Resenha Do Artigo - Novos Métodos Exegéticos - Em Busca de Convergências Para Uma Melhor Interpretação

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    LIMA, Anderson de Oliveira. Novos mtodos exegticos: em busca de convergncias parauma melhor interpretao. In: Theos. 7 ed. v. 6, n. 02. Campinas: Faculdade Teolgica Batistade Campinas, 2011.

    Convergncias sincrnicas e diacrnicas na exegese bblica

    Marcos Paulo Nogueira da Silva1

    O autor professor de literatura religiosa com especialidade em interpretao bblica.

    Tem doutorado em cincias da religio e especializao em bblia, alm de bacharelado em

    msica erudita.

    Seu artigo pretende propor uma reviso na forma tradicional de se fazer exegese

    bblica no contexto acadmico. Uma nfase especial dada ao uso de ferramentas de

    disciplinas afins. Os principais referenciais a partir dos quais o autor delineia suas revises

    exegticas so a historiografia e a lingustica.

    Todo o artigo foi construdo propositadamente em primeira pessoa e sua ateno

    dirigi-se a acadmicos e eclesisticos. A estrutura do artigo dividida em cinco tpicos assim

    distribudos: (1) Procedimentos introdutrios; (2) Anlise das formas; (3) Anlise de

    contedo; (4) Anlise extra-textual; e, (5) Atualizao de contedo.

    Os "Procedimentos Introdutrios" so apresentados como uma etapa de escolha e

    preparao do texto. Embora parea uma atividade simples, o autor destaca que existe a uma

    grande gama de dificuldades, tendo em vista o vasto campo literrio que a bblia. Ele divide

    os Procedimentos Introdutrios em quatro momentos: (1) aproximao e escolha do texto;

    (2) delimitao de percope; (3) traduo e comparao de tradues; e (4) crtica textual,

    sendo essa ltima considerada opcional.

    Na "Anlise das Formas" o autor apresenta aquilo que ele considera o incio

    propriamente dito da exegese. Trata-se de um modelo tradicional de exegese, mas que grande

    parte dos exegetas no o aplica corretamente. Segundo Lima, a maior parte dos pesquisadores

    1Ps-graduando em Exegese e Iinterpretao Bblica na Faculdade Batista do Rio de Janeiro.

    mpilosoia!"otmail.com

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    bblicos aplica a anlise das formas apenas para distinguirem gneros literrios e estruturas

    lingsticas comuns como os paralelismos. Em funo disso ele dedica maior ateno ao

    assunto e o divide em trs blocos: (1) Anlise das estruturas inconscientes: trata-se de

    estruturas lingsticas que resultam de convenes culturais, gramaticais e biolgicas, sendo

    elas as responsveis pela forma final que o texto adquire; (2) Anlise dos recursos estilsticos

    formais: so estruturas literrias propositadamente elaboradas, mas que no constituem um

    gnero literrio propriamente dito. So os paralelismos, quiasmos, repeties e todos os

    recursos estilsticos tpicos da literatura bblica (p. 5); (3) Anlise dos gneros ou formas

    fxas: nesse ponto a ateno estem entender como determinado gnero literrio organiza e

    transmite a mensagem do texto.

    Na etapa seguinte, a "Anlise de Contedo", o autor menciona que o alto grau de

    complexidade envolvido nesse tipo de anlise, por vezes, leva os exegetas a ignor-la (p. 6).

    Ele rompe com a abordagem tradicional que normalmente faz anlise de contedo partindo

    das ferramentas histrico-crticas, e se mune de instrumentais narratolgicos e da anlise do

    discurso (p. 5-6). Um primeiro momento dessa anlise distinguir entre "figura" e "tema".

    Figura seria a relao entre o enunciado e o seu equivalente concreto no mundo natural. Tema

    seria a abstrao conceitual que no dispe de um equivalente concreto no mundo natural. Os

    evangelhos e Apocalipse so exemplos de textos figurativos e as cartas paulinas exemplificam

    os textos temticos. Uma advertncia feita pelo autor. Segundo ele, essa maneira de

    classificar os textos no precisa, pois a verdade que os textos podem possuir as duas

    dimenses (p. 7). Como distinguir esses dois nveis no uma tarefa simples, conforme

    sugerido, Lima delineia como se analisa uma figura. O primeiro passo observar os

    personagens que, segundo ele so figuras (p. 7). Essa anlise permite compreender o papel

    dos personagens e as intencionalidades no nvel temtico (p. 7). O segundo passoconcentra-se na anlise dos lugares geogrficos. O objetivo entender a relao que o texto

    constri entre os cenrios que emprega (p. 7). Por fim, o passo final a anlise da narrativa

    do texto. O foco do autor est, principalmente, em dois aspectos da narrativa: (1) a forma

    como o narrador acelera ou desacelera o tempo enquanto conta a histria; (2) a sequncia das

    aes. A partir desses dois aspectos torna-se possvel, segundo ele, fazer com que a histria

    parea acontecer em tempo real para o leitor, alm de apontar o clmax do enredo.

    Na Anlise Extra-Textual, ltima pea do seu esquema exegtico, Lima volta-separa exegeses do tipo diacrnicas. Nas abordagens desse tipo o mundo do texto que est

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    em questo (p. 8) e aspectos relativos autoria, data, destinatrios e local de redao so

    postos em relevo, assim como as realidades polticas, econmicas e sociais. Como na maior

    parte das vezes as referncias bblicas sobre esses aspectos no so claras, cabe ao exegeta

    ater-se teoria que melhor explique ou informe sobre a questo em anlise. Apesar do carter

    inconclusivo de uma teoria, elas devem ser propostas pelo autor e adotadas pelo exegeta como

    processo normal de seu estudo. Nesse tipo de pesquisa, como sugere o autor, deve-se sempre

    admitir alguma margem de erro, dado impreciso das concluses.

