Resumo livro de etica_VÁZQUES

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VZQUES, Adolfo Snchez; tica:27.ed.Rio de Janeiro;Civilizao brasileira 2005. Problemas morais e problemas ticos: tica o conjunto de aes e atitudes, classificadas como boas ou ruins pela sociedade. So atitudes aprovadas ou reprovadas pela socialmente, uma vez QUE so reconhecidos como valores morais que conduzem a nossa sociedade.Os valores sociais so decisivos do que certo ou errado, eles que determinam as nossas atitudes e aes e dependem de uma permisso que vem de dentro de ns, pois nos foi ensinado desde quando ramos crianas, pelos nossos pais. Essas permisses ou no, resultam de valores morais que moram dentro da nossa mente e nos condenam com sentimentos contrrios e desfavorveis quando reconhecemos o que certo ou errado. E que aprovam ou reprovam as nossas atitudes. O campo da tica: Os problemas caracterizados como ticos se distinguem dos problemas cotidianos, ou seja, do dia-a-dia. Estes problemas esto envolvidos nas nossas condutas profissionais e est relacionada com os outros. Envolvem causa e benefcio, prejuzo e malefcio, e justifica o comportamento moral aos nossos interesses sociais.Sendo funo da tica: explicar, esclarecer ou investigar a realidade dos fatos, de acordo com as normas e padres sociais do comportamento humano.Definio da tica: tica a aplicao da teoria que se aprendida como moral e cada comportamento individual de acordo com as normas e regras aprendidas socialmente. Assim sendo, no considerada como uma cincia pois ela estudada e investigada, e no o objeto do estudo, mas sim, o objetivo do estudo.tica e a filosofia: A tica aplica a teoria prtica da moral e esta ao comportamento individual do homem, e a filosofia busca entender e compreender, o propsito pelo qual o conhecimento concebido no se deixando corromper pelos sistemas aplicados a ele, atravs da problematizao que justifica e analisa, sendo inexistente sem os homens.tica e as outras cincias: A tica se relaciona com outras cincias atravs do comportamento humano e suas relaes, que fazem parte de uma sociedade que o moral. Tambm apresenta uma relao direta com as cincias que estudam e determinam as leis sociais. Sendo influenciadas e mantidas atravs das relaes e atos econmicos, pelas relaes de moral, social, comercial e do trabalho. CAPIII ? A essncia da moralO termo moral expressa tudo o que se submete a todo valor que deve prevalecer na conduta do ser humano. As tendncias mais convenientes ao desenvolvimento da vida individual e social, cujas capacidades formam o sentido moral dos indivduos. Anteriormente citado, vimos em detalhes como estreita descrio da razo moral, conforme as razes universais, que excluiu todas as estruturas cognitivas imaginativas da moralidade, desfeitos por apresentar duas distines bsicas para definir o domnio da moralidade e da teoria moral, moralidade e prudncia. Estas teorias da lei moral e da razo

moral, diz respeito ao uso prtico da razo para derivar a lei moral apropriada que distingue uma correta ao e uma situao particular. Razo prudente, do outro lado, envolve o uso prtico da razo para determinar o meio mais eficiente para alcanar o final compreensivo do ser humano de felicidade ou bem estar.DINIZ, Dbora e GUILHEM, Dirce; O que biotica?;So Paulo: Brasiliense 2002.O que Biotica (p. 15 34 e 63 66) A biotica nasceu atravs de diversas contribuies de diferentes acontecimentos histricos, tendo como marco fundamental, a publicao da obra Biotica: uma ponte para o futuro, publicada em 1971 ? por Van Rensselaer Potter. Que oferecia uma anlise sistemtica dos princpios morais, aplicados nas reas de atuao biomdicas, e sugere como base para seus atributos e efeitos no sentido marcadamente ecolgico, como designao de uma "cincia da sobrevivncia", sendo assim, a Biotica a considerao do homem e das condies ticas para uma vida humana. A perspectiva originria da Biotica fundamentalmente humanista. Biotica surgiu com o objetivo maior de diminuir a mortalidade e de aumentar a expectativa de vida. Buscando ento todos os meios para alcanar o que consideram desejvel para o paciente, de um ponto tcnico, ento foram criadas situaes rigorosamente inditas para pacientes, famlias e profissionais de sade, as quais questionavam o suposto alcance humanitrio de alguns novos processos teraputicos de aes mdicas. Foi neste ambiente marcado por grandes evolues e sentimentos de contradio, que a Biotica surge, como novo domnio da reflexo e da prtica, que toma como seu objeto especfico as questes humanas na sua dimenso tica, que se formulam no mbito da prtica clnica ou da investigao cientfica, e como mtodo prprio a aplicao de sistemas ticos j estabelecidos ou de teorias a estruturar.Estando includos: a Autonomia, a Beneficncia. a No maleficncia e a Justia.Sendo assim, a biotica uma adaptao aos novos tempos, com a conseqente mudana de postura do mdico, para dar uma melhor resposta aos desafios ticos surgidos com as mudanas sociais e a evoluo do conhecimento e da tecnologia.

O que ticaAdolfo Sanchez Vazquez

Problemas Morais e Problemas ticosNas relaes cotidianas entre os indivduos, surgem continuamente problemas como estes: [1] Devo cumprir a promessa que fiz ontem ao meu amigo, embora hoje perceba que o cumprimento me causar certos prejuzos?

[2] Se algum, noite, se aproxima de mim de maneira suspeita e desconfio que v me atacar, devo agredi-lo primeiro a fim de no correr o risco de ser agredido, aproveitando que ningum descobrir o meu ato? [3] Com respeito aos crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados que os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados? [4] Devo dizer sempre a verdade ou h ocasies em que devo mentir? [5] Quem, numa guerra de invaso, sabe que o seu melhor amigo est colaborando com o inimigo, deve calar, por causa da amizade, ou deve denuncilo como traidor? [6] Podemos considerar bom o homem que se mostra caridoso com o mendigo e com instituies, mas que como patro explora impiedosamente os operrios e os empregados da sua empresa? [7] Se um indivduo procura fazer o bem e as conseqncias de suas aes so prejudiciais queles que pretendia favorecer, porque lhes causa mais prejuzo do que benefcio, devemos julgar que age corretamente de um ponto de vista moral, quaisquer que tenham sido os efeitos de sua ao?1

Em todos estes casos, trata-se de problemas prticos, isto , de problemas que se apresentam nas relaes concretas entre indivduos ou quando se julgam certas decises e aes dos mesmos. Trata se, por sua vez, de problemas cuja soluo no concerne somente pessoa que os prope, mas tambm a outras pessoas que sofrero as conseqncias da sua deciso e da sua ao. As conseqncias podem afetar somente um indivduo (devo dizer a verdade ou devo mentir a ?); em outros casos, trata-se de aes que atingem vrios indivduos ou grupos sociais (os soldados nazistas deviam executar as ordens de extermnio emanadas de seus superiores?). Enfim, as conseqncias podem estender-se a uma comunidade inteira, como a nao (devo guardar silncio em nome da amizade, diante do procedimento de meu amigo traidor?). Em situaes como estas que acabamos de enumerar, os indivduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Estas normas so aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatrias. De acordo com elas, os indivduos compreendem que tm o dever de agir desta ou daquela maneira. Nestes casos, dizemos que o homem age moralmente e que neste seu

comportamento se evidenciam vrios traos caractersticos que o diferenciam de outras formas de conduta humana. Sobre este comportamento, que o resultado de uma deciso refletida e, por isto, no puramente espontnea ou natural, os outros julgam, de acordo tambm com normas estabelecidas, e formulam juzos como os seguintes: X agiu bem mentindo naquelas circunstncias; Z devia denunciar o seu amigo traidor, etc. De um lado, temos atos e formas de comportamentos dos homens em face de determinados problemas, que chamamosmorais. De outro lado, h juzos que aprovam ou desaprovam moralmente os mesmos atos. Todavia, tanto os atos quanto os juzos morais pressupem certas normas que apontam o que se deve fazer. Assim, por exemplo, o juzo: Z devia denunciar o seu amigo traidor, pressupe a norma os interesses da ptria devem ser postos acima dos da amizade.2

Na vida real, defrontamo-nos com problemas prticos do tipo dos enumerados, dos quais ningum pode eximir-se. Para resolv-los, os indivduos recorrem a normas, cumprem determinados atos, formulam juzos e, s vezes, se servem de determinados argumentos ou razes para justificar a deciso adotada ou os passos dados. Tudo isto faz parte de um tipo de comportamento efetivo, tanto dos indivduos quanto dos grupos sociais; tanto de ontem quanto de hoje. De fato, o comportamento humano prtico-moral, ainda que sujeito a variao de uma poca para outra e de uma sociedade para outra, remonta at as prprias origens do homem como ser social. A este comportamento prtico-moral, que j se encontra nas formas mais primitivas de comunidade, sucede posteriormente, uma reflexo sobre ele. Os homens no s agem moralmente (isto , enfrentam determinados problemas nas suas relaes mtuas, tomam decises e realizam certos atos para resolv-los e, ao mesmo tempo, julgam ou avaliam de uma ou de outra maneira estas decises e estes atos), mas tambm refletem sobre esse comportamento prtico e o tomam como objeto da sua reflexo e de seu pensamento. D-se assim a passagem do plano da prtica moral para o da teoria moral; ou, em outras palavras, da moral efetiva para a moral reflexa. Quando se verifica esta passagem, que coincide com

o incio do pensamento filosfico, j estamos propriamente na esfera dos problemas tericos morais ou ticos. Diferentemente dos problemas prticos morais, os problemas ticos so caracterizados pela suageneralidade. Se na vida real um indivduo enfrenta uma determinada situao, dever resolver por si mesmo o problema de como agir de maneira a que sua ao possa ser boa, isto , moralmente valiosa. Ser intil recorrer tica com a esperana de encontrar nela uma norma de ao para cada situao concreta. A tica poder dizer-lhe, em geral, o que um comportamento pautado por normas, ou em que consiste o fim visado pelo comportamento moral, do qual faz parte o procedimento do indivduo ou o de todos. O problema do que fazer em cada situao concreta um problema prtico-moral e no-terico tico.3

TICACAPTULO I OBJETO DA TICA 1. Problemas morais e problemas ticos Existem alguns tipos de problemas os quais podem afetar de um indivduo at uma nao inteira, problemas os quais a incumbncia fica voltada a algumas pessoas, em sua funo de fazer ou deixar de fazer algo de modo imparcial, sendo apenas regidos pelas normas da moral. O comportamento prtico-moral muda de poca para poca e de uma sociedade para outra. Com o passar do tempo, esse comportamento veio adquirindo a qualidade de teoria moral, sendo assim objeto de estudo e reflexo, quando se verifica essa passagem, que coincide com o incio do pensamento filosfico, estamos na esfera dos problemas terico-morais ou ticos. Esses problemas ticos so caracterizados pela sua generalidade, ou seja, com a ajuda de uma norma estes so reconhecidos como bons ou moralmente valiosos. Na tica no h uma norma de ao para cada situao esta seria um problema prtico-moral, a tica investiga o contedo do bom e no o que cada indivduo deve fazer, mas o significado de bom, muda de teoria para teoria, sendo s vezes a felicidade, o prazer, o til, o poder, etc. Juntamente com esse problema central, colocam-se tambm outros problemas ticos fundamentais, tais como o de definir a essncia do comportamento moral e a diferena de outras formas de comportamento humano, esse problema nos leva a outro, o da responsabilidade. Se fala em comportamento moral quando o sujeito responsvel pelos seus atos. Os problemas ticos tericos e prticos, no terreno moral se diferenciam, mas as solues dos primeiros influem na colocao da soluo dos segundos devendo haver uma reflexo para que a teoria especule de modo efetivo o comportamento do homem. Os problemas ticos se diferenciam dos morais devido a sua generalidade, portanto pode contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. A tica rejeita o comportamento egosta como moralmente vlido, deve ser feito em prol do bem da sociedade, visando o que moralmente vlido.

