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Este trabalho traz um pouco da história do trabalho da Escola Milton Santos, uma instituiçaão de ensino rual do MST localizada em Cantagalo, Oeste do Paraná. Neste local são desenvolvidos capacitações em agroecologia para os assentados da região.
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A reforma agrária no Brasil e nascimento do MST
A história da ocupação territorial brasileira é marcada pela dor e sofrimento,
pela violência do mais forte sobre o mais fraco, pela imposição do rico sobre o
pobre. Tal marca não é só uma cicatriz deixada pelo imperialismo português, mas
uma ferida aberta, que continua sendo tocada por um outro império, o capitalista.
A agricultura brasileira nasceu no latifúndio, nas capitanias hereditárias
confiadas a poucas famílias portuguesas que exploraram não só a terra, mas
também o povo. Esse modelo persiste ainda hoje, haja vista as imensas
propriedades monoculturais que tomam conta dos campos do país.
Ao contrário do que ocorreu na Europa, no Brasil do séc. XVIII não houve a
força dos movimentos sociais que democratizaram o acesso a terra no velho
continente, nem mesmo as guerras e revoluções socialistas que popularizaram a
terra em vários países americanos e asiáticos.
Muitas foram às propostas para mudanças na questão agrária do país, mas
poucos a favor de uma verdadeira democratização da terra. Com o fim da
segunda guerra mundial, em 1945, a questão do campo começa a ser vista como
um obstáculo ao desenvolvimento do país, mas ainda assim, nenhum das
dezenas de projetos-de-lei foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Entre os anos 50 e 60 a discussão ganha força principalmente com a
participação popular, agora vista como necessária pelo governo, que contribuíram
para que em 1962 fosse criada a Superintendência de Política Agrária –SUPRA e
no ano seguinte a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural. Em março de
1964 o Presidente João Goulart assina o decreto que prevê a desapropriação de
terras localizadas numa faixa de dez quilômetros ao longo das rodovias, ferrovias
e açudes construídos pelo Governo Federal, para fins de reforma agrária, mas a
expectativa durou pouco, no dia 31 de março os militares tomam o poder e dão
início ao período da ditadura.
O regime militar apoiou o avanço do latifúndio, criando linhas de crédito
rural estimulando o cultivo de soja para exportação. O dinheiro fácil e barato fez
com que os grandes proprietários de terra incorporassem os pequenos, já que
mais terra significava maior crédito, e assim crescia o latifúndio e muitas famílias
foram obrigadas a abandonar o campo ou se sujeitar ao trabalho nas grandes
propriedades.
Assim seguiu-se os tempos “milagre brasileiro”, e a questão da distribuição
de terras ficou novamente apagada pelo brilho do lucro e o do desenvolvimento do
país.
Foi somente no fim da década de 70 que a questão agrária avançaria no
sentido de ajudar os excluídos. Nessa época registrou-se um crescimento dos
movimentos sociais organizados, entre eles da Comissão Pastoral da Terra (CPT),
ligada a igreja católica. Também os governos estaduais fortaleceram os órgãos
responsáveis pela questão da terra.
É nessa época que surge no Rio Grande do Sul um pequeno grupo de
camponeses dispostos as lutarem pelo direito a terra. Aliados a CPT, reivindicam
ao governo do estado um assentamento nas glabas Macali e Brilhante, terras
griladas que pertenciam a fazenda Sarandi. Com a ocupação da área e muita
discussão, conseguiram o direito a terra. Este foi o início de muitas outras
invasões, que se espalharam por todo o país.
Em meio a essas ações, se estabelece em 1984 o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que hoje se consolida como o maior
agente social na luta pelo direito a terra no país. Por intermédio de suas ações, o
governo federal criou vários assentamentos rurais no país, favorecendo a
subsistência de 161.556 famílias camponesas até 1996.
