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Programa de Residência Universitária Construindo Inclusão e Igualdade Social Autor: Inácio Fernandes de Araújo Junior 1 e-mail: [email protected] Co-Autores: Reginaldo Nascimento da Silva e-mail: [email protected] 2 Resumo A entrada de jovens de diferentes classes sociais nas universidades exige uma política ativa de igualdade, devido desnivelamento entre ricos e pobres é necessário que a assistência estudantil cumpra um papel de criar condições para a permanência desses estudantes na universidade disponibilizando recurso para cobrirem as suas despesas básicas e os seus gastos para se manterem estudo. Pois de nada adianta a inclusão de alunos de baixa renda, se não houver a garantia de que eles possam participar ativamente da vida universitária. Essas ações garantem a permanência dos alunos em seus cursos fazendo com que não desistam e nem retardem a sua conclusão. No caso da Universidade Federal do Ceará o Programa de Residência Universitária oferece condições para os alunos que não possuem condições de custear moradia na cidade de Fortaleza e cursar a graduação superarem os desafios ao bom desempenho acadêmico e se mantenham na Universidade. Assim, com o intuído de investigar o impacto desse Programa foi desenvolvido um estudo dos aspectos socioeconômico de seus beneficiários para analisar os reflexos dessa iniciativa na vida desses estudantes e os impactos e benefícios desse investimento para a sociedade. Palavras chaves: Assistência estudantil, residência universitária e inclusão social. Introdução 1 Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará. 2 Mestrando do Curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Page 1: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

Programa de Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

Autor: Inácio Fernandes de Araújo Junior1

e-mail: [email protected]

Co-Autores: Reginaldo Nascimento da Silva

e-mail: [email protected]

Resumo

A entrada de jovens de diferentes classes sociais nas universidades exige uma política ativa

de igualdade, devido desnivelamento entre ricos e pobres é necessário que a assistência estudantil

cumpra um papel de criar condições para a permanência desses estudantes na universidade

disponibilizando recurso para cobrirem as suas despesas básicas e os seus gastos para se manterem

estudo. Pois de nada adianta a inclusão de alunos de baixa renda, se não houver a garantia de que

eles possam participar ativamente da vida universitária. Essas ações garantem a permanência dos

alunos em seus cursos fazendo com que não desistam e nem retardem a sua conclusão. No caso da

Universidade Federal do Ceará o Programa de Residência Universitária oferece condições para os

alunos que não possuem condições de custear moradia na cidade de Fortaleza e cursar a graduação

superarem os desafios ao bom desempenho acadêmico e se mantenham na Universidade. Assim,

com o intuído de investigar o impacto desse Programa foi desenvolvido um estudo dos aspectos

socioeconômico de seus beneficiários para analisar os reflexos dessa iniciativa na vida desses

estudantes e os impactos e benefícios desse investimento para a sociedade.

Palavras chaves: Assistência estudantil, residência universitária e inclusão social.

Introdução

1 Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará.

2 Mestrando do Curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Page 2: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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A universidade, na sua busca por formar profissionais e cidadãos para a construção de uma

sociedade justa e igualitária, é uma expressão da própria sociedade brasileira, abrigando também as

contradições nela existentes, com diversas formas de segregação e diferenças que variam em

intensidade.

A busca da redução das desigualdades socioeconômicas faz parte do processo de

democratização da universidade e da própria sociedade. Esse processo não se pode efetivar, apenas,

no acesso à educação superior gratuita. Torna-se necessária a existência de mecanismos que

viabilizem a permanência e a conclusão de curso dos que nela ingressam, reduzindo os efeitos das

desigualdades apresentadas por um conjunto de estudantes, provenientes de segmentos sociais cada

vez mais pauperizados e que apresentam dificuldades concretas de prosseguirem sua vida

acadêmica com sucesso.

Para que o estudante possa desenvolver-se em sua plenitude acadêmica, é necessário

associar, à qualidade do ensino ministrado, uma política efetiva de investimento em assistência, a

fim de atender às necessidades básicas de moradia, alimentação, saúde, esporte, cultura e lazer,

inclusão digital, transporte, apoio acadêmico entre outras condições.

