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Universidade Federal do Maranhão Graduandos em Geografia Fabricio Fernando Caldas Cavalcante Larissa Thais dos Santos de Macedo Luisa Carolina Martins Ramalho Matheus Prudêncio Ericera Tarcio Monteiro Trajano RESENHA SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004. Como toda ciência, a Geografia teve seus retrocessos e avanços no decorrer dos séculos, a partir do século XIX e XX construiu novas bases pela existência de diversos métodos que aceleraram seu desenvolvimento. Eliseu Sposito, em seu ensaio Filosofia e Geografia, apresenta a priori a relação e ao mesmo tempo o distanciamento entre a Geografia e a Filosofia e as contribuições para o ensino do pensamento geográfico. Essa distância se dá pelo fato da Geografia ter sido disciplina escolar antes mesmo de se constituir em campo de investigação científico. O ideário marxista trouxe consigo a dialética que a partir do diálogo aproximou a Filosofia da Geografia e a produção do conhecimento trazendo novas concepções para o século XXI. O ensaio apresenta cinco capítulos nos quais as reflexões versam sobre a questão do método e a crítica do conhecimento, a teoria do conhecimento e a realidade

Resenha Geografia e Filosofia - Eliseu Savério Sposito

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RESENHASPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.Como toda ciência, a Geografia teve seus retrocessos e avanços no decorrer dos séculos, a partir do século XIX e XX construiu novas bases pela existência de diversos métodos que aceleraram seu desenvolvimento. Eliseu Sposito, em seu ensaio Filosofia e Geografia, apresenta a priori a relação e ao mesmo tempo o distanciamento entre a Geografia e a Filosofia e as contribuições para o ensino do pensamento geográfico. Essa distância se dá pelo fato da Geografia ter sido disciplina escolar antes mesmo de se constituir em campo de investigação científico. O ideário marxista trouxe consigo a dialética que a partir do diálogo aproximou a Filosofia da Geografia e a produção do conhecimento trazendo novas concepções para o século XXI.O ensaio apresenta cinco capítulos nos quais as reflexões versam sobre a questão do método e a crítica do conhecimento, a teoria do conhecimento e a realidade objetiva, os conceitos, temas e por as teorias. O livro mostra como se deu as bases do conhecimento e da reflexão a partir da Filosofia. O método traz consigo um percurso pelas diferentes correntes da Filosofia. A invasão pela teoria do conhecimento abre lugar a necessária compreensão do ato de produzir conhecimento e de suas relações com o mundo da ciência, partindo das perguntas: Por quê? Como? e Para quê?Os conceitos mais polêmicos que a Geografia produziu estão marcados como espaço, região e território, somados mais tarde a paisagem e lugar formam o conjunto de objetos de investigação científica da Geografia em todo o mundo. Os temas atuais abrem espaço para a modernização, globalização e mundialização que se somariam a crise paradigmática vivida pela Geografia. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) tem dado contribuições significativas para essa aproximação entre a Geografia e a Filosofia a partir de congressos envolvendo discussões entre essas duas ciências.As teorias fazem alusão à teoria do ciclo de erosão, às teorias de localidades centrais e à teoria sobre os dois circuitos da economia urbana. Certamente o distanciamento entre essas duas ciências citadas acima pode ser quebrado a partir da produção teórica e esse ensaio mostra claramente essa necessidade de conversação, para que os diálogos filosóficos se tornem diálogos constantes na Geografia. CAPÍTULO 1 - A QUESTÃO DO MÉTODO E A CRÍTICA DO CONHECIMENTO O método não deve ser confundido com as disciplinas que foram resultando da fragmentação da ciência, desde o renascimento o conhecimento científico vem contribuindo com importantes avanços para a compreensão e explicação do mundo.A importância do método e de sua discussão em Geografia é inegável. Para Santos (1996, p. 62-3), a questão do método é fundamental porque se trata da construção de um sistema intelectual que permita, analiticamente, abordar uma realidade, a partir de um ponto de vista, não sendo isso um dado a priori, mas “uma construção”, no sentido de que “a realidade social é intelectualmente construída”.A leitura deste escrito tem como intenção contribuir para o ensino do pensamento geográfico, demonstrando para o estudante de Geografia que há várias maneiras de se iniciar o estudo de questões relativas ao axioma geográfico. Assim, é preciso consultar diversas fontes, como um ou mais dicionários ou obras de referência que busquem confrontar as diferentes definições de método.Além dos métodos citados anteriormente há também o método axiomático, o indutivo, de análise-síntese e hermenêutico. Definir método é algo muito complexo dentro das ciências e da própria Filosofia. Segundo Sposito, método é o conjunto de procedimentos lógico e de técnicas operacionais que permitem ao cientista descobrir as relações causais constantes que existem entre os fenômenos.O empirismo inglês, o idealismo alemão, a dialética hegeliana, o positivismo comtiano e o materialismo histó

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Universidade Federal do MaranhãoGraduandos em Geografia

Fabricio Fernando Caldas CavalcanteLarissa Thais dos Santos de Macedo

Luisa Carolina Martins RamalhoMatheus Prudêncio Ericera

Tarcio Monteiro Trajano

RESENHA

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do

pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

Como toda ciência, a Geografia teve seus retrocessos e avanços no decorrer

dos séculos, a partir do século XIX e XX construiu novas bases pela existência de

diversos métodos que aceleraram seu desenvolvimento. Eliseu Sposito, em seu ensaio

Filosofia e Geografia, apresenta a priori a relação e ao mesmo tempo o distanciamento

entre a Geografia e a Filosofia e as contribuições para o ensino do pensamento

geográfico. Essa distância se dá pelo fato da Geografia ter sido disciplina escolar antes

mesmo de se constituir em campo de investigação científico. O ideário marxista trouxe

consigo a dialética que a partir do diálogo aproximou a Filosofia da Geografia e a

produção do conhecimento trazendo novas concepções para o século XXI.