Na busca por uma opção de agricultura familiar sustentável, que segundo Wanderley (1999) significa viver e produzir de um modo específico que contemple a tríade família-produção-trabalho determinando a forma de como intervém n sociedade, o Movimento encontra na Agroecologia uma alternativa para tal sustento. A matriz produtiva agroecológica, consiste no estudo e aplicação de técnicas que promovam o desenvolvimento rural sustentável, baseado na inter-relação do homem com o meio ambiente, envolvendo as relações sociais, culturais, econômicas, políticas, éticas e ambientais.
Dessa forma a agroecologia se torna uma alternativa aos meios de produção convencionais que tornavam insustentáveis a agricultura familiar (Veras, 2005). Ela se norteia pela experimentação e cultura tradicional camponesa em contraponto ao pacote tecnológico baseado em tecnologias, insumos e na extensão rural cientificada aplicada do agrônomo para o agricultor, excluindo o conhecimento do camponês (Freire, ).
A educação no MST
O Estado do Paraná conta com cerca de 300 assentamentos rurais. Muitos
destes foram conquistados pela luta do MST em conjunto com outros agentes
sociais. Focado no desenvolvimento da agricultura familiar, o Movimento Sem
Terra investe na capacitação de seus integrantes através de escolas que lecionam
desde a educação básica até o aperfeiçoamento técnico, numa perspectiva
libertária e coletiva.
Buscando fortalecer sua estrutura educativa, o MST buscou parcerias com
outros movimentos e instituições de ensino, entre elas a Universidade Federal do
Paraná que, por meio da Escola Técnica, criou em 2003 o Núcleo de Agroecologia
(NAE) com o objetivo de contribuir para o avanço do desenvolvimento da
agricultura familiar nos assentamentos da reforma agrária no Estado.
Atualmente, cinco escolas do Movimento são atendidas pela UFPR no
Estado. Neste trabalho discorreremos apenas sobre uma delas, localizada no
município de Cantagalo.
Foi neste município que em 1993, ainda em barracos de lona, surgiu a
primeira escola do movimento no Estado, o Centro de Desenvolvimento
Sustentável Agropecuário de Educação e Capacitação em Agroecologia e Meio
Ambiente – CEAGRO.
A história desta escola se funde com a da criação dos assentamentos Jarau
e Ouro Verde, iniciada com a ocupação de um latifúndio improdutivo por 800
famílias no ano de 1987. Com a efetivação dos assentamentos, cada família
destinou um hectare de seu lote para a experiência da escola, que conta com uma
área de 124 hectares. A partir de 1989, já com o local definido, começaram as
primeiras construções com recursos próprios e o trabalho voluntário dos
assentados. Hoje, 60% da área são de reserva permanente e 24 hectares são
destinados à implementação do PRV (Pastoreio Racional Voisin) na
experimentação de criação animal agroecológico. No restante da área cultiva-se
arroz, feijão, milho, hortaliças, e outras culturas, tudo voltado prioritariamente para
a subsistência e experimentação. O excedente é comercializado gerando renda
para o centro.
A primeira ação educativa do Centro foi um curso de seis meses voltado
para a técnica agrícola, humana e social com uma turma com 100 educandos de
vários estados do país. Logo vieram os cursos de capacitação técnica promovidos
pelo MST com os assentados da região. Além de estudarem, os educandos
também contribuíram na construção das instalações do centro.
O CEAGRO também contemplou a escolarização formal dos assentados,
incluindo em suas atividades a alfabetização e escolarização dos assentados
juntamente com a SEED-PR.
A educação não-formal também faz parte do trabalho do
CEAGRO, como cursos e palestras sobre meio-ambiente, saúde, alimentação e
encontros promovidos em parceria com outras entidades, como as prefeituras
locais e a ONG WWF.
A inserção da Agroecologia como curso acontece em 2003 numa parceria
firmada com a ET-UFPR, que aloca no Centro o Curso Técnico em Agroecologia,
nas modalidades subseqüente, integrado/proeja, integrado e tecnólogo.
Duas turmas, totalizando 78 educandos já se formaram, outros 114 formam
outras 4 turmas que estão em andamento.