A assistência estudantil criar condições para a permanência desses estudantes na

universidade disponibilizando recurso para cobrirem as suas despesas básicas e os seus gastos para

se manterem estudo. Essa política faz com que eles não desistam antes da conclusão de seus cursos

e nem retardem a sua conclusão e favorece a apresentação de menores percentuais de abandono e de

trancamento de matrícula.

Cabe as Universidades assumirem a Assistência Estudantil como direito e espaço prático de

cidadania e de dignidade humana, o que irá ter efeito educativo e reflexos na sociedade. Para análise

esse assunto esse artigo foi desenvolvido em cinco partes. Na primeira parte foi feito uma

contextualização da Assistência Estudantil nas Instituições de Ensino Superior, na segunda parte é

esplanada a Assistência na Universidade Federal do Ceará, a terceira parte trata-se da apresentação

do Programa de Residência Universitária. Em seguida, na parte quatro, é feita a análise

socioeconômica dos beneficiários do Programa e o impacto em suas vidas proporcionado por essa

assistência. A parte cinco traz as conclusões desse estudo apontando a dimensão desse tipo de ação

para diminuir as desigualdades sociais a pobreza no Brasil.

Assistência Estudantil nas Instituições de Ensino Superior

Page 3: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Com a entrada na Universidade de jovens antes excluídos, exige uma política ativa de

igualdade. É preciso assegurar a todos tempo livre para estudo, amplo acesso a livros e a outros

bens culturais. Assistência estudantil é um dos meios para essa inclusão, através de um conjunto de

políticas para melhorar as condições de permanência e aproveitamento dos estudantes no ensino.

Atualmente nas Universidades, como em toda a sociedade brasileira, a um desnivelamento

brutal entre ricos e pobres, na medida em que os primeiros desfrutam de mais tempo, meios e

condições para estudar, enquanto os últimos trabalham para custear os estudos, ajudar nas despesas

de suas famílias e nunca tiveram acesso pleno a bens culturais. E mesmo depois de concluída a

graduação se mantém as desigualdades, enquanto os que possuem um nível de renda melhor podem

ficar sob a “proteção” dos pais, que os sustentam enquanto eles acumulam dinheiro ou investem em

educação, os jovens de origem mais humilde têm que trabalhar para conseguir os seus meios

básicos de sobrevivência e de sua família.

E em um contexto de ampliação do acesso a educação superior, com o Programa

Universidade para Todos (Prouni) e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão

das Universidades Federais (Reuni) a assistência estudantil torna-se como nunca indispensável. De

nada adianta a inclusão de alunos de baixa renda, se não houver a garantia de que eles possam

participar ativamente da vida universitária e concluir com sucesso os cursos de graduação e pós.

A Assistência Estudantil no Âmbito da Universidade Federal do Ceará

Atuando como gestora das políticas de assistência estudantil na Universidade Federal do Ceará

UFC a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PRAE está subdivida nas coordenadorias de Desporto

e Lazer, Assistência Comunitária e Restaurante Universitário, oferecendo aos estudantes serviços de

moradia estudantil, assistência médico-odontológico, apoio psicossocial, bolsas de iniciação

acadêmica, restaurante universitário, inclusão digital e promoção de eventos e atividades. Essas

ações de Assistência Estudantil são uma política essencial no contexto do ensino, da pesquisa e da

extensão por possibilitar melhor desempenho nas atividades acadêmicas dos estudantes, na

perspectiva de inclusão social, formação ampliada, produção de conhecimento, melhoria do

desempenho acadêmico e da qualidade de vida. O objetivo é viabilizar a igualdade de oportunidades

entre todos os estudantes e contribuir para minimizar situações de repetência e evasão, decorrentes

da vulnerabilidade financeira.

