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RESUMOS METODOLOGIA 1. DIREITO COMPARADO IMPORTANCIA E FUNÇÕES DO DIREITO COMPARADO Três razões da importância do estudo comparado: A primeira consiste no aumento dos intercâmbios econômicos, pessoais e culturais entre as nações, fruto do fenômeno da globalização. A segunda, os processos de integração regional, de certa forma faceta da globalização, mas com importância particular a justificar seu destaque, processos estes cada vez mais presentes na realidade quotidiana do jurista. Por fim, a tendência de certos valores, especialmente os direitos humanos, de afirmarem-se em nível transnacional e universal. Funções do Direito Comparado no âmbito da ciência do Direito. DIREITO COMPARADO DESCRITIVO A principal função e a maior importância do Direito Comparado Descritivo está centrado em sua contribuição para o aprimoramento da ciência do Direito.Ele desempenha papel fundamental na interpretação, sistematização e construção do conhecimento jurídico. Tal função é denominada de função epistemológica do direito comparado. “Com efeito, a base mesma do conhecimento humnano é dialética, vale dizer, o ser humano raciocina, com base no binário, pelo mecanismo de comparação.” Deve-se atentar que os próprios conceitos elementares do pensamento, da lógica e da linguística somente são compreensíveis através de uma estrutura de contrastes. No caso do direito, por exemplo, um jurista que está inserido numa sociedade onde é vigente o Civil Law, ao compreender o funcionamento de um ordenamento diferente – como o Common Law – começa a enxergar a própria legislação com outros olhos. Assim, ele começa a interpretar o ordenamento, regras e principios de modo mais adequado, levando em consideração corretamente o sistema a que se filia, afastando-se, ao mesmo tempo, impropriedades pela observação superficial e apressada de direitos estrangeiros. Além da compreensão de similitudes e particularidades de cada família do direiot, pode-se também fazer o mesmo com os diferentes direitos nacionais confrontados entre si por meio do direito comparado. “Os estudos de Direito Comparado partem da premissa da superioridade de todo e qualquer estrangeirismo jurídico jurídico em relação ao direito nacional, ou fazem aopologia a recepções de elementos de direito estrangeiro sem critérios. É evidente que, por meio da comparação, ocorre o aperfeiçoamento do sistema jurídico nacional mas nem sempre o direito ‘alienígena’ é superior ao nacional.

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RESUMOS METODOLOGIA

1. DIREITO COMPARADO

IMPORTANCIA E FUNÇÕES DO DIREITO COMPARADO

Três razões da importância do estudo comparado:

A primeira consiste no aumento dos intercâmbios econômicos, pessoais e culturais entre as

nações, fruto do fenômeno da globalização.

A segunda, os processos de integração regional, de certa forma faceta da globalização, mas

com importância particular a justificar seu destaque, processos estes cada vez mais presentes

na realidade quotidiana do jurista.

Por fim, a tendência de certos valores, especialmente os direitos humanos, de afirmarem-se em

nível transnacional e universal.

Funções do Direito Comparado no âmbito da ciência do Direito.

DIREITO COMPARADO DESCRITIVO

A principal função e a maior importância do Direito Comparado Descritivo está centrado em

sua contribuição para o aprimoramento da ciência do Direito.Ele desempenha papel

fundamental na interpretação, sistematização e construção do conhecimento jurídico. Tal

função é denominada de função epistemológica do direito comparado.

“Com efeito, a base mesma do conhecimento humnano é dialética, vale dizer, o ser humano

raciocina, com base no binário, pelo mecanismo de comparação.” Deve-se atentar que os

próprios conceitos elementares do pensamento, da lógica e da linguística somente são

compreensíveis através de uma estrutura de contrastes.

No caso do direito, por exemplo, um jurista que está inserido numa sociedade onde é vigente

o Civil Law, ao compreender o funcionamento de um ordenamento diferente – como o

Common Law – começa a enxergar a própria legislação com outros olhos. Assim, ele começa a

interpretar o ordenamento, regras e principios de modo mais adequado, levando em

consideração corretamente o sistema a que se filia, afastando-se, ao mesmo tempo,

impropriedades pela observação superficial e apressada de direitos estrangeiros.

Além da compreensão de similitudes e particularidades de cada família do direiot, pode-se

também fazer o mesmo com os diferentes direitos nacionais confrontados entre si por meio do

direito comparado.

“Os estudos de Direito Comparado partem da premissa da superioridade de todo e qualquer

estrangeirismo jurídico jurídico em relação ao direito nacional, ou fazem aopologia a recepções

de elementos de direito estrangeiro sem critérios. É evidente que, por meio da comparação,

ocorre o aperfeiçoamento do sistema jurídico nacional mas nem sempre o direito ‘alienígena’

é superior ao nacional.

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O direito comparado também foi importante para a síntese de teorias gerais, principalmente à

teoria geral do direito. A teoria geral é importante para sistematização e desenvolvimento da

ciência jurídica. Por fim, ele desempenha um papel determinante na própria formulação dos

conceitos a partir dos quais o jurista compreende e estuda a ciência jurídica.

DIREITO COMPARADO E HERMENÊUTICA

Outra contribuição prestada pelo DC é aquela relativa À hermeneutica jurídica. Esta pode ser

entendida como o seotr do conhecimento no qual “estão encerrados todos os princípios e

regras que devam ser judiciosamente utilizados para a interpretação do texto legal.”

No âmbito da hermenêutica, O DC contribui com o desenvolvimento de um novo método ou

técnica de interpretação jurídica.

Existem já algumas técnicas tradicionais, que buscam obter o sentido e o alcance da norma

através de análise mais gramatical (Técnica Literal); através das regras da lógica formal

(lógica); através da ana´lise das circunstâncias e razões pelas quais foi editada (histórica);

através da análise do conjunto do ordenamento jurídico em que se encontra inserta

(sistemática); através da análise da finalidade perseguida pela teleologia (teleológica).

Surge a interpretação comparativa, está sendo considerada um método interpretativo

autônomo, ao lado dos tradicionais, como o teleológico e o sistemático.

A interpretação comparativa consiste na análise da norma, buscando definir seu sentido e

alcance, através do recurso ao DC, vale dizer, à interpretação conferida, em outros sistemas

jurídicos, a normas ou institutos idênticos, análogos, ou ainda distintos (interpretação a

contrário sensu).

Conclui-se que, por meio do método comparativo, é possivel realizar o confronto da norma em

questão com normas estrangeiras, visando obter seu sentido e alcance, avançando na

interpretação jurídica.

DIREITO COMPARADO E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

A argumentação sempre foi relevante no âmbito do jurídico e continua a exercer um papel

essencial nos dias de hoje. Estando ciente de que o direito não é suscetível de demonstração

exata, conclui-se que o direito não se insere na estrutura tradicional da lógica formal. Por isso,

o discurso jurídico encontra-se no campo retórico e não analítico.

Segundo Fábio Ulhôa Coelho, o direito precisa parecer lógico – mesmo não sendo – para

cumprir sua função de resolver conflitos de interesses. O direito, portanto, é entendido como

pseudo-psicológico.

Enfim, a argumentação jurídica pretende obter convencimento da platéia não por

determinada tese ser considerada como verdadeira mas sim pela mesma ser considerada a

mais plausível, razoável ou útil. Além disso ela desempnha um papel de extrema importância

na aferição da legitimidade da interpretação jurídica e da correção normatica do direito – seja

no âmbito da ciência do direito, seja no âmbito da prática judiciária.

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Deve-se apontar que os argumentos de comparação são considerados quase-lógicos, pois

possuem uma carga de credibilidade maior do que os argumentos feitos por meio de

analogias.

DIREITO COMPARADO CRÍTICO

O Direito Comparado Crítico é aquele que presente analisar o ordenmaneto nacional em

cotejo com um ou mais ordenamentos estrangeiros, sempre num sentido de avaliação e

aperfeiçoamento por meio de bases comparatistas.1 No que diz respeito à avaliação das

instituições jurídicas, a análise do fenômeno jurídico sofrem alterações de ordem qualitativa,

com base nos avanços proporcionados pela pesquisa comparada.

O comparatista, por meio do estudo entre o sistema normativo nacional e exterior, tem o

poder de fazer a releitura do ordenamento nacional de forma crítica, proporcionando um

relevante impacto em àreas importantes como a da própria interpretação jurídica.2

Por fim, deve-se esclarecer que o direito Comparado Crítico não possui relação com a teoria

crítica do Direito Comparado. Esta teoria negava a cientificidade do direit ocomparado,

reduzindo-o a mero método comparativo aplicado ao jurídico, sendo esta uma concepção

incopatível com a defendida.

DIREITO COMPARADO APLICADO

Será analisado a utilização prática dos estudos de Direito Comparado

DIREITO COMPARADO E POLÍTICA LEGISLATIVA

O Direito comparado pode constituir elemento importante de política legislativa e reforma do

Estado por meio do fenômeno denominado circulação de modelos – onde inúmeros

ordenamentos jurídicos nacionais , “exportam” e “importam” constantemente soluções

jurídicas, sejam elas constituições, leis, códigos, institutos e o mais, através da recepção

legislativa.

Por exemplo, no caso do Brasil, desde sua descoberta e colonização, ocorreram recepções

legislativas, primeiramente oriundas do Direito Português medieval – Ordenações do Reino –,

e, sucessivamente, através do recurso aos mais diversos sistemas jurídicos estrangeiros,

configurando assim o ordenamento vigente.

