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REVISO DA
REVISO DA
TERMINOLOGIA LINGUSTICA PARA OS ENSINOS BSICO E SECUNDRIO
(Dicionrio Terminolgico)
Janeiro de 2008
ndice
31. Prembulo
52. Relatrio da reviso da Terminologia Lingustica para os Ensinos Bsico e Secundrio
52.1. Pressupostos
62.2. Lista de termos
72.3. Hierarquizao dos termos
72.4. Base de dados
82.5. Fundamentao da reviso efectuada nos domnios da Anlise do discurso, Retrica, Pragmtica e Lingustica textual
82.5.1. Razes e horizontes da reviso
102.5.2. Objectivos
112.6. Metodologia de reviso
123. Indicaes de leitura
134. Hierarquia dos Termos
13A. Lngua, comunidade lingustica, variao e mudana
14B. Lingustica Descritiva
14B.1. Fontica e Fonologia
15B.2. Morfologia
18B.3. Classes de palavras
20B. 4. Sintaxe
22B.5. Lexicologia
23B.6. Semntica
23C. Anlise do discurso, Retrica, Pragmtica e Lingustica textual
23C.1. Anlise do discurso e reas disciplinares correlatas
27D. Lexicografia
27E. Representao grfica
295. Definies dos termos por domnio
1476. Bibliografia comentada
1. Prembulo
A Terminologia Lingustica para os Ensinos Bsico e Secundrio (TLEBS) foi adoptada a ttulo de experincia pedaggica, em 2004, como documento de referncia para as prticas pedaggicas dos professores de lngua portuguesa, com a finalidade de superar a desactualizao da Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 (documento legal em vigor at data de adopo da TLEBS) e consequente deriva terminolgica, largamente documentada nos materiais didcticos destinados ao ensino da lngua.
O documento ento homologado resultou das propostas de professores do ensino bsico e secundrio para a seleco dos termos considerados necessrios anlise do funcionamento da lngua, publicados na Portaria n. 1488/2004, de 24 de Dezembro; a subsequente proposta de definio dos termos seleccionados foi da responsabilidade de uma equipa de consagrados especialistas dos diferentes domnios da Lingustica e de vrias Universidades portuguesas e publicada na forma de base de dados, em CD-ROM (vd. Bibiliografia). Este documento previa, desde logo, a reviso e actualizao da TLEBS, com as recomendaes que o processo de experincia pedaggica viesse a recomendar.
A experincia pedaggica piloto, levada a efeito no ano lectivo de 2005-2006, em 14 agrupamentos e oito escolas do ensino bsico, com um total de 174 docentes envolvidos, permitiu identificar lacunas e dificuldades, tanto no processo de adopo da TLEBS, como no prprio documento. Em simultneo, foi feito um estudo no Ensino Secundrio, com o objectivo de conhecer as contigncias sentidas pelos professores deste nvel de ensino na explorao da TLEBS, de acordo com o programa em vigor (ambos os relatrios esto disponveis para consulta em www.dgidc.min-edu.pt).
Da prossecuo destas medidas no ensino bsico e no ensino secundrio, conclui-se da necessidade:
- de ultrapassar o estado de deriva terminolgica, de desactualizao e de incorreco da Nomenclatura Gramatical de 1967, documento legal anterior TLEBS;
- de uniformizar, em documento, os termos utilizados para analisar e descrever os elementos e a estrutura da lngua;
- de promover na sala de aula prticas pedaggicas que incentivem a articulao entre o ensino-aprendizagem das estruturas da lngua e o domnio das competncias de oralidade, de leitura e de escrita, conforme consignado pelos programas, bem como de outros campos no menos relevantes, como a promoo de hbitos e competncias de leitura e o conhecimento da literatura;
- de responder s dificuldades expressas pelos docentes dos diferentes nveis de ensino, decorrentes da experincia pedaggica, evidenciadas na apropriao dos termos e conceitos da TLEBS, na necessidade de esclarecimento de opes tomadas, na deteco de aspectos a corrigir na base de dados e na apresentao de propostas de materiais didcticos validados e significativamente viveis.
Pelo acima exposto, e de acordo com a Portaria n. 476/2007, de 18 de Abril, decidiu o Ministrio da Educao tomar medidas para a reviso da TLEBS, apresentando para homologao um documento de carcter cientfico que consubstancie uma lista de termos e suas definies, bem como um documento de didactizao, organizado por nveis e ciclos de ensino e por competncias, apresentando propostas de materiais destinados s prticas.
Para a reviso cientfica da TLEBS foram convidados o Professor Doutor Joo Costa e o Professor Doutor Vtor Aguiar e Silva, cuja proposta se apresenta neste documento, em conjunto com o relatrio de reviso apresentado pelos dois especialistas.
2. Relatrio da reviso da Terminologia Lingustica para os Ensinos Bsico e Secundrio
No presente relatrio, d-se conta da metodologia e dos critrios de reviso da Terminologia Lingustica para os Ensinos Bsico e Secundrio (TLEBS).
Como sabido, a TLEBS constitui uma ferramenta de auxlio ao ensino da gramtica e ao estudo dos textos, sendo um documento normativo, que pretende fixar os termos a utilizar na descrio e anlise de diferentes aspectos do funcionamento da lngua. Enquanto documento normativo, no se confunde com um programa, com uma gramtica escolar ou com uma lista de contedos, devendo ser entendido como dicionrio terminolgico que , fixando os termos, mas no a sua distribuio por anos ou, muito menos, ditando que as definies sejam matria de ensino explcito.
O documento original, que foi agora objecto de reviso, resultou de um trabalho importante de sistematizao da terminologia gramatical relevante para a descrio e anlise de aspectos da gramtica do portugus. Conforme ser referido, foi feito com o pressuposto de que consistiria numa ferramenta de apoio e no numa listagem dos termos a ser explicitados em contexto de ensino. Seria, portanto, necessrio que cada docente fizesse o cruzamento entre a terminologia e os documentos orientadores para seleccionar os termos a explicitar. Este pressuposto levantou algumas dificuldades, pelo que se optou, na reviso, por uma reduo da lista de termos, para que esta inclua apenas os termos cuja explicitao mais provvel ou necessria.
Tal como a proposta original, a reviso da TLEBS regeu-se pelos seguintes princpios: economia, abertura, hierarquizao, flexibilidade, complementaridade e a no vinculao a um paradigma.
O presente relatrio encontra-se organizado da seguinte forma:
- no ponto 2.1 so listados os pressupostos de que decorreram as alteraes TLEBS;
- no ponto 2.2 comentam-se os principais tipos de alterao efectuada na lista de termos;
- no ponto 2.3 definem-se os critrios subjacentes reviso da hierarquia de termos;
- no ponto 2.4 explicitam-se os critrios formais subjacentes reviso da base de dados;
- no ponto 2.5 apresenta-se a fundamentao para a reviso nas reas da anlise do discurso, retrica, pragmtica e lingustica textual. Por esta ser a nica rea em que se verifica um acrscimo no nmero de termos, tornou-se relevante proceder a uma justificao mais detalhada das opes tomadas;
- finalmente, no ponto 2.6, explicita-se a metodologia de reviso adoptada.
2.1. Pressupostos
As alteraes TLEBS decorrem dos seguintes pressupostos:
a) A proposta original da TLEBS tinha como pblico-alvo os docentes, no pretendendo ser uma listagem dos termos a explicitar com os alunos. Face s inmeras dvidas que esta sua natureza gerou, em reunio com os responsveis pela didactizao, acordouse que a TLEBS inclusse os termos cuja explicitao em contexto de ensino estivesse prevista nos documentos orientadores e os estritamente necessrios para assegurar a coerncia interna da TLEBS, bem como o rigor descritivo no ensino da lngua. Esta opo obrigar a que os professores reconheam que este no um instrumento autosuficiente, devendo, para a sua formao, docncia e construo de materiais, recolher informao junto de outras fontes (gramticas, estudos de lingustica e didctica da lngua, pronturios, etc.).
b) Os domnios da TLEBS no apresentavam uma lgica interna coerente relativamente ao grau de aprofundamento ou de sub-especificao dos termos escolhidos. Em reas como a morfologia ou a lexicografia, encontrava-se uma descrio at com pormenores de grande detalhe, enquanto em reas como a semntica lexical os termos eram apresentados sem se entrar em pormenores. Importava, portanto, proceder a uma reviso que harmonizasse as diferentes reas no que diz respeito ao grau de aprofundamento.
c) Os vrios consultores da reviso da TLEBS foram unnimes no conselho dado no sentido de se tentar encontrar uma soluo de parcimnia na lista de termos que no pusesse em causa o rigor descritivo. A ttulo de exemplo, quase todos os consultores aconselharam uma reduo substancial da rea da morfologia.
Os resultados da experincia pedaggica revelaram uma dificuldade generalizada em, perante uma lista to exaustiva, seleccionar os termos a explicitar nos diferentes nveis de ensino. De um modo global, a dificuldade consistia em determinar at onde ir em termos de subespecificao de classes. Neste sentido, pareceu importante que os nveis de subclassificao fossem reduzidos a classes tradicionalmente reconhecidas e/ou a classes cuja explicitao seja necessria para a articulao entre o ensino da gramtica e o desenvolvimento de outras competncias.
2.2. Lista de termos
Com base nestes pressupostos, procedeu-se a uma reduo significativa dos termos utilizados. A lista proposta, que reduz em cerca de 40% a lista original, foi elaborada em funo dos seguintes princpios:
a) Eliminao de termos redundantes ou repetidos nas vrias reas.
Exemplo: os termos palavra e nome apareciam repetidos em diferentes reas.
b) Eliminao de termos cuja explicitao pode no ser relevante nos ensinos bsico e secundrio.
Exemplo: subtipos de compostos morfolgicos, alguns termos da fontica articulatria e acstica, o termo determinante nulo.
c) Eliminao de termos inadequados, por m escolha terminolgica ou por no corresponderem a um observvel lingustico bvio.
Exemplo: os termos frase fonolgica ou nome concreto vs. nome abstracto.
d) Eliminao de subclasses que poderiam conduzir a tentativas de compartimentao excessiva do material lingustico a analisar ou a classificaes redutoras de unidades lingusticas.
Exemplo: subtipos de concordncia.
e) Eliminao de termos que no correspondem a unidades terminolgicas, mas a conceitos.
Exemplo: as entradas da semntica frsica correspondentes a valores.
Em alguns casos, foram feitas propostas de alterao, substituies de termos ou aditamentos. Estas alteraes so propostas em quatro contextos:
a) Casos em que, por lapso, no eram includos termos, quebrando a coerncia interna.
Exemplo: era includa a funo sintctica de predicativo do complemento directo, mas no os verbos transitivos predicativos.
b) Casos em que a estrutura interna da TLEBS no respeitada.
Exemplo: na sintaxe, separava-se sistematicamente forma de funo, excepto nos complementos preposicionais e adverbiais.
c) Casos em que o termo no adequado.
Exemplo: a rea da semntica lexical , na verdade, um domnio de lexicologia.
d) Casos em que a experincia pedaggica revelou que a tradio no uso de um termo constitua um factor de dificuldade face adopo de um termo sinnimo.
