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ISSN 1518-6512 Agosto, 2006 58 Resistência de plantas daninhas a herbicidas: conceitos, origem e evolução Leandro Vargas 1 , Erivelton Scherer Roman 1 Introdução O controle de plantas daninhas com herbicidas é prática comum na agricultura. O uso indiscriminado de herbicidas propiciou o desenvolvimento de muitos casos de resistência a tais compostos por diversas espécies daninhas (Burnside, 1992). A planta é sensível a um herbicida quando o crescimento e desenvolvimento são alterados pela ação do produto; assim, uma planta sensível pode morrer quando submetida a determinada dose do herbicida. Já a tolerância é a capacidade inata de algumas espécies em sobreviver e se reproduzir após o tratamento herbicida, mesmo sofrendo injúrias. Estas características relacionam-se com a variabilidade genética natural da espécie. Em dada população de plantas existem aquelas que, naturalmente, 1 Eng.-Agr o ., Pesquisador da Embrapa Trigo na área de manejo e controle de plantas daninhas. Caixa Postal 451. Passo Fundo, RS 99001-970 [email protected]

Resistencia de Plantas Daninhas a Herbicidas

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Apostila Plantas daninhas

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  • ISSN 1518-6512Agosto, 2006 58

    Resistncia de plantas daninhas a herbicidas: conceitos, origem eevoluo

    Leandro Vargas1, Erivelton Scherer Roman1

    Introduo

    O controle de plantas daninhas com herbicidas prtica comum na agricultura.

    O uso indiscriminado de herbicidas propiciou o desenvolvimento de muitos casos de

    resistncia a tais compostos por diversas espcies daninhas (Burnside, 1992).

    A planta sensvel a um herbicida quando o crescimento e desenvolvimento

    so alterados pela ao do produto; assim, uma planta sensvel pode morrer quando

    submetida a determinada dose do herbicida. J a tolerncia a capacidade inata de

    algumas espcies em sobreviver e se reproduzir aps o tratamento herbicida, mesmo

    sofrendo injrias. Estas caractersticas relacionam-se com a variabilidade gentica

    natural da espcie. Em dada populao de plantas existem aquelas que, naturalmente, 1 Eng.-Agro., Pesquisador da Embrapa Trigo na rea de manejo e controle de plantas daninhas. Caixa Postal 451.Passo Fundo, RS 99001-970 [email protected]

  • toleram mais ou menos um determinado herbicida. Por exemplo, a Ipomoea spp nunca

    foi controlada pelo herbicida glyphosate. Dessa forma refere-se a esta planta como

    tolerante ao glyphosate. Por outro lado, a resistncia a capacidade adquirida de

    dada planta em sobreviver a determinada dose de um herbicida que, em condies

    normais, controla os demais integrantes da populao. A resistncia pode ocorrer

    naturalmente (seleo) ou ser induzida com o uso de biotecnologia (Weed Science,

    1999a).

    A primeira constatao de resistncia de plantas daninhas aos herbicidas

    ocorreu em 1957, quando foram identificados bitipos de Commelina difusa nos

    Estados Unidos e, depois, Daucus carota no Canad, ambos resistentes a herbicidas

    pertencentes ao grupo das auxinas (Weed Science, 1998). Em 1970, no Estado de

    Washington (EUA), foram descobertos bitipos de Senecio vulgaris resistentes a

    simazine (Ryan, 1970). Estudos posteriores demonstraram que esta espcie era

    resistente a todas triazinas, devido a uma mutao nos seus cloroplastos (Radosevich

    et al., 1979). Posteriormente, vrias outras espcies com resistncia a triazinas foram

    descritas em gneros como Amaranthus e Chenopodium, em diferentes pases

    (Radosevich, 1977). Estima-se que, no mundo, haja mais de 5 milhes de hectares de

    culturas com invasoras apresentando alguma resistncia a triazinas (Kissmann, 1996).

    Em menos de 30 anos, aps o primeiro caso de resistncia, havia mais de 100

    espcies reconhecidamente resistentes em cerca de 40 pases (Heap, 1997). Muitos

    outros casos tm sido relatados, e hoje h aproximadamente 300 bitipos de plantas

    daninhas que apresentam resistncia a um ou mais mecanismos herbicidas. Acredita-

    se que um maior nmero de bitipos resistentes surge para alguns mecanismos

    herbicidas, como os grupos das triazinas e inibidores da acetolactato sintase (ALS),

    devido s altas especificidade e eficincia destes e, tambm, ao fato de serem

    empregados em grandes reas.

    Alguns mecanismos de ao, como os inibidores de PROTOX, apresentam

    menor nmero de plantas daninhas resistentes. As razes para o no surgimento de

    plantas daninhas resistentes para alguns grupos de herbicidas, apesar de alguns

  • estarem sendo empregados a longo tempo, no so claras, porm acredita-se que

    estejam relacionadas com o modo e o mecanismo de ao.

    A resistncia de plantas daninhas a herbicidas assume grande importncia,

    principalmente em razo do limitado nmero de herbicidas alternativos para serem

    usados no controle dos bitipos resistentes. O nmero de ingredientes ativos

    disponveis para controle de algumas espcies daninhas restrito, e o

    desenvolvimento de novas molculas cada vez mais difcil e oneroso. A ocorrncia

    de resistncia mltipla agrava ainda mais o problema, j que, neste caso, so dois ou

    mais os mecanismos que precisam ser substitudos. Assim, o controle dos bitipos

    resistentes com o uso de herbicidas comprometido, o que restringe esta prtica a

    outros mtodos menos eficientes.

