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RESENHASPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.Como toda ciência, a Geografia teve seus retrocessos e avanços no decorrer dos séculos, a partir do século XIX e XX construiu novas bases pela existência de diversos métodos que aceleraram seu desenvolvimento. Eliseu Sposito, em seu ensaio Filosofia e Geografia, apresenta a priori a relação e ao mesmo tempo o distanciamento entre a Geografia e a Filosofia e as contribuições para o ensino do pensamento geográfico. Essa distância se dá pelo fato da Geografia ter sido disciplina escolar antes mesmo de se constituir em campo de investigação científico. O ideário marxista trouxe consigo a dialética que a partir do diálogo aproximou a Filosofia da Geografia e a produção do conhecimento trazendo novas concepções para o século XXI.O ensaio apresenta cinco capítulos nos quais as reflexões versam sobre a questão do método e a crítica do conhecimento, a teoria do conhecimento e a realidade objetiva, os conceitos, temas e por as teorias. O livro mostra como se deu as bases do conhecimento e da reflexão a partir da Filosofia. O método traz consigo um percurso pelas diferentes correntes da Filosofia. A invasão pela teoria do conhecimento abre lugar a necessária compreensão do ato de produzir conhecimento e de suas relações com o mundo da ciência, partindo das perguntas: Por quê? Como? e Para quê?Os conceitos mais polêmicos que a Geografia produziu estão marcados como espaço, região e território, somados mais tarde a paisagem e lugar formam o conjunto de objetos de investigação científica da Geografia em todo o mundo. Os temas atuais abrem espaço para a modernização, globalização e mundialização que se somariam a crise paradigmática vivida pela Geografia. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) tem dado contribuições significativas para essa aproximação entre a Geografia e a Filosofia a partir de congressos envolvendo discussões entre essas duas ciências.As teorias fazem alusão à teoria do ciclo de erosão, às teorias de localidades centrais e à teoria sobre os dois circuitos da economia urbana. Certamente o distanciamento entre essas duas ciências citadas acima pode ser quebrado a partir da produção teórica e esse ensaio mostra claramente essa necessidade de conversação, para que os diálogos filosóficos se tornem diálogos constantes na Geografia. CAPÍTULO 1 - A QUESTÃO DO MÉTODO E A CRÍTICA DO CONHECIMENTO O método não deve ser confundido com as disciplinas que foram resultando da fragmentação da ciência, desde o renascimento o conhecimento científico vem contribuindo com importantes avanços para a compreensão e explicação do mundo.A importância do método e de sua discussão em Geografia é inegável. Para Santos (1996, p. 62-3), a questão do método é fundamental porque se trata da construção de um sistema intelectual que permita, analiticamente, abordar uma realidade, a partir de um ponto de vista, não sendo isso um dado a priori, mas “uma construção”, no sentido de que “a realidade social é intelectualmente construída”.A leitura deste escrito tem como intenção contribuir para o ensino do pensamento geográfico, demonstrando para o estudante de Geografia que há várias maneiras de se iniciar o estudo de questões relativas ao axioma geográfico. Assim, é preciso consultar diversas fontes, como um ou mais dicionários ou obras de referência que busquem confrontar as diferentes definições de método.Além dos métodos citados anteriormente há também o método axiomático, o indutivo, de análise-síntese e hermenêutico. Definir método é algo muito complexo dentro das ciências e da própria Filosofia. Segundo Sposito, método é o conjunto de procedimentos lógico e de técnicas operacionais que permitem ao cientista descobrir as relações causais constantes que existem entre os fenômenos.O empirismo inglês, o idealismo alemão, a dialética hegeliana, o positivismo comtiano e o materialismo histó
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Universidade Federal do MaranhãoGraduandos em Geografia
Fabricio Fernando Caldas CavalcanteLarissa Thais dos Santos de Macedo
Luisa Carolina Martins RamalhoMatheus Prudêncio Ericera
Tarcio Monteiro Trajano
RESENHA
SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do
pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
Como toda ciência, a Geografia teve seus retrocessos e avanços no decorrer
dos séculos, a partir do século XIX e XX construiu novas bases pela existência de
diversos métodos que aceleraram seu desenvolvimento. Eliseu Sposito, em seu ensaio
Filosofia e Geografia, apresenta a priori a relação e ao mesmo tempo o distanciamento
entre a Geografia e a Filosofia e as contribuições para o ensino do pensamento
geográfico. Essa distância se dá pelo fato da Geografia ter sido disciplina escolar antes
mesmo de se constituir em campo de investigação científico. O ideário marxista trouxe
consigo a dialética que a partir do diálogo aproximou a Filosofia da Geografia e a
produção do conhecimento trazendo novas concepções para o século XXI.
O ensaio apresenta cinco capítulos nos quais as reflexões versam sobre a
questão do método e a crítica do conhecimento, a teoria do conhecimento e a realidade
objetiva, os conceitos, temas e por as teorias. O livro mostra como se deu as bases do
conhecimento e da reflexão a partir da Filosofia. O método traz consigo um percurso
pelas diferentes correntes da Filosofia. A invasão pela teoria do conhecimento abre
lugar a necessária compreensão do ato de produzir conhecimento e de suas relações com
o mundo da ciência, partindo das perguntas: Por quê? Como? e Para quê?
Os conceitos mais polêmicos que a Geografia produziu estão marcados
como espaço, região e território, somados mais tarde a paisagem e lugar formam o
conjunto de objetos de investigação científica da Geografia em todo o mundo. Os temas
atuais abrem espaço para a modernização, globalização e mundialização que se
somariam a crise paradigmática vivida pela Geografia. A Associação dos Geógrafos
Brasileiros (AGB) tem dado contribuições significativas para essa aproximação entre a
Geografia e a Filosofia a partir de congressos envolvendo discussões entre essas duas
ciências.