DIREITO COMPARADO E INTEGRAÇÃO REGIONAL

A comparação jurídica, além de importante instrumento da política legislativa também é

relevante se tratando de fenômenos como o processo internacional de integração regional

entre estados.

1 O sentido de “Crítica” aplicado é o de análise meticulosa, julgamento criterioso, o qual pode ou não

resultar em um juízo de reprovação. É equivocada a interpretação reducionista do termo ao sentido de julgamento, censura ou reprovação. 2 Deve-se ressaltar que, por meio da comparação, pode-se fazer um julgamento ponderado, ou seja,

sem que haja inclinação do comparatista para um ou ouro ordenamento.

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Além de ser instrumento de uniformização dos ordenamentos jurídicos em processo de

integração, os estudos de direito comparado são necessários à conformação do Direito

Supranacional.3 Sabido o fato de que tal integração entre os estados é dotada de estrutura

complexa devido às peculiaridades constitucionais, é necessário que se façam estudos

juscomparativos preliminares.

É possível concluir que a partir da integração dos estados – logicamente com o uso do direito

comparado –, esses passam a conviver com uma realidade em que, ao lugar da aplicação

exclusiva do direito nacional no terrirório, verifica-se uma pluralidade de ordens juridicas

concorrentes: o direito nacional, o supranacional e ainda o estrangeiro, no âmbito do Direito

internacional privado.

Com efeito, a integração ocorrida tem trazido novos problemas jurídicos ou revelando

aspectos dos antigos, tanto no âmbito do direito privado quando no do direito público o que,

por sua vez, impôe ao jurista uma nova atitude em relação a sua formação e atuação. Para que

este consiga suprir tais necessidades, deve-se compreender a teoria da

interconstitucionalidade – ou seja, a interação entre os diversos ordenamentos – , em

conjunto com o estudo comparado – este usado como um instrumento constante devido à

velocidade da mutação ocorrida nos ordenamentos contemporâneos.

DIREITO COMPARADO, DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E APLICAÇÃO JUDICIAL DO

DIREITO ESTRANGEIRO.

“*...+ O Direito comparado encontra-se, muitas vezes, na própria gênese de parte significativa

dos instrumentos internacionais, donde sua ligação íntima com o Direito Internacional público

e privado.”(p.65) Esta não é a única relação entre as disciplinas citadas.

Sabe-se que a regra de exclusividade da aplicação do direito pátrio em território nacional não é

absoluta, comportando exceções. Assim como o direito nacional é utilizado no estrangeiro,

este dotado de extraterritorialdiade, devendo ser aplicado em terrírio nacional, o que é

determinado pelas denominadas regras de conexão.4

No campo da aplicação do direito estrangeiro, deve-se saber sobre o instituto denominado

retorno, devolução ou reenvio. Esta técnica é aquela que submete determinadas questões à

regulação de determinado ordenamento jurídico estrangeiro. Em outras palavras, a teoria do

reenvio consiste na priorização da lei estrangeira – quando em conflito com outro

ordenamento -, esta garantida por uma disposição nacional.

ATENÇÃO: A LEI PÁTRIA SOMENTE INDICA O ORDENAMENTO ESTRANGEIRO A SER USADO

PELO INTÉRPRETE QUE DEVERÁ BUSCAR A SOLUÇÃO E NÃO À INCORPORA POR MEIO DE

UMA RECEPÇÃO LEGISLATIVA.

3 O direito supranacional pode ser entendido como um direito vigente no âmbito da comunidade

Estados como, por exemplo, a união européia. Um ordenamento externo que limita o interno mas sem desconsiderar a importância do ultimo se tratando do processo de integração. 4 “As regras de conexão são as normas estatuídas pelo D.I.P. que indicam o direito aplicável às diversas

situações jurídicas conectadas a mais de um sistema legal.” (p.65 – rodapé).

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Razão para aplicação de direito estrangeiro no território nacional, por Jacob Dolinger: “*...+

sempre que a matéria submetida à consideração judicial esteja mais intimamente ligada a

outro sistema jurídico, determina o D.I.P. a aplicação do direito vegente no mesmo.”(p.66).

Para que se aplique de forma coerente a norma do direito estrangeiro – quando uma norma

de direito interno consagre reenvio – é necessária a comprrensão e interpretação deste.

Além das dificuldades jurídicas – essas contornáveis –, existem dificuldades de compreensão

de conceitos e institutos jurídicos específicos do sistema exterior fazendo-se necessário um

rígido estudo completo do ordenamento5 – abrangendo não só a legislação lato sensu mas

também a doutrina e jurisprudência – para que se evite confusões.

Assim, o instituto do reenvio exige conhecimento do método comparativo, para que possa ser

operado de forma eficiente e correta pelo jurista. A importância deste método, revela-se

essencial no mundo contemporâneo e, por isso, as técnicas de estudo comparado estão sendo

cada vez mais desenvolvidas. Susbstitui-se a concepção antiga da mera comparação por novas,

como o direito em ação, ou do método comparativo-funcional (que aborda a comparação

jurídica a partir da colocação de problema e sua resolução em diferentes sistemas) e do jogo

combinado das instituições equivalentes.

CONCLUINDO E REFORÇANDO: Por meio de todo o instrumental técnico e teórico do direito

comparado, o operador do direito possuirá maior aptidão em entender as instituições

desconhecidas6 do ordenamento jurídico estrangeiro. Essa necessidade de se entender o

ordenamento alienígena faz com que seja essencial a atuação do jurista,advogado,

especialmente no campo do Direito Internacional Privado.

Fichado por Guilherme Prado

5 Segundo Jacob Dolinger: “Ao aplicar o direito estrangeiro determinado por regra do D.I.P., o

magistrado deverá atentar para a lei estrangeira na sua totalidade, seguindo todas as suas remissões, incluidas suas regras de direito intertemporal, normas relativas à hierarquia das leis, seu direito convencional, seu direito estadual, municipal, cantonal, zonal, seu direito relgioso, suas leis constitucionais, ordinparias,decretos,etc.” 6 Por instituições desconhecidas entendem-se aquelas instituições jurídicas de um dado ordenamento

jurídico, que não possuem correpondente em outro ordenamento jurídico. Para a idenficação desta, o direito comparado é um importante instrumento.

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2. DIREITO, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA

A hipermodernidade também é conhecida como segunda modernidade, se desenvolve principalmente em países com caráter liberal econômico e político, se baseia em um projeto social e cultural hegemônico. Seus três pilares básicos são:mercado, eficiência técnica e indivíduo. Esse movimento busca maximizar os princípios já existentes na modernidade tradicional. O Liberalismo político pauta o livre desenvolvimento dos indivíduos na vida privada, menor intervenção do Estado na economia, entre outros. Esse modelo não encontra um contramodelo teórico forte o suficiente para que a sociedade capitalista seja alterada como um todo. No brasil o ideal liberal é fortemente atacado e com a revolução de 30 há maior intervenção do Estado na economia. A partir do golpe de 64 os direito civis foram reduzidos e o modelo econômico se tornou confuso, pois, misturava intervencionismo com princípios liberais. No governo de Collor, Itamar e FHC houve o chamado período neoliberal, onde prevaleciam liberdades econômicas, a dinâmica de mercado e a crença nos bons rumos do futuro. No governo lula foi estabelecido o modelo liberal social, com maior valorização dos dtos políticos e sociais, o mercado não é eficiente o bastante para dar conta de toda a produção e distribuição de bens e maior participação humana no desenvolvimento societal. Independentemente do tipo de liberalismo há uma supervalorização do mercado, eficiência técnica e indivíduo. Já o socialismo e o socialismo são desacreditados, pois, atualmente o proletariado, sujeito histórico da revolução socialista/comunista, não constitui uma classe homogênea com demandas semelhantes, portanto, perdeu boa parte de seu caráter revolucionário. Além disso, os países que tiveram o socialismo aplicado ainda não construíram um projeto social, cultural e individual mais democrático e emancipador, e muitas vezes apresentam práticas mais opressoras que do próprio capitalismo. O capitalismo não pode ser alterado sem que haja profundo interesse e mobilização da população, porém, atualmente boa parte dela se contenta com o liberalismo social. O republicanismo, projeto social que busca a construção do bem comum e do compromisso com a vida pública, também não parece factível, duas das razões são: Imposição do virtuosismo: Faceta ética e laica do dever, pautada em uma maior autonomia do sujeito avessa à padronização rígida dos deveres sociais. Extrema relevância da vida privada: que foi desenvolvida juntamente com a personalidade, valorizando a intimidade de cada indivíduo. Portanto, no contexto moderno, há uma impossibilidade da intromissão estatal na vida privada No quesito da Eficiência técnica: (Críticas negativas) Novos aparelhos e sistemas científicos oprimiram o ser humano. 1) Criação de tipos de trabalho extenuante e indigno. 2) Modernização de técnicas para fins não humanísticos (guerras). 3) desemprego estrutural. 4) Impactos naturais. A maioria da população, porém, vê essa eficiência técnica com bons olhos por suprimir o emprego de baixa qualificação e pelo grande avanço na qualidade de vida das pessoas. Por fim no que tange ao indivíduo, pilar mais importante. Existem três tipos de individualismo, o moralista, o permissivo e o ''politicamente correto'' (autocontrolado). A ideia de individuo sem limites inspirou o surgimento da ética laica do dever. Mesmo que algumas pessoas desenvolvam um individualismo sem limites, a maior parte delas constitui-se em subjetividades controladas e regradas. Esse controle surge a partir da lógica da ''busca de maximização dos ganhos e redução das perdas'', atualmente as pessoas se baseiam no auto-controle, já que sua autonomia foi expandida, assim, o individuo passa a ter

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inteira responsabilidade já que suas escolhas são feitas sem a influência direta do moralismo. Essasescolhas pressupõe um sujeito racional que sabe avaliar as vantagens desses ganhos e perdas, valoriza-se assim a ciência e os saberes na constituição de um caráter e uma personalidade adequados. A segunda modernidade, apesar de concretizar a emancipação do individuo do moralismo laico e/ou religioso, também promove através da intimidade e da vida privada certas opressões e paradoxalmente retorna à ética.

