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 Revista SME: Educação em Movimento V olume 1 - Número 2/3 - janeiro a dezembro d e 2012 R. SME ISSN 2237-9835 Goiânia v.1 n.2  p. 1- dezembro 2012

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  • Revista SME: Educao em Movimento

    Volume 1 - Nmero 2/3 - janeiro a dezembro de 2012

    R. SME

    ISSN 2237-9835

    Goinia v.1 n.2 p. 1- dezembro 2012

  • Equipe diretiva da SME:

    Secretria Municipal de Educao

    Neyde Aparecida da Silva

    Chefia de Gabinete

    Dbora da Silva Quixabeira

    Diretor Departamento Pedaggico (DEPE)

    Pe. Francisco Prim

    Diretora Departamento de Administrao Educacional (DAE)

    Clarislene Paula Domingos

    Diretora Departamento de Alimentao Educacional (DALE)

    Noeme Din Silva

    Diretora Departamento de Gesto Pessoal (DGP)

    Marta Helena Almeida

    Diretor Departamento Administrativo (DA)

    Valfran de Sousa Ribeiro

    Diretor do Fundo Municipal de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino (FMMDE)

    Haroso Ferreira de Oliveira

    SME: Educao em Movimento

    Editor: Luiz Fernandes Dourado

    Conselho Editorial:

    Creude Pereira de Jesus Bessa -SME

    Elciva Gonalves Frana CME e SMEn -

    Francisco Prim - SME

    Genivalda A. C. dos Santos - SME

    Gislene M.A. Guimares - SME

    Ida Leal de Souza - Sintego

    Janana Cristina de Jesus - PUC/GO e SME

    Joo Ferreira de Oliveira - UFG

    Maria Augusta Mundim UFG -

    Maria Margarida Machado UFG -

    Miriam Fbia Alves - UFG

    Romilson Martins Siqueira PUC/GO e SME -

    Roseneide Ramalho da Silva - SME

    Capa:

    A obra Cerrado e cidade de autoria do artista plstico e professor da Universidade Federal de Gois Z

    Csar (Jos Csar Teatini de Souza Clmaco).

    Reviso:

    Eliane Faccion

    Secretaria Executiva

    Lindaura O. D. de Moura / GO-00876 JP/ DRT-GO

    SME: Educao em Movimento

    uma publicao da SME Goinia que aceita colaborao, reservando-se o direito de publicar ou no o

    material enviado ao conselho editorial. As colaboraes devem ser enviadas revista em meio eletrnico para

    o endereo: [email protected]

    SME

    EDUCAO EM

    MOVIMENTO

    EXPEDIENTE

    SME: Educao em Movimento / Secretaria Municipal de Educao de Goinia - v. 1, n.2/3, janeiro a

    dezembro de 2012.

    2012 - Goinia: SME, 2012.

    Semestral

    ISSN 2237-9835

    1. Educao - Peridico - SME

  • Editorial

    Formao dos profissionais da educao

    Luiz Fernandes Dourado

    Entrevista

    A Formao dos Profissionais: o trabalho das universidades e da SME

    Edward Madureira Brasil

    Wolmir Therezio Amado

    Artigos

    1. Poltica de Formao Continuada em Rede e a qualidade da educao pblica

    Prof. Ms Marcilene Pelegrini Gomes e Prof. Dr Romilson Martins Siqueira

    2. Formao de professores para a EJA: da lgica das competncias formao

    humana omnilateral

    Cludia Borges Costa e Joel Ribeiro Zaratim

    3. Formao sindical, herdeira da educao popular

    Ida Leal de Souza

    4. Uma breve histria da SME de Goinia

    Arlene Carvalho de Assis Clmaco e Walders Nunes Loureiro

    5. Um olhar sobre a trajetria do Conselho Municipal de Educao de Goinia

    Accia Aparecida Bringel

    6. A identidade do indgena na mdia impressa

    Simone Antoniaci Tuzzo e Claudiomilson Fernandes Braga

    Relatos e experincias pedaggicas

    1. Por uma jornada pedaggica com qualidade social

    Jovenlia Rodrigues Pereira, Maria Avelina de Carvalho e Romilson Martins Siqueira

    SUMRIO

    SME

    EDUCAO EM

    MOVIMENTO

  • 2. A elaborao de planos de formao

    Alessandra Gomes Jcone, Cnthia Camilo, Eleny Macedo de Oliveira e Eulmpia Neves

    Ferreira

    3. Dilogos e prticas na formao inicial e continuada de professores

    Nancy Nonato de Lima Alves, Daniela da Costa Britto Pereira Lima, Vanessa Gabassa,

    Mrcia Ferreira Torres Pereira e Simone de Magalhes Vieira

    4. Um relato sobre a formao de professores do ensino fundamental

    Salete Flres Castanheira, Maria Gonalves Arajo e Maria Anglica de Oliveira

    5. O estgio como espao formativo na educao de adolescentes, jovens e adultos

    Janana Cristina, M . Emlia de Castro e M. Jos do Nascimento

    6. O Conselho Municipal de Educao de Goinia na defesa dos direitos das

    crianas

    Accia Aparecida Bringel e Milna Martins Arantes

    7. Do sonho realizao profissional: formao continuada e atuao na SME

    Maria do Socorro Barbosa Lima

    7. Msica e aprendizagem

    Alessandro de Oliveira Branco

    Documento

    Secretaria Municipal de Educao. Portaria SME N. 019, de 04-04-2012.

    Regulamenta os critrios e procedimentos para a concesso da Licena para

    Aprimoramento Profissional aos detentores do Cargo de Profissional de Educao

    II (PE II) e d outras providncias.

    SUMRIO

    SME

    EDUCAO EM

    MOVIMENTO

  • EDITORIAL

    SME

    EDUCAO EM

    MOVIMENTO

  • Formao dos profissionais da educao

    SME: Educao em movimento uma revista da Secretaria Municipal de

    Educao (SME) de Goinia, que procura contribuir com a reflexo sobre as

    polticas e gesto da educao bsica pblica, especialmente no municpio de

    Goinia, por meio de sua Editoria e Conselho Editorial, integrados por

    pesquisadores e profissionais da educao da SME, Conselho Municipal de

    Educao (CME), Universidade Federal de Gois (UFG) e Pontifcia

    Universidade Catlica de Gois (PUC-GO).

    Em seu segundo volume , articulando os nmeros 2 e 3, traz como

    temtica central a formao dos profissionais da educao, alm de outros artigos

    sobre polticas e gesto da educao bsica. A valorizao dos profissionais da

    educao tem sido objeto de vrias lutas, demandas e aes poltico-pedaggicas,

    tendo como destaque aquelas direcionadas formao, por meio de formao

    inicial e continuada. Este nmero da revista busca situar essa temtica, dando

    especial contorno efetivao de polticas mediadas pelas aes da SME, UFG e

    PUC-GO.

    Assim, busca dar continuidade, como peridico da rea de educao,

    divulgao de diferentes concepes, anlises e experincias que contribuam para

    a melhoria e democratizao da educao bsica de qualidade.

    A proposta editorial deste nmero da SME: Educao em Movimento

    estrutura-se por meio das seguintes sees: Entrevista, Artigo, Relatos e

    experincias pedaggicas e Documento.

    Para a seo Entrevista, organizada por este editor, foram convidados

    Edward Madureira Brasil, reitor da Universidade Federal de Gois, e Wolmir

    Therezio Amado, reitor da Pontifcia Universidade Catlica de Gois. So dois

    educadores e gestores com ampla trajetria e compromisso com a educao em

    Gois e no pas, especialmente com a educao superior. Esta entrevista permite

    ao leitor apreender o complexo cenrio da formao de professores no Brasil e em

    Gois e, sobretudo, das polticas e gesto direcionadas formao empreendidas

    pelas duas universidades, pioneiras na regio Centro-Oeste, e a sua interface com

    a educao bsica, especialmente, com a Secretaria Municipal de Educao de

    Goinia.

  • Na seo Artigo, as temticas tm por centralidade a formao e, ainda,

    outras reflexes sobre polticas e gesto direcionadas educao. Importante

    destacar a busca de articulao entre as aes de formao da SME e das

    universidades goianas, resultando em artigos escritos em co-autoria por

    profissionais da UFG e da PUC-GO com profissionais da SME. Trata-se de uma

    experincia que, certamente, enriquecer ainda mais os esforos de articulao e

    cooperao entre as trs instituies de ensino e espaos de formao

    A seo Relatos e experincias pedaggicas apresenta aes

    desenvolvidas por diferentes atores e que contribuem para uma viso rica sobre as

    possibilidades de atuaes coletivas e reflexes sobre a vivncia e a melhoria dos

    processos formativos na cidade de Goinia e sua interface com a proposta

    poltico-pedaggica da SME.

    A seo Documento tem por objetivo disseminar iniciativas institucionais

    da Secretaria Municipal da Educao e do Conselho Municipal de Educao de

    Goinia, e traz nesta edio a Portaria SME N. 019, de 04 abril de 2012, que

    estabelece critrios e procedimentos para a concesso da licena para

    aprimoramento profissional aos detentores do cargo de Profissional de Educao

    II (PE II) e d outras providncias. Essa Portaria se articula temtica deste dossi

    e traduz o esforo poltico-pedaggico da SME em consolidar sua poltica de

    formao, em atendimento ao disposto no Estatuto dos Servidores do Magistrio

    Pblico do Municpio de Goinia.

    Este nmero conta com a participao do professor da Universidade

    Federal de Gois e artista plstico Z Csar ( Jos Csar Teatini de Souza Clmaco)

    com a obra: Cerrado e cidade que ilustra a capa desta edio. Obra que retrata as

    vrias possibilidades geopolticas inseridas nesse contexto e o compasso e

    descompasso que compe a regio Centro-Oeste.

    Esperamos que a revista SME: Educao em movimento possa se

    consolidar, ainda mais, contando com colaboradores de diferentes instituies e

    espaos educativos, contribuindo, desse modo, para a compreenso, a avaliao e

    a melhoria da educao bsica em nosso pas, Estado e no municpio de Goinia.

    A revista dispe de um canal direto de comunicao, por meio do e-mail

    [email protected]. Os artigos e contribuies, assim que forem

    recebidos, sero encaminhados para pareceristas e, sendo aprovados, sero

  • publicados.