A dinâmica da escola
As escolas do MST seguem uma rotina bastante diferente das demais
escolas. A gestão escolar é feita com a participação dos educandos, que
contribuem desde a manutenção até a coordenação pedagógica.
Ao chegarem à escola, os educandos são divididos em Núcleos de Base
(NBs). O NB é um grupo que provém de uma mesma região ou que tem alguma
afinidade de trabalho. Durante o curso esse grupo trabalhará, estudará e discutirá
temas e tarefas que se relacionam com seu cotidiano na região de origem e que
poderão contribuir para o seu trabalho na comunidade.
A liderança da NB é rotativa. Ou seja, todos os integrantes terão a
experiência de comandar e ser comandado. As tarefas da escola também são
rotativas, assim todos os educandos participam de todas as atividades, sejam elas
de produção, manutenção ou administrativa.
A intenção desse processo é fazer com que todos os educandos aprendam
a lidar com o trabalho em equipe, a despertar a iniciativa e gerar um espírito de
cooperativismo entre o grupo.
Entendendo que uma educação verdadeiramente integral deva unir a teoria
com a prática, a escola propõe dois tempos educativos: Tempo Escola e Tempo
Comunidade.
O primeiro diz respeito ao período que o educando recebe o conteúdo
teórico e os executa na própria unidade de ensino a título de preparo. O Tempo
Escola dura em média três meses e envolve as seguintes atividades:
Tempo aula: De acordo com o currículo, cada curso tem sua carga horária
teórica que é apresentada em sala de aula aos educandos. O conteúdo é
contextualizado, ou seja, tenta contemplar a realidade do campo.
Tempo seminário: Quando algum tema trabalhado em aula precisa de maior
aprofundamento, é proposto um seminário sobre o assunto, que pode ser
promovido pelos próprios educandos como por um convidado.
Tempo mística: Uma estratégia usada pelo MST para não perder suas
raízes. Trata-se de um momento de lembranças dos princípios e vivências do
Movimento em sua jornada, criando identidade. Em cada tempo, um núcleo de
base promove uma mística.
Tempo trabalho: As demandas da escola exigem que o coletivo execute
tarefas diárias. Elas são divididas por núcleos de base, que ao longo do tempo
fazem um rodízio das funções. Além de manter a ordem, essa atividade permite
reforçar o espírito de coletividade, lembrando que todos dependem um do outro.
Tempo leitura: Das aulas, muitas referências são retiradas para o trabalho
dos educandos. Esse tempo educativo permite que todos tenham tempo de
estudar as referências bibliográficas indicadas pelos professores e pelo
movimento.
Tempo lazer: durante sua estada na escola, os educandos também
encontram tempo para enraizar os laços com seus companheiros através da
diversão. São propostos jogos, eventos culturais, passeios, etc.
Tempo Oficina: As habilidades manuais são bastante valorizadas dentro da
escola. Os educandos dispõem desse espaço para aprender e ensinar aquilo que
sabem. São ministradas oficinas de violão, computação, marcenaria, teatro,
oratória e outras habilidades que se encontram nos integrantes do grupo.
Tempo núcleo de base: É o momento em que os grupos podem se auto-
avaliar, fazer planos, discutir o andamento do curso e as demandas que surgem
ao longo do caminho.
Tempo reflexão escrita: Este é o exercício da práxis, a transformação do
conhecimento em vida. A escrita contribui no exercício da reflexão e
sistematização do aprendizado e ao longo da história se mostra como uma boa
ferramenta para a transmissão do conhecimento.
Tempo notícia: Espaço para coletar informações nos meios de
comunicação e também as notícias sobre o Movimento.
O segundo tempo educativo, o Tempo Comunidade, consiste no trabalho do
educando em sua localidade de origem ou outra indicada pela escola, onde
poderá colocar em prática o conhecimento adquirido durante os meses de aula.
Tal tempo é organizado pelos educadores e comunidade num trabalho
interdisciplinar com o propósito de que os educandos tenham a experiência da
pesquisa, organização pessoal, auto-formação, ensino e envolvimento
comunitário.
