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A GLOBALIZAÇÃO A PARTIR DO MAR: REFLEXÕES SOBRE OS PIRATAS DO VELHO MUNDO E A TERRA FIRME DA HUMANIDADE EM PETER SLOTERDIJK. Francisco Augusto Cruz de Araújo Aluno Esp. do PPGCS - Mestrado [email protected] Daniel Iberê Alves da Silva Aluno do PPGCS - Mestrado [email protected] Orientação: Orivaldo Pimentel Lopes Júnior e Alexsandro Galeno Araújo Dantas INTRODUÇÃO A etapa do processo de globalização caracterizado pelo fim das fronteiras nacionais, especificamente falando das “aventuras” ao exterior promovida pelas navegações marítimas, resultou no surgimento de grupos de sujeitos bastante singulares, aqueles que desejavam romper suas esferas, mas que não estavam dispostos a fazer da terra dos outros os coabitantes de uma esfera comum: os corsários, piratas e comerciantes mundiais. A mobilidade proporcionada pelas navegações possibilitou a abertura de novas rotas comerciais, e por conseqüência, também reorientou a dinâmica mundial no sentido da percepção do outro. Os corsários, navegadores autorizados pelos Estados-nações a utilizar a violência para enfraquecer os concorrentes deram sentido e espaço para o surgimento dos piratas do mar, aqueles que não

Resumo Expandido - A Globalização a partir do mar

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Estudo de natureza teórica que aborda o processo de Globalização e seu caráter violento. Realiza uma reflexão acerca do período específico das Navegações Européias e indica traços significativos na análise da formação do Novo Mundo.Título do trabalho: A GLOBALIZAÇÃO A PARTIR DO MAR: REFLEXÕES SOBRE OS PIRATAS DO VELHO MUNDO E A TERRA FIRME DA HUMANIDADE EM PETER SLOTERDIJK.Junho - 2010

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Page 1: Resumo Expandido - A Globalização a partir do mar

A GLOBALIZAÇÃO A PARTIR DO MAR: REFLEXÕES SOBRE OS PIRATAS DO VELHO MUNDO E A TERRA FIRME DA HUMANIDADE EM PETER

SLOTERDIJK.

Francisco Augusto Cruz de AraújoAluno Esp. do PPGCS - Mestrado

[email protected]

Daniel Iberê Alves da SilvaAluno do PPGCS - [email protected]

Orientação: Orivaldo Pimentel Lopes Júnior e Alexsandro Galeno Araújo Dantas

INTRODUÇÃO

A etapa do processo de globalização caracterizado pelo fim das

fronteiras nacionais, especificamente falando das “aventuras” ao exterior

promovida pelas navegações marítimas, resultou no surgimento de grupos de

sujeitos bastante singulares, aqueles que desejavam romper suas esferas, mas

que não estavam dispostos a fazer da terra dos outros os coabitantes de uma

esfera comum: os corsários, piratas e comerciantes mundiais.

A mobilidade proporcionada pelas navegações possibilitou a abertura de

novas rotas comerciais, e por conseqüência, também reorientou a dinâmica

mundial no sentido da percepção do outro. Os corsários, navegadores

autorizados pelos Estados-nações a utilizar a violência para enfraquecer os

concorrentes deram sentido e espaço para o surgimento dos piratas do mar,

aqueles que não possuíam autorização legal para se aventurarem nos mares

desconhecidos.

O processo de rompimento das esferas pelos corsários, piratas e

comerciantes foi marcado por uma fase de extrema violência física, já que o

outro era “considerado como um corpo no espaço exterior” (SLOTERDIJK,

2008) que na maioria das vezes, era mal-visto. Os piratas das esferas, que

encontraram no mar o sentido das suas vidas (muitos eram homens banidos de

suas pátrias e degredados forçadamente, já outros até de forma voluntária)

estenderam ao mar e às terras longínquas aquilo que já era habitual fazia

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muitos séculos no velho mundo: o uso constante da violência como alternativa

para sobrepor-se diante do risco do poder.