Programa de Residência Universitária

Page 4: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Gráfico 2: Distribuição, segundo idade,

dos residentes da UFC Gráfico 1: Etnia dos residentes da UFC

O Programa de Residência Universitária da UFC disponibiliza moradia e alimentação aos

estudantes de baixa renda que não moram na cidade de Fortaleza, tendo como finalidade promover

as condições necessárias para o bom desempenho acadêmico que auxiliem a superar as dificuldades

para permanência na graduação. Os pré-requisitos para entrar receber o auxilio de moradia da

Universidade são não ter concluído nenhum curso de graduação, o núcleo familiar não residir em

Fortaleza, avaliação da situação socioeconômica da família e ter cursado o Ensino Médio em escola

pública. No total são 15 residências universitárias – REU, abrigando 309 estudantes, 119 mulheres,

38,5% do total, e 190 homens, 61,5%, de diferentes localidades do estado do Ceará e de outros

estados, cursando os mais diversos cursos como Direito, Medicina, Enfermagem, Farmácia,

Ciências Econômicas, Administração, Contábeis, Secretariado, Biblioteconomia, Economia

Doméstica, Psicologia, Letras, Pedagogia, História, Geografia, Sociologia, Filosofia, as

Engenharias, Física, Matemática, Estatística, Química, Música, Arquitetura, Agronomia e

Zootecnia.

Perfil dos Moradores da Residência Universitária – UFC

Com o objetivo de traçar o perfil socioeconômico dos moradores da Residência

Universitária, avaliar o seu desempenho acadêmico e medir o impacto do Programa em suas vidas

foi realizada uma pesquisa durante o mês de agosto de 2009 através da aplicação de questionários

com os atuais beneficiários do Programa. No total foram entrevistados 37 residentes, representando

12% do total de moradores, sendo 23 homens e 14 mulheres, 62,2% e 37,8% respectivamente,

moradores de diferentes casas, escolhidos aleatoriamente e que se disponibilizaram voluntariamente

a responder a entrevista.

Verificou-se através da pesquisa que dos residentes pesquisados 18,9% declararam-se

branco, 16,2% negros, 5,4% mulato, 5,4% amarelo e a maioria 54,1% pardos (Gráfico1). Entre eles

94,6% são solteiros e apenas 6,4% são casados ou possuem união estável. Observou-se que cerca de

79% dos residentes têm mais 22 anos, e na faixa etária de 18 a 21 anos têm-se 19,4% e com menos

de 18 anos apenas 2,8% (Gráfico 2).

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Page 5: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Para entrar no Programa de Residência o estudante deve seguir alguns critérios,

estabelecidos pela PRAE, como ter cursado o Ensino Médio em escola pública, não ter concluído

nenhum curso de graduação, o núcleo familiar não residir em Fortaleza e avaliação da situação

socioeconômica. Observando a situação dos atuais moradores pode-se constatar essa realidade

abstraída do processo de seleção dos alunos, sendo que, 86,5% dos entrevistados concluíram todo o

Ensino Médio em escolas de ensino gratuito e apenas 13,5% estudaram parte do Ensino Médio em

estabelecimento de ensino particular (Tabela 1).

No gráfico 3, verifica-se que para 73% dos residentes a escolha do curso na UFC deve-se ao

fato de ser mais adequado às aptidões pessoais e para os outros 27% as escolha foi devido a outros

motivos, como influência de professores ou a baixa concorrência no vestibular. Perguntados sobre

as expectativas em relação ao que esperam obter no curso superior 56,8% dos residentes

responderam que buscavam formação profissional, 18,9% aumento de conhecimento, 16,2%

formação teórica para pesquisa e 8,1% tem outros planos em estar no curso de graduação (Gráfico

4).

Tabela 1: Tipo de estabelecimento de ensino onde o residente cursou o Ensino Médio

Onde cursou o Ensino Médio Quant. Freq. (%)

Todo em Ensino Público 29 78,4

Escolas Comunitárias 3 8,1

Maior parte em Ensino Pública 5 13,5

Total 37 100,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

O Programa de Residência Universitária da UFC tem a finalidade de promover as condições

necessárias para o bom desempenho acadêmico dos seus beneficiários cobrindo as suas despesas

com moradia e alimentação contribuindo para que possam dedicar mais tempo aos estudos.

