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59 2010 PLURAL, Revista do Programa de Pós‑Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.17.1, 2010, pp.59‑88 * Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas. I CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA 1943: atores, intelectuais e ideologias na constituição de uma consciência de classe entre os industriais e a consolidação do projeto industrialista Arthur de Aquino * Resumo Este trabalho consistiu em duas tarefas básicas: o mapeamento e a sistematização dos Anais do I Congresso Brasileiro de Economia e o cruzamento com a ação de Roberto Simonsen, líder do segmento industrialista. A liderança de Simonsen caracteriza um momento sui generis na formação de uma consciência corporativa de classe entre os industriais, uma vez que eles superam o imediatismo conjuntural de suas demandas. A importância do estudo em questão está na compreensão de um projeto de nação por parte dos industriais, cujo contexto possui Simonsen como o ator que consegue ordenar o segmento industrialista, aprofundando e dando consistência à argumentação. Os objetivos da pesquisa consistiram na análise da agenda do Congresso, seus temas, debates e recomendações, com o fim de identificar os paradigmas teóricos, políticos e econômicos do período, assim como cruzar com a obra de Simonsen e o contexto histórico. O texto conclui com os principais pontos do projeto industrialista, extraídos das recomendações do Congresso ao governo. Palavras-chave Roberto Simonsen; pensamento social brasileiro; industrialismo.

Resenha Simonsen

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Resenha Simonsen

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  • 59 2010

    PLURAL, Revista do Programa de Ps Graduao em Sociologia da USP, So Paulo, v.17.1, 2010, pp.5988

    * Mestrando pelo Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica da Universidade Estadual de Campinas.

    I Congresso BrasIleIro de eConomIa 1943:

    atores, intelectuais e ideologias na constituio de uma

    conscincia de classe entre os industriais e a

    consolidao do projeto industrialista

    Arthur de Aquino*

    Resumo Este trabalho consistiu em duas tarefas bsicas: o mapeamento e a

    sistematizao dos Anais do I Congresso Brasileiro de Economia e o cruzamento

    com a ao de Roberto Simonsen, lder do segmento industrialista. A liderana

    de Simonsen caracteriza um momento sui generis na formao de uma

    conscincia corporativa de classe entre os industriais, uma vez que eles superam

    o imediatismo conjuntural de suas demandas. A importncia do estudo em

    questo est na compreenso de um projeto de nao por parte dos industriais,

    cujo contexto possui Simonsen como o ator que consegue ordenar o segmento

    industrialista, aprofundando e dando consistncia argumentao. Os objetivos

    da pesquisa consistiram na anlise da agenda do Congresso, seus temas, debates

    e recomendaes, com o fim de identificar os paradigmas tericos, polticos e

    econmicos do perodo, assim como cruzar com a obra de Simonsen e o contexto

    histrico. O texto conclui com os principais pontos do projeto industrialista,

    extrados das recomendaes do Congresso ao governo.

    Palavras-chave Roberto Simonsen; pensamento social brasileiro; industrialismo.

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    I Brazilian Congress of Economy 1943: actors, intellectuals and ideologies

    in the constructions of a class consciousness betwenn the industrials and

    the consolidation of the industrials project

    Abstract This paper concerns in two main effors: the maping and systemization of

    I Congresso Brasileiro de Economia historical records, and across with Roberto

    Simonsens action, until industrialist segment leader. The Simonsens leadership

    defines a sui generis moment in a making of a corporative class conscious among

    industrial entrepreneurs, so they overcomes the transitory immediatism of his

    demands. The importance of this paper in fact is the understanding of nations

    project by industrials side, whose context have Simonsen how the political actor

    with gets to organize the industrialist segment, elaborating and offer consistence

    to argumentation. The research objectives concerns in agenda analisys of I

    Congresso, his issues, debates, and recommendations, to deal of indentify the

    politica, economics, and theoretical paradigms of period, such as to combine

    with Simonsens work and historical context. The paper concludes with main

    points of industrialist project, extracted of Congress recommendations to govern.

    Keywords Roberto Simonsen; Brazilian social thought; industrialism.

    IntRoduo

    Os objetivos deste trabalho consistiram na anlise da agenda do I

    Congresso Brasileiro de Economia, com o fim de detectar o sentido ideol-

    gico dos debates. Em seguida, a identificao do cenrio histrico, social e

    ideolgico das relaes entre conjuntura socioeconmica e as prioridades

    reivindicadas pelos industriais, seguida do acompanhamento das votaes

    na comisso de redao.

    Assim, foi possvel detectar as influncias dos paradigmas tericos (tanto

    na produo bibliogrfica dos autores quanto no debate pblico), polticos e

    econmicos do perodo: keynesianismo, planejamento socialista, pr-formao

    das ideias cepalinas.

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    O conjunto dos objetivos propostos trabalha com a perspectiva de

    entender como ocorreu pontualmente nesse perodo o debate sobre o fim do

    laissez-faire; explicar o comportamento dos industriais do perodo enquanto

    classe para si, tomando por vista e mesmo indagando sobre o porqu o

    lcus do debate e as medidas adotadas pelos governos posteriores, tendo em

    vista as reivindicaes do segmento industrialista.

    O I Congresso Brasileiro de Economia aconteceu nas dependncias

    da Associao Comercial do Rio de Janeiro, entre 18 de novembro e 15 de

    dezembro daquele ano. Esse Congresso entra em um mesmo movimento, de

    acordo com Carone (1977, p. 298), com o I Congresso Brasileiro da Indstria,

    realizado em So Paulo, em 1944, e a I Conferncia Nacional das Classes Produ-

    toras (ConClap), de 1945, de posies mais maduras, concretas e centradas no

    segmento industrial e no mais em cada empresa ou empresrio isolada-

    mente.

    A importncia desses congressos industriais da dcada de 1940 explica o

    comportamento dos industriais como atores sociais, principalmente no tocante

    questo do conflito entre liberalismo econmico (defendido por Gudin) e

    desenvolvimentismo/industrialismo (defendido por Simonsen).

    Essa disparidade no que toca interveno do Estado na economia levou

    ao estudo das matrizes do pensamento econmico brasileiro do perodo, uma

    vez que, na dcada de 1940, tornou-se clara a contradio entre corporativismo

    e liberalismo, cuja temtica vai da necessidade de interveno, passando pela

    crise que questiona os limites do laissez-faire. Dessa maneira, necessrio

    considerar as diferentes influncias tericas do perodo (que passam pela

    recepo das teses de List (1989), Keynes (1965) e Manoilesco (1938), no debate

    entre regulacionismo e liberalismo.

    Tambm foi pertinente elucidar o porqu de os empresrios pedirem

    proteo do Estado. Os congressos industrialistas da dcada de 1940 esto

    no centro dos debates por serem o momento no qual os industriais tomam

    sua conscincia corporativa de classe e a defesa de seus interesses e tambm

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    cujos debates tomaro a frente do projeto industrialista. A preocupao passou,

    portanto, identificao dos atores e das ideias antecedentes consolidao

    da industrializao pesada1; como tambm de extrema importncia para o

    pleno entendimento do pensamento econmico e poltico do perodo.

