84
Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Alterações fotossintéticas e respostas oxidativas em plantas de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum l.) tratadas com paraquat Roberta Magalhães Chagas Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre emCiências. Área de Concentração: Fisiologia e Bioquímica de Plantas. PIRACICABA 2007

REVISO DE LITERATURA

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  • Universidade de So Paulo

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Alteraes fotossintticas e respostas oxidativas em plantas de cana-de-acar

    (Saccharum officinarum l.) tratadas com paraquat

    Roberta Magalhes Chagas

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo

    de Mestre emCincias. rea de Concentrao:

    Fisiologia e Bioqumica de Plantas.

    PIRACICABA

    2007

  • 2

    Roberta Magalhes Chagas

    Biloga

    Alteraes fotossintticas e respostas oxidativas em plantas de cana-de-acar

    (Saccharum officinarum L.) tratadas com paraquat

    Orientadora: Profa. Dra. HELAINE CARRER

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de

    Mestre emCincias. rea de Concentrao:

    Fisiologia e Bioqumica de Plantas.

    PIRACICABA

    2007

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    DIVISO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - ESALQ/USP

    Chagas, Roberta Magalhes Alteraes fotossintticas e respostas oxidativas em plantas de cana-de-acar

    (Saccharum officinarum L.) tratadas com paraquat / Roberta Magalhes Chagas. - - Piracicaba, 2007.

    82 p. : il.

    Dissertao (Mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2007. Bibliografia.

    1. Cana-de-acar 2. Fotossntese 3. Herbicidas 4. Superxido dismutase I. Ttulo

    CDD 633.61

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor

  • 3

    Talvez possamos um dia nos arrepender do que fizemos...

    Mas o arrependimento sinal de que no tivemos medo de tentar...

    E da se as coisas no deram certo como deveriam...

    E da se no era bem o que queramos?

    E nossa vida segue... para tentarmos e errarmos muitas vezes...

    Isso viver e aprender.

    Oscar Wilde

  • 4

    Aos meus queridssimos pais, Jeov Filho e Vldia Magalhes

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Joaquim Albensio G. Silveira, meu mestre, no verdadeiro sentido da palavra. Sem o

    seu apoio este trabalho no teria se concretizado. Obrigada pelos conselhos e contribuies

    cruciais para este trabalho e para minha formao acadmica. Sempre lhe serei grata.

    Profa. Dra. Helaine Carrer, pela orientao, confiana e apoio para a realizao deste trabalho,

    pelas sugestes e crticas ao mesmo.

    Ao Prof. Dr. Victor Vitorello, pela co-orientao e pronta disponibilizao de seu laboratrio e

    casa de vegetao para desenvolvimento deste trabalho.

    Ao Dr. Rafael Ribeiro, do IAC, pela inestimvel ajuda com as anlises de fluorescncia da

    clorofila, bem como na anlise dos resultados obtidos.

    CAPES, pela concesso da bolsa de estudo.

    Aos amigos Josemir e Christine, da UFC, pelo auxlio nas atividades enzimticas.

    CTC pela concesso dos toletes de cana-de-acar, e ao grupo de plantas daninhas, coordenado

    pelo Prof. Christoffoletti, pela aplicao do herbicida em estudo.

    Aos mestres do Programa de ps-graduao em Fisiologia e Bioqumica de plantas, pela

    contribuio de conhecimentos em minha formao de mestre.

    Aos colegas do Laboratrio de Biologia Molecular, em especial, ao amigo Adriano e aos demais

    colegas, Carlos, Ftima, Eduardo, Valesca, Danila, Simone e Keini, pela amigvel convivncia.

    Por fim, mas superiormente importante, Daniel Becker, pelo apoio incondicional e maravilhosa

    companhia durante esses anos. minha avozinha, por suas oraes dirias, e meus queridos

    pais, pelo suporte e afeto, mesmo distncia.

  • 6

    SUMRIO

    RESUMO .......................................................................................................................... 8

    ABSTRACT ............................................ ........................................................................ 9

    LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... 10

    LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... 12

    ABREVIATURAS E DEFINIES ................................................................................ 13

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 14

    2 REVISO BIBLIOGRFICA...................................................................................... 16

    2.1 A cana-de-acar ....................................................................................................... 16

    2.2 Ao do Paraquat em plantas ..................................................................................... 17

    2.3 A fluorescncia da clorofila a .................................................................................... 19

    2.4 O estresse oxidativo em plantas ................................................................................. 21

    2.5 Algumas enzimas antoxidantes .................................................................................. 24

    2.5.1 Superxido dismutase (SOD) ................................................................................. 25

    2.5.2 Ascorbato Peroxidase (APX) .................................................................................. 25

    2.6 Protenas induzidas sob condies de estresse .......................................................... 26

    3 MATERIAIS E MTODOS......................................................................................... 28

    3.1 Estratgia experimental e delineamento estatstico ................................................... 28

    3.2 Material vegetal ......................................................................................................... 28

    3.3 Conduo do experimento ......................................................................................... 28

    3.4 Anlise da fluorescncia da clorofila a ...................................................................... 29

    3.5 Concentrao de espcies reativas ao cido tiobarbitrico (TBARS) ....................... 30

    3.6 Contedo de clorofilas ............................................................................................... 31

    3.7 Extrao e determinao das concentraes de protenas solveis e insolveis ........ 31

    3.8 Eletroforese desnaturante em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) ........................... 32

    3.8.1 Revelao do gel com nitrato de prata e coomassie blue ....................................... 33

    3.9 Atividade de superxido dismutase ........................................................................... 34

    3.9.1 Atividade de SOD por espectrofotometria ............................................................. 34

    3.9.2 Atividade de SOD em gel ....................................................................................... 34

    3.10 Atividade de ascorbato peroxidase .......................................................................... 35

    3.11 Extrao de protenas totais para eletroforese bidimensional .................................. 35

  • 7

    3.12 Focalizao isoeltrica (IEF) e SDS-PAGE ............................................................ 38

    4 RESULTADOS E DISCUSSO................................................................................... 39

    4.1 Efeitos do tratamento sobre a fluorescncia da clorofila a ........................................ 39

    4.2 Efeitos do tratamento sobre indicadores bioqumicos de resposta ao estresse

    oxidativo......................................................................................................................

    47

    4.2.1 Peroxidao de lipdeos .......................................................................................... 49

    4.2.2 Contedo de clorofilas totais, a e b ........................................................................ 51

    4.2.3 Concentrao de protenas solveis e insolveis .................................................... 53

    4.2.4 SDS-PAGE 12,5% de protenas solveis e insolveis ........................................... 55

    4.2.5 Atividade da enzima Superxido Dismutase (SOD) ............................................... 56

    4.2.6 Atividade da enzima Ascorbato Peroxidase (APX) ................................................ 60

    4.3 Efeitos do tratamento sobre a expresso de protenas totais por gis 2-D ................. 61

    5 CONCLUSES ............................................................................................................. 66

    REFERNCIAS................................................................................................................ 67

    ANEXOS ......................................................................................................................... 81

  • 8

    RESUMO

    Alteraes fotossintticas e respostas oxidativas em plantas de cana-de-acar (Saccharum officinarum L.) tratadas com paraquat

    Este trabalho teve como objetivo analisar os efeitos fisiolgicos do herbicida Paraquat, indutor de estresse oxidativo, em plantas de cana-de-acar (Saccharum officinarum L.). A escolha desta espcie como modelo fisiolgico deste estudo deveu-se a sua importncia econmica para o pas, em especial para o Estado de So Paulo. O Paraquat (PQ) um herbicida de contato que atua especificamente no Fotossistema II bloqueando o fluxo de eltrons e impedindo a reduo do NADPH, aceptor final de eltrons. Como consequncia, h a formao de radicais instveis, reativos com a molcula de oxignio (EROs), os quais causam danos em membranas, protenas e cidos nucleicos. A hiptese central foi a de que a atividade de peroxidase de ascorbato mais sensvel ao PQ do que a atividade de superxido dismutase, nas mesmas condies. O experimento principal consistiu da aplicao, via pulverizao foliar, de diferentes doses de PQ (0, 2, 4, 6 e 8 mM de Metil Violgeno, agente ativo), que permaneceu em contato por 24 e 48 horas. Aps 18 horas de exposio, observou-se sintomas visuais de toxocidade e uma reduo significativa da atividade fotossinttica, medida atravs de parmetros relacionados com a fluorescncia da clorofila a. O nvel de peroxidao de lipdeos, indicado pela concentrao de TBARS, foi aumentado, indicando danos nas membranas causados pela gerao de EROs. Um resultado importante foi o aumento da atividade especfica de SOD (Superxido Dismutase), primeira enzima de defesa contra EROs. Esse aumento foi gradativo com o aumento da dose e do tempo de exposio ao PQ. A isoforma mais evidente foi a SOD Cu/Zn, visualizada por atividade em gel nativo. Esta isoforma est presente preferencialmente em cloroplastos, organela alvo da ao do PQ. importante ressaltar que mesmo em doses quase letais, a atividade desta enzima manteve-se em nveis semelhantes ao controle. Entretanto, a atividade de APX (Ascorbato Peroxidase), enzima que faz a remoo de radicais H2O2, gerados pela SOD, foi reduzida abruptamnete a partir de 4 mM PQ, apesar de ter sido observado um aumento na dose inicial (2 mM). Este fato sugere que os danos oxidativos em cana-de-acar tratadas com PQ podem ser causados pelo excesso de radicais H2O2. Diferente da SOD, a APX considerada bastante susceptvel a certos tipos de estresse ambiental, logo perdendo sua atividade. Analisou-se tambm a expresso de protenas por SDS-PAGE e eletroforese 2-D. Em ambos resultados, foram observados diminuio na expresso de algumas protenas ocasionada pelo tratamento com PQ. Contudo, no foi possvel detectar claramente a induo de peptdeos nesse caso, provavelmente devido ao alto grau de degradao das estruturas celulares. O aumento da atividade de SOD em cloroplastos de folhas de cana-de-acar tratadas com PQ, deve ser mais estudado, pois esta pode ser uma enzima alvo para programas de melhoramento gentico visando obteno de plantas com resistncia ao PQ e a outros herbicidas com modo de ao no sistema fotossinttico.

    Palavras-chave: Cana-de-acar; Estresse oxidativo; Paraquat; Fotossntese.

