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Revista iTEC Vol. II, Nº 2, Jul. 2011 Página 39 PCN’s para Educação de Alunos com Necessidades Especiais Andressa de Oliveira Machado Faculdade Cenecista de Osório – (FACOS) Rua 24 de Maio, 141 – 95.520-000 – Osório – RS – Brasil [email protected] Resumo. O presente artigo tem como objetivo, conhecer como seria o modo ideal de aplicação das adaptações curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais como forma de inclusão sócio-educacional, observando também o que se estabelece na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, tendo em vista a inclusão social. Além disso, objetiva-se a reflexão de como e, se estão sendo implantadas estas adaptações atualmente. Palavras chaves: PCN’s, Inclusão Social, Educação Especial Abstract. This paper aims, to know how it would be the ideal mode of implementation of curricular adaptations of the National Curriculum Guidelines as a way to include socio-educational, noting also that settles on LDB – Law of Directives and Bases of National Education, Law Nº 9.394, aimed at social inclusion. Moreover, the objective is to reflect on how and if these change are being implemented today. 1. Introdução Este trabalho será desenvolvido com o objetivo de explicitar o que estabelecem as adaptações curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais visando à integração e/ou inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino e a busca pela escola aberta, onde se possam atender as necessidades de todos. Neste ato de socialização e convivência com as diferenças, podem-se formar indivíduos mais tolerantes e abertos a todo tipo de diversidade, diz-se então que “a escola deve buscar o respeito às diferenças e que as mesmas não podem ser vistas como obstáculo para o cumprimento da ação educativa” (Brito, 1999). Enquanto eram elaborados e publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio, no ano de 1999, o Governo Federal publicou a versão final do documento de Adaptações Curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais para educação de alunos com necessidades especiais. O documento visa assegurar a inserção do aluno com necessidade educativa especial nas dinâmicas do ensino regular, que se confirma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no capítulo V da Lei Nº 9.394 que, “entende-se por educação especial, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores 1 de necessidades especiais” (Art. 58º). 1 A expressão “portadores”, bem como “surdo-mudo” entre outras, não são mais aptas a serem utilizadas.

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Revista iTEC – Vol. II, Nº 2, Jul. 2011 Página 39

PCN’s para Educação de Alunos com Necessidades Especiais

Andressa de Oliveira Machado

Faculdade Cenecista de Osório – (FACOS)

Rua 24 de Maio, 141 – 95.520-000 – Osório – RS – Brasil

[email protected]

Resumo. O presente artigo tem como objetivo, conhecer como seria o modo

ideal de aplicação das adaptações curriculares dos Parâmetros Curriculares

Nacionais como forma de inclusão sócio-educacional, observando também o

que se estabelece na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

Lei nº 9.394, tendo em vista a inclusão social. Além disso, objetiva-se a

reflexão de como e, se estão sendo implantadas estas adaptações atualmente.

Palavras chaves: PCN’s, Inclusão Social, Educação Especial

Abstract. This paper aims, to know ho w i t wou ld be the ideal mode of

implementation of curricular adaptations of the National Curriculum

Guidelines as a way to include socio-educational, noting also that settles on

LDB – Law of Directives and Bases of National Education, Law Nº 9.394, aimed at social inclusion. Moreover, the objective is to reflect on how and if

these change are being implemented today.

1. Introdução

Este trabalho será desenvolvido com o objetivo de explicitar o que estabelecem as

adaptações curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais visando à integração

e/ou inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de

ensino e a busca pela escola aberta, onde se possam atender as necessidades de todos.

Neste ato de socialização e convivência com as diferenças, podem-se formar indivíduos

mais tolerantes e abertos a todo tipo de diversidade, diz-se então que “a escola deve

buscar o respeito às diferenças e que as mesmas não podem ser vistas como obstáculo

para o cumprimento da ação educativa” (Brito, 1999).

Enquanto eram elaborados e publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais

para o Ensino Fundamental e Médio, no ano de 1999, o Governo Federal publicou a versão final do documento de Adaptações Curriculares dos Parâmetros Curriculares

Nacionais para educação de alunos com necessidades especiais. O documento visa

assegurar a inserção do aluno com necessidade educativa especial nas dinâmicas do

ensino regular, que se confirma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no

capítulo V da Lei Nº 9.394 que, “entende-se por educação especial, a modalidade de

educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos

portadores1 de necessidades especiais” (Art. 58º).