O ensaio apresenta cinco capítulos nos quais as reflexões versam sobre a

questão do método e a crítica do conhecimento, a teoria do conhecimento e a realidade

objetiva, os conceitos, temas e por as teorias. O livro mostra como se deu as bases do

conhecimento e da reflexão a partir da Filosofia. O método traz consigo um percurso

pelas diferentes correntes da Filosofia. A invasão pela teoria do conhecimento abre

lugar a necessária compreensão do ato de produzir conhecimento e de suas relações com

o mundo da ciência, partindo das perguntas: Por quê? Como? e Para quê?

Os conceitos mais polêmicos que a Geografia produziu estão marcados

como espaço, região e território, somados mais tarde a paisagem e lugar formam o

conjunto de objetos de investigação científica da Geografia em todo o mundo. Os temas

atuais abrem espaço para a modernização, globalização e mundialização que se

somariam a crise paradigmática vivida pela Geografia. A Associação dos Geógrafos

Brasileiros (AGB) tem dado contribuições significativas para essa aproximação entre a

Geografia e a Filosofia a partir de congressos envolvendo discussões entre essas duas

ciências.

As teorias fazem alusão à teoria do ciclo de erosão, às teorias de localidades

centrais e à teoria sobre os dois circuitos da economia urbana. Certamente o

distanciamento entre essas duas ciências citadas acima pode ser quebrado a partir da

produção teórica e esse ensaio mostra claramente essa necessidade de conversação, para

que os diálogos filosóficos se tornem diálogos constantes na Geografia.

CAPÍTULO 1 - A QUESTÃO DO MÉTODO E A CRÍTICA DO

CONHECIMENTO

O método não deve ser confundido com as disciplinas que foram resultando

da fragmentação da ciência, desde o renascimento o conhecimento científico vem

contribuindo com importantes avanços para a compreensão e explicação do mundo.

A importância do método e de sua discussão em Geografia é inegável. Para

Santos (1996, p. 62-3), a questão do método é fundamental porque se trata da

construção de um sistema intelectual que permita, analiticamente, abordar uma

realidade, a partir de um ponto de vista, não sendo isso um dado a priori, mas “uma

construção”, no sentido de que “a realidade social é intelectualmente construída”.

A leitura deste escrito tem como intenção contribuir para o ensino do

pensamento geográfico, demonstrando para o estudante de Geografia que há várias

maneiras de se iniciar o estudo de questões relativas ao axioma geográfico. Assim, é

preciso consultar diversas fontes, como um ou mais dicionários ou obras de referência

que busquem confrontar as diferentes definições de método.

Além dos métodos citados anteriormente há também o método axiomático,

o indutivo, de análise-síntese e hermenêutico. Definir método é algo muito complexo

dentro das ciências e da própria Filosofia. Segundo Sposito, método é o conjunto de

procedimentos lógico e de técnicas operacionais que permitem ao cientista descobrir as

relações causais constantes que existem entre os fenômenos.

O empirismo inglês, o idealismo alemão, a dialética hegeliana, o

positivismo comtiano e o materialismo histórico marxista serviram de bases teóricas e

doutrinárias para o desenvolvimento não só do conhecimento científico e filosófico, mas

de métodos diferentes e de posturas e interpretações da realidade baseados em

fundamentos diferenciados. Assim, os métodos são utilizados dependendo da própria

intencionalidade do investigador.

Na Filosofia do século XVII, Chauí em sua obra Primeira filosofia (1986)

afirma que a palavra método “tem um sentido vago e um sentido preciso” distinção:

Sentido vago porque todos os filósofos possuem um

método ou o seu método, havendo tantos métodos quanto

filósofos. Sentido preciso, porque o bom método é aquele

que permite conhecer verdadeiramente o maior número de

coisas com o menor número de regras.

Os elementos fundamentais do método são a ordem e a medida. A indução e

a dedução são procedimentos da razão e não métodos diferenciados e com identidade

própria. Os métodos hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico, possuem leis e

categorias e estão relacionados historicamente a procedimentos específicos e teorias

disseminadas pela comunidade científica.

O método hipotético dedutivo é aquele através do qual se constrói uma

teoria que formula hipóteses a partir das quais os resultados obtidos podem ser

deduzidos, e com base nas quais se podem fazer previsões, que por sua vez podem ser

confirmadas ou refutadas Sposito (1999) apud Japiassu & Marcondes (1990). Esse

método é baseado no pensamento cartesiano de René Descartes. Entretanto:

É discutível até que ponto as teorias realmente se

constituem e se desenvolvem a partir do método

hipotético-dedutivo, uma vez que nem sempre há uma

correspondência perfeita entre experimentos e

observações, por um lado, e deduções, por outro (pág.

143)

Na relação entre sujeito e objeto, o objeto prevalece sobre o sujeito,

influenciando o pesquisador e os seus conhecimentos, mesmo que a neutralidade

científica seja um pressuposto básico. O real é descrito por meio de hipóteses e

deduções.

O Método Fenomenológico-Hermenêutico

O termo hermenêutico designava até o fim do século XIX todo esforço de

interpretação científica de um texto difícil que exige uma explicação, atualmente a

hermenêutica constitui uma reflexão filosófica interpretativa ou compreensiva sobre os

símbolos e os mitos em geral. A fenomenologia, segundo Nunes (1989 pág.88) é uma

crítica de toda tradição especulativa ou idealista, refuta o empirismo e o positivismo. A

fenomenologia é uma filosofia do subjetivo. Na relação entre sujeito e objeto, é o sujeito

que descreve o objeto e suas relações a partir de seu ponto de vista. O método

fenomenológico-hermenêutico vai além do subjetivismo através da consciência.

O Método Dialético

É aquele que procede pela refutação das opiniões de senso comum, levando-

as a contradição, para chegar então a verdade, fruto da razão, citado (Sposito, 1999)

apud Japiassu & Marcondes (1990, pág. 167). Na relação entre sujeito e objeto, o sujeito

se constrói e transforma vis-a-vis o objeto e vice versa.

As tendências doutrinárias constituem a visão de diferentes pessoas no

modo de ver e fazer Geografia. As ideias e opiniões devem ser se submeter ao princípio

da falseabilidade para se confirmar se são científicas ou não, pois o conhecimento só é

comprovado se estiver sujeito a experimentação.