  • 9

    ABSTRACT

    Changes in photosynthesis and oxidative responses in sugarcane plants (Saccharum

    officinarum L.) treated with Paraquat

    This work had the objective to analyze physiological effects of Paraquat herbicide, an oxidative stress inductor, in sugarcane (Saccharum officinarum L.) plants. The choice to use this species as a physiological model for this study was due its recognized economical importance for our country, in special to the State of Sao Paulo. Paraquat (PQ) is a contact herbicide that acts specifically on Photosystem II by blocking the normal electron flux and the reduction reaction of NADPH, the electron acceptor molecule. As consequence, there is formation of instable radicals and highly reactive oxygen species (ROS), which cause damage to membranes, proteins and nucleic acids. The central hypothesis was that ascorbate peroxidase activity is more sensitive to PQ than the activity of superoxide dismutase in the same conditions. The main experiment consisted on the sprayed of different concentrations of PQ (0, 2, 4, 6 e 8 mM of Metil Violagen) that stayed in leaf contact for 24 and 46 hours. After 18 hours, it was observed visible symptoms of toxicity and the photosynthetic activity decreased, measured by chlorophyll a fluorescence. Also, the level of lipids peroxidation measured by the increase concentration of TBARS formation, indicate damage to cell membrane caused by the generation of ROS. An important result was the increase of SOD specific activity (superoxide dismutase) first enzyme related to defense against ROS. This gradation increase was correspondent to the exhibition period to PQ. The most evident SOD isoform by native PAGE was the SOD Cu/Zn. This isoform is located preferentially in chloroplasts, organelle target to the action of PQ. It is important to remark that even in almost lethal concentrations of PQ the chloroplast SOD activity still remains expressed beilng responsible for the removal of H O generated by SOD, which was reduced 2 2 abruptly after 4 mM treatment. Although, it has been observed increase with the initial dose (2 mM). This fact suggests that the oxidative damages in sugarcane treated with PQ can be caused by excess of H2O2. Differently of SOD, this enzyme is considered to be fragile to certain kinds of environmental adversities, loosing its activity Also the protein expression was analyzed by SDS-PAGE and 2-D electrophoresis. In both analyses, it was observed decrease of some protein expression caused by PQ. However, it was not possible to clearly detect peptides induction in this case, probably due to the elevated level of degradation of cell structures. The increase of chloroplast SOD activity in sugarcane leaves treated with PQ should be detailed investigated since it can be a molecular target for breeding programs with the goal to obtain plants with an acquired resistance to PQ or others herbicides with model action in the photochemical system.

    Keywords: Sugarcane; Oxidative stress; Paraquat; Photosynthesis

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Pgina

    Figura 1 Esquema ilustrativo da cadeia de eltrons entre os Fotossistemas II e I, no

    cloroplasto e o local de ao do herbicida Paraquat .......................................

    19

    Figura 2 Vista parcial do stand experimental, montado em casa-de-vegetao, com as

    mudas de cana-de-acar aos 30 dias aps plantio .........................................

    29

    Figura 3 Esquema da sequncia de extrao de protenas totais de folhas de plntulas

    de cana-de-acar para corrida eletrofortica uni e bidimensional sob

    condies desnaturantes ..................................................................................

    37

    Figura 4 A-Medidas da fluorescncia basal (Fo) e mxima (Fm) da clorofila e B-

    eficincia quntica potencial do PSII..............................................................

    39

    Figura 5 Taxa aparente de transporte de eltrons (ETR) ............................................... 41

    Figura 6 Eficincia quntica efetiva do FSII (PSII)..................................................... 43

    Figura 7 A- Excesso relativo de energia no aparato fotoqumico (EXC) e B-

    coeficiente de extino no fotoqumica (quenching) de energia (qN) ..........

    44

    Figura 8 Relao entre o coeficiente de extino no fotoqumica da fluorescncia

    (qN) e o aumento do excesso relativo de energia (EXC) ................................

    46

    Figura 9 Aspecto visual de folhas de cana-de-aucar condio controle e tratadas com

    4mM de Metil Violageno durante um perodo de 24 horas ............................

    48

    Figura 10 Determinao da concentrao de espcies reativas do cido

    Tiobarbitrico (TBARS) .................................................................................

    49

    Figura 11 Determinaes do contedo de clorofilas totais (A), clorofila a (B),

    clorofila b (C) e razo clorofila a/b (D) ..........................................................

    51

    Figura 12 Concentrao de protenas, frao solvel (A) e frao insolvel (B) .......... 53

    Figura 13 Eletroforese desnaturante em mini-gel de poliacrilamida 12,5 % da frao

    de protenas solveis (A e C) e insolveis (B e D) de folhas de plantas de

    cana-de-acar expostas a diferentes concentraes de Metil Violgeno

    (Paraquat) aps 24 horas (A e B) e 48 horas (C e D) de aplicao..............

    54

    Figura 14 Atividade da enzima Superxido Dismutase em folhas de plantas de cana-

  • 11

    de-acar expostas a diferentes concentraes de Metil Violgeno

    (Paraquat) aps 24 horas e 48 horas de aplicao... ....................................

    56

    Figura 15 Revelao diferencial da atividade em gel nativo 12,5% da enzima

    Superxido Dismutase folhas de plantas de cana-de-acar expostas a

    diferentes concentraes de Metil Violgeno (Paraquat) aps 24 horas de

    aplicao.......................................................................................................

    57

    Figura 16 Atividade em gel nativo 12,5% da enzima Superxido Dismutase folhas de

    plantas de cana-de-acar expostas a diferentes concentraes de Metil

    Violgeno (Paraquat) aps 24 horas e 48 horas de aplicao.... .....................

    58

    Figura 17 Atividade da enzima Ascorbato Peroxidase em folhas de plantas de cana-

    de-acar expostas a diferentes concentraes de Metil Violgeno

    (Paraquat) aps 24 horas e 48 horas de aplicao.....................................

    60

    Figura 18 Eletroforese bidimensional de folhas de cana-de-acar, condio controle

    e condio tratada com 4mM Metil Violgeno aps perodo de 24 horas

    de aplicao .................................................................................................

    62

    Figura 19 : Imagem do programa ImageMaster 2-D Platinum, software para anlise

    das imagens obtidas por meio do escaneamento dos gis. Os pontos

    vermelhos representam os spots detectados pelo programa em cada gel.....

    62

    Figura 20 Imagem do programa ImageMaster 2-D Platinum, mostrando uma

    identificao numrica para cada spot dos respectivos tratamentos ............

    63

    Figura 21 Imagem do programa ImageMaster 2-D Platinum. Os pontos vermelhos

    representam os spots presentes somente em um gel e os verdes so

    aqueles spots comuns aos dois geis, ou seja, que foram relacionados por

    meio do match, uma ferramenta de sobreposio de gis pelo programa..

    64

  • 12

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Relao dos spots do gel 2-D da amostra no-tratado (Controle), identificados

    pelo programa ImageMaster 2-D Platinum, conforme mostrado na figura 20,

    mostrando seus respctivos pontos isoeltricos (pI), massas moleculares

    (MW), intensidade percentual normalizada (%Intens) e volume percentual

    normalizado (%Vol) ..........................................................................................

    82

    Tabela 2- Relao dos spots do gel 2-D da amostra tratada com PQ 4mM, identificados

    pelo programa ImageMaster 2-D Platinum, conforme mostrado na figura 20,

    mostrando seus respctivos pontos isoeltricos (pI), massas moleculares

    (MW), intensidade percentual normalizada (%Intens) e volume percentual

    normalizado (%Vol) ..........................................................................................

    83

  • 13

    LISTA DE ABREVIATURAS

    APX Ascorbato Peroxidase

    ATP Adenosina 5-trifosfato

    CAT Catalase

    CHAPS 3-[(3-cholamidopropyl)dimethylammonio]-1-Propane sulfonate

    DNA Deoxyribonucleic acid

    DTT Dithiothreitol

    EROs Espcies reativas de oxignio

    EST Expressed sequence tag

    ETR Taxa aparente de transporte de eltrons (mol m-2 s-1)

    EXC Excesso relativo de eltrons

    Fm Fluorescncia mxima aps adaptao ao escuro (unid. rel.)

    Fm Fluorescncia mxima na presena de luz (unid. rel.)

    Fo Fluorescncia basal aps adaptao ao escuro (unid. rel.)

    Fo Fluorescncia basal aps excitao do fotossistema I (unid. rel.)

    Fv Fluorescncia varivel aps adaptao ao escuro (unid. rel.)

    Fv/Fm Eficincia quntica potencial do fotossistema II

    MF Matria fresca

    NADPH Dinucleotdeo adenina fosfato nicotinamida (reduzido)

    PAR Radiao fotossinteticamente ativa

    PQ Paraquat

    PSI/ PSII Fotossistema I /II

    QA Quinona A

    qN Coeficiente de extino no-fotoqumica da fluorescncia

    qP Coeficiente de extino fotoqumica da fluorescncia

    SDS-PAGE Sodium dodecylsulfate - Polyacrylamide Gel Electrophoresis

    SOD Superxido Dismutase

    TBA 2-thiobarbituric acid

    TCA Trichloroacetic acid

    Tris Tris-hidrxiaminometano

    PSII Eficincia quntica efetiva do fotossistema II

  • 14

    1 INTRODUO

    A cana-de-acar (Saccharum officinarum L.), alm da significativa importncia

    socioeconmica para o sistema agroindustrial do Estado de So Paulo e do Brasil, tem adquirido

    considervel destaque no mbito cientfico e tecnolgico com os resultados do seqenciamento de

    ESTs e da categorizao de milhares de genes (Projeto SUCEST/FAPESP), cujas funes j

    esto em estudo. Alm de estudos de genmica funcional, a identificao de protenas e suas

    propriedades, ou seja, a anlise protemica, um fator importante para a obteno de variedades e

    hbridos com caractersticas agronmicas mais favorveis.

    O uso de herbicidas em culturas comercialmente importantes como a cana-de-acar,

    uma prtica bastante comum para minimizar perdas de safra por infestao de ervas daninhas.

    Entretanto, o uso inadvertido ou excessivo de tais agroqumicos pode causar danos irreparveis na

    cultura em questo. Dentre os compostos atualmente mais usados para este fim na cultura da cana-

    de-acar, podemos citar: Velpar-K, Ametryn e o Paraquat ou Gramoxone (SINDAG, 2001).

    Este ltimo em menor escala devido sua alta toxicidade para sade humana e seu rpido poder

    destruidor em plantas, sendo tambm bastante difundido como um agente dessecante, facilitando a

    colheita.

    Um dos danos causados por determinados fatores de estresse, tanto de natureza bitica ou

    abitica, a produo de radicais livres, essencialmente, as espcies reativas de oxignio (EROS).

    Estes radicais so responsveis por danos, muitas vezes irreversveis, em componentes celulares,

    caracterizando o chamado estresse oxidativo. O Paraquat, por exemplo, provoca a gerao de

    AOS no cloroplasto e ocasiona danos estruturais em DNA, protenas, lipdios e pigmentos

    (BENAVIDES et al., 2000; EKMEKCI ; TERZIOGLU, 2005). As plantas dispem de diferentes

    estratgias de proteo contra os danos celulares e a possvel morte causada pelo excesso de

    radicais livres.

    O sistema de defesa antioxidativo enzimtico das plantas inclui diversas enzimas

    antioxidantes nos diferentes compartimentos celulares. Dentre as principais enzimas podemos

    citar as dismutases de superxido e as peroxidases de ascorbato, que atuam conjuntamente

    removendo radicais superxidos e perxidos, respectivamente. Alm de um aparato enzimtico, a

    alterao e/ou regulao de vias biossntticas de protenas constitui outra importante estratgia de

    defesa.

  • 15

    Nas plantas, o Paraquat atua rapidamente, por contato, causando forte toxicidade aps

    algumas horas de aplicao. Esse herbicida, pertencente ao grupo qumico dos bipiridlios, que

    agem como inibidores do fotossistema I. O mecanismo de ao d-se por meio do bloqueio do

    fluxo de eltrons da fotossntese, impedindo a reduo do NADP+ NADPH2. Dessa forma,

    ocorre um acmulo de eltrons e de radicais txicos no cloroplasto, causando srios danos no

    metabolismo celular. Esse radicais so instveis e rapidamente sofrem auto-oxidao, onde so

    produzidos radicais superxidos, hidroxila, perxido e oxignio singleto. Estes, por sua vez, so

    altamente reativos com os lipdeos das membranas celulares, promovendo sua peroxidao. Com

    a degradao das membranas, h um vazamento do suco celular e a morte do tecido (VARGAS et

    al., 1999). Portanto, a expresso induzida de protenas envolvidas com a desintoxicao desses

    radicais e de outros derivados parece ser uma estratgia importante na atenuao dos efeitos

    deletrios de tais produtos.

