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ResumãoMaio
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Filosofia
René Descartes
Resumo
René descartes é um pensador de um período considerado transitório. Suas ideias ajudaram a formular a
Revolução Científica que se estende da Renascença ao Iluminismo. Teve acesso à formação intelectual,
frustrando-se com as concepções filosóficas tomistas (que se baseavam majoritariamente em Aristóteles).
Além dos métodos propostos pelo pensador, uma grande contribuição é a matematização da filosofia.
Descartes defendia que todo o pensamento deveria seguir a lógica matemática. Não que pensasse o mundo
através dos números, mas que o funcionamento do pensamento matemático deveria ser admitido pela
filosofia por completo, onde uma verdade levasse consequentemente à outra pela lógica dedutiva.
O ambiente filosófico de seu período era hostil a esse pensamento. Diante da série de conflitos econômicos,
sociais, científicos e religiosos que permeavam a Europa, vários filósofos passaram a defender o ceticismo,
isto é, a doutrina filosófica segundo a qual não é possível obter nenhum conhecimento seguro a respeito do
que quer que seja. No fim das contas, tudo é relativo e só nos resta a dúvida.
Mas Descartes acreditava na existência e na possibilidade de alcançar a verdade. Por isso, ele buscou refutar
o ceticismo, estabelecendo as bases fundamentais de um conhecimento absolutamente seguro e, garantindo,
assim nossa possibilidade de compreender a realidade com segurança. Para tal, Descartes, baseado na sua
concepção de filosofia, propõe uma postura inovadora e radical
Dúvida metódica
Apesar de criticar o ceticismo, Descartes reconhece a importância da dúvida na produção do conhecimento
filosófico. Afinal, conhecimento sem reflexão é opinião, não há o que justifique esse conhecimento como
verdadeiro. Por isso, Descartes faz uso da dúvida como instrumento, transformando a proposta do ceticismo
numa etapa na construção do conhecimento e não na conclusão final sobre ele.
A dúvida de Descartes pode ser chamada de metódica porque é ordenada, lógica, tem um desenvolvimento
controlado com um determinado fim. E é radical porque atinge todo o conhecimento que temos. Por isso, a
dúvida também pode ser chamada de hiperbólica (exagerada). Para não deixar nada de fora, Descartes
duvidou da própria existência. Vamos então as etapas dessa dúvida metódica.
• 1ª dúvida (argumento dos sentidos): Já fui mais de uma vez enganado por minha sensibilidade. Ora,
se os sentidos já me enganaram uma vez, que garantia tenho eu de que não me enganarão
novamente?
O que sobrevive: as impressões sensíveis mais fortes (de minha própria existência, por exemplo)
• 2ª dúvida (argumento do sonho): Já tive a experiência, inúmeras vezes, de sonhos intensos, que me
pareciam profundamente reais. Ora, se já estive dormindo e cria estar dormindo, o que me garante
que não estou dormindo agora?
O que resiste: os elementos básicos da percepção sensível (cor, tamanho, textura, tempo, etc.) e as
verdades matemáticas
• 3ª dúvida (argumento do gênio maligno): Ora, e se houver uma ser todo-poderoso que me engana a
cada vez em que eu julgo possuir um conhecimento verdadeiro? É possível concebê-lo, portanto é
razoável duvidar.
O que resta: aparentemente nada
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Filosofia
Mas, pensando bem, encontramos uma certeza em meio a tanta dúvida. Se estou duvidando, estou pensando.
Ora, se para duvidar é preciso pensar e só posso pensar se existir, duvidar da minha existência confirma
exatamente o contrário, eu existo! (argumento do “cogito” -> “Penso, logo existo = “Cogito, ergo sum”). Há
agora um ponto fixo indubitável. Com base na certeza da sua existência, Descartes passa a deduzir uma série
de outras certezas (matematização). Nessa reconstrução do edifício do conhecimento, só que agora sob
bases seguras, as mais importantes verdades que Descartes acreditou provar foram:
Se é através da minha capacidade de pensar que posso garantir a minha própria existência, mesmo que eu
ainda não saiba de qualquer outra coisa (nem se tenho corpo), portanto, é esta capacidade de me pensar que
define: minha essência é a racionalidade, é a capacidade de pensar.
Dentre todas as ideias que possuo, ainda sem saber se existe algo além de mim, há uma ideia diferente de
todas as outras: é a ideia de Deus. Esta ideia se diferencia por não dizer respeito a um ser finito, como as
outras, mas sim a um ser infinito. Ora, de onde pode me ter vindo esta ideia? Ela não pode ter vindo de mim,
pois eu sou um ser finito, enquanto esta ideia é infinita. Como o menor não pode dar origem ao maior, então
o finito não pode gerar o infinito. Assim, essa ideia não pode ter sido gerada por mim. Há, portanto, um Ser
infinito que pôs esta ideia em mim. A este ser chama-se Deus. Sendo infinito, Deus possui necessariamente
todas as perfeições, tanto de poder, quanto morais.
Prosseguindo, se há um Deus perfeitamente poderoso e bom, então o mundo à nossa volta também existe de
fato, pois um Deus assim não permitiria que eu me enganasse tão radicalmente a respeito da realidade. É
compatível com a bondade infinita de um ser todo-poderoso permitir que eu me engane às vezes, mas não
que eu me engane sempre. Graças a Deus, portanto, pode-se dizer com certeza que o mundo exterior à
minha mente é real.
Por fim, se foi a descoberta do cogito, isto é, se foi a descoberta de minha capacidade racional que legitimou
todo o meu saber obtido de modo seguro, e, ao contrário, tudo o que eu percebia pelos sentidos era
desconfiável, então não há dúvida de que a razão é o fundamento último do conhecimento humano e que só
ela nos dá segurança na busca da verdade. Os sentidos, ao contrário, só têm valor sob o comando da razão.
Dessas conclusões Descartes estabelece então que:
• No mundo há apenas duas substâncias, res cogitans e res extensa.
• A res cogitans é a esfera da consciência, da razão e da ideia.
• A res extensa é o mundo material, conhecível, mas não confiável.
• O ser humano é composto pelas duas, sendo sua parte essencial a res cogitans
• Deus é uma substância especial, ou separada da existência mundana. Descartes a chama de res infinita, definida pelas características que já foram apresentadas.
Descartes formula então uma concepção metafísica dualista e idealista, onde a existência é formada por
matéria e ideia, sendo a ideia (ou razão) preponderante por ser confiável.
Racionalismo
O racionalismo é uma corrente filosófica da Teoria do Conhecimento, área da Filosofia que de dedica a discutir
as origens e possibilidades do conhecimento. Nessa corrente a origem do conhecimento está na razão. Os
sentidos não são confiáveis para produzir um conhecimento verdadeiro. O que embasaria, no final das contas,
a verdade seria o processo lógico da mente. Essa percepção de Descartes o leva a crer que há ideias inatas
perfeitamente racionais, isentas da influência das percepções sensoriais, tais quais as ideias matemáticas e
noções categóricas como movimento e extensão. Esse processo lógico também tinha um método, conhecido
por nós como método cartesiano. Nele há quatro regras básicas que levariam até a verdade, são elas:
Regra da evidência
Só pode receber o valor de verdade aquilo que seja evidente. Aqui evidente não é o que é óbvio ou o que está
exposto à nós pelos sentidos, já que estes não são confiáveis. Evidente é aquilo que é claro e distinto.
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Filosofia
Regra da análise:
A compreensão deve ser metodologicamente facilitada. Analisar algo em toda a sua complexidade pode
impedir ou atrapalhar a resolução de um problema. Por isso, Descartes defende dividir as dificuldades em
partes menores para ajudar na solução.
Regra da síntese:
Depois de dividir, reordenar o raciocínio para a solução, do mais simples para o mais complexo.
Regra da enumeração:
Verificar o que se está abordando e as conclusões obtidas para que nada fique de fora.
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Filosofia
Exercícios
1. (Enem 2016) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de
problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem
poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido,
não ciências, mas histórias. DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como
resultado da
a) investigação de natureza empírica.
b) retomada da tradição intelectual.
c) imposição de valores ortodoxos.
