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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ
Centro de Ciências Sociais – CCS
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH
Gustavo Pereira
ESCRITOS SOBRE EDUCAÇÃO - NIETZSCHE
(SOBRE O FUTURO DOS NOSSOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO)
(4ª e 5ª Confs., pp. 119-160)
Rio de Janeiro
Janeiro de 2014
Gustavo Pereira
ESCRITOS SOBRE EDUCAÇÃO - NIETZSCHE
(SOBRE O FUTURO DOS NOSSOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO)
(4ª e 5ª Confs., pp. 119-160)
Documento apresentado ao curso de Filosofia
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
como requisito parcial para a aprovação na
disciplina de Laboratório de Prática de Ensino
da Filosofia II.
Professor: Dr.ª Dirce Eleonora Nigro Solis
Rio de Janeiro
Janeiro de 2014
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
2 SOBRE O FUTURO DOS NOSSOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO
(4ª e 5ª Confs., pp. 119-160.) ........................................................................................... 3
3 GLOSSÁRIO ................................................................................................................ 7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 8
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1 INTRODUÇÃO
Escritos sobre Educação, de autoria de Friedrich Nietzsche, é uma reunião de
cinco conferências - proferidas pelo filósofo na época em que era um jovem professor
no Paedagogium, na Universidade da Basiléia -, acrescidas do texto Schopenhauer
Educador, em sua versão completa.
O conjunto de textos presentes na compilação aborda a importância dada por
Nietzsche à educação e ao ensino alemão da época, proporcionado os jovens de seu
país, ensino este voltado para a formação cultural geral e para o desenvolvimento do
pensamento e do conhecimento científico.
Nestas conferências proferidas na Basiléia, o autor aponta os objetivos, os
métodos, os conteúdos e, principalmente, as formas da educação dos jovens,
considerando mais especificamente as relações didáticas entre professor e aluno. Em
suma, traçando contrapontos num cenário de aspectos históricos acerca da educação
enquanto atividade humana, a tarefa de Nietzsche estava em criticar aspectos gerais do
sistema educacional sob análise, propondo, por sua vez, uma educação que, de fato,
formasse o estudante em sua plenitude humana, e não apenas profissionalizasse o aluno
para a vida do trabalho.
De uma forma geral, pode-se enxergar na referida obra a possibilidade de
contribuir para diversas discussões contemporâneas acerca dos rumos do ensino
brasileiro.
2 SOBRE O FUTURO DOS NOSSOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO (4ª e 5ª
Confs., pp. 119-160.)
A apresentação geral das principais questões contidas em Sobre o Futuro dos
Nossos Estabelecimentos de Ensino está, aqui, restrita à 4ª e 5ª conferências proferidas
pelo filósofo. Neste sentido, procura-se identificar os temas e os assuntos de maior
destaque, surgidos na crítica que Nietzsche dispara em relação à educação alemã,
lançando-se a um breve comentário acerca destes.
A primeira questão que salta da fala de Nietzsche reside na distinção que propõe
entre duas possibilidades daquilo que se designa por cultura: a primeira delas se explica
em termos de uma cultura no sentido mais corriqueiro e banal, como sendo o conjunto
de saberes produzidos e conservados ao longo do tempo, pelos quais o homem vive e
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luta pela sua existência, sendo considerada uma escrava útil para a simples manutenção
da humanidade; já a segunda interpretação, que se pretende como verdadeira cultura,
está relacionada com uma atmosfera superior da existência, que ignora as necessidades
corriqueiras do cotidiano, assim como os indivíduos que nele enxergam um caminho
para a mera intelectualidade, sendo mesmo uma deusa etérea e delicada.
A partir destas considerações, Nietzsche alerta para a necessidade de uma
educação que não apenas se restrinja à primeira forma de cultura, isto é, uma educação
que simplesmente se faça por estabelecimentos de ensino os quais se propõem a
permitir aos jovens superarem as necessidades da vida, inserindo-os no trabalho e na
sociedade, mas que, atravessando esta projeção mais imediatista e prática, atinja
também a cultura em sua plenitude, configurando-se uma real educação para a cultura.
