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Apostila Plantas daninhas
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ISSN 1518-6512Agosto, 2006 58
Resistncia de plantas daninhas a herbicidas: conceitos, origem eevoluo
Leandro Vargas1, Erivelton Scherer Roman1
Introduo
O controle de plantas daninhas com herbicidas prtica comum na agricultura.
O uso indiscriminado de herbicidas propiciou o desenvolvimento de muitos casos de
resistncia a tais compostos por diversas espcies daninhas (Burnside, 1992).
A planta sensvel a um herbicida quando o crescimento e desenvolvimento
so alterados pela ao do produto; assim, uma planta sensvel pode morrer quando
submetida a determinada dose do herbicida. J a tolerncia a capacidade inata de
algumas espcies em sobreviver e se reproduzir aps o tratamento herbicida, mesmo
sofrendo injrias. Estas caractersticas relacionam-se com a variabilidade gentica
natural da espcie. Em dada populao de plantas existem aquelas que, naturalmente, 1 Eng.-Agro., Pesquisador da Embrapa Trigo na rea de manejo e controle de plantas daninhas. Caixa Postal 451.Passo Fundo, RS 99001-970 [email protected]
toleram mais ou menos um determinado herbicida. Por exemplo, a Ipomoea spp nunca
foi controlada pelo herbicida glyphosate. Dessa forma refere-se a esta planta como
tolerante ao glyphosate. Por outro lado, a resistncia a capacidade adquirida de
dada planta em sobreviver a determinada dose de um herbicida que, em condies
normais, controla os demais integrantes da populao. A resistncia pode ocorrer
naturalmente (seleo) ou ser induzida com o uso de biotecnologia (Weed Science,
1999a).
A primeira constatao de resistncia de plantas daninhas aos herbicidas
ocorreu em 1957, quando foram identificados bitipos de Commelina difusa nos
Estados Unidos e, depois, Daucus carota no Canad, ambos resistentes a herbicidas
pertencentes ao grupo das auxinas (Weed Science, 1998). Em 1970, no Estado de
Washington (EUA), foram descobertos bitipos de Senecio vulgaris resistentes a
simazine (Ryan, 1970). Estudos posteriores demonstraram que esta espcie era
resistente a todas triazinas, devido a uma mutao nos seus cloroplastos (Radosevich
et al., 1979). Posteriormente, vrias outras espcies com resistncia a triazinas foram
descritas em gneros como Amaranthus e Chenopodium, em diferentes pases
(Radosevich, 1977). Estima-se que, no mundo, haja mais de 5 milhes de hectares de
culturas com invasoras apresentando alguma resistncia a triazinas (Kissmann, 1996).
Em menos de 30 anos, aps o primeiro caso de resistncia, havia mais de 100
espcies reconhecidamente resistentes em cerca de 40 pases (Heap, 1997). Muitos
outros casos tm sido relatados, e hoje h aproximadamente 300 bitipos de plantas
daninhas que apresentam resistncia a um ou mais mecanismos herbicidas. Acredita-
se que um maior nmero de bitipos resistentes surge para alguns mecanismos
herbicidas, como os grupos das triazinas e inibidores da acetolactato sintase (ALS),
devido s altas especificidade e eficincia destes e, tambm, ao fato de serem
empregados em grandes reas.
Alguns mecanismos de ao, como os inibidores de PROTOX, apresentam
menor nmero de plantas daninhas resistentes. As razes para o no surgimento de
plantas daninhas resistentes para alguns grupos de herbicidas, apesar de alguns
estarem sendo empregados a longo tempo, no so claras, porm acredita-se que
estejam relacionadas com o modo e o mecanismo de ao.
A resistncia de plantas daninhas a herbicidas assume grande importncia,
principalmente em razo do limitado nmero de herbicidas alternativos para serem
usados no controle dos bitipos resistentes. O nmero de ingredientes ativos
disponveis para controle de algumas espcies daninhas restrito, e o
desenvolvimento de novas molculas cada vez mais difcil e oneroso. A ocorrncia
de resistncia mltipla agrava ainda mais o problema, j que, neste caso, so dois ou
mais os mecanismos que precisam ser substitudos. Assim, o controle dos bitipos
resistentes com o uso de herbicidas comprometido, o que restringe esta prtica a
outros mtodos menos eficientes.
Mecanismos que conferem resistncia
Alterao do local de ao
As informaes genticas de um organismo esto contidas em seu material
gentico (DNA). As alteraes que ocorrem no DNA, mas no provocam a morte do
indivduo, so, em sua grande maioria, repassadas aos seus descendentes (Suzuki et
al., 1992). A ocorrncia de erros na replicao ou transcrio da fita do DNA e na
traduo do mRNA, bem como a ocorrncia de mutaes que provoquem insero,
deleo ou substituio de uma base nitrogenada, pode alterar um ou mais
aminocidos da protena a ser formada, resultando em uma protena mutante. A
mutao um processo biolgico que vem ocorrendo desde que h vida no planeta;
no entanto, a maioria delas deletria e a evoluo s possvel porque algumas
podem ser benficas em determinadas situaes (Suzuki et al., 1992).
