois solução de continuida-de nos nossos trabalhos, convido desde já o Deputado Chico Alencar para presidir a reunião, enquanto me ausento por alguns minutos.

Sou o Deputado Sebastião Bala Rocha, do Ama-pá, Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos. Para nós é uma grande honra recebê-los aqui para este importante debate proposto pelo Deputado Chico Alencar e que, certamente, contribuirá muito para que a paz no Rio de Janeiro possa prosperar.

Em nome da Presidência da Comissão, agrade-ço aos convidados a presença e passo a direção dos trabalhos ao eminente Deputado Chico Alencar, autor do requerimento.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) – Agradeço ao Deputado Sebastião Bala Rocha, Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Mi-norias da Câmara dos Deputados, e informo que esta audiência, do ponto de vista de sua qualidade e da re-lação do Legislativo, especificamente, com o Executivo do Rio de Janeiro, reveste-se de enorme importância, sobretudo pelo tema que aborda e que tem a ver com

uma sociedade menos destrutiva, políticas públicas que viabilizem convivência melhor entre as pessoas, até porque há um problema na relação entre esta Co-missão e o Governo do Estado.

O Deputado Luiz Couto era Presidente da Comis-são no ano passado, quando fizemos reiterados pedidos de informação sobre a rumorosa ação de ocupação policial do Complexo do Alemão, e o Governo jamais respondeu a este Poder.

Já tive a oportunidade de reclamar diretamente com o Governador sobre esse descaso, que infeliz-mente aconteceu. Agora, sem fazer nenhum acerto de contas, estamos numa audiência pública para debater, consolidar visões, discutir procedimentos. Creio que ela pode representar um salto adiante nessa relação.

Convidamos o Secretário de Estado de Segurança Pública, que, infelizmente, não pôde comparecer. Está aqui representado pelo Tenente-Coronel Mário Sérgio. V.Sa. terá que assumir aqui a condição de represen-tante do Governo do Estado do Rio de Janeiro, e os Deputados vão fazer as solicitações e ponderações que entenderem necessárias.

Temos uma dinâmica nas audiências públicas sempre premida pelo pouco tempo. Esta também é uma semana atípica. Quando há feriado na quinta-feira, parte da Câmara dos Deputados sofre uma in-fluência de outros compromissos externos e acaba reduzindo a assiduidade. E nós reclamamos da crítica da imprensa. Talvez isso explique o baixo quorum. De qualquer maneira, o importante da audiência é que ela aconteça e reverbere.

Agradeço também aos demais convidados a pre-sença e sugiro que as intervenções sejam feitas na ordem da própria composição da Mesa e, em nome da concisão, no tempo de 10 minutos para cada con-vidado. Depois, os Deputados têm sempre a priorida-de no uso da palavra, para que até o início da Ordem do Dia – que poderá ser às 16h, às 17h, pode nem acontecer, mas é improvável – possamos ter chega-do a algumas conclusões. É claro que quando digo 10 minutos é com alguma tolerância. Ninguém vai ter a palavra cortada ex abrupto, como aprendi com o De-putado Wilmar Palis.

Começaremos com a Sra. Márcia de Oliveira Sil-va Jacintho, que traz no seu corpo, na sua história de vida, uma dor que não ficou só na dor. Ela transformou essa dor em consciência, em atuação, em luta contra a violência no Rio de Janeiro. Portanto, terá muito a nos dizer.

A SRA. MÁRCIA DE OLIVEIRA SILVA JACIN-THO – Boa-tarde a todos.

Primeiro agradeço ao Chico, a quem chamo assim com carinho, porque, desde 2003, quando o conheci,

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até hoje sempre está conosco, ajudando-nos. Ele já me trouxe aqui e incansavelmente continua lutando pelos familiares de vítimas da violência no Estado do Rio de Janeiro.

Sou mãe, sou avó, mas está faltando uma pes-soa na minha casa, que, aos 16 anos, foi executado por agente do Estado do Rio de Janeiro. Há 5 anos e 6 meses, luto. Fiz dessa dor, como disse o Chico, luta por outros, para ajudar. Meu caso está bem avançado, apesar da demora. Consegui mostrar que o meu filho não era aquele traficante que botaram no chamado “auto de resistência”. Implantaram um 38 e 3 trouxi-nhas de maconha, para poderem sair impunes. Mas, com a ajuda de muitos, até mesmo do Marcelo Freixo, que está presente, a quem agradeço – na época ele não era Deputado –, da mídia e de companheiras, que digo que hoje aprendi a respeitar, amar, abraçar e chorar junto, com muitas outras mães que não estão tendo a oportunidade de estar aqui...

Meu garoto tinha acabado de fazer 16 anos, es-tava no 2º grau e foi executado à queima-roupa. Isso está nos autos do processo. A minha luta com certeza é por justiça, dignidade e respeito às comunidades. Luto por isso, e isso me dá força para viver, até para que um dia meu netinho de 3 anos possa viver num Estado mais tranqüilo.

Não quero usar muito tempo, mas peço a esta Casa, ao Deputado Chico, que, com certeza, está lu-tando pelo Rio de Janeiro – está lá conosco e está aqui –, que alguém do Governo Federal tome uma providência rápida no que diz respeito aos chamados “autos de resistência” da Polícia do Estado do Rio de Janeiro, que têm levado muitas mães e muitas famí-lias a chorarem. Na verdade, assinam embaixo, e fica por isso mesmo.

Sei que algumas pessoas aqui, como a Patrícia e o Deputado Marcelo, vão falar sobre o “inseticida social”. Isso é um desrespeito muito grande à popu-lação carioca das comunidades mais pobres. Somos pretos, somos negros, somos pobres, sim, mas dignos e honrados.

Eu trabalho. Graças a Deus, voltei a trabalhar. Lá muitas pessoas descem de madrugada para trabalhar e, inclusive, vão descer para votar. Então, não somos mosquitos, não somos insetos.

Espero que o Estado consiga resolver o problema da dengue com um inseticida para matar o mosquito da dengue e que não sejamos chamados de mosqui-to, de inseto pela PM. Espero também que não se fale desse “inseticida social”. Isso aí é um desrespeito muito grande aos direitos humanos.

Aprendi – e luto por isso – que tenho direito de fazer este ato de repúdio aqui, porque, para mim, isso

é um desrespeito muito grande. Peço ao Deputado Chico Alencar e aos outros Deputados que estão aqui que lutem por nós lá no Rio de Janeiro e coloquem um freio nisso, porque, nessa onda de criminalizar a pobreza, há muito sangue sendo derramado no Rio de Janeiro.

Com certeza, a violência não está lá em cima, na comunidade. O tráfico organizado não está lá em cima, na comunidade. Quando não há educação, pode até ser que sobre violência. Mas, na verdade, a violência já começa quando o Estado não nos respeita, quando o Estado não nos dá educação.

Fiz tudo isso pelo meu filho, e o Estado deve isso a mim. O Poder Judiciário deve isso a mim. O Ministé-rio Público deve isso a mim. Não estou pedindo favor nenhum. Consegui descobrir tudo isso. E eles tinham e têm de fazer muito mais, antes de assinar embaixo de um “auto de resistência”: “Era traficante, tinha de morrer”. Na verdade, isso já ultrapassou os limites.

Conheço também o Tenente-Coronel Mário Sér-gio, do BOPE. Em determinado momento, precisei dele, sim. E ele não negou ajuda. Ele foi junto, por uma outra pessoa, por uma outra família. Ele se colocou à disposição e me ajudou. Quero agradecer-lhe, Mário Sérgio, por aquele momento em que me ouviu, a mim e àquela tia, que, junto com um pai, foi procurá-lo. In-clusive, esse casal continua desaparecido. Mas você se empenhou. Então, quero agradecer.

Sei que a Polícia também faz coisas boas e tenho certeza de que ela pode fazer muito mais.

Era o que eu queria falar.Obrigada.O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar)

– Obrigado, Márcia, inclusive pelo exemplo de cum-primento do horário. Sobraram 2 minutos, que serão divididos, como se fosse horário eleitoral, entre os re-manescentes.

Passo a palavra à Sra. Patrícia de Oliveira Silva, representante da Rede Contra a Violência.

A SRA. PATRÍCIA DE OLIVEIRA SILVA – Boa-tarde a todos.

Gostaria de começar agradecendo à Comissão o convite. Acho muito importante estar aqui represen-tando a Rede. E a Márcia também faz parte da Rede. Ela se esqueceu de falar esse detalhe. Somos com-panheiras de luta.

Pensamos em fazer uma apresentação rápida – até para não cansar as pessoas –, para que os se-nhores percebam as coisas que acontecem no Rio de Janeiro.

(Segue-se exibição de imagens.)Este é o logotipo da Rede. Depois, vem uma

matéria falando sobre os “autos de resistência”. Ali

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04109

está o número de mortes – aumentou muito de 2007 para 2008.

Aqui fala-se da cidade do Rio de Janeiro. Depois vem uma outra apresentação.

Aqui fala-se de um caso do Jacarezinho. A Elisân-gela, uma manicura, foi assassinada numa incursão da Polícia Militar do 3º Batalhão. Ela veio a falecer. Ela estava com o filho no colo. O registro de ocorrência foi feito como “auto de resistência”. Como ela poderia es-tar com uma criança no colo e ainda carregar um fuzil? Mas é o que consta no registro de ocorrência.

Este é o caso do Juliano Rodrigues, um jogador de futebol, que também foi assassinado.

Este é o caso do vigia do posto de gasolina, o Rubineu, que foi assassinado. Todo mundo deve ter visto as imagens. O policial atirou nele porque acha-va que ele estava armado. Colocamos as fontes, tudo direitinho, para todos saberem. Este é o nome do po-licial, que já foi indiciado por homicídio.

Esta é a declaração do Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame: ”Infelizmente, não tem outro jeito. Lamento cada morte, trabalhamos para que não aconteça, mas a cada metro que avançamos o ata-que é feroz. Não posso fazer um bolo sem quebrar os ovos. O conflito na Vila Cruzeiro deixou até agora ao menos 16 mortos e quase 50 feridos à bala”. Fonte: Diário de Cuiabá.

Outra declaração: “Buscá-los na zona sul, no Dona Marta, no Pavão-Pavãozinho, eu estou muito próximo da população. É difícil a polícia ali entrar, por-que um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Favela da Coréia e no Complexo do Alemão é outra”. Fonte: jornal O Extra, Jornal do Brasil, jornal O Globo e jornal O Dia.

Aí vem a morte da Alana, uma menina de 12 anos que morreu de bala perdida na comunidade do Morro dos Macacos. Até hoje, o inquérito está parado. Não se chegou aos responsáveis.

Agora, declarações do Governador do nosso Estado, Sérgio Cabral: ‘“Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Ro-drigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia ou Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal’. Para o governador, os confrontos com criminosos nas fa-velas do Rio só vão terminar ‘quando a ordem pública puder chegar através de várias maneiras, dentre elas com o policial podendo andar fardado em qualquer lugar. Enquanto isso não for realidade, continuará ha-vendo confronto. Isso gera morte’, declarou”. Isso foi tirado de uma série de entrevistas que S.Exa. fez para o G1 da Globo.

Resolvemos incluir algumas mães. Ali estão a mãe da Alana, a Rosa; a mãe da Vanessa, a mãe do Jackson, adolescentes que foram assassinados, e a mãe do Tiago, que também foi assassinado.

Quanto ao andamento do inquérito do caso do Seu Áureo e da Danielle, que continua desaparecida – caso que a Márcia citou ainda agora –, até hoje, não se tem nenhuma resposta. A maioria dos casos é assim.

Andamento do inquérito da Fabiana, uma garota que morreu na comunidade do Morro da Mangueira. O avô dela também foi ferido. Até agora nada foi rea-lizado, nem a perícia técnica, nem a reconstituição do caso. Eles não têm informação.

Para fechar, o BOPE se muda para a Vila Cru-zeiro, e a declaração do Comandante Marcus Jardim: “O inseticida social: SBPM”.

Aí vem o caso do Davi, um jogador do São Cris-tóvão, que morreu de bala perdida na comunidade do Jacarezinho. Até agora, a família não sabe de nada, porque o inquérito está parado. Todo os inquéritos da 25ª DP ficam parados.

Tenho também um documento, que foi confeccio-nado com várias propostas do pessoal da Rede, para ser entregue à Comissão, pedindo para que ela vá ao Rio de Janeiro e acompanhe todos os casos de perto. Vá às comunidades para conhecer. São centenas e centenas de casos.

Ainda agora, recebi uma ligação do Rio de Janeiro. Estava havendo uma confusão em alguma comunida-de. Não sei qual foi porque a ligação caiu.

Então, acho que esta Casa tem o poder de fa-zer muita coisa, mas também temos de cobrar mais. E acho que haver esta audiência pública aqui hoje foi um grande passo. E, se nós conseguirmos fazer ou-tras audiências públicas, até com o Secretário, para não deixar o Tenente-Coronel Mário Sérgio em uma saia justa – porque acho que quem deveria estar aqui era o Secretário mesmo, ele não deveria ser repre-sentado, não, ele deveria explicar, porque foi ele que falou. Como o Coronel Mário Sérgio vai explicar uma declaração do Secretário? Não tem como explicar. Como vai explicar a declaração do Governador? Não tem como explicar.

Eu acho que nós deveríamos cobrar deles mes-mos. Mas é muito importante estarmos aqui hoje.

Era o que tinha a falar. Obrigada. (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar)

– Muito obrigado, Patrícia, da Rede contra a Violência, foi uma exposição também muito objetiva, com dados bastante concretos. Tenha certeza de que a Comissão

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04110 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

vai acolher tudo isso que você nos trouxe com todo o carinho e dar a importância que a situação requer.

Estou recebendo o documento formalmente. Qual-quer entidade, aliás, que estiver aqui presente e quiser fazer chegar a esta Comissão documentos, relatos, fique inteiramente à vontade.

Antes de passar a palavra ao Tenente-Coronel Mário Sérgio – que representa aqui o Governo do Estado, em especial o Secretário de Segurança –, Presidente do Instituto de Segurança Pública e que, certamente, vai nos trazer dados do Instituto em refe-rência a essa situação, quero apenas relembrar que esta audiência pública foi determinada, por último, em razão de algumas reportagens do jornal O Globo, que traziam estatísticas sobre a letalidade da ação policial no Rio de Janeiro.

E, de toda forma, ninguém está disputando esta olimpíada macabra – qual é a Polícia que mata mais e qual a que morre mais no Brasil. É sempre dramático sabermos que, por dia, em média, 17 pessoas perdem a vida no Estado do Rio de Janeiro. Isso não é normal, não temos de aceitar isso como algo da rotina.

O armamentismo das pessoas é crescente tam-bém, em boa ou má parte com a conivência da autori-dade policial. Enfim, o quadro é difícil já há muito tempo. E agora temos uma situação de muito conflito.

Semana passada, na Cidade de Deus, houve uma ocupação policial, e morreram 10 pessoas acusadas de estarem no tráfico e de terem resistido à presença da autoridade policial. Outras ficaram feridas, e uma senhora idosa morreu nessa ação.

Por isso, na perspectiva dos direitos humanos, sempre enfatizamos: qualquer ação pública da autori-dade policial tem de estar norteada pela preocupação da preservação das vidas.

Então, se numa ação fossem eliminadas 10 pes-soas que estavam atirando contra a Polícia, mas uma vítima inocente tombasse, essa ação, no mínimo, te-ria gravíssimas falhas. E isso tem sido recorrente, tem acontecido com muita freqüência lá.

Por isso é muito importante ouvir uma autori-dade do Governo do Estado. A Patrícia tem razão: o Tenente-Coronel Mário Sérgio não pode responder por declarações de outras autoridades; mas, por uma con-cepção de política pública de segurança, certamente, ele poderá responder aqui.

Então, com a palavra o Tenente-Coronel Mário Sérgio de Brito Duarte.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Primeiramente, gostaria de cumprimentar o Exmo. Sr. Deputado Chico Alencar e também o Exmo. Sr. Depu-tado Estadual Marcelo Freixo. Aliás, nunca estivemos

assim, com ele à direita. É a primeira vez em que vejo o Deputado Marcelo Freixo à direita.

Permito-me começar dessa forma porque já tive oportunidade de participar de outros debates com S.Exa. E, nas vezes anteriores, S.Exa. esteve senta-do à esquerda e fez menção ao fato de que eu estar à direita. Então, estou retribuindo a brincadeira ao De-putado Marcelo Freixo.

Também gostaria de cumprimentar as Sras. Már-cia e Patrícia. Já nos conhecemos de longo tempo também.

Dez minutos para falar sobre a situação do Rio de Janeiro é um tempo excepcionalmente exíguo. Havia preparado uma apresentação de 1 hora e meia, mas vou ter de condensar em 10 minutos.

Nessa apresentação de 1 hora e meia, eu iria fazer uma introdução de 10 minutos. Quer dizer, só a introdução levaria mais do que o tempo que me foi concedido – e eu já estou perdendo este tempo. Mas é absolutamente necessário que eu faça a introdução dessa forma, porque o quadro de segurança pública do Rio de Janeiro, que hoje nós defendemos, pelo menos em alguns espaços, em algumas localidades e em alguns momentos, não é um quadro comum de segurança, mas de conflito urbano armado, ainda que de pequena intensidade, não no sentido de guerra convencional – e essa expressão não é minha, mas de Alfredo Sirkis : “um conflito urbano armado de pe-quena intensidade”.

Explicar como isso aconteceu, como historica-mente se desenvolveu não é fácil, e é necessário um tempo maior para fazê-lo.

(Segue-se exibição de imagens.)Até 1985, 1986 ou 1988, ano em que fuzis co-

meçaram a ser exibidos, principalmente na Zona Sul, na Rocinha, o quadro era absolutamente diferente. Tínhamos, sim, uma certa agrestia do crime, que já estava num crescente – e quando falo do crime, falo do narcotráfico –, mas não tínhamos um vetor impor-tantíssimo: as armas de guerra, fuzis AK 47, Ruger, Fall e outros, que hoje encontramos em grandes quan-tidades na mão do tráfico.

A partir de 1988, com a vulgarização da cocaína – aliás, ouvi um estudioso falar em “democratização da cocaína”, expressão de que discordo peremptoriamente, porque, no meu entendimento, a cocaína foi vulgariza-da, não democratizada, porque democracia traz a idéia de bem comum –, esse comércio extremamente rico acabou atraindo a atenção dos traficantes de armas, e as armas foram colocadas no mercado.

Não demorou muito tempo para que os bandidos descobrissem, naquela extensão da sua sexualidade – o fuzil – motivo para incorporar um etos guerreiro.

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A Polícia custou a reagir, a entender o que se es-tava passando. Os fuzis do tráfico chegaram em 1988, os fuzis da Polícia só vieram em 1995. Na época, per-demos muita gente nos confrontos tão-somente por falta de equipamentos, de materiais que pudessem fazer frente àquela realidade.

Nunca desejamos o confronto, embora ouçamos muitos discursos que afirmam que desejamos a guer-ra. O confronto não é bom. Na semana retrasada, por exemplo, perdemos 7 policiais, 2 foram sumariamente executados dentro de uma patrulha. Quem quer um quadro desses? Quem é louco para pensar que de-sejamos isso? Não queremos em hipótese alguma. Há, porém, um momento em que é preciso enfrentar a situação, ainda que com alguma dor – e dor nossa também e principalmente.

O quadro que nós – e falo nós porque tenho 28 anos de Polícia e aqui estou na condição de membro da estrutura da Secretaria de Segurança sob a gestão do Dr. Beltrame – encontramos no Rio de Janeiro foi este aí, do dia 1º: “Véspera de Ano Novo tem novos atentados”, “Câmara de Vereadores de Caxias é me-tralhada”. Isso, no dia 1º do ano de 2007.

“Especialista sugere até estado de de-fesa.”

Vamos avançando porque temos pouco tempo. Esta é uma das viaturas apelidadas de Caveirão.

Aí, ela está numa posição estratégica para defender a Chefia da Polícia, que havia sido alvo de ataques na noite anterior.

Esta é outra manchete referente ao dia 1º: “Tensão nas delegacias à espera de novos ataques”. Na foto, que é do jornal O Globo, vemos policiais defendendo a delegacia do ataque dos “soldados” – entre aspas – do narcotráfico. Uma pessoa inocente foi baleada no dia anterior, na porta da delegacia.

Dia 2: “Bandidos voltam a atacar ônibus”. Os ata-ques continuavam.

“Três ônibus foram incendiados em Pen-dotiba, Niterói.”

“Bandidagem desafia Lula e Cabral com mais terrorismo.”

A idéia de terror – não um terror ideológico, um terror que serve de ferramenta de mudança política, mas um terrorismo de pavor – já começava a freqüen-tar, pelo menos, os jornais do Rio de Janeiro.

Dia 17: “Tráfico desafia polícia”. A foto nos mostra numa posição extremamente defensiva.

Vejam que em todas essas imagens, até aí, a nossa posição era defensiva. A nova gestão tentava entender o quadro, o que realmente estava se passando

no Rio de Janeiro e por que a posição que estávamos adotando não fazia efeito.

“Atentados teriam sido planejados na favela.”

Isso é no Morro da Mangueira. As ações espoca-vam em vários lugares diferentes ao mesmo tempo.

Esta é uma imagem de Vila Cruzeiro e da Man-gueira. Esses materiais colocados na pista não fazem parte de estratégias simples de bandidos comuns, de bandidos que não estão engajados, de bandidos que não desenvolveram uma estratégia de guerra, de enfrentamento. A bandidagem do Rio de Janeiro, ouso dizer, é diferente da de todo e qualquer Estado do Brasil.

Esta fotografia é muito interessante. Fiz questão de colocá-la, porque mostra policiais sendo alvo de disparos vindos do alto do morro. Detectei algo nessa foto que as pessoas não costumam ver porque não têm um olhar treinando para isso, e os discursos são sempre no sentido de que já chegamos atirando.

Vejam o que está oculto, o que não conseguimos, num primeiro momento, ver. Para nossa sorte, a foto-grafia mostra que os dedos polegares dos 2 atiradores, que são canhotos, não estão na tecla do gatilho – e eles não estavam posando para a fotografia.

Nesta foto, observamos também aquele poli-cial.

Agora, quanto à naturalização da violência, a Polícia está numa posição na qual pode receber tiro, e a população naturalizou o que jamais poderia ter na-turalizado: a hipótese de receber um tiro fatal de fuzil. E essa idéia é absorvida com uma facilidade muito grande. É claro que aquele é o espaço de vivência das pessoas, mas essa coisa se arrasta há tantos anos que elas naturalizaram a violência.

As armas, em geral, são aquelas que estão ali. Quando não são pistolas semi-automáticas, são fuzis de guerra.

Acreditem: as senhoras e os senhores não en-contrarão isso na cidade de Belo Horizonte e muito raramente vão ver em São Paulo. Não me recordo de isso ter sido visto aqui em Brasília ou uma cidade-satélite.

Infelizmente meu tempo deve está acabando. Como disse, preparei uma apresentação longa, até para fazer uma prestação de contas. Gostaria de apre-sentar alguns números, em relação aos quais talvez os senhores dissessem: “Ora, é argumento em favor do discurso contrário”. Mas tenho de ser transparente.

Eu iria mostrar que os autos de resistência aumen-taram, sim. É verdade. Agora, diminuiu a ocorrência de outros delitos, como, por exemplo, os homicídios, ou

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04112 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

seja, a morte de pessoas não engajadas em confron-tos. Mas isso seria uma longa apresentação.

Dessa forma, fico totalmente à disposição das senhoras e dos senhores.

Gostaria de agradecer...O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar)

– Esclareço a V.Sa. que, após a apresentação básica, os Deputados farão suas inquirições, e os convidados poderão falar novamente. Mas V.Sa. ainda tem alguns minutos.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Tenho ainda alguns minutos?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) – Sim.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Então, Sr. Presidente, vou aproveitar esses últimos mi-nutos para dizer que nós temos confiança no futuro.

Enquanto estivemos sozinhos, enquanto o proble-ma da segurança do Rio de Janeiro foi encarado como um problema só de polícia, estávamos enxugando gelo. As coisas eram resolvidas ou com o nosso sangue, ou com o sangue do criminoso, ou, infelizmente, com o sangue de vítimas inocentes, muitas vezes, acredito, até produzidas.

Estamos trabalhando com cultura, mas também com individualidades, com aquilo que é muito particu-lar ao ser humano. E sabemos que, com toda certeza, este não é o quadro que queremos para sempre.

Nós, policiais, acreditamos que um dia usaremos novamente o revólver e o bastão. Mas isso, infelizmen-te, ainda não será agora. Queremos ser uma polícia de mediação de conflitos, mas, acreditem, em alguns espaços não podemos sê-lo. Se eu exibisse aqui o qua-dro dos autos de resistência no interior do Estados, os senhores observariam que esse número é nulo, que não acontece. Ele acontece em áreas muito específi-cas onde há fuzis, onde há granadas – e a apreensão desse tipo de arma cresceu, nos últimos 3 anos, de cerca de 300 para quase 700 granadas. Infelizmente, são quadros de guerra: armas de guerra, condutas de guerra, resultados de guerra.

Com ajuda da população, com ajuda do PAC e do PRONASCI, que chegam com novos modelos de segurança pública, que chegam com novos insumos para se fazer algo mais pelas populações desassis-tidas, algo além do que o Estado tem feito, acho que teremos alguma chance de sucesso.

Senhoras e senhores, sou da área operacional da Polícia. Não escondo minha origem. Não sou do extrato acadêmico da polícia, porque ela tem também seu grupo de pensadores. Sou alguém que coman-dou o Batalhão de Operações Especiais e comandou o Batalhão da Maré. Sepultei 12 homens do Batalhão

da Maré, soldados meus, e sepultei 5 do Batalhão de Operações Especiais. Não gostaria de ter chorado o sangue desses homens e não gostaria de ver mães chorando o sangue de filhos, principalmente filhos ino-centes, como no caso de D. Márcia, aqui presente.

Desculpem-me se me emocionei em algum mo-mento. Mas nós que vivemos a situação do Rio de Ja-neiro e vemos lados sempre opostos, antagônicos, não conseguimos ficar apenas no campo da razão.

Agradeço a todos a atenção.Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar)

– Agradeço ao Tenente-Coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, Presidente do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), aqui representando o Secre-tário de Estado de Segurança Público, Dr. José Ma-riano Beltrame.

Para encerrar a fase inicial de explanações, con-cedo a palavra ao Deputado Marcelo Freixo, membro da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Le-gislativa do Estado do Rio de Janeiro.

O SR. MARCELO FREIXO – Obrigado, Deputado Chico Alencar, pelo convite.

Boa-tarde a todos.Tentarei ficar nos meus 10 minutos. É algo mui-

to difícil, porque acumulamos esse debate no Rio de Janeiro.

Tive oportunidade de debater várias vezes essa questão com o Tenente-Coronel Mário Sérgio. É um debate sempre muito importante e é ótimo que esteja acontecendo neste espaço político e público. Que isso possa se desdobrar num acompanhamento maior do cenário federal sobre o que acontece no Rio de Janeiro. Evidentemente, não é um problema exclusivo de quem mora no Rio de Janeiro.

É verdade que o cenário do Rio de Janeiro é muito grave no que diz respeito à violência urbana. Agora, é muito delicado quando um Estado ou um governo as-socia violência exclusivamente à criminalidade. Para mim, violento é tudo aquilo que atinge a dignidade hu-mana; violento, para mim, não é o que se transforma necessariamente em crime. Em sendo assim, política de segurança não deveria ser algo exclusivo das ações da Polícia Militar ou da Polícia Civil, como acontece no Rio de Janeiro. Caso contrário, transforma-se política pública de segurança em política de segurança públi-ca, o que passa a ser discutido exclusivamente pela Polícia. O que acontece é a militarização de uma refle-xão, de uma ação de Estado sobre, estrategicamente, algumas áreas, conforme o próprio Tenente-Coronel ressaltou na sua explanação.

Em algumas áreas, não é possível mediação. Vamos deixar claro: refiro-me às áreas pobres do Rio

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04113

de Janeiro. Não são áreas aleatórias. São áreas que conhecemos muito bem.

É bom dizer que a violência atinge, sim, o Rio de Janeiro. Os índices de homicídios baixaram, realmen-te, mas continuam elevadíssimos, continuam tendo média que é quase o dobro da média nacional, que já é elevada. Para cada 100 mil habitantes, são mais de 40 homicídios. Se for computada apenas a popu-lação jovem, esse número ultrapassa a casa dos 200 homicídios para cada 100 mil habitantes; se for a po-pulação jovem, negra e pobre, ultrapassa a casa dos 300 homicídios. Uma enormidade! Há uma situação de genocídio no Rio de Janeiro principalmente sobre a juventude pobre.

Então, para o Governo do Rio de Janeiro, os números não são nada razoáveis. Muito pouca coisa, novamente, verificou-se neste novo Governo – aliás, é vendida a imagem de novo Governo, apesar de se tratar da continuidade do Governo anterior.

Primeiro, quem são as vítimas da violência no Rio de Janeiro? Toda a população do Rio de Janeiro? Não. Vamos deixar claro: a violência não atinge a todos da mesma maneira.

O IBGE fez uma pesquisa muito interessante para calcular o IDH do Rio de Janeiro por bairros. Por exemplo, imaginou-se que a Barra da Tijuca pudesse ser uma república. Reuniu-se Barra, Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena, área a que se chamou de República da Barra. Depois, reuniu-se Leblon, Ipanema, Jardim Botânico, Gávea e Lagoa, área a que se cha-mou de República de Ipanema. Pois bem. Comparou-se depois o IDH dessas repúblicas com os números do cenário mundial. Pasmem: o IDH mais alto do mundo é o da República de Ipanema; em segundo lugar, está a Noruega; em terceiro, a Islândia; em quarto, a Sué-cia; em quinto, a República da Barra; depois, Austrália, Holanda, Bélgica, Estados Unidos...

Ora, o Rio de Janeiro está numa situação delica-da? Sim. Mas não é igual para todo mundo. Copaca-bana e Leme registraram, em 2004, 17 homicídios. No mesmo ano, no mesmo período, os bairros de Rocha Miranda e Acari, com uma população muito menor do que a de Copacabana e Leme, registraram 617 ho-micídios. Portanto, a violência não atinge a todos da mesma forma. As principais vítimas da violência são exatamente os moradores dessas áreas onde o Esta-do abriu mão da sua soberania.

O debate sobre a segurança pública no Rio de Janeiro é um debate sobre a soberania do Estado. O Estado abriu mão da sua presença, abriu mão de vasto território do Rio de Janeiro ao abrir mão da qualidade, da dignidade, da vida dessas pessoas. Esse é o debate de segurança pública.

Portanto, não é um debate sobre a ação exclusiva da Polícia. É um debate muito maior, muito mais sério, muito mais profundo: é sobre soberania.

O Complexo do Alemão – área bastante divulga-da do ano passado para cá devido àquela ação, que já vai completar um ano ––, com 180 mil moradores, maior do que boa parte dos municípios do próprio Rio de Janeiro, tem apenas uma escola estadual. Isso, porém, não entra no debate sobre segurança pública. Os postos de saúde não funcionam.

Observamos nas imagens apresentadas pela Sra. Patrícia e pelo Tenente-Coronel Mário Sérgio – e não são imagens contraditórias, são do mesmo ce-nário, onde o Estado não é presente – que não entra professor, não entra médico, não entra assistente so-cial, mas entra a polícia. Qual polícia? A polícia da ló-gica, da guerra, que é a do discurso irresponsável do Governador do Rio de Janeiro. Guerra contra o quê? Guerra contra as áreas pobres, exatamente as prin-cipais vítimas dessa falta de soberania e inclusive da própria ação letal.

No que diz respeito aos grandes grupos organiza-dos do Rio de Janeiro, os chamados narcotraficantes, o Estado é sócio dessa organização, porque qualquer motivo, um furto de celular, por exemplo, dá cadeia. E a pessoa é encaminhada à POLINTER, onde – e o Tenente-Coronel Mário Sérgio sabe disso – o agente do Estado pergunta: “Qual é a sua facção?”. E, se essa pessoa que furtou um celular tiver facção e dizer qual é, ingressa numa cela em que há outros membros da-quela facção, e toda sua vida prisional será cumprida junto com a facção a que pertence. Se essa pessoa não estiver numa facção e disser: “Não tenho”, o agente do Estado pergunta: “Onde você mora?” e, pelo local da moradia, determina: “Então, você é da facção tal”. Assim, a pessoa vai para aquela facção, e toda a sua vida prisional é cumprida junto com aquela facção, por-que a única classificação utilizada no sistema prisional do Rio de Janeiro é a divisão por facção.

O Estado, portanto, é um contribuinte da orga-nização dessas facções. Não estou com isso dizendo que se tenha de misturá-las. Não sou irresponsável. Mas, daí ao Estado classificar única e exclusivamen-te por facção qualquer pessoa presa, obrigá-la a ser de uma facção para continuar viva, é um absurdo. É criminoso o que o Governo do Rio de Janeiro conti-nua fazendo.

E chega ao ponto de sofisticar sua barbárie por meio de um carimbo – que eu denunciei e que foi capa de O Globo – em que se lê: “Declaração. Assumo to-tal responsabilidade sobre minha integridade física ao optar em permanecer no xadrez no qual predomina a facção denominada Comando Vermelho”. Isso é um

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carimbo do Estado e fica na ficha do preso, na PO-LINTER do Rio de Janeiro.

O Estado é sócio do que depois diz que é o nar-cotráfico e que justifica os seus elementos de barbárie sobre aquela população pobre. Não tem o Estado legiti-midade para chamar de narcotraficante setores pobres, esfarrapados, desdentados, que calçam Havaianas. Na verdade, por não ter coragem de enfrentar o real tráfico de armas, o real tráfico de drogas, que nunca se estabeleceu na favela, justifica com uma política e com o discurso de guerra, nos setores pobres, a sua barbárie e sua ação letal.

Tentam construir uma legitimidade dizendo que essa é a única alternativa que têm, que não é possível uma ação preventiva. Então, entram exclusivamente com a Polícia.

Eu estive no Complexo do Alemão, um dia de-pois da operação em que 19 pessoas foram mortas: o comércio havia sido saqueado por policiais – e essa denúncia foi feita pelos moradores –, havia uma quan-tidade enorme de moradores revoltados, a comunidade inteira, sem luz, sem água, sem telefone. E, diga-se de passagem, muitos estão sem telefone até hoje, um ano depois. O Estado é incapaz de ir lá e consertar o telefone. Ouvi inúmeras denúncias de execução su-mária. E o mais impressionante: o tráfico continuava igualzinho. Nada havia mudado no dia seguinte àque-la operação.

Então, qual é a lógica? Qual é o objetivo? Dizer que o Rio de Janeiro está em guerra, qual é a ideolo-gia dessa guerra? O Comando Vermelho é vermelho porque é socialista e vai tomar o Estado? Mentira! Qual é o nível de organização que se tem? Por que guerra? Qual a ideologia de poder e de Estado? É um grupo de esfarrapados. Todas as imagens de confronto mostram garotos com nível de escolaridade baixíssi-mo, cada vez mais novos, sem nenhuma capacidade sequer de organização. Existe organização no tráfico? Existe. Mas ninguém tem dúvida de que o dedo que aperta o gatilho do fuzil não é o mesmo que conta o lucro do tráfico. O problema é que o Estado só se pre-ocupa com um dedo, porque sabe que os demais não pertencem às mesmas mãos. E, algumas mãos, ele aperta e ainda cumprimenta: “Como vai? Bom-dia”. Quanto a outras, ele executa.

Essa lógica perversa de segurança pública, cal-cada na idéia da criminalização da pobreza, tem no Caveirão, citado aqui, um dos seus modelos, dos seus símbolos. Se o Caveirão fosse utilizado, desde o início, realmente para proteger os policiais em momentos de conflitos, eu duvido que algum movimento de direitos humanos, que algum Deputado, algum Parlamentar,

algum morador da favela questionasse o seu uso, questionasse a utilização de carro blindado.

Esse é um carro usado exclusivamente para as favelas, como o BOPE se transformou num batalhão exclusivo para ações nas favelas – e a culpa não é do BOPE, isso é uma política de governo, uma política de criminalização da pobreza, de controle de gueto.

É bom dizer que o Caveirão foi utilizado em outros lugares antes do Brasil. Qualquer um pode conhecer sua história no Museu do Apartheid, na África do Sul, onde esse veículo era chamado de “Yellow Mellow”. E era um carro muito utilizado no Governo da África do Sul na época do apartheid. Pois bem. Esse é o carro utilizado no modelo de segurança pública em vigor no Rio de Janeiro.

Esse carro, muito antes de proteger a Polícia – que tem de ser protegida, mas, espero, com uma política de valorização da sua vida, passando por um salário digno e não este que é aviltante... Não se faz segu-rança pública ganhando 700 reais por mês, mas isso não é discutido pelo Governo do Rio de Janeiro, que negou um aumento para os policiais no ano passado. Na verdade, o uso do Caveirão é uma forma de blindar a segurança pública, dizendo que ele protege o poli-cial. O Estado, porém, deveria proteger o policial com uma formação acadêmica adequada, e não colocá-lo na ACADEPOL, por meio de convênio espúrio com a Universidade Estácio de Sá, para que lá dentro eles privatizem a formação dos policiais, como acontece no Rio de Janeiro. Temos emendas e denúncias sobre isso na própria Assembléia Legislativa. Proteger o policial é não pagar um salário tão aviltante, é não tratar os que questionam a política do Governo com tamanha perseguição política como acontece hoje. Essas, sim, são formas de blindar a segurança pública.

Esse carro, o Caveirão, que entra nas comuni-dades, tem um alto-falante e é todo cercado de partes onde os fuzis são colocados, evidentemente de den-tro para fora, e atiram aleatoriamente. É evidente que não existe uma determinação para que atirem, até acredito que não existe, mas atiram aleatoriamente. São inúmeras as vítimas que não tinham qualquer re-lação com aquele conflito ali, cresceu muito o número de crianças e senhoras mortas em conflitos em que foi utilizado o Caveirão. Hoje, a frase mais conhecida dos moradores da favela é: “Sai da frente, vim buscar sua alma”. Essa é frase que sai do alto-falante de um carro blindado, que atira para todos os lados e entra na favela dessa forma.

Enquanto o Estado achar que deve tratar dessa maneira sua população, o que sobrou de uma sociedade de mercado, será um Estado totalitário que necessita de inimigos públicos para sustentar sua incapacidade

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04115

e dar garantias de segurança social, como emprego, escola de qualidade e, aí, claro, tentar dar garantias individuais com uma política fascista, que é o que hoje acontece no Rio de Janeiro.

Meu tempo já acabou.Obrigado a todos.O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar)

– Obrigado, Deputado Marcelo Freixo. Como viram, as visões são bem diferenciadas, e as posições estão aqui para serem explicitadas. Essa é que é a riqueza da audiência pública.

Vamos obedecer a uma seqüência de Parlamen-tares. Peço a todos os colegas da Mesa que, se for o caso, anotem e registrem o que for perguntado. Acho que é melhor para nossa dinâmica oferecer, primeiro, a palavra aos Parlamentares inscritos da Comissão, a Mesa vai anotando e faz depois suas considerações, de acordo com nosso termômetro da Ordem do Dia. E o que quiserem agregar ou contestar em relação ao que está sendo dito, já podem ir registrando para a próxima rodada.

Com a palavra o Deputado Veloso, da Bahia, pa-rente de Caetano Emanuel Veloso.

O SR. DEPUTADO VELOSO – São tantos os que têm o sobrenome Veloso, que não sei quais são os parentes, Deputado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) – Mas todos são bons.

O SR. DEPUTADO VELOSO – Quero inicialmente saudar a Mesa, na pessoa do Deputado Federal Chi-co Alencar, e dizer que realmente o Tenente-Coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, Presidente do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, tem razão quando disse que 10 minutos é tempo muito pequeno para fazer uma explanação desse porte.

Cumprimento, do mesmo modo, os demais con-vidados.

Presidente Chico Alencar, não vou inquirir ne-nhum membro da Mesa, mas dizer que a violência impera em todo o País.

Tenho feito uma reflexão sobre a violência n o território nacional. Em todos os lugares, as manchetes das rádios, dos noticiários da televisão, dos jornais, são sempre as mesmas: violência e delitos de todos os tipos – homicídio, estupro, latrocínio, assalto à mão armada –, e ficamos perplexos com a violência.

Quando aqui cheguei, a Sra. Márcia de Oliveira Silva Jacintho usava da palavra. Perder um filho ou um pai deve ser horrível. A senhora perdeu seu filho, e não sei o resultado, não sei se houve inquérito, se houve processo, se o responsável está preso. O nos-so Código Penal está obsoleto. Quando me pergun-tam se sou a favor da pena de morte, digo que não,

que não sou a favor da pena de morte porque sigo o mandamento de Deus que determina: “Não matarás”, mas sou a favor de prisão perpétua para quem pratica crime hediondo.

Não se pode admitir que alguém pratique um crime de natureza cruel, grave, hedionda. Às vezes a pessoa mata por motivo fútil, torpe, por crueldade. Essa pessoa vai presa, inicia-se o inquérito, o processo, vai a júri, o Conselho condena-a, aplica a sentença, e de repente ela está na rua. Foi uma vida. A senhora nun-ca se esquecerá do seu filho.

Acho que neste País não devia haver pena de morte, mas prisão perpétua. Bandido tem de ficar na cadeia, tem de morrer na cadeia.

Não há violência só em São Paulo, mas em todo o território nacional. Não sei até hoje, Sr. Coronel, Sr. Deputado, a quem apelar. Não se deve apelar mais a governante. Sra. Márcia, temos de entregar tudo a Deus. Somente Ele fará justiça.

Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar)

– Obrigado, Deputado Veloso. Tem a palavra o Deputado Pastor Manoel Ferrei-

ra, do PTB do Rio de Janeiro, o centro do furacão. São Paulo, Deputado Veloso, não nos superou.

O SR. DEPUTADO PASTOR MANOEL FERREI-RA – Sr. Presidente, cumprimento V.Exa., os compo-nentes da Mesa, os expositores.

Com todo respeito que tenho por V.Sas., lamento profundamente a falta do Governador e do Secretário de Segurança Pública. É a eles que gostaria de dirigir a palavra, sem querer, de maneira alguma, diminuir a competência, a capacidade, a inteligência de V.Sas.

Cumprimento também o Deputado Estadual Mar-celo Freixo, membro da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

Ouvi a exposição do Coronel Mário Sérgio, Pre-sidente do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. S.Sa. não poderia expressar-se de outra for-ma. Tentava, de qualquer maneira, amenizar a cruel situação da segurança no Estado. Na história do Rio de Janeiro, nunca se matou tanto, nunca se morreu tanto como agora. A dengue mata de um lado e o Po-der Público de outro. Isso é lamentável.

Foi muito oportuna a fala do Deputado Marcelo. S.Exa. disse que é difícil o homem expor sua própria vida sem dignidade, porque não tem um salário à al-tura, para que possa atender as necessidades de sua família.

Há poucos dias tivemos a chamada guerra dos coronéis. Muitos deles perderam seus cargos, suas posições no Estado porque bateram de frente com o Governador em busca de melhor salário e de maior

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respeito à vida humana. Muitos perderam o coman-do; outros, suas posições de destaque; e vários deles estão chorando porque defendiam a justiça. Não co-nheço RI, regulamento, mas a dor da barriga, da fome fala muito mais alto do que tudo. V.Exa., que faz parte desse grupo de companheiros, não pode ignorar isso de maneira alguma.

Política de enfrentamento foi o que encontrei na-quele painel ali, quando cheguei.

Certa vez perguntei ao Governador se de fato essa era a melhor política para a segurança pública do Rio de Janeiro. Ele já foi logo cortado o diálogo. Dis-se: “Bandido se enfrenta é com bala”. Acho que não é dessa forma. Nós enfrentamos o bandido com bala quando ele mede força conosco, em legítima defesa. É isso que a lei autoriza. Creio que, nesses embates, muitas vezes imperou essa necessidade. Mas nem sempre. Não pode o helicóptero passar por cima, dis-parando metralhadora, como se estivesse num campo livre, sem gente embaixo. Nem o chamado Caveirão... O Governador prometeu, na sua campanha, que ja-mais entraria um Caveirão daquele numa favela ou numa comunidade para enfrentamento com bandido. Agora, a notícia que se tem é que vão ser comprados mais 10 Caveirões. Significa dizer, Deputado, que vai dobrar o embate.

Quanto às chamadas facções, eu as tenho até como sorte. Ai de nós se os bandidos se unirem! Aí, possivelmente, eles terão poder de fogo, que nós não temos, para tomar até o Estado de Direito. Ai de nós! Ainda bem que são facções. Eles não conseguem se unir. Divididos, para nós, para a polícia, para a segu-rança, é mais fácil.

Coronel, nós acreditamos na polícia do Estado do Rio de Janeiro. Como sociedade, não podemos perder a credibilidade na polícia, porque nossa segurança está primeiro nas mãos de Deus e, depois, nas mãos das autoridades, da polícia. Se a população perder essa esperança, essa confiança, a situação poderá tomar um rumo muito diferente. E hoje, no Rio de Janeiro, o mesmo medo que o povo tem do bandido está tendo da polícia.

A polícia tem uma missão muito especial, mesmo que contrariando, talvez, o próprio Governador e o Se-cretário de Segurança Pública. Mas os senhores terão um papel muito interessante. Os coronéis perderam a batalha, porque até hoje não se fala em aumento, em nada. Também não se fala em dar mais dignidade e respeito à polícia, em ouvi-la mais.

A política de enfrentamento, de força com força é terrível. Acho que se agíssemos com um pouco mais de inteligência com a política pública... E hoje já temos um aparelhamento bom de Estado. A política do Rio de

Janeiro, inclusive em relação a algumas táticas, como ocorreu com a questão do seqüestro... Estamos de parabéns no Rio de Janeiro. Foram buscar tecnologia, experiência e inteligência lá fora, mesmo em Israel. E sabemos que o Rio de Janeiro, hoje, é modelo na área de segurança contra seqüestro, essa coisa toda. Por que não procurar buscar essa inteligência para investir em outras áreas?

Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a oportunida-de. Não vai aqui nenhum propósito, mas um constran-gimento, uma profunda tristeza, porque vejo que, na área de segurança do Rio de Janeiro, acompanhando a cabeça do Governador, que bate contra os próprios coronéis da polícia, há uma política de enfrentamento. E matar bandido é como matar rato. Matam-se 10 hoje, amanhã aparecem 20. É uma coisa terrível!

Portanto, temos de encontrar uma saída para esse problema. E é nas mãos dos senhores que está a saída.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) – Obrigado, Deputado Pastor Manoel Ferreira.

Depois de ter desfrutado das delícias do poder transitório – é a nossa sina –, convido o 1º Vice Pre-sidente da Comissão de Direitos Humanos, Deputado Sebastião Bala Rocha, para reassumir a Presidência. Antes, porém, informo que o Deputado Geraldo Tha-deu, de Minas Gerais, membro titular desta Comissão, está em reunião do MERCOSUL. Daí a impossibilidade do seu comparecimento.

Tenho aqui a relação. Eu também estou inscrito. Vamos avançar.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Pois não, Deputado Guilherme Menezes.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES – Informo ao Deputado Chico Alencar que S.Sa. havia se inscrito antes de mim. Por sugestão dele, que es-tava na mesa, eu coloquei meu nome na frente, mas a prioridade é de S.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Reassumo, então, a Presidência. Afirmo que o Deputado Chico Alencar tem todos os requisitos, muita experiência na Casa e respeito para assumir a Presidência desta Comissão de forma permanente. O partido de V.Exa. ainda é considerado como minoria na Casa, mas vai crescer. O PSOL vai crescer, e V.Exa. ocupará não só esse posto, mas outros grandes pos-tos na Câmara dos Deputados.

Concedo a palavra ao Deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04117

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Pelo que estamos conversando aqui há mais de 1 hora, isso vai ocorrer se eu não morrer de susto, bala ou vício.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – O meu Bala é de paz, de velocidade. Não tem nada a ver com violência. É do futebol.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Na bar-riga da miséria, eu nasci brasileiro, sou do Rio de Ja-neiro. Agora até mais, depois que até o Chico Buarque se converteu ao Flamengo.

Dirijo-me especialmente ao Tenente-Coronel Má-rio Sérgio.