    Mecanismos que conferem resistncia

    Alterao do local de ao

    As informaes genticas de um organismo esto contidas em seu material

    gentico (DNA). As alteraes que ocorrem no DNA, mas no provocam a morte do

    indivduo, so, em sua grande maioria, repassadas aos seus descendentes (Suzuki et

    al., 1992). A ocorrncia de erros na replicao ou transcrio da fita do DNA e na

    traduo do mRNA, bem como a ocorrncia de mutaes que provoquem insero,

    deleo ou substituio de uma base nitrogenada, pode alterar um ou mais

    aminocidos da protena a ser formada, resultando em uma protena mutante. A

    mutao um processo biolgico que vem ocorrendo desde que h vida no planeta;

    no entanto, a maioria delas deletria e a evoluo s possvel porque algumas

    podem ser benficas em determinadas situaes (Suzuki et al., 1992).

    A alterao de uma base nitrogenada, que resulta na mutao de ponto pode

    originar enzima com caractersticas funcionais distintas ou no da original. Se o

    aminocido alterado for o ponto ou um dos pontos de acoplamento de uma molcula

    herbicida, este produto pode perder a atividade inibitria sobre esta nova enzima

    (Figura 1). Pequena alterao no polipeptdio pode resultar em grande efeito sobre sua

  • afinidade com a molcula herbicida (Betts et al., 1992). Desse modo, um herbicida

    que anteriormente era eficiente em inibir determinada enzima, deixa de ter efeito

    sobre ela, e a planta torna-se resistente quele herbicida e a outros que se ligam da

    mesma forma quela enzima. Logicamente que, se o herbicida possuir mais de um

    mecanismo de ao, a planta pode morrer pela ao do(s) outro(s) mecanismo(s), a

    no ser que ela apresente outros mecanismos de resistncia, ou seja, resistncia

    mltipla.

    Figura 1. Representao da alterao do local de ao do herbicida atrazine noscloroplastos (Gunsolus, 1998).

    Fontes externas de radiao, como sol, podem provocar mutaes no DNA. A

    luz ultravioleta e o oxignio so mutagnicos (Brewbaker, 1969). Acredita-se que os

    herbicidas no sejam capazes de provocar mutaes, j que estes produtos, antes de

    serem lanados no mercado, so avaliados quanto sua capacidade mutagnica. No

    h evidncias e muito improvvel, que mutaes possam ocorrer por ao de

    herbicidas (Kissmann, 1996).

    Metabolizao do Herbicida

    A planta resistente possui a capacidade de decompor a molcula herbicida mais

    rapidamente do que plantas sensveis, tornando-a inativa. Esse o mecanismo de

    tolerncia a herbicidas apresentado pela maioria das espcies.

    As formas de metabolismo mais comuns incluem hidrlise ou oxidao, de onde

    surgem grupamentos adequados para conjugao com glutationa (GSH) e

    aminocidos. Os conjugados geralmente so inativos, mais hidroflicos, menos mveis

    na planta e mais suscetveis a processos secundrios de conjugao, destoxificao

    ou compartimentalizao do que a molcula herbicida original (Kreuz et al., 1996).

    Sensvel Resistente

  • Compartimentalizao

    Neste caso a molcula do herbicida conjugada com metablitos da planta,

    tornando-se inativa, ou removida das partes metabolicamente ativas da clula e

    armazenada em locais inativos, como o vacolo.

    Devido a conjugao e compartimentalizao, a absoro e a translocao so

    alteradas, e, assim, a quantidade do herbicida que atinge o local de ao reduzida,

    no chegando a ser letal. Exemplos desses mecanismos incluem bitipos resistentes

    aos herbicidas bipiridlios e auxinas.

    Esses mecanismos podem, isoladamente ou associados, proporcionar tolerncia

    ou resistncia a herbicidas, mesmo que pertencentes a diferentes grupos qumicos.

    Desse modo, uma planta daninha pode ser sensvel, tolerante ou resistente a dado

    herbicida.

    Tipos de resistncia

    A resistncia pode ser cruzada ou mltipla. A resistncia cruzada ocorre quando

    um bitipo resistente a dois ou mais herbicidas, devido a apenas um mecanismo e a

    resistncia mltipla ocorre nas plantas que possuem dois ou mais mecanismos

    distintos; neste caso, so resistentes a herbicidas de diversos grupos qumicos com

    diferentes mecanismos.

    Resistncia cruzada

    A resistncia cruzada pode ser conferida a um bitipo por qualquer dos

    mecanismos que conferem resistncia.

    A resistncia cruzada conferida pelo local de ao ocorre quando uma mudana

    bioqumica, no ponto de ao de um herbicida, tambm confere resistncia a outras

    molculas de diferentes grupos qumicos, que agem no mesmo local na planta (Powles

    e Preston, 1998).

    A resistncia cruzada no confere, necessariamente, resistncia a herbicidas de

    todos os grupos qumicos que possuem o mesmo local de ao. Tambm podem

  • existir variaes no nvel de resistncia cruzada dos bitipos a herbicidas de grupos

    diferentes.

    Bitipos de Lolium rigidum resistentes aos herbicidas inibidores da acetyl-COA

    carboxylase (ACCase), selecionados com uso de herbicidas dos grupos

    ariloxifenoxipropionato ou ciclohexanodiona, apresentam maior nvel de resistncia

    aos herbicidas do primeiro grupo, do que aos do segundo. O diferente nvel de

    resistncia pode ser resultado das diferentes mutaes ocorridas no gene que codifica

    a enzima ACCase e do tipo de alelo do gene (Powles e Preston, 1998).

    A resistncia cruzada, devido a outros mecanismos, exemplificada por

    bitipos de Lolium rigidum, encontrados na Austrlia, resistentes aos herbicidas

    inibidores de ACCase, que no apresentam alteraes na enzima e sim pequenos

    aumentos no metabolismo do herbicida diclofop.