Analisando, a partir do Gráfico 5, o Índice de Rendimento Acadêmico – IRA dos residentes com o

intuito de avaliar se o Programa está realmente contribuindo para proporcionar um bom

Gráfico 3: Motivo para escolha do curso de

graduação na UFC pelos residentes Gráfico 4: Expectativa dos residentes

quanto para o curso superior

Page 6: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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desempenho acadêmico verifica-se que 35,1% possuem o IRA acima de 8.500 pontos, 32,4% estão

com o seu IRA entre 7.500 e 8.500, 18,9% têm a sua média entre 6.500 e 7.500 e apenas 8,1% dos

residentes segundo a pesquisa estão com o IRA inferior a 6.500 pontos, o que vem a ser um bom

resultado, principalmente quando se avalia o número de reprovações, já que, apenas 32,4% dos

residentes possuem reprovações em seu histórico, sendo que dos que possuem reprovações 50% têm

apenas uma reprovação ao longo de sua de sua graduação e 41,7% duas (Tabelas 2 e 3).

Condicionando esses resultados aos do Gráfico 6, que mede a participação em atividade

extracurricular, podemos concluir que o desempenho acadêmico dos residentes está sendo

satisfatório, pois observar-se 73,0% participam de alguma atividade extracurricular inseridos em

atividade de pesquisa, monitoria, PET, grupos de estudo, bolsas e apenas 27% não participa de

nenhuma atividade extraclasse.

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio

Fernandes, 2009).

Tabela 2: Número de residentes com reprovações

Possui reprovação Quant. Freq. (%)

Sim 12 32,4

Não 25 67,6

Total 37 100,0 Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Tabela 3: Situação dos residentes quanto ao número de reprovações

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Número de reprovações Quant. Freq. (%)

Uma 6 50,0

Duas 5 41,7

Três 0 0,0

Quatro 1 8,3

Total 12 100,0

Gráfico 5: Média do IRA dos residentes

entrevistados

Page 7: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

O Gráfico 7 aponta os resultados em relação à participação dos residentes em atividade

remunerada, com exceção de bolsas da Universidade, 35,1% estão inseridos em alguma atividade

remunerada, sendo que 24,3% possuem estágio, 2,7% emprego fixo, 2,7% trabalham como

autônomo e 5,4% participam de outras atividades. A maioria, 64,9%, não realiza nenhuma atividade

remunerada.

Levando em consideração a importância da realização de atividades práticas durante a

formação acadêmica, para melhor preparar os futuros formandos para o mercado de trabalho, foi

perguntado aos residentes se a atividade remunerada exercida está vinculada a área de

conhecimento. Para 76,9% está vinculada, mas para 23,1% a atividade remunerada não tem

nenhuma relação a seu campo de formação.

Tabela 4: Participação dos residentes em atividade remunerada (exceto bolsa)

vinculadas a área de conhecimento

Atividade remunerada está vinculada a área

conhecimento? Quant. Freq. (%)

Sim 10 76,9

Não 3 23,1

Total 13 100,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Gráfico 7: Participação dos residentes em

atividade remunerada (exceto bolsa)

Gráfico 6: Participação dos residentes em atividade extracurricular

Page 8: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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O Programa de Residência da UFC atualmente não reserva vagas para estudantes da pós-

graduação, o contrário de outras universidades, como a Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, e diante da situação de grande procura por vagas na residência por alunos da graduação e

também da pós seria interessante o aumento do número de vagas na residência.

Analisando as expectativas dos residentes para após a conclusão do curso de graduação,

segundo a Tabela 5, constata-se que 40,5% desejam continuar estudando, almejando fazer pós-

graduação. Esses estudantes poderiam ser beneficiados se o Programa reservasse vagas para alunos

que estão fazendo Especialização, Mestrado ou Doutorado. Para 37,8% dos residentes após a

conclusão de curso pretende ocupar uma posição no mercado de trabalho, para 5,4% resumem suas

pretensões em possuir melhor nível cultural e econômico e para também 5,4% está em condições de

ajudar economicamente a família.