Neste contexto, ressaltamos o costume de homens que se encontravam

no exterior, como estrangeiros, de se exterminarem uns aos outros sob

pretextos fugazes. Na medida em que as fronteiras eram destruídas pelo

processo de globalização, os conquistadores das novas superfícies terrestres

que chegavam a partir do enorme deserto aquático não encontravam nenhum

motivo para fazerem daquela terra a sua própria, desrespeitando a ordem já

existente.

Neste ciclo de expansão espacial e cultural, ficaram evidentes três

características principais do processo de globalização: a desintegração das

identidades nacionais, que resultaram do crescimento da homogeneização

cultural; o reforço das identidades locais, no sentido das resistências que

surgiram ao longo da história diante de um mundo globalizante; e finalmente, o

cruzamento ou hibridismo de identidades nacionais e surgimento de novas

identidades compostas de elementos provenientes de línguas, costumes e de

modo geral, culturas diferentes (HALL, 2000).

Os navegadores responsáveis pelo rompimento das fronteiras a partir

dos oceanos ainda pouco explorados a fim de criar novas rotas de

comercialização de produtos e escravos, perderam suas próprias identidades,

e, além disso, a própria visão diante do caráter ilimitado das superfícies

aquáticas, transferindo suas ações para o deserto moral na profundidade das

suas almas (SLOTERDIJK, 2008).

É também neste contexto que podemos traçar o caráter devastador e

criminoso do processo de globalização. É nesta fase em que se reforça o

desencontro do homem com um Deus que o observa. Naquele território sem

Estado, no oceano infinito, nos mares sem lei, nos espaços globais sem uma

civilidade convencionada, Deus não existiu. Foram através das navegações

que o homem pôde por em prática o extremo de atrocidade que se possa

praticar entre seres humanos. Não existiu o primado político no mar, e talvez

ainda não exista atualmente.

Nos tempos atuais, a ausência de um “direito do mar” ainda proporciona

o surgimento de grupos marítimos violentos, terroristas e que agem sem leis e

valores morais que os limitem tanto nas ações terroristas, como nas

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navegações comerciais legais e ilegais. Apesar de o mar ter sido o caminho

mais favorável para o processo de expansão do mundo, referido e estudado

por muitos séculos por filósofos, poetas e outros pensadores da esfera, ele

continua sendo um espaço da esfera um tanto misterioso, descontrolado e

desconhecido pelos seres humanos.

A liberdade de movimento surgida com a globalização era uma

mercadoria sempre escassa e distribuída de forma desigual, se tornando

rapidamente o principal fator diferenciador dos grupos e sujeitos no mundo

moderno (BAUMAN, 1999). A descoberta de novas terras firmes proporcionou

ao homem do Velho Mundo a possibilidade de recomeçar a construir o seu

mundo. A América em especial recebeu inúmeros grupos de pessoas dispostas

ao recomeço em uma terra que consideravam sem dono. Por este motivo, os

sentimentos de dominação do herói-descobridor, corsário, pirata e comerciante

nas novas terras deu origem a uma nova estratificação social, o camponês que

não é servo (como praticado no regime do feudalismo na qual ele fugia ou fora

degredado), havia se tornado um proprietário fundiário, autônomo que, sob o

olhar de Deus, administra suas terras.

Aqueles que em suas terras de origens eram considerados pelo direito e

pela moral como criminosos e traficantes, por viverem além dos limites, para

além da lei e para aquém da ética, transformaram-se nos aventureiros, heróis e

missionários da civilização. Foi este descuido moral que contribuiu com a

construção no homem do direito de tomar algo para si sem dar nada em troca.

OBJETIVOS

Os objetivos deste estudo são estimular a reflexão referente ao que

historicamente se denomina Globalização e se perceber as diversas

alternativas para compreensão deste processo, além de construir um novo

enredo que contemple algumas lacunas históricas que se encontram vazias por

não terem aberturas para áreas de pensamento como a filosofia, a economia e

sociologia.

