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RESPONSABILIDADE JURÍDICA NO INTERNATO MÉDICO XI Congresso Português de Ginecologia Aveiro, 3 de Junho de 2009 Paulo Sancho Paulo Sancho Advogado / Consultor Jurídico da Ordem dos Médicos Advogado / Consultor Jurídico da Ordem dos Médicos www.sanchoeassociados.com [email protected]

RESPONSABILIDADE JURÍDICA NO INTERNATO MÉDICO XI Congresso Português de Ginecologia Aveiro, 3 de Junho de 2009 Paulo Sancho Advogado / Consultor Jurídico

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RESPONSABILIDADE JURÍDICA NO

INTERNATO MÉDICO

XI Congresso Português de Ginecologia Aveiro, 3 de Junho de 2009

Paulo SanchoPaulo SanchoAdvogado / Consultor Jurídico da Ordem dos MédicosAdvogado / Consultor Jurídico da Ordem dos Médicos

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Os médicos são uns privilegiados!

Por um acto médico têm direito a 4 acções distintas:

Processo penal, pelo cometimento de um crime, por exemplo, homicídio negligente ou ofensas à integridade física;

Processo civil, para indemnização dos danos que daquele acto possam ter decorrido;

Dois processos disciplinares – um perante a Ordem dos Médicos e outro perante a instituição/IGAS.

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Responsabilidade do Médico InternoResponsabilidade do Médico InternoInternato MédicoInternato Médico

Processo único de formação médica Processo único de formação médica especializada, teórica e prática, especializada, teórica e prática, tendo como objectivo habilitar o tendo como objectivo habilitar o médico ao exercício tecnicamente médico ao exercício tecnicamente diferenciado na respectiva área diferenciado na respectiva área profissional de especialização.profissional de especialização.

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Internato MédicoInternato MédicoRegime JurídicoRegime Jurídico

→ → Decreto-Lei n.º 203/2004, de 18/8, alterado Decreto-Lei n.º 203/2004, de 18/8, alterado pelo Decreto-Lei n.º 11/2005, de 6/1, pelo pelo Decreto-Lei n.º 11/2005, de 6/1, pelo Decreto-Lei n.º 60/2007, de 13/3 e pelo Decreto-Lei n.º 60/2007, de 13/3 e pelo Decreto-Lei n.º 45/2009, de 13/2.Decreto-Lei n.º 45/2009, de 13/2.

→ → Regulamento: Portaria 183/2006, de 22/2Regulamento: Portaria 183/2006, de 22/2

→ → Programa de Formação do Internato de Programa de Formação do Internato de Ginecologia/Obstetrícia: Portaria 129/2005, de Ginecologia/Obstetrícia: Portaria 129/2005, de 1/2 1/2

Um único internato médico, ao caso com um período de Um único internato médico, ao caso com um período de formação específica de 6 anos.formação específica de 6 anos.

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Internato MédicoInternato Médico

Durante o internato os internos actuam Durante o internato os internos actuam segundo as segundo as instruções do orientador de instruções do orientador de formação/responsávelformação/responsável do estágio. do estágio.Trata-se de uma Trata-se de uma orientação personalizadaorientação personalizada e e permanente da formação.permanente da formação.O interno está obrigado a integrar-se nas O interno está obrigado a integrar-se nas equipas de trabalho das actividades equipas de trabalho das actividades assistenciais, da investigação e ensino, de assistenciais, da investigação e ensino, de acordo com o programa de formação da acordo com o programa de formação da especialidade.especialidade.

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Internato MédicoInternato MédicoObrigações do orientador de formaçãoObrigações do orientador de formação

Deveres:Deveres: de orientação;de orientação; de supervisão ede supervisão e de fiscalizaçãode fiscalização

Consubstanciam-se no dever de transmissão de Consubstanciam-se no dever de transmissão de conhecimentos e experiências;conhecimentos e experiências;

sem sujeitar o doente aos riscos inerentes à sem sujeitar o doente aos riscos inerentes à curva de aprendizagemcurva de aprendizagem

Oferecendo os melhores cuidados de saúde.Oferecendo os melhores cuidados de saúde.

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Internato MédicoInternato MédicoFormaçãoFormação

O treino consubstancia-se na prática de O treino consubstancia-se na prática de actos médicos especializados por parte dos actos médicos especializados por parte dos internos internos sob estrita supervisão.sob estrita supervisão.É um processo de aprendizagem com um É um processo de aprendizagem com um grau crescente de dificuldade,grau crescente de dificuldade,E com o correspondente E com o correspondente grau crescente de grau crescente de autonomiaautonomia..Existem, pois, níveis de aprendizagem a que Existem, pois, níveis de aprendizagem a que correspondem níveis de responsabilização, correspondem níveis de responsabilização, que estão correlacionados com a que estão correlacionados com a competência do formador, com a do interno, competência do formador, com a do interno, assim como com a experiência ganha com o assim como com a experiência ganha com o treino/casos em cada momento.treino/casos em cada momento.

