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RESISTANCE 2ª Edição Junho 2011 José Rebola página 9 Nuno Peixinho página 29 “Cometas entre Asteróides” Entrevista

Resistance Magazine 2

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Physics and Tecnology Magazine

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Page 1: Resistance Magazine 2

RESISTANCE2ª Edição Junho 2011

José Rebola

página 9

Nuno Peixinho

página 29

“Cometas entre Asteróides”Entrevista

Page 2: Resistance Magazine 2

Junho 2011 RESISTANCE1

Editorial

Depois de uma primeira edição cheia de obstáculos e imprevistos saímos para a segunda com atenções redobradas. Como o ditado diz: O que não nos mata, só nos torna mais fortes.Com a entrada de três novas colaboradoras de Engenharia Biomédica: Ana Patrícia Silva, Ana Telma Santos e Karen Duarte, contamos com novas ideias e bastante dedicação para que consigamos alcançar novas metas. Sendo a prioritária a de sair das portas do Departamento de Física. Queremos chegar mais longe...!O nosso único objectivo é melhorar de edição em edição, mas para isso precisamos da vossa ajuda.

Por isso se queres colaborar connosco na edição, na escrita de artigos ou até na colocação de publicidade nas nossas páginas contacta-nos através do nosso e-mail [email protected]íamos também deixar um especial agradecimento a Ângela Dinis, Bruno Galhardo, João Domingos e a Nuno Ferreira por toda a ajuda prestada no dia das eleições do NEDF/AAC.PS- Novamente, gostaríamos de agradecer a todos as pessoas que participaram nos nossos jantares de angariação de fundos, porque sem elas seria impossível a distribuição em papel da Revista.

“Ne change rien pour que tout soit différent ” Jean-Luc Godard

Errata:

No número anterior da revista, devido a erros de edição, na décima primeira linha da décima página onde se lê “que outras influências poderão haver” devia ler-se “que outras influências poderá haver“. Pedimos desculpa pelo incómodo causado.

Page 3: Resistance Magazine 2

Junho 2011RESISTANCE

Dentro do dep...

3_”Startup weekend”. João Nogueira4_”Depois de Coimbra”. Dora Pires5_”Cem anos do Núcleo Atómico”. Carlos M. B. Fiolhais7_”As desigualdades de Bell e a computação quântica”. Fernado M. da Silva Nogueira26_”Erasmus”. Edson Ferreia29_”Voluntariado”.Diana Capela31_”Cometas entre Asteróides” . Nuno V. M. Peixinho Miguel

Viagens...

23_”Estado Excitado”. Adriana Leal25_”Estado fundamental”.Manuel Soeiro

Cultura...

17_”24 frames por segundo”.19_”78 rpm”.21_”A gamer (re)view”32_”Notícias”33_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nino Hatter

Opiniões...

22_”Berbequim”. João Pedro Ferreira27_”Crónicas”.

12 - Queima...

Índice

_22

_23

_25

_5

_26

_29

2

Page 4: Resistance Magazine 2

Junho 2011 RESISTANCE3

texto_João Nogueira

Nos tempos que correm todos os dias falamos em crise, falta de emprego e falta de dinheiro. Então porque não criar o nosso próprio emprego? Porque não pôr mãos à obra? Porque não enriquecer um pouco a nossa visão? Porque não partilhar os nossos conhecimentos com os outros? É aqui que entra o Startup Weekend. Dos cerca de 350 Startups realizados pelo mundo fora, já surgiram cerca de 700 empresas. Em Coimbra decorreu nos dias 20, 21 e 22 de Maio na sala de estudo da Associação Académica de Coimbra. Este evento caracteriza-se pelas intensas 54 horas de trabalho non-stop, em que os participantes irão trabalhar na construção de base de um projecto, dando-lhe forma e tornando-o viável para ir para além do fim--de-semana. Este fim-de-semana torna-se extremamente enriquecedor já que no evento e a trabalhar nas equipas se juntam pessoas das mais variadas áreas com as mais variadas competências, o que permite não só elaborar um óptimo plano para apresentar a investidores como ganhar uma experiência enorme a trabalhar de forma exaustiva com uma equipa muito diversificada e que não conhecemos. Os moldes de funcionamento do Startup Weekend são muito simples, cada pessoa que tenha trazido uma ideia apresenta-a ao resto dos participantes no inicio do evento. Depois de apresentadas todas as ideias os participantes votam naquelas que mais acreditam e mais se identificam para trabalhar nas proximas 54h do evento. Em Coimbra tive o prazer de estar a organização e participar no evento, considero que foi um enorme sucesso. Pelo facto de estarmos em equipas multidisciplinares, as ideias fluíam de forma quase natural, e apesar do cansaço éramos coroados com doses de excitação e empenho que

aposto que todas as empresas gostariam de ter no seu dia-a-dia por parte dos seus trabalhadores. A ajuda dos nossos mentores, que aconselham e guiam os participantes com a sua experiência tem uma importância extrema no desenrolar do processo, permitindo-nos chegar muitas vezes a bom porto, a achar soluções para os problemas e ultrapassar entraves que se colocam ao longo do nosso projecto. Tivemos o prazer e a sorte de ter mentores como Fred Oliveira (WeBreakStuff), Miguel Gonçalves (DITS), e Rui Barroca, entre muitos outros. Deixo-lhes desde já um grande obrigado pela ajuda dada às equipas e pela troca sempre interessante de ideias e conselhos. As próprias apresentações e a sua preparação é bastante peculiar, já que são direccionadas a um júri, tendo formato muito diferente daquilo que estamos habituados a fazer a nível cientifico. Com a apresentação dos Pitchs vemos as verdadeiras diferenças e a maturação que houve ao longo do fim-de-semana e vemos uma transformação espantosa e uma concretização das ideias que apenas algumas horas atrás estavam em estado embrionário e de repente ganharam corpo, em alguns casos vida até. No final os júris fazem os seus devidos comentários do que é preciso melhorar em cada ideia, como podemos crescer e até mesmo conselhos práticos de como fazer a ideia render mais. Em Coimbra a vencedora foi o Lean Interface. Mas para mim, todos aqueles que tiveram o prazer de participar neste evento já foram de algum modo vencedores, ao terem passado por esta experiência única.

Fica desde já o convite a todos para participarem numa próxima edição do Startup Weekend em Coimbra.

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Junho 2011RESISTANCE 4

texto_Dora Pires

A distância temporal entre o dia da defesa da minha tese, que marca o fim do meu percurso académico, e o dia de hoje, é psicologicamente impossível quantificar. Se por um lado sinto que ainda nem passaram dois anos, por outro lado esta certeza diluiu-se quando visitei o carro nº16 do Cortejo da Queima das Fitas deste ano. Os rostos presentes naquele local, eram na sua grande maioria, desconhecidos para mim. Entre algumas bengaladas e outras tantas saudações, percebi que ali, eu e os meus, éramos simplesmente espectadores. Naquele Setembro, envolta numa mescla de alívio, alegria e melancolia, começava a aperceber-me que a minha vida académica tinha terminado. “Mas e agora?!? Tenho que procurar emprego… enviar CV’s e estar sempre contactável!” Pensamentos deste género eram recorrentes. E assim foi… dia após dia enviava CV’s e cartas de motivação, partilhando com os meus colegas a desilusão de não receber respostas, bem como as comuns dúvidas: “O que é que eu estou a fazer mal? Porque é que ninguém me contacta?” E desta forma, estabeleceu- se uma rotina. Não queria desistir,

mas tinha que contrariar esta tendência: um part-time num centro de explicações foi a minha opção; alguma matemática, física e química preenchiam dois dias da minha semana, restando-me ainda bastante tempo para a procura de um full-time. No início de 2010, resolvi mudar a minha estratégia… decidi então, que independentemente de ser na minha área ou não, necessitava da minha independência financeira para posteriormente investir na minha formação. Planeei, trabalhei, consegui e… despedi-me. Em Setembro de

2010, assistia à minha primeira aula do Mestrado em Gestão da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, sendo esta a minha única ocupação na altura. Mas… passado algum tempo fui desafiada a visitar uma empresa de consultoria energética, aqui, em Coimbra. Não tinha nada a perder, fui! Ironicamente surgiu uma proposta, e aliciante do ponto de vista profissional! Em 12 horas, tive que decidir entre uma

dedicação total ao mestrado e uma conciliação de trabalho e estudo. Não podia dizer “não” a uma oportunidade profissional. Hoje, escrevo este artigo depois de um dia de trabalho com a certeza de que quando o terminar, terei disciplina e motivação para ainda ir estudar algo. Actualmente, não tenho dúvidas que a minha vida académica acabou naquele Setembro. Agora, piso o chão de uma Faculdade sempre apressada e focada num único objectivo: alargar o meu espectro de conhecimentos. A vida académica que cada um de vós vive hoje, é

única. Coimbra, além da formação académica, faz-nos crescer, errar e aprender, sorrir e chorar. E, não é necessário alongar-me neste ponto, pois tenho a certeza que partilho convosco um facto: What happens in Coimbra, stays in Coimbra!!! Invejo, porque sinto uma nostalgia imensa, todos aqueles que enquanto lêem esta revista se encontram no BIF, no BM ou até numa qualquer sala de aula do Departamento de Física.

Depois de Coimbra

Entre algumas bengaladas e outras tantas saudações, percebi que ali, eu e os meus, éramos simplesmente espectadores.

O início da jornada...

Page 6: Resistance Magazine 2

Junho 2011 RESISTANCE5

O núcleo atómico fez em 7 de Março de 2011 exactamente um século. Com efeito, foi nesse dia, mas do ano de 1911, que o físico britânico, nascido na Nova Zelândia (provavelmente o mais notável de todos os físicos nascidos no hemisfério sul), Ernest Rutherford leu na Manchester Literary and Philosophical Society a sua comunicação intitulada “A dispersão dos raios alfa e beta e a estrutura do núcleo”. Já antes o núcleo se manifestava através dos fenómenos da radioactiovidade, conhecidos desde 1896, mas nessa altura ficou claro o que era o núcleo. Vale a pena consultar o documento original e ver como o núcleo bateu à porta da Física, após experiências realizadas por jovens colaboradores de Rurtherford em finais de 1910. “Existem, porém, algumas experiências sobre dispersão que indicam que uma partícula alfa ou beta ocasionalmente sofre uma deflexão de mais do que 90º num único encontro. Por exemplo, Geiger e Marsden (Proc. Roy. Soc. 82, 495, 1909) encontraram que uma fracção pequena das partículas incidentes numa película fina de ouro sofre uma defexão superior a um ângulo recto (...) para explicar este e outros resultados é necessário supor que a partícula electrizada passa por um campo eléctrico intenso dentro do átomo. A

dispersão de partículas electrizadas é considerada para um tipo de átomo que consiste de um carga eléctrica central concentrada num ponto e rodeada por uma distribuição esférica uniforme de electricidade oposta igual em grandeza.” Estava descoberto o núcleo, precisamente a “carga eléctrica central concentrada num ponto”, apesar do erro de que a carga eléctrica negativa em redor era uniforme. Daí a dois anos o jovem dinamarquês Niels Bohr, que tinha vindo estagiar a Manchester, propunha, num outro grande momento revolucionário da Física, a teoria quântica antiga: os electrões giravam, em órbitas planetárias circulares em redor do núcleo, que correspondiam a energias quantificadas. Portanto, em 2013 passará um século após a formulação da teoria de Bohr (Prémio Nobel da Física em 1922), que, apesar de modificada pela teoria quântica moderna, proposta por um notável conjunto de jovens físicos entre 1925 e 1927, tem ainda hoje um grande valor conceptual. Na linguagem desconcertante de Rurtherford, o fenómeno que ele pretendia explicar com o seu novo modelo era desconcertante: tudo se passava como se um atirador tivesse arremesssado um obus de 15 polegadas contra uma folha de papel e o tiro tivesse rechaçado para

atingir o nariz do atirador... Rutherford já era um físico famoso quando descobriu o núcleo. Tinha ganho o Prémio Nobel da Química em 1908, pelos seus estudos dos fenómenos radioactivos, distinção que ele aceitou fazendo um comentário irónico relativo às confusões entre a Física e a Química:

“Tenho assistido a muitas transmutações radioactivas bastante rápidas, mas nenhuma foi tão rápida como a que o Comité Nobel acaba de fazrer transformando-me de físico em químico”.