Fichado por Juliana Horst

3. DEDUÇÃO E INDUÇÃO

A indução e a dedução são baseadas em lógicas de raciocínio ou de argumentação, assim, não

exprimem a verdade ou a falsidade, mas somente a validade ou invalidade da argumentação

exposta.

Estas duas formas de raciocino lógico exprimem a estrutura do argumento, sem se preocupar

com o conteúdo dos enunciados que o compõe. Umas das técnicas para ater-se somente à

forma são a de simbolizar o argumento por meio de variáveis.

Ao deixar-se de lado o conteúdo das premissas, restou, a partir do momento em que se

substituem os termos por variáveis, somente a forma, ou seja, a estrutura do argumento, a

qual não pode ser mais denominada de verdadeira ou falsa, mas somente válida ou inválida.

A pergunta é: Qual a relação entre forma e conteúdo?. Pode ser :

Percebe-se que não há nenhuma correspondência

necessária entre FORMA e CONTEÚDO.

DEDUÇÃO:

A Dedução é aquela que ocorre de uma ou mais premissas, ou seja, vai do geral para o

particular, ou seja, com uma premissa universal, conclui-se por uma particular. Ela tem o

objetivo de explicitar o conteúdo das premissas, já que esse conteúdo esta implícito nas

mesmas.

A essência da dedução está na relação lógica estabelecida entre as proposições e a conclusão.

Então, se a dedução parte de informações verdadeiras, a conclusão será verdadeira.

A dedução tem duas regras fundamentais:

Da verdade dos antecedentes, segue-se a verdade do consequente.

CONTEÚDO FORMA

Verdadeiro Inválida

Falso Válida

Verdadeiro Válida

Falso Inválida

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Da falsidade do antecedente, pode-se seguir a falsidade ou veracidade do consequente.

Tipos de argumentos dedutivos:

Argumentos categóricos são formados por premissas afirmativas e/ou negativas, diretas e

explícitas. Por exemplo: a) Os homens são mortais. b) Os homens não são mortais.

Contrariedade se dá entre premissas que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo,

apesar de poderem ser falsas ao mesmo tempo. Ex: a) Todos os homens são mortais. b)

Nenhum homem é mortal.

Contraditoriedade são as proposições consideradas contraditórias por que não podem ser

nem verdadeiras, nem falsas ao mesmo tempo. Ex: a) Todos os homens são mortais. b) alguns

homens são mortais.

Subcontrariedade são proposições que não podem ser falsas ao mesmo tempo e podem ser

verdadeiras ao mesmo tempo. Ex: a) Alguns homens são mortais. b) Alguns homens não são

mortais.

Subalteração tem a seguinte regra: da verdade do todo, podemos inferir pela verdade das

partes, mas da verdade das partes, não podemos inferir pela verdade do todo.

Argumentos hipotéticos são aqueles que apresentam algumas caratceristicas para a realização

ou não da conclusão. São divididos em quatro conjuntivos e disjuntivos, condicionais e

bicondicionais. Os conjuntivos são formados pro premissas nas quais aparece a disjunção “e”,

que tem a finalidade de unir duas sentenças simples. Os disjuntivos são argumentos formados

por premissas que contem a disjunção “ou” no sentido de exclusão total. Os condicionais se

apresentam em forma de condição com a expressão “Se... Então...”. Os bicondicionais são

argumentos nos quais aparece a expressão “Se, e somente se...”.

INDUÇÃO:

É o argumento que partindo de premissas particulares conclui por uma regra geral. Nesse tipo

de argumento a conclusão não é necessária. Suas premissas são construídas por observações

empíricas, fornecem em sua conclusão elementos que não estavam implícitos nas premissas.

Ex: a) Este imã atrai ferro. b) aquele imã atrai ferro. C) todo imã atrai ferro.

A conclusão não tem peso de verdade por não ser possível observar “todos” os fenômenos

relacionados a determinados eventos. Assim, as conclusões da indução são sempre

“prováveis”.

O principal critico do Indutivismo foi Karl Popper, ele diz que dos fatos particulares não se

chega às leis ou teorias por algum processo lógico.

Tipos de indução:

A Formal é o inverso da dedução e é submetida unicamente às leis do pensamento, tendo

como ponto de partidas todos os casos de um gênero, e não apenas alguns. Essa indução

consiste em enunciar em uma só fórmula, relativa a uma classe ou conjunto, uma propriedade

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que já foi afirmada separadamente de cada um dos termos. Como essa indução não leva a

novos conhecimentos; essa espécie de indução é estéril.

A Científica é o raciocínio pelo qual se chega à conclusão de alguns casos observados pela

espécie que os compreende e a lei geral que os rege. Na indução cientifica há duas regras que

devem ser observadas: 1. Os casos particulares devem ser experimentados em quantidade

suficiente. 2. Com a finalidade de poder afirmar, com certeza, que a própria natureza da coisa

é o que provoca sua propriedade ou ação. É necessário analisar também as variações.

A Analógica é a mais próxima da tecnologia, é fraca, pois supõe que se duas coisas se paracem

em certo sentido, também se pareceram em outros.

A Estática é a estimativa de parâmetros, o teste de hipótese e a teoria da decisão. A conclusão

é provável. Seus argumentos devem ter uma probabilidade indutiva alta e premissas

relevantes e verdadeira

Método hipotético-dedutivo

Teve suas bases lançadas por Karl Popper, esse método consiste na construção de conjecturas,

as quais deveriam ser submetidas a testes, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como

mais aptas na luta pela vida, resistindo às tentativas de refutação e falsemento.

Esse método pode ser dividido em três etapas:

a. Problema -

b. Solução proposta

c. Teste de falseamento

Se a hipótese não superar os testes, estará falseada, e exigirá reformulação do problema e da

hipótese. Se a hipótese sobreviver estará confirmada provisoriamente e não definitivamente.

Então, o método hipotético-dedutivo advém que uma teoria só pode ser aceita em quanto a

critica e a experiência não evidenciarem que ela é falsa.

Fichado por Diogo Cavalheiro

4. DIREITO E LITERATURA

Surge como um espaço de diálogo entre disciplinas, nos anos 1970, para reflexão sobre questões comuns como “o que é o direito” (walter feelings), “por que obedecê-lo”, “o que é a justiça e por que ela não é o mesmo que vingança”, etc. Dá importância à narrativa e ao papel da interpretação no âmbito jurídico. A interpretação torna-se um método que constitui o próprio direito, que amplia seu poder de criatividade, por exemplo, nas decisões judiciais. Nos EUA, chega-se a destinar departamentos universitários exclusivamente para esta área, na qual os maiores expoentes são: Richard Posner (conservador), Ronald Dworkin (liberal) e Samuel Weber. Outros nomes: Jacques Derrida, Martha Nussbaum, Stanley Fish, François Ost <3, etc.

Direto na Literatura: estudo de temas jurídicos na Literatura.

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Aqui, é o conteúdo da obra que interessa ao direito.

Direito como Literatura: utilização de práticas da crítica literária para a compreensão e avaliação do direito, suas instituições, justiça, procedimentos jurisdicionais, etc. Neste, a forma de narrativa é mais útil para a compreensão de narrativas jurídicas (votos e sentenças, por exemplo).

Outra relação entre ambos os campos é a “normatização jurídica das obras literárias” (originalidade, autoria, responsabilidade).

O movimento direito e literatura possibilita a abertura do sistema jurídico ao mesmo tempo em que ocorre uma dissociação com o fenômeno positivista, deixando de ser descritivo e tornando o direito narrativo e prescritivo - a narrativa, em relação à ação, é o meio termo entre os pontos descritivo e prescritivo. Portanto, a partir de uma postura crítico-hermenêutica, entende-se o direito paralém da sua descrição.

A literatura conta com uma liberdade infinitamente maior para criticar suas autoridades. Em vista disso, a literatura pode contribuir para a abertura do direito e para a redefinição dos campos de estudo das disciplinas acadêmicas, proporcionando, assim, maior sensibilidade para com a complexidade e pluralidade dos significados da vida social.

“Assim, a importância da literatura para o direito e a justiça reside, primeiramente, nessa maneira perturbadora com a qual ela atravessa a linguagem da essência e da verdade.”

O direito e a literatura têm as mesmas possibilidades, partem da mesma origem - a não-origem, pois eles se mantêm em suspensão e são inacessíveis. Por isso, os esforços para compreendê-los são incompletos. No entanto, é justamente essa particularidade que os une.

A problematização que a literatura expõe no direito é essa: a aporia de que ao mesmo em que o direito é, teoricamente, universal e acessível a todos, em sua essência não o é. É um conceito adaptado por Derrida, que aponta a necessidade de desconstruir tanto o direito como a literatura. Desconstruir no sentido de entender que cada palavra possui inúmeros significados e que estes podem ser combinados a critérios subjetivos.

