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Revista SME: Educao em Movimento
Volume 1 - Nmero 2/3 - janeiro a dezembro de 2012
R. SME
ISSN 2237-9835
Goinia v.1 n.2 p. 1- dezembro 2012
Equipe diretiva da SME:
Secretria Municipal de Educao
Neyde Aparecida da Silva
Chefia de Gabinete
Dbora da Silva Quixabeira
Diretor Departamento Pedaggico (DEPE)
Pe. Francisco Prim
Diretora Departamento de Administrao Educacional (DAE)
Clarislene Paula Domingos
Diretora Departamento de Alimentao Educacional (DALE)
Noeme Din Silva
Diretora Departamento de Gesto Pessoal (DGP)
Marta Helena Almeida
Diretor Departamento Administrativo (DA)
Valfran de Sousa Ribeiro
Diretor do Fundo Municipal de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino (FMMDE)
Haroso Ferreira de Oliveira
SME: Educao em Movimento
Editor: Luiz Fernandes Dourado
Conselho Editorial:
Creude Pereira de Jesus Bessa -SME
Elciva Gonalves Frana CME e SMEn -
Francisco Prim - SME
Genivalda A. C. dos Santos - SME
Gislene M.A. Guimares - SME
Ida Leal de Souza - Sintego
Janana Cristina de Jesus - PUC/GO e SME
Joo Ferreira de Oliveira - UFG
Maria Augusta Mundim UFG -
Maria Margarida Machado UFG -
Miriam Fbia Alves - UFG
Romilson Martins Siqueira PUC/GO e SME -
Roseneide Ramalho da Silva - SME
Capa:
A obra Cerrado e cidade de autoria do artista plstico e professor da Universidade Federal de Gois Z
Csar (Jos Csar Teatini de Souza Clmaco).
Reviso:
Eliane Faccion
Secretaria Executiva
Lindaura O. D. de Moura / GO-00876 JP/ DRT-GO
SME: Educao em Movimento
uma publicao da SME Goinia que aceita colaborao, reservando-se o direito de publicar ou no o
material enviado ao conselho editorial. As colaboraes devem ser enviadas revista em meio eletrnico para
o endereo: [email protected]
SME
EDUCAO EM
MOVIMENTO
EXPEDIENTE
SME: Educao em Movimento / Secretaria Municipal de Educao de Goinia - v. 1, n.2/3, janeiro a
dezembro de 2012.
2012 - Goinia: SME, 2012.
Semestral
ISSN 2237-9835
1. Educao - Peridico - SME
Editorial
Formao dos profissionais da educao
Luiz Fernandes Dourado
Entrevista
A Formao dos Profissionais: o trabalho das universidades e da SME
Edward Madureira Brasil
Wolmir Therezio Amado
Artigos
1. Poltica de Formao Continuada em Rede e a qualidade da educao pblica
Prof. Ms Marcilene Pelegrini Gomes e Prof. Dr Romilson Martins Siqueira
2. Formao de professores para a EJA: da lgica das competncias formao
humana omnilateral
Cludia Borges Costa e Joel Ribeiro Zaratim
3. Formao sindical, herdeira da educao popular
Ida Leal de Souza
4. Uma breve histria da SME de Goinia
Arlene Carvalho de Assis Clmaco e Walders Nunes Loureiro
5. Um olhar sobre a trajetria do Conselho Municipal de Educao de Goinia
Accia Aparecida Bringel
6. A identidade do indgena na mdia impressa
Simone Antoniaci Tuzzo e Claudiomilson Fernandes Braga
Relatos e experincias pedaggicas
1. Por uma jornada pedaggica com qualidade social
Jovenlia Rodrigues Pereira, Maria Avelina de Carvalho e Romilson Martins Siqueira
SUMRIO
SME
EDUCAO EM
MOVIMENTO
2. A elaborao de planos de formao
Alessandra Gomes Jcone, Cnthia Camilo, Eleny Macedo de Oliveira e Eulmpia Neves
Ferreira
3. Dilogos e prticas na formao inicial e continuada de professores
Nancy Nonato de Lima Alves, Daniela da Costa Britto Pereira Lima, Vanessa Gabassa,
Mrcia Ferreira Torres Pereira e Simone de Magalhes Vieira
4. Um relato sobre a formao de professores do ensino fundamental
Salete Flres Castanheira, Maria Gonalves Arajo e Maria Anglica de Oliveira
5. O estgio como espao formativo na educao de adolescentes, jovens e adultos
Janana Cristina, M . Emlia de Castro e M. Jos do Nascimento
6. O Conselho Municipal de Educao de Goinia na defesa dos direitos das
crianas
Accia Aparecida Bringel e Milna Martins Arantes
7. Do sonho realizao profissional: formao continuada e atuao na SME
Maria do Socorro Barbosa Lima
7. Msica e aprendizagem
Alessandro de Oliveira Branco
Documento
Secretaria Municipal de Educao. Portaria SME N. 019, de 04-04-2012.
Regulamenta os critrios e procedimentos para a concesso da Licena para
Aprimoramento Profissional aos detentores do Cargo de Profissional de Educao
II (PE II) e d outras providncias.
SUMRIO
SME
EDUCAO EM
MOVIMENTO
EDITORIAL
SME
EDUCAO EM
MOVIMENTO
Formao dos profissionais da educao
SME: Educao em movimento uma revista da Secretaria Municipal de
Educao (SME) de Goinia, que procura contribuir com a reflexo sobre as
polticas e gesto da educao bsica pblica, especialmente no municpio de
Goinia, por meio de sua Editoria e Conselho Editorial, integrados por
pesquisadores e profissionais da educao da SME, Conselho Municipal de
Educao (CME), Universidade Federal de Gois (UFG) e Pontifcia
Universidade Catlica de Gois (PUC-GO).
Em seu segundo volume , articulando os nmeros 2 e 3, traz como
temtica central a formao dos profissionais da educao, alm de outros artigos
sobre polticas e gesto da educao bsica. A valorizao dos profissionais da
educao tem sido objeto de vrias lutas, demandas e aes poltico-pedaggicas,
tendo como destaque aquelas direcionadas formao, por meio de formao
inicial e continuada. Este nmero da revista busca situar essa temtica, dando
especial contorno efetivao de polticas mediadas pelas aes da SME, UFG e
PUC-GO.
Assim, busca dar continuidade, como peridico da rea de educao,
divulgao de diferentes concepes, anlises e experincias que contribuam para
a melhoria e democratizao da educao bsica de qualidade.
A proposta editorial deste nmero da SME: Educao em Movimento
estrutura-se por meio das seguintes sees: Entrevista, Artigo, Relatos e
experincias pedaggicas e Documento.
Para a seo Entrevista, organizada por este editor, foram convidados
Edward Madureira Brasil, reitor da Universidade Federal de Gois, e Wolmir
Therezio Amado, reitor da Pontifcia Universidade Catlica de Gois. So dois
educadores e gestores com ampla trajetria e compromisso com a educao em
Gois e no pas, especialmente com a educao superior. Esta entrevista permite
ao leitor apreender o complexo cenrio da formao de professores no Brasil e em
Gois e, sobretudo, das polticas e gesto direcionadas formao empreendidas
pelas duas universidades, pioneiras na regio Centro-Oeste, e a sua interface com
a educao bsica, especialmente, com a Secretaria Municipal de Educao de
Goinia.
Na seo Artigo, as temticas tm por centralidade a formao e, ainda,
outras reflexes sobre polticas e gesto direcionadas educao. Importante
destacar a busca de articulao entre as aes de formao da SME e das
universidades goianas, resultando em artigos escritos em co-autoria por
profissionais da UFG e da PUC-GO com profissionais da SME. Trata-se de uma
experincia que, certamente, enriquecer ainda mais os esforos de articulao e
cooperao entre as trs instituies de ensino e espaos de formao
A seo Relatos e experincias pedaggicas apresenta aes
desenvolvidas por diferentes atores e que contribuem para uma viso rica sobre as
possibilidades de atuaes coletivas e reflexes sobre a vivncia e a melhoria dos
processos formativos na cidade de Goinia e sua interface com a proposta
poltico-pedaggica da SME.
A seo Documento tem por objetivo disseminar iniciativas institucionais
da Secretaria Municipal da Educao e do Conselho Municipal de Educao de
Goinia, e traz nesta edio a Portaria SME N. 019, de 04 abril de 2012, que
estabelece critrios e procedimentos para a concesso da licena para
aprimoramento profissional aos detentores do cargo de Profissional de Educao
II (PE II) e d outras providncias. Essa Portaria se articula temtica deste dossi
e traduz o esforo poltico-pedaggico da SME em consolidar sua poltica de
formao, em atendimento ao disposto no Estatuto dos Servidores do Magistrio
Pblico do Municpio de Goinia.
Este nmero conta com a participao do professor da Universidade
Federal de Gois e artista plstico Z Csar ( Jos Csar Teatini de Souza Clmaco)
com a obra: Cerrado e cidade que ilustra a capa desta edio. Obra que retrata as
vrias possibilidades geopolticas inseridas nesse contexto e o compasso e
descompasso que compe a regio Centro-Oeste.
Esperamos que a revista SME: Educao em movimento possa se
consolidar, ainda mais, contando com colaboradores de diferentes instituies e
espaos educativos, contribuindo, desse modo, para a compreenso, a avaliao e
a melhoria da educao bsica em nosso pas, Estado e no municpio de Goinia.
A revista dispe de um canal direto de comunicao, por meio do e-mail
[email protected]. Os artigos e contribuies, assim que forem
recebidos, sero encaminhados para pareceristas e, sendo aprovados, sero
publicados.
A participao de todos - estudantes, professores, funcionrios, pais,
especialistas e interessados - fundamental para que esta publicao seja, cada
vez mais, referncia e se consolide como canal de ampla discusso e avaliao das
polticas, programas e aes da educao bsica, com especial destaque para
aquelas desenvolvidads pela SME, no esforo de garantir uma educao pblica,
gratuita, laica, democrtica e de qualidade para todos(as).