    Simonsen, dentro do pensamento industrial, significou uma superao

    entre seus pares, uma vez que precisou definir conceitualmente, de maneira

    mais rigorosa e concisa, suas acepes tericas. por isso que nesse momento

    as reivindicaes industrialistas superam o imediatismo das demandas indi-

    viduais dos industriais e passam a constituir-se como um projeto de nao.

    Foram pontos cruciais nessa elaborao poltico-intelectual: a conciliao de

    classes, a ideia de progresso e o povoamento do interior pela industrializao,

    a entrada e a difuso do taylorismo no pas.

    A importncia de considerar a difuso e a gnese dessa forma de orga-

    nizao do trabalho consiste nas formas de organizao social proposta pelos

    industriais, como desdobramento da racionalizao do trabalho: a organizao

    corporativa da sociedade e a conciliao de classes, assim como a cooptao

    da classe trabalhadora e a acomodao dos conflitos de classe.

    Decorre da combinao entre o Simonsen terico e condottiere, no

    sentido de capacidade de liderana do segmento industrialista, que nosso

    referencial terico nos orienta a entender Simonsen como intelectual orgnico

    da frao de classe burguesa industrialista.

    Entende-se o industrialismo a partir de sua contraposio aos interesses

    da frao de classe burguesa mercantil-agroexportadora. Os industrialistas,

    que esto entre os desenvolvimentistas do setor privado, so uma frao de

    classe da burguesia que defende um projeto de nao para o Brasil que envolve

    o desenvolvimento da indstria pesada e reivindica o apoio estatal para seu

    projeto. Assim, o projeto industrialista se choca de maneira frontal com os

    interesses da burguesia agroexportadora.

    1 Consultar Draibe (1985).

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    No houve uma atuao relevante dos industriais no perodo de 1930 a

    1964 pela via dos partidos polticos. Houve, isso sim, uma organizao poltica

    dos industriais, em um primeiro momento, por fora da poltica institucional.

    Em um segundo momento, as reivindicaes dos industriais diante do Estado

    os levam a organizaes de grupos de fora do aparato estatal (caso da fundao

    da Fiesp, em 1928, por Simonsen e Matarazzo). Entretanto, os conflitos de

    classe e mesmo suas representaes so cooptados para dentro do Estado

    ps-30, caracterizando a formao de um Estado demiurgo, atravessado de

    lado a lado pelos conflitos de classe, tanto introjetando esses conflitos quanto

    os mediando o que levou fatalmente a uma autonomia formidvel do Estado

    com relao s classes no perodo de 1930 a 1964.

    Na dcada de 1920 viu-se surgir a primeira representao corporativa

    dos industriais a Fiesp, fundada em 1928 por Roberto Simonsen e Francisco

    Matarazzo , mas foi apenas nos anos 1940 que o setor industrial conseguiu

    produzir um espao de discusso sobre seus problemas e projetos maior que a

    representao sindical: os congressos econmicos do final do Governo Vargas.

    FoRmao do Estado BRasIlEIRo Como

    PRoCEsso ConFlItIvo E PRoBlEmtICo

    H na literatura econmica e histrica brasileira um extenso debate

    sobre o papel e os limites do planejamento e da interveno do Estado na

    economia, em especial sobre a questo da industrializao (principalmente

    sobre a passagem do modelo mercantil-exportador para o modelo industrial).

    Embora haja inmeras interpretaes sobre a origem e o ritmo desse processo,

    praticamente consenso a tese de que o planejamento conduzido pelo Estado

    foi pea importante e necessria, principalmente em funo de nossa situao

    histrica de pas de capitalismo tardio.

    O Estado capitalista moderno em formao encontra sua gnese no

    Estado de Compromisso, que fruto da crise agrria da Repblica Velha (1889-

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    1930), a qual encontrara seu fim na Revoluo de 30. Entretanto, o quadro

    nesse momento , alm da crise do complexo cafeeiro, a falta de hegemonia,

    a dependncia das classes mdias com relao ao Estado e a presso popular

    decorrente da crise econmica.

    Nesse quadro, o Estado aparece como rbitro de interesses entre o

    capital e o trabalho, uma vez que aquela falta de hegemonia fez com que, nesse

    momento, o Estado se constitusse como autnomo em relao aos interesses

    dominantes. Draibe (1985, p. 22) chamou de via prussiana para o desenvol-

    vimento a modernizao conservadora, conduzida pelo Estado, manifestada

    no perodo.

    Ser em um campo fragmentado e heterogneo, formado por diversidades

    de dentro e fora do Estado, na conjuntura das lutas polticas entre os setores

    histricos fundamentais (proletariado, burguesia mercantil e burguesia

    industrialista), que aparecer a autonomia do Estado em relao sociedade.

    O Estado aparece aqui como um reequilibrador de interesses. Entretanto, sua

    autonomia encontraria limitaes.

    A primeira delas reside no fato de que o Estado tinha sua autonomia orien-

    tada a hierarquizar os interesses sociais. O ncleo dirigente orientava a ao

    estatal, e essa orientao era direcionada pelas lutas travadas dentro do Estado,

    tais como na comisso de planejamento econmico na controvrsia entre

    Simonsen (desenvolvimentismo do setor privado) e Eugnio Gudin (liberal,

    defensor da tese de vocao agrria da economia brasileira)2. A partir daqui,

    pode-se inferir que a organizao do Estado e suas relaes com a sociedade

    passam a ter carter fortemente corporativo, visto que o Estado absorve os

    conflitos sociais, para, em um segundo movimento, regul-los. Draibe (1985,

    pp. 43-45) ressalta que a industrializao no Brasil implicou aquisio por

    parte do Estado de estruturas capitalistas.

    2 Bielschowsky (2004, pp. 241-243).

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    o PEnsamEnto dE RoBERto sImonsEn

    Existe, atualmente, ampla bibliografia sobre Roberto Simonsen. Basica-

    mente, duas abordagens principais: a que divide a obra do autor em fases de

    elaborao intelectual (Vieira, 1987; Cepda, 2004; rompatto, 2004); e a que

    trata da obra como uma unidade contnua (maza, 2004; Fanganiello, 1970;

    Caetano, 1994). Todos os estudos consideram as pretenses de Simonsen em

    torno da construo da nao. Todos destacam, em maior ou menor medida,

    a interpretao de Simonsen sobre o papel e o lugar da classe trabalhadora,

    cujas demandas deveriam parar de ser tratadas como mero caso de polcia;

    outrossim, englobadas no projeto poltico. Maza (2004), por exemplo, enfatiza

    de forma muito acentuada a interpretao de Simonsen a partir do mundo

    do trabalho e sugere que o central no pensamento simonseano seria uma

    pretenso taylorizao da sociedade. Fanganiello, por outro lado, enfatiza

    fortemente a unidade da obra. Para a autora, Simonsen foi um protecionista

    declarado, ao contrrio de Amaro Cavalcanti, por exemplo. Foi claramente

    influenciado pelas ideias de Frederick List, assim como adepto da ideia de

    sistema econmico nacional.