Exemplo: o termo orao na tipologia de frases complexas.
2.3. Hierarquizao dos termos
A hierarquizao uma ferramenta importante para a leitura da TLEBS, uma vez que permite estabelecer relaes entre os vrios termos propostos. Havendo vrias reas de cruzamento entre disciplinas da Lingustica, deve entender-se que a opo por inserir um termo num determinado domnio no significa excluir o seu tratamento por outra disciplina da Lingustica. Por exemplo, optou-se por tratar os tipos de frases complexas no domnio da Sintaxe, embora vrias subdistines sejam de natureza semntica.
A reviso da hierarquizao de termos procurou tornar explcitas, no interior de cada domnio, as relaes que existem entre os diferentes domnios.
2.4. Base de dados
A reviso da Base de dados da TLEBS obedeceu aos seguintes critrios:
a) Apresentao, sempre que possvel, de definies em intenso, para que esta ferramenta assuma o seu carcter de dicionrio terminolgico, no se confundindo com uma gramtica.
b) Reescrita de algumas definies em benefcio da clareza e/ou da uniformizao do estilo.
c) Apresentao de exemplos claros e inequvocos.
d) Coerncia entre os diferentes domnios no que diz respeito aos termos usados.
2.5. Fundamentao da reviso efectuada nos domnios da Anlise do discurso, Retrica, Pragmtica e Lingustica textual
A proposta original da TLEBS contemplava os domnios (ou subdomnios) da pragmtica e da lingustica textual, apresentando uma srie de termos, com as respectivas definies, atinentes a estas reas. Foi uma inovao relevante nos planos cientfico, pedaggico e didctico, que possibilitava aos professores e alunos das disciplinas de Lngua Portuguesa e de Portugus conhecerem e utilizarem conceitos e instrumentos de anlise que se desenvolveram e ganharam crescente importncia, ao longo das quatro ltimas dcadas, nas cincias da linguagem.
Devem ser sublinhados o esprito inovador e a competncia cientfica das autoras responsveis pela escolha e pelas definies dos termos includos naqueles (sub)domnios. Saliente-se, ainda, que esta rea da TLEBS no suscitou grandes crticas na polmica pblica que desencadeou a proposta da nova terminologia, embora se deva tambm salientar que os intervenientes na polmica, talvez com uma nica excepo, no prestaram a devida ateno ao projecto inovador representado por aquela rea terminolgica e ao modo competente como ele foi concretizado.
2.5.1. Razes e horizontes da reviso
Aberta a possibilidade de rever, nos planos cientfico e pedaggicodidctico, a TLEBS, nos termos da Portaria n. 476/2007, de 18 de Abril, e tendo particularmente em considerao a directriz estabelecida no seu art. 2., alnea a) A DirecoGeral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC), recorrendo colaborao de especialistas de reconhecido mrito, deve apresentar dois documentos de referncia: a) Um, de carcter cientfico, com a lista de termos e respectivas definies, destinado a professores , entendeuse que seria oportuno e pertinente rever a organizao global, a fundamentao cientfica e os contedos da rea das cincias da linguagem que tem como objecto de estudo o discurso e o texto rea que se consolidou, como ficou dito, nas ltimas quatro dcadas e que se configurou como um novo paradigma em relao lingustica descritiva.
Este novo paradigma tem uma genealogia mltipla, mas relativamente homognea nos seus fundamentos e nos seus objectivos: remonta retrica clssica e sua anlise do discurso como uso contextualizado, interactivo, argumentativo e praxemtico dos recursos da lngua; descende de Charles Morris, o filsofo responsvel, em 1938 e 1946, pela formulao do conceito semitico de pragmtica; ganhou um suporte poderosssimo com a filosofia da linguagem proposta por Wittgenstein na sua obra Investigaes filosficas (1953), sobretudo com a sua ideia fulcral de que o sentido de uma palavra o seu uso na linguagem; enraizouse vigorosamente com a teoria dos actos de fala construda pelos filsofos John L. Austin (1962) e John R. Searle (1969); teve um momento decisivo com as reflexes de mile Benveniste (1969) sobre os futuros horizontes da anlise translingustica dos textos e sobre a semiologia de segunda gerao; aprofundou-se com as teorias de Michel Foucault (1969, 1971) e de Louis Althusser (1970) sobre o discurso, as formaes discursivas, os campos discursivos e as suas relaes com as instncias e os dispositivos do poder social, ideolgico e poltico; ganhou rigor tcnicolingustico com a anlise da conversao empreendida pelo filsofo H. P. Grice (1975), com os trabalhos de linguistas como Teun A. Van Dijk, M. A. K. Halliday, Jnos S. Petfi, Harald Weinrich, Wolfgang Dressler, Robert de Beaugrande, etc., que desenvolveram a disciplina da lingustica textual, e com os estudos sobre a pragmtica e sobre a anlise do discurso levados a cabo, nos ltimos anos, por numerosos investigadores, de entre os quais salientaremos Stephen C. Levinson, Jef Verschueren, M. Victoria Escandell, Dominique Maingueneau e JeanMichel Adam.
Na genealogia deste paradigma, porm, avulta sobremaneira o pensamento de um genial filsofo da linguagem e teorizador literrio como Mikhal Bakhtine (18951975), que desde obras ainda publicadas na dcada de vinte do sculo passado at ensaios escritos na ltima fase da sua vida e dados a conhecer aps a sua morte, demonstrou a necessidade de elaborar uma translingustica (ou metalingustica) capaz de ultrapassar as limitaes da lingustica descritiva centrada na langue, segundo o modelo de Saussure, e munida dos recursos tericos, metodolgicos e analticos indispensveis compreenso e interpretao do discurso e do texto. Bakhtine retomava assim, ante o modelo da lingustica saussuriana, uma posio similar que Wilhelm von Humboldt advogara, em 1836, na sua obra mestra Sobre a diversidade da estrutura da linguagem humana e a sua influncia sobre o desenvolvimento espiritual da humanidade: a essncia da linguagem reside no falar ligado, isto , no discurso, sendo a gramtica e o dicionrio o seu esqueleto morto.
Esta uma rea das cincias da linguagem com uma acentuada turbulncia terica, terminolgica e conceptual, o que no surpreendente, porque uma rea de estudos em que ocorreu recentemente uma mudana de paradigma (alis, na lingustica descritiva, com uma tradio cientfica muito longa, a heterogeneidade terica, terminolgica e conceptual bastante considervel, como demonstrar a simples consulta de diversos dicionrios da especialidade).
A subrea mais estabilizada e com menos derivas terminolgicas e conceptuais decerto a da retrica, que beneficia de um riqussimo thesaurus acumulado, enriquecido e depurado durante cerca de vinte e cinco sculos e actualizado e vivificado, desde meados do sculo XX, pela neoretrica e pelas suas relaes interdisciplinares com a lingustica, a teoria da literatura, a estilstica, a hermenutica, o direito, etc.
Perante a aluvio de termos tcnicos, por vezes rebarbativos, que proporciona qualquer tratado ou dicionrio de retrica, em especial no campo das figuras, obedecendo ao princpio da parcimnia adoptado nesta reviso da TLEBS, deu-se acolhimento apenas aos termos considerados mais relevantes para a compreenso das operaes produtoras do discurso oral e escrito, para o entendimento dos gneros discursivos e das suas dimenses pragmticas e para o conhecimento dos mecanismos figurais que possibilitam renovar e reinventar continuamente os recursos da lngua codificados nos dicionrios e nas gramticas.
A pragmtica deixou de ser the wastebasket da lingustica descritiva e ganhou uma relevncia incontornvel na compreenso e na interpretao dos enunciados, dos discursos e dos textos. Adoptou-se, nesta reviso da TLEBS, o entendimento terico, hoje dominante, de que a pragmtica no uma nova componente da lingustica da lngua acrescentada fonologia, morfologia, sintaxe e semntica, mas sim uma perspectiva de anlise cognitiva, social e cultural dos fenmenos pertencentes a cada uma daquelas reas da lingustica. Utilizando a clebre metfora do efeito AlkaSeltzer aplicada por H. M. Enzensberger dissoluo em mltiplos discursos sociais do discurso da literatura, pode-se afirmar que a pragmtica impregna a produo e a compreenso de todos os enunciados, discursos e textos. Por isso mesmo, no existe na arquitectura desta TLEBS um domnio ou um subdomnio especificamente consagrados pragmtica.
A opo mais difcil e decerto mais controversa na formulao da hierarquia adoptada nesta reviso e na correlativa definio de muitos termos foi a de atribuir a prioridade anlise do discurso.
Tem-se verificado, como sabido, uma grande dificuldade em distinguir entre si os termos discurso e texto e, por conseguinte, em distinguir entre si a anlise do discurso e a lingustica textual ou do texto. Aps cuidadosa ponderao do problema, pareceu-nos que os mais recentes estudos de especialistas como Jean-Michel Adam, Franois Rastier e Dominique Maingueneau fundamentam e convalidam a opo tomada, em conformidade com as definies adiante formuladas para os termos em causa. As articulaes e as interaces, porm, existentes entre muitos termos includos no domnio da anlise do discurso e no domnio da lingustica textual originam e explicam que entre as respectivas definies no seja possvel amide traar fronteiras lineares, ntidas e estanques.
Apesar do cuidado constante em observar na reviso da TLEBS o princpio da parcimnia, o nmero de termos admitidos aumentou em relao proposta original. Este aumento ficou a dever-se, em grande parte, incluso formal nesta rea das cincias da linguagem dos domnios da anlise do discurso e da retrica, sem os quais aquela ficaria gravemente amputada.
2.5.2. Objectivos
A incluso nesta proposta de termos de ordem translingustica, para se adoptar o conceito formulado por Bakhtine e por Benveniste, obedeceu a trs objectivos fundamentais, com os quais, assim se espera, as definies estaro em relao de congruncia.
Em primeiro lugar, como evidente, fornecer aos professores e alunos os termos que explicitam como na lngua e com a lngua so produzidos, comunicados e interpretados enunciados e textos.
Em segundo lugar, mostrar e caracterizar os mecanismos e as estratgias que no discurso e no texto, ao servio de uma intencionalidade expressiva, comunicativa e poitica, transformam as palavras do dicionrio e as regularidades da gramtica em energia criativa, seja para fazer coisas, seja para expor e argumentar, seja para narrar e descrever, seja para criar mundos ficcionais.
Em terceiro lugar, construir pontes entre os estudos lingusticos e os estudos literrios, entre a anlise dos textos no-literrios e dos textos literrios, porque a nvel da translingustica e sobretudo a nvel da retrica e da lingustica textual, que tais pontes se podem e devem construir. Importa sublinhar, porm, que os termos includos nesta proposta, no obstante em certos casos terem uma intenso e uma extenso que permitiriam a sua insero numa terminologia literria, so termos das cincias da linguagem e no termos da potica, da narratologia, da crtica literria, etc. Se verdade que a retrica se literaturizou a partir do sculo XVI, restringindo-se operao da elocuo e, ainda mais, teoria das figuras e dos tropos, no menos certo que a retrica e a potica, sem prejuzo das suas relaes mtuas, foram e so disciplinas distintas (e por isso Aristteles escreveu uma Retrica e uma Potica).