Luiz Fernandes Dourado
Editor
ENTREVISTA
SME
EDUCAO EM
MOVIMENTO
A formao dos profissionais:
o trabalho das universidades e da SME
O objetivo desta seo discutir os atuais marcos e as polticas de
formao dos profissionais da educao e, sobretudo, dos professores brasileiros,
a partir das investigaes, programas de formao inicial e continuada, alm das
diferentes experincias na Universidade Federal de Gois (UFG) e na Pontifcia
Universidade Catlica de Gois (PUC-GO).
O professor Luiz Fernandes Dourado, editor da SME: Educao em
Movimento, entrevista os professores Edward Madureira Brasil, reitor da UFG, e
Wolmir Therezio Amado, reitor da PUC-GO. So dois educadores e gestores com
ampla trajetria e compromisso com a educao superior em Gois e no pas. A
participao dos dois convidados permite ao leitor apreender a formao de
professores, as polticas e a gesto direcionadas formao realizadas pelas duas
universidades, pioneiras no Centro-Oeste, e sua interface com a educao bsica,
especialmente, com a Secretaria Municipal de Educao de Goinia.
Luiz Fernandes Dourado Ao longo das ltimas dcadas, o que mudou no
projeto e na dinmica acadmica das universidades brasileiras e goianas?
Edward Madureira Brasil - Nas duas ltimas dcadas foram muitas as
transformaes na educao superior brasileira. Vimos um grande crescimento
das instituies privadas; a implantao de processos avaliativos como o exame
nacional dos cursos, conhecido como provo; estamos presenciando uma crise
no setor privado pela impossibilidade da populao de continuar pagando
mensalidade s ver a existncia do Prouni, das bolsas universitrias da
Organizao das Voluntrias de Gois e da inadimplncia nas mensalidades.
Outra transformao se deu com as instituies pblicas, que passaram por
perodo de estagnao no nmero de vagas, alterado a partir de 2006 com a
expanso dos campi das universidades federais no interior e, depois, com o
Programa de Reestruturao e Expanso das Universidades (Reuni), j no
A formao dos profissionais:
o trabalho das universidades e da SME
O objetivo desta seo discutir os atuais marcos e as polticas de
formao dos profissionais da educao e, sobretudo, dos professores brasileiros,
a partir das investigaes, programas de formao inicial e continuada, alm das
diferentes experincias na Universidade Federal de Gois (UFG) e na Pontifcia
Universidade Catlica de Gois (PUC-GO).
O professor Luiz Fernandes Dourado, editor da SME: Educao em
Movimento, entrevista os professores Edward Madureira Brasil, reitor da UFG, e
Wolmir Therezio Amado, reitor da PUC-GO. So dois educadores e gestores com
ampla trajetria e compromisso com a educao superior em Gois e no pas. A
participao dos dois convidados permite ao leitor apreender a formao de
professores, as polticas e a gesto direcionadas formao realizadas pelas duas
universidades, pioneiras no Centro-Oeste, e sua interface com a educao bsica,
especialmente, com a Secretaria Municipal de Educao de Goinia.
Luiz Fernandes Dourado Ao longo das ltimas dcadas, o que mudou no
projeto e na dinmica acadmica das universidades brasileiras e goianas?
Edward Madureira Brasil - Nas duas ltimas dcadas foram muitas as
transformaes na educao superior brasileira. Vimos um grande crescimento
das instituies privadas; a implantao de processos avaliativos como o exame
nacional dos cursos, conhecido como provo; estamos presenciando uma crise
no setor privado pela impossibilidade da populao de continuar pagando
mensalidade s ver a existncia do Prouni, das bolsas universitrias da
Organizao das Voluntrias de Gois e da inadimplncia nas mensalidades.
Outra transformao se deu com as instituies pblicas, que passaram por
perodo de estagnao no nmero de vagas, alterado a partir de 2006 com a
expanso dos campi das universidades federais no interior e, depois, com o
Programa de Reestruturao e Expanso das Universidades (Reuni), j no
segundo mandato do presidente Lula; a implantao de grande nmero de campi
dos institutos federais de educao cincia e tecnologia. No perodo, estabeleceu-
se um ambiente de competio entre as instituies pblicas pelos recursos
financeiros e, em especial, por recursos a serem obtidos pela apresentao de
projetos em agncias financiadoras pblicas e, tambm, pela interao com
empresas e indstrias.
Wolmir Therezio Amado - Em cinco dcadas, o sistema de ensino
superior brasileiro passou por expressivas mudanas. Na dcada de 60, havia
poucas instituies, basicamente para atividades de transmisso do
conhecimento, com cerca de 100.000 alunos e um corpo docente fracamente
profissionalizado. Encontramos, hoje, uma complexa rede de estabelecimentos,
com formatos organizacionais e tamanhos variados, com grande crescimento do
setor privado. Esse sistema, hoje com quase 2.500 instituies, absorve mais de
seis milhes de alunos na graduao e aproximadamente 180.000 mil alunos na
ps-graduao stricto sensu. Houve a incorporao de um pblico mais
diferenciado socialmente, o aumento significativo do ingresso de estudantes do
gnero feminino, a entrada de alunos j integrados no mercado de trabalho, a
expanso do setor privado e a interiorizao e regionalizao do ensino. Houve a
consolidao do projeto das instituies comunitrias, diferenciando-se
claramente do setor privado com fins econmicos e posicionando-se como atores
imprescindveis para o desenvolvimento equilibrado do sistema em temas
estratgicos como a incluso equitativa da populao mais desfavorecida e a
formao de professores para a educao bsica. A PUC Gois, como
universidade comunitria profundamente inserida no cenrio regional, foi
protagonista de todas as transformaes dessas dcadas para o ensino superior no
Centro-Oeste e no Brasil.
Luiz Fernandes Dourado A universidade brasileira avanou na
consolidao da premissa constitucional da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extenso? De que forma tais princpios se materializam na UFG e
na PUC-GO?
Wolmir Therezio Amado - Consolidar o princpio da indissociabilidade
Houve a
incorporao
de um pblico
mais
diferenciado
socialmente, o
aumento
significativo do
ingresso de
estudantes do
gnero
feminino
(Wolmir Amado)
de ensino, pesquisa e extenso talvez seja um dos maiores desafios da
universidade brasileira. Isso porque essa relao pressupe que cada uma dessas
dimenses esteja solidificada na instituio e que haja no pas um projeto de
universidade que, de fato, valorize de forma igualitria tais dimenses. Em seus
53 anos, a PUC Gois tem sua trajetria marcada pela busca da excelncia em suas
aes. Desse modo, a extenso por ela desenvolvida pauta-se na tradio de uma
Instituio de Ensino Superior (IES) comunitria, filantrpica e catlica e se
realiza por meio de seus programas permanentes. Atualmente com 46 cursos de
graduao e a ampliao e diversificao dos campos de investigao cientfica, a
universidade persegue sua misso de desenvolver a formao humana integral,
associada produo, socializao do conhecimento e difuso da cultura
universal. A universidade tem buscado materializar esse princpio, sobretudo por
meio do incentivo participao de seus acadmicos naquilo que produz na
pesquisa e na extenso. Tal incentivo se d tanto por aes que visam interao
entre graduao, ps-graduao e extenso a exemplo das edies da Semana de
Cultura e Cidadania, um evento que j faz parte da agenda da cidade e da regio;
da Semana de Cincia e Tecnologia em sintonia com as propostas do Ministrio de
Cincia e Tecnologia, quanto pelos programas de iniciao cientfica, pelos
projetos de extenso e pelo estmulo s diversas e inovadoras formas de iniciativas
estudantis, como as ligas acadmicas.
Edward Madureira Brasil - S podemos falar sobre a indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extenso se considerarmos a titulao do corpo docente; a
existncia de uma ps-graduao stricto sensu robusta; e o desenvolvimento de
uma grande quantidade de projetos de pesquisa e extenso que precisam ser
materializados com qualidade que depende da titulao e ps-graduao stricto
sensu. Nas universidades federais, a titulao dos professores vem crescendo
muito, basta ver o caso da UFG, que passou de algo em torno de 600 doutores, em
2005, para 1.500, em 2012. A ps-graduao em nvel de mestrado e doutorado
tambm cresceu muito nas federais. A UFG, por exemplo, passou de 38 cursos, em
2005, para mais de 60, em 2012. Por conta das duas grandes expanses, os
projetos de pesquisa e de extenso triplicaram.
...a titulao
dos professores
vem crescendo
muito, basta ver
o caso da UFG,
que passou de
algo em torno
de 600
doutores, em
2005, para
1.500, em
2012
(Edward
Madureira Brasil)
Luiz Fernandes Dourado As universidades goianas vivenciaram um
grande processo expansionista marcado pela complexificao e
interiorizao de suas atividades. Que lugar ocupam nesse processo as
licenciaturas e qual o compromisso com a educao bsica de qualidade?
Edward Madureira Brasil - Realmente, a UFG , hoje, uma instituio
muito mais complexa que a existente em 2005. Os dois processos de expanso, o
primeiro, da criao de novos cursos nos campus de Catalo e Jata e, depois, a
grande expanso do Programa de Reestruturao e Expanso das Universidades
Federais (Reuni), criou novos cursos em Goinia, Catalo, Jata e Cidade de
Gois. A quantidade de vagas passou de cerca de 3.000, em 2005, para mais de
6.000, em 2012, e o quantitativo de professores evoluiu de um nmero em torno de
1.200, para 2.200 no mesmo perodo. Para que a educao bsica possa ser
concretizada com qualidade, preciso que diversos fatores sejam analisados.