    A participao de todos - estudantes, professores, funcionrios, pais,

    especialistas e interessados - fundamental para que esta publicao seja, cada

    vez mais, referncia e se consolide como canal de ampla discusso e avaliao das

    polticas, programas e aes da educao bsica, com especial destaque para

    aquelas desenvolvidads pela SME, no esforo de garantir uma educao pblica,

    gratuita, laica, democrtica e de qualidade para todos(as).

    Luiz Fernandes Dourado

    Editor

  • ENTREVISTA

    SME

    EDUCAO EM

    MOVIMENTO

  • A formao dos profissionais:

    o trabalho das universidades e da SME

    O objetivo desta seo discutir os atuais marcos e as polticas de

    formao dos profissionais da educao e, sobretudo, dos professores brasileiros,

    a partir das investigaes, programas de formao inicial e continuada, alm das

    diferentes experincias na Universidade Federal de Gois (UFG) e na Pontifcia

    Universidade Catlica de Gois (PUC-GO).

    O professor Luiz Fernandes Dourado, editor da SME: Educao em

    Movimento, entrevista os professores Edward Madureira Brasil, reitor da UFG, e

    Wolmir Therezio Amado, reitor da PUC-GO. So dois educadores e gestores com

    ampla trajetria e compromisso com a educao superior em Gois e no pas. A

    participao dos dois convidados permite ao leitor apreender a formao de

    professores, as polticas e a gesto direcionadas formao realizadas pelas duas

    universidades, pioneiras no Centro-Oeste, e sua interface com a educao bsica,

    especialmente, com a Secretaria Municipal de Educao de Goinia.

    Luiz Fernandes Dourado Ao longo das ltimas dcadas, o que mudou no

    projeto e na dinmica acadmica das universidades brasileiras e goianas?

    Edward Madureira Brasil - Nas duas ltimas dcadas foram muitas as

    transformaes na educao superior brasileira. Vimos um grande crescimento

    das instituies privadas; a implantao de processos avaliativos como o exame

    nacional dos cursos, conhecido como provo; estamos presenciando uma crise

    no setor privado pela impossibilidade da populao de continuar pagando

    mensalidade s ver a existncia do Prouni, das bolsas universitrias da

    Organizao das Voluntrias de Gois e da inadimplncia nas mensalidades.

    Outra transformao se deu com as instituies pblicas, que passaram por

    perodo de estagnao no nmero de vagas, alterado a partir de 2006 com a

    expanso dos campi das universidades federais no interior e, depois, com o

    Programa de Reestruturao e Expanso das Universidades (Reuni), j no

    A formao dos profissionais:

    o trabalho das universidades e da SME

    O objetivo desta seo discutir os atuais marcos e as polticas de

    formao dos profissionais da educao e, sobretudo, dos professores brasileiros,

    a partir das investigaes, programas de formao inicial e continuada, alm das

    diferentes experincias na Universidade Federal de Gois (UFG) e na Pontifcia

    Universidade Catlica de Gois (PUC-GO).

    O professor Luiz Fernandes Dourado, editor da SME: Educao em

    Movimento, entrevista os professores Edward Madureira Brasil, reitor da UFG, e

    Wolmir Therezio Amado, reitor da PUC-GO. So dois educadores e gestores com

    ampla trajetria e compromisso com a educao superior em Gois e no pas. A

    participao dos dois convidados permite ao leitor apreender a formao de

    professores, as polticas e a gesto direcionadas formao realizadas pelas duas

    universidades, pioneiras no Centro-Oeste, e sua interface com a educao bsica,

    especialmente, com a Secretaria Municipal de Educao de Goinia.

    Luiz Fernandes Dourado Ao longo das ltimas dcadas, o que mudou no

    projeto e na dinmica acadmica das universidades brasileiras e goianas?

    Edward Madureira Brasil - Nas duas ltimas dcadas foram muitas as

    transformaes na educao superior brasileira. Vimos um grande crescimento

    das instituies privadas; a implantao de processos avaliativos como o exame

    nacional dos cursos, conhecido como provo; estamos presenciando uma crise

    no setor privado pela impossibilidade da populao de continuar pagando

    mensalidade s ver a existncia do Prouni, das bolsas universitrias da

    Organizao das Voluntrias de Gois e da inadimplncia nas mensalidades.

    Outra transformao se deu com as instituies pblicas, que passaram por

    perodo de estagnao no nmero de vagas, alterado a partir de 2006 com a

    expanso dos campi das universidades federais no interior e, depois, com o

    Programa de Reestruturao e Expanso das Universidades (Reuni), j no

    segundo mandato do presidente Lula; a implantao de grande nmero de campi

  • dos institutos federais de educao cincia e tecnologia. No perodo, estabeleceu-

    se um ambiente de competio entre as instituies pblicas pelos recursos

    financeiros e, em especial, por recursos a serem obtidos pela apresentao de

    projetos em agncias financiadoras pblicas e, tambm, pela interao com

    empresas e indstrias.

    Wolmir Therezio Amado - Em cinco dcadas, o sistema de ensino

    superior brasileiro passou por expressivas mudanas. Na dcada de 60, havia

    poucas instituies, basicamente para atividades de transmisso do

    conhecimento, com cerca de 100.000 alunos e um corpo docente fracamente

    profissionalizado. Encontramos, hoje, uma complexa rede de estabelecimentos,

    com formatos organizacionais e tamanhos variados, com grande crescimento do

    setor privado. Esse sistema, hoje com quase 2.500 instituies, absorve mais de

    seis milhes de alunos na graduao e aproximadamente 180.000 mil alunos na

    ps-graduao stricto sensu. Houve a incorporao de um pblico mais

    diferenciado socialmente, o aumento significativo do ingresso de estudantes do

    gnero feminino, a entrada de alunos j integrados no mercado de trabalho, a

    expanso do setor privado e a interiorizao e regionalizao do ensino. Houve a

    consolidao do projeto das instituies comunitrias, diferenciando-se

    claramente do setor privado com fins econmicos e posicionando-se como atores

    imprescindveis para o desenvolvimento equilibrado do sistema em temas

    estratgicos como a incluso equitativa da populao mais desfavorecida e a

    formao de professores para a educao bsica. A PUC Gois, como

    universidade comunitria profundamente inserida no cenrio regional, foi

    protagonista de todas as transformaes dessas dcadas para o ensino superior no

    Centro-Oeste e no Brasil.

    Luiz Fernandes Dourado A universidade brasileira avanou na

    consolidao da premissa constitucional da indissociabilidade entre ensino,

    pesquisa e extenso? De que forma tais princpios se materializam na UFG e

    na PUC-GO?

    Wolmir Therezio Amado - Consolidar o princpio da indissociabilidade

    Houve a

    incorporao

    de um pblico

    mais

    diferenciado

    socialmente, o

    aumento

    significativo do

    ingresso de

    estudantes do

    gnero

    feminino

    (Wolmir Amado)

  • de ensino, pesquisa e extenso talvez seja um dos maiores desafios da

    universidade brasileira. Isso porque essa relao pressupe que cada uma dessas

    dimenses esteja solidificada na instituio e que haja no pas um projeto de

    universidade que, de fato, valorize de forma igualitria tais dimenses. Em seus

    53 anos, a PUC Gois tem sua trajetria marcada pela busca da excelncia em suas

    aes. Desse modo, a extenso por ela desenvolvida pauta-se na tradio de uma

    Instituio de Ensino Superior (IES) comunitria, filantrpica e catlica e se

    realiza por meio de seus programas permanentes. Atualmente com 46 cursos de

    graduao e a ampliao e diversificao dos campos de investigao cientfica, a

    universidade persegue sua misso de desenvolver a formao humana integral,

    associada produo, socializao do conhecimento e difuso da cultura

    universal. A universidade tem buscado materializar esse princpio, sobretudo por

    meio do incentivo participao de seus acadmicos naquilo que produz na

    pesquisa e na extenso. Tal incentivo se d tanto por aes que visam interao

    entre graduao, ps-graduao e extenso a exemplo das edies da Semana de

    Cultura e Cidadania, um evento que j faz parte da agenda da cidade e da regio;

    da Semana de Cincia e Tecnologia em sintonia com as propostas do Ministrio de

    Cincia e Tecnologia, quanto pelos programas de iniciao cientfica, pelos

    projetos de extenso e pelo estmulo s diversas e inovadoras formas de iniciativas

    estudantis, como as ligas acadmicas.

    Edward Madureira Brasil - S podemos falar sobre a indissociabilidade

    entre ensino, pesquisa e extenso se considerarmos a titulao do corpo docente; a

    existncia de uma ps-graduao stricto sensu robusta; e o desenvolvimento de

    uma grande quantidade de projetos de pesquisa e extenso que precisam ser

    materializados com qualidade que depende da titulao e ps-graduao stricto

    sensu. Nas universidades federais, a titulao dos professores vem crescendo

    muito, basta ver o caso da UFG, que passou de algo em torno de 600 doutores, em

    2005, para 1.500, em 2012. A ps-graduao em nvel de mestrado e doutorado

    tambm cresceu muito nas federais. A UFG, por exemplo, passou de 38 cursos, em

    2005, para mais de 60, em 2012. Por conta das duas grandes expanses, os

    projetos de pesquisa e de extenso triplicaram.

    ...a titulao

    dos professores

    vem crescendo

    muito, basta ver

    o caso da UFG,

    que passou de

    algo em torno

    de 600

    doutores, em

    2005, para

    1.500, em

    2012

    (Edward

    Madureira Brasil)

  • Luiz Fernandes Dourado As universidades goianas vivenciaram um

    grande processo expansionista marcado pela complexificao e

    interiorizao de suas atividades. Que lugar ocupam nesse processo as

    licenciaturas e qual o compromisso com a educao bsica de qualidade?

    Edward Madureira Brasil - Realmente, a UFG , hoje, uma instituio

    muito mais complexa que a existente em 2005. Os dois processos de expanso, o

    primeiro, da criao de novos cursos nos campus de Catalo e Jata e, depois, a

    grande expanso do Programa de Reestruturao e Expanso das Universidades

    Federais (Reuni), criou novos cursos em Goinia, Catalo, Jata e Cidade de

    Gois. A quantidade de vagas passou de cerca de 3.000, em 2005, para mais de

    6.000, em 2012, e o quantitativo de professores evoluiu de um nmero em torno de

    1.200, para 2.200 no mesmo perodo. Para que a educao bsica possa ser

    concretizada com qualidade, preciso que diversos fatores sejam analisados.