    Atualmente, grande parte das pesquisas com plantas tem dedicado esforos procura e ao

    desenvolvimento de novas variedades resistentes a estresses ambientais, quer seja de natureza

    bitica ou abitica. No entanto, a habilidade de sobreviver em tais condies de estresse requer

    mltiplas adaptaes das plantas. Tais adaptaes evolucionrias envolvem um grupo complexo

    de parmetros, que ainda no foram totalmente descobertos. nesse ponto onde se ressalta a

    importncia de estudos que focalizem nas respostas fisiolgicas, metablicas e moleculares das

    plantas s diferentes formas de estresse. Com o avano das tcnicas bioqumicas e moleculares

    nas ltimas dcadas estes estudos se intensificaram, fornecendo maiores informaes sobre a

    fisiologia dos cultivares utilizados e auxiliando programas de melhoramento gentico de diversas

    espcies agrcolas.

    Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar possveis alteraes no

    metabolismo fotossinttico, bem como a expresso de enzimas relacionadas com a defesa

    oxidativa em plantas de cana-de-acar tratadas com o herbicida Paraquat.

  • 16

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 A cana-de-acar

    A cana-de-acar (Saccharum sp.) uma planta pertencente ao gnero das gramneas

    (Poaceae), juntamente com os gneros Zea e Sorghum. Seis espcies de Saccharum so,

    atualmente, reconhecidas: S. officinarum, S. sinensi, S. barberi, S. edule, S, spontaneum e S.

    robustum. O centro de origem deste gnero a regio leste da Indonsia e Nova Guin

    (DANIELS; ROACH, 1987). Hoje, disseminado em todo o mundo, este gnero foi introduzido no

    Brasil em 1553, e desde ento estabeleceu-se nas regies Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste,

    principalmente.

    Historicamente a cana-de-acar um dos principais produtos agrcolas do Brasil,

    cultivada desde a poca da colonizao. Atualmente, o Brasil o maior produtor mundial de cana-

    de-acar, com uma rea plantada de 5,9 milhes de hectares. Na safra de 2004/05 foram

    produzidas cerca de 415,7 milhes de toneladas, e na safra 2005/06 a produo foi de 463,8

    milhes de toneladas, o que representou um crescimento de 5,1% em relo safra anterior. O

    Estado de So Paulo lidera a produo do pas, onde foram produzidos 60,8% do total nacional. A

    produo de lcool foi de aproximadamente 17 bilhes de litros e o acar algo ao redor de 27

    milhes de toneladas (CNA, 2006).

    A partir da industrializao desta cultura obtm-se produtos como: o acar, nas suas mais

    variadas formas e tipos, o lcool (anidro e hidratado), o vinhoto e o bagao. A cana-de-acar ,

    portanto, o principal tipo de biomassa energtica, base para todo o agronegcio sucroalcooleiro,

    que, com as exportaes de acar, colaboram com o equilbrio da balana comercial. Alm disso,

    o setor sucroalcooleiro, representado por 350 indstrias de acar e lcool no pas, responsvel

    pela gerao de aproximadamente 1.000.000 empregos diretos e indiretos (MAPA, 2006).

    Os 10 principais produtores so responsveis por 74% da produo mundial de acar, e o

    Brasil ocupa um papel de liderana, tanto na produo como na exportao de acar. Esse

    potencial competitivo do Brasil se deve a produtividade e rendimento industrial, pesquisas sobre

    novas variedades, utilizao de novas tcnicas agrcolas e solos frteis, condies que garantem

    ao pas os menores custos de produo do mundo.

    O interesse no uso do etanol como combustvel tem-se revigorado ultimamente devido ao

    aumento dos preos do petrleo e a necessidade de reduo de emisso de gases causadores do

  • 17

    efeito estufa. Principalmente aps a ratificao do protocolo de Kyoto, vrios pases esto

    voluntariamente aderindo metas de reduo de gases, entre os quais se destacam Inglaterra,

    Alemanha, Holanda, Japo. Da a importncia cada vez maior do lcool como combustvel, e o

    Brasil ganha destaque nesse novo mercado j que as vantagens competitivas brasileiras do

    binmio cana/acar tambm se aplicam cana/etanol.

    Entretanto, um dos maiores problemas no cultivo da cana-de-acar a interferncia das

    plantas daninhas que infestam campos de plantio, competindo com a cultura por luz, nutrientes,

    gua e espao, provocando srias perdas na produtividade (VICTORIA FILHO;

    CHRISTOFFOLETI, 2004). Alm disso, a infestao de plantas daninhas provoca um decrscimo

    na longevidade do canavial, queda na qualidade industrial da matria-prima e dificuldades na

    colheita e transporte da cana-de-acar (PROCPIO et al., 2003). Portanto, um manejo adequado

    de ervas indesejveis nesta cultura de fundamental importncia para o setor agrcola, e este

    controle realizado, principalmente, pelo uso de herbicidas. Dentre os defensivos agrcolas, os

    herbicidas correspondem a 56% do volume comercializado no Brasil, sendo a cana-de-acar a

    segunda cultura em consumo deste insumo no pas, ficando atrs apenas da soja (PROCPIO et

    al., 2003)

    Atualmente a cultura da cana-de-acar est alicerada em variedades que so hbridos

    obtidos por um criterioso trabalho de seleo e melhoramento gentico entre espcies conhecidas,

    obtendo caractersticas desejveis conforme regies e situaes especficas. A escolha da

    variedade considerada um fator de produo e desenvolvimento tecnolgico de maior

    importncia em uma usina sucroalcoleira (MATSUOKA, 2000). No presente trabalho adotou-se

    como modelo experimental a variedade SP 80-3280, desenvolvida pelo Centro de Tecnologia

    Canavieira (Piracicaba-SP) e amplamente comercializada como sendo uma variedade robusta,

    produtiva e tolerante condies adversas de solo e clima. Tambm, esta variedade foi a

    escolhida para realizao do projeto SUCEST, que disponibilizou 290 mil sequncias de DNA

    desta espcie (VETTORE et al., 2001)

    2.2 Ao do Paraquat em plantas

    O Paraquat, cujo principio ativo o metil violgeno, um dos herbicidas mais

    amplamente utilizados no mundo, aplicado no controle de ervas daninhas anuais e perenes em

    uma grande variedade de culturas, incluindo cereais, oleaginosas, frutas e hortalias (SCHIMIDT

  • 18

    et al., 1994). considerado no-seletivo e de amplo espectro, o que significa que ele mata uma

    ampla gama de gramneas anuais e ervas daninhas de folhas largas. importante ressaltar que o

    Paraquat, pertencente famlia dos herbicidas Bipyridylium, age muito rapidamente, atingindo

    diretamente o sistema fotossinttico da planta (EKMEKCI; TERZIOGLU, 2005)

    O Paraquat considerado o herbicida mais txico sade humana nos ltimos 60 anos, e,

    paradoxalmente, o terceiro mais usado no mundo usado rotineiramente em mais de 50 culturas

    em 120 pases (CHEE et al.,1993).Tal fato pode ser atribudo ao seu custo menor quando

    comparado com formulaes mais modernas e mais seletivas de outros herbicidas. Por razes de

    envenenamento, o uso deste herbicida foi proibido em 13 pases, e o ltimo pas no mais us-lo

    foi a Malsia em 2002.

    No Brasil, dentre os compostos atualmente mais usados para o controle de ervas daninhas

    na cultura da cana-de-acar esto os comerciais Velpar-K, Ametryn e Paraquat ou

    Gramoxone (SMITH, 1997; SINDAG, 2001), sendo este ltimo bastante difundido, tambm,

    como um agente dessecante, promovendo ressecamento e absciso de folhas, facilitando a colheita

    (AGOSTINETTO et al., 2001; MAGALHES et al., 2002).

    O mecanismo de ao deste herbicida d-se por meio do bloqueio do fluxo de eltrons na

    cadeia transortadora da fotossntese, impedindo a reduo do NADP+ NADPH2, no fotossistema

    I (Figura 1). Dessa forma, ocorre um acmulo de eltrons e de radicais txicos no cloroplasto,

    causando srios danos no metabolismo celular. Esse radicais so instveis e rapidamente sofrem

    auto-oxidao, onde so produzidos radicais superxidos, hidroxila, perxido e oxignio singleto,

    os quais constituem as espcies reativas de oxignio, que, quando em excesso, so prejudiciais ao

    metabolismo celular como um todo.

  • 19

    t

    Figura 1- Esquema ilustrativo da cadeia de eltrons entre os Fotossistemao do herbicida Paraquat (www. molecadv.com)

    2.3 A fluorescncia da clorofila a

    Como j sabido, a captura e armazenamento de energia lum

    superiores mediada por uma intricada associao entre complexos

    e um transporte seqencial de eltrons do fotossistema II (PSII)

    (Figura 1). A eficincia da utilizao da luz por cada fotossistema re

    CO2 e gerao de ATP pelas reaes luminosas.

    A energia luminosa absorvida no PSII excita as molculas d

    passam para um estado instvel e rapidamente liberam parte de sua

    sem a emisso de fton. Entretanto, a clorofila excitada pode

    fluorescncia, reemitindo ftons e, assim, retornando ao estado basa

    ser utilizada pelas reaes fotoqumicas ou ainda ser transferida

    contato entre molculas de clorofilas (TAIZ; ZEIGER, 2004).

    A emisso de fluorescncia fornece informaes sobre os pro

    Sob condio de baixa luz, ao redor de 95% dos ftons absorvido

    4,5% so transformados em calor e 0,5% so re-emitidos como l

    centros de reao do PSII estiverem fechados por um bloqueio da fo

    pode ser dissipada como calor e 2,5-5,0% via fluorescncia (B

    OQUIST, 1993). Paraqua as II e I, no cloroplasto e o local de

    inosa pelas folhas de plantas

    de pigmentos captores de luz

    para o fotossistema I (PSI)

    gula as reaes de fixao de

    e clorofilas ali presentes, que

    energia ao meio como calor,

    tambm perder energia por

    l. Outra parte da energia pode

    fracamente para o PSI, pelo

    cessos fotoqumicos do PSII.

    s so usados na fotoqumica,

    uz fluorescente. Se todos os

    tossntese, 95-97% da energia

    OLHR-NORDENKAMPF;

  • 20

    A relao inversa entre fluorescncia e atividade fotossinttica foi primeiramente

    observada e descrita por Kautsky e pode ser usada para estudar a atividade fotossinttica potencial

    das folhas e para detectar os efeitos de estresses em plantas. Um sinal tpico de induo da

    fluorescncia em luz contnua conhecido como "Efeito Kautsky", onde aps um pico ou um

    mximo de fluorescncia, acontece uma atenuao (o denominado "quenching"). Normalmente a

    extenso do "quenching" expressa por coeficientes que variam de 0 a 1, indicando a proporo

    atenuada da fluorescncia mxima (KRAUSE ; WEIS, 1991). A fluorescncia basal ou mnima

    (Fo) a fluorescncia medida quando todos os centros de reao esto abertos. A fluorescncia

    mxima (Fm) a fluorescncia quando todos os centros de reao esto fechados. A fluorescncia

    varivel (Fv) determinada pelo estado do centro de reao (aberto ou fechado), e definida

    como a diferena entre Fm e Fo, ou seja, Fv =Fm-Fo. O estado dos centros de reao

    influenciado por fatores ambientais de origem bitica e abitica.