    Resistncia mltipla

    A resistncia mltipla caracteriza um problema complexo e de difcil soluo.

    Nos casos mais simples, dois ou mais mecanismos conferem resistncia a apenas um

    herbicida ou a um grupo de herbicidas. Os casos mais complexos so aqueles em que

    dois ou mais mecanismos conferem resistncia a diversos herbicidas de diferentes

    grupos qumicos; um exemplo so os bitipos de Alopecurus myosuroides

    encontrados na Austrlia, que resistem a 15 herbicidas diferentes, dentre eles o

    diclofop, pendimethalin e simazine. Alm disso, as dificuldades de controle dos

    bitipos resistentes aumentam ainda mais quando os mecanismos que conferem

    resistncia esto relacionados ao local de ao e a outros mecanismos, como

    metabolismo. Para controlar estas plantas daninhas, necessrio empregar misturas

    de herbicidas que no tenham sua atividade afetada pelos mecanismos de resistncia

    em questo.

    H poucos casos registrados de espcies com resistncia mltipla. O caso mais

    complicado de resistncia mltipla, encontrado na Austrlia, o de bitipos de Lolium

    rigidum, que metabolizam herbicidas inibidores da ACCase, ALS e FSII e possuem

    ACCase e ALS mutadas (Powles e Preston, 1998).

  • Caractersticas da resistncia de acordo com o mecanismo de ao herbicida

    Inibidores da enzima ALS/AHAS

    A introduo no mercado dos herbicidas inibidores da enzima acetolactato

    sintase (ALS) ocorreu em 1982, com o lanamento da molcula chlorsulfuron para

    uso em cereais (Saari et al., 1994). Atualmente existem no mercado os grupos de

    herbicidas imidazolinonas, sulfonilurias e sulfoanilidas (Tabela 1), que agem inibindo

    a ALS e so empregados para controle seletivo de plantas daninhas em culturas como

    soja, trigo, cevada e arroz.

    Tabela 1. Herbicidas inibidores de ALS comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Imazapyr ArsenalChopperContainImazaquin ScepterScepter 70DGTopganImazethapyr PivotPivot 70DGVezirImazamox SweeperRaptor 70DG

    Imidazolinonas

    Imazapic PlateauSulfoanilida Flumetsulan Scorpion

    Sulfonilurias

    Chlorimuron

    FlazasulfuronHalosulfuronMetsulfuronNicosulfuronPyrazosulfuron

    ClassicConquestKatanaSempraAllySansonSirius

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

    O mecanismo de ao destes grupos de herbicidas a inibio no-competitiva

    da enzima acetolactato sintase ou acetohydroxi sintase na rota de sntese dos

    aminocidos ramificados valina, leucina e isoleucina. Os sintomas das plantas sob

    efeito dos herbicidas inibidores da ALS incluem paralisao do crescimento,

    amarelecimento dos meristemas e reduo do sistema radical; as razes secundrias

    apresentam-se curtas e uniformes.

  • Os herbicidas inibidores de ALS so muito usados, em razo da baixa toxicidade

    para animais, alta seletividade para culturas e alta eficincia em baixas doses (Hess,

    1994; Ahrens, 1994). Os herbicidas classificados como inibidores de ALS tornaram-se

    uma ferramenta de grande importncia para a agricultura, devido alta eficincia e ao

    reduzido impacto ambiental (Saari et al., 1994).

    Estas caractersticas contriburam para o surgimento rpido da resistncia.

    Aproximadamente cinco anos aps o incio do uso dos herbicidas inibidores de ALS

    surgiu a primeira espcie resistente (Saari et al., 1994). Nos ltimos dez anos,

    este grupo de herbicida vem apresentando o maior nmero de registros de plantas

    resistentes. Dentre as espcies descritas esto Kochia scoparia, Amaranthus

    strumarium, Sorghum bicolor (Heap, 1997) e Bidens pilosa (Ponchio, 1997).

    A resistncia a imidazolinonas e sulfonilurias conferida por um gene

    dominante nuclear (Mazur & Falco, 1989; Saari et al., 1994). A causa da resistncia

    aos herbicidas inibidores de ALS est em mutaes que ocorrem no DNA e no

    metabolismo da molcula herbicida.

    Inibidores da enzima EPSPs

    Os herbicidas inibidores da enzima 5-enolpiruvilshikimate-3-fosfato sintase

    (EPSPs) agem inibindo esta enzima na rota de sntese dos aminocidos aromticos

    essenciais fenilalanina, tirosina e triptofano, que so precursores de outros produtos,

    como lignina, alcalides, flavonides e cidos benzicos.

    Os sintomas das plantas sob efeito destes produtos incluem amarelecimento

    dos meristemas, necrose e morte das mesmas em dias ou semanas. Estes herbicidas

    vinham sendo usados de forma no-seletiva; no entanto, com o advento das plantas

    transgnicas, passaram a ser opo para controle seletivo das plantas daninhas nas

    culturas transgnicas. Pertencem a este grupo as molculas glyphosate e sulfosate

    (Tabela 2).

    Por apresentarem mais de um mecanismo de ao, limitado metabolismo pelas

    plantas e baixo residual, esses herbicidas so considerados produtos com baixa

    probabilidade em selecionar espcies resistentes.

  • Apesar do baixo risco de seleo atribudo ao glyphosate por vrios cientistas

    em 1996 foram identificados, na Austrlia, bitipos de Lolium rigidum resistentes a

    esse herbicida em lavouras que usaram o produto para controlar plantas daninhas em

    pr-plantio pelo menos 10 vezes nos ltimos 15 anos. Os bitipos resistiram, no

    mnimo, a doses seis vezes maiores do que as aplicadas nas plantas da populao

    sensvel (Heap, 1997). Trabalhos realizados por Pratley et al. (1997) demonstraram

    que os bitipos resistentes de Lolium rigidum foram 10 vezes mais tolerantes ao

    glyphosate do que os bitipos sensveis. Os bitipos tambm apresentaram-se

    resistentes ao diclofop e sensveis aos demais herbicidas graminicidas usados para

    controle.

