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Nunca desista de seus sonhos!
Faça sua parte, tenha fé em Deus e o resultado chegará!
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RETROSPECTIVA DOS INFORMATIVOS DO STF 2012
MATERIAL DE APOIO
NUNCA DESISTA DE SEUS SONHOS!
TENHA FÉ EM DEUS, FAÇA SUA PARTE
E O RESULTADO CHEGARÁ!
Nunca desista de seus sonhos!
Faça sua parte, tenha fé em Deus e o resultado chegará!
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PROF. RAFAEL BARRETTO
RETROSPECTIVA DOS INFORMATIVOS DO STF 2012 – Material de Apoio
JULGADOS SELECIONADOS
1. Processo do Mensalão. Condenação criminal e perda de mandato
parlamentar. Art. 55, VI/CF x Art. 15, III/CF. Efeito automático da decisão
judicial x Reserva de Parlamento. AP 470.
2. Poderes investigatórios do CNJ. Competência originária e concorrente.
CNJ pode investigar diretamente sem fundamentação. Resolução CNJ
pode ser objeto de ADI. ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco
Aurélio, 8.2.2012, Informativo 654.
O Plenário concluiu julgamento de referendo em medida cautelar em ação direta
de inconstitucionalidade ajuizada, pela Associação dos Magistrados Brasileiros -
AMB, contra a Resolução 135/2011, do Conselho Nacional de Justiça - CNJ. O
diploma adversado dispõe sobre a uniformização de normas relativas ao procedimento
administrativo disciplinar aplicável aos magistrados, acerca dos ritos e das
penalidades, e dá outras providências — v. Informativo 653.
3. ADPF 54. Antecipação terapêutica do parto do menor anencefálico e não
qualificação como aborto. Liberdade da mulher. Caráter laico do Estado.
ADPF 54/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11 e 12.4.2012. Informativo 661.
Falar sobre caráter laico do Estado, sobre a audiência pública e os amici curiae,
sobre inconstitucionalidade de interpretação.
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O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em arguição de
descumprimento de preceito fundamental ajuizada, pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Saúde - CNTS, a fim de declarar a inconstitucionalidade da
interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo seria
conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, I e II, do CP.
Prevaleceu o voto do Min. Marco Aurélio, relator. De início, reputou
imprescindível delimitar o objeto sob exame. Realçou que o pleito da requerente
seria o reconhecimento do direito da gestante de submeter-se a antecipação
terapêutica de parto na hipótese de gravidez de feto anencéfalo, previamente
diagnosticada por profissional habilitado, sem estar compelida a apresentar
autorização judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado. Destacou a
alusão realizada pela própria arguente ao fato de não se postular a proclamação de
inconstitucionalidade abstrata dos tipos penais em comento, o que os retiraria do
sistema jurídico.
Assim, o pleito colimaria tão somente que os referidos enunciados fossem
interpretados conforme a Constituição. Dessa maneira, exprimiu que se mostraria
despropositado veicular que o Supremo examinaria a descriminalização do
aborto, especialmente porque existiria distinção entre aborto e antecipação
terapêutica de parto. Nesse contexto, afastou as expressões “aborto eugênico”,
“eugenésico” ou “antecipação eugênica da gestação”, em razão do indiscutível viés
ideológico e político impregnado na palavra eugenia.
Na espécie, aduziu inescapável o confronto entre, de um lado, os interesses
legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da
sociedade que desejasse proteger todos os que a integrariam, independentemente
da condição física ou viabilidade de sobrevivência.
Sublinhou que o tema envolveria a dignidade humana, o usufruto da vida, a
liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos
individuais, especificamente, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. No
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ponto, relembrou que não haveria colisão real entre direitos fundamentais, apenas
conflito aparente.
Versou que o Supremo fora instado a se manifestar sobre o tema no HC
84025/RJ (DJU de 25.6.2004), entretanto, a Corte decidira pela prejudicialidade
do writ em virtude de o parto e o falecimento do anencéfalo terem ocorrido antes
do julgamento.
Ressurtiu que a tipificação penal da interrupção da gravidez de feto
anencéfalo não se coadunaria com a Constituição, notadamente com os preceitos
que garantiriam o Estado laico, a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e
a proteção da autonomia, da liberdade, da privacidade e da saúde.
Ao frisar que laicidade não se confundiria com laicismo, rememorou orientação
da Corte, proferida na ADI 2076/AC (DJU de 8.8.2003), no sentido de que a locução
“sob a proteção de Deus”, constante no preâmbulo da Constituição, não seria
norma jurídica. Logo, enfatizou que o Estado seria simplesmente neutro — não seria
religioso, tampouco ateu.
Ademais, a laicidade estatal revelar-se-ia princípio que atuaria de modo
dúplice: a um só tempo, salvaguardaria as diversas confissões religiosas do risco
de intervenção abusiva estatal nas respectivas questões internas e protegeria o
Estado de influências indevidas provenientes de dogmas, de modo a afastar a
prejudicial confusão entre o poder secular e democrático e qualquer doutrina de
fé, inclusive majoritária.
... Nesse tocante, dessumiu que a questão debatida não poderia ser examinada
sob os influxos de orientações morais religiosas, apesar de a oitiva de entidades
ligadas a profissão de fé não ter sido em vão. Isso porque, em uma democracia, não
seria legítimo excluir qualquer ator do âmbito de definição do sentido da Constituição.
Entendeu que, todavia, para se tornarem aceitáveis no debate jurídico, os
argumentos provenientes dos grupos religiosos deveriam ser devidamente
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“traduzidos” em termos de razões públicas, ou seja, expostos de forma que a
adesão a eles independesse de qualquer crença. A respeito, sobrelevou que crença
não poderia conduzir à incriminação de suposta conduta de mulheres que optassem por
não levar a gravidez a termo, visto que ações de cunho meramente imoral não
mereceriam glosa do direito penal.
No que tange à anencefalia, explicou que as informações e os dados revelados
na audiência pública em muito teriam contribuído para esclarecer seu conceito,
que consistiria na malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência
parcial do encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo
neural durante o desenvolvimento embrionário. ...
Ressaiu, pois, que essa má-formação seria doença congênita letal, pois não haveria
possibilidade de desenvolvimento de massa encefálica em momento posterior, pelo
que inexistiria, diante desse diagnóstico, presunção de vida extrauterina, até
porque seria consenso na medicina que o falecimento diagnosticar-se-ia pela
morte cerebral.
No tocante ao argumento de possibilidade de doação de órgão dos anencéfalos,
asseverou que não seria dado invocá-lo em prol da proteção destes, por ser vedado
obrigar a manutenção de gravidez apenas para viabilizar a doação de órgãos, sob pena
de se coisificar a mulher e ferir a sua dignidade, bem como por se revelar praticamente
impossível o aproveitamento dos órgãos dos fetos em questão.
Expôs que a mulher, portanto, deveria ser tratada como fim em si mesma, e
não sob perspectiva UTILITARISTA1 como instrumento para geração de órgãos
e posterior doação.
1 Utilitarismo é uma teoria que defende que a conduta deve ser analisada do ponto de vista da sua utilidade. Se a conduta é socialmente útil, ela deve ser aceita. De certo modo, o utilitarismo se antepõe ao individualismo, pois preconiza o bem estar numa perspectiva coletiva. O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir os seus próprios interesses, mesmo às custas dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam terOs grandes nomes do utilitarismo são Jeremy Bentham e John Stuart Mill
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4. Lei da ficha Limpa. Constitucionalidade plena. Aplicação a fatos ocorridos
anteriormente à sua edição. ADC-29, ADC-30 e ADI-4578. Informativo 655
A Lei da “Ficha Limpa” é compatível com a Constituição e pode ser
aplicada a atos e fatos ocorridos anteriormente à edição da LC 135/2010. Essa a
conclusão do Plenário ao julgar procedente pedido formulado em duas ações
declaratórias de constitucionalidade e improcedente o em ação direta de
inconstitucionalidade, todas por votação majoritária.
A Min. Cármen Lúcia realçou que o que se passaria na vida de alguém não
se desapegaria de sua história, de forma que, quando um cidadão se propusesse a
ser o representante dos demais, a vida pregressa comporia a persona que se
ofereceria ao eleitor e seu conhecimento haveria de ser de interesse público, a fim
de se chegar à conclusão de sua aptidão — que a Constituição diria moral e proba
— para esse mister.
5. Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Direito assegurado a
todos os partidos, independentemente de representação na câmara dos
deputados. Divisão do tempo. Partido novo criado durante a legislatura.
Partido novo criado durante a legislatura e tempo de propaganda eleitoral.
Cômputo da representação que possua na câmara em virtude da migração
de parlamentares. ADI-4430 e ADI 4795 MC. Info 672.
O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em
ação direta ajuizada, pelo Partido Humanista da Solidariedade - PHS, contra os artigos
45, § 6º; e 47, § 2º, I e II, ambos da Lei 9.504/97 (Lei das Eleições), para: a)
declarar a constitucionalidade do § 6º do art. 45 (“Art. 45. A partir de 1º de julho do
ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação
normal e noticiário: ... § 6º É permitido ao partido político utilizar na propaganda
eleitoral de seus candidatos em âmbito regional, inclusive no horário eleitoral
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gratuito, a imagem e a voz de candidato ou militante de partido político que integre a
sua coligação em âmbito nacional”); b) declarar a inconstitucionalidade da
expressão “e representação na Câmara dos Deputados”, contida no § 2º do art. 47
(“Art. 47. As emissoras de rádio e de televisão e os canais de televisão por assinatura
mencionados no art. 57 reservarão, nos quarenta e cinco dias anteriores à
antevéspera das eleições, horário destinado à divulgação, em rede, da propaganda
eleitoral gratuita, na forma estabelecida neste artigo. ... § 2º Os horários reservados à
propaganda de cada eleição, nos termos do parágrafo anterior, serão distribuídos
entre todos os partidos e coligações que tenham candidato e representação na
Câmara dos Deputados, observados os seguintes critérios”); e c) dar interpretação
conforme a Constituição ao inciso II do § 2º do art. 47 (“II - dois terços,
proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados,
considerado, no caso de coligação, o resultado da soma do número de representantes
de todos os partidos que a integram”), com o fim de assegurar aos partidos novos,
criados após a realização de eleições para a Câmara dos Deputados, o direito de
acesso proporcional aos 2/3 do tempo destinado à propaganda eleitoral no rádio e
na televisão, considerada a representação dos deputados federais que migrarem
diretamente dos partidos pelos quais tiverem sido eleitos para a nova legenda na
sua criação.
...
A respeito da expressão “e representação na Câmara dos Deputados”, inserida
no § 2º do art. 47 da Lei 9.504/97, salientou que excluiria o próprio direito de
participação política e o direito constitucional das agremiações ao acesso gratuito
ao rádio e à televisão (CF, art. 17, § 3º). Frisou que, da leitura isolada da expressão,
concluir-se-ia que somente os partidos políticos possuidores simultaneamente de
candidaturas e de representação na Câmara dos Deputados teriam direito de acesso ao
horário eleitoral gratuito.
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Reconheceu que a problemática residiria na partícula aditiva “e”, da qual
seria possível retirar juízo excludente em relação às agremiações que postulariam
candidatura sem representação na casa legislativa.