Outro ramo do direito e literatura, que também expõe uma crítica, retoma a hermenêutica do século XX (Gadamer, Ricoeur, etc) na construção de um novo conceito para o direito enquanto interpretação, que deve ser criativa e propositiva. Prega-se que o direito seria construído por um tipo de narrativa idêntica à narrativa literária, e, por isso, necessita que a estética, a imaginação literária e seu modelo de narração sejam adotados pela teoria do direito.

Richard Posner afirma que muitas obras literárias de fato substituem trabalhos no campo jurídico, com as de Shakespeare, Dostoiévski, Kafka e Camus. No entanto, Posner não acredita que o movimento direito e literatura venha a modificar a sociedade de alguma forma, seja ética ou política. Essa atitude relaciona-se com sua posição política (conservador, capitalista, liberdade econômica blablabla evil forces).

Vale a pena ler o final do verbete (transcrito aqui e agora por minha pessoa:)

“Direito e Literatura é um novo campo de possibilidades para questões formais e materiais que afligem tanto o Direito quanto a Literatura. Porém, no campo da crítica do Direito, incorpora às demandas políticas e éticas de reconstrução de um mundo mais igualitário e justo a sensibilidade estética do gosto literário.”

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Que, por coincidência, tem muito a ver com a introdução do nosso trabalho sobre Direito e Literatura, que eu disponibilizo aqui para quem se interessar (tá legal e fácil de ler, mas não sei se ajuda tanto pra prova, é mais por gosto mesmo) (ps: tirei as referências bibliográficas porque a) ninguém liga e b)só ia ocupar espaço):

1. Introdução

A Literatura possui uma cadência própria e vai num ritmo particular enquanto roda seu vestido misturando nos olhos de quem observa as cores de que se veste. O Direito impecável dá passos curtos e duros, olha no relógio para não se atrasar. A Literatura dança solta e fresca, por vezes parece mesmo debochar, segue girando a desobstruir o espaço ou liberar o tempo das utopias criadoras. Quanto ao Direito, vai monocromático, encerrado e sisudo, mergulhado em seu “sistema de obrigações e interdições”.

A Literatura vem cantando na rua e dessa sensibilidade brota uma aproximação maior com as verdades do trabalho de campo. Aproximação mais significativa que a de muitos saberes acadêmicos. Essa irreverência literária que constrange as muitas desordens guiadas pelo direito em demasia, essa subversão que escancara falhas dos pretensos rigores positivos, os fragiliza e também os convida a serem mais humanos e menos monocórdicos.

É certo que o Direito quando intenta cumprir sua função social, busca proporcionar aos seus a segurança jurídica, a estabilidade, a solução de expectativas e angústias. A Literatura, por sua vez, está paralém de tudo isso. Livre dessa função, com seu pincel heurístico, vai delineando as imagens de sua imaginação, vai tateando, lambendo, ouvindo, farejando,vomitando e delirando um real que, por isso mesmo, torna-se ainda mais real. Desbrava, portanto, mais caminhos porque se atreve a passar por todos. Inventa para si um laboratório de experiências humanas. Desses caminhos e experiências, por vezes, emergem situações tão extremas e absurdas que fazem do teto o chão, e, então, dos olhos os pés: novas perspectivas e, por que não, novas realidades.

O Direito ocupa-se de produzir pessoas, a literatura, personagens: falam deles e com eles através de estatutos e discursos próprios a cada um. O Direito quer buscar e quer crer na linearidade e amabilidade de suas pessoas, consagrando-as através da celebração de papéis e roteiros, quer supor a elas uma máscara normativa recheada de um bom comportamento, adequado às normas, cabível de ser seguido de exemplo. Isso parece muito mais irreal, menos tangível. A literatura, extremo oposto, mostra os personagens mais completamente enquanto realmente são: ambivalentes, confusos, inconstantes e humanos, demasiado humanos. Seus atos é que são mais verossimilhantes que aqueles que se desejam no direito. “Poder-se-ia ainda dizer que essa diferença entre papel jurídico normatizado (a pessoa jurídica padronizada cujo papel deve servir de modelo) e trajetória experimental do personagem literário em busca de si mesmo coincide com a luminosa distinção que P. Ricoeur estabelece entre duas formas de identidade: a identidade idem, que corresponde à questão “o que eu sou?” e que se traduz por traços fixos, e a identidade ipse, que responde à questão “quem eu sou?”, ligada às variações de uma personalidade que evolui com o tempo e com os outros. Diante das certezas sempre demasiado seguras dos papéis sociais convencionados, a literatura não cessa de interrogar esse idem, lembrando que somos um “quem”, um ipse, obrigado a responder por si mesmo, e não somente um “que” fixado de uma vez por todas. Ela abre assim um espaço que é propriamente o da intriga, constitutivo da “identidade narrativa” do personagem, entre esse eu que me tornei e aquilo que em mim está em instância de advir”.

Dentro dessa moldura é que percebemos o quanto a Literatura, ao expandir suas fronteiras, voa mais alto já que, em suas possibilidades de histórias e situações, verifica mudanças, intempéries, que estão muito mais em consonância com a vida real do que as abstrações planas feitas pelo Direito. A literatura se prepara, se regozija, espera por esses

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imprevistos: são eles que promovem um inverter na rotação, desfazendo a ordem estabelecida. Levita, portanto, muito acima dos papéis padronizados e suas cabeças unidimensionais.

Conforme Pietro Barcellona, esses papéis nada mais são que o resultado da organização sistêmica que promove a atomização dos indivíduos. Alcançados níveis extremos de individualismo e abstração, a autonomia desse sistema leva os sujeitos a uma liberdade tremenda, que os desincumbe de “produzir normas, construir civilização”. Passam, assim, a ocupar-se de si mesmos, mas de maneira débil: admirável mundo novo este em que habitantes são conservados dopados e em estado de infantilidade, enclausurados em suas castas, destinados a cumprir indefinidamente as tarefas para as quais nasceram. A eles cabe, apenas e por conseqüência, desempenhar papéis, atribuídos pelo sistema, e cuja complexidade é cada vez mais diminuta. Sendo assim, essa execução passa a ser tão pueril e tola, que acaba por restringir possibilidades de ocupações mais sofisticadas e por fim dissolve a própria e inventada liberdade, bem como a individualidade. “O Direito, nesse contexto, é a tecnologia da neutralização do imprevisto e do imprevisível, regulando o sistema a partir de sua própria autorregulação”.

Uma vez que essa auto reprodução se perpetua indefinidamente, afasta-se a necessidade “da busca por um fundamento, ou, muito menos, da construção da sociedade”. Desse modo, reduz-se toda a realidade a um elemento comum, imiscuído na abstração desse imbróglio: a ilusão da igualdade formal entre os seres humanos, qual seja, o valor de troca. Pietro Barcellona relaciona esses desdobramentos ao niilismo da filosofia pós-moderna: a verdade existe quando inserida dentro de cada interpretação singular, individual. O sujeito, então, estaria encurralado no círculo de sua existência, sem compromisso ou responsabilidade quanto ao seu futuro, que se resumiria a nada mais que a auto reprodução do sistema. George Orwell vislumbra muito bem esse fenômeno em “1984”: os indivíduos considerados relevantes para o “Partido” (Estado) desempenham funções burocráticas e/ou mecânicas e são educados para não desenvolverem qualquer tipo de sensibilidade ou vínculos afetivos e humanos entre si. São seres sequestrados por si mesmos, sem passado e sem futuro.

O Direito permanece então debruçado sobre o registro da generalidade e da abstração, tal qual as leis e seus códigos. A Literatura dedica-se, por sua vez, ao concreto, ao “irredutivelmente singular”.

“Os personagens não nascem de um corpo materno, como os seres vivos, mas de uma situação, uma frase, uma metáfora, que contém em embrião uma possibilidade humana fundamental que o autor imagina não ter sido ainda descoberta ou sobre a qual nada de essencial ainda foi dito”.

Contudo, essa imersão no particular, diferentemente do labirinto das interpretações singulares, seria um atalho para se alcançar o universal.

Para se alcançar essa sintonia com a história, de acordo com Lukács e o marxismo, a literatura deveria estar ciente de que a consciência deve livrar-se dos resquícios do pensamento burguês para lançar-se às artes. Engels fez uma análise dos motivos que levaram a Literatura muitas vezes a falhar e do porquê de os poetas não conseguirem se elevar: concepções equivocadas acerca do mundo e da realidade geravam imprecisões. Essas, então, impediam que se traçasse uma relação entre situações gerais e fatos singulares, carecendo de poder demonstrar aspectos significativos. Isso, para ele, era manter-se alheio à história, tal qual os indivíduos robóticos desempenhando seus papéis supostamente irrevogáveis. Isso corresponderia, para ele, à falsificação da história.

Para que o rio do presente, então, pudesse desaguar no mar da história, do universal, era preciso que os escritores se comprometessem com a realidade objetiva, sendo a literatura

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o seu reflexo. Os personagens “típicos” deveriam ser retratados em situações “típicas”. Só desse modo a arte conseguiria fazer chover em sua obra um valor de verdade. Era necessário unir o motivo do agir humano com a substância individual do mesmo agir. “Essa concretude só é possível através da figuração da qualidade individual particular da ação”. Só é possível a partir de uma síntese digna do individual e do típico, através de uma elaboração concreta da modalidade da ação, das figuras singulares. Aquilo que o personagem faz e como ele faz – estando também em sintonia com a teoria de Ricoeur, sobre idem e ipse. Além disso, é preciso cavar profundamente para revolver, encontrar os elos das transformações histórico-sociais, bem como suas forças motrizes, desenterrando as motivações sociais e humanas em seus estratos sociais bem como suas características e nicho. Sob a tenda do materialismo, a dialética borda uma íntima relação de teoria e práxis, como pressuposto de todo reflexo profundo e significativo da realidade objetiva na consciência humana. A separação dos escritores de sua práxis acarretaria na “arte pela arte” e na literatura de tese.

