RESUMO - Teoria Geral do Direito Civil

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

Introduo 1.mbito da teoria geral do direito civilNo se vai falar curar problemas especficos de direitos das coisa, de famlia, sucesses ou de crdito. Caracterizar figuras, equacionar problemas, formular solues respeitantes a todo o domnio do direito civil ou, pelo menos, comum a normas e relaes pertencentes a mais do que uma das referidas quatro partes especiais do direito civil. Teoria que visa reduzir algo amplo; tenta sintetizar. Apresenta um sistema de noes relacionadas entre si. Teoria da parte geral do direito civil; parte geral pandectstica.

2.Contedo da teoria geral do direito civil. Plano do cursoImpe-se o conhecimento das fontes actuais do direito civil portugus. Fontes de direito civil: no tanto os modos de surgimento da regra, mas as prprias sedes onde se localiza o direito civil j nascido. Considera-se, ento, os diplomas fundamentais do sistema de direito civl portugus. tambm essencial o conhecimento dos princpios bsicos que formam a arquitectura do nosso sistema de direito civl.

3.Diviso da teoria geral do direito civil: teoria geral do ordenamento jurdico civil e teoria geral da relao jurdica civilDireito, em sentido objectivo: conjunto de princpios regulamentadores, de regras de conduta, de normas de disciplina social. Direito, em sentido subjectivo: sinnimo de poder ou faculdade. Teoria geral da norma jurdica: a teoria geral do direito objectivo. Teoria geral da relao jurdica: a teoria geral do direito subjectivo. A diviso da TGDC nestas duas partes legtima porque utiliza como critrios de arrumao e referncia dos problemas e solues, duas categorias fundamentais do conhecimento do direito: - norma jurdica - relao jurdica A norma ou regra jurdica uma dimenso fundamental do direito um veculo imprescindvel da realizao dos valores jurdicos. O direito visa realizar determinados valores, fundamentalmente a certeza desse disciplina e a segurana da vida dos homens, por um lado, e a rectido ou razoabilidade das solues, por outro. A realizao da igualdade exige uma considerao normativa geral da realidade social a que o direito se aplica. A estatuio prescrita pelo direito para um situao deve ser aplicvel s situaes do mesmo tipo ou gnero. A existncia de um direito recto e certo implica, pois, a sua formalizao normativa, a formulao de prescries gerais. O conceito de relao jurdica est na base da sistematizao do nosso cdigo civil. Estabelece-se uma parte geral que engloba as temas relevantes aos elementos comuns s outras quatro partes e estas, por sua vez, correspondem ao direito aplicvel a quatro espcies ou modalidades diversas de relaes jurdicas. Esta sistematizao conhecida por: sistematizao germnica. Diverso era o plano francs. O direito no regula o homem isolado ou considerado em funo das suas finalidades individuais, mas o homem no seu comportamento convivente. O direito pressupe a vida dos homens uns com os outros e visa disciplinar os interesses contra postos nesse entrecruzar de actividades e interesses. Relao jurdica: ligao entre os homens, traduzida em poderes e vinculaoes. Vrias vozes tm formulado um veredicto anti-humano. O sujeito da relao jurdica so as pessoas colectivas. Tal ponto de vista dirige-se, pois, a um modo de arrumao, a uma forma de exposio, mais do que ao contedo das solues expressas.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

4.O direito civil como parte do direito privadoO direito civil direito privado. Segundo um clssica distino o direito divide-se em dois grandes ramos: - direito pblico - direito privado O direito civil constitui o direito privado geral.

5.Direito pblico e privadoprivado. A teoria dos interesses frequentemente referida para distinguir direito pblico do

Estaramos perante uma norma de direito pblico: quando o fim dessa norma fosse a tutela de um interesse pblico, isto , um interesse da colectividade; deparar-se-ia uma norma de direito privado: quando a norma visa tutelar ou satisfazer interesses individuais, isto , interesses dos particulares. A este critrio pode-se dirigir vrias crticas: a) As normas de direito privado no se dirigem apenas realizao de interesses dos particulares, tenso em vista frequentemente, tambm, interesses pblicos. Isso leva interveno pblica. As normas de direito pblico, por sua vez, para alm do interesse pblico visado, pretendem, tambm, dar adequada tutela a interesses dos particulares. Todas as normas, por cima dos interesses especficos e determinados que visam, miram um fundamental interesse pblico: o da realizao do direito ou, se quisermos, da segurana e da rectido. b) O critrio apreciado s poder tentar manter-se se procurar exprimir apenas uma nota tendencial: o direito pblico tutelaria predominantemente interesses da colectividade e o direito privado protegeria predominantemente interesses dos particulares. 1 No pode saber-se, em muitos casos, qual o interesse predominante. 2 H normas que, dado o lugar da sua insero no sistema jurdico e dada a tradio e o desenvolvimento histrico do direito, so pacificamente classificadas como de direito privado e, todavia, visam predominantemente interesses pblicos. O direito pblico: disciplina relaes entre entidades que esto numa posio de supremacia e subordinao. O direito privado: regula relaes entre entidades numa posio relativa de igualdade ou equivalncia a) O direito pblico regula, por vezes, relaes entre entidades numa relao de equivalncia ou igualdade, como acontece com as relaes entre autarquias locais. b) O direito privado disciplina, tambm, algumas vezes, situaes onde existem posies relativas de supra-ordenao e infra-ordenao, como acontece com o poder paternal. Pode apenas dizer-se que a equivalncia ou posio de igualdade dos sujeitos das relaes jurdicas normalmente caracterstica da relao disciplinada pelo direito privado e a supremacia e subordinao caracterstica normal da relao de direito pblico. A teoria dos sujeitos hoje em dia o critrio mais adequado, em virtude de assentar na qualidade dos sujeitos das relaes jurdicas disciplinadas pelas normas a qualificar como de direito pblico ou privado. Segundo este critrio o direito privado regula as relaes jurdicas estabelecidas entre particulares ou entre particulares e o Estado ou outros entes pblicos, mas intervindo o Estado ou esses entes pblicos em veste particular, isto , despidos de imperium ou poder soberano. necessrio, para se nos deparar uma norma de direito pblico, que pelo menos um dos sujeitos da relao disciplinada seja um ente titular de imperium, de autoridade, que intervenha nessa veste. Os dois sectores no se separam de forma to absoluta e completa.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL No domnio do direito do trabalho discutido onde deve passar a linha divisria. O direito do trabalho contm normas de direito pblico (ex.: regras sobre interveno administrativa na disciplina colectiva das relaes de trabalho; as normas do chamado direito da previdncia social), e normas de direito privado (ex.: normas reguladoras do contrato individual de trabalho)

6.Alcance prtico da distino entre direito pblico e privadoA diviso efectuada e a exacta integrao de cada norma na categoria correspondente, revestem interesse no prprio plano de aplicao do direito. A distino entre direito pblico e privado vai muitas vezes determinar as vias judiciais a que o particular que se considera lesado pelo Estado ou por uma autarquia local deve recorrer ou vice-versa. Se o particular tem uma pretenso contra o Estado ou contra um ente pblico, h que averiguar, se a relao jurdica donde essa pretenso deriva uma relao de direito pblico ou privado. As aces entre particulares ou entre um ente particular e o Estado ou outra pessoa colectiva pblica derivadas duma relao de direito privado devem ser propostas nos tribunais judiciais. Quando o assunto entre particulares e entes pblicos ou entre estes diz respeito a relaes jurdicas de direito pblico ou a efeitos jurdicos com elas conexionadas so competentes os tribunais administrativos. A responsabilidade civil, isto , a obrigao de indemnizar os prejuzos sofridos, decorrente de uma actividade de rgos, agentes ou representantes do Estado est sujeita a um regime diverso, consoante os danos so causados no exerccio de uma actividade de gesto pblica ou privada. Se os danos resultam de uma actividade de gesto pblica, os pedidos de indemnizao feitos administrao so apreciados por tribunais administrativos. Se os danos resultam de uma actividade de gesto privada, os pedidos de indemnizao contra a administrao central ou local, so deduzidos perante os tribunais judiciais. Actividade de gesto pblica: a actividade da administrao disciplinada pelo direito pblico. Actividade de gesto privada: a que regida pelo direito privado.

7.O direito civil como direito privado comum. O direito comercial e do trabalho. A autonomia de outros ramos do direito.O direito civil constitui o ncleo fundamental do direito privado. Constituir o ncleo fundamental do direito privado no significa ser todo o direito privado, mas apenas o direito privado comum ou geral. Historicamente, o direito privado confunde-se com direito civil, regendo este, sem restries, todas as relaes jurdicas entre sujeitos privados. O desenvolvimento da sociedade fez surgir ou acentuou necessidades especficas de determinados sectores da vida dos homens. Da que fossem surgindo regras especiais para esses sectores particulares, estatuindo, para os domnios respectivos, regimes diversos dos que se aplicam generalidade das relaes jurdico-privadas do mesmo tipo. Essas normas especiais, em dado momento, passaram a compendiar-se. Dentro do direito privado surgiram assim, por especializao relativamente s normas do direito civil, ramos autnomos de direito. Esses ramos autnomos so: - direito comercial - direito trabalho Estes so direito privado especial, enquanto o direito civil direito privado comum. O direito comercial e o direito do trabalho do s particulares relaes jurdicoprivadas a que se aplicam, uma disciplina diferente da que o direito civil d s relaes jurdicoprivadas em geral. Neste domnio das relaes patrimoniais ligadas ao comrcio ou actividade laboral, se aplicam, todavia, por fora do referido caracter subsidirio do direito civil, muitas normas gerais que assim cobrem todo o domnio do direito privado.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Da que, com propriedade, se possa dizer ser o direito civil um direito privado comum e subsidirio dos ramos autnomos jurdico-privados. Da que, com propriedade, a teoria geral do direito civil seja uma teoria geral do direito privado O direito comercial: disciplina os actos de comrcio, sejam ou no comerciantes as pessoas que nele intervm. Como actos de comrcio considera o cdigo comercial certos tipos que descreve, bem como os actos dos comerciantes conexionados com o seu comrcio, ainda que no se integrem nos tipos correspondentes aos actos objectivamente comerciais. O direito comercial identificado pelos autores como uma disciplina de formas e mecanismos jurdicos cuja gnese visa servir as finalidades das empresas. As necessidades prprias do comrcio, das suas especificidades, decorre a disciplina especial, relativamente ao direito civil, que proporcionada pelo direito comercial. O direito do trabalho: na sua parte privatstica, disciplina directamente o trabalho subordinado prestado a outrem. executado por fora de um contrato de trabalho, contrato entre o trabalhador e a entidade patronal. A actividade laboral, prende-se com importantssimos problemas e interesses ligados vida econmica da colectividade, situao social dos trabalhadores, formao profissional, etc. A disciplina das relaes de trabalho tem, em maior ou menor escala, de se afastar do regime geral dos contratos, quanto sua constituio, efeitos e extino, em ordem a dar satisfao a exigncias do tipo indicado. Enquanto o cdigo civil de 1867 regulava o contrato de trabalho nos termos gerais dos contratos, tratando o trabalho como qualquer outra prestao, o desenvolvimento industrial e comercial posterior, o crescimento das empresas, a concentrao operria vieram a determinar uma profunda modificao neste domnio. A entidade patronal estaria normalmente em posio da impor ao trabalhador condies inaceitveis, condies que este se veria obrigado a aceitar por a sua sobrevivncia depender necessariamente da alienao da sua fora de trabalho. Eis porque no domnio laboral se veio a verificar um rigoroso intervencionismo estatal, formulador de normas imperativas ou reconhecedor de convenes colectivas de trabalho, negociadas a nvel de classes organizadas e no dos indivduos. O direito comercial e o do trabalho regulam certos actos e relaes jurdicas em termos especiais, diversos de regulamentao que o direito civil d aos negcios jurdicos patrimoniais em geral; essa especialidade decorre das particulares necessidades que a zona de vida respectiva se fazem sentir.