Tabela 5: Expectativas dos residentes após a conclusão da graduação

Expectativas após a conclusão da graduação Quant. Freq. (%)

Fazer pós-graduação 15 40,5

Entrar no mercado de trabalho 14 37,8

Estar em melhor situação econômica e cultural 2 5,4

Melhorar a situação econômica da família 2 5,4

Não respondeu 4 10,9

Total 37 100,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Observa-se através do Gráfico 8, se agregarmos os residentes que tem alguma renda, que

81% dos residentes responderam possuir renda, sendo que cerca de 38% recebem mais de 300 reais

mensais, 27% apresentam renda individual entre 200 e 300 reais mensais, 5,4% possuem renda

entre 100 e 200 reais e 10,8% renda individual de até 100 reais.

Quando o aluno é beneficiado com o Programa de Residência Universitária há uma redução

das despesas para sua família, que não precisam mais arcar com uma série de custos para a

permanência do estudante em Fortaleza. E além de representar uma despesa a menos no orçamento

familiar esses estudantes, em alguns casos, a partir da permanência na Residência Universitária,

conseguem incrementar uma renda a mais para a família, caso de 8,1% dos residentes que são

independentes financeiramente e um dos responsáveis pelo sustento da família. Agregando com os

outros 27% independentes financeiramente são no total 35,1% de residentes responsáveis por

custeados as próprias despesas. Para 21,6% dos residentes os seus gastos são custeados em parte por

seu próprio trabalho e 43,2% têm os seus gastos totalmente custeados (Gráfico 9).

Page 9: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Em relação à idade que iniciou a exerce atividade remunerada 10,8% dos residentes

começou a trabalhar antes dos 14 anos de idade, 2,7% entre 14 e 16 anos, 5,4% entre 16 e 18 anos,

43,2% após os 18 anos e 37,2% nunca trabalhou (Gráfico 10). No tocante as atividades exercidas

pelos residentes antes de sua entrada na UFC a maioria 59,5% só estudava e os 41,5% já trabalham

como consta o Gráfico 11.

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Para 78,3% dos residentes a renda familiar mensal é de no máximo 900 reais. E 21,7%

possuem renda superior a 900 reais mensais. Para uma análise mais fidedigna da situação financeira

familiar, é importante verificar a distribuição da renda considerando o tamanho das famílias, ou

seja, quantas pessoas dependem da renda familiar. Para os residentes observa-se que a precariedade

é significativa, a renda familiar que já não é muito alta tem que ser dividida para muitas pessoas,

caso de 64,9% que tem a renda familiar dividida para mais de cinco pessoas, a renda dividida para

quatro pessoas são 16,2%, para três pessoas 13,5% e para duas 5,4% (Gráficos 12 e 13).

Gráfico 8: Distribuição da renda mensal

dos residentes da UFC

Gráfico 9: Participação dos residentes na

vida econômica da família

Gráfico 10: Idade que o residente iniciou

a exercer atividade remunerada Gráfico 11: Atividade exercida pelo

residente antes de entrar na UFC

Page 10: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

10

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Analisando a Tabela 6 sobre o tempo de permanência na Residência é possível verificar na

pesquisa que 18,9% estão em seu primeiro ano na moradia estudantil, 24,3% de 1 a 2 anos e o

restante, 56,8% há mais de 2 anos, tempo suficiente para que o aluno tenha uma visão formada

sobre o Programa, o que contribuirá para as perguntas seguintes.

Tabela 6: Quantidade de anos que o residente entrevistado está morando na Residência

Tempo que mora na Residência Universitária Quant. Freq. (%)

Até 1 ano 7 18,9

De 1 a 2 anos 9 24,3

De 2 a 3 anos 12 32,4

De 3 a 4 anos 4 10,8

Mais que 4 anos 5 13,6

Total 37 100,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Além de oferecer moradia o Programa de Residência Universitária da UFC disponibiliza aos

seus beneficiários três refeições durante os dias letivos e auxilio de R$ 13,00 ao dia durante os

finais de semana e feriado, períodos esses, em que o Restaurante Universitário – RU é fechado.

