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* Esmair Lopes Camargo, professor de História e Sociologia da Rede Estadual de Ensino da SEED (Secretaria de Estado da Educação) desde 1991, graduado em Ciências Sociais pela Faficla ( Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Arapongas), pós-graduado em Antropologia Filosófica pela FECILCAM (Faculdade Estadual Ciências e Letras de Campo Mourão), integrante do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) da SEED ( Secretaria de Estado da
Educação) do Estado do Paraná nos anos 2007 e 2008.
RESUMO
Esse artigo entitulado “ O índio brasileiro no livro didático”, faz um estudo de como foi construída a imagem do índio no livro didático ao longo da história, analisando sobre quais condições se estruturou a cultura desses povos. Será feita uma investigação do que foi escrito sobre os índios pelos missionários que estiveram no Brasil no primeiro século de sua colonização, bem como uma análise do quadro “ A primeira missa do Brasil”, pintada por Victor Meirelles em 1860, baseada nos relatos do escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, relatando a primeira imagem que tiveram desses povos em 1500. Também será realizado um estudo de autores renomados como Darci Ribeiro, Gilberto Freire, Levi Strauss, sobre a cultura dos povos indígenas como a vestimenta, alimentação, pinturas,ornamentos, aproximando assim, a história com outras áreas do conhecimento como a antropologia, sociologia. Em seguida esse artigo propõe uma aprofundamento do que produzido por escritores contemporâneos como Circe Bittencourt, Luis Donizete Grupioni, Ronald Raminelli, Lúcio Tadeu Costa sobre os índios nos livros didáticos. Por fim,a análise do resultado do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) da Secretaria de Estado de Educação do Estado do Paraná (SEED) com os alunos da rede pública, permitiu-nos caminhar na direção de novas pedagogias de valorização dos povos indígenas.
ABSTRACT
This article titled "The Indian in the Brazilian textbook," is a study of how the image was built in the Indian textbook throughout history, analyzing what conditions are structured the culture of these peoples. There will be an investigation of what was written about by the Indians who were missionaries in Brazil in the first century of its colonization, as well as an analysis of the table "The first Mass in Brazil", painted in 1860 by Victor Meirelles, based on reports of the Registrar the squad of Pedro Alvares Cabral, reporting the first image that these people had in 1500. It will also be conducted a study of
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renowned authors as Darci Ribeiro, Gilberto Freire, Levi Strauss, on the culture of indigenous peoples such as clothing, food, paintings, ornaments, thus bringing the story to other fields of knowledge such as anthropology, sociology. Then this article proposes a deepening of that produced by contemporary writers such as Circe Bittencourt, Luis Donizete Grupioni, Ronald Raminelli, Lucio Costa on Tadeu the Indians in textbooks. Finally, the analysis of the outcome of the Working Group Network (TNG) of the Secretariat of State for Education of the State of Parana (SEED) with students from the public, allowed us to move in the direction of new teaching methods for recovery of indigenous peoples .
1.Introdução
A necessidade de construir práticas pedagógicas positivas, baseado nas
Diretrizes Curriculares Nacionais, para a educação étnico-racial e a atual
realidade em que vivem as comunidades indígenas nacionais, levou-nos a um
estudo do papel do índio na sociedade brasileira. A investigação sobre esses
povos, desde os primeiros contatos no descobrimento do Brasil, passando pela
construção da imagem de nação no século X1X até aos estudos da atualidade,
se faz necessário, já que os povos nativos do Brasil até então são estudos de
forma superficial, um apêndice da história.
A análise da imagem do índio no livro didático foi possível a partir das
reflexões históricas da Escola de Analles na década de 30 e da Nova História
Cultural da década de 70. A história das minorias étnicas foi relegada a
segundo plano em detrimento de uma história positivista ganhou espaço após
os anos 70.
Ao analisarmos dois clássicos da cultura brasileira - O povo brasileiro de
Darci Ribeiro e Casa Grande & Senzala de Gilberto Freire, foi possível entender
o papel do índio na formação da cultura nacional, uma vez que que esses dois
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autores muito colaboraram para entender a cultura desses povos.
Por meio do estruturalismo de Levi Strauss, a partir de algumas de suas
obras como “Tristes Trópicos”, “O cru e o cozido”,foi possível o entendimento
da cultura dos índios Kaingangs do Paraná . Um aprofundamento dos símbolos
e imagens na antropologia cultural, permitiu uma construção de outra imagem
desses povos.
A partir do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria
de Estado da Educação (SEED), foi produzido um folhas com o título “A visão do
índio no livro didático”, disponibilizado aos professores do Grupo de Trabalho
em Rede (GTR) e alunos da educação básica da Rede Estadual de Ensino do
Estado do Paraná. O ponto de partida foi uma nova análise dos alunos da
educação básica da Rede Estadual de Ensino do Paraná sobre o quadro “A
Primeira Missa do Brasil” de Victor Meirelles. Foi proposto outro olhar sobre as
condições em que o quadro foi pintado e uma análise histórica de como foi
conduzida a confecção desse quadro.