É claro que todos vão falar ao final. Mas, do ponto de vista de uma política pública de segurança – o dis-cernimento do Deputado Marcelo Freixo foi muito im-portante –, as autoridades do setor, no Rio de Janeiro, têm mapeado o quadro do crime de tráfico de drogas e armas. Entendo isso, porque alguns Secretários de Segurança, colegas nossos, Deputados, disseram-me que sim. É uma empresa capitalista, muito próspera.

Quem são os barões das drogas, os atacadis-tas? Nas comunidades pobres, temos o varejo e os soldadinhos. Os generais e os barões não estão lá. Quer dizer, qual é a política consorciada, inclusive, com autoridades federais para se inibir sobretudo o armamentismo?

Sempre repito que, para mim, muito mais grave do que ver um menino com sacolé de cocaína, com uma trouxinha de maconha – nem sei se existe isso; agora o crack chegou no Rio – é ver um menino com uma AR-15.

Moro num bairro do Rio de Janeiro, pago IPTU. Sempre que estou lá vejo isso. Meus convidados tam-bém, nesse final de semana, viram os meninos. Eu já aviso: “Não fiquem nervosos, porque não seremos assaltados. Isso é uma certeza”. Pode haver, eventu-almente, troca de tiros. Dizem: “Ai, vem um carro da polícia ali”. Volto a dizer: “Não fiquem preocupados, tem mensalão aqui, já está tudo acertado. Eles não vão entrar em confronto, a não ser que tenha havido algum desajuste no negócio”. Assim como Roberto Je-fferson denunciou o mensalão aqui, porque era sócio menor naquele esquema, também há esses problemas na rotina. Isso pode acontecer também. Meus colegas Deputados sabem que eu gosto de jogar aberto. Por isso, nunca serei presidente de nada.

Qual é a política efetivamente? Vejam: Cidade de Deus, Complexo do Alemão, coisas volumosas. O Cabral, que também foi Deputado, sempre teve uma visão liberal do uso de drogas e das formas inteligen-tes de combater esse comércio armado de drogas – o armado é que está sublinhado –, agora tornou-se

o campeão da política puramente repressiva. Mudou. Tomara que tenha mudado de hábitos também.

Gostaria de entender qual é a política de segu-rança. Sinceramente, não entendo. Outro dia mesmo o Governador disse o seguinte (essa frase não precisa estar ali, porque não chocou): “Eu sei que a população apóia as nossas ações. As pesquisas mostram isso. Matamos 10 na Cidade de Deus. Morreu uma senhora. É sempre lamentável, mas tenho o apoio”. Isso é pou-co. A política pública de segurança não deve basear-se no censo comum. Aliás, nenhuma política. Só porque a população quer, o censo comum pede, vale? É por ali que se vai?

O senhor disse que, em 1988, o processo de ar-mamentismo do varejo das drogas ilícitas começou a crescer, e a polícia só se equipou quase 10 anos de-pois. Esse crescente armamentismo não foi alimentado também pela própria polícia? Por fim, o senhor veio do BOPE, Tropa de Elite, está no Instituto de Segurança Pública. Qual é a integração das ações de inteligência, de investigação e de confronto das polícias com as políticas de habitação – que no Brasil mesmo, no Rio de Janeiro em particular, não existem há muito tempo –, de educação, incluindo as creches, de cultura e de saúde para as populações mais atingidas por esses combates? Há alguma, efetivamente?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Deputado Chico Alencar, V.Exa. estava con-duzindo os trabalhos no sentido de que todos os De-putados deviam se pronunciar primeiro?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – A mi-nha sugestão foi que nós falaríamos e depois a Mesa retomaria a palavra à vontade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – O.k.

Convido, então, o Deputado Guilherme Menezes a fazer uso da palavra.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES – Sr. Presidente, parabenizo o Deputado Chico Alencar pelo convite para participar desta audiência, que conta com as presenças da Sra. Patrícia de Oliveira da Silva, da Sra. Márcia de Oliveira Silva, do Deputado Marcelo Freixo, do Tenente-Coronel Mário Sérgio Duarte, para tratarmos de um tema atual: a questão da segurança pública, da violência. É importante encontrarmos as causas dessa situação que se agudiza no País.

Creio que o Deputado Chico Alencar teve como base no seu requerimento a questão da quantidade, do excesso de “auto de resistência” como causa de morte.

Tenho ouvido muito dizerem que bandido tem de ser tratado com bala, que bandido bom é bandido morto, já com aquelas opiniões pré-formadas.

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04118 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Indago ao Dr. Mário Sérgio se é corrente, dentro da polícia, o pensamento de que bandido bom é ban-dido morto, como uma cultura que se vai consolidando. Sabemos que existem vários “brasis”, inclusive aqueles que não se tocam.

Outro dia mesmo assistimos ao filme Juízo. Acho que o requerimento foi de V.Exa. Eu já havia visto o filme antes. De um lado, está o adolescente que, pos-sivelmente, está em confronto com a lei; de outro lado, a Justiça togada. Não se tocam. Vemos naquele filme, que é um documentário – a cineasta coloca apenas a câmara –, que aquele julgamento é uma farsa. Por quê? A criança está ali. São apresentadas as causas de sua presença naquele local e depois o que prescre-ve a legislação vigente do País: ela deve ir para uma instituição para ser reeducada ou educada, para ter condições de conviver com a sociedade. Assim que chega no camburão, a primeira frase de boas-vindas que ouve é: ligeiro, bandido! E aí vêm os palavrões. Inclusive a assistente social pergunta a uma criança se é possível dormir naquele pedaço de papelão é possível dormir. Ela responde: “Mas ninguém dorme com o monte de ratos circulando a noite toda”. Então, a fraude já começa no julgamento, na Justiça.

Outro dia eu anotei o que um delegado de São Paulo disse a um repórter da Rede Globo, no progra-ma Fantástico. Um cidadão foi preso sob a acusação de que havia cometido estupro. O repórter perguntou, imaginando qual seria a resposta do delegado, que representa o Estado: “Como será o tratamento dele na cadeia?” Ele disse: “Claro que será o tratamento dos meliantes”. Obviamente, quando o juiz julga, ele o faz de acordo com a Lei de Execução Penal.

Agora, como combater o crime e a violência, se o próprio Estado é conivente com os criminosos? Ou seja, o juiz de execução penal nunca vê como está sen-do executada a pena e que oportunidade está tendo aquela pessoa de se ressocializar.

O Ministro Evandro Lins e Silva dizia que a ca-deia é uma fábrica de criminosos, porque é um lugar onde a pessoa entra e sofre agressão física, moral, psíquica, todo tipo de violência. Lembro-me de que a juíza perguntava aos adolescentes: “A que facção vocês pertencem?” A pergunta era feita a um menino ou a uma menina, dependendo da posição geográ-fica de origem, no morro do Rio. Cito esse exemplo para mostrar, em rápidas palavras, a complexidade do problema da violência e dessa história de se fazer justiça, quando a própria polícia diz que fica a cargo dos marginais.

Sabemos que o crime, no Rio de Janeiro e em outras cidades, é comandado a partir dos presídios. É claro que, às vezes, engrossa mais, ficam mais se-

veras as restrições. Mas a imprensa mostrava chefes da máfia, chefes do crime dentro de uma cadeia com laptops, com direito a visitas de amantes, com um sem-número de celulares, como no caso do Marcola, em São Paulo. Mas acabou o tempo da geração espon-tânea. Nada nasce por geração espontânea. Se entra um celular, um laptop e se um criminoso está dentro de um presídio comandando é porque o Estado está sendo conivente, por intermédio de seus agentes pe-nitenciários e de suas polícias.

Não vejo saída, a não ser com uma política de prioridade de governo, assim como ocorre com a saúde e a educação, para a questão da segurança pública, da formação de cada policial, das condições de trabalho, do salário. O resto é igual a enxugar gelo.

Ontem mesmo 2 jovens que passaram no con-curso para a polícia me ligaram para ver se eu tinha condições de conversar com o comandante, porque eles são universitários e foram transferidos para uma cidade distante. Por isso, terão de trancar a matrícula. Eles se encaminharam ao superior, que disse: “Vocês não estão me dizendo nada. Isso não me interessa”. Como se a formação dos seus quadros não lhe interes-sasse. Disse ele: “Vocês estão aqui para cumprir ordens, ouvir gritos e dar grito lá fora, reprimir, atirar, matar e já entrar dizendo que querem a alma em troca”.

Não vejo condição, seja no Rio, com essa situ-ação... Imaginamos a crueza que deve ser a vida em certas regiões do Rio de Janeiro, porque se a pessoa tem dinheiro para pagar um advogado não fica pre-sa. Seria bom se, para cada preso no Rio, para cada pessoa da favela, o Estado disponibilizasse a mesma inteligência, a mesma tecnologia que está disponibili-zando para a madrasta e para o pai daquela menina que foi morta e jogada de um edifício de São Paulo. Estão esgotando todas as condições, fazendo tudo o que é possível para que não reste a menor dúvida sobre a causa mortis daquela criança. Isso devia ser feito para todo mundo, para um executado antes de a pessoa ser identificada.

Pergunto ao tenente-coronel sobre essa questão, porque sei que a polícia instituição precisa ter a cre-dibilidade, a confiança e o apreço da população. Não conheço nenhuma pessoa que nos convide para uma palestra que não queria mais policiais no seu bairro, na sua rua. Eles pedem, inclusive, uma polícia comunitá-ria, que tenha relação com a comunidade, que saiba quem é a mãe, quem é o marido, quem são os filhos, a que horas saem, a que horas chegam, que conhe-ça a rotina dos bairros, que fique atento em relação a qualquer acontecimento estranho. A comunidade está sonhando com essa polícia. O que pode ser feito in-ternamente para que isso se concretize?

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04119

Sr. Presidente, concluo dizendo que dei entrada a uma moção de aplauso ao Governador da Bahia. S.Exa. assinou a promoção de vários policiais do Es-tado, e a imprensa e órgãos de direitos humanos de-nunciaram que alguns haviam sido processados por crime de tortura e tráfego de drogas. Ele foi sensível e revogou esses atos. Se cada Estado agisse dessa forma, limpando de dentro para fora, haveria mais se-gurança pública e dignidade para todos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado, Deputado Guilherme Menezes.

Algum Deputado deseja fazer uso da palavra? (Pausa.) Parece que não.

Concederei novamente a palavra aos debatedo-res, de acordo com a demanda de questões levantadas ou esclarecimentos solicitados.

Com a palavra a Sra. Márcia de Oliveira Jacin-tho.

A SRA. MÁRCIA DE OLIVEIRA SILVA JACIN-THO – O Deputado me fez lembrar que, no meu caso, também... Vou até pedir ao Tenente-Coronel Mário Sérgio para verificar isso. Eu tentei uma audiência com o Secretário, mas não consegui. Ele investigou bastante a vida da vítima e depois me mandou uma carta modelo. Isso foi no ano passado. Neste ano, os 2 PMs que ficaram no meu caso foram indiciados e estão respondendo a 2 processos: homicídio doloso e fraude processual – o kit bandido, tudo aquilo que eles montaram para que a verdade não viesse à tona.

Este ano, Mário Sérgio, os 2 foram promovidos. Quando fui pegar a cópia do processo, passei tão mal, fiquei tão indignada, tão revoltada que me perguntava na rua: será que eu terei de matar para ganhar alguma carteirinha? Além de estarem respondendo ao processo em liberdade, eles ainda continuam ganhando – dinhei-ro dos nossos salários, dos nossos impostos. Aquela bala que matou meu filho... Foi um tiro só no coração, à queima roupa. Eu paguei por ela. Continuo pagando a eles. E eles foram promovidos, Mário Sérgio. Eu queria saber – inclusive estou tentando também falar com o comandante atual – o porquê, se está provado. O juiz entendeu todo o processo, fez a pronúncia, eles vão a júri popular, o recurso que um fez foi negado por 5 Desembargadores, unanimemente, e eles foram pro-movidos. E o meu filho está preso lá dentro da gaveta. Tirei os ossos, em 2006, e os coloquei numa gaveta eterna. Eles o mataram, tiraram sua vida, fizeram dele um nada, talvez até pior do que a um rato. Eu disse que não deixaria os ossos do meu filho irem para o lixo e atearem fogo. Está lá. Não vou lá visitar nem nada, porque ele está aqui. Não está nesta camisa, não. Está dentro do meu coração, da minha vida. Ele faz parte da minha vida todos os dias.

Mário Sérgio, eu gostaria que você visse para mim, por favor, por que eles foram promovidos; que direito têm de promoção, se respondem a 2 processos. Estou indignada com isso. Com certeza, vou tentar re-ver isso. Também pergunto: por que onde há milícias não há confronto, não há Caveirão? E elas estão au-mentando cada vez mais.

O Governador Cabral disse que, para ele, milícia e bandido são a mesma coisa. E eles estão ali livres, fazendo seus atos criminosos, matando, extorquindo as pessoas, atuando nas gatonetes, nos mototáxis, nas Kombis, pegando o dinheiro das pessoas, expulsando-as de suas casas, tomando suas casas. O pavor é pior do que o bandido. Alguns coronéis me disseram que, se tirarem a milícia, os bandidos voltam. Eu gostaria também que você visse isso.

Certa vez, eu e a Patrícia fomos à caminhada do desarmamento. Resolvemos nos sentar na areia, depois que ela terminou, e curtir um pouquinho o mar. E no meio de todo mundo – havia muitas crianças – 2 garotas e um rapaz começaram a fumar maconha, no Posto 9. É tão fedida, podre e nojenta quanto a da comunidade.

Eu moro no morro, a Patrícia não. Fiquei indigna-da, porque, quando eu passo por lá e vejo isso, eles escondem a mão, abaixam a mão e dizem: “Deixem a tia passar”. E ali eles estavam fumando normalmen-te. Do lado havia uma família com uma criancinha de mais ou menos 2 anos. E ninguém se indignou, só eu e ela. Engraçado, não é?

Quando fomos embora, cheguei perto de 2 poli-ciais e fiz a reclamação. Sabem o que ele me disse? “A senhora não mora aqui, não é?” Respondi que não. Ele disse: “É por isso que a senhora está indignada. O Posto 9 é o posto dos maconheiros da Zona Sul”. É por isso que há diferença, não é? Lá também não há confronto do Caveirão.

Eu também gostaria que isso fosse revisto, porque falei com o Coronel Jorge da Silva, falei também com o Coronel Hudson e na verdade não obtive resposta. Lá continua tudo a mesma coisa.

Também fiz uma pergunta – acho que você se lembra – na sede do BOPE. Pedi que olhassem com carinho as nossas denúncias nos “autos de resistên-cia” e vissem o lado psicológico e emocional dos PMs, quando eles chegam de uma execução. Para mim, eles devem ter um prazer muito grande. E o pior: ficam ali curtindo os cadáveres e armando o que vão dizer.

Eu gostaria muito que esses “autos de resistên-cia” fossem revistos, investigados mesmo, antes de assinarem embaixo e dizerem: morreu, é traficante, e tudo bem.

É isso que eu quero lhe pedir, Mário Sérgio.

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04120 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Agradecemos à Sra. Márcia de Oliveira Silva Jacintho a participação, com uma fala emocionante.

Daqui a pouco o Coronel Mário Sérgio terá opor-tunidade de se posicionar sobre os questionamentos levantados pela Sra. Márcia.

Com a palavra a Sra. Patrícia de Oliveira da Sil-va.

A SRA. PATRÍCIA DE OLIVEIRA DA SILVA – Eu me esqueci de entregar também uma carta dos professores da comunidade Vila Cruzeiro. Eles me pediram para entregá-la a esta Comissão. Trata-se de uma denúncia que eles estão fazendo.

Também me esqueci de dizer que no dia 17 de outubro do ano passado eu recebi uma ameaça de morte do Coronel da PM Edvaldo Camilo Castro, que comanda o 5º Batalhão (Harmonia).

Eu estava participando de uma manifestação da comunidade da Providência, como sempre fiz. Ele achou que eu era moradora da comunidade da Providência e chegou pedindo para eu sair. Disse que, se eu não saísse, ele “iria dar na minha cara e me quebrar”. Fo-ram essas as palavras utilizadas por ele. Perguntei: “O Coronel está me ameaçando?” Ele respondeu: “Entenda como quiser”. Voltei a perguntar: “O Coronel está me ameaçando?” Ele respondeu: “Estou”. Eu disse: “Vou registrar uma queixa”. Isso ocorreu na sede da Se-cretaria de Segurança, ali embaixo. Saí de lá, fui à 4ª DP, que fica do lado, e disse: “Eu quero registrar uma queixa”. A pessoa que me atendeu perguntou: “Por que quer registrar uma queixa?” Respondi: “O coronel me ameaçou de morte”. Ele disse: “Não, o coronel não a ameaçou de morte. O que é isso?” Eu disse: “Não, ele me ameaçou de morte. Disse que ia me dar na cara e me quebrar”. Ele continuou: “Quebrar para você é... Quebrar pode ser que ele venha matá-la.” Eu disse: “Pode ser, não”.

Fiquei lá na delegacia, naquela burocracia – es-pera dali, espera daqui, espera dali, espera daqui. Dis-se: “Eu não saio daqui hoje. Só saio daqui quando eu registrar minha queixa”. Aí veio um policial do serviço reservado do 5º Batalhão e disse: “Por que você quer registrar uma queixa?” Respondi: “Porque o coronel disse que ia dar na minha cara e ia me quebrar.” Ele perguntou: “Mas ele falou assim para você?” Respondi: “Foi assim que ele falou para mim”. Ele disse: “Então você pode registrar a queixa dela”.

Quer dizer, o investigador que estava de plantão pediu autorização ao 5º Batalhão para poder fazer uma queixa de um coronel que me ameaçou.

Ele disse: “Já registrei a queixa, pode ir embo-ra”. Respondi: “Não, só saio daqui com a cópia”. Ele disse: “Ah, o delegado não chegou”. Respondi: “Não,

vou esperar o delegado chegar”. Quando o delegado chegou, passou por mim, o investigador disse: “Vou apresentar você ao delegado”. Eu disse: “Tudo bem”. Quando eu cheguei, o delegado disse: “Ué, Patrícia, você? Mas eu pensei que era alguém da Providência”. Eu disse: “Ah, alguém da Providência poderia ter sido ameaçado, e eu não?” Ele respondeu: “Não, não é isso.” Eu disse: “Eu quero a cópia, porque agora estou indo ao Ministério Público fazer uma denúncia contra ele na Auditoria Militar, e coisa e tal”. Então fui lá fazer a denúncia contra ele.

Todo mundo disse assim: “Patrícia, tu és malu-ca? O cara é coronel”. Eu disse: “Ah, ele é coronel e então pode dizer que vai dar na minha cara e me quebrar?”

Está rolando lá essa denúncia. E todo mundo diz assim, os outros coronéis: “Ah, esse é o jeito dele”. Eu disse: “Mas alguém tem de mudar alguma coisa. Eu vou deixar o coronel dizer que vai dar na minha cara e vai me quebrar?” Primeiro, eu acho que ele não tem condições de comandar tropa. Esse não é o palavreado de um coronel, porque os outros policiais que estavam presentes ficaram olhando.

Eu levei isso para o Secretário de Segurança. Na mesma hora eu liguei para o celular do ex-Comandante da PM, Coronel Ubiratan Ângelo, que estava vindo do Senador Camará, onde tinha participado de uma ope-ração. Ele disse: “Patrícia, vamos tomar providência”.

Perguntem se o Secretário me deu resposta. Até hoje não. Eu sei que há averiguação, porque estou sempre indo lá vê-la.

Houve audiência agora, no dia 31 de março. O coronel estava de férias em Fortaleza e não pôde com-parecer ao fórum. Não é interessante? Se fosse eu, se fosse outra pessoa, com certeza nós teríamos de ter chegado no fórum; o coronel, não.

Então, eu acho que tem de haver mudança, e ela deve começar de cima para baixo. Temos de cobrar do Governador, do Secretário, dos coronéis. Tem muito soldado que vai para a rua fazer o que o comando manda, o que o coronel manda.

Vou citar um caso simples, do Ítalo. Ele matou Leandro Santos Silva, de Parada de Lucas. Foi con-denado na primeira instância e absolvido na segunda instância? Não, foi condenado na primeira e na se-gunda instâncias, entrou com recurso no Supremo, foi absolvido, voltou à Polícia Militar e agora comanda a milícia.

Há 2 semanas eu me encontrei com ele. Estava “descendo o braço” num garoto. A mãe do garoto dizia: “Não, pelo amor de Deus!” Eu o encontrei por acaso. Ele disse: “Não, não vou levar o seu filho para matar,

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04121

não. Patrícia, polícia mata?” Eu disse: “Não, claro que não! Não é, Ítalo?”

O caso de Parada de Lucas é bem claro. Saí dali cheia de medo. Pensei: “Poxa, ele me reconheceu, falou comigo”. Ele realmente não matou o garoto, que saiu de lá juntinho com a mãe dele. Saímos eu, o garoto e a mãe dele. Ela não voltou para lá. Mas eu também nunca mais vou à casa da garota que me convidou para ir lá, porque não estou maluca.

Então, eu acho que temos de ver mais essas coisas, temos de abrir mais os olhos. Sempre que sai no jornal “Cinco traficantes...”, a primeira coisa que pensamos é: morreu porque era traficante. Tinha de morrer. Damos essa conotação. Eu nem digo todas as pessoas que estão aqui, mas outras pessoas mesmo. Ocorre que, quando não é com você, está tudo bem. Mas, depois que mexem no seu calo, o negócio é di-ferente. Temos de acordar para essas coisas.

Era isso que eu tinha a dizer.O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Agradeço à Sra. Patrícia.Com a concordância do próprio coronel, vamos

deixá-lo para o final e ouvir agora o Deputado Marce-lo Freixo.

Com a palavra o Deputado Estadual Marcelo Freixo.

O SR. MARCELO FREIXO – Tentarei ser objetivo, porque, obviamente, quem tem a maior necessidade de responder a essas indagações é o Tenente-Coronel Mário Sérgio, a quem quero, evidentemente, elogiar, pois não é fácil defender a política de segurança do Rio de Janeiro.

É lamentável não podermos ter contado com a presença do Secretário de Segurança nas várias oportunidades de debates. O Tenente-Coronel Mário Sérgio, ao contrário, sempre vai aos debates, muitas vezes em lugares em que a recepção não é das me-lhores. Já fizemos debates em universidades. Portanto, quero elogiá-lo, porque é importante esse respeito ao debate e ao espaço crítico, inclusive.

Deputado Pastor Manoel Ferreira, o Estado Demo-crático de Direito precisa ser apresentado à segurança pública. Não houve a transição do regime ditatorial para o Estado Democrático de Direito, na área de segurança pública. A nossa estrutura, a nossa mentalidade e a produção do discurso continuam militarizadas e ditato-riais. Quem entra num batalhão da polícia percebe ali o funcionamento de um quartel. A lógica hierárquica é, muitas vezes, absolutamente totalitária.

V.Exa. deu o exemplo da manifestação dos coro-néis. Sabemos o preço disso no Rio de Janeiro. Estamos vendo que não há um processo democratizado. Não é à toa, por exemplo, que continua a permanência da

tortura e de outros instrumentos de que, espero, não tenhamos saudade, que ainda têm presença forte, e muito forte, dentro do Estado, na área de segurança pública.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Depu-tado, quero agregar 2 informações que revelam isso, em 2 segundos. Na semana passada, tentei falar por telefone com o Comandante do Batalhão da Polícia Militar de Campos dos Goytacazes. Ele estava fazendo uma operação lá, a partir de uma ocupação da agên-cia da Caixa Econômica, por parte dos sem-terra. Foi um movimento nacional para relembrar o massacre de Eldorado dos Carajás e a impunidade.

O advogado que fez a mediação... Primeiro ele disse: “Mande ele vir aqui falar comigo”. O advogado disse: “Mas ele é Deputado em Brasília.” “Não interes-sa. Diga para ele vir aqui. Se quiser falar comigo, vai ser assim. Eu não atendo o telefone”. Isso foi dito pelo comandante. Claro que eu cheguei até o Governador para reclamar, porque é um desrespeito não à minha pessoa, que não vale nada, mas a uma representa-ção popular.

Em segundo lugar, se quer mostrar que ocupou um território deixado para a bandidagem, o BOPE deveria ser instruído a colocar a bandeira bonita do Estado do Rio de Janeiro – está até aqui em frente, na Avenida dos Estados – ou a do Brasil e não aquela coisa feia da caveira. Duvido que, se pegar um banker do Castor de Andrade ou de algum barão da droga em Ipanema, vai colocar a bandeira da caveira lá no alto do prédio, na Vieira Souto. Duvido. Duvido. Aí falta o Estado de Direito.

O SR. MARCELO FREIXO – Pois é.A Márcia tocou num assunto que eu havia ano-

tado para fazer menção a ele. Não tenho qualquer dú-vida de que esta Comissão, pela qual tenho enorme respeito – acompanho-a há muito tempo –, em breve estará tratando da questão das milícias no Rio de Ja-neiro. O problema é da maior gravidade, e o Governo do Estado não tem qualquer plano de combate à milí-cia, porque a trata como um mal menor. O Governo do Rio de Janeiro vem hierarquizando o que eles chamam de nível de banditismo e trata a milícia como um mal menor. É bom dizer que as milícias são formadas por grupos de agentes da segurança pública, bombeiros, agentes penitenciários, policiais militares e ex-policiais que dominam territórios.

Como eu já disse, o debate de segurança públi-ca é de soberania do Estado. Este, sim, é o Estado paralelo, porque são agentes do Estado dominando o território numa ação – não é de justiça – comercial, lucrativa, de controle de TV a cabo clandestina, que lá chamamos de net/cats, de controle de transporte, de

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04122 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

controle de gás e de extorsão direta dos moradores e dos comerciantes.

Esses grupos crescem, não estão sendo com-batidos e têm braço político. Há Deputado Estadual, Deputado Federal e Vereador – aliás, preso recente. Têm braço político e estrutura de máfia.

Cobrei isso do Secretário Mariano Beltrano no primeiro mês de governo. Estive no gabinete dele e disse: “Qual é o plano do Governo do Rio de Janeiro no combate à milícia?” Estou aguardando até agora a resposta. Isso foi há mais de 1 ano.

Entrou na Cidade de Deus, fez o combate. Es-tou citando o termo que é utilizado pelo Governo. Não estou aqui questionando se tem de haver o enfrenta-mento ao tráfico ou não. Agora, a Cidade de Deus é a única comunidade de toda aquela região que não é dominada por milícia. É a única de toda aquela re-gião que não é dominada por milícia. Curiosamente, o Governo esteve exclusivamente na Cidade de Deus. Espero – e vou aguardar sentado, porque senão vou me cansar – que vá também às outras áreas vizinhas das milícias. Vamos ver quando isso vai acontecer. Em breve estaremos discutindo, a não ser que...

É bom dizer também que a própria base do Go-verno, na Assembléia Legislativa, conta com Deputa-dos milicianos. Talvez por isso também o Governo não tenha tanto empenho no combate às milícias.

Quero dizer que o uso da força é previsto em lei. Todo o mundo aqui sabe disso. Ninguém aqui está defendendo que o Governo não possa ter o uso da força. É evidente que pode haver morte em conflito. Está previsto na lei. O problema é que o Auto de Re-sistência é um instrumento para mascarar execução sumária há muito tempo. Em 1997 – estou falando de um tempo muito curto, historicamente falando, Chico –, tivemos 300 casos de Auto de Resistência no Rio de Janeiro. Em 2007, foram 1.330. A Polícia do Rio de Janeiro mata, em média, 7 pessoas a cada 2 dias. É a polícia que mais mata no mundo e, conseqüentemente, é a polícia que mais morre também. Temos a polícia que mais mata, a polícia que mais morre, e os índices de criminalidade são absolutamente elevados. Então, é desumano e ineficaz.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.) O SR. MARCELO FREIXO – Sem dúvida. Tenho

dito sobre o filme Tropa de Elite (já fiz 500 debates): é uma tragédia no Rio de Janeiro, homens de preto matando homens pretos, quase todos pretos. Esse é o cenário trágico e de um Governador que fala o que parte da população quer ouvir naquele momento. Deixou de ter opinião própria para atender a opinião pública. É o grande erro da sua personalidade.

O filme Meu nome não é Johnny, já que nos per-mitimos essa referência, é muito interessante. Talvez tanto quanto o Tropa de Elite. Meu nome não é Johnny mostra um tráfico muito forte no Rio de Janeiro, uma história real, não aparece uma arma e não aparece uma favela. Por conseqüência, não aparece o Cavei-rão, nem o BOPE. Também serve para que possamos refletir.

Não estou com isso dizendo que quero defender o BOPE na Vieira Souto. Até porque caía o Presiden-te da República no dia seguinte. Não caía o Coman-dante do BOPE. Não estou defendendo isso. Agora, é necessário que tenhamos uma política pública de segurança defendida pelo Estado e não discutida no interior dos setores de repressão, como hoje acontece no Rio de Janeiro.

E tem saída. É necessário investir em inteligên-cia, é necessário investir numa ação preventiva, é necessário atingir o tráfico onde ele reabastece o seu lucro. O lucro do tráfico não está escondido atrás de pé de jaca de nenhuma favela. O lucro está muito bem estabelecido no mercado financeiro, na especulação imobiliária. Todo o mundo sabe disso. Então, é neces-sária uma ação de inteligência associada a uma va-lorização dessas tropas ou dessa ação policial, que vai da sua formação ao seu salário, e uma polícia que seja controlada pela sociedade. E investir em instru-mentos de controle.

A Ouvidoria do Rio de Janeiro é surda. Ela é surda, ela não escuta, ela não funciona, ela não tem quadros. E não adianta dizer que expulsa muita gen-te, porque na verdade não tem uma ação preventiva e boa parte dos policiais expulsos estão indo para as milícias. Estão fazendo um bom negócio, muitos deles, como já ouvi deles inclusive: “Não tem problema ser expulso, a gente vai para as milícias”. E lá o Governo pára de perseguir e vira sócio.

É necessário aproximar a polícia e a seguran-ça pública das comunidades. Romper o discurso da guerra contra a pobreza e dizer que a segurança pú-blica tem que ser para todos. Quando a polícia ocupar um morro ou uma favela, que o Estado possa ocupar. Que entre com escola de qualidade, que não tem no Rio de Janeiro. Que entre com saúde pública. Que entre com assistência social. E aí, é óbvio, a bandeira a ser estendida não precisa ser a da caveira. Não ha-verá necessidade da imagem bélica do Estado para aquela população. Até porque vai sair e tudo vai ficar como antes.

São necessárias alternativas mais corajosas do que o discurso da criminalização da pobreza. O dis-curso de cumprir realmente a lei para todo o mundo. É isso que falta no Rio de Janeiro.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04123

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado, Deputado Marcelo Freixo.

Convido a usar da palavra o tenente-coronel Má-rio Sérgio de Brito Duarte.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Tenho tantos pontos para responder... Vou tentar, não sei se vou conseguir responder a todos. Vou iniciar com uma lógica diferente. Vou começar pelo fim, mas deixando para tocar nos pontos particulares do Depu-tado Marcelo Freixo após a abordagem da participa-ção da D. Márcia.

Temos algumas questões muito bem expostas pela D. Márcia. A primeira abordagem sobre o problema das milícias foi feita por ela aqui e agora. Ouso dizer que as milícias são um problema, sim. Ninguém pode dizer que o outro grupo armado, que não representa o Estado, embora possamos garantir que há filhotes da ordem participando desses grupos, porque de fato são ex-policiais muitas vezes, alguns policiais represen-tantes de outras forças de segurança que participam desses grupos de milícias e que surgiram, a princípio, em oposição ao tráfico... Essa é, vamos dizer assim, a gênese do problema que temos hoje das milícias, que são um problema terrível. Senão agora, um problema para o futuro. E que se muitas vezes não são tão cri-ticadas como se espera ou se esperava que fossem, é porque o narcotráfico hoje recebe da população uma grande antipatia. Um ódio, até posso dizer. Se, por um lado, o Deputado Marcelo Freixo fala que as milícias são tratadas como um mal menor, por outro, às vezes, pensamos que o narcotráfico também é tra-tado como mal menor. Esse é o problema. São males em oposição, porque, a rigor, só as armas do Estado é que podem existir e prevalecer. Mas é um problema para conversarmos num outro momento, que é extre-mamente extenso.

A questão do coronel Camelo, que você citou aqui, Patrícia. Eu já conheço a Patrícia há algum tem-po e sei da sua capacidade de militância na sua idéia, naquilo que ela julga certo e direito. Por conseqüência disso, me dou bem com ela, embora muitas vezes es-tejamos em campos opostos, mas eu gosto de ir além de círculos de idéias, eu gosto do debate, eu gosto da dialética. Por conseqüência disso, a gente acaba se dando muito bem até. Não é isso, Patrícia? E acho que você tem todo o direito de investir contra quem in-veste contra você. Amanhã, o Instituto de Segurança Pública publicará o Dossiê Mulher. Até convido quem por acaso estiver no Rio de Janeiro para comparecer à sede do Conselho Estadual de Direitos e Defesa da Mulher, às 14h, para o evento. Esse dossiê exibe toda a sorte de violências de gênero, de violências come-tidas contra a mulher, que estamos tentando mapear,

exibir, para que se criem políticas públicas de defesa da mulher.

Passo agora para a uma expressão que ouvi e que seguramente não é minha: bandido bom é bandido morto. Parece-me que foi um policial que depois se tor-nou até um político que disse isso. Aliás, fez disso uma bandeira política, aceita lá pelo grupo de entendimento. Mas, Deputado, eu não entendo dessa forma. Talvez eu vá dizer aqui para o senhor uma frase que não será a melhor e não vai ter o mesmo valor histórico dessa frase, que, infelizmente, passou para a história. Mas eu digo para V.Exa. que quem tem um fuzil e não está representando o poder do Estado, e digo não faz parte das Forças Armadas ou das polícias que infelizmente usam o fuzil, é hostil. É hostil ao Estado, é hostil às pessoas de bem e é hostil também às polícias.

E hoje essas armas de guerra... Usei uma ex-pressão que ouvi de um psicanalista: essa extensão do falo, porque muitas vezes a gente tenta resolver as questões com assistentes sociais e a solução não está somente nas respostas da Sociologia e da Antropolo-gia, mas também nas ciências da mente: da Psicologia, da Psicanálise. A gente vê pessoas teorizando nesse sentido e tem que concordar. Há muito, no crime, de sexualidade daqueles rapazes em armas. Não defendo a expressão bandido bom é bandido morto. Política de segurança pública, na minha visão, não se faz assim. É lei e ordem para tranqüilidade pública e paz social.

A questão das drogas e armas, que o Deputa-do Chico Alencar citou. Até 1985/86, a Polícia Militar, com certeza, não tinha uma preocupação maior com o narcotráfico. Aliás, essa expressão não era usada. A primeira vez que ouvi essa expressão me parece que foi com o então Governador... Não foi o Marcelo Alencar, com certeza não foi o Governador Brizola. Acho que foi o Governador Moreira Franco que usou a expressão narcotráfico. Pelo menos foi a primeira vez que ouvi. Eu já era policial, e as nossas preocupações de polícia eram com os roubos, os furtos, os roubos de estabelecimentos bancários.

A questão das drogas, que prioritariamente deve ser tratada com profilaxia, com prevenção, só tomou esse vulto porque esses instrumentos de guerra che-garam. E aí os criminosos foram loteando o terreno, foram agregando algumas particularidades culturais, e hoje ouso dizer para o senhor que o tráfico de drogas não tem a maior importância na problemática de grupo. Hoje, mais forte que o comércio no tráfico de drogas é a cultura de facção. É aquela idéia do “é nós”. Essa expressão hoje é muito forte para os traficantes. É uma idéia de coletividade, de pertencimento de grupo, de visibilidade social. Isso é mais forte do que o comércio, Deputado, com toda a certeza.

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04124 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Então, eu estava respondendo justamente ao senhor, Deputado, se tivéssemos só o problema das drogas em si, sem essa belicosidade, o problema se-guramente seria outro. Nós também não teríamos as armas de guerra que hoje estamos usando. Acho que a questão das drogas tem que ser tratada principalmente com prevenção. Aliás, já trabalhei nisso. Já trabalhei na Prefeitura do Rio de Janeiro fazendo prevenção ao uso de drogas, numa Secretaria específica para isso. Só que no momento atual a agrestia é de tal ordem que não dá para fazer diferente. Nós temos tentado grupamento especial de polícia comunitária, de polícia de proximidade. Em alguns lugares especificamente, conseguimos fazer. Noutros, infelizmente, ainda não é possível, mas nós esperamos chegar lá.

Discordo da idéia de criminalização da pobreza. Compreendo e entendo que se defenda essa posição. Compreendo quando digo que temos o nosso olhar particular para as coisas do mundo. Num primeiro mo-mento, temos as nossas idiossincrasias e temos uma coisa mais refinada, que são as nossas ideologias. Nós vestimos os objetos que enxergamos. Compre-endo, com todo o respeito, que há um tanto quanto de ideologias e de idiossincrasias nisso, porque há em nós também.

Quando estou falando, estou falando de cada um de nós, da forma que vemos o mundo. Para nós, policiais, é indiferente quem tem uma arma na mão de qual extrato vem, que sexo tem, às vezes que idade tem, porque estamos com medo da morte. Não pensem os senhores e senhoras que não temos medo. Temos medo, sim, e muitas vezes muito, muito e muito medo. Mas compreendo e procuro cada vez mais entender esses discursos, para ver se eu mesmo não estou er-rado. Pode ser que no futuro eu chegue à conclusão de que a minha maneira de ver, de compreender as coisas não é a melhor e aí eu possa me render a ou-tra idéia.

A questão da bandeira, Deputado, de que o se-nhor falou. O símbolo do Batalhão de Operações Es-peciais não é bem compreendido muitas vezes. E a gente entende também, porque caveira é símbolo de morte. Mas não é entendido o contexto que coloca-mos. Trabalhamos o tempo todo com a hipótese da morte, com o receio da morte, com o medo da morte, que chega para a gente. Lá mesmo, no Complexo do Alemão, ou na Vila Cruzeiro, foi numa favela ao lado, O Globo fotografou um soldado nosso, do BOPE, es-tirado no chão com um tiro mortal. E o cabo, tentando resgatá-lo, quase morreu também, com os tiros pe-gando nos seus pés.

É para a gente uma realidade muito dura, que não há em outro Estado. Em qual Estado deste Brasil poli-

ciais perecem o tempo todo, além do Rio de Janeiro? Ora, há cidades em que os fuzis só freqüentam as telas de cinema. No Rio de Janeiro, não. No Rio de Janeiro, os fuzis estão nas páginas dos jornais da Zona Norte à Zona Sul, passando pela Zona Oeste.

É claro que eu poderia, e posso, e vou responder às outras questões, mas prefiro condensar dessa forma, repetir que o que nós estamos fazendo não é por uma crença, por um militarismo, que tem aí uma conotação extremamente política. Nós não somos militaristas, mas somos militares por organização, por cultura, por justiça e obviamente até pela forma. Somos também muitas vezes atacados pela nossa coreografia, que é a ordem unida. Até nisso nos atacam. Na nossa expres-são coreográfica, somos atacados. Somos obtusos às vezes porque prestamos continência.

Não é seguramente uma política de morte que queremos, mas uma política que alcance tranqüili-dade pública e paz social e passe por lei, ordem e cidadania.

Eu não sei se respondi a todas as perguntas, mas pelo menos a parte delas suponho que respon-di e continuo aqui à disposição das senhoras e dos senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Tem a palavra o Deputado Pastor Manoel Ferreira.

O SR. DEPUTADO PASTOR MANOEL FER-REIRA – Coronel, o senhor acha que essa política de enfrentamento é a mais apropriada para o Rio de Janeiro?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Só um momento, Deputado. Nós vamos agora permitir um diálogo mais direto. O.k., Deputado Chico Alencar?

O SR. DEPUTADO PASTOR MANOEL FERREI-RA – Uma política de inteligência com ações sociais; um pouco mais de valorização do policial, com mais dignidade, com salário condigno; a multiplicação des-ses caveirões subindo os morros e outras comunida-des; esses embates do próprio comando, dos próprios coronéis na luta em busca de melhor condição e de melhor aparelhamento da polícia, eu gostaria que o senhor fizesse uma avaliação desses pontos.

Há outra coisa que também me preocupou um pouco na resposta que o senhor deu à Patrícia. Para uma pessoa qualquer que estivesse num embate com ela poderia ser normal, mas um coronel fardado, um policial, será que teria a mesma posição de um homem comum, como qualquer um de nós que estivesse tro-cando palavreado com ela? Qual seria a diferença na avaliação de V.Sa. dentro desses pontos?

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04125

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – V.Sa. pode responder, coronel.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Deputado, eu não posso falar pelo coronel. Agora, eu posso garantir que a Patrícia tem todo o direito de buscar fazer justiça. Se um direito dela foi violado, é óbvio que ela tem o direito e deve procurar a Justiça, não apenas nos canais da Justiça em si, mas da pró-pria Justiça castrense, ou ainda da Justiça disciplinar da corporação. Esse é um direito dela, impostergável. E ela sabe que pode fazer isso, porque a Patrícia tem nos procurado. Nós conhecemos a Patrícia de algum tempo, e ela sabe que pode contar, senão com todas as pessoas, com algumas pessoas para isso. Então, acredito que quem tem de responder a essa questão é o coronel, não sou eu. Mas esse direito, esse dever, talvez, da Patrícia de procurar ter uma resposta ao seu direito violado também é um problema da Patrícia.

V.Exa. falou da questão salarial, Deputado. Eu vou expor-me aqui ao dizer isso, mas nós estamos ga-nhando pouco. Aliás, estamos ganhando muito pouco. Chegará o momento em que o Governador terá de dar solução para esse problema. Se V.Exa. me perguntar: coronel, o senhor participou de passeata? Eu diria a V.Exa. que não participei e não participaria de uma passeata, não me sentiria bem, mas eu não me escu-so de dizer que nós estamos ganhando muito pouco, Excelência, sem participar de movimento algum, seja de Barbonos, seja de Evaristo, seja de outros movi-mentos quaisquer que a polícia tenha. Eu prefiro dizer isso sozinho, eu prefiro não arrastar ninguém comigo. A responsabilidade de dizer que estamos ganhando pouco e que o Governador vai ter de dar em algum momento uma solução para o nosso problema é mi-nha, e somente minha.

Em relação ao caveirão, o chamado caveirão, nosso carro de transporte de tropa, esse crescente de armas de guerra levou-nos a uma situação em que não conseguimos mais entrar em determinados espaços. São armas de guerra e comportamentos de guerra, porque o narcotraficante que se transformou em nar-cosoldado incorporou comportamentos, senão estra-tégias, pelo menos táticas de guerra. Ele desloca-se como pequenas frações de infantaria. Ele conta com homem-ponta, segurança de retaguarda, segurança de laje, carregador de rádio, evacuação de feridos e um recarregador de munição. Ele é uma pequena fra-ção de infantaria.

É natural que essa lógica solicitasse uma lógica de proteção dos nossos homens. O blindado é um carro de transporte de valores. Concordo com muita coisa que o Deputado Marcelo diz, principalmente quando diz que o melhor para isso é prevenção. Ora, é claro!

Mas nós não estamos mais numa fase de prevenção. Infelizmente, nós já ultrapassamos o momento da pre-venção. O melhor sempre é a profilaxia. Ora, que bom se a Polícia Federal há 20 anos não tivesse deixado entrar os milhares de fuzis que deixou entrar. A Polícia Federal de hoje é seguramente muito mais competen-te do que era há 20 anos. As armas chegaram, e nós fomos fazendo isso, e o carro fez com que os nossos policiais nas ações ficassem mais protegidos.

É um carro de transporte de valores, transformado num veículo de proteção policial que oferece benefícios e provoca, naturalmente, malefícios, mas não podemos mais abrir mão dele por enquanto. Mas um dia, se Deus quiser, quero vê-lo estacionado para nunca mais sair das garagens dos quartéis da Polícia Militar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Antes de conceder a palavra ao Deputado Marcelo, quero ler um texto que foi passado à Presi-dência da Comissão por Patrícia:

“Escola não é escudo. Professores e alu-nos não são reféns. Desde o ano de 2006, trabalhar, ensinar e aprender nas Escolas da Vila Cruzeiro e adjacências tem sido um direi-to negado e uma atividade de altíssimo risco. Aulas ao ritmo de rajadas de metralhadoras, explosões de granadas, salas de aula criva-das por balas (perdidas?) retratam o clima de guerra de que toda a comunidade escolar é vítima em potencial.

Em 2007, sofremos a continuidade des-sa cultura de violência, quando nossa Escola e todas as outras da comunidade viram-se desalojadas e exiladas, durante três meses, no CIEP Gregório Bezerra, tentando exercer o simples direito de trabalhar. Retornamos em agosto para “nossa casa”, mas sob clima de intensa insegurança, medo e com o receio de novos confrontos, que de fato ocorreram.

Na última sexta-feira, dia 11 de abril, esse histórico assustador ultrapassou o limite da tolerância. Por volta das 15h40, teve início mais um confronto entre policiais militares e marginais. Foram mais de duas horas de inten-so terror, em que professores e funcionários, desorientados e lutando para se controlar, ten-tavam dar equilíbrio emocional aos alunos que, desesperados, gritavam, lançavam-se ao chão, ou se aglutinavam no pátio interno da escola, tentando lutar pela sobrevivência. Chegou-se a temer a ocorrência de óbitos. Precisaremos de um “mártir”?

Infelizmente já faz parte do cotidiano de nossos alunos terem suas mochilas revistadas;

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serem impedidos, muitas vezes, de ir e vir de-vido aos tiroteios; depararem-se com armas de todos os tipos e verem a Escola por que têm tanta identidade transformada em praça de guerra… Enfim, nossos alunos têm o seu direito à infância e à juventude negado. Recusamo-nos a naturalizar essa terrível situação!

De modo que conclamamos as demais Escolas – nossas companheiras – e a comuni-dade a junto conosco e à sociedade em geral exigirem das autoridades constituídas que se pronunciem, anunciem e executem medidas que de fato nos devolvam o nosso direito mais elementar: a vida!

Rio de Janeiro, 14 de abril de 2008.Direção, Professores e Funcionários da

Escola Municipal Leonor Coelho Pereira. Direção, Professores e Funcionários da

Escola Municipal São Vicente.”Peço à Secretaria que registre nos Anais da Co-

missão esse texto.Concedo a palavra ao Deputado Marcelo.Pode ser depois, ou V.Exa. prefere falar antes,

Deputado Chico?(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Deputado Marcelo.O SR. MARCELO FREIXO – Muito rapidamente,

Sr. Presidente, na verdade, concordo com muita coisa dita aqui pelo Tenente-Coronel Mário Sérgio, no que diz respeito, por exemplo, a essa juventude, uma população cada mais jovem – os senhores reconhecem isso – en-volvida nessa lógica da violência, principalmente nas áreas pobres. Que isso envolve a sexualidade dessa garotada, envolve uma relação de simbologia, de re-presentatividade, tudo isso é verdade, mas é verdade também que o “é nós”, o “já é” e todo esse vocabulário que aponta para uma reafirmação coletiva nasce de uma juventude que precisa ser disputada, nasce de uma juventude que o Estado tem de cooptar. O Poder Público tem dizer: eu quero essa juventude.

O problema é que o Estado hoje disputa quem mata mais, se é ele ou o tráfico, se é ele ou a milícia. E é outra disputa que estou propondo ao Estado. Estou propondo que o Estado crie a possibilidade de uma identidade coletiva investindo na cultura, e não crimi-nalizado o funk; investindo no hip-hop, investindo em possibilidades de manifestações e linguagens culturais que não precisariam ser criminalizadas como estão sendo por esse Governo do Rio de Janeiro; que invista na escola pública como espaço de acontecimento e de realização para a juventude, para que aconteçam

outras identidades coletivas que não sejam via mani-festação da violência.

O problema é que o Estado abriu mão disso. O Estado acha, até porque é um discurso que agrada, politicamente é um setor que vive do medo... Estou lendo, Chico, um livro de Zygmunt Bauman chamado Medo Líquido, que é sensacional, aconselho a quem quiser... O problema é que este Governo se alimenta do medo, e tudo que começa pelo medo termina em loucura. E é isso que está acontecendo no Rio de Ja-neiro hoje: a política do medo, reafirmando uma lógica exclusivamente eleitoral. É insano!

