Resenha Cristal Celan

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  • 8/16/2019 Resenha Cristal Celan

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    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq10079922.

    htm

    Contra a literaturaBE!"#$ C"%"&'$Colunista da Folha

    A essência da poesia de Paul Celan (1920-1970) é um paradoxo di!er o

    indi!"#el$ comunicar o incomunic%#el& Cada poema é como uma caixa-preta$ou uma mensa'em o'ada ao mar dentro de uma 'arraa -met%ora *ue o

     pr+prio poeta usou em seu discurso ao rece,er o prêmio liter%rio da cidade deremen$ em 19./& % no esoro de a,ri-la (e decir%-la) est% um pouco da sua

    sin'ularidade o esoro *ue o poema exi'e % é parte de um encontro com oleitor& Como na tradi3o ca,al"stica$ *ue esses poemas incorporam$ é a cria3o

    do mistério *ue d% sentido ao mundo&Celan escre#e contra a literatura& 4u sea$ a a#or& 5erdeiro de toda uma

    tradi3o moderna$ mas tam,ém testemunha e #"tima das atrocidades doséculo$ ele procura uma #erdade *ue a pr+pria literatura$ nessa mesma ,usca$

    aca,ou dissipando&Como 6allarmé e e,ern$ ele ,usca uma o,ra a,soluta *ue possa #oltar a

    di!er o *ue % n3o pode ser dito pelos limites das con#en8es art"sticas eliter%rias e pelo alcance #iciado das pala#ras diante de uma realidadeirrepresent%#el& uer dar pala#ra aos mortos$ e o silêncio 'anha a" um sentido

    undamental& uer$ :li#re-da-arte:$ reencontrar o caminho da arte :;mri,om,ar é< a pr+pria #erdade< *ue entre as pessoas< sur'iu$< em meio ao<

    tur,ilh3o de met%oras:&A pr+pria hist+ria de Celan o ora$ de uma maneira #iolenta$ a tomar esse

    caminho& Paul Antschel (ou Anc!el -Celan é um ana'rama) nasceu emC!erno=it!$ na >omênia$ de pais udeus-alem3es& ?m @2$ com a aliana entre

    >omênia e Alemanha$ seus pais s3o en#iados a um campo de exterm"nio(6ichailo=a$ na ;crBnia)$ onde s3o u!ilados meses depois& Celan o'e e

    aca,a num campo de tra,alhos orados&?m @7$ so,re#i#ente de 'uerra numa ucareste ocupada pelos so#iéticos$ #ai

     para iena e l% pu,lica seu primeiro li#ro de poemas& Deis meses depois$ #ai para Paris$ onde se casa e passa o resto de sua #ida&

    ?scre#endo sempre em alem3o$ sua l"n'ua materna$ mas :como se osse umal"n'ua estran'eira: (se'undo Eeor'e Dteiner) nesse esoro de di!er o

    indi!"#el so, a marca do 5olocausto$ rece,e em 190 o Prêmio uchner$ amaior consa'ra3o liter%ria da Alemanha&

    ?m a,ril de 1970$ separado da mulher com *uem te#e um ilho e sorendo de proundas crises de depress3o *ue o o,ri'am a ser internado$ Celan se mata$

     o'ando-se no Dena&?ntre os poetas *ue tradu!iu para o alem3o (Pessoa$ >ené Char$ ;n'aretti$

  • 8/16/2019 Resenha Cristal Celan

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    4ssip 6andelstam etc&)$ 5enri 6ichaux é tal#e! o *ue mais se aproxima dessa

    atra3o do #a!io *ue aca,ou dando a Celan a ama de :hermético:& 4 pr+prio poeta$ no entanto$ a!ia *uest3o de di!er *ue era :a,solutamente n3o-

    hermético: e su'eria aos tradutores :Apenas leiam$ leiam de no#o$ e oentendimento sur'ir% por si s+:&

    A tradu3o é sempre um processo de escolhas e perdas& ?m Paul Celan$ pelaradicalidade desses poemas atra"dos pelo silêncio ao mesmo tempo em *ue

    carre'am uma multiplicidade de sentidos nas pala#ras redu!idas ao m"nimo$ atradu3o se torna um dilema praticamente insolG#el$ o *ue a! das edi8es

     ,il"n'ues *uase uma exi'ência&:Cristal:$ sele3o de poemas de oito li#ros do autor lanada a'ora pela

    Hluminuras com tradu3o de Claudia Ca#alcanti$ enrenta esse desaio e suasdiiculdades& Como em toda tradu3o$ h% acertos e perdas& Io caso desta

    edi3o$ o pro,lema mais 'eral tem a #er com a clare!a& 6uitas #e!es$ a

    tradu3o diiculta o entendimento onde n3o precisa#a$ como se os poemas n3oti#essem sido lidos as #e!es necess%rias para a!er :o entendimento sur'ir porsi s+:$ como aconselha#a o autor&

    Por exemplo no céle,re :Jodesu'e: (tradu!ido por :Fu'a so,re a 6orte:)$ o#erso :=ir schaueln ein Era, in der Kten da lie't man nicht en': #irou

    :ca#amos uma co#a 'rande nos ares onde n3o se deita ruim:$ o *ue n3o éclaro e soa mal -mais para Jar!an do *ue para o :alem3o escrito como l"n'ua

    estran'eira: de *ue ala#a Dteiner& Ia esmerada edi3o portu'uesa (:Dete >osas 6ais Jarde:$ Ki#ros Coto#ia$

    tradu3o de o3o arrento e L&M& Centeno$ 199N)$ o mesmo #erso oitradu!ido por :ca#amos um tGmulo nos ares a" n3o icamos apertados:$ em

     ,om e claro portu'uês$ pelo menos& Além disso$ na edi3o ,rasileira$ o #ersooi simplesmente omitido no lu'ar onde de#eria aparecer pela primeira #e!&Apesar de e#entuais pro,lemas como esses$ uma edi3o ,il"n'ue de Celan$ um

    dos maiores poetas da se'unda metade do século$ é sempre ,em-#inda& 4 paradoxo inal dessa o,ra é$ aastando *ual*uer possi,ilidade de romantismo$

     permitir associar as ima'ens antes mais inassoci%#eis e$ em sua descrena eniilismo proundos$ terminar por reno#ar as possi,ilidades da arte e da

     pala#ra& ;m poeta na ronteira$ em ,usca de uma pala#ra-limite&