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o ATLAS LINGÜÍSTICO DO MARANHÃO: um projeto em desenvolvimento Antônio Cordeiro Feitosa' Conceição de Maria de Araújo Ramos" Jeanine Silva Mendes'" José de Ribamar Mendes Bezerra···· Márcia Manir Miguel Feitosa"?" Teresinha de Jesus Baldez e Silva?"?" RESUMO Apresenta-se um panorama do projeto Atlas Lingüístico do Maranhão (ALiMA), em sua fase inicial, com ênfase nos subsídios geográficos do Atlas. Foram abordadas doze unidades amostrais dentre os municípios maranhenses, sendo oito selecionadas de acordo com a metodologia adotada para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil e quatro com base nos critérios definidos pela equipe estadual. Relativamente a estas unidades amostrais, são apresentados os aspectos geográficos básicos para subsidiar o projeto do ALiMA. Palavras-chave: Dialetologia; Geolingüística; Variação; Atlas Lingüístico do Maranhão. SUMMARY An overview is being presented for the Linguistic Atlas Project of Maranhão (ALiMA), in its initial phase, emphasizing the geographic subsidies oftheAtlas. Twelve sampling units were approached eight of them, according to the adopted methodology to the ellaboration of the Linguistic Atlas of Brazil and four of them based on the criteria defined by the State team. Relatively to these sampling units, the basic geographics aspects are presented to subsidiate ALiMA project. Key-words: Dialectology; Geolinguistics; Variation; LinguisticAtlas of Maranhão . . Prof. Dr. do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão .. Prof'. Ora. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão •.. Aluna do Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão ••.. Prof. Ms. da Faculdade Atenas Maranhense ..... Prof' Ora. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão ...... Prof' Ms. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão Cad. Pesq., São Luís, v. 11, Il. 2, p. 9-20, jul.Zdez. 2000. 9

RESUMO - Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e ... 1(15).pdf · Prof. Dr. do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão.. Prof'. ... Nesse sentido,

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o ATLAS LINGÜÍSTICO DO MARANHÃO:um projeto em desenvolvimento

Antônio Cordeiro Feitosa'Conceição de Maria de Araújo Ramos"

Jeanine Silva Mendes'"José de Ribamar Mendes Bezerra····

Márcia Manir Miguel Feitosa"?"Teresinha de Jesus Baldez e Silva?"?"

RESUMO

Apresenta-se um panorama do projeto Atlas Lingüístico do Maranhão(ALiMA), em sua fase inicial, com ênfase nos subsídios geográficosdo Atlas. Foram abordadas doze unidades amostrais dentre osmunicípios maranhenses, sendo oito selecionadas de acordo com ametodologia adotada para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasile quatro com base nos critérios definidos pela equipe estadual.Relativamente a estas unidades amostrais, são apresentados osaspectos geográficos básicos para subsidiar o projeto do ALiMA.

Palavras-chave: Dialetologia; Geolingüística; Variação; AtlasLingüístico do Maranhão.

SUMMARY

An overview is being presented for the Linguistic Atlas Project ofMaranhão (ALiMA), in its initial phase, emphasizing the geographicsubsidies oftheAtlas. Twelve sampling units were approached eightof them, according to the adopted methodology to the ellaboration ofthe Linguistic Atlas of Brazil and four of them based on the criteriadefined by the State team. Relatively to these sampling units, thebasic geographics aspects are presented to subsidiate ALiMA project.

Key-words: Dialectology; Geolinguistics; Variation; LinguisticAtlasof Maranhão .

. Prof. Dr. do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão

.. Prof'. Ora. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão•.. Aluna do Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão••.. Prof. Ms. da Faculdade Atenas Maranhense..... Prof' Ora. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão...... Prof' Ms. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão

Cad. Pesq., São Luís, v. 11, Il. 2, p. 9-20, jul.Zdez. 2000. 9

1 INTRODUÇÃOOs estudos sistemáticos de cará-

ter dialetal em nosso país remontam a1952, momento em que foi proposta aelaboração de um atlas lingüístico doBrasil. Entretanto, as primeiras pesqui-sas no âmbito geolingüístico voltaram-se mais para a elaboração de atlaslingüísticos regionais, dada à grandeextensão do país, ao difícil acesso àsdiferentes localidades selecionadas e aoutras dificuldades que inevitavelmen-te surgiriam numa investida de cunhonacional.