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral.
2. (Enem 2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido
de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram
anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter
positivo por contribuir para o(a)
a) dissolução do saber científico.
b) recuperação dos antigos juízos.
c) exaltação do pensamento clássico.
d) surgimento do conhecimento inabalável.
e) fortalecimento dos preconceitos religiosos.
3. Enem 2013) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de
que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa
anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de
um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de
enriquecer sua vida, física e culturalmente. CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a
ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse
contexto, a investigação científica consiste em
a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes.
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso.
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e
religiosos.
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos.
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Filosofia
4. (Enem 2013) Texto I
Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas
opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados
não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida,
desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de
estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
Texto II
É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo
o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma
gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente
varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do
conhecimento, deve-se
a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.
5. (Enem 2012) Texto I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
Texto II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum
significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for
impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A
comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume
a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.
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Filosofia
6. (Ufsm 2015) O conhecimento é uma ferramenta essencial para a sobrevivência humana. Os principais filósofos modernos argumentaram que nosso conhecimento do mundo seria muito limitado se não
pudéssemos ultrapassar as informações que a percepção sensível oferece. No período moderno, qual
processo cognitivo foi ressaltado como fundamental, pois permitia obter conhecimento direto, novo e
capaz de antecipar acontecimentos do mundo físico e também do comportamento social?
a) Dedução.
b) Indução.
c) Memorização.
d) Testemunho.
e) Oratória e retórica.
7. (Unicamp 2014) A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno. Neste comportamento, a verdade é atingida através da supressão provisória de todo
conhecimento, que passa a ser considerado como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito
crítico próprio da Filosofia. (Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.)
A partir do texto, é correto afirmar que:
a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes.
b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser espontânea e dispensar o rigor
metodológico.
c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são
coincidentes.
d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pensamento filosófico
moderno.
e) Duvidar não é próprio da filosofia, já que esse modo de pensamento está sempre em busca da
construção de certezas.
8. (UNESP 2017) Todas as vezes que mantenho minha vontade dentro dos limites do meu conhecimento, de tal maneira que ela não formule juízo algum a não ser a respeito das coisas que lhe são claras e
distintamente representadas pelo entendimento, não pode acontecer que eu me equivoque; pois toda
concepção clara e distinta é, com certeza, alguma coisa de real e de positivo, e, assim, não pode se
originar do nada, mas deve ter obrigatoriamente Deus como seu autor; Deus que, sendo perfeito, não
pode ser causa de equívoco algum; e, por conseguinte, é necessário concluir que uma tal concepção
ou um tal juízo é verdadeiro. (René Descartes. “Vida e Obra”. Os pensadores, 2000.)
Sobre o racionalismo cartesiano, é correto afirmar que
a) sua concepção sobre a existência de Deus exerceu grande influência na renovação religiosa da
época.
b) sua valorização da clareza e distinção do conhecimento científico baseou-se no irracionalismo.
c) desenvolveu as bases racionais para a crítica do mecanicismo como método de conhecimento.
d) formulou conceitos filosóficos fortemente contrários ao heliocentrismo defendido por Galileu.
e) se tratou de um pensamento responsável pela fundamentação do método científico moderno.
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Filosofia
9. (UNESP 2018) De um lado, dizem os materialistas, a mente é um processo material ou físico, um produto do funcionamento cerebral. De outro lado, de acordo com as visões não materialistas, a mente
é algo diferente do cérebro, podendo existir além dele. Ambas as posições estão enraizadas em uma
longa tradição filosófica, que remonta pelo menos à Grécia Antiga. Assim, enquanto Demócrito
defendia a ideia de que tudo é composto de átomos e todo pensamento é causado por seus
movimentos físicos, Platão insistia que o intelecto humano é imaterial e que a alma sobrevive à morte
do corpo: (Alexander Moreira-Almeida e Saulo de F. Araujo. “O cérebro produz a mente?: um levantamento da opinião de psiquiatras”.
Disponível em:www.archivespsy.com, 2015.)
A partir das informações e das relações presentes no texto, conclui-se que
a) a hipótese da independência da mente em relação ao cérebro teve origem no método científico.
b) a dualidade entre mente e cérebro foi conceituada por Descartes como separação entre
pensamento e extensão.
c) o pensamento de Santo Agostinho se baseou em hipóteses empiristas análogas às do
materialismo.
d) os argumentos materialistas resgatam a metafísica platônica, favorecendo hipóteses de natureza
espiritualista.
e) o progresso da neurociência estabeleceu provas objetivas para resolver um debate originalmente
filosófico.
10. (Uel 2011) O principal problema de Descartes pode ser formulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da
dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...]
engane-me quem puder, ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou
algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido, sendo verdade agora que eu existo
[...]” (DESCARTES. René. “Meditações Metafísicas”. Meditação Terceira, São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182.
Coleção Os Pensadores.)
Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por Descartes para fundamentar o
conhecimento, é correto afirmar:
a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis.
b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados.
c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por meio da experiência sensível possuem existência real.
d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar.
e) A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida mais obstinada.
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Filosofia
Gabarito
1. D
Descartes é o principal filósofo racionalista. Assim sendo, para ele, o conhecimento é resultado de
investigações do ser pensante, único capaz de chegar a conceitos verdadeiros.
2. D
A dúvida radical conduz o pensador à conclusão de que pensa, o cogito. Esta é, para Descartes, o
conhecimento inabalável, princípio de todas as certezas. Sendo assim, somente a alternativa [D] está
correta.
3. C
Em geral, a ciência estabelece um método de pesquisa racional que busca a construção coletiva de
conhecimentos refletidos e seguros sobre a variedade da natureza, e, também, de conhecimentos
esclarecedores sobre os fenômenos que nos parecem familiares. Sendo assim, a ciência possui uma
base racional fundante a qual todo homem pode ter acesso e, desse modo, todos podem participar. Ela
possui, além disso, como objeto de pesquisa a perplexidade do homem perante a variância de alguns
fenômenos naturais e a permanência de outros, e como objetivo da pesquisa harmonizar estas diferenças
em equilíbrios dinâmicos através de conceitos e sistemas de conceitos justificados da melhor maneira
possível, isto é, pela construção de experimentos controlados e avaliações imparciais.
4. B
Como exemplo da radicalidade indicada pelo prof. Franklin Leopoldo e Silva, vale mencionar que
Descartes inicia a segunda meditação com a metáfora de um homem submerso, ele diz: “a meditação
que fiz ontem encheu-me de tantas dúvidas, que doravante não está mais em meu alcance esquecê-las.
E, no entanto, não vejo de que maneira poderia resolvê-las; e, como se de súbito tivesse caído em águas
muito profundas, estou de tal modo surpreso que não posso nem firmar meus pés no fundo, nem nadar
para me manter à tona”. Essa metáfora expõe um homem de mãos atadas; voltar para a situação anterior
é impossível, porém manter-se no meio do caminho também. A única opção é manter-se trilhando o
caminho da dúvida sistemática e generalizada, esperando desse modo alcançar algum ponto firme o
suficiente para ser possível apoiar os pés, e nadar de volta para a superfície. Mantendo-se nesse caminho,
o filósofo busca o ponto que irá inaugurar uma cadeia de razões da qual ele não poderá duvidar. O chão
desse mar no qual o filósofo está submerso é esta única coisa da qual ele não pode duvidar, mesmo se o
gênio maligno estiver operando. Tal certeza radical é a certeza sobre o fato de que se o gênio maligno
perverte meus pensamentos, ele nunca poderia perverter o próprio fato de que eu devo estar pensando
para que ele me engane. Penso, existo é a nova raiz que nutre a modernidade.
