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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Comunicação Social – Jornalismo Resenha do livro “A Escola de Jornalismo”, de Joseph Pulitzer

Resenha Do Livro

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Universidade Federal de PernambucoCentro de Artes e ComunicaçãoComunicação Social – Jornalismo

Resenha do livro “A Escola de Jornalismo”, de Joseph Pulitzer

Discilpina: Introdução ao JornalismoProfessor: Alfredo VizeuAluno: Pedro Silva Monteiro

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O livro “A Escola de Jornalismo” foi escrito por Joseph Pulitzer em 1904,

quando ele já havia se tornado um magnata da mídia, dono de dois jornais. A publicação

serviu como uma refutação às críticas que se tornaram comuns após ele ter tornado

público seu interesse em doar fundos para a criação de uma escola de Jornalismo na

renomada Universidade de Columbia, em Nova Iorque.

Seu jornal New York World foi por algum tempo o maior jornal em termos de

circualação dos Estados Unidos. Atingiu essa marca se utilizando de técnicas

inovadoras – impressão a cores, manchetes maiores e mais fáceis de ler – e de textos

sensacionalistas. Esses textos, somados a batalhas ferrenhas por público com o New

York Journal American, ligaram o nome de Pulitzer ao yellow journalism (imprensa

marrom).

Portanto, para melhorar sua reputação, e a reputação do jornalismo em geral,

muito contaminado pelo sensacionalismo e a falta de rigor, o jornalista viu a

necessidade de se desenvolver uma escola de jornalismo, em busca da excelência na

profissão.

O ensaio é dividido em tópicos, cada um com uma refutação a uma crítica à

Escola de Jornalismo. Em seguida, há outro ensaio, sobre o poder da opinião pública.

Inicialmente, Pulitzer destaca um dos assuntos que até hoje é discutido no

Jornalismo, a questão de se o jornalismo depende apenas da aptidão natural. Para ele, a

grande questão não é necessariamente a aptidão natural, e sim que o editor nato é apenas

alguém “que simplesmente substituiu a educação dada por terceiros pelo

autodidatismo”. Portanto, ele argumenta que seria muito mais vantajoso ter um sistema

de instrução que “o levasse aos mesmos resultados economizando tanto tempo e

trabalho”.

O autor acredita que, assim como a inteligência, a consciência e a coragem

moral podem ser aprimoradas através do ensino. Sobre a consciência, ele afirma que

“depende, em larga escala, da educação” e, sobre a coragem moral, ele diz que deve se

basear no fato de que a coragem física pode ser ensinada.

Em seguida, a refutação se volta para o fato de que os críticos afirmam que o

jornalismo deve ser aprendido na redação. Segundo Pulitzer “ninguém numa redação

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tem tempo ou vocação para ensinar um repórter cru as coisas que deveria saber antes de

realizar o mais simples trabalho jornalístico”.

Os tópicos subseqüentes tratam mais especificamente da faculdade em si.

Primeiramente, Pulitzer nega a idéia de que uma faculdade como essa seria supérflua.

Ele afirma que as faculdades podem até já contar com as matérias que ele julga

necessárias para o curso de Jornalismo (matérias que ele discutirá mais adiante), mas

elas precisam ser mais concisas e orientadas especificamente para o Jornalismo.

Talvez o tópico mais atual de todo o livro é o de distinção na categoria de

jornalista, que Pulitzer acredita ser algo positivo. “Precisamos de uma consciência de

classe entre os jornalistas que não se baseie no dinheiro, mas sim na moral, na educação

e no caráter.” Para ele, a importância de uma consciência de classe surge do fato de que

o jornalista, como um formador de opinião pública, não pode trabalhar de forma isolada,

pois dessa forma é mais facilmente corrompido.

Após comentar sobre as escolas por correspondência e como elas não rivalizam

com seu conceito de escola de jornalismo, Pulitzer discute outro ponto crucial, a questão

dos professores da futura escola. De acordo com ele, os professores precisam ser

editores bem sucedidos, com muita experiência profissional, o que torna difícil a tarefa

de recrutá-los para ensinar. Propõe duas soluções: recorrer a editores aposentados, ou

apelar para a honra dos jornalistas, que precisam reconhecer a importância da Escola.