    Tabela 2. Herbicidas inibidores de EPSPs comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Glyphosate AgrisatoGlifosato AgripecGifosato FersolGifosato NortoxGlifosato Nortox N.A.GlionGlion N.A.GliphoganGlizRodeoRodeo N.A.Round up

    Derivados daglicina

    Sulfosate TouchdownZapp

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

    Bitipos de Eleusine indica e de Lolium rigidum resistentes ao glyphosate foram

    indentificados na Malsia em 1997 e nos Estados Unidos em 1998, respectivamente

    (Weed Science, 1999a). Bitipos de Festuca rubra resistentes a glyphosate foram

    selecionados artificialmente (Mortimer, 1998). No Chile em 2002 (Perez & Kogan,

    2002) e no Brasil em 2003 (Roman et al. 2004) foram identificados bitipos de

    azevm (Lolium multiflorum) resistentes ao glyphosate.

  • As espcies Commelina spp. e Ipomoea spp. apresentam alta tolerncia aos

    inibidores da EPSPs, contudo isso no significa que sejam resistentes. Essa tolerncia

    est relacionada com a absoro e translocao do glyphosate nestas espcies.

    Inibidores da enzima ACCase

    Estes herbicidas foram lanados na dcada de 70 para controle de gramneas e

    atuam inibindo a enzima acetyl-CoA carboxylase (ACCase), de forma reversvel e no-

    competitiva, na rota de sntese de lipdios.

    Os ariloxifenoxipropionatos e os ciclohexanodionas so os grupos de herbicidas

    comercializados atualmente que agem sobre a ACCase (Tabela 3). As molculas

    pertencentes a estes grupos controlam, com eficincia, gramneas em culturas

    mono e dicotiledneas. Os sintomas das plantas sob efeito destes produtos so

    paralisao do crescimento e amarelecimento dos meristemas e das folhas jovens. As

    plantas sensveis morrem em uma a trs semanas.

    Entre as plantas resistentes, considera-se que aquelas que resistem aos

    herbicidas inibidores de ACCase tenham maior importncia econmica, devido rea

    infestada e ao nmero restrito de mecanismos herbicidas alternativos para controle

    dos bitipos resistentes (Heap, 1997).

    Tabela 3. Herbicidas inibidores da ACCase comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Ariloxifenoxipropionato

    DiclofopFenoxaprop

    Fuazifop-pHaloxyfop

    PropaquizafopQuizalofop

    IloxanFurorePodiumFusiladeGallantVerdict-RShogumTargaTruco

    Ciclohexanodiona ButroxydimClethodimSethoxydim

    FalconSelectPoast

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

  • H 17 espcies monocotiledneas resistentes aos inibidores da ACCase, em 16

    pases, sendo Lolium rigidum e Avena fatua as espcies de maior importncia. Estima-

    se que haja, na Austrlia, Lolium rigidum resistente em mais de 3.000 locais e, no

    Canad, Avena fatua em mais de 500 locais (Heap, 1997). Bitipos de Lolium

    rigidum, resistentes aos herbicidas inibidores de ACCase, apresentam maior nvel de

    resistncia aos herbicidas ariloxifenoxi-propionato do que aos ciclohexanodiona. O

    diferente nvel de resistncia pode ser resultado das diferentes mutaes ocorridas no

    gene que codifica a enzima ACCase e do tipo de alelo desse gene (Powles e Preston,

    1998).

    A anlise da ACCase em bitipos resistentes indicou a ocorrncia de diferentes

    mutaes, em que cada uma delas confere diferentes tipos e nveis de resistncia aos

    herbicidas ariloxifenoxipropionatos e ciclohexanodionas. As mutaes podem ser

    agrupadas da seguinte forma: a) alta resistncia ao sethoxydim e baixa a outros

    herbicidas; b) alta resistncia ao fluazifop e baixa a outros; c) relativamente alta

    resistncia aos ariloxifenoxipropionatos e muito baixa ou nenhuma resistncia aos

    ciclohexanodionas; e d) uma ou mais mutaes conferem nveis intermedirios de

    resistncia (Devine, 1997).

    Os herbicidas pertencentes aos grupos dinitroanilinas e acetanilidas controlam

    com facilidade os bitipos resistentes a estes herbicidas (Devine, 1997).

    Inibidores do fotossistema II

    Os herbicidas pertencentes aos grupos triazinas e urias substitudas (Tabela 4)

    so inibidores do fotossistema II (FSII).

    Os herbicidas inibidores da fotossntese (derivados das triazinas, das urias

    substitudas, dos fenis etc.) causam essa inibio, ligando-se protena D1,

    no stio em que se acopla a plastoquinona "Qb". Estes herbicidas competem com a

    plastoquinona "Qb" parcialmente reduzida (QbH) pelo stio na protena D1, ocasio-

    nando a sada da plastoquinona e interrompendo o fluxo de eltrons entre os

    fotossistemas. A associao das molculas herbicidas com a protena se d com

  • aminocidos diferentes do stio, o que impede que plantas resistentes a determinado

    herbicida ou a um grupo de herbicidas sejam resistentes aos demais herbicidas.