Devido aos excessos normativistas das ticas tradicionais, nos ltimos tempos procurou-se limitar o domnio da tica aos problemas da linguagem e do raciocnio moral, renunciando-se a abordar questes com a definio do bom, a essncia da moral, o fundamento da conscincia moral, etc. Colimando o comportamento humano como compreenso racional de um aspecto real. 2. O campo da tica Certamente, o estudo de muitas ticas tradicionais parte da idia de que a misso do terico neste campo dizer aos homens o que devem fazer, como fazer, lhes ditando as normas ou princpios pelos quais devem pautar seu comportamento. O tico transforma-se assim, numa espcie de legislador do comportamento moral do indivduo ou da comunidade. Mas a funo fundamental da tica a mesma de toda as demais teorias: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada circunstncia, elaborando conceitos correspondentes. Formular normas e princpios universais de moral, desconsiderando a experincia e formao histrica, afasta a teoria tica da realidade que ela deveria 3. Definio da tica Como os problemas tericos morais nao se confundem com os prticos, tambm no se pode confundir tica com moral. A tica no cria a moral. A tica depara com uma experincia histrico-social no terreno da moral, ou seja, com uma srie de prticas morais j em vigor e partindo delas procura encontrar a essncia da moral, sua origem, as condies objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliao moral, a natureza e a funo dos juzos morais, os critrios de justificao destes juzos e o princpio que rege a mudana e a sucesso de diferentes sistemas morais. A tica a teoria ou cincia do comportamento moral dos homens em sociedade. A definio indica o carter cientfico desta disciplina, ou seja, corresponde necessidade de uma abordagem cientfica dos problemas morais. A tica a cincia da moral, sendo a tica objeto da moral, podendo dizer que exista tica cientfica no atribuindo a mesma qualificao moral. No existe uma moral cientfica, no entanto, h uma moral compatvel com os conhecimentos cientficos sobre o homem e a sociedade. Este ponto em que a tica serve para fundamentar a moral, sem ser em si mesma normativa ou preceptiva. A moral no cincia, mas objeto da cincia. A tica no a moral no podendo ser reduzida a um conjunto de normas e prescries, a sua misso explicar a moral. 4. tica e Filosofia Na negao de qualquer relao entre a tica e a cincia se quer basear a atribuio exclusiva da primeira filosfica. A tica ento apresentada como uma parte de uma filosfica especulativa, isto , constituda sem levar em conta a cincia e a vida real. Esta tica filosfica preocupa-se mais em buscar concordncia com princpios filosficos universais do que com a realidade moral no seu desenvolvimento histrico e real. Desta maneira, a tica tende a estudar um tipo de fenmeno que se verifica realmente na vida do homem como ser social e constituem o que chamamos de mundo moral, ao mesmo tempo, procura estud-los no os deduzindo de princpios absolutos ou apriorsticos, mas afundando suas razes na prpria existncia histrica e social do homem. A tica nunca pode deixar de ter como fundamento a concepo filosfica do homem que nos d uma viso total deste como ser social, histrico e criador. 5. A tica e outras cincias Os atos morais sempre apresentam um aspecto subjetivo, interno, psquico, constitudo de motivos, impulsos, atividade da conscincia, etc.; neste aspecto psquico, subjetivo, inclui-se tambm a atividade subconsciente. Sendo a atividade moral sempre vivida interna ou intimamente pelo sujeito em um processo subjetivo para cuja elucidao contribui a psicologia. A tica apresenta tambm relao com as cincias que estudam as leis que regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas, entre estas esto a antropologia social e a sociologia. Nelas estuda-se o homem como ser

social em determinadas relaes. Como ser social, o modo de comportamento do indivduo no pode ter um carter puramente individual e sim social. Toda cincia do comportamento humano pode trazer uma contribuio proveitosa para a tica como cincia da moral. Por isso, tambm a teoria do direito pode trazer semelhante contribuio, graas sua estreita relao com a tica, visto que as duas disciplinas estudam o comportamento do homem como comportamento normativo. A tica se relaciona tambm com a economia poltica como cincia das relaes econmicas.

CAPTULO II MORAL E HISTRIA 1. Carter histrico da moral O significado, funo e validade no podem deixar de variar historicamente nas diferentes sociedades. Portanto, a moral um fato histrico, a tica como cincia da moral, no pode conceb-la como dada de uma vez para sempre, mas tem de consider-la como um aspecto da realidade humana mutvel com o tempo. Ignorando-se o carter histrico da moral, o que esta foi realmente, no mais se parte do fato da moral e cai-se necessariamente em concepes a-histricas da mesma. Este a-historicismo moral, no campo da reflexo tica, segue trs direes fundamentais: Deus como origem ou fonte da moral, a natureza como origem ou fonte da moral, o Homem (ou homem em geral) como origem e fonte da moral. Embora seja verdade que o comportamento moral se encontra no homem desde que existe como tal, ou seja, desde as sociedades mais primitivas, a moral muda e se desenvolve com a mudana e o desenvolvimento das diversas sociedades concretas. 2. Origens da moral A moral s pode surgir quando o homem supera a sua natureza puramente natural, instintiva, e possui j uma natureza social. A moral exige necessariamente no s que o homem esteja em relao com os demais, mas tambm certa conscincia. Com seu trabalho, os homens primitivos tentam pr a natureza a seu servio, mas a prpria fragilidade de suas foras diante do mundo que os rodeia determina que, para enfrent-lo e tentar domin-lo, renam todos os seus esforos visando a multiplicar o seu poder. Seu trabalho adquire necessariamente um carter coletivo e o fortalecimento da coletividade se transforma numa necessidade vital. Assim nasce a moral com a finalidade de assegurar a concordncia do comportamento de cada um com os interesses coletivos. A necessidade de ajustar o comportamento de cada membro aos interesses da coletividade leva a que se considere como bom ou proveitoso tudo aquilo que contribui para reforar a unio ou a atividade comum. Estabelece-se assim, uma linha divisria entre o bom e o mau. 3. Mudanas histrico-socias e mudanas da moral O aumento geral da produtividade do trabalho, bem como o aparecimento de novas foras de trabalho, elevou a produo material at o ponto de se dispor de uma quantidade de produtos excedentes, isto , de produtos que se podiam estocar porque no eram exigidos para satisfazer necessidades imediatas. Criaram-se, assim, condies para que surgisse a desigualdade de bens entre os chefes de famlia que cultivavam as terras da comunidade e cujos frutos eram repartidos, at ento, com igualdade, de acordo com as necessidades de cada famlia. Com a desigualdade de bens tornou-se possvel a apropriao privada dos bens ou produtos do trabalho alheio. Do ponto de vista econmico, o respeito pela vida dos prisioneiros de guerra, que eram poupados do extermnio para serem convertidos em escravos, transformou-se numa necessidade social. Com a decomposio do regime comunal e o aparecimento da propriedade privada, foi se acentuando a diviso em homens livres e escravos. A propriedade dos proprietrios de escravos, em particular livrava da necessidade de trabalhar. O trabalho fsico acabou por se transformar numa ocupao indigna de homens livres. A diviso da sociedade antiga em duas classes antagnicas fundamentais traduziu-se tambm numa diviso da moral. Esta deixou de ser um conjunto de normas aceitas conscientemente por toda a sociedade, existindo duas

morais: uma, dominante, dos homens livres, e outra, dos escravos. A moral dos homens livres no s era uma moral efetiva, vivida, mas tinha tambm seu fundamento e sua justificao terica nas grandes doutrinas ticas dos filsofos da Antiguidade, especialmente em Scrates, Plato e Aristteles. O indivduo se sente membro da comunidade, sem que, de outro lado, se veja como nas sociedades primitivas absorvido totalmente por ela. Com o desaparecimento do mundo antigo, que assentava sobre a instituio da escravido, nasce uma nova sociedade cujos traos essenciais se delineiam desde os sculos V-VI de nossa era, e cuja existncia se prolongar durante uns dez sculos. Trata-se da sociedade feudal, cujo regime econmico-social se caracteriza pela diviso em duas classes sociais fundamentais: a dos senhores feudais e a dos camponeses servos; os primeiros eram donos absolutos da terra e detinham uma propriedade relativa sobre os servos, presos a ela durante a vida s quais pertenciam e que no podiam abandonar. Eram obrigados a trabalhar para o seu senhor e, em troca, podiam dispor de uma parte dos frutos do seu trabalho, tinham direito vida e formalmente reconhecia-se que no eram coisas, mas seres humanos. Os homens livres das cidades estavam sujeitos autoridade do senhor feudal e eram obrigados a oferecer-lhe certas prestaes em troca de sua proteo. Mas, por sua vez, o senhor feudal estava numa relao de dependncia ou vassalagem com respeito a outro senhor feudal mais poderoso, ao qual devia lealdade em troca de sua proteo militar. O vrtice da pirmide era o senhor mais poderoso, o rei ou imperador. A moral da sociedade medieval correspondia assuas caractersticas econmico-sociais e espirituais. A moral estava impregnada de contedo religioso, tal contedo garantia uma certa unidade moral da sociedade. Mas, ao mesmo tempo, e de acordo com as rgidas divises sociais em estamentos e corporaes, verificava-se uma estratificao moral, isto , uma pluralidade de cdigos morais. Enquanto os servos no se libertavam realmente de sua dependncia pessoal, a religio lhes oferecia sua liberdade e igualdade no plano espiritual e, com isso, a possibilidade de uma vida moral, que, neste mundo real, por serem servos, lhes era negada. No interior da velha sociedade feudal deu-se a gestao de novas relaes sociais s quais devia corresponde uma nova moral. Nasceu e se fortaleceu uma nova classe social a burguesia e, ao mesmo tempo, foi se formando um a classe de trabalhadores livres que, por um salrio, vendiam ou alugavam sua fora de trabalho. Atravs de uma srie de revolues, consolida-se econmica e politicamente o poder da nova classe em ascenso, e, nos pases mais desenvolvidos, a aristocracia feudal-latifundiria desaparece do primeiro plano. Este novo sistema funciona eficazmente s no caso de garantir lucros, o que exige, por sua vez, que o operrio seja considerado exclusivamente como um homem econmico. A economia regida, antes de mais nada, pela lei do mximo lucro, e essa lei gera uma moral prpria. Com efeito, o culto ao dinheiro e a tendncia a acumular maiores lucros constituem o terreno propcio para que nas relaes entre indivduos floresam o esprito de posse, egosmo, hipocrisia, cinismo e o individualismo exacerbado. 4. O progresso moral Se compararmos uma sociedade com outra anterior podemos objetivamente estabelecer uma relao entre as suas morais respectivas e considerar que uma moral mais avanada. Falamos em progresso com respeito mudana e sucesso de formaes econmico-sociais. O progresso adquire uma caracterstica prpria, mas sempre com o denominador comum de um enriquecimento ou avano no sentido de um nvel superior de determinados aspectos na respectiva atividade cultural. Podemos falar, portanto, de progresso histrico no terreno da produo material, da organizao social e da cultura. No se trata de trs linhas de progresso independentes, mas de trs formas de progresso que se relacionam e se condicionam mutuamente, pois o sujeito do progresso nestas trs direes sempre o mesmo: o homem social. O progresso histrico resulta da atividade produtiva, social e espiritual dos homens, o progresso histrico fruto da atividade coletiva dos homens como seres conscientes, mas no de uma atividade comum consciente. O progresso histrico-social cria as condies necessrias para o progresso moral.