As teorias fazem alusão à teoria do ciclo de erosão, às teorias de localidades
centrais e à teoria sobre os dois circuitos da economia urbana. Certamente o
distanciamento entre essas duas ciências citadas acima pode ser quebrado a partir da
produção teórica e esse ensaio mostra claramente essa necessidade de conversação, para
que os diálogos filosóficos se tornem diálogos constantes na Geografia.
CAPÍTULO 1 - A QUESTÃO DO MÉTODO E A CRÍTICA DO
CONHECIMENTO
O método não deve ser confundido com as disciplinas que foram resultando
da fragmentação da ciência, desde o renascimento o conhecimento científico vem
contribuindo com importantes avanços para a compreensão e explicação do mundo.
A importância do método e de sua discussão em Geografia é inegável. Para
Santos (1996, p. 62-3), a questão do método é fundamental porque se trata da
construção de um sistema intelectual que permita, analiticamente, abordar uma
realidade, a partir de um ponto de vista, não sendo isso um dado a priori, mas “uma
construção”, no sentido de que “a realidade social é intelectualmente construída”.
A leitura deste escrito tem como intenção contribuir para o ensino do
pensamento geográfico, demonstrando para o estudante de Geografia que há várias
maneiras de se iniciar o estudo de questões relativas ao axioma geográfico. Assim, é
preciso consultar diversas fontes, como um ou mais dicionários ou obras de referência
que busquem confrontar as diferentes definições de método.
Além dos métodos citados anteriormente há também o método axiomático,
o indutivo, de análise-síntese e hermenêutico. Definir método é algo muito complexo
dentro das ciências e da própria Filosofia. Segundo Sposito, método é o conjunto de
procedimentos lógico e de técnicas operacionais que permitem ao cientista descobrir as
relações causais constantes que existem entre os fenômenos.
O empirismo inglês, o idealismo alemão, a dialética hegeliana, o
positivismo comtiano e o materialismo histórico marxista serviram de bases teóricas e
doutrinárias para o desenvolvimento não só do conhecimento científico e filosófico, mas
de métodos diferentes e de posturas e interpretações da realidade baseados em
fundamentos diferenciados. Assim, os métodos são utilizados dependendo da própria
intencionalidade do investigador.
Na Filosofia do século XVII, Chauí em sua obra Primeira filosofia (1986)
afirma que a palavra método “tem um sentido vago e um sentido preciso” distinção:
Sentido vago porque todos os filósofos possuem um
método ou o seu método, havendo tantos métodos quanto
filósofos. Sentido preciso, porque o bom método é aquele
que permite conhecer verdadeiramente o maior número de
coisas com o menor número de regras.
Os elementos fundamentais do método são a ordem e a medida. A indução e
a dedução são procedimentos da razão e não métodos diferenciados e com identidade
própria. Os métodos hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico, possuem leis e
categorias e estão relacionados historicamente a procedimentos específicos e teorias
disseminadas pela comunidade científica.
O método hipotético dedutivo é aquele através do qual se constrói uma
teoria que formula hipóteses a partir das quais os resultados obtidos podem ser
deduzidos, e com base nas quais se podem fazer previsões, que por sua vez podem ser
confirmadas ou refutadas Sposito (1999) apud Japiassu & Marcondes (1990). Esse
método é baseado no pensamento cartesiano de René Descartes. Entretanto:
É discutível até que ponto as teorias realmente se
constituem e se desenvolvem a partir do método
hipotético-dedutivo, uma vez que nem sempre há uma
correspondência perfeita entre experimentos e
observações, por um lado, e deduções, por outro (pág.
143)
Na relação entre sujeito e objeto, o objeto prevalece sobre o sujeito,
influenciando o pesquisador e os seus conhecimentos, mesmo que a neutralidade
científica seja um pressuposto básico. O real é descrito por meio de hipóteses e
deduções.
O Método Fenomenológico-Hermenêutico
O termo hermenêutico designava até o fim do século XIX todo esforço de
interpretação científica de um texto difícil que exige uma explicação, atualmente a
hermenêutica constitui uma reflexão filosófica interpretativa ou compreensiva sobre os
símbolos e os mitos em geral. A fenomenologia, segundo Nunes (1989 pág.88) é uma
crítica de toda tradição especulativa ou idealista, refuta o empirismo e o positivismo. A
fenomenologia é uma filosofia do subjetivo. Na relação entre sujeito e objeto, é o sujeito
que descreve o objeto e suas relações a partir de seu ponto de vista. O método
fenomenológico-hermenêutico vai além do subjetivismo através da consciência.
O Método Dialético
É aquele que procede pela refutação das opiniões de senso comum, levando-
as a contradição, para chegar então a verdade, fruto da razão, citado (Sposito, 1999)
apud Japiassu & Marcondes (1990, pág. 167). Na relação entre sujeito e objeto, o sujeito
se constrói e transforma vis-a-vis o objeto e vice versa.
As tendências doutrinárias constituem a visão de diferentes pessoas no
modo de ver e fazer Geografia. As ideias e opiniões devem ser se submeter ao princípio
da falseabilidade para se confirmar se são científicas ou não, pois o conhecimento só é
comprovado se estiver sujeito a experimentação.
A contextualização do pensamento crítico e radical aponta para a
característica de totalidade. Assim, a leitura do pensamento geográfico deve ser feita
mediante reflexão “radical (busca a origem do problema), crítica (colocar o objeto do
conhecimento em um ponto de crise) e total (inserir o objeto da nossa reflexão no
contexto do qual é conteúdo)” Oliveira (1990, pag. 22) citado por Sposito (1999).
Crítica
A crítica está atrelada a atitude de espírito que não admite nenhuma
afirmação sem reconhecer sua legitimidade racional. Difere de espírito crítico, ou seja,
dessa atitude de espírito negativa que procura denegrir sistematicamente as opiniões ou
as ações das outras pessoas (Sposito, 1999) apud (ibidem). Cometer o pensamento
crítico é ir além das aparências é ir além do senso comum, é comparar dados, é se
questionar sobre ideias apresentadas diante dos olhos.