Por ltimo, fundamental afirmar que a translingustica, nas suas diversas vertentes, no um domnio do conhecimento sequer pensvel margem da lingustica ou dissociado da lingustica. Para produzir e interpretar textos necessrio primordialmente necessrio conhecer os recursos fonolgicos, morfolgicos, sintcticos e semnticos existentes na lngua.
2.6. Metodologia de reviso
Para executar a tarefa de reviso da TLEBS, foram tidos em conta os seguintes factores:
a)Pareceres dos especialistas de vrias reas que participaram numa primeira fase de reviso;
b)Resultados da avaliao de aces de formao, nas quais foram identificadas as principais reas de dificuldade dos docentes na leitura da TLEBS;
c)Levantamento de dificuldades e problemas identificados em discusses entre utilizadores da TLEBS, como o frum GramaTIC.pt;
d)Aspectos a melhorar identificados pelos autores;
e)Consulta a especialistas dos vrios domnios para auscultao sobre opes a tomar;
f)Consulta a professores dos diferentes nveis de ensino para auscultao sobre a lista de termos e o formato das definies.
3. Indicaes de leitura:
Neste documento, as palavras sublinhadas e a azul so hiperligaes, nas quais poder carregar para aceder definio do termo destacado. A hiperligao do ttulo de cada domnio permite aceder ao domnio correspondente, assim como voltar hierarquia dos termos.
A apresentao da definio de cada termo seguida, sempre que necessrio,de exemplos e/ou notas explicativas em itlico.
Nos exemplos, as frases antecedidas de asterisco (*) so agramaticais ou constituem um desvio norma padro.
Findo o perodo de discusso pblica e integradas as alteraes da decorrentes, a Terminologia Lingustica passar a estar disponvel na forma de base de dados em linha.
4. Hierarquia dos Termos
A. Lngua, comunidade lingustica, variao e mudana
A.1. Lngua e comunidade lingustica
A.1.1. Comunidade e falante
Comunidade lingustica
Falante
Competncia lingustica
Competncia metalingustica
A.1.2. Estatuto das lnguas
Lngua oficial
Lngua materna
Lngua segunda, L2
Lngua estrangeira
A.2. Variao e normalizao lingustica
A.2.1. Variao
Variedades geogrficas
Variedades do portugus
Variedade europeia
Variedade brasileira
Variedades africanas
Variedades sociais
Variedades situacionais
Variao histrica
A.2.2. Normalizao lingustica
Lngua padro
A.3. Contacto de lnguas
Substrato
Superstrato
Adstrato
Bilinguismo
Multilinguismo
Crioulo
Crioulos de base lexical portuguesa
A.4. Mudana lingustica
A.4.1. Factores e tipos de mudana
Factores internos
Factores externos
Tipos de mudana
Mudana regular
Mudana irregular
Gramaticalizao
A.4.2. Histria do portugus
Portugus antigo
Portugus clssico
Portugus contemporneo
A.4.3. Etimologia e genealogia lingustica
Famlias de lnguas
Etimologia
timo
Palavras divergentes
Palavras convergentes
B. Lingustica Descritiva
B.1. Fontica e Fonologia
B.1.1. Sons e fonemas
Fonema
Vogal
Semivogal
Consoante
B.1.1.1.Caracterizao dos sons
Modo de articulao
Ponto de articulao
Vozeamento
B.1.1.2. Sequncias de sons
Ditongo
Grupo consonntico
Hiato
B.1.2. Prosdia/Nvel prosdico
B.1.2.1. Caractersticas acsticas
Tom
Durao
Intensidade
B.1.2.2. Slaba
Formatos de slaba:
Slaba aberta
Slaba fechada
Propriedades acentuais das slabas:
Slaba tnica
Slaba tona
Classificao das palavras quanto ao nmero de slabas:
Monosslabo
Disslabo
Trisslabo
Polisslabo
B.1.2.3. Acento
Classificao das palavras quanto posio da slaba tnica:
Palavra aguda
Palavra grave
Palavra esdrxula
Propriedades acentuais das slabas:
Slaba tnica
Slaba tona
B.1.2.4. Entoao
Pausa
Pausa silenciosa
Pausa preenchida
B.1.3. Processos fonolgicos
Insero de segmentos
Supresso de segmentos
Alterao de segmentos
Assimilao
Dissimilao
Nasalizao
Ditongao
Reduo voclica
Crase
Mettese
B.2. Morfologia
B.2.1. Palavra e constituintes da palavra
Palavra
Palavra simples
Palavra complexa
Constituinte morfolgico
Radical
Afixo
Interfixo
Prefixo
Sufixo
B.2.2. Morfologia flexional
Flexo
Palavra varivel
Palavra invarivel
B.2.2.1. Flexo nominal e adjectival
Categorias relevantes para a flexo de nomes, determinantes, pronomes e adjectivos:
Constituinte temtico
ndice temtico
Gnero
Masculino
Feminino
Nmero
Singular
Plural
Caso
Nominativo
Acusativo
Dativo
Oblquo
Grau
dos nomes
aumentativo
diminutivo
dos adjectivos (e advrbios)
normal
comparativo
superlativo
Pessoa
Primeira
Segunda
Terceira
B.2.2.2. Flexo verbal
Conjugao
Constituinte temtico
Vogal temtica
Primeira conjugao
Segunda conjugao
Terceira conjugao
Categorias relevantes para a flexo de verbos:
Pessoa
Primeira
Segunda
Terceira
Nmero
Singular
Plural
Tempo verbal
Presente
Pretrito
Perfeito
Imperfeito
Mais-que-perfeito
Futuro
Modo
Formas verbais finitas
Indicativo
Conjuntivo
Condicional
Imperativo
Formas verbais no finitas
Infinitivo
Pessoal
Impessoal
Gerndio
Particpio
Especificidades da flexo verbal:
Amlgama
Tipologia verbal
Verbo regular
Verbo irregular
Forma forte
Forma fraca
Verbo defectivo
Verbo impessoal
Verbo unipessoal
Forma supletiva
B.2.3. Processos morfolgicos de formao de palavras
Palavra simples
Palavra complexa
Base
B.2.3.1. Derivao
Processos que envolvem adio de constituintes morfolgicos:
Afixao
Prefixao
Sufixao
Parassntese
Processos que no envolvem adio de constituintes morfolgicos:
Converso
Derivao no-afixal
B.2.3.2. Composio
Composio morfolgica
Composio morfossintctica
B.3. Classes de palavras
Itens lexicais:
Palavra
Locuo
B.3.1. Classe aberta de palavras
Nome
Classes de nomes:
Nome prprio
Nome comum
Nome contvel
Nome colectivo
Nome no-contvel
Nome colectivo
Verbo
Verbo principal
Classes de verbos estabelecidas em funo da presena e tipo de complementos:
Verbo intransitivo
Verbo transitivo directo
Verbo transitivo indirecto
Verbo transitivo directo e indirecto
Verbo transitivo-predicativo
Verbo auxiliar
Verbo copulativo
Adjectivo
Classes de adjectivos:
Adjectivo relacional
Adjectivo qualificativo
Adjectivo numeral
Advrbio
Classes de advrbios:
Advrbio de predicado
Advrbio de frase
Advrbio conectivo
Advrbio de negao
Advrbio de afirmao
Advrbio de quantidade e grau
Advrbio de incluso e excluso
Advrbio interrogativo
Advrbio relativo
Interjeio
B.3.2. Classe fechada de palavras
Pronome
Classes de pronomes:
Pronome pessoal
Pronome demonstrativo
Pronome possessivo
Pronome indefinido
Pronome relativo
Pronome interrogativo
Determinante
Artigo
Artigo definido
Artigo indefinido
Determinante demonstrativo
Determinante possessivo
Determinante indefinido
Determinante relativo
Determinante interrogativo
Quantificador
Quantificador universal
Quantificador existencial
Quantificador numeral
Quantificador interrogativo
Quantificador relativo
Preposio
Conjuno
Conjuno coordenativa
Conjuno subordinativa
B. 4. Sintaxe
B.4.1. Frase e constituintes da frase
Frase
Constituintes da frase:
Grupo nominal
Grupo adjectival
Grupo verbal
Complexo verbal
Grupo preposicional
Grupo adverbial
B.4.2. Funes sintcticas
Funes sintcticas ao nvel da frase:
Sujeito
Sujeito simples
Sujeito composto
Sujeito nulo
Predicado
Modificador
Vocativo
Funes sintcticas internas ao grupo verbal:
Complemento
Complemento directo
Complemento indirecto
Complemento oblquo
Complemento agente da passiva
Predicativo
Predicativo do sujeito
Predicativo do complemento directo
Modificador
Funes sintcticas internas ao grupo nominal:
Complemento do nome
Modificador
Modificador restritivo
Modificador apositivo
Funes sintcticas internas ao grupo adjectival:
Complemento do adjectivo
B.4.3. Tipos de frase
(Tipo de) frase declarativa
(Tipo de) frase interrogativa
(Tipo de) frase exclamativa
(Tipo de) frase imperativa
Frase passiva
Frase activa
B.4.4. Articulao entre constituintes e entre frases
Frase simples
Frase complexa
Orao
Coordenao
Sindtica
Assindtica
Coordenao entre frases:
Orao coordenada
Orao coordenada copulativa
Orao coordenada disjuntiva
Orao coordenada adversativa
Orao coordenada conclusiva
Orao coordenada explicativa
Subordinao:
Subordinante
Orao subordinada
Orao subordinada substantiva
Orao subordinada substantiva completiva
Orao subordinada substantiva relativa
Orao subordinada adjectiva
Orao subordinada adjectiva relativa
Orao subordinada adjectiva relativa restritiva
Orao subordinada adjectiva relativa explicativa
Orao subordinada adverbial
Orao subordinada adverbial causal
Orao subordinada adverbial final
Orao subordinada adverbial temporal
Orao subordinada adverbial concessiva
Orao subordinada adverbial condicional
Orao subordinada adverbial comparativa
Orao subordinada adverbial consecutiva
B.4.5. Processos sintcticos
Concordncia
Elipse
B.5. Lexicologia
B.5.1. Lxico e vocabulrio
Lxico
Vocabulrio
Expresso idiomtica
Neologismo
Arcasmo
Famlia de palavras
B.5.2. Semntica lexical: significao e relaes semnticas entre palavras
Significao lexical:
Significante
Denotao
Conotao
Monossemia
Polissemia
Relaes semnticas entre palavras:
Relaes de hierarquia:
Hiperonmia
Hiponmia
Relaes de parte-todo:
Holonmia
Meronmia
Relaes de semelhana/oposio:
Sinonmia
Antonmia
Estrutura lexical
Campo lexical
Campo semntico
B.5.3. Processos irregulares de formao de palavras
Extenso semntica
Emprstimo
Amlgama
Sigla
Acrnimo
Onomatopeia
Truncao
B.6. Semntica
Significado
B.6.1. Contedo proposicional
Referncia
Predicao
Polaridade
Outros valores semnticos que contribuem para contedo proposicional:
Especificidade
Genericidade
B.6.2. Valor temporal
Tempo
B.6.3. Valor aspectual
Aspecto
Aspecto lexical
Aspecto gramatical
Classes aspectuais:
Evento
Situao estativa
B.6.4. Valor modal