    A medida da fluorescncia das clorofilas do PSII, entretanto, muito varivel pois

    extremamente influenciada pelo estado fisiolgico do vegetal, podendo, assim, ser utilizada como

    tcnica para monitoramento de coberturas vegetais ou para predizer a fixao fotossinttica de

    CO2 (RODRIGUES, 1998). A capacidade fotossinttica, entretanto, diminui em proporo ao

    tamanho e severidade do dano sofrido pela planta. Dependendo do tipo de dano, pode haver

    recuperao da capacidade fotossinttica em poucas horas ou dias ou mesmo a morte do tecido.

    Em plantas sob condies de estresse, a menor eficincia fotossinttica pode ser causada

    pela: 1) menor dissipao de energia atravs do transporte de eltrons, ocasionando um declnio

    na eficincia quntica potencial do PSII, indicada pelo menor Fv/Fm, e taxa de transporte de

    eltrons (ETR), sendo usualmente associados ao aumento na extino no-fotoqumica da

    fluorescncia (qN) e no "pool" de zeaxantina (HAVAUX; NIYOGI, 1999); 2) incio dos

    processos de fotoinibio quando a capacidade de fotoproteo excedida, sendo indicado pelo

    declnio na relao Fv/Fm, acompanhado pelo aumento de Fo, devido reduo excessiva da

    cadeia de transporte de eltrons (OSMOND, 1994).

    Em situaes como descrito acima, a taxa de gerao de oxignio txico excedem a

    capacidade dos mecanismos de desintoxicao do PSI (ASADA, 1994). Parte dos eltrons

    envolvidos nos processos fotoqumicos so utilizados em outros processos que no a fixao de

    carbono. Em condies onde a fixao de carbono limitada (ex.: baixa temperatura e fechamento

    estomtico), drenos alternativos de eltrons, como a fotorrespirao, excetuando-se plantas com

  • 21

    metabolismo C4, e a reduo de oxignio molecular (durante a reao de Mehler) podem

    aumentar suas atividades (FRACHEBOUD, 2001).

    Segundo Krause e Weis (1991), a presena de condies ambientais estressantes levam ao

    decrscimo caracterstico na eficincia quntica potencial do PSII, podendo ser detectada pela

    queda na relao Fv/Fm, conforme j mencionado. Paralela queda da fotossntese devido

    menor eficincia fotoqumica, pode ocorrer reduo na atividade de algumas enzimas do ciclo de

    Calvin e mudanas nas rotas bioqumicas, como acmulo de aminocidos e cidos orgnicos

    (WRIGHT et al., 1995).

    Contudo, as plantas possuem um sistema de defesa antioxidativo composto de vrias

    enzimas e biomolculas (ex: cido ascrbico, - tocoferol e carotenides) responsvel pela

    remoo de radicais txicos acumulados devido alteraes metablicas, inclusive danos no

    aparato fotossinttico (FOYER et al., 1994).

    2.4 O estresse oxidativo em plantas

    As plantas, dada sua caracterstica de seres ssseis, esto expostas a uma grande variedade

    de estresses ambientais que alteram seu metabolismo e desenvolvimento, exibindo uma grande

    variedade de respostas nos nveis molecular e celular (FLOWERS et al., 2000; ZHU, 2002).

    Algumas dessas respostas so desencadeadas por sinais de estresse ambiental primrio, enquanto

    que outras podem resultar de estresses secundrios ou de sinais secundrios. Entre os fatores de

    estresse abiticos mais estudados esto: seca, alta salinidade, temperaturas extremas (tanto altas

    como baixas), metais pesados, radiao ultra-violeta, deprivao de nutrientes, alta luminosidade,

    defensivos qumicos e hipxia.

    Ainda que algumas mudanas sejam claramente adaptativas, outras so simplesmente

    conseqncias da injria causada pelo estresse (XIONG et al., 2002; ZHU, 2002). As respostas ao

    estresse podem ser consideradas como desvios da norma metablica, onde a norma um estado

    metablico expresso sob a condio no estressante. Nem todas as alteraes metablicas so

    prejudiciais, e um grande desafio para o bioqumico distinguir entre as repostas que representam

    sintomas acidentais ou injuriosos da condio estressante, e as respostas que so verdadeiramente

    adaptativas, que favorecem o crescimento contnuo durante o estresse ou na recuperao.

    Uma alterao metablica importante para as plantas quando em condies de estresse, o

    aumento da produo de espcies reativas de oxignio (EROs) (APEL ; HIRT, 2004; FOYER ;

  • 22

    NOCTOR, 2005). A gerao de espcies reativas de oxignio constitui uma resposta primria da

    planta ao estresse de natureza bitica e abitica, caracterizando um dano oxidativo (CHANDRU

    et al., 2003; ASADA, 2006). Entretanto, algumas das reaes de produo de EROs esto

    envolvidas no metabolismo normal do vegetal, como fotossntese e respirao (NOCTOR ;

    FOYER, 1998; MITTLER, 2002; VRANOV et al., 2002).

    Contudo, enquanto que em condies normais de crescimento, essas espcies qumicas

    mantm-se em pequeno nvel, em condies estressantes h um rompimento da homeostase

    celular, provocando o aumento na produo de EROs. Embora esse aumento seja uma ameaa

    clula, essas espcies podem tambm agir como sinalizadores para a ativao da resposta ao

    estresse e vias de defesa do vegetal (MITTLER, 2002; NEILL et al., 2002). Portanto, as EROs

    podem ser vistas como indicadores celulares de estresse e como mensageiros secundrios

    envolvidos na via de transduo de sinais na resposta ao estresse (MITTLER, 2002).

    Dentre alguns dos fatores ambientais que podem gerar a produo de EROs e,

    consequentemente, um estresse oxidativo nas plantas esto: as radiaes ultra-violetas, seca,

    encharcamento, salinidade, temperaturas extremas, alta luminosidade, metais pesados e

    defensivos agrcolas, como herbicidas (BOWLER et al., 1994; AZEVEDO et al., 1998). Alm

    disso, dano fsico e mecnico, bem como o estresse bitico por ataque de patgenos podem ser

    fatores geradores de EROs (LAMB ; DIXON, 1997).

    As principais formas de EROs so: radical superxido (O2-), perxido de hidrognio

    (H2O2), radical hidroxila (OH) e oxignio singlet (1O2). Os radicais superxido e perxido, em

    geral, no so txicos, porm, quando em excesso e na presena de metais de transio, so

    convertido em redicais hidroxilas altamente danosos via Reao de Fenton (CHANDRU et al.,

    2003), conforme ser descrito posteriormente.

    O oxignio molecular (O2) pouco reativo, mas tem capacidade de originar estados

    intermedirios excitados e altamente reativos durante sua reduo at H2O (SCANDALIOS,

    1993). Estas espcies reativas, quando incompletamente reduzidas podem causar danos a

    organelas celulares, provocar a oxidao de molculas biolgicas como cidos nuclicos,

    protenas e lipdeos, acarretando reduo no crescimento, colapso no metabolismo celular e

    desencadear o processo de morte celular programada (CAVALCANTI, 2002; MITTLER, 2002;

    NEILL et al., 2002). Alm de ocasionar mutaes no DNA celular (EPE, 1991)

  • 23

    As etapas subseqentes de reduo de um eltron no so dependentes de energia e podem

    ocorrer espontaneamente ou necessitam de doadores apropriados de e-/H+ (eltrons/ prtons). Na

    clula, ons metlicos de transio (Fe2+, Cu+) e semiquinonas podem agir como doadores de e-

    (BLOKHINA et al., 2003). A aceitao do excesso de energia pela molcula de O2 pode levar

    adicionalmente a formao do oxignio singlet (1O2), uma molcula altamente reativa se

    comparado ao O2 (VRANOV et al., 2002; OP DEN CAMP et al., 2003). O 1O2 pode durar at

    aproximadamente 4-6 s na gua e 100 s em ambientes no-polares. O oxignio singlet pode

    ento transferir sua energia de excitao para outras molculas biolgicas ou reagir com elas,

    formando ento endoperxidos ou hidroperxidos.

    O radical superxido (O2-) um radical livre moderadamente reativo, com uma meia-vida

    de aproximadamente 2-4 s. No entanto, o superxido no pode atravessar as membranas

    biolgicas e prontamente dismutado a H2O2. Caso essa tal reao no acontea, o radical

    superxido pode reduzir quinonas e complexos metlicos de transio de Fe3+ e Cu2+, afetando,

    portanto a atividade de metalo enzimas. Os radicais hidroperoxilas (HO2-) que so formados a

    partir do O2- por protonoo em solues aquosas pode atravessar as membranas biolgicas e

    subtrair tomos de hidrognio de cidos graxos polinsaturados e hidroperxidos de lipdeos,

    comeando ento, a auto-oxidao de lipdeos (NEILL et al., 2002).

    O perxido de hidrognio (H2O2) moderadamente reativo, possui uma relativa longa vida

    celular e pode atravessar distncias considerveis de seu local de produo (VRANOV et al.,

    2002). O H2O2 tem capacidade de difundir-se livremente atravs das aquaporinas (HENZLER ;

    STEUDLE, 2000). Dessa forma, as EROs produzidas nos cloroplastos e nas mitocndrias, por

    exemplo, podem afetar outros compartimentos celulares. Tais caractersticas fazem deste radical

    tambm um importante sinalizador intracelular, tendo um papel central em vrias vias de

    sinalizao (como por exemplo, a da Resposta Hipersensitiva), que levam, principalmente, a

    tolerncia cruzada (FOYER ; NOCTOR, 2003). Entre os processos induzidos pelo perxido de

    hidrognio esto: formao de ligaes transversas na parede celular, fechamento estomtico,

    expresso de genes relacionados a uma grande variedade de respostas ambientais, biognese de

    peroxissomos, etc. Alm disso, o H2O2 pode tambm inativar enzimas, como as superxidos

    dismutases (Cu/Zn e Fe SODs) e diversas enzimas do ciclo de Calvin (BOWLER et al., 1994),

    induzir enzimas como as catalases e peroxidases, provocar danos aos cidos nuclicos e protenas

    e realizar a peroxidao de lipdeos (NEILL et al., 2002).

  • 24

    A mais reativa das EROs o radical hidroxila que formado a partir do H2O2 pelas

    chamadas reaes de Haber-Weiss ou de Fenton, pela utilizao de catalisadores metlicos como

    o Fe2+ (HALLIWELL ; GUTTERRIDGE, 1989; CHANDRU et al.,2003). O radical OH pode

    reagir potencialmente com todas as molculas biolgicas. Como as clulas no possuem

    mecanismos enzimticos para eliminar essa espcie altamente reativa, a sua produo em excesso

    leva, por fim, a morte da clula (VAN BRESEUGEN et al., 2001; VRANOV et al., 2002).