CEM ANOS DO NÚCLEO ATÓMICO

Carlos Manuel Baptista Fiolhais

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Junho 2011RESISTANCE 6

Na época a distinção entre a Física e a Química era ainda mais esbatida do que hoje. Basta para isso reparar que, no mesmo ano da descoberta do núcleo atómico, o Prémio Nobel da Química era atribuído à francesa de origem polaca

Marie Sklodowska, Madame Curie, pela sua descoberta de novos elementos radioactivos: o rádio e o polónio. Esse prémio vinha somar-se ao Prémio Nobel que tinha recebido com o seu marido, o francês Pierre Curie, pelos seus trabalhos sobre radioactividade, em 1903, e com o francês Henri Becquerel, o descobridor da radioactividade. O Ano Internacional da Química, que se celebra em 2011, quer também assinalar o centenário do segundo Prémio Nobel de Madame Curie, a única pessoa laureada até à data com Prémios Nobel de duas disciplinas científicas diferentes. Em 1911, uma fotografia dos participantes do 1.º Congresso Solvay, em Bruxelas, mostra Rutherford perto de Madame Curie (está sentada numa posição central, em diálogo com o matemático francês Henri Poincaré). Não muito longe deles está o então ainda jovem suíço de origem alemã Albert Einstein (tinha 31 anos), sobre cuja teoria da relatividade nem Rutherford nem Madame Curie, os dois essencialmente experimentalistas, se interessaram. A primeira reacção nuclear seria efectuada oito anos depois da descoberta do núcleo, tendo o feito pertencido ainda a Rutherford. Vale a pena, de novo, transcrever o resumo da comunicação em que ele descreve o arremesso de partículas alfa (que o próprio Rutherford tinha identificado como núcleos de hélio) para cima de azoto, verificando-se que saía, como que num acto de alquimia, oxigénio e hidrogénio. Veja- se, em particular, como Rutherford assinala a presença do hidrogénio dentro do núcleo atómico:

“Dos resultados obtidos até agora é difícil evitar a

conclusão de que os átomos de longo alcance que surgem da colisão de partículas alfa com o azoto não são átomos de azoto mas provalmente átomos de hidrogénio, ou átomos de massa 2. Se é este o caso, temos de concluir que o átomo de azoto se deesintegra sob as forças intensas desenvolvidas numa colisão próxima com uma partícula alfa rápida e que o átomo de hidrogénio libertado é parte constituinte do núcleo de azoto”.

O pequeno erro é que não se trata do átomo, mas sim do núcleo de hidrogénio, ao qual mais tarde se veio a chamar protão. O neutrão viria a ser descoberto a seguir, por um discípulo de Rutherford, o inglês James Chadwick, em 1932, feito pelo qual recebeu o Prémio Nobel escassos três anos depois. Nesse mesmo ano foi construído o primeiro acelerador circular e foi realizada a primeira reacção nuclear num acelerador. A Física nuclear estava em franco desenvolvimento... Em 1934, uma filha e um genro de Madame e Pierre Curie, os franceses Irène e Frédéric Joliot-Curie, descobriam a radioactividade artificial, conseguida através de reacções nucleares: receberam o Nobel logo no ano seguinte Em 1938 os alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann descobriram a cisão espontânea do urânio. O italiano Enrico Fermi, com a suas experiências de bombardamento de núcleos por neutrões promoveu a cisão induzida desse elemento: em 1942, depois de ter

recebido o Nobel em 1938, conseguia a primeira reacção em cadeia do urânio debaixo da bancada de um estádio

em Chicago. E o resto é história bem conhecida: o projecto Manhattan de construção da primeira bomba atómica , as bombas de Hiroshima e Nagasaki (Hahn, prémio Nobel da Química em 1944, soube dos eventos num campo de prisioneiros na Inglarerra), e o aproveitamento pacífico da energia nuclear no pós-guerra que se mantém nos dias de hoje. Rutherford

nunca acreditou que a energia nuclear viesse alguma vez a ser usada para efeitos práticos. Que hoje é emprege em larga escala em muitos países do mundo mostra que os grandes génios são também capazes de grandes erros...

...tudo se passava como se um ati-rador tivesse arremesssado um obus de 15 polegadas contra uma folha de papel e o tiro tivesse rechaçado para atingir o nariz do atirador..

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Junho 2011 RESISTANCE7

A Teoria Quântica é, talvez, a teoria mais espetacularmente bem sucedida dos últimos 100 anos. Graças a esse sucesso vivemos na época de mais rápido desenvolvimento tecnológico da História. Basta reparar em todos os dispositivos de eletrónica de consumo que nos rodeiam hoje mas que há poucos anos seriam considerados “ficção científica”.Esta tão bem sucedida teoria é, no entanto, de difícil compreensão, pois é, em muitos aspectos, radicalmente diferente da Mecânica Clássica, usada para descrever muitos fenómenos macroscópicos, e com a qual estamos muito familiarizados. Esta difícil conciliação entre a Mecânica Quântica e a Física Clássica está na origem de inúmeros “paradoxos” e discussões no seio da comunidade científica. Um dos mais famosos debates foi travado em 1935, nas páginas da Physical Review, entre Albert Einstein e Niels Bohr. Einstein (com Boris Podolsky e Nathan Rosen) analisou um sistema quântico muito simples: duas partículas que interagiram no passado e cuja função de onda conjunta é conhecida1. Analisando medidas da posição ou do momento de uma das partículas, EPR concluíram que seria possível obter duas funções de onda diferentes para descrever a outra. Não havendo já interação entre as partículas, a existência de duas funções de onda diferentes para descrever o mesmo sistema (a “segunda” partícula) significaria que a função de onda não podia ser uma descrição completa de um sistema.Este problema ficou conhecido como “paradoxo EPR” e é o artigo mais citado de Einstein (foi mais vezes citado que o conjunto dos 4 artigos do Annus Mirabilis...). A tese dos autores foi prontamente refutada por Niels Bohr2 e outros. A resposta de Niels Bohr2 é bastante mordaz. Bohr refuta o paradoxo lembrando Einstein que o aparelho de medida, em Mecânica Quântica, é indissociável do ato de medida, tal como na sua Teoria da Relatividade o espaço é indissociável do tempo. Não pretendendo reproduzir aqui o debate sobre este paradoxo, recomendo ao leitor interessado uma leitura atenta dos artigos originais.

Há contudo um desenvolvimento posterior deste problema que vale a pena analisar. Em 1951 David Bohm publicou um livro de texto de Mecânica Quântica3 em que discutiu o paradoxo EPR recorrendo a um sistema experimentalmente muito acessível: dois eletrões num estado singuleto de spin, i.e., dois eletrões com spins correlacionados de tal modo que o spin total do conjunto seja nulo. Supõe-se que os eletrões se movem livremente em direções opostas. Se, para um deles, medirmos a componente do spin segundo uma dada direção e obtivermos o valor +1 (com ),sabemos que, para o outro, uma medida da componente do spin segundo a mesma direção dará -1 e vice-versa. É razoável supor que, estando os dois aparelhos de medida espacialmente afastados um do outro, a orientação do aparelho de Stern-Gerlach usado nas medidas para uma dos eletrões não afeta os resultados obtidos para o outro. Mas então parece ser possível prever o resultado de uma medida individual para uma dos eletrões sem sobre ele efetuar qualquer operação de medida: basta medir a mesma grandeza para o outro (o que levará ao paradoxo EPR...). É tentador pensar, tal como Einstein, que tal se deve à existência de uma descrição mais completa do sistema que aquela que é fornecida pela Mecânica Quântica.Vamos supor que assim é (esperando com isso eliminar o caráter “aleatório” das medidas individuais em Mecânica Quântica...). Esta descrição mais completa será fornecidapor um conjunto qualquer de variáveis, discretas ou contínuas, que representaremos como uma única variável contínua λ . Então o resultado A1 da medida do spin da partícula 1 segundo a direção dada pelo vector

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a é determinado por

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a e λ (não é, portanto, “aleatória”... basta conhecer λ para a prever). Podemos escrevê-lo como A1 (

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a , λ ).Do mesmo modo o resultado B2 (

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b , λ ) da medida do spin da partícula 2 segundo a direção dada pelo vector

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b é determinado por

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b e λ . Ora, com

svbb6

size 12{ hbar /2=1} {}

ℏ/2=1 ,

svbc5

alignl { stack { size 12{A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) = +- 1} {} # B rSub { size 8{2} } \( { vec {b}},λ \) = +- 1 {} } } {}

A1a , λ =±1

B2b , λ =±1

As desigualdades de Bell e a computação quântica

Fernando Manuel da Silva Nogueira

svbb6

size 12{ hbar /2=1} {}

ℏ/2=1

1 “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, A. Einstein, B. Podolsky e N. Rosen, Phys. Rev. 47, 777–780 (1935). 2 “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, N. Bohr, Phys. Rev. 48, 696–702 (1935). 3 “Quantum Theory”, David Bohm (New York: Prentice Hall, 1951). Reimpresso em 1989 (New York: Dover).

Page 9: Resistance Magazine 2

Junho 2011RESISTANCE 8

Sabemos também que A1 (

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a , λ )= - B2 (

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b , λ )

Supondo que os parâmetros λ se distribuem de acordo com uma densidade de probabilidade conjunta de ρ(λ) , nor-

malizada à unidade, ∫ dλ ρ(λ) =1, o valor expectável da medida de A1 (

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a , λ ) e B2 (

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b , λ ) é dado por:

Se considerarmos uma terceira direção, dada pelo vector

svi84

size 12{ { vec {c}}} {}

c , vem :

Como A1 (

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a , λ ) = ±1 podemos ainda escrever:

E também :

Concluimos que:

Esta desigualdade foi deduzida por John Bell, um físico de partículas do CERN, em 19644, e é hoje conhecida como uma das desigualdades de Bell. Se efetuarmos os cálculos facilmente concluímos que a Mecânica Quântica prevê para o valor expectável E(

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a ,

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b ) o resultado:

em que

svid7

size 12{ { vec {σ}}} {}

σ é um vector cujas componentes são as matrizes de Pauli.

Vemos facilmente que E(

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a ,

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b ) = -1/2, E(

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a ,

svi84

size 12{ { vec {c}}} {}

c ) = 1/2, e E(

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b ,

svi84

size 12{ { vec {c}}} {}

c ) = -1/2, donde se conclui que | E(

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a ,

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b ) - E(

sviak

size 12{ { vec {a}}} {}

a ,

svi84

size 12{ { vec {c}}} {}

c ) | = 1 mas que 1 + E(

svia2

size 12{ { vec {b}}} {}

b ,

svi84

size 12{ { vec {c}}} {}

c ) = 1/2 , em claro desacordo com a desigualdade deduzida. Se as desigualdades de Bell forem verificadas experimentalmente, a Mecânica Quântica é posta em cheque... Mas não é isso que acontece: todas as experiências feitas até hoje estão em desacordo com as desigualdades de Bell!

Que conclusões podemos então tirar? A hipótese fundamental para obter a desigualdade foi a da existência de um conjunto de variáveis (escondidas) cujos valores predeterminam os resultados das várias medidas. É uma hipótese que vai de encontro aos desejos secretos de muitos de nós, pois a sua validade permitiria dizer que o caráter aleatório das medidas individuais em Mecânica Quântica provém simplesmente do desconhecimento dos parâmetros λ . Se nos fosse possível conhecer os valores dessas variáveis poderíamos prever com certeza os resultados individuais das medidas. A Mecânica Quântica surgiria assim apenas como uma descrição de caráter estatístico, devido ao conhecimento limitado queteríamos dos sistemas individuais. Seria até possível imaginar uma teoria em que as variáveis λ obedecessem a leis do movimento e tivessem significado físico. A violação das desigualdades de Bell no quadro de uma teoria deste tipo poderia ser explicada por uma “comunicação” instantânea entre os aparelhos de medida. Mas não pode haver sinais que se propaguem instantaneamente... Outra possibilidade é essa comunicação entre aparelhos de medida ocorrer quando os aparelhos são instalados e ajustados. Nesse caso não é necessária uma comunicação instantânea. Mas já foram feitas experiências em que os aparelhos de medida só eram ajustados quando as partículas já estavam em voo em direção a eles5... Parece portanto que não é possível construir uma teoria mais completa que a Mecânica Quântica6. Podemos assim responder à pergunta formulada por Einstein no título do seu artigo: “Yes, it can... so far”.Este assunto foi amplamente discutido durante décadas, sendo habitualmente classificado como académico ou tido como do domínio da filosofia. Mas, como tantas vezes acontece, esta investigação “fundamental” teve frutos inesperados. Os sistemas de fotões correlacionados7 (“entangled”) usados em todos estes testes são hoje a base dos computadores quânticos...

svi6l

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) = Int {d ital "λρ" \( λ \) A rSub { size8{1} } \( } { vec {a}},λ \) B rSub { size 8{2} } \( { vec {b}},λ \) = - Int {dital "λρ" \( λ \) A rSub { size 8{1} } \( } { vec {a}},λ \) A rSub { size 8{1} } \( { vec {b}},λ \) } {}

E a ,b =∫d λρ λ A1a , λ B2b , λ =−∫d λρ λ A1a , λ A1b , λ

svi6l

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) = Int {d ital "λρ" \( λ \) A rSub { size8{1} } \( } { vec {a}},λ \) B rSub { size 8{2} } \( { vec {b}},λ \) = - Int {dital "λρ" \( λ \) A rSub { size 8{1} } \( } { vec {a}},λ \) A rSub { size 8{1} } \( { vec {b}},λ \) } {}

E a ,b =∫d λρ λ A1a , λ B2b , λ =−∫d λρ λ A1a , λ A1b , λ

svibl

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) - E \( { vec {a}}, { vec {c}} \) = Int{d ital "λρ" \( λ \) A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub { size 8{1} } \({ vec {b}},λ \) left [A rSub { size 8{1} } \( { vec {b}},λ \) A rSub { size 8{1}} \( { vec {c}},λ \) - 1 right ]} } {}

E a ,b −E a ,c =∫d λρ λ A1a , λ A1b , λ [A1b , λ A1c , λ −1]

svi89

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) - E \( { vec {a}}, { vec {c}} \) = - Int{d ital "λρ" \( λ \) left [A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub { size8{1} } \( { vec {b}},λ \) - A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub {size 8{1} } \( { vec {c}},λ \) right ]} } {}

E a ,b −E a ,c =−∫d λρ λ [A1a , λ A1b , λ −A1a , λ A1c , λ ]

svi89

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) - E \( { vec {a}}, { vec {c}} \) = - Int{d ital "λρ" \( λ \) left [A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub { size8{1} } \( { vec {b}},λ \) - A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub {size 8{1} } \( { vec {c}},λ \) right ]} } {}