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Internato MédicoInternato MédicoResponsabilidadeResponsabilidade

Os diplomas legais estabelecem, tão só a Os diplomas legais estabelecem, tão só a orientação directa, personalizada e orientação directa, personalizada e permanente em treino, mas não fazem permanente em treino, mas não fazem referência à responsabilidade jurídica do referência à responsabilidade jurídica do orientador e do formando no caso do doente orientador e do formando no caso do doente sofrer um dano.sofrer um dano.

Importa, pois, saber até que ponto pode ser Importa, pois, saber até que ponto pode ser responsabilizado o orientador de formação responsabilizado o orientador de formação e…e…

Se o interno pode, e em que medida, ser Se o interno pode, e em que medida, ser responsabilizado.responsabilizado.

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Internato MédicoInternato MédicoResponsabilidade PenalResponsabilidade Penal

Na vertente penal entende-se que não Na vertente penal entende-se que não funciona, nesta relação (formador/interno) o funciona, nesta relação (formador/interno) o princípio da confiançaprincípio da confiança, que é fundamental na , que é fundamental na delimitação da responsabilidade criminal.delimitação da responsabilidade criminal.O que existe nesta relação O que existe nesta relação (formador/interno) como elemento (formador/interno) como elemento caracterizador é o caracterizador é o dever de controlodever de controlo, , fiscalização e supervisão.fiscalização e supervisão.O formador tem de contar com o facto do O formador tem de contar com o facto do interno poder cometer falhas na sua interno poder cometer falhas na sua actuação e por isso tem de controlar, actuação e por isso tem de controlar, programar e fiscalizar permanentemente as programar e fiscalizar permanentemente as actividades do formando.actividades do formando.

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Internato MédicoInternato MédicoResponsabilidade PenalResponsabilidade Penal

Quando o dever de cuidado implica uma Quando o dever de cuidado implica uma actividade de controlo ou de fiscalização, não é actividade de controlo ou de fiscalização, não é possível ao formador invocar a confiança numa possível ao formador invocar a confiança numa conduta adequada por parte do interno.conduta adequada por parte do interno.Quer isto dizer que o médico formador ao não Quer isto dizer que o médico formador ao não intervir quando o tem de fazer, intervir quando o tem de fazer, responde responde criminalmente pelos factos que possam constituir criminalmente pelos factos que possam constituir crimecrime..O médico formador tem um O médico formador tem um dever de garantedever de garante face face à actuação do médico interno que pode ser uma à actuação do médico interno que pode ser uma concreta fonte de perigo, podendo por essa via concreta fonte de perigo, podendo por essa via ser ser responsabilizado, por omissão do dever de responsabilizado, por omissão do dever de agiragir..

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Internato MédicoInternato MédicoResponsabilidade PenalResponsabilidade Penal

A A responsabilização do médico internoresponsabilização do médico interno ocorre ocorre sempre que violar um sempre que violar um seuseu dever objectivo de dever objectivo de cuidadocuidado e, por isso, cometer um crime por e, por isso, cometer um crime por negligência.negligência.Contudo e com vista à avaliação da conduta do Contudo e com vista à avaliação da conduta do médico interno é necessário médico interno é necessário apurar os apurar os conhecimentos e a experiência que adquiriu conhecimentos e a experiência que adquiriu durante o período da sua formaçãodurante o período da sua formação..Uma das situações em que o médico interno pode Uma das situações em que o médico interno pode ser responsabilizado é quando ser responsabilizado é quando pratica actos pratica actos sozinhosozinho e para os quais ainda e para os quais ainda não está preparadonão está preparado ou quando claramente exorbita das suas funções. ou quando claramente exorbita das suas funções.

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Internato MédicoInternato MédicoResponsabilidade Penal Responsabilidade Penal

Em conclusão: Em conclusão: ●● Sempre que o médico interno actuar de acordo com Sempre que o médico interno actuar de acordo com as instruções do seu orientador de formação e dessa as instruções do seu orientador de formação e dessa actuação derivar um dano para o doente, por actuação derivar um dano para o doente, por princípio só o orientador deve ser responsabilizado.princípio só o orientador deve ser responsabilizado.●● Se, na situação referida, o médico interno violar Se, na situação referida, o médico interno violar algum dever objectivo de cuidado que sobre ele algum dever objectivo de cuidado que sobre ele impendia, poderá este ser responsabilizado em impendia, poderá este ser responsabilizado em conjunto com o seu orientador.conjunto com o seu orientador.●● O médico interno será unicamente o responsável O médico interno será unicamente o responsável pelos actos que praticar contra as orientações e pelos actos que praticar contra as orientações e instruções recebidas do tutor e, bem assim, sempre instruções recebidas do tutor e, bem assim, sempre que pratique actos sozinho para os quais ainda não que pratique actos sozinho para os quais ainda não está preparado ou quando claramente exorbita das está preparado ou quando claramente exorbita das suas funções.suas funções.