O autor faz uma ressalva quanto às escolas técnicas e às escolas primárias,
atribuindo a estas um elogio que lhes convém e reconhecendo-lhes sua importância
epistemológica e social, advinda do cumprimento de seus objetivos pragmáticos, como
aprender a calcular, aprender a língua, etc., em via do qual os estudantes formados
devem adquirir os plenos direitos a eles prometidos. No entanto, o que Nietzsche ainda
frisa, apesar de tal ressalva, é a inexistência de estabelecimentos de cultura, tal como
entendida daquela forma mais profunda.
Em seguida, retratado pela voz do amigo do filósofo presente como protagonista
no texto, há, finalmente, um questionamento acerca da delimitação e da possibilidade
objetiva de se operacionalizar esta forma superior de cultura no interior do sistema
educacional. Em suma, Nietzsche indaga sobre como seria possível fundar instituições
de ensino que se baseassem numa tal concepção de cultura, na medida em que esta só
parece se fazer pela investigação da natureza mais longínqua, o que deve implicar uma
tarefa árdua e complexa.
Mais adiante, no texto, o autor sugere que a maneira pela qual, na época, os
estabelecimentos alemães de ensino tratavam a cultura, guardando indevidamente para
si mesmos o título de instituições para a cultura, se revelava, em verdade, um freio ao
real desenvolvimento do espírito alemão. Assim, ao invés de um estabelecimento para a
cultura que proporcionasse, de fato, um avanço do pensamento, a escola era entendida
por Nietzsche, muito pelo contrário, como uma resistência estúpida ao curso do mundo.
O texto traz também uma distinção entre duas vias, uma das quais deve ser
escolhida pelos jovens em formação educacional. Para a primeira delas, há
majoritariamente benefícios e promessas de sucesso. Nietzsche mostra que quem seguir
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esta via será bem recebido pelos pares da época, terá honras e companheiros. Para a
segunda delas, no entanto, a qual se mostra um caminho mais árduo, longínquo e
profundo, haverá menos companheiros, assim como menos reconhecimentos e
prestígios sociais. Cabe, neste sentido, uma reflexão sobre qual delas aparenta ser uma
via digna de ser tomada e atravessada, em conquista da qual se chega a uma plenitude
na vida, a uma real aquisição de cultura. Para o filósofo, a constituição de
estabelecimentos para o ensino deve estar atenta a este tipo de adoção de princípio, pelo
qual se engendra dificuldades distintas na realização efetiva de sua empreitada
educativa.
Em oportunidade que se forma páginas adiante, Nietzsche parece alcançar,
finalmente, uma maior clareza quanto à importância efetiva dos estabelecimentos de
ensino existentes, e o faz mantendo-se uma certa proximidade com a segunda das vias
anteriormente mencionadas, como já esperado. Para ele, a instituição para a cultura é
necessária na medida em que abre a possibilidade de convivência com os homens raros,
com os homens possuidores da cultura autêntica, para neles encontrar os guias que
mostram o caminho para a plenitude e o maravilhamento na vida.
Mais especificamente quanto aos ginásios, instância bastante polemizada no
texto, em particular, lhe é conferida uma espécie de importância extraordinária, na
medida em que os objetivos de cultura que estes visam, devem dar a medida para todas
as outras instituições, ao passo que, igualmente, os desvios de sua tendência devem
também afetá-las de alguma maneira. Neste sentido, a própria universidade é
considerada, diante da impossibilidade de exibir um papel de tamanha importância,
dada sua estrutura da época, uma mera extensão daqueles ginásios.
Aprofundando-se na discussão sobre os objetivos a serem alcançados pelo
ginásio, Nietzsche mostra que, na concepção rasteira pela qual se atribui a este
segmento de ensino a exclusiva e simples preparação do jovem para o ingresso na
universidade, as idéias de liberdade e autonomia devem fazer-se claramente presentes,
no sentido de conferirem ao jovem estudante a condição de livre, condição esta
justamente aquela exigida em nível universitário.