A criação literária, então, passará a existir através de “retomadas coletivas”. A narração produz uma história que se junta à história narrada. Aqui a rememoração assume uma função de mobilizar novas significações, mantendo o instituído e deixando ecoar efeitos instituintes.

“O direito não se contenta em defender posições instituídas, mas exerce igualmente funções instituintes – o que supõe criação imaginária de significações sociais-históricas novas e desconstrução das significações instituídas que a elas se opõem. De maneira inversa, e simetricamente, a literatura não se contenta em atuar na vertente instituinte do imaginário, ocorre-lhe também apoiar-se sobre suas formas instituídas”.

Através de um olhar dialético para o confronto e interação entre ‘o “tudo é possível” da ficção literária e o “não deves” do imperativo jurídico’’, ao invés de tão somente opô-los, compor e buscar entender a motivação e a inspiração comum a ambos. “Não se fala senão a partir do meio da linguagem; do mesmo modo é a partir do meio da lei que a lei pode ser dita”. Percebe-se, então, que tanto um quanto outro bebem da mesma fonte: a linguagem. Nesse ponto, Paul Ricoeur estabelece o tema da tríplice mímesis: o dado prefigura, o artista configura, o leitor-espectador refigura. O emissor sempre se reapropria e mobiliza aquilo com que interage.

Tanto Direito quanto Literatura repousa sobre um mesmo ponto, que é de depender irremediavelmente da linguagem. Dessa forma, uma norma, regra ou lei não existe senão através de uma retomada que exige uma contextualização, uma narração. Do contrário, temos apenas fórmulas vazias, destituídas de sentido. A literatura, a narração, por sua vez, também precisa observar normas, condutas, e refletir sobre elas, caso contrário não teria sobre o que falar. O exercício da literatura é o de elevar ao mais alto grau de sofisticação a linguagem. Contudo, essa ação não se esgota nessa etapa, porque se assim o fosse, recairia num esteticismo mesquinho.

É através desse refinamento que a literatura procura construir sua ponte com o real, dando forma ao sentido. Quando observa situações e prepara-se para narrá-las, ao fazê-lo, leva nessa ação diversas características e significações que já estavam estabelecidas (formas sociais instituídas). Isso quer dizer que os personagens literários, ou estão em harmonia com alguma regra (seja ela moral, religiosa, social) ou em conflito com elas. Isso equivaleria à pré-narrativa, ao dado, que precede a experiência. Após a experiência há a narração da rememoração da experiência, ou de sua própria criação.

“*...+ somente pela operação de uma dialética em ato, ou seja, histórica, que os paradoxos do fundamento que estudamos (o

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engendramento recíproco da lei e da liberdade, a interação da auto e da heteronomia) podem, se não ser resolvidos [...] começar a ser compreendidos”.

Há, no resplendor do processo dessa compreensão, uma verdadeira inversão: a do possível e do real, do singular e do universal. A ficção quer mostrar que o real é apenas uma “modalidade do possível”. Como uma sentença ou expressão não possui, necessariamente, uma referência imediata e concreta, ainda sim, esse evento poderia ocorrer em um dos inúmeros “mundos possíveis”. Recorrendo e desafiando, então, a inteligibilidade. Daqui decorre-se, por fim, que toda literatura é uma possibilidade tão magnífica quanto, ou senão melhor, que o fato, que seca e se esfarela quando se limita a apenas ter acontecido.

Fichado por Gabriela Kirilos

5. AS FONTES DE DIREITO COMO FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DO DIREITO

Contributo para uma teoria pluralista das fontes de direito.

Hespanha afirma que o saber jurídico define as “fontes do direito” como “as vias de manifestação ou de formação do direito num certo ordenamento jurídico”. Pois há na sociedade uma atividade de produção de normas, um “dinamismo normativo”. Umas (normas) são tidas como válidas apenas em alguns círculos, outras atingem círculos mais vastos.

O autor afirma que a democracia participativa não produz de fato um direito fundado na vontade popular, por estar afastada do sentir jurídico da comunidade.

Hespanha trás a ideia de que o pluralismo normativo está aí, ou seja, é reconhecido como um modo de manifestação do direito. Porém, as diversas normas que surgem na sociedade são reconhecidas como direito se cumprirem os pressupostos das “normas de reconhecimento” (teoria realista de Hart).

O reconhecimento ou não como direito de determinadas normas é objeto de confrontos sócio políticos. O simples reconhecimento formal dos órgãos do Estado não é o suficiente. E é notória a importância do reconhecimento da aplicação da norma pelos tribunais e sua admissão corrente no mundo dos juristas. Mas, não podemos de deixar de verificar se o reconhecimento que eles atribuem a certa norma corresponde a um consenso da comunidade, visto que há normas reconhecidas como jurídicas e geralmente não observadas.

Nos termos de uma teoria realista do direito, as normas jurídicas não são provindas de uma “nascente”, mas são estabilizadas na consciência da comunidade. Assim, as normas seriam objeto de uma observação empírica quanto a sua efetiva vigência, “observação da realidade social, de constatação de comportamentos regulares”.

Posteriormente Hespanha faz uma análise da Constituição como um objeto especial de reconhecimento. Ou seja, a Constituição condiciona de forma muito forte a disponibilidade da norma de reconhecimento, sendo dificultoso admitir fontes de direito que a contradigam. Ou mesmo que contradigam formas de manifestação do direito que correspondam à vontade soberana do povo.

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A ideia de fontes de direito que partem de uma “mãe d'água comum” (Providência divida, razão natural ou o espírito do povo) propiciou a ideia de uma harmonia fundamental entre todas as normas. E o advento do Estado constitucional trás uma certa unidade, ao sujeitar as normas a uma hegemonia dos comandos e valores da Constituição. Assim, destes princípios constitucionais deve resultar não apenas uma norma genérica de interpretação, mas também uma norma de seleção de hierarquização das fontes do direito, ambas conforme a Constituição.

“O papel estruturante que a Constituição, como tal, tem na norma de reconhecimento faz com que a possibilidade da abertura desta ao reconhecimento de normas jurídicas contrárias à Constituição fique muito diminuída.” (p.538)

O reconhecimento ou não de uma norma como jurídica será mais fácil se 1- corresponder a um sistema de fontes implícito (ou explícito) na constituição e 2 - se esse sistema de fontes não ofender os princípios constitucionais básicos.

O elenco das fontes de direito.

Neste ponto, Hespanha enumera as fontes de direito. Tanto as tradicionalmente indicadas como tal, quanto as que o são menos.

→ Direito internacional e comunitário:

O direito internacional é expressamente reconhecido como fonte de direito pela CRP. Além disso, a Constituição assume a validade de algumas normas de direito internacional. Entretanto, a vigência do direito internacional público na ordem interna portuguesa não está dependente deste reconhecimento expresso. “É doutrina comum que o costume é uma fonte deste direito e, sendo assim, todos os Estados membros da comunidade internacional estão obrigados a aceitar, além das normas contidas nos tratados que subscreverem, também aqueles que se tiverem estabelecido consuetudinariamente no direito internacional.” (p.541)

O direito comunitário é aquele que é produzido pelos órgãos da Comunidade Europeia/ União. As fontes de direito comunitário são: os regulamentos (emanados do Conselho), as diretivas, e as decisões do Tribunal de Justiça (que tem ampla competência jurisdicional para fazer respeitar o direito comunitário como instância de recurso, ações de anulação, recurso por omissão, ação de indenização).

→ A doutrina:

A doutrina foi a mais importante das fontes do direito no Ocidente europeu, pois a lei devia ser interpretada sempre de acordo com os princípios da “boa razão” e com que, na falta de lei, vigorasse diretamente a doutrina. Após a Revolução Francesa, há um enaltecimento da lei em detrimento da doutrina, devido a sua incerteza e ao arbítrio doutrinal, comprometendo a segurança do direito.

Nos dias de hoje, a doutrina é reconhecida como uma via de manifestação e formação do direito, porque o sentido das normas é sempre o seu sentido recebido e não o seu sentido originariamente querido. A observação das normas de reconhecimento do sistema jurídico inclina-se fortemente para a sujeição da doutrina à constituição.

→ A jurisprudência:

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Os casos semelhantes anteriormente julgados são abertamente reconhecidos pelos tribunais. Assim, a jurisprudência constitui direito.

→ O costume:

“Uma prática social reiterada, acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade”. Hespanha atenta para o fato de que a própria norma de reconhecimento é um costume, ou seja, é difícil não incluir o costume como fonte de direito. “É que é justamente por vias como estas, do reconhecimento do caráter jurídico das práticas correntes, que se pode tanto aproximar o direito da sociedade, como promover uma sua maleabilidade próxima do dinamismo dos fenômenos sociais”.

→ Normação privada:

Códigos de boas práticas, formulados por entidades privadas de referência, correspondendo a uma ética de relacionamento negocial ou mesmo cívico. Para que seja legitimada se faz necessário de um assentimento generalizado.

