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7/23/2019 Resenha Do Artigo - Novos Mtodos Exegticos - Em Busca de Convergncias Para Uma Melhor Interpretao
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LIMA, Anderson de Oliveira. Novos mtodos exegticos: em busca de convergncias parauma melhor interpretao. In: Theos. 7 ed. v. 6, n. 02. Campinas: Faculdade Teolgica Batistade Campinas, 2011.
Convergncias sincrnicas e diacrnicas na exegese bblica
Marcos Paulo Nogueira da Silva1
O autor professor de literatura religiosa com especialidade em interpretao bblica.
Tem doutorado em cincias da religio e especializao em bblia, alm de bacharelado em
msica erudita.
Seu artigo pretende propor uma reviso na forma tradicional de se fazer exegese
bblica no contexto acadmico. Uma nfase especial dada ao uso de ferramentas de
disciplinas afins. Os principais referenciais a partir dos quais o autor delineia suas revises
exegticas so a historiografia e a lingustica.
Todo o artigo foi construdo propositadamente em primeira pessoa e sua ateno
dirigi-se a acadmicos e eclesisticos. A estrutura do artigo dividida em cinco tpicos assim
distribudos: (1) Procedimentos introdutrios; (2) Anlise das formas; (3) Anlise de
contedo; (4) Anlise extra-textual; e, (5) Atualizao de contedo.
Os "Procedimentos Introdutrios" so apresentados como uma etapa de escolha e
preparao do texto. Embora parea uma atividade simples, o autor destaca que existe a uma
grande gama de dificuldades, tendo em vista o vasto campo literrio que a bblia. Ele divide
os Procedimentos Introdutrios em quatro momentos: (1) aproximao e escolha do texto;
(2) delimitao de percope; (3) traduo e comparao de tradues; e (4) crtica textual,
sendo essa ltima considerada opcional.
Na "Anlise das Formas" o autor apresenta aquilo que ele considera o incio
propriamente dito da exegese. Trata-se de um modelo tradicional de exegese, mas que grande
parte dos exegetas no o aplica corretamente. Segundo Lima, a maior parte dos pesquisadores
1Ps-graduando em Exegese e Iinterpretao Bblica na Faculdade Batista do Rio de Janeiro.
mpilosoia!"otmail.com
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bblicos aplica a anlise das formas apenas para distinguirem gneros literrios e estruturas
lingsticas comuns como os paralelismos. Em funo disso ele dedica maior ateno ao
assunto e o divide em trs blocos: (1) Anlise das estruturas inconscientes: trata-se de
estruturas lingsticas que resultam de convenes culturais, gramaticais e biolgicas, sendo
elas as responsveis pela forma final que o texto adquire; (2) Anlise dos recursos estilsticos
formais: so estruturas literrias propositadamente elaboradas, mas que no constituem um
gnero literrio propriamente dito. So os paralelismos, quiasmos, repeties e todos os
recursos estilsticos tpicos da literatura bblica (p. 5); (3) Anlise dos gneros ou formas
fxas: nesse ponto a ateno estem entender como determinado gnero literrio organiza e
transmite a mensagem do texto.
Na etapa seguinte, a "Anlise de Contedo", o autor menciona que o alto grau de
complexidade envolvido nesse tipo de anlise, por vezes, leva os exegetas a ignor-la (p. 6).
Ele rompe com a abordagem tradicional que normalmente faz anlise de contedo partindo
das ferramentas histrico-crticas, e se mune de instrumentais narratolgicos e da anlise do
discurso (p. 5-6). Um primeiro momento dessa anlise distinguir entre "figura" e "tema".
Figura seria a relao entre o enunciado e o seu equivalente concreto no mundo natural. Tema
seria a abstrao conceitual que no dispe de um equivalente concreto no mundo natural. Os
evangelhos e Apocalipse so exemplos de textos figurativos e as cartas paulinas exemplificam
os textos temticos. Uma advertncia feita pelo autor. Segundo ele, essa maneira de
classificar os textos no precisa, pois a verdade que os textos podem possuir as duas
dimenses (p. 7). Como distinguir esses dois nveis no uma tarefa simples, conforme
sugerido, Lima delineia como se analisa uma figura. O primeiro passo observar os
personagens que, segundo ele so figuras (p. 7). Essa anlise permite compreender o papel
dos personagens e as intencionalidades no nvel temtico (p. 7). O segundo passoconcentra-se na anlise dos lugares geogrficos. O objetivo entender a relao que o texto
constri entre os cenrios que emprega (p. 7). Por fim, o passo final a anlise da narrativa
do texto. O foco do autor est, principalmente, em dois aspectos da narrativa: (1) a forma
como o narrador acelera ou desacelera o tempo enquanto conta a histria; (2) a sequncia das
aes. A partir desses dois aspectos torna-se possvel, segundo ele, fazer com que a histria
parea acontecer em tempo real para o leitor, alm de apontar o clmax do enredo.
Na Anlise Extra-Textual, ltima pea do seu esquema exegtico, Lima volta-separa exegeses do tipo diacrnicas. Nas abordagens desse tipo o mundo do texto que est
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em questo (p. 8) e aspectos relativos autoria, data, destinatrios e local de redao so
postos em relevo, assim como as realidades polticas, econmicas e sociais. Como na maior
parte das vezes as referncias bblicas sobre esses aspectos no so claras, cabe ao exegeta
ater-se teoria que melhor explique ou informe sobre a questo em anlise. Apesar do carter
inconclusivo de uma teoria, elas devem ser propostas pelo autor e adotadas pelo exegeta como
processo normal de seu estudo. Nesse tipo de pesquisa, como sugere o autor, deve-se sempre
admitir alguma margem de erro, dado impreciso das concluses.