Além disso, o autor propõe palestras de personalidades de outras áreas para contribuir

com o trabalho do corpo docente da Escola.

Seguindo, o publisher trata do currículo da Escola, começando por o que não

pode e o que não deve se ensinar. Novamente, Pulitzer toca no ponto de que habilidades

inatas não podem ser ensinadas, mas podem – e devem – ser aperfeiçoadas na Escola,

pois os alunos mergulhariam num ambiente de formação jornalística, onde o

desenvolvimento de habilidades seria possível.

O autor depois faz menção à separação que deve haver entre uma faculdade de

comércio e a faculdade de jornalismo. Na última, não se deve aprender gestão de

negócios. Segundo ele, “poucos homens da administração de um jornal sabem alguma

coisa sobre os princípios do jornalismo”. Acredita que deve haver uma clara distinção

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entre os jornalistas e os administradores do jornal, pois requerem habilidades

completamente diferentes.

Nos dois tópicos seguintes, de certa forma fora de contexto, Pulitzer trata dos

avanços da sociedade americana. Comenta que depois de um progresso tão vertiginoso,

o jornalismo pode ter ficado para trás, necessitando de uma mudança de paradigma e de

uma maior profissionalização.

Voltando ao currículo de sua proposta Escola de Jornalismo, o autor discute o

que deve ser ensinado no curso. Primeiramente, refere-se à importância de se ensinar

estilo na escrita, pois segundo ele, “a arte literária, em geral, é muito mal ensinada e

muito pouco apreciada neste país.”

Em seguida, lista matérias que são indispensáveis para o curso, todas apoiadas

em exemplos históricos e com explicações de como elas devem ser ensinadas voltadas

para o jornalismo. São elas: Direito, Ética, Literatura, Verdade e precisão, História,

Sociologia, Economia, Estatística, Linguas modernas, Ciências físicas, Estudo dos

jornais, e Princípios do Jornalismo. Na discussão das matérias específicas para o

jornalismo, Pulitzer reitera a importância de editores experientes como professores, para

que os alunos possam aprender com os erros e acertos de profissionais do campo.

No meio disso tudo, o autor discute dois tópicos sobre os inimigos da república,

os perigos para o bem estar da nação, e a arbitragem e sua importância para evitar

distúrbios e como ela pode ser usada positivamente pela imprensa. Além disso, também

faz um pequeno comentário sobre as noticias, onde afirma a sua importância, mas diz

que não fazem parte do seu interesse pessoal.

Por fim, Pulitzer conclui afirmando que seu principal objetivo na proposta de

uma Escola de Jornalismo, é o de bem-estar da república. Segundo ele, “o objetivo desta

faculdade será formar melhores jornalistas, que farão melhores jornais, que irão servir

melhor à população.” O autor vê no jornalista uma capacidade enorme de formar

opiniões, e numa democracia gigantesca como os Estados Unidos, essa capacidade tem

que ser usada para o bem-estar do país. Para Pulitzer, “O poder de moldar o futuro da

república estará nas mãos dos jornalistas da próxima geração.”

Depois do ensaio, há um “apêndice” sobre o poder da opinião pública. Nesse

apêndice, o autor afirma que “a opinião pública (...) é uma lei não escrita – um

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sentimento dominante representando um acordo coletivo ou código de moral e

comportamento.” Inicialmente, ele trata de exemplos históricos da força da opinião

pública. Depois discorre sobre o papel da imprensa na formação dessa opinião, qual era

a atuação da imprensa nesse papel na época, como ela influencia e é influenciada pela

opinião pública. Por fim comenta sobre casos específicos do uso da força da imprensa

na opinião pública.