→ A lei:

A lei é a principal e a primeira fonte de legitimação dos Estados democráticos, isto é, a tradução da vontade popular. A lei garante as normas jurídicas mais consensuais e mais estabilizadoras, e por isso, trazem consigo o valor fundamental da segurança.

Fichado por Gabriela Kirilos

6. FALSIFICACIONISMO

Capítulo IV - apresentando o falsificacionismo

O falsificacionismo consiste em interpretar as teorias como conjecturas especulativas ou

suposições criadas livremente pelo intelecto humano no sentido de superar problemas

encontrados por teorias anteriores e dar uma explicação decoada do comportamento de

alguns aspectos do mundo ou universo (já que apenas as teorias mais adaptadas sobrevivem).

Assim, o falsificacionista explora ao máximo a capacidade lógica de constatar a

falsidade de afirmações universais pode ser deduzida de afirmações singulares ou disponíveis.

Uma hipótese é falsificável se existe uma proposição de observação ou um conjunto delas

logicamente possíveis que são inconsistentes com ela, isto é, que se estabelecidas como

verdadeiras, falsificariam a hipótese. Por exemplo:

“Nunca chove às quartas-feiras.” - essa afirmação é falsificável porque pode ser falsificada com

a observação de chuva caindo em uma quarta feira.

O falsificacionista exige que as hipóteses cientificas sejam falsificáveis porque somente

excluindo um conjunto de proposições de observações logicamente possíveis é que uma lei ou

teoria é informativa. Logo, uma teoria de conteúdo informativo deve correr o risco de ser

falsificada, já que faz ia firmações decisivas sobre o mundo.

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Há diferentes graus de falseabilidade, clareza e precisão. Segundo o falsificacionismo,

quanto mais falsificável for uma teoria, melhor ela será. Quanto mais uma teoria afirma, maior

o potencial de mostrar que mundo de fato não se comporta da maneira proposta. Isso pode

ser ilustrado:

a) Marte se move numa elipse do Sol.

b) Todos os planetas se movem em elipses em torno de seus sóis.

Se seguirmos Popper e nos referirmos a esses conjuntos de proposições para falsificar uma lei

ou teoria como falsificadores potenciais, podemos dizer que os falsificadores potenciais de a)

formam uma subclasse dos falsificadores potenciais de b). A lei b) é mais falsificável, o que

equivale a dizer que ela afirma mais, que é a lei melhor.

Entretanto, as teorias altamente falsificáveis devem ser preferidas às menos

falsificáveis desde que elas tenham sido de fato falsificadas. As teorias que foram falsificadas

devem ser inexoravelmente rejeitadas pelo falsificacionista. Se a ciência progride por tentativa

e erro, as falsificações tornam-se pontos importantes.

É por isso que o falsificacionista dá espaço à conjecturas audaciosas, encorajando

especulações precipitadas, para que sejam falsificáveis e, posteriormente, rejeitadas. Crê que

deve-se prosseguir além dos resultados imediatos da experiência, até onde induções legitimas

podem levar; pois, apenas aquelas teorias que podem se revelar verdadeiras ou

provavelmente verdadeiras devem ser admitidas na ciência.

Tal exigência de que as teorias devem ser altamente falsificáveis tem a conseqüência

atrativa de que devem ser também claramente afirmativas e precisas. Isso ocorre porque se

uma teoria for vagamente afirmativa e não deixar claro exatamente o que afirma, ao ser

testada pela observação ou pelo experimento poderá ser interpretada como consistente e

defendida contra falsificações.

Uma situação análoga existe no que diz respeito à precisão. Quanto mais precisamente

uma teoria for formulada, mais falsificável ela se torna. Considerando que quanto mais

falsificável for uma teoria, melhor ela será, pode-se aferir que o mesmo ocorre quanto mais

precisa for. Essas exigências intimamente associadas de precisão e clareza de expressão

seguem-se, naturalmente, da explicação falsificacionista da ciência.

A ciência não começa com a simples observação, mas com problemas associados à

explicação do comportamento de aspectos do mundo ou do universo. Hipóteses são propostas

como soluções, e posteriormente criticadas e testadas; quando bem sucedidas, devem se

submeter a testes ainda mais rigorosos..

O processo continua indefinidamente: não se pode dizer que uma teoria é

definitivamente verdadeira, somente superior às suas predecessoras. O conceito de progresso

ou crescimento da ciência, é um conceito central na explicação falsificacionista.

Capítulo V - Falsificacionismo sofisticado, novas previsões e crescimento da ciência

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Falsificacionistas sofisticados percebem que as condições (mencionadas

anteriormente) que uma hipótese deve satisfazer são insuficientes. Surge então uma condição

relacionada à necessidade que a ciência tem de progredir: uma hipótese deve ser mais

falsificável do que aquela que ela se propõe a substituir.

Em geral, uma teoria nova será aceita como digna de consideração dos cientistas se ela

formais falsificável que a rival, e especialmente se um novo tipo de fenômeno não focado.

Considerando o infinito numero de falsificadores potenciais de uma teoria, pode-se concluir

que a ênfase na comparação de graus de falseabilidade possibilita, no mínimo, evitar um

problema técnico.

A exigência de teorias cada vez mais falsificáveis elimina cada vez mais modificações

meramente projetadas para proteger de falsificação. Uma modificação tal como o acréscimo

de um postulado extra ou uma mudança em algum postulado existente, que não tenha

conseqüências testáveis, e que já não fossem conseqüências testáveis da teoria não-

modificada será chamada de modificação ad hoc.

Somente são aceitas pelos falsificacionistas as modificações que não são ad hoc, e que

portanto visam superar uma dificuldade de maneira que pode ser independentemente

testável. Os testes, muitos dos quais não constituem teses da hipótese original, podem resultar

na falsificação da hipótese modificada; (somente) se ela resiste à falsificação algo novo terá

sido aprendido e haverá progresso cientifico.

Também é importante atentar quanto à relatividade dos adjetivos “audacioso” e

“novo”. O que é visto como uma conjectura audaciosa num estagio da história da ciência não

permanece necessariamente audacioso posteriormente. Só podemos dizer que uma

conjectura será audaciosa se suas afirmações forem improváveis, enquanto previsões serão

consideradas novas se envolverem algum fenômeno que não figura no conhecimento prévio,

ambas à luz de sua época.

O contexto histórico determina a diferença. E é essa uma das principais diferenças

entre a explicação falsificacionista e a indutivista: a ultima confirma uma teoria de acordo com

o relacionamento lógico entre as proposições de observação confirmadas e a teoria que elas

apóiam - e quanto maior o numero de instancias de confirmação, maior a probabilidade de

veracidade; a primeira é histórica, e por isso confere alto grau de mérito a uma teoria

resultante do teste de uma nova previsão da que está sendo substituída, e portanto,

aperfeiçoada.

Capítulo VI - As limitações do falsificacionismo

Embora o falsificacionista ingênuo insista em afirmar que a ciência deve se preocupar

com a verdade de proposições, e o mais sofisticado reconheça também a importância da

confirmação das teorias especulativas e a falsificação das estabelecidas, ambos tem algo em

comum: enquanto a aceitação de uma teoria é sempre uma tentativa, sua rejeição é decisiva.

Lembrando da particularidade lógica do falsificacionismo, se constata que suas

afirmações se baseiam no fato de que as proposições de observação dependem da teoria e são

falíveis; e apesar de ser possível deduzir a falsidade de certas proposições, o mesmo não

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ocorre perante qualquer proposição de observação. Conseqüentemente, se uma proposição

universal que compõe uma teoria entra em choque com alguma proposição de observação, a

ultima pode estar errada. Por isso é impossível instituir falsificações conclusivas, diretas.

Ciente do problema, Popper salienta a distinção entre proposições de observação

publica e experiências perceptivas individuais. Para ele, se uma proposição de observação

publica é testável e aberta a modificação e rejeição, a não aceitação da mesma por um

individuo (que tem como base sua percepção) não será suficiente, podendo falhar por ser

somente um viés.

Popper determina que a aceitabilidade das proposições de observação é unicamente

aferida pela sua capacidade de sobreviver a testes, tornando-se convenções. Mas se tais

proposições são aceitáveis, esse caráter se deu em um especifico estágio de desenvolvimento

cientifico. Elas são falíveis.

Isso derruba o falsificacionista, porque as teorias não podem ser conclusivamente

falsificadas: as proposições de observação utilizadas como base para tanto podem se revelar

falsas à luz de desenvolvimentos posteriores. Não há base perfeitamente segura.

Outra dificuldade séria para o falsificacionismo é a complexidade das situações

realistas de teste, havendo possibilidade de uma parte, não testada, seja responsável por uma

previsão equivocada. Finalmente, o falsificacionismo pode ser dito inadequado mesmo em

bases históricas, uma vez que é possível encontrar proposições que embora aceitas em sua

época, foram consideradas inconsistentes a teorias que posteriormente tornaram-se clássicas.

Capítulo VIII - Teorias como estruturas: os paradigmas de Kuhn

A teoria da ciência de Kuhn foi desenvolvida subseqüentemente e em resposta ao

falsificacionismo. Dentre suas características destacam-se o caráter revolucionário do

progresso cientifico (uma revolução cientifica implica no abandono de uma estrutura teórica

por outra; em uma mudança descontinua) e o papel desempenado pelas circunstancias

sociológicas das comunidades cientificas.