Ainda tratando sobre a Anlise Extra-Textual, Lima observa dois aspectos
importantes: a anlise da interdiscursividade e a anlise da intertextualidade. A primeira trata
da pesquisa dos discursos conhecidos por um autor e por seu mundo (p. 9). Estes discursos
so transmitidos consciente ou inconscientemente para o texto porque jestavam na mente do
autor. A segunda tem relao com outros textos com os quais o texto estudado teve algum tipo
de relao ou sofreu alguma forma de influncia. Lima considera que as terminologias
interdiscursividade e intertextualidade so melhores do que as conhecidas crtica das
tradies e crtica das fontes, por distinguir com maior preciso as diferentes relaes do
texto com seu mundo (p. 9).
Concluindo a Anlise Extra-Textual o autor menciona ainda a histria da
recepo. Nessa modalidade, a nfase recai sobre como determinado texto tem sido lido e
interpretado ao longo da histria. Lima chama a ateno para o fato de que nessa etapa, o
exegeta no emite nenhum juzo de valor ou tira concluses. Ele to somente analisa como o
texto em estudo foi recebido por seus leitores no decorrer do tempo.
Terminadas as suas sees exegticas, o autor ressalta a necessidade de tornar
relevantes os resultados da exegese para a vida da comunidade eclesial. A isso ele chamou de
Atualizao de Contedo. A ateno nesse momento est em como as realidadesdescobertas no texto bblico analisado podem oferecer lies e apontamento para a prxis
da igreja contempornea. E ao ligar o exegeta ao mundo e realidade da igreja, Lima encerra
seu esquema exgtico.
Sem dvida o autor um pesquisador, embora no tenha formao especfica em
interpretao e exegese bblica que o tema de seu artigo. Todo o texto do artigo feito em
linguagem simples e acessvel, embora leitores no familiarizados com as terminologias
empregadas possam ter alguma dificuldade.
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De modo geral, o artigo estbem redigido e, como foi proposto, estdidaticamente
aplicvel. O autor revela conhecimento do assunto, alm de ousadia metodolgica, algo
imprescindvel no que se refere exegese. Alm disso, deve ser destacado tambm que a
sugesto do autor, de ampliar o universo interdisciplinar no qual gravita a pesquisa exegtica,
algo vital para que o pesquisador do sculo XXI no fique preso s amarras do sculo
XVIII.
Uma vez feito um panorama geral das idias principais do autor em seu artigo,
algumas consideraes adicionais ajudaro a ampliar as possibilidades de abordagem e
pesquisa do tema por ele proposto.
Em seus Procedimentos Introdutrios, o autor situa a crtica textual como ltimo
passo e a coloca como opcional. A crtica textual, entendida como a determinao do provvel
texto original, normalmente a primeira etapa do processo exegtico, seja em abordagens
diacrnicas ou sincrnicas. Considerando toda a problemtica que existe em torno da
formao e transmisso do texto bblico, determinar o melhor texto, no somente
fundamental como tambm preliminar. Talvez a abordagem do autor decorra do fato de ele
considerar as tradues disponveis em portugus como suficientes para os passos seguintes
da sua exegese. possvel pensar que essa postura em relao crtica textual seja uma das
mudanas que o autor visa propor, mas se for o caso, ele deveria ter deixado isso claro,
alm de discorrer acerca do ganho que eventualmente se teria com tal mudana, o que, em um
primeiro momento, no parece existir.
A abordagem mais diacrnica das etapas exegticas sugeridas pelo autor, a saber, a
Anlise Extra-textual, apresentada com reservas. Isso indica claramente que o autor est
sugerindo um deslocamento da exegese de cunho diacrnico (e nesse caso, pode-se entender
histrico-crtica), para exegeses sincrnicas (resposta do leitor; narratolgica; estruturalista;ps-estruturalista, entre outras).
Ainda sobre a Anlise Extra-textual, e naquilo que o autor chamou de Histria da
Recepo (p. 10), esto associados vrios aspectos que podem ser, e geralmente so,
associados crtica textual, principalmente a histria de formao e transmisso do texto
bblico. Certamente se esse procedimento for aplicado no incio da tarefa exegtica, reduziro
labor do exegeta e o fartrabalhar sobre um texto cuja fidelidade histrica e crtica jteriam
sido aferidas.
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Pode-se afirmar que o autor detalhou bem suas proposies, e naqueles aspectos em
que o assunto exigiu mais detalhamento, se o autor no o fez, ao menos apontou boas
indicaes bibliogrficas para um aprofundamento posterior. Alis, embora longe de ser
exaustivo, o quadro bibliogrfico apresentado bem completo e ajudar a pavimentar o
caminho daqueles que seguiro a abordagem proposta: seja para legitim-la, complement-la
ou atmesmo refut-la.
Assim sendo, a leitura cuidadosa e crtica do artigo serproveitosa a acadmicos e
religiosos, no obstante esses ltimos ficarem, em boa parte da leitura, suspensos pelo teor
tcnico da linguagem empregada, como desde o incio adverte o autor.