    Apesar da possibilidade de utilizao pelas plantas do nvel de EROs para a monitorao

    de seu estado intracelular de estresse, este nvel deve ser mantido sob um fino controle por causa

    dos efeitos devastadores de um acmulo dessas espcies (ASADA, 1999; DAT et al., 2000;

    MOLLER, 2001; MITTLER, 2002). Para que isto seja evitado as plantas possuem sistemas de

    defesa antioxidantes enzimticos e no-enzimticos muito eficientes, que permitem a eliminao

    dessas espcies ativas e a proteo contra os danos oxidativos. A partio entre estes dois sistemas

    sob condies de estresse pode ser regulada pela concentrao de O2 no sistema (BLOKHINA et

    al., 2003).

    A distinta localizao subcelular e propriedades bioqumicas das enzimas antioxidantes,

    seus diferentes padres de induo no nvel de enzima e expresso gnica, e a grande quantidade

    de eliminadores no-enzimticos tornam o sistema antioxidante uma unidade muito flexvel e

    verstil que pode controlar o acmulo e a detoxificao temporal e espacial das EROs

    (VRANOV et al., 2002; DEL RIO et al., 2002). Segundo Henriques et al. (2001), a clula

    apresenta algumas maneiras de proteo contra os efeitos deletrios das EROs: a preveno,

    evitando a formao de radicais livres; a interceptao, por meio da ao neutralizadora de

    enzimas antioxidantes, ou por molculas de baixa massa molecular, como vitaminas C e E,

    carotenides, etc; e reparo, que minimizam os efeitos. Antioxidantes como o cido ascrbico

    (AsA, vitamina C), glutationa (GSH), - tocoferol e carotenides ocorrem em altas concentraes

    nas plantas (INZ ; MONTAGU, 1995; SLESAK et al., 2002).

    2.5 Algumas enzimas antioxidantes

    O sistema de defesa antioxidativo enzimtico das plantas inclui diversas enzimas

    antioxidantes nos diferentes compartimentos celulares. Dentre as principais enzimas podemos

    citar as dismutases de superxido (SOD; EC 1.15.1.1), as peroxidases de ascorbato (APX; EC

    1.11.1.1) e as catalases (CAT; 1.11.1.6) que juntamente com outras enzimas do ciclo ascorbato-

  • 25

    glutationa promovem a eliminao das EROs (HERNNDEZ et al., 2001; CAVALCANTI et al.,

    2004). O grau do estresse oxidativo em uma clula determinado pela quantidade de superxido,

    H2O2 e radicais hidroxilas. Portanto, o balano das atividades da SOD, APX e CAT crucial na

    supresso dos nveis txicos de EROs na clula (APEL ; HIRT, 2004). Nos ltimos anos, um

    grande nmero de estudos tem focalizado no balano dessas atividades, nas diferentes organelas

    celulares

    2.5.1 Superxido Dismutase

    Segundo Alscher e colaboradores. (2002), dentro da clula, as SODs constituem a primeira

    linha de defesa contra EROs. Estas protenas pertencem ao grupo de metalo-enzimas que

    protegem as clulas dos radicais superxidos, catalisando a dismutao do O2 - em O2 e H2O2

    (WU et al., 1999; VAN BREUSEGEM et al., 2001). O radical O2 - produzido em qualquer

    localizao intracelular onde exista um transporte de eltrons, e, portanto, a ativao do O2 pode

    ocorrer em diferentes compartimentos celulares (ELSTNER, 1991), incluindo mitocndria,

    cloroplastos, microssomos, glioxissomos, peroxissomos, apoplasto e no citosol. Portanto, no

    surpresa o fato das SODs estarem presentes em praticamente todas as regies da clula. Alm

    disso, foi provado que as membranas biolgicas so impermeveis a molculas de O2 -

    carregadas, da a importncia da presena destas dismutases onde h a sua presena. As SODs so

    classificadas, de acordo com o seu metal cofator, em trs grupos: FeSOD, presente nos

    cloroplastos; MnSOD, presentes nas mitocndrias e peroxissomas; e as Cu/Zn-SODs, presentes

    nos cloroplastos, peroxissomos, no citosol e possivelmente no espao extracelular (ALSCHER et

    al., 2002; CAVALCANTI, 2002). Recentemente foi publicado a presena da isoforma FeSOD em

    cloroplastos de milho (IANELLI et al., 1999). O nmero e o tipo de isoformas de SOD varivel

    entre as espcies vegetais, bem como a abundncia relativa de cada isoforma. (ASADA, 1999)

    2.5.2 Ascorbato Peroxidase

    As APXs so consideradas as enzimas mais importantes na eliminao de H2O2 no citosol

    e nos cloroplastos (INZ ; MONTAGU, 1995). Esta enzima utiliza o ascorbato como seu doador

    de eltrons especficos para reduzir H2O2 a gua, constituindo parte do ciclo conhecido como

    ciclo da ascorbato-glutationa ou ciclo Halliwell-Asada (INZ ; MONTAGU, 1995; SHIGEOKA

    et al., 2002). De acordo com del Rio et al., (1998) e Polle (2001), este ciclo uma via eficiente de

  • 26

    clulas de planta que dispem de H2O2 em determinados compartimentos onde este metablito

    produzido e no existe catalase presente, como por exemplo, no cloroplasto (MITTLER, 2002).

    Este ciclo faz uso dos antioxidantes no enzimticos como o ascorbato e a glutationa em uma

    srie de reaes catalisadas por quatro enzimas antioxidativas, e est bem demonstrado em

    cloroplastos, citosol e mitocndrias de ndulos radiculares (FOYER; MULLINEAUX, 1994;

    POLLE, 2001), e em peroxissomos e mitocndrias purificadas de folhas de ervilha (JIMNEZ et

    al., 1997). As isoenzimas de APX so distribudas em pelo menos quatro compartimentos

    celulares distintos: no estroma e ligadas membrana dos tilacides dos cloroplastos; ligada

    membrana (mAPX) nos microcorpos, incluindo glioxissomos e peroxissomos; e no citosol

    (cAPX) (SHIGEOKA et al., 2002). H ainda uma isoforma de APX ligada a membrana

    mitocondrial (mitAPX) (LEONARDIS et al., 2000). Todas estas isoenzimas tm uma alta

    especificidade pelo ascorbato como doador de eltrons.

    2.6 Protenas induzidas sob condies de estresse

    Conforme j mencionado anteriormente, uma alterao metablica importante em plantas

    sob estresses a produo de espcies ativas de oxignio, que podem atuar como sinalizadores e

    interagir com outras molculas desencadeando uma resposta contra o agente estressor. A ativao

    de cascatas de expresso gnica, bem como a sntese de novas protenas, efetoras dessa resposta,

    constituem importantes alteraes bioqumicas provocadas por um estresse

    Um grande interesse vem sendo gerado na resposta das plantas ao estresse abitico,

    principalmente devido s possveis aplicaes em programas de melhoramento gentico de

    espcies cultivadas. Plantas transgnicas tolerantes aos mais variados estresses abiticos vm

    sendo produzidas ultimamente (WANG et al., 2003). Esse sucesso vem sendo obtido pelo

    aumento nos nveis celulares de protenas que controlam as quantidades de osmlitos, com

    funes de transporte (H+ATPases e H+/ PPi ases) ou ativao de genes (fatores de transcrio ou

    componentes de sinalizao) (ZHU, 2001).

    O corrente entendimento das respostas das plantas ao estresse parece ser ainda incompleto

    dado o grande nmero de genes/protenas envolvidas na percepo do estresse, transduo do

    sinal e sntese de molculas efetoras que catalisam reaes para adaptao a regimes de estresse

    tanto em termos de preveno ou reparo de danos. Isso extremamente importante, portanto, para

  • 27

    a obteno de informaes futuras a respeito da mudana na expresso gnica responsvel a

    estresses.

    A sntese de diversas protenas localizadas tanto em diferentes rgos da planta como em

    diferentes locais na clula (ex: citosol, fraes de membrana, cloroplastos ou espaos

    intercelulares) pode ser induzida ou reprimida por estresse ambiental, seja de natureza bitica ou

    abitica. Na maioria dos casos, a funo desses polipeptdios ainda desconhecida. (YEN et al.,

    1994; CHEN ; PLANT, 1999; PRZYMUSINKI et al., 2004).

    Anlises genmicas em plantas tolerantes revelaram a existncia de possveis efetores que

    diretamente modulam a percepo e resposta do estresse ou atenuam os seus efeitos, ou a

    molculas que esto envolvidas na percepo do estresse, transduo de sinal ou modulao da

    funo do efetor (ZHU, 2001; CHINNUSAMY et al., 2004). Como exemplos desses efetores da

    tolerncia ao estresse esto enzimas-chave relacionadas com homeostase osmtica e remoo de

    espcies ativas de oxignio (MAESTRI et al., 2002).

    Apesar da lacuna existente a respeito da falta de informao no funcionamento da maioria

    dos genes/proteinas de estresse, pesquisas empregando protenas de funo conhecida (choline

    oxidase, P5CS - 1-pyrroline-5-carboxylate synthetase, BADH - betaine-aldehyde dehydrogenase,

    etc) bem como aquelas com funo pouco conhecidas (LEA - late embriogenesis abundant, HSPs-

    heat shock proteins, osmotin-like etc) tm fornecido uma contribuio importante no

    planejamento de estratgias para melhorar a tolerncia ao estresse por meio da tecnologia dos

    transgnicos. (GROVER et al., 1999). Este fato justifica a necessidade constante de identificao,

    isolamento e caracterizao de um nmero crescente de protenas induzidas por estresse

    ambiental.

    Os trabalhos recentes sobre a importncia desses genes/protenas na concesso da

    tolerncia ao estresse esto embasados em dois princpios: (a) Protenas de estresse so

    sintetizadas no momento em que ocorre uma represso geral da maquinaria protica biossinttica

    constitutiva e (b) Existe um nvel marcante de conservao na estrutura e outros aspectos de

    genes/protenas de estresse. Conforme j discutido acima, o papel destes na tolerncia ao estresse

    vem sendo experimentalmente verificado em instncias seletivas nos ltimos anos.

    Visando a obteno de informaes esclarecedoras sobre os mecanismos de defesa

    antioxidantes em plantas, a busca por protenas envolvidas nesse processo, bem como sua

  • 28

    identificao e funo desempenhada, ser de grande importncia, juntamente com o estudo da

    expresso de genes candidatos, para a elucidao desses mecanismos.

    3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Estratgia experimental e delineamento estatstico

    O propsito deste trabalho foi observar alteraes fisiolgicas e no padro das atividades

    de enzimas antioxidantes, bem como na expresso de protenas, em folhas de plntulas de cana-

    de-acar, submetidas diferentes concentraes de Praquat, cujo princpio atibo o Metil

    Violgeno, e coletadas em tempos distintos. Para tanto, o delineamento experimental utilizado foi

    inteiramente casualizado em fatorial 5 x 3 (5 tratamentos x 3 repeties), sendo cada repetio,

    composta, em mdia, de 4 plntulas (4 vasos contendo 1 kg substrato cada). Os dados foram

    submetidos anlise de varincia (ANOVA) e as mdias comparadas atravs do teste de Tukey

    com p 0,05.