O progresso histrico-social afeta, por sua vez, de uma ou de outra maneira positiva ou negativa os homens de uma determinada sociedade sob o ponto de vista moral. Afirmamos que o progresso histrico, ainda que crie as condies para o progresso moral e traga conseqncias positivas para este, no gera por si s um progresso moral, por que os homens no progridem sempre na direo moralmente boa, mas tambm atravs da direo m.

CAPTULO III A essncia da moral 1.O normativo e o fatual Encontramos na moral dois planos: a) o normativo, constitudo pelas normas ou regras de ao e pelos imperativos que enunciam algo que deve ser; b) o fatual, ou plano dos fatos morais. O normativo est, por sua vez, numa especial relao com o fatual, pois toda norma, postulando algo que deve ser, um tipo de comportamento que se considera devido, aponta para a esfera dos fatos. Significa que o normativo no existe independentemente do fatual. O normativo e o fatual no coincidem; todavia, como j assinalamos, encontram-se numa relao mtua: o normativo exige ser realizado e, por isso, orienta-se no sentido do fatual. 2.Moral e a moralidade A moral efetiva compreende, portanto, no somente normas ou regras de ao, mas tambm como comportamento que deve ser. A moral designaria o conjunto dos princpios, normas, imperativos ou idias morais de uma poca ou de uma sociedade determinadas, ao passo que a moralidade se referiria ao conjunto de relaes efetivas ou atos concretos que adquirem um significado moral com respeito moral vigente. A mora estaria em plano ideal; a moralidade, no plano real. 3.Carter social da moral Manifesta somente na sociedade, respondendo s suas necessidades e cumprindo uma funo determinada. Vejamos trs aspectos fundamentais da qualidade social da moral. A) Cada indivduo, comportando-se moralmente, se sujeita a determinados princpios, valores ou normas morais. Nesta comunidade vigoram, admitem-se ou consideram-se vlidos certos princpios, normas ou valores. Ao indivduo como tal no dado inventar os princpios ou normas, nem modific-las de acordo com uma exigncia pessoal. Nessa sujeio do indivduo a normas estabelecidas pela comunidade se manifesta claramente o carter social da moral. B) O comportamento moral tanto comportamento de indivduos quanto de grupos sociais humanos, cujas aes tm um carter coletivo, mas deliberado, livre e consciente. Trata-se de uma conduta que tem conseqncias, de uma ou de outra maneira, para os demais e que, por esta razo, objeto de sua aprovao ou reprovao. C) As idias, normas e relaes sociais nascem e se desenvolvem em correspondncia com uma necessidade social. A sua necessidade e a respectiva funo social explicam que nenhuma das sociedades humanas conhecidas, at agora, desde as mais primitivas, tenha podido prescindir desta forma de comportamento humano. A funo social da moral consiste na regulamentao das relaes entre os homens para contribuir assim no sentido de manter e garantir uma determinada ordem social. Graas ao direito, cujas normas, para assegurar o seu cumprimento, contam com o dispositivo coercitivo do Estado, consegue-se que os indivduos aceitem voluntria ou involuntariamente. Mas isto no considerado suficiente. Busca-se uma integrao mais profunda e no somente uma manifesta adeso exterior. Procura-se que os indivduos aceitem tambm ntima e livremente, por convico pessoal, os fins, princpios, valores e interesses dominantes numa determinada sociedade.

4.O individual e o coletivo na moral O carter social da moral implica uma particular relao entre o indivduo e a comunidade. Uma parte do comportamento moral precisamente a mais estvel manifesta-se ne forma de hbitos e costumes. As normas morais que j se integram nos hbitos e costumes chegam a ter tal fora que sobrevivem at mesmo quando, depois de surgir uma nova estrutura social, domina outra moral. A conscincia individual a esfera em que se operam as decises de carter moral, mas, por estar condicionada socialmente, no pode deixar de refletir uma situao social concreta. Os agentes dos atos morais so somente os indivduos concretos, quer atuem separadamente, quer em grupos sociais, e os seus atos morais em virtude da natureza social dos indivduos sempre tm um carter social. 5.Estrutura do ato moral O ato moral resumidamente constitui-se na totalidade ou unidade indissolvel de diversos aspectos ou elementos (motivo, fins, meios, resultados). O subjetivo e objetivo so correlacionados, ou seja, o ato moral no pode ser reduzido a um dos seus elementos, mas esta em todos eles, na sua unidade e suas relaes mtuas. 6.Singularidade do ato moral O ato moral como ato consciente e voluntrio supe uma participao livre do sujeito em sua realizao, que embora incompatvel com a imposio forada das normas, no o com a necessidade histrico social que o condiciona. Definio: "A moral um sistema de normas, princpios e valores, segundo o qual so regulamentadas as relaes mutuas entre os indivduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um carter histrico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, externa ou impessoal".

CAPTULO IV - A MORAL E OUTRAS FORMAS DE COMPORTAMENTO HUIMANO 1. Diversidade do comportamento humano O comportamento humano variado e diverso tendo em vista a necessidade e variedade das necessidades especificamente humanas. Entre tais variaes, encontra-se o comportamento humano no sentido de transformar a natureza, atravs do trabalho, em objetos teis (comportamento prtico-utilitrio); outro comportamento pelo qual o homem capta o que as coisas so (relao terico-cognstica) e, por fim, o comportamento esttico, que constitui a expresso, a exteriorizao ou reconhecimento em si mesmo, na natureza ou nas obras de arte. A diversidade de relaes com o mundo exterior tambm resulta em uma diversidade de relaes dos homens entre si. As peculiaridades de uma sociedade ou de uma determinada poca tambm se constituem um fator de variao comportamental. 2. Moral e religio Quando se fala da relao entre moral e religio, h de se destacar duas hipteses: 1) a religio inclui certa forma de regulamentao das relaes entre os homens, ou seja, certa moral; 2) Sem religio no h moral, visto que aquela se apresenta como fundamento desta.

Quanto 1 hiptese, reconhece-se historicamente, pelo comportamento religioso e moral dos homens, que uma moral de inspirao religiosa existiu e continua a existir. Esta desempenha a funo de regulamentar as relaes entre os indivduos em consonncia com a funo da prpria religio. Quanto segunda hiptese, que afirma que a falta da religio acarretaria na impossibilidade da moral, a histria da humanidade demonstra ser a moral anterior religio. Dessa forma no se confirma atualmente a tese de que sem religio no h moral, pois so cada dia mais numerosos os que procuram no prprio homem o fundamento e garantia da moral e no em Deus e na religio. 3. Moral e poltica Enquanto a moral regulamenta as relaes mtuas entre os indivduos e entre estes e a comunidade, a poltica abrange as relaes entre grupos humanos (classes, povos ou naes). Na poltica o indivduo (sujeito) encarna uma funo coletiva e sua atuao diz respeito a um interesse comum. Na moral, pelo contrrio, o elemento ntimo, pessoal, desempenha um papel importante. A poltica e a moral se distinguem: a) porque os temos das relaes que ambas estabelecem so distintos (grupos sociais num caso; indivduos no outro); b) pela maneira distinta com que os indivduos se situam numa e noutra relao; c) pela maneira distinta com que, numa e na outra, articula-se a relao entre o indivduo e o coletivo. Dessa forma, ambas as formas de comportamento mantm uma relao mtua, mas conservam, ao mesmo tempo, suas caractersticas especficas. H duas posies extremadas sobre relaes entre a poltica e a moral. Uma o moralismo abstrato, outra o realismo poltico. O moralismo abstrato julga os atos polticos com um critrio moralizante. Somente aprova os atos que possam ser realizadas por meios "puros", que no perturbem a conscincia moral ou satisfaam plenamente as boas intenes ou as exigncias morais dos indivduos.Tal posio leva a uma reduo da poltica moral. O Realismo Poltico, por sua vez, pretende subtrair os atos polticos de qualquer avaliao moral, em nome da legitimidade dos fins, fazendo da poltica uma esfera autnoma, evitando limit-la aos bons desejos ou intenes do poltico. Dessa forma, ambas as concepes correspondem a uma dissociao entre a vida privada e a vida pblica. 4.Moral e Direito Elementos comuns de ambas as formas de comportamento:

O Direito e a moral regulamentam as relaes de uns homens com outros por meio de normas; As normas jurdicas e morais tm forma de imperativo, exigindo que os indivduos se comportem de certa maneira; Ambos resultam de uma mesma necessidade social: regulamentar as relaes dos homens visando garantir certa coeso social; A moral e o Direito mudam historicamente o contedo da sua funo social.

Elementos que diferenciam o direito da moral:

As normas morais se cumprem atravs da convico ntima dos indivduos.As normas jurdicas, por sua vez, no exigem esta convico ntima ou adeso interna (exterioridade do direito); A coao se exerce de maneira diferente em ambos, sendo no direito externa e na moral, interna.No direito, o cumprimento da norma exigido por um dispositivo exterior, um organismo estatal capaz de impor a observncia da norma jurdica; As normas morais no se encontram codificadas formal e oficialmente, enquanto as normas jurdicas gozam dessa formalizao, em forma de cdigos, leis e diversos atos do Estado.