    Precisamos ter professores licenciados bem formados, recebendo salrios dignos,

    as escolas devem ter infraestrutura bem definida, com diversos ambientes

    obrigatrios, como biblioteca, laboratrios, etc. A UFG tem cuidado para que

    nossos licenciados sejam bem formados; entretanto, dois fatos nos preocupam

    imensamente e dependem, de forma indireta, da atuao da universidades: os

    foto: divulgao SME

  • baixos salrios dos professores e as desigualdades econmicas e culturais das

    famlias brasileiras, o que impede que mais jovens se interessem por seguir a

    carreira de professor, provocando a no ocupao de vagas em nossos cursos de

    licenciatura, sobretudo naqueles oferecidos nos campi dos municpios do interior

    do Estado.

    Wolmir Therezio Amado - Os cursos de formao de professores

    integram a tradio de nossa universidade desde sua origem: os cursos de Histria

    e Geografia foram criados em 1949; Pedagogia e Letras em 1952; Fsica e

    Matemtica so de 1969; Biologia, em 1974, Filosofia em 1977; Educao Fsica,

    em 2000 e Qumica, em 2004. A formao de professores foi objeto de constante

    investimento na PUC, com progressiva e constante expanso do nmero de

    cursos, mesmo quando a demanda oscilava ou quando a tendncia das demais

    instituies era de retrao e diminuio de investimentos nas licenciaturas. A

    universidade no abre mo de apostar na formao de professores como

    importante espao que qualifica o projeto formativo. A PUC Gois no tem

    medido esforos para qualificar, quantitativamente ou qualitativamente, o

    ingresso, a permanncia e a concluso dos cursos com qualidade junto aos

    acadmicos. Ao longo desta histria fortaleceu o Colegiado das licenciaturas,

    ampliou parcerias com as redes de ensino e tem marcado presena no cenrio do

    debate local, nacional e internacional, seja pelos fruns de defesa da educao,

    seja pela representatividade em conselhos estaduais e municipais. A PUC Gois

    tem presena constante nas direes da Anfop e, mais recentemente, na

    Presidncia do Conselho Nacional de Educao. Nos projetos internos, tem

    inovado em aes que qualificam os cursos de formao de professores,

    destacando-se o Vestibular Social, com 50% de bolsas para alunos que

    comprovem condies socioeconmicas desfavorveis. O que se tem notado a

    retomada da procura pelos cursos de formao de professores e a revitalizao de

    um projeto acadmico que valoriza a formao humana, poltica, pedaggica e

    tcnica da profisso docente. H, tambm, o compromisso de construir um Centro

    de Formao de Professores como espao poltico e pedaggico para tornar a

    docncia e a valorizao da escola eixos da formao e da profissionalizao. No

    novo espao da PUC Gois, em processo de construo, ser implementado um

    A

    universidade

    no abre mo

    de apostar na

    formao de

    professores

    como

    importante

    espao que

    qualifica o

    projeto

    formativo

    ( )Wolmir Amado

  • Projeto Poltico-pedaggico de Formao de Professores, com forte referncia na

    articulao do ensino-pesquisa-extenso e da prtica da postura investigativa na

    formao docente. H, ainda, experincias exitosas em cursos modulares e em

    cursos das licenciaturas que, alm de atender s Diretrizes Curriculares

    Nacionais, inovam na forma como se operacionalizam o currculo e a formao

    dos profissionais. Soma-se a tudo isso o constante debate interno entre docentes e

    discentes, para o aprofundamento das questes polticas e tericas no campo de

    defesa da educao bsica, particularmente na defesa da aprendizagem com

    qualidade social.

    Luiz Fernandes Dourado Quais so as principais experincias exitosas e as

    dificuldades na poltica de formao de professores no pas? E

    especificamente na PUC-Gois e na UFG?

    Wolmir Therezio Amado - As principais dificuldades na formao de

    professores no Brasil referem-se adeso de alunos ao projeto das licenciaturas.

    Ela ganha centralidade quando se reconhece o campo de desvalorizao social da

    profisso docente. preciso investir na educao, seja pelo aumento do PIB em

    10%, seja pela valorizao do Piso Nacional Docente que deve ser compatvel

    com o que se espera na qualidade exigida dos docentes. No que se refere ao Piso

    Nacional, h que se efetivarem polticas que ajudem as prefeituras na sua

    implementao. Por outro lado, h um processo de evaso nas licenciaturas, o que

    significa a necessidade de polticas que assegurem a entrada e a permanncia dos

    estudantes. E falta, nacionalmente um estudo sobre o perfil socioeconmico e

    cultural dos alunos que ingressam nas licenciaturas, bem como as razes das

    escolhas dessa profisso. Na PUC Gois, alm do Vestibular Social, outras

    iniciativas esto sendo implementadas como o Programa de Orientao

    Acadmica (Proa), que visa fortalecer nos discentes a construo de um projeto

    acadmico pautado no estudo, pesquisa, leitura, escrita e afirmao da identidade

    docente. A experincia piloto desse programa ser implementada nas

    licenciaturas e se pautar em quatro eixos: metodologia de ensino e estudo;

    metodologia de pesquisa e a produo intelectual; leitura e expresso; habilidades

    sociais e relaes interpessoais. As atividades no interior do Proa visam fortalecer

  • a leitura, a escrita e a produo textual dos discentes das licenciaturas. Elas sero

    organizadas em quatro formatos: nos grupos de estudos interdisciplinares (GEI)

    com temas comuns s licenciaturas; nos grupos de estudos e pesquisas

    disciplinares (Geped), cuja proposta prev o atendimento individual dos alunos

    por parte dos professores das disciplinas; workshops interdisciplinares com temas

    do cotidiano em oficinas, palestras, vivncias, minicursos, dentre outros; e pelo

    atendimento da monitoria. Em sntese, o Proa nas licenciaturas considerado um

    ambiente de aprendizagem e agrega uma srie de atividades para fortalecer no

    discente o estudo, o debate e a produo intelectual como condies fundamentais

    para o exerccio da profisso docente. Outra experincia de extrema relevncia

    para a PUC Gois o Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia

    (Pibid). Por meio dele, acadmicos e docentes tm vivenciado boas experincias

    formativas no contato direto com as escolas pblicas. O Pibid tem oportunizado

    espao para a anlise, crtica e proposio de iniciativas inovadoras para garantir a

    aprendizagem dos alunos nas instituies pblicas. Ganham nossos acadmicos,

    nossos docentes e os parceiros da escola, pois todos articulam projetos comuns

    que ampliam o sentido da educao na escola pblica. O Pibid na PUC Gois um

    programa permanente, fato que o credencia a ocupar lugar de destaque na nova

    Proposta Poltico-pedaggica do Centro de Formao de Professores.

    Edward Madureira Brasil - A formao de professores que a

    universidade promove por meio das licenciaturas enfrenta inmeros desafios,

    muitos deles associados carreira e remunerao dos professores da educao

    bsica, pois trata-se de um trabalho que exige alto grau de envolvimento e

    compromisso, com longas jornadas, alta carga horria e remunerao

    insatisfatria. H, portanto, um elevado grau de stress e tenso entre os

    profissionais, o que interfere na demanda para os cursos de licenciatura. preciso,

    portanto, alterar esse quadro. A busca por polticas e prticas de formao de

    professores mais adequadas para dar conta das exigncias na formao de

    professores nas universidades fez com que a UFG aprofundasse as discusses a

    respeito das licenciaturas, em consonncia com polticas e programas

    implementados no pas para formar e qualificar professores, resultando na

    H, portanto,

    um elevado

    grau de stress e

    tenso entre os

    profissionais, o

    que interfere na

    demanda para

    os cursos de

    licenciatura

    (Edward

    Madureira Brasil)

  • abertura de novos cursos, tanto na modalidade presencial quanto a distncia, a

    ampliao do Programa Bolsas de Licenciatura (Prolicen), a ampliao e

    consolidao do Programa de Iniciao a Docncia (Pibid), a realizao do II

    Encontro Nacional das Licenciaturas e I Encontro Nacional do Pibid e do

    Seminrio com o Conselho Estadual de Educao. O Pibid uma experincia

    exitosa que, desde a publicao de seu primeiro edital, em 2007, oferece bolsas de

    iniciao docncia aos alunos de cursos de licenciaturas, para antecipar o

    vnculo entre os futuros professores e as salas de aula da rede pblica. Com esta

    iniciativa a Capes tem oferecido a esses alunos a oportunidade de cumprir um dos

    princpios norteadores do programa: a formao de professores da educao

    bsica com simetria invertida, isto , o preparo do professor em lugar similar ao

    que vai atuar. H o Programa de Formao Inicial e Continuada, Presencial e a

    Distncia de Professores para a Educao Bsica (Parfor), caracterizado por um

    conjunto de aes de colaborao com as secretarias de educao dos estados e

    municpios e as instituies de educao superior. Os cursos na modalidade a

    distncia so ofertados pela Universidade Aberta do Brasil (UAB). Embora

    reconheamos o papel do Parfor para a formao de professores, uma das

    dificuldades o fato de o professor estar em servio, o que limita sua frequncia s

    aulas. Podemos citar ainda programas como a Formao em Educao de Jovens e

    Adultos; o Programa Escola Ativa Educao no Campo, para capacitar

    professores que atuam em escolas no campo; o Programa de Apoio Formao

    Superior e Licenciaturas Interculturais (Prolind) Educao Indgena, que visa a

    formao de professores indgenas em nvel superior para docncia nos anos

    finais do ensino fundamental e ensino mdio, com uma caracterstica diferenciada

    de atividades que contemplam tempo-universidade e tempo-comunidade.

    Luiz Fernandes Dourado Que concepo de qualidade de ensino e de

    educao norteia o projeto institucional da UFG e PUC-GO?

    Edward Madureira Brasil - A UFG atua conforme estabelecem seus

    documentos fundamentais, o Estatuto e o Regimento Geral. Dessa forma, a UFG

    quando transmite, sistematiza e produz conhecimento, o faz ampliando e

    aprofundando o ser humano para a reflexo crtica, o exerccio profissional, a

  • solidariedade nacional e internacional, em que se objetiva alcanar uma sociedade

    justa, em que os cidados se empenhem na busca de solues democrticas para os

    problemas nacionais. A UFG, ao implementar suas atividades, o faz de modo a

    consolidar-se como uma instituio que articula unidade e pluralidade, teoria e

    prtica, formao inicial e continuada, tendo como objetivo poltico-pedaggico a

    construo do saber, a ampla formao cultural e o desenvolvimento de

    programas, projetos e aes para a soluo dos problemas e uma maior incluso

    social.