8.Sentido do direito civil: a autonomia da pessoa, a igualdade, a disciplina da vida quotidiana do homem comum.O direito civil contm a disciplina positiva da actividade de convivncia da pessoa humana com as outras pessoas. Tutela os interesses dos homens em relao com outros homens. Esta disciplina recta da vida do homem realizada pelo direito civil numa perspectiva de autonomia da pessoa do desenvolvimento da sua personalidade. A autonomia uma ideia fundamental do direito civil. Esta autonomia, poder de autodeterminao nas relaes com as outras pessoas, supe necessariamente a igualdade ou paridade de situao jurdica dos sujeitos. Outra ideia caracterizadora do sentido do direito civil a de que este se encontra directamente ao servio da plena realizao da pessoa na sua vida com as outras pessoas. Tem essa funo enquanto est construdo volta da ideia de autonomia da pessoa e a autonomia condio bsica da personalidade. A organizao estadual proporciona ao particular meios eficazes e indispensveis para o pleno desenvolvimento na sua personalidade e quanto ao exerccio desses meios, o

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL particular encontra-se em situao de plena autonomia. Ex.: a faculdade de poder obter tratamento hospitalar, frequentar escolas. Estes meios de direito pblico, so, numa viso personalista, estruturas instrumentais ao servio da pessoa humana. Toda a sua aparelhagem visa criar condies que facilitem ou melhorem a realizao da personalidade na vida dos homens. Seria exagerado dizer que s o direito civil o direito da pessoa. No pode esquecer-se ser fundamentalmente a vida das pessoas, que o direito visa facilitar ou melhorar, uma convivncia com outras pessoas humanas; que visa precisamente assegurar a autonomia e a realizao da personalidade no plano das relaes com as outras pessoas. O direito civil situa-se no ncleo mais ntimo e fundamental da sociedade; disciplina as relaes sociais de pessoa para pessoa O direito civil disciplina substancialmente as relaes de pessoa a pessoa e porque um ordenamento jurdico, tutela coercitivamente os interesses das pessoas. A tutela operada, impondo ao infractor dos seus comandos, a necessidade de reconstituir os interesses da pessoa lesada. Esta tutela evidencia claramente estarmos no plano das relaes de pessoa a pessoa, onde se manifestam apenas interesses dos particulares. Quando um comportamento lesivo de outrem, alm do prejuzo causado pessoa, lesa o interesse social com certa intensidade, a reaco do direito civil reforada pelo direito criminal, ordenamento dirigido proteco dos valores da colectividade, isto , com especial relevo comunitrio.

9.Sequncia (pg.45) PARTE I Teoria geral do ordenamento jurdico civil (I)Fontes do direito civil portugus 10.Formas de surgimento das normas jurdicas civisOs modos de aparecimento das normas integradoras do ordenamento jurdico civil vm indicados nos primeiros artigos do cdigo civil. Estas disposies iniciais regulam a matria das fontes de direito. Dispe o artigo 1 do cdigo civil que so fontes de direito: as leis e as normas corporativas. Lei: toda a disposio imperativa e geral de criao estadual, isto , emanada dos rgos estaduais competentes segundo a CRP. Normas corporativas: disposies gerais e imperativas emanadas das entidades reconhecidas na CRP com a designao de organismos corporativos. Estas no so hoje fonte de direito. O cdigo civil refere-se igualmente aos usos conformes aos princpios de boa f. Os usos s valem quando a lei o determinar; no se exige a conscincia da obrigatoriedade dos referidos usos por parte dos que o adoptam. O costume no reconhecido como fonte de direito, nem sequer como modo de integrao de lacunas da lei, no se reconhecendo um direito consuetudinrio vigente. A jurisprudncia est igualmente excluda do quadro das fontes de direito. Misso do julgador: cabe-lhe, em face do caso concreto, dar vida norma legal, precisando-a e concretizando-a. Esta concretizao da lei implica uma explicitao das suas virtualidades e um desenvolvimento e enriquecimento dela, embora integrada no quadro ou no sistema legal.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL O carcter constitutivo desta interveno judicial sobretudo importante no que se refere aplicao aos casos da vida de conceitos indeterminados e clusulas gerais em que alis o cdigo civil frtil. O julgador considerar certos momentos racionais e denominadores objectivos. Este carcter constitutivo da interveno judicial ainda claramente manifestado no caso particular de certas clusulas gerais, fiscalizadoras ou sindicantes da aplicao das restantes normas do ordenamento jurdico. O sistema jurdico auto-limitou-se: criando meios de controlo dos resultados da aplicao das restantes normas. o caso do princpio do abuso de direito. Apesar do carcter concretizador da actividade do juiz no podemos atribuir jurisprudncia o carcter de fonte de direito. que os resultados a que o julgador chegou s tm fora vinculativa para o caso concreto a ser decidido.

11.Diplomas fundamentais do direito civil portugusA lei a fonte mais importante. O vrtice de todo o ordenamento jurdico constitudo pelo direito constitucional. Seguramente que se encontraro, na CRP princpios determinantes do contedo do direito civil portugus. igualmente importante para o direito civil o artigo 36, que contm princpios fundamentais sobre famlia, casamento e filiao. Como j foi dito o cdigo civil de 1966 est sistematizado segundo a sistematizao germnica. Assenta esta sistematizao na classificao germnica das relaes jurdicas de direito privado, que feita preceder de uma parte geral. Nesta parte atende-se disciplina das relaes jurdicas em geral. Em conformidade com este plano o cdigo civil divide-se da seguinte forma: LIVRO I Parte geral - das leis, sua interpretao e aplicao 1 a 65 - das relaes jurdicas 66 a 396 LIVRO II Direito das obrigaes - das obrigaes em geral 397 a 873 - dos contratos em especial 874 a 1250 LIVRO III Direito das coisas - da posse 1251 a 1301 - do direito de propriedade 1302 a 1438 - do usufruto, uso e habitao 1439 a 1490 - da enfiteuse 1492 a 1523 - do direito de superfcie 1524 a 1542 - das servides prediais 1543 a 1575 LIVRO IV Direito da famlia - disposies gerais 1576 a 1586 - do casamento 1587 a 1795 - da filiao 1796 a 1972 - da adopo 1973 a 2002 - dos alimentos 2003 a 2020 LIVRO V Direito das sucesses - das sucesses em geral 2024 a 2130 - da sucesso legtima 2131 a 2150 - da sucesso legitimria 2151 a 2178 - da sucesso testamentria 2179 a 2334 Este o chamado sistema externo do cdigo civil. Trata-se dum aspecto formal. Correspondendo as 4 partes especiais do cdigo civil aos 4 tipos de relaes jurdicas, oportuna a definio de cada um desses tipos de relaes.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Direito das obrigaes: vnculos jurdicos por virtude dos quais uma pessoa fica adstrita para com outra realizao de uma prestao. Direitos reais: relaes de um sujeito jurdico com todas as outras pessoas, por fora das quais aquele sujeito adquire um poder directo e imediato sobre uma coisa. Direito da famlia: relaes emergentes do casamento, parentesco, afinidade ou adopo. Direito das sucesses: relaes dirigidas a actuar a transmisso dos bens por morte do seu titular.

12.O sistema do cdigo civil de 1966: coordenao da parte geral e das partes especiaisO sistema externo do cdigo civil portugus assenta numa parte geral e em 4 partes especiais. Dentro de algumas destas partes especiais encontra-se tambm, um conjunto de disposies gerais. Desta relao entre uma parte geral e as partes especiais resulta que as normas contidas no cdigo no se dispem segundo um mero alinhamento ou contiguidade, mas segundo uma ordenao que deve estar presente no esprito do julgador.

13.O cdigo civil de 1966: caractersticas do tipo de formulaes legais utilizadoUm cdigo civil pode corresponder a modelos diversos, sob o ponto de vista do tipo de formulao legal adoptado. Um autor alemo (LARENZ) distingue 3 tipos de formulao legal: 1 formulao casustica: prevendo o maior nmero possvel de situaes da vida. 2 formulao de conceitos gerais-abstractos: tipos de situaes da vida. 3 formulao de directivas: o legislador recorre a linhas de orientao. O cdigo civil portugus adopta fundamentalmente o tipo de formulao mediante conceitos gerais-abstractos. Este mtodo possibilita um mais elevado grau de segurana e uma razoabilidade das solues em geral mas pode levar o juiz a decises menos rectas para o caso concreto. A atenuao desta desvantagem foi visada pelo legislador do cdigo civil portugus introduzindo neste diploma legal clusulas gerais para uma possibilidade de adaptao s vrias situaes da vida. Quanto linguagem utilizada pelo cdigo civil portugus de 1966, esta de carcter tcnico, especializado. Contm um direito de juristas, expresso em linguagem de tcnicos.

14.O cdigo civil portugus: as circunstncias histricas da sua elaborao e a legislao anteriorOs trabalhos dirigidos elaborao do actual cdigo civil portugus estenderam-se por cerca de 22 anos. Com a entrada em vigor do cdigo civil de 1966, cessou a vigncia do cdigo de Seabra de 1867. Era um cdigo onde se combinava o nosso direito tradicional, com a doutrina dos nossos jurisconsultos oitocentistas. O seu contedo reflecte influncias do direito romano, cannico, jusnaturalista setecentista e do liberalismo individualista. O seu mundo filosfico-cultural ntido o individualismo, traduzido em liberdade contratual e no respeito inflexvel pelas convenes privadas. Na sua original sistematizao, toma o indivduo e a sua trajectria vital como critrio de sistematizao (viso antropocntrica - CABRAL DE MONCADA).

