Resposta a “Uma pergunta para um irmão evangélico sério” do Padre Juan Carlos Sack – 2ª Parte

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  • 7/31/2019 Resposta a Uma pergunta para um irmo evanglico srio do Padre Juan Carlos Sack 2 Parte

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    4. Que toda a tradio no escrita deva ser rejeitada a priori e a fortiori.

    Os cristos evanglicos crem que a Igreja coluna e fundamento da verdade, quedeve ter mestres piedosos e conhecedores das Escrituras, e que muitas tradiesso expresses vlidas da f crist. Aceitam as expresses normativas dos Credosdos primeiros conclios ecumnicos, e tomam seriamente os ensinos dos Padres,

    assim como dos muitos e muito bons mestres, doutores e comentaristas que Deusdeu Igreja ao longo dos sculos. No crem que a Escritura seja de interpretaoprivada (livre interpretao), mas sustentam o princpio do Livre Exame.

    Se aceitam algumas coisas e rejeitam outras, o fazem com base no que consideramser os ensinos das Escrituras. O ensino da tradio sim, mesmo da sua prpriatradio - , dos conclios, dos Padres, etc, deve conformar-se s Escrituras, que soa Palavra final, inspirada e infalvel de Deus.

    [Juan Carlos] De modo que, se no te importas, proponho delimitar o dilogo prpria pergunta do artigo: qual seria ento o teu fundamento para pensar que oque no ficou escrito na Bblia - por exemplo, a suposta Assuno de Maria aos

    cus -, ao no encontrar-se explicitamente relatado a deva ser esquecido pelaIgreja? Em outras palavras, QUANDO comeou a doutrina de s a bblia?

    Tu escreves-me, por exemplo:

    At que ponto podem ser relevantes para a doutrina e a prtica as coisas que osautores do Novo Testamento, inspirados pelo Esprito Santo, declinaram incluir nosseus escritos?

    Conforme escreves, d a impresso que para ti o que os autores do NT nopuseram por escrito pelo menos "pouco relevante". Ests a dizer, com bastanteclareza, que o que no ficou escrito no relevante.

    [Fernando Sarav] Sugiro-te que leias de novo o pargrafo que precede a perguntaque citas. Em relao ao teu comentrio, com efeito, a minha resposta ,certamente, que o que no ficou escrito no relevante para a doutrina ou aprtica.

    Ora, o facto de eu ter uma resposta no significa que a pergunta seja retrica.Dado que se trata de um dilogo sobre certas diferenas, a pergunta exige umaresposta fundada.

    Eu admitiria como resposta vlida uma lista daquelas coisas ensinadas por Jesus oupelos Apstolos que, no contendo-se explicitamente ou por clara implicao nasEscrituras, so absolutamente necessrias para a salvao do ponto de vistadoutrinal ou prtico. Evidentemente, tal lista dever ser acompanhada dadocumentao probatria de que tais coisas realmente remontam a Jesus ou aosApstolos.

    Em relao s coisas que no se ensinam na Bblia e que hoje algumas Igrejascrem, pois, muitas delas poderiam ser admitidas como crenas piedosas desdeque no se opusessem s Escrituras, mas de modo algum como algo que necessrio para a salvao. Isso no exime a Igreja de investigar diligentemente aorigem de tais crenas, se que quer cumprir a sua funo como proclamadora daVerdade revelada por Deus. Se a origem duvidosa ou directamente espria,pois... ter que discerni-lo e ensin-lo claramente.

    [Juan Carlos] Terias gostado que os escritores sagrados tivessem terminado osseus escritos com palavras deste teor: "Pois bem, aqui termina o meu evangelho-

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    carta-actos, tudo o que eu no escrevi no meu livro, seja considerado irrelevante,ainda que tenha sido ensinado por Jesus e pelos Apstolos". Resultar-te- ridculatal expresso. Mas parece que no te to ridculo o contedo, pois te perguntasat que ponto pode ser relevante o que no escreveram, sugerindo claramente aresposta: "pouco relevante, ou melhor, totalmente irrelevante, pois o Esprito Santolhes mandou que o deixassem de fora". Ou seja, gostarias que cada livro bblico

    tivesse terminado como te disse mais acima.