    Para Simonsen, a riqueza potencial no riqueza, porque a ningum

    beneficia. Assim, necessrio transformar as potencialidades em produo.

    Dessa maneira, riqueza e bem-estar dependeriam basicamente do trabalho e

    do progresso tcnico (Fanganiello, 1970, pp. i-iii).

    Mesmo Fanganiello j afirmava que Simonsen antecederia o pensa-

    mento desenvolvimentista das dcadas seguintes. A ideologia industrialista

    de Simonsen consistiria principalmente na conciliao entre liberalismo e

    intervencionismo estatal, desdobrando-se na harmonizao entre interesses

    pblicos e privados. A engenharia condicionaria o pensamento de Roberto

    Simonsen, de modo a cristalizar no pensamento do autor a importncia da

    tcnica no benefcio material e, portanto, espiritual da sociedade.

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

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    Caetano corroboraria essa ideia, apontando que houve uma continui-

    dade no pensamento de Roberto Simonsen, de modo a explicitar uma solidez

    e um sentido sua obra. Roberto Simonsen, a partir dos anos 1910, instituiu

    a organizao cientfica do trabalho como mtodo de administrao de suas

    empresas, de modo a estabelecer um controle social mais geral sobre os traba-

    lhadores, a partir do modo de organizao do trabalho; em uma dimenso

    mais estrita, o taylorismo como modo de organizao do trabalho e regime

    de acumulao; em uma dimenso mais ampliada, a cidade como lugar da

    prpria sociabilidade, lugar esse disciplinado e esquadrinhado.

    A paz social e a ideia de colaborao corroboram essa ideologia, pela

    qual os trabalhadores estariam includos no sistema, de modo a ampliar

    o mercado interno e o controle dos movimentos sociais pela ordem social

    hegemnica. A religio crist (em especial o catolicismo) entra como fora

    valorativa da tica do trabalho e da famlia, instrumentos de controle social

    sobre a classe trabalhadora (Caetano, 1994, pp. 275-276).

    Assim, o industrialismo consistiu na ideologia que deu consistncia

    intelectual a essa ordem de coisas, assim como se constituiu como um projeto

    poltico hegemnico e global. Seu locus por excelncia foi o Ciesp, e seu principal

    intelectual, Roberto Simonsen. Como projeto hegemnico, Caetano entende

    hegemonia tal como Raymond Williams como uma dimenso propria-

    mente cultural de legitimao da ordem social dominante.

    Assim que, no discurso do empresariado, nota-se uma valorizao do

    trabalhador nacional, com vistas ao compromisso entre as classes e ao cres-

    cimento do mercado interno de consumo. Por outro lado, essa incluso da

    massa trabalhadora no sistema poltico brasileiro ps-1930 significou tambm

    uma incluso elitista, no sentido de que propostas e projetos polticos de

    trabalhadores foram progressivamente marginalizados em prol da hegemonia

    industrialista/desenvolvimentista em gestao.

    A nao entra aqui como a hierarquizadora de prioridades, sendo invo-

    cada a cada dificuldade tcita ou em potencial que a luta de classes poderia

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    desencadear. As rearticulaes de alianas que isolaram do poder as propostas

    da classe trabalhadora aconteceram essencialmente na Constituinte de 1932

    e no Golpe do Estado Novo de 1937 (Caetano, 1994, pp. 272-274).

    O problema dessas abordagens que do nfase unidade da obra que

    elas no do conta da elaborao do pensamento de Simonsen. Por se tratar

    de um autor de fases, cada uma possui tenses e questionamentos internos, de

    modo que, em um sentido geral, pode-se colocar o sentido dessa elaborao

    intelectual como a superao, no pensamento simonseano, da ambiguidade

    que sofre entre intervencionismo e liberalismo. Esse par de opostos foi tratado

    de maneiras diversas, de modo que um mapeamento feito por outra corrente

    do debate (Cepda, 2004; Vieira, 1987; rompatto, 2004) e ele tende a fazer trs

    marcaes principais no pensamento de Simonsen.

    Em uma primeira fase, os textos escritos entre 1912 e 1928 consistem

    fundamentalmente em textos de ordem tcnica, entre os quais, sobre o

    calamento de Santos e a construo de quartis para o Exrcito. Existe, na

    primeira fase da obra, uma caracterizao da organizao cientfica do trabalho,

    claramente inspirada no taylorismo, em franca oposio aos mtodos empi-

    ristas da poca. Aqui j evidente que Simonsen ambicionaria arquitetar um

    modelo de organizao no apenas no mundo da produo, mas sim o conjunto

    amplo das relaes econmicas da sociedade, em torno da racionalizao

    do trabalho e do aumento da eficincia produtiva. O texto em destaque O

    Trabalho Moderno, de 1919. Os demais textos dessa fase foram reunidos em

    uma compilao (provavelmente) de 1932, Margem da Profisso.

    Na segunda fase, o pensamento de Simonsen e o projeto poltico subse-

    quente avanam no processo de elaborao poltico-intelectual, em sentido

    gramsciano, nas relaes de foras polticas (gramsCi, 1978, pp. 49-51). Alguns

    textos dessa fase so: As Crises no Brasil (1931a), As Finanas e a Indstria

    (1931b), Margem da Profisso (1932?), Ordem Econmica, Padro de Vida

    e Algumas Realidades Brasileiras (1934) e Aspectos da Poltica Econmica

    Nacional (1935).

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    Simonsen acreditava que as crises nacionais eram decorrentes das crises

    de ordem econmica, relacionadas ao cmbio e sade da moeda. Entendia

    que o principal motivo para tais distrbios era a inpcia dos tomadores de

    deciso com relao poltica econmica. Nesse sentido, j apontava, nessa

    fase, a necessidade da figura do tcnico em economia em acordo com o homem

    de negcios, tanto no entendimento dos problemas quanto nas tomadas de

    deciso. Mas, nessa fase, Simonsen ainda no havia resolvido aquela esquizo-

    frenia intelectual entre liberalismo e intervencionismo. Ao passo que julgava

    que o Estado deveria proteger a indstria nacional e manter boas taxas de

    cmbio, tambm argumentava pela inpcia dos governantes.