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Durante a sua vigncia foram publicados alguns diplomas que alteraram o regime de algumas matrias nele disciplinadas: a) Lei do divrcio 1910 b) Leis da famlia 1911 c) Estabelecimento do registo civil obrigatrio 1911 d) Concordata com a Santa S 1940 Antes da entrada em vigor do cdigo civil de 1867 o principal diploma do nosso direito civil identifica-se com as ordenaes filipinas (1603).

(II)Os princpios fundamentais do direito civil portugus (1)Introduo 15.As normas aplicveis s relaes de direito civil. Direito civil e direito constitucional. Aplicao de normas constitucionais s relaes entre particularesAs normas de direito civil esto fundamentalmente contidas no cdigo civil portugus de 1966. Alguns diplomas avulsos regulam, porm, igualmente, matrias do direito privado comum. Problemas de direito civil podem encontrar a sua soluo numa norma que no de direito civil, mas de direito constitucional. O legislador deve emitir normas de direito civil no contrrias CRP; o juiz e os rgos administrativos no devem aplicar normas inconstitucionais. A aplicao de normas constitucionais actividade privada faz-se: a) atravs de normas de direito privado que reproduzem a seu contedo (ex.: direito ao nome artigo 72 do CC e 26 da CRP). b) atravs de clusulas gerais e conceitos indeterminados, cujo contedo preenchido com os valores constitucionalmente consagrados (ex.: ordem pblica do artigo 280 do CC). c) em casos absolutamente excepcionais, por no existir clausula geral ou conceito indeterminado adequado, uma norma constitucional reconhecedora de um direito fundamental aplica-se independentemente da mediao de uma regra de direito privado (ex.: a proteco contra o uso incorrecto da informtica, nos termos do artigo 35 da CRP, embora se pudesse sustentar que esta proteco dos cidados j se encontrava guarida no artigo 17 e 80 do CC). Parece conveniente e susceptvel de conduzir a resultados mais razoveis que a aplicao das normas constitucionais a actividades privadas se faa com referencia a instrumentos e regras prprios do direito civil. Ex.: ser nulo um contrato ou clusula geral pela qual algum se obrigue a professar ou a abandonar certa religio. Tal estipulao contraria o citado preceito constitucional. Os preceitos constitucionais na sua aplicao s relaes de direito privado devem conciliar o seu alcance com o de certos princpios fundamentais do direito privado eles prprios conformes CRP. O princpio da igualdade que caracteriza, em termos gerais, a posio dos particulares em face do Estado, no pode, no domnio das convenes entre particulares, sobrepor-se liberdade contratual, salvo se o tratamento desigual implica a violao de um direito de personalidade de outrem. O princpio da igualdade perante a lei parece impor necessariamente a inconstitucionalidade de quaisquer normas de direito civil que no sejam normas gerais. As

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL normas aplicveis a uma s situao ou a um conjunto de situaes seriam normas inconstitucionais (ex.: leis-medida; leis-providncia; leis-proviso ou leis individuais). O princpio da igualdade impe que o legislador no possa tratar arbitrariamente o essencialmente igual como desigual, nem o essencialmente desigual arbitrariamente como igual.

16.A existncia de princpios bsicos do direito civil. Carcter histrico desses princpios de ordenao sistemtica interna. A autonomia e a igualdade como seus pressupostos actuaisA massa das normas jurdicas no um conjunto desordenado de preceitos avulsos, desprovidos de conexo uns com os outros. H uma ordenao dessas normas (a nvel no apenas formal, mas substancial ou material). Quer os princpios conformadores do nosso actual modelo de direito civil, quer as normas que os aceitam e desenvolvem, so elementos vlidos numa dada circunstncia espacial e temporal. Este quadro de princpios, que fundamenta e retrata sinteticamente o direito civil actual, no brotou por espontnea gerao no solo da vida social de hoje. Trata-se de um produto histrico, determinado pelos dados sociolgicos, culturais e histricos que condicionam toda a organizao da sociedade em cada momento e em cada lugar. Podemos considerar 7 ideias, princpios ou instituies que fundamentam o nosso actual direito civil, o penetram e so por ele desenvolvidos: I o reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade II o princpio da liberdade contratual III a responsabilidade civil IV a concesso da personalidade jurdica s pessoas colectivas V a propriedade privada VI a famlia VII o fenmeno sucessrio

(2)O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade 17.O reconhecimento dos direito de personalidade jurdica de todos os seres humanosO direito s pode ser concebido, tendo como destinatrio os seres humanos em convivncia. A aplicao do direito civil a essa convivncia humana desencadeia uma teia de relaes jurdicas entre os homens, relaes traduzidas em poderes (direitos) e deveres jurdicos lato sensu. Os seres humanos no so necessariamente, do ponto de vista lgico, pessoas em sentido jurdico (ex.: escravatura). As pessoas em sentido jurdico no so necessariamente seres humanos (ex.: associaes, sociedades, fundaes). Artigo 66 n. 1 CC Reconhece-se personalidade jurdica a todo o ser humano a partir do nascimento completo e com vida. A personalidade jurdica, a sua susceptibilidade de direitos e obrigaes, corresponde a uma condio indispensvel da realizao por cada homem dos seus fins ou interesses na vida com os outros. Bem se compreende que no nosso tempo no sofra discusso o reconhecimento dessa qualidade jurdica a todos os seres humanos.

18.O reconhecimento de um crculo de direitos de personalidadeA susceptibilidade de direitos e obrigaes implica a titularidade real e efectiva de alguns direitos e obrigaes.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Direitos de personalidade: a pessoa titular de um certo nmero de direitos absolutos, que se impem ao respeito de todos os outros, incidindo sobre os vrios modos de ser fsicos ou morais da sua personalidade. Os direitos de personalidade incidem sobre: a vida da pessoa, a sua sade fsica, integridade fsica, honra, liberdade fsica e psicolgica, o seu nome, imagem, reserva sobre a intimidade da vida privada. Este um crculo de direitos necessrios; um contedo mnimo e imprescindvel da esfera jurdica de cada pessoa. O direito protege os vrios modos de ser fsicos ou morais da personalidade. A violao de alguns desses aspectos da personalidade at um facto ilcito criminal, que desencadeia uma punio estabelecida pelo cdigo penal. Os direitos de personalidade so irrenunciveis; podem todavia ser objecto de limitaes voluntrias que no sejam contrrias aos princpios da ordem pblica (artigo 81).

(3)O princpio da liberdade contratual 19.A liberdade contratual manifestao da autonomia da vontade no domnio dos contratosA produo de efeitos jurdicos resulta principalmente, no tocante actuao humana juridicamente relevante, de actos de vontade. Negcios jurdicos: os actos jurdicos, cujos efeitos so produzidos por fora da manifestao de uma inteno e em coincidncia com o teor declarado dessa inteno. O negcio jurdico uma manifestao do princpio da vontade ou princpio da autonomia privada subjacente a todo o direito privado. Autonomia da vontade: o poder reconhecido aos particulares de auto-regulamentao dos seus interesses, de autogoverno da sua esfera jurdica. Os particulares podem estabelecer a ordenao das respectivas relaes jurdicas. Este autogoverno da sua esfera jurdica, manifesta-se, desde logo, na realizao de negcios jurdicos, de actos pelos quais os particulares ditam a regulamentao das suas relaes, constituindo-as, modificando-as, extinguindo-as e determinando o seu contedo. tambm a autonomia privada que se manifesta no poder de livre exerccio dos seus direitos ou de livre gozo dos seus bens pelos particulares. A autonomia privada ou autonomia da vontade encontra os veculos da sua realizao nos direitos subjectivos e na possibilidade de celebrao de negcios jurdicos. A autonomia privada uma ideia fundamental deste ramo do direito. Cabe ao direito civil uma funo de proteco ou defesa dos direitos constitudos ao abrigo da sua funo modeladora. O negcio jurdico um meio de actuao da autonomia privada. Uma importante classificao dos negcios jurdicos a resultante do critrio do nmero e modo de disposio das declaraes de vontade que os integram. Segundo ela, os negcios jurdicos agrupam-se em duas classes: - negcios jurdicos unilaterais: perfaz-se com uma s declarao de vontade. - negcios jurdicos bilaterais: constitudo por duas ou mais declaraes de vontade convergentes, tendentes produo de um resultado jurdico unitrio. S h negcio jurdico bilateral, quando uma parte formula e comunica uma declarao de vontade (proposta) e a outra manifesta a sua anuncia (aceitao). Nos negcios unilaterais a autonomia da vontade est sujeita a muito maiores restries do que nos contratos: a) os negcios unilaterais constitutivos de obrigaes so apenas os que estiverem previstos na Lei (princpio da tipicidade). b) nos negcios unilaterais modificativos vigora tambm o princpio da tipicidade.

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20.Aspectos contidos no princpio da liberdade contratual: a liberdade de concluso ou celebrao dos contratos e a liberdade de modelao do contedo contratual. Os contratos de adesoArtigo 405 do CC. Esta disposio legal consagra apenas a liberdade de modelao ou liberdade de fixao ou estipulao do contedo contratual. Da norma citada emerge, contudo, o reconhecimento da liberdade de celebrao ou concluso dos contratos. 1 Liberdade de celebrao dos contratos: consiste na faculdade de livremente realizar contratos ou recusar a sua celebrao. Segundo tal princpio a ningum pode ser impostos contratos contra a sua vontade ou aplicadas sanes por fora de uma recusa de contratar nem a ningum pode ser imposta a absteno de contratar. Restries liberdade de celebrao dos contratos: a) na consagrao de um dever jurdico de contratar, pelo que a recusa de contratar de uma das partes no impede a formao do contrato (ex.: estatuto da ordem dos mdicos, relativos aos deveres de prestao de servios que impendem sobre os mdicos). b) na proibio de celebrar contratos com determinadas pessoas. c) na sujeio do contrato a autorizao de outrem, eventualmente de uma autoridade pblica. 2 Liberdade de modelao do contedo contratual: consiste na faculdade conferida aos contraentes de fixarem livremente o contedo dos contratos. As partes podem: a) realizar contratos com as caractersticas dos contratos previstos e regulados na lei (contratos tpicos). b) celebrar contratos nominados aos quais acrescentam as clusulas que lhes aprouver eventualmente conjugando-se 2 ou mais contratos diferentes (contratos mistos = ex.: x vale 1000. A vende a B por 200. Negcio de compra e venda + doao de 800). c) concluir contratos diferentes dos contratos expressamente disciplinados na lei (contratos atpicos). A liberdade de fixao ou modelao do contedo do contratos conhece tambm algumas restries, aludidas no artigo 405. Eis algumas dessas restries: a) submete-se o contrato aos requisitos do artigo 280 (so nulos os contratos contrrios lei, ordem pblica a aos bons costumes). b) so anulveis em geral os chamados negcios usurrios (artigo 282. ex.: cobrana de juros excessivos). c) a conduta das partes contratuais deve pautar-se pelo princpio da boa f. d) a lei reconhece e admite certos contratos-tipo que, celebrados a nvel de categorias econmicas ou profissionais, contm normas a que os contratos individuais, celebrados entre pessoas pertencentes s referidas categorias, tm de obedecer (contratos normativos). e) alguns contratos em especial esto necessariamente sujeitos a determinadas normas imperativas. Uma importante limitao de ordem prtica liberdade de modelao do contedo contratual a que se verifica nos chamados contratos de adeso. Uma das partes formula unilateralmente as clusulas negociais e a outra parte aceita as condies, mediante adeso ao modelo ou impresso que lhe apresentado, ou rejeita-as, no sendo possvel modificar o ordenamento negocial apresentado. Teoricamente no h aqui restries liberdade de contratar. Simplesmente esta liberdade seria a de no satisfazer uma necessidade importante, pois os contratos de adeso