A contextualização do pensamento crítico e radical aponta para a

característica de totalidade. Assim, a leitura do pensamento geográfico deve ser feita

mediante reflexão “radical (busca a origem do problema), crítica (colocar o objeto do

conhecimento em um ponto de crise) e total (inserir o objeto da nossa reflexão no

contexto do qual é conteúdo)” Oliveira (1990, pag. 22) citado por Sposito (1999).

Crítica

A crítica está atrelada a atitude de espírito que não admite nenhuma

afirmação sem reconhecer sua legitimidade racional. Difere de espírito crítico, ou seja,

dessa atitude de espírito negativa que procura denegrir sistematicamente as opiniões ou

as ações das outras pessoas (Sposito, 1999) apud (ibidem). Cometer o pensamento

crítico é ir além das aparências é ir além do senso comum, é comparar dados, é se

questionar sobre ideias apresentadas diante dos olhos.

CAPÍTULO 2 – TEORIA DO CONHECIMENTO E REALIDADE OBJETIVA

Nesse capitulo o autor vem nos mostrar a discussão de alguns aspectos

fundamentais para a produção do conhecimento cientifico, onde ele abordará o ato de

conhecer e os diferentes níveis do conhecimento. Ele nos apresenta aqui, também alguns

aspectos da linguagem, onde está tendo extrema importância para o conhecimento

cientifico. Eliseu enfatiza as perguntas por quê? como? E para quê, Essas perguntas

servem para refletirmos sobre o que se elabora cientificamente. São expostos algumas

atividades ou procedimentos básicos para a investigação cientifica, apontando também

para a mudança paradigmática como subsequente à crise do pensamento geográfico, já

identificada por alguns autores.

Sposito inicia discutindo sobre a capacidade de raciocínio do ser humano,

tomando como base o autor Szamósi, com sua ideia de uma forma de conhecimento

interno ao meio ambiente, “o cérebro não modela as informações, as características do

ambiente externo, mas em modelos que são em forma de código abstratos”. Os seres

humanos possui sua maneira de gerar esses modelos, pois são abstratos, por causa dessa

diferença, a maneira particular de processamento de informações que tem cada ser

humano.

Ele trata a questão de como o conhecimento aparece, buscando fazer um

exercício intelectual para se chegar a uma reflexão sobre o conhecimento. Apresenta

aqui a síntese do saber para um outro autor, Garcia, onde resume-se em “descrever ou

manejar”. Nota-se que essa descrição ou esse manejo se dá de acordo com a ciência,

seguido pelo nível cientifico.

O capitulo continua apresentando os níveis do conhecimento. O enfoque

principal é dado apenas para os níveis filosófico e cientifico. Ele fala da abstração, da

reflexão que só é possível por meio da atividade observacional do nível filosófico e da

descrição minuciosa do nível cientifico. Ao que se resume à: a ciência não pode

estabelecer verdades absolutas nem se portar como definitiva, como já como foi exposta

a síntese do saber, a ciência se resume em descrição ou manuseio.

O autor dá ênfase à necessidade de apontar caminhos para direcionar

reflexões epistemológicas através da leitura e interpretação de textos e de uma exigência

através de uma atitude filosófica diante do que está escrito. Esta postura, segundo ele,

tem que ser radical, crítica e totalizante. A primeira se refere à raiz do conhecimento e

do entendimento; a crítica diz respeito em refletir além do senso comum, tomar uma

postura analítica, buscando critérios de informações, comparando dados e confrontando

ideias.

Ele vem considerar alguns aspectos da linguagem, onde a linguagem é

importante para a elaboração de respostas reflexas da informação percebida, a

linguagem vai transmitir o que se é observado, ela vai relatar informações de objetos de

manuseio. A linguagem oferece novos padrões para a comunicação, padrões de

significados. Eliseu Sáverio fala também do papel importante que a linguagem tem na

constituição do conhecimento, e da diferença do ser humano para os outros seres, e essa

diferença vem ser a linguagem, pois ela é simbólica, porque representa os significados

das coisas, quando falamos, quando atribuímos signos a determinados objetos. Ela é

complexa porque pode demonstrar características minuciosas. Ela também é compósita,

pois se edifica sobre um conjunto de unidades mais simples, onde se tem o melhor

entendimento e maneira de representar a si própria.

A palavra é outro elemento confrontado em relação a linguagem, pois a

teoria do conhecimento tem a palavra como um elemento que não existe sozinho. Ela

tanto identifica as coisas como também está nessas coisas. Ela é tida como significante,

porque contém significados, e é decodificada por todos segundo sua própria condição e

situação.

O autor inverte nosso raciocínio para lembrar algumas considerações sobre

os problemas do conhecimento, a partir da leitura de Morin, que cita os riscos do erro e

da ilusão, onde o conhecimento pode, as vezes, ser ilusório e errôneo, e é nesse

momento que a educação deve mostrar que o conhecimento não está totalmente livre de

erros e ilusões. Spósito nos apresenta os possíveis três tipos de erros que Morin divide.

Começando pelos erros mentais, que se dão por meio do potencial de mentira que cada

mente tem. Erros intelectuais, que é a resistência que se tem à informações que não lhe

convém ou que não se pode assimilar. E por último temos os erros da razão, onde a

situação de a racionalidade ser corretiva.

Ele aborda a questão dos paradigmas, como Morin mesmo intitula

“cegueiras paradigmáticas”. Os paradigmas que são condicionantes e entraves na

liberdade de pensamento, isso justamente nos impossibilita de criar ideias que

combatam problemas a respeito do próprio conhecimento, e somente ideias são capazes

de combater ideias.

Por fim, a totalizante consiste na contextualização e inserção do objeto que

se está analisando em seu conteúdo e totalidade. Desta forma, esses direcionamentos são

importantes para que se tenha como ponto de partida os passos da investigação,

utilizando-se também como é colocado na obra de perguntas básicas da reflexão

científica: Por que/quando/onde.