    [Fernando Sarav] Suponho que um pouco de reflexo te convencer da fraquezadeste argumento; parece-me que no corresponde ao nvel desta discusso. Aminha resposta breve no, no gostaria, e alm disso acharia muito difcil de crerque qualquer escritor inspirado pelo Esprito Santo tivesse escrito tal coisa: ...sejaconsiderado irrelevante, ainda que tenha sido ensinado por Jesus e pelosApstolos. Quanto ideia subjacente no se trata do meu gosto pessoal, mas dosfactos tal como esto registados na histria. Creio que um exame da evidnciapermite concluir razoavelmente que nada importante para a vida e para a piedadeficou de fora, e quem opine o contrrio dever prover evidncia de quais verdadesou mandamentos fundamentais foram excludos com o consentimento do Esprito

    Santo para ser transmitidos por via oral.

    [Juan Carlos] No entanto isso no assim, Deus no teve esse plano. TUDO o quedisse e fez Jesus relevante. "Ide e ensinai a guardar TUDO o que vos disse", disseJesus. Houve algum apstolo que pelo menos tenha sugerido que o que eleescreveu transmite TUDO? Realmente acreditas que irrelevante o que no ficouescrito? A questo esta: foi inteno de Deus REDUZIR o relevante da doutrina aoque ficou por escrito ou no? Tu dizes que sim, segundo toda a tua carta, eu digoque no.

    [Fernando Sarav] Dizer que tudo o que disse e fez Jesus relevante pode soarmuito piedoso, mas creio que um instante de reflexo mostrar que pouco

    realista. A Bblia cala por completo tudo o que Jesus fez e disse at aos doze anos,e desde a at aos (tradicionalmente) trinta anos. A Bblia cala inclusive o contedopreciso dos ensinamentos relativos a muito do que Jesus disse depois deressuscitar (Lucas 24:25-27, 44-47; Actos 1:3). Com toda a probabilidade, estascoisas foram, no entanto, incorporadas na paradosis apostlica, inicialmente oral edepois cristalizada por escrito no Novo Testamento. Eu creio que bastanterazovel afirmar que, ainda que nenhum Apstolo individualmente tenhatransmitido TUDO o que Jesus ensinou e mandou, o seu trabalho conjunto no NovoTestamento um registo confivel e perptuo do cumprimento desse mandato doSenhor ressuscitado.

    Embora se trate de uma hiprbole, julgo que h muito de substncia no dito emJoo 21:25, Jesus fez tambm muitas outras coisas, tantas que se cada uma delasse escrevesse, penso que os livros que poderiam escrever-se no caberiam nomundo. H pouco tempo li que se escreveram algo como 65000 livros sobre Jesus.

    Ora, o argumento que tu aplicas s Escrituras se aplica tambm tradio oral:tambm no poderia conter TUDO o que fez e disse Jesus. Mesmo que pudesse,seria impossvel para qualquer cristo individual, por mais erudito e consagrado quefosse, ter um conhecimento adequado de semelhante hipottico cmulo deinformao. Por outro lado, como antes te assinalava, diferena das Escrituras,

    jamais Igreja alguma determinou sequer aproximadamente o contedo da supostatradio oral de origem apostlica.

    De modo que, voltando ao tema, creio que na revelao escrita em seu conjunto

    Antigo e Novo Testamento - est contido TUDO o que Deus quis que soubssemospara nossa salvao e vida de f. Aplica-se aqui aquilo de As coisas encobertas

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    pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas so para ns e para os nossosfilhos, para que observemos todas as palavras desta Lei (Deut 29:29).

    [Juan Carlos] No interessa o que a ti ou a mim nos parea, como tu bem dizescitando Santo Agostinho, pois em questes de religio devemos buscar o que DEUSestabeleceu, no o que NS cremos ser o melhor (Jesus, tudo o que estabeleceu, o

    estabeleceu de modo oral... curioso, verdade?.

    [Fernando Sarav] Acabas de tirar do contexto a citao a que te referes, uma vezque o bispo de Hipona continua dizendo Indubitavelmente existem Livros doSenhor, a cuja autoridade ambos damos nosso consentimento, submisso eobedincia; neles pois busquemos a igreja, e neles discutamos a nossa disputa. Ouseja, que as Escrituras eram o rbitro final, e isto devido a que so o que Deusestabeleceu.

    Deus mandou a Moiss que escrevesse tudo quanto lhe havia mandado, semacrescentar nem diminuir (Deut 4:2). Tambm a Isaas, etc. Jesus e os Apstolosusaram as Escrituras, no a tradio oral, para ensinar e refutar falsas crenas.

    verdade que Jesus no escreveu nada, como tambm verdade que, desde acriao do mundo at ao tempo de Moiss no houve um registo inspirado do queDeus quis que soubssemos... e no se trata de uma crnica exaustiva da histriado mundo nem de TUDO o que Deus fez nesse tempo, mas da histria da salvao.No caso dos ensinamentos de Jesus, o intervalo entre os factos e o seu registoescrito de umas poucas dcadas se tanto.