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL surgem normalmente em zona de comrcio onde o fornecedor est em situao de monoplio ou quase monoplio. Da que o particular, impelido pela necessidade, aceite as condies elaboradas pela outra parte, mesmo que lhe sejam desfavorveis ou pouco equitativas da a restrio factual liberdade de contratar. Vantagens dos contratos de adeso: racionalizao e normalizao da actividade contratual dirigida a um nmero elevado e indeterminado de clientes. Na ausncia de legislao especfica, os tribunais portugueses, como fez e continua a fazer a jurisprudncia estrangeira, devem considerar nulas certas clusulas abusivas contidas em contratos de adeso.

21.Domnio principal de aplicao da liberdade contratual: os contratos obrigacionaisNos contratos com eficcia real, isto , constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos reais, h liberdade de celebrao, mas a liberdade de fixao do contedo contratual sofre um importante restrio. Os contraentes, podendo embora celebrar contratos inominados, no podem constituir direitos reais que se no integrem nos tipos previstos na lei (princpio da tipicidade). Nos contratos familiares, isto , com eficcia no domnio das relaes de famlia, h liberdade de concluir ou no o respectivo contrato o pensamento da autonomia que subjaz e enforma o direito civil. Quanto liberdade de fixao do contedo contratual ela est excluda no domnio dos contratos familiares pessoais. O casamentos, perfilhao, ou adopo so tipos contratuais rgidos, cujos efeitos esto preordenados na lei, no podendo ser modificados pelas partes. Nos contratos sucessrios, a regra do nosso direito a da proibio dos pactos sucessrios, s se derrogando esta regra em casos limitadssimos (artigo 1700). A sucesso voluntria resulta, quase sempre, de um negcio unilateral o testamento. Quanto a este, h liberdade de celebrao e liberdade de fixao do contedo, salvo algumas restries.

22.Referncia esquemtica s principais disciplinados pelo direito das obrigaes

figuras

e

problemas

O princpio da liberdade contratual tem no domnio dos contratos obrigacionais o seu campo de eleio. Obrigao ou direito de crdito: o vnculo jurdico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra realizao de uma prestao. O cdigo civil regula as fontes das obrigaes, isto , os factos jurdicos que do origem ao vnculo obrigacional. Considera como tais o contrato (artigo 405), o negcio unilateral (artigo 457), a gesto de negcios (artigo 464), o enriquecimento sem causa (artigo 473) e a responsabilidade civil (artigo 483).

23.O princpio da liberdade contratual e o sistema econmico e social. Liberdade contratual, economia de mercado e economia planificada (pg.109) (4)A responsabilidade civil 24.Noo. Caractersticas geraisNa vida social os comportamentos adoptados por uma pessoa causam muitas vezes prejuzos a outrem. O devedor no executa ou executa defeituosamente a prestao a que est adstrito; o condutor de um veculo atropela um transeunte; um indivduo destroi uma coisa de outrem.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Dever o prejuzo ficar a cargo da pessoa em cuja esfera jurdica ele foi produzido ou dever antes impor-se a obrigao do seu ressarcimento pessoa cujo comportamento provocou uma leso na esfera de outrem? A responsabilidade civil depara-se-nos quando a lei impe ao autor de certos factos ou ao beneficirio de certa actividade a obrigao de reparar os danos causados a outrem. A responsabilidade civil actua, atravs do surgimento da obrigao de indemnizao. Esta tem precisamente em vista tornar indemne, isto , sem dano o lesado; visa colocar a vtima na situao em que estaria sem a ocorrncia do facto danoso. Responsabilidade civil: consiste na necessidade imposta pela lei a quem causa prejuzos a outrem de colocar o ofendido na situao em que estaria sem a leso (artigo 483 e 562). Esta reconstituo da situao inicial deve em principio ter lugar mediante uma reconstituio natural. Quando a reconstituio natural for impossvel, insuficiente ou excessivamente onerosa, a reposio do leso na situao em que estaria sem o facto lesivo ter lugar mediante uma indemnizao em dinheiro ou por equivalente (restituio por equivalente). Esta indemnizao a hiptese largamente maioritria, pois raramente o lesado ficar completamente indemnizado com a reconstituio natural, mesmo quando esta for possvel. No dano patrimonial esto compreendidos o dano emergente, ou seja, o prejuzo imediato sofrido pelo lesado, e o lucro cessante, quer dizer, as vantagens que deixaram de entrar no patrimnio do lesado em consequncia da leso (artigo 564 n. 1). O direito civil portugus manda atender tambm na fixao da indemnizao aos danos no patrimoniais (danos morais) que, pela sua gravidade, meream tutela do direito (artigo 496 n. 1). Estes danos no patrimoniais resultam da leso de bens estranhos ao patrimnio do lesado (a integridade fsica, sade, tranquilidade, bem-estar, liberdade, honra, reputao). No sendo estes prejuzos avaliveis em dinheiro, a atribuio de uma soma pecuniria correspondente legitima-se, no pela ideia de indemnizao ou reconstituio, mas pela de compensao. Os interesses cuja leso desencadeia um dano no patrimonial so infungveis, no podem ser reintegrados mesmo por equivalente. Mas possvel contrabalanar o dano, compens-lo mediante satisfaes derivadas da utilizao do dinheiro. Devem verificar-se outros pressupostos para o surgimento da responsabilidade civil: 1 Necessrio se torna que o facto seja ilcito, isto , violador de direitos subjectivos ou interesses alheios tutelados por uma disposio legal. 2 Nexo de causalidade entre facto e dano. 3 Facto lesivo. Culpa: reprovao ou censura da conduta desrespeitadora dos interesses tutelados pelo direito. Esta pode resultar da existncia de uma inteno de causar um dano violando uma proibio (dolo) ou da omisso dos deveres de cuidado, diligncia ou percia exigveis para evitar o dano (negligncia). Ao lado da responsabilidade civil deve considerar-se a responsabilidade criminal. Responsabilidade civil: dirige-se restaurao, especfica ou por equivalente, dos interesses individuais lesados. Responsabilidade criminal: visa satisfazer interesses da comunidade, ofendida pelo facto ilcito criminal. A pena traduz-se: - na produo de um mal a sofrer pelo agente criminoso, com a finalidade de retribuir o mal causado sociedade com a infraco (retribuio). - de intimidar as outras pessoas, mostrando-lhes como a sociedade reage ao crime (preveno geral). - de impedir o prprio infractor de cometer novas infraces (preveno especial).

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25.Responsabilidade por actos ilcitos, pelo risco e por actos lcitos.O nosso sistema jurdico opta pela responsabilidade subjectiva. Compreende-se a exigncia da culpa como conditio sine responsabilidade. essa a soluo pelas razes seguintes: qua non da

a) a segurana que a responsabilidade objectiva confere s potenciais vtimas de danos, protegendo os bens dos indivduos contra quaisquer leses decorrentes da actividade de outrem, neutralizada pela paralisao de iniciativas que a ponderao das possibilidades de dano produzir no homem em aco. b) substituir ao directamente lesado o autor no culposo do prejuzo. c) exigir a culpa do sujeito fazer apelo liberdade moral do homem e apresentar os danos como consequncias evitveis, assim se estimulando zelos e cuidados em impedi-los. No ncleo da responsabilidade jurdica estar assim a ideia de responsabilidade moral. Esta pertence ao domnio da conscincia e dos deveres do homem para consigo prprio. Responsabilidade pelo risco consagrada em algumas hipteses especiais. Trata-se de domnios em que o homem tira partido de actividades que, potenciando as suas possibilidades de lucro, importam um aumento de risco para os outros. Se algum, criando para si uma possibilidade de lucro, cria para os outros riscos acrescentados justo por a cargo daquele a indemnizao dos danos originados pelas suas actividades lucrativas (ubi commoda, ibi incommoda). Ex.: danos causados por animais (502), acidentes causados por veculos de circulao terrestre (503), danos causados por instalaes de energia elctrica ou gs (509). O nosso sistema jurdico admite, tambm, com carcter excepcional, alguns casos contados de responsabilidade por actos lcitos ou intervenes lcitas. Pretende-se em tais casos compensar o sacrifcio de um interesse menos valorado na composio de um conflito teleolgico, porque uma prevalncia absoluta e total do interesse oposto seria injusta. Apesar do carcter conforme ao direito da actuao do sujeito, pareceu excessivo no dar pessoa sacrificada uma reparao. Exs: responsabilidade emergente de certos casos de estado de necessidade; passagem forada.

26.Responsabilidade contratual e extra-contratual.Responsabilidade contratual: originada pela violao de um direito de crdito ou obrigao em sentido tcnico. Responsabilidade extra-contratual: resulta da violao de um dever geral de absteno contraposto a um direito absoluto.

(5)A concesso de personalidade jurdica s pessoas colectivas 27.A personalidade colectiva e os tipos de pessoas colectivasAo lado da personalidade jurdica reconhecida a todas as pessoas singulares, o nosso direito civil, verificados certos requisitos, atribui personalidade jurdica s chamadas pessoas colectivas. Pessoas colectivas: so colectividades de pessoas ou complexos patrimoniais organizados em vista de um fim comum ou colectivo a que o ordenamento jurdico atribui a qualidade de sujeitos de direitos. A pessoa colectiva, em sentido lato, tem 3 modalidades fundamentais: a) associaes: colectividades de pessoas que no tm por fim o lucro econmico dos associados.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL b) fundaes: complexos patrimoniais ou massas de bens afectados por uma liberalidade prossecuo de uma finalidade estabelecida pelo fundador ou em harmonia com a sua vontade. c) sociedades: conjunto de pessoas que contribuem com bens ou servios para o exerccio de uma actividade econmica dirigida obteno de lucros e sua distribuio pelos scios.