A alterao de uma base nitrogenada, que resulta na mutao de ponto pode
originar enzima com caractersticas funcionais distintas ou no da original. Se o
aminocido alterado for o ponto ou um dos pontos de acoplamento de uma molcula
herbicida, este produto pode perder a atividade inibitria sobre esta nova enzima
(Figura 1). Pequena alterao no polipeptdio pode resultar em grande efeito sobre sua
afinidade com a molcula herbicida (Betts et al., 1992). Desse modo, um herbicida
que anteriormente era eficiente em inibir determinada enzima, deixa de ter efeito
sobre ela, e a planta torna-se resistente quele herbicida e a outros que se ligam da
mesma forma quela enzima. Logicamente que, se o herbicida possuir mais de um
mecanismo de ao, a planta pode morrer pela ao do(s) outro(s) mecanismo(s), a
no ser que ela apresente outros mecanismos de resistncia, ou seja, resistncia
mltipla.
Figura 1. Representao da alterao do local de ao do herbicida atrazine noscloroplastos (Gunsolus, 1998).
Fontes externas de radiao, como sol, podem provocar mutaes no DNA. A
luz ultravioleta e o oxignio so mutagnicos (Brewbaker, 1969). Acredita-se que os
herbicidas no sejam capazes de provocar mutaes, j que estes produtos, antes de
serem lanados no mercado, so avaliados quanto sua capacidade mutagnica. No
h evidncias e muito improvvel, que mutaes possam ocorrer por ao de
herbicidas (Kissmann, 1996).
Metabolizao do Herbicida
A planta resistente possui a capacidade de decompor a molcula herbicida mais
rapidamente do que plantas sensveis, tornando-a inativa. Esse o mecanismo de
tolerncia a herbicidas apresentado pela maioria das espcies.
As formas de metabolismo mais comuns incluem hidrlise ou oxidao, de onde
surgem grupamentos adequados para conjugao com glutationa (GSH) e
aminocidos. Os conjugados geralmente so inativos, mais hidroflicos, menos mveis
na planta e mais suscetveis a processos secundrios de conjugao, destoxificao
ou compartimentalizao do que a molcula herbicida original (Kreuz et al., 1996).
Sensvel Resistente
Compartimentalizao
Neste caso a molcula do herbicida conjugada com metablitos da planta,
tornando-se inativa, ou removida das partes metabolicamente ativas da clula e
armazenada em locais inativos, como o vacolo.
Devido a conjugao e compartimentalizao, a absoro e a translocao so
alteradas, e, assim, a quantidade do herbicida que atinge o local de ao reduzida,
no chegando a ser letal. Exemplos desses mecanismos incluem bitipos resistentes
aos herbicidas bipiridlios e auxinas.
Esses mecanismos podem, isoladamente ou associados, proporcionar tolerncia
ou resistncia a herbicidas, mesmo que pertencentes a diferentes grupos qumicos.
Desse modo, uma planta daninha pode ser sensvel, tolerante ou resistente a dado
herbicida.
Tipos de resistncia
A resistncia pode ser cruzada ou mltipla. A resistncia cruzada ocorre quando
um bitipo resistente a dois ou mais herbicidas, devido a apenas um mecanismo e a
resistncia mltipla ocorre nas plantas que possuem dois ou mais mecanismos
distintos; neste caso, so resistentes a herbicidas de diversos grupos qumicos com
diferentes mecanismos.
Resistncia cruzada
A resistncia cruzada pode ser conferida a um bitipo por qualquer dos
mecanismos que conferem resistncia.
A resistncia cruzada conferida pelo local de ao ocorre quando uma mudana
bioqumica, no ponto de ao de um herbicida, tambm confere resistncia a outras
molculas de diferentes grupos qumicos, que agem no mesmo local na planta (Powles
e Preston, 1998).
A resistncia cruzada no confere, necessariamente, resistncia a herbicidas de
todos os grupos qumicos que possuem o mesmo local de ao. Tambm podem
existir variaes no nvel de resistncia cruzada dos bitipos a herbicidas de grupos
diferentes.
Bitipos de Lolium rigidum resistentes aos herbicidas inibidores da acetyl-COA
carboxylase (ACCase), selecionados com uso de herbicidas dos grupos
ariloxifenoxipropionato ou ciclohexanodiona, apresentam maior nvel de resistncia
aos herbicidas do primeiro grupo, do que aos do segundo. O diferente nvel de
resistncia pode ser resultado das diferentes mutaes ocorridas no gene que codifica
a enzima ACCase e do tipo de alelo do gene (Powles e Preston, 1998).
A resistncia cruzada, devido a outros mecanismos, exemplificada por
bitipos de Lolium rigidum, encontrados na Austrlia, resistentes aos herbicidas
inibidores de ACCase, que no apresentam alteraes na enzima e sim pequenos
aumentos no metabolismo do herbicida diclofop.
Resistncia mltipla
A resistncia mltipla caracteriza um problema complexo e de difcil soluo.
Nos casos mais simples, dois ou mais mecanismos conferem resistncia a apenas um
herbicida ou a um grupo de herbicidas. Os casos mais complexos so aqueles em que
dois ou mais mecanismos conferem resistncia a diversos herbicidas de diferentes
grupos qumicos; um exemplo so os bitipos de Alopecurus myosuroides
encontrados na Austrlia, que resistem a 15 herbicidas diferentes, dentre eles o
diclofop, pendimethalin e simazine. Alm disso, as dificuldades de controle dos
bitipos resistentes aumentam ainda mais quando os mecanismos que conferem
resistncia esto relacionados ao local de ao e a outros mecanismos, como
metabolismo. Para controlar estas plantas daninhas, necessrio empregar misturas
de herbicidas que no tenham sua atividade afetada pelos mecanismos de resistncia
em questo.