    3.2 Material Vegetal

    Mudas de cana-de-acar (Saccharum officinarum L.), variedade SP 80-3280,

    provenientes de toletes com gemas meristemticas, foram crescidas em substrato completo

    Plantamax, da Eucatex, sob condies de casa-de-vegetao. Os toletes foram gentilmente

    cedidos pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), localizado em Piracicaba-SP.

    3.3 Conduo do experimento

    Os toletes, recm-coletados, foram colocados para germinar individualmente, em vasos de

    15 cm de dimetro, durante 30 dias ou at a completa expanso do segundo par de fololos.

    Durante esse perodo foi feito um monitorameno dirio de temperatura e umidade do ar, as quais

    apresentaram valores mdios de 29,1 C 2,8 e 81,1 % 6,0 respectivamente. No referido

    estgio de desenvolvimento (Figura 2) foi aplicado o herbicida Paraquat, via pulverizao foliar.

    A aplicao foi feita com um pulverizador costal, pressurizado a CO2, com presso de 30 lb/pol2,

    com consumo de 200 L/ha de calda. Foram aplicadas diferentes concentraes (0, 2, 4, 6 e 8 mM)

    de Metil Violgeno.

  • 29

    Aps perodos de 24 e 48 horas de contato, as folhas foram, respectivamente, coletadas,

    pesadas, congeladas em N2 lquido j na forma de p, e armazenadas em freezer -80C para

    posteriores anlises.

    Figura 2- Vista parcial do stand experimental, montado em casa-de-vegetao, com as mudas de cana-de-

    acar aos 30 dias aps plantio

    3.4 Anlise da fluorescncia da clorofila a

    As avaliaes da fluorescncia da clorofila a das plantas de cana-de-acar aps 18 horas

    de tratamento com Paraquat foram realizadas em fluormetro Portable Chlorophyll Fluorometer

    (PAM 2000, Hinz Walz, Alemanha) equipado com uma unidade de controle de disparo de pulsos

    saturantes. As anlises foram feitas seguindo a metodologia descrita por Schreiber et al. (1986) e

    Genty et al. (1989), avaliando a emisso da fluorescncia da clorofila a pela superfcie superior

    das folhas. Os parmetros foram obtidos em duas intensidades de PAR, mdia e alta, com

    intensidades mdias de 100 e 325 mol.m-2.s-1 ftons, respectivamente. Os dados de todas as

    medidas e o monitoramento contnuo durante as anlises foram analisados em planilhas e graficos

    por meio do programa Excel 2003, considerando-se os resultados da mdia de trs leituras para

    cada parmetro mensurado.

  • 30

    Antes do incio das anlises, as plantas foram mantidas no escuro por um perodo de 30

    minutos para completa oxidao dos componentes do sistema de transporte de eltrons; a seguir,

    os seguintes parmetros foram determinados: Fo, Fm, qN, PSII, Fv/Fm, EXC e ETR.

    Os parmetros foram obtidos da leitura direta e calculados de acordo com as seguintes

    frmulas (BILGER et al., 1995; WALZ, 1993) :

    Fv/Fm= (Fm-Fo)/Fm

    PSII = qP x Fv/Fm = qP x (Fm-Fo)/Fm

    qP: Fm-Fs/Fm-Fo

    qN: (Fm-Fm)/Fm

    ETR= PSII *0,5*0,84 *PAR

    EXC= (Fv/Fm - F/ Fm)/ Fv/Fm

    em que :

    Fo: fluorescncia mnima obtida com todos os centros de reao do PSII abertos enquanto a

    membrana do tilacide est no estado no energizado, isto , adaptado ao escuro (qP=1 e qN=0);

    Fm: fluorescncia mxima obtida quando todos os centros de reao do PSII esto fechados

    (oxidados), isto , no estado adaptado ao escuro (qP=0 e qN=0);

    Fv = (Fm-Fo): fluorescncia varivel mxima obtida em folhas adaptadas ao escuro;

    Fs: fluorescncia no steady-state (equilbrio) (qP >0);

    Fo: fluorescncia mnima obtida em folhas aps a iluminao actnica;

    Fm: fluorescncia mxima obtida em folhas adaptadas luz;

    Fv: fluorescncia varivel mxima obtida em folhas adaptadas luz.

    qP: "quenching" fotoqumico ou atenuao fotoqumica da fotossntese;

    qN: "quenching" no fotoqumico ou atenuao no-fotoqumica da fotossntese;

    PSII : eficincia quntica efetiva do transporte de eltrons pelo PSII;

    EXC : excesso relativo de eltrons na parte fotoqumica

    3.5 Concentrao de espcies reativas ao cido tiobarbitrico (TBARS)

    A peroxidao de lipdios foi mensurada a partir da quantidade de malonaldedo (MDA)

    do extrato de folhas, atravs de reao especfica deste, com o cido tiobarbitrico (TBA), onde,

  • 31

    na reao, foi gerado um cromforo de cor avermelhada. O mtodo utilizado foi descrito

    inicialmente por Heath e Packer (1968) e adaptado por Peixoto (1998). Para a determinao, foi

    reservado 1 g de tecido fresco, macerados em almofariz de porcelana, na presena de nitrognio

    lquido, adicionados 2 mL da soluo de TCA a 1 % (p/v) e, em seguida, a mistura foi macerada

    continuamente por mais 2 minutos. A mistura foi, ento, acondicionada em tubos tipo eppendorf

    de 2 mL e centrifugada a 10.000 x g por 15 minutos. O sobrenadante foi coletado e o precipitado

    descartado.

    Para o ensaio, os extratos foram diludos, quando necessrio, sendo alquota de 500 L

    transferidas para tubos de ensaio, aos quais foram adicionados 2 mL de reagente contendo TBA

    0,5 % (p/v) dissolvido em TCA 20 % (p/v). Os tubos foram hermeticamente fechados e a mistura

    de reao incubada em banho-maria a 95 C, por 1 hora, sendo resfriada, em seguida, em banho de

    gelo. Quando necessrio, as amostras foram centrifugadas a temperatura ambiente (25 C) por 10

    minutos a 9.000 x g, em centrfuga de bancada. As leituras foram realizadas a 25 C nas

    absorbncias de 532 e 660 nm, respectivamente (esta, relativo reao no especfica). A segunda

    leitura foi subtrada da primeira para obteno da leitura especfica e a quantidade do complexo

    MDA-TBA formado foi calculado atravs do coeficiente de extino molar de 155 mM-1 cm-1

    (HEATH; PACKER, 1968). Os resultados foram expressos em nmol g-1 MF.

    3.6 Contedo de Clorofilas

    A extrao do pigmento foi feita com Acetona 80%, considerando-se a seguinte

    proporo: 500 mg de tecido fresco para 5 mL de soluo de Acetona 80%. Aps centrifugao

    5000 x g, por 10 min, o sobrenadante foi coletado e lido em espectrofotometro a 663 e 645nm,

    correspondente aos picos de absoro das clorifilas a e b, respectivamente. Para quantificar as

    clorofilas a, b e total, segundo Arnon (1949), foram feitos os seguintes clculos: Clorofila a =

    (12,7 x A663 - 2,69 x A645) x V/1000W; Clorofila b = (22,9 x A645 - 4,68 x A663) x V/1000W;

    Clorofila total = (20,2 x A645 + 8,02 x A663) x V/1000W. Sendo, A= absorbncia dos extratos no

    comprimento de onda determinado; V= volume final do extrato clorofila-acetona e W= matria

    fresca em gramas do material vegetal utilizado.

    3.7 Extrao e determinao das concentraes de protenas solveis e protenas

    insolveis totais

  • 32

    As folhas foram maceradas em almofariz de porcelana, na presena de nitrognio lquido. Em

    seguida, a uma quantidade de 1g de folhas, foi adicionado 2 mL de Acetona 80% e macerado por

    mais 5 minutos. Aps centrifugao a 6000 g por 10 minutos, o sobrenadante foi descartado. Ao

    precipitado, adicionou-se 2,0 mL de tampo Tris 40 mM pH 7,8 contendo Manitol 350 mM,

    EDTA 2 mM e PVPP3 % (p/v), macerando por mais 5 minutos. O macerado foi transferido para

    Eppendorfs de 2mL e centrifugados a 10.000 g, por 20 minutos, temperatura de 4 C. O

    sobrenadante, considerado a frao de protenas solveis totais, foi coletado e armazenado

    temperatura de 20 C, para determinaes posteriores.

    Para extrao da frao de protenas insolveis totais, o precipitado retornou para o

    almofariz e foi novamente macerado com 2,0 mL de soluo de Lise contendo Uria 8M, Tiouria

    1M, CHAPS 2%, DTT 50mM, por um perodo de 5 minutos. O macerado retornou, ento, para os

    tubos tipo eppendorfs de 2 mL que foram centrifugados a 10000 g por 20 minutos, a 4 C. O

    sobrenadante, considerado a frao de protenas insolveis totais, foi coletado e armazenado

    temperatura de 20 C, para determinaes posteriores

    A determinao do contedo de protenas solveis totais, na primeira frao protica, foi

    realizada pelo mtodo descrito por Bradford (1976). O mtodo baseado na mudana da

    colorao do reagente Coomassie Brilliant Blue G-250 quando ligado a protenas. Os extratos

    congelados foram lentamente descongelados em banho de gelo (4 C). As amostras foram

    diludas no prprio tampo de extrao, na proporo de 1:10 (v/v). Alquotas de 100 L do

    extrato diludo foram transferidas para tubos de ensaio e 2 mL do reagente de Bradford (105,26

    mg de Coomassie brilliant blue G-250 + 50 mL de etanol 95 % + 100 mL c. fosfrico orto-

    xaroposo 85 % + q.s.p. H2O p/ 1000 mL) foram adicionados ao meio de reao.

    Aps leve agitao, os tubos foram incubados a 25 C por 15 minutos e ento realizada

    leitura da reao a 595 nm em espectrofotmetro. A concentrao de protenas totais foi obtida

    pela comparao das leituras, com as obtidas em curva padro onde a protena utilizada foi a

    Albumina Srica Bovina. A concentrao de protenas solveis foi expressa em mg de protena g-1

    MF.

    3.8 Eletroforese desnaturante de protenas em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE)

    A eletroforese das amostras foi realizada segundo metodologia desenvolvida por Laemmli

    (1970), com modificaes. O mtodo se sustenta na idia de que as protenas podem ser separadas

  • 33

    pela massa molecular, atravs da induo do deslocamento pela aplicao de um campo eltrico

    (LEHNINGER et al., 1995). A preparao do gel e a corrida eletrofortica foram conduzidas no

    sistema MiniVE (Amersham Biosciences), com placas de 8 cm x 9 cm e espaadores com 1,0 mm

    de espessura. O gel de aplicao foi preparado com 5,0 % de acrilamida (p/v) em tampo tris-HCl

    0,5 M, pH 6,8, contendo SDS 0,1 % (p/v) e polimerizado com 0,15 % de persulfato de amnio

    (p/v) e TEMED 0,1 % (v/v). O gel de separao foi preparado com 12,5 % de acrilamida (p/v) em

    tampo tris-HCl 3,0 M, pH 8,8, contendo SDS 0,1 % (p/v), sendo polimerizado com persulfato de

    amnio 0,15 % (p/v) e TEMED 0,05 % (v/v).