1 A expressão “portadores”, bem como “surdo-mudo” entre outras, não são mais aptas a serem utilizadas.

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Este é um dos assuntos mais importantes quando se fala em educação

atualmente, é um marco histórico, onde aquele que era excluído socialmente torna-se

participante e integrado ao meio social.

Figura 1 – Atividade de Arte Educação Inclusiva2

2. Da história à atualidade

Vale observar os fatos históricos conducentes à reflexão da própria concepção de

deficiência. Certa noção permaneceu ligada consistentemente ao misticismo, onde, por

exemplo, os egípcios tinham os anões como deuses, os romanos cultuavam pessoas

“anormais” e as usavam na criação de circos, ou ainda, os gregos que deificavam seres

hermafroditas. Acreditava-se na imagem e semelhança de Deus como seres perfeitos, e

àqueles que eram tidos como imperfeitos eram colocados as margens das condições

humanas ou, eram até mesmo exterminados se fossem considerados como um sinal de

satanás. Eram determinados como imperfeitos os cegos, surdos, “deficientes” físicos ou

mentais e também, os gêmeos. O Renascimento expôs, segundo Wainer (1999, p. 02)

“diferentes anomalias em forma de espetáculos”. Já o Iluminismo introduziu a visão de

normalidade que a ciência pretendia processo este que se estende ao século XX, visando

educação especial com visão clínica.

Marchesis & Martín (1995, p. 14) tinha a visão de que poucas seriam as chances

de intervenção para a maioria dos “distúrbios”. Essa perspectiva teria-se originado na

“concepção determinista do desenvolvimento”. Segundo o autor anteriormente citado,

os anos 40 e 50 trazem diversos questionamentos, tanto sobre a origem do

2 O SESC-MA em articulação com o CAPdv promoveram uma série de atividades de ARTE

EDUCAÇÃO INCLUSIVA fruto da Programação da XIII Edição do Projeto Mãos a Obra SESC-

MA. Aconteceram palestras, oficinas, visitas e exposições em diversos locais na cidade de São

Luis, no Maranhão. A foto é da Oficina de Papel Marche.

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enquadramento de um indivíduo como “deficiente”, como, a possível cura de tal

“distúrbio”. Surge a Narc – National Association for Retarded Children, inspirando no

Brasil a Apae – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, acabando por

estimular novas legislações, permitindo que as crianças deficientes tenham acesso à

escola, onde as mesmas são vistas como “treináveis”.

3. Entendendo o PCN - Adaptações

Em primeiro momento deve-se levar em conta a diversidade dos educandos e a partir

de então, reconhecer que para cada um é necessário que se tomem medidas de

flexibilidade e dinamicidade para que assim possam ter atendidas suas necessidades

educacionais especiais. Todos sabem que todos os cidadãos tem direito reservado no

que se refere à educação sem distinção por etnia, idade ou classe social, direito este

que é resguardado pela política nacional de educação. As adaptações curriculares dos

Parâmetros Curriculares Nacionais focalizam as necessidades educacionais especiais

desses alunos e segundo Brasil (1998, p. 15) “com base no reconhecimento da

diversidade existente na população escolar e na necessidade de respeitar e atender à

essa diversidade, o presente trabalho focaliza o currículo como ferramenta básica de

escolarização”.

Apesar de compreender que o sistema educacional passa por modificações,

muitas entidades de ensino continuam erroneamente executando sistemas educacionais

baseados ainda na concepção médico-psicopedagógica, que entende a deficiência como

condição individual, menosprezando a flexibilidade do currículo e assim acaba por não

contemplar as diferenças.