28.Natureza da personalidade colectivaA existncia de pessoas colectivas resulta da existncia de interesses humanos comuns. A criao de um autnomo centro de imputao das relaes jurdicas ligadas realizao desses interesses permite uma mais fcil e eficaz consecuo do escopo visado. Doutrina: Teoria da fico: a lei, ao estabelecer a personalidade jurdica das pessoas colectivas, estaria a proceder como se as pessoas colectivas fossem pessoas singulares. Teoria organicista: a personalidade jurdica no resulta de uma concesso discricionria do legislador, mas a consequncia, imposta pela natureza das coisas, da existncia de um organismo real. A personalidade jurdicas das pessoas colectivas uma criao do esprito humano no campo do direito, em ordem realizao de fins jurdicos. A personalidade jurdica dos indivduos: imposta, pelas concepes tico-jurdicas de tipo humanista hoje vigentes, como uma exigncia forosa da dignidade da pessoa humana e do direito ao respeito inerente a todo o ser humano. A personalidade jurdica das pessoas colectivas: uma mecanismo tcnico-jurdico um modelo, uma forma, um operador para a polarizao das relaes jurdicas ligadas realizao de certo fim colectivo.

(6)A propriedade privada 29.O problema do domnio sobre os bens como problema fundamental de uma sociedadeNo desenvolvimento da sua vida o homem serve-se das coisas, utilizando-as para satisfazer as suas necessidade e para conseguir os seus fins. Enquanto as pessoas so fins em si mesmas, as coisas so meios ao servio dos fins das pessoas. O homem tem necessidades de se servir das coisas como condio da sua sobrevivncia e do seu progresso. A deteno, o uso e a disposio das coisas permite ao homem satisfazer necessidade fundamentais ou secundrias e potencia a sua possibilidade real de se propor determinadas finalidades e de escolher entre vrias vias para a realizao desses fins. Mas, se o direito se desinteressasse, por absurdo, de submeter os poderes dos homens sobre as coisas sua disciplina, o poder de facto sobre as coisas no se impunha ao respeito das outras pessoas. Teria que ser defendido com a fora do seu titular. Sendo os bens escassos em relao s necessidades sentidas pelo homem, e procurando este subtrair-se ao imprio das necessidades, seria inevitvel a luta pela sua apropriao. Seria impossvel a vida em comum. Constitui misso fundamental do direito, organizar os poderes dos homens sobre as coisas e o contedo das relaes entre os homens a respeito das coisas.

30.Fenomenologia da propriedade ao longo da histria e no momento actual (pg.131)

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31.Caractersticas do direito de propriedade no nosso sistema jurdicoA tutela constitucional da propriedade privada est expressamente consagrada no artigo 62 n. 1 da CRP. O proprietrio tem poderes indeterminados. No se limitam os poderes do proprietrio seno atravs das concretas restries pela lei impostas. O direito da propriedade dotado de uma certa elasticidade extinto um direito real que limite a propriedade da coisa, reconstitui-se a plenitude da propriedade sobre ela. uso. A sua qualificao como um direito perptuo no o deixa poder extinguir-se pelo no

32.Os direitos reais limitadosA propriedade o direito real mximo, o de contedo pleno e polimrfico. Direitos reais limitados: toda uma srie de direitos reais de contedo ou estrutura bem diversa e ao servio de funes ou interesses de natureza diferenciada. No conferem a plenitude dos poderes sobre uma coisa. So direitos sobre coisa alheia. Direitos reais de gozo: aqueles que conferem um poder de utilizao, total ou parcial, duma coisa e, por vezes, tambm o de apropriao dos frutos que a coisa produza. Ex.: usufruto, uso, habitao, superfcies, servides prediais. Direitos reais de garantia: conferem o poder de um credor obter o pagamento da dvida de que titular activo. Ex.: penhor, hipoteca. Direitos reais de aquisio: conferem a um determinado indivduo a possibilidade de se apropriar de uma coisa, de adquirir uma coisa.

(7)A famlia 33.A famlia, como realidade natural e social, perante o direito legisladoFamlia: realidade natural e social, cuja existncia material, psicolgica e moral se manifesta, desde logo, em planos ou domnios da vida estranhos ao plano jurdico. O surgimento e a vida da famlia realizam-se e assentam numa srie de comportamentos pessoais e realidades psicolgicas e morais, que o direito reconhece, aceita e considera, ao formular a sua regulamentao da instituio familiar. Ex. de comportamentos: amor, amizade, confiana, lealdade, vida em comum, solidariedade. Apesar da famlia na sua concreta e natural existncia no seio da vida social conter uma ordenao ntima, no pode a lei deixar de considerar essa realidade e esse mundo de relaes, estabelecendo sobre este o manto de uma disciplina, tanto quanto possvel, completa. A disciplina da instituio familiar impe, atentas as seguintes razes: a) a ordenao concreta e institucional da famlia, mesmo que aceite pelo legislador, no contm uma disciplina de todos os problemas respectivos em termos acabados e categricos, tornando-se necessria uma formulao certa, precisa e completa do regime jurdico correspondente. b) a consagrao legislativa de um regime, vinca mais vivamente o sentimento dos deveres e direitos dos membros da famlia, facilita o fluente curso da vida familiar e permite, em situaes de crise, disciplinar com justia e certeza a posio dos sujeitos. c) pode o Estado visar uma modificao da disciplina da famlia para um sentido diverso do correspondente ao direito vivido espontaneamente na realidade social.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL O direito da famlia caracterizado por uma acentuado predomnio de normas imperativas. um direito institucional.

34.Referncia sumria ao direito da famlia portugusAo direito da famlia continua a dedicar o cdigo civil um livro o livro IV. Na ordem jurdica portuguesa, continua a verificar-se, quanto disciplina de acto matrimonial, uma coexistncia da ordem jurdica estadual e da cannica.

(8)O fenmeno sucessrio ou sucesso por morte 35.O destino das relaes jurdicas aps a morte do seu titularPe-se em qualquer comunidade o problema de saber qual o destino das relaes jurdicas existentes na titularidade de uma pessoa singular aps a morte desta. Razes de relevante convenincia social tornam contra-indicado um regime de extino de todas as relaes jurdicas no momento da morte do seu titular. Tal regime, implicando a exonerao dos devedores morte do seu credor, o prejuzo dos credores por morte do devedor e a vacatura ou a aquisio pelo Estado dos bens do falecido, seria um contra-estmulo s actividades e iniciativas de caracter patrimonial das pessoas, uma fonte de riscos para os credores, uma causa de litgios e perturbao da paz social. Fenmeno sucessrio: o chamamento de uma ou mais pessoas titularidade das relaes patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devoluo dos bens que a esta pertenciam. A transmisso das relaes jurdicas patrimoniais para outra pessoa por fora da morte do seu titular reconhecida pelos sistemas jurdicos na actualidade e ao longo da historia. As justificaes apresentadas para a sucesso legitimria so as que ressaltam da descrio das duas linhas evolutivas: a) a conservao na famlia de um patrimnio, para que todos em maior ou menor medida concorreram, e que assegura a permanncia e coeso do agregado familiar. b) cumprimento do dever moral de assistncia recproca entre familiares, mesmo para alm da morte.

36.Referncia sumria ao direito sucessrio portugusSucesso legtima: consiste no chamamento dos herdeiros legtimos sucesso, por o autor da sucesso no ter disposto vlida e eficazmente, no todo ou em parte, dos seus bens. O chamamento faz-se por ordem de classes sucessveis, preferindo dentro de cada classe os parentes de grau mais prximo aos de grau mais afastado. Artigo 2133 a) cnjuge e descendentes b) cnjuge e ascendentes c) irmos e seus descendentes d) outros colaterais at ao quarto grau e) Estado Sucesso legitimria: consiste no chamamento dos herdeiros legitimrios sucesso na chamada legtima, isto , numa poro de bens que o testador no pode dispor, por ser destinada por lei aos referidos herdeiros. Sucesso testamentria: consiste no chamamento sucesso dos herdeiros designados em testamento, isto , num acto unilateral e revogvel pelo qual um indivduo dispe de todos os seus bens ou parte deles para depois da morte.

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PARTE II Teoria geral da relao jurdica. Preliminares 37.Conceito de relao jurdicaEm sentido amplo: toda a relao da vida social relevante para o direito, isto , produtiva de efeitos jurdicos e, portanto, disciplinada pelo direito. Em sentido restrito ou tcnico: a relao da vida social disciplinada pelo direito, mediante atribuio a uma pessoa de um direito subjectivo e a imposio a outra pessoa de um dever jurdico ou de uma sujeio. Instituto jurdico: conjunto de normas legais que estabelecem a disciplina de uma srie de relaes jurdicas em sentido abstracto, ligadas por uma afinidade, normalmente a de estarem integradas no mesmo mecanismo jurdico ou ao servio da mesma funo.

38.Estrutura da relao jurdica (enunciado geral)Toda a relao jurdica existe entre sujeitos; incidir normalmente sobre um objecto; promana de um facto jurdico; a sua efectivao pode fazer-se atravs de uma garantia (ex.: providncias coercitivas).

Abuso de direitoExtrema ratio da verificao da ilicitude. ltima hiptese de averiguar se o acto ilcito. Uma situao de abuso de direito: verifica-se quando h desconformidade entre imagem estrutural do direito e entre a funo atribuda ao direito. Para a doutrina em geral o abuso de direito: quando algum usa o direito de forma clamorosamente injusta. Esta forma clamorosamente injusta identificada por um controlo extra-jurdico feito atravs dos tribunais. Isto faz com que desaparea a liberdade caracterstica do direito subjectivo. ORLANDO DE CARVALHO no concorda e defende que abuso de direito: quando um direito est a ser usado por um sujeito para causar prejuzo a outro sujeito.