H poucos casos registrados de espcies com resistncia mltipla. O caso mais
complicado de resistncia mltipla, encontrado na Austrlia, o de bitipos de Lolium
rigidum, que metabolizam herbicidas inibidores da ACCase, ALS e FSII e possuem
ACCase e ALS mutadas (Powles e Preston, 1998).
Caractersticas da resistncia de acordo com o mecanismo de ao herbicida
Inibidores da enzima ALS/AHAS
A introduo no mercado dos herbicidas inibidores da enzima acetolactato
sintase (ALS) ocorreu em 1982, com o lanamento da molcula chlorsulfuron para
uso em cereais (Saari et al., 1994). Atualmente existem no mercado os grupos de
herbicidas imidazolinonas, sulfonilurias e sulfoanilidas (Tabela 1), que agem inibindo
a ALS e so empregados para controle seletivo de plantas daninhas em culturas como
soja, trigo, cevada e arroz.
Tabela 1. Herbicidas inibidores de ALS comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Imazapyr ArsenalChopperContainImazaquin ScepterScepter 70DGTopganImazethapyr PivotPivot 70DGVezirImazamox SweeperRaptor 70DG
Imidazolinonas
Imazapic PlateauSulfoanilida Flumetsulan Scorpion
Sulfonilurias
Chlorimuron
FlazasulfuronHalosulfuronMetsulfuronNicosulfuronPyrazosulfuron
ClassicConquestKatanaSempraAllySansonSirius
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
O mecanismo de ao destes grupos de herbicidas a inibio no-competitiva
da enzima acetolactato sintase ou acetohydroxi sintase na rota de sntese dos
aminocidos ramificados valina, leucina e isoleucina. Os sintomas das plantas sob
efeito dos herbicidas inibidores da ALS incluem paralisao do crescimento,
amarelecimento dos meristemas e reduo do sistema radical; as razes secundrias
apresentam-se curtas e uniformes.
Os herbicidas inibidores de ALS so muito usados, em razo da baixa toxicidade
para animais, alta seletividade para culturas e alta eficincia em baixas doses (Hess,
1994; Ahrens, 1994). Os herbicidas classificados como inibidores de ALS tornaram-se
uma ferramenta de grande importncia para a agricultura, devido alta eficincia e ao
reduzido impacto ambiental (Saari et al., 1994).
Estas caractersticas contriburam para o surgimento rpido da resistncia.
Aproximadamente cinco anos aps o incio do uso dos herbicidas inibidores de ALS
surgiu a primeira espcie resistente (Saari et al., 1994). Nos ltimos dez anos,
este grupo de herbicida vem apresentando o maior nmero de registros de plantas
resistentes. Dentre as espcies descritas esto Kochia scoparia, Amaranthus
strumarium, Sorghum bicolor (Heap, 1997) e Bidens pilosa (Ponchio, 1997).
A resistncia a imidazolinonas e sulfonilurias conferida por um gene
dominante nuclear (Mazur & Falco, 1989; Saari et al., 1994). A causa da resistncia
aos herbicidas inibidores de ALS est em mutaes que ocorrem no DNA e no
metabolismo da molcula herbicida.
Inibidores da enzima EPSPs
Os herbicidas inibidores da enzima 5-enolpiruvilshikimate-3-fosfato sintase
(EPSPs) agem inibindo esta enzima na rota de sntese dos aminocidos aromticos
essenciais fenilalanina, tirosina e triptofano, que so precursores de outros produtos,
como lignina, alcalides, flavonides e cidos benzicos.
Os sintomas das plantas sob efeito destes produtos incluem amarelecimento
dos meristemas, necrose e morte das mesmas em dias ou semanas. Estes herbicidas
vinham sendo usados de forma no-seletiva; no entanto, com o advento das plantas
transgnicas, passaram a ser opo para controle seletivo das plantas daninhas nas
culturas transgnicas. Pertencem a este grupo as molculas glyphosate e sulfosate
(Tabela 2).
Por apresentarem mais de um mecanismo de ao, limitado metabolismo pelas
plantas e baixo residual, esses herbicidas so considerados produtos com baixa
probabilidade em selecionar espcies resistentes.
Apesar do baixo risco de seleo atribudo ao glyphosate por vrios cientistas
em 1996 foram identificados, na Austrlia, bitipos de Lolium rigidum resistentes a
esse herbicida em lavouras que usaram o produto para controlar plantas daninhas em
pr-plantio pelo menos 10 vezes nos ltimos 15 anos. Os bitipos resistiram, no
mnimo, a doses seis vezes maiores do que as aplicadas nas plantas da populao
sensvel (Heap, 1997). Trabalhos realizados por Pratley et al. (1997) demonstraram
que os bitipos resistentes de Lolium rigidum foram 10 vezes mais tolerantes ao
glyphosate do que os bitipos sensveis. Os bitipos tambm apresentaram-se
resistentes ao diclofop e sensveis aos demais herbicidas graminicidas usados para
controle.