    Tabela 4. Herbicidas inibidores do FSII comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Triazinas

    Ametryn

    Atrazine

    CyanazineMetribuzin

    PrometryneSimazine

    Ametrina AgripecGesapaxHerbipak MetrimexAtrazine NortoxAtrazinaxCoyote 500GesaprimHerbitrinSiptranStauzinaBladex 500Lexone SCSencorGesagardGesatop 500 PWHerbazin 500 BRSimazinax SCSipazina

    Urias

    Diuron

    IsouronLinuron

    Tebuthiuron

    CentionDiuronDiuron FersolDiuron HoechstDiuron nortoxDiuromexHerburon 500 BRKarmexIsouronAfalonLinurexPerflanCombineGraslan

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

    Herbicidas dos grupos urias e triazinas so usados para controle seletivo em

    pr e ps-emergncia das plantas daninhas mono e dicotiledneas em culturas como

    milho, soja, batata, algodo e seringueira. Os sintomas das plantas sob efeito destes

  • herbicidas aparecem inicialmente nas folhas mais velhas, incluindo cloroses nas

    internervuras e nas bordas das folhas, que progridem para necrose.

    A primeira espcie a apresentar resistncia s urias foi Alopecurus

    myosuroides na Inglaterra, em 1982, e na Alemanha, em 1983. A maioria das plantas

    daninhas resistentes s triazinas foi localizada em lavouras de milho na Europa e

    Amrica do Norte. Dentre as plantas resistentes relatadas esto Amaranthus,

    Polygonum e Chenopodium. Estima-se que a rea total infestatada com plantas

    daninhas resistentes aos herbicidas triazinas seja superior a quatro milhes de

    hectares (Weed Science, 1999a).

    Alteraes na protena D1 so as principais causas da ocorrncia de plantas

    resistentes aos herbicidas que agem no fotossistema II, como as triazinas e urias

    substitudas. A mutao na protena D1 provoca alto nvel de resistncia aos

    herbicidas do grupo das triazinas, mas no a todos os herbicidas do grupo das urias.

    A mutao responsvel pela resistncia s triazinas ocorreu no genoma do

    cloroplasto; dessa forma, a resistncia no transmitida hereditariamente via plen,mas sim via herana citoplasmtica.

    Os bitipos de plantas daninhas resistentes s triazinas so controlados com

    eficincia, em muitos pases, mediante aplicao de herbicidas alternativos (Heap,

    1997).

    Inibidores do fotossistema I

    O grupo qumico dos bipiridlios, com as molculas paraquat e diquat, compe

    esta classe de herbicidas (Tabela 5).

    Tabela 5. Herbicidas inibidores do fotossistema I comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Bipiridlios DiquatParaquat

    RegloneGramoxone

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

  • O stio de ao do paraquat e do diquat (captura dos eltrons) est prximo ao

    da ferredoxina. Estes herbicidas capturam os eltrons provenientes da fotossntese e

    da respirao, formando os radicais txicos. Os radicais livres do paraquat e do diquat

    no so os agentes responsveis pelos sintomas de fitotoxicidade observados. Estes

    radicais so instveis e rapidamente sofrem a auto-oxidao, durante a qual so

    produzidos radicais de superxidos, que sofrem o processo de dismutao, para

    formarem o perxido de hidrognio. Tal composto e os superxidos reagem,

    produzindo radicais de hidroxil e oxignio livre (singleto). Estas substncias promovem

    degradao das membranas (peroxidao de lipdios), ocasionando vazamento do suco

    celular e morte do tecido.

    So herbicidas no-seletivos, aplicados em ps-emergncia, com reduzida

    translocao (de contato) e baixa persistncia, usados para controle total davegetao.

    Aps duas dcadas de uso, foram identificadas, no Egito, plantas de Conyza

    bonariensis resistentes a paraquat (Preston, 1994). Depois disso, em 1980, foram

    identificados, no Japo, bitipos de Erigeron philadelphicus, Erigeron sumatrensis e

    Youngia japonica resistentes a estes herbicidas (Weed Science, 1999a).

    Os mecanismos que conferem resistncia aos bipiridlios so reduo na

    translocao e compartimentalizao da molcula (Preston, 1994). Plantas resistentes

    a paraquat apresentam, nos cloroplastos, grande aumento na atividade da enzima

    superxido dismutase (SOD), a qual catalisa a converso do superxido em perxido

    de hidrognio (Hart & Di Tomaso, 1994).

    Devido pequena rea infestada e ao nmero de herbicidas alternativos

    disponveis, os bitipos resistentes a este grupo de herbicidas no so considerados

    de grande importncia (Heap, 1997).

    Reguladores de crescimento

    Os herbicidas deste grupo comercializados no Brasil esto listados na Tabela 6.

    As auxinas sintticas 2,4-D e MCPA revolucionaram o controle de espcies daninhas

  • de folha larga em cereais na dcada de 40, tendo sido usadas largamente desde

    ento.

    Tabela 6. Herbicidas reguladores de crescimento comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Benzicos Dicamba Banvel

    Fenxis

    2,4-DAminolDeferonDMA 806 BREsteron 400Herbi D 480U-46 D-Fluid

    PicolnicosFluroxipir MHEPicloramTriclopyr

    StaranePadronGarlon

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

    O mecanismo de ao envolve os sistemas enzimticos carboximetil celulase e

    RNA polimerase, que influenciam a plasticidade da membrana celular e o

    metabolismo de cidos nuclicos. O aumento anormal de DNA, RNA e protenas

    resulta em diviso descontrolada das clulas, o que se evidencia pelo crescimento

    anormal das plantas sensveis. So herbicidas usados para controlar dicotiledneas em

    culturas gramneas como trigo, cevada, aveia e milho. Os sintomas das plantas sob

    efeito destes herbicidas so epinastia, curvatura de caule e de ramos e, finalmente,

    paralisao do crescimento e clorose dos meristemas, seguida de necrose. As folhas

    de dicotiledneas apresentam encarquilhamento e adquirem colorao verde-escura. A

    morte das plantas sensveis ocorre lentamente, s vezes aps cinco semanas.