O SR. DEPUTADO PASTOR MANOEL FERREI-RA – Mas uma das preocupações nossas é essa. É o caso de Patrícia. O homem comum, uma pessoa co-mum, vá lá; perdão, Presidente, mas um Coronel far-dado partir dizendo que vai quebrar, isso significa, sim, que está ameaçando. Isso pode partir de uma pessoa qualquer, até de uma pessoa culta, preparada, em um momento de desespero, mas um homem fardado, um Coronel tem de ter o equilíbrio necessário, até pelas instruções que tem.

É aquela política de querer calar a boca mesmo, a qualquer custo. E se não der, mata.

O SR. MARCELO FREIXO – E só para concluir, Regina Casé fez um programa para o Fantástico há algum tempo sobre o medo da criança; ela até dispo-nibilizou isso para vários movimentos, e utilizamos em diversas campanhas. Era um programa em que ela entrevistava crianças da Zona Sul do Rio do Janeiro e perguntava: você tem medo de quê? E as crianças respondiam: tenho medo da bala perdida, tenho medo da violência...

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. MARCELO FREIXO – ...tenho medo do

negro da favela, tenho medo disso, tenho medo daquilo. E na mesma Zona Sul ela subia a favela e pergunta-va para as crianças da mesma idade: você tem medo de quê? E todas as crianças – todas, sem exceção! – respondiam: tenho medo do caveirão. Eu não posso nunca achar que isso é normal. Em todos os desenhos de colégio em que as crianças reproduzem alguma coisa, em todos aparece o caveirão. Eu não posso aceitar que esse seja o símbolo do Estado para essa juventude. Não posso achar que isso é normal, e que não há outra saída, porque seria a falência completa de uma perspectiva, quando muitas coisas deixaram de ser testadas e tentadas.

Quero dar o exemplo do Morro do Cavalão, em Niterói. Era um lugar onde o tráfico era muito forte, com índice de homicídios muito elevado, arma pesada; o Estado ocupou-o, em parceria com várias entidades do movimento civil; entrou lá a creche, entrou a biblio-

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teca, entrou o teatro, a polícia colocou-se lá dentro, o policial foi treinado e debateu com a comunidade o modelo de policiamento, e há 4,5 anos a mesma polí-cia não registra 1 homicídio naquela favela.

Então, isso é possível. Depende de vontade po-lítica. O Governo não tem essa vontade porque não tem a coragem de fazer diferente e pagar o preço, em determinado momento, de ir contra uma opinião públi-ca formada pelo medo. O Governo tinha de ser mais corajoso e não se vender tanto a essa lógica do medo. É isso que falta ao Rio de Janeiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Com a palavra o Deputado Chico Alencar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – O De-putado Marcelo apontou uma situação positiva para sairmos daqui também com um pouquinho de otimis-mo, e eu quero perguntar ao Tenente-Coronel Mário Sérgio sobre a alternativa dos Grupos de Policiamento de Áreas Especiais, os GPAEs – não sei se lá no Morro do Cavalão é esse o nome também – que eu vi serem implantados à época de Luiz Eduardo Soares, do Ma-jor Carballo Blanco, se não me engano, lá no Pavão-Pavãozinho. Todo projeto piloto tem suas dificuldades, mas parece-me que no geral essa experiência tem sido positiva; quer dizer, é a presença da polícia junto com a política social, e discutindo com o morador.

É claro, é evidente que lá no Cavalão a rapazia-da de Icaraí, de Niterói, vai pegar seu baseado, não é? De repente até algumas autoridades públicas. Há autoridades públicas no Rio de Janeiro e em Niterói que são usuárias de drogas ilícitas. Eu já vi. Até já me ofereceram, mas eu sou caretão, não é? Sou da gera-ção de 68, preferi virar comunista. E aliás, a bandeira não é mais vermelha, não, viu, Deputado Marcelo? O Comando Vermelho podia ser comando amarelinho. (Risos.)

Brincadeiras à parte, essas experiências do GPAE, por que não prosperam?

Em segundo lugar, o senhor disse que há 20 anos, se a Polícia Federal estivesse mais atenta e tal, o tráfico de armas e tal... Será que essa rapaziada...? Pelo que eu vejo nas minhas imediações – até Jorge, Coordenador da Liderança do PSOL, esteve lá nesse fim de semana e viu também, pôde examinar qual era a arma do cara lá, o vizinho do morro –, olhe, não são de 20 anos atrás, não! Há alguns... Ali o negócio é pe-queno, e tal. A facção lá diz que é muito amistosa com a Polícia; chama-se ADA, Amigos dos Amigos. Dizem que é a que mais corrompe, e tal; portanto, há menos tiroteios entre a autoridade pública e... só protegem contra invasão de inimigos, não é? (Risos.)

A pergunta é a seguinte: não há como sustar isso? Em que pé está a corrupção policial? Porque, além da

arma, há a munição. Vamos considerar que eles estão com armamento de 20 anos atrás, e vão perder essa guerra daqui a 2 ou 3 anos. Mas e a munição? Não é estancada por quê? Quer dizer, qual é a política para isso? Parece que é enxugar gelo mesmo!

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Com a palavra o Tenente-Coronel Mário Sérgio.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Vou, primeiro, novamente voltar à questão do caveirão – uso essa expressão, na realidade, porque todos aca-bamos usando, mas para nós é um veículo blindado para transporte de pessoal – para reiterar que, em rigor, não gostaríamos de usar esse instrumento.

Quando vi essa matéria no jornal – inclusive está aqui, no Correio Braziliense: População apoia caveirão –, fiquei preocupado, porque, embora já tivéssemos pelo menos uma secreta intuição disso, de que a po-pulação, inclusive a população das favelas... porque essa é uma pesquisa encomendada pela CUFA, pela Central Única das Favelas, a um órgão de pesquisas sociais, que verificou que metade da população apóia o uso do caveirão, quase o dobro daquela que o rejeita. Fiquei preocupado, porque um discurso desses pode fazer com que alguns órgãos de polícia naturalizem definitivamente a viatura, não entendam que algo que é transitório deve manter o caráter transitório e tornem isso alguma coisa eterna.

Nosso objetivo é um dia aposentar as armas de guerra. Queremos chegar ao ponto de não termos que usá-las, e também não encontrá-las mais nas mãos do narcotráfico. Então, não é uma política simplesmente de querer usar, de exibicionismo, mas hoje ainda infe-lizmente é uma necessidade.

Deputado Chico Alencar, V.Exa. falou na questão de outras alternativas. Estamos vivendo um momento que compreendo que é ímpar. Eu entendo assim. As coisas estão alinhadas para que a gente dê um trata-mento para o crime, para essa criminalidade violenta, com coloração cultural, de forma diferente, para além da ponta do fuzil, com a chegada do PAC e do PRO-NASCI ao Rio de Janeiro.

Tive oportunidade de ir à Colômbia e conversei com o ex-Prefeito Antanas Mockus, com Hugo Acero, com Peñaloza, com Sergio Fajardo, e verifiquei que as condições melhores hoje que se respiram na Co-lômbia são conseqüência de um esforço inclusive de seguimentos ideológicos diferentes, até antagônicos, que entenderam que o problema transcendia essas questões de ordem política e ideológica, e realmente enfrentaram-no, procurando primeiro conter a violência também com uso de força policial, mas depois trazer

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projetos sociais que contemplassem aquela popula-ção carente.

Então, o PAC e o PRONASCI no Rio de Janeiro chegam em boa hora. Por quê? Até hoje só se tem tratado com a chance de a nossa carne encontrar o aço dos fuzis, Deputado, e isso a agente já não agüenta mais. Então, chegam em boa hora o PAC e o PRONASCI.

Sobre o Cavalão e outras favelas, o GPAE tem aplicação em alguns lugares, mas infelizmente não tem aplicação onde o narcotráfico consegue estabelecer-se de tal forma que não se consegue retirá-lo, ou ainda não foi retirado. Por exemplo, GPAE no Cavalão deu muito certo. O narcotráfico não conseguiu sustentar. Mas ele não foi logo o primeiro modelo. Houve um modelo mais reativo, num primeiro momento, até que se chegasse ao modelo definitivo de GPAE. Mas não conseguimos fazer isso, infelizmente, na Vila Cruzeiro. E olhem que a gente tem lá efetivo de 20 a 30 homens no GPAE, que ficam encurralados dentro do seu des-tacamento, porque em volta deles não há 20 nem 30, há 100 homens portando fuzis.

E num outro lugar nem ficou encurralado, nem ficou como força. E nem ficou como força com essa característica de polícia de mediação de conflitos. Foi, infelizmente, o caso do Morro do Cantagalo, em que quase se transformou numa agência reguladora do narcotráfico – por pouco, Deputado! –, porque transita-vam nos horários em que o tráfico queria e nos locais onde o tráfico deixava. Ora, se é para existir GPAE, é para existir como representação do Estado, como a força do Estado.

Com as armas legítimas e legais do Estado, eu sou francamente favorável. Mas não pode ser um GPAE de negociação com o crime, muito menos um GPAE encurralado dentro de um prédio de arquitetura desfa-vorável, numa situação totalmente desfavorável, não se fazendo Estado. Então, essa é uma questão que tem que ser discutida, sim, porque nós somos favoráveis a esses modelos, quando é possível.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Há uma pergunta aqui que me foi passada, eu acho, por Márcia, que indaga ao Tenente-Coronel Mário Sérgio o que está sendo feito sobre a fala do Coronel Marcos Jardim sobre o inseticida social.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – É uma questão de frases, não é? Eu não sou respon-sável pela frase, nem pelos discursos das pessoas. O Instituto de Segurança Pública, é bom deixar isso cla-ro, não é um órgão de polícia, nem é ouvidoria, nem é corregedoria; é uma autarquia ligada à Secretaria de Segurança Pública – vinculada é a expressão mais correta –, que foi criada no ano de 1999, até, de certa

forma, como um devaneio, porque foi criada para ser uma superestrutura da Secretaria de Segurança.

Na realidade, o Instituto de Segurança Pública seria mais poderoso do que a Secretaria. Os verbos de construção do Instituto são aqueles de tutela: se-gurar, gerenciar, executar, administrar. Ora, é claro que ele esbarraria com a cultura das corporações, com dispositivos legais, e nunca seria aquele órgão para o qual foi criado. Demorou a encontrar uma identidade, e hoje tem, mas não é um órgão de responsabilidade de verificação de desvios policiais. Produzimos estu-dos científicos e estatísticas policiais.

Em rigor, estou aqui hoje muito mais... sinto-me muito mais à vontade para falar dessas questões como alguém que vem da ponta, como um comandante de unidades operacionais, seja especial, seja unidade operacional convencional. Então, não posso dizer, D. Márcia, o que está sendo feito. Posso garantir que a frase não é minha. Isso eu posso dizer, com toda a certeza.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Estamos caminhando para a finalização da nossa audiência pública, que trouxe a possibilidade, aqui, de um debate profundo sobre todas essas ques-tões que envolvem o Estado do Rio de Janeiro, sobre-tudo a cidade do Rio de Janeiro. Antes de encerrar, no entanto, gostaria de repetir aqui o que eu disse há poucos meses, numa entrevista na TV Câmara.

Primeiro, não sei se o Governador Sérgio Cabral define sua política de segurança pública pela sua lógica, expressada na sua fala, de que as favelas são fábricas de marginais. Os senhores estão aqui traduzindo isso como criminalização da pobreza, parece-me. E eu dizia exatamente que esse é um grande equívoco, respon-sabilizar exatamente os segmentos mais pobres pela causa da violência. Todos nós sabemos que grande parte da elite patrocina o crime organizado, patrocina o tráfico de drogas, e crimes bárbaros que acontece-ram no País foram produzidos por segmentos da elite: o índio que foi queimado aqui; recentemente o espan-camento de uma doméstica acho que na Vieira Souto, não sei se foi em Ipanema...

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – ...na Barra da Tijuca; e vários outros. É o que se diz das festas rave, em que o ingresso é um comprimido de ecstasy. Isso é muito comum ouvir-mos dizer.

E eu dizia exatamente também que parece que o Estado aceita esse jogo, e parece que estabelece uma estratégia de preservar alguns setores com um grau de violência maior, alguns guetos, não sei como poderíamos denominar, porque quando o Estado de-

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seja, quer, não só pela repressão, mas... Aqui foi citado um exemplo de Niterói; acho que foi V.Exa., Deputa-do, que citou. Então, quando o Estado decide intervir com políticas públicas, associadas, é claro, em algum momento, também à repressão, quando necessário, mas quando o elemento predominante são as polí-ticas públicas, de fato parece-me que se consegue uma solução estrutural para o problema do combate à violência, e não apenas uma solução conjuntural, ali, do imediatismo.

Então, quando o Estado, o Poder Público deci-de intervir numa área, como agora, por meio do PAC, como foi dito aqui, e do PRONASCI, quando o Esta-do define políticas públicas de acesso da população à escola, à saúde, ao asfalto, à água tratada, à ilumina-ção, a todos os equipamentos sociais que há no outro bairro, o elitizado, no dia em que o Estado conseguir colocar nesses lugares mais pobres, nas favelas, ou nas baixadas – dependendo do Estado, a denominação é diferente –, os mesmos equipamentos sociais que coloca no centro ou nos bairros elitizados, certamente a violência vai reduzir-se.

Então, é por isso que acredito que todos nós te-mos uma parcela de culpa por essa situação grave, quase irreversível, que acontece no Rio de Janeiro. Espero realmente que o Presidente Lula possa, no seu Governo, começar a inverter isso com uma política estruturante, com obras importantes de saneamento básico, nas áreas de educação e de saúde, como eu já disse aqui, mas também com programas sociais, na área de cultura, como apontou o Deputado Marcelo também, com uma reformulação, um novo conceito de cultura, para redefinir até a cultura que a juventude des-ses lugares expressa, e apoiar essa expressão, esses movimentos culturais, então – aí, sim – nós poderíamos ter uma revolução que caminhe para a paz.

Só o enfrentamento me parece muito mais uma posição conjuntural, muito mais também do ponto de vista de uma mensagem de que o Estado está fazen-do a sua parte: está reprimindo, está matando, está combatendo, mas não está resolvendo o problema; está perdendo a guerra. Eu espero que agora, com essas medidas realmente estruturantes, possamos ganhar a guerra. Então, parabéns, Deputado Chico Alencar, por esta iniciativa. Espero que daqui o Coro-nel, que representa, nesta audiência pública, o Esta-do, possa levar o pensamento majoritário, unânime, desta Comissão de Direitos Humanos e Minorias, de que nosso papel é este: defender a vida, a liberdade, a dignidade humana.

Estamos prontos aqui, com um espaço aberto – viu, Patrícia? Viu, Márcia? –, um espaço aberto para a comunidade, exatamente para que todos possam vir

aqui, soltar a voz, pedir socorro mesmo, e ter a Comis-são de Direitos Humanos como uma grande aliada na luta pelo respeito, pela promoção e pela defesa dos direitos humanos.

Pergunto se alguém do plenário deseja usar da palavra. É uma audiência pública. Então, normalmente permite-se também que os demais presentes possam usar da palavra. (Pausa.)

V.Sa. pode identificar-se, dizer seu nome daí mesmo, apertar o botão e usar o microfone. Aperte novamente, por gentileza, uma vez só.

O SR. RAFAEL MENDONÇA DIAS – Meu nome é Rafael. Sou pesquisador da organização não-go-vernamental Justiça Global. Eu quero entregar ao re-presentante da Comissão de Direitos Humanos e ao Deputado Chico Alencar, que teve a iniciativa, um re-latório que organizações da sociedade civil do Rio de Janeiro entregaram ao Relator para Execuções Sumá-rias, Arbitrárias e Extrajudiciais da ONU, Philip Alston, quando ele esteve no Rio de Janeiro, no ano passado, investigando os casos de execução sumária.

E quero fazer uma pergunta objetiva ao atual Presidente do ISP, o Tenente-Coronel Mário Sérgio, sobre se os dados sobre autos de resistência e todos os dados, globalmente, do Estado do Rio de Janeiro vão continuar sendo divulgados, como já vinha sendo feito na gestão passada.

Obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – V.Sa. tem a palavra, Coronel.O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE –

Bem, sobre essa questão de dados, eu assumi o Ins-tituto há 2 meses, talvez motivado pelo discurso da minha antecessora, que fez um grande trabalho, diga-se de passagem, no instituto. A Dra. Ana Paula fez um belíssimo trabalho, mas só ela pode explicar o porquê das desconfianças dela. Ela lançou no ar que eu iria, ou que pelo menos haveria o risco de eu manipular dados, esconder, de alguma maneira não divulgar os dados, e os cientistas sociais fizeram logo uma carta ao Governador para exigir, se não minha saída, pelo menos que o Governo cumprisse...

Reuni-me até, depois, com os cientistas sociais, Sr. Rafael, para dizer do preconceito deles contra os policiais. É uma forma de exibir preconceito. Aquilo que eles poderiam entregar-me, entregar nas minhas mãos, eles atiraram-me na cara, desnecessariamente, precipitadamente.

Passados 2 meses – já estou entrando no quar-to mês –, estou conseguindo tirar o atraso da gestão anterior. Já estou entrando na quarta divulgação. E os dados, muito transparentes – e, aliás, eu trouxe hoje até alguns para exibir; é que não deu tempo –, mos-

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tram o crescimento dos autos de resistência, sim. Nós não vamos maquiar nada. Nós vamos discutir, não nos fechar em círculos de idéias e opiniões. Nós estamos dispostos a nos exibir, ser massacrados algumas vezes, mas dizer o que nós estamos querendo fazer.

Os dados estão à disposição de quem tem inte-resse legal e legítimo. Existem protocolos para obter esses dados, além do que nós publicamos na Internet. Então, de cientistas, grupos de interesse legítimos que nos mandam documentos, seguindo aqueles protocolos – que não são estipulados por mim; já foram estipula-dos na gestão anterior –, nós atendemos o pedido de obtenção dos dados, com toda a certeza.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Consulto os Deputados Chico Alencar e Pe-dro Wilson sobre se ainda desejam usar da palavra. (Pausa.)

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Esses dados que estamos vendo ali podem ficar aqui, à dis-posição da Comissão?

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – Com toda a certeza. Eu trouxe justamente para dar publicidade, e estão à disposição dos senhores.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Obri-gado.

O SR. MÁRIO SÉRGIO DE BRITO DUARTE – E os dados que estão aqui estão na página do Instituto de Segurança Pública, aliás, com muito mais infor-mações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Com a palavra o Deputado Pedro Wilson.

O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON – Sr. Pre-sidente, convidados, Deputado Chico Alencar, quero parabenizar a Comissão, V.Exa., Sr. Presidente, e to-dos aqui presentes.

Essa não é uma questão só do Rio de Janeiro; é uma questão, hoje, brasileira, e remete-nos à impu-nidade. Quando uma mãe reclama, tem todo o direito de buscar justiça. Nós estamos assistindo aí a um des-serviço ao País, da mídia, sobre o caso Isabella. Daqui a pouco isso vai generalizar-se. E às vezes a mídia pode ter um papel importante, educador, informador, no sentido de avaliar os processos. No Rio de Janeiro, também se quer construir aquela história de que não tem jeito, ou de que se tem de usar a repressão, de uma maneira ou de outra. Eu acho que a Comissão de Direitos Humanos, chamando a família, trazendo ao debate, tornando público... porque muitas vezes o próprio jornal já nem se interessa mais pela notícia. Já há tantos outros fatos que isso fica... Nós sabemos o caso das mães de Acari, que até hoje clamam por justiça, não é?

Então, eu quero dizer do compromisso da Comis-são de Direitos Humanos e de todos nós, no sentido da investigação das causas, para encontrarmos alternativa. Acho que é possível uma alternativa. O papel do Esta-do não é só o de fazer o confronto. É também, mas eu acho que é principalmente o de fazer um processo de mudança da realidade. E conhecemos a realidade do Rio, sabemos das dificuldades, inclusive a geográfica, eu diria até a histórica, da questão da conurbação tam-bém, da questão da ligação, da conexão dos próprios setores da Polícia com o crime. Isso está presente no Brasil. Por isso é que há o desejo de criarmos uma nova política de segurança pública, e a questão dos direitos humanos remete a isso. E eu acho que há o esforço, aí, do Ministro Tarso Genro, no sentido do PRONASCI e de outros programas, mas também de estimular os Governadores e até os Prefeitos – porque a Prefeitu-ra, por exemplo, normalmente não entra, mas muitas coisas estão sendo cominadas à Prefeitura. Não sei se nas grandes cidades, mas normalmente, no interior, a Prefeitura, mesmo não tendo responsabilidade cons-titucional, é obrigada a entrar nesse jogo, porque é o jogo que interessa, para a proteção da comunidade.

Quero saudar a Comissão e dizer do nosso com-promisso também, aqui no entorno de Brasília, quanto a esses casos contra crianças – esses dias eu vi uma pesquisa mostrando que são 5 mil e tantas – que so-freram esse tipo de violência, a questão do extermínio por grupos da sociedade e de policiais em Goiás; es-tamos lá com 5 a 10 casos que não estão resolvidos, e em que, se nos aprofundarmos, veremos a conexão de setores, e tal, como no Rio, em que tentaram fazer parecer até uma solução a criação daqueles grupos lá de proteção, a chamada milícia protetora, e como há o caso grave, há mais de 10 anos, em São Paulo, das chacinas, que não têm fim.

Isso lembra-me o relatório do nosso ex-Deputado e ex-Presidente desta Comissão Hélio Bicudo, quando ele, como Procurador, ou Promotor, foi chamado para investigar o Esquadrão da Morte, e todos desaconse-lharam-no. Aí remeto também ao Poder Judiciário e ao Ministério Público. Ele foi ao fundo e elucidou toda aquela questão do Esquadrão da Morte, que já estava inclusive a ponto, naquela época, de passar de uma questão meramente policial para uma questão política. Depois isso foi usado para fazer eliminação de preso político, ou de repressão política, em casos variados.

Então, eu gostaria de mais uma vez saudar o De-putado Chico Alencar. Este debate é recorrente, mas acho que temos também o dever de procurar satisfa-zer esse desejo de justiça de Márcia, que está aqui, e desse sentimento. Havia um bispo em Goiânia, um paraibano, D. Fernando Gomes dos Santos, que dizia

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04131

que o pior poder que se tem é o poder que não pode – quer dizer, quando nós da sociedade, da cultura, da civilização, diante da barbárie, ou tentamos imitar a barbárie para fazer justiça ou ficamos impotentes, e às vezes não há nem garganta para soltar a voz.

Esse é o desafio para nós no Rio, em Goiânia, aqui em Brasília, em São Paulo, no Nordeste e em ou-tros Estados. Até gostaria um pouco de viajar, porque aqui no Brasil inventa-se que a solução é viajar para Medellín e Bogotá, e eu não conheço profundamen-te a realidade de lá. Sei que é um país que vive num confronto muito forte, e o pessoal joga quase toda a culpa na situação lá das FARC, mas há os grupos pa-ramilitares, e agora descobriu-se inclusive que o presi-dente comprou sua reeleição dos Deputados, e quase todos estão presos. E nós não queremos isso. Eu acho que nós queremos uma sociedade democrática, com cidadania, liberdade, igualdade.

O País está crescendo, desenvolvendo-se, mas será que estamos distribuindo essa riqueza? Será que estamos realmente conformando as políticas no sentido de reconhecer que os negros têm os mesmos direitos dos brancos? Inclusive, temos aí uma dívida imensa, e as pesquisas estão sempre mostrando isso. Mas há gente que chega a criminalizá-los, a dizer que é isso; por exemplo, quando um jovem é assassinado, o fato de ser pobre é mais um dado da estatística; quando é classe média, e tal, há um auê muito grande.

O pior não é isso, é o fato de que quando um jo-vem comete um crime, dentro desse arcabouço geral da sociedade, imediatamente vem aqui mais um Depu-tado apresentar um projeto para reduzir a idade penal, achando que isso resolve. Aliás, já temos na prática a redução da idade penal. Já existe a justiça. Esse caso aí é um caso de execução; quer dizer, cometeu ou não, vai-se lá e faz-se justiça! Então, esse negócio de falar de redução da idade penal para diminuição da violên-cia é querer esconder a realidade.

Mas saúdo a família pela coragem de ir à luta. Fico feliz, como militante dos direitos humanos, porque sei que não é fácil agüentar as pressões, o desânimo, o cansaço, a ironia. Por exemplo, vivemos isso aqui quando lutamos pela criação de delegacias especia-lizadas para mulheres vítimas de violência, e muitas delas diziam-nos: o pior não é a violência; o duro é ter de repetir a violência, numa delegacia de homens, 2, 3 vezes, falando daquilo que foi a violência, quer dizer, a pessoa ter de repetir o relato de crimes terríveis, que invadem sua intimidade. E era isso! A mulher chegava lá e perguntavam-lhe: como é o seu caso mesmo? E era preciso recontar toda a história.

Desculpem-me, estou tomando o tempo, mas quero solidarizar-me e dizer, Deputado Chico Alencar

e Sr. Presidente, que estamos aqui à disposição, para lutarmos juntos, para que não haja só lei – porque aí também há outro problema: quando qualquer coisa aguça o nível de criminalidade, cria-se então o fantas-ma da segurança pública. E também queremos uma Polícia Militar, uma Polícia Civil, uma Polícia Federal, e a interligação entre elas. Ouvi uma vez esta discussão: será que a polícia do Rio de Janeiro está interligada à de Minas Gerais, de São Paulo, do Espírito Santo?

Estivemos em Vitória. Participei desde o início das denúncias, como militante do movimento, e não como Deputado. Vitória havia chegado a um ponto em que o crime organizado dominava o Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça, a Assembléia Legislativa. Chega-mos lá, até como Deputado da Comissão de Direitos Humanos, Presidente Sebastião Bala Rocha, e o Presi-dente do Poder Legislativo era o cara que coordenava toda a ação de grupos de extermínio no Espírito San-to, e ele chamou e colocou todo o pessoal dele lá na frente; aí ficamos meio vendidos, lá no plenário. Quer dizer, ele fez isso até para nos afrontar.

Oxalá o Rio de Janeiro, que é a nossa Capital, da nossa beleza, da nossa história, e também há setores que ficam disputando, querendo marcar a cidade... O Rio de Janeiro continua lindo, e queremos o Rio as-sim, mas temos de fazer justiça, para que as famílias possam acreditar na cidadania e na dignidade.

Muito obrigado. Felicidades. Que Deus ajude a todos nós, e que os Poderes de Estado, o Estadual e o Municipal, possam estar presentes com toda a sua organização e com recursos, tanto para investir em po-líticas públicas... Neste momento está encerrando-se a I Conferência Nacional da Juventude, em que os jovens estão gritando: esperem aí, qual é o nosso espaço? Que política pública? Nós não queremos políticas de projeto que acabam amanhã; queremos políticas de Estado, permanentes, envolvendo toda a comunidade, para que os Conselhos Tutelares Municipais, o Juizado e o Ministério Público possam ser efetivos no resgate à dignidade humana.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Muito obrigado, Deputado Pedro Wilson.Pergunto se algum convidado ainda deseja usar

da palavra. (Pausa.)Então, agradeço aos convidados a presença,

agradeço mais uma vez ao Deputado Chico Alencar, e parabenizo-o pela iniciativa.

D. Márcia e D. Patrícia, levem daqui a certeza de que a Comissão é uma forte aliada de vocês nes-sa luta.

Declaro encerrada a presente reunião de audi-ência pública.

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04132 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Com uma bela imagem da Cidade Maravilhosa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Exato.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Nem tudo está perdido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado.

Está encerrada a reunião.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Declaro abertos os trabalhos da presente audi-ência pública, que tem por finalidade debater o tema Guerrilha do Araguaia. O objetivo é atualizar informa-ções sobre os desaparecidos políticos, em atendimento a requerimento que apresentei nesta Comissão, apro-vado unanimemente pelos colegas Parlamentares da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

O episódio histórico foi um conjunto de operações guerrilheiras iniciado em 1966, tendo seu fim sido de-clarado em 1974.

O PCdoB organizou o movimento político de implantação da guerrilha rural na região do Rio Ara-guaia, próximo à fronteira entre os Estados do Pará e Tocantins, área da floresta amazônica conhecida como Bico do Papagaio.

A intervenção das Forças Armadas naquele pe-ríodo de ditadura militar deixou um saldo de 59 guer-rilheiros mortos e um número ainda incerto de cam-poneses desaparecidos, tendo-se caracterizado pelo emprego generalizado da tortura e do extermínio e pelo desaparecimento dos corpos dos guerrilheiros e camponeses capturados.

A despeito das versões, perduram dúvidas que ainda causam sofrimento às famílias dos desapareci-dos, privadas do direito de sepultar seus mortos.

Dando início aos trabalhos, convido para com-por a Mesa desta nossa audiência pública o tenente da reserva José Vargas Jiménez, ex-chefe de um dos grupos de combate; o Sr. Nélio Roberto Seidl Macha-do, representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e relator, na OAB, do processo sobre a abertura dos arquivos do Araguaia; o Dr. Paulo Abrão Pires Junior, Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que já está aqui na mesa, ao meu lado, para nossa honra; o Sr. Raimundo Antônio Pereira, ex-soldado do 52º Batalhão de Infantaria da Selva – BIS; o Sr. Lorivan Rodrigues de Carvalho, ex-soldado do 52º Batalhão de Infantaria da Selva – BIS; o Sr. Manoel Leal Lima, camponês que atuou como guia do grupo de combate do Exército na região da Guerrilha; a Sra. Lúcia Regina Martins de Souza, ex-guerrilheira do Destacamento do Ar da Guerrilha do

Araguaia; a Sra. Myrian Luiz Alves, jornalista e pes-quisadora da Guerrilha do Araguaia.

Sejam todos bem-vindos. Esclareço que o tempo concedido a cada um

dos expositores será de no máximo 15 minutos. Após a exposição, será concedida a palavra aos Deputados presentes, respeitada a ordem de inscrição. Cada Depu-tado inscrito terá o prazo de 3 minutos para tecer suas considerações ou pedir esclarecimentos, dispondo os expositores do mesmo tempo para resposta.

Esclareço que esta reunião está sendo gravada, para posterior transcrição. Por isso, solicito aos senho-res que falem ao microfone.

Dando continuidade aos trabalhos, concederei a palavra aos nossos convidados. Tenho aqui um apelo do Dr. Paulo Abrão Pires Junior, Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que assessora de forma muito competente o Ministro da Justiça, Tarso Genro, que está na Comissão ao lado – aliás, onde eu também deveria estar, mas não podemos estar nas duas ao mesmo tempo.

Deputado Pedro Wilson, seja bem-vindo. Concederei a palavra primeiramente ao Sr. Paulo

Abrão Pires Junior, porque S.Sa. vai ter de ausentar-se quando houver a solicitação da sua presença pelo Ministro Tarso Genro.

Está com a palavra o Sr. Paulo Abrão Pires Jú-nior, Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, por no máximo 15 minutos.

O SR. PAULO ABRÃO PIRES JUNIOR – Boa tarde a todos. Cumprimento os demais membros da Mesa, na pessoa do nosso Deputado Pompeo de Mat-tos, Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

É a segunda vez que aqui estamos, em menos de 15 dias, em razão desta boa sinergia e parceria que a Comissão de Direitos Humanos, junto com a Comissão de Anistia, tem estabelecido com a finalidade maior de promover esse direito, essa dívida política do Estado brasileiro em relação aos perseguidos políticos dos nossos regimes autoritários.

Quero fazer um cumprimento especial ao Zezi-nho do Araguaia, à Criméia e à Laura Petit, que estão conosco, pessoas que são referência na luta que en-volve o episódio que estamos aqui tratando nesta tarde de hoje, de forma tão importante. São referência para todos os brasileiros que acreditam numa sociedade mais justa e igualitária. Não se conformaram quando as vestes do autoritarismo se difundiram de forma, mui-ta vezes, aética e foram incorporadas por parcelas da nossa sociedade. Isso acabou resultando no sofrimento de uma significativa parte de brasileiros.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04133

Hoje, muito particularmente, é um dia muito im-portante para nós, que somos defensores da anis-tia, que ainda não é uma anistia concluída no País. Enquanto o último perseguido político brasileiro não tiver recebido o reconhecimento oficial do Estado, o pedido de desculpas em razão das perseguições que sofreu, não teremos uma democracia consolidada em nosso País.

Hoje, há menos de uma hora, tivemos, na Comis-são de Anistia, o julgamento do requerimento de nin-guém mais do que Elza Monnerat, uma companheira de luta de alguns que aqui estão. Acabamos de julgar o requerimento, e Elza Monnerat foi declarada anistiada política brasileira pela Comissão de Anistia.

Amanhã, na sede do terreno da UNE, na praia do Flamengo, no prédio histórico que foi incendiado na época da ditadura militar, faremos a Caravana da Anistia. Ali o Ministro da Justiça, pessoalmente, assi-nará a portaria de anistia política de Elza Monnerat e entregará aos seus familiares o pedido de desculpas oficiais do Estado. É bem pertinente que hoje isso te-nha ocorrido em razão de a Elza ter sido também uma das principais personagens, especialmente na fase de formulação e na fase inicial do episódio da Guerrilha do Araguaia.

Em segundo lugar, também na data de hoje, foi publicada portaria do Sr. Ministro de Estado da Justi-ça instituindo um grupo de trabalho e determinando a construção e implementação do Memorial da Anistia Política no Brasil. É o ato normativo que faltava como decorrência do projeto do Memorial que construímos juntamente com as diferentes associações dos anistian-dos e dos anistiados políticos brasileiros. É uma meta ainda dentro do Governo do Presidente Lula podermos consolidar esse espaço físico que possa servir como exemplo de preservação da nossa memória, a fim de que os fatos do passado não se repitam mais.

Para esse Memorial tivemos a grata satisfação de ter recebido a primeira doação de documentos das mãos do Deputado Pompeo de Mattos, nesta mesma Casa, uma doação feita pela Comissão de Direitos Humanos à Comissão de Anistia. Esse será o primeiro documento que integrará esse Memorial, cuja portaria de instituição foi publicado no Diário Oficial de hoje.

Realmente, apresento minhas desculpas, pois eu e o Sr. Ministro da Justiça sairemos às 15 horas para a Base Aérea, visando ir ao Rio de Janeiro para fazermos essa Caravana da Anistia, na sede do terreno da UNE, e essa homenagem à hoje declarada anistiada política Elza Monnerat. A solenidade contará com a presença não só do Presidente Nacional da OAB, mas também do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e da Presidenta da UNE.

Cumprimento a Conselheira Beatriz Bargieri, que aqui chegou, Conselheira da Comissão de Anis-tia, que também tem colaborado nos trabalhos que a Comissão tem implementado no assunto que envolve a Guerrilha do Araguaia.

Qual é o papel da Comissão de Anistia e onde nos inserimos em relação à Guerrilha do Araguaia?

O fato concreto é que a Comissão de Anistia recebeu nada mais, nada menos do que 262 requeri-mentos de anistia de brasileiros e brasileiras que, de alguma forma, presenciaram, participaram, sofreram as agruras ou estiveram relacionados direta ou indire-tamente com o episódio da Guerrilha do Araguaia. São requerimentos de diferentes naturezas, de pessoas que relatam terem sofrido torturas e prisões em razão da repressão que o Estado brasileiro promoveu nas diferentes operações na época do combate à própria Guerrilha do Araguaia. Essa repressão foi realizada pelas Forças Armadas, às vezes de forma oficial, às vezes de forma oficiosa. E também há requerimentos de uma série de moradores que se envolveram em episódios de constrangimento em razão das diferentes buscas que as Forças Armadas brasileiras promoviam na “caça”, entre aspas, ou na caça mesmo aos militan-tes pertencentes à Guerrilha do Araguaia.

Nesse trabalho, a partir destes 262 requerimen-tos, a Comissão de Anistia entendeu que não pode-ríamos nem tínhamos condições objetivas para apu-rar as informações que foram trazidas nos diferentes requerimentos de anistia com base meramente em informações documentais. Em primeiro lugar, porque sabemos que boa parte dos documentos oficiais das nossas Forças Armadas relativamente ao período ainda não foi trazida à tona. E todos nós também sabemos que a forma de repressão que ocorreu em relação a boa parcela dos moradores da região por vezes não foi devidamente registrada.

Então, entendeu a Comissão de Anistia que a produção de provas para se poder fazer a efetiva ins-trução dos requerimentos de anistia e se averiguar a veracidade dos fatos que lá estão seria colhermos in loco, direta e pessoalmente, depoimentos dos mora-dores da região, para que, a partir da colheita desses depoimentos, pudéssemos cruzar com depoimentos que eles já prestaram ao Ministério Público Federal, com depoimentos que já prestaram a uma boa parte dos nossos historiadores e pesquisadores que se dedicam à temática do Araguaia e com outros depoimentos que eles já prestaram por vezes aos nossos jornalistas nos diferentes meios de comunicação brasileira.

Do entrecruzamento das diferentes informações que a Comissão de Anistia tem recolhido, a nossa perspectiva é a de que, após essa fase de instrução

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04134 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

processual desse requerimento, tenhamos os elemen-tos e os dados objetivos para se poder comprovar as informações que são trazidas, os diferentes relatos que são trazidos.

A Comissão de Anistia, de uma forma inédita, saiu das 4 paredes do Palácio da Justiça, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e foi a campo pessoalmente, com seus conselheiros, à região do Araguaia. Lá, com o apoio da Associação dos Torturados do Araguaia, promovemos duas audiências públicas, uma em se-tembro do ano passado, onde tivemos oportunidade de ouvir 131 moradores, e agora, em abril deste ano, estivemos novamente na região e conseguimos ouvir mais 120 moradores, que quiseram prestar seus re-latos e depoimentos sobre os episódios em relação à Guerrilha do Araguaia, não somente direcionados à instrução de seus processos de anistia, mas muitas vezes também prestando informações que eles tinham em relação às histórias que ocorreram em suas res-pectivas vidas. Ou seja, nos relatos que temos dentro da Comissão de Anistia desses moradores, a história é contada do ponto de vista de quem foi perseguido; a história é contada, de forma detalhada, por parte daqueles que sofreram as conseqüências da repres-são que o Estado brasileiro promoveu no combate à Guerrilha do Araguaia. E, nessa repressão, o Estado atingiu uma centena de brasileiros de modo direto ou indireto, na tentativa por vezes de forçá-los a colabo-rar na busca aos guerrilheiros e, em outras vezes, em forma de interrogatórios bárbaros, sob tortura física, visando à prestação de informações para que pudesse facilitar o trabalho das diferentes operações que ocor-reram naquela época, entre 1972 e 1975.

A Comissão de Anistia, a partir desses relatos, conseguiu sistematizar uma série de situações diferen-tes entre os requerentes. Há aqueles requerentes que alegam terem sido forçados a colaborar com as Forças Armadas na busca aos guerrilheiros. Há os que reco-nheceram oficialmente que não foram forçados, que receberam ajuda do Estado, por vezes até uma certa remuneração ou, ao final de tudo, receberam terras do INCRA para poderem colaborar na caça aos guerrilhei-ros. Há também aquele outro conjunto de brasileiros, de requerentes que foram, por vezes, interrogados e presos, que tiveram suas famílias presas para pres-tarem informações; que foram torturados ou levados a prestar serviços forçados em prisões, em Bacaba, em Xambioá e em outras prisões; que prestaram para o Exército, para as Forças Armadas, serviços força-dos de limpeza de prisões. E há outros relatos muito dolorosos. Até hoje as pessoas que lá estão têm isso muito forte em sua memória, porque, evidentemente, marcou muito toda aquela comunidade.

Então, a nossa avaliação dessa atividade de pro-moção de oitiva para instrução dos processos é muito positiva, porque o Estado brasileiro esteve lá oficial-mente, por meio do seu Poder Executivo – já havia es-tado o Ministério Público Federal –, a fim de ouvir as histórias daquelas pessoas. Hoje temos um conjunto de informações muito ricas. Evidentemente, muitos desses relatos são repetitivos, já prestados a outros desses organismos aos quais já fiz referência.

Acho que esses depoimentos que colhemos po-dem subsidiar não só os estudos das pesquisadoras, mas também a Comissão de Mortos e Desapareci-dos da Secretaria Especial de Direitos Humanos, pois nesses depoimentos há informações que podem, de alguma maneira, colaborar na localização dos cor-pos daqueles que foram mortos e dos desaparecidos no episódio da Guerrilha do Araguaia. Eles podem contribuir também para se fazer um cruzamento dos depoimentos prestados agora em 2008 com os de-poimentos prestados pelos mesmos personagens em 2001 ou em outras vezes, quando foram ouvidos por pesquisadores, por jornalistas e pelo Ministério Públi-co Federal ou em outras atividades que a Secretaria Especial de Direitos Humanos já promovera, quando do reconhecimento oficial do Estado brasileiro em re-lação a alguns mortos e desaparecidos na ditadura militar. E isso desembocou na publicação de glorioso e memorável livro, cujo lançamento ocorreu recente-mente e contou com a presença, inclusive, do nosso Presidente da República.

Gostaria de trazer essas informações e dizer que não tive condições de preparar esse material hoje por-que a visita lá foi muito recente. A Secretaria Especial de Direitos Humanos participou conosco – o Pedro está aqui. Faço questão de registrar a participação fundamental da Secretaria Especial de Direitos Hu-manos na ajuda à Comissão da Anistia para elucida-ção desses fatos. Também contamos com a presença de uma conselheira da Comissão de Mortos e Desa-parecidos, a Diva Santana, ajudando a Comissão de Anistia nessa tarefa.

Para os fins precípuos dessa Comissão, que tem como objetivo apurar os fatos relativos à Guerrilha mas também colaborar na localização dos corpos que até hoje ainda não vieram à tona, temos todos os depoi-mentos que colhemos, seja em setembro, seja agora recentemente, em abril. E eu vou encaminhar oficial-mente ao Sr. Presidente da Comissão de Direitos Hu-manos, Deputado Pompeo de Mattos, a integralidade desses depoimentos que colhemos.

Entre eles há o depoimento do Seu Manoel, que está aqui e também vai falar. São depoimentos muito precisos e não há razão nenhuma, por parte do Esta-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04135

do brasileiro, para desmerecer as afirmações que ali estão postas. Essas informações estão sendo cruza-das. Todos os depoimentos foram gravados e todas eles mantêm uma coerência na ligação, nos nexos de causalidade entre as informações prestadas por um ou outro morador daquela região.

Evidentemente, a Comissão de Anistia terá um desafio muito grande para apreciar caso a caso, para averiguar a concretude. Há dificuldade especialmente na situação dos guias e mateiros. A Lei de Anistia foi criada para indenizar perseguidos políticos e sabemos que alguns personagens cumpriram papel de perse-guidor. Em relação a esse desafio a Comissão terá, de forma autônoma, a grande responsabilidade e o dever de tomar uma decisão, tentando, inclusive, fazer uma diferenciação do contexto em que as pessoas foram levadas a colaborar com as Forças Armadas na busca aos guerrilheiros. Realmente, acredito que essa vai ser a situação mais delicada. Nós sabemos que há uma posição radicalmente contrária a qualquer tipo de anistia a esse grupo de requerentes, independentemente das condições. Outros entendem por uma posição depen-dendo do contexto. Já outros entendem que deve ser dada, sim, anistia a eles em razão do próprio desco-nhecimento da situação ou da incapacidade de discer-nimento político sobre o que estava ocorrendo ou pelo fato de o Estado tê-los obrigado a colaborar. Existem posições distintas, não vou relatar cada uma, e a Co-missão de Anistia, nesses casos específicos, terá de tomar uma decisão e saber defender essa posição na época do julgamento desses requerimentos.

Nesses 262 requerimentos já se incluem 17 re-querimentos que são de guerrilheiros, um deles julgado hoje, da Elza Monnerat, e pelo menos 53 moradores que admitem terem sido guias de algum modo e outros 13 que, além de admitirem que foram guias, admitem também que receberam terras do INCRA como forma de pagamento pela colaboração com as forças militares durante a repressão à Guerrilha do Araguaia. Estamos cruzando esses dados com uma declaração oficial que solicitamos ao INCRA sobre todos os beneficiários da região com terras à época, sob o pano de fundo da promoção da reforma agrária naquela região.

Entre outros relatos, para poder finalizar e cum-prir o meu tema, apenas para que as pessoas tenham idéia do nível de informações que colhemos, citamos, por exemplo, o depoimento do Sr. Salvador Gonçal-ves da Silva, que relata que lembra especificamente do Capitão Valdir distribuindo cerveja comemorando a morte do Osvaldão; que ele viu o Simão ser preso; que andavam pela estrada com o Simão capturado e pousaram na sua casa para descansar antes de levar para a base. Especificamente, que ele viu o Simão

sendo levado com as roupas rasgadas, que, embora não o tenha visto morto, presenciou testemunhalmen-te a prisão dele.

Temos o depoimento da Dona Rita Moraes Ribei-ra, que relata ter visto muita gente sendo presa, como o Piauí, na mata próxima a Fortaleza. Diz que viu a caveira do Zé Carlos no castanhal da lagoa. Disse que tempos depois, quando cavava no castanhal, encontra-ram ossos de braços e pernas; que a área fica próxima do Igarapé Jacu. Que ela viu a Rosinha quase morta, amarrada dentro de um jipe que pertencia a Jacó, que era Prefeito, mas já faleceu.

Entre outros relatos, vou ser bem rápido, porque depois vou entregar a totalidade dos dados para a Co-missão, há o relato da Sra. Francesca Morais, que viu a Rosinha na casa do Seu Jacó, ex-Prefeito de São Domingos – essas informações batem com o relato anterior –, de onde saiu presa e levada para Bacaba; que o Piauí e o filho de uma vizinha de nome Joana foram presos no sítio; que separaram os 2 e cada um foi colocado em um saco, ainda vivos, e posteriormen-te em um carro.

Temos ainda, entre outros, o depoimento do Sr. Abel, o Abelinho, que todo mundo sabe que é um dos personagens mais notórios, que no dia de Natal, de 1973, ele diz que acompanhava o Exército quan-do encontrou o Velho Mauro, o Pedro Gil, o Paulo e o Amauri, que foi testemunha e participou; que eles foram mortos de imediato; que essa morte ocorreu no Grotão dos Caboclos, na altura do Saranzal; que estavam mal vestidos e em posição de vigilância; que foram mortos com fuzil FAO. Ele dá esses detalhes. Diz que os corpos foram levados de helicóptero, não sabe para onde; que o Exército chegava e já ia matando. É o testemunho de um homem que participou diretamente. Que depois disso encontrou o Peri na Grota da Lima; que os militares pegaram o Peri e chegaram atirando; que o helicóptero sapão recolheu o corpo do Peri; que a equipe era formada por pára-quedistas; que chama-vam o depoente de rastreador; que participou de várias missões; que foi para São Domingos tentar localizar o Joaquim e o Paulo; que essa equipe era do Sargento Santa Cruz; que encontrou os 2 à noite e o Joaquim conseguiu fugir; que o Paulo foi morto no local devido à ação rápida com o objetivo de eliminar o guerrilhei-ro; que o corpo foi recolhido para uma farinheira na área do Peixinho; que era guia; que foi ao encalço do Joaquim mas não conseguiu localizá-lo; que recebeu outras várias missões onde foi preso o Simão; que o Simão se entregou; que o Ari e o Simão foram para a mata; que o Manoelzinho das Moças guiava um grupo. E há, assim, outros relatos. Que o Sargento Rodrigues queria cortar o meio e metralhar no centro do corpo;

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04136 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

que a Sônia ainda brigou um pouco; atirou na boca do Lício. Ele presenciou esses relatos que a maioria dos senhores conhece: que viu o João Goiano preso; que foi nas bases de Bacaba, Xambioá e Cascavel, e assim por diante.

Boa parte deles relata – essa denúncia é muito grave – que até hoje ainda sofre algum tipo de cons-trangimento, especificamente por parte do Curió, hoje uma autoridade constituída dentro daquele Estado como Prefeito, o que é muito grave. Acredito que esta Comissão e as autoridades brasileiras precisam tomar uma atitude mais concreta em relação a isso. Relatam que até hoje os homens dele ainda ficam pressionan-do, a fim de que eles não contem os episódios e não contem mais detalhes em relação às informações que possuem.