Precisamos ter professores licenciados bem formados, recebendo salrios dignos,
as escolas devem ter infraestrutura bem definida, com diversos ambientes
obrigatrios, como biblioteca, laboratrios, etc. A UFG tem cuidado para que
nossos licenciados sejam bem formados; entretanto, dois fatos nos preocupam
imensamente e dependem, de forma indireta, da atuao da universidades: os
foto: divulgao SME
baixos salrios dos professores e as desigualdades econmicas e culturais das
famlias brasileiras, o que impede que mais jovens se interessem por seguir a
carreira de professor, provocando a no ocupao de vagas em nossos cursos de
licenciatura, sobretudo naqueles oferecidos nos campi dos municpios do interior
do Estado.
Wolmir Therezio Amado - Os cursos de formao de professores
integram a tradio de nossa universidade desde sua origem: os cursos de Histria
e Geografia foram criados em 1949; Pedagogia e Letras em 1952; Fsica e
Matemtica so de 1969; Biologia, em 1974, Filosofia em 1977; Educao Fsica,
em 2000 e Qumica, em 2004. A formao de professores foi objeto de constante
investimento na PUC, com progressiva e constante expanso do nmero de
cursos, mesmo quando a demanda oscilava ou quando a tendncia das demais
instituies era de retrao e diminuio de investimentos nas licenciaturas. A
universidade no abre mo de apostar na formao de professores como
importante espao que qualifica o projeto formativo. A PUC Gois no tem
medido esforos para qualificar, quantitativamente ou qualitativamente, o
ingresso, a permanncia e a concluso dos cursos com qualidade junto aos
acadmicos. Ao longo desta histria fortaleceu o Colegiado das licenciaturas,
ampliou parcerias com as redes de ensino e tem marcado presena no cenrio do
debate local, nacional e internacional, seja pelos fruns de defesa da educao,
seja pela representatividade em conselhos estaduais e municipais. A PUC Gois
tem presena constante nas direes da Anfop e, mais recentemente, na
Presidncia do Conselho Nacional de Educao. Nos projetos internos, tem
inovado em aes que qualificam os cursos de formao de professores,
destacando-se o Vestibular Social, com 50% de bolsas para alunos que
comprovem condies socioeconmicas desfavorveis. O que se tem notado a
retomada da procura pelos cursos de formao de professores e a revitalizao de
um projeto acadmico que valoriza a formao humana, poltica, pedaggica e
tcnica da profisso docente. H, tambm, o compromisso de construir um Centro
de Formao de Professores como espao poltico e pedaggico para tornar a
docncia e a valorizao da escola eixos da formao e da profissionalizao. No
novo espao da PUC Gois, em processo de construo, ser implementado um
A
universidade
no abre mo
de apostar na
formao de
professores
como
importante
espao que
qualifica o
projeto
formativo
( )Wolmir Amado
Projeto Poltico-pedaggico de Formao de Professores, com forte referncia na
articulao do ensino-pesquisa-extenso e da prtica da postura investigativa na
formao docente. H, ainda, experincias exitosas em cursos modulares e em
cursos das licenciaturas que, alm de atender s Diretrizes Curriculares
Nacionais, inovam na forma como se operacionalizam o currculo e a formao
dos profissionais. Soma-se a tudo isso o constante debate interno entre docentes e
discentes, para o aprofundamento das questes polticas e tericas no campo de
defesa da educao bsica, particularmente na defesa da aprendizagem com
qualidade social.
Luiz Fernandes Dourado Quais so as principais experincias exitosas e as
dificuldades na poltica de formao de professores no pas? E
especificamente na PUC-Gois e na UFG?
Wolmir Therezio Amado - As principais dificuldades na formao de
professores no Brasil referem-se adeso de alunos ao projeto das licenciaturas.
Ela ganha centralidade quando se reconhece o campo de desvalorizao social da
profisso docente. preciso investir na educao, seja pelo aumento do PIB em
10%, seja pela valorizao do Piso Nacional Docente que deve ser compatvel
com o que se espera na qualidade exigida dos docentes. No que se refere ao Piso
Nacional, h que se efetivarem polticas que ajudem as prefeituras na sua
implementao. Por outro lado, h um processo de evaso nas licenciaturas, o que
significa a necessidade de polticas que assegurem a entrada e a permanncia dos
estudantes. E falta, nacionalmente um estudo sobre o perfil socioeconmico e
cultural dos alunos que ingressam nas licenciaturas, bem como as razes das
escolhas dessa profisso. Na PUC Gois, alm do Vestibular Social, outras
iniciativas esto sendo implementadas como o Programa de Orientao
Acadmica (Proa), que visa fortalecer nos discentes a construo de um projeto
acadmico pautado no estudo, pesquisa, leitura, escrita e afirmao da identidade
docente. A experincia piloto desse programa ser implementada nas
licenciaturas e se pautar em quatro eixos: metodologia de ensino e estudo;
metodologia de pesquisa e a produo intelectual; leitura e expresso; habilidades
sociais e relaes interpessoais. As atividades no interior do Proa visam fortalecer
a leitura, a escrita e a produo textual dos discentes das licenciaturas. Elas sero
organizadas em quatro formatos: nos grupos de estudos interdisciplinares (GEI)
com temas comuns s licenciaturas; nos grupos de estudos e pesquisas
disciplinares (Geped), cuja proposta prev o atendimento individual dos alunos
por parte dos professores das disciplinas; workshops interdisciplinares com temas
do cotidiano em oficinas, palestras, vivncias, minicursos, dentre outros; e pelo
atendimento da monitoria. Em sntese, o Proa nas licenciaturas considerado um
ambiente de aprendizagem e agrega uma srie de atividades para fortalecer no
discente o estudo, o debate e a produo intelectual como condies fundamentais
para o exerccio da profisso docente. Outra experincia de extrema relevncia
para a PUC Gois o Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia
(Pibid). Por meio dele, acadmicos e docentes tm vivenciado boas experincias
formativas no contato direto com as escolas pblicas. O Pibid tem oportunizado
espao para a anlise, crtica e proposio de iniciativas inovadoras para garantir a
aprendizagem dos alunos nas instituies pblicas. Ganham nossos acadmicos,
nossos docentes e os parceiros da escola, pois todos articulam projetos comuns
que ampliam o sentido da educao na escola pblica. O Pibid na PUC Gois um
programa permanente, fato que o credencia a ocupar lugar de destaque na nova
Proposta Poltico-pedaggica do Centro de Formao de Professores.
Edward Madureira Brasil - A formao de professores que a
universidade promove por meio das licenciaturas enfrenta inmeros desafios,
muitos deles associados carreira e remunerao dos professores da educao
bsica, pois trata-se de um trabalho que exige alto grau de envolvimento e
compromisso, com longas jornadas, alta carga horria e remunerao
insatisfatria. H, portanto, um elevado grau de stress e tenso entre os
profissionais, o que interfere na demanda para os cursos de licenciatura. preciso,
portanto, alterar esse quadro. A busca por polticas e prticas de formao de
professores mais adequadas para dar conta das exigncias na formao de
professores nas universidades fez com que a UFG aprofundasse as discusses a
respeito das licenciaturas, em consonncia com polticas e programas
implementados no pas para formar e qualificar professores, resultando na
H, portanto,
um elevado
grau de stress e
tenso entre os
profissionais, o
que interfere na
demanda para
os cursos de
licenciatura
(Edward
Madureira Brasil)
abertura de novos cursos, tanto na modalidade presencial quanto a distncia, a
ampliao do Programa Bolsas de Licenciatura (Prolicen), a ampliao e
consolidao do Programa de Iniciao a Docncia (Pibid), a realizao do II
Encontro Nacional das Licenciaturas e I Encontro Nacional do Pibid e do
Seminrio com o Conselho Estadual de Educao. O Pibid uma experincia
exitosa que, desde a publicao de seu primeiro edital, em 2007, oferece bolsas de
iniciao docncia aos alunos de cursos de licenciaturas, para antecipar o
vnculo entre os futuros professores e as salas de aula da rede pblica. Com esta
iniciativa a Capes tem oferecido a esses alunos a oportunidade de cumprir um dos
princpios norteadores do programa: a formao de professores da educao
bsica com simetria invertida, isto , o preparo do professor em lugar similar ao
que vai atuar. H o Programa de Formao Inicial e Continuada, Presencial e a
Distncia de Professores para a Educao Bsica (Parfor), caracterizado por um
conjunto de aes de colaborao com as secretarias de educao dos estados e
municpios e as instituies de educao superior. Os cursos na modalidade a
distncia so ofertados pela Universidade Aberta do Brasil (UAB). Embora
reconheamos o papel do Parfor para a formao de professores, uma das
dificuldades o fato de o professor estar em servio, o que limita sua frequncia s
aulas. Podemos citar ainda programas como a Formao em Educao de Jovens e
Adultos; o Programa Escola Ativa Educao no Campo, para capacitar
professores que atuam em escolas no campo; o Programa de Apoio Formao
Superior e Licenciaturas Interculturais (Prolind) Educao Indgena, que visa a
formao de professores indgenas em nvel superior para docncia nos anos
finais do ensino fundamental e ensino mdio, com uma caracterstica diferenciada
de atividades que contemplam tempo-universidade e tempo-comunidade.
Luiz Fernandes Dourado Que concepo de qualidade de ensino e de
educao norteia o projeto institucional da UFG e PUC-GO?
Edward Madureira Brasil - A UFG atua conforme estabelecem seus
documentos fundamentais, o Estatuto e o Regimento Geral. Dessa forma, a UFG
quando transmite, sistematiza e produz conhecimento, o faz ampliando e
aprofundando o ser humano para a reflexo crtica, o exerccio profissional, a
solidariedade nacional e internacional, em que se objetiva alcanar uma sociedade
justa, em que os cidados se empenhem na busca de solues democrticas para os
problemas nacionais. A UFG, ao implementar suas atividades, o faz de modo a
consolidar-se como uma instituio que articula unidade e pluralidade, teoria e
prtica, formao inicial e continuada, tendo como objetivo poltico-pedaggico a
construo do saber, a ampla formao cultural e o desenvolvimento de
programas, projetos e aes para a soluo dos problemas e uma maior incluso
social.