... Assim, levar a cabo interpretação restritiva, que impedisse a participação de
partidos, sem representação na casa legislativa, na propaganda eleitoral gratuita, seria
equivalente a tolher direito atrelado à postulação de cargos eletivos. Sublinhou que, no
caso, a exclusão das agremiações que não tivessem representação na Câmara
Federal afigurar-se-ia inconstitucional, por atentar contra o direito assegurado
no art. 17, § 3º, da CF.
... Rememorou que a Lei das Eleições, ao fixar o marco da última eleição para
deputado federal para fins de verificação da representação partidária (art. 47, §
3º), não considerara a hipótese de criação de nova legenda. Assim, o resultado da
eleição anterior não poderia afastar, para pleito eleitoral diverso, a representatividade
adquirida por partido novo. Deveria prevalecer a representatividade política conferida
aos parlamentares que houvessem deixado seus partidos de origem para se filiarem ao
recém-criado.
Por sua vez, afastar a aplicação do inciso II do § 2º do art. 47 da Lei 9.504/97
seria atribuir ao partido novo o mesmo tratamento dado aos partidos rejeitados
pelo voto popular e, por esse motivo, sem representação na Câmara. Afirmou que,
não obstante houvesse diferenciação constitucional no tocante aos partidos com
representação no Congresso e sem ela, não haveria distinção quanto ao momento
em que auferida a representação pela agremiação partidária, se resultante de
pleito eleitoral ou de momento posterior.
Aduziu que a criação de partido novo e a fusão de legendas em momento
posterior às eleições seriam comparáveis. O partido resultante de fusão também não
participara do pleito eleitoral. Por essa razão, não haveria de se conferir às duas
hipóteses tratamento diverso, já que ambas as possibilidades deteriam o mesmo
patamar constitucional.
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6. PREFEITO ITINERANTE. ART. 14, § 7º/CF. IMPOSSIBILIDADE DE
EXERCÍCIO DE UM TERCEIRO MANDATO CONSECUTIVO, AINDA
QUE EM MUNICÍPIOS DIVERSOS. MUDANÇA DE
JURISPRUDÊNCIA, SEGURANÇA JURÍDICA E EFEITO
PROSPECTIVO. RE 637485/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 1º.8.2012.
Informativo 673
O Plenário, após reconhecer a existência de repercussão geral da matéria, deu
provimento, por maioria, a recurso extraordinário, para julgar inaplicável a
alteração da jurisprudência do TSE quanto à interpretação do art. 14, § 5º, da
CF, com a redação dada pela EC 16/97, às eleições de 2008 (“O Presidente da
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um
único período subseqüente”).
Na espécie, o recorrente, após exercer 2 mandatos consecutivos como
prefeito do mesmo município, transferira seu domicílio eleitoral e, ao atender às
regras de desincompatibilização, candidatara-se ao cargo de prefeito de
municipalidade diversa no pleito de 2008.
À época, a jurisprudência do TSE seria firme no sentido de que não se
cogitaria de falta de condição de elegibilidade nessa hipótese, pois a candidatura
dera-se em localidade diversa. Por essa razão, sua candidatura não teria sido
impugnada pelo Ministério Público ou por partido político. Após transcorrido todo o
período de campanha, pressuposta a regularidade da candidatura, conforme as normas
então vigentes, o recorrente teria logrado vitória no pleito eleitoral.
Contudo, no período de diplomação dos eleitos, o TSE modificara
radicalmente sua jurisprudência e passara a considerar a hipótese como vedada
pelo art. 14, § 5º, da CF. Em consequência, o Ministério Público Eleitoral e a
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coligação adversária impugnaram o diploma do candidato (Código Eleitoral, art.
262, I), a resultar na sua cassação.
Prevaleceu o voto do Min. Gilmar Mendes, relator. Explicou que o recurso
em comento cuidaria de 2 questões constitucionais distintas, não obstante inter-
relacionadas no caso concreto. A primeira diria respeito à controvérsia quanto à
interpretação da regra que permitiria única reeleição subsequente dos ocupantes de
cargos de Chefe do Poder Executivo — na hipótese, os prefeitos — ou de quem os
houvesse sucedido ou substituído no curso do mandato. Debater-se-ia, por um lado, se
esse preceito constitucional: a) possibilitaria candidatura ao cargo em questão por
cidadão que ocupara, por 2 mandatos consecutivos, reeleito uma vez, posição de
idêntica natureza em município distinto; ou b) evidenciaria vedação absoluta à
segunda reeleição para ocupação da mesma natureza, ainda que o novo sufrágio
ocorresse mediante prévia alteração do domicílio eleitoral em ente da federação
diverso daquele em que exercido o cargo em referência.
A segunda residiria na importante relação entre mudança jurisprudencial e
segurança jurídica, a qual perscrutaria os problemas da retroação e da
aplicabilidade imediata dos efeitos das decisões que implicassem modificação do
entendimento do órgão de cúpula da Justiça Eleitoral2. Indagar-se-ia se o
postulado da segurança jurídica, também em sua face de princípio da confiança,
poderia constituir barreira normativa contra a retroatividade e a aplicabilidade
imediata dessas decisões que resultassem câmbio jurisprudencial em matéria eleitoral,
sobretudo no curso do período de eleição.
Destacou que seria crucial avaliar se o TSE, ao mudar sua jurisprudência,
respeitara o princípio da segurança jurídica. Isso porque o caso em comento seria
peculiar. Ressaiu que, em situações nas quais alterada a concepção longamente
adotada, seria sensato modular os efeitos da decisão, em face da segurança jurídica.
Enumerou exemplos em que o Tribunal teria ressalvado atos praticados e decisões já 2 Mudança de jurisprudência e modulação temporal. Efeitos prospectivos.
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proferidas anteriormente à mudança de orientação (Inq 687/SP, DJU de 9.11.2001; CC
7204/MG, DJU de 9.12.2005; HC 82959/SP, DJU de 1º.9.2006).
No ponto, realçou que não se trataria de aplicação do art. 27 da Lei 9.868/99,
mas de substancial alteração de jurisprudência, decorrente de nova interpretação
constitucional, o que permitiria ao Supremo, tendo em vista razões de segurança
jurídica, atribuir efeitos prospectivos às suas decisões.
Enfatizou que também o TSE, quando modificasse sua jurisprudência,
especialmente no decorrer do período eleitoral, deveria realizar a modulação dos
efeitos de seus julgados, em razão da necessária preservação da segurança jurídica, que
lastrearia a realização das eleições, especialmente a confiança dos cidadãos candidatos
e eleitores.
... Consoante esta teoria, os tribunais poderiam abandonar sua orientação
anterior porque teriam se convencido de que seria incorreta em face do fator
temporal, que teria se lastreado em falsas suposições ou em conclusões não
suficientemente seguras.
Nestes termos, enfatizou que, em verdade, a norma jurídica não
consubstanciaria o pressuposto, mas o resultado do processo interpretativo, isto é,
a norma seria a sua interpretação. Nesse diapasão, não existiria norma jurídica, senão
aquela interpretada, de sorte que interpretar ato normativo seria colocá-lo no tempo ou
integrá-lo na realidade pública.
Introduziu o conceito de pós-compreensão, que seria o conjunto de fatores
temporalmente condicionados com base nos quais se compreenderia
“supervenientemente” certa norma. Para o relator, todo esse esforço hermenêutico
resultaria na pós-compreensão, a qual seria a pré-compreensão do futuro, ou seja, o
elemento dialético correspondente da ideia de pré-compreensão. Essa concepção
permitiria atestar que toda lei interpretada — não apenas as denominadas leis
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temporárias — caracterizaria dispositivo com duração temporal limitada, de modo que
a atividade hermenêutica nada mais seria que procedimento historicamente situado.
Em outras palavras, o texto, confrontado com novas experiências, transformar-
se-ia necessariamente em outro texto, o que originaria a ideia desse contínuo
interpretar: a pré-compreensão levaria à pós-compreensão.
Discorreu, pois, que a interpretação constitucional aberta dispensaria o
conceito de mutação constitucional enquanto categoria autônoma, porquanto se
ESTARIA SEMPRE EM MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL. Ficaria, então,
evidente que o Tribunal não poderia fingir que sempre pensara de certa forma ao
modificar seu entendimento. Expressou que, diante disto, haveria a necessidade de,
nesses casos, fazer-se o ajuste do resultado, adotando-se técnica de decisão que, tanto
quanto possível, traduzisse mudança de valoração.
... Então, as decisões do TSE que implicassem alteração de jurisprudência, no
curso do pleito eleitoral ou logo após o seu encerramento, não incidiriam de
imediato no caso concreto e somente possuiriam eficácia sobre outras situações no
pleito eleitoral posterior.
Finalizou que a decisão do TSE em tela, APESAR DE TER ASSEVERADO
CORRETAMENTE que seria inelegível para o cargo de prefeito o cidadão que
exercera por 2 mandatos consecutivos cargo de mesma natureza em município
diverso, não poderia retroagir a fim de alcançar diploma regularmente concedido
a vencedor das eleições de 2008 para prefeito de outra municipalidade.
Aquilatou que se deveria assegurar a conclusão do mandato a ele. Por fim,
assentou, sob o regime da repercussão geral, que: a) o art. 14, § 5º, da CF,
interpretar-se-ia no sentido de que a proibição da segunda reeleição seria
absoluta e tornaria inelegível para determinado cargo de Chefe do Poder
Executivo o cidadão que já cumprira 2 mandatos consecutivos (reeleito uma
única vez) em cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso;
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e b) as decisões do TSE que acarretassem mudança de jurisprudência no curso do
pleito eleitoral ou logo após o seu encerramento não se aplicariam imediatamente
ao caso concreto e somente teriam eficácia sobre outras situações em pleito
eleitoral posterior.
Por sua vez, os Ministros Cezar Peluso e Marco Aurélio davam provimento ao
recurso, entretanto, em maior extensão. Consideravam que deveria ser mantida a
antiga jurisprudência do TSE, segundo a qual não haveria impedimento a que
prefeito reeleito em determinado município pudesse se candidatar a cargo
executivo em outra cidade.
7. ART. 62, § 9º. MEDIDA PROVISÓRIA. DELIBERAÇÃO. AUSÊNCIA
DO PARECER PRÉVIO DA COMISSÃO MISTA. VÍCIO FORMAL.
CASO INSTITUTO CHICO MENDES. TRIBUNAL DECLAROU A
INCONSTITUCIONALIDADE COM MODULAÇÃO E DEPOIS
MUDOU, JULGANDO IMPROCEDENTE. CABÍVEL DECLARAÇÃO
INCIDENTAL EM ADI. CABÍVEL ANALISAR RELEVÂNCIA E
URGÊNCIA. ADI 4029/DF, rel. Min. Luiz Fux, 7 e 8.3.2012. (ADI-4029).
Informativo 657
A emissão de parecer, relativamente a medidas provisórias, por comissão
mista de deputados e senadores antes do exame, em sessão separada, pelo
plenário de cada uma das casas do Congresso Nacional (CF, art. 62, § 9º)
configura fase de observância obrigatória no processo constitucional de
conversão dessa espécie normativa em lei ordinária.