O Sr. Antônio Félix da Silva relata que, certa fei-ta, viu o Exército buscar de helicóptero 3 presos vivos, e informa que poderiam ter sido, na lembrança dele, o Antônio, o Valdir e o Beto, em 21 de abril de 1974; que quando foram presos, os soldados que estavam junto informaram que eram os últimos que faltavam; que viu uma cova tripla, onde foram enterrados alguns guerrilheiros, e assim por diante.

Então, os relatos são esses, é a oportunidade para poder cruzar com outros depoimentos que essas mesmas personagens já fizeram em outros momentos, a fim de que nós possamos de algum modo colaborar nessa busca da verdade. Afinal de contas, nenhum de nós quer construir uma democracia cujas bases são desconhecidas. Nenhum de nós pode, ou deve. Afinal de contas, que democracia é essa que tem medo de conhecer o seu passado, que democracia é essa que tem medo de reconhecer a sua própria história?

A Comissão de Anistia presta essa colaboração neste momento, entrega à Comissão de Direitos Huma-nos da Câmara a integralidade dos depoimentos que lá colhemos. Nós temos a expectativa de, talvez em 3 meses ou 4 meses, talvez até menos, voltar àquela região para fazer o julgamento in loco dos moradores aos quais a instrução dos processos e a comprovação já esteja mais do que comprovada e que não haja ne-nhum tipo de questionamento em relação aos episódios que relatam, para que afinal de contas o Estado brasi-leiro, também para essas pessoas, possa promover a respectiva indenização, que não é uma benesse, não é uma bolsa, não é nenhuma concessão, nenhuma dádiva do Estado, mas, sim, um direito. E um direito constitucional, assegurado no nosso texto constitucio-nal, e que deve ser aplicado e levado adiante, sob pena de nós rompermos um pacto efetuado pela sociedade brasileira à época da nossa transição democrática.

Muito obrigado pela oportunidade de estar aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Muito bem. Quero agradecer ao Dr. Paulo Abrão Pires Júnior e parabenizá-lo pelo trabalho que vem fazendo na Comissão de Anistia. Dou esse testemu-nho em que pese estejamos aí só este ano à frente da Comissão de Direitos Humanos e já podermos ver de forma bem clara e transparente a atuação de V.Sa. à frente da Comissão. V.Sa. já demonstrou na Comissão de Anistia, tem demonstrado aqui na Comissão de Di-reitos Humanos, e esse relato que faço é absolutamen-te verdadeiro. Os fatos que se sucedem na Comissão depõem a seu favor. Então, dou esse testemunho.

Agradeço a V.Sa. e o parabenizo. Obviamente vamos receber esse documento. Eu não sei quando V.Sa. vai passá-lo a nós.

O SR. PAULO ABRÃO PIRES JÚNIOR – No início da semana.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – No início da semana, então, receberemos o documento. Para nós é bastante importante, porque queremos compilar um dossiê.

O SR. PAULO ABRÃO PIRES JÚNIOR – Eu es-pero. O pessoal está trabalhando na sistematização.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Não, mas uma semana, um pouco mais, um pou-co menos não vai fazer diferença. Essa é a primeira audiência pública, que por sinal desencadeará outras audiências. Queremos avançar nessa questão do Ara-guaia. Assim como a Comissão de Anistia avança lá, nós podemos avançar aqui, e encontrar um bom ca-minho para esclarecer esse fato, que é histórico e que é emblemático na vida brasileira.

Quero fazer, antes de V.Sa se retirar – sei que tem um compromisso –, um apelo: que quando a Comissão de Anistia for ao Araguaia, nós, da Comissão de Di-reitos Humanos, fôssemos comunicados com antece-dência, para designarmos alguém para lá comparecer, participar, testemunhar, acompanhar o julgamento. Não haverá nenhuma intervenção, em absoluto.

O SR. PAULO ABRÃO PIRES JÚNIOR – Nós convidamos, no ano passado, a Deputada Jô Moraes, que foi conosco. Este ano, chegamos a entrar em con-tato, mas com a mudança dos membros da Comissão, o pessoal não teve condições. Será um grande prazer. Estamos à disposição, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Seria em que mês aproximadamente?

O SR. PAULO ABRÃO PIRES JÚNIOR – Talvez daqui a 3 meses. Nós ainda não temos a data fixada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Nós aguardamos. A Comissão tem interesse em

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04137

acompanhar de perto. Vamos aprofundar o debate sobre esse tema. A presença de representantes da Comissão neste momento em que a Comissão de Anistia lá atua vai ser bem interessante, bem importante.

V.Sa. precisa se retirar, mas não se preocupe, porque tudo que está sendo gravado será degravado e, então, documentado. Tudo o que o senhor disser será dito não só a quem aqui está, como a quem não está, a quem não veio, nem convidado foi, mas que, se interessado estiver, ficará sabendo, porque o senhor fala à Nação brasileira, pode ter certeza.

Já foi registrada aqui, mas quero enfatizar, a presença do Zezinho do Araguaia, presença sempre constante na Comissão, da Laura Petit, irmã da Maria Lúcia e do Jaime.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – É a única guerrilheira. Sou testemunha disso, até porque dialoguei bastante sobre aquele fato com o Badan Palhares numa CPI.

Então, representa a família Petit a Dona Criméia Almeida, mulher do André Grabois, e a conselheira Beatriz, que nos dá a honra também de sua presen-ça. O Dr. Paulo Abrão Pires Júnior se retirou, mas a conselheira ficou.

O senhor vai falar com a presença da conselheira também da Comissão de Anistia do Ministério da Jus-tiça. Então, fala com alguém representante presente. Sinta-se convidada nossa, a sua presença aqui para nós é importante.

Os próximos a se manifestarem, segundo a lis-ta, serão: o Tenente da reserva José Vargas Jiménez, chefe de um dos grupos de combate; soldado Raimun-do Antônio Pereira; Lorivan Rodrigues de Carvalho, Manoel Leal Lima, Dr. Nélio Roberto Seidl Machado, representante da Ordem dos Advogados do Brasil, e, por fim, a jornalista Myriam Luiz Alves.

Obviamente, teremos espaço para questionamen-tos, dos colegas Parlamentares. Registro a presença dos Deputados Guilherme Menezes, Pastor Veloso, Cleber, Valverde, que estava há pouco conosco tam-bém, Luiz Couto, Pedro Wilson, Chico Alencar, além da nossa sempre Deputada – orgulhamo-nos muito de sua presença.

Tem a palavra o tenente da reserva José Vargas Jiménez, ex-chefe de um dos grupos de combate da guerrilha do Araguaia.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Desculpem-me. Está presente também o Depu-tado Manoel Ferreira.

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sr. Presidente, integrantes da Mesa, plenário, boa tarde.

Sou tenente da reserva: Tenente Vargas. Na épo-ca da guerrilha, trabalhei com o Curió. Era terceiro sargento, com um curso de guerra na selva, COSAC, hoje CIGS, Centro de Instrução de Guerra na Selva. Graças a esse curso, estou vivo aqui falando com os senhores.

Sou o primeiro combatente que resolveu falar. Escrevi um livro. Posteriormente, ao escrever esse livro, lancei-o em novembro lá em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E agora, em 31 de março, o Dr. Asdrúbal, o Coronel Ulisses Maciel também resolveu. E depois que eu lancei, também o Curió vai lançar em agosto. Então, acredito que esses 3 livros vão servir muito para essas comissões de anistia encontrarem o que estão procurando.

O meu livro é a verdade, tem documentos inéditos, secretos, que ninguém tem, até hoje ninguém publicou. Só eu tenho esses documentos confidenciais. Tenho o plano do Partido Comunista do Brasil, que queria impor o regime à força ali na região do Araguaia – o documento consta do meu livro. Durante 4 anos estu-daram a região para isso.

Por causa desse livro, antes de lançá-lo, meus companheiros de farda me diziam: “Você é louco. Você é maluco. O Exército vai te punir, vai te prender. Isso aí é uma nitroglicerina pura, isso é uma bomba”. Após o lançamento do livro, o Exército, o Comando Militar do Oeste, abriu uma sindicância e me intimou. Fui lá depor. Queriam saber baseado em que eu havia pu-blicado esse livro. Resumindo: não deu em nada, só me ouviram. Confirmei onde consegui os documentos secretos, e arquivaram o processo. Acredito que foi pro forma, porque o próprio coronel que me inquiriu, um capitão, de testemunha, uma advogada do Comando Militar do Oeste e o sargento escrivão admiraram-se por eu ter tido a coragem de lançar esse livro.

Quarta-feira passada, estive na Comissão Espe-cial de Mortos e Desaparecidos Políticos. Trouxe alguns livros para quem quiser adquirir. Muitas respostas às perguntas que me fazem estão no livro. Trouxe alguns exemplares, quem quiser adquiri-los, pode pegar, de-pois, comigo.

Então, tenho os documentos originais e aqui estão anexadas as cópias. O nome do livro é Bacaba – Me-mórias de um Guerreiro de Selva da Guerrilha do Ara-guaia. Participei da guerrilha desde a sua preparação. Eu e outros elementos de guerra na selva preparamos 60 combatentes da 8ª Região Militar em Clevelândia do Norte. Tudo isso que estou resumindo aqui consta do meu livro. E os outros 60 foram treinados no CO-SAC, curso que fiz naquele ano, em 1973 – Centro de Operações na Selva e Ações de Comando. Portanto, desde setembro, a preparação para podermos ir para

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04138 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

lá, até quando fui evacuado da região, em 27 de feve-reiro de 1974, por problemas particulares. E já estava desmantelada a guerrilha, os guerrilheiros já não an-davam em grupos; andavam em duplas ou um e outro perdido na mata. Caçar guerrilheiro na mata é como se procurar agulha no palheiro.

Eis a dedicatória do meu livro: “Este livro é dedi-cado a todos os militares que morreram na guerrilha do Araguaia defendendo a Pátria contra o Partido Comunis-ta do Brasil, PCdoB, que queria impor à força, através da luta armada, o regime comunista no Brasil”.

O meu livro, meus amigos, não é gratuito, porque não tive apoio de ninguém. Nem o prefácio ninguém quis fazer, com medo. A editora é do autor: é minha; não tenho editora, fiz tudo sozinho. Todos tinham medo de colocar o nome ou fazer alguma coisa no livro. Então, o livro custa 30 reais. Quem quiser adquiri-lo está ali.

Quando eu lancei o livro, o Coronel Dr. Asdrúbal, Coronel Lício Maciel mandou um e-mail e solicitou o livro. Eu mandei para ele. Ele não comentou nada. Quando saíram as reportagens no jornal O Estadão e no Jornal do Brasil, ele abriu um blog na Internet e me chamou de mentiroso, juntamente com um coronel aviador, Antônio Cabral, se não me engano. Aí, um com-panheiro do Paraná me ligou e falou: “Entra na Internet e veja”. Aí, li que ele me chamava de mentiroso. Entrei e contestei. Falei que eu estava dizendo a verdade, que tinha documentos secretos como prova.

Vou me permitir ler o e-mail que ele enviou para mim, a resposta do Coronel Lício:

“Data: 27 de março de 2008. Assunto: guerrilha. De: Lício Maciel. Para: José Vargas.”

O meu codinome na guerrilha era Chico Dólar. Ninguém trabalhava com o nome verdadeiro lá.

“Em consideração ao seu passado de guerreiro de selva, volto ao assunto para alertá-lo sobre certos aspectos para que você não de-tone o seu reconhecido valor de combatente do Araguaia agraciado com a justa medalha.”

Estou lendo isso, só uma ressalva, porque algu-mas perguntas que os senhores poderão fazer estão respondidas aqui.

“Desafio os comunas em geral que mostrem que a violência foi demasiada e que nós a começamos. Lembrai-vos de 35. Eles não lembram, não sabem de nada, são uns santinhos. Foi sempre assim. O esquar-tejamento a facão do jovem João Pereira de apenas 17 anos de idade na frente da família é fato sem pre-cedentes na história de nossas guerras; foi a primeira amostra do que eram capazes. Todos os militares atin-

giram ou foram à traição. Não devemos esquecer tam-bém o triste episódio do sacrifício da cadelinha Coroa pelo valente comuna desertor Micheas e os inúmeros justiçamentos de companheiros, privilégio absoluto das esquerdas brasileiras. Está tudo lá no diário do Velho Mário e no Relatório Arroio. Tudo escrito por eles mes-mos. Eles começaram o massacre e tiveram a devida resposta. Embora hoje eu ache que poderia ter sido dado um final mais rápido, é inteiramente justificável o problema, afinal, eles estavam fustigando o Exército, e não a Polícia.

Em nenhum país do mundo onde tenha ocorrido guerrilha as ações violentas ou estranhas foram pra-ticadas só por um dos lados.

Depois de mais de 34 anos de terminada a luta, pretendem procurar os restos mortais dos guerrilheiros, apelando à Justiça. A sentença da Juíza Federal Solan-ge Salgado não poderá ser cumprida, uma vez que os restos mortais dos desaparecidos não mais existem, e o Exército não faz mágica, além de não ser sua função procurar ossos na selva no sul do Pará.

Não é necessário refutar os propósitos humanitá-rios de tal ação judicial, mas simplesmente mostrar que a selva não tem endereço. Nenhum dos que ali com-bateram teriam condição de ali voltar e reconhecer a área mais de 3 décadas passadas dos combates. Nada mais será encontrado, por obra e graça do tempo, que, implacável, destrói matérias e memórias.

Nós buscamos, resgatamos, lamentamos e se-pultamos nossos heróis. Iremos sempre reverenciá-los com muito respeito e admiração. Se os guerrilheiros não fizeram o mesmo, as famílias que exijam explicações e compensação aos irresponsáveis chefes do PCdoB, muitos deles em altos cargos, muito bem remunerados, destruindo a Nação.

Depois de pelo menos 2 combates, o do dia 13 de outubro e o do dia 24 de outubro, ambos em 1973, em locais situados a menos de mil metros do acampamento do comandante da guerrilha Maurício Grabois, o Velho Mário, os guerrilheiros nem ao menos foram lá, mesmo insistentemente avisados por moradores. Lembro dos exemplos hoje sobejamente sabidos, provados. O João Araguaia, único sobrevivente do combate com o grupo militar da guerrilha comandado por André Grabois, foi preso e depois recolhido ao xadrez. Ao tentar tomar o fuzil da sentinela, foi morto por outro soldado. Os 2 corajosos soldados já prestaram essas declarações, a despeito das ameaças dos comunas, que continuam afirmando que ele foi assassinato e citam, marotamente, as infelizes declarações do Sargento Santa Cruz, que afirma que o viu vivo em Marabá na Casa Azul. Você sabe disso? O Nunes foi entregue quase morto e veio

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04139

a falecer. Eles querem convencer de que o mataram, e assim por diante, num suceder de infâmias.

Você entregou prisioneiro por aí e não sabe o mais que lhe sucedeu. Será que os 5 guerrilheiros ar-rependidos que o General Bandeira conseguiu empre-gar no serviço público em Brasília, por intermédio do Ministro Jarbas Passarinho, o Piauí não é um deles? Foram declarados mortos para não serem justiçados, vivem hoje sob nova identidade e ai deles se se re-velam. Serão assassinados como Celso Daniel, as 8 testemunhas e mais o Toninho do PT. Infelizmente, o atual desgoverno é de bandidos, existe muito coisa acima de nosso conhecimento.

Muito se tem inventado sobre as ações do Exérci-to. Agora, eles tentam financiar empresários sem escrú-pulos em filmes completamente fora da realidade, com o objetivo único de desmoralizar o nosso Exército.

Declarou Greenhalgh, quando Vice-Prefeito de São Paulo, que caso o PT chegasse ao poder, os prin-cipais pontos do seu Governo seriam: desativação do Ministérios das Forças Armadas, que seriam substitu-ídos pelo Centro de Defesa Civil; remanejamento das Forças Armadas, transferindo os oficiais que serviam no Sul para o Norte, e vice-versa, afastando-os assim das frações por eles comandadas, prevenindo possíveis ações das Forças Armadas; reformar 50% dos oficiais da ativa, cujos nomes não tinham sido levantados; ex-tinguir todos os órgãos de inteligência, abrindo seus arquivos ao exame de uma comissão popular; submeter a júri civil todos os envolvidos direta ou indiretamente com a repressão; revisão da Lei da Anistia.

Ao final do evento, proclamou: ‘O povo deve se conscientizar e se mobilizar, sair às ruas. Só através da luta armada é que conseguiremos garantir a pos-se de Lula’. (A Face Oculta da Estrela, João de Paula Couto, Porto Alegre, Gente do Livro, 2001).

Estamos vendo que eles “morejam” em cima dos seus objetivos. As Forças Armadas estão à exaustão. Os salários são aviltantes. Eles planejam levar ao deses-pero e à indisciplina, que, aliás, já começaram. Temos que nos unir. Eles agem sistematicamente para nos levar ao desespero. As indenizações são uma agres-são. Lamarca, Apolônio de Carvalho, Dilma, Genoíno, etc., etc., uma enxurrada de agressões.

A família de Sônia, que mora em São Gonça-lo, Rio de Janeiro, recebeu indenização de cerca de 140 mil reais em 2006. A família do Cabo Odílio Cruz Rosa, morto por Osvaldão, covardemente, aproveitan-do que ele tomava banho no Rio Gameleira, até hoje nada recebeu.

Sônia tinha seu valor, reconheço, era estudante de nível superior, só que, enganada, enveredou pelo rumo errado, de arma na mão, lutando para implantar

no Brasil um regime comunista. Mas sua irmã ganhou uma boa indenização.

O Cabo Rosa, de grande valor e de grande poten-cial, que pretendia fazer carreira no Exército, escolheu o caminho correto, o da legalidade. Perdeu a vida no cumprimento do dever. Seus familiares nada recebe-ram, além da enorme dor da perda do ente querido al-tamente injustiçado. (‘À Pátria tudo se deve dar e nada pedir, nem mesmo compreensão’. Siqueira Campos.)

O Cabo Odílio Cruz Rosa deve ser reverenciado muito em breve. Temos absoluta certeza.

Temos a obrigação moral de colocá-lo no pe-destal dos heróis da Pátria tombados na luta contra o comunismo.

Prezado guerreiro, não faço o jogo dos comunis-tas. Nós os combatemos de peito aberto e haveremos de enfrentá-los se eles agirem de arma na mão nova-mente, o que já se avizinha. Não decepcione os seus companheiros de arma. Informo que retirei o fotolog de referência do ar em sua consideração.

Grato pela sua atenção.Coronel Lício Maciel.”Eu vou deixar esse e-mail com a Comissão. Vou

assinar porque é verdadeiro, foi-me entregue. Posteriormente, quem verificar o meu livro, po-

derá fazer as perguntas.Eu vou ler a conclusão do meu livro. Depois, de

acordo com o Presidente, quem quiser poderá me fa-zer perguntas.

A opinião da conclusão do meu livro é minha. A anterior foi do Coronel Lício, Dr. Asdrúbal.

Está na página 92 do meu livro:

“Conclusão. O sonho de todos os brasileiros que mor-

reram, bem como daqueles que conseguiram sair vivos da Guerrilha do Araguaia, indepen-dente de ideologia política, democracia ou comunismo, era o de construir e deixar um Brasil que desse oportunidade e qualidade de vida política, econômica, social a todos os seus descendentes e particularmente ao povo brasileiro, em todos os níveis sociais.

Após mais de 20 anos do Governo militar, com a democracia consolidada e o comunismo derrotado, este entrega as rédeas da Nação ao povo brasileiro, depois de muito clamor da sociedade, que pedia eleições diretas já.

Iniciou-se, então, outro período, através de uma abertura política, ampla e irrestrita, o da democracia, diferente da ditadura militar, com os governantes eleitos pelo povo, princi-palmente com eleições diretas para Presidente da República.

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04140 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O sonho de todos aqueles que lutaram por um ideal democrático começou a se tornar um pesadelo. A sociedade brasileira passou a assistir na mídia acusações de corrupção dos Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário, do Ministério Público e de outros setores do Go-verno, nos níveis municipais, estaduais e fe-derais. Citamos apenas alguns como exemplo: mensalão, caixa-dois, Sanguessuga, etc.

Esses corruptos, que não possuem brio, roubam o Erário público, pois são portadores do poder, como Senadores, Deputados, exe-cutivos, que praticam o crime de colarinho branco, com a maior cara-de-pau e sem ver-gonha, choram e mentem sem escrúpulos nos interrogatórios e nas entrevistas aos meios de comunicação.

Hoje, esses escândalos políticos de cor-rupção se tornaram normais, tanto é que as providências e soluções para punir os acu-sados, após ampla investigação pela Polícia Federal, Ministério Público e Comissões Par-lamentares de Inquérito – CPIs, que chegam aos culpados, citando seus nomes, acabam em pizza, após um acordo de cavalheiro, um jargão que já se tornou popular dentro da sociedade brasileira que almejou esta democracia.

O momento político e social que o Brasil vive vai muito mais além dessas acusações de corrupção que acontecem no novo regime de-mocrático. São também de revanchismo con-tra as Forças Armadas, que são instituições nacionais permanentes.

Apesar da anistia política, o povo brasi-leiro assiste perplexo às decisões jurídicas da Comissão de Anistia, julgando sem sanção, e em parcialidade, os traidores da Pátria, que, pelo seu livre arbítrio, defendendo seus ideais, queriam implantar à força o regime comunista no Brasil.

Esta Comissão de Anistia, nomeada pelo Governo, está recompensando com grande fortunas, sem cerimônia e sem critério jurídi-co os familiares dos terroristas que traíram o Brasil, como também promovendo a general pos mortem o ex-capitão que desertou do Exército roubando armas e matando militares, aliando-se aos comunistas por sua livre e ex-pontânea vontade.

Já os familiares dos militares que mor-reram na Guerrilha do Araguaia, defendendo a Pátria, bem como os que ainda estão vi-vos, como eu, não estão recebendo o mes-

mo tratamento por esta Comissão de Anistia. Em outras palavras, não estamos recebendo recompensas, grandes fortunas, por termos lutando contra o comunismo, arriscando nos-sas vidas para deixar o Brasil neste regime democrático.

O povo brasileiro, bem como as Forças Armadas, que tem honra, ética, brio e pundonor militar estão assistindo perplexos e decepcio-nados esses acontecimentos de corrupção e revanchismo. Não é por acaso que hoje se ouve nas ruas a população revoltada, comentando, quando surge mais um caso de corrupção no Governo. Tenho saudades do regime militar, porque naqueles tempos não aconteciam es-sas barbaridades.

A esperança é a última que morre. Eu, as Forças Armadas e toda a sociedade bra-sileira acreditamos que os governantes que não fazem parte desta pequena corja de acu-sados de corrupção pela Polícia Federal e Mi-nistério Público tomarão uma atitude para dar satisfação ao povo brasileiro, bem como para que aqueles que morreram pelos seus ideais democráticos e comunistas possam descan-sar em paz, vendo o Brasil que sonharam se desenvolver honestamente, sem corrupção política, econômica e social, em prol de to-dos os brasileiros, independente de cor, raça e religião.

Diante da gravidade do momento políti-co por que passa o País e atentos ao clamor da sociedade brasileira por um basta à impu-nidade, o Governo precisa refletir que dentro das Forças Armadas, disciplina militar não é subserviência, bem como o silêncio do povo diante desses acontecimentos de corrupção não é de aceitação e, a qualquer momento, todos poderão levantar-se e tomar uma ati-tude, como fizeram em 1964 e nas eleições Diretas-Já.”

Então, esta é a conclusão do meu livro.Senhores, deixo com o Presidente algumas per-

guntas, se os senhores quiserem fazer posteriormen-te.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Na verdade, pretendemos ouvir a todos. Não sei se tenho a concordância de todos os colegas Parla-mentares em relação à formatação da audiência pú-blica, mas quero ouvir a todos e depois fazer o ques-tionamento.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04141

O senhor fez uma afirmação aqui hoje que achei... Sua função hoje não é mais Tenente, é...

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sou Tenente da reserva. Ainda estou nas Forças Armadas. Ganho como Primeiro-Tenente, eu poderia ficar até Capitão, mas resolvi sair antes.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito. Achei bem interessante quando V.Sa. disse que há muitos casos de corrupção. E realmente existem e são divulgados. Achei interessante quando disse que, no regime militar, não aconteciam essas barbaridades.

Só quero dizer que – afirmação pessoal minha – não acredito que não aconteciam. Agora, tenho certeza de que não eram divulgados. Essa é a diferença.

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Com certe-za.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Porque nem há santo hoje e nem houve santos ontem. Somos seres humanos suscetíveis.

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Concordo com V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Então, a verdade é que, agora, felizmente a liber-dade de expressão e de imprensa permitem difundir, divulgar e até quase que propagandear a corrupção, porque a superdimensiona e, às vezes, antecipa de-cisões e condenações. Na ditadura, sequer denúncia se podia fazer, quanto mais condenação.

Faço esse simples comentário, mas vamos de-bater depois com intensidade. Tenho certeza disso. (Palmas.)

Quero passar a palavra agora ao Sr. Raimundo Antônio Pereira Melo, ex-soldado do 52º Batalhão de Infantaria de Selva, o BIS.

Por favor, pediria a V.Sa. que se pronuncie, se possível, no tempo de 15 minutos, senão vamos espi-char muito nossa conversa. Vou controlar aqui.

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA DE MELO – Está bem.

Só falando primeiramente em respeito ao e-mail que a Selva muda, mas a mente e as pessoas sofri-das não.

Meu nome é Raimundo Antônio Pereira de Melo, servi no 52º BIS, na primeira turma de Marabá.

Primeiro, quero relatar que, quando servi junto com os colegas, fomos muito humilhados dentro do quartel. Passamos por várias baterias de treinamento – treinamentos esses que, depois, foram praticados nos guerrilheiros.

Nós fomos colocados dentro de buraco, em for-migueiros, fomos pendurados pelos pés. Isso é o de menos que aconteceu com a gente. Poderia estar hoje

aqui comemorando outra coisa, mas vamos falar sobre o que aconteceu com a gente.

Eu estou envolvido já na Guerrilha do Araguaia. Após minha saída – desde que foi publicada a Revista Época: Fantasmas do Araguaia, que levei o jornalista Leandro Loyola, Dr. Felício, e estava presente a Criméia, Zezinho do Araguaia. Infelizmente, não foi localizada a sepultura, mas sei que o local onde o Osvaldo, a Val-quíria foram sepultados; porque não tem como o sol-dado passar a noite conferindo pé de árvore, tentando localizar onde estava... Até o toque de uma serralheria que tinha lá, às 5h da manhã, isso continua gravado na nossa mente. Tem mais outras sepulturas, onde foram enterraradas pessoas dentro. Inclusive, posso passar depois o nome do ex-militar também da minha época, o Fonseca, que ajudou a enterrar na base de Xambioá 2 corpos.

Em cada etapa, ficávamos 15 dias, outra turma ia e ficava 15 dias. A primeira turma que foi para o Araguaia, não tínhamos um pingo de treinamento de Selva, nós não sabíamos nem o que era guerrilheiro. Não sabíamos, porque éramos pessoal humilde.

Em Marabá, naquela época de 70, 72, a gente gostava de música, de movimento que havia na igreja. Era disso que a gente participava. De repente, apare-ce isso. Fui convocado junto com colegas. E, chegan-do lá, em 1952, em menos de 1 mês, um colega meu foi para Xambioá, São Geraldo. E cada um que vinha contava coisa de arrepiar.

Nesses treinamentos, aliás, eu, como outros co-legas, fiquei sem um testículo. E isso eu falo. Eu não tenho nada contra o Exército, mas contra os coman-dantes, contra aquelas pessoas, porque o pau-de-arara ainda hoje é praticado dentro do Exército, nos militares que lá estão, nos recrutas. E todo mundo sabe o que é um pau-de-arara, mas para lá o nome é diferente. Se você pegar o depoimento dos colegas que tenho, o nome é dado como “pau do capitão”. Então, hoje são vários colegas que têm problema de coluna, testícu-lo que secou, atrofiou, hérnia, uma série de coisas. E eu, pelo Araguaia, eu faço porque sou de lá, eu fui um dos cabeças a fundar a Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia. Fundei a Associação dos ex-Militares lá em Teresina, fundei a de Ipameri. Aliás, em Ipameri, aqueles militares estão todos lá, porque foi a primeira turma que entrou no Araguaia, com a de Teresina. Nos meus dias de quartel, lá em Xambioá, 3 dias antes da Telma, que a Lia ia ser presa... Porque no livro do Élio Gaspari fala que ela desapareceu no início de 1974, mas eu falo diferente, que a Lia... Eu queria que, neste momento aqui estivesse o Capitão Cabral. Ele fez o livro dele, mas ele deixou de falar que eu entreguei para ele, no dia 8 de setembro, junto com

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04142 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

outros colegas meus, a Lia. Às 9h, mais ou menos, da manhã, no dia 8 de setembro de 1974. Essa pessoa, eu tirei 2 turnos de hora olhando ela; os 2 colegas meus, que por coincidência chamam-se Raimundo, também, todos os 3 – Raimundo Antônio Pereira de Melo, Raimundo Lopes de Souza e Raimundo Almeida dos Santos. Esses é que foram os 3 guardas e mais o cabo que ficava também. Ela, a Lia chegou à base de Xambioá, em torno das 16 às 17h, do dia 7 de se-tembro de 1974, encapuzada, levada diretamente para uma sala, com cobertura de palha, lá a uns 100 me-tros, mais ou menos, distante do comando. Na época, o Comandante era o General Hugo Abreu; o Coman-dante da 8ª Região era o General Ferraz da Rocha; e o meu Comandante era o Capitão Manoel Válber de Carvalho Lima. Tiramos a noite. No dia 8 de setembro, após o hasteamento da Bandeira, ela passou pelo Comando, escoltada por esses 3 militares. Levamos ela ao General Abreu e, depois disso, entregamos ela para o Capitão Cabral no helicóptero UH1H. E o meu número do FAO – que era o que eu carregava durante o ano, também está anotado aqui na minha ficha – é 106361. Porque se pegar esse, porque foi descober-to lá pelo Araguaia, vai constar o número desse FAO porque eu tinha que registrá-lo no momento em que estava de serviço. Fora isso, tem mais o Fonseca. Aí, passado uma meia hora que ele saiu com a Telma, ele retornou. E a conversa saiu da base de que ela tinha sido jogada, que era o que sempre falavam, comen-tavam dentro da base, que ela havia sido jogada. E daí... Mas só que eu nunca esqueci da Lia, a feição... Jogada do helicóptero. Eu nunca esqueci da Lia por-que ela chegou com cabelo assanhado, um vestido de chita, de rosinha, descalça. E, antes de ela ser presa, uns 3 dias antes, foram presos 3 rapazes que disse-ram que tinham dado comida. Em outras versões falam que ela foi pega num barco e que depois foi passada para lá. Mas eu vi ela chegando de helicóptero. Não vi ela sendo apanhada em barco. E eu fiquei 2 vezes em Xambioá e 1 em São Geraldo.

O que eu estou falando é aquilo que eu vi, que eu presenciei. Não é coisa que eu ouvi falar. Não. É coisa que eu presenciei, e tirei guarda. E, aliás, dormi em uma cama de campanha, que tinha lá, suja de sangue. Conforme os colegas, era do Daniel o sangue.

Dentro dessa base, várias pessoas falam, por-que eu tirei serviço, assim: tinha o Comando; entre o Comando, tinha uma enfermaria, e entre a enfermaria estava lá a sepultura do Osvaldo, da Valquíria, e, mais à frente, no final da pista, também lá, tem um cemitério que é do tempo da mineradora, antes de vir lá para o meio do campo do aeroporto. São 2 bases em Xam-bioá. Eu estou falando a que eu fui. A outra, o soldado

que ele falou que, também, se quiser, leva lá para onde estão essas covas, que é o soldado Xavier. O Fonse-ca também falou que está pronto para ir mostrar onde enterrou o Batista e o Peri. Ele viu, também, a Áurea lá viva. E, dentro desses... Eu vi, também, a Áurea, mas foi numa época diferente. Porque cada militar ele vai contar uma coisa diferente, porque cada um teve um tempo diferente. Hoje, eu tenho, porque eu convivo com esse pessoal... Já estou há mais de 3 anos conversan-do com o Vanu, sei que ele foi guia. E eu já passei, já fiquei várias, já levei jornalista do Correio Braziliense, da Folha de S.Paulo e sempre estou divulgando, sem-pre estou recebendo recadinho, também, mas eu não vou deixar de voltar ao Araguaia, jamais. Moro há 22 anos em casa fixa em Goiânia. A última reunião que nós tivemos com os ex-militares foi no dia 1º de maio. E chegou um recadinho lá para mim, mas esse recadinho pouco importa, porque o mesmo que traz é o mesmo que leva o recado de volta. Eu quero, também, aqui, informar que várias pessoas, que já citei, o catinguei-ro, de quem já recebi recado; já falei para o jornalista aqui, que tem o nome de Vasconcelos, antes de ele ir para o Araguaia. Não fui para o Araguaia para a última reunião, porque eu fiquei com medo, não vou mentir, de acontecer alguma com a Criméia e com o Zezinho. O que eu estou falando aqui, depois, se quiserem, eu falo de onde vieram as fontes de informação. Porque os recados estão chegando e nós estamos receben-do. Parece-me até que não acabou ainda a ditadura. A respeito do Iomar, digo que é uma pessoa de que eu tive informação, e já pelejei, há 4 ou 5 meses estou querendo falar com ele. É uma pessoa, desculpe-me falar aqui, desumana, pessoa que não tem um pingo de coração, porque é aquela pessoa que, quando ti-nha morto – está aqui o Vanu que sabe, ele não vai deixar eu mentir –, era a pessoa que cortava as ca-beças das pessoas. É triste falar disso aqui agora. Eu jamais quero saber de heroísmo, de honra ao mérito por tudo que eu sofro, até no momento em que eu vou dormir. Eu quero informar, também, que conforme a D. Antônia, tem depoimento aqui, que eu posso passar depois, onde está enterrada a guerrilheira Maria Diná. E, ao lado dela, foi colocado o corpo do Jaime Petit. E depois, vocês sabem que essa casa ficava ao lado da casa do Iomar. Iomar este que, depois, não precisa mais falar, porque eu já falei o que ele fazia, o que foi que ele fez com o Jaime. E muitas coisas: eu sonho, eu tenho pesadelo, já cheguei a bater na minha mu-lher.(Pausa.) Para minha tristeza, tudo, tudo, tudo que aconteceu comigo e o que aconteceu com meus cole-gas. Pessoas hoje... tem cego, tem surdo, tem aleijado. E eu pergunto: o Exército levou- nos bons, sadios, e o que ele está fazendo por nós até hoje? Nada. Não

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04143

fez nada. Simplesmente nos usou, mandou embora e ficou por isso mesmo.

Eu quero, também, mostrar aqui, esta foto de guerrilheiros que foram mortos.

(Segue-se exibição de imagens.)Esse sargento, esse sargento está vivo. Se pre-

cisarem dele, também, ele está pronto a prestar o depoimento e mostrar o local onde foram colocados esses corpos. Eu vou ler só um trechinho aqui de um depoimento de um colega meu. Isso aqui foi da primeira turma de Teresina, do 25 BC que esteve lá:

“Quando os prisioneiros saíam” – isso eles pra-ticavam com pessoal da região – “do interrogatório, a maioria sem unhas e alguns deles até sem orelhas, algemados e com peso entre as algemas, eram en-tregues a 2 fuzileiros armados com metralhadoras; 1 pilotava e o outro ficava no meio da canoa, e o prisio-neiro na proa.”

O restante eu passo aqui ao Presidente. Esse é meu depoimento para o Dr. Felício, Pro-

curador da República, que também passo aos senho-res.

Este aqui é o primeiro acampamento dos caianos. Em 1972 também. Foi a turma de Jataí, de Ipameri, de Morrinhos, aqueles ex-militares de lá.

Aqui são os militares, os primeiros que entraram no Araguaia em 1972. Esse pessoal está todo vivo.

Essa aqui é uma associação que foi criada em Ipameri também. Eles estão lá.

Este aqui é o pessoal de Teresina. Na foto aqui, o primeiro hoje é um advogado e é Deputado Estadu-al de Teresina. Foi um dos primeiros também a entrar no Araguaia.

Esse aqui é o meu depoimento na Ordem dos Advogados, para o Conselho da OAB. Nós levamos várias pessoas. Até o Vanu esteve presente com a gente lá.

Esse depoimento eu prestei à Dra. Erilda Bal-duíno.

Isso aqui é como vivia um araponga dentro do Araguaia também. São os trajes que eles usavam lá dentro. Aliás, eu falo até que, de real, dentro do Ara-guaia, nós militares, os recrutas – eu falo por nós, re-crutas –, só havia a bala do fuzil, porque o restante era falso. Nosso nome era mudado, nós tínhamos de usar arma também para disfarçar. Então tudo isso eles fizeram com a gente lá dentro.

Há uma pessoa aqui que, na última viagem, che-gou para mim e falou: “Olha, eu passei a noite dormindo ao lado da cabeça do Ari, e um militar falou para mim o seguinte: amanhã, se você não enterrar a cabeça do Ari – e ele sabe onde está enterrada – vai ser enter-rada a sua cabeça junto com a dele”.

Aqui são alguns depoimentos do pessoal do Ara-guaia, que constam. Há a sepultura do Sinésio Martins. É igual ao Tenente falou ali a respeito do militar que foi morto na Casa Azul. Mas disso aqui o Lorivan vai falar, porque ele era o guarda que estava no dia.

Essa aqui é a D. Antônia falando, referindo-se a onde está sepultada a Maria Diná. José Cícero Bezerra foi o que presenciou a morte da Walquíria na base de Xambioá. Aliás, a arma da Walquíria estava em poder do guia Taveira, e essa arma foi entregue em Marabá, em novembro, à Polícia Federal de Marabá. Sua própria arma foi que tirou a sua vida. Era um fuzil surdo. Para quem não conhece, é uma espingarda 22.

Aqui é o depoimento do Abel Honorato de Jesus. O Dr. Paulo Abrão já falou a seu respeito.

Aqui é o depoimento da Adalgisa, referente à sepultura da Fátima. Conforme também eu conversei com o Sr. Olímpio, que hoje é morador ainda nas 8 barracas, esse corpo nunca saiu do lugar, continua entre as 2 palmeiras, lá no mesmo local.

Caso precise de mim e de alguns guias, eu tenho aqui o nome. O primeiro está encabeçado e ele está aqui do meu lado: é o Vanu. Há o Oswaldo; o Peixinho; o Severinão; o Taveira; o Palito; o irmão do Palito, que é o Francisco; o Pereira; o Raimundo da Afra; o Abelim; o Veloso; o Zé Guedes; o Sinésio e mais outros que eu esqueci de colocar o nome.

Também entrego ao senhor o DVD de alguns depoimentos do pessoal da região. Aliás, o primeiro depoimento que está aí consta também do livro do Te-nente, que é o do Sr. Frederico Lopes, pessoa que foi torturada. Hoje vive porque a mulher vive carregando ele. É o primeiro depoimento logo. Essa pessoa, a es-posa, vive 24 horas para cuidar dele.

Mais uma vez, eu repito: não tenho nada contra o Exército. Não tenho nada. Mas sim contra os Coman-dantes, porque eles foram pessoas que torturaram. Eles nos torturaram. Aquilo lá para mim não é instrução de selva. Desculpe-me se algum militar aqui presente considera aquilo lá instrução de selva. Para mim, aquilo lá não é instrução de selva.

Vou continuar lutando com os meus colegas pe-los nossos direitos. Eu encontrei uma pessoa aqui em Brasília, da Elmo Consultoria, que nos deu apoio para ir buscar os documentos do pessoal civil do Araguaia. Acho que, hoje, 80% desses documentos que estão ali dentro nós fomos nós que buscamos no Araguaia. Um ex-militar ajudar pessoa assim é meio estranho, mas não é. É pessoal da minha região. Eu fui criado ali, nos meus fins de semana, jogando bola com aquele pessoal. Então, não há por que estranhar.

Nós estamos aqui e nos colocamos à sua disposi-ção, as 3 Associações dos ex-Militares. Precisando de

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04144 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

nós, a qualquer hora, estamos prontos para voltar ao Araguaia e mostrar tudo e falar tudo o que aconteceu por lá. Eu falo em nome dos meus amigos.

Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Muito bem. Obrigado ao Raimundo Antônio Pereira.

Nós passamos imediatamente ao Sr. Lorivan Ro-drigues de Carvalho, ex-Soldado do 52º Batalhão de In-fantaria de Selva, que atuou também lá no Araguaia.

Eu quero ainda registrar a presença da Deputa-da Lucenira Pimentel e do Deputado Sebastião Bala Rocha, que dão a honra ao nosso Vice-Presidente de estar conosco.

O senhor está com a palavra, então, por, no má-ximo, 15 minutos.

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Boa tarde, pessoal. Meu nome é Lorivan Rodrigues de Carvalho, nascido em Marabá, sul do Pará, onde servi no período de 15 de janeiro de 1974 a 15 de novembro de 1974, onde, como meu colega já falou, passamos por vários treinamentos, treinamentos esses pesados, quase não eram humanos. Mas, tudo bem, tínhamos de enfrentar. Passamos por tudo isso.

Relato que, nesse período de treinamento, foi di-fícil. Perdi um dente e ficou por isso mesmo até hoje. Passamos a ser comandados por superiores para par-ticipar dessa Guerrilha do Araguaia, onde eu estive presente em São Domingos do Araguaia, Palestina, onde eu levei um tiro na perna – está aqui, nunca mais fui o mesmo; está a marca aqui até hoje.

Quando estive em Xambioá, num período de mais ou menos 20 a 25 dias, presenciei uma tortura em uma guerrilheira, não lembro o nome. Eles colocavam um tonel de água a uma certa altura e a pessoa ficava amarrada recebendo aquele pingo de água durante horas. Passadas duas horas em diante, a pessoa tinha de falar tudo, porque não agüentava mais. Os olhos fi-cavam vermelhos e tudo. Ali eles colhiam informações de onde estavam outros guerrilheiros escondidos.

Nesse período que eu passei em Xambioá, eu tirei 3 guardas para essa senhora que estava lá. Num determinado dia que trocaram de guarda, quando eu voltei, não estava mais. Disseram que ela tinha ido a um passeio, passeio esse que não sei para onde. Sumiu.

Voltando de Xambioá, retornei à base original, Primeiro 52º BIS, Batalhão de Infantaria de Selva, em Marabá. De lá, de vez em quando, havia umas diligên-cias. Foi quanto eu fui à Palestina, onde já frisei que levei um tiro na perna. Isso ficou por, mais ou menos, 2 meses. Virou uma ferida imensa. Eu tenho a marca

aqui na minha canela que nunca mais vai sumir. Tudo bem.

Passado esse período, estive presente a uma ou-tra diligência, em frente ao Alavanca , dentro da cidade de Marabá, aonde nós fomos. Pegamos um cidadão, que eu não sei o nome. Esse cidadão foi colocado em um saco de estopa. Para quem não sabe, é um sacão desses de 60 quilos, maior um pouco. Foi colocado em pé e amarrada a boca do saco. Quebrou-se todo. Foi para o quartel. Chegando lá, as autoridades pe-garam e ninguém sabe para onde é que foi. Esse aí eu também só vi quando entregamos lá para o Sar-gento Trajano e o Sargento Hélio. Na época, eram os 2 comandantes da operação: o Sargento Trajano e o Sargento Hélio. Passado isso, fui destacado, junto com o Soldado Bastos, para o DNER, que fica na cidade, já do outro lado do Rio, Itacaiúnas, Amapá, ou Nova Marabá. (Pausa.) Casa Azul. Era DNER, agora é cha-mada de Casa Azul.

Lá, nesse período, eu fiquei mais ou menos uns 10 dias – eu e o Soldado Bastos, mas tinha outros militares. Isso entre agosto e setembro, não recordo bem.

Nesse determinado período, em uma noite de quarta-feira, mais ou menos umas 22h ou 23h, havia uns 4 prisioneiros para os quais a gente tirava a guar-da. De 2 em 2 horas, trocavam a guarda. Como nesse horário de 22 às 23h estavam na guarda eu e o Sol-dado Bastos, quando o prisioneiro pediu água, aí eu chamei: “Bastos...” A gente ia sozinho. Eu disse: “Não, vamos nós 2. Vamos lá. Eu levo a água e você fica com o FN FAL”. Ao aproximar da cela... Os guerrilheiros fi-cavam amarrados nas correntes, mas movimentavam os braços, presos. Ao chegar perto da cela, quando eu estiquei o braço, o guerrilheiro pegou a água, jo-gou no meu rosto e se cruzou comigo. Mas quando eu empurrei, o Soldado Bastos matou ele. Descarregou o FAL, uns 5, 6 tiros. Cidadão esse cujo nome – fui eu que entreguei o caneco de água para ele – era João Araguaia. Foi morto por volta de 22h, 23h.

Na mesma hora, todo o pessoal dessa, que era DNER, agora é Casa Azul, levantou. Vieram os co-mandantes, veio todo mundo, e todos presenciaram aquilo. Fomos, pegamos o corpo, limpamos o local. E esse corpo foi enterrando mais ou menos a uns 100 metros, 50 metros, na beira do Itacaiúnas, debaixo de um pé de ingazeira. Eu, o Soldado Bastos e outro pessoal que estava presente lá fizemos o enterro. Ca-vamos uma cova rasa, colocamos lá, cobrimos com mato e voltamos ao local de origem.

Esse eu testemunhei. Eu estou falando porque eu estive presente. Era ele. Inclusive, a reportagem me procurou aí, o Jornal do Brasil, o menino veio aí, o Vasconcelos, e eu confirmei. Dia 22 de janeiro, eu re-

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04145

latei para o Jornal do Brasil. Pode ver lá que a mesma coisa que eu estou contando aqui é o que eu contei lá. Foi esse cidadão João Araguaia. Ele foi quem jogou o copo de água no meu rosto, veio pra cima de mim e o Soldado Bastos descarregou a arma. E foi enterrado nas margens do Rio Itacaiúnas. O local eu sei direito onde é que é.

E depois desse acontecimento, houve um negócio estranho: no dia seguinte, nos 3 restantes que ficaram lá colocaram uma máscara, e colocaram num helicóp-tero, e de lá, o destino eu não sei, não sei para onde foi. No quartel não apareceu, não sei para onde eles levaram. E isso eu tenho certeza, porque estava lá.

Dois dias depois, devolveram a gente para o Primeiro 52ª BIS, Batalhão de Infantaria de Selva. Aí eu passei nem a tirar mais hora, nada; fiquei só no serviço burocrático. Os 3 últimos meses que eu fiquei lá, que eu saí em 15 de novembro, fiquei só na parte burocrática. Não saí mais, pronto, não sei, não falaram mais nada, o que aconteceu com os outros 3 prisio-neiros. Eu só sei que eles pegaram o helicóptero com a máscara e saíram.

Daí, então, nós voltamos ao quartel. Ainda fui em 2 diligências: em São Domingo das Latas e São João do Araguaia, justamente atrás de guerrilheiros. Ali um colega teve a infelicidade de cair e quebrar um braço, na época, igual aconteceu comigo. Eu quebrei um dente e até hoje... Perdi um dente e ficou por isso mesmo.

Então é isso, minha gente. O que eu tenho a falar é isso. E estou aqui disposto. Não tenho – igual meu companheiro falou – nada contra o Exército. Tenho pelo que nós passamos lá, os treinamentos forçados. Chegamos até a comer cobra, comer cobra. Um dia, o Sargento Trajano mais o Sargento Anselmo... Enfim, fizeram-nos comer. Infelizmente foi isso mesmo. Havia uns treinamentos dentro de uma mata cheia de jaca-ré, todos nós correndo até o risco de ficar mortos, e acabou. É isto aí: sangue, sangue mesmo. Tudo bem, é isso aí mesmo. Passamos por tudo isso, e estou aqui disposto a colaborar com os senhores a qualquer hora. É isso aí.

Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala

Rocha) – Agradeço ao Sr. Lorivan Rodrigues de Car-valho, ex-Soldado do 52º Batalhão de Infantaria de Selva.

Vou conceder a palavra ao Sr. Manoel Leal Lima, camponês que atuou como guia de grupo de combate do Exército na região da guerrilha.