    Considerando o tempo e o uso extensivo destes herbicidas, poucas espcies

    evoluram para resistncia at hoje. Os trs primeiros casos de resistncia

    identificados ocorreram nesta classe de herbicida. Em 1957, foram identificados

    bitipos de Commelina diffusa, nos Estados Unidos, e de Daucus carota, no Canad,

    resistentes ao 2,4-D. O terceiro caso foi em 1964, quando bitipos resistentes de

    Convolvulus arvensis foram identificados nos Estados Unidos (Weed Science, 1998).

  • Os bitipos resistentes assumem importncia, em razo do amplo uso destes

    herbicidas para controlar grande nmero de espcies e do restrito nmero de

    herbicidas com potencial para substitu-los (Heap, 1997).

    Interruptores da mitose

    Os herbicidas do grupo qumico dinitroanilinas, como trifluralin, oryzalin e

    pendimethalin (Tabela 7), so usados em pr-emergncia para controlar plantas

    daninhas gramneas em culturas oleaginosas. Estes herbicidas agem, ligando-se

    tubulina, principal protena componente dos microtbulos, e impedindo a

    polimerizao para formar os microtbulos, os quais orientam os cromossomos

    durante a anfase na mitose. Assim, durante a diviso celular no ocorre diviso dos

    cromossomos e resultado a formao de clulas com nmero anormal de

    cromossomos. As plantas sensveis germinam, mas muitas vezes no emergem,

    devido inibio do crescimento do coleptilo e da radcula. Em plantas adultas e

    naquelas que conseguem emergir, observam-se pouca formao de razes e

    engrossamento do colo da planta.

    Tabela 7. Herbicidas interruptores da mitose comercializados no BrasilGrupo qumico Nome comum Nome comercial

    Dinitroanilinas

    Oryzalin

    Pendimethalin

    Trifluralin

    Surflan

    Herbadox

    HerbiflanPremerlinTreflanTrifluralina AgrevoTrifluralina DefensaTrifluralina NortoxTritacTrifluralina GR

    Fonte: Rodrigues e Almeida (1998).

    Apesar do tempo de uso e do longo perodo residual, somente cinco

    monocotiledneas e uma dicotilednea apresentam resistncia a este grupo de

    herbicidas (Heap, 1997). Bitipos de Lolium rigidum apresentam resistncia cruzada

  • s dinitroanilinas, em razo do metabolismo destas molculas (Moss, 1990; Powles e

    Howat, 1990). Nos Estados Unidos, bitipos de Eleusine indica, Sorghum halepense

    e Amaranthus palmeri evoluram resistncia trifluralin aps 15 a 20 anos de

    uso em cereais e leguminosas. A resistncia de Eleusine indica L. trifluralin

    conferida por alteraes na tubulina.

    Os herbicidas inibidores de ACCase constituem o primeiro grupo de herbicidas

    alternativos para controlar bitipos resistentes aos herbicidas do grupo dinitroanilina.

    Contudo, o uso inadequado dos herbicidas inibidores da ACCase como mecanismo

    alternativo para as dinitroanilinas causou a seleo de bitipos de Setaria viridis com

    resistncia mltipla a estes mecanismos (Heap, 1997).

    Evoluo da resistncia

    A teoria da evoluo de Darwin, atravs da seleo natural, considerou o

    princpio da seleo, onde algumas formas apresentam maior sucesso na

    sobrevivncia e reproduo do que outras, em determinado ambiente (Suzuki et al.,

    1992) (Figura 2).

    Figura 2. Representao da seleo de um bitipo resistente em uma populao deplantas sensveis (Gunsolus, 1998).

  • Darwin postulava que a espcie como um todo vai mudando constituio,

    assim, a populao da prxima gerao ter freqncia elevada dos tipos que tiveram

    maior sucesso em sobreviver e se multiplicar nas condies ambientais vigentes.

    O surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas um exemplo de

    evoluo de plantas como conseqncia de mudanas no ambiente provocadas pelo

    homem (Maxwell & Mortimer, 1994). O uso repetido de herbicidas para controle de

    plantas exerce alta presso de seleo, favorecimento de alguns indivduos em

    relao a outros, provocando mudanas na flora de algumas regies. Em geral,

    espcies, ou bitipos, de uma espcie que melhor se adaptam a determinada prtica

    so selecionados e multiplicam-se rapidamente (Holt & Lebaron, 1990). Muitas

    evidncias indicam que o aparecimento de resistncia a um herbicida, em uma

    populao de plantas, se deve seleo de um bitipo resistente preexistente que,

    devido presso de seleo exercida por repetidas aplicaes de um mesmo

    herbicida, encontra condies para multiplicao (Betts et al., 1992) (Tabela 8).

    Os bitipos resistentes podem apresentar menor adaptao ecolgica nesses

    ambientes e tornar-se predominantes, devido eliminao das plantas sensveis. Em

    condies de seleo natural, bitipos com maior adaptao ecolgica

    apresentam, em mdia, maior produo que bitipos menos adaptados (Saari et al.,

    1994).

    A ocorrncia de variaes genticas capazes de ser transmitidas

    hereditariamente e a seleo natural favorecem o surgimento e a evoluo da

    resistncia. Aplicaes repetidas de herbicidas, com o mesmo mecanismo de ao,

    em uma populao de plantas provocam seleo direcional e progressiva de indivduos

    que possuem genes de resistncia. As plantas que expressam o gene de resistnciaso selecionadas, tornando-se predominantes rapidamente na rea (Kissmann, 1996).