E a ,b −E a ,c =−∫d λρ λ [A1a , λ A1b , λ −A1a , λ A1c , λ ]

svic3

size 12{ lline E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) - E \( { vec {a}}, { vec {c}} \) rline <= Int {d ital "λρ" \( λ \) left [1 - A rSub { size 8{1} } \( { vec {b}},λ \)A rSub { size 8{1} } \( { vec {c}},λ \) right ]} } {}

∣E a ,b −E a ,c ∣≤∫d λρ λ [1−A1b , λ A1c , λ ]

svicb

size 12{ lline E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) - E \( { vec {a}}, { vec {c}} \) rline <= 1+E \( { vec {b}}, { vec {c}} \) } {}

∣E a ,b −E a ,c ∣≤1E b ,c

svi89

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) - E \( { vec {a}}, { vec {c}} \) = - Int{d ital "λρ" \( λ \) left [A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub { size8{1} } \( { vec {b}},λ \) - A rSub { size 8{1} } \( { vec {a}},λ \) A rSub {size 8{1} } \( { vec {c}},λ \) right ]} } {}

E a ,b −E a ,c =−∫d λρ λ [A1a , λ A1b , λ −A1a , λ A1c , λ ]

svicp

size 12{E \( { vec {a}}, { vec {b}} \) = \langle { vec {σ}} rSub { size 8{1}} cdot { vec {a}} {} cSup {} { vec {σ}} rSub { size 8{2} } cdot { vec {b}} \rangle = - { hat {a}} cdot { hat {b}}} {}

E a ,b =⟨σ1⋅a σ

2⋅b ⟩=−a⋅b

4 “On the Einstein-Podolsky-Rosen paradox”, J. S. Bell, Physics 1, 195–200 (1964).5“Experimental Test of Bell’s Inequalities Using Time-Varying Analyzers”, A. Aspect, J. Dalibard, and G. Roger, Phys. Rev. Lett. 49, 1804–1807 (1982).6 Há muitas e variadas deduções de desigualdades de Bell que partem de pressupostos ligeiramente diferentes. Mas todas as desigualdades deduzidas são viola-das…7 A grande maioria das experiências efetuadas recorreu a pares de fotões com polarizações correlacionadas e não a pares de eletrões.

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Qual é a sua formação académica?José Rebola: Sou licenciado em Engenharia Electrotécnica, mas vim aqui parar (AIBILI) como aluno de Doutoramento na área das neurociências.

O que é que o levou a optar por essa área?José Rebola: Foi uma coisa um bocado por acaso, não estava interessado em ir para Lisboa quando acabei o curso, e a maioria das ofertas eram lá. Acabei por vir para aqui trabalhar com dados de epilepsia e gostei deste tema, principalmente da integração da saúde com a engenharia e acabei por fazer o doutoramento nesta área.

Que conselhos dá a outros colegas que pretendam seguir esta área?José Rebola: Acho que esta área tem o privilégio de ser multidisciplinar e essa parte é muito interessante, porque consegue conjugar os desenvolvimentos em várias áreas e assim ser realmente inovadora. Hoje em dia é muito difícil inovar numa determinada área, se te dedicas a um tema mesmo muito específico, começas a ser um especialista numa coisa cada vez mais pequena e aqui não, aqui tens a inovação, que é na integração das diferentes práticas e é mais rápida a evolução nesse sentido.

Neste tempo de crise, em que muitos jovens querem fazer

carreira no estrangeiro, acha que essa é a melhor alternativa ou acha que o país ainda possui condições para nos absorver no mercado de trabalho?José Rebola: Claro que ainda há mercado de trabalho cá. Continua a haver uma oferta muito maior no estrangeiro, até porque o estrangeiro são muito mais países, 90 e muito é estrangeiro para Portugal. É claro que há muitas ofertas no estrangeiro e quando a nossa formação é muito específica ainda mais ofertas há para essa especificidade. Mas eu acho que é nestas alturas de crise e maior dificuldade que também surge a maior motivação para querer ficar cá e realmente ajudar o país e a comunidade científica portuguesa a desenvolver-se.

E relativamente ao panorama musical nacional acha que ainda há espaço para novos artistas? E como tem sido a vossa adaptação cá?José Rebola: Nós com este projecto só estamos há 3 anos, mas cada um dos elementos já está na música à 10/15 anos, e vê-se bem a diferença de aceitação do público às bandas portuguesas. Boas bandas portuguesas sempre existiram, só que agora o público começou a virar-se outra vez um bocadinho mais para dentro, a dar valor às suas próprias bandas, a cantar outra vez mais em português, e é engraçado ver essa comunhão maior entre o público e as bandas. Agora, isso não quer dizer que não haja problemas, a indústria musical

portuguesa ainda é bastante limitada. Uma banda que queira fazer uma tournée não consegue arranjar mais de vinte datas com condições para tocar. Ainda não é facilmente sustentável viver da música em Portugal, ainda há muita coisa para ultrapassar mas acho que estamos no caminho certo.

Quanto aos Anaquim, como é que nasceu o vosso projecto? José Rebola: Surgiu um bocado por acaso, que se calhar até é a melhor maneira de fazer as coisas, surgiu no fim de 2007. Na altura tinha outra banda, comecei a fazer canções que não se enquadravam muito naquele universo, e fui fazendo só para ficarem guardadas e para não se perderem aquelas ideias. Depois achei que devia mostrar aquilo a alguém, e as pessoas que ouviram gostaram e acabou por chegar aos ouvidos do JP Simões, que estava a organizar um programa no canal 2 que era o “Quilómetro Zero”. Um programa que depois não teve continuidade, com muita pena nossa, e que revelou muitas boas bandas portuguesas. De repente, eles queriam gravar um ensaio, mas não havia ensaio porque não havia músicos, só ideias soltas que eu tinha gravado, então aí convidei algumas pessoas para encerrarmos as músicas e gravarmos para o programa. Resultou tão bem que acabámos por ficar com essa formação, que foi de origem e contínua até agora, e esperemos que continue por muitos mais anos. Depois resolvemos levar aquilo para a estrada.

Entrevista

José Eduardo Figueiredo Lima Rebola

texto_Patrícia Silva

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Quais as influências musicais?José Rebola: O nosso som vai buscar muito aos ritmos mais folk, à música francesa, ao jazz manouche - jazz cigano, ao folclore balcânico, e também ao folclore americano, que é o country e o dixie. Portanto, acaba por ter um cariz popular. Mas pessoas não devem confundir, às vezes quando se fala de músicas de cariz popular, pensam em rancho, mas para já a música popular portuguesa não é só rancho e a música popular também não é necessariamente portuguesa. Portanto, as nossas principais influências musicais são a música popular europeia com algumas influências também americanas.

E o segundo álbum, já está em estúdio?José Rebola: Em estúdio ainda não, estamos agora a começar a trabalhar os temas mais a sério, a deixarem de ser esboços para passarem a ser mais audíveis. É uma fase que gostamos muito, é engraçada, há muitas ideias, boas e más, e é a fase em que se vê desenvolver as músicas. Para nós é tão, ou mais, engraçada pela parte da criação activa, é claro que também é engraçado ver-mo-la registada em estúdio e vermos depois a aceitação que o publico tem, ou não, a esses temas.

Vão continuar no mesmo género musical?José Rebola: Acho que este álbum vai ser um bocadinho mais agressivo, um bocadinho mais rockeiro. A

temática vai continuar a ser a mesma, de crítica social, de histórias, de personagens, do quotidiano, mas o som está um bocadinho mais intervencionista.

Quando é que a música apareceu na sua vida? Tem formação musical?José Rebola: Tenho, todos temos formação musical na banda. Eu fui aluno do conservatório desde os meus 12 anos, comecei a tocar guitarra mais cedo com o meu pai e desde muito cedo que a música está na minha vida. Mas acho que também está na vida de todos, o virar do radar para ai é que se calhar não é tão presente nalgumas pessoas como noutras, mas a música faz, e bem, parte do presente de cada um.

Vão continuar sempre a cantar em Português?José Rebola: Em princípio sim, o plano é esse, o segundo álbum está dirigido nesse sentido. Mas já tivemos outras bandas onde cantávamos em inglês. Acho que não é uma questão de moda, é uma questão de contexto. Esta sonoridade e os temas que são tratados fazem sentido cantados em português.

Quais os planos da banda no exterior do país?José Rebola: Nós já tocámos na Hungria. Foi uma experiência bastante curiosa porque, obviamente

eles não falam português, não entendem as letras e nós pensámos que, fazendo uma introdução em inglês, íamos compor as coisas, e se calhar eles iam perceber os temas e as ideias. Chegámos lá e percebemos que eles também não falam inglês, e é engraçado, que apesar disso a comunicação fez-se e a empatia criou-se. Ao fim, já estavam a curtir as músicas como o nosso público,

claro a um nível um bocadinho menor, mas a parte musical também transmite muito, que vai para além dessa barreira da linguagem.

Como surgiu e o que achou da colaboração com a Ana Bacalhau?José Rebola: A Ana é espectacular, acho que isso é uma opinião unânime de toda a gente que trabalha e interage com ela. Aquilo começou por um elogio no MySpace do Pedro, o guitarrista dos Deolinda, a que nós respondemos, e depois surgiu a ideia de a convidar. Como ela gostava do som e se mostrou muito receptiva a essa ideia fez-se o tema, ela veio cá e gravou-se numa tarde. E foi engraçado! O encaixar das duas personagens dessa música foi quase como o nosso encaixar também, nós demo-nos logo bem e isso transpareceu para a música. Foi uma experiência muito positiva e só tenho coisas boas a dizer da Ana.

...mas a parte musical também transmite muito, que vai para além dessa barreira da linguagem...”

Entrevista

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Entrevista

Neste momento o que é que não dispensa ouvir?José Rebola: A música do Django Reinhardt, que é o expoente máximo do jazz cigano francês. Não só pela música, mas também pela sua história de vida. Django viveu nos anos 30 – 40, e é engraçado porque ele era um guitarrista espectacular, que aos 18 anos teve um fogo na caravana e ficou sem os dedos anelar e mindinho da mão esquerda, revolucionando toda a técnica da guitarra. Ele acaba por ser não só uma figura musical mas quase mística no mundo do jazz. Tudo o que tenha ritmos marcados eu gosto, Tom

Waits, Gogol Bordello, Severino, etc.Também ouço o que se vai fazendo em Portugal. Como é mais pequeno, dá para ouvir quase tudo.

Como é que consegue conciliar as duas carreiras?José Rebola: Não é fácil, vai--se roubando algum tempo ao doutoramento, que já por si é difícil acabar no prazo, e contando também com a tolerância das pessoas, neste caso do orientador e da agência que nos gere a carreira musical. Esta sabe que nem sempre podemos ter todas as datas disponíveis porque somos

5 elementos todos trabalhadores de outras áreas. É com algum esforço, sacrifício de horas vagas e também com alguma tolerância das pessoas que trabalham connosco.

A médio/longo prazo vê-se como músico ou engenheiro?José Rebola: É difícil. Em Portugal é difícil saber o que vai acontecer, quem é que sabe se de hoje para amanhã o FMI não nos corta as tranches todas, e temos mesmo que fazer pela vida de outra maneira. Neste momento, as duas áreas são muito interessantes e enquanto for possível vou conciliá--

las. Agora no futuro depende também do que nos vai ser exigido a nível profissional na música.

A vossa música retrata gente. É mais pela musicalidade ou pela integração pública?José Rebola: O engraçado no nosso público é que é muito heterogéneo. Se calhar se formos ver um concerto numa Queima das Fitas estão lá mais pessoas que querem s i m p l e s m e n t e estar a ouvir a música, a saltar e a divertir-se. Noutros concertos em auditórios, se calhar temos lá várias pessoas de 40/50 anos que

estão a ouvir não só a música, mas também as mensagens e a perceber a música a outro nível... E o engraçado é isso, no fim dos concertos às vezes estamos a falar com as pessoas e elas vêm-nos dar os parabéns, não só pela música mas também pela

letra e maneira de estar. É engraçado ver que tudo isso transparece para o público. Há público para essas duas vertentes.

A música dos Deolinda arrastou a manifestação toda em Lisboa. Acham que a vossa música já teve algum impacto do mesmo nível?José Rebola: A música dos Deolinda foi um fenómeno e não sei se vão existir muitos paralelos. Mas é engraçado, quando a nossa música vem referida em blogs, colunas de jornal e colunas de opinião. Mas se as pessoas simplesmente ouvirem a música e gostarem, para nós está tudo bem.

Vocês já se conheciam antes de se juntarem? Eram já amigos?José Rebola: Amigos se calhar não, mas conhecidos. Quando estás a convidar pessoas para uma iniciativa deste género se calhar não é a melhor abordagem convidares alguém só porque é um grande músico. Deves convidar alguém que se insere na tua maneira de estar, com quem te dês a conviver, 80% a 90% do tempo que

uma banda passa é fora do palco. O único critério não pode ser só as habilidades musicais, porque é necessário criar empatia e conseguir criar alguma coisa em conjunto. São todos pessoas em quem eu vejo valor musical e pessoal, por isso é que as coisas também resultam tão bem. Mesmo quando as coisas resultam menos bem, esse menos bem é o melhor.

Quais são os seus hobbies?José Rebola: Acaba por não haver grande tempo, o pouco tempo que tenho é a tocar guitarra, a aprender piano, agora queria comprar um contrabaixo mas é caro...