39.Estrutura da relao jurdica (cont.): direitos subjectivos propriamente ditos e potestativosDireito subjectivo: poder jurdico (reconhecido pela ordem jurdica a uma pessoa) de livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo ou negativo ou de por um acto de livre vontade, s de per si ou integrado por um acto livre de autoridade pblica, produzir determinados efeitos jurdicos que inevitavelmente se impem a outra pessoa. O direito subjectivo est dependente da vontade do seu titular. Em termos funcionais, o direito subjectivo identifica-se com o interesse visado. Este aspecto funcional repercute-se na estrutura do direito, pois no se trata de poderes de livremente exigir um comportamento, mas de poderes-deveres. Quer dizer: a considerao exclusiva do aspecto estrutural no nos evidencia a razo de certas diferenas, mas evidencia as diferenas, reflectindo o elemento funcional. O direito subjectivo engloba duas modalidade fundamentais: a) os direitos subjectivos propriamente ditos: consiste no poder de exigir ou pretender de outrem um determinado comportamento positivo ou negativo. Direito subjectivo (em sentido amplo): mecanismo de regulamentao, adoptado pelo direito, que consiste na concreta situao de poder que faculta a uma pessoa em sentido jurdico intervir autonomamente na esfera jurdica de outrem.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Contrape-se-lhe o dever jurdico da contraparte um dever de facere ou de non facere. Dever jurdico: a necessidade de realizar o comportamento a que tem direito o titular activo da relao jurdica. Exs: direitos de crdito, reais, personalidade, famlia. Poder de exigir ou pretender: se a contraparte no cumpre o dever jurdico a que est adstrita, pode obter dos tribunais e autoridades subordinadas a estes providncias coercitivas aptas a satisfazer o seu interesse. O titular do direito pode, recorrendo autoridade pblica, ser reposto, ao menos por equivalente, na situao lesada ou obter outras sanes.

Classificao dos direitos subjectivos:a) Atende-se ligao intrnseca ou extrnseca entre pessoas - inatos: existem desde o nascimento. Ex.: direitos de personalidade. - natos: adquirem-se quando o sujeito faz algo que tutelvel pelo direito. Ex.: direito de autor ou ao nome. b) Atende-se a relaes intrnsecas ou extrnsecas relacionadas com certos estados em que as pessoas de encontram. Ex.: s se tem direitos de pai se se tiver um filho - essenciais: a pessoa no pode ser privada desses direitos sem se privar de certos estados. - no essenciais: c) Atende-se natureza dos bens em jogo - patrimoniais: so susceptveis de os bens em causa serem redutveis a bem pecunirio. - pessoais: no susceptvel de ser transformado em dinheiro. d) Atende-se aos titulares passivos; a quem o direito se impe - relativo: imposto a pessoas certas e determinadas (ex.: crdito). - absoluto: imposto colectividade; impe erga omnes (ex.: direito de propriedade). e) Atende-se possibilidade do sujeito se desligar do direito; transferir para outra pessoa - disponvel: pode transferir (ex.: direitos patrimoniais). - indisponvel: no pode transferir (ex.: direitos pessoais sobretudo essenciais). Tipos de direitos subjectivos (lado activo) - Critrio estrutural - direito potestativo: inevitabilidade de consequncias jurdicas que criam. - direitos subjectivos (sentido estrito) - direitos de personalidade: sobre a prpria pessoa; o objecto do direito a prpria pessoa titular do direito de personalidade. Excepo: direitos sobre outras pessoas. - direitos de crdito: trata-se/impem a pessoas certas e determinadas. - direitos reais: incidem sobre coisas; poderes directos e imediatos sobre uma coisa. - Critrio institucional - direitos da pessoa: direitos de personalidade; potestativos; de crdito; reais.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL - direitos das obrigaes: direitos de crdito para o trfego de bens direitos potestativos resolver/revogar negcio direitos reais de garantia direitos das coisas tratam ordenao de domnios das coisas. - direitos da famlia: que se desenvolvem em torno da instituio familiar. direitos potestativos: modificativo; extintivo direitos de crdito: dos cnjuges direitos reais: bens do casamento - direitos sucessrios: sucesso mortis causa direito potestativo a aceitao da herana direito crdito dvidas da herana direitos reais aquisio propriedade Tipos de direitos subjectivos (lado passivo em sentido estrito) - dever jurdico: necessidade de adoptar determinado comportamento. - sujeio a um determinado direito potestativo. b) os direitos potestativos: so poderes jurdicos de, por um acto livre de vontade, s de per si ou integrado por uma deciso judicial, produzir efeitos jurdicos que inelutavelmente se impem contraparte. Sujeio: situao de necessidade em que se encontra o adversrio de ver produzir-se forosamente uma consequncia na sua esfera jurdica por mero efeito do exerccio do direito pelo seu titular. a) direitos potestativos constitutivos: produzem a constituio de uma relao jurdica, por um acto unilateral do seu titular. Exs: constituio da servido de passagem em benefcio do prdio encravado (1550). b) direitos potestativos modificativos: tendem a produzir uma simples modificao numa relao jurdica existente e que continuar a existir, embora modificada. Ex.: mudana de servido para outro stio. c) direitos potestativos extintivos: tendem a produzir a extino de uma relao jurdica existente. Faculdades jurdicas primrias: faculdades ou poderes em que se desdobra o poder de autodeterminao e atravs dos quais a pessoa se transforma em sujeito de efectivas relaes jurdicas civis. Faculdades jurdicas secundrias: poderes ou faculdades que constituem manifestaes ou irradiaes de direitos subjectivos existentes.

40.Estrutura da relao jurdica (cont.); o dever jurdico e a sujeioO lado passivo da relao jurdica: traduz-se num dever jurdico ou numa sujeio. No dever jurdico, o sujeito do dever, expondo-se embora a sanes, tem a possibilidade prtica de no cumprir. Direitos relativos: quando os deveres jurdicos impendem sobre uma ou mais pessoas determinadas. Direitos absolutos: quando se impem a todas as pessoas. Sujeies: situao de necessidade inelutvel, em que est constitudo o adversrio do titular de um direito potestativo, de suportar na sua esfera jurdica as consequncias constitutivas, modificativas ou extintivas do exerccio daquele direito. Aqui, diversamente do dever jurdico, trata-se de uma necessidade inelutvel. O sujeitado no pode violar ou infringir a sua situao. Ex.: o direito potestativo dirigido constituio de uma servido em beneficio de um prdio encravado, no pode deixar de produzir esse efeito, mesmo sem ou contra a vontade do proprietrio do prdio confinante.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Estado de sujeio: o sujeitado suporta as consequncias de um direito; contra plo do exerccio de um direito potestativo.

41.Estrutura da relao jurdica: relao jurdica simples ou singular e complexaRelao jurdica complexa: uma srie de direitos subjectivos e deveres ou sujeies conexionadas ou unificadas por um qualquer aspecto. Tratando-se de relaes emergentes de um contrato obrigacional, esse quadro, numa posio recproca de instrumentalidade e interdependncia, uma relao obrigacional em sentido amplo ou relao obrigacional complexa. Assim, a relao formada entre comprador e vendedor de uma mquina no s constituda pelo dever de pagar o preo e pelo correlativo direito ao preo. O devedor do preo simultaneamente credor da entrega da mquina e existem outros vnculos entre as partes do contrato, v.g., eventuais direitos a uma indemnizao por fora de um no cumprimento, deveres acessrios (ex.: o do vendedor de guardar a mquina, embal-la, promover o seu transporte), deveres laterais (ex.: o de informar sobre as condies do funcionamento da mquina), direitos potestativos (ex.: de resoluo ou modificao do contrato). nus: necessidade de adopo de um comportamento para realizao de um interesse prprio. No nus o onerado precisa de. No dever jurdico o obrigado deve. Expectativa jurdica: a situao activa, juridicamente tutelada, correspondente a um estdio dum processo complexo e formao sucessiva de um direito.

42.Elementos da relao jurdica: sujeitos, objecto, facto jurdico e garantiaSujeitos: so as pessoas entre quem se estabelece o enlace, o vnculo respectivo. So os titulares do direito subjectivo e das posies passivas correspondentes: dever jurdico ou sujeio. Os sujeitos so pessoas pois a personalidade jurdica precisamente a susceptibilidade de ser titular de direitos e de obrigaes, a susceptibilidade de ser titular de relaes jurdicas. Objecto: aquilo sobre que incide os poderes do titular da relao. Estes formam o contedo da relao jurdica. Podem ser objecto de relaes jurdicas outras pessoas, coisas corpreas ou incorpreas, modos de ser da prpria pessoa e outros direitos. Facto jurdico: todo o facto produtivo de efeitos jurdicos. O facto jurdico tem um papel condicionante do surgimento da relao; uma condio ou pressuposto da sua existncia. Garantia: o conjunto de providncias coercitivas, postas disposio do titular activo de uma relao jurdica, em ordem a obter satisfao do seu direito. Trata-se da possibilidade, prpria das relaes jurdicas, de o seu titular activo por em movimento o aparelho sancionatrio estadual para reintegrar a situao correspondente ao seu direito, em caso de infraco, ou para impedir uma violao receada.

Espcies de relaes jurdicas; perspectiva esttica- singular: apenas uma pessoa ocupa o local de sujeito activo. - plural: mais do que uma pessoa em qualquer dos lados. - bilateral: apenas duas partes/plos de interesses (ex.: contrato de arrendamento). - plurilateral: vrias frentes de interesses (ex.: contrato de sociedade).

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- instantneas: esgotam-se num nico momento temporal embora os seus efeitos se projectem para o futuro (ex.: doao). - duradouras: tm como cerne os direitos de personalidade. - autnomas: no depende de outras relaes jurdicas. - no autnomas: dependem de outras relaes jurdicas (ex.: casamento; relaes patrimoniais dependentes da filiao). - simples: aquela que pressupe sujeito activo (com direito) e passivo (com dever); estrutura linear. - complexas: situao mais vulgar; um facto jurdico que faz surgir sua volta um enredo enorme (ex.: constituio de uma sociedade). nus: necessidade de adoptar determinado comportamento para alcanar determinado interesse; se no se adoptar o comportamento, o interesse no satisfeito mas no h sano sobre o onerado. Ex.: o nus da prova recai sobre o lesante; registo predial no obrigatrio mas quem no o fizer tem desvantagens.

Combinaes de relaes jurdicasAs relaes jurdicas podem combinar-se entre si, sendo nesta zona que devem localizar-se figuras que vulgarmente se deslocam para outras regies (ex.: a noo de patrimnio, que se localiza erradamente na teoria das coisas e dos objectos). Duas combinaes de relaes jurdicas: a) Acessoriedade: combinao de relaes jurdicas (duas, normalmente) em que uma delas (a acessria) meramente instrumental em ordem outra (a principal), ficando em face dela em posio de dependncia. Neste sentido, uma combinao vertical, desenvolvendo uma estrutura de suprainfra-ordenao. o caso das relaes de garantia especial das obrigaes (tanto pessoais: fiana e subfiana; como reais: consignao de rendimentos, penhor, hipoteca, privilgios creditrios e direitos de reteno). Dependem do direito de crdito, extinguindo-se quando a relao creditcia se extingue. b) Pertinncia: combinao de relaes jurdicas atravs do seu ennucleamento comum em certo plo (em regra, uma pessoa). Neste sentido, uma combinao horizontal, desenhando uma estrutura circular ou esfrica. H uma combinao pertinencial necessria, indefectvel em todos os sujeitos ou pessoas em sentido jurdico: e a esfera jurdica, que coenvolve todas as relaes jurdicas activas e passivas que se centram num sujeito (como todo o sujeito, pelo facto de o ser, tem um mnimo de relaes jurdicas as relaes inatas, nas pessoas humanas, ou as relaes intrassociais ou reais, nas pessoas stricto sensu -, toda a pessoa tem esfera jurdica). Patrimnio: conjunto de relaes jurdicas de carcter patrimonial. O patrimnio de cada 1 um crculo mais pequeno dentro da grande esfera jurdica de cada um. Patrimnio global: conjunto de relaes jurdicas activas e passivas avaliveis em dinheiro de que uma pessoa titular; todo o activo e passivo de determinada pessoa. Patrimnio ilquido: conjunto de direitos avaliveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abstraindo das obrigaes; activo (+); sem descontar o passivo; valor sempre maior ou igual a zero (0). Patrimnio lquido: saldo patrimonial; passivo (-); ao activo tira-se o passivo; maior, igual ou menor que zero (0).