A avaliação dos alunos é feita a partir de provas e relatórios semestrais e o
relatório de avaliação final, onde o educando deverá produzir uma monografia
analisando uma determinada situação de campo e apresentando uma proposta
de trabalho.
O ensino da Agroecologia
A Agroecologia começa a ser discutida pelo MST a partir do ano 2000,
quando o assunto é levantado no seu 4º congresso nacional. Até então a matriz
produtiva utilizada pelo Movimento era a mesma adotada pelas grandes
propriedades, dependentes de insumos que inviabilizam financeiramente o
pequeno produtor.
O Movimento encontrou na Agroecologia uma alternativa para a
sustentabilidade da agricultura familiar, já que esta matriz utiliza-se dos recursos
naturais encontrados na propriedade rural e o entorno de onde é instalada.
Dessa demanda de capacitação dos agricultores e agricultoras, surge a
proposta de instalar nas escolas do MST o curso técnico em agroecologia. A
viabilização do curso ocorre com a parceria firmada com o INCRA, financiadora do
projeto por meio do PRONERA, e UFPR, que através de sua escola técnica
organiza a estrutura pedagógica do curso e catalisa educadores de diversas
instituições de ensino para compor as disciplinas do currículo.
O curso é ofertado em três modalidades: subseqüente- para aqueles que já
concluíram o ensino regular, integrado/PROEJA- para os educandos que estão em
atraso com os estudos e integrado- unindo o ensino médio com o técnico.
Objetivando atender as demandas das comunidades rurais, o curso
intenciona formar técnicos capacitados a compreender e dominar os princípios
fundamentais da agroecologia e sua aplicação, como também ter uma visão
humanista e política da realidade da sua comunidade, contribuindo não só com a
produção, mas com a melhoria da qualidade de vida dos camponeses.
Para tanto, faz parte do currículo de todas as modalidades as disciplinas
humanas, como filosofia, sociologia, economia política, cooperação e
cooperativismo e desenvolvimento rural sustentável.
Os conteúdos técnicos perpassam as habilidades necessárias para o
manejo do solo, culturas e ensino do cultivo agroecológico, assim como o uso de
ferramentas científicas, como gráficos, topografia e genética.
A profundidade com que é abordada cada área do conhecimento depende da
modalidade do curso, sendo o Técnico em Agroecologia o mais completo. Porém, tal
diferença não compromete a qualidade do ensino uma vez que todos os educandos,
independente da modalidade em que estudam, saem capacitados para contribuírem com sua
comunidade.
ÁREAS DO CONHECIMENTO: Produção vegetal
UN
IDA
DE
DID
ÁT
ICA
Energia Solos Nutrição vegetal
Fisiologia vegetal Botânica Ecologia
Climatologia Processos naturais Revolução verde
Matéria orgânica Proteção do solo Fruticultura
Plantio direto Cultivo agroecológico Silvicultura
Plantas forrageiras Entomologia Fitopatologia
Balanço energético
ÁREAS DO CONHECIMENTO: Desenvolvimento Rural Sustentável
UN
IDA
DE
DID
ÁT
ICA
Sociologia Filosofia Economia política
Metodologia de pesquisa Cooperação e cooperativismo Desenvolvimento rural sustentável
Agroecologia
ÁREAS DO CONHECIMENTO: Produção AnimalEtologia Anatomia e fisiologia animal Genética
Nutrição e alimentação
animal
Estudos de raças e
cruzamentos
Sanidade animal na
Transformações ocasionadas nas comunidades por intermédio dos cursos de agroecologia
Aqui entra o questionário aplicado com os agricultores. A Mailane ainda não me passou.
Referências Bibliográficas
PPP CEAGROPedagogia do MSTEntrevista com os agricultoresCadastro de assentamentos rurais no Paraná (incra)Histórico do CEAGROWanderley. O camponês: um trabalhador para o capitalVeras. Agroecologia nos assentamentos do MST no Rio Grande do Sul