Com base nesse entendimento e tendo em conta razões de segurança jurídica para
a manutenção dos diplomas legais já editados com esse vício de tramitação, o
Tribunal acolheu questão de ordem, suscitada pelo Advogado-Geral da União,
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para alterar o dispositivo do acórdão da presente ação direta apreciada em
assentada anterior.
Ato contínuo, em votação majoritária, julgou improcedente o pleito formulado,
mas DECLAROU, INCIDENTALMENTE, com eficácia ex nunc, a
INCONSTITUCIONALIDADE dos artigos 5º, caput, e 6º, §§ 1º e 2º, da
RESOLUÇÃO 1/2002, do Congresso Nacional [“Art. 5º A Comissão terá o prazo
improrrogável de 14 (quatorze) dias, contado da publicação da Medida Provisória
no Diário Oficial da União para emitir parecer único, manifestando-se sobre a
matéria, em itens separados, quanto aos aspectos constitucional, inclusive sobre os
pressupostos de relevância e urgência, de mérito, de adequação financeira e
orçamentária e sobre o cumprimento da exigência prevista no § 1º do art. 2º. ... Art. 6º
A Câmara dos Deputados fará publicar em avulsos e no Diário da Câmara dos
Deputados o parecer da Comissão Mista e, a seguir, dispensado o interstício de
publicação, a Medida Provisória será examinada por aquela Casa, que, para concluir
os seus trabalhos, terá até o 28º (vigésimo oitavo) dia de vigência da Medida
Provisória, contado da sua publicação no Diário Oficial da União. § 1º Esgotado o
prazo previsto no caput do art. 5º, o processo será encaminhado à Câmara dos
Deputados, que passará a examinar a Medida Provisória. § 2º Na hipótese do § 1º, a
Comissão Mista, se for o caso, proferirá, pelo Relator ou Relator Revisor designados,
o parecer no plenário da Câmara dos Deputados, podendo estes, se necessário,
solicitar para isso o prazo até a sessão ordinária seguinte”].
8. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E MODULAÇÃO DE EFEITOS DA
PRONÚNCIA DA INCONSTITUCIONALIDADE. CABIMENTO,
INDEPENDENTE DE PEDIDO EXPRESSO NA INICIAL ADI 27973
Informativos 664 (andamento) e 666 (conclusão).
3 ED e modulação. Regra: só se admite se houve pedido expresso de modulação na inicial, eis que do contrário não haverá omissão. Mas, na ADI 3601, informativo 599, o Plenário reafirmou essa regra só que modulou.
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O Plenário retomou julgamento de embargos de declaração opostos de
decisão proferida em ação direta, na qual se pretende, sob alegação de omissão, a
modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do
art. 84 do CPP4, inseridos pelo art. 1º da Lei 10.628/2002 — v. Informativo 543.
O Min. Ayres Britto, Presidente, em voto-vista, abriu divergência ao acolher os
embargos para fixar a data de 15.9.2005 como termo inicial da declaração de
inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do art. 84 do CPP. ....
Observou que se, no julgamento de mérito da controvérsia, a Corte deixasse
de se pronunciar acerca da eficácia temporal de seu julgado, poder-se-ia
presumir, em princípio, a nulidade da lei inconstitucional como consequência.
Aduziu que essa presunção de nulidade somente se tornaria absoluta com o
trânsito em julgado da ação direta e que, presentes as razões que justificassem a
modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, não haveria óbice
ao seu reconhecimento em sede de embargos de declaração.
Assim, competiria ao Supremo modular os efeitos de suas decisões, se houver
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, ainda que
inexistente pedido das partes.
Ressaltou que os embargos de declaração integrariam o julgado e
consistiriam meio de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, além de
configurarem a última fronteira processual apta a impedir que decisão de
inconstitucionalidade com efeito retroativo afetassem relações sociais.
Em conclusão, o Plenário, por maioria, acolheu embargos declaratórios,
opostos pelo Procurador-Geral da República, para assentar que os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do art. 84 do CPP, inseridos
4 Prerrogativa de foro se extingue com término da função. Cancelamento da Súmula 394 “Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício”. Falar sobre AP 333 (2007) e AP 396 (2010)
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pelo art. 1º da Lei 10.628/2002 (“§ 1º A competência especial por prerrogativa de
função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito ou
a ação judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função pública. § 2º A
ação de improbidade, de que trata a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, será
proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o
funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício
de função pública, observado o disposto no § 1º”) tenham eficácia a partir de
15.9.2005 — v. Informativos 543 e 664. Na espécie, alegava-se que a norma
declarada inconstitucional teria vigido por três anos — com alterações nas regras
de competência especial por prerrogativa de função quanto às ações de
improbidade, inquéritos e ações penais — a exigir fossem modulados os efeitos do
julgado. Destacou-se a necessidade de se preservar a validade dos atos processuais
praticados no curso das mencionadas ações e inquéritos contra ex-ocupantes de
cargos públicos e de mandatos eletivos julgados no período de 24.12.2002, data de
vigência da Lei 10.628/2002, até a data da declaração de sua
inconstitucionalidade, 15.9.2005. Pontuou-se que inúmeras ações foram julgadas
com fundamento na Lei 10.628/2002 e, por segurança jurídica, necessário adotar-se a
modulação, assegurada a eficácia ex nunc, nos termos do art. 27 da Lei 9.868/99.
Asseverou-se que os processos ainda em tramitação não teriam sua competência
deslocada para esta Corte.
9. AGU E DEVER DE DEFESA. AGU, MAIS UMA VEZ, NÃO DEFENDEU
O ATO. ADI-3357, ADI-3937. Informativo 686
Amianto e competência legislativa concorrente – 1 O Plenário iniciou julgamento
de ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas, pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Indústria, contra as Leis 11.643/2001 e 12.684/2007,
respectivamente, dos Estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Os diplomas
proíbem o uso, a comercialização e a produção de produtos à base de amianto naquelas
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unidades federativas. O Min. Ayres Britto, Presidente e relator da ADI 3357/RS, votou
pela improcedência de ambos os pedidos.
... O Min. Marco Aurélio, relator da ADI 3937/SP, por sua vez, julgou os pleitos
procedentes. Primeiramente, realçou que, nos termos do art. 103, § 3º, da CF, a única
atribuição do Advogado-Geral da União - AGU seria a de atuar como curador do
ato normativo envolvido em ação direta, e não se confundiria com a do
Procurador-Geral da República, que poderia se manifestar tanto no sentido da
procedência quanto no da improcedência do pedido formulado. Observou que, no
caso, o AGU não teria defendido, como lhe incumbiria, o ato impugnado, mas o
atacara5.
10. AMICUS CURIAE E RECORRIBILIDADE DA DECISÃO QUE
DENEGA SEU INGRESSO NO FEITO. POSSIBILIDADE DE
MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA. ADI 3396 AgR/DF, rel. Min. Celso de
Mello, 10.5.2012, Informativo 665
O Plenário iniciou julgamento de agravo regimental interposto, por
procurador da fazenda nacional, contra decisão que, em sede de ação direta de
inconstitucionalidade, indeferira-lhe pedido de ingresso nos autos como amicus
curiae.
O Min. Celso de Mello, relator, em preliminar, conheceu do recurso de
agravo com fundamento em decisões desta Corte que permitiriam a impugnação
recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade
de amicus curiae (ADI 3105 ED/DF, DJe de 23.2.2007; ADI 3934 ED-AgR/DF, DJe
de 31.3.2011 e ADI 3615 ED/PB, DJe de 25.4.2008).
5 ADI 3916, Informativo 562; Outro caso: ADI 3239, O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, manifestou-se na ADI 3239 defendendo a constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, impugnado pela agremiação política.
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No mérito, negou provimento ao recurso ao aplicar orientação do STF no
sentido de que a pessoa física não teria representatividade adequada para intervir
na qualidade de amigo da Corte em ação direta.
Salientou hipótese em que determinada entidade, dotada de representatividade
adequada, pretendesse ingressar como amicus curiae e sendo denegada essa pretensão,
ser-lhe-ia possível interpor recurso apenas quanto a esse juízo negativo de
admissibilidade, para permitir que o Colegiado realizasse o controle do julgado.
Nesse mesmo sentido votaram os Ministros Ricardo Lewandowski, Cezar
Peluso e Gilmar Mendes.
Em divergência, o Min. Marco Aurélio não conheceu do regimental ante
expressa disposição legal, a dispor sobre a irrecorribilidade da decisão do relator
que não consentisse com aquela intervenção.
Realçou que, embora o preceito da Lei 9.868/99 se referisse a despacho, o
pronunciamento de admissão no processo teria carga decisória e, no sistema recursal, o
recurso seria bilateral.
Apontou não ser possível interpretar preceito em que somente aquele que tivesse
seu recurso indeferido pudesse recorrer. Acentuou que a decisão do relator ao admitir,
ou não, a participação de terceiro, seria irrecorrível.
Dessumiu que, se vencido na preliminar, acompanharia o Min. Celso de Mello
pelo não provimento. Os Ministros Ayres Britto, Presidente, Rosa Weber, Luiz
Fux e Dias Toffoli também não conheceram da ação. Por fim, em virtude da
possibilidade de se alterar jurisprudência do Supremo, deliberou-se pela
suspensão do julgamento, para aguardar os votos dos Ministros ausentes.
11. TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES. NÃO
ADMISSÃO DA TEORIA. Rcl 11477 AgR/CE, rel. Min. Marco Aurélio,
29.5.2012, 1ª Turma, Informativo 668
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A 1ª Turma desproveu agravo regimental interposto de decisão do Min. Marco
Aurélio, que negara seguimento a reclamação, da qual relator, por considerar descaber
emprestar-lhe contornos próprios ao incidente de uniformização, o que ocorreria caso
admitida a teoria da transcendência dos motivos determinantes.
Na espécie, o reclamante noticiava ter, na qualidade de prefeito, prestado contas
à câmara municipal, que as aprovara. No entanto, estas foram rejeitadas, pelo tribunal
de contas, com aplicação de multa.
Na reclamação, alegava-se inobservância aos acórdãos proferidos nas Ações
Diretas de Inconstitucionalidade 3715 MC/TO (DJU de 25.8.2006), 1779/PE (DJU de
14.9.2001) e 849/MT (DJU de 23.4.99).
Arguia ter o STF proclamado, nas aludidas decisões, que, no tocante aos chefes
do Poder Executivo, os tribunais de contas sempre emitiriam pareceres prévios, nunca
podendo apreciar as contas.
O Colegiado salientou que a reclamação seria medida excepcional e pressuporia
a usurpação da competência do Supremo ou o desrespeito a decisão por ele proferida.
Consignou-se que se estaria a articular com a teoria da transcendência dos
motivos. O relator assinalou que a Corte não teria admitido a adequação da reclamação
pela teoria em comento6.