Passado quase meio século e apósa publicação do primeiro atlas lingüísticono Brasil, o Atlas Prévio dos FalaresBaianos - APFB (1963), ao qual seseguiram o Esboço de um AtlasLingüística de Minas Gerais -EALMG (1977), o Atlas Lingüísticada Paraíba - ALPb (1984), o AtlasLingüística de Sergipe - ALS (1987)e o Atlas Lingüística do Paraná -ALPr (1994), é chegado o momento dese aceitar esse desafio e concretizar odesejo de elaborar uma descriçãoacurada da realidade lingüística brasi-leira, dando-se prioridade para a identi-ficação das diferenças diatópicas(fonético- fonológicas, morfossintáticas,léxico-semânticas e prosódicas), numaperspectiva da geografia lingüística,sem, contudo, deixar de considerar asimplicações sócio-históricas delas de-correntes.

Com esse objetivo, pesquisadoresbrasileiros da área de Dialetologia reu-niram-se em Salvador, Bahia, em no-vembro de 1996 e, a partir da criaçãode um Comitê Nacional, implernen-

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taram o projeto nacional para a execu-ção do Atlas Lingüística do Brasil(ALiB), objetivando um conhecimentomais aprofundado do português brasi-leiro em sua unidade e diversidade deuso.

Vale ressaltar que os atlas regio-nais até então publicados não interfe-rem na proposta de elaboração de umatlas geral do Brasil: muito ao contrá-rio, servem de apoio e contribuem paraum conhecimento mais efetivo das par-ticularidades geolingüísticas de cadaregião e dos segmentos sociais que aconstituem e que nela atuam direta ouindiretamente.

O projeto de elaboração do AtlasLingüística do Maranhão (ALiMA)se insere nesse contexto, objetivandooferecer subsídios não só ao ALiB,como também aos interessados nosestudos lingüísticos (lingüistas,lexicólogos, etimólogos, filólogos,pedagogos, geógrafos e profissionais deáreas afins), o que possibilitará o co-nhecimento da realidade sócio-lingüís-tica e cultural do Maranhão econtribuirá para o entendimento da lín-gua portuguesa como instrumento so-cial de comunicação diversificado epluricultural.

No que concerne à pesquisadialetológica no Maranhão, convémdestacar a importante contribuição deDomingos Vieira Filho que, em 1958,publica a segunda edição de seu glos-sário, intitulada A linguagem populardo Maranhão. Um trabalho que é, se-gundo o próprio autor, "uma modestacontribuição ao estudo das variaçõesregionais da linguagem popular do Bra-sil." (VIEIRA FILHO, 1979, p.9).

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Soma-se a esse documentário so-bre a linguagem coloquial do Maranhãoo desejo, igualmente importante, dospesquisadores Ramiro Corrêa Azeve-do, Maria do Socorro Monteiro Vieirae Elenice Bezerra Melo de "colaborarcientificamente na revelação do ricoacervo cultural que os falares brasilei-ros possuem." (AZEVEDO et al., 1980,p.l l ), realizando, portanto, no final dadécada de 70 do século XX, uma in-vestigação antropolingüística na Rapo-sa, uma comunidade situada,aproximadamente, a 32 km do centrode São Luís, um verdadeiro espaço dediversidades tanto lingüísticas comoculturais, uma vez que a comunidadeabrigava/abriga uma população bastan-te heterogênea, composta, naquela épo-ca, segundo os pesquisadores, demigrantes cearenses, piauienses emaranhenses, principalmente de Tutóiae Barreirinhas.

Uma outra contribuição dessesestudiosos refere-se à pesquisa O fa-lar da Zona dos Cocais, que revelaum falar "caracteristicamente nordes-tino sob influência de grupos humanosprovindos do Piauí e Ceará, principal-mente". (MELO et aL,1986, p. 53).

Esses estudos pioneiros, mas ain-da em número reduzido, oferecem, defato, uma importante contribuição parao conhecimento da diversidade lingüís-tica no Estado. Entretanto, ainda hámuito por escavar para que se possadelinear a conformação dialetológica doMaranhão.