2. Desenvolvimento
A análise da dimensão social na historiografia está presente nas obras de
Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956), fundadores da Escola de
Analles (1929), desde o início do século XX.
A opção por uma história social que substitua a orientação política da linha
positivista ,aproxima a história de outras áreas do conhecimento como a
sociologia, filosofia, psicologia, ocupa espaço cada vez maior dentro da
história. A influência de Analles ganhou espaço a partir da década de 50, onde
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aparece centenas de obras, artigos e teses que se distanciam do viés político
e econômico, aproximando-a da população simples e criando novas
metodologias a fim de valorizar a produção cultural das classes excluídas do
processo da construção do conhecimento.
A aproximação da história com a sociologia e antropologia, permitiu o
uso de fontes orais, inquéritos policiais, judiciais e inquisitoriais, até então
desprezadas pela história tradicional, possibilitando, assim uma nova visão
das classes populares.
Toda a produção etnográfica da antropologia pôs a história oral em
evidência, numa perspectiva de valorização da história do povo simples, dos
marginalizados e das minorias étnicas, proporcionando à ciência novas
possibilidades metodológicas, que não a história engessada e presa aos
ditames positivistas. Assim o aspecto descritivo e político dos grandes heróis e
impérios é substituído por uma abordagem cultural.
A partir de Annales a história não é ser mais a mesma, e uma renovação
acontece por toda a Europa e América. A Nova História Cultural , estruturada a
partir dessas mudanças vem para ficar no meio dos historiadores. Uma
grande mudança metodológica é introduzida a partir de Annales e uma
mudança de paradigmas surge a partir da Nova História Cultural na década de
70.
Lyn Hunt, em seu livro “ Nova História Cultural” diz que Thompson e Davis
da Nova Esquerda Inglesa, dão voz às massas de pessoas que produzem sua
própria cultura ao afirmar que as classes inferiores deixam de ser simples
presas de forças históricas dominantes, desempenhando papel relevante e
essencial na criação de sua própria história.
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Dentro dessa perspectiva uma nova abordagem metodológica do ensino
de história em sala de aula, a partir de uma leitura crítica das imagens contidas
nos livros didáticos sobre os índios, faz-se necessária. Precisamos superar a
visão microscópica que o índio teve na história brasileira, onde, quando
aparece, é coadjuvante do europeu no processo de colonização do Brasil por
Portugal, ou quando muito, alguns autores os tratam a partir da ótica da
curiosidade. A pluralidade cultural dos povos indígenas é rica e tem influência
direta na constituição do povo brasileiro. Uma análise dos primeiros habitantes
do Brasil, considerando as condições sócio-econômicas, política, cultural, irá
proporcionar as condições necessárias para a reconstrução de outra imagem
dos índios.
Segundo Circe Bittencourt (2004) uma história que não privilegie a Europa
em detrimento da americana, africana e brasileira é uma possibilidade real de
resgate do passado das minorias étnico-raciais, que foram silenciadas ao longo
dos anos. Cria-se assim, um quadro favorável para a substituição da histórica
descritiva por uma, onde a valorização da população passa a ser o eixo
central.
Dentro dessa realidade a reconstrução de uma nova história em novos
livros didáticos que valorize a população simples, redimensione a ação dos
grandes heróis possibilitará o aparecimento de novos paradigmas de uma
abordagem mais justa do nosso passado.
A história do índio que chegou até os livros didáticos foi produzida dentro
de uma perspectiva eurocêntrica, a partir do evolucionismo europeu do século
X1X. Os índios foram inseridos num estágio evolutivo inferior , tendo que
adquirir a cultura européia para progredir dentro dessa escala de evolução pré-
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determinada. Os relatos de viajantes, missionários, funcionários do governo,
descrevem o papel inferior do índio brasileiro, que, não professava o
cristianismo, nem possuía a cultura do velho continente. Os relatos de Theodor
de Bry nos revelam esse conjunto de representações criadas a partir do
imaginário europeu do século XV1. Os elementos da antropofagia dos índios
tupinambás nas cartas dos missionários que aqui estiveram, o politeísmo e
crenças nas forças animistas - concepção que toda a natureza tem vida própria
e interage com o homem- a poligamia que escandalizou a sociedade européia,
criaram a necessidade de um projeto salvacionista cristão aqui na América.
Sobre isso Ribeiro (2003, p.57) escreveu:
Aqueles índios tão diferentes dos europeus, que os viam e os descreviam, mas também tão semelhantes, seriam eles também membros do gênero humano, feitos do mesmo barro pelas mãos de Deus, à sua imagem e semelhança?Caíram na impiedade. Teria salvação? Ficou logo evidente que eles careciam, mesmo, é de um rigoroso banho de lixívia em suas almas sujas de tantas abominações, como a antropofagia de comer seus inimigos em banquetes selvagens; a ruindade com que eram manipulados pelo demônio através de seus feiticeiros; a luxúria com que se amavam com a naturalidade de bichos; a preguiça de sua vida farta e inútil, descuidada de qualquer produção mercantil.