Tabela 2. Herbicidas inibidores de EPSPs comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Glyphosate AgrisatoGlifosato AgripecGifosato FersolGifosato NortoxGlifosato Nortox N.A.GlionGlion N.A.GliphoganGlizRodeoRodeo N.A.Round up
Derivados daglicina
Sulfosate TouchdownZapp
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
Bitipos de Eleusine indica e de Lolium rigidum resistentes ao glyphosate foram
indentificados na Malsia em 1997 e nos Estados Unidos em 1998, respectivamente
(Weed Science, 1999a). Bitipos de Festuca rubra resistentes a glyphosate foram
selecionados artificialmente (Mortimer, 1998). No Chile em 2002 (Perez & Kogan,
2002) e no Brasil em 2003 (Roman et al. 2004) foram identificados bitipos de
azevm (Lolium multiflorum) resistentes ao glyphosate.
As espcies Commelina spp. e Ipomoea spp. apresentam alta tolerncia aos
inibidores da EPSPs, contudo isso no significa que sejam resistentes. Essa tolerncia
est relacionada com a absoro e translocao do glyphosate nestas espcies.
Inibidores da enzima ACCase
Estes herbicidas foram lanados na dcada de 70 para controle de gramneas e
atuam inibindo a enzima acetyl-CoA carboxylase (ACCase), de forma reversvel e no-
competitiva, na rota de sntese de lipdios.
Os ariloxifenoxipropionatos e os ciclohexanodionas so os grupos de herbicidas
comercializados atualmente que agem sobre a ACCase (Tabela 3). As molculas
pertencentes a estes grupos controlam, com eficincia, gramneas em culturas
mono e dicotiledneas. Os sintomas das plantas sob efeito destes produtos so
paralisao do crescimento e amarelecimento dos meristemas e das folhas jovens. As
plantas sensveis morrem em uma a trs semanas.
Entre as plantas resistentes, considera-se que aquelas que resistem aos
herbicidas inibidores de ACCase tenham maior importncia econmica, devido rea
infestada e ao nmero restrito de mecanismos herbicidas alternativos para controle
dos bitipos resistentes (Heap, 1997).
Tabela 3. Herbicidas inibidores da ACCase comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Ariloxifenoxipropionato
DiclofopFenoxaprop
Fuazifop-pHaloxyfop
PropaquizafopQuizalofop
IloxanFurorePodiumFusiladeGallantVerdict-RShogumTargaTruco
Ciclohexanodiona ButroxydimClethodimSethoxydim
FalconSelectPoast
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
H 17 espcies monocotiledneas resistentes aos inibidores da ACCase, em 16
pases, sendo Lolium rigidum e Avena fatua as espcies de maior importncia. Estima-
se que haja, na Austrlia, Lolium rigidum resistente em mais de 3.000 locais e, no
Canad, Avena fatua em mais de 500 locais (Heap, 1997). Bitipos de Lolium
rigidum, resistentes aos herbicidas inibidores de ACCase, apresentam maior nvel de
resistncia aos herbicidas ariloxifenoxi-propionato do que aos ciclohexanodiona. O
diferente nvel de resistncia pode ser resultado das diferentes mutaes ocorridas no
gene que codifica a enzima ACCase e do tipo de alelo desse gene (Powles e Preston,
1998).
A anlise da ACCase em bitipos resistentes indicou a ocorrncia de diferentes
mutaes, em que cada uma delas confere diferentes tipos e nveis de resistncia aos
herbicidas ariloxifenoxipropionatos e ciclohexanodionas. As mutaes podem ser
agrupadas da seguinte forma: a) alta resistncia ao sethoxydim e baixa a outros
herbicidas; b) alta resistncia ao fluazifop e baixa a outros; c) relativamente alta
resistncia aos ariloxifenoxipropionatos e muito baixa ou nenhuma resistncia aos
ciclohexanodionas; e d) uma ou mais mutaes conferem nveis intermedirios de
resistncia (Devine, 1997).
Os herbicidas pertencentes aos grupos dinitroanilinas e acetanilidas controlam
com facilidade os bitipos resistentes a estes herbicidas (Devine, 1997).
Inibidores do fotossistema II
Os herbicidas pertencentes aos grupos triazinas e urias substitudas (Tabela 4)
so inibidores do fotossistema II (FSII).
Os herbicidas inibidores da fotossntese (derivados das triazinas, das urias
substitudas, dos fenis etc.) causam essa inibio, ligando-se protena D1,
no stio em que se acopla a plastoquinona "Qb". Estes herbicidas competem com a
plastoquinona "Qb" parcialmente reduzida (QbH) pelo stio na protena D1, ocasio-
nando a sada da plastoquinona e interrompendo o fluxo de eltrons entre os
fotossistemas. A associao das molculas herbicidas com a protena se d com
aminocidos diferentes do stio, o que impede que plantas resistentes a determinado
herbicida ou a um grupo de herbicidas sejam resistentes aos demais herbicidas.
Tabela 4. Herbicidas inibidores do FSII comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Triazinas
Ametryn
Atrazine
CyanazineMetribuzin
PrometryneSimazine
Ametrina AgripecGesapaxHerbipak MetrimexAtrazine NortoxAtrazinaxCoyote 500GesaprimHerbitrinSiptranStauzinaBladex 500Lexone SCSencorGesagardGesatop 500 PWHerbazin 500 BRSimazinax SCSipazina
Urias
Diuron
IsouronLinuron
Tebuthiuron
CentionDiuronDiuron FersolDiuron HoechstDiuron nortoxDiuromexHerburon 500 BRKarmexIsouronAfalonLinurexPerflanCombineGraslan
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
Herbicidas dos grupos urias e triazinas so usados para controle seletivo em
pr e ps-emergncia das plantas daninhas mono e dicotiledneas em culturas como
milho, soja, batata, algodo e seringueira. Os sintomas das plantas sob efeito destes
herbicidas aparecem inicialmente nas folhas mais velhas, incluindo cloroses nas
internervuras e nas bordas das folhas, que progridem para necrose.