A partir disto, prosseguimos para os procedimentos da investigação

científica que partem da atividade compilatória de coleta e problema a ser respondido,

seleção de fontes e técnicas. A segunda atividade - correlatória que busca estabelecer

parâmetros e homogeneizar níveis comparáveis entre si e de outras naturezas. A

próxima atividade, denominada semântica, corresponde ao trabalho de sistematizar as

variáveis utilizadas e comparar com o método utilizado. “É nesse nível de investigação

que a informação geográfica comparece como um elemento modificado e abstrato como

elemento básico para a produção do conhecimento, como abordagem racional do

problema abordado” (p. 84). Por fim, resta a atividade normativa, responsável pelo

refinamento, encaminhamento metodológico e pela elaboração final do conhecimento

geográfico proposto e que para tal, busque contribuir para a mudança de paradigmas. Há

ainda a necessidade de se ter cautela quando, em análises ou estudos, para que se insira

o tema central em seu contexto, bem como a utilização de referenciais teóricos, é

imprescindível o entendimento dos temas centrais do pensamento geográfico.

Já fechando o capitulo Eliseu Saverio Spósito volta a discutir a questão dos

paradigmas que impedem a liberdade de pensamento, é preciso mudar e acabar com

esses paradigmas estabelecidos como únicos modelos, e só por meio dessa liberdade de

pensamento e da incerteza filosófica é que iremos superar esses desafios, resolveremos

problemáticas. A superação dos paradigmas nos faz pensar além das possibilidades

tecnológicas, a ciência também tem esse papel de superação, se superando no sentido de

que a matéria está em movimento.

CAPITULO 3 - CONCEITOS

Após a verificação das relações diretas entre geografia e filosofia, partimos

agora para o estudo de três temas fundamentais para o ensino e o aprendizado da

geografia. Espaço (tempo), Região e Território são aqui abordados pela ótica de vários

pensadores geógrafos e outros cientistas, com ideias diferentes e em tempos diferentes.

Espaço (Tempo)

O Espaço dentro da geografia foi reconhecido como tema importante para o

pensamento geográfico quando a geografia tradicional estava entrando em baixa. Para

Hartshorne, um dos primeiros a trabalhar o espaço como um dos temas centrais da

geografia o espaço tem existência em si, sendo único e também o campo onde se ocorre

os fenômenos geográficos.

Segundo Corrêa, o aparecimento desse conceito dentro da disciplina de

geografia é abordado primordialmente por Ullmam (1954), Schaefer (1953), e Watson

(1955), surgindo a partir dai duas conotações: a de Planície Isotrópica, na qual a

variável mais importante é a distancia, e a de Representação Matricial, no qual os temas

mais recorrentes são movimentos, redes, nós, hierarquias e superfícies.

Com o surgimento da geografia critica ou radical, de base marxista, que tem

nomes como Milton Santos, Henri Lefébvre, Horácio Capel, entre outros; o conceito de

Espaço sofre interferências mais radicais. Com esse novo modo de ver o Espaço, ele

deixa de ser observado apenas pelo seu lado físico, sendo abordada agora a relação

socioespacial para se definir Espaço.

Para analisar a relação Espaço-Tempo Saverio recorre a Piette, para qual o

“inicio do século XX assistiu a uma unificação do Espaço com o tempo na Teoria da

Relatividade de Einstein”, na tentativa de criação de uma nova “Geometria do Espaço”.

O tempo não pode ser compreendido sem sua relação com o Espaço e vice-versa.

Voltando um pouco para discutir essa afirmação, para Aristóteles seria o mesmo para

todas as pessoas, independentemente do lugar onde elas estivessem, porque ele sendo

“medida de movimento astronômico” seria obviamente a “medida do movimento,

medida uniforme de movimentos multiformes: da grandeza variável quanto ao aumento,

alterações, deslocamentos...”.

Por fim, na questão sobre o Espaço, aborda-se a Geografia Humanística ou

Cultural. Os integrantes desta linha de pensamento se baseiam na “subjetividade”, na

intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência,

privilegiando o singular e não o particular ou o universal, e ao invés da explicação tem

na compreensão a base da inteligibilidade do mundo real. Revaloriza-se a paisagem

como conceito. Um nome que se destaca na gênese dessa corrente Yi Fu Tuan, para

quem “os sentimentos espaciais e as ideias de um grupo ou povos sobre o Espaço a

partir da experiência” são importantes. Para ele há vários tipos de Espaços: ”um espaço

pessoal, outro grupal, onde é vivida a experiência do outro e o espaço mítico-conceitual,

que ainda ligado à experiência, extrapola para além da evidencia sensorial e das

necessidades imediatas e em direção a estruturas mais abstratas”.

Região

Dentro da geografia, Região é um dos temas mais controversos e discutidos.

Devido a grande quantidade de geógrafos que tem uma visão diferente do que é Região,

podemos, partindo dele (conceito de Região) analisar autores, obras e ideias diferentes.

Para Gomes (1995, p.49) “reconhecer a existência do termo região é mais

do que simplesmente assinalar existência, significa aceitar seu uso”... [e] conceber nesta

multiplicidade a riqueza e o objeto propriamente de uma investigação cientifica. Gomes

ainda analisa as consequências dessa concepção, colocando em cheque o caráter da

ciência de única representação verdadeira da realidade. Avalia também as múltiplas

possibilidades que a geografia tem para se tornar não somente mas um a dar um

conceito para Região, mas a se desenvolver ainda mais.

Analisando Região pelo lado da Geografia Humanista, temos Região como

uma parte da pessoa, onde a pessoa se sente inserida, onde esta centrada suas ações

diárias. Já para a Geografia Critica o conceito de Região está vinculada a divisão

territorial do trabalho e ao processo de acumulação capitalista, que produz e distingue

espacialmente possuidores e despossuidores.

Como ultima contribuição acerca do conceito de Região, o autor se baseia

em Thrift (1996) que enfoca a Geografia Regional. Thrift analisa três autores

importantes, mas que viveram em épocas diferentes. Vidal de La Blache, Karl Marx e

Fredic Jameson são analisados de acordo com o contexto de quando e onde

desenvolveram suas ideias.