    Ambos admitimos que os Apstolos no actuaram caprichosamente, mas emobedincia ao mandato do Senhor de transmitir fielmente os Seus ensinamentos.Quando So Joo recebeu a Revelao ou Apocalipse, Jesus lhe mandou que aescrevesse: Apoc 1:3, 11, 19; 2:1, 12 etc.).

    Em outro lado, So Joo afirma que escreve o que foi desde o princpio, o queouvimos, o que vimos com os nossos prprios olhos, o que contemplamos e asnossas mos apalparam, isto vos anunciamos a respeito do Verbo da vida. (1 Joo1:1).

    [Juan Carlos] No meu artigo eu dizia que h que ver o que Deus quis fazer e comoDeus o quis fazer. Ele pde ter excludo da doutrina revelada - como o fazem, defacto, os evanglicos - tudo o que no estivesse escrito explicitamente na Bblia, oumelhor dizendo, pde ter querido que ns nos fiquemos com o que explicitamentediz a Bblia, e basta. Mas... de onde tiramos essa doutrina? evanglica? Foiensinada por Jesus ou pelos apstolos? Podes-me dar algumas citaes? Que medizes das citaes onde se fala de conservar a doutrina oral, de cujas citaes nomencionas nada?

    [Fernando Sarav] Creio que podemos conhecer o que Deus quis fazer com base noque efectivamente fez, visto que os Seus propsitos no podem ser torcidos pelavontade do homem. um erro grave sustentar que os evanglicos excluem dadoutrina revelada tudo o que no est explicitamente escrito na Bblia. Um exemplobvio deste erro a doutrina da Santssima Trindade, que no se ensinaexplicitamente na Bblia, mas pode deduzir-se dela como uma necessidade lgicadas afirmaes que sustentam que h um s Deus verdadeiro, que o Pai, o Filho e oEsprito Santo so Deus e ao mesmo tempo Pessoas diferentes.

    Do mesmo modo, a doutrina da Sola Scriptura pode deduzir-se como logicamente

    necessria a partir dos dados da Bblia e da histria. Mais frente ocupo-me dahistria; por agora vejamos como se deduz da Bblia, porque

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    [1] Jesus advertiu muito seriamente contra invalidar as Escrituras obrigatrias einspiradas - por causa da tradio oral (Mar 7: 8-9 e par.). No estamos falandoaqui de quaisquer tradies, mas das tradies religiosas piedosamentetransmitidas e conservadas pelos mestres do seu tempo.

    [2] Alm da Sua prpria Palavra de plena autoridade, o Senhor recorreu sempre sEscrituras para decidir qualquer controvrsia.

    [3] Porque Jesus Cristo acusou os judeus no de ignorar as tradies orais, mas deno compreender que as Escrituras davam testemunho d`Ele (Joo 5:39).

    [4] Porque aos Saduceus, que rejeitavam a tradio oral dos fariseus, o Senhor nolhes reprovou isso, mas sim o desconhecer "as Escrituras e o poder de Deus" (Mar12: 24-27 e par.).

    [5] Os Apstolos e alguns dos seus condiscpulos (como Marcos ou Lucas)consideraram apropriado inspirados seguramente pelo Esprito Santo - pr por

    escrito os seus ensinamentos, como Moiss, Isaas e o resto dos autores humanosdo AT puseram por escrito os seus.

    [6] So Paulo afirma a natureza essencialmente inspirada das Escrituras e a suaabsoluta suficincia quando escreve a Timteo (2 Tim 3: 15-17); o facto de oApstolo se referir ao AT no modifica o seu juzo sobre a natureza da Escrituraquanto ao seu carcter normativo.

    [7] Os escritos apostlicos so considerados "Escritura" (2 Pedro 3: 15-16; 1 Tim5:18 comparado com Lucas 10:7).

    [8] Considera-se louvvel que os que ouviam os Apstolos vissem por si mesmos

    se a pregao era consistente com o j revelado por escrito no AT (Actos 17:11).[9] Ao dirigir-se aos Corntios a propsito das contendas entre faces, So Paulorecomenda que, "como est escrito, o que se gloria, glorie-se no Senhor" (1:31, cf.Jer 9: 23-24). E mais adiante, no mesmo contexto, aconselha "a no ir alm do queest escrito" (4:6). Como quer que se veja este versculo, parece claro que paraSo Paulo o escrito tinha um carcter normativo que ia para l dos pareceresindividuais.