A esfera da moral mais ampla que a do Direito, atingindo todas as formas de relao entre os homens (comportamento poltico, o artstico, o econmico, etc.) A moral manifesta-se anteriormente a qualquer forma de organizao do Estado, sendo, portanto, anterior ao Direito; Justamente por ser independente do Estado, pode haver numa mesma sociedade uma moral harmnica com o poder estatal e outra que o contraria. Quanto ao Direito, h apenas um sistema jurdico para toda a sociedade. O campo do direito e da moral possuem um carter histrico. A passagem para uma organizao social superior acarreta a substituio de certo comportamento jurdico por outro, moral.

5. Moral e trato social O trato social constitui-se em uma srie de atos da vida cotidiana, na esfera dos convencionalismos sociais (saudaes, o vestir-se, as manifestaes de cortesia, a pontualidade, o cavalheirismo, etc). Constitui-se um comportamento normativo que procura regulamentar formal e exteriormente a convivncia dos indivduos na sociedade, mas sem o apoio da convico e adeso ntima do sujeito (caracterstica da moral) e sem a imposio coercitiva do cumprimento das regras (inerente ao direito). 6. Moral e cincia Quanto a relao entre a cincia e a moral, possvel analis-la sob dois aspectos: a) com relao natureza da moral (anlise do carter cientfico da moral) ; b) no que diz respeito ao uso social da cincia. Partindo do princpio de que cincia o conjunto de proposies ou juzos sobre aquilo que as coisas so, a moral no cincia, visto que possui uma estrutura normativa ( dever ser), constituindo-se uma ideologia, ou seja, o conjunto de idias, normas e juzos de valor. O papel de cincia cabe tica, como um conjunto de enunciados a respeito da moral. Por isso, a moral pode relacionar-se com a cincia no pela sua estrutura, mas pelo seu prprio fundamento. Quanto ao contedo moral da atividade cientfica destaca-se a necessidade do cientista apresentar uma srie de qualidades morais cuja posse garanta uma melhor realizao do objetivo fundamental que norteia a sua atividade, a procura da verdade. Dessa forma, apesar da investigao cientfica dever ser moralmente neutra, a cincia, na sua aplicao, no pode ser separada da moral, visto as conseqncias sociais desta atividade, como fora produtiva e fora social.

CAPTULO V RESPONSABILIDADE MORAL, DETERMINISMO E LIBERDADE 1.Condies da responsabilidade moral Um dos ndices fundamentais do progresso moral a elevao da responsabilidade do indivduo ou dos grupos sociais no seu comportamento moral. Sendo assim, o problema de determinar as condies desta responsabilidade se torna muito importante. Este est estreitamente relacionado com a necessidade e liberdades humanas, j que s se pode responsabilizar uma pessoa pelos seus atos quando esta possui uma certa liberdade de opo e deciso. Isso influi no julgamento dos atos, no basta s observar as normas. S haver legtima responsabilidade se o sujeito estiver consciente de seu ato e se sua conduta for livre, ou seja, se ningum o forar a agir de determinada forma. Portanto, a coao exime o sujeito de responsabilidade moral. 2. A ignorncia e a responsabilidade moral O sujeito que ignora as circunstncias, a natureza ou as conseqncias de sua ao deve ser eximido da responsabilidade moral (ignorncia em amplo sentido). Porm, quando o agente ignora o que poderia ter conhecido ou o que tinha obrigao de conhecer, tal ignorncia no pode eximi-lo de sua responsabilidade, j que ele responsvel por no saber o que deveria saber. A ignorncia das circunstncias nas quais se age, do carter moral da ao ( da sua bondade ou maldade) ou das suas conseqncias no pode deixar de ser tomada em considerao, particularmente quando devida ao nvel de

desenvolvimento moral pessoal em que o sujeito se encontra ou ao estado de desenvolvimento histrico, social e moral em que se encontra a sociedade. 3. Coao externa e responsabilidade moral Para uma pessoa ter responsabilidade por um ato ela no pode estar submetida a uma coao externa, o que faz com que perca o controle dos seus atos, sendo-lhe fechado o caminho da eleio e da deciso pessoais.A coao externa pode provir tanto de circunstncias imprevistas, quanto de algum que consciente e voluntariamente fora um indivduo a realizar um ato que no queria fazer. Portanto, a coao externa pode anular a vontade do agente moral e eximi-lo da sua responsabilidade pessoal, mas isto no pode ser tomado num sentido absoluto, porque h casos em que, apesar de suas formas extremas, sobra-lhe certa margem de opo e, por conseguinte, de responsabilidade moral. Todavia, a coao externa, nas duas formas apresentadas, pode, em determinadas situaes, eximir o agente de responsabilidade moral de atos que, ainda que se apresentem como seus, no o so na realidade, pois tm sua causa fora dele. 4. Coao interna e responsabilidade moral considerada coao interna quando um indivduo realiza atos que tm a sua causa dentro dele. Apesar disto, no podem ser considerados moralmente responsveis. A coao interna to forte que o sujeito no pode agir de maneira diferente daquela como operou, e no tendo realizado o que livre e conscientemente teria querido. Este seria um caso extremo, como, por exemplo, o de em cleptomanaco, que se comporta normalmente, at que se encontre diante do objeto que lhe excita o instinto irresistvel de roubar (anormalidade). Porm, normalmente, essa coao interna no to forte que anule a vontade do agente e o impea de uma opo e, portanto, de contrair uma responsabilidade moral na medida em que mantm certo domnio e controle sobre seus atos pessoais. 5. Responsabilidade moral e liberdade A responsabilidade moral pressupe a possibilidade de decidir e agir vencendo a coao interna ou externa, ou seja, livremente. Por outro lado, mesmo o homem resistindo coao (interna e externa), ele encontra-se sempre sujeito a causas que determinam a sua ao. Assim, o problema da responsabilidade moral depende, para sua soluo, do problema das relaes entre necessidade e liberdade, ou, mais concretamente, das relaes entre a determinao causal do comportamento humano e a liberdade da vontade. 6. Trs posies fundamentais no problema da liberdade Num mundo humano determinado, isto , sujeito a relaes de causa e efeito, existe tal liberdade? H trs posies filosficas fundamentais: 1) Representada pelo determinismo em sentido absoluto. 2) Representada por um libertarismo concebido tambm de maneira absoluta. 3) Representada por uma forma de determinismo que admite ou compatvel com certa liberdade. Os trs coincidem quando reconhecem que o comportamento humano determinado, ainda que interpretem de maneira diferente a natureza e o alcance dessa determinao. Porm, cada uma das trs posies mencionadas chega a concluses distintas: 1) O determinismo incompatvel com a liberdade, portanto com a responsabilidade moral. 2) A liberdade incompatvel com qualquer determinao externa ao sujeito ( da natureza ou da sociedade). 3) Liberdade e necessidade se conciliam. 7. O determinismo absoluto O determinismo absoluto parte do princpio de que neste mundo tudo tem uma causa. Essa determinao causal significa um conjunto de circunstncias que determinam o comportamento do agente de maneira que o ato, supostamente livre, no seno um efeito de uma causa ou de uma srie causal. Se tudo causado, por conseguinte no existe liberdade humana e, portanto, responsabilidade moral. Portanto, o determinismo absoluto incompatvel com a liberdade humana (com a existncia de vrias formas possveis de comportamento e com a possibilidade de escolher livremente uma delas).

8. O libertarismo De acordo com esta posio, ser livre significa decidir e operar como se quer, ou seja, poder agir de modo diferente de como fizemos se assim quisssemos e decidssemos. Isso contradiz o princpio de que tudo est determinado causalmente. A caracterstica desta posio a contraposio entre liberdade e necessidade causal. No ato moral o sujeito no decide arbitrariamente, pois obedece tambm, no seu comportamento, a causas internas e externas, imediatas e mediatas, de modo que, longe de romper a cadeia causal, a pressupes necessariamente. A liberdade da vontade, longe de excluir a causalidade, no sentido da ruptura da conexo causal ou de uma negao total desta (indeterminismo), pressupe inevitavelmente a necessidade causal. Por conseguinte, o libertarismo, como determinismo absoluto, ao estabelecer uma oposio absoluta entre necessidade causal e liberdade, no pode dar uma soluo satisfatria ao problema da liberdade da vontade como condio necessria da responsabilidade moral. 9. Dialtica da liberdade e da necessidade Para o libertarismo, se as decises e os atos dos indivduos no esto sujeitos necessidade e so resultados do acaso, carece de sentido torna-los responsveis moralmente pelos seus atos e procurar influir na sua conduta moral. Liberdade e causalidade no podem excluir-se reciprocamente. As trs tentativas mais importantes de superar dialeticamente a anttese entre liberdade e necessidade causal so as de Spinoza, Hegel e Marx-Engels. Spinoza- A liberdade no pode conceber independentemente da necessidade. Ser livre ter conscincia da necessidade ou compreender que tudo o que sucede, por conseguinte, tambm o que acontece a ns necessrio. Nisto se diferenciam o homem livre e o escravo, o qual, por no compreender a necessidade, est cegamente sujeito a ela. A liberdade humana reside no conhecimento da necessidade objetiva. A doutrina de Spinoza se aproxima da soluo do problema, mas ainda no a alcana. No basta conhecer para ser livre Hegel- De certo modo, se move no mesmo plano de Spinoza ("a liberdade a necessidade compreendida"). Porm, para Hegel, a liberdade histrica: h graus de liberdade e de conhecimento da necessidade. ("a histria progresso na liberdade"). Marx e Engels aceitam as duas caractersticas antes assinaladas: a de Spinoza (liberdade como conscincia da necessidade) e a de Hegel (sua historicidade). Mas, alm disto, a liberdade, para esses, acarreta um poder, um domnio do homem sobre a natureza e, por sua vez, sobre a sua prpria natureza. O desenvolvimento da liberdade est, pois, ligado ao desenvolvimento do homem como ser prtico, transformador ou criador. A necessidade uma das condies necessrias da liberdade, e esta tambm possui carter histrico-social. Os nveis de liberdade so nveis de desenvolvimento do homem como ser prtico, histrico e social. A liberdade implica uma ao do homem baseada na compreenso da necessidade causal. Nesta soluo, proposta por Marx e Engels, os contrrios (necessidade e liberdade) se superam (ou conciliam) dialeticamente. 10. Concluso A responsabilidade moral pressupe, necessariamente, certo grau de liberdade, mas esta, por sua vez, implica tambm, inevitavelmente, a necessidade causal. Responsabilidade moral, liberdade e necessidade esto, portanto, entrelaadas indissoluvelmente no ato moral.

CAPTULO VI OS VALORES A escolha de um ato moral e baseada na preferncia do que se nos apresenta como um comportamento mais digno, mais elevado moralmente, mais valioso. A presena de um contedo axiolgico (axios = valor) no significa que a conduta seja boa ou positiva moralmente, podendo ser tambm m e digna de condenao ou censura.