    Wolmir Therezio Amado - Toda ao acadmica da PUC Gois tem seu

    alicerce em dois parmetros que norteiam sua prtica pedaggica cotidiana,

    expressam de maneira inequvoca a poltica da instituio, orientam e organizam

    os projetos pedaggicos dos cursos e demais programas, estimulam o carter

    inovador e social de suas intervenes e socializam a produo do conhecimento

    cientfico e cultural. Os dois parmetros so a excelncia acadmico-institucional

    e a qualidade social. A excelncia acadmico-institucional o parmetro

    cientfico-cultural que orienta a ao pedaggica e expressa a determinao da

    PUC Gois em oferecer ensino, pesquisa e extenso de qualidade. Exige,

    portanto, a busca de eficincia e eficcia em todas as dimenses do processo

    foto: divulgao SME

  • acadmico, nos projetos pedaggicos com a participao dos educadores; na

    permanente qualificao do corpo docente e tcnico-administrativo; na

    observncia de diretrizes curriculares que respondam s reais demandas do

    mundo do trabalho; na infraestrutura que atenda s necessidades de formao dos

    alunos de modo geral e dos portadores de deficincias de modo especial; na

    modernizao e manuteno dos laboratrios; na permanente atualizao do

    acervo bibliogrfico fsico e virtual e na procura da sustentabilidade financeira,

    que d adequado suporte oramentrio s demandas acadmicas. A qualidade

    social o parmetro poltico que orienta a ao acadmica da instituio no seu

    compromisso social. Ela realiza o preceito constitucional do direito de todos os

    cidados educao, formando-os como pessoas, habilitando-os ao pleno

    exerccio da cidadania e insero qualificada no mundo do trabalho. Qualidade

    social requer que a instituio assuma papel decisivo no desenvolvimento

    humano e social da regio, que abra suas portas aos processos da incluso,

    dialogue com os segmentos sociais, amplie as modalidades de acesso e de

    permanncia dos alunos, mantendo um dilogo permanente com a comunidade,

    atenda a contento s necessidades das pessoas com deficincias e que atenda s

    demandas atuais do mundo do trabalho.

    Luiz Fernandes Dourado Os programas federais de formao dos

    profissionais da educao tm sido objeto de quais aes nas universidades

    em Gois?

    Wolmir Therezio Amado - Na PUC Gois as experincias federais que

    mais qualificam o projeto formativo dos discentes das licenciaturas so o Pibid, o

    Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica (Pibic) e o

    Financiamento do Ensino Superior (Fies). Em relao ao Pibid, a PUC Gois tem

    fortalecido as parcerias com as escolas pblicas e qualificado as redes de ensino

    por meio do estudo, debate, pesquisa e produo do conhecimento, onde os alunos

    da PUC Gois centram suas experincias num projeto formativo com base na

    postura investigativa e na produo intelectual. J o Pibic tem contribuido para

    formar um quadro de discentes nas licenciaturas extremamente comprometido

    com a produo do conhecimento acadmico e cientfico. Formar professores

    A qualidade

    social o

    parmetro

    poltico que

    orienta a ao

    acadmica da

    instituio no

    seu

    compromisso

    social.

    (Wolmir Amado)

  • pesquisadores um dos objetivos centrais do Pibic na PUC Gois. Por fim, o Fies

    tem oportunizado a permanncia dos alunos nas licenciaturas, uma vez que

    flexibiliza a adeso e a forma de pagamento. Ressalta-se, neste caso, a

    possibilidade de o aluno, aps formado, pagar o financiamento por meio de

    trabalho na escola pblica.

    Edward Madureira Brasil - A UFG tem cumprido um importante papel

    social e institucional no desempenho de suas atividades acadmicas e cientficas

    no estado de Gois, desde a produo e inovao tecnolgica at a formao de

    profissionais qualificados, comprometidos com o crescimento e o

    desenvolvimento do estado e do pas. A UFG oferece diversos cursos de

    licenciatura, tanto na modalidade presencial como a distncia, nos programas

    Universidade Aberta do Brasil, Prodocncia e Parfor. Alguns dos cursos de

    licenciatura so nas reas de Biologia, Artes Cnicas, Educao Fsica, Fsica,

    dentre outras. A UFG desenvolve um curso pioneiro de formao de professores

    em Biologia, no Continente Africano, na cidade de Maputo, em Moambique. A

    UFG criou recentemente as seguintes licenciaturas: Intercultural Indgena,

    Libras, Dana, Enfermagem e Psicologia. A Poltica de Formao de Professores

    da UFG explicita em seus princpios ticos, acadmicos e cientficos a

    preocupao com a qualidade e o compromisso do fazer pedaggico dos egressos

    dos seus cursos de licenciatura, frente aos atuais desafios do campo educacional,

    na busca constante de estabelecer vnculos com a realidade escolar, no apenas na

    formao inicial mas tambm na formao continuada dos professores. A poltica

    de formao de professores promove constantemente aes e estratgias

    pedaggicas e administrativas, para buscar solues aos problemas do cotidiano

    escolar. Um exemplo dessas medidas a implementao do curso de Libras para

    atuao nas escolas. Esta apenas uma de vrias medidas necessrias para o

    atendimento das inmeras demandas do campo educacional.

    A UFG

    desenvolve um

    curso pioneiro

    de formao de

    professores em

    Biologia, no

    Continente

    Africano, na

    cidade de

    Maputo

    (Edward

    Madureira Brasil)

  • Luiz Fernandes Dourado Quais as aes da universidade goiana para

    regulamentar a colaborao entre os entes federados?

    Edward Madureira Brasil - A autonomia dos entes federados e a disputa

    pelo poder nacional impem barreiras enormes ao processo de colaborao entre

    os entes federados no Brasil. A universidade tem um papel limitado no processo de

    regulamentao dessa colaborao. O que faz com grande intensidade participar

    dos fruns que debatem os assuntos em disputa entre os entes federados, como

    educao, sade, segurana, direitos humanos, ocupao geogrfica etc,

    integrando comisses instaladas nas esferas de governo e desenvolvendo estudos

    acadmicos que embasam possveis aes de colaborao a serem desenvolvidas.

    Essas atuaes podem significar, no final, regulamentaes de colaboraes que

    muitas vezes so frgeis, pois dependem dos partidos que se encontram no poder e

    da tenso entre os componentes desses partidos.

    Wolmir Therezio Amado - A PUC entende ser fundamental para o pas a

    elaborao e a efetiva implementao de um sistema nacional de educao, desde

    a educao infantil at a educao superior O sistema deve ter efetiva sinergia,

    com reciprocidade entre os diversos nveis de governo (Unio, estados e

    municpios) e entre os diversos setores, o pblico, o comunitrio e o privado. Por

    isso, a PUC Gois no mede esforos para fazer parte de todas as instncias

    disponveis e aptas a promover a integrao e a colaborao entre as diferentes

    agncias que compem o cenrio do ensino superior nacional. claro que

    compete aos rgos especficos dos entes federados, tais como as secretarias de

    educao, em sinergia com as instncias participativas como os conselhos de

    educao, regulamentar e promover a cooperao em nvel nacional. Nossas

    parcerias com esses rgos garantem a plena insero da PUC na construo do

    sistema, mesmo porque temos a convico de que, por sua natureza e vocao

    comunitria, nossa instituio muito tem a contribuir com esta causa. E a histria

    dos ltimos cinquenta anos do ensino superior no Centro-Oeste corrobora nossa

    convico.

    A PUC

    entende ser

    fundamental

    para o pas a

    elaborao e a

    efetiva

    implementao

    de um sistema

    nacional de

    educao

    (Wolmir Amado)

  • Luiz Fernandes Dourado Quais os projetos de formao e a contrapartida

    institucional das universidades para os profissionais da Secretaria

    Municipal de Educao (SME) ?

    Wolmir Therezio Amado - Um dos principais projetos interinstitucionais

    entre a PUC Gois e a SME est no fornecimento dos estgios como campo de

    estudo dos acadmicos nas licenciaturas e a formao continuada dos

    profissionais da instituio. As instituies-campo de estgio da PUC Gois

    participam de um amplo projeto formativo, que prev a formao continuada em

    contextos, inclusive com direito certificao, iseno de taxas em eventos

    organizados pela PUC, alm de outras iniciativas. Da mesma forma, a PUC Gois

    tem sido presena constante no debate e nas assessorias de reconstruo das

    propostas pedaggicas das etapas e modalidades da educao na SME, o que

    significa profunda insero e articulao entre a formao inicial e a continuada.

    Destaca-se, ainda, a parceria da PUC Gois na formao continuada da SME, seja

    pela promoo de temas de interesse da rede, seja pela disponibilizao de

    espaos fsicos para a realizao dos cursos promovidos pelo Centro de Formao

    dos Profissionais da Educao (Cefpe), seja pela promoo das jornadas

    pedaggicas que tm a PUC, historicamente, como parceira.

    Edward Madureira Brasil - A Universidade Federal de Gois atua em

    parceria com a SME na formao continuada dos professores em exerccio, por

    meio de cursos de capacitao (extenso e ps-graduao), grupos de pesquisa,

    reestruturao curricular e atualizaes. Parte das aes so realizadas com

    recursos prprios da universidade ou contam com o apoio de agncias de fomento:

    MEC, MS, Capes, Fapeg. Por meio de programas como o Parfor, para a formao

    de professores dos cursos na modalidade a distncia, tanto de graduao quanto de

    ps-graduao e extenso, a UFG contribui com a qualificao de professores da

    rede para o exerccio da sua profisso, com vagas especficas para atender a

    demanda de formao, em cursos de licenciatura como Fsica, Artes Visuais,

    Educao Fsica, Cincias Biolgicas, Artes Cnicas, etc. A UFG oferece ainda a

    possibilidade de qualificao em diversos cursos de ps-graduao lato sensu . H

    uma parceria institucionalizada para a realizao de estgios curriculares

    A

    Universidade

    Federal de

    Gois atua em

    parceria com a

    SME na

    formao

    continuada dos

    professores

    (Edward

    Madureira Brasil)

  • obrigatrios, por meio de convnio e, como contrapartida, os professores dos

    cursos de graduao oferecem SME vagas para professores e servidores para

    participar de semanas acadmicas, cientficas e pedaggicas ou cursos de

    extenso. A aproximao entre a rede municipal e a UFG cada vez maior e

    potencializa a articulao desejvel entre a universidade e a educao bsica.