Nesse sentido, um grupo de pro-fessores pesquisadores da Universida-de Federal do Maranhão (UFMA) e daFaculdade Atenas Maranhense

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(FAMA) vem buscando uma participa-ção efetiva nas atividades do ComitêNacional, instância que gerencia umapolítica de integração e coordenaçãodos trabalhos que se vêm desenvolven-do com a execução dos atlas regionais,visando à elaboração do AtlasLingüística do Brasil.

Com o ingresso do Maranhão noProjeto Atlas Lingüístico do Brasil, du-rante a reunião do Comitê Nacional emLondrina, em julho de 2000, dá-se iní-cio às atividades do atlas maranhenseque, buscando realizar um trabalho con-junto de levantamento das realidadeslingüísticas regionais de maneira siste-mática, lança mão da metodologia pro-posta pelo Comitê Nacional e redefineos pontos selecionados por esse Comi-tê para a coleta de dados iniciais.

2 SUBSÍDIOSGEOGRÁFICOS PARA OALIMA

o panorama geográfico mara-nhense compreende significativa diver-sidade de ambientes diferenciados tantopor seus aspectos naturais, como pelasatividades humanas.

O quadro natural espelha a transi-ção entre as paisagens das regiõesNordeste, Centro-Oeste e Norte comsignificativas variações de clima, vege-tação, hidrografia e solos, o que inter-fere nas atividades humanas,propiciando ou dificultando a produtivi-dade no meio rural, condicionada aosrecursos naturais.

A ocupação dos espaços naturaispelo homem ocorreu lenta econtinuadamente, marcada pelos mé-

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todos primitivos de cultivo e explora-ção da natureza. Dos aborígines, pri-meiros habitantes da terra maranhense,restam poucos grupos ainda autênticosem suas tradições, mas ocupando áre-as significativas do Estado.

A chegada dos colonizadores sig-nificou mudanças drásticas nas rela-ções do homem com o meio físico eentre si. Inicialmente vieram franceses,portugueses, holandeses, africanos devárias nações e, posteriormente, che-garam os sírios, libaneses e japoneses.

Reduzida drasticamente a imigra-ção estrangeira, continuaram as levasde brasileiros oriundos inicialmente daszonas mais suscetíveis à seca, particu-larmente dos estados do Piauí, Ceará,Pernambuco, Paraíba e Rio Grande doNorte. Nas duas últimas décadas, sali-enta-se o grande contingente de imi-grantes das regiões Sudeste, Sul eNorte.

O processo de colonização respon-de a injunções geográficas representa-das pelas dificuldades características domeio físico, em duas frentes pioneiras:a primeira, representada pelos imigran-tes estrangeiros, iniciou ocupação doterritório a partir de São Luís, povoan-do a planície, o litoral e os vales dosrios Itapecuru e Mearim onde desen-volveram cultivos de cana-de-açúcar,arroz e algodão, destinados principal-mente a atender as necessidades daCoroa Portuguesa. A segunda, oriundados estados nordestinos, alcançou asterras maranhenses pelo nordeste, les-te e sudeste através do Estado do Piauí,fixando-se nos altos vales e chapadasdo sul do Estado, onde desenvolveu apecuária e a agricultura de subsistência.

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Mesmo após consolidada a ocupa-ção do território, o rigor das condiçõesgeográficas impunha grande isolamen-to entre os habitantes do norte e do sulmaranhense. Os primeiros continuaram,como era natural, fortemente vincula-dos à cidade de São Luís tanto pelasfacilidades de acesso, como pelas rela-ções comerciais e de parentesco. Osúltimos, não dispondo de facilidades deacesso à capital, vincularam as basesde apoio nos estados vizinhos, comoocorreu com a população de Brejo eregião, abastecida por Parnaíba-Pi,Pastos Bons e região abastecida porFloriano-Pi, Carolina, abastecida emAraguaína- To e Anápolis-Go eCarutapera, abastecida por Bragançae Belém-Pa. As bases de apoio para oabastecimento significaram forte inter-câmbio cultural com relações de influ-ência e dependência que modelaram osparâmetros lingüísticos.