Antes de examinarmos o contedo axiolgico do ato necessrio determinarmos o significado ou conhecermos os parmetros utilizados para os termos valor e valioso. Consideramos valioso um ato moral, mas tm noutro sentido os atos polticos, jurdicos e econmicos, tambm os objetos da natureza (poro de terra, rvores); objetos produzidos pelo homem, e em geral os diversos produtos humanos (obra de arte, cdigo de justia). 1.O que so valores Ao fazermos um brain storm com o termo valores, nos vem as idias de bondade, beleza, justia, utilidade, assim como os seus opostos. So atribudos valores s coisas ou aos objetos produzidos ou no pelo homem, e s condutas humanas. Sobre o valor das coisas (objetos), podemos analisar sob o aspecto natural ou humanizado. Para melhor compreenso podemos utilizar o exemplo da prata, que como minrio em seu estado natural tem seu valor para o cientista e estudioso de qumica inorgnica; como material trabalhado pelo homem, serve para produzir objetos de enfeite, podendo tambm ser utilizada como moeda. No estado natural apresenta algumas propriedades que lhes so inerentes, adquirindo novas ao ser humanizada, como: propriedade esttica, prticoutilitria ou econmica, que somente adquiri quando posta numa relao especial com o homem, pois passa a ser apreciada e utilizada de diferentes formas. As novas propriedades adquiridas no anulam as propriedades naturais, pois ao contrrio, so sustentadas por elas. 2.Sobre o valor econmico O termo valor se estende a todos os setores da atividade humana. O valor econmico possui um contedo distinto dos demais valores com esttico, poltico, jurdico ou moral. O valor econmico serve como base geral para elucidar questes sobre objetividade e subjetividade dos valores. O objeto somente tem valor econmico quando til, ou seja, satisfaz alguma necessidade humana. O objeto til tem valor de uso, consideradas suas propriedades sensveis ou materiais. E somente ter valor de uso para o homem como ser social. Quando estes produtos (objeto natural produto do trabalho humano) destinam-se no s a ser usados, mas antes a ser trocados, transformam-se em mercadorias, adquirindo um duplo valor: de uso e de troca. O valor de troca assim o valor de uso so atribudos ao objeto como produto do trabalho humano, e no como propriedades do objeto em si. O objeto somente adquiri o valor de uso ou de troca quando relacionado com o homem social, sem o qual o objeto no existiria como objeto de valor. 3.Definio do valor O valor no existe por si, mas a partir de objetos reais que possuem valor. O valor no propriedade dos objetos em si, mas propriedade adquirida graas a sua relao com o homem como ser social. Mas, por sua vez, os objetos podem ter o valor somente quando dotados realmente de certas propriedades objetivas. 4.O objetivismo e o subjetivismo Axiolgicos Subjetivismo axiolgico:

a necessidade ou desejo humano pelo objeto que lhe confere o valor. o subjetivismo axiolgico sustenta que no existem objetos de valor em si.

no subjetivismo o valor do objeto depende da reao psquica do sujeito.

O subjetivismo falha quando tenta reduzir o valor a uma mera vivncia do estado psquico subjetivo humano. A reao do sujeito no exclusivamente pessoal, pois este mesmo sujeito est inserido em uma determinada poca, cultura e sociedade, e seus juzos e apreciaes so preceitos formados pela vivncia nesta sociedade. Objetivismo axiolgico: 1 tese Independncia dos valores em relao aos bens O belo e o bom existem idealmente como entidades supra-empricas, intemporais, imutveis e absolutas, subsistente em si e por si, independente da relao que o homem possa manter com elas. Os filsofos que defendem esta tese so: Max Sheler e Nicolai Hartman,

No objetivismo axiolgico, os valores constituem um reino particular, subsistente por si prprio. So absolutos, imutveis e incondicionados. Os valores relacionam-se de forma especial com as coisas reais valiosas que chamamos bens. Nos bens encarna-se determinado valor: nas coisas teis: a utilidade, nas belas: a beleza, etc. Os valores so independentes dos bens nos quais se encarnam. Os valores no precisam dos bens reais para existir. Os bens so valiosos somente quando encarnam um valor. Os valores so imutveis, no entanto, os bens nos quais os valores se realizam mudam de uma poca para outra. Os valores no tm existncia real, existem de maneira platnica (idealizada).

2 tese Independncia dos valores em relao ao sujeito

Os valores existem em si e por si, independentemente de qualquer relao com o homem como sujeito. Para o objetivismo axiolgico os valores existem de um modo intemporal, absoluto e incondicionado. Os valores so entidades absolutas e independentes da relao com os homens ou com as coisas (encarnar-se em bens).

As duas teses fundamentais do objetivismo axiolgico, podem ser sintetizadas da seguinte forma: 1 tese: separao radical entre valor e o bem (coisa valiosa); 2 tese: separao radical entre valor e existncia humana. Breves observaes criticas, complementando o j exposto: O bem no existe sem o respectivo valor. "O valor existe independente de um bem ou sujeito para encarnar", porm essa idealizao leva a conseqncias absurdas, como exemplo: qual o sentido de solidariedade, lealdade ou amizade como valores se no existissem os sujeitos que podem ser solidrios, leais ou amigos? Todos os valores que conhecemos tem relao com o homem, e somente o tiveram nesta relao. No conhecemos nada valioso que no seja para o homem. O fato de no podermos conceber a idia de valor que no seja para o homem, contraria a tese de que os valores existem independentemente desta relao. No h que se entender um valor no realizado, ainda que de uma maneira ideal, pois s existe como criao ou inveno do homem.

Conclui-se que no h valores indiferentes a sua realizao, visto que o homem os cria, produzindo bens que os encarnam, ou para apreciar as coisas reais, em conformidade com os valores. 5.A objetividade dos valores Os valores no so explicados satisfatoriamente nem pelo objetivismo nem pelo subjetivismo. Os valores so concepes criadas pelo homem, e s existem e se realizam no homem e pelo homem. Os seres da natureza no criados pelo homem, s adquirem valor quando entram numa relao especial com ele, integrando-se ao seu mundo, como coisas humanas ou humanizadas. Somente se tornam coisas valiosas quando atendem s necessidades dos homens. Os valores em suma, no existem em si e por si independentemente dos objetos reais, nem tampouco independentemente da relao com o sujeito (o homem social), existem unicamente em um mundo social; isto pelo homem e para o homem. 6.Valores morais e no morais Os objetos valiosos podem ser naturais ou artificiais, aos quais no se pode atribuir um valor de um ponto de vista moral; somente se lhes so atribudos valores fsicos ou materiais. Costuma-se falar da "bondade" dos objetos empregando expresses tais como: este e um "bom relgio", "esta gua boa para beber", porm o uso de "bom" no possui nenhum significado moral. "Um bom relgio" significa que ele atende positivamente ao valor correspondente: o da utilidade. Podemos falar de "bondade" de uma faca enquanto cumpre positivamente a funo de cortar, para qual foi fabricada, ainda que tenha sido utilizada para realizar um ato mau sob o ngulo moral, como o assassinato de uma pessoa, porm a faca no deixar de ser boa do ponto de vista de sua funcionalidade. A qualificao moral recai no ato de assassinar, para o qual a faca serviu. A faca eticamente neutra como todos os instrumentos ou as tcnicas em geral que no podem ser qualificadas de um ponto de vista moral, mas o seu uso, ou seja, os atos humanos de utilizao para determinados fins, interesses ou necessidades. Os valores morais existem unicamente em atos ou produtos humanos, naqueles realizados livremente, de um modo consciente e voluntrio.

CAPTULO VII A AVALIAO MORAL 1.Carter concreto da avaliao moral A avaliao moral compreende trs elementos:

o valor atributivo; o objeto avaliado (atos ou normas morais), sujeito que avalia

A avaliao o ato de atribuir valor a um ato ou produto humano, implicando necessariamente que se levem em conta as condies concretas dos elementos que intervm na avaliao. Somente se atribui valor a um objeto social constitudo ou criado pelo homem; considerando tambm que os objetos avaliados so atos propriamente humanos, seres inanimados ou atos animais, no esto sujeitos a avaliao moral. Nem todos os atos humanos esto sujeitos a avaliao moral, mas somente aqueles que afetam a outros. Podemos atribuir valor moral a um ato, se e somente se tem conseqncias que afetam a outros indivduos, a um grupo social ou sociedade inteira.

A avaliao sempre a atribuio de um valor por parte do sujeito, a um ato de outrem, emitindo sua aprovao ou reprovao, e o faz no em funo do modo como afeta, mas em como afeta os outros, enquanto ser social e no sujeito puramente individual. 2.O bom como valor O ato moral pretende ser uma realizao do bom. Um ato moral positivo um ato valioso, e tal enquanto o consideramos bom. Quando um sujeito julgue um ato bom ou mau (moral e no moral) vai de encontro numa relao recproca e constituem um par de conceitos axiolgicos inseparveis opostos, ou seja, quando julgamos um ato bom implica em definir o mau. As idias do bom e do mau mudam historicamente de acordo com as diferentes sociedades, culturas e espao temporal.A utilizao do termo "bom" no sentido no moral: "bom" relgio, "boa" colheita, "bom" poema. Na Grcia antiga, somente os homens livres poderiam ser considerados bons, j os escravos no eram considerados nem bons nem maus, pois no eram considerados seres humanos dotados de razo. Na Idade Mdia, bom o que deriva da vontade de Deus ou concorda com ela, e o mau ou o diablico o que a contradiz. Nos tempos modernos, o bom o que concorda com a natureza humana concebida de uma maneira universal e abstrata. O conceito de "bom" varia de uma sociedade para outra, e se universaliza a medida em que os interesses da classe ascensional dominante se fundem com os interesses do progresso histrico-social. O homem est sempre em busca do bom como valor fundamental, tendo o como sinnimo de felicidade, prazer, boa vontade ou utilidade. 3.O bom como felicidade (Eudonismo) Segundo a tica de Aristteles, a felicidade o nico bom, ou o sumo bem que somente pode ser atingida pelo exerccio da razo, faculdade humana especfica, que sua vez exige srie de condies necessrias, entre as quais: segurana econmica e liberdade pessoal. Tal situao exclui os escravos e as mulheres. A tica Crist sustenta a felicidade, somente pode ser obtida no cu, com compensao da infelicidade terrena. O pensamento tico moderno sustenta o direito dos homens de serem felizes neste mundo. Tambm no se pode assegurar que a estabilidade econmica e a liberdade pessoal garanta a felicidade do indivduo, pois ainda assim podem encontrar obstculos sua felicidade que surgem, como o fracasso no amor, no exerccio de uma profisso ou no cumprimento de uma vocao, etc. 4.O bom como prazer (Hedonismo) Para melhor compreenso, podemos distinguir o prazer como:

sentimento afetivo agradvel que acompanha diferentes experincia (encontro casual com um velho amigo), e cujo oposto o desprazer (encontro com uma pessoa que se detesta) como sensao agradvel produzida por certos estmulos (ccegas), cujo oposto a dor ou sensao localizada em alguma parte do corpo (dor nas costas).