    Luiz Fernandes Dourado Que balano pode ser feito do trabalho da

    universidade com a infncia, a juventude e a terceira idade goiana?

    Edward Madureira Brasil - No que diz respeito a infncia e juventude, a

    UFG desenvolve aes por meio do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicados

    Educao (Cepae), que atua com crianas a partir da alfabetizao, com

    adolescentes e jovens em todo o ensino fundamental e mdio, desenvolvendo,

    alm de propostas inovadoras de formao, projetos de diferentes manifestaes

    artsticas e culturais. Um outro espao de atuao com crianas a creche da UFG,

    que lida com educao infantil e atende crianas de zero a trs anos e onze meses.

    Vrias outras aes so desenvolvidas com jovens, especialmente o Programa

    Faz O Qu, um projeto da TV UFG com a Prograd e Centro de Seleo, que visa

    levar juventude informaes sobre os cursos de graduao de forma criativa e

    interativa. O Projeto UFG Vai a Escola aproxima a UFG das escolas de ensino

    mdio, levando informaes sobre a UFG, seus cursos e seu processo seletivo.

    Com a mesma caracterstica, desenvolvido o Projeto Espao das Profisses,

    que, neste caso, traz para os ambientes da UFG mais de 30.000 estudantes todos os

    anos. So desenvolvidos inmeros projetos artsticos e culturais, voltados para

    jovens e adultos da comunidade goiana, bem como programas de orientao a

    adolescentes nas mais diversas reas, especialmente no campo da sade e tambm

    para a terceira idade, por meio das ligas acadmicas e ncleos de estudos na rea

    de sade, que oferecem atividades de orientao e promoo da sade fsica e

    mental.

    Wolmir Therezio Amado - A PUC Gois traz em sua histria as marcas

    da tradio de um rico trabalho realizado com a infncia, juventude e terceira

    idade locais, cujo respeito tem alcanado uma dimenso nacional. Ao longo dos

    A PUC-Gois

    traz em sua

    histria as

    marcas da

    tradio de um

    rico trabalho

    realizado com a

    infncia, a

    juventude e a

    terceira idade

    (Wolmir Amado)

  • ltimos 30 anos, diversas iniciativas realizadas em parceria com a sociedade civil

    e outras instituies tm permitido PUC Gois contribuir efetivamente com

    avanos nas discusses e proposies de polticas pblicas voltadas a esses

    sujeitos. Compreende-se que, tanto pela extenso e pesquisa quanto pelo ensino,

    essas temticas circulam produzindo indagaes, cincia e acompanhamento

    dessa populao, em especial, por sua condio de vulnerabilidade social. Desse

    modo, a universidade cumpre seu maior objetivo, que a produo e a difuso do

    conhecimento a servio da vida. Esse trabalho pode ser identificado em grupos

    de pesquisa que abordam as referidas temticas, alm dos programas permanentes

    de extenso, a exemplo do Centro de Estudo, Pesquisa e Extenso Aldeia Juvenil,

    Escola de Circo, Escola de Formao da Juventude, Programa Aprender a Pensar,

    Centro de Educao Comunitria de Meninos e Meninas e Programa de

    Gerontologia Social Universidade Terceira Idade.

    Luiz Fernandes Dourado Qual o papel das universidades na melhoria do

    processo formativo dos profissionais da educao na qualidade da educao

    bsica?

    Wolmir Therezio Amado - O papel das universidades na melhoria do

    processo formativo dos profissionais da educao e da educao bsica est no

    fortalecimento de um projeto de formao inicial e continuada, comprometido

    com a qualidade social e com a educao como bem pblico. A universidade deve

    ser um locus de crtica e de proposio s polticas educacionais implementadas

    no campo da educao bsica. Alm de qualificar o debate e a formao dos

    futuros profissionais, as universidades devem ajudar na construo de polticas

    pblicas que fortaleam os princpios da gesto democrtica, da valorizao

    docente e da melhoria da aprendizagem discente. H que se fortalecer o dilogo e

    as parcerias com a SME no sentido de colocar todo o conjunto de estudos e

    infraestrutura da universidade na consecuo da formao inicial e continuada,

    com vistas construo da identidade docente comprometida com a escola

    pblica e com a qualidade social. Portanto, cabe s universidades serem espao de

    reflexo crtica e parceiras na promoo de projetos que aprimorem o saber-fazer

    docente e discente. A exemplo disso, no semestre passado, o Departamento de

  • Educao da PUC Gois fez uma grande discusso durante o 3 Ciclo de Debates

    do EDU, cuja temtica de 2012 versou sobre a Educao Pblica em Debate:

    enfrentamentos e perspectivas. A pauta de reflexo que contou com a presena

    dos movimentos sociais, fruns de defesa da educao pblica, as redes de ensino,

    professores da educao bsica, professores da PUC Gois e acadmicos de todas

    as licenciaturas, reafirmou o compromisso das licenciaturas da PUC Gois em seu

    manifesto dos cursos de formao de professores da PUC Gois em defesa da

    educao pblica e da formao e valorizao dos profissionais da educao. O

    teor deste documento expressa o sentido e o posicionamento dos cursos de

    formao de professores com a defesa da educao pblica de qualidade no

    municpio e no estado de Gois.

    Edward Madureira Brasil - Construir uma educao bsica com

    qualidade em um pas uma meta complexa e que envolve muitos componentes,

    a maior parte deles alheia s aes que as universidades podem realizar

    diretamente. A universidade pode discutir periodicamente os projetos

    pedaggicos de suas licenciaturas; qualificar seus professores, titul-los,

    incentiv-los a participar de seminrios, simpsios e conferncias que debatem os

    problemas da educao bsica, apoiando a realizao de estudos sobre as

    condies que as escolas devem possuir para desenvolver uma educao de

    qualidade; interagir com as redes estaduais e municipais de ensino por meio dos

    estgios e desenvolver projetos que visem a compreenso dos problemas

    existentes e, claro, propor solues para esses problemas. A UFG tem atuado em

    todas essas vertentes. Entretanto, a universidade tem ao limitada sobre a

    definio das prioridades dos governos estaduais e municipais ao alocar os

    recursos pblicos, ao definir os salrios a serem pagos aos professores, ao

    estabelecer as condies de infraestrutura nas escolas e, enfim, alterar o quadro da

    grande desigualdade social brasileira e da desmotivao em que encontram-se

    nossos jovens para ingressar na carreira docente, fruto dos salrios que lhes so

    oferecidos e das condies desfavorveis que encontraro nas salas de aula.

    Construir uma

    educao

    bsica com

    qualidade em

    um pas uma

    meta complexa

    e que envolve

    muitos

    componentes

    (Edward

    Madureira Brasil)

  • ARTIGOS

    SME

    EDUCAO EM

    MOVIMENTO

  • Poltica de Formao Continuada em Rede

    e a qualidade da educao pblica

    Marcilene Pelegrine Gomes

    Romilson Martins Siqueira

    Se quisermos verdadeiramente emancipar o homem

    do mundo do medo e da dor, ento a denncia

    do que hoje se chama razo e cincia o melhor

    servio que a razo pode prestar.

    (HORKHEIMER, 2000, p. 178) (Grifos nossos).

    Resumo

    O presente artigo tem como objetivo discutir os pressupostos e os eixos

    que fundamentam a Poltica de Formao Continuada em Rede da SME, tendo em

    vista a formao e valorizao dos profissionais da educao e a melhoria da

    qualidade do ensino pblico no Municpio de Goinia.

    Palavras-chave: Poltica de Formao Continuada. Polticas em Rede.

    Qualidade da educao. Formao e valorizao profissional.

    As ideias que compem este texto so snteses de um processo de

    discusso que se iniciou no Centro de Formao dos Profissionais da Educao

    (CEFPE), no primeiro semestre de 2012, e que culminou no Seminrio de

    1. Mestre e doutoranda em Educao pela UFG. Professora efetiva do Departamento de Educao da PUC

    Gois. Professora da Secretaria Municipal de Educao. Formadora do CEFPE.

    2. Doutor e Mestre em Educao pela UFG. Professor efetivo do Programa de Ps-Graduao em Educao

    da PUC Gois. Diretor do Departamento de Educao da PUC Gois. Professor da Secretaria Municipal de

    Educao. Formador do CEFPE.

    3. Ao longo do segundo semestre de 2011 o CEFPE organizou uma intensa agenda interna de discusses que

    mobilizou toda a equipe de formadores a fim de construir e fortalecer sua unidade epistemolgica e poltica

    em torno do seu objeto de trabalho: a formao continuada.

    4. O CEFPE foi criado em 1999 com a funo de propor e implementar a poltica de formao continuada dos

    profissionais da SME. Nesse caso, h que ressaltar que esta formao no est restrita aos professores, por

    compreender que todos os profissionais envolvidos, direta ou indiretamente, com a promoo da

    aprendizagem tm o direito formao continuada, sejam docentes ou funcionrios administrativos.

    1

    3

    2

    4

  • Articulao do Departamento Pedaggico (DEPE) em maio deste ano. Reafirma

    os princpios e os pressupostos que norteiam a Poltica de Formao em Rede,

    objeto de trabalho do CEFPE como instncia responsvel pela formao

    continuada dos profissionais da Secretaria Municipal de Educao de Goinia

    (SME). Ademais, este texto um convite reflexo, ao estudo, ao debate e

    contribuio de todos os profissionais da educao na construo da Poltica de

    Formao Continuada desta rede pblica de educao.

    Este documento afirma o lugar da formao continuada em uma Secretaria

    que dialoga em rede. Tomemos como ponto de partida para os sentidos

    atribudos ideia de poltica, de formao continuada e de rede. O sentido da

    expresso poltica no se configura como uma ao isolada, espordica, setorial

    ou governamental. Trata-se de prncpios que revelam a intencionalidade, a

    natureza e a razo das aes formativas tendo em vista o desenvolvimento da

    profissionalidade e, sobretudo, a melhoria da qualidade da educao pblica na

    SME.