O índio representado era o que interessava ao domínio econômico, pois o
branco não concordava com a concepção de trabalho do índio que diferenciava
do modelo capitalista. Foi criada a figura de um índio preguiçoso, sem cultura
para legitimar a ação do projeto colonizador da Europa na América.
Os índios sempre foram tratados de forma secundária em detrimento do
colonizador, dentro de uma história estanque, marcados pelos eventos da
história européia, ignorando o curso cultural do qual os índio eram
protagonistas. Ainda dentro desse contexto escreveu Grupioni, (1995, p.491):
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Nesse emaranhado de confusões, não é demais afirmar que os manuais escolares continuam a ignorar as pesquisas feitas pela história e pela antropologia no conhecimento do outro, revelando-se deficientes no tratamento da diversidade étnica e cultural existente no Brasil, dos tempos da colonização aos dias atuais, e da viabilidade de outras ordens sociais. É com esse material, equivocado e deficiente, que professores e alunos têm encontrado os índios em sala de aula. Preconceito, desinformação e intolerância são resultados mais que esperados desse quadro.
É mínima a participação do índio na história do Brasil e quando são
citados, aparecem como coadjuvantes do branco. Sempre foram enquadrados
numa perspectiva de preconceito e discriminação, numa visão eurocêntrica,
em que os europeus são identificados como cultura superior.
A obra “A Primeira Missa do Brasil” de Victor Meirelles pintada em 1876,
revela esse aspecto da superioridade étnica dos europeus sobre os primeiros
habitantes do Brasil, comum na época em que desejava-se construir uma
feição para o povo brasileiro.
No século X1X, época em que foi produzida a obra de Victor Meirelles, o
romantismo dominava os meios culturais e a temática indianista constituía
uma das características que norteava as obras literárias e as artes plásticas do
Brasil. O romantismo foi um movimento literário brasileiro que desejava criar
uma literatura nacional, abandonando as influências portuguesas e se
caracterizou pela exaltação da natureza e amor à pátria.
A atmosfera romântica do século X1X, que facilitou a criação da imagem
do índio como um membro da nacionalidade do povo brasileiro, forja a
verdadeira história desse povo após o descobrimento do Brasil, onde ele
aparece como co-autor na construção da nação, ocupando uma posição
secundária, cortando pau-brasil para os comerciantes europeus, ou
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simplesmente, caçadores que dependiam da natureza frente ao dinamismo do
capitalismo europeu do século XV1.
MEIRELLES, Victor. A primeira missa do Brasil.1860. Quadro
O quadro de Victor Meirelles, permite uma visão de como o uso da
imagem, como metodologia no estudo da história, podem transformar-se numa
armadilha iconográfica , onde determinada ideologia passa desapercebida.
Esse quadro, um dos mais reproduzidos nos livros didáticos de história,
inspirado nos escritos de Pero Vaz de Caminha, tornou-se para a academia e
professores de história, durante vários anos o início da nação brasileira.
Apesar de ser produzido há mais de três séculos após a carta de Caminha,
impõe-se de tal maneira, que parece ter havido um pintor que retratou o
momento na esquadra de Cabral em 1500. O estandarte da coroa portuguesa
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quadro atesta a autoridade política de Portugal, a cruz, o triunfo da Igreja
Católica em terras tropicais e a construção da nação brasileira no século X1X .
Enfim, toda a estratégia do quadro foi a de produzir a idéia de união e
integração entre os índios e europeus , tendo em vista a construção da nação
brasileira.
Segundo Terezinha Sueli Franz em sua obra entitulada “ Educação para
uma compreensão crítica da arte” uma análise mais profunda das obras de
artes, contribuirá para o desenvolvimento de um espírito crítico nos alunos,
despertando neles um olhar além daquilo que aparece num quadro. Para ela, o
estudo das obras de artes, tem o poder de fazer com que o aluno compreenda
toda a realidade cultural, em que a obra foi produzida , facilita o entendimento
de sua própria história, possibilitando, assim um desenvolvimento crítico nas
pessoas que estudam com cuidado os quadros pintados. A autora faz um
estudo sobre a obra “ A Primeira Missa do Brasil” (1860) de Victor Meirelles, por
ser uma das pinturas que mais se encontram nos livros didáticos e pelo desejo
de encontrar elementos no quadro que revelem a formação histórica do Brasil,
já que, segunda ela, existe entre os professores, educadores, artistas e alunos
um preconceito que não traduz a verdadeira intenção da obra, que é a de
harmonização do índio e branco na formação do povo brasileiro.