Para os hedonistas o bom o prazer e o mau o seu contrrio.

Epicuro sustenta que cada um deve procurar o mximo prazer, no os prazeres sensveis, imediatos, fugazes, como os proporcionados pela comida, pela bebida ou sexo, mas os prazeres mais duradouros e superiores, como o intelectual e o esttico. Teses fundamentais do hedonismo: 1) Todo prazer ou gozo intrinsecamente bom. Crtica uma coisa no pode ser boa somente porque desejada, com "o prazer da vingana", que leva o indivduo a experimentar um prazer total, mas impregnado moralmente das conseqncias negativas do ato. 2) Somente o prazer intrinsecamente bom. Para os hedonistas todo prazer bom, independentemente do seu sentido moral, como no exemplo que segue: de um assaltante que surpreende um transeunte desprevenido. H um sentimento de prazer no assaltante ao passo que o desprevenido apresenta desprazer ou dor. 3 - A bondade de um ato ou experincia depende do (ou proporcional quantidade de) prazer que contm. Para os hedonistas quantitativos a bondade depende da quantidade de prazer. Para os hedonistas qualitativos as diferenas qualitativas de prazer produzem diferena de valor. 5.O bom como "boa vontade" (Formalismo Kantiano) Kant pondera que o bom deve ser al incondicionado, sem restrio alguma, isto , no depende de circunstncias ou condies que escapem ao nosso controle e tampouco das conseqncias de nossos atos. A felicidade est sujeita a certas condies, e sem elas no se pode ser feliz (Aristteles). Outras qualidades humanas como a moderao, o autocontrole, ou a reflexo serena, so boas, mas no em qualquer circunstncia. Por exemplo, um criminoso pode autocontrolar-se para cometer mais perfeitamente um crime, ou seja, para acentuar a maldade de sua ao. No que se refere ao bom como prazer, este pode acompanhar experincias de sinal moral oposto. Ento, segundo Kant, a nica que pode ser "boa" de maneira absoluta e irrestrita em qualquer circunstncia a " boa vontade" , pois esta no boa pelo que possa fazer, realizar ou alcanar, mas boa s pelo querer, isto , boa em si mesmo. A "boa vontade" no um mero desejo, uma determinao de fazer algo, ainda que esgotados todos os meios sem conseguir chegar-se ao objetivo esperado, ainda assim a "boa vontade" continuaria sendo uma jia que brilha por si mesma. O bom com "boa vontade" concebido num "mundo ideal", a-histrico e intemporal, que representa para os homens um novo "mais alm". Crticas a esta tese: Por seu carter abstrato, formal e universal, esta moral da "boa vontade" impotente e intil no mundo concreto dos homens reais, pois a sua condio de "boa" depender do contexto em que est inserida, da relao entre os sujeitos: o que a pratica e o que afetado por ela, e inclusive dos seus juzos a respeito, e ainda das conseqncias que pode causar. 6.O bom com til (Utilitarismo) Defendem o bom como "til", principalmente, Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Para esclarecer como os utilitaristas relacionam o bom com o til, necessrio compreender suas respostas a duas perguntas:

til para quem? Em que consiste o til?

O utilitarismo sustenta que o bom o til ou vantajoso "para o maior nmero de homens", cujo interesse inclui tambm o meu pessoal. Ele tambm aceita o sacrifcio do interesse pessoal, da prpria felicidade e at da prpria vida, a favor dos demais ou em benefcio da comunidade inteira. E este sacrifcio ser considerado bom, tanto quanto contribua para aumentar a quantidade de bem para um maior nmero de homens. Conclui-se, portanto, que o bom como utilitarismo tambm condicionado: um ato ser bom se tem boas conseqncias. Com relao a segunda pergunta, para Benthan, unicamente o prazer o bom ou til; o utilitarismo aqui combinase com o hedonismo. Pra Stuart Mill, o til ou bom a felicidade, porm a felicidade para um maior nmero de pessoas, portanto confunde-se com o eudemonismo social. O utilitarismo gera duas vertentes conflitantes, a saber: o que preferir? O que d maior felicidade a um nmero menor ou o que d menor felicidade a um nmero maior? O utilitarismo esbarra-se na dificuldade de no poder combinar a "maior felicidade" para o "maior nmero". 7.Concluses a respeito da natureza do bom

As doutrinas anteriores tm o defeito de conceber o bom de maneira abstrata em relao aos homens. Os hedonistas e os eudemonistas consideravam que os homens so dotados de uma natureza universal e imutvel, sempre em busca do prazer ou da felicidade e estes bens fundamentam o bom. Kant baseando-se no homem ideal e abstrato considerava a "boa vontade" absoluta e incondicionada como verdadeiro e nico bem. O utilitarismo relaciona o interesse individual dos homens ao interesse coletivo, com sua tese fundamentada em "o maior bem para o maior nmero", sem considerar as condies histrico-sociais concretas. No se pode, portanto, definir o bom sob um nico aspecto, mas deve ser observado dentro de um contexto scio-cultural, temporal e econmico. O bom s pode ocorrer na harmonizao dos interesses pessoais com os verdadeiramente comuns ou universais.

O bom somente pode realizar-se efetivamente, quando numa relao do indivduo com a comunidade.

CAPTULO VIII - A OBRIGATORIEDADE MORAL O comportamento moral um comportamento obrigatrio e devido; isto , o agente obrigado a comportar-se de acordo com uma regra ou norma de ao e a excluir ou evitar os atos proibidos por ela. Por conseguinte, a obrigatoriedade moral impe deveres ao sujeito. Toda norma funda um dever. As normas morais exigem ser respeitadas por causa de uma convico interior e no por uma simples conformidade exterior, impessoal ou forada. Tudo isto supe que a obrigatoriedade moral inclui a liberdade de escolha. 1.Necessidade, coao e obrigatoriedade moral O comportamento moral se nos apresenta como um comportamento livre e obrigatrio. Impondo ao agente uma forma de comportamento no querida ou no escolhida livremente, a coao externa entra em conflito com a obrigao moral e acaba por substitu-la.

A obrigatoriedade moral perde tambm a sua razo de ser, quando o agente opera sob uma coao interna, ou seja, sob a ao de um impulso, desejo ou paixo irresistvel que foram ou anulam por completo sua vontade. A obrigatoriedade moral no pode confundir-se com a simples necessidade causal e tampouco com a coao externa ou interna. Em rigor, estas formas de "obrigao" tornam impossvel a verdadeira obrigao moral. 2. Obrigao moral e liberdade A obrigao moral supe necessariamente uma livre escolha, quando esta no pode verificar-se, no admissvel exigir do agente uma obrigao moral, j que no pode cumpri-la. A obrigao moral, portanto, deve ser assumida livre e internamente pelo sujeito e no imposta de fora. Se acontecer o ltimo caso, estaremos diante de uma obrigao jurdica ou diante de outra pertencente ao trato social.Portanto, o fator pessoal aqui no pode ser ignorado, sem ele a diferena daquilo que sucede na esfera do direito e do trato social , no possvel falar com propriedade de obrigao moral. 3. Carter social da obrigao moral O fator pessoal essencial, na obrigao moral. Mas este fator no pode ser separado das relaes sociais que se agrupam em cada indivduo e, portanto, esta obrigao no se pode explicar como algo estritamente individual, pois tambm possui um carter social. Em primeiro lugar, porque somente pode haver obrigao para um indivduo quando as suas decises e os seus atos afetam os outros ou a sociedade inteira.Em segundo lugar, a obrigatoriedade moral tem carter social porque se a norma deve ser aceita intimamente pelo indivduo e este deve agir de acordo com sua livre escolha ou sua conscincia do dever, a deciso pessoal no opera num vcuo social. Em terceiro lugar, ainda que o indivduo decida e aja de acordo com a "voz da sua conscincia", atravs desta voz e nesse foro no deixam de falar, de estar presentes, os homens de uma sociedade e de um tempo determinado. 4.A conscincia moral O problema da obrigatoriedade moral se relaciona estreitamente com o da natureza, da funo e do fundamento da conscincia moral e, por sua vez, com o da autonomia ou da heteronomia da prpria moral. O termo "conscincia" pode ser usado em dois sentidos: um geral, o de conscincia propriamente dita, e outro especfico, o de conscincia moral. A conscincia moral somente pode existir sobre a base da conscincia no primeiro sentido e como uma forma especfica desta. Por esta razo o conceito de conscincia est estreitamente relacionado com o de obrigatoriedade. A conscincia moral assume a funo de uma instncia iniludvel, ou de um juiz diante do qual todo ato moral deve apresentar os seus ttulos. O indivduo no possui a conscincia moral desde o seu nascimento, e nem tampouco se manifesta ela no homem independentemente de seu desenvolvimento histrico e de sua atividade prtica social. Num caso, a autonomia absoluta; isto , como sustenta Kant, a vontade constitui uma lei por si prpria, independentemente de qualquer propriedade dos objetos do querer; no outro, a conscincia tem o seu fundamento inteiramente fora de si, isto , em Deus e da a sua heteronomia; ou seja, o ato moral determinado por algo alheio conscincia moral do agente. A conscincia moral dos indivduos, como produto histrico-social, est sujeita a um processo de desenvolvimento e mudana. Por sua vez, como conscincia de indivduos reais que so tais somente em sociedade, a faculdade de julgar e avaliar o comportamento que tem conseqncias no s para si mesmo, mas para os demais. Somente em sociedade o indivduo toma conscincia daquilo que permitido ou proibido, do obrigatrio e do no obrigatrio num sentido moral. A conscincia moral comea a emergir propriamente, e a definir-se como um recinto interior, quando o homem cumpre normas que regulamentam os seus atos no mais se submetendo passivamente tradio e ao costume ou pelo temor dos deuses, ou simplesmente para conformar-se com a opinio dos outros, mas porque compreende o dever de cumpri-las. Outro ndice da existncia de uma conscincia moral desse tipo so os sentimentos de culpa, vergonha e remorso que acompanham o reconhecimento de que nosso comportamento no foi como devia ser.