Wolmir Therezio Amado - Toda ao acadmica da PUC Gois tem seu
alicerce em dois parmetros que norteiam sua prtica pedaggica cotidiana,
expressam de maneira inequvoca a poltica da instituio, orientam e organizam
os projetos pedaggicos dos cursos e demais programas, estimulam o carter
inovador e social de suas intervenes e socializam a produo do conhecimento
cientfico e cultural. Os dois parmetros so a excelncia acadmico-institucional
e a qualidade social. A excelncia acadmico-institucional o parmetro
cientfico-cultural que orienta a ao pedaggica e expressa a determinao da
PUC Gois em oferecer ensino, pesquisa e extenso de qualidade. Exige,
portanto, a busca de eficincia e eficcia em todas as dimenses do processo
foto: divulgao SME
acadmico, nos projetos pedaggicos com a participao dos educadores; na
permanente qualificao do corpo docente e tcnico-administrativo; na
observncia de diretrizes curriculares que respondam s reais demandas do
mundo do trabalho; na infraestrutura que atenda s necessidades de formao dos
alunos de modo geral e dos portadores de deficincias de modo especial; na
modernizao e manuteno dos laboratrios; na permanente atualizao do
acervo bibliogrfico fsico e virtual e na procura da sustentabilidade financeira,
que d adequado suporte oramentrio s demandas acadmicas. A qualidade
social o parmetro poltico que orienta a ao acadmica da instituio no seu
compromisso social. Ela realiza o preceito constitucional do direito de todos os
cidados educao, formando-os como pessoas, habilitando-os ao pleno
exerccio da cidadania e insero qualificada no mundo do trabalho. Qualidade
social requer que a instituio assuma papel decisivo no desenvolvimento
humano e social da regio, que abra suas portas aos processos da incluso,
dialogue com os segmentos sociais, amplie as modalidades de acesso e de
permanncia dos alunos, mantendo um dilogo permanente com a comunidade,
atenda a contento s necessidades das pessoas com deficincias e que atenda s
demandas atuais do mundo do trabalho.
Luiz Fernandes Dourado Os programas federais de formao dos
profissionais da educao tm sido objeto de quais aes nas universidades
em Gois?
Wolmir Therezio Amado - Na PUC Gois as experincias federais que
mais qualificam o projeto formativo dos discentes das licenciaturas so o Pibid, o
Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica (Pibic) e o
Financiamento do Ensino Superior (Fies). Em relao ao Pibid, a PUC Gois tem
fortalecido as parcerias com as escolas pblicas e qualificado as redes de ensino
por meio do estudo, debate, pesquisa e produo do conhecimento, onde os alunos
da PUC Gois centram suas experincias num projeto formativo com base na
postura investigativa e na produo intelectual. J o Pibic tem contribuido para
formar um quadro de discentes nas licenciaturas extremamente comprometido
com a produo do conhecimento acadmico e cientfico. Formar professores
A qualidade
social o
parmetro
poltico que
orienta a ao
acadmica da
instituio no
seu
compromisso
social.
(Wolmir Amado)
pesquisadores um dos objetivos centrais do Pibic na PUC Gois. Por fim, o Fies
tem oportunizado a permanncia dos alunos nas licenciaturas, uma vez que
flexibiliza a adeso e a forma de pagamento. Ressalta-se, neste caso, a
possibilidade de o aluno, aps formado, pagar o financiamento por meio de
trabalho na escola pblica.
Edward Madureira Brasil - A UFG tem cumprido um importante papel
social e institucional no desempenho de suas atividades acadmicas e cientficas
no estado de Gois, desde a produo e inovao tecnolgica at a formao de
profissionais qualificados, comprometidos com o crescimento e o
desenvolvimento do estado e do pas. A UFG oferece diversos cursos de
licenciatura, tanto na modalidade presencial como a distncia, nos programas
Universidade Aberta do Brasil, Prodocncia e Parfor. Alguns dos cursos de
licenciatura so nas reas de Biologia, Artes Cnicas, Educao Fsica, Fsica,
dentre outras. A UFG desenvolve um curso pioneiro de formao de professores
em Biologia, no Continente Africano, na cidade de Maputo, em Moambique. A
UFG criou recentemente as seguintes licenciaturas: Intercultural Indgena,
Libras, Dana, Enfermagem e Psicologia. A Poltica de Formao de Professores
da UFG explicita em seus princpios ticos, acadmicos e cientficos a
preocupao com a qualidade e o compromisso do fazer pedaggico dos egressos
dos seus cursos de licenciatura, frente aos atuais desafios do campo educacional,
na busca constante de estabelecer vnculos com a realidade escolar, no apenas na
formao inicial mas tambm na formao continuada dos professores. A poltica
de formao de professores promove constantemente aes e estratgias
pedaggicas e administrativas, para buscar solues aos problemas do cotidiano
escolar. Um exemplo dessas medidas a implementao do curso de Libras para
atuao nas escolas. Esta apenas uma de vrias medidas necessrias para o
atendimento das inmeras demandas do campo educacional.
A UFG
desenvolve um
curso pioneiro
de formao de
professores em
Biologia, no
Continente
Africano, na
cidade de
Maputo
(Edward
Madureira Brasil)
Luiz Fernandes Dourado Quais as aes da universidade goiana para
regulamentar a colaborao entre os entes federados?
Edward Madureira Brasil - A autonomia dos entes federados e a disputa
pelo poder nacional impem barreiras enormes ao processo de colaborao entre
os entes federados no Brasil. A universidade tem um papel limitado no processo de
regulamentao dessa colaborao. O que faz com grande intensidade participar
dos fruns que debatem os assuntos em disputa entre os entes federados, como
educao, sade, segurana, direitos humanos, ocupao geogrfica etc,
integrando comisses instaladas nas esferas de governo e desenvolvendo estudos
acadmicos que embasam possveis aes de colaborao a serem desenvolvidas.
Essas atuaes podem significar, no final, regulamentaes de colaboraes que
muitas vezes so frgeis, pois dependem dos partidos que se encontram no poder e
da tenso entre os componentes desses partidos.
Wolmir Therezio Amado - A PUC entende ser fundamental para o pas a
elaborao e a efetiva implementao de um sistema nacional de educao, desde
a educao infantil at a educao superior O sistema deve ter efetiva sinergia,
com reciprocidade entre os diversos nveis de governo (Unio, estados e
municpios) e entre os diversos setores, o pblico, o comunitrio e o privado. Por
isso, a PUC Gois no mede esforos para fazer parte de todas as instncias
disponveis e aptas a promover a integrao e a colaborao entre as diferentes
agncias que compem o cenrio do ensino superior nacional. claro que
compete aos rgos especficos dos entes federados, tais como as secretarias de
educao, em sinergia com as instncias participativas como os conselhos de
educao, regulamentar e promover a cooperao em nvel nacional. Nossas
parcerias com esses rgos garantem a plena insero da PUC na construo do
sistema, mesmo porque temos a convico de que, por sua natureza e vocao
comunitria, nossa instituio muito tem a contribuir com esta causa. E a histria
dos ltimos cinquenta anos do ensino superior no Centro-Oeste corrobora nossa
convico.
A PUC
entende ser
fundamental
para o pas a
elaborao e a
efetiva
implementao
de um sistema
nacional de
educao
(Wolmir Amado)
Luiz Fernandes Dourado Quais os projetos de formao e a contrapartida
institucional das universidades para os profissionais da Secretaria
Municipal de Educao (SME) ?
Wolmir Therezio Amado - Um dos principais projetos interinstitucionais
entre a PUC Gois e a SME est no fornecimento dos estgios como campo de
estudo dos acadmicos nas licenciaturas e a formao continuada dos
profissionais da instituio. As instituies-campo de estgio da PUC Gois
participam de um amplo projeto formativo, que prev a formao continuada em
contextos, inclusive com direito certificao, iseno de taxas em eventos
organizados pela PUC, alm de outras iniciativas. Da mesma forma, a PUC Gois
tem sido presena constante no debate e nas assessorias de reconstruo das
propostas pedaggicas das etapas e modalidades da educao na SME, o que
significa profunda insero e articulao entre a formao inicial e a continuada.
Destaca-se, ainda, a parceria da PUC Gois na formao continuada da SME, seja
pela promoo de temas de interesse da rede, seja pela disponibilizao de
espaos fsicos para a realizao dos cursos promovidos pelo Centro de Formao
dos Profissionais da Educao (Cefpe), seja pela promoo das jornadas
pedaggicas que tm a PUC, historicamente, como parceira.
Edward Madureira Brasil - A Universidade Federal de Gois atua em
parceria com a SME na formao continuada dos professores em exerccio, por
meio de cursos de capacitao (extenso e ps-graduao), grupos de pesquisa,
reestruturao curricular e atualizaes. Parte das aes so realizadas com
recursos prprios da universidade ou contam com o apoio de agncias de fomento:
MEC, MS, Capes, Fapeg. Por meio de programas como o Parfor, para a formao
de professores dos cursos na modalidade a distncia, tanto de graduao quanto de
ps-graduao e extenso, a UFG contribui com a qualificao de professores da
rede para o exerccio da sua profisso, com vagas especficas para atender a
demanda de formao, em cursos de licenciatura como Fsica, Artes Visuais,
Educao Fsica, Cincias Biolgicas, Artes Cnicas, etc. A UFG oferece ainda a
possibilidade de qualificao em diversos cursos de ps-graduao lato sensu . H
uma parceria institucionalizada para a realizao de estgios curriculares
A
Universidade
Federal de
Gois atua em
parceria com a
SME na
formao
continuada dos
professores
(Edward
Madureira Brasil)
obrigatrios, por meio de convnio e, como contrapartida, os professores dos
cursos de graduao oferecem SME vagas para professores e servidores para
participar de semanas acadmicas, cientficas e pedaggicas ou cursos de
extenso. A aproximao entre a rede municipal e a UFG cada vez maior e
potencializa a articulao desejvel entre a universidade e a educao bsica.