Os imigrantes do sudeste e do suldo Brasil diferenciam-se dos nordesti-nos pelo volume de capital e pelo altonível tecnológico empregado no tratocom a terra, para a produção de soja ede outros produtos em larga escala, ounas atividades industriais e de serviços.

Para abranger toda esta diversida-de de padrões lingüísticos, o ComitêNacional do ALiE selecionou 08 muni-cípios para a pesquisa que subsidiará oAtlas Lingüístico do Brasil: AltoParnaíba, Bacabal, Balsas, Barra doCorda, Brejo, Imperatriz, São João dosPatos e São Luís. Com o propósito deelaborar o ALiMA, a equipe conside-rou, numa etapa inicial, a inclusão demais 04: Carolina, Carutapera, Pinhei-ro e Raposa, dada a extensão territorial

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do estado e sua diversidade regional(Figura 1).

Sobre esses municípios foram con-siderados os seguintes parâmetros ge-ográficos: localização, limites, dadoshistóricos, população e principais ativi-dades econômicas.

2.1 Alto Parnaíba

Localizado no extremo sul do Es-tado do Maranhão, limita-se com osmunicípios de Tasso Fragoso e Balsas(MA), ao norte e a noroeste; com oEstado do Piauí, ao sul e a leste e como Tocantins, ao sul e a oeste.

Situada à margem esquerda do rioPamaíba, a área era habitada primiti-vamente pelos aborígines do grupoTapuia. O primeiro povoador de suasterras foi o senhor Francisco Freitasque, em busca de uma área adequadaao cultivo agrícola, ali se instalou, fun-dando uma fazenda a qual denominouBarcelona. Posteriormente, CândidoLustosa, imigrante do Piauí, fixou-se nasproximidades daquela fazenda, vindo aser também pioneiro no desbravamentoda área. Em 1886, Francisco Freitasdoou parte das terras de sua fazendaBarcelona à igreja local.

Segundo pesquisa realizada peloIBGE (l9~7, p.129), a população domunicípio, em 1996, era de 10.553 ha-bitantes, sendo 5.470 residentes na sedee 5.065 na zona rural.

Originalmente a economia do mu-nicípio baseava-se na agricultura desubsistência com o cultivo de arroz, fei-jão, milho e mandioca e na pecuáriaextensiva, ambas praticadas com usode técnicas primitivas. Somente a par-tir do final da década de oitenta, essas

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técnicas vêm sendo modernizadas, coma introdução do cultivo de soja, pratica-da de forma intensiva.

2.2 Bacabal

Localiza-se na região Centro-Nor-te do Estado do Maranhão. Limita-seao norte com os municípios de LagoVerde e São Mateus do Maranbão; aosul com Lago de Junco e São LuísGonzaga; a leste com Alto Alegre doMaranhão e São Mateus do Maranhãoe a oeste com os municípios de Olhod' Água das Cunhãs e Bom Lugar.

Em 1876, o Coronel Lourenço daSilva ocupou a área da sede do municí-pio onde fundou uma fazenda para ocultivo agrícola, valendo-se da mão-de-obra escrava. Com a Abolição da Es-cravatura, o Coronel Raimundo Alvescomprou a fazenda de seu antigo dono,passando a comercializar tanto com ín-dios, quanto com trabalhadores livres.Devido à fertilidade do terreno, aosgrandes recursos e à privilegiada topo-grafia, a fazenda prosperou, crescendoo povoado e aumentando as culturas.A migração de vários grupos nordesti-nos contribuiu para o gradativo aumen-to populacional do povoado, graças aodesenvolvimento do comércio local, pro-movendo a tão sonhada interligaçãocom a capital do Estado, feita inicial-mente com a instalação do TelégrafoNacional em 1883.

De acordo com o IBGE (2001), apopulação do município, em 2000, erade 91.737 habitantes, sendo 71.357 re-sidentes na sede e 20.380 na zona ru-ral.

Originalmente a economia do mu-nicípio baseava-se na agricultura de

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subsistência com o cultivo de arroz, fei-jão, milho e mandioca e na pecuáriaextensiva, ambas praticadas com usode técnicas primitivas e mão-de-obraescrava. A partir do final da década de

setenta do século XX, a pecuária mo-dernizou-se, especialmente com rela-ção à criação de gado para abate,tomando-se uma das principais ativida-des econômicas do município.