CAPÍTULO 2 – TEORIA DO CONHECIMENTO E REALIDADE OBJETIVA
Nesse capitulo o autor vem nos mostrar a discussão de alguns aspectos
fundamentais para a produção do conhecimento cientifico, onde ele abordará o ato de
conhecer e os diferentes níveis do conhecimento. Ele nos apresenta aqui, também alguns
aspectos da linguagem, onde está tendo extrema importância para o conhecimento
cientifico. Eliseu enfatiza as perguntas por quê? como? E para quê, Essas perguntas
servem para refletirmos sobre o que se elabora cientificamente. São expostos algumas
atividades ou procedimentos básicos para a investigação cientifica, apontando também
para a mudança paradigmática como subsequente à crise do pensamento geográfico, já
identificada por alguns autores.
Sposito inicia discutindo sobre a capacidade de raciocínio do ser humano,
tomando como base o autor Szamósi, com sua ideia de uma forma de conhecimento
interno ao meio ambiente, “o cérebro não modela as informações, as características do
ambiente externo, mas em modelos que são em forma de código abstratos”. Os seres
humanos possui sua maneira de gerar esses modelos, pois são abstratos, por causa dessa
diferença, a maneira particular de processamento de informações que tem cada ser
humano.
Ele trata a questão de como o conhecimento aparece, buscando fazer um
exercício intelectual para se chegar a uma reflexão sobre o conhecimento. Apresenta
aqui a síntese do saber para um outro autor, Garcia, onde resume-se em “descrever ou
manejar”. Nota-se que essa descrição ou esse manejo se dá de acordo com a ciência,
seguido pelo nível cientifico.
O capitulo continua apresentando os níveis do conhecimento. O enfoque
principal é dado apenas para os níveis filosófico e cientifico. Ele fala da abstração, da
reflexão que só é possível por meio da atividade observacional do nível filosófico e da
descrição minuciosa do nível cientifico. Ao que se resume à: a ciência não pode
estabelecer verdades absolutas nem se portar como definitiva, como já como foi exposta
a síntese do saber, a ciência se resume em descrição ou manuseio.
O autor dá ênfase à necessidade de apontar caminhos para direcionar
reflexões epistemológicas através da leitura e interpretação de textos e de uma exigência
através de uma atitude filosófica diante do que está escrito. Esta postura, segundo ele,
tem que ser radical, crítica e totalizante. A primeira se refere à raiz do conhecimento e
do entendimento; a crítica diz respeito em refletir além do senso comum, tomar uma
postura analítica, buscando critérios de informações, comparando dados e confrontando
ideias.
Ele vem considerar alguns aspectos da linguagem, onde a linguagem é
importante para a elaboração de respostas reflexas da informação percebida, a
linguagem vai transmitir o que se é observado, ela vai relatar informações de objetos de
manuseio. A linguagem oferece novos padrões para a comunicação, padrões de
significados. Eliseu Sáverio fala também do papel importante que a linguagem tem na
constituição do conhecimento, e da diferença do ser humano para os outros seres, e essa
diferença vem ser a linguagem, pois ela é simbólica, porque representa os significados
das coisas, quando falamos, quando atribuímos signos a determinados objetos. Ela é
complexa porque pode demonstrar características minuciosas. Ela também é compósita,
pois se edifica sobre um conjunto de unidades mais simples, onde se tem o melhor
entendimento e maneira de representar a si própria.
A palavra é outro elemento confrontado em relação a linguagem, pois a
teoria do conhecimento tem a palavra como um elemento que não existe sozinho. Ela
tanto identifica as coisas como também está nessas coisas. Ela é tida como significante,
porque contém significados, e é decodificada por todos segundo sua própria condição e
situação.
O autor inverte nosso raciocínio para lembrar algumas considerações sobre
os problemas do conhecimento, a partir da leitura de Morin, que cita os riscos do erro e
da ilusão, onde o conhecimento pode, as vezes, ser ilusório e errôneo, e é nesse
momento que a educação deve mostrar que o conhecimento não está totalmente livre de
erros e ilusões. Spósito nos apresenta os possíveis três tipos de erros que Morin divide.
Começando pelos erros mentais, que se dão por meio do potencial de mentira que cada
mente tem. Erros intelectuais, que é a resistência que se tem à informações que não lhe
convém ou que não se pode assimilar. E por último temos os erros da razão, onde a
situação de a racionalidade ser corretiva.
Ele aborda a questão dos paradigmas, como Morin mesmo intitula
“cegueiras paradigmáticas”. Os paradigmas que são condicionantes e entraves na
liberdade de pensamento, isso justamente nos impossibilita de criar ideias que
combatam problemas a respeito do próprio conhecimento, e somente ideias são capazes
de combater ideias.
Por fim, a totalizante consiste na contextualização e inserção do objeto que
se está analisando em seu conteúdo e totalidade. Desta forma, esses direcionamentos são
importantes para que se tenha como ponto de partida os passos da investigação,
utilizando-se também como é colocado na obra de perguntas básicas da reflexão
científica: Por que/quando/onde.
A partir disto, prosseguimos para os procedimentos da investigação
científica que partem da atividade compilatória de coleta e problema a ser respondido,
seleção de fontes e técnicas. A segunda atividade - correlatória que busca estabelecer
parâmetros e homogeneizar níveis comparáveis entre si e de outras naturezas. A
próxima atividade, denominada semântica, corresponde ao trabalho de sistematizar as
variáveis utilizadas e comparar com o método utilizado. “É nesse nível de investigação
que a informação geográfica comparece como um elemento modificado e abstrato como
elemento básico para a produção do conhecimento, como abordagem racional do
problema abordado” (p. 84). Por fim, resta a atividade normativa, responsável pelo
refinamento, encaminhamento metodológico e pela elaboração final do conhecimento
geográfico proposto e que para tal, busque contribuir para a mudança de paradigmas. Há
ainda a necessidade de se ter cautela quando, em análises ou estudos, para que se insira
o tema central em seu contexto, bem como a utilização de referenciais teóricos, é
imprescindível o entendimento dos temas centrais do pensamento geográfico.