O prefácio da obra “Educação para a compreensão crítica da arte”,
elaborado por Fernando Hernández (2003, p.11) reflete bem esse pensamento:
Existe uma maneira de abordar a Educação das Artes Visuais que não passa pela identificação pura e simples, mas que vai além de uma concepção espontânea de aprender e do
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essencialismo estético. Há uma concepção onde se facilita a aprendizagem a partir do estabelecimento de relações entre imagens e seus contextos de produção, assim como desde seus efeitos nas construções identitárias nas diferentes audiências. Nesta concepção que tem em conta que a imagem transmite fatalmente outra coisa além de si mesma, a esta outra coisa não pode não manter uma relação com a sociedade que a produz e a consome.
Como observado na citação acima, há uma necessidade de pensar o
visual a partir de uma representação cultural, que estão inseridas num quadro
que traduz , um conjunto de práticas sociais que passam pelas relações de
poder, que se estruturam através das imagens, onde o caráter antropológico,
ou seja, o cultural dos povos indígenas é diluído na supremacia do europeu .
Reforçando o ideal de integração dessas duas culturas, iniciado no
Segundo Império ( 1840-1889), Gilberto Freire ( 1900-1987), antropólogo
brasileiro, construiu uma visão integradora entre os índios e os colonizadores
europeus na formação do povo brasileiro. Utilizou-se da ação dos jesuítas na
catequese dos índios para desenvolver suas idéias. O contato do europeu com
o índio do Brasil, proporcionou uma rica troca cultural, que contribuiu para uma
riqueza étnica, onde coexistem elementos desses dois povos em várias áreas
como na comida, vestimenta, pintura, danças etc. Um exemplo desse
intercâmbio cultural, que podemos encontramos na obra “Casa Grande e
Senzala” de Gilberto Freire é a troca de brinquedos entre meninos no pátio dos
colégios jesuítas, como o bodoque para a caça dos índios e o papagaio de
papel dos portugueses. Essa troca, muito contribuiu para a formação desse
caráter híbrido da cultura brasileira fazendo-se presente até hoje nas
brincadeiras infantis por todo o território nacional.
Esse intercâmbio cultural pode ser sentido em todas as dimensões da
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organização das duas culturas. Ainda nesse contexto, conforme destaca
Gilberto Freire, um exemplo dessa troca foi a completa vitória da tecnologia
no fabrico da mandioca indígena sobre a farinha de trigo da Europa. Desde o
período colonial até a atualidade os derivados da mandioca constitui-se na
alimentação básica de boa parte dos brasileiros e a técnica de produção não
sofreu grandes mudanças. A técnica da produção da farinha de mandioca entre
os índios remonta há séculos e continua o mesmo ritual das mulheres na maior
parte das tribos brasileiras. A mandioca, depois de lavada e descascada é
socada num pilão até formar uma massa homogênea que em seguida é
deixada numa vasilha para escorrer toda a água ,depois é levada para secar no
sol, para só depois ser levada ao forno. Além da farinha é variado o uso da
mandioca na culinária brasileira, a herança de receitas caseiras é passada de
geração a geração. Embora, muitas dessas receitas tenham perdido o elo
regional dos índios e caboclos nas Casas-Grandes a origem dessa técnica é
decisivamente é indígena.
Outro exemplo desse sincretismo alimentar da cultura brasileira, pode ser
observado na tapioca de coco, tão comum no nordeste brasileiro. A mandioca é
indígena, o coco e a canela originários da Ásia, o sal europeu e a técnica em
assar em folha de bananeira é de origem africana . Os quitutes, bolos, beiju,
mingau, tapioca, moqueca, pirão, bebidas, dentre outros são comidas de
origem indígena feita a partir da mandioca, tão comuns na região norte e
nordeste do Brasil, que tomaram lugar à mesa brasileira para não mais sair.
A forte ligação dos índios com a natureza, que determina toda a
organização cultural, pode ser observada em sua religiosidade. Para os índios,
o meio ambiente em que vivem tem sua própria dinâmica, que muito difere do
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branco. Todos os elementos da natureza, como os rios, floresta, sol, lua,
animais, trovão, chuva, tem vida própria e estão intimamente interligados com
a cultura indígena. O respeito ao meio em que vivem, ultrapassa os limites do
visível, tornando algo sagrado, pois faz parte de suas tradições, crenças,
integrando, assim, o consciente e inconsciente coletivo desses povos.
As histórias de bichos e de elementos ligados à natureza, que causam
tanta fascinação entre as crianças brasileiras são herança indígena. Quanto
menos influenciada pela cultura européia e mais próxima da simplicidade do
brasileiro, em especial, o nortista e nordestino, mais arraigadas estão essas
fantasias que povoam o imaginário popular das crianças brasileiras. A atração
irresistível dos animais e monstros, numa floresta viva e cheia de mistérios,
que sempre atraiu e pôs medo nas crianças, possui forte conotação indígena. É
um medo instintivo, comparado ao das crianças européias pelos lobos e ursos,
que permanece forte na cultura nacional. Não tem medo de um animal,
propriamente dito, mas de algo próximo a forma de animal que habita as
florestas. Sobre isso destaca Gilberto Freire na obra Casa Grande e Senzala ( p.