Este estudo analisa o desenvolvimento da globalização a partir do

período histórico marcado pelo início das navegações a partir da segunda

metade do século XIV, dedicando-se a pensar a quebra das fronteiras dos

Estados-nações como continuidade de um processo violento e massacrante

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iniciado em terra, e levado ao mar sob a justificativa da conquista de novos

mercados comerciais, riquezas e expansão geográfica.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada inicialmente para elaboração desta análise foi a

revisão teórica baseada nos ensaios realizados por Peter Sloterdijk, mais

especificamente nas obras Esferas II e Palácio de Cristal, além de leituras

paralelas que tratam do processo de globalização por uma perspectiva

complexa e formada por uma teia de fatos históricos, sociais e políticos que

resultam no processo de globalização que acompanha a humanidade nos dias

atuais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A palavra globalização tornou-se uma palavra muito comum e também

um adjetivo para se compreender diversas dimensões da vida social:

globalização econômica, globalização cultural, globalização política, etc.

Porém, a análise do processo de globalização exige uma cuidadosa atenção a

diferentes características que muitas vezes passam despercebidas aos olhares

de quem a analisa. Sua popularidade não foi capaz de diminuir sua importância

e a necessidade cada vez maior de aprofundamento das suas influências na

vida contemporânea.

A globalização exprime a idéia de que o mundo é um globo, uma esfera.

Há muito tempo o homem sabe que a terra é esférica, neste sentido, o mundo

globalizou-se e fez-se mais redondo do que já era. A idéia de que o mundo era

plano representou para a sociedade a idéia de que era infinito, impossibilitando

sua conquista, seu conhecimento. Mas a partir da aceitação de que o mundo

era esférico, sua conquista pareceu possível, transformando-se em um objeto a

ser conhecido e conquistado (HINKELAMMERT, 2007).

É este processo de conquista que destacamos neste estudo como uma

das fases mais cruéis da humanidade. Esta globalização foi possível pelo uso

da violência física e imposição de um modelo político-cultural europeu.

Destacamos nesse processo de expansão geográfica e econômica os

corsários, piratas e comerciantes que faziam parte de um grupo social sem

nenhum valor moral humanista, e que foram capazes de devastar todo o

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mundo em busca do reconhecimento como heróis. Fizeram isso ao custo de

inúmeras vidas.

CONCLUSÂO

O aprofundamento nos estudos acerca do processo de globalização nos

evidencia que este processo não se deu de forma ingênua, mas pelo contrário,

por ser histórico, foi representado de diferentes maneiras pelos seres humanos,

tanto na cultura, na religião, na política e em outras dimensões da vida social e

seguiu cuidadosamente uma estratégia de pensamento. É também importante

ressaltar que o processo de globalização não se deu de forma igualitária em

todas as nações, o que resultou em realidades sócio-econômicas e culturais

distintas.

Neste trabalho pudemos nos direcionar a uma fase específica do

processo antigo da globalização e percebemos o seu caráter violento e

devastador no que se refere à expansão espacial das idéias, das economias e

culturas. Este processo que ocorreu em nome do progresso, foi marcado pelo

sangue daqueles que tentaram ou não conseguiram resistir às forças

globalizantes. Segundo Sloterdijk (2008, p. 130), “a globalização terrestre,

como a história do mundo em geral, é talvez o crime que só se pode cometer

uma vez”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. São Paulo: DP& A, 2000.

HINKELAMMER, Franz. A globalidade da terra e a estratégia da globalização. In: Boron, A. A.; Amadeo J.; González, S.. A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales – CLACSO, São Paulo: Expressão Popular, 2007.

SLOTERDIJK, Peter - Palácio de Cristal: Para Uma Teoria Filosófica da Globalização. Lisboa: Relógio D'Água, 2008.

SLOTERDIJK, Peter. Esferas II: Globos. Macrosferología. Siruela, Madrid. 2004.