    Ainda tratando sobre a Anlise Extra-Textual, Lima observa dois aspectos

    importantes: a anlise da interdiscursividade e a anlise da intertextualidade. A primeira trata

    da pesquisa dos discursos conhecidos por um autor e por seu mundo (p. 9). Estes discursos

    so transmitidos consciente ou inconscientemente para o texto porque jestavam na mente do

    autor. A segunda tem relao com outros textos com os quais o texto estudado teve algum tipo

    de relao ou sofreu alguma forma de influncia. Lima considera que as terminologias

    interdiscursividade e intertextualidade so melhores do que as conhecidas crtica das

    tradies e crtica das fontes, por distinguir com maior preciso as diferentes relaes do

    texto com seu mundo (p. 9).

    Concluindo a Anlise Extra-Textual o autor menciona ainda a histria da

    recepo. Nessa modalidade, a nfase recai sobre como determinado texto tem sido lido e

    interpretado ao longo da histria. Lima chama a ateno para o fato de que nessa etapa, o

    exegeta no emite nenhum juzo de valor ou tira concluses. Ele to somente analisa como o

    texto em estudo foi recebido por seus leitores no decorrer do tempo.

    Terminadas as suas sees exegticas, o autor ressalta a necessidade de tornar

    relevantes os resultados da exegese para a vida da comunidade eclesial. A isso ele chamou de

    Atualizao de Contedo. A ateno nesse momento est em como as realidadesdescobertas no texto bblico analisado podem oferecer lies e apontamento para a prxis

    da igreja contempornea. E ao ligar o exegeta ao mundo e realidade da igreja, Lima encerra

    seu esquema exgtico.

    Sem dvida o autor um pesquisador, embora no tenha formao especfica em

    interpretao e exegese bblica que o tema de seu artigo. Todo o texto do artigo feito em

    linguagem simples e acessvel, embora leitores no familiarizados com as terminologias

    empregadas possam ter alguma dificuldade.

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    De modo geral, o artigo estbem redigido e, como foi proposto, estdidaticamente

    aplicvel. O autor revela conhecimento do assunto, alm de ousadia metodolgica, algo

    imprescindvel no que se refere exegese. Alm disso, deve ser destacado tambm que a

    sugesto do autor, de ampliar o universo interdisciplinar no qual gravita a pesquisa exegtica,

    algo vital para que o pesquisador do sculo XXI no fique preso s amarras do sculo

    XVIII.

    Uma vez feito um panorama geral das idias principais do autor em seu artigo,

    algumas consideraes adicionais ajudaro a ampliar as possibilidades de abordagem e

    pesquisa do tema por ele proposto.

    Em seus Procedimentos Introdutrios, o autor situa a crtica textual como ltimo

    passo e a coloca como opcional. A crtica textual, entendida como a determinao do provvel

    texto original, normalmente a primeira etapa do processo exegtico, seja em abordagens

    diacrnicas ou sincrnicas. Considerando toda a problemtica que existe em torno da

    formao e transmisso do texto bblico, determinar o melhor texto, no somente

    fundamental como tambm preliminar. Talvez a abordagem do autor decorra do fato de ele

    considerar as tradues disponveis em portugus como suficientes para os passos seguintes

    da sua exegese. possvel pensar que essa postura em relao crtica textual seja uma das

    mudanas que o autor visa propor, mas se for o caso, ele deveria ter deixado isso claro,

    alm de discorrer acerca do ganho que eventualmente se teria com tal mudana, o que, em um

    primeiro momento, no parece existir.

    A abordagem mais diacrnica das etapas exegticas sugeridas pelo autor, a saber, a

    Anlise Extra-textual, apresentada com reservas. Isso indica claramente que o autor est

    sugerindo um deslocamento da exegese de cunho diacrnico (e nesse caso, pode-se entender

    histrico-crtica), para exegeses sincrnicas (resposta do leitor; narratolgica; estruturalista;ps-estruturalista, entre outras).

    Ainda sobre a Anlise Extra-textual, e naquilo que o autor chamou de Histria da

    Recepo (p. 10), esto associados vrios aspectos que podem ser, e geralmente so,

    associados crtica textual, principalmente a histria de formao e transmisso do texto

    bblico. Certamente se esse procedimento for aplicado no incio da tarefa exegtica, reduziro

    labor do exegeta e o fartrabalhar sobre um texto cuja fidelidade histrica e crtica jteriam

    sido aferidas.

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    Pode-se afirmar que o autor detalhou bem suas proposies, e naqueles aspectos em

    que o assunto exigiu mais detalhamento, se o autor no o fez, ao menos apontou boas

    indicaes bibliogrficas para um aprofundamento posterior. Alis, embora longe de ser

    exaustivo, o quadro bibliogrfico apresentado bem completo e ajudar a pavimentar o

    caminho daqueles que seguiro a abordagem proposta: seja para legitim-la, complement-la

    ou atmesmo refut-la.

    Assim sendo, a leitura cuidadosa e crtica do artigo serproveitosa a acadmicos e

    religiosos, no obstante esses ltimos ficarem, em boa parte da leitura, suspensos pelo teor

    tcnico da linguagem empregada, como desde o incio adverte o autor.