O senhor tem a palavra, Sr. Manoel. O SR. MANOEL LEAL LIMA – Boa tarde, senho-

res. Eu me chamo Manoel Leal Lima, apelidado por

Vanu. Fui um dos camponeses que primeiro entrou na mata com o Exército. No dia 8 de outubro de 1973 eu estava lá em casa. Quando fui na casa do vizinho lá cheguei no meio de uma tropa, em que estavam o Curió, o Ivan, o Alexandre e a Cid. Lá eu tinha montado num cavalo, quando eu apeei já foi nos braços do Ivan. Ele me perguntou: “Tu viu os guerrilheiros?” Ele chamava de terrorista. “Tu viu os terroristas?” Eu disse: “Não. Faz mês que eu vi”. Eu tinha visto no outro dia. Aí ele disse assim: “Então, mentiroso...” Meteu o fuzil e me derrubou por cima de um formigueiro, muitas formigas-de-fogo, me deu umas 3 coronhadas com fuzil pesado. Nessa altura, o Curió viu e disse: “Por que você está fazendo isso?” Aí eu disse: “Porque eu menti”. “Que mentira?” “Foi porque eu soneguei que não tinha visto os guer-rilheiros, e eu tinha visto ontem”. “Mas por que tu faz uma coisa dessa? Eu já venho detalhado para te pe-gar, para tu servir de guia para nós. Já conheço a tua história”. Já vinham da casa da Oneide, com a Oneide presa, já estava com um bocado de gente presa. Já vinha de lá para cá, e eu encontrei com ele. Aí eu con-tei a história. Ele disse: “Pois fique pra ali, ele não vão mais lhe bater”. Aí juntaram a tropa de gente, botaram um ali, outro lá, e tocamos para o rumo da minha casa. Lá minha mulher tinha chegado, no outro dia; estava parida de novo. Eu tinha ido buscar lá uma coisa e ela ficou sozinha de novo com as crianças. Na passagem, ela nem me conheceu. As criancinhas tudo pequena, uns 7 meninos pequenos. Isso dentro de uma mata, distante dos vizinhos uns 3 quilômetros. Aí pegamos uma batida e fomos pra casa do Frederico. Lá pegaram o Frederico, foram buscar na casa do cunhado dele. O Frederico estava meio ruim, tinha chegado do São Domingo nessa noite, estava meio ruim assim, tinha bebido umas pingas. Lá começaram a judiar com ele. Ele começou a ficar doido. Aí pegamos ele. A família ficou toda lá. Era muito menino também. Aí “peitemos” pra casa do Raimundo, um ex-garimpeiro. Lá o ex-garimpeiro estava deitado em cima de um banco. E a estrada era assim meio comprida, aí a velha Nazaré, mulher dele, disse: “Luiz, a Polícia, Luiz”. Quando dis-se assim, o velho caiu de banda assim, saiu, e eles metralharam!! Pegou uma bala cortando a mão do ve-lho. Aí pegaram ele, trouxeram. Ele estava dormindo, quando se assustou!... Aí ajuntou. Fomos para a casa do Pedro Cantador. Lá pegaram o Pedro Cantador, o Severininho. Aí fomos para a casa do Peixinho. Na casa do Peixinho chegamos de tardezinha, já não tinha... só a família. Ele estava com os guerrilheiros no mato. Ele tinha saído. Passamos lá pra Bacaba. Fomos chegar na Bacaba mais ou menos às 12 horas da noite, de pé. Era uma turma danada de homem do Exército, com nós todos. Mais ou menos umas 18 pessoas. Quando che-

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gamos lá... Também Pernambuco do Cavalo ia dessa vez. Pernambuco, muito gordão, começou também a passar mal. Quando chagamos na Bacaba, lá botaram nós dentro de um quarto, tampado de tábua, coberta de Brasilit, rodeado de cano branco. Moço, isso era uma quentura!! Amanhecemos o dia sem beber, sem comer. Passou a noite. O Frederico começou a ficar doido, correndo atrás, ao redor. Pernambuco também muito cansado – porque ele era muito gordão, sofria de pressão, diabete – deitava na porta assim clamando: “Gente, me dá água, que eu estou quase morto”. E eu acalmando ele, porque eu era mais forte, mais novo. Ele e o Frederico. Frederico ficou nas brecha das casas, louco, doido. Aí passamos a noite. A Oneide também vinha. A menina da Oneide também vinha, uma moci-nha de 12 anos. A Oneide ficou do lado de fora, e nós ficamos dentro do quarto, presos. Ela ficou do lado de fora. O Ivan passou a noite com ela conversando. E a menina levaram para Marabá, a mocinha, levaram lá para Marabá, para entregar para a família ou então para o quartel, não sei, que é a filha do Alfredo. Aí lá quando foi... 24 horas sem comer, sem beber. Aí en-costou um caminhão grande, quase do tamanho des-sa... com a carroceria na porta, um soldado de um lado e outro do outro, aí mandou nós subir. Nós subimos, subimos. Aí, foi enchendo. Lá no... do Gigante até a Travieira, tudo assim como sardinha, todos deitados, emborcados. E arrodeados de soldados, todos com os pés em cima da cabeça da gente. Não podia arribar a cabeça de jeito nenhum. Nisso era meia-noite. Aí: “Nós vamos entrar... sair para Marabá para pegar um avião, o carro vai entrar num avião, para nós nos apresen-tarmos para o Presidente” – o soldado dizendo para nós. Aí, atravessando a balsa, abaixo de onde hoje é a ponte, porque não havia ponte naquele tempo; era na balsa. Aí, ele nem sabia o que era ponte. O carro subindo na balsa, aquele “tremelico”... “Olha, abaixa a cabeça que nós vamos sair e pegar o avião”, lá pra meia-noite. Aí nós pensamos que eram mesmo todos presos. E aí, quando encostou lá, na Casa Branca, que era DNER; nós chamávamos INCRA, porque lá era INCRA, de primeiro, depois, emprestaram lá para o DNER, ou o DNER emprestou para o INCRA, e lá estivou, foram enchendo os quartos. Eu sei que eu fi-quei num quarto onde havia 18 presos. Todos ficamos. Luiz Garimpeiro passou a noite em pé, sem fazer xixi, sem nada, porque tinha pegado uma rajada de FAL, humilharam demais.

Aí amanheceu o dia. Quando amanheceu, nós sem saber onde estávamos, pensávamos que estava em Brasília. Aí nos colocaram para banhar numa fila assim, de 2, 3, pertinho, só atravessando. Aí, no outro dia, tinha cada instrução assim da... de onde fazia a

investigação. Aí eu ficava na brecha, reparando aque-le sofrimento do povo. Pegavam um lá, emborcavam, metiam a taca, pegavam umas latinhas deste tama-nho aqui para a gente pisar em cima, só com o dedo, triscando. Ali, triscava na lata, o nego caia. Esse pes-soal apanhou demais. Eu vi do começo ao fim a ju-diação desses presos todos. Até que chegou a minha vez. Eu ainda caí duas vezes, mas não me chutaram, porque acho que estavam me reservando para levar para o mato.

Eu contei a história todinha direito. Passaram em outro... Eu sei que eram 3 quartinhos de investigação. Aí, esse pessoal... No outro dia fiquei melhor, aí me botaram pra eu lavar o quarto lá, no outro dia, que tinha assim mais ou menos 2 dedos de sangue no quarto, da judiação. Lá eu vi judiação. Eu via gente chegar, pre-so chegar, eu via pela brechinha da chave. Lá tinha... Na frente, assim, não tinha energia, não tinha nada. A energia era tocada a motor. Lá hoje é uma pista de carro. Lá, os helicópteros baixavam. E aí eu via eles desapearem gente; traziam amarrado num sacão, e eles iam empurrando, assim, e ele caminhando pe-ado, dentro do saco, boca para baixo, emborcado lá. Mais ou menos eu passei uns 8 dias – uns 8 dias não, uns 3 dias –, à noite, vendo gente entrando para lá, e, de manhã, só via aquela “sangraria”. Eu, o Bernar-dino da Matrinchã, e tinha outros companheiros, em quem eles confiaram mais para fazer aquela limpeza de lavar sangue.

Até que mais ou menos com uns 3 ou 4 dias, eles judiaram demais, pegaram uns 65 homens, desses que judiaram demais, encheram um avião e levaram para Araguaína, pra tratar. O Frederico era um. Mas o Frederico dava berros! Aqueles presos davam berros, pendurados num buraco, fizeram uma coisa assim, uma travessa, penduravam eles, eles triscavam ferro elétrico. Tudo eles fizeram com esses presos. Judiaram demais. Aqueles que já morreram, morreram todos re-bentados de taca.

E eu peguei essa chumbada nesse dia, e a humi-lhação foi no mato. No mato eu peguei a humilhação. Aí me tiraram, eu, o único, para ir para o mato, assim, com uns 4, ou 5 dias, uns 6 dias. De lá, peguei o avião pra Bacaba. Cheguei lá, na Bacaba, fui lá diretinho para aquele presídio, sozinho. Os outros tinham ido para Araguaína, uma carrada de gente. Os colegas meus, tudo vizinho da mata.

Aí, lá, de noite, passou um caminhoneiro, com um caminhão, e porque ele não quis falar, pegaram os caras, passara uma noite lá, bateram muito no cami-nhoneiro. E o carro ficou preso. Ele lamentando o que significava aquilo, eu disse: “Eu também não sei”. Eu sentado num canto, ele, no outro. Eu lembrando que

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eu tinha passado 24 horas sem comer, naquela cela, de novo, sozinho ainda, meus companheiros tinham ficado pra trás, tinham ido para Araguaína. Aí, quando foi no outro dia, umas 10 ou 11h, aí, a porta abriu. Aí, só estava eu e ele, esse preso. E aí, disseram: “Entra aqui, na caminhonete”. Eu entrei na caminhonete. Aí, entrei lá para a pista de avião, do outro lado. Chegou lá, pegamos o helicóptero. Era eu, “Adurbo”, Cid, Ale-xandre e outros mais, e Chapéu-de-Couro. Chapéu-de-Couro, eu acho que era do Marabá. E aí “peitamos” para a mata, lá para... baixamos lá na Oneide. Chega-mos lá, nós baixamos lá, e ele me perguntando: “Que igarapé é esse?” Eu fui dizendo, porque eu conhecia os matos todos; fui mariscador 5 anos, lá. Eu conhecia os igarapé assim, pelas margens do açaizal. Aí, bai-xamos lá na Oneide e ele disse: “Onde é aqui?” Eu disse: “É Oneide”. Aí, tinham tocado fogo nas barra-quinhas lá no outro lado – a Oneide era de um lado, e do outro lado tinha umas barraquinhas de caçador. Eu disse: “Aqui, é Oneide”. Aí desapeamos, aí eles volta-ram e nós atravessemos por debaixo. Lá estava cheio de soldado que tinham dormido lá, tinham tocado fogo na casa da Oneide, estavam com uma porca velha assando; e aí pelejaram pra eu comer. Eu era crente adventista da Reforma, não comia carne. (Pausa.) Aí, nesse dia, fui obrigado eu a comer carne, porque, “Olha, se tu não comer carne – eu estava com muita fome, que eu tinha passado muita fome, 2 dias sem comer, eles não estavam dando comida pra ninguém – vai passar 5 dias dentro das trincheiras, aí teus pé vai até apodrecer de bicho dentro da trincheira, sem comer, sem nada”. Não tinha nada, nem um canivete, nem fósforo, nem nada, só a roupa do corpo, calçado numa botina sete-léguas, calça velha de brim, camisa já toda molhada de suor. Aí fiquemos do outro lado, ali com eles, aí eles assaram carne lá e uma bacia velha de sal, assim, numa xícara cheia de água, e sapecan-do aquela carne velha daquela porca, e pelejando pra mim comer, eu não quis. Aí, apanha, vamos para o mato. A equipe... que nós viemos da Bacaba, e fomos direto para o mato. E a turma ficou lá arrodeada na barraca da Oneide, esperando o marido dela, que o marido dela estava com os guerrilheiros no mato. Aí, eles não vieram. Aí, “peitemos”, “peitemos”... Quando foi de tardezinha, e aí pra fazer cocô, meu amigo, me deu um medo tão grande, que eu pra fazer cocô era obrigado... O Sidnei ia me vigiar. Eu queria me escon-der e o velho falou: “Não deixa essa porra sair não, porque essa porra vai sair no meio dos outros lá, não deixa ele vazar que ele quer fugir, ele quer fugir pra o meio dos outros”. “Rapaz, não é isso”. Mas não fazia nem cocô por causa do medo. Aí viajamos. Saí já me apegando com tudo que era santo pra mim não me

perder, porque se eu botasse ele numa bucana, se os guerrilheiros matassem um deles, eu ia morto lá, nem minha família ia saber. E eu, com o maior medo de morrer, porque a promessa era de me matar, se eu metesse eles numa trincheira. Pra eu olhar pra todo o lado, na hora que vê... Aí viajamos, viajamos, quebran-do vara, até que saímos numa estrada velha, uma es-tradinha velha que ia para a casa do Geraldo, numa aberturazinha que tinha adiante, que se chamava Cou-ro de Veado. Lá não tinha ninguém, só tinha uma aber-tura, um barracão de palha, e aí o povo já tinham sa-ído, e tudo capim, aquele capinzão que era muito alto. E aí voltamos um pouco. Aí disseram: “Nós não vamos ficar aqui não, nós vamos ficar na beira da estrada, porque eles vão passar aqui. Eu disse: “Eles não pas-sam; eles não andam em estrada, eles estão soltos no mato que nem caça, porque eles não fizeram mais morada, queimaram as barracas deles tudo. E aí não tem jeito”. “Não, mas nós... eles têm que passar, aqui, porque chovendo – aí começou uma chuvinha –, cho-vendo, eles vão passar nas barracas”. Aí fiquemos na beira da estrada, tudo no chão sem nada, só as pes-soas, sem lanterna, sem nada. E a água caiu. Aí fica-mos um pra cá, outra pra aqui, outro caiu bem no meio. Aí, de noite, a onça esturrando, e a chuva caindo. Aí a gente se juntou pra cá, tinha um soldado medroso, até que chegaram para perto. O Major, ali, no outro canto, perto de mim, o Sidnei. Aí amanheceu o dia, a chuva caindo, sem comer sem nada, e tudo. Tinha um solda-do ali que ele ficou com o gogó parecendo um gogó de peru só de tatuquira, e eu também. Isso aqui ficou a coisa mais horrível do mundo, de tatuquira. Era mais ou menos umas 11h, aí nós falamos pra ir embora, aí viajamos. Aí saímos num caminho e fomos pra barra-ca. Chegamos lá na barraca, eles pegaram uma sopa que a menina estava fazendo ali. Eu fui pegar a água, tinha um barreio velho de porco, a água estava limpa só por cima, não podia mexer. Peguei bem devagari-nho, aí toldou. Aí eu peguei... Tinha uns coadores ve-lhos lá pra fazer café, mas naquela flanela não coava água de jeito nenhum. Aí peguemos outro em outro canto, bem pouquinho água, pra fazer a sopa. Quando nós estávamos tomando a sopa ali, nós escutamos um tiro do outro lado, dentro da derrubada, na ponta de castanha que tinha. Era um tiro de mosquetão. Aí de-ram mais 2 tiros. Aí o soldado disse: “Rapaz, aquilo é o (ininteligível) da Polícia que eles tinha tomado da PM. E nós vamos lá. E tu é o guia”. E eu sem nada, como é que eu ia? Pra entrar no capim, eu disse: “Olha, por aqui nós não vamos que nós vamos morrer, nós temos que voltar pra trás e pegar a mata”. Aí voltamos. Arrodeamos essa derrubada todinha, saímos na mata. Arrodeamos, e quando chegou perto, pertinho mesmo,

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já estava começando a escurecer, aí eu disse: “Major, toma a frente – eu todo suado, cansado, lascado mes-mo, estava fraco demais, de passar fome e sono –, toma a frente que eles estão bem aí. Todo mundo sem arma, você tem arma”. “Me mostra, porra, tem que me mostrar, tu tem que me mostrar”. E ele surdo. E ele já também, zamboado, porque dentro do mato... Nós tí-nhamos deixado a mochila lá; ele tinha deixado a mo-chila lá na casa. Não podia levar porque era dentro do mato fechado. E aí eu sabia me desviar dos espinhos, aí eles encostaram em mim, aí eu disse: “Toma a fren-te que eles estão bem aí, porque você vai armado”. “Não, porra, tu tem que me mostrar é agora, tem que me mostrar agora”. Cadê, cadê, cadê?” Aí fui obrigado a me dispor mesmo, sujeito a morrer, na frente, sem nada, sem arma, sem nada. Quando chegou assim, num planozinho, eles estavam, assim, conversando, sentado. Botaram assim uns paus, tinha um porco pe-lado, já preparado, uns leitõezinhos em cima, assim, já tudo asseado, pra jogar nas costas pra sair. Aí, quan-do eles deram fé, quando eu dei fé deles, eu disse: “Olha, olha”. Aí eles prestaram atenção, aí mandaram eu deitar. Eu deitei. Aí fizeram uma fila aqui outra ali, 2 adiante, 2 atrás e eu bem no meio. Aí, quando eu levantava a cabeça, eles mandavam eu baixar. Aí fo-ram engatinhando de 4 pé, até quando chegaram per-to, fecharam de uma vez, aí eu acompanhei. Na hora que estávamos acompanhando, o Alfredo ainda pegou a arma e deu 2 tiros pra cima, mas não pegou, foi pra cima. Só o Alfredo. Os outros... aí metralharam. Aí es-cutei berro. Nessas alturas, eu clamei, fiquei ruim, aí um velho olhava para mim e dizia: “Esses coisas são seus parentes?” Eu disse: “Não é não. É parente nada. É porque uma comoção dessa, tanto berro feio”. O João Araguaia pulou de trás de uma castanheira e va-zou, perdeu o revólver. Mas lá sim pegaram o revólver dele. Aí eles ficaram pegando revólver e jogando em mim. Pegaram 5 revólveres... 4 revólveres. Aí, jogando em mim, e os mosquetões também, e o Alexandre juntando. Aí jogavam de rebolada, e eu pegando. Aí quem pegou o primeiro foi o José Carlos, um revólver cano longo, mira especial. Foi o primeiro que ele jogou em mim. Aí eu segurei, e juntando os outros, aí os ou-tros saíram assim e acharam o do João Araguaia, que ele tinha tomado da PM, um revólver novo, novinho. Aí estavam todos fardados com a farda da PM. Aí deram um balaço nas costas do Nunes. Aí ele disse: “E ago-ra? (Falha na gravação.) pra tirar para o rumo da bar-raca”. Eu disse: “Eu não sei nem o rumo da Bacaba”. Onde é o rumo da barraca? Aí ele foi levantando. “Não levanta não” E só fez botar o braço assim, e aí pega-ram a “facona” dele – uma faca assim... e me deram uma “facona”; até eu levei um corte, tá aqui – pra eu

abrir o caminho. Aí eu abri. Isso foi logo que eu saí na barraca. Lá, eu peguei... eles ficaram lá. Lá eu peguei a rede do “Adurbo” e levei, uma redinha velha de nylon, bem fininha, só um pedacinho de pano que ele levava. Cheguei lá: “Porra, pra onde é que tu vai? “É pra le-var...” “Não, não é pra levar, não é pra botar essa por-ra, aqui, dentro da minha área não, que eu vou dormir hoje despreocupado. Leva essa porra é arrastando”. Aí, quando eu cheguei já estava fazendo a padiola pra levar ele. O soldado fez uma padiolinha ligeira. Aí ele embolou a sacola... a rede dele e meteu no bolso, aí fizemos o caminho pra lá. E lá botamos... e ficou num quarto assim, um quarto tampado de palha, e ficaram conversando com ele à noite todinha. Conversando, investigando, contando de onde ele veio, onde ele fez curso, onde tudo, tudo, tudo. E aí eu escutei pouca coisa. Só o “Adurbo”, o Sidnei e o Alexandre, lá ao re-dor dele, e eu mais o soldado lá ao redor do fogo, por-que praga era demais. O certo é que amanheceu o dia. Aí de madrugada, ele falou: “O que que nós faze-mos pra levar esses homens pra clareira lá”? Eu disse: “Eu vou em casa, pego meus animais”. Eu doido pra dar notícia à minha mulher, porque a mulher tinha fi-cado, quase... ela não viu nem a hora que eu passei, porque ela estava de resguardo, quebrou o resguardo e não viu mais nada, desmaiou, e não tinha quem so-corresse ela, só as criancinhas assim. E eu doido pra dar notícia pra ela. “Não, então tu pega os animais. A que horas tu dá dar conta?” Eu disse: “Às 11 horas eu tô aqui”. “Não, mas 11 horas, o avião chega. Às 11 ho-ras o avião chega pra pegar e não pode passar de 11 horas”. Eu disse: “Não, vamos apelar pra 10 horas. Eu vou lá, pego os animal e aí... porque para mim levar só... você não quer ajudar?” “Não, nós não vamos pe-gar...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Seu Manoel, desculpa interromper o senhor. É que nós temos que controlar o tempo. Então queria lhe dar mais 2 minutos ou 3 para que o senhor con-clua. Está muito interessante a sua fala, mas o proble-ma é que ainda temos que ouvir a Sra. Lúcia e a Sra. Míriam. Depois, temos que ir para os debates para os Deputados também fazerem perguntas.

Então, mais 2 ou 3 minutos para o senhor con-cluir, por gentileza.

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Tá bom, tá bom.Então, nós peguemos eles, levemos pra lá. Le-

vei, cheguei lá, botei eles “tudinho” assim. Tiraram o retrato, aí foi a hora em que nós peguemos o avião. O Nunes foi no primeiro. Eu fui o derradeiro. E ele pe-lejava: “Tu quer ficar ou quer ir?” “Eu quero ir. Quero ficar, quero ir, quero ficar”. Aí eu fui para Marabá. E aí começamos a enterrar lá, jogando umas palhas por

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cima. Aí foi quando eu peguei o avião e fui embora. E aí aqui eu termino. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado, seu Manoel, desculpe interrom-per a sua fala, mas é em função realmente do tempo. Daqui a pouco, temos que votar lá no plenário da Câ-mara. Por isso, temos que limitar o tempo disponível para os senhores.

Concedo a palavra à Sra. Lúcia Regina Martins de Souza, ex-guerrilheira do

Destacamento A da Guerrilha do Araguaia, lem-brando que são 15 minutos, D. Lúcia. E lembrando que o Sr. Nélio Roberto Seidl Machado, representan-te da OAB, vai falar ao final das exposições aqui dos convidados.

Tem a palavra a Sra. Lúcia. A SRA. LÚCIA REGINA MARTINS DE SOUZA –

Boa tarde a todos. Eu sou Lúcia Regina. Eu, em 1966, entrei para fazer um curso de Obstetrícia na USP, e em 1967 conheci Lúcio Petit da Silva, de quem fui na-morada. E em 1968 eu estava no congresso da UNE, em Ibiúna, onde fui presa. Na ocasião eu estava junto com Jaime Petit da Silva, meu cunhado, irmão do Lúcio. E por essa minha passagem no congresso de Ibiúna, que caiu, é que eu fui fichada e fiquei então conhe-cida. Existia uma identidade de uma pessoa ligada à Esquerda. Eu passei a morar com o Lúcio, e em 1970 nós fomos visitados por uma pessoa de nome Heitor, que veio para conversar comigo querendo saber se eu estava disposta a sair da cidade em que eu morava, Campinas, para ir para uma região do País, extrema-mente pobre, extremamente desassistida onde o meu conhecimento na área da saúde seria importante. E eu aceitei, achei que seria possível eu participar. O Lúcio foi antes, foi alguns meses antes para preparar o terre-no, e eu fui em seguida. Eu não sabia absolutamente qual seria o meu destino.

Tomei um ônibus na rodoviária de São Paulo e desci, muito tempo depois, numa cidade chamada Imperatriz, no Maranhão. Em algum momento dessa viagem, eu não sou capaz de precisar, eu conheci o Mário, que seria, a partir daí, o meu tio Mário. E ele me acompanhou o resto da viagem. Na cidade de Imperatriz nós fizemos algumas compras: a bota que eu ia usar, o facão. E ele falou que a gente ia comprar também bom-bons. E os bombons que nós compramos eram balas, balas de... E aí eu já estranhei: poxa, se isto daqui é o bombom, como será que o pessoal chama o nosso bombom de chocolate? Depois eu fiquei sabendo que não existia nenhum bombom de chocolate na região para onde eu fui. E o tio Mário, disse: “Nós vamos le-var os bombons porque eles são muito apreciados, as crianças gostam muito dos bombons”.

Bom, segui viagem com ele até chegar a uma ci-dadezinha minúscula, na beira do rio, chamada Apina-gés. Em Apinagés, eu conheci o Joca, que estava nos esperando com um barquinho azul e branco. O Joca, uma pessoa extremamente gentil, muito bondoso, se mostrou muito contente, muito alegre de nos ver. E nós continuamos nessa viagem de barco. Conforme passavam as horas, eu via que estávamos cada vez mais nos afastando da civilização.

Finalmente chegamos ao nosso destino, que era uma casa de adobe, na beira do Rio Araguaia, e fize-mos o que o pessoal chamava de estiva. Começamos a subir todo o material que havíamos levado.

Essa seria minha residência nos próximos meses. Nessa casa moravam a Alice, que está aqui presente, o José Carlos, o Luiz, o Beto, que era o meu companheiro Lúcio Petit da Silva. Ocasionalmente o Joca aparecia para lá, ocasionalmente o Tio Mário aparecia por lá. Basicamente éramos eu, a Tia Maria, a Alice, o José Carlos, o Luiz e o Beto que morávamos ali.

Conheci, além desses com quem eu morava, alguns outros companheiros: o Tio Cid, o Landim e o Zezinho e o Nunes. Conheci Sônia, que teve um papel importante na minha história; vi de passagem a Eleni-ra, que já conhecia do Movimento Estudantil. Ela deu entrada na região, através da casa em que eu morava, portanto, ela chegou pelo Rio Araguaia, e, numa oca-sião em que houve uma reunião, da qual não participei, eu conheci o Osvaldão, assim como também o Juca. Foram pessoas que vi uma única vez.

O trabalho que desenvolvíamos nessa casa, na beira do Rio Araguaia, era relacionado com uma qui-tanda, um pequeno comércio, modestíssimo, que fun-cionava num dos aposentos da casa. Modestíssimo para nós; na região acho que equivaleria a um hiper-mercado.

O que o pessoal da região buscava nesse ponto de comércio funcionava mais como um escambo. Eles traziam coco babaçu, a farinha que fabricavam, e even-tualmente couro. E isso era trocado por aqueles pro-dutos a que eles não tinham acesso – o açúcar, o sal, o fósforo, eventualmente um pedaço de chita, o fumo de corda, coisas desse tipo. O que nós tínhamos e que era muito procurada também era a medicação.

Por eu ser uma pessoa que tinha alguma noção de atendimento médico, eu ficava praticamente todo o tempo na casa, não saía para outros lugares, porque o povo vinha até esse ponto, buscando atendimento médico. Era uma região em que a malária assolava, direto havia casos de malária, de leishmaniose, ver-minoses e muitas vezes também acidentes, pessoa ferida com machado, com facão, um tronco que caia e abria a cabeça de alguns, coisas desse tipo que ía-

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mos atendendo, servindo como podia, com muito boa vontade, rezando para não prejudicar ninguém.

O partido promoveu uma vez uma reunião en-tre todas as pessoas que como eu praticavam essa medicina. Isso foi encabeçado pelo Juca, que era um médico formado. Todos nos reunimos, foi na casa em que eu morava, num aposento um pouco retirado da casa principal, mas ninguém se conheceu, porque to-dos nós estávamos com um lenço protegendo o rosto. Juca pôde nos orientar de que maneira que devería-mos proceder nas diversas ocasiões em que fôssemos solicitados, embora não tenhamos visto o rosto. Só foi uma conversa.

Nessa ocasião, fui avisada que, a partir daí, eu passaria também a fazer o atendimento odontológico. Por conta disso, fui levada para a cidade de Marabá – a Alice estava junto, o José Carlos também – e, na cidade de Marabá, fui conhecer uma pessoa que não era um dentista, era um prático de odontologia.

Eu lembro que o nome dele era Ernesto. Ele foi absolutamente gentil e pronto. Ensinou-me o que ele sabia e deu-me de presente uma apostila, que era uma propaganda de um laboratório farmacêutico. Nessa apostila, tinha sempre um crânio seco e a posição em que a agulha com anestésico deveria ser colocada para obter a anestesia pretendida.

Então, ele me deu esse caderno e, pouco tempo depois, recebi um pacote com todo o material para eu praticar a única coisa, se possível, que seria extração de dentes.

Bom, não tem tu, vai tu mesmo, não é? Lá fui eu fazer minhas extrações de dente, que eu fui marcando, agendando num caderno qual era o nome do paciente, que dente eu havia tirado e quanto ele havia pago. Eu fui registrando, até que chegou no número 100, aí eu me senti formada: já sou uma dentista.

Uma vez, quando eu estava no alto da nossa casa, trocando a palha da cozinha junto com um co-lega chamado Paulo, nós estávamos lá no alto, e eu vi entrar pela porteira da nossa casa uma pessoa. Vi-nha andando muito ligeiro, quase correndo, e ela con-versou com a tia Maria – Elza Monerat. Aí nós fomos avisados de que uma pessoa tinha sido trazida para a região, uns dias antes.

Anoiteceu, todo mundo foi dormir. No dia se-guinte, ele não estava mais na casa. Aí, procuraram. Quem sabe ele está na roça, quem sabe ele está no igarapé? Mas ele não estava mais. E parece que no-taram uma falta de algumas coisas: de um relógio, de uma lanterna, coisa desse tipo. Então, chegaram à conclusão que essa pessoa havia entrado na região e saído em seguida.

Por esse motivo, deveríamos estar em alerta e deveríamos dormir, a partir desta data, completamente vestidos, com a mochila pronta, com a arma do nosso lado. Passamos, então, a dormir na mata, não mais dentro de casa. Permanecíamos na casa, mas à noite íamos dormir na mata.

Depois disso – eu não sei quanto tempo depois, eu não sou capaz de me lembrar –, fui morar num lu-gar chamado Chega com Jeito, que era no meio da mata, não estava mais na beira do rio Araguaia. Eu fui para o meio da mata. E esse lugar era uma casa no alto, num lugar mais alto e, numa região mais baixa, tinha uma outra construção, onde parece funcionava uma oficina de serralheiro, que parece que ali traba-lhava o Zezinho.

Eu digo sempre “parece” porque eu já estava bas-tante doente e ficava a maior parte do tempo dentro de casa, na rede. No tempo em que eu estava melhor, o meu trabalho era separar a medicação. A gente re-cebia bastante caixas com remédios, mas muita coisa era amostra grátis. Então, existia muito papel e pouco medicamento.

Meu trabalho nessa casa, que era no meio da mata, não tinha mais o povo procurando, era separar, triar remédio – antibiótico com antibiótico, analgésico com analgésico – embalar tudo isso em latas e nomear o que tinha dentro e para o que servia.

Muito bem. Então, estou morando no Chega com Jeito, e a Sônia, que era uma estudante de Medicina, uma vez chegou para o... Eu estava na rede. Nessas alturas eu já não conseguia me movimentar com fa-cilidade; eu estava amarela de hepatite, cheia de fu-rúnculos, com febre, com suspeita de tuberculose, era uma porção de suposições. A Sônia, conversando com o tio Mário, falou com a voz meio alterada – a voz dela estava alta: “Eu não sou capaz de cuidar dessa companheira, ela precisa ir para um hospital”. Ele res-pondeu alguma coisa, e ela retrucou: “Então, eu não me responsabilizo pela vida dessa companheira”. No momento seguinte, o tio Mário me procurou, eu esta-va na minha rede, e disse: “Arrume algumas roupas, porque nós vamos para Anápolis”.

Então, fomos. Saímos dessa casa a tia Maria, o Lúcio, o tio Mário e eu. Embora tivesse o tio Mário, que era uma pessoa de idade, e a tia Maria, que era uma pessoa de idade, a única pessoa que foi montada num burrinho fui eu.

Atravessamos a mata toda e chegamos na beira da estrada Transamazônica. Ficamos sentadinhos ali no chão, debaixo de um sol abrasador, até que apareceu um ônibus. O Beto deu sinal para o ônibus e subimos para a viagem a tia Maria e eu. O Lúcio e o tio Mário ficaram na estrada.

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O ônibus estava completamente apinhado de gente, e a tia Maria era uma senhora, mas alguém se levantou e cedeu lugar para mim. Eu devia estar meio feinha, não é? Então, eu sentei naquele banco de ônibus, depois de 18 meses de só sentar em toco de pau, e eu posso garantir para vocês que eu jamais, e nunca mais, sentei num lugar tão confortável, tão maravilhoso.

Viajamos nesse ônibus até... Não sei, tem muita coisa apagada da minha memória. Não sei se teve al-gum trecho de rio. O fato é que eu cheguei na cidade de Anápolis junto com a tia Maria. Fomos para uma pensão e, em seguida, ela me levou até um hospital.

Nesse hospital, na parte do térreo, no andar tér-reo, eram consultórios médicos, e eu fui fazer a con-sulta com um médico. Era uma pessoa muito clara, ruiva, cheia de sardas. Ele me examinou e falou: “Essa moça não pode simplesmente sair daqui com uma re-ceita; ela precisa ser hospitalizada.” E eu fiquei então internada neste hospital, que não sei qual é o nome. A tia Maria falou: “Eu não posso ficar com você. Eu tenho compromissos assumidos. Então, eu vou sair, vou cumprir o que eu tenho que fazer e eu volto aqui para te buscar.”

Então, tudo bem. Aí, ela foi embora, eu esperei algum tempo. Eu desliguei o soro que estava no meu braço, arrumei a minha roupa, desci para o andar tér-reo, apresentei-me para o médico e eu falei: “Eu quero que o senhor assine a minha alta”, e ele se recusou. Eu falei: “Não, eu assino um termo de responsabilida-de. Mas o senhor pode ficar tranqüilo porque eu estou indo para São Paulo. A minha família é de lá e por lá eu vou me cuidar.”

Então eu saí. Saí do hospital. Fui até à pensão e deixei um recado para a tia Maria – “Eu estou indo para a minha casa em São Paulo” – e fui embora. Fui embora de ônibus. Cheguei em São Paulo no dia 19 de dezembro e isso é uma coisa que eu lembro bem, porque foi 2 dias depois da data de aniversário do meu irmão.

Cheguei em São Paulo, fiz os tratamentos, já estava bem melhor e recebi uma ligação da tia Maria. Nos encontramos ali pela rua Vergueiro em São Paulo e ela perguntou como eu estava. Falei: “Estou bem.” Então ela disse: “Então nós vamos programar o seu retorno.” Eu disse: “Eu não volto.” Ela disse para mim: “Não é você que decide se você volta ou não. É uma decisão do comitê central. Mas eu vou levar então a sua posição e você vai explicar por que você não vol-ta.” “Então, está bom.”

Fiquei aguardando uma ligação. Aconteceu. Mar-caram que eu deveria estar em determinado ponto da rua Vergueiro. Tinha lá uma padaria, existe até hoje,

e fui então para esse lugar para encontrar com a pes-soa que iria me levar até o comitê do partido para eu explicar porque não queria voltar para a região do Ara-guaia. Ninguém apareceu. Repeti o ponto, conforme o combinado, 15 minutos depois, e, depois, 15 minutos. Foram 3 vezes. Ninguém veio. Então voltei para a casa esperando um novo contato. Mas nunca mais ninguém entrou em contato comigo.

Isso era já 1972. Em 1973, comecei a cursar a faculdade de Odontologia. No ano de 1975 eu fui presa no meio da noite e fui levada para a rua Tutóia, onde, num prédio ali na rua Tutóia, tinha a OBAN. Fui inter-rogada a noite toda. Durante, ninguém me bateu, não aconteceu nada disso, até porque eu não escondi nada da minha experiência, da minha vivência...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Desligou o microfone? Vou aproveitar para informar à senhora que os 15 minutos já esgotaram.

A senhora consegue concluir em 2 ou 3 minu-tos?

A SRA. LÚCIA REGINA MARTINS DE SOUZA – Perfeitamente. Estou exatamente no fim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Obrigado.

A SRA. LÚCIA REGINA MARTINS DE SOUZA – Então uma dessas pessoas que estavam me inter-rogando em determinado momento perguntou se eu tinha a curiosidade de saber o que havia acontecido com o meu companheiro Lúcio Petit da Silva. Eu dis-se que sim.

Então ele me apresentou um papel todo coberto. Só tinha uma linha aparecendo. Então, na coluna da esquerda, “Lúcio Petit da Silva”. Na coluna da direita “morto”.

Acho que essa é a única coisa que posso acres-centar aqui, porque tudo isso está farto de ser comen-tado. Que existe, então, na rua Tutóia um documento onde consta que Lúcio Petit da Silva está morto e não desaparecido. É só o que tenho a falar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) – Muito obrigado, Dona Lúcia Regina.

Passo a palavra à Sra. Myriam Luiz Alves, jor-nalista e pesquisadora da Guerrilha do Araguaia, que dispõe de 15 minutos.

Daqui a pouco encerramos as exposições com o Dr. Nélio.

A SRA. MYRIAN LUIZ ALVES – Boa tarde a todos. Agradeço a oportunidade de estar nesta Co-missão, onde já servi como assessora do Deputado Greenhalgh.

Eu gostaria, se fosse possível, de passar um vídeo de 1 minuto, em DVD, feito em 2004. Muita coi-sa surgiu a partir daí. Depois eu gostaria de mostrar

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3 fotografias de prisioneiros, entre eles o Lúcio Petit, porque fica mais fácil.

(Exibição de vídeo.)Antes de mostrar as fotos, gostaria de esclarecer

que fiz um trabalho como Assessora da Presidência da CPI de Perus. Naquele período, foi realizado um con-vênio entre Prefeitura de São Paulo, Universidade de Campinas e Governo do Estado para a identificação dos 1.059 corpos que tinham sido retirados de uma quadra toda e depois sepultados numa vala comum, aberta com uma retroescavadeira, sem registro.

Pelo menos 3 pessoas que estavam nessa vala foram reconhecidas, 2 delas em menos de 1 ano, ainda durante os trabalhos da CPI. Um dos rapazes que es-tava morto, enterrado ao lado da Sônia Angel – numa quadra normal, não numa vala comum –, era um ex-companheiro da Constituinte Moema São Thiago, An-tônio Carlos Bicalho Lana. Todas essas pessoas foram identificadas por métodos de antropologia forense.

Na época, eu era ligada ao Partido Comunista do Brasil e, como Assessora da Presidência da CPI de Perus, pedi que o caso Araguaia fosse colocado na CPI – a única CPI que, até hoje, teve começo, meio e fim. Nesse período, a Comissão Justiça e Paz foi à região do Araguaia, sempre na busca do médico João Carlos Haas, o Juca, e acabou encontrando Maria Lú-cia Petit, identificada 5 anos depois. A outra cunhada dela tinha bastante informações e jamais foi chamada para prestar qualquer auxílio.

Em 2001, retomamos o trabalho do Araguaia aqui na Câmara dos Deputados e muitas barreiras foram surgindo – corpos foram retirados em 1996 – de forma que não conseguimos obter informações.

Procurei mostrar esse vídeo... Inclusive, o De-putado Genoíno -- na época era Presidente do DCE, e o Bergson, Vice-Presidente, no Ceará --, começou sua vida política pública contando o episódio ocorri-do com o Bergson, na Base de Xambioá. O Bergson, enterrado publicamente, foi o primeiro guerrilheiro a ser morto. Era muito conhecido em Xambioá, onde ia, junto com o Juca, comprar principalmente estopa para fazer, talvez, depósitos. Os 2 eram muito altos – 1,82 metros, 1,83 metros – parecidos na altura, mas com corpos muito diferentes.

O corpo de Bergson era sempre apontado no ce-mitério de Xambioá, porque ele foi enterrado publica-mente, ao lado da Maria Lúcia Petit. Essa foto, na qual aparece o irmão da Dina, inclusive, saindo do cemitério, é de 1980. Ele foi retirado em 1996 e apontado, como segundo hipótese, numa relação de 6.

Com a luta do grupo de trabalho nesta Casa, consultei legistas, inclusive o Diretor do IML do Ceará. A partir daí uma correria, depois de mais de 6 anos,

para tentar identificar. Mas nunca o corpo de Bergson foi enviado a um médico legista brasileiro a fim de re-tirar DNA, se fosse preciso DNA. Ele foi morto com 28 dentes. O Badan Palhares, realmente, mexeu nesse corpo em 1991, mas jamais foi à cova do João Carlos Haas, o Juca, que estava enterrado do outro lado.

Bom, sobre essa questão das identificações – estou fazendo aqui um relato pequeno – é algo con-fuso, porque o Brasil tem um trabalho fantástico na identificação. Não vou falar de legistas que serviram ao regime, isso não está colocado aqui, mas univer-sidades etc. Um corpo leva ao outro, quer dizer, uma história leva à outra.

Em 1996, foram também retirados ossos da re-serva indígena Suruí. O antropólogo Fondebrider deixa indicado no seu relatório que há mais restos mortais a serem retirados.

Pouco tempo atrás, foi publicado o livro de Luiz Maklouf Carvalho, com participação do Cel. Lício, que traz relatos do General Cerqueira, o mesmo que com-bateu o Lamarca, que teve um QG exatamente quase no mesmo ponto. Se observarmos a quilometragem, nem estava dito que o General Cerqueira serviu no Araguaia. Hoje sabemos que sim.

Creio que vários guerrilheiros, realmente, foram vitimados dessa forma, em mata etc., mas muitas pes-soas foram, sim, enterradas em cemitérios, em covas identificadas pela população, até por militares. Acredito que é possível fazer um trabalho antropológico sério, com o acompanhamento da sociedade, com o acom-panhamento de vários profissionais brasileiros, e que a pesquisa tenha acesso.

Afora a questão das identificações, da qual po-demos falar em um outro momento com mais tranqüi-lidade, acho que a Guerrilha do Araguaia é uma das únicas da história em que podemos ter acesso a fotos de prisioneiros que desapareceram. A primeira foto, enviada à Comissão de Mortos e Desaparecidos, em 1998, foi justamente a do Antônio de Pádua Costa, agachado, com uma tropa militar atrás.

Hoje, tive oportunidade de conversar aqui com o Tenente Jiménez, o qual escreveu um livro contando como prendeu Antônio de Pádua Costa, o Piauí, como era chamado, estudante de Astronomia. O Santa Cruz contou a esta Comissão, em uma sessão secreta aqui, e na Câmara Municipal de Belém, que ele conduziu o Piauí 5 vezes na mata, mas não tinha responsabilida-de sobre essa morte e que sobre ela o Estado deve-ria perguntar ao Curió. Isso ele falou na Bacaba, onde morou, inclusive com sua família.

O Tenente Jiménez escreveu um livro com docu-mentos, entregues na década de 90, que confirmam a

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04153

prisão de Antônio de Pádua Costa, confirma a prisão da Dinalva e ninguém responde por isso!

Durante todos esses anos, a imprensa divulgou muito sobre a Guerrilha do Araguaia. Toda vez que tentamos identificações, pedem-se arquivos. Mas não existem arquivos.

Esta Comissão, no início da sua existência, rece-beu relatórios militares de 3 Ministros, da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, com datas de morte, com formas de narrativa que dão para perceber que são prisioneiros, são depoimentos, como no caso do Daniel Callado. Há foto dele preso com o Santa Cruz.

Então, do ponto de vista documental, tem de se exigir do Estado os documentos originais, ou cópias dos originais, porque vários militares têm documentos. Quando pedem para suas aposentadorias ou para suas homenagens, eles já receberam na década de 90. O relatório da Operação Marajoara, por exemplo, como o de outras operações, deixa claro que foram tiradas 21 cópias fora das respectivas agências que deveriam receber.

Eu não acredito que o Estado brasileiro seja re-lapso a ponto de queimar folhas de alterações de mi-litares, até porque, na hora de pleitear aposentadoria, eles precisam dessas folhas. Já li folhas e folhas de alterações: quando a pessoa sai do quartel e chega numa região, o que ela fez, o que ela deixou de fazer. A área militar é muito burocrática. Então, tudo é feito com detalhes.

Uma das pessoas que assinou os relatórios da Operação Sucuri foi o Cel. Curió, da reserva. Tem a relação dos militares que foram agentes com seus nomes verdadeiros e os nomes que iriam usar num determinado tempo. Eu posso citar aqui o Sargento Joaquim Artur, o Ivan, o qual foi posseiro na região do Chega com Jeito, que vendeu munição para o guerri-lheiro André Grabois com autorização do Curió. Isso está sendo contado agora.

Segundo um livro, ele teria fuzilado a Dina, que por sua vez teria justiçado outro guerrilheiro. Segundo o relatório de 1993, foi morto por forças de segurança, provavelmente durante a Operação Sucuri, quando não era ainda para matar, com exceção do Osvaldo. O relatório da Operação Papagaio, a qual matou o Juca e mais 7 guerrilheiros, tem a relação das pessoas e o respectivo número de embarque no avião da FAB.

A mãe do Ciro Flávio Salazar, que morreu com o Juca, que teve farmácia com o Paulo Roberto, na Pa-lestina, já tinha feito um dossiê em 1996 informando que a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos convocaria o General Bandeira, o Curió, e o Tenente Eduardo Serra de Castro, que teria assinado a Ope-ração Papagaio.

Os militares, hoje, são mais do que conhecidos, muitos deles bastante conhecidos, como o Coronel Curió, que é Prefeito de Curionópolis. A cidade de Marabá é das regiões que mais abriga soldados do Exército, em situação inclusive de penúria. Concordo que não dá para entender por que há tanto soldado em Marabá, uma área extremamente devastada, uma população sofrida.

Eu poderia contribuir no sentido de que é possí-vel contar a História do Brasil sem drama. Cada uma das cópias desses relatórios foi divulgada por militares, a começar pelo do General Bandeira, quando a filha dele, ele ainda em vida, passou para O Globo. O jor-nalista Ronaldo Brasiliense teve acesso às fichas das pessoas que fizeram os fuzilamentos. Tenho um roteiro disso e depois vou passá-lo à Comissão.

Como pesquisadora, já conversei com alguns militares que me confirmaram inclusive que estiveram no Paraná por causa da questão do Onofre Pinto. Ou seja, acredito que havia um grupo de militares espe-cialista na atuação de campo e que atuou contra várias organizações, incluindo o Partido Comunista do Brasil e a Ação Popular.

Morei no Maranhão e estudei um pouco a histó-ria do Rui Frazão, que é uma das mais dramáticas da história da ditadura, e também um pouco da história do Ernestino Guimarães, cuja mãe está viva, mora aqui no Guará. Ele é nome de museu em Brasília. A impressão que dá é que tudo faz parte da mesma for-ma de repressão, e talvez com os mesmos agentes nessa repressão.

Fico indignada, porque sou mãe. Uma das pri-meiras mães que conheci foi a mãe do Cazuza, Dona Helena Pereira. Sou pesquisadora, não sou parente de ninguém.

Gosto dessa história em particular. Hoje conheço a região, e trabalho a história do ítalo-brasileiro Libero Jean Carlo. Mas quem me conhece sabe que o João Carlos Haas, o Juca, faz parte quase diariamente da minha vida. O sul do Maranhão presta-lhe homenagem em nome de hospital, nome de ponto de cultura, e nome de centro desportivo. Eu brinco com os dirigentes da cidade quando digo que, qualquer hora, vai mudar de nome a cidade. Há realmente um carinho muito gran-de, e ele é conhecido como médico.

Acredito no seguinte: os relatórios, desde o iní-cio de 1972, comentam que a população nega-se a prestar informações, ou constrói a cada dia seres ma-ravilhosos. Todo mundo tem o direito a sua história, a sua família. A alma de uma nação é a sua história. Enquanto esses homens e essas mulheres estiverem vivos, teremos a grande oportunidade de ouvir os re-latos. Eu não acredito que haverá um relatório em que

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04154 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

virá escrito que Antonio de Pádua Costa foi sepulta-do perto de uma árvore assim, assim, assim. Esses testemunhos são orais, e o testemunho oral – aprendi isso com o Deputado Biscaia, durante a CPI do Nar-cotráfico – é prova.

Não estou aqui para concordar ou discordar do Tenente Jiménez. A opinião dele é ideológica, ele par-ticipou dessa história, mas sabe qual será a conseqü-ência se for cumprida a sentença da Juíza Solange Salgado sobre prisioneiros que desapareceram. E ele relata a prisão do Antônio de Pádua Costa.