Segundo Kuhn, a existência de um paradigma capaz de sustentar uma tradição de

ciência normal é a característica que distingue a ciência e a não-ciência. De um paradigma, é

possível descrever componentes de sua composição, e dentro deles leis explicitamente

declaradas e suposições teóricas comparáveis; inclui também maneiras-padrão e aplicação das

leis fundamentais a uma variedade de tipos de situação e recomendações metodológicas

gerais.

De acordo com as principais características de sua teoria, Kuhn estabelece um quadro

de como funciona a ciência: pré-ciência → ciência normal → crise-revolução → nova ciência

normal → nova crise..

A pré-ciência corresponde a um total desacordo e debate pelos fundamentos científicos,

impossibilitando um trabalho detalhado. A ciência normal implica tentativas detalhadas de

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articular um paradigma com o objetivo de melhorar a correspondência entre ele e a natureza.

Apesar de trabalhar em uma área bem delimitada pelo paradigma, o cientista normal pode

encontrar anomalias que atacam os fundamentos do ultimo, constituindo crises sérias que

podem gerar sua rejeição e substituição por um paradigma rival.

É importante lembrar que não haverá argumento puramente lógico que demonstre a

superioridade de um paradigma sobre outro, já que estão envolvidos diversos fatores no

julgamento que um cientista faz dos méritos de uma teoria cientifica. Kuhn diz até mesmo que

a maneira pela qual um cientista vê um aspecto do mundo é orientada pelo paradigma em que

ele trabalha.

Além disso, os proponentes de paradigmas rivais aderem a conjuntos diferentes de

padrões, de princípios metafísicos, etc., além das diferentes premissas, não necessariamente

aceitas por seus cientistas partidários de uma ou outra. É por esse motivo que Kuhn compara

as revoluções científicas às revoluções políticas.

Não havendo um único critério pelo qual o cientista possa julgar o mérito ou as

promessas de um paradigma, o objetivo de argumentos e de discussões entre os partidários de

paradigmas rivais é antes a persuasão do que a compulsão. A revolução se dá de fato quando

diversos cientistas individuais aderem a um novo paradigma, restando poucos dissidentes.

Por fim, Kuhn expõe que a ciência normal e as revoluções servem funções necessárias.

Os períodos de ciência normal dão aos cientistas as possibilidades de trabalhar em um

paradigma, executando trabalhos teóricos e experimentos rigorosos; é o aprofundamento do

trabalho. Mas se todos os cientistas assim permanecessem, jamais iriam para além de seus

paradigmas.

Assim surge a função da revolução, que diante da séria não correspondência entre um

paradigma e a natureza, o substitui por outro essencial ao progresso da ciência.

Diferentemente do ponto de vista indutivista que crê em um crescimento continuo da ciência,

Kuhn conclui que justamente por sua influencia persuasiva é que os paradigmas devem ser

substituídos de modo revolucionário.

Fichado por Sueli Kayo

7. FREUD – O MAL-ESTAR DA CIVILIZAÇÃO

O indivíduo não pode ser feliz na civilização moderna. Mesmo com todo progresso técnico e

científico, o homem não se tornou mais feliz. Ao refletir sobre o propósito da vida, Freud

chegou à conclusão de que o objetivo da civilização não é a felicidade, mas é a renúncia a

ela. A vida do indivíduo é a busca constante pela realização da satisfação do prazer, mas

esta satisfação é impossível de realizar num mundo carente e escasso de recursos. O mundo

é hostil as necessidades humanas, para tudo que é bom e prazeroso exigem-se trabalhos

penosos e sofrimentos. A manutenção da civilização exige que o individuo trabalhe. Mas os

homens não são amantes do trabalho e os argumentos não tem valia nenhuma contra suas

paixões. Assim, é somente através da repressão social que os indivíduos são obrigados a

trabalhar.

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Na teoria freudiana, a sexualidade é a pedra fundamental na manutenção e reprodução da

civilização. A civilização só pode existir porque os impulsos sexuais são canalizados para o

trabalho, gerando todos os bens materiais e intelectuais da civilização. “A civilização está

obedecendo às leis da necessidade econômica, visto que uma grande quantidade de energia

psíquica que ela utiliza para seus próprios fins tem de ser retirada da sexualidade”. Em

conseqüência disso, Freud atribuiu as doenças psíquicas de sua época a grande repressão que

a civilização exerce sobre os impulsos sexuais. Essa insatisfação foi exigida num grau muito

superior que o necessário. O processo civilizatório é marcado pela renúncia e pelo sentimento

de insatisfação que os homens experimentam vivendo em sociedade. O resultado disso é o

mal-estar na civilização. Este mal-estar é produzido pelo conflito irreconciliável entre as

exigências pulsionais e as restrições da civilização.

O mal-estar na civilização é a condição existencial do homem moderno, é o destino que todos

temos de compartilhar. O simples fato de o indivíduo viver no mundo contemporâneo já é o

requisito para se viver ansioso. A sociedade industrial, a competitividade, a insegurança, o

medo, o consumo desenfreado, o desemprego, a violência, a dinâmica das transformações

sociais e dos valores, a adaptação do indivíduo às exigências da vida são os principais fatores

que produzem o mal-estar na civilização.

Freud afirma que a religião é uma ilusão, e a questiona como um sentimento de natureza

primária. Para ele a religião não é desta natureza, e questiona se a religião é necessária para o

ser humano.

Freud tenta achar uma explicação psicanalítica, genética, para a religião. Começa afirmando

que o ego (nosso eu) nos aparece como algo autônomo e unitário distinto de tudo o mais,

mas esta aparência é ilusória, pois o ego continua para dentro sem qualquer delimitação

nítida com o Id, ao qual o ego serve como uma espécie de fachada. A patologia nos

familiarizou com grande número de estados em que as fronteiras entre ego e mundo exterior

são incertas; para estas pessoas, seu próprio corpo, suas percepções, lhe parecem estranhas

como se não lhes pertencessem. Assim, o sentimento de nosso próprio ego está sujeito a

distúrbios.

O sentimento do ego do adulto passou por um desenvolvimento que não pode ser

demonstrado, mas pode ser pensado com um razoável grau de probabilidade. O ego da

criança é formado pelo contraste com um objeto, que existe exteriormente. O

reconhecimento do ego acontece pelas múltiplas e inevitáveis sensações de sofrimento e

desprazer, cujo afastamento e fuga são impostos pelo princípio do prazer. Nesta busca pelo

prazer isolamos o ego de tudo que põe tornar-se fonte de desprazer. Algumas coisas soam

difíceis de serem abandonadas, por proporcionarem prazer; são, não ego, mas objeto, e

certos sofrimentos que se procuram extirpar mostram-se inseparáveis do ego, por causa de

sua origem interna. Assim, através de uma direção deliberada das próprias atividade sensórias

e de uma ação muscular apropriada, podemos diferenciar entre o que é interno, ou seja,

pertencente ao ego, e o que é externo. Dessa forma, introduziu-se o princípio de realidade,

que deve dominar a vida do adulto.

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A fim de desviar certas excitações desagradáveis que surgem do interior, o ego não pode

utilizar senão os métodos que utiliza contra os desprazer do exterior e este é o ponto de

partida de importantes distúrbios patológicos.

Em muitas pessoas este sentimento primário do ego persiste. Neste sentido, ao lado de

componentes demarcados pela maturidade, coexiste um conteúdo ideacional que seria a

idéia de um vínculo com o universo - sentimento oceânico.

Para Freud, o esquecimento não significa a destruição do resíduo mnêmico, tudo é

preservado e em circunstâncias apropriadas. O passado acha-se preservado na vida mental.

O sentimento oceânico existe em muitas pessoas, e seria derivado de uma fase primitiva do

sentimento do ego, o qual será a fonte das necessidades religiosas.

As necessidades religiosas surgem a partir do desamparo do bebê e do anseio pelo pai e do

sentimento do medo do poder superior do destino, de uma necessidade intensa na infância

pela proteção de um pai. O sentimento oceânico restauraria o narcisismo ilimitado, logo, o

sentimento religioso pode ser remontado ao sentimento infantil de desamparo.

A unidade com o universo, soa como uma tentativa de consolação religiosa, rejeitando o

perigo que o ego reconhece a ameaçá-lo a partir do mundo externo.. Alguns autores afirmam

que pela prática da ioga, afastamento do mundo e fixação da atenção nas funções corporais e

por métodos de respiração, uma pessoa pode de fato evocar em si mesma novas sensações

consideradas como regressões a estados primordiais da mente que há tempo foram

recobertos.

Para Freud, o homem entende como religião o sistema de doutrinas e promessas que lhe

explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável que garantem uma providência

cuidadosa que velará por sua vida e o compensará numa existência. Tudo é patentemente

infantil, tão estranho à realidade, e é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca

será capaz de superar essa visão da vida.

A vida é árdua demais. A fim de suportá-La, não podemos dispensar as medidas paliativas:

segundo Theodor Fontane, existem três medidas auxiliares que nos fazem extrair luz de nossa

desgraça - satisfações substitutivas, substancias tóxicas e a religião. A atividade científica

constituiria num derivativo dessa espécie. As satisfações substitutivas são a arte, ilusões em

contraste com a realidade, e as substancias tóxicas influenciam nosso corpo e alteram a

química.

A pergunta a se fazer é qual o propósito da vida. Ninguém fala sobre o propósito da vida dos

animais a não ser pensar que eles servem ao homem. O que o homens querem da vida é a

felicidade. O que rege a vida é o princípio do prazer.

Só podemos pensar no prazer em contraste com um determinado estado de coisas. O

sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado à

decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade

como sinais de advertência; do um mundo externo, que volta-se com forças de destruição; e

finalmente de nossos relacionamentos com os outros homens.