    Pode-se dizer que a terceira fase da obra de Simonsen entra em uma

    gradual transio entre o texto de 1937, Histria Econmica do Brasil (1500-

    1820), e Ensaios Sociais, Polticos e Econmicos, de 1943; essa fase, iniciada

    definitivamente em 1943, estender-se- at a morte de Simonsen em 1948,

    quando publicou O Plano Marshall e um Novo Critrio nas Relaes Inter-

    nacionais. Simonsen se descola do liberalismo e resolve aquela contradio

    de que padece seu pensamento. Em Histria Econmica, Simonsen faz um

    mapeamento e a sistematizao do processo de formao econmica do Brasil

    colnia. Esse texto foi sistematizado a partir de suas aulas na Escola Livre de

    Sociologia e Poltica de So Paulo. Consistiu em um levantamento de dados,

    assim como uma rica interpretao deles. Ele argumentou pela necessidade

    de cruzar diferentes cincias sociais e humanas na compreenso do processo

    histrico, poltico e econmico brasileiro (Sociologia, Economia, Geografia,

    Histria). So dessa fase tambm Ensaios Sociais, Polticos e Econmicos

    (1943), A Evoluo Industrial do Brasil (1939) e os pareceres submetidos ao

    CnpiC e Cpe, nos quais esteve em Controvrsia com Eugenio Gudin.

    Foi Vera Cepda (2004, p. 322) quem percebeu que a relao entre a

    crtica de Simonsen ao plano Marshall e o conjunto dos textos em que ele fez

    a defesa do planejamento antecipou o pensamento cepalino em sua essncia.

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

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    De acordo com a autora, a ligao entre os textos de Simonsen sobre

    planejamento e a crtica ao plano Marshall levou a uma antecipao de todos

    os argumentos cepalinos. Para Simonsen, uma vez que a posio dos diferentes

    pases desigual em termos de capacidade produtiva e tecnolgica, h uma

    clivagem entre pases supercapitalizados (produtores industriais) e subcapi-

    talizados (agroexportadores). As trocas so desiguais, uma vez que a natureza

    da produo determina o valor agregado e, portanto, os termos de troca.

    A tendncia ao monoplio pelos pases supercapitalizados, juntamente

    com a especializao das economias nacionais, dentro da diviso internacional

    do trabalho, leva ao aprofundamento dessa dependncia. O escape para esse

    crculo vicioso seria um crescimento para fora, no sentido de abandono

    das teses liberais ortodoxas do livre-cambismo nas trocas internacionais; e

    para dentro, no sentido de adotar o planejamento econmico como mtodo,

    com vistas a organizar e disciplinar as foras produtivas e, com isso, atingir

    o desenvolvimento econmico e social (Cepda, 2004, pp. 322-323).

    Alm disso, h um consenso na literatura especializada quanto influ-

    ncia que List e Manoilesco exerceram no pensamento de Simonsen.

    De acordo com F. W. List, diferentes pases tm diferentes trajetrias

    histricas, de modo que o desenvolvimento da indstria na Alemanha do

    sculo XIX no poderia acontecer sem o protecionismo, condio absoluta-

    mente temporria, enquanto a indstria nacional no pudesse competir em

    condies razoveis com o mercado internacional. Simonsen defenderia que

    o Estado brasileiro deveria proteger a incipiente indstria nacional enquanto

    ela no pudesse concorrer vis--vis com a grande indstria dos pases centrais.

    Deveria o Estado promover polticas industriais de incentivo inovao e ao

    desenvolvimento tecnolgico.

    Manoilesco foi, poca, o autor referencial ao que toca a doutrina corpo-

    rativista de organizao do Estado e da sociedade. O corporativismo consistia

    na doutrina da organizao funcional da nao, enquanto as corporaes so

    os rgos que executam essas funes (manoilesCo, 1938, p. 50).

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    Arthur de Aquino

    70

    A corporao seria definida pela funo nacional que ela exerce dentro da

    sociedade nacional, a qual consistiria em um conjunto orgnico de corporaes.

    Dois desdobramentos dessa ideia seriam: primeiramente, o reconhecimento

    da existncia concreta do indivduo, ainda que subalterna ao Estado, uma

    vez que, no corporativismo (e de maneira diametralmente oposta ao libera-

    lismo), o indivduo no tem direitos, mas sim deveres e est hierarquicamente

    subordinado coletividade; em segundo lugar, a centralidade que a doutrina

    corporativista atribui personalidade coletiva, em detrimento da atomizao

    individualista da sociedade moderna e liberal.

    Decorre dessa centralidade a soberania do Estado corporativista. Para

    Manoilesco, o Estado a expresso mxima da coletividade nacional. Assim,

    o Estado que engloba a sociedade nacional, e no o contrrio, como poderiam

    sugerir os contratualistas, por exemplo.

    Dessa maneira que, para Manoilesco, a finalidade (se bem poderia dizer

    que finalidade fosse propriedade de tal Estado) do Estado corporativista o

    prprio desenvolvimento da nao. Assim que o autor romeno sugere que a

    concepo pela qual o Estado seja neutro ou mesmo agnstico falsa, uma

    vez que o prprio Estado, ele mesmo, a encarnao de um ideal. Mesmo a

    sociedade nacional para Manoilesco consistiria em um conjunto coletivo de

    indivduos que compartilham os mesmos ideais, o que faz da participao

    deles na grande corporao, de certa forma, voluntria.

    A existncia da corporao e, por consequncia, do Estado supera em

    importncia a existncia individual (manoilesCo, 1938, p. 48). Heterognea

    em sua composio, a corporao homognea em sua finalidade.

    Dentro da sociedade nacional, as corporaes so formadas de acordo

    com a funo nacional que desempenham; funo industrial, por exemplo.

    Entretanto, Manoilesco argumenta que esse tipo de organizao social no

    pode ser confundido com a mera representao profissional parlamentar,

    porque a doutrina do corporativismo consiste em uma forma de organizao

    completa da sociedade, ultrapassando o mbito meramente econmico. So

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    notveis, portanto, os elementos da paz social e da concepo orgnica da

    sociedade no pensamento de Manoilesco. Esses dois elementos primordiais

    foram decisivos tambm no pensamento de Roberto Simonsen.

    o I CongREsso BRasIlEIRo dE EConomIa

    O I Congresso Brasileiro da Indstria foi realizado entre 25 de novembro

    e 18 de dezembro de 1943, na ento capital federal, organizado pela Confe-

    derao Nacional do Comrcio (CNC), dentro da sede social da Associao

    Comercial do Rio de Janeiro.

    Getlio Vargas foi o presidente de honra; Joo Daundt dOliveira presi-

    dente da Federao de Associaes Comerciais do Brasil e da Associao

    Comercial do Rio foi o presidente efetivo; Euvaldo Lodi presidente da

    Confederao Nacional da Indstria foi o vice-presidente do Congresso. A

    direo tcnica ficou a cargo do Instituto de Economia da Associao Comer-

    cial do Rio de Janeiro, na pessoa de seu presidente, Daniel de Carvalho, e de

    seus membros: Alde Feij Sampaio, Eduardo Lopes Rodrigues, Eugnio Gudin,

    Euvaldo Lodi, Gasto Vidigal, Gileno de Carli, Jos Lourdes Salgado Scarpa,

    Luiz Simes Lopes, Mrio Augusto Teixeira de Freitas, Mrio Brant, Napoleo

    de Alencastro Guimares, Otvio Gouva de Bulhes, Roberto Simonsen,

    assim como de seu secretrio-geral, Luiz Dodsworth Martins.