La Blache, influenciado pela crescente industrialização francesa “preocupa-

se com a necessidade de dedicar-se não apenas a singularidade da Região, mas a sua

crescente independência”.

Se baseando em Marx, ainda sobre a análise de Thrift, “o capital era

essencialmente uma influência homogeneizante e centralizante” e “a reestruturação

industrial leva a reestruturação regional”. Pode-se observar que Marx estava voltado

para as mudanças que a Região sofria com ganho ou perda de capital.

Para Jameson,“a Região esta se fragmentando, tornando-se não tão

desorganizada... quanto deslocada nos termos em que costumamos considerar Região

como áreas continuas e demarcadas”. Tudo isso se dar devido a novas relações

econômicas que somente dão lucros a poucos e que sacrifica a maioria de uma

população, que é iludida por novas ideias que não tem um fundo de cultura.

Território

O conceito de Território é constantemente confundido com o de Espaço,

mas ao se aprofundar em leituras mais profundas sobre esses temas, percebe-se que isso

ocorre por limites muito tênues. Outra característica desse conceito é que não se deve

pensar em Território sem o associar a categoria Tempo.

Território está vinculado essencialmente às características produtivas,

jurídicas e politicas. Quando se está praticando agricultura, mineração, transporte de

mercadorias, etc.; está havendo uma apropriação da natureza e a sua consequente

transformação.

Entre muitas abordagens sobre Território, algumas são mencionadas por

Savério. A concepção naturalista, que toma o Território como um elemento da natureza,

o qual gera lucros, pelo qual se deve lutar e proteger. Outra abordagem é uma mais

voltada para o individuo, a qual pode ter uma relação politica, mas que está mais

vinculada a capacidade da pessoa de se localizar e se deslocar. Ainda podemos destacar

a concepção Vestfaliana, na qual o território aparece “como fundador da ordem politica

moderna, enquanto a sua aventura se confunde largamente com aquela do poder”.

(Ibiden, p.13).

Para encerrar a abordagem sobre o conceito de Território, usa-se o conceito

de descontinuidade. Se baseando nas ideias de Gay, descontinuidade está fundamentada

na relação direta que a natureza impõe na organização do ser humano em determinada

área.

CAPÍTULO 4 - A CRISE PARADIGMÁTICA

O autor afirma no capítulo quarto da obra, que atualmente a ciência

ocidental vive uma crise paradigmática que levou os cientistas serem mais objetivos e

aplicados em seus estudos da realidade, como também o rigor filosófico exercido na

ciência e transformação da realidade. Muitas mudanças paradigmáticas tiveram de

ocorrer, pois uma crise na produção do conhecimento fez com que novas buscas

acontecessem para esta nova compreensão.

Para o conhecimento, a ignorância passa a se o estado de fuga, de

esquecimento e de mistificação dos fenômenos mais simples do cotidiano, alçando-os a

uma percepção religiosa. O domínio do conhecimento e sua apropriação como forma de

lucro. A ciência torna-se indispensável para a humanidade, pois através dela se pode

conseguir uma melhor condição de vida; passa a ser um conhecimento elaborado. Para

conhecer melhor essa crise, três temas serão abordados: modernidade, globalização e a

história da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e suas realizações.

Modernidade

Iniciada a partir dos anos 1980 a modernidade sendo o momento mais

recente da geografia, passou incorporar novos temas, a conversação com a filosofia,

sociologia e antropologia. Parafraseando Marshall Berman (1990), ele diz que ser

moderno é encontrar-se em um ambiente dinâmico e que se transforme, podendo ser

perdido o conhecimento que temos, sabemos e somos, para essa ideologia que nos une,

a mudança e a contradições conceituais existentes.

Associando a modernidade a conceitos, podemos dizer que é um “conjunto

de descontinuidades”, observando ritmo de mudança que ocorre no mundo todo. Walter

Benjamin autor não-geógrafo diz que a modernidade se tornou um mito descontente e

que para o capitalismo é como um sono; a batalha entre razão e mito; uma nova relação

com a natureza e a aceitação do destino que na mesma traz.

Pra Feyerabend, “existe um irracionalismo na base do saber que precisa ser

considerado e a dicotomia tradicional, ciência/razão versus mito/magia/religião, não

passa de uma ideologia autoritária que confere à ciência ... a exclusividade do

conhecimento”, o mito e a razão devem manter relações recíprocas. Presa-se por uma

universalização da racionalização e ao mesmo tempo por uma antirracionalização que

preza pela riqueza dos fenômenos naturais, não necessariamente com alguma ordem

lógica ou regular.

Jean Baudrillard, Gomes (1995) “a modernidade não é nem um conceito

sociológico, nem um conceito político, nem propriamente um conceito histórico; é um

modo de civilização característico, que se opõe ao modo da tradição, ou seja, a todas as

outras culturas anteriores ou tradicionais”. Harvey (1989) diz que a modernidade não

pode respeitar sequer o seu próprio passado, para não falar do de qualquer ordem social

pré-moderna. Percebemos que é claramente um rompimento com conceitos antigos, não

necessariamente um esquecimento, mas uma retomada do passado com novas

perspectivas, podendo ser entendida por uma “destruição criativa” (Goethe), termo esse

referente a um personagem (Fausto) que construía um mundo novo a partir das cinzas

do antigo.

Quando se fala do século XX, o modernismo assume “uma forte tendência

positivista”, isso no período entre guerras, trazendo uma grande limitação para o

pensamento geográfico; estabelece-se uma cultura técnica, a própria arquitetura

modernista rege esse processo, influenciando as demais áreas do saber. Também surge o

pós-modernismo que possui características antitotalizantes, antigeneralizantes, de

abordagem descentralizadora e até mesmo caótica da sociedade fragmentada.

Percebemos então que modernidade não significa em hipótese alguma a “aniquilação do

lugar” e sim a melhor forma de se pensar e organizar.