Modalidade
C. Anlise do discurso, Retrica, Pragmtica e Lingustica textual
C.1. Anlise do discurso e reas disciplinares correlatas
Anlise do discurso
Retrica
Pragmtica
Lingustica textual
C.1.1. Comunicao e interaco discursivas
Emissor
Locutor
Interlocutor
Destinatrio
Ouvinte
Receptor
Contexto
Enunciao
Enunciado
Enunciador
Deixis
Discurso
Universo de discurso
Interdiscurso / Interdiscursividade
Dilogo
Monlogo
Dialogismo
Polifonia
Informao
Enciclopdia
Acto de fala
Acto de fala directo
Acto de fala indirecto
Acto locutrio
Acto ilocutrio
Acto perlocutrio
Competncia discursiva
Estratgia discursiva
Oralidade
Escrita
Registo formal / informal
Marcadores discursivos
Conectores discursivos
C.1.1.1. Princpios reguladores da interaco discursiva
Cooperao (princpio de)
Cortesia (princpio de)
Pertinncia (princpio de)
Mximas conversacionais
Formas de tratamento
C.1.1.2. Reproduo do discurso no discurso
Citao
Discurso directo
Discurso directo livre
Discurso indirecto
Discurso indirecto livre
C.1.1.3. Processos interpretativos inferenciais
Pressuposio
Implicao
Implicaturas conversacionais
C.1.2. Texto
Texto / textualidade
Co-texto
Macroestruturas textuais
Microestruturas textuais
Coeso textual
Anfora
Catfora
Co-referncia no anafrica
Coerncia textual
Isotopia
Tema / rema
Progresso temtica
Configurao
Parfrase
Sentido
Digresso
Plurissignificao
Intertexto / intertextualidade
Hipertexto
Metatexto
Tipologia textual
Sequncia textual
Autor
Leitor
Plano do texto
Pacto de leitura
Fragmento
Estilo
Ritmo
Exrdio
Eplogo
Paratexto
Ttulo
Prefcio
Posfcio
Epgrafe
C.1.3. Instrumentos e operaes da retrica
C.1.3.1. Figuras de retrica e tropos
Figura
Tropo
Alegoria
Aliterao
Aluso
AnacolutoAnfora
Anttese
Antonomsia
Apstrofe
Comparao
Enumerao
Eufemismo
Gradao
Hiplage
Hiprbato
Hiprbole
Imagem
Ironia
Ltotes
Metfora
Metonmia
Oxmoro
Paradoxo
Perfrase
Personificao
Pleonasmo
Preterio
Prosopopeia
Quiasmo
Sarcasmo
Smbolo
Sinestesia
Sindoque
C.1.3.2 Operaes retricas
Inveno
Disposio
Elocuo
Memorizao
Aco
C.1.3.3 Retrica argumentativa
Argumentao
D. Lexicografia
D.1. Obras lexicogrficas
Dicionrio
Dicionrio monolingue
Dicionrio de aprendizagem
Dicionrio de sinnimos
Dicionrio etimolgico
Dicionrio bilingue
Glossrio
Enciclopdia
Terminologia
Thesaurus
D.2. Informao lexicogrfica
Entrada
Artigo
Acepo
Definio
Remisso
Abonao
Termo
E. Representao grfica
E.1. Grafia
Letras, acentos e diacrticos:
Letra
Alfabeto
Dgrafo
Diacrticos:
Acento grfico
Acento agudo
Acento grave
Circunflexo
Til
Trema
Cedilha
Sinais grficos:
Hfen
Apstrofo
E.2. Pontuao e sinais auxiliares de escrita
Sinais de pontuao
Ponto (final)
Ponto de interrogao
Ponto de exclamao
Dois pontos
Ponto e vrgula
Vrgula
Reticncias
Travesso
Sinais auxiliares de escrita
E.3. Configurao grfica
Tipos de Letra
Letra de imprensa
Letra manuscrita
Letra maiscula
Letra minscula
Abreviatura
Alnea
Pargrafo
Perodo
Espao
Margem
Formas de destaque
E.4. Convenes e regras para a representao grfica
Ortografia
Regras Ortogrficas
Regras de Acentuao Grfica
Regras de Translineao
E.5. Relaes entre palavras escritas e entre grafia e fonia
Homonmia
Homofonia
Homografia
Paronmia
5. Definies dos termos por domnio
Domnio A: Lngua, comunidade lingustica, variao e mudana
Conhecimento da lngua e do seu uso pelos falantes, variao (geogrfica, social...), normalizao.
Termos por ordem alfabtica:
Adstrato
Lngua que sobrevive ao lado daquela ou daquelas com as quais estabelece um contacto lingustico motivado por uma invaso territorial. Nome do tipo de relao, superficial, que entre as duas lnguas se estabelece.
Bilinguismo
Caracterstica de um falante ou de uma comunidade lingustica que tem competncia lingustica em duas lnguas diferentes. Calcula-se que cerca de 70% da populao mundial bilingue ou multilingue.
Competncia lingustica
Capacidade intuitiva que o falante tem de usar a sua lngua materna, decorrente do processo natural de aquisio da linguagem.
Competncia metalingustica
Capacidade que um falante tem de manipular e reflectir sobre unidades, processos e regras da gramtica da sua lngua. O desenvolvimento pleno da competncia metalingustica depende, em grande parte, de instruo explcita e formal.
Comunidade lingustica
Conjunto de falantes que utilizam uma mesma lngua (que no obrigatoriamente a lngua materna de todos) para comunicarem entre si.
Contacto de lnguas
Situao de coexistncia de duas ou mais lnguas numa mesma regio ou numa mesma comunidade lingustica.
Por contacto, os falantes podem introduzir na lngua que falam, de forma consciente ou inconsciente, traos de uma lngua diferente da sua.
Os efeitos do contacto, se forem extremos, levam ora ao nascimento de novas lnguas, como acontece com os crioulos, ora imposio total de uma lngua a falantes, normalmente habitantes de territrios invadidos, que abandonam a sua lngua materna, a qual, em ltimo caso, se pode converter numa lngua morta.
Crioulo
Lngua natural de formao rpida, que nasce de uma situao de contacto lingustico e se forma pela adopo de um pidgin como lngua materna. O pidgin original resulta do contacto prolongado entre falantes que, revelando necesside de comunicarem entre si, no dispem, contudo, de uma lngua em comum. Nestas circunstncias, comum que os falantes das lngus de substrato, dispondo de menos poder na comunidade, adoptem lxico da lngua de superstrato, esta falada pelos que, na comunidade multilingue, esto investidos de um estatuto social superior. O crioulo resulta do processo necessariamente acompanhado da expanso e complexificao do pidgin assim constitudo. Os crioulos nascem da necessidade de expresso e comunicao plena entre sujeitos falantes inseridos em comunidades multilingues relativamente estveis.
Crioulos de base lexical portuguesa
Crioulos originados pelo contacto entre falantes portugueses e falantes de lnguas noeuropeias e formados ao longo dos primeiros sculos da expanso portuguesa para fora da Europa. Classificam-se segundo critrios poltico-geogrficos: Crioulos Africanos da Alta Guin (de Cabo Verde, da Guin-Bissau e de Casamansa), Crioulos Africanos do Golfo da Guin (de S. Tom, Prncipe e Ano Bom), Crioulos Indo-Portugueses da ndia e Indo-Portugueses do Sri-Lanka, Crioulos Malaio-Portugueses, Crioulos Sino-Portugueses. Na Amrica, o Papiamento de Curaau, Aruba e Bonaire tem base portuguesa e castelhana e o Saramacano do Suriname, de base inglesa, tem tambm influncia do lxico portugus.
timo
Palavra da qual deriva, diacronicamente, outra palavra.
Etimologia
1. Estudo da origem e evoluo das palavras.
2. Origem e evoluo de uma palavra.
Factores externos
Causas da mudana lingustica exteriores estrutura de uma lngua. Os factores externos de mudana incluem, sobretudo, a interferncia de lnguas ou de dialectos vizinhos, ou seja, uma influncia de contacto e condies histricas como a emergncia de diferentes formas de comunicao ou, em geral, a alterao de condies polticas, culturais, sociais ou psicolingusticas.
Factores internos
Condies de mudana lingustica que se encontram dentro da prpria estrutura de uma lngua.
Falante
Sujeito considerado enquanto utilizador de uma lngua, possuidor de um conhecimento lingustico ou elemento de uma comunidade lingustica. O termo sinnimo de falante-ouvinte.
Famlias de lnguas
Grupos de lnguas cuja coeso resulta de todas partilharem um antepassado comum, unindo-se, desta forma, numa relao de parentesco. Dentro da famlia, considera-se que as lnguas mais prximas pertencem ao mesmo ramo.
Gramaticalizao
Processo de mudana lingustica pelo qual uma palavra muda de estatuto morfolgico: deixa de ser uma palavra lexical e torna-se uma palavra ou morfema funcional ou gramatical.
As formas verbais devido e visto sofreram um processo de gramaticalizao, integrando as locues conjuncionais devido a e visto que.
Lngua estrangeira
Lngua que, tomado determinado pas, no lngua materna de nenhuma comunidade antiga, nem tem, nesse pas, um reconhecimento oficial. Por vezes, este termo usado como sinnimo de lngua segunda ou L2.
Lngua materna
Lngua com a qual um falante entra em contacto na infncia, e que adquire em ambiente natural.
Lngua oficial
Lngua usada no contacto de um cidado com a administrao do seu pas. Em pases com uma situao prxima do monolinguismo, a lngua oficial coincide com a lngua nacional.
Lngua padro
Variedade social e/ou regional de uma lngua (falada e escrita) que foi legitimada historicamente enquanto meio de comunicao entre os falantes de estatuto sociocultural elevado de uma comunidade lingustica. sinnimo de norma padro.
Lngua segunda, L2
Lngua materna de uma comunidade que, sobretudo por razes de imigrao ou de multilinguismo, aprendida por outros falantes da mesma comunidade a um nvel secundrio em relao sua primeira lngua.
frequente o uso do termo lngua no materna como equivalente de lngua segunda, sobretudo quando refere uma lngua que aprendida em contexto escolar por falantes que no a tm como lngua materna.
Mudana irregular (espordica)
Mudana que no obedece a um princpio de regularidade. Verifica-se ao nvel fontico, sobretudo com dissimilaes e metteses, e ao nvel lexical, com as etimologias populares. A etimologia popular uma forma de mudana analgica.
Exemplos de dissimilao: ROTUNDA (lat.)>rodonda>redonda (por.); em portugus contemporneo, as expresses "Madre de Deus" e "Conde de Redondo" pronunciam-se, no discurso informal, com a supresso de um "de", "Madre Deus" e "Conde Redondo", para evitar a sequncia de+de.
