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UNIVERSIDADE FEDERAL FRONTEIRA SUL – UFFS Campus – Cerro Largo
Curso de Graduação (Licenciatura em Letras: Português e Espanhol)Fundamentos da educação.
Luciano Batista da C.1
ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 1995.
A obra Educação e Emancipação está dividida em oito capítulos: 1) O que
significa elaborar o passado, 2) A filosofia e os professores, 3) Televisão e formação,
4) Tabus acerca do magistério, 5) Educação após Auschwitz, 6) Educação: para
quê? 7) A educação contra a barbárie, e 8) Educação e emancipação. De acordo
com o texto, “A educação não é necessariamente um fator de emancipação”
(ADORNO, 1995, p. 11). Todavia, quando há uma determinação social em relação a
educação é necessário, segundo o autor, uma elaboração do passado evitando,
assim que este não se repita. A primeira impressão que se tem da obra é que
Adorno adota uma posição pessimista em relação ao processo de humanização,
mas a perspectiva é outra, Adorno é um pensador comprometido como os
problemas sociais, decorrentes de um sistema que encerra qualquer possibilidade
de emancipação.
A referida obra é uma coletânea de textos utilizados em conferências,
ministradas por Adorno, e debates transmitidos pela rádio do estado de Hessen na
Alemanha, no período de 1959 a 1969. Adorno caracteriza o principal problema da
educação relacionado, por assim dizer, ao período de Auschwitz. As barbáries
praticadas em Auschwitz não foram erradicadas da sociedade moderna, ela está
presente e é fundamentada no protótipo de educação instrumental. Adorno defende
a superação da educação instrumental, com base na razão instrumental, pela
educação emancipatória.
O texto não apresenta nenhuma receita para que a educação seja algo
positivo na vida do indivíduo. Mas dá algumas diretrizes de como a educação atual
pode se livrar ou se esquivar das ambiguidades que regem a sociedade moderna.
Para Adorno, desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação. O termo
desbarbarizar está vinculado às ações violentas, a educação deve conduzir o
indivíduo ruma à humanização, a emancipação.
1 Acadêmico do curso de Letras Português Espanhol, segunda fase.
A terminologia emancipação, no contexto educacional, nem sempre é
compreendido, porque está além da relação das competências gerais de docentes e
discentes. Para isso, adorno recorre mais discurso epistemológico filosófico, que a
educação em si mesma. Dessa maneira, o autor elabora sua teoria crítica na defesa
de uma educação fundamentada no uso da razão de natureza filosófica. Somente,
por meio de uma razão objetiva que o sujeito conseguirá conquista sua autonomia.
Mesmo fazendo uma reflexão de cunho filosófico em relação à emancipação,
Adorno não elabora uma crítica ontológica. Porque a razão objetiva não faz
referencia a razão instrumental. A razão objetiva, neste caso, irá auxiliar na
formação de uma consciência crítica, que trará em seu bojo as condições
necessárias para humanizar não só o indivíduo em sua subjetividade, mas
alcançará, efetivamente, a dimensão intersubjetiva dando assim bases sólidas e
consolidadas para as consciências autônomas e emancipadas.
No segundo capítulo, A filosofia e os professores faz uma crítica velada a
prova de filosofia realizada pelos candidatos à docência. Para Adorno, tal processo
não chega a ser um processo sólido, pois quem passar na referida prova, não
significará de forma alguma que está apto a exerce a função de docência. Para se
exercer a atividade docente é necessário amar o saber. Um dos maiores problemas
apontado pelo autor é a falta de amor, gerando assim a falta de competências para
assumir o oficio da docência (1995, p. 56).
No terceiro capítulo, Televisão e formação são destacados alguns pontos em
torno da televisão, que na sociedade moderna tem a função difundir ideologias
dominantes, está é a principal resistência criada em torno da televisão. Adorno
destaca dois aspectos relacionados à televisão, primeiro na possibilidade de tal
instrumento ser utilizado na formação do indivíduo. Outro aspecto levantado é o
caso da televisão ser usada mais para deformar a consciência do indivíduo do que
para formar sua consciência. Para evitar tal desvio seria necessário um maior
controle a partir de uma consciência social mais aprofundada em relação ao
potencial uso da televisão no auxilio a formação e emancipação (1995, p. 78).