O Min. Luiz Fux observou que o reclamante faria analogia com decisão proferida
em relação a estado-membro distinto daquele em questão. A Min. Cármen Lúcia
lembrou que, várias vezes, os componentes do Supremo, no Plenário, chegariam à
6 Rcl 4906/PA e 4939/PA, rel. Min. Joaquim Barbosa, 17.12.2008, Informativo 493. Adi 3460/DF. Preliminarmente, o Tribunal, por maioria, salientando o efeito vinculante e a eficácia erga omnes das suas decisões em controle concentrado de constitucionalidade, conheceu das reclamações, tendo em conta, não obstante o acórdão paradigma ter declarado a constitucionalidade de norma diversa da tratada nos presentes autos, a identidade do teor desses textos. Vencido, no ponto, o Min. Carlos Britto, que delas não conhecia.
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idêntica conclusão com fundamentos distintos e apenas contar-se-iam os votos da parte
dispositiva. Precedente citado: Rcl 3014/SP (DJe de 21.5.2010).
12. SISTEMA DE COTAS RACIAS PARA INGRESSO EM
UNIVERSIDADE PÚBLICA. CONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO
AFIRMATIVA. IGUALDADE MATERIAL. ADPF 186/DF, rel. Min.
Ricardo Lewandowski, 25 e 26.4.2012, Informativo 663.
O Plenário julgou improcedente pedido formulado em arguição de
descumprimento de preceito fundamental ajuizada, pelo Partido Democratas - DEM,
contra atos da Universidade de Brasília - UnB, do Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão da Universidade de Brasília - Cepe e do Centro de Promoção de Eventos da
Universidade de Brasília - Cespe, os quais instituíram sistema de reserva de 20% de
vagas no processo de seleção para ingresso de estudantes, com base em critério étnico-
racial.
Preliminarmente, admitiu-se o cabimento da ação, por inexistir outro meio hábil
para sanar a lesividade questionada. Apontou-se entendimento da Corte no sentido de
que a subsidiariedade da via eleita deveria ser confrontada com a existência, ou
não, de instrumentos processuais alternativos capazes de oferecer provimento
judicial com eficácia ampla, irrestrita e imediata para solucionar o caso.
Articulou-se que, diante da natureza infralegal dos atos impugnados, a ação
direta de inconstitucionalidade não seria medida idônea para o enfrentamento da
controvérsia, tampouco qualquer das ações que comporiam o sistema de jurisdição
constitucional abstrata.
De igual modo, repeliu-se alegada conexão ante eventual identidade de causa de
pedir entre esta ADPF e a ADI 2197/RJ. Ocorre que as ações de índole abstrata não
tratariam de fatos concretos, razão pela qual nelas não se deveria, como regra,
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cogitar de conexão, dependência ou prevenção relativamente a outros processos
ou julgadores.
Ademais, avaliou-se que o tema relativo às ações afirmativas inserir-se-ia entre os
clássicos do controle de constitucionalidade, e seria conveniente que a controvérsia
fosse definitivamente resolvida pelo STF, para colocar fim a polêmica que já se
arrastaria, sem solução, por várias décadas nas diversas instâncias jurisdicionais do
país.
No mérito, explicitou-se a abrangência da matéria. Nesse sentido, comentou-se,
inicialmente, sobre o princípio constitucional da igualdade, examinado em seu duplo
aspecto: formal e material7.
Rememorou-se o art. 5º, caput, da CF, segundo o qual ao Estado não seria dado
fazer qualquer distinção entre aqueles que se encontrariam sob seu abrigo. Frisou-se,
entretanto, que o legislador constituinte não se restringira apenas a proclamar
solenemente a igualdade de todos diante da lei8.
Ele teria buscado emprestar a máxima concreção a esse importante postulado, para
assegurar a igualdade material a todos os brasileiros e estrangeiros que viveriam no
país, consideradas as diferenças existentes por motivos naturais, culturais, econômicos,
sociais ou até mesmo acidentais.
Além disso, atentaria especialmente para a desequiparação entre os distintos
grupos sociais. Asseverou-se que, para efetivar a igualdade material, o Estado poderia
lançar mão de políticas de cunho universalista — a abranger número indeterminado
de indivíduos — mediante ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas — a
atingir grupos sociais determinados — por meio da atribuição de certas vantagens, por
tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades ocasionadas por
situações históricas particulares.
7 Previsão na ordem jurídica x Realidade substancial. Lembrar noção de Aristóteles e de Rui Barbosa. 8 Diferenciar Igualdade na lei x perante a lei.
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Certificou-se que a adoção de políticas que levariam ao afastamento de
perspectiva meramente formal do princípio da isonomia integraria o cerne do conceito
de democracia. Anotou-se a superação de concepção estratificada da igualdade,
outrora definida apenas como direito, sem que se cogitasse convertê-lo em
possibilidade.
Reputou-se, entretanto, que esse desiderato somente seria alcançado por meio da
denominada “justiça distributiva9”, que permitiria a superação das desigualdades no
mundo dos fatos, por meio de intervenção estatal que realocasse bens e oportunidades
existentes na sociedade em benefício de todos.
Lembrou-se que o modelo constitucional pátrio incorporara diversos mecanismos
institucionais para corrigir distorções resultantes da incidência meramente formal do
princípio da igualdade.
Sinalizou-se que, na espécie, a aplicação desse preceito consistiria em técnica de
distribuição de justiça, com o objetivo de promover a inclusão social de grupos
excluídos, especialmente daqueles que, historicamente, teriam sido compelidos a viver
na periferia da sociedade.
Em seguida, elucidou-se o conceito de ações afirmativas, que seriam medidas
especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a proteção de certos
grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício
dos direitos do homem e das liberdades fundamentais.
Explanaram-se as diversas modalidades de ações afirmativas empregadas em
vários países: a) a consideração do critério de raça, gênero ou outro aspecto a
9 È a idéia de justiça equitativa, dar a cada um segundo suas necessidades e seus empenhos. A justiça social deve tirar a venda para ver a realidade e compensar as desigualdades que nela se produzem. John Rawls. (Uma Teoria da Justiça)defende que uma sociedade será justa se respeitar três princípios: 1) garantia das liberdades fundamentais para todos;
2) igualdade equitativa de oportunidades ;
3) manutenção de desigualdades apenas para favorecer os mais desfavorecidos.
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caracterizar certo grupo minoritário para promover sua integração social; b) o
afastamento de requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de
membros de categorias socialmente dominantes em determinados ambientes
profissionais; c) a definição de distritos eleitorais para o fortalecimento de minorias; e
d) o estabelecimento de cotas ou a reserva de vagas para integrantes de setores
marginalizados. Ademais, expôs-se a origem histórica dessas políticas. Sublinhou-se
que a Corte admitira, em outras oportunidades, a constitucionalidade delas.
.... Dessumiu-se que critérios objetivos de seleção, empregados de forma
estratificada em sociedades tradicionalmente marcadas por desigualdades interpessoais
profundas, acabariam por consolidar ou acirrar distorções existentes.
Nesse aspecto, os espaços de poder político e social manter-se-iam inacessíveis
aos grupos marginalizados, a perpetuar a elite dirigente, e a situação seria mais
grave quando a concentração de privilégios afetasse a distribuição de recursos
públicos.
... Partir-se-ia da premissa de que o princípio da igualdade não poderia ser
aplicado abstratamente, pois procederia a escolhas voltadas à concretização da justiça
social, de modo a distribuir mais equitativamente os recursos públicos.
Confrontou-se a inexistência, cientificamente comprovada, do conceito biológico
ou genético de raça, com a utilização do critério étnico-racial para fins de qualquer
espécie de seleção de pessoas.
Sublinhou-se que a Corte, nos autos do HC 82424 QO/RS (DJU de 19.3.2004),
debatera o significado jurídico do termo “racismo” (CF, art. 5º, XLII) e afastara o
conceito biológico, porquanto histórico-cultural, artificialmente construído para
justificar a discriminação ou a dominação exercida por alguns indivíduos sobre certos
grupos, maliciosamente reputados inferiores.
Ressurtiu-se que, se o constituinte de 1988 qualificara de inafiançável o crime de
racismo, com o escopo de impedir a discriminação negativa de determinados grupos,
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seria possível empregar a mesma lógica para autorizar a utilização estatal da
discriminação positiva, com vistas a estimular a inclusão social de grupos
excluídos.
Explicou-se que, para as sociedades contemporâneas que passaram pela
experiência da escravidão, repressão e preconceito, ensejadora de percepção
depreciativa de raça com relação aos grupos tradicionalmente subjugados, a garantia
jurídica de igualdade formal sublimaria as diferenças entre as pessoas, de modo a
perpetrar as desigualdades de fato existentes.
Reportou-se que o reduzido número de negros e pardos detentores de cargos ou
funções de relevo na sociedade resultaria da discriminação histórica que as sucessivas
gerações dos pertencentes a esses grupos teriam sofrido, ainda que de forma implícita.
Os programas de ação afirmativa seriam, então, forma de compensar essa
discriminação culturalmente arraigada.
Nessa linha de raciocínio, destacou-se outro resultado importante dessas políticas:
a criação de lideranças entre os grupos discriminados, capazes de lutar pela defesa de
seus direitos, além de servirem como paradigmas de integração e ascensão social.
Como resultado desse quadro, registrou-se o surgimento de programas de
reconhecimento e valorização de grupos étnicos e culturais.
Ressaiu-se que, hodiernamente, justiça social significaria distinguir,
reconhecer e incorporar à sociedade valores culturais diversificados. Esse modo
de pensar revelaria a insuficiência da utilização exclusiva do critério social ou de
baixa renda para promover a integração de grupos marginalizados, e impenderia
incorporar-se nas ações afirmativas considerações de ordem étnica e racial.
Salientou-se o seu papel simbólico e psicológico, em contrapartida à histórica
discriminação de negros e pardos, que teria gerado, ao longo do tempo, a perpetuação
de consciência de inferioridade e de conformidade com a falta de perspectiva, tanto
sobre os segregados como para os que contribuiriam para sua exclusão.
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... Ressaltou-se a natureza transitória dos programas de ação afirmativa, já
que as desigualdades entre brancos e negros decorreriam de séculos de dominação
econômica, política e social dos primeiros sobre os segundos.
Dessa forma, na medida em que essas distorções históricas fossem corrigidas, não
haveria razão para a subsistência dos programas de ingresso nas universidades
públicas.
Se eles ainda assim permanecessem, poderiam converter-se em benesses
permanentes, em detrimento da coletividade e da democracia.
Consignou-se que, no caso da UnB, o critério da temporariedade fora cumprido,
pois o programa de ações afirmativas lá instituído estabelecera a necessidade de sua
reavaliação após o transcurso de dez anos.
Por fim, no que concerne à proporcionalidade entre os meios e os fins colimados
nessas políticas, considerou-se que a reserva de 20% das vagas, na UnB, para
estudantes negros, e de um pequeno número delas para índios, pelo prazo de citado,
constituiria providência adequada e proporcional a atingir os mencionados desideratos.
13. PROUNI. PROGRAMA DE INCENTIVO FISCAL ÀS UNIVERSIDADES
PRIVADAS QUE CONCEDEM BOLSAS PARA ALUNOS.
CONSTITUCIONALIDADE. ADI 3330/DF, rel. Min. Ayres Britto, 3.5.2012.