Exemplos de mettese: atinge muito comummente a lquida /r/, que tende, mais uma vez no discurso familiar, a formar grupo consonntico com um som prximo: cf. "pertencer" vs. "pretencer", "apertar" vs. "apretar" ou "tornar" vs. "tronar"
A extenso analgica cria alternncia nos paradigmas; o singular de "tnis" ocorre com frequncia, em contexto de desvio norma, analogicamente, como "tni" para eliminar um singular que apresenta a irregularidade de ter a mesma terminao "s" do plural.
A nivelao analgica diminui a alternncia nos paradigmas; uma segunda pessoa do singular do pretrito perfeito de um verbo portugus ocorre, em contexto de desvio norma, analogicamente, com uma terminao "s" (tu fizestes) para se aproximar formalmente das terminaes da mesma pessoa nos outros tempos verbais (tu fazes, tu fazias, tu fars).
Mudana lingustica
Fenmeno que resulta da projeco da lngua de uma comunidade na histria dessa comunidade e das suas comunidades descendentes. Fruto da mudana lingustica, a lngua do passado diferente da lngua do presente. A disciplina que estuda essa diferena a lingustica histrica. A mudana lingustica observa-se a todos os nveis gramaticais e resulta da combinao de diferentes factores de mudana: os factores internos, que so constitudos pela prpria estrutura da lngua, e os factores externos, de natureza sobretudo geogrfica e social. atravs da variao social que a mudana lingustica se propaga numa comunidade.
As frases medievais em portugus podiam apresentar um tipo de negao (negao expletiva) que entretanto quase desapareceu, fruto da mudana sintctica. Ex: E assi escapou o comde Joham Fernandez de nom seer morto (Ali 1964).
Vrios nomes medievais portugueses sofreram uma mudana morfolgica passando a receber novos morfemas de gnero. Ex: "a senhor">"a senhora".
Em virtude de mudanas fonolgicas - crase, epntese, ditongao e semivocalizao - as sequncias de duas vogais nas palavras do portugus antigo desapareceram em grande nmero. Ex: pee>p, a>uma, cada>cadeia.
Mudana regular
Mudana que atinge os sons de uma lngua, i.e., mudana fontica ou fonolgica, e que parece obedecer a um princpio de regularidade: o mesmo som, numa dada lngua, por vezes em contexto fontico determinado, evolui no mesmo sentido em todas as palavras dessa lngua durante um certo perodo de tempo.
Por mudana fonolgica regular, as vogais breves tnicas latinas /e/ e /o/ resultaram em portugus em vogais /e/ e /o/ abertas, desde que o contexto fontico fosse propcio. Ex: FERRU>ferro, PORTA>porta, mas PORTU>porto, com /o/ no aberto, porque numa slaba vizinha estava a vogal /u/, que interferiu na mudana.
Multilinguismo
escala do indivduo, capacidade do falante para se exprimir em vrias lnguas com um desempenho semelhante. escala comunitria, refere-se situao em que, num territrio politicamente definido, coexistem vrias lnguas.
Normalizao lingustica
Resultado do processo segundo o qual uma variedade social e/ou geogrfica, convertida em lngua padro, se torna num meio pblico de comunicao: a escola e os meios de comunicao passam a controlar a observncia da sua gramtica, da sua pronncia e da sua ortografia.
A lngua padro em Portugal, aquela que a escola, a televiso, a rdio e os jornais difundem, a variedade de Lisboa. H algumas dcadas, conservado ainda o prestgio ancestral da Universidade de Coimbra, considerava-se que a lngua padro era a variedade de um eixo imaginrio Lisboa-Coimbra.
Palavras convergentes
Palavras que apresentam a mesma forma, apesar de terem timos diferentes.
A forma verbal "so" e "so" - sinnimo de "santo" - so palavras convergentes, porque, embora tenham a mesma forma, derivam de timos diferentes.
Palavras divergentes
Palavras que apresentam forma diferente, apesar de terem o mesmo timo.
"mancha" e "mcula" so palavras divergentes, porque ambas derivam do timo latino "macula".
Portugus antigo
Nome convencionado para designar a fase da lngua portuguesa falada durante a Idade Mdia entre o sculo XII (poca em que se comearam a redigir textos em portugus) e o sculo XV. sinnimo de portugus arcaico e de galaico-portugus. A fase anterior da lngua portuguesa, possivelmente falada logo desde os sculos VI e VII no Noroeste da Pennsula Ibrica, chama-se "romance galegoportugus".
Trecho do texto original mais antigo que se conhece, datado, escrito em portugus, a "Notcia de fiadores de Paio Soares Romeu", de 1175: "Istos fiadores atan .v. annos que se partia de isto male q(ue) li avem".
Portugus clssico
Nome convencionado para designar a fase do portugus europeu falada durante a Idade Moderna, ou seja, entre os sculos XVI e XVIII.
Portugus contemporneo
Nome convencionado para designar a fase do portugus europeu falada a partir do sculo XIX.
Substrato
Lngua indgena desaparecida como resultado do contacto com uma lngua invasora. Conjunto de vestgios lingusticos deixados por essa lngua naquela que se lhe sobreps.
No processo de formao de um crioulo, a designao dada s lnguas maternas dos falantes que criam o pidgin que o precede.
substrato pr-romano na Pennsula Ibrica
Superstrato
Lngua de invasores que desaparece no contacto com uma lngua indgena. Conjunto de vestgios lingusticos deixados por essa lngua na do territrio dominado.
No processo de formao de um crioulo, a designao dada lngua que fornece a respectiva base lexical.
lnguas germnicas, de suevos e visigodos, na Pennsula Ibrica
Tipos de mudana
Resultado da interpretao terica dos fenmenos de mudana lingustica, tomando em ateno o processo (regular ou irregular) segundo o qual ela actua e as reas da gramtica que afecta.
Variao
Propriedade que as lnguas tm de se diferenciarem em funo da geografia, da sociedade e do tempo, dando origem a variantes e a variedades lingusticas.
Variao histrica
Resultado da mudana lingustica. Consiste no contraste entre a gramtica antiga de uma lngua e uma gramtica posterior dessa mesma lngua.
No necessrio esperar sculos para que se possa observar uma variao histrica ou diacrnica. Numa mesma lngua e numa mesma poca, podem coexistir duas gramticas com regras diferentes, sendo que uma delas arcaizante e a outra j apresenta o resultado de uma mudana lingustica. Neste caso, as diferenas observadas na lngua dos falantes das duas gramticas chamam-se mudanas em curso.
Variedades africanas
Portugus falado em frica. O portugus de Angola (s o de Luanda) e o de Moambique so as duas variedades africanas de lngua portuguesa que tm sido alvo de descrio e, portanto, as nicas sobre as quais se podem fazer afirmaes.
Exemplos da morfologia e da sintaxe do portugus de Luanda:
- Morfema de plural junto do nome, mas em posio pr-nominal: os p, ou melhor, o s-p plural de o p.
- Pronomes dativo e acusativo com a mesma forma: -Voc pensa que no lhe conheo.
Variedade brasileira
Portugus falado no Brasil, sujeito a uma variao geogrfica que separa, sobretudo, os estados do litoral acima do estado da Bahia (inclusive) dos que esto abaixo.
Exemplos da sintaxe e da semntica da variedade brasileira do portugus:
Um nome singular pode ter um valor genrico:
Criana gosta de suco.
Os pronomes pessoais tonos ocorrem esquerda dos verbos principais:
Eu tinha j lhe dado uma flor.
Variedade europeia
Portugus falado em Portugal continental e nos arquiplagos da Madeira e dos Aores, dividido dialectalmente em dois grandes grupos (setentrional e centro-meridional) e aceitando a variedade de Lisboa como lngua padro.
Variedades do portugus
Resultado lingustico da histria de Portugal: da independncia no sculo XII, da Reconquista terminada no sculo XIII, da expanso extra-europeia a partir do sculo XV e do esforo colonizador em frica, na Amrica e na sia durante toda a Idade Moderna. Ao longo desta histria, a populao de lngua materna portuguesa entrou em contacto com falantes de outras lnguas e da resultaram diferentes variedades do portugus: variedade europeia, variedades africanas e variedade brasileira.
Variedades geogrficas
Diferentes formas que uma mesma lngua assume ao longo da sua extenso territorial. A estas variedades chama-se tambm "dialectos regionais" ou, simplesmente, "dialectos".
Variedades situacionais
Resultado da capacidade dos falantes para adaptarem o estilo de linguagem situao de comunicao que enfrentam. Essa capacidade chama-se "competncia comunicativa". A existncia de variedades situacionais conduz quase sempre a comentrios prescritivos, ou de autoridade, sobre o que, na lngua, "correcto" ou "incorrecto".
Variedades sociais
Tambm chamadas "sociolectos" ou "dialectos sociais", so variedades de uma lngua usadas por falantes que pertencem ao mesmo grupo social. Entre estes falantes h uma partilha de ambiente sociocultural ou educacional. A disciplina que estuda as variedades sociais da lngua ("sociolingustica") considera uma srie de factores sociais de variao (chamados "variveis extralingusticas"): classe social, nvel de instruo, tipo de educao, idade, sexo, origem tnica, etc.
B. Lingustica Descritiva
Domnio B.1: Fontica e Fonologia
Fontica: a cincia que estuda as caractersticas fsicas, articulatrias, acsticas e perceptivas da produo, propagao e percepo dos sons da fala, fornecendo mtodos para a sua descrio e classificao. A fontica divide-se em trs grandes ramos: fontica articulatria, fontica acstica e fontica perceptiva.
Fonologia: a disciplina da lingustica que estuda os sistemas sonoros das lnguas. Da variedade de sons que o aparelho vocal humano pode produzir s um nmero relativamente pequeno usado distintivamente em cada lngua. Os sons esto organizados num sistema de contrastes, analisados em funo de diferentes constituintes fonolgicos, como, por exemplo, o fonema ou a slaba.
Termos por ordem alfabtica:
Acento
Grau de proeminncia de uma slaba numa determinada sequncia fontica.
A slaba "ne" da palavra "panela" possui acento.
Alterao de segmentos
Mudana na qualidade dos segmentos.
A assimilao e a dissimilao so exemplos de processos que envolvem a alterao de segmentos.
Assimilao
Processo fonolgico em que um segmento fontico se identifica com um segmento vizinho ou dele se aproxima, ao adquirir um trao ou traos fonticos desse segmento vizinho.
Na pronncia da palavra muito, o ditongo pronunciado como nasal [mjtu], porque assimila a nasalidade da consoante inicial.
Consoante
Som produzido com uma obstruo ou estreitamento do tracto vocal em que a passagem do ar total ou parcialmente bloqueada.
As consoantes podem distinguir-se pelo seu ponto de articulao. Podem ser bilabiais (como em p,b e mau), labiodentais (como em f e vo), dentais (como em tu, dou, s e z), alveolares (como em no, l e aro), palatais (como em ch, j, lhe e unha), velares (como em c e gua) ou uvulares (como em rei).