No quarto capítulo, Tabus acerca do magistério é apontado algumas
dicotomias em relação a profissão docente: “De um lado, o professor universitário
como profissão de maior prestígio; de outro, o silencioso ódio em relação em relação
ao magistério de primeiro e segundo graus” (ADORNO, 1995, p. 99). O processo
estigmático sofrido pelos professores de primeiro e segundo grau, talvez se dê pelas
constantes regressões, que projetam a antiga figura do professor que era o mais
forte, em relação ao aluno, e que oprimia e que castigava este protótipo ainda
assombra o mundo do magistério. Ao educador compete vencer todas as
dificuldades que esbarram em seu oficio. Procurando tornar a educação um
instrumento de auxilio na conscientização do indivíduo. Em relação as frequentes
hostilidades sofridas pelo magistério é importante analisar que tais também são
alguns dos meios utilizados pelo mecanismo opressor para desanimar o professor,
fazendo-o refém da própria ambiguidade educacional e social.
No quinto capítulo Educação após Auschwitz acusa de maneira categórica a
racionalidade instrumental de ainda manter armazenado em suas raízes as
condições da barbárie de Auschwitz. Salienta assim, o importante papel da
educação de promover a emancipação do indivíduo. Para Adorno, “a reflexão pode
servir tanto para à dominação cega como ao seu oposto. As reflexões precisam,
portanto, ser transparentes em sua finalidade humana. [...] De resto, acredito
também que um ensino que se realiza em formas humanas de maneira alguma
ultima o fortalecimento do instinto de competição. Quando muito é possível educar
desta maneira esportista, mas não pessoas desbarbarizadas” (1995, p. 161). A
educação deve conduzir o indivíduo a independência de pensar, isto é, a razão
objetiva.
No sexto capítulo Educação: para quê? Na modernidade a barbárie é
percebida, e quando é percebida, com certa banalidade. Sendo assim, a ação da
escola é complexa e difícil. A dificuldade consiste em resistir a vigente corrente que
banaliza o mal. A educação deve dá novas perspectivas ao indivíduo, isto é, a
educação deve dá sentido a si mesma e a vida do indivíduo. Segundo Adorno: “A
situação é paradoxal. Uma educação sem indivíduos é opressiva, repressiva. Mas
quando procuramos cultivar indivíduos da mesma maneira que cultivamos plantas
que regamos com água, então isto tem algo de quimérico e ideológico. A única
possibilidade que existe é tornar tudo isso consciente na educação” (1995, p. 154).
Quando a barbárie se torna regra geral, a educação é questionada. Qual a essência
da educação? Diante da insinuosa pergunta há a tentativa de desqualificar a
educação e os seus profissionais.
No sétimo capítulo A educação contra a barbárie Adorno inicia dizendo que
é necessário superar a barbárie, disto depende a sobrevivência da humanidade. A
barbárie tem sua origem, segundo Adorno, no regresso à violência física primitiva.
Portanto, a ênfase da educação, neste estágio, deve ser na infância, onde o sentido
de autoridade deve ser algo esclarecido, ou seja, se a imagem de autoridade for
trabalhada de forma positiva, e não repressiva, a educação estará dando passos
largos na perspectiva de superação da barbárie. Porém, tal processo deve ser
desenvolvido em parceria com a sociedade em geral. Pois de nada adiantará a
escola travar uma batalha contra a barbárie, se, por exemplo, o governo não tiver
também abraçado a causa da não violência. Imagine o sistema educacional fazendo
uma campanha de não violência e o governo uma campanha de guerra. Estará
instalado decisivamente o paradoxo: o discurso contra a prática. Assim, é
imprescindível que a luta contra a barbárie seja uma causa de todos e não só da
educação, mas é claro que a educação lançará o eixo orientador da referida
campanha.
No oitavo e último capítulo Educação e emancipação Adorno atribui à
educação o papel de conduzir o sujeito rumo ao esclarecimento, a emancipação.
Para uma sociedade que almeja viver numa autêntica autonomia deve contribuir ou
pelo menos facilitar para que a educação assuma o papel de emancipar o sujeito.
Caso contrário, tal sociedade estará longe de uma autêntica democracia.
De maneira geral é possível apontar certa objetividade na obra como um
todo, no que se refere a preocupação em apresentar uma visão atualizada da
temática educação, assim como a projeção na resolução de algumas problemáticas
inerentes a educação. Assim, a partir da contextualização da temática desafiadora
da educação o autor não apresenta nenhuma receita de como a educação pode
superar tais desafios, mas através de suas proposições é possível destacar, na
visão do autor, certo comprometimento não só com a realidade da educação, mas
da sociedade como um todo. Porém, cabe à educação assumir o papel de
protagonista no processo de emancipação.
Luciano Batista da Conceição, acadêmico do curso de Letras Portugues Espanhol – Licenciatura, segunda fase.