    Os anais do Congresso foram publicados em trs volumes (o primeiro, em

    1943, o segundo, em 1944, e o terceiro, em 1946) pela Associao Comercial

    do Rio de Janeiro. O primeiro volume (de 198 pginas) apresenta os discursos

    solenes de abertura e encerramento, o programa preliminar do Congresso, a

    relao dos membros e das entidades, o regimento, as comisses e as teses

    apresentadas. O segundo volume (de 635 pginas) contm os trabalhos da

    comisso de redao e das sesses no Plenrio. O terceiro volume (de 872

    pginas) dividido em duas partes: na primeira apresenta as teses da comisso

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    72

    de produo agrcola e industrial; na segunda, da comisso de circulao e

    transportes.

    a ComIsso dE PRoduo agRCola E IndustRIal

    Roberto Simonsen era o presidente da I Comisso; Luiz Siegman, seu

    vice-presidente; e seu secretrio, Paulo Eleutrio. As discusses comeam

    no mbito da matriz energtica (J. Pires do Rio, Edgard Teixeira Leite, Jos

    Ermrio de Moraes, Luiz Siegman, Antnio Augusto de Barros Penteado, Joo

    Cleophas, Cosme Valentini, Amrico Mello), passando para a discusso sobre

    a colonizao industrial do interior (Luiz de Rollemberg, Militino C. Rosa,

    Antenor Rangel filho, Francisco Jardim, Hugo Carneiro, Irineu Bornhansen,

    Joo Costa Palmeira, Paulo Eleutrio, Virgilio de Sousa e Creso Braga); em

    seguida, a discusso passou para as preocupaes em torno da questo

    agrria propriamente (J. Carneiro de Rezende, Rmulo Cavina, Gileno de Carli,

    Abelardo Villas-Boas, Paulo Eleutrio, Heitor Grillo, Joo Cleophas, Edgard

    Teixeira Leite); e, por ltimo, a preocupao com o planejamento econmico

    e a organizao do trabalho (Aldo Azevedo, Charles Augusto Nobile, Luiz

    Sayo de Faria, Fausto Maia, Virglio Lucas, Rubem Roquette).

    O objetivo desta seo ser examinar algumas teses mais importantes

    discutidas na Comisso, que, por vrios motivos, a mais importante do

    Congresso. A presena de Roberto Simonsen denota o exerccio de (ou tentativa

    de) direo poltica, intelectual e moral em um espao de poder sui generis,

    considerando a consolidao ideolgica do pensamento industrialista, assim

    como as tomadas de deciso que esse processo poderia afetar. E aqui ser

    possvel, portanto, medir at que ponto o pensamento mdio dos industriais

    estava afinado com a ideologia forjada no pensamento da direo do movi-

    mento.

    De acordo com o Pargrafo nico do art. 8 do Regimento do Congresso,

    O Presidente e o Vice-Presidente de cada Comisso sero eleitos por seus

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    73 2010

    pares, sendo que o presidente escolher entre eles seu respectivo secretrio

    (Congresso Brasileiro de eConomia, 1943, v. 1, p. 54), de modo que a posio

    de Simonsen dentro da presidncia da Comisso um sinal significativo de

    liderana poltica entre os industriais.

    Os temas discutidos e os debates prolongados e profcuos, assim como

    a relevncia dessas agendas para o Congresso, mostram a importncia da II

    Comisso. Tambm onde as pautas so mais extensas, salvo a exceo de

    debates similares ou iguais em outras comisses caso da Comisso VI (a

    colonizao do interior) e VII (a questo da renda salarial e da alimentao).

    Com relao aos problemas apresentados pela matriz energtica, um

    dos principais pontos de estrangulamento da economia brasileira da poca,

    os industriais parecem ter certo consenso com relao causa e soluo do

    problema. Pas de amplas possibilidades de resoluo natural desse estran-

    gulamento, padece, no entanto, de deficiente potencial de investimento em

    infraestrutura na rea energtica, e isso decorre de acordo com os industriais

    do Cdigo de guas e Minas vigente. Necessrio seria, portanto, alterar esse

    Cdigo com vistas entrada do capital estrangeiro quando necessrio, seja

    como investidor, rentista, seja como scio; idem no caso dos combustveis

    (gasolina, hulha, turfa e lcool).

    Desde sempre esto recomendados, no I Congresso Brasileiro de

    Economia, estudos sobre a geografia econmica do territrio. Isso porque os

    industriais tendiam a sugerir que o hinterland ou era desabitado ou habitado

    por populaes aliengenas (nativas, indgenas) que precisavam ser inte-

    gradas civilizao industrial moderna. Nesse ponto, concordavam com o

    argumento liberal da poca notadamente gudiniano de que o pas padecia

    de escassez de mo de obra, da a defesa dos industriais ao que chamavam de

    imigrao selecionada de tcnicos e trabalhadores.

    Diferentemente dos liberais que usavam do argumento da escassez de

    braos para atacar o planejamento econmico e reforar a lei das vantagens

    comparativas ricardianas , o industrialismo colocava na conta do plane-

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    74

    Comisso I. Questo energtica.autor ttulo da tese Proposta da tese Parecer

    (Parecerista)J. Pires do Rio Observaes

    sobre o aproveitamento dos recursos naturais do pas

    Diante do estrangulamento energtico, o autor props aguardar as pesquisas de carvo mineral em Volta Redonda.

    Recusada (Edgar Teixeira Leite)

    J. Erminio de Moraes

    Combustveis e industrializao

    Mudar o cdigo de guas, a fim de permitir a entrada do capital estrangeiro no setor de minas e energia.

    Recomendada (Luiz Siegman)

    Antonio Augusto de Barros Penteado

    Estudo dos dispositivos legais quanto ao melhor aproveitamento dos recursos naturais do pas

    Por causa do alto custo de aproveitamento do potencial energtico, em particular as quedas dgua, sugere mudana no Cdigo de guas, a fim de permitir a sociedade em empresas entre capital nacional e estrangeiro.

    Recomendada (Joo Cleophas)

    Cosme Valentini As nossas turfas e a economia nacional

    Colonizao industrial do interior do pas, pautada nos estudos de geografia econmica, com vistas explorao da turfa.

    Recomendada (Luiz Siegman)

    Amrico Mello Cachoeira de Paulo Afonso

    Defendeu a construo de uma usina hidreltrica em Paulo Afonso/AL, construda com capital privado e pblico (e estrangeiro, se necessrio).

    Recomendada (Joo Cleophas)

    Militino Rosa, Antenor Rangel Filho

    Os subprodutos de destilao da hulha

    Reivindicou do Estado incentivo produo da hulha e seus derivados, assim como uma lei anti-dumping, como soluo (parcial, embora importante) para o estrangulamento energtico.

    Recomendada (Irineu Bornhansen)

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    75 2010

    jamento econmico a imigrao selecionada. Sem imigrao de tcnicos e

    professores, assim como de concesso de bolsas de estudos no exterior para

    os estudantes brasileiros, o crescimento econmico planejado e acelerado

    estaria comprometido.