  • Tabela 8. Evoluo da resistncia em uma populao de bitipos de plantas daninhasresistentes

    Ano No plantas

    resistentesNo plantassensveis % de controle Evoluo

    0 1 1.000.000 99,9999 Imperceptvel

    1 1 100.000 99,999 Imperceptvel2 1 10.000 99,99 Imperceptvel3 1 1.000 99,9 Imperceptvel4 1 100 99,0 Imperceptvel5 1 10 90,0 Pouco perceptvel6 1 5 80,0 Perceptvel7 1 2 50,0 Evidente

    Fonte: Kissmann (1996).

    No foram encontradas referncias sobre espcies com maior ou menor

    probabilidade de desenvolver resistncia.

    H seis fatores relacionados populao de plantas que interagem e

    determinam a probabilidade e o tempo de evoluo da resistncia. So eles: o nmero

    de alelos envolvidos na expresso da resistncia, a freqncia do(s) alelo(s) da

    resistncia na populao inicialmente sensvel, o modo de herana da resistncia

    (citoplasmtica ou nuclear), as caractersticas reprodutivas da espcie, a presso de

    seleo, e a taxa de cruzamentos entre bitipos resistentes e sensveis (Mortimer,

    1998).

    O nmero de genes que conferem resistncia importante, pois, quando a

    herana polignica a probabilidade do aparecimento de resistncia menor. No

    entanto, quando um nico gene responsvel pela resistncia (monognica), a

    probabilidade da sua ocorrncia maior.

    A maior parte dos casos de resistncia conferida por apenas um gene. Isso se

    deve a dois fatores. Primeiro, os herbicidas modernos so altamente especficos, ou

    seja, agem sobre enzimas especficas nas rotas metablicas. A ocorrncia de

    mutaes no gene que codifica essa enzima pode alterar a sensibilidade da planta ao

    produto, resultando em resistncia. O segundo fator est relacionado com a alta

    presso de seleo exercida por esses herbicidas, devido sua alta eficincia. Para

    haver resistncia polignica, poder ser necessrio que ocorram recombinaes entre

  • os indivduos durante vrias geraes, a fim de se obter adequado nmero de alelos

    para conferir planta alto nvel de resistncia (Jasieniuk et al., 1996).

    A freqncia do(s) alelo(s) da resistncia na populao sensvel geralmente est

    entre 10-16 e 10-6 (Mortimer, 1998), e, quanto maior for a freqncia destes alelos,

    maior ser a probabilidade de seleo de um bitipo resistente. A freqncia do alelo

    da resistncia na populao adquire maior importncia no processo evolutivo da

    resistncia quando o herbicida impe baixa presso de seleo; o contrrio

    verdadeiro quando ocorre alta presso de seleo (Jasieniuk et al., 1996), pois, se a

    freqncia for alta, a evoluo da resistncia poder ser mais rpida,

    independentemente da presso de seleo.

    O tipo de herana da resistncia aspecto fundamental no estabelecimento da

    resistncia em uma populao de plantas. H dois tipos bsicos de herana: a

    citoplasmtica (materna) e a nuclear. Herana citoplasmtica aquela em que os

    caracteres hereditrios so transmitidos via citoplasma; assim, somente a planta-me

    poder transmitir a caracterstica para os filhos, sendo exemplo a resistncia a

    triazinas. No entanto, se a herana for nuclear, a transmisso ser via cromossomos

    e, dessa forma, tanto o pai como a me podem transmitir a resistncia, sendo

    exemplo a resistncia aos inibidores da ALS. Na resistncia com herana materna no

    ocorre migrao de alelos entre populaes adjacentes (Jasieniuk et al., 1996); assim,

    a evoluo deste tipo de resistncia mais lenta do que a do tipo nuclear, em que

    ocorre migrao de alelos via plen.

    As caractersticas reprodutivas, como disperso de plen e nmero de

    propgulos produzidos, influenciam diretamente a disperso das plantas resistentes. A

    disperso da resistncia via plen influenciada pela eficincia de disperso e

    longevidade do plen (Mulugeta et al., 1994). A taxa de cruzamento entre os bitipos

    resistentes e sensveis determina a disperso dos alelos de resistncia na populao.

    O intercmbio de plen, entre plantas resistentes e sensveis, permite a disperso da

    resistncia principalmente em plantas com alta taxa de fecundao cruzada; j a

    contribuio do movimento de sementes relativamente pequena (Saari et al., 1994).

  • Em sntese, o processo da evoluo da resistncia a herbicidas passa por trs

    estdios: eliminao dos bitipos altamente sensveis, restando apenas os mais

    tolerantes e resistentes; eliminao de todos os bitipos, exceto os resistentes, e

    seleo destes dentro de uma populao com alta tolerncia; e intercruzamento

    entre os bitipos sobreviventes, gerando novos indivduos com maior grau de

    resistncia, os quais podem ser re-selecionados posteriormente (Mortimer, 1998).

    Fatores que favorecem o surgimento da resistncia

    Presso de seleo

    A alta presso de seleo - favorecimento de um indivduo em relao a outros

    - imposta sobre uma populao sensvel proporciona espao para o crescimento e

    desenvolvimento dos bitipos resistentes. A alta eficincia dos herbicidas provoca a

    eliminao rpida dos bitipos sensveis, favorecendo o desenvolvimento da

    populao resistente. J os herbicidas com efeito residual longo agem durante tempo

    maior, controlando as plantas sensveis em diversos fluxos germinativos. O uso de

    herbicidas altamente eficientes e com efeito residual longo exerce alta presso de

    seleo (Figura 2).