5. E
Da dúvida sistemática e generalizada das experiências sensíveis, Descartes espera começar a busca por
algum ponto firme o suficiente para ser possível se apoiar e não duvidar. O chão deste mar de dúvidas no
qual o filósofo está submerso é esta única coisa da qual ele não pode duvidar, mesmo se o gênio maligno
estiver operando. Esta certeza é a certeza sobre o fato de que se o gênio maligno perverte meus
pensamentos, ele nunca poderia perverter o próprio fato de que eu devo estar pensando para que ele me
engane. Então, se penso, existo.David Hume (1711-1776), influenciado pela filosofia de John Locke (1632-
1704), parte de uma noção da mente humana segundo a qual o homem não possui ideias inatas, porém
todas elas provêm da experiência sensível para compor o conhecimento. Sendo assim, o homem conhece
a partir das impressões e das ideias que concebe a partir da experiência. De experiências habituais ele
constrói conhecimentos baseados em matérias de fato e relações entre ideias.
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Filosofia
Os conhecimentos sobre matérias de fato são empíricos, portanto, apenas mais ou menos prováveis, já
os conhecimentos sobre relações de ideias são puros, portanto, sempre certos sem, todavia, se referir a
qualquer realidade sensível.
6. B
Na época moderna foram estruturadas as bases para o conhecimento científico que avançou até o
período contemporâneo. O objetivo perseguido era compreender os fenômenos do mundo físico. A busca
por uma previsão ou antecipação destes fenômenos foi perseguida por pensadores que buscam
estabelecer princípios para a formulação de leis gerais que pudessem garantir segurança e confiabilidade
no desenvolvimento de tais teorias. Os principais pensadores que forneceram estas bases foram Francis
Bacon e René Descartes. Bacon criou a “Teoria dos Ídolos” a fim de purificar a mente, de livrá-la de
impressões errôneas que impedissem a observação clara e experimentação precisa dos fenômenos
naturais. Seu método era indutivo, pois propunha que por meio de uma série de observações realizadas
com rigor, era possível estabelecer princípios para formular leis gerais. Descartes é quem vai estruturar
as bases do método científico moderno. Por meio de sua obra: “Discurso do Método”, Descartes propõe
o uso da razão como instrumento para tornar claro as informações que nossos sentidos captam. Após o
esclarecimento dos conceitos, por meio da observação e comparação utilizando o rigor da matemática
na análise e formulação das teorias, seria possível formular leis gerais dos fenômenos observados.
Ambos os autores deixam de lado a visão e do método dedutivo, proposto por Aristóteles que
predominava até então.
7. D
O período moderno da filosofia se caracterizou por dois movimentos, a saber, a dúvida e o método. A
dúvida colocou em questão aquilo que se tinha por conhecimento – vale ressaltar que a filosofia moderna
tem seu início geralmente demarcado no século XVII – e o método buscou reconstruir o conhecimento
de modo que não se pudesse dele duvidar. Porém, esta ausência de dúvida não significa dogmatismo,
mas sim o esforço da dedicação à filosofia, ao estudo da sabedoria, ao bem aplicar o espírito. “Este é o
método que segui, e que tu, se te aprouver, poderás utilizar. Pois não te recomendo o meu, apenas o
proponho. Contudo, qualquer que seja o método que empregares, gostaria muito de recomendar-te a
filosofia, isto é, o estudo da sabedoria, por falta do qual todos sofremos recentemente muitos males”. (T.
Hobbes. Do Corpo – Cálculo ou Lógica. Campinas: Editora Unicamp, 2009, 15). “O bom senso é a coisa
do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são
mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. E não
é verossímil que todos se enganem a tal respeito; mas isso antes testemunha que o poder de bem julgar
e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina o bom senso ou a razão, é
naturalmente igual em todos os homens; e, destarte, que a diversidade de nossas opiniões não provém
do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos
por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o
principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, e os que só andam muito
lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm
e dele se distanciam”. (R. Descartes. Discurso do método. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 29).
8. E
René Descartes propõe a matematização da filosofia, uma abordagem lógica e encadeada. Esse modelo
de pensamento tem uma abordagem dedutiva no que diz respeito ao método de aferição de
conhecimento. Isso significa dizer que seu método busca atribuir ao conhecimento o valor de verdade
pela verificação, o que é a característica principal da ciência.
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Filosofia
9. B
na concepção de Renê Descarte a existência é composta por duas substâncias, res cogitans e res extensa.
A res cogitans é formada pela razão, ou seja, a mente, e é capaz de pensar. A matéria, por sua vez, é
extensão, uma existência que é conhecível, mas não confiável.
10. E
Descartes tem como ponto de partida a busca de uma verdade que não pode ser colocada em dúvida, por
isso, começa duvidando de tudo, começando pelas afirmações do senso comum, passando pelas
autoridades, do testemunho dos sentidos, até do mundo exterior, inclusive da realidade do seu corpo, no
entanto, só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser, do seu próprio intelecto que
duvida, pois não pode duvidar de que está duvidando, daí, a célebre máxima cartesiana: “penso, logo,
existo”.
1
Filosofia
Empirismo inglês: John Locke
Empirismo x Racionalismo
Durante o Renascimento até Iluminismo um debate em especial se tornou notável: o processo do conhecer.
Conhecida como Teoria do Conhecimento (ou Gnosiologia), essa área da Filosofia foi o cenário de uma
discussão rica que colaborou com o desenvolvimento da ciência e seu método como conhecemos hoje.
Por um lado (como já vimos) o Racionalismo defendia que o conhecimento advindo da razão era mais
confiável que aquele que produzimos por intermédio da experiência. O saber se baseava no uso lógico-
dedutivo do intelecto. Para que o conhecimento funcionasse desse modo algumas ideias precisariam ser
inatas. Essa era a defesa do principal pensador do racionalismo, René Descartes. Ele afirmava que o ser
humano já nascia com ideias que dispensariam assim a obtenção de conhecimento através da interação
com o exterior.
Já o Empirismo defendia que, apesar da importância incontornável da razão no processo do conhecer, sua
origem está na experiência. A interação como mundo e com diferentes fenômenos oportunizada momentos
de conhecimento em que a razão atuava, estando assim condicionada a esses momentos. Sendo assim, as
sensações e percepções eram basilares na formação do conhecimento, com a razão sendo utilizada num
segundo momento.
John Locke e a mente como uma tábula rasa
John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês. Interessado em vários campos como química, teologia e
medicina (sua área de formação), o pensador foi um importante teórico do conhecimento e filósofo político
(sendo considerado o pai do liberalismo político). Ele desenvolveu suas teorias sobre a origem e o alcance
do conhecimento em sua obra “Ensaios sobre o entendimento humano”. Para ele, não existem ideias inatas
(ideias que já nasceriam com o homem, como por exemplo a ideia de Deus), o homem nasce como uma
tábula rasa, desprovido de qualquer conhecimento, sem nenhuma ideia pré-formada em sua alma. Nada
existe na mente humana que não tenha passado pelos sentidos. A esse ponto é redundante dizer que Locke
foi um crítico potente do racionalismo e sua proposta baseada na razão.
Para Locke o conhecimento é adquirido ao longo da vida através da experiência sensível imediata e seu
processamento interno. Nós interagimos com os objetos e com os fenômenos e produzimos ideias a partir
dessa interação. Locke vai defender que nossas ideias serão criadas empiricamente a partir da sensação e
da reflexão.
Num primeiro estágio, nossas ideias são criadas pela sensação, cujo estímulo externo é oriundo de
modificações na mente feitas pelos sentidos em uma experiência qualquer. Assim, através da sensação
percebemos as qualidades (primárias ou secundárias) das coisas. Tais qualidades podem produzir ideias
em nós.
As qualidades primárias são sempre objetivas, ou seja, existem realmente nas coisas independentemente
do sujeito que as contempla. Como exemplo temos o movimento, o repouso, o número, a configuração, a
extensão, entre outros. Já as qualidades secundárias são aquelas que variam de acordo com o sujeito e que
são, portanto, subjetivos. Como exemplo temos a cor, o som, o saber, entre outros.
Num segundo estágio tudo é processado internamente. É nesse momento que a alma processa os objetos
apreendidos pelos sentidos. As ideias nesse estágio resultam da combinação e associação das sensações
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Filosofia
de reflexão. A mente sintetiza e gera uma série de ideias que não passíveis de surgir a partir da experiência.