Já fechando o capitulo Eliseu Saverio Spósito volta a discutir a questão dos
paradigmas que impedem a liberdade de pensamento, é preciso mudar e acabar com
esses paradigmas estabelecidos como únicos modelos, e só por meio dessa liberdade de
pensamento e da incerteza filosófica é que iremos superar esses desafios, resolveremos
problemáticas. A superação dos paradigmas nos faz pensar além das possibilidades
tecnológicas, a ciência também tem esse papel de superação, se superando no sentido de
que a matéria está em movimento.
CAPITULO 3 - CONCEITOS
Após a verificação das relações diretas entre geografia e filosofia, partimos
agora para o estudo de três temas fundamentais para o ensino e o aprendizado da
geografia. Espaço (tempo), Região e Território são aqui abordados pela ótica de vários
pensadores geógrafos e outros cientistas, com ideias diferentes e em tempos diferentes.
Espaço (Tempo)
O Espaço dentro da geografia foi reconhecido como tema importante para o
pensamento geográfico quando a geografia tradicional estava entrando em baixa. Para
Hartshorne, um dos primeiros a trabalhar o espaço como um dos temas centrais da
geografia o espaço tem existência em si, sendo único e também o campo onde se ocorre
os fenômenos geográficos.
Segundo Corrêa, o aparecimento desse conceito dentro da disciplina de
geografia é abordado primordialmente por Ullmam (1954), Schaefer (1953), e Watson
(1955), surgindo a partir dai duas conotações: a de Planície Isotrópica, na qual a
variável mais importante é a distancia, e a de Representação Matricial, no qual os temas
mais recorrentes são movimentos, redes, nós, hierarquias e superfícies.
Com o surgimento da geografia critica ou radical, de base marxista, que tem
nomes como Milton Santos, Henri Lefébvre, Horácio Capel, entre outros; o conceito de
Espaço sofre interferências mais radicais. Com esse novo modo de ver o Espaço, ele
deixa de ser observado apenas pelo seu lado físico, sendo abordada agora a relação
socioespacial para se definir Espaço.
Para analisar a relação Espaço-Tempo Saverio recorre a Piette, para qual o
“inicio do século XX assistiu a uma unificação do Espaço com o tempo na Teoria da
Relatividade de Einstein”, na tentativa de criação de uma nova “Geometria do Espaço”.
O tempo não pode ser compreendido sem sua relação com o Espaço e vice-versa.
Voltando um pouco para discutir essa afirmação, para Aristóteles seria o mesmo para
todas as pessoas, independentemente do lugar onde elas estivessem, porque ele sendo
“medida de movimento astronômico” seria obviamente a “medida do movimento,
medida uniforme de movimentos multiformes: da grandeza variável quanto ao aumento,
alterações, deslocamentos...”.
Por fim, na questão sobre o Espaço, aborda-se a Geografia Humanística ou
Cultural. Os integrantes desta linha de pensamento se baseiam na “subjetividade”, na
intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência,
privilegiando o singular e não o particular ou o universal, e ao invés da explicação tem
na compreensão a base da inteligibilidade do mundo real. Revaloriza-se a paisagem
como conceito. Um nome que se destaca na gênese dessa corrente Yi Fu Tuan, para
quem “os sentimentos espaciais e as ideias de um grupo ou povos sobre o Espaço a
partir da experiência” são importantes. Para ele há vários tipos de Espaços: ”um espaço
pessoal, outro grupal, onde é vivida a experiência do outro e o espaço mítico-conceitual,
que ainda ligado à experiência, extrapola para além da evidencia sensorial e das
necessidades imediatas e em direção a estruturas mais abstratas”.
Região
Dentro da geografia, Região é um dos temas mais controversos e discutidos.
Devido a grande quantidade de geógrafos que tem uma visão diferente do que é Região,
podemos, partindo dele (conceito de Região) analisar autores, obras e ideias diferentes.
Para Gomes (1995, p.49) “reconhecer a existência do termo região é mais
do que simplesmente assinalar existência, significa aceitar seu uso”... [e] conceber nesta
multiplicidade a riqueza e o objeto propriamente de uma investigação cientifica. Gomes
ainda analisa as consequências dessa concepção, colocando em cheque o caráter da
ciência de única representação verdadeira da realidade. Avalia também as múltiplas
possibilidades que a geografia tem para se tornar não somente mas um a dar um
conceito para Região, mas a se desenvolver ainda mais.
Analisando Região pelo lado da Geografia Humanista, temos Região como
uma parte da pessoa, onde a pessoa se sente inserida, onde esta centrada suas ações
diárias. Já para a Geografia Critica o conceito de Região está vinculada a divisão
territorial do trabalho e ao processo de acumulação capitalista, que produz e distingue
espacialmente possuidores e despossuidores.
Como ultima contribuição acerca do conceito de Região, o autor se baseia
em Thrift (1996) que enfoca a Geografia Regional. Thrift analisa três autores
importantes, mas que viveram em épocas diferentes. Vidal de La Blache, Karl Marx e
Fredic Jameson são analisados de acordo com o contexto de quando e onde
desenvolveram suas ideias.
La Blache, influenciado pela crescente industrialização francesa “preocupa-
se com a necessidade de dedicar-se não apenas a singularidade da Região, mas a sua
crescente independência”.
Se baseando em Marx, ainda sobre a análise de Thrift, “o capital era
essencialmente uma influência homogeneizante e centralizante” e “a reestruturação
industrial leva a reestruturação regional”. Pode-se observar que Marx estava voltado
para as mudanças que a Região sofria com ganho ou perda de capital.