A primeira espcie a apresentar resistncia s urias foi Alopecurus
myosuroides na Inglaterra, em 1982, e na Alemanha, em 1983. A maioria das plantas
daninhas resistentes s triazinas foi localizada em lavouras de milho na Europa e
Amrica do Norte. Dentre as plantas resistentes relatadas esto Amaranthus,
Polygonum e Chenopodium. Estima-se que a rea total infestatada com plantas
daninhas resistentes aos herbicidas triazinas seja superior a quatro milhes de
hectares (Weed Science, 1999a).
Alteraes na protena D1 so as principais causas da ocorrncia de plantas
resistentes aos herbicidas que agem no fotossistema II, como as triazinas e urias
substitudas. A mutao na protena D1 provoca alto nvel de resistncia aos
herbicidas do grupo das triazinas, mas no a todos os herbicidas do grupo das urias.
A mutao responsvel pela resistncia s triazinas ocorreu no genoma do
cloroplasto; dessa forma, a resistncia no transmitida hereditariamente via plen,mas sim via herana citoplasmtica.
Os bitipos de plantas daninhas resistentes s triazinas so controlados com
eficincia, em muitos pases, mediante aplicao de herbicidas alternativos (Heap,
1997).
Inibidores do fotossistema I
O grupo qumico dos bipiridlios, com as molculas paraquat e diquat, compe
esta classe de herbicidas (Tabela 5).
Tabela 5. Herbicidas inibidores do fotossistema I comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Bipiridlios DiquatParaquat
RegloneGramoxone
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
O stio de ao do paraquat e do diquat (captura dos eltrons) est prximo ao
da ferredoxina. Estes herbicidas capturam os eltrons provenientes da fotossntese e
da respirao, formando os radicais txicos. Os radicais livres do paraquat e do diquat
no so os agentes responsveis pelos sintomas de fitotoxicidade observados. Estes
radicais so instveis e rapidamente sofrem a auto-oxidao, durante a qual so
produzidos radicais de superxidos, que sofrem o processo de dismutao, para
formarem o perxido de hidrognio. Tal composto e os superxidos reagem,
produzindo radicais de hidroxil e oxignio livre (singleto). Estas substncias promovem
degradao das membranas (peroxidao de lipdios), ocasionando vazamento do suco
celular e morte do tecido.
So herbicidas no-seletivos, aplicados em ps-emergncia, com reduzida
translocao (de contato) e baixa persistncia, usados para controle total davegetao.
Aps duas dcadas de uso, foram identificadas, no Egito, plantas de Conyza
bonariensis resistentes a paraquat (Preston, 1994). Depois disso, em 1980, foram
identificados, no Japo, bitipos de Erigeron philadelphicus, Erigeron sumatrensis e
Youngia japonica resistentes a estes herbicidas (Weed Science, 1999a).
Os mecanismos que conferem resistncia aos bipiridlios so reduo na
translocao e compartimentalizao da molcula (Preston, 1994). Plantas resistentes
a paraquat apresentam, nos cloroplastos, grande aumento na atividade da enzima
superxido dismutase (SOD), a qual catalisa a converso do superxido em perxido
de hidrognio (Hart & Di Tomaso, 1994).
Devido pequena rea infestada e ao nmero de herbicidas alternativos
disponveis, os bitipos resistentes a este grupo de herbicidas no so considerados
de grande importncia (Heap, 1997).
Reguladores de crescimento
Os herbicidas deste grupo comercializados no Brasil esto listados na Tabela 6.
As auxinas sintticas 2,4-D e MCPA revolucionaram o controle de espcies daninhas
de folha larga em cereais na dcada de 40, tendo sido usadas largamente desde
ento.
Tabela 6. Herbicidas reguladores de crescimento comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Benzicos Dicamba Banvel
Fenxis
2,4-DAminolDeferonDMA 806 BREsteron 400Herbi D 480U-46 D-Fluid
PicolnicosFluroxipir MHEPicloramTriclopyr
StaranePadronGarlon
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
O mecanismo de ao envolve os sistemas enzimticos carboximetil celulase e
RNA polimerase, que influenciam a plasticidade da membrana celular e o
metabolismo de cidos nuclicos. O aumento anormal de DNA, RNA e protenas
resulta em diviso descontrolada das clulas, o que se evidencia pelo crescimento
anormal das plantas sensveis. So herbicidas usados para controlar dicotiledneas em
culturas gramneas como trigo, cevada, aveia e milho. Os sintomas das plantas sob
efeito destes herbicidas so epinastia, curvatura de caule e de ramos e, finalmente,
paralisao do crescimento e clorose dos meristemas, seguida de necrose. As folhas
de dicotiledneas apresentam encarquilhamento e adquirem colorao verde-escura. A
morte das plantas sensveis ocorre lentamente, s vezes aps cinco semanas.