Informativo 664
Em conclusão, o Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em
ação direta ajuizada, pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino -
Confenen, pelo Partido Democratas - DEM e pela Federação Nacional dos
Auditores-Fiscais da Previdência Social - Fenafisp, contra a Medida Provisória
213/2004, convertida na Lei 11.096/200510, que instituiu o Programa Universidade
10 Adi x MP. Conversão em lei. Prejudicialidade ou não da ADI?
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para Todos - Prouni11, regulou a atuação de entidades de assistência social no ensino
superior, e deu outras providências — v. Informativo 500.
O programa instituído pela norma adversada concedera bolsas de estudos em
universidades privadas a alunos que cursaram o ensino médio completo em
escolas públicas ou em particulares, como bolsistas integrais, cuja renda familiar
fosse de pequena monta, com quotas para negros, pardos, indígenas e àqueles
com necessidades especiais.
De início, não se conheceu da ação proposta pela Fenafisp, por falta de
legitimidade ativa12 (CF, art. 103, IX). Também em preliminar, consideraram-se
presentes os pressupostos de relevância e urgência da matéria tratada na medida
provisória13 questionada que, ao ser convertida em lei, não impediria a continuidade
do debate jurisdicional.
... No mérito, asseverou-se que a norma adversada erigira a educação à condição
de direito social, dever do Estado e uma de suas políticas públicas prioritárias.
Rechaçaram-se, de igual modo, as alegações de afronta aos princípios da
igualdade, da isonomia, da não discriminação e do devido processo legal ao
argumento de que não se afiguraria legítimo, no ordenamento, que vagas no
ensino superior fossem reservadas com base na condição sócio-econômica do
aluno ou em critério racial ou de suas condições especiais. ...
O Prouni seria programa de ações afirmativas que se operacionalizaria
mediante concessão de bolsas e por ato de adesão ou participação voluntária e,
portanto, incompatível com a ideia de vinculação forçada.
11 Art. 1o Fica instituído, sob a gestão do Ministério da Educação, o Programa Universidade para Todos - PROUNI, destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50% (cinqüenta por cento) ou de 25% (vinte e cinco por cento) para estudantes de cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos 12 Federação não tem legitimidade para propor ADI. 13 Controle judicial de relevância e urgência
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14. LEI MARIA DA PENHA. CONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 1º, 33
E 41. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012, Informativo 654
No mérito, rememorou-se posicionamento da Corte que, ao julgar o HC
106212/MS (DJe de 13.6.2011), declarara a constitucionalidade do art. 41 da Lei
Maria da Penha (“Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995”).
art. 1º da aludida lei (“Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados
pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência
e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar”). ... consignou-
se que a norma seria corolário da incidência do princípio da proibição de
proteção insuficiente dos direitos fundamentais.
Art. 33: “Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e
criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei,
subsidiada pela legislação processual pertinente” não ofenderia os artigos 96, I, a, e
125, § 1º, ambos da CF, porquanto a Lei Maria da Penha não implicara obrigação,
mas faculdade de criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher.
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15. LEI MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL NO CASO DE LESÃO
COPORAL MEDIANTE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER É INCONDICIONADA. NOS DEMAIS CASOS
DEPENDE DE REPRESENTAÇÃO. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco
Aurélio, 9.2.2012, , Informativo 654
O Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta, proposta pelo Procurador
Geral da República, para atribuir interpretação conforme a Constituição aos artigos
12, I; 16 e 41, todos da Lei 11.340/2006, e assentar a natureza incondicionada da
ação penal em caso de crime de lesão corporal, praticado mediante violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Entendeu-se não ser aplicável aos crimes glosados pela lei discutida o que
disposto na Lei 9.099/95, de maneira que, em se tratando de lesões corporais, mesmo
que de natureza leve ou culposa, praticadas contra a mulher em âmbito doméstico, a
ação penal cabível seria pública incondicionada. Acentuou-se, entretanto,
permanecer a necessidade de representação para crimes dispostos em leis
diversas da 9.099/95, como o de ameaça e os cometidos contra a dignidade sexual.
16. NÃO PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS E INTERVENÇÃO.
INTERVENÇÃO PRESSUPÕE ATUAÇÃO DOLOSA DO ESTADO EM
NÃO PAGAR O PRECATÓRIO.IF 5101/RS, rel. Min. Cezar Peluso,
28.3.2012. (IF-5101) Informativo 660
A atuação estatal voluntária e dolosa com objetivo de descumprir decisão
judicial transitada em julgado constitui pressuposto indispensável ao acolhimento
de pleito de intervenção federal.
Ao reafirmar essa orientação, o Plenário, por maioria, julgou improcedentes
pedidos de representação interventiva no Estado do Rio Grande do Sul,
formulados ante a ausência de pagamento de valores requisitados em precatórios.
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...No ponto, entendeu-se que as dificuldades financeiras enfrentadas pela
Administração Pública do respectivo ente impediriam, temporariamente, a
quitação imediata da totalidade de suas dívidas. Assim, reputou-se não
configurada intenção estatal de se esquivar ao pagamento dos débitos decorrentes
de precatórios judiciais, mas atuação definida pelos limites do possível, com o fito
de solucionar a questão.
O Min. Celso de Mello reportou-se ao que decidido nas Intervenções Federais
2915/SP (DJU de 28.11.2003) e 2953/SP (DJU de 5.12.2003).
Lembrou que não bastaria à entidade estatal alegar genericamente sua
incapacidade financeira de honrar suas dívidas fundadas em título judicial
transitado em julgado.
Explicou que, na oportunidade, o Estado do Rio Grande do Sul teria
apresentado plano detalhado com cronograma para cumprimento de obrigações
judiciais. Assim, considerou demonstrado o comprometimento da unidade
federativa com a satisfação dos débitos derivados de provimento judicial em
razão do nítido incremento da disponibilidade de receitas públicas para quitação
de precatórios.
Vencido o Min. Marco Aurélio, que julgava procedente o pedido de intervenção
federal. Frisava inexistir na Constituição a necessidade de demonstração de dolo
estatal em relação ao inadimplemento. Outros precedentes citados: IF 506 AgR/SP
(DJU de 25.6.2004); IF 5050 AgR/SP (DJe de 25.4.2008).
17. TRÁFICO DE DROGAS E PROIBIÇÃO DE LIBERDADE
PROVISÓRIA. INCONSTITUCIONALIDADE. HC 104339/SP, rel. Min.
Gilmar Mendes, 10.5.2012. informativo 665
O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus — afetado pela 2ª
Turma — impetrado em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33,
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caput, c/c o art. 40, III, ambos da Lei 11.343/2006, e determinou que sejam apreciados
os requisitos previstos no art. 312 do CPP para que, se for o caso, seja mantida a
segregação cautelar do paciente.
Incidentalmente, também por votação majoritária, declarou a
inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante do art. 44,
caput, da Lei 11.343/2006 (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37
desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade
provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos14”). A defesa
sustentava, além da inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de
liberdade provisória, o excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal no
juízo de origem.
Discorreu-se que ambas as Turmas do STF teriam consolidado, inicialmente,
entendimento no sentido de que não seria cabível liberdade provisória aos crimes de
tráfico de entorpecentes, em face da expressa previsão legal.
Entretanto, ressaltou-se que a 2ª Turma viria afastando a incidência da proibição
em abstrato. Reconheceu-se a inafiançabilidade destes crimes, derivada da
Constituição (art. 5º, XLIII).
...Ocorre que a disposição do art. 44 da Lei 11.343/2006 retiraria do juiz
competente a oportunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos de
necessidade da custódia cautelar, a incorrer em antecipação de pena.
Frisou-se que a inafiançabilidade do delito de tráfico de entorpecentes,
estabelecida constitucionalmente, não significaria óbice à liberdade provisória,
considerado o conflito do inciso XLIII com o LXVI (“ninguém será levado à prisão
ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”),
ambos do art. 5º da CF.
14 A vedação de substituição de pena foi declarada inconstitucional no HC HC-97256, informativo 598.
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18. CRIMES HEDIONDOS. PENA INICIALMENTE EM REGIME
FECHADO. INCONSTITUCIONALIDADE. HC-111840, Info 672
É inconstitucional o § 1º do art. 2º da Lei 8.072/9015 (“Art. 2º Os crimes
hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de: ... § 1o A pena por crime previsto neste artigo será
cumprida inicialmente em regime fechado”).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deferiu habeas corpus com
a finalidade de alterar para semiaberto o regime inicial de pena do paciente, o qual fora
condenado por tráfico de drogas com reprimenda inferior a 8 anos de reclusão e
regime inicialmente fechado, por força da Lei 11.464/2007, que instituíra a
obrigatoriedade de imposição desse regime a crimes hediondos e assemelhados — v.
Informativo 670.
Destacou-se que a fixação do regime inicial fechado se dera exclusivamente com
fundamento na lei em vigor.
Observou-se que não se teriam constatado requisitos subjetivos desfavoráveis
ao paciente, considerado tecnicamente primário.
Ressaltou-se que, assim como no caso da vedação legal à substituição de pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos em condenação pelo delito de
tráfico — já declarada inconstitucional pelo STF —, a definição de regime
deveria sempre ser analisada independentemente da natureza da infração.
Ademais, seria imperioso aferir os critérios, de forma concreta, por se tratar de
direito subjetivo garantido constitucionalmente ao indivíduo.
Consignou-se que a Constituição contemplaria as restrições a serem impostas
aos incursos em dispositivos da Lei 8.072/90, e dentre elas não se encontraria a
15 Inconstitucionalidade da lei de crimes hediondos no que prevê pena inicialmente em regime fechado (art. 2º, § 1º, na redação dada pela lei 11.464/2007). Vale lembrar que a redação anterior previa regime integralmente fechado e foi declarado inconstitucional no HC 82.959, por violar a individualização da pena.
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obrigatoriedade de imposição de regime extremo para início de cumprimento de
pena. Salientou-se que o art. 5º, XLIII, da CF, afastaria somente a fiança, a graça
e a anistia, para, no inciso XLVI, assegurar, de forma abrangente, a
individualização da pena. Vencidos os Ministros Luiz Fux, Joaquim Barbosa e
Marco Aurélio, que denegavam a ordem.
19. APOSENTADORIA DE JUIZ E PRERROGATIVA DE FORO. FORO
POR PRERROGATIVA NÃO SE ESTENDE A JUIZ APOSENTADO. RE
549560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 22.3.2012, Informativo 659
O foro especial por prerrogativa de função não se estende a magistrados
aposentados. Essa a conclusão do Plenário ao, por maioria, negar provimento a
recurso extraordinário, afetado ao Pleno pela 1ª Turma, no qual desembargador
aposentado insurgia-se contra decisão da Corte Especial do STJ, que declinara de sua
competência para julgar ação penal contra ele instaurada, pois não teria direito à
referida prerrogativa pelo encerramento definitivo da função — v. Informativos 485,
495 e 585.
Aduziu-se que a pretensão do recorrente esbarraria em orientação jurisprudencial
fixada pelo Supremo no sentido de que: a) o foro especial por prerrogativa de
função teria por objetivo o resguardo da função pública; b) o magistrado, no
exercício do ofício judicante, gozaria da prerrogativa de foro especial, garantia
voltada não à pessoa do juiz, mas aos jurisdicionados; e c) o foro especial, ante a
inexistência do exercício da função, não deveria perdurar, haja vista que a
proteção dos jurisdicionados, nesse caso, não seria mais necessária.