Para Jameson,“a Região esta se fragmentando, tornando-se não tão
desorganizada... quanto deslocada nos termos em que costumamos considerar Região
como áreas continuas e demarcadas”. Tudo isso se dar devido a novas relações
econômicas que somente dão lucros a poucos e que sacrifica a maioria de uma
população, que é iludida por novas ideias que não tem um fundo de cultura.
Território
O conceito de Território é constantemente confundido com o de Espaço,
mas ao se aprofundar em leituras mais profundas sobre esses temas, percebe-se que isso
ocorre por limites muito tênues. Outra característica desse conceito é que não se deve
pensar em Território sem o associar a categoria Tempo.
Território está vinculado essencialmente às características produtivas,
jurídicas e politicas. Quando se está praticando agricultura, mineração, transporte de
mercadorias, etc.; está havendo uma apropriação da natureza e a sua consequente
transformação.
Entre muitas abordagens sobre Território, algumas são mencionadas por
Savério. A concepção naturalista, que toma o Território como um elemento da natureza,
o qual gera lucros, pelo qual se deve lutar e proteger. Outra abordagem é uma mais
voltada para o individuo, a qual pode ter uma relação politica, mas que está mais
vinculada a capacidade da pessoa de se localizar e se deslocar. Ainda podemos destacar
a concepção Vestfaliana, na qual o território aparece “como fundador da ordem politica
moderna, enquanto a sua aventura se confunde largamente com aquela do poder”.
(Ibiden, p.13).
Para encerrar a abordagem sobre o conceito de Território, usa-se o conceito
de descontinuidade. Se baseando nas ideias de Gay, descontinuidade está fundamentada
na relação direta que a natureza impõe na organização do ser humano em determinada
área.
CAPÍTULO 4 - A CRISE PARADIGMÁTICA
O autor afirma no capítulo quarto da obra, que atualmente a ciência
ocidental vive uma crise paradigmática que levou os cientistas serem mais objetivos e
aplicados em seus estudos da realidade, como também o rigor filosófico exercido na
ciência e transformação da realidade. Muitas mudanças paradigmáticas tiveram de
ocorrer, pois uma crise na produção do conhecimento fez com que novas buscas
acontecessem para esta nova compreensão.
Para o conhecimento, a ignorância passa a se o estado de fuga, de
esquecimento e de mistificação dos fenômenos mais simples do cotidiano, alçando-os a
uma percepção religiosa. O domínio do conhecimento e sua apropriação como forma de
lucro. A ciência torna-se indispensável para a humanidade, pois através dela se pode
conseguir uma melhor condição de vida; passa a ser um conhecimento elaborado. Para
conhecer melhor essa crise, três temas serão abordados: modernidade, globalização e a
história da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e suas realizações.
Modernidade
Iniciada a partir dos anos 1980 a modernidade sendo o momento mais
recente da geografia, passou incorporar novos temas, a conversação com a filosofia,
sociologia e antropologia. Parafraseando Marshall Berman (1990), ele diz que ser
moderno é encontrar-se em um ambiente dinâmico e que se transforme, podendo ser
perdido o conhecimento que temos, sabemos e somos, para essa ideologia que nos une,
a mudança e a contradições conceituais existentes.
Associando a modernidade a conceitos, podemos dizer que é um “conjunto
de descontinuidades”, observando ritmo de mudança que ocorre no mundo todo. Walter
Benjamin autor não-geógrafo diz que a modernidade se tornou um mito descontente e
que para o capitalismo é como um sono; a batalha entre razão e mito; uma nova relação
com a natureza e a aceitação do destino que na mesma traz.
Pra Feyerabend, “existe um irracionalismo na base do saber que precisa ser
considerado e a dicotomia tradicional, ciência/razão versus mito/magia/religião, não
passa de uma ideologia autoritária que confere à ciência ... a exclusividade do
conhecimento”, o mito e a razão devem manter relações recíprocas. Presa-se por uma
universalização da racionalização e ao mesmo tempo por uma antirracionalização que
preza pela riqueza dos fenômenos naturais, não necessariamente com alguma ordem
lógica ou regular.
Jean Baudrillard, Gomes (1995) “a modernidade não é nem um conceito
sociológico, nem um conceito político, nem propriamente um conceito histórico; é um
modo de civilização característico, que se opõe ao modo da tradição, ou seja, a todas as
outras culturas anteriores ou tradicionais”. Harvey (1989) diz que a modernidade não
pode respeitar sequer o seu próprio passado, para não falar do de qualquer ordem social
pré-moderna. Percebemos que é claramente um rompimento com conceitos antigos, não
necessariamente um esquecimento, mas uma retomada do passado com novas
perspectivas, podendo ser entendida por uma “destruição criativa” (Goethe), termo esse
referente a um personagem (Fausto) que construía um mundo novo a partir das cinzas
do antigo.
Quando se fala do século XX, o modernismo assume “uma forte tendência
positivista”, isso no período entre guerras, trazendo uma grande limitação para o
pensamento geográfico; estabelece-se uma cultura técnica, a própria arquitetura
modernista rege esse processo, influenciando as demais áreas do saber. Também surge o
pós-modernismo que possui características antitotalizantes, antigeneralizantes, de
abordagem descentralizadora e até mesmo caótica da sociedade fragmentada.
Percebemos então que modernidade não significa em hipótese alguma a “aniquilação do
lugar” e sim a melhor forma de se pensar e organizar.
Globalização / mundialização
Esse novo conceito ou novo paradigma da geografia que é de grande
importância é a globalização, que em 1990 ganhou grande destaque. É bom
diferenciarmos o termo mundialização de globalização, que são as relações capitalistas
que tentam se estabelecer em todos os lugares; e a segunda é mais um pensamento ou
uma cultura quase que conjunta, diferente de uma padronização. A exemplo de
mundialização temos as diversas bolsas de valores do mundo; de globalização temos a
padronização de certos costumes, eventos, transmissões via satélite, marcas e produtos.