    [10] A prpria Bblia d testemunho do pouco confivel que a tradio oral nomdio ou longo prazo. "Por isso o dito se propagou entre os irmos que aquelediscpulo no morreria, mas Jesus no disse que no morreria..." (Joo 21:23). SoJoo obviamente corrige aqui, por escrito, uma tradio oral errnea.

    [Juan Carlos] Ou pelo menos, foi ensinada pela Igreja em algum momento dahistria? Tu sabes quando os cristos comearam a guiar-se exclusivamente peloque diz a Bblia, deixando de lado os ensinamentos da Igreja que no estavamcontidos explicitamente na Bblia?

    [Fernando Sarav] Como o indiquei antes, explicitamente uma qualificao queno convm nem s crenas catlicas romanas, nem s crists evanglicas (nem sortodoxas orientais se formos por a).

    Alm disso, no estvamos a discutir os ensinamentos da Igreja. Como j disse, osevanglicos no questionam o direito ou melhor dito a obrigao kerigmtica,

    docente e disciplinar da Igreja, mas os colocamos em subordinao ao claroensinamento escritural.

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    O foco da discusso era a Sola Scriptura (tal como a delimitei antes) econsequentemente, os supostos ensinamentos orais de origem apostlica que nose encontram na Bblia.

    O problema que tal tradio oral, se que existe, carece da preciso, clareza,

    incorruptibilidade e confiabilidade da revelao escrita. Se pomos como exemplo osditos e feitos de Jesus e dos Apstolos que no aparecem no NT, sabesperfeitamente que h um grande acmulo de literatura apcrifa que tentoupreencher este vazio. Diversos estudiosos tentaram identificar possveis ditosautnticos de Jesus que puderam ter-se transmitido por esta via, com um sucessomuito baixo (por exemplo, o luterano Joachim Jeremias no seu Palavrasdesconhecidas de Jesus). Estas fontes seguramente confiariam em diversastradies como a refutada por So Joo que j mencionei - que no eram demodo nenhum confiveis. Acertadamente, a antiga Igreja catlica cedo rejeitoutodas estas lendas e especulaes.

    No insisti, como assinalas, nos mandatos apostlicos de receber o que eles

    ensinaram tanto por escrito como verbalmente (embora na minha primeira cartatenha includo uma srie de citaes a tal respeito) por uma razo muito simples.Os Apstolos receberam do Senhor a sua misso como Testemunhas do Cristoressuscitado. Enquanto eles viviam, era natural que tanto os seus ensinamentosorais como escritos fossem recebidos como a doutrina autorizada pelo prprioDeus. Isto no est em discusso: os Apstolos ensinaram com autoridade tantooralmente como por escrito. No entanto, h uma diferena importante entreautoridade e infalibilidade. Como catlico, podes facilmente entender estadiferena, pois aplica-se ao magistrio ordinrio e extraordinrio (ex cathedra) doPapa.

    O facto dos Apstolos terem possudo tal autoridade no significa que fossem

    infalveis em todos os seus ensinamentos e condutas. Na realidade existemindicaes de que este no era o caso, como quando So Paulo teve de exortar SoPedro pelo seu comportamento reprovvel em Antioquia (Glatas 2:11-14).Tambm So Paulo, nos seus conselhos aos corntios, distingue entre o que mandamento do Senhor do que a sua prpria postura, sem dvida vlida eautorizada mas ainda assim no necessariamente inspirada (1 Cor 7:10,12).

    Por conseguinte, preciso traar uma distino entre tudo o que os Apstolosfizeram e disseram, e os seus ensinamentos inspirados e portanto infalveis. Estesltimos se encontram com certeza no Novo Testamento. Dos outros, poucosabemos. As supostas tradies orais, pela sua prpria natureza, no so fontesconfiveis, muito menos infalveis, do que os Apstolos ensinaram. A Bblia sim.

    Deveria ser evidente que a Igreja primitiva compreendeu claramente a diferenaentre a autoridade e vigncia permanente do escrito. No se pode assinalar compreciso um momento, porque no o houve. Depois dos Apstolos morrer,persistiram por um tempo alguns dos seus ensinamentos orais, transmitidos pelosseus ouvintes directos. A julgar por alguns deles que menciona Ireneu, taisensinamentos sofreram rpida corrupo. O exemplo das tradies supostamenteapostlicas conservadas pelo ilustre mas pouco crtico bispo de Hierpolis, Papias,devia bastar como advertncia.