201) sobre o bicho místico, horroroso, indefinível; talvez “carrapatu”, ainda
hoje ninam os meninozinhos do Norte:
Durma, durma, meu filhinho
Lá no mato tem um bicho
Chamado carrapatu
Uma forte conotação preventiva, liga o imaginário indígena a tudo o que
existe na floresta, adquirindo um fim pedagógico na educação das crianças. O
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medo e temor ao desconhecido que habita o interior da floresta, resulta na
diversidade de rituais religiosos, roupas, apetrechos, pinturas, danças para
afastar o perigo das aldeias indígenas. O corpo pintado com tintas naturais,
extraídas do seio da floresta, os beiços, as orelhas, narizes, perfurados por
objetos como batoques, fusos, penas e brincos, dentes e ossos de animais
pendurados pelo corpo, em fim, tudo contribui para afastar os espíritos maus
da floresta e suas más influências.
Boa parte do brasileiro, incorporou esses rituais, que servem de amuletos
mágicos, para trazer boa sorte e afastar as desgraças de suas vidas. Dentes de
animais, figas de madeira e de ouro, medalhas milagrosas dos católicos são
formas herdadas dos indígenas e de seu meio natural, que incorporam o
cotidiano do brasileiro.
O projeto salvacionista dos jesuítas, nas reduções e colégios, utilizou-se
do ritmo e toada melancólica das danças e músicas indígenas, adaptando-os à
religião cristã. Os primeiros missionários, pouco conheciam da cultura indígena
quando aqui chegaram, mas manipulando o coração humano, introduziram os
valores do cristianismo no meio da cultura indígena. Esse sincretismo cultural e
religioso facilitou a formação de uma identidade única que influenciou a
constituição do pensamento brasileiro. Exemplo desse intercâmbio cultural,
destaca Gilberto Freire, são as cópias das quadras escritas pelos jesuítas para
os meninos dos seus colégios e missões no Brasil:
“ Ó virgem Maria
Tupan ey eté
Aba PE ara porá
Oicó endê yabê
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Tradução
Ó virgem Maria
Mãe de Deus verdadeiro
Os homens desse mundo
Estão bem convosco.
Essa estratégia utilizada pelos primeiros jesuítas contribuiu para um
comprometimento recíproco que marcaria a cultura do povo brasileiro, em
especial, o do norte e nordeste brasileiro.
Entretanto esse processo, não foi de todo homogêneo, pois a resistência
de muitos índios impediu a ação dos europeus. A imposição de uma moral
familiar dos jesuítas em terras indígenas, fundamentada nos princípios básicos
do cristianismo como o respeito da mulher para com o esposo , a criação dos
filhos e aceitação de uma base econômica agrícola, fundada no sedentarismo,
fez com que muitos indígenas fugissem, pois a organização tribal estava
estruturada em valores como a liberdade familiar, economia baseada na caça
e pesca, nomadismo que os diferenciava da cultura européia.
Escrevendo na mesma linha de integração de Gilberto Freire do indígena
com o europeu, outro autor que contribuiu para uma visão integradora das
culturas, européia e indígena foi Levi Strauss ( 1908 - ) antropólogo
francês, que esteve entre os índios bororo do Brasil Central , realizando um
estudo etnográfico que mudaria a concepção de cultura e inauguraria sua
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antropologia estruturalista. Para ele os índios podem ser estudados numa
escala cultura específica, sem serem reduzidos a graus inferiores, como no
pensamento evolucionista do século X1X, que classificou o índio num grau
inferior , pelo fato de não ter a cultura européia, não professar o cristianismo,
não praticar o capitalismo. Tristes trópicos (1955), Antropologia Estruturalista
(1958), O pensamento Selvagem (1962), O cru e o cozido (1964), Do mel às
cinzas (1967) e O homem nu (1973), são livros de Levi Strauss que discute o
aspecto cultural dos povos nativos numa perspectiva do relativismo cultural,
que pode ser traduzido pelo respeito às culturas primitivas.
O estudo dos mitos é de grande importância para a antropologia
estruturalista de Levi Strauss e revela os aspectos básicos da cultura dos povos
indígenas. Para ele o mito é a parte visível de um inconsciente coletivo que
regula toda a vida cultural dos índios. Os mitos são reveladores de uma cultura
no espaço em que vivem os primeiros habitantes do Brasil. A estabilidade
social só é possível por causa da existência desses mitos, que adquirem um
caráter integrador e socializador na comunidade indígena.
Toda a estrutura interior dos povos indígenas identificadas através do mito
é externalizada através de signos culturais bem definidos que dão vida à
cultura dos povos indígenas. Uma simples pintura, ou um adereço, como
brincos ou pulseiras, representa todo um complexo cultural desses povos, que
são explicados pelo mito.