Considerando o tempo e o uso extensivo destes herbicidas, poucas espcies
evoluram para resistncia at hoje. Os trs primeiros casos de resistncia
identificados ocorreram nesta classe de herbicida. Em 1957, foram identificados
bitipos de Commelina diffusa, nos Estados Unidos, e de Daucus carota, no Canad,
resistentes ao 2,4-D. O terceiro caso foi em 1964, quando bitipos resistentes de
Convolvulus arvensis foram identificados nos Estados Unidos (Weed Science, 1998).
Os bitipos resistentes assumem importncia, em razo do amplo uso destes
herbicidas para controlar grande nmero de espcies e do restrito nmero de
herbicidas com potencial para substitu-los (Heap, 1997).
Interruptores da mitose
Os herbicidas do grupo qumico dinitroanilinas, como trifluralin, oryzalin e
pendimethalin (Tabela 7), so usados em pr-emergncia para controlar plantas
daninhas gramneas em culturas oleaginosas. Estes herbicidas agem, ligando-se
tubulina, principal protena componente dos microtbulos, e impedindo a
polimerizao para formar os microtbulos, os quais orientam os cromossomos
durante a anfase na mitose. Assim, durante a diviso celular no ocorre diviso dos
cromossomos e resultado a formao de clulas com nmero anormal de
cromossomos. As plantas sensveis germinam, mas muitas vezes no emergem,
devido inibio do crescimento do coleptilo e da radcula. Em plantas adultas e
naquelas que conseguem emergir, observam-se pouca formao de razes e
engrossamento do colo da planta.
Tabela 7. Herbicidas interruptores da mitose comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial
Dinitroanilinas
Oryzalin
Pendimethalin
Trifluralin
Surflan
Herbadox
HerbiflanPremerlinTreflanTrifluralina AgrevoTrifluralina DefensaTrifluralina NortoxTritacTrifluralina GR
Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).
Apesar do tempo de uso e do longo perodo residual, somente cinco
monocotiledneas e uma dicotilednea apresentam resistncia a este grupo de
herbicidas (Heap, 1997). Bitipos de Lolium rigidum apresentam resistncia cruzada
s dinitroanilinas, em razo do metabolismo destas molculas (Moss, 1990; Powles e
Howat, 1990). Nos Estados Unidos, bitipos de Eleusine indica, Sorghum halepense
e Amaranthus palmeri evoluram resistncia trifluralin aps 15 a 20 anos de
uso em cereais e leguminosas. A resistncia de Eleusine indica L. trifluralin
conferida por alteraes na tubulina.
Os herbicidas inibidores de ACCase constituem o primeiro grupo de herbicidas
alternativos para controlar bitipos resistentes aos herbicidas do grupo dinitroanilina.
Contudo, o uso inadequado dos herbicidas inibidores da ACCase como mecanismo
alternativo para as dinitroanilinas causou a seleo de bitipos de Setaria viridis com
resistncia mltipla a estes mecanismos (Heap, 1997).
Evoluo da resistncia
A teoria da evoluo de Darwin, atravs da seleo natural, considerou o
princpio da seleo, onde algumas formas apresentam maior sucesso na
sobrevivncia e reproduo do que outras, em determinado ambiente (Suzuki et al.,
1992) (Figura 2).
Figura 2. Representao da seleo de um bitipo resistente em uma populao deplantas sensveis (Gunsolus, 1998).
Darwin postulava que a espcie como um todo vai mudando constituio,
assim, a populao da prxima gerao ter freqncia elevada dos tipos que tiveram
maior sucesso em sobreviver e se multiplicar nas condies ambientais vigentes.
O surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas um exemplo de
evoluo de plantas como conseqncia de mudanas no ambiente provocadas pelo
homem (Maxwell & Mortimer, 1994). O uso repetido de herbicidas para controle de
plantas exerce alta presso de seleo, favorecimento de alguns indivduos em
relao a outros, provocando mudanas na flora de algumas regies. Em geral,
espcies, ou bitipos, de uma espcie que melhor se adaptam a determinada prtica
so selecionados e multiplicam-se rapidamente (Holt & Lebaron, 1990). Muitas
evidncias indicam que o aparecimento de resistncia a um herbicida, em uma
populao de plantas, se deve seleo de um bitipo resistente preexistente que,
devido presso de seleo exercida por repetidas aplicaes de um mesmo
herbicida, encontra condies para multiplicao (Betts et al., 1992) (Tabela 8).
Os bitipos resistentes podem apresentar menor adaptao ecolgica nesses
ambientes e tornar-se predominantes, devido eliminao das plantas sensveis. Em
condies de seleo natural, bitipos com maior adaptao ecolgica
apresentam, em mdia, maior produo que bitipos menos adaptados (Saari et al.,
1994).
A ocorrncia de variaes genticas capazes de ser transmitidas
hereditariamente e a seleo natural favorecem o surgimento e a evoluo da
resistncia. Aplicaes repetidas de herbicidas, com o mesmo mecanismo de ao,
em uma populao de plantas provocam seleo direcional e progressiva de indivduos
que possuem genes de resistncia. As plantas que expressam o gene de resistnciaso selecionadas, tornando-se predominantes rapidamente na rea (Kissmann, 1996).
Tabela 8. Evoluo da resistncia em uma populao de bitipos de plantas daninhasresistentes
Ano No plantas
resistentesNo plantassensveis % de controle Evoluo
0 1 1.000.000 99,9999 Imperceptvel
1 1 100.000 99,999 Imperceptvel2 1 10.000 99,99 Imperceptvel3 1 1.000 99,9 Imperceptvel4 1 100 99,0 Imperceptvel5 1 10 90,0 Pouco perceptvel6 1 5 80,0 Perceptvel7 1 2 50,0 Evidente
Fonte: Kissmann (1996).