Esses auxílios são de fundamental importância para que os residentes possam manter-se

estudando e tenham um bom desempenho acadêmico, visto que, se a Universidade não cobrisse os

gastos com refeições além de provocar uma perda na qualidade da alimentação iria fragilizar ainda

mais a baixa renda na qual os residentes desfrutam mensalmente.

A PRAE em suas atribuições com a Residência Universitária através da Divisão de Moradia

é responsável pelo auxílio aos moradores das REUs, manutenção das casas e intermediação de

conflitos entre os residentes.

Gráfico 13: Quantidade de pessoas que

dependem da renda familiar

Gráfico 12: Distribuição da renda

familiar mensal dos residentes da UFC

Page 11: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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A Tabela 7 mostra a avaliação dos residentes a esse Programa e a qualidade da alimentação

no RU. Perguntados sobre a qualidade da moradia nas residências 8,1% consideram ótima as

instalações das REUs, 51,4% considera bom e 40,5% regular. Vale ressaltar o trabalho que a PRAE

vem fazendo no último ano para melhoria das residências, com a realização de reformas e o envio

de equipamentos e eletrodomésticos para as casas. Analisando a qualidade das refeições no

Restaurante Universitário houve certa insatisfação quanto à alimentação servida, segundo 2,7% dos

residentes entrevistados a comida tem péssima qualidade, 13,5% consideraram que é ruim, 51,4%

consideraram regular e apenas 32,4% consideram boa. Em relação à assistência prestada pela PRAE

5,4% consideraram ótima, 37,8% boa, 40,5% regular e 16,3% ruim (Gráfico 14).

Tabela 7: Declaração dos residentes da UFC em relação à qualidade da moradia nas residências,

alimentação no Restaurante Universitário e assistência prestada pela PRAE

Opinião do residente quanto a: Avaliação (%)

Ótima Boa Regular Ruim Péssima

Qualidade da moradia nas residências 8,1 51,4 40,5 0,0 0,0

Qualidade das refeições no Restaurante Universitário 0,0 32,4 51,4 13,5 2,7

Avaliação da assistência prestada pela PRAE 5,4 37,8 40,5 16,3 0,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Justificando a avaliação quanto à qualidade da assistência prestada pela PRAE 13,5% dos

residentes declararam que a PRAE possui relação distante com os residentes, 16,2% disseram que

em suas atribuições a PRAE cumpri o mínimo possível, 13,5% consideram que existe descaso e

mau atendimento de alguns funcionários, 10,8% afirmaram que sempre foram bem atendidos,

19% responderam que não tem nada a declarar e 27% não respondeu a essa pergunta (Tabela 8).

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Gráfico 14: Declaração dos residentes da UFC em relação à qualidade da

moradia nas residências, alimentação no Restaurante Universitário e

assistência prestada pela PRAE

Page 12: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Tabela 8: Declaração dos resistentes sobre a assistência prestada pela PRAE aos residentes

Declarações em relação à PRAE Quant. Freq. (%)

Possui relação distante com os residentes 5 13,5

Faz o mínimo possível em suas atribuições 6 16,2

Descaso e mau atendimento de alguns funcionários 5 13,5

Sempre foi bem atendido 4 10,8

Não tem nada a declarar 7 19,0

Não respondeu 10 27,0

Total 37 100,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Seria muito importante que todos os estudantes vindos do interior do estado para Fortaleza e

que possuem fragilidade econômica pudessem morar na Residência Universitária, mas devido ao

limite de vagas nem todos os estudantes que solicitam vaga no Programa conseguem moradia. Mas

além do problema do limite de vagas existe a falta de informação quanto à existência de moradia e

assistência estudantil prestada pela Universidade. Muitos dos atuais residentes têm irmãos, parentes

ou amigos próximos que moram ou que moraram nas Residências, o que acabou por facilitar o seu

ingresso no Programa. Mas para muitos estudantes, do interior do estado, devido à falta de

informação, acaba por abandonando o sonho de ingressar no Ensino Superior por considerar

inviável a vinda para Fortaleza.