Talvez a crítica mais expressiva que Nietzsche tece acerca dos estabelecimentos
de ensino de sua época esteja, mais especificamente, relacionada à didática entre
professor e aluno que se mostra nas universidades. Tal expressividade pode ser
explicada pela atualidade desta crítica que, ainda hoje no Brasil, apresenta uma
pertinência perfeitamente cabível. O autor expõe que o estudante em geral e, em
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particular, o estudante universitário, está ligado ao processo de ensino apenas pelos
ouvidos, isto é, mostrando-se ser exclusivamente um ouvinte. Qualquer outra atividade
de que se lance mão numa oportunidade destas faz que com haja, por sua vez, através da
ideia de autonomia, um desligamento da dependência entre o estudante e seu
estabelecimento educacional correlato.
Da mesma forma, o professor exerce sua atividade docente apenas
unidirecionalmente. Para este caso, a propósito, pode-se dizer que o professor,
fundamentalmente, apenas fala aos estudantes que, pelo menos em princípio, o escutam.
No entanto, o professor não fala especificamente para cada estudante, mas fala de uma
forma geral e esvaziada, distante destes últimos, por assim dizer, ou seja, de fato
separado destes por um imenso abismo de suas percepções.
As relações didáticas dos estabelecimentos de ensino da época de Nietzsche, as
mesmas que vergonhosamente se estendem até o cenário educacional brasileiro atual, se
resumem a uma só boca que fala para muitos ouvidos e metade de mãos que escrevem,
reduzindo a tão aclamada cultura a uma mera reprodução oral de conhecimentos frios e
vazios de sentido.
Em resultado, o texto sinaliza que o estudante universitário supostamente culto,
na verdade, não passa de um aluno de ginásio formado pelos mestres, em um
isolamento acadêmico grave, que o priva da verdadeira formação e do real
relacionamento com a cultura. Para Nietzsche, é somente caindo imediatamente sobre o
espanto filosófico duradouro que se torna possível o crescimento de uma cultura
profunda e nobre.
Ao mesmo tempo, o autor mostra como as universidades tem tratado a filosofia
nos últimos tempos, sob uma forma neutra, desvitalizada, ao invés de, pelo contrário,
fazê-la adentrando os grandes problemas com uma profundidade inconfundível. Isso
significa reduzir a filosofia a um mero ramo da filologia, afastando, então, também da
universidade, a possibilidade de revelar-se uma instituição para a cultura, mostrando-se
esta, antes, uma espécie de arrogância pela pretensão de figurar como a mais elevada
instituição cultural.
Numa palavra, apesar de toda a pesada crítica aos estabelecimentos de ensino e,
incluindo nestes, a crítica à universidade, Nietzsche dá uma direção de onde se pode
iniciar a busca pela verdadeira cultura. Esta começa, diz o filósofo, com a obediência,
com a disciplina, com a instrução, com o sentido do dever.
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3 GLOSSÁRIO
Aqui está posta uma relação dos termos, dos conceitos e dos assuntos mais
expressivos, contidos na seção em análise. Esta listagem está organizada por
tema/assunto (e, por isso, não se segue a ordem crescente da paginação em que os
termos listados vão surgindo ao longo do texto), alocando os itens por proximidade de
sentido e de relevância para as discussões nas quais surgem.
Cultura (entendida em seu sentido verdadeiro, profundo): p. 120-121
Cultura (em seu sentido mais rasteiro e banal): p. 122
Pseudocultura da atualidade: p. 153
Cultura histórica: p. 149-150
Educação para a cultura: p. 122; p. 136
Estabelecimentos para a necessidade da vida: p. 125; p. 136
Espírito alemão: p. 131; p. 155
Objetivos da escola: p. 123; p. 138; p. 144
As duas vias: p. 136
Papel da filosofia: p. 128; p. 148-149
Estudantes e juventude: p. 142; p. 145; p. 148; p. 156
Professor e atividade docente: p. 147
Ginásio: p. 144-145
Liberdade: p. 145; p. 148
Autonomia: p. 145; p. 152-153
Autoeducação acadêmica da cultura: p. 147-148
Corporações: p. 155-157
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Sobre o Futuro dos Nossos Estabelecimentos de
Ensino. In: _______ . Escritos sobre educação. Tradução, apresentação e notas de
Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola,
2003.