A tarefa de evitar o prazer se coloca em primeiro lugar se compararmos com o princípio do

prazer. Uma satisfação irrestrita é o que buscamos, porém isto significa colocar o gozo antes

da cautela acarretando logo o seu próprio castigo.

Fichado por Rodrigo Busnardo e Ana Flávia

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8. A TEORIA CRÍTICA ONTEM E HOJE

A princípio, cabe ressaltar que a idéia de uma unidade teórica dentro da Escola de

Frankfurt é errada. O que aproxima os teóricos da Escola são seu pensamento crítico e seu

questionamento aos paradigmas. Aquilo que Habermas chamará de “discurso”.

Se há um tema, no entanto, que permeia a obra de todos os autores é o Iluminismo e o

Esclarecimento. A Dialética do Esclarecimento se refere a uma razão que se pretendia

emancipatória e conduziria a uma independência, mas que passou por um intenso processo de

instrumentalização a serviço da repressão e dominação do homem. Para Horkheimer, esse

processo de instrumentalização da razão em detrimento de seu caráter emancipador fica

bastante claro com o advento do iluminismo. O tema da razão em seu movimento dialético

sempre esteve presente entre os membros da Escola de Frankfurt e pode ser dividido em três

momentos.

Primeiro momento

De acordo com Horkheimer, a ciência e a filosofia moderna não podem se limitar a

uma discussão sobre juízos de fato e de valor, mas tem que recorrer aos juízos existenciais. Ele

ainda será o primeiro a colocar em conflito o positivismo, da teoria tradicional cartesiana, com

seu caráter conservador, e a dialética, da teoria crítica marxista e de caráter emancipatório.

Esse conflito proposto por Horkheimer, contudo, não tem a pretensão de validar uma teoria

em relação à outra, mas sim de englobar a teoria tradicional na teoria crítica.

Horkheimer vai atribuir à teoria tradicional uma preocupação em formular sentenças

que definam conceitos universais, por meio do processo indutivo/dedutivo, defendendo o

principio da identidade e condenando as contradições. As constatações empíricas estão

subsumidas nas sentenças gerais e se adéquam ao sistema teórico montado. Por outro lado, a

teoria crítica percebe a dimensão histórica dos fenômenos, indivíduos e sociedades. Dessa

forma, dados novos podem ser integrados a um sistema teórico já existente, relacionando-os a

um conhecimento já existente do homem e da natureza naquele período histórico.

Em 1970, a partir de seu ensaio A teoria crítica ontem e hoje, Horkheimer revisa seus

conceitos e determina três grandes equívocos da teoria marxista. O primeiro deles é a tese da

proletarização progressiva da classe operária que culminaria com a revolução proletária. Para

ele, o capitalismo tinha conseguido produzir excedentes de riqueza suficientes para

desestimular a luta de classes. O segundo se refere às crises cíclicas do capitalismo decorrentes

da alternância de produção excessiva sem consumo e consumo excessivo sem produção. O

último erro seria a falsa ilusão de que a justiça poderia ser garantida juntamente com a

liberdade. Para o teórico, a justiça que determina uma homogeneização dos indivíduos e das

consciências só é possível com a restrição das liberdades individuais.

Horkheimer ainda dirá que para a teoria tradicional a necessidade do trabalho teórico

se faz pelo respeito as regras gerais da lógica formal, enquanto que na teoria crítica, essa

necessidade ainda se mantém num âmbito existencial de libertação. Isso, de certa forma,

representa o ideal iluminista da razão emancipadora.

Segundo momento

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O segundo momento se baseia no debate sobre os fundamentos epistemológicos da

dialética e do positivismo, por meio de Popper e Adorno.

Popper, em seu texto Sobre a Lógica das Ciências Sociais (1961) defende um

positivismo bastante sofisticado que admite diferenças entre as ciências naturais e as ciências

sociais. Ele é positivista na medida em que se atem ao método. Para Popper, a objetividade e a

cientificidade do pensamento teórico estão garantidas quando os princípios da lógica formal

cartesiana (indução e dedução, coerência interna, identidade, intersubjetividade...) são

respeitados. O procedimento empírico tem pouco valor para ele. Para as ciências sociais, um

método adicional se faz necessário, é o que Popper chama de lógica situacional. Assim,

significa dizer que a ação também pode ser objetivamente apropriada à situação, ou seja, “a

situação é analisada até que os elementos que parecem inicialmente ser psicológicos (como

desejos, motivos, lembranças e associações) sejam transformados em elementos da situação.”

(p. 46). A lógica situacional considera também o mundo físico e o mundo social com suas

instituições. A importância da lógica situacional, portanto, está no fato de que os homens

orientam suas ações de acordo com seus valores, desejos e convicções. Assim, para explicar o

comportamento humano é preciso levar em consideração a situação.

Adorno, por sua vez, dirá que Popper é um positivista pelo simples fato de dar ao

método um papel preponderante. Para ele, a idéia de que somente o método dá acesso à

verdade e à objetividade é muito pretensiosa. Para Adorno, a dialética, diferentemente do que

dizia Popper, não é meramente formal, mas sim, material-existencial. Com efeito, a sociologia

dialética e crítica deve se pautar por uma concepção do todo, mesmo no estudo de objetos

específicos. A sociologia crítica também faz uma análise de seu próprio objeto de estudo.

Adorno também cria o conceito de Dialética Negativa que consiste na tentativa de evitar

sínteses simplistas, e que rejeita toda visão sistêmica, totalizante da sociedade. Ela também

pode ser definida como o esforço permanente da razão em tentar resgatar do passado as

dimensões reprimidas, transferindo-as para um futuro pacificado em que as limitações do

presente se anulem. Dessa forma, ao contrário da lógica formal, a dialética consegue englobar

elementos de contradição e transformação em um mesmo conceito.

Adorno ainda ressalta que a razão instrumental usada pelo positivismo pode gerar a

sua própria contestação e até destruição, uma vez que o positivismo não se permite

questionar suas bases e sua lógica, logrando esse procedimento como metafísico. O

positivismo também naturaliza os processos sociais dando-lhes um caráter sistêmico e regido

por leis absolutas e imutáveis. Ainda, no que se refere ao conceito de teoria e crítica, Adorno

as vê como um futuro relacionado à dimensão prática e à aceitação da contradição e da

negatividade, respectivamente.

Terceiro momento

Aqui o debate é travado entre Luhmann e Habermas. Habermas questiona a validade

da proposta positivista que diz atingir a verdade por meio do procedimento lógico-formal. Ele

diz que uma visão mais abrangente da razão é possível por meio da razão comunicativa ou

dialógica.

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Luhmann, em suas teorizações, aplica conceitos da biologia para distinguir sistema e

meio. Assim, da mesma forma em que um organismo se afirma em relação ao seu meio, a

sociedade precisa se determinar no meio ambiente. Habermas irá criticar Luhmann pela

incompatibilidade entre os sistemas usados em sua análise. Luhmann diz que uma das mais

importantes funções do sistema consiste na redução de complexidade, que se dá pela

multiplicidade de possíveis interpretações do mundo. A redução ocorreria justamente quando

uma dessas alternativas se concretizasse. Para Habermas, essa idéia é incompatível com o

conceito de sistema, uma vez que este não admite que a realidade seja vista como uma entre

muitas alternativas. Ainda, para Luhmann, a sociedade é resultado de um longo processo

evolutivo da humanidade e por isso, não significa um sistema social específico.

A divergência entre Luhmann e Habermas pode ser resumida na concepção e

surgimento de significados. Para Habermas, as relações sociais são sempre relações às quais os

indivíduos atribuem um significado, o que pressupõe um grau de liberdade que é incompatível

com a teoria sistêmica. Habermas, então, propõe uma teoria da ação comunicativa com a

união do conceito de mundo vivido e a concepção sistêmica. Nessa há um conceito de uma

razão subjetiva, autônoma e capaz de guiar a humanidade. Trata-se de uma razão

comunicativa que se constitui nas relações espontâneas e que se encontra na interseção de

três mundos: o mundo objetivo das coisas, o mundo social das normas e o mundo subjetivo

dos afetos.

A ótica sistêmica para Habermas corresponde ao aspecto da realidade sobre o qual age

a razão instrumental. Ela se divide em dois subsistemas, o econômico, regido pelo dinheiro, e o

político, regido pelo poder. A racionalidade técnica busca organizar as forças produtivas de

modo a gerar a sobrevivência material dos homens que vivem na sociedade. Essa visão

sistêmica, no entanto, exclui o diálogo. Em relação ao mundo vivido, trata-se da perspectiva

subjetiva dos indivíduos em meio a situações concretas. A objetividade das relações sociais se

dá quando os atores apresentam experiências em comum que constituem uma memória

coletiva. Para Habermas, a modernidade distanciou o sistema do mundo vivido, de modo que

o sistema tende a englobar, por meio de sua razão instrumental, o mundo vivido com sua

razão comunicativa. Cabe a razão comunicativa que sobreviveu em certos nichos recuperar o

terreno perdido para a razão instrumental.

Habermas, no entanto, aponta dois ganhos objetivos possíveis com a história da

humanidade:a competência técnica e instrumental desenvolvidas pelo sistema de reprodução

material, permitindo a satisfação das necessidade humanas e a racionalização das esferas de

valor, em detrimento de concepções religiosas. Assim, normas e valores elaborados pelo

consenso e diálogo prevalecem.

Fichado por Maurício Serenato