    Da mesma forma, o sentido empregado formao rompe com a

    perspectiva pragmtica que alinha a lgica do aprender-fazendo em cursos. A

    formao ganha outro sentido quando apreendida nas trocas de experincia, em

    contextos, no coletivo. No que se refere ao termo continuada, entende-se aqui o

    sentido de um processo continuum que se d ao longo da vida e da profisso. O

    termo rede entendido na perspectiva dialgica e dinmica que parte da escuta, do

    debate e da construo de aes articuladas com todos os segmentos e instncias

    educativas da SME, a fim de garantir a unidade na diversidade.

    Por Poltica de Formao Continuada em Rede compreende-se o

    conjunto de pressupostos polticos, epistemolgicos e pedaggicos que orientam

    os saberes e prticas, tendo em vista a unidade das aes formativas empreendidas

    pela SME. A Poltica dialoga em rede externa (Conselho Municipal de Educao,

    agncias formadoras, Secretarias Municipais, movimentos sociais, dentre outros)

    e interna (entre os Departamentos e instncias da SME), a fim de qualificar e

    5. O sentido a forma pessoal como cada um compreende o mundo, as relaes, as experincias. J os

    significados referem-se cultura, aos valores, s crenas, s ideias e pensamentos acordados e decididos nas

    relaes coletivas.

    5

  • garantir a consecuo das Propostas Poltico-Pedaggicas da Educao Infantil,

    Ensino Fundamental da Infncia e da Adolescncia e da Educao de

    Adolescentes, Jovens e Adultos. Essa Poltica materializa-se por meio de Projetos

    Formativos e Ao Formativa.

    Projetos Formativos so aqueles que, em seu processo de elaborao,

    tomam como ponto de partida as avaliaes institucionais, as avaliaes de aes

    formativas anteriores, os referenciais legais e epistemolgicos. Os projetos

    formativos devem anunciar qual ser a formao em rede para cada etapa ou

    modalidade da educao durante o ano letivo. Eles devem explicitar os

    pressupostos, os princpios, o eixo, o tema central da formao naquele ano, as

    diferentes aes formativas que sero oferecidas e o corpus terico que embasar

    todas as aes formativas. Devem ter como referncia os tempos da vida e os

    processos educativos decorrentes. Portanto, um Projeto Formativo pressupe

    planejamento sistemtico e nunca se encerra nele mesmo ou em uma nica ao

    formativa, uma vez que ele necessita estabelecer mediaes com outros projetos

    anteriores e posteriores.

    Por ao formativa compreende-se toda atividade cujo princpio a

    formao continuada dos profissionais da educao. O que a constitui no seu

    aspecto formativo em rede a possibilidade de articul-la num conjunto de

    princpios e prticas com intencionalidade, portanto, planejamento e avaliao.

    Neste caso, um projeto formativo que parte da poltica de formao da SME pode

    ser estruturado em:

    Cursos de curta, mdia e longa durao (presenciais ou a distncia com a

    utilizao do ambiente virtual de aprendizagem): aes de formao promovidas

    e coordenadas pela SME, com o objetivo de estudar e discutir temticas relativas

    ao trabalho docente, com carga horria variada.

    6. Neste caso, no incio de cada ano letivo o CEFPE dever divulgar o Projeto Formativo da Educao

    Infantil, do Ensino Fundamental em Ciclos e da Educao de Jovens e Adultos, com base no que foi discutido

    coletivamente. Este projeto formativo dever contemplar todas as aes formativas que comporo o projeto,

    o que implica que cada instncia que queira contribuir na execuo de uma ao formativa deve discuti-la e

    aprov-la coletivamente, fazendo-a constar no Projeto. Cada ao formativa deve articular-se com outras e

    com o projeto maior, definido para cada etapa e modalidade.

    7. Nenhuma ao formativa dever ser desenvolvida sem que tenha sido discutida coletivamente e

    contemplada no Projeto Formativo. Toda ao formativa dever explicitar o referencial terico, os princpios,

    vincular-se aos eixos da Poltica de Formao e atender ao perfil de profissional que ela enseja.

    6

    7

  • Eventos de grande porte: aes de formao promovidas e coordenadas

    pela SME voltadas para o grande pblico, com o objetivo de discutir as propostas

    poltico-pedaggicas da SME.

    Grupos de Trabalho e Estudo: aes de formao, com o objetivo de

    estudar temas especficos e propor aes que auxiliem a prtica docente no espao

    educacional.

    Cursos em parceria com o MEC: aes de formao promovidas e

    coordenadas pela SME e financiadas com recursos do Governo Federal

    (MEC/FNDE).

    Cursos, simpsios, seminrios, congressos e conferncias oferecidos em

    parceria com as Instituies de Ensino Superior (IES).

    Palestras e encontros formativos: aes promovidas pelo CEFPE,

    Unidade Regional de Educao (URE), Centro Municipal de Atendimento

    Incluso (CMAI), Diviso de Estudos e Projetos (DIEP) e Divises de Educao.

    Estas atividades devem ocorrer articuladas a um projeto formativo maior e sua

    elaborao e execuo devem explicitar os pressupostos da poltica de formao e

    sua estreita vinculao com as propostas pedaggicas da SME.

    Formao em Contexto: ao que deve ser suscitada pelas instituies

    educacionais, incentivadas e apoiadas pelo CEFPE e Divises, bem como

    acompanhadas em seu processo, planejamento, desenvolvimento,

    sistematizao, documentao e socializao pelas URE.

    Propor uma poltica de formao em rede implica aes, opes e polticas

    estratgicas da SME para garantia do direito aprendizagem e formao

    humana de todos os sujeitos professores, funcionrios administrativos,

    educandos. O que se espera que essa poltica oportunize e fortalea a formao

    continuada, comprometida com uma educao pblica de qualidade social.

    Neste sentido, a poltica de formao continuada da SME deve orientar-se por

    meio de pressupostos polticos, epistemolgicos e pedaggicos, com foco na

    unidade das aes.

    8. O social aqui nos remete ao sentido poltico enquanto ato intencionado, objetivado. Constitui-se na sua

    expresso pblica, ou seja, enquanto coisa pblica, bem comum, portanto, para todos. No se converte em

    direito para ajustar e compensar conflitos. Na verdade, constitui o direito subjetivo e universal em si mesmo.

    Constitui o fundamento da polis no sentido de reconhecer todos os sujeitos como indivduos.

    8

  • Pressupostos polticos

    Um aspecto importante a se considerar que a poltica de formao deve

    manter estreita relao com as polticas pblicas, particularmente as polticas

    educacionais. Entende-se que a Poltica de Formao deve ser uma das dimenses

    que expressam as polticas pblicas para a educao, que deve contribuir na

    garantia dos direitos sociais, humanos e civis. As aes formativas, desenvolvidas

    em diferentes instncias, devem levar em conta as articulaes com outras aes e

    polticas setoriais como cultura, meio ambiente, sade, promoo social, bem

    como aquelas inerentes educao. Entende-se que as polticas pblicas

    expressam a ao do Estado a servio de um projeto de sociedade, o que significa

    compreender que esse projeto se consolida na disputa de interesses que move

    diferentes segmentos sociais. Portanto, nenhuma poltica pblica neutra ou a-

    poltica. Ela sempre expresso de foras que demandam do Estado uma ao ou

    uma resposta social. Neste sentido, defende-se que, na elaborao das aes

    formativas estejam presentes o dilogo entre estas aes e as polticas pblicas

    intersetoriais, tendo em vista a qualidade social da educao como bem comum,

    portanto, para todos.

    Em tempos de excluso e marginalizao, fruto de um processo de

    organizao social pautada na desigualdade e na barbrie, ter acesso ao

    conhecimento contribui para a garantia da incluso social. Todavia, h que

    compreender que em tempos de neoliberalismo exacerbado, o discurso da

    incluso social tambm pode incorrer em uma falcia. Portanto, quando se fala em

    incluso social, fala-se em todas as formas que se contrapem lgica da

    excluso, num processo interno de crtica a essa lgica, ao mesmo tempo em que

    pem-se em pauta as lutas cotidianas.

    Nesse sentido, a incluso social aqui defendida no se reporta a ajustar os

    desajustados mas, acima de tudo, a manter alerta a crtica ao modelo econmico

    9. Ver Azevedo (1997).

    10. Compreendido como uma das formas de renovao do Liberalismo clssico, em que pe-se em evidncia

    a propriedade, o individualismo, o mercado, o lucro. O neoliberalismo se constitui no renovado esforo do

    modelo de desenvolvimento e sociabilidade capitalista em manter a hegemonia de um processo econmico,

    desigual e combinado, que articula excluso e incluso.

    9

    10

  • vigente, que mascara as contradies sociais em nome de uma suposta igualdade

    de direitos. Dessa forma, a concepo de incluso social que permea as aes

    formativas deve considerar o sentido ampliado da incluso, que passa pela

    reiterada luta em favor dos direitos humanos, sociais, polticos e civis. Isto

    permite colocar em pauta o respeito s diferenas e diversidade, ao mesmo

    tempo em que reafirma que a condio de igualdade humana s se concretiza em

    condies de emancipao dos sujeitos. Todas as aes formativas devem situar,

    no plano macroeconmico-social, as contradies que se evidenciam ao tomar, na

    formao, os objetos de estudo. Nenhum conhecimento neutro, como nenhuma

    ao formativa pode deixar de evidenciar o estranhamento e o posicionamento

    poltico e crtico.

    Mas de qual formao continuada se fala quando se pensa em uma poltica

    de formao em rede? Naquela que toma como ponto de partida a dialeticidade, a

    historicidade e a identidade profissional. A formao continuada deve

    possibilitar situaes em que a produo e a apropriao do conhecimento se

    dem no movimento dialtico de ao-reflexo-ao. Isto implica considerar o

    conhecimento tcito como ponto de partida que passa a ser interrogado,

    questionado, posto em dvida e que, num ato consciente, retomado,

    transformado e ressignificado. Assim, a formao continuada toma como ponto

    de partida o conhecimento tcito dos profissionais, mas o problematiza e o elucida

    de forma crtica.

    Portanto, a experincia de trabalho do profissional da educao pode ser

    compreendida sobre dois aspectos importantes. Primeiro, refere-se ao saber

    tcito, ou seja, quilo por ele produzido em sua histria e atuao profissional,

    acumulando um conjunto de saberes-fazeres inerentes sua ao. Segundo, existe

    11. Aspecto que permite apreender o movimento, a contradio, a dinmica, a relao de uma coisa e outra e

    no de oposio de uma e outra, bem como a historicidade dos fenmenos num reiterado processo de tenso

    entre presentepassado, todoparte, universalsingular, socialindividual.