A análise que Levi Strauss faz sobre o uso do estojo peniano dos índios bororo
do Brasil Central chamado “bá”, reflete a cultura projetada ao longo da
história desse povo, lançando luzes para a compreensão de sua antropologia
estruturalista.
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O uso do estojo está ligado ao ritual de iniciação dos jovens da tribo e tem
um significado todo especial por quem vai usá-lo e remonta de gerações. Todo
o jovem bororo ao chegar a certa idade terá que enfrentar um ritual de
iniciação onde passará da infância para a idade adulta, desligando-se das
mulheres e entrando definitivamente para sociedade masculina, aprendendo
tudo o que os homens precisam saber a fim de ocupar um lugar de destaque
em relação às mulheres. O ritual é longo e somente depois dele é que o
iniciado recebe o estojo peniano – espécie de invólucro enfeitado com penas de
aves – que cobre o pênis, simbolizando essa nova etapa de vida.
Todo jovem bororo ao chegar certa idade terá que passar da fase da
infância para a adulta, desligando-se da sociedade das mulheres e entrando
para a sociedade masculina, aprendendo tudo que os homens precisam saber a
fim de ocupar seu papel de destaque em relação às mulheres. O ritual é longo,
só depois é que o iniciado recebe o estojo peniano - espécie de invólucro
enfeitado com pena de aves - que cobre o pênis, simbolizando essa nova etapa
de sua vida. Segundo Lévi-Strauss 2044, pg 66:
O mito começa envocando os ritos de iniciação, que duravam um ano segundo Colbacchini (& Albisetti 1942); vários meses segundo a EB (v.624-42) e até que ocorra uma morte na aldeia, para que a fase terminal da iniciação possa coincidir com os ritos funerários. Apesar dessa contradição, que não é certamente insuperável, as duas fontes concordam sobre a dura existência dos noviços, durante a caminhada de centenas de quilômetros (“dezenas e dezenas de léguas id.ibid.:641) em que são conduzidos pelos anciãos. Ao serem, finalmente, trazidos de volta, peludos e magros, as mães tem que reconhecê-los sob a folhagem que os cobre por inteiro, pára em seguida lavá-los, depilá-los e penteá-los. Os noviços executam saltos rituais sobre o fogo, e a cerimônia de retorno se encerrava com um banho coletivo no rio (Colb.&Albisetti 1942:239-40). As mães recebiam os filhos chorando amargamente,
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com gritos e lamentos, como na morte de um ente querido. Choram porque, desde aquele momento, o menino, já emancipado, se destaca da sociedade das mulheres e entra na dos homens.
Há versões em que são as mulheres que entram mata adentro para
recolher folhas de babaçu para a confecção do estojo, já outras são os avós e
tios dos parentes próximos da mãe que o fazem. O estojo peniano está além de
um simples adereço que completa o ritual de iniciação, inclui uma série de
significados, essencial para a sociedade dos bororós, que determina a
regulamentação das relações entre os sexos opostos. O casamento do jovem
só deverá acontecer com a outra metade exogâmica da tribo. Entre os bororós,
a sociedade é dividida clãs, de tal modo, que um homem de um clã só pode
casar-se com uma mulher da outro clã. Inclusive, quem coloca o estojo peniano
deve pertencer à metade oposta do jovem iniciante. Uma vez feito esses
primeiros rituais o jovem está pronto para casar-se. Observa-se, portanto, que
os mitos e todo o ritual que o cerca, serve para dar sustentação e unidade às
relações sociais dos bororós. Os símbolos e significados do mito exercem um
papel essencial na organização e estruturação da sociedade dos bororós.
A pesquisa Levi Strauss sobre os indígenas brasileiros, forneceu-nos
subsídios para um aprofundamento da cultura indígena no Paraná, pois vem de
encontro com os anseios da Constituição Brasileira de 1988, que em seu artigo
206, destaca os direitos e proteção da cultura indígena e das Diretrizes da
Educação Escolar Indígena do Paraná que destaca a proteção e garantia de seu
território, bem como sua forma de organização social e produção sociocultural,
o ensino ministrado nas línguas indígenas e o reconhecimento dos processos
próprios de aprendizagem .
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À luz do estruturalismo de Levi Strauss a análise do papel do mito entre os
índios Kaingangs do Paraná, possibilita um entendimento da cultura desses
povos. Os Kaingang habitam os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul, pertencem ao grande tronco da família Jê e a população
atual no Paraná é estimada em 8.800 habitantes segundo censo 2006 da FUNAI
(Fundação Nacional do Índio), habitam as seguintes reservas: Barão de
Antonina em Arapongas, Queimadas em Reserva, Ivaí em Pitanga, Fioravante
Esperança em Palmas, Rio das Cobras e Boa Vista em Iguaçu, Apucarana em
Londrina, Manguerinha em Mangueirinha e José Maria de Paula em
Guarapuava.
O estudo de seus mitos lança luzes sobre uma uma nova visão de mundo,
além de fornecer elementos importantes para a compreensão do processo
histórico da formação do povo paranaense, bem como uma revisão de nossos
conceitos em relação a essa nação que muito contribuiu à cultura nacional.