Luiz Fernandes Dourado Que balano pode ser feito do trabalho da
universidade com a infncia, a juventude e a terceira idade goiana?
Edward Madureira Brasil - No que diz respeito a infncia e juventude, a
UFG desenvolve aes por meio do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicados
Educao (Cepae), que atua com crianas a partir da alfabetizao, com
adolescentes e jovens em todo o ensino fundamental e mdio, desenvolvendo,
alm de propostas inovadoras de formao, projetos de diferentes manifestaes
artsticas e culturais. Um outro espao de atuao com crianas a creche da UFG,
que lida com educao infantil e atende crianas de zero a trs anos e onze meses.
Vrias outras aes so desenvolvidas com jovens, especialmente o Programa
Faz O Qu, um projeto da TV UFG com a Prograd e Centro de Seleo, que visa
levar juventude informaes sobre os cursos de graduao de forma criativa e
interativa. O Projeto UFG Vai a Escola aproxima a UFG das escolas de ensino
mdio, levando informaes sobre a UFG, seus cursos e seu processo seletivo.
Com a mesma caracterstica, desenvolvido o Projeto Espao das Profisses,
que, neste caso, traz para os ambientes da UFG mais de 30.000 estudantes todos os
anos. So desenvolvidos inmeros projetos artsticos e culturais, voltados para
jovens e adultos da comunidade goiana, bem como programas de orientao a
adolescentes nas mais diversas reas, especialmente no campo da sade e tambm
para a terceira idade, por meio das ligas acadmicas e ncleos de estudos na rea
de sade, que oferecem atividades de orientao e promoo da sade fsica e
mental.
Wolmir Therezio Amado - A PUC Gois traz em sua histria as marcas
da tradio de um rico trabalho realizado com a infncia, juventude e terceira
idade locais, cujo respeito tem alcanado uma dimenso nacional. Ao longo dos
A PUC-Gois
traz em sua
histria as
marcas da
tradio de um
rico trabalho
realizado com a
infncia, a
juventude e a
terceira idade
(Wolmir Amado)
ltimos 30 anos, diversas iniciativas realizadas em parceria com a sociedade civil
e outras instituies tm permitido PUC Gois contribuir efetivamente com
avanos nas discusses e proposies de polticas pblicas voltadas a esses
sujeitos. Compreende-se que, tanto pela extenso e pesquisa quanto pelo ensino,
essas temticas circulam produzindo indagaes, cincia e acompanhamento
dessa populao, em especial, por sua condio de vulnerabilidade social. Desse
modo, a universidade cumpre seu maior objetivo, que a produo e a difuso do
conhecimento a servio da vida. Esse trabalho pode ser identificado em grupos
de pesquisa que abordam as referidas temticas, alm dos programas permanentes
de extenso, a exemplo do Centro de Estudo, Pesquisa e Extenso Aldeia Juvenil,
Escola de Circo, Escola de Formao da Juventude, Programa Aprender a Pensar,
Centro de Educao Comunitria de Meninos e Meninas e Programa de
Gerontologia Social Universidade Terceira Idade.
Luiz Fernandes Dourado Qual o papel das universidades na melhoria do
processo formativo dos profissionais da educao na qualidade da educao
bsica?
Wolmir Therezio Amado - O papel das universidades na melhoria do
processo formativo dos profissionais da educao e da educao bsica est no
fortalecimento de um projeto de formao inicial e continuada, comprometido
com a qualidade social e com a educao como bem pblico. A universidade deve
ser um locus de crtica e de proposio s polticas educacionais implementadas
no campo da educao bsica. Alm de qualificar o debate e a formao dos
futuros profissionais, as universidades devem ajudar na construo de polticas
pblicas que fortaleam os princpios da gesto democrtica, da valorizao
docente e da melhoria da aprendizagem discente. H que se fortalecer o dilogo e
as parcerias com a SME no sentido de colocar todo o conjunto de estudos e
infraestrutura da universidade na consecuo da formao inicial e continuada,
com vistas construo da identidade docente comprometida com a escola
pblica e com a qualidade social. Portanto, cabe s universidades serem espao de
reflexo crtica e parceiras na promoo de projetos que aprimorem o saber-fazer
docente e discente. A exemplo disso, no semestre passado, o Departamento de
Educao da PUC Gois fez uma grande discusso durante o 3 Ciclo de Debates
do EDU, cuja temtica de 2012 versou sobre a Educao Pblica em Debate:
enfrentamentos e perspectivas. A pauta de reflexo que contou com a presena
dos movimentos sociais, fruns de defesa da educao pblica, as redes de ensino,
professores da educao bsica, professores da PUC Gois e acadmicos de todas
as licenciaturas, reafirmou o compromisso das licenciaturas da PUC Gois em seu
manifesto dos cursos de formao de professores da PUC Gois em defesa da
educao pblica e da formao e valorizao dos profissionais da educao. O
teor deste documento expressa o sentido e o posicionamento dos cursos de
formao de professores com a defesa da educao pblica de qualidade no
municpio e no estado de Gois.
Edward Madureira Brasil - Construir uma educao bsica com
qualidade em um pas uma meta complexa e que envolve muitos componentes,
a maior parte deles alheia s aes que as universidades podem realizar
diretamente. A universidade pode discutir periodicamente os projetos
pedaggicos de suas licenciaturas; qualificar seus professores, titul-los,
incentiv-los a participar de seminrios, simpsios e conferncias que debatem os
problemas da educao bsica, apoiando a realizao de estudos sobre as
condies que as escolas devem possuir para desenvolver uma educao de
qualidade; interagir com as redes estaduais e municipais de ensino por meio dos
estgios e desenvolver projetos que visem a compreenso dos problemas
existentes e, claro, propor solues para esses problemas. A UFG tem atuado em
todas essas vertentes. Entretanto, a universidade tem ao limitada sobre a
definio das prioridades dos governos estaduais e municipais ao alocar os
recursos pblicos, ao definir os salrios a serem pagos aos professores, ao
estabelecer as condies de infraestrutura nas escolas e, enfim, alterar o quadro da
grande desigualdade social brasileira e da desmotivao em que encontram-se
nossos jovens para ingressar na carreira docente, fruto dos salrios que lhes so
oferecidos e das condies desfavorveis que encontraro nas salas de aula.
Construir uma
educao
bsica com
qualidade em
um pas uma
meta complexa
e que envolve
muitos
componentes
(Edward
Madureira Brasil)
ARTIGOS
SME
EDUCAO EM
MOVIMENTO
Poltica de Formao Continuada em Rede
e a qualidade da educao pblica
Marcilene Pelegrine Gomes
Romilson Martins Siqueira
Se quisermos verdadeiramente emancipar o homem
do mundo do medo e da dor, ento a denncia
do que hoje se chama razo e cincia o melhor
servio que a razo pode prestar.
(HORKHEIMER, 2000, p. 178) (Grifos nossos).
Resumo
O presente artigo tem como objetivo discutir os pressupostos e os eixos
que fundamentam a Poltica de Formao Continuada em Rede da SME, tendo em
vista a formao e valorizao dos profissionais da educao e a melhoria da
qualidade do ensino pblico no Municpio de Goinia.
Palavras-chave: Poltica de Formao Continuada. Polticas em Rede.
Qualidade da educao. Formao e valorizao profissional.
As ideias que compem este texto so snteses de um processo de
discusso que se iniciou no Centro de Formao dos Profissionais da Educao
(CEFPE), no primeiro semestre de 2012, e que culminou no Seminrio de
1. Mestre e doutoranda em Educao pela UFG. Professora efetiva do Departamento de Educao da PUC
Gois. Professora da Secretaria Municipal de Educao. Formadora do CEFPE.
2. Doutor e Mestre em Educao pela UFG. Professor efetivo do Programa de Ps-Graduao em Educao
da PUC Gois. Diretor do Departamento de Educao da PUC Gois. Professor da Secretaria Municipal de
Educao. Formador do CEFPE.
3. Ao longo do segundo semestre de 2011 o CEFPE organizou uma intensa agenda interna de discusses que
mobilizou toda a equipe de formadores a fim de construir e fortalecer sua unidade epistemolgica e poltica
em torno do seu objeto de trabalho: a formao continuada.
4. O CEFPE foi criado em 1999 com a funo de propor e implementar a poltica de formao continuada dos
profissionais da SME. Nesse caso, h que ressaltar que esta formao no est restrita aos professores, por
compreender que todos os profissionais envolvidos, direta ou indiretamente, com a promoo da
aprendizagem tm o direito formao continuada, sejam docentes ou funcionrios administrativos.
1
3
2
4
Articulao do Departamento Pedaggico (DEPE) em maio deste ano. Reafirma
os princpios e os pressupostos que norteiam a Poltica de Formao em Rede,
objeto de trabalho do CEFPE como instncia responsvel pela formao
continuada dos profissionais da Secretaria Municipal de Educao de Goinia
(SME). Ademais, este texto um convite reflexo, ao estudo, ao debate e
contribuio de todos os profissionais da educao na construo da Poltica de
Formao Continuada desta rede pblica de educao.
Este documento afirma o lugar da formao continuada em uma Secretaria
que dialoga em rede. Tomemos como ponto de partida para os sentidos
atribudos ideia de poltica, de formao continuada e de rede. O sentido da
expresso poltica no se configura como uma ao isolada, espordica, setorial
ou governamental. Trata-se de prncpios que revelam a intencionalidade, a
natureza e a razo das aes formativas tendo em vista o desenvolvimento da
profissionalidade e, sobretudo, a melhoria da qualidade da educao pblica na
SME.