    12. Para se compreender aquilo que expressa a historicidade de uma coisa preciso compreend-la nos

    processos de interseo entre homem-trabalho-cultura, processos que no se do na perspectiva individual e

    nem atemporal.

    13. Nesse caso, a questo da identidade nos remete necessariamente a um projeto poltico. (CIAMPA,

    2001, p. 73). Projeto poltico que implica reconhecer o projeto de sociedade e suas condies de produo que

    operam a incluso e a excluso dos indivduos.

    14. Para Saviani (1991), a construo do pensamento se daria, pois, da seguinte forma: parte-se do emprico,

    passa-se pelo abstrato e chega-se ao concreto. (p.11)

    12 13

    11

    14

  • outro sentido e significado para a experincia que a formao continuada deve

    apreender. Trata-se da experincia como sentido humano, daquilo que foi vivido e

    marcado na vida do sujeito, de forma singular, portanto, pessoal. Assim, a

    experincia o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. No o que se

    passa, no o que acontece, ou o que toca. (LARROSA, 2002, p. 21). Neste

    sentido, a formao continuada no pode traduzir-se em aes formativas

    espordicas, fragmentadas e que no tragam o sentido da experincia para os

    sujeitos.

    Nessa perspectiva, a formao continuada deve objetivar o

    desenvolvimento pessoal, humano e profissional, no pelo acmulo de

    conhecimentos adquiridos, mas, acima de tudo, pelo fortalecimento de uma

    postura investigativa e crtica da prpria atuao profissional. Entende-se que o

    desenvolvimento profissional abarca as dimenses da formao humana, tica,

    poltica, esttica e tambm pedaggica, o que permite um processo de

    profissionalizao comprometido com a qualidade.

    Pressupostos epistemolgicos

    Do ponto de vista epistemolgico, a Poltica de Formao Continuada da

    SME reafirma os pressupostos que norteiam a aprendizagem e o desenvolvimento

    humano em uma perspectiva histrico cultural e nos fundamentos do

    materialismo histrico dialtico, como mtodo de estudo e compreenso da

    realidade. deste lugar epistmico que se parte para a compreenso do sentido

    poltico e pedaggico que articula as aes formativas em rede. Portanto,

    compreende-se,

    o papel da ao humana na histria, ato que constitui-se no e pelo

    trabalho, na e pela atividade, na e pela produo de cultura. Portanto, a

    15. Profissionalizao aqui entendida como reconhecimento do saber-fazer da profisso naquilo que compete

    aos direitos dos trabalhadores da educao, particularmente no que se refere sua valorizao como

    trabalhador e como pessoa humana.

    16. O materialismo histrico dialtico se prope estudar aquilo que engendra os processos de produo da

    base material da sociedade e seus desdobramentos nas formas de produzir a sociabilidade humana.

    17. Seguindo o referencial marxista, apresentam-se trs aspectos fundamentais da atividade humana: a) ser

    orientada por um objetivo, b) fazer uso dos instrumentos de mediao e c) produzir algo que podemos

    caracterizar como elemento da cultura seja por sua existncia fsica seja por sua existncia simblica - e que

    consiste na objetivao do ser humano. (ZANELLA, 2004, p. 130)

    15

    16

    17

  • atividade ou ao humana intencional deliberada, ao consciente, livre, que

    constitui a vida produtiva e a vida genrica do homem, tornando-o criador e

    criatura: o homem faz da atividade vital o objeto da vontade e da conscincia.

    (MARX, 2001, p. 116);

    que os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano so

    construes sociais. Para Vygotsky, no possvel discutir separadamente

    aprendizagem e desenvolvimento. Sua constituio recproca depende dos

    processos de interao social dos indivduos. O desenvolvimento humano

    (entendendo nesse caso os processos psquicos, afetivos, cognitivos, motores) e a

    aprendizagem fundamentam-se nas relaes sociais entre indivduos e o mundo

    exterior e desenvolvem-se num processo histrico. deste lugar que a Poltica de

    Formao Continuada entende os processos de aprendizagem e desenvolvimento

    humano, ou seja, na compreenso de que o ser humano, em suas dimenses psico-

    fsico e social, constitui-se socialmente na histria. nela que o homem vai,

    dialeticamente, se distanciando de sua condio biolgica para a sua condio

    social, sem, contudo, perder de vista a primeira. Esse processo s se concretiza

    18. Ainda que interdependentes, para Vygostky, as duas categorias so diferentes e no se interpem uma em

    relao outra.

    18

    foto: divulgao SME

  • quando se percebe que a vida e o desenvolvimento humanos no se descolam

    daquilo que se processa no modo de produo da vida material;

    que a produo e a apropriao da cultura se d na e pela mediao

    sujeito-sujeito e sujeito-signos. O que se quer discutir aqui a importncia do

    outro para os processos de produo e apropriao do conhecimento. Para

    Vygotsky (1987), na relao social, mediatizada pelos elementos e signos

    construdos historicamente, que a cultura se faz presente. A cultura aqui

    entendida como produto e processo em que se d a objetivao e subjetivao

    humana. Portanto, o ser humano se apropria da cultura e concomitantemente nela

    se objetiva, constituindo-se assim como sujeito (ZANELLA, 2005, p. 99). Para

    Horkheimer (1990), a produo da cultura resultado de um processo que se

    engendra nas condies histricas construdas pela evoluo e pela transformao

    da ao humana na natureza. Portanto, a cultura produzida na Histria e sob

    diferentes condies econmicas de produo;

    o papel das aes formativas como mediadoras na construo do

    conhecimento cientfico. Para Vygostky (1991), conhecimento cientfico

    aquele que advm da elaborao intelectual e pressupe a ateno deliberada,

    memria lgica, capacidade de abstrao e domnio de signos. Envolve, portanto,

    experincia e atitude consciente e sistemtica, bem como a capacidade de inter-

    relacionar diferentes conceitos. Portanto, num movimento dialtico ascendente e

    descendente, o conhecimento/conceito cientfico parte do conhecimento

    espontneo, mas retorna num processo que implicou o desenvolvimento da

    conscincia reflexiva. O conhecimento a priori no pode mais ser o mesmo, uma

    vez que a atitude do pensamento abstrato (anlise, sntese, comparao,

    generalizao) exigiu a elucidao da realidade. Este o processo que a Poltica

    de Formao Continuada deve empreender em suas aes formativas - possibilitar

    aos profissionais da educao a aquisio do conhecimento cientfico por meio do

    pensamento crtico, divergente e transformador. Reafirma-se, aqui, a importncia

    19. O outro aqui referido no necessariamente precisa ser um outro humano.

    20. o fato de (...) produzir cultura [implica] em objetivao do sujeito que a empreende. Porm, esse

    processo de objetivao pressupe ao mesmo tempo a subjetivao do sujeito, pois, ao apropriar-se da

    atividade, o sujeito apropria-se da histria humana e imprime a esta sua marca. O movimento de objetivao e

    subjetivao possvel graas caracterstica fundamental da atividade humana, isto , o fato de ser mediada

    por signos. (ZANELLA, 2004, p. 132)

    19

    20

  • da atitude investigativa e da problematizao da realidade como pontos de partida

    para a formao continuada dos profissionais.

    Pressupostos pedaggicos

    Para a construo de uma Poltica de Formao Continuada em Rede h

    que se considerar tambm os pressupostos pedaggicos que devem orientar sua

    conduo:

    A formao como processo contnuo ato que se d na articulao entre

    os saberes advindos da formao inicial e aqueles construdos no exerccio da

    profisso. As aes formativas devem partir do dilogo com as agncias

    formadoras sobre os conhecimentos e o perfil dos profissionais formados por elas,

    dos objetivos delineados nos Projetos Formativos e da implementao da

    formao em contexto na SME. Esta ltima consiste nas aes formativas,

    formais e informais, realizadas no ambiente de trabalho, tendo como ponto de

    partida a reflexo sobre a prtica pedaggica dos profissionais que atuam nesse

    espao. Os princpios que fundamentam a formao em contexto, segundo

    Cunha e Prado (2010), Canrio (2001), Ferreira e Zurawski (2011), se constituem:

    a) na realizao in loco, j que no espao de trabalho que deve-se consolidar um

    projeto de formao articulado PPP da instituio; b) na interlocuo, que

    pressupe o envolvimento e dilogo dos profissionais pedaggicos e

    administrativos entre si e com outros interlocutores (tericos, profissionais de

    outras agncias formativas, apoios, profissionais de outras instituies da Rede e

    de outras redes etc.); c) na observao das necessidades e interesses dos

    profissionais, ato que pressupe o envolvimento de todos os participantes, desde a

    escolha da temtica a ser estudada, sua problematizao, at a busca de caminhos

    que promovero mudanas na prtica institucional; i) no foco do processo de

    aprendizagem e desenvolvimento dos sujeitos, a fim de promover a qualidade do

    ensino-aprendizagem.

    Os saberes da formao que se constituem na articulao entre o

    conhecimento cientfico, o conhecimento pedaggico e o conhecimento sobre a

    21. Sntese terica do documento Orientaes para elaborao do Plano de Formao nas instituies de

    Educao Infantil/2012, elaborado pela equipe da educao infantil do CEFPE.

    21

  • rede. Nesta perspectiva, os saberes da formao so aqueles que se coadunam na

    perspectiva de fortalecimento da identidade profissional, ato que se d na

    significao social da profisso; da reviso constante dos significados sociais da

    profisso; da reviso das tradies. Mas tambm da reafirmao das prticas

    consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Prticas que

    resistem a inovaes porque prenhes de saberes vlidos s necessidades da

    realidade. Do confronto entre as teorias e as prticas, da anlise sistemtica das

    prticas luz das teorias existentes, da construo de novas teorias. (PIMENTA,

    1999, p. 19) Os saberes cientficos so construdos no dilogo e acmulo terico

    que os profissionais vo adquirindo na formao inicial e continuada. Eles

    expressam o saber sistematizado e referendado luz da cincia. Para Pimenta

    (1999), os saberes pedaggicos so aqueles advindos da experincia, do

    conhecimento e das prticas pedaggicas constitudas na ao profissional. J os

    saberes sobre a Rede so aqueles que permitem aos profissionais a compreenso

    das atividades meio e das atividades fim numa Secretaria Municipal de Educao e

    que implicam em uma leitura de rede com aes articuladas. Os saberes sobre a

    Rede permitem aos profissionais compreender a funo social da educao

    pblica, bem como seu papel profissional na consecuo desta funo. Numa

    perspectiva histrica e social, os saberes da formao articulam os saberes

    cientficos, os saberes pedaggicos e os saberes sobre a Rede, a fim de garantir o

    desenvolvimento profissional e pessoal dos trabalhadores na educao.