Fig. 1 - Unidades amostrais para o atlas lingüístico do Maranhão.

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2.3 Balsas

Localizado no sul do Estado doMaranhão, limita-se ao norte com osmunicípios de Fortaleza dos Nogueiras,Nova Colinas e São Raimundo dasMangabeiras; ao sul com Alto Parnaíbae o Estado do Tocantins; a leste comos municípios de Sambaíba e TassoFragoso; a oeste, com Riachão e Esta-do do Tocantins.

Ponto de melhor acesso às fazen-das do município de Riachão, o portodas Caraíbas, no rio Balsas, em funçãodo contínuo movimento de viajantes,logo despertou o interesse de peque-nos comerciantes que lá se fixaram compequenas casas de comércio. Para látambém se deslocou o baiano AntonioFerreira Jacobina, mercador de fumonos sertões, assim que soube da exis-tência do novo núcleo de população.Tornou-se líder do povoado a que de-nominou Vila Nova, onde foi edificada,em 1879, uma pequena igreja em ho-menagem a Santo Antonio. Em 1882, onome da povoação passou a ser SantoAntonio de Balsas e, em 1943, recebeuo nome definitivo: Balsas.

A população do município, em2000, era de 60.155 habitantes, sendo50.132 residentes na sede e 10.023 nazona rural. (IBGE, 2001).

A princípio, a economia do muni-cípio baseava-se na agricultura de sub-sistência com o cultivo de arroz, feijão,milho e mandioca e na pecuária exten-siva, ambas praticadas com uso de téc-nicas primitivas. A partir do final dadécada de setenta do século XX, a agri-cultura modernizou-se com a imigraçãode agricultores provenientes do Rio

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Grande do Sul, que introduziram técni-cas intensivas no cultivo de arroz e dasoja, que se tornou o principal produtoeconômico do município.

2.4 Barra do Corda

Localiza-se na região central doMaranhão. Limita-se ao norte com osmunicípios de Itaipava do Grajaú, SãoRaimundo do Doca Bezerra, SãoRoberto e Joselândia; ao sul comFernando Falcão; a leste com Tuntume a oeste com Jenipapo dos Vieiras eGrajaú.

Primitivamente ocupado pelas tri-bos Canelas, do Tronco Jês e Guajajarasda linha Tupi, pouco se sabe com abso-luta certeza a respeito do povoamentodo território do atual município de Bar-ra do Corda. De acordo com registrosmais antigos, o fundador deste municí-pio foi o cearense Manoel Rodriguesde Meio Uchoa que, por volta de 1835,chegou ao local escolhido para fundara povoação da área da sede de Barrado Corda, margeando o rio Corda ou"das Cordas" (origem do nome). O lo-cal foi escolhido por suas condiçõestopográficas, o suprimento de água po-tável e ainda a possibilidade de nave-gação fluvial até São Luís.

De acordo com o IBGE (2001), apopulação do município, em 2000, erade 77.750 habitantes, sendo 43.231 re-sidentes na sede e 34.519 na zona ru-ral.

Originalmente a economia do mu-nicípio apoiava-se na agricultura de sub-sistência baseada no cultivo de arroz,feijão, milho e mandioca e na pecuáriaextensiva, ambas praticadas com uso

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de técnicas primitivas. Atualmente es-sas atividades encontram-se mais mo-dernizadas com a melhoria do rebanhoe com a introdução de técnicas intensi-vas no cultivo do arroz.

2.5 Brejo

A área ocupada pelo município deBrejo está localizada na região nor-deste do Estado do Maranhão, nafronteira com o Estado do Piauí. Limita-se ao norte com o município deMilagres do Maranhão; ao sul com omunicípio de Buriti; a leste com oEstado do Piauí e a oeste com omunicípio de Anapurus.

Seu primeiro povoador foi Francis-co Vasconcelos que recebeu as terraspor doação, no ano de 1729. No entan-to, a ocupação definitiva coube a umasenhora de nome D. Euzébia Maria daConceição, de origem portuguesa, pos-suidora de grande fortuna e dona demuitos escravos que, acompanhada deseus colonos, chegou à povoação emdata desconhecida, tendo sido assassi-nada em Gameleiras-Pi, quando daGuerra da Balaiada, último reduto dosBalaios, em 1840.