Processos como, nas palavras de Locke, a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar. A reflexão
seria o equivalente aos sentidos na produção de ideias, mas agindo no nosso interior, tendo como matéria-
prima o conhecimento que absorvemos das experiências e desempenhando um processo complexo e cada
vez mais aprofundado que culmina na reflexão sobre as próprias operações da mente. Por esse pressuposto
percebemos que o conhecimento vai de coisas mais simples para as mais complicadas e sempre de fora
para dentro.
3
Filosofia
Exercícios
1. Posto que as qualidades que impressionam nossos sentidos estão nas próprias coisas, é claro que as ideias produzidas na mente entram pelos sentidos. O entendimento não tem o poder de inventar ou
formar uma única ideia simples na mente que não tenha sido recebida pelos sentidos. Gostaria que
alguém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou seu paladar, ou tentasse formar a ideia
de um aroma que nunca cheirou. Quando puder fazer isso, concluirei também que um cego tem ideias
das cores, e um surdo, noções reais dos diversos sons. John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.
De acordo com o filósofo, todo conhecimento origina-se
a) da reminiscência de ideias originalmente transcendentes.
b) da combinação de ideias metafísicas e empíricas.
c) de categorias a priori existentes na mente humana.
d) da experiência com os objetos reais e empíricos.
e) de uma relação dialética do espírito humano com o mundo.
2. “Todas as nossas ideias derivam de uma ou de outra fonte. Parece que o entendimento não tem o menor vislumbre sobre quaisquer ideias se não as receber de uma das duas fontes. Os objetos
externos suprem a nossa mente com as ideias das qualidades sensíveis, que são todas as diferentes
percepções produzidas em nós, e a mente supre o entendimento com ideias através das próprias
operações”. O texto citado retrata o empirismo de Jonh Locke. Para ele, existem duas fontes básicas
de experiência:
a) Percepção e idealização.
b) Percepção e internalização.
c) Sensação e reflexão.
d) Sensação e memorização.
e) Percepção e razão.
3. A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento constitui suficiente prova de que não é inato. LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.13.
O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte
a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua aquisição deriva da experiência.
b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhecimentos possam ser obtidos.
c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a existência de ideias inatas.
d) defende que as ideias estão presentes na razão desde o nascimento.
e) define que tanto a razão quanto as sensações são fundamentais na produção do conhecimento, que se origina de ambas as características humanas
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Filosofia
4. Ao investigar as origens das ideias, diversos filósofos fizeram interferências importantes no pensamento filosófico da humanidade. Dentre eles, destaca-se o pensamento de John Locke. Assinale
a alternativa que expressa as origens das ideias para John Locke.
a) “Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência [...] mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele pode ser atribuído a esta, mas à imaginação e à ideia.”
b) “O que sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente, uma ideia em movimento.
c) “Quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior, calcado nas paixões.”
d) “Afirmo que essas duas, a saber, as coisas materiais externas, como objeto da sensação, e as operações de nossas próprias mentes, como objeto da reflexão, são, a meu ver, os únicos dados originais dos quais as ideias derivam.”
e) “Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto”
5. No período moderno, emergiu uma escola filosófica que pôs em questão as concepções inatistas e metafísicas de conhecimento. Para os filósofos partidários dessa escola, o conhecimento é sempre
decorrente da experiência, jamais podendo existir ideias inatas. O nome dessa corrente filosófica, bem
como o nome de um de seus filósofos representativos são, respectivamente:
a) inatismo; Descartes.
b) idealismo; Kant.
c) escolástica; Santo Agostinho.
d) empirismo; Locke.
e) metafísica; Platão.
6. John Locke é apontado como pioneiro do materialismo moderno. Sobre o “materialismo moderno”, é CORRETO afirmar que:
a) “Deriva as ‘ideias’ de que se constitui o conhecimento diretamente das sensações que se marcaram na mente [...] não cabendo assim ao pensamento nada mais, [...] que combinar, comparar e analisar essas mesmas ideias”.
b) “Todo o princípio do conhecimento material é sensorial, transponível, relativo e infinito”.
c) “O valor da experiência sensível, como fator primário da elaboração cognitiva, está na possibilidade de conhecer a essência da natureza”.
d) “O conhecimento deve ser introjetado a partir da experiência extrassensorial, peculiar a todo ser pensante”.
e) Tudo que existe aconteceu duas vezes na história, a primeira na ideia e a segunda na materialidade
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Filosofia
7. “Se os que nos querem persuadir que há princípios inatos não os tivessem compreendido em conjunto, mas considerado separadamente os elementos a partir dos quais estas proposições são formuladas,
não estariam, talvez, tão dispostos a acreditar que elas eram inatas. Visto que, se as ideias das quais
são formadas essas verdades não fossem inatas, seria impossível que as proposições formadas delas
pudessem ser inatas, ou nosso conhecimento delas ter nascido conosco. Se, pois, as ideias não são
inatas, houve um tempo quando a mente estava sem esses princípios e, desse modo, não seriam
inatos, mas derivados de alguma outra origem. Pois, se as próprias ideias não o são, não pode haver
conhecimento, assentimento, nem proposições mentais ou verbais a respeito delas. […] De onde
apreende a mente todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da
experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio
conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de
nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre nossos
entendimentos com todos os materiais do pensamento.” Locke
Tendo presente o texto acima, é correto afirmar, segundo Locke, que
a) há duas fontes de nossas ideias, a sensação e a reflexão, de modo que tudo o que é objeto de nossa mente, por ser ela como que um papel em branco, é adquirido por meio de uma ou de outra dessas duas fontes.
b) contrariamente ao que afirma o texto, o autor admite excepcionalmente como inatos alguns princípios fundamentais e algumas ideias simples.
c) chama-se experiência a forma de conhecimento que, produzido por meio das diferentes sensações, nos permite saber o que as coisas são em sua essência e na medida em que são independentes de nós.
d) a ideia de substância é uma ideia simples formada diretamente a partir de nossa experiência das coisas e da capacidade que elas têm de subsistirem.
e) todas as nossas percepções ou ideias provém das sensações externas e de nosso contato com o que existe fora de nós.
8. “É de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar toda a profundidade do oceano. É conveniente que saiba que era suficientemente longa para
alcançar o fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar contra
escolhos que podem destruí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas, mas apenas aquelas
que se referem à nossa conduta.” LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. In: CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia: ensino médio. 4.ª ed. São
Paulo: Ática, 2011. p. 251.
Com base nessa citação em que John Locke considera os conhecimentos do marinheiro, é correto afirmar que
a) o entendimento humano é ilimitado.
b) a profundidade do oceano é menor do que o instrumento de medida do marinheiro.
c) a medida da linha não precisa ser maior do que o necessário para orientar a correta navegação do barco.
d) a linha está orientada apenas em função da pesca.
e) a experiência empírica não é válida.
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Filosofia
9. “Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será suprida?
(...) De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela
deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.” LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 165.
Assinale o que for incorreto.
a) Para John Locke, nosso conhecimento se origine na experiência, fruto da sensação e da reflexão.
b) Como seguidor de Descartes, John Locke assume a diferença entre conhecimento verdadeiro, que é puramente intelectual e infalível, e conhecimento sensível, que, por depender da sensação, é suscetível de erro.
c) John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento em sentido estrito, pois se propôs, no Ensaio acerca do entendimento humano, a investigar explicitamente a natureza, a origem e o alcance do conhecimento humano.
d) Para John Locke, todo nosso conhecimento provém e se fundamenta na experiência. As impressões formam as ideias simples; a reflexão sobre as ideias simples, ao combiná-las, formam ideias complexas, como substância, Deus, alma etc.
e) John Locke distingue as qualidades do objeto em qualidades primárias (solidez, extensão, movimento etc.) e qualidades secundárias (cor, odor, sabor etc.); as primeiras existem realmente nas coisas, as segundas são relativas e subjetivas.