Da mesma forma, o sentido empregado formao rompe com a
perspectiva pragmtica que alinha a lgica do aprender-fazendo em cursos. A
formao ganha outro sentido quando apreendida nas trocas de experincia, em
contextos, no coletivo. No que se refere ao termo continuada, entende-se aqui o
sentido de um processo continuum que se d ao longo da vida e da profisso. O
termo rede entendido na perspectiva dialgica e dinmica que parte da escuta, do
debate e da construo de aes articuladas com todos os segmentos e instncias
educativas da SME, a fim de garantir a unidade na diversidade.
Por Poltica de Formao Continuada em Rede compreende-se o
conjunto de pressupostos polticos, epistemolgicos e pedaggicos que orientam
os saberes e prticas, tendo em vista a unidade das aes formativas empreendidas
pela SME. A Poltica dialoga em rede externa (Conselho Municipal de Educao,
agncias formadoras, Secretarias Municipais, movimentos sociais, dentre outros)
e interna (entre os Departamentos e instncias da SME), a fim de qualificar e
5. O sentido a forma pessoal como cada um compreende o mundo, as relaes, as experincias. J os
significados referem-se cultura, aos valores, s crenas, s ideias e pensamentos acordados e decididos nas
relaes coletivas.
5
garantir a consecuo das Propostas Poltico-Pedaggicas da Educao Infantil,
Ensino Fundamental da Infncia e da Adolescncia e da Educao de
Adolescentes, Jovens e Adultos. Essa Poltica materializa-se por meio de Projetos
Formativos e Ao Formativa.
Projetos Formativos so aqueles que, em seu processo de elaborao,
tomam como ponto de partida as avaliaes institucionais, as avaliaes de aes
formativas anteriores, os referenciais legais e epistemolgicos. Os projetos
formativos devem anunciar qual ser a formao em rede para cada etapa ou
modalidade da educao durante o ano letivo. Eles devem explicitar os
pressupostos, os princpios, o eixo, o tema central da formao naquele ano, as
diferentes aes formativas que sero oferecidas e o corpus terico que embasar
todas as aes formativas. Devem ter como referncia os tempos da vida e os
processos educativos decorrentes. Portanto, um Projeto Formativo pressupe
planejamento sistemtico e nunca se encerra nele mesmo ou em uma nica ao
formativa, uma vez que ele necessita estabelecer mediaes com outros projetos
anteriores e posteriores.
Por ao formativa compreende-se toda atividade cujo princpio a
formao continuada dos profissionais da educao. O que a constitui no seu
aspecto formativo em rede a possibilidade de articul-la num conjunto de
princpios e prticas com intencionalidade, portanto, planejamento e avaliao.
Neste caso, um projeto formativo que parte da poltica de formao da SME pode
ser estruturado em:
Cursos de curta, mdia e longa durao (presenciais ou a distncia com a
utilizao do ambiente virtual de aprendizagem): aes de formao promovidas
e coordenadas pela SME, com o objetivo de estudar e discutir temticas relativas
ao trabalho docente, com carga horria variada.
6. Neste caso, no incio de cada ano letivo o CEFPE dever divulgar o Projeto Formativo da Educao
Infantil, do Ensino Fundamental em Ciclos e da Educao de Jovens e Adultos, com base no que foi discutido
coletivamente. Este projeto formativo dever contemplar todas as aes formativas que comporo o projeto,
o que implica que cada instncia que queira contribuir na execuo de uma ao formativa deve discuti-la e
aprov-la coletivamente, fazendo-a constar no Projeto. Cada ao formativa deve articular-se com outras e
com o projeto maior, definido para cada etapa e modalidade.
7. Nenhuma ao formativa dever ser desenvolvida sem que tenha sido discutida coletivamente e
contemplada no Projeto Formativo. Toda ao formativa dever explicitar o referencial terico, os princpios,
vincular-se aos eixos da Poltica de Formao e atender ao perfil de profissional que ela enseja.
6
7
Eventos de grande porte: aes de formao promovidas e coordenadas
pela SME voltadas para o grande pblico, com o objetivo de discutir as propostas
poltico-pedaggicas da SME.
Grupos de Trabalho e Estudo: aes de formao, com o objetivo de
estudar temas especficos e propor aes que auxiliem a prtica docente no espao
educacional.
Cursos em parceria com o MEC: aes de formao promovidas e
coordenadas pela SME e financiadas com recursos do Governo Federal
(MEC/FNDE).
Cursos, simpsios, seminrios, congressos e conferncias oferecidos em
parceria com as Instituies de Ensino Superior (IES).
Palestras e encontros formativos: aes promovidas pelo CEFPE,
Unidade Regional de Educao (URE), Centro Municipal de Atendimento
Incluso (CMAI), Diviso de Estudos e Projetos (DIEP) e Divises de Educao.
Estas atividades devem ocorrer articuladas a um projeto formativo maior e sua
elaborao e execuo devem explicitar os pressupostos da poltica de formao e
sua estreita vinculao com as propostas pedaggicas da SME.
Formao em Contexto: ao que deve ser suscitada pelas instituies
educacionais, incentivadas e apoiadas pelo CEFPE e Divises, bem como
acompanhadas em seu processo, planejamento, desenvolvimento,
sistematizao, documentao e socializao pelas URE.
Propor uma poltica de formao em rede implica aes, opes e polticas
estratgicas da SME para garantia do direito aprendizagem e formao
humana de todos os sujeitos professores, funcionrios administrativos,
educandos. O que se espera que essa poltica oportunize e fortalea a formao
continuada, comprometida com uma educao pblica de qualidade social.
Neste sentido, a poltica de formao continuada da SME deve orientar-se por
meio de pressupostos polticos, epistemolgicos e pedaggicos, com foco na
unidade das aes.
8. O social aqui nos remete ao sentido poltico enquanto ato intencionado, objetivado. Constitui-se na sua
expresso pblica, ou seja, enquanto coisa pblica, bem comum, portanto, para todos. No se converte em
direito para ajustar e compensar conflitos. Na verdade, constitui o direito subjetivo e universal em si mesmo.
Constitui o fundamento da polis no sentido de reconhecer todos os sujeitos como indivduos.
8
Pressupostos polticos
Um aspecto importante a se considerar que a poltica de formao deve
manter estreita relao com as polticas pblicas, particularmente as polticas
educacionais. Entende-se que a Poltica de Formao deve ser uma das dimenses
que expressam as polticas pblicas para a educao, que deve contribuir na
garantia dos direitos sociais, humanos e civis. As aes formativas, desenvolvidas
em diferentes instncias, devem levar em conta as articulaes com outras aes e
polticas setoriais como cultura, meio ambiente, sade, promoo social, bem
como aquelas inerentes educao. Entende-se que as polticas pblicas
expressam a ao do Estado a servio de um projeto de sociedade, o que significa
compreender que esse projeto se consolida na disputa de interesses que move
diferentes segmentos sociais. Portanto, nenhuma poltica pblica neutra ou a-
poltica. Ela sempre expresso de foras que demandam do Estado uma ao ou
uma resposta social. Neste sentido, defende-se que, na elaborao das aes
formativas estejam presentes o dilogo entre estas aes e as polticas pblicas
intersetoriais, tendo em vista a qualidade social da educao como bem comum,
portanto, para todos.
Em tempos de excluso e marginalizao, fruto de um processo de
organizao social pautada na desigualdade e na barbrie, ter acesso ao
conhecimento contribui para a garantia da incluso social. Todavia, h que
compreender que em tempos de neoliberalismo exacerbado, o discurso da
incluso social tambm pode incorrer em uma falcia. Portanto, quando se fala em
incluso social, fala-se em todas as formas que se contrapem lgica da
excluso, num processo interno de crtica a essa lgica, ao mesmo tempo em que
pem-se em pauta as lutas cotidianas.
Nesse sentido, a incluso social aqui defendida no se reporta a ajustar os
desajustados mas, acima de tudo, a manter alerta a crtica ao modelo econmico
9. Ver Azevedo (1997).
10. Compreendido como uma das formas de renovao do Liberalismo clssico, em que pe-se em evidncia
a propriedade, o individualismo, o mercado, o lucro. O neoliberalismo se constitui no renovado esforo do
modelo de desenvolvimento e sociabilidade capitalista em manter a hegemonia de um processo econmico,
desigual e combinado, que articula excluso e incluso.
9
10
vigente, que mascara as contradies sociais em nome de uma suposta igualdade
de direitos. Dessa forma, a concepo de incluso social que permea as aes
formativas deve considerar o sentido ampliado da incluso, que passa pela
reiterada luta em favor dos direitos humanos, sociais, polticos e civis. Isto
permite colocar em pauta o respeito s diferenas e diversidade, ao mesmo
tempo em que reafirma que a condio de igualdade humana s se concretiza em
condies de emancipao dos sujeitos. Todas as aes formativas devem situar,
no plano macroeconmico-social, as contradies que se evidenciam ao tomar, na
formao, os objetos de estudo. Nenhum conhecimento neutro, como nenhuma
ao formativa pode deixar de evidenciar o estranhamento e o posicionamento
poltico e crtico.
Mas de qual formao continuada se fala quando se pensa em uma poltica
de formao em rede? Naquela que toma como ponto de partida a dialeticidade, a
historicidade e a identidade profissional. A formao continuada deve
possibilitar situaes em que a produo e a apropriao do conhecimento se
dem no movimento dialtico de ao-reflexo-ao. Isto implica considerar o
conhecimento tcito como ponto de partida que passa a ser interrogado,
questionado, posto em dvida e que, num ato consciente, retomado,
transformado e ressignificado. Assim, a formao continuada toma como ponto
de partida o conhecimento tcito dos profissionais, mas o problematiza e o elucida
de forma crtica.