Globalização / mundialização

Esse novo conceito ou novo paradigma da geografia que é de grande

importância é a globalização, que em 1990 ganhou grande destaque. É bom

diferenciarmos o termo mundialização de globalização, que são as relações capitalistas

que tentam se estabelecer em todos os lugares; e a segunda é mais um pensamento ou

uma cultura quase que conjunta, diferente de uma padronização. A exemplo de

mundialização temos as diversas bolsas de valores do mundo; de globalização temos a

padronização de certos costumes, eventos, transmissões via satélite, marcas e produtos.

Temos que lembrar que as subdivisões dos países se dá através desses dois

conceitos, baseados em aspectos culturais. Milton Santos (apud 1996, p.37) afirma que

“O processo de globalização, em sua fase atual, revela uma vontade de

fundar o domínio do mundo na associação entre grandes organizações e uma

tecnologia cegamente utilizada. Mas a realidade dos territórios e as

contingências do “meio associado” asseguram a impossibilidade da desejada

homogeneização”.

As metáforas também sempre estão presentes no pensamento científico

segundo Octavio Ianni, e desvendam traços fundamentais da sociedade global; a

exemplo de algumas temos: Aldeia global que é a comunidade mundial; Fábrica global

é a desterritorialização e reterritorialização das coisas, gentes e ideias, promovendo o

redimensionamento de espaços e tempos, concentração e centralização do capital; Nave

espacial é o fim do individualismo (artesanal), alienação ao conhecimento puramente

técnico e universalização da racionalidade instrumental; Torre de babel é uma metáfora

emergida da ideia de uma “língua comum” onde todos se “entendem e desentendem”, a

exemplo a língua inglesa.

Mamigonian (apud ibidem, p.100) diz que a globalização “como ideologia

que se vende e se impõe aos novos povos oprimidos é basicamente o projeto

econômico-político americano de deliberar o ultraimperalismo futuro”. E podemos

concluir que isso não é algo novo, os países subdesenvolvidos são controlados

economicamente e culturalmente pelos países desenvolvidos desde sua formação.

Após todos estes conceitos de globalização e mundialização, alguns

princípios desta última palavra foram estabelecidos: Financeirização que é o domínio

da moeda e economia; Tendência a homogeneização que é a tendência a ampliação

territorial dos costumes, etc; Seletividade é a segregação entre os homens através de

suas especializações; Criação tecnológica são as matérias primas, produtos, serviços e

ideias entre pessoas e seus Estados; Estímulo à competitividade que é normal entre os

Estados; Verticalização nas realizações de produção; Mudança do papel social do

Estado são os vínculos e interconexões que os Estados e as sociedades construíram ao

longo dos anos.

A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)

Fundada por Pierre Deffontanes em 7 de setembro de 1934 a Associação

dos Geógrafos Brasileiros (AGB), que veio para ajudar a organizar o curso na

Universidade de São Paulo, junto com mais dois nomes marcados na história da

Geografia brasileira: Pierre Monbeig e Francis Ruellan. É o órgão que realiza os

Encontros Nacionais de Geógrafos, que ocorrem bienalmente, e os Congressos

Nacionais de Geografia, que ocorrem decenalmente.

Como papel do geógrafo, na atualidade, amplia-se constantemente, com a

participação de profissionais em diferentes entidades da sociedade civil, em

organizações não-governamentais e em movimentos sociais, além do seu histórico papel

em sala de aula, ministrando os conteúdos de Geografia para a formação do cidadão

brasileiro, os eventos científicos transformaram-se, ganhando um caráter de

massificação dentro da própria comunidade (Sposito, 2004).

A AGB realizou no ano de 2000 em Florianópolis seu XII Encontro

Nacional de Geógrafos, que foi de extrema importância na sua história. Mais

precisamente em Junho desse ano e com o tema “Os outros 500 na formação do

território brasileiro”. Em 1978 “produziu-se uma falsa dicotomia entre os encontros

científicos e políticos” chamava-se um período de democratização, o que futuramente

lhe traria problemas. Atualmente a AGB sofre um momento de tensão histórica, pois o

discurso político passou a ser hegemônico em suas diferentes gestões. Uma entidade

que consegue congregar mais de três mil participantes num evento científico, e por isso

é tão grande, mas que nem possui sede própria.

Ainda em 1978, nos eventos que a AGB organizava, estudantes não podiam

participar de seus eventos, apenas por sócios titulares e convidados. No III Encontro

Nacional de Fortaleza (CE) houve uma ruptura política, provocada pelas intervenções

de Armen Mamigonian. Foram organizados objetivos (dez) a partir dessa ruptura, que

passaram a constar no estatuto da AGB.

A situação dos geógrafos era desorganizada a tal ponto, que, apenas em

1979 foi regularizada a profissão de geógrafo criada pelo decreto-lei número 6.664/78,

conquista de uma luta da AGB desde o início dos anos 50, e que ainda não está

totalmente terminada por causa de empecilhos colocados pelo CREA (Conselho

Regional de Engenharia e Agronomia) em algumas regiões, quanto ao registro de

geógrafos.

Com a crise que estava passando, foi preciso uma mudança paradigmática

no pensamento geográfico, uma “tomada de consciência” influenciada pelas ideias de

Schaffer e Lacoast, que nos demais encontros passaram a ser discutidos para que a

produção do conhecimento não voltasse a estagnar-se. O objeto da geografia que é o

“espaço” deveria ser o alvo de todas as discussões.

CAPUTULO 5 - TEORIAS

O capitulo analisa três teorias observando vários elementos como, o nível

tecnológico do período histórico, a doutrina que sobrepõe à teoria, as relações

filosóficas do momento, por exemplo.

A primeira é o ciclo da erosão, elaborado por William M. Davis (1850-

1934), no final do século XIX, atualmente foi superado pela base teórica da

Geomorfologia, porém Eliseu S. Sposito considera relevante fazermos uma rápida

abordagem sobre cuja importância está na necessidade de contextualizarmos duas

coisas: a primeira refere-se a um momento específico da produção geográfica com suas

influencias recebidas de outras áreas do conhecimento; a segunda, ligada a um

movimento de superação das teorias que vão sendo elaboradas, refere-se ao caráter

amplo e contraditório na produção do conhecimento, mesmo que os cientistas tenham

como base filosófica as mesmas fundamentações.