Portanto, a conscincia moral, na forma em que a conhecemos j em tempos histricos, o produto de um longo processo de desenvolvimento da humanidade. A conscincia sempre compreenso de nossa obrigao moral e avaliao de nosso comportamento de acordo com as normas livre e intimamente aceitas. Ainda que variem os tipos de conscincia traz sempre consigo o reconhecimento do carter normativo e obrigatrio do comportamento que chamamos de moral. Por esta razo, a conscincia e a obrigatoriedade moral no so autnomas ou heternomas em sentido absoluto, porque o aspecto subjetivo, ntimo, de sua atividade no pode ser separado do meio social. A conscincia moral efetiva sempre a conscincia de um homem concreto individual, mas, por isto mesmo, de um homem que essencialmente social. 5.Teorias da obrigao moral preciso responder questo de como devemos agir, ou que tipo de atos somos moralmente obrigados a realizar. Para tal fim, referir-nos-emos s teorias mais importantes sobre a obrigao moral. Os ticos contemporneos costumam dividir estas teorias em dois gneros: deontolgicas e teleolgicas. Uma teoria da obrigao moral recebe o nome de deontolgica quando no se faz depender a obrigatoriedade de uma ao exclusivamente das conseqncias da prpria ao ou da norma com a qual se conforma. E chama-se teleolgica quando a obrigatoriedade de uma ao deriva unicamente de suas conseqncias. Tanto num caso como no outro, a teoria pretende determinar o que obrigatrio fazer. 6.Teorias deontolgicas do ato As teorias deontolgicas do ato coincidem quando sustentam que o carter especfico de cada situao, ou de cada ato, impede que possamos apelar para uma norma geral a fim de decidir o que devemos fazer. Por essa razo preciso intuir como operar num caso determinado, ou decidir sem recorrer a norma, dado que esta no pode indicar o que devemos fazer em cada caso concreto. Satre, a respeito do ato, sustenta uma posio que se pode considerar deontolgica. Deixando de lado os pressupostos filosficos sartrianos desta posio em face do problema do contedo da obrigatoriedade moral, o que interessa sublinhar a sua caracterstica como "deontologismo do ato", na medida em que rejeita que se possa apelar para princpios ou normas a fim de decidir, num caso concreto, o que se deva fazer. A experincia demonstra que, na prtica, impossvel um deontologismo puro e que, quando se pretende decidir sem recorrer explicitamente a uma norma, efetivamente se apela para uma norma mais ou menos implcita, porm geral. 7.Teorias deontolgicas da norma (A teoria Kantiana da obrigao moral) As teorias deontolgicas da norma sustentam que o dever em cada caso particular deve ser determinado por normas que so vlidas independentemente das conseqncias de sua aplicao. Entre os representantes contemporneos desta concepo da obrigatoriedade moral figuram Richard Price, Thomas Reid e W.D. Ross, mas a sua forma mais ilustrativa a teoria da obrigatoriedade moral de Kant, tal como foi exposta na sua Crtica da razo prtica. A exigncia da razo uma exigncia de universalidade, e esta exigncia com a qual apresenta a sua lei, vlida para todos os seres racionais, vontade do homem, que , ao mesmo tempo, racional e sensvel, assume a forma de um mandamento ou de um imperativo. Kant divide os imperativos em categricos e hipotticos. Um imperativo categrico quando declara que uma ao objetivamente necessria sem que a sua realizao esteja subordinada a um fim ou a uma condio; por isto, uma norma que vale sem exceo. Segundo Kant, todas as normas morais (como no matar, no roubar, etc) so desse tipo. Um imperativo hipottico quando postula uma ao praticamente necessria se a vontade se prope determinado fim; por conseguinte, subordina sua realizao aos fins previstos como condies. A frmula suprema do mandamento da razo aquela na qual a universalidade absoluta. Por isto, o princpio formal de todos os deveres, ou a expresso da prpria lei moral.

Agir por dever operar puramente conforme a lei moral que se expressa nos imperativos universalizveis. O dever no outra coisa seno exigncia de cumprimento da lei moral, em face da qual as paixes, os apetites e inclinaes silenciam. O dever se cumpre pelo prprio dever, pelo sentimento do dever de obedecer aos imperativos universalizveis. A teoria Kantiana da obrigao moral e, particularmente, a sua rigorosa exigncia da universalidade nas normas morais, foi freqentemente objeto de srias objees. Schiller zombava de uma doutrina segundo a qual quem ajuda a seus amigos, seguindo o impulso do seu corao, no age moralmente, porque se deve desprezar este impulso, e ento fazer, embora com repugnncia, o que o dever ordena. Kant mostra que a absoluta e rgida exigncia de universalidade postulada pela sua teoria da obrigao moral pode ser mantida exclusivamente num mundo humano que faz abstrao dos conflitos entre deveres, do contedo concreto das mximas e deveres, assim como das condies concretas nas quais se deve agir moralmente e das conseqncias dos nossos atos. Por conseguinte, trata-se de uma teoria da obrigao moral inoperante e inexeqvel para o homem real. 8.Teorias teleolgicas ( Egosmo e Utilitarismo) Essas teorias tm em comum o relacionar a nossa obrigao moral com as conseqncias de nossa ao; isto , com a vantagem ou benefcio que podem trazer, quer para ns mesmos quer para os demais. A tese fundamental do egosmo tico se pode formular como segue: cada um deve agir de acordo com o seu interesse pessoal, promovendo, portanto, aquilo que bom ou vantajoso para si. O egosmo tico tem seu fundamento numa doutrina psicolgica da natureza humana, ou da motivao dos atos humanos, segundo a qual o homem psiquicamente constitudo de tal modo que o indivduo sempre tende a satisfazer o seu interesse pessoal. Ou seja, o homem por natureza um ser egosta. No passado essa doutrina foi defendida por Thomas Hobbes e no nosso tempo por Moritz Schlick e outros. O egosmo quer se baseie no egosmo psicolgico, quer no se baseie nele fracassa na sua inteno de explicar os atos a favor do outro que no podem ser considerados como satisfao de interesse ou tendncias egostas. Se a teoria da obrigao moral no sentido de que devemos fazer o que sacia nosso egosmo ou puramente o interesse pessoal inaceitvel, dever-se- examinar a teoria da obrigao que sustenta, antes de tudo, fazer o que traz vantagem para os outros e, portanto, em nosso comportamento devemos visar, acima de tudo, as conseqncias que nossos atos podem acarretar para os outros membros da comunidade. Neste caso, preciso distinguir dois tipos de utilitarismo, existe um utilitarismo do ato e um da norma, mas, em ambos os casos, preciso considerar, sobretudo, as conseqncias de nossos atos ou da aplicao de uma norma para o maior nmero de pessoas. 9.Utilitarismo do ato e utilitarismo da norma De acordo com esta doutrina, cujos principais representantes so Jeremy Bentam e John Stuart Mill, devemos fazer aquilo que traz melhores resultados para o maior nmero, o que, em princpio, no parece sujeito a objees. Portanto, em cada situao concreta, devemos determinar qual o efeito ou conseqncia de um ato possvel e decidir-nos pela razo daquilo que pode trazer maior bem para o maior nmero, lembrando que para Bentham o prazer o nico bem. As limitaes e dificuldades do utilitarismo do ato levaram outros utilitaristas a aceitar a importncia da norma. Segundo estes devemos agir de acordo com a norma cuja aplicao garanta o maior nmero, no sentido do setor da sociedade, de uma comunidade particular ou da sociedade inteira. Mas aqui surgem graves dificuldades quando se trata de combinar os dois aspectos do princpio utilitarista geral: o "mximo bem" e o "maior nmero". O princpio do maior bem para o maior nmero no se pode aplicar em abstrato, sem tomar em considerao uma srie de aspectos concretos. Mas, desde que so tomados em considerao, os princpios readquirem sua validade. Uma outra objeo que se pode fazer ao utilitarismo da norma a que se deve fazer a aplicao de uma norma cuja aplicao traga melhores conseqncias para o maior nmero, mas se quer dizer com isso, que a norma escolhida no admite excees? Sendo assim resultaria absoluta demais e, ao no levar em considerao as circunstncias concretas da sua aplicao, cairia no mesmo rigorismo que era censurado em Kant, quando na sua deontolgia da

norma, postulava uma universalidade absoluta, sem exceo. Para evitar essa censura, o utilitarismo da norma teria de indicar as circunstncias em que a norma seria vlida, ou as suas excees. Certamente para escapar do rigorismo da universalidade absoluta, deve assinalar as circunstncias da aplicao da norma ou a suas excees; mas, como nem todas estas podem indicar, resta unicamente uma norma a salvo de circunstncias imprevistas ou excees: exatamente aquela que no tem contedo concreto e que, por ser uma norma vazia, aplicvel em todos os casos. O utilitarismo da norma acabaria coincidindo com a teoria deontolgica Kantiana da obrigao moral.

CAPTULO IX - A REALIZAO DA MORAL Realizao a encarnao dos princpios, normas e valores como uma tarefa coletiva, em dada sociedade, ou seja, o processo social onde as diferentes relaes, instituies e organizaes sociais desempenham um papel decisivo. 1.Os princpios mais bsicos A realizao da moral traz consigo certos princpios bsicos de comportamento, de acordo com a poca, que so originrios da atividade prtica social e regulam o comportamento humano. Essa regulamentao ocorre concomitantemente aos interesses concretos da sociedade, seja em parte ou inteira. Os princpios morais bsicos nascem normalmente atravs das necessidades apresentadas pela sociedade, mas podem tambm surgir por uma elaborao terica, que justificaria sua necessidade e fundamentaria a sua validade. A realizao da moral como concretizao de certos princpios pe tona a necessidade de se fazer uma relao com as condies sociais em que se englobam, com todas os interesses e anseios que os inspiram e com o tipo de relaes humanas que pretendem regrar. 2.A moralizao dos indivduos Dentro do ato moral temos englobado a conscincia e a liberdade. O indivduo, como ser social, o verdadeiro agente da moral. O comportamento moral do indivduo prove dos princpios e das normas e correspondem s necessidades e interesses sociais. Por outro lado, essa atividade moral se realiza dentro de vrias condies objetivas, constitudas por Instituies Culturais e Educativas e pelos Meios de Comunicao em Massa. O carter pessoal vem atravs do modo particular e original de decidir e agir, de uma forma que no seja casual. Ele se forma, sobretudo, com a influncia do meio social, no decorrer da participao do indivduo na vida em sociedade, sendo algo adquirido, dinmico e modificvel. Como o carter no algo constitucional ou casual, o indivduo pode adquirir uma srie de qualidades morais sob influncia da educao e da prpria vida social. A tais qualidades d-se o nome de virtudes. 3.As virtudes morais A virtude supe uma disposio uniforme de comportar-se moralmente de maneira positiva, de querer o bem, tendo como oposto o vcio. Relaciona-se com o valor moral, mas um ato moral qualquer, por mais que seja valioso, no suficiente para se falar na virtude de um indivduo. De acordo com Aristteles, "virtude um hbito", uma disposio adquirida e uniforme de agir de um modo determinado. A realizao da moral , portanto, o exerccio constante e estvel daquilo que est circunscrito dentro do carter, como sendo a capacidade de se fazer o bem. Do ponto de vista moral, o indivduo deve sempre preferir o bem e realiz-lo. A aquisio dessas disposies ou capacidades de querer o bem e atuar moralmente caracteriza-se na moralizao do indivduo, e na sua contribuio para a moralizao da comunidade. Como o carter do indivduo est sob o influxo do meio social em que vive e age, seus traos no se podem dar ou adquirir fora deste. A existncia de virtudes exige condies sociais favorveis, sem as quais no podem florescer os indivduos. O mesmo pode ser dito sobre os vcios. Desse modo a forma de aquisio e cultivo de certas virtudes morais se verifica num contexto social concreto, e so favorecidas ou freadas pela existncia de determinadas condies e relaes. 4.Realizao moral como empreendimento coletivo O indivduo, antes de um comportamento moral, deve sentir o peso, limite ou influncia de alguns fatores sociais, uma vez que est inserido numa rede de relaes econmicas, polticas e ideolgicas, integrado em determinadas estruturas, organizaes ou instituies scias, ou ainda, determinado por condies objetivas diversas.