Conforme pesquisa realizada peloIBGE (2001), a população do municí-pio, em 2000, era de 27.510 habitantes,sendo 10.652 residentes na sede e16.858 na zona rural.

A princípio, a economia do muni-cípio apoiava-se na agricultura de sub-sistência, baseada no cultivo de arroz,feijão, milho e mandioca-e na pecuáriaextensiva, ambas praticadas com usode técnicas primitivas. Atualmente es-sas atividades são praticadas com pe-quenas inovações, merecendo destaque

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a introdução da silvicultura com a plan-tação de eucalipto e do cultivo de caju.

2.6 Carolina

o município de Carolina está lo-calizado a sudoeste do Estado do Ma-ranhão e limita-se ao norte com osmunicípios de Estreito, Feira Nova doMaranhão e São Pedro dos Crentes; aleste com Feira Nova do Maranhão eRiachão e ao sul e a oeste com o Esta-do do Tocantins.

No ano de 1798, o governo portu-guês, por meio de Carta Régia, orde-nou ao Capitão do Maranhão quepromovesse o reconhecimento do rioTocantins pelo lado de sua capitania,até então ignorado no Estado. Váriasexpedições foram organizadas e, em1806, os bandeirantes conseguiram atin-gi-lo. Morava, nessa época, em umafazenda no sertão de Pastos Bons, opioneiro Elias Ferreira de Barros que,à procura de outros pastos, adentrou-se no sertão, formando a fazenda doMirador. Por volta de 1810, o goianoFrancisco José Pinto de Magalhães,juntamente com pessoas que o acom-panhavam, estabeleceram-se à margemdireita do rio Manuel Alves Grande,dando ao nascente povoado a denomi-nação de São Pedro de A1cântara. Em1816, foi abandonado por Magalhãese, em 1825, o deputado do governo pro-visório, Padre Luís Gonzaga Fleury, aodescer o rio, deu ao povoado o nomede Carolina, em homenagem à memó-ria de nossa primeira Imperatriz.

De acordo com o IBGE (2001), apopulação do município, em 2000, erade 23.937 habitantes, sendo 14.349 re-sidentes na sede e 9.581 na zona

Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 9-20, jul./dez. 2000.

rural. Originalmente a economia do mu-nicípio apoiava-se na agricultura de sub-sistência, baseada no cultivo de arroz,feijão, milho e mandioca e na pecuáriaextensiva, ambas praticadas com usode técnicas primitivas. Atualmente es-tas atividades encontram-se mais mo-dernizadas com a melhoria do rebanhoe com a introdução de técnicas intensi-vas no cultivo de arroz.

2.7 Carutapera

Localizado no extremo oeste doEstado do Maranhão, limita-se ao nor-te com o Oceano Atlântico; ao sul como município de Amapá do Maranhão; aleste com o de Luís Domingues e aoeste com o Pará.

Topônimo de origem tupi, que sig-nifica "povoação abandonada", a fun-dação do município de Carutaperaremonta à compra de 600 braças deterra pelo casal Pantoja, em 1861; ter-ras essas localizadas à margem direitado rio Arapiranga. Da ocupação des-sas terras nasceu Carutapera, inicial-mente habitada por um número reduzidode pessoas.

Em pesquisa realizada pelo IBGE(2001), a população do município, em2000, era de 18.594 habitantes, sendo13.090 residentes na sede e 5.504 nazona rural.

A principio a economia do municí-pio apoiava-se na pesca, no extra-tivismo e na agricultura de subsistência,baseada no cultivo de arroz, feijão, mi-lho e mandioca e na pecuária extensi-va. Tanta a agricultura, quanto apecuária empregavam técnicas primi-tivas. Atualmente essas atividades sãopraticadas com pequenas inovações.

Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 9-20, jul.rdez, 2000.

2.8 Imperatriz

Localizado no oeste maranhense,na fronteira com o Estado do Tocantins,o município de Imperatriz limita-se aonorte com os municípios de Cidelândiae São Francisco do Brejão; ao sul comGovernador Edson Lobão, Davinópolise Estado do Tocantins; a leste com osde João Lisboa e Senador La Rocquee a oeste com o Estado do Tocantins.