10. O ponto de partida do empirismo de Locke é a ideia de que tudo que está na mente passou antes pelos sentidos.
Considerando isso, qual das alternativas abaixo está INCORRETA:
a) Locke também usou a expressão latina “tábula rasa” para se referir à sua concepção sobre o conhecimento.
b) Tato, paladar, olfato, audição e visão são os meios pelos quais ideias sobre o mundo exterior são criadas na mente humana.
c) A ideia de infinito é uma ideia simples produzida pela visão, sem o trabalho das faculdades da mente.
d) Ideias como pensamento e emoção são obtidas a partir da observação de nossas próprias operações mentais. somente a afirmação I está correta.
e) Apesar da importância das sensações como fonte e origem do conhecimento, o empirismo não dispensa a razão como fator fundamental do processo de conhecer, ocorrendo após a interação dos sentidos com o objeto cognoscível.
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Filosofia
Gabarito
1. D
John Locke é um dos principais representantes do empirismo. Segundo ele, as ideias são resultado da
experiência humana, exatamente como apresenta a alternativa [D].
2. C
A sensação é a interação com o mundo externo, o processo de apreensão do conhecimento. Nesse
momento as ideias surgem em nossa mente a partir dos nosso sentidos. Já a reflexão é o
processamento intelectual dessas ideias, o uso da razão para estruturar o conhecimento obtido
através da sensação.
3. A
Para Locke o conhecimento somente pode ser adquirido pelos sentidos, isto é, pela experiência
sensorial. Para Locke o conhecimento não é inato uma vez que é a razão que os descobre. Caso o
conhecimento fosse inato o que justificaria o fato de nem todas as pessoas possuírem o mesmo
conhecimento. Somente pela experiência é que a mente capta as informações e a razão é capaz de
transforma-la em conhecimento.
4. D
A única alternativa que apresenta uma afirmação de John Locke é a [D]. Ele pode ser considerado como
o iniciador da teoria do conhecimento, sendo um dos grandes pensadores do empirismo. Sobre a origem
das ideias, Locke afirma que elas provêm ou das coisas materiais externas, ou das operações de nossas
mentes.
5. D
O primeiro filósofo moderno de renome que teorizou sobre o conhecimento que decorre da experiência
foi John Locke. A partir dele se desenvolveu uma corrente epistemológica chamada de empirismo, que
se opunha veementemente àqueles que consideravam a existência de ideias inatas.
6. A
O mais comum é considerar John Locke um empirista e não um materialista. De qualquer forma, a
alternativa [A] é a que está mais adequada ao seu pensamento. Segundo ele, todo conhecimento provém
da experiência, sendo que as ideias são derivadas das sensações e o pensamento corresponde à
combinação, comparação e análise dessas ideias.
7. A
A alternativa [A] é a única correta. Locke considera que as ideias provém ou da sensação ou da reflexão.
Ainda que o conhecimento advenha da experiência, esta não está relacionada somente às sensações
externas, mas é “empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de
nossas mentes”.
8. C
A analogia desse texto citado do empirista inglês do séc. XVII, John Locke, compara o fato de um
marinheiro comum não ser capaz de investigar a totalidade das características do oceano sobre o qual
navega, com a nossa incapacidade mesma de investigar a totalidade das características das nossas
experiências cotidianas.
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Filosofia
De modo que, se o marinheiro é capaz de navegar, então é válido supor que não seja decisivo o fato de
desconhecer a totalidade do oceano, e, sendo assim, que somente aqueles conhecimentos referentes à
sua conduta já sejam suficientes. Locke, conseguintemente, extrapola essa consequência final para
todo o entendimento humano, reduzindo-o a uma relação sempre empírica entre os conteúdos
intelectuais e os conteúdos sensoriais.
9. B
As afirmativas C, D e E demonstram que o empirismo limita o homem no âmbito no conhecimento
sensível pondo a experiência em primeiro lugar, onde a razão a ela está subordinada, terminando assim,
por questionar o caráter absoluto da verdade, já que o conhecimento parte de uma realidade in fieri (em
transformação constante), sendo tudo relativo ao espaço, ao tempo e ao humano.
O sujeito através da análise ata e desata as ideias simples, produzindo ideias complexas. Estas, já que
são formadas pelo intelecto, não têm validades objetiva. São nomes de que servimos para denominar e
ordenas as coisas. Daí o seu valor prático, e não cognitivo. Locke enfatiza o papel do objeto.
10. C O infinito não pode ser percebido pelos sentidos, já que representa exatamente algo não comensurável,
não experimentável. Sendo assim, apesar de derivar da experimentação, a ideia de infinito se constrói
no intelecto, a partir da conclusão de que a existência comporta medidas acima dos limites da
percepção humana.
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Filosofia
Empirismo inglês: Francis Bacon
Resumo
Método indutivo
O filósofo Francis Bacon (1561-1626) foi um importante intelectual de sua época, tendo também participado
da vida política, chegando a ser chanceler no governo do rei Jaime I. Como filósofo, foi grande crítico da
ciência dedutiva Aristotélica, alegando que para o desenvolvimento da ciência era necessário ter um método
de descoberta e análise mais eficiente, focado numa investigação mais rigorosa, precisa e empírica, com
como ocorre no método indutivo.
Para Bacon a ciência era uma técnica e os conhecimentos científicos deveriam servir ao homem no objetivo
de dominar a natureza e reinstaurar o que ele chamou de Imperium Hominis (império do homem) sobre as
coisas. Inclusive se atribui a Bacon o lema “saber é poder” com vistas a realizar o controle do homem sobre
a natureza com o objetivo de expandir a prosperidade humana.
O método indutivo de Bacon critica a análise da natureza baseada no aristotelismo. Suas conclusões acerca
do conhecimento dão conta da necessidade de experimentar os fatos, um a um, o máximo possível, para os
interpretar e induzir leis gerais, ou seja, esse método sempre parte do particular para o geral. Para ele, toda
filosofia anterior se baseava num método de antecipação dos fatos e não da real interpretação da natureza.
O método indutivo de Bacon se divide em quatro etapas:
• Coleta de informações a partir da observação rigorosa e atenta da natureza;
• Reunião e organização sistemática e racional dos dados recolhidos pela experiência e observação;
• Formulação de hipóteses (explicações gerais) segundo a análise dos dados recolhidos e que possam
levar à compreensão dos fenômenos;
• Testagem para comprovação ou refutação das hipóteses a partir de experimentações.
A teoria dos ídolos
Bacon vai iniciar sua reflexão acerca do conhecimento humano alegando que certos preconceitos, noções
erradas, dificultam a apreensão correta que temos sobre a realidade. Esses preconceitos serão chamados
por ele de ídolos. Concebendo a ciência como uma prática, ou atividade, Bacon tem aversão pelo pensamento
meramente contemplativo. A ciência deveria ser objetiva e produzir efeitos reais na vida do ser humano. Para
que procedessem corretamente, os cientistas deveriam se afastar dos possíveis enganos do pensamento. O
termo ídolo vem de eidolon (que em grego significa imagem, simulacro ou fantasma). Bacon está tentando
usar o sentido de “vazio” da palavra ídolo. No âmbito religioso, ídolo é uma representação de algo divino a
ser adorado, mas não é a própria divindade, sendo assim, uma representação vazia e, em última instância,
um engano. Assim Bacon atribui à palavra ídolo no contexto de sua teoria o sentido de “erro habitual,
preconceito, noção enganosa e equívoco”. Para bacon há quatro tipos de ídolo:
Os ídolos da tribo: A palavra “tribo” aqui faz referência à espécie humana, ou seja, os ídolos da tribo são
aqueles preconceitos que surgem nas comunidades como verdades dadas e não questionadas. Nesse
sentido, os “ídolos da tribo” se diferenciam do espírito científico, na medida em que as hipóteses levantadas
pela ciência precisam estar de acordo com os fatos. Assim, Bacon entende que a astrologia, por exemplo, é
uma falsa ciência, dadas as suas generalizações apressadas. Outra característica importante dos “ídolos da
tribo” é a atribuição de propriedades humanas às coisas da natureza. Um exemplo disso é a ideia dos antigos
de que “a natureza tem horror ao vácuo”, ou seja, atribui-se a natureza algo que, na verdade, é uma mera
2
Filosofia
suposição humana. Ocorre pela noção de que o que existe está na exata medida da nossa capacidade de
percepção. Bacon afirma que, ao contrário, nossa percepção precisa ser guiada pelo método para dar conta
da verdade, com risco de distorcer e corromper o conhecimento.