Temos que lembrar que as subdivisões dos países se dá através desses dois
conceitos, baseados em aspectos culturais. Milton Santos (apud 1996, p.37) afirma que
“O processo de globalização, em sua fase atual, revela uma vontade de
fundar o domínio do mundo na associação entre grandes organizações e uma
tecnologia cegamente utilizada. Mas a realidade dos territórios e as
contingências do “meio associado” asseguram a impossibilidade da desejada
homogeneização”.
As metáforas também sempre estão presentes no pensamento científico
segundo Octavio Ianni, e desvendam traços fundamentais da sociedade global; a
exemplo de algumas temos: Aldeia global que é a comunidade mundial; Fábrica global
é a desterritorialização e reterritorialização das coisas, gentes e ideias, promovendo o
redimensionamento de espaços e tempos, concentração e centralização do capital; Nave
espacial é o fim do individualismo (artesanal), alienação ao conhecimento puramente
técnico e universalização da racionalidade instrumental; Torre de babel é uma metáfora
emergida da ideia de uma “língua comum” onde todos se “entendem e desentendem”, a
exemplo a língua inglesa.
Mamigonian (apud ibidem, p.100) diz que a globalização “como ideologia
que se vende e se impõe aos novos povos oprimidos é basicamente o projeto
econômico-político americano de deliberar o ultraimperalismo futuro”. E podemos
concluir que isso não é algo novo, os países subdesenvolvidos são controlados
economicamente e culturalmente pelos países desenvolvidos desde sua formação.
Após todos estes conceitos de globalização e mundialização, alguns
princípios desta última palavra foram estabelecidos: Financeirização que é o domínio
da moeda e economia; Tendência a homogeneização que é a tendência a ampliação
territorial dos costumes, etc; Seletividade é a segregação entre os homens através de
suas especializações; Criação tecnológica são as matérias primas, produtos, serviços e
ideias entre pessoas e seus Estados; Estímulo à competitividade que é normal entre os
Estados; Verticalização nas realizações de produção; Mudança do papel social do
Estado são os vínculos e interconexões que os Estados e as sociedades construíram ao
longo dos anos.
A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
Fundada por Pierre Deffontanes em 7 de setembro de 1934 a Associação
dos Geógrafos Brasileiros (AGB), que veio para ajudar a organizar o curso na
Universidade de São Paulo, junto com mais dois nomes marcados na história da
Geografia brasileira: Pierre Monbeig e Francis Ruellan. É o órgão que realiza os
Encontros Nacionais de Geógrafos, que ocorrem bienalmente, e os Congressos
Nacionais de Geografia, que ocorrem decenalmente.
Como papel do geógrafo, na atualidade, amplia-se constantemente, com a
participação de profissionais em diferentes entidades da sociedade civil, em
organizações não-governamentais e em movimentos sociais, além do seu histórico papel
em sala de aula, ministrando os conteúdos de Geografia para a formação do cidadão
brasileiro, os eventos científicos transformaram-se, ganhando um caráter de
massificação dentro da própria comunidade (Sposito, 2004).
A AGB realizou no ano de 2000 em Florianópolis seu XII Encontro
Nacional de Geógrafos, que foi de extrema importância na sua história. Mais
precisamente em Junho desse ano e com o tema “Os outros 500 na formação do
território brasileiro”. Em 1978 “produziu-se uma falsa dicotomia entre os encontros
científicos e políticos” chamava-se um período de democratização, o que futuramente
lhe traria problemas. Atualmente a AGB sofre um momento de tensão histórica, pois o
discurso político passou a ser hegemônico em suas diferentes gestões. Uma entidade
que consegue congregar mais de três mil participantes num evento científico, e por isso
é tão grande, mas que nem possui sede própria.
Ainda em 1978, nos eventos que a AGB organizava, estudantes não podiam
participar de seus eventos, apenas por sócios titulares e convidados. No III Encontro
Nacional de Fortaleza (CE) houve uma ruptura política, provocada pelas intervenções
de Armen Mamigonian. Foram organizados objetivos (dez) a partir dessa ruptura, que
passaram a constar no estatuto da AGB.
A situação dos geógrafos era desorganizada a tal ponto, que, apenas em
1979 foi regularizada a profissão de geógrafo criada pelo decreto-lei número 6.664/78,
conquista de uma luta da AGB desde o início dos anos 50, e que ainda não está
totalmente terminada por causa de empecilhos colocados pelo CREA (Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia) em algumas regiões, quanto ao registro de
geógrafos.
Com a crise que estava passando, foi preciso uma mudança paradigmática
no pensamento geográfico, uma “tomada de consciência” influenciada pelas ideias de
Schaffer e Lacoast, que nos demais encontros passaram a ser discutidos para que a
produção do conhecimento não voltasse a estagnar-se. O objeto da geografia que é o
“espaço” deveria ser o alvo de todas as discussões.
CAPUTULO 5 - TEORIAS
O capitulo analisa três teorias observando vários elementos como, o nível
tecnológico do período histórico, a doutrina que sobrepõe à teoria, as relações
filosóficas do momento, por exemplo.
A primeira é o ciclo da erosão, elaborado por William M. Davis (1850-
1934), no final do século XIX, atualmente foi superado pela base teórica da
Geomorfologia, porém Eliseu S. Sposito considera relevante fazermos uma rápida
abordagem sobre cuja importância está na necessidade de contextualizarmos duas
coisas: a primeira refere-se a um momento específico da produção geográfica com suas
influencias recebidas de outras áreas do conhecimento; a segunda, ligada a um
movimento de superação das teorias que vão sendo elaboradas, refere-se ao caráter
amplo e contraditório na produção do conhecimento, mesmo que os cientistas tenham
como base filosófica as mesmas fundamentações.