Não estando ainda estabelecidosos limites entre as então províncias doPará e Maranhão, o presidente da pro-víncia paraense, Francisco Coelho, em1851, incumbiu o Frei Manuel Procópiodo Coração de Maria de edificar umavila em território do Pará, no limite como Maranhão. Em 1852, este último fun-dou o povoado de Santa Tereza de Im-peratriz, em homenagem à D. TerezaCristina, Imperatriz do Brasil, na épo-ca. Frei Manuel se empenhou por tor-

o nar sua província uma vila de fronteiramaranhense. Em 1896 consezuiu, b'

astuciosamente, elevar o povoado àcondição de vila.

A população do município, em2000, era de 230.450 habitantes, sendo218.555 residentes na sede e 11.895 nazona rural. (IBGE, 2001).

Inicialmente, a economia do muni-cípio apoiava-se no extrativismo e naagricultura de subsistência, baseada nocultivo de arroz, feijão, milho e mandio-ca e na pecuária extensiva, todas prati-cadas com uso de técnicas primitivas.Atualmente essas atividades são prati-cadas com alto nível de modernização.Dispõe ainda Imperatriz do parque in-dustrial do estado e da oferta de servi-ços especializados, ocupando o segundo

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lugar em importância na economia es-tadual.

2.9 Pinheiro

o município de Pinheiro está loca-lizado na região norte do Estado doMaranhão, na área tradicionalmenteconhecida como Baixada Maranhense.Limita-se ao norte com Santa Helena;ao sul com Pedro do Rosário, São Bentoe Palmeirândia; a leste com os municí-pios de Bequimão, Peri-Mirim,Palmerândia, Central do Maranhão eMirinzal e a oeste com PresidenteSamey e Santa Helena.

Sua origem remonta à fundação deuma fazenda pelo Capitão-Mor lnácioJosé Pinheiro que, pela ausência depastagens em Alcântara, buscou umlugar que melhor atendesse às neces-sidades do rebanho. O Capitão-Mor,fixando-se em um lugar propício aogado, motivou outros fazendeiros a fa-zerem o mesmo, dando início, assim, aopovoamento.

Segundo o IBGE (2001), a popu-lação do município, em 2000, era de67.888 habitantes, sendo 38.157 resi-dentes na sede e 29.731 na zona rural.

As atividades econômicas desen-volvidas pelos primeiros habitantes erama pecuária e a agricultura de subsistên-cia praticada pelos vaqueiros. Atual-mente a economia do municípioapóia-se na pecuária, pesca, agricultu-ra e comércio.

2.10 Raposa

Está localizado no nordeste da ilhado Maranhão. Limita-se ao norte e aleste com o Oceano Atlântico; ao sul e

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a oeste com Paço do Lumiar. Situa-sea 32 Km da cidade de São Luís, capitaldo Estado do Maranhão.

O povoado foi fundado no final dosanos quarenta, a partir do aparecimen-to de dois cearenses em São José deRibamar, Antonio do Pocal e JoséBaiaco, que vieram de uma praia donorte do Estado do Ceará (AZEVE-DO, 1998). Estes pescadores manda-ram buscar seus familiares e outrospescadores também cearenses foramatraídos para o local. Entre estes vie-ram José Maria Castelo e Chico Noca,ainda vivos. A povoação foi emancipa-da apenas em 1994 e o primeiro prefei-to foi empossado em 1998.

Segundo REIS (1998, p.36), cercade 65% a 70% da população da Rapo-sa, migrantes da seca, é formada decearenses, oriundos, em sua maioria, domunicípio de Acaraú.

Embora situada muito próximo dacidade de São Luís, a comunidade daRaposa manteve-se isolada por cercade 40 anos, pela falta de acesso rodo-viário.

De acordo com o IBGE (2001), apopulação do município de Raposa, em2000, era de 16.790 habitantes, sendo11.109 residentes na sede e 5.681 nazona rural.