Isso pode ser contado de forma muito natural pelo Parlamento brasileiro, talvez com uma CPI. Tivemos uma CPI no Município de São Paulo levou, inclusive, a Comissão Justiça e Paz ao Araguaia, porque não tínhamos jurisdição. A única guerrilheira identificada, que agora o Curió contesta numa matéria no Jornal do Brasil, é Maria Lúcia Petit. Sem que houvesse ido à região, em 1991, ela não teria sido encontrada.

Eu acho que tem que se respeitar a população e as autoridades da população. Até a Cidade de Xam-bioá pode fazer uma CPI conjunta com a Câmara dos Deputados. Ela é história estudada no ensino funda-mental de Xambioá. As pessoas têm nome, endereço, e muitos anos de vivência.

Faço uma sugestão, porque Xambioá não fica no sudeste do Pará, mas no norte de Tocantins. Xambioá, o Tenente Jiménez sabe disso, era um município, desde os anos 50, formado por nordestinos que foram para o garimpo de cristal. As pessoas eram enterradas com mortalha, de preferência em caixão de mogno, porque era árvore abundante na região. Então a morte é algo temido e respeitado. Cada guerrilheiro que foi enter-rado no cemitério de Xambioá, em público, e não foi retirado, está lá até hoje, porque não existe inumação, ou seja, o cemitério vai abrigando as pessoas.

Quando vamos à região e ouvimos relatos de outro gaúcho, o Paulo Mendes Rodrigues, isso é algo que realmente nos emociona, porque ele morou ali desde 1966. Era natural que deixassem que o corpo dele fosse exibido, até para que a população visse que o Dr. Paulo havia morrido. É uma lógica militar, não há outro sentido, porque eles tinham que mostrar de alguma forma que eles estavam combatendo aquelas pessoas, e que aquelas pessoas estavam caindo mi-litarmente.

Hoje o Município de Xambioá quer criar uma bi-blioteca com o nome Paulo Rodrigues, quer fazer isso, quer fazer aquilo. Isso é um negócio que emociona. E não é difícil que o Paulo tenha sido enterrado em caixão de mogno, tamanho é o respeito que as autoridades de Xambioá ainda hoje lhe dedicam. A Arena pedia voto para ele no Caiano. Era um líder que foi para lá

em 1966, 1967; era filho de militar, era economista, e até pouco tempo atrás não havia foto dele. Foi en-contrada agora por uma pesquisadora, porque estava dentro de uma pasta.

Então as pessoas têm a sua história, e deixem que essas histórias sejam contadas. Tem segredo de Estado? Isso tem que morrer aos poucos. Até onde sei, o acordo desse grupo era de 30 anos, provavelmente o grupo comandado pelo Curió.

Todo mundo sabe disso, todo mundo sabe o pa-pel do Curió – e vou usar o termo que ele usa, porque ele é um coronel da reserva mas ele se coloca assim. Ele ficou na região, ficou com agentes na região, para comandar a questão de Serra Pelada. O próprio Pre-sidente Lula, na época, como dirigente político, esteve na questão da expulsão dos padres franceses. E agora ele vem ao jornal dizer que sabe o paradeiro dos 59, e que a Maria Lúcia Petit não era a Maria Lúcia Petit? Isso é um desrespeito.

Então deixo uma sugestão, quer dizer, um vai ouvindo o outro até que, um dia o Parlamento consiga trazê-lo a esta Casa, da qual ele já fez parte, e que ele tenha a dignidade de contar o que sabe. Não acredito que ele seja o responsável por tudo, há também os ge-nerais, mas sou cidadã do meu País, pago impostos, sou jornalista, sou pesquisadora, respeito essa histó-ria e respeito cada cidadão do Brasil, incluindo toda a população da região que agora está sendo acom-panhada pela Comissão de Anistia. Depois de muitos anos, a Comissão reconhece que aquelas pessoas têm o direito, sim, à anistia.

São essas as sugestões. Muito obrigada.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Agradeço à jornalista Myrian Luiz Alves a con-tribuição.

Antes de passar a palavra ao representante da OAB, informo que a Dra. Criméia tem viagem de avião marcada às 6 horas e por isso pediu a palavra por 3 minutos. Ela atravessou o Brasil para estar aqui, não só ela como a Dona Laura Petit também, mas a D. Cri-méia vai falar em nome das duas.

A senhora está com a palavra.A SRA. CRIMÉIA ALICE SCHMIDT DE ALMEIDA

– Boa tarde. Nós agradecemos a estas pessoas que até agora falaram, que contribuíram com a repressão à guerrilha do Araguaia, que estiveram presentes nos atos que mataram, que enterraram etc., porque nos deram, hoje, essas informações. Há algum tempo al-guns já vêm dizendo, mas levaram 30 e tantos anos para nos dar essa informação.

Mesmo assim, a gente agradece a essa Comis-são, que há anos trabalha conosco. Inclusive em 1991 o representante dessa Comissão esteve conosco no

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04155

Araguaia, quando nós encontramos a Maria Lúcia. Nós só estranhamos que hoje as pessoas resolveram falar – hoje ou mais recentemente – porque há 5 anos nós ganhamos na Justiça o direito à verdade; uma ação judicial que o Governo brasileiro vem recorrendo para protelar. Já perdeu o último recurso, e no entanto essa ação que foi ganha em 2003 e até hoje não foi cumprida, até hoje não foram abertos os arquivos deste país.

É isto o que nós queremos, que se abram os arquivos, que se execute a ação que nós ganhamos. Nós temos o direito à verdade. A verdade ainda não foi contada. Nós temos o direito à memória, e esta, nós, familiares, preservamos com muito carinho.

Muito obrigada por ter me dado o espaço. (Pal-mas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Está bom, Dona Criméia. Muito obrigado. É um apelo emocionado. Obrigado à senhora e à Dona Laura, que está junto. Ambas vieram de São Paulo.

A Comissão de Direitos Humanos está trabalhan-do, todos os Deputados, cada um da sua forma, num esforço para que possamos avançar sem precisar ru-minar, sem precisar remoer, remastigar para engolir de novo. Esclarecer é preciso. Nós não queremos masti-gar, colocar para fora, mastigar e engolir de novo. Isso nós não queremos, mas a verdade é preciso florescer, clarear, e esse é o nosso propósito.

Está com a palavra, para encerrar as manifesta-ções, o Dr. Nélio Roberto Seidl Machado, representante do Conselho Federal da OAB e relator do processo na OAB sobre a abertura dos arquivos do Araguaia. Em seguida, passaremos aos questionamentos dos cole-gas Parlamentares.

O SR. NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO – Em primeiro lugar, gostaria de dizer que aqui represento Cezar Britto, que é Presidente do Conselho Federal. Por circunstâncias do destino, fui indicado por ele para ser o relator de um procedimento que nasceu de uma sugestão do Prof. Fábio Konder Comparato, que dizia exatamente que, a rigor, quando se fala em anistia no Brasil e se defende a tese de que ela contemplava uma reciprocidade, ou seja, anistia para os perseguidos bem assim para os perseguidores, essa situação não se aplicaria de nenhum modo quanto a esta canhes-tra explicação de que os documentos relacionados com a Guerrilha do Araguaia e com a repressão, que foi feita da forma absolutamente reprovável, como os vários depoimentos registraram; como também não há razoabilidade, não há justificativa plausível que se possa aceitar dando conta de que tais documentos simplesmente sumiram, não existem mais.

A rigor, em várias pesquisas levadas a efeito, algumas evidências já vieram. O depoimento é prova;

prova testemunhal, mas é. Podem ser feitas perícias, exames, idas ao local e, a rigor, todo militar – como bem lembrado por um orador que me antecedeu, exis-tem os assentamentos militares – tem registrado o dia que nasceu o filho, o dia que se casou, o dia que foi promovido, qual a missão que desempenhou, e assim por diante. Então, não é crível que através de um pro-cesso minimamente razoável de investigação não se chegue a evidências daquilo que todos sabem.

Na realidade, sabe-se que houve um massacre, uma ação absolutamente desumana. Desumana inclu-sive em relação aos que aqui estão e narraram a forma pela qual o Exército brasileiro dele se valeu, pessoas inclusive da comunidade.

Nós, através da Ordem dos Advogados do Brasil, formulamos uma notícia-crime ao Superior Tribunal Mi-litar. O Superior Tribunal Militar teve um papel relevan-te na época do regime ditatorial. Evidentemente que neste episódio a atuação foi nenhuma, como também no caso Riocentro o STM encobriu a verdade com uma simulação de inquérito policial militar, e poderia ser coibida aquela investigação. Acabou não sendo, e não há quem desconheça que houve uma verdadeira armação, criando-se uma versão fantasiosa que não correspondia à realidade.

O que se quer agora é repetir mais ou menos a mesma farsa no caso da morte de tantas pessoas cita-das. Falou-se do Anestino. Pode-se falar do Deputado Rubens Paiva, pode-se falar de Ana Maria Nacinovic, pode-se falar de Jean Henry Raya. Estou mencionan-do alguns que, de lembrança, passaram até pelo meu escritório.

Trabalhei ao lado do meu pai, Lino Machado Fi-lho, que morreu no ano passado, mas que foi um dos grandes advogados na luta contra o regime de exceção que se estabeleceu neste País, com o Ato Institucional nº 5, com o Ato Institucional nº 2, assim por diante.

A rigor, não é razoável que nada se faça. No STM, hoje, o assunto foi levado formalmente, em documen-to assinado pelo Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados, com prova colhida em vários depoimentos, até pela Comissão de Direitos Huma-nos da OAB, e o Tribunal remeteu a conhecimento do Ministério Público Militar porque no Brasil isso não é incorreto. O cabimento para a propositura de uma de-manda, instauração de uma investigação é muito mais do Ministério Público e da própria autoridade policial – no caso é o IPM que se impõe, porque toda a re-pressão foi feita a partir das Forças Armadas. Era um regime militar. O poder era exatamente o que advinha da caserna, e eles não podem acobertar, de modo al-gum, o que se passou.

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04156 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Com relação ao Ministério Público Militar, o certo é que, desde que essa documentação chegou às mãos da chefia do Ministério Público Militar, nada se fez de concreto objetivando a instauração de um inquérito policial militar, o qual teria como base legal, no míni-mo, o art. 321 do Código Penal Militar. E esse artigo é absolutamente hígido do ponto de vista de pertinên-cia persecutória e apuratória, porque é o delito que corresponde a quem extravie livro oficial ou qualquer documento de que tenha a guarda em razão do cargo, sonegando ou inutilizando total ou parcialmente.

Ora, se há 21 cópias, não é possível que não se busque uma dessas cópias. Devem existir pelo menos 17, sem contar alguns que de forma privada podem ter isso guardados ou como documento para surgir na posteridade, ou como uma relíquia a partir de uma visão que se tenha. As visões podem ser díspares, não convergentes.

Hoje mesmo víamos... Eu repudio tudo o que ouvi do nosso tenente, mas respeito o direito que ele tem de dizer. Clamor pela volta do regime de 64, volta do regime militar, que naquele tempo não havia deso-nestidade, não havia corrupção... O que existia é que escondiam tudo, matavam, torturavam, desapareciam com as pessoas. Essa é a verdade histórica do País, e essa verdade não pode ser escondida. Ninguém aqui tem saudade do regime militar.

No regime de agora isso não significa que pas-semos a mão na cabeça dos erros ou das mazelas que possam acontecer. Ainda agora vejo uma situação preocupante: os grampos telefônicos no País. As pes-soas antigamente eram torturadas, mas quando eram julgadas diziam: “fui torturada, fui torturado”. E aquela prova, pela lei, não valia. Hoje, no grampo telefônico, são 500 mil. As pessoas não têm o instinto de defesa, e a Constituição diz que o preso tem o direito, ou o investigado, de não se auto-incriminar. Isso é proce-dimento de Gestapo, isso é procedimento de estado policial. Não é possível que se continue desta forma, os juízes tolerando todos esses abusos.

Naquela época, o AI-5 impedia e proibia o habe-as corpus. O nosso escritório fez habeas corpus para Rubens Paiva. Meu pai o assinou. E houve informação da entrega do carro à D. Eunice Paiva, e dali se fez a prova da existência da prisão.

O habeas-corpus não era conhecido, mas o STM o admitia como representação ou petição, e localizava-se o preso, muitas das vezes. Não nesses, mas em muitos dos casos, quebrava-se a incomunicabilidade. O advogado falava com o réu, a família o via.

Pois bem, hoje, se alguém impetrar um habeas-corpus, meio idôneo que a Constituição defere para proteger um perseguido, os juízes, com base em legis-

lação que viola a Constituição, a partir dessa conversa de arapongagem generalizada, acham que têm o direito de nada informar, porque são procedimentos sigilosos. Dessa forma, daqui a pouco teremos, no Brasil, por con-ta do narcotráfico, do 11 de Setembro de um moralismo equivocado, juízes que não têm rosto e testemunhas que, na realidade, não precisam aparecer.

Então, do mesmo modo que combatemos da trincheira da liberdade no passado, hoje é impositi-vo que não aceitemos o retrocesso. E a situação do Araguaia mais se agrava, na medida em que temos um Governo eleito com a bandeira da Esquerda no País. O próprio Presidente foi preso. Então, ele tem a obrigação ética, política, moral, jurídica de fazer com que essa decisão judicial de 2003, ao que se sabe, já passada em julgado, insuscetível de qualquer modifi-cação, seja cumprida.

Temos Ministro da Defesa Civil. Não é razoável que o próprio Governo não entre efetivamente nesta missão em favor da História e como forma de repudiar a maneira como agiu no passado, com o Poder que oculta e o Poder que se oculta, como dizia Norberto Bobbio.

A Constituição Federal brasileira foi apodada por Ulysses Guimarães de Carta Cidadã. Como tal, vincula os Poderes da República. Portanto, não é razoável que uma decisão judicial seja completamente desrespeita-da por inércia do Poder Executivo.

Por isso, o papel da Ordem será, como já vem sendo e foi, historicamente, o de fazer com que esses fatos não fiquem acobertados pelo silêncio ou pelas conveniências.

Além disso, na perspectiva da democracia que queremos formar, é preciso que o Congresso esteja atento para que não tenhamos de novo, ainda que com a formalidade de uma Carta Constitucional libe-ral, a volta de uma ditadura de outra forma: a ditadura da perseguição, a ditadura do Judiciário, a ditadura do Ministério Público, a ditadura da mídia, em detri-mento da defesa fundamental dos direitos da pessoa e dos cidadãos.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado pelo con-vite que a Ordem recebeu. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Muito obrigado, Dr. Nélio Roberto Seidl Macha-do, com cujas palavras nós concordamos, não pelo acaso de sermos colegas advogados, mas porque sei das razões que lhe assistem e conheço os argumen-tos que oferece.

Há colegas inscritos.Tem a palavra o Deputado Luiz Couto, do PT da

Paraíba.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04157

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-te, demais membros da Mesa, obtivemos aqui infor-mações importantes que nos mostram a existência de uma verdade, que precisamos buscar sempre. A busca da verdade e da memória é necessária para que não aconteça nunca mais aquilo que ocorreu em nosso País: repressão, tortura, mortes, desaparecimentos e até desqualificação de pessoas que ninguém sabe se estão vivas ou mortas, mas que são tratadas como colaboradoras do regime, do sistema.

Nós observamos uma diferença entre pessoas que participaram daquele momento histórico e que dele falam sem rancor e outras que falam com rancor, com deboche, achando que são donas da verdade e que é preciso voltar a haver aquela experiência nefas-ta ao nosso País , o que queremos que nunca mais venha a acontecer.

Aliás, para isso é que servem a memória e a verdade: para que aprendamos a lição. A democracia permite que os casos de corrupção sejam investiga-dos, as pessoas sejam presas. É ela que também per-mite que alguém escreva um livro e defenda a volta da ditadura – naquela época sequer se podia colocar informações nos jornais, como se fazia utilizando-se os mais diversos métodos, como inserindo-as entre receitas de bolo e outras coisas mais.

A democracia é isso, e é por ela que estamos travando esta luta.

Vou fazer algumas perguntas ao Tenente Vargas, mas primeiro gostaria de perguntar ao Vanu.

Vanu: você era guia do Grupo de Combate do Exército. Como você chegou à região?

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Cheguei à região muito antes da guerrilha. Quando os guerrilheiros che-garam lá eu já estava há muito tempo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sim. E aí você foi contactado por quem?

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Eu fui contacta-do porque era vizinho deles. Quando o Exército veio, já veio me pegar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sim, mas quem? Quem foi a figura do Exército que lhe procurou para conversar?

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Quem me pren-deu? Foi o Ivan que me prendeu no dia.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, você foi preso, para depois ser guia?

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Fui preso no dia e nunca mais me soltaram. Passei 11 meses preso, andando com o Exército.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo. Então, você foi obrigado a...

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Obrigado, fui obrigado. Não me ofereci. Nenhum dos guias foi por vontade própria.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, você foi obrigado a servir de guia?

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Sim, senhor.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E você rece-

bia alguma coisa por isso?O SR. MANOEL LEAL LIMA – Não. Eu não tinha

negócio de política.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Hein?O SR. MANOEL LEAL LIMA – Eu não tinha ne-

gócio de política, não. Eu vivia dentro da mata traba-lhando com meus filhos, só.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, você não recebia nada do Exército por essa...

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Não, eles não deram assistência para nós, não.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, você disse que foi preso, foi espancado, judiado.

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Fui preso, espan-cado, judiado; perdi as minhas coisas; fui obrigado a sair de lá. A família foi para Brejo Grande, para São Domingos, para a cidade. Durante esses 11 meses, eles não me deram...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, quando você mudou para a região, os guerrilheiros já estavam lá, mas o Exército não estava ainda.

O SR. MANOEL LEAL LIMA – Não, não. Eu cheguei lá em 1962. E a guerra começou em 1973. Já estava com 10 anos, não é? Mais de 10 anos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Isso.Eu queria ouvir também o Sr. Lorivan.O senhor falou de treinamento desumano, degra-

dante para vocês. O senhor inclusive chegou a perder um dente e sofrer em conseqüência disso.

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Isso. Porque era muito pesado, na época, e a gente estava acostumado ali só com praia – Marabá é uma cidade praiana. Nós fomos para lá e, nos primeiros 5 dias, os primeiros treinamentos foram com aqueles cupins. O senhor sabe o que é cupim?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sim.O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO

– O Sargento Hélio e o Sargento Trajano assanhavam aquilo e nós tínhamos que rolar pelados em cima da-queles bichos. Depois, havia um buraco enorme onde a gente se melecava de barro e ficava aquele monte de homem lá dentro, tudo pelado, por 1 hora, 2 horas, e assim por diante.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor falou do João Araguaia.

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04158 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – João Araguaia. Sim.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor o viu ser preso?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Não. Eu tirei serviço onde ele estava sendo preso, o DNER, que hoje se chama Casa Azul. Foi o homem que me atacou. Quando fui servir água para ele, jogou água no meu rosto; queria me agarrar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E depois desapareceu?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Morreu na hora.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Foi morto lá.

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Foi. Chegou a me agarrar...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E quem ati-rou nele?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Soldado Bastos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E o senhor viu quando o corpo dele saiu? Levaram para onde?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Não. Eu e o Bastos e os outros militares fomos enterrar ele na margem do Rio Itacaiúnas, à noite.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Foram en-terrar?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Fomos. Fomos enterrar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – A mando de quem?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – A mando do Comandante da Guarda, que, na épo-ca... Não me recordo o nome agora. Mas eu fui, estava presente, com o Soldado Bastos e mais uns 3. Nós o enterramos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quem era o Sargento Anselmo?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Sargento Anselmo era, na época, um instrutor, as-sim como o Sargento Hélio, o Sargento Trajano. Eram uns animais.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Eram uns animais.

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Desculpa a palavra, mas eram animais. Eles nos treinaram mesmo para aquilo. Já sabiam o que tínha-mos que fazer. Nós éramos obrigados a fazer aquilo. Fazer o quê? Tinha que fazer o treinamento. Não ha-via outra saída.

Num desses treinamentos, no Rio Itacaiúnas, morreu um amicíssimo meu, Cabo João. A hélice do

bote o pegou e degolou. Morreu. Até hoje eu o ouço gritar para parar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Correto. O senhor viu ou presenciou guerrilheiros sendo decapi-tados e mutilados?

O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO – Não, isso não. O que eu presenciei foi só a morte do João Araguaia e a prisão, perto das margens, do Alavanca: colocaram-no dentro do saco, amarraram a boca do saco e o transportaram para a 1ª 52 BIS – Batalhão da Infantaria de Selva.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo.O SR. LORIVAN RODRIGUES DE CARVALHO

– Quando estava em Xambioá presenciei uma mulher, da qual não sei o nome. Tirei 3 dias de guarda para ela. Segundo eles, era o melhor tratamento para a pessoa falar. Colocava no jirau, com aqueles tambores de 12 litros, e aquilo ficava pingando na cabeça da pessoa amarrada, pelada. Com uma hora a pessoa já estava com o olho vermelho e falava o que queria e o que não queria.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O Sr. Vanu viu algum guerrilheiro tendo a cabeça cortada? (Pau-sa.) Não. Está bem.

Agora pergunto ao Sr. Raimundo.Sr. Raimundo, durante a visita da Secretaria Es-

pecial de Direitos Humanos, que esteve lá em 2004, o senhor teve a oportunidade de indicar locais onde os guerrilheiros teriam sido enterrados. No entanto, depois de feitas as escavações, os corpos não foram encontrados. Nada foi encontrado.

O senhor saberia dizer por que isso aconte-ceu?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Isso aí, para mim, aliás, foi até uma decepção. Não sei se foi lá a revista Época, com mais pessoas, fazer algum circo lá – circo, eu falo, pelo seguinte: fazer de palha-ços eu e os outros colegas meus que estiveram lá e sabem. Qualquer militar que for lá... A mata, para nós, nunca mudou. Aquela mata continua viva em nosso pensamento.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quer dizer, o senhor...

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Eu mandei até um documento para o Dr. Nilmário. Eu fa-lei com ele. Eu tenho isso em fita, gravado. Ele falou que não, que foi bom aquilo que aconteceu. Eu disse: “Mas não foi encontrado! E não foi cavado primeira-mente onde nós marcamos!” Eu marquei num lugar, e há uma pessoa chamada Helder, dentro do Ministério da Justiça, que no dia estava lá. Passamos a fita, e, quando chegamos lá, as pessoas que vieram da Ar-gentina colocaram em outro lugar. O que eu fiz? Falei

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04159

com um colega meu, Josian, que viu no dia quando a Walquíria foi morta: “Aqui na base eu não fico mais. Por que eu não fico? Porque a gente marca num lugar; a pessoa que vem da Argentina sabe onde está o corpo, sendo que eu tirei 30 dias de serviço em cima daquela sepultura do Osvaldo e da Walquíria”.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Certo.As informações que o senhor traz agora, acerca

dos restos de Maria Diná e Jaime Petit e da cabeça do Ari, são diferentes daquelas que já estavam disponí-veis em 2004. Com relação a essas fotos que o senhor apresentou agora, por que naquela época o senhor não as exibiu? Porque o senhor não as tinha ainda?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Vou responder ao senhor – e a D. Criméia disse: primeira-mente, foi medo, porque houve colegas meus da região – aqui está a prova de que servimos juntos – que, após ter dado baixa no quartel, em 1974, foram presos pelo próprio Exército e retornados ao quartel, onde ficaram por 30 dias presos, porque beberam e falaram demais sobre a participação deles no Araguaia.

E a respeito da Maria Diná, essa informação eu já passei para a Diva, que é irmã dela. Aliás, o próprio depoimento eu já passei há bastante tempo para ela, dizendo onde está, e a senhora que está lá, D. Antônia, que é esposa do Arlindo Piauí, qualquer hora que preci-sar, vai lá mostrar o local onde está enterrado – hoje há até uma lagoa por cima da sepultura das pessoas.

Eu estive, também, com o jornalista Leonel, do Correio Braziliense, no local, e o levei até a sepultu-ra da Maria Diná, na Oito Barracas. Chamamos o Sr. Olímpio para confirmar de quem era aquela sepultu-ra. E ele disse que aquela sepultura que está ali é da Fátima e que ela nunca foi desenterrada. Ela está em um local entre 2 palmeiras – na época, ele falou que essas palmeiras eram pequenas; hoje são palmeiras grandes – e ao lado de um córrego, o que é de fácil de identificação.

Sobre a cabeça do Ari, eu soube agora, dia 1º, que a pessoa esteve no quarto do hotel onde eu fiquei hospedado, e essa pessoa chama Doutorzinho. Eu te-nho o telefone da pessoa. Qualquer hora que quiserem ele vem confirmar que ele ficou dormindo com essa cabeça ao lado dele. E um militar falou para ele que a cabeça dele também seria enterrada se ele, de manhã cedo, não enterrasse aquela.

Como ele me falou isso, eu disse: “Só que agora você já me contou isso e eu vou levar ao conhecimento das pessoas”. Ele disse: “Mas para que eu fui falar isso? Nunca pensei que você fosse fazer...” Eu disse: “Não. Tudo que vocês me falam eu passo para frente”.

E, aliás, uma coisa que eu quero deixar bem claro também é que os depoimentos das pessoas, muitas

vezes, vão para a Comissão de Anistia, onde procu-ram por aquelas pessoas. Muitas daquelas pessoas – aliás, eu tenho prova de algumas – tiveram os nomes mudados. Aí pegam informação na ABIN, que não vai informar, por exemplo, que Raimundo Antônio Pereira de Melo foi preso, porque no documento que estava lá na Transamazônica, perto de Brejo Grande, o seu nome era outro – esse aqui sabe também o local onde havia um acampamento e onde lá eram tirados os do-cumentos. Era a ACISO, um movimento do Exército, na época, que fazia isso. Através dessa ACISO era trocado o nome da pessoa.

Como a Comissão de Anistia vai anistiar uma pessoa, se não vai encontrar o nome dela? É claro que não vai encontrar! Vai ter outro nome completamente diferente! Ele fala lá que apanhou, que perdeu a terra, que fez isso, que fez aquilo, mas, quando a ABIN vai informar, é outra coisa completamente diferente.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor falou, na sua exposição, que esteve em turno de hora onde a Lia era...

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – É Lia o nome dela. Essa pessoa jamais vai sair da mi-nha mente.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Que ela che-gou encapuzada.

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Che-gou encapuzada, com um saco de estopa.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E o senhor viu quando ela saiu de lá?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Vi a hora em que ela chegou.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E a hora que saiu?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Ela chegou mais ou menos entre 16h e 17h à Base de Xambioá, que fica do lado direito do aeroporto, entre ele e o Rio Araguaia. Após as 10h, foi o primeiro turno que eu tirei. O primeiro a tirar o turno fui eu, das 10h até as 12h. Das 12h em diante, foi dividido em 2 ho-ras. Aliás, ainda desamarrei a mão dela; deixei só o pé amarrado. Ela estava amarrada em um – alguém que entender de roça vai saber do que eu estou falando – um esteio. Ela estava amarrada nesse esteio, com as mãos para trás e os pés. Então, eu a deixei dor-mir dentro do meu horário. O outro rapaz que chegou também continuou deixando-a dormir, e ela dormiu a noite toda. A única coisa que ela fez no meu horário – quando eu já ia saindo; na última hora minha – foi pedir água, e eu dei do meu cantil.

E a ordem que eu tive nesse momento – eu es-tou falando isso porque é a mais pura verdade – era a seguinte: qualquer movimento que você ouvir – porque

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04160 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

era cercada a casa, ao redor, pela mata –, você pode atirar. Só que eu não precisei disso e jamais iria preci-sar, principalmente porque vamos supor que corresse um calango ali e eu pensasse que fosse uma pessoa para libertá-la, ia fazer uma coisa.

E, complementando aqui o que o meu colega estava falando, o que vocês pensarem que fizeram conosco para combate ao pessoal do PCdoB é pouco. Eles nos ensinaram a beber sangue de animal. Isso aí foi a coisa pior da minha vida, e eu acho que de to-dos os colegas. Nós, da turma de 1974, jamais vamos esquecer o que o Trajano, o Tenente (ininteligível), o Tenente Silva e o Sargento Anselmo fizeram conosco dentro daquela mata lá do Tauri e do Taurizinho.

Houve colega meu que foi pego em Marabá e aprendeu a beber sangue de animal. Ele andava ma-tando os animais de Marabá e bebendo sangue. Isso foi filmado por uma empresa de televisão de lá.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Raimundo, o senhor disse que tinha muitos arapongas naquela época. Esses arapongas eram pessoas pagas para pegar informações?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Não. Eram pessoas do próprio Exército.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Do Exército. Eles não eram...

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Aliás, quando eu era funcionário da Prefeitura de Marabá, o Prefeito de Marabá, que, na época, passou à Segu-rança Nacional, era o Capitão Elmano de Moura Melo, com quem, aliás, eu trabalhei. Eu era funcionário, na época, e, quando sai do quartel, perdi o meu lugar na Prefeitura; fui demitido. E não há registro na Prefeitura de que eu trabalhava lá.

E existia também o Português, que já veio de Im-peratriz. Depois, nós soubemos que era um tenente-coronel. Ele vendia pastel na rua, e eu o conheci dentro da Prefeitura de Marabá.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor falou o nome de alguém que cortava a cabeça dos guerrilheiros, mas não deu para pegar.

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Io-mar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Iomar. Era militar?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Não, ele foi uma das pessoas que foi presa e foi obrigada a fazer o que eles queriam.

E eu cheguei a ver 3 cabeças dentro de Xambioá, e é com aquilo que eu tenho vários pesadelos. Há se-manas em que eu tenho 3 dias de pesadelos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor disse que toda vez que diz alguma coisa recebe reca-dinhos. Esses recadinhos são ameaças?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Esses recadinhos são ameaças, sim.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Ameaça de quê?

O SR. RAIMUNDO ANTÔNIO PEREIRA – Eu estava dentro da reunião nossa, a pessoa chegou e disse: “Olha, o catingueiro não veio aqui para a reu-nião de vocês porque não deu”. Mas aí eu perguntei para a pessoa: “O que o catingueiro tem a ver com ex-militar? Você fala para ele que lugar de ex-militar é completamente diferente do guia; que ele é...” Eu sei, através dos outros – não vou contar com certeza quem –, que ele é uma pessoa que mora dentro da casa do Sebastião Curió.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Muito bem.Agora, pergunto ao Tenente Vargas: o senhor

citou, nessa carta do Coronel Lício, o diário do velho Mário, não é?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sim, está.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor tem

conhecimento da localização ou do paradeiro desse diário hoje?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não. De ne-nhum dos 2. Eu não cheguei a ler nem o diário Mário nem o do Arroio.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Mas o senhor tomou conhecimento dele a partir dessa carta ou o se-nhor já sabia da existência desse diário?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não. Não sabia, não.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor sabe que muita gente tem documentos, não? Inclusive o senhor usa documentos, alguns de 1989, outros an-teriores, e também documentos de 1990. A maior par-te dos documentos que o senhor usa aqui é de 1990, quando já estávamos em um outro processo.

Ou seja, e essa documentação que muitos dizem que foi queimada? O senhor, como militar que conhece – o senhor inclusive utilizou-se de documentos para escrever o seu livro; o Coronel Lício também; outras pessoas também –, acredita que há muitos documen-tos nas mãos de militares e de outras pessoas e que essa documentação vai surgindo a partir dos livros que são publicados?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Esse ques-tionamento que o senhor está fazendo foi motivo de uma sindicância no Exército, que tinha como objetivo saber onde e como eu adquiri esses documentos, por causa do meu livro.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04161

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Eram docu-mentos secretos, não?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sim. A res-posta que eu tive lá no... Eu não trouxe! Poderia ter trazido a inquirição feita por um coronel e um capi-tão, advogado do CMO, o Comando Militar do Oeste. Chamaram-me lá para depor, para eu dizer por que publiquei esses documentos sigilosos, confidenciais e secretos. A primeira coisa que eu respondi foi: “Para que o meu livro tivesse credibilidade. Sem provas, não teria credibilidade”.

E os documentos correspondem a 2 fases. Foi o que eu respondi lá e vou responder aqui para o se-nhor. Os relativos à primeira fase eu recebi lá na Casa Azul: plano de captura e destruição, plano de busca e apreensão, normas gerais, fotos dos guerrilheiros e esse plano do PCdoB para implantação. Eu era co-mandante de grupo e por isso me foram dados esses documentos.

Em 1990, eu vi que muitos militares que estiveram na guerrilha tinham sido agraciados com essa meda-lha, e eu, que estive lá, não. E isso aí serve, para nós, militares, para a promoção; nos dá pontos. Tanto é que consta no livro que, por eu ter ganhado a medalha, fui número um no Brasil a ser promovido a tenente.

Então, os documentos secretos da segunda fase que o senhor comentou, de 1990, foram oriundos da sindicância aberta para que me concedessem essa medalha. E eu era escrivão. E como, nessa sindicân-cia – estão aí, em anexo, os documentos –, os que fo-ram meus comandantes e meus subordinados falavam bem de mim, em elogiavam, eu guardei. Mas nunca foi minha intenção escrever um livro. Estavam esses documentos guardados para, quando eu morresse, meu filho entrega-los a um historiador.

Porém, depois de muito tempo ouvindo e lendo meias verdades sobre a guerrilha, em 2004, eu comecei a escrever o livro. Passei 3 anos escrevendo.

Então, é isso aí.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O senhor, na

pág. 56 do livro, diz o seguinte: “As técnicas de inter-rogatório a que eram submetidos os guerrilheiros em Bacaba consistiam em choques com corrente elétrica gerada por baterias de telefones de campanha portá-teis; telefone, que consistia em dar tapas com força, simultaneamente, nos ouvidos, com as mãos abertas; colocá-los em pé, descalços, em cima de duas latas de leite condensado, apoiando-se somente com um dedo na parede; dar-lhes socos em pontos vitais como fígado, rins, estômago, pescoço, rosto e cabeça; além de fazê-los passar fome e sede”.

Essas técnicas foram enumeradas a partir do que o senhor viu, como tenente, ou do que narraram para

o senhor? O senhor presenciou a prática de algumas dessas técnicas de tortura?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sim, sim, eu presenciei algumas, mas não sei por quem foram pra-ticadas. Eu posso falar do Piauí, porque, no desenro-lar da missão, quando se prendia um guerrilheiro – no caso, eu posso falar muito do Piauí, que eu peguei vivo e há documentos de outras pessoas atestando isso, confirmando a minha versão –, ele estava abalado e não queria falar. Então, tínhamos que aplicar algumas técnicas citadas aí para ele poder delatar. Porque, de-pois que ele voltasse à calma, não falaria nada.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Aí, o senhor diz que o guerrilheiro Antônio Pádua da Costa, o Piauí, o senhor capturou vivo, e hoje ele consta como desa-parecido. “Quando fui evacuado da região...” Foi em 1974 que o senhor saiu de lá, não?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Em 27 de fevereiro.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Em 27 de fevereiro. Ele ainda estava...

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Vivo.O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Vivo. “E ainda

se encontrava vivo e colaborando conosco.”Ou seja, o senhor considera que Piauí ainda esteja

vivo, ou essa questão da colaboração, de que falam, é para desqualificar a ação dele como guerrilheiro?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não, ele co-laborou da seguinte forma: ele falava o que ele queria, o que a gente já sabia. Ele foi um dos maiores guer-rilheiros que eu vi, tanto que eu digo aí que, quando ele recebia tortura, não gritava, não falava. Os outros diziam: “Pelo amor de Deus, me mata!” Ele, não; ele falava assim: “Hum! Hum! Hum!” Só isso. E ele falava quando queria.

Agora, eu não posso dizer para o senhor como ele sumiu. esse documento do Coronel Lício e do Dr. Asdrúbal, que eu li, já me deixou em dúvida se real-mente ele ficou lá e foi morto ou se está vivo e mudou de identidade para não ser justiçado.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – É, porque alguns outros documentos de que nós tivemos conhe-cimento, até aquele livro que foi publicado pelo jornalis-ta, onde fala do livro negro, dizem que essas pessoas que eram colaboradores se tornavam cachorros. Era o termo usado lá também?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não, não que eu saiba.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Não.Farei mais 2 perguntas, para concluir.No seu livro, na pág. 53, o senhor relata que Zeca

Fogoió – Coioió? Fogoió. Aqui no livro está Fogoió, e eu estou citando o texto dele –, José Humberto Bronca, foi

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04162 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

morto em ação do Exército na noite de Natal de 1973. No seu livro está escrito isso. Entretanto, relatório do Ministério da Marinha apresenta a morte de Zeca no dia 13 de março de 1974. Afinal, qual é a data correta e qual foi a causa da morte de Zeca Fogoió?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Bom, eu não participei desse confronto. Agora, eu estava lá. Na época, era terceiro sargento e juntava informações de um e outro companheiro que participou. Depois eu tive oportunidade de trabalhar no Serviço de Inteligência e tive acesso a documentos. Além disso, quando eu resolvi escrever o livro, pesquisei também, juntando as minhas informações da guerrilha, as informações do Serviço de Inteligência e as informações que sa-íram nas revistas Época, IstoÉ e no Jornal do Brasil. Aí cheguei a essa conclusão. No próprio livro há um capitão que diz que eu participei lá onde foram mortos 8 guerrilheiros. Então, o número 8 vem daí.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – E a última pergunta, Sr. Presidente, para dar oportunidade aos outros: o senhor afirma, também na pág. 53 do seu li-vro, que Ari, o Marcos José de Lima, foi morto na ação da noite de Natal de 1973. entretanto, registro do Ge-neral Bandeira entregue ao jornal O Globo em 1996 aponta que Ari foi preso na Rodovia Transamazônica no dia seguinte, 26 de dezembro de 1973. Afinal, qual versão está correta?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Ari Arameiro? É o Ari Arameiro? Eu não posso afirmar, mas eu posso confirmar o que está no meu livro, baseado nisso que eu lhe disse agora.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sim, mas e essa informação que o senhor colocou no seu livro, na pág. 53?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – São 8 guer-rilheiros.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Quem lhe deu essa informação? O senhor teve acesso a esse fato? Presenciou?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não, não. Eu não estava nessa ação.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Não, mas tem documento que a comprove?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Mas eu o jun-tei aí, não? Fui juntando. Eu juntei e cheguei a essa conclusão, baseado em informações de companhei-ros do pessoal do Serviço de Inteligência e nas outras reportagens publicadas.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – O General Bandeira entregou o material para o jornal O Globo em 1996, dizendo que ele foi preso na rodovia Transa-mazônica no dia seguinte – não no dia de Natal, mas no dia 26 de dezembro de 1973. Essa informação do

General Bandeira o senhor já tinha quando escreveu o seu livro?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não, estou sabendo agora.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Sr. Presiden-te, muito obrigado. Vou encerrar a minha intervenção, para que os outros companheiros também possam fazer suas questões.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Obrigado, Deputado Luiz Couto.

Concedo a palavra ao Deputado Chico Alencar.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Bom,

infelizmente, pelo adiantadíssimo da hora para nós, outros, que temos que ir para a votação em plenário, eu terei que ser muito sintético.

Em primeiro lugar, ressalto que esta audiência pública tem um conteúdo histórico muito importante para a busca da verdade e para garantir o direito do povo brasileiro à sua própria memória, à sua própria história, direito que tem sido sonegado pelas sucessi-vas autoridades maiores da República há muito tempo. Então, o depoimento de cada um aqui é muito rico e muito franco.

Nesse sentido – o Tenente Jiménez não vai gostar da citação –, Lenin diz que a verdade é revolucionária. Então, o senhor, mesmo estando em um campo ide-ológico oposto ao dos socialistas, com o seu livro, na medida em que ele traz elementos de verdade, ajuda também. E tudo isso só é possível porque estamos num processo, embora lento, de democratização, sem dúvida.

Eu queria fazer basicamente 2 perguntas. Primei-ro, para o Tenente Jiménez, pergunto a que se deve essa reação – e como o senhor, um homem cioso da hierarquia militar e do papel dos militares, mesmo na quadra da ditadura, a explica – de alguns altos ofi-ciais em relação à divulgação de documentos. Eles, ao fim e ao cabo, querem ocultar toda a verdade do Araguaia?

Eu percorri rapidamente algumas páginas do seu livro, que a Deputada Moema me mostrou, e observei nele situações em que as pessoas foram presas – o senhor testemunha isso; participou da ação – e são dadas como desaparecidas até hoje. Portanto, por que há uma reação da alta oficialidade em relação a esses escritos?

Em segundo lugar, pergunto o que o senhor acha que pode ter acontecido com essas pessoas. Todas mudaram de identidade e estão vivendo uma outra vida?

Para o Dr. Nélio Roberto Machado, amigo de lon-ga data, pergunto: nessa situação, o que a OAB e o próprio Poder Legislativo podemos, juntos, fazer para

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04163

que toda a verdade venha à tona? Já se passou tem-po demais. É inaceitável que fiquemos, ainda, nesse limbo em relação a essas situações tão comoventes para as pessoas, e, mais do que isso, tão necessárias para o nosso processo civilizatório.

A Câmara dos Deputados, ontem, às 10h da noite, revalidou a anistia aos líderes da Revolta da Chibata, entre os quais, João Cândido, proposta pelo Senador Rui Barbosa em 26 de novembro de 1910. Demorou 98 anos para ser aprovada! Não é possível que conti-nuemos com esse ritmo!

Então, são essas 2 questões que eu apresento.O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Deputado, eu

não posso falar pelos outros, mas realmente eu sofri muita pressão, principalmente por parte de oficiais superiores. Dentro do meu nível, não, mas oficiais superiores, sim. Eu estou na reserva, mas sempre faziam comentários. Há encontros de guerreiros de selva em Campo Grande, e, quando eu comentava que estava escrevendo o livro, sempre me falavam: “Deixa isso quieto”. “Não faz isso.” “Não mexe; deixa parado.” Entendeu?

Agora, com relação a documentos, eu não sei se já falei que em 1985 eu trabalhava no Serviço de Inteligência – eu até comentei que fazia 26 anos que eu não vinha aqui, porque em 1981 fiz a EsNI, hoje extinta. Por isso, passei 6 meses aqui em Brasília, e depois passei a trabalhar no Serviço de Inteligência do Exército.

Quando eu trabalhava em Belém chegou a or-dem para destruir os documentos. Então, é por isso que confirmo que foi dada ordem para destruí-los. Eu até já comentei isso quarta-feira passada...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Quan-do foi isso?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Em 1985.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Onde

o senhor estava?O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Em Belém

do Pará.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Ser-

vindo lá?O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Isso, no Ser-

viço de Inteligência.O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – A or-

dem veio...O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sim. A 8ª Re-

gião é subordinada ao Comando Militar da Amazônia e ao Comando Militar do Centro de Informações do Exército. Então veio a ordem. Dessa eu posso falar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Sem maiores explicações?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Sem maiores explicações. Eu era o encarregado pelo arquivo e quei-mei tudo. Foi queimado. Inclusive testemunhei isso na quarta-feira passada, na Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Realmente, essa era a minha função, e eu destruí todos os documen-tos do Araguaia.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Não guardou nem um pouquinho?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Nada. Esses que eu tenho não eram de lá; conforme eu comentei, foram-me dados lá na guerrilha; e os outros são ba-seados na sindicância que foi feita. São informações como as que estão xerocadas aí. Só que, às vezes, os senhores vão pegar o livro e ver que não dá para ler algum documento xerocado. Mas ele já está trans-crito antes. Ele está ali só para mostrar que eu tenho os documentos. Mas o que está ilegível já foi trans-crito antes.

Falando em livro, só um parêntese: quem o tiver pegado, por favor, acerte comigo, porque eu tenho que acertar com a livraria. Eu trouxe alguns exemplares que a livraria me passou, e eu preciso acertar com ela.

Mais alguma pergunta?O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Tenente

da reserva não ganha bem, não é?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não ganha. Ganha menos do que o soldado da Polícia Militar de Brasília.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Por fim, o senhor acha que é possível haver cópias desses documentos?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Eu tenho có-pias; eu tenho documentos originais.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Dos destruídos, o senhor imagina que pode haver outras cópias? Não eram peças únicas, originais?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não, daque-les lá, não. Eu estava na minha função, e aqueles eu destruí mesmo, entendeu?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Mas eram documentos absolutamente originais e singu-lares? O senhor considera impossível haver cópias deles?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Não, não, porque vão-se tirando cópias, quando passam de uma unidade para outra. Eram cópias.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Era um volume muito grande?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Era bastante, todos sobre a Guerrilha do Araguaia.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Todos relativos à Guerrilha do Araguaia?

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04164 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Posso até citar. Por exemplo, eu li e me baseei também em informa-ções da Operação Araguaia, aquele livro da jornalista. Ali há documentos secretos, confidenciais, da primeira fase; da segunda fase não há. Mas, daquela primeira fase, havia um documento que eu mesmo fiz, quan-do mandaram perguntar que militares foram mortos e feridos na Guerrilha do Araguaia. Há lá uma cópia da relação dos documentos. Eu trabalhava no Serviço de Inteligência e fui eu que fiz. Cada um de nós tinha um código, quando mandava o documento, para se saber quem era o autor.

Esses dias eu até comentei com o jornalista que está presente ali que aquele documento fui eu que fiz e mandei, e ele estava anexado ali.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR – Por fim, o senhor sofreu, além dessas advertências – dei-xa isso quieto; não reconta isso etc. –, algum tipo de ameaça?

O SR. JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ – Inicialmente, como eu comentei, diziam: “Você é louco! Maluco!” “Isso é nitroglicerina pura.” “Isso é uma bomba.” “Você vai ser preso.” Depois que eu lancei o livro e nada me aconteceu, diziam: “Você é herói.” “Você é um cara corajoso.”

E, inclusive, não querem que eu fale, mas eu passei a ser admirado por oficiais de alta patente por ter escrito esse livro. Não posso dizer por quem, mas, dentro do meio militar e do meio civil, passei a ser ad-mirado pela coragem que tive de escrever esse livro, e ainda pela coragem de vir aqui falar com os senhores, e na quarta-feira passada também.

O SR. NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO – Deputado Chico Alencar, V.Exa., que é professor de História – eu sou seu admirador de longo tempo –, sabe que, a rigor, em qualquer circunstância, o que se bus-ca, mais do que tudo, mais do que qualquer punição, mais do que um encarceramento de quem quer que seja, é o restabelecimento da verdade e a projeção do passado, para que ele nunca mais se repita.

Isso é uma espécie de pequeno holocausto – se é que se pode considerá-lo pequeno – do que foram os tempos vivenciados na Ditadura Médici e na que a precedeu, na época da Junta Militar.

V.Exa. mudou de partido, mas o Presidente Lula, outro dia, andou dizendo: “Brasil: ame ou deixe-o”; “Nin-guém segura este País”. Essas são expressões que deveriam ser banidas da memória de qualquer um de nós, como banida também deveria ser a truculência do Araguaia. O que se lê – eu li alguns trechos do livro – são situações que nós sabemos que existiram, mas que causam repúdio, causam verdadeiro asco quando se pensa nelas e se vê a que ponto se chegou.

E vemos aqui a prova cabal, apesar de dizerem que não há provas. O mínimo que se tem que fazer agora é instaurar um inquérito policial militar sério; levar adiante o trabalho que a CPI possa vir a fazer, se instaurada, e o trabalho da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

Além disso, a Ordem vai fazer aquilo que é a sua vocação histórica: ela não existe apenas para tratar de assuntos meramente corporativistas relativos à clas-se dos advogados; ela só se engrandece e se eleva na medida em que luta pelo aprimoramento da ordem jurídica do País; na medida em que não transige com qualquer tipo de afronta aos princípios inerentes ao Estado de Democrático de Direito.

E essa lição serve também para que ninguém, em nenhuma circunstância, cogite, novamente, no Brasil, de um poder absoluto. Nós temos que ter uma vacina permanente, porque precisamos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Mais do que nunca, cada Poder com a sua missão.

Eu não vou adiante, caso contrário vou entrar na seara da necessária autonomia efetiva de legislar que se vem esvaindo junto ao Congresso Nacional.

Cumprimento V.Exa. e reitero a minha profunda admiração pelo seu trabalho parlamentar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Há mais algum questionamento? (Pausa.)

Apresente-se, por favor.O SR. ELMO SANTOS SAMPAIO – Sou Elmo

Santos Sampaio.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Identifique-se para nós. Diga o seu nome e o que o senhor representa.