Os ídolos da caverna: Os ídolos da caverna têm sua origem não na comunidade, como os “ídolos da tribo”,
mas sim em cada pessoa ou indivíduo. Assim, por conta das características individuais, ou mesmo por causa
da educação a que um indivíduo é submetido, serão geradas falsas ideias às quais a ciência precisa se opor.
Os ídolos da caverna, portanto, decorrem dessas características que, para Bacon, “perturbam” o espírito
humano. Bacon atribui à diferença entre as pessoas a distorção e corrupção do conhecimento. Sem o
método, cada um conclui aquilo que lhe parece mais plausível, ativa ou passivamente, por ouvir alguém que
se tem grande admiração ou até pelo acaso. A cada um os fenômenos se manifestam de uma forma, com
variações e perturbações.
Os ídolos do foro: Os ídolos do foro ou do mercado são aqueles que decorrem da linguagem, através da qual
são atribuídas palavras a certas coisas que são inexistentes ou mesmo palavras confusas a coisas que
existem. Nesse sentido, há diversas controvérsias as quais nos apegamos apenas por questões linguísticas.
Como exemplo, temos palavras que se referem a coisas inexistentes como “primeiro motor”. Bacon observa
que as pessoas, para viver em sociedade, precisam se relacionar e isso acontece através da comunicação.
O mau uso das palavras bloqueia o intelecto e produz enganos e inverdades. As palavras, em vez de elucidar,
podem levar os homens a controvérsias e mal-entendidos.
Os ídolos do teatro: Os ídolos do teatro se referem às teorias ou reflexões filosóficas que, muitas vezes, estão
mescladas com a teologia, com o saber comum e, até mesmo, com superstições profundamente arraigadas.
Nesse sentido, ele compara os sistemas filosóficos a fábulas que poderiam ser representadas no palco.
Bacon atribui a formulação dos ídolos do teatro à credulidade, tradição e negligência, que permitem que
pensadores insiram no ambiente científico pensamentos viciosos e anticientíficos.
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Filosofia
Exercícios
1. Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia
dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores
como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um
mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e
culturalmente. CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a
ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse
contexto, a investigação científica consiste em
a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes.
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da
filosofia.
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso.
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e
religiosos.
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates
acadêmicos.
2. Para Francis Bacon, os ídolos da tribo, que “têm sua origem na uniformidade da substância espiritual
do homem, ou nos seus preconceitos, ou bem nas suas limitações, ou na sua contínua instabilidade;
ou ainda na interferência dos sentimentos ou na incompetência dos sentidos ou no modo de receber
impressões” (Novum Organum, aforismo LII), são um dentre os quatro tipos de obstáculos que
dificultam o acesso à verdade.
Sobre os ídolos da tribo, na concepção de Bacon, é CORRETO afirmar que
a) são invariavelmente inerentes à natureza humana.
b) são oriundos dos preconceitos adquiridos na formação de cada ser humano.
c) sempre estão ligados ao fanatismo religioso.
d) são minorados em comunidades onde impera o pluralismo religioso.
e) inexistem em regimes democráticos estáveis.
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Filosofia
3. Resta-nos um único e simples método, para alcançar os nossos intentos: levar os homens aos próprios fatos particulares e às suas séries e ordens, a fim de que eles, por si mesmos, se sintam
obrigados a renunciar às suas noções e comecem a habituar-se ao trato direto das coisas. (BACON, F. Novum Organum Trad. José Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 26.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o problema do método de investigação da natureza
em Bacon, assinale a alternativa correta.
a) O preceito metodológico do “trato direto das coisas” supõe que cada um já possui em si as
condições para realizar a investigação da natureza.
b) A investigação da natureza consiste em aplicar um conjunto de pressupostos metafísicos, cuja
função é orientar a investigação
c) As “séries e ordens” referentes aos fatos particulares resultam da aplicação dos pressupostos do
método de investigação.
d) A renúncia às noções que cada um possui é o princípio do método de investigação, que levará a
ida aos fatos particulares.
e) O método de interpretação da natureza propõe uma nova atitude com relação às coisas e uma
nova compreensão dos poderes do intelecto.
4. Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não somente o obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo depois de superados,
poderão ressurgir como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser que os homens, já
precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam. O homem se inclina a ter por verdade o que
prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; rejeita os
princípios da natureza, em favor da superstição; rejeita a luz da experiência, em favor da arrogância e
do orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; rejeita paradoxos, por respeito a
opiniões vulgares. Enfim, inúmeras são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre
imperceptivelmente, se insinua e afeta o intelecto. (Francis Bacon. Novum Organum [publicado originalmente em 1620],1999. Adaptado.)
Na história da filosofia ocidental, o texto de Bacon preconiza
a) um pensamento científico racional afastado de paixões e preconceitos.
b) uma crítica à hegemonia do paradigma cartesiano no âmbito científico.
c) a defesa do inatismo das ideias contra os pressupostos da filosofia empirista.
d) a valorização romântica de aspectos sentimentais e intuitivos do pensamento.
e) uma crítica de caráter ético voltada contra a frieza do trabalho científico.
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Filosofia
5. O pensamento moderno caracteriza-se pelo crescente abandono da ciência aristotélica. Um dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles – considerando que esta
não permitia explicar o progresso do conhecimento científico – foi Francis Bacon. No livro Novum
Organum, Bacon formulou o método indutivo como alternativa ao método lógico-dedutivo aristotélico.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Bacon, é correto afirmar que o
método indutivo consiste
a) na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado período
histórico.
b) no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do silogismo
tal como preservado pelos medievais.
c) na postulação de leis universais com base em casos observados na experiência, os quais
apresentam regularidade.
d) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas
universalmente.
e) na observação de casos particulares revelados pela experiência, os quais impedem a
necessidade e a universalidade no estabelecimento das leis naturais.
6. Segundo o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), o ser humano tem o direito de dominar a natureza e as técnicas; as ciências são os meios para exercer esse poder.
Que processo histórico pode ser diretamente associado a essas ideias?
a) Os ideais de retorno à vida natural.
b) O bloqueio continental imposto à Europa por Napoleão Bonaparte.
c) A Contrarreforma promovida pela Igreja Católica.
d) O surgimento do estilo barroco nas artes.
e) A Revolução Industrial.
7. “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois
a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como
causa é regra na prática”. Em relação a esse aforismo III do Livro I do Novum Organum de Francis
Bacon, considere a alternativa que apresenta a interpretação correta:
a) O saber, para Bacon, é uma forma de alterarmos as leis da natureza e, com isso, seus fenômenos
podem ser controlados tendo em vista um benefício humano.
b) O autor menciona que o conhecimento, o saber, está ligado ao poder, ou seja, mediante o
conhecimento é possível, de maneira segura e rigorosa, conquistar o poder sobre a natureza.
c) Para Bacon, é inerente ao saber uma forma de controle sobre a natureza, mas principalmente
sobre as pessoas, possibilitando um poder incondicional ao detentor do saber.
d) O saber já possui um valor em si mesmo, o que conduz, consequentemente, de acordo com Bacon,
a um poder.
e) O que Bacon pretende dizer é que o saber nem sempre tem uma relação com a prática e que é a
conveniência individual desse saber que determina seu valor.
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Filosofia
8. [...] é necessário, ainda, introduzir-se um método completamente novo, uma ordem diferente e um novo processo, para continuar e promover a experiência. Pois a experiência vaga, deixada a si mesma
[...] é um mero tateio, e presta-se mais a confundir os homens que a informá-los. Mas quando a
experiência proceder de acordo com leis seguras e de forma gradual e constante, poder-se-á esperar
algo de melhor da ciência.
[...]
A infeliz situação em que se encontra a ciência humana transparece até nas manifestações do vulgo.