As consoantes podem distinguir-se ainda pelo seu modo de articulao, podendo ser oclusivas orais (como em p, b, tu, dou, c e gua), fricativas (como em f, vo, s, z, ch e j), laterais (como em lhe e unha), vibrantes (como em aro e rei) e oclusivas nasais (como em mau, no e unha).
Finalmente, as consoantes podem distinguir-se quanto ao vozeamento, podendo ser surdas (como em p, tu, c, f, s e ch) ou sonoras (como nos restantes casos).
Crase
Contraco ou fuso de duas vogais em uma s.
Fuso da preposio "a" e do artigo "a" em "".
Disslabo
Palavra constituda por duas slabas.
A palavra "tela".
Dissimilao
Processo fonolgico em que um segmento fontico perde um ou mais traos fonticos que tinha em comum com um segmento vizinho, diferenciando-se dele.
A produo da primeira vogal de "telha" no dialecto de Lisboa.
Ditongao
Processo fonolgico em que uma vogal se desdobra em dois segmentos, i.e., produz-se uma diferenciao tmbrica no interior do segmento voclico, dando origem ao aparecimento de uma semivogal em posio pr ou ps voclica.
Na derivao das terceiras pessoas do plural dos verbos em portugus deu-se uma ditongao da vogal nasal final da palavra. H casos especiais de dupla ditongao no presente do indicativo, como acontece com os verbos ter e ver.
Ditongo
Sequncia no interior de uma slaba, formada por uma vogal e uma semivogal (ditongo decrescente), ou por uma semivogal e uma vogal (ditongo crescente).
A sequncia final da palavra "pai" corresponde produo [aj] e constitui um ditongo decrescente.
A sequncia inicial da palavra "quatro", produzida como [wa], constitui um ditongo crescente.
Durao
Quantidade de tempo durante o qual uma unidade lingustica produzida. Fonologicamente, determina a quantidade dos sons.
Em lnguas com vogais breves e vogais longas, como o latim, as primeiras tm uma durao menor e as segundas, uma durao maior. Em portugus, a durao deixou de ter uma funo distintiva.
Entoao
Utilizao de diferentes tons em sequncia, em interaco com os diferentes sons e a sua organizao acentual. A entoao de uma palavra, grupo de palavras ou frase tem funes sintcticas, semnticas, pragmticas e de comunicao de atitudes pessoais (por exemplo: alegria, raiva, surpresa). A variao dos tons em sequncia forma uma curva entoacional.
A frase "Vamos embora" pode ser produzida com uma entoao declarativa, uma entoao interrogativa, uma entoao exclamativa ou uma entoao persuasiva.
Fonema
Unidade mnima do sistema fonolgico, que pode tambm designar-se como segmento. Dois sons que, substitudos um pelo outro no mesmo contexto, permitem distinguir significados, so fonemas de uma lngua.
O /p/ de "pata" e o /b/ de "bata" so fonemas do portugus.
Grupo consonntico
Duas consoantes sucessivas que pertencem mesma slaba.
A sequncia [pr] da slaba inicial da palavra "pra.to".
Hiato
Sequncia de duas vogais que pertencem a slabas diferentes.
A sequncia [a.u] na palavra "ba.".
Insero de segmentos
Processo fonolgico em que um novo som ou segmento passa a ser articulado, em posio inicial (prtese), medial (epntese) ou final (paragoge) de palavra.
Insero da semivogal [j] entre o artigo e o nome da sequncia "a[j]gua", em algumas zonas do pas.
Intensidade
Quantidade de energia acstica de um som. A intensidade depende das variaes na presso do ar. A sua unidade de medida o decibel (db). Fonologicamente, a intensidade, em conjunto com outras propriedades fonticas, pode concorrer para a identificao do acento em lnguas como o portugus.
Mettese
Transposio de segmentos ou slabas no interior de uma palavra.
A troca de slabas em "estmago" > "estgamo", ou a troca de segmentos em prateleira > parteleira em algumas variedades sociais.
Modo de articulao
Um dos principais parmetros de classificao dos sons da fala. Refere-se forma como o ar atravessa as cavidades supraglotais, na produo dos sons, nomeadamente presena ou ausncia de constrio no tracto vocal e ao grau de constrio. O modo de articulao permite distinguir, por exemplo, consoantes oclusivas, fricativas, laterais ou vibrantes.
Modo de articulao oclusivo: /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/.
Modo de articulao fricativo: /f/, /v/, /s/, /z/, /(/, /(/.
Monosslabo
Palavra constituda por uma nica slaba.
A palavra "dois".
Nasalizao
Processo fonolgico em que uma vogal oral adquire nasalidade, por influncia de outro som nasal. um caso particular de assimilao.
manum>mnu>mo.
Nvel prosdico
Um dos dois nveis de anlise fonolgica das lnguas. No nvel prosdico, analisam-se os fenmenos fonticos e fonolgicos que envolvem unidades mais vastas do que os fonemas, como a slaba, a palavra ou a frase. no nvel prosdico que se estudam os processos entoacionais, rtmicos ou o acento, que muitas vezes se manifestam atravs de variaes de tom, durao e intensidade.
No mbito da prosdia, estudam-se, por exemplo, fenmenos como a co-articulao de sons em fronteiras de palavras (como na queda da vogal final de belo na sequncia belo artista) ou o comportamento de palavras sem acento prprio como os pronomes tonos.
Palavra aguda
Palavra cujo acento recai na ltima slaba.
A palavra "peru".
O mesmo que palavra oxtona.
Palavra esdrxula
Palavra cujo acento recai na antepenltima slaba.
A palavra "lingustica".
O mesmo que palavra proparoxtona.
Palavra grave
Palavra cujo acento recai na penltima slaba.
A palavra "panela".
O mesmo que palavra paroxtona.
Pausa
Intercepo na produo do discurso, que pode corresponder a uma suspenso de voz (pausa silenciosa) ou a uma articulao no lingustica por hesitao (pausa preenchida).
Interrupo da produo no final da sequncia "No vou trabalhar".
Pausa preenchida
Pausa entre constituintes sintcticos e/ou entoacionais que envolve tipicamente o uso da vogal central [] e da consoante bilabial nasal [m], quer autonomamente, quer em combinao e com duraes variadas.
Interrupo na produo da sequncia "Hoje [m:] no vou trabalhar".
Pausa silenciosa
Pausa no preenchida com suspenso de emisso de voz, mas funcional do ponto de vista da organizao entoacional de um enunciado. Permite, muitas vezes, distinguir constituintes sintcticos e/ou entoacionais.
Interrupo da produo sem produo de qualquer som, assinalada graficamente com reticncias, na sequncia "Hoje no vou trabalhar".
Polisslabo
Palavra constituda por mais de trs slabas.
A palavra "lingustica".
Ponto de articulao
Um dos parmetros de classificao dos sons da fala. Refere-se ao local, no tracto vocal, onde ocorre a articulao dos sons. O ponto de articulao permite distinguir, por exemplo, consoantes bilabiais, dentais, palatais ou velares.
Ponto de articulao labial (/p/, /b/, /m/) ou dental (/t/, /d/).
Processos fonolgicos
Termo usado para referir as modificaes sofridas pelos segmentos em diversas circunstncias contextuais (no incio e no final das palavras, junto de vogal acentuada, etc.).
Assimilao e dissimilao.
Reduo voclica
Processo fonolgico que consiste no enfraquecimento de uma vogal em posio tona.
A primeira vogal de "bolo" sofre uma reduo em "bolinho". O mesmo sucede nos pares "medo"/"medroso" e "mata"/"matagal".
Semivogal
Som produzido com caractersticas articulatrias e acsticas semelhantes s das vogais e que ocorre junto de uma vogal formando com ela um ditongo. Uma semivogal nunca pode receber acento. A semivogal tambm pode designar-se glide.
Semivogais:
som final [j] da palavra "pai";
som final [w] da palavra "mau".
Slaba
Unidade estruturada e organizada que agrupa os sons dentro da palavra. Pode incluir um ou mais sons, como nas slabas da palavra a-pro-vei-tar. Dentro da slaba, os sons podem ocorrer no ataque da slaba (consoante(s) esquerda da vogal), no ncleo da slaba (vogal ou ditongo) ou na coda da slaba (consoante direita da vogal). O ncleo e a coda constituem a rima da slaba.
Na palavra "casa", as slabas so "ca" e "sa".
Slaba aberta
Slaba que no termina em consoante.
As slabas das palavras "casa" e boi.
Slaba tona
Qualquer slaba que no apresenta proeminncia relativa no nvel prosdico da palavra ou da frase, ou seja, que no possui acento.
A slaba "sa" da palavra "casa".
Slaba fechada
Slaba que termina em consoante.
A slaba "sar" da palavra "casar".
Slaba tnica
Slaba que apresenta proeminncia relativa no nvel prosdico da palavra ou da frase.
A slaba "ca" da palavra "casa".
Supresso de segmentos
Processo fonolgico em que um segmento deixa de ser articulado, em posio inicial (afrese), medial (sncope) ou final (apcope) de palavra.
Na produo da vogal final da palavra "lume" em [lm].
Tom
Atributo da sensao auditiva de acordo com o qual um som pode ser ordenado numa escala de grave a agudo. Acusticamente, corresponde frequncia dos sons.
A voz infantil considerada aguda; a voz dos adultos mais grave do que a das crianas.
Trisslabo
Palavra constituda por trs slabas.
A palavra "cavalo".
Vogal
Som produzido sem uma obstruo do tracto vocal. Em portugus, foneticamente, possvel identificar catorze vogais, que se distinguem em funo do seu ponto de articulao (estabelecendo-se distines atravs dos movimentos da lngua e dos lbios), bem como da passagem ou no de ar pela cavidade nasal.
As vogais de p, dor e no so arrendondadas (projeco dos lbios).
As vogais de p, da e de so recuadas (recuo da lngua).
As vogais de li, do e de so altas (elevao da lngua).
As vogais de l, da e dor so mdias (lngua em repouso).
As vogais de p, p e p so baixas (descida da lngua).
As vogais correspondentes aos sublinhados em s, dente, fim, som e um so nasais; as restantes vogais do Portugus so orais.
Vozeamento
Um dos parmetros de classificao dos sons da fala. Refere-se existncia ou no de vibrao das cordas vocais. O vozeamento permite distinguir, por exemplo, consoantes sonoras (produzidas com vibrao das cordas vocais) de surdas (produzidas sem vibrao das cordas vocais).
As consoantes oclusivas podem ser sonoras (/b/, /d/, /g/) ou surdas (/p/, /t/, /k/), segundo so produzidas com ou sem vibrao das cordas vocais.
Domnio B.2: Morfologia
Disciplina da lingustica que descreve e analisa a estrutura interna das palavras e os processos morfolgicos de variao e de formao de palavras.
Termos por ordem alfabtica:
Afixao
Processo morfolgico que consiste na associao de um afixo a uma forma de base. Como existem vrios tipos de afixos, tambm existem vrios tipos de afixao, destacando-se a prefixao e a sufixao. A flexo e a derivao so processos morfolgicos realizados por afixao.