    J desde o sculo II os mestres da Igreja, como Justino, Ireneu, Tertuliano,Cipriano, etc., provam as suas doutrinas mediante as Escrituras. Sem dvida quedefendem o papel fundamental da Igreja, assim como a sua tradio interpretativa,

    mas no a colocam jamais acima das Escrituras. Em outras palavras, ainda que nousassem a expresso Sola Scriptura procuravam basear os seus ensinamentos no

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    escrito, e no em supostas tradies apostlicas independentes. Este feliz estadode coisas manteve-se por sculos, e deu como resultado global (sem discutirdetalhes como o baptismo infantil) a sustentao da ortodoxia bblica pelo conjuntoda Igreja, expressa entre outras coisas pelos Credos histricos.

    J no segundo sculo ou seja, logo que morreu o ltimo Apstolo - se perfila o

    ncleo do que h-de constituir o NT. A autoridade apostlica, a consistnciainterna, a antiguidade e a catolicidade destes Escritos sagrados foram alguns dosfactores que influram na sua pronta aceitao. Em finais do sculo IV o cnonalcanou a sua forma actual, mas j existia desde muito antes um amplo consensoem termos gerais. Ao fixar o cnon, a Igreja universal no concedeu aos escritosalguma autoridade que no tivessem intrinsecamente, como Palavra inspirada deDeus. O que a Igreja fez foi dar testemunho ao mundo de tal qualidade.Notavelmente, em contrapartida, a Igreja primitiva no fez a mesma coisa comalguma tradio oral.

    Um par de sculos mais tarde, no entanto, comeou a propiciar-se a noo datradio como outra fonte de revelao. O sucesso de tal inovao evidencia-se

    no curso posterior dos factos. Quando chegamos ao sculo XVI o clamor de reformadentro da Igreja do Ocidente (governada desde Roma) era to intenso comoextenso. Os Reformadores no fizeram seno reformular um princpio que tinhasido informalmente admitido j pela Igreja sub-apostlica.

    [Juan Carlos] A minha posio esta: a prpria Bblia - tomada por ti e por mimcomo a Palavra de Deus escrita - ensina o contrrio: nunca limita a revelao a umlivro ou a cem livros.

    [Fernando Sarav] Pois, querido irmo, este um argumento perigosssimo. Tantoos catlicos como os evanglicos sustentam que a revelao de Deus em Cristo aPalavra divina final e definitiva para a humanidade, e que no devemos esperar

    outra revelao antes de o Senhor voltar. Que a Bblia no o diga explicitamenteno significa que no possa correctamente inferir-se dela (Hebreus 1:1-3, etc).

    Da perspectiva evanglica, os desvios doutrinais mais graves ocorreram no pelaadeso Sola Scriptura, mas precisamente pelo seu abandono. Isto se aplica tantoaos catlicos como aos protestantes. Por exemplo, no mormonismo as revelaesde Joseph Smith tm precedncia sobre a Escritura. Entre as Testemunhas deJeov pouco importa o que os membros interpretem: o seu Corpo Governantedecide por eles qual A interpretao das Escrituras (e as mudam com frequncia).De igual modo, no catolicismo romano o abandono de Sola Scriptura o que tornato difcil de conciliar as diferenas com outros cristos que partilham com elemuitas doutrinas fundamentais.

    [Juan Carlos] (o que dizes de Apocalipse 22 uma aplicao que tu fazes a toda aBblia do que So Joo escreveu em relao s profecias de UM livro: com queautoridade o fazes? posso eu pensar que NO se referia a toda a Bblia? quemdecide a questo?).

    [Fernando Sarav] Parece-me que no leste esta parte com cuidado. A minhaaluso a Apocalipse 22 era uma resposta concreta a esta afirmao tua: Ningumpode dizer baseado em algum texto bblico que os autores dos textos do NovoTestamento quiseram limitar o ensinamento de Jesus ou dos Apstolos ao que elesestavam escrevendo.

    Agora l COM CUIDADO o que eu escrevi a tal respeito (depois de citar o texto):

    Isto significa que, contrariamente ao que dizes, pelo menos um autor bblico, e ummuito importante, considerou apropriado restringir taxativamente os limites desta

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    revelao. Claro est que em sentido estrito esta advertncia somente vlida parao Apocalipse, mas por outro lado o facto de ter sido provavelmente o ltimo livrobblico a escrever-se, e a Igreja primitiva ter considerado apropriado coloc-lo nofinal da Bblia no pode passar-se levianamente por alto.

    Da advertncia de Joo observa-se que ele considerava fundamental que este

    documento no fosse alterado de modo algum. No achas que este princpio apropriado para todo o NT?