Esta fase de transição entre a prática de ensino tradicional (passada) e a prática de

ensino segmentada, visa além da transformação do currículo, o aperfeiçoamento de recursos humanos para que essa modificação se dê integralmente, ou seja, se o primeiro

passo já foi dado, sendo este a adaptação do currículo em si, o próximo passo que o

Brasil está lutando para conseguir dar, é a especialização dos professores – Segundo

Brasil (2003, p. 24) “a formação e a capacitação docente impõe-se como meta

principal a ser alcançada na concretização do sistema educacional que inclua a todos,

verdadeiramente”

O sistema educacional deve ser realizado em todos os níveis de ensino, nas

instituições escolares, onde os aspectos como projeto, organização e prática pedagógica

devem ser implementadas visando as diversidades dos alunos. Nenhum tipo de serviço

educacional especial deve ser desenvolvido isoladamente. Todos os alunos têm direito

de acesso à escola, e a escola busca consolidar o respeito fazendo com que a inclusão

destes alunos não seja vista de forma a obstaculizar o processo de educação mas sim de

poder e ser fator de enriquecimento deste processo.

O termo necessidades educacionais especiais é referência a todo tipo de

dificuldade de aprendizagem, não somente às deficiências. Isto faz com que o aluno não

seja mais o foco e, sim, as respostas educacionais de que requerem.

O desempenho do professor é um fator que deve ser considerado. Não se pode transferir/substituir sua competência aos profissionais especializados.

Existe a possibilidade de recorrer à esses “profissionais de apoio”, mas, isso não

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significa incumbi-los da responsabilidade do professor regente.

Segundo Brasil (1998, p. 31) “A aprendizagem escolar está diretamente vinculada

ao currículo, organizado para orientar, dentre outros os diversos níveis de ensino e as

ações docentes” – O currículo então, não é mais um segmento de regras impostas mas

sim, uma ferramenta que pode-se alterar na tentativa de obter um melhor resultado

no desenvolvimento educacional do aluno.

4. Adaptação do Currículo

As adaptações do currículo consistem em modificar o currículo, não excluindo o

modelo já existente, mas, adaptando-o às necessidades de cada aluno. Esta modificação

se dá alterando, reorganizando, introduzindo e até mesmo eliminando alguns

planejamentos e adotando, por vezes, algumas alternativas. A partir daqui, serão

apresentados os níveis de adaptações curriculares para melhor entendimento e

conhecimento do mesmo:

4.1. Níveis de Adaptações Curriculares

As adaptações curriculares se realizam em três níveis: no contexto do projeto

pedagógico ou, currículo escolar, no currículo desenvolvido em sala de aula e, no nível

individual.

4.1.1. Adaptações no nível Projeto Pedagógico ou, currículo escolar

Estas devem ser feitas através da flexibilização do currículo, para que se possa

desenvolvê-lo em sala de aula, atendendo as necessidades especiais de alguns alunos.

Vale observar que esta flexibilidade nem sempre é referida à individualização, e

também, o fato de que se deve reduzir a transferência de responsabilidades

aos profissionais fora do âmbito escolar.

4.1.2. Adaptações no nível do Currículo desenvolvido na sala de aula

Deve-se respeitar o tempo e o ritmo de aprendizagem de cada um, porém, estabelecendo

atividades que promovam integração de todos e também, disponibilizando atendimento

especializado fora do horário normal de aula, caso seja solicitado pelo aluno,

atendimento este, que muitas vezes é indispensável a esse aluno.

4.1.3. Adaptações individualizadas no currículo

É papel do professor, identificar a real necessidade de adaptação para o aluno sendo que

se deve levar em conta, alguns aspectos na identificação da necessidade de se fazerem as

adaptações curriculares. Para Brasil (1998, p. 43) “a avaliação do nível de competência

curricular do aluno, tendo como referência o currículo regular e, o respeito ao seu

caráter processual, de modo que permita alterações constantes e graduais nas tomadas

de decisão”.

Também, distingue-se, além dos níveis, duas categorias: adaptações de acesso ao

currículo e nos elementos curriculares.

Adaptações de acesso ao currículo: Estas podem ser feitas através da modificação

de quaisquer elementos, como por exemplo, alterando recursos espaciais, materiais ou de comunicação. Fazer uso de práticas pedagógicas envolventes que instigam a

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criatividade, a motivação e o interesse do aluno. Por exemplo, desenvolver atividades

em grupo fazendo com que sejam incentivadas as relações interpessoais e assim, a

comunicação, consequentemente. As adaptações podem ser feitas por necessidade

específica, como: proporcionar materiais em Braille, ou adaptados com língua de

sinais, ou até mesmo, fazer uso das adaptações de espaço físico: rampas deslizantes,

elevadores, andadores, remoção de qualquer obstáculo arquitetônico, entre outros.