Davis, geógrafo e geólogo, teve sua época marcada por vários fatos

importantes. Algumas invenções ocorridas nos Estados Unidos e na Europa mostram a

força da ciência no desenvolvimento de diversas tecnologias.

O autor enfatiza também o momento filosófico, que recebe influencia do

idealismo, positivismo e socialismo. O idealismo alemão (kantiano ou pós-kantiano)

que no principio teve suas bases lançadas por Kant, para quem ¨não haverá

conhecimento sem a operação do intelecto¨. Personificado por Hegel, o idealismo

absoluto (pós-kantiano) afirma que o real é a ideia.

O positivismo, que tem como característica principal o empírico e a

quantificação, ou seja, defende a experiência como fonte principal do conhecimento

sendo contrario ao idealismo, considera as ciências empírico-formais como modelo para

as demais ciências.

E o socialismo, o qual teve como objetivo reformar a sociedade desde a

economia a política utilizando as ideias de igualdade, e assim estabelecer um estado de

bem-estar social.

Dentre a riqueza cientifica e filosófica da segunda metade do século XIX,

Davis escolhe o positivismo como base fundamental para sua teoria.

Ao analisar alguns autores, Sposito conclui que o evolucionismo serviu de

instrumento por todos aqueles que pretendiam explicar as conexões entre fatos e a

dinâmica das sociedades humanas no espaço geográfico Mesmo alguns geógrafos se

opondo a essa teoria, Davis utilizou-se dela como parte essencial para o seu trabalho.

Davis afirma que a forma do terreno deve ser estudada do mesmo modo que

uma forma orgânica, logo é composta de uma série de processos. Buscando a

elaboração de leis, ele pretende universalizar uma descrição para que possa ser aceita e

utilizada por todos os geógrafos bem como fazem os biólogos em sua área.

Eliseu S. Sposito afirma, que no período de sua elaboração, o ciclo da

erosão não recebeu críticas diretas de Walter Penck. Posteriormente, as críticas feitas

por cientistas que difundiram as ideias e valorizaram as comparações entre as teorias

geradas nos Estados Unidos e na Alemanha. A soma dos conceitos estadunidenses era

contraria a visão que os alemães tinham dos processos geomorfológicos, que já se

preocupavam desde Humbold, com o conceito de paisagem e suas características de

totalidade.

A teoria do ciclo da erosão foi a primeira que definiu a estrutura teórica para

a geomorfologia e passa a guiar o pensamento e a pesquisa geomorfológica.

Davis afirma que, como os seres vivos tem seu ciclo vital, o relevo também

apresenta essa característica. É constituído por três fases que a princípio representariam

o momento de sua formação ou juventude. Ele tem como característica o desequilíbrio

entre o canal fluvial e a estrutura por onde ele corre, ocasionando assim um forte

processo de erosão.

Um segundo momento seria definido como a maturidade do relevo, as

formas são bem definidas e há um equilíbrio entre a erosão e a deposição de matéria.

Rios de planalto explicam essas marcas. Já no terceiro momento, o da senilidade, o

relevo apresenta formas completamente desgastadas devido ao forte processo erosivo,

as atividades erosivas tendem a cessar pois os rios são de planície.

Porém essa teoria apresenta alguns problemas, dentre eles está à falta de

consideração dos elementos exógenos, aqueles ocorridos por agentes externos, cujo

clima é o principal. Walter Penck não cometeu essa falha em sua abordagem teórica,

pois considerou tais aspectos.

O ciclo da erosão, considerado pelo próprio Davis como método para

estudar o relevo, se caracteriza por alguns elementos.

Com suas limitações para a leitura do relevo, é preciso relembrar que ela

propõe alguns passos básicos.

Inicialmente é preciso reunir e analisar o material disponível por meio de

observações. Em seguida, é preciso estimular as possíveis difusões gerais para se

elaborar as hipóteses que indiquem as explicações imprescindíveis. A partir daí, pode-se

haver um confronto entre as consequências das hipóteses e os fatos em pauta, assim

surgiram às primeiras conclusões ainda provisórias. O próximo passo seria revisar e

aperfeiçoar as explicações obtidas para chegar-se a uma conclusão sobre a capacidade

explicativa das diferentes hipóteses, as que resistirem as provas passaram a serem

teorias.

A segunda teoria, a das localidades centrais, foi elabora por Walter

Christaller (1893-1969) em 1933, tinha como objetivo estudar sobre a hierarquia urbana

e sua influencia em relação às pessoas, devido à estrutura oferecida pela mesma. Sposito

intensifica a utilização de citações de outros autores para explanar as ideias aqui

discorridas.

Pra Christaller o número, tamanho e a distribuição dos núcleos de

povoamento, são regulados por alguns fatores. Não levando em consideração o tamanho

da localidade central, mas sim a sua importância para a área que depende dos serviços

oferecidos por ela.

Segundo Berry (1971, p.77) As hierarquias de Christaller são mais úteis para

a análise dos comércios varejistas e das empresas de serviços no setor terciário.

O fator crucial na orientação da distribuição do povoamento urbano é a

exigência de que as localidades centrais estejam o mais próximo possível dos clientes,

tal fator foi chamado de principio de mercado.

Outros dois conceitos definidos por Chirstaller são: alcance espacial máximo

e alcance espacial mínimo, esse apresenta uma ligação entre a área em torno de uma

localidade central e o numero mínimo de consumidores que seja suficiente pra que uma

determinada atividade comercial possa se instalar, já aquele, está ligado a distancia que

os consumidores percorrem para adquirir bens e serviços de uma localidade central.