A compreensão da organização cultural desses povos é facilitada pelo mito
da origem humana dos Kaingang:
Os primeiros Kaingangs foram Filtón e o iambrê ( cunhado) dele. Viveram muito, muito tempo antes da grande chuva que provocou a inundação de todo o mundo. Filtón era o chefe dos Kanherú e o outro o dos Kamé. Vieram do interior da terra. O chão tremeu e houve um estrondo. Enxergaram a claridade e saíram de dentro da terra. A princípio eram dois grupos somente, mas ao chegarem à superfície da terra fizeram também a divisão em Votôro e Venhiky, por causa das festas que iam realizar (SCHADEN, 1956, P.34) APUD Tomasino, Kimiye, Mota, Lucio Tadeu,Noelli,Francisco Silva. Novas Contribuições aos Estudos Interdisciplinares dos Kaingang.2004, P. 151, Eduel)
Os Kaingang, se organizam em dois grupos exogâmicos - o casamento e os
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serviços cerimoniais é feito entre membros de grupos diferentes - que se
complementam e estruturam toda sociedade. Os Kamés pintam-se com riscos
e os Kairu com círculos para distinguir cada metada dentro da tribo. O respeito
mútuo e a origem mítica que caracteriza toda a estrutura desses povos,
remonta há muito tempo e é parte integrante de sua sociedade.
A relação com a terra-mãe é indispensável para a sobrevivência da cultura
Kaingang, adquire uma conotação totalmente diferente do homem branco.
Enquanto que para estes últimos a terra é reduzida a questões capitalistas do
lucro, para os primeiros a terra é fonte de vida e manutenção de tradições
culturais expressadas em seus mitos.
A tradição de enterrar o umbigo após o nascimento de uma criança
Kaingang, para demonstrar essa ligação com a terra, o sepultamento de seus
mortos sobre esteiras de madeira e mato para evitar o contato com o solo, até
que se realize a festa dos mortos, momento em que o espírito sai do corpo e
vai para o mundo dos mortos, são exemplos da relação mítica que esses povos
tem em relação à terra.
O humano, a natureza e o sobrenatural estão reunidos em uma única
realidade, coexistem e se complementam num quadro de integração e
comprometimento. Os índios são parte integrante do meio em que vivem, não
classificam as realidades do meio ambiente e as sobrenaturais em categorias
separadas, pelo contrário, estão unidas intimamente. Exemplo elucidador, é o
fato de os Kaingang, passar mato e terra no corpo para ficar com o mesmo
cheiro do meio em que vivem. Uma pessoas estranha é distinguida a
quilômetros de distância pelo cheiro diferente que tem em relação a esses
povos.
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No imaginário Kaingang a floresta é povoada por ser espirituais e almas
dos parentes mortos que compartilham com da mesma realidade. Acreditam
que o espírito dos parentes “veinh kuprig” estão morando na floresta junto à
tribo e compartilham dos mesmos ideais. Podem levar os vivos para o mundo
dos mortos, de onde não existe mais retorno, se comerem alimento oferecido
oferecidos na sua chegada. Não são visíveis, entretanto através de um assovio
percebe-se sua presença.Existe também o “dét korég - espírito mal, espécie
de diabo dos brancos - que são visíveis e tem aparência feia, cheiro forte – que
causam grande pavor entre os Kaingang, principalmente quem destrói a
floresta além do necessário ao consumo.
A comunicação dos vivos com os mortos é realizada pelos “péin”, que
também acumula as funções cerimoniais nos rituais religiosos dos mortos.
Constituem um grupo especial que recebem esse dom desde criança e sua
função está relacionada a palavra “gá”, que significa terra e se pintam de
forma distinta das duas metades exogâmicas. Somente essa categoria pode
cuidar dos mortos e tratar dos assuntos sobrenaturais da tribo.
Observa-se entre os índios Kaingang, um rico significado cultural em toda
sua organização tribal. A pintura, a dança,as festas, os mitos são reflexos de
uma cultura que se perpetua há milhares de anos e que são passadas por
várias gerações. Sua história é atualizada em ritos e sinais que são respeitados
por todos os membros da comunidade e que dão sustentação a toda uma
ordem social.
Uma aproximação da história com áreas do conhecimentos que estuda a
cultura dos povos (sociologia e antropologia) no Grupo de Trabalho em Rede
(GTR) da Secretaria de Estado da Educação ( SEED), possibilitará um
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aprofundamentos dessas representações construídas ao longo de milhares de
anos e contribuirá de forma decisiva para a valorização da cultura indígena
3. Desenvolvimento do Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
No trabalho desenvolvido com os professores do Grupo de Trabalho em
Rede (GTR) da Secretaria da Estado da Educação foi solicitado um projeto da
aplicação do trabalho sobre os índios com os alunos da educação básica, com o
objetivo de despertar uma visão cultural que aproxime a história de outras
áreas do conhecimento. Foi trabalhado o folhas com o título “A imagem do
índio no livro didático”, sobre a visão que temos do índio no quadro “ A
Primeira Missa do Brasil” de Victor Meirelles e dos escritos de Jean de Lery
sobre os índios no período colonial do Brasil.