Davis, geógrafo e geólogo, teve sua época marcada por vários fatos
importantes. Algumas invenções ocorridas nos Estados Unidos e na Europa mostram a
força da ciência no desenvolvimento de diversas tecnologias.
O autor enfatiza também o momento filosófico, que recebe influencia do
idealismo, positivismo e socialismo. O idealismo alemão (kantiano ou pós-kantiano)
que no principio teve suas bases lançadas por Kant, para quem ¨não haverá
conhecimento sem a operação do intelecto¨. Personificado por Hegel, o idealismo
absoluto (pós-kantiano) afirma que o real é a ideia.
O positivismo, que tem como característica principal o empírico e a
quantificação, ou seja, defende a experiência como fonte principal do conhecimento
sendo contrario ao idealismo, considera as ciências empírico-formais como modelo para
as demais ciências.
E o socialismo, o qual teve como objetivo reformar a sociedade desde a
economia a política utilizando as ideias de igualdade, e assim estabelecer um estado de
bem-estar social.
Dentre a riqueza cientifica e filosófica da segunda metade do século XIX,
Davis escolhe o positivismo como base fundamental para sua teoria.
Ao analisar alguns autores, Sposito conclui que o evolucionismo serviu de
instrumento por todos aqueles que pretendiam explicar as conexões entre fatos e a
dinâmica das sociedades humanas no espaço geográfico Mesmo alguns geógrafos se
opondo a essa teoria, Davis utilizou-se dela como parte essencial para o seu trabalho.
Davis afirma que a forma do terreno deve ser estudada do mesmo modo que
uma forma orgânica, logo é composta de uma série de processos. Buscando a
elaboração de leis, ele pretende universalizar uma descrição para que possa ser aceita e
utilizada por todos os geógrafos bem como fazem os biólogos em sua área.
Eliseu S. Sposito afirma, que no período de sua elaboração, o ciclo da
erosão não recebeu críticas diretas de Walter Penck. Posteriormente, as críticas feitas
por cientistas que difundiram as ideias e valorizaram as comparações entre as teorias
geradas nos Estados Unidos e na Alemanha. A soma dos conceitos estadunidenses era
contraria a visão que os alemães tinham dos processos geomorfológicos, que já se
preocupavam desde Humbold, com o conceito de paisagem e suas características de
totalidade.
A teoria do ciclo da erosão foi a primeira que definiu a estrutura teórica para
a geomorfologia e passa a guiar o pensamento e a pesquisa geomorfológica.
Davis afirma que, como os seres vivos tem seu ciclo vital, o relevo também
apresenta essa característica. É constituído por três fases que a princípio representariam
o momento de sua formação ou juventude. Ele tem como característica o desequilíbrio
entre o canal fluvial e a estrutura por onde ele corre, ocasionando assim um forte
processo de erosão.
Um segundo momento seria definido como a maturidade do relevo, as
formas são bem definidas e há um equilíbrio entre a erosão e a deposição de matéria.
Rios de planalto explicam essas marcas. Já no terceiro momento, o da senilidade, o
relevo apresenta formas completamente desgastadas devido ao forte processo erosivo,
as atividades erosivas tendem a cessar pois os rios são de planície.
Porém essa teoria apresenta alguns problemas, dentre eles está à falta de
consideração dos elementos exógenos, aqueles ocorridos por agentes externos, cujo
clima é o principal. Walter Penck não cometeu essa falha em sua abordagem teórica,
pois considerou tais aspectos.
O ciclo da erosão, considerado pelo próprio Davis como método para
estudar o relevo, se caracteriza por alguns elementos.
Com suas limitações para a leitura do relevo, é preciso relembrar que ela
propõe alguns passos básicos.
Inicialmente é preciso reunir e analisar o material disponível por meio de
observações. Em seguida, é preciso estimular as possíveis difusões gerais para se
elaborar as hipóteses que indiquem as explicações imprescindíveis. A partir daí, pode-se
haver um confronto entre as consequências das hipóteses e os fatos em pauta, assim
surgiram às primeiras conclusões ainda provisórias. O próximo passo seria revisar e
aperfeiçoar as explicações obtidas para chegar-se a uma conclusão sobre a capacidade
explicativa das diferentes hipóteses, as que resistirem as provas passaram a serem
teorias.
A segunda teoria, a das localidades centrais, foi elabora por Walter
Christaller (1893-1969) em 1933, tinha como objetivo estudar sobre a hierarquia urbana
e sua influencia em relação às pessoas, devido à estrutura oferecida pela mesma. Sposito
intensifica a utilização de citações de outros autores para explanar as ideias aqui
discorridas.
Pra Christaller o número, tamanho e a distribuição dos núcleos de
povoamento, são regulados por alguns fatores. Não levando em consideração o tamanho
da localidade central, mas sim a sua importância para a área que depende dos serviços
oferecidos por ela.
Segundo Berry (1971, p.77) As hierarquias de Christaller são mais úteis para
a análise dos comércios varejistas e das empresas de serviços no setor terciário.
O fator crucial na orientação da distribuição do povoamento urbano é a
exigência de que as localidades centrais estejam o mais próximo possível dos clientes,
tal fator foi chamado de principio de mercado.
Outros dois conceitos definidos por Chirstaller são: alcance espacial máximo
e alcance espacial mínimo, esse apresenta uma ligação entre a área em torno de uma
localidade central e o numero mínimo de consumidores que seja suficiente pra que uma
determinada atividade comercial possa se instalar, já aquele, está ligado a distancia que
os consumidores percorrem para adquirir bens e serviços de uma localidade central.
Dessa maneira, Sposito destaca alguns aspectos básicos da natureza
hierárquica urbana, pra que possamos obter um claro entendimento sobre a proposta
metodológica dessa teoria, dente eles podemos citar: quanto maior o nível hierárquico
de uma localidade urbana, menor o seu número e mais distanciada estará de outra do
mesmo nível e quanto mais alto o nível hierárquico, o número de funções centrais é
maior do que em um centro de nível inferior.