Afixo
Constituinte que ocorre obrigatoriamente associado a uma forma de base. Em portugus, os afixos subdividem-se em prefixos, sufixos e interfixos, consoante a posio que ocupam na estrutura da palavra. Os afixos podem participar em processos de flexo ou derivao.
Amlgama
Sufixo de flexo verbal que acumula valores de tempo, modo, pessoa e nmero ou uma combinao destas categorias.
O sufixo -ste em "cantaste" , simultaneamente, marcador de pretrito perfeito do indicativo e de segunda pessoa do singular.
Base
Constituinte morfolgico, que inclui obrigatoriamente um radical, a partir do qual se formam novas palavras.
"doc-" a base para "adoar"; "adoa-" a base para "adoante".
Caso
Variao morfolgica que uma expresso nominal ou pronominal assume de acordo com a sua funo sintctica. Em portugus, apenas os pronomes pessoais variam em caso.
"eu" a forma nominativa do pronome pessoal, na 1 pessoa do singular, alternando com as formas acusativa "-me", dativa "-me" e oblqua "mim".
"ele" a forma nominativa do pronome pessoal masculino, na 3 pessoa do singular, alternando com as formas acusativa "-o" e dativa "-lhe".
Composio
Processo morfolgico de formao de palavras que recorre associao de duas ou mais formas de base. Em portugus, h dois tipos frequentes de composio: a composio morfolgica e a composio morfossintctica.
Composio morfolgica
Processo de composio que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre uma vogal de ligao.
[agr]+i+[cultura] = [agricultura], [luso]+[descendente]= [luso-descendente], [psic]+o+[pata]
Composio morfossintctica
Processo de composio que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende da relao sintctica e semntica entre os seus membros, o que tem consequncias para a forma como so flexionados em nmero.
As palavras [surdo-mudo], [guarda-chuva] ou [via lctea] so compostos morfo-sintcticos.
Conjugao
Paradigma de flexo verbal definido em funo da vogal temtica. Em portugus, h trs conjugaes.
Constituinte morfolgico
Unidade constituinte das palavras, como, por exemplo, os radicais e os afixos. A um constituinte morfolgico mnimo chama-se morfema.
Os constituintes morfolgicos da palavra casas so: [cas], [a] e [s].
Os constituintes morfolgicos da palavra caseiro so: [cas], [eir] e [o].
Constituinte temtico
Sufixo que especifica a classe morfolgica a que um dado radical pertence. O constituinte temtico dos adjectivos e dos nomes chama-se ndice temtico; o constituinte temtico dos verbos chama-se vogal temtica.
Converso
Processo de formao de palavras, tambm chamado derivao imprpria, que procede integrao de uma dada unidade lexical numa nova classe de palavras, sem que se verifique qualquer alterao formal.
olharV -> olharN
Derivao
Processo morfolgico de formao de palavras que consiste, tipicamente, na associao de um afixo derivacional a uma forma de base. Em portugus, a derivao predominantemente realizada por sufixao.
arruma+co > arrumao
Derivao no-afixal
Processo de formao de palavras que gera nomes deverbais, acrescentando marcas de flexo nominal a um radical verbal.
troc- ->troca; troco
abra- -> abrao
Flexo
Especificao das propriedades morfossintcticas das palavras variveis sensvel sua categoria. Geralmente, a flexo manifesta-se atravs de processos morfolgicos como a afixao, embora haja instncias de flexo que no envolvem afixao, como, por exemplo, a formao dos tempos compostos dos verbos.
Flexo nominal e adjectival
Flexo dos adjectivos e dos nomes variveis. Em portugus, os adjectivos e os nomes podem flexionar em nmero, em gnero e em grau.
claro-claros, casa-casas, gato-gata-gatinha
Flexo verbal
Flexo dos verbos. Em portugus, os verbos flexionam em tempo, modo, pessoa e nmero. Os paradigmas de flexo verbal incluem, tradicionalmente, os tempos compostos, embora estes no sejam realizados atravs de processos flexionais de afixao.
A forma verbal cantvamos encontra-se flexionada em tempo (pretrito imperfeito), modo (indicativo), pessoa (primeira) e nmero (plural).
Forma forte
Forma verbal flexionada sem associao do sufixo de flexo prprio do seu paradigma. A distino entre forma forte e fraca utilizada, principalmente, na classificao de formas do particpio passado.
mortopreso
Forma fraca
Forma verbal flexionada de modo cannico, que se ope a forma forte. A distino entre forma forte e fraca utilizada, principalmente, na classificao de formas do particpio passado.
matado
prendido
Forma supletiva
Forma flexionada a partir de outros radicais. Alguns verbos defectivos recorrem a estas formas para preencher as lacunas existentes no seu paradigma.
O verbo ser recorre a diferentes radicais para a sua flexo, como nas formas sou, s ou fui.
Formas verbais finitas
Todas as formas verbais excepo das do infinitivo, gerndio e particpio. As formas verbais finitas, tipicamente, podem ocorrer como forma verbal nica numa frase simples e admitem variao mxima nas categorias tempo, pessoa e nmero.
Formas verbais no finitas
Formas verbais do infinitivo, gerndio e particpio. As formas verbais no finitas, tipicamente, no ocorrem como forma verbal nica numa frase simples e no variam em tempo.
Gnero
Categoria morfossintctica que est presente em todos os nomes, em alguns adjectivos (os adjectivos biformes) e em alguns pronomes. Em portugus, h dois valores de gnero: masculino e feminino. Nos nomes que referem uma entidade animada (uma pessoa ou um animal), o valor de gnero corresponde, tipicamente, a uma distino de sexo (i), excepto no caso dos nomes epicenos (como "sapo" ou "corvo"), sobrecomuns (como "vtima" ou "cnjuge") e comuns de dois (como "estudante" ou "jornalista") e ainda em casos irregulares (como no par cavalo/gua). Nos restantes nomes, esta correspondncia no se verifica (ii).
(i) gato-gata
(ii) caso-casa
Grau
Variao apresentada por alguns nomes, adjectivos e advrbios, que permite estabelecer uma gradao no significado de uma palavra ou a comparao entre termos. Os nomes apresentam variao nos graus: normal, aumentativo e diminutivo. Os adjectivos e os advrbios apresentam variao nos graus: normal, comparativo (de igualdade, inferioridade e superioridade) e superlativo (relativo, absoluto sinttico e absoluto analtico). Ocasionalmente, alguns adjectivos e advrbios admitem formas aumentativas e diminutivas (como em cansado ou cedinho e depressinha, embora esta variao no seja muito produtiva nestas classes de palavras. A variao em grau pode ser expressa morfolgica ou sintacticamente. So expressos morfologicamente os graus superlativo absoluto sinttico dos advrbios e dos adjectivos e os graus aumentativo e diminutivo dos nomes.
As palavras "caloro" e "calorzinho" correspondem aos graus aumentativo e diminutivo do nome "calor", respectivamente. As formas "altssimo" e "muito alto" correspondem ambas a expresses do grau superlativo do adjectivo "alto".
ndice temtico
Constituinte temtico dos adjectivos e dos nomes. Em portugus, os ndices temticos so -a, -o, -e, que podem acumular a funo de marcadores do gnero nominal. H palavras que no tm ndice temtico.
clar[a]clar[o]lev[e]feliz[ ]ruim[ ]gat[a]po[o]dent[e]ms[ ]p[ ]
Interfixo
Afixo que ocorre entre duas formas de base ou entre uma base e um afixo.
A vogal de ligao "o" em "psicopata" e a consoante "t" em "cafeteira" so interfixos.
Modo
Categoria morfolgica que permite distinguir a flexo verbal nas formas do indicativo, conjuntivo, imperativo e condicional. No existe uma correlao perfeita entre o modo, enquanto etiqueta morfolgica, e os valores de modalidade de um enunciado.
Na frase a construo da casa foi iniciada em 1978, mas s seria concluda em 2003, o uso do condicional no corresponde a um valor modal, mas a uma localizao futura num tempo passado.
Nmero
Categoria morfossintctica dos verbos, dos adjectivos, dos nomes e de alguns pronomes, que pode ter dois valores: singular e plural. A variao em nmero pode corresponder a uma distino na quantidade das entidades denotadas (por exemplo: um copo, dois copos), na sua qualidade (por exemplo: gua, guas). Algumas palavras so inerentemente plurais, no correspondendo o singular a uma variao em quantidade (por exemplo: culo, culos).
(uma) cadeira / (quarenta) cadeiras
(uma) gua / (trs) guas
(prato) limpo / (pratos) limpos
Palavra
Item lexical pertencente a uma determinada classe, com um significado identificvel ou com uma funo gramatical e com forma fonolgica consistente, podendo admitir variao flexional.
Palavra complexa
Palavra formada por derivao ou por composio.
caseiro e casa de banho so palavras complexas.
Palavra invarivel
So invariveis as palavras que no so flexionveis.
As preposies e as conjunes so palavras invariveis.
Palavra simples
Palavra formada por um nico radical, sem afixos derivacionais, mas podendo exibir afixos flexionais.
casas uma palavra simples.
Palavra varivel
So variveis as palavras que admitem diversas especificaes flexionais, como, por exemplo, diversos valores de gnero e nmero.
O radical nominal [alun] varivel em gnero e nmero, pelo que permite gerar quatro formas: um nome masculino singular (i.e. aluno); um nome masculino plural (i.e. alunos); um nome feminino singular (i.e. aluna); e um nome feminino plural (i.e. alunas).
Parassntese
Processo morfolgico de formao de palavras que consiste na associao simultnea de um prefixo e um sufixo a uma forma de base.
a[padrinh]ara[podr]ecera[joelh]aren[gord]ar
Pessoa
Categoria morfossintctica dos verbos e de alguns pronomes, realizada por afixao na flexo verbal. Em portugus, distinguem-se trs formas: primeira, segunda e terceira pessoa, variando cada uma em nmero. Na flexo verbal, esta categoria est relacionada com a representao morfolgica do sujeito nas formas finitas do verbo. O imperativo defectivo na primeira e na terceira pessoas. Em alguns dialectos do portugus contemporneo, a segunda pessoa do plural est em desuso (cf. vs cantais), o que ilustra que, em vrios casos, no h correspondncia entre as categorias pessoa e nmero e a sua referncia.
[mos] o sufixo de primeira pessoa do plural; a forma se em diz-se um pronome pessoal de terceira pessoa.
Prefixao
Processo morfolgico que consiste na associao de um prefixo a uma forma de base.
Prefixo
Afixo que se associa esquerda de uma forma de base.
O constituinte "des" em "desinteresse" um prefixo.
Primeira conjugao
Paradigma de flexo verbal definido pela vogal temtica [a], no infinitivo.
cant[a]r
Radical
Constituinte morfolgico que contm o significado lexical e exclui os afixos flexionais. O radical pode conter afixos derivacionais. Os radicais pertencem a categorias sintcticas, sendo identificados por etiquetas como: radical adjectival, radical adverbial, radical nominal, radical verbal.