A Proposta foi um trabalho a ser desenvolvido com as turmas das primeiras
séries do Ensino Médio. Num primeiro momento, divide-se a turma em grupos
de cinco alunos cada, os quais receberão a incumbência de analisar diferentes
gravuras/imagens (uma para cada grupo), extraídas de obras da historiografia
indígena brasileira, procurando levantar, principalmente, considerações
relativas ao processo de inserção do elemento indígena no meio
social/econômico/político/cultural brasileiro da época, assim como sua
importância/influência em termos de contribuições. As observações terão,
como ponto de partida, as informações que puderem ser levantadas, nas
diferentes representações, e o que os educandos puderem extrair da análise de
tal matéria, a partir da discussão realizada . Em um segundo momento, os
alunos deverão fazer uma comparação entre a situação do indígena no período
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histórico representado nas gravuras e na época contemporânea. Feito isso,
serão compilados os dados das observações e comparações dos grupos, de
forma coletiva, com o professor registrando as principais conclusões da turma
no quadro. Como fechamento, nos mesmos grupos, os alunos deverão, então,
criar/produzir uma obra de arte, com liberdade para utilização de diferentes
técnicas, que represente o contexto em que vive e está inserido o indígena na
sociedade brasileira contemporânea. Tais trabalhos poderão ser expostos em
mural de fácil acesso aos demais alunos da escola, a fim de que as
informações estejam disponíveis e possam ser partilhadas com todos. Cabe
destacar, aqui, que essa proposta pode ser desenvolvida de forma
inter/multidisciplinar, ampliando aí, o leque de atividades, envolvendo
profissionais das áreas de, entre outras, História, Geografia e Língua
Portuguesa.
É importante observar que a aplicação do projeto está em fase de
implementação e não foi possível um resultado definitivo. Os resultados
preliminares do trabalho com algumas turmas, nos revelou o preconceito em
relação aos índios que são reforçados nos livros didáticos, onde são vistos
como uma figura exótica, fora do contexto histórico, um povo desorganizado
que necessita do conhecimento sistematizado pelo branco. Entretanto, a partir
do contato com a cultura indígena, através do material didático produzido no
Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da
Educação (SEED) do Paraná, a visão dos alunos começa a mudar. Os alunos
identificaram a contribuição indígena no cotidiano de suas vidas como o banho
diário, a pintura, os adereços, brincos, piercings, tatuagens, comida.
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Conseguiram ver a realidade do homem branco como fruto do sincretismo
cultural, dentro de uma construção histórica comum entre brancos e indígenas.
4.Conclusão
A aplicação das atividades do folhas “ A imagem do índio no livro
didático”, exigido como tarefa integrante do processo de formação em rede
pela Secretaria da Educação ( SEED) aos alunos do ensino fundamental e
médio, possibilitou-nos novas ferramentas pedagógicas que possibilitam a
valorização da cultura indígena, uma vez que esse povo tem grande
contribuição na formação da cultura brasileira.
Constatou-se com a apresentação do quadro “A Primeira Missa do Brasil”
de Victor Meirelles, que se reproduz a imagem do quadro como uma certidão
de nascimento do Brasil, um acontecimento fiel ao que aconteceu há mais de
quinhentos anos. A harmonia, curiosidade e o relacionamento cordial entre os
europeus com o índio que aqui habitava, comum nos livros didáticos, é
característica marcante no pensamento dos alunos.
A partir das atividades desenvolvidas como a festa religiosa do Kikikoi
dos povos Kaingangs, constatou-se um despertar nos alunos, pois estes
perceberam a mesma relação com a preocupação do branco com seus mortos
no dia de “Finados”. Toda a pintura e o significado que os índios Kaingangs
atribuem, em sintonia com o equilíbrio da natureza chamou a atenção dos
jovens estudantes que utilizam-se dela como uma forma de chamar a atenção
no meio da sociedade.
A partir de uma revisão do conhecimento histórico produzido nos livros
didáticos e com uma aproximação de outras áreas do conhecimento, está
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sendo possível criar condições que possibilite um aprofundamento da cultura
indígena e a construção de uma cultura de paz entre o branco e o índio.
Todo povo indígena representa sua cultura através significados próprios
que são exteriorizados através da arte, música, pintura, danças dentre outros.
A análise desses significados redimensiona a imagem que temos de um povo,
pois cria um relativismo cultural que inevitavelmente nos levará a respeitar
outras culturas.
Acreditamos que um investigação profunda da cultura indígena, sua
organização social, política, econômica e religiosa vai criar nos alunos e
sociedade uma consciência crítica, que, certamente, contribuíra para a
valorização desse povo.
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