    A imigrao e a colonizao do interior formam as duas faces da medalha

    da industrializao induzida. O eixo dessa colonizao muda: em vez de braos

    para a agricultura, vm tcnicos, cientistas e operrios para uma colonizao

    industrial do interior do pas, orientada pelos estudos de geografia econmica.

    Notadamente, a hulha, a turfa e o petrleo tm proeminncia na rota da nova

    colonizao. E como, de acordo com o pensamento industrialista, indstria

    civilizao e progresso, resolver-se-ia o problema do atraso do Brasil rural,

    assim como civilizar-se-ia o hinterland. Mas, alm de civilizao e riqueza, ao

    agregar valor, a indstria faz com que a economia cresa e a nao se construa.

    Entretanto, uma leitura das teses defendidas tanto na I Comisso quanto

    no decorrer do Congresso mostra pontos srios de descontinuidade. Por mais

    de uma vez os industriais foram vacilantes com relao equiparao de

    direitos entre trabalhadores urbanos e rurais, assim como chegaram a supor

    seriamente que o trabalhador do campo no merecia um piso salarial. A tese

    da indolncia do trabalhador brasileiro tambm fez emergir constrangedoras

    dvidas entre os industriais e significou srio hiato com relao ao pensamento

    da direo industrialista.

    Tanto Simonsen quanto Lodi e Daundt DOliveira argumentaram mais

    de uma vez que os direitos sociais dos trabalhadores consistiam em elemento

    crucial em uma concepo corporativista de sociedade. Entretanto, o corpo-

    rativismo pretensamente hegemnico da direo industrialista encontrou

    um srio obstculo na base. Isso porque a mdia dos industriais era muito

    resistente a ceder qualquer parte dos seus dividendos aos direitos sociais dos

    trabalhadores.

    O planejamento, combinado com o projeto de crescimento acelerado e

    colonizao do hinterland, desembocava na questo nacional. Isso porque

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    76

    estavam tambm em jogo alternativas de projetos de futuro para a sociedade,

    assim como a prpria construo da nao. Apesar de clara para a direo

    do movimento industrialista, ainda mais para Simonsen, essa reflexo dificil-

    mente aparece no pensamento da base. Entretanto, outro elemento ( possvel

    sugerir que igualmente importante) aparece triunfante no pensamento mdio

    dos industriais no Congresso de Economia: a necessidade da difuso da orga-

    nizao cientfica do trabalho, o taylorismo.

    A OCT, como eles denominavam, era uma pea importante do quebra-

    -cabea, porque desempenhava a funo de aumentar a produtividade e,

    consequentemente, de gerar renda e capital, assim como criar uma demanda

    efetiva interna, que aumenta a produtividade, e assim por diante.

    Apesar de pretensiosos, nota-se a dependncia completa dos industriais

    com relao ao Estado, no que se refere a suas realizaes. que, junto com

    a construo do ator poltico, vem a definio por seu locus social, e a entra

    o Estado e tambm a nao. Isso porque, concomitantemente ao ganho de

    importncia dos industriais na cena econmica, vm novas necessidades

    trazidas por esse grupo social. E a entra um novo princpio de hierarquizao

    de prioridades: a indstria concorre ao desenvolvimento da nao. Mas o que

    deveria ser uma mostra de elaborao intelectual do segmento industrialista

    acaba se mostrando srio ponto de descontinuidade entre direo e base do

    movimento industrialista. Isso porque, enquanto para Simonsen o Homem

    de Empresa o maestro que rege essa complexa sinfonia do desenvolvimento,

    ocupando, portanto, postos de deciso no Estado, para a mdia dos industriais,

    o Estado um assistente para seus negcios.

    Ainda aqui a elaborao poltico-intelectual seria exitosa. Durante as

    discusses na Comisso de Redao, surgiria um importante consenso entre

    os industriais em torno de seu protagonismo na tomada de decises dentro

    do Estado, embora nas Comisses Tcnicas esse argumento ainda estivesse

    nebuloso entre os industriais.

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    77 2010

    Comisso I. Planejamento, colonizao e taylorismo.autor ttulo da tese Proposta da tese Parecer (Relator)

    Paulo Eleutrio

    Orientao administrativa para o aproveitamento da economia nacional

    Sugeriu a criao de um Ministrio da Economia Nacional, que centralizaria o crescimento econmico planejado e acelerado.

    Recomendada (Hugo Carneiro)

    Aldo Azevedo Desenvolvimento industrial do Brasil e seus problemas

    Defendeu fortemente o treinamento em bases tayloristas dos diretores e gerentes das empresas, assim como a difuso do ensino tcnico.Argumentou a interiorizao das populaes em dois processos simultneos: fornecimento de crdito a esses empreendedores, via bancos industriais; interiorizao planejada a partir de um rgo misto pblico/privado.

    Sugeria que a figura do colono era, ela mesma, a de um novo empresrio.

    Recomendada(Charles Augusto Nobili)

    Armando Godoy Filho

    Economia como base de civilizao no oeste brasileiro

    Cabe indstria funo civilizatria na colonizao do interior. Assim, deve o Estado criar condies a tal processo, fornecendo bens pblicos notadamente do setor de transportes (especialmente ferrovias).

    Recomendada (Heitor Grillo)

    Luiz Sayo de Faria

    Assistncia econmica s indstrias bsicas

    Com relao indstria pesada, deve o Estado dar assistncia tcnica e creditcia a esse segmento.

    Recomendada (Fausto Maia)

    Outro ponto nebuloso certamente foi a questo agrria. Apesar de reco-

    nhecer que a indstria e a agricultura tendiam a formar uma unidade dinmica

    no conjunto da economia nacional, no tendiam a pensar que o rural e o urbano

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    78

    pudessem ser uma sociedade. H aqui uma demonstrao muito interessante

    de conscincia compsita: campo e cidade devem constituir uma economia,

    mas duas sociedades. Isso porque os industriais no queriam garantir os

    direitos sociais do trabalhador rural nesse momento, provavelmente porque

    queriam ganhar o apoio das agriculturas satlites com relao a caf (mani-

    oba, acar, algodo, babau, ltex), que estavam marginalizadas no sistema

    poltico, mas que figuravam notadamente no Congresso.

    Era um ponto crtico sem dvida, mas que no comprometia deci-

    sivamente a direo poltico-intelectual de Simonsen sobre o segmento

    industrialista, e isso porque eles concordavam em um ponto interessante,

    chamado colonizao industrial do hinterland. No final das contas, o pensa-

    mento industrial brasileiro tendia a pensar de maneira dualista-estrutural:

    era necessria a vitria do moderno-urbano-industrial sobre o arcaico-rural-

    -semifeudal.

    E o crculo se fecha quando se olha para as teses defendidas tanto por

    entidades quanto por personalidades do campo que figuraram no Congresso

    de 1943: todas as teses invocam a taylorizao e modernizao da agricul-

    tura exceo da tese de Luiz de Souza Melo, rejeitada por sugerir que o

    eixo do desenvolvimento econmico no ps-guerra poderia ser a agricultura.