O ensaio, como todo, é muito bem desenvolvido. Na argumentação, o autor tem

sucesso na sua habilidade de citar exemplos históricos para basear suas afirmações,

além de manter constante a sua opinião da necessidade de uma consciência de classe no

jornalismo, e como isso pode ser positivo para o desenvolvimento da imprensa.

A questão da consciência de classe é justamente a mais atual de todas as

argumentações. Após os impasses do Supremo Tribunal Federal em relação ao diploma

de Jornalismo no Brasil, a classe jornalística brasileira sofreu uma queda de auto-estima,

portanto, um texto que aborda tanto a importância do estudo de jornalismo e as

distinções profissionais que ele pode trazer é muito relevante.

Ainda que o ensaio trate basicamente das proposições de Pulitzer para uma

formação de uma Escola de Jornalismo, a maior conquista dele são as suas reflexões

sobre a importância do jornalismo para a sociedade, que são diacrônicas. Essas

reflexões tornam o trabalho muito atual.

Apesar dos pontos positivos, o ensaio apresenta alguns problemas. No campo

teórico, o principal deles é que a criação de uma Escola nos modos propostos por

Pulitzer é quase que utópica na maioria das universidades, pois seria necessária a

mobilização de muitos recursos.

Por exemplo, na questão dos professores, onde o autor faz sempre questão de

citar a importância da experiência em redações. Nas Universidades Federais do Brasil, é

obrigatório o nível de pós-graduação para ensinar. O que acontece é que o tempo e os

recursos destinados ao alcance desse nível são tão altos que se acaba praticamente

dividindo os jornalistas entre os que vão para o campo profissional e os que se

direcionam para a academia. Assim, torna-se extremamente difícil compor um corpo

docente com jornalistas tão bem sucedidos no campo profissional.

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Também em relação aos professores, Pulitzer se apóia muito na sua idéia de que

serão promovidas palestras eventuais com grandes editores do mundo jornalístico.

Também é outra idéia que necessita de muitos recursos financeiros, e a não execução

dela pode minar muitas das idéias curriculares propostas para a Escola.

Além disso, a falta de importância dada à notícia no ensaio também é algo que

não parece condizer com as argumentações tão detalhadas do ensaio. A notícia é o

principal objeto de trabalho do Jornalista, e não pode ser ignorada em um texto tão

detalhado sobre a profissão. O ensaio carece de maiores informações sobre como

Pulitzer proporia o ensino de matérias relacionadas especificamente à apuração das

notícias. Além disso, a discussão sobre as notícias envolve a ética no jornalismo, a

capacidade de moldar a opinião pública, e portanto, devia ser levada em consideração.

Alguns problemas estruturais também aparecem no texto. Certos tópicos – como

sobre os avanços da sociedade e sobre os inimigos da república –, inicialmente soam um

pouco fora de contexto. Só fazem sentido na conclusão do texto, quando Pulitzer torna

explícita a relação próxima que para ele existe entre o jornalismo e o bem estar do país.

Outro problema presente no livro não está relacionado com a estrutura nem as

argumentações do texto. Por ter sido escrito em 1904, o livro trata apenas do jornalismo

impresso, já que era o único existente na época. Os avanços dos meios de comunicação

e as mudanças no campo de trabalho do jornalista fazem o livro parecer em alguns

pontos, datado, mas nada que comprometa suas sólidas argumentações.

Por ser um trabalho seminal no desenvolvimento das Escolas de Jornalismo, o

ensaio merece muito crédito. Muitos desses avanços citados no parágrafo acima, na

forma de fazer jornalismo e nas pesquisas sobre o jornalismo, aconteceram basicamente

por causa da proliferação das Faculdades de Jornalismo e do maior rigor da profissão

que seguiu. Isso tudo não seria possível sem esse texto. Leitura indispensável para

qualquer pessoa interessada no campo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

PULITZER, Joseph. A Escola de Jornalismo. A opinião pública. Florianópolis: Editora Insular, 2009. Série Jornalismo a Rigor. Vol.3. Tradução: Jorge Meditsch e Eduardo Meditsch.