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Afectao: - geral: todo o patrimnio est afecto a obrigaes. - especial: que se destina apenas a satisfazer certos encargos. Perspectiva dinmica Processos fundamentais: - aquisio de direitos: pode-se ter por objecto direitos que surjam ex novo, pode versar tambm sobre direitos preexistentes, que mudam apenas de titular, e tal , de resto, o caso normal. - constituio de direitos: trata-se sempre de direitos que surgem ex novo, ainda que porventura sobre a base de um direito anterior. Alguma doutrina considera que no h constituio de direitos sem aquisio. Havendo aquisio no implica constituio. A maior parte dos casos no implica constituio. Ex.: A doa a B. B adquire um direito j constitudo. Apenas houve mudana de titular. Aquisio originria: um direito surge ex novo; o direito no depende juridicamente/genericamente do facto anterior mas sim do facto aquisitivo. Pode ser que no preexistisse aquisio de qualquer direito dum anterior titular (ex.: ocupao de coisas mveis abandonadas ou que nunca tiveram dono). Pode suceder tambm que preexistisse aquisio o direito dum titular anterior, direito que se extinguiu ou ficou limitado ou comprimido em virtude da aquisio. Mas o direito do adquirente no se filia no do titular anterior. O direito do adquirente ser um direito novo da mesma natureza e contedo que o direito extinto. Aquisio derivada: pressupe um direito do anterior titular (o mesmo ou outro mais amplo); depende do facto aquisitivo bem como do direito anterior (quanto amplitude. No pode ser mais amplo que o anterior). acompanhada da extino subjectiva do direito do anterior titular ou da sua limitao ou compresso, havendo entre os 2 fenmenos um nexo causal e no meramente cronolgico. Na aquisio derivada intervm portanto uma relao entre o titular anterior e o novo. Exemplos de aquisio de direitos originria: 1318 - aquisio de mveis; sucessria; contratual. Exemplos de aquisio de direitos derivada: - translativas: um direito que se adquire coincide com o direito do anterior titular (A doa a B. B adquire o direito de A tal e qual). Ou transmisso parcial do direito (A tem terreno de 1000 m2 e vende apenas 500 m2). - constitutivas: adquire um direito ex novo mas o seu contedo cabe no direito anterior (A adquire direito de usufruto a B. B v o seu direito de propriedade limitado embora continue a existir. O objecto o mesmo; dois direitos sobre o mesmo objecto). - restitutivas: a hiptese de o titular de um direito real limitado se demitir dele, unilateral ou contratualmente, recuperando assim, o proprietrio, a plenitude dos seus poderes, em virtude da conhecida elasticidade ou fora expansiva do direito de propriedade. Por qualquer razo extingue-se o direito filial e o direito progenitor expande-se; volta a adquirir a dimenso inicial uma vez que deixa de estar reprimido.

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Espcies de relaes jurdicas; perspectiva esttica (II)Aquisio, modificao e extino de relaes jurdicas 89.PreliminaresOs facto jurdicos desencadeiam determinados efeitos. Esses efeitos jurdicos consistem fundamentalmente numa aquisio, modificao ou extino de relaes jurdicas.

90.Conceito e modalidade de aquisio de direitos. Aquisio originria e derivada. Modalidades desta ltimaUm direito adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele. Aquisio de direitos: a ligao de um direito a uma pessoa. Constituio de direitos: o seu surgimento, a criao de um direito que no existia anteriormente. Toda a constituio de um direito implica a sua aquisio, dado no existirem direitos sem sujeito. Impe-se distinguir entre aquisio derivada e sucesso. Sucesso: o subingresso de uma pessoa na titularidade de todas as relaes jurdicas ou determinada ou determinadas relaes jurdicas de outrem. Coincide com a aquisio derivada translativa, pois s nesta que o direito adquirido o mesmo do anterior titular. A sucesso diz respeito tambm s dvidas e no s aos direitos.

91.Importncia da distino entre aquisio derivada e originriaNa aquisio originria, a extenso do direito adquirido depende apenas do facto ou ttulo aquisitivo. Na aquisio derivada, a extenso do direito do adquirente depende do contedo do facto aquisitivo, mas depende ainda da amplitude do direito do transmitente, no podendo em regra ser maior que a deste direito (nemo plus juris in alium transferre potest quam ipse habet). Este princpio caracterizador da aquisio derivada comporta, todavia, excepes. Estas excepes significam que, em certas hipteses, o adquirente, no obstante a aquisio ser derivada, pode obter um direito que no pertencia ao transmitente ou mais amplo do que aqueles que pertenciam a este. Noo de terceiros para efeitos de registo predial: so as pessoas que do mesmo autor ou transmitente adquiram direitos incompatveis (total ou parcialmente) sobre o mesmo prdio. a) dos institutos do registo predial, do registo de automveis e registos similares (aeronaves, navios, quotas sociais). Por fora destes institutos devem ser inscritos, com o fim de lhes dar publicidade, em livros existentes em reparties especiais (conservatrias no caso do registo predial e automvel), os diversos actos inerentes a bens imveis, a veculos automveis ou aos restantes bens indicados, em particular os actos de que resulte a aquisio de direitos reais sobre os mesmos bens. O registo no o meio de aquisio dos direitos, sendo o acto plenamente eficaz inter partes, seus herdeiros ou representantes, mesmo na falta de registo. A consequncia da falta de registo a ineficcia do acto em relao a terceiros. Ex.: se Abel vendeu um prdio ou automvel a Bia e de pois a Caca, Bia e Caca so terceiros entre si e prevalece a venda a Caca, se foi primeiramente registada, embora Abel j no fosse o verdadeiro proprietrio, pois a sua venda a Bia plenamente vlida e eficaz inter partes. Logo, verifica-se uma excepo ao princpio, segundo o qual na aquisio derivada o adquirente (C) no pode adquirir um direito, se este no existia na titularidade do transmitente (A).

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL b) da inoponibilidade da simulao a terceiros de boa f. Os negcios jurdicos simulados so nulos e, como tal, no produzem quaisquer efeitos. Se o simulado adquirente dum prdio, porm, vender ou doar, por acto verdadeiro, o mesmo prdio a um terceiro e este ignorar a simulao, o terceiro adquire validamente esse objecto (243). O terceiro adquire, portanto, de quem no era proprietrio, ao invs do que prescreve o princpio nemo plus juris.... f. c) da eventual inoponibilidade das nulidades e anulabilidades a terceiro de boa

Por fora do princpio nemo plus juris..., se A transmitiu, por negcio nulo ou anulvel, um prdio a B e este o transmitiu a C, declarado nulo ou anulado o primeiro acto, o segundo seria tambm nulo e, consequentemente, C devia restituir o prdio. Isto porque as nulidades e anulaes operam em face de terceiros e no s em face da contraparte. O actual cdigo civil estabelece (291) um regime de inoponibilidade a terceiros de boa f, adquirentes a ttulo oneroso, das nulidade e anulaes de negcios respeitantes a imveis ou moveis sujeitos a registo, desde que a aco tendente declarao de nulidade ou anulao no seja proposta e registada dentro dos 3 anos posteriores concluso do negcio. Assim se realiza, atravs desta inovao do cdigo de 1966, a proteco do terceiro de boa f, adquirente a non domino, sendo os direitos deste sacrificados, por fora da invalidade do negcio donde resultaram os direitos do seu transmitente, apenas na hiptese de este ser invalidado nos 3 anos subsequentes sua realizao. Para que um terceiro estar protegido preciso a verificao de alguns requisitos: Existir um terceiro. O terceiro tem que estar de boa f (que no se traduz no simples desconhecimento do negcio anterior (simulao), aquele que desconhecia e no tinha a obrigao de saber; o que no sabia mas desconfiava, est de m f). preciso que esteja em causa a aquisio de um direito sujeito a registo. O objecto do negcio tem que ser bem imvel ou bem mvel sujeito a registo (ex.: veculos). Que o negcio entre B e C seja oneroso (no doao). preciso que o registo seja anterior ao registo de aco de invalidade do negcio anterior. preciso que tenham passado pelo menos 3 anos desde o negcio invlido sem que tenha sido intentada uma aco com vista sua invalidade.

Por exigncia da proteco da confiana dos terceiros e dos interesses do comrcio jurdico, resulta uma excepo ao princpio geral da aquisio derivada: nemo plus juris in alium transferre potest quam ipse habet. Princpio do trato sucessivo: um registo s pode ser feito havendo registo anterior do transmitente (A -> B -> C. C s regista se B o tiver feito e anteriormente A). Mesmo assim, o registo no garante que a pessoa inscrita como ltimo adquirente o seja realmente. Da que o registo seja facultativo. Sistema de registo declarativo: o direito adquire-se por mero efeito do contrato; se o contrato for vlido o direito adquirido independentemente do registo; regista-se aquilo que se diz adquirir Sistema de registo constitutivo: para se adquirir o direito tem que se registar; o registo que cria o direito; pressupe meios (equipas tcnicas, peritos)/ conhecimento exacto sobre o que incidem os direitos. No nosso caso, a hipoteca (687) constitutivo. O registo no obrigatrio mas um nus. Em Portugal no h registo de bens mas sim aquisies de direitos sobre bens. Efeito automtico: o registo da aquisio de um direito em nome prprio faz com que se pressuponha a titularidade do direito (mesmo assim trata-se de uma presuno ilidvel).

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Efeito lateral: outros que no o central e o automtico (o facto de se registar produz determinados efeitos). Efeito central: aquisies sujeitas a registo, no registadas, no so oponveis a terceiros e a regra geral que vale no direito primeiramente adquirido substituda pela regra da prevalncia do primeiro registo.

