2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA INICIAÇÃO AO CINEMA ALUNA: CRISTIANE DE FATIMA RIBEIRO ROCHA MATRÍCULA: 090349 DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL O filme Deus e o Diabo na Terra do Sol foi escrito por Glauber Rocha, um cineasta, ator e escritor baiano, um dos grandes líderes do Cinema Novo, corrente artística corrente artística nacional grandemente influenciada pelo movimento francês Nouvelle Vague e pelo Neorrealismo italiano. No decorrer do filme são mostrados aspectos, personagens e elementos da cultura nordestina. A história do filme gira em torno de um casal sertanejo, Manoel e Rosa, que no contexto representam todas as famílias nordestinas. Manoel tem uma vida difícil e é explorado por um coronel que detêm os poderes políticos da região. Um homem chamado Sebastião, pregador e considerado santo pelo povo nordestino que prega a palavra de Deus a partir de sua visão distorcida da realidade, faz com que Manoel acredite cegamente que ele lhe trará vingança e melhoria. Esse pregador é seguido por milhares de sertanejos desesperados, e este se aproveita do desespero do povo para fazê-los acreditar que é emissário de Deus, exigindo deles provações, penitências e até assassinatos em nome da fé. Rosa percebe a loucura do falso Deus negro e, após o sacrifício de uma criança, acaba matando-o. Enquanto isso Antônio das Mortes, um jagunço que muito bem representa o braço armado e a força dos coronéis nordestinos que resolviam tudo na bala, lidera um ataque a mando dos latifundiários locais e da igreja católica, que pedem a morte dos seguidores de Sebastião. Antônio das Morte, o matador de cangaceiros, deixa o casal Manuel e Rosa vivos para contar como foi o massacre à caravana de Sebastião. O casal está sozinho no sertão quando acabam encontrando o bando de Corisco, cangaceiro remanescente do grupo de Lampião. Corisco batiza Manuel de Satanás e este agora tem novamente um sentido em sua vida, completamente imerso no mundo do crime e do cangaço nordestino. Um fato bastante perceptível no filme é a dualidade dos personagens que em determinados momentos são bons, representando assim Deus, e em outros momentos são maus, representando assim o Diabo. Isso é percebido em vários momentos do filme, como quando Manoel mata o coronel Moraes em um ato de desespero, ou quando Rosa mata Sebastião após o mesmo ter assassinado uma criança. O filme foi filmado em preto em branco, na tentativa de assim enfatizar ainda mais o sofrimento do povo nordestino. No fim do filme, Manoel e Rosa seguem em direção ao mar,

RESENHA - Deus e o Diabo Na Terra Do Sol

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Resenha de Filme

Citation preview

Page 1: RESENHA - Deus e o Diabo Na Terra Do Sol

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁSFACULDADE DE COMUNICAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA

INICIAÇÃO AO CINEMA

ALUNA: CRISTIANE DE FATIMA RIBEIRO ROCHAMATRÍCULA: 090349

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

O filme Deus e o Diabo na Terra do Sol foi escrito por Glauber Rocha, um cineasta, ator e escritor baiano, um dos grandes líderes do Cinema Novo, corrente artística corrente artística nacional grandemente influenciada pelo movimento francês Nouvelle Vague e pelo Neorrealismo italiano. No decorrer do filme são mostrados aspectos, personagens e elementos da cultura nordestina. A história do filme gira em torno de um casal sertanejo, Manoel e Rosa, que no contexto representam todas as famílias nordestinas. Manoel tem uma vida difícil e é explorado por um coronel que detêm os poderes políticos da região. Um homem chamado Sebastião, pregador e considerado santo pelo povo nordestino que prega a palavra de Deus a partir de sua visão distorcida da realidade, faz com que Manoel acredite cegamente que ele lhe trará vingança e melhoria. Esse pregador é seguido por milhares de sertanejos desesperados, e este se aproveita do desespero do povo para fazê-los acreditar que é emissário de Deus, exigindo deles provações, penitências e até assassinatos em nome da fé. Rosa percebe a loucura do falso Deus negro e, após o sacrifício de uma criança, acaba matando-o. Enquanto isso Antônio das Mortes, um jagunço que muito bem representa o braço armado e a força dos coronéis nordestinos que resolviam tudo na bala, lidera um ataque a mando dos latifundiários locais e da igreja católica, que pedem a morte dos seguidores de Sebastião. Antônio das Morte, o matador de cangaceiros, deixa o casal Manuel e Rosa vivos para contar como foi o massacre à caravana de Sebastião. O casal está sozinho no sertão quando acabam encontrando o bando de Corisco, cangaceiro remanescente do grupo de Lampião. Corisco batiza Manuel de Satanás e este agora tem novamente um sentido em sua vida, completamente imerso no mundo do crime e do cangaço nordestino.

Um fato bastante perceptível no filme é a dualidade dos personagens que em determinados momentos são bons, representando assim Deus, e em outros momentos são maus, representando assim o Diabo. Isso é percebido em vários momentos do filme, como quando Manoel mata o coronel Moraes em um ato de desespero, ou quando Rosa mata Sebastião após o mesmo ter assassinado uma criança. O filme foi filmado em preto em branco, na tentativa de assim enfatizar ainda mais o sofrimento do povo nordestino. No fim do filme, Manoel e Rosa seguem em direção ao mar,

Page 2: RESENHA - Deus e o Diabo Na Terra Do Sol

porém Manoel deixa Rosa no caminho. O mar neste contexto representa a cidade e uma nova vida, fazendo uma alusão aos milhares de nordestinos que abandonam suas vidas no Nordeste e vão para outra cidade em busca de uma vida digna.

O texto “A Eztetyka da Fome” de Glauber Rocha[2], enfatiza que o Cinema Novo, corrente artística da qual este filme é uma das principais obras, tem como missão retratar o que a indústria cinematográfica se recusa a mostrar, a fome. Segundo Glauber em [2], “...o Cinema Novo narrou, descreveu, poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens comendo raízes, personagens roubando para comer, personagens matando para comer, personagens fugindo para comer, personagens sujas, feias, descarnadas, morando em casas sujas, feias, escuras: foi esta galeria de famintos que identificou o Cinema Novo com o miserabilismo tão condenado pelo Governo, pela crítica a serviço dos interesses antinacionais, pelos produtores e pelo público - este último não suportando as imagens da própria miséria.” As características do Cinema Novo são bastante perceptíveis no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, uma vez que o tema central do filme é em torno da vida difícil do sertanejo e o quanto ele está vulnerável diante do seu desespero, sendo suscetível à influência de pessoas que prometam uma vida melhor.

O filme trás várias reflexões acerca da vida do sertanejo, trazendo de forma realística o sentimento de miséria e desespero do povo, fazendo com que o público sinta, através das técnicas de produção do filme, todos os sentimentos transmitidos pelos personagens, fome, dor, desejo de vingança e esperança de uma vida digna.

BIBLIOGRAFIA

1. Rocha, Glauber. Deus e o Diabo na terra do Sol. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 1964.

2. Rocha, Glauber. A Eztetyka da Fome. Disponível em: <http://lasonora.org/pdfs/album4/glauberrochaestetica.pdf>. Acesso em 17 de fevereiro de 2013.

3. Murari, Lucas. Deus e o Diabo na Terra do Sol. Blog Cine Players. Disponível em: <http://www.cineplayers.com/critica.php?id=928>. Acesso em 17 de fevereiro de 2013.