Todas essas medidas (e muitas outras) promovem a inclusão desse aluno com o meio

escolar.

Adaptações nos elementos curriculares: Tem como foco o ensino, a avaliação e os

conteúdos ministrados. Essas adaptações são feitas tendo como principal objetivo, o

respeito à temporalidade de cada aluno, seja no aprendizado ou, na avaliação.

Respeita-se também o tipo de necessidade do mesmo. Pode-se exemplificar tais

adaptações citando Brasil (1998, p. 49): adoção “de métodos e técnicas de ensino aprendizagem específicas para o aluno” e, introdução de “atividades complementares

específica para o aluno, individualmente ou em grupo” entre outros.

5. Adaptando os parâmetros para a inserção da informática na escolar

Para alunos com deficiência visual, adaptação de materiais de informática de uso

comum: tamanho das letras, relevo, softwares educativos em tipo ampliado, textura

modificada, teclados com letras em braile, computador com sintetizador de voz e

periféricos adaptados. Para alunos com deficiência auditiva, softwares educativos

específicos, podendo ser explicado em forma de linguagem gestual ou língua de sinais.

Para alunos com deficiência mental não há nada das adaptações relacionada à área da

informática, mas, pode se tentar trazer para o aluno softwares com brincadeiras

educativas. Para alunos com deficiência física, computadores que funcionam por

contato, por pressão ou outros tipos de adaptações. Para alunos com superdotação,

softwares adaptados para uso de gráficos, figuras e imagens. Para alunos com

deficiências múltiplas, mostrar o computador, brincar com ele, estimulando o aluno a

utilizá-lo. Para alunos com condutas típicas síndrome e quadros clínicos, não há

nada relacionado à informática que seja indicado para esse tipo de deficiência, mas,

podem-se aplicar softwares que estimulem o desenvolvimento de suas competências.

6. Conclusão

Através dos assuntos discutidos pode-se concluir diferentes formas de adaptações do

currículo para alunos com necessidades especiais que necessitam de apoio educacional

para aprender de forma diferenciada o mesmo que os alunos ditos “normais” aprendem.

Essas adaptações foram feitas em diversas áreas como no projeto pedagógico da escola,

da sala de aula, das atividades e quando necessário aplicam-se individualmente. Essas medidas visam atender as dificuldades de aprendizagem do aluno, buscando

aumentar suas potencialidades, sem ignorar seus limites e suas necessidades. Essas

adaptações focalizam a diversidade da população escolar e faz com que o tratamento

diferenciado possa significar, para os alunos que o necessitam, igualdade de

oportunidades educacionais. A escola busca incessantemente incluir/integrar alunos

com deficiência na sociedade fazendo com que se sintam uteis para exercer qualquer

atividade. A atual situação em que se encontram os sistemas educacionais revela

dificuldades para atender às necessidades especiais dos alunos na escola regular,

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principalmente dos que apresentam superdotação, deficiências ou condutas típicas de

síndromes, que podem vir a necessitar de apoio para a sua educação.

Referências

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. (1998) Parâmetros curriculares nacionais:

Adaptações Curriculares / Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação

Especial. – Brasília: MEC/SEF/SEESP, 62 p.

Brasil, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. (2003) Estratégias

para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais/ coordenação geral:

SEESP/MEC ; organização: Maria Salete Fábio Aranha.

Brito, Mota. (1999) Integração é a palavra de ordem. Jornal do MEC, Brasília, pp. 8-9.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases na Educação Nacional (1996) (Documento publicado

no Site do MEC), <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>

Marchesi, A.; martín, E. (1995) Da terminologia do distúrbio às necessidades

educativas especiais. In: COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. (Orgs.).

Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e

aprendizagem escolar. Tradução de M.A.G. Domingues. Porto Alegre: Artes Médicas,

v. 3, p. 7-23.

Wainer, Iafa Sarah. (1999) Anormalidade, debilidade, deficiência: uma triologia para a

normatização das diferenças. Disponível em: http://www.lelusc.br/hecom/textos/nec08

.html.