92.Modificao de direitosTem lugar a modificao de direitos (do lado activo) quando, alterado ou mudado um elemento de um direito, permanece a identidade do referido direito, apesar da vicissitude ocorrida. A perdurao do direito, apesar da modificao verificada, significa que o ordenamento jurdico continua a tratar o direito como se no tivesse tido lugar a alterao. O direito o mesmo e no um direito novo. Modificao subjectiva: se na modificao do direito tem lugar uma substituio do respectivo titular, permanecendo a identidade objectiva do direito. Tem lugar nesta hiptese uma situao de substituio. o que se verifica nos direitos de crdito, e quanto a actos inter vivos, com a cesso de crditos e com a subrogao nos crditos (ex.: A empresta dinheiro a B. A diz a cede a C o direito de ser ele a receber o dinheiro de B. B paga a dvida a C). A sucesso entre-vivos nas relaes obrigacionais substituio de sujeitos sem extino da relao jurdica e surgimento de uma nova, isto , sem novao, mas antes com perdurao da entidade do vnculo pode ter lugar, tambm, do lado passivo, surgindo ento a assuno da dvida e pode referir-se relao contratual, normalmente atravs da cesso da posio contratual. A modificao subjectiva das relaes jurdicas, quer do lado activo, quer do lado passivo, pode ter lugar por sucesso mortis causa. Tambm se pode falar de uma situao de multiplicao. o que se verifica quando a um sujeito se substituem vrios. Neste caso, a multiplicao pode ocorrer por: sucesso (A transmite o mesmo direito para B e C); adjuno (um novo devedor assume a obrigao para com o credor, permanecendo juntamente com o devedor inicial [assuno cumulativa]).

Pode, por ltimo, existir uma situao de concentrao. Neste caso, um direito inicialmente pertencente a dois sujeitos passa a pertencer a um nico terceiro (A+B -> C). Modificao objectiva: se na modificao do direito se muda o contedo ou o objecto do direito, permanecendo este idntico. Muda o contedo se ex.: concedida pelo credor ao devedor uma prorrogao do prazo para o cumprimento. Muda o objecto se ex.: no cumprindo o devedor culposamente a obrigao, o seu dever de prestar substitudo por um dever de indemnizar. A modificao tambm pode surgir do lado activo sendo esta sempre subjectiva. Verifica-se tambm uma situao de substituio, multiplicao e concentrao. S pode haver substituio do devedor se o credor aceitar.

93.Extino de direitosA extino de um direito tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurdica de uma pessoa. Quebra-se a relao de pertinncia entre um direito e a pessoa do seu titular. Extino subjectiva: se o direito sobrevive em si, apenas mudando a pessoa do seu titular. O direito mudou de titularidade; extinguiu-se para aquele sujeito, mas subsiste na esfera jurdica de outrem. Ocorre por vontade do titular do direito extinto; sem a vontade do mesmo titular; ou contra a sua vontade.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL A extino subjectiva ou perda de direitos verifica-se sempre que tem lugar um sucesso na titularidade dos direitos; o sucessor adquire ou subingressa na titularidade do direito e este extingue-se para o autor ou transmitente. Extino objectiva: existe se o direito desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer pessoa. No h aquisio derivada, sucesso ou transmisso. o que acontece se h destruio do objecto; abandono de um objecto; no exerccio do direito. Este ltimo caso pode ocorrer por: - No uso (direitos reais sobre coisa alheia; direitos reais limitados ex.: servido de passagem). - Renncia (abandono de uma situao de prevalncia. Ex.: 265n1; 302). - Prescrio: refere-se a direitos subjectivos em sentido estrito (ex.: direitos de crdito 304). O beneficirio da prescrio, completada esta, pode recusar o cumprimento da prestao ou opr-se ao exerccio do direito prescrito. - Caducidade: direito de accionar est em causa; direitos potestativos: arguir a nulidade do negcio; ao fim de um ano extingue-se por caducidade. - Decadncia: quando o direito deixa de existir por a formao posterior de um direito incompatvel.

No plano das combinaes jurdicas: a sucesso num patrimnio (designadamente, na herana). Sucesso a ttulo universal e sucesso e ttulo particular. O fenmeno da sub-rogao realA sucesso num patrimnio tem o seu paradigma na sucesso mortis causa. Mas tambm sucesso num patrimnio a adjudicao a um scio ou terceiro, numa sociedade em dissoluo, da totalidade do patrimnio social ou de uma quota parte a lquota dele. Sucessor a ttulo universal o que sucede na totalidade ou numa quota parte ideal do patrimnio. Sub-rogao real: pode ser directa (a coisa directamente substituda por outra: troca de um prdio por outro, de um prdio por aces) e indirecta (a coisa substituda por um preo e o preo por outra coisa: A vende a B um prdio e com o preo compra a C um automvel). A sub-rogao real joga naturalmente (faz parte da fisiologia) num patrimnio (de liquidao), pois o que interessa manter o conjunto de valor (activo) que garante o passivo.

Sucessos acidentais da vida da relao jurdica: Pendncia, Aquiescncia e RevivescnciaPendncia: quando uma relao jurdica plenamente formada no pode funcionar em pleno porque o sujeito activo ainda no existe ou no est ainda determinado. o caso das aquisies derivadas constitutivas (constituio de usufruto, de superfcie) Aquiescncia: quando um RJ j funcionou em pleno, mas por um obstculo anlogo deixa de ter o seu funcionamento normal, ficando como que adormecida. o que acontece com as aquisies derivadas translativas sujeitas a condio ou termo suspensivos; o caso das RJ do ausente, que se extinguiram pela sua morte. Revivescncia: quando na Pendncia ou Aquiescncia, o obstculo cessa e a RJ funciona, ou funciona de novo, em pleno.

OS SUJEITOS DA RELAO JURDICA CIVIL Das pessoas humanasA subjectividade jurdica (a qualidade de quem sujeito de direito) supe no homem a personalidade jurdica, que, por seu turno, supe a personalidade humana.

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL porque o homem pessoa pessoa humana que ele se reconhece como pessoa em sentido jurdico e, logo, como sujeito para o direito. A personalidade humana um prius da personalidade jurdica. A personalidade jurdica no algo que subsista por si mesmo, mas porque existe a personalidade humana. H personalidade jurdica quando existe (logo que existe e enquanto existe) personalidade humana. A personalidade jurdica a projeco no direito (do normativo jurdico) da personalidade humana. Do que resultam os seguintes corolrios: 1) Essencialidade: a personalidade essencial, pois pressupe a personalidade humana. S com personalidade humana h personalidade jurdica. 2) Indissolubilidade: a personalidade jurdica indissolvel da personalidade humana, existindo tanto e enquanto esta personalidade existir. O que involve a irrecusabilidade da personalidade jurdica. 3) Ilimitabilidade: a personalidade jurdica to ilimitada como a personalidade humana. O que exclui as chamadas gradaes de personalidade, ou o numerus clausus dos direitos de personalidade. A personalidade jurdica traduz-se em subjectividade jurdica, que a qualidade de quem sujeito de direito, ou seja, de quem tem a susceptibilidade abstracta de ser titular de direitos e deveres. Se a personalidade jurdica, como projeco da personalidade humana, constitui juridicamente um esse, a subjectividade jurdica constitui um posse. Posse abstracto: poder de ser abstractamente titular de direitos e obrigaes. Todavia, um posse necessrio: ningum verdadeiramente pessoa jurdica se no tiver o estatuto permanente de sujeito de direito. A subjectividade jurdica, como susceptibilidade abstracta de se ser titular de direitos e obrigaes, reclama a Capacidade Jurdica: a susceptibilidade concreta de se ser titular de tais direitos e deveres. Trata-se j no de um posse abstracto, mas de um posse concreto: de me ser reconhecida a possibilidade de ter o direito A ou o direito B. Algo quantificvel, de teoricamente varivel de pessoa para pessoa jurdica, de sujeito para sujeito de direito. A plenitude e a igualdade de direitos constituem a reivindicao nmero um que a personalidade formula actualmente ao Poder. Capacidade de Exerccio de direitos: a capacidade para intervir por si prprio ou atravs de representante voluntrio.

Da personalidade66 n.1 O nascimento entende-se como a separao do feto do ventre materno. Exige-se alm disso, que seja com vida e completo, excluindo-se quer os nados-mortos, quer os que morrem durante o parto ou antes da seco do cordo umbilical. Ao princpio de que a personalidade jurdica comea com o nascimento parece opor-se a situao jurdica dos nascituros, a quem a lei reconhece direitos. Realmente, no s aos j concebidos mas ainda aos no concebidos a lei faculta que se faam doaes (952) e que se defiram sucesses (os concebidos, em qualquer espcie de sucesso 2033 n.1; os no concebidos, s na sucesso testamentria e contratual 2033 n.2). Segundo o 1798, o filho reputa-se concebido dentro dos primeiros 120 dias dos 300 que precedem o nascimento. Quem nasce 300 dias depois da doao ou da morte do autor da herana reputa-se como no concebido; quem nasce dentro desses 300 dias reputa-se como concebido. (esquema caderno, dia 3/12/2002)

(II)Pessoas singulares 47.Personalidade jurdica. Termo da personalidadea) A morte Nos termos do n.1 do 68 do CC, a personalidade cessa com a morte. 28 Vinnie 2002/2003 todos os direitos reservados

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL No momento da morte, a pessoa perde os direitos e deveres da sua esfera, extinguindo-se os de natureza pessoal e transmitindo-se para os sucessores mortis causa os de natureza patrimonial. PIRES DE LIMA, ANTUNES VARELA: vem no 71 n.1 (os direitos de personalidade gozam igualmente de proteco depois da morte do respectivo titular) um desvio cessao da personalidade com a morte. Problema discutido a questo de saber se a leso do direito vida susceptvel de reparao. Entre ns essa reparao admitida com base no 70 constituindo a ofensa vida a mxima ofensa possvel da personalidade e no 496, onde o n.3 textualmente prescreve a possibilidade de atender aos danos no patrimoniais sofridos pela vtima. O que est em causa a transmisso do direito de compensao (atribuvel pela ilcita supresso da vida) e no da transmisso do direito vida. Qualquer falecimento, pondo termo personalidade e desencadeando efeitos jurdicos significativos, deve ser registado na repartio do registo civil da rea onde ocorreu ou se encontra o cadver. b) Presuno de comorincia Nos termos do 68 n.2 quando certo efeito jurdico depender da sobrevivncia de uma a outra pessoa, presume-se em caso de dvida, que uma e outra falecem ao mesmo tempo. Consagra-se uma presuno de comorincia (isto , de mortes simultneas) susceptvel de prova em contrrio iuris tantum. Esta presuno tem enorme importncia prtica, especialmente no q