“Acabei por vir para aqui trabalhar com dados de epilepsia e gostei deste tema, principalmente da integração da saúde com a engenharia...”

“Ele acaba por ser não só uma figura musical mas quase mística no mundo do jazz.”

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Serenata Monumental Na vida de todos os Estudantes Universitários de Coimbra, existem momentos marcantes; uns pela positiva, outros pela negativa: mas todos eles nos ajudam nesta caminhada que temos a percorrer. Estou aqui hoje para relatar a minha vivência de um momento muito especial, principalmente para dois grupos: os caloiros e os finalistas (no meu caso, como caloiro). A Serenata Monumental da Queima da Fitas 2011. De tudo aquilo que ja me tinha sido proporcionado este ano, nada se compara a este momento de pura magia. Fui priveligiado pelo facto de ter acompanhado de muito perto a serenata

deste ano e digo: valeu a pena a hora e meia de espera; pelo espirito, pelo simbolismo, pelo manto negro que se erguia a minha volta! A partir do momento em que o meu padrinho me traçou a capa, eu senti que estava a entrar numa nova fase da minha vida. Senti que estava a crescer. E de que maneira! Será certamente um dos momentos que gravarei para sempre na minha memória e que, com ajuda de todos, perdurará para sempre nas tradições desta

velha mas grande cidade de Coimbra!

A Serenata Monumental para um finalista começa bem cedo, lá para meio do fim da tarde.As capas negras que forram o chão servem de toalha a um piquenique onde os bidões de gelo arrefecem a calorosa partilha entre as dezenas, ou talvez centenas de estudantes quecomeçam a encher a Praça da Sé Velha. Entre um e outro gole, a meio de uma sandes, entoaram-se gritos e hinos de curso numa recordação daquilo que tinham sido os tempos de caloiro, pastrano, grelado, fitado, veterano… O cair da noite trouxe consigo o negro intenso que agitou as últimas horas de espera, onde cada um se

tentou acomodar como podia, sempre com a preocupação de conseguir ver os nossos colegas músicos queprotagonizariam o espectáculo. De capas traçadas sob um céu limpo azul-escuro, numa atmosfera carregada de nervosismos miudinhos, lá se começaram a ouvir os primeiros acordes das guitarras cujo dedilhado nos embalou a todos durante uns quase eternos sessenta minutos. Por todo o lado, uma ou outra lágrima teimou em lavar os rostos entristecidos pela saudade e o Fado, que nos juntou ali a todos para daqui a uns meses nos trair com a derradeira despedida, foi intercalado com baladas, trovas,

entre outros temas. No final, para honra de todos os finalistas presentes, A Balada de Despedida do Ano Médico 2010-2011 estreou-se em chave de ouro para se imortalizar na já vasta tradição de canções das serenatas da nossa academia. Seguiu-se o inevitável Éférreá, gritado em uníssono com o agitar das capas no ar, lançadas por cima dos sorrisos abertos que denunciavam o início da festa. As fitas agitadas acima das cabeças deram um colorido especial a todas as recordações e aos segredos que todo levaremos, certamente, daqui para a vida!

texto_André Silva

texto_Tatiana Oliveira

Queima

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Exótico e misterioso, o Baile de Gala da Queima das Fitas decorria Sábado e tinha como tema os “Sete Pecados”. Esperava-se assim uma noite memorável e cheia de glamour nos claustros do Quartel de Santanna, onde todas nós nos sentiríamos verdadeiras Princesas. Foi assim que essa noite de primavera começou, com um Guloso jantar no “Giuseppe & Joaquim” com o Prince Charming. Aí, fomos deliciados tanto com o dourado da decoração como com os lombinhos de porco grelhados com gambas e ananás. No fim, a Inveja de ver passar “aquela” fatia de bolo de chocolate, fez com que não saísse de lá sem ter uma para saborear! Seguiu-se então uma volta pela nossa bela cidade, rendidos à Luxúria de uma limousine pérola onde, de janela aberta, brindávamos com quem, por mais uma noite, se encontrava animado no Largo da Portagem. Um hora depois, rendemo-nos à passadeira vermelha que se estendia escadas acima até à entrada do Quartel, as quais subimos

com Vaidade. Em tons de vermelho e preto e ao som da Orquestra Ligeira do Quartel, fomos tirando as fotos iniciais nos cenários recriados a rigor pela organização. A cada passo, a cada relance de olhar, crescia a sensação de pertença ao mundo encantado que invadia aquele espaço. As paredes eram preenchidas por quadros enormes com molduras vermelhas de esferovite que correspondiam aos pecados e, os tectos, por candeeiros pretos gigantes. Também de esferovite eram os bancos que se encontravam pelos corredores e na divisão do bar, onde, talvez por Avareza, não me quis aventurar nas delícias mais peculiares de Baco. Fiquei-me pela doce caipirinha, qual princesa moderna. Divertidas, as senhas das bebidas brancas não podiam deixar de se enquadrar na temática e encontravam-se impressas no formato de notas mexicanas. Foi então que os “The Lucky Duckies” subiram ao palco, animando as centenas de estudantes

presentes dispostos a dar de um pezinho de dança ao som de músicas dos twenties aos sixties, garantindo que a Preguiça não descansaria nas molduras vermelhas. Com o passar do tempo o salão esvaziava-se, chegando a altura de dar como terminados a fantasia e o requinte com que fomos inebriados durante toda a noite. À saída, olhei mais uma vez para a decoração, e o quadro da Ira resolveu piscar-me o olho. Sorri-lhe e pensei: “Voltaremos a encontrar-nos dentro em breve!”. Estava ansiosa por regressar. No Chá Dançante, pela primeira vez, saberia de antemão que pedaços da decoração traria para casa comigo! O meu “sapatinho” ficou pelas escadas do quartel... Mas o meu Orgulho em ser finalista da Universidade de Coimbra e poder ter vivido este ambiente mágico durante 5 anos, esse ficará comigo para sempre!

Baile de Gala

O conhecido Chá Dançante é considerado uma festa de despedida para os cartolados no mesmo ambiente decorativo do Baile de Gala, este ano com o tema “7 pecados”. No entanto, esta tradição proporciona a todos os estudantes uma noite de diversão.Quando cheguei ao Quartel de Sant’Anna deparei-me com uma multidão de fitados e cartolados ansiosos por entrar. Entre algumas cotoveladas e empurrões, o espaço foi-se enchendo com muitos estudantes. Poucos minutos depois de entrar, um grupo de amigos apreçados iniciaram a típica destruição da esferovite, quadros e cortinados do cenário. Nem mesmo os tapetes escaparam na tentativa de levarmos alguma recordação para casa. A euforia

foi tal, que destruímos tudo em poucos minutos, acabando por não sobrar nada para quem optou por chegar mais tarde. Após a calma estar restabelecida e, apesar da saudade daqueles que vivem esta tradição como a última, a Fanfarra e José Malhoa animaram ainda mais o evento. Houve dança, mas não houve Chá. O importante é a algazarra dos estudantes, o divertimento e a festa.No final, os estudantes saíram em massa para o Queimódromo. Uns levaram os cortinados enrolados ao traje, outros, mais criativos, levaram os grandes quadros e os cartolados, como sempre, a esferovite na bengala. Levamos também na memória uma das noites mais marcantes da queima das fitas, onde o chá nunca existiu.

Chá Dancante

Queima

texto_Ângela Dinis

texto_Joana Melo

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Três horas de sono, duas mil e quinhentas cervejas carregadas e dois cafés. São ainda 09h30. Estamos até por volta das onze no Quartel onde, apesar de todo o cansaço estampado nas caras alheias, a folia prevalece. Os carros vão arrancando, e sente-se cada vez mais o ambiente de festa; o Cortejo começa aqui. Chega a nossa vez de arrancar. A viagem do Quartel para o Departamento foi uma aventura: o condutor a apitar e

a acelerar (reduzindo a nossa visão a fumo preto), até por cima da rotunda do Papa passámos! Pudemos observar as primeiras gargalhadas e rostos corados dos presentes a um carro que era no mínimo caricato. Uma sandes de leitão e umas cervejinhas depois, ouve-se a nossa buzina! O desfile vai começar! Subo rapidamente e tento aproveitar ao máximo um cortejo que já se adivinhava rápido. Quando me dou conta já estou na praça da

república, e o sentimento de que está a acabar já se apoderou de mim. Daí até chegar ao cemitério pareceram cinco minutos, nunca esta distância me pareceu tão curta. Ao olhar para o carro destruído com uma lágrimita no olho (vá, várias), sinto que dois anos de trabalho e uma semana de esforço em que praticamente vivíamos no quartel valeram totalmente a pena. Questiono-me: posso repetir?

Cortejo

Queima

texto_Joana Faria

GarraiadaCapas negras estendidas na praia; estudantes a dormir, outros a cantar, outros a refrescar-se. Nem todos irão mais tarde ao Coliseu Figueirense; atrevo-me a dizer até que a maior parte não irá mais longe que a zona do areal (que por si já é distante da estação onde chegam os comboios apinhados desta “espécie” que durante um dia invade a Figueira da Foz). Mas há quem meta pés a caminho na jornada que para alguns não acaba na praia. Satisfação, cansaço, alegria, confusão, orgulho: são talvez as palavras que melhor descrevam esta ida à garraiada. É certo que não era a primeira a que ia, mas era “a minha”. A minha vez de ficar ao sol à espera para entrar antes de chamarem os alunos fitados da minha faculdade (é portanto a terceira a “passear-se” pela arena, atrás das de Medicina e Direito como manda a hierarquia das faculdades); a minha vez de não pagar - pois ia devidamente apetrechada da pasta com as fitas (talvez ja não em número correto) e da Capa e Batina; a minha vez de passar pelos seguranças que, além de verificarem se levamos objetos estranhos (nomeadamente chapéus de uma bebida que dá o nome a uma tenda bem conhecida de grande parte dos estudantes do Departamento de Física), nos podem perguntar (ao notarem uns fios vermelhos nos cabelos) “Chá?”, ao que se responde: “Sim”, e passamos orgulhosamente com alguns metros de tecido vermelho proveniente do Chá Dançante da

noite anterior dentro da pasta; a minha vez de ser empurrada para que todos possam caber dentro da pequena antecâmara onde se juntam os estudantes da faculdade antes de entrar na arena; a minha vez de, ao entrar, olhar para o lado e indagar sobre o que fazer a seguir - descobrindo rapidamente que o suposto é levantar o braço com a pasta e agitar as fitas enquanto toca uma música que só mais tarde me apercebi que existia, ao ver a “parada” das outras faculdades; a minha vez de descobrir que além de a faculdade de ciências e tecnologias ter poucos representantes cartolados nas bancadas, a presença de estudantes do departamento de física nesta tradição é praticamente inexistente; a minha vez

de entoar o “F-R-A” juntamente com os vários alunos da minha faculdade presentes (sendo que estou convicta de que a maior parte nunca tinha posto os olhos em cima), e de no fim ter dúvidas sobre se também haveria de mandar a pasta ao ar - como se faz com a capa - ou se simplesmente o haveria de fingir (pois iria decerto ser muito difícil agarrar a mesma, dado o seu já referido volume anormal naquele dia); e por fim, a minha vez de ser mandada

embora por uma portinha minúscula e de ficar com aquele sabor no pensamento... aquele sabor de quando acaba algo muito ansiado e nem se dá conta que começou... Por isso, no caminho de regresso, quando caí em mim, além de ter reposto um pouco o sono em dia, recordei com alguma nostalgia os bons momentos que passei com os amigos que partilharam a arena comigo nesse dia e com todos aqueles que conheci em Coimbra e que espero poder sempre guardar na memória com alegria. texto_Diana Amaro

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Já a Queima das Fitas ia a meio quando um grupo de estudantes aleatório do DF se decidiu juntar para partilhar a noite mais animada da nossa semana. Tudo isto tinha um propósito: angariar fundos para que possam ler este texto!Entre copos, febras, dados e cartas, fomos partilhando histórias e interesses que não sabíamos existir. Apesar de todos os dias nos cruzarmos nos mesmos corredores e muitas vezes partilharmos salas de aulas, só nesta noite tivemos a oportunidade de verificar que em nome

de uma boa causa, nos podemos juntar e descobrir que afinal temos mais em comum com pessoas com quem não costumamos conviver, ao contrário do que à partida poderíamos pensar.Se esta Revista conseguiu juntar um grupo tão díspar de pessoas, e proporcionar-nos uma noite tão animada, com certeza que este será o primeiro passo de uma grande caminhada! Assim, esperamos que esta causa volte sempre a juntar-nos.

RESISTANCEJANTAR

Depois da serenata, cortejo, chá dançante e das noites do parque, chega o fim desta fantástica semana da Queima das Fitas. A bengala e a cartola apresentam-se já completamente deformadas, o cansaço acumula-se, o meu pé continua inchado (apesar de não doer, pois o álcool é uma excelente anestesia) e já para não falar da tese que continua por escrever! Tudo isto leva a que a euforia desvaneça um pouco. A solução? Um pouco de whisky para me elucidar e, assim lá vou a caminho do queimódromo. Mas antes disso, como é já praticamente tradição, uma paragem na portagem. Aqui carregam-

se as baterias (if you know what i mean :P ) . Esvaziadas as garrafas , estou agora nas condições ideais de entrar no recinto. Um recinto que praticamente desconheço por inteiro, pois durante toda a semana o spot é sempre o mesmo: tenda do beirão. Depois de mais uma noite típica, com a habitual diversão, palhaçadas, copos e momentos insólitos, o fim da noite aproxima-se. Podem-me perguntar se esta noite é diferente das outras. Talvez. Começa a crescer alguma nostalgia, mas que facilmente é disfarçada. Vão ficar saudades? Vão, muitas mesmas. Memórias também (algumas um pouco enubladas).