A resposta dos residentes a pergunta se estariam na UFC se não existisse a Residência leva a

concluir sobre a sua importância do Programa, já que para 59% dos entrevistados a sua entrada e

permanência na Universidade Federal se deve ao Programa e os outros 41% concluíram que teriam

condições de estar na UFC se não fosse a Residência Universitária (Tabela 9). Analisa a situação

dos atuais residentes se não existisse o Programa 64,9% consideraram que estariam fazendo a

graduação, na UFC ou em outra Instituição de Ensino, mas com dificuldades de morar em Fortaleza

e custear as suas despesas, 21,6% teriam feito o vestibular para a UFC e se tivessem passado no

exame não teriam condições de ingressar no curso. Para 13,5% dos residentes nem teriam feito o

vestibular para a UFC se não existisse a Residência Universitária (Gráfico 15).

Tabela 9: Declaração dos residentes a respeito da importância do Programa de Residência

em sua entrada na UFC

Se não existisse a REU você estaria na UFC? Quant. Freq. (%)

Sim 15 40,5

Não 22 59,5

Total 37 100,0

Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Page 13: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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Fonte: Elaboração própria (pesquisa direta, Inácio Fernandes, 2009).

Conclusão

A Universidade possui a missão de construir a cidadania através da transferência de cultura e

conhecimento mantendo um compromisso social com o seu público. A assistência estudantil vem de

encontro à necessidade de inclusão dos menos favorecidos financeiramente possibilitando o seu

melhor desempenho na Universidade que se refletirá na sua qualificação profissional e na condição

de vida futura do estudante e de sua família. Em um contexto de alta desigualdade social na qual o

Brasil está inserido é fundamental o investimento das Universidades em iniciativas que contribuam

para aproximar os mais pobres da realidade do Ensino Superior.

A concentração de renda no Brasil é uma das maiores do mundo. Seus índices estão dentre

as últimas posições do mundo. “Os dados apontam que cerca de 1% dos brasileiros mais ricos (1,7

milhão de pessoas) detém uma renda equivalente à renda dos 50% mais pobres (86,5 milhões)”

(NETO e SORONDO, 2007).

A má distribuição de renda torna mais difícil para os pobres saírem do estado de miséria no

qual estão inseridos. Um dos caminhos para acabar com essas desigualdades são melhorias na

educação, a fim de gerar inclusão social e reduzir a concentração de renda.

Investimento em educação constituísse em construção de capital humano, beneficiando a

sociedade como um todo, que se reflete em várias medidas, aumento da produtividade no trabalho,

maior iniciativa empreendedora, inovação, que além de contribuir para o fim de desigualdades na

sociedade contribuem também para o desenvolvimento do país. Programas como a moradia

estudantil oferecida pela UFC garantem que estudantes que não teriam condições de estar na

Universidade concluam o curso superior e saiam da situação de precariedade na qual viviam,

possibilitando melhorias em sua condição de vida e de sua família, acabando com todo um ciclo de

Gráfico 15: Considerações dos residentes da UFC sobre como

estariam hoje se não existisse da REU

Page 14: Residência Universitária – Construindo Inclusão e Igualdade Social

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pobreza no qual estariam destinados, refletindo nas gerações futuras, pois os seus descendentes

terão maiores chances de possuir melhores situações de vida proporcionada pela formação de seus

pais.

Referências Bibliográficas

ALVES, Jolinda de Moraes – A Assistência estudantil no Âmbito da Política de Educação Superior

Pública, 2006.

Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis - FONAPRACE, Plano

Nacional de Assistência Estudantil, 2001.

Ministério da Educação, Imprensa, Notícias. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index>.

Acesso em: 16 de setembro de 2009.

Universidade Federal do Ceará, Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis. Disponível em:

<http://www.prae.ufc.br/index.html>. Acesso em 16 de setembro de 2009.

NETO, Dary Pretto e SORONDO, Fabrício Borges - A nova metodologia de cálculo do PIB: Brasil

a décima Economia Mundial – e o desenvolvimento econômico, 2007.