    A concentrao de protenas totais nos extratos foi determinada segundo o mtodo de

    Bradford (1976), obedecendo aos mesmos procedimentos descritos no

    item de determinao da concentrao de protenas solveis totais (item 3.7). O extrato total das

    amostras foi diludo no tampo de lise de modo que, ao final da diluio, todos os extratos

    tivessem a mesma razo mg de protena mL-1. As amostras foram preparadas para corrida

    adicionando azul de bromofenol a 0,4 % (p/v) em alquota retirada da diluio do extrato bruto. A

    corrida foi realizada com amperagem constante de 20 mA para cada gel, e transcorreu por um

    perodo de aproximadamente1 hora.

    3.8.1 Revelao do gel com Nitrato de Prata e Comassie blue

    As bandas proticas foram visualizadas pela revelao do gel com nitrato de prata,

    segundo metodologia descrita por Blum et al. (1987). O mtodo tem por objetivo impregnar as

    protenas localizadas na superfcie do gel, com ons prata fornecidos pelo nitrato de prata. Depois

    da corrida, o gel foi retirado cuidadosamente da placa de vidro e mergulhado em soluo de etanol

    40 % (v/v) e cido actico 10 % (v/v) para fixao da posio das protenas no gel. Em seguida,

    foi lavado em soluo de etanol a 30 % (v/v), por 2 ciclos de 20 minutos, e tratado com tiossulfato

    de sdio 0,02 % (p/v), por 1 minuto. O gel foi ento enxaguado em H2O deionizada, por 3 ciclos

    de 20 segundos, e impregnado com soluo de nitrato de prata 0,2 % (p/v) e formaldedo 0,02 %

    (v/v), por 20 minutos. Aps visualizao das bandas, o gel foi lavado com H2O deionizada, por 20

    segundos, e a reao interrompida pelo tratamento do gel com soluo de glicina a 0,5 % (p/v),

    durante 5 minutos, e mais 3 ciclos de 20 minutos de lavagem em H2O deionizada.

    A revelao dos gis tambm foi feita por meio de uma soluo corante (Coomassie Brilliant

    Blue R-250 0,025%, contendo Metanol 40% e cido Actico 7%). Aps corrida eletrofortica, os

  • 34

    gis foram imersos na soluo de corante por, no mnimo, 2 horas. Em seguida, foram tranferidos

    para uma soluo descorante (Metanol 50% e cido Actico 25% em gua). Aps um perodo de

    20 minutos sob agitao branda, a soluo descorante foi trocada e assim sucessivamente at a

    descolorao completa do gel e visualizao ntida das bandas.

    3.9 Atividade de superxido dismutase (SOD) (EC 1.15.1.1)

    3.9.1 Atividade de SOD por espectrofotometria

    Esta atividade enzimtica foi determinada segundo metodologia adaptada de Peixoto

    (1999) a partir de Del Longo et al. (1993) e Gianopolitis e Ries (1977). Por esse mtodo,

    determinada a inibio da reduo do NBT (p-nitro blue tetrazolium) pelo extrato enzimtico,

    evitando assim a formao do cromforo. Neste ensaio, uma unidade de atividade enzimtica

    (UA) de SOD, considerada como a quantidade de enzima necessria para obter 50 % de inibio

    da reduo do NBT pela SOD contida no extrato enzimtico.

    As amostras utilizadas foram as mesmas para determinao do teor de protenas solveis

    totais (item 3.7). Para tanto, os extratos foram lentamente descongelados em banho de gelo (4

    C) e aps liquefao, diludos (conforme necessidade) no prprio tampo de extrao. Alquotas

    de 100 L foram transferidas para tubos de ensaios protegidos da luz, contendo tampo fosfato de

    potssio 50 mM, pH 7,8, EDTA 0,1 Mm, L-metionina 13 mM e NBT 75 M.

    A reao foi iniciada pela adio de Riboflavina 2 M e a concomitante transferncia dos

    tubos para uma cmara iluminada, por uma lmpada fluorescente circular de 30 Watts, por

    perodo de 15 minutos. Em seguida, leituras de absorbncia a 560 nm foram tomadas em

    espectrofotmetro (Spectronic 20 Genesys). Para efeito de correo nos clculos, o branco da

    reao foi considerado como sendo os tubos que no continham extrato, expostos e no expostos

    luz. A atividade foi determinada pelo clculo da quantidade de extrato que inibiu 50 % da reduo

    de NBT (BEAUCHAMP ; FRIDOVICH, 1971) e expressa em UA g-1 MF min-1.

    3.9.2 Atividade de SOD em gel

    A atividade das diferentes isoformas de SOD em gel foi realizada por meio de uma corrida

    eletrofortica de protenas em gel nativo e, em seguida, os gis foram revelados com inibidores

    especficos de cada isoforma da enzima. Aps a corrida, os gis foram lavados em gua

  • 35

    deionizada e incubados numa soluo de Fosfato de Potssio 50mM, pH 7,8 + EDTA 1mM +

    Riboflavina 0,05 mM + NBT 0,1mM, por 30 minutos em temperatura ambiente. Em seguida, aps

    lavagem com gua, um deles foi incubado por 20 minutos com uma soluo-tampo de Fosfato de

    Potssio 100mM, pH 7,8 + KCN 2mM. O segundo gel foi incubado com a mesma soluo-tampo

    contendo H2O2 5mM. O terceiro gel, que serviu de controle para a comparao, permaneceu em

    gua deionizada. Os gis foram ento iluminados por 5 minutos ou at o aparecimento das bandas.

    A FeSOD de cloroplastos inativada por H2O2 e resistente a Cianeto de potssio. A MnSOD,

    presente em mitocndrias e peroxissomos, no inativada por H2O2 nem inibida por cianeto de

    potssio. As Cu-ZnSODs so inativadas por cianeto e perxido de hidrognio e esto presentes

    nos cloroplastos e no citosol (ALSCHER et al., 2002).

    3.10 Atividade de peroxidases de ascorbato (APX) (EC 1.11.1.11)

    A atividade de APX foi determinada de acordo com o mtodo de Nakano e Asada (1981),

    modificado por Koshiba (1993), onde a presena de APX no extrato bruto diminui a concentrao

    de perxido de hidrognio do meio, pela reduo do cido ascrbico fornecido. Para tanto, o

    primeiro extrato obtido no item 3.7 foi utilizado. Diluies das amostras foram feitas quando

    necessrio e alquotas de 100 L dos extratos diludos, transferidas para tubos de ensaio. Ao meio

    de reao, 2,7 mL de tampo fosfato de potssio 50 mM, pH 6,0, contendo cido L-ascrbico 0,8

    mM. foram adicionados.

    O experimento foi iniciado pela adio de H2O2 ao meio de reao, observando o

    decrscimo da leitura no intervalo de 60 segundos, absorbncia de 290 nm em

    espectrofotmetro modelo Pharmacia LKB Ultrospec III. Adicionalmente, leituras de tubos

    controles, com e sem a amostra, na ausncia de perxido de hidrognio, foram realizadas. Para

    efeito de clculo, foi considerado que o decrscimo de 1 unidade de absorbncia seria equivalente

    a 1 unidade de atividade (UA). As atividades do extrato total foram determinadas pelo clculo da

    quantidade de extrato que reduziu a leitura de absorbncia em 1 UA e expressos em UA g-1 MF

    min-1.

    3.11 Extrao de protenas totais para eletroforese bidimensional (2-D)

    O extrato de protenas totais, para corrida eletrofortica, foi obtido seguindo metodologia

    adaptada de Rabilloud (1996) e Molloy (1998). Da matria fresca de folhas congeladas, 500 mg

  • 36

    de uma amostragem composta de cada tratamento, foram macerados em almofariz de porcelana,

    na presena de nitrognio lquido, por 5 minutos. Em seguida, 5 mL de uma soluo contendo

    TCA 10 % (p/v), DTT 0,07 %(p/v) em acetona P.A. foram adicionados. As amostras foram

    deixadas em repouso para precipitao natural, a 20 C, por 2 horas, e, em seguida, centrifugadas

    a 30.000 x g a 4 C, por 40 minutos. O sobrenadante foi descartado e o precipitado lavado duas

    vezes com uma soluo contendo DTT 0,07 % (p/v) dissolvido em acetona P.A., por 30 minutos,

    a 20 C. A mistura foi novamente centrifugada a 30.000 x g, por 10 minutos e o sobrenadante

    descartado. Aps essa etapa, o precipitado foi ressuspendido em 3 mL de tampo de lise contendo

    uria 7 M, tiouria 2 M, tris 40 mM, DTT 24 mM e CHAPS 0,1 %(p/v) e, novamente, as amostras

    foram centrifugadas a 15.000 x g, a 4C, por 15 minutos. Desta vez, o sobrenadante foi coletado

    (frao protica) e o precipitado, descartado (Figura 3).

  • 37

    MF folhas

    TCA 10 % (p/v), DTT 0,07 %(p/v) em Acetona.

    Precipitao natural por 2h, -20 C

    Centrifugao a 30.000 x g, 40, 4C

    Sobrenadante Descartado

    Precipitado Sobrenadante Descartado

    Lavagem (2x) com soluo 0,07%

    DTT em Acetona, a -20C

    Centrifugao a 30.000 x g, 10

    minutos, 4C

    Precipitado Descartado

    Sobrenadante

    SDS-PAGE e 2D

    Ressuspenso em soluo 7 M uria/ 2 M

    tiouria/ 40 mM tris/ 24 mM DTT /0,1 %

    CHAPS (p/v)

    Centrifugaos a 15.000 x g, 4C, 15 minutos

    Precipitado

    Figura 3- Esquema da sequncia de extrao de protenas totais de folhas de plntulas de cana-de-acar para

    corrida eletrofortica uni e bidimensional sob condies desnaturantes

  • 38

    3.12 Focalizao isoeltrica (IEF) e SDS-PAGE As amostras de protenas extradas conforme a descrio anterior (~ 400 g) foram

    homogeneizadas com 450 l de tampo de re-hidratao de gel (8M Ureia/ 1M Tioureia/ 10%

    Glicerol/ 2% CHAPS/ 1% IPG Buffer pH 3-10/ 25mM DTT/ 0,001% Azul de bromofenol). As

    amostras foram transferidas para Strip Holders e as tiras de focalizao (Imobiline dry strips

    18cm, pH 3-10 NL) colocadas sobre os mesmos. Logo em seguida leo de silicone (IPG cover

    fluid) foi despejado sobre ambos. A hidratao das tiras ocorreu durante 12-15h em sistema Ettan

    IPGphor II (Amersham Biosciences), seguindo com a focalizao isoeltrica, a 20 C, em corrente

    mxima de 50 A/gel, voltagem mxima de 8000 V e potncia

    mxima de 0,2 W/gel. De acordo com Gorg et al (1988), os parmetros para IEF usando tiras de

    18cm e pH 3-10 foram 500Vh; 1000Vh; 2000Vh; 3000Vh; 3500V (5h) ~ 24kVh.