Contudo não encaro isso com tristeza, pois tudo tem o fim e se é para acabar, que seja a “bombar”. Tento derramar umas lágrimas (diz que parece bem), mas simplesmente não consigo. Sim hoje é o último dia, mas o sentimento mais presente é a alegria e não a tristeza. Sei que não será um adeus, pois tenho a certeza que serei sempre muito bem recebido nesta cidade, por todos vós. Semanas como esta são sagradas, por isso aproveitem ao máximo, lembrem-se que o tempo não volta atrás. Aproveitem enquanto podem!Para o ano há mais? Há, mas é para vocês, caros colegas, aproveitarem!

Último dia

Queima

texto_Margarida Matos & Sara Barbosa

texto_Ricardo Martins

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16 Frames por segundo

“Piratas das Caraíbas 4”“Por Estranhas Marés”

A Fonte da Juventude: não, não se fala em Medicina Regenerativa, em elixires da rejuvenescência, nem sequer no Santo Graal, mas sim na nova saga de Jack Sparrow, o pirata desmedido, que por estranhas marés, descobre que a palavra “sentimentos” até lhe soa a algo familiar … e que adquire contornos reais e bem afeminados, surgindo na pele da voluptuosa Penélope Cruz, que dá a vida a Angelica, antiga paixão do ex-comandante de Black Pearl, e filha do temível Barba Negra, o terror dos mares personificado. Não deixando para trás o fervor latino, Angelica desperta em Sparrow um misto de paixão e despique; desejo e revolta; protecção e júbilo, levando-o, consigo, em busca da

Fonte da Juventude, por mares revoltos e sob encantos de malévolas sirenas, sempre escutando a fé do Senhor pela voz de um marinheiro, que terá sido contagiado pelas novas tendências da época assentes no Cristianismo. Mas Sparrow acreditando na salvação da sua alma? Não nos parece, pois não? Sparrow, sim, acreditando que poderá salvar a sua pele, tirando-lhe alguns anos e arrumando-os na algibeira de um desgraçado qualquer, motivação que, aliada à sua incessante sede de velejar por mares quer de água salgada, quer de rum, decide desde “jogar” ao críquete humano, em Londres, com um ou dois guardas reais; tornar árvores alavancas contra Espanhóis; ou até brincar à magia negra com bonecos de trapos, só para avistar as refrescantes gotas da fonte profana … conseguirá ele fazê-lo antes que os restantes candidatos à vida eterna? Um filme em que Johnny Depp surge esplendidamente, interpretando o pirata mítico só como ele o sabe fazer. Resta esperares para saber o resto do enredo, numa sala perto de ti… “Topas?”

The Tree of Life é um filme americano escrito e dirigido por Terrence Malick que se estreou no Festival de Cannes, vencendo a Palma de Ouro de Melhor Filme e que conta com mais uma grande interpretação de Sean Penn (apesar de aparecer poucas vezes), de Brad Pitt e Jessica Chastain. A Árvore da Vida acompanha o crescimento do filho mais velho de uma família americana. Com uma mãe carinhosa, que aborda vários valores importantes na educação de uma criança, Jack vê-se obrigado a partilhar esse amor incondicional com mais dois irmãos e a suportar a obsessão do pai em os preparar para a vida adulta de uma forma bastante autoritária. Até ao dia em que um trágico acontecimento cai sobre esta família. Como uma tese sobre o crescimento e a condição

da vida humana, não é um filme de fácil interpretação. Terrence Malick mostra-nos um conjunto de imagens da natureza em bruto, do universo e do milagre da vida absolutamente incríveis e, como estas dão forma à nossa vida, quer como seres individuais, quer com os outros. Com tudo isto e uma trilha sonora muito bem enquadrada leva-nos dentro da nossa consciência e memórias. Leva-nos a pensar e a questionar a pureza com que vemos o mundo, nas nossas dúvidas existenciais e nas contradições religiosas. Por não conhecer nada de Malick, não esperava que o filme tivesse tanta voz-off e nos levasse continuamente às nossas experiências pessoais e memórias. Contudo não fiquei desiludida, aliás bastante surpreendida e curiosa sobre os seus restantes filmes.

“Tree of life”

texto_Joana Paiva

texto_Joana Melo

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Depois de Taken (2008) Liam Neeson mostra-se mais uma vez como (improvável) estrela de acção, a correr contra o tempo e a tirania. Este filme realizado por Jaume Collet-Serra (Orphan) é mais um thriller engraçado que retrata a história de Dr. Harris (Liam Neeson) que após aterrar em Berlim na companhia da sua mulher (January Jones) perde a sua memória e a sua vida, já que aparentemente nem a sua própria mulher o reconhece. O filme é característico pela sua acção visual, com perseguições a alta velocidade pelas ruas

de Berlin, correrias constantes, e lutas corpo a corpo o que torna um bom filme para os amantes do género. Para outros pode-se tornar deveras irritante devido ás suas incongruências na história. O facto de contar com actores como Bruno Ganz, Frank Langella e Diane Kruger trás uma certa riqueza ao plot. Certas partes do filme são mesmo coroadas com muitos boas interpretações que interrompem a acção estonteante, estamos sempre á espera que uma porta vá pelos ares ou um carro expluda sabe-se lá vindo de onde. Dos poucos momentos ricos que o filme tem, em conjunto com o puzzle montado á volta da trama, mostram o potencial de realização de Thrillers por Collet-Serra

“Match Point”

“Unknown”

16 Frames por segundo

“Match Point”: um filme sobre o que que-remos conquistar, ou melhor, sobre o que é possível perder, em que a ironia e o estilo atípicos de Woody Allen triunfam brilhante-mente. Um melodrama com uma história co-mum, em que A ama B e, por sua vez, B ama C, confluindo num jogo de mentiras, capri-chos e superficialidades que, mais uma vez, torna o nome do realizador imortal, cumprin-do com o seu desejo, pois este terá escrito, em tempos: “Não quero conquistar a imortal-idade através do meu trabalho… Quero con-quistá-la não morrendo.” Falando de eterni-dade, o amor surge destoando neste cenário, sendo isto que se prova no enredo de “Match Point”. Chris, professor de ténis (Jonathan Rhys Meyers), conhece Chloe (Emily Mor-

timer), uma jovem proveniente de uma famíl-ia rica, com a qual inicia um relacionamento sério. Um pouco antes, apaixona-se por Nola (Scarlett Johansson), namorada do irmão de Chloe e, não resistindo aos encantos desta es-trondosa mulher, mantém com ela um caso, enquanto permanece casado. Porém, Nola engravida de Chris, e este, receando perder tudo o que adquiriu advindo da fortuna da família de Chloe, sente-se desnorteado e sem saber o que fazer para evitar o desmoronar da sua vida de luxúria… E é neste momento que se questiona: será que o jogo da vida ben-eficiará o lado da razão ou do coração? Só o lado para o qual a bola tombará na rede o dirá… “Match Point”: uma prova evidente que a vida é feita de infortúnios e deleites; dias cinzentos e dias claros; de vitórias e der-rotas; e, sobretudo, de prontidão, do repen-tino com que as fatalidades acontecem…

JoanaPaiva

JoanaMelo

JoãoNogueira

“Piratas dascaraíbas” “Tree of Life”

“Match Point” “Unknown”

texto_João Nogueira

texto_Joana Paiva

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Junho 2011 RESISTANCE19

78 rotações por minuto

Tame Impala

Innerspeaker

texto_Inês Ochoa texto_Inês Ochoa

Os Tame Impala são um quarteto composto por baixo, bateria e duas guitarras, que está no activo desde 2007. O nome é uma referência ao antílope australiano, continente de onde são originários. Descrevem-se como uma banda de “psychadelic hypno-groove melodic rock music” e apostam na profundidade e textura de um som que nos transporta para um ambiente sonhador e aéreo. Innerspeaker é o seu álbum de estreia, lançado em finais de 2010. A sonoridade da parte instrumental é reminiscente das décadas 60/70 o que, aliado ao timbre e harmonizações das vozes, quase nos deixam fora de época, numa nostalgia feliz. É, aliás, a intrusão entre os instrumentos que reforçam a sonoridade vintage do álbum. Para uma breve ideia do que isto pode significar, ouçam-se os primeiros riffs de “Solitude is Bliss”, e dificilmente não se terá vontade de ouvir até ao fim; ouça-se também “Desire Be Desire Go” com uma melodia em devaneio, ou a viagem de ritmo pulsante de “Alter Ego”.Comparações com The Doors, Jefferson Airplane e principalmente com os The Beatles tornaram-se inevitáveis pelos críticos do meio. Mas os fãs acreditam que o grupo tem uma assinatura própria, apesar de numa primeira impressão parecerem pouco aventureiros, e esperam-se grandes coisas deste quarteto no futuro.Têm andado em digressão pelo mundo, e como não podia deixar de ser, passam por Portugal no dia 14 de Julho, no palco EDP do festival Super Bock Super Rock. A não perder!

Em ocasião de digressão mundial e de passagem por Portugal, é oportuno chamar a atenção para Mayra Andrade. Para quem ainda não conhece, é boa altura para ouvir esta cantora cabo-verdiana baseada em Paris, que ganhou muito recentemente o prémio BBC Radio 3 World Music na categoria Revelação. Já é hábito vermos surgir grandes talentos deste acolhedor arquipélago, e é com Mayra Andrade que se testemunha a riqueza do património musical africano, português e brasileiro. Mas não só: o timbre enrouquecido da sua voz traz um certo romantismo francês como ingrediente extra e a óptima prestação dos músicos satisfaz qualquer amante de jazz. O seu último trabalho de originais, “Stória, stória…” é já o seu segundo álbum editado, e conta com temas em português, francês, mas sobretudo crioulo. Todas as raízes africanas misturadas com influências do seu percurso no Senegal, Alemanha e França, criam uma mistura de ritmos brasileiros, melodias cubanas (onde nasceu), harmonias trabalhadas e um groove quente e sensual, como quem tem o ambiente de Cabo Verde no sangue. Temas como a balada envolvente “Odjus Fitchádu”, ou o encontro entre a clave cubana, a bossa nova e o samba, “Turbulensa”, aliados à forte presença em palco da belíssima cantora, são razões de sobra para assistir às suas actuações em Portugal (dias 8, 9 e 10 de Junho, em Serpa, Figueira da Foz e Tróia, respectivamente).

Mayra Andrade

Stória, stória...

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Junho 2011RESISTANCE 20

78 rotações por minuto

Após um interregno de cerca de 4 anos desde o último trabalho (Echoes, Silence, Patience & Grace, 2007), os americanos Foo Fighters voltam ao activo com um novo álbum: Wasting Light. Dave Grohl, já antes do lançamento deste, prometeu que Wasting Light seria o álbum mais

pesado da banda até à data, e que não existiriam baladas neste. O que acabou a ser um comentário que despertou alguma curiosidade e expectativa, em saber até quando e como o potencial da banda em termos de barulho seria espremido. E Wasting Light não engana, é hard rock, puro e duro. Desde logo a primeira faixa, “Bridge Burning” é uma óptima maneira de começar o álbum, ao mesmo tempo que funciona como um prenúncio do caminho que o álbum leva. “White Limo”, eventualmente, é a música mais pesada da banda, com o riff roubado aos Metallica e uma voz imperceptível, mas cheia de garra. Sem dúvida, um dos melhores momentos do álbum. Mas sem desligar os amplificadores, ainda temos as melódicas “Dear Rosemary” e “These Days”, o cheiro a bom single de “Back and Forth”, a raiva de “A Matter Of Time” e os poros de psicadelismo presentes em “I Should Have Known”. Ainda de destacar o tema “Walk”, não só pelo trabalho lírico, como também pela maneira encorajadora em como acaba o álbum. Pena o álbum também possuir momentos menos bons, como “Rope”, um filler que apela ao mainstream e as desgarradas “Arlandria” e “Miss The Misery”. No final das contas, Wasting Light parece o método mais eficiente por parte dos Foo Fighters de partir os pratos, de libertar todas as energias acumuladas durante estes últimos 15 anos. Mas Wasting Light também continua a ser aquilo a que os Foo Fighters sempre nos habituaram: sólidos, energéticos e razoavelmente consistentes. E enquanto for assim, será difícil ficar insatisfeito. PS: Queria relembrar que a tour de promoção ao álbum já está em andamento, e os Foo Fighters serão cabeças-de-cartaz no segundo dia do festival de Verão Optimus Alive! ’11 (6 a 9 de Julho), a ser realizado em em Algés.

Foo FightersWasting Light

Um disco totalmente acústico e instrumental repleto de sonoridades paisagísticas e de histórias à volta da fogueira. Os dois autores e intérpretes encontram-se num registo diferente do que lhes é mais familiar, mas a diferença é talvez mais acentuada no que diz respeito a Pat Metheny que é mais conhecido pelo som da sua guitarra eléctrica no Jazz de Fusão. A faixa “Our Spanish Love Song” é um dos pontos altos do disco, trazendo uma calma arrepiante, que só o som do contrabaixo de Haden consegue transmitir, aliada ao fraseado característico de Metheny que apesar de tudo não consegue evitar algumas das suas malhas mais conhecidas (4:39 é o exemplo perfeito com a Pat Metheny Lick do “All The Things You Are”). A não perder também é a interpretação do tema de Ennio Morricone “Cinema Paradisio (Love Theme)”.