No foram encontradas referncias sobre espcies com maior ou menor
probabilidade de desenvolver resistncia.
H seis fatores relacionados populao de plantas que interagem e
determinam a probabilidade e o tempo de evoluo da resistncia. So eles: o nmero
de alelos envolvidos na expresso da resistncia, a freqncia do(s) alelo(s) da
resistncia na populao inicialmente sensvel, o modo de herana da resistncia
(citoplasmtica ou nuclear), as caractersticas reprodutivas da espcie, a presso de
seleo, e a taxa de cruzamentos entre bitipos resistentes e sensveis (Mortimer,
1998).
O nmero de genes que conferem resistncia importante, pois, quando a
herana polignica a probabilidade do aparecimento de resistncia menor. No
entanto, quando um nico gene responsvel pela resistncia (monognica), a
probabilidade da sua ocorrncia maior.
A maior parte dos casos de resistncia conferida por apenas um gene. Isso se
deve a dois fatores. Primeiro, os herbicidas modernos so altamente especficos, ou
seja, agem sobre enzimas especficas nas rotas metablicas. A ocorrncia de
mutaes no gene que codifica essa enzima pode alterar a sensibilidade da planta ao
produto, resultando em resistncia. O segundo fator est relacionado com a alta
presso de seleo exercida por esses herbicidas, devido sua alta eficincia. Para
haver resistncia polignica, poder ser necessrio que ocorram recombinaes entre
os indivduos durante vrias geraes, a fim de se obter adequado nmero de alelos
para conferir planta alto nvel de resistncia (Jasieniuk et al., 1996).
A freqncia do(s) alelo(s) da resistncia na populao sensvel geralmente est
entre 10-16 e 10-6 (Mortimer, 1998), e, quanto maior for a freqncia destes alelos,
maior ser a probabilidade de seleo de um bitipo resistente. A freqncia do alelo
da resistncia na populao adquire maior importncia no processo evolutivo da
resistncia quando o herbicida impe baixa presso de seleo; o contrrio
verdadeiro quando ocorre alta presso de seleo (Jasieniuk et al., 1996), pois, se a
freqncia for alta, a evoluo da resistncia poder ser mais rpida,
independentemente da presso de seleo.
O tipo de herana da resistncia aspecto fundamental no estabelecimento da
resistncia em uma populao de plantas. H dois tipos bsicos de herana: a
citoplasmtica (materna) e a nuclear. Herana citoplasmtica aquela em que os
caracteres hereditrios so transmitidos via citoplasma; assim, somente a planta-me
poder transmitir a caracterstica para os filhos, sendo exemplo a resistncia a
triazinas. No entanto, se a herana for nuclear, a transmisso ser via cromossomos
e, dessa forma, tanto o pai como a me podem transmitir a resistncia, sendo
exemplo a resistncia aos inibidores da ALS. Na resistncia com herana materna no
ocorre migrao de alelos entre populaes adjacentes (Jasieniuk et al., 1996); assim,
a evoluo deste tipo de resistncia mais lenta do que a do tipo nuclear, em que
ocorre migrao de alelos via plen.
As caractersticas reprodutivas, como disperso de plen e nmero de
propgulos produzidos, influenciam diretamente a disperso das plantas resistentes. A
disperso da resistncia via plen influenciada pela eficincia de disperso e
longevidade do plen (Mulugeta et al., 1994). A taxa de cruzamento entre os bitipos
resistentes e sensveis determina a disperso dos alelos de resistncia na populao.
O intercmbio de plen, entre plantas resistentes e sensveis, permite a disperso da
resistncia principalmente em plantas com alta taxa de fecundao cruzada; j a
contribuio do movimento de sementes relativamente pequena (Saari et al., 1994).
Em sntese, o processo da evoluo da resistncia a herbicidas passa por trs
estdios: eliminao dos bitipos altamente sensveis, restando apenas os mais
tolerantes e resistentes; eliminao de todos os bitipos, exceto os resistentes, e
seleo destes dentro de uma populao com alta tolerncia; e intercruzamento
entre os bitipos sobreviventes, gerando novos indivduos com maior grau de
resistncia, os quais podem ser re-selecionados posteriormente (Mortimer, 1998).
Fatores que favorecem o surgimento da resistncia
Presso de seleo
A alta presso de seleo - favorecimento de um indivduo em relao a outros
- imposta sobre uma populao sensvel proporciona espao para o crescimento e
desenvolvimento dos bitipos resistentes. A alta eficincia dos herbicidas provoca a
eliminao rpida dos bitipos sensveis, favorecendo o desenvolvimento da
populao resistente. J os herbicidas com efeito residual longo agem durante tempo
maior, controlando as plantas sensveis em diversos fluxos germinativos. O uso de
herbicidas altamente eficientes e com efeito residual longo exerce alta presso de
seleo (Figura 2).