    A postura investigativa e a prxis pedaggica - pressuposto que implica

    fortalecer, em todas as aes formativas, a prtica da problematizao, da reflexo

    crtica, do posicionamento poltico e da ao transformadora. Neste caso, a

    formao deve tomar os objetos de estudo nas aes formativas e recoloc-los

    luz da ao-reflexo-ao. Isto implica uma formao que mobilize os sujeitos

    para uma atitude investigativa que objetive a resoluo de problemas com base no

    referencial terico. Por postura investigativa entende-se aquela em que o

    22. Sobre os saberes da experincia, estes surgem como ncleo vital do saber docente, a partir do qual o(a)s

    professor(a)s tentam transformar suas relaes de exterioridade com os saberes em relaes de interioridade

    com sua prpria prtica. Nesse sentido os saberes da experincia no so saberes como os demais, eles so, ao

    contrrio, formados de todos os demais, porm retraduzidos, polido submetidos s certezas construdas na

    prtica e no vivido. (TARDIF, 1991, p. 234).

    22

  • profissional questiona, busca, estuda, discute, registra, documenta e socializa com

    seus pares o saber-fazer acumulados.

    A interdisciplinaridade compreendida como produto e processo de

    estudo e produo do conhecimento sistematizado. Ela trata do conhecimento. Ela

    questiona-o, interroga, o estranha e o valida. A atitude do pensamento

    interdisciplinar implica colocar-se na condio de fazer uso da razo, do

    esclarecimento e elucidar objetos do conhecimento sob o olhar da cincia. Para

    Japiassu (2000), a interdisciplinaridade requer do pensamento humano a

    capacidade de conhecer o universal e o abstrato e a exigncia de conhecer o

    porqu das coisas. Portanto, a interdisciplinaridade uma atitude que move o

    pensamento e a ao, uma vez que o conhecimento deve partir do simples para o

    complexo, do abstrato para o concreto, do real para o imaginrio (...) sendo o

    princpio da mxima explorao das potencialidades de cada cincia, da

    compreenso de seus limites, o princpio da diversidade e da criatividade.

    (FAZENDA, 1994, p. 38). O ponto de partida e de chegada de uma ao

    interdisciplinar est na conduo de uma metodologia participativa e dialgica.

    Busca-se, com isso, achar os pontos de convergncia em uma ao que se

    desenvolve num trabalho cooperativo e reflexivo. Para JAPIASSU (1976, p.74):

    a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os

    especialistas e pelo grau de interao real das disciplinas no interior de um mesmo

    projeto de pesquisa. A atitude do pensamento e da ao interdisciplinares

    coadunam-se com a postura investigativa, j que implica uma "atitude de abertura

    frente ao problema do conhecimento." (FAZENDA, 1979, p. 39).

    Eixos da Poltica de Formao Continuada

    Tomando como referncia que o eixo aquilo que est na base e que

    sustenta a articulao dos Projetos e das Aes formativas em Rede, destacam-se

    aqueles que, de forma interdisciplinar, devem perpassar a formao profissional, a

    saber:

    Conhecimento da base espistemolgica que orienta as Propostas

    Poltico-Pedaggicas da Secretaria Muncipal de Educao de Goinia.

    Reconhecimento das caractersticas e especificidades dos tempos da vida

  • (infncia, adolescncia, juventude, adultcia e terceira idade).

    Incluso social, diversidade humana e cultural, diferenas individuais,

    direitos humanos, processos de participao e cidadania.

    Gesto democrtica e organizao do trabalho pedaggico (interaes,

    tempos, espaos, materiais e documentao pedaggica).

    Currculo, conhecimento e prticas pedaggicas.

    A instituio educacional como locus de formao em contextos.

    A garantia desses eixos nas propostas formativas deve considerar que as

    temticas propostas para a formao sejam situadas no campo das polticas

    pblicas; o desenvolvimento da postura investigativa; o domnio da linguagem

    oral e escrita, particularmente nos registros reflexivos dirios sobre o processo de

    formao; a interface interdisciplinar do objeto de estudo nas diferentes reas do

    conhecimento; a vivncia e a expresso de diferentes linguagens artsticas nos

    projetos e aes formativas.

    O perfil do profissional desejado

    Considerando os princpios que norteiam esta Poltica de Formao

    Continuada, tendo em vista o fortalecimento da identidade e a valorizao da

    profissionalizao dos trabalhadores em educao, os Projetos e Aes

    formativas devem propiciar condies para que os sujeitos desta Poltica possam:

    ter cincia e clareza de sua responsabilidade poltica e da sua competncia

    tcnica naquilo que compreende o saber-fazer da sua profisso e a qualidade da

    educao pblica;

    constituir-se como pesquisadores/investigadores da prpria prtica

    profissional, quando a interrogam, questionam e alteram posturas e prticas;

    reconhecer o fundamento do seu trabalho no contexto das aes

    educativas, compreendendo o fenmeno educativo e as relaes sociais que dele

    decorrem;

    23. Os termos aqui utilizados diferenciam-se daqueles comumente utilizados no campo das cincias e da

    pesquisa cientfica. Trata-se de reafirmar o compromisso com a postura investigativa para o processo de

    compreenso da realidade.

    24. De acordo com Saviani (2003:13) o trabalho educativo o ato de produzir, direta e intencionalmente, em

    cada indivduo singular, a humanidade que produzida histrica e coletivamente pelo conjunto dos homens.

    23

    24

  • reconhecer-se como integrante de um coletivo de profissionais que deve

    primar pela garantia dos direitos dos sujeitos que freqentam as instituies

    educativas;

    desenvolver cotidianamente a cultura do registro e da reflexo crtica do

    seu trabalho a fim de compartilhar seus saberes e suas prticas em contextos de

    trabalho coletivos;

    constituir-se como profissionais ticos, crticos e com sensibilidade

    esttica.

    Desafios implementao da Poltica de Formao Continuada em Rede

    Dentre os desafios que se colocam implementao da Poltica de

    Formao Continuada em Rede, destacam-se:

    a articulao da Poltica de Formao Continuada no mbito das demais

    polticas estratgicas da SME e, em particular, com a avaliao institucional;

    a garantia do dilogo e da troca de experincia entre as instncias do

    DEPE.

    um estudo aprofundado sobre o perfil dos profissionais da SME, bem

    como suas necessidades e demandas por formao;

    a articulao da Poltica de Formao com o diagnstico e os resultados da

    avaliao da aprendizagem discente;

    a articulao entre a Poltica de Formao e a Formao em Contextos;

    a mudana da cultura dos cursos para a cultura da formao

    permanente;

    a mudana na cultura da formao que deve romper com o aprender

    fazendo para a autonomia e autoria intelectual dos profissionais que participam

    da formao;

    o fortalecimento da cultura da publicao e da socializao das produes

    dos profissionais que participam da formao, bem como daquelas experincias

    formativas que so centrais nas Propostas Poltico Pedaggicas da SME;

    a ampliao do sentido dado formao. H que se construir na SME uma

    cultura humana e esttica que propicie aos profissionais da educao outras

    experincias formativas como acesso aos bens culturais e simblicos: cinemas,

  • shows, teatro, vivncias etc. Trata-se, sobretudo, da ampliao e da educao do

    olhar esttico em todos os profissionais.

    Enfim, construir uma Poltica de Formao Continuada em Rede

    pressupe considerar que sua elaborao e implementao tambm se d na

    dialeticidade, na cotidianidade e no movimento. Nela, nada se encerra em si

    mesmo, mas, acima de tudo, se abre ao dilogo e construo coletiva de um novo

    lugar para se pensar a formao: humana, poltica, tcnica, tica e esttica.

    Portanto, sua razo de existir s faz sentido se ela qualificar e alterar os sujeitos e

    suas prticas tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino.

    Referncias

    CANRIO, Rui. Fazer da formao um projeto: mudar as escolas ou os centros de formao?

    2001. Disponvel em: www.institutoabaporu.com.br/.../fazer-da-formacao-um-projeto.pdf.

    Consulta feita em 27 de maro de 2012.

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    da psicologia histrico-cultural. In: Psicologia em Estudo. Maring, v. 9, n. 1, p. 127-135, 2004.

    ZANELLA, Andra Vieira. Sujeito e alteridade: reflexes a partir da psicologia histrico-cultural.

    In: Psicologia e Sociedade, de 17 (2): 99-104; maio/agosto 2005.

  • Formao de professores para a EJA:

    da lgica das competncias formao humana

    omnilateral

    Cludia Borges Costa

    Joel Ribeiro Zaratim

    Ao pensar a educao na perspectiva da luta emancipatria, no poderia

    seno restabelecer os vnculos to esquecidos entre educao e trabalho,

    como que afirmando: digam-se onde est o trabalho em um tipo

    de sociedade e eu direi onde est a educao. (SADER, 2005, p.17)

    Resumo

    O presente artigo um convite reflexo acerca da formao de

    professores para a educao de jovens e adultos (EJA). O estado da arte sobre a

    EJA no Brasil revela a importncia do dilogo dessa modalidade com o mundo do

    trabalho. Nesse sentido, a concepo de omnilateralidade gramsciana permite

    compreender que a formao educativa no precisa ficar distante da formao

    para o trabalho.

    Palavras-chave: Educao de jovens e adultos. Formao de professores.

    Trabalho. Omnilateralidade.

    Introduo

    A epgrafe citada acima sinaliza a concepo de educao assumida ao

    longo deste artigo e demonstra a preocupao em trazer a questo do trabalho para

    dialogar com a educao. O debate torna-se necessrio, principalmente pela atual

    1

    2

    1. Coordenao do Frum Goiano de EJA. Apoio Pedaggico da Rede Municipal de Educao de Goinia e

    doutoranda em Educao (UnB).

    2. Professor Assistente da Universidade Estadual de Gois, mestre em Educao (UFG). Conselheiro Titular

    do Conselho Municipal de Educao.

  • configurao da globalizao econmica, que, junto com a adoo de uma poltica

    de formao para as competncias e a produtividade, acaba interferindo no

    processo educativo d