Pat Metheny & Charlie HadenBeyond the Missouri Skytexto_Nuno Ferreira

texto_João Borba

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Junho 2011 RESISTANCE21

A gamer (re)viewtexto_Bruno Galhardo

Em 2007, Valve lança um pack de jogos chamado “Orange box” que incluía alguns shooters e o muito esperado episódio dois do Half Life 2. Contudo, não foram os IPs (Intelectual Property) já conhecidos a mais-valia deste pack. Entre eles estava um pequeno jogo com um gameplay original e inovador: Portal. Este jogo, de primeira pessoa, não tinha tanta acção como os restantes do pack, no entanto é considerado pela maioria como o melhor entre eles. O seu objectivo era resolver uma série de testes, ou puzzles, em várias salas utilizando uma arma que disparava portais. O recente Portal 2 continua a explorar este conceito, mas melhora no seu predecessor em todos os aspectos.Começas onde o primeiro Portal acaba. Logo no início arranjas uma Portal Gun e aprendes os conceitos básicos, usados no primeiro jogo. Esta arma dispara dois portais que podem ser colocados em determinadas paredes, em tectos ou no chão. Quando atravessas um, sais imediatamente pelo outro, conservando o momento. Este conceito é bastante útil: para atingir distâncias ou alturas que de outra forma eram inacessíveis, basta

a colocação engenhosa de portais para te catapultares através da sala, atravessando um portal muito rapidamente ou caindo num portal de uma grande altura para emergires do outro com grande velocidade.Tens também cubos para colocar em interruptores ou redireccionar lasers, substâncias com propriedades diversas como a de aumentar a velocidade de superfícies ou que te fazem saltar mais alto, tudo isto possível de ser passado por portais. Estes

conceitos e elementos vão sendo introduzidos gradualmente ao longo do jogo impedindo que este se torne monótono e repetitivo. Com tantos elementos, alguns puzzles poderão, à primeira vista, parecer complexos... No entanto, muito dificilmente vais ficar frustrado por não conseguir resolvê-los. Achar a solução de cada sala é sempre muito gratificante!

Não vou spoilar nada da história, uma vez que grande parte do que a torna interessante é o seu efeito surpresa. Confia apenas que não te vais decepcionar. Já agora, aconselho vivamente a jogarem o primeiro antes deste; não é crucial mas poderão perder algumas das referências e contexto

das personagens (e apenas demora duas horas, portanto experimenta!). Também a evidenciar-se na história são as vozes das personagens, que são representadas com muita personalidade e que dão bastante gosto ouvir! A alma da história deve-se a Wheatley e GLaDOS! sendo a primeira uma inteligência artificial muito engraçada e com uma voz muito bem interpretada; e a segunda, a tua némesis do primeiro Portal, que regressa neste com sede de

vingança. Muitas das vezes vais dar por ti simplesmente a olhar para eles à espera da próxima fala em vez de progredires pela história. Quanto à duração, a campanha não é muito longa e com cerca de quatro horas ou mais, dependendo do tempo em cada puzzle, consegues acabar. Para além da campanha, o jogo possui um modo co-op, no qual podes resolver um set de puzzles completamente diferente com outro jogador. Aqui, como tens de jogar com quatro portais, os puzzles são mais complicados! Mas... são duas cabeças a pensar! Este é um jogo muito pouco comum pelo que vale bem a pena experimentar, mesmo para os que normalmente não são fãs do género. Funciona em praticamente todas as plataformas: Pc, Mac, PS3 e XBOX 360.

Esta arma dispara dois portais que podem ser colocados em determinadas paredes.... Quando atravessas um, sais imediatamente pelo outro, conservando o momento.

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Junho 2011RESISTANCE 22

Uma das mais apelativas razões é a animação dos corredores, sempre cheios de movimento, pessoas a conversar e, por vezes até, sardinhadas comunitárias!

Podes mandar a tua piadola geek porque mesmo os que não perceberem vão-se rir para manter o status.

Temos um átrio altamente que aceitamos de bom grado que lhe chamem “átrio das químicas” mas apenas por pena!

Andar nos nossos elevadores pode ser uma experiência única (literalmente): temos elevadores que caem, elevadores que param onde muito bem lhes apetecer e elevadores que fazem pausa para ir à rua apanhar ar.

Fazemos também um importante trabalho de consciencialização pois temos cinzeiros nos corredores para te lembrar que não podes fumar em espaços fechados.

Também tornamos os teus relatórios um verdadeiro desafio, pois por vezes necessitas de recorrer a um pack de disquetes inteiro para extrair meia dúzia de imagens dos nossos computadores!

Realizamos imensos convívios de departamento, duas vezes por ano, três vezes por semestre, várias vezes ao dia!

Quando disseres a alguém na rua que estudas no Departamento de Física vão supôr que és muito inteligente ou que és louco, mas os loucos não conseguem reconhecer-se uns aos outros, por isso é na boa!

Se nos teus tempos de escola foste mais vezes ao conselho directivo do que à cantina, então ficas a saber que provavelmente vais acabar o curso sem saber o nome da senhora da reprografia ou sequer quem é que está no comando.

Falando em reprografia: não temos disso! Também não temos papelaria nem bar, porque gostamos que o aluno conheça outros departamentos e faculdades.

Fun fact: consta que o departamento foi desenhado para necessitar do mínimo possível de luz artificial. Vem descobrir como é que isso (não) foi feito!

No teu primeiro semestre a tua segunda casa vai ser a sala dos computadores ou o BIF. No teu segundo semestre só vais ter uma casa: a tua!

Existe um prémio no Facebook, no “Grupo de pessoas que efectivamente já entraram na biblioteca do departamento”, para atribuir quando atingirem os 5 membros.

Vais fazer cadeiras sem nunca saber do que trata mesmo a matéria.

Vais encontrar pessoas que acham que o teu departamento ainda é departamento de química. Essas pessoas são as mesmas que acham que os H.U.C. pertencem à Universidade.

Vais encontrar otários que estão “de saída” do departamento há dois anos e ainda assim acham que podem escrever um texto fidedigno a falar sobre esse mesmo departamento!

Declaro que me considero responsável por tudo o que escrevo. Se alguém mal encarado perguntar, eu chamo- -me Filipe.

“Em nenhuma parte deste texto me apoiei na verdade. Até porque a verdade está coxa e isso seria uma falta de res-peito, ainda tenho boas pernas. Levei mais tempo para decidir sobre o que escrever do que para fazer Química Geral I, que tenciono nunca fazer.”

Porque razão deveriam os alunos finalistas de secundário escolher es-tudar em Coimbra, ou mais especificamente, no nosso departamento!? Ora bem, nem sei por onde começar! Apresento de seguida algumas razões por tópicos.

Berbequim

João Pedro Ferreira

www.eusotenhoumblogporqueopedrotambemtem.blogspot.com

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Junho 2011 RESISTANCE23

Estado excitado

Baker Street Entrámos então no metro! E saímos em Baker Street, a residência fictícia do detetive Sherlock Holmes, onde, ao virar da esquina encontrámos o famoso museu de cera Madame Tussauds. Este museu fundado em 1835 por Marie Tussaud, exibia na época uma vasta colecção de modelos de cera, os quais evidenciavam a vocação desta escultora para retratar as grandes personalidades da época como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau ou Ben-jamin Franklin e também algumas vítimas de destaque da Revolução Francesa. Das 400 estátuas que formavam a colecção original, existem ainda alguns modelos que sobreviveram a um incêndio em 1925 mas, desde então, a colecção tem sofrido sucessivas alterações e novas grandes personalidades da área do cinema, da música, do desporto e também as figuras marcantes que fazem parte da história de Londres estão retratadas de uma forma que roça muito de perto o real e que derrete aqueles que visitam o museu.

Piccadilly Circus/ChinatownContinuando pelo tubo do metro, chegámos a Piccadilly Circus! Ponto de encontro da Shaftesbury Avenue com a Coventry Street e a Glasshouse Street, esta ligação entre ruas salta à vista pela presença de um edifício preenchi-do com placas de néon que exibem vídeos e anúncios publicitários, os quais iluminam e envolvem a estátua do arqueiro alado, Eros ou The Angel of Christian Char-ity, estátua erigida em 1892-1893 como forma de hom-enagem aos trabalhos filantrópicos de Lord Shaftesbury, que era um famoso político da era Victoriana. A borbulhar de actividade, Piccadilly sacia a multidão com as mais variadas lojas e restaurantes e, inesperadamente, a festa ressalta aos nossos olhos: comemora-se o Ano Novo Chinês nas ruas! É na Trafalgar Square que acontece grande parte da celebração, com artistas vindo directa-mente da China, danças de dragões e leões e músicas típicas. A festa continua depois em Chinatown, onde são instaladas barraquinhas de comida por toda Gerrard St. e Lisle St, comemorando-se assim com poupa e circunstân-cia o Ano do Coelho.Para terminar o dia, uma última e inesperada passagem, no Molly Moggs um pub situado na entrada para Soho (zona do centro de Londres conhecida pelos seus restau-rantes de luxo e pubs nocturnos, marcada pela cultura e entretenimento), de estilo tradicional onde se pode beber boa cerveja acompanhada com o espectáculo de um drag queen (homem que se veste e incorpora o estilo de uma mulher, de uma forma exagerada, por vezes, actuando e cantando como forma de entretenimento ou crítica social). Associado à presença de homossexuais, este pub proporciona, acima de tudo, momentos de descontracção e divertimento que evidenciam eles próprios a ausência de preconceitos e a livre expressão de comportamentos, em manifesta indiferença perante o kitch social.

Viagem a Londres

Londres, cidade metropolitana, que fervilha de vida! Líder dos queques e dos chocolates quentes, esta ci-dade mergulhada num céu cinzento e nebuloso, convida a entrar nos cafés cheirosos onde a cidade partilha os acontecimentos do dia.A nossa viajem foi curta, vivemos apenas cinco dias de desbunda na cidade londrina e descritos abaixo.

texto_Adriana Leal

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Junho 2011RESISTANCE 24

Hide ParkPara acalmar toda esta agitação decidimos visitar o famoso Hide Park, criado outrora para satisfazer a paixão real pela caça, e transformado actualmente, num espaço de lazer, perfeito para descansar e libertar a mente do ambiente citadino. É fácil encontrar esquilos apressados que procuram nervosamente as migalhas dos transeuntes, disputando-as com as outras aves que margeiam o Serpentine e o Long Water, duas metades de um lago artificial, separadas por uma pequena ponte. Após um almoço tranquilo num dos bancos de jardim espalhados pelo parque, entrámos no The Lido Café Bar, onde são servidas, entre outras coisas, bebidas quentes e saborosas e bons vinhos que também podem ser apreciados no terraço exterior, acompanhando com uma paisagem deslumbrante, que aquieta o espírito envolvido por um estado de ausência de agitação e rebuliço citadino. Saímos no limite Este do parque, indo de encontro ao Buckingham Palace, a residência da família

real inglesa. O edifício é imponente e está protegido pela guarda real, cujos rostos reflectem a seriedade da tarefa em mãos. Em frente ao palácio encontra-se o Memorial

da Rainha Victória e, na mesma direcção, a alguns quilómetros de distância, avista-se a Torre do Relógio onde se encontra o sino chamado Big Ben, em honra, pensa-se, a Sir Benjamin Hall, aquele que o mandou construir. A Tower Brigde, uma das pontes que atravessa o Tamisa, marcada pelo estilo Victoriano Gótico, é constituída por duas torres ligadas por duas passarelas (uma de ida, outra de volta) que, actualmente se encontram fechadas, mas que apresentam uma exposição acerca da história da ponte.

Todos estes edifícios característicos de Londres são visíveis a partir de uma cápsula da grande roda gigante, o London Eye. Do ponto mais alto foi possível observar a cidade no seu todo, preenchida e atarefada.Chegámos por fim

ao último dia da nossa viajem e, para finalizar, passámos uns momentos agradáveis num dos vários Starbucks londrinos onde, como não podia deixar de ser, lanchámos os deliciosos queques acompanhados por um capuccino bem quente! Neste ambiente aconchegante, relembrámos as situações mais caricatas de toda a expedição e, por entre risos, revisitámos mentalmente todos os locais por onde passámos. Adorámos as paisagens, os jardins, as pessoas, os hábitos de final de tarde, o sotaque, as ruas iluminadas, coloridas, o movimento imparável e claro a cerveja! Londres é sem dúvida uma capital de passagem obrigatória que oferece uma série de diversões e degustações bem à inglesa! Voltaremos um dia com certeza!

learnsomethingeveryday :

www.learnsomethingeverday.co.uk

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Junho 2011 RESISTANCE25

Estado estacionário

Em PortalegreEm Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros Morei numa casa velha, Velha, grande, tosca e bela À qual quis como se fora Feita para eu morar nela...