A formação das redes leva configuração hexagonal no inter-relacionamento
entre as cidades, com a principal delas (o lugar mais central), ocupando o centro do
hexágono, em relação às outras localidades menores. Corrêa (1989) afirma que, para
Christaller, pode haver arranjos espaciais segundo seus modos de organização da rede:
as possibilidades baseiam-se nos princípios de mercado (¨para cada centro de um dado
hierárquico, três centros de nível imediatamente inferior¨); de transporte (¨existe uma
minimização do número de vias de circulação , pois ¨os principais centros alinham-se ao
longo de poucas rotas¨); e o de administração (onde não há ¨superposição de áreas de
influência, como nos dois modelos anteriores¨) (ibidem, p.30-2)
Entretanto, algumas objeções teóricas foram feitas a essa teoria. As
hinterlândias solapadas não impedem que os meios de transporte de um país sejam bem
desenvolvidos. A presença de um grande núcleo urbano tende a frear o crescimento das
aglomerações menores das proximidades. Outra critica é que é muito difícil imaginar
uma rede de cidades que se organize e funcione exatamente na conformidade de
hexágonos superpostos.
Um fator importante para a compreensão da realidade foi negligenciado pela
teoria, referente a historia da formação das cidades e de sua constituição em redes:
¨todas as aglomerações urbanas cresceram como resultado de um processo histórico,
passando por uma serie de situações técnicas diferentes, mas as cidades fundadas no
passado não desaparecem, se não que continuam funcionando na paisagem atual¨
(ibidem, p.146).
Apesar de ter se baseado na geografia de uma área real, sua teoria está
interessada basicamente na obtenção de um modelo teórico do que deveria ser a
realidade. Foi elaborada a partir do contexto da Alemanha antes da Segunda Guerra
Mundial e teve seu texto traduzido para o inglês de forma fragmentada. Ela foi
fundamental para a disseminação do neopositivismo na Geografia, fundado numa
linguagem matemática, que deveria ser universal para os estudos geográficos. Houve
uma expansão dessa linguagem, que propunha o caminho mais cientifico para a
Geografia, como maneira de superar o empirismo adotado nos estudos anteriores.
O neopositivismo é semelhante ao positivismo comteano. É resultado de um
grupo de estudos que se reunia sistematicamente, debatendo o conhecimento cientifico e
principalmente o método. A linguagem expressa por essa corrente é a matemática que
tinha como objetivo de demonstrar o conhecimento cientifico e unificar todas as
ciências.
O autor considera que a teoria das localidades centrais foi importante para a
formação de um discurso que baseou grande parte da produção geográfica (conhecida
como geografia neopositivista ou quantitativa) nos Estados Unidos, Inglaterra e no
Brasil, e que teve, além de outros já citados, o mérito de ser pivô de uma relação
fundamental para o pensamento geográfico, que pode ser identificada como aquilo que
passou a se chamar de geografia critica ou radical ou marxista, em suas mais diferentes
facetas.
A terceira e última teoria é a dos dois circuitos da economia urbana que se
tornou importante para os estudos Geografia Urbana. Elaborada por Milton Santos,
tema central do livro O espaço dividido, publicado no Brasil em 1979, a partir de seus
estudo e experiências profissionais em vários países, como Tanzânia, Estados Unidos,
Venezuela e França, onde trabalhou em importantes universidades.
Ele afirma a existência de dois sistemas de fluxo econômico nas cidades de
países subdesenvolvidos, cada um sendo um subsistema global que a cidade em si
representa, refutando assim a possibilidade de uma interpretação dualista da economia
nas cidades subdesenvolvidos, indica que esses dois subsistemas são produtos de uma
mesma causa, pois é o resultado de dois grupos de fatores que é a modernização
tecnológica.
Para Sposito, Santos considera, o inicio desses dois fluxos, ligado nas
tendências de modernização contemporânea. Critica a corrente das planificações e seus
atrasos teóricos, inserindo na análise do urbano a dimensão histórica e a especificidade
do espaço do Terceiro Mundo, põe uma nova forma de abordagem ao sugerir a
existência do circuito inferior na economia, que seria constituído pelas atividades de
fabricação tradicionais, como o artesanato, assim como os transportes tradicionais e a
prestação de serviços.
Outra característica de sua obra: a procura pela teorização somente a partir de
países subdesenvolvidos e para eles. Uma das referencias utilizadas, é a modernização
tecnológica que cria um numero limitado de empregos.
Os circuitos seriam, assim definidos por: ¨1) o conjunto das atividades
realizadas em certo contexto; 2) o setor da população que se liga a ele essencialmente
pela atividade e pelo consumo¨ e, ainda: seriam identificados pelas diferenças de
tecnologia e de organização¨ (ibidem, p.33), criando uma bipolarização e não um
dualismo, porque não haveria nem circuito intermediário nem continuo.
O autor caracteriza de maneira individual os dois circuitos. O circuito
superior seria definido por: capital abundante; tecnologia mais avançada na produção;
exportação dos produtos finalizados; organização bem burocratizada; assalariamento de
toda a forma de trabalho; e grande estocagem de produtos. Já o circuito inferior
apresenta: controle dos custos e dos lucros é raro; contabilidade praticamente ausente;
sistema de negócios frequentemente arcaicos; equipamento de má qualidade, por falta
de dinheiro; venda direta; e setor de serviços.
Além do avanço da proposta teórica dos dois circuitos, Milton Santos
contribui de forma metodologia, pois, é observado uma explicação a partir da
investigação dialética, sem eliminar os elementos estruturais de seu pensamento. Por
tanto carrega o mérito de esboçar uma teoria exercitando o método, a partir do
raciocínio.
Por fim, é possível notar que essa teoria apresenta um ponto de vista a partir da
dualidade, construída historicamente que se faz presente na economia urbana dos países
pobres.