O SR. ELMO SANTOS SAMPAIO – Eu sou sol-dado da Guerrilha do Araguaia. Dirijo-me ao repre-sentante da OAB.

No ano passado, nós fizemos um trabalho junto à OAB. A Comissão de Direitos Humanos daquela enti-dade deu-nos oportunidade de escutar, em depoimento pessoal, os soldados da Guerrilha do Araguaia. Passa-mos 3 dias dentro da OAB dando depoimentos. Voltei posteriormente e fui informado pelo então funcionário da OAB de que esse processo tinha sido encaminha-do para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, de que uma cópia tinha sido encaminhada ao então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e de que o assunto estava sendo providenciado. Até hoje, tentei já várias vezes algumas incursões na busca de como está andando esse processo, mas não tenho conse-guido êxito quanto ao esclarecimento disso. Como o senhor falou inicialmente que estava representando a Comissão da Guerrilha do Araguaia, eu gostaria de

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04165

saber se é fruto desse momento o trabalho que o se-nhor está fazendo nesse sentido.

O SR. NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO – Na realidade, a minha designação como Relator nasceu do trabalho feito anteriormente pela Comissão de Direitos Humanos. O Conselho deliberou, por unanimidade, fa-zer uma notícia formal de crime ao Superior Tribunal Militar. Quanto a essas medidas tomadas à época dos depoimentos, esclareço que não tive participação nesse episódio, mas vou sugerir-lhe algo. A Ordem do Advo-gados fará a sua reunião mensal na próxima segunda-feira e terça-feira, de 9h às 18h. Sugiro-lhe que vá à Ordem e procure-me. Eu sou da bancada do Rio de Janeiro. Vou encaminhá-lo para o órgão competente, para que o senhor tenha efetivamente uma compro-vação das medidas que teriam sido tomadas desde aquela hora. Quanto ao que possa existir no Ministério da Justiça, a Ordem poderá oficiar para saber como as coisas andam. O senhor também poderia fazê-lo, mas creio que a Ordem pode estar do seu lado para esse efeito, sem nenhum tipo de dificuldade.

O SR. ELMO SANTOS SAMPAIO – Muito obri-gado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – A nossa jornalista quer espaço para fazer um esclarecimento.

A SRA. MYRIAN LUIZ ALVES – Vou aproveitar este momento, porque tenho muita admiração pelo De-putado Chico Alencar, que é professor de história.

A título de esclarecimento, porque não pudemos falar, digo que o Ministro da Justiça Maurício Corrêa, em 1993, pediu relatórios sobre os 400 mortos e desa-preciados do Brasil. Os 3 Ministros militares entrega-ram relatório sobre todos os mortos e desaparecidos do Brasil. Mesmo quando não havia nada, colocavam ali, numa linha: “Não há informação”. Em 2001, fizemos um cruzamento, um apanhado só do que era referente ao Araguaia. Eu não deixaria de aproveitar a presença do Tenente para esclarecer o senhor.

Sobre o Antônio de Pádua da Costa, que estu-dava Astronomia no seu Estado, o Rio de Janeiro, e que foi capturado pelo Tenente, em 1993 a Marinha diz... A Comissão de Direitos Humanos vai ficar como uma cópia da fotografia, que está no CD que estou deixando nesta Comissão, que mostra o Antônio de Pádua Costa preso com uma tropa atrás dele. Esses militares são possivelmente identificáveis. Segundo a Marinha, ele foi morto a golpes de facão pela guerrilhei-ra Maria Célia, cuja prisão na Bacaba foi amplamente testemunhada – o livro do Tenente chama-se Bacaba. Por quê? Porque eles eram prisioneiros. Muita gente os viu presos.

Portanto, quem estuda história vai verificar que há pelo menos 3 tipos de justiçamento. Por quê? Por-que alguns oficiais não iriam querer assumir mais lá na frente que eles foram fuzilados. Contudo, há relatos de moradores e de ex-guias, que teriam testemunha-do Maria Célia, Antônio de Pádua Costa e Luiz René, o Duda, também do seu Estado, serem mortos pelas costas na beira de um rio, na cabeça, por pelotões.

O senhor estava perguntando sobre arquivos. Como foram feitos relatórios para o Ministro Maurício Corrêa, sem nenhum estardalhaço, sem nenhum ques-tionamento, com informações, em 1993? Por que es-sas informações não foram divulgadas para as famílias ou para os grupos de direitos humanos? Nunca foram divulgadas, Deputado! Serviram depois para um livro, mas nunca foram estudados esses relatórios. De onde surgiram essas informações? O senhor é historiador, eu também sou, por isso fico questionando-me como isso pode acontecer.

A cada ano a Guerrilha do Araguaia tem uma versão. É claro que existem documentos aqui e no Rio de Janeiro, mas nunca foram pedidos os relatórios da Marinha. Por que a Marinha tem quase todas as datas de morte e por que a Marinha se refere a novembro de 1974? Porque o relatório da Operação Marajoara provavelmente é de novembro de 1974, após a morte da Valquíria, que foi fuzilada na base de Xambioá, com 3 tiros. Existe um depoimento do Soldado Adaílton, na Comissão de Mortes e Desaparecidos Políticos. O Dr. Pinô colheu esse depoimento e logo em seguida caiu da Comissão. Ou seja, num trabalho bem-feito de apu-ração parlamentar, porque o senhor sabe que qualquer Câmara pode instalar uma Comissão de Inquérito, as pessoas seriam obrigadas a vir falar.

Como é que a Rosinha, que era presa como um passarinho – inclusive o Tenente Jiménez a homena-geia no livro, cita um poema feito em homenagem a ela, como ela poderia ter matado o Piauí a facão e de-pois ser morta em seguida? Como é que isso poderia acontecer ao Piauí, no meio de uma tropa daquelas, em um lugar que era um campo de concentração, como Bacaba? São coisas horríveis e covardes. Foram 8 mu-lheres mortas em 1974, a partir da prisão. Somente 2 guerrilheiras, em 1973, foram mortas. Aliás, a Sônia foi morta em 1973 e outras 2, em 1972, Maria Lúcia e Elenira. Tirando as meninas que saíram ou que fo-ram presas em 1972, todas as outras mulheres foram mortas, presas. De vinte e poucos presos em 1974, 8 eram mulheres, inclusive a última delas, a Valquíria, pedagoga de Minas Gerais.

É claro que os relatórios existem, caso contrário não poderiam ter sido montados em 1993. E percebe-se claramente que são depoimentos, como no caso do

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04166 Sabado 14 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Fevereiro de 2009

Daniel Calado, da Áurea, da Dina. São depoimentos, extratos de depoimentos. E hoje isso fica claro, vendo-se os relatos.

Essa história sempre volta, Deputado.O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Acho que vamos ter que encerrar, porque estão chamando-nos para a votação e o nosso Tenente de Vargas, que deve ser descendente de Getúlio Vargas, tem que pegar o avião. Cada um tem um compromis-so, e nós temos votação.

Pelo que senti, temos muito trabalho pela fren-te. Não se trata – e quero deixar isto bem claro – de ficarmos ruminando, botando para fora, mastigando para engolir de novo, mas de resgatarmos a história. A anistia está aí para reparar juridicamente uma e outra parte, tanto um quanto outro. Isso é absoluto. A OAB disse estas palavras, as quais sublinho: “A anistia é um entendimento entre as partes que se compreendem”. Se, de um lado, alguém acha que exagerou, o outro exagerou por outro lado. Há que se ter compreensão, e a anistia é isso. Contudo, resgatar a história faz parte da memória e do direito à memória que uma Nação tem, especialmente no que diz respeito às famílias. Para mim, essas pessoas não estão desaparecidas, mas escondidas. Para mim, está claro que há muita gente que se sabe onde está. O que não existe é o propósito de se descobrir. E, se descobrir, qual é o problema? Quem vai morrer por causa da descoberta? O que vai acontecer de mau para alguém, em função dos corpos que serão descobertos? Nada! Só vai acontecer algo de bom para o Brasil. Essa é uma página da história que nós precisamos passar, precisamos virar.

Tenho certeza de que nós vamos trabalhar mais ainda esse tema, Zezinho. Tu sempre estás presente conosco e tens sempre a oportunidade de conversar. Nós vamos conversar muito mais ainda sobre esse tema pela frente. Pergunta sobre a tua dúvida.

O SR. ZEZINHO DO ARAGUAIA – Em 1996 e em 1992, foram retirados corpos dos meus companhei-ros. Hoje eles estão sem identificação na Comissão de Mortos e Desaparecidos. Estão lá, dentro de caixas de papelão. E há aqui também, na Comissão de Direitos Humanos, ossos dos meus companheiros. Quero sa-ber da Ordem dos Advogados e dos companheiros o que fazer para identificá-los.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Zezinho, só para esclarecer, até para que não haja dúvida, digo que tu tens razão, em parte, na tua reclamação. Realmente existem esses ossos, que fo-ram retirados e não foram identificados. Por isso estão cobrando-nos que esclareçamos isso. A Comissão de Direitos Humanos tem sido cobrada e eu me propus a fazê-lo.

Não se trata de retaliação, não é retaliação contra o Exército. Não é como alguns dizem: “Olha, é para ver se alguém, hoje politicamente importante, pertenceu à guerrilha e na época entregou camaradas, entregou companheiros”. Não se trata disso. Não se trata de saber se o Exército agiu assim ou assado. O que nós queremos – e isto é verdade – é saber o que diz res-peito principalmente aos corpos e à sua localização, à história. É isso o que queremos.

Para isso, um dos primeiros atos que patrocinei aqui na Comissão foi entregar oficialmente toda essa documentação e essa ossada que estava aqui na Câ-mara, que parecia uma coisa fantasmagórica, a quem de direito, a quem tivesse a memória, o arquivo. E nós temos que cobrar de lá a apuração, o avanço das in-vestigações. mas não há mais nada aqui na Comissão. A Comissão não tem mais esse material.

Digo isso só para te informar, senão vai parecer que nós temos a responsabilidade sobre o material. Nós não temos essa responsabilidade. Entregamos todo esse material. Deixo isso esclarecido. Contudo, a tua reclamação é pertinente, porque, na verdade, isso não foi esclarecido.

Companheira, concedo-lhe 1 minuto. Identifica-te para nós.

A SRA. MARIZETE GOUVEIA DAMASCENO SCOTT – Meu nome é Marizete Gouveia. Estou re-presentando a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia.

Congratulo-me com o trabalho da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Temos construído uma história de parceria de êxito também com a OAB.

A minha preocupação aqui é uma, como cuidadora que sou: o que existe agora em benefício dessas fon-tes de história viva que vêm aqui? Falar dessa história horrível é retraumatizante para eles. Qual cuidado, o que podemos oferecer a eles? O que temos para eles, para prevenir esse tipo de coisa?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-tos) – Perfeito, Dra. Marizete. Eu agradeço a colabo-ração a V.Sa.

A presença do Presidente da Comissão da Anis-tia representa exatamente a interlocução de que nós precisávamos para dar seqüência e conseqüência às reclamações dele, tanto que a Comissão de Anistia está recebendo centenas de requerimentos, em que se alega a realidade de cada um e reivindicam-se direi-tos. Eles estão examinando caso a caso. S.Sa. alertou, no começo da audiência, que 260 casos estão sendo analisados. E a Comissão de Anistia vai ao Araguaia, inclusive para – já foram tomados depoimentos – definir alguns julgamentos. A Comissão de Direitos Humanos vai acompanhar, muito próxima, o processo.

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Fevereiro de 2009 DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sabado 14 04167

Assim, o caso dele – e não só o dele, mas o caso de todos – será tratado na Comissão de Anistia. Se al-gum caso não for alcançado, se não se chegar até lá, nós seremos um instrumento para encaminhamento dessas questões.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mat-

tos) – Eu compreendo. E essa é a discussão que não está definida na Comissão de Anistia. Por quê? O pró-prio Presidente da Comissão disse: há interpretações que são contra aqueles que sofreram agressões e há entendimento de que aqueles que agrediam cumpriam ordens, portanto também têm seqüelas. Portanto, ain-da não há um entendimento pacificado dentro da Co-missão. Ele tem razão na reclamação que faz, tanto que há um encaminhamento jurídico, mas a Comissão

não pacificou o entendimento. Será só para os guerri-lheiros, e não para os soldados? Nós temos que paci-ficar a Nação. Nosso propósito é esse. Democracia é reconhecer a realidade que está posta. Nesse sentido estamos encaminhando.

Agradeço a oportunidade da audiência pública. É óbvio que nós não encerramos o tema aqui. Nós temos muitas conversas pela frente, mas acho que pudemos avançar significativamente.

Agradeço a todos os senhores e senhoras a pre-sença e a colaboração que prestaram à Comissão.

Quem quiser o áudio desta reunião pode requerê-lo à Comissão.

Muito obrigado.

SEÇÃO II

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MESA DIRETORAPresidente:MICHEL TEMER - PMDB - SP1º Vice-Presidente:MARCO MAIA - PT - RS2º Vice-Presidente:ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO - DEM - BA1º Secretário:RAFAEL GUERRA - PSDB - MG2º Secretário:INOCÊNCIO OLIVEIRA - PR - PE3º Secretário:ODAIR CUNHA - PT - MG4º Secretário:NELSON MARQUEZELLI - PTB - SP1º Suplente de Secretário:MARCELO ORTIZ - PV - SP2º Suplente de Secretário:GIOVANNI QUEIROZ - PDT - PA3º Suplente de Secretário:LEANDRO SAMPAIO - PPS - RJ4º Suplente de Secretário:MANOEL JUNIOR - PSB - PB

LÍDERES E VICE-LÍDERES

Bloco PMDB, PTB, PSC, PTdoB, PTCLíder: HENRIQUE EDUARDO ALVES

Vice-Líderes:Bernardo Ariston, Colbert Martins, Edinho Bez, Eunício Oliveira,Gastão Vieira, Ibsen Pinheiro, Maria Lúcia Cardoso, MauroBenevides, Tadeu Filippelli, Jovair Arantes, Alex Canziani,Arnaldo Faria de Sá, Pastor Manoel Ferreira, Paes Landim, PedroFernandes e Luiz Carlos Busato.

PTLíder: CÂNDIDO VACCAREZZA

Vice-Líderes:Beto Faro, Carlos Abicalil, Antonio Carlos Biscaia, DevanirRibeiro, Fátima Bezerra, Fernando Ferro, Francisco Praciano,Iriny Lopes, Jorge Bittar (Licenciado), José Genoíno, Luiz Couto,Marco Maia, Miguel Corrêa, Paulo Rocha, Paulo Teixeira, RubensOtoni, Vicentinho, Nilson Mourão e Décio Lima.

PSDBLíder: JOSÉ ANÍBAL

Vice-Líderes:Bruno Araújo (1º Vice), Bruno Rodrigues, Lobbe Neto, RaimundoGomes de Matos, Andreia Zito, Bonifácio de Andrada, DuarteNogueira, Paulo Abi-ackel, Professor Ruy Pauletti, Renato Amary,Wandenkolk Gonçalves, Silvio Torres, Professora RaquelTeixeira, William Woo e Pinto Itamaraty.

DEMLíder: RONALDO CAIADO

Vice-Líderes:José Carlos Aleluia, Abelardo Lupion, Roberto Magalhães,Claudio Cajado, Marcio Junqueira, Paulo Bornhausen, EduardoSciarra, Alceni Guerra (Licenciado), Guilherme Campos, EfraimFilho, Felipe Maia, Francisco Rodrigues, Jorginho Maluly e OnyxLorenzoni.

Bloco PSB, PCdoB, PMN, PRBLíder: MÁRCIO FRANÇA

Vice-Líderes:Rodrigo Rollemberg (1º Vice), Ana Arraes, Dr. Ubiali, Lídice daMata, Manoel Junior, Valtenir Pereira, Daniel Almeida, FlávioDino, Jô Moraes, Perpétua Almeida, Fábio Faria e Cleber Verde.

PRLíder: SANDRO MABEL

Vice-Líderes:José Carlos Araújo (1º Vice), Aelton Freitas, Gorete Pereira,Vicentinho Alves, José Rocha, Lincoln Portela, Leo Alcântara,Neilton Mulim, Lúcio Vale e Giacobo.

PPLíder: MÁRIO NEGROMONTE

Vice-Líderes:Benedito de Lira (1º Vice), Antonio Cruz, José Linhares, PedroHenry, Roberto Balestra (Licenciado), Simão Sessim, VadãoGomes, Vilson Covatti, Roberto Britto, Nelson Meurer e DilceuSperafico.

PDTLíder: BRIZOLA NETO

Vice-Líderes:.

PVLíder: SARNEY FILHO

Vice-Líderes:Edson Duarte, Roberto Santiago, Antônio Roberto e José PauloTóffano.

PPSLíder: FERNANDO CORUJA

Vice-Líderes:Arnaldo Jardim (1º Vice), Moreira Mendes, Geraldo Thadeu eHumberto Souto.

Parágrafo 4º, Artigo 9º do RICD

PSOLRepr.:

PHSRepr.: MIGUEL MARTINI

PRTBRepr.: JUVENIL

Liderança do GovernoLíder: HENRIQUE FONTANA

Vice-Líderes:Beto Albuquerque, Wilson Santiago, Milton Monti, Ricardo Barrose Armando Abílio.

Liderança da MinoriaLíder: WALDIR NEVES

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DEPUTADOS EM EXERCÍCIO

RoraimaAngela Portela - PTEdio Lopes - PMDBFrancisco Rodrigues - DEMLuciano Castro - PRMarcio Junqueira - DEMMaria Helena - PSBNeudo Campos - PPUrzeni Rocha - PSDB

AmapáAntonio Feijão - PSDBDalva Figueiredo - PTEvandro Milhomen - PCdoBFátima Pelaes - PMDBJanete Capiberibe - PSBJurandil Juarez - PMDBLucenira Pimentel - PRSebastião Bala Rocha - PDT

ParáAsdrubal Bentes - PMDBBel Mesquita - PMDBBeto Faro - PTElcione Barbalho - PMDBGerson Peres - PPGiovanni Queiroz - PDTJader Barbalho - PMDBLira Maia - DEMLúcio Vale - PRNilson Pinto - PSDBPaulo Rocha - PTVic Pires Franco - DEMWandenkolk Gonçalves - PSDBWladimir Costa - PMDBZé Geraldo - PTZenaldo Coutinho - PSDBZequinha Marinho - PMDB

AmazonasÁtila Lins - PMDBFrancisco Praciano - PTLupércio Ramos - PMDBMarcelo Serafim - PSBRebecca Garcia - PPSabino Castelo Branco - PTBSilas Câmara - PSCVanessa Grazziotin - PCdoB

RondôniaAnselmo de Jesus - PTEduardo Valverde - PTErnandes Amorim - PTBLindomar Garçon - PVMarinha Raupp - PMDBMauro Nazif - PSBMoreira Mendes - PPSNatan Donadon - PMDB

AcreFernando Melo - PTFlaviano Melo - PMDBGladson Cameli - PPHenrique Afonso - PTIlderlei Cordeiro - PPSNilson Mourão - PTPerpétua Almeida - PCdoBSergio Petecão - PMN

TocantinsEduardo Gomes - PSDBJoão Oliveira - DEMLaurez Moreira - PSBLázaro Botelho - PP

Moises Avelino - PMDBNilmar Ruiz - DEMOsvaldo Reis - PMDBVicentinho Alves - PR

MaranhãoCarlos Brandão - PSDBCleber Verde - PRBClóvis Fecury - DEMDavi Alves Silva Júnior - PDTDomingos Dutra - PTFlávio Dino - PCdoBGastão Vieira - PMDBJulião Amin - PDTNice Lobão - DEMPedro Fernandes - PTBPedro Novais - PMDBPinto Itamaraty - PSDBProfessor Setimo - PMDBRibamar Alves - PSBRoberto Rocha - PSDBSarney Filho - PVWaldir Maranhão - PPZé Vieira - PSDB

CearáAníbal Gomes - PMDBAriosto Holanda - PSBArnon Bezerra - PTBChico Lopes - PCdoBCiro Gomes - PSBEudes Xavier - PTEugênio Rabelo - PPEunício Oliveira - PMDBFlávio Bezerra - PMDBGorete Pereira - PRJosé Airton Cirilo - PTJosé Guimarães - PTJosé Linhares - PPLeo Alcântara - PRManoel Salviano - PSDBMarcelo Teixeira - PRMauro Benevides - PMDBPastor Pedro Ribeiro - PMDBPaulo Henrique Lustosa - PMDBRaimundo Gomes de Matos - PSDBVicente Arruda - PRZé Gerardo - PMDB

PiauíAlberto Silva - PMDBÁtila Lira - PSBCiro Nogueira - PPElizeu Aguiar - PTBJúlio Cesar - DEMMainha - DEMMarcelo Castro - PMDBNazareno Fonteles - PTOsmar Júnior - PCdoBPaes Landim - PTB

Rio Grande do NorteBetinho Rosado - DEMFábio Faria - PMNFátima Bezerra - PTFelipe Maia - DEMHenrique Eduardo Alves - PMDBJoão Maia - PRRogério Marinho - PSBSandra Rosado - PSB

ParaíbaArmando Abílio - PTBDamião Feliciano - PDTEfraim Filho - DEM

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Luiz Couto - PTMajor Fábio - DEMManoel Junior - PSBMarcondes Gadelha - PSBRômulo Gouveia - PSDBVital do Rêgo Filho - PMDBWellington Roberto - PRWilson Braga - PMDBWilson Santiago - PMDB

PernambucoAna Arraes - PSBAndré de Paula - DEMArmando Monteiro - PTBBruno Araújo - PSDBBruno Rodrigues - PSDBCarlos Eduardo Cadoca - PSCCarlos Wilson - PTEdgar Moury - PMDBEduardo da Fonte - PPFernando Coelho Filho - PSBFernando Ferro - PTFernando Nascimento - PTGonzaga Patriota - PSBInocêncio Oliveira - PRJosé Chaves - PTBJosé Mendonça Bezerra - DEMMarcos Antonio - PRBMaurício Rands - PTPaulo Rubem Santiago - PDTPedro Eugênio - PTRaul Henry - PMDBRaul Jungmann - PPSRoberto Magalhães - DEMSilvio Costa - PMNWolney Queiroz - PDT

AlagoasAntonio Carlos Chamariz - PTBAugusto Farias - PTBBenedito de Lira - PPCarlos Alberto Canuto - PMDBFrancisco Tenorio - PMNGivaldo Carimbão - PSBJoaquim Beltrão - PMDBMaurício Quintella Lessa - PROlavo Calheiros - PMDB

SergipeAlbano Franco - PSDBEduardo Amorim - PSCIran Barbosa - PTJackson Barreto - PMDBJerônimo Reis - DEMJosé Carlos Machado - DEMMendonça Prado - DEMValadares Filho - PSB

BahiaAlice Portugal - PCdoBAntonio Carlos Magalhães Neto - DEMClaudio Cajado - DEMColbert Martins - PMDBDaniel Almeida - PCdoBEdigar Mão Branca - PVEdson Duarte - PVFábio Souto - DEMFélix Mendonça - DEMFernando de Fabinho - DEMGeraldo Simões - PTJoão Almeida - PSDBJoão Carlos Bacelar - PRJoão Leão - PPJorge Khoury - DEM

José Carlos Aleluia - DEMJosé Carlos Araújo - PRJosé Rocha - PRJutahy Junior - PSDBLídice da Mata - PSBLuiz Alberto - PTLuiz Bassuma - PTLuiz Carreira - DEMMarcelo Guimarães Filho - PMDBMárcio Marinho - PRMarcos Medrado - PDTMário Negromonte - PPMaurício Trindade - PRNelson Pellegrino - PTPaulo Magalhães - DEMRoberto Britto - PPSérgio Barradas Carneiro - PTSérgio Brito - PDTSeveriano Alves - PDTTonha Magalhães - PRUldurico Pinto - PMNVeloso - PMDBWalter Pinheiro - PTZezéu Ribeiro - PT

Minas GeraisAdemir Camilo - PDTAelton Freitas - PRAlexandre Silveira - PPSAntônio Andrade - PMDBAntônio Roberto - PVAracely de Paula - PRBilac Pinto - PRBonifácio de Andrada - PSDBCarlos Melles - DEMCarlos Willian - PTCCiro Pedrosa - PVEdmar Moreira - DEMEduardo Barbosa - PSDBElismar Prado - PTFábio Ramalho - PVFernando Diniz - PMDBGeorge Hilton - PPGeraldo Thadeu - PPSGilmar Machado - PTHumberto Souto - PPSJaime Martins - PRJairo Ataide - DEMJô Moraes - PCdoBJoão Bittar - DEMJoão Magalhães - PMDBJosé Fernando Aparecido de Oliveira - PVJosé Santana de Vasconcellos - PRJúlio Delgado - PSBJuvenil - PRTBLael Varella - DEMLeonardo Monteiro - PTLeonardo Quintão - PMDBLincoln Portela - PRLuiz Fernando Faria - PPMárcio Reinaldo Moreira - PPMarcos Lima - PMDBMarcos Montes - DEMMaria Lúcia Cardoso - PMDBMário de Oliveira - PSCMário Heringer - PDTMauro Lopes - PMDBMiguel Corrêa - PTMiguel Martini - PHSNarcio Rodrigues - PSDBOdair Cunha - PT

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Paulo Abi-ackel - PSDBPaulo Piau - PMDBRafael Guerra - PSDBReginaldo Lopes - PTRodrigo de Castro - PSDBSaraiva Felipe - PMDBVirgílio Guimarães - PTVitor Penido - DEM

Espírito SantoCamilo Cola - PMDBCapitão Assumção - PSBIriny Lopes - PTJurandy Loureiro - PSCLelo Coimbra - PMDBLuiz Paulo Vellozo Lucas - PSDBManato - PDTRita Camata - PMDBRose de Freitas - PMDBSueli Vidigal - PDT

Rio de JaneiroAlexandre Santos - PMDBAndreia Zito - PSDBAntonio Carlos Biscaia - PTArnaldo Vianna - PDTArolde de Oliveira - DEMBernardo Ariston - PMDBBrizola Neto - PDTCarlos Santana - PTChico Alencar - PSOLChico D'angelo - PTCida Diogo - PTDeley - PSCDr. Adilson Soares - PRDr. Paulo César - PREdmilson Valentim - PCdoBEdson Ezequiel - PMDBEduardo Cunha - PMDBEduardo Lopes - PSBFelipe Bornier - PHSFernando Gabeira - PVFernando Lopes - PMDBFilipe Pereira - PSCGeraldo Pudim - PMDBGlauber Braga - PSBHugo Leal - PSCIndio da Costa - DEMJair Bolsonaro - PPLeandro Sampaio - PPSLéo Vivas - PRBLuiz Sérgio - PTMarcelo Itagiba - PMDBMarina Maggessi - PPSMiro Teixeira - PDTNeilton Mulim - PRNelson Bornier - PMDBOtavio Leite - PSDBPastor Manoel Ferreira - PTBPaulo Rattes - PMDBRodrigo Maia - DEMRogerio Lisboa - DEMSilvio Lopes - PSDBSimão Sessim - PPSolange Almeida - PMDBSolange Amaral - DEMSuely - PRVinicius Carvalho - PTdoB

São PauloAbelardo Camarinha - PSBAldo Rebelo - PCdoBAline Corrêa - PP

Antonio Bulhões - PMDBAntonio Carlos Mendes Thame - PSDBAntonio Carlos Pannunzio - PSDBAntonio Palocci - PTArlindo Chinaglia - PTArnaldo Faria de Sá - PTBArnaldo Jardim - PPSArnaldo Madeira - PSDBBeto Mansur - PPBispo Gê Tenuta - DEMCândido Vaccarezza - PTCarlos Sampaio - PSDBCarlos Zarattini - PTCelso Russomanno - PPCláudio Magrão - PPSClodovil Hernandes - PRDevanir Ribeiro - PTDr. Nechar - PVDr. Pinotti - DEMDr. Talmir - PVDr. Ubiali - PSBDuarte Nogueira - PSDBEdson Aparecido - PSDBEmanuel Fernandes - PSDBFernando Chucre - PSDBGuilherme Campos - DEMIvan Valente - PSOLJanete Rocha Pietá - PTJefferson Campos - PTBJilmar Tatto - PTJoão Dado - PDTJoão Herrmann - PDTJoão Paulo Cunha - PTJorge Tadeu Mudalen - DEMJorginho Maluly - DEMJosé Aníbal - PSDBJosé Eduardo Cardozo - PTJosé Genoíno - PTJosé Mentor - PTJosé Paulo Tóffano - PVJulio Semeghini - PSDBLobbe Neto - PSDBLuciana Costa - PRLuiza Erundina - PSBMarcelo Ortiz - PVMárcio França - PSBMichel Temer - PMDBMilton Monti - PRNelson Marquezelli - PTBPaulo Lima - PMDBPaulo Maluf - PPPaulo Pereira da Silva - PDTPaulo Renato Souza - PSDBPaulo Teixeira - PTRegis de Oliveira - PSCRenato Amary - PSDBRicardo Berzoini - PTRicardo Tripoli - PSDBRoberto Alves - PTBRoberto Santiago - PVSilvio Torres - PSDBVadão Gomes - PPValdemar Costa Neto - PRVanderlei Macris - PSDBVicentinho - PTWalter Ihoshi - DEMWilliam Woo - PSDB

Mato GrossoCarlos Abicalil - PTCarlos Bezerra - PMDB

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Eliene Lima - PPHomero Pereira - PRPedro Henry - PPThelma de Oliveira - PSDBValtenir Pereira - PSBWellington Fagundes - PR

Distrito FederalJofran Frejat - PRLaerte Bessa - PMDBMagela - PTOsório Adriano - DEMRicardo Quirino - PRRodovalho - DEMRodrigo Rollemberg - PSBTadeu Filippelli - PMDB

GoiásCarlos Alberto Leréia - PSDBChico Abreu - PRÍris de Araújo - PMDBJoão Campos - PSDBJovair Arantes - PTBLeandro Vilela - PMDBLeonardo Vilela - PSDBLuiz Bittencourt - PMDBMarcelo Melo - PMDBPedro Chaves - PMDBPedro Wilson - PTProfessora Raquel Teixeira - PSDBRonaldo Caiado - DEMRubens Otoni - PTSandes Júnior - PPSandro Mabel - PRTatico - PTB

Mato Grosso do SulAntônio Carlos Biffi - PTAntonio Cruz - PPDagoberto - PDTGeraldo Resende - PMDBNelson Trad - PMDBVander Loubet - PTWaldemir Moka - PMDBWaldir Neves - PSDB

ParanáAbelardo Lupion - DEMAffonso Camargo - PSDBAirton Roveda - PRAlex Canziani - PTBAlfredo Kaefer - PSDBAndre Vargas - PTAndre Zacharow - PMDBAngelo Vanhoni - PTAssis do Couto - PTBarbosa Neto - PDTCezar Silvestri - PPSChico da Princesa - PRDilceu Sperafico - PPDr. Rosinha - PTEduardo Sciarra - DEMGiacobo - PRGustavo Fruet - PSDBHermes Parcianello - PMDBLuciano Pizzatto - DEMLuiz Carlos Hauly - PSDBLuiz Carlos Setim - DEMMarcelo Almeida - PMDBMoacir Micheletto - PMDBNelson Meurer - PPOdílio Balbinotti - PMDBOsmar Serraglio - PMDBRatinho Junior - PSC

Ricardo Barros - PPRodrigo Rocha Loures - PMDBTakayama - PSC

Santa CatarinaAcélio Casagrande - PMDBAngela Amin - PPCelso Maldaner - PMDBDécio Lima - PTEdinho Bez - PMDBFernando Coruja - PPSGervásio Silva - PSDBJoão Matos - PMDBJoão Pizzolatti - PPJorge Boeira - PTJosé Carlos Vieira - DEMNelson Goetten - PRPaulo Bornhausen - DEMValdir Colatto - PMDBVignatti - PTZonta - PP

Rio Grande do SulAfonso Hamm - PPBeto Albuquerque - PSBCláudio Diaz - PSDBDarcísio Perondi - PMDBEliseu Padilha - PMDBEnio Bacci - PDTFernando Marroni - PTGermano Bonow - DEMHenrique Fontana - PTIbsen Pinheiro - PMDBJosé Otávio Germano - PPLuciana Genro - PSOLLuis Carlos Heinze - PPLuiz Carlos Busato - PTBManuela D'ávila - PCdoBMarco Maia - PTMaria do Rosário - PTMendes Ribeiro Filho - PMDBNelson Proença - PPSOnyx Lorenzoni - DEMOsvaldo Biolchi - PMDBPaulo Pimenta - PTPaulo Roberto - PTBPepe Vargas - PTPompeo de Mattos - PDTProfessor Ruy Pauletti - PSDBRenato Molling - PPSérgio Moraes - PTBVieira da Cunha - PDTVilson Covatti - PP

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COMISSÕES PERMANENTES

COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA,ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURAL

Presidente: Onyx Lorenzoni (DEM)1º Vice-Presidente: Luiz Carlos Setim (DEM)2º Vice-Presidente: Paulo Piau (PMDB)3º Vice-Presidente: Afonso Hamm (PP)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB21 vagas 21 vagas

PSDB/DEM/PPS12 vagas 12 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN6 vagas 6 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Moizes Lobo da CunhaLocal: Anexo II, Térreo, Ala C, sala 32Telefones: 3216-6403/6404/6406FAX: 3216-6415

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DEDESENVOLVIMENTO REGIONAL

Presidente: Janete Capiberibe (PSB)1º Vice-Presidente: Maria Helena (PSB)2º Vice-Presidente: Sergio Petecão (PMN)3º Vice-Presidente: Neudo Campos (PP)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB11 vagas 11 vagas

PSDB/DEM/PPS6 vagas 6 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN3 vagas 3 vagasSecretário(a): Iara Araújo Alencar AiresLocal: Anexo II - Sala T- 59Telefones: 3216-6432FAX: 3216-6440

COMISSÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, COMUNICAÇÃO EINFORMÁTICA

Presidente: Walter Pinheiro (PT)1º Vice-Presidente: Ratinho Junior (PSC)2º Vice-Presidente: Bilac Pinto (PR)3º Vice-Presidente: Paulo Roberto (PTB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB21 vagas 21 vagas

PSDB/DEM/PPS12 vagas 12 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN6 vagas 6 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Myriam Gonçalves Teixeira de OliveiraLocal: Anexo II, Térreo, Ala A, sala 49Telefones: 3216-6452 A 6458FAX: 3216-6465

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIAPresidente: Eduardo Cunha (PMDB)1º Vice-Presidente: Regis de Oliveira (PSC)2º Vice-Presidente: Maurício Quintella Lessa (PR)3º Vice-Presidente: João Campos (PSDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB32 vagas 32 vagas

PSDB/DEM/PPS18 vagas 18 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN8 vagas 8 vagas

PV2 vagas 2 vagas

PSOL1 vaga 1 vagaSecretário(a): Rejane Salete MarquesLocal: Anexo II,Térreo, Ala A, sala 21Telefones: 3216-6494FAX: 3216-6499

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDORPresidente: Vital do Rêgo Filho (PMDB)1º Vice-Presidente: Antonio Cruz (PP)2º Vice-Presidente: Walter Ihoshi (DEM)3º Vice-Presidente: Laerte Bessa (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB11 vagas 11 vagas

PSDB/DEM/PPS6 vagas 6 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN3 vagas 3 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Lilian de Cássia Albuquerque SantosLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala C, sala 152Telefones: 3216-6920 A 6922FAX: 3216-6925

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,INDÚSTRIA E COMÉRCIO

Presidente: Jilmar Tatto (PT)1º Vice-Presidente: João Maia (PR)2º Vice-Presidente: Renato Molling (PP)3º Vice-Presidente: José Guimarães (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB10 vagas 10 vagas

PSDB/DEM/PPS5 vagas 5 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN2 vagas 2 vagas

PHS1 vaga 1 vagaSecretário(a): Anamélia Lima Rocha M. FernandesLocal: Anexo II, Térreo, Ala A, sala T33Telefones: 3216-6601 A 6609FAX: 3216-6610

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO URBANOPresidente: Angela Amin (PP)1º Vice-Presidente: Filipe Pereira (PSC)2º Vice-Presidente: Evandro Milhomen (PCdoB)3º Vice-Presidente: Moises Avelino (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB10 vagas 10 vagas

PSDB/DEM/PPS5 vagas 5 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN3 vagas 3 vagasSecretário(a): Romulo de Sousa MesquitaLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Ala C, Sala 188Telefones: 3216-6551/ 6554FAX: 3216-6560

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIASPresidente: Pompeo de Mattos (PDT)1º Vice-Presidente: Sebastião Bala Rocha (PDT)

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2º Vice-Presidente: Sueli Vidigal (PDT)3º Vice-Presidente: Cleber Verde (PRB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB9 vagas 9 vagas

PSDB/DEM/PPS5 vagas 5 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN2 vagas 2 vagas

PHS1 vaga 1 vaga

PRB1 vaga 1 vagaSecretário(a): Márcio Marques de AraújoLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala A, sala 185Telefones: 3216-6571FAX: 3216-6580

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURAPresidente: João Matos (PMDB)1º Vice-Presidente: Rogério Marinho (PSB)2º Vice-Presidente: Osvaldo Reis (PMDB)3º Vice-Presidente: Alex Canziani (PTB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB17 vagas 17 vagas

PSDB/DEM/PPS10 vagas 10 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN4 vagas 4 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Iracema MarquesLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala C, sala 170Telefones: 3216-6622/6625/6627/6628FAX: 3216-6635

COMISSÃO DE FINANÇAS E TRIBUTAÇÃOPresidente: Pedro Eugênio (PT)1º Vice-Presidente: João Magalhães (PMDB)2º Vice-Presidente: Félix Mendonça (DEM)3º Vice-Presidente: Antonio Palocci (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB17 vagas 17 vagas

PSDB/DEM/PPS10 vagas 10 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN4 vagas 4 vagas

PV1 vaga 1 vaga

PSOL1 vaga 1 vagaSecretário(a): Marcelle R C CavalcantiLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala C, sala 136Telefones: 3216-6654/6655/6652FAX: 3216-6660

COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E CONTROLEPresidente: Dr. Pinotti (DEM)1º Vice-Presidente: João Oliveira (DEM)2º Vice-Presidente: Paulo Pimenta (PT)3º Vice-Presidente:Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB11 vagas 11 vagas

PSDB/DEM/PPS6 vagas 6 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN3 vagas 3 vagas

Secretário(a): Nádia Lúcia das Neves RaposoLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala A, sala 161Telefones: 3216-6671 A 6675FAX: 3216-6676

COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVAPresidente:1º Vice-Presidente: Eduardo Amorim (PSC)2º Vice-Presidente: Pedro Wilson (PT)3º Vice-Presidente: Dr. Talmir (PV)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB10 vagas 10 vagas

PSDB/DEM/PPS5 vagas 5 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN2 vagas 2 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Sônia HypolitoLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Ala A, salas 121/122Telefones: 3216-6692 / 6693FAX: 3216-6700

COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Presidente: André de Paula (DEM)1º Vice-Presidente: Ricardo Tripoli (PSDB)2º Vice-Presidente: Jorge Khoury (DEM)3º Vice-Presidente: Marcos Montes (DEM)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB10 vagas 10 vagas

PSDB/DEM/PPS5 vagas 5 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN2 vagas 2 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Aurenilton Araruna de AlmeidaLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala C, sala 142Telefones: 3216-6521 A 6526FAX: 3216-6535

COMISSÃO DE MINAS E ENERGIAPresidente: Luiz Fernando Faria (PP)1º Vice-Presidente: Rose de Freitas (PMDB)2º Vice-Presidente: Vander Loubet (PT)3º Vice-Presidente: Rogerio Lisboa (DEM)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB16 vagas 16 vagas

PSDB/DEM/PPS9 vagas 9 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN4 vagas 4 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Damaci Pires de MirandaLocal: Anexo II, Térreo, Ala C, sala 56Telefones: 3216-6711 / 6713FAX: 3216-6720

COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DE DEFESANACIONAL

Presidente: Marcondes Gadelha (PSB)1º Vice-Presidente: Takayama (PSC)2º Vice-Presidente: Perpétua Almeida (PCdoB)3º Vice-Presidente: Íris de Araújo (PMDB)Titulares Suplentes

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PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB16 vagas 16 vagas

PSDB/DEM/PPS9 vagas 9 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN4 vagas 4 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Ana Cristina Silva de OliveiraLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala A, sala 125Telefones: 3216-6739 / 6738 / 6737FAX: 3216-6745

COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AOCRIME ORGANIZADO

Presidente: Raul Jungmann (PPS)1º Vice-Presidente: Marina Maggessi (PPS)2º Vice-Presidente: Pinto Itamaraty (PSDB)3º Vice-Presidente: Marcelo Melo (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB10 vagas 10 vagas

PSDB/DEM/PPS5 vagas 5 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN2 vagas 2 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Kátia da Consolação dos Santos VianaLocal: Anexo II, Pavimento Superior - Sala 166-CTelefones: 3216-6761 / 6762FAX: 3216-6770

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIAPresidente: Jofran Frejat (PR)1º Vice-Presidente: Rafael Guerra (PSDB)2º Vice-Presidente: Maurício Trindade (PR)3º Vice-Presidente: Raimundo Gomes de Matos (PSDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB17 vagas 17 vagas

PSDB/DEM/PPS10 vagas 10 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN4 vagas 4 vagas

PV1 vaga 1 vaga

PSOL1 vaga 1 vagaSecretário(a): Lin Israel Costa dos SantosLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala A, sala 145Telefones: 3216-6787 / 6781 A 6786FAX: 3216-6790

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO ESERVIÇO PÚBLICO

Presidente: Pedro Fernandes (PTB)1º Vice-Presidente: Nelson Marquezelli (PTB)2º Vice-Presidente: Elcione Barbalho (PMDB)3º Vice-Presidente: Eudes Xavier (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB13 vagas 13 vagas

PSDB/DEM/PPS8 vagas 8 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN3 vagas 3 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Anamélia Ribeiro Correia de Araújo

Local: Anexo II, Sala T 50Telefones: 3216-6805 / 6806 / 6807FAX: 3216-6815

COMISSÃO DE TURISMO E DESPORTOPresidente: Albano Franco (PSDB)1º Vice-Presidente: Fábio Souto (DEM)2º Vice-Presidente: Silvio Torres (PSDB)3º Vice-Presidente: Marcelo Teixeira (PR)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB10 vagas 10 vagas

PSDB/DEM/PPS6 vagas 6 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN3 vagas 3 vagasSecretário(a): James Lewis Gorman JuniorLocal: Anexo II, Ala A , Sala 5,TérreoTelefones: 3216-6831 / 6832 / 6833FAX: 3216-6835

COMISSÃO DE VIAÇÃO E TRANSPORTESPresidente: Carlos Alberto Leréia (PSDB)1º Vice-Presidente: Roberto Rocha (PSDB)2º Vice-Presidente: Alexandre Silveira (PPS)3º Vice-Presidente:Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB16 vagas 16 vagas

PSDB/DEM/PPS9 vagas 9 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMN4 vagas 4 vagas

PV1 vaga 1 vagaSecretário(a): Ruy Omar Prudencio da SilvaLocal: Anexo II, Pav. Superior, Ala A, sala 175Telefones: 3216-6853 A 6856FAX: 3216-6860

COMISSÕES TEMPORÁRIAS

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A ANALISARPROPOSIÇÕES LEGISLATIVAS QUE TENHAM POR

OBJETIVO O COMBATE À PIRATARIA.Presidente: Pedro Chaves (PMDB)1º Vice-Presidente: Guilherme Campos (DEM)2º Vice-Presidente: Julio Semeghini (PSDB)3º Vice-Presidente: Celso Russomanno (PP)Relator: Maria do Rosário (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAntonio Carlos Biscaia Arnaldo Faria de SáCelso Russomanno Bilac PintoJurandil Juarez Eduardo ValverdeMaria do Rosário Laerte BessaMaurício Quintella Lessa Marco MaiaNelson Marquezelli Mauro LopesPedro Chaves Paulo Henrique LustosaRegis de Oliveira Renato Molling1 vaga Waldir Maranhão

PSDB/DEM/PPS

Arnaldo JardimAugusto Carvalho

(Licenciado)Duarte Nogueira Carlos SampaioGuilherme Campos Emanuel FernandesJulio Semeghini 2 vagasProfessora Raquel Teixeira

PSB/PDT/PCdoB/PMNMarcelo Serafim Beto Albuquerque

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Vanessa Grazziotin 1 vagaPV

José Fernando Aparecido deOliveira

Lindomar Garçon

PRBMarcos Antonio 1 vagaSecretário(a): Maria de Fátima MoreiraLocal: Anexo II - Pavimento Superior, Sala 150-ATelefones: 3216-6204FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A ACOMPANHAR, ATÉ ODIA 30 DE NOVEMBRO DE 2008, A APLICAÇÃO DASSEGUINTES LEIS DE ANISTIA: LEI Nº 8878/1994, QUE"DISPÕE SOBRE A CONCESSÃO DE ANISTIA"; LEI Nº

10.790/2003, QUE "CONCEDE ANISTIA A DIRIGENTES OUREPRESENTANTES SINDICAIS E TRABALHADORES

PUNIDOS POR PARTICIPAÇÃO EM MOVIMENTOREIVINDICATÓRIO"; LEI Nº 11.282/2006, QUE "ANISTIA OS

TRABALHADORES DA EMPRESA BRASILEIRA DECORREIOS E TELÉGRAFOS-ECT PUNIDOS EM RAZÃO DA

PARTICIPAÇÃO EM MOVIMENTO GREVISTA"; E LEI Nº10.559/2002, QUE "REGULAMENTA O ARTIGO 8º DO ATO

DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS E DÁOUTRAS PROVIDÊNCIAS".

Presidente: Daniel Almeida (PCdoB)1º Vice-Presidente: Claudio Cajado (DEM)2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: Arnaldo Faria de Sá (PTB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB

Arnaldo Faria de SáAracely de

PaulaElcione Barbalho Carlos SantanaFernando Ferro Fátima BezerraFernando Lopes Filipe PereiraGeorge Hilton Luiz CoutoMagela 4 vagasPastor Manoel FerreiraWilson Braga vaga do PSDB/DEM/PPS

2 vagasPSDB/DEM/PPS

Andreia ZitoEduardoBarbosa

Arnaldo JardimEmanuel

FernandesClaudio Cajado 3 vagasJoão Almeida(Dep. doPMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB ocupa avaga)

PSB/PDT/PCdoB/PMN

Daniel AlmeidaPompeo de

MattosLídice da Mata 1 vaga

PV

Sarney FilhoFernando

GabeiraPHS

Felipe Bornier 1 vagaSecretário(a): José Maria Aguiar de CastroLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6209FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 31-A, DE

2007, DO SR. VIRGÍLIO GUIMARÃES, QUE "ALTERA OSISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL, UNIFICA A LEGISLAÇÃO

DO IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES RELATIVAS ÀCIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SOBRE PRESTAÇÕES

DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE INTERESTADUAL EINTERMUNICIPAL E DE COMUNICAÇÃO, DENTRE OUTRAS

PROVIDÊNCIAS".Presidente: Antonio Palocci (PT)1º Vice-Presidente: Edinho Bez (PMDB)2º Vice-Presidente: Paulo Renato Souza (PSDB)3º Vice-Presidente: Humberto Souto (PPS)Relator: Sandro Mabel (PR)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAntonio Palocci Carlos ZarattiniArmando Monteiro Celso MaldanerÁtila Lins Eduardo CunhaEdinho Bez Eduardo ValverdeGerson Peres Gastão VieiraLelo Coimbra João LeãoPaulo Maluf João MaiaPepe Vargas Luiz Carlos BusatoRodrigo Rocha Loures Márcio Reinaldo MoreiraSandro Mabel Maurício RandsVirgílio Guimarães Ricardo Barros1 vaga 1 vaga

PSDB/DEM/PPSEduardo Sciarra Antonio Carlos Mendes ThameHumberto Souto Carlos MellesJulio Semeghini Emanuel FernandesLeonardo Vilela Fernando CorujaLuiz Carreira Júlio CesarPaulo Bornhausen Ronaldo CaiadoPaulo Renato Souza Wandenkolk Gonçalves

PSB/PDT/PCdoB/PMNAna Arraes Francisco TenorioChico Lopes João DadoMiro Teixeira Manoel Junior

PVFábio Ramalho Sarney Filho

PSOLLuciana Genro Ivan ValenteSecretário(a): Eveline AlmintaLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6211FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 98-A, DE2007, DO SENHOR OTÁVIO LEITE, QUE "ACRESCENTA AALÍNEA (E) AO INCISO VI DO ART. 150 DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL", INSTITUINDO IMUNIDADE TRIBUTÁRIA SOBRE

OS FONOGRAMAS E VIDEOFONOGRAMAS MUSICAISPRODUZIDOS NO BRASIL, CONTENDO OBRAS MUSICAISOU LÍTERO-MUSICAIS DE AUTORES BRASILEIROS, E/OU

OBRAS EM GERAL INTERPRETADAS POR ARTISTASBRASILEIROS, BEM COMO OS SUPORTES MATERIAIS OU

ARQUIVOS DIGITAIS QUE OS CONTENHAM.Presidente: Décio Lima (PT)1º Vice-Presidente: Arnaldo Jardim (PPS)2º Vice-Presidente: Marcelo Serafim (PSB)3º Vice-Presidente: Chico Alencar (PSOL)Relator: José Otávio Germano (PP)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAntônio Andrade Fernando FerroBilac Pinto Lincoln PortelaChico D'angelo Mendes Ribeiro FilhoDécio Lima Sabino Castelo BrancoElismar Prado 5 vagasJosé Otávio GermanoLuiz Bittencourt

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Nelson Trad1 vaga

PSDB/DEM/PPSAlbano Franco Leandro SampaioArnaldo Jardim Professora Raquel TeixeiraDavi Alcolumbre (Licenciado) 3 vagasMarcos MontesOtavio Leite

PSB/PDT/PCdoB/PMNMarcelo Serafim 2 vagasVanessa Grazziotin

PVEdigar Mão Branca 1 vaga

PSOLChico Alencar 1 vagaSecretário(a): Angélica FialhoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6218 / 3216-6232FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 130-A, DE2007, DO SR. MARCELO ITAGIBA, QUE "REVOGA O INCISOX DO ART. 29; O INCISO III DO ART. 96; AS ALÍNEAS 'B' E 'C'DO INCISO I DO ART. 102; A ALÍNEA 'A' DO INCISO I DO ART.