    A consolidao do projeto industrialista est em curso para superar sua

    dimenso meramente econmico-corporativa.

    Curiosamente, tanto os industriais quanto os representantes da agricul-

    tura no Congresso foram a favor de uma proposta de reforma agrria. Esse

    ponto demonstra fortemente que a relao de foras polticas se ampliou na

    dimenso econmico-corporativa para o grupo social mais amplo, uma vez que

    fraes de classe burguesas da indstria estabeleceram aliana com fraes

    de classe da burguesia agrria, mas essa relao ainda no amadureceria para

    um mbito poltico global e pretensamente hegemnico, porque ainda no se

    buscavam alianas com os trabalhadores.

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    79 2010

    Comisso I. Questo agrria.autor ttulo da tese Proposta da tese Parecer (Relator)

    Abelardo Villas-Bas

    Elementos tcnicos e econmicos para a organizao da agricultura

    Taylorizao da agricultura.

    Recomendada (Paulo Eleutrio)

    Joo Cleophas Organizao da agricultura no Nordeste brasileiro

    Reconheceu a forte perda em termos de trocas com relao aos gneros agrcolas, assim como a produtividade nos segmentos que atendiam o mercado interno.Recomendou fortemente a taylorizao da agricultura como soluo ao impasse.Rejeitou a regulamentao dos direitos sociais rurais por julgar desnecessrio, o que poderia reforar a natureza indolente do trabalhador rural.

    Recomendada (Edgar Teixeira Leite)

    J. Carneiro de Rezende.

    Parcelamento das grandes propriedades

    Defendia a expropriao e diviso de grandes propriedades rurais e improdutivas. Defendia a concesso de linhas de crdito especiais para os pequenos proprietrios rurais, assim como assistncia tcnica na implantao da oCt.

    Recomendada (Rmulo Cavina, Gileno de Carli)

    Luiz de Sousa Melo

    Lineamento de estruturao econmica

    Argumentou que a economia agrria o alicerce da reconstruo econmica no ps-guerra. Sugere a criao de um

    direito rural.

    Rejeitada (Edgard Teixeira Leite)

    Nesse ponto, certamente os industriais trouxeram para essa relao

    de foras polticas os trabalhadores urbanos, prova de que o projeto senaFi

    e depois senai e sesi de 1945, assim como o apoio aos direitos sociais do

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    80

    trabalhador urbano, denota essa expanso. Entretanto, encontrava srias difi-

    culdades com os trabalhadores rurais. Tambm e isso em todos os nveis a

    persistncia de uma concepo dualista estrutural no pensamento industrial

    mostra quo frgil era a aliana entre fraes de classe da burguesia.

    Mas no era a questo agrria o cimento ideolgico do Congresso e

    desses atores que esto se construindo. Juntamente com a construo desses

    atores, amadurece-se a conscincia poltica deles, de modo que se ampliam

    e se tornam mais complexas as relaes de foras polticas entre eles. por

    isso que a questo nacional que d formas ntidas e precisas tanto a esse

    conjunto de relaes quanto ideologia que se consolida juntamente com

    a efetivao desses atores em suas posies sociais e com tudo o que isso

    implica: um conjunto de significados, de hierarquizao de prioridades e de

    novas demandas e, portanto, projetos. Decorre disso que a consolidao do

    projeto industrialista causa e causada pela consolidao do prprio segmento

    industrial diante do processo (problemtico) de modernizao da sociedade

    brasileira. Quanto mais inserto for o industrial no conjunto social, maior

    tambm ser a complexidade da organizao de interesses desse segmento.

    sImonsEn versus gudIn: dEBatEs na ComIsso dE REdao

    As discusses diretas entre Eugnio Gudin e Roberto Simonsen nas

    sesses do Plenrio do I Congresso Brasileiro de Economia de 1943 ocorreram

    na quarta sesso de 16 de dezembro, s nove horas.

    Foram dois os principais pontos discutidos nessa fase do debate: a

    questo da necessidade de um Banco Central e o tratamento que se deveria

    dar inflao.

    Simonsen entendia que o Banco Central deveria ser um rgo coorde-

    nador da economia nacional e a servio do desenvolvimento econmico, assim

    como sua direo deveria ser composta tanto por economistas profissionais,

    como por homens de letras e empresrios. O Banco Central coordenaria a

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    81 2010

    economia de modo a controlar os fluxos monetrios, de forma a drenar o

    capital para os elos fracos da economia. Gudin defendia que entre os tomadores

    de deciso de um Banco Central estariam representados diversos setores da

    elite, mas discordava das finalidades do Banco, segundo Simonsen. Apesar

    de concordar acerca de que o Banco Central teria a funo de coordenador da

    economia, a prioridade seria garantir a liquidez do sistema bancrio, e no

    fortalecer setores da economia que no gerassem vantagens comparativas.

    Com relao inflao, Gudin entendia como monetarista que ela

    seria causada pelo excesso de pagamentos em circulao. Assim, seria neces-

    srio enxugar a economia por meio de medidas taxativas e compensatrias.

    Simonsen concordava com essa argumentao at nesse ponto, mas defendia

    que os industriais tivessem a opo de comprar ou no ttulos da dvida

    pblica e bnus, voluntariamente. Ao bem dizer, duvidoso que Simonsen

    chamasse exatamente aquela conjuntura de inflao, porque para ele no

    eram os preos que eram altos, mas sim os salrios que eram baixos, e isso

    em decorrncia das pesadas assimetrias nas trocas internacionais.

    Mas o ponto crtico realmente era: o que fazer com esses excedentes?

    Simonsen e Gudin concordavam sobre ser uma oportunidade mpar de conse-

    guir importar tecnologia e bens de capital. Fossem impostos ou bnus da dvida

    pblica, estariam ancorados em letras de exportao. Aqui eles caram em

    outra questo: quem operaria o sistema? Pode-se argumentar que era duvidoso

    que Gudin viesse a cumprir a promessa de pr em andamento uma poltica

    industrial, porque ele havia escrito mais de uma vez que era melhor queimar

    o excedente inflacionrio do que coloc-lo novamente em circulao. Por outro

    lado, seria necessrio um mecanismo de freios e contrapesos para garantir

    que o setor privado, completamente livre, no praticasse com o excedente

    gasto sunturio no exterior.

    Mas a questo no se resolveu no Congresso. A agenda teria de ser votada.

    Gudin props duas frmulas para superar o problema da inflao:

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    82

    a) oferta de ttulos compensatrios s empresas de capital excedente, em

    troca da absoro desse excedente monetrio, proposta pela Comisso

    de Redao;

    b) emisso de ttulos ou depsitos especiais, tambm vinculados impor-

    tao, proposta pela III Comisso Tcnica.