Dessa maneira, Sposito destaca alguns aspectos básicos da natureza

hierárquica urbana, pra que possamos obter um claro entendimento sobre a proposta

metodológica dessa teoria, dente eles podemos citar: quanto maior o nível hierárquico

de uma localidade urbana, menor o seu número e mais distanciada estará de outra do

mesmo nível e quanto mais alto o nível hierárquico, o número de funções centrais é

maior do que em um centro de nível inferior.

A formação das redes leva configuração hexagonal no inter-relacionamento

entre as cidades, com a principal delas (o lugar mais central), ocupando o centro do

hexágono, em relação às outras localidades menores. Corrêa (1989) afirma que, para

Christaller, pode haver arranjos espaciais segundo seus modos de organização da rede:

as possibilidades baseiam-se nos princípios de mercado (¨para cada centro de um dado

hierárquico, três centros de nível imediatamente inferior¨); de transporte (¨existe uma

minimização do número de vias de circulação , pois ¨os principais centros alinham-se ao

longo de poucas rotas¨); e o de administração (onde não há ¨superposição de áreas de

influência, como nos dois modelos anteriores¨) (ibidem, p.30-2)

Entretanto, algumas objeções teóricas foram feitas a essa teoria. As

hinterlândias solapadas não impedem que os meios de transporte de um país sejam bem

desenvolvidos. A presença de um grande núcleo urbano tende a frear o crescimento das

aglomerações menores das proximidades. Outra critica é que é muito difícil imaginar

uma rede de cidades que se organize e funcione exatamente na conformidade de

hexágonos superpostos.

Um fator importante para a compreensão da realidade foi negligenciado pela

teoria, referente a historia da formação das cidades e de sua constituição em redes:

¨todas as aglomerações urbanas cresceram como resultado de um processo histórico,

passando por uma serie de situações técnicas diferentes, mas as cidades fundadas no

passado não desaparecem, se não que continuam funcionando na paisagem atual¨

(ibidem, p.146).

Apesar de ter se baseado na geografia de uma área real, sua teoria está

interessada basicamente na obtenção de um modelo teórico do que deveria ser a

realidade. Foi elaborada a partir do contexto da Alemanha antes da Segunda Guerra

Mundial e teve seu texto traduzido para o inglês de forma fragmentada. Ela foi

fundamental para a disseminação do neopositivismo na Geografia, fundado numa

linguagem matemática, que deveria ser universal para os estudos geográficos. Houve

uma expansão dessa linguagem, que propunha o caminho mais cientifico para a

Geografia, como maneira de superar o empirismo adotado nos estudos anteriores.

O neopositivismo é semelhante ao positivismo comteano. É resultado de um

grupo de estudos que se reunia sistematicamente, debatendo o conhecimento cientifico e

principalmente o método. A linguagem expressa por essa corrente é a matemática que

tinha como objetivo de demonstrar o conhecimento cientifico e unificar todas as

ciências.

O autor considera que a teoria das localidades centrais foi importante para a

formação de um discurso que baseou grande parte da produção geográfica (conhecida

como geografia neopositivista ou quantitativa) nos Estados Unidos, Inglaterra e no

Brasil, e que teve, além de outros já citados, o mérito de ser pivô de uma relação

fundamental para o pensamento geográfico, que pode ser identificada como aquilo que

passou a se chamar de geografia critica ou radical ou marxista, em suas mais diferentes

facetas.

A terceira e última teoria é a dos dois circuitos da economia urbana que se

tornou importante para os estudos Geografia Urbana. Elaborada por Milton Santos,

tema central do livro O espaço dividido, publicado no Brasil em 1979, a partir de seus

estudo e experiências profissionais em vários países, como Tanzânia, Estados Unidos,

Venezuela e França, onde trabalhou em importantes universidades.

Ele afirma a existência de dois sistemas de fluxo econômico nas cidades de

países subdesenvolvidos, cada um sendo um subsistema global que a cidade em si

representa, refutando assim a possibilidade de uma interpretação dualista da economia

nas cidades subdesenvolvidos, indica que esses dois subsistemas são produtos de uma

mesma causa, pois é o resultado de dois grupos de fatores que é a modernização

tecnológica.

Para Sposito, Santos considera, o inicio desses dois fluxos, ligado nas

tendências de modernização contemporânea. Critica a corrente das planificações e seus

atrasos teóricos, inserindo na análise do urbano a dimensão histórica e a especificidade

do espaço do Terceiro Mundo, põe uma nova forma de abordagem ao sugerir a

existência do circuito inferior na economia, que seria constituído pelas atividades de

fabricação tradicionais, como o artesanato, assim como os transportes tradicionais e a

prestação de serviços.

Outra característica de sua obra: a procura pela teorização somente a partir de

países subdesenvolvidos e para eles. Uma das referencias utilizadas, é a modernização

tecnológica que cria um numero limitado de empregos.

Os circuitos seriam, assim definidos por: ¨1) o conjunto das atividades

realizadas em certo contexto; 2) o setor da população que se liga a ele essencialmente

pela atividade e pelo consumo¨ e, ainda: seriam identificados pelas diferenças de

tecnologia e de organização¨ (ibidem, p.33), criando uma bipolarização e não um

dualismo, porque não haveria nem circuito intermediário nem continuo.

O autor caracteriza de maneira individual os dois circuitos. O circuito

superior seria definido por: capital abundante; tecnologia mais avançada na produção;

exportação dos produtos finalizados; organização bem burocratizada; assalariamento de

toda a forma de trabalho; e grande estocagem de produtos. Já o circuito inferior

apresenta: controle dos custos e dos lucros é raro; contabilidade praticamente ausente;

sistema de negócios frequentemente arcaicos; equipamento de má qualidade, por falta

de dinheiro; venda direta; e setor de serviços.

Além do avanço da proposta teórica dos dois circuitos, Milton Santos

contribui de forma metodologia, pois, é observado uma explicação a partir da

investigação dialética, sem eliminar os elementos estruturais de seu pensamento. Por

tanto carrega o mérito de esboçar uma teoria exercitando o método, a partir do

raciocínio.

Por fim, é possível notar que essa teoria apresenta um ponto de vista a partir da

dualidade, construída historicamente que se faz presente na economia urbana dos países

pobres.