José Régio

Já dizia o poeta, que deixou a cidade natal e acolheu a esta como se materna lhe fora, por mais de 30 anos. A verdade é que esta pequena cidade, tem tanto de pequena como de fascinante e é desse fascínio que vos quero falar. Se é verdade que dizem que Portalegre é rica em fauna e flora, desde logo, pelas suas duas serras, também o não é menos verdadeiro dizer que se trata de uma cidade com uma beleza arquitectónica estrondosa e, a este propósito, refiro-me às oito igrejas, aos oito palácios e aos sete conventos. Mas a magia da cidade não reside tão somente em museus, palácios e espaços verdes... reside na gente que a habita, na arte de fazer sentir em casa até os mais longínquos visitantes!Portalegre detém ainda uma fábrica que se ocupa do trabalho da cortiça, nomeadamente da produção de rolhas e de outros objectos de cortiça que, neste momento, fechou as suas

primeiras instalações que se situam na zona velha da cidade, para passar para a zona industrial.E, claro, não podia deixar de vos dizer que uma das serras (Serra de São Mamede) contém um parque natural com aproximadamente 55 hectares que é de grande importância a nível ornitológico em Portugal.Para finalizar, em Portalegre nasceu o Plátano, que é a árvore com a maior copa da península ibérica. E, muitos acontecimentos já ocorreram

debaixo deste belo “monumento” Portalegrense, dos quais o mais marcante foi quando cortaram o seu tronco, mas só até meio devido à revolta dos habitantes locais da época.De seguida, quero-vos falar de duas belas vilas do distrito de Portalegre: Castelo de Vide e Marvão. Esta primeira é conhecida pelas boleimas apetitosas acompanhadas por um carioca de limão, bem quentinho! A realidade é que esta pequena vila tem um espaço verde maravilhoso, cheia de jardins e fontes, onde as pessoas se refrescam num dia de calor e, historicamente, está recheada de monumentos, como uma antiga sinagoga, uma judiaria do séc. XIV e, claro, o castelo medieval. Uma

vez por ano é frequente a realização de uma feira medieval dentro desta cidade, em que se consegue visualizar esta época pelas armaduras e tendas expostas, como também pelas músicas que nos puxam pela imaginação. Mas, para quem não consegue imaginar esses tempos, não há melhor sítio para visitar como Marvão. Marvão é uma vila que, nos dias de hoje, ainda é envolvida por muralhas do Castelo a uma altitude de 860 metros. Pelas suas encostas escarpadas

e por ser um local tão rústico, verde, marcante por várias batalhas, como a conquista de D. Afonso Henriques sobre os Mouros, está na lista de candidatos para património mundial da UNESCO. Nesta vila, também é realizada uma vez por ano uma feira da castanha, para homenagear o castanheiro e, claro, a castanha pela importância a nível artesanal e gastronómico regional.Em suma, Portalegre e o seu distrito são pontos de passagem obrigatórios, nem que seja para visitarem o local onde é captada a água mineral e natural Vitalis (Parque Natural da Serra de São Mamede) ou onde se localiza a Delta Cafés que é uma marca de Campo Maior.

...Em suma, Portalegre e o seu distrito são pontos de passagem obrigatórios...

texto_Manuel Soeiro

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Junho 2011RESISTANCE 26

Erasmus

Meu nome é Edson Silva Ferreira, vim a Portugal estudar física pelo PLI (Programa de Licenciatura Internacional), que é um acordo entre Portugal e o Brasil, tendo como objectivo a melhoria do ensino e da qualidade na formação inicial de professores.Uma coisa que achei muito interessante aqui é as pessoas. Todas com quem estabeleci contacto se mostraram super simpática e bem prestativa. Não só os professores, mas os alunos também (vários deles se ofereceram para explicar o funcionamento da Universidade), e teve até uma comemoração para nos receber, no Departamento de Física. Estou adorando cada momento.

Tenho uma super novidade, estou prestes a ter uma experiência emocionante. Cheguei a Portugal muito empolgado e fui falar com a vice coordenadora da Física sobre as diversas coisas que gostaria de ver, conhecer, aproveitar, etc. Tempos depois ela me informou que poderia ajudar com a realização de uma visita ao CERN, ao GRANDE ACELERADOR DE PARTÍCULAS da Suíça, conhecido por ser o maior e mais potente acelerador de partículas do planeta. Mal posso conter minha animação. Vai ser o máximo! Também Participarei do Curso de verão, que visa desenvolver e apresentar projectos para os mais variados tipos de público, além de neste semestre me foi concedida a oportunidade de ser monitor do laboratório, me dando a chance de colocar em prática aquilo que venho aprendendo, apresentando e ensinando os alunos do ensino básico e secundário o quanto é divertido trabalhar com a física em um laboratório. Participei também do ESFIC (Encontro Social de Físicos na Cozinha), evento que teve como objectivo a descoberta de novos talentos voltados para a culinária. Preparei um prato típico brasileiro, a canjica, uma deliciosa sobremesa, que possui algumas

características semelhantes ao arroz doce. Foi muito divertido e consegui o segundo lugar. Já organizei minha biblioteca particular, com muitas obras de Física, Literatura (estou me aprofundando na literatura portuguesa), dentre outras áreas do saber. E me pergunto também como vou levar tudo isto?Para passar o tempo, ter um estilo de vida mais saudável, ganhar novas experiencias e conhecer o maior número de lugares fantásticos possíveis estou praticando algumas actividades, dentre a natação. Nado três vezes por semana (segunda, quarta e quinta feira), entro às 7:00h da manhã na piscina e nado até às 8:00h, em média cerca de 2km por dia. Às 9:00h já estou bem-disposto e muito animado

para as aulas. Agora que comprei uma bicicleta deixei de andar de auto-carro, e para todo o lado que vou sou eu e minha bike. Sem falar que geralmente reservo um dia no fim-de-semana, para que eu e mais um colega possamos conhecer alguns

lugares interessantes de bicicleta, é claro! Já conhecemos: Conímbriga (e suas ruínas romanas em óptima condições), Montemor-o-Velho (e seu lindo castelo medieval) e Figueira da Foz (e suas óptima ondas). Estamos planejando conhecer o maior número de lugares, entre Portugal e países vizinhos, já estamos montando até uma equipa. Uma outra actividade que esta a me proporcionar uma aprendizagem corporal muito significativa é o ballet, isto mesmo, comecei a fazer ballet e tem sido muito divertido. Pois o ballet é uma mistura de força de vontade, disciplina, leveza e elegância. Junte tudo isto e você tem uma actividade fantástica. Como pode ver as coisas por aqui estão ficando cada vez mais interessante, e eu como sempre vou buscar dar o meu máximo para poder aproveitar todas estas oportunidades, pois elas são únicas!

Uma coisa que achei muito interessante aqui é as pessoas. Todas com quem estabeleci contacto se mostraram super simpática e bem prestativa.

Edson Ferreira

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Junho 2011 RESISTANCE27

Antes de começar o artigo propriamente dito, quero agradecer o convite à equipa coordenadora da Resistance: estão de parabéns, nunca são de mais os meios com os quais podemos partilhar e debater ideias. O primeiro número desta publicação suscitou no nosso Departamento um espírito crítico que ainda não tinha visto desde a minha vinda para Coimbra.A minha intenção era opinar sobre alguns acontecimentos da Queima das Fitas 2011. Muito se poderia discutir, a falta de interesse pelo Sarau de Gala, o desperdício no Cortejo, a pressa dos ‘cartolados’ no Chá Dançante,... No entanto, assisti na noite do dia 24 de Maio a algo inesperado, diria inacreditável.Como todos nós sabemos, o país atravessa uma grave crise politica e económica e tivemos de recorrer a um resgate internacional, participado pelo Fundo Monetário Internacional e pela União Europeia. Nos tempos que se aproximam, iremos voltar a escolher os nossos representantes na Assembleia da República. Esta escolha, porque vivemos em Democracia, é antecedida por um período de campanha, período este que é regulamentado quer no tempo, quer no espaço.A CDU, uma da forças partidárias que concorre a estas eleições deu forma a um hábito comum na nossa Cidade. A Juventude CDU pintou um mural nas escadas Monumentais reclamando mais bolsas, a abolição

das propinas e de Bolonha, que são as mesmas reivindicações dos estudantes que se reúnem em Assembleia Magna. Surpresa das surpresas, nasceu um movimento de ‘defesa’ das Monumentais. É uma pena que um movimento deste género não tivesse nascido quando o Estado Novo destruiu, no mesmo sítio, outras escadas – as ‘escadas do Liceu’. Porém, na década de 1950 não havia Facebook, através do qual este movimento apelidou de acto de vandalismo e destruição de património ‘protegido’ esta acção de cidadania.

Todavia, admitindo-se que algumas pessoas pudessem não gostar da obra de arte que ali está, entenda-se a pintura mural, ainda assim deveriam ter seguido os caminhos que a Lei especifica: podiam ter apresentado uma queixa à Comissão Nacional de Eleições ou mesmo às entidades judiciais. Os responsáveis da CDU só tinham de se justificar e responsabilizar-se pelo acto. Por esta razão, acho inadmissível o evento que foi criado no Facebook por alguém que se intitulava ‘estudante indignado’. Com a agravante do objectivo ser “limpar as escadas monumentais”. Isto sim é crime, pois

não é permitido vandalizar material de campanha de um partido. Contudo, a história não fica por aqui, cerca de 100 estudantes tentaram intrometer-se no Comício da CDU no dia 24 de Maio. Claro que os promotores não permitiram a passagem dos estudantes revoltados, levando a que quase todos os protestantes, de capa e batina, passassem o comício inteiro a gritar palavras de ordem:”Limpa, Limpa, Camarada, Limpa”, “Vandalismo”, “Coimbra é nossa”, “Limpem as escadas”. Quando eles começaram a vociferar cheguei a ter vergonha

da nossa Academia, no entanto não passavam de meia dúzia de colegas a tentar calar um partido.Eu era daquelas pessoas que não acreditava na força das redes sociais, agora tenho que me render: por um lado a Manifestação da Geração à Rasca, por outro este acontecimento demonstram a capacidades destas redes. Temos de ter cuidado pois o Estado de Direito pode estar em risco. Não vale a pena alarmarmo-nos, o importante é não nos mantermos alheados do que se passa no Mundo.

P.S. Fique claro, não sou militante nem apoiante da CDU.

“Limpem as escadas”. Quando eles começaram a vociferar cheguei a ter vergonha da nossa Academia, no entanto não passavam de meia dúzia de colegas a tentar calar um partido.

Crónica

Tintas e cimentotexto_João Almeida

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Junho 2011RESISTANCE 28

Numa questão de quatro dias, os estudantes do Departamento de Física tiveram hipótese de participar em duas eleições de extrema importância.

No dia 2 de Junho de 2011 realizaram-se as eleições do NEDF, se é verdade que foram as eleições com maior afluência desde que me encontro neste departamento, também é verdade que a abstenção se encontra acima dos 50%, não nos podemos contentar com este número tão elevado. Temos de promover a união do Departamento nestas alturas..Comentando as eleições gostava de referir que contrariamente ao que um dos candidatos disse no debate, estas eleições não mostraram qualquer índicio de rivalidade entre cursos, muito pelo contrário, mostraram uma união entre diferentes cursos e anos que é extremamente saudável. Assim, espero que as próximas eleições para o NEDF tenham mais de uma lista, porque só assim poderemos ter mais e melhores ideias.Também me reservo no direito de acreditar que nenhuma das listas possuía uma equipa competente e de trabalho porque, tendo como exemplo os dois últimos núcleos, os estudantes que se candidatam vêm o NEDF como currículo ou como rampa de lançamento. Pelo menos é a unica explicação que vejo para o total desinterese e trabalho medíocre realizado pelos últimos dois núcleos.Espero vir a engolir estas palavras, no entanto com uma lista com a espinha dorsal de núcleos passados parece-me que será mais do mesmo, ou seja, NADA.

No dia 5 de Junho de 2011 foram as eleições legislativas mais importantes dos últimos anos porque depois do défice, do Troika e de uma possível ajuda externa, era necessário um governo maioritário.E nós, muy nobres estudantes da Universidade de

Coimbra, reaccionários e contestatários, fomos às urnas com três hípoteses:Conscientes e preocupados com o futuro de Portugal, com um voto num dos três partidos que poderiam formar governos maioritários;Com pensamentos retrogados e utópicos e votar em Partidos que se recusaram a encontar com a Troika, estudantes que certamente gostariam de ter participado nas gulags de Estaline ou na reforma industrial chinesa de Mao Tsé-Tung;Não ir às urnas de todo;Aos estudantes (como à população em geral) que optaram por escolher esta última opção digo que tenho vergonha de vos ter como colegas. É verdade que 5 de Junho era

mesmo à porta da época de exames, no entanto não existe cadeira ou frequência mais importante que o futuro de Portugal. O vosso egoísmo só demostra as verdadeiras qualidades dos estudantes.Escrevo estas palavras na mesa de eleições, enquanto passam pessoas que realmente dão importância ao facto de possuírem o direito de voto. Algumas delas lembram-se quando não o podiam exercer, e a emoção delas ao fazê-lo é a prova que ainda hà pessoas por quem vale a pena lutar.

P.S.: Gostaria de agradecer aos estudantes por terem desrespeitado o trabalho que a Resistance fez aquando a sondagem do NEDF. Tenho tendência em iludir-me e pensar que as pessoas não são egoístas ao ponto de desrespeitar o trabalho dos outros..Obrigado por me relembrarem.

Crónica

Uma semana de decisõestexto_Frederico Borges

Assim, espero que as próximas eleições para o NEDF tenham mais de uma lista, porque só assim

poderemos ter mais e melhores ideias.