    Os fatores intensidade de seleo e sua durao contribuem para a presso de

    seleo exercida pelos herbicidas. A intensidade de seleo a resposta da populao

    de plantas s repetidas aplicaes de herbicidas, que medida pela eficincia de

    controle das plantas daninhas-alvo e pela relativa reduo da produo de sementes

    das plantas remanescentes, que ser proporcional dose e, ou, ao tempo. A durao

    da seleo medida pelo tempo em que o herbicida permanece com efeito residual. A

    intensidade e a durao da seleo interagem, provocando variaes sazonais que

    podem ser observadas nas espcies de acordo com a fenologia e o crescimento

    (Mortimer, 1998). O uso repetido de um mesmo herbicida ou de herbicidas com

    mesmo mecanismo de ao, altamente especficos e com longo efeito residual, produz

    alta presso de seleo, ou seja, haver discriminao entre indivduos quanto ao

    nmero de descendentes que so preservados para a gerao seguinte e, assim,

    favorecimento de determinados indivduos em relao a outros. No caso da resistncia

  • a herbicidas, aumenta a possibilidade de seleo de bitipos resistentes (Figura 2),

    que passa a ser uma questo de tempo (Tabela 8) .

    Variabilidade gentica

    A variabilidade gentica permite que os indivduos evoluam e se adaptem a

    novos ambientes. Nas plantas daninhas, possvel notar que existem grandes

    diferenas morfolgicas entre plantas de uma mesma espcie, sugerindo elevada

    variabilidade. A associao da variabilidade gentica das plantas daninhas com a

    adequada intensidade e a durao de seleo torna inevitvel o surgimento de plantas

    resistentes. O(s) gene(s) que confere(m) resistncia a determinado herbicida pode(m)

    estar presente(s) em uma populao antes mesmo que este herbicida seja lanado no

    mercado. Toda populao natural de plantas contm bitipos resistentes a herbicidas,

    que se apresentam indiferentes aplicao de algum destes produtos (Herbicide,

    1998b).

    A ocorrncia das mutaes aumenta a possibilidade do surgimento de plantas

    resistentes. O gene ou os cromossomos mutantes so a fonte essencial de toda a

    variao gentica (Brewbaker, 1969). Geneticamente, h dois caminhos para o

    aparecimento de plantas resistentes: a ocorrncia de um gene, ou de genes, que

    confere a resistncia em freqncia muito baixa na populao ou atravs de uma

    mutao (Mortimer, 1998). Para uma populao que no possui o alelo da resistncia

    antes da aplicao do herbicida, a probabilidade de adquirir resistncia por meio de

    mutaes funo da freqncia da mutao e do tamanho da populao (Maxwell &

    Mortimer, 1994). Desse modo, a probabilidade de ocorrer resistncia, devido

    mutao, em reas com alta infestao de plantas pode ser alta mesmo que a taxa de

    mutao seja baixa (Jasieniuk et al., 1996). A evoluo da resistncia ser mais

    rpida se a populao j possuir o alelo da resistncia, mesmo em baixa freqncia,

    antes do tratamento com o herbicida (Maxwell & Mortimer, 1994).

  • Como evitar resistncia

    Antes que as falhas de controle apaream na lavoura, algumas prticas podem

    ser implantadas, a fim de minimizar o risco do surgimento de plantas resistentes. So

    elas: reduzir a presso de seleo e controlar os indivduos resistentes antes que eles

    possam se multiplicar. Isso pode ser conseguido com a adoo das seguintes prticas:

    - Utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ao;

    - Realizar aplicaes seqenciais;

    - Usar associaes de herbicidas com diferentes mecanismos de ao e de

    destoxificao;

    - Realizar rotao de mecanismo de ao;

    - Limitar aplicaes de um mesmo herbicida;

    - Usar herbicidas com menor presso de seleo (residual e eficincia);

    - Fazer rotao de culturas;

    - Promover rotao de mtodos de controle;

    - Acompanhar mudanas na flora;

    - Empregar sementes certificadas;

    - Evitar que plantas suspeitas produzam sementes; e

    - Efetuar rotao do tipo de preparo do solo (quando possvel).

    A adoo dessas prticas visa reduzir a presso de seleo. A mistura de

    produtos com diferentes mecanismos de ao proporciona controle eficiente por

    maior nmero de anos do que ambos aplicados de forma isolada, j que a

    probabilidade de uma planta daninha se tornar resistente aos dois mecanismos

    simultaneamente dada pelo produto das duas probabilidades individualmente e,

    portanto, muito menor. Para minimizar os riscos de seleo, os herbicidas que

    compem a mistura devem controlar espectro semelhante de plantas daninhas e ter

    persistncia similar e diferentes mecanismos de ao e de destoxificao.

  • As prticas culturais relacionadas visam aumentar as possibilidades de controle

    das plantas daninhas, por meio de diferentes mtodos de controle e mecanismos

    herbicidas.

    Consideraes finais

    A existncia de plantas daninhas resistentes a herbicidas um fato consumado

    no Brasil. Sabe-se que sua evoluo em uma rea dependente da presso de

    seleo, da variabilidade gentica da espcie daninha, do nmero de genes

    envolvidos, do padro de herana, do fluxo gnico e da disperso de propgulos. O

    conhecimento destes pontos importante para embasar previses de propores

    futuras entre plantas resistentes, tolerantes e sensveis em reas afetadas e para

    eleger mtodos de manejo e controle das plantas tolerantes e resistentes que

    permitam impedir a multiplicao e a disseminao do(s) gene(s) para outras

    populaes. Contudo, ainda poucos cientistas esto se dedicando a esta rea no

    Brasil, e as informaes de que se dispe so relacionadas a experincias de outros

    pases, com outras espcies, que poucas vezes podem ser generalizadas para as

    nossas condies. Estudos aprofundados sobre esta questo devem ser realizados

    com urgncia, para que se possa entender e estabelecer estratgias especficas para a

    situao brasileira.

    Referncias bibliogrficas

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