Existem trs tipos de instncias ou fatores sociais que contribuem na realizao da moral: a) Relaes econmicas, ou vida econmica da sociedade. b) Estrutura ou organizao social e poltica da sociedade. c) Estrutura ideolgica, ou vida espiritual da sociedade. 5.A vida econmica e a realizao da moral A vida econmica da sociedade compreende, primeiramente, a produo material de bens para satisfazer as necessidades vitais do homem, como alimentao, vesturio, moradia, etc. Para produzir, os indivduos organizamse para poder domar as foras naturais e faz-las servir a si. Este conjunto de relaes constitui a base econmica da sociedade, sendo denominado de Relaes de Produo. O modo de produo inclui a produo material e relaes sociais que os homens nela contraem. Pela presena direta do homem, a economia no pode deixar de estar relacionada moral. Os problemas morais que a vida econmica prope surgem com a influncia do homem na produo, tanto como fora produtiva, quanto como sujeito das relaes de produo. Os problemas morais da vida econmica surgem necessariamente com a transformao do indivduo numa simples pea de um mecanismo ou de um sistema econmico. Significao moral do trabalho humano - no trabalho, ao mesmo tempo em que humaniza a natureza externa, o homem humaniza a si mesmo. O trabalho uma necessidade exclusivamente humana, da o seu valor moral: o homem deve trabalhar para ser verdadeiramente homem. Este valor era desconhecido na antiguidade; na Grcia clssica, por exemplo, valorizava-se o cio de uma minoria de homens livres. Nos tempos modernos o trabalho a fonte de riqueza e as conseqncias negativas ao trabalhador, o qual interessa enquanto produtor de lucros, so consideradas naturais ou inevitveis. Essas so as caractersticas de uma economia onde a produo no est a servio do homem ou da sociedade inteira e o operrio no v no seu trabalho uma atividade realmente sua, pois essa o empobrece material e espiritualmente. A utilizao de instrumentos de produo mais perfeitos e a diviso mais parcelada das operaes de trabalho resultam no fenmeno social do trabalho alienado. O trabalho se transforma numa atividade montona, impessoal, mecnica, uma penosa atividade necessria para subsistir, perdendo assim seu contedo vital e criador, propriamente humano. Somente pode recuperar seu verdadeiro valor quando a sua origem no estiver mais somente na necessidade de subsistir ou exclusivamente no estmulo material, mas quando a sua fonte estiver no estmulo moral que o ponha a servio da comunidade inteira. Moral e Consumo - Nas sociedades regidas pela lei da mais-valia, ocorre tambm a alienao do consumidor. As relaes de produo e consumo tambm exigem maiores lucros, no mais satisfazendo a necessidade do consumidor, e esse adquire produtos que no necessita, influenciado por uma publicidade insistente e organizada que seduz e o persuade para o consumo desnecessrio. O homem, como na produo, no consume mais por si prprio, e sim queles que o manipulam de um modo sutil. Esta manipulao causa uma perda da capacidade de deciso pessoal; exerce-se uma coao externa, que se interioriza como uma necessidade pessoal. O homem como consumidor rebaixado condio de coisa que se pode manipular, passando por cima de sua conscincia e de sua vontade e, impedido que escolha e decida livre e conscientemente, minam-se as bases da moral. Avaliao Moral da Vida Econmica - Numa sociedade na qual o trabalho antes de tudo meio para subsistir e no uma necessidade humana vital so criadas as condies favorveis para que qualquer um aspire a satisfao os seus interesses mais pessoais, custa dos demais. Fortalecem-se os impulsos individualistas ou egostas porque assim exige um sistema econmico no qual a segurana pessoal encontra-se na propriedade privada. A moral da economia , portanto a do egosmo, e esta impregna a sociedade. Para se chegar a uma moral superior, no qual o bem de cada um se combine com o bem da comunidade, a condio necessria uma vida econmica sem alienao do produtor nem do consumidor. 6.A estrutura social e poltica e a vida moral O indivduo, enquanto ser social, faz parte de diversos grupos sociais, sendo o primeiro ao qual pertence, a famlia. Quando se integra na estrutura econmica da sociedade, torna-se membro da classe social, inserido de acordo com sua ocupao especfica. O indivduo tambm cidado de um Estado ou organizao poltica, e, ao mesmo tempo, tem uma ptria. Caractersticas da funo desempenhada por algumas das comunidades humanas no campo moral:

A Famlia - por ser a forma mais elementar e primitiva de comunidade humana, chamada de clula social. Nela se realiza o princpio de propagao da espcie e o processo de educao do indivduo, assim como formao da sua personalidade. Como instituio social, a famlia evoluiu historicamente modificando-se lentamente at a famlia patriarcal, onde a mulher fica submetida socialmente ao homem e sujeita a uma dependncia material em relao a ele. Os preconceitos de casta ou de classe no passado e o culto do dinheiro na nossa poca foram obstculos graves ao matrimnio de amor e, por isto, introduziram a imoralidade na famlia. Para o seu fortalecimento moral necessria a emancipao da mulher, o que vem ocorrendo h meio sculo, enfraquecendo a dependncia social e material qual estava sujeita. As suas relaes com os homens adquirem um carter mais puro e livre, isto , mais humano. A famlia, como verdadeira clula social, somente cumprir a sua funo se no se separar do meio social e no reduzir o seu bem particular ao estreito crculo familiar, desvinculando-se dos outros. A famlia conservar um alto valor moral para si e para a sociedade se for uma comunidade livre, no egosta, amorosa e racional. As Classes Sociais - A incluso de um indivduo numa classe social um fato objetivo, determinado fundamentalmente pela estrutura econmica da sociedade. Uma virtude moral como a lealdade, por exemplo, adquire diferente contedo de acordo com a estrutura social vigente. As idias morais mudam de uma poca para a outra, quando determinadas classes so substitudas por outras em sua hegemonia econmica e poltica. O indivduo, embora condicionada pelo quadro moral da classe qual pertence, no deixa de ter um comportamento individual, livre e consciente, pelo qual pessoalmente responsvel. A atuao da classe tem uma significao moral, devido influncia que exerce no comportamento dos indivduos e esses tem a sua realizao moral dificultada ou favorecida de acordo com seu particular comportamento. O Estado - Tem grande influncia na realizao da moral pois exerce um poder efetivo sobre os membros da sociedade, para garantir a ordem e a unidade da sociedade. A natureza de cada Estado determina a sua adeso aos valores e princpios morais que, atravs das suas instituies, est interessado em manter e difundir. Todo estado tende a vestir com um manto moral a sua ordem jurdica, poltica e social, mas pode entrar em contradio com a moral que admite e que, em princpio, aceita por um amplo setor da sociedade, se esta moral chegar a entrar em contradio com as suas finalidades polticas. 7.A vida espiritual da sociedade e a realizao da moral Alm das relaes que os homens contraem na produo material, em toda sociedade existe um conjunto de idias dominantes (polticas, estticas, jurdicas, morais, etc) que so canalizadas e difundidas numa certa direo por uma srie de instituies encarregadas. Tambm se situa dentro deste mundo ideolgico e espiritual a influncia que os poderosos meios de comunicao exercem sobre as conscincias dos indivduos. Esses diversos elementos contribuem, de diferente maneira, para a realizao da moral. O sistema educativo, por exemplo, desempenha um elevado papel na realizao da moral. O indivduo forma-se gradualmente de acordo com uma moral j estabelecida que lhe proposta e justificada. A influncia das idias morais na prtica e afirmao efetiva da moral, atravs da atividade espiritual da sociedade no se restringe nessa moral proposta pelas instituies culturais e educativas, se processando tambm por outros caminhos. Nos pases mais atrasados a afirmao da moral se d por meio da tradio e dos costumes; o interesse pessoal reduzido e a moral tradicional aceita passivamente. O enriquecimento da vida moral tende a aumentar a capacidade de deciso e de responsabilidade pessoais. A moral tradicional, portanto, corresponde a uma etapa inferior do desenvolvimento moral, pois limita a rea de deciso e ao consciente do indivduo. A tendncia de fazer da moral uma forma de comportamento consciente e livre do indivduo, que surge atravs do progresso social, hoje, em grande parte anulada pela influncia decisiva dos meios de comunicao em massa que atingem diretamente a conscincia dos indivduos. evidente que estes meios de comunicao, pelos interesses econmicos aos quais servem, integram-se num processo geral de mercantilizao, ao qual no escapa a prpria cultura e, claro, a moral. A moral que assimilada espontnea e passivamente pelo consumidor no faz seno apresentar como virtudes as limitaes humanas e morais de um homem alienado, e por isso, a sua influncia no pode deixar de ser negativa. Apesar disso, evidncias demonstram as enormes possibilidades do uso adequado dos meios de comunicao de massa no terreno da formao positiva do homem novo, incluindo evidentemente a sua formao moral.

CAPTULO X FORMAS E JUSTIFICAO DOS JUZOS MORAIS 1.A Forma Lgica dos Juzos Morais

Tanto a maldade como a bondade dos atos realizados, a preferncia de uma ao com relao a outras e o dever ou obrigatoriedade de comportar-se de certo modo seguindo a regra j de ao, expressam-se sob a forma de juzos. Podemos formar juzos que apresentam contedo moral ou no podemos classifica-los em trs formas lgicas comuns, sendo estas as enunciativas, preferenciais ou imperativas. 2.Formas Enunciativas, Preferenciais e Imperativas. Forma Enunciativa: Atribui-se a algo uma propriedade que lhe natural sem que expresse uma atitude com relao a esse algo com algum interesse, finalidade ou necessidade.Ex: Pedro alto. Ou seja, temos ai um juzo de existncia factual. A forma enunciativa tambm engloba os juzos de valor, como por exemplo "Pedro til" onde podemos ver que se trata de um juzo simplesmente factual mas de um juzo de valor que no caso seria a utilidade. Forma Preferencial: Trata-se de uma forma particular do juzo de valor sob a forma de comparao pela qual se estabelece que uma ao mais valiosa que a outra, assim quando dizemos "dizer a verdade melhor do que mentir" nada mais fazemos do que atribuir maior valor a dizer a verdade do que a falar mentira e preferido sempre o que tem mais valor com relao a necessidade ou finalidade estabelecida. Assim podemos preferir dizer que a mentira mais valorosa em certos casos para que evite algo ruim, como p