“People just ain’t no good

I think that’s well understood”Nick Cave

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Visto que estamos no ano do voluntariado, é imprescindível falar da sua importância nos dias que correm. Fazer voluntariado não é um acto banal, mas sim muito enriquecedor para quem o faz, e o reconhecimento de quem recebe a ajuda é enorme. Posso mesmo dizer que o voluntariado é uma forma de vida. Depois de se participar num projecto de voluntariado não se quer outra coisa; ficamos pessoas diferentes. É claro que não mudamos o Mundo, mas mudamos o mundo de alguém, tentamos “deixar o Mundo um pouco melhor do que encontrámos”.Existem tantas formas de fazer voluntariado e gostava que todos experimentassem, pois só assim vão perceber todas as emoções que vou tentar transmitir ao longo do texto. No Verão que passou, em Agosto, fui a Cabo-Verde com os escuteiros, integrada no projecto Morabeza (regionalismo crioulo, segundo eles “Morabeza” sente-se), que tinha como missão angariar o máximo de livros e material para equipar uma biblioteca e dar formações a vários níveis (higiene, primeiros socorros). Apesar dos receios próprios antecedentes a uma actividade desta grandeza, as nossas expectativas eram altas e foram claramente arrebatadas pelas comunidades onde passámos. Fomos muito bem acolhidos! Todos os dias as pessoas mostravam a sua gratidão por as estarmos

a ajudar, por nos termos preocupado com elas e por fomentarmos na geração jovem actual a procura de seguirem o que nós sonhámos para aquela comunidadeConsidero que, ao fazer o balanço entre o que deixámos na comunidade e o que trouxemos, nós ficámos a ganhar. Foram sorrisos e abraços verdadeiros, o facto de as pessoas fazerem questão que tocássemos nas crianças (pois, para elas, ficavam como que protegidas); aqueles mimos que todos os dias deixavam à nossa porta, de entre os quais comida, que preparavam com os alimentos que seriam para eles, sabendo nós que lhes faziam falta, pois ao nos darem, tiravam à família (mas não podíamos fazer nada, pois levariam a mal se recusássemos); as cartas escritas e desenhos das crianças, as músicas que cantavam e tocavam para nós, as tentativas para que aprendêssemos a dançar como eles; uma criança a cantar a música “A gaivota” para nós, o que nos deixava a chorar… A despedida foi horrível; nós não queríamos vir e eles não queriam que nós os deixássemos. Ouvimos de tudo, desde “todas as pessoas que eu gosto abandonam-me” a um senhor mais velho a chorar e a dizer “vocês vão deixar muitas saudades, fazem-nos muita falta”. Ficaram muitas músicas que aprendemos e que fazemos questão de cantar vezes sem conta, porque as saudades daquela gente são muitas e cada vez mais. Vimos pessoas novas, foi uma grande lição de vida…

Voluntariadotexto_Diana Capela

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Enquanto estivemos lá, não pensámos nos bens materiais: telemóveis caros, roupa de marca, carros… Nada disso era importante. Se queríamos falar com as pessoas, íamos a casa delas e qualquer coisa que servisse chegava para vestirmos. Sentimo-nos tão fúteis quando pensávamos que chegamos a dar tanta importância a coisas tão supérfluas, que não trazem felicidade.Presentemente, pertenço a um grupo de voluntariado na instituição APPACDM. Acompanhamos pessoas com deficiências mentais ligeiras, cujas idades variam entre 25 e 50 anos. A experiência não podia estar a ser melhor! Normalmente vamos ter com eles uma vez por semana e fazemos actividades diversificadas. Como é natural, divertem-se imenso. Levamo-los ao parque infantil, fazem desenhos, cantam, dançam, vamos passear com eles para não estarem sempre dentro da residência, entre muitas outras coisas que vamos preparando. Inicialmente ficavam apreensivos quando íamos para a residência deles… Deviam pensar “quem são estes tontos que nos estão a invadir a nossa casa?”. Para nós também não foi fácil… Cada um tem a sua personalidade e não sabíamos bem como devíamos agir com eles, mas, a pouco e pouco, foram colaborando com as nossas iniciativas e nós fomos conhecendo-os melhor. Agora, quando chegamos à instituição, eles querem logo abraçar-nos e é tão bom. Se falhamos uma vez eles pedem-nos explicações e, a cada despedida, perguntam quando é que voltamos

e ficam tristes por ser só passado uma semana. Eles são maravilhosos e é óptimo viver estas coisas com pessoas que sabemos que são genuínas. É de referenciar que as pessoas responsáveis pelo processo e acompanhamento deles já nos felicitaram pelo notório progresso de alguns. Uma das senhoras nunca falava, não reagia a nada, estava sempre no mundo dela; parecia impossível conseguirmos que ela fizesse actividades com as outras pessoas. Actualmente, participa em tudo e já tem iniciativa própria. Outro rapaz, que se apoderava demasiado do espaço comum e não deixava os outros participarem, já tem mais calma e está mais receptivo a ouvir o que lhe dizemos. A experiência está a acabar, mas espero não ficar por aqui, são experiências que nos enriquecem como pessoas e nos tornam um pouco diferentes. Passamos a olhar as coisas de outra forma, pois damos mais valor às pequenas coisas, às quais, até então, não dávamos importância.Como devem compreender, quando falo nestas experiências, as palavras nunca acabam e ficou tanto por dizer de tantas outras coisas que também mudam o dia das outras pessoas e o nosso. Aquelas coisas que ao fim do dia nos permitem dizer: “valeu a pena”. Ao longo de todos estes anos nos escuteiros fui aprendendo que “o melhor meio de alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros” e acredito que é essa a forma de triunfar na vida.

learnsomethingeveryday :

www.learnsomethingeverday.co.uk

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A passagem de um grande cometa é sempre digna de notícias em todos os meios de comunicação. Mas o que é um cometa? A pergunta parece básica mas não é. Muito se falou quando, em 2006, a União Astronómica Internacional decidiu despromover Plutão de planeta para planeta-anão. Nesse mesmo ano, Henry Hsieh e David Jewitt, da Universidade do Hawaii, EUA, descobrem um novo tipo de objetos do sistema solar, os “cometas da cintura principal”, lançando alguma confusão sobre o que é um cometa e o que é um asteróide. Segundo Jewitt, do ponto de vista da astronomia observacional, um cometa será qualquer corpo que exiba durante pelo menos uma parte da sua órbita uma atmosfera gravitacionalmente desacoplada, chamada coma (cabeleira) e/ou uma cauda. Ou seja, em rigor, observacionalmente, é o ter ou não ter coma e cauda que faz de um objeto um cometa e não a sua composição química. O facto de os cometas serem “bolas de gelos e poeiras” é uma dedução e não uma observação. Os asteróides, por outro lado, são os objetos que, observacionalmente, exibem sempre as propriedades de um corpo desprovido de atmosfera. A maior parte deles estão na Cintura Principal de Asteroides, entre as 2.1 e 3.3 Unidades Astronómicas (UA) do Sol — embora muitos existam fora desta região.

Até então, asteróides e cometas pareciam ter também órbitas típicas distintas tornando-se simples fazer a distinção sem procurar definições muito rigorosas. A temperatura, em Kelvin, a uma dada distância R do Sol, em UA, é aproximadamente dada por 278/R½. No vácuo, o gelo de água sublima a cerca de 160 K. Ou seja, no Espaço, um bloco de gelo a menos de cerca de 3 UA do Sol

tornar-se-á um cometa. Por essa razão, não se esperava que um cometa conseguisse sobreviver dentro da cintura de asteroides durante o tempo de vida do sistema solar (cerca de 4.6 G anos). Porém, eles existem e tudo indica que são “nativos” e não “contaminações” recentes vindas do sistema solar exterior. Para já, conhecem-se 5, mas

estima-se que existam mais de 100. A sua descoberta abriu também o debate, discreto, entre o que é um cometa e um asteróide. Há até quem defenda que estes novos objetos deveriam chamar-se asteroides activados e não cometas da cintura principal. Em verdade, o nome que lhes chamamos é o menos importante. O que é verdadeiramente importante são as sua propriedades físicas. A existência de cometas na cintura de asteróides abre novos caminhos, quer para nosso entendimento da formação e evolução do sistema solar, quer para o estudo da origem da água na Terra.

Cometasentre Asteróides

Nuno Vasco Munhoz Peixinho Miguel

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Breves

O PSD venceu eleições legislativas dia 5 de Junho. O partido encabeçado por Pedro Passos Coelho contou com 38,63% dos votos. O PS com 28,05% obteve o pior resultado eleitoral desde 1987, mas manteve uma distância de 10% em relação ao PSD. O CDS-PP continua como a terceira força política, com 11,74% dos votos. O PCP conta com 7,94%, enquanto o BE fica com 5,19%. A abstenção foi de 41,09%.

O espanhol Rafael Nadal conquistou o seu sexto título em Roland Garros, igualando o recorde do sueco Björn Borg, ao vencer o suíço Roger Federer na final do segundo “Grand Slam” da temporada.Nadal, que segurou a liderança do “ranking” mundial, bateu o helvético, terceiro jogador Mundial, em quatro “sets”, pelos parciais de 7-5, 7-6 (7-3), 5-7 e 6-1.

Pedro Emanuel é o treinador eleito para orientar a equipa da Académica para a próxima temporada. Pedro Emanuel vai estrear-se como treinador principal no clube em que Villas-Boas iniciou a sua carreira, em 2009/10.Nesta última temporada, como adjunto de Villas-Boas, conquistou campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa.

O produto interno bruto (PIB) de Moçambique (PIB) cresceu 8,4 por cento no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o período homólogo de 2010

O Tribunal Penal Internacional revelou que Muammar Kadhafi ordenou violações em massa e distribuiu estimulantes sexuais aos seus soldados.

Astrónomos norte-americanos descobriram um novo tipo de supernova (explosão de estrelas), dez vezes mais brilhante do que os outros dois tipos

Para as eleições do NEDF (Núcleo de estudantes do departamento de física), a lista A, liderada por Mário Ribeiro venceu com 137 votosa lista U, liderada por Tiago Neves, com 106 votos.

Para mais informações vão ao Facebook da Resistance ver as entrevistas e a trancrição do debate.

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TEMPO DE PREPARAÇÃO15 minutosCUSTO APROXIMADO€3,00CALORIASaproximadamente 526 Kcal (por porção)

Ingredientes(para cerca de 4 porções):

-500g de carne (lombo de porco ou peito de frango)“o escalope à modo de Viena é feito por carne de vitela”-4 ovos-farinha de trigo-pão ralado (de supermercado ou feito em casa com pão seco)-sal e pimenta-óleo para fritar

-Corta a carne em fatias de 0,5cm e amolece batendo com um colher de madeira ou uma garrafa. “Este processo serve para destruir as fibras da carne e resulta em carne tenra.”-Abre os ovos e tempere com sal e pimenta, depois mexe. Mete respectivamente a farinha, os ovos e o pao ralado em pratos separados (nesta ordem).-Passa as fatias de carne pela farinha, os ovos e no final pelo pão ralado até ficar com uma panada.-Aquece bem óleo numa frigideira e frita as fatia 4min de cada lado.á está pronto um saboroso escalope.-Podes acompanhar o escalope com batatas fritas ou, mais original com salada de batata.-Esta receita serve para festas porque será mais económico fazer mais escalopes e uma salada de batata faz-se facilmente para uma malta grande.Et voilá!

Mãe, afinal sei cozinhar!

“Schnitzel”

Nino Hatter

Guten Appetit!!

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Stuff needed• 2 players per team• 2 balls per game• 2 shots per side (except first toss)• 10 cups per side: Initial formation is a tight triangle pointing forward • Reformation (A.K.A Re-rack): Re-form at 6, 3, and 1 cups remaining. Cups are to be reformed into tighttriangles pointing forward. Last cup must be pulled back to within 1” from table edge. Mid-turn reforma-tion will apply• Rollbacks: Only 1 ball is returned when a team sinks both their shots in one turn, except during redemption(See: End-game rules)• First toss in the tournament will be decided randomly during scheduling.• Balls are divided to start. One ball is thrown to start the game, and two shots per side are thrown thereafter.• Grabbing: Ball may be grabbed ONLY after it has hit a cup.• Bounce shots are allowed but do not count for 2 cups.• Cups knocked over by balls are re-set & shot is replayed unless ball had clearly entered the cup before falling, in which case the shot is counted as a hit cup.

• Leaning is allowed; however, no object may be used to support a player’s weight during a lean (thisincludes the table and the shooter’s partner). Players may not move cups out of the way before shooting to aid in their lean. Any cup knocked over while leaning is counted as a hit cup.• Distractions are allowed, however the players may not cross the plane of play with ANY part of their bodies while the other team is shooting.• No player may intentionally disturb the air surrounding the cups in play, such as by fanning with hands, hat, or any other objects.• No player may take offense to anything said or done during a game, even if it involves their mother.Threats will result in ejection with no refund. Comments that are either racist in nature or unreasonablysexist will result in immediate expul-sion from play• Overtime games that run long may be moved to a side table.• The juice remaining on a side at the end of a game is the property of that team. No player is under any obliga-tion to drink the remaining juice. Players do not have to play with juice, and can choose to play with water at their discretion.

• Players who are visibly intoxicated must have their cups filled with water.• Being late or absent to a match will result in match forfeiture. ‘Taking a nap’ does not constitute a validexcuse, and will result in getting slapped.• Fights result in permanent WSOBP blacklist.• All rules and penalties are to be enforced by officials. Disputes must be brought to officials. All calls made by officials are final.

• There is always an opportunity for redemption (i.e. no lockouts). There are two scenarios possible:- More than one cup per side re-maining when the last cup is sunk. In this case, “Unlimited1-Ball Redemption” is given. Either player may take the first shot, and the ball is rolled back until a player misses. At this time, players must alternate throwers in the event of multiple hits; one player may not take all the redemption shots - One cup vs. One cup remaining when the last cup is sunk. In this case, the rule is, “Take as many shots as you have balls remaining on your side”

Juice pong official rules

Rules

End-game-rules

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