Portanto, a experincia de trabalho do profissional da educao pode ser
compreendida sobre dois aspectos importantes. Primeiro, refere-se ao saber
tcito, ou seja, quilo por ele produzido em sua histria e atuao profissional,
acumulando um conjunto de saberes-fazeres inerentes sua ao. Segundo, existe
11. Aspecto que permite apreender o movimento, a contradio, a dinmica, a relao de uma coisa e outra e
no de oposio de uma e outra, bem como a historicidade dos fenmenos num reiterado processo de tenso
entre presentepassado, todoparte, universalsingular, socialindividual.
12. Para se compreender aquilo que expressa a historicidade de uma coisa preciso compreend-la nos
processos de interseo entre homem-trabalho-cultura, processos que no se do na perspectiva individual e
nem atemporal.
13. Nesse caso, a questo da identidade nos remete necessariamente a um projeto poltico. (CIAMPA,
2001, p. 73). Projeto poltico que implica reconhecer o projeto de sociedade e suas condies de produo que
operam a incluso e a excluso dos indivduos.
14. Para Saviani (1991), a construo do pensamento se daria, pois, da seguinte forma: parte-se do emprico,
passa-se pelo abstrato e chega-se ao concreto. (p.11)
12 13
11
14
outro sentido e significado para a experincia que a formao continuada deve
apreender. Trata-se da experincia como sentido humano, daquilo que foi vivido e
marcado na vida do sujeito, de forma singular, portanto, pessoal. Assim, a
experincia o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. No o que se
passa, no o que acontece, ou o que toca. (LARROSA, 2002, p. 21). Neste
sentido, a formao continuada no pode traduzir-se em aes formativas
espordicas, fragmentadas e que no tragam o sentido da experincia para os
sujeitos.
Nessa perspectiva, a formao continuada deve objetivar o
desenvolvimento pessoal, humano e profissional, no pelo acmulo de
conhecimentos adquiridos, mas, acima de tudo, pelo fortalecimento de uma
postura investigativa e crtica da prpria atuao profissional. Entende-se que o
desenvolvimento profissional abarca as dimenses da formao humana, tica,
poltica, esttica e tambm pedaggica, o que permite um processo de
profissionalizao comprometido com a qualidade.
Pressupostos epistemolgicos
Do ponto de vista epistemolgico, a Poltica de Formao Continuada da
SME reafirma os pressupostos que norteiam a aprendizagem e o desenvolvimento
humano em uma perspectiva histrico cultural e nos fundamentos do
materialismo histrico dialtico, como mtodo de estudo e compreenso da
realidade. deste lugar epistmico que se parte para a compreenso do sentido
poltico e pedaggico que articula as aes formativas em rede. Portanto,
compreende-se,
o papel da ao humana na histria, ato que constitui-se no e pelo
trabalho, na e pela atividade, na e pela produo de cultura. Portanto, a
15. Profissionalizao aqui entendida como reconhecimento do saber-fazer da profisso naquilo que compete
aos direitos dos trabalhadores da educao, particularmente no que se refere sua valorizao como
trabalhador e como pessoa humana.
16. O materialismo histrico dialtico se prope estudar aquilo que engendra os processos de produo da
base material da sociedade e seus desdobramentos nas formas de produzir a sociabilidade humana.
17. Seguindo o referencial marxista, apresentam-se trs aspectos fundamentais da atividade humana: a) ser
orientada por um objetivo, b) fazer uso dos instrumentos de mediao e c) produzir algo que podemos
caracterizar como elemento da cultura seja por sua existncia fsica seja por sua existncia simblica - e que
consiste na objetivao do ser humano. (ZANELLA, 2004, p. 130)
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16
17
atividade ou ao humana intencional deliberada, ao consciente, livre, que
constitui a vida produtiva e a vida genrica do homem, tornando-o criador e
criatura: o homem faz da atividade vital o objeto da vontade e da conscincia.
(MARX, 2001, p. 116);
que os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano so
construes sociais. Para Vygotsky, no possvel discutir separadamente
aprendizagem e desenvolvimento. Sua constituio recproca depende dos
processos de interao social dos indivduos. O desenvolvimento humano
(entendendo nesse caso os processos psquicos, afetivos, cognitivos, motores) e a
aprendizagem fundamentam-se nas relaes sociais entre indivduos e o mundo
exterior e desenvolvem-se num processo histrico. deste lugar que a Poltica de
Formao Continuada entende os processos de aprendizagem e desenvolvimento
humano, ou seja, na compreenso de que o ser humano, em suas dimenses psico-
fsico e social, constitui-se socialmente na histria. nela que o homem vai,
dialeticamente, se distanciando de sua condio biolgica para a sua condio
social, sem, contudo, perder de vista a primeira. Esse processo s se concretiza
18. Ainda que interdependentes, para Vygostky, as duas categorias so diferentes e no se interpem uma em
relao outra.
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foto: divulgao SME
quando se percebe que a vida e o desenvolvimento humanos no se descolam
daquilo que se processa no modo de produo da vida material;
que a produo e a apropriao da cultura se d na e pela mediao
sujeito-sujeito e sujeito-signos. O que se quer discutir aqui a importncia do
outro para os processos de produo e apropriao do conhecimento. Para
Vygotsky (1987), na relao social, mediatizada pelos elementos e signos
construdos historicamente, que a cultura se faz presente. A cultura aqui
entendida como produto e processo em que se d a objetivao e subjetivao
humana. Portanto, o ser humano se apropria da cultura e concomitantemente nela
se objetiva, constituindo-se assim como sujeito (ZANELLA, 2005, p. 99). Para
Horkheimer (1990), a produo da cultura resultado de um processo que se
engendra nas condies histricas construdas pela evoluo e pela transformao
da ao humana na natureza. Portanto, a cultura produzida na Histria e sob
diferentes condies econmicas de produo;
o papel das aes formativas como mediadoras na construo do
conhecimento cientfico. Para Vygostky (1991), conhecimento cientfico
aquele que advm da elaborao intelectual e pressupe a ateno deliberada,
memria lgica, capacidade de abstrao e domnio de signos. Envolve, portanto,
experincia e atitude consciente e sistemtica, bem como a capacidade de inter-
relacionar diferentes conceitos. Portanto, num movimento dialtico ascendente e
descendente, o conhecimento/conceito cientfico parte do conhecimento
espontneo, mas retorna num processo que implicou o desenvolvimento da
conscincia reflexiva. O conhecimento a priori no pode mais ser o mesmo, uma
vez que a atitude do pensamento abstrato (anlise, sntese, comparao,
generalizao) exigiu a elucidao da realidade. Este o processo que a Poltica
de Formao Continuada deve empreender em suas aes formativas - possibilitar
aos profissionais da educao a aquisio do conhecimento cientfico por meio do
pensamento crtico, divergente e transformador. Reafirma-se, aqui, a importncia
19. O outro aqui referido no necessariamente precisa ser um outro humano.
20. o fato de (...) produzir cultura [implica] em objetivao do sujeito que a empreende. Porm, esse
processo de objetivao pressupe ao mesmo tempo a subjetivao do sujeito, pois, ao apropriar-se da
atividade, o sujeito apropria-se da histria humana e imprime a esta sua marca. O movimento de objetivao e
subjetivao possvel graas caracterstica fundamental da atividade humana, isto , o fato de ser mediada
por signos. (ZANELLA, 2004, p. 132)
19
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da atitude investigativa e da problematizao da realidade como pontos de partida
para a formao continuada dos profissionais.
Pressupostos pedaggicos
Para a construo de uma Poltica de Formao Continuada em Rede h
que se considerar tambm os pressupostos pedaggicos que devem orientar sua
conduo:
A formao como processo contnuo ato que se d na articulao entre
os saberes advindos da formao inicial e aqueles construdos no exerccio da
profisso. As aes formativas devem partir do dilogo com as agncias
formadoras sobre os conhecimentos e o perfil dos profissionais formados por elas,
dos objetivos delineados nos Projetos Formativos e da implementao da
formao em contexto na SME. Esta ltima consiste nas aes formativas,
formais e informais, realizadas no ambiente de trabalho, tendo como ponto de
partida a reflexo sobre a prtica pedaggica dos profissionais que atuam nesse
espao. Os princpios que fundamentam a formao em contexto, segundo
Cunha e Prado (2010), Canrio (2001), Ferreira e Zurawski (2011), se constituem:
a) na realizao in loco, j que no espao de trabalho que deve-se consolidar um
projeto de formao articulado PPP da instituio; b) na interlocuo, que
pressupe o envolvimento e dilogo dos profissionais pedaggicos e
administrativos entre si e com outros interlocutores (tericos, profissionais de
outras agncias formativas, apoios, profissionais de outras instituies da Rede e
de outras redes etc.); c) na observao das necessidades e interesses dos
profissionais, ato que pressupe o envolvimento de todos os participantes, desde a
escolha da temtica a ser estudada, sua problematizao, at a busca de caminhos
que promovero mudanas na prtica institucional; i) no foco do processo de
aprendizagem e desenvolvimento dos sujeitos, a fim de promover a qualidade do
ensino-aprendizagem.
Os saberes da formao que se constituem na articulao entre o
conhecimento cientfico, o conhecimento pedaggico e o conhecimento sobre a
21. Sntese terica do documento Orientaes para elaborao do Plano de Formao nas instituies de
Educao Infantil/2012, elaborado pela equipe da educao infantil do CEFPE.