    Em seguida, as tiras de gis contendo as protenas focalizadas foram incubadas em soluo

    de equilbrio (50 mM Tris, pH 8,8, 6M Ureia, 30% v/v Glicerol, 2% SDS e traos de Azul de

    bromofenol) contendo 10 mg/mL de DTT, por 15 min, a 20C, e depois em soluo de equilbrio

    contendo 25 mg/mL de iodoacetamida, por 15 min a 20C. Uma vez processada a segunda

    incubao, as tiras foram posicionadas no topo de gis SDS-PAGE 12,5% para realizao da

    segunda dimenso. A corrida foi realizada em sistema vertical (BioRad) seguido os seguintes

    parmetros de corrida: 25mA/gel; Emax 250 V e Pmax 25 W. A durao da corrida foi de

    aproximadamente 5 horas. Em seguida os gis foram revelados em soluo de Coomassie Blue,

    conforme descrito no item 3.8.1.

  • 39

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Efeitos do tratamento sobre a fluorescncia da clorofila a

    As medidas de fluorescncia da clorofila so rpidamente obtidas e processadas, alm de

    serem bastante precisas e no-destrutivas. Atualmente a principal ferramenta para anlise da

    performance fotossinttica da planta e seu estado fisiolgico geral (SCHREIBER et al., 1998).

    Fo X Fm A

    0,00

    0,02

    0,04

    0,06

    0,08

    0,10

    0,12

    0 2 4 6 8Metil Violgeno (mM)

    Fo

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    Fm

    Fo

    Fm

    Fv / Fm B

    0,00

    0,20

    0,40

    0,60

    0,80

    1,00

    0 2 4 6 8Metil Violgeno (mM)

    Fv/F

    m

    Figura 4- A-Medidas da fluorescncia basal (Fo) e mxima (Fm) da clorofila e B- eficincia quntica

    potencial do PSII em plantas de cana-de-acar expostas a diferentes concentraes de Metil Violgeno (Paraquat) aps 18 horas de aplicao

    Os resultados expostos na Figura 4A indicam um discreto aumento na fluorescncia basal

    (Fo) seguido de uma queda na fluorescncia mxima, em especial na dose de 4mM Metil

    Violgeno. O mesmo ocorreu com a eficincia quntica mxima do fotossistema II (Fv/Fm), ou

    seja, uma drstica queda a partir da dose de 4mM Metil Violgeno (Figura 4B). Decrscimos de

    Fv/Fm e da fluorescncia mxima (Fm) indicam dano no aparato fotossinttico (FRACHEBOUD,

    2001; KRAUSE ; WEIS, 1991; LAISK et al., 1998).

    O parmetro Fo reflete o estado da clorofila nos centros antena e pode ser considerado

    uma medida da distribuio de energia inicial para o PSII, bem como a eficcia de captura da

    mesma (SEPPANEN et al., 1998). A relao Fv/Fm reflete a mxima eficincia com que a luz,

    absorvida pelo complexo antena do fotossistema II, convertida em energia qumica. Guidi et al.,

  • 40

    (2000) observaram que o declnio de Fv/Fm em folhas de Phaseolus vulgaris tratadas com PQ foi

    acompanhado por um aumento fluorescncia mnima (Fo). Estes autores infeiram que o PQ foi

    capaz de induzir danos ao PSII, excedendo a capacidade fotoprotetora da planta.

    Em geral, a ocorrncia de estresses ambientais que afetam a eficincia do PSII levam ao

    decrscimo de Fv/Fm (KRAUSE ; WEIS, 1991). No caso do presente estudo, as plantas foram

    tratadas com um herbicida atuante no PSI, inibindo o fluxo normal de eltrons, ocasionando danos

    no PSII tambm. Isto porque os principais transportadores existentes entre os dois fotossistemas

    (Pheo, Qa, Qb, PQ, Cyt bf, PC) perdem sua capacidade funcional, gerando um acmulo

    prejudicial de eltrons e o desbalano do gradiente de prtons entre estroma e lmen do

    cloroplasto. Alm disso, radicais reativos de oxignio (EROs), especialmente o superxido (1O2),

    foram detectadas no PSII. Estas espcies foram produzidas pela re-oxidao do PQ reduzido e

    propagaram para os centros de reao do PSII, ocasionando uma perda da eficincia fotossinttica

    (Fv/Fm) (IANNELLI et al., 1999) e, tambm, efeitos sobre as membranas celulares (SLOOTEN

    et al., 1995).

    O parmetro Fv/Fm uma estimativa da capacidade fotoqumica total e da eficincia do

    PSII, ou seja, o nmero de complexos do PSII ativos. Valores tpicos desse parmetro em folhas

    saudveis e iluminadas variam em torno de 0.8 ou um pouco abaixo desse valor (CRITCHLEY,

    1998). Logo, o resultado da figura 4B evidencia que as plantas no-tratadas (0mM Metil

    Violgeno) estavam em perfeitas condies fotossintticas. Uma dimunuio significativa deste

    parmetro, tal como ocorreu na dose 4, sugere uma diminuio na eficincia quntica da evoluo

    do O2 ou da fixao do CO2, alm de ser tambm um indicativo de fotoinibio (HIDEG et al.,

    2000; KATO et al., 2003)

    No presente estudo, a reduo do valor de Fv/Fm, em especial na dose 4, pode ser

    atribudo ao aumento de Fo observado na mesma dose (Figura 4). Entretanto, mesmo com nveis

    baixos, como na dose 4, a atividade funcional do PSII foi mantida, pois, conforme j

    mencionando, uma reduo de Fv/Fm indica uma perda na eficincia fotoqumica primria de

    folhas fotoinibidas. Essa diminuio atribuda ao PQ, que induz uma reduo na fluorescncia

    varivel da clorofila, resultando numa reduo de Fm. Os valores de Fm, em todas as doses de

    PQ, reduziram significativamente devido a uma menor taxa de transporte de eltrons, conforme o

    grfico a seguir.

  • 41

    ETR

    0,0

    10,0

    20,0

    30,0

    40,0

    50,0

    60,0

    0 2 4 6 8

    Metil Violageno (mM)

    ETR

    baixa

    mdia

    Figura 5- Taxa aparente de transporte de eltrons em plantas de cana-de-acar expostas a diferentes

    concentraes de Metil Violgeno (Paraquat) aps 18 horas de aplicao A taxa aparente de transporte de eltrons (ETR) foi afetada pelo tratamento com Metil

    Violgeno, notadamente na dose intermediria de 4mM, em que os valores em mol eltrons.m-

    2.s-1 alcanaram valores prximo de zero. importante ressaltar que as medidas de fluorescncia

    da clorofila no claro, foram realizadas em duas intensidades distindas, conforme j mencionado na

    metodologia. Os resultados das medidas de claro, obtidos em intensidades de PAR baixa e mdia,

    asseguram que no h quaisquer interferncias desses valores de PAR na resposta fisiolgica das

    plantas, ou seja, no existe possibilidade de haver uma induo de estresse por excesso de luz.

    Portanto, as medidas obtidas representam o real estado fotossinttico das plantas em estudo. Este

    parmetro est relacionado diretamente com a resposta do PSII a determinada intensidade de

    PAR.

    Ao penetrar nas folhas da plantas, a molcula de PQ tranforma-se num radical, na presena

    de luz, e este ir reagir com o oxignio molecular formando espcies reativas de oxignio (EROs)

    (ASADA; TAKAHASHI, 1987). Isso ir afetar a ETR nos tilacides dos cloroplastos, provocando

    uma diminuio, como observado em feijoeiro por Schmitz-Eiberger ; Noga (2001). De maneira

    similar, na figura 5, com exceo da dose inicial (2mM), o PQ ocasionou uma reduo na ETR.

    Essa inibio do transporte fotossinttico de eltrons em folhas da cana-de acar deve,

    tambm, ser associada aos danos gerados no PSI pelo tratamento com Paraquat. Em estudo com

    batateiras submetidas alta temperatura, Havaux (1993) observou que os seguintes aspectos esto

  • 42

    interligados com a queda da ETR: a inibio da fotlise da gua (em temperaturas superiores a

    32C), a reduo da eficincia de captao de energia pelos centros de reao do PSII, alteraes

    no fluxo de eltrons aps QA (Tf > 42C) e danos no PSI (Tf > 45C).

    A manuteno do fluxo de eltrons atravs do aparato fotossinttico, mesmo na ausncia

    de quantidades suficientes de NADP+, aceptor de eltrons, essencial para a proteo do

    cloroplasto do estresse oxidativo, que neste estudo foi induzido pelo tratamento com PQ. Existem

    pelo menos duas diferentes vias que participam desse processo: fluxo cclico de eltrons e o ciclo

    gua-gua. Este ciclo consite no seguinte: parte dos eltrons resultantes da fotlise da gua, no

    PSII, so usados na gerao de redutores para o perxido de hidrognio (H2O2); a outra parte

    segue para que haja a reduo univalente do O2 no PSI (ASADA, 2006). Os eltrons fluem da

    gua, consumida no PSII, para a gua produzida na reduo do H2O2, no PSI.

    De forma sucinta, no PSI, duas molculas de O2 so reduzidas, por dois eltrons do PSII, a

    radicais superxidos (1O2). Estes radicais ento so convertidos em H2O2 e O2 em reao

    catalisada pela Superxido Dismutase e o H2O2 reduzido, pela Ascorbato Peroxidase, gerando

    gua. Ento, os eltrons oriundos da molcula de gua no PSII so doados para a reduo do O2. O

    ciclo gua-gua tem funo fisiolgica de proteo de molculas alvo contra a ao de EROs,

    ajustamento da fotoproduo da razo ATP/NADPH e dissipao do excesso de ftons (ASADA,

    1999).

    O fluxo de eltrons atravs do ciclo gua-gua foi estimado a partir da assimilao de CO2

    e parmetros de fluorescncia da clorofila de folhas adaptadas em escuro (MAKINO et al., 2002).

    Estes autores observaram que o fluxo de eltrons pelo ciclo gua-gua antes da fotoativao do

    Ciclo de Calvin similar ao fluxo para assimilao de CO2, em steady state,, aps a fotoativao.

    Tais observaes indicam que o ciclo gua-gua importante o suficiente para permitir o fluxo de

    eltrons em steady state, tornando-se a principal via de eltrons antes da fotoativao. Dessa

    forma, esta via parece ser indispensvel ao incio da fotossntese em folhas adaptadas ao escuro

    sem haver danos fotooxidativos.

    Um aumento no fluxo de eltrons atravs do ciclo gua-gua foi observado em plantas sob

    condies de estresse por baixa disponibilidade de CO2 (MIYAKE; YOKOTA, 2000), baixas

    temperaturas (HIROTSU et al., 2004; LI et al., 2005) e estresse salino (CHEN et al., 2004). Em

    plantas C4, uma reduo de ETR e fixao de CO2 pode representar um aumento de eltrons para

    o ciclo gua-gua devido a baixa atividade fotorrespiratria (FRYER et al.,, 1998).

  • 43

    PSII

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    0 2 4 6 8

    Metil Violageno (mM)

    PS

    IIbaixa

    mdia

    Figura 6- Eficincia quntica efetiva do FSII em plantas de cana-de-acar expostas a diferentes

    concentraes de Metil Violgeno (Paraquat) aps 18 horas de aplicao

    Da mesma maneira que a eficincia quntica potencial (Fv/Fm) e a taxa de transporte de

    eltrons (ETR), os resultados da eficincia quntica efetiva (PSII) evidenciam um decrscimo na

    dose de 4mM Metil Violgeno para valores prximos de zero (Figura 6). Entretanto, diferente dos

    resultados de ETR, os valores de PSII foram maiores em baixa intensidade de PAR (100

    mol.m-2.s-1 ftons).

    Este parmetr