    As duas propostas duelaram nas vozes de Simonsen, Alde Sampaio,

    Gudin, Pires Ferreira e Rodrigues: os trs ltimos alegaram preferncia

    comisso tcnica e defenderam o primado da segunda proposta (b); enquanto

    Simonsen e Alde Sampaio invocam a hierarquia do Congresso, reivindicando

    preferncia da tomada de deciso pela Comisso de Redao; Joo Daundt

    dOliveira, presidindo a sesso, deu preferncia a Simonsen e colocou o item

    em votao. Com a oposio de Rodrigues, Hugo Hamann e Gudin (simblica,

    pois, exceo de Gudin, pertenciam III Comisso Tcnica, e no Comisso

    de Redao3), a concluso foi aprovada em Plenrio.

    Esse desenlace dos acontecimentos fez com que Simonsen abortasse

    um debate interessante sobre a inflao, porque sua proposta ganhou pela

    hierarquia do Congresso, e no pelos meios normais da argumentao e do

    convencimento do Plenrio.

    ConClusEs aPRovadas Em PlEnRIo

    Embora o projeto industrialista de sociedade no fosse um projeto

    fechado, mesmo porque nesse caso o prprio ator quem estava em construo,

    3 (Congresso Brasileiro de eConomia, 1, 1943, Tomo I, pp. 33-39.) A Comisso de Redao foi presidida por Euvaldo Lodi, e foram seus membros: Daniel de Carvalho (vice-presidente), Raul Jobim Bittencourt (secretrio), Artur Torres, Dulphe Pinheiro Machado, Eugnio Gudin, Jos Augusto Bezerra de Medeiros, Mario Ludolf e Roberto Simonsen, alm de uma Comisso Central de Cooperao e de assessores das Comisses Tcnicas. Esses assessores variavam de dois a quatro por Comisso. Pela Comisso presidida por Gudin (III Comisso: Moeda e Bancos) estavam Alarico de Almeida reas e Joo Soares Neves, os quais ao que consta nas atas votaram junto com Simonsen.

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    83 2010

    no I Congresso Brasileiro de Economia, ele ganhou esboos bastante ntidos.

    Os contornos desses esboos podem ser vistos pelas concluses apresentadas

    por comisso.

    Comisso I Produo Agrcola e Industrial: Recomendou a intensifi-

    cao das pesquisas em fontes de energia (hulha, turfa, petrleo e energia

    hidroeltrica), a taylorizao das empresas, a colonizao industrial do

    hinterland e a compra do excedente agrcola. Alm disso, recomendou a

    taylorizao da explorao de culturas nativas como o ltex e o parcela-

    mento de grandes propriedades rurais improdutivas.

    Comisso II Circulao e Transportes: Recomendou a desburo-

    cratizao no sistema de transportes de mercadorias, assim como o

    abatimento de tarifas de circulao interna. Sugeriu a nacionalizao da

    legislao de transportes.

    Comisso III Moedas e Bancos: Props a taxao dos excedentes finan-

    ceiros para o combate inflao e a criao de um Banco Central, cuja

    principal funo seria coordenar a economia e o fluxo financeiro.

    Comisso IV Investimentos: Defendeu a presena do capital estran-

    geiro, o cmbio livre e uma Bolsa de Valores para todos os grandes

    centros urbanos, dentro de um sistema nacional de bolsas.

    Comisso V Finanas Pblicas: Recomendou a eliminao ou mesmo

    a reduo da taxao sobre os lucros e o equilbrio na arrecadao entre

    Unio, estados e municpios.

    Comisso VI Planos Internacionais e de Carter Social: Reconheceu

    a necessidade da criao imediata de uma comisso oficial encarregada

    da economia mundial no ps-guerra e reconheceu a necessidade de uma

    declarao de direitos de ordem econmica. Recomendou a permanente

    participao do Brasil na Organizao Internacional do Trabalho (OIT) e

    a proibio da formao de trustes. Recomendou estudos para a formao

    de um banco pan-americano e a intensificao da indstria aurfera.

  • Plural 17.1

    Arthur de Aquino

    84

    Comisso VII Pesquisas e estudos econmicos: Considerou a impor-

    tncia da estatstica nos estudos de problemas nacionais, assim como a

    importncia da ao do iBGE. Recomendou que as empresas agrcolas,

    comerciais e industriais organizassem servios de estatstica. Reco-

    mendou aos poderes pblicos desenvolver pesquisas para o estudo do

    problema da fome. Recomendou a criao do curso superior em admi-

    nistrao e finanas, a concesso de bolsas de estudo no exterior e a

    regulamentao da profisso de economista.

    Comisso VIII Atividades Econmicas do Estado: Deveriam ser as

    atividades do Estado, em regra, supletivas e orientadoras. A ao do

    Estado deveria sempre ocorrer depois de ouvidas as associaes de

    classe. Considerou que no h incompatibilidade entre democracia e

    interveno do Estado na economia, assim como considerou que a inicia-

    tiva dos indivduos sempre foi a principal fonte de riqueza, e, por isso, a

    ao do Estado entra apenas na falta dela.

    ConsIdERaEs FInaIs

    Embora o projeto industrialista no fosse algo fechado (e por que no dizer

    coeso), apresentou um esboo bastante ntido com relao ao projeto nacional

    decorrente da ideologia industrialista, ela mesma em constante formao e

    transformao. Destaca-se nesse processo Roberto Simonsen como intelec-

    tual orgnico do segmento industrialista e liderana poltica do segmento. A

    digresso feita at aqui teve dois objetivos: identificar na obra de Simonsen

    apontamentos para um projeto poltico pretensamente hegemnico; medir at

    que ponto o pensamento de Simonsen, que era identificado pari passu com

    o da direo do movimento de industriais, penetrou no pensamento da base

    da corrente industrialista em um locus particular.

    Conclui-se que, apesar dos impasses e das dificuldades que o processo

    de elaborao poltico-intelectual apresentou, o I Congresso Brasileiro de

  • I Congresso Brasileiro de Economia 1943: ...

    85 2010

    Economia deve de fato ser considerado tanto um locus de consolidao ideo-

    lgica do segmento industrial quanto de um projeto poltico hegemnico desse

    segmento. Apesar das dificuldades, foram claras as evidncias da elaborao

    e homogeneizao do pensamento industrialista.

    Alguns pontos principais do projeto de recomendaes ao governo, emer-

    gidas do Congresso:

    Organizao corporativa da sociedade e do Estado.

    Difuso e prtica do taylorismo nas empresas.

    Organizao cientfica do trabalho no campo.

    Interveno do Estado na economia sempre que (as entidades de classe

    julgassem) necessrio.

    Criao de um Banco Central.

    Crescimento econmico planejado e acelerado.

    A presena dos congressos industriais dos anos 1940 evidente. Fica dos

    Congressos a prpria hegemonia industrialista: nas dcadas de 1950/60, a

    industrializao se tornou um valor, de modo que houve consenso ativo pelo

    crescimento acelerado e planejado. O corporativismo herana do indus-

    trialismo, gnese do desenvolvimentismo no Brasil preparou terreno para

    as alternativas autoritrias de desenvolvimento industrial e modernizao

    pelo alto.

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