21
rede. Nesta perspectiva, os saberes da formao so aqueles que se coadunam na
perspectiva de fortalecimento da identidade profissional, ato que se d na
significao social da profisso; da reviso constante dos significados sociais da
profisso; da reviso das tradies. Mas tambm da reafirmao das prticas
consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Prticas que
resistem a inovaes porque prenhes de saberes vlidos s necessidades da
realidade. Do confronto entre as teorias e as prticas, da anlise sistemtica das
prticas luz das teorias existentes, da construo de novas teorias. (PIMENTA,
1999, p. 19) Os saberes cientficos so construdos no dilogo e acmulo terico
que os profissionais vo adquirindo na formao inicial e continuada. Eles
expressam o saber sistematizado e referendado luz da cincia. Para Pimenta
(1999), os saberes pedaggicos so aqueles advindos da experincia, do
conhecimento e das prticas pedaggicas constitudas na ao profissional. J os
saberes sobre a Rede so aqueles que permitem aos profissionais a compreenso
das atividades meio e das atividades fim numa Secretaria Municipal de Educao e
que implicam em uma leitura de rede com aes articuladas. Os saberes sobre a
Rede permitem aos profissionais compreender a funo social da educao
pblica, bem como seu papel profissional na consecuo desta funo. Numa
perspectiva histrica e social, os saberes da formao articulam os saberes
cientficos, os saberes pedaggicos e os saberes sobre a Rede, a fim de garantir o
desenvolvimento profissional e pessoal dos trabalhadores na educao.
A postura investigativa e a prxis pedaggica - pressuposto que implica
fortalecer, em todas as aes formativas, a prtica da problematizao, da reflexo
crtica, do posicionamento poltico e da ao transformadora. Neste caso, a
formao deve tomar os objetos de estudo nas aes formativas e recoloc-los
luz da ao-reflexo-ao. Isto implica uma formao que mobilize os sujeitos
para uma atitude investigativa que objetive a resoluo de problemas com base no
referencial terico. Por postura investigativa entende-se aquela em que o
22. Sobre os saberes da experincia, estes surgem como ncleo vital do saber docente, a partir do qual o(a)s
professor(a)s tentam transformar suas relaes de exterioridade com os saberes em relaes de interioridade
com sua prpria prtica. Nesse sentido os saberes da experincia no so saberes como os demais, eles so, ao
contrrio, formados de todos os demais, porm retraduzidos, polido submetidos s certezas construdas na
prtica e no vivido. (TARDIF, 1991, p. 234).
22
profissional questiona, busca, estuda, discute, registra, documenta e socializa com
seus pares o saber-fazer acumulados.
A interdisciplinaridade compreendida como produto e processo de
estudo e produo do conhecimento sistematizado. Ela trata do conhecimento. Ela
questiona-o, interroga, o estranha e o valida. A atitude do pensamento
interdisciplinar implica colocar-se na condio de fazer uso da razo, do
esclarecimento e elucidar objetos do conhecimento sob o olhar da cincia. Para
Japiassu (2000), a interdisciplinaridade requer do pensamento humano a
capacidade de conhecer o universal e o abstrato e a exigncia de conhecer o
porqu das coisas. Portanto, a interdisciplinaridade uma atitude que move o
pensamento e a ao, uma vez que o conhecimento deve partir do simples para o
complexo, do abstrato para o concreto, do real para o imaginrio (...) sendo o
princpio da mxima explorao das potencialidades de cada cincia, da
compreenso de seus limites, o princpio da diversidade e da criatividade.
(FAZENDA, 1994, p. 38). O ponto de partida e de chegada de uma ao
interdisciplinar est na conduo de uma metodologia participativa e dialgica.
Busca-se, com isso, achar os pontos de convergncia em uma ao que se
desenvolve num trabalho cooperativo e reflexivo. Para JAPIASSU (1976, p.74):
a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os
especialistas e pelo grau de interao real das disciplinas no interior de um mesmo
projeto de pesquisa. A atitude do pensamento e da ao interdisciplinares
coadunam-se com a postura investigativa, j que implica uma "atitude de abertura
frente ao problema do conhecimento." (FAZENDA, 1979, p. 39).
Eixos da Poltica de Formao Continuada
Tomando como referncia que o eixo aquilo que est na base e que
sustenta a articulao dos Projetos e das Aes formativas em Rede, destacam-se
aqueles que, de forma interdisciplinar, devem perpassar a formao profissional, a
saber:
Conhecimento da base espistemolgica que orienta as Propostas
Poltico-Pedaggicas da Secretaria Muncipal de Educao de Goinia.
Reconhecimento das caractersticas e especificidades dos tempos da vida
(infncia, adolescncia, juventude, adultcia e terceira idade).
Incluso social, diversidade humana e cultural, diferenas individuais,
direitos humanos, processos de participao e cidadania.
Gesto democrtica e organizao do trabalho pedaggico (interaes,
tempos, espaos, materiais e documentao pedaggica).
Currculo, conhecimento e prticas pedaggicas.
A instituio educacional como locus de formao em contextos.
A garantia desses eixos nas propostas formativas deve considerar que as
temticas propostas para a formao sejam situadas no campo das polticas
pblicas; o desenvolvimento da postura investigativa; o domnio da linguagem
oral e escrita, particularmente nos registros reflexivos dirios sobre o processo de
formao; a interface interdisciplinar do objeto de estudo nas diferentes reas do
conhecimento; a vivncia e a expresso de diferentes linguagens artsticas nos
projetos e aes formativas.
O perfil do profissional desejado
Considerando os princpios que norteiam esta Poltica de Formao
Continuada, tendo em vista o fortalecimento da identidade e a valorizao da
profissionalizao dos trabalhadores em educao, os Projetos e Aes
formativas devem propiciar condies para que os sujeitos desta Poltica possam:
ter cincia e clareza de sua responsabilidade poltica e da sua competncia
tcnica naquilo que compreende o saber-fazer da sua profisso e a qualidade da
educao pblica;
constituir-se como pesquisadores/investigadores da prpria prtica
profissional, quando a interrogam, questionam e alteram posturas e prticas;
reconhecer o fundamento do seu trabalho no contexto das aes
educativas, compreendendo o fenmeno educativo e as relaes sociais que dele
decorrem;
23. Os termos aqui utilizados diferenciam-se daqueles comumente utilizados no campo das cincias e da
pesquisa cientfica. Trata-se de reafirmar o compromisso com a postura investigativa para o processo de
compreenso da realidade.
24. De acordo com Saviani (2003:13) o trabalho educativo o ato de produzir, direta e intencionalmente, em
cada indivduo singular, a humanidade que produzida histrica e coletivamente pelo conjunto dos homens.
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reconhecer-se como integrante de um coletivo de profissionais que deve
primar pela garantia dos direitos dos sujeitos que freqentam as instituies
educativas;
desenvolver cotidianamente a cultura do registro e da reflexo crtica do
seu trabalho a fim de compartilhar seus saberes e suas prticas em contextos de
trabalho coletivos;
constituir-se como profissionais ticos, crticos e com sensibilidade
esttica.
Desafios implementao da Poltica de Formao Continuada em Rede
Dentre os desafios que se colocam implementao da Poltica de
Formao Continuada em Rede, destacam-se:
a articulao da Poltica de Formao Continuada no mbito das demais
polticas estratgicas da SME e, em particular, com a avaliao institucional;
a garantia do dilogo e da troca de experincia entre as instncias do
DEPE.
um estudo aprofundado sobre o perfil dos profissionais da SME, bem
como suas necessidades e demandas por formao;
a articulao da Poltica de Formao com o diagnstico e os resultados da
avaliao da aprendizagem discente;
a articulao entre a Poltica de Formao e a Formao em Contextos;
a mudana da cultura dos cursos para a cultura da formao
permanente;
a mudana na cultura da formao que deve romper com o aprender
fazendo para a autonomia e autoria intelectual dos profissionais que participam
da formao;
o fortalecimento da cultura da publicao e da socializao das produes
dos profissionais que participam da formao, bem como daquelas experincias
formativas que so centrais nas Propostas Poltico Pedaggicas da SME;
a ampliao do sentido dado formao. H que se construir na SME uma
cultura humana e esttica que propicie aos profissionais da educao outras
experincias formativas como acesso aos bens culturais e simblicos: cinemas,
shows, teatro, vivncias etc. Trata-se, sobretudo, da ampliao e da educao do
olhar esttico em todos os profissionais.
Enfim, construir uma Poltica de Formao Continuada em Rede
pressupe considerar que sua elaborao e implementao tambm se d na
dialeticidade, na cotidianidade e no movimento. Nela, nada se encerra em si
mesmo, mas, acima de tudo, se abre ao dilogo e construo coletiva de um novo
lugar para se pensar a formao: humana, poltica, tcnica, tica e esttica.
Portanto, sua razo de existir s faz sentido se ela qualificar e alterar os sujeitos e
suas prticas tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino.
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Formao de professores para a EJA:
da lgica das competncias formao humana
omnilateral
Cludia Borges Costa
Joel Ribeiro Zaratim
Ao pensar a educao na perspectiva da luta emancipatria, no poderia
seno restabelecer os vnculos to esquecidos entre educao e trabalho,
como que afirmando: digam-se onde est o trabalho em um tipo
de sociedade e eu direi onde est a educao. (SADER, 2005, p.17)
Resumo
O presente artigo um convite reflexo acerca da formao de
professores para a educao de jovens e adultos (EJA). O estado da arte sobre a
EJA no Brasil revela a importncia do dilogo dessa modalidade com o mundo do
trabalho. Nesse sentido, a concepo de omnilateralidade gramsciana permite
compreender que a formao educativa no precisa ficar distante da formao
para o trabalho.
Palavras-chave: Educao de jovens e adultos. Formao de professores.
Trabalho. Omnilateralidade.
Introduo
A epgrafe citada acima sinaliza a concepo de educao assumida ao
longo deste artigo e demonstra a preocupao em trazer a questo do trabalho para
dialogar com a educao. O debate torna-se necessrio, principalmente pela atual
1
2
1. Coordenao do Frum Goiano de EJA. Apoio Pedaggico da Rede Municipal de Educao de Goinia e
doutoranda em Educao (UnB).
2. Professor Assistente da Universidade Estadual de Gois, mestre em Educao (UFG). Conselheiro Titular
do Conselho Municipal de Educao.
configurao da globalizao econmica, que, junto com a adoo de uma poltica
de formao para as competncias e a produtividade, acaba interferindo no
processo educativo d