O radical da palavra [casa] o constituinte [cas].
Segunda conjugao
Paradigma de flexo verbal definido pela vogal temtica [e], no infinitivo.
beb[e]r
Sufixao
Processo morfolgico que consiste na associao de um sufixo a uma forma de base.
Sufixo
Afixo que se associa direita de uma forma de base.
O afixo de flexo "mos" em "cantamos" e o afixo derivacional "or" em "cantor" so sufixos.
Terceira conjugao
Paradigma de flexo verbal definido pela vogal temtica [i], no infinitivo.
fug[i]r
Tempo verbal
Categoria morfossintctica dos verbos, realizada por flexo. Em portugus, o tempo verbal permite distinguir os seguintes paradigmas: pretrito mais-que-perfeito, pretrito perfeito, pretrito imperfeito, presente e futuro. Esta categoria permite identificar paradigmas de flexo verbal nas formas verbais, no havendo, todavia, uma correspondncia perfeita com os valores semnticos associados a cada paradigma (por exemplo: na frase "eu amanh fao anos", o verbo encontra-se no presente (do indicativo), embora denote uma situao futura).
-sse o sufixo de pretrito imperfeito do conjuntivo.
Quando um tempo verbal formado com recurso ao verbo auxiliar ter, designado de tempo composto, incluindo-se, tradicionalmente, nos tempos compostos o pretrito perfeito composto (p.ex: tu tens tossido), o pretrito mais-que-perfeito composto (p.ex.: tu tinhas tossido), o futuro composto (ex: tu ters tossido) e o condicional composto (ex: tu terias tossido).
Verbo defectivo
Verbo cuja conjugao incompleta, uma vez que no flexiona em todas as formas possveis num paradigma flexional regular.
florescerbanirdemolirfalir
Verbo impessoal
Verbo que flexiona exclusivamente no infinitivo e na 3. pessoa do singular.
chovertrovejar
Verbo irregular
Verbo cuja flexo se afasta da flexo do paradigma a que pertence. As irregularidades podem afectar o radical ou os sufixos de flexo. Algumas irregularidades so meramente grficas. Nos verbos irregulares h formas regulares.
posso / podes / podemos
medir / meo / medisse
ficar / fiquei
caar / cacei
chegar / cheguei
Verbo regular
Verbo que respeita a flexo do paradigma a que pertence. Quase todos os verbos da primeira conjugao so verbos de flexo regular.
Verbo unipessoal
Verbo que flexiona apenas no infinitivo e na 3 pessoa do singular e do plural.
miarganiuladraram
Vogal temtica
Constituinte temtico dos verbos, que identifica o paradigma de flexo verbal a que pertencem. Em portugus, h trs vogais temticas nas formas do infinitivo: -a, -e, -i, correspondentes s trs conjugaes.
cant[a]rbeb[e]rfug[i]r
Domnio B.3: Classes de palavras
Conjunto das palavras que, por partilharem caractersticas morfolgicas, sintcticas e/ou semnticas, podem ser agrupadas numa mesma categoria.
As classes de palavras no podem ser estabelecidas apenas com base em critrios morfolgicos, uma vez que h classes que no se distinguem morfologicamente, como por exemplo as preposies e as conjunes.
Termos por ordem alfabtica:
Adjectivo
Palavra pertencente a uma classe aberta de palavras que, tipicamente, permite variao em gnero (i), em nmero (ii) e em grau (iii).
O adjectivo o ncleo do grupo adjectival e pode ser precedido por advrbios de quantidade e grau (iv) e seleccionar grupos preposicionais (v) e oraes como seus complementos (vi).
(i) Belo / bela
(ii) Belo / belos / bela / belas
(iii) muito bela / belssima
(iv) Isso demasiado caro.
(v) Ele est contente com o seu trabalho.
(vi) Ele est cansado de trabalhar.
Adjectivo numeral
Adjectivo que pertence classe tradicional dos numerais ordinais, como (i), expressando ordem ou sucesso.
Os adjectivos numerais ocorrem geralmente em posio pr-nominal, antecedidos por artigos ou demonstrativos (ii) e, eventualmente, por possessivos (iii).
(i) Primeiro, segundo, terceiro, ...
(ii) (a) O [segundo] filho sempre mais calmo.
(b) *O filho [segundo] sempre mais calmo.
(iii) (a) O meu [segundo] filho mais calmo.
(b) Esse teu [segundo] filho parecido com o av.
Adjectivo qualificativo
Adjectivo que exprime tipicamente a qualidade, i.e., um atributo do nome. Tipicamente, a posio dos adjectivos qualificativos ps-nominal. Uma subclasse de adjectivos qualificativos ocorre direita e esquerda do nome, correspondendo esta ordem a interpretaes diferentes, conforme (i) e (ii). Alguns adjectivos qualificativos tm uma posio ps-nominal obrigatria, como (iii).
(i) Um falso presidente fez o discurso de inaugurao (=uma pessoa que no era presidente fez o discurso de inaugurao).
(ii) Um presidente falso fez o discurso de inaugurao (=um presidente que no honesto fez o discurso de inaugurao).
(iii) Os olhos azuis so bonitos. / *Os azuis olhos so bonitos.
Adjectivo relacional
Adjectivo que deriva de uma base nominal e que, tipicamente, instancia uma relao de agente ou posse relativamente ao nome. Estes adjectivos no ocorrem em posio prnominal nem variam em grau.
Em "a invaso americana" ou "amor maternal", os adjectivos "americana" e "maternal" so relacionais.
Advrbio
Palavra invarivel em gnero e nmero. A classe dos advrbios inclui elementos com caractersticas bastante heterogneas do ponto de vista morfolgico (i), sintctico (ii) e semntico (iii). No obstante, qualquer advrbio ( excepo do advrbio de negao "no") pode, geralmente, ser substitudo por um outro advrbio formado com o sufixo "-mente".
Na maior parte dos casos, os advrbios desempenham a funo sintctica de modificadores de frase (iv), modificadores do grupo verbal (v) ou a funo sintctica de complemento oblquo (vi) ou predicativo do sujeito (vii). Alguns advrbios podem, ainda, modificar grupos preposicionais (viii), grupos adjectivais (ix) ou grupos nominais (x).
(i) (a) A Joana faz anos [hoje].
(b) A Joana faz [facilmente] essa prova.
(b') A Joana faz [facilimamente] essa prova.
(Em (i) (a), o advrbio invarivel, enquanto em (b) o advrbio pode ser sujeito a variao em grau, conforme (b')).
(ii) (a) A Joana canta pessimamente.
(a') *A Joana pessimamente canta.
(b) A Joana hoje canta.
(b') A Joana canta hoje.
(Em (ii), observa-se que um advrbio como "hoje" tem uma posio menos fixa do que um advrbio como "pessimamente").
(iii) (a) A Joana canta mal.
(b) A Joana, felizmente, cantou.
(c) A Joana antigamente cantava.
(Os advrbios presentes nas frases listadas em (iii) tm significados bastante distintos).
(iv) Provavelmente, vai chover.
(v) Choveu ontem.
(vi) A Joana portou-se mal.
(vii) A Ana est aqui.
(viii) A Joana deu presentes exclusivamente aos seus amigos.
(ix) A Joana demasiado rpida.
(x) Somente a Joana teria pacincia para aquilo.
Advrbio conectivo
Advrbio cuja funo o estabelecimento de nexos entre frases (i) ou constituintes da frase (ii), como por exemplo relaes de consequncia (iii), de contraste (iv) ou ordenao (v). Tal como os advrbios de frase, os advrbios conectivos no so afectados pela negao frsica (vi) ou por estruturas interrogativas como as ilustradas em (vii). Os advrbios conectivos distinguem-se de conjunes com valor idntico por poderem, por exemplo, ocorrer entre o sujeito e o predicado (viii).
(i) O Pedro falou com a Maria. [Seguidamente], foi para casa.
(ii) Alguns alunos desta turma, [designadamente] o Pedro e o Joo, esto de parabns.
(iii) O professor caiu. [Consequentemente], partiu uma perna.
(iv) Est frio. O Joo, [contudo], vestiu uns cales.
(v) [Primeiro] batem-se os ovos com o acar, [seguidamente] deita-se o leite e a farinha, [finalmente] leva-se tudo ao forno.
(vi) Hoje h greve de funcionrios. A escola dos teus filhos no est fechada, contudo. (a negao frsica no est a negar o advrbio "contudo")
(vii) *Foi [consequentemente] que a escola dos teus filhos fechou?
(viii) a. Est frio, mas o Joo fica na praia. /*Est frio. O Joo, mas, fica na praia. ("mas" uma conjuno)
b. Est frio. Porm, o Joo fica na praia. /Est frio. O Joo, porm, fica na praia. ("porm" um advrbio conectivo)
Advrbio de afirmao
Advrbio utilizado em respostas a interrogativas totais (i) ou como modificador de um constituinte (ii) cujo significado contribui para asserir ou reforar o valor afirmativo de um enunciado.
(i) Vais praia?
Sim.
(ii) A Ana no comprou livros, mas sim flores.
Advrbio de frase
Advrbio com diferentes valores semnticos (i), que modifica a frase, no sendo afectado pela negao frsica (ii) ou por estruturas interrogativas como as ilustradas em (iii).
Advrbios de frase:
(i) a. Os rapazes dormem, provavelmente. - Valor modal
b. Os rapazes dormem, felizmente - Valor de orientao para o falante
c. Matematicamente, esse facto impossvel. - Valor de orientao para o domnio.
(ii) a. A escola dos teus filhos no est fechada, provavelmente. (no se est a negar a probabilidade de a escola estar fechada)
b. Honestamente, tu s vezes no raciocinas. (no se est a negar "honestamente")
(iii) a. *Foi [provavelmente] que a escola dos teus filhos fechou?
b. *Foi [infelizmente] que tu adoeceste?
1. O mesmo item adverbial pode pertencer a duas subclasses diferentes. Em (i), "naturalmente" um advrbio de predicado, de acordo com (ii) e (iii), com uma interpretao de modo (iv), enquanto em (v) pertence subclasse dos advrbios de frase, conforme (vi) e (vii), com valor afirmativo (viii).
(i) Ele comeou a falar naturalmente.
(ii) Foi naturalmente que ele comeou a falar?
(iii) Ele comeou a falar no naturalmente, mas pouco vontade.
(iv) Ele comeou a falar de modo natural.
(v) Naturalmente, ele comeou a falar.
(vi) *Foi naturalmente ou possivelmente que ele comeou a falar?
(vii) *No naturalmente, mas possivelmente, ele comeou a falar.
(viii) Obviamente, ele comeou a falar.
Advrbio de incluso e excluso
Advrbio que permite realar o constituinte que modifica, contribuindo com informao sobre, por exemplo, o seu carcter exaustivo (i) ou a sua participao ou no num determinado conjunto (ii). Estes advrbios podem ocorrer internamente ao predicado (iii) ou como modificadores de grupos adjectivais (iv), adverbiais (v), nominais (vi) ou preposicionais (vii).
(i) a. [S a Maria] faltou aula.
b. Ele fala [ap