Afirma-se corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas causas. E, não indevidamente,
estabelecem- se quatro coisas: a matéria, a forma, a causa eficiente, a causa final. Destas, a causa
final longe está de fazer avançar as ciências, pois na verdade as corrompe; mas pode ser de interesse
para as ações humanas. BACON, F. Novo Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p.
72; 99-100.
Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon acerca da verdadeira indução experimental
como interpretação da natureza, é correto afirmar.
a) Na busca do conhecimento, não se podem encontrar verdades indubitáveis, sem submeter as
hipóteses ao crivo da experimentação e da observação.
b) A formulação do novo método científico exige submeter a experiência e a razão ao princípio de
autoridade para a conquista do conhecimento.
c) O desacordo entre a experiência e a razão, prevalecendo esta sobre aquela, constitui o
fundamento para o novo método científico.
d) Bacon admite o finalismo no processo natural, por considerar necessário ao método perguntar
para que as coisas são e como são.
e) O estabelecimento de um método experimental, baseado na observação e na medida, aprimora o
método escolástico.
9. São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para melhor apresentá-los, assinalamos os nomes: Ídolos da Tribo, Ídolos da Caverna, Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro.”
BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.33.
É correto afirmar que para Bacon:
a) Os Ídolos da Tribo e da Caverna são os conhecimentos primitivos que herdamos dos nossos
antepassados mais notáveis.
b) Os Ídolos do Teatro são todos os grandes atores que nos influenciam na vida cotidiana.
c) Os Ídolos do Foro são as ideias formadas em nós por meio dos nossos sentidos.
d) Através dos Ídolos, mesmo considerando que temos a mente bloqueada, podemos chegar à
verdade.
e) Os Ídolos são falsas noções e retratam os principais motivos pelos quais erramos quando
buscamos conhecer.
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Filosofia
10. “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como
causa é regra na prática.” BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.40.
Tendo em vista o texto acima, assinale a alternativa correta:
a) Bacon estabelece que a melhor maneira de explicar os fenômenos naturais é recorrer aos
princípios inatos da razão.
b) Através do conhecimento científico, o homem aprende a aceitar o domínio dos princípios
metafísicos de causalidade sobre a natureza.
c) O conhecimento da natureza depende do poder do homem. Assim um rei conhece mais sobre a
natureza do que um pobre estudante.
d) Através da contemplação - observação – da natureza o homem aprende a conhecê-la e, então,
reúne condições para dominar a natureza.
e) Devemos ser práticos e obedecer à natureza, pois o conhecimento das relações de causa e efeito
é impossível e sempre frustrante.
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Filosofia
Gabarito
1. C
Em geral, a ciência estabelece um método de pesquisa racional que busca a construção coletiva de
conhecimentos refletidos e seguros sobre a variedade da natureza, e, também, de conhecimentos
esclarecedores sobre os fenômenos que nos parecem familiares. Sendo assim, a ciência possui uma
base racional fundante a qual todo homem pode ter acesso e, desse modo, todos podem participar. Ela
possui, além disso, como objeto de pesquisa a perplexidade do homem perante a variância de alguns
fenômenos naturais e a permanência de outros, e como objetivo da pesquisa harmonizar estas
diferenças em equilíbrios dinâmicos através de conceitos e sistemas de conceitos justificados da
melhor maneira possível, isto é, pela construção de experimentos controlados e avaliações imparciais.
2. A
Os ídolos da tribo estão totalmente relacionados com a noção de espécie humana de Bacon. Ele
concebe a espécie como limitada e que, por isso, em sua organização, gera equívocos e enganos. Assim,
Bacon liga esse tipo de ídolo à natureza do ser humano e suas incapacidades.
3. E
Francis Bacon é o criador do método indutivo e defendia seu método como única forma de produção de
conhecimento válida por ser uma legítima interpretação da natureza, já que estava baseado na
observação e experimentação dos fenômenos. Ele afirma que a forma de produção de conhecimento
baseada na reflexão e na razão não é suficiente para encontrar a verdade e defende um uso diferente
do intelecto
4. A
Francis Bacon foi um defensor do método indutivo e empirista em Ciência. Segundo ele, a ciência deve
partir de fatos concretos para que se possa chegar a generalizações, que correspondem às formas
gerais das leis e causas. Desta maneira, o homem age como intérprete da natureza, conhecendo-a e
dominando-a, extraindo dela conhecimentos necessários para seu próprio proveito. Nesse processo
não há espaço para paixões, crenças e negligências. A produção do conhecimento científico deve ser
metódica, minuciosa e racional.
5. C Francis Bacon elaborou a teoria “Crítica os Ídolos” que tinham por objetivo desconstruir as imagens que
formam nos seres humanos opiniões cristalizadas e cheias de preconceito deste modo, será possível
aplicar na razão a experiência, neste caso, o método indutivo infere de dados universais argumentações
a partir de dados singulares como uma porção de água que ferve a cem graus, e outra, e mais aquela,
logo, a água ferve a cem graus.
6. E
Francis Bacon segue a tradição empirista inglesa que remonta Roger Bacon (século XIII) realçando a
significação histórica da ciência e do papel que ela poderia desempenhar na vida da humanidade. Seu
lema, muito conhecido, “saber é poder” mostra como ele procura, bem no espírito da nova ciência, não
um saber contemplativo, desinteressado, que não tenham um fim em si, mas um saber instrumental,
que possibilite a dominação da natureza como fez a Revolução Industrial que superou a manufatura
pelas maquinofatura (chamadas hoje de indústria) substituindo o trabalho manual pelas máquinas.
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Filosofia
7. B
“Ciência e poder do homem coincidem”. Isso é o mesmo que está expresso na alternativa [B], a
respeito da relação entre o conhecimento e o poder. Bacon, nesta concepção, define o saber como
algo prático, como um domínio do homem sobre as coisas.
8. A
Francis Bacon é considerado um dos fundadores da ciência moderna no período que marca a passagem
do pensamento escolástico para o moderno. No texto escolhido para o enunciado, Bacon demonstra
seu desejo por um método que procura valorizar a experiência, de acordo com leis seguras e de forma
constante. Dentre as alternativas, somente [A] apresenta esta visão que relaciona de forma adequada
ciência, conhecimento e experimentação.
9. E
Francis Bacon desenvolveu o que foi chamado de “crítica dos ídolos”, correspondente a uma tipologia
de imagens que impedem o conhecimento da verdade. Para ele, os ídolos podem ser:
Ídolos da caverna: [corresponde às] opiniões que se formam em nós por erros e defeitos de nossos
órgãos dos sentidos. São os mais fáceis de corrigir por nosso intelecto;
Ídolos do fórum: são as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e de nossas
relações com os outros. São difíceis de vencer, mas o intelecto tem poder sobre eles;
Ídolos do teatro: são as opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das autoridades que
nos impõem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis inquestionáveis. Só podem ser
refeitos se houver uma mudança social e política;
Ídolos da tribo: são as opiniões que se formam em nós em decorrência de nossa natureza humana;
esses ídolos são próprios de espécie humana e só podem ser vencidos se houver uma reforma da
própria natureza humana.
10. D
Francis Bacon, filósofo empirista inglês, é considerado um dos fundadores do método científico
moderno. Baseado no raciocínio indutivo, o método científico mais adequado para o domínio da
natureza seria a observação dos fenômenos naturais, como se afirma na alternativa [D].
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Filosofia
Hume e a retomada do empirismo
Resumo
Quem foi David Hume? David Hume nasceu na Escócia em 1711. Ele foi o maior expoente do iluminismo escocês e um dos principais
filósofos britânicos do empirismo. Além de um empirista radical, Hume também foi reconhecido por seu
ceticismo filosófico. Seu ceticismo é crítico aos outros pensadores empiristas que acreditavam na
possibilidade de um conhecimento verdadeiro, mas sua crítica se direciona principalmente à Descartes e seu
pensamento teológico-metafísico.
A questão da validade do conhecimento
David Hume é um pensador cético, ou seja, ele duvida que possa haver qualquer conhecimento indubitável.