Ressaltou-se, ainda, que o provimento vitalício seria o ato que garantiria a
permanência do servidor no cargo, aplicando-se apenas aos integrantes das fileiras
ativas da carreira pública.
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20. JUIZ SUBSTITUTO E INAMOVIBILIDADE. GARANTIA APLICADA
AOS MAGISTRADOS SUBSTITUTOS. MS 27958/DF, rel. Min. Ricardo
Lewandowski, Informativo 666
Em conclusão, o Plenário, por maioria, concedeu mandado de segurança
impetrado por juiz substituto contra ato do CNJ, para anular decisão, que
julgara improcedente pedido de providências por ele formulado, sob o
fundamento de que o instituto da inamovibilidade (CF, art. 95, II) não alcançaria
juízes substitutos, ainda que assegurados pela vitaliciedade.
Ademais, também por votação majoritária, invalidou ato da Presidência do
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, ao qual vinculado o magistrado, que
determinara sua remoção e que resultara no pedido de providências respectivo,
mantidos os atos já praticados até a data da anulação.
Na espécie, o juiz alegava que, ao ingressar na magistratura estadual, fora
lotado em determinada comarca, mas, posteriormente, tivera sua lotação
alterada, várias vezes, para comarcas distintas — v. Informativo 614.
Asseverou-se que a Constituição, ao tratar de juízes, faria referência às
garantias da magistratura, condicionando apenas a vitaliciedade, no primeiro
grau, a dois anos de exercício.
Dessa forma, a irredutibilidade de subsídio e a inamovibilidade estariam
estabelecidas desde o ingresso do magistrado na carreira, ou seja, aplicar-se-iam
imediatamente.
Em seguida, tendo em conta o que disposto na Loman (LC 35/79) quanto à
inamovibilidade (“Art. 30 - O Juiz não poderá ser removido ou promovido senão com
seu assentimento, manifestado na forma da lei, ressalvado o disposto no art. 45, item
I. Art. 31 - Em caso de mudança da sede do Juízo será facultado ao Juiz remover-se
para ela ou para Comarca de igual entrância, ou obter a disponibilidade com
vencimentos integrais. ... Art. 45 - O Tribunal ou seu órgão especial poderá
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determinar, por motivo de interesse público, em escrutínio secreto e pelo voto de dois
terços de seus membros efetivos: I - a remoção de Juiz de instância inferior;”),
reputou-se que a regra seria o juiz que ostentasse o predicamento da
inamovibilidade ser removido apenas com seu assentimento, consistindo exceção
isso ocorrer quando, por escrutínio secreto, o tribunal ou seu órgão especial assim
o determinar por motivo de interesse público.
21. COMPOSIÇÃO DO TRF. PROMOÇÃO DE JUÍZES POR
MERECIMENTO. INCIDÊNCIA DO ART. 93, II, A/CF SOBRE O ART.
107, II/CF. OBRIGATORIEDADE DE NOMEAR JUIZ INTEGRANTE
DA LISTA DE MERECIMENTO PELA TERCEIRA VEZ
CONSECUTIVA. MS-30585, Informativo 679
Em conclusão de julgamento, o Plenário concedeu mandado de segurança a fim
de anular decreto de Presidente da República que, ao nomear magistrado para o cargo
de juiz federal do TRF da 2ª Região, preterira indicado pela terceira vez consecutiva
em lista tríplice para promoção por merecimento.
Na espécie, discutia-se se, na promoção de magistrado federal, por merecimento,
que figurasse por 3 vezes consecutivas ou 5 alternadamente, a Presidência da
República disporia de discricionariedade ou estaria vinculada ao nome que constasse,
de forma reiterada, na mencionada listagem — v. Informativo 672.
Asseverou-se, em suma, que o Chefe do Poder Executivo teria que,
obrigatoriamente, sufragar o nome do magistrado que figurasse no mencionado rol.
Reputou-se que a inserção, nos moldes referidos, na lista de merecimento, aferível
pelo próprio Tribunal, segundo os critérios constitucionais, seria direito subjetivo
público encartado por garantia impostergável da magistratura, que diria respeito à
própria independência do Poder Judiciário. Destarte, determinou-se fosse respeitada a
regra contida no art. 93, II, a, da CF. O Min. Ayres Britto, Presidente, ressalvou seu
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entendimento quanto à desnecessidade, nessa hipótese, de envio da lista tríplice à
Presidência República.
22. REPERCUSSÃO GERAL. EXIGÊNCIA DE PRELIMINAR EXPRESSA.
NÃO ADMISSÃO DE DEMONSTRAÇÃO IMPLÍCITA. ARE-663637,
Informativo 679
É indispensável capítulo específico de repercussão geral da questão
constitucional no recurso extraordinário, mesmo que a matéria já tenha sido
reconhecida em processo diverso. Essa a conclusão do Plenário ao resolver questão de
ordem suscitada em agravo regimental em recurso extraordinário com agravo em que
se alegava que a matéria contida nos autos tivera sua repercussão geral reconhecida em
outro julgamento e, portanto, implicitamente presente o requisito.
23. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TEMPESTIVIDADE. NÃO
EXPEDIENTE NA ORIGEM. MOMENTO DE COMPROVAÇÃO. RE
626358 AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 22.3.2012, Informativo 659
É admissível comprovação posterior de tempestividade de recurso
extraordinário quando houver sido julgado extemporâneo por esta Corte em
virtude de feriados locais ou de suspensão de expediente forense no tribunal a
quo.
Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, proveu agravo regimental
interposto de decisão do Min. Cezar Peluso, Presidente, que negara seguimento a
recurso extraordinário, do qual relator, a fim de permitir o seu regular trâmite.
Ressaltou-se que, na verdade, o recurso seria tempestivo, mas não houvera
prova a priori disto. Assim, reputou-se aceitável a juntada ulterior de
documentação a indicar a interposição do extraordinário no seu prazo.
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O Min. Marco Aurélio frisou haver, na espécie, deficiência cartorária, porque a
serventia deveria ter consignado o fechamento do foro em razão de feriado local. O
Min. Luiz Fux sublinhou aplicar-se a regra do art. 337 do CPC (“A parte, que alegar
direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a
vigência, se assim o determinar o juiz”). Vencido o Min. Celso de Mello, que negava
provimento ao agravo.
24. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO NÃO TEM LEGITIMIDADE
PARA ATUAR JUNTO AO STF. ATUAÇÃO EXCLUSIVA DO PGR. Rcl
6239 AgR-AgR/RO. Informativo 667
O exercício das funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal
Federal cabe privativamente ao Procurador-Geral da República, nos termos do
art. 103, § 1º, da CF e do art. 46 da LC 75/93 (Estatuto do Ministério Público da
União).
Essa a orientação do Plenário que, em conclusão de julgamento, por maioria,
desproveu agravo regimental em agravo regimental em reclamação, interposto
pelo Ministério Público do Trabalho.
... Assentou-se a ilegitimidade ativa do MPT para, em sede originária, atuar
nesta Corte, uma vez que integraria estrutura orgânica do Ministério Público da
União, cuja atuação funcional competiria, em face da própria unidade
institucional, ao seu chefe, qual seja, o Procurador-Geral da República.
25. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
E PONTUAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO. LEGITIMIDADE PARA
PROMOVER ACP SOBRE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
QUANDO PRESENTE INTERESSE SOCIAL. 1ª TURMA, RE-216443,
Informativo 677.
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O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública
sobre direitos individuais homogêneos quando presente o interesse social. Essa a
orientação da 1ª Turma que, em conclusão de julgamento e, por maioria, proveu
recurso extraordinário no qual discutida a legitimidade ativa ad causam daquele órgão.
No caso, Ministério Público estadual ajuizara ação civil pública em torno de
certame para diversas categorias profissionais de determinada prefeitura, em que
asseverara que a pontuação adotada privilegiaria candidatos os quais já
integrariam o quadro da Administração Pública Municipal — v. Informativo 545.
Salientou-se que a matéria cuidada na ação proposta teria a relevância exigida a
justificar a legitimidade do Ministério Público estadual. Vencido o Min. Menezes
Direito, que desprovia o recurso.
26. DEFENSORIA PÚBLICA PAULISTA E CONVÊNIO OBRIGATÓRIO
COM A OAB-SP: INADMISSIBILIDADE. ADI 4163/SP, rel. Min. Cezar
Peluso, 29.2.2012. (ADI-4163) Informativo 656- 1
A previsão de obrigatoriedade de celebração de convênio exclusivo e
obrigatório entre a defensoria pública do Estado de São Paulo e a seccional local
da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-SP ofende a autonomia funcional,
administrativa e financeira daquela.
Essa a conclusão do Plenário ao, por maioria, conhecer, em parte, de ação
direta de inconstitucionalidade como arguição de descumprimento de preceito
fundamental - ADPF16 e julgar o pleito parcialmente procedente, a fim de declarar a
ilegitimidade ou não recepção17 do art. 234, e seus parágrafos, da Lei
Complementar paulista 988/2006, assim como assentar a constitucionalidade do art.
109 da Constituição desse mesmo ente federativo, desde que interpretado conforme a
16 Fungibilidade entre ADI e ADPF 17Não se declara a inconstitucionalidade.
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Constituição Federal, no sentido de apenas autorizar, sem obrigatoriedade nem
exclusividade, a defensoria a celebrar convênio com a OAB-SP.
Tratava-se, na espécie, de ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da
República contra o art. 109 da referida Constituição estadual e o art. 234 e parágrafos
da LC paulista 988/2006, que tratam da instituição de convênio entre a defensoria
pública paulista e a OAB-SP, para a prestação de assistência judiciária a necessitados,
a cargo da primeira. ...
Assim, em nome da instrumentalidade, da economia e da celeridade
processuais, além da certeza jurídica, conheceu-se da presente demanda como
ADPF.
Salientou-se não haver óbice para a admissão da fungibilidade entre ambas as
ações e destacou-se que a ação direta atenderia aos requisitos exigidos para a
propositura daquela.
27. DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL. INEXISTÊNCIA NO ESTADO
DE SANTA CATARINA. PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA PELA OAB. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E
MATERIAL. INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO E POR
OMISSÃO. MODULAÇÃO POR 12 MESES. EFEITOS PRO FUTURO x
EX NUNC. ADI-3892 e ADI- 4270. Informativo 658
O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em duas ações
diretas, ajuizadas pela Associação Nacional dos Defensores Públicos da União -
ANDPU e pela Associação Nacional dos Defensores Públicos - Anadep, para declarar,
com eficácia diferida a partir de doze meses, a contar desta data, a
inconstitucionalidade do art. 104 da Constituição do Estado de Santa Catarina e
da Lei Complementar 155/97 dessa mesma unidade federada.
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Os dispositivos questionados autorizam e regulam a prestação de serviços de
assistência judiciária pela seccional local da Ordem dos Advogados do Brasil -
OAB, em substituição à defensoria pública
No mérito, observou-se o fato de a lei complementar adversada resultar de
iniciativa do Poder Legislativo, o que seria suficiente para a declaração de
inconstitucionalidade formal, tendo em conta a regra constante do art. 61, § 1º, II,
d, da CF.