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Responsabilidade Responsabilidade CivilCivil

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O Regime Legal da Responsabilidade O Regime Legal da Responsabilidade Civil Extracontratual do EstadoCivil Extracontratual do Estado

A actividade dos médicos internos está sujeita ao A actividade dos médicos internos está sujeita ao regime legal decorrente da regime legal decorrente da Lei n.º 67/2007Lei n.º 67/2007 de de 31.12 (alterada pela Lei n.º 31/2008 de 17.07), 31.12 (alterada pela Lei n.º 31/2008 de 17.07), que aprovou o que aprovou o Regime da Responsabilidade Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades PúblicasEntidades Públicas..

Este diploma aplica-se aos danos causados pelo Este diploma aplica-se aos danos causados pelo EstadoEstado e e demais pessoas colectivas de demais pessoas colectivas de direito públicodireito público resultantes do exercício da resultantes do exercício da função função administrativa administrativa - n.º 1 do artigo 1.º - n.º 1 do artigo 1.º

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O Regime Legal da Responsabilidade Civil O Regime Legal da Responsabilidade Civil Extracontratual do EstadoExtracontratual do Estado

A Lei n.º 67/2007 aplica-seA Lei n.º 67/2007 aplica-se::

Aos internosAos internos, , cujo vínculo é um contrato de trabalho cujo vínculo é um contrato de trabalho

em funções públicas, na modalidade de contrato a termo em funções públicas, na modalidade de contrato a termo

resolutivo incertoresolutivo incerto, , por danos decorrentes por danos decorrentes

de acções ou omissões adoptadas de acções ou omissões adoptadas

no exercício das funções e por no exercício das funções e por

causa desse exercíciocausa desse exercício..

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O Regime Legal da Responsabilidade Civil O Regime Legal da Responsabilidade Civil Extracontratual do EstadoExtracontratual do Estado

A responsabilidade pelos erros cometidos por um A responsabilidade pelos erros cometidos por um médico interno pode sermédico interno pode ser Assumida em Assumida em exclusivo exclusivo pela instituição/Estado;pela instituição/Estado; Assumida Assumida solidariamente solidariamente (i.e., em conjunto) (i.e., em conjunto)

pela Instituição, pelo médico formador e pelo pela Instituição, pelo médico formador e pelo interno que praticou o facto ilícito – sem prejuízo interno que praticou o facto ilícito – sem prejuízo do direito de regresso do Hospital sobre o médico do direito de regresso do Hospital sobre o médico (direito de exigir a restituição do que foi pago).(direito de exigir a restituição do que foi pago).

Este direito de regresso é Este direito de regresso é obrigatórioobrigatório quando a culpa do quando a culpa do médico é médico é gravegrave. .

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O Regime Legal da Responsabilidade O Regime Legal da Responsabilidade Civil Extracontratual do EstadoCivil Extracontratual do Estado

Se o acto do Interno é praticado com culpa leve, no exercício Se o acto do Interno é praticado com culpa leve, no exercício das suas funções e por causa desse exercício, a das suas funções e por causa desse exercício, a responsabilidade é exclusiva da instituição (Estado) – vide responsabilidade é exclusiva da instituição (Estado) – vide artigo 7º da Lei 67/2007 de 31 de Dezembro.artigo 7º da Lei 67/2007 de 31 de Dezembro.

Nas situações em que o interno é colocado no serviço sem o Nas situações em que o interno é colocado no serviço sem o acompanhamento devido pelo médico que deveria estar a acompanhamento devido pelo médico que deveria estar a supervisionar o trabalho desse interno, a responsabilidade é supervisionar o trabalho desse interno, a responsabilidade é exclusiva do Estado uma vez que, sem prejuízo da exclusiva do Estado uma vez que, sem prejuízo da demonstração da existência de dolo ou culpa grave, se demonstração da existência de dolo ou culpa grave, se presume a culpa leve sempre que tenha havido presume a culpa leve sempre que tenha havido incumprimento dos deveres de vigilância por parte do incumprimento dos deveres de vigilância por parte do orientador ou de quem o substitua (art.º 10.º Lei 67/2007 de orientador ou de quem o substitua (art.º 10.º Lei 67/2007 de 31 de Dezembro).31 de Dezembro).

Caso o Interno desrespeite estas regras e decida actuar sozinho Caso o Interno desrespeite estas regras e decida actuar sozinho assume total responsabilidade pelas consequências do acto assume total responsabilidade pelas consequências do acto praticado porquanto “praticado porquanto “excedeu o limite das suas funçõesexcedeu o limite das suas funções”.”.

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