Assim, o entendimento humano possui limites bastante estreitos, afinal de contas estamos submetidos aos
sentidos e aos hábitos, o que nos leva a produzir conhecimentos que, na melhor das hipóteses, são apenas
prováveis, mas nunca certezas absolutas. Hume questiona o princípio de causalidade, bem como a
metafísica existente na sua época.
O ceticismo é uma corrente de pensamento existente desde os antigos e é retomada pelo pensamento
moderno, notadamente no campo da teoria do conhecimento. Em linhas gerais, ceticismo é justamente a
dúvida ou suspeita sobre todo e qualquer tipo de conhecimento. O cético, portanto, é aquele que duvida da
possibilidade do conhecimento verdadeiro, restando-nos apenas, como dissemos acima, conhecimentos
prováveis. O ceticismo humeano nasce na medida em que ele defende que todo conhecimento humano
provém das experiências que temos através de nossos sentidos. Não há, seguindo esse ponto de vista, uma
razão pura capaz de encontrar uma base sólida para um conhecimento inquestionável ou indubitável. Se,
portanto, o conhecimento provém da experiência (tese empirista), e a experiência sensível é variável, logo
nenhum conhecimento pode ter uma pretensão universal de validade.
A questão da origem do conhecimento
O conhecimento, segundo Hume, deriva sempre de percepções individuais, que podem ser impressões ou
ideias. A diferença entre impressões e ideias é apenas o grau de vivacidade com o qual afetam nossa
mente. De um lado, as impressões são percepções originárias e que, por isso mesmo, são mais vivas, como
por exemplo, ver, ouvir, sentir dor, etc. De outro lado, as ideias são percepções mais fracas por serem
derivadas, por serem “pálidas cópias” das impressões. Desse esquema conceitual podemos concluir que,
segundo David Hume, não há ideias inatas em nossa mente, isto é, ideias que teriam nascido conosco e que
seriam, portanto, independentes da experiência. Toda ideia que existe em nossa mente é derivada das nossas
impressões.
Há, no entanto, ideias complexas, que nascem da associação entre ideias através da nossa
imaginação. Assim, se combinamos em nossa mente a ideia de lobo, por exemplo, com a ideia de homem,
podemos formar a ideia de “lobisomem”. Essas associações se sucedem na vida psíquica do ser humano,
combinando-se por semelhança, contiguidade ou causalidade.
A associação por semelhança ocorre quando uma impressão se liga à uma ideia anterior já contida na mente,
como uma rememoração. Hume exemplifica que uma pintura sobre um lugar ou uma pessoa nos remeteria a
pensar sobre o lugar ou pessoa em si. Já a contiguidade no tempo e no espaço é uma associação relacionada
à conexão possível entre os objetos que geram as percepções e ideias.
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Filosofia
Pensar num cômodo de uma casa pode levar a pensar no restante dos cômodos, assim como pensar em um
lápis pode levar a pensar em uma borracha. E a associação por causalidade ocorre quando se observa uma
relação entre causa e efeito, percebendo as impressões geradas por essa relação ou remetendo às ideias já
consolidadas sobre o evento. Hume exemplifica a ferida como exemplo de causalidade, pois pensar numa
ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.
Tipos de raciocínio e o problema da causalidade
Hume afirma que existem dois tipos de raciocínio, o demonstrativo e o provável. O raciocínio demonstrativo
é o do tipo autoevidente, como proposições matemáticas. Não é necessário comprovação empírica de sua
validade e negar esse raciocínio envolve uma contradição lógica. Esse tipo de raciocínio é o típico da dedução,
que traz, antes de qualquer experiência ou “testagem” sua carga de validade (falso ou verdadeiro).
Já o raciocínio provável está baseado na experimentação. Ele não é autoevidente e necessita de verificação
ou confirmação para que se tenha certeza absoluta da sua validade. Esse tipo de raciocínio é formado por
qualquer proposição que não seja de base puramente lógica, por exemplo “o banheiro é a segunda porta à
direita”, é preciso ir até a segunda porta à direita para se ter certeza de que o banheiro é ali, sua validade
depende de comprovação. Dessa forma, caso não seja “testado”, um raciocínio provável nunca poderá ser
afirmado como absoluto.
A crítica à noção de causalidade nasce da confusão que Hume afirma ser comum entre esses dois tipos de
raciocínio. Para que a associação de causalidade (conexão necessária entre dois fenômenos) pudesse ser
considerada como válida seria preciso haver uma impressão anterior que lhe desse origem. No entanto, para
Hume, não há nenhuma impressão correspondente à noção de causalidade.
Isso significa, então, que as relações de causalidade entre fenômenos se referem ao nosso hábito de
pensarmos esses fenômenos como ligados um ao outro, mas não a uma relação real entre objetos externos
a nós. O exemplo mais famoso que Hume utiliza para explicar essa teoria é o seguinte: Por mais que sempre
tenhamos associado ao nascer de um novo dia ao nascimento do sol, por mais que isso sempre tenha
ocorrido até o dia de hoje, isso não significa que essa conjunção de fenômenos seja necessária. Nada garante
a necessidade do surgimento do sol no dia de amanhã.
Assim, o máximo que podemos alcançar, do ponto de vista do conhecimento, é uma grande probabilidade de
que um evento ocorrerá ou não ocorrerá, mas nunca podemos extrair uma certeza, dado que não existe
nenhum conhecimento a priori, isto é, independente de nossa experiência sensível.
Hume afirma que nós temos uma tendência interpretar nossas inferências como leis da natureza (é assim
que o método indutivo funciona). Nossos hábitos e crenças nos fazem formular supostas leis e supostas
conexões necessárias entre eventos que, em última análise, são apenas sucessões de fatos e sequência de
eventos sem nenhum nexo causal. Por termos habitualmente observado esses fenômenos se sucederem
acreditamos que eles ocorrerão novamente, o que não é garantido segundo o filósofo escocês. Associações
por causalidade se configuram então como raciocínios do tipo provável, mas em situação de demonstrativos
(indubitáveis). Essa é a crítica ao método indutivo dirigida por Hume, pois, experimentar um fenômeno muitas
vezes não transforma em indubitável o que é provável. No final, somos guiados por nossos hábitos.
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Filosofia
Exercícios
1. Texto I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
Texto II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum
significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for
impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A
comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume:
a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento
2. Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar
ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma
montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já
conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a
partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal
que nos é familiar. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que:
a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.
b) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.
d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.
e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.
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Filosofia
3. O ponto de partida de Hume, como o dos demais empiristas, é a tese segundo a qual nossas ideias sobre o real se originam de nossa experiência sensível. A percepção é considerada como critério de
validade dessas ideias, que, quanto mais próximas da percepção que as originou, mais nítidas e fortes
são, ao passo que, quanto mais abstratas e remotas, menos nítidas se tornam, empalidecendo e
perdendo sua força. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré- socráticos a Wittgenstein.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
(Adaptado)
Segundo Danilo Marcondes, o empirismo de David Hume argumenta a favor da
a) necessidade da separação entre ideia e experiência sensível.
b) percepção como mediadora entre as ideias e a experiência sensível.
c) gradual abstração das ideias em relação às percepções.
d) experiência como forma de conhecimento imediato.
e) necessidade de se produzir ideias claras e distintas.
4. Para Hume, portanto, a causalidade resulta apenas de uma regularidade ou repetição em nossa
experiência de uma conjunção constante entre fenômenos que, por força do hábito, acabamos por
projetar na realidade, tratando-a como se fosse algo existente. É nesse sentido que pode ser dito que a
causalidade é uma forma nossa de perceber o real, uma ideia derivada da reflexão sobre as operações
de nossa própria mente, e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do
mundo natural. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 183.
De acordo com o texto e com os conhecimentos sobre causalidade em Hume, é correto afirmar:
a) A experiência prova que a causalidade é uma característica do mundo natural.
b) O conhecimento das relações de causa e efeito decorre da experiência e do hábito.
c) A simples observação de um fenômeno possibilita a inferência de suas causas e efeitos.
d) É impossível o