Asseverou-se, ainda, que o modelo catarinense não se utilizaria de parceria da
OAB como forma de suplementar a defensoria pública ou suprir eventuais carências
desta, mas, naquele ente federativo, a seccional supostamente cumpriria o papel
designado à defensoria — lá inexistente —, ao indicar advogados dativos.
O Min. Celso de Mello registrou que o Estado de Santa Catarina incorreria em
dupla inconstitucionalidade: por ação — ao estabelecer essa regra na sua Constituição
e ao editar legislação destinada a complementá-la —; e, por inércia — uma vez que
decorridos mais de 22 anos sem que criada a defensoria pública naquela localidade.
Por outro lado, no que concerne ao art. 27 da Lei 9.868/99, o Min. Ricardo
Lewandowski explicitou que o STF não obrigaria que a entidade federativa legislasse,
e sim modularia temporalmente, pro futuro, a presente decisão.
Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que pronunciava a
inconstitucionalidade com eficácia ex tunc.
28. DEFENDORIA PÚBLICA ESTADUAL. AUTONOMIA.
SUBORDINAÇÃO DO DEFENSOR PÚBLICO GERAL AO
GOVERNADOR. IMPOSSIBILIDADE. ADI-3965. Informativo 657
Por reputar caracterizada afronta ao disposto no § 2º do art. 134 da CF,
incluído pela EC 45/2004, o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação
direta, ajuizada pelo Procurador-Geral da República, para declarar a
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inconstitucionalidade da alínea h do inciso I do art. 26 da Lei Delegada 112/2007 e
da expressão “e a Defensoria Pública” constante do art. 10 da Lei Delegada
117/2007, ambas do Estado de Minas Gerais [LD 112/2007: “Art. 26. Integram a
Administração Direta do Poder Executivo do Estado, os seguintes órgãos autônomos:
I - subordinados diretamente ao Governador do Estado: ... h) Defensoria Pública do
Estado de Minas Gerais”; LD 117/2007: “Art. 10. A Polícia Militar, a Polícia Civil, o
Corpo de Bombeiros Militar e a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais
subordinam-se ao Governador do Estado, integrando, para fins operacionais, a
Secretaria de Estado de Defesa Social”].
Observou-se que, conquanto a Constituição garantisse a autonomia, os
preceitos questionados estabeleceriam subordinação da defensoria pública
estadual ao Governador daquele ente federado, sendo, portanto,
inconstitucionais.
29. DEFENDORIA PÚBLICA ESTADUAL. AUTONOMIA. INSERÇÃO
NOS QUADROS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SUBORDINAÇÃO
AO GOVERNADOR. EQUIPARAÇÃO DO DEFENSOR PÚBLICO
GERAL A SECRETÁRIO DE ESTADO. IMPOSSIBILIDADE. ADI-4056,
Informativo 657
O Plenário julgou procedente pleito manifestado em ação direta, proposta pelo
Procurador-Geral da República, para declarar a inconstitucionalidade: i) do inciso VII
do art. 7º; ii) do termo “Defensor Geral do Estado” constante do caput e do parágrafo
único do art. 16; e iii) do excerto “Defensoria Pública do Estado” contido no § 1º do
art. 17, todos da Lei 8.559/2006, do Estado do Maranhão (“Art. 7º Integram a
Administração Direta: ... VII - Defensoria Pública do Estado - DPE; ... Art. 16. O
Poder Executivo, exercido pelo Governador do Estado, é auxiliado pelo Secretário
Chefe da Casa Civil, Procurador Geral do Estado, Defensor Geral do Estado,
Auditor Geral do Estado, Presidente da Comissão Central de Licitação, Corregedor
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Geral do Estado, Secretários de Estado, inclusive os Extraordinários e os cargos
equivalentes. Parágrafo único. O Secretário Chefe da Casa Civil, o Procurador Geral
do Estado, o Defensor Geral do Estado, o Corregedor Geral do Estado, o Auditor
Geral do Estado, o Presidente da Comissão Central de Licitação, o Chefe da
Assessoria de Comunicação Social, o Chefe da Assessoria de Programas Especiais, o
Secretário Chefe do Gabinete Militar e os Secretários de Estado Extraordinários são
do mesmo nível hierárquico e gozam das mesmas prerrogativas e vencimentos de
Secretário de Estado; ... Art. 17º ... § 1º Integram, ainda, a Governadoria, a
Controladoria Geral do Estado, a Corregedoria Geral do Estado, a Comissão Central
de Licitação e a Defensoria Pública do Estado”).
Prevaleceu o voto do Min. Ricardo Lewandowski, relator, que os reputou
inconstitucionais, porquanto a autonomia funcional, administrativa e financeira
da defensoria pública estaria consignada na própria Constituição (CF, art. 134, §
2º).
Acentuou que, tendo em conta a sistemática constitucional referente aos
ministros de Estado, os secretários estaduais também seriam demissíveis ad nutum.
Por conseguinte, o defensor público-geral perderia autonomia à medida que
fosse equiparado a secretário de Estado-membro. Avaliou ter havido, na espécie,
intenção de se subordinar a defensoria ao comando do governador.
30. REORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO -
ADI 4657 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 29.2.2012. (ADI-4657)
Informativo 656 1
Com base nos fundamentos expendidos na apreciação da ADI 4140/GO (DJe de
20.9.2011)18, o Plenário deferiu pedido de medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade, ajuizada pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil
18 Precedentes de 2011: ADI 4140 (GO) e 2415 (SP).
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- Anoreg-BR, para suspender, com efeitos ex nunc, a eficácia da vigência dos artigos
1º, 2º, 6º, cabeça, 7º e 9º a 14 da Resolução 7/2011, do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia.
O ato normativo trata da fixação de critérios objetivos para
desmembramento, desdobramento, extinção, acumulação, desacumulação,
anexação, desanexação e modificação de áreas territoriais dos serviços notariais e
de registro da referida unidade federativa.
Ressaltou-se a importância da matéria e a relevância das respectivas serventias
para a preservação da segurança de grande número de relações jurídicas naquele
Estado-membro.
Registrou-se a necessidade de evitar possível discussão futura, na Corte local,
sobre a nulidade de inúmeros negócios jurídicos, em decorrência da falta de elemento
essencial a sua formalidade: a prática por serventia regularmente instituída por lei.
Apontou-se que a resolução conferiria a órgão pleno de tribunal competência
para extinguir, desmembrar, acumular e anexar limites territoriais e definir
atribuições das serventias.
Ato contínuo, relembrou-se entendimento do STF segundo o qual seria preciso
lei em sentido formal e material de iniciativa do Poder Judiciário para tanto
31. SERVIDOR CONTRATADO SEM CONCURSO PÚBLICO TEM
DIREITO A RECEBER FGTS. RE 596478/RR, Informativo 670.
O art. 19-A da Lei 8.036/90, acrescido pelo art. 9º da Medida Provisória 2.164-
41/2001, que assegura direito ao FGTS à pessoa que tenha sido contratada sem
concurso público não afronta a Constituição.
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Essa a orientação do Plenário que, em conclusão de julgamento, desproveu
recurso extraordinário no qual se discutia a constitucionalidade, ou não, do dispositivo
— v. Informativo 609.
Salientou-se tratar-se, na espécie, de efeitos residuais de fato jurídico que
existira, não obstante reconhecida sua nulidade com fundamento no próprio § 2º
do art. 37 da CF.
Mencionou-se que o Tribunal tem levado em consideração essa necessidade de se
garantir a fatos nulos, mas existentes juridicamente, os seus efeitos.
Consignou-se a impossibilidade de se aplicar, no caso, a teoria civilista das
nulidades de modo a retroagir todos os efeitos desconstitutivos dessa relação.
Ressaltou-se, ainda, que a manutenção desse preceito legal como norma
compatível com a Constituição consistiria, inclusive, em desestímulo aos Estados que
quisessem burlar concurso público.
Aludiu-se ao fato de que, se houvesse irregularidade na contratação de servidor
sem concurso público, o responsável, comprovado dolo ou culpa, responderia
regressivamente nos termos do art. 37 da CF. Portanto, inexistiria prejuízo para os
cofres públicos.
32. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. POSSIBILIDADE DE
REVOGAÇÃO APÓS O CUMPRIMENTO DO PERÍODO DE PROVA.
AP 512 AgR/BA, rel. Min. Ayres Britto, 15.3.2012. Informativo 658
O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo
após o período de prova, desde que motivado por fatos ocorridos até o seu
término.
Ao reafirmar essa orientação, o Plenário, por maioria, negou provimento a
agravo regimental interposto de decisão proferida pelo Min. Ayres Britto, em sede de
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ação penal, da qual relator, que determinara a retomada da persecução penal
contra deputado federal.
Entendia descumprida uma das condições estabelecidas pela justiça eleitoral
para a suspensão condicional do processo: o comparecimento mensal àquele juízo
para informar e justificar suas atividades.
Esclareceu-se que a discussão central destes autos diria respeito ao exame do
cumprimento, ou não, pelo acusado das condições estabelecidas para a suspensão
condicional do processo ao término do período de prova. Observou-se que, nos termos
do § 5º do art. 89 da Lei 9.099/95, expirado o prazo da suspensão do processo sem
revogação do benefício, o julgador declarará extinta a punibilidade.
No caso, a justiça eleitoral recebera denúncia contra o parlamentar pela
suposta prática delito de captação ilícita de votos (Código Eleitoral, art. 299, c/c o
art. 29 do CP).
Em seguida, deferira-lhe a suspensão condicional do processo pelo período
de prova de dois anos, mediante o cumprimento das seguintes condições: a)
proibição de contato pessoal com os eleitores denominados no acórdão; b) vedação de
se ausentar da municipalidade sem autorização do juiz eleitoral; c) comparecimento
mensal ao juízo para informar e justificar suas atividades. O referido período de prova
iniciara-se em 26.1.2006, por força de compromisso assumido e registrado no termo
lavrado em audiência admonitória.
Consignou-se que o acusado deixara de comparecer ao mencionado juízo por
diversos meses entre os anos de 2006 e 2007 e que as justificativas por ele
apresentadas não procediam, dado que as ausências ocorreram antes mesmo de
sua posse no cargo eletivo, em 1º.2.2007.
Asseverou-se que fora constatado que, durante os 24 meses do período de
prova, o réu não comparecera em juízo em nove deles
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33. CONCURSO PÚBLICO. MÉRITO DE QUESTÕES E ANULAÇÃO. 1ª
TURMA MS 30859/DF, rel. Min. Luiz Fux, 13.3.2012, Informativo 677
Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, concedeu, em parte,
mandado de segurança a fim de anular questões objetivas de concurso público
para provimento de cargo de Procurador da República, em virtude de equívoco
na elaboração destas — v. Informativos 658 e 660.
Afirmou-se que, observada erronia no gabarito da prova objetiva, deveria
ser reapreciada a situação jurídica do impetrante pela comissão do concurso.
Destacou-se precedente da 2ª Turma segundo o qual, em que pese a máxima de que o
Judiciário não poderia substituir a banca examinadora, a verificação de erro
grosseiro levaria ao reconhecimento de ilegalidade.