Os fatores intensidade de seleo e sua durao contribuem para a presso de
seleo exercida pelos herbicidas. A intensidade de seleo a resposta da populao
de plantas s repetidas aplicaes de herbicidas, que medida pela eficincia de
controle das plantas daninhas-alvo e pela relativa reduo da produo de sementes
das plantas remanescentes, que ser proporcional dose e, ou, ao tempo. A durao
da seleo medida pelo tempo em que o herbicida permanece com efeito residual. A
intensidade e a durao da seleo interagem, provocando variaes sazonais que
podem ser observadas nas espcies de acordo com a fenologia e o crescimento
(Mortimer, 1998). O uso repetido de um mesmo herbicida ou de herbicidas com
mesmo mecanismo de ao, altamente especficos e com longo efeito residual, produz
alta presso de seleo, ou seja, haver discriminao entre indivduos quanto ao
nmero de descendentes que so preservados para a gerao seguinte e, assim,
favorecimento de determinados indivduos em relao a outros. No caso da resistncia
a herbicidas, aumenta a possibilidade de seleo de bitipos resistentes (Figura 2),
que passa a ser uma questo de tempo (Tabela 8) .
Variabilidade gentica
A variabilidade gentica permite que os indivduos evoluam e se adaptem a
novos ambientes. Nas plantas daninhas, possvel notar que existem grandes
diferenas morfolgicas entre plantas de uma mesma espcie, sugerindo elevada
variabilidade. A associao da variabilidade gentica das plantas daninhas com a
adequada intensidade e a durao de seleo torna inevitvel o surgimento de plantas
resistentes. O(s) gene(s) que confere(m) resistncia a determinado herbicida pode(m)
estar presente(s) em uma populao antes mesmo que este herbicida seja lanado no
mercado. Toda populao natural de plantas contm bitipos resistentes a herbicidas,
que se apresentam indiferentes aplicao de algum destes produtos (Herbicide,
1998b).
A ocorrncia das mutaes aumenta a possibilidade do surgimento de plantas
resistentes. O gene ou os cromossomos mutantes so a fonte essencial de toda a
variao gentica (Brewbaker, 1969). Geneticamente, h dois caminhos para o
aparecimento de plantas resistentes: a ocorrncia de um gene, ou de genes, que
confere a resistncia em freqncia muito baixa na populao ou atravs de uma
mutao (Mortimer, 1998). Para uma populao que no possui o alelo da resistncia
antes da aplicao do herbicida, a probabilidade de adquirir resistncia por meio de
mutaes funo da freqncia da mutao e do tamanho da populao (Maxwell &
Mortimer, 1994). Desse modo, a probabilidade de ocorrer resistncia, devido
mutao, em reas com alta infestao de plantas pode ser alta mesmo que a taxa de
mutao seja baixa (Jasieniuk et al., 1996). A evoluo da resistncia ser mais
rpida se a populao j possuir o alelo da resistncia, mesmo em baixa freqncia,
antes do tratamento com o herbicida (Maxwell & Mortimer, 1994).
Como evitar resistncia
Antes que as falhas de controle apaream na lavoura, algumas prticas podem
ser implantadas, a fim de minimizar o risco do surgimento de plantas resistentes. So
elas: reduzir a presso de seleo e controlar os indivduos resistentes antes que eles
possam se multiplicar. Isso pode ser conseguido com a adoo das seguintes prticas:
- Utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ao;
- Realizar aplicaes seqenciais;
- Usar associaes de herbicidas com diferentes mecanismos de ao e de
destoxificao;
- Realizar rotao de mecanismo de ao;
- Limitar aplicaes de um mesmo herbicida;
- Usar herbicidas com menor presso de seleo (residual e eficincia);
- Fazer rotao de culturas;
- Promover rotao de mtodos de controle;
- Acompanhar mudanas na flora;
- Empregar sementes certificadas;
- Evitar que plantas suspeitas produzam sementes; e
- Efetuar rotao do tipo de preparo do solo (quando possvel).
A adoo dessas prticas visa reduzir a presso de seleo. A mistura de
produtos com diferentes mecanismos de ao proporciona controle eficiente por
maior nmero de anos do que ambos aplicados de forma isolada, j que a
probabilidade de uma planta daninha se tornar resistente aos dois mecanismos
simultaneamente dada pelo produto das duas probabilidades individualmente e,
portanto, muito menor. Para minimizar os riscos de seleo, os herbicidas que
compem a mistura devem controlar espectro semelhante de plantas daninhas e ter
persistncia similar e diferentes mecanismos de ao e de destoxificao.
As prticas culturais relacionadas visam aumentar as possibilidades de controle
das plantas daninhas, por meio de diferentes mtodos de controle e mecanismos
herbicidas.
Consideraes finais
A existncia de plantas daninhas resistentes a herbicidas um fato consumado
no Brasil. Sabe-se que sua evoluo em uma rea dependente da presso de
seleo, da variabilidade gentica da espcie daninha, do nmero de genes
envolvidos, do padro de herana, do fluxo gnico e da disperso de propgulos. O
conhecimento destes pontos importante para embasar previses de propores
futuras entre plantas resistentes, tolerantes e sensveis em reas afetadas e para
eleger mtodos de manejo e controle das plantas tolerantes e resistentes que
permitam impedir a multiplicao e a disseminao do(s) gene(s) para outras
populaes. Contudo, ainda poucos cientistas esto se dedicando a esta rea no
Brasil, e as informaes de que se dispe so relacionadas a experincias de outros
pases, com outras espcies, que poucas vezes podem ser generalizadas para as
nossas condies. Estudos aprofundados sobre esta questo devem ser realizados
com urgncia, para que se possa entender e estabelecer estratgias especficas para a
situao brasileira.
Referncias bibliogrficas
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