105; E A ALÍNEA “A” DO INCISO I DO ART. 108, TODOS DACONSTITUIÇÃO FEDERAL" (REVOGA DISPOSITIVOS QUE

GARANTEM A PRERROGATIVA DE FORO OU “FOROPRIVILEGIADO”).

Presidente: Dagoberto (PDT)1º Vice-Presidente: Jorge Tadeu Mudalen (DEM)2º Vice-Presidente: Paulo Abi-ackel (PSDB)3º Vice-Presidente: Gonzaga Patriota (PSB)Relator: Regis de Oliveira (PSC)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAníbal Gomes Átila LinsArnon Bezerra Fátima PelaesEduardo Valverde Marcelo ItagibaFernando Ferro Maurício Quintella LessaJoão Pizzolatti Nilson MourãoJorge Bittar (Licenciado) Pedro FernandesLaerte Bessa Rubens OtoniRegis de Oliveira Sandes JúniorVicente Arruda Virgílio Guimarães

PSDB/DEM/PPSAlexandre Silveira Antonio Carlos PannunzioJorge Tadeu Mudalen Geraldo ThadeuOsório Adriano William WooPaulo Abi-ackel 2 vagasRicardo Tripoli

PSB/PDT/PCdoB/PMNDagoberto Paulo Rubem SantiagoGonzaga Patriota 1 vaga

PVFábio Ramalho 1 vaga

PHSFelipe Bornier Miguel MartiniSecretário(a): Ana Lúcia Ribeiro MarquesLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6214FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 22-A, DE

1999, DO SENHOR ENIO BACCI, QUE "AUTORIZA ODIVÓRCIO APÓS 1 (UM) ANO DE SEPARAÇÃO DE FATO OUDE DIREITO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS", ALTERANDO O

DISPOSTO NO ARTIGO 226, § 6º, DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL.

Presidente: José Carlos Araújo (PR)1º Vice-Presidente: Cândido Vaccarezza (PT)2º Vice-Presidente: Geraldo Pudim (PMDB)3º Vice-Presidente: Mendonça Prado (DEM)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBArnaldo Faria de Sá Angela PortelaCândido Vaccarezza Carlos ZarattiniGeraldo Pudim Luciano CastroJosé Carlos Araújo Mendes Ribeiro FilhoMarcelo Guimarães Filho Reginaldo LopesMaria Lúcia Cardoso Roberto BrittoRebecca Garcia 3 vagasSérgio Barradas Carneiro1 vaga

PSDB/DEM/PPSBruno Araújo Bonifácio de AndradaFernando Coruja Otavio LeiteJutahy Junior 3 vagasMendonça PradoRoberto Magalhães

PSB/PDT/PCdoB/PMNValadares Filho 2 vagasWolney Queiroz

PVRoberto Santiago 1 vaga

PSOLLuciana Genro Chico AlencarSecretário(a): José Maria Aguiar de CastroLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6232FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇAO 231-A, DE

1995, DO SR. INÁCIO ARRUDA, QUE "ALTERA OS INCISOSXIII E XVI DO ART. 7º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL"

(REDUZINDO A JORNADA MÁXIMA DE TRABALHO PARA 40HORAS SEMANAIS E AUMENTANDO PARA 75% AREMUNERAÇÃO DE SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO).

Presidente: Luiz Carlos Busato (PTB)1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: Vicentinho (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBDeley Carlos SantanaGorete Pereira Eudes XavierIran Barbosa Fátima BezerraJosé Otávio Germano Maria Lúcia CardosoLuiz Carlos Busato Sandro MabelMarco Maia 4 vagasRita CamataVicentinhoWilson Braga

PSDB/DEM/PPSCarlos Sampaio 5 vagasCláudio MagrãoFernando Chucre2 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMNDaniel Almeida Chico LopesPaulo Pereira da Silva vaga do PHS Vanessa GrazziotinRodrigo Rollemberg

PVRoberto Santiago 1 vaga

PHS(Dep. do PSB/PDT/PCdoB/PMN ocupa avaga)

Felipe Bornier

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Secretário(a): Regina Maria Veiga BrandãoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216.6216FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 277 DE

2008, DO SENADO FEDERAL, QUE "ACRESCENTA § 3º AOART. 76 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS

TRANSITÓRIAS PARA REDUZIR, ANUALMENTE, A PARTIRDO EXERCÍCIO DE 2009, O PERCENTUAL DA

DESVINCULAÇÃO DE RECEITAS DA UNIÃO INCIDENTESOBRE OS RECURSOS DESTINADOS À MANUTENÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DO ENSINO DE QUE TRATA O ART. 212DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL".

Presidente: Gastão Vieira (PMDB)1º Vice-Presidente: Antônio Andrade (PMDB)2º Vice-Presidente: Lobbe Neto (PSDB)3º Vice-Presidente: Alex Canziani (PTB)Relator: Rogério Marinho (PSB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAlex Canziani Fátima BezerraAntônio Andrade Lelo CoimbraAntônio Carlos Biffi Maria do RosárioCarlos Abicalil Professor SetimoGastão Vieira Virgílio GuimarãesJoão Leão Waldir MaranhãoMilton Monti 3 vagasNazareno FontelesPedro Chaves

PSDB/DEM/PPSHumberto Souto Jorginho MalulyLobbe Neto Nilmar RuizLuiz Carreira Professor Ruy PaulettiPaulo Bornhausen Professora Raquel TeixeiraRaimundo Gomes de Matos 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNPaulo Rubem Santiago Jô MoraesRogério Marinho Severiano Alves

PVEdson Duarte Sarney Filho

PRBCleber Verde 1 vagaSecretário(a): Ana Lúcia Ribeiro MarquesLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Sala 170-ATelefones: (61) 3216-6214FAX: (61) 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 308-A, DE

2004, DO SR. NEUTON LIMA, QUE "ALTERA OS ARTS. 21, 32E 144, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, CRIANDO AS POLÍCIAS

PENITENCIÁRIAS FEDERAL E ESTADUAIS".Presidente: Nelson Pellegrino (PT)1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente: William Woo (PSDB)3º Vice-Presidente: Mendonça Prado (DEM)Relator: Arnaldo Faria de Sá (PTB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAfonso Hamm Arnon BezerraArnaldo Faria de Sá Eduardo ValverdeFernando Melo Fernando FerroIriny Lopes Francisco Rossi (Licenciado)Laerte Bessa José GuimarãesMarcelo Itagiba Leonardo Picciani (Licenciado)Nelson Pellegrino Lincoln PortelaVital do Rêgo Filho 2 vagas1 vaga

PSDB/DEM/PPSMendonça Prado Alexandre SilveiraRaul Jungmann Edson AparecidoRodrigo de Castro Pinto ItamaratyWilliam Woo 2 vagas1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNFrancisco Tenorio Sueli VidigalJoão Dado 1 vaga

PVMarcelo Ortiz Dr. Talmir

PSOLChico Alencar 1 vagaSecretário(a): Mário Dráusio Oliveira de A. CoutinhoLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Sala 170-ATelefones: 3216-6203 / 3216-6232FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 471-A, DE

2005, DO SR. JOÃO CAMPOS, QUE "DÁ NOVA REDAÇÃO AOPARÁGRAFO 3º DO ARTIGO 236 DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL", ESTABELECENDO A EFETIVAÇÃO PARA OSATUAIS RESPONSÁVEIS E SUBSTITUTOS PELOS SERVIÇOS

NOTARIAIS, INVESTIDOS NA FORMA DA LEI.Presidente: Sandro Mabel (PR)1º Vice-Presidente: Waldir Neves (PSDB)2º Vice-Presidente: Roberto Balestra (PP)3º Vice-Presidente:Relator: João Matos (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAlex Canziani Arnaldo Faria de SáAndre Vargas Dr. RosinhaJoão Matos João Carlos BacelarJosé Genoíno Luiz BassumaLeonardo Quintão Moacir MichelettoNelson Bornier Nelson MeurerRoberto Balestra (Licenciado) Nelson TradSandro Mabel Odair Cunha1 vaga Regis de Oliveira

PSDB/DEM/PPSGervásio Silva Carlos Alberto LeréiaHumberto Souto Guilherme CamposJoão Campos Raul JungmannJorge Tadeu Mudalen Zenaldo CoutinhoWaldir Neves 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNDagoberto Valadares FilhoGonzaga Patriota 1 vaga

PVMarcelo Ortiz Ciro Pedrosa

PHSMiguel Martini Felipe BornierSecretário(a): Aparecida de Moura AndradeLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6207/6232FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 483-A, DE2005, DO SENADO FEDERAL, QUE "ALTERA O ART. 89 DO

ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAISTRANSITÓRIAS", INCLUINDO OS SERVIDORES PÚBLICOS,CIVIS E MILITARES, CUSTEADOS PELA UNIÃO ATÉ 31 DE

DEZEMBRO DE 1991, NO QUADRO EM EXTINÇÃO DAADMINISTRAÇÃO FEDERAL DO EX - TERRITÓRIO FEDERAL

DE RONDÔNIA.Presidente: Mauro Nazif (PSB)1º Vice-Presidente:

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2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: Eduardo Valverde (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAnselmo de Jesus Lucenira PimentelEduardo Valverde Marcelo MeloErnandes Amorim Sabino Castelo BrancoFátima Pelaes Valdir ColattoGorete Pereira Zequinha MarinhoMarinha Raupp 4 vagasNatan DonadonRebecca Garcia1 vaga

PSDB/DEM/PPSAndreia Zito Carlos Alberto LeréiaJorginho Maluly Eduardo BarbosaMoreira Mendes Ilderlei CordeiroUrzeni Rocha 2 vagas1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNMaria Helena Sebastião Bala RochaMauro Nazif 1 vaga

PVLindomar Garçon Antônio Roberto

PRBLéo Vivas 1 vagaSecretário(a): Maria de Fátima MoreiraLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6204/6232FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 495-A, DE2006, DO SENADO FEDERAL, QUE "ACRESCENTA ARTIGO

AO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAISTRANSITÓRIAS, SOBRE A FORMAÇÃO DE NOVOS

MUNICÍPIOS ATÉ O ANO DE 2000".Presidente: Colbert Martins (PMDB)1º Vice-Presidente: Beto Albuquerque (PSB)2º Vice-Presidente: Afonso Hamm (PP)3º Vice-Presidente: José Airton Cirilo (PT)Relator: Manoel Junior (PSB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAfonso Hamm Darcísio PerondiAugusto Farias Eliene LimaCarlos Abicalil Jaime MartinsColbert Martins José RochaIbsen Pinheiro Lelo CoimbraJosé Airton Cirilo Luis Carlos Heinze vaga do PSDB/DEM/PPS

José Guimarães Luiz Carlos BusatoMarinha Raupp Mendes Ribeiro Filho1 vaga Renato Molling

1 vagaPSDB/DEM/PPS

Emanuel Fernandes Gustavo FruetFelipe Maia Raimundo Gomes de MatosLira Maia Vitor Penido

Luiz Paulo VellozoLucas

(Dep. doPMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB

ocupa a vaga)

1 vaga(Dep. do PSB/PDT/PCdoB/PMN ocupa a

vaga)PSB/PDT/PCdoB/PMN

Beto Albuquerque DagobertoManoel Junior Giovanni Queiroz

Vanessa Grazziotin vaga do PSDB/DEM/PPS

PVLindomar Garçon Sarney Filho

PRBCleber Verde 1 vagaSecretário(a): Valdivino Tolentino FilhoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6206FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 511-A, DE2006, DO SENADO FEDERAL, QUE "ALTERA O ART. 62 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL PARA DISCIPLINAR A EDIÇÃO DEMEDIDAS PROVISÓRIAS", ESTABELECENDO QUE A

MEDIDA PROVISÓRIA SÓ TERÁ FORÇA DE LEI DEPOIS DEAPROVADA A SUA ADMISSIBILIDADE PELO CONGRESSO

NACIONAL, SENDO O INÍCIO DA APRECIAÇÃO ALTERNADOENTRE A CÂMARA E O SENADO.

Presidente: Cândido Vaccarezza (PT)1º Vice-Presidente: Regis de Oliveira (PSC)2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente: Bruno Araújo (PSDB)Relator: Leonardo Picciani (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBCândido Vaccarezza Augusto FariasGerson Peres Fernando FerroJosé Eduardo Cardozo Geraldo PudimJosé Genoíno Ibsen PinheiroLeonardo Picciani (Licenciado) João MagalhãesMendes Ribeiro Filho José MentorPaes Landim Lúcio ValeRegis de Oliveira Michel TemerVicente Arruda Rubens Otoni

PSDB/DEM/PPSBruno Araújo Bonifácio de AndradaHumberto Souto Edson AparecidoJoão Almeida Fernando CorujaJosé Carlos Aleluia Fernando de FabinhoRoberto Magalhães João Oliveira

PSB/PDT/PCdoB/PMNDr. Ubiali Flávio DinoWolney Queiroz 1 vaga

PVMarcelo Ortiz Roberto Santiago

PRBLéo Vivas 1 vagaSecretário(a): Aparecida de Moura AndradeLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216-6207FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERÀ PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 549-A, DE2006, DO SR. ARNALDO FARIA DE SÁ, QUE "ACRESCENTAPRECEITO ÀS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS GERAIS,

DISPONDO SOBRE O REGIME CONSTITUCIONAL PECULIARDAS CARREIRAS POLICIAIS QUE INDICA".

Presidente: Vander Loubet (PT)1º Vice-Presidente: Marcelo Itagiba (PMDB)2º Vice-Presidente: William Woo (PSDB)3º Vice-Presidente: José Mentor (PT)Relator: Regis de Oliveira (PSC)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBArnaldo Faria de Sá Angelo VanhoniDécio Lima Eliene LimaJair Bolsonaro José Otávio GermanoJosé Mentor Marcelo MeloLaerte Bessa Marinha RauppMarcelo Itagiba Paes LandimNeilton Mulim Sandro Mabel

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Regis de Oliveira Valdir ColattoVander Loubet 1 vaga

PSDB/DEM/PPSAlexandre Silveira Abelardo LupionJoão Campos Carlos SampaioJorginho Maluly Pinto ItamaratyRogerio Lisboa 2 vagasWilliam Woo

PSB/PDT/PCdoB/PMNFrancisco Tenorio Flávio DinoVieira da Cunha João Dado

PVMarcelo Ortiz Dr. Talmir

PRBLéo Vivas Cleber VerdeSecretário(a): Valdivino Tolentino FilhoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6206/6232FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 1 DE 2007, DO PODER EXECUTIVO,

QUE "DISPÕE SOBRE O VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO APARTIR DE 2007 E ESTABELECE DIRETRIZES PARA A SUA

POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DE 2008 A 2023".Presidente: Júlio Delgado (PSB)1º Vice-Presidente: Paulo Pereira da Silva (PDT)2º Vice-Presidente: Íris de Araújo (PMDB)3º Vice-Presidente: Felipe Maia (DEM)Relator: Roberto Santiago (PV)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBArnaldo Faria de Sá Aline CorrêaEdgar Moury Carlos Alberto CanutoÍris de Araújo Dr. Adilson SoaresMarco Maia Eudes XavierPedro Eugênio José GuimarãesPedro Henry Nelson PellegrinoReinhold Stephanes (Licenciado) 3 vagasSandro Mabel1 vaga

PSDB/DEM/PPSFelipe Maia Andreia ZitoFernando Coruja Efraim FilhoFrancisco Rodrigues Fernando ChucreJosé Aníbal Fernando de FabinhoPaulo Renato Souza Leandro Sampaio

PSB/PDT/PCdoB/PMNJúlio Delgado Daniel AlmeidaPaulo Pereira da Silva Sergio Petecão

PVRoberto Santiago Lindomar Garçon

PRBLéo Vivas 1 vagaSecretário(a): Valdivino Tolentino FilhoLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Ala A s/ 170Telefones: 3216.6206FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 630, DE 2003, DO SENHOR

ROBERTO GOUVEIA, QUE "ALTERA O ART. 1º DA LEI N.º8.001, DE 13 DE MARÇO DE 1990, CONSTITUI FUNDO

ESPECIAL PARA FINANCIAR PESQUISAS E FOMENTAR APRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA E TÉRMICA A PARTIR

DA ENERGIA SOLAR E DA ENERGIA EÓLICA, E DÁ OUTRASPROVIDÊNCIAS" (FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA).

Presidente: Rodrigo Rocha Loures (PMDB)1º Vice-Presidente: Rodrigo Rollemberg (PSB)2º Vice-Presidente: Arnaldo Jardim (PPS)

3º Vice-Presidente: Duarte Nogueira (PSDB)Relator: Fernando Ferro (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBBernardo Ariston Airton RovedaErnandes Amorim Aline CorrêaFernando Ferro Aníbal GomesJoão Maia Carlos AbicalilJosé Guimarães Eudes XavierNeudo Campos Marcos LimaPaulo Henrique Lustosa Nazareno FontelesPaulo Teixeira 2 vagasRodrigo Rocha Loures

PSDB/DEM/PPSAntonio Carlos Mendes Thame Alfredo KaeferArnaldo Jardim Guilherme CamposBetinho Rosado Silvio LopesDuarte Nogueira Urzeni RochaJosé Carlos Aleluia 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNArnaldo Vianna 2 vagasRodrigo Rollemberg

PVEdson Duarte Antônio Roberto

PRBLéo Vivas Cleber VerdeSecretário(a): Heloísa Pedrosa DinizLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6201FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 1.481, DE 2007, QUE "ALTERA A LEINº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996, E A LEI Nº 9.998, DE17 DE AGOSTO DE 2000, PARA DISPOR SOBRE O ACESSO

A REDES DIGITAIS DE INFORMAÇÃO EMESTABELECIMENTOS DE ENSINO". (FUST)

Presidente: Marcelo Ortiz (PV)1º Vice-Presidente: Vilson Covatti (PP)2º Vice-Presidente: Lobbe Neto (PSDB)3º Vice-Presidente: Jorge Khoury (DEM)Relator: Paulo Henrique Lustosa (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBBilac Pinto Andre VargasColbert Martins Angela AminJorge Bittar (Licenciado) Dr. Adilson SoaresMagela Eudes XavierPaulo Henrique Lustosa Paulo TeixeiraPaulo Roberto Rebecca GarciaRaul Henry 3 vagasVilson CovattiWalter Pinheiro

PSDB/DEM/PPSJorge Khoury Arnaldo JardimJulio Semeghini Eduardo SciarraLeandro Sampaio Emanuel FernandesLobbe Neto Paulo BornhausenVic Pires Franco Professora Raquel Teixeira

PSB/PDT/PCdoB/PMNAriosto Holanda 2 vagas1 vaga

PVMarcelo Ortiz Fernando Gabeira

PHSFelipe Bornier Miguel MartiniSecretário(a): Fernando Maia LeãoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6205FAX: 3216.6225

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COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 1610, DE 1996, DO SENADO

FEDERAL, QUE "DISPÕE SOBRE A EXPLORAÇÃO E OAPROVEITAMENTO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRASINDÍGENAS, DE QUE TRATAM OS ARTS. 176, PARÁGRAFO

PRIMEIRO, E 231, PARÁGRAFO TERCEIRO, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL".

Presidente: Edio Lopes (PMDB)1º Vice-Presidente: Bel Mesquita (PMDB)2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: Eduardo Valverde (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAsdrubal Bentes Celso MaldanerBel Mesquita Colbert MartinsDalva Figueiredo Fernando FerroEdio Lopes Homero PereiraEduardo Valverde Jurandil JuarezErnandes Amorim Neudo CamposJosé Otávio Germano Paulo RobertoLúcio Vale Paulo Rocha1 vaga Vignatti

PSDB/DEM/PPSJoão Almeida Arnaldo JardimMarcio Junqueira Paulo Abi-ackelMoreira Mendes Pinto ItamaratyUrzeni Rocha Waldir NevesVitor Penido 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNMaria Helena 2 vagasPerpétua Almeida

PVJosé Fernando Aparecido de Oliveira Fernando Gabeira

PHSFelipe Bornier Miguel MartiniSecretário(a): Maria Terezinha DonatiLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216-6215FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 1.627, DE 2007, DO PODER

EXECUTIVO, QUE "DISPÕE SOBRE OS SISTEMAS DEATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO, REGULAMENTA A

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DESTINADAS AOADOLESCENTE, EM RAZÃO DE ATO INFRACIONAL, ALTERADISPOSITIVOS DA LEI NO 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990,

QUE DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS".

Presidente: Givaldo Carimbão (PSB)1º Vice-Presidente: Eduardo Barbosa (PSDB)2º Vice-Presidente: Luiz Couto (PT)3º Vice-Presidente: Felipe Bornier (PHS)Relator: Rita Camata (PMDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAntônio Andrade Fátima PelaesEduardo Valverde Leonardo MonteiroElcione Barbalho Luciana CostaJofran Frejat Maria do RosárioLuiz Couto Paulo Henrique LustosaPedro Wilson 4 vagasRita CamataSérgio MoraesVilson Covatti

PSDB/DEM/PPSAlceni Guerra (Licenciado) Andreia ZitoEduardo Barbosa João Campos

Lobbe Neto Jorginho MalulyMoreira Mendes Raimundo Gomes de MatosNilmar Ruiz 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNGivaldo Carimbão Manuela D'ávilaSueli Vidigal Paulo Rubem Santiago

PVAntônio Roberto Marcelo Ortiz

PHSFelipe Bornier Miguel MartiniSecretário(a): Fernando Maia LeãoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216-6205FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 3057, DE 2000, DO SENHOR BISPO

WANDERVAL, QUE "INCLUI § 2º NO ART. 41, DA LEI Nº 6.766,DE 19 DE DEZEMBRO DE 1979, NUMERANDO-SE COMO

PARÁGRAFO 1º O ATUAL PARÁGRAFO ÚNICO",ESTABELECENDO QUE PARA O REGISTRO DE

LOTEAMENTO SUBURBANO DE PEQUENO VALORIMPLANTADO IRREGULARMENTE ATÉ 31 DE DEZEMBRO DE

1999 E REGULARIZADO POR LEI MUNICIPAL, NÃO HÁNECESSIDADE DE APROVAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO POR

OUTRO ÓRGÃO.Presidente:1º Vice-Presidente: Marcelo Melo (PMDB)2º Vice-Presidente: Angela Amin (PP)3º Vice-Presidente: Jorge Khoury (DEM)Relator: Renato Amary (PSDB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAngela Amin Alex CanzianiCarlos Eduardo Cadoca Beto MansurJosé Eduardo Cardozo Celso MaldanerJosé Guimarães Celso RussomannoLuiz Bittencourt Edson Santos (Licenciado)Luiz Carlos Busato Homero PereiraMarcelo Melo José Airton Cirilo2 vagas Zezéu Ribeiro

1 vagaPSDB/DEM/PPS

Arnaldo Jardim Bruno AraújoFernando Chucre Cezar SilvestriJorge Khoury Eduardo SciarraRenato Amary Gervásio Silva1 vaga Ricardo Tripoli vaga do PSOL

Solange AmaralPSB/PDT/PCdoB/PMN

Arnaldo Vianna Chico Lopes1 vaga Gonzaga Patriota

PVJosé Paulo Tóffano Sarney Filho

PSOL

Ivan Valente(Dep. do PSDB/DEM/PPS ocupa a

vaga)Secretário(a): Leila Machado CamposLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216.6212FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 334, DE 2007, DO SENADOFEDERAL, QUE "DISPÕE SOBRE A IMPORTAÇÃO,EXPORTAÇÃO, PROCESSAMENTO, TRANSPORTE,ARMAZENAGEM, LIQUEFAÇÃO, REGASEIFICAÇÃO,

DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE GÁS NATURAL",ALTERANDO A LEI Nº 9.478, DE 1997, NO QUE DIZ

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RESPEITO AO GÁS NATURAL, INCLUINDO O GÁSCANALIZADO.

Presidente:1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: João Maia (PR)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAlex Canziani Arnaldo Faria de SáAndre Vargas Beto MansurBel Mesquita Carlos ZarattiniFernando Ferro Dalva FigueiredoJoão Maia Dr. RosinhaMarcelo Guimarães Filho Geraldo PudimNelson Meurer João Carlos BacelarVander Loubet Marinha Raupp1 vaga Paes Landim

PSDB/DEM/PPSArnaldo Jardim Edson AparecidoArnaldo Madeira João AlmeidaEduardo Sciarra Jorge KhouryJosé Carlos Aleluia Leandro SampaioLuiz Paulo Vellozo Lucas Luiz Carreira

PSB/PDT/PCdoB/PMNBrizola Neto Edmilson ValentimRodrigo Rollemberg Francisco Tenorio

PVJosé Fernando Aparecido de Oliveira Ciro Pedrosa

PSOLIvan Valente 1 vagaSecretário(a): Fernando Maia LeãoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6205FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 3937, DE 2004, DO SR. CARLOS

EDUARDO CADOCA, QUE "ALTERA A LEI Nº 8.884, DE 11 DEJUNHO DE 1994, QUE TRANSFORMA O CONSELHO

ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) EMAUTARQUIA, DISPÕE SOBRE A PREVENÇÃO E AREPRESSÃO ÀS INFRAÇÕES CONTRA A ORDEM

ECONÔMICA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS".Presidente: Vignatti (PT)1º Vice-Presidente: João Magalhães (PMDB)2º Vice-Presidente: Eduardo da Fonte (PP)3º Vice-Presidente:Relator: Ciro Gomes (PSB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAugusto Farias Carlos WillianCarlos Eduardo Cadoca João MaiaEduardo da Fonte Marcelo Guimarães FilhoJoão Magalhães Marco MaiaMagela Paes LandimMiguel Corrêa Ricardo BarrosSandro Mabel Vadão GomesVignatti 2 vagas1 vaga

PSDB/DEM/PPSAntonio Carlos Mendes Thame Fernando de FabinhoCezar Silvestri Luiz Paulo Vellozo LucasEfraim Filho Waldir NevesLuiz Carlos Hauly Walter Ihoshi1 vaga 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNCiro Gomes Evandro MilhomenDr. Ubiali Fernando Coelho Filho

PV

Antônio Roberto Dr. NecharPHS

Miguel Martini Felipe BornierSecretário(a): Heloisa Pedrosa Diniz.Local: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216.6201FAX: 3216.6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 3.960, DE 2008, DO PODER

EXECUTIVO, QUE "ALTERA AS LEIS NºS 7.853, DE 24 DEOUTUBRO DE 1989, 9.650, DE 27 DE MAIO 1998, 9.984, DE 17

DE JULHO DE 2000, E 10.683, DE 28 DE MAIO DE 2003,DISPÕE SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DA SECRETARIA

ESPECIAL DE AQÜICULTURA E PESCA DA PRESIDÊNCIADA REPÚBLICA EM MINISTÉRIO DA PESCA E

AQÜICULTURA, CRIA CARGOS EM COMISSÃO DO GRUPO-DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO SUPERIORES - DAS,

FUNÇÕES COMISSIONADAS DO BANCO CENTRAL - FCBC EGRATIFICAÇÕES DE REPRESENTAÇÃO DA PRESIDÊNCIA

DA REPÚBLICA, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.Presidente: Flávio Bezerra (PMDB)1º Vice-Presidente: Silas Câmara (PSC)2º Vice-Presidente: Wandenkolk Gonçalves (PSDB)3º Vice-Presidente: Evandro Milhomen (PCdoB)Relator: José Airton Cirilo (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBCelso Maldaner Assis do CoutoFlávio Bezerra Átila LinsGeraldo Pudim Gerson PeresIriny Lopes Gorete Pereira

João MaiaJosé

GuimarãesJosé Airton Cirilo Marinha RauppLuiz Sérgio Moises AvelinoPaulo Roberto Paulo RochaSilas Câmara vaga do PHS VignattiZonta

PSDB/DEM/PPS

Duarte NogueiraRômulo

GouveiaMarcos Montes William WooOnyx Lorenzoni 3 vagasWandenkolk Gonçalves1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNEvandro Milhomen Julião Amin

Givaldo CarimbãoSandraRosado

PVSarney Filho Edson Duarte

PHS(Dep. do PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBocupa a vaga) 1 vaga

Secretário(a): Ana Clara Fonseca SerejoLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Sala 170-ATelefones: (61) 3216-6235FAX: (61) 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 5.186, DE 2005, DO PODER

EXECUTIVO, QUE "ALTERA A LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARÇODE 1998, QUE INSTITUI NORMAS GERAIS SOBRE

DESPORTO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS".Presidente: Marcelo Guimarães Filho (PMDB)1º Vice-Presidente: Arnaldo Faria de Sá (PTB)2º Vice-Presidente: Silvio Torres (PSDB)3º Vice-Presidente: Guilherme Campos (DEM)Relator: José Rocha (PR)

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Titulares SuplentesPMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB

Arnaldo Faria de Sá DeleyAsdrubal Bentes Luiz Carlos BusatoDr. Rosinha Marcelo TeixeiraEudes Xavier Mendes Ribeiro FilhoEugênio Rabelo Vital do Rêgo FilhoGilmar Machado 4 vagasHermes ParcianelloJosé RochaMarcelo Guimarães Filho

PSDB/DEM/PPSGuilherme Campos Marcos MontesHumberto Souto Zenaldo CoutinhoLuiz Carlos Hauly 3 vagasSilvio Torres1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNFábio Faria Beto AlbuquerqueManuela D'ávila Marcos Medrado

PVCiro Pedrosa 1 vaga

PSOLLuciana Genro Ivan ValenteSecretário(a): Aparecida de Moura AndradeLocal: Anexo II - Pavimento superior - sala 170-ATelefones: 3216.6207FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 6.264, DE 2005, DO SENADO

FEDERAL, QUE "INSTITUI O ESTATUTO DA IGUALDADERACIAL".

Presidente: Carlos Santana (PT)1º Vice-Presidente: Damião Feliciano (PDT)2º Vice-Presidente: Eduardo Barbosa (PSDB)3º Vice-Presidente: Janete Rocha Pietá (PT)Relator: Antônio Roberto (PV)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBCarlos Santana Dalva FigueiredoDr. Adilson Soares Dr. RosinhaJanete Rocha Pietá Gilmar MachadoJosé Linhares Paulo RobertoLeonardo Quintão Tonha MagalhãesPastor Manoel Ferreira 4 vagasPaulo Henrique LustosaVelosoVicentinho

PSDB/DEM/PPSEduardo Barbosa Andreia ZitoJoão Almeida Gervásio SilvaMarcio Junqueira Guilherme CamposRaul Jungmann Ronaldo Caiado1 vaga 1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNDamião Feliciano Edmilson ValentimEvandro Milhomen Paulo Rubem Santiago

PVAntônio Roberto 1 vaga

PHSFelipe Bornier Miguel MartiniSecretário(a): Mário Dráusio de Azeredo CoutinhoLocal: Anexo II - Pavimento Superior, sala 170-ATelefones: 3216.6203FAX: 32166225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 694, DE 1995, QUE "INSTITUI AS

DIRETRIZES NACIONAIS DO TRANSPORTE COLETIVOURBANO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS".

Presidente:1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAngela Amin Aline CorrêaChico da Princesa Edinho BezFrancisco Praciano Gilmar MachadoJackson Barreto Jurandy LoureiroJosé Airton Cirilo Luiz Carlos BusatoMauro Lopes Paulo TeixeiraPedro Chaves Ratinho JuniorPedro Eugênio 2 vagasPedro Fernandes

PSDB/DEM/PPSAffonso Camargo Carlos SampaioArnaldo Jardim Cláudio DiazEduardo Sciarra Geraldo ThadeuFernando Chucre Nilmar Ruiz1 vaga Vitor Penido

PSB/PDT/PCdoB/PMNChico Lopes Julião Amin1 vaga Silvio Costa

PVJosé Fernando Aparecido de Oliveira 1 vaga

PSOL1 vaga 1 vagaSecretário(a): -

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 7.161, DE 2006, DO SENADO

FEDERAL, QUE "DISPÕE SOBRE O SISTEMA DECONSÓRCIOS".

Presidente: Aelton Freitas (PR)1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente: Alfredo Kaefer (PSDB)3º Vice-Presidente: João Dado (PDT)Relator: Alex Canziani (PTB)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAelton Freitas Angelo VanhoniAlex Canziani Carlos Eduardo CadocaAlexandre Santos Carlos ZarattiniBeto Mansur Celso RussomannoDécio Lima Fernando LopesReginaldo Lopes GiacoboRita Camata Paes Landim2 vagas Regis de Oliveira

Renato MollingPSDB/DEM/PPS

Alfredo Kaefer Claudio CajadoLuiz Carlos Hauly Eduardo SciarraMoreira Mendes Silvio TorresVitor Penido 2 vagas1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNJoão Dado Barbosa NetoValtenir Pereira Laurez Moreira

PV1 vaga 1 vaga

PSOL1 vaga 1 vagaSecretário(a): Heloísa Maria Moulin Pedrosa DinizLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Ala A, sala 170Telefones: 3216.6201FAX: 3216.6225

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COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 7.709, DE 2007, DO PODER

EXECUTIVO, QUE "ALTERA DISPOSITIVOS DA LEI Nº 8.666,DE 21 DE JUNHO DE 1993, QUE REGULAMENTA O ART. 37,INCISO XXI, DA CONSTITUIÇÃO, INSTITUI NORMAS PARA

LICITAÇÕES E CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS".

Presidente: Tadeu Filippelli (PMDB)1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: Márcio Reinaldo Moreira (PP)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBJosé EduardoCardozo

Hugo Leal

Márcio ReinaldoMoreira

José Santana de Vasconcellos

Milton Monti Lelo CoimbraPaes Landim Leo Alcântara vaga do PSOL

Paulo Teixeira Luiz CoutoPedro Chaves Maurício RandsPepe Vargas Pedro EugênioRita Camata Renato MollingTadeu Filippelli Vital do Rêgo Filho

1 vagaPSDB/DEM/PPS

Arnaldo Madeira Arnaldo JardimHumberto Souto Bruno AraújoJorge Khoury Carlos Alberto LeréiaJorginho Maluly Eduardo SciarraLuiz Carlos Hauly Marcos Montes

PSB/PDT/PCdoB/PMNFrancisco Tenorio Osmar JúniorJulião Amin Valtenir Pereira

PVDr. Talmir Roberto Santiago

PSOL

Luciana Genro(Dep. do

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBocupa a vaga)

Secretário(a): Maria Terezinha DonatiLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216-6215FAX: 3216-6225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECERAO PROJETO DE LEI Nº 1.927, DE 2003, DO SR. FERNANDODE FABINHO, QUE "ACRESCENTA DISPOSITIVO À LEI Nº10.336, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2001, PARA ISENTAR AS

EMPRESAS DE TRANSPORTE COLETIVO URBANOMUNICIPAL E TRANSPORTE COLETIVO URBANO

ALTERNATIVO DA CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NODOMÍNIO ECONÔMICO - CIDE"

Presidente:1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBCarlos Zarattini Aline CorrêaChico da Princesa Carlos WillianFrancisco Praciano Hugo LealJackson Barreto Jilmar TattoJoão Leão Luiz Carlos BusatoJoão Magalhães Marcelo MeloJosé Chaves Pepe VargasMauro Lopes 2 vagasZezéu Ribeiro

PSDB/DEM/PPSFernando Chucre 5 vagasHumberto SoutoRaimundo Gomes de MatosVitor Penido1 vaga

PSB/PDT/PCdoB/PMNGonzaga Patriota 2 vagasPaulo Rubem Santiago

PVEdson Duarte 1 vaga

PSOL1 vaga 1 vagaSecretário(a): -

COMISSÃO ESPECIAL DESTINA A PROFERIR PARECER AOPROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 1, DE 2007, DO

PODER EXECUTIVO, QUE "ACRESCE DISPOSITIVO À LEICOMPLEMENTAR Nº 101, DE 4 DE MAIO DE 2000".

(PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO - PAC)Presidente: Nelson Meurer (PP)1º Vice-Presidente:2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Relator: José Pimentel (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBArmando Monteiro Fátima BezerraEduardo Valverde Gorete PereiraFlaviano Melo Luiz Fernando FariaJosé Pimentel (Licenciado) Paes LandimLeonardo Quintão Rodrigo Rocha LouresLúcio Vale 4 vagasMauro BenevidesNelson Meurer(Dep. do PSB/PDT/PCdoB/PMNocupa a vaga)

PSDB/DEM/PPSAlfredo Kaefer Cláudio DiazAugusto Carvalho (Licenciado) Silvio LopesZenaldo Coutinho 3 vagas2 vagas

PSB/PDT/PCdoB/PMNAlice Portugal Pompeo de Mattos

Arnaldo Vianna(Dep. do PRB ocupa a

vaga)Paulo Rubem Santiago vaga do

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB

PVFernando Gabeira Edson Duarte

PHSFelipe Bornier Miguel Martini

PRBMarcos Antonio vaga do

PSB/PDT/PCdoB/PMN

Secretário(a): Angélica FialhoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - sala 170-ATelefones: 3216-6218FAX: 32166225

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A APRECIAR ASSOLICITAÇÕES DE ACESSO A INFORMAÇÕES SIGILOSAS

PRODUZIDAS OU RECEBIDAS PELA CÂMARA DOSDEPUTADOS NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES

PARLAMENTARES E ADMINISTRATIVAS, ASSIM COMOSOBRE O CANCELAMENTO OU REDUÇÃO DE PRAZOS DE

SIGILO E OUTRAS ATRIBUIÇÕES PREVISTAS NARESOLUÇÃO N º 29, DE 1993.

Presidente: Paulo Teixeira (PT)1º Vice-Presidente:

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2º Vice-Presidente:3º Vice-Presidente:Titulares Suplentes

PMDBColbert Martins

PTPaulo Teixeira

PSDBPaulo Abi-ackelSecretário(a): Eugênia Kimie Suda Camacho PestanaLocal: Anexo II, CEDI, 1º PisoTelefones: 3216-5600FAX: 3216-5605

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO COM AFINALIDADE DE INVESTIGAR ESCUTAS TELEFÔNICAS

CLANDESTINAS/ILEGAIS, CONFORME DENÚNCIAPUBLICADA NA REVISTA "VEJA", EDIÇÃO 2022, Nº 33, DE 22

DE AGOSTO DE 2007.Presidente: Marcelo Itagiba (PMDB)1º Vice-Presidente: Hugo Leal (PSC)2º Vice-Presidente: Paulo Abi-ackel (PSDB)3º Vice-Presidente: Alexandre Silveira (PPS)Relator: Nelson Pellegrino (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBArnaldo Faria de Sá Carlos WillianColbert Martins Laerte BessaDomingos Dutra Luiz AlbertoHugo Leal Luiz Carlos BusatoIriny Lopes Marcelo MeloLincoln Portela Maurício Quintella LessaLuiz Couto Nelson BornierMarcelo Guimarães Filho Nilson MourãoMarcelo Itagiba Ricardo BarrosNelson Pellegrino 3 vagasSimão Sessim1 vaga

PSDB/DEM/PPSAlexandre Silveira vaga do PSOL Francisco RodriguesEdmar Moreira Gustavo FruetJoão Campos Mendonça PradoJorge Khoury Raul JungmannJorginho Maluly Renato AmaryMarina Maggessi Vanderlei MacrisPaulo Abi-ackel 1 vagaWilliam Woo

PSB/PDT/PCdoB/PMNFrancisco Tenorio Dr. UbialiMarcos Medrado Manoel JuniorRodrigo Rollemberg Pompeo de Mattos

PVSarney Filho Roberto Santiago

PSOL(Dep. do PSDB/DEM/PPS ocupa avaga)

1 vaga

Secretário(a): Saulo Augusto PereiraLocal: Serviço de CPIs - Anexo II, Sala 151-BTelefones: (0xx61) 3216-6276FAX: (0xx61) 3216-6285

COMISSÃO EXTERNA PARA ACOMPANHAR A TRAGÉDIACLIMÁTICA OCORRIDA NO ESTADO DE SANTA CATARINA.Titulares Suplentes

PMDBCelso MaldanerEdinho BezJoão MatosMauro Mariani (Licenciado)Valdir Colatto

PTDécio LimaVignatti

PSDBGervásio Silva

DEMPaulo Bornhausen

PRNelson Goetten

PPAngela AminJoão PizzolattiZonta

PPSFernando CorujaSecretário(a): .

COMISSÃO EXTERNA PARA ACOMPANHAR A APURAÇÃODAS DENÚNCIAS DE ABUSOS SEXUAIS SOFRIDOS PELAADOLESCENTE MANTIDA EM CELA COM 20 HOMENS, NO

MUNICÍPIO DE ABAETETUBA/PA.Coordenador: Luiza Erundina (PSB)Titulares Suplentes

PMDBBel MesquitaElcione Barbalho

PTCida DiogoLuiz CoutoMaria do RosárioZé Geraldo

PSDBZenaldo Coutinho

DEMLira Maia

PSBLuiza ErundinaSecretário(a): Valdivino TolentinoLocal: Anexo II, Pavimento Superior, Sala 170-ATelefones: 3216-6206/6232FAX: 3216-6225

GRUPO DE TRABALHO DE CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS.Coordenador: Cândido Vaccarezza (PT)Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAntonio Palocci Arnaldo Faria de SáAsdrubal Bentes Beto MansurCândido Vaccarezza Fátima PelaesJosé Mentor 8 vagasMauro BenevidesNelson MarquezelliPaulo MalufRegis de OliveiraRita CamataSandro MabelSérgio Barradas Carneiro

PSDB/DEM/PPSArnaldo Jardim 6 vagasBruno AraújoBruno RodriguesJosé Carlos AleluiaRicardo TripoliRoberto Magalhães

PSB/PDT/PCdoB/PMNFlávio Dino 3 vagasMiro Teixeira1 vaga

PVMarcelo Ortiz Edigar Mão Branca

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Secretário(a): Luiz Claudio Alves dos SantosLocal: Anexo II, Ala A, sala 153Telefones: 3215-8652/8FAX: 3215-8657

GRUPO DE TRABALHO PARA EFETUAR ESTUDO EMRELAÇÃO À EVENTUAL INCLUSÃO EM ORDEM DO DIA DEPROJETOS EM TRAMITAÇÃO NA CASA, SOBRE DIREITOPENAL E PROCESSO PENAL, SOB A COORDENAÇÃO DO

SENHOR DEPUTADO JOÃO CAMPOS.Titulares Suplentes

PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoBAntonio Carlos BiscaiaArnaldo Faria de SáMarcelo ItagibaVinicius Carvalho1 vaga

PSDB/DEM/PPSJoão CamposRaul JungmannRoberto Magalhães

PSB/PDT/PCdoB/PMNAbelardo CamarinhaFlávio DinoVieira da CunhaSecretário(a): .

GRUPO DE TRABALHO DESTINADO A ESTUDAR OREMANEJAMENTO DO ESPAÇO FÍSICO DAS LIDERANÇAS

PARTIDÁRIAS.Coordenador: Hugo Leal (PSC)Titulares Suplentes

PMDBOsmar SerraglioVital do Rêgo Filho

PTWalter Pinheiro

PRLuciano Castro

PPNelson Meurer

PDTMário Heringer

PSCHugo Leal

PMNSilvio CostaSecretário(a): .

GRUPO DE TRABALHO DESTINADO A EXAMINAR OPARECER PROFERIDO PELA COMISSÃO ESPECIAL AO

PROJETO DE LEI Nº 203, DE 1991, QUE DISPÕE SOBRE OACONDICIONAMENTO, A COLETA, O TRATAMENTO, O

TRANSPORTE E A DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS DESERVIÇOS DE SAÚDE, COM VISTAS A VIABILIZAR, JUNTO À

CASA, A DELIBERAÇÃO SOBRE A MATÉRIA.Coordenador: Arnaldo Jardim (PPS)Titulares Suplentes

PMDBLelo CoimbraMarcelo AlmeidaPaulo Henrique Lustosa

PTFernando FerroPaulo Teixeira

PSDBPaulo Abi-ackel

DEMJorge Khoury

PR

Maurício Quintella LessaPP

José Otávio GermanoPSB

Luiza ErundinaPTB

Armando MonteiroPV

Dr. NecharPPS

Arnaldo JardimSecretário(a): Leila MachadoLocal: Anexo II - Pavimento Superior - Sala 170-ATelefones: 3216-6212FAX: 3216-6225

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PODER LEGISLATIVO SENADO FEDERAL SERVIÇO DE ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA

DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL

PREÇO DE ASSINATURA

SEMESTRAL

Diário do Senado Federal ou Diário da Câmara dos Deputados – s/o porte (cada) R$ 58,00 Porte do Correio R$ 488,40 Diário do Senado Federal ou Diário da Câmara dos Deputados – c/o porte (cada) R$ 546,40

ANUAL

Diário do Senado Federal ou Diário da Câmara dos Deputados – s/o porte (cada) R$ 116,00 Porte do Correio R$ 976,80 Diário do Senado Federal ou Diário da Câmara dos Deputados – c/o porte (cada) R$ 1.092,80

NÚMEROS AVULSOS

Valor do Número Avulso R$ 0,50 Porte Avulso R$ 3,70

ORDEM BANCÁRIA

UG – 020055 GESTÃO – 00001

Os pedidos deverão ser acompanhados de Nota de empenho, a favor do

FUNSEEP ou fotocópia da Guia de Recolhimento da União-GRU, que poderá ser retirada no SITE: http://consulta.tesouro.fazenda.gov.br/gru/gru–simples.asp Código de Recolhimento apropriado e o número de referência: 20815-9 e 00002 e o código da Unidade Favorecida – UG/GESTÃO: 020055/00001 preenchida e quitada no valor correspondente à quantidade de assinaturas pretendidas e enviar a esta Secretaria. OBS: NÃO SERÁ ACEITO CHEQUE VIA CARTA PARA EFETIVAR ASSINATURA DOS DCN’S.

Maiores informações pelo telefone (0XX–61) 3311-3803, FAX: 3311-1053, Serviço de Administração Econômica Financeira/Controle de Assinaturas, falar com, Mourão ou Solange. Contato internet: 3311-4107

SECRETARIA ESPECIAL DE EDITORAÇÃO E PUBLICAÇÕES PRAÇA DOS TRÊS PODERES, AV. N/2, S/Nº – BRASÍLIA–DF

CNPJ: 00.530.279/0005–49 CEP 70 165–900

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