Por fim, mantiveram-se os efeitos da liminar concedida, que assegurava a
participação do candidato nas demais fases do certame e reservava vaga em caso de
aprovação final. Vencidas as Ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia. Esta
destacava a impossibilidade de o Poder Judiciário fazer o controle jurisdicional
de mérito do ato administrativo, que, no caso, seria da alçada das bancas
examinadoras. MS 30859/DF, rel. Min. Luiz Fux, 28.8.2012. (MS-30859)
34. CONCURSO PÚBLICO. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO E
ANULAÇÃO DE QUESTÕES. 1ª TURMA MS 30860/DF, rel. Min. Luiz
Fux, 13.3.2012 Informativo 677
Em conclusão, a 1ª Turma, após retificar a proclamação anteriormente proferida,
denegou mandado de segurança no qual pretendida anulação de questões
objetivas de concurso público destinado ao provimento de cargo de Procurador
da República, porquanto em suposta desconformidade com o conteúdo
programático de direito internacional previsto no edital.
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O impetrante sustentava que fora eliminado na 1ª fase do certame, visto que não
atingira o percentual mínimo exigido em um dos grupos em que dividida a prova e que
sua inabilitação decorreria desse desacordo — v. Informativos 658 e 660.
Ressaltou-se a jurisprudência do STF no sentido de que o Poder Judiciário
seria incompetente para substituir-se à banca examinadora de concurso público
no reexame de critérios de correção das provas e de conteúdo das questões
formuladas.
Assentou-se que, existente previsão de um determinado tema, cumpriria ao
candidato estudar e procurar conhecer, de forma global, os elementos que
pudessem ser exigidos nas provas, de modo a abarcar todos os atos normativos e
casos paradigmáticos pertinentes.
Do contrário, significaria exigir-se das bancas examinadoras a previsão
exaustiva, no edital de qualquer concurso, de todos os atos normativos e de todos
os cases atinentes a cada um dos pontos do conteúdo programático do concurso, o
que fugiria à razoabilidade.
Ademais, reputou-se que estaria comprovada pela autoridade impetrada a
congruência entre as questões impugnadas e o disposto no edital do concurso. Assim,
os conhecimentos necessários para a indicação das respostas corretas estariam
acessíveis em ampla bibliografia, o que afastaria a possibilidade de anulação em juízo.
Por fim, cassou-se a liminar anteriormente deferida.
35. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO. IMPOSSIBILIDADE. MS 22934/DF, 2º Turma, rel. Min. Joaquim
Barbosa, 17.4.2012. Informativo 662
O TCU não detém legitimidade para requisitar diretamente informações
que importem quebra de sigilo bancário. Ao reafirmar essa orientação, a 2ª Turma
concedeu mandado de segurança a fim de cassar a decisão daquele órgão, que
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determinara à instituição bancária e ao seu presidente a apresentação de
demonstrativos e registros contábeis relativos a aplicações em depósitos
interfinanceiros.
Entendeu-se que, por mais relevantes que fossem suas funções institucionais, o
TCU não estaria incluído no rol dos que poderiam ordenar a quebra de sigilo bancário
(Lei 4.595/64, art. 38 e LC 105/2001, art. 13).
Aludiu-se que ambas as normas implicariam restrição a direito fundamental (CF,
art. 5º, X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação”), logo, deveriam ser interpretadas restritivamente. Precedente
citado: MS 22801/DF, Informativo 493 (DJe de 14.3.2008).
DUAS DISCUSSÕES PRA 2012
36. CABE OU NÃO CABE HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO? HC SUBSTITUTIVO DE RECURSO. NÃO
CABIMENTO. MUDANÇA DE JURISPRUDÊNCIA NA 1ª TURMA. HC
109956/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 7.8.2012. (HC-109956), 1ª TURMA,
INFORMATIVO 674.
É inadmissível impetração de habeas corpus quando cabível recurso
ordinário constitucional. Com base nessa orientação e na linha do voto proferido
pelo Min. Marco Aurélio no caso acima, a 1ª Turma, por maioria, reputou inadequada
a via do habeas corpus como substitutivo de recurso. Vencido o Min. Dias Toffoli,
que se alinhava à jurisprudência até então prevalecente na 1ª Turma e ainda dominante
na 2ª Turma, no sentido da viabilidade do writ. HC 109956/PR, rel. Min. Marco
Aurélio, 7.8.2012. (HC-109956)
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37. O MINISTÉRIO PÚBLICO PODE PROMOVER INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL? MINISTÉRIO PÚBLICO E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.19
RE-593727, Informativos 671 e 672.
O Plenário iniciou julgamento20 de recurso extraordinário em que discutida a
constitucionalidade da realização de procedimento investigatório criminal pelo
Ministério Público21.
No mérito, o relator (Min. Cezar Peluso) deu provimento ao recurso, para decretar
a nulidade, ab initio, do processo em que figura como réu o ora recorrente....
No ponto, concluiu competirem, às polícias federal e civil, as atribuições de
prevenir e apurar infrações penais, exceto militares, e exercer as funções de
polícia judiciária.
Afirmou que a polícia consistiria em órgão da Administração direta, voltado à
segurança pública. Quando atuasse como integrante da justiça penal, seria polícia
judiciária. Incumbir-lhe-ia a feitura dos inquéritos policiais, dentre outros deveres.
Quando realizasse inquérito policial, a polícia exerceria função judiciária, porque,
se organicamente entroncar-se-ia na máquina administrativa, funcionalmente ligar-se-
ia ao aparelho judiciário. Caberia, portanto, à autoridade policial, civil ou federal,
a condução do inquérito policial.
Consignou que o Ministério Público e suas funções estariam discriminados nos
artigos 127, I, e 129, ambos da CF. Declarou não existir, na Constituição, norma a 19 Poderes investigatórios. Possibilidade de promover procedimento administrativo de cunho investigatório. Possibilidade reconhecida pela 2ª Turma. HC 91661/PE, rel. Min. Ellen Gracie, 10.3.2009, Informativo 538. Também no HC 89837, rel. Min. Celso de Mello, Informativo 564
20 A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol-Brasil) ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3806) e A Ordem dos Advogados do Brasil (ADI 3836) no Supremo Tribunal Federal (STF) na qual questiona dispositivos da Lei 8.625/93, da Lei Complementar 75/93 e a totalidade da Resolução 13/06 do Conselho Nacional do Ministério Público. 21 A controvérsia constitucional gravita em torno dos arts. 129, I e 144 § 1º, IV e § 4º/CF.
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permitir que a instituição realizasse investigação e instrução criminal preliminar
de ação penal.
Reputou que interpretação dos incisos I e IX, ambos do art. 129 da CF, permitiria
inferir a atribuição, ao parquet, de certas funções, no sentido de autorização de
exercício do poder para proteção dos cidadãos.
Especificamente, em relação ao inciso I, cuidar-se-ia de legitimidade para
promoção de ação penal de iniciativa pública, sem referência à função de conduzir
inquérito.
Salientou que a Constituição relativizara o monopólio no tocante à legitimação
para mover ação penal de iniciativa pública (CF, art. 5º, LIX).
Ademais, frisou que, quando a Constituição pretendera atribuir função
investigativa ao Ministério Público, fizera-o em termos expressos (CF, art. 129,
III)
No tocante ao art. 144, § 1º, I e IV, e § 4º, reconheceu que a Constituição
estabeleceria, de modo expresso, que a função e a competência para apuração de
infrações penais seria somente das polícias, sem partilhá-las com o Ministério
Público, cujas atribuições, posto conexas, seriam distintas
Assim, se houvesse a suposta competência do Ministério Público para apurar
a prática de infrações penais, ela só poderia ser exercida nos termos da lei, à vista
do devido processo legal e da competência privativa da União para legislar em
matéria processual (CF, art. 22, I). Daí, seriam írritas as tentativas de
regulamentação da matéria por via de resoluções.
Decretou que a investigação direta pelo Ministério Público, no quadro
constitucional vigente, não encontraria apoio legal e produziria consectários
insuportáveis dentro do sistema governado pelos princípios elementares do
devido processo legal: a) não haveria prazo para diligências nem para sua conclusão;
b) não se disciplinariam os limites de seu objeto; c) não se submeteria a controle
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judicial, porque carente de existência jurídica; d) não se assujeitaria à publicidade
geral dos atos administrativos, da qual o sigilo seria exceção, ainda assim sempre
motivado e fundado em disposição legal; e) não preveria e não garantiria o exercício
do direito de defesa, sequer a providência de ser ouvida a vítima; f) não se subjugaria a
controle judicial dos atos de arquivamento e de desarquivamento, a criar situação de
permanente insegurança para pessoas consideradas suspeitas ou investigadas; g) não
conteria regras para produção das provas, nem para aferição de sua consequente
validez; h) não proviria sobre o registro e numeração dos autos, tampouco sobre seu
destino, quando a investigação já não interessasse ao Ministério Público.
Esclareceu que haveria atos instrutórios que, próprios da fase preliminar em
processo penal, seriam irrepetíveis e, nessa qualidade, dotados de efeito jurídico
processual absoluto. Seriam praticados, na hipótese, à margem da lei.
Quanto à crítica de que, no modelo adotado, o titular da ação penal estaria na
posição de mero espectador das investigações, realçou que o inquérito não seria
apenas base para acusação legítima.
Consistiria, também, em suporte para arquivamento do procedimento
investigatório, nas hipóteses de insuficiência probatória, inexistência de fato,
indefinição da autoria, fato atípico, causa de exclusão da antijuridicidade e de
extinção da punibilidade.
Seria, desse modo, instrumento de defesa e de tutela de direitos fundamentais, na
medida em que, em muitos casos, a decisão judicial de arquivamento faria coisa
julgada material. O parquet não seria, bem assim, espectador passivo das
investigações, em que lhe competiriam as importantes tarefas descritas no art. 129, VII
e VIII, da CF.
Concedeu, porém, que, à luz da ordem jurídica, o Ministério Público poderia
realizar, diretamente, atividades de investigação da prática de delitos, para
preparação de eventual ação penal, em hipóteses excepcionais e taxativas, desde
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que observadas certas condições e cautelas tendentes a preservar os direitos e garantias
assegurados na cláusula do devido processo legal.
Essa excepcionalidade, entretanto, exigiria predefinição de limites estreitos e
claros. Assim, o órgão poderia fazê-lo observadas as seguintes condições: a) mediante
procedimento regulado, por analogia, pelas normas concernentes ao inquérito policial;
b) por consequência, o procedimento deveria ser, de regra, público e sempre
supervisionado pelo Judiciário; c) deveria ter por objeto fatos teoricamente criminosos,
praticados por membros ou servidores da própria instituição, por autoridades ou
agentes policiais, ou por outrem se, a respeito, a autoridade policial cientificada não
houvesse instaurado inquérito.
..Por fim, após o voto do Min. Ricardo Lewandowski, nesse mesmo sentido,
deliberou-se suspender o julgamento.
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“Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles; porque o
Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará, nem vos desamparará”.
(Deuteronômio 31:6)
Faça o bem, faça a sua parte e deixe que eu cuido do resto!
Estude muito, se prepare e tudo dará certo!
VOCÊ SERÁ APROVADO!