A principal fonte de renda do mu-nicípio da Raposa é obtida com a pes-ca e do artesanato. Com aemancipação do povoado, muitos mo-radores de outras áreas da ilha e dointerior do Estado foram atraídos parao local, acelerando seu crescimento.Convém salientar que grande parcelade seus moradores trabalha em SãoLuís, transformando o município ape-nas em dormitório.

Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 9-20, jul./dez. 2000.

2.11 São João dos Patos

Localizado na região leste do Es-tado do Maranhão, limita-se ao nortecom os municípios de Passagem Fran-ca; ao sul com o Estado do Piauí; a les-te com Barão do Grajaú e Sucupira doRiachão e a oeste com Paraibano, Pas-tos Bons e Nova Iorque.

Inicialmente, denominado Lago dosPatos, pertencia ao município de Pas-tos Bons. Em 1838, passou a integrar omunicípio de Passagem Franca, já como nome de São João dos Patos, conse-guindo sua independência em abril domesmo ano. Seu nome origina-se daexistência, no município, de duas lago-as: a de São João e a dos Patos.

De acordo com o IBGE (2001), apopulação do município, em 2000, erade 23.131 habitantes, sendo 18.765 re-sidentes na sede e 4.366 na zona rural.

Seus primeiros habitantes desen-volviam agricultura de subsistência,baseada no cultivo de arroz, feijão,mandioca e milho e pecuária extensi-va. Atualmente essas atividades conti-nuam dando suporte econômico aomunicípio e são desenvolvidas com téc-nicas mais modernas.

2.12 São Luís

É a capital do Estado. Localizadana região norte do Maranhão, está de-limitada ao norte com o Oceano Atlân-tico· ao sul com Rosário e Bacabeira;a leste com São José de Ribamar e Paçodo Lumiar e a oeste com Alcântara,Bacurituba e Cajapió.

Foi fundada em 1612 pelo francêsDaniel de La Touche, Senhor de LaRavardiere, a partir do Forte que atu-

Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 9-20, jul.ldez. 2000.

almente abriga o Palácio dos Leões.São Luís foi, desde 1615, colonizadapelos portugueses. Após o término dasobras de edificação e estabelecidos osprimeiros contatos com os aborígines,foi dado o nome de São Luís à fortifi-cação recém-construída, em homena-gem a Luís XIII, então Rei da França.Após a consolidação do domínio portu-guês, a cidade experimentou significa-tivo crescimento demográfico eeconômico, tornando-se centro indus-trial de relevância nacional no início doséculo XIX, conforme atestam SPIX eMARTIUS (1981, p.247). Com osucateamento do seu parque fabril noinício do século XX, a cidade sofreucerto isolamento e forte estagnação,retomando o ritmo de crescimento coma implantação do Projeto Carajás.

A população do município, em2000, era de 867.690 habitantes, sendo834.968 residentes na sede e 32.722 nazona rural. IBGE (2001).

As atividades econômicas desen-volvidas pelos primeiros habitantes erama pecuária, a agricultura de subsistên-cia e a pesca. Nas últimas décadas, aeconomia do município vem tendo, naindústria e no comércio, que foramincrementados com o advento do Pro-jeto Carajás, seu suporte principal. Nosúltimos cinco anos, constata-se o des-pertar das autoridades para o fomentoao turismo que já é uma das perspecti-vas econômicas mais promissoras.

3 CONCLUSÃO

O projeto de elaboração do AtlasLingüístico do Maranhão virá, pois, aomesmo tempo, complementar, ampliar

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e atualizar os trabalhos pioneiros deVIEIRA FILHO (1979), AZEVEDOet al. (1980) e MELO et al. (1986), aodelinear a conformação dialetológica doMaranhão, por meio do mapeamentodos caracteres fonéticos, fonológicos,morfossintáticos e semânticos.

Além disso, o ALiMA se propõe aoferecer subsídios a lingüistas,lexicólogos, etimólogos, filólogos,

pedagogos, geógrafos e profissionais deáreas afins, notadamente àqueles queatuam no processo ensino / aprendiza-gem, possibilitando aprofundar o conhe-cimento da realidade lingüística ecultural do Estado do Maranhão, umavez que promoverá uma maior refle-xão sobre as variantes que integram na-turalmente a língua portuguesa faladano Brasil.

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